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Vozeiro de Primeira Linha
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Ano VIII • Nº 27 • Segunda jeira • Janeiro, Fevereiro e Março de 2003
Demissom e prisom para os responsáveis
O desprestígio do
capitalismo espanhol
ILEGALIZAÇOM DO PP
Editorial
Três meses depois do início do afundimento do petroleiro Prestige, Galiza continua padecendo a mais importante crise ecológica e sociolaboral da nossa história
contemporánea, sem que os principais responsáveis pola catástrofe, -as autoridades
espanholas-, tenham adoptado as medidas mínimas necessárias para resolver a
existência dum buque afundido a 234 quilómetros da Costa da Morte, que expulsa
diariamente das suas entranhas toneladas de veneno em forma de fuelóleo. As marés negras, -já nom sabemos qual é a numeraçom-, som a apocalíptica realidade
quotidiana para centenas de quilómetros do litoral dum país que vem sofrendo ciclicamente este tipo de agressons contra o seu ecossistema, contra o meio de vida de
dezenas de milhares de trabalhadoras e trabalhadores do mar, e que assiste desamparado ao abandono por parte de Espanha e da UE, apesar das medidas propagandísticas em promessas de investimenos milionários que prevê o Plano especial
para Galiza aprovado recentemente polo governo de Aznar na Corunha, com Francisco Vásquez de anfitriom.
Os critérios de máximo ganho em detrimento das necessidades da classe trabalhadora, os povos, as mulheres e a natureza, que caracterizam o modo de produçom
capitalista, unido à lógica colonial com que o Estado espanhol trata a nossa naçom,
junto dos grandes interesses económicos das companhias envolvidas no caso (armadores, rebocadores, empresas de salvamento), a irracional política energética do
capitalismo, em conjugaçom com a incompetência das autoridades responsáveis e
os erros cometidos na gestom do que inicialmente nom era mais que um acidente
marítimo, provocárom que desde o 13 de Novembro o futuro da Galiza esteja directamente ligado ao que acontece num cemitério marinho a quatro quilómetros de profundidade.
Nos cálculos do capitalismo espanhol, -que desde as primeiras horas mantivo umha passividade criminosa, cedendo às pressons das potências europeias de afastar
o barco para o sul-, nunca se baralhou a hipótese de que um povo como o galego, historica e intencionadamente ligado com a submissom e a resignaçom-, tivesse a
imensa capacidade de rebeliom, mobilizaçom e resposta, de autoorganizaçom e confiança nas suas próprias forças, -tal como demonstrárom @s marinheir@s e mariscadoras/es da Arousa, Vigo ou Ferrol-, figesse abalar algumhas das estruturas do
poder levantadas em mais de um quarto de século pola democracia burguesa espanhola imposta polo franquismo.
A manifestaçom do 1 de Dezembro de 2002, a mais importante das acontecidas
na nossa história, foi o primeiro sinal de que nesta ocasiom a docilidade galega nom
ia aturar as mentiras, a censura, a manipulaçom, o desinteresse, a descoordenaçom,
a desatençom, dumhas patéticas autoridades que negavam a existência da maré negra quando os alcantis e as praias de Mugia, Fisterra, Camarinhas ou Malpica estavam sendo engolidas por umha substáncia viscosa que vomitavam as frias águas do
Atlántico; quando perto de metade da frota pesqueira estava amarrada a porto pola
impossibilidade de faenar; quando milhares de mariscadoras, de percebeir@s, de
marinheir@s assistiam desesperad@s à destruiçom do seu meio de vida; quando
desde os próprios grupos empresariais se calculava que o dano na economia ia provocar umha queda do PIB próxima de 5%.
Um quarto de milhom de vozes gritárom demissom nas ruas dumha Compostela
intransitável enquanto o governinho autonómico, aterrado pola mobilizaçom social,
via rebentar os equilíbrios internos tecidos habilmente desde 1989 entre as diversas
fracçons da burguesia autóctone, entre os que consideravam necessário intervir e
os que opinavam que era Madrid quem tinha que gerir a situaçom. Em ambas as posiçons, a preocupaçom gravitava exclusivamente nas eleiçons municipais de Maio.
Estes dous cenários marcárom o início dumha nova fase na estrutura sociopolítica galega de cujos resultados incertos tam só poderemos traçar diversas hipóteses,
e modestamente intervir para inclinar as nossas forças em prol dos interesses nacionais, de classe e de género que defendemos como revolucionári@s comunistas.
As contradiçons do movimento de massas
Nestes três meses vimos assistindo ao desenvolvimento dum amplo movimento
de massas que atinge cifras históricas de mobilizaçom social, que realiza dezenas de
actividades que envolvem centenas de milhares de galeg@s, mas que polas deficiências estruturais dumha sociedade com uns raquíticos índices de autoorganizaçom, sem dinámica e tradiçom de luita, e por situar-se sob a direcçom hegemónica
do reformismo autonomista, nom dá os passos necessários que requer umha situaçom de emergência destas características. As centenas de organizaçons, entidades,
colectivos e associaçons de todo o tipo, articuladas na plataforma Nunca Mais, carecem dumha estratégia política definida que supere o pedido e exigência dumha série de medidas básicas que a curto prazo abrandem os efeitos mais negativos da catástrofe. Se bem na tabela reivindicativa aparece recolhida a demissom das autoridades, o peso qualitativo do autonomismo no seu seio provoca que em muitas ocasions o discurso da plataforma esteja por trás das demandas populares. Nos planos
do BNG, e das burocratizadas entidades satélites que instrumentaliza, evita-se questionar minimamente o sistema económico, -o capitalismo-, e a dependência nacional
que dele deriva, como as verdadeiras e fundamentais causas que provocárom umha
catástrofe que com toda a probabilidade voltaremos a padecer. À incompetência da
Administraçom, à negligência dos responsáveis políticos, circunscreve os detonantes dumha crise que inquestionavelmente está ligada ao caos do capitalismo e ao
seu desprezo pola vida. O autonomismo restringe o discurso, e portanto a linha política de Nunca Mais, a reivindicar um pacote de medidas que em qualquer outro Estado do contorno seriam parcial e imediatamente aceitado polas autoridades. O reformismo, profundo conhecedor e também corresponsável da lamentável situaçom
do nível de consciência, manipula a ingenuidade e a indignaçom popular desorientando e freando o movimento. Se bem mantém umha intermitente mobilizaçom para
nom defraudar as demandas, mediante as habituais manobras antidemocráticas, a
ausência de transparência, o verticalismo e a burocratizaçom da plataforma, limita
e veta a presença no interior de Nunca Mais das entidades do MLNG voltando a reproduzir as já ensaiadas políticas de aparheid entre o que o regime pode aceitar e o
que nom permite. Um deputadinho autonomista impede a entrada d@s representantes de NÓS-UP, AGIR e AMI na reuniom de Nunca Mais e posteriormente numha
votaçom irregular, em que várias entidades satélites votam duas vezes, permitesse
a incorporaçom de doze novos organismos, entre elas os sindicatos espanhóis, mas
nega-se a entrada do independentismo revolucionário. Nas mobilizaçons, alguns dos
quadros institucionais ou do aparelho burocrático do autonomismo actuam como colaboracionistas da polícia, delatando a presença d@s “violent@s” ou cumprindo directamente tarefas repressoras.
Após injectar o oxigénio político que solicitava Espanha, ratificando assim os acor-
Sumário
3 Dependência e marés negras. Até
Quando?
Maurício Castro
4 Recuperemos os meios públicos
Begonha Caamanho
4 Prestige. O assalto definitivo ao
nosso património natural
Pedro Alonso
5 Petróleo, o combustível do motor
capitalista
André Seoane Antelo
6 Literatura operária e operari@s
na literatura
Xosé María Dobarro
7 O carácter de classe do governo
Lula e o que representa
Alberto Vergueiro
8 Evitemos a
agressom
imperialista
contra o
Iraque
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Nº 27. Janeiro, Fevereiro e Março de 2003
EDITORIAL
dos de estado assinados, mediante a teatrealizaçom da moçom de censura que salvou a Fraga, e
vetando a greve geral que a finais de Novembro ou
inícios de Dezembro teria tombado a Junta, pretende capitalizar eleitoralmente a acumulaçom de forças sociais, ainda que paradoxalmente nom deseja
umha derrota do PP detonante dumhas eleiçons
autonómicas antecipadas que possibilite o velho
sonho de cogovernar a Junta com o PSOE de Tourinho e Francisco Vásquez. Mas o BNG ainda teme
mais as massas que espontaneamente solicitam
umha radical mudança de rumo e questionam o
conjunto da classe política. Apenas utiliza o movimento, a força da rua, para ocultar a sua profunda
crise interna e cumprir a tarefa que se lhe atribui,
de conduzi-la polos vieiros da ordem institucional a
que se subordinam. Assim se entende como num
dos momentos mais álgidos da crise o alcaide de
Vigo inaugure um museu acompanhado por Fraga e
o príncipe espanhol; assim devemos interpretar como a cara pública do autonomismo na capital da
Galiza se proteja das inclemências do tempo sob o
guarda-chuvas de Fraga presenciando um desfile
do exército de ocupaçom; a morna oposiçom, o discurso “prudente” que exerce nas instituiçons; as
palavras de Beiras solicitando paciência nas primeiras jornadas.
O seu minimalismo nom só evita furar na superficialidade dumhas “causas” que a dia de hoje estám incorporadas no discurso oficial, igual que a legenda Nunca Mais; também esquivou desde o primeiro momento a reclamaçom de responsabilidades políticas, e impossibilitou solicitar as penais para uns responsáveis que tenhem cara, nome e apelidos. Assim como a esquerda independentista vem
solicitando a demissom e prisom de Aznar, Fraga,
Rajói, Cascos, e inclusive a do chefe do Estado, o rei
espanhol Juan Carlos I, o BNG e os seus satélites
impedírom sempre esta reivindicaçom. Mas quando
em plena deslegitimaçom social o PP recrudesce a
ofensiva do fascismo espanhol para demagogicamente ensombrar as demandas populares, impulsionando um pacote de medidas legais tendentes a
estrangular a liberdade de expressom, criminalizar
os projectos de libertaçom nacional e social de género, ilegalizar organizaçons, aplicar a cadeia perpétua, mediante um endurecimento do código penal
que nos retrotrai para o de 1848, anunciando a
construçom de novas prisons e mao dura, o BNG e
os seus satélites praticam o autismo e a cobardia
política que caracterizam a sua trajectória.
Se Espanha é a responsável pola catástrofe que
padecemos, o PP é-o do ecogenocídio do nosso litoral e da ruína, o desemprego e a emigraçom de
milhares de trabalhadores e trabalhadoras. Exigir a
ilegalizaçom do PP é umha coerente reivindicaçom
que se ajusta à gravidade do delito, que situa no
epicentro do debate político, que novamente empapa amplos sectores sociais, os eixos dumha políti-
ca com critérios de esquerda conseqüente. Galiza,
por carecer de poder político, da soberania nacional, por ser umha naçom sem Estado, nom pode denunciar nos tribunais e instituiçons internacionais a
Espanha polos graves delitos cometidos contra o
povo galego, mas sim podem as massas trabalhadoras e populares, mobilizadas e dirigidas com um
programa avançado, pedir a ilegalizaçom do PP como primeiro passo para erosionar a sua estrutura
de poder. A greve geral como recurso de participaçom e pressom colectiva deve fazer parte dos objectivos imediatos de Nunca Mais para elevar o nível de consciência popular, aprofundar na deslegitimaçom das instituiçons espanholas, transformar
o primário sentimento de afirmaçom nacional em
consciência nacional, a autoestima colectiva em independentismo sociológico.
O BNG nom só nom introduz o discurso nacional
no movimento, senom que o situa no quadro estatal promovendo umha mobilizaçom em Madrid que
dilui a dialéctica Galiza-Espanha que implicitamente conforma um dos eixos dos protestos.
Combater o eleitoralismo
Centrar o debate do actual movimento de massas em chaves eleitorais é natural na lógica no autonomismo, mas desde o campo da esquerda independentista só exprime umha preocupante desorientaçom, umha miopia política, o vigor do reformismo inerente ao ADN do qual se procede e do
que ainda nom logrou despreender após mais de
vinte e cinco anos. A proposta que a FPG realizou
desde as páginas dum jornal vigués de articular um
Pólo Nunca Mais, um revival da Posición Luís Soto,
para derrotar o PP nas eleiçons, é um autêntico
disparate carente da mais mínima possibilidade, e
contrária aos interesses da naçom galega e da sua
classe trabalhadora, por quanto propom umha
frente popular interclassista sob a direcçom da
burguesia autonomista e do espanholismo felipista.
A derrota eleitoral do PP, se bem é umha boa notícia, nom resolve nengum dos graves problemas
sociais, nacionais e de género que hoje padecemos
como trabalhadores/as, como naçom e como mulheres. Depositar a libertaçom nacional, a transformaçom social e a emancipaçom de género nos resultados dumhas urnas é característico da lógica
colaboracionista do reformismo e tem-se demonstrado totalmente inútil se nom for acompanhado
basicamente por um processo de autoorganizaçom
e mobilizaçom popular.
Gerar falsas ilusons é desconhecer a verdadeira
natureza do regime e das forças políticas que o
sustentam, ou renunciar implicitamente aos princípios buscando a via da integraçom perante as dificuldades dumha situaçom subjectivamente adversa para os projectos revolucionários.
Para evitar novos Prestiges é necesssário construir espaços de poder popular encaminhados a do-
tar a Galiza dum Estado próprio, com umha sociedade socialista. Isto só é factível mediante um processo revolucionário que recupere a independência
nacional. Derrotando o PP nom se dana realmente
um regime que conta com vários susbtitutos, PSOE
e BNG, para manter inalterável a dominaçom,
opressom e exploraçom que o caracterizam. Apostar por esta via tam só introduz mais confusionismo
no movimento popular e reforça as teses do autonomismo reformista. Às vezes as àrvores impedem
ver o bosque.
Algo se move
As tendências e fenómenos em curso que a crise tem gerado em significativos sectores populares
revelam que algo se está movendo: massivas manifestaçons, autoorganizaçom dos sectores atingidos, certa permissividade na hora de aceitar métodos de luita nom estritamente legais, deslegitimaçom das instituiçons e da classe política, incremento da consciência nacional e da autoestima colectiva, politizaçom. Mas perante a ausência dum referente político-social com projecçom de massas é difícil que estes sectores cristalizem na configuraçom dum novo espaço político antissistémico, nem
que a esquerda independentista seja capaz de incorporá-los ao MLNG. Nom devemos desconsiderar
as dificuldades que o movimento tem manifestado
para gerar desde o seu interior vozes e núcleos radicalizados que de maneira organizada, de parámetros anticapitalistas e independentistas, incrementem o nível de aspiraçons socialmente compartilhadas, insiram um discurso superador do minimalismo refomista. De momento tam só o independentismo, embora às vezes de forma contraditória,
tem defendido umha praxe combativa e um discurso táctico enquadrado em chaves estratégicas.
A crise do PPdG
Mas o Prestige também tem provocado na Galiza um novo cenário no seio da até agora “monolítica” direita espanhola. O cessamento ou demissom
de Cuinha em meados de Janeiro nom pode ser interpretado desde o simplismo exclusivista do con-
fronto entre as teses galeguistas e mais centralistas existentes no PPdG. Som diversos os factores
que possibilitam a explicaçom dum complexo panorama carregado de incógnitas. A crise nacional desencadeada polo afundimento do petroleiro, e o
conseqüente desprestígio social do PP, unido ao
crepúsculo biológico e político de Fraga, tem acelerado a corrida sucessória e os movimentos internos para recolocar nas melhores condiçons possíveis os diferentes interesses localistas e particulares das diversas fracçons da burguesia galega que
sob a “harmonia” autoritária de Dom Manuel configuravam a virtual pinha da estrutura de dominaçom. O aparelho madrileno do PP, receoso das tendências autonomistas, -embora sempre no quadro
da inquebrantável lealdade constitucional-, que até
o momento vinha aplicando a direcçom galega, perante um Fraga enfraquecido interna e externamente, considerou que a conjuntura era favorável
para recuperar desde Génova o controlo directo do
partido, afastando o representante mais qualificado das teses regionalistas. As ajudas e os planos
de investimentos que Fraga implorou em Madrid
para paliar os efeitos da catástrofe e evitar o único
que realmente lhe preocupa na actualidade: passar
à história com umha retirada digna, fôrom respondidas afirmativamente por Aznar mediante a imposiçom do controlo orgánico que vinha reclamando.
O velho fascista qual Saturno devora o seu filho para assegurar a “glória eterna” do enterro de César
no monte Gaiás.
Os movimentos ligados à sucessom de Aznar
também jogam um papel significativo porquanto
um dos aspirantes, Mariano Rajói, pretende recuperar o controlo orgánico do PPdG que lhe fora arrebatado por Cuinha, para reforçar a sua posiçom
de candidato à presidência do Governo espanhol.
As intrigas de palácio, a própria luita de classes no
seu interior entre a tradicional rede caciquil e clientelar encistada no rural e mais próxima do populismo galeguista, e a velha burguesia e oligarquia urbana ligada mais directamente à Villa y Corte, em
constante pugna pola hegemonia, as pressons da
Opus Dei, som outros dos parámetros que podem
contribuir para compreender a actual situaçom.
Se bem é positivo que o fraguismo comece, contra os prognósticos, a abalar antes do final de Fraga, devemos matizar o entusiasmo natural das
massas ao ligar mecanicamente a provável derrota
do ex-ministro de Franco com umha soluçom aos
graves problemas do país e da suas classe trabalhadora.
A ofensiva fascista
da oligarquia espanhola
A crise do Prestige, unida à cada vez pior saúde
económica do capitalismo espanhol, em plena recessom, incapaz de cumprir os objectivos marcados, e preocupado polos efeitos negativos que para manter a sua taxa de ganho terá o alargamento
ao Leste da UE, tem endurecido a ofensiva fascista
com que pretendem distrair as classes trabalhadoras espanholas culpando as reivindicaçons nacionais da Galiza, Catalunha e Euskal Herria como responsáveis pola sobre-exploraçom que padecem.
Recuperando o discurso mais intransigente do imperialismo espanhol, reformando a legislaçom e os
consensos pactuados entre o franqusimo e o reformismo em 1975-81, também pretende amedrontar
as reivindicaçons nacionais, as luitas sociais e de
género para evitar o incremento da conflituosidade
que dificulte a aplicaçom da reforma laboral permanente, o recorte das liberdades, e a derrota político-militar da ETA. Assim se entendem as tentativas de criminalizaçom do movimento popular ligado
a Nunca Mais.
Nesta estratégia devemos enquadrar as declaraçons xenófobas e racistas do presidente do Tribunal Constitucional Manuel Jiménez de Parga contra os povos das naçons oprimidas por Espanha, a
demagogia populista de “maior segurança e luita
contra a deliqüência”, com que o PP pretende ocultar os seus estrepitosos fracasos e incompetências.
A adesom incondicional às teses belicistas dos
falcons do Pentágono e da Casa Branca na intervençom miltar contra o Iraque demonstram o fracasso do capitalismo espanhol na UE e pretendem
ser utilizadas como umha nova cortina de fume para esconder os problemas internos.
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LUGO
O acontecido nestes meses perante os olhos
atordoados de galegos e galegas nom é nengumha novidade. Desde 1970, seis desastres
ecológicos e económicos semelhantes, mais
outros dous por vertidos de produtos químicos,
venhem golpeando periodicamente o nosso
país ante a passividade da Administraçom espanhola. E o que pode ser mais grave: nada indica que, de manterem-se as actuais coordenadas institucionais e a actual lógica de dependência galega, no futuro deixem de suceder-se agressons semelhantes, nom sendo que
se verifique a intercessom divina anunciada
polo velho fascista Manuel Fraga.
Das cinqüenta maiores marés negras produzidas por derramamento de hidrocarburos aos
mares do mundo nos últimos 30 anos, seis produzírom-se na nossa naçom; quer dizer, mais
de 10% para um país cujas dimensons suponhem bem menor percentagem das costas do
Planeta.
O que sim pode vir a ser umha novidade no
caso do Prestige é a maior sensibilizaçom social atingida quanto às directas responsabilidades políticas das instituiçons espanholas, o
seu desprestígio e a necessidade de ganharmos em soberania nacional como melhor soluçom aos reptos de fundo calado que enfrenta a
naçom galega. A sua viabilidade ambiental e
económica som só dous desses reptos, dramaticamente incorporados à ordem do dia pola
crise do Prestige.
Fagamos um breve repasso. Desde que, em
5 de Maio 1970, o Polycommander inaugurou a
terrível listagem com as suas 50.000 toneladas
de crude derramadas frente às Ilhas Cies, seis
grandes marés negras e dous derramamentos
de produtos químicos altamente poluentes assolárom o litoral da Galiza:
Em 12 de Maio de 1976, o petroleiro Urquiola
partiu em dous e ardeu perante a Corunha, com
quase 120.000 toneladas de petróleo bruto
(mais 15.000 da carga permitida). A maré negra
atingiu 100 km de costa galega; em Dezembro
de 1978 foi o petroleiro grego Andros Patria o
que deitou 50.000 toneladas de crude perto de
Fisterra; em 11 de Outubro de 1980, o Scaptrade derrama 32.000 toneladas de crude frente a
Ribadeu; já em 1992, o Mar Egeu, com bandeira
grega, arde ante o porto da Corunha, e provoca
um derramamento com as suas 79.000 toneladas de crude, alastrando a maré negra até 200
km de costa; e dez anos depois, assistimos a um
novo grande desastre ambiental que acelera a
destruiçom do já depauperado litoral galego, um
dos principais esteios económicos da nossa naçom. Desta vez, o buque Prestige afundiu a 250
quilómetros da costa galega, provocando sucessivas marés negras de fuelóleo que se espalham por todo o litoral galego perante a passividade e a negligência das autoridades espanholas que ainda administram a sorte da nossa terra. Estamos a falar de mais de 80.000 toneladas
de fuelóleo, substáncia mais suja e difícil de limpar, além de altamente cancerígena, 65.000 toneladas das quais continuam no fundo do mar a
ameaçar o nosso futuro imediato.
A isto todo cumpre acrescentarmos a alta
toxicidade dos 2.000 bidons de pesticidas largados polo Erkowit, em Outubro de 1970, e do
tristemente célebre do Casón, em Dezembro
de 1987, que deitou ao mar mais de 3.000 bidons de produtos radiactivos ainda indeterminados mas altamente perigosos, provocando a
morte de 23 tripulantes e doenças respiratórias à cidadania de Fisterra, Corcubiom e Cee.
A nossa crise nacional
no contexto mundial
Frente a quem pretenda acusar-nos de vitimistas, reconheçamos que a Galiza nom é o
único país a padecer as conseqüências de um
tránsito marítimo incontrolado ao serviço do
lucro das grandes empresas do centro capitalista. Calcula-se que por volta dos cinco milhons de toneladas de petróleo se deitam ao
mar cada ano, 10% das quais procedentes de
grandes petroleiros. A Bretanha, naçom sem
Estado dominada por França, é um exemplo de
litoral empobrecido por efeito das marés negras, sofrendo três grandes derramamentos,
um já em 1967 (123.000 toneladas de petróleo), um outro em 1.978 (223.000 toneladas de
crude) e o último em 1999 (10.000 toneladas).
A República Sul-africana, com outros três
grandes desastres (em 1972, 1983 e 1994) é
outro dos países mais castigados.
Mas só o Brasil iguala em termos absolutos o
recorde galego em número de sinistros desta
natureza. O grande país sul-americano sofreu
nom menos de seis marés negras de grandes
dimensons nas suas águas, incluindo rios como
o Amazonas, Sagrado e Barigüi. Contodo, comparem-se os 8.000 quilómetros de linha costeira brasileira com os pouco mais de 1.200 km. do
nosso litoral marinho, em que já vivemos outras
cinco grandes agressons como a actual, além
das duas citadas de carácter químico. A Galiza
torna assim o país com maior quantidade de sinistros em termos relativos e o de maior percentagem do próprio litoral castigado por derramamentos incontrolados de hidrocarburos e
outros agentes químicos de todo o globo.
Ante isto, lembremos agora o presidente espanhol José María Aznar a fingir indignaçom ante as cámaras, aos poucos dias do acontecido
com o Prestige, apesar de ser o representante
Maurício Castro
Nº 27. Janeiro, Fevereiro e Março de 2003
ACTUALIDADE
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Dependência e marés
negras. Até Quando?
institucional de um Estado, o espanhol, cujos buques também derramam petróleo sem controlo
nas águas do maltratado Planeta. O Urquiola, o
primeiro superpetroleiro que encalhou nas nossas águas, é um bom exemplo, mas também há
outros como o Castillo de Bellver, que deitou ao
mar, em 1983, 250.000 toneladas de crude frente ao cabo de Boa Esperança, na costa sul-africana, causando um dos maiores desastres ecológicos da história. Nom é verdade, portanto,
que sejam só os despectivamente chamados
“países terceiro-mundistas” que estám por trás
das marés negras. Firmas e instituiçons francesas, russas, gregas, norte-americanas, japonesas e, naturalmente, espanholas, fam parte da
listagem de responsáveis polas mais graves
marés negras da história. De resto, é a presença de buques mono-casco nas frotas de estados
como o Espanhol e outros europeus que explica
os continuos atrasos da UE na aplicaçom de
umha legislaçom que puna a circulaçom dessas
bombas flutuantes. Frente a tais interesses, que
peso poderá chegar a ter a “Comunidade Autónoma de Galicia” como simples apêndice regional de Espanha?
Além do mais, as grandes companhias petroleiras vem-se implicadas todos os anos em
flagrantes delitos ecológicos como os que comentamos, sem que sejam tomadas medidas
para evitar novos desastres. Ninguém ousa tocar os interesses dos oligarcas mundiais do
sector, que costumam estar por trás destes
atentados. No caso concreto do Prestige, ao
parecer, o influente sector petroleiro russo é
responsável. Nom esqueçamos que no genocídio do povo Tchetcheno protagonizado polos
russos subjaz a rapina enérgetica dos hidrocarburos. Nem que o sector energético russo é
aliado estratégico do homólogo sector ianque
e apoiante da sua agressiva estratégia militar
contra o Afeganistám e o Iraque, à qual assistimos na última década e que provavelmente
volte a concretizar-se numha iminente guerra
imperialista contra este último país. De novo, a
espoliaçom energética determina a génese e
desenvolvimento destas agressons.
Num cenário de capitalismo e caos mundializado, a crise agora padecida pola nossa naçom nom deve portanto ser analiticamente isolada do seu contexto, definido por um modelo
energético como o que o petróleo representa;
definido também polo princípio económico do
máximo lucro com o menor gasto; pola crescente concentraçom e deslocalizaçom de capitais e empresas; pola guerra de rapina; pola
cada vez mais evidente posta das administraçons públicas ao serviço das necessidades dos
amos do mundo.
Porquê na Galiza?
Se a desconsideraçom do contexto mundial
em que nos situamos e da sua natureza capitalista seria um erro na avaliaçom de umhas
catástrofes que nos querem vender como “naturais”, nom menos grave seria esquecermos
em que países acontecem, de maneira reiterada, semelhantes desastres. No nosso caso,
trata-se de um país, a Galiza, que vê circular
–sem controlo– 50.000 buques diariamente
frente às suas costas; com precedentes como
os já citados, apesar do qual os sucessivos governos (PSOE e PP) evitam o controlo desse
tráfego marítimo e descartam a aquisiçom de
meios para a luita contra a poluiçom que periodicamente ocasiona. Nem um só buque anticontaminaçom. Nem um só rebocador eficaz
ante eventualidades como a actual. Contrastemos estes incontestáveis dados, por exemplo,
com os correspondentes ao multimilionário investimento anual em material bélico por parte
do próprio Estado espanhol.
Sem dúvida, muitos galegos e galegas terám
chegado nestes meses de maneira empírica a
assumir a necessária consciência de que a dependência actual do nosso país nos sai muito
cara, ambiental e economicamente. Quem poderá duvidar ainda que um Estado galego soberano em nengum caso renunciaria de maneira tam
gritante à defesa dos interesses da maioria social galega e do seu meio natural? Com certeza,
só aqueles galegos e galegas que, hasteando a
sua inquebrantável fidelidade a Espanha, gerem
desde instáncias autonómicas a política espanhola na Galiza. A sua responsabilidade na destruiçom da natureza galega caminha de maos
dadas com o seu compromisso no submetimento económico, no genocídio cultural, na espanholizaçom definitiva da nossa terra. É o caso
de destacados elementos galego-espanhóis como os Arsenio Fernández de Mesa y Díaz del
Rio, actual delegado do Governo de Espanha na
Galiza, ou os Fernando Fernández Tapias, por citar só dous nomes –um dirigente do PP e um ar-
Imagem eloqüente das nossas costas
Arquivo Abrente
O protesto social é vissível
Arquivo Abrente
As principais marés negras do século XX na Galiza
Mc Andrew Petroleiro británico afundido perto de Cedeira por um submarino alemám a 31 de Janeiro de 1917.
Boris Sheboldaeff Petroleiro russo encalhado na Costa da Morte a 20 de Agosto de
1934.
Brenno Tanque alemám que fornecia os submarinos do III Reich bombardeado a inícios de 1942 por avions ingleses à altura de Ortegal.
Nord Atlantic Buque alemám que, fugindo da aviaçom aliada, varou na ria de
Camarinhas em 18 de Agosto de 1943.
Bonifaz Petroleiro espanhol que embateu no petroleiro Fabiola a 9 milhas
do cabo Fisterra 2 de Julho de 1968.
Spyros Lemos Barco grego afundido perto de Fisterra em 10 de Novembro de
1968.
Polycommander Petroleiro noruaguês embarrancado entre as ilhas Cies e o Cabo
Home a 5 de Maio de 1970.
Erkowit Barco com bandeira do Sudám afundido na baia da Corunha
após colidir com o Dortmund a 60 milhas da costa galega.
Urquiola Petroleiro acidentado no porto da Corunha a 12 de Maio de
1976.
Andros Patria Superpetroleiro grego incendiado e afundido frente as ilhas Sisargas em 31 de Dezembro de 1978.
Scaptrade Frente a Ribadeu, em 11 de Novembro de 1980.
Cason Cargueiro do Panamá fundido frente a Fisterra a 5 de Dezembro
de 1987 com produtos tóxicos.
Delaware Petroleiro que perdeu parte da carga no porto da Corunha por
manobra incorrecta a 10 de Agosto de 1989.
Anja Mercante chipriota afundido perto do cabo Tourinhám em 28 de
Janeiro de 1991.
Mar Egeu Barco grego encalhado à beira da Torre de Hércules em 4 de Dezembro de 1992.
mador— que, segundo se tem apontado de diversos ámbitos do próprio sistema, estám pessoalmente implicados nos interesses políticos e
económicos que condicionárom a errática resposta governamental ante a crise do Prestige.
Mas também demonstra a sua negativa a assumir a condiçom nacional até as últimas conseqüências quem com base na sua posiçom social acomodada dá forma ideológica aos seus
complexos e cobardias, levemente maquilhados
em posiçons políticas de “oposiçom responsável” e dita “nacionalista galega”. Esses critérios gerírom e freárom a revolta espontánea da
populaçom galega neste conflito, limitando as
suas ambiçons aos seus próprios objectivos
eleitorais e reformistas, e combatendo a radicalizaçom das respostas populares. Isso explica a
oposiçom frontal do BNG e das restantes siglas
do seu ámbito à participaçom da esquerda independentista no movimento de massas, confirmada na sua exclusom da Plataforma Nunca
Mais com os votos de qualificados representantes do nacionalismo galego maioritário.
Algumhas conclusons
A agressom do Prestige, permitida e só possível pola cumplicidade do Estado espanhol,
tem como estamos a ver umhas características
especiais que a singularizam frente a outros
desastres anteriores. Recapitulemos algumhas
delas:
No plano ambiental, e para além da desfeita
já consumada durante estes meses de contínuas e sucessivas marés negras a tingir o litoral galego, o afundimento do Prestige expujonos a umha ameaça de poluiçom quase incessante, e a umha bomba-relógio carregada com
65.000 toneladas de fuelóleo que podem emergir enquanto a corrosom e as condiçons marinhas fagam o seu trabalho. Ante esta ameaça,
o Estado espanhol continua sem dar mais resposta que umhas soldaduras que nem conseguírom selar as numerosas saídas de hidrocarburo que a dia de hoje continua a cuspir o
buque em direcçom à Galiza. Resta também
avaliar os efeitos da prolongada exposiçom directa ao fuelóleo por parte de centenas de
pessoas que trabalhárom em condiçons de
precariedade absoluta recolhendo a viscosa
substáncia preta nas nossas costas.
No plano político, a generalizada e massiva
mobilizaçom popular nucleada pola Plataforma
Nunca Mais nom tem precedentes na nossa
história, como tampouco a titánica tarefa dos
contingentes de trabalhadores e trabalhadoras
do mar a combater directamente, ante a nula
resposta institucional, as marés negras com as
suas próprias ferramentas de trabalho. O próprio papel manipulador e desmobilizador dos
mass-media do sistema tem desacreditado a
sua funçom até níveis nunca vistos, dando aliás
maior valor à capacidade de resposta de importantes sectores da sociedade galega. Todo
isto marcará as consciências de novos sectores populares no referente à ineludibilidade de
que a Galiza se autoorganize, se construa como naçom, única garantia de que nom sucumba de vez sob a genocida tutela espanhola.
Contodo, cumpre sermos realistas ao reconhecer que, mais umha vez, a inexistência de
um movimento político independentista e revolucionário forte, organizado e à altura das circunstáncias, deixará que a importante revolta
vivida no nosso país nos últimos meses passe
sem ter cumprido nem os objectivos mais imediatos do movimento popular: a queda do Governo autonómico e a depuraçom das responsabilidades políticas e penais correspondentes. Nom esqueçamos que o reformismo representado polo BNG e a sua constelaçom de
entidades satélites continua a hegemonizar os
movimentos populares e portanto a geri-los
consoante os seus interesses de conciliaçom
com o inimigo nacional, Espanha e o seu Estado; e de classe, a grande burguesia espanhola
e galego-espanhola.
Convém, portanto, tomarmos boa nota do
que estivo a acontecer nestes últimos meses
ante os nossos olhos, e tirarmos as liçons que
a crise nacional nos deixa. Ao pé da massiva e
contundente resposta das massas populares,
umha direcçom oportunista e eleitoralista conseguiu em boa medida reconduzir a raiva para
os seus objectivos partidistas, que nom som os
da mudança qualitativa que conduza a maioria
social galega à sua emancipaçom nacional e
social, senom os de possibilitar a “alternáncia” acedendo à gestom da Junta da Galiza.
Isso explica que a direita espanhola governante, o Partido Popular, tivesse tempo nom só
para encaixar os golpes, como mesmo para
respostar com novas leis, campanhas de descrédito, mais polícia e criminalizaçom do movimento popular, juntamente com umha permanente manipulaçom mediática ao serviço dos
interesses governamentais.
Quanto a nós, a fraqueza das forças independentistas e revolucionárias ficou patente
na limitada capacidade de influência na orientaçom dos acontecimentos, se bem a presença
nas mobilizaçons, a socializaçom de um discurso rupturista em certos sectores e as atitudes
de uns e outros frente à nossa presença nas
ruas deve ajudar o nosso movimento a madurecer, fortalecer-se e aprender de uns acontecimentos que marcarám o futuro imediato da
nossa naçom.
Nº 27. Janeiro, Fevereiro e Março de 2003
ACTUALIDADE
Pedro Alonso
A tosca manipulaçom informativa nos meios
públicos galegos (TVG e RG mas também RTVE
e RNE na Galiza) no seguimento do afundamento do petroleiro Prestige e da gestom governamental da catástrofe provocada pola maré negra nom fijo se nom evidenciar algo óbvio
para quem trabalhamos nestes meios e também para muitos dos sectores mais conscientes da cidadania: o uso perverso que fai o poder político duns meios pensados e criados para garantir o direito da sociedade a umha informaçom veraz e plural.
A manipulaçom, a censura, o ocultamento, o
sesgo interessado nas informaçons emitidas
desde a Radio Galega e a Televisión de Galicia
foi sempre umha constante por parte do Governo da Junta. Avonda lembrar o acontecido
na crise das vacas loucas, nos incêndios que
cada verao som reduzidos a meros “focos de
lume” de acordo com as instruçons recebidas
desde a Conselharia de Agricultura; é suficiente fazer reconto da infinidade de inauguraçons
de infraestruturas ainda inexistentes ou, pola
contra, fazer memória de todos aqueles conflitos laborais, sociais ou politicos que nom tivérom nunca cabimento nos telejornais da TVG
para evidenciar o controlo exercido desde o
Governo.
No seu nascimento, a rádio e a televisom
públicas da Galiza pugérom-se em andamento
da mao da Lei de Criaçom da Companhia. Essa
tutela, ainda vigente, reflecte no seu texto o
respeito à liberdade de expressom, à objectividade e imparcialidade das informaçons, assim
como ao pluralismo político, social ou religioso,
polo quais se devem reger os princípios da programaçom. Cumpridos os dezassete anos de
andança destes meios, o panorama nom pode
ser mais desolador. Se bem a teima polo controlo da informaçom foi sempre umha constante interessada por parte dos distintos poderes,
resulta impossível lembrar um momento em
que o desprezo e a burla à cidadania fossem
tam evidentes.
Desde o começo, tentou-se minimizar umha
catástrofe sem precedentes na história do
mar. Quando jà os vertidos de fuelóleo tingiam
Begonha Caamanho
4
Recuperemos os meios públicos
de preto dúzias de vilas marinheiras do nosso litoral, a TVG e a Rádio Galega, em evidente cumplicidade com os porta-vozes do Governo de aqui e de
acolá, tam só emitiam umha mensagem tranquilizadora, desmentida a cada minuto pola evidência
da realidade. Nunca se questionou a falta de coordenaçom. Os informes emitidos por peritos imparciais fôrom pontuados de suspeitos e, com certeza,
as vozes críticas com a desfeita institucional fôrom
silenciadas.
E o pior está ainda por vir.
Por muito difícil que nos resulte agora imaginar
umha maior quota de manipulaçom nos meios públicos galegos, está claro que, de aqui às eleiçons
municipiais do mês de Maio, o controlo da informaçom vai ir em aumento. Nom só seguirám minimizando ou ocultando os efeitos da maré negra, mas
tentarám recuperar a imagem do PP com novas
mentiras, novas ocultaçons e umha maior censura.
Cumpre pois preparar-se e defender-se da ofensiva mediática que já está em marcha. E para isso
é preciso que saibamos claramente as causas que
propiciam e facilitam a manipulaçom informativa.
Os meios públicos galegos, ao igual que os do resto do Estado, som herdeiros dumha concepçom
franquista da informaçom. As mesmas leis que garantem nos seus principios prográmaticos a pluralidade, a veracidade, a objectividade e a ausência
de partidismo, estabelecem mecanismos que possibilitam a manipulaçom e o controlo governamental. O director geral da Companhia de RadioTelevisión de Galicia é nomeado directamente pola Junta, por um período de mandato coincidente com a
legisaltura do Parlamento da Galiza. Isto deixa em
maos do Governo de turno a capacidade para nomear “a dedo” a pessoa que vai ter a responsabilidade máxima da programaçom e conteúdos informativos da rádio e a televisom. A prática demons-
Arquivo Abrente
trou-nos que, longe de utilizar critérios de profissionalidae ou capacidade de gestom, os méritos
dos diferentes directores gerais fôrom sempre os
de serem afins aos posicionamentos idelógicos do
PP, dobrar-se às ordens recebidas e actuar como
mercenários do governo de turno convertendo os
meios de comunicaçom em meras correias de
transmissom da propaganda partidista do governo.
Para corrigir esta situaçom, primeiro grande factor
propiciador da manipulaçom, o pessoal da CRTVG
promoveu umha iniciativa legislativa popular com
que se pretendia que a nomeaçom do director geral se figesse desde o Parlamento com a maioria
de três quartas partes d@s suas/seus integrantes, o que garantiria, quando menos, um maior con-
senso entre as diferentes forças políticas do leque
parlamentar. A mesma lei estabelece também suspostos elementos de controlo da actuaçom deste
director geral, instrumentos que som perversos na
sua própria concepçom, já que tanto o Conselho de
Administraçom da CRTVG quanto a Comissom de
Controlo do Parlamento tenhem na sua composiçom a mesma proporcionalidade que a Cámara Autonómica, estando pois completamente supeditadas à vontade do grupo ou coligaçom política que
possua maioria absoluta.
A manipulaçom vê-se, aliás, facilitada por uma
situaçom interna em que o nível de precariedade
laboral é cada vez mais alto. Bolseir@s, pessoal
em práticas ou com contratos de formaçom, pes-
soal das ETT’s ou com contratos de “obra” som o
grosso do exército empregado pola direcçom da
CRTVG na sua máquina de construir mentiras. A
precariedade é utilizada como arma e ameaça. A
maior parte do pessoal fixo é afastado das informaçons importantes, aquelas qualificadas de “material sensível” que som elaboradas sistematicamente por aquelas pessoas das quais tenhem garantida a submissom e a docilidade a menos, claro,
que queiram perder o seu emprego (isto sem contar, evidentemente, com um grupo de pessoal fixo
sempre disposto a acatar sem reparos qualquer
ordem recebida em troca de algum substancioso
complemento económico).
Leis herdeiras do franquismo e precariedade la-
Prestige. O assalto definitivo ao nosso patrimón
Man, o alemám de Camelhe que morreu de tristura, chegou há 41 anos à Costa da Morte. Desconheço
os avatares pessoais e existenciais que o levárom a ficar na costa de Camelhe. Suspeito que a sua peculiar
filosofía vital encontraria na paisagem deste naco da
nossa terra a força espiritual de que precisava, quem
sabe se a força telúrica em que, segundo Castelao, reside a nossa soberania natural. Sem dúvida, umha
boa matéria prima para edificar esses sonhos pétreos
que simbolizavam os vaivéns da existência humana
num mundo onde o passar do tempo parecia nom
existir. Umha congostra que transitava por paraísos
terrenos, perdendo-se em espirais intemporárias, onde se reconheciam fosilizadas as pegadas da nossa
mitologia. Quem tem hoje o privilégio de poder recriar
o que era Treze, Arou, Camelhe, Santa Marinha, Pena
Forcada, O Cunho, Moreira, Tourinhám ou mesmo Mugia e Camarinhas há 40 anos? Nom resulta ser um período tam longo. Porém, sobre as velhas pedras deste canto selvagem produzírom-se mudanças brutais
que tenhem mudado profundamente a paisagem e as
formas de vida do mundo idílico que conhecera o alemám. E isso tem-se produzido também noutros lugares perdidos do nosso país. O signo da nossa história
recente é um debalo da memória cada vez mais decidido a esbater a face do paraíso natural que foi a nossa terra. Perdemos o pulso da nossa natureza de forma cada vez mais humilhante e, ao tempo, de forma
mais resignada. E por trás dos abandeirados do progresso está sempre a mao de sempre: a que destruiu
as dunas de 15 metros das ilhas Sias; a que assulagou o berço dos milhares e milhares de salmons que
subiam polo Minho ou polo Ulha tupindo as levadas
dos moinhos; a que estragou a lenda pátria de Antela; a que arrasou os campos de mámoas perpétuas
das Pontes; a que afogou o chiar da Aiga nos caborcos do Sil; a que condenou à silicose um bom feixe de
galegos que a ferro e fogo furárom as entranhas da
terra para roubar a água à mais linda fervença da
nossa terra..... A mesma mao que quer agora enterrar
com quartos a nossa memória, denegrida com a peste que nos botou nas ribeiras. A mao que chantou um
punhal no coraçom ao alemám. Essa mao quer agora
curtocircuitar a energia incoercível da nossa Terra, a
força telúrica que nos fai sobreviver.
O que é o fuelóleo nº 2
O combustível transportado polo Prestige era o denominado, segundo a terminologia francesa, o Fuelóleo pesado nº 2, que nas classificaçons británica e russa é identificado como Fuelóleo nº 6 e Fuelóleo M-100,
respectivamente. Este fuelóleo caracteriza-se por ser
um combustível muito pesado, empregue para combustom em centrais térmicas, fornos e plantas cimenteiras, principalmente em países africanos e do sueste
asiático. Apresenta um conteúdo relativamente elevado de metais pesados, que estám unidos a moléculas
de hidrocarburos aromáticos. Entre os metais presentes estám o zinco o cobre. Tem um contédo elevado de
enxofre, segundo as análises de 2,58%, e é capaz de
fluir a temperaturas baixas, como os 2,5 º C existentes
a 3.600 m. de profundidade oceánica, com o qual nunca se congelará.
Composiçom do fuelóleo
e poluiçom do meio
Semanas atrás, no jornal “La Voz de Galicia” umha
nota do CSIC alertava de que na zona do afundimento
do Prestige se estavam a registar níveis muito mais
elevados do normal de certos metais pesados, como
zinco, cobre ou chumbo. No caso do zinco, o aumento
chegaba a ser de duas ou tres ordens em escala numérica, quer dizer , passara de por exemplo um nivel
de 1 a um de 100 ou 1.000. As análises de mostras de
fuelóleo feitas polo CEDRE francês determinárom a
presença de quantidades apreciáveis de metais pesados como chumbo, ferro, alumínio, cromo ou cobalto.
Além destes elementos, o fuelóleo apresenta na sua
composiçom outras “delícias”. Umha percentagem
elevada dos hidrocarburos do fuelóleo som aromáticos
e de cadeias compridas, os denominados hidrocarburos aromáticos policíclicos, de grande persistência no
meio e, alguns deles, de provada capacidade genotóxica e provavelmente carcinogénica. Os resultados das
análises que diferentes organismos públicos de investigaçom realizárom sobre amostras tomadas em alta
mar polo CEDRE francês, bem como umha comparativa
com os vertidos procedentes de outros acidentes, reflectem-se no quadro seguinte.
A elevada persistência dos hidrocarburos aromáticos policíclicos (PAH) radica na baixa vulnerabilidade
que manifestam à biodegradaçom pola acçom de bactérias (alguns investigadores assinalam que o fuelóleo
do Prestige, em conjunto, apresenta um potencial de
biodegradaçom de tam só 15%, polo que as técnicas de
bio-remediaçom se revelam como claramente ineficientes). Isto sem dúvida favorecerá a longa permanência destes compostos nos habitats marinhos e, portanto, permitirá que, em determinadas circunstáncias,
podam ser incorporados à cadeia trófica.
Alguns PAH som considerados como compostos de
potencial cancerígeno, pois se dispom de evidências
suficientes da sua actividade carcinogénica a partir de
estudos realizados com animais de experimentaçom,
se bem as provas da actividade carcinogénica em humanos parecem ser insuficientes (é muito difícil encontrar voluntários para este tipo de estudos). Entre os
compostos PAH mais conhecidos figuram os 16 incluídos numha listagem específica de poluentes prioritários da EPA (Enviromental Protectiom Agency) dos
EE.UU. Estes compostos som:
Naftaleno, Acenaftileno, Acenafteno, Fluoreno, Fenantreno, Antraceno, Fluoranteno, Pireno, Benz(a)antraceno, Criseno, Benzo(b)fluoranteno, Benzo(k)fluoranteno, Benzo(a)pireno, Dibenzo(ah)antraceno, Benzo(ghi)perileno e indeno(1,2,3-cd)pireno
De todos eles, 11 tenhem sido identificados nas
amostras analisadas do fuelóleo do Prestige, e som
os sublinhados na listagem anterior. O conteúdo destes PAH no fuelóleo é muito baixo, sendo de aproxi-
Un cormorám luita por sobreviver
Arquivo Abrente
Hidrocarburos
saturados (%)
26,6
Hidrocarburos
aromáticos (%)
52,8
Resinas (%)
Asfaltenos (%)
8,4
12,2
23
21
21,6
22,9
22,2
40,9
54
54
50,7
52,7
55,6
37,9
12,5
Muséem National
d’Histoire Naturelhe
IFP (fuelóleo original)
IFP (fuelóleo emulsionado)
CSIC Barcelona
Prestige (média)
Erika
Baltic Carrier
madamente 350 microgramas/grama a proporçom
de naftaleno e fenantreno, os PAH de maior presença nas amostras. Isto quer dizer que, numha amostra de 10 kg. de fuelóleo como o da amostra de referência, o conteúdo em naftaleno ou fenantreno seria
de 3,5 g.; de 35 g. numha de 100 kg. e de 350 g. numha tonelada. Portanto, grama acima ou grama abaixo, por cada tonelada de fuelóleo do Prestige que
aboia no mar ou chega à costa teríamos 350 g. dum
composto considerado como cancerígeno polas autoridades dos EE.UU.
Tendo em conta que a degradaçom do fuelóleo começa por aquelas fracçons de hidrocarburos mais ligeiros, ficando sempre mais tempo no meio os PAH, temos que pasados uns meses ou anos, num fundo marinho onde nom se recolhessem 10 toneladas, poderia
dar-se a possibilidade de que estivessem bio-disponíveis mais de 3 quilos de veneno de acçom lenta, disgregado em múltiplas partículas, às vezes apegado a
outras fracçons e restos orgánicos e, portanto, facilmente ingeríveis por espécies detritívoras ou suspensívoras que habitam nos fundos marinhos.
Agora que tamém se podem dar efeitos de toxicidade aguda, letais em muitas espécies sensíveis po-
10,3
27,7
34,7
12,0
15,6
11,5
12,4
6,6
9,7
los seus hábitos. Um estudo de 1985 da National Academy of Sciences dos EE.UU. determinou efeitos letais por concentraçons elevadas de hidrocarburos
aromáticos em espécies como o Camarom das ervas
(concentraçons superiores a 26 ppm de benzeno), caranguejos (mais de 27 ppm de tolueno, 13 de etilbenzeno, 6 de gileno...) ou algumhas espécies de peixes
planos (11 ppm de gileno, 7 de tolueno ou 6 de benzeno). Após o desastre do Amocco Cadiz, foi documentada umha elevada mortalidade de anfípodos
submareais, com reduçom da populaçom em 40%. Entre os efeitos subletais dos hidrocarburos nos organismos de certas espécies, figuram alteraçons do
comportamento (entre eles o quimiotactismo, polo
qual algumhas espécies som capazes de detectar as
suas presas), diminuçom da capacidade reprodutora
(especialmente em espécies de peixes que vam estar
em íntimo contacto co fuelóleo dos sedimentos, como
os peixes planos, do tipo das solhas, linguados ou rodabalhos), alteraçons do metabolismo, como umha
reduçom da taxa respiratória, que em espécies de
moluscos bentónicos pode ocasionar reduçom no crecimento ao viverem em sedimentos petroleados de
forma crónica.
A afecçom sobre os recursos marinhos
Os cientistas do Instituto de Investigaçons Marinhas de Vigo tenhem realizado umha primeira valorizaçom dos efeitos dos vertidos sobre as populaçons de
peixes e cefalópodes explorados tradicionalmente nas
costas galegas. No referido aos peixes, parece ser que
a incidência do fuelóleo pode ser importante em fases
como a ovogénese, a freza ou o estado larvário. A influência sobre a abundáncia das espécies estará em
funçom da exposiçom ao contaminante durante estas
etapas do ciclo vital. A maior exposiçom, maior mortalidade e, portanto, menor recrutamento, quer dizer,
menor incorporaçom de especimes jovens à populaçom adulta e reprodutora. Se temos em conta que umha boa parte das espécies comerciais do litoral galego
passam por um estatus delicado ou pouco vigoroso,
compreenderemos que um desastre como este poda
incidir seriamente sobre o futuro dessas populaçons.
Isto vem a dizer o relatório que está na Internet, numha páxina do IIM de Vigo, assinado polo Grupo de trabalho de Pesquerias.
No referido aos cefalópodes, o relatório do grupo de
especialistas do IIM-Ecobiomar afirma que o impacto
terá umha gradaçom decrescente seguindo esta ordem: Polbo comum-Choco-Lula-Polbo cabeçom-Pota.
Afirma-se que a mortalidade se produzirá fundamentalmente na fase de ovo, registando-se também umha
descida da sobrevivência na fase larvária. Por consequência, podería produzir-se, ao igual que com os peixes, umha queda do recrutamento que atingiria directamente a biomasa dos stocks, quer dizer, teríamos
umha descida na produçom. Estas descidas registariam-se num lapso de tempo nom superior a um ano,
considerando o ciclo biológico destas espécies.
A afecçom sobre vertebrados marinhos ou que desenvolvem boa parte do seu ciclo vital em ambientes
marinhos, caso das aves, os cetáceos e as tartarugas,
temos um efeito directo gravíssimo no caso das primeiras, entre as que se estima umha mortalidade de
umhas 100.000 aves no que vai desde o afundimento
do barco. Para o caso dos cetáceos, é sabido que a
presença do fuelóleo pode provocar efeitos letais em
arroases e golfinhos, ao se ocluir o orificio respiratório. Segundo investigadores de CENMA, como mínimo 2
dos 27 cetáceos varados nas nossas costas desde o
afundimento morrêrom por efeito do vertido, sendo os
outros casos de casuística variada ou desconhecida.
Das 16 tartarugas varadas no litoral galego no mês seguinte ao afundimento, cinco estavam com vida e apresentavam sintomas claros de afecçom polo fuelóleo.
Das 13 tartarugas Caretta caretta aparecidas varadas,
sete apresentavam impregnaçom de fuelóleo, estimando-se este factor como causante de morte por asfixia
nalgumha delas.
A afecçom paisagística
Dos 1.195 km. de litoral da nossa terra, 550 tenhem
sido afectados de forma significativa e outros 250 de
forma grave ou mui grave, registando-se acumulaçons
reiteradas de fuelóleo sobre areais, rochas e maris-
Nº 27. Janeiro, Fevereiro e Março de 2003
Begonha Caamanho é a
Presidenta do Comité Interempresas da CRTVG
nio natural
mas. A primeira vaga de fuelóleo que chegou à costa fijo-o numhas circunstáncias de forte temporal e marés
vivas que provocárom a afecçom por fuelóleo dumha
faixa bem visível do litoral rochoso e a penetraçom do
hidrocarburo em marismas e junqueiras. Em zonas
abrigadas do litoral, onde a chegada do fuelóleo foi reiterada, a acumulaçom do combustível atingiu gravemente os sedimentos, as pedras e os cons todos, cobrindo de negro extensons enormes em zonas de Tourinhán, O Cunho, O Pindo ou Camelhe. Haverá que
aguardar muitos anos para ver limpas estas pedras e,
nalguns casos, nem a passagem de decénios logrará
apagar a pegada do fuel.
A persistência do desastre
Hoje mesmo, a maior preocupaçom é o que fazer
com o barco afundido. Segundo o Governo de Aznar,
a maior prioridade e a alternativa preferida é tirar o
fuelóleo do barco para dar fim ao problema. Mas resulta que isto é umha operaçom de grande complexidade, com um custo económico desorbitado, provavelmente superior a 1.000 milhons de euros (a operaçom de tresvase do fuelóleo do Erika custou 80 milhons de euros, estando o barco a tam só 120 m. de
profundidade, trinta vezes menos do que o Prestige)
e de requerimentos tecnológicos na actualidade inexistentes. Portanto, nom duvidamos que a intençom
do governo de Espanha será tirar o fuelóleo do Prestige para fora, mas possivelmente através de “voaduras” controladas e silenciadas, que vaiam botando
fora quantidades discretas mas importantes de fuelóleo, para que o problema acabe quanto antes, seguindo um ritmo marcado polos aconteceres e os distintos cenários mediáticos favoráveis: guerra contra
o Iraque, ofensiva anti-terrorista, eleiçons municipais, etc. Paralelamente, e com a colaboraçom do governo submisso de Fraga, irám ocultando e soterrando a conflituosidade social e, quem sabe, quiçá passadas as eleiçons municipais, já só os “profissionais
da protesta” nos lembraremos de que este desastre
tem responsáveis com nomes e apelidos.
O “Plan Galicia”
Para que esqueçamos este novo vexame, Aznar e os
mais inventárom um plano de investimentos virtuais,
sem que ninguém acredite nele como ferramenta de
activaçom social e económica. Sim representará umha
nova fase de espólio e destruiçom dos nossos recursos
naturais, pois nesa falcatruada ocuparám um lugar privilegiado os delinqüentes corruptos que urbanizam a
costa, poluem os rios e construem auto-estradas desnecessárias que lhes valem para acumular fortunas e
reforçar o seu aparelho de controlo caciquista. Estaremos à espera de como se vai concretando essa engendraçom, ao tempo que aguardaremos umha necrológica em primeira plana de jornal, com o ánimo de que remate esta etapa infame da nossa história recente.
Pedro Alonso é membro de
ERVA-Ecologistas em Acçom
No passado 19 de Novembro de 2002, o buque
monocasco Prestige afundia a 250 quilómetros da
costa galega provocando a maior catástrofe ecológica que recorda o nosso país. No seu interior
achavam-se 80.000 toneladas de fuelóleo, um derivado do petróleo destinado a ser empregue como
combustível em plantas energéticas ou para a navegaçom, que em grande parte acabárom asfaltando umha considerável extensom do litoral galego. Incompetência governamental, descoordenaçom, péssimas condiçons climátericas... muitas fôrom as causas que agravárom a catástrofe, mas
no fundo só há umha que permite entender porque
um barco, em lamentáveis condiçons técnicas,
passeava polo Atlántico Norte com umha carga perigosa sem um rumo definido. Tam só a lógica do
lucro capitalista poderia explicar porquê um barco
com bandeira das Baamas, propriedade dumha
companhia liberiana, ao mando dum capitám grego, com tripulaçom filipina, que transportava combustível propriedade dumha empresa registada na
Suíça, mas que pertence a umha multinacional de
capital russo, que navegava sem destino fixado, à
espera da ordem definitiva que lhe indicasse o porto em que deveria descarregar; pudesse naufragar
e deitar ao mar milhares de toneladas dum produto altamente poluente, sem que até o dia de hoje
os responsáveis directos fossem punidos de forma
nengumha. E, lamentavelmente, o que se passou
foi o normal, o que tinha que se passar, já que o ordenamento actual da indústria do petróleo a nível
mundial provoca que quem comercia com umha
das mercadorias mais importantes, a mais importante, para o bom funcionamento da economia
mundo goza dumha impunidade praticamente absoluta na hora de estabelecer em que condiçons
transporta e vende a carga de que é dono. A fim de
contas, umhas quantas centenas de quilómetros
de costa arrasada, uns poucos milhares de seres
humanos com a sua fonte de sustento destruída,
ou um pequeno país ao qual se lhe destruem ou danam seriamente os alicerces da sua economia produtiva, é um preço baixo que há que pagar para
manter também baixos os preços do petróleo e os
seus derivados. A pergunta que se fam os amos do
petróleo é simples: o quê resulta mais caro, estabelecer toda umha série de medidas de segurança
que obrigariam a mudar radicalmente o sistema de
transporte do petróleo, encarecendo-o dum jeito
obrigado; ou assumir a possibilidade da existência
de acidentes que provoquem graves crises ecológicas e económicas, mas que só se cingem a áreas
restritas? Evidentemente, aplicando a lógica do lucro imediato, própria do capitalismo, a opçom menos má é a segunda.
O petróleo na produçom
industrial capitalista
Para compreendermos perfeitamente o contexto
em que nos achamos, devemos começar por ser
conscientes do papel central que joga o petróleo no
nosso mundo, derivado da sua importáncia como
fonte de energia e matéria prima. Bastaria só um
dado: 65% da energia que se comercializa no mundo provém do petróleo ou do gás que se encontra
nos mesmos jazigos, para situar o petróleo como a
mais importante matéria prima das empregues na
actualidade, mas nom se trata apenas de energia.
Com apenas dar umha vista de olhos à nossa volta
descobrimos que vivemos rodead@s de petróleo:
lubrificantes, asfalto, plásticos, parafinas, fibras
sintéticas; para além da gasolina, querosene, gasóleo que consumem os meios de transporte que empregamos, ou o gás e o fuel que consumem as instalaçons de aquecimento dos nossos lares. Desde a
carcassa e a maioria das componhentes internas
do computador que estou a empregar para escrever este artigo, passando por boa parte das fibras
têxteis empregues na elaboraçom da roupa que levo, ou o pavimento das ruas por que caminho a diário, etc... todos estes elementos estám elaborados
fundamentalmente com derivados do petróleo.
Nom resulta difícil deduzir que esta matéria prima,
o chamado ouro preto, ocupa um papel central,
nesta altura praticamente insubstituível, na produçom industrial mundial.
E dizemos bem quando afirmamos que nesta altura o papel do petróleo é praticamente insubstituível, já que nom há nengumha outra matéria prima
conhecida tam versátil. Há, com certeza, substitutos parciais, quer dizer, toda umha série de alternativas para cada um dos papéis cumpridos polo
petróleo na produçom industrial capitalista, mas
nengum que abranja todos os usos actuais. A ninguém escapa que os custos que haveria que assumir para achar substitutos viáveis a todas e cada
umha das funçons que cumpre hoje em dia o petróleo som muito elevados. Mas tampouco podemos
esquecer que as grandes companhias petroleiras
nom estám dispostas a permitir o surgimento de alternativas ao produto que monopolizam, umha vez
que isso suporia umha ameaça muito grave para a
manutençom da sua taxa de benefícios, ainda sendo plenamente conscientes de que o petróleo é umha matéria prima que mais cedo que tarde acabará
por esgotar-se e que os custos ecológicos do seu
emprego som muito elevados.
O petróleo foi ganhando essa centralidade na
produçom industrial num processo que começa na
metade do século XIX, quando nos EUA começam a
ser explorados os primeiros poços. Desde entom, a
indústria petroleira foi-se desenvolvendo, abarcando, com um constante crescimento geométrico, cada vez umha maior extensom geográfica e um mais
amplo abano de aplicaçons práticas. Se num primeiro momento o uso do petróleo se destinava fundamentalmente à elaboraçom de combustível para
André Seoane Antelo
boral seriam pois os elementos chave que permitem que o Governo de turno tenha um controlo absoluto dos conteúdos informativos dos
meios públicos, uns meios utilizados para criar
um falso consenso entre a sociedade com base
em duas velhas máximas . “umha mentira longamente repetida torna umha verdade” e “o
que nom sai nos meios nom existe”.
Ante esta situaçom, evidenciada nas últimas
semanas pola absoluta falta de conexom entre
a “realidade” contada pola Radio e a Televisión
de Galicia e a REALIDADE de que toda a cidadania era consciente, medram as vozes de protesto e de repulsa polo papel que estám a jogar
os meios públicos na Galiza, meios que som
maioritariamente financiados polo conjunto do
povo galego. Mesmo há vozes que falam já da
sua inutilidade e da conveniência de os fechar.
Polo contrário, considero que neste momento os meios púbicos som mais imprescindíveis
do que nunca. Em tempos em que a comunicaçom está maioritarimente em maos de grandes
grupos empresariais (que já nom som só grupos mediáticos senom que tenhem diversificados os seus interesses noutros ramos da actividade empresarial e bolsista) os meios públicos deveriam servir de contrapeso a umha informaçom manipulada em funçom dos interesses comerciais e/ou ideológicos das empresas
privadas. O que é necessário é um debate, umha reflexom social sobre o modelo de televisom
pública que queremos. A democracia participativa deve chegar também ao mundo da informaçom. A sociedade tem que tomar o controlo
dos meios públicos se nom quer estar permanentemente manipulada, se nom quer que sejam interesses alheios a si própria quem determinem onde e como está o interesse informativo. Nom basta com pedir as demissons da
actual equipa directiva responsável pola catástrofe informativa do Prestige, há que mudar as
leis e implicar-se activamente na construçom
dum modelo público de meios de comunicaçom
que nos faga mais sábi@s, mais livres.
ACTUALIDADE
5
Petróleo, o combustível
do motor capitalista
Arquivo Abrente
PAÍSES PRODUTORES
DE PETRÓLEO INDEPENDENTES
EUA
7.664
Rússia
7.540
México
3.330
China
3.180
Noruega
3.150
Reino Unido
2.591
Canadá
2.210
Brasil
1.420
Angola
770
Reino
Unido
8%
Brasil
Canadá 4%
7%
Angola 2%
EUA
25%
Noruega
10%
China
10%
Rússia
24%
México
10%
Argélia 3%
PAÍSES PRODUTORES MEMBROS DA OPEP
Arábia Saudita
7.655
Qatar 2%
Indonésia 5%
Irám
3.270
Líbia
Iraque
2.800
5%
Venezuela
2.730
Arábia Saudita
EAU
2.020
Kuwait 7%
30%
Nigéria
1.890
Kuwait
1.885
Nigéria 7%
Líbia
1.340
EAU 8%
Irám
Indonésia
1.280
12%
Venezuela Iraque
Argélia
740
10%
Qatar
630
11%
PAÍSES COM MAIOR CONSUMO DE PETRÓLEO
Reino
Unido 4% México 4%
EUA
17.735
França 4%
Japom
5.785
China
4.010
Itália 4%
Alemanha
2.915
Canadá 4%
Rússia
2.570
EUA
Coreia do
Coreia do Sul
2.250
40%
Sul 5%
Canadá
1.795
Rússia 6%
Itália
1.970
França
1.955
Japom
China
Alemanha 7%
Reino Unido
1.750
13%
9%
México
1.690
As cifras exprimem a produçom diária em milhares de barris de petróleo. Fonte: Instituto Nacional de
Estatística, Geografia e Informática de México.
a iluminaçom, cinqüenta anos mais tarde já passou
a ser utilizado como recurso energético fundamental, deslocando o carvom, para converter-se no século XX no amo e senhor nom só da produçom energética, como também da maior parte da indústria
química. Este crescimento de aplicaçons práticas
respondeu ao desenvolvimento combinado das capacidades científicas e do poder económico das
grandes companhias petroleiras. Poder que nom fijo outra cousa que crecer nos últimos 150 anos até
se converter num dos principais sectores do capital
mundial, possivelmente no que mais e melhor simboliza a aparente omnipotência do capitalismo.
Lembremos, ainda que poda parecer anedótico,
que a primeira vez que um Estado capitalista se viu
obrigado a legislar para regulamentar o processo
de acumulaçom de capitais foi quando o governo
dos EUA ditou as leis anti-trust dirigidas a controlar
o excessivo poder da Standard Oil, leis que datam
da segunda década da centúria passada.
Mas a tentativa de dissolver, ou quando menos
esbater, o crescente poder da indústria do petróleo
desenvolvido a começos do século XX nom tivo
maior sucesso; possivelmente porque o objectivo
nom era outro que o de estabelecer umhas normas
de jogo que permitissem um maior crescimento
afastando o perigo dum grande craque, mais factível no caso de existir umha única companhia monopolística. De facto, na actualidade a produçom, elaboraçom e distribuiçom do petróleo e os seus derivados, continua a estar nas maos de um punhado
de multinacionais, das quais cinco repartem-se o
grosso da torta, estas som Exxon-Mobil e ChevronTexaco, de capital norte-americano; Total-Fina-Elf,
de capital francês; BP-Amoco, de capital británico;
e Royal Ducht-Shell, de capital anglo-holandês.
Atrás destas cinco grandes, herdeiras das históri-
cas sete irmás que já se repartiam os 90% da produçom mundial na década de vinte, aparecem outras companhias como a Repsol-YPF, de capital espanhol, ou a italiana ENI.
A política dos amos do petróleo
Que as grandes petroleiras que controlam a distribuiçom, produçom e comercializaçom do petróleo
e os seus derivados, sejam companhias de capital
radicado nos países do centro da economia mundo
nom é nem muito menos um acaso, senom um facto que nom fai mais que reflectir nitidamente a lógica da rapina própria do imperialismo. Nom é nengum segredo que o interesse por controlar as principais fontes de petróleo estivo na origem de boa
parte dos conflitos bélicos desenvolvidos nos últimos cem anos e, se o petróleo nom foi o detonante
principal, quando menos tivo sempre umha importáncia estratégica. Já em datas tam temperás como a década de dez do século passado, as potências vencedoras na Grande Guerra repatírom-se a
seu bel-prazer as concesons de exploraçom petrolífera em Oriente Médio, que já naquela altura despontava como a maior área produtora do Planeta.
Hoje as cousas tenhem mudado bem pouco e os intereses dos amos do petróleo aparecem por trás
das guerras do Afeganistam ou o Iraque, e na manutençom dos regimes ditatoriais imperantes na
maioria dos países produtores.
Detendo-nos nalgum destes casos particulares,
poderemos tirar umha ampla série de ensinanças
que nos podem ilustrar dum jeito bem nítido como
as democracias ocidentais actuam quando está em
jogo a manutençom dum alicerce fundamental da
sua preeminência económica. Começando pola recente intervençom militar no Afeganistam, deveríamos reparar que só uns meses após o remate
oficial do conflito o governo títere, imposto polos
EUA, assinou um compromisso polo qual permite a
construçom no seu território dum oleoduto que, ligando com o Turquemequistám, transportaria o
petróleo dos jazigos do Mar Cáspio até os portos
paquistaneses. O que, traduzido a umha linguagem
comum, significa que o petróleo do Cáspio, umha
das mais importantes reservas mundiais, passaria
de estar sob controlo quase exclusivamente russo,
a ser directamente extraído e comercializado por
companhias ianques. No caso do Iraque, a situaçom é ainda mais clara, já que nesse país se
acham reservas de petróleo estimadas pola firma
Platts (especializada em prospecçons) nuns
112.000 milhons de barris, número que o próprio
ministério de energia do Iraque eleva até os
300.000. De desenvolver-se umha ocupaçom militar do Iraque por parte ocidental, os peritos indicam que, com a tecnologia ianque, a produçom
anual de petróleo multiplicaria por três num prazo
de dous anos, igualando quando menos o volume
produtivo da Árabia Saudita. Tampouco pode surpreender o apoio prestado polos EUA e os seus
aliados ocidentais à manutençom dos regimes ditatoriais imperantes na maior parte dos países do
Oriente Médio; do Golfo da Guiné, onde destaca o
caso da Nigéria, país que é um auténtico feudo das
companhias Shell, Mobil e Chevron; ou da Indonésia.
Para explicar esta ánsia de predaçom petrolífera
deveríamos lembrar que a dependência da produçom de petróleo por parte das grandes economias
mundiais é realmente crítica. De facto, dos três
grandes pólos de acumulaçom capitalista, só os
EUA som um grande produtor, o maior do mundo,
mas a sua própria capacidade produtiva nom basta
nem tam sequer para cobrir 50% do consumo de
petróleo da sua indústria; doutra parte, a velha Europa precisa de importar perto de 90% do petróleo
que consume, e o Japom tem de importar 100%.
Nestas condiçons, é lógico o pavor existente diante
da perspectiva de voltar à situaçom da década de
70, quando os países integrantes da OPEP decretárom unilateralmente um aumento dos preços do
crude, o que detonou umha crise económica ainda
nom superada. Ante esta tessitura, a atitude que
tomárom as grandes potências, nomeadamente os
EUA, foi, numha chave interna adoptar umha política de acumulaçom de reservas que permitisse paliar um período de restriçom, e numha chave externa umha política abertamente intervencionista rumada a minar a emergência e a consolidaçom de
regimes políticos de corte anti-imperialista e/ou
nacionalista nos países produtores. Nom admira
pois a política de apoio ao fundamentalismo islámico, com destaque para o waabismo da Arábia Saudita, como contra-peso dos projectos laicos nacionalistas inspirados no nasserismo. Política que tivo
sucesso, especialmente na península Arábiga, apesar do relativo fracasso no Irám e das incertezas
que provoca actualmente. Ou tampouco pode estranhar o medo à criaçom dum pólo anti-imperialista na América do Sul, que agrupe o Brasil, a Venezuela, o Equador e a Colômbia; o que explica a implicaçom dos EUA na revolta oligárquica anti-chavista e o cada vez maior interesse por intervir directamente no conflicto colombiano.
Um futuro preto
Só pensemos por um momento o que se passaria no nosso país, Galiza, e no conjunto da Uniom
Europeia se de repente o fluxo de petróleo que as
grandes multinacionais importam desde as áreas
produtoras da periferia e vendem aqui, no centro
da economia mundo, ficasse reduzido ou o seu preço aumentasse de jeito considerável. Imaginemos
os preços dos combustíveis para viaçom e calefacçom multiplicados por quatro ou por cinco, ou umha escasseza de matéria prima que paralise a indústria química de elaboraçom de plásticos, pavimentos e fibras sintéticas. Evidentemente, umha tal
situaçom provocaria um colapso económico absoluto que implicaria umha crise geral da nossa sociedade. Pois um cenário de tal calibre nom é algo tam
afastado da realidade como pudesse parecer.
A lógica do capitalismo, com a sua característica
visom curtoprazista, pretende paliar a possibilidade
dumha crise petrolífera de grande calibre alargando a exploraçom de novos jazigos, como os do Golfo da Guiné, ou acrescentando a produtividade e
embaratecendo os custos dos já existentes. Porém,
isto nom deixa de ser um parche diante da perspectiva, já próxima, do esgotamento dos recursos
petrolíferos. Com certeza, de nom produzir-se umha mudança radical e rápida, a crise da produçom
de petróleo está ás portas, no breve prazo dumhas
décadas. Crise que, de outra parte, muito facilmente poderia carecer de importáncia se som acertados os pronósticos que situam o limiar da crise ecológica que faria inabitável o nosso mundo nos próximos cinqüenta anos –crise de resto provocada
em boa medida pola própria indústria do petróleo.
Lamentavelmente o capitalismo situou-se num beco
sem saída que só poderemos solventar ultrapassando o próprio capitalismo.
Num interessante artigo, “Duelo entre dos
literaturas”, aparecido nas páginas da revista
de Lima Universidad, en Outubro de 1931, o
grande poeta César Vallejo reflexionava sobre
o que entendia -apostando por ele- que ia ser
o futuro da literatura no mundo. Na sua opiniom o processo literário capitalista nom conseguia fugir dos germes de decadência que
lhe subiam desde o baixo corpo social em que
se apoiava. O signo mais claro da decadência
da literatura capitalista –que nom fazia mais
que reflectir a lenta agonia da sociedade de
que procedia- era o esgotamento do conteúdo
social das palavras, fruto da confusom linguística derivada do individualismo exacerbado
em que estava a base da economia e a política burguesas.
O vocábulo afoga-se de individualismo. A
palavra -forma de relaçom social a mais humana entre todas- perdeu assim toda a sua
essência e atributos colectivos.
Tacitamente, na quotidiana convivência,
tod@s sentimos e nos decatamos deste drama social de confusom. Ninguém compreende
a ninguém. O interesse de um fala umha linguagem que o interesse do outro ignora e nom
entende. Como vam entender-se @ comprador/a e @ vendedor/a, @ governad@ e @
governante, @ pobre e @ ric@?
@ escritor/a burguês/a construia as suas
obras com os interesses e os egoísmos da
classe social a que pertencia e para a que escrevia. Nos temas e tendências desta literatura nom havia mais que egoísmo e, por isso,
nom podia gostar dela mais que um/ha leitor/a burguês/a. As outras classes de pessoas –operári@s, camponeses/as e até @s
burgueses/as liberad@s do classismo- nom
podiam entendê-la, porque falava um idioma
diverso e estranho aos interesses comuns e
gerais da humanidade. Esse/a potencial leitor/a proletári@, ou simpatizante do proletariado, fugia dessa literatura.
Perante esta situaçom, e frente a ela, manifestava Vallejo que da mesma maneira que @
proletári@ vai cobrando rapidamente o primeiro posto na organizaçom e direcçom do
processo económico mundial, assim também,
vai ele/a criando-se umha consciência de
classe universal e, com esta, umha própria
sensibilidade, capaz de criar e consumir umha
literatura sua, quer dizer, proletária.
O signo mais importante dela estava em
que devolvia às palavras o seu conteúdo social
universal, enchendo-as de um substractum colectivo novo e dotando-as de umha expressom
e umha eloquência mais diáfanas e humanas.
@ operári@, de jeito diferente do patrom, aspirava ao entendimento social de tod@s e por
isso a sua literatura falava umha linguagem
que queria ser comum a todos os seres humanos.
À confusom de línguas do mundo capitalista, quer @ trabalhador/a substituir o esperanto da coordenaçom e justiça sociais, a língua das línguas.
Com a denominaçom de produçom literária
operária, Vallejo referia-se a toda aquela em
que dominavam o espírito e os interesses
d@s trabalhadores/as, já polo tema, já pola
sensibilidade d@ escritor/a. Refere-se a umha literatura de autores/as de diferente procedência classista que fazem obras seladas
por umha interpretaçom sincera e definida do
mundo d@s trabalhadores/as.
Porém, o poeta peruano errou no seu prognóstico de que pronto adviria, com ofensiva
arroladora, a literatura proletária para derrotar e produzir a desbandada da literatura capitalista.
Nestas breves linhas -que nom podem
abranger mais que um ligeiríssimo percurso
pola literatura galega contemporánea- entendemos a literatura operária nesta linha, mais
ou menos coincidente com a definiçom que
deu de publicaçons operárias Joaquim Molas,
isto é: todo o que se escreve do ponto de vista primordial de expor os males que afectam à
classe operária e manifestam as ideias que a
juízo do autor podem regenerá-la.
Nem que dizer tem que este nom é o tipo de
literatura mais habitual entre nós, pois, antecipemo-lo já, o que prevalece é a criaçom literária gerada fundamentalmente por escritores
que pertencem às classes médias da sociedade galega, com as contadíssimas excepçons
de algum que outro autor do que se pode considerar proletariado, e alguns outros, mais
que os primeiros, que criam as suas obras ao
serviço da sua causa proletária.
E isto obedece a diferentes causas.
No último quartel do século XIX, quando a
nossa literatura já tinha dado os primeiros
passos –alguns deles bem seguros, de certo,
Frei Marcos da Portela, aquele “doutor en Tioloxía campestre” que agachava o nome de Valentim Lamas Carvajal (com a mais que provável colaboraçom de Arturo Vázquez Núñez),
nos meses finais de 1878 nos referia, nos primeiros parágrafos do seu Catecismo da doutrina labrega –un best seller da nossa literatura daquela, e de todos os tempos-, as penúrias que passavam os trabalhadores do campo
no seu malviver:
“P.- Que quere dicir labrego?
R.- Home acabadiño de traballos, caste de
Nº 27. Janeiro, Fevereiro e Março de 2003
TRIBUNA ABERTA
Xosé María Dobarro
6
Literatura operária
e operári@s na literatura
besta de carga na que tanguen a rabear os
que gobernan, ser a quen fan pagar cédula como ás persoas pra tratala como ós cas, [...]”.
ou tentou influir, no desenvolvimento do mesmo, incluída a literatura. Mas tanto ele como o
seu grupo mais próximo nunca tivérom em
conta nas suas obras e nos seus projectos a
classe operária. Outro nacionalista da época,
Álvaro das Casas, referindo-se a este grupo
punha em boca do protagonista das Xornadas
de Bastián Albor (1931) estas palavras:
É ocioso indicar que a estrutura do modelo
da sociedade rural galega, devido ao foro,
conservava as características do Antigo Regime e, em consequência, era diferente da doutros territórios do Estado espanhol. A agricultura era, ademais, o suporte básico da economia na Galiza.
Fruto da sua profunda religiosidade –algo
que se cria que era consubstancial do povo galego-, Lamas nom podia deixar de usar como
base o texto do catecismo da doutrina cristá
do Padre Astete (1576), o que se vinha utilizando maioritariamente na Galiza –noutras
terras predominava o do Padre Ripalda
(1591)-, ainda que é possível que conhecesse
algum dos muitos que circulárom de todas as
cores, já que esta fórmula catequética, como
cousa jesuítica que era, resultava muito eficaz. Anteriores ao do labrego houvo-os dos industriais, dos socialistas, positivistas, revolucionários. Mesmo Engels, en 1847, escreveu
um a jeito de preparaçom do Manifesto Comunista:
“Non hai un que sinta a política, e queren dirixir un movemento exencialmente políteco.
Fracasarán; é terribre, pero fracasarán. [...]
O autonomismo –hastra os lindeiros que sexan precisos- virá cunha revoluzón e pra eso é
preciso xuntar os esforzos cos obreiros, cos
partidos da esquerda, cos caudillos do agrarismo e do proletariado industrial. Estes homes nunca o farán”.
“-¿Que é comunismo?
-O comunismo é a doutrina das condiçons de
libertaçom do proletariado.
-¿Que é o proletariado?
O proletariado é a classe da sociedade que saca a sua subsistencia da venda do seu trabalho exclusivamente e nom do interesse de um
capital qualquer...”.
O uso da fórmula catequística resultava, por
outra parte, eficaz porque ao haver um analfabetismo feroz a aprendizagem dos textos realizava-se ouvindo-o e os destinatários tinham
esta fórmula interiorizada por via eclesial.
Os lavradores supunham nessa altura o
grupo social maioritário da Galiza, pois era no
campo onde residia a imensa maioria da populaçom. Era, pois, o campo o primeiro que
havia que redimir, máxime quando os seus
trabalhadores nom eram os proprietários das
terras e tinham que satisfazer as correspondentes rendas forais. Tratava-se de auténticos escravos da terra incapazes de sair da
mais absoluta das misérias. Só tinham como
válvula de escape, frequentemente enganosa
por outra parte, a emigraçom, maiormente
aos países americanos.
Já que logo, se a literatura queria reflectir
a realidade do mundo circundante nom achava
outros protagonistas que os camponeses, rodeados de todas as maldiçons, nem outros temas que o da miséria e o da emigraçom, como
lacra social derivada dela.
Labreg@s e marinheiros eram, ademais, os
que conservaram o idioma, esse idioma que se
queria reivindicar como língua literária. Os residentes nas vilas ou pequenas cidades utilizavam o espanhol ou aspiravam a fazê-lo. Nom
podiam, pois, aparecer nas obras - se se queriam críveis- falando galego. Teriam que falar
em espanhol, como acontece, por exemplo, na
bilingüe Majina ou a filla espúrea de Marcial
Valladares. Em definitivo, que o mundo rural
era o que conservava as essências da galeguidade.
Mas essa primeira literatura que bota a sua
olhada ao mundo do campo limita-se a apresentar aos leitores a vida difícil dos seus habitantes acompanhada de diferentes usos e costumes tradicionais, descriçom de paisagens.
etc. Em nengum momento, mesmo na obra do
citado Lamas, quem mais páginas escreveu
prestando-lhe atençom, se presentam soluçons, simplesmente se constata umha triste
realidade. Assinalam-se os culpáveis da pobreza e do atraso: os caciques, as cúrias civis
e eclesiásticas..., mas nom se achegam possíveis vias de saída cara ao cámbio. Para acharmos obras que apresentem situaçons de enfrentamento –por vezes violento- com o conflito teremos que aguardar aos começos do século XX, quando surge o movimento agrário
organizado. A literatura do mundo do agro,
pois, –à par que a que mirava a glorioso passado- conformou-se como a autêntica literatura galega. Tanto é assim que no final do XIX,
en 1896, Francisco Álvarez de Nóvoa se via
forçado a iniciar o seu livro de contos Pé das
Burgas com “Dous parrafeos” justificativos do
que ele fazia em consonáncia com o que entendia que devia fazer a narrativa galega, manifstando, que do que se tratava era de escrever em galego do que fosse, procurando, ao
A classe trabalhadora é a grande ausente da literatura galego
tempo, nom fazê-lo do mesmo jeito que fala o
povo ainda que se escreva para ele, porque,
pergunta-se, “¿Cando un home agasalla ou rifa un can, ladra coma el?”.
Mas o mundo do trabalho proletário seguia
ausente desta proposta temática.
Só conhecemos um texto que supom a excepçom que confirma a regra, sobre o que
chamou a atençom Xesus Alonso Montero no
seu Pedro Petouto. Traballos e cavilacións dun
mestre subversivo. Trata-se da traduçom de
Eugénio Carré Aldao recolhida nas suas Brétemas (1896) como “Os tecelás de Silesia” do
poema escrito por Heinrich Heine –o poeta
admirado por Carlos Marx, com quem colaborava no jornal Vorwärts, publicando poemas
políticos- a raiz dos sucessos que tiveram lugar na sua terra natal.
OS TECELÁS DE SILESIA
(UN CONTO)
AO HISTORIADOR GALLEGO
meu ilustre amigo
DON MANUEL MURGUÍA
Calados, sin a fe, ja non as bagoas
Mollan o vulto d’estes pobres servos.
Chaveas, marmulando cando abascas,
Cantos de morte que recolle o vento:
«Vella Alemaña, teu sudario branco
»Tecendo están n-o escuro nosos dedos,
»E n-a tea misturan nosos labres
»Da maldición e da carrage os feros.
»¡Tecemos! ¡Tecemos!
»Maldito seia o Deus que fai ditosos
»Ao que nos chegan, non, os nosos prégos,
»Nin ve a fame que mirra nosos corpos,
»Nin a friage que tolle n-os invernos.
»Non nos sirven a fe que n-Él puximos
ȃl nos vendeu cal fato de cordeiros...
»¡Tecemos! ¡Tecemos!
»Maldito seia o rei, o rei dos ricos,
»Ao que pedindo de margura cheos
»Caridá para nos e para os nosos
Foto Joám Rodrígues
»Por esmola, nos rouba o derradeiro...
»E danos por resposta aos nosos prantos
»Facernos metralar como juvencos.
»¡Tecemos! ¡Tecemos!
»Maldita seia a patrea, si, maldita,
»Cando se ve aldraxada pol-o alleo,
»E non tendo carrage perde o folgo
»Sufrindo a canga sin morrer primeiro.
»Maldita a patrea que, de gionllos posta,
»Non sabe erguerse e defender seus eidos.
»¡Tecemos! ¡Tecemos!
»O canivete vóa, o tear renxe;
»Día e noite sin parar tecemos.
»Vella Alemaña, teu sudario branco
»Tecendo están nosos dedos,
»E n-a tea misturan nosos labres
»Da maldición e da carrage os feros.
»¡Tecemos! ¡Tecemos!».
Estes sucessos dos tecedores de Silésia,
explorados polos industriais, tivérom lugar no
mês de Junho de 1844, a raiz da detençom
dum dos trabalhadores por cantar o seu hino
contra os fabricantes. Produziu-se umha rebeliom que seria esmagada polo exército prussiano. A raiz da sanguenta repressom, Heine
compujo o seu poema, que acadou êxito entre
o proletariado. Tanto é assim que os internacionalistas Spies, Fischer, Engel e Parsons o
recitárom a coro quando se dirigiam ao cadalso para ser enforcados. Foram injustamente
condenados à morte polos sucessos que tiveram lugar durante a greve geral do 1º de Maio
em Chicago, acordada polo Congresso Operário do Canadá e os Estados Unidos de 1885 em
demanda das oito horas de trabalho. Mas estamos perante um caso excepcional da nossa
literatura.
Mesmo operários da construçom naval em
Ferrol, como Charlón e Hermida, quando se
pugérom a escrever teatro na década dos
anos dez do século XX, buscárom as personagens das suas peças breves no mundo rural,
um mundo que de facto nom era o seu.
É mais que sabido que Vicente Risco, umha
vez que se vinculou ao nacionalismo, influiu,
Partindo desta premissa, sem dúvida muito
próxima da verdade, é difícil que se orientasse umha literatura ao serviço das classes populares –agás o caso de Castelao cara aos labregos e marinheiros. Mesmo, deste grupo
que conhecemos como Nós, o único que escreveu textos relacionados com o mundo do
trabalho –mália nom ser e declarar-se nom
marxista- foi o gerente da revista desse nome,
Arturo Noguerol, quem acabaria os seus dias
numha valeta da estrada entre Corunha e Ferrol no verao de 1936.
A própria literatura que tem como protagonistas os emigrantes procedentes do campo,
apresenta-os na sua luita polo sustento diário
e co objectivo de poupar algo para volver em
quanto puderem. Apesar de ter o mar polo
meio semelha que nunca saíram da terra natal. Só após a guerra aparecem na obra dalguns autores –Seoane ou Neira Vilas- emigrantes que trabalham ou trabalharam em diferentes ofícios e que tenhem consciência de
classe operária e, em consequência, participam da luita polos direitos da mesma.
No Fardel de eisilado (1952) de Luís Seoane achamos alguns exemplos da luita no mundo laboral de galegos emigrados. Um exemplo
de clara exploraçom num trabalho infra-humano presenta-no-lo no poema “A Ponte de
Brooklyn. Derradeiro terzo do século XIX”.
As duas caras da emigraçom. A dos viles e
a dos outros. A estes canta-os p.e, na 2ª parte do Em “Outro cantos áos emigrantes.II. O
honor de Galicia” (A maior abondamento,
1972) canta a cara da emigraçom dos que nom
eram viles e luitaram cóvado com cóvado com
os residentes de velho por umha sociedade
mais justa.
“Mais tamén están en América
os outros,
traballadores a maioría.
Asemade estiveron
os que loitaron polas libertades americáns,
teimadamente pola libertade,
[...]
Aquí, en Buenos Aires, medrou
o ferrolán Antonio Soto,
1,84 de outura, ollos azúes moi craros
que dirixiu o erguemento obreiro da Patagonia
con Outerelo, outro galego,
e Graña, tamén galego,
e dúceas de galegos,
en 1921. Cando uns dous mil peóns de estancias
[...]
loitaron pola diñidade do home,
pola libertade,
pola terra que traballaban,
deica morrer,
como así foi.
Asesináronos.
Tratábase di exército dos “verdes”,
así chamaban ós galegos.
[...]”.
Nalguns textos narrativos Neira Vilas, como
é sabido, emigrante em Buenos Aires oferecenos diferentes perspectivas do mundo do trabalho mais ou menos proletário.
Neira situa os 20 relatos de Xente no rodicio (1965) no mundo rural, mas nom som ruralizantes no sentido de apresentarem usos e
costumes. Ainda que se trata de ambientes
camponeses, dum mundo fechado, de quando
em quando aparece por eles o mundo do assalariado.
As 16 narraçons de Historias de emigrantes
(Montevideo 1968) recolhem as vidas e trabalhos destes na Argentina, preferentemente no
mundo da grande urbe, no Buenos Aires dos
anos cinquenta. Quase todas contam a mesma
história, a do moço de aldeia que sem outro
ofício que o de labrego decide emigrar para
trabalhar no negócio doutro galego emigrado.
Mas só se produz o traslado físico já que mentalmente segue na aldeia.
Umha perspectiva curiosa apresenta-no-la
em Tempo novo (1987). As histórias, de gentes reais, desenvolvem-se na Cuba revolucionária e os protagonistas som emigrantes velhos que som ou fôrom pescadores, camponeses, ferroviários, carvoeiros, obreiros do açúcar, artesaos...que chegaram de novos à ilha.
Aqui nom está presente a Galiza nem interessa o feito da emigraçom, já que estes galegos
nunca quereriam volver à terra. Em Traballador exemplar, a Ramón Calvos, que chegara
em 1924, dam-lhe um diploma por ser home
de “patria o muerte”. Fora seu curmám Adolfo (que trabalhava fazendo carbom na Ciénaga
de Zapata) quem lhe abrira os olhos, quem lle
dixera que os homes estám divididos en classes e que cadaquem pensa e fai segundo a
classe à que pertença.
Também nos versos de Celso Emílio Ferreiro podemos achar exemplos do mundo do proletariado. “O monólogo do vello traballador”
apresenta muito bem em chave poética o que
significa a mais-valia.
“Os honoráveles” é um exemplo de crítica
aberta ao sistema explorador do ser humano.
Frente à claridom ideológica que mostram os
seus versos, “Deitado frente ao mar” semelha-nos umha contradiçom, pois se no começo
o galego é para ele a Língoa proletaria do meu
pobo nos versos finais converte-se no idioma
dos sectores sociais que o conservárom, os
“mariñeiros, labregos do lingoaxe”.
Como assinalava Mêndez Ferrim –mália que
na sua obra, tanto poética como narrativa
achemos operários- referindo-se, em 1966, à
chamada Nova Narrativa, nas obra de Blanco
Amor, Neira Vilas ou Eliseo Alonso “aparece
umha sorte de ignoráncia das técnicas vanguardistas do romance que nos obrigam a ver
na sua maneira literária a antítese justa e cabal da actitude dos escritores da nova narrativa. A realidade, a tradiçom, a vinculaçom aos
estamentos populares da naçom galega oponhem-se dialecticamente à evasom, à inovaçom técnica, ao cosmopolitismo na temática
presente na nova narrativa”.
Nom obstante, em obras consideradas de
renovaçom, ou mesmo catalogadas na Nova
Narrativa, detecta-se a presença do mundo
operário. Eis os casos de Cambio en tres, de
Carlos Casares, ou de Adiós María, de Xohana
Torres.
Mas nom toda a nossa literatura é renovadora. Muita dela, sobretodo durante o franquismo e a chamada transiçom, é política, de
combate, de denúncia e, contodo, a presença
do mundo proletário é a meu entender escasso. Ainda que se topam versos abertamente
sindicalistas, como o “Poema/democrático/
sindical”, nos Poemas pra construír unha patria (1977) de Manuel Maria.
Haveria que aguardar quase ao dia de hoje
para poder achar a palavra obreiro no título
de umha obra Tortillas para os obreiros
(1996), de Fram Alonso.
Xosé María Dobarro é catedrático de
literatura galega na faculdade de Filologia da
Universidade da Corunha.
Alberto Vergueiro
Nº 27. Janeiro, Fevereiro e Março de 2003
INTERNACIONAL
7
O carácter de classe do
governo Lula e o que representa
A eleiçom de Luiz Inácio Lula da Silva como
presidente do Brasil e a sua posse, em 1° de Janeiro, vem sendo propalada mundialmente como
umha grande vitória da esquerda. Curiosamente,
a propagaçom dessa falácia tem contado com a
participaçom fundamental da grande mídia burguesa, da maioria dos jornais e das emissoras
de televisom e de rádio mais tradicionais e de
maior audiência de todo o mundo, que fam coro
ao exaltar a ascensom do ex-operário Lula e do
Partido dos Trabalhadores (PT) ao governo central. A realidade escondida por trás do espectáculo das telas e das primeiras páginas, que explica o entusiasmo da burguesia mundial, é a
realidade de um governo de submissom ao capital monopolista e ao imperialismo, um governo
anti-trabalhadores e anticomunista, um governo
da contra-revoluçom.
A composiçom do governo Lula denuncia o seu
carácter direitista: o Vice-presidente da República é José de Alencar, um industrial bilionário ligado ao Partido Liberal; na presidência do Banco Central foi colocado Henrique Meirelles, expresidente mundial do Bank of Boston, eleito deputado federal polo PSDB, o Partido da Social
Democracia Brasileira, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o FHC. Aliás, toda a antiga
directoria do BC foi mantida nos seus postos, incluindo a trapaceira Ester Grossi, cúmplice do
banqueiro falido Salvatore Cacciola no assalto
de 1,6 bilhons de dólares aos cofres do país
numha transacçom cambial fraudulenta consumada há quatro anos. A mesma orientaçom direitista tendência que transparece das primeiras
medidas anunciadas polo novo governo, como a
reforma da previdência social, que vem sendo
proposta em bases semelhantes às preconizadas polo governo anterior (com ataques aos direitos dos servidores públicos e vinculada ao incremento dos fundos de pensom privados), que
todavia nom conseguiu implementá-las. Nom é
de se estranhar que no seu discurso de posse,
como de resto em toda a campanha eleitoral, Lula nom tenha feito críticas às reformas feitas ou
defendidas polo governo contra o qual se candidatava, mas apenas à sua “incompetência” para
fazer as “mudanças”.
Lula elegeu-se com o compromisso programático de “honrar os contratos” assinados polos
governos anteriores com o capital internacional,
ou seja, os acordos com o Fundo Monetário Internacional (FMI), os bancos internacionais e os
grupos económicos que arrematárom a preço de
banana as empresas públicas privatizadas na última década. Em oito anos como presidente da
República, FHC levou ao extremo o endividamento externo e interno do Brasil, colocando-o em
dependência total e directa da especulaçom dos
mercados financeiros. A manutençom dessa política significará necessariamente o aprofundamento da miséria do povo, a continuidade do arrocho salarial, da sangria dos recursos naturais
e das riquezas produzidas polo país em nome do
pagamento da dívida, a continuidade do desmantelamento dos serviços públicos e das privatizaçons e daí por diante. Significará confronto
com os trabalhadores e as massas populares.
De qualquer modo, o compromisso do candidato do PT em relaçom aos contratos foi assumido também polos outros três candidatos mais
citados nas pesquisas eleitorais: José Serra, do
PSDB, Anthony Garotinho, do Partido Socialista
Brasileiro (PSB), e Ciro Gomes, do Partido Popular Socialista (PPS, sucedáneo liberal do Partido
Comunista Brasileiro). Juntos, os quatro referendárom, em Agosto, o acordo de emergência
de 30 bilhons de dólares assinado polo governo
de Fernando Henrique com o FMI para contornar
umha crise financeira que fijo a cotaçom do dólar frente à moeda brasileira subir de menos de
2,40 para até 4,00 reais em poucas semanas. Enfim, todos eles disputárom a eleiçom como representantes do capital. Os candidatos trotskistas do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) e do Partido da Causa Operária
(PCO), que criticavam a política de FHC e defendiam o nom pagamento da dívida externa, permanecêrom excluídos dos debates promovidos
polas emissoras de TV e do noticiário diário da
imprensa, com o referendo do Tribunal Superior
Eleitoral.
A qualquer observador isento, está claro que
Lula presidente está longe de significar que os
trabalhadores brasileiros chegárom ao poder,
como o senso comum e a propaganda pseudoesquerdista propagam. Som o capital financeiro
internacional e a burguesia monopolista que
mais umha vez conseguem dar nova aparência à
sua dominaçom de classe, exercida sobre e contra os trabalhadores da cidade e do campo e as
massas populares em geral. A ascensom de Lula e do PT é similar, em muitos aspectos, à grande manobra realizada pola classe dominante para a substituiçom da desgastada ditadura militar
nascida do golpe militar de 1964 pola ditadura
da democracia burguesa, e que culminou com o
advento da chamada “Nova República” e a convocaçom de eleiçons para um Congresso Constituinte em meados da década de 80. Ao fim de
quase dez anos de abertura política “lenta, gradual e segura”, como planejado polo ditador General Ernesto Geisel, aquela transiçom conservadora completou-se como um pastiche, tendo
como presidente da República um filhote político
da ditadura, José Sarney. Hoje candidato do governo petista a presidente do Senado Federal,
Sarney tornara-se vice do conservador Tancredo
Neves sob argumentos “pragmáticos” muito semelhantes aos que figérom do empresário José
de Alencar o vice de Lula, e terminou por assumir o governo com a morte do presidente eleito.
Com a eleiçom de Lula consolida-se umha “renovaçom” no quadro da social-democracia brasileira, com a transformaçom do PT em protago-
Arquivo Abrente
nista da renovaçom do poder do imperialismo e
da burguesia monopolista, substituindo o PSDB.
Trata-se agora de umha social-democracia mais
“moderna”, mais “participativa”, de maior apelo popular. Mas essa condiçom nom é adquirida
na última hora, e sim construída ao longo das últimas duas décadas, período em que o Partido
dos Trabalhadores —criado em 1980 por elementos de esquerda refractários aos velhos partidos comunistas (o PC do Brasil e o PC Brasileiro), militantes do movimento sindical e popular
que faziam oposiçom às velhas lideranças “pelegas” (comprometidas com os patrons). Essa atitude refratária de militantes de esquerda, era
conseqüência do desgaste da política denominada comunista que, desde 1922 quando é formado o PCB, ao longo de décadas nom consolida
um núcleo de científicos adeptos ideológicos da
teoria revolucionária do proletariado, o marxismo-leninismo. A decomposiçom dos partidos citados que engendra sucessivas cisons contribuiu
para que o PT, imediatamente ao seu surgimento, nom revelasse o seu carácter nom proletário,
anticomunista e representante dos interesses
do capitalismo, como se apresenta hoje.
Do exposto até aqui, pode-se pontuar o que se
espera do governo Lula, como segue:
– Nengumha mudança sem ruptura com a ordem vigente e sem luitas de classes polo poder,
como promete o governo Lula. Tampouco, melhoria nas condiçons de vida e sobrevivência dos
mais pobres, através da filantropia, relaçons
harmoniosas entre patrons e empregados, reforma agrária sem ocupaçons e com respeito à
propriedade, “inserçom soberana” na globalizaçom e cousas polo estilo.
– Face ao antagonismo das contradiçons so-
ciais e económicas da sociedade brasileira, notadamente a contradiçom entre burguesia e proletariado, agudizadas polo acirramento da disputa inter-imperialista com a ofensiva política, económica e militar do imperialismo estado-unidense, nom podem ocorrer mudanças significativas
para o povo nem ser assegurada tranqüilidade
social à classe dominante, pois é umha necessidade objectiva do capital para se reproduzir com
super-lucros intensificar a exploraçom sobre os
trabalhadores, quanto estes tenhem necessidade de reagir de todas as formas a essa situaçom. Daí que a política do governo do PT, voltada para os interesses do capital, para ser efectivada terá de usar a força com o objectivo de
quebrar a resistência e luitas dos trabalhadores,
através da violência do Estado. Isto impelirá o
proletariado e os trabalhadores a enfrentar o
governo Lula como a qualquer governo da burguesia.
Diante da situaçom que se apresenta com o
governo Lula, é necessário adoptar a posiçom de
criar condiçons políticas e de força organizada
para combatê-lo. Para isto, há que tomar umha
atitude política militante de carácter classista
proletário, tendo como objectivo:
– Denunciar e desmascarar o carácter de
classe e os interesses capitalistas que representa;
– Unir as autênticas forças de esquerda para
organizar e preparar as luitas e o enfrentamento contra os interesses do capital e o seu governo, no caso, o de Lula;
– Intensificar a propaganda comunista, principalmente no seio do proletariado industrial, visando esclarecer os trabalhadores sobre o seu
interesse estratégico na revoluçom, para desenvolver nom apenas o trabalho político na conjuntura, como construir um sistema de organizaçom
em todos os níveis e formas necessárias a eclosom e avanço de suas luitas contra o capitalismo;
– Com base no trabalho político e de organizaçom no seio do proletariado, criar as condiçons para assentar os alicerces da construçom
de um autêntico partido proletário comunista,
marxista-leninista;
– Para desenvolver a posiçom política contra
o capitalismo e o governo que representa os
seus interesses, é necessário dar duro combate
ao oportunismo e à pseudo-esquerda, como
também aos partidos do “comunismo” legal.
Sem esta luita, nom serám removidos os obstáculos, nem derrotadas as suas tentativas nos
terrenos político, ideológico e organizativo de
minar a construçom do partido revolucionário do
proletariado, marxista-leninista.
Com os pontos abordados espera-se que fique esclarecido o carácter de classe e o que representa o governo Lula.
Alberto Vergueiro é militante comunista brasileiro
LIVROS
Selecçom, comentários e traduçom
de Ana Barradas
Direitos da mulher e da cidadá
Olympe de Gouges, Mary Robinson, Elizabeth Cady Stanton,
Matilda J. Cage, Olive Schreiner
110 páginas.
Com este novo volume da editora feminista portuguesa
Ela por Ela, achegamo-nos a umha parte significativa dos
textos fundacionais do feminismo contemporáneo. Olympe de Gouges, Mary Robinson, Elizabeth Cady Stanton,
Matilda J. Cage e Olive Schreiner som só umha mostra daquelas mulheres que decidírom trasgredir o rol que a sociedade patriarcal lhes atribuia para erguer as suas vozes contra a dominaçom, exploraçom e opressom masculina. Todos os textos vam precedidos dumha pequena sinopse histórica que ajuda
enormemente à sua compreensom e enquadramento.
O primeiro texto, “Os direitos da Mulher e da Cidadá”, publicado em 1791, constitui um alegato à igualdade na França revolucionária. Olympe de Gouge adverte da
necessidade de que a revoluçom assuma a causa da igualdade de sexos perante a
consciente exclusom das mulheres por parte do novo sistema que se instaurava. A
sua luita feminista conduziu-na à forca em 1793, nom sem antes deixar-nos alguns
textos pioneiros como o que este volume nos oferece.
Estas primeiras vozes de mulheres, -a maioria pertencentes a aristocracia e às classes médias-, estendêrom-se rapidamente polos estados que estavam a viver a revoluçom industrial e a padecer as suas conseqüências: França, Inglaterra, Estados
Unidos, etc. Num primeiro momento, florescerám os salons literários em que muitas
mulheres conscientizadas debaterám sobre diversas questons: direito à educaçom,
à nom discriminaçom laboral, divórcio, etc. Anos depóis nascerám os jornais de mulheres e as primeiras organizaçons feministas da época, como o Movimento Nacional polo Sufrágio das Mulheres, fundado em 1869 por Elizabeth Cady Stanton e Susan B. Antony, inaugurando a luita sufragista nos Estados Unidos. Embora muitas
das reivindicaçons que faziam estas mulheres hoje estejam formalmente assumidas,
nom lhes restam interesse do ponto de vista histórico e feminista.
Neste livro, além de oferecer-nos alguns textos e fragmentos da obra destas pioneiras, topamos também exemplos das primeiras mulheres que, dumha óptica de
esquerdas, começam a reflectir sobre o papel da mulher no trabalho. Ajudadas polas redes internacionais que se estavam tecendo, -A Internacional das Mulheres dirigida por Clara Zetkin-, reflectirám sobre a importáncia da independência econó-
Terry Eagleton
Marx e a liberdade.
Edições Dinossauro, Lisboa 2002, 73 páginas
@s
camaradas de Edições Dinossauro venhem de editar no passado ano este pequeno volume do conhecido marxista británico Terry Eagleton. Nele topamos quatro
ensaios em que se aborda o pensamento
de Karl Marx da óptica da filosofia, a antropologia, a história e a política.
Apesar de ser um livro em que abundam as
citas, dista muito de ser o consabido manual escolástico próprio
doutras épocas aparentemente mais propensas ao desenvolvimento e o estudo do marxismo, mui polo contrário estamos diante dumha obra de agradável e cómoda leitura, facto a que ajudam a inclusom das citas no corpo do texto, e nom como notas a rodapé, e a
sua brevidade, já que nom chega às setenta páginas. Apesar desta
brevidade, nom achamos umha vulgarizaçom barata do marxismo,
mui polo contrário estamos perante umha obra consistente em que
o autor sabe sintetizar alguns dos aspectos mais importantes e interessantes do pensamento marxista, em muitos casos esquecidos
e manipulados mesmo por alguns se dizem marxistas, trazendo-os
de novo à cena para podermos reflectir sobre eles.
O Marx anti-filósofo, o materialista que pom a dialéctica de Hegel sobre os seus pés, vem seguido do Marx que descreve o fenómeno da
alienaçom, para passar depois ao Marx que define o conceito Modo
de Produçom, rematando com o Marx revolucionário que chama à
tomada do poder por parte do proletariado. Nos quatro capítulos,
um aspecto subjaz em todos eles, o que dá o título ao livro, a liberdade; conceito fundamental, às vezes esquecido e em tantas ocasions tergiversado, na obra e a vida de Karl Marx. A liberdade nom
como utopia, senom como necessidade humana que é preciso conquistar gerando as condiçons necessárias para a sua existência.
Em definitivo, um muito bom livro que satisfará tanto quem já seja
conhecedor da obra de Karl Marx como quem esteja a iniciar-se no
conhecimento do método de interpretaçom da realidade mais correcto dos que actualmente conhecemos. (André Seoane Antelo).
WEB
Carla Mosca e Rossana Rossanda
Mario Moretti Brigadas Rojas
Akal, Madrid 2002, 333 páginas.
As jornalistas italianas Carla Mosca e Rossana Rossanda entrevistam neste livro um dos
fundadores e principais dirigentes das Brigate
Rosse. Em mais de trescentas páginas, Mario
Moretti realiza um percurso histórico desde a
fundaçom da organizaçom armada a inícios da
década de setenta até a sua posterior derrota e autodissoluçom a inícios dos oitenta.
A luita de classes numha metrópole capitalista, a gestaçom da autodefesa
operária nas fábricas, o combate com o reformismo e o revisionismo, estám continuamente presentes numha obra que nom pretende auto-justificar, mas tampouco renunciar a esta experiência refrencial. Embora umha
das partes mais interessantes deste livro-entrevista, realizado desde a cadeia em que continua preso desde 1981, som os cinqüenta e cinco dias do
seqüestro de Aldo Moro, -presidente da Democracia Cristá-, executado polas BV após ter decidido o Estado abandoná-lo à sua sorte, recusando-se a
realizar o mínimo gesto político que solicitava a organizaçom armada para
libertá-lo. Foi precisamente este ataque ao “coraçom do Estado italiano”,
utilizando a terminologia brigadista, -realizado em 1978-, umha das causas,
ligada basicamente ao processo de profunda mutaçom da morfologia do
proletariado italiano, com as que Moretti explica o fracasso da estratégia
política da guerrilha comunista num dos países do capitalismo avançado.
Nom é umha entrevista convencional sobre umha organizaçom armada, é
umha entrevista que tenta analisar umha parte da história italiana após a
Segunda Guerra Mundial, a integraçom do PCI no sistema burguês, o “compromisso histórico” entre Andreotti e Berlinguer, o papel de Itália na guerra fria, as razons de Estado, as redes ocultas do capitalismo para evitar umha vitória eleitoral d@s comunistas, o impressionante desenvolvimento da
esquerda radical. Mas também transmite com naturalidade e sinceridade
umha experiência concreta, o processo de gestaçom e desenvolvimento
dumha organizaçom armada configurada por operári@s das grandes concentraçons fabris do norte de Itália, as relaçons intensas com as massas
proletárias, o papel da vanguarda nas luitas, a violência política. Um livro
que cumpre ler. (Carlos Morais)
http://politicaoperaria.pla
netaclix.pt/
Recomendamos a versom digital
da revista bimestral d@s camaradas da Política Operária, que
desde há um par de meses está
na rede. Embora ainda nom conte
com um elaborado desenho gráfico, a apresentaçom é clara e
agradável à vista. A qualidade
dos artigos, que nos aproximam
da actualidade portuguesa e
mundial dumha óptica marxista,
torna imprescindível a sua visita
para os galegos e as galegas que
aderimos a tais princípios. A página Web conta com várias secçons, destacando as ediçons anteriores da revista, ou a dedicada
às diversas publicaçons, onde há
um catálogo de livros de diferentes editoras, entre elas Edições
Dinossauro e a Abrente Editora, e
onde se poderám fazer as encomendas. Nom podemos deixar
sem nomear o apartado dedicado
às assinaturas, já que a revista
Política Operária se mantém na
rua há dezasseis anos e atingiu já
o número 88, graças ao contributo económico dos seus e as suas
assinantes. Esperamos ver crescer este novo projecto digital
d@s noss@s camaradas portugueses.
Edita: Primeira Linha. Redacçom: Rua do Home Santo 29, 4º A. 15703 Compostela. Galiza. Telefone: 616 868 589.
www.primeiralinha.org
Conselho de Redacçom: Comité Central de Primeira Linha
Fotografia: Antom Garcia, Andrés Panaro. Correcçom lingüística: Galizaemgalego.
Maqueta: Carmen Aurora Seijas. Imprime: Litonor S.A.L. Feche de ediçom: 15 de Fevereiro de 2003
Correspondência: Apartado dos Correios 760. Compostela. Galiza. Correios electrónicos: [email protected] / [email protected]
Tirage: 3.000 exemplares. Distribuiçom gratuíta.
Permite-se a reproduçom total ou parcial dos artigos sempre que se citar a fonte. Abrente nom partilha necessariamente a opiniom dos artigos assinados.
Impreso em papel reciclado. Depósito Legal: C-901-1997
Polo direito de autodeterminaçom dos povos
Evitemos a agressom imperialista contra o Iraque
USA: a organizaçom terrorista que ameaça a humanidade com armas de destruiçom massiva
Desde a derrota na guerra do Golfo em 1991, o
imperialismo anglo-norte-americano vem aplicando umha beligerante política de estrangulamento
económico e agressom militar contra o Iraque,
cujas conseqüências mais dramáticas som a
morte de dezenas de milhares de crianças por
falta de assistência médica e malnutriçom, e de
centenas de civis nos bombardeamentos sistemáticos que padece o país.
Embora as sançons económicas impostas
com o beneplácito da ONU só afectem directamente o povo iraquiano, procuram a
queda do regime como parte da estratégia global do capitalismo norte-americano
de domínio do vasto território do “Oriente Médio” e o Cáucaso-Cáspio que garanta o controlo directo das fontes energéticas e de matérias primas estratégicas
que lhes permita perpetuar a hegemonia
planetária de maneira indefinida.
Após dobregar a política nom ocidental da Jugoslávia em 1999, impor um
protectorado no Afeganistám em 2001,
apoiar a actual desestabilizaçom fascista da Venezuela, os USA necessitam com
urgência derrotar Sadam Hussein para
apoderar-se dos imensos jazigos de petróleo e gás que possui o Iraque e impor um
governo fantoche que converta o Estado
árabe numha colónia.
A prática dependência do petróleo como fonte energética primordial do modo
de produçom capitalista provoca que o
imperialismo na sua fase de ofensiva fascista contra a humanidade, acelerada
após o 11 de Setembro, aposte polo controlo directo das reservas do ouro negro, por geri-las sem intermediários.
Os USA, em pouco mais dumha década,
necessitarám importar a maioria do petróleo que consomem, polo que necessitam garantir a subministraçom a preços de
saldo. Os grandes interesses económicos da indústria petroleira nom só provocam acidentes como o do Prestige, impedem apostar polas energias renováveis e
limpas, e fomentam o militarismo característico do bloco de classes dominantes ianque em aliança com o complexo militar-industrial do que Bush tam só é o actual gestor.
Os senhores da guerra norte-americanos
também necessitam atacar o Iraque para incentivar a sua economia, dependente da indústria
armamentística. É-lhes necessário dar saída aos
excedentes acumulados, fazer recair sobre @s
pobres a crise do capitalismo. Provar sobre o terreno a letal eficácia da última geraçom de armas
de destruiçom massiva.
Dissuadir o incremento da luita dos povos, @s
trabalhadores/as e as mulheres pola liberdade e a
emancipaçom, assim como “resolver” o conflito
palestiniano, som outras causas que jogam um papel destacado. Israel pretende aproveitar a eliminaçom dum Iraque soberano para aplicar a soluçom final do sionismo: expulsar o povo palestiniano dos seus legítimos territórios e construir
a paranóia racista do grande-Israel sobre o que
se alça o seu Estado.
A “justificaçom” para o ataque está baseada
na nunca demonstrada posse de armas de destruiçom massiva polo regime de Bagdad. O ataque
é umha questom de tempo, com ou sem a coarctada da existência de armas biológicas, químicas, nucleares, que armazenaria o Iraque nuns depósitos
secretos que os inspectores da ONU ainda nom encontrárom, os Estados Unidos vam atacar o Iraque. Ainda que nom necessitam da legitimaçom
do Conselho de Segurança, preferem contar com
o seu respaldo para ganhar mais aliados na
sua cruzada. De momento, contra a opiniom
maioritária dos seus povos, Bush conta com
o apoio incondicional dos seus principais lacaios na UE, a triada configurada por Blair,
Aznar e Berlusconi.
A ofensiva terrorista em que o capitalismo
está inserido é a melhor mostra da sua fraqueza, é o sintoma mais eloqüente da crise, do declínio do império norte-americano.
Defender o direito de autodeterminaçom
do povo iraquiano, denunciar a ofensiva imperialista, é um dever de qualquer ponto de
vista internacionalista, mas também é umha necessidade para contribuir para reforçar o processo de libertaçom nacional e
social de género que impulsiona o MLNG.
Defender Bagdad é defender os direitos
nacionais da Galiza. Solidarizar-se com o
povo trabalhador iraquiano é apoiar a
emancipaçom da classe trabalhadora galega.
Impidamos que o servilismo do Governo espanhol colabore com a agressom.
Paremos a guerra.
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Compostela: Livraria Couceiro, Livraria A Palavra Perduda, Livraria Ártico,
Tarasca, A Sereia.
Corunha: Livraria Couceiro, Sisargas.
Ferrol: Livraria Sargadelos, Fundaçom Artábria.
Lugo: Livraria Sargadelos.
Ourense: Livraria Torga.
Ponte-Areias: Livraria Nova, Citánia.
Ponte-Vedra: Livraria Michelena.
Vigo: Livraria A Caixa de Pandora, Livraria Andel do livro galego e português.

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