ANÁLISE COMPARATIVA DA SENSIBILIDADE DA TÉCNICA

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ANÁLISE COMPARATIVA DA SENSIBILIDADE DA TÉCNICA
____________________________ Análise Comparativa da Sensibilidade da Técnica de Willis, no Diagnóstico Parasitológico da Ancilostomíase.
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ANÁLISE COMPARATIVA DA SENSIBILIDADE DA TÉCNICA DE WILLIS,
NO DIAGNÓSTICO PARASITOLÓGICO DA ANCILOSTOMÍASE
Elúzio José Lima Cerqueira1
Marcelo Santos Arcanjo2
Leda Maria Alcântara3
RESUMO: A Técnica de Willis é empregada na rotina do laboratório de Análises Clínicas, com a
intenção de diagnosticar a presença de ovos leves de helmintos, principalmente ovos de
Ancilostomídeos, parasito largamente diagnosticado, através do exame de fezes, na nossa população.
Diante dos fatos, buscou-se avaliar a verdadeira eficiência desta para o diagnóstico da ancilostomíase,
e decidir se deverá ela, ou não, ser recomendada aos analistas como método de escolha. Foi realizada
uma triagem através da técnica da Hoffmann, Pons & Janer, separando-se assim 115 amostras com
diagnóstico positivo para Ancilostomídeos, e outras 79 amostras com diagnóstico negativo e, assim,
analisada comparativamente a técnica.
Palavras-chave: Técnicas parasitológicas; comparação; parasitoses intestinais.
ABSTRACT: Willis Technique is used in the routine of the laboratory of Clinical Analyses, with the
intention of diagnosing the presence of light eggs of helminthes, mainly eggs of Ancilostomideos,
parasite broadly diagnosed through the exam of feces in our population. Before such facts, it was
looked for to evaluate the true efficiency of this for the diagnosis of the ancilostomíase and to decide
if it will owe or not to be her referred technique recommended the analysts as choice method. A
screen was accomplished through the technique of Hoffmann, Pons & Janer, separating like this 115
samples with positive diagnosis for Ancilostomídeos and other 79 samples with negative diagnosis
and, like this, analyzed the technique comparatively.
Keywords: Techniques parasitological; comparison; intestinal parasitoses.
1Doutor
em Parasitologia- Universitá Valencia – Espanha. Professor da Faculdade de Tecnologia e Ciências – Salvador e
da Faculdade de Farmácia da UFBA. E-mail: [email protected]
2 Graduando do Curso de Farmácia - Bioquímica da Universidade Federal da Bahia. Bolsista PIBIC. E-mail:
[email protected]
3Professora de Parasitologia Clínica da Faculdade de Farmácia da UFBA. E-mail: [email protected]
____________________________ Análise Comparativa da Sensibilidade da Técnica de Willis, no Diagnóstico Parasitológico da Ancilostomíase.
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1 Introdução
A Família Ancylostomatidae possui espécies que, freqüentemente, parasitam grande parte da
população mundial, ocasionando a ancilostomíase, como a doença é chamada.
Ancilostomíase é uma infecção intestinal causada por nematódeos (vermes cilíndricos) que,
em caso de infecções leves, pode não apresentar sintomas. Em crianças com muitos parasitos pode
ocorrer anemia e atraso no desenvolvimento físico e mental. A migração da larva através dos
pulmões pode causar hemorragia e pneumonite. A ação dos parasitos, tanto por etiologia primária,
como secundária, geralmente desencadeia um processo patológico de curso crônico, que pode
resultar em conseqüências fatais. A doença predomina nas áreas rurais, estando muito associada a
áreas sem saneamento e a áreas em que as pessoas têm hábito de andarem descalças. No Brasil, a
doença é conhecida popularmente como: amarelão, opilação, doença do Jeca Tatu, portanto, criou-se
a necessidade de obter uma técnica eficaz para diagnosticar a presença desses parasitos.
Na prática laboratorial é rotina utilizar-se mais de um método para detecção de ovos, larvas
de helmintos, cistos e oocistos de protozoários, principalmente para aumentar o número de casos
positivos.
A técnica de Willis é empregada na rotina do laboratório de Análises Clínicas, com a intenção
de diagnosticar a presença de ovos de Ancilostomídeos (Ancylostoma duodenale e Necator americanus),
helmintos largamente diagnosticados, através do exame de fezes, na nossa população, uma vez que a
técnica em questão é de fácil uso, simples e não dispendiosa. Todavia, questionamentos têm surgido
em relação à sua eficiência.
Avaliando a verdadeira eficiência da citada técnica, caracterizar-se-á, assim, o seu real valor
como método útil e prático de diagnóstico. Dessa forma, pudemos testar, comparativamente, a
técnica de Willis, com o intuito de definir a viabilidade do uso da técnica na rotina dos laboratórios
de parasitologia, como método diagnóstico da ancilostomíase.
2 Objetivos
O trabalho procurou comparar a sensibilidade, especificidade, valores positivos e negativos
da técnica de WILLIS (1921), tomando como parâmetro a técnica de HOFFMANN, PONS &
JANER (1939). O primeiro método baseia-se no princípio da flutuação em solução de cloreto de
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sódio, e o segundo, na sedimentação espontânea da amostra fecal em água; daí ter ficado o método
mais conhecido como Sedimentação Espontânea.
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3 Metodologia
No período compreendido entre março de 2003 e abril de 2005, foi realizada análise
comparativa da técnica de Willis no Laboratório de Parasitologia Clínica da Faculdade de Farmácia
da Universidade Federal da Bahia, com a finalidade de avaliar a sua verdadeira eficiência no
diagnóstico da pesquisa de ovos de Ancilostomideos.
O estudo em questão foi realizado com 194 amostras, separadas do universo das amostras
coletadas de pacientes de idades variadas, escolhidos aleatoriamente nas comunidades de Buri,
Camarões, Cangurito, Capoeira, Cobó e Cruz da Mata, no município do Conde – BA, em parceira
com a disciplina ACC – “Educação, Saúde, Prevenção e Diagnóstico das Doenças Parasitárias”, da
Faculdade de Farmácia, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que nos forneceu as amostras.
As amostras passaram por uma triagem inicial, através da técnica da Sedimentação
Espontânea. Cada paciente recebeu um recipiente plástico com tampa, identificado pelos alunos da
referida disciplina. As amostras fecais eram coletadas em data posterior, ou no mesmo dia de entrega
do coletor.
As amostras coletadas foram acondicionadas em caixa de isopor, transportadas e conservadas
sob refrigeração para serem, posteriormente, examinadas. As amostras com quantidades insuficientes
foram descartadas e desconsideras.
Numa primeira etapa, foi realizada triagem das 194 amostras, através da técnica de
Sedimentação Espontânea, separando-se, assim, 115 amostras de pacientes com diagnóstico positivo
para Ancilostomideos, e outras 79 amostras de pacientes com diagnóstico negativo. A seguir, as
amostras foram submetidas à análise por meio da técnica de Willis.
4 Resultados
Foram analisadas 194 amostras, das quais 115 foram positivas para Ancilostomideos e 79
foram negativas, pela técnica de Sedimentação Espontânea, segundo a tabela 1. Todas as 194
amostras também foram analisadas através da técnica de Willis, cujos resultados são observados na
tabela 2.
Como foi dito, analisamos 115 amostras positivas para Ancilostomideos, pela técnica da
Sedimentação Espontânea. Estas amostras analisadas pela técnica de Willis apresentaram uma
positividade de 66,09%.
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As amostras negativas, num total de 79 pela técnica da Sedimentação Espontânea, após
análise com a técnica de Willis, mostraram uma positividade de 30,38%, ou seja, 24 amostras.
Assim, no universo de 194 amostras analisadas através da técnica de Sedimentação
Espontânea (59,28% positivas para Ancilostomideos e 40,72% negativas), 51,55%, ou seja, 100
amostras (76 + 24) confirmaram-se positivas para Ancilostomideos, através da técnica de Willis.
Esses resultados são conclusivos, uma vez que foi traçado um paralelo comparativo entre as
duas técnicas, realizado após a análise total das amostras.
Das 194 amostras analisadas, obtivemos os seguintes resultados:
1. Técnica da Sedimentação Espontânea: 59,28% positivas para Ancilostomídeos (Tabela 1)
2. Técnica de Willis: 51,55% positivas para Ancilostomídeos (Tabela 2)
Para análise estatística, utilizou-se o Programa Epi-Info 6,045, sendo analisados os resultados
apresentados nas Tabelas 1 e 2.
TABELA 1. Resultados das amostras analisadas pela técnica de Hoffmann, Pons e Janer
(Sedimentação Espontânea) para pesquisa de Ancilostomideos.
Amostras analisadas
Técnica da Sedimentação Espontânea
%
Amostras Positivas
115
59,28
Amostras Negativas
79
40,72
Total
194
100
Tabela 2. Resultados das amostras analisadas pela técnica de Willis para
pesquisa de Ancilostomideos.
Amostras analisadas
Técnica de Willis
%
Amostras Positivas
100
51,55
Amostras Negativas
94
48,45
Total
194
100
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5 Discussão
A técnica de Willis é considerada como método de escolha para pesquisa de ovos de
Ancilostomideos. Sabendo-se que a técnica de Hoffmann, Pons e Janer (Sedimentação Espontânea)
oferece resultados significativos para a pesquisa de ovos de helmintos de modo geral - estando
incluídos, entre eles, os Ancilostomideos –
procurou-se mostrar, neste trabalho, a verdadeira
eficiência da técnica de Willis, tomando como parâmetro a técnica da Sedimentação espontânea.
Freitas et al.(2001), usando as técnicas da Sedimentação espontânea e de Willis, trabalhando com 62
mamíferos em Recife, Pernambuco, encontraram 74.2% parasitados por helmintos. Com relação à
eficácia dos métodos empregados no diagnostico coproparasitólogico das parasitoses gastrintestinais,
os autores observaram os seguintes resultados: 32,2% para a sedimentação espontânea e 27,7% para
o método de Willis. No trabalho, a técnica de Willis mostrou-se especifica e sensível para o
diagnostico da Ancilostomíase, demonstrando somente a presença de ovos de Ancilostomideos.
Com a técnica da Sedimentação espontânea, outros parasitos foram encontrados e não relatados, o
que não era o foco em questão.
6 Conclusão
Apesar do percentual de positividade para a pesquisa de Ancilostomídeos ter se apresentado
maior pela técnica de Hoffmann, Pons e Janer, a técnica de Willis pode ser indicada como uma
técnica de rotina para pesquisa do parasito em questão. A diferença de percentual entre as duas
técnicas foi de apenas 7,73%, o que não invalida o também excelente resultado obtido pela técnica de
Willis.
Entretanto, para que tenhamos um resultado ainda mais preciso, recomenda-se que sejam
utilizadas combinações de métodos de concentração em uma rotina laboratorial, a fim de aumentar o
número de casos positivos.
Referências
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