É o sexismo, estúpido! José Eustáquio Diniz Alves1 Depois de 8
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É o sexismo, estúpido! José Eustáquio Diniz Alves1 Depois de 8
É o sexismo, estúpido! José Eustáquio Diniz Alves1 Depois de 8 anos de um desastroso governo Bush e de uma economia em crise nos EUA era de se esperar que qualquer candidato do partido Democrata estivesse bem nas pesquisas eleitorais e que pudesse vencer fácil as eleições de novembro de 2008. Bastava explorar o bordão criado por James Carville, marqueteiro da campanha de Clinton em 1992: “É a economia, estúpido!”. O sucesso da Convenção Democrata, em Denver, e o crescimento de Barack Obama nas pesquisas em relação a John MacCain pareciam confirmar que a vitória Democrata seria uma barbada. Contudo, a indicação de Sarah Palin para vice de MacCain mudou o rumo das pesquisas, encheu de entusiasmo as bases Republicanas e mudou o quadro eleitoral das eleições americanas de 2008. A despeito da crise econômica e da impopularidade do governo Bush, a dupla MacCain/Palin passou a liderar as apostas de vitória. O que mudou? Evidentemente a grande novidade foi o lançamento de uma mulher para o segundo cargo da Casa Branca. As mulheres que são maioria do eleitorado americano nunca ocuparam algum dos dois postos de comando do país. A exclusão feminina da política e o déficit democrático de gênero fazem parte do sexismo explícito ou implícito presente na sociedade americana (e no resto do mundo). Hillary Cliton tentou romper com este sexismo se transformando em uma alternativa viável para dar um lugar de destaque para as mulheres dos EUA. Houve uma grande esperança e mobilização do eleitorado feminino. Porém, a vitória de Obama e a indicação de Joe Biden, criou um vazio de gênero e deixou muitas mulheres democratas e independentes frustadas. O vácuo foi ocupado pela governadora do Alasca que reascendeu a chama da luta contra o sexismo, não com a bandeira progressista do feminismo de esquerda, mas sim com a bandeira neo conservadora do partido Republicano, com forte componente religioso e de moral tradicional. Mas o fato é que Sarah Palin reforçou as convicções republicanas ao mesmo tempo em que tornou-se uma referência para as mulheres que desejam colocar uma representante do sexo feminino na Casa Branca. Desde a sua nomeação para o cargo, o apoio das mulheres brancas ao partido republicano cresceu em 20 pontos percentuais. 1 Professor titular da ENCE e coordenador da Pós-graduação do IBGE. E-mail: [email protected] Desta forma, o que tem modificado o rumo das eleições, neste mês de setembro, não é a “economia, estúpido”, mas sim o “sexismo, estúpido”. Ou seja, a possibilidade de superar o “déficit de gênero” tem tido mais apelo do que a superação do “défict econômico”. Barack Obama era a grande novidade do cenário político americano, prometendo mudança na economia e na política externa e esperança para vencer o racismo e colocar uma pessoa não-branca na presidencia, representando os negros que constituem cerca de 13% da população dos EUA. Mas Sarah Palin se tornou uma novidade (à direita) ainda maior na sociedade do espetáculo que cria e recria ídolos de maneira quase instantânea. O partido republicano tomou para si a bandeira de mudar a história do sexismo elegendo uma mulher para a vice-presidência dos EUA, com possibilidade de se tornar presidenta no futuro. Assim, o sexo feminino que é maioria do eleitorado (e especialmente as mulheres brancas) tem encontrado em Sarah Palin uma altenativa para combater a exclusão da mulher na política. Mesmo ela sendo contra as principais bandeiras históricas do feminismo, a governadora do Alasca tem mostrado que o lugar da mulher (e mãe de 5 filhos) não é na cozinha e convençou até os conservadores republicanos que ela tem estofo para ser commander-in-chief. Se Barack Obama quiser reverter a desvantagem atual terá de convencer as mulheres que, apesar de ter derrotado Hillary Clinton nas primárias, ele poderá trazer muitos ganhos para as mulheres se chegar à Presidência. Pode antecipar, por exemplo, a instalação de um Gabinete com paridade de gênero. Uma coisa está clara nestas eleições: as mulheres americanas jamais serão esquecidas. Será que o Brasil vai tirar alguma lição deste proccesso? O instinto do presidente Lula está correto em indicar uma mulher para sucedê-lo? O que parece inconteste, para diversas regiões do mundo, é que o século XX foi o momento da conquista do voto feminino e o século XXI trará a oportunidade de criar e ampliar o espaço de poder das mulheres. Quem ousar interromper esta nova onda terá que bloquear o tsunami feminino.