lágrima manguito rotar
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lágrima manguito rotar
Expediente Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives - EURP ISSN 2175‐2338 Publicação oficial FATESA - EURP Faculdade de Tecnologia em Saúde Diretor Administrativo Diretor Científico Francisco Mauad Neto Wellington de Paula Martins Presidente do Departamento Científico Diretor de Pesquisa Fernando Marum Mauad Priscila Roncato Bibliotecária Secretária Geral Adileuza Cordeiro Souza Almeida Responsável pelo Setor Gráfico Janete Cristina Parreira de Freitas Diretor Victor Fabbri Assolini Presidente Francisco Mauad Filho Professores Ana Elizabeth G. de M. T. Ferreira José Alexandre Mendonça Augusto César G. S. Benedeti José Augusto Sisson de Castro Carlos César Montesino Nogueira José Eduardo Chúfalo Daniel Mendonça Aloise Karine Correia Matos Daniela de Abreu Barra Marcelo da Silva Ponso Felipe Aguera Murilo cintra Fernando Marum Mauad Oswaldo Cesar de A. Filho Francisco Antonio A. Magario Priscila Roncato Francisco Mauad Filho Procópio de Freitas Guilherme Luna Martinez Renato Mestriner Stocche Gustavo Salata Romão Simone Helena Caixe Jorge Garcia EURP Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives Editor Científico Francisco Mauad Filho Editor Executivo Francisco Mauad Neto Conselho Editorial Fernando Marum Mauad José Eduardo Chúfalo Gerson Cláudio Crott Priscila Roncato João Francisco Jordão Procópio de Freitas Jorge Garcia Simone Helena Caixe Jorge Rene Garcia Arevalo Secretária Executiva Adileuza Cordeiro Souza Almeida Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2016 SUMÁRIO EURP v.10, n. 1, p 01-56 Abr/Jun 2016 ISSN 2175-2338 A Importância da Ultrassonografia no diagnóstico das lesões do manguito rotador 01 The importance of ultrasonography in the diagnosis of rotator cuff injuries Carlinhos Olczewski Preparo intestinal para ultrassonografia de abdome superior: Quais as evidências? 11 Bowel Preparation for Upper Abdominal Ultrasound: What are the evidences? Enrico Mattana Müller Contribuição do artefato ultrassonográfico de sombra acústica posterior no diagnóstico de nefrolitíase Sonographic artifact contribution of posterior acoustic shadowing in the diagnosis of nephrolithiasis 24 Isabella Demes Carvalho Contribuição da ultrassonografia nas patologias da tireoide 33 Contribution of the ultrasonography in thyroid diseases Jessica Lustosa Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2016 Ultrassonografia e as malformações do Sistema Nervoso Central 44 Ultrasound and malformations of the central nervous system Lívia Caroline Itao Soares O papel da ultrassonografia no diagnóstico diferencial entre leiomioma e leiomiossarcoma, uma revisão de literatura. The role of ultrassonography in diferencial diagnostic between leiomyoma and leiomyosarcoma. 53 Thuany Cristine Duque Coelho Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2016 ArtigodeRevisão A Importância da Ultrassonografia no diagnóstico das lesões do manguito rotador The importance of ultrasonography in the diagnosis of rotator cuff injuries Carlinhos Olczewski Resumo Este estudo busca aprofundar a importância de diagnosticar as lesões do manguito rotador através de imagens ultrassonográficas, como um método não invasivo e de extrema precisão em detectar suas possíveis lesões em pacientes com trauma medular (como encontrado no relato de caso) e suas demais causas, relacionadas com as suas mais variadas funções de mobilidade e seu uso em diversas ações diárias do ser humano. Assim, as causas principais das lesões e ou rupturas do manguito rotador estão relacionadas com condições externas (extrínsecas) e internas (intrínsecas). Desta forma, pode–se mencionar que o uso do método de imagens ultrassonográficas para diagnosticar as lesões do manquito rotador – ombro do corpo humano é muito eficaz, preciso, de fácil acesso e por ser um método não invasivo pode ser realizado em pacientes de todas as faixas etárias e em tempo real. Palavras‐chave: ultrassonografia, ombro, lesões manguito rotador. Faculdade de Tecnologia em Saúde (FATESA) Departamento de Pesquisa da FATESA - Rua Casemiro de Abreu, 660, Vila Seixas, Ribeirão Preto-SP. CEP 14020-060. Fone: (16) 3636-0311 Abstract This study seeks to deepen the importance of diagnosing rotator cuff injuries through ultrasound images, as a non‐invasive and extremely accurate in detecting the possible lesions in patients with spinal cord trauma (as found in the case report) and its other causes, related to its various functions of mobility and their use in various daily actions of human beings. Thus, the main causes of injury and or ruptures of the rotator cuff are related to external conditions (extrinsic) and internal (intrinsic). Thus, one can mention that the use of ultrasound images method to diagnose injuries of the rotator manquito ‐ Shoulder human body is very effective, accurate, easily accessible and is a noninvasive method can be performed on patients of all age groups and in real time. Keywords: ultrasound, shoulder, rotator cuff injuries. Introdução Este estudo tem por finalidade a conclusão do Curso de Pós – graduação em Ultrassonografia em Medicina Interna da Faculdade de Tecnologia em Saúde - Fatesa EURP de Ribeirão Preto - SP, que busca aprofundar a importância de diagnosticar as lesões do manguito rotador Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives através de imagens ultrassonográficas, como um método não invasivo e de extrema precisão em detectar suas possíveis lesões em pacientes com trauma medulares (como encontrado no relato de caso) e suas demais causas, relacionadas com as suas mais variadas funções de mobilidade e seu EURP 2016 Olczewski – Lesões do Manguito Rotador 2 uso em diversas ações diárias do ser humano. Assim, a melhor compreensão da importância do diagnóstico correto, e em questão, o uso da ultrassonografia, a identificação das causas, ou seja, a etiopatogënia e seus fatores, para intensificar o conhecimento relacionado com o método de imagens. Relato de Caso Fonte: Olczewski, Carlinhos (2016) – Ombro Esquerdo O paciente G. D. S., segundo história pregressa relatada, sofreu um acidente automobilístico com motocicleta quando tinha 17 anos de idade. Com este episódio ocasionou lesão na medula tornando – o paraplégico (sem movimentos da cintura para baixo), passou por inúmeras internações hospitalares após o acidente sendo boa parte em unidade de terapia intensiva – UTI. Hoje, encontra - se bem recuperado, com 30 anos, graduado em Processos Gerenciais e bem adaptado a sua condição de vida. Utilizando para se locomover e suas demais funções no dia a dia, cadeira de rodas não motorizada, o que leva a se considerar suas dores na região dos ombros, devido ao esforço exercido durante a sua rotina diária para se locomover. Assim, este relato de caso foi escolhido devido a história pregressa deste paciente após sua vinda para o município de Boa Vista do Buricá –RS, sendo de suma importância para o estudo em questão. Queixa continuamente de dores de grande intensidade nos ombros, já que precisa para movimentar sua cadeira de rodas grande força de seus ombros para poder se deslocar. Objetivou-se, neste estudo, em especial deste paciente, o uso da ultrassonografia dos ombros, por ser um método não invasivo e de fácil acesso para diagnosticar possíveis danos nas estruturas do – manguito rotador - ombro, relacionado com a força de impacto executada diariamente ao se deslocar com a cadeira de rodas. A seguir pode - se demonstrar através de imagens ultrassonográficas do ombro deste paciente estudado. Fonte: Olczewski, Carlinhos (2016) – Ultrassonografia do Ombro Esquerdo Fonte: Olczewski, Carlinhos (2016) – Ultrassonografia do Ombro Esquerdo Analisando as imagens ultrassonográficas do ombro esquerdo realizado com aparelho Medison Sansung Sonoace R7 3D/4D, do paciente estudado, pode –se observar o tendão com perda do padrão fibrilar, hipoecogênico e presença de área de descontinuidade profunda, acometendo 1/3 da espessura do tendão supraespinal. Isto se deve pelo desgaste ocasionado pelo impacto rotineiro relacionado ao esforço para se locomover e sustentação ao se elevar. Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2016 Olczewski – Lesões do Manguito Rotador Desenvolvimento O corpo humano, uma dádiva da vida, “máquina” formada por trilhões de células, órgãos, ossos, músculos e cheio de sentimentos e emoções, necessita que seus sistemas cooperem conjuntamente suas funções para o equilíbrio perfeito do organismo. Assim, o estudo em questão trata da relevância da utilização da ultrassonografia para o diagnóstico eficiente de lesões musculares, em especial a do manguito rotador – ombro do corpo humano. O ombro, considerado a articulação de maior movimento do nosso corpo humano, evidenciada com sua mobilidade que proporcionam diversos e variados movimentos dos membros superiores onde está localizada, como: adução e abdução, rotações internas e externas, flexão e extensão e circundução. Sendo assim, sua caracterização funcional destes movimentos, possuem a maior probabilidade de incidência das lesões musculares, tendo a dor um sintoma comum das queixas mais relatadas (Sernik, 2009). A ultrassonografia, em especial a ser analisada no ombro, vem demonstrando grande interesse da população, devido a sua qualidade em imagens que contribuem para o diagnóstico das rupturas do manguito rotador (Rumack et al, 2012). Ombro O ombro é formado por um complexo muscular e ósseo, conforme Drake et al (2005) relatou: 3 O ombro é a região de união entre o membro superior, o tronco e o pescoço. A estrutura óssea do ombro consiste em: a clavícula, que formam o cíngulo do membro superior (cintura escapular); e a parte proximal do ombro. Os músculos superficiais do ombro consistem no trapézio e deltoide, que juntos formam o contorno muscular suave sobre a parte lateral do ombro. Estes músculos unem a escápula e a clavícula ao tronco e ao braço, respectivamente. Assim, o manguito rotador que faz parte do conjunto muscular do ombro, também é composto por tendões, conforme (Lee et al, 2011) menciona: O manguito rotador consiste em tendões de quatro músculos: o subescapular anteriormente, o supraespinal superiormente e o infraespinal e redondo menor posteriormente. Os músculos do manguito rotador atuam em grupos de forças, nas quais o deltóide contrapõe o manguito rotador inferior (infraespinal, redondo menor e subescapular abaixo do centro de rotação) e o manguito rotador anterior (subescapular) contrapõe o manguito rotador posterior (infraespinal, redondo menor) para manter a cabeça umeral centralizada em relação à glenóide. Diante disto, torna – se oportuno saber a localização do ombro, como é composto e as patologias ligadas a ele, intensificando o uso da ultrassonografia, como um meio confiável para a avaliação do ombro – manguito rotador. Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2016 Olczewski – Lesões do Manguito Rotador 4 Fonte: Músculos do Ombro – Vista Superior - NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. Acessado em: www.auladeanatomia.com Fonte: Músculos do Manguito Rotador - NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. Acessado em: www.auladeanatomia.com. (28 05 16) Etiologia das lesões do Ombro Segundo Sernik (2009), as causas principais das lesões e ou rupturas do manguito rotador estão relacionadas com condições externas (extrínsecas) e internas (intrínsecas), como por exemplos: sobrecarga de movimentos impactantes do membro superior, degenerações, traumas e inflamações articulares. Assim sendo, torna – se importante mencionar estas possíveis etiopatogenias para melhor compreender as alterações relacionadas com o ombro doloroso. Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2016 Olczewski – Lesões do Manguito Rotador Como foi mencionado por Barbosa (2012) o ombro doloroso (síndrome do ombro doloroso) pode ter várias causas que estão relacionadas com disfunções como bursites, lesões traumáticas, rupturas totais ou parciais dos tendões. E, por conseguinte, levam a uma sintomatologia dolorosa que impede o indivíduo de desenvolver suas funções básicas do seu dia – a – dia como: atividades domésticas, práticas esportivas (voleibol, natação), atividades de sustentação, apoio, devido a perda do seu tônus ou força muscular. Condições Externas (extrínsecas) O ombro possui enorme função de elevação do braço em vários os sentidos de movimentos, possibilitando que sua parte superior possa erguer e suportar considerável carga pesada quando avaliada acima do eixo horizontal do corpo (Fontana, 2005). Ninonyia et. al (2006) observou que “quando o ombro passa a atuar como articulação de carga, no caso de pacientes lesados medulares, passa a apresentar dores frequentes que se manifestam em todas as fases de evolução da lesão”. Assim, a carga destinada e impactada nesta região do corpo, pode ocasionar lesões de pequena a grande proporção, tendo a dor como principal sintoma. Segundo Castro (2009), relata em seus estudos que a dor no ombro, ou como denomina “ombro doloroso” como uma associação de inúmeros sintomas específicos que se apresentam na região dos membros superiores - ombro, possuindo diferentes causas sendo as mais costumeiras: a síndrome do impacto, capsulite adesiva e as osteoartrites. A síndrome de impacto vem demonstrando grande fator etiológico das condições externas causadoras de lesões ou rupturas do manguito rotador. Para Arend (2012), a condição extrínseca, ou como chama de teoria extrínseca, de modo anatômico “o impacto mais comum é o subacromial, ou anterossuperior, causado por compressão do arco coracoacromial sobre as estruturas periarticulares”. Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives 5 Esta síndrome já foi relatada em inúmeros estudos sobre rupturas do manguito rotador – ombro doloroso. Sendo que as primeiras referências descritas em estudos científicos partiram de Charles Neer em 1972 que alterou o entendimento sobre a síndrome do impacto da patologia do manguito rotador em seu artigo renomado acromioplastia anterior. Assim, as causas relacionadas com o impacto estão especificamente denominadas em primárias e secundárias. Segundo Sernik (2009) em seus estudos descreve que as primárias estão relacionadas com anormalidades anatômicas de desenvolvimento e as secundárias estão ligadas aos movimentos de série repetitivos, ocasionando microtraumas levando a perda da instabilidade das articulações do manguito rotador. Condições Internas (intrínsecas) Segundo diversos estudos, as condições de alterações degenerativas inflamatórias com o passar da idade podem se tornar contribuintes para causas de origem internas de lesões nos nervos – tendões, também possuem teor de desestabilizar as funções do manguito rotador (Arend, 2012). A idade se torna um fator predisponente para as alterações dos tendões do manguito rotador. Sendo, o desgaste e o impacto fatores contribuintes para estas alterações degenerativas como as tendinopatias, tendo a dor e fraqueza muscular suas principais queixas. Desta forma, o envelhecimento humano – biológico do ombro contribui para as alterações de processo degenerativo do manguito rotador (Grave et al. 1995). Assim, a ultrassonografia entra como método utilizado de forma não invasiva para a obtenção de imagens na complementação e confirmação do diagnóstico clínico em tempo atual para a análise nas alterações do ombro hoje em dia. Diante de vários estudos científicos analisados mostrou – se grande preocupação relacionada com as práticas esportivas, onde evidencia um esforço repetitivo causando pequenos traumas EURP 2016 Olczewski – Lesões do Manguito Rotador inflamatórios, dores de grande intensidade na região do ombro, podemos exemplificar: nadadores, jogadores de voleibol, ginastas olímpicos e de basquete. Segundo Faggioni et al (2005), relata em seus estudos, que as modalidades esportivas que utilizam de forma excessiva as estruturas musculoesqueléticas da região do ombro, pode apresentar dor crônica costumeiramente evidenciada na região ântero – medial do ombro, causando também fraqueza muscular. Assim, podemos mencionar que a síndrome de impacto primário esta embasada em três estágios segundo (Neer 1983 apud Brito 2008): “primeiro estágio – edema e hemorragia, segundo estágio – fibrose e tendinite, terceiro estágio – lesões do manguito rotador, rupturas do bíceps e alterações ósseas”. Sendo assim, evidencia - se inúmeras queixas relatadas nas mais diferentes ocasiões, a dor no ombro, sendo uma particularidade comum em toda a população de um modo geral. Ocasionada por vezes, por sobrecargas de força de sustentação, impacto no dia – a – dia de trabalhadores manuais, de atletas esportivos (jogadores de voleibol, nadadores, ginastas olímpicos, por exemplo) e em pessoas com trauma raquimedular (cadeirantes), que tornam - se de grande importância para o estudo atualmente em questão. 6 2009). A tendinopatia calcificada que também pode ser denominada de tendinite calcária (TEC) é uma doença que se manifesta pela presença de depósito de cálcio no interior dos tendões, onde os mais acometidos são: supraespinal, infraespinal, redondo menor e subescapular, ocorrendo de forma mais comum do lado direito do corpo (Sernik, 2009). Este depósito de cálcio pode causar reação inflamatória nos tecidos ao seu redor provocando dor local intensa. Ejnismann et al (2008), em seus estudos relata que a tendinite calcária pode ser classificada quanto ao tamanho da calcificação: - Pequena: menor que 0,5 mm; - Médio: entre 0,5 a 1,5 mm; - Grande: maior que 1,5 mm. E a fisiopatologia deste tipo de tendinite pode ser dividida em três processos, Ejnismann et al (2008): - Pré – calcificação: formação do depósito de cálcio; - Calcificação: esta fase se divide em formação e reabsorção (provoca muita dor); - Pós – calcificação: reabsorção da calcificação. Assim, pode-se mencionar que os movimentos repetitivos, práticas esportivas de atletas, trabalhos manuais, cadeirantes estão mais propensos a desenvolver este tipo de doença. Capsulite Adesiva Patologias do Manguito Rotador A dor no ombro pode estar relacionada com diversas causas que por vezes apresentam – se por afecções que acometem o manguito rotador, como as tendinopatias (tendinoses), tendinopatia calcificada ou calcária, bursites e a capsulite adesiva, lesões e/ou rupturas do manguito rotador (Ejnismann et al, 2008). Tendinopatias Primeiramente manifestam como áreas hipoecoicas com limites imprecisos com diâmetro maior acompanhando as fibras do tendão (Sernik, A Capsulite adesiva também conhecida por “ombro congelado”, é dentre as síndromes dolorosas do manguito rotador. É definida como “uma rigidez articular glenoumeral associada à dor (Ejnismann et al,2008).” Esta doença é mais frequente no sexo feminino dentro da faixa etária de 40 a 60 anos. Esta rigidez dolorosa “ limitam a mobilidade do ombro, pela dor que provocam, dão origem a contraturas musculares (Filho, 2005)”. Zuckerman (1993) apud Filho (2005) propôs uma classificação que divide a Capsulite Adesiva, como: - Primária ou idiopática: pode estar associada a Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2016 Olczewski – Lesões do Manguito Rotador outras patologias; - Secundária: ocorre a descoberta de um possível fator causador. Pode ser subdividida em intrínseca e extrínseca; - Sistêmica: pode apresentar e estar associada com outras comorbidades como, problemas com a tireoide e diabetes. Bursites As bursites são classificadas pela inflamação das bolsas sinoviais podendo muitas vezes formar um processo expansivo (Sernik, 2009). Para Barbosa (2012), a bursite esta denominada como irritação da Bursa, que é uma bolsa pequeninina que esta na região entre o osso com outras estruturas como: tendões, músculos ou pele. Assim, esta inflamação será evidenciada por dor durante os movimentos e como queixa principal entre os pacientes acometidos. 7 Parcias: - Grau I: < 3 mm de profundidade; - Grau II: entre 3 e 6 mm; - Grau III: > 6 mm. E as completas elencadas da seguinte maneira: - Pequenas ou grau I: menores que 2 cm; - Grandes ou grau II: entre 2 e 4 cm; - maciças: ou grau III: maiores que 5 cm. Já nas rupturas completas, “...existe uma comunicação da bolsa subacromial-subdeltóidea com a cavidade articular glenoumeral (Weiner, 1993 apud Sernik, 2009). Tipos de Rupturas do Manguito Rotador As rupturas do manguito rotador podem ser em sua grande maioria estão relacionadas com o tendão do supraespinal. E assim, podem ser classificadas de acordo ao sintoma (sintomática ou assintomática), envolvimento tendíneo (parcial ou completa) e quanto ao tamanho (Sernik, 2009). As rupturas parcias, segundo Iannotti et al (2014), “ envolvem somente uma das superfícies do tendão e podem se estender para a substância do tendão.” E as totais “ envolvem toda a espessura do tendão e podem envolver mais de um tendão.” Sernik (2009) define que as rupturas parciais podem ser dividas em: - Superficiais: ocorrem junto à bolsa sinovial; - Intratendíneas: intrassubstâncias; e - Profundas: adjacentes à superfície articular. Ellmann (1990) apud Sernik (2009) estabeleceu quanto ao tamanho das lesões parciais e completas e as graduou da seguinte maneira: Fonte: www.scielo.br - O Uso do Ultra-Som (US) na Reumatologia (acessado 17. 06. 2016) Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2016 Olczewski – Lesões do Manguito Rotador Fonte: www.scielo.br – A ecografia no diagnóstico das lesões músculos – tendinosas do Ombro. Diagnóstico das Ultrassonografia lesões do Ombro - Chen et al (2012), relata em seus estudos sobre ultrassonografia, a qual teve sua importância durante a Segunda Guerra Mundial, onde foi criada para observar a presença de submarinos através de imagens ultrassonográficas. Após ser considerada de grande valia, passou a ser aperfeiçoada para o uso na medicina por meio de imagens. Entre suas observações, referiu que “a transmissão em alta frequência do som pode ser utilizada para avaliar tecidos moles, tendões, ligamentos e até mesmo cartilagem articular.” Objetiva – se desta forma, saber o grau de importância colaborativa do uso da ultrassonografia de modo diagnóstica para as patologias relacionadas na região do ombro, como forma relevante de sua utilização, de imagens de grande qualidade e de fácil acesso a qualquer faixa etária, condição financeira ou condição física da pessoa que se encontra com algum problema de saúde. Diante de qualquer suspeita de rupturas do manguito rotador, o exame de imagem – ultrassonografia pode ser solicitada para esta avaliação. Este exame teve sua utilização a partir da década de 80 onde intensificou seu uso para as possíveis rupturas do manguito rotador. Assim, com a melhora e o aperfeiçoamento dos equipamentos de ultrassonografia (transdutores) atualmente, torna – se um ato de grande relevância da utilização da ultrassonografia para a avaliação e análise do ombro (Gervini, 2006). Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives 8 Gervini (2006) em seus estudos conclusivos mostrou que as imagens ultrassonográficas possuem um alto grau de sensibilidade para diagnosticar lesões – rupturas do manguito rotador, tendo uma razoável especificidade. O mesmo também descreve que ao executar a ultrassonografia por profissional experiente e equipamento adequado concede que seja realizada uma avaliação por meio de imagens de uma forma ampla, em tempo real e baixo custo financeiro quando comparada com outros exames. Podemos diante disso, descrever e relevar o uso na ultrassonografia do ombro, um método sensível, eficaz e realizado por meio não invasivo, permitido estar ao alcance de indivíduos de todas as faixas etárias e condições financeiras. Achados Ultrassonográficos nas Rupturas do Manguito Rotador Nas Rupturas Parciais (Sernik, 2009) Estas rupturas podem mostrar dois padrões ultrassonográficos, como: - Lesão Hipoecoica: esta relacionada com a descontinuidade das fibras; e - Lesão Mista: de ocorrência mais comum, circundado por halo hipoecoico representando liquido perilesionado. Nas Rupturas Completas (Sernik, 2009) Para completar o diagnóstico ultrassonográfico deste tipo de ruptura se dá mediante a presença de sinais indiretos e diretos. Os sinais diretos podem ser também classificados como primários, como: - A não visibilização do tendão; - Ausência ou afilamento do tendão; - Descontinuidade das fibras sem alterar o contorno do tendão; e - Heterogeneidade da ecogenicidade do tendão. E os sinais indiretos que podem ser chamados EURP 2016 Olczewski – Lesões do Manguito Rotador de secundários, classificam – se em: - Irregularidade dos contornos do tubérculo maior do úmero; - Líquido na articulação acromioclavicular (Sinal de Geiser); - Líquido na articulação glenoumeral; Líquido na bolsa subacromial-subdeltóidea; e - Sinal da interface da cartilagem. Como realizar a técnica da ultrassonografia do ombro Existem inúmeras técnicas para se realizar ultrassonografias já estudadas, sendo que Sernik (2009) menciona que a de Mack et al (1985) é a mais utilizada. Pode–se, descrever resumidamente da seguinte forma com o paciente sentado: Considerações Finais Diante de tudo do que já mencionado e estudado, este trabalho de conclusão de curso é de grande valia para intensificar ainda mais a importância da ultrassonografia como método 9 eficaz, de fácil acesso e em tempo real para avaliar e diagnosticar as lesões do manguito rotador – ombro do corpo humano. A ultrassonografia vem demonstrando um método de custo financeiro consideravelmente baixo quando comparado com outros métodos. Desta forma, este método por meio de imagens reais com o passar do tempo foi sendo aprimorado através de tecnologias 3D/4D para melhorar a sua qualidade de imagem e de diagnosticar, que neste caso, as lesões do manguito rotador. Portanto podemos mencionar com grande credibilidade que a ultrassonografia deve ser recomendada e solicitada para avaliar as rupturas do manguito rotador, pois se trata de um método muito eficaz e reconhecido mundialmente. E que quando realizada por profissional experiente e equipamento adequado intensifica ainda mais a sensibilidade de obter imagens reais e detalhadas para facilitar o diagnóstico das lesões do manguito rotador. Referências Radiologia Básica ( Lange), 2 edição, Michael Y M Chen, Tomas L Pope, David I Ott. McGraw Hill, Lange Artmed, Nova York, 2011. Pag 190 Tratado de Ultra – sonografia Diagnóstica, Carol m Rumack, Stephanie R Wilson, J Willian Charboneau, 2012 ,4 edição rj, capitulo 22. Gray`s Anatomia para estudantes, Richard L Drake, adam W M Mitchell, Wayne Vogl, Pag 623, 2 edição, Elsevier Editora LTDA, 2005 RJ Cirurgia de Ombro e Cotovelo, serie ortopedia cirúrgica, Donald Lee, Robert Neviaser. 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Entretanto não há uma norma internacionalmente aceita para o preparo de pacientes em exames eletivos de ultrassonografia do abdome (EHRENSTEIN et al. 2009). Este trabalho tem como objetivo fazer uma revisão da literatura sobre quais são as evidências para preparo para o de exame de US do abdome superior. Para facilitar a compreensão os estudos foram agrupados nos seguintes temas: jejum; ingesta de água imediatamente antes do exame; fatores que influenciam na avaliação da vesícula biliar; e medicamentos. Palavras‐chave: preparo intestinal; ultrassonografia; abdome; técnica; antifisético; dieta; laxante; jejum. Faculdade de Tecnologia em Saúde (FATESA) Departamento de Pesquisa da FATESA - Rua Casemiro de Abreu, 660, Vila Seixas, Ribeirão Preto-SP. CEP 14020-060. Fone: (16) 3636-0311 Abstract It is known that optimum conditions for the ultrasonic examination of the abdominal organs require a fluid‐filled gallbladder and as little gas in the gastrointestinal tract as possible (VOGEL et al. 1990). However, there is no the internationally accepted standard for the preparation of patients for elective sonography examinations (EHRENSTEIN et al. 2009). This paper aims to review the literature on what’s evidences to preparation for the examination of US of the upper abdomen. To facilitate understanding the studies were grouped in the following themes: fast; water intake immediately before the exam; factors influencing the assessment of the gallbladder; and drugs. Keywords: bowel preparation; ultrasonography; abdomen; technique; antifoaming; diet; laxative; fasting. Introdução Segundo dados extraídos do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), no ano de 2013 foram realizadas mais de 2,5 milhões de ultrassonografias (US) do abdome (incluindo abdome total e abdome superior) pelo Sistema Único de saúde (SUS) (DATASUS 2014). Além disso, o ultrassom é um exame de baixo custo (PINTO et al. 2011) e sem Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives radiação ionizante (BAKER e DALRYMPLE 1978). Os pacientes com queixas ou anormalidades abdominais rotineiramente são submetidos a um exame de US abdominal como seu primeiro teste de diagnóstico (PINTO et al. 2011). Em 2013 nenhum outro método diagnóstico do abdome superior foi tão executado quanto a US. Foram realizados 2,2 milhões de raios-x EURP 2016 Müller – Preparo Intestinal US Abdome Superior (RX) do abdome (incluindo os procedimentos: RX de abdome, de abdome agudo e de abdome simples); 0,5 milhão de tomografias computadorizadas (TC) do abdome superior; e 0,03 milhão de ressonâncias magnéticas (RM) do abdome superior (DATASUS 2014). Nos anexos encontra-se a tabela 01 e o gráfico 01 que demonstram os dados citados de produção de exames do abdome do SUS em 2013. Frente a relevância do método, torna-se imperativo que sua qualidade sempre seja aprimorada. A qualidade diagnóstica do exame de US abdome superior depende de muitos fatores, incluindo a resolução do equipamento, a experiência do operador, os artefatos produzidos por gases intestinais, bem como a constituição física do paciente, tais como índice de massa corporal (IMC) e a espessura da camada de gordura da parede abdominal anterior (EHRENSTEIN et al. 2009) (SINAN et al. 2003). Dentre os fatores citados que influenciam na qualidade de diagnóstico no exame de US de abdome superior, o único que pode ser melhorado através de preparo são artefatos produzidos por gases intestinais. Artefatos de imagem são fenômenos de exibição que não representam adequadamente as estruturas a serem estudadas (KREMKAU e TAYLOR 1986). Assim, este trabalho irá focarse em demonstrar como diminuir o principal dos artefatos gerados pelo próprio corpo humano, o gás (MEIRE e FARRANT 1978). O gás intestinal prejudica seriamente a qualidade do US abdominal (NILSSON e FORSBERG 1990) (SIMON et al. 1985). A limitação acontece devido a reflexão da onda sonora na superfície do gás, o que pode interferir especialmente com o pâncreas, aorta e na região para-aórtica (LEMBCKE et al. 1985). Dentre esses, talvez o pâncreas seja o órgão mais frequentemente escondido pelo gás de permeio, porque tanto a parte distal do estômago quanto o cólon transverso podem situar-se entre o pâncreas e a parede abdominal (NILSSON e FORSBERG 1990). Por essa razão, Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives 12 a maioria dos estudos sobre o assunto são focados na avaliação do pâncreas. No intuito de diminuir os gases intestinais, foram escritos artigos com diferentes formas de preparos intestinais. Os primeiros datam da segunda metade da década de 70, como o de Meire e Farrant que em 1978 apresentavam uma nota técnica sobre o preparo do paciente para o exame de US abdominal (MEIRE e FARRANT 1978). Desde então várias técnicas têm sido defendidas para melhorar a imagem ultrassonográfica do abdome como: a ingestão de água imediatamente antes do exame (CRADE et al. 1978) (SURAMO et al. 1984); uso de antifiséticos (SOMMER et al. 1977); uso de laxantes (MEIRE e FARRANT 1978) (NILSSON e FORSBERG 1990); jejum (WINDLER e LEMPP 1985) (SINAN et al. 2003) (EHRENSTEIN et al. 2009); e dieta branda (SINAN et al. 2003). Contudo as técnicas ainda têm limitado o sucesso, principalmente devido à persistência dos bolsões de gás aprisionados sob a mucosa gástrica. Assim frequentemente os pacientes, cuja avaliação por US não é satisfatória, são encaminhados para uma avaliação mais aprofundada do pâncreas na TC, o que acaba aumentando o custo de imagem abdominal superior (ABU-YOUSEF e EL-ZEIN 2000). As melhores condições para o exame de ultrassom dos órgãos abdominais requerem uma vesícula cheia de fluido e tão pouco gás no trato gastrointestinal quanto possível (VOGEL et al. 1990). A contração pós-prandial pode prejudicar o exame da vesícula biliar (WINDLER e LEMPP 1985). Dessa forma, é também necessária atenção quanto a repleção da vesícula biliar na formulação de um preparo para o exame de US do abdome. O preparo adequado é, portanto, fator de grande importância na qualidade do diagnóstico por US, acarretando inclusive em redução de custos nas políticas saúde. Contudo não há uma norma internacionalmente aceita para a preparação de pacientes para exames eletivos de ultrassonografia do abdome (EHRENSTEIN et al. 2009). EURP 2016 Müller – Preparo Intestinal US Abdome Superior Material e método O presente trabalho consiste em uma revisão de literatura especializada, realizada entre junho e dezembro de 2013, no qual realizou-se uma consulta a livros e periódicos presentes na Biblioteca da Universidade Federal de Ciências A busca nos bancos de dados foi realizada utilizando as seguintes palavras-chave: ultrassonografia, ultrassom, jejum, preparo intestinal, melhor imagem, simeticona, dimeticona, pâncreas, abdome, abdome superior, ultrasound, ultrasonography, fasting, bowel preparation, improve image, simethicone, dimethicone, pancreas, abdomen, upper abdômen, antifoaming, diet, laxative. A seleção dos artigos baseou-se na conformidade dos limites dos assuntos aos objetivos deste trabalho, tendo sido desconsiderados aqueles que, apesar de aparecerem no resultado da busca, não abordavam o assunto sob o ponto de vista da ultrassonografia. O programa End Note X7 foi utilizado no gerenciamento das referências bibliográficas, durante da confecção deste trabalho. Revisão Não há uma norma internacionalmente aceita para o preparo de pacientes em exames eletivos de ultrassonografia do abdome (EHRENSTEIN et al. 2009). Contudo, sabe-se que as melhores condições em exames de ultrassom dos órgãos abdominais requerem uma vesícula cheia de fluido e tão pouco gás no trato gastrointestinal possível (VOGEL et al. 1990). Os próximos parágrafos irão apresentar as alternativas sugeridas de preparo para o exame de US do abdome superior. Para facilitar a compreensão os estudos foram agrupados nos seguintes Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives 13 da Saúde de Porto Alegre. Os artigos científicos foram selecionados através de busca no banco de dados do PubMed, da Bireme e do Portal da Capes. Entre janeiro e fevereiro de 2014 foram encomendados, através dessa biblioteca, os artigos que não estavam disponíveis na Biblioteca ou através do Portal da Capes. temas: jejum; ingesta de água imediatamente antes do exame; fatores que influenciam na avaliação da vesícula biliar; e medicamentos. Jejum A maioria dos departamentos de US orientam os seus pacientes a realizarem jejum algumas vezes até por 12 horas. Justificam-se informando que de outra forma a vesícula biliar pode estar contraída, além do fato de que em jejum os pacientes terão menos gás no duodeno e cólon (SINAN et al. 2003) (EHRENSTEIN et al. 2009). No entanto, ao melhor de nosso conhecimento, até o momento apenas três ensaios clínicos abordaram o efeito do jejum sobre a possibilidade de avaliação de órgãos intraabdominais. Em 1985 em um estudo parcialmente randomizado, Windler e Lempp não encontraram nenhuma diferença global para a possibilidade de avaliação de órgãos parenquimatosos intra-abdominais quando comparados os pacientes em jejum com pacientes sem jejum. A exceção foi a visualização do trato biliar, especialmente a vesícula biliar, que poderia ser significativamente melhor avaliada no grupo de pacientes em jejum (WINDLER e LEMPP 1985). Em 2003 Sinan et al. realizam um estudo que também questionou o efeito do jejum sobre o exame de US do abdome. Segundo eles o efeito do jejum é agravado pela espera e pelo fato de que alguns pacientes são afetados psicologicamente pela baixa taxa de açúcar no sangue. (SINAN et al. 2003) EURP 2016 Müller – Preparo Intestinal US Abdome Superior Exper in Ultrasound: Reviewsprospectivo and Perspectives Sinan etts al. realizaram estudo duplo-cego que avaliou se existe uma real necessidade de jejum antes de exames de US do abdome. Para tanto os pesquisadores analisaram um grupo controle, que havia tido um café da manhã brando, e um grupo teste, que realizou jejum de seis horas. A análise estatística revelou que não houve diferença significativa nem na quantidade de gás entre o grupo dos pacientes em jejum e dos sem jejum, nem na avaliação da vesícula biliar. Sinan et al. concluíram que o estudo demostrou que uma refeição branda é compatível com um resultado técnico satisfatório de US abdominal, se realizado algumas horas após a refeição. (SINAN et al. 2003) O último estudo encontrado foi publicado em 2009. Ehrenstein et al. questionam a interpretação dos resultados dos dois estudos anteriores (SINAN et al. 2003) (WINDLER e LEMPP 1985), afirmando que são prejudicados por falhas no desenho do estudo (EHRENSTEIN et al. 2009). Além disso, Ehrenstein et al. inferem que a relevância de hoje desses estudos é diminuída pela ausência de informações sobre a reprodutibilidade e o poder estatístico destes estudos para detectar uma diferença clinicamente relevante (SINAN et al. 2003) (WINDLER e LEMPP 1985) e pela melhora na qualidade de imagem de scanners de ultrassonografia desde 1985 (WINDLER e LEMPP 1985). (EHRENSTEIN et al. 2009) Ehrenstein et al. realizaram um estudo randomizado, em 130 pacientes, para avaliar o impacto do jejum sobre a qualidade de imagem de regiões intra-abdominais para exames de US agendados eletivamente. Os resultados encontrados foram que não houve diferença estatisticamente significativa na taxa de avaliação completa para qualquer uma das 11 regiões anatômicas entre pacientes com jejum e sem jejum. A maior diferença de avaliação foi encontrada para a vesícula biliar, onde 73% dos pacientes em jejum contra 56% dos pacientes sem jejum foram julgadas como completamente avaliáveis (p=0,051). Ainda os pacientes em Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives 14 EURP 2016 mais jejum tenderam a ter um valor médio elevado do índice de imagem calculado que os pacientes sem jejum, contudo essa diferença não foi estatisticamente significativa. (EHRENSTEIN et al. 2009) Com base nos seus resultados, Ehrenstein et al. concluem que para exames da vesícula biliar e para pacientes do sexo masculino, o jejum pode melhorar até certo ponto a qualidade de imagem do exame ultrassonográfico. Contudo os pesquisadores recomendam, em sua conclusão, que, na prática clínica rotineira, os ultrassonografistas devem se abster do jejum no preparo de pacientes agendados para US abdominais eletivas (EHRENSTEIN et al. 2009). Ingestão de água imediatamente antes do exame Na busca de reduzir os artefatos gerados pelos gases, em 1978 o estudo de Crade et al. sugeriu que a ingesta de água antes do exame pode melhorar a visibilização de pâncreas. Assim, em seu estudo foram dados aos pacientes 300 ml de água na mesa de exame e solicitado que os pacientes fizessem mudanças de decúbito. Crade et al. com essa técnica afirmam que ocorre uma melhora na visibilização do pâncreas. (CRADE et al. 1978). Não foram descritos quantos pacientes foram analisados e se houve grupo controle. Nenhuma análise estatística foi descrita. Em 1984 Suramo et al. publicaram um artigo onde em uma parte do estudo, grupos foram avaliados com o preenchimento do estômago com sopa combinado com a mudança de posição. Nos resultados Suramo et al. afirmam que, depois de encher o estômago com sopa e o paciente em posição ereta, o pâncreas foi identificado em 291/400 casos (73%). (SURAMO et al. 1984). Nesse estudo não há dados de qual tipo de sopa foi usada para o preenchimento do estomago e se houve grupo controle. Nenhuma análise estatística foi descrita. EURP 2016 Müller – Preparo Intestinal US Abdome Superior Fatores que influenciam na avaliação da vesícula biliar Conforme já dito anteriormente, as melhores condições para o exame de ultrassom dos órgãos abdominais requerem uma vesícula cheia de fluido (VOGEL et al. 1990). Contudo, é muito discutido quais as condições ideais para a avaliação da vesícula biliar em pessoas saudáveis Em algumas pessoas saudáveis a contração da vesícula biliar é uma causa comum de visualização sub-ótima ou de não visualização. (MARCHAL et al. 1980). Portanto, os próximos parágrafos irão demonstrar fatores que influenciam na avaliação da vesícula biliar, bem como estudos que mostram os efeitos da alimentação sobre a mesma. Em 1973 Sacchetti et al. realizaram um estudo, através de colecistografia, em 402 pacientes para avaliar o efeito da refeição gordurosa sobre a vesícula biliar. Na manhã do teste todos os indivíduos receberam, com o estômago vazio, duas gemas de ovo como agente colecistoquinético. Radiografias seriadas foram feitas, após a refeição, em intervalos até o minuto 60 e as áreas radiopacas foram medidas planimetricamente para fornecer uma avaliação quantitativa do esvaziamento da vesícula biliar. O estudo mostra que a média de tempo necessário para esvaziamento foi de 40 minutos. Assim, o estudo demonstrou que ocorre uma contração variável após uma refeição gordurosa. (SACCHETTI et al. 1973). Em 1980, Marchal et al. estudaram o aspecto ultrassonográfico das paredes das vesículas biliares normais, repletas e contraídas. Os dados foram obtidos em 25 pacientes que foram consecutivamente estudadas durante o jejum e após uma refeição gordurosa. Seus achados mostraram que após a refeição gordurosa, a vesícula biliar foi totalmente contraída em 16 das 23 pessoas (69%); a contração incompleta ocorreu em sete pessoas (31%). (MARCHAL et al. 1980) Em 1991 Howard et al. estudaram os padrões de esvaziamento da vesícula biliar em resposta a uma refeição sólida, utilizando o ultrassom. Seus Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives 15 resultados mostraram que após a refeição ocorreu o esvaziamento completo (contração) da vesícula biliar entre em 2 horas e 05 minutos a 2 horas e 26 minutos (HOWARD et al. 1991). Existe estudo que avaliou a visibilização da vesícula biliar, através de US, sem a necessidade de qualquer preparo nem mesmo jejum. Foram avaliados 526 pacientes, sem colecistectomia, que foram encaminhados para a US abdominal por uma variedade de indicações, sem qualquer preparo ou restrição da ingestão de alimentos antes do exame. Nos casos em que a vesícula não puder ser identificada, ou em que estava marcadamente contraída, foi realizado exame de repetição após jejum. (FINBERG e BIRNHOLZ 1979) Finberg e Birnholz identificaram a vesícula biliar por visibilização do seu espaço preenchido por fluido no lúmen em 507 (96%) dos 526 pacientes. Dos 19 pacientes restantes: 09 destes apresentaram imagem hiperecogênica com sombra acústica posterior na região da topografia da vesícula biliar. Dos 10 restantes, a contração patológica foi confirmada cirurgicamente em 04; Em outros 04 pacientes a não visibilização ocorreu por fatores técnicos, como obesidade importante e estado pósprandial imediato. (FINBERG e BIRNHOLZ 1979) Finberg e Birnholz concluíram que a não visibilização da vesícula biliar estava altamente relacionada a contração patológica e que repetir os exames com o paciente em jejum mostrou aumento da distensão da vesícula biliar. (FINBERG e BIRNHOLZ 1979). Medicamentos Desde a década de 70 (SOMMER et al. 1977), é proposto o uso de medicamentos no preparo de pacientes para o US de abdome superior, com o intuito de reduzir os gases intestinais e melhorar a qualidade da imagem. Dentre os estudos encontrados sobre esse tópico, o primeiro descrito foi em 1977 por Sommer et al. EURP 2016 Müller – Preparo Intestinal US Abdome Superior (SOMMER et al. 1977). O estudo avaliou de forma randondomizada a utilização de simeticona como preparo para o exame de US Abdominal. Sommer et al. alegam que “a simeticona produz a coalescência de pequenas bolhas de ar em maiores através de uma redução da tensão de superfície. Essas bolhas maiores podem então ser mais facilmente expelidas a partir do trato gastrointestinal.” (SOMMER et al. 1977) Participaram do estudo 58 pacientes, que foram distribuídos aleatoriamente em quatro grupos. Segundo o estudo, houve efeito estatisticamente significativo no preparo com simeticona (p = 0,009), sendo encontrada uma melhora de aproximadamente 40% para os grupos que receberam o preparo. Não houve efeito significativo entre o preparo de um dia contra a preparo de dois dias. (SOMMER et al. 1977) Sommer et al. defedem em seu estudo que “a fim de produzir uma melhoria geral na qualidade das US abdominais, o preparo com simeticona deve ser utilizado. A administração de simeticona oral, no dia anterior ao exame merece consideração como um preparo de rotina para a US abdominal.” (SOMMER et al. 1977) Em 1978, baseado no fato de que muitos regimes de redução de gases intestinais já eram usados na radiografia, Meire e Farrant realizaram um estudo, que utilizou o preparo intestinal padrão utilizado para exames de RX de abdome superior, no preparo para o exame de US de abdome. A preparo padrão consistiu de dieta líquida durante 24 horas antes do exame, combinada com a administração de dois comprimidos Dulcodos® (bisacoldil, 5mg + dioctil, 100mg) em cada uma das duas noites anterioes ao exame. Contudo não houve diferença estatística entre o grupo controle e o grupo teste (MEIRE e FARRANT 1978). Na década de 80, três estudos foram encontrados sobre o assunto. Em 1984, Suramo et al. publicaram um artigo que avaliou o efeito de drogas, da posição do paciente e do Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives 16 enchimento do estômago na US pancreática. (SURAMO et al. 1984) Em 1985, Lembcke et al. publicaram um estudo questionando se o uso de novo agente antifisético poderia melhorar a qualidade do US abdominal. (LEMBCKE et al. 1985) Dois anos após Heldwein et al. avaliaram a utilidade de dimeticona associada ou não ao extrato de Senna para melhorar a visibilização dos órgãos abdominais (HELDWEIN et al. 1987). O estudo de Suramo et al., publicado em 1984, contou com duas partes, uma que analisou o efeito de medicamentos e outra da posição do paciente e do enchimento do estômago na US pancreática. A segunda parte já foi descrita anteriormente neste trabalho. Para analise do efeito dos medicamentos, os pesquisadores compararam o efeito de três drogas: a dimeticona (Cuplaton®), a simeticonapancreatina (Tuluflat®) e lisina-vasopressina (Postacton®) sobre o valor e a localização de gases intestinais, bem como sobre o sucesso de ultra-sonografia do pâncreas. Os resultados encontrados foram que a dimeticona não teve efeito significativo, a simeticona-pancreatina demostrou uma melhora significativa e que a lisina-vasopressina teve um efeito altamente significativo. Entrentanto todos os pacientes que usaram a lisina-vasopressina relataram sensação desagradável e a maioria deles tiveram palidez intensa transitória e fraqueza. (SURAMO et al. 1984) Depois em 1985 Lembcke et al. realiazaram um estudo duplo-cego em 42 pacientes, nos quais o primeiro exame de ultrassom não foi satisfatório, devido a presença excessiva de gás intestinal. Os pacientes receberam ou um preparo com dimeticona líquida ao longo de 24 horas (dose total de 480 mg) ou placebo. Houve melhora da qualidade das imagens em 52% dos que receberam o placebo e em 71% no grupo que recebeu a dimeticona, não sendo a diferença estatisticamente significativa (LEMBCKE et al. 1985). No ano de 1987 Heldwein et al. testaram em 194 pacientes, através de um estudo controlado duplo-cego, o efeito do preparo com dimeticona EURP 2016 Müller – Preparo Intestinal US Abdome Superior líquida e com extrato de senna, isoladamente e em combinação, como um meio para melhorar a qualidade da US abdominal. Após a admissão, os pacientes foram randomizados para um dos quatro grupos de tratamento: (A) placebo de senna e placedo de dimeticona, (B) senna e placebo de dimeticona, (C) placebo de senna e dimeticona, ou (D) senna e dimeticona. Não houveram diferenças nas variáveis de resposta dos três grupos em comparação com o placebo. Além disso, o estudo refere que nos grupos tratados com o laxante, houveram efeitos colaterais como diarréia e dor abdominal (HELDWEIN et al. 1987). Durante os anos 90, quatro estudos do gênero foram conduzidos. Dois em 1990 (NILSSON e FORSBERG 1990) (VOGEL et al. 1990), um em 1991 (VARAS e LOPEZ 1991) e outro em 1992 (LUND et al. 1992). Nilsson e Forsberg estudaram em 1990 o efeito de laxantes e enemas na visibilidade ultrassonográfica do pâncreas. No estudo 36 pacientes foram avaliados sob diferentes condições: um grupo foi preparado com jejum durante 4 horas; para o segundo grupo foi dados adicionalmente laxantes, uma combinação de Toilax (bisacodil) e Salilax (óxido de magnésio) durante o dia que antecedia o exame; o terceiro grupo recebeu os laxantes por 2 dias anteriores ao exame. Dentre os resultados, o estudo não revelou qualquer diferença na visibilidade entre os três grupos. Nilsson e Forsberg sugerem em sua conclusão que o preparo de rotina com 4 horas em jejum por si só pode ser recomendado quando se examina a parte superior do abdômen, exceto a vesícula biliar, com ultrassom. (NILSSON e FORSBERG 1990) O outro artigo publicado em 1990, por Vogel et al., estudou os efeitos do uso combinado de dieta e laxantes para a melhora na qualidade de imagem da US abdominal. Foram estudados prospectivamente o efeito da combinação de uma dieta de baixa caloria e de baixa formação de gás durante 2 dias com laxantes em 100 pacientes ambulatoriais consecutivos, sendo que 50 pacientes (grupo DL) foram aleatoriamente Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives 17 designados para realizar o preparo com a dieta e laxantes e os outros 50 pacientes (grupo C) serviram como grupo de controle, sem qualquer preparação especial, apenas jejum a partir das 22 horas na noite anterior ao exame até após o exame de US. Os pacientes do grupo DL receberam 50 mL de sulfato de magnésio, 4 comprimidos de bisacodil por 2 dias (2 comprimidos ao dia) antes do exame, e uma dieta de baixa caloria e de baixa formação de gás durante 2 dias, sem café da manhã no dia do exame. Bebidas gaseificadas não foram autorizados.(VOGEL et al. 1990) Vogel et al. encontraram diferenças significativas em favor do grupo DL para as seguintes estruturas anatômicas: o ducto biliar extra-hepático comum (p = 0,009), cabeça e corpo do pâncreas (p = 0,015 e 0,004, respectivamente), região para-aórtica (p = 0,001 ), e os vasos ilíacos (p = 0,0005). Também é descrito que os pacientes no grupo DL relataram um inconveniente aceitável sobre a dieta e os efeitos dos laxantes (3,5 em uma escala de 10 pontos). Vogel et al. afirmam que o procedimento deve ser reservado para pacientes encaminhados para fins de rastreio (exame inicial) e para indicações especiais. Quando a patologia for conhecida e estando localizada no rim, fígado, vesícula biliar e baço, um preparo normal para o paciente é suficiente, uma vez que a visibilidade destes órgãos não é afetada. (VOGEL et al. 1990) Em 1991 Varas e Lopez estudaram o uso de Flatoril® (uma droga que combina cleboprida e simeticona) a fim de superar os efeitos adversos do gás gastrointestinal sobre os resultados da ultra-sonografia abdominal. Assim, foi realizado um estudo duplo-cego, controlado, randomizado com cleboprida mais simeticona versus placebo. Quarenta e dois pacientes, entre 25 e 65 anos e com meteorismo abdominal, participaram desse estudo. (VARAS e LOPEZ 1991) No resultados, Varas e Lopez afirmam que houve melhora estatisticamente significativa na visibilização da cabeça e corpo do pâncreas após EURP 2016 Müller – Preparo Intestinal US Abdome Superior 02 horas da ingesta do medicamento (76%) (p<0,05). No entanto, o mesmo não aconteceu ao tentar vizibilizar a cauda do pâncreas ou do rim esquerdo. (VARAS e LOPEZ 1991). Data de 1992 o último estudo envolvendo medicamentos no preparo para exame de US abdomen. Lund et al. avaliaram o uso de preparações de celulose como agentes de contraste em US gastrointestinais, na tentativa de diminuir artefatos de gás e melhorar a qualidade de imagem da US. (LUND et al. 1992) Dez voluntários foram submetidos a US abdominal em três ocasiões distintas, antes e após a administração do agente de contraste: os voluntários beberam 800 ml de água e dois diferentes agentes de contraste de US para exame de US gastrointestinal. Os agentes de contraste eram suspensões à base de celulose, em diferentes concentrações e comprimentos de fibra, sintetizadas para o estudo. O tamanho de uma era 18 μm e a da outra 22 μm. (LUND et al. 1992) Dentre os resultados, Lund et al. encontraram que em comparação com a água, os agentes de contraste de ultra-som administrados por via oral melhoraram a visualização do intestino e da anatomia abdominal, com artefato de gás diminuído (P<0.005). Os artefatos de gás foram reduzidos com ambos os agentes 1 e 2 em comparação com a água. Contudo dois paciente relataram reações indesejáveis: um paciente apresentou náuseas após a administração de água; e outro paciente teve um episódio de diarréia após a administração do agente de contraste de US gastrointestinal.(LUND et al. 1992) Lund et al. concluem dizendo que estavam nos estágios iniciais do desenvolvimento de um agente gastrointestinal seguro e eficaz de contraste de ultrassom. Afirmaram ainda que os resultados preliminares em voluntários eram promissores, mostrando melhora significativa na imagem do US abdominal após um agente de contraste gastrointestinal de US, administrado por via oral.(LUND et al. 1992) Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives 18 Por fim nos anos 2000, poucos artigos foram encontrados em nossas buscas. Ao nosso melhor conhecimento, apenas dois artigos foram publicados sobre o uso de medicamentos no preparo de US abdominal: em 2000 por AbuYousef e El-Zein; e em 2011 por Pinto et al. (ABU-YOUSEF e EL-ZEIN 2000) (PINTO et al. 2011). Abu-Yousef e El-Zein publicaram em 2000 um artigo entitulado: “Melhoria da visualização ultrassonográfica da cauda do pâncreas com simeticona, água e rotação do paciente”. Assim, no intuito de estudar o efeito da simeticona, água e rotação do paciente na visibilização por US da cauda do pâncreas, setenta pacientes foram avaliados. Esses tinham uma pobre visibilização da cauda do pâncreas por US prévio. (ABU-YOUSEF e EL-ZEIN 2000) O estudo foi realizado com um grupo controle e um grupo teste, ambos contando com 70 pacientes. O grupo controle resultou da ánalise de retrospectiva em 70 pacientes consecutivos, com visibilização incompleta da cauda do pâncreas por US prévio. Nesse grupo foi realizada a US antes e após a ingesta de água. No grupo teste, o estudo foi prospectivo e os pacientes foram orientados a ingerir 2 xícaras (500 ml) água misturada com 80 mg de simeticona (Goldline Laboratories, Miami, Fl), enquanto estavam sentados. Em seguida, solicitou-se para que os pacientes do grupo teste girassem 360° sobre a mesa de exame, por três vezes. Não houve período de espera após a ingesta da mistura e a aquisição das imagens. Os pacientes foram então examinados, através do US, na posição vertical. (ABU-YOUSEF e ELZEIN 2000) Abu-Yousef e El-Zein encontraram uma melhora da visibilização no grupo teste em 65 (93%) dos 70 pacientes do grupo, sendo que em 55 (79%) houve completa visibilização. No grupo controle a visibilização completa ocorreu em 05 (7%) dos 70 pacientes do grupo. A visibilização foi parcial em 38 (54%) e sem melhora em 27 (39%). (ABU-YOUSEF e EL-ZEIN 2000) EURP 2016 Müller – Preparo Intestinal US Abdome Superior Na discussão do artigo, os autores lembraram que existiam algumas limitações para a técnica, não podendo ser utilizada para pacientes acamados, que não são capazes de realizar a rotação de 360° sobre si mesmo. Além disso, há pacientes que não podem ou não deveriam ingerir a quantidade necessária de água (especialmente aqueles com pancreatite aguda). Por fim Abu-Yousef e El-Zein concluem que “a utlização de uma mistura de simeticona com água e a rotação do paciente é simples, barata, segura e eficaz em melhorar a visualização da cauda do pâncreas e, assim, evitando TC adicionais”. (ABU-YOUSEF e EL-ZEIN 2000). O estudo mais recente sobre preparo para US de abdome data de 2011 e foi conduzido por Pinto et al. com 611 participantes. Os pesquisadores realizaram uma comparação entre três tipos de preparos para a US abdominal. (PINTO et al. 2011) Os pacientes foram distribuídos aleatoriamente em três grupos (grupo I, II, ou III), sendo que cada grupo que recebeu um preparo diferente (preparo I, II ou III, respectivamente). O preparo I inclui pelo menos 6 horas de jejum ('jejum'), a ingestão de quatro copos (200 ml cada) de água, 1 hora antes do exame ('água'), um comprimido de dimeticona (Luftal; EMS, Hortolândia, SP ), a cada 6 horas no dia anterior ao exame ('antifisético'), e um comprimido de bisacodil (Dulcolax; Boehringer Ingelheim, Ridgefield, CT) na noite antes do exame ('laxante'). O preparo II inclui o jejum, a água e o antifisético. Para o preparo III foi solicitado apenas o jejum e a água. (PINTO et al. 2011) Os resultados mostraram que não houve diferença na qualidade do exame realizado entre os pacientes com ou sem medicação. A única diferença estatisticamente significativa foi observada entre os pacientes do grupo I, onde houve melhora da visibilização do retroperitônio na região média do abdome. Nos pacientes dos Grupos II e III menos efeitos colaterais foram observados. Segundo os autores as características do paciente (ou seja, IMC e 19 espessura da parede abdominal) causaram uma maior interferência na qualidade de imagem do que o tipo de preparo.(PINTO et al. 2011) Pinto et al. concluiram através de seu estudo que a visualização dos órgãos abdominais foi satisfatória mesmo em pacientes que só tinham como preparo o jejum e a água. Os pesquisadores analisam que devido a uma melhora insignificante com laxantes observada em apenas uma região anatômica das sete regiões estudadas, e que o preparo I (com laxantes) causou uma maior freqüência e intensidade de reações adversas, os preparos com laxantes e antifiséticos devem ser excluídos do preparo de US abdominal. (PINTO et al. 2011) Discussão Este trabalho buscou realizar uma ampla revisão da literatura sobre quais são as evidências para o preparo dos exames de US do abdome superior. Foram encontrados pouco mais de 20 artigos publicados sobre os assunto desde a década de 70 até os anos 2000, todos expostos nessa revisão. Com base nessa revisão podemos observar que houveram formas de preparo diversas. Alguns autores sugerem que seus preparos parecem beneficiar a qualidade do exame de US abdominal (SOMMER et al. 1977) (SURAMO et al. 1984) (VOGEL et al. 1990). Entretanto, o benefício da melhora da qualidade da imagem pode acarretar em efeitos adversos ao paciente, como com o uso de alguns medicamentos (SURAMO et al. 1984) ou até mesmo pelo jejum prolongado. Sinan et al. lembram que o jejum pode ser inconveniente e até perigoso para alguns pacientes, particularmente os diabéticos e aqueles que têm de percorrer um longo caminho para o departamento de US. (SINAN et al. 2003) A seguir serão analisados os tipos de preparo propostos. Dentre os estudos que analisaram o jejum, podemos observar que os três estudos concluem que o jejum não é fundamental no preparo dos Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2016 Müller – Preparo Intestinal US Abdome Superior pacientes que irã realizar o exame de US do abdome superior (WINDLER e LEMPP 1985) (SINAN et al. 2003) (EHRENSTEIN et al. 2009). Cabe, no entanto, algumas considerações sobre o assunto, que serão abaixo expostas. No estudo de Sinan et al., os pesquisadores sugerem que uma refeição branda é compatível com um resultado técnico satisfatório de US abdominal, poucas horas após a refeição. Contudo, não foi definido com clareza estatística o intervalo entre a dieta branda e a realização do exame. Ainda, o estudo não realizou análise após o almoço ou refeições completas. Ainda referente ao jejum, no último estudo apresentado sobre o assunto, Ehrenstein et al. sugerem que o jejum não é necessário no preparo para ultrassonografias abdominais eletivas. Contudo, o mesmo estudo mostra que os pacientes em jejum tenderam a ter um valor médio mais elevado do índice de imagem calculado que os pacientes não-jejum, contudo essa diferença não foi estatisticamente significativa. Também foi citado que a maior diferença de avaliação foi encontrada para vesícula biliar, onde 73% dos pacientes em jejum contra 56% dos pacientes sem jejum foram julgadas como completamente avaliáveis (p=0,051). (EHRENSTEIN et al. 2009) O percentil esteve muito próximo de ter relevância estatística, assim devemos cogitar se em novos estudos, com uma população maior e com um grupo controle que tenha a última refeição mais próximo do exame, essa variável não será de fato estatisticamente significativa. O mesmo foi encontrado no estudo de Windler e Lempp onde a visualização do trato biliar, em especial a vesícula biliar, poderia ser significativamente melhor avaliada no grupo de pacientes que estavam em jejum. (WINDLER e LEMPP 1985) 20 grupo controle pacientes que tenham ingerido refeições gordurosas. Conforme demonstrado nessa revisão, as refeições gordurosas agem diretamente sobre a vesícula biliar, levando a sua contração, total ou parcial (MARCHAL et al. 1980). Os estudos apresentados mostram que após uma refeição gordurosa a vesícula biliar sofre uma contração variável (SACCHETTI et al. 1973) tanto no tempo, quanto na intensidade. Baseados nos dados apresentados por Howard et al. podemos inferir que a vesícula biliar atinge sua contração máxima em 2 a 2,5 horas após a ingesta de refeições gordurosas. (HOWARD et al. 1991). Contudo não foram encontrados estudos que determinassem qual o tempo mínimo para que a vesícula biliar esteja apresentando uma repleção satisfatória para o exame de US de abdome superior. Um outro resultado sobre a avaliação da vesícula biliar que deve ser ressaltado é o do estudo de Finberg e Birnholz que avaliou a visibilização da vesícula biliar, através de US, sem a necessidade de qualquer preparo nem mesmo jejum. O estudo mostrou que em apenas 4% dos pacientes a vesícula não foi identificada. A não visibilização da vesícula biliar estava altamente relacionada a contração patológica e também evidenciou que repetir o exame com o paciente em jejum mostrou aumento da distensão da vesícula biliar.(FINBERG e BIRNHOLZ 1979) É importante salientar o fato de que nenhum dos três artigos informou em suas análises o intervalo de tempo entre a última refeição e o exame. Esse fato, não permite analisar as médias de jejum empregadas, principalmente no grupo dito em não jejum. Além de estudos sobre o jejum, há outros que se focaram na melhora da qualidade da imagem, principalmente do pâncreas, através da ingesta de água imediatamente antes do exame. Conforme sugerido por Crade et al. e também por Suramo et al., a ingesta de água parece ter potencial na melhora da visibilização do pâncreas e estruturas adjacentes. Entretanto são necessários estudos com melhor delineamento estatístico para avaliar se o uso de água imediatamente antes do exame de US do abdome superior, melhora a qualidade do método. Há também falta de estudos que avaliem no No intuito de diminuir os gases intestinais, Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2016 Müller – Preparo Intestinal US Abdome Superior foram escritos artigos propondo o uso de medicamentos como formas de preparo intestinal para o exame de US abdominal. Neste trabalho foram apresentados estudos que mostram o uso das seguintes substâncias: simeticona, simeticona-pancreatina, cleboprida associada a simeticona, dimeticona, bisacodil, senna, dioctil, sulfato de magnésio, celulose e lisina-vasopressina. Em alguns dos artigos apresentados mais de uma substância fizeram parte de um único estudo, aumentando o número de variáveis expostas neste trabalho. Também é interessante salientar que em todos os artigos citados sobre o uso de medicação, os pacientes tanto dos grupos controles quanto dos grupos teste estavam em jejum de pelo menos 04 horas. Dentre os estudos apresentados sobre medicamentos no preparo para US de abdome, os que afirmaram ter resultados significativos foram os seguintes: Sommer et al. com o uso de simeticona; Suramo et al. com o uso de lisinavasopressina; Vogel et al., com o uso combinado de dieta e de laxantes (sulfato de magnésio e bisacodil); Varas e Lopez com o uso de uma droga que combinou cleboprida com simeticona; Lund et al. com o uso de preparações de celulose; e Abu-Yousef e El-Zein com a combinação de simeticona, água e rotação do paciente. Diante disso algumas considerações sobre esses resultados que serão expostas. No estudo de Sommer et al. que demonstrou efeito positivo com o uso de simeticona, não há descrição de cegamento do estudo, o que pode ter gerado algum grau de viés. Além disso, tanto no grupo controle, quanto no grupo teste o percentual de visibilização foi baixo, talvez isso aconteça devido ao estudo ter sido publicado na década de 70, onde os aparelhos de ultrassom tinham qualidade muito inferior aos atuais. Com uso da lisina-vasopressina, embora o efeito tenha sido altamente significativo, todos os pacientes que a usaram relataram sensação desagradável e a maioria deles tiveram palidez intensa e fraqueza. Assim Suramo et al. não recomendam o uso dessa substância como rotina Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives 21 no preparo de exames de US abdominal. O preparo proposto por Vogel et al., embora tenha apresentado melhora na qualidade de imagem da US abdominal, exige uma dieta de baixa caloria e de baixa formação de gás durante 2 dias associada ao uso de laxantes também por 2 dias. Além disso houve um certo grau de desconforto relatado pelo pacientes. Diante disso, essa não seria a forma ideal para um preparo padrão nos exames de US de abdome superior. Varas e Lopez tiveram uma melhora estatisticamente significativa na visibilização da cabeça e corpo do pâncreas após 02 horas da ingesta do medicamento, no entanto o mesmo não aconteceu ao tentar vizibilizar a cauda do pâncreas ou o rim esquerdo. Varas e Lopez acreditam que, além do efeito antifisético, o tratamento com cleboprida e simeticona produziu um efeito de esvaziamento gastrointestinal através do aumento da motilidade, movendo o gás para o intestino delgado e cólon, o que explicaria a razão pela qual não foi possível visualizar a cauda pâncreas e o rim esquerdo (VARAS e LOPEZ 1991). O uso de celulose no preparo para exames de US de abdome pode ser uma alternativa que traga melhora significativa na imagem do US abdominal, contudo conforme Lund et al. concluem ainda se está nos estágios iniciais do desenvolvimento de um agente gastrointestinal de contraste de ultrassom seguro e eficaz. Afirmaram ainda que os resultados preliminares em voluntários eram promissores. (LUND et al. 1992) O estudo de Abu-Yousef e El-Zein embora traga resultados positivos na visibilização do pâncreas, possiu algumas limitações para a técnica. Em pacientes acamados, que não são capazes de realizar a rotação de 360° sobre si mesmo, e em pacientes que não podem ou não deveriam ingerir a quantidade necessária de água (como os com pancreatite aguda), a técnica não pode ser utlizada. Dentre os estudos que não demonstram EURP 2016 Müller – Preparo Intestinal US Abdome Superior efeitos positivos do uso de medicamento no preparo para exames de US de abdome, deve ser dada especial atenção ao estudo de Pinto et al. Esse estudo realizado com uma população de 611 participantes onde foram estudados três tipos distintos de preparo, avaliando o preparo tradicional com 06 horas de jejum e a ingesta de água 01 hora antes do exame em um grupo versus a associação de anfiséticos com o preparo tradicional ou de antifiséticos e laxantes com o preparo tradicional. Pinto et al. concluiram que visualização dos órgãos abdominais foi satisfatória mesmo em pacientes que só haviam realizado como preparo o jejum e a ingesta de água. Também afirmam que os preparos com laxantes e antifiséticos devem ser excluídos do preparo de US abdominal. (PINTO et al. 2011) Conclusão Diante da revisão de literatura realizada por este estudo sobre quais são as evidências para o preparo dos exames de US do abdome superior, conclui-se que ainda existem poucos artigos publicados abordando o tema. Sendo esse, um provável motivo, para que ainda não se tenha uma norma internacionalmente aceita quando nos referimos ao preparo de pacientes submetidos ao exame ultrassonográfico do abdome superior. 22 De acordo com as evidências, podemos inferir que não há necessidade de um jejum prolongado como parte do preparo para os exames de US de abdome superior. Além disso, a exclusão completa do jejum para pacientes eletivos também não deve ser recomendada, devido a ausência de evidências a respeito dos efeitos de uma refeição gordurosa sob a qualidade do exame. As evidências que existentes ainda relatam que após uma refeição gordurosa ocorre a contração da vesícula biliar, prejudicando desta forma a qualidade do exame de US do abdome. As evidências atuais demonstram que o jejum não deve ser impeditivo da realização do exame imediato de US de abdome, pelo menos para pacientes de emergência. Quanto ao uso de medicamentos, as evidências não se mostraram suficientes para adotar algum medicamento em particular na rotina do preparo de US do abdome superior. O estudo de Pinto et al. ainda afirma que os preparos com laxantes e antifiséticos devem ser excluídos do preparo de US abdominal. Por fim, este trabalho conclui que até o momento o preparo a ser recomendado para pacientes eletivos que irão realizar o exame de US de abdome superior é: jejum de pelo menos 04 horas e pelo menos 06 horas sem refeições gordurosas. Referências ABU-YOUSEF, M. M. e Y. EL-ZEIN (2000). 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A ultrassonografia é um método não‐ invasivo, amplamente disponível, pode ser realizado na beira do leito, não expõe o paciente à radiação e pode diagnosticar litíase urinária através da visualização direta ou mostrando sinais secundários como o artefato sombra acústica posterior ao cálculo. Essa pesquisa tem interesse em realizar uma revisão bibliográfica no diagnóstico da litíase renal e atualização no seu diagnóstico ultrassonográfico, enfatizando o papel do artefato sombra acústica posterior. Faculdade de Tecnologia em Saúde (FATESA) Departamento de Pesquisa da FATESA - Rua Casemiro de Abreu, 660, Vila Seixas, Ribeirão Preto-SP. CEP 14020-060. Fone: (16) 3636-0311 Abstract The lithiasis of the urinary tract is the third most common urological problem after infection of the urinary tract and prostate diseases. The diagnosis is usually made after an episode of classic renal colic and the suspicion is confirmed by performing radiological exams: abdominal X‐ray, excretory urography, ultrasonography (US) and computed tomography without contrast (TCSC). Ultrasonography is a non‐invasive, widely available, can be performed at the bedside, does not expose the patient to radiation and can diagnose urolithiasis through direct viewing or showing signs side as the artifact posterior acoustic shadow calculation. This research is interested in conducting a literature review in the diagnosis of nephrolithiasis and update on your sonographic diagnosis, emphasizing the role of artifact posterior acoustic shadowing. Introdução A litíase das vias urinárias é uma condição reconhecida há séculos, com relatos da doença que datam 4200 a. C. no Egito e com litotomias realizadas há 2500 anos na Grécia 4,12,22. Sua distribuição é global, principalmente em localidades de clima quente, ocorrendo em todas as faixas etárias e etnias 4,18. A prevalência na Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives população varia entre 2 a 20%, com taxa de recorrência de 40 a 50% em cinco anos. Sua incidência é maior com o aumento da idade, iniciando-se, geralmente, entre 20 e 30 anos, sendo brancos do sexo masculino, os mais acometidos 1,2,3,4,9,10,12,21. O diagnóstico geralmente é realizado após um episódio de cólica renal clássico, e devido à sua alta taxa de recorrência tem grande impacto EURP 2016 Demes – Nefrolitíase econômico, seja pelo afastamento do trabalho, ou pela elevação dos custos no sistema de saúde 12,18,21. Nos Estados Unidos houve mais de 600 mil atendimentos de cólica renal no ano 2000 e estimase um custo anual, incluindo-se despesas de saúde e dias de trabalho perdidos, em torno de US $ 2 bilhões, sendo que a prevenção da recorrência de litíase renal pode resultar, em média, numa economia de US $ 2158 por paciente/ ano 12,18. O diagnóstico da litíase urinária é altamente dependente da análise do quadro clínico e exame físico do paciente 3,4,11,18. A suspeita é confirmada com a realização de exames radiológicos: radiografia simples de abdome, urografia excretora, ultrassonografia (US) e tomografia computadorizada sem contraste (TCSC) 3,4,5,9,10,18,19. A realização da TCSC é considerada o “padrão ouro” no diagnóstico da litíase urinária, pois além de fornecer a detecção e confirmação dos cálculos, identifica o tamanho e a localização, tem alta sensibilidade para cálculos pequenas e identifica outras causas de dor no flanco abdominal 11,18. Porém, a TCSC é um método oneroso e, além disso, como os cálculos urinários tendem a recorrer, nos últimos anos, é crescente a preocupação do dano potencial da exposição à irradiação, visto que seus riscos mutagênicos são cumulativos 15,17,18. Em contrapartida, a ultrassonografia é um método não-invasivo, amplamente disponível, pode ser realizado na beira do leito, não expõe o paciente à radiação e pode diagnosticar litíase urinária através da visualização direta ou mostrando sinais secundários de obstrução ureteral 15,18. Além disso, a utilização do US no modo B em cooperação com métodos Doppler pode fornecer resultados satisfatórios comparáveis ao da TCSC 14. Portanto, esse estudo tem como objetivo discutir e revisar o diagnóstico ultrassonografico da litíase renal enfatizando o papel do artefato sombra acústica posterior. Desenvolvimento A litíase urinária é um problema comum e crescente em todo o mundo, atingindo uma Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives 25 prevalência de até 20% na população 4,11,12,18,21. Nos Estados Unidos, a prevalência de episódios de litíase sintomática cresceu de 5,2% na década de 1990 para 8% no ano de 2012, notando-se esse aumento em todas as faixas etárias e etnias 18. O risco de formação de litíase urinária é de 6% nas mulheres e 12% nos homens, sendo que nos Estados Unidos, para cada pedra eliminada, a proporção é de uma mulher para sete homens 4,21. Percebe-se maior prevalência em homens brancos (10%) quando comparados com homens negros (1%) 4,10. A incidência cresce a partir dos 20 anos de idade, sendo a faixa pediátrica responsável por aproximadamente apenas 3% dos casos 4. No sexo masculino, os cálculos atingem o pico de incidência entre 40 e 60 anos e no sexo feminino, por volta dos 30 anos, declinando após os 50 anos 4,10. Em pacientes sem tratamento clínico a recorrência dos cálculos urinários chega a 50% em cinco a dez anos, podendo diminuir para a metade com o tratamento 4,6,21. Existem vários fatores que colaboram para a formação dos cálculos urinários, como a história familiar, a dieta (principalmente o consumo de bebidas), fatores ambientais (como o clima quente, que modifica o estado de hidratação), uso de medicações (como o Indinavir), fatores genéticos (como a fibrose cística e a acidose tubular renal tipo 1), estase urinária, hiperuricemia, hiperparatireoidismo, hipercalciúria, doenças gastro-intestinais com má absorção, entre outras 1,4,10. Porém, na maioria das vezes a causa é indeterminada 10. Atualmente, tem-se associado uma maior incidência de litíase urinária em obesos (Índice de massa corpórea > 30 Kg/m²), notandose uma ocorrência 30% maior em homens obesos e o dobro em mulheres obesas 4,18,21. Também há uma maior associação entre a Diabetes mellitus tipo 2 e síndrome metabólica com maior formação de cálculos de oxalato de cálcio e ácido úrico 4,21. A origem da formação dos cálculos na urina é dependente de uma quantidade excessiva de sais minerais presentes 2. A maioria dos cálculos se forma nas placas de Randall, localizadas no revestimento dos ductos coletores nas papilas renais 2,5. Em alguns casos, como nos cálculos de EURP 2016 Demes – Nefrolitíase cistina e em pacientes com acidose tubular aguda, os depósitos ocorrem dentro dos túbulos e não nas placas 2. Aproximadamente 75% dos cálculos contem cálcio na sua composição (oxalato ou fosfato de cálcio), sendo radiopacos 1,2,5,10,18. Os cálculos de estruvita (fosfato amoníaco magnesiano) correspondem de 7 a 15% dos casos, havendo forte relação com a formação de cálculos coraliformes 1,2,18. Os cálculos de ácido úrico corres A litíase de ácido úrico não é detectado na radiografia, mas visível na US e na TCSC 1,5,18. Vale destacar os cálculos formados pelo Indinavir, medicação usada para tratamento de portadores do vírus da imunodeficiência humana, que correspondem a menos de 1% das litíases e que não são visíveis na TCSC e na radiografia, pois são radiolucentes, porém detectados na US 1,5,18. O diagnóstico de litíase urinária, clinicamente se manifesta, em grande parte dos casos, com um episódio súbito de dor lombar, de forte intensidade, que pode se irradiar para flancos, fossas ilíacas, face medial da coxa, testículos e grandes lábios 1,3,9,18. A presença de náuseas e vômitos se justifica pela inervação esplâncnica comum ao intestino e à cápsula renal 3. Algúria e disúria também podem estar presentes 3. A tríade, dor lombar aguda, náuseas e microhematúria, pode fornecer com uma sensibilidade aproximada de 89% e uma especificidade de 99%, quais pacientes com dor abdominal aguda apresentaram cólica renal 18. A presença de microhematúria, combinada com o episódio de dor lombar aguda, pode ser forte indicador da existência de cálculo, principalmente nos dois terços superiores do ureter 16,18. Após a suspeita clínica de um episódio de cólica renal, é fundamental a realização de exames complementares para a confirmação diagnóstica 3. A realização de exames de imagens é importante, pois permite a confirmação do diagnóstico e exclusão de outras doenças com sintomas semelhantes; proporciona determinar o tamanho e a localização dos cálculos, importantes para tratamento e prognóstico; e permite a exclusão de hidronefrose ou obstrução urinária, que também Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives 26 têm importância no tratamento do paciente, principalmente na existência de insuficiência renal 18. A escolha de quais exames de imagens serão realizados é influenciada pelas preocupações com a responsabilidade e consequências (“medicina defensiva”), com as expectativas do paciente, com a disponibilidade de tecnologia e com os incentivos financeiros 18. É bom ressaltar, que a maioria dos cálculos com menos de 5 mm terá resolução espontânea, enqu anto aqueles maiores que 5 mm e localizados na porção mais proximal dos ureteres poderão necessitar de intervenção . A realização da radiografia simples de abdome pode ser usada no diagnóstico e acompanhamento da litíase urinária 3,5,18,19. Geralmente visualiza cálculos maiores e que contém cálcio, mas perde cálculos menores e radiolucentes, como os de ácido úrico e de Indinavir 1,5,9,18. A sensibilidade da radiografia varia entre 45 e 69% e a especificidade entre 71 e 82%, isso se justifica, pois a presença de gases intestinais, sombras ósseas (como flebólitos), mal posicionamento do paciente ou a qualidade técnica do exame podem prejudicar o diagnóstico 3,5,18. Vale destacar que a radiografia associada com a ultra-sonografia pode ter uma precisão clínica próxima a da TCSC no seguimento dos cálculos renais 4,9,18. A urografia excretora já foi considerada o “padrão ouro” para o diagnóstico das litíases, porém atualmente possui uma sensibilidade inferior à TCSC e ainda é bem utilizada para visualização do sistema coletor urinário 5. Além disso, a urografia excretora apresenta a desvantagem de se utilizar contraste iodado, que pode provocar reações anafiláticas e 3,21 nefrotoxicidade . A tomografia computadorizada sem contraste (TCSC) é considerada o melhor método diagnóstico para a litíase urinária 1,3,4,5,6,8,9,10,11,15,16,18,19,21. Ela apresenta sensibilidade de até 96% e especificidade de até 100%, com uma precisão global de 98% 3,4,6,18,19,21. A TCSC não detecta somente pedras totalmente radiolucentes, como aquelas formadas pelo uso do Indinavir 1,5,18. Dentre as vantagens da TCSC para o diagnóstico EURP 2016 Demes – Nefrolitíase das litíases do sistema urinário pode-se citar as medidas da densidade, tamanho e localização dos cálculos que são preditores para o tratamento 1,4,5,11,18,21. Além disso, ela permite realizar diagnósticos diferenciais de dor abdominal, como massas anexiais, apendicite, linfoadenopatias pélvicas e pielonefrites 4,5,11,18,21. Esses diagnósticos diferenciais podem ser encontrados em 10 a 14% dos pacientes em investigação de cólica renal 4,18,21. Em contrapartida, a TCSC possui algumas desvantagens, pois ainda é considerado um exame caro e de pouca disponibilidade em serviços de emergência no Brasil e submete os pacientes à radiação ionizante, já que a doença tem alta taxa de recorrência 9,11,15,17,18. Em 2007, nos Estados Unidos, estimou-se que 29 mil tumores malignos podem ter sidos resultados da realização de tomografias 18. O risco de desenvolver um tumor maligno após uma TCSC de abdome e pelve é estimada em 1 para 500 em uma mulher de 20 anos de idade e de 1 para 1330 em um homem de 60 anos 18. Nesse contexto, a US ainda é um método muito utilizado como o primeiro exame para avaliação inicial de um episódio de cólica renal 1,5,9,10,18,19. A ultra-sonografia é um método de imagem amplamente disponível, barato, pode ser realizado na beira do leito, não expõe o paciente à irradiação ionizante e faz o diagnóstico de cálculos através da visualização direta, mostrando sinais secundários da obstrução ureteral ou através de artefato ultrassonográficos como sombra acústica posterior 3,4,9,15,18. Justamente pelo fato da US ser um método não radioativo, ela tem sido o exame de imagem de primeira linha para crianças, adolescentes e gestantes 3,6,18. Ela também permite a realização de diagnósticos diferenciais da cólica nefrética como, colecistopatia biliar, pancreatite aguda, apendicite aguda, hematomas renais subcapsulares, abscessos renais, pielonefrites e massas abdominais e pélvicas 5,18. A sensibilidade da US para cálculos urinários varia entre 12 a 96%, enquanto a especificidade, entre 84 a 100% 1,8,18. Essa variação se justifica devido à localização, tamanho e formação dos cálculos, ao fato de ser operador dependente e aos diferentes dados literários 10,18. A associação com a radiografia de Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives 27 abdome e o uso do método Doppler podem aumentar consideravelmente a sensibilidade da US 4,8,10,14,21. Por outro lado, a sensibilidade pode ser limitada por fatores como interposição gasosa e de outras vísceras e em pacientes obesos 6,9,10. É considerada visualização de litíase urinária na US, toda imagem hiperecóica produtora de sombra acústica posterior, podendo estar localizada no sistema pielocalicinal (nefrolitíase), nos ureteres (ureterolitíase) ou dentro da bexiga 9,10,18. Essa visualização é melhor detectada com a seleção da frequência adequada do transdutor e com o auxílio de métodos como a harmônica e o Doppler 10. Algumas situações podem simular cálculos, geralmente no sistema pielocalicinal, como a calcificação da artéria renal, a presença de gás intrarrenal, a papila renal destacada calcificada, a pielite e a presença de stents ureterais 10. Para cálculos maiores que 5 mm, a sensibilidade da US pode chegar próxima a 100% 1,5,9,10,15,18, principalmente, nos casos das nefrolitíases, das litíases localizadas no interior da bexiga e nos pontos de estreitamento dos ureteres: junção ureteropiélica (JUP), cruzamento com os vasos ilíacos e junção ureterovesical (JUV) 3,9,10,18. Cálculos localizados no terço médio dos ureteres e aqueles menores que 3 mm dificilmente podem ser diagnosticados pelo US e são melhores detectados na TCSC 5,9,18. Nesse sentido, é importante ressalvar que a maioria das litíases menores que 5 mm tem resolução espontânea 10,16. Assim, pacientes adultos com episódio de cólica renal, presença de hematúria e US sem diagnóstico de cálculos, podem receber tratamento clínico conservador, com baixa probabilidade de intervenção urológica, o que, em um primeiro momento, não necessitaria da realização da TCSC, sendo a cólica renal a única hipótese diagnóstica 5,13,15,16. Além da visualização direta dos cálculos, a US detecta sinais de obstrução ureteral (hidronefrose, hidroureter e diminuição ou ausência de jatos ureterais no lado afetado), que podem indicar presença de ureterolitíase 9,10,15,16,18. A sensibilidade da US para a obstrução do sistema coletor urinário pode variar entre 73 a 100% 18. Quando associados EURP 2016 Demes – Nefrolitíase hidronefrose, dor em flanco e microhematúria, a sensibilidade e a especificidade para cálculos, podem chegar, respectivamente, a 88 e 85% 16. 95% das litíases obstrutivas se localizam na JUV, no cruzamento dos vasos ilíacos e na JUP, onde a US tem bom acesso 9. A hidronefrose é a dilatação do sistema pielocalicinal, provocada pela obstrução do trânsito urinário, sendo classificada como leve, moderada ou acentuada, podendo ocorrer até 6 horas após o início do quadro álgico 9,18. A causa mais comum é a ureterolitíase, provocada por cálculos maiores, que não têm passagem espontânea, e pode vir acompanhado por hidroureter, mais facilmente visto no terço distal do ureter 9,10,15,18. Pacientes com litíase renal presumida e hidronefrose, associados com quadro de insuficiência renal ou sinais de infecção podem exigir intervenção urológica imediata 18. Outro sinal de obstrução dos ureteres, diagnosticado pela US, é o estudo dos jatos ureterais no assoalho vesical, mais facilmente detectados com auxílio do Doppler 3,9,10,18,20. Uma pessoa hígida tem aproximadamente três jatos ureterais por minuto, enquanto que na obstrução do ureter, os jatos estão diminuídos ou ausentes 18. A ausência do jato sugere obstrução completa, desde que o contralateral não foi observado, mas não exclui uma semi-obstrução do sistema coletor 9,10,18. Outra colaboração do método Doppler no diagnóstico da obstrução ureteral é o estudo da impedância vascular nas artérias intrarrrenais, mas que ainda apresentam baixa sensibilidade 9,10. Discursão A incidência de um evento informa o número de casos novos de uma doença existente num momento específico, produzindo um retrato da mesma na coletividade, sendo um dado estático. Neste estudo optou-se por realizar o levantamento da incidência em um período de seis meses. Para o calcularmos da incidência, foi utilizada a fórmula abaixo: Índice de incidência = n° de “casos novos” em determinado período x 100 n° de pessoas expostas ao risco no mesmo período. Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives 28 Dos 2.042 exames analisadas utilizamos como amostra 893 exames por contemplarem avaliação das vias urinárias sendo 429 avaliação do abdômen, 270 solicitações de abdômen total e 159 de abdômen superior, destes 190 pacientes eletivos e 239 urgências. Avaliamos 464 solicitações de vias urinárias, destes sendo 183 vias urinárias no sexo masculino e 281 do vias urinárias no sexo feminino, pacientes encaminhados para avaliação ultrassonografico no nosso serviço sendo 259 pacientes eletivos e 205 de caráter de urgência. Total de exames Ginecologia, Obstericia e Pequenas Partes Abdomem total Abdomem superior (Gráfico 1) Amostra 2.042 exames entre maio e outubro de 2015. Dos 190 exames de ultrassonografia de abdômen eletivos encontramos 12 exames positivos para cálculos, uma incidência de cálculos nas vias urinárias como achado em pacientes assintomático realizando exames ultrassonografico de abdômen em caráter eletivo é de 6,3%. Dos 239 exames ultrassonografia de abdômen em caráter de urgência encontramos 14 exames positivos para cálculos uma incidência de cálculos nas vias urinárias como achado em pacientes com algum tipo de sintomatologia abdominal realizando exames de ultrassonografia de abdômen em caráter urgência é de 5,8%. Dos 392 exames de ultrassonografia de vias urinárias eletivos encontramos 40 exames positivos para cálculos, uma incidência de cálculos nas vias urinárias como achado em pacientes assintomático realizando exames ultrassonografico de vias urinárias em caráter eletivo é de 10,2% . Dos 308 exames ultrassonografia de vias urinárias em caráter de EURP 2016 Demes – Nefrolitíase urgência encontramos 39 exames positivos para cálculos uma incidência de cálculos nas vias urinárias como achado em pacientes com algum tipo de sintomatologia abdominal realizando exames de ultrassonografia de vias urinárias em caráter urgência é de 19%. 450 400 350 300 250 200 150 100 50 0 Exames Eletivos Exames com calculos Exames Uregência Abdômen Abdômen Eletivo (6,3%) Urgência (5,8%) Vias Urinárias Eletivo (10,2%)) Vias Urinárias Urgência (12,6%) ( Gráfico 2 ) Incidência de cálculo renal nos exames ultrassonografia de abdômen superior em caráter de urgência e eletivo. Analisando um total de 792 exames ultrassonográficos com estudo das vias urinárias, comtemplamos um total de 196 cálculos, desses 29 117 apresentavam o artefato sombra acústica posterior (SAP) 59,69%. Dos cálculos nas vias urinárias que apresentavam SAP encontramos a seguinte distribuição topográfica 25 no polo superior renal com uma incidência de SAP em tal topografia de 67,5% uma vez que encontramos 12 cálculos que não continham o artefato; 36 no polo médio renal (50,7% ) uma vez que encontramos 35 cálculos que não continham o artefato, 47 no polo inferior renal com uma incidência de SAP em tal topografia de 65,2% uma vez que encontramos 25 cálculos que não continham o artefato; 4 em pelve renal com uma incidência de SAP em tal topografia de 80% uma vez que encontramos 1 cálculo que não continham o artefato; 3 em ureter próximal com uma incidência de SAP em tal topografia de 60% uma vez que encontramos 2 cálculos que não continham o artefato; 0 em pélve média que apresentava SAP em tal topografia , sendo que encontramos 2 cálculos que não continham o artefato; 2 em pelve distal com uma incidência de SAP em tal topografia de 50% uma vez que encontramos 2 cálculos que não continham o artefato. 80 Cálculos Com SAP Sem SAP 70 60 50 40 30 20 10 0 Polo Superior (67,5%) Polo Médio (50,7%) Polo Inferior (65,2%) Pelve Renal Ureter Ureter Médio Ureter Distal (80%) Proximal (60%) (0%) (50%) (Gráfico 3) Incidência de cálculo renal de acordo com a topografia e presença do artefato sombra acústica posterior (SAP). Comparando a incidência do artefato acústico SAP nos cálculos das vias urinárias de acordo com seu tamanho encontramos que entre os 4 cálculos de 2mm, 3 apresentavam SAP (75%) ; entre os 13 Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives cálculos de 3mm, 9 apresentavam SAP (56,2%) ; entre os 47cálculos de 4mm, 26 apresentavam SAP (55,3%) ; entre os 40 cálculos de 5mm, 27 apresentavam SAP (67,5%) ; entre os 32 cálculos EURP 2016 Demes – Nefrolitíase de 6mm, 18 apresentavam SAP ( 56,2%) ; entre os 15 cálculos de 7mm, 9 apresentavam SAP (60%); entre os 11 cálculos de 8mm, 6 apresentavam SAP (54,5%) ; entre os 10 cálculos de 9mm, 7 apresentavam SAP ( 70%) ; entre os 5 cálculos de 10mm, 1 apresentavam SAP (20%) ; entre os 6 cálculos de 10 - 15mm, 1 apresentavam SAP (16,6%) ; entre os 4 cálculos de 15-20mm, os 4 30 apresentavam SAP (100%) ; entre os 2 cálculos de 20-25mm, 1 apresentavam SAP (50%) ; entre os 4 cálculos de 30-35mm, os 3 apresentavam SAP (75%) ; 1 cálculos de 35-40mm, e este apresentavam SAP (100%); 1 cálculos de 40-45mm, e este apresentavam SAP (100%); 1 cálculos de 50-55mm, e este apresentavam SAP (100%). 50 Total de cálculos (0‐10 mm) 45 Com SAP 40 Sem SAP 35 30 25 20 15 10 5 0 1 mm 2 mm (75%) 3 mm (56,2%) 4 mm (55,3%) 5 mm (67,5%) 6 mm (56,2%) 7 mm (60%) 8 mm (54,5%) 9 mm (70%) 10 mm (20%) (Gráfico 4) Incidência do artefato de sombra acústica posterior (SAP) de acordo com o tamanho do cálculo. ( 0 – 10 mm) 6 Total de cálculos 5 Com SAP Sem SAP 4 3 2 1 0 1 ‐ 1,5cm (20%) 1,5‐2cm (100%) 2‐2,5cm (50%) 3‐3,5cm (75%) 4‐4,5cm (100%) 5,6 cm (100%) (Gráfico 5) Incidência do artefato de sombra acústica posterior (SAP) de acordo com o tamanho do cálculo. (1 – 6 cm) Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2016 Demes – Nefrolitíase 31 Conclusão Embora a tomografia computadorizada sem contraste seja o “padrão ouro” para o diagnóstico de litíase urinária, tem que se levar em consideração o custo-benefício de qual método de imagem a ser utilizado no momento do diagnóstico, sempre se levando em conta cada caso de maneira individualizada. Assim, considerando os seguintes fatores: as altas taxas de prevalência e recorrência da litíase na população, a importância em diminuir os gastos no sistema de saúde, a preocupação com os efeitos futuros da exposição à irradiação ionizante e que a maioria dos casos de cálculos urinários tem resolução sem complicações e sem necessitarem de abordagem terapêutica invasiva, a ultrassonografia, por apresentar boa sensibilidade para detectar litíases urinárias ou sinais de obstrução ureteral, é uma ótima opção de método de imagem. Portanto, a US deve ser considerada, com mais frequência, como exame inicial para o diagnóstico dos cálculos urinários, mesmo no primeiro episódio da cólica renal, principalmente em crianças, adolescentes e jovens do sexo feminino, reservando o uso da TCSC para os pacientes em que os sintomas persistirem, em busca de diagnósticos alternativos, ou ainda que necessitarem de uma intervenção urológica invasiva. Durante a realização da ultrassonografia das vias urinárias o artefato sombra acústica posterior auxilia no diagnóstico estando presente em 59,6% dos cálculos com maior incidência na pelve renal (80%), polo superior renal (67,5%) e polo inferior renal (65,2%); nos cálculos com tamanho maior que 30mm (100%), 15-20mm (100%), 2mm (75%), 5mm (67,5%) Referências 1.TÜRK , C., KNOLL, T., et al. Guidelines on Urolithiasis (Update March 2011). European Association of Urology 2011. 2.JÚNIOR, A. N., FILHO, M. Z., REIS, R. B., Urologia Fundamental. São Paulo: Planmark, 2010. 120p. 3.KORKES, F., GOMES, S. A., HEILBERG, I. P., Diagnóstico e Tratamento de Litíase Ureteral. J Bras Nefrol. 2009; 31(1):55-61. 4.MAZZUCCHI, E., SROUGI, M., O que há de novo no diagnóstico e tratamento da litíase urinária? Rev Assoc Med Bras. 2009; 55(6): 723-8. 5.FREITAS, R. M. C., SILVA L. C., et al. Avaliação dos métodos de imagem no diagnóstico de urolitíase: Revisão de literatura. 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T., Terapia expulsiva medicamentosa na litíase ureteral: Revisão de literatura. Revista Ciências em Saúde. 2014 Abrjun;4(2). EURP 2016 ArtigodeRevisão Contribuição da ultrassonografia nas patologias da tireoide Contribution of the ultrasonography in thyroid diseases Jessica Lustosa Resumo Introdução: nos últimos anos, a ultrassonografia tem sido citada na literatura científica como a principal ferramenta de imagem para o diagnóstico de patologias da tireoide. E tem sido empregada para o diagnóstico e determinação da gestão terapêutica das doenças tireoidianas. Objetivo: apresentar uma revisão de literatura sobre a contribuição da ultrassonografia nas patologias da tireoide. Metodologia: revisão de literatura sobre o tema. Conclusão: concluiu‐se que a ultrassonografia não é invasiva, tem baixo custo, é facilmente disponível e não usa nenhum tipo de radiação ionizante. Além de servir como exame diagnóstico para identificar doença nodular benigna ou maligna, a ultrassonografia pode orientar procedimentos intervencionistas em casos de diagnóstico e tratamentos de doença tireoidiana. Palavras‐chave: ultrassonografia; tireoide; imagem da tireoide. Faculdade de Tecnologia em Saúde (FATESA) Departamento de Pesquisa da FATESA - Rua Casemiro de Abreu, 660, Vila Seixas, Ribeirão Preto-SP. CEP 14020-060. Fone: (16) 3636-0311 Abstract Introduction: In recent years, ultrasonography has been cited in the literature as the primary imaging tool for the diagnosis of thyroid disorders. And it has been used for the diagnosis and determination of therapeutic management of thyroid diseases. Objective: to present a literature review on the ultrasound contribution in thyroid diseases. Methodology: literature review on the topic. Conclusion: It was concluded that ultrasound is non‐invasive, low‐cost, easily available and does not use any type of ionizing radiation. In addition to serving as a diagnostic test to identify benign or malignant nodular disease, ultrasonography can guide interventional procedures in cases of diagnosis and treatment of thyroid disease. Keywords: ultrasound; thyroid; thyroid image. Introdução Nódulos e alterações da tireoide são achados comuns na população em geral. A glândula tireoide desempenha um papel crítico na regulação das funções metabólicas, incluindo a frequência cardíaca e o débito cardíaco, o metabolismo dos lipídios, a regulação do calor, e o crescimento ósseo(1-3). Os recentes avanços na IMAG iologia da tireoide melhoraram consideravelmente o diagnóstico, tratamento, acompanhamento e prognóstico das patologias da tireoide de alta prevalência, como nódulos, bócio, tireoidite, câncer, entre outras doenças que afetam a função tireoidiana normal (1-3). A ultrassonografia (US) é a ferramenta de imagem mais importante para o diagnóstico de patologias da tireoide(1-4). Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2016 Lustosa – Patologias da Tireoide O exame ultrassonográfico mostra a estrutura interna da glândula tireoide, a anatomia da região e patologia, sem o uso de radiação ionizante ou meio de contraste contendo iodo(5-6). As ondas sonoras de alta frequência na faixa (715MHz), são utilizadas para produzir uma imagem. O procedimento é seguro, não causa danos ao tecido e é menos dispendioso do que qualquer outro procedimento de imagiologia(3-4). A ultrassonografia de alta resolução (USG) é a modalidade de imagem mais sensível disponível atualmente para o exame da glândula tireoide e anormalidades associadas(2,7-8). A pergunta norteadora desta pesquisa é a seguinte: qual a contribuição da US nas patologias da tireoide? 34 A US oferece algumas vantagens no exame da tireoide, tais como: não é invasiva, é amplamente disponível, apresenta menor custo, e não usa nenhum tipo de radiação ionizante. A realização da ultrassonografia em tempo real pode orientar procedimentos intervencionistas de diagnóstico e terapêutica em casos de patologias da tireoide (12). A principal limitação da US em imagem da tireoide é que ela não pode determinar a função tireoidiana, ou seja, não pode determinar se a glândula tireoide é hipoativa, hiperativa ou normal na função, para esse tipo de diagnóstico geralmente é exigido um teste de sangue ou ensaio de absorção de isótopo radioativo(1-4). A contribuição da ultrassonografia no diagnóstico da tireoide é discutida neste estudo. Materiais e métodos A metodologia se caracteriza como uma revisão de literatura sobre a contribuição da ultrassonografia nas patologias da tireoide, realizada a partir de uma pesquisa bibliográfica nas bases de dados digitais da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), sendo: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e MEDLINE (Literatura Internacional em Ciências da Saúde). Os termos de busca (descritores) utilizados para a pesquisa foram: • Em português: ultrassonografia; tireoide; imagem da tireoide. • Em inglês: ultrasonography; thyroid; thyroid imaging. Foram incluídas neste estudo as publicações que retornaram com a referida busca nas bases de dados digitais supracitadas, publicadas até 2016. Os estudos que estavam diretamente relacionados com o tema desta pesquisa foram selecionados a partir de uma leitura do resumo (abstract), seguida de uma leitura do texto completo dos artigos que foram incluídos no estudo. Os estudos pesquisados foram descritos no capítulo a seguir (capítulo 4 – revisão de literatura) e, na sequência, é apresentada uma discussão sobre os achados na revisão de literatura. Revisão de Literatura Indicações da US nas patologias da tireoide As diretrizes da American Thyroid Association5 reconhecem a ultrassonografia como a forma mais comum e mais útil para a imagem da glândula tireoide e patologias associadas. Além de facilitar o diagnóstico de nódulos Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives clinicamente aparentes, o uso generalizado da US pode resultar na descoberta de um grande número de nódulos da tireoide clinicamente imperceptíveis. A grande maioria dos nódulos da tireoide, clinicamente perceptíveis ou EURP 2016 Lustosa – Patologias da Tireoide 35 imperceptíveis, é classificada como benigna. Contudo, a US também pode ser uma importante ferramenta para o diagnóstico de nódulos malignos. como drogas antitiroidianas; A US deve ser usada para refinar o diagnóstico diferencial quando houver necessidade de responder a uma pergunta de diagnóstico específica que foi levantada pelo histórico clínico e exame físico do paciente. • Permite monitorar intrautero a tireoide fetal para o tamanho, textura e vascularização; O diagnóstico de imagem deve, então, ser integrado na gestão do paciente e correlacionado precisamente com outros dados2. De acordo com Blum3, a US possui algumas características importantes: • A US descreve com precisão a anatomia do pescoço, na região da tireoide; • Ajuda o clinico a compreender a palpação da tireoide; • Elucida descobertas enigmáticas observadas no exame físico; • Avalia o tamanho de nódulos e realiza a comparação entre eles, em pacientes que estão sob observação ou terapia; • Possibilita a detecção de uma lesão não palpável da tiroide em um paciente que foi exposto a terapêutica de irradiação; • Fornece pistas importantes e clinicamente úteis sobre a probabilidade de malignidade; • Identifica o componente sólido de um nódulo complexo; • Facilita a punção aspirativa de um nódulo por agulha fina; • Avalia a recorrência de uma massa após a cirurgia de tireoide em pacientes com câncer da tireoide; • Monitora os primeiros indícios de recidiva do tumor maligno no leito da tireoide ou linfadenopatia; • Identifica os pacientes que têm padrões ultrassonográficos que sugerem diagnóstico como tireoidite; • Limita a gestão de pacientes em terapia tais • Facilita a entrega de medicação ou terapia de alta energia física precisamente em uma lesão e poupa o tecido circundante; • Controla tireoide neonatal para o seu tamanho e localização; e • Tela da tireoide durante epidemiológica em campo. a investigação Gharib et al.5 afirmaram que as indicações de uso da US nas patologias da tireoide são as seguintes: • Para confirmar a presença de um nódulo de tireoide quando o exame físico for equivocado ou inconclusivo; • Para caracterizar um nódulo tireoidiano, a partir da medição precisa de suas dimensões e identificação de suas estrutura interna e vascularização; • Para diferenciar entre nódulos benignos e malignos, com base na sua aparência ultrassonográfica; • Para diferenciar entre nódulos da tireoide e outras massas cervicais como linfadenopatia; cisto tireoglosso e higroma cístico; • Para avaliar as alterações difusas da parênquima tireoidiana; • Para detectar tumor residual ou recorrente pósoperatório no leito tireoidiano ou metástase para linfonodos cervicais; • A triagem dos pacientes de alto risco para doença maligna da tireoide, como pacientes com histórico familiar de câncer de tireoide, e outros; • Para orientar no diagnóstico (citologia/biopsia) e procedimentos de intervenção terapêutica. Kharchenko et al.9 afirmaram que a US da tireoide apresenta as seguintes vantagens: • É relativamente simples, rápida de executar e de baixo custo. • É indolor e não invasiva. • Não existe necessidade de preparar o paciente para realizar o exame. • Não existem contraindicações. Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2016 Lustosa – Patologias da Tireoide • É inofensiva e segura para o paciente e para e equipe de saúde. A US pode ser usada repetidamente em crianças, mulheres gráficas e lactantes, bem como em pacientes gravemente doentes com patologias concomitantemente graves. • Os pacientes podem ser examinados independentemente de seus medicamentos, incluindo agentes bloqueadores da tireoide. • É uma técnica de alta resolução. • O diagnóstico diferencial é baseado em opções ultrassonográficas, como modalidades de Doppler, reconstrução de imagem 3D e outros. • Ela suporta a documentação de dados de vídeo e imagens estáticas, bem como a transmissão fácil através de canais de comunicação modernos com consultas virtuais. • Ela fornece fácil orientação para modalidades minimamente invasivas, como por exemplo: a punção aspirativa com agulha fina (PAAF) e outros. A US pode ser utilizada como um método de rastreio de doenças da tireoide. Ela permite a detecção precoce de pacientes que estão em risco aumentado de desenvolver patologias da tireoide. A US ajuda a identificar uma possível alteração na tireoide em um estágio inicial, e inclui os elementos de diagnóstico diferencial que resultam em posterior exame aprofundado e tratamento oportuno em casos apropriados. As vantagens da US como método de triagem são a segurança do paciente, reprodutibilidade, menor dependência da qualidade do equipamento e habilidade do operador, velocidade, disponibilidade e baixo custo. A desvantagem de triagem com US é a sua precisão diagnóstica comparativamente baixa. Um estudo de rastreamento com resultados negativos não garante a ausência da doença, e, por vezes, um estudo positivo não significa necessariamente provar uma patologia da tireoide 36 está presente. Na prática, um exemplo de rastreamento da tireoide por US é realizado por um médico clínico geral com um simples scanner. O exame visa dividir os pacientes em duas categorias: aqueles cuja tireoide apresenta-se normal, e aqueles cuja tireoide apresenta anormalidades suspeitas. Pacientes com anomalias da tireoide estão devem realizar a US de alta resolução, que assume a detecção e diagnóstico correto e diferencial de alterações difusas e lesões focais, necessários para determinar a gestão do tratamento no paciente9. A US pode fornecer pistas muito importantes e clinicamente úteis sobre a natureza da lesão da tireoide, apesar de não diferenciar de modo confiável as lesões cancerígenas de outras benignas, ela pode ajudar significativamente. 4.2. A técnica ultrassonografia empregada no exame de Para a realização do exame ultrassonográfico da tireoide, os pacientes são examinados em posição supina com o pescoço hiperestendido, usando um transdutor linear de alta frequência (715MHz), que fornece imagem de alta resolução e penetração adequada. A digitalização é feita tanto em planos transversais como longitudinais. As imagens em tempo real de lesões da tireoide são realizadas utilizando ambas as técnicas de Doppler em escala de cinza e em cores. As características de imagem de massa (visualização da localização, tamanho, forma, margens, ecogenicidade, conteúdos, e padrão vascular) devem ser identificadas. O paciente permanece confortável durante a realização do exame ultrassonográfico, o que leva apenas alguns minutos, e não exige a interrupção de qualquer tipo de medicação, ou preparação do paciente. Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2016 Lustosa – Patologias da Tireoide 37 4.3. Patologias da tireoide Os nódulos da tireoide são comumente observados na prática médica e podem ser considerados a principal manifestação clínica de diversas patologias da tireoide. Estudos epidemiológicos conduzidos em áreas suficientes em iodo têm demonstrado que 4% a 7% das mulheres e 1% dos homens apresentam nódulo palpável. Contudo, estudos ultrassonográficos demonstram que esta prevalência é ainda maior, variando de 19% a 67%, com maior incidência entre mulheres e idosos8. O manejo de nódulos tireoidianos é relevante para diferenciar as lesões benignas das malignas e excluir o câncer de tireoide, que ocorre em 5% a 10% dos casos8 (vide figura 1). Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives Figura 1: Sinais e histórico clínico de risco de malignidade no caso de pacientes com doença nodular tireoidiana Fonte: Kimura et al.8, p. 4. A localização e as partes da tireoide são definidas medindo as suas dimensões e calculando o seu volume. Pelo menos cinco planos de digitalização devem ser avaliados para calcular as dimensões da tireoide: transversal, longitudinal, oblíqua e os lobos direito e esquerdo9 (vide figura 2). EURP 2016 Lustosa – Patologias da Tireoide 38 Figura 2: Ultrassonografia da tireoide – planos: (a1 e b1) transversal; (a2 e b2) longitudinal, e (a3 e b3) obliquo Fonte: Kharchenko et al.9 A US é uma ferramenta importante para diferenciar massas sólidas de massas císticas, sendo útil para diferenciar cistos branquiais e cistos tireoglosso de linfonodos e tumores glandulares que podem ocorrer na mesma topografia (próximo à parótida e linha média), bem como ajuda a diferenciar nódulos sólidos e císticos da tireoide10. O principal método de imagem de patologias tireoidianas, inclusive da doença nodular, tireoidiana é a US convencional ou com doppler. Mas, esse método diagnóstico de imagem não deve ser empregado como screening para rastreamento de doenças tireoidianas em pacientes assintomáticos8. 4.4. Estudos sobre técnicas ultrassonografia na tireoide avançadas de Maia et al.11, em 2007, afirmaram que a US de pescoço realizada para a avaliação da tireoide deve ser solicitada sempre que houver suspeita de patologia nodular da tireoide, ou na avaliação de nódulo de tireoide diagnosticado por outro método de imagem (cintilografia, tomografia computadorizada, ressonância magnética). A ultrassonografia cervical não deve ser empregada como método de screening para o rastreamento de patologias da tireoide em pacientes assintomáticos, exceto em casos de alto risco clínico de câncer de tireoide, irradiação pregressa em região cervical, rouquidão persistente sem causa definida. Nesses casos, o clínico deve acompanhar o paciente conjuntamente com o especialista focal (endocrinologista). A US também é utilizada para procedimentos diagnósticos, terapêuticos e monitoramento do crescimento do nódulo. Weiss et al.12, em 2007, avaliaram o valor da US no diagnóstico de neoplasia maligna da tireoide. Participaram do estudo 94 indivíduos encaminhados para avaliação de nódulo tireoidiano que realizaram US e, nos 56 casos Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2016 Lustosa – Patologias da Tireoide 39 submetidos à ressecção cirúrgica dos nódulos. A lesão tireoidiana benigna ocorreu em 47 casos. O diâmetro dos nódulos foi semelhante: 3,1 ±0,8cm e 3,3 ±1,7cm, nos grupos maligno e benigno, respectivamente. Quanto à modularidade foi semelhante a prevalência de carcinoma: 11,1% e 18,5% dos nódulos únicos e múltiplos, respectivamente. Microcalcificações e hipoecogenicidade foram mais comuns no grupo com carcinoma. Quando ambas as características estavam presentes foi demonstrado sensibilidade de 33,3% (IC de 95%: 7,5% a 70,1%), especificidade de 100% (IC de 95%: 92% a 100%); VPP de 100%, VPN de 88,7% e acurácia de 89,3% (p = 0,003). Em concordância com a literatura, o diâmetro e o número de nódulos não permitem conclusões sobre as características histopatológicas dos mesmos. Os achados de US, sobretudo, a presença de microcalcificações e hipoecogenicidade em associação apresenta boa especificidade no diagnóstico das neoplasias malignas da tireoide. Os autores concluíram que a US na investigação da doença nodular tireoidiana exibe bom desempenho, merecendo destaque na propedêutica desse grupo de pacientes. abordaram o papel potencial da US na avaliação de nódulos da tireoide e revisaram algumas diretrizes recentes. Em particular, analisaram as evidências de que as características dos nódulos da tireoide podem predizer o risco de malignidade. Um nódulo predominantemente sólido, hipoecogenicidade, microcalcificações, margens mal definidas, vascularização intranodular, e formato mais alto do que largo têm sido associados com risco aumentado de malignidade, mas nenhuma característica única é suficientemente sensível ou específica para excluir ou diagnostica malignidade por si só. No entanto, a utilização de combinações de características para estratificar nódulos em alto e baixo risco para malignidade parece ser uma estratégia promissora. Nódulos não selecionados, sem quaisquer características ultrassonográficas suspeitas, têm um baixo risco de malignidade (<2%), enquanto que taxas de malignidade são muito mais elevadas em nódulos com pelo menos duas características suspeitas. Diretrizes recentes subscrevem esta abordagem de usar combinações ultrassonográficas para orientar a seleção do nódulo para punção aspirativa com agulha fina (PAAF) guiada por ultrassonografia. Morris et al.13, em 2008, afirmaram que, embora a avalição ultrassonográfica seja atualmente recomendada para o processamento de todos os nódulos tireoidianos palpáveis, pouca orientação existe quanto à maneira pela qual os dados ultrassonográficos estão sendo utilizados. Os autores examinaram as evidencias disponíveis e recomendaram como a US pode ser usada de forma mais eficaz para prever malignidade. Os autores discutiram o papel da punção aspirativa com agulha fina (PAAF) guiada por ultrassonografia e outros tópicos especiais em matéria de avaliação e gestão dos nódulos benignos no US. Os autores concluíram que a US é um componente essencial na avaliação e gestão de nódulos tireoidianos. Técnicas que combinam a US e a PAAF são mais precisas que qualquer outra técnica empregada. Manoel et al.15, em 2010, avaliaram o desempenho da US na detecção de metástases para Nível VI além de relacioná-las com as características clínico-patológicas da amostra em estudo. Foi realizado um estudo transversal com análise retrospectiva dos laudos histopatológicos e de US pré-operatória de pacientes com carcinoma bem diferenciado da tireoide (CBDT) submetidos a tireoidectomia total e dissecção linfodonal de Nível VI no período de março/2006 até fevereiro/2008. Participaram do estudo 37 pacientes que foram observados, com predomínio do sexo feminino (83,78%), média de idade de 49,54 anos e maioria com carcinoma papilífero (91,89%). Oito pacientes (21,62%) apresentaram metástases. A US apresentou 62,50% de sensibilidade, 51,72% de especificidade, valor preditivo positivo de 26,31%, valor preditivo negativo de 83,33% e acurácia de 54,05%. Os autores concluíram que a US é um exame confiável nesse contexto principalmente quando diante de Bastin et al.14, em 2009, afirmaram que o papel da US na avaliação da doença nodular tireoidiana tem aumentado nos últimos anos. Os autores Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2016 Lustosa – Patologias da Tireoide um resultado negativo, devido ao alto valor preditivo negativo encontrado. A única característica clínico-patológica da amostra correlacionada de maneira estatisticamente significante com a presença de metástase naquela região foi o número de linfonodos dissecados por paciente. Kimura et al.8, em 2011, nas diretrizes clínicas de saúde suplementar sobre doença nodular tireoidiana, afirmaram que a US convencional ou com Doppler, consiste no principal método de imagem empregado atualmente no diagnóstico de nódulos da tireoide. A US possibilita a avaliação da textura da glândula tireoidiana, a sua extensão, presença, tamanho, ecogenicidade, características nodulares; malformações; entre outros. A US deve complementar o exame físico de palpação com suspeita de nódulo tireoidiano. A US deve ser solicitada na presença de suspeita clínica de patologia nodular da tireoide e na avalição de nódulo da tireoide diagnosticado por outro método de imagem, não devendo ser usado como exame exploratório de patologias tireoidianas. Vieira et al.16, em 2011, correlacionaram metodologias com ênfase no volume obtido e nas implicações dosimétricas. Participaram do estudo 103 pacientes com diagnóstico de doença de Graves encaminhados para radioiodoterapia. Esses pacientes foram submetidos a US da tireoide e à cintilografia tireoidiana, com cálculo do volume pela cintilografia baseado na fórmula de Allen. Os autores observaram uma boa correlação entre os dois métodos, porém com massa estimada pela cintilografia sistematicamente maior do que a estimada pela US, o que pode acarretar em menor estimativa de dose absorvida quando utilizado o método cintilográfico. Sehovic et al.17, em 2013, compararam os resultados de US com resultados da cintilografia e da punção citológica de um ou mais nódulos da tireoide. O estudo analisou os resultados de 133 pacientes, homens e mulheres, na faixa etária de 16 a 75 anos. Os pacientes realizaram US, cintilografia e punção citológica. A pesquisa demonstrou que a doença nodular da tireoide está presente em 2/3 dos pacientes do sexo feminino e em 1/3 dos Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives 40 pacientes do sexo masculino. A maior presença de nódulo está na faixa etária de 40-49 anos. Nódulos são mais comuns no lobo inferior direito da tireoide. O aumento de tamanho dos nódulos também aumenta a probabilidade de que seja maligno. Além disso, o estudo demonstrou que existe uma relação estatisticamente significativa entre os resultados de ultrassonografias, e os resultados da cintilografia e da punção citológica. Os autores concluíram que o ultrassom é um método confiável de diagnóstico para a seleção de pacientes que precisam realizar punção citológica. Se a cintilografia da tireoide mostra nódulos quentes não é preciso realizar o US para a punção citológica. A cintilografia, o ultrassom e a punção citológica são métodos complementares no diagnóstico confiável de doença nodular da tireoide. Sedassari et al.18, em 2015, analisaram as características ultrassonográficas tireoidianas em crianças eutireoideas até 5 anos de idade e compararam com crianças diagnosticadas com hipotireoidismo congênito na mesma faixa etária. Participaram do estudo 36 crianças que foram divididas em dois grupos: 23 eutireoideas e 13 portadoras de hipotireoidismo congênito – que realizaram uma US da tireoide. Dessas crianças, 17 era meninas e 19 meninos, com idade entre 2 meses e 5 anos. Os autores concluíram que a US de tireoide é um método não invasivo, de fácil disponibilidade e realização, que deve ser empregado a qualquer momento, inclusive ao nascimento, sem preparação ou interrupção do tratamento, para auxiliar na definição etiológica precoce do hipotireoidismo congênito. Cordes et al.19, em 2016, realizaram um estudo prospectivo para testar a hipótese de que os exames de ultrassonografia apresentam características distintas em um subgrupo de nódulos que podem atestar a natureza benigna de uma neoplasia folicular. Participaram do estudo 56 pacientes (45 mulheres, 11 homens). Todos os pacientes tinham um nódulo que foi diagnosticado como neoplasia folicular. Os resultados mostraram que 21% dos pacientes com neoplasia folicular apresentaram malignidade e em 79% dos pacientes EURP 2016 Lustosa – Patologias da Tireoide com um tumor benigno em comparação da ultrassonografia com a histologia. Os autores concluíram que, em pacientes selecionados, com riscos operatórios mais elevados e parâmetros de diagnóstico citológico de neoplasia folicular, a ultrassonografia pode ser útil para assumir uma natureza benigna da neoplasia e, assim, evitar a necessidade de um exame histológico. Dietrich e Bojunga20, em 2016, afirmaram que, na maioria dos casos de patologias da tireoide, um diagnóstico correto pode ser feito a partir dos resultados da ultrassonografia em conjunto com os exames clínicos e laboratoriais. A ultrassonografia pode realizar a diferenciação entre nódulos ativos e inativos e, em particular entre nódulos benignos e malignos, porém não de forma totalmente confiável. Deste modo, a ultrassonografia tem o seu significado clínico predominantemente no diagnóstico de nódulos da tireoide. Esforços têm sido realizados nos últimos anos para melhorar a estratificação de risco da ultrassonografia para prever a malignidade dos nódulos da tireoide, através da avaliação de diagnóstico padronizado dos fatores de risco analisados, a fim de selecionar os pacientes que precisam realizar exames complementares. 5. DISCUSSÃO A ultrassonografia da tireoide é um procedimento indolor, sem contraindicações, que contribui significativamente para o diagnóstico de doenças da tireoide, tais como cistos, nódulos e tumores1-10. 41 das massas cervicais palpáveis, alargamento da glândula tireoide. incluindo • Avaliação de anomalias detectadas por outros exames de imagem, por exemplo um nódulo de tireoide detectado na tomografia computadorizada, ou ressonância magnética, ou visto em outro exame de US do pescoço. • Avaliação laboratoriais. de alterações em testes • Avaliação da presença, tamanho e localização de nódulos na glândula da tireoide. • Avaliação de pacientes com alto risco de malignidade na tireoide oculta. • Imagem de acompanhamento de nódulos de tireoide detectados anteriormente, quando indicado. • Avaliação de metástases ganglionares regionais em pacientes com comprovação ou suspeita de carcinoma antes da tireoidectomia. • Avaliação para a doença recorrente ou metástases ganglionares regionais após a tireoidectomia total ou parcial para carcinoma da tireoide. • Avaliação da glândula tireoide nódulos suspeitos anda de cirurgia. para • Avaliação da glândula tireoide para nódulos suspeitos antes da glândula com iodo radioativo. • Identificação e localização das alterações da paratireoide em pacientes com hiperparatireoidismo conhecido ou suspeito. O ultrassom da tireoide pode ser solicitado se um teste da função tireoide for anormal, contudo, não deve ser empregado como simples ferramenta de screening em pacientes assintomáticos8,10. • Avaliação do número e tamanho das glândulas paratireoides aumentadas em pacientes que se submeteram à cirurgia da paratireoide anteriormente, ou terapia ablativa com sintomas recorrentes de hiperparatireoidismo. A US da tireoide pode ser usada para verificar a glândula hipoativa ou hiperativa. Um ultrassom também pode ser recomendado se o médico observar aumento da tireoide no exame clínico do pescoço8. • Localização da paratireoide/anormalidades da tireoide ou gânglios linfáticos cervicais adjacentes para biopsia, ablação ou outros procedimentos intervencionistas. As indicações para realizar o US da tireoide incluem, mas não estão limitados a3,8-10: • Localização dos implantes autólogos da glândula paratireoide. • Avaliação da localização e características Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2016 Lustosa – Patologias da Tireoide 42 Diversos estudos pesquisados8,11-20 corroboram a assertiva de que a US é uma ferramenta importante para o diagnóstico e gestão do tratamento da tireoide, sendo considerada importante no diagnóstico de malignidade em doença da tireoide12,14-15,17. custo, é facilmente disponível e não usa nenhum tipo de radiação ionizante. Além de servir como exame diagnóstico para identificar doença nodular benigna ou maligna, a US pode orientar procedimentos intervencionistas em casos de diagnóstico e tratamentos de doença tireoidiana. De acordo com Maia et al.11, a US pode ser usada para diagnostico terapêutico e, também, para monitoramento do crescimento do nódulo da tireoide. A US não pode determinar se a glândula tireoidiana é hiperativa, hipoativa ou normal, portanto, para esse diagnóstico é preciso realizar exame de sangue ou ensaio de absorção de isótopo radioativo. No estudo realizado por Morris et al.13, os autores afirmaram que a combinação de US e PAAF é mais precisa do que qualquer outra técnica empregada no diagnóstico de nódulos tireoidianos. A US como diagnóstico da tireoide em pacientes com suspeita de doença tireoidiana pode ser realizada em pacientes de todas as idades, inclusive em mulheres gestantes e pacientes pediátricos18-20. 6. Considerações Finais A realização deste estudo demonstrou que nos últimos a ultrassonografia tem sido recomendada diagnóstico para adequada gestão de patologias da tireoide. Em resposta ao problema de pesquisa apresentado na introdução deste estudo (qual a contribuição da US nas patologias da tireoide?), concluiu-se que a US não é invasiva, tem baixo A US é uma ferramenta para identificação de malignidade em pacientes com doença da tireoide. Ela deve ser empregada como uma ferramenta de diagnóstico em pacientes sintomáticos ou com suspeita de doença tireoidiana, não deve ser empregada para o simples rastreamento em pacientes assintomáticos. A US é uma tecnologia que tem evoluído significativamente nas últimas décadas, apresentando melhor qualidade de imagem e facilitando a identificação de nódulos e outras patologias da tireoide. Por fim, cumpre observar que a elaboração deste estudo foi de grande valia para aprimorar os conhecimentos acadêmicos e profissionais da pesquisadora sobre a importância do uso da US como ferramenta diagnóstica nas patologias da tireoide. Para trabalhos futuros, sugere-se a realização de uma pesquisa de campo, a partir da coleta de dados sobre o tema, para confirmar ou não os achados na revisão de literatura. Referências 1. Chaudhary V, Bano S. Imaging of the thyroid: Recent advances. Indian J Endocrinol Metab. 2012 May;16(3):371-6. 2. Chaudhary V, Bano S. Thyroid ultrasound. Indian Journal of Endocrinology and Metabolism. 2013;17(2):219-227. 3. Blum M. Ultrasonography of the Thyroid. Thyroid Disease Manager. 2015. Disponível em <http://www.thyroidmanager.org/chapter/ultrasonograph y-of-the-thyroid/>, acesso em março, 2016. 4. Na DG, Kim JH, Kim DS, Kim SJ. Thyroid nodules with minimal cystic changes have a low risk of malignancy. Ultrasonography. 2016 Apr;35(2):153-8. 5. Gharib H, Papini E, Valcavi R, Baskin HJ, Crescenzi A, Dottorini ME, et al. 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A acurácia do diagnóstico ultrassonográfico no pré‐natal é, no entanto, fortemente dependente da competência técnica do ecografista, do tipo de equipamento utilizado e do tempo dedicado ao exame. Por ser um exame não invasivo, acessível e seguro para mãe e feto, a ultrassonografia é considerada o método de escolha para o rastreamento e diagnóstico pré‐natal das malformações fetais. Palavras‐chave: Ultrassonografia; feto; diagnóstico pré‐natal; SNC; malformações. Faculdade de Tecnologia em Saúde (FATESA) Departamento de Pesquisa da FATESA - Rua Casemiro de Abreu, 660, Vila Seixas, Ribeirão Preto-SP. CEP 14020-060. Fone: (16) 3636-0311 Abstract Congenital anomalies of the central nervous system (CNS) are among the most frequent malformations. Current ultrasound equipment can give a precise diagnosis of many of these lesions from early gestation. The diagnostic accuracy of prenatal ultrasound is, however, heavily dependent upon the expertise of the sonologist, the type of equipment employed, and the time dedicated to the scan. Considering this is a non‐invasive exam, affordable and safe for mother and fetus, ultrasonography is considered the method of choice for prenatal screening and diagnosis of fetal malformations. Introdução O sistema nervoso central (SNC) se desenvolve no período da 3ª à 20ª semana de vida intra-uterina (Onkar, Onkar et al. 2014). As principais mudanças no desenvolvimento cerebral ocorrem durante o período gestacional, sendo já possível determinar a vesícula romboencefálica na 7ª semana de gestação, as três vesículas primárias na 9ª semana e o plexo coroide na 11ª semana. No início do segundo trimestre, os ventrículos laterais e os plexos coroides diminuem de tamanho em relação à massa cerebral (Duarte e Fonseca 2013). O desenvolvimento normal do SNC começa com Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives o fechamento do tubo neural entre a 3ª e 4ª semanas do desenvolvimento fetal e continua ao longo da gestação e também na vida pósnatal (Barnewolt and Estroff 2004). As anomalias do SNC são comuns e devastadoras. Elas ocorrem em frequência de cerca de 1,4 a 1,6 por 1000 nascidos vivos e são vistas ainda em cerca de 3-6% dos natimortos. Quase todas as anomalias do SNC são resultado de alterações na embriogênese, em algum momento do desenvolvimento. A ultrassonografia pode diagnosticar muitas dessas anomalias no primeiro e início do segundo trimestre. EURP 2016 Soares – US e as Malformações no Sistema Nervoso Central Algumas alterações desenvolvem-se ou tornam-se aparentes no final da gravidez (Rumack C. 2011). Por ser um exame não invasivo, acessível e seguro, a ultrassonografia é considerada o método de escolha para o rastreamento e diagnóstico pré-natal das malformações fetais (Duarte e Fonseca 2013). 45 dificuldade de deglutição (Cameron and Moran 2009). 2 Principais malformações do sistema nervoso central 2.1 Defeitos do tubo neural De todas as anomalias congênitas, os defeitos do tubo neural (DTN) são as lesões mais facilmente identificadas no pré-natal (Boyd, Chamberlain et al. 1998). A incidência gira em torno de 1:1000 nascimentos. Esses defeitos incluem anencefalia, espinha bífida e encefalocele. A anencefalia e a espinha bífida têm prevalência semelhante e juntas, são responsáveis pela maioria dos casos de DTN, representando 95% do total (Duarte e Fonseca 2013). Figura 1 – Acrania: a) CCN 22 mm; b) CCN 28 mm. 2.1.1 Anencefalia A falha de fechamento do neuroporo rostral causa falha no desenvolvimento da calota craniana, com consequente exencefalia, o precursor da anencefalia (secundária à degeneração do cérebro). A ossificação da calota craniana nem sempre é aparente até as 12 semanas de gestação e o diagnóstico de anencefalia não pode ser feito antes desse período (Russell et al. 2007). Os achados ultrassonográficos do primeiro trimestre incluem ausência da calota craniana, comprimento crânio-nádegas (CCN) reduzido, exposição de tecido neural com um aspecto lobulado (exencefalia) ou ausência de tecido neural e perda do contorno normal da cabeça (anencefalia), com as órbitas marcando o limite superior da face fetal no plano coronal (figuras 1 e 2). No segundo e terceiro trimestre pode haver polidrâmnio associado, devido à Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives Figura 2 – Tecido cerebral amorfo visto ao nível superior das órbitas (seta) em um corte coronal da cabeça (acrania em feto com 19 semanas de gestação). EURP 2016 Soares – US e as Malformações no Sistema Nervoso Central 46 mais acometida é a lombossacra (figura 5). Como as vértebras que recobrem a medula espinhal não estão totalmente formadas, ocorre exposição com lesão secundária dos nervos expostos, resultando em graus variáveis de acometimento neural. O diagnóstico da espinha bífida pode ser auxiliado pela identificação de dois sinais: o “sinal do limão” caracterizado por um estreitamento da calota craniana em sua região frontal (ao invés de sua forma ovalada convencional) e o “sinal da banana”, caracterizado por ausência ou distorção do formato do cerebelo, devido à obliteração da cisterna magna (figura 5) (Duarte e Fonseca 2013). 2.1.2 Encefalocele A encefalocele é uma herniação do conteúdo do crânio além dos seus limites normais, através de uma má-formação óssea congênita, geralmente localizada na região occipital (figuras 3 e 4). Achados associados incluem ventriculomegalia, microcefalia, malformação de Dandy-Walker, agenesia do corpo caloso, fendas faciais e defeitos cardíacos (Cameron and Moran 2009). Figura 3 – Feto com 21 semanas de gestação apresentando encefalocele occipital (seta). Figura 5 – A) Angulação dos ossos frontais (setas – “sinal do limão”), associada a hidrocefalia; B) Fossa posterior reduzida, com apagamento da cisterna magna e cerebelo de formato alterado (setas – “sinal da banana”); C) Corte sagital da coluna mostrando mielomeningocele na região lombossacra (seta). 2.2 Defeitos da linha média 2.2.1 Holoprosencefalia Figura 4 – Encefalocele occipital. 2.1.3 Espinha bífida A espinha bífida, também denominada mielodisplasia ou mielomeningocele, resulta da falha no fechamento do tubo neural, especialmente do neuroporo caudal. A região Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives A holoprosencefalia é uma malformação cerebral decorrente da clivagem incompleta do prosencéfalo, estando associada a várias anomalias faciais na linha média, como ciclopia e fissura labiopalatal. Apresenta-se em três tipos: alobar, semilobar e lobar. À ultrassonografia, identifica-se um ventrículo único dilatado na linha média (no lugar dos dois ventrículos laterais) ou a segmentação EURP 2016 Soares – US e as Malformações no Sistema Nervoso Central 47 parcial dos ventrículos (figura 6) (Duarte e Fonseca 2013). Figura 6 – A) Corte coronal da cabeça de feto com 36 semanas de gestação, mostrando ventrículo único grande, córtex intacto e ausência da fissura inter-hemisférica (holoprosencefalia alobar); B) Corte axial do mesmo feto, mostrando uma fossa posterior normal (seta); C) Corte axial da cabeça de feto com 18 semanas de gestação, mostrando um ventrículo menos proeminente (setas), com córtex intacto, fissura interhemisférica ausente e fusão dos tálamos e plexos coróides. 2.2.2 Agenesia do corpo caloso O corpo caloso é a maior via de associação entre os hemisférios cerebrais. É formado por grande número de fibras que cruzam o plano sagital mediano e penetram de cada lado do cérebro, unindo áreas simétricas do córtex cerebral de cada hemisfério (Machado 1993). Sua formação se inicia em torno da 12ª semana de gestação e ele encontra-se completamente desenvolvido entre a 18ª e a 20ª semanas de vida intra-uterina (Rakic and Yakovlev 1968). A agenesia do corpo caloso (ACC) pode ser completa ou parcial e, quando parcial, geralmente a parte ausente é a posterior (figura 7). É detectada em 1 a cada 200 nascidos vivos (Duarte e Fonseca 2013). Pode ocorrer como lesão isolada ou como parte de outras anomalias crânio-cerebrais, como o complexo de Dandy-Walker, encefalocele, cisto aracnoideo, esquizencefalia, holoprosencefalia e outras (Parrish, Roessmann et al. 1979). Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives Figura 7 – Agenesia do corpo caloso em três pacientes diferentes. A) Configuração em lágrima dos cornos posteriores dos ventrículos laterais; B) Imagem axial de um paciente diferente demonstrando orientação paralela dos ventrículos em relação à foice; C) Imagem coronal demonstrando aspecto de “chifre" dos cornos frontais. 2.3 Malformações da fossa posterior A malformação de Dandy-Walker (MDW) é uma rara anomalia congênita do sistema nervoso central. Foi descrita pela primeira vez por Sutton em 1887, sendo que, em 1914, Dandy e Blakfan descreveram sua teoria patogênica, posteriormente complementada por Taggert e Walker. O termo síndrome de Dandy-Walker foi originalmente caracterizado por uma associação de (1) ventriculomegalia de grau variado; (2) alargamento da cisterna magna; (3) e defeito no vermis cerebelar com dilatação cística do quarto ventrículo (Patta, Galluzzo et al. 2013). A MDW está presente em cerca de 1 a cada 30.000 nascimentos e em mais de 50% dos casos existe associação com ventriculomegalia e outros defeitos extracranianos (Duarte e Fonseca 2013). A Síndrome de Dandy-Walker engloba três entidades: 1) Malformação clássica de DandyWalker, constituída pela tríade de dilatação cística do quarto ventrículo, agenesia parcial ou completa do vermis cerebelar e fossa posterior alargada; 2) Variante de Dandy-Walker, EURP 2016 Soares – US e as Malformações no Sistema Nervoso Central caracterizada por disgenesia cerebelar sem alargamento da fossa posterior e variável hipoplasia do vermis cerebelar; 3) Megacisterna magna, que corresponde ao alargamento da cisterna magna sem alteração do vermis 48 cerebelar e do quarto ventrículo, podendo porém estar presente a hipoplasia cerebelar (figura 8) (Estroff, Scott et al. 1992). Figura 8 – Corte axial da cabeça fetal demonstrando a malformação clássica de Dandy-Walker (esquerda), a variante de Dandy-Walker (centro) e a mega cisterna magna (direita). 2.4 Outras malformações do SNC 2.4.1 Iniencefalia A iniencefalia é uma rara anormalidade do SNC, caracterizada por acometimento das vértebras cervicais, associado a DTN alto e excessiva lordose das colunas cervical e torácica. Quase sempre é fatal e acomete mais o sexo feminino. À ultrassonografia, observa-se uma retroflexão fixa do polo cefálico (com a face voltada para cima) e o encurtamento da coluna cervical, devido à perda de algumas vértebras. O polidrâmnio é achado frequente (Duarte e Fonseca 2013). 2.4.2 Ventriculomegalia A ventriculomegalia é um achado frequente, geralmente associada a inúmeras anomalias do SNC (Ritner and Frates 2014). É caracterizada por excesso de fluido cerebroespinhal nos ventrículos laterais do cérebro em desenvolvimento e, de acordo com o diâmetro do átrio, pode ser classificada em ventriculomegalia leve (11-12 mm), moderada (13-15 mm) ou grave (>15 mm) (figura 9) (Duarte e Fonseca 2013). Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives As dilatações de origem obstrutiva podem ser classificadas em não comunicantes ou comunicantes. O primeiro grupo é caracterizado por estenose do aqueduto de Sylvius, com consequente dilatação do terceiro ventrículo e dos ventrículos laterais (figura 10). No segundo, as alterações têm causas diversas: aumento de produção, dificuldade ou obstrução à drenagem extraventricular do líquido cefalorraquidiano (LCR). Nas dilatações não obstrutivas, o tecido cerebral é lesado em menor proporção e a pressão intracraniana mantém-se normal (Duarte e Fonseca 2013). A assimetria dos plexos coroides dos ventrículos laterais pode ser o primeiro sinal de ventriculomegalia (Bronshtein and Blumenfeld 1992). Quando essa alteração é detectada, uma avaliação sistemática dos ventrículos, do córtex circundante, das estruturas da linha média e da fossa posterior pode ser útil para determinar a categoria da lesão e, posteriormente, chegar a um correto diagnóstico (Ritner and Frates 2014). Nos casos de ventriculomegalia leve, sem associação com outras anomalias do SNC, sem cariótipo alterado ou outras causas identificáveis, o prognóstico fetal torna-se favorável. À medida em que aumenta o grau da ventriculomegalia, aumenta também a EURP 2016 Soares – US e as Malformações no Sistema Nervoso Central 49 frequência de associação com outras anormalidades (Ritner and Frates 2014). Figura 9 – Ventriculomegalia cerebral em três pacientes diferentes. A) Leve; B) Moderada; C) Grave. 3 Diagnóstico ultrassonográfico Figura 10 – Estenose de aqueduto. A) Corte axial ventricular em feto de 18 semanas de gestação, mostrando ventriculomegalia grave, com foice e córtex intactos. B) Fossa posterior (seta), ainda com 18 semanas de gestação, está normal. C) Corte axial ventricular do mesmo feto, agora com 32 semanas de gestação, mostrando uma enorme quantidade de fluido, com córtex intacto e foice parcialmente visível, compatível com causa obstrutiva. D) A fossa posterior normal (seta) confirma o diagnóstico de estenose de aqueduto. Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives A introdução da ultrassonografia transvaginal visualização do oferece excelente desenvolvimento fetal precoce e, como resultado, a detecção de malformações tornou-se possível no primeiro trimestre de gestação. Um estudo prospectivo foi planejado para avaliar a eficácia da ultrassonografia no rastreamento de anomalias fetais, em uma população não selecionada, na 12ª semana de gestação. Trinta e cinco fetos foram identificados como tendo anomalias, entre as 3991 mulheres rastreadas no primeiro trimestre (0,9%). A ultrassonografia transvaginal do primeiro trimestre foi capaz de detectar 51% das anomalias fetais diagnosticadas no pré-natal (outras malformações, como a anormalidade do plexo coroide, foram vistas em um estágio de desenvolvimento mais tardio). Oito casos de anomalias do SNC foram diagnosticados com até 14 semanas de gestação (exencefalia, espinha EURP 2016 Soares – US e as Malformações no Sistema Nervoso Central bífida, iniencefalia, plexo coroide anormal, ventriculomegalia e meningoencefalia). Todos os casos de exencefalia e meningoencefalia foram diagnosticados no final do primeiro trimestre. Alguns casos de ventriculomegalia grave, espinha bífida e holoprosencefalia só foram diagnosticados após novo rastreamento nos segundo e terceiro trimestres, com ultrassonografia transabdominal (Hernadi and Torocsik 1997). A anencefalia foi a primeira malformação fetal a ser diagnosticada no pré-natal com o uso da ultrassonografia (Sunden 1964). Em um estudo realizado por Chatzipapas e colaboradores (1999) com 5388 mulheres submetidas a rastreamento ultrassonográfico no pré-natal (idade gestacional no intervalo de 11 semanas e 0 dias a 14 semanas e 6 dias), seis casos de anencefalia foram diagnosticados, representando uma incidência de 1,1 por 1000. A sensibilidade de detecção dessa anomalia no primeiro trimestre foi de 100%. Não houve diagnósticos falso-positivos. Todos os casos foram diagnosticados por ultrassonografia transabdominal em um primeiro momento e a ultrassonografia transvaginal foi realizada em três dos seis casos para confirmar o diagnóstico. Em outro estudo realizado por Boyd e colaboradores (2000) para avaliar a taxa de detecção de DTN pela ultrassonografia em diferentes regiões da Europa, gestantes em rastreamento de pré-natal de rotina foram avaliadas por um período de 30 meses. Nesse período, 670.766 bebês nasceram; destes, 542 apresentaram DTN ao nascimento. Houve 188 casos de anencefalia suspeitada no pré-natal, dos quais um foi diagnosticado com encefalocele ao nascimento. Dos 187 (96%) casos que foram corretamente diagnosticados no pré-natal, 84% foram diagnosticados antes e 16% após 24 semanas de gestação. Em 45 casos com suspeita pré-natal de encefalocele, 40 tiveram esse diagnóstico confirmado e cinco tiveram diferentes malformações ao nascimento (anencefalia, espinha bífida, cisto lacrimal e higroma cístico). Dos 35 casos isolados de encefalocele, 21 (60%) foram corretamente identificados no pré-natal. 50 Espinha bífida foi diagnosticada em 290 bebês ao nascimento. A suspeita ultrassonográfica do diagnóstico ocorreu em 200 casos. Dos 290 casos, 199 (69%) foram corretamente diagnosticados no pré-natal, 66% antes e 34% após 24 semanas de gestação. Um caso suspeito foi diagnosticado como encefalocele após o nascimento. Por esse estudo, nota-se que a anencefalia foi a anomalia com maior taxa de detecção. Segundo Nicolaides et al. (1986), a taxa de detecção de espinha bífida pelo rastreamento ultrassonográfico de rotina deve se aproximar de 100%, devido à presença dos sinais cranianos facilmente reconhecíveis: o “sinal da banana” e o “sinal do limão”. A holoprosencefalia é uma entidade heterogênea de anomalias do SNC, causada pela falha na clivagem da linha média do prosencéfalo embrionário. Desde a década de 1980, muitos casos de holoprosencafalia no primeiro trimestre têm sido relatados com 10 a 14 semanas de gestação (Blaas and Eik-Nes 2009). A falta do típico “sinal da borboleta” de plexos coroides normais é um possível sinal de alerta para holoprosencefalia alobar (Sepulveda, Dezerega et al. 2004). O corpo caloso é um componente da substância branca que contém fibras que ligam as estruturas homólogas dos dois hemisférios cerebrais e, de longe, é a maior comissura em termos de volume. Começa a se desenvolver no primeiro trimestre de gestação e está completo em sua extensão crâniocaudal em torno de 18-19 semanas, embora sua maturação e crescimento ainda continuem na vida pós-natal (Craven, Bradburn et al. 2015). A agenesia do corpo caloso (ACC) é a mais comum anormalidade de desenvolvimento e pode ocorrer por uma série de razões, incluindo alterações genética, metabólica ou vascular, embora na maioria dos casos a causa não seja detectada (Dobyns 1996). Um estudo retrospectivo, conduzido em uma instituição de referência na Inglaterra, analisou todos os fetos com suspeita de anomalia que foram submetidos a estudo cerebral por ressonância nuclear magnética intra-útero (RNMiu), por um período de sete anos. O objetivo Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2016 Soares – US e as Malformações no Sistema Nervoso Central do estudo foi comparar a acurácia diagnóstica da ultrassonografia e da RNMiu para a detecção de ACC. O rastreamento ultrassonográfico mostrou valor preditivo positivo de 47% e valor preditivo negativo de 97%. A sensibilidade e especificidade foram, respectivamente, 58% e 96%. Devido ao baixo valor preditivo positivo, a ultrassonografia foi considerada um método pobre para a detecção de ACC (Craven, Bradburn et al. 2015). Segundo Bennett et al. (1996), a ACC está associada a resultados elusivos e seu diagnóstico é um desafio até mesmo para os ecografistas mais experientes, particularmente antes das 20 semanas de gestação. A malformação de Dandy-Walker tem prevalência estimada em cerca de 1:30000 nascimentos e é encontrada em 4 - 2% de todos os casos de hidrocefalia infantil (Osenbach and Menezes 1992). O diagnóstico precoce da malformação de Dandy-Walker foi descrito em um feto com 11 semanas de gestação, apresentando ausência do cerebelo e uma área cística na parte posterior da cabeça (Achiron, Achiron et al. 1993). Bronshtein et al. (1998) sugerem cautela em relação ao diagnóstico de anomalias de DW no início da gravidez, porque um aumento isolado do quarto ventrículo pode ser uma variante fisiológica na vida fetal precoce. Estudos de RNM mostraram que o vermis cerebelar não é totalmente desenvolvido antes do segundo trimestre (Robinson, Blaser et al. 2007). Portanto, se não há grande alargamento do quarto ventrículo com óbvia hipoplasia dos hemisférios cerebelares, deve-se adiar o diagnóstico de anomalia cerebelar até o segundo trimestre (Barnewolt and Estroff 2004). 51 4 Conclusão A ultrassonografia é um método eficaz no diagnóstico precoce de grande parte das malformações do sistema nervoso central, a depender da experiência técnica do ecografista, qualidade do equipamento e tempo dedicado ao exame, à exceção na detecção de agenesia de corpo caloso, na qual a ultrassonografia mostrou ser um método de baixa sensibilidade para o seu diagnóstico. A exemplo da anencefalia, a sensibilidade de detecção desta anomalia é de 100%, já no primeiro trimestre de gestação, ao identificar a ausência da calota craniana, CCN reduzido e/ou ausência de tecido neural com órbitas no limite superior da face. A detecção ultrassonográfica de espinha bífida, deve aproximar-se de 100%, devido à sinais cranianos característicos, como o “sinal da banana” e o “sinal do limão”. Na holoprosencefalia, a identificação ecográfica de ventrículo único dilatado na linha média ou segmentação parcial dos ventrículos, pode estar associada a anomalias faciais na linha média, como a ciclopia e fissura lábio-palatal. Sugere- se cautela em relação ao diagnóstico ecográfico de anomalias de Dandy-Walker no início da gravidez, já que um aumento fisiológico do quarto ventrículo neste período gestacional pode estar presente. Porém o diagnóstico pode ser confirmado no 2° trimestre gestacional através do exame ultrassonográfico. Por ser um exame acessível, não invasivo e seguro para mãe e feto, a ultrassonografia é considerada o método de escolha para o rastreamento e diagnóstico das malformações fetais. Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2016 Soares – US e as Malformações no Sistema Nervoso Central 52 Referências Achiron, R., A. Achiron, et al. (1993). "First trimester transvaginal sonographic diagnosis of Dandy-Walker malformation." J Clin Ultrasound 21(1): 62-64. Barnewolt, C. E. and J. A. Estroff (2004). "Sonography of the fetal central nervous system." Neuroimaging Clin N Am 14(2): 255-271, viii. Bennett, G. L., B. Bromley, et al. (1996). "Agenesis of the corpus callosum: prenatal detection usually is not possible before 22 weeks of gestation." Radiology 199(2): 447-450. Blaas, H. G. and S. H. Eik-Nes (2009). "Sonoembryology and early prenatal diagnosis of neural anomalies." Prenat Diagn 29(4): 312-325. Boyd, P. A., P. Chamberlain, et al. (1998). 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A diferenciação diagnóstica assume papel importante em relação ao tratamento e planejamento cirúrgico. Neste estudo ressaltamos as características ultrassonográficas para o diagnóstico diferencial entre os dois tipos de tumor. Importante ressaltar que o diagnóstico definitivo é dado pelo estudo histopatológico da lesão. Faculdade de Tecnologia em Saúde (FATESA) Departamento de Pesquisa da FATESA - Rua Casemiro de Abreu, 660, Vila Seixas, Ribeirão Preto-SP. CEP 14020-060. Fone: (16) 3636-0311 Abstract The leiomyoma and leiomyosarcoma are solid uterine tumours within the myometrium. The first are benign, also called fibroma. The leiomyomas are the most frequent benign neoplasms of female genital tract. The diferential diagnostic has important paper for treatment and surgical planning. In this study, we try getting more ultrasound informations about diferential diagnostic between two kinds of tumour. It is important to emphasize that the conclusive diagnostic is done by the histological study. Introdução Os leiomiomas são tumores sólidos, benignos, que têm origem no miométrio. Formados por fibras conjuntivas e tecido fibroso. Não possuem cápsula. São as neoplasias mais freqüentes do trato genital feminino. Também chamados de fibromioma ou mioma. Quando atingem grandes volumes podem causar compressão de órgãos vizinhos como ureter e bexiga, comprometendo o sistema urinário; intestinos, causando obstrução e vasos, ocasionando compressões. Os leiomiosarcomas são tumores sólidos, malignos, que se originam no miométrio. São tumores mistos com elementos epiteliais e Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives mesenquimais. Geralmente apresentam crescimento rápido, aumento importante do volume uterino, dor e sangramento. São raros, representam 1% das neoplasias ginecológicas. São de difícil diferenciação diagnóstica pelo método ultrassonográfico, têm aparência similar ao estudo com escala cinza ( Aviram et al., 2005), embora o acompanhamento sistemático e uso do Doppler com achado de hipervascularização ( Exacoustous et al., 2007) aumente a acurácia diagnóstica. É importante frisar que o diagnóstico definitivo é dado pelo estudo histopatológico da EURP 2016 Coelho – Diagnóstico Diferencial lesão. A importância da ultrassonografia é de levantar a suspeita de malignidade para melhor planejamento cirúrgico e confirmação diagnóstica. Leiomiomas São tumores sólidos benignos, formados por fibras conjuntivas e tecido fibroso, de origem miometrial. Frequentemente se manifestam como múltiplas massas miometriais (Seddon e Davda, 2010). As causas do mioma são ainda desconhecidas, mas acredita-se que exista uma predisposição genética e maior sensibilidade à estimulação hormonal (estrógeno) em mulheres portadoras deste tipo de tumor ( Bozzini et al., 2002 ). Os sintomas mais comumente observados são: sangramento uterino anormal, dor pélvica, massa pélvica palpável, dismenorréia e perda gestacional. Quando atingem grandes volumes podem causar compressão de órgãos vizinhos como ureter e bexiga, comprometendo o sistema urinário; intestinos, causando obstrução e vasos, ocasionando compressão e estase vascular. Podem ser classificados quanto a localização no útero (fúndicos, corporais, ístmicos e cervicais) e quanto ao envolvimento da camada muscular envolvida (intramurais, submucosos ou subserosos). Podem apresentar degenerações, a depender do tipo histológico: hialina, cística, gordurosa, vermelha ou rubra, calcificações e sarcomatosa, sendo esta última muita rara. Estima-se que 50% das mulheres acima dos 30 anos serão acometidas em alguma fase da vida ( Casey et al., 2000 ). Dados estatísticos mostram serem mais freqüentes em mulheres da raça negra, nulíparas e portadoras de síndromes hiperestrogênicas. Os tratamentos mais utilizados são a miomectomia, histerectomia e mais recentemente a embolização das artérias que irrigam os miomas. 54 Leiomiossarcomas São tumores sólidos mistos, malignos, originários de elementos do mesênquima miometrial (Tzu-I Wu et al., 2011). Geralmente apresentam crescimento rápido, aumento importante do volume uterino. São raros, representam menos de 1% das neoplasias ginecológicas, com pico de incidência entre 50 e 65 anos. Os sintomas são inespecíficos, sendo os mais comuns: dor abdominal, sangramento vaginal anormal e massa abdominal palpável. O aumento do volume do nódulo, o dobro do volume, em período de três a seis meses, aumenta a hipótese de malignidade do tumor (Parker et al., 1994). O diagnóstico é inesperado, geralmente feito em exames histopatológicos após histerectomias para retirada de supostos fibroadenomas (Sagae et al., 2004). O desafio é fazer um diagnóstico préoperatório efetivo para planejamento cirúrgico apropriado, oferecendo maiores condições de sucesso pata o tratamento (Iihara et al, 2007). Um estudo com ultrassonografia Doppler sugeriu a utilidade deste método na diferenciação entre leiomiomatose e leiomiosarcoma (Hata et al. 1997), mas estudos posteriores não confirmaram esta possibilidade (Szabo et al., 2002 e Aviram et al., 2005). Exames citológicos da região cervical não têm apresentando potencial diagnóstico para os leiomiosarcomas enquanto que estudos com tomografia e ressonância nuclear magnética têm oferecido grande contribuição no diagnóstico destes tumores. Diagnóstico O diagnóstico deve ser baseado na história clínica, exame físico e exames complementares ( bioquímicos, exames de imagem ). Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2016 Coelho – Diagnóstico Diferencial Diagnóstico por métodos de imagem Ultrassonografia Não há um a uma imagem característica que possa distinguir ultrassonograficamente nódulos malignos e benignos ( Cornfeld et al., 2009 ), embora os nódulos apareçam, geralmente com textura hipoecoica, de diversos volumes e localizações. Os acessos utilizados podem ser as vias transabdominal e transvaginal, sendo a primeira mais indicada para visibilização e medição de útero com grandes volumes e com grandes miomas e a segunda, quando possível, deverá ser realizada para melhor visibilização de textura e localização dos nódulos. Devem ser observadas as medidas e volume da tumoração, localização e envolvimento da camada muscular. Ao estudo Doppler deverá ser observada a vascularização do nódulo. Estudo Doppler sugeriu a possibilidade de diagnóstico em tumorações com vascularização abundante e índice de resistência baixo, mas este estudo não foi confirmado por estudos posteriores. Recentemente a ultrassonografia tridimensional associada ao power Doppler tem se tornado uma importante ferramenta diagnóstica. A técnica baseia-se na estimativa do volume do nódulo e estudo mais objetivo da vascularização uterina. Além do mais, a técnica tem superado algumas limitações do modo B convencional e color Doppler (Timor-Tritsch e Monteagudo, 2007). Muitos estudos têm confirmado que a técnica é reprodutível entre diferentes observadores (Alcazar et al., 2005). Tem sido observado que existe correlação entre índices vasculares, densidade vascular e fluxo em estudos in-vitro e in-vivo (Goertz et al., 2003). Outros métodos de imagem utilizados são a tomografia computadorizada com emissão de pósitron, que é um método usado atualmente para avaliar tumores com suspeita de malignidade ou metástases avançadas (Rigo et al., 1996). Baseia-se no aumento do metabolismo da glicose nas células malignas. A Ressonância 55 Nuclear Magnética possibilita melhor informação sobre a morfologia do tecido que a tomografia. Considerações finais Leiomiomas são tumores benignos, sólidos de origem miometrial. São mais frequentes em mulheres de raça negra, nulíparas e portadoras de síndromes hiperestrogênicas. Frequentemente se manifestam como múltiplas massas miometriais, que quando em maior volume pode causar obstrução de órgãos e vasos. Leiomiosarcoma são tumores sólidos mistos, malignos e de origem de elementos do mesênquima miometrial. São raros, geralmente se apresentam em mulheres com idade entre 50 e 65 anos. Frequentemente se manifestam como dor abdominal, sangramento vaginal anormal e massa abdominal palpável geralmente de crescimento rápido, podendo dobrar de tamanho em período de 3 meses. O diagnóstico deve ser baseado na história clínica, exame físico e exames complementares ( bioquímicos, exames de imagem ). Ao estudo ultrassonográfico conseguimos classifica-los quanto a localização no útero, e quanto ao envolvimento da camada muscular. São de difícil diferenciação por ter aparência similiar, porém geralmente se apresentam como nódulos hipoecóicos de diferentes volumes. É indicado utilizar estudo do Doppler para sugerir a possibilidade de diagnóstico em tumorações com vascularização abundante e índice de resistência baixo. A ultrassonografia tridimensional associada ao Power Doppler esta sendo utilizada para estimar volume do nódulo e um estudo mais objetivo da vascularização uterina. Ainda podem ser utilizadas a Tomografia computadorizada com positron para avaliar tumores com suspeita de malignidade ou metástase avançada e a ressonância magnética para melhor informação sobre a morfologia do tecido. Vale ressaltar que o diagnóstico definitivo é dado pelo estudo histopatológico da lesão. Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2016 Coelho – Diagnóstico Diferencial 56 Referências 1. Aviram R, Ochshom Y, Markovitch O, Fishman A, Cohen I, Altaras MM et al. Uterine sarcomas versus leiomyomas: gray-scale and Doppler sonografic findings. J. Clin ultrasound 2005; 33:(1):10-13. 2. Exacoustous C, Romanini ME, Amadio A, Amoroso C, Szabolcs B, Zupi E, Arduini D. Can Gray-scale and color Doppler sonography diffenrentiate between uterine leyomiosarcoma and leyomioma? J Clin Ultrasound 2007;35(8):449-457. 3. Seddon BM, Reena D. Uterine sarcomas-Recent progress and future challenges. Eur J Radiol 2011;78:30-40. 4. 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