a aplicabilidade do tiar face ao conceito multidimensional de
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a aplicabilidade do tiar face ao conceito multidimensional de
S OCIEDADE E D IREITO EM R EVISTA A APLICABILIDADE DO TIAR FACE AO CONCEITO MULTIDIMENSIONAL DE SEGURANÇA HEMISFÉRICA 1 Heloisa Helena de Almeida Portugal 1. PRESSUPOSTOS CONTEXTUAIS: O FIM DA LONGA GUERRA E A REDEFINIÇÃO DO ESTADO. Instabilidade, medo e angustia. Sentimentos e palavras que voltam ao cenário internacional após SUMÁRIO: 1.Pressupostos Contextuais: O fim da Longa Guerra e a redefinição do Estado. 2.A formação do Conceito de segurança hemisférica pelo TIAR e as ameaças pós guerra fria; 3.As principais dez anos de suposta paz. Esta sim, momentosa nas relações humanas, sendo o conflito presente com maior ênfase na história da humanidade. tendências em matéria de segurança hemisférica e o posicionamento O pensamento dos estratégico militar dos Estados sofreu países do MERCOSUL; 4.O desenho uma mudança paradigmática com o proposto de segurança hemisférica – considerações finais; 5.Referencias Bibliográficas fim da Longa Guerra (BOBBIT, 2003, p. 22-23). Para o historiador Philip BOBBIT, os conflitos que se iniciaram em 1914, com a Primeira Guerra Mundial e seguiram-se até a assinatura da Paz em Paris, em 1990 fundam-se em razões ideológicas para configuração do Estado atual, fruto de tais lutas. Assim, denomina o período histórico de 1914-1990 de Longa Guerra, também adotada no presente estudo. 1 Mestre em Direito Negocial: área de concentração em Direito de Integração e Comunitário, pela Universidade Estadual de Londrina – UEL e professora de Direito Internacional. De forma que a Longa Guerra engendrou e determinou uma nova forma de Estado – o Estado- - Revista do Curso de Direito – Ano I-2006 – N.º 1 - p. 47 S OCIEDADE E D IREITO EM R EVISTA anterior A Paz de Paris2 trouxe encontra-se em xeque por toda a a idéia de que as relações inter- parte. Estatais mercado, onde A a forma estratégia militar da estariam pautadas dissuasão deve ser alterada com a complementaridade, comprovada de Humanos e tolerância entre os povos. desenvolver uma ordem constitucional Preceitos estes presentes na Carta capaz de uma eficácia bélica maior das Nações Unidas e na Carta da que as ordens anteriores. Via de Organização dos Estados Americanos. conseqüência, legal Ademais, encerrou a Longa Guerra, internacional passa a satisfazer a emendou os acordos de Versalhes e estratégia dominação São Francisco e concluiu o processo mercadológica. A principal mudança de globalização formal do Estado- paradigmática vivenciada com o fim da nação mediante a instituição de um Longa Guerra consiste da delimitação direito internacional universal. da necessidade o aparato de estratégia, do Direito e da identidade dos Estados atuais. nos na As cresceram durante Direitos instituições o período da Guerra Fria, criadas no pensamento O Estado existe em virtude de suas finalidades, entre as quais figura o desejo de sobrevivência e liberdade de ação – estratégia; de autoridade e legitimidade – direito; de identidade – história. estratégico de repúdio ao comunismo, principalmente a ONU e a OEA criam estruturas jurídicas de segurança coletiva. O direito internacional tornase mais institucionalizado, proliferamse as alianças estratégicas e as Neste inicio de século XXI, os grandes Estados enfrentam a necessidade de determinar um novo conjunto de regras para o emprego da força militar. O que parece caracterizar conseqüências da Paz de Paris é um mundo multidimensional, entrelaçado e uma intrínseca confusão de limites de competência interna e externa. As o atual período é uma confusão quanto 2 a como contabilizar os custos e benefícios da intervenção, da prontidão e da aliança (BOBBIT, 2003, p.5). Durante três dias em Paris, em fins de novembro de 1990, os chefes de Estado ou governo de 34 Estados-nação, entre eles a União Soviética, Estados Unidos, GrãBretanha, Alemanha e França, reafirmaram a emenda a Carta das Nações Unidas, uma nova era de Democracia, Paz e Unidade. Marco do fim da Longa Guerra. (BOBBIT, p 606). - Revista do Curso de Direito – Ano I-2006 – N.º 1 - p. 48 S OCIEDADE E D IREITO EM R EVISTA 2. A FORMAÇÃO DO CONCEITO DE SEGURANÇA HEMISFÉRICA PELO TIAR E AS AMEAÇAS PÓS GUERRA FRIA relações de causa-efeito das ações dos Estados vão além, e de forma complexa, de seus limites territoriais (ECO, 1998, p.29). Desde Durante os anos que constituição a sua Organização – Americano dos se seguem o ideário de Paz e Estados segurança são disseminados pelas assumido a prevenção e a resolução grandes potencias: Europa Unificada e de Estados Unidos, sendo a ONU o principais tarefas. Através do Tratado referencial legitimo. Todavia, em 1991 Interamericano instaura-se o conflito armado no Golfo Recíproca – TIAR, subscrito na cidade Pérsico, onde se aplicam os princípios de da carta da ONU pela primeira vez no hemisfério dispõe de um instrumento pós-guerra fria. Legitima-se o uso da de defesa coletiva frente a atos de força armada para a defesa coletiva do agressão externa, como se verifica em Kuwait, a herança da guerra em seu artigo 3º3. conflitos Rio de institucionalizar o uso da força armada, com OEA uma de de tem suas Assistência Janeiro em 1947 Mesmo o que ONU e OEA, revigora os tratados de formalmente segurança emergidos da estratégia existem militar países signatários sobre a efetividade bi-polar em um cenário multidimensional. vigente, divergências na entre prática seus do TIAR. No hemisfério ocidental, a segurança hemisférica definiu-se de Desencadeiam-se fatos, principalmente o narcotráfico e o maneira vertical e por exclusão4. terrorismo, que trazem a lume as discussões sobre segurança coletiva. 3 Este é o foco de nosso trabalho, a delimitação terminológica e a analise dos instrumentos jurídicos da Organização dos Estados Americanos para proporcionar hemisférica. a segurança Tratado Interamericano de Asistencia Reciproca, artigo 3 ڍ: un ataque armado por parte de cualquier Estado contra un Estado Americano será considerado com un ataque contra todos los Estados Americanos, y en consecuencia, cada una de dichas Partes Contratantes se compromete a ayudar a hacer frente al ataque. In http://www.oas.org/main/main.asp?sLang=S&s Link=http://www.oas.org/csh 4 ROSAS, Maria Cristina ¿Existe la Seguridad Hemisferica? Apresentado na reunião de OEA em outubro de 2003, October 28-30, 2003, Santiago, Chile Panel: Evolution of the Concept of Hemispheric Security, disponível - Revista do Curso de Direito – Ano I-2006 – N.º 1 - p. 49 S OCIEDADE E D IREITO EM R EVISTA Durante a guerra fria, por exemplo, que ele se adjudicasse ao comunismo através (ROSAS, 2003). do TIAR e de diversos mecanismos bilaterais de cooperação Os países latinos militar entre Estados Unidos e os americanos em geral alegam que o países da América Latina e do Caribe, TIAR, mais do que satisfazer as a segurança hemisférica foi adotada necessidades comunitárias, atendeu pela União Americana e caracterizou- basicamente se pela luta contra a ―ameaça soviética‖. aos interesses de Washington durante a guerra fria. Passado este período, muito se falou Um estudo publicado das oportunidades que gerava o pela Faculdade Latino americana de declínio do confronto Leste-Oeste para Ciências Sociais (FLACSO) revela que injetar em um lugar prioritário da entre 1948 e 1980, o TIAR atuou em agenda 21 situações especificas no hemisfério Norte-Sul e ventilar assim, o problema ocidental. Destas, 10 produziram-se das assimetrias imperantes no planeta, pela as existência de problemas territoriais (por exemplo, a crise entre internacional quais o confronto se acentuam ininterruptamente. Nicarágua e Costa Rica em 1948; a Notadamente não disputa entre Haiti e a República havia Dominicana em 1950; e o diferendo conflituosa entre El Salvador e Honduras em primeiros momentos da Coexistência 1969, entre outros); sete, ou seja, a Pacífica e, posteriormente, com o fim terceira parte teve fundo a luta contra da Guerra Fria, a percepção da o comunismo (a ver o caso de América do Sul na ótica geopolítica Guatemala em 1954, do Peru e brasileira deixou de ser aquela de um Colômbia em 1961; e da Venezuela espaço em 1963); e quatro relacionaram-se Américas – e subordinado a uma com a subversão e as ações de um lógica de confrontação global bipolar – Estado para desestabilizar outro, sem para tornar-se aquela de um espaço na América iminente, integrado reservado latina política, situação desde para os todas diplomática as e militarmente de possíveis ameaças in: http://www.ndu.edu/chds/redes2003/tracks.htm - Revista do Curso de Direito – Ano I-2006 – N.º 1 - p. 50 S OCIEDADE E D IREITO EM R EVISTA globais5. Isso pode ser percebido a da América Latina, parecendo justificar partir de dois marcos conjunturais o deslocamento de efetivos das forças anteriores ao recorte proposto: a crise armadas para atividades estritamente dos mísseis (1962) e a Guerra das policiais. Malvinas (1982). Além do problema já No entanto, um fato inusitado faz invocarem Brasil ataques terroristas de 11 de setembro. novos princípios transnacionalizantes Todavia afastou-se a aplicabilidade do foram tomando força para justificar tratado uma vez que a previsibilidade potenciais de agressão entre Estados e não a regionais na região: preservação do estatais6. meio ambiente; salvaguarda de direito Paralelamente, o ideário de paz e de minorias culturais que, no caso segurança veiculado à medida que o específico ―perigo comunista‖ retrocedia como comunidades indígenas; declarações ameaça que tratam a Amazônia como área de não global, o Estado-mercado configurava-se reduzindo atores 2001: camponesas na região amazônicoandina, durante a década de 1990 de TIAR em e os ataques o Argentina crônico do narcotráfico e das lutas o armadas, como efetivo ou minimalista das forças da região, extra- são as preservação mundial ou patrimônio ecológico internacional7. a Diante deste quadro, a descaracterização como instituições OEA verificou que desde a formação ligadas à Defesa e Segurança. O do TIAR, a temática prevenção e aumento as solução de conflitos tiveram suas décadas de 1980 e 1990 apenas condições variadas substantivamente, serviu para alimentar a instabilidade e para que se possa entender devem política e institucional em vários países ser da pobreza ainda interferências durante considerados quatro fatores determinantes para a formatação do 5 MONTEIRO, Raymundo Guarino. Uma percepção sobre a defesa e a segurança hemisférica. Rio de Janeiro: Centro de Estudos Estratégicos da ESG, 2001. 6 RADSECK, Michael Paper apresentado no Segundo Congresso Latinoamericano de Ciencia Política, na Cidade do México, de 29, 30 de setembro de 2004. disponível em http://www.duei.de/iik/show.php/es/content/inv est/seguridad.html. pensamento de segurança hemisférica proposta. 7 CABRAL, Ricardo Pereira O fim da guerra fria e as perspectivas geopolíticas e geoestratégicas para o Brasil com a crise da segurança hemisférica (1991-2001) disponível em www.esg.br/cee/ARTIGOS/ricardo1.PDF - Revista do Curso de Direito – Ano I-2006 – N.º 1 - p. 51 S OCIEDADE E D IREITO EM R EVISTA Primeiro, já Unidos e região. Culminando a uma mencionado, o fim da Guerra Fria, situação limite no final dos anos 90, colocando termo no conflito ideológico quando diversos setores questionaram leste-oeste. a real necessidade de tal organismo. Uma das como principais repercussões a impossibilidade da Reflexo expansão do sistema comunista além pensamento, as Cúpulas das Américas das fronteiras de Cuba, para a analise resolveram hemisférica ocidental. Neste sentido, responsabilidades Estados Unidos lograram êxito de tal ampliar as em nível hemisférico da OEA. Não obstante, na consolidando seu poder hegemônico pratica, sua capacidade de ação segue em nível mundial. muito Segundo aspecto, o sistema multilateral tradicional, limitada condicionada e pelos fortemente desígnios das principais potências da região. baseado na lógica parlamentar, entrou Apesar de ser uma em crise. Frente à impossibilidade de região marcada pelo predomínio da gerar ações oportunas que lograssem paz, êxito em comprometer as principais na América existem alguns conflitos, mesmo que de origem e potencias. Sua excessiva burocracia e desenvolvimento distintos dos que conseqüentemente sua alta demanda havia há duas décadas. Sendo este o faz com que organizações como a terceiro ONU e a OEA experimentassem um atualmente expressivo e fundamentam em origem internas e de descrédito. Ademais, especificamente ordem transnacional, mesmo havendo no caso da OEA, considera-se que sua algumas agenda estava (ou está) fortemente região. Como forma elucidativa veja-se marcada pelos interesses dos Estados o quadro a seguir. aumento de crítica - Revista do Curso de Direito – Ano I-2006 – N.º 1 - fator a as ser fontes diferenças considerado, de conflito limítrofes na p. 52 S OCIEDADE E D IREITO EM R EVISTA Ven EUA Nic Jamaica México Nicarágua Hon Per Per Hon Per 2002 2001 Gua Gua Gua Ven Nic Per 2000 1998 1997 1996 1995 1994 1993 Ven Granada Guatemala Guiana Haití Honduras Panamá Paraguai Peru Estados Unidos Uruguai Venezuela 1992 Gua 1999 Argentina Bahamas Barbados Belice Bolívia Brasil Canadá Chile Colômbia Costa Rica Cuba Dominica Rep. Dominicana Equador El Salvador 1991 1990 Quadro 01 - América Latina: Quadro de conflitos inter estatais 1990-20028 Ven Nic Nic Per Nic/ Hon Hon Nic Bel Bel Hon Bel Bel EUA EUA El Sal EUA Nic El Sal/ Nic Nic Nic Ven Nic Hon El Sal/ Hon Hon / CR Hon / CR El Sal/ Nic Nic/ El Sal Hon CR Hon EUA Pan Equ Hai Hai Equ Hai Equ Hai Equ Col Col Equ Col Guy Col Deslocamento de tropas ou incidentes /Guerra 8 Fonte: http://www.revistafuturos.info/futuros_10/oea_cuadro1.htm - Revista do Curso de Direito – Ano I-2006 – N.º 1 - p.53 S OCIEDADE E D IREITO EM R EVISTA Por fim, o quarto fato já esboçado anteriormente, Unidos conferiram a Crise do Golfo e as ao Iraque; a situação do Oriente ameaças não são mais as mesmas de Médio; a Somália e aos Bálcãs. A cinqüenta anos atrás. Atualmente a relativa região deve fazer frente a três níveis esquecimento de ameaças: as tradicionais, que se América Latina e do Caribe da agenda referem a internacional, vez que nem mesmo as inter crises que se sobreveio ao Peru e estatal; as que se geram no interior Equador por meados dos anos 90; dos as nem o falido golpe de Estado de Lino denominadas novas ameaças, que se Oviedo contra o presidente paraguaio referem às ações criminais de ordem Juan Carlos Wasmosy, mereceram a transnacionais, como o terrorismo, o atenção da política nem da opinião tráfico de armas e o narcotráfico. pública norte-americana, a que os fundamentalmente possibilidade de Estados um e conflito por ultimo estabilidade e a levou ao exclusão da fatores nomes de Osama Bin Laden e Sadam combinados incentivaram a OEA, por Hussein resultavam mais familiar do ocasião da Cúpula das Américas em que os desconhecidos Alberto Fujimori 1998, e Raul Cedras (ROSAS, 2003). Estes realizada institucionalizar no um Chile, a programa de Os acontecimentos reforma do TIAR e a criação de um que se desencadearam a partir de 11 departamento pela de setembro de 2001 marcaram o Segurança Hemisférica. Todavia os inicio da guerra contra o terror, como países Latinos Caribe vêem camuflagem responsável Americanos cada de vez interesses e do assim denominou Bush. E o que mais a dantes era um mundo bi-polar em norte- leste-oeste, capitalismo-comunismo; americanos para intervir em suas hoje em países vitimas do terror e economias. terroristas. O clima de tensão e medo os volta a temática e a América Latina e Estados Unidos outorgam baixo nível Caribe, com poucas exceções, são de países pacíficos mais preocupados em Verifica-se prioridade a que América Latina. Durante os anos 90, do século XX, as apaziguar democracias internas. latinas americanas suas desigualdades atestaram a ênfase que os Estados - Revista do Curso de Direito – Ano I-2006 – N.º 1 - p. 54 S OCIEDADE E D IREITO EM R EVISTA A luta contra o terrorismo elevou o nível de exigência de Washington em torno ações desvinculadas das nações da região. da Consubstancia-se o cooperação procedente das nações processo de modificação do TIAR e a americanas. Assim, a exemplo do que busca por um conceito da segurança se passou com a guerra fria, a hemisférica. verticalidade impõe-se ao amparo da refletir sobre as condições atuais para consigna de quem não está com os gerar Estados Unidos está contra ele e Diante um disso sentido deve-se estratégico hemisférico onde estejam presentes as desde o momento em que Washington prioridades da região. A Organização coloca o terrorismo como prioridade dos Estados Americanos realizou a estratégica e pede a cooperação das Conferencia Especial sobre Segurança nações do hemisfério para este fim, Hemisférica9 novamente prevalecem à imposição e articular um conceito horizontal e a exclusão. includente. Visando dar subsídios a No âmbito sub este para objetivo que se possa organizou um regional, ao marco de 11 de setembro, questionário para os países signatário o manifestem-se a despeito dos desafios Brasil apelou ao TIAR para demonstrar o respaldo da região aos Estados Unidos. da segurança hemisférica. Factualmente 3. AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS EM MATÉRIA DE SEGURANÇA HEMISFÉRICA E O POSICIONAMENTO DOS PAÍSES DO somente teve caráter protocolar e simbólico, pois este não implicou em um compromisso que conduzisse ao MERCOSUL envio de tropas ao território norteamericano. elemento De mais maneira que importante a o ser ressaltado consiste na solicitação do governo brasileiro, logo após consulta aos governos da Argentina e Chile, que fosse realizada uma convocação extraordinária da OEA para que este organismo se pronunciasse sobre o Atualmente iniciou-se um processo de debate e reformulação dos conceitos de segurança, orientado principalmente pela troca de um esquema estruturado para enfrentar ameaças da Guerra Fria por outro onde as ameaças são difusas e o fator militar vê-se reduzido. Verifica-se um ataque terrorista e evitar, desta forma, 9 Veja in http://www.oas.org - Revista do Curso de Direito – Ano I-2006 – N.º 1 - p. 55 S OCIEDADE E D IREITO EM R EVISTA novo paradigma, onde, reconhecendo- menos existe uma aceitação geral de se o conflito e a confrontação, coloca- sua existência. se ênfase na instituições cooperação, democráticas e nas Por na países latinos outro lado, americanos os vêm presença de soluções associativas mantendo uma posição coincidente a para respeito da necessidade de revisar o materializar este ambiente favorável a paz entre as nações. acordo que de alguma maneira refere- A respeito do termo propriamente Segurança dito Sistema Hemisférica não se ao tema: o TIAR, em especifico de pode-se verificar o posicionamento dos existe países do MERCOSUL através do nenhum documento nem tratado que quadro 02. formalmente o estabeleça; nem ao Quadro 02 – Posicionamento do MERCOSUL a respeito do TIAR e do Pacto de Bogotá10 Argentina Brasil Chile Paraguai Uruguai Mantém sua vigência quanto a agressões externas x x X x x Não responde a novas ameaças x X x x Deve ser complementado ou reformado no que se referem novas ameaças x X x x Deve ser ratificado por todos os Estados membros da OEA X O TIAR O Pacto de Bogotá 10 RADSECK, Michael Paper apresentado no Segundo Congresso Latinoamericano de Ciência Política, na Cidade do México, de 29, 30 de setembro de 2004. disponível em http://www.duei.de/iik/show.php/es/content/invest/seguridad.html. Veja as respostas dos Estados Membros ao questionamento sobre novos enfoques da segurança hemisférica, OEA/ser.G, CP/CSH-410/01. - Revista do Curso de Direito – Ano I-2006 – N.º 1 - p. 56 S OCIEDADE E D IREITO EM R EVISTA É um documento válido Tem uma vigência tácita x Tem efetividade limitada pela existência de documentos similares x Requer uma reforma capitulo X x x X Por sua parte, a OEA seu x x Tem efetividade limitada pelo escasso numero de ratificações em X VI da Carta constitutiva, reforça os compromissos essencial que se fundam as diferentes nações da região e com seus conseqüentes interesses11. subscritos no Pacto do Rio (TIAR). Buscando este Sem embargo, e tal como se tem conceito evidenciado documento explicativo12 contendo dos pelos capacidade prevenção como de fatos, sua mecanismo de conflitos tem parâmetros a OEA para preparou se um construir a sido segurança hemisférica apresentado a amplamente discutido. O panorama Assembléia Geral em março de 2000, atual exige uma redefinição do sistema onde dispõe que: interamericano de segurança coletiva, bem como uma orientação do alcance Este trabajo tiene por objeto presentar el estado del Tratado Interamericano de Asistencia Recíproca (TIAR) en el marco de la estructura jurídica de la Organización de los Estados Con e da defesa das instituições militares hemisféricas. Nesse possível realizados destacar pela sentido, os é aportes Comissão sobre segurança Hemisférica da OEA e os que, sobre esta matéria, tem realizado a Junta Interamericana de Defesa. Em todo o caso qualquer projeto sobre segurança harmonizar-se hemisférica com a deverá assimetria 11 PEZZI, Jorge Fuenzalida Tendencias de la Seguridad Hemisférica posteriores al 11 de septiembre de 2001, disponivel in: http://www.cesim.cl/p3_otras_publicaciones/sit e/pags/20031114145652.html 12 Documento preparado por el Departamento de Derecho Internacional de la Subsecretaría de Asuntos Jurídicos: La seguridad colectiva en la organización de los estados americano. A/Ser.GCP/CSH-279/00 5 marzo 2000. disponivel no site da OEA. - Revista do Curso de Direito – Ano I-2006 – N.º 1 - p. 57 S OCIEDADE E D IREITO EM R EVISTA tal objeto se presenta el régimen aplicable a la seguridad colectiva según la Carta de la Organización y se presenta el estado de los trabajos realizados en la OEA con miras a modificar el TIAR. Em ameaças à podem segurança provir, seguintes resenha, entre fontes: tais hemisférica outras, das expansão do narcotráfico, narcoterrorismo e crime A tarefa de adaptar o organizado internacional, atentados de sistema interamericano de segurança, grupos terroristas internacionais, em estabelecido em grande parte entre os qualquer anos de 1942 e 1948 engendra-se no interesses diversos, normalmente de mínimo Conferência características religiosas ou étnicas; Segurança incremento de movimentos migratórios temerária. A Especial sobre Hemisférica, desenvolvida de suas formas, contra os de caráter massivo entre Estados auspícios da OEA, em outubro de vizinhos e próximos ou desde regiões 2003 na cidade do México trouxe superpovoadas importante contribuição. Ademais as espaços vazios de terceiros países; respostas dos países membros aos intensificação questionários desintegrador que exterminam etnias sob formulados pela até os do grandes processo comissão de segurança hemisférica indígenas; são utilizadas como norteadores13. ambiente; tráfico ilícito de armas; Um elemento no que existe grande coincidência entre os países da região relaciona-se coma corrupção; assuntos degradação e a do meio persistência pendentes de de natureza territorial e fronteiriça. definição da ameaça que assolam o Verifica-se ainda que continente. Estas, de origem multíplice de maneira geral os países do cone e âmbito sul detêm os mesmos ideais quanto à puramente militar, vinculando-se com segurança coletiva, haja vistas as riscos respostas dadas ao questionário da diversa, e transpassam incertezas de o natureza política, econômica e social. Por vezes se miscigenado com OEA. Veja no quadro 03 a seguir: assuntos internos. 13 Veja dados sobre a comissão de segurança hemisférica da OEA in: http://www.oas.org/csh/portuguese/default.asp - Revista do Curso de Direito – Ano I-2006 – N.º 1 - p. 58 S OCIEDADE E D IREITO EM R EVISTA Quadro 03 - A Segurança Hemisférica pela ótica MERCOSUL14 Argentina Brasil Chile Paraguai Uruguai Os princípios da Carta da OEA x x x x x Relações de cooperação, transparência e confiança mútua x x Ameaças tradicionais perdem espaço frente às novas ameaças x x Ameaças novas não anulam a existência eventual das tradicionais x x Narcotráfico x x x x x Terrorismo x x x x x Crime Organizado x x x x x Corrupção x x x x x Tráfico Ilegal de Armas x x x x x Migrações (ilegais) massivas x x x x Destruição do Meio Ambiente x x x Pobreza extrema e crítica x Bases da Segurança Hemisférica Ameaças a Segurança Hemisférica x As novas ameaças compreendem: Transporte de substancias perigosas Desrespeito aos Direitos x x x x x 14 RADSECK, Michael Paper apresentado no Segundo Congresso Latinoamericano de Ciencia Politica, na Cidade do México, de 29, 30 de setembro de 2004. Disponível em http://www.duei.de/iik/show.php/es/content/invest/seguridad.html. Veja as respostas dos Estados Membros ao questionamento sobre novos enfoques da segurança hemisférica, OEA/ser.G, CP/CSH-410/01 - Revista do Curso de Direito – Ano I-2006 – N.º 1 - p. 59 S OCIEDADE E D IREITO EM R EVISTA Humanos Instabilidade Econômica x Desastres naturais x Enfermidades Pandêmicas x Ciber Crimes x Contrabando x Radicalismo Religioso x Extrema Desigualdade x Enfrentar as novas ameaças Cooperação entre os países / intercâmbio de informações x Maior vinculação entre as instituições de cada país x x Ações policiais e não militares x Privilegiar as negociações diplomáticas x Um dos problemas que mais afeta a implementação de um novo hemisférica projeto de relaciona-se estabelecidos De as tendência ao discrepâncias entre os EUA e a fronteiras sociais, América Latina por assuntos que pelas assimetrias entre os países da região15. Segurança com e igual forma, desmoronamento econômicas a de e políticas tem permitido o surgimento marcam suas respectivas áreas de de espaços territoriais compostos por interesses, pela dificuldade com a mais de um Estado, com unidade e integração coerência distintas a outras áreas da dos Estados devida à desconfiança em suas relações, pela falta de utilização dos mecanismos 15 VALLADÃO, Alfredo Autonomia pela Responsabilidade: o Brasil frente ao uso legitimo da força. In:RESPUBLICA - Revista Lusófona de Ciência Políticae Relações Internacionais 2005, 1, 117-135 - Revista do Curso de Direito – Ano I-2006 – N.º 1 - p. 60 S OCIEDADE E D IREITO EM R EVISTA região ou sub-região. apresentam-se adequar Nestes oportunidades as soluções à de de armas empregadas em atividades suas ilícitas tais como o tráfico de drogas realidades. Assim um conceito amplo de segurança instancias deveria sistema comum de controle e rastreio (ROSAS, 2003). possibilitar associativas para a A regional no integração MERCOSUL suboperou cooperação que permitem, em seu durante toda a década de 90 como o tempo, estender sua aplicação até principal ativo que o Brasil pudesse outras áreas da sub-região ou do hemisfério americano. Exemplo estender sua área de influencia a todo o continente sudamericano. Ao final tem das negociações internacionais, por sido o MERCOSUL, mesmo que o indução brasileira, as negociações Tratado traga com os demais pólos internacionais nenhuma menção especial sobre a realizaram-se a partir de uma posição coordenação conjunta entre os blocos. de Assunção de disso não segurança, não restam dúvidas que esta micro-região facilitou o intercambio no cenário de Neste MERCOSUL sentido converteu-se o em um segurança regional. A eliminação do instrumento eficaz, desde o ponto de potencial conflito, mais que a própria vista da afirmação da política exterior coordenação de políticas de defesa, brasileira, tem estabelecimento de uma postura de sido o principal objetivo alcançado. que se refere ao contrapeso a influencia regional dos Verificam-se duas iniciativas importantes no campo dos defense no related-issues: a) Estados Unidos e de estabilidade da região andina. a Ademais, com relação elaboração, em 28 de março de 1998, à de um plano geral de segurança no regionalismo tríplice fronteira (Brasil, Paraguai e função de identificar as possibilidades Argentina), em que foi instaurado um de extensão dos benefícios a áreas sistema único de controle de lavagem potencialmente instáveis e a restrição de imigração, a entrada de países instáveis ao bloco, comércio de veículo, narcotráfico e haja vista a importância da clausula contrabando; e b) a criação de um democrática. dinheiro, terrorismo, questão - Revista do Curso de Direito – Ano I-2006 – N.º 1 - da segurança, tenderia Os também casos o a como p. 61 S OCIEDADE E D IREITO EM R EVISTA Colômbia, Venezuela, Peru e Equador preponderante na região. Todavia, reforçam essa premissa de que os para que novo desenho prospere com Estados internamente instáveis em efetividade, esta nação deverá ter em ambientes vizinhos também instáveis conta a visão dos interesses dos são demais Estados envolvidos e tomar a potencialmente problemáticos para a segurança regional. Em tendência atual devida consideração das ameaças que síntese, que a no - A aceitação de que continente demonstra que as relações um esquema cooperativo que renove a de cooperação prevalecem sobre as vigência do TIAR, sem considerar as de conflito e assim se depreende, particularidades dos demais países da como premissa básica, que um novo região, esquema deveria orientar-se para a perturbador busca de associações de segurança, projeto que dê origem a acordos e conceito seus organizações e um marco jurídico justo somente e igualitário entre as nações que o amplo componentes, impera os afetam; quanto não restringidos a variáveis militares, mas constitui para um elemento materializar um integrem; também orientado para uma efetiva - Orientado a busca de solução de conflitos de constituir-se um meio eficiente para distintas origens em um crescente canalizar esquema de cooperação. associações em matéria de segurança, 4. O DESENHO PROPOSTO SEGURANÇA HEMISFÉRICA CONSIDERAÇÕES FINAIS DE – As propostas até o os mecanismos de cooperação e integração. O novo sistema não somente a também deverá variável até outros restringir-se militar, mas potenciais momento levadas a debate no âmbito elementos de conflitos, que ao serem da OEA e das academias, convergem amainados, fortaleçam a cooperação; no sentido de que o sistema de segurança hemisférica consubstancie deve que considerar se os seguintes elementos: importância dos segurança respectivos humana, efeitos com seus sociais, econômicos, políticos e ambientais, Reconhecer EUA - Considerar que a e seu a deve constituir uma preocupação das rol nações do hemisfério e de seus - Revista do Curso de Direito – Ano I-2006 – N.º 1 - p. 62 S OCIEDADE E D IREITO EM R EVISTA órgãos de segurança, sem que, todavia, sendo isto muito perigoso, constitua um referente para justificar intervenções que afetem a soberania e a segurança que cada Estado deva ter, no âmbito de sua própria autodeterminação. - Gerar uma renovada relação multilateral e bilateral mediante organizações e normas jurídicas em sintonia com a realidade e as novas características multidimensionais. Neste sentido promovendo a revisão e adaptação do TIAR, sem que este se transforme em um veiculo de intervenção e verticalização. 5. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOBBIT, Philip A Guerra e a paz na história moderna: o impacto dos grandes conflitos e da política na formação das nações. Tradução de Cristiana Serra. Rio de Janeiro: Campus, 2003. CABRAL, Ricardo Pereira O fim da guerra fria e as perspectivas geopolíticas e geoestratégicas para o Brasil com a crise da segurança hemisférica (1991-2001) disponível em www.esg.br/cee/ARTIGOS/ricardo1.PDF Comissão de Segurança Hemisférica da OEA in: http://www.oas.org/csh/portuguese/default. asp Documento preparado por el Departamento de Derecho Internacional de la Subsecretaría de Asuntos Jurídicos: La seguridad colectiva en la organización de los estados americano. A/Ser.GCP/CSH-279/00 5 marzo 2000. Disponível no site da OEA. ECO, Humberto. Pensar en la Guerra. In: Cinco Escritos Morales. Buenos Aires : Cisne, 1998. 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