A percepção das puérperas quanto ao parto humanizado em uma
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A percepção das puérperas quanto ao parto humanizado em uma
PESQUISAS / RESEARCH / INVESTIGACIÓN A percepção das puérperas quanto ao parto humanizado em uma maternidade pública de Teresina-PI Perception of postpartum women regarding the humanized childbirth in a public maternity hospital in Teresina-PI Percepción de las puérperas acerca del parto humanizado en una maternidad pública en Teresina-PI Nadiana Lima Monte Enfermeira. Especialista em saúde maternoinfantil pela Universidade Federal do Piauí – UFPI. Professora da Faculdade de Saúde, Ciências Humanas e Tecnológicas do Piauí - NOVAFAPI. Email: [email protected] Jéssica da Silva Gomes Graduando em enfermagem pela Faculdade de Saúde, Ciências Humanas e Tecnológicas do Piauí NOVAFAPI. Email: [email protected] Laís Mayara Machado de Amorim Graduando em enfermagem pela Faculdade de Saúde, Ciências Humanas e Tecnológicas do Piauí NOVAFAPI. Email: [email protected]. RESUMO O estudo teve como objetivo: Descrever a percepção das puérperas quanto ao parto humanizado em uma maternidade pública de Teresina-PI. Realizou-se uma pesquisa de abordagem qualitativa com 10 puérperas. Os dados foram produzidos por meio de entrevistas semiestruturadas no mês de outubro de 2010 e submetidos à análise de conteúdo. Os resultados mostraram que o parto humanizado possui uma grande aceitação entre as puérperas. Pôde-se observar que essas mulheres saíram do serviço cientes do significado do parto de modo humanizado e mostraram grande interesse nas tecnologias alternativas para alívio da dor como banhos de chuveiro, massagens, uso da bola. Assim a assistência obstétrica centrada nas necessidades da cliente, em que a informação é fator relevante, foi a base principal para que elas tivessem a liberdade de escolher ou recusar qualquer procedimento relacionado com seu próprio corpo, cabendo à equipe, dentro de suas possibilidades, mudar a conduta de modo que a parturiente sinta-se segura em relação à assistência prestada. A presença de um acompanhante de sua escolha foi motivo de surpresa, tendo a sua presença transmitido uma maior segurança para as puérperas. Em vista disso, elas apresentaram um grande desejo de ter seus próximos filhos de modo humanizado. Descritores: Enfermagem obstétrica. Parto humanizado. Parto normal. ABSTRACT The study aimed to describe the perception of postpartum women regarding the humanized childbirth in a public maternity hospital in Teresina-PI. It was realized a qualitative research with 10 postpartum women. The data were collected through semi-structured interviews in October 2010 and submitted to content analysis. The results showed that humanized childbirth has a great acceptance among the postpartum women. It was observed that these women left the service aware of the significance of childbirth in a humanized way and they showed great interest in alternative technologies for pain relief as showers, massages and use of the ball. Thus, obstetric assistance focused on the client’s needs, in which information is a relevant factor, was the main base for them to have the freedom to choose or refuse any procedure related to their own body, leaving the team, within its capabilities, to change the conduct so the parturient can feel secure about the provided assistance. The presence of a companion of their choice was reason for surprise, and this presence transmitted a greater security for the postpartum women. In view of this, they showed a great wish to have their next children in a humanized way. Descriptors: Obstetric nursing. Humanized childbirth. Normal childbirth. RESUMEN Submissão: 03.06.2011 Aprovação: 29.06.2011 20 El estudio tuvo como objetivo describir la percepción de las puérperas acerca del parto humanizado en una maternidad pública en Teresina-PI. Se realizó una búsqueda con enfoque cualitativo con 10 puérperas. Los datos fueron producidos a través de entrevistas semi-estructuradas en octubre de 2010 y sometidos a análisis de contenido. Los resultados mostraron que el parto humanizado tiene una gran aceptación entre las puérperas. Se observó que estas mujeres dejaron el servicio conscienRevista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.3, p.20-24, Jul-Ago-Set. 2011. A percepção das puérperas quanto ao parto humanizado em uma maternidade pública de Teresina-PI tes de la importancia del parto humanizado y mostraron gran interés en las tecnologías alternativas para el alivio del dolor como duchas, masajes, el uso de la bola. De esta manera, la asistencia obstétrica centrada en las necesidades del cliente, en el que la información es un factor relevante, fue la base principal para que ellas tengan la libertad de elegir o rechazar cualquier procedimiento relacionado con su propio cuerpo, dejando el equipo, dentro de sus posibilidades, cambiar la conducta para que la parturienta se sienta segura en relación a la asistencia prestada. La presencia de un acompañante de su elección fue razón de sorpresa, y su presencia envió una mayor seguridad para las puérperas. En vista de esto, ellas mostraron un gran deseo de tener sus hijos siguientes de manera humanizada. Descriptores: Enfermería obstétrico. Parto humanizado. Parto. 1 INTRODUÇÃO A humanização do parto não significa mais uma nova técnica ou mais conhecimento, mas, sim, o respeito à fisiologia do parto e à mulher. Muitos hospitais e serviços médicos ignoram as regulamentações exigidas pela Organização Mundial de Saúde e Ministério da Saúde, seja por querer todo o controle da situação do parto, por conveniência dos hospitais em desocupar leitos mais rápidos ou por comodidade de médicos e mulheres em que no mundo atual não se pode perder muito tempo. O nascimento é historicamente um evento natural. Mesmo as primeiras civilizações agregaram, a este acontecimento, inúmeros significados culturais que, através de gerações, sofreram transformações, e ainda comemoram o nascimento como um dos fatos marcantes da vida (BRASIL, 2001). A história traz dados que informam que, no início, as mulheres pariam isoladamente, sem nenhum tipo de cuidado, seguiam apenas seus instintos. O parto era considerado um fenômeno natural e fisiológico. A trajetória da assistência ao parto iniciou-se a partir do momento em que as mulheres passaram a se auxiliar e a acumular conhecimentos sobre o processo de parir. A mulher que acumulasse uma maior experiência era reconhecida pela comunidade como Parteira, que se traduz na figura daquela que atende partos domiciliares, mas que não tem nenhum saber científico. Seus conhecimentos são embasados na prática e na acumulação de saberes, passados tradicionalmente de geração para geração (SANTOS, 2002). Contudo, a partir do século XX, a medicina transformou o parto, que é um evento fisiológico, em um evento patológico que necessita, na maioria das vezes, de tratamento medicamentoso e cirúrgico, predominando a assistência hospitalar ao parto, tornando-o institucionalizado (CRIZÓSTOMO, 2007). Segundo Tornquist (2002), a Organização Mundial de Saúde (OMS) propõe mudanças no modelo de atendimento ao parto hospitalar/medicalizado no Brasil, recomenda a modificação de rotinas hospitalares consideradas desnecessárias, geradoras de risco e excessivamente intervencionistas no que tange ao parto. A proposta da OMS não é eliminar tais intervenções, mas reduzi-las apenas às situações de necessidade comprovada, uma vez que se entende que o modelo de atenção ao parto e ao nascimento hospitalar estaria abusando de práticas prejudiciais à saúde da mulher e do bebê. No Brasil, as tendências que visam incentivar o parto normal e valorizar a atuação da enfermeira obstétrica refletiram-se na criação de portarias pelo Ministério da Saúde (MS), com definição de índices decrescentes Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.3, p.20-24, Jul-Ago-Set. 2011. para o pagamento de cesarianas. Além disto, foi realizada a inclusão do procedimento de assistência ao parto realizado por enfermeira obstétrica na tabela de pagamento do Sistema Único de Saúde (SUS) (Portarias nºs. 281/98, 2816/98 e 163/98. Esta última portaria foi modificada em 2005, com a regulamentação de novo laudo a ser emitido por médico ou enfermeiro obstetra. Nos últimos quatro anos, o MS vem também adotando uma política de valorização do profissional de enfermagem na assistência ao parto, por meio do financiamento de cursos de especialização por todo o país (SILVA et al., 2008). Ainda segundo Silva et al., (2008), a criação de Centros de Parto Normal (CPN), no âmbito do SUS (Portaria nº. 985/99) também se insere nessas iniciativas. Centros de Parto Normal são propostas de compartilhamento de tarefas, em que o acompanhamento do trabalho de parto e a assistência ao parto normal são designados a enfermeiras obstétricas. Os Centros de Parto Normal (CPN) e/ou as Casas de parto são espaços que estão surgindo e que o(a) enfermeiro(a) obstetra deve ocupar, uma vez que este foi reconhecido pela OMS como o profissional mais adequado e com melhor custo – efetividade de prestador de cuidados de saúde, para ser responsável pela assistência à gestação e ao parto normal, incluindo a avaliação de riscos e o reconhecimento de complicações (CRIZÓSTOMO, 2007). De acordo com Passos (2010), o Centro de Parto Normal de Teresina – PI foi inaugurado no dia 12 de janeiro de 2010. O serviço está inserido nas recomendações do Ministério da Saúde e na Política Nacional de Humanização do SUS - PNH/SUS de tornar o parto normal, uma experiência cada vez mais natural e familiar, bem como no esforço de reduzir o volume de partos cirúrgicos desnecessários. No decorrer dos anos, muitas transformações aconteceram no modelo de assistência ao parto. A mais atual foi a implantação da política de Humanização da Assistência ao Parto, em que a individualidade da cliente é valorizada, um vínculo entre o profissional e a mulher é estabelecido. Também é permitido o reconhecimento de que a grávida é a condutora do processo de parto, que a gravidez não é uma doença e que o parto, não necessariamente, deverá ser medicalizado. Várias pesquisas mostram resultados positivos decorrentes da implantação da humanização da assistência ao parto em relação ao processo de nascer, a diminuição do período de internação e da maior satisfação da parturiente. Um passo importante na implantação da assistência humanizada ao parto foi a criação dos referidos Centros de Parto Normal, local onde a parturiente tem total autonomia para expressar seus sentimentos e decidir, junto à equipe, qual a melhor conduta a se tomar durante o trabalho de parto e parto. Em vista disso, este estudo tem como objetivo: Descrever a percepção das puérperas quanto ao parto humanizado em uma maternidade pública de Teresina-PI. 2 METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa de campo, de natureza qualitativa, de caráter descritivo realizada no Centro de Parto Normal de uma Maternidade Pública de Teresina-PI, localizada no Bairro Ilhotas. Esta maternidade é referência no atendimento às gestantes de alto risco e também aos recém-nascidos. Os sujeitos da pesquisa foram 10 puérperas (nomeadas por flores) que tiveram seus partos realizados no Centro de Parto Normal desta maternidade, que aceitaram participar da pesquisa com a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os dados foram produzidos 21 Monte, L. N..; Gomes, J. S.; Amorim, L. M. M. no mês de outubro de 2010 por meio de entrevistas semiestruturadas, realizadas no Centro de Parto Normal e em visitas domiciliares, gravadas em Mp4 player com transcrição integral das falas. O conteúdo dos discursos foi agrupado por similaridade em categorias de acordo com pressupostos metodológicos necessários para a realização da análise de conteúdo (BARDIN, 2004). A pesquisa foi realizada após a autorização da Comissão de Ética em Pesquisa da maternidade em questão (protocolo nº 1012/10) e do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade de Saúde, Ciências Humanas e Tecnológicas do Piauí - Novafapi (CAAE – 3978.0.000.043-10), obedecendo desta forma a todos os princípios da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Fez-se a pesquisa com 10 mulheres no período puerperal, sendo 5 entrevistadas no CPN e 5 em visitas domiciliares. Quanto à caracterização dos sujeitos, as mulheres estavam na faixa etária entre 17 a 34 anos. Quanto ao grau de escolaridade: 1 concluiu o ensino superior, 7, o ensino médio e 2 não concluíram o ensino fundamental. Dentre elas: 4 eram primíparas e 6 multíparas. Em relação à assistência pré-natal: 9 puérperas realizaram 6 ou mais consultas de pré-natal e somente 1 não teve acompanhamento profissional. Dentre os sujeitos, 6 tinham experiência anterior com parto normal e 4 não tiveram experiência alguma. Os resultados alcançados permitiram uma análise de questões importantes sobre a percepção das puérperas quanto ao parto humanizado. Os dados produzidos foram agrupados em três categorias analíticas a seguir: Comparando o Parto Normal tradicional com o Parto Normal humanizado: a percepção das puérperas, Centro de Parto Normal: o novo velho modo de parir e Apoio no Nascimento: a importância do acompanhante. CATEGORIA 1 – A percepção das puérperas quanto ao Parto Humanizado Esta categoria mostra qual o entendimento das mulheres, no período puerperal, sobre o modo humanizado de parir e suas implicações durante o trabalho de parto, parto e puerpério, através de suas vivências. Analisando os discursos, foi possível perceber que as mulheres passaram a preferir o modo humanizado de parir ao aplicado no centro obstétrico, devido ao melhor acolhimento, a privacidade, as tecnologias de alívio da dor e ao respeito para com elas. Tem-se observado um movimento social pela humanização do parto e do nascimento no Brasil, pelo menos desde o final dos anos 80 do século XX, com a crítica do modelo hegemônico hospitalocêntrico de atenção ao parto e ao nascimento. Pode-se dizer que esse movimento propõe mudanças no modelo hospitalar/ medicalizado no Brasil (PRISZKULNIK; MAIA, 2009). Segundo o mesmo autor o conceito de humanização do parto esbarra sempre no conceito de humanização da própria assistência hospitalar. O cuidado humanizado começa quando a equipe multiprofissional é capaz de detectar, sentir e interagir com as pacientes e familiares; é capaz de estabelecer uma relação de respeito ao ser humano e aos seus direitos essenciais. Isso pode ser visto nos depoimentos a seguir: Esse é meu segundo filho. Meu primeiro filho o parto dele foi demorado, porque eu tive que esperar o doutor pra ter e ficar lá sentindo dor. Aqui eu me senti, assim, é melhor porque devido a gente fica mais confortável, não tem aqueles barulhos, assim, eu dormi [...] achei assim muito bacana. (Tulipa) 22 Eu tenho dois filhos com esse aqui. Esse parto foi diferente do primeiro. Aqui a enfermeira sempre tava do meu lado, me dando força, fazendo massagem, tomei banho, só não fiz o lanche porque eu não quis mesmo. Fiquei mais confortável aqui [...] (Margarida) Esse é meu terceiro filho. Todos foram normais. O primeiro foi complicado porque ele tava laçado e o parto foi com a raqui, me cortaram e dois médicos tiveram que empurrar na barriga. O segundo eu já tive de forma humanizada, só que em outra maternidade [...] (Violeta) Pode-se observar que as medidas adotadas pela equipe influenciaram o bem-estar das mulheres e fizeram com que elas se sentissem mais seguras e amparadas. Conforme elas são ouvidas pela equipe, o trabalho de parto flui mais naturalmente do que se a assistência fosse centrada apenas em rotinas medicalizadas. [...] lá na outra maternidade deixavam a gente morrer, não queriam nem saber se tava bom ou ruim. Nessa maternidade aqui ta tudo renovado! Cama boa, enfermeira diferente. Tudo aqui é melhor. Lá no centro cirúrgico é tudo sujo, muita mulher esperando, os médicos colocando a mão na gente [...] (Orquídea) Orquídea critica o atendimento aplicado no centro obstétrico destacando a frieza e o descaso dos profissionais que trabalham nesse local para com as parturientes. Em outros trechos de seu discurso elogia o novo modelo humanizado de parto normal, enfatizando a estrutura física do local onde foi realizado e o preparo dos profissionais que a atenderam. Eu senti muita dor, mais do que nos outros partos, mas me senti bem melhor do que no centro cirúrgico. Eles fizeram massagem para aliviar a dor, conversaram comigo durante todo o parto [...] (Girassol Eu senti muita dor, mas do que nos outros partos, mas me senti melhor do que lá em cima. Gostei do atendimento [...] (Rosa) A assistência humanizada empregada teve uma melhor aceitação entre as parturientes. Como pode ser visto no depoimento de Girassol e de Rosa, mesmo que ambas tenham sentido mais dor do que nos outros partos, relatam que passaram a preferir esse modo de parir ao aplicado no centro obstétrico. Ainda há maternidades que não oferecem assistência obstétrica centrada nas necessidades da cliente, pois não priorizam a individualidade, a cultura e os costumes de cada mulher. Submetem-na, no momento da internação, a rotinas pré-estabelecidas pela organização e na maioria das vezes retiram-lhe o direito à privacidade e à autonomia do processo de parir (SESCATO; SOUZA; WALL, 2008). No final do século XX, a OMS definiu que para atingir a maternidade segura, seria necessário mudar radicalmente o modo como os serviços de saúde tratam as mulheres. Foi reconhecido que, muitas vezes, os profissionais de saúde são autoritários e rudes com as mulheres grávidas e que elas se sentem humilhadas e até ameaçadas em suas interações com esses profissionais (REDE FEMINISTA DE SAÚDE, 2002). A satisfação no parto não está condicionada à ausência de dor. Muitas mulheres estão dispostas a sentir alguma dor no parto; o que elas não querem é que a dor seja insuportável. Em grande medida, o que mais influi na satisfação com o parto é o comportamento dos profissionais. A satisfação no parto é fortemente associada a um ambiente acolhedor e à presença de companhia durante todo o trabalho (REDE FEMINISTA DE SAÚDE, 2002). Categoria 2 - Centro de Parto Normal: conhecimento do serviço Nesta categoria mostramos qual o conhecimento das mulheres sobre o Centro de Parto Normal, se já conheciam o serviço anteriormente Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.3, p.20-24, Jul-Ago-Set. 2011. A percepção das puérperas quanto ao parto humanizado em uma maternidade pública de Teresina-PI ou não e, caso já o conhecesse, o relato de como foram apresentadas ao serviço ou como obtiveram informações sobre o mesmo. O novo modelo humanizado de parir aplicado nos Centros de Parto Normal procura resgatar o direito à privacidade e à dignidade da mulher ao dar à luz em um local semelhante ao seu ambiente familiar e ao mesmo tempo garantir segurança à mãe e ao seu filho, oferecendo recursos apropriados em casos de necessidade. Nos Centros de Parto Normal a parturiente e seu acompanhante são informados constantemente pela enfermeira obstétrica que os assiste sobre a evolução do trabalho de parto e sobre eventuais mudanças de conduta para que possam colaborar durante todo o processo do trabalho de parto ativo até o nascimento. À cliente em trabalho de parto é permitido expressar seus sentimentos quanto aos procedimentos com os quais não concorda, cabendo à equipe, dentro de suas possibilidades, mudar a conduta de modo que a parturiente sinta-se segura em relação à assistência prestada (MACHADO; PRAÇA, 2006). [...] eu não conhecia lá, eu vim conhecer foi nas palestras porque eu fui duas vezes pra palestras e lá falaram do CPN, achei interessante e eu comecei a falar pra assistente lá da maternidade que eu queria ter lá, [...] e ela falou que se eu não tivesse nenhum problema, pressão alta, eu poderia ir pra lá. (Tulipa) “[...] já tinha ouvido falar sobre o atendimento. Comecei a realizar meu pré-natal, depois visitei o CPN com a minha médica, me interessei muito pelas atividades realizadas [...]” (Copo de Leite) Tulipa e Copo de Leite afirmaram já terem conhecido o CPN por meio de palestras e visitas. O Centro de Parto Normal, mesmo sendo um serviço novo no município de Teresina, está sendo bastante divulgado através de palestras e em consultas de pré-natal. Isso faz com que as gestantes cheguem à maternidade já tendo conhecimento dos procedimentos que serão realizados. Eu não conhecia lá. Gostei muito lá do CPN. Fui muito bem acolhida, todo mundo me tratou bem. [...] O atendimento foi humanizado, eu fui muito bem atendida, fiquei à vontade, fizeram massagem em mim, conversaram comigo também para me acalmar e eu fiquei me sentindo melhor [...] (Dália) Esta depoente enfatizou em sua declaração o desconhecimento sobre o modo humanizado de parir, relatando ter gostado da experiência de ter tido seu filho em um ambiente calmo e acolhedor. “Não conhecia o centro de parto, até estranhei quando cheguei [...] mas gostei do atendimento. Me falaram pra sentar, pra tomar banho, mas não quis, fiquei com medo. O serviço está aprovadíssimo. É dez!” (Rosa) “[...] Aqui pra ajudar a dilatar me seguravam e eu agachava e realmente a gente sente que dilata, tomei banho, tomei suco, lanchei.” (Violeta) Podemos perceber, no discurso de Rosa e de Violeta, o receio em vivenciar as técnicas empregadas no CPN por serem submetidas a procedimentos novos e diferentes como, por exemplo, o fato de poder se alimentar, tomar banho, deambular, situações que não são permitidas no centro obstétrico. Contudo, mesmo com esse receio, os profissionais que trabalham no CPN, através de esclarecimentos, conseguiram que as mulheres realizassem a maioria das técnicas propostas. De acordo com Machado e Praça (2006), no CPN as mulheres em trabalho de parto contam com dieta livre, liberdade para movimentação durante o trabalho de parto, são estimuladas à adoção de métodos não-farmacológicos no alivio à dor – banho de aspersão para relaxamento, massagens na região lombo-sacra, exercício de respiração e de relaxamento, estímulos a movimentos corpóreos, tais como abaixar, levantar e balanço pélvico – são estimuladas as eliminações espontâneas (micção e evacuação). É a parturiente quem autoriza a realização do exame tocoginecológico, com respeito a sua privacidade. Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.3, p.20-24, Jul-Ago-Set. 2011. [...] eu gostei muito e aqui eles tratam a gente como se fosse assim, alguma coisa deles. Se puder, quero ter meus filhos aqui. (Begônia) Na admissão disseram que ele ia nascer naquele dia e que eu ia pra lá. [...] Se eu tiver outro filho, quero ter lá com certeza. Gostei demais de lá [...] (Camélia) Observou-se que, tendo conhecimento ou não do serviço, todas as puérperas manifestaram satisfação e interesse em ter seus próximos filhos no Centro de Parto Normal. Categoria 3 - Apoio no Nascimento: a importância do acompanhante Essa categoria determina que o bem-estar da futura mãe deve ser assegurado por meio do livre acesso de um membro de sua família, de sua escolha, durante o nascimento. O respeito à escolha da mulher sobre seus acompanhantes foi classificado como uma prática útil e que deve ser estimulada. No dia 7 de abril de 2005, entrou em vigor a Lei 11.108/05 que garante às parturientes o direito à presença de um acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS (SOARES, 2010). Essa lei entrou em vigor com a ajuda de Organizações não Governamentais e especialmente da Rede de Humanização do Nascimento que lutaram pelo direito de as mulheres terem um acompanhante de sua escolha durante todo o trabalho de parto. A enfermeira me falou que eu podia ter um acompanhante, achei maravilhoso, mas não dava tempo de chamar o meu marido [...] (Girassol) [...] lá no CPN é um negoço mais limpo, quando me disseram que podia entrar alguém comigo, não acreditei [...] (Orquídea) Como se pode observar, nos depoimentos acima, algumas mulheres se surpreenderam com a possibilidade de ter alguém de sua escolha por perto. A presença do acompanhante durante todo o processo do parto é de extrema importância para a parturiente. A presença de alguém conhecido acalma a mulher, dando-lhe conforto, segurança, tranqüilidade para ela e a deixa mais à vontade nesse momento tão importante de sua vida. [...] a gente se sente bem, pode ser acompanhada pela família, se sente como se tivesse em casa, mais tranqüila até porque quem já teve parto complicado como eu, já vem com aquele nervosismo. A gente tem medo de ficar só. [...] Eu me tranqüilizei mais sabendo que tinha alguém aqui comigo, pelo menos pra chamar a enfermeira se eu tiver pertinho de ter. (Violeta) [...] Eu entrei com a minha mãe, ela acompanhou do início ao fim, tudo lá minha mãe tava comigo. [...] Gostei demais de lá. (Camélia) A presença do acompanhante proporciona uma maior abrangência ao cuidado, pois amplia a observação à parturiente e a comunicação de suas necessidades (PINTO, 2001). O acompanhante também se torna um facilitador da comunicação entre a parturiente e o profissional que a está atendendo uma vez que, se ela necessitar de algo do profissional e não puder ir até ele, o acompanhante poderá realizar isso no lugar da parturiente. Assim traz mais satisfação e segurança à mulher já que ela sabe que poderá sempre estar em contato com a equipe. [...] eu achei bom também que as pessoas possam ser acompanhadas por outras pessoas também, tem muita gente que tem curiosidade pra ver o parto normal, a família, o marido, os filhos, as vezes a mãe, quando não é a mãe é tia, todos querem ver. É uma coisa muito interessante porque a minha tia assistiu o meu e ela disse que foi só Deus mesmo. Pena que meu marido não pode ir porque ele tava viajando, mas se ele pudesse ele queria ta lá. (Tulipa) 23 Monte, L. N..; Gomes, J. S.; Amorim, L. M. M. Constatou-se pelo depoimento da parturiente que, quando as mulheres vivenciam a emoção do acompanhante, junto com a sua própria emoção, resgata-se o sentido do nascimento como um acontecimento de vida e alegria. A presença do acompanhante proporciona uma maior abrangência ao cuidado, pois amplia a observação à parturiente e a comunicação de suas necessidades (PINTO, 2001). No Brasil, o Ministério da Saúde reconhece os benefícios e a ausência de riscos associados à inserção do acompanhante e recomenda que todos os esforços devem ser realizados para garantir que toda parturiente tenha uma pessoa de sua escolha para encorajá-la e dar-lhe conforto durante todo o processo do nascimento (BRASIL, 2001). 4 CONSIDERAÕES FINAIS Diante do resultado da pesquisa, foi possível descrever a percepção das puérperas quanto ao parto humanizado; as mulheres tiveram uma grande aceitação do serviço. Mesmo as que não conheciam tal procedimento anteriormente passaram a entender como ele funciona e todas mostraram interesse de futuramente ter seus filhos de modo humanizado. Foi possível perceber que elas saíram do CPN, mostrando grande interesse nas tecnologias alternativas para alívio da dor e na possibilidade de terem um acompanhante de sua escolha durante o trabalho de parto. Seria bastante proveitoso que as Instituições de Saúde se mobilizassem em prol de uma maior divulgação da assistência humanizada ao parto através não somente de palestras, como também de notícias via rádio, televisão, jornais, revistas e consultas de pré-natal, tanto na própria Instituição como nos demais serviços que ofereçam atendimento às gestantes, de modo que a informação chegue a um número maior de gestantes, fazendo com que diminua o parto com intervenções desnecessárias, aumentando a possibilidade de que a mulher seja participante ativa do processo do parir. REFERÊNCIAS BARDIM, L. Análise de conteúdo. 3.ed. Paris: Edições 70, 2004. 141p. BRASIL. Ministério da Saúde. Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à mulher. Ministério da Saúde, Secretaria de Políticas de Saúde, Área Técnica da Mulher. Brasília: Ministério da Saúde, 2001. CRIZÓSTOMO, C. D; NERY, I. S; BARROS LUZ, M. H. A vivência de mulheres no parto domiciliar e hospitalar. Esc. 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