parceiras

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parceiras
BLOCO DE TRABALHO-
EQUIDADE ENTRE GÊNEROS
Muitas mãos aliviam o trabalho.
Provérbio da Província de Haya, Tanzânia
No início a CARE procurou parceiras com instituições locais que poderiam aprender, replicar e sustentar as
melhores acções modeladas nos nossos projectos. Com o decorrer do tempo, porém percebemos que as
“parceiras têm um potencial maior do que imaginávamos. Enquanto ainda víamos as parceiras como uma
maneira de prestar um serviço de qualidade para mais pessoas ... nós também víamos que elas são um
veículo para enfocar as causas subjacentes da pobreza e da injustiça social.”1 Nestas paginas serão encontrados
exemplos sobre:
• Como as nossas parceiras estão mudando para demonstrar objectivo de acabar com a discriminação de
gênero e também como elas estão nos ajudando a ser uma organização que respeita e promove a diversidade
nos nossos programas mundiais; e
• Como nós apoiamos relações mais igualitárias em todos os níveis da sociedade através de diálogos e
compromissos com todos os grupos sociais que competem entre si, incluindo homens e mulheres.
De muitas maneiras ao principio de boa parceria está inerente uma abordagem sensível sobre gênero. Nós
procuramos parceiras que valorizam a identidade única e a dignidade de todos os interessados, que promovam
uma responsabilidade para com os direitos das mulheres e dos homens, que procurem um maior equilíbrio de
poder e que aproveite as riquezas em diversos pontos de vista e estilos utilizados para trabalharmos por um
mundo melhor. Aqueles que lutam pela equidade de gênero, porém muitas vezes cometem o erro de alienar
e isolar aqueles que mantém o poder e que precisam de envolver-se na campanha a fim de criar um equilíbrio
na sociedade. O maior desafio do trabalho relacionado ao gênero é praticar as parceiras igualitárias de que
tanto falamos - de alcançar tanto os cantos poderosos e os sem poder no nosso mapa institucional e
promover um dialogo que possa nos tornar responsáveis pela justiça social e pelas oportunidades para
acções em conjunto.
1
Carey, P. (September 10, 2001). Almis 5324: Partnership Lessons and Organizational Recommendations. CARE.
Equidade entre gêneros e parceiras
Análises
Holística
Síntese
CICLO DE
PROGRAMA
Sistemas Coerente de
Informação
Estratégias Enfocada
nquanto que a parceria é somente um dos aspectos do nosso
programa estratégico ele também expressa a filosofia de
desenvolvimento e é moldada com os interessados sendo analisados
holisticamente. Neste bloco de trabalho analisaremos:
Os diferentes tipos de parceiras que incentivam mudanças
políticas e sociais.
Questões e oportunidades que surgem quando se trabalha numa
rede de alianças e parceiras tendo como objectivo a mudança.
Engajar aqueles que parecem opor-se à equidade entre gêneros
nas alianças para a mudança.
Como os princípios de uma relação de equidade podem mudar a
nossa organização.
Questões fundamentais e recursos para uma parceria sensível à
questão do gênero.
Práctica Reflectiva
E
PARCEIRAS
N
o nosso trabalho de combate à pobreza aprendemos que as relações que estabelecemos são tão
importantes quanto os recursos - a alienação e a exploração são duas das causas mais profundas
da pobreza. Respeitar mais, compreender e ter responsabilidade frente às relações humanas e sociais
é um dos pontos principais das mudanças dos programas da CARE hoje em dia. Estas questões também são
centrais para todos os trabalhos que envolvem direitos, reivindicações e gênero e diversidade. Neste modulo
analisaremos como isto focalizará na qualidade das relações afecta à maneira de pensar sobre parceiras.
Gênero e as Parceiras
1
Ser uma menina, indígena, de uma área rural
remota ou ser pobre são sinónimos em quase
todos os países, onde, grandes obstáculos têm
que ser enfrentados para se ter uma educação
decente e oportunidade de desenvolvimento.
No Peru, onde quase 70% da população analfabeta
é feminina, os preconceitos de língua, cultura,
geografia e classe social colocam as meninas das
regiões rurais em maior desvantagem
educacional.
O desafio nesta área não pôde ser solucionado por uma só agência.
Assim, a CARE Peru montou uma ampla rede de alianças com vários
actores para a implantação do projeto New Horizons de educação
para as meninas. Existem muitos desafios para forjar uma coalizão
agências de cooperação internacional como a USAID, Save the Children, CARE, ActionAid e GTZ, além de outras.
O programa funcionava principalmente por meio de encontros
matinais com um pequeno grupo técnico de várias agências que
apresentavam as propostas das organizações parceiras para a criação
de uma agenda mensal. Durante estes encontros os membros podiam
discutir as propostas até chegarem a uma conclusão sobre posições
e planos de acção. Comitês ad-hoc eram criados para atividades
específicas quando necessário. Enquanto que o projecto New Horizons responsabilizou-se inicialmente pelas tarefas administrativas,
as responsabilidades da organização dos encontros mensais eram
rotativas.
O QUE APRENDEMOS DURANTE
A CONSTRUÇÃO DE
UMA REDE DE COALIZÕES
CARE Peru: O
poder de uma
aliança
Cuidando de um problema social maior do
que qualquer outra organização pudesse
tratar sozinha, a CARE Peru aprendeu uma
lição importante sobre como apoiar uma
coalizão de mudança social para que ela
tenha sucesso.
Sair do banco de motorista. A rede
conseguiu a confiança das pessoas porque
ela criou uma identidade separada daquela
do projecto. A CARE às vezes representa
um obstáculo para a criação de parceiras
– alguns queriam continuar a ser o centro
de atenção e apoiar a coalizão, porém no
final perder a atenção significou
conseguir o apoio de interessados chaves.
Todos os membros ajudaram a desenvolver
o plano estratégico, desde a visão inicial
até a aprovação do plano.
Criar produtos juntos. Os parceiros
empenharam-se muito no sucesso do
Primeiro Congresso Nacional sobre a
Educação de Meninas nas Áreas Rurais. O
pessoal técnico das agências parceiras
participou em obtenção de dados,
escrever
e verificar o relatório final Open
©CARE 2001/Valenda Campbell
Agenda for the Education of Rural Girls, e
todos os parceiros dividiram as tarefas
tão poderosa como a Rede Florescer que luta pelos direitos de um administrativas e foram reconhecidos como autores da
grupo como o das meninas rurais. Porém o projecto é um sucesso, documentação e organizadores da conferência.
e nos primeiros quatro anos de vida foi votada a primeira lei nacional
no Congresso peruano para a promoção da educação das meninas Honrar a diversidade dos membros. O pessoal do New Horizons
em áreas rurais. Mesmo tendo o projeto New Horizons terminado prestou atenção na incorporação e reconhecimento dos interesses
em Março de 2002, o Florescer estabeleceu-se permanentemente e administrativos dos parceiros no desenvolvimento das actividades.
continua a actuar num plano de acções extensivo para 2001-2006, Enquanto que a CARE assegurava a sua credibilidade como
que visa consolidar o apoio e assegurar a implantação da nova lei. organizadora, foram propostas actividades nas quais os parceiros
podiam expressar os seus interesses, delegar responsabilidades
relacionadas a estes interesses e reconhecer os esforços de
OMO FUNCIONA A COALIZÃO
Um mês depois do lançamento do projecto, em Abril de 1998, o colaboração.
C
?
pessoal do New Horizons convidou uma delegação de líderes e
representantes de sectores públicos e privados chave para unir-se
à delegação peruana que iria participar da Conferência Internacional
para a Educação de Meninas, em Washington, DC. A conferência,
patrocinada pela USAID, lançou o caminho das parceiras a serem
forjadas e aumentou a consciência dos líderes em relação ao tema,
além de estabelecer compromissos pessoais e de organizações entre os membros da delegação. Um mês depois da conferência foi
formada a Rede Nacional para Educação das Meninas, baptizada de
Florescer. Participam nela o Ministério da Educação, da Saúde e
Avanço para as Mulheres, o Escritório da Primeira Dama, o Forúm
Educativo, a Rede Nacional para a Emancipação das Mulheres, a
Faculdade de Educação da Universidade Católica, o Movimento
Empresarial 2021, os programas de rádio Del Peru, a UNICEF e
2
Bloco de Trabalho-Equidade entre Gêneros
Distinção entre um compromisso pessoal e das organizações.
De um lado é importante envolver os líderes e o pessoal técnico
para trabalhar em nome dos objectivos do projecto. Do outro lado
também é importante desenvolver fortes relações com as
instituições que eles representam, para assegurar a rotatividade de
pessoal e a vida das parceiras para apoiar as mudanças sociais
maiores.
Este resumo reflete os pensamentos da Diretora de Projetos do New
Horizons, Ana Maria Robles Capurro, e as ricas lições encontradas
em: American Institute for Research (2001). “Analytical Report:
Desription and Analyses of the USAID Girls and Women’s Education
Activity Projects in Guatemala, Morocco, and Peru”. Global Bureau,
Office of Women in Development, USAID.
Pirâmides, Rodas e
Teias: A estrutura faz
uma diferença?
A New Economics Foundation identificou 3 estruturas para as
redes: pirâmide, roda e teia. A pirâmide tem um secretariado que
dissemina a informação a todos os outros membros. Como o nome
sugere, a comunicação pode ocorrer de cima para baixo. Em
contraste, a roda tem um ou mais pontos de intercambio de
Mais e mais estamos indo além
de parceiras duplas e estamos
estabelecendo relações com
diversas redes de indivíduos ou
organizações. O tipo de parceria
que estabelecemos pode ter um
grande impacto sobre onde
esperamos chegar e como
devemos chegar.
informação, mas a informação também flui diretamente entre os
membros. Na estrutura da teia não existem pontos focais,e a
informação flui de todos os membros a todos os membros. Cada
uma destas estruturas tem as suas vantagens e desvantagens.
Estrutura
Vantagens
Desvantagem
Pirâmide
• Acção rápida
• Poder falar com as autoridades em nome dos
vários membros
• Poder mobilizar rapidamente um grande número
de apoiadores
• Ajudar a ter acesso a níveis mais altos de
políticas
• Os membros podem sentir falta de identidade
• Movimentos de base podem sentir falta de
atenção
• Perigo de falar pelas pessoas e não deixa-las falar
por si próprias
• Tende a ser enfocada em temas
Roda
• Mais independência no nível dos movimentos de
base
• Fácil para o intercambio de informações
• Pode ser usado para actuar com mais precisão
• Pode ser mais difícil desenvolver uma acção em
comum
• O processo de mudança é lento
• Oportunidades de mudanças práticas podem não
ser reconhecidas
Teia
• Bom para o intercâmbio de informação
• O mais democrático; os membros são autosuficientes
• Forte relação entre os membros que podem
apoiar-se em vários assuntos
• Devagar para agir
• Talvez tem de ser reestruturado em Roda para
agir coletivamente
• Os membros tendem a ser mais homogêneos do
que numa Pirâmide
Adaptado de: Chapman, J. (2001) “What makes international campaigns effective?” em M.Edwards e J. Gaventa Global Citizen Action,
Lynne Rienner: Boulder, CO. pags 259-275. Para aprender mais sobre como construir alianças de reivindicações verifique estas referências,
assim como também o manual “Advocacy Guidelines” da CARE e outras referências na pág.8
Quais são os nossos
parceiros?
Nenhuma organização pode ser todas as coisas
ao mesmo tempo. Nenhuma organização possui
todo o conhecimento, todas as habilidades e
recursos para transformar a desigualdade entre
gêneros. Criar oportunidades para as mulheres
por mainstreaming significa que precisamos da
cooperação e do apoio de uma variedade de
grupos e indivíduos tanto dentro como fora da
organização. As organizações necessitam de
parceiros que entendam a raíz do problema e de lobistas e aliados
que possam providenciar os recursos e fazer mudanças a nível de
políticas. Também necessitam de parceiros que tenham um
conhecimento especifico na área de gênero, incluindo:
• treinamento acadêmico e experiência em análise de gênero
• experiência de trabalho com mulheres
• apoio do movimento feministas
• alianças com profissionais dedicados somente a questões de
igualdade.
Emprestamos este sistema de trabalho de Alan Fowler, que também
trabalhou com a CARE na nossa visão, missão e uma variedade de
estratégias. Verifique: Fowler, A. 1995 Participatory Self-Assessment of NGO Capacity. INTRAC Occasional Papers Series Number
10, Oxford, UK: INTRAC
Gênero e as Parceiras
3
Quando a CARE Niger lançou o projecto de
subsistência e equidade de gênero em Maradi,
o escritório regional atacou de frente as causas
sociais da pobreza. O projecto visava a protecção
de questões de subsistência enfocados no gênero,
e modelava as suas técnicas de acordo com os
interesses particulares, necessidades e
oportunidades das mulheres. Trabalhando a sua
estratégia de parceiras, o grupo percebeu que
precisava trabalhar com aqueles que tinham
legitimidade para transformar as relações entre gêneros, inclusive
àqueles que se opunham à igualdade entre gêneros.
Desde o principio que a análise de gênero demonstrou que as
tradições culturais levavam a importantes diferenças entre a
segurança dos modo de vida dos homens e das mulheres,
principalmente:
Uma análise demonstrou que estas diferenças são guiadas por um
baixo nível da alfabetização entre homens e mulheres, e também
porque os líderes locais interpretavam as leis culturais e Islâmicas
para servir os seus interesses. Como resposta, o projecto iniciou
uma campanha de conscientização e educação, que inclui uma
alfabetização funcional, treinamento em conflitos de gênero e nas
famílias e comunicação como possibilidade de mudança de atitude
(behaviour-change communication – BCC) com focalizados em
direitos, religião e lei Islâmica. Duas parceiras foram essenciais
para a implantação do BCC: uma com organizações legais e jurídicas
que promoviam uma ampla conscientização dos direitos humanos;
e outra, analisada abaixo, com líderes religiosos que visava o diálogo
sobre os ensinos do Koran sobre o gênero.
O
PAPEL DOS LÍDERES RELIGIOSOS
Corajosamente, os líderes do projecto resolveram colaborar com os
“marabou”, que são líderes religiosos, para concentrarem-se mais
Perfil e calendário de homens e mulheres. o perfil de actividades,
na conexão entre práticas religiosas e desigualdades na
combinado com o calendário diário
família. O projecto também
demonstrou que as mulheres
juntou-se ao Union of Muslim
trabalham mais do que os
Women in Niger (UFMN) para
homens (elas trabalham mais ou
promover a inclusão de temas
menos 18 horas por dia)
relacionados ao gênero nos
considerando o trabalho
sermões locais dos marabous. A
produtivo e reprodutivo.
UFMN apresentou o projecto aos
líderes mais poderosos da cidade
Acesso e controle de terras,
de Maradi, e juntos eles
investimentos e outros bens
chegaram a um claro acordo
produtivos. A lei islâmica
sobre o que poderia ser feito.
permite a mulher herdar terras,
Estes líderes escolheram dois
mas a cultura Hausa reserva
marabous por vila e produziram
somente um pequeno (e marum documento que resumisse
ginal) pedaço de terra para ser
No projecto da CARE Nigér aqueles que talvez estariam do
todos os versos, sourates e
utilizado por elas. Na prática, a
outro lado do muro juntaram-se ao trabalho para examinar e
hadiths que falassem dos
união entre leis culturais e leis
desafiar os preconceitos existentes na identidade cultural,
direitos das mulheres, como
Islâmicas faz com que as
nas práticas religiosas e nas relações de poder.
casamento, divórcio, herança de
mulheres tenham o seu bem
terras e outros capitais
confiscado pelo homem ou
produtivos, enclausuramento e
então elas são privadas das suas
acesso das mulheres ao
terras pelos maridos ou parentes
treinamento, informação e
masculinos.
educação. Este documento foi
Acesso
à
educação,
utilizado para treinar os matreinamento, informação e
rabous locais nos mercados e
assistência técnica. Homens e
mosqueias, e para conseguir um
mulheres não têm o mesmo
apoio e incentivar a sua
apoio para desenvolver as suas
integração nos sermões diários.
capacidades. Acesso à educação
Embora seja muito cedo para
tem sido considerado um
dizer qual será o impacto desta
privilégio dos homens, mesmo
abordagem, algumas mudanças
que o Koran apóie a educação
já foram notadas, especialmente
©CARE 2001/Josh Estey
de mulheres.
entre os homens. Em alguns
Divisão de riscos e benefícios dentro
vilarejos os marabous servem de
de casa. Enquanto que os benefícios são considerados uma exemplo para ajudar a diminuir a quantidade de trabalho das
prerrogativa masculina nas comunidades Hausa, a primeira mulheres e também lutam por uma divisão igual da herança em
estratégia em tempos difíceis é a de cortar os bens e consumo das caso de morte. Uma mulher comentou que agora os homens pedem
mulheres.
a outros homens que defendam os direitos das mulheres.
Mobilidade e redes na comunidade. Enclausurar as mulheres
Hidatou Sayo, ex Diretora de Projeto de Gênero e HLS, utiliza estas
limita drásticamente a sua base produtiva e social. Em casos graves
lições aqui documentadas no programa da CARE Niger de micro
as mulheres ficam restrictas às suas casas e devem desistir de
finanças para mulheres. Para ler todo o artigo e outras referencias
qualquer bem ou actividade fora da sua casa. Em casos moderados,
da CARE Niger, verifique o portal da CARE my.care.org.
as mulheres podem sair de suas casas para trabalhar nos campos,
Sayo, H. (Janeiro 2002) “Gender Equity: involving Islamic leaders:
mas elas não têm acesso ao mercado ou outras áreas públicas.
A case study from the Gender Equity and Household Livelihood
Security Project” CARE Niger.
CARE Niger: Parceiras
com os homens para
conseguir uma equidade
entre os gêneros
4
Bloco de Trabalho-Equidade entre Gêneros
Contando com algumas excepções, os homens
raramente são mencionados explicitamente
nos documentos que tratam de gênero. Quando
eles aparecem são vistos principalmente como
um obstáculo para o desenvolvimento das
mulheres: eles devem deixar a sua posição de
domínio para que as mulheres possam apoderarse. A superioridade das mulheres como
trabalhadoras, pessoas confiáveis, responsáveis
socialmente, preocupadas e cooperadoras é assegurada, enquanto
que os homens por outro lado são vistos como preguiçosos,
violentos, promíscuos e bêbados irresponsáveis. Por que então
concentrarmo-nos neles? Criticas dizem que é necessário se dê
uma atenção especial aos homens pelas seguintes razões:
Gênero inclui relações. Ele trata das relações entre homens e
mulheres, que são assuntos de negociação nas esferas públicas e
privadas. Pensar somente nas mulheres é inadequado: um melhor
entendimento sobre as percepções das posições dos homens e as
possibilidades de as mudar é essencial. Explorar a “masculinidade”
inclui concentrar-se mais na “forma de ser do homem” ditado pela
sociedade, do que nos atributos físicos e sexuais. Uma visão
biológica é rejeitada em favor de uma análise do contexto social
no qual o papel de cada gênero é formado.
Igualdade e justiça. As questões de gênero não devem ser vistas
como instrumentos para assegurar um desenvolvimento mais
efectivo. Em vez disto, deve reconhecer-se que os homens também
sofrem desvantagens por causa das estruturas sociais e econômicas
e que ambos têm o direito de viver livre de pobreza e repressão. O
processo de empoderamento deve liberar tantos os homens quanto
às mulheres de estereótipos.
Vulnerabilidade do gênero. Evidências demonstram que as
mulheres em geral sofrem uma desvantagem maior socialmente e
economicamente, mas que os homens não são sempre os
vencedores. Se generalizarmos a sua situação, podemos
correr o perigo de ver os riscos específicos do gênero,
como desigualdade e vulnerabilidade, como por exemplo
problemas de saúde relacionados com o trabalho
“masculino”, ou outras práticas sociais.
Equidade entre gêneros:
Homens e Mulheres!
Muitas pessoas sentem-se ignoradas ou mal entendidas durante
o trabalho de gênero, às vezes com razão. Criar estereótipos e
simplificar demais as identidades de gênero, os papéis de cada
um e os comportamentos, não ajuda a alcançar o nosso objectivo
de entender as complexas relações e afirmar a dignidade humana
de cada um. Tanto homens quanto mulheres necessitam ver-se
claramente reflectidos na análise de gênero se eles quiserem
combater as suas implicações. Entender porque ocorre a alienação
e ser mais claro sobre como as normas de gênero afectam as
mulheres, homens, meninos e meninas, ajudar-nos-á a trabalhar
juntos para atingir o objectivo de igualdade de direitos.
acabar com o tradicional papel dos homens como sustentador e
limitando a escolha de papel significativo e importante para os
homens nas famílias e comunidades. Os homens acabam por
procurar afirmação da sua masculinidade de outras maneiras:
por comportamentos sexuais irresponsáveis ou violência
doméstica, por exemplo.
Este artigo faz parte de um debate que tem crescido, e que quer
acabar com a discriminação contra homens e mulheres, além de
oferecer uma rica e surpreendentes visão dos desafios enfrentados
pelos métodos tradicionais de abordagem sobre o gênero. Verifique
estes e outros pontos de vista em: Cleaver, F. (2002) Do men matter? New horizons in gender and development. Id21 insights (35)
de http://id21.org/insights35/insights-iss35-art00.html.
©CARE 2002/A. John Watson
©CARE 2002/A. John Watson
Crise de masculinidade. Foi sugerido que as
mudanças na economia, estrutura social e
composição familiar têm levado a “crises de masculinidade” em muitas
partes do mundo. O efeito desta
“desmasculinização” decorrente da
pobreza e das mudanças
econômicas e sociais poderá
Gênero e as Parceiras
5
À medida que adoptarmos parceiras
igualitárias e construírmos redes de longa
duração precisamos considerar as seguintes
mudanças:
Atitude. Como mudar o nosso comportamento
na organização para que as parceiras sejam mais
produtivas? Os comportamentos e atitudes que
trazem resultado serão os que se dará
continuação? Quais são os incentivos na estrutura
que podem produzir as mudanças desejadas?
PARCEIRAS que dão EMPODERAM
Como as parceiras de direitos e sensíveis a questão do gênero podem
mudar quem somos e como trabalhamos.
Sistemas. Quanta liberdade nós temos para sermos flexíveis quanto
às necessidades dos parceiros dentro dos limites estabelecidos pela
responsabilidade que temos com os doadores? Qual é o nosso papel
de influenciar o doador a mudar estes limites?
Aprendizagem. Como podemos integrar os objectivos de
aprendizagem e as oportunidades na nossa rotina de trabalho e na
nossa estrutura de incentivo? Como podemos proceder para
disseminar as acções aqui descritas? Quais são as implicações desta
mudança para a cultura da nossa organização?
O manual da CARE Partnership Lessons Learned oferece lições
importantes sobre a importância de parceiras igualitárias e sobre
os princípios destes. Verifique my.care.org: Stuckey, J. et al.
(Novembro 2000). “Promising Practices: A case study review of
partnership lessons and issues”. e o paper de Larson, b. (2001)
sobre os aspectos de Recursos Humanos/Administracão/Finanças
das parceiras.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Competência dos
p a r c e i r o s
Quais são as habilidades que você crê que uma pessoa deve
possuir para que a parceria funcione bem? (Itens em negrito
foram notados tanto pela CARE como pelos parceiros)
• Habilidade para aprender
com os outros.
• Pensamento analítico/
crítico
• Treinamento
• Comunicação
• Conceitos de parceria
• Resolução de conflitos
• Diferença entre culturas
• Desenvolver os programas
• Diversidade
• Empatia
• Facilitação
• Humildade
6
• Saber ouvir
• Ser mediador
• Ser tutor
• Negociação
• Solucionar problemas
• Administração
• Habilidades técnicas*
• Trabalho em equipe
• Consciência própria
• Tolerância
*Generalizado desde
Finanças/Adm.
Bloco de Trabalho-Equidade entre Gêneros
Princípios das
p a r c e i r a s
Se a CARE viesse a ser reconhecida com uma organização de
parceiras, ela usaria, com sucesso, os princípios de parceria
em todas as suas relações – interpessoais, interdepartamentais, e inter-institucional:
• Construir uma rede de
apoio
• Reconhecer a
independência
• Conseguir a confiança
dos participantes
• Encontrar visões,
objectivos, valores e
interesses parecidos
• Honrar a variedade de
recursos
• Gerar uma cultura de
apoio mútuo e respeito
pelas diferenças
• Encontrar oportunidade
para a criatividade
• Tratar dos problemas de
relação quando eles
ocorrerem
• Ver as parceiras como um
processo contínuo de
aprendizagem
©CARE 2001/A. John Watson
Habilidade. Como adquirimos as habilidades necessárias? Como
podemos manter o pessoal com experiência e assegurarmo-nos de
que as suas experiências sejam partilhadas? À medida que entramos
em parceiras com diferentes pessoas e organizações de todos os
níveis, como devemos adaptar às nossas políticas de empregados?
Lista de conferência para parceiros sensíveis
a questão do gênero
Conceitos
Fundamentais
Questões a serem enfocadas
• Sensíbilidade quanto à questão do género será um critério de escolha para escolher parceiro?
• Precisamos ter parceiros especializados na questão do género, como acadêmicos, pessoas com
experiência para trabalhar com homens e mulheres, pessoas de outros movimentos?
• Como é que a identidade dos nossos parceiro – organização, objectivo, valores e cultura, história –
complementam a nossa experiência e o nosso conhecimento com o género?
• Com que tipo de redes podemos trabalhar para conseguir um apoio: nas estruturas informais, redes
formais, pontos focais sobre género, redes externas de reivindicação, redes eletrônicas, redes de
doadores?
• Ajudamos a construir a coalizão de sociedades civis de mulheres, ou promovemos a voz das mulheres e
líderes em organizações de “mainstream”?
2. Aumentar a
nossa capacidade
mútua para o
trabalho com
género
• Quais são os mecanismos instalados que nos ajudam a avaliar a habilidade de trabalhar com género e a
sensibilidade dos nossos parceiros?
• Como poderemos trabalhar melhor com os nossos parceiros para aumentar a habilidade deles para um
trabalho de género? Como aprender com eles?
• Estaremos nós dispostos e poderemos providenciar os recursos necessários para que os nossos parceiros
possam aumentar a sua habilidade de trabalho com género? Por exemplo: treinamento, tempo,
autorização para inovar, idéias e informação, etc.
• Existem medidas para assegurar a participação das mulheres e equidade entre géneros quando se avalia a
parceria?
3. Desenvolver
relações sensíveis
à questão do
género
• Utilizamos processos sensíveis ao género para administrar as parcerias e comunicação com os nossos
parceiros?
• Nossos parceiros são capazes de nos desafiar, além de nos apoiar?
• O pessoal tem a habilidade e o conhecimento para procurar assuntos em comum com parceiros em
questões de género?
• Estamos preparados para ouvir críticas e responder a comentários dos nossos parceiros?
©Alan Gignoux 2001/CARE Photo
1. Escolher
parceiros que
promovam o nosso
entendimento
sobre as questões
relacionadas ao
género
Gênero e as Parceiras
7
Referencias
Association of Women in Development (AWID).
http://www.awid.org
AWID é uma rede internacional que ajuda a
conectar, informar e mobilizar aqueles que se
comprometeram a conseguir a equidade entre
gêneros, desenvolvimento sustentável e Direitos
Humanos para todos. Seu site inclui uma lista de
membros, recursos de vários setores relacionados
às áreas de programa AWID, publicações, links e
mais.
DFID/SDD. Men and masculinities. In People: men
and masculinities.
Uma visão geral sobre os homens e gênero, temas
chaves, implicações de políticas e novas direções.
Disponível no site: http://www.genie.ids.ac.uk/
gem/index_people/men_coretext.htm
Food and Agriculture Organization. (1999). SEAGA
Intermediate Level Handbook.
Ferramentas para identificar os parceiros (ex 2.5
análise dos interessados) assim como a capacidade
dos parceiros (ex. 4.3 capacidade de organização
interna e recursos).
Disponível no site: http://www.fao.org/sd/seaga
Fowler, A. (1995). Participatory Self Assessment of
NGO Capacity. INTRAC Occasional Papers Series Number 10. INTRAC.
Diretrizes, ferramentas e métodos usados para
avaliar a capacidade de uma organização trabalhar
com o desenvolvimento. Esta abordagem poderia
ser feita em conjunto com uma ou mais
organizações durante o processo de construção de
parceiras.
Disponível no site: [email protected]
Greene-Roesel, J. & Hinton, R. (1998). Gender participation and institutional organization in Bhutanese
refugee camps. In I. Guijt and M.K. Shah (Eds.), The
Myth of Community: Gender issues in participatory
development. Intermediate Technology Publications.
Um caso que revela como a estrutura de uma
organização pode promover ou inibir a participação
de mulheres desde o nível de base até dentro das
parceiras de ONGS.
Disponível no site: http://
www.itdgpublishing.org.uk
Institute of Development Studies. Insights, 35. December 2000. University of Sussex.
Oito artigos que descrevem as pesquisas e
conhecimentos que têm surgido sobre os homens,
masculinidade e desenvolvimento, focalizando
tópicos como o papel do homem para prevenir a
violência contra a mulher, saúde reprodutiva
dirigida por meio de uma melhor comunicação e
trabalhar com meninos. Também inclui links a
outras fontes de informação.
8
Bloco de Trabalho-Equidade entre Gêneros
Disponível no site: http://www.id21.org/insights/insights35/
Oxfam. Gender and Development: Men and Masculinity, (Vol. 5, No 2 June 1997). Oxfam, GB.
Dedica-se a revisar o papel dos homens no
desenvolvimento, artigos focalizados nas políticas
incorporativas de masculinidade no trabalho de
desenvolvimento, o papel dos homens nas famílias
e a natureza da identidade masculina.
Disponível no site: http://www.catchword.co.uk
Stuckey, J. et al (2002). “Promising Practices: A case
study review of partnership lessons and issues”. CARE.
Esta revisão dos cinco anos de parceiras com a
CARE demonstra a importância de se ver a equidade
em todas as relações, incluindo parceiras, que são
instrumentais para a nossa visão.
Disponível no site: http://my.care.org
Women’s Caucus, Third Preparatory Committee for the
World Summit on Sustainable Development. (March
2002). All Partnerships Are Not Created Equal:
Women’s caucus statement on partnerships. AWID
Resource Net “Announcements”, Issue 105.
Um depoimento feito por um grupo de trabalho do
grupo de mulheres do Terceiro Comitê Preparatório
para a Conferência Mundial sobre Desenvolvimento
Sustentável que demonstra os temas e as relações
de poder das quais necessitamos conscientizarmonos para que as organizações femininas possam
vir a ser parte integrante do processo de
desenvolvimento.
Disponível no site: http://www.awid.org/announcements
World Bank. Appreciation-Influence-Control. In Appendix I: Methods and tools. World Bank Participation Sourcebook.
Dialogo baseado no modelo de seminário para
identificar os objectivos em comum, os interessados
e abordagens dirigidas aos elementos de poder na
construção de parceiras.
Disponível no site: http://www.worldbank.org/
wbi/sourcebook/sbhome.htm
World Bank. Involving Stakeholders. In Chapter 3:
Practice Pointers in Participatory Planning and Decision making. World Bank Participation Sourcebook.
Sugestões para se construir uma relação de
confiança com os parceiros, procurando
comentários, envolvendo aqueles sem voz e a
oposição.
Disponível no site: http://www.worldbank.org/
wbi/sourcebook/sbhome.htm
Yasmin, T. (1997). “What is different about women’s
organizations?” In A.M. Goetz (Ed.) Getting Institutions Right for Women in Development. London: Zed
Books, pp. 199-211.
Um olhar sobre como algumas formas de parceria
com organizações de mulheres podem aumentar o
nosso entendimento do trabalho sensível sobre o
gênero e práticas administrativas.
Disponível no site: http://www.zedbooks.demon.co.uk
© 2003
Cooperative
for
Assistance
and Relief
Everywhere,
Inc. (CARE)

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