DIÂMETRO DOS FUNIS DE LARVAS DE FORMIGA-LEÃO

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DIÂMETRO DOS FUNIS DE LARVAS DE FORMIGA-LEÃO
DIÂMETRO DOS FUNIS DE LARVAS DE FORMIGA‐LEÃO Myrmeleon brasiliensis (INSECTA: NEUROPTERA): RELAÇÃO COM TAMANHO DO SEU CORPO E FUGA DE SUA PRESA Carlos Leandro Cordeiro, Caroline Chaves Arantes, Clarissa Machado Pinto Leite & Heloisa Dantas Brum INTRODUÇÃO desse grupo permanecem em buracos A teoria do forrageamento com a forma de funil, que são ótimo prevê que existe um balanço escavados por elas mesmas em solos entre obtenção e gasto de energia arenosos e secos (Penny & Arias, durante a procura e manuseio do 1982). Dessa maneira, as larvas ficam alimento (Townsend et al., 2003). Para menos expostas aos predadores, minimizar esses gastos, os organismos porém dependem da oferta de apresentam de alimento no entorno de seus funis. forrageio que otimizam o retorno Uma forma de aumentar o número de energético com um mínimo de presas capturadas é o aumento no esforço despendido (Begon et al., tamanho dos funis (Heinrich & 2006). Henrinch, 1984; Day & Zalucki, 2000). comportamentos Alguns predadores de emboscada, por exemplo, investem Todavia, energia na construção de armadilhas permitem a captura de presas grandes para mas que provavelmente não poderiam ser conseguem poupá‐la evitando o alto subjugadas por larvas pequenas. custo energético envolvido na sua Sendo assim, é possível que haja um procura (Townsend et al., 2003). ajuste do tamanho dos funis ao longo captura de presas, Um exemplo de estratégia de forrageamento por emboscada baseada na construção de armadilhas é aquela realizada por algumas espécies pertencentes maiores também do desenvolvimento ontogenético das larvas (McClure, 1983; Dias Santos et al., 2006). Ao construírem funis maiores, família as larvas provavelmente também (Insecta: aumentam a eficiência de captura de Neuroptera). As larvas das espécies presas. Larvas de Myrmeleon na Costa Myrmeleontidae à funis 1
Rica, por exemplo, alcançam maior formigas do gênero Acromyrmex sucesso na captura de presas quando (Myrmicinae) com cerca de 2 mm de aumentam comprimento o diâmetro e a profundidade dos seus funis, pois total, coletadas próximo ao acampamento. armadilhas maiores e mais profundas Medimos o diâmetro de cada diminuem a probabilidade de fuga das funil encontrado com um paquímetro presas (McClure, 1983). Sendo assim, com precisão de 0,05 mm. Colocamos nosso objetivo foi responder às a formiga no centro do funil e a seguintes perguntas: (1) o tamanho observamos durante 1 min para das larvas da formiga‐leão Myrmeleon registrar se ela conseguia fugir ou brasiliensis ao não. Em seguida, coletamos as larvas tamanho do funil construído por ela? de formiga‐leão com uma pá e uma (2) existe uma relação entre o peneira (malha de 1 mm). Coletamos tamanho do funil construído pelas 26 larvas dos 27 funis amostrados e larvas medimos de está M. relacionado brasiliensis e a o comprimento dos probabilidade de fuga de suas presas? indivíduos da base da mandíbula até o As hipóteses são que: (1) quanto final maior o tamanho da larva, maior o paquímetro (precisão de 0,01 mm). tamanho do funil e (2) quanto maior o tamanho do funil, menor a do abdômen, com um Para testar a hipótese de que quanto maior o tamanho da larva de probabilidade de fuga da presa. formiga‐leão, maior o tamanho do funil, realizamos uma regressão linear MATERIAL & MÉTODOS simples, considerando como variável Realizamos o trabalho no preditora o comprimento da larva e acampamento da fazenda Dimona, a variável resposta o diâmetro do funil. cerca de 80 km ao norte de Manaus Para testar a hipótese de que quanto (02º09’6’’S; 60º05’35’’O). Amostramos maior o tamanho do funil, menor a 27 funis da formiga‐leão M. brasiliensis probabilidade de fuga da presa, em solos arenosos protegidos da realizamos uma regressão logística, chuva sob os telhados das áreas considerando como variável preditora construídas do acampamento. Como o diâmetro do funil e como variável presas, resposta a fuga da presa. utilizamos operárias de 2
dos funis (F1,24 = 78,02; R2 = 0,76; p < RESULTADOS 0,001; Figura 1). A probabilidade de O diâmetro dos funis variou fuga da presa foi relacionada com o entre 8,0 e 55,1 mm (média ± DP = 23,5 diâmetro do seu funil (t = ‐1,88; p = ± 13,4 mm) e o comprimento das 0,029; n = 27), de forma que quanto larvas de M. brasiliensis variou entre maior o diâmetro dos funis, menor a 3,37 e 8,98 mm (4,57 ± 1,80 mm). probabilidade de fuga das presas Houve uma relação positiva entre o (Figura 2). comprimento das larvas e o diâmetro Figura 1. Regressão linear entre o comprimento das larvas da formiga‐leão Myrmeleon brasiliensis e o diâmetro de seus funis (y = 5,77x ‐ 4,01). 3
Figura 2. Relação entre o diâmetro do funil construído por larvas da formiga‐leão Myrmeleon brasiliensis e a probabilidade de fuga de uma operária de formiga com cerca de 2 mm de comprimento. 0 = presas que não fugiram; 1 = presas que fugiram. diferença provavelmente se deve à DISCUSSÃO Neste estudo, observamos maior exposição dos funis de uma relação positiva entre diâmetro Myrmeleon sp. a intempéries, como o do funil e comprimento da larva da vento, que podem danificar a formiga‐leão Myrmeleon brasiliensis, arquitetura dos funis. assim como encontrado em estudos Com o crescimento, a larva prévios para outras espécies do aumenta sua demanda energética e gênero (e.g., Allen & Croft, 1985; necessita aumentar o consumo de Lopes de Faria et al., 1993; Day & presas ou capturar presas maiores Zalucki, 2000). Nossos resultados (Dias et al., 2006). Funis maiores mostram também que é alta a relação supririam essa necessidade, pois entre variáveis, propiciam uma maior eficiência na estudo captura de presas (Heinrich & desenvolvido em áreas de duna e Henrinch, 1984; Day & Zalucki, 2000). restinga na Mata Atlântica, onde a No entanto, no presente estudo essa relação entre o diâmetro do funil e o eficiência tamanho da larva de Myrmeleion sp. exclusiva do aumento no diâmetro do foi baixa (Rodrigues, 2008). Essa funil. Como observado em nossos essas contrariamente duas a um não é conseqüência 4
resultados, duas presas conseguiram arquitetura sair, mesmo em funis maiores, o que construídos. indica que outros fatores podem afetar a probabilidade de sua fuga. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Uma das possibilidades poderia ser Allen, G.R. & D.B. Croft. 1985. Soil atribuída à dificuldade na fuga pelas particle size and the pit presas devido a diferentes tamanhos morphology of the Australian de partículas do sedimento que ant‐lions Myrmeleon diminutus compõem o funil (Devetak et al., and M. pictifrons (Neuroptera: 2005). Contudo, Azambuja et al. Myrmeleontidae). (2008) não observaram essa influência Journal of Zoology, 33: 863‐874. para três classes de tamanho de grão Azambuja, B.O.; C.M. Pinto‐Leite; em um estudo experimental. O E.A.E.S. Silva & I. Santos‐
comportamento da larva de formiga‐
Mendonça. 2008. Influência da leão também deve influenciar a granulometria do sedimento probabilidade da fuga de sua presa, do funil na fuga da presa de agarrando‐a ou arremessando grãos larvas de areia para partes altas do funil, o Myrmeleon brasiliensis (Insecta: que provoca o deslizamento da presa Neuroptera). Em: Livro do para o centro do funil (Colombo et al., curso de campo “Ecologia da 2006). Floresta Amazônica” (J.L.C. Larvas de formiga‐leão são bons organismos modelo para estudar as vantagens e funis da por ele Australian formiga‐leão Camargo & G. Machado, eds.). PDBFF/INPA, Manaus. do Begon, M.; C. Townsend & J.L. Harper. forrageamento por emboscada. No 2006. Ecology: from Individuals futuro, to estudos limitações dos experimentais poderiam relacionar como a eficiência Ecosystems. Blackwell Publishing, Oxford. de captura de presas varia de acordo Colombo, A.; D. González; J. Alemida com o tamanho da larva em M. & S. Vosgueritchian. 2006. brasiliensis estado Influência do tamanho corporal nutricional dos indivíduos influencia a e do diâmetro do funil na e como o captura de presas por larvas de 5
formiga‐leão brasiliensis Myrmeleon Heinrich, B. & M.J.E. Heinrich. 1984. (Neuroptera: The pit trapping foraging Myrmeleontidae). Em: Livro do strategy curso de campo “Ecologia da Myrmeleon immaculatus Floresta Amazônica” (J.L.C. DeGreer (Neuroptera: Camargo & G. Machado, eds.). Myrmeleontidae). Behavioural PDBFF/INPA, Manaus. Ecology and Sociobiology, 14: Day, M.D. & M.P. Zalucki. 2000. Effect of the antlion 151–60. spatial Lopes de Faria, M; P.I.L. Prado; L.C. distribution, pit formation and Bede & G.W. Fernandes. 1994. pit diameter of Myrmeleon acer Estrutura e dinâmica de uma Walker (Neuroptera: população Myrmeleontidae): patterns and Myrmeleon processes. Austral Ecology, 25: (Neuroptera: 58‐64. Myrmeleontidae). of density on Devetak, D.; A. Spernjak & F. Janzekovic. 2005. Substrate particle size affects pit building de larvas de uniformis Revista Brasileira de Biologia, 54: 335‐
344. McClure, M.S. 1983. Myrmeleon decision and pit size in the (Hormiga León, Antlions), pp. antlion larvae Euroleon nostras 742‐743. (Neuroptera: Natural History (D.H. Janzen, Myrmeleontidae). Physiological ed.). The University of Chicago Entolomology, 30: 158‐68. Press, London. Em: Costa Rican Dias, S.C.; B.A. Santos; F.P. Werneck; Penny, N.D. & J.R. Arias. 1982. Insects P.K. Lira; V. Carrasco‐Carbadillo of an Amazon Forest. Columbia & G.W. Fernandes. 2006. University Press, New York. Efficiency of prey subjugation Rodrigues, P.A.P. 2008. O funil da by one species of Myrmeleon formiga‐leão Myrmeleon sp. larvae (Neuropetra: (Neuroptera: Myrmeleontidae) Myrmeleontidae) in the Central é sempre o mesmo, não Amazonia. Brazilian Journal of importa se na praia ou na Biology, 66: 441‐442. restinga. Em: Livro do curso de 6
campo “Ecologia da Mata Townsend, C.R.; M. Begon & J.L. Atlântica” (G. Machado, P.I.L. Harper. 2003. Essentials of Prado & A.A. Oliveira, eds.). Ecology. USP/Unicamp, São Paulo. Malden. Blackwell Science, ORIENTAÇÃO: Glauco Machado 7

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