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No 33 OUTUBRO/NOVEMBRO 2003 O CANAL DA EDUCAÇÃO Experiência UM PÉ NA ALDEIA OUTRO NO NA MUNDO Entrevista MARIA JOSÉ FÉRES Professora Casarine, diretora da Escola Estadual Parque Piratininga II. Itaquaquecetuba Itaquaquecetuba, Grande São Paulo VITÓRIA DA EDUCAÇÃO TV ESCOLA OUTUBRO/NOVEMBRO 2003 Í N D I C E 4 CARTAS 6 MINHA EXPERIÊNCIA CARO PROFESSOR 9 INTERNET NAS RUAS DE RECIFE 10 DESTAQUES 10 A escola sempre foi uma ameaça para as culturas indígenas brasileiras. Em sala de aula, índio era visto como primitivo e conhecedor de inutilidades; sua língua, silenciada no momento em que pisava no colégio. Nas periferias das grandes cidades, as escolas também discriminavam o que vinha da realidade local. Poucos perdiam tempo ouvindo o que os alunos e a comunidade tinham a dizer. Agora tudo está mudando. Em todo Brasil, escolas procuram integrar os costumes e conhecimentos locais aos disciplinares, criando didáticas não-excludentes, mas construtoras de um saber multicultural. Nossos repórteres foram a Carmésia (MG) visitar a Escola Estadual Indígena Pataxó Bocumux, onde conhecimentos brancos e indígenas integraram-se de tal forma que foi possível criar um calendário escolar etnoambiental. PROFESSORA Em Goiás, a repórter RosanFÁTIMA ZEIN CASARINE gela Guerra, visitou um NTE (Núcleo de Tecnologia do ProInfo) dentro de um centro escolar indígena. Ali, a decoração homenageia a deusa Aruanã da tradição Karajá e a internet traz assuntos de interesse da comunidade. Na preferia de São Paulo, a diretora Fátima Zein Casarini, mostrou que valorizar o jovem e seu contexto social pode trazer benefícios surpreendentes. Preocupar-se com as dificuldades dos alunos mais que com o ponto da lousa pode ser a diferença que motiva o aluno a ser parte da escola ou preferir se ver fora dela. Em todas as experiências, um novo olhar educacional desponta pelo Brasil. Com respeito às diferenças e somando o regional ao capital, o tecnológico ao tradicional, talvez encontremos aí o que há de mais original em nosso país: o multiculturalismo. Os Editores GEOGRAFIA CAMISETAS VIAJANDO 11 ARTE PROJETANDO PORTINARI 12 MEIO AMBIENTE HERANÇA DA GUERRA: POLUIÇÃO 13 ÉTICA GRUPO DOS CINCOS 14 SAÚDE UMA GERAÇÃO EM PERIGO 16 GEOGRAFIA A LINHA FINAL: PRIVATIZANDO O MUNDO 17 HISTÓRIA NO CAMINHO DA EXPEDIÇÃO LANGSDORFF 18 ACERVO: VER CIÊNCIA 19 COMO FAZER? 21 SALTO PARA O FUTURO 22 OUTRAS ATRAÇÕES 23 EXPERIÊNCIA EDUCAÇÃO INDÍGENA 34 CAPA ITAQUAQUECETUBA: A VITÓRIA DA EDUCAÇÃO 43 EXPEDIÇÃO VAGA-LUME 44 ENTREVISTA: MARIA JOSÉ FÉRES, SECRETÁRIA DE EDUCAÇÃO INFANTIL E FUNDAMENTAL 48 E TEM MAIS 50 LER E ESCREVER - É PRECISO APRENDER cartas C A R T A S PROGRAMAÇÃO ESPECIAL Sou professor responsável pela TV Escola e percebo que muitos colegas que gravam os vídeos dão pouca importância à Programação Especial (segunda a sexta) e à Escola Aberta (sábados, domingos e feriados) Provavelmente não se dão conta de que essas programações oferecem a oportunidade de rever vídeos que, por algum motivo, não pudemos gravar. Irineu Januário E.E Padre João Tomes Três Lagoas/MS A qualidade dos programas da TV Escola, principalmente a seriedade e o estilo das discussões da série Letramento e leitura da literatura, de Salto para o Futuro, nos inspiraram a criar em nossa biblioteca o Bate Papo Literário. Reunimo-nos semanalmente com um grupo de trinta alunos, para desenvolver estudos significativos com as mais variadas formas de leitura. Contos, trechos literários, poesias, biografias, músicas, e alguns assuntos polêmicos publicados em revistas e jornais, são a matéria de nossos encontros. Promovemos debates, discussões, dramatizações e recitais de poesia, a fim de despertar nos alunos o gosto e o hábito da leitura diária, como fonte de conhecimento. Leonildes Carlos W. Neto Biblioteca Monteiro Lobato Colégio Estadual João Dias Sobrinho Divinópolis do Tocantins/TO TEATRO DE FANTOCHES As edições da revista TV Escola têm tido grande influência em minha ação pedagógica. Um dos projetos que consegui realizar este ano foi o da cria- 4 TV ESCOLA ção e apresentação de pequenas peças de teatro de fantoches. A atividade promove a integração do pessoal da escola e dos alunos com seus familiares, que são convidados a participar das apresentações. As mensagens positivas e lúdicas ajudam as crianças a superar alguns de seus problemas, ao vivenciarem as posições das personagens diante de determinadas situações, enfrentando desafios e definindo conceitos de moral e ética pessoal. Dália Alcina Alves de Lima Escola Estadual Braulino Mamede Tupaciguara/MG AS MENSAGENS POSITIVAS E LÚDICAS AJUDAM AS CRIANÇAS A SUPERAR ALGUNS DE SEUS PROBLEMAS, AO VIVENCIAREM AS POSIÇÕES DAS PERSONAGENS DIANTE DE DETERMINADAS SITUAÇÕES, ENFRENTANDO DESAFIOS E DEFININDO CONCEITOS DE MORAL E ÉTICA PESSOAL. É POSSÍVEL FAZER ACONTECER VISITAS À TELESSALA Os vídeos da TV Escola são fundamentais na aprendizagem dos educandos e enriquecem o currículo dos docentes! Entusiasmados com esse material, resolvemos criar o projeto Trabalhando com a tecnologia. Acompanhamos toda a programação, gravamos, catalogamos e divulgamos para os professores. Nosso objetivo é repassá-la a todos, para que a utilizem em sua prática pedagógica como complementação do ensino regulamentar. Os programas são aproveitados realmente, no empenho de se criar novas formas de trabalho, tanto para cada disciplina, como de maneira interdisciplinar. Graças a esse projeto, os vídeos da TV Escola se incorporam ao planejamento de nossos professores e enriquecem o trabalho de professores da zona rural e de escolas de educação infantil, que visitam periodicamente a telessala. Clara Rodrigues do Carmo Escola Municipal Domingos Valente Barreto Mazagão/AP BIBLIOTECA PÚBLICA Sou diretor da biblioteca pública de um município do brejo paraibano, sempre conduzindo meu trabalho no sentido de bem servir à causa da educação e procurando melhorar nosso pequeno acervo para atender à comunidade estudiosa e ao público em geral. Elaborei o esboço de um projeto que chamei Cultura na praça, para envolver a clientela estudantil de 1° e 2° graus e pessoas interessadas na divulgação de atividades que explorem a potencialidade cultural da população em arte, literatura, poesia, música, teatro, esportes e cidadania. Espero que essa iniciativa venha oferecer subsídios e alternativas educacionais para a comunidade. Araken Brasileiro Dias Biblioteca Pública Municipal Dr. Antônio Dias de Freitas Jacaraú/PB Comentários, críticas, dúvidas, sugestões, relatos de experiências, propostas de intercâmbio com seus colegas...e muito mais! GRUPO DE VOLUNTÁRIOS A TV Escola tem sido o eixo de apoio e o incentivo de meu trabalho e dos companheiros. A revista TV Escola, o Guia de Programas e os Cadernos da TV Escola servem de roteiro para nossos encontros e debates, na alfabetização de jovens e adultos. Somos um pequeno grupo de professores voluntários, alguns com conhecimentos pedagógicos e outros não ligados à área da educação. Trabalhamos em um bairro extremamente pobre, em salas emprestadas por uma igreja. A comunidade e o grupo de professoma bastante amigável e com uma vares têm crescido e aprenria ter acesso à revisSOMOS UM riedade de recursos, mas é caro. Uma dido muito com os exemta TV Escola, mas não PEQUENO GRUPO DE alternativa mais econômica é o Sisplos trazidos pela revista sabia como fazê-lo, PROFESSORES tema Operacional Dosvox, desenvolviTV Escola. pois sou cega. Entrei VOLUNTÁRIOS, ALGUNS do pelo Núcleo de Computação EletrôClaudete Maria em contato com os COM CONHECIMENTOS nica da Universidade Federal do Rio Coutinho editores e me inforPEDAGÓGICOS E OUTROS de Janeiro. É um sistema acessível e Divinópolis/MG maram que poderia NÃO LIGADOS À ÁREA didático, porém, mais limitado. Por acessar a revista peDA EDUCAÇÃO. exemplo: para baixar os arquivos com MÃOS QUE la internet, em forTRABALHAMOS EM a extensão pdf, torna-se necessário FALAM mato pdf (no endeUM BAIRRO convertê-los em formato doc ou txt. Fiquei alegre e reço www.mec.gov. EXTREMAMENTE POBRE, Outro programa largamente utilizado emocionada ao ver a mabr/tvescola/ EM SALAS EMPRESTADAS é o Virtual Vision, concebido pela téria Mãos que falam, publicacoes.shtm). POR UMA Micropower. na seção Minha experiênAgora, estou empolIGREJA Elizabet Dias de Sá cia, da revista TV Escola nº gada com minhas [email protected] 31. Quando solicitamos a incursões pelos links Coordenadora do Centro de Apoio publicação do projeto da Escola Munida revista TV Escola. Utilizo para isso Pedagógico cipal Professora Senhorinha Mendes, dio Jaws, software com leitor de tela e Belo Horizonte/MG rigi-me ao Editorial da revista como síntese de voz. Trata-se de um prograprofissional da escola. Hoje falo como mãe e expresso os meus mais sinceros agradecimentos à direção da revista TV RECEBEMOS TAMBÉM, E AGRADECEMOS, Escola pelo interesse em publicar uma CARTAS E E-MAILS DE: matéria que leva a sociedade a refletir Alberto Baganha de Oliveira, [email protected]; Arinete sobre a inclusão. A publicação nos faz acreditar que nós, pais de pessoas porFerreira da Silva, Natividade/RJ; Diogo Braz Pagano, Teófilo Otoni/MG; Gleice tadoras de necessidades educativas esOlivieri, Rio de Janeiro/RJ; Helder Leonardo de Souza, Viana/ES; Josenilson peciais, não estamos sozinhos na luta Antônio da Silva, São Joaquim do Monte/PE; Jucelino Nóbrega da Luz, Inpela integração e inclusão. confidentes/MG; Maria Ozzores Marchiori, Coordenação Estadual da TV Jerci Polo Fortunato Escola/PR; Napoleão Oliveira, [email protected]; Raimundo Henrique de Mãe da instrutora da disciplina de Libras Meireles, Mata Roma/MA; Rosalina Andrade da Silva, Lagarto/SE; Sávia Palmas/PR Alves Ferreira Pinheiro, Felixlândia/MG; Simão Pedro dos Santos, [email protected]; Simônia Lopes, Conceição da Barra/ES e Vera CláuREVISTA PARA CEGOS dia Marques Veloso, Montes Claros/MG. Agradeço-lhes pela pronta res- posta e orientação. Há tempos eu que- TV ESCOLA 5 cartas C A R T A S MINHA EXPERIÊNCIA4 4 disciplinar. Em História, foram abordados conceitos como cidadania, participação política, democracia, civismo; em Matemática, conceitos de geometria; em Educação Artística, a harmonia entre a forma, as cores e as idéias do artista. Todos os alunos criaram suas versões da PARTICIPAÇÃO DE TODOS NA ESCOLHA DA BANDEIRA bandeira e os professores selecionaram três das proposNOSSA BANDEIRA tas. Foi feita uma votação com a particiNossa escola tem procurado depação dos alunos e da comunidade. Disempenhar um papel acadêmico e socivulgado o resultado, todos comemoraal de forma paralela, já que não é possíram com fogos de artifício e muita alevel desvincular os conteúdos das transgria a criação de nossa bandeira. formações por que passa a sociedade. Genilda Leite Chalegre de Freitas Era sonho nosso criar a bandeira da es(Diretora) cola. Mas, queríamos envolver os alunos Escola Newton Guimarães no projeto, levantando reflexões e comJaguapitã/PR partilhando conquistas. Algo que abordasse valores, que fizesse os alunos refletirem sobre sua realidade e lhes ensinasCINEMA NA ESCOLA se o caminho da participação coletiva na Com o intuito de estimular o uso transformação da realidade. Justificado da sala de vídeo da escola, que se eno projeto e definidos seus objetivos e contrava desativada por problemas de conteúdos, os professores desenvolveestrutura, professores orientadores da ram aulas com discussões, fitas de vídeo TV Escola, supervisores e demais profese outros recursos, em um trabalho intersores, elaboraram o projeto Cinema na Escola. Exibidos durante uma semana, com temas e gêneros variados, os filmes foram transformados em ferramentas de trabalho pelos educadores, que os exploraram de acordo com as necessidades de suas disciplinas. Foram incluídos no planejamento com critérios que pudessem atender aos aspectos criativo, afetivo, ético e cognitivo dos alunos, fugindo da banalização das aulas e precedidos de uma boa preparação, segundo o objetivo de cada professor. Ailton Fernandes (Diretor) Escola Municipal de 1o Grau Edinor Avelino Macau/RN Presidente da República Federativa do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva Ministro da Educação Cristovam Buarque Secretário-Executivo Rubem Fonseca Filho Secretário de Educação a Distância João Carlos Teatini MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO Secretaria de Educação a Distância Esplanada dos Ministérios, Bloco L sala 100 Brasília/DF 70047-900 Tel.: (61) 410-8592 Fax: (61) 410-9178 E-mail: [email protected] [email protected] Internet:<http://www.mec.gov.br/seed/tvescola> PROGRAMA TV ESCOLA Conselho Editorial João Carlos Teatini, Américo Bernardes, Maria José Féres, Laura Maria G. Duarte, Carmen Moreira de Castro Neves, Márcia Serôa da Motta Brandão, Renata Maria Braga Santos, Jean Claude Frajmund, José Roberto Neffa Sadek, Maria Suely Carvalho Berto, Joyce Del Frari Coutinho, Luiz Motta e Paulo Speller. 6 TV ESCOLA Chefe da Assessoria de Comunicação Social: Joyce Del Frari Editores: Gustavo Tapioca, Luiz Motta e Elzira R. Arantes Reportagem: Rosangela Guerra, Tânia Nogueira e Teresa Mello Fotografia: Nair Benedicto, Juca Martins e Ana Galluf Edição de arte, diagramação, editoração eletrônica e produção gráfica: Primeira Página Comunicação Revisão: Márcia Marques Produção: Camila Araújo e Agnaldo Pereira A revista TV ESCOLA é uma publicação bimestral da Secretaria de Educação a Distância do MEC Tiragem desta edição: 450 mil exemplares FORMANDO AUTORES Com o incentivo do teleposto da cidade, venho desenvolvendo há três anos o projeto Formando Autores. Nosso objetivo é despertar o interesse dos alunos pela literatura, incentivar a criação de textos, ampliar e aprimorar o vocabulário e estimular a escrita e a leitura. Estamos muito felizes porque, ano a ano, vamos conseguindo prosseguir com sucesso, atingindo os objetivos propostos no projeto. Montamos em sala de aula uma estante com os livros de que dispomos e que estamos sempre consultando, tirando idéias para atividades diversificadas. Além disso, cada aluno é convidado a elaborar, ilustrar e confeccionar seus própri- Secretaria de Educação a Distância Comentários, críticas, dúvidas, sugestões, relatos de experiências, propostas de intercâmbio com seus colegas...e muito mais! os livros de histórias ou poesias, o que já resultou em inúmeros livros infantis, com temas variados. Fomos convidados pelo teleposto de Maricá (onde freqüento as aulas de capacitação), a expor nossas obras literárias na Bienal do Livro do Rio de Janeiro/2003. Ficamos orgulhosos em representar o município de Maricá e a escola num evento tão importante, uma vez que somos uma pequena unidade de 1a a 4a série do ensino fundamental. Luiza Helena Nascimento Dias Escola Estadual Cônego Batalha Maricá/RJ PRIVILÉGIO DA NATUREZA ALUNOS E PROFESSORA EM PASSEIO PELA PRAIA Trabalhando em conjunto com a telessala da escola, a equipe pedagógica, os alunos e seus pais, organizaram um passeio ecológico, para observar na prática o meio ambiente. Depois de assistir a um programa de vídeo, fomos até um rio próximo, que está bastante poluído e lá tivemos a oportunidade de desenvolver uma aula sobre poluição, com o objetivo de conscientizar nossos alunos para a preservação de rios e florestas. A coleta do lixo e o processo de reciclagem também foram abordados. Visitamos nossa praia, que é maravilhosa e sem poluição. O mar fornece o pescado, o caranguejo, a ostra, o búzio e o melhor camarão do país. Nosso manguezal também ainda é bem preservado. Sou professora de português e literatura. Sempre trabalhei com o ensino médio, mas este ano assumi duas Escreva Ligue para o carta, fax ou e-mail TV Escola Caixa Postal 9659 Brasília/DF 70001-970 Fax (61) 410-9178 E-mail: [email protected] Fomos ao local chamado Porto da Pescaria, onde os pais de nossos alunos pescam para manter suas famílias. A água dessa área é muito salgada e dela é colhido e industrializado o melhor sal do mundo. Uma curiosidade é que o solo de nossa cidade também é muito salgado, porém toda semente nele plantada germina e dá bons frutos. Naura Siqueira de Medeiros Escola Estadual Donana Avelino Macau/RN CRIANDO E RECRIANDO classes de 7ª série do ensino fundamental. No primeiro bimestre consegui detectar os problemas que mais afetavam o desenvolvimento dos alunos na produção de texto. Preocupada, desenvolvi diversas atividades para melhorar seu desempenho. A que surtiu bom resultado foi um trabalho em grupo, baseado em ilustrações realizadas pelos próprios alunos, com colagens. Apresentei-lhes várias imagens, retiradas de calendários, e propus que recortassem figuras e construíssem uma nova ilustração. Sobre a obra resultante, cada grupo produziu seu texto. O mais interessante nessa experiência foi que os alunos conseguiram utilizar seus conhecimentos multidisciplinares na elaboração dos textos e não cometeram muitos erros em relação à norma culta da língua. Neila Maria Mariano Colégio Estadual Professora Ângela Sandri Teixeira Almirante Tamandaré/PR Fala Brasil 0800-616161 Ligação gratuita Visite a TV ESCOLA na internet <http://www.mec.gov.br/seed/tvescola> TV ESCOLA 7 cartas C A R T A S 44 MINHA EXPERIÊNCIA AULAS CONTEXTUALIZADAS A professora da 1ª série de nossa escola, idealizou e realizou um projeto que teve como ponto de partida o cotidiano das crianças, levando-as a obter um aprendizado facilitado e inovador. Trabalhar a leitura e a escrita, despertar o interesse pelo aprendizado, elevar a auto-estima, despertar a criatividade e permitir a ampliação dos conhecimentos gerais, foram os objetivos propostos pelo projeto. Entre as atividades desenvolvidas extra-classe, os alunos tiveram momentos na cozinha da escola, visitas a supermercados, ao correio, à Apae, ao terminal rodoviário, a casas comerciais... Em sala de aula, escreveram cartas, elaboraram cartazes com preços pesquisados, copiaram receitas, trabalhando a produção de textos e a oralidade, sempre em um contexto prático. A aula prática é muito bem recebida pelos alunos, pois aprendem de forma dinâmica e descontraída, integrando esse conhecimento ao percurso escolar, de forma definitiva e vivenciando o significado de cada conteúdo. Assim, nossa 1ª série foi levada a conhecer o mundo das letras de maneira natural, dinâmica e evoluída. Temos hoje alunos alfabetizados e felizes. Waldirene Pereira da Silva (Coordenadora pedagógica) Giovana Rodrigues Freitas Pina (Professora da 1ª série) Escola Estadual Deputado Federal José Alves de Assis Araguaína/TO ATENÇÃO AO IDOSO Quando tomamos conhecimento do tema da Campanha da Fraternidade 2003, tivemos a certeza de que este era o momento ideal para a realização de um trabalho de reflexão e conscientização dos alunos e da comunidade sobre a situação do idoso na sociedade atual. Para dar início ao projeto, os alunos entrevistaram pessoas idosas, orien- 8 TV ESCOLA VISITA A UMA CASA COMERCIAL tados pelos professores. Depois, houve exibição de vídeos seguida de debate; elaboração de cartazes, discussão e reflexão sobre as mensagens expostas; confecção de lembrancinhas, na aula de Artes; produção de textos e apresentação teatral. Convidados, alguns idosos participaram de várias atividades. Além disso, graças a parcerias conseguidas pela escola, receberam doses de vacina contra gripe, tiveram sua pressão verificada e assistiram à palestra feita por uma médica da comunidade. Ao final do evento, várias pessoas nos procuraram para elogiar nosso trabalho, o que nos deu muito orgulho, pois tivemos a sensação de estar contribuindo para uma sociedade mais justa. Maria Paula Viana Santos Escola Municipal Virgílio de Melo Franco Nova Iguaçu/RJ FEIRANTES Sou professora de Língua Portuguesa e realizei com os alunos da 8ª série do ano passado um projeto intitulado Registro biográfico de feirantes. Não faltaram conversas e discussões sobre a importância da feira livre para o comércio local, mas o foco principal foi um olhar minucioso sobre as pessoas que vendem na feira. A turma realizou uma pesqui- sa, partindo da aplicação de um pequeno questionário para entrevistar alguns feirantes, enquanto passeávamos pela feira. Resolvemos utilizar filmadora e máquina fotográfica para registrar com mais fidelidade esses momentos. Em sala de aula, vimos as imagens gravadas e, com os questionários respondidos, construímos uma pequena biografia dos feirantes entrevistados, ilustrando em um cartaz as primeiras impressões sobre a feira e seus personagens. Marcarmos o dia da apresentação dos trabalhos em sala de aula e foi com orgulho que cada aluno leu a biografia do feirante escolhido, discutindo com a turma a importância e o pioneirismo dessa pesquisa. Na época, eu estava participando do curso TV na Escola e os Desafios de Hoje e o que aprendi sobre o uso da tecnologia no trabalho pedagógico foi decisivo para a realização do projeto. Na Feira de Ciência e Cultura da escola, realizada no final do ano letivo, para a qual toda a comunidade foi convidada, mostramos o resultado de nosso trabalho. Levamos um dia inteiro arrumando a sala de aula com objetos vendidos na feira, trazidos pelos alunos. Organizamos as biografias em forma de livros, pregamos os desenhos nas paredes, montamos um mural com fotos, e deixamos a fita de vídeo pronta para ser exibida aos visitantes. Assim, pudemos valorizar o trabalhador da feira e desenvolvemos nos alunos a capacidade de produção textual biográfica, tão importante no processo de ensino-aprendizagem. Claudete Medeiros Escola Estadual Senador José Bernardo São João do Sabugi/RN EXCLUSÃO DIGITAL COM LABORATÓRIOS ITINERANTES, A INFORMÁTICA CHEGA À PERIFERIA DO RECIFE E CRIA NOVAS PERSPECTIVAS DE INCLUSÃO SOCIAL INTERNET NAS RUAS DE RECIFE S ão seis unidades móveis totalmente equipadas: em cada uma, treze computadores conectados em rede à in-ternet, além de impressoras, scanner, quadro branco, televisor, videocassete e equipamento de som. Nelas funcionam as pioneiras Escolas Itinerantes de Informática, criadas com recursos da prefeitura pela Secretaria Municipal de Educação do Recife, dentro do projeto recife.com.jovem. Os principais objetivos do projeto JOVENS TÊM ACESSO A CURSOS DE INFORMÁTICA BÁSICA E ACESSO Ä INTERNET PERTO DE CASA são combater a exclusão digital e dar de é um local tombado pelo patrimôaos jovens melhores oportunidades colas Itinerantes tenham sido pensanio histórico, onde são desenvolvidos de formação e mais recursos para se das especialmente para atender aos projetos de cultura popular. Nessa inserir no mercado de trabalho, ao jovens, também são procuradas por Utec estão instalados um Núcleo de proporcionar maior familiaridade com adultos, sempre bem-vindos. Tecnologia na Educação (NTE) do as novas tecnologias. Visando a inclusão de todos os ciProInfo e uma biblioteca virtual. A própria população do município dadãos, os veículos dispõem de eleA Unidade Cristiano Donato fica ajuda a definir as comunidades a sevador para permitir o acesso de porem um bairro central do Recife, o da rem atendidas. A Escola Itinerante se tadores de deficiência. E já está senBoa Vista, em uma rua comercial exinstala durante dois meses em uma do desenvolvido um projeto de capaclusiva para pedestres. Ali funcionam rua ou praça da comunidade escocitação de professores para garantir cursos de tecnologia semelhantes lhida e oferece cursos de informática o atendimento a deficientes auditivos. aos das unidades móveis e um núcleo básica e acesso à internet, possibiliA preocupação com o uso de node idiomas, com cursos de inglês, estando o contato com novas técnicas vas tecnologias na educação se reflepanhol, francês, italiano, alemão, hede informação e comunicação. O conte em outras políticas públicas, como braico e grego. É freqüentada por um teúdo dos cursos de informática é as sete Unidades de Tecnologia na público eclético, no qual predomidirecionado para atividades profissiEducação e Cidadania (Utec) distribunam os desempregados (40%), enonais, levando em conta a realidade ídas pela cidade. Praticamente metacaminhados pela bolsa de empregos sociocultural dos alunos. de dos usuários é constituída de aluda prefeitura. Além destes, há aluDesde sua crianos encaminhados nos da rede municipal (30%), encação, em agosto de pelas escolas da reminhados pelas escolas; trabalhado2002, o projeto já gião, e o restante Para saber mais res da indústria e do comércio (20%), atendeu a 18 covem da população E-mail: encaminhados pela associação de munidades distriem geral. Desta<[email protected]> lojistas e sindicatos correspondentes; buídas por toda a cam-se as Utec SíInternet: <http:// e servidores da prefeitura (10%), encidade e capacitou tio Trindade e Criswww.recife.pe.gov.br/ caminhados pela Secretaria de Admais de 4.700 alutiano Donato. urbis2003/informatica.html> ministração. nos. Embora as EsO Sítio TrindaTV ESCOLA ESCOLA TV 99 programação DESTAQUES DA GEOGRAFIA OUTUBRO 7 CAMISETAS VIAJANDO A história das roupas de segunda mão e a dívida do Terceiro Mundo DIREÇÃO: Shantha Bloemin REALIZAÇÃO: CS Associates, Estados Unidos, 2001 DURAÇÃO: 5516 Série selecionada na grade de programação do ensino fundamental. Indicada para atividades com alunos de 8a série do ensino fundamental e também para o ensino médio. ÁREAS CONEXAS: Ética; História RESUMO Na Zâmbia, na África, roupas usadas provenientes de outros países movimentam um grande e incomum comércio. Examinando esse mercado, o documentário discute as conseqüências do endividamento externo e dos ajustes estruturais na economia do país a partir dos anos 90 e examina as crescentes desigualdades entre o Terceiro Mundo e os países desenvolvidos. ATIVIDADES Objetivos e habilidades n Adquirir conhecimentos sobre a África subsaariana. n Reconhecer o padrão assimétrico de desenvolvimento nas eco- nomias capitalistas e a natureza dos ajustes estruturais introduzidos a partir dos anos 80 e 90. n Estimular a sensibilidade crítica dos alunos e desenvolver a capacidade de pesquisa, interpretação e análise de dados e de textos. n Elaborar gráficos e material cartográfico. Trabalho com a classe Antes de exibir o vídeo, apresente aos alunos os indicadores socioeconômicos de alguns países, destacando as desigualdades existentes. Oriente a localização, em um atlas, dos principais bolsões de pobreza e das diferenças na concentração de riquezas. Depois que a classe houver assistido ao programa, retome a conversa anterior e encomende uma pesquisa a respeito da situação socioeconômica da Zâmbia. Discuta as condições de trabalho informal retratadas no documentário e os motivos de sua disseminação na Zâmbia. De que forma essa questão denuncia a distribuição desigual de riqueza? Organize os dados com a classe, estruturando um amplo painel que sirva para refletir sobre o endividamento externo e as 10 TV ESCOLA reformas econômicas a que se submeteram os países altamente dependentes de ajuda externa. Examine o conjunto de mudanças exigidas pelos organismos internacionais nos anos 90 e os impactos causados nas economias menos desenvolvidas. Retome o conteúdo do documentário para enfatizar as conseqüências da abertura acelerada do mercado, do processo de privatização e da redução ao acesso de bens e de serviços. Interdisciplinaridade n HISTÓRIA: Aprofundar o estudo do processo de descolonização da África e da Ásia, os movimentos nacionalistas no Terceiro Mundo e as guerras na África. n MATEMÁTICA: Elaboração de gráficos a partir de indicadores sociais e econômicos (IDH, desemprego, evolução da dívida externa). Veja na internet <http://www.clubemundo.com.br/revistapangea/> Site da revista Pangea, publicação de política, economia e cultura. <http://educaterra.terra.com.br/vizentini/artigos/ index.htm> Textos de Paulo Fagundes Vizentini, diretor do Instituto Latino-Americano de Estudos Avançados da UFRGS, sobre relações internacionais. <http://www.un.org/esa/africa/> Site em inglês do Programa das Nações Unidas para a África, com muitos links relacionados ao assunto. <http://www.undp.org/hdr2003/other_languages.html> Apresenta o Relatório de Desenvolvimento Humano 2003 da ONU. Leia também O balanço do neoliberalismo Perry Anderson, em Pós-neoliberalismo. As políticas sociais e o Estado democrático, de Emir Sader & Paulo Gentili (orgs.). São Paulo, Paz e Terra, 1995. A bolsa ou a vida a dívida externa do Terceiro Mundo: as finanças contra os povos Eric Touissant. São Paulo, Fundação Perseu Abramo, 2002. O papel do Estado e as políticas neoliberais Paul Singer, em Globalização, metropolização e políticas neoliberais, de Regina Maria A. Fonseca (org.). São Paulo, Educ, 1997. A armadilha da dívida Reinaldo Gonçalves & Valter Pomar. São Paulo, Fundação Perseu Abramo, 2002. Veja também, da TV Escola Comércio, da série Ecce Homo n Exercitar a observação e a fruição, comparando obras diver- sas do mesmo autor. Elementos a destacar n MEMÓRIA. O empenho mostrado no vídeo para resgatar a obra e a memória de Portinari serve como ponto de partida para uma discussão sobre a importância do trabalho de documentação. Proponha aos alunos que desenvolvam um projeto semelhante em torno de outro artista podem escolher alguém de seu estado, ou mesmo da cidade onde está a escola. n PINTURA COMO MEIO. As obras mais importantes de Portinari O LAVRADOR DE CAFÉ, 1939, ÓLEO SOBRE TELA ARTE PROJETANDO PORTINARI OUTUBRO 23 DIREÇÃO: Marcello Dantas REALIZAÇÃO: Magnetoscópio/ Petrobras, Brasil, 1997 DURAÇÃO: 1747 Série selecionada na grade de programação do ensino fundamental. Indicada para atividades com alunos de 7ª e 8ª séries do ensino fundamental e também para o ensino médio. ÁREAS CONEXAS: História, Literatura RESUMO O programa mostra o trabalho desenvolvido pelo Projeto Portinari, que reúne documentos e informações sobre o artista e prepara homenagens para o centenário de seu nascimento, em dezembro de 2003. Aborda também aspectos gerais da obra de Cândido Portinari e procura contextualizar a produção deste que é um dos mais representativos pintores brasileiros do século 20, evitando a mera enumeração de fatos e de dados biográficos. ATIVIDADES Objetivos n Expor aos alunos a necessidade da catalogação da obra de um artista. n Propor uma aproximação entre as artes (pintura e literatura) e a política. possuem um cunho humanista e político. O estilo e o assunto de seus trabalhos são muitas vezes confrontados com o espírito do Estado Novo getulista (1935-1945). Em colaboração com o professor de História, organize um debate sobre as semelhanças e diferenças existentes nos modos como Vargas (governando) e Portinari (pintando) pensavam o país. Esta atividade pode oferecer desdobramentos interessantes com as turmas do ensino médio: * É possível dizer que o populismo de Vargas tem um paralelo com certas obras de Portinari? * E o elogio do trabalho e do trabalhador, sobretudo braçal, que vemos em pinturas de Portinari da década de 30? * O nacionalismo é uma questão presente na obra do pintor? n LITERATURA E PINTURA. Alguns temas inspiram tanto os pin- tores quanto os escritores. Em um trabalho conjunto com Língua Portuguesa, distribua trechos ou capítulos de obras de Graciliano Ramos (Vidas secas, São Bernardo), José Lins do Rego (Menino de engenho) e Carlos Drummond de Andrade (Boitempo), por exemplo, e mostre aos estudantes reproduções de pinturas. O poema Brincar na rua, de Drummond, lembra muito as pinturas de Portinari sobre crianças brincando. Depois, levante um debate sobre as diferenças entre as representações feitas por Portinari e pelos escritores. n UM ARTISTA, VÁRIOS ESTILOS. Uma das características de Portinari é transitar por vários estilos. A abertura do filme é composta por uma série de pinturas. Após a exibição do vídeo, reapresente esse trecho, fazendo pausas. Se possível, mostre reproduções de outras obras, para que os alunos possam cotejá-las, procurando discutir as razões do artista ao pintar cada quadro de um modo diverso. Por exemplo, compare os estilos de cinco obras: O lavrador de café, O pranto de Jeremias, Retrato de Felipe de Oliveira, São Francisco e Retirantes. Esses quadros estão no Museu de Arte de São Paulo (Masp) e há reproduções deles no site do museu, na internet e também no site do Projeto Portinari. Portinari ilustrador O pintor ilustrou edições, hoje raras, de Memórias póstumas de Brás Cubas (Machado de Assis), Dom Quixote (Miguel de Cervantes), além de outros livros. Em Portinari devora Hans Staden, organizado por Mary Lou Paris e publicado pela editora Terceiro Nome (1998), estão reunidas 26 ilustrações feitas pelo artista, em uma releitura das gravuras publicadas na obra de Hans Staden. TV ESCOLA 11 programação DESTAQUES DA ATIVIDADES Veja na internet <http://www.portinari.org.br> Site do projeto Portinari, com biografia, reprodução de obras, documentos e referências bibliográficas. <http://www.casadeportinari.com.br/> Site do Museu Casa de Portinari, na antiga residência do artista, na cidade paulista de Brodowski. Conserva os afrescos e murais ali pintados por ele, além de outras obras, desenhos, documentos e até poesias. <http://www.masp.art.br/ default.asp?PG=MOS&Loc=1&art=34> Obras de Portinari no site do Museu de Arte de São Paulo (Masp). Leia também Cândido Portinari Annateresa Fabris, São Paulo, Edusp, 1996. Alegorias do Brasil Tadeu Chiarelli. São Paulo, MAM, 2003. Veja também, da TV Escola Portinari, traços do Brasil, da série O mundo da arte MEIO AMBIENTE NOVEMBRO 3 HERANÇA DA GUERRA: POLUIÇÃO Objetivos n Ler e interpretar textos de interesse científico e tecnológico. n Interpretar e utilizar diferentes formas de representação (ta- belas, gráficos, expressões, ícones etc.). n Associar conhecimentos e métodos científicos com a tecnologia do sistema produtivo e dos serviços. n Entender a relação entre o desenvolvimento tecnológico e as ciências naturais. Trabalho com a classe Antes de exibir o vídeo, faça um levantamento do conhecimento prévio dos alunos acerca dos efeitos da radioatividade. Verifique se têm informações a respeito de Hiroshima, Chernobyl ou o acidente com césio em Goiânia. Selecione previamente alguns momentos do filme para fazer pausas estratégicas durante a exibição, a fim de ampliar as informações ou chamar a atenção para determinados pontos. Explique de onde provêm as radiações e a interação das partículas nucleares com a matéria, sobretudo com os seres vivos. Depois da apresentação, organize a classe em duplas e peçalhes uma pesquisa sobre as aplicações da energia radioativa. Os dados podem servir para construir painéis ilustrados, indicando os diversos campos em que a radiação é utilizada: telecomunicações, paleontologia, antropologia, fisiologia, medicina, agricultura, geração de energia, esterilização de objetos, indústria alimentícia, genética, ecologia, zoologia, botânica, geologia etc. Interdisciplinaridade O professor de Geografia pode aproveitar o vídeo para discutir o papel das grandes potências no conflito bósnio e em outros conflitos regionais. Veja na internet Direção: Thomas Wedmann Realização: La Sept Arte, França, 2001 DURAÇÃO: 2541 Programa selecionado na grade de programação do ensino fundamental. Indicada para atividades com alunos de 7a e 8a séries do ensino fundamental e também para o ensino médio. ÁREAS CONEXAS: Ética; Saúde RESUMO Alerta sobre as conseqüências da chamada guerra de Kosovo, em que a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) atacou a Federação Iugoslava. Os armamentos à base de urânio usados no conflito contaminaram as reservas de água e o solo da região, provocando câncer e outros problemas de saúde na população. Além disso, os bombardeios atingiram refinarias de petróleo e usinas de produtos químicos, provocando a liberação de gases tóxicos no ar e a contaminação do solo por metais pesados. 12 TV ESCOLA <http://www.scite.pro.br/emrede/fisicamoderna/radioatividade/principal.html> Site com textos sobre radioatividade, as características das partículas nucleares e seus efeitos biológicos. <http://www.energiatomica.hpg.ig.com.br/uran.htm> Site que explica a utilização do urânio com funções bélicas, incluindo o caso de Kosovo. Leia também A radioatividade e o lixo nuclear Maria Elisa Marcondes Helene. São Paulo, Scipione, 1996. A desintegração do Leste URSS, Iugoslávia, Europa Oriental Nelson Bacic Olic. São Paulo, Moderna, 1993. Veja também, da TV Escola A energia nuclear, da série Desafios tecnológicos Energia nuclear, Ética na ciência ÉTICA OUTUBRO 6 GRUPO DOS CINCO l l l l DIREÇÃO: Nick Hilligoss REALIZAÇÃO: ABC International, Austrália, 1997 DURAÇÃO: 5 episódios de 5 Série selecionada na grade de programação do ensino fundamental. Indicada para atividades com alunos da 5ª à 8ª série do ensino fundamental e também para o ensino médio. ÁREAS CONEXAS: Ciências; Meio Ambiente CLASSES INFERIORES l RESUMO Os desenhos de animação dessa série superpremiada em festivais do mundo inteiro tratam de maneira metafórica e crítica diversos temas relacionados à ação humana sobre a natureza e os demais seres vivos. Em cada episódio, os personagens questionam a razão dominadora, normativa e repressiva, bem como procuram achar meios de superá-la. ATIVIDADES Após a exibição de cada episódio, convide os alunos a formar uma roda de discussão, incentivando todos a manifestar suas impressões sobre a história narrada. Proponha questões que contribuam para a melhor compreensão dos conceitos envolvidos e oriente a sistematização dos argumentos propostos. Habilidades a serem desenvolvidas l l l para orientar o pensamento centrado em valores éticos. humana sobre a natureza e a própria humanidade. O MUNDO DA TARTARUGA l l l l l l O vídeo mostra a divisão Social como forma de organização produtiva na sociedade dos macacos, representando a ruptura do equilíbrio primordial. Oriente a discussão com algumas perguntas; para encerrar, proponha um julgamento da atitude dos macacos e da saída da tartaruga para sobreviver. O que os macacos e a tartaruga representam no mundo real? Por que a história termina com um macaco sobrevivente? Como a história poderia continuar? Quem poderia ficar no lugar do macaco que comunicou aos conselheiros a possibilidade da morte da tartaruga? Quem os alunos colocariam no lugar dos conselheiros que não quiseram ouvir, ver e falar? O que representa o totem que desmorona diante da atitude dos conselheiros? A CELA Os temas a serem abordados são a existência da liberdade Aqui são ressaltadas a amizade, a cooperação e a solidariedade como valores e a necessidade de estratégias coletivas de sobrevivência nas classes inferiores. Oriente a observação crítica da exigência ideológica de sacrifício do indivíduo para a conservação do grupo ou da ordem social. Por que mosca, rato e barata representam aqui a classe inferior? São inferiores em relação a quê? Qual a estratégia do grupo de bichos para sobreviver? E qual valor está em jogo? Por que a mosca morre no final do episódio? Poderia ser diferente? OS SAPOS CANTORES l l l l O episódio possibilita a reflexão sobre o reconhecimento de habilidades diferentes para a composição do grupo. Como acontece o encontro da rã que sobreviveu à máquina de compactar lixo com o grupo de sapos cantores? Qual a solução encontrada pela rã para se integrar ao grupo dos sapos? E por que é excluída? O que permite a recomposição do grupo? Quem já vivenciou um fato semelhante em suas relações? O DESCANSO DO GAMBÁ n Relacionar metáforas com a realidade e utilizar as metáforas n Elaborar coletivamente julgamentos éticos a respeito da ação em qualquer circunstância e o valor da atividade imaginativa e artística para a preservação da liberdade no ser humano, em oposição à racionalidade normativa e repressiva. Por que o personagem é preso? O que significa para ele o ato de pintar? Por que o outro prisioneiro se encontra como um esqueleto na cela vizinha? Por que, ao final do episódio, o personagem acaba outra vez atrás das grades? l l l l Aqui se retoma o tema da relação entre homem e natureza, sugerindo que cabe à nova geração a tarefa de superar essa oposição. Quem resolve a oposição entre a família invasora e o gambá? Por que não é um adulto? O que esse fato representa se pensarmos na oposição entre atividade industrial e natureza? O que nós podemos fazer para alterar essa oposição? Interdisciplinaridade O professor da área de Ciências pode fazer um estudo sobre a origem da vida no planeta, convidando os alunos a levantar hipóteses e discutir a pertinência de cada uma em relação às teorias evolucionistas e criacionistas. Também pode ser proposto um debate sobre a atividade industrial humana analisando, por exemplo, as conseqüências da fabricação de papel ou da exploração do petróleo. Veja na internet <http://www.abc.net.au/abcinternational/s33559.htm> Contém informações a respeito da série e dos prêmios internacionais conquistados por vários dos episódios. TV ESCOLA 13 programação DESTAQUES DA DESTAQUE ESPECIAL / DESTAQUE ESPECIAL / DESTAQUE E SAÚDE OUTUBRO 1 UMA GERAÇÃO EM PERIGO DIREÇÃO: Paer Lorenzon REALIZAÇÃO: TV4, Suécia, 2001 DURAÇÃO: 2059 Série selecionada na grade de programação do ensino fundamental. Indicada para atividades com alunos de 7a e 8a séries do ensino fundamental e também para o ensino médio. ÁREAS CONEXAS: Ética; Geografia RESUMO Botsuana é vítima de um dos mais elevados índices de contaminação pelo vírus da aids do mundo. A riqueza desse país africano, cuja economia está centrada nas jazidas minerais e na pecuária, contrasta com os problemas na área de saúde. Cerca de 25% dos habitantes de 15 a 49 anos estão ameaçados pela doença. O documentário analisa a questão do ponto de vista socioeconômico, político, religioso e científico. ATIVIDADES O documentário propicia um trabalho interdisciplinar envolvendo todas as séries, abordando a aids e as doenças sexualmente transmissíveis (DST) como tema transversal, explorando aspectos históricos, geográficos e culturais da África (e de Botsuana, em particular) e traçando um paralelo com a situação brasileira. Competências a serem desenvolvidas n Utilizar conhecimentos científicos para explicar questões sociais e de saúde. n Conhecer o próprio corpo e sua sexualidade para fortale- cer a auto-estima e valorizar a saúde. n Tomar atitudes individuais que afetam a saúde coletiva. Aquecimento Como ponto de partida, faça um levantamento dos conhecimentos prévios dos alunos sobre a aids. Graças às cam- 14 TV ESCOLA panhas de conscientização, é provável que eles já disponham de um bom volume de informações, mas vale a pena esclarecer eventuais equívocos e mal-entendidos. Assim, organize na lousa uma tabela com duas colunas verdadeiro e falso para registrar as opiniões, fornecendo explicações quando for o caso. As respostas certamente serão variadas, mas podem ocorrer, por exemplo, afirmações equivocadas de que a doença seja exclusiva de homossexuais masculinos, se transmita pelo uso de maconha ou possa ser evitada com a interrupção do coito. Por isso, procure induzir a classe a falar o máximo possível. Ao exibir o filme, proponha que os alunos anotem os conteúdos dos depoimentos que considerarem úteis para completar a tabela do quadro-negro. Ao terminar a apresentação, corrija ou complete a tabela com a classe, iniciando mais uma vez o debate. Em seguida, passe novamente a fita, sugerindo agora que os alunos procurem identificar os aspectos socioeconômicos e culturais. Esse trabalho pode ser feito em conjunto com o professor de Geografia, para inserir Botsuana no cenário da África atual, complementando as informações dadas no vídeo. Os alunos devem ser informados sobre o tipo de regime, a situação da economia, as condições de acesso da população à educação e à saúde, a distribuição de renda e outros dados socioeconômicos. Se for o caso, peça-lhes para fazer uma pesquisa em livros ou na internet. O papel da informação O filme destaca os contrastes entre uma classe socioeconômica mais rica e culta, e outra, pobre e analfabeta. Peça aos alunos para comparar as taxas de incidência entre os dois grupos. Ficará evidente que a ocorrência da aids é menor entre os universitários, sugerindo que o nível de instrução faz alguma diferença, embora não seja determinante. Num trabalho interdisciplinar com Geografia, procure fazer um paralelo com a população brasileira. Diga aos alunos para identificar as políticas preventivas do governo de Botsuana e compará-las com as iniciativas brasileiras, em suas várias instâncias municipal, estadual e federal. Comente o fato de que as principais campanhas ocorrem por ocasião do Carnaval. Explique que no Brasil o número de novos casos de aids vem decrescendo em quase todas as classes sociais e idades, exceto entre mulheres de 13 a 19 anos, faixa em que a taxa aumentou. É provável que boa parte das alunas se encaixe nessa faixa etária. Assim, peça aos alunos que procurem especular sobre os motivos desse aumento. Apresente mais uma vez o trecho do filme em que a estudante universitária entrevistada retrata um pouco do comportamento e da atitude de seus colegas. Qual a importância dessa informação para a discussão da aids? UE ESPECIAL / DESTAQUE ESPECIAL / DESTAQUE ESPECIAL Atividade JOGO DA EPIDEMIA l l l l l l l l l l Prepare cartões (ou folhas de papel), um para cada aluno, marcando em um deles um símbolo de que o portador está contaminado pelo HIV. Em outros três, desenhe um sinal que identificará uma pessoa que faz sexo seguro, ou seja, que usa camisinha. Assim, no total do grupo, um será portador de HIV, três farão sexo seguro e os demais, não. Escolha uma música bem animada para os jovens dançarem. Distribua os papéis aleatoriamente, um para cada aluno só você deve saber o significado dos quatro símbolos marcados , e explique as regras do jogo. Cada participante deve escolher uma pessoa para dançar e anotar o nome do parceiro em seu papel. Interrompa e recomece a dança cinco ou seis vezes, pedindo que troquem de parceiros e anotem os novos nomes no papel. Se algum aluno não quiser participar, poderá apenas assistir, com seu papel na mão certifique-se de que o cartão dele não é um dos marcados e, se for, troque-o por um em branco. Se houver número desigual de alunos e alunas, permita casais do mesmo sexo. E se houver algum casal de namorados na sala, sugira que comecem juntos e que também se juntem na última rodada. Essa atividade inevitavelmente gera um certo tumulto. Após a brincadeira, procure fazer com que a classe se tranqüilize e dê início à discussão, questionando: E se, em vez de dança, tivessem sido relações sexuais? Localize o aluno-portador e explique o que significa o símbolo do papel. Pergunte quem dançou com ele na primeira rodada e peça que ambos mantenham a mão levantada; continue identificando os sucessivos parceiros, que ficarão com a mão erguida até terminar o levantamento. Pergunte, então: A partir de um aluno, quantos foram contaminados? (Explique que, para efeito didático, todo aluno que passa pelo parceiro contaminado é considerado infectado, embora na prática isso não seja necessariamente verdade). Repita o procedimento em relação aos portadores do papel com o segundo símbolo, explicando seu significado. Estes fizeram sexo seguro e, portanto, não estarão contaminados. E os alunos que ficaram de fora? Eles não estão contaminados, mas seus papéis estarão em branco. Atitudes de risco O vídeo insinua que o consumo de álcool leva os jovens a se descuidar do sexo seguro. Discuta essa hipótese, levando os alunos a comentar também o uso de drogas, em particular as injetáveis, e a contaminação hospitalar pelo sangue doado. Explique que atualmente a idéia de grupos de risco está ultrapassada, que o que existe de fato são atitudes de risco. Os mais expostos à doença são pessoas com vida sexual ativa, com mais de um parceiro, que praticam sexo sem proteção independente da orientação sexual. Cite como exemplo dois casais hipotéticos. O primeiro, dois homossexuais masculinos digamos, um administrador de empresas e um dono de salão de beleza , mantêm uma relação fiel há mais de quinze anos. O segundo, um casal heterossexual, é formado por um empresário e uma médica. A mulher viaja muito, participando de congressos, e com freqüência mantém relações extraconjugais. Debata com os alunos quais dessas pessoas eles achariam mais propensas a desenvolver a doença e por quê. Interdisciplinaridade O jogo da epidemia oferece ao professor de Matemática um bom ponto de partida para trabalhar probabilidades. As áreas de Língua Portuguesa e Arte podem analisar as campanhas já realizadas, os slogans que aparecem no vídeo e até propor algum trabalho de esclarecimento na escola e na comunidade. As discussões permitem desdobramentos na área de Ética, para examinar o papel da mulher na sociedade atual e a importância da confiança nas relações afetivas. Veja na internet <http://www.aidsnews.org.il/> Site do Jerusalem Aids Project, que trabalha mundialmente (inclusive no Brasil) com o combate à aids nas escolas. <http://www.aids.gov.br> Site do Ministério da Saúde. Traz inúmeros dados, que podem ser usados para pesquisa e para a construção de tabelas e gráficos. Veja também, da TV Escola DST/Aids O sistema imunológico TEXTO ELABORADO POR MARCOS ENGELSTEIN, PROFESSOR DE CIÊNCIAS DO COLÉGIO SANTA CRUZ SÃO PAULO/SP TV ESCOLA 15 programação DESTAQUES DA GEOGRAFIA OUTUBRO 7 A LINHA FINAL: PRIVATIZANDO O MUNDO Direção: Carole Poliquin Realização: Filmoption, Canadá, 2002 DURAÇÃO: 53 Série selecionada na grade de programação do ensino fundamental. Indicada para atividades com alunos de 7ª e 8ª séries do ensino fundamental e também para o ensino médio. ÁREAS CONEXAS: Ética; História RESUMO O documentário aborda o choque entre os interesses coletivos da população e os de grandes conglomerados transna-cionais, potencializado pelos acordos internacionais de libera-lização comercial, especialmente a partir da década de 80. Objetivos e habilidades n Desenvolver e aprofundar conceitos relativos à mundialização da economia, enfatizando: a expansão dos conglomerados multinacionais; l o processo de liberalização comercial e o aumento da circulação de bens e de capital no mundo; l o papel das agências e dos organismos internacionais e os acordos bilaterais e multilateriais de comércio; l os ajustes estruturais nas economias. n Estimular a sensibilidade crítica e desenvolver a capacidade de pesquisa, interpretação e análise de dados e textos. n Exercitar a troca de informações e o debate em sala de aula. l ATIVIDADES Antes de exibir o vídeo, analise com a classe alguns textos sobre as mudanças estruturais na economia mundial no último século: reestruturação produtiva, desenvolvimento tecnológico, liberalização comercial e produção concentrada de riquezas. Proponha que façam então um levantamento dos principais organismos internacionais, dos acordos de liberalização comercial, dos blocos regionais e dos acordos econômicos intra e extra-regionais. Discuta o resultado das pesquisas e exiba a seguir o documentário, que permitirá aprofundar o debate sobre esses temas. Analise a relação da saúde pública com a questão do acesso à água e com a privatização do Estado quando se transfere um serviço público para o setor privado. Enfatize que, como a água é um recurso natural, também pode ser examinada sob 16 TV ESCOLA uma perspectiva análoga à do controle da produção de sementes por empresas transnacionais. Chame a atenção para os trechos do vídeo que abordam as leis de patente que controlam a biotecnologia aplicada aos setores agrícola e farmacêutico. Também pode ser proposta uma pesquisa sobre a Alca, sugerindo as questões: n Em que contexto surgiu a proposta de criação de uma zona de livre comércio no continente americano? l Como estão se processando as discussões? Em que termos esse acordo está sendo negociado? l Na discussão posterior à pesquisa, procure levar os alunos a descobrir a afinidade entre os temas tratados no documentário e os pontos envolvidos na implementação desse acordo comercial. Interdisciplinaridade HISTÓRIA: Estudar o desenvolvimento econômico do pós-guer- ra, a formação dos organismos internacionais, a evolução do capitalismo financeiro, a expansão das empresas transnacionais e a hegemonia dos Estados Unidos. ÉTICA: Engenharia genética e biotecnologia, temas presentes em diversos acordos internacionais, podem ser discutidos do ponto de vista dos aspectos éticos envolvidos. Veja na internet <http://www.mre.gov.br/> Relações bilaterais. Site do Ministério das Relações Exteriores. <http://www.mdic.gov.br/comext/default.htm> Informações sobre comércio exterior, no site do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. <http://www.ftaa-alca.org/alca_p.asp> Site oficial da Alca Área de Livre Comércio das Américas. <http://www.ilea.ufrgs.br/nerint/> Núcleo de Estudo em Relações Internacionais e Integração. Leia também O balanço do neoliberalismo, em Pós-neoliberalismo. As políticas sociais e o Estado democrático Perry Anderson. São Paulo, Paz e Terra, 1995. Por uma outra globalização do pensamento único à consciência universal Milton Santos. Rio de Janeiro, Record, 2000. O que é capital internacional Rabah Benakouche. São Paulo, Brasiliense, 1992. Alca: quem ganha e quem perde com o livre comércio nas Américas Kjeld Jakobsen & Renato Martins. São Paulo, Fundação Perseu Abramo, 2002. HISTÓRIA NOVEMBRO 18 NO CAMINHO DA EXPEDIÇÃO LANGSDORFF DIREÇÃO: Maurício Dias REALIZAÇÃO: Grifa Cinematográfica, Brasil, 2000 DURAÇÃO: 4821 Série selecionada na grade de programação do ensino fundamental. Indicada para atividades com alunos de 7a e 8a séries do ensino fundamental e também para o ensino médio. ÁREAS CONEXAS: Arte e Geografia RESUMO Documentário apresentado pela artista plástica Adriana Florence, tataraneta do artista francês Hercule Florence, que participou como desenhista da expedição promovida pelo cônsul alemão George von Langsdorff no século 19. Acompanhada de uma equipe de pesquisadores, Adriana refez o percurso da missão pelo interior do Brasil, percorrendo cerca de 17 mil quilômetros, de São Paulo até a Amazônia. Proposta interdisciplinar SELEÇÃO DO TEMA - Em um trabalho conjunto, os professo- res de História, Arte e Geografia podem organizar um estudo comparativo entre quatro expedições empreendidas em momentos distintos: Langsdorff (1821-1829); Roncador-Xingu (de 1945 até a década de 60); Jacques Cousteau (1982-1983); e a realizada pela equipe do documentário (1999). Ao retomar o percurso da expedição Langsdorff, os viajantes que fizeram o documentário também participaram de uma expedição que, tal como as outras, produziu novos conhecimentos, o que torna extremamente rica a comparação com as demais expedições. A proposta é verificar, de acordo com as especificidades de cada disciplina, as idéias de natureza e de índio produzidas pela fala do outro estrangeiro ou brasileiro durante os séculos 19 e 20. TRABALHO COM O VÍDEO - Os professores das três áreas fa- zem a apresentação do vídeo em conjunto, chamando a atenção dos alunos para aspectos específicos de cada disciplina. Ao final, propõem uma discussão global, levando-os a comentar os aspectos que consideraram mais interessantes. Um dos três professores deve organizar as informações na lousa, de modo a compor um quadro-resumo do documentário. A seguir, podem ser organizados quatro grupos, cada um encarregado de estudar uma das expedições, sob vários aspectos: n n n roteiro pretendido pelos viajantes; objetivos da montagem da expedição; contexto do país na época, favorável ou incentivador do empreendimento; n exemplos de representações dos grupos indígenas contatados e da natureza local, por escrito e em imagens. Proponha a formação de um painel informativo do material colhido pelos vários grupos, a fim de servir de referência para o estudo comparativo das expedições. Quando terminar a coleta do material, os professores devem promover a análise dos resultados, sob a perspectiva de cada uma das três áreas. Encerramento e avaliação Para finalizar, os professores podem orientar a organização de uma expedição de grupos de alunos, que decidirão os objetivos a alcançar e a função de cada participante. A primeira etapa é a escolha do local, que pode ser um bairro da cidade. Os registros que devem incluir roteiro, mapa, diário de anotações, descrições, ilustrações e fotografias servirão para compor uma amostra de documentação histórica. Veja na internet <http://www.uol.com.br/novaescola/ed/112_mai98/html/ multi.htm> Arte e ciência em cinco séculos de expedições, artigo publicado na revista Nova Escola, 112, maio 1998, que trata de várias expedições. <http://www.multirio.rj.gov.br/historia/modulo02/ viajantes.html> Página que trata da corte portuguesa no Rio de Janeiro, com comentários sobre as expedições da época. <http://www.uol.com.br/cienciahoje/chmais/pass/ch146/ emdia.pdf> De volta ao coração do Brasil, artigo sobre a expedição Langsdorff publicado em Ciência Hoje, jan.-fev. 1999. <http://www.zaz.com.br/almanaque/indios_3.htm> Artigos sobre a Expedição Roncador-Xingu. Leia também Os diários de Langsdorff D. G. Bernardino da Silva (org.). Fiocruz, São Paulo, 1998. Expedição Langsdorff Acervo e fontes históricas B. Komissarov. Unesp/Langsdorff, São Paulo,1994. A Marcha para Oeste: epopéia da Expedição Roncador-Xingu Orlando Villas Bôas e Cláudio Villas Bôas. Globo, São Paulo, 1994. Artigos sobre a expedição registrada no documentário Correio Braziliense, 14 nov. 99; Diário do Grande ABC, 9 out. 99; Diário de Cuiabá, 31 out. 99; O Estado de S.Paulo, 2 nov. 99; Época, 8 nov. 99; IstoÉ, 10 nov. 99; Terra, fev. 2000 TV ESCOLA 17 programação DESTAQUES DA ACERVO ESPECIAL / ACERVO ESPECIAL / ACERVO ESPECIAL / A U VER CIÊNCIA ma seleção especial da série Ver Ciência reúne filmes premiados no festival francês Image et Science, considerado o mais importante evento mundial de divulgação científica e tecnológica. São documen-tários sobre diversos temas produzidos em vários países, com os mais elevados padrões de qualidade, competência técnica e rigor científico, abordando temas atuais e instigantes. Os episódios compõem um amplo painel das conquistas científicas e tecnológicas dos últimos anos: máquinas mais eficientes, energia limpa, recursos naturais renováveis e proteção ambiental, a bioengenharia capaz de recompor órgãos danificados etc. Ao mesmo tempo, subprodutos do conhecimento aplicado, como a poluição e os microrganismos resistentes a vacinas e antibióticos, põem em xeque os benefícios desses avanços. Assuntos polêmicos, que prometem instigar valiosos debates em sala de aula. Atrito zero: quebrando as barreiras da resistência OUTUBRO 3 e DEZEMBRO 5 DURAÇÃO: 60 17 PRODUÇÃO: NHK / Japão, 2001 DIREÇÃO: Toshifumi Kataoka O empenho de um cientista japonês que, depois de vinte anos de pesquisa, desenvolveu um câmbio de automóveis que dispensa o tradicional sistema de engrenagens. DURAÇÃO: 60 TV ESCOLA 7 PRODUÇÃO: NHK / Japão, 2001 DIREÇÃO: Osamu Monden DURAÇÃO: 60 O Sasi é um sistema de proteção ambiental considerado antiquado e retrógrado por muitos, mas que há trezentos anos garante o uso sustentável dos recursos naturais no povoado de Haruku, na Indonésia. Uma polêmica que merece ser acompanhada e discutida. A criação OUTUBRO 31 DURAÇÃO: 50 Produção: BBC / Grã-Bretanha, 2002 Direção: John Lynch A primeira clonagem de um embrião humano, passo decisivo para o desenvolvimento das células-tronco, representa a esperança de muitos que dependem da reconstituição de tecidos e órgãos para uma vida normal. Tema polêmico, pois para uma parcela da sociedade essa tecnologia esbarra em questões éticas. NOVEMBRO 21 DURAÇÃO: 50 PRODUÇÃO: BBC / Grã-Bretanha, 2002 DIREÇÃO: John Lynch Episódio que apresenta a formulação de uma nova droga destinada a aumentar o ciclo de vida do ser humano, agindo sobre os efeitos do oxigênio, gás responsável também pelo envelhecimento. O segredo do sexo PRODUÇÃO: NHK / Japão, 2001 DIREÇÃO: Toshihiro Matsumoto/ Kazuhiro Kitano Os inúmeros asteróides que caíram sobre a Terra desde sua formação há bilhões de anos podem ter trazido as sementes que deram origem aos primeiros seres vivos. A panspermia e a origem extraterrestre da vida são as hipóteses abordadas neste documentário. 18 NOVEMBRO Vivendo para sempre O berço cósmico da vida OUTUBRO Sasi: uma esperança para a floresta e o mar OUTUBRO 10 DURAÇÃO: 50 Produção: BBC / Grã-Bretanha, 2002 Direção: John Lynch Microfotografias e gravações no interior do corpo humano desvendam os mecanismos da reprodução e o papel dos hormônios na definição da sexualidade. L / ACERVO ESPECIAL / ACERVO Pestes do futuro COMO FAZER? Índios no Brasil NOVEMBRO OUTUBRO 24 DURAÇÃO: 50 Produção: BBC / Grã-Bretanha, 2002 Direção: Becky Jones Evolução: grandes transformações 14 DURAÇÃO: 60 a Realização: TV Escola-CTI, Brasil, 1999 Direção: Vincent Carelli NOVEMBRO Com vacinas e antibióticos, o ser humano imaginava que a vitória contra vírus e bactérias estava próxima, mas adaptações nesses organismos vêm representando uma nova ameaça de epidemias para a humanidade. NOVEMBRO 17 PRODUÇÃO: WGBH / Estados Unidos, 2001 DIREÇÃO: Joel Clicker 19 1. QUEM SÃO ELES? (1738) 2. NOSSAS LÍNGUAS (1916) 3. UMA OUTRA HISTÓRIA (1531)/ NOSSOS DIREITOS (1708) Três programas da série Índios no Brasil apresentam um panorama das etnias existentes no país, mostrando as diferenças de língua, cultura e tradições e a evolução da luta pelos direitos dos povos indígenas. Chama a atenção para o preconceito e a discriminação de que são vítimas, a exclusão social e o processo de preservação e revalorização das tradições culturais. Cada um dos episódios é comentado por professores de três disciplinas. Complexas e extremamente diversas, as formas de vida no planeta têm, no entanto, uma história evolutiva que converge no passado remoto para uma única árvore genealógica. Mais do que os olhos podem ver Hidrogênio: a fonte de energia do futuro NOVEMBRO 28 DURAÇÃO: 50 NOVEMBRO PRODUÇÃO: Deutsche Welle/ Alemanha, 2001 DIREÇÃO: Stefan Gabelt Ciborgues, seres híbridos 28 DURAÇÃO: 30 DURAÇÃO: 2404 COLORIDO Comentado por professores de LÍNGUA INGLESA, ARTE E FILOSOFIA A energia do futuro, que já movimenta os primeiros veículos automotores, é limpa e renovável: o hidrogênio, que se converte em água e pode ser obtido dos oceanos. NOVEMBRO 10 REALIZAÇÃO: BBC / Open University, Grã-Bretanha, 1995 DIREÇÃO: Rissa de La Paz Produção: Deutsche Welle/ Alemanha, 2002 Direção: Arno Klothen Avanços da eletrônica já permitem substituir nervos por dispositivos implantados no organismo. Uma esperança de aperfeiçoar a vida, fundindo homem e máquina num novo ser. Documentário da série Quem Somos Nós, que focaliza o drama das pessoas que tiveram seus rostos desfigurados. Vítimas de acidentes ou de doenças, elas contam suas experiências na luta para reconstituir a identidade e a auto-estima. O tema possibilita trabalhos específicos em Língua Inglesa, Arte e Filosofia e uma atividade interdisciplinar envolvendo essas áreas. Os comentaristas sugerem que se comece o trabalho em sala de aula com uma seleção de termos em inglês usados no documentário que têm profundo significado em Filosofia, para analisar como as diferenças individuais e sociais são tratadas por todos nós. A proposta culmina com a criação de uma instalação, um espaço especialmente projetado para que os alunos passem por uma experiência sensorial baseada na discussão levantada pelo documentário. TV ESCOLA 19 programação DESTAQUES DA SALTO PARA O FUTURO / SALTO PARA O FUTURO / SALTO PARA S alto para o Futuro é mais do que um programa de televisão. É um espaço de formação continuada de professores e de estudantes de Magistério. Abordando temas relacionados às práticas pedagógicas, estes programas se destinam ao diálogo com professores de todo o país, que se reúnem em telessalas nos diferentes estados, têm acesso a material impresso e participam por meio de questionamentos durante o programa. Os programas são transmitidos ao vivo, diariamente, das 19 às 20 horas e reprisados em outros horários. OUTUBRO 6 a EDUCAÇÃO PARA UM BRASIL SUSTENTÁVEL: FORMAÇÃO DE AGENTES EDUCATIVOS EM AGENDAS 21 LOCAIS OUTUBRO Parceria com o Ministério do Meio Ambiente para discutir diversos aspectos relativos à Agenda 21 como a Agenda 21 global e nacional e a importância das Agendas 21 locais sob a óptica socioambiental , com foco nas experiências na área da educação. INÉDITO 10 OUTUBRO 15 ESPECIAL DO DIA DO PROFESSOR OUTUBRO OUTUBRO OUTUBRO OUTUBRO 13 e 14 DESAFIOS DA ESCOLA: UMA CONVERSA COM OS PROFESSORES Tem por eixo temas específicos da profissão de professor formação inicial e continuada, condições de trabalho nas escolas, remuneração, prática docente etc. -, apresentando alternativas para o enfrentamento de algumas dessas questões. REPRISE 16 e 17 20 SAEB TODA CRIANÇA APRENDENDO a Estimula um debate entre diferentes atores do processo educacional gestores, técnicos, diretores, professores , a fim de esclarecer o significado da avaliação de sistemas, da sistemática do Saeb, dos instrumentos aplicados, entre outros temas. Pretende, ainda, reforçar a necessidade da contribuição de todos para uma melhor qualidade da educação em cada escola. INÉDITO OUTUBRO 24 20 20 27 TRABALHO, CIÊNCIA E CULTURA: DESAFIOS PARA O ENSINO MÉDIO a OUTUBRO Focaliza, numa perspectiva crítica, a construção de práticas educativas voltadas para a valorização das concepções histórico-sociais do ser humano. Propõe-se a discutir com o professor os fundamentos teóricos e metodológicos de um novo projeto curricular interdisciplinar para o ensino médio, visando compreender a articulação entre os conceitos de trabalho, ciência e cultura, sobretudo a partir da prática docente. INÉDITO 31 NOVEMBRO 3 EDUCAÇÃO ALGÉBRICA E RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS a Homenagem aos professores, enfocando a escola como espaço privilegiado para a formação de leitores. A leitura como prática social é um tema que, por sua complexidade, tem sido objeto de investigação nas diferentes áreas do conhecimento. INÉDITO OUTUBRO OUTUBRO TV ESCOLA ESCOLA TV NOVEMBRO Objetiva fomentar um processo de discussão do ensino da Matemática, por meio de questões suscitadas pelo ensino da álgebra. Enfoca a relação entre a aritmética, a álgebra e a geometria, bem como as atividades específicas para o desenvolvimento do pensamento algébrico. REPRISE 7 NOVEMBRO 10 a PROFISSIONALIZAÇÃO: ALTERNATIVA PARA O DESENVOLVIMENTO E A CIDADANIA NOVEMBRO Experiências de instituições que atuam na educação profissional privadas e públicas, de nível federal e estadual. Entre outras questões, são discutidas a inserção profissional e social de jovens e adultos; a formação empreendedora; o desenvolvimento regional; a sustentabilidade social; e a educação continuada. INÉDITO 14 NOVEMBRO 17 a NOVEMBRO LETRAMENTO E LEITURA DA LITERATURA Discute com os professores o trabalho com a leitura e a escrita na perspectiva do letramento, fazendo um contraponto às práticas leitoras tradicionais, muitas vezes mecanizadas e distanciadas do universo social. Também propõe perspectivas metodológicas para a prática alfabetizadora e para o trabalho com a linguagem literária na escola. REPRISE 21 ARA O FUTURO / SALTO PARA O... OUTRAS ATRAÇÕES E stes são alguns dos programas que você não pode deixar de assistir e gravar. Consulte a grade da programação e verá que muitos outros também despertarão seu interesse. NOVEMBRO 24 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NA UNIVERSIDADE DO SÉCULO 21 a NOVEMBRO Aborda aspectos pedagógicos, legais e de gestão da educação a distância nos cursos de graduação. Para o Ministério da Educação e numerosas instituições brasileiras, a educação a distância na universidade do século 21 é uma estratégia educacional comprometida tanto com a democratização da oferta quanto com a qualidade do processo educacional. INÉDITO 28 DEZEMBRO o 1 ESPAÇOS DE PROTEÇÃO À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE a DEZEMBRO Os debates colocam em foco o novo paradigma de uma sociedade de direito que busca a construção de uma cultura de proteção e respeito aos direitos humanos de crianças e adolescentes. Essa postura implica tecer relações de trocas afetivas e de aprendizagens que estruturam uma rede de proteção, da qual a escola é um dos elos. INÉDITO 5 DEZEMBRO 8 CIÊNCIA E VIDA COTIDIANA: PARCERIA ESCOLA E MUSEU a Procura trazer a ciência para o cotidiano da escola e contribuir para a construção de uma cultura científica. Aborda o museu de ciências como espaço de formação continuada para o professor; o museu ligando escola e comunidade à pesquisa; o museu itinerante; o museu onde não há museu; e o museu e o professor. REPRISE 12 8 a DEZEMBRO CARTOGRAFIA NA ESCOLA Relatos de trabalho em sala de aula com mapas, atlas, imagens de satélite e outros recursos da cartografia. Discute a relação entre o desenho do espaço e a aquisição de conceitos cartográficos; a linguagem cartográfica; a cartografia indígena; o ensino com mapas; a produção de atlas municipais e gerais; e o uso de tecnologias modernas, como imagens de satélite e fotografias aéreas. REPRISE 19 4 EDUCAÇÃO ESPECIAL Autismo: um mundo à parte Documentário sobre o mundo solitário dos autistas e os conflitos e as dificuldades enfrentadas pelos pais de crianças portadoras do problema. Constitui um valioso instrumento para professores e outros profissionais da educação identificarem transtornos de conduta e de desenvolvimento cognitivo, afetivo e social associados à doença. OUTUBRO 20 ESCOLA / EDUCAÇÃO O uso da TV Escola Série de nove episódios que explicam o funcionamento da TV Escola e a melhor forma de utilizá-la como ferramenta em sala de aula, na capacitação de professores e na integração da comunidade. OUTUBRO 13 e DEZEMBRO DEZEMBRO NOVEMBRO HISTÓRIA 500 ANOS - O Brasil Império na TV A série de oito programas aborda a história do Brasil desde o início do processo de independência até as crises que puseram fim ao período imperial. A narração dos fatos, realizada por atores caracterizados com roupas de época, funciona como suporte para diálogos protagonizados por bonecos representando personagens e situações históricas. OUTUBRO 14 OUTUBRO 13 e HISTÓRIA 500 ANOS - O Brasil República na TV Com os mesmos recursos cênicos utilizados nos programas dedicados ao período imperial, essa série cobre o período da história brasileira que se estende desde a proclamação da República até a comemoração dos quinhentos anos do Descobrimento. OUTUBRO 14 TV ESCOLA ESCOLA TV 21 21 EXPERIÊNCIAS EDUCAÇÃO IN UM PÉ NA ALDEIA E OUTRO NO MUNDO 22 TV ESCOLA DÍGENA A EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA DÁ AMPLOS SINAIS DE VITALIDADE. O BRASIL, ENFIM, MOSTRA A SUA CARA E ASSUME A DIVERSIDADE, SUA GRANDE RIQUEZA CULTURAL REPORTAGEM: ROSANGELA GUERRA E FOTOS: JUCA MARTINS m São Gabriel da Cachoeira, cidade às margens do rio Negro, no Amazonas, é possível ouvir nada menos do que quinze línguas diferentes, além do português. Cerca de 92% da população (de 29.994 habitantes) são índios, pertencentes a 23 grupos étnicos, como Tukano, Yanomami, Tariano, Pira-Tapuya, Baniwa, Baré, Tuyuca e outros. Este ano, a câmara dos vereadores de São Gabriel da Cachoeira aprovou o projeto de lei que admite como línguas co-oficiais do município o tucano, o baniwa e o nheengatu, a chamada língua geral. A diversidade é a cara do Brasil. Aqui há cerca de 217 grupos étnicos, que falam 180 línguas, muitas tão diversas e incompreensíveis entre si quanto o português e o chinês. Cada povo tem sua história, sua forma de contato com outros índios e não-índios, sua organização social, econômica e política, suas concepções de vida, morte, tempo, espaço e natureza. Os 350 mil indígenas brasileiros, que representam apenas 0,2% da população, vivem espalhados por todo o território nacional. Cresce entre eles a demanda por uma educação específica, diferenciada e de qualidade. Em julho último, como em outros períodos de férias escolares, muitos professores indígenas se dedicaram a estudar. No Mato Grosso e em Roraima, freqüentaram as universidades em busca de cursos de licenciatura específicos para a formação de professores indígenas. E outras centenas se mobilizaram para fazer cursos de magistério indígena, em diversos estados como Tocantins, Bahia, Amazonas e Rondônia. Sem esquecer que ainda há muito trabalho TV ESCOLA 23 EXPERIÊNCIAS LIVROS INDÍGENAS: O DIFERENCIAL BRASILEIRO LIVROS DIDÁTICOS FEITOS PELOS PROFESSORES MACUXY FAZEM SUCESSO PELA QUALIDADE a ser feito, a educação indígena avança no Brasil. Cresce o volume de materiais didáticos e paradidáticos e multiplicam-se experiências educacionais desenvolvidas por universidades, secretarias de educação e organizações não-governamentais. Muitas dessas experiências, realizadas em escolas de várias regiões do Brasil, serviram como subsídio para a elaboração do Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas (RCNE/I), documento lançado em 1998 pela Secretaria de Educação Fundamental do Ministério da Educação. Foi um trabalho escrito a muitas mãos. Dos 300 professores convidados para elaborar o documento, 160 são índios, alguns dos quais discutiram em suas comunidades a primeira versão do material. Como coordenadora do trabalho de construção do RCNE/I, a professora Nietta Lindenberg Monte, com sua experiência de mais de 20 anos dedicados à formação de professores índios na Amazônia, teve a difícil missão de juntar textos e chegar a um consenso. Para isso, ela trabalhou a distância, comunicando-se pela internet com educadores de diversas regiões. O texto do RCNE/I resulta não só de um sonho, mas de uma ação guerreira de escritura, diz Nietta. Na esteira dos Referenciais veio o Programa Parâmetros em Ação Educação Escolar Indígena, lançado em 2002 pela Secretaria de Educação Fundamental (SEF/MEC). Ainda em 2002, a SEF lançou Referenciais para a Formação de Professores Indígenas, com o objetivo de sistematizar e divulgar experiências que se mostraram eficazes para propiciar uma formação intercultural de qualidade. Em parceria com a Comissão Nacional de Professores Indígenas, a SEF vem definindo as matrizes para o Exame de Certificação de Professores Indígenas, cuja realização está prevista para janeiro de 2004. O objetivo do exame é identificar as eventuais deficiências existentes na formação desses professores e atuar no sentido de superálas, por meio de programas de formação inicial e continuada. Conheça as publicações do MEC sobre educação indígena no site: <http://www.mec.gov.br/sef/indigena/materiais.shtm> 24 TV ESCOLA N ão é exagero dizer que o mundo está de olho nos belos livros indígenas publicados no Brasil. Tudo começou em 1983, com o trabalho pioneiro da organização não-governamental Comissão Pró-Índio, do Acre, que publicou cartilhas de alfabetização e livros sobre temas culturalmente relevantes, em dez línguas indígenas. O material foi elaborado coletivamente, durante cursos de formação de professores na Amazônia ocidental. Nos últimos sete anos foram editados, com o apoio do MEC, 52 livros de autoria de 83 povos indígenas, produzidos com a assessoria de universidades, organizações não-governamentais e associações indígenas. As publicações, que fazem sucesso pela qualidade do texto, das imagens e do projeto gráfico, trazem registros históricos da luta pela posse da terra, lendas e mitos e conhecimentos tradicionalmente trabalhados na escola. A autoria dos livros valorizou o papel dos professores indígenas no processo de construção do projeto educacional de suas comunidades. Além disso, deu visibilidade ao enorme acervo cultural dos índios tendo como meio este objeto especialmente valorizado no mundo dos brancos: o livro. DE VOLTA ÀS ORIGENS O s índios Karajá, que moram na aldeia Buridina, no município de Aruanã, em Goiás, passaram pela notável experiência de redescobrir sua própria língua e sua cultura. Já não falavam a língua-mãe, nem praticavam os rituais de seus antepassados. Mas tudo começou a mudar em 1993, com o Projeto de Educação e Cultura Indígena Maurehi, que nasceu da parceria entre a Associação da Aldeia dos Karajá de Aruanã, a Fundação Nacional do Índio, a Secretaria de Estado da Educação e a Universidade Federal de Goiás. Na ilha do Bananal, em Tocantins, há uma outra aldeia na qual estão preservadas as tradições dos Karajá. Antigamente, os Karajá de Buridina mantinham relações sociais estreitas com esse grupo de sua etnia. A equipe do projeto Maurehi restabeleceu esse contato e os Karajá de Buridina foram para a ilha do Bananal, onde participaram de uma cerimônia Hetohok, o principal ritual de iniciação masculina. Esse evento reacendeu neles o orgulho por sua cultura e sua língua; o próximo passo consistiu em criar, na aldeia Buridina, a Escola Indígena Maurehi. Nos períodos em que não estão na escola da cidade, os alunos aprendem em sua aldeia a língua e as tradições de seu povo. ÍNDIOS KARAJÁ E PATAXÓ VIVENCIAM A MESMA ALEGRIA DE APRENDER Além disso, atendendo a uma reivindicação da comunidade, a escola oferece um curso de alfabetização de adultos em português. Os professores trabalham diversas disciplinas, utilizando vídeos da TV Escola, como os da série Índios no Brasil e outros sobre Língua Portuguesa e Meio Ambiente, procurando melhorar o desempenho dos alunos na escola da cidade. O Núcleo de Tecnologia Educacional (NTE), do ProInfo, da cidade de Goiás implantou em 2001 um laboratório de informática na Escola Indígena Maurehi, com quatro computadores conectados na internet, impressora e scanner. A construção foi decorada pelos índios com pinturas da deusa Aruanã e outros motivos da tradição Karajá. Divina Irene Ferreira Magalhães, coordenadora do NTE, se entusiasma com o trabalho de- senvolvido. Ela conta que os índios reproduzem as pinturas corporais Karajá na tela do computador, usando o paint-brush com uma facilidade impressionante. Digitam textos sobre lendas e mitos na sua língua e fazem pesquisas na internet sobre assuntos de interesse da comunidade, como saúde da mulher, prevenção de aids, drogas, alcoolismo e a preservação do rio Araguaia, que faz parte da história do povo Karajá. Fascinado com o conhecimento a que se pode ter acesso por meio do computador, o cacique da aldeia Buridina, Raul Hawakati, 47 anos, disse: O computador é como o avô. Para os índios, o avô representa o grande mestre, responsável pela preservação e pela transmissão do conhecimento de seu povo às gerações mais jovens. TV ESCOLA 25 EXPERIÊNCIAS TEMPO DE APRENDER OS PROFESSORES PATAXÓ DESENVOLVEM SEUS PRÓPRIOS MATERIAIS DIDÁTICOS N os anos 70, algumas famílias de índios Pataxó deixaram suas terras ancestrais no sul da Bahia e chegaram ao município de Carmésia, em Minas Gerais, dispostos a lutar pela sobrevivência, numa região com sérios problemas ambientais causados pelo desmatamento. Hoje, o orgulho das 93 famílias que vivem no município é a Escola Estadual Indígena Pataxó Bocumux , de pré-escola a 5ª série. Nossa escola é uma casa que pertence a todos, costumam dizer os Pataxó. A escola é um espaço aberto para a realização de jogos e brincadeiras, manifestações artísticas e culturais e discussões sobre os interesses dos índios Pataxó das comunidades Retirinho, Imbiruçu e Córrego do Engenho. Em 2001, os professores deram início a um minucioso trabalho para elaborar um calendário etnoambiental. Os líderes da comunidade, as merendeiras da escola, os alunos e seus pais foram chamados para ajudar. O que eles queriam era ter 26 TV ESCOLA um pé na aldeia e outro no mundo: cultivar o conhecimento dos velhos, conhecer o mundo dos brancos e trocar experiências educacionais. Em seu projeto, os professores escreveram: Devemos fortalecer nossas memórias de como os antigos cuidaram da terra, como cuidamos hoje e como nossos filhos e netos irão cuidar, preservando assim os ciclos da vida na terra. Esses ciclos foram usados na construção do calendário etnoambiental Pataxó, que abre espaço para o estudo interdisciplinar dos problemas ambientais. O calendário etnoambiental Pataxó, que revela a veia poética do povo, é assim dividido: Tempo de voltar para a escola e de comer o que plantou: fevereiro. Tempo da brisa leve e de lutar por nossos direitos: março, abril. Tempo da seca e do frio: maio, junho, julho, agosto. Tempo das águas: setembro, outubro, novembro, dezembro, janeiro. No tempo das águas, os alunos estudam, entre vários outros temas, a poluição dos rios nas terras Pataxó, no Brasil e no mundo, os sinais e avisos dos bichos que anunciam a chuva, as atividades econômicas nessa época do ano, a origem dos raios e trovões segundo a tradição do povo e os conhecimentos nãoindígenas. Os professores Pataxó cursaram o magistério, oferecido pelo Programa de Implantação das Escolas Indígenas de Minas Gerais, iniciado em 1996, e responsável pela mudança da educação indígena no estado. A coordenadora do programa, Macaé Evaristo, conta que o curso de magistério já formou 64 professores e outros 70 concluirão o curso no final deste ano. As escolas das oito etnias que vivem em Minas (Xakriabá, Maxakali, Krenak, Pataxó, Xukuru-Kariri, Pankararu, Kaxixó e Aranã) têm projetos pedagógicos adaptados à sua realidade e os professores desenvolvem seus próprios materiais didáticos. OS INDÍGENAS TÊM CURSO DE LICENCIATURA DIFERENCIADO O CASCO DO JABOTI NO MAPA-MÚNDI O s professores indígenas do Projeto Açaí, em Rondônia, se encantaram com a construção de mapas da aldeia, do estado, do país e do mundo. Um dia, um deles descobriu que o mapa de Rondônia parecia o casco do jabuti, conta Meiry Gonçalves Fonseca, professora do Projeto Açaí. Desenvolvido pela Secretaria de Educação de Rondônia desde 1998, o Projeto Açaí é destinado à formação de professores indígenas do próprio estado e também de áreas vizinhas, que estão situadas em Mato Grosso. Atualmente, cerca de 120 professores de 32 etnias estudam magistério eles são escolhidos em sua aldeia e vão fazer o curso em uma cida- de próxima, durante as férias escolares. Armando Jabuti, da etnia Jabuti, leciona na aldeia Bahia das Onças, no município de Guajará-Mirim. Para ensinar geografia, ele reúne os conhecimentos de seu povo com o que aprendeu na escola do Projeto Açaí nem parece, mas antes de fazer o curso de magistério indígena, ele não valorizava o saber de seus ancestrais. Em sua aula, Armando explica que a lua nasceu de um amor impossível entre um irmão e uma irmã. Encantado pela moça, o rapaz foi para o céu iluminar a noite que é de todos: índios e não-índios. Seus alunos desenham os limites da aldeia e o caminho do rio Guaporé. ELES CHEGARAM À UNIVERSIDADE E m 1997, durante a Ameríndia Conferência Latino-Americana de Educação Escolar Indígena, realizada em Cuiabá, as lideranças indígenas reivindicaram do governo do Mato Grosso um curso superior diferenciado. Tempos depois, em julho de 2001, começavam as aulas do primeiro curso de licenciatura específico para a formação de professores indígenas, criado pela parceria entre a Secretaria de Estado da Educação, a Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) e a Funai. Com duração de cinco anos, o curso principia com um currículo geral único e no último ano o aluno escolhe uma área específica: ciências da matemática e da natureza; ciências sociais; línguas, arte e literatura. Os encontros presenciais acontecem no período de férias escolares no campus da universidade, em TV ESCOLA 27 EXPERIÊNCIAS Barra do Bugres, a 160 quilômetros de Cuiabá. Em janeiro de 2006 deverá se formar a primeira turma com duzentos índios de 36 etnias e 14 estados. O aluno Lucas Ruriõ Xavante, 41 anos, conta que os encontros presenciais representam uma oportunidade rara de intercâmbio entre povos que não se conheciam. Ruriõ foi escolhido por sua comunidade para fazer o curso superior e assumiu o compromisso de ensinar para os alunos o conhecimento da aldeia e do mundo. Orgulhoso de seu papel, e de participar do processo de mudança, diz: O curso me fez acordar. Aprendi a valorizar a língua Xavante e a característica guerreira do meu povo. Este ano foi criado em Roraima o curso de Formação Superior Indígena Intercultural, resultado de uma parceria entre a Organização dos Professores Indígenas de Roraima (Opir), a Universidade Federal de Roraima (UFRR), a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o governo do estado. O curso tem a duração de cinco anos e as aulas acontecem em janeiro e julho. As lideranças indígenas do estado participaram ativamente da elaboração do currículo. Cerca de 270 professores das 13 etnias que vivem em Roraima fizeram o vestibular, disputando as 60 vagas do curso. No Mato Grosso do Sul, a primeira turma de professores das etnias Terena e Kadiweu já está fazendo o curso Normal Superior Indígena. Criado por iniciativa dos Terena, o curso é oferecido pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), em Aquidauana. OS ENCONTROS DE PROFESSORES SÃO UMA OPORTUNIDADE RARA DE INTEGRAÇÃO ENTRE OS POVOS 28 TV ESCOLA UM SALTO DO PASSADO AO FUTURO R eunidos no Instituto Superior de Educação, em Boa Vista, Roraima, professores de diversas etnias do estado participaram, em maio último, de um debate sobre a educação indígena, logo após terem assistido a um vídeo do Salto para o Futuro sobre o tema. O desaparecimento de muitas línguas, as idéias errôneas sobre os índios como seres primitivos, do passado e sem história esquentaram a discussão. Eles disseram que, durante muito tempo, a escola foi uma ameaça para a cultura indígena, porque desconhecia sua língua e negava o conhecimento dos povos. Conscientes do que aconteceu no passado e interessados num futuro melhor, os professores indígenas mostram que já sabem por onde começar. Enilton André da Silva, professor da etnia Wapixana, lembra que a escola deve valorizar as tradições, o conhecimento do pajé e a religião dos ancestrais, e cultivar a língua materna que, para ele, é o segredo da vida na aldeia por ser uma forma de comunicação com a natureza. Em sua escola isso já acontece: os alunos têm aulas de artesanato e também de língua materna. Os professores presentes concordam que exercer o magistério é uma missão difícil. A comunidade exige compromisso e responsabilidade na luta pelos direitos de todos, e não apenas dos alunos. Além de VÍDEO NAS ALDEIAS N REUNIDOS EM BOA VISTA (RR), OS ÍNDIOS DESTACARAM A IMPORTÄNCIA DE PRESERVAR SUA HISTÓRIA E SEUS VALORES CULTURAIS ENILTON ANDRÉ DA SILVA, PROFESSOR DA ETNIA WAPIXANA, EM RORAIMA ensinar os mais jovens a falar a língua de seus ancestrais, os professores de língua materna têm a missão de passar para o papel línguas que até pouco tempo só existiam na tradição oral. Uma das principais demandas das comunidades indígenas é a oferta de cursos específicos para formação e titulação de professores. Natalina da Silva Messias, da etnia Makuxi, coordenadora de educação indígena da Secretaria de Educação de Roraima, explica que o curso de magistério está sendo reavaliado pela Secretaria de Educação, que irá discutir a proposta curricular com as lideranças de diversas etnias do estado, assim como foi feito para a criação, este ano, do superior indígena. O ensino médio diferenciado e itinerante começou também este ano, a partir de uma parceria entre o estado e as organizações indígenas, e já atende trezentos alunos. Agora, os que completam o ensino fundamental não precisam mais ir para a cidade, o que sempre traz muitas dificuldades para as famílias. No total, 26 professores circulam pelas aldeias, revezando-se de maneira que cada um passe de duas a três semanas na mesma escola. O ensino médio diferenciado é multilíngüe (português, Makuxi, Wapixana e Taurepang) e segue um calendário adaptado a cada comunidade; Antropologia e Educação Ambiental são disciplinas que fazem parte do currículo. o início houve quem pensasse que seria uma interferência cultural colocar uma câmara de vídeo nas mãos de índios. Mas a idéia deu certo. Em atuação há 15 anos, a organização não-governamental Vídeo nas Aldeias criou um acervo com duas mil horas de imagens de 30 povos indígenas brasileiros e produziu uma coleção de 50 vídeos, vários deles premiados internacionalmente. Quem coordena o trabalho da ONG é o antropólogo Vincent Carelli, que dirigiu a série Índios do Brasil, produzida pela TV Escola. Os líderes indígenas se entusiasmaram com a possibilidade de registrar rituais, festas e reuniões da comunidade, vendo aí uma nova maneira de transmitir os conhecimentos tradicionais para as gerações futuras, e também para outros povos. Na aldeia, a comunidade escolhe quem irá participar das oficinas para aprender a fazer o roteiro, captar imagens, analisar e editar o material. Os vídeos são comprados por museus, centros culturais e universidades, e as comunidades indígenas recebem o pagamento pelos direitos de imagem e de autor. As fitas são também distribuídas em várias aldeias para promover o intercâmbio entre os povos. Muitos professores indígenas aproveitam o material em suas escolas. Saiba mais sobre Vídeo nas Aldeias no site: <http:/ /www. videonasaldeias.org.br> TV ESCOLA 29 ESPECIAL A ESCOLA É O CENTRO DA VIDA DA COMUNIDADE KARIPUNA DA ALDEIA MANGA, EM OIAPOQUE, NO AMAPÁ. AGORA QUE A TV ESCOLA CHEGOU, ALI TAMBÉM ACONTECEM AS SESSÕES DE VÍDEO. TV ESCOLA NO OIAPOQUE N ovidade na aldeia Manga, no Oiapoque, Amapá, onde vivem cerca de 600 índios Karipuna. O equipamento para recepção da TV Escola, enviado pelo governo do estado, acaba de ser instalado no novo prédio da Escola Estadual Jorge Iaparra. E sem hesitar, todos sabem o que vão assistir primeiro: As nossas olimpíadas, diz o cacique Luciano dos Santos, mostrando a fita gravada por um antropólogo que trabalhou na região. A comunidade se reúne e, atentos, homens, mulheres e crianças vibram ao ver as imagens na tela: subida em árvores, corrida com toras e outras competições. O cacique explica que as Olimpíadas Indígenas são aguardadas ansiosamente du- 30 TV ESCOLA rante o ano inteiro, por toda a população da Reserva Indígena Uaçá das etnias Karipuna, Palikur, Galibi e Galibi Marworno. O diretor da escola, Jonas Ferreira Aguiar, conta que estudam ali 263 alunos de ensino fundamental e médio. Já temos nosso projeto educacional no sistema de ciclos de formação (por idade dos alunos), e não em séries, diz. A escola tem um calendário próprio, leva em conta as festas tradicionais e o período de plantio da mandioca, da banana e do cupuaçu. Os alunos estudam a história de seus ancestrais Karipuna, que fugiram do Pará por causa da cabanada, por volta de 1835. E acabaram se instalando ali, no extremo norte do país, onde moram até hoje separados da Guiana Francesa pelo rio Oiapoque. Como a vizinha Guiana France- sa é um département francês, faz parte da União Européia e, por isso, tem como moeda nacional o euro. Assim, os Karipuna vendem farinha de mandioca do outro lado do rio e recebem o pagamento em euro. A professora Sônia Anika tirou daí um bom assunto para suas aulas. Começa com uma aula na casa de farinha, onde os alunos ficam conhecendo o processo de fabricação da principal fonte de renda da aldeia e aprendem a valorizar o produto da sua terra. Famosa pela qualidade, a farinha dos Karipuna é feita com a mandioca que fica mergulhada durante dias nas águas do rio. Para continuar, a professora desenvolve atividades de cálculo tendo por centro a economia da aldeia e discute a organização social e econômica do povo. A escola também ensina a preservar o meio ambien- PROFESSORES REUNIDOS ASSISTEM AO VÍDEO NA ESCOLA ESTADUAL JORGE IAPARRA JONAS FERREIRA AGUIAR, DIRETOR DA ESCOLA DO OIAPOQUE te. Rios e cachoeiras ganharam placas educativas para que os turistas que freqüentam a região aprendam a preservar o patrimônio natural dos povos que habitam o Oiapoque. O professor Estácio dos Santos é o responsável pela revivescência da língua, o crioulo Karipuna, de raiz francesa. Depois que aprendi na escola, passei a conversar com a minha avó em nossa língua, con- ta Anatana dos Santos, 14 anos, aluna da 8ª série. Os adolescentes conversam entre si em crioulo e com isso estimulam os mais velhos a fazer o mesmo. Na escola, o pajé Manoel Felipe, 62 anos, explica aos alunos a importância do Turé, a principal festa indígena do Oiapoque, realizada na primeira lua cheia de outubro. Para a comunidade Manga, a TV Escola chegou em boa hora. A professora Sônia Anika aprendeu a gravar e a utilizar a programação com Dulce Facchinetti, da gerência de apoio aos programas TV Escola e ProInfo, da Secretaria de Educação do Amapá. Sônia já tem planos: além de usar os vídeos com os alunos na sala de aula e na capacitação dos professores, quer que a comunidade assista à programação da Escola Aberta, no final de semana. TV ESCOLA 31 ESPECIAL TURÉ COM VIDA NOVA O projeto Turé, criado em 1998 para qualificar professores indígenas, capacitando-os a atuar num processo educativo bilíngüe, intercultural e específico, está em plena fase de revitalização. A atual coordenadora do Núcleo de Educação Indígena (NEI) da Secretaria de Educação do Amapá é a professora Eclemilda Macial Silva, índia da etnia Galibi Marworno. Indicada para o cargo pelos próprios índios, ela começou o trabalho visitando as comunidades para fazer um levantamento da educação indígena no estado. No Amapá vivem 6.700 índios de oito etnias Galibi, Galibi Marworno, Karipuna, Palikur, Aparai-Waiana, Tiriyó, Kaxuyana e Waiãpi , algumas delas em lugares distantes das cidades e de difícil acesso. Tudo isso dificulta a capacitação e o acompanhamento do trabalho dos professores nas aldeias. Convidados pelo NEI, professores indígenas de diversas etnias se reuniram em junho último em Macapá para participar da construção de um plano de ação que inclui a realização de um curso sobre o Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas (RCNE/I), ainda em 2003. Também está planejado, um curso para a capacitação dos professores que irão atuar como formadores no projeto Turé. O que se deseja é que cada etnia, assim como já fizeram os Karipuna e os Galibi Marworno, crie seu projeto pedagógico e produza seus materiais didáticos. PROFESSORES ÍNDIOS DE DIVERSAS ETNIAS REUNIDOS EM MACAPÁ NO MÊS DE JUNHO 32 TV ESCOLA FUNDEF, NA LÍNGUA TICUNA U m dos grandes problemas enfrentados pela educação escolar indígena no país é a falta de condições materiais em muitas das 1.724 escolas indígenas cadastradas no censo escolar de 2002. Faltam cadernos, lápis, carteiras... No entanto, embora nem sempre as escolas conheçam como isso funciona, o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério (Fundef/MEC) dispõe de recursos específicos para financiar a educação fundamental. O coordenador geral de apoio às Escolas Indígenas da Secretaria de Educação Fundamental do MEC, Kleber Gesteira Matos, considera essencial que os professores e as lideranças indígenas entendam como é o financiamento da educação pública e o que devem fazer para ter o efetivo controle da aplicação dos recursos. Eles precisam ser preparados para isso. Em julho último, cerca de 450 professores Ticuna e de outras sete etnias participaram de um seminário com esse objetivo, realizado no município de Benjamim Constant, na região do Alto Solimões, no Amazonas. Os professores traduziram para a língua Ticuna o cartaz do Fundef, com um resumo didático do que pode e do que não pode ser feito com o dinheiro disponível para a escola. TRIBO KARIPUNA, QUE VIVE ÀS MARGENS DO RIO OIAPOQUE, NO AMAPÁ A ESCOLA QUE OS ÍNDIOS DO BRASIL QUEREM COMUNITÁRIA Conduzida pela comunidade indígena, com autonomia na organização do currículo, do calendário e da administração. INTERCULTURAL, BILÍNGÜE OU MULTILÍNGÜE. A PROFESSORA SÔNIA LEVA SEUS ALUNOS PARA UMA AULA NA CASA DE FARINHA, ONDE ELES APRENDEM A VALORIZAR O PRODUTO Que valorize a diversidade cultural e lingüística e promova entre os povos o intercâmbio de experiências socioculturais, lingüísticas e históricas. ESPECÍFICA E DIFERENCIADA Concebida e planejada de acordo com as aspirações de cada povo. TV ESCOLA 33 C A P A ITAQUAQUECETUBA SUPERANDO O REPORTAGEM: TÂNIA NOGUEIRA FOTOS: NAIR BENEDICTO Q uando Fátima Zein Casarini assumiu a direção da Escola Estadual Parque Piratininga II, o lugar era o pesadelo de professores e administradores. Localizada na violenta periferia de Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, a precária construção de madeira em que funcionava toda depredada, com pichações e banheiros quebrados era com freqüência invadida por usuários de drogas e desocupados. A situação chegara a extremo tal que a diretora anterior se afastara após sofrer uma tentativa de assassinato por parte de um aluno. Hoje, a escola tem 1.028 alunos da 5ª série do ensino fundamental à 3a do ensino médio , funciona em um prédio de alvenaria e é exemplo de ensino de qualidade. Em 2000, recebeu o Prêmio Gestão Escolar, concedido pelo Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação). Ao chegar à Parque Piratininga II, o visitante percebe que está diante de uma escola especial. Suas novas instalações, bonitas e bem conservadas, contrastam com a precariedade das moradias que co- 34 TV ESCOLA FÁTIMA CASARINI (ACIMA), AUXILIADA POR UMA EQUIPE ENGAJADA DE PROFESSORES, COMO ELI DAS GRAÇAS SANTOS (DIR.) RECEBEU O PRÊMIO GESTÃO ESCOLAR 2000 POR SUA ATUAÇÃO À FRENTE DA ESCOLA ESTADUAL PARQUE PIRATININGA II EQUIPE DE UMA ESCOLA ESTADUAL NA PERIFERIA DE SÃO PAULO PROVA QUE É POSSÍVEL TRANSFORMAR A COMUNIDADE POR MEIO DA EDUCAÇÃO PESADELO brem os morros em torno. Lá dentro, é tudo limpo e arrumado. Há quadros nas paredes e nenhum lixo no chão. A aparência dos estudantes tampouco se encaixa no que se espera de uma região carente. Todos estão bem arrumados, com aspecto saudável, demonstram desembaraço e alegria. Em qualquer sala de aula que se entre, acontece alguma atividade especial, com professores e alunos intensamente envolvidos. A biblioteca, pequena mas organizada, tem movimento constante. Entre os autores mais solicitados estão Castro Alves, Machado de Assis e Eça de Queirós. Todos diziam que eu não agüentaria, conta Fátima. Eu vinha de Poá, uma cidade um pouco mais elitizada, tinha carro novinho, parecia frágil. Nos primeiros tempos, sempre que ia à diretoria de ensino, me perguntavam se já desistira. As histórias da época de sua chegada são assustadoras. Eli das Graças Santos, então professora de Língua Portuguesa e hoje coordenadora do período noturno, conta que tinha medo de trabalhar. A sala dava para um terreno baldio, TV ESCOLA 35 C A P e o esporte preferido de um grupo de rapazes era fazer bagunça em frente às janelas. Falavam palavrões, mexiam com as meninas. Não tinha como dar aula, fingir que aquilo não estava acontecendo. Às vezes invadiam a escola e queriam entrar na sala atrás de uma menina. Uma professora que decidiu enfrentá-los foi ameaçada de morte, conta Eli. Sob o comando de Fátima, formou-se gradativamente uma equipe comprometida com a educação, capaz de combinar firmeza, afetividade e delicadeza nas doses certas para ensinar cidadania a esses jovens, alunos ou não, deixando de encará-los como marginais e fortalecendo sua sociabilidade. Mas levou algum tempo até as coisas serenarem. Um grande passo nesse sentido consistiu em cuidar do equipamento físico da escola. Alguém pichava a parede, nós pintávamos, conta Fátima. Quebravam uma pia, nós consertávamos. A escola ficou bonita e todos começaram a respeitar o bem comum. Isso se refletiu também na atitude dos alunos. No começo, muitos vinham sujos, lembra Fátima. Quando pintamos a escola, passaram a tomar banho, pentear o cabelo, vestir-se melhor, usar perfume para vir à aula. E também se instituiu o uso obrigatório de camisetas com mangas, como uma espécie de uniforme. Até então, as meninas vestiam miniblusas e decotes pronunciados, e não era raro os pais reclamarem que suas filhas estavam sendo desrespeitadas no ambiente escolar. Isso tudo ocorreu mesmo antes de o novo prédio ser construído, em 1999. 36 TV ESCOLA A ESTÍMULO PARA PROFESSORES E ALUNOS A principal transformação aconteceu dentro das salas de aula. Ao tornar a aprendizagem um processo prazeroso, a equipe do Parque Piratininga II conseguiu motivar os alunos e fazer com que determinados professores abandonassem práticas pedagógicas ultrapassadas. Quem estava acostumado a passar o ponto na lousa para ser copiado começou a buscar mais participação e a tentar conhecer as dificuldades dos alunos, ajudando-os a superá-las. Aqueles que já possuíam idéias inovadoras, por sua vez, encontraram espaço e estímulo para desenvolver seus projetos. Nesse processo, segundo Fátima, os programas da TV Escola foram fundamentais. Eles estão em todo o embasamento teórico da escola, diz. A sala de televisão é o santuário pedagógico, onde os professores dão sempre uma paradinha para ver o que está passando. A televisão fica ligada o tempo todo na programação da TV Escola, e todos utilizam os materiais impressos. Em 2002, por exemplo, a coordenadora pedagógica propôs aos professores que lessem a revista e apresentassem projetos inspirados em seu conteúdo. OS ALUNOS RECEBEM AULAS PRÁTICAS DE CIÊNCIAS E QUÍMICA, TORNANDO O APRENDIZADO UM PROCESSO PRAZEROSO QUE MOTIVA OS ALUNOS A PARTICIPAR O dinamismo das atividades didáticas salta aos olhos, conforme os repórteres da revista TV ESCOLA testemunharam nos dias em que visitaram a Parque Piratininga II. Em uma 5ª série, alunos montam figuras geométricas tridimensionais de cartolina, para estudar faces, ângulos e vértices. Em uma sala de ensino médio ensaiam uma peça de teatro e a professora de Língua Portuguesa, Lilian Patrícia de Lucena, explica: Estamos trabalhando gêneros literários. Os estudantes escolheram uma história infantil e fizeram a adaptação do gênero narrativo para o dramático. CRIATIVIDADE Outra turma de 5ª série prepara trabalhos de História para a mostra que acontecerá dali a uma semana, sobre os mais variados temas de vasos gregos a expedições dos bandeirantes. A professora de História, Isabel Manoel, começou este ano a trabalhar na Parque Piratininga II, e está feliz de poder desenvolver aulas participativas. Aqui senti a tranqüilidade e a firmeza que todo professor precisa para fazer um bom trabalho, diz. Não dou uma aula comportada, porque a história não é comportada. O aluno que só copia é aluno robocópia. E aqui eu tive incentivo para fazer com que trabalhassem sobre documentos, percebessem a liga- ção da história com seu dia-a-dia. Garotos e garotas da 8ª série debatem sexualidade na aula de Ciências. A professora Lucilene Marins, que já leciona ali desde 1998, explica que essa discussão sobre comportamento abre caminho para aulas de Biologia, sobre o aparelho reprodutor, e de Orientação Sexual, sobre formas de se prevenir contra doenças sexualmente transmissíveis. No pátio, o professor de Química, Valdemir Pereira da Silva, montou um pequeno laboratório e ensina a preparar sabonete líquido. A aula prática faz parte de seu projeto No vaivém das reações químicas, que ganhou o prêmio Projeto Nota Mil, da diretoria de ensino de Itaquaquecetuba e Poá. Enquanto preparam o sabonete que será usado nos banheiros da escola os alunos fazem uma revisão de conceitos (mistura homogênea, ácidos, bases etc.) e já pensam numa possível profissionalização. Em algumas indústrias cosméticas, um técnico pode ganhar até 3 mil reais, diz o professor. Ele conta que, ao chegar pela primeira vez à Parque Piratininga II, teve a impressão de que estava numa escola particular e logo se entusiasmou com as perspectivas de trabalho. Entre outras coisas, este ano já dei aula sobre átomos na quadra de esportes, com música, ensinei os alunos a traçar o diagrama de Linus Pauling usando cordas etc.. TV ESCOLA 37 C A P A A VALORIZAÇÃO DA CIDADANIA A PROFESSORA LUCILENE DISCUTE SEXUALIDADE, ENQUANTO A ALUNA AMANDA (DIR.) MOSTRA INTERESSE PELO COMPUTADOR O s professores aproveitam suas aulas para passar noções de ética e cidadania. A coordenadora do noturno lembra que antigamente o objetivo principal do educador era transmitir conteúdo. Hoje, acredita que é fundamental também ensinar princípios básicos sobre esses temas. Isso não quer dizer que vamos deixar de passar o conteúdo, diz Eli. Não damos uma aula específica sobre ética ou cidadania, esses conceitos devem estar presentes em todas as aulas. Numa aula de tênis de mesa, por exemplo, os alunos aprendem a respeitar os limites de cada um e a competir sem agressividade. A arte é outro instrumento, conforme explica Fátima: A arte que eles conhecem gira muito em torno da violência. São filmes de bandido, músicas sobre o cotidiano da periferia. A gente respeita essa arte, mas apresenta coisas novas. Outro dia levamos um grupo para assistir a um concerto na Sala São Paulo. Na volta, um ga- 38 TV ESCOLA roto disse que queria ser violinista, que nunca tinha visto uma coisa tão bela na vida. O senso crítico e o espírito de contestação também são valorizados. O cotidiano desses jovens praticamente não tem saída, diz a professora de Língua Portuguesa, Celsa Aparecida de Pastorelli Lopes, que está desenvolvendo o projeto Fanzine, de uma revista literáriano estilo dos fanzines alternativos. Depois que saem do ensino médio, acabou-se a vida cultural para eles. A revolta é natural. Logicamente, não se pode deixar as coisas como estão. Procuro enfatizar, tanto em aula quanto nesse projeto, que para se protestar tem de se pensar muito, ter uma posição, saber o que se está fazendo. Quebrando e pichando, eles perdem a razão. Tento ensiná-los que é possível usar a rebeldia para fazer algo melhor para eles mesmos e para o mundo a seu redor. TUDO LIGADO Para incentivar a permanente interdisciplinaridade, todos os professores preparam cartazes com a relação de seus conteúdos e os colam na sala de professores. A partir daí, trocam idéias para integrar suas aulas. Segundo Eliane Cristina Oliveira Silva, coordenadora do diurno, o trabalho conjunto às vezes parte do planejaNUMA AULA DE TÊNIS DE MESA, OS ALUNOS APRENDEM A COMPETIR SEM AGRESSIVIDADE mento, mas com freqüência acontece de modo espontâneo, nas conversas do Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC). No Parque Piratininga II, por sinal, o HTPC é levado muito a sério. Na sala de televisão, os professores se reúnem para ver vídeos, ler textos e, principalmente, debater questões diretamente ligadas a sua prática pedagógica. Esse trabalho é especialmente importante porque, todos os anos, o contingente de professores novos é muito grande, e os recémchegados precisam se adaptar ao estilo da escola. A integração do trabalho dos professores é também um dos objetivos da mostra que acontece todo final de semestre. Nela é apresentada a produção das salas de aula: desenhos, cenários de peças de teatro, trabalhos de artesanato, maquetes, cartazes, figuras geométricas e até redações, que podem ser lidas por todos. Isso dá idéias e instiga os professores novos a dar aulas mais dinâmicas, diz a diretora. FÁTIMA INCENTIVA AS CONQUISTAS DOS ALUNOS POR MEIO DE CONDECORAÇÕES TRABALHO DE PENÉLOPE E sta escola que vocês estão vendo, não é a mesma que ganhou o Prêmio Gestão Escolar, conta a diretora Fátima. Segundo ela, houve substituição de 95% do corpo docente, pois apenas três dos professores são efetivos. Os que vão chegando, e assumem as aulas pela primeira vez, com freqüência estão habituados a um ensino mais convencional. Para contornar essa dificuldade, a escola capricha nas reuniões do HTPC e no uso dos progra- mas de capacitação da TV Escola; além disso, promove palestras e debates com especialistas em várias áreas. O trabalho com os alunos precisa ser continuamente retomado, já que a escola, cercada de favelas e terrenos invadidos, recebe a cada ano um grande volume de alunos e de problemas novos. Mas a equipe está sempre atenta para enfrentar a situação, pois Fátima alerta: Eu digo para os professores: educar o aluno bonzinho, que já vem pronto, é fácil. Nosso papel é educar justamente aquele mais problemático. E ela inventa estratégias para conquistar os jovens e suas famílias, como aconteceu, por exemplo, com as aulas de reforço, que mudaram de nome: Agora, a gente diz que eles vão ganhar aulas particulares, e todo mundo fica contente. A TELEVISÃO DA ESCOLA FICA O TEMPO TODO LIGADA NA PROGRAMAÇÃO DA TV ESCOLA TV ESCOLA 39 C A P A A ETERNA PROFESSORA T odos que conhecem a diretora Fátima Zein Casarini sabem o quanto seu jeito afetuoso mas determinado é responsável pela situação atual da escola Parque Piratininga II. Está sempre preocupada em oferecer algo mais a seus alunos e a dar orientação e apoio aos professores, e para ela, a população carente tem todo direito a luxos como conhecimento e arte. Sua história de vida, sem dúvida, contribuiu para essa atitude pedagógica. Quando a menina Fátima entrou na escola, já sabia que só iria estudar até se formar no grupo escolar. Vivendo com a mãe, ajudante de cozinha em um restaurante do Ipiranga, em São Paulo, e os irmãos menores, não tinha como escapar das obrigações domésticas. Na 4ª série, eu não queria passar de ano, de desespero de ter de largar a escola, lembra. Mas não teve jeito. Boa aluna, Fátima tirou o diploma do primário e começou a cuidar da casa cozinhar, lavar, passar e olhar os irmãos. Para reforçar o orçamento familiar, também tomava conta de filhos de vizinhas. Aos 15 anos, morando em Poá, cidade vizinha a Itaquaquecetuba, arrumou um emprego como balconista no centro de São Paulo. Então, falei com minha mãe: já que eu ia até aquela lonjura trabalhar, podia também estudar, conta. Conseguiu completar o ginásio, no período noturno. Mas só depois de casada, já com três fi- 40 TV ESCOLA lhos, teve condição de fazer magistério, começar a lecionar e ainda se formar em pedagogia. Segundo ela, jamais pensara em ser diretora que imaginava como a megera de professores e alunos. Na faculdade, uma professora de administração escolar mostrou-lhe que não precisava e não devia ser desse jeito. Assim, foi mudando de idéia. Ocupou cargos de coordenadora, vice-diretora, assistente de apoio pedagógico e, por fim, surgiu a oportunidade de ser diretora no Parque Piratininga, um bairro distante, acessível apenas por uma estrada de terra que inundava em dias de chuva. Assumiu o desafio. Começou a aplicar o que tinha aprendido na prática e na teoria. Henri Wallon diz que o aprendizado só se processa por meio da afetividade, diz Fátima. Acho que isso vale para todo o ambiente educacional. Precisa haver laço afetivo entre diretor e professor, entre coordenador e professor, entre diretor e aluno. Para muita gente, a escola é a diretora. Se as pessoas não gostassem de mim, por que iriam preservar a escola? AS TRÊS ELIS Fátima conta com três fiéis escudeiras: as coordenadoras Eliane Cristina Oliveira Silva e Eli das Graças Santos e a vice-diretora, Elisabeth Neves da Cunha, sempre atentas ao competente exército de professores e funcionári- O JEITO AFETUOSO MAS DETERMINADO DE FÁTIMA ZEIN É RESPONSÁVEL PELA QUALIDADE DO ENSINO DA ESCOLA PARQUE PIRATININGA II os. Além do apoio pedagógico, as três Elis foram fundamentais na cruzada sem armas, que Fátima empreendeu contra a violência. Quem vê as moças de aparência frágil não imagina sua coragem para enfrentar situações de risco e resgatar a cidadania. A primeira a chegar foi Eli, como professora de Língua Portuguesa em 1995, antes mesmo de Fátima. Nascida no interior do Paraná, morava na região de Itaquaquecetuba desde pequena, mas teve medo quando precisou dar aula na pior escola do município: a Parque Piratininga II. Durante dois ou três anos, teve de lidar com a violência dentro da escola e nos arredores. Mas com seu jeito calmo e sossegado conseguiu conquistar a simpatia e o respei- to. Eli conta: Lembro-me bem de um aluno da 6ª série, de uns 15 anos, que estava envolvido com o pessoal da rua e, evidentemente, usava drogas e prejudicava o andamento da aula. Aos poucos lhe mostramos que havia outros caminhos. Hoje, ele é um ótimo rapaz, trabalha e ajuda a família. Em 1999, chegou Eliane, também para lecionar Língua Portuguesa, já no prédio novo. Embora tivesse cursado dois anos de Letras, nunca havia dado aula. Vivia de fazer e vender artesanato. Um dia foi levar uma encomenda para uma amiga, na Parque Piratininga II, e se apaixonou pela escola. Logo quis ir trabalhar com Fátima. Minha amiga falava que a Fátima gostava de trabalho dinâmico, envolvia as pessoas, tinha amor pelo que fazia. Eu pensei: é em um lugar assim que quero trabalhar. Na primeira oportunidade, concorreu a uma vaga e conseguiu entrar. A Fátima é uma eterna professora, diz Eliane. Desde que coloquei os pés aqui eu comecei a aprender. As pessoas não trabalham por dinheiro, trabalham por paixão. Hoje, por exemplo, faz dez horas que cheguei e nem percebi o tempo passar. Por fim, veio Elisabeth. No início do ano 2000, formada em História, dava umas poucas aulas no centro de Itaquaquecetuba. Ao saber que havia um número razoável de aulas disponíveis na Parque Piratininga II, resolveu tentar. Peguei um ônibus e vim para a atribuição, lembra Elisabeth. O ônibus andava, andava, e nada de chegar. Perguntei para o motorista se não tinha passado. Ele disse que ainda ia demorar. Mas quando cheguei fiquei impressionada com a beleza e a ordem da escola. Elisabeth conseguiu vinte aulas de Geografia, no período noturno. Teve medo, mas precisava do dinheiro e resolveu encarar. Acabou se envolvendo tanto que abandonou as aulas na escola do centro para ficar somente ali. ELIZABETH NEVES DA CUNHA E ELIANE CRISTINA OLIVEIRA SILVA SÃO COORDENADORAS DA ESCOLA, E AJUDARAM A REALIZAR AS MUDANÇAS PARA MELHOR JOSÉ ALVES TEIXEIRA, DE ALUNO A INSPETOR DA ESCOLA UM AMOR DE ESCOLA Q uando concluiu o ensino médio, no fim de 2001, José Alves Teixeira não deixou de freqüentar o colégio. Todos os dias aparecia na Parque Piratininga II e ajudava a organizar a biblioteca ou resolver o que estivesse a seu alcance. Acabou sendo convidado a trabalhar como inspetor de alunos e aceitou na hora. Hoje, aos 19 anos, planeja entrar na faculdade de Letras e se orgulha de integrar uma equipe pedagógica exemplar. Circula sorridente pelos corredores e pátios, atento a todas as necessidades de alunos e professores. A Parque Piratininga II mais de uma vez já foi assunto de reportagens da grande imprensa pela qualidade do ensino que oferece, mas a maior prova de seu sucesso é o apego dos alunos. Tal como José, vários jovens formados não quiseram deixar a escola que mudou suas vidas. Uma ex-aluna é funcionária da secretaria. No laboratório de informática, um ex-aluno atua como professor voluntário. TV ESCOLA 41 C A P A QUE LUGAR É ESSE ? PASSADO COLONIAL Itaquaquecetuba foi fundada em 8 de setembro de 1560, na região do Alto Tietê, pelo jesuíta José de Anchieta. Construída no alto de um morro, para permitir ampla visão e evitar ataques indígenas, era um ponto de saída de bandeiras em direção a Minas Gerais. No início, chamava-se Taquaquecetuba, o que significa taquarais que cortam como faca em abundância. De seu passado colonial, guarda algumas construções como a Igreja da Matriz, de 1624, que recentemente foi restaurada; diante dela, o cruzeiro da fundação da cidade, um pequeno anfiteatro e a casa de cultura, onde funciona um museu com peças da história local. SATÉLITE DE METRÓPOLE A cidade cresceu desordenadamente e hoje, com quase 300 mil habitantes, está na área metropolitana da Grande São Paulo. Tem muitas indústrias, uma pequena área rural, um centro comercial movimentado e áreas residenciais muito pobres. O bairro Parque Piratininga, distante cerca de 10 quilômetros do centro de Itaquaque- cetuba, é uma região carente, com loteamentos populares, áreas invadidas, muitas ruas de terra e altos índices de violência. Com poucas opções de lazer, muita gente vai se divertir em São Paulo ou nos municípios vizinhos. BRILHO PRÓPRIO As coisas têm melhorado no Parque Piratininga, pelo menos em torno da escola. Como fruto de uma campanha escolar e da sociedade de amigos do bairro, o córrego que passava pela avenida principal e sempre transbordava foi canalizado. Hoje, há transporte público para Itaquaquecetuba, Mogi das Cruzes, Guarulhos e São Paulo. Algumas ruas foram asfaltadas e até o valor dos imóveis subiu. Não há dúvida de que a mudança na comunidade está muito ligada à mudança na escola, diz Edgar Maurício Santana, dirigente regional de ensino. PARQUE ECOLÓGICO Nos fins de semana de sol, os moradores passeiam pelo Parque Ecológico, uma área verde de 1,2 milhão de metros quadrados, com A PRAÇA, A IGREJA MATRIZ E UMA VISTA GERAL DA CIDADE 42 TV ESCOLA lagos, minifazenda e estrutura para piquenique. No parque, funcionam também uma escola municipal e uma biblioteca. CATEQUESE PELA DANÇA A cidade mantém pelo menos uma tradição do período da colonização: a dança da Santa Cruz. Segundo Angelo Guglielmo, diretor de cultura do município, a dança foi criada pelos jesuítas como estratagema para catequizar os índios. O ritmo cadenciado pela batida dos pés no chão em volta da cruz atraía os nativos para o símbolo do cristianismo. A tradição se estabeleceu, primeiro em torno do cruzeiro da praça e, depois, em volta de cruzes enfeitadas por flores, nas portas dos fiéis. O costume se mantém, com as cruzes nos espaços públicos. EXPEDIÇÃO VAGA-LUME LEITURA QUE ILUMINA REPORTAGEM: TÂNIA NOGUEIRA cias foi fundamental para construir o projeto. Planejamento pronto, AS CRIANÇAS ENCANTAM-SE COM OS DESENHOS E CAPAS DOS LIVROS partiram para sua primeira expedição, viajando de barco, camiTRÊS JOVENS EXPEDICIONÁnhão, ônibus e carona para chegar RIAS LEVAM A MAGIA DOS às comunidades escolhidas. Os liLIVROS PARA COMUNIDAvros chegavam pelo correio, arruDES LONGÍNQUAS. mados em dois caixotes fabricados por presidiários do Pará adaptáveis como estantes. ylvia Guimarães, 26 anos, A biblioteca se compõe de 300 Laís Fleury, 29, e Maria Terelivros literatura infantil e juvenil sa Meinberg, 26, gostavam e obras de apoio para os professode viajar e sonhavam com res , selecionados com apoio de uma grande aventura na Amazôconsultores especializados. Todos nia. Ou, mais que uma aventura, os livros são novos. Sylvia explica queriam dar sua contribuição soque a criança precisa ser atraída cial. Assim, pensaram em visitar as pelo objeto, como um convite para comunidades trabalhando com a entrar no mundo mágico da leituquestão do lixo, ou algo na área ra. As crianças das comunidades de saúde. Depois de muita converamazônicas ficam deslumbradas sa, tiveram a idéia da leitura. Descom as capas novas, os desenhos, se modo, nasceu a Expedição Vagaas dobraduras. É um parque de lume, que entre março e dezemdiversões para elas. bro de 2002 implantou 32 biblioNa escola que recebe a bibliotecas em comunidades rurais da teca, a equipe organiza oficinas Amazônia Legal e, em cada lugar, para preparar mediadores da leipreparou professores para atuar tura reunindo professores daquecomo mediadores da leitura. la escola e de outras do entorno. Sylvia é a Durante esses única educadodias, desenvolConheça melhor o projeto ra do grupo. vem atividades Rua Purpurina, 155, cj. 46 Laís é formada com as famílias Vila Madalena, São Paulo/SP em administrae as crianças. 05435-030 ção de empreUma das princiTelefone: (11) 3032-6032 sas e Maria Tepais preocupaE-mail: resa, em relações consiste <[email protected]> ções públicas. Internet: <http:// em estimular www.expedicaovagalume.org.br/> Essa diversidauma nova relade de experiênção com o livro. S SYLVIA, LAÍS E MARIA TEREZA: AS TRÊS VAGA-LUMES Segundo Sylvia, a maioria dos professores se acostumou, em seu tempo de estudante, a ler apenas por obrigação, e não por prazer. Associar a leitura ao prazer é o que a Expedição Vaga-lume propõe como a chave para transformar as crianças brasileiras em leitoras. Por isso, os mediadores são orientados para desenvolver as atividades de leitura em um lugar agradável, em que todos se sintam à vontade por exemplo, estender uma lona embaixo de uma árvore, espalhar os livros e ler alto as histórias que as crianças escolherem. DE VOLTA À ESTRADA No próximo ano, as três vagalumes pretendem pôr de novo a mochila nas costas e viajar para dez das comunidades onde implantaram bibliotecas. Querem avaliar o trabalho que está sendo feito pelos mediadores, os progressos das crianças em relação à leitura, e também, aproveitar para ampliar o acervo das bibliotecas. Essa etapa já começou, com uma campanha de arrecadação de livros em colégios particulares. TV ESCOLA ESCOLA TV 43 43 ENTREVISTA / MARIA JOSÉ FÉRES O DESAFIO NÃO É ENSINAR; É FAZER APRENDER, AFIRMA A PROFESSORA MARIA JOSÉ FÉRES, SECRETÁRIA DE EDUCAÇÃO INFANTIL E FUNDAMENTAL, À REPÓRTER TERESA MELLO. FAZER APRENDER É certo que o Ensino Fundamental vai ficar com nove anos? Esta é uma das medidas do programa Toda Criança Aprendendo. Foi pensada a partir dos resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica: 59% das crianças da 4a série não adquiriram as competências básicas de leitura e letramento; e o índice é de 52% para matemática. Não adianta remendar isso, é preciso impedir que volte a acontecer. Você tem de fechar a torneira. Mas o programa também tem medidas emergenciais, para que essas crianças possam sair da escola com um grau de letramento eficaz. Há por exemplo a chamada aceleração de aprendizagem, destinada a turmas especiais para crianças de 10 a 12 anos e no mínimo quatro anos de escolaridade básica. Todas essas iniciativas têm em vista garantir que, ao terminar o Ensino Fundamental, as crianças tenham aprendido o que é importante. Agora, nós não podemos passar o resto da vida fazendo essa reintegração, e por isso há medidas estruturais. 44 TV ESCOLA Que medidas, por exemplo? A ampliação do Ensino Fundamental para nove anos. Tem de ficar claro que não é uma substituição da pré-escola. A pré-escola é para crianças de 4 e 5 anos. Aos 6 anos, ao entrar no Ensino Fundamental, as crianças terão melhores condições de alfabetização. Esta é uma reivindicação antiga e que consta do Plano Nacional de Educação. Portanto, já é uma lei no Brasil. O Plano estabelece metas para inclusão das crianças de 6 anos e ampliação do Ensino Fundamental para nove anos. E nós estamos perseguindo essa meta. De que maneira isso será feito? Estamos fazendo um levantamento nas redes estaduais e municipais para saber as condições em cada estado e nos municípios. As questões a resolver são as mais variadas: desde o espaço físico, até a contratação de professores e a disponibilidade de recursos pedagógicos. Temos de ter um quadro da situação nacional para fazer um planejamento. Nossa meta é que isso aconteça até 2007, começando já no ano que vem. Por onde vai começar a ampliação do Ensino Fundamental? Por Minas Gerais, onde a rede estadual já previu essa ampliação para o ano que vem. Pelos dados do censo, 500 mil dessas crianças estão fora da escola e, embora boa parte delas seja admitida no sistema de ensino, a duração continua a ser de oito anos. Por outro lado, há municípios, como Belo Horizonte, em que o Ensino Fundamental já tem nove anos. Como fica a questão pedagógica? Ganha-se um tempo a mais para preparar o processo de alfabetização. Não significa adiantar a 1a série e incluir nela as crianças de 6 anos. Não se trata de substituir diretrizes curriculares, que são do Conselho Nacional de Educação. Nós vamos discutir amplamente as diretrizes político-pedagógicas por exemplo, a questão de avaliação do aluno na escola, da progressão automática ou continuada. MARIA JOSÉ VIEIRA FÉRES, mineira de Juiz de Fora, é Secretária de Educação Infantil e Fundamental do Ministério da Educação. Formou-se normalista em 1967, quando a carreira tinha prestígio e importância. E faz questão de recuperar esse valor. Formada em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), sempre esteve ligada à educação. Foi pró-reitora de Assuntos Comunitários e Extensão da UFJF; coordenadora da Comissão Nacional de Avaliação das Universidades Brasileiras; secretária da Criança e Assistência Social do Distrito Federal e secretária-adjunta de Educação de Minas Gerais. - O GRANDE DESAFIO E como é essa progressão continuada? A progressão continuada não é automática. Ela se transforma em automática quando não são usados os instrumentos necessários para trabalhar com as diferenças dos alunos e fazer a progressão continuada. A progressão automática é o outro lado da repetência. A repetência é uma perversidade: ela diz que o aluno não aprendeu e por isso ele repete o ano. A progressão automática é um pouco pior: ela diz que o aluno não aprendeu, mas mesmo assim permite que ele siga em frente e lhe dá o diploma. O grande desafio hoje é garantir que as crianças aprendam. Todas as crianças podem aprender e têm esse direito. Mas nem todas aprendem do mesmo jeito, no mesmo tempo. Nosso desafio é trabalhar a dificuldade na aprendizagem. Trabalhar com essa dificuldade está de acordo com os padrões tradicionais de ensino? Durante muito tempo, a escola brasileira não enfrentou esse de- safio. Quando o aluno não aprendia, o problema era dele, ele era mandado embora da escola. O eixo era ensinar. Agora, o eixo é aprender. O desafio não é ensinar; é fazer aprender. Como fazer aprender? Essa é a questão essencial. A discussão é melindrosa, porque para muitos a alternativa à progressão automática e, portanto, à dificuldade de aprendizagem é a volta da reprovação. Isso é um absurdo, porque a reprovação não é instrumento de aprendizagem, não faz ninguém aprender. Se é assim, a reprovação não tem sentido numa concepção em que aprender é o centro da escola. Mas não tampouco tem sentido a progressão automática. Então, nosso desafio é conseguir trabalhar as diferenças individuais dos alunos, entender e enfrentar suas dificuldades de aprendizagem. A organização mais flexível do tempo vai contribuir. Quais são as experiências do sistema de progressão continuada? O sistema já funciona em alguns estados, como São Paulo e parte de Minas Gerais, mas com situações diferentes: São Paulo adota dois ciclos de formação, de quatro em quatro anos; Minas adota três ciclos: três, três e dois anos. O mecanismo da progressão continuada faz parte da concepção de organização do tempo escolar, que é o ciclo de formação. Não faz parte da concepção seriada. A questão faz parte da discussão nacional sobre diretrizes políticopedagógicas da ampliação do Ensino Fundamental: a seriação, o ciclo de formação, o desenvolvimento curricular, a inserção da escola na comunidade. Como fica a exigência de curso superior para professores de 1a a 4a série? Está aí uma grande polêmica. Não existe isso. A Lei de Diretrizes e Bases nunca exigiu o curso superior para professores que estão trabalhando nos quatro primeiros anos do ensino fundamental e na educação infantil. No artigo 62 que faz parte do corpo da lei desde sua TV ESCOLA 45 ENTREVISTA / MARIA JOSÉ FÉRES Por que surgiu essa confusão sobre a exigência de curso superior? Nas disposições transitórias da lei disposição transitória, que não é permanente , o parágrafo 4, do artigo 87, diz o seguinte: Até o fim da Década da Educação somente serão admitidos professores habilitados em nível superior ou formados por treinamento em serviço. Além de ser uma disposição transitória, é dúbia: e quem já é professor? Formados em quê? Em nível superior? Já o artigo 62, que está no corpo da lei, é claro, cristalino. Então, não existe essa exigência legal. Pode vir a acontecer? Pode. Desde que a gente mude a lei. A lei do Plano Nacional de Educação, promulgada em 2001, tem como meta que, nos próximos dez anos, pelo menos 70% dos professores sejam formados em curso superior. Isso é o ideal, é o que nós queremos e estamos perseguindo. Agora, a lei não obriga a ter curso superior. 46 TV ESCOLA “ “ promulgação, em 1996 , a lei deixa claro o seguinte: A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal. 59% DAS CRIANÇAS DA 4a SÉRIE NÃO ADQUIRIRAM AS COMPETÊNCIAS BÁSICAS DE LEITURA E LETRAMENTO E quanto às reivindicações dos professores, como piso salarial, plano de carreira... Para conseguir ter todas as crianças na escola, aprendendo, que é nosso eixo central, dependemos da valorização e da formação dos professores, os grandes agentes dessa mudança. Sem eles, não tem mudança. Para isso, criamos um programa de valorização e forma- ção. O primeiro ponto abordado é o piso salarial. É preciso pactuar com estados e municípios um piso salarial que seja nacional. Não vai ser fácil, é polêmico, mas é preciso ter um piso salarial para os professores, independente do local onde ele mora. Ele faz parte desta nação. Tem de ter acesso a livro, a biblioteca, a cultura, ao teatro, a viagem, e portanto, é preciso melhorar as condições salariais. E a gente também está discutindo a possibilidade de transformar diretrizes de carreira em projeto de lei. O terceiro ponto se refere ao Sistema Nacional de Formação Continuada e de Certificação de Professores, que começa a ser implantado no ano que vem, com os professores dos quatro primeiros anos do ensino fundamental. O que é esse sistema? Estamos planejando a Rede Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento da Educação. Ainda este ano, convocaremos as universidades, formadoras de professores, para constituir essa rede nacional. Queremos que desenvolvam estudos e pesquisas, aplicados a cursos de formação continuada em algumas áreas de ensino: alfabetização e letramento, língua portuguesa, matemática, ciências humanas, ciências da natureza, gestão da educação e avaliação educacional. A idéia é constituir, em todo o país, centros de referência para cursos de formação continuada de professores nessas áreas. Cursos E a certificação dos professores? Isto será o resgate da identidade nacional dos professores e, ao mesmo tempo, da identidade nacional do magistério. O Estado brasileiro se compromete com os professores, por meio de um certificado nacional. Os professores serão submetidos a um exame nacional de certificação. Não é a licença para lecionar, que continua sendo dada pela instituição formadora. Basicamente, haverá dois tipos de prova: uma sobre conhecimentos e saberes, que todos os professores devem ter, independentemente do nível em que atuam. Por exemplo: como planejar uma aula, como ler corretamente um texto. E a outra prova sobre conhecimentos específicos daquele nível de ensino. Esse exame nacional é voluntário, para os professores em exercício o professor só faz se quiser. Se for aprovado, recebe o Certificado Nacional de Docência, conferido pelo MEC, e uma bolsa federal de formação continuada durante cinco anos, também paga pelo Ministério. É um incentivo em forma de bolsa. Para renovar a bolsa, por mais cinco anos, ele tem de se submeter a novo exame de certificação. E os estados e municípios poderão usar o certificado nacional para a progressão na carreira. É uma forma de valorizar a formação continuada. E quem não for aprovado nesse exame? Teremos também um planejamento especial de formação continuada para esses professores, que poderão fazer novamente o exame todos os anos. Começaremos no ano que vem, com professores de 1a a 4a série, mas nosso objetivo é que todos os professores tenham acesso ao Certificado Nacional e à bolsa federal. “ “ que devem ser em serviço e utilizar instrumentos de educação a distância. REPROVAÇÃO NÃO É INSTRUMENTO DE APRENDIZAGEM, NÃO FAZ NINGUÉM APRENDER Qual a política em relação ao livro didático? Uma das exigências do Programa Nacional do Livro Didático é que os livros não sejam portadores de qualquer tipo de preconceito: de raça, religião, sexo... Todas as minorias têm de ser respeitadas. A educação escolar indígena, por exemplo, tem diretrizes curriculares específicas. Em algumas aldeias são faladas quatro línguas, além do português; em outras, o português e mais uma língua. Essa cultura tem de ser respeitada. Também temos no Departamento de Política do Ensino Fundamental uma área específica para os remanescentes de quilombos. Que lembranças a senhora tem da sua alfabetização? Eu sempre gostei da minha escola. Minha alfabetização foi ótima. Vivi num tempo em que a escola era para poucos, não era de massa. Estudei em colégio de freiras, em Juiz de Fora. Aprendi a ler pela cartilha da Lili. Lembro-me com carinho das minhas professoras do primário, que eram irmãs carmelitas. Foi uma boa fase da vida. E eu também sou normalista, formei-me professora e depois fui para a universidade. Em 1967, ainda dava muito prestígio ser normalista Esse prestígio da profissão precisa voltar. Não se ganhava muito, época, mas você merecia respeito social, um respeito nacional. A formatura era com beca, anel de grau, tudo que se tinha direito. Ser professor era muito importante, e isso tem de voltar. TV ESCOLA 47 e tem e tem mais Dinheiro Direto na Escola n Já está na internet (no site <www.fnde.gov.br>) a lista dos municípios que receberão os recursos do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE/MEC), bem como as escolas atendidas e a quantia destinada a cada uma. Se a sua cidade está cadastrada no programa, não deixe de consultar a relação, pois vale lembrar que as verbas a serem repassadas, com teto anual de 19 mil reais, significam muitos benefícios às unidades de ensino, como compra de material, manutenção das instalações, capacitação e aperfeiçoamento dos profissionais, avaliação de aprendizagem, etc. Jogada de mestre n Uma parceria entre os ministérios da Educação e do Esporte vem sendo firmada para implantar o ensino do xadrez nas escolas de cinco cidades brasileiras. O ensino do jogo, além de desenvolver a capacidade intelectual das crianças e melhorar o desempenho nas demais disciplinas, pode aumentar a participação do Brasil no cenário mundial de competições, formando mais mestres enxadristas. Por seu caráter lúdico extremamente rico, o xadrez tem tudo para agradar as crianças, que vão aprender brincando. 48 TV ESCOLA A Turma da Mônica dando uma força n O Programa de Conservação da Escola vai chegar neste semestre a mais 1.200 escolas das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste atendidas pelo Fundo de Fortalecimento da Escola (Fundescola/MEC), para ajudar professores e diretores a tratar de um tema muito importante: a conservação dos prédios e equipamentos escolares. O material para a implementação do programa foi elaborado numa parceria do MEC com o Instituto Cultural Maurício de Sousa e já vem sendo utilizado em outras regiões desde 2001. A campanha Entre pra nossa turma: cuide bem da sua escola cativou a atenção das crianças com seu jeito leve e bem-humorado de trabalhar a conservação do prédio e dos materiais, além de abordar também noções de higiene pessoal, merenda, livros didáticos e outros assuntos. O kit, uma autêntica cartilha multimídia, inclui gibis, cartazes, CDs de música e muitos outros recursos que tornam o aprendizado uma diversão. Essa turminha está de palabéns! NÃO PERCA NA GRADE DE PROGRAMAÇÃO Centenário Portinari n Há cem anos nascia em uma fazenda de Brodowski, no interior de São Paulo, um dos pintores mais importantes da arte brasileira no século 20: Cândido Portinari. Os professores de Arte, História e Literatura não devem deixar de assistir ao programa que documenta o Projeto Portinari e mostra a trajetória de vida do artista, bem como detalhes de sua obra, caracterizada pelos diversos estilos estéticos aos quais se voltou o pintor, mas sempre permeada por suas preocupações humanistas e políticas. PROJETANDO PORTINARI, DIA 23 DE OUTUBRO, DESTAQUE DA PROGRAMAÇÃO: LEIA NA PÁGINA 11. mais Todo mundo na escola n Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco, é o primeiro município nordestino a atingir a meta de déficit escolar zero para crianças com idade entre 7 e 14 anos. Para conseguir esse feito memorável, desde 1997, com o programa Escola para Todos, a prefeitura reuniu a população e outros setores do poder público para levar à escola mais de dez mil crianças que estavam à margem do sistema de ensino. Finalmente, seis anos depois, o censo educacional e a implementação do sistema Busca Ativa detectaram e integraram o reduzido contingente de 450 crianças que ainda permanecia fora da escola. Videoteca da TV Escola n Na Escola Municipal Corsina Braga, em Cachoeirinha, a 170 quilômetros do Recife, a programação da TV Escola é um complemento indispensável da prática pedagógica, compondo praticamente a totalidade de sua videoteca. Para viabilizar o projeto, alunos e professores arrecadaram dinheiro com rifas e bingos e compraram as fitas virgens para o acervo e todo o equipamento necessário, que hoje são emprestados para outras escolas, públicas e particulares. A experiência representou um sucesso tão grande que virou tema de um programa da série Como Fazer? A Escola. A reprise vai ao ar no dia 30 de outubro. Literatura na casa de jovens e adultos Agora, os formandos da Educação de Jovens e Adultos também vão receber os livros distribuídos pelo MEC na campanha Literatura em Minha Casa, via o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE): para as 4as séries, obras de poesia, conto, novela brasileira, clássico universal e peça teatral; para as 8as séries, poesia, crônica e conto, romance e peça teatral; e para os alunos de EJA, ensaio ou reportagem, crônica e conto, prosa ou verso, poesia, peça teatral e biografia ou relato de viagens. A escolha dos títulos é feita por uma comissão com base na qualidade literária e gráfica, representatividade dos autores e outros critérios, visando ainda a adequação a cada faixa etária. As novas coleções chegam às escolas até dezembro, então os alunos já podem ir se preparando! Uma idéia na cabeça e n Com poucos recursos mas muita criatividade é possível chegar a grandes resultados. Isso ficou comprovado mais uma vez graças a um grupo de alunos de escolas públicas de Vitória, no Espírito Santo, cujo curta de animação Mangue e tal, exibido nas sessões infantis do festival Anima Mundi 2003, recebeu amplo destaque na imprensa pela originalidade e pela escolha do tema, fiel à identidade cultural das crianças. Produzido nas oficinas de animação do Instituto Marlin Azul e com trilha sonora composta de um ritmo local tradicional, o congo, executada pelos próprios alunos, o filme reflete iniciativas semelhantes ocorrendo hoje em diversas partes do país, como o projeto Anima Escola, implantado na rede municipal do Rio de Janeiro. Por isso, a partir deste ano, o Anima Mundi abriu uma seção intitulada Animação em Curso, para divulgar os resultados desse tipo de trabalho. Para mais informações, visite os sites <www.animamundi.com.br> e <www.animaescola.com.br>. TV ESCOLA 49 INOVAÇÃO LER E ESCREVER É PRECISO APRENDER REPORTAGEM: TÂNIA NOGUEIRA FOTO: NAIR BENEDICTO PREOCUPADA AO VER QUE MUITOS ALUNOS CHEGAM À 8A SÉRIE SEM SABER LER E ESCREVER, A PROFESSORA ELIASIB CRIOU UMA ESTRATÉGIA INOVADORA: O PROJETO ALFA-5. A especialidade de Eliasib Souza Borges é a alfabetização. Durante 20 anos, trabalhou como professora, depois coordenadora pedagógica e, por fim, diretora. Há seis anos atua como assistente técnico-pedagógica da Diretoria de Ensino da Região de Itaquaquecetuba, da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Em seu trabalho de apoio a professores de 5a a 8a série identificou uma dificuldade inusitada. Eram muitos os alunos que não conseguiam acompanhar os conteúdos desenvolvidos em aula porque eram incapazes de ler e escrever até mesmo frases simples. Analisando o problema, Eliasib concluiu que esses alunos precisariam, antes de tudo, aprender a ler e escrever. E começou a planejar um curso que pudesse ajudar os professores do primeiro ciclo, sem formação de alfabetizadores, a desenvolver a capacidade leito- 50 TV ESCOLA ra de seus alunos. Baseou-se nos métodos e materiais que utilizava em suas aulas de alfabetização e nas técnicas utilizadas em classes de aceleração criadas para ajudar alunos mais velhos a acompanhar as aulas regulares, quando enfrentam dificuldades. AS PROFESSORAS SÃO ORIENTADAS A Quando Eliasib terminou de DESENVOLVER COM OS ALUNOS O PROJETO QUEM SOU EU? montar seu projeto e o apresentou aos diretores de escolas da região, no de 5ª série, alguma coisa ele a idéia pareceu excelente e comesabe. Só que tem medo de mosçou a ser implantada. Em abril de trar, porque tem medo de errar. 2003, foram criadas oficinas para Então, o primeiro passo é descoatender a 32 escolas da região brir o que eles sabem. cada uma das quais mandou dois O projeto Alfa-5 apresenta diprofessores, de várias disciplinas. A versas atividades que o professor idéia é que, após esse trabalho, os pode desenvolver com grupos de profissionais possam atuar como alunos, ou com a classe toda, multiplicadores, na equipe pedadirecionadas para a leitura e a esgógica a que pertencem. crita. Acima de tudo, é valorizada Nas oficinas, os professores são a atitude do professor, que preciorientados para, inicialmente, desa estar atento a cada um des seus senvolver com a classe o projeto alunos e às diferenças entre eles, Quem sou eu?. É um ponto de cobrando de cada um de acordo partida para irem conhecendo os com suas características pessoais. alunos e identificarem suas dificulPara Eliasib, é indispensável acomdades. Essa discussão é útil tampanhar de perto o bém para levanmomento da estar a auto-estima Diretoria de Ensino da crita, observando dos estudantes, Região de Itaquaquecetuba o que cada um ajudá-los a penestá fazendo e sosar em si mesmos Secretaria de Educação do correndo quem e perceber que Estado de São Paulo precisa de ajuda. há muitas coisas Avenida Presidente Tancredo Após duas oficidas quais são cade Almeida Neves, 261 nas, os professopazes. Segundo Itaquaquecetuba res já começaram ela, por maior São Paulo 08571-000 a lhe trazer um que seja a dificulTel.: (11) 4640-4246 retorno positivo. dade de um alu-