O DESENVOLVIMENTO DA HUMANIDADE ATRAVÉS DA ARTE

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O DESENVOLVIMENTO DA HUMANIDADE ATRAVÉS DA ARTE
O DESENVOLVIMENTO DA
HUMANIDADE ATRAVÉS DA
ARTE
Do Egito ao Renascimento
Milene Mizuta
A arte traz como um espelho o desenvolvimento do ser humano
através da linha do tempo, é como se ao passo que entendemos a realidade
do homem de 5000 anos atrás encontramos na arte uma cópia fiel de seus
valores, suas crenças e pensamentos.
Em todos os locais do planeta encontramos registros de antigas
formas de arte, mas foi no vale do Nilo que como cita GOMBRICH “...a
tradição direta de transmitida de mestre a discípulo, de discípulo a admirador ou
copista, a qual vincula a arte do nosso tempo, cada construção ou cada cartaz, à
arte do vale do Nilo de uns cinco mil anos atrás. Pois iremos ver que os mestres
gregos forma à escola com os egípicios, e todos nós somos discípulos dos gregos.
Assim, a arte do Egito reveste-se de tremenda importância para nós.”
Egito, Mesopotâmia e Creta
Na época egípcia encontramos as primeiras representações artísticas
que influenciaram por milhares de anos as futuras gerações.
As margens do Rio Nilo em solo árido e a compania constante do
sol, onde o faraó era visto como uma divindade e dominava todo um povo é
foram edificadas as primeiras pirâmides, que serviam como túmulos para esses
faraós. A cultura egípcia acreditava que o corpo deveria ser preservado para
que a alma pudesse continuar vivendo no além, surgindo daí o ritual de
mumificação, um elaborado método de embalsamento.
Os egípcios acreditavam também que em toda volta de sua câmara
funerária, deveriam ser escritas fórmulas mágicas, encantamentos para ajudar
o morto em sua nova jornada (fig.01) A pintura egípcia tinha como tarefa
manter vivo tudo aquilo que existia em terra (fig.02), o intuído da arte egípcia
não era sua beleza mas sim sua plenitude de manter todos os detalhes daquele
pintura, não tendo importância se aquilo se parecia com a realidade. Após sua
partida, o morto deveria identificar tudo em seus mínimos detalhes para
manter-se pleno e completo em sua vida eterna.
O “Retrato de Hesire” (fig.03), esculpido numa porta de túmulo há
cerca de dois mil e setecentos anos antes de Cristo é uma boa amostra dessas
representações da figura humana. Pois como poderia um homem com os
braço “perspectivado” ou “cortado” levar ou receber oferendas ao mortos?
Fig. 01 - Tumba em Aswan c. 2900 a.C.
Fig. 02 “O jardim de
Nebamun” c. 1400 a.C
Fig. 03 - Retrato de Hesire c. 2778-2723 a.C.
A arte egípcia permaneceu milhares de anos da mesma forma, não
era esperado do artesão, mudanças de padrões ou inovações.
O artista na época egípcia era considerada um mero artesão, onde
a arte não era uma forma de inspiração, o significado de escultor em egípcio
era “aquele que torna vivo”.
Somente a partir de aproximadamente 1300 a.C, com a revolução
religiosa cultural promovida por Amenófis IV. A arte dessa época, que até
então mantinha-se fiel às tradições do passado, foi bastante modificada.
Tornou-se menos pesada e mais descritiva. As representações dos faraós,
que mantinham-se praticamente inalteradas desde o começo da história do
país, agora eram realizadas de uma maneira menos formal e solene, em
poses mais relaxadas. Mas ainda preservava muito de sua forma quase
infantil de representação, conservando também a austeridade e aspereza
peculiar dessa região, refletida em sua arte. (fig.04)
“Fig. 04 - Akhnaton, sua esposa Nefertiti e seus filhos” c. 1345 a.C.
O império do Belo - Grécia
Diferente dos Oasis em meio a grandes desertos, sob o domínio de
déspotas orientais, erm as ilhas do Mediterrâneo banhadas pelo mar nas
penínsulas Gregas e da Ásia Menor.
Nessas regiões o povo não era submetido a um único senhor, mas
no início sua arte tinha muita similaridade a rigidez do estilo egípcio,
entretanto se olharmos as primeiras formas de arquitetura que chamamos de
estilo dórico (fig.05), vemos que foram construções feitas por humanos e para
humanos, diferente da grandiosidade quase surreal da arquitetura egípcia com
as pirâmides(fig.06), que somente foi possível com o controle de todo um
povo por um único governante.
Na Grécia, as tribos tinham se instalado em várias cidades pequenas
e em portos de abrigo ao longo da costa. Havia muita rivalidade e atrito entre
as comunidades, mas nenhuma delas conseguiu dominar todas as outras.
Atenas foi de longe sua cidade-estado mais importante, e foi nela que
não se sabe exatamente quando uma grande revolução começou a acontecer
na arte.
Sabemos que antes do século VI a.C, o artista dos antigos impérios
orientais se empenhava em copiar fielmente, em obter uma perfeição peculiar
nas representações. Mas a partir de agora o artista começa a descobrir novas
formas de representação, arriscando novas fórmulas, não se atendo mais a
rigidez oriental.
Os escultores começaram a adicionar suas novas descobertas ao
estilo antigo, um descobriu uma nova forma de retratar o joelho como vemos
na figura de Polímedes de Argos (fig.07), outros perceberam que se um dos
pés estivessem levantados do chão isso traria a idéia de movimento, assim
como recurvar uma boca para cima, dá a idéia de um sorriso.
A partir disso, os artistas gregos que também não faziam parte da
mais alta classe de intelectuais, começaram a cada vez mais enveredar por um
caminho sem volta.
Mas é na pintura em cerâmica que podemos ver mais claramente a
grande revolução aconteceu.
O artista descobriu o que seus olhos realmente viam, e deixou de se
ater a regra de que tudo que estava ali deveria ser fielmente representado,
ele descobriu que independente de algo ser representado de forma completa,
ele poderia estar presente, a descoberta chama-se escorço
“Fig.05 – Templo de Hera – Grécia”
Fig.06 – As pirâmides de Gizé – Egito”
“Fig. 07 - Os irmãos Cleóbis e Bíton, Polímedes de Argos” c. 615-590 a.C.
e revolucionou toda a história da pintura oriental que passou milhares de
anos sem nenhuma alteração (Fig.08 e 09).
“Fig. 08 - Aquiles e Ajax jogando damas” c. 540 a.C.
“Fig. 09 - Ulisses
reconhecido por
sua velha ama”
século V a.C
Essa época marca o início de uma assombrosa revolução, onde iniciou-se a
descoberta das observações das formas naturais, o escorço, a contestação do
povo das antigas tradições e lendas sobre os deuses, a investigação sem
preconceito da natureza das coisas. A partir disso surgiu então a filosofia, a
ciência e o teatro que conhecemos hoje, que citaremos mais a frente.
Depois de Atenas frustrar a invasão persa, a cidade começou a ser
construída, e agora suas estátuas eram utilizadas para a adoração dos deuses
e ídolos, o maior escultor da época foi Fídias, que com o conhecimento
natural adquirido através dos estudos incessantes das ciências e a liberdade
para criar uma forma total nova de representação da arte, criou sua mais
famosa obra a Deusa Palas Athena (fig. 10) , mas a representação que temos
hoje dessas esculturas são meras cópias em mármore, devemos lembrar que
pelas descrições as esculturas gregas eram coloridas, cheias de detalhes e não
a representação em mármore branco que estamos acostumados a ver.
As esculturas eram temas de adoração como são citadas no antigo
testamento, onde diante delas os povos dedicavam toda sua devoção, estar
diante dessas estátuas naquela época era o mesmo que estar diante dos
próprios deuses.
Nessa época também foi o surgimento dos Jogos Olímpicos que tinha
um significado muito diferente de hoje em dia, os Jogos eram realizados
porque o vencedor era considerado uma pessoa agraciada pelos deuses com
seus talentos, a conotação era essencialmente religiosa.
Até meados dos séculos V a.C os artistas gregos, incorporaram mais
uma inovação, a de que, com o estudo do corpo humano, seus músculos,
adquiriram quase que a perfeição nas representações, e a partir disso
começaram a incorporar feições que traziam emoções.
Também partir do século V a.C, outra mudança substancial
aconteceu, agora a obra de arte alcançava a reputação não somente pela
perfeição em retratar a realidade, mas também pela sua beleza e harmonia na
composição, agora os gregos educados discutiam pinturas e estátuas como
discutiam poesia e teatro.
Essa época teve seu início marcado pelo desaparecimento total da
rigidez em suas obras, mostra claramente o início do domínio máximo da
forma e do movimento.
O grande artista da época anterior foi Fídias e seu contemporâneo
da , chamava-se Praxíteles (fig.12).
Em suas estátuas vemos também a busca pela perfeição do corpo
humano, outra característica dessa época. O belo começa a fazer parte da
concepção de obras como uma condição essencial.
“Fig. 10 - Athenas Parthenos” c. 447-432 a.C.
“ Fig. 11 - Cópia do Discóbolo” c. 450 a.C
“Fig. 12 - Hermes com o Jovem Dionísio – Praxíteles” c. 340 a.C.
Na época de Praxíteles o artista ainda representava as cabeças sem
feições definidas, elas não eram vazias mas suas feições nunca pareceram
demonstrar qualquer emoção forte.
Para demonstrar o que Sócrates chamou de “atividade da alma” o
artista grego usou do corpo e seu movimento, acreditando que o jogo
fisionômico iria distorcer e destruir a simples regularidade da cabeça.
Mas a geração seguinte a Praxíteles, descobriu meios de animar as
feições sem lhe destruir a beleza e mais do que isso aprenderam a captar a
atividade da alma de um indivíduo ou o caráter peculiar através de suas feições
e isso inaugura as primeiras esculturas de retratos. (fig.13)
Olhares e expressões que podem ser vistas nas pinturas e em
algumas esculturas, já antecipam a grande conquista da fase helenística que
chegou ao auge na faculdade de imprimir emoções em sua arte.
O Período helenístico normalmente é entendido como um momento
de transição entre o esplendor da cultura grega e o desenvolvimento da
cultura romana. Tal concepção está associada a uma visão eurocêntrica de
cultura e portanto torna secundários os elementos de origem oriental, persa
e egípcia, apesar de ter esses elementos como formadores da cultura
helenística
Alexandria, no Egito, com 500.000 habitantes, tornou-se a metrópole
da civilização helenística. Foi um importante centro das artes e das letras, e a
própria literatura grega tem uma fase chamada "alexandrina".
Lá
existiram as mais importantes instituições culturais da civilização helenística:
o Museu, espécie de universidade de sábios, dotado de jardim botânico,
zoológico e observatório astronômico; e a biblioteca, com 200.000 volumes,
salas
de
copistas
e
oficinas
para
preparo
do
papiro.
Do ponto de vista cultural, o período compreendido entre 280 e 160
a.C. foi excepcional. Teve grande desenvolvimento a história, com Políbio; a
matemática e a física, com Euclides, Eratóstenes e Arquimedes; a astronomia,
com Aristarco, Hiparco, Seleuco e Heráclides; a geografia, com Posidônio; a
Médicina, com Herófilo e Erasístrato; e a gramática, com Dionísio Trácio. Na
literatura, surgiu um poeta extraordinário, Teócrito, cujas poesias idílicas e
bucólicas exerceram grande influência. O pensamento filosófico evoluiu para
o individualismo moralista de epicuristas e estóicos, e as artes legaram à
posteridade algumas das obras-primas da antigüidade, como a Vênus de Milo,
a Vitória de Samotrácia (fig.14) e o grupo do Laocoonte. (fig.15)
Nessas obras conseguimos entender que o domínio do movimento
e a capacidade de expressar a atividade da alma alcançou seu clímax.
“Fig 13 - Cópia da Cabeça de Alexandre o Grande”Lisipo c. 325-300 a.C
“Fig.14 – Vitória de Samotracia 220 a 190 a.C”
“Fig. 15 - Laocoonte e seus filhos c. 175-50 a.C”
Olhares e expressões que podem ser vistas nas pinturas e em
algumas esculturas, já antecipam a grande conquista da fase helenística que
chegou ao auge na faculdade de imprimir emoções em sua arte.
O Período helenístico normalmente é entendido como um momento
de transição entre o esplendor da cultura grega e o desenvolvimento da
cultura romana. Tal concepção está associada a uma
visão eurocêntrica de cultura e portanto torna secundários os elementos de
origem oriental, persa e egípcia, apesar de ter esses elementos como
formadores da cultura helenística
Alexandria, no Egito, com 500.000 habitantes, tornou-se a metrópole
da civilização helenística. Foi um importante centro das artes e das letras, e a
própria literatura grega tem uma fase chamada "alexandrina".
Lá existiram
as mais importantes instituições culturais da civilização helenística: o Museu,
espécie de universidade de sábios, dotado de jardim botânico, zoológico e
observatório astronômico; e a biblioteca, com 200.000 volumes, salas de
copistas
e
oficinas
para
preparo
do
papiro.
Do ponto de vista cultural, o período compreendido entre 280 e 160
a.C. foi excepcional. Teve grande desenvolvimento a história, com Políbio; a
matemática e a física, com Euclides, Eratóstenes e Arquimedes; a astronomia,
com Aristarco, Hiparco, Seleuco e Heráclides; a geografia, com Posidônio; a
Médicina, com Herófilo e Erasístrato; e a gramática, com Dionísio Trácio. Na
literatura, surgiu um poeta extraordinário, Teócrito, cujas poesias idílicas e
bucólicas exerceram grande influência. O pensamento filosófico evoluiu para
o individualismo moralista de epicuristas e estóicos, e as artes legaram à
posteridade algumas das obras-primas da antigüidade, como a Vênus de Milo,
a Vitória de Samotrácia e o grupo do Laoconte.
Nessas obras conseguimos entender que o domínio do movimento
e a capacidade de expressar a atividade da alma alcançou seu clímax.
À medida que o cristianismo avançava, a civilização helenística passou
a representar o espírito pagão que resistia à nova religião. O espírito grego
não desapareceu com a vitória dos valores cristãos; seria, doze séculos depois,
uma das linhas de força do Renascimento.
A filosofia grega
Vale dar ênfase a esse aspecto da cultura grega, a Filosofia, entendida
como uma reflexão crítica a respeito de tudo o que se relaciona com a
existência do homem, nasceu na Grécia Antiga. A palavra "filosofia" é,
inclusive, de origem grega e vem de phílos, "amigo", e sophía, "sabedoria".
É costume homenagear Sócrates, filósofo que viveu entre 469 e 399
a.C., chamando os pensadores que o antecederam de filósofos pré-socráticos.
Os pré-socráticos
A Filosofia Grega caracterizou-se, até o advento de Sócrates, pelas
idéias a respeito da natureza e pelo desenvolvimento das técnicas de
argumentação filosófica. Os primeiros filósofos, devido à preocupação de
explicar racionalmente o mundo natural, são também chamados de Filósofos
da Natureza ou de físicos (do grego phýsis, "natureza").
Sócrates, Platão e Aristóteles
No final do século V a.C. o interesse primordial dos filósofos
desviou-se do mundo natural para a compreensão do homem, do seu
comportamento e de sua moral.
Sócrates (469-399 a.C.), um dos maiores pensadores de todos os
tempos, pretendia nada saber e dizia que todos já possuíam o conhecimento
do que era correto dentro de si. Para trazer esse conhecimento à tona ele
fazia perguntas bem dirigidas e questionava sistematicamente seus
interlocutores afim de que a sabedoria aflorasse. A suprema sabedoria seria,
aparentemente, o conhecimento do bem, ou pelo menos o reconhecimento
honesto da própria ignorância.
Platão (429-347 a.C.), admirador e discípulo de Sócrates, fundou a
Academia de Atenas, famosa escola de Filosofia em que mestre e discípulos
viviam em comum, debatendo constantemente os mais variados temas. Ao
lado de idéias fundamentalmente teóricas, como a contraposição das
aparências à realidade, a crença na existência de uma alma eterna e na vida
após a morte, Platão propunha, de forma eminentemente prática, que a cidade
ideal deveria ser governada por um rei-filósofo.
Aristóteles (384-322 a.C.) foi o mais importante dos discípulos de
Platão. Ao contrário de seu mestre, mais preocupado com questões
transcedentais, Aristóteles acreditava que o conhecimento devia ser
procurado no mundo material e real. Fundou, para isso, o Liceu de Atenas,
escola em que ele e seus discípulos dedicaram suas vidas à discussão filosófica,
estudo, ensino e pesquisas em larga escala, abrangendo praticamente todo o
conhecimento da época. A lógica, uma das mais importantes disciplinas
filosóficas, foi estabelecida por Aristóteles.
As escolas helenísticas
Com a decadência política das cidades gregas e o apogeu dos reinos
helenísticos o homem, antes importante para sua cidade-estado, tornou-se
apenas a minúscula parte de enormes impérios. As principais escolas
filosóficas do Período Helenístico passaram então a dar mais atenção à busca
da felicidade pessoal e, além da lógica e das tradicionais explicações sobre a
natureza do mundo, forneceram a seus adeptos um conjunto de preceitos
para ordenar e dirigir a vida.
O ceticismo, em que se destacou Pírron de Élis (365-275 a.C.),
preconizava que não é possível o entendimento através dos sentidos humanos
e pregava completa indiferença diante de todas as coisas. O epicurismo,
desenvolvido por Epicuro (341-270 a.C.), pregava a felicidade humana através
do exercício do livre arbítrio e da idéia de que as ações humanas não eram
determinadas pelos deuses. O estoicismo, fundado por Zênon de Cítion (333262 a.C.) e desenvolvido por Crisipo (280-207 a.C.), ensinava que o único
bem verdadeiro é a virtude, e o único mal verdeiro, a fraqueza moral; e, ainda,
que o prazer consiste em viver unicamente de acordo com a razão,
mostrando indiferença e imperturbabilidade diante de tudo o mais.
O estoicimo foi a mais difundida e influente das doutrinas helenísticas. Em
Roma, teve adeptos ilustres como Sêneca (4-65 d.C.) e o imperador Marco
Aurélio (121-180 d.C.).
O Neoplatonismo
Desenvolvido por Plotino (205-270 d.C.) no século III d.C., no início da
decadência do Império Romano, o neoplatonismo foi a última contribuição do
pensamento grego à Filosofia.
Plotino reuniu diversos conceitos imaginados por Platão (429-347 a.C.) e
refundiu-os numa doutrina profundamente espiritual e mística. Ensinava que
era necessário purificar a alma abandonando o mundo material —
manifestação 'inferior' de uma entidade única, absoluta e eterna, o 'Bem'
(também chamado de 'Uno') —, para que a alma pudesse ascender e voltar a
fazer parte dessa entidade imaterial, acessível apenas através da 'razão pura'.
Finalmente, dois séculos depois que o cristianismo se tornou a
religião oficial do Império Romano, sob o Imperador Constantino I (273-337
d.C.), a pressão dos bispos cristãos levou o Imperador Justiniano (482-565
d.C.) a fechar a escola neoplatônica de Atenas, um dos últimos baluartes do
pensamento grego em 529 a.C..
O ano de 529 d.C. assinala, conforme a tradição, o fim "físico" da
Filosofia Grega. Justiniano, porém, chegou tarde demais: o cristianismo já
estava impregnado dos conceitos filosóficos platônicos e neoplatônicos e a
quase totalidade da Filosofia Ocidental moderna é, em essência, a própria
Filosofia Grega.
A arte ganha o mundo
Roma
Se não temos dados concretos sobre sua fundação, podemos
começar a contar a história de Roma, a partir da monarquia (753 a 509 a.C.).
Nesse período, o meio de subsistência principal daquele povo era a
agricultura. A sociedade romana dividia-se em quatro grupos, segundo a
posição política, econômica e social de cada pessoa: havia patrícios, plebeus,
clientes e escravos.
A palavra "patrício" (do latim pater, pai) indicava o chefe da grande
unidade familiar ou clã. Esses chefes, os patrícios, seriam descendentes dos
fundadores lendários de Roma e possuíam as principais e maiores terras. Eles
formavam a aristocracia, sendo que somente esse grupo tinha direitos
políticos em Roma e formavam, portanto, o governo.
Já os plebeus eram descendentes de populações imigrantes, vindas
principalmente de outras regiões da península Itálica, ou fruto dos contatos e
conquistas romanas. Dedicavam-se ao comércio e ao artesanato. Eram livres,
mas não tinham direitos políticos: não podiam participar do governo e
estavam proibidos de casar com patrícios.
Num outro patamar, vinham os clientes, também forasteiros, que
trabalhavam diretamente para os patrícios, numa relação de proteção e
submissão econômica. Assim, mantinham com os patrícios laços de clientela,
que eram considerados sagrados, além de hereditários, ou seja, passados de
pai para filho.
Por fim, os escravos, que inicialmente eram aqueles que não podiam
pagar suas dívidas e, portanto, tinham que se sujeitar ao trabalho forçado para
sobreviver. Depois, com as guerras de conquista, a prisão dos vencidos gerou
novos escravos, que acabaram se tornando a maioria da população.
Roma não possuía grandes artistas e a maioria deles eram gregos, a
arte mudou quando Roma tornou-se a senhora do mundo, nessa época aos
artistas eram confiadas diferentes tarefas, e seu estilo de arte tiveram que
adaptar-se. Entretanto a mais notável realização dos Romanos surgiu no ramo
da arquitetura e engenharia. Uma das provas que podemos ainda hoje
presenciar, para entender a magnitude dessa época é o Coliseu (fig. 16).
“Fig. 16 – Coliseu, Roma c. 80 d.C”
As conquistas aos outros povos e regiões trouxeram o crescimento
das atividades comerciais e das negociações em moeda. A riqueza se
concentrou ainda mais nas mãos dos patrícios, que se apropriavam das novas
terras. Isso tudo dividiu profundamente a sociedade romana entre ricos
(aristocratas) e pobres (plebeus), além da grande massa de escravos que ia se
formando. Também os membros do exército, enriquecidos pelas conquistas
e saques, tornaram-se uma importante camada social.
Nessa época os aristocratas realizavam inúmeras encomendas da
arte grega ou cópia dessas e com a expansão alcançada por Roma essa arte
começou a se amplamente reconhecida.
A expansão romana iniciou-se na República (509 a 27 a.C.), por meio
das lutas contra os povos vizinhos para obterem escravos (séculos. 5 a 3 a.C.).
Depois disso, expandiu-se para a Grécia (séc. 3 a.C.), Cartago (cidade africana
que controlava o comércio marítimo no Mediterrâneo) e Macedônia (com a
conquista da Grécia, havia formado um grande império), sendo estas duas
cidades conquistadas no séc. 2 a.C. Na seqüência, o Egito, a Britânia (que
corresponde aproximadamente à atual Grã-Bretanha) e algumas regiões da
Europa e da Ásia foram conquistados no séc. 1 d.C.
Desde sua origem, Roma fora governada por reis. Um deles foi
expulso por tirania em 509 a.C. e o governo da República se estabeleceu,
propondo uma nova divisão de poderes entre o Senado, os Magistrados e as
Assembléias.
Com as conquistas militares de novos territórios, os generais do
Exército acumularam muitos poderes políticos e para deterem as revoltas dos
povos dominados, resolveram concentrar o poder. Júlio César era um general
que havia conquistado a Gália em 60 a.C. Depois disso, deu um golpe em
Roma, atacando-a no ano de 49 a.C. e proclamando-se ditador perpétuo (ou
seja, governaria com poderes ilimitados
até a sua morte). Foi nesse mesmo ano
“Fig. 17 - Imperador Vespasiano c.70
que conseguiu dominar o Egito. No
d.C”
entanto, nem ele nem seu governo
tiveram vida longa: foi assassinado pelos
próprios romanos em 44 a.C.
Em meio a esse contexto de
guerra e conquistas aos artistas romanos
foram atribuídas tarefas como retratar
através de bustos os seus ancestrais,
acredita-se que esse costume tenha uma
relação com o antigo costume egípcio de
que a imagem preserva a alma e mais
adiante quando Roma já se convertera a
um império, um busto de um imperador
era visto com grande veemência e temor,
sabemos que os Romanos deviam
queimar incensos diante desses bustos em
respeito e vassalagem a esse imperador, a
perseguição
dos
cristão
ocorreu
justamente pela negação a essa exigência.
Nessa época a representação de um busto alcançou seu auge da
perfeição. Não importando mais a beleza do retratado e sim a fidelidade com
que era realizado. Vemos como exemplo esse busto do imperador Vespasiano
do ano de 70 d.C, ele não possui nada de semi deus podendo inclusive ser
confundido com um banqueiro ou armador qualquer (fig. 17)
A outra tarefa comumente atribuída ao artista era de retratar as campanhas
e conquistas militares através da escultura. Um exemplo bem típico disso é a
conhecida Coluna de Trajano, erguida no século 114 d.C, onde toda ela é
esculpida com fatos decorrentes da vitória e conquista da Dácia (a moderna
Romênia).
E interessante olhar os detalhes presentes na escultura que mostram
desde cenas do cotidiano dessa conquista até imagens claras de Romanos
derrotando os adversários (Fig. 18).
Isso mudou novamente o caminho da história da arte, agora não era
mais importante a beleza, a expressão ou harmonia, e sim a capacidade de
narrar as campanhas e grandes façanhas realizadas pelos Romanos.
O império Romano
Com a morte de Júlio César, três líderes políticos governariam
juntos. Um deles, Otávio, derrotou os outros e foi o primeiro imperador
romano em 31 a.C., recebendo do Senado os títulos de Princeps (primeiro
cidadão), Augustus (divino) e Imperator (supremo). Passou para a história
com o nome de Augusto, embora essa denominação acompanhasse todos os
imperadores que o sucederam. Roma teve 16 imperadores entre os séculos
1 e 3 d.C. A partir daí, começou a desagregação do Império e o descontrole
por parte de Roma dos povos dominados.
Entre os séculos 3 e 4 d.C., o imperador Dioclesiano dividiu o
Império Romano numa parte ocidental e noutra oriental. Constantino, o
imperador seguinte, tomou duas importantes medidas: reunificou seus
domínios, tornando a capital do Império Romano Bizâncio (depois chamada
de Constantinopla e, hoje, Istambul, na Turquia), localizada na parte oriental
dos domínios romanos e legalizou a prática do cristianismo.
Finalmente, Teodósio, um dos últimos imperadores, tornou o
cristianismo religião oficial de todo o Império e dividiu-o novamente em duas
partes, sendo as capitais Roma e Constantinopla. A primeira foi dominada
pelos povos germanos em 476 e marcou o fim do Império Romano do
Ocidente. A segunda foi dominada em 1453 pelos turcos e marcou o fim do
Império Romano do Oriente.
“Fig. 18 - Detalhe da Coluna de Trajano, Roma c. 114 d.C”
Roma e Bizâncio
Em 311d.C o imperador Constantino estabeleceu a Igreja Cristã
como um poder do Estado, para isso encontrou dificuldades enormes, como
a falta de lugares para cultos.
Na Grécia antigas os cultos eram realizados ao céu aberto e as
construções eram usadas para abrigar estatuas de seus deuses.
A igreja por sua vez precisava de um espaço onde pudesse abarcar
toda a congregação que se reunia a fim de assistir a missa pregada pelo padre
que a recitava do altar-mor.
Assim, aconteceu que as igrejas não utilizaram-se de templos pagãos,
e adotaram o modelo de amplos salões de reuniões cobertos utilizados para
audiências públicas dos tribunais, conhecidos com o nome de basílica, que
significa “pórtico real”.
A partir desse momento o relacionamento com a arte teve que ser
completamente reexaminado.
Muitos eram contra imagens ou figuras para decoração das basílicas
usando com argumento a contra adoração de imagens que era um um dos
princípios da igreja cristã. Afinal como os recém convertidos cristãos
poderiam distinguir entre suas antigas crenças e a nova mensagem da igreja
cristã com a utilização de estátuas pagãs como as antigas.
A questão de decorar a basílica foi uma questão muito difícil e séria
e a arte passou por um de seus mais delicados períodos.
Mas foi no século VI que o Papa Gregório Magno, defendeu a
utilização de pinturas nas igrejas com o seguinte argumento: “A pintura pode
fazer pelos analfabetos o que a escrita faz pelos que sabem ler”, e a partir
desse momento a arte novamente tem uma nova utilização.
A arte tem agora como função principal traduzir de forma clara o
conteúdo da bíblia aos fiéis.
Nada mais precisava ser retratado se não o estritamente essencial,
as figuras 19 e 20 mostram-nos isso com clareza.
“Fig. 19 - Os Milagres dos Pães e dos Peixes” c. 520 d.C
“Fig. 20 – São Jorge, c. 650 d.C”
Mas o conflito em torno da questão da finalidade da arte para a igreja,
não cessam por ai em 754 d.C, os iconoclastas chamados de destruidores de
imagens, que eram contra e qualquer utilização de arte nas igrejas, levaram a
melhor, e toda a arte religiosa foi proibida na Igreja Oriental (fig.21e 22)
A oposição então usou-se de argumentos sutis como: “Se Deus em
sua misericórdia, pôde revelar-Se, aos olhos dos mortais na natureza humano
do Cristo, porque não estaria disposto a manifestar-Se em imagens? Não
adoramos essas imagens por si mesmas como fazem os pagãos. Adoramos
Deus e os Santos através das imagens ou além delas”.
Como essa tese após uma século de repressão a arte volta a ser
permitida nas igrejas e não eram mais encaradas como uma mera ilustração e
sim como reflexos misteriosos do mundo sobrenatural.
Assim os bizantinos começaram a insistir tanto quanto os egípcios
em cumprir rigorosas tradições, ao exigir dos artistas que respeitasse
estritamente os modelos das antigos.
Essa exigência a Igreja Bizantina foi responsável por preservar as
idéias e realizações da arte grega nos modelos usados para vestes, faces e
gestos.
O movimento das vestes, o modo de modelar a face e os gestos
através das sombras seria impossível sem as conquistas das artes gregas e
helenísticas (fig.23)
Entretanto a necessidade de manter-se as tradições nas
representações permitidas dificultava os artistas bizantinos desenvolver seus
dotes pessoais.
Mas não podemos acreditar que nada de novo era feito, ao observar
os mosaicos presentes nas igrejas,percebemos que o artista bizantino
ressucitou algo da grandeza presente na antiga arte do oriente, usando-a para
glorificar o cristo e seu poder (fig. 24)
“Fig. 21 - Imagens apagadas por Iconoclastas na igreja da Capadocia”
“Fig. 22 - Imagens apagadas por Iconoclastas na igreja de Amalfi”
“Fig. 23 - Nossa Senhora Entronizada com o Menino” c. 1280
“Fig. 24 - Cristo como Soberano do Universo, a Virgem, e Menino e Santos”Catedral
De Monreale” c. 1190
A idade das trevas
O período subseqüente a queda do Império Romano é conhecido
como Idade das Trevas, dá-se esse nome para designar o fato das pessoas que
viveram durante esses séculos de migrações, guerras e sublevações estavam
mergulhadas na escuridão e tinham escassos conhecimentos para guiá-las, mas
também sabemos pouco a respeito desses séculos.
Jamais podemos datar algo com exatidão quando estudamos história
da arte, mas julga-se que esse período teve seu início em meados dos 500 e
terminou em 1000 de nossa era, durando então aproximadamente 500 anos.
Esse período não teve nenhum estilo claro desenvolvido ele foi um
conflito de inúmeros estilos diferenciados que só começaram a se amalgamar
no final desse período.
Durante esse período os detentores do conhecimento das artes
antigas eram homem e mulheres que vivam especialmente em mosteiros, que
tentavam resgatar esse conhecimento ainda preservado em acervos e
tesouros, mas foi um trabalho sem sucesso, devido a sucessivas guerras todo
trabalho era constantemente reduzidos a zero.
Essas guerras e invasões eram decorrentes de tribos do norte, os
chamados bárbaros.
Eram eles teutônicos, os godos, os vândalos, os saxões, os suevos e
os vikings, que assovalavam a Europa.
Sua arte foi introduzida a Europa e tinha uma característica
completamente diferente dos países do sul.
Sua arte era basicamente feita por desenhos rendilhados de
movimentos e formas , nela não encontramos registros dos “sermões”
constantemente desenhados na arte bizantina ou média.
Toda arte do norte possuía uma incrível interpretação própria e uma
leveza no desenho (fig. 25 e 26).
“Fig. 25 - Página dos Evangelhos de Lindisfarne ” c. 698 d.C
“Fig. 26 - Página dos Evangelhos de Lindisfarne ” c. 698 d.C
Após o encontro dessa nova corrente artística, algo completamente
novo surgiria.
Devemos lembrar que a idéia de artista original não era importante,
nem mesmo reconhecida, quando artista era solicitado a criar uma cena, ele
tinha como objetivo retratar da forma mais fiel usando os mais preciosos
materiais.
Mas, podemos ver que dois mestres de uma mesma época podiam
representar o mesmo tema de formas diferentes.
Fica bem claro que nas figuras 26 e 27, que os dois artistas copiaram
o mesmo tema, isso é facilmente identificado na pena, no chifre na mão
esquerda, mas em um deles vemos um novo elemento, com a chegada dessa
nova corrente vimos na pintura da página ao lado que além de representar
somente a cena como a pintura abaixo, o artista imprime sentimento no
desenho.
Se podemos então dizer que o os egípcios desenhavam o que sabiam
existir, os gregos o que viam o artista da idade média aprendeu a desenhar
em seu quadro o que sentia.
Na arte subseqüente o artista se atém não somente a mostrar com
toda fidelidade o fato que ocorre, mas também quer através de sua arte
mostrar o testemunho de fé, a mensagem intrínseca em cada momento.
“Fig. 26 - São Mateus de um evangelho manuscrito; Aachen c. 800 d.C”
“Fig.27 - São Mateus de um evangelho manuscrito; Reims. 830 d.C”
A arte romana e o estilo gótico
Foi a partir da arte Românica na França por volta do século XII que as
esculturas começaram a adornar a fronte das catedrais chamados Pórticos.
A escultura renasceu no românico, depois de muitos anos esquecida.
Seu apogeu se dá no século XII, quando inicia um estilo realista, mas simbólico,
que antecipa o estilo gótico. A escultura é sempre condicionada à arquitetura
e todo trabalho é executado sem deixar espaços sem uso. As figuras
entalhadas têm o tamanho do elemento onde foram esculpidas, e os trabalhos
de superfície acomodam-se no lugar em que ocupam. Dessa característica
parte também a idéia de esquematização.
Outra importante característica é seu caráter simbólico e
antinaturalista. Não havia a preocupação com a representação fiel dos seres
e objetos. Volume, cor, efeito de luz e sombra, tudo era confuso e simbólico,
representando muitas vezes coisas não terrenas, mas sim provenientes da
imaginação (fig.28) Em algumas esculturas, nota-se a aparência clássica,
influência da Antigüidade, como no Apóstolo, de Saint-Sernin de
Toulouse(Fig.29)
“Fig.28 - Fachada da Igreja de St-Trophime” Arles c.1180
“Fig. 29 - Apóstolos” Saint-Sernin de Toulouse c.1118
O nascimento do estilo gótico, mais que o seu desaparecimento,
pode ser definido cronologicamente com clareza, nomeadamente no
momento da reconstrução da abadia real de Saint-Denis sob orientação do
abade Suger entre 1137 e 1144. (fig. 30)
Mas mais que uma junção de elementos, o estilo gótico é afirmação
de uma nova filosofia. A estrutura apresenta algo novo, uma harmonia e
proporções inovadoras resultado de relações matemáticas, de ordens claras
impregnadas de simbolismo. Suger, que é fortemente influenciado pela
teologia de Pseudo-Dionísio, o Areopagita, aspira uma representação material
da Jerusalém Celeste. A luz é a comunicação do divino, o sobrenatural, é o
veículo real para a comunhão com o sagrado, através dela o homem comum
pode admirar a glória de Deus e melhor aperceber-se da sua mortalidade e
inferioridade. Fisicamente a luz vai ter um papel de importância crucial no
interior da catedral, vai-se difundir através dos grandes vitrais numa áurea de
misticismo e a sua carga simbólica vai ser reforçada pela acentuação do
verticalismo. As paredes, agora libertas da sua função de apoio, expandem em
altura e permitem a metamorfose do interior num espaço gracioso e etéreo.
O espaço é acessível ao homem comum, atrai-o de uma maneira
palpável, que ele é capaz de assimilar e compreender, o templo torna-se o
ponto de contato com o divino, um livro de pedra iconográfico que ilustra e
ensina os valores religiosos e que vai, a partir deste momento, continuar o
aperfeiçoamento da mesma.
Já na Abadia de Saint-Denis se observa uma maior importância dada
à escultura que no românico (fig. 31) , sendo que se vai afirmar pela primeira
vez como elemento independente à arquitetura e com objetivos próprios na
Catedral de Chartres (fig. 32, 33 e 34).
“Fig. 30 - Vitral do Transepto Sul da Catedral de Saint-Denis ”,Paris c.1137
“Fig. 31 – Esculturas do Pórtico da Catedral de Saint-Denis ”,Paris c.1137
“ Fig. 32 - Portico do transepto Norte da Catedral de Chartres ”,Paris c.1194
“ Fig. 33 - Melquisedeque a Abrão - Catedral de Chartres ”,Paris c.1194
“ Fig. 34 – Portal Central - Catedral de Chartres ”,Paris c.1194
De qualquer modo a escultura estará ainda estritamente ligada à catedral mas,
em oposição ao “amontoado” do românico, demonstra agora consciência do
seu próprio espaço e ocupa-o de modo ordenado e claro.
Especialmente no portal de entrada para o templo se encontram as
maiores produções escultóricas que proliferam nas ombreiras (jamba),
arquivoltas e tímpanos. As estátuas nas ombreiras libertam-se
progressivamente das colunas e da sua forma irreal e alongada ganhando
volume e vida. A humanização das posturas e gestos é reforçada pela utilização
de um eixo próprio para a figura, eixo este que se vai ondulando com o tempo
e emprega à figura uma acentuada formação em S. Toda uma nova
naturalidade vai determinar a composição e envolvência física: os pés passam
a estar numa plataforma horizontal e não mais num plano inclinado; as
roupagens e todo o volume corporal cedem à gravidade; aumenta a atenção
ao pormenor transportado do cotidiano; e acima de tudo domina uma atitude
elegante, uma expressão realista, serena e profundamente terna que
estabelece comunicação pelo olhar, pelo sorriso e pelo gesto. A meados do
século XIII esta estética elegante difunde-se, mas no início do século XIV a
busca de efeitos de luz/sombra através do contraste entre volumes cunha as
figuras de uma maior abstração.
Na pintura foi no ano de 1267 que nasceu um gênio florentino que
traduziu para a pintura as figuras realistas da escultura gótica, quebrando o
conservadorismo bizantino, seu nome é Giotto di Bondone, com ele os
italianos estavam cientes que uma época inteiramente nova estava sendo
inaugurada.
Giotto criou sua pintura a partir de algo totalmente novo, ele não
mais tentava reproduzir de forma fiel como o Bizantino, nem tampouco
colocar a emoção como a Idade Média, mas acompanhando o estilo gótico
fazia em sua mente representações das cenas que gostaria de reproduzir e
transpunha qual sentimento, de que forma estariam as pessoas naquela cena,
Giotto queria representar a cena tal qual ela tivesse acontecido(Fig. 35 e 36).
Variou o tamanho das figuras tal qual encaixá-las de forma
harmoniosa na tela e com isso criou a primeira pintura em perspectiva, onde
a cena diante de nós mostra-nos um testemunho do evento.
Como cita magnificamente Gombrich:
“...a arte de Giotto é absolutamente nova, sob todos os aspectos. Recordemos que
a arte cristã primitiva tinha revertido a antiga idéia oriental de que, para se contar
uma história com total clareza, todas as figuras tinham que ficar completamente
expostas, quase que como se fazia na arte egípcia. Giotto abandonou essas idéias.
Não precisava de artifícios tão simples. Ele nos prova de um modo tão convincente
como cada figura reflete a dor profunda suscitada pela trágica cena que podemos
deixar de pressentir a mesma aflição nas figuras agachadas cujos rostos não
podemos ver.”
“ Fig. 35 - A Lamentação do Cristo ”,Giotto di Bondone c.1305
“ Fig. 36 – Detalhe da Natividade ”,Giotto di Bondone c.1315”
A fama de Giotto espalhou-se rapidamente. Como florentino o povo
de Florença orgulhava-se dele. Interessava-se por sua vida.
Após seus trabalhos conhecemos o estilo internacional, onde os
detalhes e o rebuscamento da pintura são amplamente utilizados, e mais e
mais os pintores se utilizam de elementos reais em suas pinturas(fig. 37).
“ Fig. 37 - São João Batista, Santo Eduardo, O Confessor e Santo Edmundo
recomendam Ricardo II aso Cristo”, Díptico de Wilton c.1395
Essa fase já reconhecida como Trecento inaugura um dos maiores
movimentos artísticos de todos os tempos a Renascença
O Homem como medida do Mundo
A Renascença
A palavra Renascimento significa renascer ou ressugir e esta foi a
idéia central desse movimento.
Citemos Gombrich novamente:
“Os italianos tinham plena consciência de que, no passado distante, a
Itália tendo Roma por capital, fora o centro do mundo civilizado, e de que seu
poder e glória se dissiparam quando as tribos germânicas, os godos e os vândalos
invadiram o país e desmantelaram o Império. A idéia de um renascimento
associava-se, na mente do romanos, à idéia de uma ressurreição da “grandeza de
Roma”. O período entre a idade clássica, para a qual voltaram os olhos com
orgulho, e a nova era de renascença, que aguardavam com esperança, era
meramente um melancólico interregno, “o período intermediário”. Assim, a idéia
de uma renascença foi responsável pela concepção de que o período interveniente
era uma Idade Média – e ainda usamos essa denominação. Como os italianos
culpavam pela queda do Império Romano, começaram a ser referir à arte desse
período intermediário como arte gótica, com a intenção de significar “bárbara”.”
Chamou-se "Renascimento" em virtude da redescoberta e
revalorização das referências culturais da antigüidade clássica, que nortearam
as mudanças deste período em direção a um ideal humanista e naturalista. O
termo foi registrado pela primeira vez por Giorgio Vasari já no século XVI,
mas a noção de Renascimento como hoje o entendemos surgiu a partir da
publicação do livro de Jacob Burckhardt A cultura do Renascimento na Itália
(1867), onde ele definia o período como uma época de "descoberta do mundo
e do homem".
O Humanismo pode ser apontado como o principal valor cultivado
no Renascimento. Baseia-se em diversos conceitos associados:
Neoplatonismo, Antropocentrismo, Hedonismo, Racionalismo, Otimismo e
Individualismo. O Humanismo, antes que um corpo filosófico, é um método
de aprendizado que faz uso da razão individual e da evidência empírica para
chegar às suas conclusões, paralelamente à consulta aos textos originais, ao
contrário da escolástica medieval, que se limitava ao debate das diferenças
entre os autores e comentaristas. O Humanismo afirma a dignidade do
homem e o torna o investigador por excelência da natureza. Na perspectiva
do Renascimento, isso envolveu a revalorização da cultura clássica antiga e
sua filosofia, com uma compreensão fortemente antropocentrista e
racionalista do mundo, tendo o homem e seu raciocínio lógico e sua ciência
como árbitros da vida manifesta. Seu precursor foi Petrarca, e o conceito se
consolidou no século XV principalmente através dos escritos de Marsilio
Ficino, Erasmo de Roterdão, Pico della Mirandola e Thomas More.
“Acolheu por isso o homem como obra de natureza indefinida e,
colocando-o no coração do mundo, assim lhe falou: “Não te dei, Adão, nem um
lugar determinado, nem um aspecto teu próprio, nem qualquer prerrogativa tua,
porque o lugar, o aspecto, as prerrogativas que desejares, tudo enfim, conforme
teu voto e teu parecer, obtenhas e conserves. A natureza determinada dos outros
está contida dentro de leis por mim prescritas. Tu determinarás a tua, não
constrangido por nenhuma barreira, conforme teu arbítrio, a cujo poder te
entregarás. Eu te coloquei no meio do mundo, para que daí melhor avistasses tudo
aquilo que existe no mundo. Não te fiz nem celeste nem terreno, nem mortal nem
imortal, para que, por ti mesmo, como livre e soberano artífice, tu te modelasses e
te esculpisses na forma que tivesses de antemão escolhido. Poderás degenerar nas
coisas inferiores, que são os brutos; poderás regenerar-te, conforme tua vontade,
nas coisas superiores que são divinas”.
Trecho do discurso sobre a Dignidade do Homem – Pico della Mirandola
O brilhante florescimento cultural e científico renascentista deu
origem a sentimentos de otimismo, abrindo positivamente o homem para o
novo e incentivando seu espírito de pesquisa. O desenvolvimento de uma
nova atitude perante a vida deixava para trás a espiritualidade excessiva do
gótico e via o mundo material com suas belezas naturais e culturais como um
local a ser desfrutado, com ênfase na experiência individual e nas
possibilidades latentes do homem. Além disso, os experimentos democráticos
italianos, o crescente prestígio do artista como um erudito e não como um
simples artesão, e um novo conceito de educação que valorizava os talentos
individuais de cada um e buscava desenvolver o homem num ser completo e
integrado, com a plena expressão de suas faculdades espirituais, morais e
físicas, nutriam sentimentos novos de liberdade social e individual.
Reunindo esse corpus eclético de idéias, os homens do Renascimento
cunharam ou adaptaram à sua moda alguns outros conceitos, dos quais se
destacam as teorias da perfectibilidade e do progresso, que na prática
impulsionaram positivamente a ciência de modo a tornar o período em foco
como o marco inicial da ciência moderna. Mas como que para contrapô-los
surgiu uma percepção de que a história é cíclica e tem fases de declínio
inevitável, e de que o homem natural é um ser sujeito a forças além de seu
poder e não tem domínio completo sobre seus pensamentos, capacidades e
paixões, nem sobre a duração de sua própria vida. O resultado foi um grande
e rico debate teórico entre os eruditos, recheado por fatos novos que
apareciam a cada momento, que só teve uma resolução prática no século
XVII, com a afirmação irresistível e definitiva da importância da ciência. Por
um lado, alguns daqueles homens se viam como herdeiros de uma tradição
que havia desaparecido por mil anos, crendo reviver de fato uma grande
cultura antiga, e sentindo-se até um pouco como contemporâneos dos
romanos. Mas havia outros que viam sua própria época como distinta tanto
da Idade Média como da Antiguidade, com um estilo de vida até então inédito
sobre a face da Terra, sentimento que era baseado exatamente no óbvio
progresso da ciência. A história confirma que nesse período foram inventados
diversos instrumentos científicos, e foram descobertas diversas leis naturais e
objetos físicos antes desconhecidos; a própria face do planeta se modificou
nos mapas depois dos descobrimentos das grandes navegações, levando
consigo a física, a matemática, a Médicina, a astronomia, a filosofia, a
engenharia, a filologia e vários outros ramos do saber a um nível de
complexidade, eficiência e exatidão sem precedentes, cada qual contribuindo
para um crescimento exponencial do conhecimento total, o que levou a se
conceber a história da humanidade como uma expansão contínua e sempre
para melhor. Talvez seja esse espírito de confiança na vida e no homem o que
mais liga o Renascimento à antiguidade clássica e o que melhor define sua
essência e seu legado. O seguinte trecho de Pantagruel (1532), de François
Rabelais, costuma ser citado para ilustrar o espírito do Renascimento:
Todas as disciplinas são agora ressuscitadas, as línguas estabelecidas:
Grego, sem o conhecimento do qual é uma vergonha alguém chamar-se
erudito, Hebraico, Caldeu, Latim (…) O mundo inteiro está cheio de
acadêmicos, pedagogos altamente cultivados, bibliotecas muito ricas, de
tal modo que me parece que nem nos tempos de Platão, de Cícero ou
Papiniano, o estudo era tão confortável como o que se vê a nossa volta.
(…) Eu vejo que os ladrões de rua, os carrascos, os empregados do
estábulo hoje em dia são mais eruditos do que os doutores e pregadores
do meu tempo.
O preparo que os humanistas preconizavam para a formação do
homem ideal são de corpo e espírito, ao mesmo tempo um filósofo, um
cientista e um artista, se desenvolveu a partir da estrutura de ensino medieval
do Trivium e do Quadrivium, que compunham a sistematização do
conhecimento da época. A novidade renascentista não foi tanto a ressurreição
da sabedoria antiga, mas sua ampliação e aprofundamento com a criação de
novas ciências e disciplinas, de uma nova visão de mundo e do homem e de
um novo conceito de ensino e educação. O resultado foi um grande e frutífero
programa disciplinador e desenvolvedor do intelecto e das habilidades gerais
do homem, que tinha origem na cultura greco-romana e que de fato em parte
se perdera para o ocidente durante a Idade Média. Mas é preciso lembrar que
apesar da idéia que os renascentistas pudessem ter de si mesmos, o
movimento jamais poderia ser uma imitação literal da cultura antiga, por
acontecer todo sob o manto do Catolicismo, cujos valores e cosmogonia
eram bem diversos. Assim, a Renascença foi uma tentativa original e eclética
de harmonização do Neoplatonismo pagão com a religião cristã, do eros com
a charitas, junto com influências orientais, judaicas e árabes, e onde o estudo
da magia, da astrologia e do oculto não estavam ausentes. O pensamento
medieval tendia a ver o homem como uma criatura vil, uma "massa de podridão,
pó e cinza", como se lê em De laude flagellorum de Pedro Damião, no século
XI. Mas quando se eleva a voz de Pico della Mirandola no século XV o homem
já representava o centro do universo, um ser mutante, essencialmente
imortal, autônomo, livre, criativo e poderoso, o que ecoava as vozes mais
antigas de Hermes Trismegisto ("Grande milagre é o homem") e do árabe
Abdala ("Não há nada mais maravilhoso do que o homem"). Esse otimismo se
perderia novamente no século XVI, com a reaparição do ceticismo, do
pessimismo, da ironia e do pragmatismo em Erasmo, Maquiavel, Rabelais e
Montaigne, que veneravam a beleza dos ideais do classicismo mas tristemente
constatavam a impossibilidade de sua aplicação prática universal e
testemunhavam o deplorável jogo político, a pobreza e opressão das
populações e outros problemas sociais e morais do homem real de seu
tempo. Cabe notar que muitos pesquisadores consideram esta fase final não
apenas como uma etapa no grande ciclo do Renascimento, e a estabeleceram
como um movimento distinto e autônomo, dando-lhe o nome de Maneirismo
Trecento
O Trecento representa a preparação para o Renascimento e é um
fenômeno basicamente italiano, mais especificamente da cidade de Florença,
pólo político, econômico e cultural da região, embora outros centros também
tenham participado do processo, como Pisa e Siena, tornando-os a vanguarda
da Europa em termos de economia, cultura e organização social, conduzindo
a transfomação do modelo medieval para o moderno.
Nos mapas das figuras 38 e 39 percebe-se muito bem as
transformações qeu experimentou, que quis experimentar a cidade. A
paisagem urbana suavizou-se, organizou-se, banha-se uma luz mais serena;
“ Fig. 38 - Madonna de la Misericorida – Orfanato do Bigallo – Bernadro Daddi”,
c.1352
“ Fig. 39 - Mapa de Florença Della Catena”, c.1500
A economia era dinamizada pela fundação de grandes casas bancárias,
pelo surgimento da noção de livre concorrência e pela forte ênfase no
comércio, e cada vez mais se estruturava em moldes capitalistas e bastante
materialistas, onde a tradição era sacrificada diante do racionalismo, da
especulação financeira e do utilitarismo. O sistema de produção desenvolvia
novos métodos, com uma nova divisão de trabalho organizada pelas guildas.
A Itália nesta época era um mosaico de pequenos países e cidades
independentes. O regime republicano com base no racionalismo fora adotado
por vários daqueles Estados, e a sociedade via crescer uma classe média
emancipada intelectual e financeiramente que se tornaria um dos principais
pilares do poder e um dos sustentáculos de um novo mercado de arte e
cultura.
As Guildas
Guilda Maior
Mecenato
Fundadores
Notas
Arte di
Calimala
Trabalhado
res em lã,
comerciant
es de
tecidos
Cerca 1190
Extinto em 1770, por Pietro
Leopoldo, Grão-Duque da
Toscana
Arte della Lana
Comercian
tes Lã
Pré-1192
Encarregou-se de Santa Maria
del Fiore em 1282
Arte dei
Giudici e Notai
Juízes,
advogados
e notários
1197
Listado em primeiro lugar entre
as "Doze Grande Guilds" em
uma lista de 1282 que está no
British Museum; Abolido em
1597, no mesmo ano um
"colégio de juízes e notários" foi
incorporado.
Arte del
Cambio
Banqueiros
Pré-1197
Arte della Seta
Tecelões
de seda
Pré-1192
Incluí escultores de bronze
Arte dei Médici
e Speziali
Médicos e
farmacêutic
os
1197
Incluí pintores em 1314, e
como um ramo independente
em 1378, incluiu também os
comerciantes que vendiam
especiarias, corantes e
medicamentos
Arte e dei Vaiai
Pellicciai
Na
indústria
de peles
1197
Guilda Média
Mecenat
o
Fundadores
Notas
Beccai de Arte '
Pecuarista
s
Cerca 1236
Primeira das cinco corporações
de intermediários
Arte dei
Calzolai
Sapateiros
Pré-1236
Arte dei Fabbri
Trabalhad
ores de
Ferro
Pré-1236
Arte dei
Maestri di
Pietra e
Legname
Trabalhad
ores em
pedra e
madeira
Pré-1236
Arte e dei
Linaioli
Rigattieri
Trabalhad
ores de
linho,
alfaiates
1.266
Escultores Incluídos
Guilda Menor
Mecenato
Fundadore
s
Arti dei Vinattieri
Vinho
1.266
Arti degli Albergatori
Hospedeiros
1282
Arti dei Oliandoli e
Pizzicagnoli
Trabalhadores
de Moinho
Pré-1236
Arti e dei Cuoiai
Galigai
Trabalhadores
Couro
1282
Arti dei Corazzai e
Spadai
Armeiros
Pré-1236
Arti dei Correggiai
Trabalhadores
de couro
Militar
Pré-1236
Arti dei Legnaioli
Madeira
Pré-1236
Arti dei Chiavaioli
Keymakers
Arti dei Fornai
Padeiros
Pré-1236
Notas
Considerado como a
sétima menor de
quatorze guildas de
menor em 1236, na
ordem de
precedência desde
1282
Em Florença, em separado Guilda de São Lucas para os artistas não
existia. Os Pintores pertenciam a guilda dos médicos e farmacêuticos ( "Arte
dei Médici e Speziali") porque compravam seus pigmentos dos boticários,
enquanto escultores eram membros do Master de pedra e madeira ( "Maestri
di Pietri e Legname), Eles também eram frequentemente membros da
Irmandade de São Lucas (Compagnia di San Luca) que tinha sido fundada já em
1349, apesar de ser uma entidade separada do sistema corporativo. No século
XVI, a Compagnia di San Luca começaram a reunir-se em SS. Annunziata, e
escultores, que já haviam sido membros de uma confraria dedicada a São
Paulo (Compagnia di San Paolo), Também se juntaram e desta forma de
compagnia desenvolveu-se o florentino Accademia e Compagnia delle Arti del
Disegno em 1563, que foi então formalmente incorporados no sistema da
guilda cidade em 1572.
O início do século viveu intensas lutas de classes, com prejuízo para
os trabalhadores não vinculados às guildas, e como conseqüência instalou-se
grave crise econômica, que teve um ponto culminante na bancarrota das
famílias Bardi e Peruzzi em torno de 1328-38, gerando uma fase de estagnação
que não obstante levaria a pequena burguesia pela primeira vez ao poder. Esta
situação foi comentada depreciativamente pelos poetas célebres da época Boccaccio e Villani - mas constituiu a primeira experiência democrática em
Florença, durando um intervalo de cerca de quarenta anos. Tumultos políticos
e militares, além de duas devastadoras epidemias de peste bubônica,
provocaram períodos de fome e desalento, com revoltas populares que
tentaram modificar o equilíbrio político e social, mas só conseguiram
assegurar a permanência dos burgueses à testa do governo. Os Médici,
banqueiros plebeus, assumiram a liderança da classe mas logo se revestiram
da dignidade da nobreza, e um sistema oligárquico voltou a dominar a cena
política, muitas vezes se valendo da corrupção para atingir seus fins, mas
também iniciando um costume de mecenato das artes que seria fundamental
para a evolução do classicismo no século seguinte.
Na religião a mudança foi assinalada pela busca, amparada pela
ciência, de explicações racionais para os fenômenos da natureza; por uma
nova forma de ver as relações entre Deus e o homem, e pela idéia de que o
mundo não deveria ser renegado, mas vivenciado plenamente, e que a
salvação poderia ser conquistada também através do serviço público e do
embelezamento das cidades e igrejas com obras de arte, além da prática de
outras ações virtuosas. Deve-se frisar que mesmo com a crescente influência
clássica, que era toda pagã na origem, o Cristianismo jamais foi posto em
xeque e permaneceu como um pano de fundo ao longo de todo o período,
criando-se a síntese original que conhecemos hoje.
Quattrocento
O chamado Quattrocento (século XV) viu o Renascimento atingir sua
era dourada. O Humanismo amadurecia e se espalhava pela Europa através
de Ficino, Rodolphus Agricola, Erasmo, Mirandola e Thomas More. Leonardo
Bruni inaugurava a historiografia moderna e a ciência e a filosofia progrediam
com Luca Pacioli, János Vitéz, Nicolas Chuquet, Regiomontanus, Nicolau de
Cusa e Georg von Peuerbach, entre muitos outros.
Ao mesmo tempo, um novo interesse pela história antiga levou
humanistas como Niccolò de' Niccoli e Poggio Bracciolini a vasculharem as
bibliotecas da Europa em busca de livros perdidos de autores como Platão,
Cícero, Plínio, o Velho, e Vitrúvio. O mesmo interesse fez com que se
fundasses grandes bibliotecas na Itália, e se procurasse restaurar o latim, que
havia se transformado em um dialeto multiforme, para sua pureza clássica,
tornando-o a nova língua franca da Europa. A restauração do latim derivou da
necessidade prática de se gerir intelectualmente essa nova biblioteca
renascentista. Paralelamente, teve o efeito de revolucionar a pedagogia, além
de fornecer um substancial corpus de estruturas sintáticas e vocabulário para
uso dos humanistas e dos homens de letras, que assim revestiam seus
próprios escritos com a autoridade dos antigos. Também foi importante a
febre de colecionismo de arte antiga que se verificou entre os poderosos, que
acompanhavam de perto escavações a fim de enriquecer seus acervos
privados com obras de escultura e outras relíquias que vinham à luz,
impulsionando o desenvolvimento da ciência da arqueologia. A reconquista da
Península Ibérica aos mouros também disponibilizou para os eruditos
europeus um grande acervo de textos de Aristóteles, Euclides, Ptolomeu e
Plotino, preservados em traduções árabes e desconhecidos na Europa, e de
obras muçulmanas de Avicena, Geber e Averróis, contribuindo de modo
marcante para um novo florescimento na filosofia, matemática, Médicina e
outras especialidades científicas. Para acrescentar, o aperfeiçoamento da
imprensa por Johannes Gutenberg em meados do século facilitou e barateou
imenso a divulgação do conhecimento.
Um novo vigor nesse processo foi injetado pelo erudito grego
Manuel Chrysoloras, que entre 1397 e 1415 introduziu na Itália o estudo da
língua grega, e com o fim do Império Bizantino em 1453 muitos outros
intelectuais, como Demetrius Chalcondyles, Jorge de Trebizonda, Johannes
Argyropoulos, Theodorus Gaza e Barlaam de Seminara, emigraram para a
península Itálica e outras partes da Europa divulgando muitos textos clássicos
de filosofia e instruindo os humanistas na arte da exegese. Grande proporção
do que hoje se conhece de literatura e legislação greco-romanas nos foi
preservado por Bizâncio, e esse novo conhecimento dos textos clássicos
originais, bem como de suas traduções, foi, no entender de Luiz Marques:
"uma das maiores operações de apropriação de uma cultura por outra,
comparável em certa medida à da Grécia pela Roma dos Cipiões no século II a.C.
Ela reflete, além disso, a passagem, crucial para a história do Quatrocentos, da
hegemonia intelectual de Aristóteles para a de Platão e de Plotino.”
Nesse grande influxo de idéias foi reintroduzida na Itália toda a
estrutura da antiga Paideia, um corpo de princípios éticos, sociais, culturais e
pedagógicos concebido pelos gregos e destinado a formar um cidadão
modelar. As novas informações e conhecimentos e o concomitante progresso
em todas as áreas da cultura levaram os intelectuais a perceberem que se
achavam em meio a uma fase de renovação comparável às fases brilhantes das
civilizações antigas, em oposição à Idade Média anterior, que passou a ser
considerada uma era de obscuridade e ignorância. Ao longo do Quattrocento
Florença se manteve como o maior centro cultural do Renascimento,
atravessando um momento de grande prosperidade econômica e
conquistando também a primazia política em toda a região, apesar de Milão e
Nápoles serem rivais perigosos e constantes. A opulência da sua oligarquia
burguesa, que então monopolizava todo o sistema bancário europeu e
adquiria um brilho aristocrático e grande cultura, e se entregava à "bela vida",
gerou na classe média uma resistência retrógrada que buscou no gótico
idealista um ponto de apoio contra o que via como indolência da classe
dominante. Estas duas tendências opostas deram o tom para a primeira
metade deste século, até que a pequena burguesia enfim abandonou o
idealismo antigo e passou a entrar na corrente geral racionalista. Foi o século
dos Médici, destacando-se principalmente Lorenzo de' Médici, grande
mecenas, e o interesse pela arte se difundia para círculos cada vez maiores.
A Alta Renascença
A Alta Renascença cronologicamente engloba os anos finais do
Quattrocento e as primeiras décadas do Cinquecento, sendo delimitada
aproximadamente pelas obras de maturidade de Leonardo da Vinci (a partir
de c. 1480) e o Saque de Roma em 1527. Foi a fase de culminação do
Renascimento, que se dissipou mal foi atingida, mas seu reconhecimento é
importante porque ali se cristalizaram ideais que caracterizam todo o
movimento renascentista: o Humanismo, a noção de autonomia da arte, a
emancipação do artista de sua condição de artesão e equiparação ao cientista
e ao erudito, a busca pela fidelidade à natureza, e o conceito de gênio, tão
perfeitamente encarnado em Da Vinci (fig.40), Rafael e Michelangelo. Se a
passagem da Idade Média para a Idade Moderna não estava ainda completa,
pelo menos estava assegurada sem retorno possível. Eventos como a
descoberta da América e a Reforma Protestante, e técnicas como a imprensa
de tipos móveis, transformaram a cultura e a visão de mundo dos europeus,
ao mesmo tempo em que a atenção de toda a Europa se voltava para a Itália
e seus progressos, com as grandes potências da França, Espanha e Alemanha
desejando sua partilha e fazendo dela um campo de batalhas e pilhagens. Com
as invasões a arte italiana espalhou sua influência por uma vasta região do
continente
Foi na Alta Renascença que a arte atingiu a perfeição e o equilíbrio
classicistas perseguidos durante todo o processo anterior, especialmente no
que diz respeito à pintura e à escultura. Pela primeira vez a Antiguidade era
compreendida como um todo unificado e não como uma sequência de
eventos isolados, levando a arte a descartar a simples imitação decorativa do
antigo e troca de uma emulação mais completa, mais essencial e também
muito mais erudita. Porém esse classicismo, embora maduro e rico,
conseguindo plasmar obras de grande pujança, comparáveis à arte antiga, tinha
forte carga formalista, espelhando o código de ética artificial, cosmopolita e
abstrato que se impunha entre os círculos ilustrados e que prescrevia a
moderação, autocontrole, dignidade e polidez em tudo, e que teve na pintura
de Rafael e na música de Palestrina seus mais perfeitos representantes
artísticos, e no livro O Cortesão de Baldassare Castiglione sua súmula teórica.
O idealismo que foi intensamente cultivado na antigüidade clássica encontrava
uma atualização e, segundo Hauser,
"De acordo com os pressupostos desta arte, pareceria inconcebível, por
exemplo, que os apóstolos fossem representados como camponeses
vulgares e artesãos comuns, como o eram tão freqüentemente e com tanto
sabor, no século XV. Para esta arte nova, os profetas, apóstolos, mártires
e santos são personalidades ideais, livres, grandes, poderosas e
dignificadas, graves e solenes, uma raça heróica, no pleno florescimento
de uma beleza madura e enternecedora. Na obra de Leonardo
encontramos ainda tipos da vida comum, ao lado destas nobres figuras,
mas gradualmente nada que não seja grande e sublime parece digno de
representação artística".
Apesar desse código de ética, era uma sociedade agitada por
mudanças políticas, sociais e religiosas importantes em que a liberdade
anterior desapareceu, e o autoritarismo e a dissimulação se ocultavam por
trás das normas de boa educação e da disciplina, como se lê em O Príncipe, de
Maquiavel, um manual de governo que dizia que "não existem boas leis sem
“ Fig. 40 – O Homem de Vitruvius ”,Leonardo da Vinci - c.1485
boas armas", não distinguindo poder de autoridade e legitimando o uso da
força para controle do cidadão, livro que foi uma referência fundamental do
pensamento político renascentista e uma inspiração decisiva para a construção
do Estado moderno. Assim, a grande diferença de mentalidade entre o
Quattrocento e o Cinquecento é que enquanto naquele a forma é um fim, neste
é um começo; enquanto naquele a natureza fornecia os padrões que a arte
imitava, neste a sociedade precisará da arte para provar que existem tais
padrões. Rafael resumiu os opostos em seu famoso afresco A Escola de
Atenas (fig.41), uma das mais importantes pinturas da Alta Renascença,
realizada na primeira década do Cinquecento, que ressuscitou o diálogo
filosófico entre Platão e Aristóteles, ou seja, entre o idealismo e o empirismo.
Nesse período se observou o paulatino deslocamento do maior centro
cultural renascentista de Florença para Roma, com a proteção do papado e o
crescente afluxo de artistas de outras partes.
“ Fig. 41– A Escola de Atenas – Rafael Sanzio - 1511
O Cinquecento
O Cinquecento (século XVI) é a derradeira fase da Renascença,
quando o movimento se transforma, se expande para outras partes da Europa
e Roma sobrepuja definitivamente Florença como centro cultural,
especialmente a partir do pontificado de Júlio II. Roma até então não havia
produzido grandes artistas renascentistas, e o classicismo havia sido plantado
através da presença temporária de artistas de outras partes. Mas com a
fixação na cidade de mestres do porte de Rafael, Michelangelo e Bramante
formou-se uma escola local, tornando-a o mais rico repositório da arte da
Alta Renascença e da sua continuação cinquecentesca, onde a política cultural
do papado deu uma feição característica a toda esta fase. Boa parte dessa nova
influência romana derivou do desejo de reconstituir a grandeza e a virtude
cívica da Roma Antiga, o que se refletiu na intensificação do mecenato e na
recriação de práticas sociais e simbólicas que imitavam as da Antiguidade,
como os grandes cortejos de triunfo, as festas públicas suntuosas, as
representações plásticas e teatrais grandiloquentes, cheias de figuras
históricas, mitológicas e alegóricas. Na seqüência do saque de Roma de 1527
e da contestação da autoridade papal pelos Protestantes o equilíbrio político
do continente se alterou e sua estrutura sócio-cultural foi abalada, com
conseqüências negativas principalmente para a Itália, que além de tudo deixava
de ser o centro comercial da Europa enquanto novas rotas de comércio eram
abertas pelas grandes navegações. Todo o panorama mudava de figura,
declinando a influência católica, perdendo-se a unidade cultural e artística
recém conquistada na Alta Renascença e surgindo sentimentos de
pessimismo, insegurança e alheamento que caracterizam a atmosfera do
Maneirismo. Apareceram escolas regionais nitidamente diferenciadas em
Roma, Florença, Ferrara, Nápoles, Milão, Veneza, e o Renascimento se
espalhou então definitivamente por toda a Europa, dando frutos em especial
na França, Espanha e Alemanha, tingidos pelos históricos locais específicos. A
arte de longevos como Michelangelo e Ticiano registrou em grande estilo a
transição de uma era de certezas e clareza para outra de dúvidas e drama que
viu aparecer a Contra-Reforma e se dirigia para o Barroco do século XVII.
Um dos impactos mais importantes da Reforma Protestante sobre a
arte renascentista foi a condenação das imagens sagradas, o que despovoou
os templos do norte de representações pictóricas e escultóricas de santos e
personagens divinos, e muitas obras de arte foram destruídas em ondas de
fúria iconoclasta. Com isso as artes representativas sob influência reformista
se voltaram para os personagens profanos e a natureza. O papado, porém,
logo percebeu que a arte podia ser uma arma eficiente contra os protestantes,
auxiliando em uma evangelização mais ampla e mais sedutora para as grandes
massas do povo, e durante a Contra-Reforma foram sistematizados uma nova
série de preceitos baseados na teologia contra-reformista, que determinavam
em detalhe como o artista deveria criar sua obra de tema religioso. Mas assim,
se por um lado a Contra-Reforma deu origem a mais encomendas de arte
sacra pela Igreja Católica, a antiga liberdade de expressão artística que se
verificara em fases anteriores desapareceu, uma liberdade que permitira a
Michelangelo decorar seu enorme painel do Juízo Final, pintado no coração do
Vaticano, com uma multidão de corpos nus de grande sensualidade, ainda que
o campo profano permanecesse pouco afetado pelas novas regras, que eram
bastante dogmáticas e moralistas (fig.42).
“ Fig. 42 – O Juízo final ”,Michelangelo - c.1564
Apesar disso, as aquisições intelectuais e artísticas da Alta
Renascença que ainda estavam frescas e resplandeciam diante dos olhos não
poderiam ser esquecidas de pronto, mesmo que seu substrato filosófico já
não pudesse permanecer válido diante dos novos fatos políticos, religiosos e
sociais. A nova arte que se fez, ainda que inspirada na fonte do classicismo, o
traduziu em formas inquietas, ansiosas, distorcidas, agitadas, ambivalentes,
apegadas a preciosismos intelectualistas, características que refletiam os
dilemas do século. O Maneirismo, que cobre os dois terços finais do século
XVI e depois se confunde com o Barroco, foi um movimento que tem gerado
historicamente muito debate entre os historiadores da arte. Depois do século
XVII ele passou a ser encarado com desprezo, como uma degeneração
mórbida e afetada dos ideais clássicos autênticos. Nos dias de hoje, porém,
essa visão já não permanece, tendo sido revisada através de duas vertentes
da crítica. Para uns ele se manifestou em uma área geográfica tão vasta e de
maneira tão polimorfa e tão distinta do Quattrocento e da Alta Renascença,
que se tornou um dilema inconciliável descrevê-lo como parte do fenômeno
original, basicamente classicista e italiano, pois parece-lhes que em muitos
sentidos ele constitui uma completa antítese dos princípios clássicos de
proporção equilibrada, unidade formal, clareza, lógica e naturalismo, tão
prezados pelas fases anteriores e que definiriam o "verdadeiro" Renascimento.
A consequência foi estabelecer o Maneirismo como um movimento
independente, reconhecendo uma nova e vigorosa forma de expressão no
que se chegou a ver como decadência e distorção, tendo sua importância
realçada por esses traços fazerem dele a primeira escola moderna de arte. A
outra vertente crítica, contudo, o analisa como um aprofundamento e um
enriquecimento dos pressupostos clássicos e como uma legítima conclusão
do ciclo do Renascimento; não tanto uma negação ou desvirtuamento
daqueles princípios, mas uma reflexão sobre sua aplicabilidade prática naquele
momento histórico e uma adaptação - às vezes dolorosa mas em geral criativa
e bem sucedida - às circunstâncias da época.
A Pintura Renascentista
Sucintamente, a contribuição maior da pintura do Renascimento foi
sua nova maneira de representar a natureza, através de domínio tal sobre a
técnica pictórica e a perspectiva, que foi capaz de criar uma eficiente ilusão
de espaço tridimensional em uma superfície plana. Tal conquista significou um
afastamento radical em relação ao sistema medieval de representação, com
sua estaticidade, seu espaço sem profundidade e seu sistema de proporções
simbólico - onde os personagens maiores tinham maior importância numa
escala que ia do homem até Deus - estabelecendo um novo parâmetro, cujo
fundamento era matemático, na hierarquia teológica medieval. A linguagem
visual formulada pelos pintores renascentistas foi tão bem sucedida que
permanece válida até hoje.
O cânone greco-romano de proporções voltava a determinar a
construção da figura humana; também voltava o cultivo do Belo tipicamente
clássico, e a perspectiva baseada no ponto de vista central e único definia a
construção dos cenários, no que se pode ver um reflexo da popularização dos
princípios filosóficos do racionalismo, antropocentrismo e do humanismo. A
pintura renascentista é em essência linear; o desenho era agora considerado
o alicerce de todas as artes visuais e seu domínio, um pré-requisito para todo
artista. Para tanto, foi de grande utilidade o estudo das esculturas e relevos
da Antiguidade, que deram a base para o desenvolvimento de um grande
repertório de temas e de gestos e posturas do corpo. Na construção da
pintura, a linha convencionalmente constituía o elemento demonstrativo e
lógico, e a cor indicava os estados afetivos ou qualidades específicas. Outro
diferencial em relação à arte da Idade Média foi a introdução de maior
dinamismo nas cenas e gestos, e a descoberta do sombreado, ou claro-escuro,
como recurso plástico e mimético.
Giotto, atuando entre os séculos XIII e XIV, foi o maior pintor da
primeira Renascença italiana e o pioneiro dos naturalistas em pintura. Sua
obra revolucionária, em contraste com a produção de mestres do gótico
tardio como Cimabue e Duccio, causou forte impressão em seus
contemporâneos e dominaria toda a pintura italiana do Trecento, por sua
lógica, simplicidade, precisão e fidelidade à natureza. Ambrogio Lorenzetti e
Taddeo Gaddi continuaram a linha de Giotto sem inovar, embora em outros
características progressistas se mesclassem com elementos do gótico ainda
forte, como se vê na obra de Simone Martini e Orcagna. O estilo naturalista
e expressivo de Giotto (fig.43), contudo, representava a vanguarda na
visualidade desta fase, e se difundiu para Siena, que por um tempo passou à
frente de Florença nos avanços artísticos. Dali se estendeu para o norte da
Itália.
“Fig. 43 - Natividade – Giotto de Bodonne”, c.1302
No Quattrocento as representações da figura humana adquiriram
solidez, majestade e poder, refletindo o sentimento de autoconfiança de uma
sociedade que se tornava muito rica e complexa, com vários níveis sociais, de
variada educação e referenciais, que dela participavam ativamente, formando
um painel multifacetado de tendências e influências. Mas ao longo de quase
todo o século a arte revelaria o embate entre os derradeiros ecos do gótico
espiritual e abstrato, exemplificado por Fra Angelico (fig.44), Paolo Uccello,
Benozzo Gozzoli e Lorenzo Monaco, e as novas forças organizadoras,
naturalistas e racionais do classicismo, representadas por Botticelli(fig. 45),
Pollaiuolo, Piero della Francesca e Ghirlandaio.
“ Fig. 44 - A Anunciação –Fra Angelico ”, c.1450
“ Fig. 45 - O Nascimento de Vênus - Boticelli ”, c.1485
Nesse sentido, depois de Giotto o próximo marco evolutivo foi
Masaccio, em cujas obras o homem tem um aspecto nitidamente enobrecido
e cuja presença visual é decididamente concreta, com eficiente uso dos efeitos
de volume e espaço tridimensional(fig.46). Dele se disse que foi "o primeiro
que soube pintar homens que realmente tocavam seus pés na terra".
“Fig. 46 - A adoração dos Magos –Massacio ”, c.1426
Também deve-se lembrar a influência renovadora sobre os pintores
italianos da técnica da pintura a óleo, que no Quattrocento estava sendo
desenvolvida nos Países Baixos e atingira elevado nível de refinamento,
possibilitando a criação de imagens muito mais precisas e nítidas e com um
sombreado muito mais sutil do que o que era conseguido com o afresco, a
encáustica e a têmpera. As telas flamengas eram muitissimo apreciadas na Itália
exatamente por essas qualidades, e uma grande quantidade delas foi
importada, copiada ou emulada pelos italianos.
Mais adiante, na Alta Renascença, com Leonardo da Vinci (fig. 47), a
técnica do óleo se refinou e penetrou no terreno do sugestivo, ao mesmo
tempo em que aliava fortemente arte e ciência.
“Fig. 47 - A Virgem e o Menino com Santa Anna –Leonardo da Vinci ”, c.1510
Com Rafael o sistema classicista de representação visual chegou a
um apogeu, e se revelou a doçura, a grandeza solene e a perfeita harmonia
(fig.48). E Michelangelo, coroando o processo de exaltação do homem, levouo a uma nova dimensão, a do sobre-humano (fig. 49).
“ Fig. 48 - A Madonna Sixtina –Rafael Sanzio ”, c.1513
“ Fig. 49 - Detalhe da Criação de Adão – Capela Sixtina – Michelangelo
Buonarroti ”, c.1510
Aqui chegamos ao contexto histórico de nosso biografado, foi em
meio a essa atmosfera, nas próximas páginas veremos a história da vida e obra
daquele que foi considerado o Homem símbolo da renascença. Leonardo
trouxe o Homem para Terra, Michelangelo elevou-o aos céus e Rafael
transformou o homem terreno em Deus.

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