varal no. 4 - Varal do brasil

Transcrição

varal no. 4 - Varal do brasil
LITERÁRIO, SEM FRESCUR@S
@ @RTE UNINDO @ LÍNGU@
E @ LÍNGU@ UNINDO @
@RTE!!
@NO 2 -- NO. 4
VARAL DO BRASIL
Literário, sem frescuras
Genebra, verão de 2010
Ano 2—No. 4
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VARAL DO BRASIL
EXPEDIENTE
Revista Literária VARAL DO BRASIL
No. 4 — Genebra — CH
Copyright © Vários autores
O Varal do Brasil é promovido,
organizado e divulgado pelo site:
www.coracional.com
Site do Varal: www.varadobrasil.ch
Textos: Vários Autores
Ilustrações: Vários Autores
Revisão parcial de cada autor.
Colaboradores:
Paula Barrozo
Julio Vicente
Revisão Geral: Varal do Brasil
Composição e diagramação:
Jacqueline Aisenman
ANA MARIA MACHADO
ÉRICO VERISSIMO
HILDA HILST
JOSÉ SARAMAGO
ZÉLIA GATTAI
JOSÉ MINDLIN
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A distribuição ecológica, por email, é
gratuita.
Se você deseja participar do Varal do
Brasil no. 05, envie seus textos até
05 de agosto de 2010 para
[email protected]
A participação é gratuita. Participe!
« O vírus do amor ao livro é
incurável, e eu procuro inocular
esse vírus no maior número
possível de pessoas. »
José Mindlin
No meio do meu caminho
tem coisa de que não gosto.
Cerca, muro, grade tem.
No meio do seu, aposto,
tem muita pedra também.
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VARAL DO BRASIL
Quando fazemos alguma coisa para alguém com
toda vontade e carinho, temos a certeza de fazer
o melhor que podemos. Mas mesmo assim nos
esforçamos para ser cada vez melhor.
O VARAL, desde o seu número 0, vem sendo
feito para aqueles que gostam de uma boa leitura,
para os que apreciam conhecer os talentos que
pelo mundo se espalham, de uma maneira nova,
simples, descontraída.
Assim, trazemos a cada número uma compilação
de artigos, receitas, dicas. Mas, principalmente,
trazemos a alma do VARAL: os escritores, os
artistas que nos privilegiam ao mostrar aqui os
seus trabalhos.
Poemas, contos, crônicas. Para todas as idades.
Você vai ler neste número sobre o Folclore e as
comidas típicas brasileiras e assim fazer um passeio colorido pelo Brasil.
Vai encontrar também um interessante artigo sobre a Imigração Suíça no Brasil e sobre o filme
que estão fazendo sobre o assunto.
Lerá sobre os golfinhos e os pescadores na cidade de Laguna, Santa Catarina.
Lerá poemas encantadores, crônicas que tocam o
flagrante cotidiano e contos que vão com certeza
lhe transportar.
O VARAL está alegre e quente como o verão.
Aos nossos novos colaboradores, aos leitores,
aos escritores, nosso agradecimento por estar trilhando conosco este caminho.
Desejamos a todos uma boa leitura!
Jacqueline Aisenman
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Chers Amis,
A partir de agora estarei colaborando com a Revista Virtual
Literária “VARAL do BRASIL”,
apresentando novos poetas, contos, roteiros de charme, fotografia, assuntos diversos e curiosidades.
Estou muito feliz
em entrar para a
equipe do “VARAL
do BRASIL” !!!!!
Gros Bisous♥♥♥
Paula Barrozo
Suiça-Brasileira, nascida em Curitiba, residindo em Londrina, casada e mãe de
três filhas.
Apaixonada pela escrita desde pequena
por se espelhar em seu pai jornalista, colunista por paixão e opção, colaborou com matérias diversas para alguns
jornais no Brasil.
Atualmente colabora com matérias para
as revista eletrônicas `Roteiro da Moda` e
`Varal do Brasil´.
http://www.roteirodamoda.com/
Seja você também um colaborador do
VARAL! Envie suas idéias, venha participar conosco desta aventura digital.
VARAL DO BRASIL
•
Alessa B. - Com amor e com ternura
•
Alessandra Neves - Vou poetar
•
Ana Anaissi - Camila, a cobra aventureira
•
Ana Mariah - Régua T
•
André Luis Aquino - Você é a inspiração
•
Angela Costa - Como deitar como você
•
Antônio Vendramini Neto - As Gárgulas
•
Cristiane Stancovik - Ilha da magia
•
Daniel Cravo Silveira - Por que?
•
Deyse Zarichta Ferreira - Para aconselhar-me
•
Diego Mendes Sousa - Sêmen de incêndio
•
Fábio Ramos dos Santos - Fragmentos da alma
•
Francisco Gregory - Encruzilhada e Missão
•
Gilberto Nogueira de Oliveira - De madrugada
•
Gilmar Carlos Milezzi - O garanhão de Florianópolis
•
Gustavo H. Bella - O que escrevo em papel…
•
Icléia Inês R. Schwarzer - Projeto olhar vital
•
Jaci Santana - Encontro Marcado
•
Jacqueline Aisenman - Pretexto
•
Jania Souza - Ecos da agoniza humana
•
José Carlos Bruno - Quanto custa o amor…
•
Julio César Vicente - Homem e animal
•
Jussara Petek - Ahhh… poesia...
6
VARAL DO BRASIL
•
Lariel Frota - Mundo estranho
•
Lelo Néspoli - O homem que gostava de relógios
•
Luiz Eduardo Gunther - O valor das palavras
•
Ly Sabas - Requiem aeternam
•
Marcelo Moraes Caetano - Viola bastarda
•
Marcelo C. Madeira - Um dia de sol em Zurique
•
Renata Gomes de Farias - Sofia e o arco-íris /
Sofia na janela
•
Renata Iacovino - Não lembrava
•
Roselis Batistar - Confissão
•
Samantha Verdum - Fotografias
•
Silmara de Souza Oliveira - Um dia de Alice
•
Tino Portes - Liberdade
•
Valnice Costa - Amando
•
Valquíria Gesqui Malagoli - Uma arca no bosque
•
Varenka de Fátima e Francisco Chagas Araújo Dueto/Desespero
•
Víctor Manoel G. Vilena - Pele com Pele
•
Victoria Adum - Mulher...
•
Vó Fia - A filosfia de seu Leco
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VARAL DO BRASIL
COM LOUVOR E COM TERNURA
Por Alessa B.
Se te amei! Se minha vida só queria
Pela tua viver,
No silêncio do amor e da ventura
Nos teus lábios morrer!
(Álvares de Azevedo)
Amei-te com louvor e com ternura
Em todo vão de tempo e cada hora,
Vertida nesse amor me fiz tão pura
Aos teus pés como quem um Anjo adora.
Oh! Quanto frenesi, quanta ventura
Sagrados braços pela noite afora!
Do instante a magia só perdura...
Do anoitecer até a branda aurora.
Tão louca! Mil quimeras no meu peito
Lancei à luz candente desse olhar!
Amei-te com amor mais insuspeito,
A gêmea alma que reflete o par.
Oh! Deste-me amor tão putrefeito,
Apaixonada pela Literatura desde sempre, descobriu a Poesia aos 14 anos, quando então passou a exercitar a arte dos versos por conta própria. Tem como seus
ícones e espelhos na poesia mundial, poetas como: Camões, Vinicius de Moraes,
Álvares de Azevedo, Bocage, Gonçalves Dias, entre outros. Vem acumulando
menções honrosas e posições de destaque em concursos literários pelo país. Pode ser encontrada nos seguintes endereços:
Comunidade de Poesias Cadafalso Poético
http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=34564433
Alquimia, Arte & Poesia
http://transversu.blogspot.com/
Recanto das Letras
http://recantodasletras.uol.com.br/autor.php?id=63043
E-mail:
[email protected]
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VARAL DO BRASIL
VOU POETAR
Por Alessandra Neves
E me incomoda interpretar
Interpretação textual
Isso ainda me incomoda…
Dizem que digo o que
Acham que quero dizer
E que me incomoda esse dizer
Hora falo
Hora poeto
Hora só escrevo…
E pensa que é fácil?!
É fácil resgatar o simples
Evidenciar o óbvio
Eternizar o cotidiano?
Como disse Clarice Lispector:
« Voam faíscas e lascas
Como aços espalhados »
E alguém junta seus lascas
E dá a forma que deseja
Dizendo que é o que deseja
Dizendo que é o que quero dizer
Ora pois!
Digo o que tenho que dizer
Entenda o que quiser entender
Só não afirme o que acha que eu quero dizer
E tenho dito!
A
lessandra Pacheco das Neves,
nascida em 29 de abril de 1982 na cidade de
Tubarão, Santa Catarina, é estudante do curso de letras na Universidade do Sul de Santa
Catarina. Escreve desde os 9 anos de idade
e somente agora foi incentivada por sua amiga Nelci Cristiane Stancovik, a dividir,
inclusive com ela, seus escritos. Alessandra
também participa de uma instituição de Bioenergia de onde tira inspiração.
O AMOR AO PRÓXIMO NÃO É ALGO QUE APENAS SE SINTA MAS UM SENTIMENTO QUE SE DEMONSTRA E COMPARTILHA!
HOSPITAL DE LAGUNA
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Ilumine esta idéia! Como você deseja que o Hospital de Laguna seja? Bom? Muito bom? Ótimo? Qual o seu desejo?
Com quanto você pode contribuir, na sua conta de luz, para o
Hospital ser assim, do jeito que você quer? Você pode!
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O Cartão de Benefícios proporciona a usuários e dependentes
descontos nos serviços de internação e de urgência/
emergência oferecidos pelo Hospital de Laguna e pela rede
de estabelecimentos e profissionais credenciados (visite no
site o link do Cartão de Benefícios). Os descontos variam de
10 a 50%, podendo chegar a 90% nas farmácias. procure o
representante do hospital no horário comercial.
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TORNE-SE UM ASSOCIADO
Para tornar-se um associado do hospital,
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R$ 10,00.
Todo associado poderá usufruir das vantagens do cartão de benefícios sem pagamento adicional.
VARAL DO BRASIL
"Sobre nossa casa, de Jorge e minha, na rua Alagoinhas, 33, no bairro do Rio Vermelho, em
Salvador da Bahia, muito já se disse, muito se cantou. Citada em prosa e verso, sobra-me,
no entanto, ainda o que dela falar. Fico pensando se alcançarei escrever todas as histórias,
tantas, de gente e de bichos que nela passaram nesses quarenta anos lá vividos. Neste momento, quando me despeço do lugar onde passei o melhor tempo de minha vida, ao deixar
Jorge repousando sob a mangueira por nós plantada no jardim, mil lembranças afloram-me
à cabeça. Lembro-me de coisas que para muitos podem parecer tolas, mas que para mim
não são. Lembro-me, por exemplo, de duas mimosas lagartixas que viviam atrás de um
quadro de Di Cavalcanti, acima da televisão da sala, e que tanto nos divertiram. Um belo
dia elas apareceram, sem mais nem menos: uma toda rosada, quase transparente; a outra
com listras escuras em volta do corpo. Jorge foi logo escolhendo: 'A zebrinha é minha.' A
mais bonita, pois, ficou sendo a dele. A outra, que jeito? De dona Zélia. Recostados em
nossas poltronas, após o jantar, para assistir aos noticiários de TV, vimos, pela primeira
vez, as duas saírem de seu esconderijo, uma atrás da outra, direto para uma lâmpada acesa,
do alto, reduto de mosquitos e de bichinhos atraídos pela luz. - Elas agora vão jantar - disse
Jorge. Dito e feito: as duas se aproximaram docemente da claridade, estancaram a uma pequena distância da lâmpada e, imóveis, na moita, só observando. De repente, o bote fatal foi
desfechado e lá se foi um dos insetos para o bucho da lagartixa de Jorge. Diante do perigo,
quem era de voar voou, quem era de correr, correu, lá se foram os bichinhos, não sobrou
um pra remédio, o campo ficou limpo. Estáticas, as duas sabidas aguardaram pacientes a
volta das vítimas, que, inocentes, aos poucos foram criando coragem e se chegando para,
ainda uma vez, cair na boca do lobo. Ainda uma vez o lobo foi a zebrinha, que, como num
passe de mágica, abocanhou um mosquito. Encantado, Jorge ria de se acabar, provocandome: 'A tua não é de nada!'. Eu protestei e ele riu mais ainda. Brincadeira boba, inocente,
passou a ser nosso divertimento durante muitas e muitas noites, muitas e muitas noites voltamos à nossa infância".
(Trecho do livro Memorial do Amor de Zélia Gattai, Editora Record)
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VARAL DO BRASIL
Tiu ru ru tocava a flauta,
Ela saía do cesto.
Alguém jogava moeda,
Ela voltava pro cesto.
Tiu ru ru tocava a flauta,
Ela ficava no cesto.
Seu dono lhe dava um tranco,
Ela saía do cesto.
alguém jogava moeda,
Ela voltava pro cesto.
Assim vivia Camila,
Dez anos de sobe e desce.
Dormia pensando nisso.
- Ai meu Deus, ninguém merece!
Mas no outro dia olha ela:
- Que flauta mais enjoada!
Camila subia fula,
Descia desesperada.
E o faquir? Que homem chato!
Seus dias todos iguais:
Explorando cobra velha
Que já não aguentava mais.
Tiu ru ru tocava a flauta.
-Ai socorro, eu quero paz!
Queria me aposentar,
Não posso mais com isso aqui.
Tiu ru ru e sobe e desce,
Vou picar esse faquir!
Realmente estava exausta.
Camila estava cansada.
Mais um dia assim no cesto,
Ela estaria acabada.
Mas cobras também têm anjo,
E que sentem compaixão;
O dela pensou, pensou,
E encontrou uma solução.
O faquir foi convidado
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A se exibir num navio.
Era um navio estrangeiro,
Com marinheiros do Rio.
Rio de Janeiro, Brasil.
(Ela morava na Europa).
Camila agarrou a chance.
- Vou ficar, gostei da tropa!
E foi isso o que ela fez;
Na hora de ir embora,
O faquir levou só pano,
Camila ficou de fora.
Quando o faquir descobriu
Que o cesto estava vazio,
Ela subia e descia
Mas por causa do navio.
E como estava contente!
- Liberdade, liberdade!
Lá vou eu para o Brasil.
Quero viver de verdade!
VARAL DO BRASIL
Está certo que a viagem
Não estava uma maravilha,
Parecia lotação
Pois parava de ilha em ilha.
Falou para o comandante.
-Mas quem dá as ordens sou
eu
E acho melhor dar calmante!
E lá foi ele na frente,
Com a tripulação atrás.
O capitão não quis ir,
Tava assustado demais.
Ao menos era agitada,
Bem cheia de movimento.
Mas o caos só começou
Depois do descobrimento.
Não deram nenhum dos dois.
Não deu tempo para nada.
Um marujo adiantou-se
E deu-lhe uma bofetada.
Quando entraram no banheiro,
Davam um passo e davam
ré,
Mas Camila, muito esperta,
Já tinha dado no pé.
Foi tudo tão repentino,
No meio da madrugada,
O capitão foi pro banho
E viu Camila enroscada.
O Capitão realmente
Acalmou, quase adormece.
-Eu manjo disso, colegas,
É nada não, é só estresse.
Se enrolou numa toalha
E saiu feito um tufão;
Gritava feito corneta,
Chamando a tripulação.
Ficaram todos olhando
E o capitão se sentou.
Parecia bem mais calmo
Mas de repente berrou:
-Por que grita o Capitão?
-O nosso navio afunda?
-Estamos sendo atacados?
-Ou a privada está imunda?
-Ai, socorro! Eu vi uma cobra
Enroscada no banheiro!
-Cobra nada, capitão,
É só o cano do chuveiro!
O Capitão só berrava,
Não conseguia falar.
-Será que ficou maluco?
-Será que enjoou do mar?
-Então eu vou confundir
Alguma cobra com um cano?
Por acaso cano enrosca?
Não é possível haver engano.
-Melhor chamarmos o médico.
-E eu acordo o comandante.
-Eu vou providenciar
Uma junta de Almirantes.
Vão lá ver agora mesmo,
Se pensam que eu estou maluco.
Já fui picado de cobra
Bem menino em Pernambuco.
O médico, que dormia,
Já levantou de mau-humor,
Viu de longe o Capitão.
-Deve estar com alguma dor.
Um pouco contrariado,
O comandante aceitou.
-Eu vou lá ver essa cobra,
Já que você me acordou.
Vá pegar um analgésico!
12
Depois, tomaram coragem,
Deram um puxão na cortina,
Encontraram sabonete,
Óculos e uma botina.
-Que bagunça que ele fez!
-Foi na hora do pavor.
-Capitão, o senhor está aí?
Arrume isso, por favor!
-Mas, a cobra, comandante,
Tenho certeza que vi.
-Conversamos amanhã,
Agora é melhor dormir.
Ninguém mais pôde falar,
Foi embora o comandante.
-“Era só o que me faltava,
Um capitão delirante.”
Camila, muito assustada,
Nem mexia, estava dura.
-Depois que me descobriram,
Não me sinto mais segura.
Foi se esconder, a coitada,
Num cesto de roupa suja.
VARAL DO BRASIL
--Que decadência meu Deus,
E eu querendo ser maruja.
Estava pensando nisso
Quando o cesto se mexeu;
Botou a carinha de fora
Mas um olho apareceu.
É claro, o do capitão!
Tava arrumando o banheiro
Mas muito pouco à vontade,
Estava meio cabreiro.
O coitado teve um choque.
Camila empalideceu.
-Você vai fugir primeiro?
Se não vai você, vou eu!
Fugiu um pra cada lado.
Camila pulou do saco
E o capitão azarado
Dessa vez gritava fraco.
-Socorro, meu Deus, socorro!
Tem cobra por toda parte!
Não controlou a emoção,
Desmaiou e teve um enfarte.
Mas foi um enfarte fraquinho,
No outro dia estava bem.
-Vai ter que ficar quietinho.
Não vai poder ver ninguém.
-E a tal cobra comandante?
Agora foi capturada?
-Nem foi vista, capitão,
Esquece isso camarada.
E saiu da enfermaria
Com pena do capitão.
-“Há tanto tempo no mar
Que está perdendo a razão.”
Mas quem perdia a razão
Era a pobre da Camila.
-Homenzinho exagerado,
Parece que eu sou godzilla!
Camila entrou num caixote.
-Vou chegar aqui pra trás;
Se outro marujo me pega,
Aí acabou a minha paz.
Só o capitão que me viu
E os outros tão duvidando,
Tenho uma pequena chance
Dessa história ir se acalmando.
Pelos cálculos de cobra,
Falta pouco pro Brasil.
Vou me livrar do faquir...
Se é que ele não me seguiu.
E Camila estava certa.
Mal sabia, a coitadinha,
Que o faquir ficou tão bravo
Que até alugou uma lanchinha.
Mas ele ainda estava longe;
-Perigoso é o capitão!
E assim que ficou curado,
Quis fazer uma inspeção.
E ninguém achou boa idéia.
-Mas nós já estamos chegando!
-Quero provar pra vocês
Que tem cobra circulando.
-Não termino essa viagem
Sem comprovar a verdade.
E se essa história se espalha?
13
Chega na minha cidade?
-Tá bom capitão, uma chance.
Não vou fazer injustiça.
Mas quero ver essa cobra,
Não vale se for linguiça.
Capitão chamou os marujos,
Estava determinado.
-Não pode haver um cantinho
Que não seja examinado.
Camila sentiu a mudança.
Era muito movimento.
-Ai, meu Pai, isso é comigo,
Não acaba esse tormento!
E saiu do esconderijo,
Se arrastou até o convés.
-Aqui não dá pra ficar,
Eu nunca vi tantos pés.
Por sorte encontrou uma escada
Que fazia um caracol.
-O jeito agora é descer,
Venho amanhã tomar sol.
VARAL DO BRASIL
Mal começou a se enroscar...
-E agora? Estou ouvindo passos!
Pensa rápido Camila!
Estou frita, o que que eu faço?
Ah, já sei, vou me esticar
Embaixo do corrimão.
Aqui ninguém vai olhar,
Nem aquele capitão.
Camila então se esticou
E ficou bem grudadinha.
-Já contei setenta homens.
Pra que isso? Eu estou sozinha!
Completamente indefesa,
Nem veneno eu tenho mais,
É claro que eles não sabem
Mas os homens são tão
iguais...
Basta acharem uma cobrinha,
Fazem um tremendo escarcéu.
Se eu fosse alguma jibóia,
Jararaca ou cascavel...
E começam a dar pauladas,
E gritam histericamente,
Se não matam, deixam surda,
A coitada da serpente.
Oitenta e nove, noventa,
Acho que agora acabou.
Vou começar a sair...
Quem é esse que voltou?
O capitão vacilou
Pois não esperava a virada.
Aí o pedaço de pau
Não serviu pra fazer nada.
E adivinhem só quem era
Que vinha subindo só?
Não preciso nem dizer,
Camila teve até dó.
Camila “correu” enquanto
O capitão desabava.
E como ele ia saber
Que ela já não envenenava?
Ela estava pendurada,
Já pronta pra escorregar,
Sem querer ele a tocou
Quando foi se segurar.
E bastou aquela picada
Pra ele já ir vomitando;
Se apoiou no corrimão
E caiu meio babando.
Mas esse homem deu um berro,
Cambaleou no degrau
Ainda ameaçou Camila;
Pegou um pedaço de pau!
O almirante viu aquilo,
Foi chegando devagar.
-Que enjôo forte, meu filho!
É só por causa do mar?
Por mais pressa que tivesse,
Não dava pra ela correr!
Então ficou paradinha
Sem saber o que fazer.
-Meu Deus, mas que situação!
Vou ter que me decidir;
Já estou muito arrependida
De ter largado o faquir!
O capitão se jogou
Bem em cima do almirante.
-Estou morrendo, caramba!
E de um veneno possante!
Eu disse que tinha cobra!
Destruiu o meu calcanhar!
E, antes de cair duro,
Eu quero me confessar!
Mas assim, tão pressionada,
Tomou rápido a decisão:
- Questão de sobrevivência,
Vou picar o capitão!
Tava juntando marujo...
Chamaram o padre correndo
Mas quem veio foi o médico.
-Mas quem é que está morrendo?
- Sei que não tenho veneno
Mas tenho o dom de assustar.
Pediu ajuda ao seu Anjo
E atacou no calcanhar!
Abriu caminho apressado,
Viu, caído, o capitão.
-De novo? Mas não é possível!
Tá me dando um trabalhão!
14
VARAL DO BRASIL
-Não tá vendo essa mordida?
Não estou brincando doutor!
Só me resta alguns minutos,
Me socorre, por favor!
-Eu sei que você só existe
Na minha imaginação.
O que será que eu comi
Pra ter alucinação?
-Está bem é uma mordida,
Eu ouvi o que você disse.
Mas tá longe de morrer,
Só se for de esquisitice.
Vamos combinar assim:
Você não mexe, eu não mexo.
Esperamos bem quietinhos
Porque há de ter um desfecho!
-Doutor, mas eu vi a cobra!
Pulou no meu calcanhar!
E meu último pedido:
Joga meu corpo no mar!
- Vou fazer melhor que isso,
Vou lhe jogar no porão.
Marujos, venham, me ajudem
A levar o capitão!
Quando chegarmos ao Rio,
Vai ter que ser reformado;
Tá pondo em risco o navio.
Como é que foi convocado?
E levaram o capitão
Para uma área isolada.
-Ou nossa tripulação
Vai ficar apavorada.
O capitão nem chiou,
Estava aguardando a morte;
Se deitou no seu cantinho;
Mas tava mesmo sem sorte.
Camila estava na cama,
Não achou outro lugar.
O capitão quando a viu
Desistiu até de gritar.
E Camila compreendeu,
O capitão tava louco.
Resolveu obedecer.
“-Pro Brasil só falta um pouco!”
Nenhum dos dois se mexia.
Ela parecia morta,
Ele, uma estátua de gelo,
Mas aí abriram a porta...
Quando viu que eram marujos,
Ela entrou pela coberta.
E quando desceu o doutor
Ela já ficou alerta.
-Podem levá-lo pra cima!
Me desculpe capitão,
Acabo de descobrir
Que o senhor tinha razão!
Camila espiou de leve
E viu seu plano ruir;
Pois viu descer o almirante
Seguido pelo faquir.
-Capitão, mas que injustiça
Nós fizemos com o senhor!
Deixa eu ver essa mordida,
Está sentindo muita dor?
15
O faquir nos informou
Que a cobra não é venenosa;
Mas mesmo assim, uma mordida
Sempre é meio perigosa.
O capitão enquanto ouvia,
Sentia a cobra, pertinho.
Camila só se enroscava,
Mas muito devagarinho.
Após tanto sofrimento,
O capitão perdeu o medo,
Preferiu mentir pra todos
E ficar com seu segredo.
Também foi pra se vingar
Que puxou mais a coberta;
Teve pena de Camila
E apontou a porta aberta.
-Agora é tarde demais,
Ela fugiu por ali!
Eu pude vê-la saindo
Quando me deixaram aqui.
Eu não avisei pra ninguém
Pois não queriam me ouvir;
Só resolveram me ver
Por causa desse faquir.
Aproveito esse momento
E digo a todos vocês:
Se ela fugiu do faquir,
Boa coisa ele não fez!
Deve tê-la maltratado
Ou a explorado demais,
Por isso que ela escapou
Deixando o homem pra trás.
VARAL DO BRASIL
O faquir ficou zangado
E pediu indenização.
-Volta lá pra sua lanchinha,
Não vamos dar nada não!
-Se ela ainda estiver aqui
Sem coragem pra pular?
-Eu vi senhor almirante,
Ela se jogou no mar.
O capitão ficou só.
Então levantou o lençol,
Viu Camila enroscadinha
Parecendo um caracol.
Quem disse isso foi um marujo,
O mesmo da bofetada.
Deve ter visto outra coisa
Já que não enxergava nada.
Segurou devagarinho.
- Não gostei do seu faquir
Vou lhe soltar lá no Rio
Pra você se divertir.
Tinha óculos tão grossos
Pra um alto grau de miopia,
Mas esbarrava nos outros,
Derrubava uns três por dia.
Quando o navio aportou,
O capitão foi bacana...
-Chegamos ao seu destino:
Praia de Copacabana!
Mas foi bom pro capitão
Esse marujo ajudar;
O faquir deu meia-volta
E saiu sem reclamar.
Fim
O médico deu uma olhada
Na perna do capitão.
-Ainda bem que foi só um
susto,
Na verdade um arranhão.
Sobre a autora
Ana Anaissi, carioca, vivendo em Brasília
desde 1970, é artista plástica, compositora,
ilustradora e escritora. Tem um site chamado Alma Totem histórias a granel, que
foi inaugurado recentemente, onde divulga
seus trabalhos.
-Muito obrigado doutor
Mas quero ficar sozinho;
O senhor me fez de bobo,
Agora banca o bonzinho.
Vou lá ajeitar minha mala,
Sei que já estamos chegando;
Prepare a sua defesa
Que eu vou chegar reclamando!
16
VARAL DO BRASIL
Reprodução da reportagem de Arlete F. Kaufmann para o site http://www.sncweb.ch/
Um livro para crianças e jovens para
melhor compreender a história dos imigrantes suiços no Brasil. Durante o período de 1819/1920 é bom que não esqueçamos que os suiços também foram
imigrantes. Devido as crises de 1816/1817 agravada pelo insucesso das suas
safras agrícolas, a fome havia chegado
aos lares suiços, e a solução que na época pareceu mais adequada foi os movimentos migratórios para o exterior.
A IMIGRAÇÃO SUÍÇA DE 1819/1820 PARA O BRASIL
O período das guerras napoleônicas deixou, por muitas décadas após, muitas seqüelas inimagináveis pelo Imperador Napoleão Bonaparte, não só no continente europeu mas também na
América.
A Confederação Helvética, que sofrera mudanças territoriais significativas, passara também
por problemas que ocasionou distúrbios afetando sua integridade político-social. Com a chegada do liberalismo econômico e as crises de 1816/1817, agravada pelo insucesso das suas safras
agrícolas, a fome havia chegado aos lares suíços. A Confederação não tinha como mais alimentar a totalidade de seus cidadãos, e a solução que à época pareceu mais adequada seria permitir movimentos migratórios para o exterior.
Um cidadão da Gruyère, de nome Nicolas Sébastian-Gachet, foi então nomeado pelo Cantão
de Fribourg para negociar com o Príncipe Regente D. João, do Reino do Brasil Portugal e
Algarves, a instalação de uma colônia suíça em território brasileiro.
Tal iniciativa encontrou campo extremamente favorável no seio das autoridades imperiais portuguesas, pois, a exemplo dos demais países europeus, o Reino de Portugal, estrategicamente
indefensável a exércitos invasores, também sofrera a investida de Napoleão Bonaparte.
D. João e toda a corte portuguesa, numa retirada estratégica, busca refúgio na sua colônia americana e, em 1808, se instala no Rio de Janeiro.
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VARAL DO BRASIL
Em 16.05.1818, o Príncipe Regente e futuro Rei D.João VI, por Decreto Real, ratifica e aprova
as “CONDIÇÕES SOB AS QUAIS SUA MAJESTADE MUITO-FIEL QUIS CONCEDER
AO SENHOR SEBASTIÃO NICOLAO GACHET, AGENTE DO GOVERNO DE FRIBOURG, UM ESTABELECIMENTO PARA UMA COLÔNIA SUÍÇA NOS ESTADOS DO
BRASIL.”
Nesse documento se estabelecia, efetivamente, todas as condições e situações de ordem prática
com vistas à vinda dos suíços, desde as exigências do lado brasileiro (profissão, religião, etc.)
assim como as vantagens e ajudas concedidas. Também já se definiu ali o nome da futura Colônia, que passaria a se chamar Nova Friburgo.
Na Suíça a notícia repercutiu de forma muito positiva, pois os intermediários do Projeto descreviam o Brasil, em particular, a região da colônia, como um Eldorado. Alistaram-se 830 pessoas de Fribourg, 500 de Berna (incluindo o Jura de Berna), 160 do Valais, 90 do Vaud, 5 de
Neuchatel, 3 de Geneve, 143 de Aargau, 118 de Solothurn, 140 de Lucerne e 17 de Schwytz,
totalizando 2006 colonos.
À espera do embarque para a viagem pelo Oceano Atlântico, ficaram acampados nos pântanos de Milj...
Em 14 de julho de 1819 os emigrantes da Suisse Romande partiram de Estavayer-le-Lac, para
uma viagem sem volta, com muitas lágrimas e tristezas em relação aos que ficaram, mas também com muitas esperanças com o novo lar. Os colonos da chamada Suíça Alemã vieram pelos Reuss, Aar, em direção ao Reno, para se juntar em Bale a todo o contingente migratório.
Problemas relacionados com a organização do Projeto, melhor dizendo, a falta de organização
trouxe conseqüências trágicas. À espera do embarque para a viagem pelo Oceano Atlântico,
ficaram acampados nos pântanos de Milj, perto de Dordrecht, na Holanda, onde sofreram toda
espécie de desconforto, comida ruim ou deteriorada, que provocou doenças como varíola, tifo,
disenteria e malária.
Somente em 11 de setembro de 1819 as primeiras 1200 pessoas conseguiram embarcar, e em
10 de outubro as 800 restantes. Os colonos são acomodados nos veleiros Daphné, Urânia,
Deux Catherine, Debby Elisa, Heurex Voyage, Elisabeth-Marie e Camillus. O Trajan transportou apenas as bagagens pesadas dos passageiros.
A ambição do intermediário Gachet, que procurava ganhar dinheiro de todas formas possíveis,
alugou navios em quantidade insuficiente, dando ensejo a que em todos os navios havia superlotação.
Thorman, o inspetor nomeado pelo cantão de Berna, com ironia e pessimismo fúnebres, informava ao seu governo que “... como é de se supor tampouco que todos os colonos embarcados
ainda estejam vivos na chegada ao Rio de Janeiro, não há dúvida que estarão melhor acomodados e com mais espaço quando a viagem estiver chegando ao fim...”.
Por isso, a travessia do oceano foi muito triste, demorada, e com muitas mortes.
Na chegada ao Rio de Janeiro, foram recebidos de forma agradável pelo Rei D.João VI, recebendo muitos presentes e coisas típicas como pão, vinho, bananas e laranjas.
Mas a viagem ainda não acabara. Tinham que percorrer mais de 120 quilômetros até à
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VARAL DO BRASIL
Colônia. A metade do caminho era por via fluvial, até perto da atual cidade de Cachoeira de
Macacú. A partir daí em carroças e lombo de burro. Tomaram contato com a floresta tropical,
quente e úmida, com muitos animais diferentes, chuvas abundantes e caminhos estreitos, quase
intransitáveis. Mas eram bem recebidos pelas populações das fazendas por onde passavam,
recebendo presentes, doces, guloseimas em geral, e conheceram a nossa cachaça. Mais adiante,
a viagem tornou-se mais difícil, pois os carros não tinham como avançar. As mulheres, crianças e idosos iam em mulas, e os homens a pé.
A triste estatística da viagem pode ser expressa pelos seguintes números:
• mortes ainda na Europa 43
• mortes no oceano 311
• mortes no Vale do Macacú 35
Das 2006 pessoas que partiram da Suíça, apenas 1617 chegaram a Nova Friburgo e, durante a
viagem, nasceram 14 bebes.
Mas as atribulações ainda não haviam terminado. O governo imperial havia preparado apenas
100 casas. Insuficiente, tratou-se alojar em cada uma, mais de uma família, os órfãos, solteiros,
parentes, de modo que cada casa abrigou de 18 a 20 pessoas, dando origem ao que ficou conhecida como a “família artificial”.
Depois são transferidos para as terras que lhe haviam sido destinadas, também em número insuficiente, adotando-se o mesmo critério de ocupação. Mas o pior é que as terras eram totalmente impróprias para a agricultura. Íngremes, pedregosas, às vezes verdadeiras montanhas de
enormes rochas. Algumas eram tão ruins que não era possível sequer plantar uma simples horta.
Os mais corajosos e de alguma posse vão em direção ao Vale do Rio Paraíba
Contra-capa do
livro.
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VARAL DO BRASIL
Para agravar mais ainda a situação, a maior parte da ajuda prometida e estabelecida no documento inicial (Condições...), não foi cumprida. Não lhes foram dadas as sementes, o gado etc.
Aqueles que não tinham profissões definidas e as viúvas e órfãos começaram a passar fome e
foram pedir esmolas.
Sensibilizados com a situação de seus patrícios, alguns suíços do Rio de Janeiro criaram a Sociedade Filantrópica Suíça do Rio de Janeiro que tentava evitar a miséria dos colonos, dandolhes assistência médica e educação para as crianças.
Como também não houve racionalidade para a prestação dessa ajuda, ocorre a falência da Colônia e os colonos se dispersam. Somente ficam em Nova Friburgo aqueles que não tinham
condições financeiras ou materiais para ir adiante.
Os mais corajosos e de alguma posse vão em direção ao Vale do Rio Paraíba, em busca de melhores terras e clima mais quente. As cidades de Duas Barras, Cordeiro, Cantagalo, Jardim,
São Sebastião do Alto, São Fidelis, Carmo e outras,
Algumas famílias de suíços se tornam, ao longo dos anos, proprietários de terras e alguns até
prósperos aristocratas rurais, como os Monnerat, Wermelinger, Lutterbach, Heggendorn, Tardin, Thurler, Stutz, Tardin.
Embora a região centro-norte do Estado do Rio de Janeiro ainda o reduto principal da Colônia
Suíça, hoje seus descendentes estão espalhados por toda a parte, tendo participado ativamente
do desenvolvimento e crescimento do país.
Por esta razão, temos um grande orgulho de ser descendentes daqueles bravos imigrantes.
Mais sobre a imigração suíça no Brasil:
http://www.suicosdobrasil.com.br/
SUÍÇOS DO BRASIL
Na bagagem, um pouco da Suíça.
Cada imigrante suíço que desembarcou no
Brasil trouxe na bagagem um pouco de seu
país. A motivação da viagem varia conforme a
época e a história individual: fuga da pobreza,
motivos religiosos e ideológicos, busca de liberdade, gosto pela aventura, projetos pessoais
ou profissionais, curiosidade científica, globalização da economia.
O painel delineado por esta exposição revela a
diversidade de experiências que se mesclaram
à sociedade brasileira. A história que os suíços
escrevem no Brasil tem momentos de saga heróica, de superação de obstáculos e também
muitos finais felizes, pois o encontro entre as
culturas revelou-se generoso em criatividade e
oportunidades
Contato: Consulado Geral da Suíça São Paulo
Av. Paulista 1754, 4° andar
Edifício Grande Avenida
01310-920 São Paulo, SP
Brasil
Tel.: +55 11 3372 8200
Fax: +55 11 3253 5716
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VARAL DO BRASIL
PARTICIPAÇÃO NO VARAL
NO. 5
Envie seus textos para o e-mail
[email protected] em formato Word
(não serão aceitos textos colados aos emails) .
Envie uma biografia breve acompanhada de
uma ou duas fotos e dados para contato (email,
blog, site, etc.). Se usar pseudônimo e não desejar que seu nome verdadeiro seja colocado
no Varal ou no site, envie uma biografia do
seu pseudônimo. Não serão aceitas biografias e
fotos Incorporadas aos emails, apenas em anexo.
Será escolhido apenas um texto de cada autor
sendo:
- poemas de no máximo duas páginas contendo
20 linhas;
- contos e crônicas com um máximo de três
páginas de 25 linhas;
- os envios deverão ser feitos até o dia 05 de
AGOSTO (todo texto que chegar após esta
data será observado automaticamente para o
Varal no. 6).
- será dada a prioridade aos que enviarem
com maior antecedência.
FAÇA SUA ESTA CAUSA!
ADOTAR É ANIMAL
AJUDANIMAL, GRUPO DE AJUDA E AMPARO
AOS ANIMAIS DO ABC
www.ajudanimal.org.br
21
VARAL DO BRASIL
Ana Mariah, jornalista, poeta, compositora e
cantora. Carioca, mora em Brasília desde os
anos 70. Atualmente, é assessora de imprensa
de um Ministério que aborda questões sociais.
Publica seus escritos no blog http://
abobrinhasaovento.blogspot.com/
Por Ana Mariah
O braço que te enlaça
que te sufoca os sentidos
passeia por sobre
vértices desenhadas
em perfeita arquitetura
de traços anatômicos.
O braço que te enlaça
em perfeito encaixe
não usou régua T.
Brincou com o arrepio da pele
e peitos ávidos.
Sugou o que nada tem
de sutil
mas que carrega a essência
da energia inalada.
Um certo ar rarefeito
como pequenos experimentos
de um gás mortal.
Veneno que paralisa os sentidos
e torna os gestos imortais.
Um intenso arco
que molda plasticamente os desejos
de seres tão diferentes e iguais.
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VARAL DO BRASIL
Você é a inspiração
Por André L. Aquino
“É bom ser um buscador... mas, cedo ou tarde, você precisa ser
um descobridor” - (Richard Bach, Fernão Capelo Gaivota)
Quanto mais amarga for a vida, mais doces vão ficando minhas palavras,
porque é preciso transmitir a mensagem, equilibrar o dia com a noite, o esquecimento com a saudade, a biologia com a espiritualidade.O tempo parece
linear e constante com apenas duas dimensões, para frente e para trás. Mas
como nunca há uma pausa, você nunca parece estar no "agora", há sempre
a lembrança do passado e a preocupação com o futuro. Como um rio que
não tem onde desaguar, como se ele chegasse a algum lugar e corresse então
de novo para trás e no escuro.
Quanto mais impossível for o encontro, mais esperançosos vão ser meus dias, depois de tanto caminhar eu sentei numa ponte pra ver o velho rio passar, para ouvir a cachoeira chorar, não quero mais fugir, não quero ser um
barco perdendo sempre o rumo. Deus está dentro de nós, o céu começa dentro da gente, soma a sua fé com a sua razão, encontre o equilíbrio
Quanto mais os sentimentos não tiverem tradução, mais você será minha
inspiração , e toda vez que não houver o físico, nos uniremos no mental e
nos encontraremos no espiritual, quanto mais sozinha você se sentir, mais
sua será a minha solidão e mais minha será sua companhia.Daqui algum
tempo, haverá muito tempo para sermos muito mais do que dois grandes amigos.
Quanto mais você achar que ninguém te ama, mais eu te amarei, porque ainda que a escuridão se abater sobre mim eu não temerei, porque finalmente
já é possível ouvir entre as pessoas uma língua que todos entendem, não importa onde tenham nascido, já há pairando sobre o planeta um força, que
uns chamam de anjo, outros de espírito, mas que não importa seu nome,
veio para abraçar o mundo e decretar um novo tempo. Nada mais será como
antes.
Quanto mais se aproximar o fim, mas eu vou recomeçar! Infinitamente, infinitamente, infinitamente!
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VARAL DO BRASIL
Desenho L. Mason
Como deitar com você
Por Angela Costa
Se fico desesperada, tento imaginar como são feitos os colchões...
Se das areias quentes, meladas
de prazer, da última praia em
que se dormiu - e já faz tanto
tempo, tanto, que as malas me
embaraçaram em suas teias, no
canto de nosso quarto.
Se da largura do sofá da sala,
em noites de insônia ou insânia.
Se leves como a rede ao luar ,
no jardim, para lá e cá, no balanço de B.B.King.
Se frios como chão de casa da
montanha, nosso maior conforto
na paixão do último inverno.
Se duros como no que vivemos
há três anos, com aquele inesperado buraco do meu lado.
ANGELA COSTA
Vivo entre a ciência e a arte - não consegui aceitar os limites
entre ambas. Prefiro pensar que integram a "Magia".
http://www.angelacosta.recantodasletras.com.br/
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João Emanuel Dias Sampainho
Encravadas nas muralhas seculares
Olhavam para o povo sofrido
Sentinelas do poder e do tempo
Mistura de humanóide e dragão
Guardavam a entrada do castelo
Dos senhores feudais
À noite ganhavam vida e voavam
Mostrando poder assustando os camponeses nos vilarejos
Que cumpriam com o pagamento de impostos
Levando mantimentos
Para o povo da corte viver na libertinagem
Comecei a escrever recentemente, de forma despretensiosa, mas
com muito respeito aos leitores. Não tenho formação literária, julgo-me um autodidata, colocando nos textos a emoção e o coração.
E assim vou caminhando nesse mundo mágico e esplendoroso de
tantos intelectuais. Espero que o tempo permita aprender mais os
segredos e a magia das palavras.
Meus temas favoritos são as crônicas e os contos, onde solto a minha imaginação descrevendo situações acontecidas e virtuais.
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VARAL DO BRASIL
Consulat Général du Brésil
54, rue de Lausanne
1202 Genève
Horário de atendimento ao público: de segunda a sexta-feira das 09:00
às 14:00
(de 02.07.2010 a 12.07.2010, o ingresso no Consulado será até 13:00)
Telefones
Tel. : 022 906 94 20
Fax : 022 906 94 35
Horário de atendimento telefônico: de segunda a sexta-feira das 13:00
às 16:00
CONSULADO-GERAL DO BRASIL EM ZURIQUE
Stampfenbachstrasse 138
8006 Zürich-ZH
Fax: 044 206 90 21
www.consuladobrasil.ch
Consulados da Suíça no Brasil
Se você precisa ir a um Consulado da
Suíça no Brasil entre neste site e verifique os endereços:
http://www.consulados.com.br/suica/
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VARAL DO BRASIL
CAPUNS
Uma receita tradicional do cantão de Grisons
Ingredientes: para 4 porções
400g de farinha
1 1/2 dl de leite
1/2 dl de água
4 ovos
1 / 2 colher de de chá de sal
1 / 2 xícara de ervas picadas (salsa, cebolinha,
alecrim, manjericão)
2 salsichas duplas de Maienfeld ou 200g de carne seca do Grison ou de presunto cru
40 folhas de acelga ou 40 folhas de alface para
aproximadamente 40 Capuns
50g de queijo parmesão ralado
1 cebola
50g de manteiga
Peneire a farinha em uma tigela e misture com o leite e a
água, os ovos e o sal, mexa até obter uma massa suave e
cremosa. Deixe a massa descansar por 30 minutos, em seguida, adicione as ervas picadas.
Descasque a salsicha crua, corte em cubos ou - se você usar a carne seca do Grisons - corte em tiras finas e misture
à massa.
Cubra bem as folhas de acelga (ou alface), deixe escorrer e,
em seguida, estenda-as sobre a mesa de preparação. Coloque uma bola de massa em cada folha, dobre as folhas e
enrole-as em pequenos pacotes.
Aqueça uma panela grande com muita água e quando a água estiver um pouco abaixo do ponto de fervura, mergulhe
os Capuns durante 16-20 minutos. Retire-os com uma escumadeira e então deixe-os escorrer. Depois de ter polvilhado
com queijo ralado, vá colocando as novas porções e então
coloque no forno para aquecer. Finalmente, cortar uma cebola em rodelas e deixar dourar em manteiga aquecida. Espalhe-as sobre os Capuns.
Esta especialidade equivale a uma refeição completa e pode ser servida com uma salada da estação.
Fonte: http://www.grischuna.ch/
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VARAL DO BRASIL
Florianópolis hoje é conhecida como a ilha da magia, mas o verdadeiro significado do tal apelido,
alguns ainda desconhecem, outros, desacreditam!
Associam ao paraíso tropical, aos lugares fascinantes, mas eu descobri o verdadeiro encanto desta
cidade!
Colonizada por açorianos, Floripa, como é conhecida pelos catarinenses, conserva uma das mais
belas culturas e arquitetura do país!
... Mas não é só isso que a torna mágica!
O que ninguém sabe, é que em Florianópolis, moram duendes!
Estes duendes não são como os que vemos na TV, ou que ouvimos nas histórias infantis!
Estes de Floripa são reais!
Por volta de um metro de altura, não têm orelhas grandes, pontudas e não usam chapéus.
Não comem, somente bebem caldo de cana e alimentam-se da energia solar.
São seres de luz e invisíveis aos olhos de seres humanos acima de cinco anos de idade.
Brincalhões, escondem-se geralmente em meio às pedras nas praias da cidade, onde passam o dia
todo, dividindo o tempo entre gargalhadas, cantigas e brincadeiras.
Até hoje pergunto-me por qual motivo eu pude vê-los?
Por que eu fui presenteada com tão graciosa visita?
...m[s _u ^_s]o\ri o v_r^[^_iro _n][nto ^_st[ ]i^[^_!
... Lembro-me direitinho daquele final de ano que eu passei na capital de Santa Catarina, Florianópolis.
Foi o natal mais encantado da minha vida!
Estávamos eu, papai, mamãe e alguns jovens casais, na casa de amigos de trabalho do meu pai.
A casa era a beira mar e eu esperava ansiosa a chegada do Papai Noel, mas para a minha surpresa
apareceram duendes!
Eu tinha acabado de fazer cinco anos e Tulipa, a deusa dos duendes, a mais bela delas, me ungiu
com um beijo.
Só eu os via, só eu sentia o aroma adocicado que eles exalavam... Nem quis mais saber do senhor
barbudo que morava no pólo norte, pois estava encantada com a magia daquele lugar!
Brincamos, divertimo-nos, eu e os duendes.
Eu era a única criança naquela casa, naquela noite!
Somente eu presenciei a paz que as criaturas da ilha da magia me trouxeram!
Foi a única vez que eu os vi, mas bastou para que eu me encantasse com o brilho diferente daquele
lugar espetacular!
Depois daquela noite, jamais consegui querer outra coisa senão viver aquele sonho novamente,
para sempre!
Mesmo ainda não sabendo que o para sempre, sempre acaba!
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VARAL DO BRASIL
Muitos anos se passaram, o para sempre, ainda não acabou para mim!
Apesar de não vê-los mais, sei que eles me
vêem, me sentem, me ouvem!
... Por isso, mudei-me para Santa e bela Catarina, vou à praia sempre que posso e em meio
às pedras, ouço o barulho das ondas lavando
as rochas e levando o meu corpo a um repouso inexplicável!
Descobri que a magia desta ilha, não está só
nas praias maravilhosas, belas como nunca vi
iguais, bares diversos, restaurantes multiétnicos, festas e pessoas encantadoras, mas
também na beleza das criaturas mágicas que
sobrevivem ao tempo e na ilha fazem as mais
divertidas comemorações do paraíso tropical.
Sinto até hoje a boa energia e o cheiro adocicado das criaturas sobrenaturais e guardo no
coração a emoção de ter conhecido e hoje
viver na terra encantada, chamada de "ILHA
DA MAGIA"!
Nelci Cristiane Stancovik nasceu em Novo
Hamburgo, Rio Grande do Sul no ano de
1980, mas vive em Capivari de Baixo, Santa
Catarina desde os dois anos de idade. É filha
de Nelson Stancovik (artista circense) e Clair Salete Pandolfi (descendente de imigrantes italianos).
Estudante de letras na Universidade do Sul
de Santa Catarina, lugar o qual foi incentivada por sua professora de literatura "Jussara
Bittencout de Sá" (escritora) a escrever e
inscrever-se para um concurso nacional literário no ano de 2008, conquistando o primeiro lugar na categoria crônica.
29
VARAL DO BRASIL
POR QUE?
Se por zelo ou desleixo
perdi a flor,
que jardineiro sou?
Nem o rastro do perfume me restou...
Anjo ou demônio?
Fada ou sereia?
Por que te ausentas,
faltas, não ligas?
Por que tantas reticências?
Amei teu coração
sem saber teu rosto.
Amei teu corpo
sem jamais sentir-lhe o gosto.
Abri minh’alma
a toda a esperança
de estar contigo.
Sem saber que ela
seria, para sempre,
justamente o meu castigo!
Minando, erodindo,
o que foi construído
com tanto cuidado!
Sendo assim,
desse jeito estranho,
destruído.
Ousei o amor
que jamais seria meu.
Ousei sonhar
a vida novamente!
Por que o bálsamo da promessa
é passado
pela mesma mão que nega
a carícia?
De sermos um só.
Ser teu amante, teu amigo;
cobrindo-te de beijos,
adivinhando teus desejos,
bastando a mim
a paga do teu sorriso.
Por que a desconfiança
envolve esta paixão?
E o amor que nasce
carrega o estigma
da ilusão?
Senti toda a dor
da perda.
Sem me lembrar
de que, nem por um instante
sequer,fosses minha.
Porque a dúvida
nunca é desfeita?
Os “por quês” nunca respondidos?
E a ausência é sempre
tua resposta...?
Por que?
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VARAL DO BRASIL
Por Deyse Zarichta
Para aconselhar-me, é necessário um pequeno
relato,
Que diabos colocarei aqui?
Coloco toda minha amargura, antes que como fel
Passe por minhas veias levando embora todo o
sangue
Assusta a possibilidade do eterno retorno
Acontece sempre
Um mesmo início, um mesmo fim, tudo exatamente igual
Com suas, irrelevantes, diferenças
Lerei essas pequenas notas assim que sentir o
perigo
Que é fácil identificar
Começa com a poesia dos estúpidos
Olhares inflamados de desejo e mensagens sutis
anunciam, te quero
Interessante é passar o tempo jogando com essas
peças
E apesar de já conhecer o fim, esperar, que dessa
vez, ao menos dessa vez
Haja controle absoluto da situação
É inevitável, e parece até castigo, esse mesmo fim
miserável
Lágrimas, e uma fraqueza que percorre lentamente cada milímetro do corpo
Deixando bem claro que é tudo o que se tem, matéria rejeitada
A mesma cena , tão desesperadamente forçada a
ser enterrada
Agora parece tão mais estúpida, uma vez que já
não é acidente, é quase uma escolha
Tudo é beleza, romance e história
Tudo é a irresponsável vontade de, mais uma vez
Levar adiante a estupidez de encenar uma paixão
Que acaba inevitavelmente nessa inversão das
forças
E o que era poder, agora é peso, culpa e dor
31
Deyse Zarichta Ferreira, nascida a
09 de maio de 1989, em Urussanga,
tendo passado parte da vida em Garopaba, parte em Petrópolis, RJ, retornando à Santa Catarina, Imbituba, e hoje vive em Tubarão-SC, onde cursa Letras na Universidade do
Sul de Santa Catarina - Unisul, já
tendo atuado como professora de
línguas portuguesa e inglesa.
VARAL DO BRASIL
O tempo faz a gente
esquecer. Há pessoas que
esquecem depressa. Outras
apenas fingem que não se
lembram mais"
Felicidade é a certeza
de que a nossa vida não
está se passando
inutilmente.
Érico Lopes Veríssimo nasceu em Cruz Alta, em 1905 e faleceu em Porto Alegre,
em 1975. Concluiu o 1º grau (antigo ginásio) em Porto Alegre. De volta a sua cidade natal, empregou-se no comércio, foi bancário e sócio de uma farmácia. Em
1930, transferiu-se para Porto Alegre, onde, depois de trabalhar algum tempo como desenhista e de publicar alguns contos na imprensa local, empregou-se na Editora Globo como secretário do Departamento Editorial. Viajou duas vezes aos Estados Unidos, onde ministrou ccursos de literatura brasileira.
OBRAS
Romance: Clarissa(1933); Caminhos cruzados(1935); Música ao longe(1935);
Um lugar ao sol(1936); Olhai os lírios do campo(1938); Saga(1940); O resto é
silêncio(1942); O tempo e o vento: I - O continente(1948), II - O retrato(1951), III
- O arquipélago(1961); O senhor embaixador(1965); O prisioneiro(1967); Incidente em Antares(1971).
Conto e novela: Fantoches(1932); Noite(1942).
Memórias: Solo de clarineta I(1973); Solo de clarineta II(1975).
Publicou ainda várias obras de ficção didática e literatura infantil, além de narrativas de viagens.
Fonte: http://www.brasilescola.com/
Gota de orvalho
na coroa dum lírio:
Jóia do tempo.
32
VARAL DO BRASIL
Por Diego Mendes
Sousa
na solidão mora o amor e o amor
faz-se outono quando apenas amamos.
consola-me amar.
amar é procurar é perder é morrer.
todos amam e amar, é chorar: amar é minha primavera de boêmio é minha cabala é
minha máscara.
amar em todas as noites só por amar.
amar eternamente amar, eu amaria a primeira mulher, sem medida, se amar fosse
somente carne, mas amar, amar mesmo, é desespero.
é verdade, também, que amar é clarividente no beijo, no sexo, no gozo e, além disso,
amar é salivar assim como se consome a laranja, a manga, a ameixa, o figo: a mulher.
é lamber o mel na boca.
os limões são azedos e a mulher: doçura.
amar não é viver azul é sofrer azul e, às vezes, amargar em branco.
amar é provar a poesia dos dias, o engano do tempo.
amar é voar sob o céu sob a tempestade sob o manto de luz das estrelas e
cair, cair, cair, cair...
e ressuscitar na derradeira brisa.
não há pecado em amar,
amar é amar e é tudo e é nada.
e se nada é tudo, o tudo é sempre.
sempre é amar e amar é fugir.
estou perdido entre indagações, confesso.
um sopro disse-me que amar é vento.
o vento é plumbaginoso.
o amor: música: vida.
aqui, volto ao outono.
será o amor regresso ou escarlatim ou devaneio?
muitos se suicidam outros esquecem.
outros se calam e pesam.
Amar é fogo e o Amor: incêndio.
33
VARAL DO BRASIL
Diego Mendes Sousa nasceu na Parnaíba [15 de julho de 1989], Piauí, Nordeste brasileiro. Em 2009, sua obra Metafísica do Encanto (2008), recebeu
honrosa distinção da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro (UBE
-RJ), com o Prêmio Olegário Mariano, relatado por Stella Leonardos, em
prestigiada festividade na Academia Brasileira de Letras (ABL). Seu trabalho poético mereceu atenção da tradutora carioca Helena Ferreira, que verteu Metafísica do Encanto para a língua espanhola. Foi convidado por Waldir Ribeiro do Val (diretor das Edições Galo Branco) para compor a coleção 50 Poemas Escolhidos Pelo Autor, que reúne grandes poetas brasileiros, dando um vasto panorama da poesia brasileira atual. Participou do Poemário Internacional (Biblioteca Nacional de Brasília, 2008), também como convidado especial de Antonio Miranda, da Primeira Bienal Internacional de Poesia de Brasília (I BIP). É autor de Divagações (2006). Fundador
e articulista do Jornal O Bembém, que tem como co-fundadores, Benjamim
Santos e Tarciso Prado. Desde o V Belô Poético, Diego é integrante da antologia Poetas En/Cena, sob a coordenação de Rogério Salgado, em Belo
Horizonte - MG.
Contato: Avenida Álvaro Mendes, 1737/ Bairro Nova Parnaíba/ ParnaíbaPI/ CEP: 64218-350/ e-mail: [email protected]/ (086)
3321-1794
“Em relação aos livros, não tenho o fetiche da propriedade. Sinto-me mais como um depositário do
que um proprietário, usufruindo, é verdade, do prazer que eles proporcionam, mas visando sempre
preservar uma herança do passado, e conservar o
que se faz de bom agora, com o propósito de transmitir tudo isso para o futuro. Tenho procurado desenvolver uma atividade cultural em várias frentes,
facilitar a estudiosos a pesquisa na biblioteca, promover edições de obras úteis e reedição de outras
esgotadas que considero importantes. Desenvolver,
em suma, um trabalho que é uma
das minhas razões de ser na vida. “(trecho de Uma vida entre
livros: Reencontros como tempo,
livro de memórias escrito por Mindlin, publicado em 1996.)
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VARAL DO BRASIL
Fragmentos da Alma
Por Fabio Ramos dos Santos
Sonhos...
Ilusões do querer
Vida inconsciente
Vive no presente, fazendo sofrer
Sonhos que vem e vão
Pessoas que chegam, outras que partem
Amores que morrem outros que nascem
E no correr deste vai e vem
Entre chegadas e partidas
O que resta são feridas
Migalhas do que se foi
Fragmentos que restam
Restos que movem
Restos que ferem
Restos de momentos e lembranças
Ou, apenas restos de sonhos
Que jamais saíram da ilusão
Restos de um nada
Pairando no ar
Vagando um coração
Molhando um olhar
Fazendo viver
Uma alma que sangrou e partiu
35
VARAL DO BRASIL
Fabio Ramos é escritor poeta, músico, empresário do ramo financeiro.
Nasceu em Lages, na Serra de Santa Catarina, em 04 de novembro de
1980, residente hoje na cidade de Chapecó, no oeste do estado desde
2007. Filho de Carlino dos Santos e Solineti Ramos dos Santos, papai da
YASMINN, e esposo de Uiara Tártaro, iniciou sua carreira artística aos
oito anos na música na cidade de Rio dos Cedros, no Vale Europeu de
Santa Catarina.
Fabio esteve sempre em contato com a arte e a cultura européia, sempre
presente em movimentos sociais, esporte, cultura e lazer na cidade em
que cresceu, Fabio passando por diversas situações, usou papel e caneta
para fazer um verdadeiro amigo, um refúgio para suas lamentações, medos, sonhos, desejos. A princípio seus textos eram apenas rascunhos de
papel escondidos, até que amigos e amigas começaram a ler e gostar dos
textos, e então começaram a transmitir os mesmos, tornando Fabio conhecido por belos poemas. Em 2007 participou da Antologia, Coletânea
de Poemas, Crônicas e Contos, “ELDORADO” , Volume IV, pelo Celeiro dos Escritores, e logo em seguida participou da Antologia de Poesia e
Prosa de Escritores Contemporâneos “Amor & Paixão”, Volume I, também pelo Celeiro dos Escritores e neste ano sente-se honrado e realizado
por participar da Antologia “Poesia do Brasil”, e principalmente deste
Congresso de Poesia, que se faz como um marco na carreira e na História de sua vida.
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VARAL DO BRASIL
P[ul[ B[rrozo ]onvi^[:
Dr. Francisco Gregori Junior, renomado cirurgião cardíaco, nasceu em 10//12/1947 em Bocaina – SP.
Conhecido internacionalmente por seus inúmeros artigos publicados em diversas
revistas médicas nacionais e internacionais, autor de 7 técnicas inéditas em cirurgia de válvulas cardíacas, arritmias, criador da prótese “Braile-Gregori” para
substituição de cordas tendíneas da valva mitral e criador do “Anel de Gregori”
para plásticas da valva mitral.
Ficou conhecido mundialmente, inclusive com uma entrevista no “Programa do
Jô”- Rede Globo, por ter estancado uma hemorragia após uma ruptura do coração empregando
cola SUPERBOND, como última opção.
Autor de vários trabalhos e inúmeras conferências científicas realizadas em todo o mundo. Realizou mais de 28.000 cirurgias cardíacas com sua equipe, sendo a maior experiência Latinoamericana na área da reconstrução das valvas cardíacas.
Enfim, uma sumidade da cirurgia cardíaca !!!!
Como se não fosse o bastante, Dr. Chico Gregori, como é chamado carinhosamente pelos amigos, com sua família compôs 60 músicas gravadas
em cinco CDS por sua banda “Gregori´s Heart Band” e escreveu um
livro de poemas :
“Reflexões e Realidades de um Cirurgião”.
E com certeza já plantou várias árvores !!!!
Poemas esses que estarei publicando neste numero do “Varal do Brasil”
e
no decorrer das próximas edições.
ENCRUZILHADA
Não há grito mais
aterrorizante do que
o silêncio de uma
adoecida criança
com fome.
Dr. Francisco Gregori Junior,
São seis horas da manhã,
Agoniza o velho à minha frente.
A esperança já se faz ausente,
Sentimentos confundem minha mente.
Persiste o martírio doloroso
De um homem não mais vivo.
Coração a bater forte em seu peito,
Tendo sua alma já o deixado há algum tempo.
Martírio de uma velha companheira,
Negando-se a aceitar a perda definida,
Passando a clamar por ato difícil de ser feito,
Fosse eu capaz ou tivesse esse direito.
Como abreviar este fim,
Desligar aparelhos, interromper infusões?
De um modo, certo achava,
De outro modo, me negava.
Um misto de alívio e dor, finalmente.
A morte veio, final de uma história até freqüente,
Não fora o velho doente o pai,
Não fora eu, seu filho, o médico assistente.
37
VARAL DO BRASIL
MISSÃO (Desabafo de um médico)
Fim do dia, já cansado,
Estático à beira do leito
Começo a repensar o que a vida
Ou a morte tem nos revelado.
Concluo que jogo injusto
É este confronto árduo e feroz
Em que o prêmio da vitória é a vida temporária
E a decepção da derrota, um fim atroz.
E a dor, passeando soberana,
Deixando rastros de sofrimento,
Atinge sagaz e, cruelmente, o indefeso.
Atinge a mim ao mesmo tempo.
Felizes momentos visitam-me por instantes,
Vão-se embora, sutilmente.
Assim, tornam a esperança
Frágil demais, infelizmente.
Quem sou eu ao controle desta nau,
Perdendo seu rumo, eventualmente ?
Convenço-me dos meus limites,
De minhas fraquezas, reconheço, humildemente.
Já é manhã e nasce o sol,
Agoniza o paciente à minha frente.
Inconformado, certifico-me, mais uma vez,
Que cedo ou tarde a morte vence.
Agora descanso no aconchego do meu lar,
Olho para o passado e me conformo,
A morte faz parte da vida.
Então, cabe à mim a dor tirar, quiçá a vida prolongar.
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VARAL DO BRASIL
Por Gilberto Nogueira de Oliveira
No sol da madrugada, eu me encontrei
Estava tudo calmo, apenas eu chorava
A doce miséria do mundo
A alegre amargura do homem
A triste alegria do povo
Na doce madrugada eu apenas sorria
Um riso de desprezo por todas as coisas
Por todos os seres humanos
Que fazem o irmão sofrer
Na amargurada madrugada eu vi o homem chorar
Eu senti o homem sofrer
Tentei diminuir o sofrimento humano
Mas eu sozinho não podia
Todos se recusaram a me ajudar
Pobre homem. Que fazer? Que pensar?
Se todos ficam parados?
E nesse estático momento eu olhei as estrelas
Elas me ajudariam? Talvez sim. Talvez não.
Mas, elas me olhavam com curiosidade.
E o homem ficou parado
E o mundo ficou parado
E passou um homem que ficou a observar
A minha triste angustia
O homem estava triste
Triste como eu.
Deveria ser um pensador.
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VARAL DO BRASIL
Por Gilmar Carlos Milezzi
Esta é a história de Lírio, um sujeito muito popular entre as mulheres da Ilha de Florianópolis no início da década de 70. Nas praias de Coqueiros, Itaguaçu e Bom-Abrigo ele reinava absoluto, para admiração e inveja de seus companheiros de farra. Não tinha prá
ninguém: onde houvesse empregadas domésticas, mocinhas com os hormônios em ebulição e solitárias já não tão mocinhas assim dando sopa, lá estava o Lírio fazendo a festa. Mas aquilo não lhe subia à cabeça. Havia algo que o atormentava em a sua decantada virilidade. Ninguém sabia, mas a fama de garanhão que o acompanhava, embora justa e merecida, tinha uma mácula. Algo que ele escondia tanto quanto possível, temendo
o implacável julgamento da malta invejosa. Ele temia, sobretudo, o desprezo que adviria
e que o acompanharia no ostracismo a que certamente seria condenado. Parecia inacreditável, mas ele tinha realmente motivos para preocupar-se.
… Ninguém sabia, mas a fama de garanhão que o acompanhava, embora justa e merecida, tinha uma mácula...
Por alguma razão, que só os deuses poderiam explicar, o seu ímpeto de garanhão só se
manifestava com mulheres feias. Quanto mais feia fosse a mulher, mais ele se empenhava em conquistar seus favores. E tinha ainda um outro detalhe: Lírio adorava mulher
de pés grandes. Quando descobria que a dita cuja calçava mais de 40, era um delírio. Já
com as mulheres bonitas, ele sentia uma indiferença atroz do seu velho companheiro de
batalhas. Não havia nada que acordasse o, antes, impávido colosso.
Sujeito simpático, e de grande traquejo social, Lírio era bastante popular nas rodas de
samba do bar do Nino, em Coqueiros, e das noitadas regadas a caipirinha do Bar das
Pedras, na praia de Itaguaçu. Nessas ocasiões, podia ser visto rodeado de belas mulheres, mas sempre terminava a noite nos braços de uma mocréia qualquer. Essa era a vida
do Lírio. E seria uma vida boa, se ele se conformasse com o que tinha. Mas no fundo da
alma, ele se ressentia e sonhava com o dia em que teria nos braços uma daquelas lindas meninas que freqüentavam as boates do Lira Tênis Clube e do Paineiras nas noites
40
VARAL DO BRASIL
de verão. Disposto a mudar sua vida, Lírio foi à
luta. Num baile do clube Limoense, ele conheceu Aline, uma loura espetacular recém chegada de Blumenau. A atração foi mútua e eles
dançaram a noite inteira, com direito a alguns
amassos dissimulados. Todavia, a moça era de
respeito e não deu mole para o incorrigível conquistador. Experiente no trato com as mulheres,
Lírio logo percebeu que devia refrear seu tempe-
Praia de Itaguaçu, Florianóplos nos anos
70. Acervo de Gilberto Silveira.
ramento ardoroso e esmerar-se no galante papel de um cavalheiro cheio de boas intenções.
Apesar dessas restrições iniciais, ou por causa
delas, começaram a namorar várias semanas
depois daquele primeiro encontro. Depois de algum tempo, ele já freqüentava a casa dos pais
de Aline, e ela já não se mostrava tão puritana
quando eles trocavam carícias na parte escura
da varanda da casa dela, onde tinha até uma
Praia de Itaguaçu, Florianóplos nos dias de
hoje. Foto de Ricardo.
lâmpada providencialmente queimada Tudo parecia perfeito. Contudo, Lírio vivia apavorado
falar numa benzedeira que vivia na
com o momento em que teria que fazer jus à fa-
costa da Lagoa da Conceição, e que
ma que granjeara durante tanto tempo. E, se de-
sabia preparar uma garrafada que
pendesse do entusiasmo da moça, esse mo-
era tiro e queda para o problema que
mento não tardaria a chegar. As carícias foram
o afligia. A queda ele dispensava,
se tornando mais ousadas e a moça mais exi-
naturalmente, mas foi procurar a mu-
gente. Lírio, por outro lado, desconversava
lher.
quando as coisas se tornavam mais quentes, na
Após ouvir uma atrapalhada explica-
tentativa de ocultar suas dificuldades sob o man-
ção sobre o problema de um suposto
to do respeito que lhe dedicava. Aquele era um
amigo, a tal benzedeira preparou u-
bom pretexto, mas não ia durar muito. Ele preci-
ma beberagem para ele, composta
sava encontrar uma forma de superar a ausên-
de vinho, ovo de pata, amendoim e
cia de reação que lhe afligia nos momentos mais
algumas ervas estranhas de que ele
calorosos. Pesquisando discretamente, ouviu
nunca tinha ouvido falar. O resultado
41
VARAL DO BRASIL
daquela mistura foi um litro de um líquido marrom escuro, de aspecto não muito atraente.
A benzedeira entregou-lhe a garrafada com instruções para que ele a enterrasse numa
noite de lua cheia e a deixasse de repouso por três dias. Após isso, Lírio deveria tomar
um cálice daquela beberagem todos os dias antes de dormir. Quando o conteúdo da garrafa acabasse, seu problema estaria resolvido.
Alguns dias depois que ele começou aquele “tratamento”, Aline o encontrou. Estava entusiasmada com a possibilidade de ficar sozinha em casa no fim de semana, em razão
de seus pais irem para Blumenau. Era a oportunidade que eles tanto desejavam, segundo a moça, e com a qual ele apressou-se a concordar, sem muito entusiasmo.
Lírio, que já estava ficando confiante na eficácia da garrafada, começou a ficar apavorado com a aproximação do fim de semana. Estava tão inseguro, que quando a sexta-feira
chegou, ele tomou o restante do conteúdo da garrafa de uma vez antes de ir ao encontro
de Aline. Todo aquele líquido no estômago o fez sentir-se um tanto estranho, mas não
fez caso disso. Resoluto, foi para a casa dela, martelando na mente aquele velho mantra: “Seja o que Deus quiser”. No caminho ele se acalmou, e quanto mais pensava em
Aline, mais sentia suas calças apertarem. Estava funcionando, pensou entusiasmado.
Apressou o passo, pois sentia que não devia perder tempo.
Era a oportunidade que eles
tanto desejavam...
Mal ela abriu a porta, Lírio a agarrou.
Tal era o seu ímpeto que Aline sorriu
Foto: Obvios Mag
toda feliz com a reação que tinha provocado no amado. Aquilo dissipava as dúvidas que a estavam incomodando ulti-
conseguido dissipar o bloqueio que tanto lhe
mamente quanto ao que ele sentia por
atormentava. Graças à benzedeira e a gar-
ela. Pelo jeito não ia dar tempo nem pa-
rafada que ela lhe dera. Mentalmente ano-
ra degustar o jantarzinho caprichado
tou o compromisso de levar um presente
que ela havia feito. Isso não a incomo-
para a mulher. Foi com esse pensamento
dava, é claro. A ordem dos fatores não
que sentiu o primeiro espasmo do intestino.
alterava o produto e aquela noite pro-
Suas entranhas pareciam estar entrando em
metia. Foram atravessando a sala dei-
colapso, como se tivesse tomado litros de
xando peças de roupa pelo caminho,
algum tipo de laxante. No segundo espasmo
dando a Lírio a certeza que havia
sentiu que deveria correr para o banheiro.
42
VARAL DO BRASIL
Antes que desse um passo, veio o terceiro espasmo, e ele percebeu que não havia tempo para mais nada. Aline olhou para ele perplexa, ainda sem compreender o que estava
acontecendo. Depois, tapou o nariz e correu para o banheiro.
Lírio ficou só, com sua dignidade esvaindo perna abaixo. Aquilo era o fim, pensou. Mas o
fim ainda não havia chegado. A porta da sala se abriu naquele momento atroz, e o pai de
Aline entrou para pegar a carteira de motorista que havia esquecido.
Felizmente para Lírio, sua desgraça foi também a sua salvação, pois o que seria difícil
explicar foi creditado a um mal estar súbito acarretado pela sua emergência intestinal.
Todavia, o namoro com Aline não prosperou. Depois daquele vexame, ele decidiu nunca
mais se arriscar com beberagens estranhas e voltou para os braços das feias e mal amadas da ilha.
Dez chamamentos ao amigo
(Parte I)
Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse
Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.
Te olhei. E há tanto tempo
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta
Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.
43
VARAL DO BRASIL
Filme contará história da imigração suíça
Reprodução de material de Geraldo Hoffmann
Numa manhã, há 150 anos, um grupo de imigrantes suíços pobres olhou pela última vez para suas
famílias e amigos e partiu do cantão de Schaffhausen, seu cantão de origem, para um destino desconhecido - a colônia de Dona Francisca no sul do Brasil. Sua chegada à nova terra mudaria aquela região do Brasil para sempre.
O trabalho duro e a perseverança desses imigrantes transformaram Dona Francisca em uma das
regiões mais ricas do Brasil, hoje chamada de Joinville, um importante pólo industrial do país. Assim começa o livro “Suíços em Joinville. O duplo desterro”, que já possui uma versão em alemão
de título “Das Paradies in den Sümpfen”, escrito pelo autor brasileiro Dilney Cunha.
O resultado do livro e a história não-contada desses imigrantes esquecidos serviram de base para o
surgimento de uma nova amizade entre Schaffhausen e Joinville, que se aproximaram pela primeira vez e decidiram se tornar cidades-irmãs. Essa história surpreendente também chamou a atenção
do premiado diretor de cinema brasileiro Calixto Hakim, que, com sua empresa Júpiter Filmes,
comprou os direitos do livro. O diretor apresentou com sua equipe - a produtora executiva suíça,
Katharina Beck (de Winterthur), e o produtor executivo brasileiro, Juliano de Paulo (de Curitiba) ao governo brasileiro sua idéia de criar um documentário com base no livro, idéia essa que foi aprovada sob a lei Rouanet.
Com a ajuda do deputado Hans Jürg Fehr, o governo de Schaffhausen aprovou a liberação dos fundos para financiar a produção na Suíça e o início das filmagens em fevereiro de 2009. A parte brasileira (70% do filme) tem aprovação da lei Rouanet que permite desconto no imposto de renda 100% do investido. Para isto, basta demonstrar interesse, pois os mecanismos de isenção fiscal para a cultura estão hoje muito facilitados e sem risco, aumentando ano a ano o número de empresas
que aderem a esta modalidade de investimento, que além dos benefícios da isenção garantem retorno institucional e promoção de marca a quem investe.
Calixto Hakim nasceu em Curitiba, Brasil e é formado em Artes pela College of Design and Arts
de Pasadena, Califórnia. O autor ganhou vários prêmios no Brasil e no mundo por seus curtasmetragens, os quais escreveu e dirigiu. Calixto dirige comerciais, programas de TV e vídeos corporativos, além de ter escrito episódios para seriados brasileiros. É fundador da Júpiter Filmes
(www.jupiterfilmes.com.br).
Para detalhes acesse o site
www.suicosbrasileiros.com.br
ou pelo e-mail
[email protected]
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VARAL DO BRASIL
SINOPSE
Meados do século XIX. Devido à Revolução Industrial, superpopulação, problemas na
agricultura e nos ofícios urbanos, a Suíça passa por uma crise sem precedentes.
Moradores de determinados cantões (estados) passam por dificuldades extremas: desemprego, fome, miséria, em muitos casos os levando até mesmo à morte.
Em outra parte do velho continente, o príncipe de Joinville e filho do rei da França negocia as terras que recebeu como dote de sua esposa, Dona Francisca, irmã do imperador
Dom Pedro II. A Sociedade Colonizadora de Hamburgo então assume e loteia a área,
onde hoje se encontra a maior cidade de Santa Catarina.
Para tanto, conta com significativa estrutura, apoios governamentais e um suporte muito
especial: um italiano bom de papo, funcionário da Colonizadora e responsável pela propaganda da nova terra para boa parte do sofrido povo helvético. Terras férteis, facilidades, moralidade e segurança eram as promessas. Ao chegarem à sua nova nação, no
entanto, o que os suíços encontraram de fato, foi adversidade.
O filme mostra tudo isso a partir do ponto de vista de uma típica família do cantão de
Schaffhausen. Desde sua saída da Europa, via Porto de Hamburgo, até sua chegada ao
Brasil, no Porto de São Francisco do Sul. Seus sonhos e seus pesadelos, suas perdas e
suas conquistas,contados através de uma detalhada reconstituição de época.
A história é baseada em documentos oficiais, cartas, periódicos, entrevistas com descendentes, pesquisadores brasileiros e europeus e cenas em animação. Uma verdadeira saga de imigrantes que chegaram há cerca de 150 anos na desconhecida Colônia
Dona Francisca com nada muito além de esperança na bagagem. Ajudaram a construir,
tanto quanto os alemães e outros povos, mas ainda sem os devidos créditos, o que se
conhece hoje como uma das melhores, mais fartas e prósperas regiões de todo o Brasil.
CONTATO: (41) 9106 0402 /(41) 3532 0406
E-MAIL: [email protected]
Site: www.jupiterfilmes.com.br
www.suicosbrasileiros.com.br
O filme, que conta uma história
esquecida de muitos, ainda espera pelo apoio financeiro e
cultural brasileiro para enfim
chegar ao público.
45
VARAL DO BRASIL
A parte do filme que se passa
na Suíça já foi realizada em
2009.
Veja mais fotos em: http://
www.suicosbrasileiros.blogspot.com/
Realização e Produção:
Jupiter Filmes
Co-produção: Betacine - Eclipse
Filme
Direção: Calixto Hakim
Co-Direção: Rodrigo Henrique
Autor: Dilney Fermino Cunha
Produção Executiva: Katharina
Beck
Co-Produção Executiva (Brasil) Juliano de Paula
Roteiro: Paulo Esteche
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VARAL DO BRASIL
Papel da Alma
Por Gustavo H. Bella
O que escrevo em papel o tempo não apaga
As letras no tom de minha alma clara
Sopram o passado, presente e futuro
Coisas inertes que só os olhos podem dizer
Aquele suspiro lento nas noites frias
Encontrou na brisa da manhã outro tom
E assim como o mar sumiu ao horizonte
Refazendo aquele velho caminho esquecido
E do outro lado há quem o encontre
Assim dele faça uma carta à mão
O lance como presente ao vento
Para esta alma que o tempo não apaga.
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VARAL DO BRASIL
Este projeto visa a Revitalização da Cascata Véu de Noiva e Cascata dos Narcisos em Gramado –
Rio Grande do Sul, as mesmas estão localizadas na área urbana da cidade.
Estas Cascatas já foram pontos turísticos muito visitados na década de 70 e 80, mas por volta do
final dos anos 80 a visitação destes dois locais se tornou inviável devido ao esgoto lançado em suas águas por residências e estabelecimentos em seu entorno.
Leopoldo Rosenfeld
Leopoldo Rosenfeld, o gênio a quem Gramado deve a escolha do turismo como forma de sustento,
veio para Gramado em 1937, convidado pela Sociedade Herdeiros Joaquina Rita Bier para administrar o Loteamento da Vila Planalto que estava abandonado.
Ele preocupava-se com as atrações turísticas de Gramado. Dentro do projeto de loteamento da Vila
Planalto, já haviam sido destacados os pontos turísticos, sendo os principais: Lago do Parque Hotel, Praça da Montanha, Vista Belo Horizonte, Lago Negro, Cascata dos Narcisos e Cascata Véu
de Noiva. Sempre teve mania por lagos.
Leopoldo era um idealista. Não veio para Gramado para usufruir da cidade, e sim para deixar aqui
a sua marca. E sua marca ficou registrada pela sua visão de futuro, por enxergar o potencial que
Gramado tinha para a vocação turística. Gramado não seria o que é hoje se não fosse sua visão.
Fez o primeiro roteiro turístico da cidade, denominado “GRAMADO, MARAVILHA DO VERANEIO”. Também, fez o primeiro trabalho organizado de divulgação de turismo de Gramado em
Porto Alegre.
Mesmo que Leopoldo tenha deixado todos estes bens para Gramado, em nossa opinião eles não
são nada comparados ao espírito turístico que ele semeou para a comunidade gramadense.
O Projeto
Envolvidos neste espírito turístico idealizamos este projeto no Curso Técnico em Turismo, módulo I do Colégio Estadual Santos Dumont em maio de 2009.
Em agosto de 2009, as alunas Cristiane R. Schwarzer, Icléia Inês
R. Schwarzer e Vanessa G. Faiz e a orientadora prof. Veridiana
Salvaterra Ren, representaram o colégio e o Curso Técnico de Turismo na MEP - Mostra de Educação Profissional em Caxias do
Sul. Concorremos com 41 projetos e fomos as grandes vencedoras,
tirando assim o primeiro lugar.
Início de outubro de 2009, participamos da FECITEP- 3ª Feira
Estadual de Ciência e Tecnologia da Educação Profissional em
Novo Hamburgo.
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VARAL DO BRASIL
Na Feira, estiveram expostos 101 projetos, envolvendo 71 escolas, 101 professores, 297 alunos.
Foram mais de 2.000 visitantes e uma equipe de 70 pessoas envolvidas na organização do evento.
O evento de encerramento contou com a presença do Secretário de Estado da Educação, Professor
Ervino Deon que acompanhou a premiação dos trabalhos que estiveram expostos durante os três
dias da feira. Para mais detalhes, visite o site http://www.ienh.com.br/fecitep/
Neste evento, de 101 projetos ficamos com o 3º lugar. Um reconhecimento e uma prova de que
TODOS os que visitaram a feira e os avaliadores também tem interesse em ver estas duas Cascatas
revitalizadas.
Ainda em Outubro de 2009, participamos da 24ª MOSTRATEC- Mostra Internacional de Ciência
e Tecnologia nos pavilhões da FENAC e Novo Hamburgo.
Nesta feira estavam expostos 293 projetos e mais uma vez, nosso projeto teve destaque. Ficamos
em 23º lugar, pois somente poderiam ser premiados menores de idade.
As feiras encerraram, mas nosso desejo de que este projeto saia do papel nos fez apresentar o mesmo às autoridades locais, onde os quais demonstraram muito interesse em ver estes atrativos revitalizados.
Levamos também ao conhecimento dos alunos de outras escolas
em forma de palestras, conscientizando os mesmo da importância
do devido destino do lixo e do esgoto.
Queremos agradecer em especial a Professora Veridiana, o Sr Prefeito Nestor, Secretário de Turismo de Gramado, Sr. Gilberto e o
Sr Nelson, Secretario do Meio Ambiente, pela dedicação e apoio a
este projeto.
No dia 18 de maio de 2010 em reunião com representantes da prefeitura recebemos a informação de que já esta sendo feito o levantamento da área, laudo da cobertura vegetal, topografia, onde serão
feitas adaptações no projeto caso este receba a “Indicação Orçamentária” sugerida por um Deputado Estadual.
Precisamos de muito mais, mas temos certeza de que com o apoio
da comunidade e autoridades conseguiremos resgatar esta parte da
história de Gramado que atualmente encontram-se apenas na memória e nos registros fotográficos da população gramadense e turistas que tiveram a oportunidade de conhecer a Cascata Véu de
Noiva e Cascata dos Narcisos.
Icléia Inês Ruchkaber Schwarzer
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VARAL DO BRASIL
ENCONTRO MARCADO
Por Jaci Santana
Imagino tal ironia do desassossego vibrando em meu corpo.
Não havia se quer mais vida. Só nostalgia.
Era a morte em vida... Falsas esperanças imbuídas.
Sofrimentos retraídos. .Uma dor sempre contida.
E o paraíso adormecido... Meu corpo... Um eterno vazio,
Abstinha-se de sonhar... Amuando-se... Ocultando-se mais uma vez.
Mas, um olhar dos céus, cobriu-me com o seu manto,
E a ti levou-me como a um presente dos Deuses.
Difícil dizer das vibrações que me tomaram naquele encontro.
Surpreendida com o seu olhar... Submissa... Sentei-me sem retrucar.
Seus olhos... Penetrantes! Envolventes! Olhavam-me profundamente.
Estranhamente, envolta em sua fronte, emergia o que parecia ser uma serpente.
Paralisando-me magicamente, enquanto olhava-me, arqueando cílios, sobrancelhas e
mente.
Saí Dalí, completamente transmutada, envolvida e apaixonada.
E minha vida sorrindo em cores, ressurgiu à luz do dia nebuloso,
Ao ver o sol alvorecendo nas ruas, esquinas e estradas vazias.
Este calor... Este ardor... Esta emoção,.. Trouxe-me paz no coração.
O sol, com seus raios, iluminando meus poros,
Lançou-me a semente do seu amor,
Apagando as marcas de minhas dores já existentes.
E qual uma menina corri em torno das avenidas,
Colhendo flores para este amor,
Derramando em meus cabelos, partículas de sonhos já esquecidos,
Ao ver-te sempre com este olhar luzente! De um brilho intenso!... Perturbador!
Descortinando a minha alma; meu coração; meu pensamento.
Gotas de felicidade espargiam do meu rosto, vibrando em cores no meu jardim.
Vendo o meu corpo renascendo de um sonho louco,
Agarrei-me a este amor e nossas partes, finalmente, se reencontraram.
50
VARAL DO BRASIL
Jaci Santana- Nasceu em
Aracaju. Mora no Rio de
Janeiro. Cursou Direito
e, atualmente, dedica-se a poesia.
Participa de Concursos Literários.
Recebeu vários convites para participar
de Antologias.
Leia mais sobre Jaci no site
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VARAL DO BRASIL
PRETEXTO
Por Jacqueline Aisenman
Foi pra te ver passar (ver teu jeito e a ti completamente)
que eu inventei (que inventei sem querer)
aquele olhar através das estrelas. (aquele olhar de sonho)
Te ver passando, sorrindo (Pra te ver passando, sorrindo)
indo ao encontro do que não fui. (indo ao encontro de quem nunca
fui)
Foi pra não te mostrar (Foi pra não te deixar ver)
que eu chorei (meus olhos gritando)
cristais sobre as montanhas. (cristais de montanha sobre a pele)
que eu inventei o riso de tudo e de nada.
Te ver passando, sorrindo (Pra te ver passando, sorrindo)
vindo do encontro que não fui. (o encontro, aquele encontro)
Tudo pretexto (Mas foi tudo pretexto)
desculpas esfarrapadas (Falsos dizeres, mentiras sinceras)
mas que nunca esconderam de ti (nunca deixaram de te mostrar)
quem eu realmente fui. (o que eu realmente quis).
Jacqueline é quem edita o VARAL. E quem
tem o coração povoado de letras que vivem
saindo pela caneta ou pelas teclas do computador. Palavras escritas, muitas vezes nem
ditas.
Tem em seu site Coracional e em seu Blog
Certas Linhas um meio de expressão constante.
E-mail: [email protected]
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VARAL DO BRASIL
Viva a República
fratricida
desdentada
de idéias, de ideais
sem laços com o futuro
mergulhada
no abismo do passado
esse inerte moribundo
desafiador do presente
negador do futuro.
Que será da poesia
desfraldada na liberdade?
sem flores
sem camisa
sem foice
sem beijo molhado de pobre ou ricaço
sem sorriso de esperança
espuma hidratante das massas.
Ah! Pomba alvissareira
esconde-te muito além
do horizonte.
Meus dedos não tocam
teu voo
pétalas de quimera
espargidas sobre a fé de teu povo.
Teu voo, partido choro de criança
nascido nas ogivas diabólicas
com que os homens cobriram
Hiroshima e Nagasaki
são eco eterno de Sodoma e Gomorra
escarro do anti-Cristo sobre a humanidade.
Silentes estão os sinos do Tibete.
Da Macedônia à Babilônia
ressurgiram os mortos dos túmulos
crucificados com coroa de espinho.
Sobre o alicerce de antigo e sagrado templo
oculto
a cúpula de ouro
levanta a lança
traspassada pela mortal profecia.
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VARAL DO BRASIL
Jania Souza, potiguar de Natal/RN, Brasil, artista plástica, poeta, escritora, sócia fundadora da SPVA/RN Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do RN. Pertence a
AJEB/RN e a UBE/ RN. APPERJ. Clube dos Escritores de Piracicaba. Participação em coletâneas nacionais
e internacionais. Publicou em 2007, Rua Descalça
(poemas) pelas Edições Bagaço/PE; em 2009, Fórum
Íntimo (poemas) e Magnólia, a besourinha perfumada
(infantil) pela Editora Alcance/ RS. Contato:
www.janiasouzaspvarncultural.blogspot.com; [email protected]
Jania fotografada por Caninde Soares
COMO VOCÊ VÊ @ VID@?
Todos as pessoas possuem uma maneira diferente de ver a vida e de expressar esta visão.
Algumas escrevem, outras pintam, fotografam, desenham, cantam, tocam um instrumento, esculpem, fazem artesanato… Dentro de cada um de nós existe um artista.
Algumas vezes escondemos tanto que nem mesmo os familiares sabem que temos
aquele jeitinho especial!
Que tal mostrar pra gente? Que tal enviar para o site do VARAL DO BRASIL o que
você faz e dar uma chance para que possamos conhecer melhor você?
Leia as instruções nas seções « ELES » no www.varaldobrasil.ch
E-mail: [email protected]
E mãos à obra: a vida é agora!
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VARAL DO BRASIL
Quanto custa o amor…
Por José Carlos Paiva Bruno
Coisa dos humanos é procurar o difícil no difícil; fácil no fácil; difícil no fácil, fácil no difícil... Coisa rara, coisa cara, banana caramelada... Certamente mais óbvio para os tais
irracionais, que procuram simplesmente reproduzir... Mas para nós – obras primas de
Deus – o importante é curtir... Sim, curtir o sorrir, atropelar a dor, amor sem temor, sempre acreditando que as páginas vão virando!
Encontrar por amor, amar por encontrar; seduzir, vacilar, recriar; entendendo que o que
conta é ofertar, aquele mágico iluminar, recíproco do tesão, baluarte da paixão...
Salvaguarda da alma que só com outra fica calma, aquela calma do antes, durante e depois, magia de dois...
Quem inventou esse tal cheiro, química da atração, velocidade da reação; condicional do
alcance, mirante? Apogeu? Romeu? Quem comeu? Julieta respondeu... Amado meu!
Mas a saudade, maior forma de crueldade... Quem será esta beldade? Que confirma pela ausência, do amor a coerência, dos corpos a carência...
Existência da indecência, ambiente da travessura, face da ternura... Talvez da Lua crua
invadindo a noite nua...
Situação de precaução, adrenalina da imaginação; fertilidade da insinuação, carne da
emoção!
Suor da terapia, dos tais anjos alquimia; perfume da sedução qual prêmio do gozo sestroso, ritmo piedoso...
Viver para o novamente, de toda forma ser crente, inda que Dulcinéia seja fantasma da
mente, daquele Cervantes indecente... Brilhar, mas que ninguém pode tocar, pois que
sonhos não são alcançados, apenas alienados dos sublimes seqüestrados, felizes lado a
lado, dentro e fora... Agora sem demora, estão indo embora... Folha da parreira surge
sorrateira; pós-felicidade, explosão da explicação... Só não tira o louvor daquela libido
em tremor, desmaio da sensação, da verdadeira dimensão...
Homeostase, síntese do funcionamento científica; latinidade explícita, talvez celta mística. Sem custo, só lucro...
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VARAL DO BRASIL
Por Julio C. Vicente
De Laguna, Santa Catarina, vem um
belo exemplo de cumplicidade entre
homem e animal. Quando os golfinhos ajudam pescadores a encher a
rede de tainhas, a parceria vira um
espetáculo para encantar turistas.
Quando os golfinhos dão o sinal, as tarrafas começam a cair em sequência. O espetáculo da pesca com o auxílio de golfinhos só existe em três lugares do mundo: na costa da
Austrália, na Mauritânia, no continente africano, e em Laguna, Santa Catarina.
É na temporada da tainha, que a parceria se torna mais freqüente e os pescadores passam o dia inteiro na água à espera dos cardumes trazidos pelos golfinhos.
Com o auxílio dos golfinhos, os pescadores chegam a capturar mais de 80 tainhas de
uma só vez. A convivência cria intimidade e cada golfinho é chamado pelo nome. “Os
pescadores conseguem não só identificar os indivíduos, mas quais os comportamentos
que eles estão tendo que indicam a presença ou não de peixes na área. Esse nível de
interação é único e ocorre somente na Lagoa de Santo Antônio”.
Em 1997, os golfinhos foram declarados patrimônio natural de Laguna
CONHEÇA LAGUNA ATRAVÉS DO MAR
Se você tem mais de 25 anos, com certeza
lembra-se do famoso golfinho Flipper.
Flipper era um golfinho nariz de garrafa
(Tursiops truncatus). Espertos ágeis e dóceis,
estes mamíferos, chegam em média a 4m de
comprimento, e pesam em média 550Kg.
Alimentam-se de peixes, lulas, polvos e crustáceos.
Em Laguna encontra-se uma quantidade de
aproximadamente 50 golfinhos. Estes são conhecidos pelos pescadores locais, que os chamam pelos seus apelidos.
Os golfinhos aprenderam a interagir com os pescadores, ajudando a "empurrar" os peixes em direção aos pescadores na margem da barra, que atiram suas tarrafas. Por sua
vez os peixes que escapam das tarrafas são facilmente capturados pelos golfinhos.
A AGTA leva você a ver de perto esta interação do homem e golfinho.
Primeiro você terá uma palestra com instrutores especializados que darão informações
preciosas sobre os hábitos dos golfinhos nariz de garrafa,e a interatividade entre homem
56
VARAL DO BRASIL
e golfinho.
Depois você experimentará de perto esta união, acompanhando a pesca da tainha ao
lado dos pescadores, apreciando esta fabulosa ajuda dos golfinhos na pesca de tarrafa.
Após acompanhar a pesca você será levado para um passeio de barco em alto mar para
acompanhar a vida destes mamíferos em seu habitat natural, e ver de perto os golfinhos
"surfarem nas ondas na arrebentação.
Tudo isso cercado de toda a beleza natural de Laguna.
Laguna
Não se tem precisão sobre o início da pesca com o auxílio dos golfinhos em Laguna.
Sabe-se que é secular.
Os pescadores mais antigos dizem que por volta de 1930 já existiam golfinhos velhos
como Fandango, Chinelo, Judeu, Rampeiro, Alumínio, Cego, Boto Branco, Cisne Branco,
Cisne Pequeno.
Daí por diante foram se multiplicando. A cada ano de três a cinco novos golfinhos habitam a lagoa.
A partir da década de 50 os botos mais velhos foram misteriosamente desaparecendo, e
surgindo outros novos. Como Galha Torta, Galha Cortada, Marusca, Prego, Riscadeira,...
Os golfinhos da lagoa são identificados como ruins e bons. Os ruins são aqueles que
não se aproximam da costa, e os bons são aqueles que auxiliam os pescadores nos diversos pontos de pesca.
CURIOSIDADES
Acredita-se que os golfinhos podem viver
até uns 80 anos. Normalmente morrem vítimas de redes ou por doenças causadas por
parasitas.
O golfinho quando nasce, acompanha a
mãe até aproximadamente 3 anos.
Então já está pronto para viver sozinho.
Geralmente bem familiarizado com os pescadores, e sabendo todas as manhas e truques da pesca em parceria, começa a ser
identificado com vários nomes, e aos poucos acaba sendo batizado com seu nome
definitivo.
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VARAL DO BRASIL
Alguns nomes de golfinhos em Laguna
· ALUMÍNIO - Era um Golfinho muito Claro.
· MARUSCA - Uma marca de cigarro da época.
· JUSCELINO - Presidente do Brasil na época.
· INRRÍLHA - Uma gíria - Quando alguém não gostava de algo dizia: "É assim e não
inrrílha".
· TAFARELL - Homenagem ao goleiro do tetra.
· CAROBA - Era um Golfinho muito escuro lembrava uma madeira escura de nome caroba.
· LIGEIRINHO - Era um Golfinho muito arrojado quando cercava o peixe.
· CHEGA MAIS - Nasceu na época que a rede Globo passa uma novela com este nome.
· MANDALA - Nasceu na época que a rede Globo passa uma novela com este nome.
· SACOLÃO - Só cercava o peixe quando queria.
· TÁXI - Percorre todos os pontos de pesca da região.
· PRINCESA - Um golfinho muito bonito.
· PIRULITO - Por ser o mais feinho da lagoa.
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VARAL DO BRASIL
AHHH ... POESIA ....
Por Jussara Petek
A poesia cabe na palma da mão
deixa rastros no chão
A poesia voa num balão
embala uma canção
A poesia pode o mar navegar
a ventania enfrentar
e mesmo que naufragar
elevar-se ao amar
A poesia atravessa um oceano
eleva-se ao céu
atinge a estratosfera
e se perde na imensidão
da pureza do teu olhar
A poesia é a pureza que recito
é sentir teu coração
de tocar-te com palavras
de querer-te em letras
de estar contigo
nesse instante ...
de pura poesia
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VARAL DO BRASIL
MUNDO ESTRANHO
Por Lariel Frota
Estranho mundo, de inexplorados caminhos
Com tantas possibilidades e mil segredos.
De antigas páginas, escpam algumas crianças,
Heróis ou monstros, provocando medos
E lá vem história com fatos ocorridos
Atropelando o sonho do poeta louco
E números, fórmulas, álgebras e cálculos
Complicando a cabeça de quem pensa pouco.
A poeira insiste em permear por tudo
Por mais que tentem acabar com ela
Tinge de escuro o nobre material de estudo
Enfeia a capa que um dia foi bela.
Como um corpo nobre, feito em pedacinhos
Forma um mundo estranho, mágico afinal
Enquanto preserva seu tesouro, teme
O perigo oculto do mundo virtual.
Que será amanhã, sem os registros marcados
Pelos autores que através do papel
Libertam nossas almas da pequenez humana
E nos aproximam do saber do céu!
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VARAL DO BRASIL
Por Lelo Néspoli
Mas não era de quaisquer relógios. Eles tinham que ter ponteiros, todos os ponteiros. O das
horas o dos minutos e o dos segundos, porque ele dizia sentir em seus movimentos o pulsar das
engrenagens do mundo.
O homem não era um colecionador, ele possuía apenas um antigo relógio suíço de pulso
que não tirava nem para tomar banho ou dormir.
“Eh vida besta esta....” resmungava quando, curvado, tentava acertar o relógio, sozinho em
seu quarto-sala.
O quarto reproduzia a sala do seu antigo apartamento. Continha a mesma estante onde ficavam a TV, seus livros, retratos e o radinho de pilha usado principalmente para ouvir jogos do Santos: “Vou assistir pelo rádio!”. Uma pequena mesa, um vaso com flores e a poltrona em que brigava cotidianamente com o relógio completavam o ambiente, um elo tênue entre presente e passado.
Ninguém sabia ao certo quando o homem começou a se interessar por relógios. Alguns afirmam que talvez fosse reflexo dos tempos de infância, quando sentia admiração pelo velho relógio de bolso do pai. As horas gravadas em algarismos romanos, a tampa protetora reluzente e a
fina corrente davam o charme ao relógio. Magia e sedução eram sentimentos que o menino nutria
ao observar o pai ao retirar o relógio do bolso, calmamente abrir sua tampa e consultar as horas.
Quanto tudo isso tudo se fora ele se deu conta de que não haveria nada no mundo capaz de aprisionar o fluxo do tempo.
Os dias passavam e o homem não se conformava ...
“Ô cientista! – como chamava seu neto –, não sei o que está acontecendo com esse relógio;
a TV acabou de falar que são onze e trinta do dia 10 e ele está marcando onze e vinte do dia 8!”.
“Ei Velho, qual o problema de um atraso de dez minutos, que diferença faz para você se
hoje é dia 9, 10 ou 11?”.
“Vocês não me entendem. Quando acordo preciso saber em que dia estou e qual é a hora
certa do dia. Eu preciso me posicionar. Tenho negócios a tratar, ir ao banco pegar meu extrato...”.
“Mas é só me perguntar ou olhar o rádio-relógio que está no criado-mudo” – retruca o neto.
“Pô cientista, olha o rádio-relógio: está parado. E sabe o que mais? Ele não faz o tic-tac” de
um verdadeiro relógio.
“Ora, Velho. O rádio-relógio não está parado, é que o marcador das horas muda somente de
minuto em minuto”.
“Não tente me enrolar, relógio que é relógio tem que andar sempre, olhe bem para esse
meu relógio aqui. Os ponteiros estão andando, eles têm vida, o relógio faz tic-tac... O problema é
que está todo errado!”
Os dias passavam e o homem não se conformava. No final do ano, o neto presenteou o avô
com um novo relógio de ponteiros, vistoso e muito preciso. Isso deixou o homem muito contente.
Para estimulá-lo, a família frequentemente lhe perguntava as horas. Ele imediatamente sacudia o
braço naquele movimento característico de quem olha para o relógio e respondia com satisfação.
Movimento que se repetia toda a vez que ele ouvia alguma voz dizer as horas, no rádio ou na televisão.
61
VARAL DO BRASIL
Certo dia o neto viu o homem na poltrona debruçado sobre o relógio dizendo - “cadê a rodinha, não encontro a rodinha, não consigo dar corda no relógio...”.
“Ei Velho, o que está acontecendo, que história é essa de rodinha?”.
“Ela sumiu, eu ia dar corda no relógio e a rodinha escapou, desapareceu, não consigo mais
encontrar”.
“Mas eu não lhe disse que nesse relógio não é preciso dar corda porque ele é movido à bateria?” afirmou o neto.
“Pô cientista, não venha me enganar, que bateria que nada, todo relógio precisa de corda.
Preciso dar corda no relógio senão ele vai parar. Então porque veio com rodinha?”
“A rodinha serve para....”
“Pode parar.....Vocês não sabem de nada mesmo!”
Enquanto o neto dizia que iria providenciar outra coroa para o relógio, o homem, com sua
vasta cabeleira branca, com o olhar perdido no relógio, continuava maldizendo os dias - “Eh vida
besta... mas que vida besta essa....”.
Aurélio W. Néspoli, residente em São Paulo, Brasil, professor de Física, aposentado, e um aficionado pelas as artes e
pela ciência.
Escrevo contos sobre o cotidiano e sobre temas científicos,
que são assinados com o nome Lelo Néspoli. O interesse
por escrever contos nasceu do gosto pela leitura e também
como uma tentativa de veicular temas científicos de um jeito agradável aos leitores.
Influenciado pelas lembranças das fotos feitas na infância,
tornei-me também um entusiasta da fotografia pinhole, que
é o de fotografar cenas do cotidiano utilizando simplesmente latinhas. Essa retomada foi feita ao ministrar um curso
sobre os princípios da fotografia a um grupo de professores
das escolas do ensino fundamental. Assim como eu, milhares de pessoas no mundo praticam esse "modo de fotografar".
Mantenho uma página que procura elucidar o que é arte fotográfica, um fotoblog com fotos das diversas regiões de
São Paulo e transformei um blog em uma página onde procuro postar alguns dos principais contos:
Site:
http://www.aurelionespoli.com.br/page1001.aspx
Fotoblog
http://pinhole.nafoto.net/
Blog
http://contos-causos.zip.net/
62
VARAL DO BRASIL
O VALOR DAS PALAVRAS
Por Luiz Eduardo Gunther
As palavras
não têm cor,
não têm cheiro,
não se pegam
com as mãos.
São as palavras,
no entanto,
que consagram
as cores das pinturas,
informam os cheiros
dos perfumes.
E são capazes de,
em qualquer língua,
transmitir pensamentos,
contar histórias.
Permitir o conhecimento
do homem pelo homem
em qualquer parte
do mundo.
Luiz Eduardo Gunther
Nasceu em Concórdia – SC em 03.03.54. Reside em Curitiba – Paraná. Graduou-se em História e Direito pela Universidade Federal do Paraná, onde também obteve os títulos de
Mestre e Doutor. É professor do Centro Universitário Curitiba – UNICURITIBA, desde 1987, onde leciona graduação, especialização e mestrado. Também é Desembargador
Federal do Trabalho perante o TRT da 9ª Região. Integra a
Academia Nacional de Direito do Trabalho e o Instituto
Histórico e Geográfico do Paraná. É autor de diversas obras
na área jurídica.
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VARAL DO BRASIL
Por Paula Barrozo
Podemos definir o folclore como um conjunto
de mitos e lendas que as pessoas passam de
geração para geração. Muitos nascem da pura
imaginação das pessoas, principalmente dos
moradores das regiões do interior do Brasil. Muitas destas histórias foram criadas para passar
mensagens importantes ou apenas para assustar as pessoas. Algumas deram origem à festas
populares, que ocorrem pelos quatro cantos do
país.
As lendas são estórias contadas por pessoas e transmitidas oralmente através dos tempos. Misturam fatos reais e históricos com acontecimentos que são frutos da fantasia. As
lendas procuraram dar explicação a acontecimentos misteriosos ou sobrenaturais.
Os mitos são narrativas que possuem um forte componente simbólico. Como os povos
da antiguidade não conseguiam explicar os fenômenos da natureza, através de explicações científicas, criavam mitos com este objetivo: dar sentido as coisas do mundo. Os
mitos também serviam como uma forma de passar conhecimentos e alertar as pessoas
sobre perigos ou defeitos e qualidades do ser humano. Deuses, heróis e personagens
sobrenaturais se misturam com fatos da realidade para dar sentido a vida e ao mundo.
Algumas lendas, mitos e contos folclóricos do Brasil:
Boitatá
Representada por uma cobra de fogo que protege as
matas e os animais e tem a capacidade de perseguir e matar aqueles que desrespeitam a natureza.
Acredita-se que este mito é de origem indígena e
que seja um dos primeiros do folclore brasileiro. Foram encontrados relatos do boitatá em cartas do padre jesuíta José de Anchieta, em 1560. Na região
nordeste, o boitatá é conhecido como "fogo que corre".
64
VARAL DO BRASIL
Boto
Acredita-se que a lenda do boto tenha surgido na região amazônica. Ele é representado por um homem jovem, bonito e
charmoso que encanta mulheres em bailes e festas. Após a
conquista, leva as jovens para a beira de um rio e as engravida. Antes de a madrugada chegar, ele mergulha nas águas
do rio para transformar-se em um boto.
Curupira
Assim como o boitatá, o curupira também é um protetor das
matas e dos animais silvestres. Representado por um anão de
cabelos compridos e com os pés virados para trás. Persegue
e mata todos que desrespeitam a natureza. Quando alguém
desaparece nas matas, muitos habitantes do interior acreditam que é obra do curupira.
Lobisomem
Este mito aparece em várias regiões do mundo. Diz o
mito que um homem foi atacado por um lobo numa noite de lua cheia e não morreu, porém desenvolveu a capacidade de transforma-se em lobo nas noites de lua
cheia. Nestas noites, o lobisomem ataca todos aqueles
que encontra pela frente. Somente um tiro de bala de
prata em seu coração seria capaz de matá-lo.
Mãe-D'água
Encontramos na mitologia universal um personagem muito parecido com a mãe-d'água : a sereia.
Este personagem tem o corpo metade de mulher e
metade de peixe. Com seu canto atraente, consegue encantar os homens e levá-los para o fundo
das águas.
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VARAL DO BRASIL
Corpo-seco
É uma espécie de assombração que fica assustando as pessoas nas estradas. Em vida,
era um homem que foi muito malvado e só
pensava em fazer coisas ruins, chegando a
prejudicar e maltratar a própria mãe. Após
sua morte, foi rejeitado pela terra e teve que
viver como uma alma penada.
Pisadeira
É uma velha de chinelos que aparece nas madrugadas para pisar na
barriga das pessoas, provocando a
falta de ar. Dizem que costuma aparecer quando as pessoas vão dormir
de estômago muito cheio.
Mula-sem-cabeça
Surgido na região interior, conta que uma mulher teve um romance com um padre. Como
castigo, em todas as noites de quinta para sexta
-feira é transformada num animal quadrúpede
que galopa e salta sem parar, enquanto solta
fogo pelas narinas.
Mãe-de-ouro
Representada por uma bola de fogo que indica os
locais onde se encontra jazidas de ouro. Também
aparece em alguns mitos como sendo uma mulher
luminosa que voa pelos ares. Em alguns locais do
Brasil, toma a forma de uma mulher bonita que habita cavernas e após atrair homens casados, os
faz largar suas famílias.
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VARAL DO BRASIL
Saci-Pererê
O saci-pererê é representado por um
menino negro que tem apenas uma perna. Sempre com seu cachimbo e com
um gorro vermelho que lhe dá poderes
mágicos. Vive aprontando travessuras e
se diverte muito com isso. Adora espantar cavalos, queimar comida e acordar
pessoas com gargalhadas.
Curiosidades:
- É comemorado com eventos e festas, no dia 22
de Agosto, o Dia do Folclore.
- Em 2005, foi criado do Dia do Saci, que deve ser comemorado em 31 de outubro. Festas folclóricas ocorrem nesta data em homenagem a este personagem. A
data, recém criada, concorre com a forte influência norte-americana em nossa cultura, representada pela festa
do Halloween - Dia das Bruxas.
- Muitas festas populares, que ocorrem no mês de Agosto, possuem
temas folclóricos como destaque e também fazem parte da cultura
popular.
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VARAL DO BRASIL
Requiem aeternam
Por Ly Sabas
De quê morreste tu, meu coração, assim tão de repente?
De que sonhos inconfidentes,
De que desejos inconfessáveis?
O que levaste, coração, para o infinito?
Se não um verso sem rima, haicaístico,
Se não uma frase capenga de emoção?
O que deixaste, meu coração, como legado?
Se nem ao menos cometeste um pecado,
Se não sofreste nenhuma ingratidão?
Caminhas agora, coração, acabrunhado,
Por prosas áridas de sentimentos emaranhados,
Por contos tristes desprovidos de paixão.
De quê morreste coração, tão de repente?
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VARAL DO BRASIL
Por Marcelo Moraes Caetano
À boêmia
Quando abrem-se os olhos da madrugada,
Senhor, como é bonita a sua visão!
O céu se transporta, já não há chão,
Estrelas e nuvens são minha estrada.
Então, encontro o meu ser ideal,
Num copo de vinho, cerveja, ou mel...
Sou mais que alguém feliz: sou menestrel
Cantando no infinito madrigal.
Eu posso agora, amanhã, como pude
Ontem ser um poeta sem limites,
Andar pelos caminhos do sem-fim...
Eu sempre hei de poder, ó alaúde,
Levar-te às costas, não peço que imites
Paris, New York... eu, Carioca Arlequim!
Foto com o ícone da psicanálise e literatura mundial, Elisabeth Roudinesco, que entrevistei para a
Revista e TV Cultura.
Marcelo Moraes Caetano é carioca, tradutor de inglês, francês, alemão e italiano, estudioso de latim e
grego e escritor com 14 obras publicadas palas editoras EdUerj, Academia Brasileira de Letras, Academia Brasileira de Filologia, SENAI-FIRJAN, 7
letras, Vivali, Ferreira, Litteris, ONU-UNESCO,
Ferreira, Elite-Rio. Tem prêmios literários no Brasil
e no exterior (Prémio Sófocles, Montevideo, 2010,
Prêmio ONU-UNESCO, Paris, 2005 e 2006, Prêmio
Litteris 2009, Prêmio Guttemberg, Bienal Internacional de Literatura do Rio de Janeiro 2007). É pianista clássico, vencedor de primeiros lugares no
Brasil e exterior (RJ, MG,
SP, Córdoba etc.)
É um dos editores da Revista de Cultura ALIÁS.
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VARAL DO BRASIL
Nos dias de inverno, em Zurique, ter um dia de sol é uma raridade. Como a cidade
é situada entre vales, a margem de um imenso lago, é comum pairar sobre nossas
cabeças uma grossa névoa dias a fio, semanas, ou até meses, sem exagero. Às vezes,
podemos observar a grande bola ardente por detrás das nuvens, sem óculos escuros, ou
mesmo, sem apertar os olhos. Quando o sol aparece, as pessoas na rua param e
sentam-se para aproveitar um pouquinho de vitamina D.
Aqui em casa fico de olho na janela, atento a sua chegada. Geralmente é coisa
rápida, ele surge meio tímido, sem aviso prévio. Nesses casos, ponho minhas roupas de
inverno e me preparo para sair.
Confiro pela janela e lá está ele ....
Primeiro o minhocão, uma meia grossa, a calça, depois uma malha fina e
pegajosa no corpo, uma camisa de manga comprida e...Pronto, ao olhar de novo pela
janela o sol já se foi. Desisto. Com um frio desses, é melhor ficar em casa. Tiro primeiro
a calça, o minhocão, a meia grossa, depois a camisa e quando eu menos espero, eis
que surge novamente o sol, um solzinho de nada. Visto primeiro o minhocão, a meia
grossa, a calça de um tecido grosso, depois a camisa de manga comprida, uma suéter
de lã e por fim, um casacão, calço a bota, jogo sobre o pescoço o cachecol, afundo um
gorro na cabeça, puxa... Enfim, estou pronto. Confiro pela janela e lá está ele. Vejo se
está tudo bem antes de sair, tudo fechado, fogão desligado e ao olhar de novo pela
janela o sol já não está mais lá. Maldição. Sinto um calor desgraçado com toda a
indumentária dentro de casa e decido ficar. Tiro a bota, o cachecol, o gorro, o minhocão,
a calça, já estou suando de calor...Abro as janelas e entra um frio lancinante. Fecho as
janelas. E não deixo de reparar que o sol voltou. Ele acanhado parece zombar de mim.
Agora me apresso, visto tudo o mais rápido que posso, o minhocão, a meia, a
calça, a camisa, a suéter, o casacão, a bota, o cachecol, o gorro...Corro para a porta.
Chego à rua e sinto um solzinho mixuruca acalentar o meu rosto. Fecho os olhos e logo
bate um frio de lascar, abro um olho e depois o outro e me desespero. É tudo sombra. E
um vento impiedoso começa a perfurar os meus ossos. Corro para casa. Entro
esbaforido, tranco a porta e já sinto um calor. Tiro tudo. Vou até a janela na esperança
de vê-lo novamente, mas é tudo breu. Escureceu. Agora, só me resta esperar pelo dia
seguinte. Amanhã, ele
não me escapa!
70
VARAL DO BRASIL
Corria a menina sobre poças de água alegre, sonha que esta dentro da nuvem, gotículas
corriam pelo seu rostinho, e ela sorria pessoas passavam ao seu lado, mas sequer poderiam entender o que é estar feliz por causa da chuva, atrasadas em seus compromissos.
O único compromisso da menina era a alegria, o riso, ao passar por um galho de árvore
que alcançasse batia para cair à água acumulada nas folhas e muitas caíam juntas grudando no seu cabelo. Neste instante ela se achava menina flor dançando na chuva, os
sapatos encharcados faziam ploft, ploft, e ela ria e gargalhava.
Aos poucos a chuva foi passando um raio pequeno de sol, tocou na gota que estava no
seu nariz, e ela viu um arco-íris foi tanta a alegria que ela ficou parada com medo que
ele caísse do seu nariz e quebrasse como vidro espalhando caquinhos por todo lado.
Então ali ficou e o inevitável aconteceu à gota escorreu para sua boca e ela no mesmo
instante pensou, “engoli um arco-íris” e dando risadas foi para casa.
Imagem: Site Baboo
Uma brisa rodopiou a cortina que escondia a sala
da rua, na janela flores plantadas em jardineiras se
sentiram acariciadas pela ousadia da brisa que brincava de namorar com um vento forte que em rajadas
passava derrubando as folhas secas das árvores na
rua.
Timidamente a garota foi até a janela ver se o sol
haveria de ter aparecido, encontrou pássaros a se
refestelar na areia do canto na calçada, assustados
bateram em revoada gritando a todos que foram vistos pela menina de olhos redondos e castanhos.
O mundo vibrava além da janela e Sofia observava
com cara de que entendia tudo, abelhas passavam
dando rasantes nas margaridas da janela e ela se
escondia para vê-las trabalhando freneticamente e
partindo de volta para a colméia que Sofia achava
estar instalada em uma frondosa Mangueira na casa
de sua vizinha.
A tarde foi indo embora para que o manto negro salpicado de estrelas viesse embalar os olhos e mais
tarde os sonhos da menina que tudo podia ver da
janela e saber que tudo ali era só uma parte do milagre da vida.
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VARAL DO BRASIL
Renata Gomes de Farias
Nascida em três de agosto de 1965, mineira, artista plástica. Descobriu aos 15 anos paixão por contar histórias. Atualmente exerce esta atividade no Blog Por Toda Minha
Vida – Alegria Joei Joy.
Bisa Bia, Bisa Bel
“Impossível saber sempre qual o palpite melhor. Mesmo
quando eu acho que minha bisneta é que está certa, às
vezes meu coração ainda quer-porque-quer fazer as coisas que minha bisavó palpita, cutum-cutum-cutum, com
ele… Mas também tem horas em que, apesar de saber
que é tão mais fácil seguir os conselhos de Bisa Bia, e
que nesse caso todos vão ficar tão contentes com o meu
bom comportamento de mocinha, tenho uma gana lá de
dentro me empurrando para seguir Neta Beta, lutar com
o mundo, mesmo sabendo que ainda vão se passar muitas décadas até alguém me entender. Mas eu já estou me
entendendo um pouco – e às vezes isto me basta.” (pág.
53)
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VARAL DO BRASIL
Não lembrava
Por Renata Iaconvino
Não lembrava
o que é passar
dia assim à deriva
sem ninguém pra amar.
Não lembrava
o que é deixar
o gosto da saliva
à beira mar.
Não lembrava
que o não estar
me incentiva
a me escancarar.
Não lembrava
que Dele me ausentar
é uma iniciativa
pra reencarnar.
Natural de Jundiaí/SP, escritora, poetisa e cantora. Cinco livros de poesias editados: Ilusões Amanhecidas (Literarte Editora), 1996; Poemas de
Entressafra, 2003; e Missivas (Editora In House), 2006, com Valquíria
Gesqui Malagoli, com quem também lançou em 2007 o livro/CD infantil
uniVerso enCantado; e Ouvindo o silêncio, 2009; ainda em 2009, com
Valquíria, lançou o CD infantil De grão em grão e o livrObjeto OLHAR
DIverso (haicais e fotos). Participa de Antologias e é jurada de concursos
literários. Integra: Academia Jundiaiense de Letras, Academia Feminina
de Letras e Artes de Jundiaí (é atual Primeira Secretária), Academia Infantil de Letras e Artes de Jundiaí, Sociedade Jundiaiense de Cultura Artística, Grêmio Cultural Prof. Pedro Fávaro e Grupo Arte em Ação. Autora do Hino da Academia Jundiaiense de Letras. Organizou o livro 1ª
Olimpíada de Redação – Ano 2005/Os 35 anos da Biblioteca Pública
Municipal Prof. Nelson Foot Jundiaí-SP (Editora In House). Em 2009
organizou a Antologia – Encontros de Defesa do Consumidor do Estado
de São Paulo – 25 anos, lançado pela Fundação Procon/SP. Articulista
do Jornal de Jundiaí Regional. Ministra oficinas lítero-musicais e realiza
Saraus para públicos diversos. Premiada em concursos literários.
reiacovino.blog.uol.com.br
reval.nafoto.net
caju.valquiriamalagoli.com.br
[email protected]
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VARAL DO BRASIL
Por Paula Barrozo
O preparo dos mais diversos pratos da culinária brasileira está ligado aos aspectos socioculturais de nossa história e recebeu a influência de outros povos que aqui estiveram
em épocas passadas e nos Legaram em patrimônio cultural valioso, influenciando e dominando até mesmo na alimentação. A variedade de sabores e preferências regionais,
com suas especiarias e temperos próprios, tornam-se irresistíveis ao paladar mais exigente de qualquer arte da cozinha nacional.
Os índios brasileiros tinham uma mesa farta e variada, graças à abundância da caça,
pesca e dos frutos silvestres, de que se serviam. A farinha de mandioca tão popular entre o povo, do mais simples ao mais requintado, é uma herança indígena. Depois de retirar a raiz, secavam-na ao sol ou ralavam-na ainda fresca numa prancha de madeira cravejada de pedrinhas pontiagudas, transformando-a em farinha alva, empapada que colocavam para escorrer e secar num recipiente comprido de palha trançada. O resultado é o
tucupi, ingrediente essencial no preparo de um famoso prato da cozinha brasileira: o pato no tucupi. Além de ser usado como farofa ou para fazer beijús, pirões, sopas e mingaus, o tucupi pode ser servido como sobremesa, regado com mel. As bebidas eram extraídas dos abacaxis, do caju, guaraná, jenipapo e outros produtos nativos.
O milho muito usado pelos índios foi amplamente aceito pelos portugueses, de paladar
mais refinado, que preferiam a comida preparada pelas escravas negras do que as da
mão indígena. As negras eram mais experientes eram mais caprichosas na arte de comer bem e assim, introduziram o coco-da-baía, o azeite de dendê, a pimenta malagueta,
o feijão preto, o quiabo e outros ingredientes para a elaboração de pratos mais requintados.
A união das três raças criou uma cozinha tipicamente brasileira, desenvolvendo o uso
constante da panela de barro, da colher de pau e do fogão de lenha, indispensáveis para
aprimorar qualquer quietude.
Arroz com pequi
Muqueca baiana
Feijoada
Leitão a pururuca
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VARAL DO BRASIL
P@TO NO TUCUPI
Tradicional receita paraense, presença quase
obrigatória, nas mesas, no dia em que se comemora o Círio de Nazaré.
Essa receita, pode ser considerada uma das mais
brasileiras de todas as nossas comidinhas. As
bases da receita, o pato, a mandioca e o jambú,
são todos nativos do Brasil.
Jambú é uma erva parecida com o agrião nativa
da Amazônia.
Tucupi, é um molho feito de mandioca brava e
comprado pronto, visto ser uma receita muito elaborada.
Ingredientes
- 1 pato novo (1,5 kg), limpo
- 4 dentes de alho amassados
- sal e pimenta-do-reino a gosto
- 4 colheres (sopa) de azeite de oliva
(60ml)
- 4 xícaras de tucupi (cerca de 1l)
- folhas de jambú, chicória e alfavaca
Modo de Preparo
De véspera, corte o pato em pedaços, coloque numa tigela e tempere com o alho amassado, sal e pimenta a gosto e o azeite. No dia seguinte, pré-aqueça o forno em temperatura média (180°C).
Coloque os pedaços de pato, com os temperos numa assadeira, leve ao forno préaquecido e asse pôr cerca de 40 minutos ou até ficarem dourados. Tire do forno.
Numa panela, coloque os pedaços de pato, regue com o tucupi, junte as folhas de Jambú, chicória e alfavaca, leve ao fogo brando e cozinhe pôr 30 minutos, ou até a carne ficar macia. Tire do fogo.
Coloque os pedaços de pato num prato de barro de servir, regue com o molho junto com
as folhas de Jambú.
Leve à mesa acompanhado de arroz branco, farinha de mandioca e molho de pimenta
de cheiro.
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VARAL DO BRASIL
Alguns Pratos Típicos por Região:
Nordeste:
Caruru
Sarapatéu
Moqueca de surubim
Vatapá
Acarajé
Manguzá ou mungunzá
Farinha com caldo de rapadura
Bobó de camarão
Paçoca
Baião de dois
Carne de sol
Sudeste:
Leitão à pururuca
Virado à paulista
Tutu de feijão
Canjica
Feijoada
Paçoca de amendoim
Feijão tropeiro
Arroz de carreteiro
Curau
Pamonha (salgada e doce)
Frango cheio
Feijão gordo
Pipoca
Norte:
Pato ao tucupi
Sopa de turú
Farofa de turú
Moqueca de pirarucu
Bicho de côco assado
Peixe assado
Beijú
Tartaruga com mandioca
Sopa de tartaruga
Centro oeste:
Galinhada
Arroz com piqui (ou pequi)
Canjiquinha com queijo
Pintado na braza
Farofa de jacaré
Porco de lata com mandioca
Peixe assado
Passarinhada
Tereré. É o chimarrão gelado.
Faz parte dos costumes alimentares do povo dessa região
Sul:
Culhão de touro cozido
Pinhão assado
Carneiro no buraco
Porco no rolete
Boi no rolete
Costela de ripa
Barreado
Churrasco
Marreco com laranja
Marreco com maçã
Joelho de porco cozido
Torta de maçã (não se espante, em Sta Catarina a colonização
é alemã)
Charque com inhame
Bolo de pinhão
Chimarrão. É uma bebida, mas no sul não é possível deixá-lo de
fora.
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VARAL DO BRASIL
Se você deseja ajudar os animais que todos os dias
são abandonados, atropelados, maltratados e não
sabe como, vai aqui uma dica:
Procure uma associação de proteção aos animais,
um refúgio, uma organização ou mesmo uma pessoa responsável em sua cidade ou estado. As colaborações podem ser feitas através de tempo, dedicação, ajudas financeiras, divulgação.
Há pessoas por todos os cantos ajudando aqueles
que não sabem como ajudar a si mesmos. Seja mais
um, faça destes bichinhos a sua causa!!
AJUDE A AJUDAR, SEJA HUMANO!
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VARAL DO BRASIL
Por Roselis Batistar
Não, senhor padre
Não senti esses ardores pelo meu senhor!
Sim, por aquele a quem dei o “sim”.
Só senti horrores e temores
Ao olhar que me olhava
Qual boto fora d’água
Qual coruja em noite quente!
Mas o ruivo delicado
Que agora é um recado
Ao frigir de mais um canto
Solta pólen nos meus poros
E sumo rubro em meu sentir!
Não há pele só ha gozo
De um frescor desconhecido
Pela virtualidade que é bosquejo
Pelo pejo de um porvir
Onde o desejo faz casinha de morada
Senhor padre,
Não é por nada.
E pelo cabelo solto ao vento
Que imagino um acalanto
Nesta novela de correio
Por entregas
Por semanas
Por sedução “quae sera tamen”!
Também por merecimento
Pois fui fiel a sedento
de carestias tão sádicas!
Quero agora um veio brando
Uma caricia tão madida
Uma fornalha sem fogo
Um aconchego sem navalha.
Mas mesmo que peque pensando
Voltarei a esta quimera:
Não há Ave-Maria chegando
Nem Pai-Nosso no céu
Que me impeça venerá-lo
Que envenene esta promessa!
Eia pois terço dos pobres
De espírito mais insípido
Não me proíbas o santo
Que puseste em meu caminho!
Será senhor padre que é muito
Pedir ao andor uma vela
Pra rezar àquele anjo
Que quando se vai deixa um banzo
Que me consome demais?
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VARAL DO BRASIL
ANALISANDO O (MAU)EMPREGO DO GERÚNDIO
Fonte: www.nlnp.net
Persistindo os sintomas..."
(Pasquale Cipro Neto)
A cerveja "que desce redondo" ainda gera muitas mensagens de leitores que querem saber se ela
desce redondo mesmo, ou se deveria descer redonda. Já vimos que, assim como mulheres olham
de modo torto, isto é, olham torto (e não "tortas", a menos que se queira indicar a posição do corpo
ou da cabeça delas no momento em que olham), a cerveja desce redondo (redondamente, de modo
redondo).
Outro caso que ainda freqüenta muitas das inúmeras mensagens dos leitores é a frase com que se
encerram as peças publicitárias de medicamentos. No início, eram duas as formas empregadas: "A
persistirem os sintomas...." e "Ao persistirem os sintomas...". Há pouco tempo, surgiu uma terceira: "Persistindo os sintomas...".
Já escrevi sobre o par "A persistirem/Ao persistirem", mas não custa repetir: com "A persistirem
os sintomas...", indica-se essencialmente idéia de condição ("A persistirem os sintomas" equivale a
"Se persistirem os sintomas" ou "Caso persistam os sintomas"); com "Ao persistirem os sintomas",
indica-se essencialmente idéia de tempo ("Ao persistirem os sintomas" equivale a "Quando persistirem os sintomas"), embora essa construção tenha também algum matiz condicional.
E com o gerúndio ("Persistindo os sintomas...")? Acalme-se, caro leitor. Não se trata de mais um
caso da febre gerundista que assola o país. Você não precisa estar se preocupando: não vou estar
analisando (nem você vai precisar estar lendo) o ultra-indevido uso de "estar + gerúndio", que, como vimos na semana passada, não é indevido (o uso) pela estrutura do par (que é da língua há séculos), mas pelo valor com que tem sido empregada essa dupla.
Em "Persistindo os sintomas", temos o que se chama de oração reduzida de gerúndio. Por favor,
não se assuste com o nome da oração, que -eu sei- não é dos mais formosos.
São reduzidas as orações que não são introduzidas por conectivos (conjunções, pronomes relativos) e têm o verbo no particípio ("Terminado o debate, começaram as entrevistas"), no infinitivo
("Suponho serem eles os responsáveis") ou no gerúndio ("Agindo dessa maneira, você criará muitas inimizades").
Muitas vezes, é possível desdobrar (ou desenvolver) as orações reduzidas, o que implica empregar
uma conjunção ou pronome relativo e conjugar o verbo no indicativo ou no subjuntivo. Se desdobrássemos a reduzida do primeiro exemplo, teríamos "Assim que terminou o debate, começaram
as entrevistas" (ou "Logo que terminou o debate...", "Mal terminou o debate...." etc.).
No segundo exemplo, teríamos "Suponho que sejam eles os responsáveis" (ou "Suponho que são
eles os responsáveis", caso se queira afirmar que a suposição é fundamentada em dados muito fortes).
No terceiro exemplo, teríamos "Se agir assim, você criará muitas inimizades" (ou "Caso aja assim,
você criará...").
Pois é justamente aí que se encaixa a forma "Persistindo os sintomas, o médico deverá ser consultado". A primeira oração (reduzida de gerúndio) tem valor condicional e equivale a "Caso persistam os sintomas..." (ou "Se persistirem os sintomas..."). Quando bem empregadas (e é esse o caso
de "Persistindo os sintomas..."), as orações reduzidas são, no mínimo, elegantes.
Como se vê, o gerúndio não é -nem de longe- o pior dos mundos. É isso.
[Folha de S. Paulo, 21 de outubro de 2004)
79
VARAL DO BRASIL
Até na novela...
(Pasquale Cipro Neto) [Revista O Globo, n. 79, 29 de janeiro de 2006]
Na semana passada, trocamos dois dedos de prosa sobre a forma e o valor do gerúndio do verbo
"vir" em "...melodias vindo lá do quintal" (de uma letra de Fernando Brant). Há quem não goste do
gerúndio em construções como a de Brant. O argumento é velho: trata-se
de galicismo (uso de construção típica do francês). Esses críticos sugerem que no lugar de "vindo" se use uma oração que comece com o pronome relativo ("...melodias que vinham lá...").
Parece que essa tese não conta com o apoio de gente importante. Para
tratar do assunto, o filólogo português Manuel Rodrigues Lapa (18971989) lança mão deste trecho (que ele deliciosamente chama de "passo")
de Eça de Queirós: "Os seus braços redondinhos descobriam por baixo,
quando se erguiam, prendendo as tranças, fiozinhos louros frisando e fazendo ninho". Lapa faz
esta observação: "Nenhum outro processo daria o colorido movimentado do gerúndio na caracterização do objeto". O lingüista se refere ao papel caracterizador de "frisando" e "fazendo" em relação a "fiozinhos", termo que, convém notar, funciona como complemento de "descobriam" (os
braços redondinhos descobriam fiozinhos louros).
Rodrigues Lapa faz esta indagação: "Para que havemos pois de banir da língua este instrumento
expressivo, sob a acusação de que não era usado pelos nossos tresavós e nos veio diretamente do
francês?". Não satisfeito, o professor Lapa desmente categoricamente a tese do galicismo ("...se
apontam exemplos dessa construção em autores como M. Bernardes e A. Herculano"). E cita também este trecho de "Se te queres", de Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa): "Pelo
grande cobertor não-cobrindo-nada das aparências". Lapa diz que Pessoa "tem artes de fazer do
gerúndio um puro adjetivo".
Pois bem. Como vimos na semana passada, o gerúndio de "...melodias vindo lá do quintal" indica
a idéia de um processo em seu desenvolvimento. Essa construção nos dá a impressão de que o som
das melodias se parece com o cheiro de um delicioso prato que está sendo preparado em algum
lugar próximo. E qual seria o valor do gerúndio em frases como "Vou ter que estar transferindo a
ligação", "Infelizmente eu não pude estar comparecendo", "A senhora vai ter que estar retornando
aqui amanhã" ou "Você vai ter que estar pegando uma senha"? Sabe Deus! Será que nesses casos o
gerúndio indica um processo em desenvolvimento? Quanto tempo dura a transferência de uma ligação? E quanto tempo se gasta para apanhar uma senha? Dia desses, uma funcionária de uma loja
me disse que eu tinha de estar pegando uma senha ("O senhor vai ter que estar pegando uma senha"). Fiquei com vontade de perguntar se o rolo estava no começo.
É bom deixar claro que o problema não está na estrutura, ou seja, nas construções "flexões do verbo 'poder' + estar + gerúndio" ou "flexões do verbo 'ir' + estar + gerúndio", que são da língua (há
séculos). O problema está no uso que se tem feito dessas estruturas ou construções. Quando se diz,
por exemplo, "Não me procure nessa hora, porque eu vou estar dormindo", indica-se um processo
(o de dormir) que estará em curso e terá certa duração, mas, quando se diz "O senhor vai ter que
estar pegando uma senha", emprega-se a construção "vai ter que estar pegando" para que se indique um processo que se realiza imediatamente. Quanto tempo se leva para pegar uma senha? Meses ou menos de um segundo?
Ouvi dizer que na novela "Belíssima" a personagem de Fernanda Montenegro passou um pito numa funcionária que disse algo como "Se a senhora quiser, eu posso estar ligando". Como diz o
querido Moacir Japiassu, é batalha perdida. A coisa pegou dum jeito que nem com reza braba a
peste passa. Haja paciência para agüentar o pessoal do telemarketing, do RH, dos bancos, dos cartões de crédito, das empresas aéreas! São dezenas de "vou/vai (ter que) estar anotando" (ou
"verificando", "enviando", "solicitando" etc., etc., etc.) por segundo. Não há ouvido que agüente!
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VARAL DO BRASIL
Paula Barrazo apresenta:
SAMANTHA VERDAN
Fotógrafa Suíço-Brasileira, nascida em Lausanne –
Vaud e atualmente residindo em Londrina – Paraná.
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VARAL DO BRASIL
UM DIA DE ALICE
Por Silmara Oliveira
Dá vontade de ser criança!
E por que não?
O mundo das crianças é bem diferente do nosso. O mundo das crianças é mais
livre, mais despreocupado, mais inocente, mais divertido e mais leve.
Imaginário.
Alice era assim. imaginava tudo o que podia. Exercitava sua imaginação e sua
curiosidade pela vida. Sua coragem fortalece quem a segue. e poruqe também não
somos Alice?
Alice é criança e conhece o que nenhum adulto conhece (ou se esquece?). Alice
conhece a simplicidade da vida. A alegria dos seres e das coisas.
Nós adultos somos meros Coelhos Brancos ou Ratos cheios de medos, somos
Lagartos julgadores ou Lagartas egoístas, Duquesas orgulhosas e imponentes,
um Gato de Cheshire que aparece e desaparece sem se importar com ninguém,
somos loucos como o Chapeleiro Maluco e matamos o tempo sem o aproveitar,
somos Arganaz que dorme e permanece dormindo a grande parte do tempo, somos
autoritários e impulsivos como a Rainhas de Copas, somos acusados como o Valete
de Copas e somos acomodados como o Rei de Copas e vivemos a nos considerar vítimas do destino como a Tartaruga Fingida.
O que podemos fazer?
Vamos viver como Alices pelo menos um pouquinho por dia, vamos correr, brincar,
rir, cantar, cair em tocas de coelhos por pura curiosidade, vamos crescer, vamos
diminuir, vamos chorar até quase se afogar nas lágrimas e aprender a nadar para
novas descobertas.
Vamos tomar um chá no país das maravilhas?
Ser criança é ser Alice.
82
VARAL DO BRASIL
Liberdade
Por Tino Portes
Desde que meu cão se foi
não sou a mesma pessoa.
Depois que nos apartamos,
minha culpa me atordoa.
Dantes, que tranquila a vida!
E, ai, que bela era a ilusão...
Até enxergar minhas vísceras,
e encarar meu coração.
Sei, agora, porque sempre
o meu peito pulsa arfante.
É que nele está uma pedra
bruta e não um diamante.
E o peso dessa bruteza
faz meu corpo se dobrar
à preguiça desumana,
na natureza sem par.
E é por isso que, hoje, trago
só em lembrança um bom amigo,
que, eu, outrora, abandonei
exposto ao frio e ao perigo.
Mil versos não me redimem
da vergonha que me assombra;
o meu gesto imperdoável
amarrou-se à minha sombra.
Se meu cão, tão mais que eu, puro,
cá me visse penitente...
lamber-me-ia as duas faces
sem hesitar, certamente.
Mas, pudera!... me livrei
do animal. E a liberdade
mui me custa – eu bem mereço
insônia, angústia e saudade!
83
VARAL DO BRASIL
TINO PORTES
Albertino Lineu Portes nasceu em 25 de abril de 1978, em Santa Rosa do Viterbo/SP. Incentivado pelo pai, bibliotecário, e pela mãe,
psicopedagoga, dedica-se à poesia – livre – desde que tomou contato
com as primeiras letras.
Funcionário público, em 2007, por ocasião do convite de uma
amiga para participar de um varal literário, começou a divulgar seus
escritos.
Jovem, leitor assíduo de João Cabral de Melo Neto e Baudelaire, ditam-lhe as musas que vez por outra metrifique, embora não
esconda sua predileção pelos versos e inspiração desmedidos.
Confesso “poeta de horas de ócio” e avesso aos critérios de avaliação, esquiva-se de concursos, não tendo portanto premiações a divulgar.
[email protected]
[email protected]
84
VARAL DO BRASIL
Amando…
Por Vanice Costa
Não quero palavras copiadas para expressar meus sentimentos.
Não quero palavras clonadas, pois cairão no esquecimento!
Quero palavras criadas.
Quero palavras inspiradas.
Quero palavras produzidas pelo mais puro e profundo argumento: o Amor!
Um sentimento.
Uma postura.
Um desejo.
Um querer.
Uma canção.
Uma conquista.
Uma lembrança eterna.
Uma inspiração!
Uma Força Divina maior que o universo,
enchendo o peito da metida a fazer verso!
Criando nas pessoas o desejo de amar.
Ame...
Sinta.
Posicione-se.
Deseje.
Queira.
Cante.
Conquiste.
E lembre-se eternamente desse grande argumento maior que o universo:
O Amor, que na Força de Deus enche o peito das pessoas que desejam amar.
Fale de amor.
Esqueça a dor.
Cante o amor.
Inspire outros a amar.
Doe o seu sorriso.
Presenteie com flores.
Chova ou faça sol, ame.
Amar não é favor.
Amar é doar-se com amor!
Ame as pessoas, os animais, a vida, o presente, pois seu passado não volta
mais.
Ame as crianças, os velhos, a natureza. Sabendo que amar não é fraqueza!
Ame a Deus sobre todas as coisas e a “mim” como a ti mesmo, pois estes mandamentos são cheios de sentimentos e das melhores intenções também!
85
VARAL DO BRASIL
Química
Sublimemos, amor. Assim as flores
No jardim não morreram se o perfume
No cristal da essência se defende.
Passemos nós as provas, os ardores:
Não caldeiam instintos sem o lume
Nem o secreto aroma que rescende.
O que as vitórias têm de
mau é que não são
definitivas. O que as
derrotas têm de bom é que
também não são
definitivas.
"Há
esperanças que é
loucura ter. Pois eu
digo-te que se não
fossem essas já eu
teria desistido da
vida."
Não tenha pressa,
mas não perca
tempo...
86
VARAL DO BRASIL
Por Valquíria Gesqui Malagoli
O dia amanhecera fechado, como predissera o céu sem estrelas da noite anterior. Apenas o vento
ululante sacolejava os arbustos que circundavam a piscina.
A morte lhe arrancara, na véspera, um dos seus, chacoalhando-lhe a vida em cujo dia a dia
procurava, cegamente, algo entre as perspectivas, restando à razão apalpar o nada e ver passarem
as oportunidades. Por isso, suas narinas lançavam-se à distância, buscando adivinhar o perfume da
fileira longínqua de patas-de-vaca.
Como não lhe estimulasse o ritual diário dos demais membros de seu clã – que consistia em
sentar-se defronte à televisão e observar o tempo correndo em paralelo à realidade –, tendo agasalhado o corpo para suportar o rigoroso frio de julho, a fim de aquecer também a alma, abraçou-se à
solidão antes de sair.
Sobre a placa de cem metros da pista para pedestres, o angico resvalava nos galhos do jacarandá mimoso. Estendendo a sombra de sua copa, ele ronronava, sonolento e enfastiado, aguardando a estação seguinte, quando, enfim, suas brancas flores despertariam. Orando pelas folhas que,
em breve, sacrificar-se-iam em prol da floração que nasceria faminta de sol, água e nutrientes, ela
continuou para, mais à frente, quase escondendo a marca dos duzentos metros, ver que a goiabeira
repousava, pois seus galhos só se curvariam, carregados, em outubro ou novembro. Enquanto isso,
servia de pousada para sanhaços e seus familiares, os saíras amarelos e de sete cores.
De repente, um ruflar de asas...
De repente, um ruflar de asas... Era um tucaninho, cujo bico correspondia à metade da extensão do
corpo. Admiraram-se, cada qual investigando as peculiaridades (visíveis) do outro ser. E, algumas
voltas depois, ela nem se surpreendia mais com o movimento cuidadoso do pássaro que a seguia,
esgueirando-se entre as árvores.
Já acordara enfastiada da rotina, então, não tomara seu habitual café da manhã. Ali, porém, a
cada passo, devorava – no sentido figurado – bromélias e outras plantas parasitas que decoravam
troncos semimortos, samambaias pendentes... Sobretudo, eram seus ouvidos que se banqueteavam
com os vários cantos, vindos de todos os cantos...
Mas, fora o ipê-rosa que lhe presenteara com a presença de um macaco (talvez um prego)
de pelagem ruiva. Ele, preguiçosamente, estendia o braço e devorava – no sentido literal – os cachos rosados, levando-os até a boca, um a um, sem cerimônia.
Um esquilo, impotente sob a força do instinto a lhe ditar ordens, ora subia, ora descia pelas
costas dos pinheiros que ladeavam o bosque, pegando as sementes que volta e meia lhe escapavam
dos dedinhos. Meio escandalizada, ela percebeu que, nas ocasiões em que encarava o desconhecido, agia da mesma forma que o bichinho amedrontado.
Um bando de sabiás, rindo alto, veio juntar-se ao joão-de-barro troçador. Ela tentou desvestir-se do imenso, do gigantesco, do torturante complexo de inferioridade, e crer que não... não falavam dela. Cabisbaixa prosseguiu.
Após ter ultrapassado sucessivas vezes a placa dos quinhentos metros, seus pés sinalizavam
inchaço; seu espírito errante, entretanto, murcho, vazio, ainda não encontrara respostas.
...viu nela um Noé moderno ...
87
VARAL DO BRASIL
Seu parente, segundo Darwin, atirou-lhe do alto um fruto
graúdo. Quem sabe se, num lapso de memória ancestral, viu nela
um Noé moderno, dando voltas a vistoriar a arca, conferir os
casais, abordar os intrusos, recolher víveres... Ou, se, ao contrário, num vestígio de selvageria, quis somente expulsar quem interferia na harmoniosa convivência entre as espécies.
Enfim, com os pulmões repletos do ar revigorante que,
logo, a fumaça da estrada engoliria, tomou o rumo de casa, de
onde fugira. Irracionalmente, imitou a lebre que volta à toca,
sempre desconfiada do gavião ou de seu fantasma.
Nem notou a espetacular eritrina, despida de sua roupagem verde, exibindo-se e às suas centenas de bebês ainda vermelhos do parto recente. Os reflexos das vagens cilíndricas tremulavam no chão recoberto de terra e pedriscos, entrecortando a
passagem da sombra oblíqua de uma pessoa insegura... Limparia
a poeira dos pés antes de adentrar a varanda.
Valquíria Gesqui Malagoli
Jundiaiense, Presidente da Academia Feminina de
Letras e Artes de Jundiaí (2010-2012) e membro de diversas
entidades culturais.
Articulista do Jornal de Jundiaí Regional, colabora
também com outros veículos.
Autora de: Versos versus Versos (2005) e Testamento (2008) – poesias; O presente de grego (2009) – romance
infanto-juvenil.
Em coautoria com Renata Iacovino, lançou Missivas
(2006 – parceria poética), e OLHAR DIverso – haicaimagético (2009), além dos infantis uniVerso enCantado (2007 –
livro/CD) e De grão em grão (2008 – CD).
Juntas, realizam oficinas, saraus e atividades afins;
desenvolveram e mantêm desde 2009 a CircuitoTeca, biblioteca itinerante sem fins lucrativos. Com Josyanne Rita de
Arruda Franco, criaram o jornal literário de distribuição gratuita CAJU.
www.valquiriamalagoli.com.br
vmalagoli.blog.uol.com.br
reval.nafoto.net
[email protected]
caju.valquiriamalagoli.com.br
88
VARAL DO BRASIL
É uma insônia...o que sinto
É o desespero mudo que o peito despedaça,
E oblitera a razão!
Desamparou-me a crença...
O mais precioso escudo!
Abandonou-me a fé...
Meu único bordão!
Pegaram-me no encalço,
Os tormentos de Orestes
Como que em redor de mim.
Tudo se descombra!
Sorrio como Lear,
Louco despedaçando as vestes
Ouvindo como Hamlet,
Interrogando as sombras...
Eu, em que tempo esquecerei minhas
mágoas?
Que inferno...é tragédia a minha dor?
E assim,obedecendo ao faldário
Hei de entre os homens errar...Triste
e esbugalhado Jó
Sem pão e sem carinho...
Orfeu dorido e insano
A carpir e a cantar...
Francisco Chagas Araújo e Varenka
de Fátima
É uma insônia ...que me invade
É um desespero ensurdecedor,que estraçalha o
coração
Afeta a minha razão
Não consigo entender o por quê de estar tão só
O meu precioso escudo ainda tenho
A minha fé e a religião
Não virão ao meu encalço
Os tormentos de Orestes
A loucura de Lear
Ao despedaçar suas vestes
Nem tão pouco um Hamlet
Vivendo as sombras.
Orfeu dorme em sonhos eternos
Sinto apenas a angústia de Antígona
A ira contra os atos de Medéia
O suicídio de Ofélia pela rejeição de Hamlet.
Diante de tantos fatos
Ainda me resta a esperança,
Enquanto viver... mudar o percurso desse estado
da mente
Varenka de Fátima Araújo reside em Salvador-Bahia. Formada em
Direção teatral pela Universidade Federal da Bahia, cursou licenciatura
em Desenho na Escola de Belas Artes da UFBA É figurinista da Escola
de Teatro da UFBA. Professora de teatro aqui e em 1984 no Panamá.
Atriz, maquiadora e figurinista de varias peças de teatro. Participou do
livro Ecos Machadianos, coletânea verso e prosa, teve participação com
a poesia Salvador no Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus. Teve
duas poesias na Antologia Delicatta IV prosa e verso, Poeta, Mostra
Tua Cara e Coletânea Eldorado é colaboradora da revista Artpoesia e
Minirevista Contando e Poetizando de Marcos Toledo é membro do
grupo Poetas Del Mundo e Luso Poemas. Na antologia Mãos que falam, ficou na nona colocação com a poesia Tempo de Espera. Teve três
poemas no livro GACBA.
Contato: [email protected]
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VARAL DO BRASIL
PELE COM PELE
Por Víctor Manuel Guzmán
Vilena
Tua pele é minha pele
quando te amo eu sinto intensas sensações
que recorrem nossos sentidos para inundar-nos de prazer
Este gozo que embriaga e diluí em êxtases
levando-nos a um paraíso para juntos elevar-nos
por cima das nuvens mais além do horizonte
até converter-nos em éter de amor
que inunda as paixões da natureza
Víctor Manuel Guzmán Villena. Nacido en Ibarra- Ecuador, un 26 de febrero de 1956. Escritor
y comunicador social. Ha publicado varios libros relacionados al mundo espiritual, metafísico y
esotérico: Círculos de Vida, Laberintos Internos. Uno de carácter costumbrista: Con amor a mi
provincia. Dos poemarios: Idioma del Alma y Laberintos de Amar: Encierro de los sentidos. En
Internet la obra ha sido publicada en muchos sitios web y en
revistas literarias y especializadas.
Su vida se desarrolla incorporando todos estos conocimientos
absorbidos por medio del estudio catedrático, la búsqueda del
conocimiento y lo aprendido en la escuela de la vida. Toda esta comunión de ideas y sus experiencias lo hacen estar siempre
en pos del entendimiento y el libre albedrío. Libre Pensador e
Iconoclasta de la vida, ya que siente que los caminos a recorrer
en la búsqueda filosófica son infinitos para derribar mitos y
figuras desde los pedestales.
Sua poesia refletindo sensualidade que acaricia, com seus versos uma homenagem a mulher recorrendo com luz ardente
suas delicias e sua alma. Reveste cada poema com néctar dourado de palavras onde o amor e a paixão se abraçam com a vida.
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VARAL DO BRASIL
Paula Barrozo apresenta:
Victória B. Adum
Poesia de uma pré-adolescente que na época tinha 12 anos...
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VARAL DO BRASIL
A FILOSOFIA DE SEU LECO
Por Vó Fia
Dono de poucas e boas terras, Seu Leco era um homem feliz, suas vacas leiteiras eram
produtivas, seu touro Competente era cumpridor de seus deveres de macho, pois todos
os anos os bezerros nasciam lindos e saudáveis e o rebanho crescia a olhos vistos, animando os pastos e seu dono.
Na lavoura sua boa sorte continuava: era plantar, cuidar e colher com fartura. Ele plantava café, arroz, feijão e milho e no tempo certo a terra retribuía com juros, ele e sua
família comiam o que queriam e as sobras eram vendidas para suprir a casa daquilo que
não produziam.
No pomar e na horta o resultado era o mesmo, frutas e legumes o ano todo, no galinheiro as penosas cumpriam sua missão e os ovos e frangos gordos estavam sempre à disposição da feliz família de Seu Leco, e todos podiam comer a vontade e se sentirem bem.
Dona Antonia a alegre esposa de Seu Leco, era também pontual no cumprimento de
seus deveres pois de dois em dois anos ela presenteava ao marido com mais um filho,
digo filho porque naquela casa só chegavam meninos, já eram oito a partir dos dezesseis anos e descendo a escadinha já havia promessa de mais.
Todas essas bênçãos enchiam o agricultor de alegria; só tinha uma coisa que o preocupava e era o excesso de dinheiro, isso ele não tolerava. Seu Leco até criou para seu uso
a seguinte filosofia: o ser humano carece só do que carece o que passa é sobejo, e para
sobejos ele sempre encontrava um jeito.
Como naquela manhã que seu sobrinho Dico apareceu para comprar um bezerro, o bicho foi escolhido e na hora do acerto, Seu Leco perguntou:
Sobrinho quanto ocê quer pagar no garrote? O rapaz respondeu: acho que vale quatrocentos reais; Seu Leco pensou, coçou a cabeça e se saiu com essa:
Oia aqui sobrinho, valer até que vale, mas eu fiz planos pra trezentos reais, o resto é sobejo e sobejo eu não recebo, pague os trezentos e fica tudo certo, Dico pagou, laçou o
bezerro e se mandou feliz com a mania do tio, em todas as situações a filosofia de Seu
Leco prevalecia.
Como no dia que ele estava no curral ordenhando as vacas e de repente gritou: Antonia
corre cá, a mulher veio depressa atender ao chamado do marido, e ouviu essa: oia eu já
enchi seis galões de leite e sobrou um balde cheio, leva e dá pros porcos. A mulher perguntou: pra que dar pros porcos? vende junto com os galões.
Do alto de sua sabedoria Seu Leco se explicou: ocê sabe que nos meus planos só preciso da renda dos seis galões, o resto é sobejo e vai me incomodar; dê logo o leite pros
porcos, de todo jeito vira lucro e não confunde minhas idéias; os vizinhos se divertiam
com a filosofia de Seu Leco, mas ele se considerava certo e viveu felizes noventa e dois
anos, sempre acorrentando suas rendas a seus planos.
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