2010 - Ladeh

Transcrição

2010 - Ladeh
Ana Claudia Corrêa Bittencourt Sodré
Seis propostas para adaptação visual de conteúdo
geográfico e estatístico para o público infantil
Adaptação visual para crianças das informações
geográficas e estatísticas do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística – IBGE, baseado na obra
Seis propostas para o próximo milênio, de Italo Calvino
Dissertação de Mestrado
Dissertação apresentada como requisito parcial para
obtenção do título de Mestre pelo Programa de PósGraduação em Design do Departamento de Artes e
Design da PUC–Rio.
Orientador: Prof. Nilton Gonçalves Gamba Junior
Rio de Janeiro, março de 2010
Ana Claudia Corrêa Bittencourt Sodré
Seis propostas para adaptação visual de conteúdo
geográfico e estatístico para o público infantil
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Design da PUC-Rio como requisito parcial para obtenção do
título de Mestre em Design. Aprovada pela Comissão
Examinadora abaixo assinada.
Nilton Gonçalves Gamba Junior
Orientador
Departamento de Artes & Design - PUC-Rio
Rita Marisa Ribes Pereira
UERJ
Eliana Lucia Madureira Yunes Garcia
Departamento de Letras - PUC–Rio
Prof. Paulo Fernando Carneiro de Andrade
Coordenador Setorial do Centro de Teologia e Ciências Humanas - PUC–Rio
Rio de Janeiro, 14 de setembro de 2009
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total
ou parcial do trabalho sem autorização da universidade, da
autora e do orientador.
Ana Claudia Corrêa Bittencourt Sodré
Graduou-se em Desenho Industrial, Programação Visual
pela PUC–Rio em 1999. Atua na área de design gráfico com
criação e editoração de publicações, materiais promocionais
e também na área de produção de eventos. Possui
experiência na criação de publicações didáticas e paradidáticas infantis de conteúdo geográfico e estatístico.
Atualmente, pertence ao quadro de funcionários públicos da
Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz, trabalhando como
Designer Gráfica.
Ficha Catalográfica
Sodré, Ana Claudia Corrêa Bittencourt
Seis propostas para adaptação visual de
conteúdo geográfico e estatístico para o público infantil:
adaptação visual para as crianças das informações
geográficas e estatísticas do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística-IBGE, baseado na obra Seis
propostas para o próximo milênio, de Italo Calvino / Ana
Claudia Corrêa Bittencourt Sodré ; orientador: Nilton
Gonçalves Gamba Junior. – 2009
189 f. : il. (color.) ; 30 cm
Dissertação (Mestrado em Design) – Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 2009.
Inclui bibliografia
1. Artes – Teses. 2. Livro didático infantil. 3.
Dados geográficos e estatísticos. 4. Linguagem híbrida.
5. Design. I. Gamba Junior, Nilton Gonçalves. II.
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Departamento de Artes & Design. III. Título.
CDD: 700
Para meu marido Marcos,
grande incentivador e companheiro de todas as horas.
Agradecimentos
Ao meu querido orientador Prof. Dr. Nilton Gamba Jr. pela presença,
direcionamento,
dedicação,
ajuda,
estímulo,
disponibilidade,
inspiração,
inestimáveis ensinamentos e parceria na realização desta pesquisa. Sem ele, eu
realmente não teria conseguido.
À professora Eliana Yunnes pelo seu precioso auxílio e sugestões de grande
importância.
À professora Rita Ribes pelos valiosos comentários.
À Capes e à PUC-Rio, ao IBGE e à Fiocruz pelos auxílios concedidos, sem os
quais esta pesquisa não poderia ter sido realizada.
Aos meus sempre presentes pais, Sergio e Lilian, pelo amor, educação e apoio.
Ao meu marido Marcos, pelo desmedido apoio e incentivo ao estudo, além da
essencial ajuda para a realização desta pesquisa.
À minha irmã Ana Paula, que sempre está presente quando preciso.
Às minhas sobrinhas e afilhadas gêmeas, tão queridas, Adriana e Gabriela por me
fazerem acreditar no amanhã.
Às minhas cunhadas Carla, Olívia e Luiza e avó Lilia por terem me estimulado
sempre que precisei.
À minha amiga de infância Renata Mello, que em todos os momentos acreditou
em mim e me encorajou a nunca desistir.
À minha amiga de mestrado Luciana Claro, que mostrou ser amiga de todas as
horas e para toda a vida.
Aos meus amigos do LaDeH e do NEL que me ensinaram coisas que eu
desconhecia.
Aos meus colegas de mestrado, que dividiram comigo dúvidas e ansiedade.
A todos os professores e funcionários do Departamento de Artes & Design,
sempre gentis e solícitos.
A todos os meus familiares e amigos, que, de uma forma ou de outra, me
estimularam e me apoiaram.
Aos meus colegas da Fiocruz, em especial à Coordenadora de Comunicação
Institucional Ana Furniel, Ana Lucia Normando, Cristiane Parangaba, Tatiana
Lassance e Maria Inês Fernandes pelo apoio, compreensão concedidos para que
eu pudesse me dedicar a esta pesquisa.
Resumo
Sodré, Ana Claudia Corrêa Bittencourt. Seis propostas para adaptação
visual de conteúdo geográfico e estatístico para o público infantil. Rio de
Janeiro, 2010. 189p. Dissertação de Mestrado - Departamento de Artes e
Design, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Ao optar pela metodologia de análise de discurso, o presente estudo
pretende examinar os sentidos produzidos a partir da linguagem visual nos livros
didáticos infantis do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.
Propõe-se o estabelecimento de um dispositivo analítico calcado nas categorias de
Italo Calvino (leveza,
rapidez, exatidão, visibilidade, multiplicidade e
consistência) observadas em seu livro Seis propostas para o próximo milênio, de
modo a identificar confluências entre o discurso produzido por um sistema de
símbolos estritamente lingüísticos e o de um sistema que congrega símbolos
lingüísticos com imagens. O que se quer saber é como as categorias de Calvino,
advindas de teorias literárias, entram em diálogo com os discursos que se
materializam em textos e figuras, e quais sentidos elas gerariam num sistema
alternativo de símbolos. Será que nessa linguagem híbrida as técnicas literárias,
propostas por Calvino, produzem reflexões produtivas a fim de tornar o discurso
mais leve, rápido, exato, visível, múltiplo e consistente?
Palavras-chave
Livro didático infantil, dados geográficos e estatísticos, linguagem híbrida e
design.
Abstract
Sodré, Ana Claudia Corrêa Bittencourt; Gamba Jr, Nilton (orientador). Six
suggestions for visual adaptation of geographic and statistical data to
childhood audiences. Rio de Janeiro, 2010. 189p. MSc. Dissertation
Dissertação de Mestrado - Departamento de Artes e Design, Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Taking the examination of reasoning as a methodological line, what this
study aims is to examine the sense produced from a hybrid language of texts and
images from the children‟s textbooks produced by Instituto Brasileiro de
Geografia and Estatística - IBGE. What is proposed, is to establish an analytical
precept based on the categories Italo Calvino stated in his book Seis propostas
para o próximo milênio (lightness, fleetness, accuracy, visibility, multiplicity and
consistency), as a mean to identify the confluence between the reasoning
produced by a system of symbols strictly linguistic and those produced by a
system that brings together linguistic symbols and images. The question is how
the Calvino‟s categories, coming from the literary theories, get in dialog with the
reasoning materialized in texts and images, and what senses would they generate
in an alternative system of symbols. Would the products from the hybrid language
compare to the literary techniques proposed by Calvino in producing languages
fertile to render a reasoning lighter, fleet, accurate, visible, multiple and
consistent?
Keywords
Children‟s textbook, geographic and statistical data, hybrid language and
design.
Sumário
1 Introdução
14
1.1. Contexto – como tudo começou
14
1.2. Metodologia – usando a análise de discurso
17
2 O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
19
2.1. Descrição e histórico
19
2.2. Produção de conteúdo
22
2.3. As adaptações para o público infanto-juvenil
27
2.3.1. Fauna Ameaçada de Extermínio (1997)
29
2.3.2. Brasileirinho e o contador de povo (1998)
30
2.3.3. Fauna Ameaçada de Extinção (2001)
31
2.3.4. Vamos compreender o Brasil (2001)
34
2.3.5. O que está acontecendo com a nossa Terra? (2002)
37
2.3.6. Atlas Geográfico Escolar (2002)
40
2.3.7. Meu 1o Atlas (2005)
43
2.3.8. O Vento do Oriente (2008)
46
3 A contribuição da interdisciplinaridade
48
3.1. Falando um pouco sobre o livro infantil
48
3.2. O mundo contemporâneo da Cultura Pós-Moderna
53
3.3. A produção de conhecimento
55
3.4. O desenvolvimento do indivíduo e o papel da linguagem
58
3.5. O alfabetismo visual
61
4 A fronteira entre os saberes
67
4.1. O didático infantil na Cultura Pós-Moderna
67
4.2. Exemplos Pós-Modernos de novas associações
70
5 Italo Calvino e uma teoria para a narrativa
81
5.1. A narrativa Pós-Moderna
81
5.2. Vida e obra
82
5.3. Por que ler os clássicos
83
5.4. Cidades Invisíveis
85
5.5. As Cosmicômicas
86
5.6. Seis propostas para o próximo milênio
86
6 Seis propostas para a análise dos recursos de design
90
6.1. Análise de Discurso
90
6.2. Desenvolvendo uma metodologia de análise
94
6.3. As categorias
97
6.3.1. Leveza
97
6.3.2. Rapidez
101
6.3.3. Exatidão
105
6.3.4. Visibilidade
108
6.3.5. Multiplicidade
114
7 Análise do discurso produzido pela linguagem visual
119
7.1. As etapas da produção do Meu 1o Atlas
119
o
7.2. Uma descrição formal do Meu 1 Atlas
123
7.2.1. A capa e contracapa
123
7.2.2. As folhas de guarda
126
7.2.3. A primeira e a última páginas
128
7.2.4. A página de apresentação
130
7.2.5. As páginas do sumário
131
7.2.6. As aberturas de capítulo
133
7.2.7. O miolo
135
7.2.7.1. As páginas com o conteúdo da Parte I
135
7.2.7.2. As páginas com o conteúdo da Parte II
144
7.3. Conclusão das análises
146
8 Conclusão
152
9 Referências Bibliográficas
158
10 Anexos
163
10.1. Entrevista com David Wu Tai
163
10.2. Listas de obras de Italo Calvino
170
10.2.1. Lista que consta no site Wikipédia
170
10.2.2. Lista que consta no site americano sobre Italo Calvino
171
10.2.2.1. Livros de ficção
171
10.2.2.2. Ensaios
172
10.2.3. Lista encontrada no site www.des.emory.edu/mfp/calvino
172
10.2.4. Obras do autor publicadas no Brasil
174
10.3. Listas
176
10.3.1. Lista com diversas categorias encontradas na dissertação
176
10.3.2. Lista das categorias propostas por Italo Calvino e outros
177
10.3.3. Lista das categorias encontradas fazendo 3 associações
178
10.3.4. Lista de associação por autores
183
10.3.5. Lista de balizamento pela compreensão obtida
188
Lista de figuras
Figura 1 – Capa da publicação Fauna ameaçada de extermínio
29
Figura 2 – Capa da publicação Brasileirinho e o contador de povo
30
Figura 3 – Capa da publicação Fauna ameaçada de extinção
31
Figura 4 – Capa da publicação Vamos compreender o Brasil
34
Figura 5 – Capa da publ. O que está acontecendo com a nossa Terra
37
Figura 6 – Capa da publicação Atlas Geográfico Escolar
40
Figura 7 – Capa da publicação “Meu 1 o Atlas”
43
Figura 8 – Capa da publicação O Vento do Oriente
46
Figura 9 – Cartilha da amamentação
73
Figura 10 – Peças publicitárias da campanha de vacinação
76
Figura 11 – Infográfico de Nigel Holmes
78
Figura 12 - Capa e contracapa da publicação Meu 1o Atlas
123
Figura 13 – Folhas de guarda da publicação Meu 1o Atlas
126
Figura 14 – Primeira da publicação Meu 1o Atlas, IBGE, 2005.
128
Figura 15 – Última página da publicação Meu 1o Atlas, IBGE, 2005.
128
Figura 16 – A página de apresentação da publicação Meu 1o Atlas
130
o
Figura 17 – As páginas do sumário da publicação Meu 1 Atlas
131
Figura 18 – A abertura de capítulo da Parte I do Meu 1o Atlas
133
Figura 19 – A abertura de capítulo da Parte II do Meu 1o Atlas
133
Figura 20 – Páginas com conteúdo da Parte I do Meu 1o Atlas
135
Figura 21 – Páginas com conteúdo da Parte I do Meu 1o Atlas
135
o
136
o
Figura 23 – Páginas com conteúdo da Parte I do Meu 1 Atlas
136
Figura 24 – Páginas com conteúdo da Parte I do Meu 1o Atlas
137
Figura 25 – Páginas com conteúdo da Parte I do Meu 1o Atlas
137
Figura 26 – Páginas com conteúdo da Parte I do Meu 1o Atlas
138
Figura 27 – Páginas com conteúdo da Parte I do Meu 1o Atlas
138
Figura 22 – Páginas com conteúdo da Parte I do Meu 1 Atlas
o
Figura 28 – Páginas com conteúdo da Parte I do Meu 1 Atlas
139
Figura 29 – Páginas com conteúdo da Parte I do Meu 1o Atlas
139
Figura 30 – Páginas com conteúdo da Parte II do Meu 1° Atlas
144
Figura 31 – Páginas com conteúdo da Parte II do Meu 1° Atlas
144
Figura 32 – Páginas com conteúdo da Parte II do Meu 1° Atlas
145
1
Introdução
1.1.
Contexto – como tudo começou
Sempre gostei de livros de histórias infantis. As ilustrações desses livros me
faziam entrar num mundo maravilhoso, cheio de fantasia e emoção. E, talvez,
tenha sido o incentivo dos meus pais à leitura que estimulou a minha criatividade
e despertou em mim o interesse pela literatura e por outras manifestações
artísticas, como o desenho, a pintura, a música e, em especial, a dança.
Quando entrei para o curso de Desenho Industrial na PUC-RJ, passei a olhar
os livros de forma diferente. Naquela época, não me interessava apenas pelas
histórias e ilustrações, mas também pela programação visual do livro e sua
produção como um todo. Comecei a prestar mais atenção aos diferentes formatos
dos livros, diversos tipos de papéis utilizados, à produção das capas e miolos, ao
uso dos tipos e das cores, e qualidade da impressão. Para mim, era um mundo
totalmente novo, porém não menos fascinante. E, assim, como projeto final de
faculdade, criei o livro Entrando na Dança – para crianças que se interessavam
pelo Ballet Clássico. Projetei a programação visual, redigi o texto e fiz as
ilustrações baseadas na personagem criada por um amigo. Como estudei Ballet
por muitos anos e, na ocasião, ministrava aulas para crianças de 4 a 12 anos, tive a
oportunidade de ter um retorno de minhas alunas. O livro foi bem recebido por
elas e despertou o interesse também de seus pais.
Alguns anos depois de formada, quando ainda trabalhava como designer
gráfica para uma produtora de eventos de arte, a Dell‟Arte Produções Artísticas,
resolvi fazer um concurso público para o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística - IBGE, sendo aprovada no Censo 2000.
O IBGE é uma instituição de administração pública federal, subordinado ao
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, constituindo-se no principal
provedor do país, cujos dados e informações atendem às necessidades dos mais
diversos segmentos da sociedade civil bem como dos órgãos das esferas
Introdução
15
governamentais federal, estadual e municipal. Há 69 anos, o IBGE identifica e
analisa o território, conta a população, apresenta a evolução da economia por meio
do trabalho e da produção das pessoas, revelando ainda como elas vivem.
Após alguns meses trabalhando no IBGE e produzindo muitos cartazes,
folders, filipetas, banners e exposições, fui solicitada para criar o livro Vamos
compreender o Brasil – voltado para o público infanto-juvenil com informações
fundamentais (a participação das pessoas no mundo do trabalho, seus níveis de
educação, a mortalidade infantil, a desigualdade social etc.) para o conhecimento
da população e do território brasileiros, utilizando uma linguagem simplificada e
fartamente ilustrada. Eu já havia feito algumas capas de publicações, como Brasil
500 anos de povoamento e A Bandeira do Brasil, além de toda a programação
visual da publicação Fauna ameaçada de extinção. Mas, agora, era o meu
primeiro livro infantil no mercado, algo que eu sempre quis fazer! Tratando-se de
um livro didático cheio de informações estatísticas, algumas dúvidas surgiram, a
respeito de como elaborar o projeto gráfico voltado para a disseminação de
informações estatísticas para o público infantil. Primeiro, as questões referentes à
parte gráfica do livro:
Qual o melhor formato para o público infantil?
Que tipos escolher para o título e para o texto, e qual o melhor tamanho?
Qual a melhor disposição da mancha na página?
Qual a técnica e o estilo de ilustração a utilizar?
Depois, vieram as reflexões de qual seria o melhor método a ser usado num
livro com informações estatísticas para crianças:
Qual a relação de uma obra com esses aspectos e a tradição da produção
da literatura infantil?
Como são os leitores dessa faixa etária?
Quais são os seus gostos?
O que eles esperam de um livro como esse?
Como despertar o interesse desses leitores para um conteúdo tão
complexo?
Poe essas razões, consultei bibliografias e pesquisas de mestrado que
abordassem o tema literatura infantil e/ou esse tipo de publicação visando obter as
Introdução
16
respostas tão necessárias para cumprir minha tarefa. Apesar de meus esforços, não
encontrei referências com as especificidades que gostaria de trabalhar. Assim, tive
de esquecer o projeto inicial e elaborar o livro intuitivamente, usando os
conhecimentos adquiridos na faculdade.
O resultado foi positivo; entretanto minha intenção era fazer um livro mais
interessante, mais dinâmico, que realmente despertasse o interesse das crianças.
Ao longo de dois anos atuando no IBGE, novos trabalhos surgiram, dentre
eles O que está acontecendo com a nossa terra, livro infantil que explicava o
aquecimento do planeta e as possíveis causas desse fenômeno. Recebi o texto e as
ilustrações prontas, tendo a tarefa de criar a programação visual do livro. Em
seguida, veio o Atlas Geográfico Escolar, uma publicação totalmente voltada para
o público de idades variadas, de grande relevância para compreender o Brasil e
sua inserção no mundo, abordando vários aspectos da realidade brasileira e de
outras nações. Reuni diversas referências e, apesar de ter encontrado dificuldades
com relação à obtenção de ilustrações, foi possível crias uma publicação de
qualidade e bastante abrangente em que foram sedimentadas algumas experiências
das publicações anteriores.
Logo após esse trabalho, surgiu o Meu 1° Atlas, publicação com a proposta
de trazer para o público infantil os principais conceitos de cartografia, além de
prepará-los para ler mapas e cartogramas. A despeito da total liberdade para a
definição do projeto, uma vez que ele já havia elaborado um Atlas, novamente
surgiram todas as dúvidas anteriores quando criei o Vamos compreender o Brasil.
O tempo curto determinado para a produção não permitiu uma pesquisa que
considerei satisfatória.
No entanto, dessa vez, apesar de se tratar de um livro didático, criei
personagens e junto com duas pedagogas desenvolvemos um texto narrativo, além
de usar ilustrações que despertaram a criatividade. Sem mencionar os exercícios e
jogos que o tornaram interativo. Por ter a possibilidade de acompanhar o consumo
do livro por várias crianças, constatei que a receptividade foi imediata.
Como todo profissional que prima pela qualidade de seu trabalho, fiquei
muito satisfeita com o meu desenvolvimento como designer desse tipo de produto
editorial, despertando assim para necessidade de fazer um estudo mais
aprofundado sobre o livro didático infantil, a relação entre texto, imagem e leitor,
de que modo transformá-lo num objeto mais sedutor para a disseminação de
Introdução
17
informações estatísticas e, assim, propiciar ao leitor uma nova visão da realidade
sem perder o aspecto lúdico.
1.2.
Metodologia – usando a análise de discurso
A oportunidade de aproximação da teoria e técnica narrativa em virtude da
metodologia que usei no Meu 1o Atlas propiciou o recorte específico desta
pesquisa: a contribuição particular dos estudos da Literatura para essa área do
design (design editorial). Na vasta área da Literatura, selecionei, em particular, a
obra do autor Italo Calvino.
O discurso do livro didático infantil contemporâneo correlaciona-se a
ideologia veiculada pela Cultura Pós-Moderna, sendo parte do discurso vigente da
sociedade industrial, e por isso a relevância de uma contextualização histórica.
Como o sujeito da minha pesquisa são os leitores contemporâneos na faixa de 7 a
12 anos (faixa etária a que as publicações do IBGE se dirigem) considerei
importante entender um pouco do contexto histórico no qual esses leitores estão
inseridos (denominada Cultura Pós-Moderna) e quais são as suas características.
Com esse objetivo pesquisei autores que contemplaram, na noção da Cultura
Pós-Moderna, o caráter híbrido da produção de conhecimento (Jean-François
Lyotard e David Harvey) e perspectivaram diálogos entre áreas relevantes para
esse estudo, como o desenvolvimento do indivíduo (Vygotsky) e a sintaxe da
linguagem visual (Donis A. Dondis).
Após a análise de uma amostra da obra de Italo Calvino, escolhi dois livros
de teoria – Seis Propostas para o próximo milênio e Por que ler os clássicos – e
dois livros de ficção – As Cosmicômicas e As Cidades Invisíveis.
Ao analisar essas obras, foi possível estabelecer um paralelismo com a
minha pesquisa: capacitar o desenvolvimento de leituras estimulantes, mesmo
para um conteúdo que é inicialmente complexo. Tal fato vai ao encontro dos
intuitos de meus estudos, cujo objetivo é justamente verificar a aplicação dessa
base teórica na concepção de livros que visam à comunicação de dados
estatísticos e informações geográficas para o público infantil.
Introdução
18
Ao optar pela metodologia de análise de discurso, este estudo pretende
examinar os sentidos produzidos a partir de uma linguagem híbrida de textos e
imagens nos livros didáticos infantis do IBGE. Propõe-se o estabelecimento de
um dispositivo analítico calcado nas categorias encontradas no livro Seis
propostas para o próximo milênio, de Italo Calvino (leveza, rapidez, exatidão,
visibilidade, multiplicidade e consistência), de modo a identificar confluências
entre o discurso produzido por um sistema de símbolos estritamente lingüísticos e
o de um sistema que congrega símbolos lingüísticos com imagens. O que se quer
saber é como as categorias de Calvino, advindas de teorias literárias, entram em
diálogo com os discursos que se materializam em textos e figuras e quais sentidos
elas gerariam num sistema alternativo de símbolos. Por isso o diálogo com a obra
de Dondis e a opção final por uma análise do discurso produzido pelos elementos
da linguagem visual.
Como estudo de caso desta pesquisa, optei por realizar a análise crítica da
linguagem visual utilizada no Meu 1o Atlas.
Tendo isso como mote, a pesquisa buscará, então, aplicar não somente essas
seis categorias na construção de narrativas visuais, mas a obra do autor como um
todo, construindo, assim, uma ponte com o campo do design com vistas a
contribuir para a valorização das informações geográficas e estatísticas do IBGE
direcionadas ao público infantil.
2
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
2.1.
Descrição e histórico
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE se constitui no
principal provedor de dados e informações do país, que atendem às necessidades
dos mais diversos segmentos da sociedade civil, bem como dos órgãos das esferas
governamentais federal, estadual e municipal.
O IBGE oferece uma visão completa e atual do País, através do desempenho
de suas principais funções:
produção e análise de informações estatísticas;
coordenação e consolidação das informações estatísticas;
produção e análise de informações geográficas;
coordenação e consolidação das informações geográficas;
estruturação e implantação de um sistema de informações ambientais;
documentação e disseminação de informações e
coordenação dos sistemas estatístico e cartográfico nacionais.
É interessante também conhecer o histórico dessa instituição por conta desse
tipo de produção ser tão recente e se constituir apenas como uma ponta da
trajetória como um todo. Durante o período imperial, o único órgão com
atividades exclusivamente estatísticas era a Diretoria Geral de Estatística, criada
em 1871. Com o advento da República, o governo sentiu necessidade de ampliar
essas atividades, principalmente depois da implantação do registro civil de
nascimentos, casamentos e óbitos.
Com o passar do tempo, o órgão responsável pelas estatísticas no Brasil
mudou de nome e de funções algumas vezes até 1934, quando foi extinto o
Departamento Nacional de Estatística, cujas atribuições passaram aos ministérios
competentes.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
20
A carência de um órgão capacitado a articular e coordenar as pesquisas
estatísticas, unificando a ação dos serviços especializados em funcionamento no
País, favoreceu a criação, em 1934, do Instituto Nacional de Estatística - INE, que
iniciou suas atividades em 29 de maio de 1936. No ano seguinte, foi instituído o
Conselho Brasileiro de Geografia, incorporado ao INE, que passou a se chamar,
então, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, com funções tão diversas
como:
Estatísticas de Âmbito Social e Demográfico - levantamentos que têm
como base a coleta de informações junto aos domicílios, como, por
exemplo, o Censo Demográfico que faz a contagem da população e a
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD, que levanta
anualmente informações sobre a habitação, rendimento e mão-de-obra,
associadas a algumas características demográficas e de educação.
Estatísticas da Agropecuária - têm como núcleo o Censo Agropecuário,
que investiga, a partir dos estabelecimentos agropecuários, a organização
fundiária (propriedade e utilização das terras), o perfil de ocupação da mãode-obra e o nível tecnológico incorporado ao processo produtivo, entre
outros temas estruturais de relevância. Para o acompanhamento anual do
setor, destacam-se a Pesquisa Agrícola Municipal e a Pesquisa da
Pecuária Municipal, entre outras.
Estatísticas Econômicas - trazem informações sobre os principais setores
da economia: comércio, indústria, construção civil e serviços, a partir do
levantamento, por amostra, em estabelecimentos de cada setor. A Pesquisa
Anual do Comércio, a Pesquisa Industrial Anual, a Pesquisa Anual da
Indústria da Construção e a Pesquisa Anual de Serviços são exemplos
dos trabalhos mais relevantes nessa área.
Índices de Preços - produzidos contínua e sistematicamente, os índices de
preços
ao
consumidor
permitem
acompanhar,
mensalmente,
o
comportamento dos preços dos principais produtos e serviços consumidos
pela população. Esta área engloba o Índice Nacional de Preços ao
Consumidor (INPC) e o Índice Nacional de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA), baseado em cesta de consumo de famílias de renda mais
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
21
alta. Além destes, através do Sistema Nacional de Custos e Índices da
Construção Civil pode-se acompanhar a evolução de preços, a mão-de-obra
e dos materiais empregados no setor.
Sistema de Contas Nacionais - oferece uma visão de conjunto da economia
e descreve os fenômenos essenciais que constituem a vida econômica:
produção, consumo, acumulação e riqueza, fornecendo ainda uma
representação compreensível e simplificada, porém completa deste conjunto
de fenômenos e das suas inter-relações.
Sistema Geodésico Brasileiro - constitui-se de um conjunto de estações
(marcos) materializadas no terreno, implantadas e mantidas pelo IBGE, cuja
posição serve como referência precisa a diversos projetos de engenharia construção de estradas, pontes, barragens etc. - mapeamento, geofísica,
pesquisas científicas, dentre outros.
Mapeamento Geográfico, Topográfico e Municipal - abrange as cartas
topográficas e mapas delas derivados - Brasil, regionais, estaduais e
municipais - que constituem as bases sobre as quais se operacionalizam os
levantamentos e são representados seus resultados, em uma abordagem
homogênea e articulada do território nacional.
Estruturas Territoriais - acompanha a evolução da divisão políticoadministrativa e das divisões regionais e setoriais do território, delimitando
e representando áreas legais e bases operacionais para pesquisas estatísticas
e geográficas.
Recursos Naturais e Meio Ambiente - realiza mapeamentos, estudos e
pesquisas de temas relativos ao meio físico (relevo, solo, clima, geologia) e
ao meio biótico (fauna e flora) e promove a caracterização e avaliação das
condições ambientais e dos impactos, gerados pela ação do homem, que
comprometem o equilíbrio ambiental e a qualidade de vida da população.
Informações Geográficas - são elaboradas, a partir de análises espaciais, as
regionalizações do território que, ao produzir recortes territoriais em
diferentes escalas, a exemplo das microrregiões geográficas, subsidiam o
levantamento e a disseminação de estatísticas e a formulação e
monitoramento de políticas públicas. A partir de sínteses temáticas são
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
22
produzidas visões regionais e nacionais, a exemplo do Atlas Nacional do
Brasil.
O provimento de informações pelo IBGE é realizado através da sua rede
nacional de disseminação, com áreas de atendimento em todas as capitais e nas
principais cidades, oferecendo um dos maiores acervos especializados em
informações estatísticas e geográficas do país.
Este acervo constitui-se de publicações impressas e eletrônicas, como
também de bases de dados. Através da Internet, o IBGE estabelece seu principal
canal de comunicação com o usuário, disponibilizando os resultados das pesquisas
em páginas dinâmicas, arquivos para download e banco de dados (Sistema IBGE
de
Recuperação
Automática).
O
IBGE
oferece,
também,
atendimento
especializado via e-mail ([email protected] ou [email protected]) e de
informações rápidas através de um call center (0800-7218181).
Os produtos do IBGE são comercializados nas principais livrarias do país e
também na Internet. Uma das importantes fontes para conhecer a produção do
Instituto é o Catálogo do IBGE, que fornece pontos de acesso ao valioso acervo
de informações sociais, econômicas e territoriais.
2.2.
Produção de conteúdo
Como é parte integrante dessa pesquisa a análise do projeto gráfico como
um todo, é fundamental incluir aqui uma descrição da produção. Por vezes os
fatores mais diretamente implicados na decisão de certas etapas eram de ordem
pessoal e outras relativas a equipamentos ou limites técnicos.
O IBGE é uma instituição da administração pública federal, subordinado ao
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, que possui quatro diretorias
(Diretoria Executiva, Diretoria de Pesquisas, Diretoria de Geociências e Diretoria
de Informática) e dois outros órgãos centrais (o Centro de Documentação e
Disseminação de Informações – CDDI e a Escola Nacional de Ciências e
Estatísticas - ENCE).
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
23
Para que suas atividades possam cobrir todo o território nacional, o IBGE
possui a rede nacional de pesquisa e disseminação, composta por:
27 Unidades Estaduais (26 nas capitais dos estados e 1 no Distrito
Federal);
27 Setores de Documentação e Disseminação de Informações (26 nas
capitais e 1 no Distrito Federal) e
533 Agências de Coleta de dados nos principais municípios.
O IBGE mantém, ainda, a Reserva Ecológica do Roncador, situada a 35
quilômetros ao sul de Brasília.
O Centro de Documentação e Disseminação de Informações - CDDI é o
órgão que:
planeja, organiza, coordena, supervisiona e executa as atividades de
documentação e de disseminação do acervo de informações;
desenvolve produtos e serviços de informação adequados aos vários
segmentos de usuários e promove sua divulgação e comercialização;
divulga a imagem e preserva a memória institucional e
zela pelos direitos intelectuais da Fundação IBGE quanto a seus produtos.
O CDDI é formado por quatro coordenações:
I - Coordenação de Atendimento Integrado
promove a disseminação de informações estatísticas e geográficas
adequadas às necessidades dos clientes e dos usuários, através dos diversos
meios de comunicação;
planeja, organiza e mantém a documentação e o acervo do IBGE e
divulga e preserva a imagem institucional.
II - Coordenação de Marketing
planeja, organiza, analisa, executa e acompanhar as atividades
mercadológicas, as atividades de publicidade e propaganda, bem como as
de promoção e divulgação do IBGE, em eventos internos e externos;
planeja, elabora e implementa as diretrizes do Manual de Identidade
Institucional, assim como o Projeto Editorial e Gráfico do IBGE; e
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
24
elabora, zela e mantém a identidade visual do IBGE, a programação visual
dos produtos, serviços e das peças promocionais, bem como cria e
implementa os projetos visuais para sites institucionais do IBGE.
III - Coordenação de Produção
propõe e implementa o Projeto Editorial para as publicações do IBGE,
bem como planeja, organiza, executa e acompanha as atividades de
editoração, produção editorial e gráfica do IBGE.
IV - Coordenação de Projetos Especiais
planeja, organiza, analisa e acompanha o desenvolvimento dos projetos no
âmbito do CDDI, bem como orienta a elaboração dos novos projetos.
Dentro da Coordenação de Marketing encontramos a Equipe de Criação que
é a responsável pela programação visual dos produtos, serviços e das peças
promocionais (outdoors, banners, cartazes, filipetas, etc.) relativas às publicações
lançadas pelo IBGE. A grande maioria dessas publicações é editorada pela Equipe
de Editoração da Coordenação de Produção, sendo as capas das mesmas criadas
pela Equipe de Criação da Coordenação de Marketing. Essa equipe também é a
responsável pela criação de todo o visual dos eventos internos realizados pelo
Instituto e dos eventos externos dos quais o IBGE participa.
Além disso, é por essa equipe que toda a programação visual e a editoração
de publicações chamadas especiais são feitas. As publicações especiais são
aquelas realizadas pelo próprio IBGE, mas que fogem às regras do Projeto
Editorial da Instituição, além de abordarem assuntos diversos e estarem voltadas
em parte para o público infanto-juvenil como, por exemplo: os 500 anos do Brasil,
a bandeira do Brasil, a fauna ameaçada de extinção, o efeito estufa, as
características do país e do povo brasileiro, os Atlas Geográficos, entre outros.
A Equipe de Criação é composta por quatro designers gráficos graduados e
por dois funcionários de nível médio, todos concursados e integrantes do quadro
de funcionários do IBGE. Além disso, quando há necessidade, alguns designers
gráficos e ilustradores são contratados para projetos específicos. Também é
chamado um funcionário do IBGE, especialista no assunto que será abordado na
publicação, para dar orientações e, quando a publicação tem caráter pedagógico,
também são chamados professores e pedagogos de fora do Instituto, para que se
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
25
sigam os parâmetros curriculares mínimos instituídos pelo MEC. Porém, de
acordo com entrevista realizada em cinco de fevereiro de 2009 (Anexo1) com
David Wu Tai, membro do Conselho Diretor do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística – IBGE e Coordenador Geral do Centro de Documentação e
Disseminação de Informações do IBGE, não há e nem se pretende ter no Instituto
uma equipe especializada somente em publicações infanto-juvenis. E como são
poucos funcionários, a equipe precisa ser multidisciplinar. Porém o Instituto
pretende continuar investindo nessas publicações.
Para a impressão de suas publicações o IBGE possui duas gráficas próprias:
uma digital localizada dentro do CDDI e outra tradicional localizada em Parada de
Lucas. Infelizmente, essa última que já foi considerada o maior parque gráfico da
América Latina está gradualmente sendo desativada, contando apenas com uma
impressora em funcionamento: uma Speed Master que é uma offset convencional
plana, de grande porte, da marca Heidelberg, que hoje em dia imprime
basicamente os questionários e conclusões dos censos, alguns mapas, as capas das
publicações referentes às pesquisas e poucas publicações especiais. Lá também se
encontra uma Imagesetter responsável por gerar eletronicamente os fotolitos, a
partir dos arquivos de computador que contém o layout, enviados pelos designers
e diagramadores do CDDI. Estes fotolitos vão para a gráfica, sendo utilizados para
gravar a matriz.
Já a gráfica digital é muito bem equipada, contendo máquinas de impressão
de última geração.
Quando uma publicação do IBGE, como por exemplo, o Atlas Geográfico
Escolar, exige uma tiragem altíssima (já que será distribuído em todo o Território
Nacional) e todas as suas máquinas estão sendo utilizadas na impressão de outros
trabalhos, o IBGE contrata os serviços de uma gráfica terceirizada, contratada
através de licitação.
A produção de uma publicação no IBGE envolve, de forma geral, uma série
de etapas que começa com as pesquisas realizadas pelo Instituto e termina com a
distribuição ou venda das publicações referentes a essas pesquisas.
As fases principais do método estatístico são:
definição da pesquisa;
planejamento da pesquisa;
coleta de dados;
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
26
organização dos dados;
resumo dos dados;
apresentação dos dados;
análise e interpretação dos dados e
conclusão.
Após a conclusão dos dados, estes são apresentados em forma de
publicações digitadas, diagramadas, revisadas e impressas no próprio IBGE, pelas
equipes da Coordenação de Produção. As capas dessas publicações, como já foi
dito anteriormente, são criadas pela Equipe de criação.
Já a produção das publicações especiais envolve etapas um pouco diferentes
das citadas acima. São elas:
recebimento do briefing, que são as instruções e diretrizes transmitidas
pelo chefe da Equipe de Criação ao designer responsável pela execução do
trabalho;
reunião do designer com sua dupla de criação, que pode ser um jornalista
ou um publicitário da Coordenação de Marketing, que apresenta o texto a
ser utilizado na publicação, além de sugestões e dicas sobre o assunto;
seleção de imagens ou produção das mesmas e sua digitalização;
desenvolvimento da programação visual e da diagramação da publicação;
revisão das provas, feita pelos revisores da Coordenação de Produção;
apresentação da boneca, para ser aprovada pelo Coordenador do CDDI;
fechamento dos arquivos e envio dos mesmos para a Imagesetter, caso
seja impresso na gráfica tradicional, ou para a gráfica digital;
montagem da matriz e imposição de páginas pela gráfica;
aprovação das provas pelo designer responsável;
impressão e acabamento da publicação pela gráfica;
lançamento da publicação e
distribuição ou venda da publicação.
Porém, nem sempre a ordem dessas etapas é cumprida e pode até mesmo
acontecer de algumas serem modificadas ou até mesmo eliminadas. Tudo vai
depender do objetivo da publicação e do tempo para ser realizada.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
27
2.3.
As adaptações para o público infanto-juvenil
De acordo com David Wu Tai, membro do Conselho Diretor do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE e Coordenador Geral do Centro de
Documentação e Disseminação de Informações do IBGE – CDDI (entrevista
Anexo 10.1), o IBGE decidiu investir em publicações voltadas para o público
infantil a partir do Censo de 1970, quando foi feito uma espécie de gibi, Paulinho
e o Censo (não encontrado no acervo do IBGE), que tinha como objetivo
popularizar o Censo para melhorar o grau de respostas das pessoas. Anos mais
tarde no Censo de 1991 teve início um projeto chamado “Projeto Escola”, que
tinha como alvo o público escolar, com o objetivo de tornar os alunos agentes de
promoção da atividade censitária e ajudar o trabalho do recenseador fazendo com
que a população abrisse as portas de sua casa e respondesse corretamente as
questões do Censo. Foi nesse momento que o IBGE percebeu que o ideal seria
produzir publicações tendo como alvo o público infanto-juvenil, seguindo duas
linhas editoriais: uma em alfabetização estatística e outra em alfabetização
geográfica. Além disso, o IBGE também segue como tema de suas publicações o
chamado marketing de oportunidade, que consiste em publicações que abordam
assuntos do momento, como por exemplo: os animais ameaçados de extinção, o
aquecimento global, os 500 anos do Brasil, o Centenário de Imigração Japonesa.
Sendo o principal provedor de dados e informações do País e estando em
sintonia com as transformações econômicas, políticas, sociais e educacionais do
Brasil e do mundo, cada vez mais o IBGE está investindo em literatura, jogos e
portais de comunicação (IBGE 7 a 12 – www.ibge.gov.br/7a12/default.php e
IBGE Teen – www.ibge.gov.br/teen/default.php), com foco em crianças e em
adolescentes que devem ser conquistados pela boa leitura. E também como forma
de estimular o interesse desses leitores pelos vários aspectos da realidade
brasileira, tais como:
estrutura da população;
desigualdades socioeconômicas;
características demográficas;
diversidades ambientais e culturais;
recursos naturais;
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
28
preservação e conservação do meio ambiente, etc.
Desta forma, promovendo e realizando produtos para o público infantojuvenil (de caráter educativo sem perder o aspecto lúdico) o IBGE pretende
retomar o gosto e o hábito de leitura por parte das crianças e adolescentes,
expandindo suas experiências.
Sendo assim, de 1997 até os dias de hoje, o IBGE já publicou oito livros
dedicados a esses leitores:
1. Fauna ameaçada de extermínio (1997);
2. Brasileirinho e o contador de povo (1998);
3. Fauna ameaçada de extinção (2001);
4. Vamos compreender o Brasil (2001);
5. O que está acontecendo com a nossa Terra? (2002);
6. Atlas Geográfico Escolar (2002);
7. Meu 1o Atlas (2005) e
8. O Vento do Oriente - Uma viagem através da imigração japonesa no
Brasil (2008).
Tais livros têm como objetivo facilitar a compreensão por parte do público
infanto-juvenil, dos dados geográficos e estatísticos divulgados pelo IBGE,
visando o aumento do interesse e da absorção de conhecimento e despertando
desde cedo o hábito de conhecer a realidade socioeconômica do País em que
vivem, para que exerçam plenamente sua cidadania.
De acordo com, David Wu Tai (entrevista Anexo 10.1) as publicações
voltadas para o público infanto-juvenil, antes de serem impressas são testadas com
crianças e professores formadores de opinião. Segundo ele: “o retorno tem sido
sempre ótimo, porque uma das coisas que destaca as publicações do IBGE de
outras é a qualidade, não apenas do conteúdo, mas também, em especial ao
design. Nós podemos dizer que esse é um grande diferencial das obras do IBGE, e
no caso as voltadas para esse público.”
Assim que ficam prontas as publicações são distribuídas para profissionais
ligados à educação e para alguns ministérios. Em seguida são distribuídas para as
escolas e principais livrarias do país.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
29
Dessas oito publicações, cinco foram feitas por mim: “Fauna ameaçada de
extinção” (2001), Vamos compreender o Brasil” (2001), O que está acontecendo
com a nossa Terra? (2002), Atlas Geográfico Escolar (2002) e Meu 1o Atlas
(2005). Daí a necessidade de aprofundar meus conhecimentos na área do design,
me especializando na área de programação visual para produtos editoriais
didáticos de conteúdo geográfico e estatístico (objeto da minha pesquisa),
voltados para o público infanto-juvenil na faixa de 7 a 12 anos (sujeito da minha
pesquisa).
2.3.1.
Fauna Ameaçada de Extermínio (1997)
Figura 1 – Capa da publicação Fauna ameaçada de extermínio, IBGE, 1997
Em 1997 o IBGE lançou sua primeira publicação voltada para os leitores do
futuro, a Fauna ameaçada de extermínio. Com 32 páginas ilustradas e trazendo
encartados adesivos e pins, o IBGE apresentava 25 animais da fauna brasileira
que estavam ameaçados de extermínio além de mostrar seu habitat, seu alimento,
suas cores e seus hábitos. O fogo que destrói o lugar onde moram; a substituição
das florestas por campos agrícolas; a exploração desenfreada dos cerrados; a
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
30
poluição das águas; a caça e a pesca que matam seus filhotes; o crescimento
desordenado das cidades. Estas eram (e continuam sendo) algumas das grandes
ameaças que a vida na Terra estava enfrentando naquele final de século.
E assim o IBGE apontava a responsabilidade ecológica que cada cidadão
brasileiro deveria ter como defensor e guardião do meio ambiente e da qualidade
de vida na Terra.
2.3.2.
Brasileirinho e o contador de povo (1998)
Figura 2 – Capa da publicação Brasileirinho e o contador de povo, IBGE, 1998
No ano seguinte, através da publicação Brasileirinho e o contador de povo,
o IBGE explicava em poucas páginas o que é o Instituto e a importância do que
ele faz.
Numa viagem em sua máquina do tempo, Brasileirinho, menino curioso e
perguntador, descobre quem é esse tal de IBGE que mede, estuda e conta o nosso
País e como a estatística é importante para o desenvolvimento do mesmo.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
31
2.3.3.
Fauna Ameaçada de Extinção (2001)
Figura 3 – Capa da publicação Fauna ameaçada de extinção, IBGE, 2001
Em 2001, quatro anos após o lançamento da primeira publicação voltada
para o público infanto-juvenil (Fauna ameaçada de extermínio), o IBGE ciente da
extrema importância do fato, retoma o assunto e lança a Fauna ameaçada de
extinção.
Essa publicação apresentava 42 espécies que faziam parte da Lista Oficial
de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção divulgada pelo Instituto
Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA. Os
animais destacados, ilustrados em fotos e acompanhados de textos, eram
representativos dos mais diversos ecossistemas das regiões brasileiras, a saber:
Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Pantanal, Campos e Caatinga. A distribuição
geográfica das espécies, apontada neste livro, seguia igualmente a orientação do
IBAMA.
Com essa publicação o IBGE pretendia aumentar o interesse da sociedade,
em especial o público jovem, pela preservação e conservação do meio ambiente,
mostrando um pouco da diversidade da fauna brasileira, não esquecendo, porém,
de apontar os riscos de extinção a que está submetida.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
32
Trago aqui mais dados desta produção e das próximas, por ter participado
das mesmas.
Órgão responsável - Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão / Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE
Unidades responsáveis - Diretoria de Geociências / Departamento de Recursos
Naturais e Estudos Ambientais e Centro de Documentação e Disseminação de
Informações/ Gerência de Criação
Designer Gráfica responsável - Ana Claudia Sodré
Fotografia - Haroldo Palo Júnior
Diagramador responsável - Luiz Carlos Chagas Teixeira
Público alvo - Público jovem
Ano da Publicação - Rio de Janeiro, 2001
Formato – 22 cm X 24,5 cm
Número de páginas - 106
Tipo de Impressão – Offset Tradicional
Número de cores - 4/4
Tipo de papel - Capa - couchée fosco 240g com aplicação de verniz UV / Miolo
- couchée brilho 120g
Gráfica responsável - Gráficos Burti, São Paulo
Tiragem – 3 mil exemplares
Distribuição – Principais livrarias do País
Etapas da Produção
recebimento do briefing, que são as instruções e diretrizes transmitidas
pelo chefe da Equipe de Criação ao designer responsável pela execução do
trabalho;
reunião da designer com os coordenadores e com o colaborador do projeto
(Diretoria de Geociências) que apresentaram o texto a ser utilizado na
publicação, além de sugestões e dicas sobre o assunto;
reunião da designer com o fotógrafo responsável;
seleção de imagens e digitalização e tratamento das mesmas;
desenvolvimento da programação visual da publicação;
reunião da designer com o diagramador responsável;
diagramação do texto e das imagens;
revisão das provas, feita pelos revisores da Coordenação de Produção e
pela equipe da Diretoria de Geociências
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
33
apresentação da boneca, para ser aprovada pelo Coordenador do CDDI;
fechamento dos arquivos e gravação dos CDs
envio dos CDs para a gráfica em São Paulo
montagem da matriz e imposição de páginas pela gráfica;
aprovação das provas pelo designer responsável;
impressão e acabamento da publicação pela gráfica;
lançamento da publicação e
venda da publicação.
A maior dificuldade desse projeto foi a criação da capa onde visava fazer
algo totalmente diferente das referências obtidas e que provocasse um impacto, já
que o assunto tratado no livro é de extrema relevância. O prazo curto inibiu a
possibilidade de uma geração de alternativas mais consistentes. Pensei no tema
mortalidade de animais. Como poderia mostrar isso na capa sem apelar para alvo,
armas ou coisa parecida. Então, tive a idéia de simular essa forma de agressão,
cortando a foto de um animal em quatro e atrás dessa foto vários quadrados em
tons de verde, representando o habitat natural dessa espécie, também sendo
destruído como conseqüência. O resultado foi aprovado e elogiado. Fiquei
bastante satisfeita de ter conseguido atender as demandas do projeto e pelo fato da
publicação ter ficado visualmente agradável e bonita, apesar de remeter ao tema
de morte e destruição.
Outra dificuldade encontrada foi o fato da diagramação da publicação ter
sido feita por um diagramador da Coordenação de Produção. Na época estava
fazendo outros trabalhos importantes e meu chefe solicitou que um diagramador
me ajudasse. Então, ficou combinado que eu faria o layout das páginas e o
diagramador faria a diagramação do texto. Porém, a minha parte era feita num
Macintosh, usando o Indesign e o diagramador usava o Page Maker num PC.
Apesar de serem programas compatíveis, sempre alguma coisa saía do lugar ou
simplesmente desaparecia. Então resolvemos o problema: exportei os elementos
gráficos das páginas e ele os importava no Page Maker.
Mas a coisa mais interessante de ter feito esse livro foi a oportunidade que
tive de ir até a gráfica em São Paulo, acompanhar a imposição das páginas, a
montagem da matriz, a impressão das provas e a impressão da publicação. Já
havia visitado outras gráficas anteriormente, mas nenhuma no nível dos Gráficos
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
34
Burti. Uma gráfica de grande porte, equipada com máquinas de última geração e
alta tecnologia. Fiquei encantada e conheci cada etapa da produção gráfica de uma
publicação. Aprendi muitas coisas e até hoje quando faço uma publicação procuro
seguir as orientações que recebi dos gráficos da Burti.
2.3.4.
Vamos compreender o Brasil (2001)
Figura 4 – Capa da publicação Vamos compreender o Brasil, IBGE, 2001
No mesmo ano de 2001 foi publicado o livro Vamos compreender o Brasil
que abordava temas como a economia e a sociedade do nosso País, tamanho da
população e dados sobre educação, trabalho e rendimento, saúde, infra-estrutura e
desigualdades sociais, pesquisados pelo IBGE no Censo Demográfico 2000, na
Síntese de Indicadores da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD
e na Síntese de Indicadores Sociais 2000.
Com essa publicação, o IBGE pretendia trazer informações imprescindíveis
para conhecer o Brasil, e esperava que o conhecimento adquirido incentivasse a
participação das crianças e adolescentes como cidadãos de agora e do futuro.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
35
Os leitores saberiam sobre os resultados de algumas pesquisas que o IBGE
realizou e continua realizando, e ainda, ficariam por dentro das estatísticas do
nosso País e do nosso povo. Várias ilustrações foram usadas além do texto
didático para aumentar o interesse e a compreensão dos leitores sobre o assunto.
Órgão responsável - Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão / Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE
Unidades responsáveis - Diretoria de Pesquisas/Departamento de População e
Indicadores Sociais e Departamento de Emprego e Rendimento e Centro de
Documentação e Disseminação de Informações/ Gerência de Criação
Designer Gráfica responsável - Ana Claudia Sodré
Ilustradores responsáveis - Martha Werneck e Rodrigo Corrêa
Pedagogas responsáveis – Marília Leite Cafezeiro e Rejane Cristina de Araújo
Rodrigues
Público alvo - Público em idade escolar
Ano da Publicação - Rio de Janeiro, 2001
Formato – 21 cm X 28 cm
Número de páginas – 96
Tipo de Impressão – Offset Digital
Número de cores - 4/4
Tipo de papel - Capa - couchée fosco 240g laminado / Miolo - couchée brilho
120g
Gráfica responsável – Gráfica Digital do IBGE
Tiragem – 2 mil exemplares
Distribuição – conjunto de professores formadores de opinião de algumas escolas
municipais e estaduais do país.
Etapas da Produção
recebimento do briefing, que são as instruções e diretrizes transmitidas
pelo chefe da Equipe de Criação ao designer responsável pela execução do
trabalho;
reunião da designer com os coordenadores do projeto (Diretoria de
Pesquisas) e pedagogas responsáveis que apresentaram o texto a ser
utilizado na publicação, além de sugestões e dicas sobre o assunto;
reunião da designer com os ilustradores responsáveis, trocando idéias e
criando as ilustrações página por página;
digitalização e tratamento das imagens;
desenvolvimento da programação visual da publicação;
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
36
diagramação do texto e das imagens;
revisão das provas, feita pelos revisores da Coordenação de Produção,
pela equipe da Diretoria de Pesquisa e pelas pedagogas;
apresentação da boneca, para ser aprovada pelo Coordenador do CDDI;
fechamento dos arquivos e envio para a gráfica digital do IBGE
montagem da matriz e imposição de páginas pela gráfica;
aprovação das provas pelo designer responsável;
impressão e acabamento da publicação pela gráfica;
lançamento da publicação e
distribuição e venda da publicação.
Vamos compreender o Brasil foi o meu primeiro trabalho voltado para o
público infanto-juvenil. Já havia feito na faculdade um projeto de livro infantil,
mas agora não era apenas um projeto. O livro seria impresso e distribuído em
várias escolas do Território Nacional. Um livro didático cheio de informações
estatísticas, o que para mim era algo totalmente novo. Muitas dúvidas passaram
pela minha cabeça de como fazer o projeto gráfico de um livro didático voltado
para a disseminação de informações estatísticas para o público infantil. Teria que
ser um livro bastante ilustrado para que as informações estatísticas não ficassem
maçantes e difíceis de serem entendidas. O texto teria que ser bem claro e objetivo
e no briefing ficou determinado que seria escrito em forma de perguntas e
respostas. As primeiras dúvidas eram em relação a parte gráfica do livro e eram
dúvidas que a maioria dos profissionais de design tinham quando começavam um
projeto:
Qual o melhor formato para o público infantil?
Que tipos escolher para o título e para o texto e qual o melhor tamanho?
Qual a melhor disposição da mancha na página?
Qual a técnica e o estilo de ilustração que devo usar?
Consegui as respostas para essas perguntas procurando publicações
similares em diversas livrarias e pesquisando sobre o assunto em vários livros de
design.
Porém novas dúvidas surgiram e agora em relação a qual o melhor método a
ser usado num livro com informações estatísticas para crianças.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
37
Qual a relação de um produto como esse com a literatura infantil?
Como são os leitores dessa faixa etária?
Do que eles gostam?
O que eles esperam de um livro como esse?
Procurei livros que falassem sobre o assunto ou que pudessem me ajudar a
resolver tais questões, porém não encontrei referências com as especificidades
com as quais eu gostaria de trabalhar e com o tempo apertado, tive que esquecer
tudo para simplesmente fazer o livro intuitivamente, usando os conhecimentos
adquiridos na faculdade.
O resultado foi um livro visualmente interessante, porém sem interatividade.
A leitura é lenta e mesmo com ilustrações atraentes, não prende a atenção do
leitor.
2.3.5.
O que está acontecendo com a nossa Terra? (2002)
Figura 5 – Capa da publicação O que está acontecendo com a nossa Terra, IBGE, 2002
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
38
Em 2002 o IBGE lança um pequeno livro ilustrado de 42 páginas para
explicar o aquecimento do planeta e as possíveis causas desse fenômeno. Falava
sobre o efeito estufa, o perigo que o planeta estava (e ainda está) correndo e as
atitudes simples que cada um de nós poderíamos fazer para ajudar a salvar a
Terra. As crianças aprenderiam sobre esse tema colorindo, fazendo experiências e
brincando com joguinhos divertidos.
Mas uma vez o IBGE se preocupava em tornar o livro interativo.
Órgão responsável - Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão / Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE
Unidades responsáveis - Centro de Documentação e Disseminação de
Informações/ Gerência de Criação
Designer Gráfica responsável - Ana Claudia Sodré
Ilustradora - Mariana Massarani
Texto - Kristina Michahelles
Público alvo - Público jovem
Ano da Publicação - Rio de Janeiro, 2002
Formato – 25,6 cm X 19,5 cm
Número de páginas - 40
Tipo de Impressão – Offset Tradicional
Número de cores - 4/4
Tipo de papel - Capa - couchée fosco 240g plastificado / Miolo - couchée brilho
120g
Gráfica responsável – Gráfica tradicional do IBGE – Parada de Lucas
Tiragem - 3 mil exemplares
Distribuição – Principais livrarias do País
Etapas da Produção
recebimento do briefing, que são as instruções e diretrizes transmitidas
pelo chefe da Equipe de Criação ao designer responsável pela execução do
trabalho;
reunião da designer com a escritora do texto e com a ilustradora
responsável, que apresentaram o texto e as ilustrações a serem utilizadas
no livrinho, além de sugestões e dicas sobre o assunto;
digitalização e tratamento das imagens;
desenvolvimento da programação visual do livrinho;
diagramação do texto e das imagens;
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
39
revisão das provas, feita pelos revisores da Coordenação de Produção e
pela escritora do texto;
apresentação da boneca, para ser aprovada pelo Coordenador do CDDI;
fechamento dos arquivos e envio para a imagesetter da gráfica tradicional
do IBGE;
produção dos fotolitos;
montagem da matriz e imposição de páginas pela gráfica;
aprovação das provas pelo designer responsável;
impressão e acabamento da publicação pela gráfica;
lançamento da publicação e
venda da publicação.
Não tive nenhuma grande dificuldade em criar esse livro já que o texto e as
imagens me foram dados com antecedência, assim como já haviam definido os
jogos e brincadeiras que constariam no livro.
O único problema que aconteceu em relação a esse livro, foi o fato da
gráfica ter tido problemas para imprimir o azul da capa e sem ter sido avisada,
acabaram imprimindo a capa sem cor (vazada) além de não usaram a faca que
arredondaria o canto superior direito do livro, seguindo o contorno da ilustração
da Terra. Foi frustrante o fato de terem alterado a programação visual do livro
sem eu ter sido consultada ou pelo menos avisada e com o fato do livro não ficar
tão atraente com essas modificações.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
40
2.3.6.
Atlas Geográfico Escolar (2002)
Figura 6 – Capa da publicação Atlas Geográfico Escolar, IBGE, 2002
Também em 2002, o IBGE publica o Atlas Geográfico Escolar, uma
produção de informações especialmente voltadas para o público escolar. A
publicação foi resultado da parceria com o Ministério da Educação, através da
Secretaria de Ensino Fundamental e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação.
Fundamental para o conhecimento da sociedade, território e dinâmica da
população brasileira e de outros países do mundo, o Atlas apresentava um total de
235 mapas. Abordava vários aspectos da nossa realidade e de outras nações, tais
como: diversidades ambientais e culturais, características demográficas, espaço
econômico, urbanização, espaço das redes, regionalização, desigualdades
socioeconômicas, estrutura da população, recursos naturais, redes de transportes e
indicadores econômicos, ambientais e sociais. E vinha com textos explicativos
sobre noções básicas de cartografia e formação dos continentes. Também
contemplava Parâmetros e Referências Curriculares Nacionais (PCN) do MEC, na
medida em que possibilita ao aluno observar, conhecer, entender e refletir as
características do local onde vive, além de outras paisagens e espaços geográficos
distantes.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
41
Reunindo num mesmo volume informações geográficas, cartográficas e
estatísticas, o Atlas oferecia um conjunto de informações imprescindíveis para o
estudo e a análise das dimensões política, ambiental e econômica do Brasil e de
outros países e esperava, desta forma, despertar o interesse do público jovem para
a compreensão da nossa realidade e de outras tão diversas e dinâmicas que
compõe o cenário sociopolítico e econômico mundial da atualidade.
Órgão responsável - Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão / Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE
Unidades responsáveis - Diretoria de Geociências/Departamento de
Cartografia/Departamento de Geografia/Departamento de Recursos Naturais e
Estudos Ambientais/ Departamento de Contas Nacionais / Departamento de
População e Indicadores Sociais Centro de Documentação e Disseminação de
Informações/ Gerência de Criação / Gerência de Documentação / Gerência de
Biblioteca e Acervos Especiais
Designer Gráfica responsável - Ana Claudia Sodré
Ilustradores - Luiz Agner e Roberto Stoeterau
Fotografia - Haroldo Palo Junior e Luiz Cláudio Marigo
Texto - Marília Leite Cafezeiro e Rejane Cristina de Araújo Rodrigues
(Pedagogas)
Público alvo - Público jovem
Ano da Publicação - Rio de Janeiro, 2002
Formato – 21,5 cm X 30 cm
Número de páginas - 200
Tipo de Impressão – Offset Tradicional
Número de cores - 5/4
Tipo de papel - Capa - couchée fosco 240g com aplicação de verniz UV / Miolo couchée brilho 120g
Gráfica responsável – Gráficos Burti – São Paulo
Tiragem – 1 milhão de exemplares
Distribuição – Escolas públicas municipais e estaduais de todo o país e principais
livrarias
Etapas da Produção
recebimento do briefing, que são as instruções e diretrizes transmitidas
pelo chefe da Equipe de Criação ao designer responsável pela execução do
trabalho;
reunião da designer com os coordenadores do projeto (Diretoria de
Geociências) e pedagogas responsáveis que apresentaram o texto e
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
42
ilustrações a serem utilizados na publicação, além de sugestões e dicas
sobre o assunto;
reunião da designer com os ilustradores e fotógrafos responsáveis,
trocando idéias e discutindo como seriam as ilustrações página por página;
desenvolvimento das novas ilustrações;
digitalização e tratamento das imagens;
desenvolvimento da programação visual da publicação;
recebimentos dos mapas para serem utilizados na segunda parte;
digitalização e tratamento desses mapas;
diagramação do texto e das imagens;
revisão das provas, feita pelos revisores da Coordenação de Produção,
pelas equipes da Diretoria de Geociências e pelas pedagogas;
apresentação da boneca, para ser aprovada pelo Coordenador do CDDI;
fechamento dos arquivos e gravação dos CDs;
envio dos CDs para a gráfica em São Paulo;
montagem da matriz e imposição de páginas pela gráfica;
aprovação das provas pelo designer responsável;
impressão e acabamento da publicação pela gráfica;
lançamento da publicação e
distribuição e venda da publicação.
Nunca havia criado visualmente um Atlas e confesso que não sabia que
daria tanto trabalho. Encontrei várias referências sobre o assunto, porém queria
fazer algo visualmente mais contemporâneo. Resolvi então, usar como elementos
gráficos em todo o livro o globo terrestre e uma referência às linhas imaginárias
(as Coordenadas Geográficas). Ao contrário do texto que me foi passado
praticamente pronto, as ilustrações enviadas eram de baixa qualidade, visualmente
antigas e pouco atraentes. Então resolvi refazê-las junto com um ilustrador e um
designer da Coordenação de Projetos Especiais. Substituímos algumas ilustrações
por infográficos e outras por fotografias, procuramos novas imagens no banco de
imagens do IBGE, desenhamos algumas ilustrações e refizemos alguns mapas. Foi
bastante trabalhoso, mas o resultado valeu à pena. Mais uma vez tive a
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
43
oportunidade de acompanhar a imposição das páginas, a montagem da matriz, a
impressão das provas e a impressão da publicação na gráfica em São Paulo.
E isso aumentou ainda mais a minha experiência já que era uma publicação
com muito mais páginas e ilustrações que a Fauna ameaçada de extinção e com
uma tiragem bem maior.
2.3.7.
Meu 1o Atlas (2005)
o
Figura 7 – Capa da publicação “Meu 1 Atlas”, IBGE, 2005
A criação do Meu 1o Atlas traria para o público infantil os principais
conceitos da cartografia, além de prepará-los para ler mapas e cartogramas de
forma simples e divertida.
Órgão responsável - Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão / Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE
Unidades responsáveis - Diretoria de Geociências/Departamento de
Cartografia/Departamento de Geografia/Departamento de Recursos Naturais e
Estudos Ambientais
Centro de Documentação e Disseminação de Informações/ Coordenação de
Projetos Especiais / Coordenação de Produção / Coordenação de Marketing /
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
44
Gerência de Criação / Gerência de Documentação / Gerência de Biblioteca e
Acervos Especiais
Designer Gráfica responsável - Ana Claudia Sodré
Ilustradores - Martha Werneck e Roberto Stoeterau
Fotografia - Haroldo Palo Junior e Luiz Cláudio Marigo
Texto - Marília Leite Cafezeiro, Rejane Cristina de Araújo Rodrigues e Elizete
Pereira de Araújo (Pedagogas)
Público alvo - Público infanto-juvenil
Ano da Publicação - Rio de Janeiro, 2005
Formato – 24,5 cm X 29,5 cm
Número de páginas - 144
Tipo de Impressão – Offset Tradicional
Número de cores - 4/4
Tipo de papel - Capa - couchée fosco 240g com aplicação de verniz UV / Miolo
- couchée brilho 120g
Gráfica responsável – Gráfica Tradicional do IBGE – Parada de Lucas
Tiragem – 3 mil exemplares
Distribuição – Principais livrarias do país
Etapas da Produção
recebimento do briefing, que são as instruções e diretrizes transmitidas
pelo chefe da Equipe de Criação ao designer responsável pela execução do
trabalho;
reunião da designer com os coordenadores do projeto (Diretoria de
Geociências) e pedagogas responsáveis;
escolha do ilustrador;
desenvolvimento da programação visual da publicação;
recebimento de parte do texto;
reunião da designer com a ilustradora trocando idéias e discutindo como
seriam as ilustrações página por página;
desenvolvimento das ilustrações;
digitalização e tratamento das imagens;
diagramação do texto e das imagens já prontas;
recebimento da outra parte do texto;
reunião da designer com a ilustradora trocando idéias e discutindo como
seriam as ilustrações página por página;
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
45
desenvolvimento das ilustrações;
digitalização e tratamento das imagens;
diagramação do resto do texto e das imagens;
recebimentos dos mapas para serem utilizados na segunda parte;
digitalização e tratamento desses mapas;
diagramação do texto e das imagens desses mapas;
revisão das provas, feita pelos revisores da Coordenação de Produção,
pelas equipes da Diretoria de Geociências e pelas pedagogas;
apresentação da boneca, para ser aprovada pelo Coordenador do CDDI;
fechamento dos arquivos e envio para a imagesetter da gráfica tradicional
do IBGE;
produção dos fotolitos;
montagem da matriz e imposição de páginas pela gráfica;
aprovação das provas pelo designer responsável;
impressão e acabamento da publicação pela gráfica;
lançamento da publicação e
distribuição e venda da publicação.
Já havia feito um livro voltado para o público infanto-juvenil antes (Vamos
compreender o Brasil) e também um Atlas (Atlas Geográfico Escolar). Mas não
fiquei satisfeita, pois queria fazer um livro mais dinâmico e interativo, que
realmente despertasse o interesse das crianças. Sendo assim, comecei a pensar no
que eu poderia fazer de diferente para conseguir alcançar esse objetivo. Várias
idéias surgiram como o desenvolvimento de personagens e de uma narrativa para
tornar a leitura mais agradável. O resultado foi um livro rico visualmente, onde a
criança aprende através de uma narrativa lúdica, além de oferecer recursos de
interatividade.
Mais a frente darei detalhes sobre o desenvolvimento dessa publicação.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
46
2.3.8.
O Vento do Oriente - Uma viagem através da imigração japonesa no
Brasil (2008)
Figura 8 – Capa da publicação O Vento do Oriente – Uma viagem através da imigração
japonesa no Brasil, IBGE, 2008
Aproveitando as comemorações do centenário de Imigração Japonesa, o
IBGE fez uma homenagem que seria justa se não fosse pequena perante o
presente tão grande que foi a vinda dessas pessoas, dos seus sonhos, seu trabalho,
sua cultura, sua sabedoria. Para simbolizar esta união, esta publicação, um tanto
diferente, tem duas partes: na primeira, lendo no sentido ocidental como estamos
acostumados, encontraremos um pequeno resumo sobre a história da Imigração
Japonesa e um guia sobre origami onde, além de conhecer essa arte, se aprende a
fazer dois presentes diferentes! Na segunda, lendo no sentido oriental, ou seja, do
outro lado (assim como o Japão fica do outro lado do mundo), um mangá (uma
história em quadrinhos ao estilo japonês) traz uma viagem no tempo com Tatá e
Bruno para aprender um pouco mais sobre esse grupo tão importante para a
construção e o desenvolvimento do nosso país.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
47
Esse capítulo não só resume as atividades do IBGE, como descreve
sucintamente o processo de elaboração dos livros que participei e sua
metodologia, ainda errática e sem incluir em sua condução um tempo apropriado
para o desenvolvimento de pesquisa e reflexão. Quando eu decido realizar essa
reflexão, há uma relação com as demandas acumuladas durante esses processos.
Visando propor uma melhor metodologia de criação para essas obras, dado
à relevância, complexidade e abrangência descritas, então, revisitei o processo
como um todo e pude constar a natureza interdisciplinar de sua discussão. Não só
o processo em si aponta para esse aspecto (equipe multidisciplinar), mas como o
conteúdo e a maior parte de minhas questões eram relacionadas a várias áreas do
conhecimento, como Design, Educação, e Literatura.
É dessa percepção que defino essa pesquisa, onde, como enfrentamento
dessa diversidade de questões, opto por um vetor de análise em particular: a
escolha de um área do conhecimento (a Literatura e os estudos narrativos) como
ponto de partida para definição de uma problemática e a busca de uma
convergência com outras áreas do saber e seu final diálogo com o campo do
design.
No próximo capítulo discutirei um pouco sobre o livro e a leitura infantil e
falarei também sobre o mundo da Cultura Pós-Moderna no qual o livro e seus
leitores se inserem. Tudo isso com intuito de conhecer um pouco melhor o assunto
e o público alvo de que trata essa pesquisa.
3
A contribuição da interdisciplinaridade para a veiculação
de conteúdo geográfico e estatístico para crianças
3.1.
Falando um pouco sobre o livro infantil
No milênio passado presenciamos o surgimento e a expansão das línguas
ocidentais modernas e as literaturas que exploravam suas possibilidades
expressivas, cognoscitivas e imaginativas. Foi também nesse milênio que surgiu o
papel, a imprensa (o surgimento da tipografia foi vital para aprimorar o processo
de multiplicação de texto) e onde o objeto-livro tomou a forma tal qual
conhecemos hoje: o códice. Isso representou uma mudança radical na história do
livro, pois o atingiu em sua forma. Chartier em Práticas da leitura (1996) afirma
que mais revolucionária que a invenção da imprensa foi a potencialidade da
leitura proporcionada pela forma do códice. Alguns aspectos aparentemente muito
simples, como possibilitar uma leitura múltipla - consulta a vários livros abertos foram inovações que não apenas transformaram as formas de leitura, mas também
a transmissão de conhecimento. A partir do séc XVI, os monges da Igreja Católica
passaram a editar catecismos e cartilhas com o objetivo de educar os fiéis e
facilitar a leitura da Bíblia (Araújo, 1986). Com isso, ensinavam a ler ao mesmo
tempo em que propagavam o cristianismo.
Foi, também, no século XVI que em diversas partes da Europa, as crianças
foram descobrindo os chapbooks, pliegos sueltos, fliegende blätter, folhas
volantes ou de cordel com as baladas, xácaras, anedotas, contos maravilhosos e
episódios de cavalaria. Suas origens vêm da difusão de narrativas populares (hoje
conhecidas como Literatura Primordial) através da transmissão oral (Coelho,
1991, pág 13). As classes populares medievais dividiam com suas crianças os
fabliaux (narrativas breves, alegres, anônimas, em geral abordando pequenos
casos da vida cotidiana – adultérios, espertezas etc.) e os contos maravilhosos (de
fadas ou de encantamento). Dessas narrativas primordiais nascem as narrativas
medievais arcaicas, que acabam se tornando populares (na Europa e depois nas
A contribuição da interdisciplinaridade para a veiculação de conteúdo geográfico e
estatístico para crianças
49
colônias americanas, como o Brasil) e se transformando em literatura folclórica
(viva até hoje através da literatura de cordel) ou em literatura infantil (através de
registros feitos por escritores como La Fontaine, Perrault e Grimm).
No século XVII, os livros voltados para crianças eram de natureza moral e
educacional. Mas, somente na segunda metade desse século, na França, que
ocorre realmente uma preocupação com a literatura para crianças. Livros como As
Fábulas (1668), de La Fontaine e Os Contos da Mãe Gansa (1691/1697), de
Charles Perrault, foram pioneiros no mundo literário infantil, tal como o
conhecemos hoje (Coelho, 1991, pág 75).
Tendo nascido como gênero com Charles Perrault, a literatura infantil é,
definitivamente, constituída e inicia sua expansão pela Europa e pelas Américas,
no século XVIII, com o trabalho dos irmãos Grimm. Conhecidos como grandes
folcloristas juntaram todo o material folclórico que haviam pesquisado, num
volume chamado Contos de fadas para crianças e adultos (1812/1822). Nele
estão contidas as mais belas histórias de contos de fadas que conhecemos até hoje
como: A bela adormecida, Branca de Neve e os sete anões, A Gata Borralheira,
O Chapeuzinho Vermelho, entre várias outras (Coelho, 1991, pág 141).
Essas narrativas populares, que foram reunidas e passaram por um processo
de simplificação e exclusão de conteúdos considerados menos apropriados para
crianças, uniram-se à força material do livro ilustrado, acabando por consolidar
um modelo editorial de grande sucesso comercial. O processo de adaptação que
consolidou a literatura infantil permanece presente, de alguma forma, em algumas
produções atuais.
No Brasil, o início da produção de livros destinados especificamente ao
público infantil deu-se em função da demanda escolar. A primeira prática
estabelecida neste sentido foi a adaptação de enredos europeus à cultura nacional.
O livro Contos da Carochinha (1894), de Figueiredo Pimentel, é um exemplo da
mistura de várias procedências – utiliza fontes portuguesas e o folclore nacional
(Zilberman, 2005).
Com o passar do tempo, tanto o conteúdo quanto a forma do livro para
crianças sofreram adaptações graduais, ao ponto de hoje, ser um produto de fácil
identificação como gênero específico.
Porém, mesmo com amadurecimento da produção literária infantil mundial
nas últimas décadas, os processos de produção, legitimação e mediação do livro
A contribuição da interdisciplinaridade para a veiculação de conteúdo geográfico e
estatístico para crianças
50
infantil contemporâneo, encontram-se nas mãos dos adultos. São os adultos os
responsáveis pela produção do livro. São eles que decidem o que é mais adequado
para as crianças, baseados na noção de infância construída pela sociedade. E são
os adultos, também, que proporcionam o acesso aos livros pelas crianças e sua
aquisição. Apesar de esforços no sentido da inserção da criança nas decisões sobre
a produção do livro infantil, observamos que, por vezes, ela ainda fica excluída
desses processos.
De acordo com as professoras e pesquisadoras de educação infantil Evenly
Arizpe e Morag Styles em seu livro Children Reading Pictures: Interpreting
Visual Texts (2003), pouco esforço tem-se empregado na observação da recepção
das narrativas infantis pelas crianças. Pouco se leva em consideração o modo
como as crianças percebem a relação entre texto e imagem.
O significado da obra literária é apreensível não pela análise isolada da obra,
nem pela relação da obra com a realidade, mas tão-só pela análise do processo de
recepção como um todo, em que a obra se expõe, por assim dizer, na
multiplicidade de seus aspectos (Stierle, 2002).
Neste ponto é preciso entender o leitor como receptor. E para tanto, a Teoria
da Recepção desenvolvida por Wolfgang Iser e Haus Robert Jauss na Escola de
Konstanz (Escola da Estética da Recepção), que toma como objeto de
investigação o receptor, exigiu a construção de uma nova concepção de leitor
fundamentada não mais apenas na visão marxista, que o concebe como parte
integrante da estrutura social apresentada pela ficção, nem apenas na visão
formalista, que necessita dele apenas enquanto sujeito da percepção, capaz de, a
partir das pistas textuais, diferenciar a forma e revelar o procedimento. O leitor
assume, também, seu papel genuíno, imprescindível tanto para o conhecimento
estético quanto para o conhecimento histórico: o papel de destinatário a quem,
primordialmente, a obra literária visa.
Enquanto objeto estético, a obra literária é concretizada no leitor, que
preenche os seus “espaços em branco”. Mas de acordo com os condicionamentos
que o texto lhe impõe. Por isso, não é completamente subjetiva. A recepção não é
primariamente um processo semântico, mas sim o processo de experimentação da
configuração do imaginário projetado no texto. A literatura não constitui um
processo de mão única, e sim um processo dinâmico de interação entre texto e
leitor. Iser em seu livro The Act of Reading: a theory of aesthetic response (1978)
A contribuição da interdisciplinaridade para a veiculação de conteúdo geográfico e
estatístico para crianças
51
destaca a imaginação criativa do leitor, que deverá acrescentar toda a sua
experiência de vida, seja de leitura ou não, em detrimento da atribuição de sentido
ao texto. Ele considera o texto literário como estrutura que provoca respostas
estéticas no leitor, abrindo sua mente para o mundo.
No caso do livro infantil, devemos entender a leitura como um processo de
contato e troca entre a criança e a narrativa. E esse processo de recepção é ainda
mais amplo quando levamos em consideração que a criança não apenas preenche
os “espaços em branco”, mas monta a própria história conforme seu momento de
vida. A cada leitura, a criança além de confirmar percepções anteriores, descobre
coisas diferentes e estabelece novas significações.
Para a criança, como receptora do livro (e o sujeito da minha pesquisa), o
contato com a literatura é considerado importante para a sua boa formação: ajuda
no desenvolvimento da personalidade, no crescimento intelectual e afetivo, na
compreensão do real e no exercício da cidadania. Lendo, a criança vai preencher
significações e recriar o mundo por meio da imaginação. Para adquirir o gosto
pela leitura é fundamental que a escolha das obras esteja amparada em critérios de
adequação com a fase de desenvolvimento da criança ou adolescente. Devemos
levar em consideração que o mundo da criança tem características e um modo de
sentir a vida que diferem do adulto (Aguiar, 2001), por isso, as obras produzidas
para esses leitores devem ser adaptadas ao seu mundo no que diz respeito ao
assunto, ao estilo, à forma e ao meio utilizados. O assunto ao qual o livro se
remete (que envolve escolha de temas, de histórias e de fatos) deve estar em
consonância com os interesses da criança e com sua capacidade de compreensão;
assim como o estilo utilizado pelo autor (poesia, narrativa). O suporte utilizado
para a apresentação do texto (que envolve tamanho e formato do livro, ilustrações,
tipo gráfico, diagramação, entre outros elementos) também deve ser adequado ao
público infantil. É preciso, também, investir na formação dos leitores levando em
conta suas necessidades e interesses.
Estudando a linguagem textual e imagética é preciso comentar também, que
a contemporaneidade é atravessada pelas duas linguagens num hibridismo tal, que
às vezes fica difícil definir as fronteiras. O contexto é verdadeiramente complexo,
havendo uma superposição de linguagens. As pessoas passam a ler imagens como
textos e a ler textos como imagens.
A contribuição da interdisciplinaridade para a veiculação de conteúdo geográfico e
estatístico para crianças
52
O livro infantil contemporâneo não corresponde, unicamente, a uma
concretização de narrativa oral (onde o conteúdo imagético é construído por
palavras), mas à utilização de uma linguagem híbrida e mutuamente dependente,
através da interação entre imagem e palavra (Arizpe e Styles, 2003).
Na produção infantil contemporânea as duas linguagens (verbal e visual)
costumam atuar simultaneamente (mais um desafio de interdisciplinaridade). A
narrativa depende da interação entre texto e imagem. Os elementos ou idéias são
comunicados ao leitor, tanto visual quanto textualmente. Isso faz da produção
infantil contemporânea uma peça de comunicação com características próprias,
inserida no contexto de hibridismo.
Dentro desse contexto, o livro infantil contemporâneo envolve também,
cada vez mais tecnologia e inovação, o que inclui uma maior preocupação não
apenas com o conteúdo, mas também com aspectos materiais como formato,
diagramação e ilustração. Diante das novidades tecnológicas que as indústrias
criam incessantemente para as crianças, o livro infantil precisou ser redesenhado
para oferecer recursos como interatividade e estímulos multisensoriais: auditivos,
tácteis e até olfativos; além de permitir pensar no desdobramento em outras
mídias como o CD-ROM e a Internet. Porém, ele ainda utiliza toda a força do
suporte códice a seu favor. Os formatos diferenciados, a impressão em policromia,
a alta gramatura da capa e do papel do miolo, o uso de facas especiais, os flips, os
pop-ups e o uso de ilustrações na capa e no miolo são características comumente
utilizadas. A materialidade deste objeto é, sem dúvida nenhuma, um fator de
atração para o público infantil.
Ora, se o livro infantil contemporâneo é híbrido, ou seja, tem várias funções,
e dialoga com tantas naturezas diferentes como vimos acima, é preciso entender
um pouco do contexto histórico no qual eles estão inseridos e quais são as suas
características.
Esse mundo que lida com objetos de atuação interdisciplinar e com um
público que dá conta de diversas questões ao mesmo tempo é conceituado como
Cultura Pós-Moderna, denominação que será abordado no próximo tópico.
A contribuição da interdisciplinaridade para a veiculação de conteúdo geográfico e
estatístico para crianças
53
3.2.
O mundo contemporâneo da Cultura Pós-Moderna
Os historiadores observam os fenômenos e demarcam os marcos que
organizam a história. Estes marcos delimitam os cortes epistemológicos para uma
melhor análise e então surgem conceitos tais como o das eras. Deste modo
delimitaram-se as fronteiras entre a Antiguidade, a Idade Média e a Idade
Moderna. Mais recentemente, essas divisões geram uma discussão profícua ao
tema dessa pesquisa: teóricos discutem a transição entre a Modernidade e a PósModernidade. Todo o conceito de Cultura Pós-Moderna citado a seguir servirá de
embasamento teórico para a minha pesquisa sobre a contribuição da
interdisciplinaridade para a adaptação de conteúdo didático.
Mas afinal, o que é Cultura Pós-Moderna? Um conjunto de conceitos que
surge primeiro no âmbito da arquitetura e das artes em geral e depois se estende
para a análise de outras partes do sistema social, é reunido sob o termo PósModernismo. Alguns autores têm diferentes concepções sobre esse termo,
especialmente ao se definir o início desse processo. De acordo com Perry
Anderson, conhecido pelos seus estudos dos fenômenos culturais e políticos
contemporâneos, em As Origens da Pós-Modernidade (1999), o Pós-Modernismo
surgiu no mundo hispânico, na década de 1930, onde o termo foi impresso pela
primeira vez. Outros autores, como Charlotte & Peter Fiell em Design do Século
XX (2000), afirmam que os antecedentes do Pós-Modernismo vêm dos anos 60,
com a emergência do Pop Design e do Anti-Design que foram popularizados pelo
grupo italiano Memphis, contribuindo assim de modo significativo para a
aceitação do Pós-Modernismo como estilo internacional dos anos 80. David
Harvey em Condição Pós-Moderna (1998) situa o aparecimento do PósModernismo entre 1968 e 1972, "a partir da crisálida do movimento antimoderno
dos anos 60". Mas foi com o filósofo francês Jean-François Lyotard, com a
publicação A Condição Pós-Moderna (1979), que ocorreu a expansão do uso
desse conceito.
O Pós-Modernismo coloca em questão a crença da Idade Moderna no
progresso linear e ilimitado das ciências e da tecnologia (o sonho Iluminista), nas
verdades absolutas, no planejamento racional de ordens sociais ideais e na
padronização do conhecimento e da produção (Harvey, 1998 p.19). As bases do
A contribuição da interdisciplinaridade para a veiculação de conteúdo geográfico e
estatístico para crianças
54
movimento Modernista (no final da Idade Moderna) estavam na abstração
geométrica que negava o ornamento no campo das artes plásticas e também, na
supremacia do utilitário (o chamado Funcionalismo), na simplicidade e na
adequação em vez de luxo no campo do design, permitindo uma melhor
estandardização e maior eficiência em termos de produção e materiais. Tudo isso
era visto como instrumentos democráticos para uma mudança social e para o
progresso (principal justificativa da evolução tecnológica e industrial). Porém, os
pioneiros do uso do termo Pós-Moderno argumentavam que essas idéias
Modernistas tornavam o design e a arquitetura desumanizantes e até mesmo
alienantes, pois já não existe mais a pretensão de encontrar uma única forma
correta de se fazer as coisas ou uma única solução que resolva todos os
problemas. A principal característica da Cultura Pós-Moderna é o pluralismo, isto
é, a abertura para novas posturas e a tolerância para posições divergentes. Na
Cultura Pós-Moderna o que vale é a heterogeneidade, a diferença, a fragmentação,
a indeterminação e a intensa desconfiança de todos os discursos universais
(Harvey, 1998 p.19). As características da estética Moderna, que incluem o novo,
a ruptura e a vanguarda são desconsideradas pela Cultura Pós-Moderna. Já não é
preciso inovar nem ser original, e a repetição e releitura de formas passadas não é
apenas tolerada como encorajada.
Mas, se foi possível falar em movimento Modernista, isso é devido ao fato
de haver grupos relativamente próximos e em contato freqüente na Europa do
início do século XX. Na Cultura Pós-Moderna, entretanto, os artistas têm muito
mais possibilidade de se comunicar, mas as incalculáveis tendências, discursos e
linguagens postas em prática tornam impossível uma unicidade formal. Por isso,
não podemos falar de uma estética ou de um estilo Pós-Moderno. Ele é visto
como um fenômeno social e cultural que passou a existir no interior de disciplinas
acadêmicas e áreas culturais, começando pela arquitetura, design, filosofia,
literatura, e até mesmo na educação, tendo como foco a interdisciplinaridade
crescente para dar conta dessa revolução. Podemos encontrar enfoques PósModernos em diversos campos, com sentidos diversos, tanto conservadores como
progressistas.
Apresentada dessa forma, a Cultura Pós-Moderna
é um
ótimo
enquadramento teórico para se pensar a natureza híbrida e multidisciplinar do
livro infantil. Objeto inserido nesse contexto de reprodução técnica, diversidade
A contribuição da interdisciplinaridade para a veiculação de conteúdo geográfico e
estatístico para crianças
55
de recursos e formatos e amplitude de funções, ele apresenta de forma exemplar o
dilema da Cultura Pós-Moderna.
A confluência de linguagens e a
multifuncionalidade são aspectos que colocam o livro infantil dialogando
simultaneamente com questões do campo das artes e do design, da produção
crítica sobre imagem e sobre o texto, da função literária e educacional ou do
conhecimento escolar e dos demais. Nesse aspecto, a discussão sobre a Cultura
Pós-Moderna continua uma reflexão importante, quando pensa esse contexto
sobre o ponto de vista da produção de conhecimento.
3.3.
A produção de conhecimento
Dos autores mencionados aqui, dois contemplaram na noção de Cultura PósModerna o caráter híbrido da produção de conhecimento: David Harvey e JeanFrançois Lyotard.
David Harvey, em Condição Pós-Moderna (1998) se perguntava se o PósModernismo não seria apenas uma revolta no interior da Idade Moderna contra o
"alto Modernismo", “uma espécie de reação ao Modernismo ou de afastamento
dele”, ou um “estilo”, ou um “conceito periodizador” Ou se ele teria um potencial
revolucionário, lembrando sua crítica às metanarrativas e o dar voz às "minorias".
Ou se não passa de “comercialização” e “domesticação” do Modernismo (Harvey,
1998 p.47). Segundo o autor, “a idéia de que todos os grupos têm o direito de falar
por si mesmo, com sua própria voz, e de ter que aceitar essa voz como legítima, é
essencial para o pluralismo Pós-Moderno” (Harvey, 1998, p.52). Harvey afirma
também que “na medida em que não tenta legitimar-se pela referência ao passado,
o Pós-Modernismo remonta à ala de pensamento que enfatiza o profundo caos da
vida moderna e a impossibilidade de lidar com ele com o pensamento racional”
(David Harvey, 1998, p.49).
Com relação à natureza da linguagem e da comunicação Harvey escreve que
enquanto os modernos propunham uma relação rígida e identificável entre o que
era dito (o significado ou “mensagem”) e o modo como estava sendo dito (o
significante ou “meio”), o pensamento pós-estruturalista os vê “separando-se e
reunindo-se continuamente em novas combinações” (Harvey, 1998 p.53). Surge,
A contribuição da interdisciplinaridade para a veiculação de conteúdo geográfico e
estatístico para crianças
56
então, o Desconstrucionismo, movimento que serviu de estímulo para o
pensamento da Cultura Pós-Moderna, que dá ênfase nos textos e no ler textos.
Escritores criam textos com base em todos os outros textos com que se deparam e
o mesmo acontece com os leitores que lidam com esses textos. O intuito
desconstrucionista é procurar um texto dentro de outro, dissolver um texto em
outro ou embutir um texto em outro (Harvey, 1998 p.53). Esse entrelaçamento de
textos e sentidos esta além do nosso controle, a linguagem opera através de nós
(Harvey, 1998 p.54). Escritores e leitores participam da produção de significações
e sentidos, daí a ênfase no processo, na performance, no happening e na
participação na Cultura Pós-Moderna. Segundo Harvey (1998, p.55), “a
minimização da autoridade do produtor cultural cria a oportunidade de
participação popular e de determinações democráticas de valores culturais” e fala,
também, que “o produtor cultural só cria as matérias-primas (fragmentos e
elementos), deixando aberta aos consumidores a recombinação desses elementos
da maneira que eles quiserem. O objetivo é quebrar a narrativa contínua e o poder
do autor de impor significados.
Para o autor, enquanto o Modernismo buscava um futuro melhor, o PósModernismo descarta essa possibilidade “ao concentrar-se nas circunstâncias
esquizofrênicas induzidas pela fragmentação e por todas as instabilidades
(inclusive
lingüísticas)
que
nos
impedem
até
mesmo
de
representar
coerentemente, para não falar de conceber estratégias para produzir, algum futuro
radicalmente diferente” (Harvey, 1998 p.57).
Para Jean-François Lyotard (2006, p. XV) a condição Pós-Moderna é “o
estado da cultura após as transformações que afetaram as regras dos jogos da
ciência, da literatura e das artes a partir do final do século XIX.” O autor fala da
"Condição Pós-Moderna" como aquela em que as metanarrativas filosóficas e
políticas Modernas, tais como o Marxismo, o Humanismo, o Iluminismo e outras,
foram desacreditadas e perderam gradualmente o poder. Fala também que a
"ciência", provocada pelo impacto das transformações tecnológicas sobre o saber,
não mais poderia ser considerada como a fonte definitiva da verdade - uma era em
que o saber estaria novamente aberto e em permanente construção, e será afetado
em suas duas principais funções: a pesquisa e a transmissão de conhecimento
(2006, p.4). Segundo Lyotard no cenário da Cultura Pós-Moderna, “sob a forma
de mercadoria informacional indispensável ao poderio produtivo, o saber já é e
A contribuição da interdisciplinaridade para a veiculação de conteúdo geográfico e
estatístico para crianças
57
será um desafio maior, talvez o mais importante, na competição mundial pelo
poder” (2006, p. 5). Ele afirma também que: “O saber Pós-Moderno não é
somente instrumento de poderes. Ele aguça nossa sensibilidade para as diferenças
e reforça nossa capacidade de suportar o incomensurável” (2006, p. XVII). ”A
fonte de todas as fontes é a informação e a ciência nada mais é que o modo de
organizar, estocar e distribuir essa informação” (2006, p. IX). Para o autor, o mito
do científico é cada vez mais questionado e menos necessária à produção do
aperfeiçoamento das sociedades humanas. E as causas dessa crise são as
descobertas dos limites de seus pressupostos e dos procedimentos de verificação,
na medida em que os cientistas se deparam com paradoxos e muitas questões a
princípio consideradas sem respostas.
O autor utiliza, então, o conceito chamado “jogos de linguagem” ou o
caráter narrativo do saber. Apesar de “o vínculo social ser lingüístico”, argumenta
o autor, “ele não é tecido por um único fio”, mas sim por um “número
indeterminado” de “jogos de linguagem”. Cada um pode recorrer a um número
distinto de códigos, a depender da situação em que se encontrar (casa, trabalho,
rua, bar, etc.). Se há diferentes jogos de linguagem há também o que Lyotard
chama de determinismos locais e o que Stanley Fish (famoso teórico da literatura
conhecido por sua “Análise das Comunidades Interpretativas”) chama de
comunidades interpretativas, isto é, a interpretação de um texto depende da
experiência de cada leitor em uma ou mais comunidades. Embora Fish argumente
que o único significado possível de um texto é aquele que o autor determina,
qualquer tentativa de determinar qual a real intenção do autor irá resultar, nada
mais nada menos, numa interpretação baseada na interpretação da comunidade do
leitor que está lendo o texto.
Lyotard afirma também que o poder organizador da ciência vai se
enfraquecendo e seu campo vem apresentando inúmeras especialidades, cada qual
com seu modo particular de proceder e sem considerar a existência de uma
metalinguagem universal. “O acesso às informações é e será da alçada dos experts
de todos os tipos” (2006, p.27). O objetivo do conhecimento científico não é mais
a verdade, mas a performatividade, ou seja, a questão não é mais “o que é?”, mas
“para que serve?” A sociedade na Cultura Pós-Moderna compreende, dessa forma,
uma multiplicidade de “jogos de linguagem” diferentes e não compatíveis entre si,
cada qual com seus próprios princípios intransferíveis de autolegitimação. Ocorre
A contribuição da interdisciplinaridade para a veiculação de conteúdo geográfico e
estatístico para crianças
58
então, a passagem do domínio das grandes narrativas para a autonomia
fragmentadora das micro-narrativas sobre pequenos segmentos da nossa
experiência, sem pretender a sua universalidade.
Nasce uma sociedade que se baseia menos numa antropologia newtoniana (como o
estruturalismo e a teoria dos sistemas) e mais numa pragmática das partículas da
linguagem. (Lyotard, 2006, pXVI).
Essa crise dos metarrelatos sugere uma dissolução dos antigos vínculos
sociais. Mas, de acordo com Lyotard, os jogos de linguagem são por si só novos
vínculos sociais. São eles que constituem todo o saber. Harvey com sua visão
caótica da Cultura Pós-Moderna não achava possível a produção de
conhecimento. Porém, Lyotard defende justamente o contrário quando diz que os
jogos de linguagem são constituintes de todo o conhecimento, que é possível
achar uma metodologia na Cultura Pós-Moderna.
O jogo de experimentação sobre a linguagem (a poética) terá seu lugar numa
universidade? Pode-se contar histórias no conselho de ministros? Reivindicar numa
caserna? As respostas são claras: sim, se a universidade abrir seus ateliers de
criação; sim, se os superiores aceitarem deliberar com os soldados. Dito de outro
modo: sim, se os limites da antiga instituição forem ultrapassados. Acreditamos
que é neste espírito que convém abordar as instituições contemporâneas do saber.
(Lyotard, 2006, p.32).
Sendo assim, Lyotard lança as bases para definir o período em que as
transformações do discurso atravessam a sociedade modificando seus hábitos e
posturas, além de criar a polissemia da palavra narrativa.
Na Idade Moderna o conhecimento é importante em si mesmo, já que
resulta da aplicação da razão e da ciência. Porém, na Cultura Pós-Moderna o
conhecimento tem outro valor, pois não pode ser legitimado. Não sendo objetivo,
o conhecimento existe para ser usado e pode ser construído por cada um de nós,
com os jogos da nossa linguagem.
3.4.
O desenvolvimento do indivíduo e o papel da linguagem e da
aprendizagem no mesmo
A ênfase na linguagem no contexto da Cultura Pós-Moderna torna
necessário entender como se dá o desenvolvimento do indivíduo e o papel da
A contribuição da interdisciplinaridade para a veiculação de conteúdo geográfico e
estatístico para crianças
59
linguagem e da aprendizagem no mesmo. E entre vários autores que falam sobre
educação, Lev Semyonovitch Vygotsky (professor e pesquisador no campo de
artes, literatura e psicologia) com sua teoria sócio-interacionista nos faz entender
esse processo, apesar de não ser um autor da Cultura Pós-Moderna. Em seus
estudos
Vygotsky
procurou
identificar
as
mudanças
qualitativas
do
comportamento que ocorrem ao longo do desenvolvimento do indivíduo e sua
relação com o contexto social (a sociedade em que vive, a sua cultura e a sua
história). Para ele o desenvolvimento depende da interação do ser humano com o
meio físico e social e está intimamente relacionado ao contexto sócio-cultural em
que a pessoa se insere, mediado pela linguagem. Daí a proximidade com os
pressupostos de Lyotard. As origens da vida consciente e do pensamento abstrato
deveriam ser procuradas na interação do organismo com as condições de vida
social, e nas formas histórico-sociais de vida da espécie humana e não, como
muitos acreditam, no mundo espiritual e sensorial do homem. É preciso analisar a
influência que o mundo exterior exerce sobre o interior do indivíduo a partir de
sua interação com a realidade. Enquanto no pensamento Construtivista o
conhecimento se dá a partir da ação do sujeito sobre a realidade, para Vygotsky,
esse mesmo sujeito não é apenas ativo, mas interativo, já que forma
conhecimentos e se constitui a partir de relações intra e interpessoais.
Para Vygotsky, em A formação social da mente (1988), a aprendizagem e o
desenvolvimento estão inter-relacionados desde o primeiro dia de vida do
indivíduo. A partir do momento de seu nascimento a criança começa a fazer parte
da história e da cultura de seus pais, parentes e antepassados, conhecendo e
assimilando seus hábitos, gostos, valores, experiências, maneiras de agir e de
pensar, incluindo sua linguagem. Aspecto que o aproxima do conceito de
conhecimento da Cultura Pós-Moderna, ou seja, caráter mutável, cultural e
calcado na linguagem. Tudo isso é fundamental na construção de seu
desenvolvimento. E estão presentes também nesse conhecimento as pessoas com
quem ela se relaciona (amigos, professores, médicos, entre outros) e as
instituições que costuma freqüentar (escola, igreja, clubes, etc.). Isso traz a
dimensão enunciativa do saber como também é apontado por Lyotard. E assim,
segundo o autor, a criança participa ativamente da construção de sua própria
cultura e de sua história, modificando-se e provocando transformações nos demais
sujeitos com quem ela interage.
A contribuição da interdisciplinaridade para a veiculação de conteúdo geográfico e
estatístico para crianças
60
Mas é preciso conhecer o processo que a criança realiza mentalmente
durante sua aprendizagem e desenvolvimento. Para Vygotsky há dois níveis de
desenvolvimento na criança:
1. Nível de desenvolvimento real - são as conquistas que já estão
consolidadas na criança, o que ela já aprendeu e domina;
2. Nível de desenvolvimento potencial - aquilo que a criança é capaz de
fazer mediante a ajuda de outra pessoa (adulto ou outra criança). Para
Vygotsky, esse nível é o que melhor indica o desenvolvimento mental da
criança, mais do que aquele que ressalta o que ela consegue fazer
sozinha. Para o autor, o nível de desenvolvimento mental de uma criança
não pode ser determinado apenas pelo que ela consegue produzir de
forma independente. É necessário conhecer o que essa criança consegue
realizar mesmo necessitando do auxílio de outras pessoas para fazê-lo.
A Zona de Desenvolvimento Proximal-ZDP, que segundo o autor é a
distância entre os dois níveis citados acima, mostra o quanto a aprendizagem
influencia o desenvolvimento, ressaltando a importância das trocas interpessoais e
da interatividade na constituição do mesmo.
Para Vygotsky a relação entre o pensamento e a fala passa por várias
mudanças ao longo do desenvolvimento. Apesar de se desenvolverem
independentemente, em certo momento o pensamento e a linguagem se encontram
e dão origem ao funcionamento psicológico mais complexo.
“O momento de maior significado no curso do desenvolvimento intelectual,
que dá origem às formas puramente humanas de inteligência prática e
abstrata, acontece quando a fala e a atividade prática, então duas linhas
completamente independentes de desenvolvimento, convergem” (Vygotsky,
A formação social da mente 1988).
Vygotsky (1988) afirma que “a linguagem age decisivamente na estrutura
do pensamento e é a ferramenta básica para a construção de conhecimento”. As
palavras e signos são para a criança um meio de contato social com as pessoas. A
linguagem tanto expressa como organiza o pensamento da mesma. Através das
interações com as pessoas a criança vai aprendendo a usar a linguagem como
instrumento do pensamento e como meio de comunicação. Neste momento
pensamento e linguagem se associam e o pensamento torna-se verbal e a fala
A contribuição da interdisciplinaridade para a veiculação de conteúdo geográfico e
estatístico para crianças
61
racional. E é essa criança, que já atingiu esse nível de inteligência, que é o sujeito
da minha pesquisa.
Se a linguagem é o substrato (como diz Vygotsky) e se ela é híbrida (como
vimos anteriormente), surge então a necessidade de pesquisar o campo da análise
da imagem, assunto do próximo tópico.
3.5.
O alfabetismo visual
Dialogando diretamente com a veiculação de conteúdo didático está o
campo da linguagem visual. E uma autora que fala da transição entre a cultura da
Modernidade e a Cultura da Pós-Modernidade é Donis A. Dondis, autora do livro
Sintaxe da Linguagem Visual (1997). Ela afirma que a arte e seu significado (a
forma e a função do componente visual da expressão) e suas relações com a
sociedade e educação também passaram por uma profunda transformação na era
tecnológica. Porém, a estética da arte não sofreu transformação correspondente,
ou seja, permaneceu presa à resquícios da idéia de que o entendimento de
qualquer mensagem visual deve basear-se na inspiração não-cerebral. Embora seja
verdade que toda informação deva passar por uma rede de interpretação subjetiva,
a eficácia da mensagem só pode ser alcançada através do estudo de seus
componentes básicos. Assim como a linguagem escrita que evoluiu desde sua
forma auditiva, pura e primitiva, até a capacidade de ler e escrever com o domínio
de seus elementos básicos: as letras, as sílabas, as palavras, a ortografia, a
gramática e a sintaxe; é preciso que também aprendamos os componentes básicos
da linguagem visual para que possamos ser considerados visualmente
alfabetizados. Os objetivos da linguagem visual “são os mesmos que motivaram a
linguagem escrita: construir um sistema básico para a aprendizagem, a
identificação, a criação e a compreensão de mensagens visuais que sejam
acessíveis à coletividade, e não apenas àquelas que foram especialmente treinadas,
como o projetista, o artista, o artesão” (Dondis, 1997). É aí que encontramos
substratos para propor uma análise do discurso produzido pelos elementos da
linguagem visual. Ver e ler pressupõe conhecimento de repertórios e códigos. O
sentido da imagem é culturalmente determinado assim como o sentido da palavra.
A contribuição da interdisciplinaridade para a veiculação de conteúdo geográfico e
estatístico para crianças
62
Conservadoramente defendia-se a idéia de que somente o artista talentoso e
instruído era capaz de criar e ler imagens. Era a noção de individualidade e
originalidade do trabalho criativo. Mas isso pode ser considerado uma convenção
(invenção) histórica que não existiu num passado mais distante, onde a cópia e o
aprendizado pela imitação eram práticas cotidianas. No mundo da Cultura PósModerna, qualquer pessoa pode aprender a compor e compreender mensagens
visuais em diversos níveis de utilidade, desde o puramente funcional até os mais
elevados domínios da expressão artística.
Em diversos meios de comunicação contemporâneos, o visual predomina e
o verbal tem função de acréscimo. Nossa cultura, antes dominada pela linguagem
verbal impressa já se deslocou sensivelmente para o nível icônico. As imagens
visuais provêm grande parte da quantidade de informação que recebemos o que
nos permite dizer que muito do nosso conhecimento é adquirido visualmente. O
que vemos comunica alguma coisa. A força cultural e universal do cinema, da
fotografia, da televisão e da internet, na configuração da auto-imagem do homem,
dá a medida de urgência do alfabetismo visual, tanto para os comunicadores,
como para aqueles a quem a comunicação se dirige.
Dondis descreve o alfabetismo visual como algo que vai além do simples
enxergar, como algo que vai além da simples criação de mensagens visuais. Ele
implica compreensão, e meios de ver e comunicar o significado da imagem. E
para isso é necessário ultrapassar os poderes visuais inatos do organismo humano,
além das capacidades intuitivas em nós programadas e das preferências e dos
gostos individuais. “O alfabetismo visual permite o domínio sobre o modismo e o
controle de seus efeitos. Significa participação, e transforma todos que o
alcançaram em observadores menos passivos” (Dondis,1997).
Como as outras formas de saber, o conhecimento visual é algo que se pode
entender, analisar e ordenar, porém a habilidade visual, de maneira geral, se
desenvolve gradualmente. É preciso levar em conta a bagagem de informação e
cultura (encontro com o pensamento de Vygotsky), o que foi assimilada, e o real
interesse em aprender. Pode-se afirmar, então, que para o pleno entendimento das
mensagens visuais:
é necessário saber apreciar, não só outros meios de difusão informativa,
mas também o mundo das artes e até das coisas visíveis na vida diária;
A contribuição da interdisciplinaridade para a veiculação de conteúdo geográfico e
estatístico para crianças
63
é necessário saber reconhecer, isto é, ter habilidade de nomear e
identificar o que exatamente constitui a comunicação visual, assinalando e
analisando seus elementos e sua estrutura. Saber interpretar como aqueles
elementos
são
expressivos,
enfim,
como
dão
a
impressão
visual/emocional;
é necessário ter habilidade de comunicar dando forma às mensagens
visuais que recebemos e escolhendo conscientemente um estilo
apropriado.
É preciso o domínio de um olhar para se perceber determinada imagem. E
isso exige do intérprete treinamento de observação e conhecimentos específicos
para realmente absorver sentidos, de forma a transformar a imagem em algo que
lhe agregue conhecimento. É através do domínio deste conhecimento e
sensibilidade, que o indivíduo transitará, então, pelo âmbito das imagens, podendo
assim incorporá-las à sua vida.
Dondis afirma que a primeira experiência por que passa uma criança em seu
processo de aprendizagem ocorre através da consciência tátil. Além desse
conhecimento manual, o reconhecimento inclui o olfato, a audição e o paladar,
num intenso e fecundo contato com o meio ambiente. Esses sentidos são
rapidamente intensificados e superados pelo plano icônico – a capacidade de ver,
reconhecer e compreender, em termos visuais, as forças ambientais e emocionais.
Praticamente desde nossa primeira experiência no mundo, passamos a organizar
nossas necessidades e nossos prazeres, nossas preferências e nossos temores, com
base naquilo que vemos.
Segundo Dondis, ver é um processo que requer pouca energia, já que os
mecanismos fisiológicos são automáticos no sistema nervoso do homem, tudo
parece muito natural e simples, sugerindo equivocadamente que não há
necessidade de desenvolver nossa capacidade de ver e visualizar, e que basta
aceitá-la como função natural. A cultura escrita ignora o aprendizado do código
visual, relegando-o ao plano de ato natural. Neste sistema, ver é uma percepção
ótica, acionado pelo órgão da visão e interpretado pela mente. Buscamos um
reforço visual de nosso conhecimento por muitas razões; a mais importante delas
é o caráter direto da informação, a proximidade da experiência real. Mas, sabe-se
que a visão é construída socialmente, e que esse processo requer um aprendizado.
A contribuição da interdisciplinaridade para a veiculação de conteúdo geográfico e
estatístico para crianças
64
Ou seja, “se as crianças precisam aprender a ler, precisam também aprender a
decifrar imagens, mesmo que não haja um ensino formal para isso” (Dondis,
1997). Os leitores contemporâneos não só devem ser capazes de ler textos e de ler
imagens separadamente, mas também, simultaneamente. O ato de se relacionar
com duas linguagens, ao mesmo tempo, exige uma leitura complexa, distinta da
leitura verbal ou da visualização de imagens.
Dentro do campo do design o livro infantil, hoje, procura abranger outras
funções: não só a de contar histórias, mas a de ser didático, envolver estratégia e
desenvolver não somente reflexo e coordenação motora, mas também a
capacidade de ler como texto e de ler como imagem simultaneamente. No livro
infantil contemporâneo, o leitor tem a oportunidade de entrar em contato com a
leitura de diversas maneiras e o design tem que contribuir nesse sentido. Sendo
um dos fatores pelos quais a criança entra em contato com a narrativa, é
necessário entender que os elementos gráficos e as técnicas visuais empregadas no
livro são responsáveis pela recepção da mensagem. As técnicas visuais oferecem
uma grande variedade de meios para a expressão visual desse conteúdo. De
acordo com Dondis A. Dondis, em seu livro A sintaxe da linguagem visual, a
mensagem e o método de expressá-la dependem grandemente da compreensão e
da capacidade de usar essas técnicas. Elas são os meios essenciais para testar as
opções disponíveis para a expressão de uma idéia em termos compositivos.
Podemos citar uma grande variedade de técnicas visuais, mas, seria impossível
numerar todas as técnicas disponíveis. Cada uma delas e seu oposto podem ser
definidos em termos de uma polaridade:
equilíbrio e instabilidade;
simetria e assimetria;
regularidade e irregularidade;
simplicidade e complexidade;
unidade e fragmentação;
economia e profusão;
minimização e exagero;
previsibilidade e espontaneidade;
atividade e estase;
sutileza e ousadia;
A contribuição da interdisciplinaridade para a veiculação de conteúdo geográfico e
estatístico para crianças
65
neutralidade e ênfase;
transparência e opacidade;
estabilidade e variação;
exatidão e distorção;
planura e profundidade;
singularidade e justaposição;
seqüencialidade e acaso;
agudeza e difusão;
repetição e episodicidade; entre outras.
Muitas outras técnicas visuais podem ser exploradas, descobertas e
empregadas na composição visual do livro didático infantil; sempre no âmbito da
polaridade ação-reação. Essa polaridade dá ao compositor visual uma grande
oportunidade de aguçar, graças à utilização do contraste, a obra em que estão
sendo aplicadas.
Em vista desse quadro histórico e da sua contribuição para o
desenvolvimento de uma problemática mais clara para essa pesquisa, é preciso
buscar alternativas para que as crianças e os adolescentes dêem continuidade a
uma cultura calcada na leitura implicada e crítica. Essa questão contribui
diretamente para o interesse do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE em publicar livros infantis, que são o objeto da minha pesquisa.
O que podemos concluir com as reflexões acima é que tudo indica que a
Cultura da Modernidade não deu conta de um mundo multifacetado. Daí talvez,
tenha surgido a necessidade de postularem uma nova cultura. Surge, então, a
noção de Cultura Pós-Moderna, que incorpora várias tendências, aceita inúmeras
as soluções. Pois o Homem na Cultura Pós-Moderna não estaria em busca
somente do novo, mas também da reprodução de tudo que já foi feito. Na verdade
busca-se um sentido para as coisas do mundo que antes estavam organizadas ou
ordenadas e hoje parecem caóticas ou desiguais. Em decorrência disso o design
passa a encampar em sua atividade as inúmeras especialidades nas quais a ciência
moderna foi pulverizada, isto é, a forma contemporânea do pensamento do
homem de cientificar-se sobre as coisas do mundo. O design é uma atividade que
surge nesse contexto da Cultura Pós-Moderna. Ele já tem uma formação
interdisciplinar por natureza. O produto do design tem que manifestar em si uma
A contribuição da interdisciplinaridade para a veiculação de conteúdo geográfico e
estatístico para crianças
66
sociedade que abrange a multiplicidade de saberes e também a hiperespecialização do conhecimento. Daí incorpora os ditos avanços das
neurociências, da lingüística, da computação, da mecatrônica, entre outros. É a era
onde os produtos híbridos e performáticos das novas formas de pensar, que dão
conta de diversas questões ao mesmo tempo, ganham mais destaque. São produtos
que se transmutam e que estimulam todos os sentidos. Produtos que são como as
pessoas de sua era e espelham a sociedade que os produz.
Enfim, o processo do design, que engloba a produção, a recepção e a
circulação, é a materialização em objetos da atuação interdisciplinar das múltiplas
facetas que o saber manifesta na Cultura Pós-Moderna.
A partir do estudo do livro infantil emergem, então, todas essas categorias
apontadas acima como: o caráter híbrido da produção de conhecimento (Lyotard e
Harvey), o desenvolvimento do indivíduo (Vygotsky) e a linguagem visual
(Dondis); fazendo surgir parte da metodologia utilizada nessa pesquisa. E,
também, auxiliarão mais adiante na releitura do autor escolhido para esse estudo.
Releitura que objetiva o exercício da análise de um discurso produzido pela
linguagem visual.
4
A fronteira entre os saberes
4.1.
O didático infantil na Cultura Pós-Moderna
Como discutido anteriormente o que hoje chamamos de literatura infantil
não era, inicialmente, destinado às crianças. Os livros infantis que conhecemos
atualmente foram adaptações de conteúdo e forma produzidas para o público
adulto – os contos populares e o livro ilustrado. O livro infantil nasceu para a
formação da criança, baseado no novo conceito de infância formado a partir de
idéias iluministas. A criança medieval, que por volta dos sete anos já ingressava
numa vida de trabalho longe dos pais, passa gradativamente a freqüentar a escola
e a viver sob a proteção dos mesmos. Daí surge a necessidade de publicações
voltadas para esse público.
Se remontarmos a história do livro infantil no Brasil, verificaremos que ela
surge a partir da Proclamação da República, momento em que a escola passa a
exercer a responsabilidade da instrução. Mas a publicação de livros editados no
Brasil para o público infantil começou com a criação, em 1919, de uma editora
brasileira chamada “Monteiro Lobato & CIA.” (Pondé, 1984).
Na década de trinta o Programa de Educação Básica, proposto pelo governo
de Getúlio Vargas auxiliou na elaboração de uma coleção didática muito
importante chamada Brasiliana que abordava a história do Brasil. Isso ajudou
muito a ampliação do mercado de livros didáticos no nosso país. E na base desse
mercado está a intencionalidade pedagógica, ou seja, o saber através do estudo
(começando pelo aprendizado da leitura) que era visto como o caminho ideal no
preparo do indivíduo para a vida, com ser e como cidadão (Coelho, 1991, p. 241).
Com a criação da Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional em
1964, houve um grande impulso na área de livros didáticos do Brasil com a ênfase
dada à leitura. Segundo Nelly Novaes Coelho em Panorama Histórico da
Literatura Infantil/Juvenil (1991, p. 257), “a leitura, como habilidade formadora
A fronteira entre os saberes
68
básica, é colocada como ponto de apoio das múltiplas atividades propostas aos
alunos durante o processo de aprendizagem”.
Mas é na década de setenta, com a reforma do ensino, cuja proposta era
eliminar o exame seletivo e ampliar o acesso das crianças à escola, que o livro vai
adquirir maior importância e divulgação. A publicação de obras infantis é
impulsionada, gerando edições com maior qualidade gráfica e estética
(Zilberman,1985).
A partir dos anos oitenta, com o crescimento da escolarização, há também
um aumento de publicações para as crianças. Essa produção, encarada como
produto de consumo, de modo geral vai variar de acordo com a moda e o gosto,
perdendo seu sentido crítico e sua qualidade. Apesar disso, alguns escritores
demonstraram interesse em produzir obras de qualidade, que representassem o
universo infantil, que fossem atrativas e que incentivassem a formação do senso
crítico (Zilberman,1985). E o setor de livros didáticos foi aumentando seu espaço
até tornar-se o principal segmento da indústria editorial do país.
O que podemos observar, então, é que “a literatura para crianças está e
sempre esteve ligada aos sistemas de educação imperantes no grupo social”
(Coelho, 1991, p. 63) e que o livro didático infantil começa no momento em que
infância e escola se associam.
Porém no mundo contemporâneo, dentre as várias questões da Cultura PósModerna, surge uma crítica a essa associação; pois nem tudo que é voltado para o
público infantil precisa ser exclusivamente didático. Pode-se misturar o didático
com várias outras coisas como o lúdico e o divertido. Jean-François Lyotard, com
a publicação A Condição Pós-Moderna (1979) afirma que o saber está aberto e
em permanente construção, além de estar interligado com outros saberes.
De acordo com Nelly Novaes Coelho em seu livro Literatura Infantil:
teoria, análise, didática (1991, p. 264) nos dias de hoje não há um ideal absoluto
de Literatura Infantil. “Ideal será aquela que corresponder a uma necessidade
profunda do tipo de leitor a que ela se destina, em consonância com a época que
ele está vivendo”.
A autora também afirma que o principal objetivo dos livros infantis “é
excitar o interesse do leitor”. Esse leitor é um ser em formação, que está passando
pelo processo de aprendizagem inicial da vida, daí o caráter pedagógico da
literatura infantil. Mas acima de tudo é preciso dar ênfase no caráter lúdico.
A fronteira entre os saberes
69
Segundo a autora “aquilo que não divertir, emocionar ou interessar o pequeno
leitor, não poderá também transmitir-lhe nenhuma experiência duradoura ou
fecunda”.
Talvez uma boa maneira de despertar o interesse das crianças pela leitura
seria explorar a transferência do texto para diversas expressões no campo da arte,
tais como: teatro, dança, pintura, desenho, oficinas de arte, entre outros. A arte
pelos seus recursos visuais, sonoros e táteis possibilita um maior conhecimento do
mundo e da cultura, facilitando a chegada do livro ao leitor através de outros
canais mais diretos, pouco utilizados (Yunes, Carvalho, 1984).
A construção do discurso didático deve integrar a linguagem textual e
imagética, além de todo o contexto que ele abrange, buscando harmonia entre
forma e conteúdo. Acompanhando tendências mais gerais da comunicação na
sociedade contemporânea, mas ao mesmo tempo guardando uma correspondência
com uma característica inerente ao texto científico, o livro didático é organizado a
partir de uma diversidade de linguagens, como a verbal (texto escrito), a
matemática (equações, gráficos, notações), a imagética (desenhos, fotografias,
mapas, diagramas). Utilizando-se de uma linguagem híbrida, o livro didático
contemporâneo deve explorar devidamente as relações entre ciência, cultura e
cotidiano.
Além disso, é preciso também entender que a leitura não pode ser vista
apenas como o domínio mecânico do código escrito, mas também como uma das
formas de se interpretar a realidade. Daí a necessidade dessa leitura mesclar
diferentes linguagens, além de envolver prazer e diversão, para que possa dar
conta do maior número possível de leituras do mundo. E com isso fazer com que
as crianças reflitam sobre a realidade em que vivem e ajudem a transformá-la.
E é exatamente esse objetivo que pretendo atingir: o de despertar o interesse
do leitor pelos conteúdos apresentados pelo IBGE, utilizando várias linguagens,
estimulando a aprendizagem e facilitando a compreensão e apreensão de novos
conteúdos, muitas vezes complexos.
A fronteira entre os saberes
70
4.2.
Exemplos Pós-Modernos de novas associações entre função
didática e novas funções
Uma das características da sociedade na Cultura Pós-Moderna é o uso do
saber e da informação como mercadorias básicas. Como já foi dito no capítulo
anterior a fonte de todas as fontes é a informação e a ciência nada mais é que o
modo de organizar, estocar e distribuir essa informação. Segundo Lyotard, em A
Condição Pós-Moderna (2006, p.5), no cenário da Cultura Pós-Moderna, “sob a
forma de mercadoria informacional indispensável ao poderio produtivo, o saber já
é e será um desafio maior, talvez o mais importante, na competição mundial pelo
poder.” A informação é uma fonte de poder, uma vez que permite analisar fatores
do passado, compreender o presente, e principalmente, antever o futuro. Ela
transmite e gera novos conhecimentos e atualmente, o contorno da economia
mundial é traçado pela quantidade de informação possuída, veiculada e divulgada,
resultante da produção científica e tecnológica. Então, não há sentido em possuir
informação e não poder comunicá-la. Sendo assim, a comunicação eficiente da
informação é uma tarefa de extrema importância e a facilidade de acesso a ela é
fundamental para originar novas idéias e inventos. Um sistema de informação de
boa qualidade, isto é, com acesso rápido às informações, com garantia de
integridade e veracidade e com garantia de segurança de acesso, deve ser um
instrumento que integre a sociedade aos avanços científicos e tecnológicos, de
forma participativa. Deve, também, beneficiar a maioria da população,
fundamentando-se nas diferenças regionais, culturais, e econômicas, que
condicionam expectativas e necessidades distintas. Neste sentido, esse sistema de
informação deve ser flexível o bastante para permitir a participação dos mais
diversos setores da sociedade brasileira. Os órgãos produtores de informação
estão sempre empenhados em criar acessos entre os usuários e as informações. E é
com essa preocupação de atender às necessidades dos mais diversos segmentos da
sociedade civil, que o IBGE (principal provedor de dados do Brasil) está sempre
buscando melhorar o acesso as informações coletadas pelo Instituto, através de
diferentes mídias.
Com essa mercantilização do saber ou comercialização do conhecimento
surge a sociedade da informação onde as mensagens precisam ser de fácil acesso.
Lyotard, em A Condição Pós-Moderna (2006, p.6) afirma que: “... a sociedade
A fronteira entre os saberes
71
não existe e não progride a não ser que as mensagens que nela circulem sejam
ricas em informação e fáceis de decodificar.”
E como vivemos numa sociedade em que a informação circula em maior
quantidade e velocidade, em decorrência dos avanços das telecomunicações,
somos constantemente submetidos a uma grande quantidade de informações
visuais difundidas principalmente pelas mais diversas mídias como: cinema, TV,
outdoors, cartazes, faixas, jornais, revistas, livros, folhetos, páginas da web, etc..
Essas mídias, com as quais o sujeito contemporâneo se relaciona com
familiaridade e regularidade, modificam nossa linguagem, nosso comportamento,
nossa cultura. E são essas imagens que provêm em grande parte da quantidade de
informação que recebemos que, nos permitem dizer que no mundo
contemporâneo muito do nosso conhecimento é adquirido visualmente (Strunk,
1989). Como já foi dito no capítulo anterior, nossa cultura, antes dominada pela
linguagem verbal impressa, já se deslocou sensivelmente para o nível icônico.
Ou seja, além da permeabilidade entre a função didática e a literária,
apresentada no início desse capítulo, diversas outras mesclas caracterizam a
produção de conhecimento na Cultura Pós-Moderna. Portanto, existe hoje um
esforço para adaptação de conteúdos considerados complexos em formas mais
simples e objetivas, facilitando seu entendimento por todos. Entre esses esforços
descrevo aqui alguns tipos de projetos que demonstram essa diversidade de uso,
como as cartilhas educativas, as campanhas publicitárias informacionais e os
infográficos, que servirão de estudo para o desenvolvimento da minha pesquisa.
Presente desde há muito na prática da alfabetização (Barbosa, 1990), a
cartilha é um recurso didático que foi incorporado ao processo de ensino da leitura
e é considerada muito importante nas relações entre professores e alunos. Usada
muitas vezes como único recurso ou apenas como material complementar, ela tem
sido um instrumento indispensável em sala de aula.
Porém, atualmente ela está se deslocando e ocupando novos espaços.
Devido as suas características didático-lingüísticas, as cartilhas vêm sendo usadas
com o intuito de difundir o conhecimento sobre um determinado tema, buscando
responder às perguntas mais freqüentes e tornando o assunto abordado fácil de ser
assimilado. Nos dias de hoje podemos encontrar os mais diferentes tipos de
cartilhas abordando os mais variados assuntos como, por exemplo:
A fronteira entre os saberes
72
cartilhas que orientam banhistas sobre ventos, correnteza, dunas e
segurança nas praias (ex: Dicas para um verão seguro, Importância das
dunas e sua vegetação ambas lançadas pelo Centro de Ciências
Tecnológicas da Terra e do Mar – CTTMar, em 2002);
cartilhas que abordam diferentes aspectos da questão ambiental como:
erosão, água, proteção de nascentes, reciclagem, lixo, agenda 21, entre
outros (ex: Conhecendo o PAN-Brasil: Programa de Ação Nacional de
Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca, lançada pelo
Ministério do Meio Ambiente em 2006);
cartilhas com dicas na área de saúde como: antidrogas, antifumo, assédio
sexual,
Dengue,
AIDS,
idosos,
deficientes
físicos,
alimentação,
amamentação, etc. (ex: Cartilha da Amamentação, lançada pelo Ministério
da Saúde em 2008);
cartilhas que abordam assuntos ligados aos direitos e deveres do cidadão
como: direito do consumidor, da cidadania, assédio moral, contra “golpe
do empréstimo” (ex: Consumidor: defenda-se, lançada pela Câmara dos
Deputados em 2003);
cartilhas que falam sobre direitos e deveres de determinada classe como:
servidores públicos, empregadas domésticas, aposentados, crianças,
adolescentes, etc. (ex: Cartilha da Alimentação da Criança e do
Adolescente, lançada pela Fiocruz, em 2007).
A fronteira entre os saberes
73
Figura 9 – Cartilha da amamentação
(http://portal.saude.gov.br/portal/aplicacoes/campanhas_publicitarias/campanha_detalhe
s.cfm?co_seq_campanha=2085)
A busca por estratégias de ensino que facilitem e estimulem a participação
do leitor tornando o repasse do conhecimento uma atividade interessante, deve ser
uma preocupação, além de merecer especial atenção por parte das autoridades e
dos educadores. O que não se pode esquecer é que o uso de cartilhas como
material didático de apoio é recomendável, mas sua escolha deve ser cuidadosa,
para se evitar a simples transmissão de conceitos teóricos, apresentados muitas
vezes de forma fragmentada e que, apesar do grande valor científico, podem não
ter relação com as vivências do indivíduo, nem representar a realidade do
ambiente que o cerca (Amâncio, 2002). É desejável que as metodologias a serem
utilizadas levem em conta a vivência e a realidade do leitor, contribuindo desta
forma, para que o ensino se transforme num processo de preparação integral do
indivíduo para a vida em sociedade, através da conscientização de que os aspectos
abordados façam parte do seu ambiente e não de uma esfera distante e separada do
local onde ele vive (Amâncio, 2002).
E a questão do acesso a esses materiais didáticos diversificados se torna
fundamental, principalmente em regiões onde predominam as camadas menos
favorecidas da população e onde o acesso aos livros continua sendo um dos
maiores desafios no nosso país. Sendo assim, a distribuição gratuita de cartilhas é
A fronteira entre os saberes
74
uma excelente ferramenta para a abordagem de alguns assuntos e a discussão de
alguns problemas.
De acordo com Lazara Amâncio, em seu livro Cartilhas para que? (2002)
as cartilhas devem apresentar uma estrutura simples, com alto grau de
uniformidade e unidade temática, com textos coerentes com seu propósito, com
afinidade entre texto e ilustração que o acompanha e com desenvolvimento pleno
de personagens, tramas e temas. Sua linguagem textual e imagética deve ser
apresentada com forte teor de informação, comunicação e interação; facilitando
assim o entendimento de um determinado assunto e levando em conta os valores
culturais, regionais e as características do leitor como: idade, experiência,
realidade lingüística e grau de interesse.
Consideradas como um gênero de livro didático as cartilhas me parecem ser
um material de estudo de grande importância para o desenvolvimento da minha
pesquisa.
De acordo com os autores Carlos Alberto Rabaça e Gustavo Barbosa em
Dicionário de Comunicação (1985), Campanha Publicitária é o termo utilizado
pelos profissionais da área de publicidade para explicar o conjunto de peças
criadas, produzidas e veiculadas de maneira coordenada, de acordo com
determinados objetivos de propaganda de um produto ou serviço, marca, empresa
ou qualquer órgão público ou privado. Uma campanha pode ser constituída de
uma só peça, ou pode ser composta por várias peças como anúncios em jornais e
revistas, filmes para TV, jingles e spots para rádio, outdoors, cartazes, filipetas,
banners, camisetas, bonés, entre muitas outras. Cada uma dessas peças apresenta
funções e características próprias e sua criação baseia-se geralmente num mesmo
tema ou idéia. Ela pode ser utilizada para vender um produto, um serviço, uma
idéia ou uma marca (publicidade institucional). Pode ser utilizada também, para
informar, instruir ou educar o público alvo ou até mesmo uma população inteira.
E é esse tipo de campanha publicitária, a educativa e informacional, que servirá de
base para o meu estudo.
Como vimos anteriormente o sujeito contemporâneo, principalmente o que
habita as grandes cidades, está submetido diariamente a um incontável número de
representações visuais, quase sempre a serviço da publicidade. Essas imagens são
difundidas pelas mais diversas mídias visuais tais como cinema, televisão, jornais,
revistas, cartilhas, internet, mídia externa (engloba todas as possibilidades de
A fronteira entre os saberes
75
canais de comunicação ao ar livre e ambiente externo como outdoors, busdoors,
back-lights, etc.), que são explorados de acordo com um planejamento prévio de
ações obtidas por dados colhidos numa pesquisa de mercado, no decorrer de um
período. Essas representações visuais estão o tempo todo competindo entre si pelo
convencimento do sujeito com as proposições de significação que elas veiculam.
Muitas delas se apresentam seguindo tendências e características visuais ditas pósmodernas por utilizarem em seu design características muito especiais como:
heterogeneidade, contradição, transitoriedade, aleatoriedade.
A principal característica de uma campanha publicitária é que, seja qual for
o meio ou ação explorada, as peças que a constituem devem preservar uma
identidade entre si, uma uniformidade tanto editorial (textos) quanto visual, para
causar interação entre eles com objetivo de aumentar o impacto da campanha.
Texto e imagens devem ser claros, objetivos, de fácil compreensão para prender a
atenção de imediato e alcançar um determinado impacto social. Principalmente
quando se trata de campanhas que mesclam a função publicitária com conteúdos
didáticos, como as campanhas públicas de vacinação (combate à Tuberculose, à
Varíola, à Rubéola, à Paralisia Infantil, ao Sarampo, etc.), antidrogas (combate ao
fumo, à bebida alcoólica), doação (de órgãos, de sangue), amamentação, combate
à Dengue, entre outras. Nelas deve ocorrer o convencimento e a comunicação em
massa, bem como o esclarecimento a respeito das doenças e das vacinas utilizadas
para combatê-las. É muito importante, então, que haja uma diferenciação das
práticas simbólicas, discursivas e de seus contextos situacionais, condições
cognitivas e culturais, para que não ocorram visões unilaterais, isoladas do
contexto quotidiano dos comunitários. É preciso haver uma aproximação da
população envolvida, atribuindo a esta funções de elaboração dos materiais
educativos e comunicativos - supondo que, assim, sua cultura estará mais bem
representada – ou, então, usando formas tradicionais das culturas regionais.
A fronteira entre os saberes
76
Figura 10 – Peças publicitárias da primeira parte da campanha de vacinação contra a
paralisia infantil e a rubéola (2008)
(http://portal.saude.gov.br/portal/aplicacoes/campanhas_publicitarias/campanha_detalhe
s.cfm?co_seq_campanha=2306)
O termo infográfico vem do inglês informational graphics que surgiu nos
EUA no início da década de 80 e o seu uso revolucionou o layout das páginas de
jornais, revistas e sites do mundo contemporâneo. Mais tarde o termo atingiu a
Europa, e na Espanha resultou no termo infografìa que foi adotado na língua
portuguesa como infografia (De Pablos, 1999). Os infográficos nada mais são que
representações visuais da informação, usados onde esta precisa ser explicada de
forma mais dinâmica, como em mapas, gráficos e manuais técnicos, educativos ou
científicos. São usados para explicar, por meio de ilustrações, diagramas e textos,
A fronteira entre os saberes
77
fatos que o texto ou a foto por si só não conseguem detalhar com a mesma
eficiência. Os infográficos vêm atender a uma nova geração - os leitores
contemporâneos - que é predominantemente visual e quer entender tudo de forma
prática e rápida.
Segundo Alberto Cairo - especialista em design e em artes visuais, professor
de jornalismo na Universidade da Carolina do Norte, EUA – “infografia significa
a apresentação visual de dados, sejam dados estatísticos, mapas ou diagramas.”
(http://jpn.icicom.up.pt/2006/07/11/infografia_nao_e_uma_linguagem_do_futuro
_e_do..., acesso em 12/4/2008) Autor do livro eletrônico “Sailing to the future:
infographics in the internet era” (2005), Cairo afirma também que a infografia
consiste no uso de ferramentas do Design Gráfico, da Ilustração, da Cartografia e
da Estatística Representacional onde o verbal e o visual estão interligados. Os
infográficos organizam a informação, facilitam a comunicação, ampliam o
potencial de compreensão pelos leitores, permitem uma visão geral dos
acontecimentos e detalham informações menos familiares ao público. Como são
considerados uma ajuda para se pensar e entender, eles devem ser atrativos,
claros, simples de entender e rápidos de ler, além de condensar num pequeno
espaço, uma enorme quantidade de informações.
Os infográficos utilizam a linguagem imagética e a linguagem textual na sua
proposta de comunicação. E é exatamente o que acontece com os livros infantis
contemporâneos, objeto da minha pesquisa: as duas linguagens (verbal e visual)
costumam atuar simultaneamente. Entretanto, nos infográficos é a linguagem
textual que está a serviço da imagem e não o contrário como acontecera até então;
onde a linguagem imagética atuava como mera ilustração de textos. Partindo da
história dos registros lingüísticos, é possível destacar o predomínio do
logocentrismo sobre a cultura da imagem (Coelho, 1997). Com o surgimento do
alfabeto, rompe-se com os sistemas pictóricos e distingui-se o desenho da escrita.
Desta forma, o pensamento lingüístico vem a prevalecer sobre o pensamento
imagético, estabelecendo o domínio da lógica da inscrição simbólica sobre o
pensamento figurativo (Coelho, 1997). Porém, nos modernos meios de
comunicação, o visual predomina e o verbal tem função de acréscimo e não é
diferente com os infográficos. Neles a imagem deixa de ter somente o papel de
ilustrar o texto escrito, mas apresenta-se como a própria informação,
protagonizando, o processo de comunicação.
A fronteira entre os saberes
78
Em alguns casos, o infográfico seria até capaz de substituir o próprio texto
diante do poder de comunicação da linguagem imagética, mas, se por um lado
sabemos que a informação seria apreendida pelo leitor mais rapidamente por meio
da linguagem visual, por outro lado, para que o infográfico seja eficaz no seu
propósito de comunicação, ele depende também de um texto objetivo, claro,
subdividido em itens e com linguagem direta.
Figura 11 – Infográfico de Nigel Holmes Fonte: Digital Diagrams. BOUNFORD (2000, p. 156)
De acordo com Nichani e Rajamanickam (2003) os infográficos podem ser
classificados em:
1. Narrativos - Explicam algo possibilitando ao leitor envolver-se com o
propósito apresentado.
Ex: Histórias (factuais, ficcionais, partidárias) contadas a partir de um
ponto de vista. Incluem anedotas, histórias pessoais, de negócios, estudos
de casos etc.
2. Instrutivos - Explicam algo habilitando o leitor a seguir seqüencialmente
o conteúdo.
Ex: Instruções passo a passo que expliquem como as coisas funcionam
ou como os eventos acontecem.
A fronteira entre os saberes
79
3. Exploratórios - Dão ao usuário a oportunidade de explorar e descobrir o
conteúdo e suas invenções.
Ex: Qualquer narrativa que permita ao usuário explorar ativamente o
conteúdo para compreender o seu sentido.
4. Simulatórios - Permitem ao usuário a experiência de um fenômeno do
mundo real.
Ex: Qualquer narrativa que permita ao usuário viver a experiência de um
acontecimento como se estivesse nele.
Essa classificação baseia-se na intenção comunicativa do produto e tem
como objetivo garantir a eficiência do infográfico na apresentação de diferentes
tipos de conteúdo.
Na estrutura básica de um infográfico deve haver: título, texto, corpo e fonte
(Leturia, 1998), responder às questões básicas de construção da notícia e conter
elementos de uma narração (Borrás e Caritá, 2000). O título deve expressar o
conteúdo de todo o infográfico; o texto deve servir para situar e explicar o
conteúdo do desenho; o corpo é a própria informação visual; as imagens, fotos ou
figuras devem vir acompanhadas por números ou flechas e a fonte garante a
veracidade da informação.
Segundo Elio Leturia (1998) os infográficos podem ser divididos em 4
tipos:
1. Diagramas – são os mais completos que existem. Servem para mostrar
como ocorreu um acontecimento, como é algo por dentro ou como
funciona alguma coisa. Necessitam de legendas para complementar a
informação gráfica que oferecem.
2. Mapas – podem por si só ser o infográfico ou ser parte de um diagrama
que nos mostra onde ocorreu um determinado acontecimento.
3. Gráficos – são as formas mais simples de explicar um fato utilizando
vários dados, números e estatísticas. Existem três tipos fundamentais de
gráficos: o de barra, o de pizza e o de linha.
4. Tabelas – são utilizadas para o cruzamento de dados – geralmente
descritivos – que não poderiam ser comparados com facilidade de outra
forma.
A fronteira entre os saberes
80
O importante é que o infográfico contemporâneo é um produto que deixa
transparecer em si a sociedade na qual está inserido e onde é produzido. É um
produto que tende ao consumo instantâneo (leitura rápida), propício a um pronto
descarte (amanhã saíra uma versão atualizada do infográfico de hoje), que
incorpora os avanços científicos de sua era (contém conhecimentos de arte,
neurociências, ergonomia), induz a uma forma de pensar (apreensão objetiva,
matematizada e irredutível da realidade), expressa o tempo e o espaço
contemporâneos (compacto, preciso, veloz), confere valor ao indivíduo que o
consome (inteligente, ágil, moderno, informado) e traz bem-estar ao consumidor
(confortável, satisfeito), incentivando-o a comprar mais e sempre. Um produto
que, enfim, compreende valores ideológicos da sociedade que o produz, valendose dos aspectos estéticos e funcionais para tanto.
Podemos concluir, então, que esses aspectos não se encontram apenas nos
infográficos, mas também se encontram nas outras peças contemporâneas citadas
a cima: nos livros didáticos, nas cartilhas educativas e nas campanhas publicitárias
informacionais. São aspectos encontrados nos produtos híbridos e performáticos
das novas formas de pensar, que dão conta de diversas questões ao mesmo tempo.
Como foi dito no capítulo 3 dessa dissertação, são produtos que se transmutam e
que estimulam todos os sentidos. Produtos que são como as pessoas de sua era e
espelham a sociedade que os produz.
É nesse contexto que insiro a obra de Italo Calvino, Seis propostas para o
próximo milênio onde o autor apresenta seis aspectos da literatura que para ele
mereciam ser preservados no curso do próximo milênio: leveza, rapidez,
exatidão, visibilidade, multiplicidade e consistência. Aspectos estes que são
também defendidos como as bases para tornar um texto rico e interessante em seu
conteúdo, agradável para a leitura e inesquecível como experiência para quem o
lê. E que já pude identificar nas peças apresentadas acima como, por exemplo:
leveza (compacto, preciso), rapidez (leitura instantânea), exatidão (visual nítido e
linguagem precisa), visibilidade (qualidade das imagens e legibilidade do texto),
multiplicidade (que incorpora diversos saberes) e consistência (homogeneidade
dos elementos que constituem). Nos próximos capítulos desenvolverei mais esses
aspectos.
5
Italo Calvino e uma teoria para a narrativa
5.1.
A narrativa Pós-Moderna
Através dos capítulos anteriores foi possível identificar o contexto histórico
no qual as questões dessa pesquisa se inserem: a chamada Cultura Pós-Moderna.
Quando nos voltamos para as questões desse contexto diretamente ligadas à
narrativa, podemos compreender essa cultura interligada com as culturas que
precedem. Como já foi dito anteriormente, podemos inovar, ser original e rever ao
mesmo tempo. Sendo a repetição e releitura de formas passadas não apenas
tolerada como encorajada. De forma crítica, a Cultura Pós-Moderna confronta o
passado com o presente e vice-versa. Ele não nega que o passado existiu, mas
afirma que no presente, o acesso ao passado está condicionado pela sua
documentação, isto é, por seus arquivos, por seus livros e até por seus relatos
(Hutcheon, 1988).
De acordo com Linda Hutcheon em seu livro A poética do PósModernismo: história, teoria, ficção (1988), o Pós-Modernismo na literatura, ou
em outras formas de narrativa, ao aceitar o desafio da tradição e a representação
da história, transforma-se em história da representação, comentada com ironia,
com o uso da paródia que desafia, mas também obriga a uma reconsideração da
idéia de origem ou originalidade. Segundo a autora, aquilo que já foi dito precisa
ser reconsiderado, e somente pode ser reconsiderado de forma irônica. Porém, a
autora lembra que “a inclusão da ironia e do jogo jamais implica necessariamente
a exclusão da seriedade e do objetivo na arte pós-modernista”. Para Hutcheon
outra característica de narrativa na Cultura Pós-Moderna é a metaficção
historiográfica, isto é, tomar como tema personagens e eventos de uma história
conhecida e submetê-lo à distorção, à falsificação e à ficcionalização. A
metaficção historiográfica recusa a idéia de que apenas a História tem uma
pretensão à verdade. Ambos se distinguem por suas estruturas, mas tanto a
Italo Calvino e uma teoria para a narrativa
82
História quanto a ficção são discursos. Sendo assim, ambos têm pretensão à
verdade.
E na busca de uma teoria para a narrativa na Contemporaneidade, numa
época em que a literatura não mais visa à novidade, à originalidade e à invenção,
mas talvez à reescritura ou reciclagem, entre os escritores contemporâneos que
mais se destacaram, gostaria de citar Italo Calvino. Não somente pela riqueza e
diversidade de suas obras literárias, indo de livros a revistas, mas como um
intelectual preocupado com a formação do imaginário.
5.2.
Vida e obra
Nascido em Cuba mudou-se para a Itália ainda na infância, crescendo na
cidade de San Remo. Participou da resistência do fascismo durante a Segunda
Grande Guerra e, com o final do conflito, foi morar em Turin onde se formou em
Literatura; transformando-se num dos autores italianos mais importantes do PósGuerra. Escritor de grande sensibilidade conseguiu rapidamente entender as
mudanças ocorridas na literatura européia do imediato Pós-Guerra até os anos
oitenta, sendo capaz de perceber e expressar as menores mudanças de sentimentos
e comportamentos coletivos. Numa reação direta contra a tendência, até então, no
sentido de valorizar apenas o novo, ele nos faz voltar ao passado não só
retomando o que já foi feito e o que já foi dito, mas também confrontando os
problemas da Literatura com o movimento do pensamento contemporâneo. Tudo
indica que Calvino propõe a renovação da Literatura Moderna por meio da
releitura e da reescritura da tradição literária.
A obra de Italo Calvino é quase uma metalinguagem de sua reflexão e de
sua preocupação afim com Cultura Pós-Moderna. Ele produz obras de ficção e
também de teoria e consegue mesclar muito bem esses dois mundos. Além de
explicitar na sua categoria „visibilidade‟ uma afinidade conceitual para o que
chamamos aqui de análise do discurso produzido pela linguagem visual. Daí
alguns exemplos de sua obra citadas em alguns sites onde pesquisei (Anexo 10.2).
Apesar de ser italiano, Calvino é um dos autores mais conhecidos e de
grande relevância tanto para a Itália como para o resto do mundo, não somente
Italo Calvino e uma teoria para a narrativa
83
pelo conjunto de sua obra (traduzida em várias línguas), mas também, pela
riqueza de suas experiências intelectual, cultural e política.
Com todas essas características apresentadas aqui, Italo Calvino dialoga
diretamente com o que foi dito anteriormente sobre a Cultura Pós-Moderna.
Nos próximos tópicos farei uma análise de uma pequena amostra da obra de
Italo Calvino, escolhendo dois livros de teoria – Seis Propostas para o próximo
Milênio e Por que ler os clássicos – e dois livros de ficção – As Cosmicômicas e
As Cidades Invisíveis .
5.3.
Por que ler os clássicos
Em Por que ler os clássicos (1991) Calvino deixa clara a importância da
leitura dos grandes clássicos, pois estes servem para entendermos quem somos e
aonde chegamos. Mas sem esquecermo-nos de alternar essas leituras com as
leituras da atualidade “numa sábia dosagem” (1991, p. 15). Segundo ele: “O dia
de hoje pode ser banal e mortificante, mas é sempre um ponto em que nos
situamos para olhar para frente ou para trás” (1991, p. 14). A releitura também é
importante já que relendo um clássico descobrimos coisas novas como se fosse a
primeira vez. Mesmo os livros permanecendo os mesmos (apesar de mudarem de
acordo com a perspectiva histórica) nós com certeza mudamos, e a releitura é um
acontecimento totalmente diferente da primeira leitura. Segundo o autor, as
leituras que fazemos na juventude não são muito proveitosas devido a
impaciência, a distração e a inexperiência de vida características dessa fase.
Enquanto as leituras feitas na idade madura, ocorrem com muito mais detalhes e
significados. Daí a importância da releitura. Calvino afirma ainda:
Relendo o livro na idade madura, acontece reencontrar aquelas constantes
que já fazem parte de nossos mecanismos interiores e cuja origem havíamos
esquecido. Existe uma força particular da obra que consegue fazer-se esquecer
enquanto tal, mas que deixa sua semente.
Para Italo Calvino deveria caber à escola a missão de propiciar o primeiro
contato dos estudantes com os clássicos, incentivando-os a ler, contando porque a
leitura destes é tão importante, mostrando-lhes quem leu e oferecendo-lhes opções
Italo Calvino e uma teoria para a narrativa
84
para que depois ele possa reconhecer os “seus clássicos”. Onde Calvino propõe
um conceito importante para essa pesquisa, a mediação. A mediação do professor
é importante, pois é ele que apresenta a possibilidade de uma leitura
compartilhada entre os alunos, leitura essa que pode ser discutida e enriquecida
pelo diálogo com outras leituras vivenciadas pelo grupo. Porém, o que muitas
vezes acontece é que a leitura escolar com base em listas de obras exigidas por
concursos e vestibulares, pode acabar afastando esses leitores, em vez de
aproximá-los, além de reduzir a quantidade de obras a conhecer. Calvino afirma
que o prazer da leitura é pessoal e não social e que somente nas leituras
descompromissadas é que pode acontecer do livro que está sendo lido tornar-se o
“seu livro”, o “seu clássico”, já que este estabelece uma relação pessoal com
quem o lê. O autor, então, define: “O “seu” clássico é aquele que não pode ser-lhe
indiferente e que serve para definir a você próprio em relação e talvez em
contraste com ele.”
Italo Calvino em Por que ler os clássicos (1991) chama atenção, também,
para o fato de que atualmente “os velhos livros foram dizimados, mas os novos se
multiplicaram, proliferando em todas as literaturas e culturas modernas”. E
sugere, então, que cada leitor monte sua biblioteca ideal de novos clássicos. Esta
deveria conter livros que já foram lidos e que acrescentaram alguma coisa ao
leitor, livros que se pretende ler e que presumidamente também acrescentarão
algo, além de deixar um espaço na mesma para ser preenchido com as descobertas
ocasionais que poderão vir a surpreender. Afinal, “um clássico é um livro que
nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer”.
Para concluir, essa obra de Calvino, Por que ler os clássicos retoma o tema
mediação: como trazer um “clássico” para uma criança que vive numa sociedade
baseada na multiplicidade de linguagens? E este é um problema parecido com o
meu: como trazer para uma criança um conteúdo complexo, cheio de números,
tabelas e gráficos como a estatística, numa época em que a comunicação é feita,
sobretudo através de imagens; onde o visual predomina? Este item, a mediação,
será bastante abordado nessa pesquisa.
Italo Calvino e uma teoria para a narrativa
85
5.4.
Cidades Invisíveis
Em Cidades Invisíveis (1990) Italo Calvino retoma, num romance
contemporâneo, a moldura da narrativa clássica do livro Il Milione (O Milhão),
que é o registro escrito das narrativas orais do mercador veneziano Marco Polo,
feito por seu companheiro de prisão Rustichello da Pisa, em 1298. Calvino faz
uma espécie de reescritura desse clássico que narra as descrições feitas pelo
comerciante genovês Marco Polo ao imperador mongol Kublai Khan na capital do
império, durante o século XIII, sobre as cidades e os lugares por onde passou. O
autor faz uma paródia da história, da trama de viagem e da caracterização dos
personagens, investindo no potencial inventivo e criativo das palavras. Em
Cidades Invisíveis (1990), Calvino retoma a figura de Marco Polo para fazer um
novo relato das viagens feitas por este, descrevendo com uma riqueza de detalhes
55 cidades (todas com nome de mulher) por onde teria passado, agrupadas numa
série de 11 temas: "as cidades e a memória", "as cidades e o desejo", "as cidades e
os símbolos", entre outros. Calvino consegue criar descrições de cidades
imagináveis fantásticas, sem a preocupação em legitimar como autêntica e
verídica essa narrativa (como acontece no livro Il Milione), mas ao mesmo tempo
nos fazendo pensar sobre mundos reais.
Com um pé na narrativa do passado e outro na realidade contemporânea e
também com um pé na fantasia e outro na realidade objetiva, Italo Calvino pode
ser considerado um escritor verdadeiramente da Cultura Pós-Moderna. Como
apontado anteriormente, nela a releitura de formas passadas é incentivada, pois o
que já foi dito precisa ser reconsiderado. E é exatamente isso que Calvino faz em
Cidades Invisíveis, trazendo uma personagem conhecida, como Marco Polo e
submetendo-o à ficcionalização. Ele se apropria de um conteúdo Histórico e o dá
uma dimensão poética e de narrativa, mas sem deixar de pretender à verdade. Isso
também se aproxima da minha pesquisa, já que algumas obras que serão
analisadas usaram esse partido.
Italo Calvino e uma teoria para a narrativa
86
5.5.
As Cosmicômicas
Outro livro de Italo Calvino que através da realidade nos faz entrar num
mundo de imaginação e fantasia é As Cosmicômicas (1990). Um livro repleto de
humor e poesia que nos faz refletir sobre a separação (que somos culturalmente
levados a crer que existe) entre a ciência e a arte. Quando falamos em arte,
pensamos logo em imaginação, em algo lúdico, ilógico, fantasioso e não
verdadeiro. E quando falamos em ciência, pensamos no domínio do racional, do
lógico, do comprovado, do verdadeiro. Essa noção clássica, de que o
conhecimento científico pressupõe a aplicação de procedimentos e teorias que
garantem a sua validade, está em crise na chamada Cultura Pós-Moderna. Como
já descrito no capítulo anterior, de acordo com Jean-François Lyotard em sua
publicação A Condição Pós-Moderna (2006), a ciência, provocada pelo impacto
das transformações tecnológicas sobre o saber, não mais pode ser considerada
como a fonte definitiva da verdade. E Calvino nos mostra isso muito bem quando
propõe um cruzamento entre arte e ciência em seu livro As Cosmicômicas (1990).
Em cada um dos 12 capítulos que compõem o livro, o autor introduz uma epígrafe
com um enunciado científico com o qual a narrativa literária que se segue dialoga
explicando-a, desenvolvendo-a, enfatizando-a ou reafirmando-a, sempre com um
lado cômico. Daí o título As Cosmicômicas: o cosmos e o cômico, onde o
conhecimento e a ficção se encontram. O desenvolvimento de personagens e a
criação de um universo narrativo são coisas que Calvino faz a partir dessas
epígrafes científicas.
5.6.
Seis propostas para o próximo milênio
Em Seis propostas para o próximo milênio (2003) Italo Calvino afirma que
entre os valores que ele gostaria que fossem preservados para o próximo milênio
está “o de uma literatura que tome para si o gosto da ordem intelectual e da
exatidão, a inteligência da poesia juntamente com a da ciência e da filosofia".
Mais uma vez reforçando a relação entre ciência e arte que está presente em várias
de suas obras. Neste livro, Calvino apresenta seis aspectos da literatura que para
Italo Calvino e uma teoria para a narrativa
87
ele mereciam ser preservados no curso do próximo milênio: leveza, rapidez,
exatidão, visibilidade, multiplicidade e consistência. Além de falarem sobre o
trabalho do escritor, enfatizando a forma e a técnica, são também defendidos
como as bases para tornar um texto rico e interessante em seu conteúdo, agradável
para a leitura e inesquecível como experiência para quem o lê; visando estimular,
em especial, a percepção. Virtudes que não apenas orientam a atividade dos
escritores, mas também orientam outras atividades profissionais e a vida pessoal.
O primeiro aspecto descrito por Calvino é a leveza e ressalta ainda que para
vivenciá-la é necessário conhecer a experiência do peso, saber o seu valor. Para
ele a leveza está associada à precisão e à determinação, nunca ao que é vago ou
aleatório.
A rapidez de estilo e de pensamento quer dizer para Calvino agilidade,
mobilidade, desenvoltura. Questiona a duração, a conveniência em poupar o leitor
de detalhes determinados em favor do ritmo, da lógica na narrativa. É a
ferramenta essencial para a continuidade da narrativa. É a busca constante pela
melhor maneira de trabalhar a relatividade do tempo, ora dilatado, ora contraído,
ora linear, ora descontínuo.
Para Calvino a exatidão quer dizer principalmente três coisas: a boa
definição de um projeto de obra, a formação de idéias visuais nítidas, incisivas e
memoráveis e uma linguagem precisa, capaz de traduzir detalhes do imaginário.
A visibilidade está relacionada a processos imaginativos, à qualidade de
expressar imagens, uma vez que, Calvino nos permite entender as razões que
fazem da literatura o meio ideal de comunicação, mas sem esquecer a significativa
importância de que se reveste a imagem. Momento onde sua obra consolida a
interlocução com a proposta de analisar imagens. De acordo com ele podemos
distinguir dois tipos de processos imaginativos: o que parte da palavra para chegar
à imagem e o que parte da imagem para chegar à expressão verbal (lembrando que
a contemporaneidade é atravessada por essas duas linguagens dependentes entre si
e que atuam simultaneamente. É uma linguagem híbrida). O primeiro processo é o
que ocorre normalmente na leitura: quando lemos um romance ou uma
reportagem num jornal logo imaginamos a cena que estamos lendo, ou pelo
menos parte dela. Já o segundo processo ocorre, por exemplo, quando vemos um
filme. A imagem que vemos na tela também passou por um texto escrito. Mas
primeiro foi “vista” mentalmente pelo diretor e em seguida reconstituída num set
Italo Calvino e uma teoria para a narrativa
88
de filmagem. Esse “cinema mental” existe entre nós e não cessa de projetar
imagens na nossa imaginação. Por isso, os dois processos imaginativos são de
igual importância. A questão da linguagem verbal não é análoga a questão da
linguagem visual. A linguagem verbal é um meio de expressão e comunicação,
sendo, portanto um sistema paralelo ao da linguagem visual. Para Calvino o texto
carrega consigo diversas possibilidades de leituras. Trata-se de lançar um olhar
sobre a relação entre a análise direta do mundo, o universo ilusório e o mundo
simbólico transmitido pela cultura, além do curso abstração - condensação interiorização de uma experiência sensível.
A multiplicidade é apresentada como uma sugestão de como o
conhecimento pode ser abordado como numa rede que enlaça fatos, saberes e
sistemas reciprocamente condicionantes. É saber tecer em conjunto os diversos
saberes e os diversos códigos numa visão pluralística do mundo. É a combinação
de experiências, de informações, de leitura, de imaginação. É a multiplicidade de
métodos interpretativos, maneiras de pensar, estilos de expressão.
O sexto e último aspecto, a consistência, nunca chegou a ser desenvolvido
por Calvino devido à morte súbita. Existem apenas notas sobre ela. Mas, talvez
ele abordasse dentro desse aspecto a coerência lógica de um pensamento e a
homogeneidade dos elementos constituintes do texto literário. A impressão que
este causa sobre os sentidos.
No próximo capítulo falarei mais profundamente sobre cada uma dessas
categorias, já que constituem a base metodológica para essa pesquisa.
Enfim, a obra de Calvino, da qual observamos uma pequena amostra através
dos livros descritos acima, aponta uma estimulante base teórica que pode servir
como método para o desenvolvimento de conteúdos que pretendam equacionar as
presentes questões de estruturação narrativa, recepção de conteúdos textuais /
visuais e produção editorial. Tal fato vai ao encontro dos intuitos desta pesquisa,
cujo objetivo é, justamente, verificar a aplicação desta base teórica na concepção
de livros que visam à comunicação de dados estatísticos e informações
geográficas para o público infanto-juvenil.
Como se sabe, a grade curricular dos ensinos fundamental e médio impõe
aos alunos a apreensão da realidade socioeconômica brasileira através do ensino
da disciplina de Geografia. Os assuntos abordados nesta matéria têm como fonte
principal os dados obtidos e disponibilizados pelo IBGE, que, conforme abordado
Italo Calvino e uma teoria para a narrativa
89
em capítulo anterior é a instituição pública responsável pela fomentação oficial
dos dados estatísticos sobre economia, demografia, relações sociais, entre outros,
além das informações sobre o território brasileiro. Por ser um conteúdo imposto, à
parte um eventual interesse sobre a matéria por parte de um estudante ou outro, o
maior estímulo que os alunos possuem para a apreensão dos conteúdos estatísticos
e geográficos sobre o Brasil é a obtenção dos graus necessários para aprovação na
disciplina. É neste ponto que vejo estar, possivelmente, a grande contribuição da
base teórica que se pode derivar da obra de Italo Calvino: o de capacitar o
desenvolvimento de leituras estimulantes, mesmo para um conteúdo que é
inicialmente imposto.
Na linha deste raciocínio é possível antever em Por que ler os clássicos
(1991) a possibilidade de se passar conhecimentos universais e atemporais sem
necessariamente obrigar um aluno a ler os originais de todas as obras consagradas
como as bases do saber humano e, em As Cosmicômicas (1990), perceber que
uma apresentação poética e imaginativa e não necessariamente metódica e
científica pode possibilitar um melhor entendimento de conteúdos técnicos. Do
mesmo modo, em Cidades Invisíveis (1990), vemos que o ato de reescrever, de
contar uma antiga história de uma nova forma, pode ampliar o alcance do escrito
originalmente, abrindo para novas interpretações e/ou apreensões mais profundas.
Por fim, em Seis propostas para o próximo milênio (2003), Calvino delineia uma
metodologia que permite materializar uma obra literária que se pretenda inserida
nos tempos atuais: abrangente, estimulante e veículo da produção cultural humana
de todos os tempos.
A aplicação destes princípios, derivados da obra de Italo Calvino, para a
elaboração de livros com conteúdos estatísticos e geográficos sobre o Brasil,
voltado para o público infanto-juvenil, pode resultar em produtos editoriais que
estimulem o prazer da leitura e conseqüentemente gerem um maior acúmulo de
conhecimento sobre os assuntos veiculados. A procura de uma metodologia de
análise baseada em Calvino servirá como uma eficiente base teórica para o
desenvolvimento de livros didáticos, oferecendo uma alternativa a procedimentos
produtivos baseados exclusivamente na intuição e na experiência que apresentam
muitas vezes resultados erráticos, sem nem sempre alcançar o que pretendiam
inicialmente: promover a obtenção de um conhecimento específico.
6
Seis propostas para a análise dos recursos de design no
livro didático infantil
Ao optar pela metodologia de análise de discurso e para que esta possa ser
feita de maneira criteriosa e fundamentada, desenvolverei a seguir um dispositivo
teórico e um dispositivo analítico. O dispositivo teórico se baseará na própria
análise do referencial teórico desta pesquisa e o dispositivo analítico será
construído em cima das categorias literárias apresentadas por Italo Calvino em seu
livro Seis propostas para o próximo milênio.
6.1.
Análise de Discurso
A análise de discurso objetiva a contextualização dos usos, entendendo-se o
discurso, no seu âmbito geral, como o uso da linguagem.
O discurso é a produção de sentidos a partir da linguagem, é o trabalho
simbólico. Enquanto a linguagem pode ser entendida como a mediação necessária
entre o humano e a realidade natural e social, o discurso pode ser considerado
como a forma de se realizar esta mediação, de acordo com os agentes e as
circunstâncias específicas de uso da linguagem.
Sendo assim, a análise de discurso trabalha, diferentemente da lingüística,
com a linguagem não como um sistema fechado em si, mas em relação com a
exterioridade. A análise de discurso considera, portanto, os processos e condições
de produção da linguagem, seus sujeitos e as situações em que são produzidos os
discursos, de modo a identificar os padrões que relacionam a linguagem ao seu
contexto de uso.
Para tanto, a análise de discurso congrega os estudos lingüísticos com as
ciências sociais, ao considerar que os sentidos são produzidos através do uso da
linguagem, mas sem esquecer que isso ocorre dimensionado no tempo e no espaço
Seis propostas para a análise dos recursos de design no livro didático infantil
91
das práticas humanas. Assim a análise do discurso pretende ir além das análises
puramente lingüísticas, que tendem negligenciar os efeitos da história no material
analisado, assim como das análises sociais que tendem a denegar que a história se
assenta na linguagem e é, conseqüentemente, afetada por esta.
Da articulação da lingüística com as ciências sociais, tem-se que o discurso
é um objeto sócio-histórico. E assim o é, porque as linguagens são produtos
ideológicos e refletem a forma de pensar dos sujeitos que as produzem, do mesmo
modo que as ideologias dos grupos sociais inevitavelmente se manifestam no
emprego de suas linguagens. Resulta daí a noção de que as ideologias se
materializam nos discursos e os discursos se materializam nas linguagens, o que
leva a uma relação inextricável entre linguagem, discurso e ideologia, pois
conforme Pêcheux apud Orlandi (2007, p.17) “não há discurso sem sujeito e não
há sujeito sem ideologia”. Conseqüentemente, nos discursos ficam evidentes as
relações entre linguagem e ideologia, uma vez que os sentidos são produzidos
através da linguagem por sujeitos que os emitem para outros sujeitos, aspecto
também mencionado por Lyotard.
Tendo o discurso como objeto, a análise de discurso estuda a linguagem em
funcionamento para verificar como os sentidos são produzidos. Para a análise de
discurso, a linguagem não é transparente e sendo assim não é possível olhar
através dos textos para encontrar seus sentidos do outro lado. Muito pelo
contrário, no entendimento da análise de discurso os textos são opacos por
possuírem materialidade simbólica e espessura semântica. Tendo isso em vista,
mais do que realizar uma busca pelos significados dos mesmos, a análise de
discurso tem o propósito de elucidar como a matéria prima significa. Assim, ela
gera um conhecimento a partir do próprio texto analisado ao invés de utilizá-lo
como ilustração ou documento de um fato já previamente sabido.
É importante ressaltar neste ponto, que a análise de discurso tem como base
teórica a Lingüística, as Ciências Sociais e a Psicologia. Utiliza os fundamentos
da lingüística porque o discurso se materializa através da linguagem e considera
esta forma como sendo lingüístico-histórica (uma vez que linguagem e história se
conjugam na produção de sentidos), e vale-se de contribuições da psicologia ao
deslocar a noção de humano para a de sujeito.
Em decorrência desta fundamentação teórica, para a análise de discurso a
linguagem possui uma ordem própria (sua sintaxe e gramática), já que sofre larga
Seis propostas para a análise dos recursos de design no livro didático infantil
92
influência do sujeito e da situação no momento de sua materialização. Além disso,
para a análise de discurso, a realidade retratada pela história é largamente afetada
pelo simbólico, uma vez que os fatos reclamam sentidos. Sentidos estes que são
criados por sujeitos a partir da linguagem empregada para seu relato. E por fim,
ainda é preciso considerar que para a análise de discurso, o sujeito de linguagem
também é afetado, tanto pela linguagem que emprega quanto pelos condicionantes
históricos que o circundam. Assim, este sujeito discursivo funciona tanto pelo
inconsciente quanto pela ideologia. Mais uma vez encontramos uma afinidade
com a noção de linguagem construída em cima do sujeito presente na obra de
Lyotard com os chamados “jogos de linguagem”.
Essa relação de afetação mútua entre sujeito, linguagem e história, fica
evidente na afirmação de Orlandi (2007, p.20): “As palavras simples do nosso
cotidiano já chegam até nós carregadas de sentidos que não sabemos como se
constituíram e que, no entanto significam em nós e para nós”. Os sentidos estão
inexoravelmente atrelados aos fatores internos da linguagem empregada, do
consciente e inconsciente dos sujeitos que os criam e das condições sociais que
afetam tais sujeitos. Pode-se dizer que a materialização dos sentidos nos discursos
é um amálgama de tais fatores que se determinam mutuamente, tornando
impossível dizer exatamente como os sentidos foram estabelecidos, mas sabendo
que em sua composição há um tanto de cada um destes ingredientes.
Da confluência da Lingüística, da História e da Psicologia surge o discurso,
que é o objeto a ser analisado. Anteriormente, definiu-se o discurso de maneira
geral como o uso da linguagem, o que engloba, conforme tudo o que foi discutido
até aqui, a própria linguagem, os sujeitos que a utilizam, as circunstâncias e os
modos de empregá-la. Para realçar as dimensões lingüísticas, históricas e
psicológicas que geram os sentidos presentes nos discursos, o discurso em si pode
ser mais especificamente definido como o “efeito de sentidos entre locutores”,
conforme Orlandi (2007, p. 21). Nesta definição, fica ainda mais evidente como a
questão do sentido é fundamental para o discurso e para a análise do mesmo. Ao
se olhar para os sentidos, mira-se nos sujeitos, nas situações, no social, no
histórico, no ideológico e na linguagem, o que, por sua vez, torna perceptível as
condições materiais em que os discursos são produzidos.
A análise do discurso tem como princípio metodológico o questionamento
da interpretação. Não objetiva, como já foi dito, saber simplesmente o que
Seis propostas para a análise dos recursos de design no livro didático infantil
93
significam os discursos – o verdadeiro sentido dos textos, como o faz a
hermenêutica - e, sim, compreender como os artefatos simbólicos produzem
sentidos e como funcionam nestes os processos interpretativos. Entendendo-se
como ocorrem os processos de significação nos discursos é possível se identificar
outros sentidos ali presentes e a maneira como estes se formam. Em busca deste
entendimento, o que a análise de discurso propõe é um exame minucioso dos
próprios gestos de interpretação, com o intuito visualizar nitidamente a relação
existente entre sujeitos e sentidos. Para que esta análise se efetive, faz-se uso do
dispositivo de interpretação.
O dispositivo de interpretação pode ser entendido como o método do qual o
analista do discurso lançará mão para entender a produção de sentidos nos
materiais examinados. Para efeito de melhor explicitação do método da análise de
discurso pode-se dividir o dispositivo em dois: o dispositivo teórico e o
dispositivo analítico.
O dispositivo teórico consiste de todas as formulações teóricas que
amparam a análise do discurso. Daí surgem contribuições como o presente
trabalho que é um exame do discurso de produtos editoriais impressos, no qual
lança-se mão das teorias de literatura, artes e design. É por intermédio do
dispositivo teórico que se efetiva a mediação entre descrição e interpretação no
exame dos materiais colhidos.
O dispositivo analítico é o dispositivo teórico recortado e adaptado para o
uso do analista no exame do material a ser investigado. Ele é conformado pela
questão proposta pelo analista, pela natureza do material a ser examinado e pela
finalidade da análise. É a questão de pesquisa que determina a construção do
dispositivo analítico através da mobilização de conceitos e da escolha de
procedimentos que irão contribuir para sua resolução. A análise será efetivada a
partir dos conceitos e procedimentos selecionados e em função destes será obtida
uma compreensão dos processos discursivos e sentidos presentes nos objetos
simbólicos analisados. Assim, é o dispositivo analítico o que garante o rigor da
aplicação do método e o que determina o alcance das conclusões derivadas da
análise.
O que vale ressaltar aqui é que o dispositivo teórico encampa o dispositivo
analítico. Assim, a partir de um mesmo dispositivo teórico é possível se
estabelecer diversos dispositivos analíticos e cada um levará a conclusões
Seis propostas para a análise dos recursos de design no livro didático infantil
94
diferentes. Tal fato não implica em dizer que uma conclusão é melhor que a outra,
mas sim que diferentes aproximações do problema alcançam pontos mais
superficiais ou profundos do material analisado trazendo informações que podem
ser cruzadas, comparadas ou somadas de modo a se gerar um conhecimento mais
amplo do objeto simbólico investigado, ainda que produzido por uma linguagem
visual.
6.2.
Desenvolvendo uma metodologia de análise
Tendo a análise de discurso como linha metodológica, o que o presente
estudo pretende examinar são os sentidos produzidos a partir da linguagem visual
nos livros didático infantis do IBGE. O que se propõe é o estabelecimento de um
dispositivo analítico calcado nas categorias de Italo Calvino (leveza, rapidez,
exatidão, visibilidade, multiplicidade e consistência) de modo a identificar
confluências entre o discurso produzido por um sistema de símbolos estritamente
lingüísticos e o discurso produzido por um sistema que congrega símbolos
lingüísticos com imagens. O que se quer saber é como as categorias de Calvino,
advindas de teorias literárias, entram em diálogo com os discursos que se
materializam em textos e figuras e que sentidos elas gerariam num sistema
alternativo de símbolos. Será que nessa linguagem híbrida as técnicas literárias
propostas por Calvino produzem reflexões produtivas para tornar o discurso mais
leve, rápido, exato, visível, múltiplo e consistente?
Afora esta questão central, uma análise do discurso materializado nos livros
didáticos infantis do IBGE, torna possível identificar como são produzidos os
sentidos quando se emprega uma linguagem híbrida de textos e imagens. Assim,
pode-se verificar qual é sentido mais evidente neste discurso e quais são os
sentidos subliminares, aqueles que ficam ocultos ou subentendidos. A partir de
um objeto empírico, o livro didático infantil do IBGE, o que se irá buscar mostrar
é como os sentidos não estão somente nas palavras e nas imagens impressas em
suas páginas, mas na relação destes vestígios materiais com a exterioridade que os
cercam, nas condições em que estes são produzidos e que não dependem somente
das intenções dos sujeitos envolvidos.
Seis propostas para a análise dos recursos de design no livro didático infantil
95
O que o estudo tentará explicitar é como os sentidos não tem só a ver com o
que as palavras dizem e com o que as ilustrações mostram nas páginas dos livros
analisados, mas também com o que é dito e o que é mostrado em outros lugares.
Da mesma forma, eles remetem ao que não é dito e ao que não é mostrado ali,
assim como se relacionam com o que poderia ter sido dito e com a forma como
poderia ter sido mostrado. Neste ponto, será crucial o amparo das teorias da arte e
do design. Por que foi utilizado este tipo de ilustração? Por que a tipografia
empregada foi esta e não aquela? O que indica a opção por este estilo de desenho?
Cada opção implica numa determinação de sentido.
Uma vez identificado o sentido, pretende-se mostrar como o discurso
isolado pela análise é apenas uma instância de um discurso maior. Assim, o
estudo propõe-se a mostrar como o discurso do livro didático infantil tem a ver
com a ideologia veiculada pela Cultura Pós-Moderna, sendo apenas parte do
discurso vigente dessa sociedade. Assim, o produto da análise será confrontado
com o que se viu anteriormente quando se discutiu a Cultura Pós-Moderna.
No momento, objetivando-se passar ao processo de análise propriamente
dito, será feita uma apresentação das categorias encontradas ao longo dessa
dissertação até chegar às categorias de Italo Calvino que funcionarão como os
conceitos que nortearão a construção do dispositivo analítico aqui proposto.
A primeira etapa para desenvolver uma metodologia de análise do discurso
híbrido dos livros infantis do IBGE, que mistura conteúdo, imagem, texto e
suporte, foi reler os dois campos de percepção de conhecimento descritos nessa
dissertação e destacar noções que eu considerei como categorias importantes para
esse processo.
O primeiro referencial foi o dos autores que contemplaram na noção da
Cultura Pós-Moderna o caráter híbrido da produção de conhecimento (JeanFrançois Lyotard e David Harvey) e perspectivaram diálogos entre áreas como o
desenvolvimento do indivíduo (Vygotsky) e a sintaxe da linguagem visual (Donis
A. Dondis).
O segundo campo foi a análise de uma amostra da obra de Italo Calvino,
que como já foi dito anteriormente, é quase uma metalinguagem de sua reflexão e
de sua preocupação afim com a Cultura Pós-Moderna, escolhendo dois livros de
teoria – Seis Propostas para o próximo Milênio e Por que ler os clássicos – e dois
livros de ficção – As Cosmicômicas e As Cidades Invisíveis. A grande
Seis propostas para a análise dos recursos de design no livro didático infantil
96
contribuição da base teórica que se pode derivar da obra de Italo Calvino é o de
capacitar o desenvolvimento de leituras estimulantes, mesmo para um conteúdo
que é inicialmente complexo e/ou imposto. Tal fato vai ao encontro dos intuitos
da minha pesquisa, cujo objetivo é, justamente, verificar a aplicação desta base
teórica na concepção de livros que visam a comunicação de dados estatísticos e
informações geográficas para o público infantil.
Essas releituras da minha dissertação geraram uma primeira lista (Anexo
10.3.1) aonde foram listadas diversas categorias.
A segunda etapa foi mesclar as categorias encontradas ao longo da minha
dissertação com as categorias de Calvino (Anexo 10.3.2). Em seguida organizei
nova lista fazendo três associações por paralelismo (Anexo 10.3.3):
1ª – como classificação – escolha de um tipo de classificação gramatical
para as categorias listadas. Fiz uso do substantivo já que este foi a classe
gramatical escolhida por Calvino e por Donnis para suas categorias.
ex: atraente - atração, dinâmico – dinamismo
2ª – como semelhança – associação pelo sentido da palavra. Nessa etapa
procurei os sinônimos no dicionário Michaelis – Moderno Dicionário da
Língua Portuguesa on line (http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues)
como mais um apoio para fazer as associações por semelhança.
ex: rapidez / minimização / instantaneidade
3ª – por relações – palavras cujos conceitos estão próximos uns dos outros
ex: comunicação tem a ver com recepção e percepção. Isso fez com que eu
chegasse às palavras-chave que serão de total importância para a
continuação dessa pesquisa.
O meu terceiro esforço foi fazer uma associação por autores, isto é, quais
palavras eram citadas por qual autor (Anexo 10.3.4). Sendo que algumas palavras
como, por exemplo, “adaptação”, foram citadas por mais de um autor (Zilberman,
Aguiar e Calvino).
E o meu quarto esforço foi balizar os agrupamentos pela compreensão que
tive de seus sentidos teóricos (Anexo 10.3.5).
Tudo isso para ajudar a agrupar, organizar e reduzir a quantidade de
conceitos até chegar num grupo menor. Lembrando que a minha preocupação foi
Seis propostas para a análise dos recursos de design no livro didático infantil
97
sempre relacionar as categorias encontradas no texto dessa dissertação com as
categorias do Calvino, que me ajudarão a justificar o porquê das minhas escolhas.
Assim, eu faço uso do meu próprio referencial teórico para desenvolver uma
metodologia de análise de discurso.
6.3.
As categorias
O que o se pretende fazer no presente tópico é, justamente, estabelecer uma
síntese do pensamento de Calvino (2006) com os de outros teóricos investigados,
assim como das categorias por mim levantadas, de modo a definir um conceito de
leveza, rapidez, exatidão, visibilidade, multiplicidade e consistência que se
aplique à análise do material gráfico que é objeto de estudo desta pesquisa. Assim,
o que se propõe é a aplicação do conceito dessas categorias para além do material
literário, utilizando-o para a análise do discurso visual gráfico, presente nos livros
didáticos infanto-juvenis do IBGE.
6.3.1.
Leveza
Calvino (2006) apresenta a leveza como uma das seis qualidades a serem
buscadas na composição literária. Por leveza o autor entende a subtração do peso
inerente aos mais diversos objetos representados - sejam estes pessoas, coisas ou
conceitos - e que, inexoravelmente, tende a se ater às estruturas narrativas e à
própria linguagem empregadas para descrever tais objetos ou informar sobre
estes. Para que os textos se despojem do peso dos objetos, Calvino (2006) propõe
alguns caminhos, tais como a visão indireta, a dissolução da compacidade das
coisas e a mudança do ponto de observação.
Tendo isso em vista, parte-se do princípio de que o conceito de leveza é uma
das qualidades que se busca na composição de mensagens a partir de uma
linguagem visual gráfica. Conforme identifica Calvino (2006), o mundo real é
pesado, inerte e opaco. Cabe àqueles incumbidos de representá-lo, seja através de
Seis propostas para a análise dos recursos de design no livro didático infantil
98
palavras ou de imagens, a tentativa de amenização do seu peso e de sua
compacidade. Isso não porque o peso seja um defeito em si, mas sim porque a
leveza pode revelar aspectos que estejam implícitos e que muitas vezes não
podem ser percebidos diante da concretude implacável das coisas. De acordo com
Calvino (2006, p. 21), “o conhecimento do mundo é a dissolução de sua
compacidade”.
Deste modo, assuntos muito densos, que costumam descrever objetos e
acontecimentos de maneira exaustiva e que ainda por cima requerem um amplo
domínio de códigos para sua interpretação – como é o caso das teorias científicas,
por exemplo – podem ser abordados de maneira alternativa de modo a tornar
menos cansativo a apreensão do conteúdo comunicado. Tal fato não implica na
supressão da complexidade inerente a um determinado tema, mas uma suavização
na forma de transmiti-lo, de modo a garantir que o receptor possa apreendê-lo
quase que completamente e, ainda, se dê conta de aspectos que de outra forma não
estariam tão perceptíveis.
Uma das formas apontadas por Calvino (2006) para se retirar o peso das
composições literárias é a visão indireta. Para o autor, se o compositor se atém a
descrever o que percebe na observação direta dos objetos que irá representar,
inevitavelmente trará para seu texto todo o peso que estes possuem no mundo real.
Mas, se por outro lado, este lançar mão de um olhar indireto, poderá apresentar o
tema sob uma ótica mais leve que não será, necessariamente, mais rasa. É o que o
autor faz, por exemplo, em seu livro As Cosmicômicas, no qual se vale do lirismo,
do humor e da narrativa para descrever de forma mais leve algumas teorias
científicas que comumente são representadas por proposições, equações e outras
formas, muitas vezes excessivamente abstratas.
Neste sentido, a parcimônia na apresentação de um tema e a adoção de um
novo ponto de vista para descrevê-lo, também colaboram para torná-lo mais leve.
De acordo com isso, um grande volume de informação não deve ser apresentado
todo de uma vez. Este deve ser transmitido aos poucos, de forma parcimoniosa,
para não exaurir as capacidades cognitivas do leitor e para que possa ser, deste
modo, apreendido de maneira prazerosa. Da mesma forma, descrever um objeto
sob uma ótica diferente, através de uma lógica mais familiar ao receptor, também
atua em favor de uma comunicação mais leve do conteúdo. É o que Calvino
(2006) faz quando descreve a leveza ilustrando-a através do mito de Perseu e da
Seis propostas para a análise dos recursos de design no livro didático infantil
99
imagem do poeta Cavalcanti libertando-se com um salto, “levíssimo que era”
(Calvino 2006, p. 24). Ou seja, se valendo de metáforas.
Outra forma indicada por Calvino (2006) para se obter a leveza, é a
percepção de que as coisas pesadas do mundo são compostas e comandadas por
“entidades sutilíssimas”. É o caso do DNA que conforma os seres vivos, das
moléculas que compõe todas as substâncias e dos softwares que comandam os
hardwares. Com isso, o autor chama atenção para o fato de que a realidade
concreta pode ser pulverizada em partes menores e leves, que sempre se pode
falar de um todo maciço a partir de seus componentes etéreos e de suas qualidades
intrínsecas. Neste ponto, Calvino (2006) indica que todos os corpos se compõem
basicamente das mesmas coisas, e que o que os diferencia acima de tudo é o efeito
das emoções sobre a matéria. Daí infere-se a vasta relevância da carga emotiva
para tornar mais leve as representações.
É importante ressaltar que, conforme aponta Calvino (2006), a busca pela
leveza parte primordialmente da constatação e total consciência da complexidade
e do peso das coisas a serem representadas. Estatísticas e cartografia, por
exemplo, podem ser assuntos bastante áridos na medida em que requerem certo
nível de familiaridade com seus códigos específicos e por apresentarem na maior
parte das vezes um conjunto exaustivo de dados. Apenas poderá tornar estes
conteúdos mais leves - sem que se faça uma redução inconvenientemente
simplista - aquele que estiver ciente da complexidade e do peso destes assuntos.
Neste sentido, Calvino (2006) indica que especial atenção tem que ser
dedicar ao caráter plástico da linguagem. Através do uso da linguagem se pode
gerar peso ou leveza. Existem diversos recursos e jogos simbólicos dos quais um
compositor pode lançar mão para tornar os objetos representados ora levíssimos e
ora atribuir-lhes a devida espessura e concreção. Estes recursos são as
modalidades literárias, o lirismo, a narração, o drama, a crônica, o ensaio e a
dissertação, entre tantos outros. Estas modalidades não se excluem mutuamente e
podem, inclusive, serem mescladas para se produzir efeitos distintos e conferir aos
assuntos representados os mais diversos pesos.
No entanto, seja qual for o modo como a linguagem será moldada, é preciso
se ter controle entre o quanto de realidade (peso) e o quanto de fantasia (leveza)
deve ser posta numa representação. Representações fantasiosas tendem a ser mais
leves, mas não podem escapar demais à realidade sob o risco de se tornarem
Seis propostas para a análise dos recursos de design no livro didático infantil
100
frívolas e delirantes. Conforme Calvino (2006, p. 19), “as imagens de leveza (...)
não devem, em contato com a realidade presente e futura, dissolver-se como
sonhos...”. Leveza não é superficialidade, e a frivolidade é pesada, de acordo com
o autor. Calvino (2006, p. 28) atenta que a leveza “está associada à precisão e à
determinação, nunca ao que é vago ou aleatório”. Sendo assim, o autor se
posiciona a favor da leveza do pássaro em oposição a da pluma, em concordância
com Paul Valéry.
Logo, de maneira geral, a postura que Calvino (2006) sugere aos
compositores para que impregnem seus textos de leveza é a de um constante
deslocamento entre sensibilidade e intelecto. Os astros são pesados, mas flutuam
no espaço, mediante o contrabalanceamento de suas massas corpóreas.
Analogamente, um escritor, um designer gráfico ou um artista plástico pode falar
de ciências, de estatísticas, de cartografia, de vida e de morte - assim como de
quaisquer outros assuntos - equilibrando o peso destes assuntos com o lirismo e
humor. Ciência e poesia não são necessariamente excludentes.
Tendo em vista os argumentos previamente apresentados, pode-se especular
que talvez o grande mérito da leveza seja o impacto de estupefação que esta
provoca nos leitores. Este impacto se dá justamente porque é comum a todos a
experiência do peso que as coisas têm. Quando numa representação literária,
cênica ou visual os objetos representados aparecem destituídos do seu peso
habitual, o efeito é, corriqueiramente, o de deslumbramento. Isso porque quando
se suprime o peso das coisas, seus efeitos e seus significados mais tênues ficam
surpreendentemente evidentes, já que a leveza produzida pela linguagem contrasta
sobremaneira com a compacidade habitual mediante a experiência sensível que se
tem dos objetos.
Com o que foi discutido até aqui, buscou-se estimar de maneira sintética o
que é a leveza para Calvino (2006), de forma a ampliar o uso de tal conceito para
além dos fins literários. Agora é preciso confrontar o conceito de leveza retirado
da obra de Calvino (2006) com outras idéias advindas dos demais autores cujas
contribuições intelectuais compõem o referencial teórico desta pesquisa (Lyotard,
Harvey, Vygotsky, Dondis; Zilberman, Coelho, Yunes, Cairo).
Isso posto, estabeleceu-se para fins exclusivos de construção do dispositivo
analítico da presente pesquisa que o conceito de leveza encampa uma série de
subcategorias mencionadas ao longo das obras dos autores supracitados. Estas
Seis propostas para a análise dos recursos de design no livro didático infantil
101
subcategorias são: prazer (harmonia, satisfação), diversão (humor, ludismo),
atração (interesse, estímulo), unidade (uniformidade, simetria, regularidade,
estabilidade, seqüencialidade) e lirismo (poesia). Justifica-se tal agrupamento pelo
entendimento obtido mediante os argumentos expostos por Calvino (2006) de que
a leveza está vinculada ao prazer da leitura, ao divertimento usufruído no ato de
ler, ao impulso (estímulo) que leva uma pessoa a ler um determinado conteúdo, à
unidade na distribuição dos elementos e ao lirismo para descrever de forma mais
leve conteúdos complexos.
Sendo assim, o material objeto de estudo a ser analisado subseqüentemente
nesta pesquisa será considerado leve mediante o quão bem sucedido ele foi em
tornar assuntos potencialmente pesados, cansativos e pouco convidativos em algo
agradável de se ler, prazeroso, divertido e atrativo. Isso tudo, no entanto, sem
tornar tais assuntos superficiais ou mesmo frívolos, visto que a frivolidade é
inevitavelmente pesada.
6.3.2.
Rapidez
A segunda qualidade que Calvino (2006) sugere às composições literárias
do novo milênio é a da rapidez. O conceito de rapidez defendido pelo autor pode
ser resumido como a agilidade de expressão conferida pela sucessão encadeada
dos acontecimentos e pelo emprego estrito dos elementos necessários para o
entendimento dos fatos narrados ou dos objetos descritos. Segundo Calvino
(2006), eventos cuja interligação é prontamente perceptível, e que são
apresentados apenas pelos elementos minimamente necessários atribuem aos
textos vivacidade e energia, em decorrência da sensação de movimento
ininterrupto, que provocam.
Como já foi colocado anteriormente, o que se pretende aqui é um
entendimento dos conceitos propostos por Calvino (2006) de forma que estes
possam ser extrapolados para os discursos visuais gráficos. Logo, no presente
momento o que se almeja é o estabelecimento do conceito de rapidez que servirá
para o exame do objeto de estudo desta pesquisa. Isso posto, inicia-se a seguir,
Seis propostas para a análise dos recursos de design no livro didático infantil
102
uma discussão dos caminhos sugeridos pelo autor para se conferir rapidez às
construções literárias.
O primeiro deles é a inserção de um elemento que exercerá uma função
narrativa de elo entre personagens e/ou entre eventos. É o caso, apontado por
Calvino (2006, p. 45), do anel inserido na narração - feita pelo escritor francês
Barbey d´Aurevilly – da lenda do imperador Carlos Magno. Este elemento - o
anel - funciona como o liame entre os fatos, objetos e pessoas apresentados na
lenda e opera assim a importante função de tornar nítidos os encadeamentos, a
continuidade da história e as relações de causa e efeito presentes na narrativa.
Pode-se deduzir pelas colocações de Calvino (2006) que a percepção clara da rede
de correlações entre os elementos atuantes na narrativa, da sucessão de eventos e
da lógica que os rege são fatores que colaboram para conferir rapidez aos textos.
Um segundo caminho apontado por Calvino (2006) é o da economia da
narrativa. Segundo o autor, um escritor é bem sucedido, tanto em prosa quanto em
verso, quando encontra as poucas palavras que são as exatas para a expressão de
seu pensamento. Segundo o autor, quando um compositor encontra as palavras
insubstituíveis que concatenam de forma eficaz suas qualidades acústicas e seus
significados, este está capacitado a construir textos e sentenças que são densos,
concisos e, acima de tudo, únicos e memoráveis. Logo, uma das formas indicadas
por Calvino (2006) para se alcançar a rapidez é justamente a redução dos textos
aos mínimos elementos necessários, devendo o escritor optar por aqueles que
transportem o conteúdo em maior densidade. Assim, os textos serão rápidos, de
leitura breve, mas mesmo assim ricos no que concerne ao conteúdo comunicado.
Uma terceira forma recomendada por Calvino (2006) de conceder rapidez
aos textos é o emprego de um ritmo ágil e vivaz. Sendo assim, a para se obter
rapidez, é preciso um hábil manuseio do ritmo da composição literária. O ritmo,
na poesia e na canção, é dado pelas rimas, pela repetição de sons, pela métrica do
fraseado. No texto em prosa, o ritmo é estabelecido pelos “acontecimentos que
rimam entre si” Calvino (2006, p. 49), ou seja, pelas situações que se repetem.
Conforme o autor, estas repetições criam expectativas no leitor, que mantêm
aceso o interesse deste pela narrativa. Para se obter uma composição rápida, o
escritor deve dispor as rimas (seja de sons, seja de eventos) ao longo do texto com
maior freqüência, renovando o interesse do espectador antes que este se arrefeça.
Seis propostas para a análise dos recursos de design no livro didático infantil
103
Os caminhos para obtenção da rapidez acima descritos são formas
discernidas por Calvino (2006) para se manipular o tempo narrativo a favor de um
texto mais dinâmico e vigoroso. Pelo que foi discutido até o momento, pode-se
dizer, de maneira resumida, que uma composição onde há predomínio da rapidez
é aquela que manifesta claramente a sucessão encadeada dos eventos, que
emprega apenas os elementos detentores de uma função necessária dentro do
enredo e cujo andamento da narrativa é ágil além de bem demarcado. É possível
se concluir a partir disso que a finalidade da rapidez apontada por Calvino (2006)
é a de gerar um estilo narrativo que apresente num ritmo agradável uma sucessão
contínua e abundante de idéias.
Calvino (2006) deixa claro em sua obra a opção que faz pela rapidez como
um dos motes a serem seguidos pelos escritores, no novo milênio. No entanto, ele
ressalta que a rapidez não anula o valor dos outros tempos narrativos, como o
tempo retardado, o tempo cíclico e o tempo imóvel. Cabe aos escritores a escolha
da forma de manipular o tempo em seus escritos para que este trabalhe em função
da história a ser narrada. De acordo com as necessidades específicas de uma
narrativa o tempo pode ser contraído para tornar o texto mais veloz com os
caminhos anteriormente propostos ou pode ser dilatado através do uso mais
abundante de iterações ou, então de digressões ou divagações, que são estratégias
para multiplicar o tempo no interior de uma obra e deste modo protelar a
conclusão. Outra forma de prolongar o tempo narrativo, apontada por Calvino
(2006) é a inserção de novas narrativas dentro da narrativa principal.
Sendo assim, a rapidez ou o seu oposto a lentidão, assim como o tempo
imutável são opções estilísticas do escritor para manipular o tempo narrativo e
deste modo tentar capturar a velocidade física e transcrevê-la em forma de
velocidade mental. É nesse sentido que o autor se apropria da imagem da narrativa
como um cavalo, ou seja, como um meio de transporte que alterna momentos
entre o descanso, o trote e o galope. A escrita não permite que se vivencie
fisicamente a velocidade de um carro, trem ou cavalo, mas permite que idéias
trotem ou galopem na mente do leitor. É por isso que o autor ressalta, sobretudo, a
necessidade de se manter o ritmo, seja ele lento ou veloz, pois nas histórias em
que o narrador viola o bom andamento da ação, este provoca um efeito
desagradável sobre o leitor que comumente se desinteressa pela leitura ou se cansa
desta, quando isto acontece.
Seis propostas para a análise dos recursos de design no livro didático infantil
104
De qualquer modo, Calvino (2006) se posiciona mais a favor da rapidez do
que da divagação. Não por considerar a expressão rápida de idéias superior a uma
expressão ponderada destas, mas por acreditar que as construções que atendem à
velocidade mental de concatenação de conceitos comunicam algo de especial,
além de serem naturalmente prazerosas aos leitores que apreciam ser estimulados
por uma sucessão abundante de imagens e sensações mentais. O autor manifesta
sua predileção pelo discurso veloz, posto que este é imaginativo, “mais inclinado
a concluir do que a demonstrar e a levar cada idéia às últimas conseqüências”
Calvino (2006, p. 57). Ele sugere que a velocidade seja uma forma de se ir mais
adiante, rumo ao infinito.
Por fim, Calvino (2006) coloca que os efeitos da velocidade são melhores
obtidos em modalidades literárias mais curtas como o conto, por exemplo. Para o
autor Calvino (2006, p. 63) o ideal de rapidez é a obtenção de uma concisão tal
que permita que o conteúdo de uma cosmologia, saga ou epopéia caiba “nas
dimensões de um epigrama”. Não é à toa que o autor deixa evidente seu apreço
pelas histórias de uma frase só, aquelas contadas em apenas uma linha. Com isso,
Calvino (2006) deixa claro que para ele rapidez é o uso preciso e sóbrio da
linguagem que não cria obstáculos ao pensamento e ao mesmo tempo é inventivo
no estabelecimento de ritmos vivazes que tornam o ato de ler extremamente
agradável. É algo que só pode ser obtido quando se mira a agilidade de HermesMercúrio e a habilidade minuciosa de Hefesto-Vulcano, conforme imagem
evocada pelo autor.
Confrontando a concepção de rapidez tecida por Calvino (2006) com alguns
conceitos afins presentes na obra dos outros autores investigados, verifica-se que a
rapidez tem a ver com o dinamismo (agilidade, velocidade, transitoriedade,
instantaneidade), com a compactação (economia, condensação) e com a
contemporaneidade (atualidade, renovação). Assim, determinou-se que dentro do
critério de rapidez erigido para fins desta pesquisa, as subcategorias são
dinamismo, compactação e contemporaneidade. Com isso o objeto de estudo será
analisado tendo em vista:
1) o quão dinâmico ele é na apresentação do conteúdo: se ele tem um ritmo
bem demarcado, ágil e que deixa evidente as correlações entre os
elementos representados além, é claro, de tornar a leitura agradável;
Seis propostas para a análise dos recursos de design no livro didático infantil
105
2) o quão compacto ou econômico ele é no transporte do conteúdo: ou seja,
se todos os elementos empregados têm uma função dentro do enredo, e se
ele permite uma concatenação abundante de idéias com o mínimo de
objetos representados, o que indica concisão e um uso preciso da
linguagem visual gráfica e
3) se ele espelha a predileção contemporânea pela velocidade, que se tornou
uma experiência e uma necessidade fundamental para a vida humana
dentro do contexto da atualidade.
6.3.3.
Exatidão
A terceira qualidade eleita por Calvino (2006) para ser utilizada nas
composições literárias do novo milênio é a exatidão. Nas próprias palavras do
autor (Calvino, p. 71-72), a exatidão é:
1) “um projeto de obra bem definido e calculado”;
2) “a evocação de imagens visuais nítidas, incisivas, memoráveis” e
3) “uma linguagem que seja a mais precisa como léxico e em sua
capacidade de traduzir as nuanças do pensamento”.
Este conceito de exatidão proposto pelo autor é discutido e ampliado neste
tópico tendo em vista sua aplicação posterior na análise do objeto de estudo desta
pesquisa.
Primeiramente é preciso se levar em conta que a defesa que Italo Calvino
(2006) faz da exatidão é acima de tudo um posicionamento contra a perda de força
cognoscitiva que o autor identifica na expressão literária contemporânea. Para
Calvino (2006), o uso automático da palavra nos dias de hoje – como o emprego
corriqueiro de fórmulas genéricas e pré-definidas de composição – leva a um
embotamento geral da linguagem. Este embotamento se caracteriza pela perda de
forma, pelas composições confusas, fortuitas e sem nitidez. O resultado é o
fracasso das obras em se impor à atenção, em deixar traços na memória, já que se
tornaram informes, redundantes e empobrecidas de significados.
Seis propostas para a análise dos recursos de design no livro didático infantil
106
Tendo isso em vista, pode-se inferir que a exatidão para Calvino (2006) é acima de tudo - o uso cuidadoso da linguagem, ou seja, um meio de se resguardar
a faculdade, que na opinião do autor, é a mais característica da humanidade: o uso
da palavra. Logo, a proposta de exatidão colocada pelo autor é uma estratégia –
baseada no planejamento e no esmero – para se combater a inconsistência crônica
que o autor identifica no mundo contemporâneo e que, segundo o próprio, tende a
impregnar não somente os textos como também as imagens materiais.
Em termos práticos, a exatidão para Calvino (2006) é uma busca por
aguçamento e nitidez no uso da linguagem. Tal fato vai de encontro à predileção
manifesta do autor pelas formas geométricas, pela simetria, pelas proporções
numéricas, pelos objetos perfeitamente mensuráveis e pela idéia de limite. Assim,
do mesmo modo que quatro segmentos de reta conformam um quadrado
perfeitamente nítido e discernível, Calvino (2006) propõe uma busca exaustiva e
esmerada pelas palavras que darão a forma mais aguçada às idéias que se quer
exprimir.
Para tanto, o primeiro passo proposto por Calvino (2006) é a delimitação
apurada do assunto sobre o qual se quer falar. Um tema pode ser explorado de
inúmeras maneiras e pode, igualmente, levar a uma série de rodeios. Por esta
razão é preciso que se defina com precisão onde começa e termina uma discussão
e dar limites claros ao tema, para que não se construa um texto disperso ou
informe, que se torne embotado pelo infinitamente vasto. E embora a minúcia e o
detalhe sejam fatores que colaborem para a exatidão - uma vez que combatem o
que é vago – não se pode exagerar no nível de detalhamento, pois isto pode levar
a outro tipo de embotamento: o do infinitamente mínimo.
Outro caminho proposto por Calvino (2006) para se dar forma exata às
idéias é a perseguição incansável pelas palavras que se adéquam minuciosamente
aos seus equivalentes não-verbais, ou seja, aos objetos reais ou às entidades
abstratas, dos quais são representantes. Este é, conforme alerta o autor, um
trabalho exaustivo, mas que se encaixa a perfeição no ato de escrever. Isto porque
a escrita se notabiliza por conferir ao escritor a faculdade de poder sempre
emendar um texto em busca das construções verbais que melhor comunicam suas
idéias. Com isso, tem-se que a exatidão é como uma batalha do compositor com a
linguagem para alcançar a forma que confira a expressão mais rica, sutil e precisa
para os seus pensamentos, sua poesia ou sua narrativa.
Seis propostas para a análise dos recursos de design no livro didático infantil
107
Esta batalha é muitas vezes inglória já que a exatidão nunca pode ser
completamente satisfeita em termos absolutos. Tal fato se deve às lacunas
inerentes a todas as linguagens que invariavelmente comunicam sempre algo a
menos sobre os fenômenos experimentáveis. De qualquer modo, quando um
escritor consegue obter as palavras que expressam com a maior aproximação
possível o aspecto sensível das coisas, sua composição se torna incisiva, suas
idéias ficam nítidas e ricas em imagens, compondo uma obra cujo conjunto é
quase sempre memorável. Não é à toa que para Calvino (2006, p. 90-91):
“o justo emprego da linguagem é (...) aquele que permite o aproximar-se das coisas
(presentes ou ausentes) com discrição, atenção e cautela, respeitando o que as
coisas (presentes ou ausentes) comunicam sem o recurso das palavras”.
Sendo assim, a exatidão para o autor corresponde ao uso cirúrgico da
linguagem, onde cada palavra de um texto é escolhida com zelo extremado para
que os significados destas informem com o máximo de precisão e vençam da
maneira mais satisfatória possível a defasagem existente entre as palavras e os
objetos que estas substituem. A busca pela exatidão é muitas vezes um
empreendimento que requer grande esforço para se estabelecer relações precisas
entre a linguagem e o mundo, uma perseguição nem sempre gratificante pelo
termo mínimo, indivisível, que represente de maneira completa e eloqüente uma
entidade real. Nas palavras de Calvino (2006, p. 88), um “esforço de adequação
minuciosa do escrito com o não-escrito”.
Outro aspecto destacado por ele acerca da exatidão é o da minúcia com que
se pode contar uma história. Neste ponto o autor cita do caso de Leonardo Da
Vinci que na ânsia de expressar seus pensamentos da forma mais meticulosa que
estava ao seu alcance, muitas vezes se valeu de um discurso que conjugava
palavras com desenhos. Uma extrapolação que se pode fazer deste fato histórico e que vai ao encontro dos assuntos abordados por esta pesquisa - é a de que muitas
vezes a expressão mais exata e eloqüente de um conteúdo pode ser alcançada por
intermédio da congregação de linguagens diferentes, mas não excludentes, como a
verbal e a gráfica, por exemplo.
Fora isso, vale ressaltar ainda que, da mesma forma que nas outras
qualidades anteriormente discutidas – a leveza e a rapidez –, Calvino (2006) não
desconsidera o valor oposto à exatidão: a indeterminação. Neste sentido o autor
cita o caso do poeta Giacomo Leopardi para quem a linguagem era “tanto mais
Seis propostas para a análise dos recursos de design no livro didático infantil
108
poética quando mais vaga e imprecisa” (ibidem, p. 73). No entanto, Calvino
(2006) verifica que no caso específico de Leopardi a força poética advinda da
indeterminação era obtida através de imagens minuciosamente detalhadas, o que,
ao invés de contradizer, acabou por sustentar ainda mais sua argumentação a favor
da exatidão.
Confrontando-se o conceito de exatidão construído por Italo Calvino com
algumas categorias levantadas por outro dos teóricos cujas obras compõem o
referencial teórico desta pesquisa, verificou-se que este encampava as idéias de
clareza (precisão, planura, objetividade), adequação (apropriação, adaptação,
praticidade), lógica (racionalidade), organização (documentação, articulação) e
autenticidade (legitimação, veracidade, comprovação). De fato, o autor deixa
claro em seu texto que a exatidão tem a ver com o planejamento e a estruturação
da obra literária, além da escolha minuciosa de cada palavra que irá compô-la.
Isso posto, no que concerne à exatidão o objeto de estudo desta pesquisa
será avaliado primeiramente em termos de sua estrutura, ou seja, da forma como
foi planejada a distribuição do conteúdo ao longo da obra analisada, se este
planejamento colaborou para a inteligibilidade das informações veiculadas ou se,
pelo contrário, embotou-as. Posteriormente será feito um exame minucioso dos
termos escolhidos para a composição do discurso visual, para verificar se estes
são adequados, se não induzem à dubiedade, e o quanto se aproximam da
expressão mais completa e eloqüente dos objetos que estão representando.
6.3.4.
Visibilidade
A quarta qualidade que Calvino (2006) gostaria que fosse considerada nos
escritos do novo milênio é a visibilidade. Para o autor a visibilidade é o potencial
de gerar imagens que um texto possui, de forma a tornar as situações narradas –
ou mesmo as idéias – visíveis na mente do leitor. Sendo assim, de acordo com o
pensamento de Calvino (2006), o princípio de visibilidade tem a ver diretamente
com o que se designa por imaginação: a faculdade de conceber e criar imagens, de
fantasiar.
Seis propostas para a análise dos recursos de design no livro didático infantil
109
Neste sentido, a grande vantagem da visibilidade reside no fato de capacitar
o receptor da mensagem a testemunhar os fatos e as coisas narradas como se estas
se manifestassem diante de seus olhos. Isso porque se um texto catalisa a
formação de imagens mentais no leitor, a experiência da leitura se aproxima ainda
mais da experiência sensível, o que, conseqüentemente, torna a narrativa mais
impactante e memorável. Logo, o posicionamento de Calvino (2006) é a favor dos
escritos ricos em imagens que despertem no leitor visões interiores ou
visualizações mentais.
A principal razão para Calvino (2006) defender a visibilidade é o receio do
autor de que a humanidade perca uma de suas faculdades fundamentais: “a
capacidade de pôr em foco visões de olhos fechados, de fazer brotar cores e
formas de um alinhamento de caracteres alfabéticos negros sobre uma página
branca, de pensar por imagens” (Calvino 2006, p. 108). Tal temor se origina do
bombardeamento de imagens pré-fabricadas – veiculadas pela televisão, cinema,
internet, imprensa etc. - ao qual estão sujeitas as pessoas ultimamente, o que lhes
dificulta a distinção entre as visões interiores (mentais) das exteriores (materiais).
Com tantas imagens disponíveis, as pessoas vão perdendo, segundo o autor, a
aptidão para vislumbrar por intermédio de suas próprias imagens, as ações
sugeridas na expressão verbal.
Indo adiante neste raciocínio, percebe-se que objetivo maior de Calvino
(2006) com a visibilidade é o de preservar a capacidade do leitor de imaginar,
cabendo ao escritor proporcionar – através da estruturação do texto e da escolha
das palavras - a passagem do verbal ao visual. Mesmo que o escritor tenha a
intenção de gerar um determinado entendimento, ele deve procurar não restringir
o campo disponível para que o leitor aplique sua fantasia particular e apreenda os
significados de um enunciado a partir de suas próprias imagens individuais. É
possível se deduzir – através do pensamento de Calvino (2006) – que quando se
concede ao receptor a liberdade de imaginar, conseqüentemente se lhe
disponibiliza o acesso ao conhecimento dos significados profundos de uma
expressão literária.
Esta constatação pode ser explicada através dos dois processos imaginativos
que o autor (Calvino 2006, p. 99) distingue: “o que parte da palavra para chegar à
imagem visiva e o que parte da imagem visiva para chegar à expressão verbal”.
Na leitura o que normalmente ocorre é a decodificação das palavras em imagens
Seis propostas para a análise dos recursos de design no livro didático infantil
110
mentais próprias do repertório do leitor. No entanto, se a expressão verbal se
originou de uma imagem que o escritor transcreveu em palavras, tem-se que o
processo se inicia com uma imagem e termina em outra imagem. Sendo assim,
pode-se concluir que os significados profundos de uma imagem são mais bem
desvelados por outras imagens.
Não é à toa que Calvino ao tentar identificar o que vem primeiro – a
imagem visual ou a expressão verbal – percebe a prioridade da imagem sobre a
palavra. Ou seja, para o autor os escritores usualmente partem de uma imagem
visual e a partir desta constroem suas composições literárias. Ele mesmo relata
que seu processo de escrita se baseia normalmente neste procedimento e dá o
exemplo de um conto seu que se originou da imagem de “um homem cortado em
duas metades que continuam a viver independentemente” (Calvino 2006, p. 104).
Tendo isso em vista, o processo imaginativo que parte da imagem e chega à
expressão verbal pode ser resumido da seguinte maneira: o escritor imagina uma
cena e se põe a traduzi-la em palavras. Durante o trabalho de elaboração do texto,
o escritor estipula um sentido peculiar que geralmente mescla as próprias
potencialidades de significado da imagem à sua intenção autoral, que é, por sua
vez, o encaminhamento que o escritor quer dar à narrativa. Conforme Calvino
(2006), neste momento de tradução da imagem em palavras – de busca de um
equivalente verbal da imagem visual –, a verbalização passa a ser prioritária e o
que conta mais é a impostação estilística, de forma que a escrita “irá guiar a
narrativa na direção em que a expressão verbal flui com mais felicidade, não
restando à imaginação visual senão seguir atrás” (Calvino 2006, p. 105).
Apesar de identificar a prioridade da imagem visual sobre a palavra escrita,
Italo Calvino demonstra que o discurso por imagens também brota da expressão
verbal, no processo imaginativo que vai das palavras às imagens. É o que ocorre,
por exemplo, em seu livro, As Cosmicômicas onde o autor extrai uma série de
imagens de enunciados provenientes do discurso científico. Neste caso, as
imagens são determinadas por um texto preexistente. Um exemplo é a
cosmicômica “A distância da Lua” onde o autor se vale de imagens oníricas que
remetem de maneira apropriada ao tema abordado (a imagem da Lua está
associada à idéia de noite, de sonho, de exoterismo). De acordo com o autor
(Calvino 2006, p. 105), “mesmo quando lemos o livro científico mais técnico ou o
Seis propostas para a análise dos recursos de design no livro didático infantil
111
mais abstrato dos livros de filosofia, podemos encontrar uma frase que
inesperadamente serve de estímulo à fantasia figurativa”.
Esta questão do discurso imagético que tem sua gênese no discurso
científico é de interesse central para a presente pesquisa. O objeto de estudo é
composto por livros que trazem conteúdo científico para o qual houve a
preocupação de se criar uma visualidade. Neste caso específico não se tratam de
imagens mentais produzidas no leitor a partir da sugestão das palavras e sim de
imagens materiais: ilustrações, mapas e gráficos. De qualquer modo, estas foram
reconstruídas materialmente tendo como referência imagens mentais suscitadas
(no intelecto dos designers e ilustradores envolvidos) pelo texto científico
utilizado.
Tratadas as questões dos processos imaginativos, resta saber agora de onde
provêm as imagens que suscitam palavras ou que são suscitadas por estas. Como
coloca Calvino, de maneira geral os escritores obtêm imagens da observação
direta do mundo real, do processamento cognitivo da experiência sensível
(essencial para a visualização e verbalização do pensamento), de seu
subconsciente, do inconsciente coletivo, de sensações subjetivas, epifanias e de
outros processos que fogem a seu controle individual e exercem sobre estes um
efeito de transcendência. Outra fonte de imagens é a própria cultura, que
corresponde, nas palavras do autor, ao “imaginário indireto”. De uma forma ou de
outra, quando o escritor é acometido por uma imagem ele pode sentir o impulso
de transcrevê-la em palavras. Extrapolando-se este raciocínio para o caso dos
designers e dos ilustradores, uma imagem mental pode ser materializada em
imagem material. Já, do ponto de vista do leitor, uma imagem pode ser o
significado das palavras e uma imagem material pode suscitar outras imagens, só
que mentais.
Seja qual for a origem da imagem que acomete um escritor, ela sempre
encerra uma idéia ou conjunto de significados que este tentará transcrever. Este
processo de transcrição da imagem na maior parte das vezes não é direto e requer
do escritor um trabalho de burilamento, ou seja, de perseguição da melhor forma
de traduzir uma imagem em palavras, de obtenção da versão que mais se
aproxima da idéia que se manifestou originalmente numa imagem mental. Sendo
assim, a versão final do texto irá sempre requerer uma série de versões iniciais e
intermediárias. Processo similar ocorre com o designer, o ilustrador e toda classe
Seis propostas para a análise dos recursos de design no livro didático infantil
112
de artistas gráficos que sempre partem de uma idéia (imagem mental) para a qual
geram esboços e estudos antes de materializá-la de maneira definitiva em formas e
cores sobre alguma espécie de superfície.
Outro ponto sobre o qual Calvino se debruça em relação à visibilidade é a
própria idéia de imaginação. Baseando-se no pensamento de Jean Staronbinski, o
autor distingue dois conceitos de imaginação: um que a relaciona com a obtenção
de uma verdade universal exprimível apenas por imagens (de natureza metafísica)
e outro que a vê como instrumento do saber, que coexiste e coadjuva com o
conhecimento científico. A princípio Calvino simpatiza mais com a idéia de
imaginação como instrumento do saber, de um processo que unifica “a geração
espontânea de imagens e a intencionalidade do pensamento discursivo” (Calvino
2006, p. 106). Por fim, no entanto, o autor se posiciona a favor da idéia de
imaginação como um meio de se alcançar “um conhecimento extra-individual,
extraobjetivo”.
No entanto, para Calvino o conceito de imaginação que mais o satisfaz é de
uma terceira natureza: o da imaginação como “repertório do potencial, do
hipotético, de tudo quanto não é, nem foi e talvez não seja, mas que poderia ter
sido” (Calvino 2006, p. 106). Com isso o autor quer dizer que toda forma de
conhecimento deve alcançar um patamar de multiplicidade de imagens possíveis e
impossíveis, onde o escritor ou o cientista por meio de associações entre estas
imagens é capaz de eleger as combinações que melhor se adéqüem a um fim, ou,
então, as que são “as mais interessantes, agradáveis e divertidas” (Calvino 2006,
p. 107). Segundo este raciocínio, a imaginação funciona como um mecanismo que
permite a consideração de inúmeras opções, das mais fantasiosas às mais realistas
de modo que se possa tomar uma decisão criteriosa de escolha da melhor
alternativa para o contexto pretendido. Essa escolha final seria a cristalização das
imagens numa forma nítida, impregnante, auto-suficiente e que represente com
exatidão e fidelidade os conhecimentos que se pretende comunicar.
No entanto o autor alerta para dois problemas. O primeiro é que os
caminhos da imaginação podem levar a um fantasiar confuso e fútil, que ao invés
de colaborar para o aguçamento das representações pode acabar por embotá-las. O
segundo é a inapreensibilidade da imaginação visiva, ou seja, a impossibilidade de
se criar com palavras um equivalente completamente fiel a uma dada imagem. No
processo de transcrição da imagem algo sempre se perde, ou, então, o efeito que
Seis propostas para a análise dos recursos de design no livro didático infantil
113
se obtém é diverso daquele intencionado originalmente. Isso porque, conforme
aponta Calvino, a imaginação e a própria realidade são mundos de potencialidades
que obra literária alguma conseguirá apreender na sua totalidade. O máximo que
se pode conseguir é uma aproximação obtida pela correlação entre o mundo real e
o da fantasia, que escapam ao controle do escritor, e o mundo das palavras (ou das
tintas sobre a tela), que é governado pela intenção deste. De qualquer modo, no
fim das contas, o fato de maior importância é que a realidade ou a fantasia só se
conformam por meio da escrita ou da representação visual, ou seja, obedecendo
aos desígnios autorais do compositor literário ou plástico.
Discutido o conceito de visibilidade de Italo Calvino agora é preciso
confrontá-lo com conceitos similares dos outros autores que compõem o
referencial teórico da presente pesquisa. Pelos assuntos expostos neste tópico e
estabelecendo-se uma correlação com as idéias dos outros autores, pode-se dizer
que a visibilidade encampa as noções de comunicação (informação, recepção,
compreensão), imaginação (percepção visual, simulação, conformação), fantasia
(potencialidade, experimentação, fabulação) e narrativa (formação, metodologia,
mensagem, teoria). Logo, a visibilidade é, resumidamente, o estabelecimento do
contato entre escritor e leitor, é o dar forma às idéias e a inventividade das
imagens que tornam as idéias visíveis.
Isso posto, o objeto de estudo da presente pesquisa será julgado em relação
à visibilidade pelos seguintes critérios:
1) no quanto o conjunto imagem/texto colabora ou não para tornar o
conteúdo e as idéias veiculadas mais visíveis, nítidas, memoráveis e
próximas da experiência sensível;
2) no quanto o conjunto imagem/texto representa com exatidão, fidelidade e
inventividade o mundo real e/ou imaginário;
3) no quanto a visualidade do objeto desperta a imaginação do leitor ou no
quanto a restringe;
4) se o objeto consegue ou não estabelecer um canal de comunicação eficaz
entre o emissor e o receptor;
5) no quanto a visualidade do objeto colabora ou não para revelar
significados profundos do conteúdo veiculado e
Seis propostas para a análise dos recursos de design no livro didático infantil
114
6) no quanto o conjunto imagem/texto auxilia ou não o leitor a obter os
conteúdos veiculados.
6.3.5.
Multiplicidade
A quinta qualidade que Italo Calvino deseja difundir entre os escritores do
próximo milênio é a multiplicidade. A multiplicidade na literatura, segundo o
pensamento do autor, pode ser definida como a concatenação de linguagens,
narrativas, idéias e estilos num mesmo texto para que se possa realizar múltiplas
leituras através deste, em diversos níveis. Com a multiplicidade, Calvino deseja
que as obras literárias deixem transparecer a noção de que o conhecimento do
mundo se dá primordialmente pela compreensão da rede formada pelas diversas
relações – espaciais, temporais, causais, hierárquicas etc. - existentes entre os
elementos que o compõe.
Conforme o autor, a questão central da multiplicidade é a visão da obra
literária contemporânea como enciclopédia, como método de conhecimento da
realidade que contribua de algum modo para a compreensão do mundo. No
entanto, para o autor, a obra literária deve funcionar em contradição com o
próprio
termo
“enciclopédia”
-
que
etimologicamente
prescreve
o
enclausuramento dos saberes num círculo – e ser aberta, de modo a não encerrar
os assuntos e, sim, deixar que estes desabrochem para interpretações mais
consonantes com a rede que conecta os fatos, os seres, as coisas e os fenômenos.
Neste ponto o pensamento de Calvino (2006, p. 121) vai ao encontro de
Carlo Emilio Gadda, e ambos dividem a visão de que o mundo é um sistema
composto por sistemas, onde “cada sistema particular condiciona os demais e é
condicionado por eles”. Logo, para os dois autores, os acontecimentos, os
fenômenos e as coisas não são mera conseqüência ou efeito de um motivo único,
mas de várias causalidades convergentes. Todos estes são, assim, o ponto de
encontro de várias causas. Daí a noção, proposta por Gadda, do mundo como um
“rolo” ou “embrulhada”, onde todos os fatos e objetos estão inextricavelmente
emaranhados. É por esta razão que Calvino considera inconvenientemente
generalistas as linhas narrativas que encerram os assuntos num só caminho e
Seis propostas para a análise dos recursos de design no livro didático infantil
115
prefere ficar com aquelas que dão conta da gama de causalidades concorrentes
para a explicação ou descrição de um acontecimento. No seu entendimento, a obra
literária tem que estar aberta para a multiplicidade e permitir a visualização da tal
rede que conecta os elementos do mundo.
Com a multiplicidade Calvino faz, na verdade, uma apologia da obra
literária como grande rede. Seu objetivo é incentivar a criação de textos nos quais
os elementos possam ser remexidos ou reordenados de acordo com a vontade do
leitor, permitindo vários níveis de leitura. Obedecendo esta estrutura, os fatos
narrados podem ser compreendidos de uma maneira mais complexa e condizente
com a natureza do mundo, ou seja, como fruto de uma combinatória de elementos,
escapando assim da limitada e até mesmo forçada interpretação linear, outrora
preponderante. Além disso, na visão do autor, somente assim é possível se realizar
obras fora da individualidade do escritor, que tendam para a manifestação de uma
verdade não comprometida com a parcialidade de seu ponto de vista e que podem,
inclusive, dar voz a coisas que não podem usar a palavra, tais como, por exemplo,
conceitos abstratos, seres irracionais e seres inanimados.
Para se alcançar a multiplicidade dentro dos textos, Calvino propõe algumas
estratégias. A primeira delas - baseada no estilo de Gadda – é a superposição de
linguagens. O que o autor sugere com isso é que o escritor se valha de diferentes
meios para exprimir sensações ou idéias, articulando, por exemplo, linguagem
poética com linguagem científica, alternando vocabulários e construções
sintáticas. Ou seja, se lançar à exploração do potencial semântico das palavras e à
experimentação em cima de suas regras de combinação para, assim, criar camadas
de expressão verbal que possam sobrepor-se sem que se tornem indiscerníveis.
Deste modo, o leitor estará apto a fazer leituras por níveis, mas sem se perder ou
se confundir.
Uma segunda estratégia é estabelecer cada elemento do texto como um nó
da rede, como um ponto de encontro de diversos outros elementos ou como uma
bifurcação num dos caminhos de leitura. Neste sentido é preciso que o escritor
tenha em mente as relações que um determinado elemento mantém com os demais
para que saiba como aproveitá-las na construção da narrativa. Ou seja, cabe ao
escritor enxergar a melhor forma de organizar os elementos dentro de sua trama,
para que possam ser destacados os caminhos mais relevantes para a compreensão
da narrativa e para que não se desperdice a potencialidade de outros rumos que
Seis propostas para a análise dos recursos de design no livro didático infantil
116
podem carregar significados inestimáveis para um entendimento mais completo
dos acontecimentos narrados.
Outra estratégia, particularmente empregada por Calvino (2006), é a de
multiplicar os caminhos narrativos a partir dos múltiplos significados possíveis
que podem ser derivados dos elementos figurativos incluídos numa história.
Como visto no tópico anterior sobre a visibilidade, uma imagem aponta para
diversos significados ou pode ser desdobrada em outras imagens – análogas,
simétricas ou contraditórias - e tal fato pode ser aproveitado para se imiscuir
linhas narrativas variadas. Se valendo dessa estratégia, Italo Calvino (2006, p.
135) aplicou em sua própria obra o princípio que intitulou de “amostragem da
multiplicidade potencial do narrável”, que equivale à elaboração de textos que, na
impossibilidade de exaurir todos os caminhos narrativos possíveis, não devem se
esquivar de ao menos dar uma amostra das potencialidades de representação
literária de um fato narrado.
Em termos de estratégias para conferir multiplicidade às obras literárias,
uma primordial é a estrutura utilizada para a construção do texto. Em relação a
isso, Calvino (2006, p. 134) sugere que os escritores sigam as regras da “escrita
breve” e façam uso de estruturas acumulativas, modulares e combinatórias em
suas obras. Com isso, o autor propõe que os textos sejam planejados de modo que
novas linhas narrativas possam ser acrescentadas a qualquer momento e que estas
possam, também, ser rearranjadas de múltiplas formas. O objetivo é propiciar a
abertura para diversos pontos de vista e o acúmulo de informações pertinentes que
contribuam - conjuntamente - para um entendimento mais completo e
fundamentado dos acontecimentos descritos.
Com a proposição de estruturas acumulativas, modulares e combinatórias,
Calvino (2006) faz a apologia das grandes narrativas que contenham histórias que
se entrecruzam em seu interior e das pequenas narrativas que se conectam gerando
um sentido macro para além de suas leituras particulares. A estrutura, qualquer
que seja ela, funciona assim como um continente que confere o modelo formal no
qual o conteúdo irá se acomodar. Em outras palavras, ela dita as regras para o
acondicionamento do conteúdo. No entanto, ao contrário do que se possa
inicialmente pensar, as regras estruturais escolhidas para dar forma a um texto não
necessariamente sufocam a liberdade narrativa, mas a estimulam, conforme
coloca Calvino (2006, p. 136). O autor cita o exemplo do escritor George Perec
Seis propostas para a análise dos recursos de design no livro didático infantil
117
que se auto-impunha regras rigorosas de escrita sem, no entanto, deixar de obter
como resultado uma riqueza inventiva inesgotável, de acordo com suas palavras.
É justamente o conhecimento das regras, o conhecimento das possibilidades que
garante ao escritor a liberdade de expressão que tanto almeja.
A maior função da estrutura é a de delimitar e ordenar a multiplicidade. Sem
esta os textos multíplices correm o risco de perder a exatidão, de se tornarem de
tal modo densos e dilatados que tendam a ficar confusos ou mesmo inconclusos.
A tentativa de açambarcar a rede que concatena todas as coisas pode se revelar
uma tarefa das mais ambiciosas, uma vez que requer uma exposição minuciosa de
infinitos detalhes e a explicação de inúmeros acontecimentos. Conforme Calvino
(2006, p. 127) esta ambição desmesurada não é reprovável na literatura, pois esta
tem como propósito “tecer em conjunto os diversos saberes e os diversos códigos
numa visão pluralística e multifacetada do mundo”. No entanto, para que os
resultados sejam os mais satisfatórios no cumprimento deste propósito é preciso
se estruturar o texto de forma apropriada, pois, caso contrário, apenas se obterá
frustrações na ambição de representar a multiplicidade das relações existentes
entre as coisas do mundo.
Descritas algumas das estratégias para se conferir multiplicidade aos textos,
cabe agora mencionar alguns exemplos de composições literárias onde Calvino
(2006, p. 132) detectou a presença desta qualidade:
1) o texto unitário, que funciona como o discurso de uma só voz, mas que
pode ser interpretado em diversos níveis;
2) o texto multíplice, onde há diversos sujeitos ou vozes e que segue o
modelo dialógico de Bakhtin;
3) a obra literária que tenta encampar toda a multiplicidade de caminhos,
estilos e enfoques, mas que não assume uma forma nem se põe limites,
“permanecendo inconclusa por vocação” e
4) a obra literária composta por sentenças breves, mas com grande
densidade de significados, que apesar de pontuais e aparentemente
desconexas, vão revelando pouco a pouco a rede de relações entre os
objetos do mundo (algo como o pensamento não sistemático, na
filosofia).
Seis propostas para a análise dos recursos de design no livro didático infantil
118
Por fim, vale ressaltar a crença de Italo Calvino (2006, p. 131) do
conhecimento como multiplicidade, ou seja, como fruto da “confluência e do
entrechoque de métodos interpretativos, maneiras de pensar e estilos de
expressão”. Daí a exacerbação que o autor faz desta qualidade como uma forma
de atingir o ideal que quer para o próximo milênio: o de “uma literatura que tome
para si o gosto da ordem intelectual e da exatidão, a inteligência da poesia
juntamente com a da ciência e da filosofia” (Calvino 2006, p. 133).
Contrapondo-se a multiplicidade de Calvino com conceitos similares
encontrados na obra dos demais autores que compõem o referencial teórico da
presente pesquisa, estipulou-se uma síntese a ser utilizada na análise dos livros
didáticos para o público infanto-juvenil publicados pelo IBGE. Conforme esta
síntese o conceito de multiplicidade foi subdividido em quatro categorias:
interdisciplinaridade (pluralismo, heterogeneidade, polissemia, hibridismo);
interação (entrelaçamento, mistura, associação, integração); simultaneidade
(superposição) e alternância (troca, intercalação).
Sendo assim, o objeto de estudo da presente pesquisa será avaliado quanto à
multiplicidade nos seguintes quesitos:
1) superposição e intercalação de linguagens;
2) abertura ou não para mais de um ponto de vista;
3) presença ou não de mais de uma linha narrativa;
4) hibridismo de estilos;
5) abertura ou não para mais de uma interpretação;
6) presença ou não de diversos níveis de leitura e
7) apresentação da informação em camadas.
7
Análise do discurso produzido pela linguagem visual do
livro didático Meu 1o Atlas, voltado ao público infantojuvenil do IBGE a partir das categorias literárias de Italo
Calvino
O que se pretende neste capítulo é aplicar o conceito das categorias de Italo
Calvino, abordadas no capítulo anterior, na análise do discurso ligado à sintaxe
visual da publicação do IBGE voltada para o público infanto-juvenil, Meu 1o
Atlas.
Porém, antes de fazer essa análise técnica, falarei um pouco sobre o modo
como essa publicação foi desenvolvida e sua interseção com o referencial teórico
desta pesquisa.
7.1.
As etapas da produção do Meu 1o Atlas
O briefing apresentado para Meu 1o Atlas foi o de uma publicação voltada
para o público infantil que traria os principais conceitos da cartografia, além de
prepará-lo para ler mapas e cartogramas de forma simples e divertida.
Procurei referências que me ajudaram bastante, mas não foram suficientes
para que eu me sentisse segura em relação a qual método usar. A única certeza
que tinha era que eu gostaria de tentar fazer um livro mais atraente, para que as
crianças realmente se interessassem pelo conteúdo a ser apresentado. Mas como
fazê-lo?
Observando de forma não sistemática as crianças do meu convívio percebi
como elas se identificavam com os personagens dos livros de que mais gostavam.
Faziam comentários sobre esses personagens e às vezes usavam roupas e
compravam objetos com seus personagens preferidos estampados.
Então, criei personagens humanos para que as crianças se identificassem
com os mesmos (como se fossem seus amigos) e se sentissem estimuladas a ler o
o
Análise do discurso produzido pela linguagem visual do livro didático Meu 1 Atlas,
voltado ao público infanto-juvenil do IBGE a partir das categorias literárias de Italo
Calvino
120
livro. E como era um livro para meninos e meninas, criei o Bebeto e a Júlia com
uma faixa etária próxima ao do público alvo. Ele, mestiço, representando a
maioria da população brasileira e ela, ruiva, representando a minoria.
Também me lembrei do quanto as crianças gostam e se identificam com os
animais e criei um gatinho e um cachorrinho para acompanharem as personagens
em suas aventuras.
Entrei em contato com as duas professoras do ensino médio que iriam
escrever o texto do livro para expor minhas idéias e discutirmos a possibilidade de
se criar uma narrativa que fosse uma conversa com as crianças e que ao mesmo
tempo as fizessem participar da história, desenhando, jogando, procurando
referências, usando um material de apoio, induzindo-as a voltar para as páginas
iniciais e até mesmo estimulando-as a deixar o livro por um instante para realizar
uma tarefa. As professoras gostaram das idéias e começaram, então, a trabalhar no
texto.
Ainda sem o texto, meus superiores solicitaram um layout de algumas
páginas do livro, o que foi muito difícil para mim, pois não havia um conteúdo
para me basear. Como fazer uma boneca sem texto e sem ilustração? Pensei,
então, em usar um elemento gráfico que viria estampado por todo o livro. E qual
seria ele? Bom, como se tratava de um Atlas que ensinaria as crianças a ler um
mapa pensei num instrumento que as ajudaria nessa tarefa: a rosa dos ventos.
Sendo um instrumento de orientação comum em todos os sistemas de navegação
antigos e atuais, resolvi que a rosa dos ventos seria o elemento gráfico que serviria
de base para a montagem da boneca. Até a paginação viria dentro da rosa dos
ventos.
Chamei então, a ilustradora que havia trabalhado comigo no Vamos
compreender o Brasil e fizemos nossa primeira reunião. Expliquei que gostaria de
fazer algo diferente apesar de ser um livro didático, usando ilustrações que
estimulassem o exercício da mente, despertassem a criatividade das crianças e
também o seu interesse. Falei sobre a idéia das personagens, da rosa dos ventos,
dos bichinhos de estimação e com isso, várias outras idéias foram surgindo.
Discutimos que ilustrações usar nas partes que não dependiam de texto, como por
exemplo: a capa, as folhas de guarda, o frontispício, a página de apresentação, o
sumário, as aberturas de capítulo, além da ilustração que usaríamos no material
promocional. Também chegamos à conclusão que as ilustrações deveriam ser
o
Análise do discurso produzido pela linguagem visual do livro didático Meu 1 Atlas,
voltado ao público infanto-juvenil do IBGE a partir das categorias literárias de Italo
Calvino
121
feitas usando a técnica de pintura em aquarela, pois assim conseguiríamos dar um
aspecto poético e lúdico a publicação. Alguns dias depois a ilustradora me
apresentou as ilustrações solicitadas e simplesmente me apaixonei à primeira
vista. Ela realmente entendeu o que eu havia imaginado e com seu talento fez
ilustrações encantadoras. Com essas ilustrações, pude, então, criar o layout de
algumas páginas, conforme me foi solicitado e a aprovação foi imediata.
Aos poucos o texto foi sendo desenvolvido e fui concebendo as idéias das
ilustrações junto com a ilustradora, página por página. Ela fazia um rascunho, ao
mesmo tempo em que líamos o texto e discutíamos como seriam as ilustrações.
Um verdadeiro trabalho de direção de arte. Depois mostrávamos para o
Coordenador Geral do CDDI, para aprová-las e aí então, ela fazia os originais. E
assim, fomos criando as ilustrações para todo o livro ao mesmo tempo em que eu
desenvolvia o projeto gráfico do mesmo. Coloquei sempre junto da ilustração uma
cor chapada com uma forma que lembrava a aparência física de algum elemento
da ilustração. Essa forma de cor chapada eu também chamei de elemento gráfico,
assim como a rosa dos ventos que espalhei pelo livro. Pensei também na família
de fontes que iria utilizar, no tamanho dessas fontes tipográficas, na posição dos
títulos, do texto, das ilustrações e dos elementos gráficos e também, no contraste
entre "figura e fundo" do conjunto gráfico. Enfim, todos os elementos visuais
foram pensados e posicionados com o objetivo de buscar um equilíbrio entre a
informação visual e a informação textual, para assim ajudar na seqüência da
leitura e facilitar a percepção do conteúdo por parte das crianças.
O livro é estruturado em duas partes. A primeira parte ensina como construir
e entender os mapas. Ela é rica em ilustrações e é bastante interativa. As
personagens aparecem em praticamente em todas as páginas, sempre com a
mesma roupa para manter uma identidade. A rosa dos ventos também está sempre
presente ora na roupa do Bebeto, ora como instrumento de orientação, ora como
diversão para os bichinhos, ora como elemento gráfico e na paginação.
Já a segunda parte do livro é constituída por mapas do Brasil e do mundo
como um Atlas propriamente dito. As personagens não aparecem nessa segunda
parte do Meu 1o Atlas havendo apenas algumas ilustrações referentes aos mapas.
Esses mapas foram feitos por outro designer do CDDI, que também solicitou as
ilustrações para mesma ilustradora da primeira parte do livro. Minha única
o
Análise do discurso produzido pela linguagem visual do livro didático Meu 1 Atlas,
voltado ao público infanto-juvenil do IBGE a partir das categorias literárias de Italo
Calvino
122
participação nessa segunda parte foi na criação das tarjas e na diagramação das
páginas.
No final do livro vem encartado um material de apoio: um mapa do Brasil,
um mapa do Estado onde o livro foi distribuído ou vendido e também, algumas
transparências que são utilizadas pelas crianças à medida que lêem o livro.
A contribuição do público infantil foi referência ao longo de todo o processo
de criação: várias crianças experimentaram e testaram o Meu 1° Atlas à medida
que este ia sendo desenvolvido e assim pudemos aprimorá-lo de acordo com as
necessidades surgidas. Essas modificações ocorreram mais em cima do texto e
não na programação visual do livro.
E uma das coisas mais gratificantes para mim, após a impressão do Meu 1o
Atlas, foi saber que o filho de oito anos de uma amiga, depois de ter ganhado o
livro, não o largava mais: comia lendo o livro, lia para seu irmão mais novo,
desenhava copiando as ilustrações que mais gostava, além de brincar inventando
novas historinhas com base nas ilustrações.
o
Análise do discurso produzido pela linguagem visual do livro didático Meu 1 Atlas,
voltado ao público infanto-juvenil do IBGE a partir das categorias literárias de Italo
Calvino
123
7.2.
Uma descrição formal do Meu 1o Atlas e seis análises de um
discurso visual
7.2.1.
A capa e contracapa
Contracapa
Capa
padronagem
comrosas
dos ventos
ilustração
ilustração
título
padronagem
comrosas
dos ventos
padronagem
comrosas
dos ventos
ISBN
marcas
o
Figura 12 - Capa e contracapa da publicação Meu 1 Atlas, IBGE, 2005.
A capa e contracapa da publicação Meu 1o Atlas foram criadas tendo como
elemento principal a rosa dos ventos, que também aparece em todo o miolo do
livro. A capa foi dividida assimetricamente em quatro partes. Na parte superior
esquerda encontra-se uma ilustração (utilizando a técnica da aquarela) onde se
empregou o traço livre e uma representação bastante lúdica, inspirada na
caracterização de personagens de desenhos animados, livros e histórias em
quadrinhos voltados para o público infanto-juvenil. Ela apresenta as personagens
Bebeto, Júlia e seu gatinho de estimação. Eles estão se orientando com ajuda de
uma bússola. Bebeto aponta para o Leste, onde o sol nasce e segura um mapa com
a outra mão. Júlia segura uma bússola com uma mão e com a outra uma rosa dos
ventos, que o gatinho está tentando pegar. Como já foi dito, esses personagens
representam a maioria da população brasileira que é mestiça (o Bebeto) e a
minoria que é ruiva (a Júlia). O gatinho foi criado pela proximidade que existe
entre as crianças e os bichinhos de estimação. As outras três partes têm uma cor
o
Análise do discurso produzido pela linguagem visual do livro didático Meu 1 Atlas,
voltado ao público infanto-juvenil do IBGE a partir das categorias literárias de Italo
Calvino
124
de fundo cada (roxo, amarelo e verde), as quais remetem às cores da bandeira do
Brasil (azul, amarelo e verde) com uma padronagem de rosa dos ventos. O título
do livro vem logo abaixo da ilustração e foi escrito com as fontes Spumoni LP e
Pompéia Inline em caixa alta e baixa, dando destaque para a palavra Atlas em
amarelo.
A contracapa foi dividida em duas partes assimétricas, uma amarela e outra
azul. Ambas possuem a mesma padronagem de rosa dos ventos utilizada na capa,
sendo que na parte superior há também uma ilustração de uma rosa dos ventos
indicando os pontos cardeais, com pequenas ilustrações representando esses
pontos.
De acordo com o entendimento obtido anteriormente mediante os
argumentos expostos por Calvino (2006) de que a leveza está vinculada ao prazer
da leitura, ao divertimento usufruído no ato de ler e do impulso (estímulo) que
leva uma pessoa a ler um determinado conteúdo, podemos dizer que a capa e a
contracapa da publicação Meu 1o Atlas podem ser consideradas leves. Isso porque
podemos constatar que existe uma harmonia na disposição dos elementos que as
compõem e que apesar de estarem divididas em partes assimétricas existe uma
unidade, uma uniformidade na distribuição dos elementos, uma tentativa de
organizá-los. Segundo Dondis (1997) unidade é um equilíbrio adequado de
elementos diversos em uma totalidade que se percebe visualmente.
Talvez um único detalhe que possa vir a quebrar essa harmonia é o pouco
contraste da padronagem da rosa dos ventos na parte amarela, não ressaltando a
técnica de transparência como acontece nas outras cores. As ilustrações causam
atração e prazer quando se utilizam do lirismo, das cores e da bidimensionalidade
das pinceladas inspiradas num pintor Pós-Impressionista chamado Van Gogh e do
humor, com o gatinho tentando pegar a rosa dos ventos e com o Sol, a Lua e a
Terra sorrindo. São elementos prazerosos, divertidos e atrativos que impulsionam
o leitor a “entrar” no livro.
Sob o ponto de vista da rapidez as ilustrações, por si sós, já transmitem
(com elementos mínimos necessários como: rosa dos ventos, mapa, bússola, Sol,
Lua, Terra) a idéia do conteúdo da publicação, cujo objetivo é ensinar as crianças
a ler um mapa. O uso da rosa dos ventos (na camisa do Bebeto, na mão da Júlia,
no chão) e também como padronagem da capa e contracapa é o elemento que
servirá de elo entre os personagens e/ou entre eventos e é considerado, de acordo
o
Análise do discurso produzido pela linguagem visual do livro didático Meu 1 Atlas,
voltado ao público infanto-juvenil do IBGE a partir das categorias literárias de Italo
Calvino
125
com Calvino, como um caminho para se conferir rapidez nas construções
literárias. As ilustrações também passam a idéia de dinamismo, de movimento,
com o sol nascendo, as nuvens se formando, com a Júlia e o Bebeto se orientando
com a bússola, com o gatinho tentando pegar a rosa dos ventos (inserção de uma
narrativa dentro da narrativa principal), com o dia e a noite representados pelo Sol
e pela Lua e com o movimento da Terra, ora mostrando o Pólo Norte, ora
mostrando o Pólo Sul. É uma sucessão encadeada de acontecimentos cuja ligação
é perceptível dando a imagem vivacidade e energia. Essa manutenção de um ritmo
com uma variedade de imagens de coisas acontecendo e as sensações mentais que
elas provocam, nos passam a idéia de velocidade que na contemporaneidade é
fundamental para a vida humana. Tudo isso torna a capa dessa publicação
extremamente agradável e convidativa para sua leitura.
No que se refere á exatidão a capa e contracapa, como um todo, estão em
perfeito equilíbrio de cores, formas e imagens. Fica claro o tema que o livro
aborda utilizando uma linguagem direta e objetiva. E estão totalmente adequados
ao público infanto-juvenil quando fazem uso de traços usados em desenhos
animados, livros e histórias em quadrinhos.
De acordo com Calvino a visibilidade é a faculdade de criar imagens, de
fantasiar, preservando a capacidade do leitor de imaginar, ajudando-o a assimilar
um conteúdo. Isso pode ser encontrado no Sol, na Lua e na Terra sorrindo, na rosa
dos ventos como um tapete que cobre o chão, na Terra redonda, nas nuvens que
dão impressão de sonho. Sendo assim, as ilustrações escolhidas para a capa e
contracapa representam com exatidão e inventividade o mundo real e o mundo
imaginário, estabelecendo um canal de comunicação eficaz entre o emissor e o
receptor, tornando as idéias veiculadas memoráveis e próximas da experiência
sensível. A tipografia utilizada nos remete às utilizadas nas histórias em
quadrinhos, estando de acordo o público alvo e conseguindo dar ênfase e
visibilidade ao título.
A questão da multiplicidade aparece rica na capa e na contracapa do Meu 1o
Atlas, pois confrontam elementos e técnicas visuais distintas como, por exemplo:
ilustração e elementos gráficos, aquarela com computação gráfica, estilo de
pintura Pós-Impressionista e traços utilizados em história em quadrinhos, onde se
percebe a influência dos personagens de Maurício de Souza e Saint-Exupéry.
o
Análise do discurso produzido pela linguagem visual do livro didático Meu 1 Atlas,
voltado ao público infanto-juvenil do IBGE a partir das categorias literárias de Italo
Calvino
126
O que podemos concluir é no que concerne as categorias de Italo Calvino,
transpostas para a composição do discurso visual, tanto a capa quanto a contracapa do Meu 1o Atlas transmitem leveza, rapidez, exatidão visibilidade e
multiplicidade, contribuindo para a inteligibilidade das informações veiculadas na
publicação.
7.2.2.
As folhas de guarda
Folha de Guarda
padronagemcomo gatinho e o cachorrinho
(papel de parede)
o
Figura 13 – Folhas de guarda da publicação Meu 1 Atlas, IBGE, 2005.
As folhas de guarda do Meu 1o Atlas trazem a imagem do gatinho e do
cachorrinho em várias posições (como se fosse um papel de parede), brincando
com a rosa dos ventos, que serve de elo entre os personagens.
As imagens repetidas nos levam a idéia de profusão, de abundância de
imagens, categorias que encontramos na leveza de Calvino. O humor e o lirismo
também são vinculados à leveza e podem ser identificados como esforços de
composições como o das folhas de guarda, que se vale desses recursos ao
apresentar ao público, sob uma ótica mais leve, os bichinhos e também a rosa dos
ventos. O fato de eles estarem brincando com a rosa dos ventos já desmitifica o
o
Análise do discurso produzido pela linguagem visual do livro didático Meu 1 Atlas,
voltado ao público infanto-juvenil do IBGE a partir das categorias literárias de Italo
Calvino
127
que pode haver de sisudo em sua função científica. E nesse momento, nem as
crianças entram na composição, criando um painel totalmente lúdico e sem
pretensões disciplinares – pela representação exclusiva dos animais sozinhos.
Surge o humor da subversão da razão pela maneira como os animais transformam
o instrumento em brinquedo.
É aí que podemos encontrar novamente dois
autores, Lyotard e Vygotsky. O conhecimento calcado na linguagem e, por conta
disso, visto como um jogo por Lyotard e a noção de zona proximal de Vygotsky,
onde a complexidade de uma dada função ainda não existe de forma precisa, mas
pode ser apropriada de forma alternativa pela leveza da postura lúdica, são
ilustradas nessa relação dos jogos dos animais com a rosa dos ventos. E no
momento em que os bichinhos se sentem atraídos e curiosos pela rosa dos ventos
estão chamando a atenção do leitor, de maneira indireta, sutil, para um elemento
que será de suma importância para a compreensão do conteúdo desta publicação.
A rosa dos ventos vai sendo introduzida aos poucos, de forma parcimoniosa, para
que possa ser apreendida de maneira prazerosa.
As folhas de guarda do meu Meu 1o Atlas também nos levam a uma
categoria que Calvino chamou de rapidez, através da repetição das imagens dos
bichinhos brincando com a rosa dos ventos, que criam expectativas no leitor,
mantendo aceso o interesse do mesmo pela narrativa.
A exatidão aparece nas folhas de guarda na minúcia, no detalhe dos
movimentos dos bichinhos brincando com a rosa dos ventos. Movimentos
corriqueiros, mas que transmitem a idéia de diversão e prazer que o Meu 1o Atlas
quer passar.
Outra categoria de Calvino que está presente nas folhas de guarda do Meu 1o
Atlas é a visibilidade. Quando se coloca um gatinho e um cachorrinho brincando
com uma rosa dos ventos, ao invés de um novelo de lã e um osso, por exemplo,
concedemos ao receptor a liberdade de imaginar, de fantasiar. Foi a maneira
encontrada para aproximar o mundo da fantasia do mundo real, levando o leitor a
um determinado conhecimento (no caso a rosa dos ventos) e estabelecendo um
canal de comunicação eficaz entre o emissor e o receptor.
E com relação à multiplicidade os bichinhos brincando com a rosa dos
ventos em várias posições propiciam a abertura para diversos pontos de vista e um
acúmulo de informações que contribuirão para o entendimento do conteúdo do
livro.
o
Análise do discurso produzido pela linguagem visual do livro didático Meu 1 Atlas,
voltado ao público infanto-juvenil do IBGE a partir das categorias literárias de Italo
Calvino
128
7.2.3.
A primeira e a última páginas
Primeira página
página par
página ímpar
ilustração
o
Figura 14 – Primeira da publicação Meu 1 Atlas, IBGE, 2005.
Última página
página par
página ímpar
ilustração
o
Figura 15 – Última página da publicação Meu 1 Atlas, IBGE, 2005.
A primeira e última páginas do livro, que vêm próximas das folhas de
guarda reforçam a imagem do gatinho e do cachorrinho brincando com a rosa dos
ventos. Na primeira página eles aparecem de frente, como se convidassem o
o
Análise do discurso produzido pela linguagem visual do livro didático Meu 1 Atlas,
voltado ao público infanto-juvenil do IBGE a partir das categorias literárias de Italo
Calvino
129
leitor a “entrar no livro”. Já na última o gatinho e o cachorrinho aparecem de
costas, indicando que o livro acaba ali e talvez, convidando os leitores a relerem o
livro.
Ao contrário das folhas de guarda os bichinhos nessas páginas aparecem
uma única vez, reforçando a apresentação da rosa dos ventos sob uma ótica
diferente e atuando em favor de uma comunicação mais econômica, mais leve.
A página toda branca nos passa a idéia de exagero quanto à área (uma cor
chapada ou ausência de cor numa área total) e ao mesmo tempo de minimização
quanto à quantidade (pois é utilizada uma cor só). Categorias estas encontradas na
rapidez de Calvino proporcionando uma leitura breve, mas mesmo assim rica no
que concerne ao conteúdo comunicado.
A capacidade que o gatinho e o cachorrinho brincando com a rosa dos
ventos têm de atrair o olhar do leitor para a página nos remete a agudeza (versus
difusão) que encontramos dentro da exatidão de Calvino. Essa atração é de
enorme importância quando se quer encontrar um equilíbrio na composição
visual. Nesse caso o equilíbrio é encontrado quando se coloca a página quase que
por inteira branca e apenas no canto inferior direito aparecem os bichinhos
coloridos.
A visibilidade aparece também com a ilustração dos bichinhos que colabora
para revelar significados do conteúdo do livro: no caso a rosa dos ventos. E vem
de encontro à multiplicidade quando deixa aberto para novas interpretações.
o
Análise do discurso produzido pela linguagem visual do livro didático Meu 1 Atlas,
voltado ao público infanto-juvenil do IBGE a partir das categorias literárias de Italo
Calvino
130
7.2.4.
A página de apresentação
página par
página ímpar
ilustração
elemento
gráfico
texto
elemento
gráfico
ilustração
o
Figura 16 – A página de apresentação da publicação Meu 1 Atlas, IBGE, 2005
A página de apresentação do Meu 1o Atlas é dividida ao meio, em duas
partes simétricas: uma rosa, representando o Pólo Sul e outra lilás, representando
o Pólo Norte. No centro da página aparece uma coluna de texto e espalhadas
equilibradamente pela mesma, vemos algumas rosas dos ventos.
A leveza que encontramos nessa página está no lirismo e no humor usados
para apresentar ao leitor o pólo norte e o pólo sul; que aprecem como personagens
sorridentes.
O texto é rápido, de leitura breve e rico no que concerne ao conteúdo
comunicado. Além de ter potencial para gerar imagens de forma a tornar as
situações narradas visíveis na mente do leitor. Também articula linguagem poética
com linguagem científica, alternando vocabulários e construções sintáticas nos
levando à multiplicidade de Calvino.
O equilíbrio aparente na composição visual dessa página nos remete a
exatidão de Calvino, que busca a nitidez das formas geométricas e das cores, a
simetria, o equilíbrio, a idéia de limites. Além disso, no que concerne também a
exatidão, o texto da apresentação aparece escrito de forma adequada para seu
o
Análise do discurso produzido pela linguagem visual do livro didático Meu 1 Atlas,
voltado ao público infanto-juvenil do IBGE a partir das categorias literárias de Italo
Calvino
131
público alvo, com uma linguagem direta, simples, divertida e de fácil
compreensão.
7.2.5.
As páginas do sumário
página par
página ímpar
elemento
gráfico
texto
ilustração
elemento
gráfico
ilustração
o
Figura 17 – As páginas do sumário da publicação Meu 1 Atlas, IBGE, 2005
Assim como a página de apresentação, o sumário também vem dividido em
duas partes simétricas: uma azul escura representando a noite, com uma ilustração
da Lua e a outra azul clara representando o dia, com uma ilustração do Sol.
Espalhadas pela página encontram-se algumas rosas dos ventos, sendo que na
página par encontra-se o sumário da Parte I do livro e na página ímpar encontra-se
o sumário da Parte II.
Nestas páginas podemos visualizar um contraste de cores (tons do azul entre
o claro e o escuro, o amarelo sobressaindo sobre o azul) e de oposição entre coisas
da mesma natureza (a Lua e o Sol, o dia e a noite, a fantasia e a realidade). Mas ao
mesmo tempo todos os elementos visuais aparecem em perfeita harmonia.
Essas categorias (contraste e harmonia) estão presentes no que Calvino
chamou de leveza. De acordo com o autor cabem aqueles incumbidos de
representar o mundo real, a tentativa de amenização de seu peso e de sua
o
Análise do discurso produzido pela linguagem visual do livro didático Meu 1 Atlas,
voltado ao público infanto-juvenil do IBGE a partir das categorias literárias de Italo
Calvino
132
compacidade. Os astros (a Lua e o Sol) são pesados, apesar de flutuarem no
espaço, mas seu peso é equilibrado com lirismo e humor quando aparecem
sorrindo. Daí infere-se a vasta relevância da carga emotiva para tornar mais leve
as representações.
A rapidez está nas ilustrações que atendem à velocidade mental de
relacionar, de associar conceitos que comunicam algo especial, além de serem
prazerosas aos leitores que apreciam ser estimulados por uma sucessão de
imagens e sensações mentais como: claro, escuro, dia e noite, frio e calor, pesado
e leve.
A composição visual das páginas do sumário encampa as idéias de clareza
em relação ao conteúdo que se quer passar, adequação ao público infantil e lógica
na distribuição do texto ao que nos remete á exatidão de Calvino.
De acordo com Calvino visibilidade é o estabelecimento do contato entre
escritor e leitor, é o dar forma às idéias e à inventividade das imagens que tornam
as idéias visíveis. E esse contato com o leitor foi feito no momento em que a idéia
de movimento, de passagem do tempo, de que existe o dia e a noite ficou visível
com as cores usadas e com a representação do Sol e da Lua nas páginas do
sumário.
As páginas do sumário apresentam ao mesmo tempo, na mesma página o dia
e a noite, o claro e o escuro, o calor e o frio. Isso nos leva a pensar em interação,
simultaneidade e alternância presentes na multiplicidade de Calvino.
o
Análise do discurso produzido pela linguagem visual do livro didático Meu 1 Atlas,
voltado ao público infanto-juvenil do IBGE a partir das categorias literárias de Italo
Calvino
133
7.2.6.
As aberturas de capítulo
página par
página ímpar
ilustração
texto
padronagemo gatinho
(papel de parede)
o
Figura 18 – A abertura de capítulo da Parte I da publicação Meu 1 Atlas, IBGE, 2005
página par
página ímpar
ilustração
texto
padronagemo cachorrinho
(papel de parede)
o
Figura 19 – A abertura de capítulo da Parte II da publicação Meu 1 Atlas, IBGE, 2005
As páginas de abertura de capítulo do Meu 1o Atlas são compostas de um
papel de parede (como o utilizado nas folhas de guarda) no lado par e de uma
ilustração no lado ímpar, com o título escrito na parte inferior da mesma.
o
Análise do discurso produzido pela linguagem visual do livro didático Meu 1 Atlas,
voltado ao público infanto-juvenil do IBGE a partir das categorias literárias de Italo
Calvino
134
As ilustrações dessas páginas se encarregam de várias categorias descritas
por Italo Calvino. Elas procuram sintetizar nas imagens o tema “Construindo e
entendendo os mapas” e “Mapas”, e desta forma, carregam inerentemente o
grosso do conteúdo informativo que se quer passar.
O emprego do traço livre e a caracterização alegre e divertida do gatinho e
do cachorrinho ajudam a criar a empatia entre editor e leitor, o que colabora em
muito para tornar um conteúdo, a princípio mais sisudo, mais lúdico e, portanto,
mais leve.
A síntese proposta pelas imagens, também atuam em favor da rapidez de
recepção da informação. Os elementos ilustrativos são autônomos e não estão
presos a um discurso sóbrio. Mais do que isso, a proposta das aberturas de
capítulo dessa publicação procura, principalmente, estabelecer um canal de
comunicação rápido e direto com a criança utilizando elementos familiares ao seu
universo, como material escolar (lápis de cor, borracha, régua, papel, globo
terrestre) e um bichinho de estimação.
O uso cuidadoso, nítido e discernível dessa linguagem, que utiliza esses
elementos familiares ao leitor, também nos remetem a exatidão de Calvino.
As imagens das aberturas de capítulo do Meu 1o Atlas nos levam a
visibilidade de Calvino quando representam com exatidão, fidelidade e
inventividade o mundo real (o material escolar) e o mundo imaginário (o bichinho
desenhando, lendo, estudando).
E por último, a multiplicidade está na superposição e intercalação desses
elementos familiares citados acima.
o
Análise do discurso produzido pela linguagem visual do livro didático Meu 1 Atlas,
voltado ao público infanto-juvenil do IBGE a partir das categorias literárias de Italo
Calvino
135
7.2.7.
O miolo
7.2.7.1.
As páginas com o conteúdo da Parte I
página par
página ímpar
elemento
gráfico
título
texto
ilustração
paginação
o
Figura 20 – Páginas com conteúdo da Parte I da publicação Meu 1 Atlas, IBGE, 2005
página par
página ímpar
texto
elemento
gráfico
ilustração
de meia
pág
ilustração
de pág
inteira
paginação
o
Figura 21 – Páginas com conteúdo da Parte I da publicação Meu 1 Atlas, IBGE, 2005
o
Análise do discurso produzido pela linguagem visual do livro didático Meu 1 Atlas,
voltado ao público infanto-juvenil do IBGE a partir das categorias literárias de Italo
Calvino
página par
136
página ímpar
elemento
gráfico
texto
ilustração de
uma pág. e
meia
paginação
o
Figura 22 – Páginas com conteúdo da Parte I da publicação Meu 1 Atlas, IBGE, 2005
página par
página ímpar
texto
ilustração de
pág. inteira
ilustração de
pág. inteira
paginação
o
Figura 23 – Páginas com conteúdo da Parte I da publicação Meu 1 Atlas, IBGE, 2005
o
Análise do discurso produzido pela linguagem visual do livro didático Meu 1 Atlas,
voltado ao público infanto-juvenil do IBGE a partir das categorias literárias de Italo
Calvino
página par
137
página ímpar
elemento
gráfico
Ilustração de
pág. inteira
texto
ilustração
paginação
o
Figura 24 – Páginas com conteúdo da Parte I da publicação Meu 1 Atlas, IBGE, 2005
página par
página ímpar
título
texto
Ilustração de
meia pág.
elemento
gráfico
paginação
o
Figura 25 – Páginas com conteúdo da Parte I da publicação Meu 1 Atlas, IBGE, 2005
o
Análise do discurso produzido pela linguagem visual do livro didático Meu 1 Atlas,
voltado ao público infanto-juvenil do IBGE a partir das categorias literárias de Italo
Calvino
página par
138
página ímpar
Título
Ilustração de
meia pág.
Ilustração de
meia pág.
texto
paginação
o
Figura 26 – Páginas com conteúdo da Parte I da publicação Meu 1 Atlas, IBGE, 2005
página par
página ímpar
Ilustração de
pág. inteira
Ilustração de
pág. inteira
texto
paginação
o
Figura 27 – Páginas com conteúdo da Parte I da publicação Meu 1 Atlas, IBGE, 2005
o
Análise do discurso produzido pela linguagem visual do livro didático Meu 1 Atlas,
voltado ao público infanto-juvenil do IBGE a partir das categorias literárias de Italo
Calvino
página par
139
página ímpar
texto
elemento
gráfico
mapas
paginação
o
Figura 28 – Páginas com conteúdo da Parte I da publicação Meu 1 Atlas, IBGE, 2005
página par
página ímpar
texto
mapa
elemento
gráfico
paginação
o
Figura 29 – Páginas com conteúdo da Parte I da publicação Meu 1 Atlas, IBGE, 2005
A primeira coisa que um designer gráfico se preocupa ao criar visualmente
um livro é com o seu projeto gráfico, ou seja, no conjunto de elementos visuais
que formarão e darão características a peça. O projeto gráfico é responsável por
grande parte do sucesso ou do fracasso de uma publicação e deve ser feito
pensando no público-alvo que se quer atingir. Seu objetivo é facilitar a percepção
o
Análise do discurso produzido pela linguagem visual do livro didático Meu 1 Atlas,
voltado ao público infanto-juvenil do IBGE a partir das categorias literárias de Italo
Calvino
140
do conteúdo explícito na página e tornar fácil e rápida a transmissão das
informações.
Sendo assim, tive a preocupação de seguir um determinado padrão visual
nas páginas que contém o texto com o conteúdo da primeira parte do Meu 1o
Atlas. Nelas aparecem uma ilustração, um elemento gráfico (uma forma
geométrica de cor chapada, podendo ou não ter ilustrações ou o próprio texto
sobreposto) e o texto. As ilustrações podem ocupar metade da página (figuras 20,
21 e 25) ou uma página (figuras 21 e 24) ou uma página e meia (figura 22) ou
duas páginas (figura 23). O elemento gráfico aparece em harmonia com a
ilustração na sua forma e na sua cor. A reprodução de um padrão serve para
organizar a unidade no sistema e perceber na forma uma contribuição harmoniosa
para os elementos gráficos. As páginas aparecem ora com cores claras (lembrando
o dia) e ora com cores escuras (lembrando a noite), mantendo essa oscilação de
forma permanente, sem valores intermediários. O texto aparece escrito justificado
com a fonte serifada Book Antiqua, com 14 pontos de tamanho, entrelinha de 33,5
pontos e em uma ou duas colunas; tudo para facilitar a leitura pelas crianças.
Como já foi dito anteriormente, foram criadas duas personagens (a Júlia,
representando a minoria da população brasileira que é ruiva e o Bebeto,
representando a maioria que é mestiça), como uma interlocução entre o conteúdo
e o leitor. As personagens aparecem como se fossem amigos do leitor, de uma
faixa etária próxima, inserindo-o na história e fazendo com que este não fique
sozinho na aventura de descoberta de novos conhecimentos. Junto com Júlia e
Bebeto aparecem dois personagens coadjuvantes (um gatinho e um cachorrinho)
que os fazem companhia em suas aventuras. Esses bichinhos de estimação não são
citados no texto, mas aparecem em todas as ilustrações, sempre brincando e
trazendo alegria e humor a história (inserção de novas narrativas dentro da
narrativa principal, mas que não tira a atenção desta).
Há também, espalhado por todo o livro, um elemento gráfico que serviu de
base para o projeto gráfico do mesmo: a rosa dos ventos.
As ilustrações são atraentes, ricas em conteúdo, ajudam o leitor a assimilar o
texto ao mesmo tempo em que estimula seu imaginário e estabelecem um canal
eficaz entre o emissor e o receptor. Além disso, houve a preocupação de se mudar
a técnica da ilustração, quando essas são feitas pelas próprias personagens do
livro, passando a idéia de que foi feito por uma criança (figura 21).
o
Análise do discurso produzido pela linguagem visual do livro didático Meu 1 Atlas,
voltado ao público infanto-juvenil do IBGE a partir das categorias literárias de Italo
Calvino
141
Esse raciocínio de se fazer um planejamento antes de realizar a peça
coincide com as idéias de Calvino sobre exatidão descritas no capítulo anterior.
Segundo o autor exatidão é “um projeto de obra bem definido e calculado”, é “a
evocação de imagens visuais nítidas, incisivas, memoráveis” (Calvino, 2006, p.
71). Como um tema pode ser explorado de inúmeras maneiras e pode levar a
detalhes muitas vezes inúteis, é preciso defini-lo bem para que o projeto cumpra a
sua missão de fazer com que as pessoas percebam e assimilem o conteúdo de
maneira fácil e rápida. Sendo assim, o projeto gráfico da primeira parte do Meu 1o
Atlas pode ser considerado exato, com a definição do tema “construindo e
entendendo os mapas”, com suas ilustrações cativantes em harmonia com as cores
e as formas dos elementos gráficos, com o uso da rosa dos ventos como elemento
de ligação entre os personagens e os eventos, com a criação de personagens para
que as crianças se identifiquem com o texto.
Assim como é preciso achar os termos certos para explicar os conteúdos
complexos, é preciso também achar as imagens certas para abordá-los. Não se
podem utilizar palavras e imagens ambíguas e vagas. Tanto o texto quanto as
imagens precisam passar com exatidão os conceitos que são abordados. E essa
preocupação em achar os melhores termos e as melhores imagens para se passar o
conteúdo do livro pode ser vista no Meu 1o Atlas. Nele a exatidão é obtida com a
interação entre imagem e texto. A direção de arte das ilustrações desse livro é
muito exata, com as imagens passando muito bem a idéia do conteúdo. A
linguagem é conceituar o mundo para pensar no mundo e as ilustrações passam
muito bem essa mensagem de falar da realidade sem perder o aspecto lúdico.
Como já foi dito uma das formas apontadas por Calvino (2006) para se
retirar o peso das composições literárias é lançar mão de um novo ponto de vista
sobre as coisas do mundo real. A linguagem científica procura cortar a
subjetividade nos seus escritos além de usar um vocabulário muito específico,
uma linguagem dentro da linguagem. Isso vai tornando a leitura pesada, sem
ritmo. No Meu 1o Atlas essa preocupação de não deixar a leitura pesada, esse
olhar indireto, se deu com o desenvolvimento de uma narrativa, com a criação de
personagens e com a presença do humor e do lirismo nas ilustrações. Essas foram
as formas encontradas para tornar um assunto complexo, cheio de números,
tabelas, gráficos e mapas; mais leve. Outra forma indicada por Calvino (2006)
para se obter leveza é a parcimônia na apresentação de um tema. Um grande
o
Análise do discurso produzido pela linguagem visual do livro didático Meu 1 Atlas,
voltado ao público infanto-juvenil do IBGE a partir das categorias literárias de Italo
Calvino
142
volume de informação não deve ser apresentado todo de uma vez. Percebemos
que as páginas no Meu 1o Atlas contêm pouco texto e o conteúdo é passado de
forma parcimoniosa, divertida. No livro encontramos uma leitura híbrida de texto
com imagem. Ele sai da linearidade do texto lingüístico e vai para o texto
imagético. Esse livro já habitua a criança a ler. Outra coisa que o Calvino (2006)
fala é o toque de humor como forma também de se dar leveza e isso é encontrado
em todas as ilustrações do Meu 1o Atlas. Mas um humor que não é frívolo, que
não é um descaso com a informação científica. Isso torna a leitura mais prazerosa
além de cativar o leitor.
Um conteúdo pesado, cheio de termos científicos, acaba tornando a leitura
lenta ou até mesmo gerando interrupções na mesma. Na medida em que você vai
preparando aos poucos as pessoas para receber esse conteúdo (a leveza de
Calvino) e achando os termos certos para explicá-lo (a exatidão de Calvino), essa
leitura passa a ser rápida, dinâmica, sem cortes e com ritmo. No próprio texto do
Meu 1o Atlas se explica o vocabulário científico usado pelo IBGE e com isso a
criança prossegue a leitura sem interrupções, sem ter que procurar o significado
de um termo não entendido em outro lugar (no dicionário, por exemplo). Os
textos em geral são rápidos, de leitura breve, mas mesmo assim ricos no que
concerne ao conteúdo comunicado. Porém, em algumas páginas do livro houve
uma falha na rapidez quando a leitura do texto é dificultada pela imagem que está
no fundo (figuras 26 e 27). Isso retarda a leitura e pode até gerar uma interrupção
no mesmo, quebrando a continuidade da narrativa. Apesar de ter havido uma
preocupação em clarear as imagens para que isso não acontecesse, o clareamento
não foi suficiente e o resultado não foi o esperado. Em algumas páginas do livro o
curso geral da narrativa também foi interrompido (figuras 28 e 29). A inserção de
um dado objetivo científico, frio (mapas), sem um tratamento lúdico como o que
foi feito no resto das imagens quebra a continuidade da história e as relações de
causa e efeito presentes na narrativa.
A rosa dos ventos aparece como um objeto de ligação entre as linhas
narrativas, como o anel inserido na narração feita pelo escritor francês Barbey
d´Aurevilly – da lenda do imperador Carlos Magno, citado por Calvino (2006) e
considerado por ele como um caminho para se conferir rapidez nas construções
literárias. Ela também funciona de maneira similar as rimas e ao refrão de um
poema, marcando o ritmo, as interseções e criando uma unidade entre os
o
Análise do discurso produzido pela linguagem visual do livro didático Meu 1 Atlas,
voltado ao público infanto-juvenil do IBGE a partir das categorias literárias de Italo
Calvino
143
conteúdos, o que também nos remete a rapidez de Calvino (2006). A carga
simbólica da rosa dos ventos é o sentido de explorar, de descobrir, além de se
orientar. Quando ela aparece repetidamente, é para lembrar este mote principal
que é a exploração em busca de novos saberes. Por outro lado, talvez com a
repetição desse elemento eu tenha perdido o aspecto da novidade e com isso pode
ser que o leitor comece a ignorar sua presença.
Na visibilidade o aspecto da cognição que Calvino (2006) aborda, é que à
medida que o leitor vai lendo o texto, este tem que gerar imagens mentais no
leitor. O texto tem que abrir para o leitor fantasiar, criar suas próprias imagens. O
Meu 1o Atlas tem um discurso que já é de imagens, ele já dá a imagem pronta para
o leitor. Mas apesar das ilustrações já estarem prontas de acordo com o texto, já
estarem imaginadas, elas não fecham a capacidade de imaginar do leitor. Pelo
contrário, elas ajudam a criar outras imagens em cima delas mesmas. Mesmo uma
criança que não saiba ler ainda, consegue, através das imagens do Meu 1o Atlas,
entender um pouco do seu conteúdo e imaginar várias historinhas em cima delas.
A visibilidade no Meu 1o Atlas aparece na hora em que se cria um monte de
imagens que tem a ver com o texto, mas que ao mesmo tempo levam a outras
imagens (uma imagem dentro de outra imagem, dentro de outra imagem, etc.).
Essas imagens, que são muito pregnantes, ajudam a tornar o conteúdo do livro
memorável.
A multiplicidade na primeira parte do Meu 1o Atlas aparece na concatenação
de linguagens (textual, visual, gráfica), de narrativas (científica, poética, lúdica),
de estilos (ilustração e elementos gráficos, aquarela com computação gráfica,
estilo de pintura pós-impressionista com traços utilizados em história em
quadrinhos). Isso dá riqueza ao texto permitindo que o leitor faça múltiplas
leituras e colaborando para a assimilação do conteúdo.
o
Análise do discurso produzido pela linguagem visual do livro didático Meu 1 Atlas,
voltado ao público infanto-juvenil do IBGE a partir das categorias literárias de Italo
Calvino
144
7.2.7.2.
As páginas com o conteúdo da Parte II
página par
página ímpar
Tarja com
título
Mapa com
legenda
ilustração de
pág inteira
texto
paginação
Figura 30 – Páginas com conteúdo da Parte II da publicação Meu 1° Atlas, IBGE, 2005
página par
página ímpar
Tarja com
título
Mapa com
legenda
ilustrações
ilustrações
paginação
Figura 31 – Páginas com conteúdo da Parte II da publicação Meu 1° Atlas, IBGE, 2005
o
Análise do discurso produzido pela linguagem visual do livro didático Meu 1 Atlas,
voltado ao público infanto-juvenil do IBGE a partir das categorias literárias de Italo
Calvino
página par
145
página ímpar
Tarja com
título
Mapa com
legenda
Mapa com
legenda
paginação
Figura 32 – Páginas com conteúdo da Parte II da publicação Meu 1° Atlas, IBGE, 2005
A segunda parte do Meu 1o Atlas é a parte onde aparecem os mapas como
num Atlas comum e onde estão também a fonte dos mapas, as referências, o
anexo, o glossário, o índice geográfico e a equipe técnica. No alto das páginas
aparece uma legenda aonde vem escrito o tema dos mapas (Políticos, Físicos,
Temáticos) em cima da mesma padronagem de rosa dos ventos usada na capa e
contracapa e com ilustrações de um mapa do lado esquerdo e de quatro rosas dos
ventos, cada uma representando um ponto cardeal, do lado direito. Na maioria das
páginas pares aparecem os mapas e ao lado destas, nas páginas ímpares, aparecem
ilustrações referentes a esses mapas, que são um complemento das informações
contidas nos mesmos (figuras 19 e 20). Em algumas páginas há mapas lado a lado
(figura 21). O título dos mapas vem centralizado na parte superior e as legendas
aparecem na parte inferior.
Esses mapas que aparecem na segunda parte do Meu 1o Atlas foram
desenhados utilizando a técnica da computação gráfica se valendo das
codificações científicas da cartografia. Já nas ilustrações podemos observar uma
mudança da técnica de ilustração (elas são mais sóbrias, mais adultas, menos
lúdicas). Tudo isso acarreta na perda da rapidez e do ritmo da leitura e também na
perda da leveza tornando a apreensão do conteúdo comunicado mais cansativa.
o
Análise do discurso produzido pela linguagem visual do livro didático Meu 1 Atlas,
voltado ao público infanto-juvenil do IBGE a partir das categorias literárias de Italo
Calvino
146
Poderia ter se pensado numa forma mais poética, mais lúdica de apresentar esses
mapas e essas ilustrações.
Podemos observar também a falta das personagens (que não aparecem mais
nessa segunda parte), fazendo com que haja uma perda da identificação da criança
com o livro e conferindo-lhe uma seriedade que não existe na primeira parte. Isso
torna o livro mais pesado, menos prazeroso e menos atrativo.
Apesar das páginas da segunda parte do Meu 1o Atlas seguirem um
determinado padrão visual, houve uma falha no que concerne à exatidão de
Calvino (2006). O projeto gráfico dessas páginas deveria ter seguido o projeto
gráfico da primeira parte, utilizando a mesma linha de ilustrações cativantes e o
uso das personagens para manter o lirismo e o humor na narrativa.
A visibilidade onde Calvino (2006) tem como objetivo maior preservar a
capacidade do leitor de imaginar também está ausente na segunda parte do Meu 1o
Atlas. Os mapas e suas respectivas ilustrações não são totalmente adequados ao
público infantil, além de serem pouco atraentes. Sendo assim, não ajudam o leitor
a criar outras imagens em cimas delas, não abrem caminho para a imaginação do
leitor.
Podemos concluir dizendo que na análise do discurso visual gráfico da
publicação do IBGE Meu 1o Atlas, com base nas categorias de Italo Calvino, é
importante ressaltar que há uma sobreposição dessas categorias. Uma está ligada a
outra, elas não se excluem.
7.3.
Conclusão das análises
O que se procurou fazer durante o desenvolvimento do Meu 1o Atlas foi
levar em conta os interesses das crianças e sua capacidade de compreensão.
Quando se pensou no desenvolvimento de uma narrativa, na criação de
personagens com faixa etária próxima ao do público alvo e dos bichinhos de
estimação, na adaptação do assunto cartografia ao mundo das crianças, na ênfase
no caráter lúdico, na interação entre texto e leitor, na utilização de uma linguagem
híbrida através da interação entre imagem e palavra; se pensou na criança como
o
Análise do discurso produzido pela linguagem visual do livro didático Meu 1 Atlas,
voltado ao público infanto-juvenil do IBGE a partir das categorias literárias de Italo
Calvino
147
receptora do livro. E com esta pesquisa ficou claro que mesmo tendo feito tudo
isso intuitivamente, essas idéias vão ao encontro dos pensamentos dos autores que
compõem o referencial teórico dessa pesquisa, apresentados ao longo desta
dissertação tais como:
Arizpe e Styles (2003) - observação da recepção das narrativas infantis
pelas crianças e utilização de uma linguagem híbrida através de interação
entre texto e imagem;
Iser (1978) – imaginação criativa do leitor,
Aguiar (2001) – adaptação do livro infantil ao seu mundo no que diz
respeito ao assunto, ao estilo, à forma e ao meio utilizados;
Harvey (1998) – escritores e leitores participam da produção de
significações e sentidos, daí a ênfase no processo e na participação;
Lyotard (2006) – a ciência não mais poderia ser considerada como a
fonte definitiva da verdade e o campo da ciência vem apresentando
inúmeras especialidades, cada qual com seu modo particular de proceder e
sem considerar a existência de uma metalinguagem universal. São os
chamados “Jogos de Linguagem” ou caráter narrativo do saber;
Vygotsky (1988) – o desenvolvimento do indivíduo depende da interação
do ser humano com o meio físico e social e está intimamente relacionado
ao contexto sócio-cultural em que a pessoa se insere, mediado pela
linguagem, que é a ferramenta básica para a construção de conhecimento e
o sujeito não é apenas ativo, mas interativo, já que forma conhecimentos e
se constitui a partir de relações intra e interpessoais;
Dondis (1997) – desde nossa primeira experiência no mundo, passamos a
organizar nossas necessidades e nossos prazeres, nossas preferências e
nossos temores, com base naquilo que vemos e assim como na linguagem
escrita, é preciso que também aprendamos os componentes básicos da
linguagem visual para que possamos ser considerados visualmente
alfabetizados;
Coelho (1991) – nos dias de hoje não há um ideal absoluto de Literatura
Infantil. “Ideal será aquela que corresponder a uma necessidade profunda
do tipo de leitor a que ela se destina, em consonância com a época que ele
o
Análise do discurso produzido pela linguagem visual do livro didático Meu 1 Atlas,
voltado ao público infanto-juvenil do IBGE a partir das categorias literárias de Italo
Calvino
148
está vivendo” e o principal objetivo da literatura infantil “é excitar o
interesse do leitor” dando ênfase no aspecto lúdico.
No capítulo 4 desta pesquisa fiz uma análise de uma pequena obra de Italo
Calvino e também pude identificar vários aspectos desta no Meu 1o Atlas. Em Por
que ler os clássicos observamos que o prazer da leitura é pessoal e é com as
leituras descompromissadas que se estabelece uma relação pessoal entre o livro e
o leitor. No Meu 1o Atlas, apesar de ser um livro didático ocorre uma interlocução
entre o conteúdo e o leitor quando as personagens aparecem com uma faixa etária
próxima ao do leitor, como se fossem seus amigos e quando o conteúdo é
apresentado de forma lúdica e divertida, despertando o interesse para o assunto. Já
Cidades Invisíveis se apropria de um conteúdo histórico dando-o uma dimensão
poética e de narrativa, sem deixar de pretender a verdade. O mesmo acontece no
Meu 1o Atlas que se apropria de um conteúdo complexo (cheio de números,
tabelas, gráficos e mapas), e que com um pé na fantasia e outro na realidade
objetiva consegue criar uma narrativa poética e atraente para o público infantil.
Em As Cosmicômicas Calvino propõe um cruzamento entre arte e ciência, quando
usando imaginação, humor e poesia, cria um universo narrativo (que inclui o
desenvolvimento de personagens) para descrever um enunciado científico.
Podemos dizer que o mesmo ocorre com o Meu 1o Atlas, com a criação de Júlia e
Bebeto que embarcam numa aventura para descobrir como se constrói um mapa,
sempre acompanhados de seus fiéis e bem humorados bichinhos de estimação.
Isso tudo possibilitou um melhor entendimento dos conteúdos técnicos e
científicos que o IBGE quis passar com essa publicação. E em Seis propostas
para o próximo milênio mais uma vez Calvino reforça a relação entre ciência e
arte apresentando seis categorias que servem como base para tornar o livro
interessante e agradável. Essas categorias também foram encontradas no Meu 1o
Atlas e serão expostas no próximo tópico.
Por último, ao estudar a análise do discurso no capítulo 6 pude perceber que
o discurso principal do Meu 1o Atlas é o de passar os conteúdos geográficos e
estatísticos de uma maneira lúdica para o público infanto-juvenil. É fazer as
crianças se ambientarem com a codificação dos mapas e cartogramas. Codificação
esta que elas vão aprender à medida que vão evoluindo na educação. Como a
análise do discurso consiste em tentar identificar quais são os discursos que estão
o
Análise do discurso produzido pela linguagem visual do livro didático Meu 1 Atlas,
voltado ao público infanto-juvenil do IBGE a partir das categorias literárias de Italo
Calvino
149
ocultos por trás do discurso principal, os discursos ocultos identificados por mim
no Meu 1o Atlas foram:
1. A ideologia da ciência – a ciência que busca soluções e resolve nossos
problemas, a ciência que tem uma visão objetiva da realidade, imparcial.
O Meu 1o Atlas reporta a todo o momento que esse aspecto é fundamental
e que a educação é a forma de se construir uma visão do mundo. É a
necessidade da nossa sociedade de sempre privilegiar a ciência mesmo
que haja autores contemporâneos, como Lyotard (2006), que digam que a
ciência não pode mais ser considerada como a fonte definitiva da
verdade, ou a experiência narrativa da transgressão desses limites vista na
obra de Calvino. O Meu 1o Atlas meio que por vezes incorre a uma
tendência de preparar a criança para se tornar um pequeno cientista,
alguém que acredite nesse discurso da informação objetiva, imparcial,
que tenta neutralizar nossa subjetividade.
2. A ideologia da infância – na sociedade atual a educação das crianças é
voltada para preservá-las das maldades do mundo, para preservar sua
inocência. A infância é vista como o melhor momento das nossas vidas.
As crianças vivem sob a proteção dos adultos e estes tentam preservá-las
de uma realidade que mais cedo ou mais tarde terão que se habituar. No
mundo antigo a mentalidade infantil era posta no mesmo plano que a
mentalidade adulta (Coelho, 1991- pág. 142). Já no século XVIII, a partir
de ideais Iluministas, ocorreu o reconhecimento da criança (ou da
infância) como um ser com características próprias (Coelho, 1991- pág.
125) e que passa gradativamente a freqüentar a escola e a viver sob a
proteção dos adultos (antes, a criança medieval por volta dos sete anos já
ingressava numa vida de trabalho longe dos pais). No Meu 1o Atlas as
personagens aparecem sempre sorrindo, felizes, convivendo bem com
seus bichinhos. O Sol, a Lua e a Terra também aparecem sorrindo, assim
como os bichinhos estão sempre alegres e brincando. Todos estão em
harmonia com o planeta. É uma ideologia que conecta a noção de criança
a uma realidade romantizada, até mesmo “irreal” (um mundo imaginário,
de fantasia, sem conflitos, onde ser criança é ser puro, inocente, bom).
Segundo Coelho (1991, págs141 e 142) “O Romantismo trouxe para o
o
Análise do discurso produzido pela linguagem visual do livro didático Meu 1 Atlas,
voltado ao público infanto-juvenil do IBGE a partir das categorias literárias de Italo
Calvino
150
mundo um inegável sentido humanitário com conseqüências na
renovação da arte, da literatura e dos costumes... Assim, a violência cede
agora a um humanismo, onde se mescla o sentido do maravilhoso da
vida”. A autora também afirma que a despeito dos aspectos negativos que
continuam presentes nas histórias infantis, o que sempre predomina é: a
esperança e a confiança na vida.
3. A ideologia do consumo – na História do Desenho Industrial todo o
produto de design tem como objetivo a funcionalidade e a estética, além
de expressar a ideologia da sociedade em que se vive. E nós vivemos
numa sociedade capitalista, industrial, já no paradigma da Cultura PósModerna, onde uma de suas características é o uso do saber como
mercadoria básica e onde as formas de ofertar os produtos se
multiplicaram, permitindo o aumento da velocidade do consumo. Saber
este que será ofertado na forma de informações: estatísticas, científicas,
qualitativas, quantitativas, etc. E a informação, como bem de consumo,
vai se adequar perfeitamente ás práticas da Cultura Pós-Moderna, por ser
um produto que pode ser consumido instantaneamente e ser prontamente
descartado (Harvey, 1998). Segundo Lyotard (2006, p. 5) “o saber é e
será produzido para ser vendido, e ele é e será consumido para ser
valorizado numa nova produção: nos dois casos, para ser trocado”. O
autor afirma também que “sob a forma de mercadoria informacional
indispensável ao poderio produtivo, o saber já é e será um desafio maior,
talvez o mais importante, na competição mundial pelo poder” (2006, p.
5). A informação é uma fonte de poder, uma vez que permite analisar
fatores do passado, compreender o presente, e principalmente, antever o
futuro. Ela transmite e gera novos conhecimentos e atualmente, o
contorno da economia mundial é traçado pela quantidade de informação
possuída, veiculada e divulgada, resultante da produção científica e
tecnológica. A criança, então, é formada para ser um cidadão apto para
viver na nossa sociedade, isto é, ser uma consumidora. O Meu 1o Atlas
apresenta esse discurso de já criar a criança consumidora de informação.
4. Afirmação da marca IBGE – O IBGE quer formar novos consumidores
para a sua informação. Ele quer cativar e habituar as crianças desde cedo
o
Análise do discurso produzido pela linguagem visual do livro didático Meu 1 Atlas,
voltado ao público infanto-juvenil do IBGE a partir das categorias literárias de Italo
Calvino
151
a ver, ler e entender seus conteúdos geográficos e estatísticos (encontro
com o alfabetismo visual presente na obra de Dondis (1997)). Dentro da
nossa cultura esses conteúdos são importantes, pois uma pessoa que hoje
não sabe ler um mapa, não consegue entender um dado estatístico, está
alienada para viver na nossa sociedade. É o reforço da imagem
institucional do IBGE e de sua importância para a nação. Segundo
Lyotard “a sociedade não existe e não progride a não ser que as
mensagens que nela circulem sejam ricas em informação e fáceis de
decodificar” (2006, p. 6). Na sociedade da informação o produto do
IBGE é a informação e ele procura reforçar isso além de destacar a sua
importância.
5. A alfabetização visual – No Meu 1o Atlas encontramos uma leitura
híbrida de texto com imagem. Ele sai da linearidade do texto lingüístico e
vai para o texto imagético. Esse livro já habitua a criança a ler imagens.
Donis (1997) afirma que o sentido da imagem é culturalmente
determinado assim como o sentido da palavra. Sabe-se que a visão é
construída socialmente e a habilidade visual, de maneira geral, se
desenvolve gradualmente. É preciso levar em conta a bagagem de
informação e cultura (encontro com o pensamento de Vygotsky de que o
sujeito é interativo), o que foi assimilada, e o real interesse em aprender.
Isso traz a dimensão enunciativa do saber como também é apontado por
Lyotard. E esse processo requer um aprendizado já que ver e ler
pressupõe conhecimento de repertórios e códigos. Ou seja, se as crianças
precisam aprender a ler, precisam também aprender a decifrar imagens,
mesmo que não haja um ensino formal para isso (Dondis, 1997). Os
leitores contemporâneos não só devem ser capazes de ler textos e de ler
imagens separadamente, mas também, simultaneamente.
Mas se existe um discurso, existe também a crítica a esse discurso. Por
exemplo, você propõe à criança a obtenção de todos esses conteúdos, mas as
questões que envolvem a informação objetiva por vezes não encontram espaço no
âmbito da produção técnica.
8
Conclusão
Esta pesquisa consistiu em um estudo aprofundado da adaptação das seis
categorias – leveza, rapidez, exatidão, visibilidade, multiplicidade e consistência –
descritas por Italo Calvino em seu livro Seis propostas para o próximo milênio, as
quais foram consideradas aqui com o intuito de desenvolver uma metodologia da
análise de discurso para crianças com o foco na disseminação de dados
geográficos e estatísticos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –
IBGE, por meio do livro didático infantil. Essa metodologia criada propunha
transformar esse tipo de livro em um objeto visualmente mais sedutor voltado
para um conteúdo específico: a propagação de informações geográficas e
estatísticas. Com a intenção de elaborar uma metodologia que se pautasse em
linhas criteriosas e fundamentadas, a pesquisa teve como objetivos gerais a
realização de um dispositivo teórico e um dispositivo analítico. O primeiro se
baseou na própria análise do Instituto, exame da literatura infantil, do mundo
contemporâneo da Cultura Pós-Moderna, da produção de conhecimento, do
desenvolvimento do indivíduo e do papel da linguagem e de sua aprendizagem, do
alfabetismo visual e de uma pequena amostra da obra de Italo Calvino. Já o
segundo, o dispositivo analítico, foi construído com base nas categorias literárias
apresentadas por Italo Calvino em seu livro Seis propostas para o próximo
milênio.
A partir das informações obtidas de forma direta – fazendo uso de minha
própria experiência como designer do objeto de estudo desta pesquisa (Meu 1o
Atlas) e por meio da entrevista com David Wu Tai, membro do Conselho Diretor
do IBGE e Coordenador Geral do Centro de Documentação e Disseminação de
Informações do IBGE – e indireta – pela pesquisa de referencial teórico – foi
possível:
discutir a atuação do design na formulação da apresentação dos dados
geográficos e estatísticos para crianças;
Conclusão
153
inserir o designer no processo de formulação da apresentação dos dados
geográficos e estatísticos para crianças;
atualizar, por meio do livro didático, os métodos de apresentação de
informação geográfica e estatística para crianças;
definir a metodologia de apresentação de dados geográficos e estatísticos
para crianças no uso do livro didático infantil;
promover uma reflexão sobre a comunicação de dados geográficos e
estatísticos com fins educativos.
Objetivando alcançar os itens elencados e que eles viessem a gerar as
informações que, entendo, ajudariam na resolução do problema desta pesquisa
(será que a maneira como as informações do IBGE estão sendo dispostas desperta
a atenção e o interesse das crianças e lhes é compreensível e assimilável?), foi
iniciado um estudo para conhecer melhor o Instituto: seu histórico, suas funções,
os assuntos abordados por ele, seu acervo e sua produção para o público infantil.
Constatou-se, assim, que o IBGE é o órgão responsável em prover dados e
informações estatísticas e geográficas oficiais sobre o nosso país. Utiliza para esse
fim a internet e publicações impressas, dentre os quais há portais eletrônicos e
livros voltados para o público infanto-juvenil, estando inserido nesse contexto o
Meu 1o Atlas, objeto de estudo desta pesquisa.
Em seguida, houve a escolha de uma área do conhecimento – a literatura e
os estudos narrativos – como ponto de partida e a busca de uma convergência com
outras áreas do saber bem como seu diálogo com o campo do design. Logo, foram
analisados
diversos
indicadores
como
a
literatura
infantil,
o
mundo
contemporâneo da Cultura Pós-Moderna, o caráter híbrido da produção de
discurso e conhecimento, o desenvolvimento do indivíduo e o papel da linguagem
e de sua aprendizagem, além da linguagem visual, o que oportunizou perceber
que:
uma das contribuições da literatura infantil é a de excitar o interesse do
leitor dando ênfase ao aspecto lúdico;
o processo do design é a materialização em objetos da atuação
interdisciplinar das múltiplas facetas que o saber manifesta na PósModernidade;
Conclusão
154
a ciência não mais poderia ser considerada como a fonte definitiva da
verdade, e o campo da ciência vem apresentando inúmeras especialidades;
a linguagem é a ferramenta básica para a construção de conhecimento;
é preciso aprender os componentes básicos da linguagem visual para ser
considerado visualmente alfabetizado.
Todo esse estudo fez surgir parte da metodologia utilizada nesta pesquisa e
auxiliou a releitura de algumas obras de teoria – Seis Propostas para o próximo
Milênio e Por que ler os clássicos – e de ficção – As Cosmicômicas e As Cidades
Invisíveis – de Italo Calvino, autor escolhido para este estudo. A grande
contribuição da base teórica que se pode derivar de sua obra é a de capacitar o
desenvolvimento de leituras estimulantes mesmo para um conteúdo que é,
inicialmente, complexo e/ou imposto.
Foi estabelecida, então, uma síntese do pensamento de Italo Calvino com os
pensamentos de outros teóricos investigados nesta pesquisa bem como das
categorias por mim levantadas, de modo a definir um conceito de leveza, rapidez,
exatidão, visibilidade, multiplicidade e consistência que se aplicasse à análise do
discurso visual gráfico presente nos livros didáticos infanto-juvenis do IBGE.
Convencionou-se para fins exclusivos de construção do dispositivo analítico da
presente pesquisa que:
1. encampa uma série de subcategorias mencionadas ao longo das obras dos
autores supracitados. Estas subcategorias são: prazer (harmonia,
satisfação), diversão (humor, ludismo), atração (interesse, estímulo),
unidade
(uniformidade,
simetria,
regularidade,
estabilidade,
seqüencialidade) e lirismo (poesia). A leveza está vinculada ao prazer da
leitura, ao divertimento usufruído no ato de ler e do impulso (estímulo)
que leva uma pessoa a apreender determinado conteúdo, à unidade na
distribuição dos elementos e ao lirismo para descrever de forma mais
leve conteúdos complexos. Em relação à linguagem visual, a leveza diz
respeito à harmonia da composição visual, tornando-a visualmente
agradável, prazerosa, divertida e atrativa.
2. a rapidez correlaciona-se ao dinamismo (agilidade, velocidade,
transitoriedade,
instantaneidade),
à
compactação
(economia,
Conclusão
155
condensação) e à contemporaneidade (atualidade, renovação). Assim, o
objeto de estudo foi analisado tendo em vista o quão dinâmico é na
apresentação do conteúdo, o quão compacto ou econômico é no
transporte do conteúdo e se espelha a predileção contemporânea pela
velocidade, que se tornou uma experiência e uma necessidade
fundamental para a vida humana dentro do contexto atual. No âmbito
visual, a rapidez representa agilidade, dinamismo, vivacidade com que a
mensagem visual é definida e compreendida.
3. a exatidão encampa as idéias de clareza (precisão, planura, objetividade),
adequação (apropriação, adaptação, praticidade) e lógica (racionalidade),
organização (documentação, articulação) e autenticidade (legitimação,
veracidade, comprovação). A exatidão está relacionada ao planejamento
da distribuição do conteúdo e à organização da obra, além de esclarecer
se esse planejamento colaborou para a inteligibilidade das informações
veiculadas, isto é, se as informações estão claras e adequadas. No que diz
respeito à linguagem visual, a exatidão está na busca pelo aguçamento,
pela clareza de expressão do projeto gráfico.
4. a visibilidade adota as noções de comunicação (informação, recepção,
compreensão), imaginação (percepção visual, simulação, conformação),
fantasia
(potencialidade,
experimentação,
fabulação)
e
narrativa
(formação, metodologia, mensagem, teoria). Logo, a visibilidade é, em
resumo, o estabelecimento do contato entre escritor e leitor; é o dar forma
às idéias e à inventividade das imagens que tornam as idéias visíveis.
Dentro da linguagem visual, a visibilidade representa o quanto as idéias
visuais são nítidas e memoráveis.
5. a
multiplicidade
interdisciplinaridade
foi
subdividida
(pluralismo,
em
quatro
heterogeneidade,
categorias:
polissemia,
hibridismo); interação (entrelaçamento, mistura, associação, integração);
simultaneidade (superposição) e alternância (troca, intercalação).
Portanto, o objeto de estudo desta pesquisa foi avaliado quanto à
multiplicidade nos seguintes quesitos: superposição e intercalação de
linguagens; abertura ou não para mais de um ponto de vista; presença ou
não de mais de uma linha narrativa; abertura ou não para mais de uma
Conclusão
156
interpretação; presença ou não de diversos níveis de leitura e
apresentação da informação em camadas. Ao se tratar da linguagem
visual, entende-se que multiplicidade pode ser encontrada no hibridismo
de estilos, isto é, na síntese visual de elementos, técnicas, inspiração,
expressão.
Assim, fiz uso do meu próprio referencial teórico para desenvolver uma
metodologia de análise do discurso.
A metodologia desenvolvida nesta pesquisa funcionou muito bem para a
análise de livros didáticos infanto-juvenis, inclusive de um produto que criei na
área de design – o Meu 1o Atlas. A análise de discurso e as categorias derivadas da
obra de Italo Calvino permitiram o distanciamento necessário a uma pesquisa
criteriosa, servindo como base para a análise técnica dessa publicação. Essas
categorias poderão ser usadas para aprimorar futuras edições do Meu 1o Atlas,
analisar outros livros do IBGE e até mesmo serem empregadas em publicações de
outras instituições, como a da Fiocruz, onde, atualmente, exerço a função de
designer. Lá, apesar de os desafios apresentarem-se de formas distintas, já é
possível vislumbrar a aplicabilidade. É uma metodologia válida para qualquer
conteúdo entendido como complexo para as crianças.
No âmbito geral, as conclusões obtidas com a análise de discurso ligada à
sintaxe visual da publicação do IBGE voltada para o público infanto-juvenil –
Meu 1° Atlas – parecem sugerir que, nos produtos que utilizam uma linguagem
híbrida de textos e imagens, as técnicas literárias propostas por Calvino produzem
reflexões produtivas na intenção de tornar o discurso mais leve, rápido, exato,
visível, múltiplo e consistente. Com isso, a pesquisa pôde testar a veracidade da
hipótese desse estudo, segundo a qual as categorias sobre as leituras apontadas por
Italo Calvino e o uso de diferentes recursos de design tendem a contribuir na
adaptação de um conteúdo complexo para crianças, resultando em maior interesse
e absorção de conhecimento por parte delas.
Um dos desdobramentos futuros para essa pesquisa seria aproveitar as
categorias de Calvino, junto com as desenvolvidas neste estudo, para criar uma
forma de avaliação heurística – método informal de avaliação de produtos e
objetos por especialistas, no caso de design gráfico, a partir de princípios
heurísticos, ou seja, de parâmetros que o objeto deve atender – específica para
Conclusão
157
livros infantis. Outro desdobramento seria aproveitar as categorias encontradas
para avaliar novos suportes, além do livro, como por exemplo: sites, CDs, DVDs
etc. Por fim, um desdobramento natural desta pesquisa seria o estudo da recepção,
ficando assim essas sugestões para um saber futuro.
9
Referências Bibliográficas
AGUIAR, Vera Teixeira de. Era uma vez... na escola: formando
educadores para formar leitores. Belo Horizonte: Formato Editorial, 2001.
AMÂNCIO, Lázara Nanci de Barros. Cartilhas, para quê?. Cuiabá: Editora
Universitária, 2002.
ANDERSON, Perry. As Origens da Pós-Modernidade. Trad. Marcus
Penchel. Rio: Zahar, 1999
ARAÚJO, Emanuel. A construção do livro: princípios da técnica de
editoração. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Brasília: Instituto Nacional do
livro, 1986.
ARIZPE, Evenly; STYLES, Morag. Children Reading Pictures: Interpreting
Visual Texts. London, New York: Routledge Falmer, 2003.
ARNHEIM, Rudolf. Arte & Percepção Visual: uma psicologia da visão
criadora. Trad. Ivone Terezinha de Faria. São Paulo: Pioneira, 1989.
BARBOSA, J. J. Alfabetização e Leitura. São Paulo: Cortez, 1990.
BORRÁS, Leticia; CARITÁ, María Aurelia. Infototal, inforrelato e infopincel.
Nuevas categorías que caracterizan la infografía como estructura
informativa. In: Revista Latina de Comunicación Social. Número 35.
Novembro de 2000 [extra "La comunicación social em Argentina"], La Laguna
(Tenerife).
CAIRO, Alberto. Sailing to the future: infographics in the internet era.
North Carolina: Multimedia Bootcamp, 2005.
_____________. Infografia, Periodismo Visual y Literatura. 2003. URL:
http://www.albertocairo.com. Data de acesso: 05.08.2008.
_____________. Infografia não é uma linguagem do futuro, é do
presente. URL:http://jpn.icicom.up.pt/2006/07/11. Data de acesso em
12.4.2008.
CALVINO, Italo. As Cidades Invisíveis. São Paulo: Cia. das Letras, 2000.
Referências Bibliográficas
159
______. As Cosmicômicas. São Paulo: Cia. das Letras, 1999.
______. Por que ler os clássicos. São Paulo: Cia. das Letras, 2000.
______. Seis propostas para o próximo milênio. São Paulo: Cia. das
Letras, 2001.
CAMARGO, Luis. Ilustração do livro infantil, Belo Horizonte: Editora Lê,
1995.
CARDOSO, Rafael. Uma Introdução à história do design. 2ed. São Paulo:
Edgard Blücher, 2004.
______. O design brasileiro antes do design: aspectos da história
gráfica. São Paulo: Cosac Naify, 2005.
CARVALHO, Kátia de. O hábito de leitura através da arte in YUNES, Eliana
(coordenadora). A leitura e a formação do leitor: questões culturais e
pedagógicas. Rio de Janeiro: Edições Antares, 1984.
CHARTIER, Roger. Práticas da leitura (org.). São Paulo. Estação Liberdade,
1996.
COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil: Teoria, Análise, Didática. São
Paulo: Moderna, 2000.
______. Panorama Histórico da Literatura Infantil/Juvenil. São Paulo:
Ática, 1991.
CUNHA, Newton. Dicionário SESC: a linguagem e a cultura. São Paulo:
Editora Perspectiva S.A., 2003.
DE PABLOS, J. M. de. Infoperiodismo - El periodista como creador de
infografia. Madrid : Editorial Síntesis, 1999.
DONDIS, Donis. A Sintaxe da linguagem visual. São Paulo: Martins
Fontes,1991.
FIELL, Charlotte & Peter. Design do Século XX. São Paulo: Taschen, 2000
GAMBA JR, Nilton Gonçalves. O Flautista de Hamelin: o sedutor design do
livro de histórias infantil e sua relação com a narratividade. Dissertação
de mestrado. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Departamento de Artes e Design, 1999.
Referências Bibliográficas
160
______. Narrativa e Aids: Noites Felinas e as dualidades da experiência
narrativa pós-moderna. Dissertação de doutorado. Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro. Departamento de Psicologia, 2004.
HARVEY, David. Condição Pós-Moderna, 13ed. São Paulo: Edições Loyola,
2004.
HOMEN DE MELO, Chico. Design Gráfico Brasileiro: Anos 60. São Paulo:
Cosac Naify, 2006.
HUTCHEON, Linda. A poética do Pós-Modernismo: história, teoria, ficção.
Rio de Janeiro: Imago Editora, 1988.
IBGE. Vamos Compreender o Brasil. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística, 2001.
______. Fauna Ameaçada de extermínio. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística, 1997.
______. Brasileirinho e o contador de povo. Rio de Janeiro: Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística, 1998.
______. Fauna Ameaçada de extinção. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística, 2001.
______. O que está acontecendo com a nossa Terra?. Rio de Janeiro:
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2002.
______. Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística, 2004.
______. Meu 1o Atlas. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística, 2005.
ISER, Wolfgang. The Act of Reading: a theory of aesthetic response.
Baltimore: The Johns Hopkins University Press, 1978.
JOBIM, Solange. Infância e Lingüagem:Bakhtin, Vigotski e Benjamin. 3ed.
Campinas: Papirus, 1996.
LAJOLO, Marisa & ZILBERMAN, Regina. A formação da leitura no Brasil.
São Paulo: Ática, 1996.
LETURIA, Elio. ¿Qué es infografía?. In: Revista Latina de Comunicación
Social.
Abril
de
1998.
La
Laguna
(Tenerife).URL:
http://www.ull.es/publicaciones/latina/z8/r4el.htm. Data de acesso: 06.08.2008.
Referências Bibliográficas
161
LINS, Guto. Livro Infantil? Projeto gráfico, metodologia, subjetividade.
São Paulo: Edições Rosari, 2002.
LIMA, Graça. O design Gráfico do livro Infantil Brasileiro: a década de 70
– Ziraldo, Gian Calvi, Eliardo França. Dissertação de mestrado. Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro. Departamento de Artes e Design,
1999.
LYOTARD, Jean-François, A Condição Pós-Moderna. 5ed. São Paulo: José
Olympio, 1998.
MANGUEL, Alberto. Uma história da Leitura. São Paulo: Companhia das
Letras, 1997.
______. Lendo Imagens. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
NECYK, Bárbara. Texto e Imagem: um olhar sobre o livro infantil
contemporâneo. Dissertação de mestrado. Pontifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro. Departamento de Artes e Design, 1999.
NICHANI, Maish; RAJAMANICKAM, Venkat. Visual Interactive Explainers –
a
simple
classification.
Data
do
Post:
01.09.2003,
URL:http://www.elearningpost.com/features/archives/002102.asp. Data de
acesso: 05.08.2008.
ORLANDI, Eni Pulcinelli. Discurso e Leitura. Campinas: Editora da
UNICAMP, 1988.
PONDÉ, Gloria. A arte de fazer artes : como escrever historias para
crianças e adolescentes. Rio de Janeiro : Editorial Nordica, 1984.
RABAÇA, Carlos Alberto; BARBOSA, Gustavo. Dicionário de Comunicação.
Rio de Janeiro: Editora Campus, 1985
STIERLE, Karlheinz. Que significa a recepção dos textos ficcionais? in
LIMA, Luiz Costa (org.). A literatura e o leitor: textos de estética da
recepção. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.
STRUNK, Gilberto. Identidade Visual, a direção do olhar.Rio de Janeiro:
Europa, 1989.
VIGOTSKI, Lev Semyonovitch. A formação social da mente. 6ed. São
Paulo: Martins Fontes, 1988.
YUNES, Eliana. A leitura e a formação do leitor: questões culturais e
pedagógicas. Rio de Janeiro: Edições Antares, 1984.
Referências Bibliográficas
162
ZAUR, Ana Paula, Por um significado da ilustração no livro infantil
brasileiro. Dissertação de mestrado. Pontifícia Universidade Católica do Rio
de Janeiro. Departamento de Artes e Design, 1997.
ZILBERMAN, Regina. A formação do leitor infantil in YUNES, Eliana
(coordenadora). A leitura e a formação do leitor: questões culturais e
pedagógicas. Rio de Janeiro: Edições Antares, 1984.
______. A literatura infantil na escola. 4.ed. São Paulo: Global Ed., 1985.
______. Fim do livro, fim dos leitores?. São Paulo: Ed. SENAC, 2001.
______. Como e Porque Ler a Literatura Infantil Brasileira. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2005.
Entrevista não publicada
TAI, David Wu. Entrevista concedida a Ana Claudia Sodré. Rio de Janeiro, 05
fev. 2009.
10
Anexos
10.1.
Entrevista com David Wu Tai, membro do Conselho Diretor do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE e Coordenador
Geral do Centro de Documentação e Disseminação de Informações
do IBGE
AC- Quando o IBGE decidiu investir em publicações voltadas para o público
infantil?
DWT - O IBGE começou...a primeira experiência que teve já remonta
precisamente ao Censo de 1970 quando foi feito um tipo de um gibi, Paulinho e o
Censo se eu não me engano, que tinha como objetivo popularizar o Censo para
melhorar o grau de respostas das pessoas.
AC- Qual foi o objetivo desde o início? Por quê?
DWT - Ele iniciou assim, tá, é ...para sensibilizar o público a responder o Censo.
Depois, no Censo de 1991 teve início um projeto que se chamou Projeto Escola,
que num primeiro momento também tinha como alvo o público escolar, para
tornar os alunos agentes de promoção da atividade censitária e ajudar o trabalho
do recenseador para abrir a porta e responder corretamente as questões. Mas,
naquele momento a gente tomou noção de que isso era muito pouco e que na
verdade a gente tinha que se dedicar a 2 linhas: uma em a alfabetização estatística
e outra em a alfabetização geográfica. Por isso que a gente começou a produzir
publicações tendo como alvo o público infanto-juvenil.
AC - E a primeira publicação foi a Fauna ameaçada de extermínio, feita em
1997?
DWT - Foi, a Fauna ameaçada de extinção.
Anexos
164
AC - Quem foi a pessoa que teve essa idéia e por quê? A idéia de fazer material
para o público infantil?
DWT - Bom, como eu te disse essas idéias vem de muito tempo, então na verdade
não tem paternidade né, então isso aí é um pouco de discussão interna aqui da área
de disseminação, da área de marketing.
AC – Achei que tivesse sido o Sr, não foi não?
DWT – Mas eu não gosto de me dar a paternidade das coisas, tá...então, na
verdade é um trabalho de equipe.
AC – E que equipe foi essa?
DWT – Foi o pessoal do grupo de criação que tem aqui dentro e do grupo de
projetos especiais.
AC- Como são escolhidos os temas dessas publicações? É algum tema do
momento, é alguma coisa que vocês vão fazer, vão lançar no futuro e já estão
preparando o terreno, como é que é? Eu vi agora que o IBGE lançou uma
publicação sobre a imigração japonesa no Brasil. Então, foi comemorado no ano
passado o Centenário de Imigração Japonesa. Então, vocês escolhem de acordo
com o que está em voga no momento ou...
DWT – Podemos dizer assim: tem uma linha que segue o chamado marketing de
oportunidade, a oportunidade de festejar alguma coisa e ter um público alvo
específico, que é o caso do mangá que foi feito para o público juvenil. Mas, na
verdade os grandes momentos, vamos dizer, onde há um investimento muito
grande na produção de publicações dirigidas ao público infantil é por ocasião do
censo, certo! Então no de Censo de 2000 nós tivemos o Projeto Vamos Contar,
que atingiu aproximadamente 120 mil escolas (não conseguiu atingir as 200mil
escolas do país na época, por problemas operacionais) e que distribuiu, por
exemplo, entre material didático para atividades que foram desenvolvidas em sala
de aula e um milhão de mapas do Brasil.
AC- Qual foi a primeira publicação e quando foi publicada? Aqui eu queria fazer
um recorte, como falam no mestrado, exclusivamente para publicações infanto-
Anexos
165
juvenis, não para jogos, nem outro tipo de material, mas a publicação em si. Eu
acho que foi a Fauna ameaçada de extermínio.
DWT – Não a primeira publicação foi aquela que eu falei pra você: Paulinho e o
Censo, que você vai ter que ver na biblioteca ou eu depois te passo um e-mail
dando a data.
AC – Não, é que eu mandei um e-mail para a moça da biblioteca que eu esqueci o
nome agora...
DWT – A Tereza
AC – A Tereza e ela não me falou desse
DWT – Não, esse é o mais antigo que tem, na verdade é um gibizinho que foi
distribuído.
AC – E por acaso o senhor tem um exemplar dele, pois eu precisava escanear a
capa?
DWT – Eu não tenho, mas eu posso arrumar e te mando.
AC – Agora eu precisava saber uma informação que talvez que o senhor não
venha a lembrar, eu precisava saber da tiragem das publicações. Será que eu
poderia mandar a lista das publicações por e-mail e alguém...
DWT – Mas tem as reedições...
AC – Mas, normalmente a primeira edição
DWT – Normalmente a primeira edição é de 3 mil exemplares, porque a gente
primeiro vê qual a receptividade que isso vai ter junto ao público.
AC – Mas no caso do Atlas Geográfico Escolar foi uma tiragem enorme, né? Por
que foram pras escolas...
DWT – O Atlas Geográfico Escolar foi uma tiragem enorme, foi um milhão de
exemplares. Mas isso já era um convênio feito com o MEC, mas, inicialmente
Anexos
166
teve uma tiragem de 3 mil, certo, para sensibilizar, pra mostrar, etc. e tal, e depois
o MEC através do FMDE fez a compra de 1 milhão de exemplares.
AC – E uma dúvida que eu tenho é o Vamos Compreender o Brasil, qual foi a
tiragem dele, o senhor lembra?
DWT – A tiragem dele foi pequena, foi uma tiragem de 2 mil.
AC – E ele foi distribuído nas escolas municipais, estaduais?
DWT – Foi distribuído para um conjunto de professores formadores de opinião,
mas na verdade, não conseguimos fazer ele decolar em termos de tiragem.
AC – Acho que eu sei porque, depois a gente conversa sobre isso. É exatamente o
que eu estou estudando. Tá, mas normalmente as publicações, quando são
impressas aqui, feitas pelo IBGE, elas vão para as escolas ou isso não é uma
regra?
DWT – Eles vão para...primeiro vão para as livrarias, escolas, eh, algumas
pessoas recebem as publicações que são normalmente ligadas a educação e
ministérios e quando a coisa decola, vão pras escolas. Tem coisas que são de
distribuição gratuita pras escolas, tem outras coisas que são conveniadas com o
MEC para ser mandadas pras escolas.
AC - Existe uma metodologia para o desenvolvimento dessas publicações?
DWT – Sempre quando a gente tem em mente fazer alguma publicação a gente
chama um especialista no assunto pra nos orientar.
AC- Mas, além do especialista no assunto, tem um especialista em pedagogia?
DWT – Tem pedagogos, professores.
AC - Existem outros setores do IBGE voltados para o público infantil, além desse
setor de criação que o senhor falou que faz as publicações? Há um outro setor,
sem ser de publicação, que é voltado para o público infantil, no caso de sites,
jogos, alguma coisa assim, ou é tudo feito pela equipe de criação?
Anexos
167
DWT – Não, na verdade nós podemos falar que é só a equipe de criação...na
verdade é a equipe do CDDI, então tem várias áreas que interagem nessa
produção. Então na área de internet tem todo um pessoal de webdesign, etc. e tal
que participa da elaboração do site...
AC – Mas, eu queria saber se existe uma equipe especializada só no público
infanto-juvenil?
DWT – Não existe
AC – Ou seja essas equipes fazem várias coisas para vários públicos diferentes?
DWT – A equipe aqui tem que ser multidisciplinar, porque somos poucos.
AC – E a formação profissional dessas pessoas? No caso são designers (para fazer
os sites e as publicações)? E ajudados por pedagogos e por pessoas que conhecem
bem o assunto do qual o IBGE vai abordar?
DWT – É, no momento há especialistas, agora quando se trata de um livro que
tem caráter pedagógico...por isso que tem o pedagogo, pois temos que seguir os
parâmetros curriculares mínimos instituídos pelo MEC.
AC – Mas não existe nenhum pedagogo aqui dentro? O senhor tem que chamar
alguém de fora?
DWT - Não, não tem nenhum pedagogo.
AC - Depois de finalizadas essas publicações são testadas com crianças e
professores, antes de serem impressas, ou não?
DWT – Sim, são testadas com professores, alunos, etc.
AC – E como é o retorno?
DWT – O retorno tem sido sempre ótimo, porque uma das coisas que destaca as
publicações do IBGE é a qualidade, não apenas do conteúdo, mas também, em
especial ao design. Que é uma das coisas que a gente sempre se preocupou é com
a questão do design da apresentação do produto. Nós podemos dizer que esse é
Anexos
168
um grande diferencial das obras do IBGE, e no caso as voltadas para o público
infantil.
AC - O IBGE pretende, no futuro, montar uma equipe apenas para desenvolver
produtos para o público infantil, ou como o senhor falou,vai continuar, como uma
equipe pequena, fazendo de tudo? O senhor acha que no futuro vocês vão investir
numa equipe só pra isso, ou não?
DWT – Eu acho difícil, mas no momento estamos, por exemplo, com um projeto
do Vamos Contar pro Censo 2010, que certamente vai ser um grande projeto que
vai atingir todas as escolas do país. Que nesse momento são mais de 200 mil.
AC – Bom, então o senhor já está respondendo a próxima pergunta que é: o IBGE
pretende continuar investindo nesse público? Com certeza, né?
DWT – Claro, porque na verdade nós queremos formar um cidadão do futuro que
saiba usar as nossas publicações, né? E também, uma coisa que não foi destacada
na nossa conversa é que um dos produtos mais populares que o IBGE já produziu
no passado, é o Atlas do Brasil, da década de 60. Na verdade, todo o pessoal da
década de 60 usou esse Atlas do IBGE.
AC- Nesse momento, existe alguma publicação sendo desenvolvida, para esse
público?
DWT – No momento estamos de corpo e alma no projeto Vamos Contar, porque
vão ser tiragens acima de 1 milhão de exemplares, etc, e vai ter também vídeos, é
jogos na internet, etc. Nós estamos correndo atrás disso.
AC – Agora eu queria que o senhor me falasse um pouco (já que a minha pesquisa
está voltada para essas duas publicações daqui do IBGE) sobre o Vamos
Compreender o Brasil e o Meu 1° Atlas. Na verdade o Vamos Compreender o
Brasil, o senhor já falou que só teve tiragem de 2 mil. Mas e o Meu 1° Atlas, o
senhor lembra qual foi a tiragem?
DWT – O Meu 1° Atlas teve uma tiragem de 3 mil e agora está tendo uma nova
tiragem de mais 3 mil.
Anexos
169
AC – Comparando um com o outro, apesar de terem conteúdos diferentes, o
senhor viu um progresso de um para o outro, em termos de prender a atenção da
criança? Que é exatamente o que eu estou estudando. No caso como fui eu que fiz
os dois, eu senti uma diferença enorme em tudo,vem design, em texto, em
conteúdo, tudo, de um pra outro, apesar de terem conteúdos diferentes.
DWT – Mas você tinha é...como eu falei um dos nossos objetivos é a
alfabetização estatística e a alfabetização cartográfica, né? A alfabetização
cartográfica ela pode fazer uma série de abstrações, contar histórias, etc, podemos
fazer uma coisa assim, do ponto de vista do design, algo mais atraente, porque é
um assunto mais atraente. É diferente de números, né? E principalmente as
pessoas entenderem o que os números querem dizer, então, essa é exatamente a
diferença de um produto e outro.
AC- Mas, o senhor não acha que dá pra fazer pela mesma linha do Meu 1° Atlas,
uma publicação de estatística? Eu acho que sim, eu acho que dá pra contar uma
história, dá pra ter personagens, dá pra ser mais leve o texto.
DWT – Olha na verdade, o veículo ideal pra fazer isso, hoje em dia, não seria uma
publicação em papel, né? O grande gesto que se tem nesse assunto, por exemplo,
vem do grupo que faz estatística no Canadá, que é o Statistics Canada, que
utiliza a internet. A internet permite que as pessoas interajam, construindo os
números, e assim elas entendem melhor. Em compensação,por exemplo, certos
produtos como atlas, embora também tenhamos atlas em meio eletrônico, o atlas
em papel ainda exerce um fascínio diferenciado. Então nós temos, por exemplo,
para o público adulto, o Atlas Nacional do Brasil em meio digital e em meio
papel, mas a demanda é sempre sobre o papel.
Anexos
170
10.2.
Listas de obras de Italo Calvino
10.2.1.
Lista que consta no site Wikipédia
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Italo_Calvino)
Il sentiero dei nidi di ragno (1947) (br: A trilha dos ninhos de aranha)
Il visconte dimezzato (1952) (br: O visconde partido ao meio)
Il barone rampante (1957) (br: O barão nas árvores, pt: O barão trepador)
Il cavaliere inesistente (1959) (br: O cavaleiro inexistente)
La giornata di uno scrutatore (1963) (br: O dia de um escrutinador)
Le cosmicomiche (1965) (br: As cosmicômicas)
Il castello dei destini incrociati (1969) (br: O castelo dos destinos cruzados)
Gli amori difficili (1970) (br: Os amores difíceis)
Le città invisibili (1972) (br: As cidades invisíveis)
Se una notte d'inverno un viaggiatore (1979) (br: Se um viajante numa noite de
inverno)
Palomar (1983) (br: Palomar)
Sotto il sole giaguaro (1988) (br: Sob o sol-jaguar)
La strada di San Giovanni (1990) (br: O caminho de San Giovanni)
Perché leggere i classici (1991) (br: Por que ler os clássicos)
Anexos
171
10.2.2.
Lista que consta no site americano sobre Italo Calvino
(http://www.italo-calvino.com/)
10.2.2.1.
Livros de ficção
Il sentiero dei nidi di ragno. Turin: Einaudi, 1947. (br: A trilha dos ninhos de
aranha)
Ultimo Viene il corvo (The Crow Comes Last). Turin: Einaudi, 1949. (br: Por
último vem o corvo)
Il visconte dimezzato. Turin: Einaudi, 1952. (br: O visconde partido ao meio)
La formica argentina. Turin: Einaudi, 1965. (br: A formiga argentina)
L'entrata in guerra. Turin: Einaudi, 1954. (br: Entramos na guerra)
Fiabe italiane. Turin: Einaudi, 1956. (br: Fábulas italianas)
Il barone rampante. Turin: Einaudi, 1957. (br: O Barão nas árvores)
I racconti. (The Stories) Turin: Einaudi, 1958. (br: As histórias)
Il cavaliere inesistente. Turin: Einaudi, 1959. (br: Cavaleiro Inexistente)
La giornata d' uno scrutatore. Turin: Einaudi, 1963. (br: O dia de um
escrutinador)
Marcovaldo, ovvero le stagiono in citta. Turin: Einaudi, 1963. (br: Marcovaldo ou
as estações na cidade)
Le cosmicomiche. Turin: Einaudi, 1965. (br: As cosmicômicas)
Ti con zero. Turin: Einaudi, 1967. (br: T = 0)
La memoria del mondo e altre storie cosmicomiche. Milan: Club degli Editori,
1968. (br: A memória do mundo e outras estórias de Cosmicômicas)
Il castello dei destini incrociati in Tarocchi: Il mazzo viconte de Bergamo e di
New York. Parma: Franco Maria Ricci Editore, 1969. (br: O castelo dos destinos
cruzados)
Gli amori difficili. Turin: Einaudi, 1970. (br: Amores difíceis)
Anexos
172
Le citta invisibili. Turin: Einaudi, 1972. (br: Cidades invisíveis)
Se una notte d'inverno un viaggiatore. Turin: Einaudi, 1979. (br: Se um viajante
numa noite de inverno)
Palomar. Turin: Einaudi, 1983. (br: Palomar)
Cosmicomiche vecchie e nuove. Milan: Garzanti, 1984. (br: Todas as
Cosmicômicas)
Sotto il Sole giaguaro. Milan (posthumous work) ; Garzanti, 1986. (br: Sob o sol Jaguar)
La strada di San Giovanni (posthumous). Milan: Mondadori, 1990. (br: O
caminho de San Giovanni)
10.2.2.2.
Ensaios
Lezioni Americane: Sei proposte per il prossimo millennio. Milan: Garzanti, 1988.
(br: Lições Americanas: Seis propostas para o próximo milênio)
Perche leggere i classici (posthumous). Milan: Mondadori, 1991. (br: Por que ler
os Clássicos)
Una pietra sopra: Discorsi di letteratura e societa. Turin: Einaudi, 1980. (br:
Uma pedra em cima: Discurso de literatura e sociedade)
10.2.3.
Lista encontrada no site:
http://www.des.emory.edu/mfp/calvino/calchrono.html
1947
Sentiero dei nidi di ragno (br: A trilha dos ninhos de aranha)
1949
Ultimo viene il corvo (br: Por último vem o corvo)
1951
I giovanni del Po
Anexos
173
1952
Il Visconte Dimezzato (br: O visconde partido ao meio)
La Formica Argentina (br: A formiga argentina)
1956
Fiabe Italiane (br: Fábulas italianas)
1957
Il Barone Rampante (br: O barão nas árvores)
1958
I racconti (br: As histórias)
1959
Il Cavaliere Inesistente (br: Cavaleiro inexistente)
1963
La Giornata di Uno Scrutatore (br: O dia de um escrutinador)
1965
Cosmicomiche (br: As Cosmicômicas)
1967
Ti con Zero (br: T = 0)
1969
Il castello dei destini incrociati (br: O castelo dos destinos cruzados)
1970
Gli Amore Difficile (br: Amores difíceis)
1972
La Citta Invisibili (br: Cidades invisíveis)
1973
Il nome, il naso
1979
Si una notte d'inverno un viaggiatore (br: Se um viajante numa noite de inverno)
1980
Una pietra sopra: Discorsi di letteratura e societa. (br: Uma pedra em cima:
Discurso de literatura e sociedade)
Anexos
174
1983
Palomar (br: Palomar)
Il Fantastico Quotidiano (br: Contos fantásticos)
1988
Lezioni Americane: Sei proposte per il prossimo millennio (br: Lições
Americanas: Seis propostas para o próximo milênio)
1990
La Strada di San Giovanni (O caminho de San Giovanni).
1993
Prima che tu dica "Pronto"
10.2.4.
Obras do autor publicadas no Brasil pela editora Cia das Letras em
ordem alfabética, encontradas no site
http://www.ciadasletras.com.br/
Os amores difíceis (1992)
O Barão nas árvores (1991)
O caminho de San Giovanni (2000)
O castelo dos destinos cruzados (1991)
O cavaleiro inexistente (1993)
As cidades invisíveis (1990)
As Cosmicômicas (1992)
O dia de um escrutinador (2002)
Eremita em Paris (2006)
Fábulas italianas (1992)
Um general na biblioteca (2001)
Marcovaldo (1994)
Anexos
Os nossos antepassados (1997)
Palomar (1994)
Perde quem fica zangado primeiro (1995)
Por que ler os Clássicos (1993)
Se um viajante numa noite de inverno (1999)
Seis propostas para o próximo milênio (1990)
Sob o sol-Jaguar (1995)
Todas as Cosmicômicas (2007)
A trilha dos ninhos de aranha (2004)
O visconde partido ao meio (1996)
175
Anexos
176
10.3.
Listas
10.3.1.
Lista com diversas categorias encontradas na dissertação
Capítulo 2
Informação
Documentação
Disseminação
Comunicação
Informação
Informações rápidas
Multi-temático
Dinâmico
Contemporâneo
Desenvolve
Renova
Incorpora
Articula
Divulga
Formação
Conhecimento
Descrição
Análise
Adequada
Implementa
Criação
Capítulo 3
Interdisciplinaridade
Transmissão
Conhecimento
Educar
Propagar
Difusão
Popular
Moral
Educacional
Pioneiros
Simplificação
Exclusão
Apropriado
Adaptação
Mistura
Produção
Legitimação
Mediação
Acesso
Inserção
Recepção
Relação
Multiplicidade
Destinatário
Experimentação
Imaginário
Interação
Criativa
Provoca
Contato
Troca
Formação
Desenvolvimento
Crescimento
Compreensão
Adequação
Consonância
Inteligente
Participação
Atraente
Adequado
Mediação
Contemporâneo
Hibridismo
Superposição
Interação
Simultâneo
Tecnologia
Inovação
Interativo
Estímulo
Multisensorial
Materialidade
Simplicidade
Capítulo 4
Eficiência
Pluralismo
Tolerância
Heterogeneidade
Diferença
Fragmentação
Entrelaçamento
Diferenças
Incomensurável
Especialidades
Performatividade
Metodologia
Pesquisa
Polissemia
Mensagem
Aprendizagem
Identificação
Participação
Direto
Alternativa
Hiper-especialização
Adaptação
Instrutivo
Formação
Exploratório
Instrução
Eficiente
Pedagógica Instantâneo
Produto
Compacto
Consumo
Preciso
Atrativo
Veloz
Informação
Ágil
Senso crítico Moderno
Associação
Informado
Misturar
Confortável
Didático
Satisfeito
Lúdico
Divertido
Interligado
Interesse
Aprendizagem
Integrar
Harmonia
Diversidade
Interpretar
Mesclar
Prazer
Diversão
Estimular
Facilitar
Comunicação
Beneficiar
Modificar
Difundir
Conhecimento
Uniformidade
Unidade
Informar
Instruir
Educar
Heterogeneidade
Transitoriedade
Aleatoriedade
Interação
Claro
Objetivo
Fácil
Compreensão
Dinâmico
Prático
Rápido
Interligar
Organizar
Condensar
Simples
Simultâneo
Direto
Narrativa
Capítulo 5
Interligada
Formação
Imaginário
Ficção
Teoria
Mesclar
Alternar
Releitura
Incentivo
Opção
Mediação
Multiplicidade
Fantasia
Objetiva
Riqueza
Detalhes
Autêntico
Verídico
Ficção
Poético
Narrativa
real
Humor
Lúdico
Ilógico
Lógico
Racional
Comprovado
Verdadeiro
Pessoal
Indiferente
Estimular
Percepção
Anexos
177
10.3.2.
Lista das categorias propostas por Italo Calvino e outros autores
CATEGORIAS
CALVINO
CATEGORIAS
DONDIS
CATEGORIAS
OUTROS AUTORES
LEVEZA
RAPIDEZ
EXATIDÃO
VISIBILIDADE
MULTIPLICIDADE
HARMONIA
X
CONTRASTE
MINIMIZAÇÃO
X
EXAGERO
EQUILÍBRIO
X
INSTABILIDADE
PREVISIBILIDADE
X
ESPONTANEIDADE
SINGULARIDADE
X
JUSTAPOSIÇÃO
UNIDADE
X
FRAGMENTAÇÃO
ATIVIDADE
X
ESTASE
SIMPLICIDADE
X
COMPLEXIDADE
NEUTRALIDADE
X
ÊNFASE
INTERATIVO
HIBRIDISMO
TRANSPARÊNCIA
X
OPACIDADE
REPETIÇÃO
X
EPISODICIDADE
EXATIDÃO
X
DISTORÇÃO
PLANURA
X
PROFUNDIDADE
MULTISENSORIAL
SIMETRIA
X
ASSIMETRIA
ECONOMIA
X
PROFUSÃO
AGUDEZA
X
DIFUSÃO
INFORMAÇÂO
MULTI-TEMÁTICO
COMUNICAÇÃO
REGULARIDADE
X
IRREGULARIDADE
DINÂMICO
RENOVAÇÃO
SUTILIZA
X
OUSADIA
RECEPÇÂO
TRANSITÓRIO
SIMPLES
PERCEPÇÃO
ALEATÓRIO
APROPRIADO
EXPERIMENTAÇÃO
RÁPIDO
ADAPTAÇÃO
IMAGINÁRIO
CONDENSAR
ESTABILIDADE
X
VARIAÇÃO
ATRAENTE
POÉTICO
LÚDICO
DIVERTIDO
INTERESSANTE
HARMÔNICO
PRAZEROSO
ESTIMULA
SATISFAÇÃO
CRIAÇÃO
PLURALISMO
ESPECIALIDADES
ACESSÍVEL
POLISSEMIA
INSTANTÂNEO
COMPREENSÃO
EXPLORATÓRIO
DIVERSIDADE
COMPACTO
ADEQUAÇÃO
SIMULATÓRIO
INTERLIGAR
FICÇÃO
INTEGRAR
FANTASIA
MISTURAR
VELOZ
ÁGIL
CONTEMPORÂNEO
DIRETO
FÁCIL
PESSOAL
ASSOCIAR
CLARO
FORMAÇÃO
ENTRELAÇAR
OBJETIVO
TROCAR
PRÁTICO
TEORIA
MESCLAR
PRECISO
NARRATIVA
ALTERNAR
HUMOR
CONFORTÁVEL
LIRISMO
DETALHADO
UNIFORMIDADE
SIMULTÂNEO
LÓGICO
RACIONAL
ORGANIZAÇÃO
DOCUMENTAÇÃO
ARTICULAÇÃO
AUTÊNTICO
VERÍDICO
VERDADEIRO
LEGITIMAÇÃO
METODOLOGIA
CONSISTÊNCIA
Anexos
178
10.3.3.
Lista das categorias encontradas ao longo dessa dissertação
mescladas com as categorias de Italo Calvino, fazendo 3
associações por paralelismo
LEVEZA
LEVEZA
superficialidade
HARMONIA (X CONTRASTE)
agradável / equilibrado
UNIDADE (X FRAGMENTAÇÃO)
coesão / harmonia /união
TRANSPARÊNCIA (X OPACIDADE)
translúcido / claro / evidente
SIMETRIA (X ASSIMETRIA)
correspondência / simultâneo / semelhança
REGULARIDADE (X IRREGULARIDADE)
proporcional / simétrico / em harmonia
ESTABILIDADE (X VARIAÇÃO)
equilíbrio / firmeza / segurança
ordem / sucessão / lógico / natural
ATRAÇÃO
distrações / divertimentos / prazeres
POESIA
poder criativo / inspiração / imaginação
LÚDISMO
jogos / brinquedos
DIVERSÃO
distração / passatempo
INTERESSE
atrativo / simpatia
HARMONIA
agradável / equilibrado
PRAZER
deleite / gosto / satisfação / agradável
ESTÍMULO
atividade
SATISFAÇÃO
contentamento / prazer / agradável
HUMOR
engraçado / divertido
LIRISMO
subjetividade / estado de alma / espírito
UNIFORMIDADE
igualdade / regularidade / conformidade
Anexos
179
RAPIDEZ
RAPIDEZ
veloz / ligeiro / breve / ágil
MINIMIZAÇÃO (X EXAGERO)
redução
ATIVIDADE (X ESTASE)
ação / initerrupto
REPETIÇÃO (X EPISODICIDADE)
duplicação / reprodução
ECONOMIA (X PROFUSÃO)
harmonia / redução
DINAMISMO
movimento / ativo / energético
RENOVAÇÃO
dar novo início a / recomeçar
TRANSITORIEDADE
breve / passageiro
ALEATORIEDADE
eventual / incerto
RAPIDEZ
veloz / ligeiro / breve / ágil
CONDENSAÇÃO
amontoar / juntar / resumir / sintetizar
INSTANTANEIDADE
rápido / súbito /momentâneo
COMPACTAÇÃO
união / comprimido / reduzido
VELOCIDADE
rapidez / agilidade
AGILIDADE
ligeiro / vivacidade
CONTEMPORANEIDADE
atual
Anexos
180
EXATIDÃO
EXATIDÃO
precisão / certeza
EQUILÍBRIO (X INSTABILIDADE)
proporção / harmonia / compensar
SIMPLICIDADE (X COMPLEXIDADE)
fácil /claro /perceptível /inteligível
EXATIDÃO (X DISTORÇÃO)
precisão / certeza
AGUDEZA (X DIFUSÃO)
compreensão exata / perspicácia / argúcia
SUTILIZA (X OUSADIA)
delicadeza / tenuidade / fragilidade
fácil / claro /perceptível / intelegível
adaptação
SIMPLICIDADE
APROPRIAÇÃO
ADAPTAÇÃO
ACESSIBILIDADE
COMPREENSÃO
harmonia / combinar / encaixar / justapor
alcance / comunicação / intelegível
entender / perceber
ADEQUAÇÃO
apropriar
rendimento
DIRETO
claro / franco /imediato
simples / natural / claro / intelegível
simples / natural /provável / acessível
FACILIDADE
CLAREZA
OBJETIVIDADE
PRATICIDADE
PRECISÃO
CONFORTÁVEL
DETALHAMENTO
LÓGICO
RACIONALIDADE
ORGANIZAÇÃO
DOCUMENTAÇÃO
ARTICULAÇÃO
AUTENTICIDADE
VERACIDADE
COMPROVAÇÃO
LEGITIMAÇÃO
METODOLOGIA
direto
adaptação
exato / certo /claro / conciso / resumido
cômodo / tranquilo
exposição minuciosa / particularização
coerente / racional / discursivo / teórico
lógico
criar / preparar / dispor / arranjar / ordenar
juntar
ligar / unir
certo / incontestado / positivo
verdadeiro / real /exatidão
demosntrar / evidenciar
reconhecer como autêntico / verdadeiro
ordem / sistemas / regras
Anexos
181
VISIBILIDADE
VISIBILIDADE
PREVISIBILIDADE (X ESPONTANEIDADE)
NEUTRALIDADE (X ÊNFASE)
PLANURA (X PROFUNDIDADE)
INFORMAÇÂO
COMUNICAÇÃO
CRIAÇÃO
RECEPÇÂO
PERCEPÇÃO
EXPERIMENTAÇÃO
IMAGINAÇÃO
EXPLORAÇÃO
SIMULAÇÃO
FICÇÃO
FANTASIA
PESSOAL
FORMAÇÃO
METODOLOGIA
TEORIA
NARRATIVA
COMPREENSÃO
percepção
esperável
indefinição / vago / indeterminado
fácil / claro /accecível
transmitir / comunicar
informação / participação / transmissão
produção / invenção / formação /educação
aceitar / escolher /recebimento
recebimento / recepção
executar / sentir / suportar
criar / conceber / fantasia
realização / feito / façanha / atuação / desempenho
pesquisa / análise / investigação / aproveitamento
fingimento / disfarce / dissimulação / simulação
simulação / fingir / imaginar
invenção / imaginação
que é próprio
conceber / constituir / produzir / ordenar
ordem / sistema / regras
recado / discurso
conhecimento
conto / história
percepção
Anexos
182
MULTIPLICIDADE
MULTIPLICIDADE
JUSTAPOSIÇÃO (X SINGULARIDADE)
LEGITIMAÇÃO
INTERAÇÃO
HIBRIDISMO
SIMULTANEIDADE
MULTISENSO
variado / complexo
colocação
autenticidade
reação / reciprocidade
composto de elementos de natureza diferentes
ao mesmo tempo
MULTI-TEMA
vários sentidos / vários raciocínios
vários assuntos
INTERDISCIPLINARIDADE
várias disciplinas
SUPERPOSIÇÃO
sobrepor
PLURALISMO
diversidade
exclusividade
exclusividade
naturezas diferentes
palavras que variam de sentido
HIPER-ESPECIALIZAÇÃO
ESPECIALIDADES
POLISSEMIA
DIVERSIDADE
INTERLIGAÇÃO
INTEGRAÇÃO
MISTURA
ASSOCIAÇÃO
ENTRELAÇAMENTO
TROCA
MESCLA
ALTERNÂNCIA
variedade
que está ligado entre si
torna-se inteiro / completar-se / incorporar
juntar / reunir / misturar
agregar / reunir / unir
ligar-se
permutar / substituir
misturar
revezar
Anexos
183
10.3.4.
Lista de associação por autores
LEVEZA
LEVEZA
Calvino
HARMONIA (X CONTRASTE)
Dondis
UNIDADE (X FRAGMENTAÇÃO)
Dondis
TRANSPARÊNCIA (X OPACIDADE)
Dondis
SIMETRIA (X ASSIMETRIA)
Dondis
REGULARIDADE (X IRREGULARIDADE)
Dondis
ESTABILIDADE (X VARIAÇÃO)
Dondis
Dondis
ATRAÇÃO
Zilberman/Cairo
POESIA
LÚDISMO
Calvino / Nelly Coelho
DIVERSÃO
Calvino / Nelly Coelho
INTERESSE
Calvino / Nelly Coelho /Yunes, Carvalho
HARMONIA
Dondis
PRAZER
ESTÍMULO
Calvino
SATISFAÇÃO
HUMOR
Calvino
LIRISMO
Calvino
UNIFORMIDADE
Anexos
184
RAPIDEZ
RAPIDEZ
Calvino
MINIMIZAÇÃO (X EXAGERO)
Dondis
ATIVIDADE (X ESTASE)
Dondis
REPETIÇÃO (X EPISODICIDADE)
Dondis
ECONOMIA (X PROFUSÃO)
Dondis
DINAMISMO
RENOVAÇÃO
Calvino
TRANSITORIEDADE
ALEATORIEDADE
RAPIDEZ
Calvino
CONDENSAÇÃO
INSTANTANEIDADE
Harvey
COMPACTAÇÃO
Harvey
VELOCIDADE
Harvey
AGILIDADE
CONTEMPORANEIDADE
Lyotard / Harvey
Anexos
185
EXATIDÃO
EXATIDÃO
Calvino
EQUILÍBRIO (X INSTABILIDADE)
Dondis
SIMPLICIDADE (X COMPLEXIDADE)
Dondis
EXATIDÃO (X DISTORÇÃO)
Dondis
AGUDEZA (X DIFUSÃO)
Dondis
SUTILIZA (X OUSADIA)
Dondis
Cairo
SIMPLICIDADE
APROPRIAÇÃO
ADAPTAÇÃO
ADEQUAÇÃO
Calvino / Zilberman / Aguiar
Cairo
Dondis
Aguiar
DIRETO
Dondis
ACESSIBILIDADE
COMPREENSÃO
FACILIDADE
CLAREZA
OBJETIVIDADE
Cairo
Cairo
PRATICIDADE
PRECISÃO
CONFORTÁVEL
DETALHAMENTO
LÓGICO
RACIONALIDADE
ORGANIZAÇÃO
Lyotard
DOCUMENTAÇÃO
ARTICULAÇÃO
AUTENTICIDADE
VERACIDADE
Lyotard
COMPROVAÇÃO
LEGITIMAÇÃO
METODOLOGIA
Lyotard
Anexos
186
VISIBILIDADE
VISIBILIDADE
PREVISIBILIDADE (X ESPONTANEIDADE)
NEUTRALIDADE (X ÊNFASE)
PLANURA (X PROFUNDIDADE)
INFORMAÇÂO
COMUNICAÇÃO
CRIAÇÃO
RECEPÇÂO
PERCEPÇÃO
EXPERIMENTAÇÃO
IMAGINAÇÃO
Calvino
Dondis
Dondis
Dondis
Dondis / Lyotard / Harvey / Cairo
Dondis / Cairo
Dondis
Calvino / Dondis / Cairo / Stierle / Iser / Vygotsky
Dondis / Cairo
Iser
Iser / Calvino
Lyotard
EXPLORAÇÃO
SIMULAÇÃO
FICÇÃO
FANTASIA
PESSOAL
FORMAÇÃO
Calvino
Calvino
Calvino
Vygotsky
METODOLOGIA
TEORIA
NARRATIVA
COMPREENSÃO
Dondis / Cairo
Calvino
Calvino
Calvino
Anexos
187
MULTIPLICIDADE
MULTIPLICIDADE
JUSTAPOSIÇÃO (X SINGULARIDADE)
INTERAÇÃO
HIBRIDISMO
Calvino
Dondis
Vigotski / Iser / Arizpe, Styles
Harvey / Arizpe / Styles
SIMULTANEIDADE
MULTISENSO
MULTI-TEMA
INTERDISCIPLINARIDADE
Arizpe / Styles
SUPERPOSIÇÃO
PLURALISMO
HIPER-ESPECIALIZAÇÃO
ESPECIALIDADES
POLISSEMIA
Harvey
Lyotard
Lyotard
Harvey
Lyotard
DIVERSIDADE
INTERLIGAÇÃO
INTEGRAÇÃO
MISTURA
ASSOCIAÇÃO
ENTRELAÇAMENTO
TROCA
Lyotard / Cairo / Calvino
Vygotsky
Cairo / Zilberman
Vygotsky
Harvey
Iser
MESCLA
ALTERNÂNCIA
Calvino / Dondis
Anexos
188
10.3.5.
Lista de balizamento pela compreensão obtida com os assuntos
teóricos
LEVEZA
Harmonia / Prazer / Satisfação
PRAZER
Diversão / Humor / Ludismo
DIVERSÃO
Atração / Interesse / Estímulo
ATRAÇÃO
Uniformidade / Unidade / Simetria /
Regularidade / Estabilidade / Sequencialidade
UNIDADE
Poesia / Lirismo
LIRISMO
RAPIDEZ
Dinamismo / Transitoriedade / Rapidez /
Instantâneo / Velocidade / Agilidade
DINAMISMO
Economia / Condensação / Compactação
COMPACTAÇÃO
Renovação / Cotemporaneidade
CONTEMPORANEIDADE
Anexos
189
EXATIDÃO
Simplicidade / Direto / Facilidade / Clareza /
Objetividade / Precisão / Acessibilidade / Planura
CLAREZA
Apropriação / Adaptação / Adequação / Prático
ADEQUAÇÃO
Lógico / Racional
LÓGICO
Documentação / Articulação / Organização
ORGANIZAÇÃO
Legitimação / Autenticidade / Veracidade / Comprovação
AUTENTICIDADE
VISIBILIDADE
Informação / Comunicação / Compreensão /
Recepção / Percepção / Exploração
COMUNICAÇÂO
Criação / Experimentação / Imaginação /
Performance / Poesia / Pessoal
IMAGINAÇÃO
Simulação / Ficção / Fantasia
FANTASIA
Formação / Metodologia / Mensagem / Teoria / Narrativa
NARRATIVA

Documentos relacionados