11_Cine Gestão

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11_Cine Gestão
Foto | 20th Century Fox
cine
PERDIDO O
EM MARTE
Rafael Guerra
Título original:
The Martian
Gênero:
Ficção científica
Duração:
144 minutos
Ano de lançamento:
2015
Direção:
Ridley Scott
Produção:
Mark Huffam, Michael Schaefer,
Ridley Scott, Simon Kinberg
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veterano diretor Ridley Scott (Blade Runner, Alien – O Oitavo Passageiro, Gladiador)
voltou à grande forma com Perdido em
Marte (The Martian, 2015). O filme, sucesso de bilheteria e de crítica, teve sete indicações ao Oscar, venceu o Globo de Ouro de melhor filme e
melhor ator, com Matt Damon, ambos na categoria comédia ou musical, o que surpreendeu toda
a equipe da produção e mesmo os fãs do filme.
Apesar de contar com momentos engraçados, a
produção está longe de ser uma comédia. Além
de Damon, o filme conta com um elenco estrelado com atores do quilate de Jessica Chastain,
Jeff Daniels, Kate Mara, Sean Bean, Kristen Wiig
e Chiwetel Ejiofor.
Dentre os conceitos que abordam os elementos sonoros no cinema, há uma classificação que define os sons como som diegético e o
som não diegético. No primeiro caso, são os sons
objetivos que podem ser escutados tanto pelo
personagem quanto pelo espectador, o próprio
diálogo de um filme, a música que toca em um
aparelho de som em cena, gorjeios de pássaros, explosões, entre outros. O não diegético é o
oposto disso, ou seja, sons que não são distinguidos pelos personagens em cena, como a trilha
sonora, efeitos sonoros ou a voz
de um narrador. Para abordar
Perdido em Marte sob o ponto
de vista do planejamento, é possível fazer uma livre adaptação
deste conceito diegético.
Nos primeiros minutos do
filme, uma equipe de astronautas que cumpre uma missão em
Marte é surpreendida por uma
tempestade de areia. A comandante Melissa Lewis (Chastain)
decide abortar a missão e retornar à Terra. Mark Watney (Damon) não consegue retornar à
nave e é dado como morto. Ele,
como o nome do filme sugere,
não morreu e precisa, sozinho,
dar um jeito de sobreviver em
um planeta hostil, com pouquíssimos recursos, além de tentar
entrar em contato com a Terra
para sonhar com um remoto
resgate. Botânico de formação,
o astronauta Mark Watney, de
forma espirituosa e inteligente,
vai surpreendendo o espectador
e, analisando a gravidade, a urgência e a tendência dos problemas que tem em mãos, consegue enfrentar as dificuldades e
alcançar seus objetivos.
A partir do momento que
Watney consegue reestabelecer
o contato com a Nasa, o planejamento deixa de ser de um homem só e se transforma em um
grande trabalho de equipe. Daí
em diante, o filme desfila uma
série de situações que são vividas cotidianamente por gestores, líderes do setor público ou
privado, empresários, servidores públicos e demais categorias profissionais. Capacidade
de liderança, necessidade de
tomada de decisão em momentos críticos, integração entre
Filme apresenta
vários exemplos
bem-sucedidos
de como lidar com
crises que podem
inspirar o gestor
no seu dia a dia
equipes, capacidade de comunicação sem ruídos, assessoria
de imprensa, replanejamento.
Estes são alguns dos exemplos
que aparecem na tela. Para se
ter uma ideia, o filme envolve na
operação de resgate, além do
próprio Watney, vários setores
da Nasa, a cúpula do governo
norte-americano, outros países e até a equipe da missão de
Marte que ainda está cumprindo
a longa viagem de volta.
O trabalho do astronauta
perdido em Marte e dos inúmeros envolvidos na Terra é o que
podemos chamar de “planejamento diegético”. O que seria,
então, a parte “não diegética”?
O planejamento do próprio filme. Naturalmente que toda película passa por um processo de
planejamento prévio, desde a
feitura do roteiro, as filmagens,
passando pelas etapas diversas
de pré e pós-produção, lançamento nos cinemas etc. No entanto, o que chama a atenção
em Perdido em Marte é que, embora o filme seja uma ficção, há
um alto grau de verossimilhança
apontada por especialistas, nas
cenas do espaço e em Marte.
O homem nunca enviou
uma missão tripulada para o
planeta vermelho. Contudo, a
tecnologia para a empreitada
já existe, esbarrando no momento em uma questão meramente financeira. A primeira
viagem deste tipo esta prevista
pela Nasa para acontecer ate o
final da década de 2030. O roteiro do filme foi baseado no livro
homônimo do escritor norte-americano Andy Weir, formado
em ciência da computação, que
caprichou nos detalhes técnicos
da sua história. Ridley Scott e
o roteirista Drew Goddard seguiram de forma bastante fiel
o romance e, além disso, foram
atrás de um importante colaborador. A própria Nasa. A Agência Espacial Americana prestou
consultoria à produção.
Ou seja, a verossimilhança, a proximidade com o real, no
que diz respeito ao acurado tratamento das questões cientificas, não é fruto do acaso, mas de
um longo trabalho de pesquisa e
de planejamento. Se Andy Weir
já havia consultado dezenas de
especialistas para escrever seu
livro, Ridley Scott e equipe não
se deram por satisfeitos e contaram com o apoio da Nasa. Na
segunda década do século XXI,
não há mais espaço para criações fantasiosas de futuros que
em poucos anos se mostram
totalmente equivocados. Pelo
menos quando se fala de filmes
que se propõem a uma abordagem séria da realidade. O resultado do trabalho bem planejado
é um filme que agradou tanto a
crítica, como o público em geral,
sem deixar de atender às necessidades especificas dos fãs de
ficção científica, e até mesmo da
comunidade científica.
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