Clipping Fenep 08-09 Clipping 08/09

Transcrição

Clipping Fenep 08-09 Clipping 08/09
Clipping Nacional
de
Educação
Terça-feira, 08 de Setembro de 2015
Capitare Assessoria de Imprensa
SHN Qd2Edifício Executive Office Tower Sala 1326 Telefones:
(61) 3547-3060 (61) 3522-6090 www.capitare.com.br
O GLOBO
08/09/15
Cizânia na universidade
Uma nota de desagravo ao
professor Marcos Alvito corre nas
redes sociais assinada por
colegas, ex -alunos e alunos.Como
se sabe, o Departamento de
História da UFF oficiou Alvito,
dando dez dias a "se retratar
publicamente" das declarações
publicadas no Facebook. O
professor criticou o departamento
por marcar memoriais de colegas
em plena greve.
Calma, gente...
Aliás, este não é o único caso.
Há também o dos 29 professores
eméritos da UFRJ, que
denunciaram que questões
acadêmicas estariam sendo
avaliadas "por instâncias de
caráter sindical". A situação
parece indicar um aumento do
clima de tensão política no corpo
docente universitário.Tomara que
não.
Mais uma do Frei David
A Educafro, a das cotas para
negros, abre hoje em São Paulo um
curso de português para
refugiados. Ultimamente, o país
tem recebido muitos estrangeiros,
principalmente haitianos.
ANCELMO GOIS
O GLOBO
08/09/15
MUNDO
Qualidades e críticas à educação
em cuba expostas na tela
No país de fidel
Atendendo a um "chamado da
Revolução Cubana", Carmela
Martínez, então com 14 anos,
ingressou no magistério. Formouse pelo Sistema Makarenko
(inspirado no ucraniano Anton
Semyonovich
Makarenko,
pedagogo que se especializou no
trabalho
com
menores
abandonados, especialmente os
que viviam nas ruas e realizavam
pequenos crimes). O tal chamado,
que duraria cinco anos,
transformou-se em uma vida
inteira dedicada à educação,
principalmente em bairros
periféricos de Havana, como o
Cerro, onde se passa "Numa escola
em Havana", em cartaz no Brasil.
A professora Carmela do filme,
totalmente inspirada nela, é a linha
condutora de um dos longas mais
aplaudidos recentemente em Cuba
- aclamado tanto pelo jornal
oficial "Gramna", quanto pela
jornalista opositora Yoani Sanchéz,
e com prêmios em festivais na
Espanha, no México e em Nova
York. E mostra os problemas reais
e os méritos de um dos sistemas
educacionais mais elogiados do
mundo.
- Para formar alguém que tenha
algum futuro, é preciso ir mais
além dos métodos de ensino. É
preciso tê-los como seus. Se você
não sabe como os alunos vivem ou
como são formadas suas famílias,
o que você faz é ensinar apenas.
Mas eu me proponho a educar. Se
não, meu trabalho fica pela metade.
E essa possibilidade me foi
garantida pela pedagogia cubana conta a verdadeira Carmela, em
entrevista ao GLOBO.
As críticas ao sistema
educacional, como a rigidez do
método de ensino, entre outras
coisas, também estão no filme - o
que talvez explique seu sucesso
unânime dentro e fora do país. Em
uma das cenas, quando questionada
se não estaria há muito tempo na
função, Carmela reage: "E os
governantes deste país também não
estão?"
O diretor, Ernesto Darañas, não
se furta a abordar este e outros
temas, mesmo que de maneira
branda. Dentro do cenário criado
por ele, estão o filho que sustenta
a casa com atividades ilegais, cuja
mãe, alcoólatra, mal tem dinheiro
para comer. Assim como aquele
cujo pai é preso político. Além do
dia a dia de um bairro periférico:
- A aula de Carmela é, na
realidade, uma pequena radiografia
da sociedade cubana. Os
problemas observados ali são os
problemas de um país imerso em
uma crise que dura já um quarto
de século. As reformas econômicas
que hoje estão acontecendo não
conseguiram beneficiar nossos
setores mais humildes e isso cria
problemas como os de Chala
(aluno problemático retratado no
filme), o que pode acontecer em
muitos outros lugares - avalia
Darañas. - De fato, durante o
amplo percurso internacional do
filme, encontramos essa mesma
identificação com um grupo de
problemas que afetam a muitos
países com culturas, sistemas
políticos
e
níveis
de
desenvolvimento diferentes.
Analfabetismo ZERO e
salários baixos
Segundo dados do governo,
Cuba conta hoje com 10.350
instituições educacionais, que
absorverão 1.792.800 alunos no
ano letivo, que acaba de começar.
O Ministério de Educação contou
este ano com US$ 17,5 milhões
para importação de material
escolar, que é gratuito, e a reforma
de 43 escolas.
O ensino básico, até o 9º ano, é
obrigatório e todos estudam em
período integral, com duas horas
para almoço. Cuba foi o primeiro
país da América Latina a se
declarar livre de analfabetismo e
os índices de aproveitamento
escolar estão entre os mais altos
do mundo. Nas últimas décadas,
organizações internacionais, como
a Unesco, reconheceram as
conquistas do país no setor.
08/09/15
Carmela, hoje com 66 anos,
teve a oportunidade de conhecer
os dois sistemas de ensino, antes e
depois da chegada do Partido
Comunista ao poder, e é só elogios
ao sistema atual:
- Não fui alfabetizada na época.
Não fazíamos esportes na escola,
não íamos a museus. Tive bons
professores, mas hoje o conteúdo
é mais forte. Nunca investiguei
nada, não fazia pesquisas, não tinha
tarefas para fazer em casa. Os pais
não participavam da educação.
Mas, se a formação qualificada
de professores continua sendo uma
das prioridades do governo de
Raúl Castro, o êxodo de
profissionais da educação a outras
áreas, como o turismo, é visível.
Os salários são mais baixos e, ao
contrário de outras carreiras, onde
é possível ter vários empregos, a
jornada dos professores é integral.
E eles ainda esperam uma reforma
salarial, como a dos profissionais
de saúde, que tiveram um aumento
significativo no ano passado. Não
por acaso, "Numa escola em
Havana"
provocou
filas
quilométricas nos cinemas pelo
país.
- Em Cuba não se encontra uma
Carmela em cada esquina. Mas tive
professores assim, meus filhos
tiveram professores assim (um
deles, inclusive, teve aula com a
Carmela real). É importante falar
sobre isso, de algo que estamos
perdendo em todas as partes e da
importância de devolver ao
educador o papel e o
reconhecimento
que
lhe
corresponde - afirma o diretor.
FOLHA DE SÃO PAULO
08/09/15
TENDÊNCIAS & DEBATES
Pelo fim dos privilégios da nobreza
ROBERTO FEITH
Somos uma democracia na qual
os que completaram curso
universitário, caso sejam presos,
têm direito a acomodação especial
A recente decisão do Supremo
de acabar com a censura às
biografias não autorizadas corrigiu
distorção gritante e restaurou a
liberdade de expressão. Apesar
desse avanço, continuamos a ser
uma sociedade marcada por leis
inexplicáveis, expressões de
autoritarismo e atraso.
Uma delas é a instituição da
prisão especial, que parece ter sua
raiz nos privilégios da nobreza em
tempos medievais. Em pleno
século 21, somos uma democracia
na qual aqueles que completaram
curso universitário (assim como o
extenso rol de autoridades) têm o
direito de, se presos, receberem
acomodação especial, separada
das celas nas quais estão
"cidadãos comuns".
A Constituição afirma que
todos são iguais perante a lei. A
Declaração dos Direitos do
Homem e outros documentos
fundacionais da democracia
moderna, também. O nosso senso
de justiça, idem. Tudo muito bonito
e reconfortante.
Mas, na realidade, assim que um
indivíduo é preso no Brasil a
igualdade é chutada para
escanteio. Passa a valer o poder
do doutor. A Constituição, tão
elevada nos seus preceitos,
encontra um poder maior, concreto
e pragmático.
Há quem atenue a injustiça e o
preconceito inerentes à prisão
especial observando que ela só
vale até um processo transitar em
julgado. É fato. Como também é
fato de que mais de 70% dos
presos brasileiros ainda não
tiveram processos transitados em
julgados.
educados é o desconforto e aversão
que seriam provocados pela
aplicação de um critério
estritamente igualitário.
Nestes dias sombrios, em que
nas nossas prisões milhares se
amontoam sem as mínimas
condições de dignidade, há quem
pondere que seria inconcebível
que pessoas bem educadas, pais de
família fossem sujeitas à tamanha
iniquidade.
Essa forma de pensar não é
apenas imoral. Ela não apenas
viola um preceito constitucional.
Ela é um dos motivos pelos quais
nada, ou muito pouco, é feito para
corrigir as condições às quais são
submetidos os presos comuns.
Também é fato que, com os
embargos, recursos e incontáveis
medidas protelatórias da nossa
bizantina sistemática judicial,
dificilmente um acusado com um
bom advogado estará vivo, para
não dizer preso, quando o seu
processo transitar na última
instância. Ou seja, a prisão
especial faz toda a diferença.
Vamos admitir: dificilmente o
status quo vigente persistiria se
advogados,
jornalistas,
economistas,
psicólogos,
empresários, deputados e outros
doutores, se presos, fossem
abrigados com outras centenas de
detentos, amontoados em celas
dilapidadas e mal cheirosas.
Outro argumento usado para
tentar justificar melhores
condições na prisão para os mais
Os mais de 600 mil presos
comuns em nossas prisões, que,
citando Caetano Veloso, são na
08/09/15
maioria, pobres, pretos e pardos,
não têm a capacidade de mobilizar
o interesse do ministro da Justiça
ou de nossos deputados e
senadores.
Estes aprovaram recentemente
um aumento salarial de 78% para
o Judiciário, mas não demonstram
a inclinação de alocar recursos
escassos para reformar nossas
prisões. Muito menos a intenção de
acabar com a prisão especial e
eliminar privilégio que marca o
país como uma sociedade arcaica
e autoritária.
ROBERTO FEITH, 62,
jornalista, é vice-presidente do
Sindicato Nacional de Editores de
Livro. Foi diretor da editora
Objetiva
FOLHA DE SÃO PAULO
08/09/15
COTIDIANO
Universidade tal como balada
ROSELY SAYÃO
O comportamento de avaliar algo
instantaneamente, por não querer
correr o risco de esperar e se frustrar,
pegou
Quando o aparelho celular –que
permitia enviar os já não tão
conhecidos torpedos– começou a se
tornar popular entre os jovens,
muitos comportamentos deles
sofreram alterações. Parece que isso
foi há muito tempo, mas é um
acontecimento do passado recente,
que vale a pena relembrar, porque
nos ajuda a entender alguns
comportamentos dos jovens no
presente.
Uma das grandes descobertas
deles, na época, foi a de que os
torpedos permitiam que eles
aproveitassem melhor a vida, na
visão deles. Um bom exemplo é o
fato de que os grupos de jovens que
se conheciam se dividiam entre as
diversas baladas no final de semana.
Cada grupo avaliava a frequência, a
animação e tudo o mais que rolava
e, de posse das informações,
transmitia aos demais colegas. Dessa
maneira, eles podiam se reunir logo
depois no que consideravam a
melhor balada da noite.
Toda essa avaliação ocorria em
um curto intervalo de tempo: 10, 15
minutos no local, para eles, já era o
suficiente para chegar a alguma
conclusão e ficar à espera dos
colegas ou ir para um outro local.
Bem, sabemos que uma festa
pode mudar de uma hora para outra:
ficar melhor ou pior, e que os
motivos para avaliar uma balada
como boa ou não é muito pessoal, a
não ser que todo o grupo tenha o
mesmo objetivo. O fato é que o
comportamento de avaliar algo
instantaneamente, por não querer
correr o risco de esperar e se frustrar,
pegou. Não só pegou, como foi
transferido para outras situações
totalmente diferentes. Frequentar um
curso universitário, por exemplo.
Há um expressivo número de
jovens –e esse número está em
crescimento– que escolhe um
determinado curso, de acordo com
seus interesses e, já no primeiro
semestre, desiste.
Os motivos são diversos: eles
concluem que o curso não é o que
eles haviam imaginado ou que é muito
chato; ou conhecem na faculdade um
curso que os prepara para uma outra
profissão com a qual se identificam
mais etc.
Embora os jovens reajam de
diferentes maneiras nas mais diversas
situações, é possível encontrar em
seu comportamento alguns pontos
em comum.
No caso da opção por outro curso
universitário, por exemplo, há os que
conseguem aproveitar o curto
período na faculdade e amadurecer
com isso. Escolhido um outro curso,
dedicam-se a ele até o final e se
comprometem com o exercício da
profissão.
Um outro grupo demora um
pouco mais para amadurecer e realiza
nova desistência em outro curso,
mas consegue se encontrar na
terceira, às vezes quarta, escolha.
Esses jovens geralmente recebem o
apoio da família –emocional e,
sobretudo, financeiro– para trilhar
esse percurso.
Há também os que enfrentam
resistência familiar e precisam
terminar a faculdade. Muitos deles
terminam gostando do curso; outros,
nem tanto.
Mas há um grupo de jovens que
deve ser motivo de preocupação,
tanto da família quanto da sociedade,
que são os que avaliam o curso que
escolheram da mesma maneira que
avaliariam uma balada: rapidamente,
sem querer esperar, sem se esforçar,
sem resiliência alguma.
Esses são os jovens que precisam
de nossa ajuda para descobrir que
um curso universitário é bem diferente
de uma balada, não é?
CORREIO BRAZILIENSE
08/09/15
EDITORIAL
De volta para o passado
Crise é sinônimo de oportunidade. Modelos
antigos, sem condições de responder aos desafios que
se apresentam, precisam ser substituídos. É aí que se
abrem portas para a renovação. Não é outra a razão
por que guerras estimulam saltos na medicina, na
tecnologia, nos processos de produção. Passado o
apuro, a nação emerge melhor — mais moderna, mais
produtiva, mais sintonizada com as exigências
contemporâneas.
Transformar a adversidade em ocasião para
avanços requer medidas acertadas. Não é, ao que tudo
indica, o caminho escolhido pelo Brasil. No discurso
de posse, há oito meses, a presidente Dilma Rousseff
cunhou o slogan Pátria Educadora. Os quatro anos do
segundo mandato dariam impulso à correção de rumos
do mais grave descaminho nacional — a negligência
com a educação.
A promessa mereceu aplauso de aliados e
opositores. Com razão. Nenhuma nação galgou os
patamares do desenvolvimento com educação
subdesenvolvida. Lamentavelmente, porém, as
palavras não se tornaram fato. Ao contrário. O
Ministério da Educação foi vítima de cortes
horizontais que atingiram as demais pastas. Projetos
importantes, que miram o futuro pós-crise, não
escaparam da tesoura.
No programa de governo, a presidente se
comprometeu a investir na qualidade da educação e
na ampliação do acesso ao ensino. Três iniciativas
mereceram destaque. Um delas: o Programa Nacional
de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec).
Desde 2011, o Pronatec manteve ritmo de crescimento
constante. Em 2014, ofereceu 3 milhões de vagas.
Em 2015, o cálculo é de 1,3 milhão.
Outra: o Ciência sem Fronteiras (CSF). A promessa
divulgada em prosa e verso era de oferecer 100 mil
bolsas até 2018. A prática, porém, mostrou cifras
modestas. Em 2014, atender 42.209 estudantes no
exterior exigiu o montante de R$ 3,42 bilhões. A
previsão para 2015 é de R$ 3,3 bilhões. Assim, em
vez de avançar, o CSF regride. A internacionalização
da universidade — essencial no mundo globalizado,
em que impera a sociedade do conhecimento — fica
irremediavelmente comprometida.
Por fim, mas não menos importante, o Fundo de
Financiamento Educacional (Fies) também sofreu
corte drástico. Em 2014, a rubrica contou com R$
731 mil contra R$ 314 mil em 2015. Desde o início
do ano, jovens que contavam com a ajuda
governamental para pagar o curso superior viram o
sonho se transformar em pesadelo. Muitos,
impossibilitados de arcar com a mensalidade escolar,
desistiram dos estudos.
É lamentável. A presidente da União Nacional dos
Estudantes (UNE) sintetizou as consequências da
iniciativa tacanha: “A saída para a crise deveria ser
exatamente o contrário, a retomada do crescimento a
partir do fortalecimento das universidades, do ensino
técnico, do desenvolvimento humano e profissional”.
Em português claro: o Brasil sairá da crise menor do
que entrou. Pior: sem condições de alcançar os que
continuam avançando, apesar do tsunami momentâneo.
Trata-se de prova de que subdesenvolvimento não se
improvisa. Cultiva-se.
CORREIO BRAZILIENSE
08/09/15
OPINIÃO
Deficit de credibilidade
CRISTOVAM BUARQUE
Professor emérito da UnB e
senador pelo PDT-DF
Em recente audiência no
Senado, o procurador Júlio
Marcelo de Oliveira, do
Ministério Público no Tribunal de
Contas da União (TCU), disse que
o Brasil atravessou farra fiscal
durante os últimos dois anos. A
farra foi parte de um carnaval em
que as fantasias foram fabricadas
pelos marqueteiros e a bebida,
servida pela equipe econômica. Os
primeiros construíram mundo
falso que apresentaram, durante a
campanha de 2014, enganando o
público e, talvez até, levando os
governantes a se enganarem; com
pedaladas e pacotes, os
economistas
cometeram
irresponsabilidades fiscais para
manter as ilusões das fantasias que
inspiravam o círculo vicioso da
ilusão carnavalesca.
No período eleitoral, a
presidente Dilma vestiu o Brasil
com imensa fantasia, apresentada
nos programas eleitorais, na qual
aparecia um país sem pobreza,
com imensa classe média; o présal resolveria todos os problemas;
a universidade era para todos; e
todos viajavam ao exterior. A
campanha eleitoral, a repetição
das mensagens e o desejo da
sociedade de acreditar na beleza
de país ilusório serviram para
enganar a todos. Mas, para um
observador cuidadoso, não era
difícil perceber que se tratava de
carnaval. Em março de 2011, um
discurso no Senado alertava para
os sinais de fantasia passageira nos
indicadores da economia; em
novembro, o discurso foi
publicado com o título de “A
economia está bem, mas não vai
bem”, que pode ser lido
virtualmente no link:http://bit.ly/
StlHCC.
Apesar dos indicadores básicos
positivos
da
economia
apresentados à época, o texto
alertava para sintomas que
poderiam levar à crise atual:
dívida pública, endividamento
familiar, endividamento de
empresas, taxa de juros elevada,
descontrole dos gastos públicos,
apagão
logístico
e
de
infraestrutura, elevada carga
fiscal, inflação latente, baixa
poupança agregada, desigualdade
social, baixo nível educacional,
gastos sociais, falta de capacidade
de
inovação,
baixa
competitividade, vulnerabilidade
do setor externo, burocracia,
corrupção, corporativismo, limites
ecológicos,
amarras
constitucionais, e o otimismo
equivocado dos governantes e de
seus partidos. Mas, no lugar de
analisar e rebater as críticas, o
governo e os senadores da base
governista desprezaram os alertas
de pessimismo oposicionista. A
realidade, lamentavelmente, é que
os alertas estavam corretos.
A inflação fez a classe média
empobrecer, o dólar subiu para
valores próximos a R$ 4, o
desemprego avança a uma média
de quase quatro novos
desempregados por minuto, a
dívida do setor público cresce R$
2,2 milhões por minuto,
desvendando a fantasia e
mostrando o fracasso dos pacotes
e pedaladas. O Executivo
reconhece que quebrou ao enviar
ao Congresso orçamento sem
cobertura, com deficit primário de
R$ 30,5 bilhões que, na verdade,
se estima acima de R$ 100 bilhões.
Diante de nós, não importa o
partido, está a tarefa de
reequilibrar as contas sem
interromper a marcha do Brasil na
construção de país desenvolvido
e que atenda à população pobre.
Isto esbarra, porém, na falta de
credibilidade do atual governo e
de toda a classe política.
O governo cometeu duas
irresponsabilidades: quebrar as
finanças e enviar proposta
orçamentária sem cobertura.
Deixou ao Congresso a tarefa de
baixar custos e aumentar impostos,
para depois entregar o novo
orçamento a um governo que não
goza de credibilidade, nem mesmo
entre aqueles do próprio partido
e, ainda, menos na opinião pública.
Para equilibrar as contas, haverá
08/09/15
tentações de reduzir programas que
são necessários ao atendimento da
população
pobre
ou
à
infraestrutura econômica. A
população não aceitará aumento
nos impostos e não perdoará corte
nos programas sociais. O
Congresso tem a obrigação de
votar orçamento sem a leviandade
daquele apresentado pelo governo,
sem assumir o ônus de elevar a
absurda carga fiscal, e sem reduzir
os programas sociais que protegem
os pobres.
Mas isso não adiantará se o
Executivo continuar sem
credibilidade. Não há como ter
resultados positivos se não houver
confiança no governo que
executará
o
orçamento
equilibrado. Seria como se os
credores de uma empresa em
concordata oferecessem recursos
sem cobrar mudanças no
comportamento e na seriedade dos
diretores. Mantidos os mesmos
diretores, o carnaval pode
continuar e o deficit poderá,
inclusive, ser ampliado ao longo
do ano, apesar do esforço do
Congresso. Além de salvar o
Brasil, consertando o desajuste
que o governo provocou, o
Congresso terá que criar
mecanismos que amarrem o
Executivo,
evitando
irresponsabilidades e carnavais.
CORREIO BRAZILIENSE
08/09/15
CIDADES
ECONOMIA »
Juventude diante da crise
Os estudantes Rodrigo Alvarenga, Marina Antonelli, Gabriel
Cornelio e Rebeca Amancio sentem o impacto da primeira crise
política e econômica vivida pela geração da qual fazem parte
Custo de vida acima do limite
de tolerância e recessão afetam
pessoas com menos de 30 anos,
pela primeira vez. Para
equilibrar as contas, a opção tem
sido cortar lazer, cultura e até
mesmo gastos com alimentação
» CAMILA COSTA
» OTÁVIO AUGUSTO
O homem chega para trocar o
botijão de gás e avisa: “Sorte da
senhora fazer o pedido hoje,
enquanto custa R$ 50. Amanhã,
estará R$ 61”. A situação foi
vivida na última semana por
algumas donas de casa, com o
aumento médio de 15% no preço
do gás de cozinha. A situação
guarda ainda alguma semelhança
com o passado recente do país,
quando a hiperinflação, nos anos
da década de 1990, fazia com que
os preços brincassem de saltos
ornamentais. Esse diálogo, 21 anos
depois do lançamento do Plano
Real — que acabou com a
instabilidade no custo de vida —,
mostra que o país convive com
duas gerações: a primeira tem
entre 40 e 60 anos e não esquece
as crises seguidas que viveu; a
segunda, formada por jovens de até
30 anos, começa a entender o
significado de inflação e recessão.
Para os jovens de hoje, esta é a
primeira grande crise econômica
e política vivida na pele. Até então,
o que se sabia de aperto financeiro
vinha de casos contados pelos pais
ou lidos em livros de história do
Brasil. Esta crise, segundo
especialistas, deve também deixar
sua marca na história. Chega para
essa geração em um momento
decisivo, no qual se escolhe um
curso superior e ingressa no
mercado de trabalho. Na faixa de
18 a 24 anos, por exemplo, o
desemprego é maior do que entre
os adultos. Em meados deste ano,
a taxa de desocupação era de
16,4%. No mesmo período de
2014, a taxa ficou em 12,3%, de
acordo com o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE).
Assim, a tal crise financeira não
abre novas vagas de estágio, deixa
de contratar jovem em
aprendizado,
e
não
dá
oportunidades para recémformado. Lidar com isso virou
estratégia de sobrevivência para
muitos deles. “Comecei uma
faculdade, consegui um estágio na
área, mas decidi mudar de curso.
Agora, há meses, estou no estágio
do curso anterior, porque não acho
uma oportunidade na minha nova
área. Não tenho o que fazer”, conta
o estudante Rodrigo Alvarenga, 18
anos. Com a bolsa de R$ 650 que
ganha com o estágio, o jovem mal
passa o mês. “Há dois anos tento
comprar um carro. Nunca
conseguimos. O plano terá de ser
adiado mais uma vez”, lamenta
Rodrigo.
08/09/15
Passado
Parte desses jovens ouviu
relatos de pais ou avós de como
eram os anos 1980 e 1990 e do que
era preciso para sobreviver. Ficam
assustados quando descobrem que
em dia de pagamento se corria ao
mercado e se comprava tudo o que
fosse possível, para estocar. Uma
das principais preocupações, na
época, era com a perda do poder
de compra. “Minha mãe me conta
que os preços eram alterados dia
a dia. No caso da poupança, os
juros eram tão altos que foi assim
que ela conseguiu comprar nossa
casa. Aplicava R$ 1 mil em um dia,
tinha R$ 1,5 mil no outro", relata
o estudante Gabriel da Silva
Cornélio, 18. Na casa de Rebeca
Costa Amâncio, 18, a regra é clara:
apagar as luzes. “Parece que
mesmo assim não adianta.
Reduzimos os gastos ali e aqui, e
as contas continuam caras”, avalia.
A falta de emprego entre jovens
já é maior do que entre adultos
Natya Zelaya, 18, lembra bem
os relatos da família. Segundo ela,
é inevitável comparar a crise que
os pais viveram, em 1990, com a
de hoje. Ela faz comparações na
hora em que toma café na padaria
ou compra um sapato novo. É aí
que vem à lembrança quando, com
R$ 1, compravam-se 10 pães na
padaria. Com um pouco mais, R$
10, por exemplo, ia-se ao
shopping, lanchava e ainda dava
para brincar na antiga e saudosa
Divertilândia (um parque de
diversões que existia em um
shopping). “Comprei caneta,
lapiseira, grafite e borracha, com
R$ 10 não deu para pagar a conta”,
observa a jovem estudante. Marina
Antonelli, 18, segura os gastos com
passagens e alimentação. “Preciso
colocar pouca coisa no prato. Uma
das formas de economizar foi
reduzindo o almoço. Mas acabou
que cortei de tudo”, pondera.
Impactos
Depois de anos de consumo
fácil, custo de vida relativamente
estável e expansão econômica, o
Brasil entrou em um período de
inflação acima do limite de
tolerância, queda do Produto
Interno Bruto (PIB), soma de todas
as riquezas geradas em um ano, e
aumento do desemprego.
Guardadas as devidas proporções,
esse cenário lembra as crises dos
anos 1980 e 1990, antes da
implementação do Plano Real. O
cenário atual, porém, não tem um
único vilão. O que se vive hoje tem
origem, em parte, em gastos
públicos de baixa qualidade e
acima do que se tinha em caixa.
Na prática, quanto mais se gasta
dinheiro público, mais pressão é
gerada sobre a inflação. Se essas
despesas são alocadas em folha de
pagamento e em gastos que não
geram riqueza para o país, o peso
sobre o custo de vida aumenta
ainda mais.
A crise financeira de 2008,
quando o Banco Lehman Brothers
quebrou nos Estados Unidos e
contaminou todo o sistema
financeiro do mundo, também teve
sua parcela de contribuição para
os problemas brasileiros — fez o
governo gastar mais sob a alegação
de diminuir os impactos da crise.
Posteriormente, o congelamento de
tarifas públicas, decisões sobre
políticas de juros, de crédito e de
política fiscal, agravaram ainda
mais o quadro. A Operação LavaJato, que paralisou obras em todo
o país e colocou empreiteiros e
políticos na cadeia, também afetou
a economia. A Petrobras, uma das
maiores empresas do Brasil e
responsável por grande parte dos
investimentos
produtivos
brasileiros, teve de parar projetos
e abandonar outros, e milhares de
pessoas foram demitidas.
Segundo o economista do
Conselho Regional de Economia
do Distrito Federal (Corecon-DF)
Newton Marques, a realidade
econômica tem uma história que
deve ser levada em consideração.
Crise é um processo (veja
Cronologia). “O Brasil passou por
vários planos de estabilização.
Teve a primeira experiência no
Plano Cruzado, mas sempre teve
problemas inflacionários, desde
1900. Quando chegou João
Goulart, por exemplo, o
descontrole era grande. Tanto que
o golpe militar foi motivado por
isso. Então, foram criados vários
mecanismo para que as pessoas
convivessem num momento de
política anti-inflacionária. E a
situação, hoje, é bem diferente”,
diz o especialista.
Os jovens de agora passam por
uma fase ruim. “Estão sofrendo
mais, sim. Um empresário que tem
apenas uma vaga de emprego
disponível dará a um profissional
08/09/15
experiente. Sem riscos por agora”,
justifica Marques. Um dos
conselhos é se qualificar. Com
pouca vaga, a garimpagem pelos
melhores será inevitável. “Não
sabemos se a recuperação do
governo será em 2016 ou 2017,
porque 2015 já está perdido.
Pensando em viajar, trocar de
carro, comprar roupa? Isso tudo
terá de mudar para se adaptar,
porque pode demorar e se
aprofundar”, alerta o economista.
Linha do tempo
convergir os preços e salários para
níveis mais baixos que aqueles
praticados no início dos anos
sessenta.
1984
Tivemos os planos cruzados,
com congelamento de preços e
moratória da dívida externa, e
planos Feijão com Arroz do
Mailson e do Bresser, na tentativa
de estabilizar a economia, sem
sucesso.
2008
Veio a Crise das Hipotecas
Norte-Americanas em 2008,
atingindo a economia mundial, e
tudo piorou para todos os países
(exceto a China), principalmente
para os emergentes. O governo
Dilma, em seu primeiro mandato,
travou uma batalha econômica com
queda dos investimentos,
descontrole
inflacionário,
represamento de correção de
tarifas e preços dos serviços de
utilidade pública.
1994
2015
Veja pontos importantes da
história econômica do país:
1821
A forte crise econômica foi um
dos principais argumentos para o
processo da independência do
Brasil, então colônia portuguesa.
1964
Golpe militar contra o governo
popular de João Goulart. Surgiu o
mecanismo de correção monetária
(ou indexação) para garantir parte
da inflação passada e expectativa
positiva de inflação futura para
Somente com o Plano Real,
mesmo atravessando as crises de
Tailândia, Rússia e Argentina, a
economia brasileira encontrou a
estabilidade monetária, com base
na desindexação dos preços e
salários e no tripé: câmbio
flutuante, responsabilidade fiscal
e sistema de metas de inflação.
1996
Ao fim do primeiro mandato de
Fernando Henrique Cardoso, o expresidente colocou em votação o
projeto que permitiria a reeleição.
A medida causou, na época, forte
desequilíbrio financeiro.
O governo está com sérios
problemas econômicos e políticos.
Por um lado, a queda da atividade
econômica está se agravando, com
forte aumento do desemprego,
crescente deficit fiscal e
descontrole inflacionário. Por
outro, qualquer tentativa de enviar
medidas provisórias e projetos de
lei ao Congresso tem colecionado
derrota atrás de derrota,
principalmente na Câmara dos
Deputados.
CORREIO BRAZILIENSE
08/09/15
CIDADES
Tempo ruim, boas ideias
Foi justamente na economia que
jovens estudantes da Universidade
de Brasília (UnB) encontraram
uma forma de driblar a crise. Eles
desejam vencer desafios e
aprofundar os conhecimentos, para
ajudar os outros a encarar esse
momento do país. A Econsult,
empresa júnior de economia da
UnB formada pelos próprios
alunos, faz análise da situação
econômica
para
prestar
consultoria. Matheus Oliveira
Onorato de Araújo, 21 anos, está
no 7º semestre de economia e é
um dos diretores de projeto da
Econsult. Com ele, são 40
integrantes. “O objetivo é fornecer
serviço de qualidade para micro
e pequenos empresários. Além
disso, conseguimos experiência e
capacitação técnica, pois temos o
apoio de professores e
especialistas no assunto, de nome
no mercado”, explica o estudante.
A crise financeira fica provada
no receio dos empresários em
investir. No entanto, até para
aqueles que estão por dentro do
problema, o reflexo é algo
inevitável. “A gente sabe que pode
sair da faculdade e não ter
emprego, por exemplo, porque a
crise chegou nessa fase. Mas as
empresas juniores são uma
tentativa de fomentar o
empreendedorismo e tentar evitar
isso. Porém, as coisas estão ruins
para todo mundo”, admite. Um dos
membros, João Vítor Cunha
Alonso, 20, acredita que muitas
vezes a crise é vista de forma
amplificada, maior do que
realmente é; no entanto, sente no
dia a dia o impacto dela. “Para
comer, está mais caro, para
imprimir, para estudar, vários
projetos de extensão estão sendo
cortados, ou seja, dos meus 16 anos
para cá, quando comecei a estudar
e analisar as coisas, esta é o pior
momento, economicamente
falando, que estou vivendo”,
reconhece o estudante.
CORREIO BRAZILIENSE
08/09/15
CIDADES
EDUCAÇÃO »
Mais atenção aos mestres
A segunda reportagem da série
sobre o ensino médio no DF
mostra que 75% dos professores
dessa etapa educacional na rede
pública têm especialização. Índice
reforça que a formação docente é
necessária, mas o bom
desempenho do aluno depende
também de outros fatores
» MARIANA NIEDERAUER
ESPECIAL
PARA
O
CORREIO
A formação dos professores,
levantada por muitos especialistas
como um dos principais problemas
do ensino médio no Brasil, não
aparece entre os maiores desafios
na rede pública do Distrito
Federal. Mais de 75% dos
docentes têm curso de
especialização, 13% completaram
o mestrado e 1% tem doutorado.
Os dados são da pesquisa O ensino
médio público no Distrito
Federal, feita pelo Plano Nacional
pelo Fortalecimento do Ensino
Médio (Pnem) no DF, em 2014,
durante o curso de formação que
reuniu todos os professores dessa
etapa do ensino na rede pública,
cerca de 3,7 mil. Desses, 2,6 mil
responderam ao questionário e
69% afirmaram trabalhar na
Secretaria de Educação há mais de
10 anos.
A coordenadora do estudo,
Wivian Weller, vice-diretora da
Faculdade de Educação da
Nas aulas da professora Maria Antônia, a leitura serve de elo
entre os conteúdos de gramática, redação e literatura
Universidade de Brasília (FE/
UnB), destaca que o foco no DF
deve ser a formação continuada em
serviço. “Mesmo que o professor
tenha
curso
superior,
especialização, mestrado ou
doutorado, isso não quer dizer que
esses cursos sejam na área
específica em que ele atua na
escola”, explica Wivian. “Para
além dos conteúdos específicos da
área dele, há a necessidade de
formação continuada para a área
de uso de tecnologias e para
conhecer melhor os procedimentos
de avaliação, por exemplo”,
elenca. O levantamento completo
feito pelo Pnem será publicado em
um livro no próximo ano.
Os dados do Exame Nacional
do Ensino Médio (Enem) por
Escolas 2014 corroboram os
resultados da pesquisa. Entre as 10
instituições com melhores
indicadores de formação docente,
oito são públicas (veja quadro). O
indicador registra o percentual de
disciplinas que são ministradas por
professores com licenciatura ou
bacharelado com complementação
pedagógica na mesma disciplina
que leciona. Nas escolas
particulares, o quadro é diferente.
A maioria dos colégios com índice
menor que 50% são da rede
privada. Esse indicador, no
entanto, não mostrou relação direta
com o desempenho. As instituições
com os menores indicadores
alcançaram resultados melhores do
que aquelas que têm mais de 90%
08/09/15
das disciplinas ministradas por
professores especializados.
A comparação mostra que a
formação, por si só, não dá conta
de explicar as diferenças de
desempenho entre as escolas no
Enem — principalmente entre as
públicas e as privadas. “Pesquisas
feitas por diversos institutos
mostram que, independentemente
da formação dos professores, se
têm mestrado ou doutorado, as
escolas podem ter performance
melhor ou não. Não há uma
correlação positiva”, afirma
Álvaro Moreira Domingues Júnior,
presidente do Sindicato dos
Estabelecimentos Particulares do
Distrito Federal (Sinepe-DF). Ele
destaca que vários fatores pesam
na questão do desempenho,
inclusive o socioeconômico, como
mostrado ontem na primeira
reportagem da série do Correio,
mas nenhum deles pode ser
considerado sozinho.
Regulação e cuidado
Na avaliação de Mauro
Gleisson de Castro Evangelista,
pesquisador e professor da rede
pública, existem duas dimensões
que precisam ser trabalhadas no
Distrito Federal para se melhorar
o desempenho dos professores e,
consequentemente, o nível de
aprendizagem dos alunos:
regulação e cuidado. Por um lado,
é necessário acompanhar de perto
e cobrar resultados e metas dos
docentes. “Grande parte das
escolas está caótica, desregulada,
não faz cobranças efetivas ao
trabalho do professor”, relata. Por
outro, a Secretaria de Educação
precisa promover um trabalho
mais amplo no sentido de cuidar
da formação e da saúde desse
profissional, além de se aproximar
mais dele. “O professor ocupa,
hoje, um local de vitimização. Ele
vê na Secretaria de Educação um
algoz e tem uma relação muito
hostil com essa instituição, ao
ponto de recusar tudo o que venha
dela.”
Uma das opções que o
especialista levanta é aproveitar o
próprio tempo de coordenação
pedagógica — parte da carga
horária de trabalho do docente
reservada para aperfeiçoamento e
trabalho extraclasse —, que,
segundo
ele,
tem
sido
negligenciado por muitos
professores da rede. Gleisson, que
estudou o sofrimento psíquico do
professor durante o mestrado,
acredita que a escola pública vive
uma crise de autoridade e de
lugares. “Eu tenho ouvido muito
dos professores que eles não
sabem mais qual é o lugar deles, o
que é ser professor”, afirma. “E,
quando vou escutar o jovem, o
aluno, ouço: ‘Se o professor não
sabe qual é o lugar dele, como eu
vou saber qual é o meu?’.”
Os melhores resultados são
observados quando as pessoas
passam a assumir o lugar de
liderança e começam a trabalhar
em equipe, de acordo com o
especialista. Gleisson também
observa que, apesar de as taxas de
formação serem altas, há um
distanciamento do professor em
relação à academia, o que faz com
que ele reproduza o senso comum,
como achar que a formação vai
resolver todos os problemas e
culpar a família e os alunos. “O
professor é o nosso agente
revolucionário. É preciso, urgente,
de uma política de cuidado com
esse profissional”, finaliza.
Nas salas de aula da professora
Maria Antônia de Sousa, 47 anos,
a leitura é o ponto de partida para
estudar os conteúdos de gramática,
redação e escolas literárias no
curto tempo de quatro horas
semanais destinado à língua
portuguesa. Foi depois de fazer
especialização e mestrado na área
que ela percebeu que a literatura
poderia ser o elo entre todas as
disciplinas. Atualmente, ela
trabalha a obra O Cortiço, de
Aluísio Azevedo, com os
estudantes do 2º ano do ensino
médio do CED 6 de Taguatinga.
Apesar de estar na rede pública há
23 anos, ela começou a dar aulas
na última etapa da educação básica
há sete. “Depois do mestrado,
decidi trabalhar com o ensino
médio, porque eu queria
compartilhar esse conhecimento de
literatura. Achei que não fazia
sentido eu me especializar numa
área e não repassar isso para a
sociedade.” Para ela, um dos
grandes desafios dessa fase do
ensino é oferecer atividades
diferenciadas para atender aos
diversos níveis de aprendizagem
em que os alunos se encontram
quando chegam.
Atualização
Vilmara Pereira do Carmo,
diretora no Sindicato dos
Professores do Distrito Federal
(Sinpro-DF), elenca as principais
críticas com relação ao ensino
médio: a grande quantidade de
08/09/15
disciplinas a serem ministradas; a
falta de escolas exclusivas em
regiões como Estrutural e Paranoá;
e o descompasso entre a realidade
que o professor encontra e o que
aprende na universidade. “Os
professores chegam vivendo um
dilema: têm que ensinar o aluno a
ser bom em fazer as provas do
Enem e as do vestibular e, ao
mesmo tempo, ensinar o conteúdo
de forma humanizada”, destaca. A
crítica se estende, segundo ela, às
instituições de ensino superior
como um todo, e não apenas às de
Brasília, pois não existe formação
específica para o ensino médio
durante a licenciatura.
O meio acadêmico tem mesmo
negligenciado essa etapa de
ensino, conforme observa a
professora Wivian Weller, da UnB.
“Agora, com o Pacto Nacional, ele
voltou a ser mais discutido dentro
da universidade”, observa. Outro
fator que contribui para reavivar
o debate na UnB, na avaliação de
Wivian, foram o Enem e as formas
de ingresso na universidade, pelo
Programa de Avaliação Seriada
(PAS), pelo vestibular e pelo
Sistema de Seleção Unificada
(Sisu), adotado recentemente pela
instituição. Wivian explica que a
formação acadêmica inicial é mais
genérica e orientada por diretrizes
nacionais. Por isso, ela reforça a
importância da formação
continuada, como forma de atender
às demandas que surgem depois
que o licenciado começa a dar
aulas. “Não podemos abrir mão,
nos cursos de licenciatura, de uma
formação mais integral, olhando o
campo das ciências humanas”, diz.
“Se trabalharmos só técnicas de
ensino, mas não olharmos para
alguns princípios sociológicos,
filosóficos e históricos da
educação, vamos ter um professor
que domina o conteúdo ministrado,
mas que terá dificuldade para fazer
uma avaliação mais aprofundada
da educação”, completa.
08/09/15
O GLOBO
07/09/15
SOCIEDADE
MEC ressalta que incentiva formação,
mas interesse de jovens pelo magistério cai
Plano de carreira e
valorização da profissão
poderiam melhorar cenário,
dizem especilistas
“A rede estadual de São Paulo
perde, por semana, oito
professores. A prefeitura perde
três. O jovem que entra na
magistratura tem um duro choque
de realidade” Daniel Cara
coordenador da Campanha
Nacional pelo Direito à Educação
Os baixos salários, a falta de
reconhecimento social da
profissão, as péssimas condições
de trabalho e o cansaço são os
fatores que mais contribuem para
o desinteresse dos jovens pelo
magistério, segundo especialistas.
Os mesmos aspectos desestimulam
os professores de longa data a
permanecerem nas salas. Como
reportagem do GLOBO mostrou
ontem, ao longo dos próximos seis
anos, cerca de 40% dos
professores do ensino médio terão
condições de se aposentar, de
acordo com um relatório do
Ministério da Educação ( MEC).
O quadro fica preocupante quando
constata- se que o número de
formandos em cursos de
licenciatura de disciplinas da
educação básica vem caindo —
16% entre 2010 e 2012.
— Este já é um problema
sistêmico. A rede estadual de São
Paulo perde, por semana, oito
professores. A prefeitura perde
três. O jovem que entra na
magistratura tem um duro choque
de realidade. Isso gera um
desestímulo que, quando não o faz
desistir, vai se arrastando até a
aposentadoria — diz Daniel Cara,
coordenador da Campanha
Nacional pelo Direito à Educação,
que defende uma melhor
remuneração inicial e plano de
carreira.
Pesquisadora da faculdade de
Educação da Universidade de São
Paulo, Paula Louzano sinaliza que,
de acordo com os dados do Censo
da Educação Superior de 2013, o
maior problema é atrair
profissionais formados em
licenciatura para a carreira no
magistério.
— Ser professor requer um
saber específico, assim como para
ser médico ou engenheiro. Mudar
a percepção social de que
qualquer um pode ser professor é
essencial, além de uma valorização
salarial e uma perspectiva de
crescimento na carreira —
comenta Paula.
O Ministério da Educação (
MEC) ressalta que coordena
estratégias voltadas à formação de
professores, como o Parfor, que
oferece cursos emergenciais
presenciais de licenciatura; a
Universidade Aberta do Brasil (
UAB), com cursos de licenciatura
e de formação inicial e continuada;
e o Pibid, que visa a melhorar a
educação básica fazendo uma
ponte
entre
estudantes
universitários e as salas de aula,
mas cujos participantes chegaram
a relatar atrasos no pagamento das
bolsas este ano.
No estado do Rio, o
subsecretário de Gestão de
Pessoas da Secretaria de
Educação, Antoine Lousao,
garante que a pasta vem se
resguardando para evitar gargalos
com
aposentadorias
de
professores. Segundo ele, a rede
já chegou a ter carência de 12 mil
profissionais em 2010. Hoje, são
500. A redução foi possível através
de políticas de valorização salarial
e aumento no número de
concursos.
— Fazemos uma projeção de
todas as possíveis aposentadorias
no ano e, com base nisso,
convocamos os aprovados em
concursos. A falta que ainda temos
se refere às áreas em que há
carência de profissionais ou
dificuldades geográficas — diz.
CORREIO BRAZILIENSE
07/09/15
POLÍTICA
GOVERNO »
Promessas sociais deixadas de lado
Compromissos feitos por
Dilma durante a campanha
eleitoral sobre direitos LGBT,
pauta indígena e programas
educacionais
não
foram
cumpridos até agora
Marcella Fernandes
Durante a campanha à
reeleição, a presidente Dilma
Rousseff se comprometeu com
diversas demandas das áreas
sociais, incluindo direitos da
população LGBT, dos povos
indígenas e maior atenção à
educação. Após oito meses do
segundo mandato, o Planalto tem
feito poucos esforços para
mobilizar o Legislativo em torno
desses assuntos e realizou cortes
nos principais programas
educacionais. Os projetos de lei
que criminalizam a homofobia e
que reconhecem o casamento civil
gay
estão
parados,
respectivamente, nas comissões de
Constituição e Justiça e na de
Seguridade Social e Família da
Câmara dos Deputados desde o
início do ano.
Em seu programa de governo,
Dilma prometeu investir na
qualidade da educação e ampliar
o acesso ao ensino. O texto cita o
Programa Nacional de Acesso ao
Ensino Técnico e Emprego
(Pronatec) como forma de garantir
“a formação plena da juventude
brasileira”, mas o programa sofreu
um corte e interrompeu o
crescimento progressivo desde
2011. A previsão é de 1,3 milhão
de vagas para o ano, diante de 3
milhões em 2014. O documento
promete ainda mais 100 mil bolsas
do Ciência Sem Fronteiras (CSF)
até 2018, mas a iniciativa também
foi alvo do contingenciamento. A
dotação orçamentária para o ano é
de R$ 3,3 bilhões. Em 2014, foram
desembolsados R$ 3,42 bilhões e
concedidas 42.209 bolsas.
Outra ação afetada foi o Fundo
de Financiamento Estudantil
(Fies). Diversas mudanças desde
o fim de dezembro restringiram o
acesso ao programa e fizeram com
que o número de novos contratos
autorizados ficassem em 314 mil,
diante de 731,7 mil em 2014. É o
primeiro recuo desde o início do
governo Dilma. “A saída para a
crise deveria ser exatamente o
contrário, a retomada do
crescimento a partir do
fortalecimento das universidades,
do
ensino
técnico,
do
desenvolvimento humano e
profissional”, critica Carina Vitral,
presidente da União Nacional dos
Estudantes (UNE). De acordo com
o Ministério da Educação (MEC),
os gastos são escalonados para
evitar cortes em ações
consideradas estratégicas.
Cenário político
Em troca de apoio de políticos
de esquerda no segundo turno, o
comitê de campanha da presidente
se comprometeu com o deputado
Jean Wyllys (PSol-RJ), em fazer
todos os esforços como governo
para mobilizar a base a fim de
criminalizar a homofobia e aprovar
em lei o casamento civil gay, mas
as propostas no Congresso não
avançaram. Para o parlamentar, o
cenário político desgastado e a
falta de capacidade de articular a
base foram determinantes. “Existe
uma base que ela não consegue
mobilizar. Até mesmo quando o PT
tinha uma base mais sólida, não
conseguiu (avançar nessas
pautas)”, afirma.
De acordo com o Grupo Gay da
Bahia, foram 194 assassinatos de
LGBTs neste ano no Brasil, país
com o número mais alto. O
fundador da entidade e
antropólogo, Luiz Mott, classifica
como “estelionato eleitoral” a
postura do Planalto e critica a
fragilidade da atuação dos
parlamentares que defendem essa
bandeira.
“A
homofobia
institucional pela omissão dos
poderes não garante segurança
para 20 milhões de LGBTs no
país”, aponta. A Secretaria de
Direitos Humanos (SDH) afirmou
que “trabalha constantemente na
defesa dos temas da área, monitora
os processos legislativos e dialoga
com os deputados”.
Também em troca de apoio no
segundo turno, a presidente se
07/09/15
comprometeu em dar maior atenção
às reivindicações dos povos
indígenas, mas o descontentamento
no setor é crescente devido a falhas
na demarcação de terras e ao apoio
do governo ao Marco da
Biodiversidade, sancionado pela
presidente em maio e criticado por
ambientalistas
e
povos
tradicionais. “O governo Dilma
contribui para fortalecer o
processo de ataque e violação de
direitos fundamentais dos povos
indígenas no Brasil”, afirma
Cleber Buzatto, secretário
executivo
do
Conselho
Indigenista Missionário (Cimi).
De acordo com o Ministério da
Justiça, “as terras ainda não
demarcadas estão em regiões
onde o conflito fundiário exige
maior cautela”.
“O governo Dilma contribui
para fortalecer o processo de
ataque e violação de direitos
fundamentais dos povos
indígenas no Brasil”
Cleber Buzatto, secretário
executivo do Cimi
CORREIO BRAZILIENSE
07/09/15
ECONOMIA
CONCURSOS »
Aprendizado em família
o estresse”, diz ela. Para Nilson,
o método favorece a troca de
estímulos. “É gratificante, para
ambos, ver o esforço do outro nos
estudos. Como convivemos no dia
a dia, sabemos das nossas
dificuldades, e o objetivo comum
nos fortalece”, afirma.
"É gratificante, para ambos, ver o esforço do outro nos estudos.
Como convivemos no dia a dia, sabemos das nossas dificuldades, e
o objetivo comum nos fortalece" Nilson Santos, servidor público,
que estuda com a filha, Andressa
Casos de parentes que se unem
nos estudos para alcançar o sonho
de ingressar no serviço público
são cada vez mais comuns. Além
de aumentar a motivação dos
candidatos, esforço conjunto pode
reforçar a assimilação do conteúdo
das matérias
» RODOLFO COSTA
Mais do que um incentivo para
estudar para concursos, a crise
econômica está contribuindo para
aproximar familiares em torno de
um objetivo comum: conseguir o
sonhado ingresso no serviço
público. Pais e filhos, tios e
sobrinhos estão tendo no
aprendizado conjunto o reforço
necessário para fixar o conteúdo
obtido em sala de aula ou mesmo
em casa. Em muitos casos, a busca
por uma vaga no funcionalismo
costuma deixar candidatos tão
ansiosos que, para se concentrar,
acabam se afastando de amigos e
da própria família. Fazer
exercícios com parentes ajuda a
romper esse isolamento. E, assim
como nos estudos em grupo entre
colegas e amigos, contribui para a
assimilação das disciplinas.
Para a estudante Andressa
Domingues, 21 anos, estudar com
o pai, o servidor público Nilson
Santos, 55, é um fator de equilíbrio
emocional. “A presença dele por
perto me ajuda a conter um pouco
O arrocho no orçamento
familiar foi um dos principais
motivos de Santos para voltar a
estudar. Funcionário da Secretaria
de Educação, Cultura e Esportes
de Goiás, Santos diz que a
estabilidade que tem como
servidor não é mais motivo de
satisfação. “Está tudo muito caro,
e parece que a tendência é só
piorar. Fui a um posto de
combustíveis nesta semana e o
frentista disse que a gasolina
poderá ser reajustada até o fim do
ano. Desse jeito, não tem bolso que
aguente”, lamenta. Formada em
letras desde o mês passado,
Andressa perdeu o interesse pelo
último emprego. “Larguei um
trabalho com carteira assinada no
fim de 2014 porque não conseguia
vislumbrar progressão ou melhoria
de salário”, afirma.
Desafio
Professor de educação física
em um colégio do Novo Gama
(GO), as dificuldades de Nilson
Santos vão além do pouco tempo
de estudo. “A última vez que
frequentei
um
cursinho
preparatório foi em 1992. Naquela
07/09/15
época, estava com a cabeça mais
arejada, e era mais fácil absorver
os conteúdos das matérias. Voltar
a mergulhar nos livros agora é um
grande desafio”, constata. Como só
têm os fins de semana para estudar,
ele e a filha usam o tempo
disponível, principalmente, para
realizar exercícios. “Acho que eu
o ajudo a tirar dúvidas, e ele me
auxilia a ser mais atenciosa a
detalhes que, às vezes, passam
despercebidos”, diz Andressa.
Como tem mais tempo para
estudar, ela diz que procura ser
paciente para acompanhar o ritmo
de aprendizado do pai.
Dificuldades
Ter companhia nos estudos –—
seja familiar ou não — é ótimo
para a assimilação do conteúdo, na
avaliação do coordenador
pedagógico do grupo Gran Cursos,
André Lopes. “Se for em família é
melhor ainda, porque, mesmo
estudando fora, os parentes
continuam, em casa, a conversar
sobre o conteúdo das disciplinas.
Ter um objetivo comum faz com
que os candidatos cresçam muito
e fiquem potencialmente mais
competitivos em relação aos
demais concorrentes”, avalia.
Com a margem de lucro
apertada,
o
comerciante
Cleidiomar Martins, 40 anos,
decidiu prestar o concurso do
Instituto Nacional do Seguro
Social (INSS) de olho nos salários
de R$ 5.259,87 para técnico, e de
R$ 7.869,09 para analista. “Se
passar, vou ficar indeciso. O
pensamento de todo empresário é
de vencer desafios. A estabilidade,
no entanto, certamente pesaria na
balança”, diz ele, que estuda com
o sobrinho Pedro Marcos Martins,
18.
Apesar de irem às aulas do
cursinho juntos, Pedro revela que
o tio embarcou nos estudos mais
para incentivá-lo. “Vamos à
biblioteca e resolvemos questões
juntos, mas ele vai mais para me
motivar. Ele me ajuda dando dicas
e me encoraja a estudar todos os
dias”, diz ele, que está concluindo
o ensino médio. “Meu sonho é
passar em um concurso, pagar meu
próprio curso de direito e, um dia,
ser procurador.”
Dicas de especialistas
- É importante ter paciência.
Passar em um concurso exige
tempo de estudo. Poucos são os
candidatos que conseguem a
aprovação “de um dia para o
outro”.
Conheça
a
banca
examinadora. Faça leituras
estratégicas e reforce os conteúdos
que mais costumam ser cobrados
nas provas. Consulte obras de
professores com estatísticas sobre
os temas mais abordados.
- Faça e refaça exercícios e
provas anteriores do órgão
almejado, mesmo que de bancas
diferentes.
Ter
apenas
conhecimento do conteúdo teórico
não é garantia de aprovação.
- Elabore um bom plano de
estudos. Isso garantirá um
aprendizado melhor do conteúdo
e não apenas o decoreba. Crie um
roteiro que permita a alternância
de disciplinas para não fatigar a
mente.
- Cuide do corpo e da mente.
Atividades físicas e alimentação
saudável podem contribuir para um
melhor poder de concentração.
- Defina seu objetivo. Fazer
todos os concursos que saem não
é a melhor estratégia para entrar
no serviço público. É necessário
reconhecer as aptidões e focar em
carreiras mais adequadas ao
próprio perfil.
- Os candidatos que têm menos
tempo para estudo devem
priorizar, principalmente, as
matérias com maior peso.
- É superando as dificuldades
que o candidato conseguirá uma
vaga no funcionalismo. Candidatos
devem focar nas matérias em que
têm mais dificuldade
- Estudar junto pressupõe
empatia entre os membros de um
grupo, sejam eles familiares ou
não. Por isso, é importante ter um
vínculo positivo com os parceiros
de estudo.
- Estabeleça um planejamento
das atividades em dupla ou grupo.
Trace um cronograma, com
encontros regulares, em dias e
horários pré-determinados.
CORREIO BRAZILIENSE
07/09/15
ECONOMIA
Disciplina é fundamental
O estudo em família tem suas
vantagens, desde que os
envolvidos tenham empatia e uma
relação de sociabilidade, observa
Mário César Ferreira, professor
do Departamento de Psicologia da
Universidade de Brasília (UnB),
especialista em psicologia do
trabalho. “Tendencialmente, do
ponto de vista mais geral, os
vínculos existentes entre os
membros de um grupo podem ser
facilitadores do processo do
aprendizado. Estudar em família
pode ser positivo, desde que sejam
observados alguns critérios”,
destaca.
mesmo ambiente. Para que o
estudo seja otimizado e tenha
eficácia, é preciso que se faça um
planejamento entre os familiares,
ainda que o tempo disponível de
cada um deles seja apenas o fim
de semana”, ressalta o professor.
Segundo Ferreira, o resultado
pode ser negativo se o excesso de
intimidade e de convivência
começar a prejudicar a seriedade
do trabalho. “Estudar em grupo
nada mais é do que trabalhar em
grupo. Para fazer isso, é preciso
ter regras, rotina, pontualidade,
disciplina e proatividade. É
necessário ter os ingredientes
típicos de um ambiente de trabalho
profissional”, explica.
Para o coordenador pedagógico
do grupo Gran Cursos, André
Lopes, a diferença no grau de
preparação é, normalmente, o
principal obstáculo em situações
que reúnem pessoas com tempos
de estudo desiguais. No entanto,
ele avalia que as dificuldades
podem
ser
contornadas.
“Naturalmente, um pode ser mais
lento em um primeiro instante que
o outro. Mas é preciso que estejam
alinhados no propósito. Quem está
mais avançado deve resgatar quem
está atrás e fazê-lo andar mais
rápido. E ser paciente é
fundamental”, avalia.
Sem planejamento e método,
reforça o professor, o estudo em
família pode comprometer os
resultados. “Estudar em família ou
em grupo não é apenas dividir o
Diferenças
Além disso, os integrantes do
grupo precisam respeitar o
processo pessoal de cada um na
assimilação dos conhecimentos. As
pessoas têm modos diferentes de
guardar e organizar as
informações. Essa personalização
é fundamental”, reforça Ferreira.
CORREIO BRAZILIENSE
07/09/15
ECONOMIA
Processos seletivos têm mais de
12 mil vagas em todo o país
» ANTONIO TEMÓTEO
Órgãos federais, estaduais e
municipais têm mais de 12 mil
vagas disponíveis, em todo o
Brasil, para quem está interessado
em ingressar no funcionalismo
público. Ainda há expectativa de
que mais mil vagas sejam ofertadas
em certames que terão os editais
publicados até o fim do ano. Nos
processos seletivos abertos, há
postos de níveis médio e superior,
com salários que variam de R$ 2,8
mil a R$ 27,5 mil.
A melhor remuneração é
oferecida pelo Ministério Público
do Distrito Federal e Territórios
(MPDFT), que tem 27 vagas para
promotor. Os interessados em
disputar um desses postos, que
oferece remuneração de R$ 27,5
mil, têm prazo até amanhã para se
inscrever. Para se candidatar, é
necessário ser bacharel em direito
e ter, pelo menos, três anos de
prática jurídica.
A Secretaria de Políticas para
Criança, Adolescente e Juventude
do Distrito Federal, tem abertos
200 postos para contratação
imediata e 888 para formação de
cadastro de reserva, com salários
que variam de R$ 3.730,22 a R$
5242,06. A Universidade de
Brasília (UnB) está em busca de
professores substitutos para aulas
de piano, inglês, espanhol, língua
de sinais e epidemiologia. Os
salários vão de R$ 2.814,01 a R$
4.185,45. O prazo final para
inscrições varia de 11 a 14 de
setembro.
Quem não conseguir uma vaga
agora não deve desanimar. Devem
ser lançados, nos próximos meses,
editais para o Instituto Nacional do
Seguro Social (INSS), a Agência
Nacional Aviação Civil (Anac), a
Agência Nacional do Petróleo
(ANP), a Agência Nacional de
Saúde (ANS), o Ministério das
Relações Exteriores (MRE), o
Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), a Fundação
Nacional do Índio (Funai) e os
Correios. O concurso para a Anac
já recebeu o aval do Ministério do
Planejamento, que autorizou a
abertura de 150 vagas com salário
de até R$ 12,3 mil.
CORREIO BRAZILIENSE
07/09/15
CIDADES
EDUCAÇÃO »
Como valorizar o ensino médio
Senna (veja quadro). No entanto,
apesar de contar com bons índices
em comparação a outras unidades
da Federação — 58% das escolas
obtiveram notas maiores que a
média nacional no Enem 2014 —,
o DF nem sequer conseguiu
alcançar a meta do Índice de
Desenvolvimento da Educação
Básica (Ideb) para 2013, que era
de 4,1. O resultado foi 4. Para este
ano, o objetivo é chegar a 4,5 e,
em 2021, a 5,4.
Ana Maria Gusmão e Danielle Galvarros estão à frente do CEM
Setor Oeste, escola pública com um dos melhores desempenhos
no Enem 2014
Os dados do DF nos principais
indicadores do Enem por Escolas
2014 são melhores do que a média
nacional. No entanto, essa etapa
educacional ainda representa um
dos maiores desafios da capital,
como mostra a primeira
reportagem da série que aborda
o tema
» MARIANA NIEDERAUER
ESPECIAL PARA
O CORREIO
Alcançar resultados melhores
no ensino médio é um dos maiores
desafios da educação brasileira
hoje, e o cenário não é diferente
no Distrito Federal. A divulgação
do Exame Nacional do Ensino
Médio (Enem) de 2014 por
Escolas traz vários dados que
ajudam a entender, para além do
ranqueamento por notas, os fatores
que pesam no fracasso dessa etapa
do ensino. Na série de reportagens
que começa hoje, o Correio
mostrará o papel de gestores,
professores, família e alunos para
que o ensino médio cumpra a
função de preparar os jovens ao
caminho que eles escolherem
seguir na vida adulta.
No DF, a discrepância entre o
desempenho da rede pública e o
da rede privada é uma das menores
do país, de 14%, segundo
levantamento do Instituto Ayrton
Outro fator que pesa no
desempenho das escolas no Enem
é o Indicador de Nível
Socioeconômico (Inse), que leva
em consideração o nível de
escolaridade dos pais e a posse de
bens e contratação de serviços pela
família dos estudantes. Quanto
mais baixo o índice, pior é o
desempenho do estudante,
independentemente da rede em que
ele está matriculado. “O fator
socioeconômico, sendo muito
importante, acaba nivelando (os
estudantes) em termo de
aprendizagem”, avalia Mozart
Neves Ramos, diretor de
Articulação e Inovação do Instituto
Ayrton Senna. Em Brasília, a
maioria das escolas foi
classificada nas faixas média a
muito alta. Mesmo assim, é
possível perceber a influência do
fator socioeconômico. A média
das escolas com Inse muito alto é
de 588 pontos no Enem, enquanto
as de Inse médio ficaram com nota
489.
07/09/15
O Centro de Ensino Médio
Setor Oeste está entre as escolas
públicas
com
indicador
socioeconômico alto e foi uma das
mais bem colocadas no Enem 2014
no DF, com média de quase 540
pontos. A diretora, Ana Maria
Gusmão, e a vice, Danielle
Galvarros, acreditam que um dos
fatores que levam ao bom
desempenho é o fato de o projeto
político pedagógico ser flexível e
sempre discutido com a
comunidade, os professores e os
alunos. “Quando começamos com
o projeto, em 2008, o foco dos
alunos era passar na UnB. Hoje em
dia, eles buscam também outras
federais, os cursos tecnológicos e
as particulares, que têm corrido
atrás e aberto um leque de
possibilidades, que, há alguns
anos, eles não tinham”, detalha Ana
Maria.
Ela lembra ainda que o fato de
estar no Plano Piloto diferencia a
escola de outras que ficam mais
afastadas do centro. Também
destaca a dedicação do corpo
docente. “A maioria dos
profissionais que temos aqui já
está há muitos anos na Secretaria
de Educação. Vários deles
passaram pelo ensino particular e
trazem outras experiências
educacionais”, afirma. O maior
desafio da gestão, na opinião dela,
é convencer os estudantes da
importância
da
tarefa
desempenhada na escola e dar as
melhores condições para os
professores atuarem. “O trabalho
do gestor fica camuflado no
processo todo”, avalia.
Criatividade
Os cortes de gastos que o
Governo do Distrito Federal vem
anunciando desde o início do ano
não pouparam a educação. A volta
às aulas da rede pública atrasou
três semanas este ano, duas delas
devido a reparos que a Secretaria
de Educação do DF (SEDF)
precisou fazer nas escolas para
receber os alunos. “É inegável que
os problemas estruturais constituem
fatores limitantes, mas não são
motivo para que não avancemos”,
avalia o secretário de Educação do
DF, Júlio Gregório. “Nós temos
que usar a criatividade. O bom
gestor é forjado não no momento
de bonança, mas nos de
dificuldades, como os que nós
estamos vivendo”, completa
Gregório.
A secretaria lançou, a última
sexta-feira, o programa Por dentro
dos exames do ensino médio,
justamente com o objetivo de
preparar estudantes da rede pública
para provas como o Enem e o
Programa de Avaliação Seriada, da
Universidade de Brasília (PAS/
UnB). Esse é um exemplo, segundo
o secretário, de projeto feito
praticamente sem custo nenhum.
Como parte da iniciativa,
professores de língua portuguesa
da SEDF participarão de oficinas
de redação sobre o Enem e, ainda
este mês, estudantes do 3º ano do
ensino médio regular farão um
simulado com o objetivo de se
preparar para os exames oficiais.
Para
Álvaro
Moreira
Domingues Júnior, presidente do
Sindicato dos Estabelecimentos
Particulares do Distrito Federal
(Sinepe-DF), a autonomia é o
principal fator que diferencia a
gestão da escola pública da escola
privada. “Acredito que, quanto
mais descentralizada é a educação
e quanto mais autonomia se
conceder
às
instituições
educacionais, mais êxito teremos
na aprendizagem. A escola privada
consegue esses resultados porque
tem autonomia, é uma gestão
voltada para metas e resultados”,
afirma.
Um dos dados que chama a
atenção em relação às escolas
privadas é o Indicador de
Permanência na Escola (IPE), que
mostra o percentual de
participantes que cursaram as três
séries do ensino médio na mesma
instituição. Todas as escolas do
DF com índice inferior a 20% são
particulares — 12, num total de 183
ranqueadas no Enem por Escolas
2014. “O que ocorre, na maioria
das vezes, é que os alunos buscam,
nos últimos anos do ensino médio,
escolas com histórico de bom
desempenho no Enem”, justifica
Álvaro. Ele destaca que o índice é
importante para que se tenha uma
medida real de quanto a escola
influenciou no desempenho do
aluno. Ele acredita que outra
possível solução para essa
distorção seria a implantação do
Enem de maneira seriada, nos
moldes do PAS, da UnB. “Você
poderia ver exatamente qual escola
consegue agregar ao aluno mais
formação cognitiva ao longo de
três anos”, conclui.
07/09/15
Ponto crítico
“O ensino médio é o nosso
ponto crítico, principalmente o
público, porque está absolutamente
desestruturado
e
sem
planejamento”, avalia a professora
Maria Márcia Sigrist Malavasi, da
Faculdade de Educação da
Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp). Segundo ela,
existem diversos fatores que
contribuem para esse quadro: a
formação deficitária dos
professores nos cursos de
licenciatura e a falta de formação
continuada; a desmotivação dos
estudantes; a estrutura ruim dos
colégios; e pais que não
acompanham a vida escolar dos
filhos nem se sentem acolhidos
pela escola. “Como não há
planejamento nacional para o
ensino médio, temos uma escola
desestruturada e com professores
que não desejam estar lá”, resume.
"É inegável que os problemas
estruturais constituem fatores
limitantes, mas não são motivo
para que não avancemos"
Júlio Gregório, secretário de
Educação do DF
"O ensino médio é o nosso
ponto crítico, principalmente o
público,
porque
está
desestruturado
e
sem
planejamento"
Maria Márcia Sigrist Malavasi,
professora da Unicamp
» Leia amanhã:
a formação e os desafios do
professor do ensino médio
07/09/15
07/09/15
CORREIO BRAZILIENSE
07/09/15
CIDADES
O JOVEM E A CRISE »
O primeiro conflito institucional
Principais agentes de algumas
das maiores mudanças históricas,
os mais novos procuram um papel
no cenário atual de insatisfação
com a política. Especialista
ressalta que não existe um
instrumento formal para eles
questionarem o governo
» OTÁVIO AUGUSTO
» CAMILA COSTA
João Vítor, Letícia e Erivan:
otimistas, mas sem esperança de
que problemas serão resolvidos
agora
Estudantes protestam em frente
ao Congresso Nacional, em 2013,
na onda de manifestações que
tomou conta do país
Em vários capítulos da história,
os jovens desempenharam papel
fundamental em reformas
estruturais da sociedade. Um deles
foi a Independência do Brasil,
comemorada hoje (leia Para saber
mais). Manifestações contra a
ditadura militar e os protestos à
época do impeachment do expresidente Fernando Collor de
Mello são outros exemplos. O
perfil combativo e revolucionário
não é apenas uma lembrança. Hoje,
o conflito entre as instituições
políticas e a corrupção no governo
interfere na rotina de moças e
rapazes que, na última eleição,
representaram
16,8%
do
eleitorado total do Distrito
Federal. Hoje e amanhã, o Correio
mostra o efeito da atual crise
política e econômica na vida dos
jovens e o que eles têm feito para
contornar a situação.
Quando a geração Y,
representada por pessoas entre 18
e 21 anos, fala de política, algumas
palavras se repetem: protesto,
descrença, corrupção e internet.
Eles vivem o primeiro conflito
político-institucional. A falta de
confiança no governo fica evidente
nas pesquisas de opinião. Hoje,
nas urnas, os jovens representam
16,8% do eleitorado total do
Distrito Federal. Cerca de 380 mil
votantes, de acordo com o Tribunal
Superior Eleitoral (TSE). À
revelia do histórico militante na
política, inclusive em fatos
recentes do país (veja Memória),
o grupo se mostra desesperançoso.
Insatisfação
O desejo é que o Brasil entre
nos eixos e que a política seja
reformulada, mas eles não
alcançaram o posto de
protagonistas dessa reforma. Além
disso, sobra insatisfação e faltam
propostas fundamentadas. Essa
parcela da população tem sido
duramente castigada pelos reflexos
da crise política e econômica. O
desemprego, por exemplo, afasta
32% dos jovens do mercado de
trabalho no Brasil. A taxa é a
mesma de países como a Espanha,
que enfrenta uma severa recessão
desde 2010.
O conflito político não se
resume a brigas partidárias. “O
problema é que a política é velha
e o país é novo. Vemos os mesmos
nomes, as mesmas propostas e os
desvios de conduta de sempre. Ser
um país democrático dá trabalho”,
pondera o estudante Erivan Junior,
19 anos.
Muitas manifestações públicas
lideradas por jovens na última
década tiveram forte vinculação
com mídias alternativas e novas
tecnologias. Nem o território livre
para o debate e organização de atos
atrai a garotada. “Para haver
mudança é preciso ter um
propósito. Qual foi o resultado dos
07/09/15
protestos de 2013? Muita gente se
mobilizou, mas não houve grandes
impactos no governo”, avalia o
universitário
João
Vítor
Rodrigues, 18.
O Fórum Social Mundial (FSM)
realizou um levantamento global
que aponta o uso da internet como
principal ferramenta do jovem.
“Não é mais possível renegar o uso
dessas tecnologias a uma posição
coadjuvante quando se trata de
causas coletivas. A relação que
sempre aparece nesse debate é
entre o uso dessas novas
tecnologias e suas ferramentas,
espaços de articulação e os
jovens”, detalha o documento.
Quadro negativo
Os adolescentes sabem que a
instabilidade política não faz bem
ao desenvolvimento da nação. Eles
acompanham as tramas da Câmara
dos Deputados, do Senado e do
Palácio do Planalto de perto, mas
não querem se envolver na
polêmica. “Temos que ser
otimistas, mas mudanças
consistentes só aparecerão nas
próximas gerações. Enquanto
acharmos o ‘jeitinho brasileiro’
bonito, vamos estimular pequenos
desvios de caráter que
influenciaram os grandes líderes.
Para o país mudar, a gente precisa
mudar”, ressalta a estudante Letícia
Dourado, 20.
O cenário pessimista é
esperado também por aqueles que
saíram há pouco tempo das salas
de aula da universidade. O
professor de sociologia Thiago
Souto de Andrade, 26, formou-se
há um ano na Universidade de
Brasília (UnB). Concluiu os
estudos em instituições públicas e,
hoje, dá aula no P Sul, em
Ceilândia. “Não é só a classe
média que sente a estagnação do
país. Os mais pobres também
percebem as dificuldades da falta
de governabilidade e a ausência de
políticas públicas”, frisa.
instabilidade econômica e os
conflitos políticos. De acordo com
Cristiane Coelho, o pensamento é
sensato. “Estamos em um momento
de impasse. Há uma consciência
crítica, mas ainda difusa. Eles têm
uma participação tímida, mas
dentro da realidade”, defende.
Memória
A militância do jovem ainda
existe, segundo o professor, que é
ex-líder estudantil. “Temos um
Estado que vive em contradição, e
o jovem também está confuso.
Falta uma convergência de
propostas fundamentadas além da
sensação de indignação. Não se
resolve os problemas com críticas
vazias”, conclui Andrade.
A socióloga e cientista política
Cristiane Coelho Machado
concorda com Thiago, mas ressalta
a falta de instrumentos formais
para os jovens questionarem o
governo. “A crise de representação
institucional faz com que eles
procurem canais alternativos. Isso
não quer dizer que não refletem
sobre a problemática”, explica.
Para ela, o essencial é organizar
objetivos claros para fundamentar
o diálogo. “As ideias estão
fragmentadas por falta de
instituições.
Porém,
os
movimentos
estão
mais
heterogêneos”, afirma.
Nenhum dos jovens ouvidos
pelo Correio é a favor do
impeachment da presidente Dilma
Rousseff. O principal argumento é
que o episódio da década de 1990,
com a queda de Collor, foi
“traumático” e acentuou a
1821
Jovens organizam assembleias
para discutir a situação do Brasil,
à época colônia de Portugal.
1897
Estudantes da Faculdade de
Direito da Bahia divulgam, por
meio de um documento escrito, as
atrocidades ocorridas em Canudos
(BA).
1901
A Fundação da Federação de
Estudantes Brasileiros inicia o
processo de organização dos
estudantes
em
entidades
representativas.
1932
Na campanha pela Revolução
Constitucionalista, a morte de
quatro estudantes inspirou a revolta
que eclodiu
na insurreição de São Paulo
contra o governo central.
1937
Criação da União Nacional dos
Estudantes (UNE), entidade
brasileira representativa
dos estudantes universitários.
1947
A campanha “O petróleo é
07/09/15
nosso”, que destacava a luta pela
autonomia
brasileira
na
exploração
do
petróleo
exclusivamente por uma empresa
estatal nacional, é encampada por
estudantes universitário.
1964
A partir da instituição da
ditadura militar, os estudantes vão
às ruas para protestar, mas também
são responsáveis por parte da
produção cultural do país. Filmes,
peças de teatro, músicas, livros
tiveram grande influência na
época.
1984
Pais e filhos vão às ruas na
campanha Diretas Já, o que forçou
o Congresso a votar a favor das
eleições diretas em 1989.
1992
Impeachment do ex-presidente
Fernando Collor. O movimento
caras-pintadas tomou as ruas
contra a corrupção no governo
federal.
2013
Manifestações contra a
corrupção no governo e aumento
de impostos, como o valor da
passagem de ônibus.
CORREIO BRAZILIENSE
07/09/15
PARA SABER MAIS »
Atuação fundamental
Os jovens lusitanos abriram
espaço para a possibilidade da
independência ainda em 1821. Os
revolucionários formaram uma
espécie de Assembleia Nacional
que ganhou o nome de “Cortes”.
Nas entidades, as principais
figuras políticas exigiam que o rei
dom João VI retornasse à terra
natal para que legitimasse as
transformações políticas em
andamento no Brasil. Temendo
perder sua autoridade real, dom
João voltou à Portugal naquele ano
e nomeou o filho Dom Pedro I
como príncipe regente do Brasil.
O novo gestor baixou os impostos
e equiparou as autoridades
militares nacionais às lusitanas.
Naturalmente, tais ações
desagradaram às Cortes de
Portugal, que exigiram o retorno
do príncipe a Portugal e a entrega
do Brasil ao controle de uma junta
administrativa formada por eles.
A situação ficou insustentável e a
única alternativa foi se
desvencilhar da nação europeia.
CIDADES
09/09/15
Falta um gestor
O entorno de Dilma Rousseff já
percebeu: ela está bem preocupada com
o desempenho de Renato Janine Ribeiro
à frente do Ministério da Educação. Dias
atrás, Dilma telefonou para o secretário
executivo do ministério, Luiz Cláudio
Costa, para tomar pé da situação do
MEC. Embora seja uma grife no mundo
acadêmico, Janine não quer assumir o
papel de gestor. Causou preocupação a
um assessor de Dilma saber que,
enquanto grevistas ocupavam a frente do
MEC, há duas semanas, Janine escrevia
no Facebook sobre um tema que nada
tinha a ver com a paralisação.
RADAR
Lauro Jardim
09/09/15
Números
3 vezes maior é o benefício financeiro
trazido ao longo da vida pelo diploma de
uma das faculdades mais disputadas dos
Estados Unidos em relação às menos
disputadas, segundo estudo do Instituto
Brookings que analisou 850 escolas
americanas
620 000 dólares, o equivalente no câmbio
atual a 2,3 milhões de reais, é o "bônus"
obtido durante a vida profissional por
quem se formou em uma das faculdades
particulares classificadas no topo do
ranking
1 em cada cinco das instituições analisadas no estudo tinha cursos cujo custo para
o aluno superava o ganho proporcionado
por eles - ou seja, financeiramente, investir nessas faculdades não valeu a pena
PANORAMA
O GLOBO
06/09/15
CA PA
EM SEIS ANOS, 40% DOS PROFESSORES
VÃO SE APOSENTAR
O GLOBO
06/09/15
O PAÍS
Chamados a explicar ‘pedaladas’
culpam ex-secretário do Tesouro
VINICIUS SASSINE
Onze gestores ouvidos pelo
TCU atribuem manobras fiscais a
Arno Augustin
Onze das 17 autoridades e exautoridades do governo Dilma
Rousseff chamadas a se explicar
sobre as “pedaladas” fiscais
elegeram um culpado para os
atrasos de repasses aos bancos
oficiais: o ex-secretário do
Tesouro Nacional Arno Augustin.
O GLOBO teve acesso a todas as
defesas protocoladas no Tribunal
de Contas da União (TCU) por
ministros, presidentes de bancos
oficiais, coordenadores do
Tesouro e outros gestores. A
maioria jogou a responsabilidade
pelo represamento dos repasses no
colo de Arno, que deixou o cargo
nos primeiros dias de janeiro
deste ano.
Três subordinados do então
secretário ressaltaram nas defesas
entregues que “cumpre ao
secretário do Tesouro Nacional
estabelecer a programação
financeira mensal e anual do
Tesouro Nacional”. O argumento
foi utilizado pelo subsecretário de
Política Fiscal do Tesouro, Marcus
Pereira
Aucélio;
pelo
coordenador-geral
de
Programação Financeira, Marcelo
Pereira de Amorim; e pelo
coordenador-geral de Operações
de Crédito, Adriano Pereira de
Paula.
Os dois primeiros foram além
e afirmaram que as liberações de
recursos para o Bolsa Família
“estavam relacionadas ao
secretário do Tesouro Nacional”
e que a responsabilização feita
pelo TCU “exorbita suas
competências como agente público
em face às competências
regimentais da STN (Secretaria do
Tesouro
Nacional)”.
A
responsabilização do ex-secretário
foi feita ainda pelo ex-ministro da
Fazenda Guido Mantega e pelo
ministro do Planejamento, Nelson
Barbosa. Já o presidente do
BNDES, Luciano Coutinho, e a
ministra do Desenvolvimento
Social, Tereza Campello,
informaram ao TCU ter feito
sistemáticas cobranças ao Tesouro
por repasses.
Diante da falta de recursos, os
bancos se viram obrigados a arcar
com o pagamento de programas
sociais como o Bolsa Família, o
seguro-desemprego e o abono
salarial. O TCU concluiu que a
manobra serviu para melhorar
artificialmente as contas públicas
e enxergou uma operação de
crédito nas “pedaladas”, o que
infringe a Lei de Responsabilidade
Fiscal. Em abril, o tribunal listou
17 responsáveis pelos fatos e
determinou que esses gestores
deveriam se explicar.
A acusação das “pedaladas”
passou a integrar o processo que
analisa as contas de 2014 de
Dilma. A oposição planeja usar um
possível parecer pela rejeição
para pedir o impeachment da
presidente, que ganhou mais tempo
para se explicar sobre outras
supostas irregularidades no
processo. O esvaziamento do
processo original, com uma
eventual responsabilização
concentrada em Arno, pode
favorecer o julgamento das contas
da presidente.
O GLOBO
06/09/15
O PAÍS
Nota do próprio Arno integra
cinco defesas levadas ao TCU
Ex-secretário afirma que
bancos públicos não financiaram
a União
Na véspera da saída do cargo
de secretário do Tesouro, em 30
de dezembro de 2014, Arno
Augustin assinou uma nota técnica
que atribui ao secretário a palavra
final sobre a liberação de recursos
públicos aos ministérios e demais
órgãos da União. A nota foi
interpretada como um gesto em
que
Arno
assume
a
responsabilidade
pelas
“pedaladas”. Não à toa esse
documento integra cinco defesas
protocoladas no TCU, entre elas
as do exministro Guido Mantega.
O exsecretário, no entanto, afirmou
em sua defesa que agiu dentro da
legalidade no período em que
ocupou o cargo, desde 2007.
O ministro do Planejamento,
Nelson Barbosa, e seu secretárioexecutivo, Dyogo Oliveira, foram
chamados pelo TCU para explicar
portarias que definiram prazos
para pagamentos do Tesouro ao
BNDES por incentivos em linhas
de crédito. As duas defesas têm o
mesmo teor: “Os atos materiais de
repasses de recursos ao BNDES
para a concessão de subvenção
econômica na modalidade de
equalização de juros eram de
competência da Secretaria do
Tesouro Nacional e nunca foram
de competência da autoridade
demandada.”
OPERAÇÃO DE
CRÉDITO É NEGADA
Outros três citados pelo TCU —
o ex-ministro das Cidades
Gilberto Occhi, atual ministro da
Integração Nacional, e dois
exsecretários — lembraram a
“responsabilidade” do Tesouro em
ressarcir o FGTS por conta do
programa Minha Casa Minha Vida.
O tribunal apontou essa falta de
pagamentos — R$ 8,2 bilhões em
dívidas — como uma “pedalada”
e um indício de irregularidade que
a presidente Dilma precisou
explicar.
Praticamente todas as defesas
sustentam não ter existido
operação de crédito na manobra
fiscal. Prevalecendo esta tese, não
teria havido infração à Lei de
Responsabilidade Fiscal. A defesa
de Arno tem 238 páginas. O
documento é assinado também
pelo advogado-geral da União,
Luís Inácio Adams.
Arno sustenta a legalidade de
seus atos “seja porque atendem aos
ditames legais e contratuais, seja
porque se colocam sob os moldes
supralegais de inexigibilidade de
conduta diversa”. Segundo o exsecretário, os bancos não
financiaram a União e não houve
operação de crédito.
O GLOBO
06/09/15
SOCIEDADE
Sinal de saída da escola
RENATA MARIZ
Estudo mostra que 40% dos
professores no ensino médio
poderão se aposentar até 2021
Ao longo dos próximos seis
anos, cerca de 40% dos
professores do ensino médio terão
condições de se aposentar. A
estimativa, calculada em estudo
inédito do Ministério da Educação
(MEC) ao qual O GLOBO teve
acesso, mostra a necessidade de
recrutar docentes para essa etapa
escolar, que já sofre com falta de
profissionais formados na
disciplina que lecionam.
Mas a tarefa de arregimentar
educadores não será fácil. A baixa
remuneração e a falta de
condições de trabalho geram
desinteresse pelo magistério. O
número de formandos em cursos
de licenciatura de disciplinas da
educação básica (ensinos
fundamental e médio) vem caindo.
Segundo o Censo do Ensino
Superior de 2013, esse universo
encolheu 16% de 2010 a 2012,
passando de 95.550 concluintes a
80.582. E nem todos os formandos
se tornam professores.
O levantamento sobre
aposentadorias considerou os
cerca de 507 mil docentes do
ensino médio, segundo o último
Censo Escolar, referente a 2013.
Além de 2,75% dos profissionais
com mais de 60 anos na iminência
de se aposentar, havia 15,28% na
faixa de 50 a 59 anos que
começam a ter condições de deixar
a sala de aula.
Soma-se a esse contingente boa
parte dos 29,2% com idade entre
40 e 49 anos que atingirá nos
próximos anos os critérios para
pendurar as chuteiras, chegando à
estimativa total de 40% de
aposentáveis até 2021. Pela
Constituição Federal, professores
podem se aposentar cinco anos
antes dos demais profissionais. No
serviço público, segundo
especialistas, a maioria dos
docentes se aposenta assim que
atinge os critérios: o requisito para
homens é ter 30 anos de
contribuição e 55 de idade. Para
mulheres, que são 61,5% dos
professores do ensino médio, basta
ter 50 anos e 25 de serviço. Na
iniciativa privada, não há idade
mínima, apenas o mesmo tempo de
contribuição exigido no setor
público.
— Temos uma quantidade
enorme de professores do ensino
médio que vão alcançar idade e
tempo de aposentadoria nos
próximos anos. Eles representam
aproximadamente 40% do efetivo.
Temos que nos preocupar com isso
— disse Jesualdo Pereira Farias,
secretário de Educação Superior
(Sesu) do MEC, durante uma
cerimônia da Associação Nacional
dos Dirigentes das Instituições
Federais de Ensino Superior
(Andifes), em julho.
Em entrevista ao GLOBO,
Farias explica que é razoável
trabalhar com a expectativa de que
40%, de fato, deixem as salas de
aula nos próximos seis anos, mas
ele ressalta que o estudo é uma
projeção baseada nos critérios de
aposentadoria.
— Isso mostra que teremos que
aumentar o esforço na formação de
professores para que não haja falta
de profissionais no futuro — diz.
Para fins de comparação, dados
do Ministério do Planejamento
indicam que cerca de 23% do
funcionalismo público federal têm
mais de 51 anos. Desses, 3% estão
acima dos 60, idade que, aliada ao
tempo de contribuição (35 anos
para homens e 30 para mulheres),
dá direito à aposentadoria. O
percentual anual de pedidos de
aposentadoria no serviço público
federal não passa de 1,4% do total
de servidores ativos.
O secretário de Educação
Superior esclarece que não há
levantamentos anteriores para
verificar se o volume de
professores em condições de se
aposentar nos próximos anos
significa um ponto fora da curva.
Os resultados, diz ele, mostraram
que será necessário aprofundar a
pesquisa para saber quantos
entram e saem por ano.
“JÁ
LIDAMOS
COM
CARÊNCIA
DE
PROFESSORES”
O estudo foi feito pelo governo
06/09/15
como parte do monitoramento da
Meta 15 do Plano Nacional de
Educação (PNE), que prevê uma
política nacional de formação de
profissionais da educação básica,
para garantir que até 2024 todos
os professores tenham nível
superior em curso de licenciatura
na área em que atuam.
Embora não faça diferenciação
entre rede pública e particular, a
pesquisa reflete sobretudo a
realidade das escolas públicas,
que respondem por 87% das
matrículas do ensino médio no
país, explica o secretário do MEC.
A projeção está alinhada com o
último levantamento do Conselho
Nacional de Secretários de
Educação (Consed), também com
dados de 2013. A pesquisa
considerou o tempo de serviço dos
professores na rede pública
estadual, maior responsável pelo
ensino médio público no país, mas
que também abrange uma parcela
pequena da educação fundamental
em alguns municípios.
Conforme esses resultados, a
aposentadoria foi classificada
como “iminente” para 26% dos
docentes, que à época já tinham de
21 a 25 anos de contribuição, além
de 2% com condições plenas de
encerrar a carreira por terem mais
de 25 anos de serviço. Para o
presidente do Consed, Eduardo
Deschamps, os números servem de
alerta:
— Se você projeta esse cenário
para os próximos anos, a
estimativa do governo está
próxima da nossa. É algo que
preocupa, mas não apenas no
futuro. Hoje já lidamos com uma
carência imediata de professores
em algumas áreas.
De acordo com a secretáriageral da Confederação Nacional
dos Trabalhadores em Educação
(CNTE), Marta Vanelli, existe no
ensino público uma grande
determinação em se aposentar
assim que as condições de idade e
tempo de contribuição são
atingidas, devido ao desgaste da
sala de aula, à baixa remuneração
da categoria e à falta de um
incentivo para continuar.
— O professor não pensa duas
vezes. As condições de trabalho
são ruins e não há uma vantagem
salarial. Não é como o professor
de universidade, que posterga a
aposentadoria para trabalhar com
pesquisa, extensão — explica
Marta.
Embora não haja indicador
exato sobre o fluxo de entrada e
saída dos professores do ensino
médio,
em
determinadas
disciplinas o número de
professores é muito aquém da
necessidade. Física é um dos
gargalos. Segundo dados do MEC,
em 2013, 1.900 pessoas
finalizaram o curso de licenciatura,
frente aos quase 37 mil professores
que lecionam essa disciplina nas
escolas sem serem formados nessa
área (73,2% do total).
A carência não se restringe a
disciplinas de exatas. Docentes
sem licenciatura em Sociologia
dando aula nessa disciplina
representam 88% do total. A
proporção chega a 78% entre os
que lecionam Artes e Filosofia, por
exemplo.
NÚMERO DE FORMANDOS
CAI MAIS EM EXATAS
Analisando os dados do Censo
do Ensino Superior de 2013, é
possível presumir que essa
situação vai se agravar no futuro.
O número de estudantes se
formando para se alistar nas
trincheiras do ensino básico vem
caindo, principalmente na área das
disciplinas exatas. De 2010 a
2012, houve redução de 14% dos
concluintes em Física, 13% em
Biologia, 10% em Química e 21%
em Matemática. Em História, por
06/09/15
outro lado, o contingente
aumentou, mas apenas 1%. Em
parte, essa queda pode ser
explicada pelas altas taxas de
evasão: só 20,5% dos graduandos
terminam o curso de Física, 29,5%
chegam ao fim da licenciatura em
Química e 33% recebem o
diploma para dar aulas de
Matemática. Somente em duas
disciplinas, Geografia e Artes, a
taxa de sucesso é superior a 50%.
— Levando-se em conta que o
quadro de redução no número de
concluintes já vinha sendo
identificado em anos anteriores, a
gente percebe que o país não
reagiu ao problema — lamenta o
diretor de articulação e inovação
do Instituto Ayrton Senna, Mozart
Neves Ramos. — Já vivemos
apagões na oferta de professores.
Mas a tendência é que isso comece
a ficar sistêmico, devido ao
desinteresse de nossos jovens pelo
magistério.
Além disso, não há garantias de
que os formandos de licenciaturas
se encaminharão para as escolas.
Cerca de 19 mil pessoas se formam
anualmente em Educação Física.
Mesmo assim, 15.537 professores
do ensino médio que lecionam a
disciplina não têm formação na
área. Outras atividades, como em
academias ou de personal trainer,
são mais sedutoras.
Doutora em Educação, Dirce
Zan, coordenadora do curso de
Pedagogia da Unicamp, defende a
necessidade de se valorizar o
magistério.
— Falo pela experiência como
professora das licenciaturas. O
aluno recebe proposta para
ingressar no mercado, muito mais
atrativo que a sala de aula, e vai
porque terá mais perspectivas
profissionais — conta Dirce, que
integra a Comissão de Formação
de Professores da Unicamp Neves
Ramos concorda: — O Brasil
precisa de jovens dispostos a
substituir os professores que estão
se aposentando. Estamos num
momento de crise, mas, para o país
avançar, é fundamental investir na
atratividade do magistério. (
Colaborou Eduardo Vanini)
O GLOBO
06/09/15
SOCIEDADE
O GLOBO
06/09/15
SOCIEDADE
O GLOBO
06/09/15
SOCIEDADE
O GLOBO
06/09/15
SOCIEDADE
Colégio incentiva autonomia por meio da arte
BRUNO ALFANO*
Na Escola Cirandas, em Paraty,
não há divisão de disciplinas, e
aluno escolhe assunto para se
aprofundar
Um colchão espaçoso sob uma
tenda feita de lençol é a sala de
aula. A professora passa um toco
de madeira a quem quiser falar. O
grupo de crianças entre 6 e 12 anos
conversa francamente. Se alguém
não gostou da atitude de algum
coleguinha, tem, ali, a chance de
se expressar. Eles não vestem
uniforme. Não têm aulas
separadas
de
português,
matemática ou outras disciplinas
— apesar de aprenderem todos
esses conteúdos. E duas vezes por
dia têm o momento de “brincar
livre”, que o nome já explica bem
o que é. Esse é o modelo da
Escola Comunitária Cirandas, em
Paraty, onde não há divisão em
disciplinas, provas, séries e o
sinal de recreio é a batida de
tambor tocado por um aluno.
FOTOS DE
RAFAEL MORAES
— Aprender através da arte é
mais humano, tem mais afeto —
explica Mariana Benchimol,
codiretora e uma das fundadoras.
O colégio é um dos 30 estudos
de caso que serão apresentados no
encontro internacional Educação
360, realizado sexta e sábado que
vem pelos jornais O GLOBO e
“Extra”, em parceria com Sesc e
prefeitura do Rio e apoio da TV
Globo e do Canal Futura.
MUITA IMAGINAÇÃO
São 52 crianças que cursam o
ensino fundamental na Cirandas.
Os mais novos ficam focados na
alfabetização, integrados num
método, segundo os educadores da
casa, menos “be-a-bá” e mais
contextualizado. Evoluindo no
aprendizado ( independentemente
do tempo de estudo), passam para
uma fase inicial de projetos e, mais
velhos, aprofundam essa etapa
intermediária.
— Por meio dos projetos, os
alunos aprendem as diferentes
disciplinas. É um olhar integrado
— explica Fabíola Guadix,
codiretora que também participou
da concepção da escola.
Nos encontros das crianças,
cartazes dão pistas do quanto a
criatividade e a imaginação são
valorizadas. Um deles pede calma
porque há “Aprendizes de magos
e feiticeiros pensando”, e outro
traz um alerta: “Cuidado! Alguma
coisa sempre pode explodir”. No
ano passado, em um dos projetos,
crianças estavam em uma das salas
repletas de pufes e colchões
pesquisando sobre o Universo
quando um aluno novo não resistiu:
perguntou quando ia começar a
aula de ciências.
— A gente explicou que ele
estava em uma aula, que estava
aprendendo de um jeito diferente
do que ele estava acostumado —
diz Fabíola.
Cirandas abriu as portas em
2014 e, segundo Mariana, segue a
filosofia “ação-reflexãoação”. As
metodologias propostas podem
mudar a partir da avaliação dos
educadores, dos pais e até dos
alunos, que são livres para
apresentarem ideias e projetos.
— Nosso objetivo é que a
criança seja autônoma. Ela tem que
confiar em suas próprias ideias
para empreender — destaca
Fabíola.
A falta de provas não significa
que os alunos não são avaliados.
Em três momentos do ano, os
professores fazem um relatório que
aponta os progressos ou novos
objetivos.
— O primeiro, no começo do
ano, é descritivo. O segundo, em
junho, indica objetivos e
competências. E o de dezembro é
uma mistura dos dois — explica a
diretora Mariana.
AULA DE LIBERDADE
Os alunos têm liberdade para
mostrar os caminhos e assuntos que
pretendem aprofundar — como nas
aulas eletivas que fazem ao fim da
tarde. No entanto, caso o professor
perceba uma necessidade, pode
orientar e exigir que o estudante
se aplique naquele conteúdo a ser
desenvolvido.
— Para conquistar liberdade, é
preciso ter um compromisso —
06/09/15
explica Mariana.
O colégio é uma instituição
privada com apoio da Fundação
Oju Moran, composta por
fundadores da escola, amigos e um
benfeitor. Metade dos alunos paga
a mensalidade integral, de R$ 950.
Dos restantes, metade tem bolsa
integral e a outra metade só paga
50%. Segundo Mariana, a receita
não cobre todos os custos:
— A Cirandas nasceu com essa
ideia de diversidade social. Por
isso, existe essa gradação de
bolsas integrais e parciais. Mas a
fundação não consegue bancar a
escola por muitos anos. Nós
buscamos apoio. (*Do “Extra”)
FOLHA DE SÃO PAULO
06/09/15
PODER
Alunos universitários pregam liberalismo
Grupo Estudantes pela
Liberdade reúne milhares de
correligionários a favor do livre
mercado e contra o estatismo
Em instituições privadas,
professores seguem o mesmo
caminho e oferecem cursos sobre
o tema
FERNANDO CANZIAN
DE SÃO PAULO
Um grupo de estudantes de
vários Estados vem promovendo,
há quatro anos, a evangelização do
pensamento
liberal
em
universidades, escolas, redes
sociais e em sites na internet.
Em outubro, o grupo Estudantes
pela Liberdade reunirá em São
Paulo mais de 650 pessoas e
palestrantes internacionais para
difundir o pensamento liberal, na
economia e na política, em um país
considerado "patrimonialista,
atrasado e muito dependente do
Estado".
A iniciativa é acompanhada por
economistas e professores de
universidades que não fazem parte
do grupo, como a PUC-RJ e a
FGV-SP.
O grupo considera que escolas
de segundo grau e universidades
públicas estão impregnadas pelo
pensamento marxista, baseado nas
ideias econômicas e políticas de
Karl Marx (1818-1883).
No Brasil, isso seria resquício
do pensamento de esquerda que
dominou as universidades durante
a ditadura militar (1964-1985) e
que associa a direita ao período.
A influência do Estado na
sociedade e na economia é tida
como o grande entrave ao
florescimento de um liberalismo
que levaria a mais economia de
mercado e menos dependência e
favorecimento estatal a grupos.
Juliano Torres, 26, diretor do
Estudantes pela Liberdade, diz que
o grupo nasceu em abril de 2012
espelhado em iniciativa norteamericana. Diz ter hoje 650
lideranças, com cerca de cem
estudantes por trás de cada uma.
Além do seminário em outubro,
o grupo realiza neste ano
conferências em 21 universidades,
com a ajuda de professores
liberais.
Torres diz que o liberalismo no
Brasil é restrito à economia. E que,
mesmo assim, é soterrado muitas
vezes por uma visão estatizante,
como no primeiro governo Dilma.
Segundo ele, o grupo não se
identifica com nenhum partido.
"Trata-se de uma gama de 50 tons
de vermelho."
No campo acadêmico, Bernardo
Guimarães, 42, professor da FGVSP, tomou a iniciativa pessoal de
06/09/15
ministrar cursos e palestras sobre
o pensamento liberal para
estudantes de segundo grau.
Recentemente, fez isso com 100
alunos do colégio Bandeirantes e
outros 300 de várias escolas, em
auditório cedido pela FGV.
Guimarães lamenta que no
Brasil alunos dessa faixa só
tenham contato com economia por
meio de professores de história e
geografia e livros "de orientação
marxista". "Nos EUA e Reino
Unido há economia no segundo
grau. Os alunos tomam ciência de
temas como formação de preços e
que medidas duras no presente
podem ser benéficas no futuro."
Em suas aulas, ele usa exemplos
do dia a dia, como o fato de taxistas
de São Paulo que levam
passageiros a Guarulhos não
poderem pegar clientes no
aeroporto na volta. "Coisas que
são frutos dos privilégios que
levam à ineficiência brasileira."
O economista José Marcio
Camargo, professor da PUC-RJ, é
mais radical em seu curso de teoria
do desenvolvimento econômico
para alunos da graduação.
Em suas aulas, diz que
"alfabetizar adultos é jogar
dinheiro fora", que "a ausência de
desigualdade social é um desastre
porque as pessoas são desiguais,
pois uns são mais burros que os
outros" e que "todos os países que
tentaram acabar com a
desigualdade viraram ditaduras".
"Sempre dou o exemplo do meu
filho: ele estudou economia, mas
resolveu se voltar para a filosofia.
Eu disse: 'Você é livre para ser
feliz. Mas vai morar do outro lado
do túnel (na zona norte do Rio)'."
Para o italiano Adriano
Gianturco, doutor em teoria
política pela Universidade de
Gênova e professor do Ibmec-MG,
iniciativas como a do grupo
Estudantes pela Liberdade ganham
adesão no mundo –Brasil e
República Tcheca lideram essa
onda, segundo ele.
"Fora da América Latina, as
teorias de Marx morreram há
muito. Antes, alunos e demais
interessados em política e
economia não tinham meios de
buscar orientações diferentes, mas
isso mudou com a internet."
JORNAL DE BRASÍLIA
06/09/15
OPINIÃO
FOLHA DE SÃO PAULO
05/09/15
EDITORIAL
Vigiar e polir
A noção de vigilância não encontra adversários
no campo da saúde, no qual obter informações e agir
prontamente com base nelas previne epidemias e
moléstias crônicas. No mundo da educação pública,
porém, o conceito costuma ser abominado como óbice
à criatividade e à autonomia pedagógica.
Pois é de fraqueza na vigilância que padece o
ensino oficial no Brasil. Se o termo incomoda, pela
associação indesejável com autoritarismo, que seja
substituído por "monitoramento". Ruim é deixar que
a carência de dados minuciosos faça prosperar a
cultura da leniência com desempenhos medíocres.
Essa foi a mensagem central do Seminário
Internacional de Gestão Escolar 2015, promovido
pelo Instituto Unibanco e por esta Folha.
Ainda que exista no país razoável conjunto de
exames padronizados e bases estatísticas sobre
educação, enfrentamos séria dificuldade para dar o
salto que se impõe –de qualidade– após a
universalização do ensino fundamental.
A deficiência se faz sentir de modo agudo no
ensino médio. Em 2013, meros 54% dos estudantes
brasileiros terminaram esse nível com até um ano de
atraso; no Chile, foram 87%. Contamos 7,2 anos de
escolaridade média, contra 9,8 dos chilenos.
Nossos jovens vão ficando para trás. Condenam-
se a empregos subalternos e mal remunerados, por
sua baixa qualificação. Não é aceitável conformarse com isso.
Para enfrentar tal falência coletiva, há que aprender
com as experiências bem-sucedidas noutras nações.
No seminário, ganharam relevo as experiências no
Reino Unido, na Austrália e na província canadense
de Ontário.
O denominador comum entre elas se fundamenta
na adoção de um currículo unificado, como defende
esta Folha. Apenas quando se tem clareza sobre o
que de fato precisa ser ensinado em cada ano, em
cada classe e em cada área resulta factível monitorar
de perto o desempenho de cada escola, cada professor
e cada aluno.
Bases de dados detalhados permitiram identificar
precocemente deficiências e concentrar recursos para
saná-las. Passou-se a acompanhar de forma
sistemática o desempenho de cada estudante, que
recebia atenção especial tão logo começasse a se
atrasar.
Nenhum educador –pai, professor, diretor,
secretário ou ministro– pode deixar de enxergar o
aluno que se apaga em sala de aula. A obrigação de
todos é redobrar esforços para devolver-lhe o brilho
que se oculta e esmaece sob a grossa camada de
desalento que cobre a educação básica no Brasil.
FOLHA DE SÃO PAULO
05/09/15
PODER
Dilma diz que será difícil atingir
meta do Minha Casa, Minha Vida
Promessa assumida pela
presidente era construir mais três
milhões de unidades até 2018
unidades, em junho do ano passado,
pouco antes do início da campanha
eleitoral.
governo irá superar rapidamente a
crise econômica e pediu união da
população.
Agora, petista fala em conseguir
contratar todos os imóveis; ela
pediu união para superar crise
econômica
Na primeira fase do programa,
foram entregues um milhão de
unidades habitacionais. Na segunda,
foram feitas mais 2,75 milhões de
casas.
"Como na sua casa, diante de
dificuldade, se todo mundo ficar
junto, superamos mais rápido. Não
podemos voltar atrás, perder aquilo
que já conquistamos. O Minha Casa,
Minha Vida, o Fies, não podemos
perder. É compromisso do governo.
Podem ter certeza de que o país vai
ficar melhor, sair desta rápido
porque, se nós nos unimos, juntos
somos capazes de superar este
momento."
WILLIAM DE LUCCA
COLABORAÇÃO PARA A
FOLHA, EM CAMPINA GRANDE
(PB)
A presidente Dilma Rousseff
reconheceu nesta sexta-feira (4) que
o governo federal terá dificuldade e
precisará "suar a camisa" para
entregar mais três milhões de
moradias prometidas para a terceira
etapa do programa Minha Casa
Minha Vida.
"Vamos deixar contratadas mais
três milhões de moradias. Vai ser
difícil fazer as três milhões, mas nós
vamos suar a camiseta para fazê-las.
Eu não digo que todas vão estar
prontas, mas vão estar contratadas",
afirmou a petista, na entrega de 1.948
imóveis do Minha Casa, Minha Vida
em Campina Grande (PB).
Dilma lançou a terceira etapa do
programa habitacional que é vitrine
de seu governo, com a promessa de
construção de três milhões de
"Estamos ao lado daqueles que
mais precisam no Brasil. Nós usamos
uma parte dos impostos para garantir
que as pessoas tenham acesso à
moradia. O governo federal, ao
escolher onde gasta, escolheu o
Minha Casa, Minha Vida e, com
imensa dificuldade, vamos fazer todo
esforço para contratar mais moradias
para a população", afirmou.
A presidente já havia anunciado
que a terceira etapa do programa será
lançada no dia 10 de setembro. A
nova fase do Minha Casa, Minha
Vida já perdeu 36% dos recursos
previstos para este ano.
Em julho, a presidente afirmara
que, a despeito do momento difícil
da economia o programa iria acabar
ou sofrer cortes de orçamento.
UNIÃO
Dilma também disse que o
Aliado de Dilma e do PT, o
governador Ricardo Coutinho (PSB)
defendeu o mandado da presidente,
dizendo que eleição se discute
somente em 2018 e criticando o que
chamou de partidarização da crise
política e econômica.
"Não podemos ficar calados
quando a gente vê determinados
arautos, fazendo de conta que o
Brasil é uma bola que se joga para
um lado e para outro e o povo no
meio, como se não tivesse vendo
nada", disse. "Político que é político
tem de defender o Brasil, não adianta
ficar apenas no quanto pior, melhor."
FOLHA DE SÃO PAULO
05/09/15
PODER
Petista defende criação de
novas fontes de receita
DE SÃO PAULO
A presidente Dilma Rousseff
defendeu nesta sexta (4) que o
governo busque novas formas de
arrecadação para evitar que o país
entre em "retrocesso".
Dilma ainda falou, ao comentar
o deficit primário de R$ 30,5
bilhões na proposta de Orçamento
para 2016, que programas sociais
como o Bolsa Família, o Minha
Casa Minha Vida, o Prouni e o
Mais Médicos não serão cortados.
Em entrevista a rádios da
Paraíba, ela afirmou ainda que é
preciso ter "cuidado" com a
aprovação de medidas que elevam
despesas obrigatórias.
Segundo a presidente, obras do
governo federal em execução
também não serão interrompidas,
mas novos projetos só serão feitos
se houver receita.
"Se a gente quer um Orçamento
equilibrado, vamos ter de tomar
algumas medidas. Uma será de
gestão. Vamos enxugar mais
gastos. A segunda é discutir novas
fontes de receitas, se a gente quiser
garantir que o país não tenha
retrocesso", afirmou.
Na entrevista desta sexta, Dilma
afirmou que o governo ainda tem
tempo para discutir o Orçamento
do próximo ano.
O governo ensaiou recriar a
CPMF, mas desistiu diante da
repercussão negativa entre
políticos e empresários. Nesta
semana, a presidente já pontuou
que "não gosta" do tributo, mas
"não afasta" a necessidade de criar
novas fontes de receita.
"Não queremos ficar com
deficit. Nós vamos discutir com
Congresso e a sociedade. Não
significa que a gente vá transferir
a responsabilidade para ninguém",
disse a petista.
"Nós vamos apontar onde a
gente acha que devem ser
concentradas essas receitas. A
gente ainda tem mais dois meses
para fazer isso", concluiu.
FOLHA DE SÃO PAULO
05/09/15
MERCADO
Miriam Leitão traça quadro
otimista para futuro do Brasil
Em livro, jornalista analisa
potenciais e desafios do país em
12 temas
FILIPE OLIVEIRA
DE SÃO PAULO
A crise econômica, a Operação
Lava Jato, o deficit do Orçamento
de 2016, a devastação na
Amazônia, o baixo rendimento dos
alunos brasileiros em avaliações
de desempenho.
Essa é uma pequena amostra da
lista de assuntos atuais que podem
levar muitos a perguntar,
desanimados: "O Brasil tem
futuro"?
Ao contrário do que aponta
nossa conjuntura atual, a jornalista
Miriam Leitão acredita que sim, o
país pode se tornar um dos
protagonistas do século 21.
Acostumada a comentar o que
vai mal no país em jornal ("O
Globo"), em rádio (CBN) e em
televisão (Globo News), ela
dedicou quatro anos de pesquisas,
viagens, entrevistas e análises de
dados para explicar, no livro
"História do Futuro", qual o
destino possível do Brasil e o que
fazer para que ele se realize.
Na obra, temas relevantes para
as próximas décadas são
analisados em 12 capítulos. A
jornalista parte das questões mais
profundamente
brasileiras,
tratando primeiro da defesa da
Amazônia e da biodiversidade,
das tendências demográficas, da
educação, da saúde e da economia.
Conforme se avança na leitura,
entra-se no mundo globalizado de
hoje, da tecnologia que avança
rapidamente, das cidades se
tornando moradia da maior parte
da população global e da
necessidade de se inserir nas
cadeias de produção e de comércio
internacionais.
O Brasil do futuro vislumbrado
com otimismo por Miriam não é
uma miragem ingênua ou ufanista.
Ele é resultado da realização de
potenciais que foram dados pela
natureza, somados a avanços que
o país vem acumulando com o
tempo, mesmo com retrocessos que
às vezes os escondem.
Na apresentação do livro está
a ideia principal: "Somos o
primeiro país em biodiversidade
do mundo. Somos o segundo maior
reservatório de água doce, temos
o maior potencial de energia
renovável por quilômetro
quadrado. Somos e seremos do
reduzido grupo de países
fornecedores de alimentos".
No campo econômico, Miriam
olha para o presente e não poupa
críticas ao governo Dilma pela
perda de credibilidade das contas
públicas, pela disseminação de
incentivos setoriais e pelo uso de
preços controlados para segurar a
inflação.
Mas, lembra a autora, se
05/09/15
vivemos em um país em recessão,
em 1990 a inflação de qualquer
mês superaria a meta anual de hoje.
indica a necessidade de reformas
na Previdência e investimento em
assistência para a população idosa.
A estabilidade da moeda que
veio em seguida não está
ameaçada. Falta de atenção a
inflação é respondida com queda
de popularidade dos governantes,
afirma.
As análises são pontuadas por
histórias de pessoas que, por suas
trajetórias, apontam para o futuro,
quando
exemplificam
a
valorização do ensino pela
população ou a busca por mais
produtividade no campo sem
agredir o ambiente, por exemplo.
RISCOS
Mas nada está garantido. Países
podem fracassar e, no caso do
Brasil, o principal risco é perder
gerações pela falta de melhoras na
educação.
No Pisa, exame educacional
cujos resultados são divulgados a
cada três anos pela OCDE, o
Brasil foi 58º em matemática, 59º
em ciência e 55º em leitura, entre
65 países pesquisados em 2012.
Outros depoimentos, porém,
escancaram a dimensão de nosso
atraso. O mais contundente desses
é o da cardiologista Lilian Paula
de Souza, que abre o capítulo
sobre desigualdade. Negra, ela
contou que sua cor de pele em
diversas ocasiões foi uma barreira
para que progredisse na carreira.
Também foi vítima de racismo de
pacientes.
Porém mesmo nesse campo
houve avanço. A universalização
do
ensino
fundamental,
negligenciada durante o regime
militar, foi conquistada a passos
contínuos a redemocratização.
Equilibrando o que há de
melhor e de pior no Brasil, o livro
ajuda a olhar o horizonte que está
à frente da crise atual. Entender
quais são nossas capacidades e
traçar objetivos é a primeira coisa
a ser feita para escolher o caminho
a ser seguido.
O envelhecimento também deve
ser motivo de mais atenção. Em
2050, podemos ter mais da metade
da População Economicamente
Ativa com mais de 50 anos, e o
número de octagenários deve
quadruplicar até lá. O cenário
HISTÓRIA DO FUTURO
AUTORA Miriam Leitão
EDITORA Intrínseca
QUANTO R$ 49,90 (496 págs.)
AVALIAÇÃO muito bom
FOLHA DE SÃO PAULO
05/09/15
MERCADO
Governo faz nova proposta para servidores
Ministério do Planejamento,
que propusera dividir reajuste em
quatro anos, agora reduz oferta
para dois anos
Confederação diz que
proposta será votada na quinta,
mas que ainda tentará elevar
índices; categorias fazem greve
EDUARDO CUCOLO
DE BRASÍLIA
O Ministério do Planejamento
oficializou nesta sexta-feira (4)
uma nova proposta de reajuste
para os servidores federais, que
estão em greve em vários setores,
como INSS, Saúde e Educação.
Inicialmente, o governo propôs
aumento de 21,3%, divididos em
quatro anos: 5,5% em 2016, 5,0%
em 2017, 4,75% em 2018 e 4,5%
em 2019.
Agora, aceita tratar apenas dos
dois primeiros anos, como
queriam os servidores. Os
percentuais, no entanto, continuam
os mesmos: 5,5% em 2016 e 5,0%
em 2017.
Em nota, o ministério afirmou
que as entidades sinalizaram a
aceitação dos índices de reajuste
e que espera fechar acordos com
algumas categorias na próxima
semana.
O secretário-geral da Condsef,
confederação que representa
aproximadamente 70% dos
servidores civis do Executivo,
Sergio Ronaldo da Silva, afirmou
que a proposta será votada na
próxima quinta-feira (10) e que os
servidores tentarão ainda elevar
esses índices.
"O
governo
sempre
condicionava os quatro anos para
avançar em outros itens da pauta.
A quebra dessa barreira vai
facilitar bastante para chegar a um
bom termo até o fim da próxima
semana."
De acordo com Silva, a
proposta do governo é conceder
em janeiro de cada um desses dois
anos um reajuste pouco superior à
inflação projetada para os 12
meses seguintes. Dessa forma, não
haveria repasse do índice do ano
anterior, que normalmente serve de
base para negociações salariais.
Com isso, se evitaria o repasse
dos quase 10% de aumento de
preços esperados pelo próprio
governo para este ano.
"Vamos tentar continuar
avançando na negociação para
resgatar um pouco da inflação de
2015. A orientação é que as
categorias
continuem
mobilizadas", afirmou, ao se
referir aos funcionários que estão
em greve, como no INSS, na Saúde
e na Educação, ou realizam
paralisações pontuais, como no
Banco Central.
O Ministério do Planejamento
manteve os outros pontos da
proposta. Entre eles está o reajuste
de benefícios conforme a inflação
do período em que ficaram
congelados.
O
auxílioalimentação, por exemplo, subiria
de R$ 373 para R$ 458 mensais.
NEGOCIAÇÃO SALARIAL
Qual é a nova proposta do
governo
Reajuste de 5,5% em 2016 e de
5,0% em 2017. A proposta inicial
era de 27,3% divididos em quatro
anos
O que os servidores pedem
19,7% divididos em dois anos.
Inicialmente pediam 27,3% em
uma única parcela, com ganho real
de 2%
FOLHA DE SÃO PAULO
05/09/15
COTIDIANO
ENTREVISTA CELSO LAFER
Financiamento da ciência passa
por momento de cautela
ENCERRANDO SUA GESTÃO
NA FAPESP, CELSO LAFER
APONTA NECESSIDADE DE
PRUDÊNCIA ANTE ALTA DO
DÓLAR E INCERTEZA DA
ARRECADAÇÃO
RICARDO MIOTO
EDITOR-ADJUNTO
"COTIDIANO"
GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO
DE
Presidente
da
Fapesp
(Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de São Paulo) desde
2007, Celso Lafer passa o cargo
no dia 8 para o físico José
Goldemberg.
O ex-ministro das Relações
Exteriores e professor de direito
da USP afirma que a
desvalorização do real –que
aumenta o custo das bolsas no
exterior– e as incertezas sobre a
arrecadação do Estado de São
Paulo exigirão cautela do seu
sucessor no financiamento de
pesquisa científica.
Os projetos já aprovados,
porém, devem ser financiados
normalmente. Na entrevista abaixo,
Lafer trata ainda de casos de
fraude ciência, de burocracia e da
situação política do país.
baliza o nosso processo decisório.
Felizmente, temos um fundo,
criado quando a Fapesp surgiu e
que conta com o equivalente a
vários anos de orçamento. Isso nos
dá uma boa margem de manobra,
mas é preciso ter o rigor
prudencial. Tudo depende de
quantos anos a crise vai levar.
Folha - Quais os efeitos da
crise econômica na Fapesp?
Projetos de colaboração
internacional, como os da área
de astronomia, estão em risco?
Celso Lafer - Temos bolsistas
no exterior, que recebem em moeda
estrangeira. Uma coisa era o dólar
no começo do ano, outra agora. O
mesmo vale para a importação de
equipamentos de pesquisa.
É escalonado, os desembolsos
se dão ao longo dos anos. Isso
permite lidar melhor com a
situação. Mas caberá ao meu
sucessor ter o devido cuidado
quanto a isso.
Além disso, há a questão do
comportamento da arrecadação do
Estado, da qual recebemos 1%. A
disponibilidade maior ou menor
A Fapesp tem uma limitação
dos seus gastos operacionais (5%
do orçamento), que servem até
para proteger a Fapesp dela
05/09/15
mesma. Seria desejável que as
universidades estaduais tivessem
algo parecido? As folhas
salariais, em alguns casos,
ultrapassam
100%
do
orçamento.
É um assunto delicado.
Quando se discutiu a autonomia
da universidade, o professor José
Goldemberg cogitou uma certa
limitação às despesas de custeio
ou administrativas, mas isso não
ocorreu. Depois veio, no plano
mais amplo, a noção de
responsabilidade fiscal.
Para investir mais, é preciso
buscar ainda fontes alternativas de
recursos, no setor privado, junto
aos antigos alunos. O orçamento do
governo estadual tem limites. Mas
eu nunca fui reitor de universidade,
no máximo chefe de departamento.
A questão é que, quando uma
universidade estadual passa a
gastar todo seu dinheiro em
pessoal, acaba ficando refém da
Fapesp para pesquisar, não?
O que eu diria é que é natural
que parte da pesquisa seja
financiada pela própria instituição,
mas é natural também que ela
procure recursos adicionais nas
agências de apoio à pesquisa, isso
acontece no mundo todo.
A Fapesp tem investido em
internacionalização. O governo
federal também fez, ao longo dos
anos, um movimento grande com
o Ciência Sem Fronteiras. Como
o senhor compara as duas
estratégias?
A premissa do Ciência sem
Fronteiras era interessante: seria
bom que alunos tivessem
experiência internacional.
A questão é como você faz isso.
O número de alunos no programa,
da ordem de 100 mil, é muito
grande. Não há como fazer uma
seleção apropriada. Outro
problema é este: para onde você
vai mandar essa gente? Como é a
escolha das instituições?
E naturalmente você tirou
recursos da pesquisa para aplicar
no programa. Em matéria de
eficiência de gasto, você poderia
fazer muito melhor do que foi feito.
A Fapesp tem bolsas no
exterior. Mas com ênfase nos
alunos de doutorado e pósdoutorado, pessoas que têm
condições de aproveitar. Sempre
de modo compatível com nossa
capacidade de seleção, buscando
boas universidades.
Além disso, bons programas
também trazem gente para cá
também. O efeito de irradiação é
bastante grande.
Como tem se dado a
investigação de casos de fraude
científica por pesquisadores que
recebem dinheiro da Fapesp?
Inicialmente, a instituição do
pesquisador avalia se houve algo
errado. Depois o caso vem para a
Fapesp. Se há problemas, ele
perde o acesso aos nossos
recursos. É uma experiência bem
sucedida.
Mas
pode
haver
subnotificação e corporativismo,
não?
É difícil dizer se há
subnotificação. Para evitar
[corporativismo], há ainda uma
ouvidoria na Fapesp que recebe
denúncias anônimas.
05/09/15
Algumas
denúncias
demoraram anos até terem
resposta.
A preocupação nossa sempre
foi evitar cometer injustiças. A
palavra da Fapesp tem de ser muito
ponderada.
Muitos
pesquisadores
reclamam sobre a burocracia da
Fapesp, a necessidade de
preencher muitos relatórios.
Naturalmente, aumentou o
número de pedidos. O tempo médio
de resposta é 60 dias. Houve
informatização do sistema, há
melhoras.
A Fapesp recebe recursos
públicos. Então há um conjunto de
regras que precisam ser cumpridas.
Não há como não fazer certos
procedimentos. As universidades
precisam criar centros de apoio
para para que cientistas não gastem
tanto tempo prestando contas. É um
desperdício de tempo que o sujeito
que está estudando genética tenha
de ficar organizando recibos.
Alguns cientistas também
reclamam dos critérios de
aprovação dos projetos.
Olha, na Fapesp sempre se pode
pedir reconsideração. Há diálogo.
É perfeito? Nada é perfeito, mas é
um canal.
Há ainda um segundo ponto.
Você conhece o livro do [filósofo
americano] Thomas Kuhn sobre a
estrutura
das
revoluções
científicas? Há um determinado
paradigma. O que está fora acaba
rejeitado. O maior desafio é saber
incorporar o que em um primeiro
momento está fora do paradigma.
Veja um exemplo: quando eu
comecei a estudar, direito
internacional era uma "perfumaria
jurídica". Hoje é um assunto muito
pertinente. Isso acontece em todos
os campos do conhecimento.
Para terminar, eu queria
saber qual a análise do senhor
sobre a situação política do país.
A queda da popularidade é
ruim, mas a perda de credibilidade
é pior. Vou recorrer ao economista
Frank Knight e sua distinção entre
risco e incerteza. O risco você
precifica, ao contrário da
incerteza. A incerteza leva à
paralisia.
FOLHA DE SÃO PAULO
05/09/15
SAIBA MAIS
Fapesp recebe 1% dos
impostos de São Paulo
DE SÃO PAULO
Em funcionamento desde 1961,
a Fapesp é a maior agência
estadual de fomento à pesquisa no
Brasil. Só em 2014, investiu R$
482,5 milhões em bolsas de estudo
no país e no exterior, além de R$
423,9 milhões para pesquisa e
projetos temáticos.
Considerada um dos motores da
ciência em São Paulo, Estado que
produz cerca de 50% da pesquisa
nacional, a agência tem em sua
regularidade de financiamento um
de seus principais trunfos. Isso
porque, segundo a constituição
estadual, seu orçamento anual
sempre corresponde a 1% da
arrecadação total de impostos no
Estado de São Paulo.
A Fapesp investe tanto em
pesquisa aplicada como em
ciência básica, em todas as áreas,
mas os maiores investimentos
estão na pesquisa médica.
COTIDIANO
FOLHA DE SÃO PAULO
05/09/15
ESPECIAL
ESPECIAL GESTÃO ESCOLAR
O nó no ensino médio
O ensino médio é a única etapa
da educação brasileira que não
avança em qualidade desde a
década passada, o que deixa o
Brasil entre os piores nos rankings
mundiais. Nem alunos mais ricos
conseguem
desempenho
satisfatório. Na rede pública, onde
estão 87% dos jovens, a situação
é ainda pior.
A saída passa por uma gestão
que coloque o aluno no centro da
política do setor, apontou o
Seminário Internacional Caminhos
para a qualidade da educação
pública: Gestão Escolar,
correalizado pelo Instituto
Unibanco e a Folha nos últimos
dias 2 e 3, em São Paulo.
No encontro, o governo
brasileiro prometeu plano para
certificar diretores de escola, e
Goiás anunciou parceria inédita
entre setor privado e rede escolar
pública.
O seminário apresentou
experiências de êxito dos melhores
sistemas educacionais do mundo,
que exigiram mais a mobilização
da comunidade do que recursos.
No Canadá, a eficiência das
escolas aumentou depois que
começou a cooperação entre
governo, diretores de colégio,
professores e sindicatos.
Na Austrália, um longo
processo de discussão culminou
com um currículo para a educação
básica que norteia a formação dos
professores e, ao estabelecer o
conteúdo mínimo que todo
australiano deve conhecer, ajuda os
estudantes com dificuldades.
No Brasil, a definição de um
currículo nacional previsto em lei,
mas nunca implantado, é citada
como fator para resgatar o ensino
médio do marasmo.
FOLHA DE SÃO PAULO
05/09/15
ESPECIAL
Encontro busca lições nos
melhores sistemas de ensino
Metas claras, fiscalização de
escolas e acompanhamento de
alunos com dificuldades são a
base dos casos internacionais de
sucesso que podem inspirar o
Brasil
DE
SÃO
PAULO
COLABORAÇÃO PARA A
FOLHA
Na Inglaterra, há inspeção de
escolas e fechamento das que não
atingem metas. Na Austrália, o
governo sabe a deficiência de cada
aluno e sugere a solução ao
professor. No Canadá, só três
metas norteiam todos os
programas.
Pilares de três dos melhores
sistemas educacionais do mundo
foram apresentados em São Paulo,
no Seminário Internacional 2015
Caminhos para a qualidade da
educação pública: Gestão Escolar,
correalizado por Instituto
Unibanco e Folha.
O objetivo do encontro, que
aconteceu nos dias 2 e 3 de
setembro, foi debater casos de
gestão para inspirar melhorias na
educação pública.
Foram anunciadas no evento
novas ações na educação
brasileira. O Ministério da
Educação criará um sistema de
certificação para diretores de
escolas; na rede estadual de Goiás,
parte de ações administrativas das
escolas ficarão a cargo da
iniciativa privada.
EXEMPLOS
Experiências internacionais
mostram que desafios brasileiros,
como a construção de um currículo
básico, podem ser resolvidos.
A Austrália, país federativo
como o Brasil, foi bem-sucedida
na implementação do currículo. A
partir dele, é possível monitorar o
progresso de cada aluno.
Em Ontário, onde o sistema
educacional é descentralizado, o
desafio era elevar o nível das
escolas com baixo desempenho e
incluir os alunos de origem social
mais vulnerável, como os
imigrantes.
A província canadense é
conhecida por ter um dos melhores
sistemas educacionais do mundo.
Lá, foram eleitas apenas três
metas: retomar a confiança no setor
público; elevar o desempenho dos
alunos em linguagem e matemática;
e aumentar a taxa de conclusão do
ensino médio.
Os objetivos estão praticamente
alcançados.
"As crianças são o eixo central
do sistema. A continuidade da
democracia e o desenvolvimento
da economia dependem delas",
05/09/15
disse Mary Jean Gallagher, viceministra de Educação de Ontário.
Educação) da Inglaterra.
PRÓXIMOS PASSOS
Considerada o patinho feio da
Europa na área de educação até a
década de 1980, a Inglaterra
começou a mudar sua trajetória ao
eleger o tema como prioritário para
o desenvolvimento do pais.
A primeira a adotar o discurso
foi Margaret Thatcher (19791990), seguida com mais ênfase
pela gestão de Tony Blair (19972007).
Com currículo nacional,
política linha-dura de inspeção e,
ao mesmo tempo, autonomia
financeira e técnica para escolas,
a qualidade melhorou. "Dar mais
poder às escolas foi fundamental
para a reflexão sobre o que
funcionou" afirmou Michael
Wilshaw, chefe de inspeções do
Ofsted (Escritório de Padrões em
Alguns desses caminhos
começam a ser seguidos pelo
Brasil. Com a iniciativa do MEC
de certificar diretores, a ideia é
fornecer parâmetros para a
qualificação dos gestores. "O
diretor de escola é chave para o
sucesso de políticas públicas. É
para contribuir com o processo de
qualificação do diretor que
estamos discutindo a certificação
federal", disse Manoel Palacios,
secretário de educação básica do
MEC.
Mais do que universalizar o
acesso ao ensino, agora o desafio
brasileiro é organizar o currículo,
formar professores melhores e
gerir bem a escola e a rede
pública, segundo os participantes.
FOLHA DE SÃO PAULO
05/09/15
ESPECIAL
Ação já em prática no Brasil melhora a escola
DE SÃO PAULO
COLABORAÇÃO PARA A
FOLHA
Algumas ações já praticadas no
país impulsionam o desempenho
das escolas, aponta levantamento
apresentado no seminário de
gestão escolar por Francisco
Soares, presidente do Inep
(instituto de pesquisas do
Ministério da Educação).
O trabalho comparou escolas
básicas que atendem alunos com
baixo nível socioeconômico. Se o
colégio funciona em apenas um
turno, o corpo docente fica estável
por anos e os professores têm a
formação adequada, a nota da
instituição na avaliação federal
tende a ser 20% maior do que a
obtida por escolas que não têm
essas condições.
As unidades que atuam em um
só turno, evitam a rotatividade de
professores e garantem que eles
lecionem disciplinas de sua área
de formação atingem, em termos
absolutos, nota 4, ante 3,3 das que
não têm essa situação. A escala vai
de 0 a 10. A avaliação considera
desempenho dos alunos em
português e matemática e total de
formados pelo colégio.
"Onde há sucesso, há boa
gestão", disse Soares na quinta (3),
segundo dia de debate. Em
avaliação
semelhante,
o
superintendente-executivo do
Instituto Unibanco, Ricardo
Henriques, disse: "A gestão
harmoniza o processo e o uso dos
recursos disponíveis. Permite, face
a todas adversidades estruturais,
um padrão mínimo de qualidade".
Henriques afirmou que gestão
apenas não é "solução mágica",
mas uma "variável radicalmente
necessária".
Um exemplo que ele defende
como boa prática é a criação de
protocolos para ações pedagógicas
nas escolas. "O mundo da
pedagogia é resistente, pois a
padronização inibiria a inovação.
Mas, a autonomia exercida sob o
vazio, sem padrões, aumenta a
desigualdade", afirmou.
Também no evento, o ministro
da Educação, Renato Janine
Ribeiro, disse que o foco do país,
agora, deve ser a melhoria da
qualidade da educação, após o
grande crescimento das matrículas.
"Isso passa pela melhora da
gestão escolar e pela valorização
dos professores. O equívoco é
achar que uma se sobrepõe à outra
ou que elas se excluem
mutuamente."
(FÁBIO
TAKAHASHI,
ANDREA VIALLI, CLÁUDIO
GOLDBERG RABIN, FÁBIO
MAZZITELLI E PHILIPPE
SCERB)
FOLHA DE SÃO PAULO
05/09/15
ESPECIAL
'MARY JEAN GALLAGHER
VICE-MINISTRA DA EDUCAÇÃO DE ONTÁRIO
União entre docentes, sindicato e
governo fez nível educacional subir
FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO
A província canadense de
Ontário conseguiu melhorar o
nível de aprendizagem de
praticamente todos os alunos,
atingindo notas semelhantes a dos
a dos melhores países nas
avaliações educacionais, como a
Finlândia.
Um dos segredos é cooperação
entre governo, diretores, docentes
e sindicato, diz Mary Jean
Gallagher, vice-ministra da
Educação de Ontário.
Apesar de alto nível
socioeconômico, a província já
teve de enfrentar problemas
presentes na educação brasileira,
como falta de engajamento e baixo
desempenho dos estudantes mais
pobres e dos imigrantes.
A defasagem na nota desses
estudantes para os demais caiu de
30% para 3%, em pouco mais de
dez anos.
A seguir, os principais trechos
da entrevista concedida à Folha
por Gallagher, uma das palestrantes
do seminário sobre gestão escolar.
HISTÓRICO
Nos anos 1970, com a geração
hippie, estudantes podiam
aprender o que queriam. Isso gerou
críticas a partir dos anos 1990,
pois os alunos se formavam com
menos habilidades do que se
esperava. Uma das medidas à
época foi implementar a avaliação
das escolas, que eram publicadas
nos jornais. O efeito não foi tão
positivo. Escolas se preocupavam
com os resultados por um curto
período e voltavam para a vida
normal.
SEM ÊXITO
No final dos anos 1990, o
governo adotou uma política de
cima para baixo, fixando padrões
para todas as escolas. A ideia era
melhorar o padrão de leitura e
matemática, mas não houve muito
êxito.
Em 2003, assumiu um novo
governo e ele passou a tentar
envolver diretores, professores e
sindicatos para encontrar uma
solução. Até então, ocorriam
muitas greves, disputas com o
governo. Foi colocado como
objetivo que 85% dos alunos
deveriam se formar [eram 68%].
Isso era ousado, porque envolvia
todos os jovens, pobres,
imigrantes. Já chegamos a 83%.
SOLUÇÃO
Foi criada uma agência para
atuar em cooperação com diretores
e professores. Os resultados de
cada escola ainda são divulgados,
todos podem saber se um colégio
está fazendo um bom trabalho. A
agência incentiva que ações que
05/09/15
estão dando certo sejam
replicadas. Fazemos vídeos nas
escolas com bons trabalhos e
colocamos online. Também
chamamos professores com bom
desempenho para disseminarem
boas práticas.
SINDICATO JUNTO
Não estamos tendo melhoria em
matemática, as notas até caíram.
Então chamamos o sindicato e
demos verba para seminários, para
chegarmos a uma solução. Estamos
remodelando alguns pontos,
esperamos efeito em alguns anos.
VÁRIAS OPÇÕES
Também
incentivamos
diferentes caminhos para os alunos.
Havia escolas que apoiavam quem
queria ir para a universidade, mas
não quem desejava ser mecânico.
E podemos precisar mais de
encanador do que de advogado.
Foram feitos programas para
incentivar esses outros caminhos.
Um deles permite que a escola, em
troca de mais recursos, ofereça
formação em alguma área da
indústria. Os alunos continuam
tendo conteúdos regulares, mas nos
dois últimos anos, podem aprender
num local de trabalho.
E os professores enfatizam
temas ligados à carreira. Se estão
interessados em mineração, na aula
de matemática pode usar
exercícios relacionados à
mineração. Queremos dar sentido
à escola aos que estavam
desmotivados.
FOLHA DE SÃO PAULO
05/09/15
ESPECIAL
Pernambuco sobe no índice nacional
depois de implantar metas e bônus
PATRÍCIA BRITTO
DO RECIFE
Definição
de
metas,
indicadores de desempenho, bônus
por resultados. O vocabulário do
mundo corporativo passou a fazer
parte do dia a dia do ensino
público estadual de Pernambuco,
que aposta no modelo empresarial
para tentar melhorar a qualidade
da educação.
Aliado à expansão das
chamadas escolas de referência com ensino em tempo integral-,
esse modelo de "gestão por
resultados" permitiu que o Estado
tivesse o maior crescimento do
país no Ideb (Índice de
Desenvolvimento da Educação
Básica). Entre 2005 e 2013 o
Estado passou da 18ª para a 4ª
posição -a nota subiu de 2,7 para
3,6. O Ideb considera as notas dos
alunos em provas de português e
matemática e a taxa de aprovação.
Em 2011, o governo estadual
passou a avaliar suas escolas com
base em indicadores como
frequência de alunos e professores,
cumprimento de conteúdo,
participação dos pais em reuniões
e notas. É a partir daquele ano,
quando estava em 16º, que se
intensifica o salto.
"Os indicadores permitem olhar
detalhadamente para cada escola
e estabelecer uma linha de ação
específica", afirma o secretário de
Educação, Fred Amancio.
instituições com os piores
resultados que precisam de
incentivos para melhorar. "Além
disso, é uma fonte de estresse
permanente dos professores,
porque é um gerenciamento de
controle muito intenso, e a
autonomia do professor fica
fragilizada", diz.
TEMPO INTEGRAL
Assim, é possível saber, por
exemplo, se muitos alunos de uma
escola vão mal em matemática.
Para cada indicador são atribuídas
metas que, à medida que são
alcançadas, geram bônus.
Outra medida que ajudou a
melhorar as notas dos alunos,
segundo o governo, foi a ampliação
das escolas de tempo integral, com
professores de dedicação
exclusiva. Nelas, há aulas
complementares de português e
matemática, e disciplinas extras,
como robótica.
Essa meritocracia é criticada
por alguns especialistas, como
Fátima Cruz, do Centro de
Educação da UFPE.
A experiência começou em
2005, com um projeto piloto. Hoje
são 300 escolas de referência em
todos as cidades.
Na
visão
dela,
são
as
Para a educadora Cruz, o
05/09/15
aumento do tempo é o diferencial,
porque os professores se
conhecem melhor. O problema, diz
ela, é que as escolas integrais, que
têm melhores estruturas, recebem
mais investimentos do que as
regulares, onde as condições de
trabalho ainda são precárias.
Para motivar os alunos, o
governo criou em 2011 um
programa de intercâmbio que
seleciona aqueles com melhores
notas para um semestre acadêmico
no exterior.
Aluno do 2º ano da escola Poeta
Mauro Mota, em Jaboatão dos
Guararapes, Gustavo Lopes, 16, irá
para os EUA. "Quero ser jornalista
e o intercâmbio vai ajudar na
minha carreira. Desde que
começou o programa eu vinha me
preparando para isso", disse.
Apesar da melhora no Ideb,
profissionais da rede estadual
reclamam da falta de investimento
na qualificação de professores e
da dificuldade para obter licenças
para pós-graduação. Também
relatam
problemas
de
infraestrutura, como falta de
laboratórios e salas sem
ventilador.
Na escola de Gustavo, por
exemplo, apesar de ser de
referência, não há professor
formado em física para dar aulas
de robótica e o laboratório de
informática está
desativado.
FOLHA DE SÃO PAULO
05/09/15
ESPECIAL
EXPERIÊNCIA
Currículo sem pressa
Modelo para o Brasil, nova
estrutura curricular australiana
demorou 20 anos para ser
elaborada, conta professor que
comandou o processo
DE SÃO PAULO
A elaboração de um currículo
nacional da educação básica é
trabalhosa e leva tempo, mas o
documento é necessário para nortear
toda a política da área.
A avaliação é do professor Barry
McGaw, que presidiu o conselho de
administração do currículo
australiano entre 2009 e 2015.
A experiência é uma referência
para o Ministério da Educação
brasileiro na elaboração do currículo
nacional. Como o Brasil, a Austrália
é uma federação, e medidas como
essa devem ser acordadas com os
Estados.
McGaw foi um dos palestrantes
do seminário realizado nesta semana
pelo Instituto Unibanco e pela Folha
sobre gestão escolar.
Na Austrália, a discussão
começou em 1989 e o início da
implementação se deu só em 2009.
A seguir, McGaw conta como foi
esse processo.
INÍCIO
A Austrália é uma federação,
como o Brasil, em que há o governo
federal, mas os Estados têm grande
representatividade. Nosso processo
de elaboração do currículo começou
em 1989.
Naquele
momento,
os
representantes dos nove sistemas de
educação se comprometeram em
criar uma estrutura comum. Não era
um currículo nacional ainda. O que
queríamos era que cada Estado
fizesse seu próprio currículo.
IMPLEMENTAÇÃO
Nas eleições federais de 2007,
tanto a situação quanto a oposição,
com algumas diferenças, se
comprometeram com o currículo
nacional. O Partido Trabalhista [de
esquerda] venceu, e foi instruído o
conselho nacional para a
implementação do documento. Ele se
inseriu numa onda de reformas na
Austrália que visavam melhorar
nosso capital humano.
PAPEL CENTRAL
Houve outras reformas ao mesmo
tempo na educação, como no
treinamento de professores e no
financiamento. Mas o currículo é que
coordena todas as reformas. Ele
mostra claramente o que esperamos
que as pessoas aprendam.
O PROCESSO
Como começar num país que tem
oito currículos [seis Estados e dois
territórios]? Não dissemos: vamos
colocar tudo na mesa e ver o que
tem comum. Dissemos: vamos
começar com um papel branco e
construir. Colocamos apenas o que
buscávamos com o currículo:
habilidades para o século 21 e
expectativas de aprendizagem. E
colocamos isso para discussão
pública.
Também montamos pequeno
grupo de especialistas para definir o
que deveria ser ensinado, da préescola ao ensino médio. A ordem era
'escrevam tudo em até 20 páginas.
Porque quanto menos confiante você
está, mais vai querer falar'. Currículo
é sempre controverso. Colocamos
professores à esquerda e à direita nas
comissões. E funcionou bem.
INSPIRAÇÃO
Brasil deve deve analisar o que
precisa colocar no currículo de
matemática, ciência etc. Mas é ruim
ir direto para a elaboração. São
importantes documentos prévios,
debates. Para nós isso foi importante,
assim como ter uma consulta ampla.
Não deve haver pressa, o processo
em si é importante. (FÁBIO
TAKAHASHI)
FOLHA DE SÃO PAULO
05/09/15
ESPECIAL
ANÁLISE
Para avançar, país precisa fortalecer
professor e melhorar administração
MARIA
HELENA
GUIMARÃES DE CASTRO
ESPECIAL PARA A FOLHA
A evolução da educação
brasileira tem sido tímida. Fomos
bem sucedidos no processo de
inclusão e expansão do
atendimento das crianças até 14
anos, mas não melhoramos a
qualidade do sistema. A evolução
tem sido muito lenta.
Estudos mostram que as nações
que tiveram sucesso em melhorar
a educação fizeram trajetórias
semelhantes.
nacional.
O segredo do sucesso parece
estar na gestão e no monitoramento
das aprendizagens, portanto na
implementação das ações
essenciais ao bom funcionamento
das escolas.
Não existe mágica para
assegurar educação de qualidade
para todos. Em artigo recente,
Naercio Menezes Filho [da USP e
do Insper] cita uma pesquisa que
avaliou o impacto da gestão sobre
o aprendizado dos alunos de
ensino médio em sete países,
incluindo o Brasil.
Em todos os casos, da Finlândia
à Coreia do Sul, da Polônia ao
Canadá, a qualidade da formação
de professores, estimulados por
carreiras que valorizem seu
desempenho, é prioridade. É claro
que outros fatores são importantes,
mas entre os que podem ser
controlados pela gestão, o
professor tem o maior impacto.
Ela mostra que as melhores
escolas usam os resultados das
avaliações para monitorar o
desempenho dos alunos, têm metas
definidas e disseminam as
melhores praticas entre seus
professores, os quais são
recompensados com melhores
salários.
Além disso, os países também
estabeleceram
metas
de
aprendizagem, apoiaram escolas e
alunos com desempenho mais fraco
e definiram uma base curricular
O Brasil foi capaz de construir
um sistema competente de
avaliação e estabelecer metas de
médio e longo prazo para as
escolas e sistemas de ensino. Mas
enfrenta
dificuldades
na
implementação das politicas das
redes de ensino municipais e
estaduais, em geral afetada pela
descontinuidade e pulverização de
projetos.
O país não avançou na
coordenação de ações que podem
fortalecer a colaboração entre os
três níveis de governo. Tem medo
de ousar na mudança dos cursos
de formação e na criação de
incentivos que valorizem
professores dedicados. E resiste a
reformar o combalido ensino
médio.
Será que adianta ampliar os
recursos para a educação, como
prevê o Plano Nacional de
Educação, sem introduzir
mudanças que viabilizem uma
gestão mais descentralizada, um
currículo bem definido, cobrança
de resultados, carreiras docentes
menos corporativas e mais
autonomia aos diretores de escolas
na organização de suas equipes?
MARIA
HELENA
GUIMARÃES DE CASTRO,
diretora-executiva da Fundação
Seade, foi presidente do Inep
FOLHA DE SÃO PAULO
05/09/15
ESPECIAL
ANÁLISE
Ensino médio piora em desempenho,
mas ideia de que é inútil é exagero
REYNALDO FERNANDES
ESPECIAL PARA A FOLHA
Avaliações educacionais
mostram que o ensino médio não
apresenta as melhoras vistas no
fundamental.
Os alunos do 5º ano tiveram um
avanço de 27 pontos em leitura e
34 em matemática, na avaliação
nacional de aprendizagem. Isso
significa que os alunos do 5º ano
de 2013 obtiveram pontuação
equivalente aos alunos do 7º ano
de 2003. Já no ensino médio,
houve recuo de 3 e 9 pontos,
respectivamente.
Pesquisas também têm
destacado uma faixa etária crítica
para a evasão escolar. O pico
ocorre entre os 14 e 18 anos, a
idade em que os jovens deveriam
cursar o ensino médio.
Estes fatos reforçam a ideia de
uma crise no ensino médio: a
noção de que ele traz poucos
benefícios para os jovens com
baixa expectativa de ingressar no
ensino superior, e de que há um
descompasso entre o currículo e
as necessidades dos estudantes.
Não há dúvidas que o ensino
médio enfrenta problemas, tanto de
qualidade quanto de desenho. Mas
é preciso não exagerar nestes
argumentos, afinal, nossos
problemas educacionais não
começam nesta fase e a ideia de
que ela é inútil para a maioria dos
jovens não condiz com as
evidências.
Primeiramente, o decréscimo no
desempenho dos concluintes do
ensino médio precisa ser mais bem
estudado.
É necessário reconhecer que a
composição dos alunos que fazem
a prova vem mudando: boa parte
dos estudantes que chegam ao fim
do ensino médio não alcançariam
este feito há uma década. A taxa
de matriculados com a idade ideal
passou de 38,4% em 2001 para
55,5% em 2013, o que pode ter
contribuído para prejudicar o
crescimento das notas na Prova
Brasil.
Em segundo lugar, é bem
documentado que o principal
previsor da evasão é o atraso
escolar. Alunos que não atrasam
praticamente não deixam a escola.
E uma parcela significativa das
repetências é obtida ainda no
fundamental.
Por fim, o prêmio salarial por
cursar o ensino médio é
significativo. Dados da PNAD de
2013 mostram que o diferencial de
renda entre indivíduos que
deixaram a escola após terminarem
o ensino médio e após terminarem
o fundamental é de 33%. O prêmio
é similar ao obtido na segunda fase
do fundamental, e superior ao da
primeira.
Mesmo que a melhoria da
qualidade do ensino e a adequação
do currículo às necessidades dos
alunos sejam bem-vindas, é preciso
reconhecer que eles têm muito a
ganhar em concluírem o ensino
médio que aí está. E para isso, é
importante que cheguem lá na idade
correta.
REYNALDO FERNANDES é
economista, professor titular da
USP e ex-presidente do Inep
FOLHA DE SÃO PAULO
05/09/15
ESPECIAL
Como explicar a baixa
qualidade no ensino médio?
As fragilidades do currículo
são apontadas como causas da
situação em enquete com
principais atores do setor
três explicações para a má
qualidade do ensino. A maioria,
oito, apontou o currículo como nó
principal.
Muitos alunos já chegam a
essa fase com dificuldades.
Apresentam deficiência de
aprendizagem e têm mais idade
que a ideal
A organização dos conteúdos a
serem transmitidos aos jovens foi
bastante criticada.
FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO
As estatísticas do ensino médio
brasileiro são claras: o total de
jovens em escolas é insuficiente,
e o aproveitamento dos que
estudam é baixo. Mas os números
não mostram a razão desse quadro.
Para investigá-la, a reportagem
da Folha consultou 12 dos
principais atores da educação do
país.
Foram
ouvidos
representantes de governos,
sindicatos, alunos, universidades,
ONGs e indústria.
Cada um podia mencionar até
A legislação brasileira exige 12
matérias no ensino médio. "Além
de serem muitas disciplinas
obrigatórias, elas não conversam
entre si", afirma Rossieli da Silva,
vice-presidente do Consed,
entidade que representa os
secretários estaduais de Educação.
"O aluno não sabe por que está
aprendendo aquele conteúdo de
física ou de química e, às vezes,
nem o professor sabe por que está
ensinando", completa. Os Estados,
em essência, respondem por essa
etapa da educação.
Outro aspecto citado também
está ligado ao currículo: é a falta
de perspectiva do jovem ao cursar
essa etapa.
"Parece ser só uma passagem,
uma preparação para a
universidade. Não há motivação
para levar a sério", opina Bárbara
Melo, presidente da Ubes (União
Brasileira dos Estudantes
Secundaristas).
Seis entrevistados lembraram
que alunos chegam ao ensino
médio com deficiência de
aprendizagem e têm mais idade que
a ideal (15) por terem sido
reprovados.
Universidades particulares
também reclamam que gastam parte
do tempo e dos recursos para dar
reforço a estudantes não
devidamente formados no ensino
básico.
PRODUTIVIDADE
A melhoria da qualidade da
rede pública, em geral, e da
educação na fase média, em
05/09/15
especial, é crucial para que o país
se desenvolva mais rapidamente,
ressaltam os representantes da
indústria.
Segundo comparação da CNI
(Confederação Nacional da
Indústria), são necessários cinco
brasileiros para que se tenha a
mesma produtividade um
americano, em média.
"Com baixa aprendizagem, o
trabalhador brasileiro não entende
instruções, não consegue se
expressar na linha de produção ou
encontrar soluções", diz o diretor
de educação e tecnologia da
confederação, Rafael Lucchesi.
"Alguns acham que devemos
educar para preparar mão de obra.
Outros acham que temos de
preparar para mão de obra,
cidadania e crescimento pessoal",
diz José Fernandes de Lima,
membro do Conselho Nacional de
Educação, explicitando uma das
muitas divergências filosóficas que
emperram a definição de um
currículo.
Há quase 20 anos entrava em
vigor a lei determinando a fixação
dos conteúdos a serem ensinados
aos alunos do país. O que não
aconteceu.
Hoje o que é chamado de
currículo obrigatório no Brasil é
apenas a definição das matérias
(13) previstas na regulamentação
e linhas gerais a serem seguidas
pelas escolas, sem especificação
do que o estudante deve aprender.
Um currículo claro mostraria o
mínimo que os estudantes
brasileiros deveriam aprender.
Também nortearia a formação de
professores.
Se esse é mesmo o principal
fator que compromete o ensino
médio, há esperança.
Neste mês, o Ministério da
Educação deve apresentar
documento inicial para discussão
com ideia de base nacional
curricular (nome formal do
currículo nacional). A previsão é
que o texto seja fechado em março
de 2016 e, então, apreciado pelo
Conselho Nacional de Educação.
Paralelamente, porém, a
Secretaria
de
Assuntos
Estratégicos da Presidência deve
apresentar texto alternativo.
O da Educação pretende definir
60% do conteúdo curricular e
deixar o restante a critério das
redes de ensino. A outra pasta
federal deve propor algo
considerado mais "ousado", com
aulas de raciocínio lógico, por
exemplo.
A discussão deve ser intensa.
Há educadores que defendem
currículo flexível, permitindo ao
aluno escolher o que estudar, ao
menos em parte da carga horária.
A Secretaria de Educação de São
Paulo já ruma para essa opção.
"Sou contra. Não conseguimos
nem oferecer satisfatoriamente o
básico ao aluno, como flexibilizar?
Haverá professores suficientes?",
questiona o pesquisador de
educação Ocimar Alavarse, da
USP, lembrando o deficit atual de
docentes no país.
Outra divergência é sobre o
quão detalhista deve ser o
currículo: define tudo o que deve
ser passado em cada série, o que
daria mais uniformidade no ensino,
ou deixa as escolas livres para
respeitar diferenças regionais?
Colaborou
MAZZITELLI
FÁBIO
FOLHA DE SÃO PAULO
05/09/15
ESPECIAL
Milagres do Espírito Santo
A 120 km de Vitória, cidade de
Muniz Freire tem duas escolas
frequentadas por filhos de
agricultores que estão entre as
melhores do Enem voltadas para
estudantes de baixa renda
BRUNO BENEVIDES
ENVIADO ESPECIAL A
MUNIZ FREIRE (ES)
Todos os dias da semana, por
volta das 18h, uma van cruza as
duas ruas de terra que formam o
povoado de Vieira Machado, no
interior do Espírito Santo, levando
os filhos adolescentes de pequenos
agricultores da região.
O destino é a escola estadual
Maria Cândido Kneipp, –segunda
colocada no último Enem entre
aquelas com alunos de nível
socioeconômico baixo.
O distrito de Vieira Machado
faz parte do município de Muniz
Freire (120 km de Vitória). Uma
estrada de terra liga o povoado à
sede –a viagem dura uma hora.
Outra escola da cidade, a Judith
Viana Guedes, no distrito de Itaici
(cerca de uma hora do centro do
município), também foi bem no
exame –foi a 18ª, entre aquelas
com o mesmo perfil, nas provas
objetivas (sem contar redação).
As duas instituições têm perfil
semelhante: são pequenas (40
alunos cada uma) e dedicadas a
filhos de agricultores. Foram
criadas em 2007 e dividem o
espaço com escolas municipais.
Pela manhã, funciona o ensino
fundamental; à noite, o médio.
Antes da criação das escolas,
os alunos dos distritos precisavam
estudar na sede do município, em
Muniz Freire. Muitos acabavam
abandonando o estudo. "Você pega
os 40 alunos que temos hoje. Se
precisassem ir até lá, apenas dois
ou três conseguiriam. O resto
desistiria", afirma Luciana Soares
Zuim, coordenadora da Maria
Cândido (com menos de cem
alunos, a escola não tem diretor).
Com a mudança, o transporte
vai buscar os estudantes mais
próximos de onde moram. "A gente
trabalha na roça o dia inteiro, mas
dá um jeito de vir aqui estudar. Em
Muniz não daria para chegar", diz
Júlio Cezar Silva,16, aluno do 2º
ano do ensino médio.
PEQUENOS
As salas com cerca de 15
estudantes facilitam a interação,
segundo as coordenadoras.
"Conhecemos todos os alunos.
Sabemos se alguém está feliz,
triste", diz Zuim.
"Quando alguém falta, eu vou
até a casa falar com os pais", diz
Milene Nolasco, coordenadora da
Judith Viana. "Com muito aluno,
não tenho como fazer isso", diz.
05/09/15
Para ilustrar a vantagem da
escola menor, a professora de
história Silvia de Almeida cita um
projeto feito por ela e pelas
docentes de português e artes.
"Sentamos os três professores e
fizemos um trabalho conjunto, cada
um explicava a sua área", conta ela.
"Em uma escola com 40 alunos por
sala, é impossível".
Já em Vieira Machado, há
grupos de WhatsApp em que os
estudantes podem tirar dúvidas
com os docentes. "O problema é
que poucos alunos têm celular", diz
Daisa da Silva, professora de
física.
Um dos maiores desafios,
segundo os professores, é
aproximar a escola do cotidiano
dos alunos, que trabalham na roça
durante o dia. Para isso, são
tomadas algumas medidas simples,
como permitir que os estudantes
cheguem mais tarde à aula durante
a colheita do café, principal
cultura da região.
"Muitos alunos chegam achando
que vão ser agricultores a vida
toda. Mostramos a eles que podem
ter outras opções", explica Danilo
Soares, professor de química da
Judith Viana.
Para estimular o ingresso na
faculdade, a Maria Cândido fez
uma feira de profissões no
primeiro semestre. Alunas do 3º
ano, Gabriela Fragoso, 17, e
Marinara Rizo, 18, querem fazer
psicologia e arquitetura. "Vários
ex-alunos já passaram no
vestibular, então vamos tentar", diz
Gabriela.
O secretário de Educação do
Espírito Santo, Haroldo Rocha,
considera que a situação das duas
escolas é uma "raridade" e não
pode ser replicada. "Quando você
tem poucos alunos, o desempenho
é melhor, porque já há uma
seleção", diz. "Essa não é a
realidade da rede pública, é uma
situação extraordinária."
O ESTADO DE S. PAULO 05/09/15
METRÓPOLE
05/09/15
CORREIO BRAZILIENSE
05/09/15
OPINIÃO
Sim, é possível ensinar
LEONARDO MEIRELES
A repórter Leilane Menezes
estreou ontem uma série de três
reportagens sobre escolas
públicas que se destacam na
defesa dos direitos humanos. São
histórias sobre gênero, racismo e,
amanhã, deficiência. Logo na
primeira, o caso de Miguel
Carvalho chama a atenção. Uma
menina que não se aceitava como
tal e, por isso, sofreu. Não só o
sofrimento pessoal, de encontro
com ele mesmo, mas também o
preconceito dos outros. A
“salvação” (escrevo entre aspas
porque não se deve endeusar
ninguém, porém Miguel tentou tirar
a vida por diversas vezes) veio de
um professor que decidiu tratar do
assunto dentro de sala de aula.
Com criatividade, coragem e
responsabilidade de assumir o
verdadeiro papel da profissão,
seja em um colégio público ou
particular.
Especialista no assunto, a
antropóloga Débora Diniz afirma
com todas as letras: “Não falar
sobre diversidade é desastroso.
Falar explicitamente é não permitir
que o tabu vença e afaste uma
criança da escola”. Também é
impedir que pessoas como Miguel
desistam de viver. Para isso,
Alexandre Magno, orientador do
Centro de Ensino Fundamental nº1
de Planaltina, usou a Lei Maria da
Penha, fez palestras, trabalhos,
sessões de cinema e outras
atividades para ensinar. Ele
entendeu que o primeiro passo para
fazer o discurso se transformar em
prática era chamar a atenção dos
alunos.
Depois, os pais não se sentiram
à vontade em ver os filhos
aprendendo sobre diversidade,
principalmente por motivos
religiosos. A saída encontrada
pelos professores foi chamá-los
para entender o assunto. E os pais
perceberam que saber mais
significava dar uma chance à boa
convivência. Eles tomaram
consciência
de
que
a
responsabilidade de fazer um
mundo melhor, sem crimes
homofóbicos — ou qualquer outro
tipo de violência —, também era
deles. É em casa que a cidadania
deve começar.
Ensinar e formar cidadãos são
razões fundamentais para a
existência dos professores. É assim
que deve ser enxergado o conteúdo
que está além do currículo. É certo
que as condições encontradas por
eles, principalmente nos colégios
públicos, não são as melhores.
Mas não é isso que deve limitar o
trabalho. A escola de Planaltina é
exemplo disso. Assim como
instituições no Plano Piloto, em
São Sebastião e diversas cidades.
O que determina o alcance desse
objetivo de mudar o mundo está na
vontade. E o Brasil está cheio de
mestres com essa qualidade.
CORREIO BRAZILIENSE
05/09/15
CIDADANIA
Ceedv faz Festa das Regiões
O Centro de Ensino Especial de
Deficientes Visuais (Ceedv), na
612 Sul, é uma escola pública que
cuida da habilitação educacional
de pessoas com deficiência visual.
Para arrecadar fundos e tornar
possível a construção da cobertura
da área de recreação da unidade,
o Ceedv promove, em 12 de
setembro, um almoço beneficente.
A Festa das Regiões ocorre das
11h à 15h e terá a entrada franca.
Os pratos típicos de todas as
regiões do país não passarão de
R$ 10. Como explica a
coordenadora da Educação
Precoce, Adriana de Andrade
Amorim, toda a comunidade
escolar participará da ação. “Os
ingredientes são doações da
comunidade em geral. Quem
quiser doar pode entrar em contato
com a gente”, diz. A entrada é
franca. Mais informações pelos
telefones 3901-7607 e 3901-7609.
CIDADES
CORREIO BRAZILIENSE
05/09/15
CIDADES
EDUCAÇÃO »
Estratégia para passar no Enem
Conheça os critérios de
avaliação do Exame Nacional do
Ensino Médio e os pesos de cada
seção da prova para ingressar na
Universidade de Brasília.
Professores dão dicas de como
focar
os
estudos,
independentemente do curso
escolhido
» Isabela Bonfim
Especial para o Correio
Luís Filippe Fagundes, 17 anos,
quer cursar direito. Ele estuda
diariamente e treina a redação nos
fins de semana. “É bastante
cansativo, porque quero garantir o
máximo de questões possível.”
Mas, quando se trata de vestibular,
é preciso mais do que saber o
conteúdo. Compreender o método
de correção e traçar uma estratégia
pode fazer toda a diferença. No
Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem), a preocupação é dobrada.
Além dos critérios de avaliação
da prova, cada universidade
estabelece pesos diferentes para o
cálculo da nota final. Especialistas
explicam o sistema de pontuação
e como ter melhor aproveitamento
da nota para ingressar na
Universidade de Brasília (UnB).
O estudante desenhou a própria
estratégia para a prova. “Começo
pelas questões em que tenho
facilidade e respondo as de nível
mais avançado depois”, explica
Luiz Filippe. O professor Carlos
Paschoal, da Rede Educacional
Alub, explica que a escola ajuda
os alunos a calcularem a nota
necessária e a organizarem os
estudos. “Montamos uma grade
baseada nos conteúdos que ele tem
mais dificuldades e fazemos um
acompanhamento semanal”, conta.
No Enem, o sistema de correção
segue a Teoria de Resposta ao
Item. As questões têm valores
distintos, determinados de acordo
com o grau de dificuldade. Nesse
método, alunos que acertam o
mesmo número de questões podem
ter notas diferentes. César Berçott,
professor do colégio Marista,
especializado no sistema de
avaliação do Enem, explica que
não basta acertar as questões
difíceis. “Se o aluno erra uma
questão fácil e acerta uma difícil,
o sistema entende que ele chutou a
mais difícil”, explica. Nesse caso,
ele perde nota por ter errado a
questão fácil.
“É por essa razão que fica
complicado dizer quantos itens o
aluno precisa acertar na prova”,
justifica Berçott. Mas, para ter uma
nota competitiva, que permita ao
estudante ingressar na UnB, por
exemplo, o professor sugere que
ele acerte pelo menos 40 das 45
questões em cada seção da prova.
“De 35 a 37 acertos, há uma
possibilidade de entrada,
dependendo do curso.”
Na UnB
Na última edição do Enem, a
UnB foi a universidade com as
maiores notas de corte do país no
Sistema de Seleção Unificada
(Sisu). “As notas são muito altas
porque
a
universidade
disponibiliza poucas vagas”,
explica o professor Berçott. No
primeiro semestre de 2015, por
exemplo, a Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG) ofertou
160 vagas para medicina, enquanto
a UnB ofereceu apenas 18. Apenas
metade das vagas da Universidade
de Brasília são originárias do
Enem, as restantes são disputadas
por meio do Programa de
Avaliação Seriada (PAS).
Para quem deseja ingressar na
UnB, não basta apenas conhecer a
prova do Enem. O edital da
universidade determina pesos
diferentes para as seções da prova,
de acordo com a área do curso
pretendido. Caso o estudante
queira um curso de saúde, por
exemplo, a nota das provas de
matemática e ciências da natureza
vale o dobro das de humanas e
linguagens (veja quadro).
O professor Paschoal alerta
que, independentemente dos pesos,
o estudante não deve abandonar
nenhuma disciplina. “Quem
disputa uma vaga em engenharia
está muito preparado para a prova
de exatas. O que vai definir a
05/09/15
aprovação é justamente a prova de
humanas.” É pensando nesse
diferencial que Nathália Vaz, 17
anos, organiza a grade horária. Ela
quer estudar direito, curso para o
qual as provas de linguagens e
humanas têm maior peso, mas foca
os estudos nas áreas de matemática
e ciências da natureza. “Dou
prioridade ao que eu tenho mais
dificuldade, como matemática e
física, porque nas matérias com
mais peso, eu já tenho facilidade.”
A seção da prova com menor
peso para a UnB é a redação, que
vale menos de 10% da nota final.
Os professores não recomendam,
entretanto, que a prova seja
menosprezada. “A redação decide
muitas vagas. Os alunos que
conseguem a aprovação sempre
têm boas notas na redação”, afirma
o professor Paschoal. Ele
aconselha que, além de treinar a
escrita, o estudante esteja atento
aos temas atuais. “É fundamental
ler jornais, revistas e tudo
relacionado a atualidades.”
CORREIO BRAZILIENSE
05/09/15
CIDADES
Protesto contra fim de isenção no PAS
» BERNARDO BITTAR
»
MARIANA
NIEDERAUDER
Especial para o Correio
Richard, Crislayne e Gabriella
participaram de manifestação no
CEM 404
Pela primeira vez em 10 anos,
o Governo do Distrito Federal
(GDF) não pretende pagar a
inscrição dos estudantes da rede
pública interessados em participar
do Programa de Avaliação Seriada
(PAS) da Universidade de
Brasília. Alunos do Centro de
Ensino Médio (CEM) 404, de
Santa Maria, organizaram uma
manifestação, ontem, durante o
intervalo, em repúdio à medida.
Eles prometem se mobilizar
diariamente, até o último dia de
inscrição, em busca da
continuidade do subsídio.
Em nota, a Secretaria de
Educação informou não haver
previsão orçamentária para o
pagamento das taxas. Segundo a
pasta, não existe convênio firmado
com a UnB, mas os estudantes com
Cadastro Único para Programas
Sociais do Governo Federal estão
isentos da cobrança da taxa. Além
disso, alunos do 3° ano que
frequentaram a rede pública
durante todo o ensino médio
também não pagam. É o caso de
Crislayne de Almeida, 16 anos,
que conclui os estudos no fim do
ano. A família dela recebe o Bolsa
Família e, por isso, ela permanece
isenta das taxas. A UnB foi
procurada pelo Correio, mas
preferiu não se pronunciar.
Mesmo sem ser prejudicada,
Crislayne se solidarizou com os
amigos. “Algumas famílias têm
mais de um filho querendo fazer a
prova. É caro”, ponderou. Com
faixas nas mãos, a jovem se juntou
aos outros alunos do CEM 404
durante a manhã de ontem. “Aqui,
um faz pelo outro. Poderia ser
comigo. Eu poderia ter o futuro
atrasado. Por isso, vim me
manifestar.” Em 2015, 30
estudantes do colégio foram
aprovados na UnB. Metade deles
pelo PAS. Crislayne pretende
cursar publicidade e propaganda.
O Sindicato dos Professores
(Sinpro-DF) acredita que, caso a
medida permaneça suspensa, cerca
de 80 mil adolescentes
matriculados na rede pública
podem acabar prejudicados.
“Automaticamente, o 1° e o 2° ano
perdem o benefício. Alguns casos
específicos se salvam, no 3° ano.
Isso é injusto com os alunos”,
observou o diretor Fernando Reis.
E completou: “Estão tirando uma
parte importante da educação, que
é o ingresso desses meninos na
universidade”.
Os estudantes souberam do
corte após passar horas em frente
ao computador, tentando se
inscrever no PAS. As vagas foram
disponibilizadas na última terçafeira, 1° de setembro, e ficam
abertas até o dia 27. “Foi uma
péssima surpresa. Eu quero estudar
ciência política na UnB, mas,
desse jeito, não sei se vai rolar”,
reclamou Richard Coatio, 17,
aluno do 3º ano que não será isento
da taxa de inscrição. As duas
primeiras etapas ele fez de graça.
E, garante, teve boas notas. “Não
é justo pagar R$ 100. É meio
óbvio que estudantes da rede
pública não têm dinheiro.”
Para o diretor do CEM 404,
Ricardo Rocha, existe um interesse
muito forte dos alunos em passar
na UnB. “Eles são muito
comprometidos. Tanto que a escola
investiu boa parte do repasse
mensal na compra de livros
preparatórios para o PAS.” A
metodologia do colégio também é
baseada nas disciplinas cobradas
nas provas.

Documentos relacionados