A Desigualdade Social e o Meio Escolar Social Inequality and the
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A Desigualdade Social e o Meio Escolar Social Inequality and the
A Desigualdade Social e o Meio Escolar Vanessa Alessandra Pesck (Unicentro) [email protected] Prof°. Dr. Mário de Souza Martins (Unicentro) [email protected] Resumo: Estamos envolvidos em um sistema capitalista, o qual possui extrema desigualdade de classes, a minoria da população detém o poder e a grande maioria está alienada a ela. A parte da sociedade que é dominada se deve ao motivo de que a classe dominante age através dos Aparelhos Ideológicos de Estado que atuam inculcando a ideologia dominante sem que elas percebam. Precisamos combater esta desigualdade social que deriva de outras sociedades anteriores. Por este motivo, faz-se necessário pesquisar qual é o papel da escola dentro desta sociedade tão desigual. Este artigo possui caráter teórico. O objetivo é proporcionar uma reflexão sobre a visão de autores como Althusser,Bourdieu, Gentili, Alencar e Severino sobre a desigualdade social e qual é o papel da escola dentro deste tema. Podemos compreender que a escola transmite a ideologia da classe dominante através dos conteúdos, dos valores, etc., mas é importante lembrar que o papel do professor é de grande importância dentro da escola, pois ele pode mudar esta realidade e não se deixar se abater pela opressão do sistema capitalista. Como nos diz Althusser (1985) em seu livro Aparelhos Ideológicos de Estado, existem aqueles professores que lutam contra a ideologia, que são conhecidos como “heróis”, mas estes ainda são poucos. Palavras chave: Desigualdade Social, Capitalismo, Ideologia, Educação. Social Inequality and the Middle School Abstract We are involved in a capitalist system, which has extreme inequality of classes, the minority of the population has the power and the vast majority is alienated her. The part of society which is dominated due to the reason that the ruling class acts through the Ideological State Apparatus that act inculcating the dominant ideology without them noticing. We need to fight this social inequality that derives from other companies before. For this reason, it is necessary to investigate what is the role of schools within this society so unequal. This article has a theoretical character. The goal is to provide a reflection on the vision of authors such as Althusser, Bourdieu, Gentili, Alencar and Severino on social inequality and what is the role of schools within this theme. We understand that the school transmits the ideology of the ruling class of the content, values, etc.., But it is important to remember that the teacher's role is of great importance within the school, as it can change this reality and not let it down oppression of the capitalist system. As we know Althusser (1985) in his book Ideological State Apparatus, there are those teachers who struggle against ideology, which are known as "heroes", but these are still few. 2 Key-words: Social Inequality, Capitalism, Ideology, Education. 1 Introdução Este presente artigo faz parte de uma pesquisa de conclusão de curso, o qual pretende investigar, na visão de alguns autores como Althusser, Gentili, Alencar, Bourdieu e Severino, a relação da desigualdade social com o meio escolar. A finalidade para o presente artigo é verificar como a escola age frente a grande desigualdade das classes, se esta possui ou não o poder de reproduzir esta desigualdade de classes e se existe alguma forma de mudar este fato. Através de experiências vividas em um CEMEI municipal na localidade de Imbituva (local onde trabalhei no ano anterior), percebi que há uma forma específica de alunos e educadores lidarem com estudantes de outras classes sociais, assim, como também a maneira com que os professores trabalham os conteúdos propostos pelo município. A partir disto surgiu o interesse em pesquisar como a escola age frente a diferença de classes existentes em sala de aula na maneira de transmitir os conhecimentos. O principal objetivo deste artigo é contribuir para a reflexão de como a escola está agindo frente à desigualdade social das classes. Esta pesquisa será fundamentada a partir de referências bibliográficas a qual, segundo Macedo (1994,p. 13), “é a busca de informações bibliográficas, seleção de documentos que se relacionam com o problema de pesquisa (livros, verbetes de enciclopédia, artigos de revistas, trabalhos de congressos, teses, etc.)”. O trabalho está articulado em três partes, sendo que, a primeira se trata de um esclarecer de como surgiu a desigualdade entre os homens para ter um entendimento de como se deu este processo. A segunda parte compreende uma análise do sistema capitalista, colocando como o capitalismo usa da ideologia, por meio dos aparelhos do estado, para ter o poder sobre as classes baixas. E por último, pretendemos estudar qual é a relação da escola com a ideologia e se ela reproduz ou não a desigualdade social. 2 Princípio da desigualdade Primeiramente, queremos fazer uma reflexão de qual é o princípio da desigualdade entre os homens, como se originou esta questão bastante evidente nos dias de hoje. Julgamos ser 3 importante estudar como surgiu a desigualdade dos homens para depois prosseguir com a pesquisa para a desigualdade das classes atualmente. Segundo Rousseau (1978), os primeiros homens que viveram de forma selvagem, coletavam alimentos apenas para satisfazer a fome que estavam naquele momento, dormiam em qualquer lugar que encontrassem para passar a noite e tinham uma mulher somente para satisfazer os desejos sexuais. Depois disso ambos seguiam a sua rotina. Posteriormente, os selvagens sentiram a necessidade de construir ferramentas para caçar e coletar alimentos, como também objetos para se proteger dos outros animais, o que significou grande evolução para este período. Outro motivo para que se agravasse essa evolução foi a descoberta do fogo, bem como a preparar seus alimentos. Começaram a se alojar em cavernas ou construíam moradias para viver em grupos com formas de linguagens próprias que os diferenciava dos demais grupos. Eles passaram a viver com uma só mulher e não precisavam demarcar terras, pois não tinham a noção de posse. De alguma forma surgiu esse pensamento de propriedade, então o selvagem passou a demarcar o lugar onde vivia, a cultivar seu alimento nesse espaço. De acordo com Rousseau (1978, p. 263) Cada um começou a olhar os outros e a desejar ser ele próprio olhado, passando assim a estima pública um preço. Aquele que cantava ou dançava melhor, o mais belo, o mais forte, o mais astuto ou o mais eloqüente, passou a ser o mais considerado, e foi esse o primeiro passo tanto para a desigualdade quanto para o vicio; dessas primeiras preferências nasceram, de um lado, a vaidade e o desprezo e, de outro, a vergonha e a inveja. A partir deste momento, a violência e a agressão foram mais agravantes, mas em contrapartida surgiram os primeiros deveres de civilidade o que foi um salto muito grande para essa primeira forma de sociedade. Os homens viveram muito bem até o momento em que um necessitou da ajuda do outro e desapareceu a igualdade entre eles. Podemos dizer que a servidão começou a brotar com a introdução da propriedade. Com a nova noção de propriedade, o homem passou a cultivar a terra e a produzir alimentos, o que posteriormente resultou na divisão das propriedades. Mas era preciso antes ter alguma coisa própria para depois pensar em repartir. A desigualdade natural se agravou ainda mais quando o mais forte produzia mais enquanto outros tinham dificuldade de sobreviver. A partir daí, um queria ser melhor que outro e a concorrência entre eles, a inveja, a falsidade tomaram conta do homem porque um fazia de tudo para dar o golpe no próximo, ou seja, ser o melhor. 4 De acordo com Rousseau (1978, p. 268) [...] um só puderam prosperar a expensas dos outros, e os supranumerários,que a fraqueza ou a indolência tinham impedido por seu turno de as adquirir, tendo se tornado pobres sem nada ter perdido, porque, tudo mudando à sua volta, somente eles não mudaram, viram-se obrigados a receber ou roubar sua subsistência da mão dos ricos. Daí começaram a nascer, segundo os vários caracteres de uns e de outros, a dominação e a servidão, ou a violência e os roubos. Os ricos, [...] só pensavam em subjugar e dominar seus vizinhos. Ao contrário do que Rousseau discorre sobre a desigualdade dos homens, HOBBES (1979, p. 74) pondera que os homens são todos iguais por natureza, apesar de haver algumas diferenças, elas são relevantes ao se comparar com o todo, porque “quanto a força corporal o mais fraco tem força suficiente para matar o mais forte, quer por secreta maquinação, quer aliando-se com outros que se encontrem ameaçados pelo mesmo perigo”. Hobbes proporciona um pensamento contrário ao de Rousseau quando refere que [...] se dois homens desejam a mesma coisa, ao mesmo tempo que é impossível ela ser gozada por ambos, eles tornam-se inimigos. [...] quando um invasor nada mais tem a recear do que o poder de um único outro homem, se alguém planta, semeia, constrói ou possui um lugar conveniente, é provavelmente de esperar que outros venham preparados com forças conjugadas, para desapossá-lo e privá-lo, não apenas do fruto do seu trabalho, mas também de sua vida e de sua liberdade. Por sua vez, o invasor ficará no mesmo perigo em relação aos outros. (Idem, p. 75). Para este autor, a discórdia entre os homens é a causa de serem iguais entre si. Também vai mostrar que aquele homem que se acha superior ao próximo é porque ele pensa que o outro deve se submeter a ele. Já Rousseau menciona que desde o momento em que o mais fraco teve que pedir socorro para o mais forte, a igualdade desapareceu e surgiu a desigualdade entre os homens, a qual persiste até os dias de hoje. Podemos perceber que este fato acontece principalmente no sistema em que estamos inseridos atualmente, pois como analisaremos adiante, o sistema capitalista é repleto de ideologias que tornam o homem submisso ao grupo dominante aumentando ainda mais a divisão das classes. O capitalismo pretende formar indivíduos aptos para o trabalho e que não se revoltem contra o poder da classe dominante. 3 O capitalismo e a desigualdade do sistema Para se discutir a desigualdade na atualidade, é premente colocar as relações sociais no sistema capitalista, origem da desigualdade existente na sociedade. O capitalismo é uma forma de poder e de dominação da classe trabalhadora, por manter os meios de produção. O capitalismo é, por assim dizer, um regime do capital que usufrui do poder para controlar o trabalho. 5 O elemento mais importante para entendermos o capitalismo é o impulso para acumular capital e, segundo Heilbroner (1985), é uma “extração de riqueza, como fluxo de produção “excedente” canalizada sistematicamente da ampla massa trabalhadora da sociedade para as mãos de um grupo ou classe restrita”. De acordo com essa citação, podemos perceber que existe uma classe superior que investe o capital e outra classe que necessita deste capital para a sua sobrevivência e que, através do trabalho, produz ainda mais capital para os capitalistas, isso possibilita a dominação dessa massa de trabalhadores. A dominação acontece através da igreja, do exército e também do Estado que exercem a dominação por meio de punições do tipo espiritual àqueles que não seguem as regras, ou seja, estas autoridades moldam o comportamento do ser humano de acordo com as suas preferências. A escola é outro Aparelho Ideológico do Estado que veio para substituir o poder da Igreja, pois podemos partilhar do pensamento de Althusser quando reflete que a educação tem o papel de inculcar a ideologia dominante, mas se inicia no professor a possibilidade de ensinar seus alunos a criticar este sistema. Mas em contrapartida, vale ressaltar que os educadores também estão subjulgados ao sistema capitalista. O contrário acontece com a dominação do capital, pois o dominado aceita as condições à que o capitalista propõe por depender destas para sobrevive. Para Heilbroner (1985, p. 34), A dominação entre animais é [...] completamente divorciada de qualquer divisão de tarefas ou sujeição à “vontade” de um indivíduo hegemônico. A dominação na sociedade humana, por outro lado, tem menor significação evolucionária, e é amplamente dedicada à divisão do produto social, ou à efetivação das realizações carregadas de prestígio de certos governantes, para as quais é necessário o trabalho organizado de muita gente. Em suma, a dominação na sociedade humana traz consigo uma desigualdade estruturada das condições de vida que não encontra paralelo no mundo animal. O trabalho é o principal meio para se extrair o capital e para exercer a dominação que, de acordo com Marx, esta é a essência do capital. Como ele mesmo diz, o trabalho serve para o chamado D-M-D (Dinheiro – Mercadoria – Dinheiro) o que significa transformar o dinheiro em mercadoria e a mercadoria retornar em forma de dinheiro trazendo ainda mais capital para os possuidores de poder. O capital como relação de dominação acontece pelo motivo que os trabalhadores, a mão de obra assalariada é dependente deste capital, por isso se submete a ele, pois é 6 necessário para sua própria sobrevivência. Isso não quer dizer que o homem é obrigado a trabalhar. Ele é totalmente livre para escolher, mas se não trabalhar não ganha e este é a chamada dominação invisível. Para Althusser (1985, p. 52), Enunciando este fato numa linguagem mais científica, diremos que a reprodução da força de trabalho não exige somente uma reprodução de sua qualificação mas ao mesmo tempo uma reprodução de sua submissão às normas da ordem vigente, isto é, uma reprodução da submissão dos operários à ideologia dominante por parte dos agentes da exploração e repressão, de modo a que eles assegurem também “pela palavra” o predomínio da classe dominante. A ideologia é um modo de dominação invisível dentro do capitalismo. É também o meio em que a classe dominante age sobre o pensamento de toda a sociedade conduzindo verdades morais. Para Marx e Engels (1977), “As idéias (Gedanken) da classe dominante são, em cada época, as idéias dominantes; isto é, ao mesmo tempo, sua força espiritual dominante.” A educação também é uma forma de transmissão dos valores da classe dominante, pois é através dela que muitos dos conteúdos que fazem parte do currículo da escola, seja ela pública ou privada, faz referência ao trabalho como fonte de acumulação de capital. É possível observar que existe uma ideologia por trás da educação. Quem explica melhor essa ideia de ideologia é Althusser (1985), onde diz que “A ideologia é, aí, um sistema de idéias, de representações que domina o espírito de um homem ou de um grupo social.” Podemos perceber que a ideologia funciona como uma máscara da classe dominante, a qual tem a função de moldar o pensamento do homem fazendo com que ele não veja a realidade das coisas, ou seja, impedindo que ele se revolte contra a classe dominante. Marx, citado por Severino (1986) complementa esta ideia descrevendo que “a ideologia é a forma de representação, no plano da consciência, que serve para mascarar a realidade fundamental, que é de natureza econômica. A classe social dominante oculta seus verdadeiros propósitos, servindo-se para isto da ideologia.” (SEVERINO, 1986, p. 8). Os responsáveis por conscientizar o nosso papel dentro da sociedade, por construir o pensamento de que somos trabalhadores é o Estado. Ele nada mais é do que um meio para o qual a classe dominante possa dominar a classe trabalhadora. Essa repressão acontece por meio da Igreja, da escola e até mesmo da família entre muitos outros. Todos eles são chamados de Aparelhos Ideológicos do Estado. De acordo com este mesmo autor, 7 O aparelho (repressivo) do Estado funciona predominantemente através da repressão (inclusive a física) e secundariamente através da ideologia. (Não existe aparelho unicamente repressivo). Exemplos: o Exército e a Polícia funcionam também através da ideologia, tanto para garantir sua própria coesão e reprodução, como para divulgar os ‘valores’ por eles propostos. Da mesma forma, mais intensamente, devemos dizer que os Aparelhos Ideológicos do Estado funcionam principalmente através da ideologia, e secundariamente através da repressão seja ela bastante atenuada, dissimulada, ou mesmo simbólica. [...] Dessa forma, a Escola, as Igrejas ‘moldam’ por métodos próprios de sanções, exclusões, seleção etc... não apenas seus funcionários mas também suas ovelhas. E assim a Família... (IDEM, p. 64). Como pudemos perceber, existem diversos aparelhos ideológicos do estado, dentre eles estão as Igrejas, a imprensa, a televisão, o rádio, a família, como também as escolas, seja pública ou privada. Por este motivo é que queremos especificar a ação da ideologia na instituição de ensino e se a escola é capaz de promover a desigualdade de classes. Althusser proporciona uma reflexão no que diz respeito à ideologia transmitida pela educação. Este autor coloca que a escola é um dos Aparelhos Ideológicos do Estado que, de acordo com Nogueira e Silveira (2009, p.1), “[...]atuaria como instrumento de reprodução da sociedade capitalista mediante a inculcação massiva da ideologia dominante e o ensino de saberes práticos e teóricos necessários ao bom funcionamento do sistema produtivo [...]”. 4 Escola e desigualdade social na visão de autores como Bourdieu, Althusser, Gentili, Alencar , Severino e Pomini De acordo com o nosso estudo anterior, a ideologia age nos indivíduos sem que percebam e faz com que atuem conforme o que a classe dominante determina. Gentili (2003) relata um episódio em que saiu para passear com Mateo e percebeu que seu filho iria perder um dos sapatos então o retira e guarda. Na medida em que continua seu passeio, diversas pessoas o alertam que seu filho tinha perdido um dos sapatos. Outras ficavam bravas com o pai que perdeu o sapato do seu filho e nem se importou com o fato. A partir deste acontecimento, o autor destaca a maneira de pensar da sociedade. Um menino da classe alta perde o sapato e é motivo de preocupações, de espanto. Enquanto isso, vários meninos de rua andam descalço, ninguém se espanta e/ou se manifesta para mudar esta situação. Pode-se chegar à conclusão de que um menino rico sem calçado é dado como uma anormalidade enquanto um menino pobre sem calçado é normal. Em nossa sociedade, a exclusão parece ser normal, “os excluídos devem se acostumar à exclusão. Os não excluídos também. Assim, a exclusão desaparece no silêncio dos que a sofrem e nos do que a ignoram... ou a temem.” (GENTILI, 2003, p. 30). 8 O capitalismo cria uma lógica que é definida como natural. Molda-nos na maneira de pensar e agir conforme o seu sistema, coloca a visão de que o lucro é o único que movimenta a sociedade. E a educação anda por este caminho. Como explana ALENCAR (2003, p. 103), a escola “passa a ser um negócio e o ensino público, agonizante, vai fazendo ‘parcerias’ crescentes que o subordinam às necessidades dos donos das indústrias e do capital”. Severino (2003, p. 48), destacando a ideia de Althusser, comenta que A educação enquanto ação pedagógica é a imposição do arbitrário cultural de um grupo ou classe a outros grupos ou classes. Considerando-se legitimada, esta ação pedagógica torna-se processo de inculcação e de reprodução dos conteúdos culturais. Estes conteúdos, arbitrariamente escolhidos, simbolicamente impostos, correspondem, de fato, aos interesses das classes dominantes, enraizados portanto nas relações de força material. Mas esta correspondência e sua inculcação e reprodução não podem ser assumidas manifestamente, elas precisam ser camufladas. Este ocultamento é feito pela própria educação, que funciona então como uma ideologia pedagógica. Althusser, em seu trabalho Ideologia e Aparelhos Ideológicos de Estado, cita que o capitalismo necessita da força de trabalho, da sua reprodução e quem garante isso é o sistema escolar e também outras instituições. A escola fica como a responsável por inculcar a ideologia da classe dominante, a qual acontece através dos conhecimentos e dos valores transmitidos por ela. A educação é um instrumento do grupo dominante para o exercício do seu poder. Ela atua juntamente com outros aparelhos como a Igreja, a família, etc. Isso acontece porque a escola é quem forma estes indivíduos. “assim, a educação tem papel importante na configuração, na disseminação e na reprodução da ideologia e, consequentemente, [...] na preservação do bloco histórico dominante...”. (SEVERINO, 1986, p. 44). Bourdieu e Passeron, no livro A Reprodução, trabalham a questão da violência simbólica que é uma forma de poder da classe dominante, ou seja, é uma imposição dos valores considerados verdadeiros e que são transmitidos pela política, pela Igreja, pela educação, pela família, entre outros. Para Nogueira (2009, p. 54), aquele aluno que é dono do capital cultural, possui uma facilidade maior na aprendizagem que a escola transmite, pois estes já trazem de casa “[...] a ‘cultura culta’ ou a ‘alta cultura’ [..]. A educação escolar, no caso das crianças oriundas de meios culturalmente favorecidos, seria uma espécie de continuação da educação familiar, enquanto para as outras crianças significaria algo estranho, distante, ou mesmo, ameaçador. [...] Cobra-se que os alunos tenham um estilo elegante de falar, de escrever e até mesmo de se portar; que se mostrem sensíveis às obras da cultura legítima, que sejam 9 intelectualmente curiosos, interessados e disciplinados; que saibam cumprir adequadamente as regras da ‘boa educação’. Essas exigências só podem ser plenamente atendidas por quem foi previamente (na família) socializado nesses mesmos valores. (NOGUEIRA 2009, p. 52 e 53). Estes autores trazem a questão de que a escola se passa por uma instituição passiva, “[...] tida como neutra e desprovida de ideologia, perpetua e transmite a ideologia burguesa dominante, estabelecendo com elas, uma relação de cumplicidade.” (POMINI, 2005, p. 11). Mas também nos leva a pensar numa questão trazida por BOURDIEU e PASSERON (1992, p. 204), a qual traz a reflexão de “[...] como levar em conta a autonomia relativa que a Escola deve à sua função própria sem deixar escapar as funções de classe que ela preenche necessariamente numa sociedade dividida em classes?” A ideologia age conforme predomina a classe dominante. Esta ideologia percorre pelo meio escolar formando indivíduos prontos para a produção do trabalho. Como nos afirma Chauí apud Pomini (2005, p. 9-10), a ideologia possui a função [...] de dissimular a presença da luta de classes (domínio e exploração dos nãoproprietários pelos proprietários privados dos meios de produção), negar as desigualdades sociais (são imaginados como se fossem conseqüência de talentos diferentes, da preguiça ou da disciplina laboriosa) e oferecer a imagem ilusória do contrato social entre homens livres e iguais. A ideologia é a lógica da dominação social e política. Althusser reflete que a educação é o aparelho que passa mais tempo com a grande maioria da população e em todos esses anos ela vai moldando os alunos, desde o maternal até o ensino superior, inculcando a ideologia da classe dominante. Como o autor mesmo coloca, o indivíduo que pode mudar esta função da escola é o professor, mas muitos deles acabam desistindo e concordando com a função ideológica da escola. (BARROS, 2009). Pomini (2005, p. 15) faz uma reflexão a respeito dos professores no que diz respeito à sua formação. O professor não é somente aquilo que estudou e aprendeu na graduação, mas sim é a soma de todas as suas experiências vividas tanto na escola como na vida social, ou seja, “a formação do profissional da educação não se inicia, ao contrário do que se imagina, quando esse ingressa em curso de formação de professores, mas sim desde o primeiro dia em que ingressa na escola como aluno”. Em nossa sociedade, se deposita um grande encargo para a educação de solucionar a desigualdade das classes sociais. Em grande parte dos casos, o sucesso ou o fracasso escolar é dito como responsabilidade dos profissionais da educação. E pensando nisso pudemos 10 perceber que é papel do professor tentar mudar a questão da escola como um mero objeto da classe dominante. Muitos destes profissionais da educação são dotados de uma consciência ingênua em relação ao que irão ensinar aos seus alunos, pois acabam sendo meros reprodutores das relações na sociedade capitalista. Mas, nos lembra Althusser que nem todos seguem a esta regra. Existem aqueles que adotam métodos diferenciados pelo motivo de terem um conhecimento mais elevado e de serem capazes de criticar as relações da ideologia. Althusser, apud Pomini (2005, p. 11) cita sobre o papel do professor e expõe que (...) muitos (a maioria) não tem nem um princípio de suspeita do ‘trabalho’ que o sistema (que os ultrapassa e esmaga) os obriga a fazer, ou, o que é pior, põe todo seu empenho e engenhosidade em fazê-lo de acordo com a última orientação (os famosos métodos novos!). Eles questionam tão pouco, que contribuem, pelo seu devotamento mesmo, para manter e a alimentar esta representação ideológica da escola, que faz da Escola hoje algo tão ‘natural’ e indispensável [...]. Isso acontece devido ao fato de que o professor está envolvido com a massa de indivíduos dominados pela classe que está no poder e participa inteiramente na disseminação da desigualdade de classes por meio da escola ou, em alguns casos, do combate á ela. Também é o caso de que alguns destes profissionais atuantes na área da educação foram formados ainda num período de muita repressão e, consequentemente, agem com a mesma prática de ensino-aprendizagem. Mas não se pode dizer que todos os professores possuem uma consciência ingênua do seu papel. Alguns tentam combater e contradizer as ideologias da classe dominante. Como coloca Althusser, são os “heróis” da educação. São poucos, mas eles ainda existem. O que pode ser feito é formar indivíduos capazes de criticar a realidade em que vivem na sociedade para que não haja mais a falsa visão das relações sociais. 5 Conclusão Através desta pesquisa podemos concluir que a escola é um Aparelho Ideológico do Estado, a qual possui o papel de transmitir a ideologia da classe dominante, seus valores e conceitos. Também se pode dizer que a escola está inserida em um sistema capitalista repleto de desigualdades de classe e isto acaba influenciando nas relações que se estabelecem no ambiente escolar. Por ser a escola um Aparelho Ideológico do Estado, ela acaba por reproduzir a desigualdade social. Para os alunos das classes mais altas, a escola é como uma continuação do aprendizado, pois já possuem um primeiro conhecimento proporcionado pela família. No 11 entanto, os alunos das classes desfavorecidas, sentem mais dificuldade devido ao fato de que não têm oportunidade de receber um aprendizado mais formal fora da escola. Apesar da escola ser uma instituição reprodutora da desigualdade social, entretanto ela representa uma possibilidade de transformação por intermédio do educador, que através de um método de ensino-aprendizado diferenciado pode influenciar esta situação. Althusser traz esta questão dizendo que estes professores existem, mas são poucos, são os chamados “heróis” da educação. Mas, a maioria deles nem sabem que estão envolvidos em uma ideologia da classe dominante, outros sabem, porém não se importam com o fato. Referências ALTHUSSER, Louis. 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