a história notável do delta do rio das pérolas

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a história notável do delta do rio das pérolas
DELTA
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
DO
RIO DAS PÉROLAS
A história notável do Delta
Thomas Chan e Louise do Rosário
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
DELTA
DO
RIO DAS PÉROLAS
A história notável do Delta
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
Administração de Projecto
Mércia Maria Gonçalves
Coordenação
Gonçalo César de Sá
Louise do Rosário
Pesquisa e Textos
Thomas Chan
Louise do Rosário
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
DELTA
DO
RIO DAS PÉROLAS
Tradução
Severo Portela
Fernando Correia
Edição e Revisão
Maria João Janeiro
A história notável do Delta
Thomas Chan e Louise do Rosário
Fotografia
Eric Tam
Desenho gráfico
Soluções Criativas, Lda.
Impressão
Welfare Printing Company
Produção
Associação de Macau de Investigação do Delta do Rio das Pérolas
Avenida Infante D. Henrique, The Macau Square, Nos 43 - 53A, 10o andar I, Macau
Publicações
MacauLink
[email protected]
Apoios
Dezembro de 2012
Gratuito
ISBN 978-99965-955-0-9
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO
DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
Uma história de dois milénios - as duas Rotas da Seda
A região do Delta do Rio das Pérolas nunca se definiu historicamente como uma entidade independente,
contrariamente ao que veio a acontecer após as políticas de abertura e reforma económica adoptadas
pela China em finais da década de 70 no século XX. No passado, a região do delta tinha uma área muito
menor. A consolidação de aterros naturais no estuário foi um longo processo até que as comunidades
radicadas na região os pudessem utilizar tanto na agricultura como na piscicultura e, mais tarde, no
desenvolvimento urbano. Seja como for, os governos imperiais, a partir da Dinastia Han (206AC 220DC), alargaram a sua autoridade à região do delta através de postos comerciais e aduaneiros que
posteriormente evoluiriam para cidades. A primeira cidade foi Cantão (Guangzhou), embora tenha
adoptado diferentes designações ao longo do tempo: Nanhai e Panyu. Cantão, situada sensivelmente
no centro da região do delta, beneficiava de um acesso favorável ao mar e, mais tarde, passou a
contar com o apoio das cidades de Foshan e Dongguan, aglomerados populacionais especializados em
artesanato e na produção de sal.
Cantão 1685
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
Cantão na Rota da Seda marítima
Houve duas Rotas da Seda. A primeira, que remonta aos primeiros anos da Dinastia Han, começou
com a vitória da China sobre Xiongnu e, sempre para oeste, seguiu o percurso terrestre até aos
limites do Império Romano; a segunda, seguiu a alternativa marítima. Limitados às capacidades da
navegação e da tecnologia naval então disponíveis, os portos marítimos concentravam-se nas zonas
costeiras da ilha de Hainão e do actual Vietname. Devido ao progresso registado na construção naval
durante a Dinastia Tang, Cantão passou a predominar no mapa da segunda Rota da Seda e muito
rapidamente tornou-se no principal porto comercial do Sudeste Asiático, da Ásia do Sul e mesmo do
Médio Oriente. Definira-se a Rota da Seda marítima para o mundo árabe e Europa.
Após a Batalha de Talas, ou Artlakh, em 751 DC, em que os árabes venceram os Tang, a Rota da Seda
terrestre ficou bloqueada, o que levou a que uma parte substancial do comércio externo da China
com os países a ocidente fosse desviada para Cantão e para a segunda Rota da Seda. No início
do período Tang, o governo imperial estabeleceu um conjunto de postos administrativos especiais
em Cantão e, também, em Yangzhou na província de Zhejiang e Quanzhou na província de Fujian,
com o objectivo de formalizar a recepção às delegações governamentais do exterior e mercadores
estrangeiros. As políticas comerciais dos Tang e a prosperidade da economia chinesa atraíam a Cantão
viajantes, comerciantes e mercadores do Ocidente. A partir de Cantão, depois de ultrapassado o
rio Beijiang, o governo imperial mandou construir, em 714 DC, uma nova estrada para norte que
atravessava o Dayu Ling para Jiangxi e outras áreas do país, incluindo a capital imperial de Xian. Esta
estrada constituía a principal artéria de ligação entre o interior e o porto marítimo de Cantão, onde
afluíam navios estrangeiros e chineses. Como ponto de partida da Rota da Seda marítima, Cantão
registou um surto de prosperidade: fora das muralhas da cidade cresceram as instalações ocupadas
pelas representações comerciais estrangeiras, em que avultavam comunidades residentes de árabes,
persas, incluindo seguidores do zoroastrismo, judeus e outras provenientes do que são hoje a Índia,
o Sri Lanka e a Indonésia.
A dimensão das concessões dos comerciantes estrangeiros constituía, sem dúvida, um bom indicador
da presença dos estrangeiros e da dimensão do comércio desenvolvido ao tempo em Cantão. Em
758 DC, há registo de motins entre os residentes árabes e persas. Mais tarde, em 879 DC, quando os
exércitos camponeses de Huang Chao conquistaram e incendiaram Cantão, entre as baixas registadas
na população da cidade assinalava-se um contingente de 120 000 muçulmanos, cristãos, judeus e
seguidores de Zoroastro. Cantão já era uma metrópole há mais de 1000 anos. A China produzia
seda e cerâmicas destinadas à exportação transcontinental. As mercadorias eram transportadas por
via marítima a partir de Cantão até Siraf, na margem superior do Golfo Pérsico, e daí seguiam para
o Médio Oriente e Europa. A moeda de troca era então a prata, utilizada no comércio chinês com
outras nações.
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
Grande migração do norte
A migração maciça de populações das zonas centrais da China ocorreu durante a Dinastia Song (9601279), em particular no período da Dinastia Song do Sul (1127-1279), quando o império chinês se viu
forçado pelas tribos nómadas do norte a retirar-se para sul do rio Iangtsé. Antes da consolidação da
Dinastia Song, o colapso da dinastia precedente (Tang) dividira o império em vários reinos ou estados que
se combatiam mutuamente; este período de conflitos militares obrigou os estados litorais a aprofundar
o comércio com o exterior, de modo a financiar as suas guerras, quer defensivas quer ofensivas. A
aposta no comércio com o exterior como fonte privilegiada para aumentar as receitas públicas não
foi ignorada na corte dos Song; o governo imperial instalou em Cantão e outras oito cidades do litoral
delegações administrativas e aduaneiras com o objectivo de facilitar as trocas comerciais com o exterior
e, ao mesmo tempo, aplicar taxas e impostos. Estes constituíam uma parcela muito importante do
erário público. Cantão tornou-se assim, graças à rápida expansão do comércio marítimo, a maior fonte
de rendimento para o governo imperial.
O século XVI foi um período de grande desenvolvimento económico e de expansão do comércio
externo tanto na Europa como na China. Durante os primeiros anos da Dinastia Ming (1368-1644), o
governo imperial adoptou um modelo tributário aplicável às representações oficiais estrangeiras e suas
propostas comerciais. O sistema era gerido directamente por representações administrativas especiais
– em Cantão, Zhejiang, Fujian e Vietname – com competências nas áreas do comércio e navegação.
As sete viagens do almirante Zheng He, realizadas entre os anos de 1405 e 1433, no Sudeste Asiático e
no Oceano Índico, ajudaram a promover as trocas comerciais entre a China e os países a ocidente e, por
outro lado, prolongaram-se no estabelecimento de diversas comunidades chinesas ao longo das rotas
marítimas e comerciais.
O fim das expedições do almirante Zheng He não pôs termo ao comércio marítimo a partir de Cantão.
Pelo contrário, as viagens de Zhen He e o estabelecimento das comunidades chinesas ao longo das rotas
marítimas facilitaram o crescimento do comércio privado que, breve, ultrapassava as trocas realizadas
no quadro do regime de tributo. Chineses e muçulmanos estabeleceram uma frutuosa cooperação para
levar as mercadorias chinesas cada vez mais longe, para os países árabes no Médio Oriente até à Europa
mediterrânica. Este intenso intercâmbio antecedeu e estimulou, de facto, os europeus na demanda da
rota do Cabo da Boa Esperança.
No século XVI, apenas a autoridade aduaneira e comercial de Cantão estava em funções, embora a
representação homóloga de Fujian mantivesse residualmente o comércio com Okinawa. A partir de
1567, apenas os navios chineses estavam autorizados a assegurar o comércio marítimo com o Japão e
Okinawa. A entrada de navios estrangeiros no porto de Zhangzhou foi proibida e assim Cantão passava
a ser o único porto chinês aberto aos navios de mercadores estrangeiros. Cantão era o maior porto da
China, senão de toda a Ásia.
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
Portugueses chegam a Macau
Prosperidade de Cantão
A expansão das trocas comerciais em Cantão contou com o impulso proporcionado pelo estabelecimento
dos mercadores portugueses em Macau, no ano de 1553. Em Cantão, os funcionários do governo
imperial adoptavam políticas pró comerciais. A participação da China na rede de comércio intraasiático, desenvolvida pelos árabes, persas, bengalis, javaneses, arménios e gujuratis, traduzia-se no
incremento das trocas globais. A chegada dos europeus significou um novo impulso no comércio
regional e intercontinental. Os espanhóis fundaram a cidade de Manila em 1570 e, através desta base
permanente no arquipélago das Filipinas, proporcionaram o afluxo de grandes quantidades de prata
oriunda do México e do Peru. A prata sul-americana entrava assim no circuito económico da Ásia,
juntando-se à prata japonesa. Este panorama monetário coincidiu com a introdução do imposto único
na China, em 1574, e com a fixação da prata como valor de troca na economia chinesa. A prata tornouse na divisa internacional do comércio, integrando a economia da China e as economias do Pacífico
ocidental e oriental, bem como as dos países do Oceano Índico.
Neste cenário emergiram duas redes comerciais triangulares: Malaca / Macau / Nagasáqui e Manila /
Macau / Nagasáqui, em que são predominantes, desde o início, os portugueses e os espanhóis e, mais
tarde, os holandeses. O centro destes dois círculos comerciais não era, de facto, Macau mas sim a cidade
de Cantão, uma vez que esta integrava a economia interna da China através das rotas comerciais de
Dayu Ling para norte e, ao longo das zonas costeiras, os portos da zona oriental de Guangdong, de
Fujian, de Zhejiang e de Xangai.
O governo chinês levava a cabo, desde 1579, uma feira comercial bienal destinada aos comerciantes
estrangeiros, predecessora do grande evento comercial que viria a ser, a partir de 1957, a Feira de
Cantão. Macau era, neste âmbito, um segundo porto ou porto exterior de Cantão, uma vez que as
representações e missões comerciais do exterior mantinham as suas bases nesta cidade, onde
fundeavam os seus navios.
A grande prosperidade do comércio externo de Cantão pode ser aferida pelo peso desproporcionado da
carga fiscal imposta pelo governo central. Na década de 1570, as cidades de Cantão e Macau pagavam
anualmente em impostos e taxas 200 000 taéis de prata, ao passo que as províncias de Fujian e Zhejiang
entregavam 50 000 taéis cada uma. Por outro lado, a enorme procura por produtos chineses transformou
as áreas vizinhas a Cantão numa vasta região industrial para a produção e processamento da seda,
chá, porcelanas, metais, açúcar, algodão e sal. Esta região incluía Foshan e as actuais Nanhai, Shunde,
Dongguan e Zengcheng, bem como os subúrbios de Cantão, em particular a oeste da cidade murada.
Na nova cidade murada, do lado exterior dos antigos edifícios das missões comerciais estrangeiras,
desenvolveu-se também uma zona comercial para estrangeiros, incluindo as docas que estabeleciam
a ligação fluvial para Macau e para Nantou e Tuen Mun, respectivamente para as actuais Shenzhen e
Hong Kong, a principal rota do estuário para o Mar do Sul da China.
A região do Delta do Rio das Pérolas desenvolveu-se deste modo como o interior de Cantão vocacionado
para a produção e processamento de mercadorias destinadas à exportação. Cantão consolidou-se como
a centralidade dominante, servida pelo vasto interior industrial, bem como o maior mercado interno da
China, exportando as porcelanas oriundas de Jiangxi, as sedas e algodões das províncias de Jiangsu e
Zhejiang e o chá proveniente de diferentes áreas no sul da China; por outro lado, assegurava a procura
de especiarias, algodão e fundamentalmente de prata. Em 1640, metade das importações de Manila, em
termos de valor, teve origem em Macau, enquanto entreposto de Cantão.
Paralelamente à expansão de Cantão, Foshan viria a prosperar muito mais do que as outras cidades da
região. Foshan era bem conhecida como um dos quatro grandes centros do comércio interno da nação,
a par com Suzhou em Jiangsu, Hankou na província de Hubei e Pequim. Graças às indústrias artesanais,
nomeadamente produtos em ferro, Foshan assumiu-se igualmente como uma das quatros maiores cidades
comerciais e industriais da China, juntamente com Hankou, a plataforma nacional do transporte fluvial,
Jingdezhen, em Jiangxi, no fabrico de porcelanas, e Zhuxianzhen, em Henan, nas gravuras em madeira.
Assim, não só Cantão se transformou no maior porto para o comércio internacional da China e da
Ásia, mas também o Delta do Rio das Pérolas passou a ser uma das regiões economicamente mais
desenvolvidas da China e o elo essencial nas redes comerciais intercontinentais.
Macau, 1870
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Cantão, 1810
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
cerca de 25% e continuou a cair nos anos seguintes. Cantão não só perdeu o comércio ao longo da
costa e a jusante do rio Iangtsé como, com a criação de Hankou como porto de tratado, na década de
1860, perdeu o tradicional comércio do interior – a montante do Iangtsé e as províncias de Hunan e
Jiangxi – que se transferiu para leste, de Hankou para Xangai.
A Guerra do Ópio e o declínio de Cantão
A proibição da navegação marítima decidida no início da Dinastia Qing (1644-1911) não afectou o
comércio externo em Cantão. As redes comerciais centradas em Cantão e Macau continuaram a
operar, apesar de os outros portos comerciais chineses terem sido encerrados. Todavia, o contrabando
e as actividades comerciais regulares desenvolvidos pelo governo de Zheng Cheng-gong em Taiwan
continuaram a alimentar o comércio regional e intercontinental.
A interdição esteve oficialmente em vigor apenas durante 40 anos. Em 1685, o governo imperial, após a
recuperação de Taiwan, ordenou a reabertura do comércio marítimo com o exterior. O governo aprovou
então a instalação de quatro postos alfandegários: Cantão, Ningbo em Zhejiang, Fuzhou e Xangai em
Fujian. No entanto, em 1757, Cantão já monopolizava o comércio externo da China.
Cantão e a região do Delta do Rio das Pérolas dispuseram das condições necessárias para prosseguir em
larga escala a expansão comercial e industrial da Dinastia Ming. Nos cinco anos entre 1844 e 1849, até
à Guerra do Ópio que pôs termos ao monopólio do comércio externo da Cantão, a cidade respondeu
por 80% do total das exportações da China.
Os tratados resultantes da Guerra do Ópio, que contemplavam a abertura dos portos da China e da Ásia,
foram um desastre para Cantão e Macau. Hong Kong substitui Macau como porto de comunicação
com o exterior, o mesmo acontecendo com outras cidades costeiras e ao longo do rio Iangtsé, que
igualmente desviaram de Cantão o comércio internacional. Acrescente-se que o contrabando e as
vantagens de um porto livre determinaram a substituição de Cantão por Hong Kong como plataforma
das exportações e importações da China. Xangai tornou-se um porto de tratado em 1843 e dois anos
mais tarde concretizava-se a instalação da primeira concessão britânica nessa cidade. Em 1852, o
volume do comércio externo despachado através de Xangai ultrapassava o de Cantão, que assim perdeu
para Xangai a categoria de primeiro porto comercial da China e da Ásia.
Entre 1860 e 1900, a participação de Xangai no comércio externo chinês representou, em média, 50%
das exportações e 60% das importações. A de Cantão caiu, logo no início da década de 1860, para
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O estatuto económico de Cantão e da região do Delta do Rio das Pérolas, bem como o de Macau,
deteriorou-se de forma constante durante os anos de liberalização do comércio na China. O vasto
interior da China que fora dominado por Cantão/Macau durante mil anos passou para Xangai e para
um conjunto de portos de tratado (portos abertos ao comércio externo na sequência de tratados) na
Ásia, incluindo Hong Kong e os portos do Japão e da Coreia. Um dos principais factores que contribuiu
para a rápida ascensão de Xangai a partir da década de 1840 foi a migração dos comerciantes e
investidores de Guangdong e de Fujian, que levaram para Xangai o capital, o conhecimento e os
contactos internacionais.
Industrialização no Delta do Rio das Pérolas
A ascensão de Xangai a partir de década de 1840 não correspondeu, todavia, ao declínio do comércio
externo em Cantão. Pelo contrário, as trocas comerciais continuaram a expandir-se, embora a um ritmo
menos acelerado e em menor escala do que em Xangai. Cantão e o seu interior na região do delta do Rio
das Pérolas experimentaram um processo de modernização industrial com base nos fluxos de capitais
remetidos pelos chineses emigrados, no final do século XIX e no início do século XX. A concorrência dos
produtos importados da Europa abalou as indústrias tradicionais; por exemplo, a tradicional indústria
de produtos de ferro de Foshan perdeu tanto os mercados doméstico como os de exportação e o sector
entrou em colapso. Porém, em outros sectores tradicionais mais competitivos, como a seda e outros
têxteis, chá e açúcar, verificou-se uma actualização para a produção em massa. Indústrias modernas que
se concentraram na transformação de matérias-primas surgiram um pouco por toda a região. Contudo,
a composição das pautas de importação e exportação alterou-se durante este período. As exportações
voltaram-se preferencialmente para o processamento de matérias-primas locais, seda crua e chá, enquanto
as importações consistiam predominantemente de máquinas, produtos industriais e bens de consumo.
A região transformava-se de “fábrica do mundo” e empório de produtos sofisticados, trocados por matériasprimas e prata estrangeiras, numa base industrial de processamento de matérias-primas orientada para
a exportação; a alternativa característica de uma economia pouco desenvolvida e no quadro da divisão
internacional do trabalho nos séculos XIX e XX. Por exemplo, o fio de seda era produzido nas vilas de
menor dimensão e processado nas fábricas de fiação da cidade de Shunde; a seda crua seguia depois para
Cantão, então um mercado exportador dominado pelos mercadores estrangeiros. Parte da produção era
escoada para Macau e Hong e Kong e reexportada para países terceiros. A região do Delta do Rio das
Pérolas tinha evoluído para uma zona de processamento industrial de produtos agrícolas destinados à
exportação.
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
Guerra e revolução comunista
O processo de modernização industrial assente no processamento de matérias-primas seria abalado,
em meados da década de 30 do século XX, com a invasão e ocupação do exército japonês e
novamente, em 1940, com a guerra civil. Seguiu-se uma fase de deslocação e dispersão de populações
e devastação da economia que só terminaria com a unificação garantida com a implantação da
república comunista de 1949. Enfrentando sanções económicas impostas pelos Estados Unidos e
seus aliados, incluindo o Reino Unido e a sua colónia de Hong Kong, o governo comunista respondeu
com a nacionalização das indústrias e dos sectores financeiro e comercial e enveredou pela economia
planificada. Por exemplo, em termos de modelo de desenvolvimento urbano, verificou-se a transição
de uma economia centrada nos serviços para uma economia de base produtiva. O governo chinês
desenvolveu uma estratégia de investimentos industriais de grande dimensão na maioria das cidades,
incluindo Cantão.
Em Cantão, nas décadas de 1950 e 1960, seriam instaladas indústrias pesadas como as siderúrgicas
(ferro e aço), metalurgias de minérios não-ferrosos e indústrias do carvão, segundo o modelo das
grandes unidades fabris integradas. Por outro lado, a nacionalização da economia abriu o caminho
para a fusão de muitas das pequenas e médias empresas da capital de Guangdong. O panorama da
cidade e das áreas vizinhas do Delta do Rio das Pérolas alterou-se radicalmente em consequência da
aplicação do modelo soviético de industrialização. Cantão transformou-se numa cidade industrial
moderna, ao mesmo tempo que as áreas limítrofes eram relegadas para a categoria de zonas de
produção agrícola. A anterior rede produtiva regional voltada essencialmente para a exportação,
com Cantão como centro financeiro e logístico, foi desarticulada e o papel intermediário de Hong
Kong e Macau eliminado. Deste modo, pela primeira vez desde o estabelecimento da colónia de Hong
Kong como porto comercial livre, a fronteira ficava selada, intersectando os fluxos livres de pessoas
e mercadorias entre Hong Kong e a zona do Delta do Rio das Pérolas, incluindo Cantão.
A abertura da feira comercial de Cantão, com duas edições em cada ano, vocacionada para as
exportações, assim como os esforços do governo chinês na sua promoção, conduziu à recuperação
do estatuto comercial de Cantão, agora como zona exportadora de produtos industriais. Todavia, a
importância da capital de Guangdong no panorama global das exportações chinesas declinaria de
forma significativa. Nos primeiros anos das políticas de reforma e abertura ao exterior, a participação
de Cantão no conjunto das exportações nacionais fixava-se em apenas 1,6%, enquanto Hong Kong
representava 23,7% do valor global nacional. A tradicional rede comercial integrada da região do
Delta do Rio das Pérolas, associando Cantão, Hong Kong e Macau, enfraquecera drasticamente
durante o período de economia planificada na China. Só o aprofundamento das políticas de abertura
ao exterior e de reforma económica criou as condições para que fosse gradualmente retomada a
ligação tradicional no Delta do Rio das Pérolas.
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
Desenvolvimento do Delta do Rio das Pérolas no século XXI
A unificação política sob a direcção do Partido Comunista chinês em 1949 determinou mudanças
profundas na estratégia e na estrutura regional do desenvolvimento económico da China. Devido
à decisão chinesa de entrar na guerra da Coreia ao lado dos norte-coreanos, os Estados Unidos
impuseram sanções económicas à China, que foram seguidas por outros países. Por outro lado, o êxodo
dos empresários e dos seus negócios, que acompanharam o governo nacionalista para a Ilha de Taiwan,
resultou na perda da maior parte das indústrias que haviam sobrevivido a décadas de hostilidades
levadas a cabo durante o período dos senhores da guerra, à invasão nipónica e, por fim, à guerra civil.
Muitas das modernas indústrias instaladas em Cantão, Xangai, Tianjin, Wuhan, e outros portos abertos
com os tratados, foram transferidas em massa para Hong Kong, um dos dois únicos portos, a par de
Macau, que ficaram sob soberania estrangeira depois de 1949. Esta circunstância esteve na origem
do parque industrial de Hong Kong e na sua transformação de entreposto comercial num centro de
exportação de produtos industriais.
A China optara por uma política económica de auto-suficiência, estratégia que esteve na origem da
desarticulação dos tradicionais fluxos de mercadorias entre o Delta do Rio das Pérolas, em Guangdong,
e Hong Kong. As feiras de Cantão, primeiro em 1951, para o comércio internacional do sul da China,
depois, a partir de 1957, como feiras nacionais, foram reactivadas, mas a economia centralmente
planificada, definida a partir dos anos 50, impunha constrangimentos administrativos ao funcionamento
do mercado chinês. A produção de bens e a sua distribuição a nível nacional estavam sujeitas aos
mecanismos da planificação centralizada, em que estavam subalternizados aspectos como a eficiência
económica ou desenvolvimento regional. Os mecanismos de controlo sobre a produção eram rígidos,
incluindo o controlo do consumo doméstico.
De cada localidade, cidade e província, esperava-se que fosse auto-suficiente, num quadro comercial
local e interprovincial sujeito a quotas definidas por um sistema de redistribuição central. Este sistema
ajudou Guangdong e a região do Delta do Rio das Pérolas a definir um quadro de divisão de trabalho:
Cantão desenvolveu-se como o centro industrial e comercial de uma região - província, áreas rurais e
pequenas cidades - que funcionava como o interior da capital. A política de auto-suficiência e de divisão
do trabalho, por outro lado, determinaram um quadro de especialização nas diferentes cidades e áreas
da província e, deste modo, Cantão pôde desenvolver a indústria pesada, siderurgia e metalomecânica,
nas quais não beneficiava de vantagens comparativas. A quota da indústria pesada passou de 10% em
1949 para 35% em 1981.
Crescimento da indústria ligeira
Durante o período de economia planificada acelerou-se o crescimento das indústrias ligeiras motivado,
provavelmente, pelos acessos através de Hong Kong aos mercados externos e, também, devido ao
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
peso da procura externa nas feiras bianuais de Cantão. Em parte, porque Cantão reassumira, através
da realização das feiras comerciais, o seu papel como único porto aberto ao comércio externo na
China, mesmo que sujeito a um apertado controlo por parte das autoridades centrais e apesar de
as trocas comerciais com a URSS e os países da Europa de Leste se desenvolverem no sistema de
acordos bilaterais, fora, portanto, do sistema aberto de trocas no mercado das Feiras de Cantão. A
crescente importância concedida ao comércio externo, durante as décadas de 1960 e 1970, traduziuse num surto de desenvolvimento das indústrias ligeiras vocacionadas para a exportação, tais como
máquinas de costura, bicicletas, relógios, pilhas e têxteis, cuja procura se acentuara tanto nos mercados
doméstico como internacional.
Hong Kong, como mercado e como plataforma de reexportação para outros países, constituiu um
importante factor no desenvolvimento das indústrias orientadas para a exportação de Cantão,
incluindo o transporte marítimo para outras províncias da China, dado que as autoridades comerciais
relevantes, tanto a nível provincial como nacional, mantinham sucursais na colónia britânica. Ao
contrário do que acontecera nos 100 anos anteriores, a procura externa não disseminou o parque
industrial pelas pequenas cidades ou áreas rurais do Delta do Rio das Pérolas, uma vez que a economia
planificada determinava a separação rígida, nos domínios económico e social, entre a cidade e o campo.
As áreas rurais estavam confinadas à produção agrícola, com prevalência da monocultura de base e
secundarização da agricultura comercial, e as exportações para o fornecimento do mercado de Hong
Kong estavam totalmente dependentes das autoridades centrais.
Quadro 1: Desempenho económico de Cantão em 1952 e 1978
1952
Rendimento nacional
1978
Cantão
Guangdong
Nacional
Cantão
Guangdong
Nacional
478
2952
58.900
3905
16.078
301.000
0,81%
5,01%
100%
1,30%
5,34%
100%
PIB
Vendas a retalho
Exportações
4309
18.473
358.800
1,20%
5,15%
100%
468
2021
27.680
1918
9341
155.860
1,69%
7,31%
100%
1,23%
5,99%
100%
121
820
134
1388
9750
14,76%
100%
1,37%
14,23%
100%
Nota: As exportações são em milhões de dólares americanos e os restantes valores em milhões de yuans.
Fontes: National, Guangdong e Guangzhou Yearbooks of Statistics, vários anos.
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O processo de industrialização e o crescimento económico a partir de 1949 tiveram como consequência
a progressiva alienação de Cantão em relação às zonas rurais adjacentes e aos outros núcleos urbanos,
tendo como resultado o estabelecimento de duas estruturas económicas e sociais separadas uma
da outra. O modelo da acumulação primitiva socialista1, adoptado pelo governo chinês, suprimiu o
mecanismo de preços dos produtos agrícolas, ao mesmo tempo que desviava os recursos do mundo
rural/agrícola para o mundo urbano/industrial, afastando quaisquer possibilidades de rápido aumento
da qualidade de vida dos agricultores. Do outro lado da fronteira, Hong Kong crescia economicamente,
graças à transferência industrial operada a partir dos anos 40; uma grande percentagem das populações
rurais estabelecidas nas zonas vizinhas acabaria por emigrar ilegalmente para Hong Kong, deixando
para trás áreas que ficariam despovoadas, como Bo’an e Dongguan, e em consequência condenadas ao
atraso económico.
Mudança radical a partir de 1978
As políticas de reforma económica e abertura ao exterior, adoptadas pelo Partido Comunista Chinês
no final do ano de 1978, representaram uma mudança radical na estratégia e na estrutura do
desenvolvimento económico de toda a China e, em particular, da zona do Delta do Rio das Pérolas.
Estas políticas coincidiram com o início das negociações para o retorno de Hong Kong (e Macau), em
1979. Por um lado, Hong Kong era um caso de sucesso de uma das 10 maiores economias exportadoras
a nível global e com o desenvolvimento económico mais avançado da Ásia, depois do Japão; Hong
Kong era visto como um modelo de industrialização e de desenvolvimento para a China. Por outro lado,
a devolução programada e calendarizada de Hong Kong impunha um desafio difícil: como manter a
prosperidade e o desenvolvimento de Hong Kong após a transição de soberania para a China. Os dois
aspectos convergiam num quadro político singular, o das zonas económicas especiais (ZEEs) e a sua
multiplicação à escala regional, primeiro e, subsequentemente, a nível nacional.
Foram estabelecidas quatro zonas económicas especiais: Shenzhen para Hong Kong, Zhuhai para
Macau, Xiamen para Taiwan e Shantou para os chineses ultramarinos, especialmente os radicados no
Sudeste Asiático. O modelo das zonas económicas especiais era distinto das denominadas zonas de
processamento de exportações, extremamente popular entre os países subdesenvolvidos durante os
anos 60. De facto, existira uma zona de processamento de exportações em Shekou (Shenzhen) operada
exclusivamente pela China Merchants, empresa constituída em Hong Kong e tutelada pelo Ministério
dos Transportes da China.
1 Conceito definido nos primeiros anos da União Soviética como contrapartida ao conceito de acumulação primitiva do
capital, relativa aos primórdios do modelo capitalista. O conceito foi estabelecido nos anos 20 por Yevgeni Preobrazhensky e
posteriormente aplicado por Estaline com a política de colectivismo rural e a execução do primeiro plano quinquenal. Grosso
modo, durante o período da economia planificada, a China seguiu o princípio estalinista da acumulação de capital.
19
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
As zonas económicas especiais foram desenhadas como áreas experimentais para a liberalização
económica inspiradas no modelo de porto franco de Hong Kong. Mais precisamente, foram pensadas
como zonas tampão e como economias de transição preparadas para acolher e integrar as economias
capitalistas de Hong Kong e Macau, em 1997 e em 1999, respectivamente. A definição do calendário
para o regresso de Hong Kong à China deu início ao processo de recuperação de Macau e de Taiwan e
estimulou o processo de reformas internas e liberalização dos mercados. O ano de 1997 abriu caminho
a uma transformação radical da China.
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
Shenzhen: um caso de grande sucesso
Não obstante as aspirações alimentadas pelo governo, entre as quatros zonas económicas especiais
designadas, apenas a de Shenzhen viria a ser um caso de sucesso. A chave do êxito de Shenzhen
encontra-se na proximidade de Hong Kong e na expansão da economia de Hong Kong para Shenzhen e
Dongguan e, em menor escala, para outras cidades da área do Delta do Rio das Pérolas. Esta expansão
da economia de Hong Kong assumiu a forma de uma transferência das indústrias orientadas para
a exportação, com o propósito de beneficiar de custos mais baixos de mão-de-obra, instalações e
impostos, bem como outros custos associados à protecção ambiental, proporcionados pelo quadro
das zonas económicas especiais e que seriam progressivamente alargados a toda a região do Delta
do Rio das Pérolas e zonas limítrofes. A transferência das unidades de Hong Kong resumiu-se ao
processamento industrial propriamente dito, dado que outras fases ou serviços mais sofisticados na
escala de valor permaneciam em Hong Kong.
Devido às substanciais vantagens obtidas, em termos de custos com a transferência das indústrias, os
negócios das empresas de Hong Kong cresceram rapidamente, conquistando as quotas de mercado de
outros exportadores de Taiwan, Coreia do Sul e Japão. Deste modo, consolidou-se e expande-se um
sistema de produção transfronteiriço, de processamento industrial na região do delta, orientado para a
exportação, e uma plataforma de serviços em Hong Kong.
Quadro 2a: Emprego em Cantão, Shenzhen, Dongguan e Zhuhai (Unidade 10.000)
Cantão
1980
1985
1990
1995
2000
2005
2008
275
313
341
407
503
574
715
Shenzhen
14
32
109
244
308
576
670
Dongguan
57
67
75
86
208
388
439
Zhuhai
20
23
31
58
86
94
102
Nota: Estes números relativos ao emprego referem-se a parte dos efectivos laborais nas cidades, especialmente em Shenzhen,
excluindo a ZEE, e em Dongguan, que atraem vastos contingentes de trabalhadores sazonais e migrantes que não estão
submetidos ao sistema de segurança social e como tal não constam nas estatísticas de emprego produzidas pelas autoridades
locais.
Fontes: International Statistical Information Centre, National Bureau of Statistics of China, Yangtze River Delta & Pearl River
Delta and Hong Kong & Macao SAR & Taiwan Statistical Yearbook, China Statistics Press, diversos números.
Shenzhen
20
21
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
Quadro 2b: PIB em Cantão, Shenzhen, Dongguan e Zhuhai (mil milhões de yuans)
1980
1985
1990
1995
2000
2005
2008
Cantão
5,76
12,44
31,96
124,31
249,30
515,40
1060,45
Shenzhen
0,27
3,90
17,17
79,57
218,70
495,10
951,09
Dongguan
0,70
2,04
6,46
20,56
49,27
218,20
424,63
Zhuhai
0,26
0,98
4,14
18,51
33,03
63,5
120,26
Fontes: International Statistical Information Centre, National Bureau of Statistics of China, Yangtze River Delta & Pearl River
Delta and Hong Kong & Macao SAR & Taiwan Statistical Yearbook, China Statistics Press, diversos números e departamentos
sector industrial doméstico para fornecer o mercado interno, que tem vindo a crescer aceleradamente
para responder ao crescimento da procura interna por modernos e sofisticados produtos industriais
exteriores à zona económica especial. O segundo sector destacado é esmagadoramente dominado
pelo investimento directo estrangeiro, orientado para a exportação, sendo as peças e os componentes
relativos maioritariamente importados. As empresas deste sector são normalmente geridas a partir de
Hong Kong, localizando-se aí a sede e serviços de importação e exportação. Esta estrutura dual é a
base do dinamismo de Shenzhen; o caso de uma vila fronteiriça que se transformou, em 2000, numa
metrópole de mais de 10 milhões de habitantes, maior do que Hong Kong, que tem uma população
menor para uma economia com menos indústrias.
Outras cidades de sucesso no Delta do Rio das Pérolas
estatísticos de quatro cidades.
Este conjunto de políticas explica a emergência de Shenzhen como grande cidade do Delta do Rio das
Pérolas em competição directa com Cantão, a grande metrópole da região durante milénios. A ascensão
de Shenzhen começou com o estabelecimento das zonas económicas especiais e a liberalização
económica na China; contou com Hong Kong que foi responsável pela transferência das indústrias
ligeiras, bem como as provenientes de Taiwan; ganhou acesso directo ao mercado internacional,
investimentos de capitais, tecnologia e informação. Em meados de 2000, Shenzhen já se encontrava a
par de Cantão, tanto em termos de PIB como de mercado laboral. Porém, Shenzhen é diferente da maior
parte das cidades do Delta do Rio das Pérolas, cujo desenvolvimento se consolidou ao longo de séculos.
Shenzhen foi uma cidade criada por determinação política de um governo que proporcionou grandes
incentivos para atrair empresas e trabalhadores.
Os enormes lucros gerados com o contrabando e com a dualidade dos preços - preço de mercado versus
preço administrativo - durante a fase inicial do processo de liberalização económica, bem como uma
postura leve no que se refere ao policiamento da fronteira com Hong Kong e a fronteira interna da zona
económica especial, captaram grandes investimentos de outras regiões da China. A transferência das
indústrias de Hong Kong e de Taiwan e os investimentos green-field realizados por empresas estrangeiras
criaram enormes retornos para os investidores, empresas de serviços, organizações governamentais e
trabalhadores. Os enormes lucros e riqueza gerados nas duas plataformas alimentaram uma rápida
expansão económica e social da cidade, fazendo de Shenzhen provavelmente a mais vasta sociedade e
economia migrante do mundo.
Com a desactivação faseada do duplo sistema de preços a partir da década de 90, foi possível
alargar as reformas económicas à maior parte das outras cidades e regiões desenvolvidas da China.
Para Shenzhen abriam-se, então, as oportunidades criadas com o estabelecimento de indústrias
para substituição de importações, da electrónica de consumo às telecomunicações. Estava criado o
22
O modelo dual de Shenzhen expandiu-se, foi absorvido e copiado por outras regiões. Dongguan e
algumas áreas de Zhongshan e Huizhou enveredaram pelo modelo do investimento estrangeiro directo
em zonas de produção industrial orientada para a exportação. No início de 2000, Dongguan já se
colocara a par de Shenzhen em termos de produção industrial e, em determinada fase, os seus efectivos
laborais atingiram o nível do contingente de trabalhadores envolvidos no modelo dual daquela zona
económica especial. Zhongshan e Foshan, incluindo os distritos de Shunde e Nanhai, apostaram num
processo industrial de substituição de importações, estabelecendo núcleos/cidades de especialização
num só produto e/ou marcas nacionais no sector dos electrodomésticos e outros equipamentos para
habitação.
A outra zona económica especial, Zhuhai, não conseguiu reproduzir o modelo e o sucesso de Shenzhen,
muito provavelmente devido à pouca compatibilidade económica com a adjacente região de Macau,
cuja economia é dominada pelo jogo, e também pela circunstância geográfica algo periférica no
contexto da zona do Delta do Rio das Pérolas. Zhuhai está relativamente distante da capital provincial
e não dispõe de ligações ferroviárias ou à rede rodoviária de vias rápidas, que estabeleçam o acesso
directo a Hong Kong, a Cantão e ao interior. Assim, Zhuhai ficou para trás relativamente a Shenzhen e
Dongguan e apenas pôde reclamar sucesso se comparada com Zhaoqing.
Logo a partir da fase inicial da aplicação das políticas de reforma económica e das zonas económicas
especiais, entre o início dos anos 80 até ao final do século XX, Hong Kong dominou na economia da
grande região do Delta do Rio das Pérolas. A região leste de Guangdong iria crescer a um ritmo mais
acelerado do que a região oeste, na medida que Hong Kong desempenhava a função de interface do
delta com o mundo exterior. A rede de auto-estradas e vias rápidas foi construída essencialmente
para estabelecer a ligação das cidades da região de Guangdong com Hong Kong, que servia de porta
de entrada/saída para a economia da China. O relativo eclipse económico de Cantão não a ajudou
a liderar uma região que ganhara a sua independência económica a partir da era da economia
planificada.
23
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
Na realidade, quer o modelo de processamento de indústrias para exportação quer o modelo de
industrialização para substituição de importações assentaram numa dinâmica ascendente, graças à
iniciativa das empresas locais disseminadas pelos núcleos populacionais de menor dimensão da zona
oeste da província e, na parte leste, devido ao investimento estrangeiro nas empresas. De facto, as
empresas estavam dispersas por pequenas cidades e vilas, livres de qualquer sistema de coordenação
local, regional ou provincial, pelo que contavam apenas com os incentivos proporcionados pelas
autoridades locais, tais como, concessões de terras, reduções ou isenções fiscais e controlo do trabalho
migrante. O sistema de transportes representou outro factor importante que teve como consequência
o aparecimento ao longo das principais vias de aldeias e vilas industriais, tendo os grandes centros
urbanos, casos de Cantão e Shenzhen, desempenhado um papel limitado.
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
Cantão reconquista a liderança
Na viragem do século ocorre uma mudança radical. Na realidade, Cantão não esteve alheada do
processo de industrialização acelerada que se verificou durante as duas primeiras décadas de reforma
económica; cresceu consistentemente, embora sem a visibilidade de que gozaram Shenzhen e Dongguan.
Se compararmos os valores do crescimento do PIB de Cantão com os números correspondentes de
Xangai, Shenzhen e Hong Kong, obtemos um quadro diferenciado no que respeita aos ritmos relativos
da expansão económica nas quatro regiões.
Quadro 3: PIB de Cantão comparado com Xangai, Shenzhen e Hong Kong
(100 milhões yuan; 100 milhões dólares de Hong Kong)
Xangai
Hong Kong
Cantão
Shenzhen
1980
311,89
1.422,02
57,55
2,70
1985
466,75
2.728,86
124,36
39,02
1990
782,00
5.876,20
319,60
171,67
1995
2.462,57
12.461,00
1.243,07
795,70
2000
4.721,00
12.883,38
2.493,00
2.187,00
2005
9.164,00
13.825,90
5.154,00
4.951,00
2010
16.972,42
17.416,58
10.604,48
9.510,91
Fonte: Estatísticas municipais e provinciais
Quadro 3a: Comparação do Produto Interno Bruto
Xangai
Hong Kong
Cantão
Shenzhen
1980
542
751
100
4.7
1985
375
824
100
31
1990
245
1129
100
54
1995
198
1082
100
64
2000
189
549
100
88
2005
178
282
100
96
2010
160
143
100
90
Nota: As taxas de câmbio anuais correspondem à média das taxas oficiais nos anos respectivos. Antes de 1995, as taxas
de câmbio oficiais eram sobrevalorizadas. O dólar de Hong Kong registou uma depreciação acentuada em 1984 quando se
concretizou a indexação com a moeda norte-americana.
24
25
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
Quadro 3b: Comparação do PIB em Hong Kong e na zona do DRP
(100 milhões yuan)
Hong Kong
DPR
DPR / Hong Kong
1980
432,30
133,25
30,8%
1985
1.025,23
356,86
34,8%
1990
3.607,40
1.008,00
27,9%
1995
13.452,90
4.075,47
30,3%
2000
13.679,57
8.420,00
61,6%
2005
14.558,67
18.180,10
124,9%
2010
15.175,07
37.388,23
246,4%
Fonte: Hong Kong e estatísticas municipais
Shenzhen estava prestes a atingir o nível de Cantão; mas, a partir de 2005, a capital provincial de
Guangdong começou a crescer mais depressa do que Shenzhen, invertendo uma tendência que se
verificava desde o estabelecimento da ZEE. Nos anos 90, Hong Kong crescera aceleradamente, não
só devido à desvalorização do yuan, mas também porque o sistema de produção transfronteiriça,
concretizado nas zonas de processamento de indústrias orientadas para a exportação, era dominado e
explorado por Hong Kong.
Nos primeiros anos do século XXI, o fosso entre Hong Kong e Cantão diminuía de forma progressiva.
Esta tendência pode ser observada também através da comparação do peso global da economia da
região do delta relativamente ao valor da economia Hong Kong. No ano 2000, a dimensão da economia
do delta era 2/3 do valor da economia de Hong Kong mas, decorridos dois anos e meio, a economia
agregada da região do Delta do Rio das Pérolas já valia 2 vezes e meia a de Hong Kong. A principal razão
para esta mudança prende-se com a relativa estagnação da economia de Hong Kong em resultado da
crise financeira da Ásia em 1998, que pouco afectou a economia da região do delta, excepto na parte
final da década.
Novo século, nova política
Se consideramos as estatísticas comparativas das regiões, percebe-se que o ponto de viragem na
evolução da grande região do delta, incluindo Hong Kong e Macau, ocorre no ano 2000, quando Cantão
recupera a sua posição central e liderança no contexto regional. Por outro lado, o ano 2000 também
pode ser visto como o início do declínio do sistema de produção transfronteiriça, de processamento de
indústrias orientadas para as exportações de Hong Kong.
Este ano marca ainda uma revolução no sistema de transportes da região. Numa primeira fase,
dominada por Hong Kong em que as rotas comerciais irradiavam a partir de Hong Kong e Shenzhen,
tendo como resultado uma teia de núcleos populacionais dispersos ao longo das estradas e vias
26
ferroviárias de Hong Kong e Shenzhen. A segunda fase caracteriza-se pelo estabelecimento de uma
rede regional de auto-estradas e, muito mais relevante, a execução de uma rede ferroviária com
base em Cantão, relegando Hong Kong para um lugar periférico. Esta segunda etapa coincidiu com a
ascensão de Macau ao papel de centro da indústria do jogo na China, e mesmo da Ásia. Nos últimos
anos, o PIB per capita de Macau ultrapassou o de Hong Kong e a sua integração na zona do delta
do Rio das Pérolas veio acelerar o desenvolvimento do projecto da ilha de Hengqin, disponibilizando
uma vasta área para a cidade de Macau.
Com a transferência das indústrias e a execução do sistema de produção transfronteiriça, Hong Kong
especializou-se e expandiu o sector de serviços, especialmente os de apoio às indústrias instaladas
do outro lado da fronteira. Um indicador desta situação prende-se com a evolução da carga em
contentores, cujos números revelam que Hong Kong têm vindo a perder progressivamente para os
portos situados na região, em especial os de Shenzhen e Cantão. Hong Kong era em 2005 o principal
porto de contentores à escala global, hoje, encontra-se na terceira posição e está em vias de a perder
para Shenzhen.
Por seu turno, o porto de Cantão tem oscilado, desde 2008, entre a sexta e a sétima posição dos portos
de contentores de todo o mundo.
Quadro 4: Comparação entre as cargas manuseadas nos portos de contentores de Hong Kong,
Shenzhen e Guangzhou, para o período 2008-2010 (1000 TEU)
Hong Kong (a)
Shenzhen (b)
Cantão (c)
b+c
b+c/a
2008
24.494
21.416
11.001
32.417
132,35%
2009
21.040
18.250
11.200
29.450
140,00%
2010
23.699
23.510
12.550
36.060
152,16%
Fonte: Governo de Hong Kong
Novos pilares industriais
O primeiro passo para o ressurgimento de Cantão foi dado em Junho do ano 2000, através de uma
reorganização administrativa que integrou as cidades de Panyu e Huadu como distritos urbanos da
capital da província de Guangdong, aumentando substancialmente as áreas directamente controladas
pelo governo municipal.
Esta alteração segue as estratégias anteriores definidas pelo governo do município, em 1998, com o
objectivo de associar a reestruturação industrial ao ordenamento do território e assim reafirmar o
estatuto central de Cantão no quadro da região do delta do Rio das Pérolas.
27
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
A expansão urbana iniciada em 2000 levou a cidade a adoptar um programa ambicioso de investimentos
em infra-estruturas, mais tarde confirmados ao nível da liderança provincial. Este programa desenvolveuse nos anos seguintes através de uma rede regional ferroviária urbana (metropolitano) e intercidades;
por outro lado, esta rede regional beneficia da ligação ao plano de desenvolvimento a nível nacional da
rede de alta velocidade.
O governo municipal também conseguiu atrair alguns fabricantes de automóveis do Japão para
estabelecerem as suas bases de produção em Cantão. Durante 10 anos os três pilares industriais
de Cantão – indústria automóvel, petroquímica e tecnologias de informação e telecomunicações –
dominaram a economia da cidade. Combinados, os três pilares representavam, em 2000, 28% do valor
total da produção industrial e, dez anos mais tarde, 42,8%. Em 2004, pela primeira vez na história da
cidade, o valor da indústria pesada superou o da indústria ligeira. Embora o total da produção industrial
seja inferior ao de Shenzhen e Foshan, Cantão possui uma estrutura industrial distinta, diferente no
que respeita à mão-de-obra intensiva, característica da indústria ligeira disseminada pelas cidades da
região do Delta do Rio das Pérolas.
A mudança para a indústria pesada coincidiu com uma aposta agressiva no desenvolvimento do sector
de serviços, na segunda metade do ano de 2000. Em 2008, a parcela do sector terciário no PIB de
Cantão já era a segunda maior do país, depois de Pequim, e tem vindo a aumentar desde essa data.
A mudança para a indústria pesada e para o sector dos serviços ajudou Cantão a reafirmar o seu estatuto
de cidade central na região do Delta do Rio das Pérolas. Simultaneamente, apresenta-se coerente com a
estratégia nacional que substitui o crescimento baseado nas exportações pelo crescimento da procura
interna e do mercado doméstico.
Enquanto Shenzhen e Dongguan sofriam, desde 2008, os efeitos da estagnação nos mercados para
exportação, Cantão logrou manter e até expandir os seus níveis de crescimento económico. Este
crescimento confere-lhe credibilidade e apoios à intenção de tomar a liderança, retirando-a a Hong
Kong e a Shenzhen, no processo de reconfiguração do desenvolvimento da região do Delta do Rio
das Pérolas. Devido à dimensão do seu consumo interno, obtido através dos números das vendas a
retalho, Cantão regista valores superiores a Hong Kong. Em 2011, as vendas a retalho em Hong Kong
representaram apenas 63% dos valores correspondentes na capital provincial e 94% dos registados
em Shenzhen. Cerca de metade das receitas obtidas em Hong Kong provêem dos cerca de 20 milhões
visitantes da China, a maioria das cidades do Delta do Rio das Pérolas, principalmente de Cantão e
de Shenzhen. Os níveis do consumo doméstico em Cantão são 1,5 superiores aos de Hong Kong e,
em média, quatro vezes maiores do que no conjunto da região do delta. Hong Kong já não consegue
disputar, mesmo com Cantão, o papel de cidade central ou cidade líder no Delta do Rio das Pérolas, nem
mesmo como líder do sector de serviços na região.
28
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
Cantão no centro do Delta do Rio das Pérolas
Em termos demográficos, de produto interno bruto e desenvolvimento do sector de serviços, a região
do Delta do Rio das Pérolas regressou ao padrão do milénio anterior, com Cantão no centro. No entanto,
décadas de desenvolvimento descentralizado nas outras cidades e a influência contínua de Hong Kong,
e em menor escala de Macau, reforçaram o desenvolvimento de tendências que irão condicionar o
processo de agregação das cidades da região.
O ano de 2008 foi muito importante no desenvolvimento da região do Delta do Rio das Pérolas; o
governo nacional divulgou e aprovou o plano de desenvolvimento para o período entre 2008 e 2020:
“Outline Plan of the PRD Reform and Development (2008-2020)”. Este é o primeiro documento político
que define o desenvolvimento da região como um todo. Posteriormente, em 2010, foram produzidos
e promulgados três documentos complementares sobre ordenamento territorial e planeamento
integrado, integração industrial e infra-estruturas para o mesmo período, completando assim o quadro
de desenvolvimento da região do Delta do Rio das Pérolas até 2020.
O plano de desenvolvimento geral, bem como os três documentos complementares sobre integração das
políticas, resultaram da iniciativa conjunta do governo provincial de Guangdong e do governo municipal
de Cantão, o que explica a razão de a estratégia de desenvolvimento contida no plano ser centrada em
Cantão, em particular nos investimentos de infra-estruturas, incluindo a rede de caminhos-de-ferro
regional. A estratégia demonstra o propósito das autoridades provinciais e municipais de reorganização
do espaço político, económico, industrial e social, com ênfase na integração metropolitana, que conta
com o apoio político do Governo Central, de acordo com o conceito de “desenvolvimento científico”
do Presidente Hu Jintao, para reorientar a estratégia de desenvolvimento nacional no século XXI. O
planeamento, ou revisão do planeamento, para a região do delta tem sido orientado por novos conceitos
como inovação, economia de recursos, modernização industrial e protecção ambiental. O plano global
define o Delta do Rio das Pérolas como o centro de um círculo de corredores de desenvolvimento e
industrialização, cujo âmbito vai para além do espaço do delta, para cobrir quase metade da China a
sul do rio Iangtsé.
A palavra-chave para o planeamento é integração. Esta adopta uma aproximação a dois tempos: até 2012,
integração da rede infra-estrutural e início da integração regional das economias; em 2020, integração
da economia, normalização e padronização dos serviços públicos básicos na região. O instrumento para
alcançar estes dois objectivos é a integração e cooperação sub-regional. As nove cidades da região são
repartidas por três sub-regiões: Cantão / Foshan / Zhaoqing; Shenzhen / Dongguan / Huizhou; Zhuhai
/ Zhongshan / Jiangmen. As cidades de cada uma das três sub-regiões assinaram entre si acordos de
cooperação que definem as medidas a adoptar para a integração económica. Cantão tomou a iniciativa
ao dar um bom exemplo de integração, através de um acordo de fusão com Foshan, celebrado em 2009,
e iniciou imediatamente a implementação das medidas previstas no documento bilateral.
29
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
As economias de escala e os sistemas de transportes irão criar uma das regiões metropolitanas mais
dinâmicas de todo o mundo. A densidade da rede ferroviária na região será muito similar à que existe
na Grande Tóquio ou em Paris. Porém, tanto a dimensão da população como a densidade demográfica
serão ainda maiores.
Plano para 2008-2020
Em Janeiro de 2009, a China apresentou um plano global para a região do Delta do Rio das Pérolas que
traça os contornos do desenvolvimento futuro da região para os próximos 12 anos. O documento –
“The Outline of the Plan for the Reform and Development of the Pearl River Delta (2008-2020)” – da
responsabilidade da Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento, ficou concluído em Dezembro
de 2008.
Delta do Rio das Pérolas
O plano estratégico propõe-se igualmente apoiar a longo prazo a prosperidade económica de Hong
Kong e Macau, as duas regiões administrativas especiais regressadas à soberania chinesa no final do
século XX. Pretende também demonstrar que as duas antigas colónias conseguem ter mesmo um
melhor desempenho após a transferência. Sob os auspícios do governo nacional, o governo provincial
de Guangdong assinou acordos-quadro de cooperação (CEPA) com as duas regiões administrativas
especiais, sendo definidas medidas experimentais para a harmonização de instituições, como
complemento aos acordos CEPA. Além disso, o governo nacional aprovou o desenvolvimento de três
zonas especiais no espaço do delta, destinadas a servir de base de cooperação bilateral entre Guangdong
e Hong Kong ou Macau: Hengqin em Zhuhai, Qianhai em Shenzhen e Nansha em Cantão.
Todas estas medidas, incluindo as experimentais, destinam-se a promover a integração da zona do
Delta do Rio das Pérolas com as duas regiões administrativas especiais. Em 2010, iniciou-se o processo
para a criação de uma zona pan-estuário no Delta do Rio das Pérolas, envolvendo mais estreitamente
as cidades de Cantão, Dongguan, Zhongshan e Zhuhai, com Hong Kong e Macau, em matérias de
cooperação e coordenação das políticas. Paralelamente à integração na região do Delta do Rio das
Pérolas, desenvolveram-se igualmente esforços de integração extra região do delta. Em 2020, deverão
estar concluídas todas as medidas de integração no seio da região do delta, em particular o sistema
de alta velocidade intercidades, ligado à rede nacional e aos sistemas de metropolitano ou de metro
ligeiro. A próxima década assistirá à formação de uma gigantesca região metropolitana: o sistema
de transportes e as novas acessibilidades irão reduzir, por um lado, os tempos de deslocação e, por
outro, aproximar o espaço político, económico e social na zona do Delta do Rio das Pérolas, na região
do grande delta, incluindo Hong Kong e Macau. Perspectiva-se a fusão, em primeiro lugar, de Cantão
com Foshan e, mais tarde, com Shenzhen e Zhuhai, o que fará com que a região se expanda a partir de
Cantão para incluir Hong Kong e Macau.
30
Este documento, com 30 000 caracteres chineses, foi o resultado de alguns meses de investigação
e análise aprofundada conduzidas pela poderosa comissão subordinada ao Conselho de Estado. Em
Agosto de 2008, a comissão organizou uma equipa com mais de 180 investigadores e funcionários de
18 departamentos e comissões governamentais para se deslocarem à província de Guangdong a fim de
realizarem estudos. O documento do Governo Central é o primeiro plano de desenvolvimento a longo
prazo produzido para a região do delta. Compreende 12 capítulos e 52 anexos, analisando tópicos que
vão desde a industrialização e inovação, aos serviços sociais e protecção ambiental.
Até à data, as políticas para a região do Delta desenvolviam-se ad hoc e surgiam da iniciativa local
ou regional. Foram os investidores estrangeiros, sobretudo de Hong Kong e de Taiwan, que decidiram
quais as indústrias e os negócios a desenvolver nesta área da província de Guangdong. A região estava
sequiosa por capital estrangeiro e reagiu rapidamente ao interesse dos investidores com políticas
preferenciais e outros benefícios.
O Governo Central designara quatro cidades, três situadas em Guangdong (Shenzhen, Zhuhai, Shantou)
e uma na província de Fujian (Xiamen), como zonas económicas especiais (ZEE), e determinara apenas
linhas gerais sobre o tipo de investimento que deveria ser atraído para a região. Privilegiavam-se as
indústrias orientadas para a exportação e que garantissem o retorno em moeda estrangeira e, como
contrapartida, disponibilizava-se terreno para instalação a custos muito baixos, reduções fiscais e
outros benefícios a quem investisse na região. Esta flexibilidade foi muito vantajosa e serviu bem
durante três décadas e isso mesmo reconhece o documento da Comissão. O documento salienta que,
em 1978, o ano em que foi iniciada a política de abertura, a província de Guangdong situava-se no 24º
lugar da lista nacional em termos de produção industrial. Trinta anos mais tarde ascendeu ao primeiro
lugar com um produto interno bruto na ordem de 4000 biliões de Rmb e o PIB per capita representava
o dobro da média nacional.
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
Sucessos e obstáculos
O documento sublinha outros êxitos conseguidos na região do delta:
- É a região mais orientada para a economia de mercado em toda a China;
- Foi a primeira a estabelecer uma estrutura de economia aberta, o que fez dela a janela da China para o mundo;
- Transformou a província de Guangdong, essencialmente rural, na maior economia a nível nacional. A produção industrial da província ultrapassou três dos “Quatro Tigres” da Ásia: Hong Kong, Taiwan e Singapura;
- Tornou-se numa das três regiões económicas mais dinâmicas da China, com altas taxas de
concentração populacional e de recursos económicos, com um desenvolvimento acelerado na
urbanização e nas infra-estruturas básicas;
- Crescimento rápido do rendimento das famílias e estabelecimento da rede de serviços sociais de
base, como educação, saúde pública, desporto e cultura.
O crescimento muito rápido na região do delta traduziu-se num grande progresso material, mas
acarretou também enormes desequilíbrios económicos e ambientais.
O documento dá conta de alguns destes desequilíbrios: indústrias de baixo valor acrescentado, ausência
de inovação, poluição ambiental, urbanização intensiva e um desnível acentuado entre os padrões de
desenvolvimento urbanos e rurais.
Mais relevante ainda foi a ascensão das regiões económicas do Delta do Iangtsé e do Golfo de Bohai,
que representou uma forte concorrência ao sul da China.
No final da primeira década do século XXI, estas questões agravaram-se, desencadearam uma onda de
críticas e suscitaram urgência na definição de uma nova via para o desenvolvimento da região.
Com a crise financeira de 2007/2008 em pano de fundo, a região do delta mergulhou num período de
dificuldades acrescidas, com a queda das encomendas destinadas à exportação, falência de empresas
e inflação dos custos de produção. Conclui o documento da Comissão que as profundas contradições
da estrutura económica eram indissociáveis da crise financeira global. “Os tradicionais pontos fortes
de Guangdong têm sofrido uma erosão gradual sem que entretanto outros tenham surgido. Por isso,
desde a produção económica à competitividade regional, desde o desenvolvimento sustentável à sua
capacidade de inovar, o delta enfrenta desafios sem precedentes”.
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
Funções e objectivos
Apesar de descrever os problemas da região do Delta do Rio das Pérolas, o documento reitera os papéis
indispensáveis desempenhados pela região. São eles:
- Ser o laboratório para experimentação de novos modelos de desenvolvimento económico e social
que possam servir de referência para o resto do país;
- Ser pioneiro na execução das decisões de reforma política, económica, social e cultural;
- Ser a porta aberta sobre o exterior, operando em estreita cooperação com Hong Kong e Macau;
- Estabelecer uma base para a indústria e serviços, apoiando um grupo de empresas para que os
seus produtos sejam conhecidos à escala mundial;
- Ser um importante centro económico nacional com o delta a liderar o crescimento das áreas em
redor de Guangdong e em outras províncias.
Em 2012, de acordo com o documento, o PIB per capita atingirá 80 000 Rmb, com o sector dos serviços
a contribuir com 53% desse crescimento. Em 2020, o PIB per capita deverá situar-se em 135 000 Rmb,
com o sector dos serviços a gerar 60% do aumento. O rendimento dos residentes duplicará no período
de 2012 a 2020.
Sumário dos principais objectivos e tarefas definidos para a região do
Delta do Rio das Pérolas:
1) Modernização do modelo industrial
O documento estabelece seis áreas prioritárias – modernização do sector de serviços, modernização
da indústria, indústrias de alta tecnologia, indústrias tradicionais, modernização da agricultura e
competitividade empresarial.
Modernização do sector de serviços:
Desenvolvimento de novos serviços em cooperação com Hong Kong e Macau, de modo a que, em 2020,
os novos serviços representem mais de 60% do crescimento no sector.
Sector financeiro:
O governo vai apoiar Cantão e Shenzhen como centros financeiros regionais com um mercado de
capitais flexíveis e diversificado. Irá ainda criar, o mais depressa possível, uma segunda bolsa de
valores em Shenzhen; construir em Guangdong uma zona financeira e de serviços de alta tecnologia e
desenvolver serviços financeiros de back-office.
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
Convenções e exposições:
Desenvolvimento de novos segmentos MICE e promoção do parque existente, incluindo a Feira de
Exportação de Matérias Primas de Cantão, também conhecida por Feira de Cantão, a Feira de Alta
Tecnologia da China em Shenzhen, a Exposição Aeroespacial e de Aviação Internacional de Zhuhai, a Feira
de Pequenas e Médias Empresas de Cantão e a Feira Internacional de Indústrias Culturais de Shenzhen.
Logística:
A região irá promover bases logísticas modernas, designadamente as estabelecidas nos aeroportos de
Baiyun e Bao’an, em Cantão e Shenzhen, respectivamente.
Informação, ciência e tecnologia e serviços comerciais:
Constituição de uma rede de circulação de informação e promoção do comércio electrónico a nível
internacional.
Aquisição de bens e serviços a terceiros:
A região procurará adquirir serviços a terceiros, com duas ou três cidades a serem designadas para
especialização nesta área.
Cultura e indústrias culturais:
Estímulo ao estabelecimento de indústrias culturais e sectores criativos, estabelecendo uma base
nacional para o desenvolvimento de software de entretenimento e indústrias de animação.
Turismo:
A região do Delta esforçar-se-á no sentido de constituir um modelo nacional para a reforma do sector
turístico, promovendo-se, ao mesmo tempo, como destino turístico internacional.
Sede de Empresas:
Encorajar as grandes empresas nacionais e internacionais no estabelecimento das respectivas sedes na
região do delta.
Modernização da indústria:
Desenvolvimento de indústrias de capital e tecnologias intensivas, tais como equipamentos de última
geração, indústria automóvel, ferro e aço, petroquímica e construção naval.
Desenvolvimento da produção de equipamentos, em especial destinados ao sector das energias nuclear
e eólica, transmissão e transformação de energias, máquinas-ferramenta e sistemas controlados por
computador e engenharia de navios oceânicos.
Desenvolvimento de agrupamentos na indústria automóvel, com marcas e tecnologias nacionais, constituindo
duas ou três empresas de grande dimensão, com resultados anuais acima dos 100 milhões de Rmb. O
objectivo é estabelecer a região do delta como uma plataforma internacional da indústria automóvel.
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
O porto de Zhanjiang será expandido para que aí possam ser movimentados 10 milhões de toneladas
de ferro e aço.
No sector da petroquímica, está programada a construção de dois ou três núcleos de grande dimensão,
com uma capacidade de refinação de produtos petrolíferos da ordem dos 10 milhões de toneladas/ano,
bem como uma produção anual de etileno superior a 1 milhão de toneladas.
A região irá desenvolver a indústria aeronáutica e expandir a produção de veículos automóveis de
combustíveis renováveis, bem como promover as indústrias química e farmacêutica.
Em 2020, o crescimento destas indústrias será responsável por mais de metade do crescimento da
produção industrial total.
Indústrias de alta tecnologia:
A região do delta irá construir e desenvolver bases, zonas e agrupamentos industriais em sectores como
a electrónica e a informação, biologia, novos materiais, protecção ambiental, energias alternativas e
indústrias do mar.
No sector das tecnologias de informação, serão feitos esforços para o desenvolvimento de produtos
informáticos: software, circuitos integrados, monitores, semicondutores, banda larga sem fios,
comunicações móveis, Internet e tecnologia digital.
No campo da biologia será privilegiada a investigação nas áreas das células estaminais, das alterações
genéticas, da informação biológica, da biomedicina e da reprodução.
Na área dos novos materiais, o foco será dirigido para a nova electrónica, novas aplicações e estruturas
materiais de alto rendimento e não poluentes.
A região irá acelerar a construção da denominada Cidade da Ciência em Cantão (Guangzhou Science
City), na zona norte da capital, e da cintura industrial de alta tecnologia de Shenzhen, de modo a que os
dois pólos venham a ser líderes nacionais nos respectivos campos. Em 2012, a região do delta avançara
na criação de 3 a 5 agrupamentos, cada um deles com um produto anual de 100 000 milhões de Rmb,
e entre 3 a 5 sociedades multinacionais com receitas anuais do mesmo montante.
Indústrias tradicionais:
Deverão ser mantidas e modernizadas as indústrias tradicionais, designadamente a indústria ligeira,
electrodomésticos, têxteis e vestuário, da alimentação, materiais de construção, de fabricação de papel
e medicina chinesa.
O investimento em investigação e desenvolvimento será reforçado, com o propósito de melhorar os
projectos e incentivar a criação de produtos amigos do ambiente, de eficiência energética e de alto
valor acrescentado. Pretende-se também promover marcas famosas e reconhecidas a nível nacional e
internacional, tais como produtos de Foshan na área dos electrodomésticos e materiais de construção,
de Dongguan no vestuário, de Zhongshan nos produtos de iluminação e de Jiangmen na fabricação de
papel.
Ao mesmo tempo, recomenda-se o encerramento gradual das empresas que mantenham indústrias de
baixo valor acrescentado e excessivo consumo de energia.
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
Modernização da agricultura:
A região do delta vai promover a transformação da sua agricultura tradicional. A área cerealífera deverá
ser mantida nos níveis da segurança alimentar e, simultaneamente, serão incentivados projectos de
excelência no cultivo do arroz. A região terá de assegurar as suas bases de fornecimento de vegetais,
peixe, gado e aves, melhorando o processamento e a distribuição desses bens. Irá, também, promover
a horticultura de dimensão industrial.
A região irá incentivar a introdução da ciência e da tecnologia na agricultura, melhorando o sistema de
base cooperativa e de propriedade colectiva da terra e promovendo a industrialização, as economias
de escala, a gestão e a produtividade. Terá, ainda, como objectivo aumentar a competitividade das suas
empresas e criar um grupo de grandes empresas com capacidade de realizar fusões e aquisições.
Em 2012, o número de empresas com resultados anuais superiores a 10 000 milhões de Rmb excedia a
dezena; em 2020, este número deverá duplicar.
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
A região promoverá também projectos conjuntos entre Shenzhen e Hong Kong, na área da investigação
e desenvolvimento, por via da cooperação entre indústrias, instituições de investigação e universidades
de Guangdong e de Hong Kong. O governo irá colocar especial empenho no desenvolvimento do
“Centro Nacional de Inovação de Indústrias de Alta Tecnologia de Shenzhen” (Shenzhen National HighTech Industrial Innovation Centre), do “Centro Criativo de Novas Medicinas do Sul da China” (South
China New Medicine Creativity Centre) e, na capital provincial, na “Ilha Internacional de Cantão de
Bio-tecnologia” (Guangzhou International Bio-technology Island). Em 2012, a região acolhia uma
centena de centros de inovação, entre os quais alguns laboratórios de nível nacional e centros de
desenvolvimento de engenharias.
O Estado irá promover a cooperação entre a Academia das Ciências e a província de Guangdong em
diversos projectos. Entre os projectos contam-se a construção de uma base de ciência e tecnologia
marinha e centros de pesquisa e investigação computacional, de tecnologias avançadas e tecnologias
industriais.
2) Inovação
A região do Delta irá executar políticas para a inovação, em cujo quadro as empresas desempenharão o
papel primordial. Operando no mercado e promovendo a interacção entre as indústrias, a investigação
e as universidades, terá como objectivo a liderança a nível nacional e a competitividade a nível
internacional.
Áreas de excelência:
A inovação deverá incidir prioritariamente num núcleo constituído pela electrónica, tecnologias de
informação, biologia e medicina, novos materiais, conservação de energia e energias alternativas,
protecção ambiental e modernização da agricultura.
O governo irá melhorar os centros de ciência e tecnologia no âmbito das universidades bem como as
incubadoras dos centros de investigação e desenvolvimento. A meta definida para 2012, com padrões
internacionais na área da inovação, fixava o número de invenções patenteadas em seis centenas. Em 2020,
os produtos exportados serão não só “Made in Guangdong” mas também “Created in Guangdong”.
Incentivos às empresas:
A região do Delta irá aplicar políticas preferenciais para estimular a inovação, tais como deduções
fiscais sobre as despesas com investigação e desenvolvimento e a expansão das aquisições públicas
de bens e serviços inovadores. Propõe-se criar um grupo de empresas que sejam fortes em inovação,
sendo igualmente lucrativas. O objectivo é criar 50 dessas que estejam no topo dos respectivos sectores
na China e destas, pelo menos dez de nível internacional.
As empresas seleccionadas serão encorajadas a estabelecer centros de investigação e desenvolvimento
no estrangeiro e, ao mesmo tempo, o Governo estimulará as empresas internacionais a fazer o mesmo
em Guangdong.
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Melhorias na protecção da propriedade intelectual:
A região vai reforçar os meios de financiamento à inovação, especialmente às empresas, tais como o
capital de risco e a locação financeira e seguro, criando instituições financeiras para servir este sector.
Introduzirá medidas para melhorar a protecção da propriedade intelectual.
Em 2012, a despesa com investigação e desenvolvimento representará 2,5% do PIB regional e o número
de investigadores envolvidos atingirá 280 000.
3) Modernização das Infra-estruturas
O documento estratégico da Comissão distingue a necessidade de se proceder à actualização das infraestruturas da região, designadamente nas áreas dos transportes, energia e redes de informação.
Transportes:
O objectivo é dotar a região de um sistema de transportes aberto, moderno e integrado, relacionando-o
com as suas áreas periféricas, com Hong Kong e de Macau. Entre as intervenções planeadas destaca-se
a concretização do sistema de metro ligeiro intercidades, as vias rápidas, ferroviária e rodoviária, serão
melhoradas, assim como serão reforçadas as ligações entre a margem esquerda e direita do Delta do
Rio das Pérolas. Os principais projectos rodoviários e ferroviários incluem:
- A circular rápida do delta;
- A ponte sobre o delta entre Zhongshan e Shenzhen;
- A ponte Hong Kong, Zhuhai, Macau;
- A ligação oriental terrestre entre Shenzhen e Hong Kong;
- A ligação ferroviária rápida entre Cantão e Hong Kong, via Shenzhen;
- A linha de caminho-de-ferro entre Cantão e Guizhou;
- A linha de caminho-de-ferro entre Cantão e Nanning.
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
A energia nuclear será desenvolvida em larga escala e Guangdong tornar-se-á numa importante base a
nível nacional no que respeita à produção de energia nuclear e equipamentos relacionados.
Serão executados diversos programas para a constituição de reservas de energias nomeadamente
reservas de petróleo e centros de distribuição de carvão. De igual modo, serão activamente desenvolvidos
diversos programas de energias alternativas, especialmente as energias eólica e solar.
Rede de telecomunicações:
Propõe-se dotar a região de um sistema de rede de informação eficiente e de fácil acesso, acelerando
a construção de infra-estruturas de tecnologias de informação, da nova geração de telecomunicações
móveis e de banda larga sem fios.
Para este fim, serão desenvolvidos esforços no sentido de remover os obstáculos que possam existir
entre os departamentos governamentais, indústrias e outras entidades.
A região vai assumir a liderança no projecto nacional designado por “Três Convergências de Rede”,
integrando a rede de telecomunicações, a Internet e a rede de radiodifusão e televisão.
4) Integração Rural com Desenvolvimento Urbano
Na área dos transportes serão modernizadas as redes de transportes fluviais e consolidados os recursos
portuários do estuário. Serão ainda modernizadas as instalações portuárias de Cantão, Shenzhen,
Zhuhai e outros portos. Os aeroportos de Baiyun em Cantão e Bao’an em Shenzhen serão ampliados
e renovados e será reforçada a cooperação entre os aeroportos civis da região do delta e os de Hong
Kong e de Macau.
Em 2012, a extensão das vias rápidas no delta irá crescer até aos 3000 km e o sistema de metro ligeiro
até aos 1100 km. Nos portos, a capacidade de movimentação de carga deverá alcançar 900 milhões de
toneladas e a de contentores 47 milhões de unidades. Os aeroportos civis deverão atingir os 80 milhões
de passageiros.
Em 2020, a extensão do sistema de metro ligeiro chegará aos 2200 km; a capacidade de movimentação
de carga portuária situar-se-á em 1400 milhões de toneladas e a de contentores em 72 milhões; a
capacidade dos aeroportos civis atingirá 150 milhões de passageiros.
Segurança energética:
A região do delta irá construir um sistema de distribuição de energia aberto, diversificado, seguro, limpo
e de custos ponderados, de modo a poder satisfazer as necessidades económicas e sociais da região.
A produção de energia eléctrica irá constituir a base do sistema: serão construídas centrais amigas do
ambiente ao longo dos rios e zonas costeiras da região.
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Infra-estrutura rural:
Um dos aspectos importante no plano centra-se na necessidade de aperfeiçoamento das infraestruturas rurais na região do Delta do Rio das Pérolas.
Para tal, encontra-se incluído o fornecimento de água potável, a melhoria da qualidade e do abastecimento
da água, melhores estradas e transportes públicos nas zonas rurais, bem como a construção de um
sistema de transportes rápido e conveniente que estabeleça a ligação entre os espaços rurais e as
cidades do delta até ao ano de 2020.
O governo vai promover um sistema de energias alternativas no mundo rural, com recurso a energias
renováveis, tais como biomassa, metano e energia solar, tornando-a disponível para a maior parte da
população rural. Propõe-se, ainda, a melhorar as condições do saneamento rural e a melhorar o sistema
de tratamento dos resíduos humanos e animais, de forma a torná-los inócuos.
Uma parte significativa do apoio financeiro governamental destina-se aos serviços públicos das áreas rurais.
Esse apoio irá incluir um aumento das despesas para garantir os custos da escolaridade obrigatória, mais
professores qualificados e mais ensino profissional. Serão ainda construídos equipamentos públicos e
culturais e consolidadas as organizações de base, com o objectivo de reduzir as diferenças na qualidade
dos serviços entre as zonas urbanas e rurais.
O sistema de pensões e da segurança social será melhorado para aqueles cujas terras tenham sido
expropriadas.
Os valores dos subsídios para os residentes rurais serão aumentados, nomeadamente para as famílias
sem meios de subsistência, para órfãos e vítimas de catástrofes naturais, com vista a melhorar a
qualidade de vida e o bem-estar social nas zonas rurais.
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
Estão igualmente incluídos programas específicos na área da saúde, incluindo assistência médica e
medicamentosa, bem como sistemas de prevenção de doenças.
Encontra-se também previsto o reforço dos direitos e interesses dos trabalhadores migrantes, de modo
que, gradualmente, possam desfrutar dos mesmos direitos dos residentes urbanos, tais como o acesso
à saúde pública e ensino gratuito para os filhos.
Em benefício das áreas rurais e dos agricultores em particular estão previstas novas instituições e
produtos financeiros, incluindo os mecanismos de garantia de crédito, de modo que em 2020 esteja
plenamente em vigor um sistema financeiro rural capitalizado, eficiente e seguro.
Integração urbana e rural:
A região vai prosseguir no sentido da integração do planeamento urbano e rural, na coordenação do
desenvolvimento económico e social e no ordenamento do território, acelerando a construção de novos
tipos de comunidades urbanas e rurais, de modo a minimizar as diferenças entre elas. Esta orientação
depende parcialmente da melhor coordenação das infra-estruturas nos transportes e na distribuição de
energia entre as zonas rurais e urbanas.
5) Desenvolvimento Regional
O documento sugere um maior desenvolvimento regional, com as cidades de Cantão e Shenzhen a
desempenharem o papel central e apoiadas pelas regiões oeste e leste do delta.
Duas cidades:
Cantão deve maximizar as vantagens de ser a capital da província de Guangdong reforçando, entre
outros aspectos, a inovação tecnológica e a cultura e desenvolvendo plataformas de alta qualidade nas
áreas dos serviços e da indústria.
Cantão será o centro de uma grande área metropolitana, acessível em 1 hora por via rodoviária a partir
das principais cidades da região do delta. Integrando Foshan, deverá estimular outras regiões a criar
agrupamentos e a qualificar as suas cidades. Shenzhen continuará a desempenhar o papel de zona
económica especial, aprofundando as reformas e reforçando a sua posição como cidade internacional.
Margem oriental:
Shenzhen, ladeada pelas cidades de Dongguan e Huizhou, assumirá o papel central na zona oriental do
delta. Esta região deverá privilegiar a sua estruturação demográfica, o planeamento e ordenamento do
território e elevar os padrões de qualidade dos serviços públicos.
Shenzhen será uma plataforma para as indústrias avançadas e de alta tecnologia, designadamente
nos sectores dos equipamentos para telecomunicações, biotecnologias, novos materiais e veículos
automóveis movidos a energias renováveis.
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
Dongguan deverá actualizar as suas indústrias e desenvolver o seu parque industrial e tecnológico no
Lago de Songshan. Huizhou irá desenvolver as suas indústrias relacionadas com a actividade portuária,
bem como a indústria petroquímica.
Margem ocidental:
Na margem ocidental do Delta do Rio das Pérolas o papel central cabe a Zhuhai, ladeada pelas cidades
de Foshan, Jiangmen, Zhongshan e Zhaoqing.
Zhuhai irá tirar proveito do seu estatuto de zona económica especial e da sua localização geográfica.
Terá de acelerar a construção do sistema de transportes de modo a transformar-se no eixo da região
ocidental do delta, bem como desenvolver a área industrial do porto de Gaolan, o parque industrial
aeronáutico e o turismo de negócios.
Foshan deverá concentrar-se no desenvolvimento da indústria metalomecânica, nos equipamentos
e tecnologia de cristais líquidos (LCD), nos serviços financeiros e na química fina. Zhongshan irá
concentrar-se nas indústrias de saúde, Jiangmen nas indústrias avançadas e Zhaoqing na actualização
das suas indústrias tradicionais.
O documento sugere ainda o desenvolvimento rápido das áreas em redor do delta.
O documento advoga ao desenvolvimento rápido das áreas em redor do delta. As zonas oriental e
ocidental de Guangdong encontram-se vocacionadas para o desenvolvimento da produção de
petroquímicos, siderurgia, construção naval e energias, enquanto na zona norte serão desenvolvidas
as indústrias avançadas. Haverá lugar a uma dupla transferência de indústrias e de trabalho das zonas
desenvolvidas da região do delta para as áreas rurais localizadas a oriente, ocidente e a norte da
província de Guangdong.
6) Protecção Ambiental
Para assegurar o desenvolvimento sustentável, a região tem de insistir na conservação dos recursos
naturais e proteger o seu já ameaçado ambiente.
Preservação da terra:
A tarefa prioritária é condicionar a utilização das terras, intervindo na oferta e regulando a procura
através dos mecanismos e políticas de planeamento. A utilização das terras nas zonas industriais deve
ser melhorada e os terrenos aráveis especialmente protegidos.
Reciclagem:
A segunda tarefa consiste em promover a reciclagem dos recursos, especialmente água e energia.
Propõe-se, para isso, ajustar a produção a baixos consumos e pouco desperdício, pelo que os novos
projectos terão de ser avaliados com base num sistema rigoroso de conservação da energia. Em termos
gerais, as indústrias, a construção civil e os transportes têm de adoptar esquemas de poupança de
energia.
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
O governo vai incentivar projectos que preservem os recursos, tais como a utilização de resíduos para
gerar energia eléctrica.
No que se refere à utilização de água haverá igualmente controlos quantitativos. Em 2020, a proporção
de água reciclada utilizada na indústria deverá atingir 80%.
A região propõe-se reforçar os meios para reduzir a poluição e resolver os problemas mais graves que
representem ameaças à saúde pública e ao desenvolvimento económico e social. Para isso, irá acelerar
a construção de unidades de tratamento de águas residuais e de resíduos sólidos, assim como designar
a localização de empresas industriais em zonas industriais com tratamento de águas residuais.
Com a colaboração de Hong e Macau, propõe-se melhorar a qualidade de água na região, proteger e
garantir a qualidade da água potável. Irá igualmente intensificar o controlo da qualidade da água nas
fronteiras da província e nas bocas de esgotos que descarregam nos rios.
Controlo da poluição:
A coordenação entre as autoridades terrestres e marítimas será incentivada para melhorar o combate à
poluição marítima. Propõe-se a melhoria do sistema de controlo de poluentes atmosféricos e a adopção
de medidas específicas para agricultura, pecuária e aquacultura.
A região irá formular normas ambientais mais rígidas, assegurar a construção de infra-estruturas
ambientais e promover sistemas de mecanismos para gerir os problemas ambientais.
Em 2012, o volume das águas residuais nos centros urbanos objecto de tratamento situar-se-á em 80%
e a taxa de cumprimento na indústria em 90%. Por volta de 2020, estima-se que os dois valores subam
para 90% e 100%, respectivamente.
A região irá reforçar o sistema de segurança ecológica envolvendo as vias navegáveis no Rio das Pérolas,
as principais cinturas verdes e as montanhas do norte.
A região irá preservar importantes áreas ecológicas protegidas, reservas naturais e pantanosas, reparar
os sistemas ecológicos danificados nas embocaduras dos rios e junto à costa. Irá melhorar e preservar
o parque florestal junto das embocaduras dos rios no vale do delta, de modo a controlar a erosão dos
solos. Irá promover a florestação urbana e rural, acelerando a construção de corredores verdes ao longo
de estradas e caminhos-de-ferro e proteger as áreas verdes existentes tais como terras agrícolas.
Em 2020, os residentes urbanos terão 15 m2 por habitante de parques e espaços verdes. Haverá 900 mil
hectares de florestas públicas e 82 reservas naturais.
7) Política de Abertura e Cooperação
A região irá estabelecer uma cooperação estreita com Hong Kong e Macau, com o espaço do Pan Delta
do Rio das Pérolas e com os países da ASEAN, como plataforma de globalização e participação activa
na divisão mundial do trabalho.
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
a) Uma economia mais aberta
Nova estrutura do comércio:
A região do delta irá constituir um modelo nacional ao incluir no comércio de bens o sector de serviços.
O comércio de serviços representará, em 2012, 20% do comércio total e, em 2020, 40%.
A região do Delta irá apoiar um grupo seleccionado de empresas que possam ascender na escala do
valor acrescentado, trocando a produção de marcas para terceiros por marcas próprias e reforçar as
capacidades nas áreas do design, investigação e desenvolvimento e marketing nacional e internacional.
O governo irá estabelecer zonas aduaneiras especiais com taxas reduzidas para apoiar o sector de
logística da região. Irá, igualmente, considerar a criação de uma área aduaneira específica no aeroporto
de Baiyun, em Cantão. Serão adoptados padrões internacionais em termos de qualidade, segurança,
ambiente, tecnologias e trabalho.
Mais investimento estrangeiro:
A região propõe-se criar as condições para atrair as 500 maiores empresas internacionais e as empresas
líder de diversos sectores industriais condicionando, contudo, o acesso com base em critérios ambientais
e de conservação de energia.
A região irá direccionar o investimento estrangeiro para indústrias de alta tecnologia, serviços modernos,
investigação e desenvolvimento, bem como promover a cooperação internacional nos sectores das
energias, transportes, logística e turismo. Irá, igualmente, promover a constituição de parcerias e a
cooperação nos sectores financeiro, da educação, da cultura e da medicina.
Sair para o estrangeiro: Agilizar e executar uma estratégia de “saída”.
A região vai incentivar as empresas seleccionadas a estabelecer bases de produção, centros de marketing,
instituições de pesquisa e investigação e bases de cooperação comercial em países terceiros, assim
como estabelecer parcerias de investimento, participar no mercado internacional de empreitadas. As
empresas devem adoptar uma política activa de aquisições estratégicas.
Em 2020, a região do delta deverá possuir uma dezena de empresas multinacionais com receitas acima
de 20 000 milhões de dólares americanos.
Ambiente de negócios: Adopção de práticas e regras internacionais.
A região do delta propõe-se promover um sistema comercial estável e transparente, normalizando os
mecanismos de resolução de litígios de negócios; propõe-se, igualmente, trabalhar no sentido de atrair
para a região especialistas e quadros qualificados nas áreas das finanças, contabilidade, direito e outras,
familiarizados com as regras internacionais.
Propõe-se organizar serviços eficientes para o registo de empresas, licenciamentos, recrutamento de
especialistas, direitos de propriedade e transacções transfronteiriças.
Riscos económicos:
A região irá estabelecer mecanismos de alerta e prevenção de riscos económicos internacionais.
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
Para tal, propõe-se acompanhar de perto os fluxos financeiros transfronteiriços e manter-se atenta
aos riscos derivados da cooperação internacional, tais como os riscos associados às fusões e aquisições
transnacionais e o contencioso comercial internacional.
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
O Governo incentiva as três partes a desenvolverem projectos conjuntos nas áreas da logística, das
convenções e exposições e das indústrias turísticas e culturais, o que contribuirá para favorecer o
reconhecimento mútuo das qualificações profissionais nos sectores da banca, seguros, contabilidade,
direito, educação e medicina.
b) Cooperação mais estreita com Hong Kong e Macau
A região do Delta do Rio das Pérolas irá melhorar a cooperação e a coordenação com Hong Kong e
Macau, especialmente nos domínios do planeamento urbano, dos transportes ferroviários, das redes de
informação, energia e abastecimento de água.
Transportes e alfândegas:
A região do delta vai acelerar a construção da ligação ferroviária entre Cantão, Shenzhen e Hong Kong
e os trabalhos de construção da ponte Hong Kong, Zhuhai e Macau, bem como a construção das vias
rápidas para a zona oriental de Shenzhen e entre as áreas mais ocidentais de Hong Kong.
O porto fronteiriço de Liantang / Xiangyuanwei entrará em fase de planeamento e construção e serão
executados outros projectos de cooperação, nomeadamente o dos aeroportos de Shenzhen e Hong
Kong. Será, ainda, apoiada a cooperação na construção e gestão de portos, docas e aeroportos, bem
como as acções de planeamento da designada “Área da Baía” (Bay Area), na embocadura do delta do
Rio das Pérolas.
A cooperação com Hong Kong e Macau incluirá a revisão das estruturas e operações aduaneiras, de
modo a combater activamente o contrabando e a proteger os direitos de propriedade intelectual.
Também o movimento de pessoas entre a província de Guangdong, Hong Kong e Macau será encorajado,
mormente através da aplicação do visto gratuito para visitas até 144 horas.
Reforço da cooperação industrial:
O governo vai apoiar as empresas de trading criadas por companhias de Hong Kong e Macau no
delta do Rio das Pérolas e ajudá-las a crescer e desenvolverem-se. Vai igualmente apoiar as empresas
de trabalho intensivo, bem como as empresas de Hong Kong instaladas na região a aumentar a sua
participação no mercado doméstico. Em termos gerais, pretende-se o estreitamento dos mecanismos
CEPA entre a China e as regiões administrativas especiais de Hong Kong e Macau.
Serviços:
A região vai apoiar a cooperação entre Guangdong, Hong Kong e Macau no sentido do desenvolvimento do
sector de serviços e confirmar os estatutos de Hong Kong como centro internacional de finança, comércio,
navegação comercial, logística e serviços e o de Macau como centro global de turismo e entretenimento.
A região do delta irá empenhar-se igualmente no desenvolvimento da cooperação com as instituições
financeiras de Hong Kong e Macau, incluindo a extensão do Rmb aos negócios da banca e,
experimentalmente, ao comércio.
44
Zonas de cooperação:
Serão desenvolvidas novas áreas dedicadas à cooperação, incluindo a Nova Área de Nansha, em Cantão,
as zonas de Qianhai e Houai, em Shenzhen, as áreas fronteiriças entre Hong Kong e Shenzhen e a Nova
Área da Ilha de Hengqin, entre Zhuhai e Macau.
Qualidade de vida:
As três partes – região do delta, Hong Kong e Macau – são incentivadas a edificar conjuntamente
uma comunidade com altos padrões de qualidade de vida, cooperando especialmente nas esferas da
educação, saúde, segurança social, cultura, protecção civil e protecção dos direitos de propriedade
intelectual, tornando mais fácil a inserção de residentes de Hong Kong e Macau que pretendam viver
e trabalhar no interior.
Propõe-se promover a cooperação em áreas específicas, nomeadamente no controlo e prevenção de
doenças e epidemias, emergências médicas, incluindo incidentes envolvendo produtos alimentares e
agrícolas. Propõe-se, igualmente, apoiar os projectos conjuntos para a criação na região do delta de
um grande espaço verde com altos padrões de qualidade, bem como os mecanismos de prevenção e
controlo da poluição, a protecção a reservatórios e a reservas naturais transfronteiriças.
Ambiente:
O governo irá apoiar Guangdong e Hong Kong na investigação conjunta nas áreas das energias renováveis.
Irá garantir a qualidade e segurança dos produtos agrícolas e da água fornecidos a Hong Kong e a Macau.
Prepara-se, também, para adoptar um sistema padronizado para os combustíveis utilizados e limites de
emissões e apoiar a cooperação nas áreas da reciclagem e tratamento de resíduos sólidos.
O governo irá incentivar as três partes a estabeleceram acordos de cooperação regional. Para tal, serão
facilitados os encontros e reuniões entre altos responsáveis da província de Guangdong e representantes
de Hong Kong e de Macau. Será também incentivada a participação de empresas, organizações cívicas
e comunidade científica.
c) Melhorar a cooperação com Taiwan
Através das empresas de Taiwan instaladas na região do delta deverá aprofundar-se a expansão
da cooperação económica e comercial com Taipé. Estão contemplados diferentes mecanismos de
colaboração, expansão de laços não-governamentais através de associações e câmaras de comércio,
fóruns de cooperação e missões comerciais.
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
Entre as diversas áreas contam-se: modernização da agricultura, inovação científica e tecnológica, a
manufactura avançada, alta tecnologia, educação, medicina, segurança social e cultura.
No que respeita à primeira área, o Governo proporcionará a constituição em Zhuhai (Jinwan) de uma
área para agricultores de Taiwan e de uma zona piloto para cooperação agrícola em Foshan.
Em termos gerais, garante-se a criação de condições de vida e de ambiente de negócios para os
empresários provenientes de Taiwan, incluindo o estabelecimento das suas próprias escolas, serviços
médicos e seguros de acidentes de trabalho. A área mais vocacionada para a cooperação com Taiwan,
por razões geográficas e culturais, é a zona leste da província de Guangdong.
d) Aprofundar a cooperação na região do Pan-Delta do Rio das Pérolas
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
China e a associação dos países do Sudeste Asiático (China-ASEAN Free Trade Area), será estimulada a
criação de mecanismos de diálogo e de coordenação e encorajados os laços de amizade estabelecidos
entre províncias, regiões e cidades e as congéneres nos países da ASEAN, bem como os laços bilaterais
não-governamentais, a realização de fóruns económicos e comerciais e a expansão do intercâmbio
cultural.
Apoia-se especialmente a cooperação com países avançados da ASEAN, como Singapura, nos campos
económico, tecnológico, gestão de parques industriais e formação profissional e encoraja-se as
empresas com vantagens nos domínios financeiro ou tecnológico a trabalhar com os países da ASEAN
na exploração de recursos, construção de infra-estruturas, exploração agrícola, processamento de
produtos agrícolas e transformação de produtos aquáticos.
Por fim, propõe-se incentivar as grandes empresas a investirem nos países da ASEAN.
(A região designada por Pan-Delta do Rio das Pérolas inclui as nove províncias de Guangdong, Fujian,
Jiangxi, Hunan, Guangxi, Hainan, Sichuan, Guizhou e Yunnan, Hong Kong e Macau)
A cooperação regional no âmbito do Pan Delta do Rio das Pérolas integra a estratégia nacional para
o desenvolvimento regional e será pormenorizada no sentido de facilitar a interacção entre as regiões
oriental, central e ocidental da província de Guangdong. Ao governo central e governos locais compete a
orientação e coordenação, melhorando os mecanismos de cooperação através de equipas responsáveis por
projectos e outras formas. Serão facilitados os fluxos de capital, de tecnologia, de profissionais qualificados,
de informação e de recursos, promovendo a cooperação regional entre indústrias e sectores.
A construção de vias interprovinciais será acelerada de modo a assegurar uma rede abrangente de
transportes, com a região do delta como centro aglutinador das ligações com as áreas exteriores.
Prosseguir-se-á a orientação definida para o campo da cooperação energética baseada no conceito da
“distribuição energética de oeste para leste” e na concretização de uma rede de transmissão abrangente.
O desenvolvimento da cooperação regional inclui também a área ambiental, nomeadamente a protecção
dos recursos hídricos e o controlo da poluição.
Propõe-se, também, melhorar a cooperação regional em áreas como o turismo, ciência e tecnologia,
promoção profissional, protecção da propriedade intelectual, como ainda criar plataformas de
cooperação nos domínios da tecnologia e dos recursos humanos. Procurar-se-á acelerar a construção
de infra-estruturas de informação e facilitar o comércio electrónico.
Serão criados mecanismos de partilha de informação, nomeadamente sobre crédito de empresas,
aplicação de normas transfronteiriças e reconhecimento mútuo de avaliações e inspecções. No horizonte
está a construção de um mercado único, aberto e normalizado para a toda a região.
e) Reforço da cooperação com a ASEAN e outras regiões
A região do delta irá estabelecer laços de cooperação a diversos níveis com outras regiões no exterior,
nomeadamente com os mercados emergentes. Ao abrigo do acordo de comércio livre firmado entre a
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47
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
Os três agrupamentos de cidades no Delta do Rio das Pérolas
Quadro comparativo dos três circulos económicos
(2010)
Superfície
População Residente
Produção
(km2)
(milhões)
(Rmb - milhares de milhão)
Investimento em
capital fixo
(Rmb - milhares de milhão)
Cantão,
Foshan e
Zhaoqing
26232,1
23,81
1732,2
560,8
649,6
Shenzhen,
Dongguan e
Huizhou
15617,8
23,18
1548,71
395,4
469,1
Zhuhai,
Zhongshan e
Jiangmen
13057,2
9,13
457,9
179,4
179
Nove cidades, três círculos económicos de grande dimensão
A região do Delta do Rio das Pérolas integra cidades bem conhecidas pela dimensão das respectivas
economias.
Durante décadas, estes pesos pesados económicos, tais como Cantão, Shenzhen, Foshan, Dongguan e
Zhongshan, competiram entre si, uns contra os outros, para atrair investimento estrangeiro, oferecendo
baixos custos de instalação e benefícios fiscais. Esta competição fez da região líder nacional na atracção
de investimento estrangeiro e no volume de exportações.
Porém, este modelo de múltiplos feudos deixou de funcionar à medida que a região foi substituindo as
unidades fabris de mão-de-obra barata por indústrias de maior valor acrescentado.
No período de 2008-2009, quando as exportações na zona do delta sofreram um decréscimo abrupto
em consequência da recessão económica global, a região adoptou imediatamente uma nova estratégia
de desenvolvimento nas suas cidades de referência. Esta repousava no abandono da competição entre
as cidades pelo estreitamento da cooperação mútua.
Os pormenores deste novo conceito constam do documento 38 divulgado pelo Governo Provincial de
Guangdong em Junho de 2009. O documento 38 apelava para uma maior integração nos três círculos
económicos definidos respectivamente pelos trios de cidades Cantão / Foshan / Zhaoqing, Shenzhen /
Dongguan / Huizhou e Zhuhai / Zhongshan /Jiangmen.
Vendas a retalho
Entre os três agrupamentos, aquele cujo centro é a cidade de Cantão constitui não só o maior como o
que detém as melhores hipóteses de êxito. A partir de 2003, Cantão estabeleceu acordos de cooperação
com Foshan nos domínios do ordenamento do território e do urbanismo, no sistema de transportes e
outros serviços públicos. A relação Cantão-Foshan é hoje elogiada a nível oficial como o exemplo de
aproximação e integração para as outras cidades.
O documento mais recente sobre esta matéria aponta para a integração das nove cidades em áreas
como os transportes, utilização dos recursos naturais, informação e tecnologia. Apresenta a ideia do
“círculo ou área de uma hora”, ou seja, que os residentes na área do delta, graças ao desenvolvimento
da rede de transportes, poderão eventualmente aceder às principais cidades em apenas uma hora.
O documento preconiza igualmente a necessidade de melhorar as condições de vida em geral, assegurar
boas condições ambientais e de facilitar a mobilidade interna dos residentes – ideias consistentes com
a ênfase hoje colocada pela China no desenvolvimento sustentável e na protecção ambiental, em
contraste com o crescimento acelerado e poluente das últimas décadas.
Um sistema global de transportes regionais
A grande região do Delta do Rio das Pérolas irá dispor, segundo o documento citado, de um sistema de
metropolitano intercidades, com Cantão no centro de uma rede e com ligações a todas as outras redes
de transportes. Em 2020, deverá estar concretizado e operacional o sistema de transportes designado
como os “três anéis, oito segmentos”: três linhas circulares principais a partir das quais oito linhas
subsidiárias estabelecem a ligação com todos os cantos da região.
Mapa dos três círculos económicos
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
Esta estratégia exige uma melhor coordenação na construção e gestão das infra-estruturas,
nomeadamente aeroportos, portos, rede de auto-estradas, estações ferroviárias e outras instalações.
Segundo as linhas definidas no documento referido, irá ser implementado, dentro de cinco anos,
um sistema de passe integrado (IC - Integrated Circuit) válido para todas as principais estruturas de
transportes da região. Deste modo, os sistemas de pagamento de portagens nas auto-estradas, bilhetes
de comboio, autocarros e outros meios de transporte estarão perfeitamente integrados.
A integração de Hong Kong e Macau no sistema de transportes de Guangdong também está contemplada.
Em fase de projecto encontram-se, entre outros, a linha ferroviária intercidades entre Cantão e Zhuhai
e entre Cantão e Dongguan, a ponte Hong Kong / Zhuhai / Macau e a auto-estrada transfronteiriça que
assegura a ligação directa entre a zona oeste de Hong Kong com a zona oriental de Shenzhen. Será
igualmente reforçada a cooperação em termos de operação e gestão de todos os portos e aeroportos
das três regiões.
Partilha dos recursos energéticos e hídricos
As cidades da região do delta terão de organizar e promover a integração das infra-estruturas de
energias, estabelecendo uma rede entre todos os oleodutos que asseguram a distribuição dos produtos
petrolíferos refinados na região. Esta rede irá integrar não só as refinarias e depósitos situados na região
do delta mas, eventualmente, estender-se-á a toda a província de Guangdong. O mesmo está previsto
no que respeita à rede de gás natural. As tarifas sobre os produtos petrolíferos, gás e electricidade
aplicadas na região, que actualmente variam de cidade para cidade, serão gradualmente unificadas.
A região precisa de melhorar as condições de utilização, distribuição e gestão dos seus recursos hídricos.
Para tal, deverá promover a distribuição de água proveniente de Xijiang (ocidente do Rio das Pérolas)
e dos três reservatórios principais de Dojiang (oriente do Rio das Pérolas), garantir a qualidade da
água fornecida às cidades do delta, a Hong Kong e a Macau. Deverá igualmente consolidar a gestão
das empresas de distribuição na região do delta e, ao mesmo tempo, assegurar a distribuição de água
potável a todas as áreas rurais circunvizinhas.
Indústria e serviços financeiros
Aos três círculos económicos compete tomar a liderança no processo de consolidação dos recursos da
região e, simultaneamente, melhorar a sua estrutura industrial. Devem, para isso, encorajar e promover
junto das outras cidades a via do desenvolvimento conjunto de projectos industriais e de plataformas
logísticas. Os três agrupamentos devem, por outro lado, unificar os padrões industriais, assim como
uniformizar os requisitos de entrada dos investidores. Os três círculos económicos devem encorajar e
privilegiar os investimentos de capital intensivo, tecnologia de ponta, critérios de eficiência económica
50
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
e amigos do ambiente. Por outro lado, os três agrupamentos devem constituir, em conjunto, uma rede
de inovação, incluindo uma plataforma para partilha de tecnologias e serviços, bem como constituir
uma aliança para a promoção de inovações e desenvolvimento de novas indústrias.
O objectivo geral é o de expandir o actual corredor de cooperação entre Shenzhen e Hong Kong de
modo a incluir toda a região abrangida por Guangdong, Macau e Hong Kong.
Os três círculos económicos devem também criar um sistema integrado de serviços financeiros, com
destaque no desenvolvimento de Cantão e de Shenzhen como centros financeiros. Assim, deverão criar
sindicatos bancários para a concessão de empréstimos a nível da região e uma bolsa para a transacção
de papel comercial.
Uma sociedade amiga do ambiente
Os três grupos devem promover em conjunto a integração dos seus sistemas de protecção ambiental
e construir uma sociedade amiga do ambiente. As três partes devem convergir para o planeamento
comum de questões relacionadas com o ambiente e, paralelamente, devem constituir um fundo
financeiro especial para acorrer a episódios relevantes de poluição.
Os regulamentos relativos à qualidade da água devem ser implementados de uma forma mais agressiva
para garantir os padrões de qualidade; todas as grandes cidades e municípios da região dispunham, no
final de 2009, de estação de tratamento de águas residuais e, em 2010, de centrais para tratamento de
resíduos sólidos.
De acordo com um documento oficial relativo ao planeamento de grupos de cidades, entre os anos
de 2004 e 2020 a região do delta terá de dispor de uma zona verde de 8 300 km2 e de um sistema
multifuncional extensivo de apoio ao ecossistema. A região do delta irá dispor de uma rede de parques
provinciais, geridos conjuntamente pelas autoridades de Guangdong e pelas autoridades locais.
Planeamento urbano inteligente
O documento oficial conclui pela necessidade de melhorar o planeamento e ordenamento do território
abrangido pelos agrupamentos de cidades. O parque de infra-estruturas situado entre os três agrupamentos
de cidades deve ser partilhado entre eles e estes devem maximizar as potencialidades de Cantão e Shenzhen
na qualidade de cidades líder na área da prestação de serviços e outras funções. Zhuhai, por seu turno,
deve desenvolver-se como a principal cidade na margem ocidental do Rio das Pérolas.
Os três círculos económicos têm de estreitar a cooperação e coordenação com Hong Kong e Macau
no domínio do planeamento urbano. O propósito é estabelecer um conjunto de cidades de nível
internacional no Delta do Rio das Pérolas.
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
Principais Indicadores Económicos
(2010)
Superfície População
(km2)
(106 )
PIB
Taxa de
(109 Rmb) Crescimento
do PIB
PIB
Per Capita
(Rmb)
Valor
Acresc.
Indústria
Vendas Exportações
IDE
(109 Rmb)
a Retalho
Realizado
(109 Rmb)
(106 US$)
(109 Rmb)
(%)
Cantão
7434
12,7
1074,8
13,2
87 458
407,3
450,0
48,4
3979
Shenzhen
1953
10,4
958,2
12,2
94 296
501,5
300,0
204,2
4297
Zhuhai
1688
1,6
120,9
12,9
77 888
68,4
48,6
20,9
1224
Foshan
3848
7,2
565,2
14,3
80 313
391,5
168,7
33,0
1968
Huizhou
11158
4,6
173,0
18,0
38 650
88,1
58,3
20,2
1438
Dongguan
2465
8,2
424,6
13,3
52 798
176,0
110,8
69,6
2732
Zhongshan
1800
3,1
185,1
13,9
60 797
126,3
64,8
22,5
668
JIangmen
9541
4,5
157,0
14,5
35 622
105,3
65,6
10,4
1108
Zhaoqing
14856
3,9
108,6
17,5
27 987
43,5
33,3
2,6
934
Foshan
52
Zhaoqing
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
Cidades do Delta do Rio das Pérolas
1) Cantão
A cidade recupera o seu lugar como plataforma comercial global
Cantão, a capital da província de Guangdong, tem uma história estabelecida e documentada que
remonta a mais de dois mil anos. Durante a dinastia Tang desempenhou o papel de centro do comércio
externo da China imperial, quando nela viviam milhares de estrangeiros. Em finais do século XVII,
Cantão retomaria este papel privilegiado, albergando, então, uma comunidade de negócios constituída
principalmente por árabes, indianos e caucasianos. Em meados do século XVIII era já o porto mais
importante da China e um dos maiores em todo o mundo.
No século XXI, depois de um século de guerras e revoluções, Cantão recupera o seu papel predominante.
Milhares de africanos, árabes e caucasianos residem de forma permanente na cidade, e nela estudam,
ensinam, investem ou fazem comércio.
A cidade tem o terceiro maior PIB da China, depois de Xangai e Pequim e é, para além de uma plataforma
para as relações comerciais com o exterior, um grande centro industrial, comercial e cultural da China.
Cantão abrange uma área de 7 434 km2, repartidos por 10 distritos urbanos e dois municípios, onde
residiam, em finais de 2010, 12,7 milhões de habitantes, não incluindo os trabalhadores migrantes, o
que somaria alguns milhões a mais.
Potência Industrial
Em 2011, o PIB atingiu 1,238 biliões de yuan, o que representou face ao ano anterior um aumento de
11%. O sector dos serviços contribuiu com 60,5% do PIB, a indústria com 39% e a agricultura apenas
com 0,5%. Os seus três pilares industriais são o sector automóvel, a electrónica e a petroquímica.
Guangdong é actualmente uma das mais importantes províncias industriais de toda a China; em 2011, a
província foi responsável por 52% da produção de telemóveis, 17% de computadores portáteis e 24,5%
da produção de circuitos integrados, bem como pelo fabrico de 46% de aparelhos de ar condicionado,
39% de televisores e 8,7% de automóveis.
Em Cantão, o investimento em capital fixo cresceu 10% em 2011, situando-se em 345,1 mil milhões
de yuans. O comércio externo cresceu 11%, atingindo 115 mil milhões de dólares americanos, com o
aumento das exportações de 16% relativos a 56,1 mil milhões de dólares americanos. O investimento
estrangeiro registou um crescimento de 7%, fixando-se em 4,26 mil milhões de dólares americanos. As
vendas a retalho aumentaram 16,5% para 522 mil milhões de yuans. As receitas da cidade aumentaram
19% para 398,5 mil milhões de yuans e o rendimento médio anual dos residentes foi de 34 300 yuans.
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
Desde 2005, o governo municipal estabeleceu como objectivo o crescimento do sector de serviços. A
participação deste sector no PIB aumentou de 57,8% em 2005 para 60,5% no ano passado. Constituem
os cinco pilares do sector de serviços: vendas por grosso e a retalho, locação e comércio, imobiliário,
logística e finanças. A cidade possui 1153 estruturas para convenções e exposições, incluindo seis
grandes espaços. Em 2011, recebeu 42 600 eventos.
Em Novembro de 2010, Cantão foi a cidade anfitriã dos Jogos da Ásia Oriental, que contou com a
participação de 9 000 atletas em representação de 45 cidades. O projecto envolveu um investimento
global de 122,6 mil milhões de yuans, repartido por infra-estruturas (109 mil milhões), instalações e
equipamentos (6,3 mil milhões) e operações (7,3 mil milhões).
Foram também despendidos 200 milhões de dólares americanos na construção do edifício para ópera,
cujo projecto é da autoria da arquitecta britânica Zaha Hadid. Com capacidade para 1800 espectadores,
a casa da ópera foi inaugurada em Maio de 2010 e passou a ser, desde então, um dos três maiores e
melhores recintos para espectáculos da China. Do lado oposto, encontra-se o Museu de Guangdong,
um projecto assinado por Rocco Design Architects de Hong Kong. Estes são exemplos de como a cidade
procura diversificar a sua oferta cultural e desportiva.
Foi aprovado, para o decénio de 2010-2020, um plano director que define a cidade de Cantão como
cidade mundial de cultura. O plano inclui um projecto de preservação e conservação de uma área de
20,4 km2 da cidade antiga e a demolição do viaduto na Renmin South Road, que foi a primeira via
rápida da cidade. Este plano constitui um admirável exemplo de como a cidade procura alternativas de
mudança.
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
Entre 2011 e 2015, vão ser despendidos 200,3 mil milhões de yuans na expansão da rede de metropolitano,
que crescerá para 16 linhas. Outro motor de crescimento recai no desenvolvimento do distrito de
Nansha, no qual Cantão já investiu 21 mil milhões de yuans, entre 2004 e 2012. Estão projectados um
centro de negócios, facilidades para ensino e formação profissional, uma zona de serviços relacionados
com os transportes marítimos internacionais e uma zona piloto de emissões reduzidas de carbono.
Nansha acolherá igualmente um Parque de Ciência e Tecnologia.
A prosperidade de Guangdong teve um impacto significativo no preço dos terrenos, nos custos da
mão-de-obra e outros factores de produção, especialmente na zona de influência de Cantão. Mas,
já se assiste ao encerramento de unidades fabris que se tinham instalado na região atraídas pelos
baixos custos salariais. Será necessário ascender a um novo patamar tecnológico e diversificar para
uma economia de serviços adequados à capital da mais populosa província da China, cuja população
residente soma 80 milhões a que se terão de adicionar os trabalhadores migrantes estimados em 30
milhões.
Guangdong está a investir fortemente numa rede ferroviária que irá colocar as principais cidades do
Delta do Rio das Pérolas a 60 minutos da capital. Cantão ocupará o centro dessa rede de ligações.
Futuramente, a capital provincial assumirá um perfil idêntico a Tóquio, Paris ou Londres – o centro
administrativo, comercial e industrial de uma gigantesca metrópole. A rede de transportes permitirá a
dispersão das unidades de produção, da população e dos serviços, reduzindo as pressões sobre o centro
e abrindo espaço para a concentração no sector dos serviços de alto valor acrescentado. Assiste-se a
uma repetição da história da dinastia Tang.
No final de 2010, existiam em Cantão 371 empresas do sector financeiro, empregando 86 928 pessoas.
O sector cresceu, relativamente a 2005, 42,2 %. A cidade está também a investir fortemente nas infraestruturas de transportes. Em 2010, pelo Aeroporto de Bayun passaram 40,98 milhões de passageiros
e foram movimentados 1,45 milhões de toneladas de carga, números que colocam esta infra-estrutura
no 15º lugar a nível mundial. No mesmo ano de 2010, o porto de Cantão movimentou 410 milhões
de toneladas de mercadorias, o que o coloca como terceiro porto da China, logo depois de Xangai e
Zhoushan. A nova estação ferroviária de Cantão é o maior terminal ferroviário em toda a Ásia e está
projectada como o futuro centro regional da rede de alta velocidade no sul da China.
Olhando para o futuro, a cidade adoptou um programa de desenvolvimento para o período entre 2008
e 2020, que prevê a integração da capital com as cidades vizinhas de Foshan e Zhaoqing. No seu
conjunto, as três cidades foram responsáveis, em 2010, por 46,3% do PIB da região do Delta do Rio das
Pérolas. As três cidades iniciaram já trabalhos em conjunto nos domínios do planeamento, transportes,
indústria, ciência, protecção ambiental, turismo, assuntos sociais e na área financeira.
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
2) Shenzhen
De aldeia de pescadores a grande metrópole
A história de Shenzhen é uma das mais espantosas entre todas as cidades do mundo nas últimas três
décadas.
Esta pequena aldeia piscatória foi escolhida por Deng Xiaoping, em 1978, como a primeira zona
económica especial (ZEE) da China, devido à sua proximidade a Hong Kong. Desde então, transformouse numa das mais importantes plataformas industriais da China, de tecnologias de ponta e importante
centro logístico, bem como acolhe uma das duas bolsas de valores do país.
A população de Shenzhen passou de 30 000, em 1979 para 13,22 milhões de habitantes, em 2010.
Abrange uma área de 1 953 km2.
Inicialmente, a sua economia desenvolveu-se com os investimentos de empresários de Hong Kong e
chineses ultramarinos que, beneficiando dos baixos custos dos terrenos e da mão-de-obra, procederam
à instalação ou transferência das suas fábricas para a zona económica especial de Shenzhen. As
mercadorias aí produzidas eram exportadas através do porto de Hong Kong para o Japão, EUA e Europa.
Milhares de migrantes oriundos de todo o país afluíram a Shenzhen para trabalhar nas novas unidades
industriais e nos serviços associados.
Shenzhen, sendo uma cidade nova, tornava-se também atractiva como local onde os empresários
podiam lançar novas ideias e novos projectos, impossíveis de desenvolver noutros locais da China.
Shenzhen era um local sem peso histórico.
Aos investidores de Hong Kong seguiram-se empresas estrangeiras e de Taiwan. Depois, vieram as
empresas nacionais. Algumas grandes empresas chinesas têm aí localizada a sua sede, tais como: China
Merchants Bank, Ping An Insurance, ZTE Corporation e a Huawei, estas duas últimas reconhecidas como
dos maiores fabricantes mundiais de equipamentos de telecomunicações. Shenzhen é também a sede
da BYD Automobile, pioneira no desenvolvimento de automóveis eléctricos. A Wal-Mart iniciou as suas
operações na China em 1996, estabelecendo a sua sede e centro global de compras em Shenzhen.
Quarto lugar no PIB na China
Em 2011, o PIB de Shenzhen elevou-se ao quarto lugar entre as cidades da China, imediatamente
atrás de Xangai, Pequim e Cantão, atingindo o valor de 1,15 biliões de yuans, mais 10% do que no ano
anterior. O sector de serviços foi responsável por 53,4 % do PIB e as indústrias por 46,5%. No período
entre os anos de 2006 e 2010, o produto interno bruto cresceu a uma taxa média anual de 13%.
Em 2011, o comércio externo situou-se em 414,1 mil milhões de dólares americanos, o que representou
um aumento de 19,4%, e as exportações atingiram 245,5 mil milhões, um aumento de 20,2%, enquanto
as importações subiram 18,2%, para um valor total de 168,6 mil milhões de dólares americanos.
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
O investimento estrangeiro foi de 4,6 mil milhões de dólares americanos, o que representa um aumento
de 7%. O investimento em capital fixo atingiu 213,6 mil milhões de yuans, um acréscimo de 10,1% em
relação a 2010, e as receitas públicas inscritas no orçamento do governo municipal foram de 134 mil
milhões, representando um aumento de 21%. O porto de contentores de Shenzhen ocupa o quarto
lugar em termos de movimento de carga e o aeroporto ocupa igualmente o quarto lugar entre os mais
movimentados da China. Em 2011, foram movimentados no porto 22,57 milhões de contentores, mais
0,3% do que no ano anterior e o número de passageiros no aeroporto atingiu 28,25 milhões, o que
representa uma subida de 5,7%.
A zona económica especial é também um grande centro comercial, onde as vendas a retalho atingiram,
em 2011, 352 mil milhões de yuans, mais 17,8% do que em 2010. Shenzhen detém ainda aquele que
é o maior mercado mundial de electrónica – Hua Cheng Bei –, frequentado por compradores de todo
o mundo. No Hua Cheng Bei encontra-se toda a variedade de produtos dos principais fabricantes
internacionais, assim como falsificações de produtos de luxo e edições piratas dos últimos filmes de
Hollywood ou Paris. Em Agosto de 2011, Shenzhen foi a cidade anfitriã da 26ª edição da Universíada
de Verão, em que participaram atletas de 150 países. Foram gastos 180 mil milhões de yuans na sua
preparação, incluindo a construção de novas linhas de metropolitano, renovação de edifícios e num
estádio desportivo com capacidade para 60 000 espectadores.
O sucesso de Shenzen repercutiu-se igualmente nos custos da produção, preço dos terrenos, do trabalho
e outros. Este quadro levou muitas empresas a transferirem a sua actividade de trabalho intensivo para
outras cidades da China ou para outros países com custos mais baixos. A Foxconn, a companhia de
Taiwan que ocupa a primeira posição entre os fabricantes mundiais de componentes para a indústria
electrónica, possui um parque industrial de três km2 em Longhua, Shenzhen, conhecido por Foxconn
City. O complexo fabril, onde laboram mais de 200 mil pessoas, integra 15 unidades de produção. Com
o objectivo de reduzir custos, a Foxconn transferiu algumas dezenas de milhares de postos de trabalho
para novas fábricas nas cidades de Chengdu, Wuhan e Zhengzhou.
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
Shenzhen está igualmente voltada para a sua consolidação como centro de comércio, especialmente
vocacionado para produtos de luxo.
As empresas ZTE e a Huawei lideram em Shenzhen. A Huawei é o segundo maior produtor mundial
de componentes para o sector das telecomunicações móveis, depois da Ericsson, tendo facturado,
em 2010, 185,2 mil milhões de yuans, mais 24,2% do valor das vendas de 2009. Deste montante,
foram investidos 16,6 mil milhões de yuans em investigação e desenvolvimento, um acréscimo de
24,1%, envolvendo 51 000 pessoas, o que corresponde a 46% da força de trabalho. A Huawei mantém
centros de investigação e desenvolvimento em seis países. A ZTE, o quarto maior fabricante mundial
de telemóveis, investe 10% da receita anual em investigação e desenvolvimento e emprega mais de 30
000 pessoas em 15 centros de investigação disseminados pelo mundo. Este é o tipo de empresas que
Shenzhen quer atrair, detentoras dos seus próprios produtos, invenções e tecnologias.
O governo municipal estabeleceu como metas a atingir em 2015 o aumento do produto interno bruto
para 1,5 biliões de yuans e um PIB per capita de 49 000 yuans. Em 2020, as metas sobem para 2 biliões,
enquanto o PIB per capita cresce para 80 000 yuans e os residentes passam a usufruir de serviços e de
qualidade ambiental equivalentes aos de um país desenvolvido.
Shenzhen reinventa-se
Shenzhen pretende reposicionar-se no panorama económico. Em 2011, foram definidos como os
quatro pilares do seu modelo industrial os sectores financeiro, logística, cultura e tecnologias de última
geração, que correspondem, respectivamente, a 13,6%, 9,5%, 6,7% e 30,9% do PIB. O objectivo é
aprofundar e desenvolver estes quatro pilares. Além disso, em 2009, o governo municipal seleccionou
três indústrias específicas como motores do futuro crescimento – biotecnologia, energias alternativas
e Internet. Shenzhen quer converter-se numa cidade de invenção, design e criatividade, apostando na
investigação e desenvolvimento de novos produtos em vez de fabricar produtos para terceiros utilizando
as suas marcas. Em 2010, Shenzhen promoveu o registo de 49 430 patentes, das quais 23 956 referiam-se
a invenções. Desenvolvem actividade na cidade 6 000 empresas de design, empregando 60 mil pessoas.
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
3) Dongguan
Povoações rurais transformam-se em fábrica do mundo
A cidade de Dongguan constitui um admirável exemplo do sucesso das políticas de abertura e reformas
levadas a cabo nos últimos 30 anos. Uma vasta área de aldeias agrícolas converteu-se numa fábrica do
mundo responsável, em 2011, pelo quarto maior PIB da província de Guangdong e por exportações no
valor de 78,3 mil milhões de dólares americanos. A aposta na transformação de Dongguan numa zona
de processamento para indústrias de mão-de-obra intensiva, para investimentos oriundos de Taiwan,
Hong Kong e de outros empresários do exterior, explicam estes resultados. Electrónica e informática,
aparelhos eléctricos, têxteis e confecções, mobiliário, brinquedos, papel, indústrias da alimentação e
de bebidas e indústrias químicas, constituem os seus principais sectores de actividade. Muitos dos
produtos comercializados no Wal-Mart e no Carrefour, tais como computadores, brinquedos, sapatos
e electrónica de consumo são produtos fabricados em Dongguan.
O êxito de Dongguan prende-se com a proximidade de Shenzhen, com a qual faz fronteira, e por se
encontrar junto aos eixos rodoviário e ferroviário que ligam Hong Kong a Cantão, um corredor que se
tornou num dos mais importantes centros industriais do mundo. Os investidores estrangeiros foram
atraídos pelos baixos custos de instalações, do trabalho e carga fiscal, e pela ausência de qualquer
tentativa consciente por parte das autoridades locais em regulá-los. As novas fábricas atraíram
um elevado número de empresas locais na qualidade de subempreiteiros e fornecedores, formando
verdadeiros agrupamentos e operando em grande escala e com tal dinamismo que até empresários
italianos vieram aprender com o modelo de Dongguan como melhorar os seus próprios agrupamentos
industriais. O PIB per capita ultrapassa 10 000 dólares americanos.
Dongguan distribui-se por quatros distritos urbanos e 28 municípios, ocupando uma área de 2 465 km2.
Conta com uma população de 10 milhões de habitantes, a maior parte deles trabalhadores migrantes
que afluem à cidade, deixando normalmente a família para trás, para trabalhar nas muitas fábricas
instaladas na região.
Em 2011, o PIB cresceu 8% em relação ao ano anterior e chegou a um valor de 473,5 mil milhões de
yuans. O investimento em bens de capital foi de 108 mil milhões, o que representou um aumento
de 8,1%; as vendas a retalho somaram 126,6 mil milhões, mais 15%; a receita fiscal foi de 31,3 mil
milhões, mais 18,3% do que em 2010. As trocas com o exterior atingiram 135,2 mil milhões de dólares
americanos, o que corresponde a um aumento de 11,2%, com exportações equivalentes a 78,3 mil
milhões, mais 12,5%. O investimento estrangeiro directo, durante o ano de 2011, foi de 3,51 mil milhões
de dólares americanos e o investimento realizado 3,05 mil milhões, representando um aumento de
11,7%.
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
Investidores de Taiwan na liderança
O maior grupo de investidores é proveniente de Taiwan. A Associação de Empresários de Taiwan em
Dongguan, que remonta a Outubro de 1993, tem cerca de 3000 membros e é a maior deste tipo em
toda a China. Em Janeiro de 1999, a associação inaugurou uma escola para crianças de Taiwan, que
foi a primeira do género na China. Mas, como todos os outros investidores, enfrentam o sério desafio
colocado pelo aumento dos custos. Durante um encontro em Dongguan, realizado em Novembro de 2011,
o presidente da Associação dos Investidores de Taiwan na China, Guo Shanhui, disse a representantes
oficiais da China que os associados estavam a perder encomendas da Europa e dos EUA. “As vantagens
comparativas da China, em termos de custos laborais e matérias-primas, estão praticamente esgotadas
devido à concorrência de outros países”, apelando para o Governo no sentido de fixar um tecto para o
aumento anual de salários abaixo de 10%, bem como para manter um nível baixo de impostos.
O tsunami financeiro global de 2008 foi um sinal de alerta para Dongguan. No ano seguinte, em 2009,
as exportações caíram abruptamente 16%, depois de um crescimento a dois dígitos durante décadas
e o PIB cresceu apenas 5,3%. A crise financeira global levou a cidade a tomar consciência de quanto
dependia do processamento de exportações e do nível da procura nos mercados exteriores. Dongguan
detém algumas marcas próprias e a despesa em investigação e desenvolvimento, em percentagem do
PIB, situa-se abaixo da média das outras cidades de Guangdong.
Outro problema prende-se com a escassez de terreno e de água e com o aumento dos custos salariais:
menos de 10% da área da cidade está disponível para urbanização e, ao ritmo actual de desenvolvimento,
em dez anos os terrenos disponíveis estarão esgotados. Mais de metade dos municípios de Dongguan
sofrem de escassez de água. Desde as festividades do Ano Novo Lunar de 2012, os empresários de
Taiwan e Hong Kong deixaram de poder contratar os trabalhadores necessários. Os trabalhadores
migrantes dispõem de oportunidades mais aliciantes em cidades ou áreas mais próximas das suas
casas, que lhes asseguram um modo de vida normal, em vez das condições a que estão sujeitos a viver
em dormitórios das fábricas. Os empresários instalados em Dongguan foram forçados a aumentar os
salários e a oferecer regalias de modo a persuadir os trabalhadores a permanecerem.
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
Essas indústrias incluem equipamentos (máquinas e ferramentas), veículos automóveis, componentes e
acessórios para a indústria automóvel, petroquímica e indústria de construção naval.
Além disso, o plano quinquenal tem por objectivo o desenvolvimento de indústrias emergentes
delineadas no 12º Plano Nacional: veículos automóveis movidos a electricidade, semicondutores para
iluminação, biofármacos, novos materiais, conservação de energia e indústrias ambientais. O plano
propõe também abandonar o fabrico de produtos para terceiros começando a fabricar produtos com
design e marcas próprias. Dito de outro modo, Dongguan transformar-se-á numa cidade com os seus
próprios produtos e marcas, em vez de produzir para terceiros.
O plano compreende ainda uma intervenção na melhoria das infra-estruturas da cidade. O seu
rápido e fragmentado desenvolvimento conduziu a uma expansão urbana desordenada com grandes
aglomerações fabris. O sistema de transportes públicos está pouco desenvolvido, as ligações são
insuficientes, pelo que existe uma grande dependência em relação ao uso de veículos particulares. O
plano quinquenal propõe-se enfrentar estes problemas através da construção de um sistema de metro
ligeiro que assegure as ligações com as principais vias rodoviárias e ferroviárias que passam pela cidade.
Este desenvolver-se-á a partir do centro da cidade que compreende o distrito comercial central e três
zonas urbanas principais – Houjie, Humen e Changan.
O crescimento anual do PIB, de acordo com as metas definidas no plano, deverá ser de 8%, o PIB per
capita crescerá 7,5%, o comércio externo 8%, o rendimento nas zonas urbanas e nas zonas rurais subirá
8% e as despesas com investigação e desenvolvimento deverão representar 2,4% do produto interno
bruto.
Evoluir em termos tecnológicos
O Governo municipal aprendeu a sua lição com o tsunami financeiro de 2008. No quadro do 12º
Plano Quinquenal, formulado em 2011, foi adoptada uma estratégia mais agressiva para melhorar
a economia. Esta aponta para o desenvolvimento do sector de serviços, incluindo o financeiro,
conferências e exposições, logística, tecnologias de informação, cultura e indústrias criativas, bem
como o estabelecimento de uma economia empresarial. No sector industrial, o plano prescreve o
desenvolvimento de indústrias avançadas, em vez de produtos de reduzido valor e de mão-de-obra
intensiva que caracterizaram as três primeiras décadas de desenvolvimento em Dongguan.
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
4) Zhuhai
Cidade de trabalho e entretenimento
A moderna cidade de Zhuhai é uma criação das políticas de abertura e reformas da China. Durante o
período maoista, era uma área fronteiriça, com uma população escassa e deslocações restringidas. Mas
foi ali que Deng Xiaoping decidiu estabelecer uma zona económica especial, por causa da proximidade
a Macau. Zhuhai foi fundada em 1979 e a zona económica especial estabelecida no ano seguinte.
Estendia-se por uma área de 1 711 m2 e tinha muito poucos habitantes.
O crescimento de Zhuhai nos últimos 30 anos foi menos espectacular do que o de Shenzhen, que faz
fronteira com Hong Kong e que beneficiou de excelentes ligações viárias e ferroviárias ao porto de
contentores. Zhuhai carece de uma ligação ferroviária ao resto do país; a economia de Macau era e
continua a ser dominada pela indústria do jogo e as suas facilidades portuárias são limitadas. Assim
sendo, Zhuhai desenvolveu-se como uma cidade de turismo e lazer, com parques espaçosos, campos de
golfe, restaurantes especializados em mariscos, hotéis e clubes nocturnos e uma das mais longas linhas
costeira urbana na China.
Muitos dos visitantes da China que visitam Macau preferem pernoitar em Zhuhai e efectuar a pé, durante
o dia, o curto trajecto da fronteira. Pessoas de posses, especialmente do norte da China, adquirem
segunda residência em Zhuhai, para escaparem ao rigor do Inverno. Nos últimos 15 anos, a cidade
optou por diversificar a sua economia, encorajando a instalação de indústrias e melhorando o porto
de Gaolan. Em Janeiro de 2011, foi inaugurada a linha ferroviária de alta velocidade, para transporte
de passageiros, a ligar Zhuhai a Cantão e à rede ferroviária nacional. Dentro de dois anos deverá estar
concluída a linha convencional para transporte de mercadorias. Zhuhai tinha, em finais de 2010, uma
população residente de 1 047 milhões, a maioria dos quais migrantes de outras zonas da China.
Em 2011, Zhuhai registou um produto interno bruto de 140,3 mil milhões de yuans, um aumento
de 11,3% relativamente ao ano anterior. O sector de serviços contribuiu com 41,3% do PIB, menos
do que os 42,5% verificados no período homólogo anterior, o sector industrial representou 56%,
crescendo relativamente ao ano anterior (54,8%) e o sector agrícola manteve-se inalterado (2,7%). A
indústria de Zhuhai assenta em seis pilares: biotecnologia, electrodomésticos, petroquímica, energia,
maquinaria de precisão e tecnologias de informação. A cidade acolhe a Gree Electric Appliances,
aquele que é o maior fabricante mundial de aparelhos de ar condicionado e exporta para mais de
uma centena de países. Nos primeiros três trimestres de 2011, o volume de negócios da Gree Electric
Appliances atingiu 640,1 mil milhões de yuans, um aumento de 45% face ao período homólogo de
2010. O grupo detém cinco unidades de produção na China e outras três no exterior: Manaus, no
Brasil, Paquistão e Vietname.
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
No ano de 2011, o comércio com o exterior atingiu o valor de 51,64 mil milhões de dólares americanos,
representando um aumento de 18,8%, com as exportações (24 mil milhões) a cresceram 15% e as
importações (27,7 mil milhões) 22,3%. No que respeita ao investimento estrangeiro, verificou-se um
aumento do contratado de 41,3% (1,776 mil milhões de yuans) e de 9,3% no investimento realizado
(1,338 mil milhões).
O investimento em bens de capital fixo, no ano de 2011, foi 63,87 mil milhões de yuans, mais 28,4% do
que no ano anterior - o maior aumento em toda a zona do Delta do Rio das Pérolas. No entanto, o ano
seria mau para o sector imobiliário, por força das medidas de abrandamento do mercado determinadas
pelos governos nacional e local. As vendas de espaços comerciais caíram 6,4% (2,41 milhões de m2). Por
seu turno, as vendas a retalho cresceram 18,1% para 56,79 mil milhões de yuans e o número de turistas
aumentou 11,2%, somando um total de 15,36 milhões de visitantes em 2011.
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
Outro motor de crescimento é a ilha de Hengqin (ou da Montanha), situada a curta distância de Macau,
uma das cidades com maior densidade populacional do mundo. Com uma área de 106 km2, Hengqin tem
uma superfície três vezes maior que a de Macau, mas apenas 7000 habitantes, enquanto a população
de Macau atingiu já 550 mil residentes. O Conselho de Estado (Governo) da China aprovou um plano
de desenvolvimento para Hengqin que prevê investimentos na ordem de 200 mil milhões de yuans
durante a próxima década. Estima-se que a população atinja, em 2020, 280 mil habitantes e o seu PIB
56 mil milhões de yuans, metade do PIB actual de Zhuhai. O plano inclui a criação do maior entreposto
aduaneiro de toda a China e a construção do novo campus para a Universidade de Macau, instalado
numa área de 1,09 km2 e com capacidade para 15 mil pessoas. Esta área ficará sob a jurisdição de Macau
e os corpos docente e discente não terão de submeter-se a formalidades fronteiriças para alcançar o
campus, bem como terão acesso à Internet como se estivessem em Macau. O plano inclui igualmente
um grande parque temático sobre oceanos, já em fase de construção, uma área de negócios, um bairro
residencial de luxo, campos de golfe, hotéis e outras instalações turísticas.
Novos projectos de infra-estruturas
Novos projectos de infra-estruturas de grande dimensão, a executar nos próximos cinco anos, vão
transformar radicalmente Zhuhai. Em 2009, o Conselho de Estado (Governo) aprovou um plano de
desenvolvimento para o Delta do Rio das Pérolas, que contempla um investimento de 120 mil milhões
de yuans em projectos de transportes que vão estabelecer a ligação directa de Zhuhai à rede principal
da economia de Guangdong, bem como nas infra-estruturas portuárias e aeroportuárias, que até agora
têm sido subutilizadas. Um destes projectos na área dos transportes compreende a ligação ferroviária
entre Cantão e o porto de Gaolan, em Zhuhai, cuja conclusão está prevista para o próximo biénio. Será
a primeira ligação ferroviária do género a oeste do Rio das Pérolas. As fábricas situadas no corredor
definido pela nova ligação ferroviária poderão, por esta via, exportar as suas mercadorias através do
porto de Gaolan.
Um segundo projecto é a ponte rodoviária que vai ligar Zhuhai e Macau a Hong Kong. A conclusão da
ponte está prevista para 2015 ou 2016. Esta infra-estrutura vai reduzir o tempo da viagem para Hong
Kong dos actuais 70 minutos em jacto planador para um percurso de automóvel de 25 minutos. Em
Zhuhai espera-se que a ponte vá atrair alguns milhares de residentes de Hong Kong para a aquisição
de segunda habitação para férias ou fim-de-semana ou até mesmo motivá-los a trocar a residência
permanente, mantendo os empregos em Hong Kong. Por outro lado, as autoridades de Zhuhai esperam
que estes projectos ajudem a mudar o destino do seu aeroporto, aquele que foi o seu investimento
de menor sucesso. O aeroporto abriu as portas em 1995 com uma capacidade anual de 12 milhões de
passageiros, mas recebe menos de um milhão por ano. É um elefante branco, porque está situado a 50
km do centro da cidade e recebe muito poucos voos, pelo que a maioria dos passageiros, mesmo os
residentes de Zhuhai, prefere utilizar aeroportos alternativos, como o de Macau e o de Cantão.
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
5) Macau
De primeira colónia europeia no Extremo Oriente a paraíso do jogo
Macau foi a primeira e também a última colónia europeia no Extremo Oriente. Em 1557, os Portugueses
fixaram-se permanentemente pagando à China uma renda anual de 500 taéis, que se manteve até
1863. Macau prosperou durante os três primeiros séculos de estabelecimento, graças ao monopólio
na exportação de produtos chineses. Mas, perdeu-o com a fundação de Hong Kong após a Primeira
Guerra do Ópio de 1840-1842. A comunidade estrangeira de mercadores transferiu-se para a nova
colónia britânica, que detinha um melhor porto de mar e uma administração mais eficiente. Perante o
colapso económico, o governo colonial decidiu legalizar o jogo com o objectivo de recuperar as receitas
perdidas. Paralelamente, permitiu o envio em larga escala de coolies para a América do Sul, o consumo
de ópio e a prostituição.
Desde então, o jogo e o entretenimento passaram a ser as indústrias dominantes de Macau. Para além
das corridas de cavalos e uma lotaria em Hong Kong, Macau é o único local da China onde o jogo está
legalizado.
Durante os últimos 37 anos de administração portuguesa e até 1999 apenas uma empresa, a Sociedade
de Turismo e Diversões de Macau (STDM), detinha licença para explorar jogos de fortuna ou azar, pela
qual pagava uma substancial prestação anual ao governo do território. A 20 de Dezembro de 1999,
Macau passou a Região Administrativa Especial (RAE) da China, segundo o modelo adoptado para
Hong Kong de “um país, dois sistemas”. Macau tem duas línguas oficiais, chinês e português e, tal como
Hong Kong, mantém os sistemas jurídico e monetário do governo colonial, bem como a sua própria
força policial.
Fim do monopólio, crescimento acelerado
Em 2002, o governo de Macau pôs termo ao monopólio do jogo através da concessão de seis licenças
para operar casinos. Esta opção traduziu-se no aumento surpreendente da receita do jogo e do número
de visitantes, transformando Macau no maior centro mundial de jogo, ultrapassando Las Vegas. Em
2011, a receita proveniente do jogo ascendeu a 268 mil milhões de patacas (25,8 mil milhões de euros),
um aumento de 42% em relação a 2010 e cinco vezes mais os resultados obtidos em Las Vegas. Os
impostos e taxas pagos pelos casinos e pelo sector da hotelaria representam mais de 70% das receitas
públicas. Em 2011, Macau recebeu 28 milhões de visitantes, dos quais 16,2 milhões provenientes da
China e 7,6 milhões de Hong Kong. Estes números levam Macau ao patamar das economias com maiores
taxas de crescimento em todo mundo, com o produto interno bruto a crescer 20%.
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
Macau tem 35 casinos, dos quais 20 são operados pela STDM, seis pela Galaxy Casino, quatro pelo
Venetian Macao, três pela Melco Crown, um pelo Wynn Resorts e um pelo MGM Grand Paradise. A
formação bruta de capital fixo, em 2011, aumentou 8,5% e deverá crescer 8,9% em 2012. Nos três
primeiros trimestres de 2011, as vendas a retalho somaram 30,43 mil milhões de patacas, um aumento
de 39%. Entre os produtos mais procurados contam-se relógios, jóias, artigos de cabedal e outros
bens de luxo. O crescimento económico nos últimos 10 anos foi de tal modo acelerado que a mãode-obra disponível na cidade revelou-se insuficiente, pelo que foi necessário recorrer a milhares de
trabalhadores provenientes da China, do Nepal, das Filipinas e de outros países do Sudeste Asiático.
Por outro lado, o crescimento económico traduziu-se numa pressão acentuada sobre os custos da
habitação, colocando-a fora do alcance das jovens famílias de classe média. Se estas pretenderem
adquirir habitação própria têm de optar pela cidade vizinha de Zhuhai onde os preços são mais baixos.
O governo propõe-se seguir o exemplo de Las Vegas e diversificar as suas fontes de rendimento,
acrescentando aos sectores do jogo e do comércio, o entretenimento, concertos, eventos desportivos,
conferências e actividades de lazer. Investiu fortemente nos museus, na música, nas artes e outros
festivais, bem como em projectos de restauro e conservação, proporcionando aos turistas, para além
do jogo, outros motivos para visitar Macau. Todavia, esta diversificação enfrenta alguns obstáculos, já
que os chineses, que representam a esmagadora maioria dos visitantes, pretendem apenas jogar e fazer
compras.
Em Fevereiro de 2012, a empresa canadiana Cirque du Soleil anunciou, ao fim de três anos e meio
de espectáculos, o cancelamento de um contrato de 10 anos, devido à fraca audiência registada. Os
espectáculos do Cirque du Soleil, em que convergem as bases circenses, ballet no espaço e jogos de
luzes, são muito populares no Ocidente e têm permanecido por bastantes anos em Las Vegas.
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
alargado a outras áreas de Hengqin, devido à forte oposição do governo de Zhuhai. Contudo, encontrase planeada a construção de complexos residenciais, uma área de negócios, uma área aduaneira com o
objectivo de atrair residentes de Macau.
Uma das maiores intervenções em curso, no domínio dos aterros conquistados ao mar, é a ilha artificial
que integra projecto da ponte que vai ligar Hong Kong a Macau e Zhuhai. Este projecto, avaliado em
10 mil milhões de dólares americanos, deverá ficar concluído em 2016. Com uma extensão de 50
km, com pontes e túneis, o projecto vem acrescentar a alternativa rodoviária às actuais opções por
via marítima ou por helicóptero. A viagem por mar faz-se em uma hora e o helicóptero demora 15
minutos; com a nova ponte a deslocação será de cerca de 30 minutos. Os projectos da ponte e do
desenvolvimento de Hengqin destinam-se a aproximar Macau da zona do Delta do Rio das Pérolas,
através do transporte de pessoas e mercadorias mais rápido e acessível. A província de Guangdong está
a construir a ligação ferroviária de alta velocidade até Gongbei, em Zhuhai. Com Macau à distância de
meia dúzia de passos.
Construindo novos espaços
Com uma superfície de apenas 29,5 km2 e uma população de 544 000 residentes, Macau é um dos locais
mais densamente povoados em todo o mundo. Para aumentar o espaço disponível colocam-se duas
alternativas Uma através da construção de 3,5 km2 de aterros nas águas circundantes – o equivalente
a 12,3% da área actual – para estradas, equipamentos públicos e áreas comerciais e residenciais. Este
trabalho deverá estar concluído até 2016. A outra alternativa prende-se com a utilização de espaços na
ilha de Hengqin (Ilha da Montanha) pertencente ao vizinho município de Zhuhai, que compreende uma
área de 106 km2, três vezes maior do que a de Macau, mas com uma população residente de apenas
7 000 pessoas. Surgiram propostas no sentido de a Região Administrativa Especial de Macau aproveitar
toda a área da ilha de Hengqin, todavia esse cenário parece estar completamente afastado.
A Universidade Macau está a construir o seu novo campus numa área de 1,09 km2 em Hengqin; esta
área ficará sob a jurisdição de Macau, para que os corpos docente e discente e visitantes não tenham
de submeter-se a controlos fronteiriços para aceder ao campus. É pouco provável que este estatuto seja
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
6) Zhongshan
Terra natal de Sun Yat-sen
Durante a Dinastia Tang (617-907 DC), Zhongshan foi um importante centro produtor de sal marinho.
Em 1082, foi aí construído um povoado recebendo o nome de Xiangshan (Colina Perfumada), nome
pelo qual passou a ser conhecido em quase toda a sua história. Foi o local onde se iniciou a Primeira
Guerra do Ópio, quando Lin Zexu, funcionário da corte imperial (dinastia Qing), ordenou a expulsão
dos comerciantes ingleses de ópio. O seu filho mais famoso é o Dr. Sun Yat-sen, também conhecido por
Sun Zhongshan, que nasceu no ano 1866. Após a sua morte, em 1925, esta área passou a designar-se
Zhongshan em sua honra. É a única cidade da China que tomou o nome de uma figura histórica.
Ao tempo de Sun Yat-sen, esta área foi berço de notáveis empreendedores, diplomatas e académicos,
talvez porque foi uma das primeiras zonas da China cuja população esteve em contacto directo com
a cultura ocidental e com a língua inglesa, uma vantagem comparativamente ao resto da China
que permanecia fechada ao exterior. Entre os filhos de Zhongshan destacam-se dois emigrantes na
Austrália que, regressados à China, foram responsáveis pela introdução do moderno sector de comércio
a retalho.
Centro de indústria ligeira
Na história recente, o crescimento económico de Zhongshan começou depois do governo adoptar as
políticas de reforma e abertura, em 1978. A cidade beneficiou da proximidade a Macau e a Zhuhai, uma
das quatro zonas económicas especiais, e com do facto de ser o lugar de origem de uma diáspora de
milhões de chineses disseminados por todo o mundo. Muitos destes chineses ultramarinos aproveitaram
a oportunidade para investir na sua cidade natal. Zhongshan tornou-se num centro de processamento
de exportações para a indústria ligeira. Seis dos seus 10 municípios especializaram-se em produtos
específicos: mobiliário de mogno, electrodomésticos, iluminação, indústria alimentar, vestuário e
ferragens e metalomecânica. Além destes, o município de Xiaolan é famoso em todo o sul da China
pelos seus crisântemos.
Zhongshan estende-se por uma área de 1800 km2 e tinha uma população de 3,12 milhões de habitantes,
em 2010; dez anos antes, em 2000, o número de habitantes era 2,34 milhões. Cerca de metade dos
seus residentes vieram de outras regiões da China, atraídos pelas oportunidades de emprego e pela
qualidade de vida que não podiam desfrutar nos locais de origem. Em 2011, Zhongshan registava um
produto interno bruto de 219 mil milhões de yuans, mais 13% do que em 2010. A indústria respondeu
por 56% e o sector de serviços por 41,5% do PIB. A produção industrial somou 631,5 mil milhões,
um aumento de 16,9%. Quanto ao investimento em bens de capital, aumentou 21,9%, para 76,7 mil
milhões de yuans, e as vendas a retalho cresceram 16,9%, para 75,6 mil milhões de yuans.
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No que respeita ao comércio externo, verificou-se um aumento de 9,9%, para 34,2 mil milhões de
dólares americanos, com as exportações a crescer 9,1% (24,5 mil milhões) e as importações 12,1%
(9,65 mil milhões). O investimento estrangeiro contratado cresceu 40,1% (1,08 mil milhões de dólares
americanos) e o investimento realizado atingiu 729 milhões, representando um aumento de 9,2%. No
mesmo ano, as receitas do governo municipal subiram 39,6%, para um total de 18,3 mil milhões de
yuans.
O governo municipal de Zhongshan propõe-se encorajar o desenvolvimento de novos sectores,
bem como consolidar os pilares industriais tradicionais: electrodomésticos, metalomecânica ligeira,
iluminação e mobiliário. Como novas áreas de desenvolvimento foram identificados os sectores da
construção naval, equipamentos (máquinas-ferramentas) e monitores em cristais líquidos (LCD). A
Wistron Corporation de Taiwan é um bom exemplo desta aposta na diversificação. A Wistron produz
mainboards, placas gráficas, computadores de mesa, servidores, descodificadores, leitores de DVD e
CD, para empresas internacionais.
Novo caminho-de-ferro, nova ponte
Intervenções de grande dimensão nas infra-estruturas dos transportes vieram estimular a economia de
Zhongshan. Em Janeiro de 2011, foi inaugurada a linha de alta velocidade para transporte de passageiros
entre Cantão e Zhuhai, com paragem em Zhongshan, um trajecto de 117 km que pode ser efectuado
à velocidade de 200 km por hora. Há também um ramal de 26 km entre as cidades de Zhongshan e
Jiamen. Esta é a primeira ligação ferroviária na zona ocidental do Rio das Pérolas.
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
Em 2015, o sector de serviços deve responder por 45% do PIB, com o crescimento da economia a
ser estimulado pelo consumo, pelo investimento e pelas exportações. O cumprimento destas metas
exige um reforço do investimento em investigação e desenvolvimento e na inovação, de modo a que
Zhongshan passe a produzir os seus próprios bens e marcas e deixe de produzir para terceiros.
Um dos projectos mais relevantes é o da nova zona de Cuiheng, que envolve um investimento em
infra-estruturas de mil milhões de yuans, entre 2012 e 2015. Irá incluir uma cidade turística, um
parque comemorativo da implantação da República, uma estância termal, uma unidade de produção
de veículos movidos a energias renováveis e um parque eólico. Entre outros projectos importantes para
os próximos cinco anos conta-se um centro logístico, uma cidade de medicina tradicional chinesa,
um centro de apoio à indústria de aparelhos eléctricos do sul da China e uma base de montagem dos
caminhos-de-ferro do sul da China.
Zhongshan pretende também atrair mais turistas e aposentados. A região tem um clima agradável,
dispõe de boas estruturas clínicas e os preços do imobiliário são três vezes menos do que os praticados
em Pequim. Um projecto turístico importante é o Clube Náutico de Shengshi, que será o maior de toda a
China. Os trabalhos tiveram início em 2011 com um investimento de 2,6 mil milhões no decurso de três
anos. Ocupa uma área de 80 hectares e terá uma marina para 615 embarcações, um clube recreativo e
habitação de qualidade. Tem por objectivo atrair residentes de Hong Kong, de Macau e do sul da China
em geral. O local será a ilha de Modao, pertencente ao município de Shenwan.
Além disso, encontra-se em construção uma linha convencional entre Cantão e Zhuhai, destinada ao
transporte de mercadorias, com uma extensão de 186 km e com 11 estações. A construção deveria
ter terminado em 2011, mas dificuldades de financiamento atrasaram a sua conclusão. Quando a linha
estiver totalmente operacional, os empresários de Zhongshan poderão escoar as suas mercadorias por
Zhuhai, a sul, no porto de Gaolan e por Cantão, a norte, naquele que é o principal terminal ferroviário
do sul da China.
Entretanto, prosseguem os trabalhos de construção da ponte que liga Hong Kong a Macau e Zhuhai.
Zhongshan vai beneficiar com a nova ponte, pois esta irá encurtar o percurso até Hong Kong, evitando
o actual longo desvio. Também os empresários serão beneficiados, designadamente os que exportam
bens perecíveis, com um acesso mais rápido ao aeroporto internacional de Hong Kong.
O governo municipal de Zhongshan anunciou objectivos ambiciosos para o ano de 2015: produto
interno bruto de 308 mil milhões de yuans, com crescimentos médios anuais de 11%, comércio externo
48 mil milhões de dólares americanos e um rendimento per capita de 116 580 yuans, comparado com
72 384 yuans em 2010 e quatro vezes superior ao de 2000.
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7) Jiangmen
Cidade das torres famosas e dos motociclos
Jiangmen é uma cidade de 4,3 milhões de habitantes, situada na zona meridional do Rio das Pérolas,
sensivelmente a meio caminho entre a capital provincial, Cantão, e Zhuhai. Ocupa uma área de 9 540 km2.
A história de Jiangmen tem mais de 600 anos e o seu porto fluvial é o segundo maior na província de
Guangdong. No início do século XVII, Jiangmen tornou-se um centro regional de comércio, que em 1904
foi aberto ao comércio com o exterior. Foi o local de nascimento de Liang Chi-chao (1873-1929) escritor
e intelectual muito influente no movimento de reforma e modernização no início da República.
Jiangmen é o local de origem de 3,68 milhões de chineses espalhados por 107 países em todo o mundo.
Estes têm sido, ao longo da história, um importante apoio para o desenvolvimento da cidade, quer como
fonte de capital de investimento quer como veículo de novos métodos de gestão e conhecimento em
geral. A emigração foi especialmente acentuada nos anos imediatamente anteriores à Segunda Guerra
Mundial. Deixaram um legado permanente sob a forma de torres fortificadas com vários andares e
construídas em cimento, a sua maior parte no distrito de Kaiping, que foi classificado pela UNESCO, em
2007, património mundial da humanidade. As primeiras torres foram construídas no início da dinastia
Qing (1644-1911) e desde então têm sido acrescentadas outras torres, financiadas com remessas dos
emigrantes na América do Norte, Austrália e Sudeste Asiático. Incorporando elementos arquitectónicos
da China e do Ocidente, foram edificadas para habitação e concebidas para proteger os seus habitantes
de ataques de bandidos. Subsistem ainda cerca de 2 300 e todos os anos são visitadas por milhares de
turistas.
Crescimento acelerado a partir de 1978
Como outras cidades do Delta do Rio das Pérolas, o desenvolvimento de Jiangmen acelerou-se a partir
da introdução das políticas de reforma e abertura ao exterior, em 1978. Jiangmen beneficiou da sua
posição na província de Guangdong, a província pioneira na política de reformas, e da sua localização
geográfica junto ao Rio das Pérolas e perto de Cantão.
Jiangmen é antes de mais um grande centro industrial, com destaque para a produção de motociclos,
electrodomésticos, electrónica, papel, indústrias alimentares, fabrico de fibras sintéticas, têxteis e
confecções, cerâmica, iluminação, calçado e mobiliário. O sector industrial representa 56% do seu
produto interno bruto, seguindo-se o sector de serviços com 37%.
Em 2011, o PIB de Jiangmen atingiu 178 mil milhões de yuans, o que representa uma subida face ao
ano anterior de 13%. A produção industrial, que registou um incremento de 19%, ascendeu a 113 mil
milhões.
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As receitas orçamentais aumentaram 20,48% para 11,9 mil milhões de yuans; o investimento em bens
de capital fixo foi de 76 mil milhões de yuans, mais 21%; as vendas a retalho somaram 76 mil milhões,
uma subida de 16% e o comércio externo chegou aos 17 mil milhões de dólares americanos, mais
18%. As exportações foram de 12,25 mil milhões de dólares americanos, mais 18% e as importações
atingiram 5,4 mil milhões de dólares. O investimento estrangeiro contratado foi de 135 milhões, acima
dos 82 milhões em 2010, mas o investimento estrangeiro realizado desceu para 78,9 milhões, abaixo
dos 111 milhões de dólares em 2010.
Motociclos e jeans
Jiangmen é um dos maiores fabricantes de motorizadas da China, com 16 fabricantes e mais de 300
fornecedores de componentes e acessórios. Em 2008, produziram 4 317 000 motociclos e foram
exportadas unidades no valor de 647 milhões de dólares americanos para a América do Sul, Médio
Oriente, África e Sudeste Asiático. A maior empresa do sector é a Grand River Group, que fabrica
a sua própria marca Haojue, bem como sob licença os modelos da Suzuki do Japão. A empresa foi
criada em 1992 como o maior parceiro no exterior e a maior base de exportação da Suzuki Motor
Corporation do Japão. Emprega 14 mil trabalhadores e tem uma capacidade produtiva de três milhões
de motociclos por ano, sendo um dos maiores grupos da China neste sector. Exporta para mais de 70
países, incluindo o próprio Japão. O valor da marca, em 2011, estava avaliado em 14,3 mil milhões de
yuans. Jiangmen é também um importante produtor de componentes e acessórios para a indústria
automóvel, comercializados tanto no mercado interno como no exterior.
Os têxteis são outro sector importante com 450 empresas que produzem anualmente 250 milhões de
metros de ganga e mais de 10 mil toneladas de tecidos diversos. Estas empresas exportam anualmente
120 milhões de pares de calças de ganga (“jeans”) para mais de 60 países e territórios.
Fundada em 1984 e cotada na Bolsa de Valores de Shenzhen desde 1997, a Guandong Xinhui Meida
Nylon é um dos maiores produtores da China de fibra sintética. Tem uma força laboral de 3500 pessoas,
uma facturação anual de 5 mil milhões de yuan e uma produção, igualmente anual, de 200 mil metros
de filamento e 4800 toneladas de tecido de qualidade elevada.
O distrito de Heshan especializou-se no calçado, tendo 400 fábricas que produzem anualmente 60
milhões de pares de sapatos ou 1/6 da produção total da província de Guangdong. Muito deste calçado
é produzido sob licença de marcas de renome internacional e é vendido nos Estados Unidos da América,
Japão e Médio Oriente.
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
a indústria, o International Green Light Expo Trade Centre, cujos trabalhos de construção começaram
em Abril de 2012. Um outro projecto de relevo é o Guangdong Green (Semiconductor) Illumination
Products Base, com uma área de quatro km2, que irá incluir uma incubadora industrial e um centro
para investigação e desenvolvimento. As autoridades de Jiangmen pretendem que o sector industrial
das tecnologias de informação venha a atingir um valor de 100 mil milhões de yuans, em 2015.
O governo municipal encara a produção de díodos emissores de luz (LED - light-emitting diodes) como
um dos pilares industriais de Jiangmen nos próximos anos. Propõe-se manter e consolidar as indústrias
tradicionais e desenvolver novas indústrias. Esta estratégia será apoiada por duas novas estruturas
ferroviárias. Uma é a linha de alta velocidade para comboios de passageiros, entre Cantão e Zhuhai,
com paragem em Jiangmen, que foi inaugurada em Janeiro de 2011 e é a primeira linha de caminhode-ferro na zona Oeste do Rio das Pérolas. A segunda estrutura é a linha convencional entre Cantão e
Zhuhai, destinada principalmente para transporte de mercadorias, que se encontra ainda em fase de
construção, incluindo o túnel de 9 185 metros de comprimento em Jiangmen. A linha convencional terá
paragens em Heshan e Jiangmen Sul.
Segundo o plano de desenvolvimento 2008-2020 para a região do Delta do Rio das Pérolas, Jiangmen
deverá concentrar-se nos seguintes pilares industriais: bens de equipamento, electrónica e tecnologias
de informação, petroquímica intermédia e final, energias renováveis, produtos de papel, indústrias
alimentares, fibras sintéticas, matérias-primas, logística, modernização do sector de serviços e da
agricultura. Jiangmen vai ter acesso a uma rede de caminho-de-ferro, três vias rápidas e duas pontes
sobre o Rio das Pérolas. Este plano contempla uma maior integração do centro de Jiangmen com as
localidades de Taishan, Kaiping, Enping e Heshan. As autoridades municipais estabeleceram acordos
com as autoridades turísticas de Hong Kong e Macau para o desenvolvimento conjunto de projectos
de turismo.
Iluminando o futuro
Jiangmen é igualmente um grande centro de produção de díodos emissores de luz (LED - light-emitting
diodes), utilizados na iluminação e no sector das tecnologias de informação. São mais de 200 empresas e
uma facturação de 11 mil milhões de yuans. Encontra-se planeado um grande centro de referência para
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8) Foshan
A Colina do Buda torna-se uma potência exportadora
Foshan significa a Colina do Buda. Foi no ano de 398 que um monge budista proveniente de Caxemira
chegou a esta região para pregar a sua religião. A povoação receberia o nome de Foshan no ano de 628,
por causa das muitas estátuas de Buda. Actualmente, ocupa uma área de 3 840 km2.
Na era imperial, Foshan foi um importante centro de troca e distribuição de produtos. Foi também um
grande produtor de cerâmica, uma indústria que ainda hoje se mantém. A cidade também é famosa
pela ópera cantonesa, artes marciais, têxteis e pela sua medicina tradicional, além de ser a terra natal
de milhões de chineses ultramarinos.
A transformação de Foshan numa zona industrial de importância nacional começou em 1980, quando
Pequim anunciou as políticas de reforma e abertura ao exterior. Guangdong foi a província pioneira.
Foshan aproveitou a oportunidade como poucas cidades o fizeram. Promoveu uma atracção bem
sucedida de investimento estrangeiro, principalmente em Hong Kong e junto da diáspora chinesa. Estes
empresários instalaram as suas fábricas em Foshan, trazendo com eles capital, tecnologias e matériasprimas, enquanto a cidade disponibilizava instalações e mão-de-obra a custos reduzidos.
Municípios especializados num único produto
Na linha da frente do desenvolvimento das cinco áreas da cidade de Foshan encontramos os dois
distritos mais populosos: Nanhai e Shunde. Em 1985, Shunde já tinha 14 fábricas que produziam 8,81
milhões de ventoinhas por ano, então o líder do sector na China. As autoridades de Foshan incentivaram
cada um dos seus distritos a desenvolver a especialização num só produto, incluindo componentes e
acessórios, de modo a ganhar vantagens competitivas resultantes das economias de escala.
Nos últimos 30 anos, Foshan tornou-se numa das potências industriais da província de Guangdong. Em
2011, o seu PIB atingiu 660 mil milhões de yuans, um aumento de 17% sobre os 564 mil milhões de 2010.
A cidade está entre as 12 mais da China, inclusive à frente de muitas cidades com mais população do
que os seis milhões de Foshan. É um dos maiores produtores da China de electrodomésticos, para além
de produtos de cerâmica para a construção civil, produtos de alumínio e de aço inoxidável. É também o
maior mercado da China para os sectores do mobiliário, vasos ornamentais e molho de soja.
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
Foshan pretende agora deixar as indústrias poluentes de baixo custo e enveredar por novos sectores
de maior valor acrescentado. Nesse sentido, está progressivamente a abandonar a centenária indústria
da cerâmica, em defesa da qualidade do ar e da água e está a enveredar por tecnologias avançadas,
finança e outros serviços. Até à data conseguiu atrair empresas de fabrico de monitores fotoelectrões,
díodos emissores de luz e painéis solares.
Entre 2011 e 2015 o PIB deverá crescer a uma média de 10%. Em 2011, o PIB per capita foi de 91 500
yuans e a receita fiscal 111,1 mil milhões de yuans. A produção industrial é uma das mais altas ao nível
da província de Guangdong, mas de baixo valor acrescentado. Foshan possui o primeiro metropolitano
intercidades da China, com ligação à capital provincial, Cantão. Esta linha foi inaugurada em Novembro
de 2010, facilitando as condições de acesso àqueles que vivem em Foshan e trabalham na capital
provincial. Em Janeiro de 2011, foi inaugurada a linha de alta velocidade para transporte de passageiros
entre Cantão e Zhuhai, com paragem em Foshan.
Em 2009, o sector privado respondia por 60,4% da economia de Foshan, ao passo que as empresas
estrangeiras representavam 25,9% e as empresas estatais 13,7%. Estavam registadas 324 500 empresas
privadas, responsáveis por mais de 60% da produção industrial. Actualmente, possui mais de 4 000
empresas com investimento estrangeiro, das quais 70% pertencem a chineses ultramarinos.
Entre os seus principais produtos incluem-se os aparelhos eléctricos, máquinas e equipamentos,
produtos metálicos, cerâmica, têxteis, electrónica, bens alimentares, plásticos, máquinas de precisão,
produtos farmacêuticos e mobiliário. Foshan é responsável pela produção de 60% das cerâmicas para a
construção civil de toda a China, 85% de máquinas e equipamentos para a indústria da cerâmica, 50%
dos produtos de alumínio e por 25% dos discos compactos.
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
Marcas de referência
A empresa mais famosa de Foshan é a Midea, um dos maiores fabricantes de electrodomésticos de
toda a China, cujas vendas ultrapassaram 100 mil milhões de yuans em 2010, um aumento de 33%
relativamente a 2007. A Midea possui 14 centros de produção na China e outros três no estrangeiro,
mantém 21 filiais no exterior, tem três empresas cotadas em bolsa e emprega 150.000 trabalhadores.
Exporta uma parte significativa da sua produção.
Outra marca de referência, em Shunde, é a Galanz, o maior fabricante mundial de microondas. A Galanz
é uma empresa privada fundada em 1978 e resultou da iniciativa de sete sócios, que começaram com a
produção de penas de pato. Em 1993, assinaram um acordo com a Toshiba para a produção de fornos
microondas. Hoje, saem anualmente da Galanz mais de 15 milhões de fornos microondas e a empresa
emprega 50.000 trabalhadores.
A Galanz mantém centros de investigação e desenvolvimento nos Estados Unidos e na Coreia do Sul,
bem como possui 10 000 postos de venda em 170 países e territórios de todo o mundo. A empresa de
Shunde prevê expandir a produção no Sudeste Asiático, América do Sul e Europa de Leste.
Nas últimas três décadas, Foshan assumiu um papel pioneiro em Guangdong ajudando-a a tornar-se
numa “fábrica do mundo”. Agora, como acontece em outras cidades, Foshan está perante o desafio de
se reinventar. À medida que as indústrias de mão-de-obra intensiva são transferidas para o interior do
país ou para países de custos reduzidos como o Vietname, a Indonésia ou o Bangladesh, Foshan tem de
encontrar alternativas de desenvolvimento e crescimento que assegurem o seu “milagre económico”.
As medidas adoptadas em Foshan foram seguidas por outras cidades chinesas; mas o estatuto de
pioneiro trouxe manifestas vantagens para esta cidade da província de Guangdong.
Nos três primeiros trimestres de 2011, o investimento estrangeiro contratado foi de 1,12 mil milhões de
dólares americanos, menos 33,2% do que no período homólogo de 2010, mas o investimento realizado
– 1,557 mil milhões – registou um aumento de 4,5%. No decurso do plano quinquenal 2006-2010,
empresas estrangeiras, incluindo 90 da Fortune 500, investiram 8,32 mil milhões de dólares americanos,
montante que representou um aumento de 170% relativamente ao verificado no quinquénio anterior
(2001-2006).
Nos primeiros oito meses de 2011, as exportações cresceram 21,6%, relativamente ao ano de 2010,
atingindo 25,8 mil milhões de dólares americanos e as importações aumentaram 21,8%, para um total
de 14,56 mil milhões. Durante o período 2006-2010, o comércio externo atingiu 201 mil milhões de
dólares americanos, o que traduziu um aumento de 2,29 vezes em relação ao quinquénio anterior.
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
9) Zhaoqing
Cidade de vice-reis e jesuítas
Zhaoqing é uma cidade localizada a sudoeste da província de Guangdong, na zona mais ocidental do
Delta do Rio das Pérolas. Estende-se por uma área de 15 000 km2 e tem uma população de 3,9 milhões
de habitantes.
É uma das povoações mais antigas da província de Guangdong, remontando à Dinastia Qin (221-206
AC). Durante a Dinastia Sui, nos finais do século VI, foi uma importante base administrativa e militar.
Quando os europeus chegaram à província de Guangdong no século XVI, Zhaoqing era a sede do
vice-rei de Guangdong e Guangxi. O jesuíta Mateus Ricci estabeleceu-se nesta cidade entre o ano
de 1583 e o ano de 1589, quando o novo vice-rei lhe deu ordem de expulsão. Foi a primeira casa
da missão dos jesuítas no interior da China. Foi em Zhaoqing que Ricci desenhou o primeiro mapamúndi em chinês, em 1584. As montanhas próximas da cidade contêm reservas significativamente
ricas de minerais como carvão, calcário, cobre, chumbo, zinco, ouro, enxofre e gesso, bem como
abundantes quantidades de ervas medicinais. As planícies férteis produzem arroz, cana-de-açúcar,
fruta e peixe.
Em 2011, Zhaoqing registou um PIB de 129 mil milhões de yuans, um aumento de 14,7% em relação ao
ano de 2010. O sector industrial representa 45% do PIB, o sector de serviços 38,2% e o sector primário
16,8%. O investimento em bens de capital fixo foi de 71 mil milhões de yuans, mais 23,2%, e as receitas
fiscais subiram 25,6%, para um montante de 9,2 mil milhões de yuans. O comércio a retalho cresceu
19,3% para um valor de 38,97 mil milhões de yuans, com aumento mais acelerado nos subsectores do
mobiliário, produtos alimentares, vestuário e calçado.
No mesmo ano de 2011, Zhaoqing recebeu 24 milhões de visitantes, mais 19,7% do que no ano anterior,
que efectuaram uma despesa de 14,2 mil milhões, um acréscimo de 38,5%. Os visitantes podem
desfrutar do património cultural e histórico de Zhaoqing, incluindo uma secção da antiga muralha,
bem como das paisagens à volta da cidade.
O valor das trocas comerciais aumentou 30,1% para 5,71 mil milhões de dólares americanos,
com as exportações a aumentar 27,4% para 3,31 mil milhões e as importações 34% para 24 mil
milhões de dólares americanos. O investimento estrangeiro concretizado aumentou em 10,2%
para 1,029 mil milhões. O rendimento médio no meio urbano era de 19 040 yuans, um aumento
de 13,1%, enquanto o da população rural se situava nos 8 770 yuans, mais 16,6% do que no ano
anterior.
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Cidade da cerveja, da comida e do alumínio
Os sectores dos têxteis e vestuário e das indústrias da alimentação e bebidas constituem o núcleo das
indústrias tradicionais de Zhaoqing. A empresa mais relevante deste último sector é a Guangdong
Zhaoqing Blue Ribbon Group, que instalou a sua sede na cidade em Outubro de 1990. Ocupa uma área
de 130 000 m2 e emprega 2 300 trabalhadores. Possui 16 filiais e produz, para além da cerveja e outras
bebidas, bolos, doçaria, lacticínios, conservas e aromatizantes para culinária. Os seus activos estão
avaliados em 2,3 mil milhões de yuans.
Outra grande empresa é a Star Lake Bioscience, que produz principalmente glutamato monossódico,
produtos farmacêuticos, produtos intermédios, aditivos para culinária, aditivos para rações e temperos.
A empresa está cotada na bolsa de Xangai desde 1994 e tem receitas anuais de 1,4 mil milhões de
yuans, vendendo para os mercados interno e externo.
A Guangdong Hongtu Technology Holding Co, cotada na bolsa de Shenzhen desde Dezembro de 2006,
fabrica componentes de alumínio para a indústria automóvel, equipamento de telecomunicações e
produtos electromecânicos.
Com uma capacidade produtiva anual de 36 000 toneladas, as suas vendas nos mercados interno e
externo - incluindo a Nissan, Chrysler e Honda - ascenderam a 894 mil milhões de yuans em 2010.
A Huarun Cement, uma filial do China Resources Group de Hong Kong, investiu 3,9 mil milhões de
dólares de Hong Kong na construção de uma cimenteira, situada no parque industrial de Fengkai, com
capacidade para produzir anualmente 16 milhões de toneladas de cimento. Este investimento inclui a
unidade fabril e a unidade de fornecimento de energia para a sua operação.
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
Um dos maiores investidores é a Zhong Hang Group, a maior empresa farmacêutica na região de Guangxi,
no Sudoeste da China. Em Julho de 2010, a empresa anunciou um investimento em cinco anos de sete mil
milhões de yuans num complexo fabril de 67 ha para a fabricação de produtos farmacêuticos e outros
relacionados com o sector da saúde. Pretende também investir seis mil milhões de yuans na construção
de um centro de logística, incluindo armazéns e um centro de comercialização e distribuição.
Outro grande investimento na zona industrial é o realizado pela Zhaoqing Asia Aluminium Factory,
um dos maiores produtores da China que utiliza o processo de produção por extrusão. Emprega
3 000 trabalhadores e tem uma capacidade produtiva anual de 310 000 toneladas. Em Março de 2010,
a Zhaoqing Asia Aluminium Factory assinou um acordo com um consórcio liderado pela filial local do
Banco de Construção da China para um empréstimo no montante de 6,5 mil milhões de yuans, o maior
empréstimo de sempre a uma empresa do sector privado. A empresa é uma filial da AsiaAlum Holdings,
que tem sede em Hong Kong.
Zhaoqing quer atrair mais empresas do nível da AsiaAlum e da Zhong Hang, que não se limitam a
fabricar para terceiros, mas que têm os seu próprios produtos e as suas próprias marcas. As novas
acessibilidades vêm ajudar o futuro desenvolvimento de Zhaoqing. Está a ser construída uma nova via
rápida de ligação a Foshan e a Cantão, que vai permitir ganhar 40 minutos no trajecto entre a cidade e o
aeroporto de Baiyun (Nuvem Branca) de Cantão. Também em fase de construção encontra-se o sistema
de metro ligeiro intercidades e duas linhas de alta velocidade de Cantão a Nanning e a Guizhou, cidades
capitais das províncias vizinhas, com passagem por Zhaoqing. No orçamento de 2011 para projectos na
área dos transportes estavam inscritos 11,884 mil milhões de yuans.
Atingir o desenvolvimento de outras cidades da região do Delta do Rio das Pérolas
Com os olhos postos no futuro, Zhaoqing pretende actualizar a sua estrutura industrial, de modo a não
perder de vista as outras cidades da região do Delta do Rio das Pérolas. O seu rendimento médio anual é
metade do rendimento médio no conjunto das cidades da região e a parcela do PIB correspondente ao sector
dos serviços é de 44%, enquanto a média para o conjunto das cidades é de 50%. Zhaoqing quer consolidar
os pilares industrias tradicionais – produtos alimentares e bebidas, materiais de construção, electrónica,
produtos químicos, máquinas e equipamentos, têxtil e vestuário – e desenvolver novos sectores.
O futuro desenvolvimento económico de Zhaoqing passa pelo seu parque industrial de tecnologias
avançadas, com uma área de 109 km2 subdividida em dois parques: Parque Industrial de Sanrong e
Parque Industrial de Dawan, sendo este último a zona de despacho de exportações e comercialização.
Em 2010, o valor da produção industrial desta zona situava-se em 8,13 mil milhões de yuans. O parque
acolhia cerca de 300 empresas com um investimento estrangeiro na ordem de 3 mil milhões de
dólares americanos. As principais indústrias aí localizadas incluem os novos materiais, fabricação de
equipamentos avançados, tecnologias de informação e biotecnologia.
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
10) Hong Kong
De colónia britânica a centro financeiro internacional
Hong Kong tornou-se uma colónia do império britânico após a Primeira Guerra do Ópio (1839-1842).
Regressou à soberania chinesa no dia 1 de Julho de 1997, passando a ser uma Região Administrativa
Especial (RAE), sob o princípio de “um país, dois sistemas”, de acordo com o modelo proposto por
Deng Xiaoping. Hong Kong tem uma população de sete milhões de habitantes, 95% dos quais de etnia
chinesa, que vivem numa área de 1100 km2.
Os britânicos escolheram Hong Kong por causa do seu excelente porto de águas profundas, o melhor
do sudeste da China. Desenvolveram a colónia como um porto e entreposto comercial. Posteriormente,
após a vitória dos comunistas no interior da China em 1949, Hong Kong viria a desenvolver-se como um
centro industrial. Homens de negócios e empresas, receando o novo governo, mudaram-se para Hong
Kong e aí instalaram os seus negócios, aproveitando a atitude “laissez-faire” e pouco intervencionista
da administração colonial britânica, enquanto no interior Mao Tse-tung implementava um sistema
económico de inspiração soviética e fechava as fronteiras da China ao exterior. Deste modo, Hong Kong
ganhou importância como o único entreposto para as exportações e importações de mercadorias e
como centro de serviços financeiros, seguros e outros, entre a China e o resto do mundo.
Papel crucial na região do Delta do Rio das Pérolas
Desde que as políticas de reforma e de abertura foram lançadas por Deng Xiaoping, em Dezembro de
1978, Hong Kong passou a desempenhar um papel central. Esta política foi executada pela primeira
vez na província de Guangdong, que faz fronteira com Hong Kong. Foram criadas quatro zonas
económicas especiais (ZEE), entre as quais a de Shenzhen, na área vizinha a Hong Kong. As empresas
de Hong Kong foram as primeiras do exterior a investir na China, transferindo fábricas da colónia para
Shenzhen e outras cidades do Delta do Rio das Pérolas, de modo a beneficiarem de custos mais baixos
de instalações e de mão-de-obra. O sucesso dos investidores de Hong Kong atraiu outros do exterior:
chineses ultramarinos do Sudeste Asiático e empresas de Taiwan, Japão, Estados Unidos da América e
Europa. Durante as duas primeiras décadas da política de abertura, Guangdong permaneceu como a
província pioneira; o capital, os recursos humanos e o conhecimento nas áreas de gestão provenientes
de Hong Kong desempenharam um papel fundamental. De seguida, os investidores transferiram as
suas operações para outras regiões da China, incluindo Pequim, Xangai, a zona do delta do Iangtsé e a
região do golfo de Bohai.
Não obstante este movimento de disseminação de investimentos para outras regiões, a zona do Delta do
Rio das Pérolas mantém-se como uma das áreas económicas mais importantes da China respondendo
por 10% do PIB nacional e por 30% do volume de exportações.
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
É líder mundial em produtos da electrónica, produtos eléctricos, relojoaria, brinquedos, têxteis e vestuário e
produtos de plástico. Muitos referem-se a esta zona como a “fábrica do mundo”. Hong Kong desempenha
um papel importante na gestão desta “fábrica” e as grandes empresas internacionais preferem Hong
Kong como a base para as suas actividades de alto valor, como administração, aquisição, distribuição,
serviços financeiros, comunicação e serviços profissionais. O porto de Hong Kong mantém-se como uma
importante base de transbordo, mas tem perdido peso relativo com a concorrência de grandes infraestruturas portuárias em Shenzhen, Cantão e outras cidades da zona do Delta do Rio das Pérolas.
Em 2011, o produto interno bruto foi de 242,4 mil milhões de dólares americanos, um aumento de 5%
relativamente a 2010 e o PIB per capita passou de 31 700 para 34 200 dólares americanos. O volume
das trocas comerciais, que cresceram 11%, atingiu 910,5 mil milhões de dólares americanos, com as
exportações a subiram 10,1% para um total de 427,9 mil milhões de dólares americanos, dos quais 419,8
mil milhões correspondem a reexportações de bens e mercadorias produzidos na China e exportados
através de Hong Kong. Subsiste pouca indústria na medida em que a maioria transferiu-se para a China
ou para outros países de baixos custos. O sector dos serviços representa mais de 90% do PIB. Hong
Kong é uma das cidades comerciais mais importantes da Ásia.
Nos primeiros onze meses de 2011, as vendas a retalho subiram 25% em relação ao ano anterior e o
número de visitantes atingia 41,9 milhões, mais 16,4% do que no período homólogo anterior. Destes,
28,1 milhões vieram da China continental, o que representa um aumento de 23,9%. O montante
despendido pelos turistas subiu 20,5% para 253 mil milhões de dólares de Hong Kong. Os quatro pilares
da economia de Hong Kong são o comércio e logística, que correspondiam em 2010 a 25,5% do PIB
em termos de valor acrescentado, serviços financeiros 15,4%, serviços profissionais e outros 12,8%, e
o sector turístico com 4,4% do PIB.
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
seis indústrias definidas. Em Junho de 2003, o governo da região administrativa especial de Hong
Kong assinou o acordo CEPA (Closer Economic Partnership Agreement) com o Governo Central, cujo
objectivo é facilitar o acesso de bens e serviços de Hong Kong ao mercado do interior da China. Ao
abrigo deste acordo, todos os produtos de origem de Hong Kong, à excepção de alguns proibidos,
podem ser importados e livres da aplicação de outras taxas e impostos. Por outro lado, os operadores
na área de serviços de Hong Kong beneficiam de tratamento preferencial em 47 categorias do sector
de serviços se decidirem instalar-se no interior da China. Existem também acordos sobre comércio e
facilidades de investimento, bem como no reconhecimento mútuo das qualificações profissionais.
O processo de integração com a China, e em particular com a região do Delta do rio das Pérolas,
compreende também a aproximação através do sistema de transportes. Está em construção a ponte
que vai ligar Hong Kong a Macau e a Zhuhai; este enorme projecto, que vai custar mais de 10 mil
milhões de dólares americanos, deverá ficar concluído em 2016. São 50 km de extensão de pontes e
túneis, através dos quais o trajecto para Macau e Zhuhai irá efectuar-se em 30 minutos.
Acrescente-se a construção de uma ligação ferroviária de alta velocidade entre Hong Kong e Shenzhen
– um segmento da linha que liga Hong Kong a Cantão – que deverá abrir em 2015. O segmento da linha
que liga a capital provincial e Shenzhen foi inaugurado em Dezembro de 2011, um trajecto de 102 km que
demora 35 minutos a realizar. Em Hong Kong, a ligação directa a Shenzhen é contestada por muitos, com
o argumento de que a curta distância até Shenzhen não justifica um encargo financeiro de 66,9 biliões de
dólares de Hong Kong, devido aos custos de expropriação de terras e de construção de vários túneis. Este
segmento irá permitir ligar Hong Kong directamente à rede nacional de alta velocidade.
Doravante, Hong Kong pretende desenvolver seis áreas que, no seu conjunto, valiam 8,4% do PIB, em
2010 – cultura e indústrias criativas, indústrias de saúde, ensino, tecnologia e inovação, serviços de
avaliação e certificação e indústrias do ambiente.
Em meados de 2009, o Conselho de Estado (Governo) aprovou o plano de desenvolvimento da zona do
Delta do Rio das Pérolas, referente ao período de 2008-2020, no qual é reiterada a cooperação entre
Guangdong, Hong Kong e Macau como uma peça importante na estratégia nacional de desenvolvimento.
O objectivo é integrar as economias das três partes, valorizando as respectivas vantagens.
Processo de integração na região do Delta do Rio das Pérolas
O governo de Hong Kong procura activamente as vias que possam complementar o 12º Plano Quinquenal
(2011-2016), com a ênfase colocada na cooperação com Guangdong, promovendo o papel de Hong
Kong como praça offshore para as transacções em renminbis, bem como no desenvolvimento das
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
11) Huizhou
Huizhou é uma cidade com uma área de 11 200 km2 na região nordeste do Delta do Rio das Pérolas,
contígua a Shenzhen e Hong Kong. Está integrada na área metropolitana Shenzhen-Donguan, altamente
industrializada e fazendo parte da “fábrica do mundo”. No final de 2011 tinha uma população residente
de 4,6 milhões de pessoas.
O seu Produto Interno Bruto ascendeu a 209,73 mil milhões de yuan em 2011, um aumento de 14,6%
relativamente a 2010 e que pode ser comparado com os 100 mil milhões de yuan registados em 2007.
No primeiro semestre de 2012 o seu PIB atingiu 110,9 mil milhões de yuan, um aumento homólogo de
11,8%. A meta das autoridades da cidade é atingir um PIB de 300 mil milhões de yuan até 2016. Em
2011 as exportações foram de 23,1 mil milhões de dólares, um acréscimo homólogo de 14,3% e as
importações aumentaram 12,1% para 15,69 mil milhões de yuan.
O investimento directo estrangeiro contratado foi em 2011 de 2,17 mil milhões de dólares, mais 46,4%
e o IDE realizado atingiu 1,57 mil milhões de dólares, representado um aumento de 9,1%. Das 6261
empresas com capitais estrangeiras existentes em Huizhou no final do ano passado 3968 eram de Hong
Kong, 869 de Taiwan, 149 da Coreia do Sul, 106 dos Estados Unidos da América, 60 do Japão e 33 da
Europa.
Os seus principais sectores de actividade são a petroquímica e a electrónica, representando cada um
cerca de 30% do PIB registado no final de 2011. A cidade alberga a sede da TCL, um dos maiores
produtores de televisores da China e que dispõe das maiores instalações do país para a produção de
ecrãs planos para televisores. Outros dos grandes investidores na cidade são a Royal Dutch Shell, China
National Offshore Oil Corporation e Samsung.
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
Índice
Índice
A História Notável do Delta do Rio das Pérolas
Uma história de dois milénios - as duas rotas da seda
7
Cantão na rota da seda marítima
8
Grande migração do norte
9
Portugueses chegam a Macau
10
Prosperidade de Cantão
11
A guerra do ópio e o declínio de Cantão
12
Industrialização no Delta do Rio das Pérolas
13
Guerra e revolução comunista
14
Desenvolvimento do Delta do Rio das Pérolas no século XXI
15
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Crescimento da indústria ligeira
15
Mudança radical a partir de 1978
17
Shenzhen: um caso de grande sucesso
19
Outras cidades de sucesso no Delta do Rio das Pérolas
21
Cantão reconquista a liderança
23
Novo século, nova política
24
Novos pilares industriais
25
Cantão no centro do Delta do Rio das Pérolas
27
Plano para 2008-2020
29
Os Três Agrupamentos de cidades do Delta do Rio das Pérolas 46
Cidades do Delta do Rio das Pérolas
53
1) Cantão
53
2) Shenzhen
57
3) Dongguan
61
4) Zhuhai
65
5) Macau
69
6) Zhongshan
73
7) Jiangmen
77
8) Foshan
81
9) Zhaoqing
85
10) Hong Kong
89
11) Huizhou
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A HISTÓRIA NOTÁVEL DO DELTA DO RIO DAS PÉROLAS
Thomas M. H. Chan, um dos mais conceituados investigadores de assuntos da
China nomeadamente do Delta do Rio das Pérolas, fundou e dirige o “China Business
Centre” na Universidade Politécnica de Hong Kong.
Thomas Chan realizou diversos estudos e pesquisas sobre o Delta do Rio das Pérolas
na sua maioria por solicitação de departamentos oficiais da República Popular da
China e de Hong Kong.
O economista, antes de criar o “China Business Centre” foi investigador do Centro de
Estudos Asiáticos da Universidade de Hong Kong e colaborador do Departamento de
Economia da Universidade Baptista de Hong Kong.
Actualmente é professor não-residente na Universidade de Renmim em Pequim,
Vice-Presidente do Conselho de Administração do Centro de Estudos Financeiros e
Investimento Internacional na Academia Chinesa de Ciências Sociais, em Pequim, e
investigador do Governo Provincial de Guangdong para além de consultor de várias
associações de Hong Kong.
Ao longo da sua carreira Thomas Chan trabalhou também como consultor para
entidades governamentais e privadas do Japão e de Taiwan.
Thomas Chan, economista, é colaborador regular de várias publicações asiáticas
entre elas o China Daily, o South China Morning Post e a revista Macao.
Louise do Rosario é uma jornalista especialista em assuntos da Ásia, tendo
trabalhado em Pequim, Xangai, Taipé, Tóquio e Hong Kong. Desde os anos 80 que
viaja e escreve sobre o desenvolvimento do Delta do Rio das Pérolas.
Louise do Rosario jamais esquece a sua primeira visita a Shenzhen, em 1979, quando
a cidade era uma pequena localidade poeirenta, rural e economicamente atrasada.
A jornalista, natural de Hong Kong, trabalhou como correspondente no Far East
Economic Review, The Banker, Hong Kong Standard, Economist Intelligence Unit e
mais recentemente na revista Macao.
Publicações Macaulink
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