Paquerando

Transcrição

Paquerando
CAPA
FUNDOS APRESENTAM ALTOS GANHOS
NO MERCADO BRASILEIRO, E DE OLHO EM
UMA FATIA DESSES RECURSOS O VAREJO
QUER SABER: COMO SETORNAR MAIS
ATRATIVO PARA OS INVESTIDORES?
Paquerando
fundos de
investimento
Por
Camila
Mendonça
m 2010, as sócias do e-commerce OQVestir, Rosana Sperandéo, Mariana Medeiros e Isabel Humberg, receberam uma ligação: um fundo estava
interessado no negócio que, naquele ano, estava
começando e tinha apenas cinco pessoas envolvidas. O problema: o potencial investidor estava no aeroporto do
Galeão, no Rio deJaneiro,já pronto para voltar para Nova York,
nos Estados Unidos. "Não tivemos dúvidas saímos correndo de
São Paulo para o Galeão naquele dia", conta Isabel, CEO da .
companhia. Na mala, o plano de negócios e a vontade de fazê-lo .
crescer. "Fundo quer business plan, quer saber onde estamos,
como estamos, quais os objetivos do negócio e onde queremos
estar - foi o que apresentamos", conta. E foi ali, no restaurante
Bob's do aeroporto, que a marca conseguiu a primeira, de uma
série de três rodadas de investimentos, em três anos de negócio.
o primeiro
sócio, aquele do aero-
nào investiu sozinho. Com ele, o Kaszek
seis meses de negociação e organização
porto, foi o fundo de private equity Ti-
Ventures também aportou recursos. O
fundo também tem no portfólio Netshoes, além de outras estrelas da intemet,
como Oppa Design, PetLove e Beleza
Na Web - também investimento em parceria com a Tiger Da primeira conversa
da papelada. Foi tudo muito rápido.
"Nào dava para titubear, a oportunidade
ger Global Management, que tem no
portfólio investimentos em empresas
pontocom, como Facebook e LinkedIn.
No Brasil, o fundo já realizou aportes no
Peixe Urbano, Netshoes e até em novatas como Babycom.br
a OQVestir, ele
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m a r ç o / a b r i I 2 O1 4
N O V A REJ O
até a entrada do capital, em 20 II,foram
estava ali", conta Isabel. Ter um fundo
como sócio era consenso entre as sócias
e a afinidade com a Tiger ajudou no
processo. No primeiro momento, o que
elas queriam e precisavam era o "como
fazer" do mundo on-line. E para ajudáIas, o fundo organizou encontros com
executivos do setor. Márcio Kumruian,
presidente da Netshoes, foi um deles.
Anualmente, o fundo reúne executivos
de todas as companhias que receberam
investimentos em um único lugar para
trocar experiências. Além disso, um time
de consultores das áreas de marketing,
comercial, TI e financeiro avalia o negócio mensalmente e ajuda a dar um direcionamento com base nas tendências
mundiais. "São coisas que o dinheiro
não traz. A experiência vale mais do que
qualquer coisa", avalia Isabel.
O know-how
..........
r
:.::.
e o primeiro aporte
nalizaram a operação logística e o SAC,
possuem plataforma na web customizada e têm hoje um galpão de dois mil
metros quadrados em São Paulo. Não
parou aí. No ano passado, elas foram,
sozinhas, conversar com outros investidores. Queriam saber o real entendimento do mercado sobre o negócio.
" aquela hora deu um frio na barriga.
E se voltássemos com a pasta vazia de
novos investidores?", diz.
As sócias foram até Califórnia e
Nova York, além de rodarem o Brasil
e conversaram com 14 investidores.
No fim, tinham três ofertas de mais in-
fizeram com que o negócio crescesse
600% em menos de um ano. O resultado, acima do esperado, fez com que
a Tiger realizasse uma segunda rodada
de investimentos no mesmo ano. E o
vestimentos na mesa. Venceu o TMG
Capital, com atuação off-line.
Com três sócios sem data para sair,
a empresa fez o rearranjo societário,
mas a gestão continua nas mãos delas.
O foco agora é fazer o negócio cres-
que mudou? "Tudo. Foi possível colocar
de fato o que imaginávamos em termos
de estrutura em prática", conta Isabela.
cer. "Quando você recebe o recurso,
dá vontade de fazer uma campanha
bacana de marketing e investir em mi-
Com o fundo, as executivas puderam
trazer talentos para as áreas da companhia e investir em infraestrutura: inter-
lhares de coisas, mas o dinheiro não
dá para tudo. Então, não dá para perder o foco. Ainda estamos no começo
OS FUNDOS QUE INVESTIRAM
NO BRASIL ENTRE 1990 E2008
APRESENTARAM RETORNOS DE
17% - MAIS QUE O DOBRO DOS QUE
INVESTIRAM NOS ESTADOS UNIDOS
FONTE: PESQUISA DO INSPER COM A GESTORA SPECTRA
N O V A R EJ O
m a r ç o / a b r i I 2 O 1 4 29
CAPA
do jogo", conta Isabel. Com 130 funcionários,
a
empresa tem parceria com 180 marcas, como
Animale, Farm, Le Lis Blanc,
R$ 100 milhões de faturamento
~
TAMANHO
NÃO É
DOCUMENTO
"Agora os fundos
de private equity estão sondando varejos
de médio e até pequeno porte", afirma
Viktor Andrade (1),
líder de fusões e aquisições da EY.A preferência tem explicação
clara. A atividade dos
fundos de private
equity no Brasil começou a ficar mais
intensa nos anos 2000
e as grandes empresas varejistas foram
os alvos. "Boa parte
do grande varejo já
foi adquirida", lembra
Andrade. A redução
do valor de transação
também força os
fundos a focarem em
empresas menores,
mas rentáveis. Segundo o especialista
da EY,esse valor caiu
cerca de 50% nos
últimos anos. Quem
tem ganhado com
essa nova perspectiva
é o e-commerce - ta rget de boa parte dos
fundos que operam
no País. Alexandre
Pierantoni (2),
í
sócio da PWC Brasil,
afirma que ainda há
grandes transações a
serem feitas, mas a
atenção está de fato
no varejo de médio
porte, principalmente
no de moda, com potencial de crescimento de longo prazo,
e em grandes
players regionais.
e espera atingir
em 2015, com
investimentos em novas linhas de produtos,
roupas para crianças e adolescentes.
como
Fundos que investiram no Brasil
tiveram retomo de 17% - já nos EUA,8%
A história do OQVestir não é isolada. Ainda
que o Brasil apresente crescimento abaixo da média
dos paises da América Latina em 2014, a Bovespa
acumule resultados ruins e o consumo não seja o
vetor de crescimento do PIE, como ocorreu em anos
anteriores, os fundos de investimento estão famintos
por novos, e rentáveis, negócios. E não é para menos.
Pesquisa do Insper, em parceria com a gestora Spectra, divulgada em janeiro, mostra que os fundos que
investiram no Brasil entre 1990 e 2008 apresentaram
retornos de 17%. No mesmo período, os fundos dos
Estados Unidos tiveram retornos na ordem dos 8%.
O desempenho, segundo o estudo, deveu-se a três
principais fatores: o boom de crescimento econômico
do Pais entre 2004 e 2012; a competição ainda limitada para a realização de negócios; e a melhora da
experiência dos gestores de fundos, fator diretamente
ligado à melhora da performance. Bom para o varejo.
Último balanço da Abvcap (Associação Brasileira de
Private Equity & Venture Capital)
mostra que dos R$ 14,9 bilhões
investidos pelos fundos em 2012,
21 ,8% foram direcionados para o
setor varejista. O aumento do mercado consumidor interno e o crescimento da classe média justificam
a forte elevação em 2012, segundo
a associação.
E a tendência é que o cenário
siga no mesmo ritmo, mesmo com
possíveis tropeços econômicos. Uma
explicação para a blindagem é que
os fundos fazem aportes pensando
no longo prazo. "Fundos de private equity são menos suscetíveis no
curto prazo a variações econômicas, porque esse investidor entra na
empresa para ficar de quatro a dez
anos e, por isso, ele pondera o cenário atual", explica Viktor Andrade,
líder de fusões e aquisições da EY
30 m a r ç o / a b r i I 2 O 1 4 N O V A R E J O
Em 2013, o Brasil
registrou número
recorde
de tran-
sações de fusões e
aquisições, segundo
a consultoria PWc.
Foram 811 negócios,
dos quais 42% tiveram
participação dos fundos"
private equity. "O Brasil
está com uma demanda
grande de negociações e os setores com base em consumo têm se beneficiado", afirma Alexandre Pierantoni,
sócio da PWC Brasil. "O varejo é um
segmento muito pulverizado no Brasil
e há oportunidades
de consolidação
e profissionalização muito grandes. E
existem recursos para que a perspectiva continue boa", afirma. No alvo dos
fundos, avalia o especialista, estão os
varejos de alimento e de moda.
Roupa, móveis, brinquedo,
lingerie e muito mais
No final do ano passado, a camisaria brasileira Dudalína vendeu
o controle
acionário
para Advent
e
PONTAPÉ
INCIAL
Os sócios
da Maskoto,
Alexandre
Gonçalves,
Victor Frasson
e Alysson
Domingues
receberam
aporte para tira
a ideia do papel
CADE, é a injeção de R$ 250 milhões
do fundo Kinea na Lojas Avenida, com
mais de cem lojas nas regiões Sul, Norte
e Nordeste do Pais. Em nota, a marca
afirmou que o acordo garante ao fundo
participação minoritária do grupo e que
o controle da empresa não será alterado, com Rodrigo Caseli na presidência,
e Christian Caseli como vice-presidente:
"Com o investimento, a pretensão do
Warburg
Pincus - dois dos
maiores fundos do
mundo. Com a negociação, Sônia Hess continua à
frente da companhia, mas já prepara
sucessor para sua saída da operação em
2016. ''l\, sucessão é necessária em qualquer empresa e a saída foi uma opção
minha. Mas eu vou continuar na ativa
e no conselho e quem estará à frente
é alguém que tem essa mesma paixão,
porque está há 30 anos na empresa",
diz Sônia. Com mais de 90 lojas e um
faturarnento que ultrapassou os R$ 500
milhões em 2013, a marca tem planos
de dobrar o tamanho até 2016, investindo, inclusive, na internacionalização
da marca. Outra transação recente no
setor de moda, ainda em análise no
r
grupo é seguir em franca expansão pelo
interior de 13 Estados brasileiros nos
quais já atuam e em um futuro próximo
se consolidar como uma das principais
redes de varejo de moda do Pais".
São vários os exemplos do varejo
de moda que receberam aporte: da
Carnisaria Colombo, que tem como
VAREJO RENTÁVEL
o QUE
TORNA UM VAREJO ATRATIVO
PARA UM INVESTIDOR? NOVAREJO OUVIU AS PRINCIPAIS CONSULTORIAS DO SETOR PARA ENTENDER COMO SE TORNAR
ALVO DESSES INVESTIDORES. CONFIRA
OS SEIS PASSOS QUE PODEM AJUDAR NA
CONQUISTA POR UM APORTE:
1.
sócio o fundo de private equity Gávea
Investimentos, a Restoque, que recebeu aparte em 2007 do fundo Artesia.
Mas moda não é o único foco. Um
dos maiores fundos investimentos em
varejo do mundo, o LOJADA
Carlyle é hoje sócio TOK&STOK
das marcas CVC, de Marca, assim
turismo, Scalina, de comoO/Ce Ri
Happy, é sócia do
lingerie, Ri-Happy,
Carlyle, um dos
de brinquedos,
e maiores fundos
Tok&Stok, de pro- de investimento
do mundo
dutos de decoração.
2.
INOVE No topo da lista dos negócios mais interessantes para os fundos estão aqueles que apresentam alguma inovação. E o mesmo vale para
o varejo. "O negócio é atraente para o investidor
quando ele tem um modelo que permite se diferenciar dos concorrentes", afirma Andrade, da
EY.Negócios que se limitem a fazer o trivial nem
passam perto dos olhos dos investidores. Inovar,
explica Borneli, do Angels Club, significa apresentar diferenciais no produto, no atendimento, nas
formas de pagamento ou mesmo na distribuição
e na logística. A atenção óbvia, diz, se dá em
negócios que desbravam novos mercados, com
potencial de crescimento. "O investidor quando
analisa um projeto busca preencher um espaço
que não existe, com plataformas diferentes",
afirma o executivo. Negócios que apresentam
inovação com foco em sustentabilidade também
ganham a preferência dos fundos.
SEJA COMPETITIVO
A inovação sozinha
não tem muita valia. Para chamar a atenção
em meio a tantos varejistas ávidos por um
aperte, o negócio precisa ser competitivo - ter
modelo de negócio viável. "Vale combinar
margem de retorno interessante e diferenciais
competitivos que permitam que a empresa
cresça mais do que a média de mercado", afirma Andrade. "No fim, chama atenção quem
consegue capturar o máximo de receita e o
máximo de clientes, que tenha estrutura de capitalleve, saúde financeira e que angarie margem melhor que a concorrência", diz Andrade.
Se o negócio é competitivo, não será difícil
apresentar altos níveis de rentabilidade. "É isso
que o investidor olha. O fundo tem dinheiro na
mão para investir e irá investir no negócio que
apresentar o melhor retorno", considera Ferezin, da KPMG. Ele atenta que, nesse sentido, o
varejo enfrenta concorrência de outros setores
- aqueles que começarem a mostrar melhor
performance entram na frente.
V
V
NOVAREJO
março/abril
2014
31
CAPA
3.
4
í
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Anjos sonham com o e-commerce
SEJA LONGEVO
A rentabilidade de hoje
não garante a rentabilidade de amanhã; por
isso, para ser atrativo para os investidores,
o negócio precisa apresentar características
que garantam a longevidade do negócio, seja
por meio de expansão física ou ofertas de
produtos e serviços que agreguem valor ao
negócio original. Isso significa ter modelo que
não seja limitado no tempo e no espaço que consigam crescer geograficamente
e em
número de consumidores, no caso do varejo.
"Os fundos, na maioria das vezes, têm política
de risco de investimento por meio da qual
definem o porcentual de investimento no negócio. E a preferência, em geral, é investir em
negócios com história comprovada, com dados", afirma Rogério Andrade, sócio da KPMG
Brasil. Ele explica que mesmo negócios que
ainda não saíram do papel podem ser alvos
dos investidores se o planejamento mostrar
que a estrutura tem características suficientes
para permanecer no mercado.
Como encabeça
147 investidores com capital de
R$ 50 milhões para investir. "No
varejo fisico, os regionais, com
crescimento acima do mercado,
também recebem atenção", afirma. No eixo Rio-São Paulo, a
movimentação
no varejo fisico é
no mercado de franquias, principalmente nas microfranquias.
Um dos maiores exemplos
desse setor é a varejista esportiva
etshoes, cujo faturamento anual
passou do R$ I bilhão em 2012.
Nela já investiram
os fundos
Kaszek, Iconic Ventures, Tiger
Global Management
e a Temasek Holdings. A Dafiti foi outra
queridinha on-line dos fundos de
investimento. No início deste ano,
CONTROLE PROCESSOS INTERNOS
(GOVERNANÇA E AUDITORIA) Negócios
• inovadores, competitivos e longevos podem
sair da lista de preferência dos fundos se não
apresentarem estrutura sólida comprovada.
Para não afugentar os investidores, é preciso
garantias de que a gestão é séria e de gente
grande. "A empresa tem de ter gestão profissionallzada", afirma Reynaldo Saad, da Deloitte.
Isso inclui a preparação detalhada do plano de
negócios. "O planejamento financeiro deve ser
de curto, médio e longo prazos, e tudo deve
estar casado com o operacional", diz Andrade,
da EY.
Para ser atrativo, é preciso implantar governança corporativa, com transparência na gestão
e apresentação dos dados. "O negócio precisa
ter números confiáveis, com controle financeiro
e de contabilidade, porque o investidor precisa
enxergar o que ele está comprando", lembra
Andrade, da EY.Vale até passar por auditoria.
"Ela facilita a análise dos investidores, mostra o
grau de profissionalização, seriedade e transparência do negócio", ressalta Saad.
Na parte operacional, a casa também deve
estar arrumada, desde aspectos legais, como
a correta abertura do negócio e obrigações
tributárias, previdenciárias, fiscais e trabalhistas
em dia. "Entram na conta aspectos contábeis,
de controladoria, de processos, que devem ser
bem elaborados. Parece pouco, mas muitas
vezes os varejistas não se atentam aos passivos
tributários e não olham a contabilidade - tudo
isso conta", afirma Ferezin, da KPMG.
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N O V A R EJ O
as inovações
do setor, o e-commerce tem sido
o foco de muitos fundos, consideraJunior Borneli, vice-presidente
de negócios e relacionamento
do
Angels Club, clube privado com
REYNALDOSAAD, DA DELOITTE
"Negócios inovadores podem sair
da lista dos fundos se não tiver
gestão profissionalizada"
a marca recebeu aporte de € 15
bilhões do IFC, instituição que faz
parte do Banco Mundial. Esta não foi a primeira
vez: em 2013, ela recebeu
cerca de US$ 70 milhões em recursos de fundo canadense.
Mesmo marcas que estão começando agora no e-commerce chamam a
atenção. É o caso da Maskoto, clube de assinatura de produtos pet. Em fevereiro de 2013, Victor Frasson criou uma fanpage no Facebook para divulgar a
marca. A página cresceu e ganhou Ias (hoje são mais de 16 mil), mas o negócio
mesmo só saiu do papel sete meses depois. "O desafio era fortalecer a marca
e fechar parcerias com fornecedores antes de lançar o site", explica Frasson.
E também conquistar investidores para abrir a operação já com peso de gente
grande. "Até conseguiríamos viabilizar o negócio sem o investimento, mas em
uma escala menor. E a busca pelo investidor não era apenas pelos recursos, mas
pelo conhecimento no mercado on-line", afirma o empresário.
o TERMÔMETRO
DA CONFIANÇA
PESQUISA EYCOM 1.600 EXECUTIVOSDE 72 PAíSES, DE 20 SETORES:
69% das empresas esperam aumento no volume de negócios
35% têm planos de fazer uma aquisição
47% têm crescente foco em investir em mercados emergentes
47% esperam aumento no volume de negócios locais (fusões e aquisições]
»
Fonte: Capital Confidence Barometer (outubro de 2013) da EY
Com os sócios, Alexandre Gonçalves e Alysson Domingues, Frasson iniciou a busca por um fundo e por meio
da Angels Club conseguiu investimento
cujo valor não revela. Pela internet, os
empresários detalharam o projeto, as
perspectivas de crescimento, o público, o mercado, os diferenciais, custos e
detalhes operacionais. O retorno chegou duas semanas depois, por telefone.
Em algumas conversas, investidor e
empresários definiram valores e objetivos. 'Após duas reuniões presenciais,
assinamos o contrato", conta. Com
participação de 40% no negócio, o investidor entrou com informação e, segundo Frasson, ajudou a dar um norte
ao negócio, que faturou R$ 160 mil em
2013, mas deve faturar cerca de R$ 5
milhões em 2014.
O salto deve-se à nova plataforma,
que abrigará e-commerce pet - ideia
do investidor. "Ele é bem envolvido
no projeto e não tem data para sair do
negócio", conta o executivo. A Maskoto deve receber o segundo aparte do
mesmo investidor ainda neste ano para
viabilizar mais um projeto, de franquia.
'1\ ideia está bem crua ainda, mas a
execução será rápida, no formato de
quiosques, em grandes centros, com
oferta de produtos exclusivos",adianta
Frasson. O projeto piloto da franquia
da marca deve ser lançado ainda neste
ano, em São Paulo.
Apesar das preferências, há espaço
para todos, segundo Paulo Ferezin, diretor de desenvolvimento para o varejo
da KPMG. "O que o varejo precisa é
de uma operação boa e consistente,
com posicionamento que chama a
atenção dos clientes e do mercado",
afirma. "Varejo atrativo está na pauta
dos fundos", afirma Reynaldo Saad,
sócio-líderno atendimento às empresas
do setor varejista da Deloitte.
5.
SAIBA FALAR SOBRE O SEU NEGÓCIO
(ENTENDA A EMPRESA) Se a casa está arrumada, é preciso passar essa informação
"O varejista precisa entender
ponto de vista do investidor",
DE
INVESTIMENTOS
NO BRASIL
72% dos
sou de 45 para
período,
levantado
para
fundos
de private
Por aqui, os fundos
de
têm tido
3,6 vezes o
capital investido,
número
acima da média de 2,5 vezes
185.
o montante
saltou
No mesmo
de capital
de US$ 1 bilhão
US$ 83 bilhões
equity
e venture capital no Brasil operam
há mais de cinco anos no País
retornos
De 2000 a 2012, o número de
fundos operando no Brasil pas-
Fontes: Pesquisa
Insper e Spectra,
Pesquisa de Fusões
e Aquisições PWC
2012; Estudo
de mercado da
Abvcop 2012 (Associaçõo Brasileiro
de Private Equity &
Venture Capital)
bem a empresa do
afirma Pierantoni.
Isso significa saber em qual patamar ela está agora, como pode crescer e em qual ponto estará no
curto e médio prazos. "O empresário precisa entender o valor criado pelo negócio dele", diz. Estar
ciente dos pontos fortes e fracos da operação
permite ao empresário encontrar
caminhos para
construir um negócio com mais qualidade, para
inovar e ser mais competitivo - fatores-chave para
ser atrativo aos olhos do investidor. "Quando você
entende o negócio, você consegue calcular um
valor", afirma o especialista.
6.
ENTENDA: O FUNDO É UM PARCEIRO
(MUDANÇAS DE RUMOS SÃO NECESSÁRIAS E SAUDÁVEIS) A atratividade do negócio
pode esbarrar no dono. Quando buscam aperte,
os empresários não se atentam ao perfil dos
fundos. Cada vez mais, os investidores
negócio com recursos financeiros
Embates de posicionamento
o CENÁRIO
com a
segurança de quem entende do próprio negócio.
entram
no
e know-how.
entre empreende-
dor e fundo podem interromper as negociações.
Para não ocorreram problemas, existe, principalmente da parte do fundo, o alinhamento de
perfil- o esforço no entendimento
dos objetivos
do fundo na gestão. Mesmo antes de conceder
o aporte, os fundos exigem mudanças no negócio para receber o investimento.
As alterações,
segundo Borneli, são comuns no processo. E ser
flexível nessa hora torna o negócio ainda mais
atraente. "A cada dez negócios, nove mudam
de rumo durante o processo de aporte. Essa
mudança é necessária e saudável", afirma. Não
aceitar essas alterações, avalia, e acreditar que o
negócio nasceu pronto, são os piores erros dos
empresários quando negociam com investidor.
"O varejista precisa entender que é melhor ser
parceiro de um grande negócio do que ser dono
de um pequeno", diz Borneli.
R$ 52,7 bilhões
valor investido
em empresas
foi o
pelos fundos
no Brasil até
2012. Já apenas em 2012, os
fundos desovaram aqui
R$ 14,9 bilhões21,8% foram direcionados
para o setor varejista
SE A CASA ESTÁ ARRUMADA,
É PRECISO PASSAR ESSA
INFORMAÇÃO COM A
SEGURANÇA DE QUEM ENTENDE
DO PRÓPRIO NEGÓCIO
N
o V A R EJ o
m a r ç o / a b r i I 2 O 1 4 33
CAPA
COM A PALAVRA, O FUNDO
o FUNDO
APAX PARTNERS TEM CERCA DE US$ 8 BILHÕES
DISPONíVEIS PARA SER INVESTIDO NA AMÉRICA LATINA.
E O VAREJO ESTÁ NA MIRA DA COMPANHIA
No mercado norte-americano e
europeu há mais de 30 anos, o fundo
Apax Partners abriu escritório em
São Paulo em novembro de 2013, de
olho nas oportunidades na América
Latina. Por aqui, o fundo investe em
empresas de tecnologia, como a Tivit,
desde 2010. Para este mercado, estão
disponíveis cerca de US$ 8 bilhões a
serem aportados em empresas de
quatro setores que são foco do fundo
- um deles é o varejo. "Pensamos em
como o dono do negócio pode crescer e lucrar mais, em como ele pode
comprar o competidor e se profissio-
r
nalizar mais", afirma Walter Piacsek,
head da Apax no Brasil. Hoje, o
fundo é sócio, dentre outras marcas,
de varejistas como Syder, de roupas e
acessórios esportivos, Bobs Furniture,
de móveis, Cole Haan, de sapatos e
acessórios e rue21, de moda jovem.
A companhia já investiu em outras
marcas como a New Look, de roupas
e acessórios, LR Health, de cosméticos, Somerfield, supermercados e até
a famosa Tommy Hilfiger.
No Brasil, o que chama a atenção é o potencial de crescimento do
setor. "Não é por acaso que a gente
foca em varejo. É um setor que está
passando por uma transformação
de organização, com crescimento e
consolidação das companhias", avalia
o executivo. O fato de o varejo não
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m a r ço / a b r iI 2O14
N O V A R EJ O
requerer investimentos intensivos,
como a indústria, é outro fator de
atratividade. Na lista de potenciais negócios podem estar desde varejo de
moda, um dos grandes investimentos
do fundo, até segmentos específicos,
como material de construção. "Gostamos de marcas boas, populares, e
simples, com ticket baixo", diz.
E o que ele busca em um sócio?
Além de ter potencial de crescimento,
a empresa precisa de boa gestão,
bons controles e contar com áreas
fiscal e trabalhista limpas. "Precisa ter
a casa em ordem e não ser criativo do
ponto de vista fiscal e trabalhista", ressalta. Com o detalhe de não ser qualquer negócio. "Não fazemos cheques
menores de US$ 150 milhões", afirma. A característica do fundo não é
assumir a gestão do negócio, por isso,
ela aposta na competência do empreendedor que está à frente do negócio. "Somos acionistas, orientamos
e provocamos, mas não nos metemos
na gestão da companhia", afirma o
executivo. Se a gestão não entregar as
metas acordadas em contrato, daí há
conversas para a mudança de gestão,
como em qualquerfundo. Quando
entra na companhia, a Apax fica em
média cinco anos. A saída pode ser
de várias formas: venda da parte para
o próprio empreendedor ou mesmo
para outro fundo. Há ainda a opção
de abertura de capital.
O cenário atual nacional não
compromete a intenção do fundo
de investir. Ao contrário, diz Piacsek.
Para ele, o crescimento menor no
curto prazo, Bolsa em baixa e dólar
mais caro permitem que as conversas com os investidores sejam mais
"fluídas", uma vez que o foco do
fundo é de longo prazo. "Estamos
olhando o Brasil com visão de longo
prazo e nesse cenário o Paístem
oportunidades, porque os consumidores têm cada vez mais acesso a
serviços e produtos".
De olho
na Bolsa
de Valores
COM ou SEM FUNDOS DE INVESTIMENTOS COMO SÓCIOS,
COMPANHIAS DO SETOR APOSTAM NA ABERTURA
DE CAPITAL COMO FORMA DE CAPITALIZAR O NEGÓCIO
uando voltou ao comando do CNA, em
2010, Décio Pecin sentiu que precisava
mudar. Então com 450 unidades e com
38 anos de mercado, a franquia de idiomas queria crescer mais - aproveitando o
mercado de educação, ainda em expansão.
"Percebi que precisávamos nos profissionalizar mais e lidar com o fato de o sócio
fundador ainda não ter sucessores", conta.
Foi quando a ideia de receber um fundo
como sócio começou a se estrutu rar. A
oportunidade chegou em 2012: o fundo
Actis investiu cerca de R$ 135 milhões.
A conversa para fechar negócio, conta
Pecin, "foi tranquila". "O Actis se encaixou bem no perfil que procurávamos",
conta. O fundo de private equity entrou
como sócio, com cadeira no conselho de
administração por meio da qual auditam
e dão suporte à gestão. O prazo para saída
é de até sete anos.
Segundo Pecin, a experiência tem
dado certo por conta do alinhamento dos
objetivos. Antes de iniciar negociação, ele
e o sócio-fundador, Luiz Gama, definiram
os desejos de cada um: não queriam fundo
controlador, que compra o controle acionário da empresa e mantém o sócio-fundador; não queriam vender todo o capital da
franquia a nenhum fundo; e não queriam
fundos minoritários que entrassem apenas
com recursos. Escolheram o fundo inglês
Actis pela experiência na área de educação
- são R$ 5 bilhões em ativos sob gestão do
fundo apenas em países da América Latina, Ásia e África, parte deles em educação.
Para receber o fundo, a rede de franquias implantou governança corporativa
e montou modelo financeiro de negócio.
r
"Implantamos sistemas, transparência e controles na
gestão, fizemos parceria com fornecedores de renome
internacional e auditoria. Tudo isso auxilia na montagem de um processo", avalia o executivo. O processo
de melhorar a estrutura do negócio demorou cerca de
um ano e meio, mais do que os sete meses para fechar
o negócio com o Actis.Foram tantas as mudanças para
receber o aporte que, após a entrada do fundo, pouco
mudou, do ponto de vista de gestão, diz Pecin. Hoje,
são 600 unidades da marca, com projeção de totalizar
mil unidades em 20 17. Agora o próximo passo é a
Bolsa de Valores.
Esse é um dos caminhos possíveis após a saída do
fundo de investimento do negócio - e uma das formas
de continuar captando recursos. Segundo Edna Sousa
de Holanda, gerente de prospecção de empresas da
BM&F Bovespa, de 2004 para 2013 35% das empresas
que fizeram IPO receberam investimentos de fundos
de private equity. Esse passo não é à toa. "Quando o
empresário admite um fundo de investimento como
sócio, ele amadurece o negócio", avalia. A Bolsa tem
mapeamento de 200 empresas com potencial de abertura de capital, sendo 17% delas do setor de comércio
e 10% do setor de tecidos, vestuário e calçados. Edna
explica que tem crescido o interesse das empresas pela
Bolsa de Valores como alternativa de expansão.
A Pague Menos estava se preparando para abrir
capital em 2012, abortou o projeto, mas ainda vê na
Bolsa alternativa para crescer maís. 'Temos o interesse
de fazer o IPO, porque é uma forma de capitalizar e
crescer,sem depender de empréstimos de bancos e nem
do humor do mercado em relação aosjuros", afirma a
Deusmar Queirós, fundador e presidente da rede de farmácia. Ele explica que a companhia estava pronta para
abrir, mas o mercado naquele ano não era favoráveLA
empresa, que deve faturar R$ 4,4 bilhões, com 700 lojas em 2014, viu como alternativa
a emissão de debêntures para financiar o projeto de ter mil lojas
até 20 I7. Foram R$ 60 milhões
na primeira emissão e outros R$
100 milhões na segunda, no início
do ano.
O projeto da Bolsa aínda está
de pé, mas a empresa deve espeALESSANDRA
rar o cenário mudar. "Neste ano,
RESTAINO,
não vejo nenhuma perspectiva
DA LE
que justifique alimentarmos uma
POSTICHE
"Somos
esperança para IPO, mas em 2015
cortejados
será melhor", avalia. Até lá, e por
por fundos,
enquanto, a marca descarta os
mas ainda
fundos de investimentos que fazem
não é o
propostas constantes. O executivo
momento"
experiência
com o fundo
tem dado
certo, pois os
objetivos são
os mesmos"
CAPA
não confirma, mas mostra interesse em associar-secom gigantes internacionais do
setor. "Por ora não buscamos sócios, mas se aparecer alguém, seria um parceiro
estratégico. Não tenho ninguém, mas o perfil seria uma CVS, Walgreens", diz.
Preparando o terreno
A LePostiche é outra marca que não descarta uma parceria, antes de abrir
capital, ainda que ambos os projetos estejam definidos no roteiro de crescimento
da marca. Alessandra Restaino, presidente da marca, conta que a companhia é
cortejada por fundos de investimentos, mas que ainda não é o momento para
uma parceria. "Introduzimos o SAP há pouco mais de um ano, estamos implantando a governança corporativa. Ainda estamos fazendo a lição de casa",
explica Alessandra. "Pode ser um caminho futuro, mas há um processo de amadurecimento", avalia. Desde 2010, a marca passa por uma reestruturação, que
envolve mudança de posicionamento, comunicação e nova identidade nas lojas,
agora mais alinhadas ao perfil AB que a companhia busca e com o objetivo de
oferecer produtos para todos os momentos pelos quais a mulher passa. Fechou
2013 com 270 lojas e a perspectiva de encerrar 2014 com 300.
Investidor+Bolsa
A Brasil Franchising,holding com 750 lojas de 13 marcas de franquias, entre
elas a Nobel, Sapataria do Futuro, Spetinho & Cia, também acredita na fórmula
investidor+Bolsae busca investimentoprivado para, em seguida,fazer a listagemna
Bolsa.Após consolidar todas as marcas
sob o mesmo guarda-chuva no ano passado,a holdingestudapropostastanto de
fundosde investimentoscomo de families
offices~ empresascriadasapenaspara gerir os recursosde famílias.'Temos várias
propostas na mesa e estamos estudando
a melhor. Vamos tomar a decisão neste
ano, para fazer a listagem no ano que
vem, para, depoisde uns doisanos, abrir
de fato o capital", avalia Sergio Milano
Benclowicz,diretor da holding.
A ideia, diz ele, é acelerar as aquisiçõesde pequenas e médias franquias,
com a preservação da marca. ';t\ Bolsa é um mecanismo que dá liquidez, e
nos permite fazer aquisições com parte
em ações, sem alterar o controle", avalia. A proposta é manter uma média de
duas aquisições por ano. Hoje, a busca
SERGIO BENCLOWICZ,
DA BRASIL FRANCHISING
"A Bolsa irá nos permitir fazer
aquisições com parte em ações,
sem alterar o controle"
EM 2013, O BRASIL REGISTROU
NÚMERO RECORDE DE
TRANSAÇÕES DE FUSÕES E
AQUISIÇOES, SEGUNDO A
CONSULTORIA PWc. FORAM
811 NEGÓCIOS, DOS QUAIS 42%
TIVERAM PARTICIPAÇÃO DOS
FUNDOS PRIVATE EQUITY
é por franquias com ao menos 30 lojas, com marca forte e estruturada. A
companhia já implantou a governança corporativa, é auditada há mais de
cinco anos e tem todos os processos
estruturados. Assim que receber investimento privado, a Brasil Franchising
se listará no Bovespa Mais. "Esse é o
modelo correto para o nosso negócio,
porque a gente se lista, sem a pressão
do mercado, e fica neste ambiente até
ganharmos escala para fazermos de
fato a abertura", explica.
Criado em 2005, o Bovespa Mais
é voltado para empresas que desejam
acessar o mercado de forma gradual.
';t\ empresa faz apenas a listagem, e
para ela a Bolsa é apenas uma vitrine", explica Edna, da BM&F Bovespa. Para estar listada, a companhia
precisa seguir alguns pré-requisitos,
como governança corporativa, comprometidas com boas práticas comparáveis com o Novo Mercado, além
de divulgar resultados trimestrais ~
após listada, têm até sete anos para
negociar 25% do capital social no
mercado. "Ela começa a ter visibilidade perante os bancos e conseguem
melhores taxas de juros", diz Edna.
Hoje, apenas nove empresas estão
listadas na modalidade. ~
LEIA MAIS SOBRE O ASSUNTO E SAIBA A PROGRAMAÇÃO
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NOVAREJO
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N O V A R EJ O
DO

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