Paquerando
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CAPA FUNDOS APRESENTAM ALTOS GANHOS NO MERCADO BRASILEIRO, E DE OLHO EM UMA FATIA DESSES RECURSOS O VAREJO QUER SABER: COMO SETORNAR MAIS ATRATIVO PARA OS INVESTIDORES? Paquerando fundos de investimento Por Camila Mendonça m 2010, as sócias do e-commerce OQVestir, Rosana Sperandéo, Mariana Medeiros e Isabel Humberg, receberam uma ligação: um fundo estava interessado no negócio que, naquele ano, estava começando e tinha apenas cinco pessoas envolvidas. O problema: o potencial investidor estava no aeroporto do Galeão, no Rio deJaneiro,já pronto para voltar para Nova York, nos Estados Unidos. "Não tivemos dúvidas saímos correndo de São Paulo para o Galeão naquele dia", conta Isabel, CEO da . companhia. Na mala, o plano de negócios e a vontade de fazê-lo . crescer. "Fundo quer business plan, quer saber onde estamos, como estamos, quais os objetivos do negócio e onde queremos estar - foi o que apresentamos", conta. E foi ali, no restaurante Bob's do aeroporto, que a marca conseguiu a primeira, de uma série de três rodadas de investimentos, em três anos de negócio. o primeiro sócio, aquele do aero- nào investiu sozinho. Com ele, o Kaszek seis meses de negociação e organização porto, foi o fundo de private equity Ti- Ventures também aportou recursos. O fundo também tem no portfólio Netshoes, além de outras estrelas da intemet, como Oppa Design, PetLove e Beleza Na Web - também investimento em parceria com a Tiger Da primeira conversa da papelada. Foi tudo muito rápido. "Nào dava para titubear, a oportunidade ger Global Management, que tem no portfólio investimentos em empresas pontocom, como Facebook e LinkedIn. No Brasil, o fundo já realizou aportes no Peixe Urbano, Netshoes e até em novatas como Babycom.br a OQVestir, ele 28 m a r ç o / a b r i I 2 O1 4 N O V A REJ O até a entrada do capital, em 20 II,foram estava ali", conta Isabel. Ter um fundo como sócio era consenso entre as sócias e a afinidade com a Tiger ajudou no processo. No primeiro momento, o que elas queriam e precisavam era o "como fazer" do mundo on-line. E para ajudáIas, o fundo organizou encontros com executivos do setor. Márcio Kumruian, presidente da Netshoes, foi um deles. Anualmente, o fundo reúne executivos de todas as companhias que receberam investimentos em um único lugar para trocar experiências. Além disso, um time de consultores das áreas de marketing, comercial, TI e financeiro avalia o negócio mensalmente e ajuda a dar um direcionamento com base nas tendências mundiais. "São coisas que o dinheiro não traz. A experiência vale mais do que qualquer coisa", avalia Isabel. O know-how .......... r :.::. e o primeiro aporte nalizaram a operação logística e o SAC, possuem plataforma na web customizada e têm hoje um galpão de dois mil metros quadrados em São Paulo. Não parou aí. No ano passado, elas foram, sozinhas, conversar com outros investidores. Queriam saber o real entendimento do mercado sobre o negócio. " aquela hora deu um frio na barriga. E se voltássemos com a pasta vazia de novos investidores?", diz. As sócias foram até Califórnia e Nova York, além de rodarem o Brasil e conversaram com 14 investidores. No fim, tinham três ofertas de mais in- fizeram com que o negócio crescesse 600% em menos de um ano. O resultado, acima do esperado, fez com que a Tiger realizasse uma segunda rodada de investimentos no mesmo ano. E o vestimentos na mesa. Venceu o TMG Capital, com atuação off-line. Com três sócios sem data para sair, a empresa fez o rearranjo societário, mas a gestão continua nas mãos delas. O foco agora é fazer o negócio cres- que mudou? "Tudo. Foi possível colocar de fato o que imaginávamos em termos de estrutura em prática", conta Isabela. cer. "Quando você recebe o recurso, dá vontade de fazer uma campanha bacana de marketing e investir em mi- Com o fundo, as executivas puderam trazer talentos para as áreas da companhia e investir em infraestrutura: inter- lhares de coisas, mas o dinheiro não dá para tudo. Então, não dá para perder o foco. Ainda estamos no começo OS FUNDOS QUE INVESTIRAM NO BRASIL ENTRE 1990 E2008 APRESENTARAM RETORNOS DE 17% - MAIS QUE O DOBRO DOS QUE INVESTIRAM NOS ESTADOS UNIDOS FONTE: PESQUISA DO INSPER COM A GESTORA SPECTRA N O V A R EJ O m a r ç o / a b r i I 2 O 1 4 29 CAPA do jogo", conta Isabel. Com 130 funcionários, a empresa tem parceria com 180 marcas, como Animale, Farm, Le Lis Blanc, R$ 100 milhões de faturamento ~ TAMANHO NÃO É DOCUMENTO "Agora os fundos de private equity estão sondando varejos de médio e até pequeno porte", afirma Viktor Andrade (1), líder de fusões e aquisições da EY.A preferência tem explicação clara. A atividade dos fundos de private equity no Brasil começou a ficar mais intensa nos anos 2000 e as grandes empresas varejistas foram os alvos. "Boa parte do grande varejo já foi adquirida", lembra Andrade. A redução do valor de transação também força os fundos a focarem em empresas menores, mas rentáveis. Segundo o especialista da EY,esse valor caiu cerca de 50% nos últimos anos. Quem tem ganhado com essa nova perspectiva é o e-commerce - ta rget de boa parte dos fundos que operam no País. Alexandre Pierantoni (2), í sócio da PWC Brasil, afirma que ainda há grandes transações a serem feitas, mas a atenção está de fato no varejo de médio porte, principalmente no de moda, com potencial de crescimento de longo prazo, e em grandes players regionais. e espera atingir em 2015, com investimentos em novas linhas de produtos, roupas para crianças e adolescentes. como Fundos que investiram no Brasil tiveram retomo de 17% - já nos EUA,8% A história do OQVestir não é isolada. Ainda que o Brasil apresente crescimento abaixo da média dos paises da América Latina em 2014, a Bovespa acumule resultados ruins e o consumo não seja o vetor de crescimento do PIE, como ocorreu em anos anteriores, os fundos de investimento estão famintos por novos, e rentáveis, negócios. E não é para menos. Pesquisa do Insper, em parceria com a gestora Spectra, divulgada em janeiro, mostra que os fundos que investiram no Brasil entre 1990 e 2008 apresentaram retornos de 17%. No mesmo período, os fundos dos Estados Unidos tiveram retornos na ordem dos 8%. O desempenho, segundo o estudo, deveu-se a três principais fatores: o boom de crescimento econômico do Pais entre 2004 e 2012; a competição ainda limitada para a realização de negócios; e a melhora da experiência dos gestores de fundos, fator diretamente ligado à melhora da performance. Bom para o varejo. Último balanço da Abvcap (Associação Brasileira de Private Equity & Venture Capital) mostra que dos R$ 14,9 bilhões investidos pelos fundos em 2012, 21 ,8% foram direcionados para o setor varejista. O aumento do mercado consumidor interno e o crescimento da classe média justificam a forte elevação em 2012, segundo a associação. E a tendência é que o cenário siga no mesmo ritmo, mesmo com possíveis tropeços econômicos. Uma explicação para a blindagem é que os fundos fazem aportes pensando no longo prazo. "Fundos de private equity são menos suscetíveis no curto prazo a variações econômicas, porque esse investidor entra na empresa para ficar de quatro a dez anos e, por isso, ele pondera o cenário atual", explica Viktor Andrade, líder de fusões e aquisições da EY 30 m a r ç o / a b r i I 2 O 1 4 N O V A R E J O Em 2013, o Brasil registrou número recorde de tran- sações de fusões e aquisições, segundo a consultoria PWc. Foram 811 negócios, dos quais 42% tiveram participação dos fundos" private equity. "O Brasil está com uma demanda grande de negociações e os setores com base em consumo têm se beneficiado", afirma Alexandre Pierantoni, sócio da PWC Brasil. "O varejo é um segmento muito pulverizado no Brasil e há oportunidades de consolidação e profissionalização muito grandes. E existem recursos para que a perspectiva continue boa", afirma. No alvo dos fundos, avalia o especialista, estão os varejos de alimento e de moda. Roupa, móveis, brinquedo, lingerie e muito mais No final do ano passado, a camisaria brasileira Dudalína vendeu o controle acionário para Advent e PONTAPÉ INCIAL Os sócios da Maskoto, Alexandre Gonçalves, Victor Frasson e Alysson Domingues receberam aporte para tira a ideia do papel CADE, é a injeção de R$ 250 milhões do fundo Kinea na Lojas Avenida, com mais de cem lojas nas regiões Sul, Norte e Nordeste do Pais. Em nota, a marca afirmou que o acordo garante ao fundo participação minoritária do grupo e que o controle da empresa não será alterado, com Rodrigo Caseli na presidência, e Christian Caseli como vice-presidente: "Com o investimento, a pretensão do Warburg Pincus - dois dos maiores fundos do mundo. Com a negociação, Sônia Hess continua à frente da companhia, mas já prepara sucessor para sua saída da operação em 2016. ''l\, sucessão é necessária em qualquer empresa e a saída foi uma opção minha. Mas eu vou continuar na ativa e no conselho e quem estará à frente é alguém que tem essa mesma paixão, porque está há 30 anos na empresa", diz Sônia. Com mais de 90 lojas e um faturarnento que ultrapassou os R$ 500 milhões em 2013, a marca tem planos de dobrar o tamanho até 2016, investindo, inclusive, na internacionalização da marca. Outra transação recente no setor de moda, ainda em análise no r grupo é seguir em franca expansão pelo interior de 13 Estados brasileiros nos quais já atuam e em um futuro próximo se consolidar como uma das principais redes de varejo de moda do Pais". São vários os exemplos do varejo de moda que receberam aporte: da Carnisaria Colombo, que tem como VAREJO RENTÁVEL o QUE TORNA UM VAREJO ATRATIVO PARA UM INVESTIDOR? NOVAREJO OUVIU AS PRINCIPAIS CONSULTORIAS DO SETOR PARA ENTENDER COMO SE TORNAR ALVO DESSES INVESTIDORES. CONFIRA OS SEIS PASSOS QUE PODEM AJUDAR NA CONQUISTA POR UM APORTE: 1. sócio o fundo de private equity Gávea Investimentos, a Restoque, que recebeu aparte em 2007 do fundo Artesia. Mas moda não é o único foco. Um dos maiores fundos investimentos em varejo do mundo, o LOJADA Carlyle é hoje sócio TOK&STOK das marcas CVC, de Marca, assim turismo, Scalina, de comoO/Ce Ri Happy, é sócia do lingerie, Ri-Happy, Carlyle, um dos de brinquedos, e maiores fundos Tok&Stok, de pro- de investimento do mundo dutos de decoração. 2. INOVE No topo da lista dos negócios mais interessantes para os fundos estão aqueles que apresentam alguma inovação. E o mesmo vale para o varejo. "O negócio é atraente para o investidor quando ele tem um modelo que permite se diferenciar dos concorrentes", afirma Andrade, da EY.Negócios que se limitem a fazer o trivial nem passam perto dos olhos dos investidores. Inovar, explica Borneli, do Angels Club, significa apresentar diferenciais no produto, no atendimento, nas formas de pagamento ou mesmo na distribuição e na logística. A atenção óbvia, diz, se dá em negócios que desbravam novos mercados, com potencial de crescimento. "O investidor quando analisa um projeto busca preencher um espaço que não existe, com plataformas diferentes", afirma o executivo. Negócios que apresentam inovação com foco em sustentabilidade também ganham a preferência dos fundos. SEJA COMPETITIVO A inovação sozinha não tem muita valia. Para chamar a atenção em meio a tantos varejistas ávidos por um aperte, o negócio precisa ser competitivo - ter modelo de negócio viável. "Vale combinar margem de retorno interessante e diferenciais competitivos que permitam que a empresa cresça mais do que a média de mercado", afirma Andrade. "No fim, chama atenção quem consegue capturar o máximo de receita e o máximo de clientes, que tenha estrutura de capitalleve, saúde financeira e que angarie margem melhor que a concorrência", diz Andrade. Se o negócio é competitivo, não será difícil apresentar altos níveis de rentabilidade. "É isso que o investidor olha. O fundo tem dinheiro na mão para investir e irá investir no negócio que apresentar o melhor retorno", considera Ferezin, da KPMG. Ele atenta que, nesse sentido, o varejo enfrenta concorrência de outros setores - aqueles que começarem a mostrar melhor performance entram na frente. V V NOVAREJO março/abril 2014 31 CAPA 3. 4 í 32 Anjos sonham com o e-commerce SEJA LONGEVO A rentabilidade de hoje não garante a rentabilidade de amanhã; por isso, para ser atrativo para os investidores, o negócio precisa apresentar características que garantam a longevidade do negócio, seja por meio de expansão física ou ofertas de produtos e serviços que agreguem valor ao negócio original. Isso significa ter modelo que não seja limitado no tempo e no espaço que consigam crescer geograficamente e em número de consumidores, no caso do varejo. "Os fundos, na maioria das vezes, têm política de risco de investimento por meio da qual definem o porcentual de investimento no negócio. E a preferência, em geral, é investir em negócios com história comprovada, com dados", afirma Rogério Andrade, sócio da KPMG Brasil. Ele explica que mesmo negócios que ainda não saíram do papel podem ser alvos dos investidores se o planejamento mostrar que a estrutura tem características suficientes para permanecer no mercado. Como encabeça 147 investidores com capital de R$ 50 milhões para investir. "No varejo fisico, os regionais, com crescimento acima do mercado, também recebem atenção", afirma. No eixo Rio-São Paulo, a movimentação no varejo fisico é no mercado de franquias, principalmente nas microfranquias. Um dos maiores exemplos desse setor é a varejista esportiva etshoes, cujo faturamento anual passou do R$ I bilhão em 2012. Nela já investiram os fundos Kaszek, Iconic Ventures, Tiger Global Management e a Temasek Holdings. A Dafiti foi outra queridinha on-line dos fundos de investimento. No início deste ano, CONTROLE PROCESSOS INTERNOS (GOVERNANÇA E AUDITORIA) Negócios • inovadores, competitivos e longevos podem sair da lista de preferência dos fundos se não apresentarem estrutura sólida comprovada. Para não afugentar os investidores, é preciso garantias de que a gestão é séria e de gente grande. "A empresa tem de ter gestão profissionallzada", afirma Reynaldo Saad, da Deloitte. Isso inclui a preparação detalhada do plano de negócios. "O planejamento financeiro deve ser de curto, médio e longo prazos, e tudo deve estar casado com o operacional", diz Andrade, da EY. Para ser atrativo, é preciso implantar governança corporativa, com transparência na gestão e apresentação dos dados. "O negócio precisa ter números confiáveis, com controle financeiro e de contabilidade, porque o investidor precisa enxergar o que ele está comprando", lembra Andrade, da EY.Vale até passar por auditoria. "Ela facilita a análise dos investidores, mostra o grau de profissionalização, seriedade e transparência do negócio", ressalta Saad. Na parte operacional, a casa também deve estar arrumada, desde aspectos legais, como a correta abertura do negócio e obrigações tributárias, previdenciárias, fiscais e trabalhistas em dia. "Entram na conta aspectos contábeis, de controladoria, de processos, que devem ser bem elaborados. Parece pouco, mas muitas vezes os varejistas não se atentam aos passivos tributários e não olham a contabilidade - tudo isso conta", afirma Ferezin, da KPMG. m a r ç o / a b r i I 2 O 14 N O V A R EJ O as inovações do setor, o e-commerce tem sido o foco de muitos fundos, consideraJunior Borneli, vice-presidente de negócios e relacionamento do Angels Club, clube privado com REYNALDOSAAD, DA DELOITTE "Negócios inovadores podem sair da lista dos fundos se não tiver gestão profissionalizada" a marca recebeu aporte de € 15 bilhões do IFC, instituição que faz parte do Banco Mundial. Esta não foi a primeira vez: em 2013, ela recebeu cerca de US$ 70 milhões em recursos de fundo canadense. Mesmo marcas que estão começando agora no e-commerce chamam a atenção. É o caso da Maskoto, clube de assinatura de produtos pet. Em fevereiro de 2013, Victor Frasson criou uma fanpage no Facebook para divulgar a marca. A página cresceu e ganhou Ias (hoje são mais de 16 mil), mas o negócio mesmo só saiu do papel sete meses depois. "O desafio era fortalecer a marca e fechar parcerias com fornecedores antes de lançar o site", explica Frasson. E também conquistar investidores para abrir a operação já com peso de gente grande. "Até conseguiríamos viabilizar o negócio sem o investimento, mas em uma escala menor. E a busca pelo investidor não era apenas pelos recursos, mas pelo conhecimento no mercado on-line", afirma o empresário. o TERMÔMETRO DA CONFIANÇA PESQUISA EYCOM 1.600 EXECUTIVOSDE 72 PAíSES, DE 20 SETORES: 69% das empresas esperam aumento no volume de negócios 35% têm planos de fazer uma aquisição 47% têm crescente foco em investir em mercados emergentes 47% esperam aumento no volume de negócios locais (fusões e aquisições] » Fonte: Capital Confidence Barometer (outubro de 2013) da EY Com os sócios, Alexandre Gonçalves e Alysson Domingues, Frasson iniciou a busca por um fundo e por meio da Angels Club conseguiu investimento cujo valor não revela. Pela internet, os empresários detalharam o projeto, as perspectivas de crescimento, o público, o mercado, os diferenciais, custos e detalhes operacionais. O retorno chegou duas semanas depois, por telefone. Em algumas conversas, investidor e empresários definiram valores e objetivos. 'Após duas reuniões presenciais, assinamos o contrato", conta. Com participação de 40% no negócio, o investidor entrou com informação e, segundo Frasson, ajudou a dar um norte ao negócio, que faturou R$ 160 mil em 2013, mas deve faturar cerca de R$ 5 milhões em 2014. O salto deve-se à nova plataforma, que abrigará e-commerce pet - ideia do investidor. "Ele é bem envolvido no projeto e não tem data para sair do negócio", conta o executivo. A Maskoto deve receber o segundo aparte do mesmo investidor ainda neste ano para viabilizar mais um projeto, de franquia. '1\ ideia está bem crua ainda, mas a execução será rápida, no formato de quiosques, em grandes centros, com oferta de produtos exclusivos",adianta Frasson. O projeto piloto da franquia da marca deve ser lançado ainda neste ano, em São Paulo. Apesar das preferências, há espaço para todos, segundo Paulo Ferezin, diretor de desenvolvimento para o varejo da KPMG. "O que o varejo precisa é de uma operação boa e consistente, com posicionamento que chama a atenção dos clientes e do mercado", afirma. "Varejo atrativo está na pauta dos fundos", afirma Reynaldo Saad, sócio-líderno atendimento às empresas do setor varejista da Deloitte. 5. SAIBA FALAR SOBRE O SEU NEGÓCIO (ENTENDA A EMPRESA) Se a casa está arrumada, é preciso passar essa informação "O varejista precisa entender ponto de vista do investidor", DE INVESTIMENTOS NO BRASIL 72% dos sou de 45 para período, levantado para fundos de private Por aqui, os fundos de têm tido 3,6 vezes o capital investido, número acima da média de 2,5 vezes 185. o montante saltou No mesmo de capital de US$ 1 bilhão US$ 83 bilhões equity e venture capital no Brasil operam há mais de cinco anos no País retornos De 2000 a 2012, o número de fundos operando no Brasil pas- Fontes: Pesquisa Insper e Spectra, Pesquisa de Fusões e Aquisições PWC 2012; Estudo de mercado da Abvcop 2012 (Associaçõo Brasileiro de Private Equity & Venture Capital) bem a empresa do afirma Pierantoni. Isso significa saber em qual patamar ela está agora, como pode crescer e em qual ponto estará no curto e médio prazos. "O empresário precisa entender o valor criado pelo negócio dele", diz. Estar ciente dos pontos fortes e fracos da operação permite ao empresário encontrar caminhos para construir um negócio com mais qualidade, para inovar e ser mais competitivo - fatores-chave para ser atrativo aos olhos do investidor. "Quando você entende o negócio, você consegue calcular um valor", afirma o especialista. 6. ENTENDA: O FUNDO É UM PARCEIRO (MUDANÇAS DE RUMOS SÃO NECESSÁRIAS E SAUDÁVEIS) A atratividade do negócio pode esbarrar no dono. Quando buscam aperte, os empresários não se atentam ao perfil dos fundos. Cada vez mais, os investidores negócio com recursos financeiros Embates de posicionamento o CENÁRIO com a segurança de quem entende do próprio negócio. entram no e know-how. entre empreende- dor e fundo podem interromper as negociações. Para não ocorreram problemas, existe, principalmente da parte do fundo, o alinhamento de perfil- o esforço no entendimento dos objetivos do fundo na gestão. Mesmo antes de conceder o aporte, os fundos exigem mudanças no negócio para receber o investimento. As alterações, segundo Borneli, são comuns no processo. E ser flexível nessa hora torna o negócio ainda mais atraente. "A cada dez negócios, nove mudam de rumo durante o processo de aporte. Essa mudança é necessária e saudável", afirma. Não aceitar essas alterações, avalia, e acreditar que o negócio nasceu pronto, são os piores erros dos empresários quando negociam com investidor. "O varejista precisa entender que é melhor ser parceiro de um grande negócio do que ser dono de um pequeno", diz Borneli. R$ 52,7 bilhões valor investido em empresas foi o pelos fundos no Brasil até 2012. Já apenas em 2012, os fundos desovaram aqui R$ 14,9 bilhões21,8% foram direcionados para o setor varejista SE A CASA ESTÁ ARRUMADA, É PRECISO PASSAR ESSA INFORMAÇÃO COM A SEGURANÇA DE QUEM ENTENDE DO PRÓPRIO NEGÓCIO N o V A R EJ o m a r ç o / a b r i I 2 O 1 4 33 CAPA COM A PALAVRA, O FUNDO o FUNDO APAX PARTNERS TEM CERCA DE US$ 8 BILHÕES DISPONíVEIS PARA SER INVESTIDO NA AMÉRICA LATINA. E O VAREJO ESTÁ NA MIRA DA COMPANHIA No mercado norte-americano e europeu há mais de 30 anos, o fundo Apax Partners abriu escritório em São Paulo em novembro de 2013, de olho nas oportunidades na América Latina. Por aqui, o fundo investe em empresas de tecnologia, como a Tivit, desde 2010. Para este mercado, estão disponíveis cerca de US$ 8 bilhões a serem aportados em empresas de quatro setores que são foco do fundo - um deles é o varejo. "Pensamos em como o dono do negócio pode crescer e lucrar mais, em como ele pode comprar o competidor e se profissio- r nalizar mais", afirma Walter Piacsek, head da Apax no Brasil. Hoje, o fundo é sócio, dentre outras marcas, de varejistas como Syder, de roupas e acessórios esportivos, Bobs Furniture, de móveis, Cole Haan, de sapatos e acessórios e rue21, de moda jovem. A companhia já investiu em outras marcas como a New Look, de roupas e acessórios, LR Health, de cosméticos, Somerfield, supermercados e até a famosa Tommy Hilfiger. No Brasil, o que chama a atenção é o potencial de crescimento do setor. "Não é por acaso que a gente foca em varejo. É um setor que está passando por uma transformação de organização, com crescimento e consolidação das companhias", avalia o executivo. O fato de o varejo não 34 m a r ço / a b r iI 2O14 N O V A R EJ O requerer investimentos intensivos, como a indústria, é outro fator de atratividade. Na lista de potenciais negócios podem estar desde varejo de moda, um dos grandes investimentos do fundo, até segmentos específicos, como material de construção. "Gostamos de marcas boas, populares, e simples, com ticket baixo", diz. E o que ele busca em um sócio? Além de ter potencial de crescimento, a empresa precisa de boa gestão, bons controles e contar com áreas fiscal e trabalhista limpas. "Precisa ter a casa em ordem e não ser criativo do ponto de vista fiscal e trabalhista", ressalta. Com o detalhe de não ser qualquer negócio. "Não fazemos cheques menores de US$ 150 milhões", afirma. A característica do fundo não é assumir a gestão do negócio, por isso, ela aposta na competência do empreendedor que está à frente do negócio. "Somos acionistas, orientamos e provocamos, mas não nos metemos na gestão da companhia", afirma o executivo. Se a gestão não entregar as metas acordadas em contrato, daí há conversas para a mudança de gestão, como em qualquerfundo. Quando entra na companhia, a Apax fica em média cinco anos. A saída pode ser de várias formas: venda da parte para o próprio empreendedor ou mesmo para outro fundo. Há ainda a opção de abertura de capital. O cenário atual nacional não compromete a intenção do fundo de investir. Ao contrário, diz Piacsek. Para ele, o crescimento menor no curto prazo, Bolsa em baixa e dólar mais caro permitem que as conversas com os investidores sejam mais "fluídas", uma vez que o foco do fundo é de longo prazo. "Estamos olhando o Brasil com visão de longo prazo e nesse cenário o Paístem oportunidades, porque os consumidores têm cada vez mais acesso a serviços e produtos". De olho na Bolsa de Valores COM ou SEM FUNDOS DE INVESTIMENTOS COMO SÓCIOS, COMPANHIAS DO SETOR APOSTAM NA ABERTURA DE CAPITAL COMO FORMA DE CAPITALIZAR O NEGÓCIO uando voltou ao comando do CNA, em 2010, Décio Pecin sentiu que precisava mudar. Então com 450 unidades e com 38 anos de mercado, a franquia de idiomas queria crescer mais - aproveitando o mercado de educação, ainda em expansão. "Percebi que precisávamos nos profissionalizar mais e lidar com o fato de o sócio fundador ainda não ter sucessores", conta. Foi quando a ideia de receber um fundo como sócio começou a se estrutu rar. A oportunidade chegou em 2012: o fundo Actis investiu cerca de R$ 135 milhões. A conversa para fechar negócio, conta Pecin, "foi tranquila". "O Actis se encaixou bem no perfil que procurávamos", conta. O fundo de private equity entrou como sócio, com cadeira no conselho de administração por meio da qual auditam e dão suporte à gestão. O prazo para saída é de até sete anos. Segundo Pecin, a experiência tem dado certo por conta do alinhamento dos objetivos. Antes de iniciar negociação, ele e o sócio-fundador, Luiz Gama, definiram os desejos de cada um: não queriam fundo controlador, que compra o controle acionário da empresa e mantém o sócio-fundador; não queriam vender todo o capital da franquia a nenhum fundo; e não queriam fundos minoritários que entrassem apenas com recursos. Escolheram o fundo inglês Actis pela experiência na área de educação - são R$ 5 bilhões em ativos sob gestão do fundo apenas em países da América Latina, Ásia e África, parte deles em educação. Para receber o fundo, a rede de franquias implantou governança corporativa e montou modelo financeiro de negócio. r "Implantamos sistemas, transparência e controles na gestão, fizemos parceria com fornecedores de renome internacional e auditoria. Tudo isso auxilia na montagem de um processo", avalia o executivo. O processo de melhorar a estrutura do negócio demorou cerca de um ano e meio, mais do que os sete meses para fechar o negócio com o Actis.Foram tantas as mudanças para receber o aporte que, após a entrada do fundo, pouco mudou, do ponto de vista de gestão, diz Pecin. Hoje, são 600 unidades da marca, com projeção de totalizar mil unidades em 20 17. Agora o próximo passo é a Bolsa de Valores. Esse é um dos caminhos possíveis após a saída do fundo de investimento do negócio - e uma das formas de continuar captando recursos. Segundo Edna Sousa de Holanda, gerente de prospecção de empresas da BM&F Bovespa, de 2004 para 2013 35% das empresas que fizeram IPO receberam investimentos de fundos de private equity. Esse passo não é à toa. "Quando o empresário admite um fundo de investimento como sócio, ele amadurece o negócio", avalia. A Bolsa tem mapeamento de 200 empresas com potencial de abertura de capital, sendo 17% delas do setor de comércio e 10% do setor de tecidos, vestuário e calçados. Edna explica que tem crescido o interesse das empresas pela Bolsa de Valores como alternativa de expansão. A Pague Menos estava se preparando para abrir capital em 2012, abortou o projeto, mas ainda vê na Bolsa alternativa para crescer maís. 'Temos o interesse de fazer o IPO, porque é uma forma de capitalizar e crescer,sem depender de empréstimos de bancos e nem do humor do mercado em relação aosjuros", afirma a Deusmar Queirós, fundador e presidente da rede de farmácia. Ele explica que a companhia estava pronta para abrir, mas o mercado naquele ano não era favoráveLA empresa, que deve faturar R$ 4,4 bilhões, com 700 lojas em 2014, viu como alternativa a emissão de debêntures para financiar o projeto de ter mil lojas até 20 I7. Foram R$ 60 milhões na primeira emissão e outros R$ 100 milhões na segunda, no início do ano. O projeto da Bolsa aínda está de pé, mas a empresa deve espeALESSANDRA rar o cenário mudar. "Neste ano, RESTAINO, não vejo nenhuma perspectiva DA LE que justifique alimentarmos uma POSTICHE "Somos esperança para IPO, mas em 2015 cortejados será melhor", avalia. Até lá, e por por fundos, enquanto, a marca descarta os mas ainda fundos de investimentos que fazem não é o propostas constantes. O executivo momento" experiência com o fundo tem dado certo, pois os objetivos são os mesmos" CAPA não confirma, mas mostra interesse em associar-secom gigantes internacionais do setor. "Por ora não buscamos sócios, mas se aparecer alguém, seria um parceiro estratégico. Não tenho ninguém, mas o perfil seria uma CVS, Walgreens", diz. Preparando o terreno A LePostiche é outra marca que não descarta uma parceria, antes de abrir capital, ainda que ambos os projetos estejam definidos no roteiro de crescimento da marca. Alessandra Restaino, presidente da marca, conta que a companhia é cortejada por fundos de investimentos, mas que ainda não é o momento para uma parceria. "Introduzimos o SAP há pouco mais de um ano, estamos implantando a governança corporativa. Ainda estamos fazendo a lição de casa", explica Alessandra. "Pode ser um caminho futuro, mas há um processo de amadurecimento", avalia. Desde 2010, a marca passa por uma reestruturação, que envolve mudança de posicionamento, comunicação e nova identidade nas lojas, agora mais alinhadas ao perfil AB que a companhia busca e com o objetivo de oferecer produtos para todos os momentos pelos quais a mulher passa. Fechou 2013 com 270 lojas e a perspectiva de encerrar 2014 com 300. Investidor+Bolsa A Brasil Franchising,holding com 750 lojas de 13 marcas de franquias, entre elas a Nobel, Sapataria do Futuro, Spetinho & Cia, também acredita na fórmula investidor+Bolsae busca investimentoprivado para, em seguida,fazer a listagemna Bolsa.Após consolidar todas as marcas sob o mesmo guarda-chuva no ano passado,a holdingestudapropostastanto de fundosde investimentoscomo de families offices~ empresascriadasapenaspara gerir os recursosde famílias.'Temos várias propostas na mesa e estamos estudando a melhor. Vamos tomar a decisão neste ano, para fazer a listagem no ano que vem, para, depoisde uns doisanos, abrir de fato o capital", avalia Sergio Milano Benclowicz,diretor da holding. A ideia, diz ele, é acelerar as aquisiçõesde pequenas e médias franquias, com a preservação da marca. ';t\ Bolsa é um mecanismo que dá liquidez, e nos permite fazer aquisições com parte em ações, sem alterar o controle", avalia. A proposta é manter uma média de duas aquisições por ano. Hoje, a busca SERGIO BENCLOWICZ, DA BRASIL FRANCHISING "A Bolsa irá nos permitir fazer aquisições com parte em ações, sem alterar o controle" EM 2013, O BRASIL REGISTROU NÚMERO RECORDE DE TRANSAÇÕES DE FUSÕES E AQUISIÇOES, SEGUNDO A CONSULTORIA PWc. FORAM 811 NEGÓCIOS, DOS QUAIS 42% TIVERAM PARTICIPAÇÃO DOS FUNDOS PRIVATE EQUITY é por franquias com ao menos 30 lojas, com marca forte e estruturada. A companhia já implantou a governança corporativa, é auditada há mais de cinco anos e tem todos os processos estruturados. Assim que receber investimento privado, a Brasil Franchising se listará no Bovespa Mais. "Esse é o modelo correto para o nosso negócio, porque a gente se lista, sem a pressão do mercado, e fica neste ambiente até ganharmos escala para fazermos de fato a abertura", explica. Criado em 2005, o Bovespa Mais é voltado para empresas que desejam acessar o mercado de forma gradual. ';t\ empresa faz apenas a listagem, e para ela a Bolsa é apenas uma vitrine", explica Edna, da BM&F Bovespa. Para estar listada, a companhia precisa seguir alguns pré-requisitos, como governança corporativa, comprometidas com boas práticas comparáveis com o Novo Mercado, além de divulgar resultados trimestrais ~ após listada, têm até sete anos para negociar 25% do capital social no mercado. "Ela começa a ter visibilidade perante os bancos e conseguem melhores taxas de juros", diz Edna. Hoje, apenas nove empresas estão listadas na modalidade. ~ LEIA MAIS SOBRE O ASSUNTO E SAIBA A PROGRAMAÇÃO SEMINÁRIO DE INVESTIMENTOS NOVAREJO 36 m a r ç o / a b r i I 2 O 14 N O V A R EJ O DO
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