pág 1 - Escola Waldorf João Guimarães Rosa

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pág 1 - Escola Waldorf João Guimarães Rosa
Informativo Semanal . Ano VII . 03/04/2014 . N°. 297
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> Cardápio do Restaurante Waldorf
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> Doe Sangue e Ajude a Salvar Vidas!
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> Arte para Ser
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> Um Passeio no Bosque: Direito ou Privilégio?
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> Comunidade de Cristãos- Movimento Cristão de Renovação Religiosa
> Agenda
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Um Passeio no Bosque: Direito ou Privilégio?
Escrito por Richard Louv
Original publicado na Revista Orio, edição de março/abril - 2009. http://www.orionmagazine.org/index.php/articles/article/4401/
Tradução de Luciana Nascimento Fernandes - mãe do Jardim Integral
Alguns anos atrás, eu visitei a escola
Southwood de Ensino Fundamental, que
frequentei quando era menino na cidade
de Raytown, no estado de Missouri (EUA).
Perguntei às crianças da sala como era o
relacionamento delas com a natureza. Muitos
deram uma resposta típica dos dias de hoje:
preferem jogar video-games e atividades
internas. Quando estão ao ar livre, jogam
futebol ou algum outro esporte em equipe,
geralmente direcionado aos adultos. Mas
uma aluna do quinto ano, descrita pela
professora como “nossa pequena poetisa”,
usando um vestido estampado simples e com
uma expressão profundamente séria, disse:
“Quando eu estou no bosque, eu me sinto
na pele da minha mãe”. Para ela, a natureza
representava beleza, refúgio e algo mais.
“É tão tranquilo lá fora e tem um cheiro tão bom
no ar. Para mim, é um lugar completamente
diferente”, ela disse. “É um momento todo
meu. Às vezes vou lá quando estou brava
– e então, só com a paz e tranqüilidade da
natureza, eu me sinto melhor. Eu volto para
casa feliz e minha mãe nem sabe por quê”.
Ela fez uma pausa. “Eu tinha um lugar. Tinha
uma cachoeira grande e um riacho. Eu tinha
cavado um buraco e às vezes eu levava uma
barraca ou um lençol e eu me deitava lá, no
buraco, e olhava para cima, vendo as árvores
e o céu. Às vezes eu até pegava no sono. Eu
me sentia livre: aquele era o meu lugar e eu
podia fazer o que eu quisesse, sem ninguém
para me impedir. Eu ia lá quase todos os dias”.
O rosto da jovem poetisa ficou vermelho. Sua
voz enfraqueceu. “E então, simplesmente
cortaram as árvores. Foi como se tivessem
cortado uma parte de mim”.
Este último comentário me atingiu como um
golpe: “Foi como se tivessem cortado uma
parte de mim”. Se a hipótese de Edward Osborn
Wilson sobre a biofilia estiver correta – a de que
os seres humanos foram feitos para molhar
suas mãos e enlamear seus pés na natureza –
então a declaração sincera da pequena poetisa
foi mais do que uma metáfora. Quando ela se
referiu ao bosque como “uma parte de mim”,
ela estava descrevendo algo impossível de ser
quantificado: a sua biologia primordial, seu
senso de admiração, uma parte essencial de
si mesma.
Recentemente, eu comecei a perguntar aos
meus amigos: “Uma criança tem o direito
de passear na floresta? E um adulto?”. Para
minha surpresa, várias pessoas responderam
com confusas hesitações. “Vejam o que a
nossa espécie está fazendo ao planeta”,
disseram. Olhando somente por esse lado,
o relacionamento entre seres humanos
e natureza não seria inerentemente
oposicionista? Eu certamente entendo esse
ponto de vista. Mas considerem a resposta
favorável daqueles que estão em outro
ponto da esfera político-cultural, para quem
a natureza é objeto da soberania humana,
uma distração no caminho para o Paraíso.
Na prática, estas duas visões da natureza
são radicalmente diferentes. A semelhança
entre as elas, no entanto, é impressionante:
a natureza permanece no “outro”. Os seres
humanos estão nela, mas não fazem parte
dela.
O conceito básico dos direitos deixou algumas
pessoas pouco à vontade. Um amigo me
perguntou: “Em um mundo onde milhões
de crianças são brutalizadas todos os dias,
nós somos capazes de separar um tempo
para envolvê-las na fruição da natureza?”.
Boa pergunta. Outras pessoas apontaram
que vivemos numa era em que há inflação
de litígios e deflação de direitos. Muitos
acreditam que têm “direito” a uma vaga de
estacionamento, “direito” a TV a cabo, e até
mesmo “direito” a morar em um bairro sem
crianças. Precisamos mesmo acrescentar
mais “direitos” à nossa lista? Uma outra boa
pergunta.
A resposta às duas indagações é “sim”,
desde que nós concordemos que o direito
em questão seja fundamental para a nossa
humanidade, para a nossa existência.
A ciência comprova que o contato com
o mundo natural tem forte influência na
saúde física e emocional e na habilidade de
aprendizado das crianças. Níveis de estresse,
transtorno de déficit de atenção com
hiperatividade (TDAH), funções cognitivas,
entre outros, são afetados positivamente
pelo tempo passado na natureza. Howard
Frumkin, diretor do Centro Nacional para a
Saúde Ambiental nos Centros para Controle
e Prevenção de Doenças (National Center
for Environmental Health at the Centers for
Disease Control and Prevention), diz que “da
mesma forma que preservar a água e o ar são
estratégias para promover a saúde pública,
proteger paisagens naturais pode ser uma
poderosa forma de medicina preventiva”. Em
outubro de 2008, pesquisadores da Escola
de Medicina da Universidade de Indiana e
da Universidade de Washington relataram
que as crianças que vivem em bairros mais
arborizados têm um menor ganho de massa
corpórea, independentemente da densidade
habitacional. Tal pesquisa será de utilidade
incalculável se nós repensarmos a forma
como lidamos com a arquitetura urbana,
com a educação e com a assistência médica,
particularmente em relação ao modo como a
sociedade encara a obesidade infantil.
“Sim, nós precisamos de mais pesquisas”,
diz Frumkin, “mas já sabemos o suficiente
para agir”. Para reverter os caminhos que
desconectam as crianças da natureza, as ações
devem ser baseadas na ciência, mas também
profundamente enraizadas na terra.
Em 2007, em Washington DC, aconteceu o
Fórum Nacional sobre Crianças e Natureza,
um impressionante encontro de prefeitos,
professores, conservacionistas e líderes
empresariais para explorar a falta de ligação
entre as crianças e a natureza. A discussão
foi esclarecedora, até mesmo apaixonada.
Mas, com o passar das horas, muitos dos
participantes pediram a apresentação de
estatísticas. Alguns procuravam um modelo
para colocar em prática o desafio de apresentar
as crianças ao mundo natural. A maioria via a
necessidade óbvia de mais pesquisa. “Eu gosto
dessa discussão, mas gostaria de dizer algo”,
anunciou Gerald L. Durley, pastor titular de
uma igreja batista em Atlanta. Durley ajudou a
fundar a Organização Cultural Afro-Americana
e trabalhou lado a lado com Martin Luther
King Jr. Ele deu um passo à frente e disse: “Um
movimento se move. Ele tem vida”.
- o respeito aos direitos humanos, por
exemplo”. A ciência mostra quais são as
consequências de inserir as crianças na
natureza. Estudos que apontam benefícios à
saúde e à cognição são palpáveis e concretos.
Também precisamos articular o “preceito
inicial” implícito – que emerge não apenas do
que a ciência pode provar, mas também do
que ela não consegue revelar completamente,
que resiste à codificação por ser tão elementar,
tão simples: uma conexão significativa com o
mundo natural é fundamental para o nosso
espírito e para a nossa sobrevivência como
indivíduos e como espécie.
E acrescentou: “Como todo movimento
de sucesso, a luta pelos direitos civis foi
alimentada por um princípio moral fortemente
articulado, que não precisava ser provado a
todo instante. O resultado do movimento a
favor dos direitos civis poderia ter sido bem
diferente, ou ao menos mais lento, se os seus
líderes tivessem esperado por mais provas
estatísticas para justificar a sua causa, ou se
eles tivessem focado na métrica dos protestos
nos restaurantes contra a segregação racial.
Alguns esforços provaram-se eficazes, alguns
foram contraproducentes. Mas o movimento
se moveu”.
Há pouco tempo Thomas Berry apresentou
esta indivisibilidade entre o ser humano e a
natureza de maneira mais eloquente. Padre
da ordem dos Agostinianos e fundador
do Programa de História das Religiões na
Universidade de Fordham e do Centro de
Pesquisa Religiosa de Riverdale, Berry1 foi
presciente pela maior parte dos seus noventa
e quatro anos no planeta. Ele incorporou
a visão biológica de Wilson dentro de um
contexto mais amplo e cosmológico. Em seu
livro The Great Work (O Grande Trabalho, em
tradução livre), escreveu: “A urgência atual
é começar a pensar dentro do contexto do
planeta como sendo um todo, a comunidade
Terra em sua integralidade com todos os seus
humanos e outras espécies que a compõem.
Quando discutimos ética, devemos entendêla para exprimir os princípios e os valores que
governam essa abrangente comunidade”.
De acordo com meu amigo Larry Hinman,
professor de filosofia na Universidade de San
Diego, “ao elaborar uma argumentação moral,
não há regras rigorosas. E tais argumentações
podem sempre ser contestadas”. “Mas”,
ele complementa, “a maioria dessas
argumentações é feita baseando-se em
um ou dois pontos, que incluem uma série
de consequências e um preceito inicia
Berry acreditava no mundo natural como
sendo a manifestação física do divino. A
sobrevivência tanto da religião quanto da
ciência não depende da vitória de uma das
duas (porque assim ambas sairiam perdendo),
mas na emergência do que ele chama de uma
terceira história, a história do século XXI. Falar
sobre as totalidades pode ser um assunto
desconfortável. Mas, certamente, é verdade
que, como uma sociedade, precisamos
devolver a natureza aos nossos filhos. Não
fazer isso é imoral. É antiético. “Um habitat
degradado produzirá humanos degradados”,
escreveu Berry. “Se realmente houver algum
progresso, então toda a vida em comunidade
há de progredir”.
Na formação dos ideais norte-americanos, a
natureza era um elemento fundamental da
concepção de direitos humanos. A seguinte
hipótese era inerente ao pensamento dos
líderes da independência dos EUA: cada
direito traz um dever. Se falharmos em
servir como administradores cuidadosos
tanto da democracia como da natureza,
destruiremos a razão do nosso direito e o
direito propriamente dito. Aqueles de nós que
nos identificamos como conservacionistas ou
ambientalistas (qualquer que seja a palavra
que queiramos usar) quase sempre tivemos
alguma experiência transcendental no
mundo natural, geralmente através de uma
brincadeira livre, com as mãos sujas de lama
e os pés molhados. Nós não podemos amar
o que nós não conhecemos. Como o zoólogo
Robert Michael Pyle coloca tão bem: “Qual o
significado da extinção de um condor para
uma criança que nunca viu um pardal?”.
Nós devemos fazer mais do que falar sobre a
importância da natureza. Devemos assegurar
que todas as crianças, não importa onde
morem, tenham acesso diário a lugares e
experiências naturais. Para fazer isso acontecer,
deve-se tornar evidente a seguinte verdade:
nós poderemos verdadeiramente amar a
natureza e a nós mesmos somente se nos
enxergarmos como sendo parte integrante
dela. Somente se nos amarmos como parte
da natureza. Somente se acreditarmos que
nossas crianças têm o direito às dádivas da
natureza preservada.
Aquela menininha em Raytown pode não ter
um direito específico sobre aquela árvore em
particular no bosque que ela escolheu. Mas ela
tem, sim, o direito intransferível de estar junto
a outra vida; o direito à liberdade (que não
deve ser compreendida como uma protetora
prisão domiciliar); e o direito à busca pela
felicidade, que o universo encarregar-se-á de
completar.
N.T.1 Thomas Berry faleceu em junho de 2009,
poucos meses depois da publicação do texto
original de Richard Louv ser publicado na
Orion Magazine. Berry completaria 95 anos de
idade no mês de novembro daquele ano.
Comunidade de Cristãos- Movimento Cristão de Renovação Religiosa
Inspirada por essa Comunidade, convido todos que sentem um impulso para aprofundar a compreensão do
Cristianismo para nos encontrarmos. De acordo com o grupo que se formar, poderemos desenvolver estudos,
reflexões, pequenas celebrações para adultos e crianças; trazer pessoas experientes para conversas, orientações etc.
Para o primeiro encontro, proponho dois horários opcionais: 7h30 e 18h30, no dia 8 de abril, terça feira,
no espaço da Escola Waldorf João Guimarães Rosa.
Agradeço e espero pelos companheiros!
Herminia Pureza Panico