O uso de concentrado para vacas leiteiras

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O uso de concentrado para vacas leiteiras
Leite
relatório de inteligência
JANEIRO | 2014
O uso de concentrado para vacas leiteiras
Contribuindo para eficiência da produção
Na busca da eficiência nos processos produtivos na atividade leiteira este relatório abordará a quantidade adequada de concentrado a ser fornecida em relação ao retorno econômico. Os concentrados podem e devem
ser utilizados para suprir a deficiência de nutrientes de forma racional. Sistemas de produção baseados apenas
em pastagens não atendem à demanda de nutrientes para produção por vaca acima de 14 litros por dia. Por
isso, definir o quanto e como será fornecido de concentrado pode garantir a sustentabilidade do pequeno
negócio de leite. O fornecimento de concentrado substitui a ideia de produção máxima e lucro máximo, pela
produção ótima e lucro máximo.
Concentrado
é diferente de ração
Ração é a quantidade total de
alimento que um animal ingere
em 24 horas, já os concentrados
possuem 18% de fibra bruta
na matéria seca e podem ser
classificados como protéicos
ou energéticos
Jonas Ramon (2012).
1
As necessidades alimentares
das vacas leiteiras
Fatores
que definem
as exigências da
alimentação de
vacas leiteiras
Produção
de leite
Estágio
da lactação
Consumo
esperado de
Matéria Seca (MS)
Pontos de atenção no
fornecimento de concentrado:
1
2
3
4
Medição
É necessária a medição da produção
por animal e controle leiteiro
Lactações
Durante as duas primeiras lactações o animal
ainda está em crescimento e por isso deve
receber alimento em quantidades superiores
à sua produção
Peso dos animais
Muito cuidado com animais excessivamente
magros ou gordos, pois podem apresentar
distúrbios metabólicos, menor produção
de leite e baixa resistência às doenças.
Pós-parto
Nas primeiras semanas pós-parto os animais não
conseguem consumir alimentos suficientes
para sustentar o aumento de produção.
Esta é a fase do Balanço Energético
Negativo (BEN). É importante que nessa
fase os animais recebam uma dieta mais
concentrada para permitir a maior ingestão
de nutrientes possível, e assim seja evitada a perda excessiva de peso. Portanto os
animais devem ter acesso a pastagem e
complementação com concentrado.
2
Idade
Condição
corporal
Tipos e valor
nutritivos dos
alimentos a serem
fornecidos.
As 4 fases das vacas leiteiras em
um ano produtivo:
1
Terço inicial de lactação
Alta exigência e baixo
consumo, em que a produção de leite aumenta
(pico de produção) e o
peso corporal diminui
4
Período seco
Dura cerca de 60 dias.
Baixa exigência, sem produção de leite e o peso
aumenta.
2
Terço médio de lactação
Média exigência e alto
consumo, produção se
mantém e peso aumenta
(já deve estar gestando)
3
Terço final de lactação
Baixa exigência e alto
consumo, produção
diminui e peso aumenta
(evitar ganho de peso
excessivo)
Fonte: Limírio de Almeida Carvalho, Luciano Pato Novaes,
Aloíso Teixeira Gomes, João Miranda e Antônio Ribeiro. Embrapa.
Alimentação de vacas em lactação (2011).
Os concentrados
benefícios que justificam o fornecimento
Alimento concentrado
Possui menos
de 18% de fibra
bruta em sua
composição
Alto valor
energético
Mais de 60%
de Nutriente
Digestível
Total (NDT)
Pouco volume, porém, com alta concentração de nutrientes
quando comparado ao pasto que é volumoso
Fonte: Tecnologia e Treinamento Online, 2011
Concentrados
energéticos
Possuem menos
de 20% de Proteína
Bruta (PB), dentre eles
destacam-se o milho,
sorgo e trigo
Concentrados
proteicos
Apresentam mais de
20% de PB e destacam-se a soja, algodão e amendoim
CONCENTRADOS MAIS UTILIZADOS
PARA VACAS LEITEIRAS:
Milho em
grão triturado
Farelo de soja
9% de PB
80% de NDT
45% de PB
75% de NDT
PB = Proteína Bruta
NDT = Nutriente Digestível Total
A viabilidade econômica do fornecimento de concentrados deve ser avaliada a partir da resposta em produção
de leite dos animais. Será positiva, se para o fornecimento de 1kg de concentrado tenha a resposta em aumento de produção de, pelo menos, 1L de leite, já que o valor do quilograma de concentrado é muito próximo ao
valor do litro de leite, sem contar a mão de obra para o fornecimento, que também deverá ser computada.
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Volumoso X Concentrado
Comparação e uso dos dois tipos de alimento
Mais de 18% de fibra
VOLUMOSO
Menos de 60% de energia (NDT)
Oriundo de forrageiras
Menos de 18% de fibra
CONCENTRADO
Mais de 60% de energia (NDT)
Oriundo de grãos
Fonte: Cláudio Alfenas. Centro de Produções Técnicas. Principais alimentos concentrados utilizados na nutrição de bovinos (2011).
O pasto
Do ponto de vista dos custos de investimento o mais barato de todos os alimentos é o pasto, pois este sistema
dispensa grandes valores para instalações. No entanto, quando se busca aumento de produtividade somente
o pasto não é suficiente. Além disso, os eventos climáticos, como seca e baixas temperaturas, limitam a produção de volumosos, aí a necessidade do fornecimento de alimentos concentrados em períodos de escassez
de pastagem.
Concentrado e pH ruminal
FIQUE ATENTO
Quando há teores elevados de concentrado na dieta
é necessário o uso de tamponantes para minimizar a
acidificação do ambiente ruminal. Um dos mais utilizados é o bicarbonato de sódio, assim o teor de gordura do leite não é afetado, mantendo o rendimento
industrial dele.
Concentrado
Alta relação
VOLUMOSO X CONCENTRADO
Maior que
50% da
dieta total
Redução na
concentração
de gordura
do leite
Isso ocorre devido a uma alteração no rúmen do animal, em que há maior concentração de ácidos graxos, que reduzem
o potencial de hidrogênio (pH), tornando
o ambiente ruminal mais ácido, assim há
menor degradação da fibra da dieta e o
animal pode ser levado a acidose
Fonte: Carla Maris Machado Bittar, Carlos Eduardo Oltramari
e Gustavo Guilherme Oliveira Nápoles. MilkPoint. Inclusão de
Co-produtos no concentrado inicial de bezerros leiteiros (2013).
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cerca de 3:1
(75% da dieta é volumoso)
Estímulo na mastigação do ruminante e
grande produção de saliva, que possui
substâncias tamponantes
Porém, se esse volumoso tiver reduzido o tamanho das partículas, menor será a quantidade de
fibra efetiva e por consequência menor efeito
na manutenção do pH ruminal, e isso é negativo, pois favorece a acidose do rúmen.
Fonte: Universidade do Leite. Fatores que afetam a
composição e a qualidade do leite (2013).
O fornecimento
de concentrado
Deve-se permitir que a vaca consuma alimentos em quantidade suficiente para atingir suas exigências em
manutenção, produção e reprodução. A composição dos pastos é variável e a produção de leite depende da
oferta e da qualidade da forrageira. O objetivo da oferta de concentrado é corrigir as deficiências de nutrientes
que não são obtidos na pastagem, sem contar que é necessário suplementar mais animais de alta produção.
A maioria dos concentrados possui entre 18 e 22% de PB (Proteína Bruta)
e 70% de NDT (Nutriente Digestível Total)
1 kg
de concentrado
para cada
2 litros
de leite produzidos acima
da capacidade dos pastos
Por exemplo, se a vaca produz 20 litros de leite por dia e está comendo pastagem de
tifton, ela deve consumir cerca de 3 kg de concentrado por dia.
Fonte: Epagri. Produção de leite a base de pasto em Santa Catarina (2012).
Pastagens
tropicais
Pastagens
temperadas
14L por vaca/dia
18L por vaca/dia
Sem suplementação
Com aveia e azevém
Vacas de alta produção, acima de 30L/dia devem receber proteína de baixa degradabilidade e fonte de gordura como soja em grão, caroço de algodão ou sebo, além de gordura protegida.
Para as vacas que estão na pastagem é necessário estimar o consumo, já para os animais confinados pode ser
feita a dieta completa, onde todos os alimentos, volumosos e concentrados são misturados e fornecidos no
cocho pelo vagão misturador. A viabilidade da aquisição de equipamentos deve ser avaliada caso a caso, para
que seja calculada sua amortização.
Lembre-se que durante o período seco a vaca deve ser acostumada à dieta pós-parto, por isso, cerca de
duas semanas antes do parto deve ser iniciado o fornecimento de concentrado, aproximadamente 0,5% do
peso vivo, para que as vacas se adaptem a nova dieta.
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AÇÕES
RECOMENDADAS
Durante as primeiras semanas pós-parto as vacas devem ser manejadas em pastagens de excelente qualidade e em quantidade adequada, preferencialmente em sistema de piquetes. Além de
suplementação com mineral e concentrado adequados para cada animal, em épocas de escassez
de pasto deverá ser fornecido silagem ou feno de qualidade;
O fornecimento de quantidades elevadas de concentrados no período inicial de lactação é a principal estratégia para elevar o consumo de nutrientes, porém o alto consumo de concentrado pode
causar o efeito de substituição e reduzir o consumo de forragem e aumentar o risco de acidose ruminal;
Em média para cada 2L de leite a vaca deve receber 1 kg de MS, ou seja, uma vaca que produz 30L
de leite deve consumir 15 kg de MS. Destes, 10 Kg podem ter origem no pasto e 5 kg originados
no concentrado;
A utilização de concentrado é um instrumento para aumentar a produção e a lotação da pastagem, por consequência aumento na produtividade leiteira e na fertilidade do rebanho, devido à
diminuição de deficiência nutricional. Portanto, quanto mais eficiente for a nutrição das vacas, mais
eficiente será o sistema de produção;
Para alimentar bovinos leiteiros o ano todo e de forma rentável é necessário planejamento forrageiro, além da suplementação com concentrados de boa qualidade, de forma a garantir alta produtividade com baixo custo, aproveitando o potencial dos animais e do solo.
Leite
relatório de inteligência
janeiro | 2014
Coordenador: Marcondes da Silva Cândido
Gestor do Projeto: Douglas Luís Três
Conteudista: Jonas Ramon
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