Boi engorda bem com dietas sem volumoso

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Boi engorda bem com dietas sem volumoso
ESPECIAL
suplementação
Boi engorda bem com dietas
sem volumoso
É o que revela pesquisa conduzida pela Universidade Federal de Goiás
Maristela Franco
82
FOTOS: HÉLIO LOUREDO
N
ovidade no cocho do boi
brasileiro, as dietas sem
(ou quase sem) volumoso ainda são pouco estudadas no País, tanto em
termos de desempenho
animal quanto de viabilidade econômica. Justamente por isso, o professor
Hélio Louredo da Silva, da Escola de
Veterinária da Universidade Federal de
Goiás (UFG), decidiu desenvolver
um trabalho específico nessa área, avaliando três tipos de rações: a primeira exclusivamente à base de sorgo
moído, caroço de algodão, casca de
soja e núcleo peletizado; a segunda
contendo esses ingredientes mais 11%
de bagaço in natura de cana (BIN) e
a terceira composta por 75% de milhogrão inteiro, mais casca de soja e núcleo mineral. Os resultados foram
bastante interessantes, confirmando
que é possível obter ganhos de peso
elevados com níveis mínimos de fibra
na dieta, além de se reduzir o custo
operacional do confinamento, hoje um
item de grande importância para confinador, inclusive pequenos e médios.
O experimento durou 90 dias (3
de fevereiro a 2 de abril de 2008) e
envolveu machos inteiros, da raça Nelore, com 30 meses de idade e peso
inicial de 300 kg. Divididos em grupos iguais, os bovinos receberam as
dietas descritas acima e tiveram seu
consumo de matéria seca, ganho de
peso, comportamento ingestivo e
conversão alimentar monitorados regularmente. Após o abate, as carcaças
foram avaliadas quanto ao rendimento, cobertura de gordura e presença de abcessos hepáticos. Os dados preliminares da pesquisa, que faz
parte da tese de doutorado de Hélio
Louredo, foram divulgados em 29 de
março, durante um dia-de-campo
realizado em parceria com a Agrocria,
K
Animais foram monitorados por
90 dias e carcaças avaliadas
no rendimento e qualidade
empresa responsável pelo fornecimento do núcleo peletizado incluído
nas dietas. Cerca de 300 produtores
participaram do evento, na Fazenda
Experimental Barreiro, do Instituto
Melon, em Goiânia, GO, onde os animais estavam alojados.
Os animais tratados
com grão de milho inteiro mais pellets apresentaram o maior ganho de
peso: 1,83 kg/cab/dia contra 1,37
kg/dia do lote que recebeu alto
concentrado e 1,80 kg do que ingeriu concentrado mais bagaço de
cana in natura (BIN). No que diz respeito ao consumo, a dieta à base de
milho-grão também apresentou excelente resultado: 8,32 kg de matéria original/cab/dia contra 10,91 kg
da dieta contendo BIN. Ela perdeu
apenas para o lote tratado exclusi-
RESULTADOS –
DBO JUNHO/2008
vamente com concentrado, cujo consumo foi de 7,82 kg de matéria original por cab/dia. A associação de
alto ganho de peso com baixo consumo garantiu ao milho-grão a melhor conversão alimentar: 4,31 kg de
matéria seca por kg de peso vivo ganho contra 4,8 e 5,5 do concentrado
e concentrado mais bagaço.Ou seja,
causar problemas como acio milho inteiro é uma boa
Alto concentrado
dose, timpanismo, ruminite,
opção para engorda de ani+ BIN
paraqueratose, abscesso hemais confinados, mas tem
pático etc. Demandam mãoduas limitações: risco conde-obra qualificada e monisiderável de ocorrência de
toramento dos animais. Preacidose e custo elevado,
cisávamos saber se as rações
em comparação com as detestadas traziam alguma almais dietas. “O preço do miteração no metabolismo rulho subiu muito, por isso inminal, e isso, só poderia ser
cluí-lo na ração em altas
Alto concentrado
observado em animais com
proporções fica caro”, exfístulas no rúmen”, explica o
plica Louredo, que contou
professor.
com o apoio técnico do
Grão inteiro
Segundo ele, deu-se
agrônomo Rafael da Costa
atenção especial ao período
Cervieri, da Nutribeef Conde adaptação dos animais,
sultoria.
com duração de 21 dias.
A análise econômica do
Começou-se oferecendo as
trabalho ainda não foi concluída, mas, segundo cálculos preli- teve problemas de acidose ou pneu- dietas na proporção de 1% do peso
minares, gastou-se R$ 55, 95 por ar- monia, o que lhe garantiu desenvol- vivo (3,5 kg/cab/dia, considerandoroba ganha, no caso da ração com vimento regular e contínuo, daí a me- se 350 kg de PV) até se chegar a 9milho inteiro, contra R$ 52,12 do alto lhor qualidade de carcaça. Animais 10 kg/cab/dia. O lote que recebeu
concentrado e R$ 48,41 do alto con- que sofrem acidose levam de duas a concentrado mais bagaço de cana
centrado mais bagaço de cana in na- três semanas para se recuperar, ga- apresentou o menor índice de acitura. Aliás, no geral, essa última nhando menos peso e acumulando dose, justamente por causa da fibra,
dieta revelou-se a mais vantajosa: menos gordura”, explica o pesquisa- que força o animal a ruminar e produzir mais saliva, um tamponante naapesar do maior consumo e menor dor goiano.
tural importante para o equilíbrio do
conversão alimentar, ela garantiu
pH do rúmen. Os bovinos que ingeMETABOLISMO –
ganho de peso muito próximo ao do
A avaliação de riram concentrado mais bagaço ficamilho-grão inteiro (1,80 kg/cab/dia)
desempenho foi ram 33% do tempo ruminando, conpor um custo 13,47% menor.
complementada tra 9,5% do alto concentrado e 11,1%
A inclusão do bagaço na dieta
com um experi- do milho inteiro.
também foi essencial para obtenção
“Nesses dois últimos tratamentos,
mento metabóde carcaças bem acabadas, com mélico, conduzido a incidência de acidose ficou em tordia de 3 mm de gordura de cobertunas dependên- no de 5% a 6%, mas poderia ter sido
ra, enquanto os bovinos que rececias do Depar- maior, não fosse a inclusão, no núberam grão inteiro atingiram média de
tamento de Pro- cleo peletizado, de aditivos como a
2,7 mm e os tratados com concendução Animal monensina sódica e a virginiamicina,
trado ficaram na faixa dos 2 mm. O K Hélio Louredo,
da UFG. As três que ajudam a controlar bactérias norendimento de carcaça do lote ali- da UFG: “fibra
dietas foram civas como a Streptococus bovis e
mentado com ração contendo baga- evita acidose”.
ofertadas a va- Lactobacillus sp”, diz Louredo, acresço também foi maior: 55,2%, conforme mostra o gráfico. “Esse resultado cas com fístulas ruminais para análi- centando que, a partir de junho, dará
está diretamente ligado à melhor se de pH, amônia, ácidos graxos vo- início a uma nova pesquisa, dessa
saúde ruminal propiciada pela in- láteis e ácido lático, visando detectar vez com oito ou nove dietas de alto
clusão de um mínimo de fibra na die- possíveis distúrbios metabólicos. concentrado, contendo diferentes
ta. O lote que consumiu concentra- “Dietas com altos níveis de concen- fontes de fibra, na proporção de
do mais bagaço praticamente não trado são perigosas, porque podem 5% a 10%.씱
Rendimento de carcaça
RESULTADOS FINAIS DO EXPERIMENTO COM RAÇÕES SEM VOLUMOSO
Tratamentos
Peso vivo (kg) 1
Peso de carcaça 2
Kg
@
Rend (%)
GPD
Acabamento de
carcaça (mm) 4
Inicial
Final
GPD 3
Alto concentrado *
333,3
456,3
1,367
246,8
16,5
54,0
1,650
2,0
Milho inteiro **
328,8
493,8
1,833
269,0
17,9
54,6
2,129
2,7
Alto conc. + BIN ***
347,7
510,0
1,803
281,8
18,8
55,2
2,172
3,0
Média
336,6
486,7
1,668
265,9
17,7
54,6
1,986
2,6
1 Peso vivo com jejum hídrico e alimentar de 14 horas 2 Dados de carcaça quente 3 Ganho de peso em 90 dias de confinamento 4 Dados
estimados pelo frigorífico * Alto concentrado: caroço de algodão, casca de soja, sorgo moído e núcleo ** Milho inteiro mais 10% de
casca de soja e núcleo *** Mesmos ingredientes do alto concentrado mais bagaço de cana in natura (BIN).
DBO JUNHO/2008
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