Potencial osteocondutor de grânulos de hidroxiapatita em defeitos
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Potencial osteocondutor de grânulos de hidroxiapatita em defeitos
Universidade do Grande Rio “Prof. José de Souza Herdy” UNIGRANRIO LEONARDO JORGE CARVALHO TEIXEIRA Potencial osteocondutor de grânulos de hidroxiapatita em defeitos críticos na calvária de ratos Duque de Caxias 2009 LEONARDO JORGE CARVALHO TEIXEIRA Potencial osteocondutor de grânulos de hidroxiapatita em defeitos críticos na calvária de ratos Dissertação apresentada à Universidade do Grande Rio - “Prof. José de Souza Herdy”, como requisito para obtenção de grau de mestre em Odontologia. Área de concentração: Implantologia Oral. Orientador: Prof. Dr. Márcio Baltazar Conz. Duque de Caxias 2009 CATALOGAÇÃO NA FONTE/BIBLIOTECA - UNIGRANRIO T266p Teixeira, Leonardo Jorge Carvalho Potencial osteocondutor de grânulos de hidroxiapatita em defeitos críticos na calvária de ratos / Leonardo Jorge Carvalho. – 2009. 71 f. : il. ; 30 cm Dissertação (mestrado em Odontologia) – Universidade do Grande Rio “Prof. José de Souza Herdy”, Escola de Ciências da Saúde, 2009 “Orientador: Prof. Márcio Baltazar Conz Bibliografia: f. 61-69 1. Odontologia. 2. Enxerto ósseo. 3. Hidroxiapatitas. 4. Regeneração óssea. 5 . Ratos. I. Conz, Márcio Baltazar. II. Universidade do Grande Rio “Prof. José de Souza Herdy “. III. Título. CDD – 617.6 AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar a DEUS por iluminar sempre o meu caminho, me guiando e protegendo em todos os momentos dessa minha caminhada. Ao meu orientador Márcio Baltazar Conz, pelos ensinamentos, pela orientação valiosa e segura, pela confiança depositada em mim, e pela oportunidade de dar continuidade a um trabalho de muita seriedade e dedicação de uma vida. Aos meus queridos e amados pais, Delson Gonçalves Teixeira e Eliana Carvalho Teixeira, responsáveis por mais esse momento da minha vida e eterna gratidão por todo incentivo aos meus estudos; pelo amor, carinho e compreensão nesse momento tão importante e, acima de tudo, por nunca terem deixado de acreditar em mim. À minha querida avó Thereza Muzitano de Carvalho pela sua dedicação sem limites a nossa família, e ao seu amor incondicional. Aos meus irmãos Alexandre Carvalho Teixeira e Pedro Paulo Carvalho Teixeira, meus verdadeiros ídolos, meus amigos, meus incentivadores e sem dúvida maiores referências ao longo da minha vida. A minha namorada Aline de Jesus Alexandre, pelo apoio em todos os momentos, estando sempre ao meu lado me incentivando e compreendendo com tanta paciência e carinho. Ao coordenador do curso de Mestrado em Implantologia Oral da UNIGRANRIO, Guaracilei Maciel Vidigal Jr. e professores Nassim David Harari e Marcelo Corrêa Manso, pelos sábios ensinamentos científicos e sugestões enriquecedoras. Ao Professor Eduardo Seixas Cardoso, pelos ensinamentos, confiança, carinho e amizade. Obrigado pelos conselhos, não apenas referentes à profissão, mas também para a vida. Ao Professor Edson Jorge Lima Moreira pela sua valiosa contribuição na realização da análise estatística desse trabalho. Ao meu amigo Humberto da Fontoura Carvalho, pelo incansável e fundamental auxílio na utilização dos programas de computador e confecção de gráficos. Aos meus queridos amigos e cirurgiões-dentistas, André Rautt Alves, Liliana Sabrosa Borges da Silva, Paulo Borges Moreira de Carvalho, Rafael Metropolo Moreira, Rodrigo Carvalho de Souza e Luiz Sergio Souza de Paiva, pela amizade e companheirismo demonstrados não só nesta difícil fase, mas em todos os momentos. Aos meus colegas de turma, Carlos Magno dos Anjos, Camila Neves Campos, Edecir Décio Bisognin, Márcio Macedo Soares, Marcelo Lievori Brandão, Thiago Degli Espoti, pela convivência humana e profissional. Enfim, a todos que, de um modo ou de outro, por suas atitudes e seus ensinamentos, incentivaram-me a concluir este curso. A todos, muito obrigado. Ama-se o que se conquista com esforço. Aristóteles RESUMO Os biomateriais à base de fosfato de cálcio são amplamente utilizados como substitutos ósseos. O objetivo do presente estudo foi avaliar o potencial osteocondutor de hidroxiapatitas com diferentes características físico-químicas, uma com baixa cristalinidade (HA-1) e outra com alta cristalinidade (HA-2) inseridas em defeitos ósseos de tamanho crítico na calvária de ratos. Foram utilizados 45 ratos, sendo 15 enxertados com HA-1, 15 com HA-2 e 15 preenchidos apenas pelo coágulo. O sacrifício dos animais (n=5 por grupo) ocorreu em 1, 3 e 6 meses após a cirurgia e os procedimentos histotécnicos e histomorfométricos foram realizados para se determinar a densidade de volume de osso neoformado nas regiões periférica, intermediária e central do defeito, nos três grupos. A primeira análise comparou a densidade de volume de osso neoformado nas regiões periférica, intermediária e central entre os grupos. A segunda avaliou a dinâmica da neoformação óssea em cada grupo isoladamente. Ao compararmos os grupos HA-1, HA-2 e coágulo não existiram diferenças estatisticamente significante na densidade de volume de osso neoformado nas três regiões estudadas, no intervalo de tempo determinado. No entanto, analisando-se os grupos isoladamente houve diferença na dinâmica da neoformação óssea. O grupo coágulo apresentou um aumento da densidade de volume de osso neoformado na região intermediária aos 6 meses após a cirurgia. Os grupos enxertados com HA-1 aos 3 e com HA-2 em 1 e aos 6 meses após a cirurgia apresentaram equivalentes densidade de volume de osso neoformado nas regiões periférica, intermediária e central sem diferença estatisticamente significante, demonstrando satisfatório potencial osteocondutor. Palavras-chave: enxertos ósseos, hidroxiapatitas, regeneração óssea, ratos. ABSTRACT The biomaterials based on calcium phosphate are widely used as bone substitutes. The purpose of this study was to evaluate the osteoconductive potential of hydroxyapatites with different physicochemical characteristics, one with low crystallinity (AH-1) and another with high crystallinity (HA-2) inserted into criticalsized bone defects of rat calvaria. A total of 45 rats being 15 grafted with HA-1, 15 with HA-2 and 15 completed only by the clot. The sacrifice of animals (n = 5 per group) occurred in 1, 3 and 6 months after surgery and histotechnical and histomorphometric procedures were performed to determine the volume density of newly formed bone in the peripheral, intermediate and central regions of the defects for the three groups. The first analysis compared the volume density of newly formed bone in the three regions between the groups. The second evaluated the dynamics of bone formation in each group separately. When comparing the groups HA-1, HA-2 and clot, did not exist statistically significant differences in the volume density of newly formed bone between the peripheral, intermediate and central regions in the periods analyzed. However, analyzing the groups separately, there was difference in the dynamics of bone formation. The clot group presented an increase in the volume density of newly formed bone in the intermediate region at 6 months after surgery. The groups grafted with HA-1 at 3 months and HA-2 at 1 and 6 months after surgery showed equivalent volume density of newly formed bone in the peripheral, intermediate and central regions without difference statistically demonstrating satisfactory osteoconductive potential. Keywords: bone grafts, hydroxyapatite, bone regeneration, rats. significant, LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS BMPs Proteínas ósseas morfogenéticas BSP Sialoproteína óssea Ca(NO3)2 Nitrato de cálcio Ca/P Razão molar cálcio – fosfato (CaPO4) Fosfato de cálcio (Ca10(PO4)6OH2) Fórmula da hidroxiapatita CBPF Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas CEEPA Comissão de ética no ensino e pesquisa em animais DFDBA Enxerto de osso descalcificado congelado seco DRX Difração de raios-x EDTA Ácido diaminotetracético ETO Óxido de etileno FDBA Enxerto de osso mineralizado congelado seco H+ Ácido HA Hidroxiapatita HA-1 Hidroxiapatita com baixa cristalinidade HA-2 Hidroxiapatita com alta cristalinidade H/E Hematoxilina-eosina I300 Valor da intensidade do plano 300 IGF Fator de crescimento da insulina JCPDS Joint Committee on Powder Diffraction Standards KW Kruskal-Wallis H2PO4H2O Monofosfato de sódio hidratado NaHPO4 12H2O Difosfato de sódio hidratado (NH4)2 HPO4 Diamônio fosfato OBM Osso bovino misto p Probabilidade PDGF Fator de crescimento derivado de plaquetas pH Sigla de potencial hidrogeniônico q.s.p. Quantidade suficiente para ROG Regeneração óssea guiada SNK Student-Newman-Keuls TGF- β Fator de crescimento transformador β V112/300 Vale no espectro de raios-X entre os planos (112) e (300) Xc Índice de cristalinidade da amostra α Nível de significância β-TCP β- fosfato tricálcico (Ca3(PO4)2) µm Micrômetro SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 12 2 REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................... 15 2.1 O tecido ósseo .................................................................................................. 15 2.2 Mecanismos biológicos de formação óssea ...................................................... 18 2.2.1 Osteogênese .................................................................................................. 19 2.2.2 Osteoindução ................................................................................................. 19 2.2.3 Osteocondução .............................................................................................. 19 2.3 Classificação dos enxertos ósseos quanto à sua origem .................................. 19 2.3.1 Enxertos autógenos ....................................................................................... 20 2.3.2 Enxertos alógenos .......................................................................................... 20 2.3.3 Enxertos xenógenos ....................................................................................... 21 2.3.4 Enxertos aloplásticos ...................................................................................... 22 2.4 Biomateriais para enxertos ósseos ................................................................... 23 2.4.1 Materiais a base de fosfato de cálcio ............................................................. 24 2.4.2 Hidroxiapatita ................................................................................................. 25 2.5 Características físico-químicas dos biomateriais para enxertos ósseos ........... 26 2.6 Potencial osteocondutor dos biomateriais “in vivo” ........................................... 29 2.6.1 Estudos em animais ....................................................................................... 29 2.6.2 Estudos em humanos ..................................................................................... 32 3 PROPOSIÇÕES ................................................................................................... 35 4 MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................... 36 4.1 Materiais ............................................................................................................ 36 4.2 Avaliação “in vivo” ............................................................................................. 38 4.2.1 Grupos experimentais .................................................................................... 38 4.2.2 Preparo dos animais e procedimentos de implantação .................................. 39 4.2.3 Obtenção das biópsias e preparo histotécnico ............................................... 41 4.2.4 Procedimento histotécnico ............................................................................. 41 4.2.5 Análise histomorfométrica .............................................................................. 42 4.2.6 Análise estatística .......................................................................................... 46 5 RESULTADOS ..................................................................................................... 47 5.1 Comparação das regiões entre os grupos ......................................................... 47 5.2 Análise das regiões de cada grupo .................................................................... 50 6 DISCUSSÃO ........................................................................................................ 54 7 CONCLUSÕES .................................................................................................... 60 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 61 APÊNDICE A .......................................................................................................... 70 APÊNDICE B .......................................................................................................... 71 12 1 INTRODUÇÃO Os avanços técnico-científicos alcançados na Medicina e Odontologia têm possibilitado o desenvolvimento de biomateriais que contribuem para uma melhoria na qualidade de vida humana. Paralelamente, o aumento da expectativa de vida tem demandado o projeto de biomateriais para aplicações biomédicas que permaneçam implantados no corpo humano de maneira satisfatória e por períodos mais longos. Um biomaterial por definição é uma substância ou associação de duas ou mais substâncias, farmacologicamente inertes, de origem natural ou sintética, utilizadas para substituir, aumentar ou melhorar, parcial ou integralmente tecidos e órgãos (WILLIAMS, 1987). Os biomateriais de enxerto ósseo podem ser utilizados na Odontologia para o aumento ou reconstrução do rebordo alveolar, preenchimento de defeitos intraósseos e de alvéolos dentários, implantes imediatos após exodontias, elevação do assoalho do seio maxilar, e tratamento de defeitos perimplantares (LEGEROS, 2002, MURUGAN & RAMAKRISHNA, 2005). A previsibilidade dos tratamentos para a regeneração do tecido ósseo perdido depende da técnica cirúrgica utilizada, da assepsia, da topografia e extensão do defeito ósseo, da vascularização e do biomaterial de enxerto utilizado (LINDHE et al., 2005). O processo de incorporação dos enxertos está relacionado à sua intimidade com o leito receptor e ao equilíbrio dos seguintes processos: (1) proliferação das células osteogênicas; (2) diferenciação em osteoblastos; (3) osteoindução; (4) osteocondução; e (5) propriedades biomecânicas dos enxertos (BURCHARDT, 1983). Defeitos ósseos extensos podem demandar um grande período de tempo para o reparo, diminuindo as chances de sucesso. A tendência atual é desenvolver e utilizar biomateriais que acelerem ou, ao menos, permitam o reparo normal e completo do defeito ósseo, diminuindo o risco pós-operatório (BLANK & LEVY, 1999; YOUNG et al., 1999). Os biomateriais podem ser classificados de acordo com o seu mecanismo de ação e origem. O mecanismo de ação diz respeito às suas propriedades biológicas e à interação com o leito receptor. São classificados como osteogênicos quando são capazes de promover a formação óssea por carregarem consigo células ósseas; 13 osteoindutores quando são capazes de induzir a diferenciação de células mesenquimais indiferenciadas em osteoblastos com possibilidade de formação óssea ectópica e osteocondutores quando sua estrutura serve de arcabouço ou substrato estrutural favorável para a migração celular e deposição óssea oriunda das imediações, desta forma, o biomaterial pode ser gradativamente reabsorvido e simultaneamente substituído por novo tecido ósseo (URIST, 1984, NOVAES JR. et al, 2000, URIST, 2002). Com relação à sua origem, os biomateriais podem ser classificados como autógenos, homógenos, xenógenos e aloplásticos (MURUGAN & RAMAKRISHNA, 2005). Os enxertos autógenos são aqueles obtidos do próprio paciente, a partir de sítios doadores intra ou extrabucais. Apresentam melhor previsibilidade, e são considerados como o “padrão ouro” por possuírem propriedades osteogênicas, osteocondutoras e osteoindutoras. A morbidade pós-operatória relacionada à necessidade de coleta de uma área doadora, eventuais aumento de tempo e custos de tratamento devido a procedimentos realizados em ambiente hospitalar, são visto com alguma resistência por parte dos pacientes e por isso tem sua indicação redimensionada (LYNCH et al., 1999). Os homógenos, alógenos ou aloenxertos são obtidos de indivíduos da mesma espécie, porém com diferentes genótipos (MISCH & DIETSCH, 1993). O material pode provir tanto de cadáveres quanto de seres vivos que, por diferentes razões, foram submetidos a amputações terapêuticas (CHIAPASCO & ROMEO, 2007). Os três tipos de biomateriais homógenos mais citados na literatura são: osso congelado (raramente utilizado em função dos riscos de rejeição e transmissão de doenças); FDBA (osso seco e congelado), DFDBA (osso desmineralizado seco e congelado). Os biomateriais xenógenos, provém de doadores de outra espécie, como por exemplo o osso de origem bovina (BAUER & MUSCHLER, 2000). Sua resistência biomecânica é similar a do osso humano e tratamentos adequados para a sua obtenção podem evitar respostas imunológicas ou inflamatórias adversas (MISCH, 2000). A ausência de proteína torna segura a utilização em humanos, restringindo seu uso apenas aos aspectos culturais e religiosos (BENKE et al., 2001). O Bio-oss® (Geistlich Pharma, Wolhumsen, Suíça) é um exemplo de hidroxiapatita bovina com cristalinidade e composição química semelhante ao osso humano (SU-GWAN et al., 2001). 14 Os materiais aloplásticos são dispositivos de origem sintética. Esses biomateriais cerâmicos a base de fosfato de cálcio podem ser porosos, cristalinos, amorfos, granulados, porém, sobretudo, devem garantir a formação de ligações estáveis com o osso neoformado, com o passar do tempo (LYNCH et al., 1999). São exemplos de biocerâmicas as hidroxiapatitas (HA), fosfato tricálcico e os biovidros. As propriedades físico-químicas de cada biomaterial, somadas ao ambiente fisiológico, influenciam diretamente na neoformação óssea e como e quando ocorrerá de forma equilibrada a sua biodegradação. As propriedades físicas dos biomateriais são específicas à área de superfície ou formato (bloco, partícula), à porosidade (denso, macro ou microporoso) e à cristalinidade (cristalino ou amorfo). As propriedades químicas dizem respeito à composição química, à razão molar cálcio/ fosfato, ao grau de impureza elementar e à substituição iônica na estrutura atômica (MISCH, 2000, KARAGEORGIU & KAPLAN, 2005, YANG et al., 2005). Existe um longo caminho entre o desenvolvimento de um novo biomaterial ou técnica até a utilização em seres humanos. Para utilização na clínica, é mandatório que os materiais e técnicas sejam testados in vitro e in vivo. Espera-se de um biomaterial, biocompatibilidade, osteocondutividade, e que ele seja gradualmente reabsorvido à medida que novo osso viável é formado. O objetivo do presente trabalho foi avaliar através da análise histomorfométrica o potencial osteocondutor de grânulos de hidroxiapatita com diferentes cristalinidades no reparo de defeito ósseo de tamanho crítico na calvária de ratos. 15 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 O tecido ósseo O sistema esquelético é tão essencial à vida quanto qualquer outro sistema orgânico, pois desempenha um papel imprescindível na homeostase mineral (ROBBINS et al., 2000; MURUGAN & RAMAKRISHNA, 2005). O tecido ósseo serve de suporte para os tecidos mucosos e protege órgãos vitais, como os contidos nas caixas craniana e torácica e no canal medular. Aloja e protege a medula óssea, formadora das células sanguíneas. Proporciona apoio aos músculos esqueléticos, transformando suas contrações em movimentos úteis, e constitui um sistema de alavancas que amplia as forças geradas na contração muscular (JUNQUEIRA & CARNEIRO, 2004). Apesar do aspecto aparentemente inerte, os ossos crescem, são remodelados e se mantém ativos durante toda a vida do organismo. Quando lesados, como em fraturas, são capazes de reparação, fenômeno que demonstra sua permanente vitalidade. O processo pelo qual o tecido ósseo se desenvolve é denominado ossificação ou osteogênese. Os ossos podem se originar de duas maneiras: no seio de uma região condensada de natureza conjuntiva ou quando o tecido ósseo se forma substituindo gradualmente um modelo cartilaginoso preexistente. Pelas suas características, esses dois processos foram denominados, respectivamente, ossificação intramembranosa e ossificação endocondral (LYNCH et al., 1999; KATCHBURIAN & ARANA, 2004). O osso é um tipo especializado de tecido conjuntivo formado por células e material extracelular calcificado, a matriz óssea (JUNQUEIRA & CARNEIRO, 2004). Bioquimicamente é definido por uma mistura especial de matriz orgânica (35%) e elementos inorgânicos (65%). O componente inorgânico, hidroxiapatita de cálcio [Ca10(PO4)6OH2], é o mineral que confere força e resistência aos ossos, sendo o armazém de 99% do cálcio, 85% do fósforo e 65% do sódio e magnésio corporais (MISCH & DIETSH, 1993; ROBBINS et al., 2000; HERNÁNDEZ-GIL et al.,2006). No osso maduro, a matriz orgânica contém 85% de colágeno do tipo I, que atua como uma malha na qual minúsculos cristais de hidroxiapatita são embutidos e o restante é composto de moléculas não colágenas e líquido intersticial. Os minerais não estão diretamente ligados ao colágeno, e sim ligados às moléculas (proteínas) não 16 colágenas. As moléculas não colágenas constituem aproximadamente de 3 a 5% do osso, e são as responsáveis pela promoção de sítios ativos para a biomineralização e para a adesão celular. Alguns exemplos de moléculas não colágenas são: fosfoproteínas, GLA-proteínas (osteocalcina), glicoproteínas acídicas (osteonectina), osteopontina, sialoproteína óssea (BSP), proteoglicanas/ glicosaminoglicanas (principalmente decorina, biglicana, osteoaderina e lumican), proteínas séricas e alguns lipídios. Outro importante constituinte da matriz do tecido ósseo é o grupo das proteínas morfogenéticas ósseas (BMPs), relacionadas à superfamília dos fatores de crescimento (TGF-ß), que são encontradas durante o desenvolvimento de vários órgãos, inclusive do esqueleto (KATCHBURIAN & ARANA, 2004; MURUGAN & RAMAKRISHNA, 2005). As células ósseas são os osteoblastos, os osteócitos e os osteoclastos. Os osteoblastos são as células responsáveis pela formação do tecido ósseo, sintetizam os componentes da matriz orgânica e controlam a mineralização dessa matriz. Estas células são completamente diferenciadas e não apresentam capacidade de migração e proliferação. Assim, para permitir que ocorra a formação óssea em um sítio determinado, células progenitoras mesenquimais indiferenciadas (células osteoprogenitoras) podem migrar para o sítio e proliferar para se tornar então osteoblastos. A diferenciação e o desenvolvimento dos osteoblastos pelas células osteoprogenitoras são dependentes da liberação das BMPs e de outros fatores de crescimento tais como fatores de crescimento da insulina (IGF), fatores de crescimento derivados de plaquetas (PDGF) e fatores de crescimento dos fibroblastos (LYNCH et al., 1999; LINDHE et al., 2005). Os osteoblastos são capazes de concentrar fosfato de cálcio, participando da mineralização da matriz e em fase de síntese mostram as características ultra estruturais das células produtoras de proteínas (JUNQUEIRA & CARNEIRO, 2004). Os osteoblastos, além da produção dos componentes da matriz, funcionam como transmissores de sinais para a remodelação. Vários fatores locais como prostaglandinas, citocinas e interleucinas também agem em relação a sua proliferação, diferenciação e atividade (KATCHBURIAN & ARANA, 2004). Os osteócitos são as células aprisionadas no interior da matriz óssea mineralizada, ocupando as lacunas das quais partem canalículos. Cada lacuna contém apenas um osteócito. Dentro dos canalículos os prolongamentos dos osteócitos estabelecem contatos através de junções comunicantes, por onde podem 17 passar pequenas moléculas e íons de um osteócito para o outro. Esse arranjo permite aos osteócitos (1) participar na regulação da homeostasia do cálcio sanguíneo e (2) perceber a carga mecânica e transmitir essa informação às outras células dentro do osso. Os osteócitos são células com a forma estrelada, achatadas, que exibem pequena quantidade de retículo endoplasmático rugoso, aparelho de Golgi pouco desenvolvido e núcleo com cromatina condensada (JUNQUEIRA & CARNEIRO, 2004; LINDHE et al., 2005). A atividade de formação óssea está consistentemente associada à reabsorção óssea que é iniciada e mantida pelos osteoclastos. Os osteoclastos são células móveis, gigantes, multinucleadas e extensamente ramificadas, observadas nas superfícies ósseas que se originam da fusão de células da linhagem monócitofagocítica dos tecidos hematopoiéticos (LYNCH et al., 1999; KATCHBURIAN & ARANA, 2004; LINDHE et al., 2005). Os osteoclastos possuem citoplasma granuloso, algumas vezes com vacúolos, fracamente basófilo nos osteoclastos jovens e acidófilos nos maduros. A zona clara é um local de adesão do osteoclasto com a matriz óssea e cria um microambiente fechado, onde tem lugar a reabsorção óssea. Os osteoclastos secretam para dentro desse microambiente fechado, ácido (H+), colagenase e outras hidrolases que atuam localmente digerindo a matriz orgânica e dissolvendo os cristais de sais de cálcio. A atividade dos osteoclastos é coordenada por citocinas e por hormônios como a calcitonina, produzida pela glândula tireóide, e o paratormônio, secretado pelas glândulas paratireóides (JUNQUEIRA & CARNEIRO, 2004; HERNÁNDEZ-GIL et al., 2006). A matriz óssea mineralizada é coberta por duas membranas não calcificadas de natureza conjuntiva, que, embora geralmente seja dito que a separam dos outros tecidos, devem ser consideradas membranas que possibilitam uma gradual relação entre um tecido mineralizado e o restante do organismo. São elas o periósteo e o endósteo. O periósteo, mais externamente, é constituído de fibras colágenas e fibroblastos, e na sua região mais interna, além de uma camada de células de revestimento potencialmente osteogênica, possui células indiferenciadas. Já o endósteo é constituído apenas por uma camada de osteoblastos ou de células de revestimento e apresenta, em geral, mais atividade que o periósteo (KATCHBURIAN & ARANA, 2004). A associação da hidroxiapatita com fibras colágenas é responsável pela dureza e resistência do tecido ósseo. Histologicamente existem dois tipos de tecido ósseo: o 18 imaturo ou primário, e o maduro, secundário ou lamelar. Os dois tipos possuem as mesmas células e os mesmos constituintes da matriz. No tecido primário as fibras colágenas se dispõem irregularmente, sem orientação definida. No lamelar, as fibras se organizam em lamelas. O osso primário tem menor quantidade de minerais e maiores proporções de osteócitos do que o lamelar. Este por sua vez possui fibras colágenas organizadas em lamelas de três a sete micrômetros de espessura, que ou ficam paralelas umas às outras, ou se dispõem em camadas concêntricas em torno de canais com vasos, formando o sistema de Havers ou ósteons. Cada ósteon é um cilindro, às vezes bifurcado, formado por quatro a 20 lamelas ósseas concêntricas. No centro desse cilindro ósseo existe um canal revestido de endósteo, o canal de Havers, que contém vasos e nervos. Os canais de Havers comunicam-se entre si, com a cavidade medular e com a superfície externa do osso por meio de canais transversais ou oblíquos, que atravessam as lamelas, os canais de Volkmann (LYNCH et al., 1999; JUNQUEIRA & CARNEIRO, 2004; MURUGAN & RAMAKRISHNA, 2005). Em um osso maduro, geralmente dois tipos de tecido podem ser diferenciados macroscopicamente: o osso esponjoso e o osso compacto. Entretanto em ambos a estrutura é basicamente a mesma, sendo constituídos por sistemas lamelares e existindo diferenças apenas na quantidade e disposição das lamelas e na existência ou não de espaços entre os referidos sistemas. O osso esponjoso é formado por lamelas, na sua maioria paralelas entre si. As lamelas formam delgadas trabéculas que deixam, entre elas, amplos espaços preenchidos por tecido conjuntivo frouxo, vasos sanguíneos e tecido hematopoiético, constituindo, portanto, parte da medula óssea. O osso compacto é formado por numerosos sistemas de lamelas concêntricas (KATCHBURIAN & ARANA, 2004). 2.2 Mecanismos biológicos de formação óssea Os biomateriais utilizados como enxertos ósseos podem agir através de três diferentes mecanismos: osteogênese, osteoindução e osteocondução (BURCHARDT, 1983; MISCH & DIETSH, 1993; GARG, 1999; GAROFALO, 2007). 19 2.2.1 Osteogênese Osteogênese é a formação e desenvolvimento do osso. Neste mecanismo, os biomateriais são capazes de promover a formação óssea por carregarem consigo células ósseas. Células osteogênicas podem encorajar a formação óssea em tecidos mucosos ou ativar rapidamente a neoformação nos sítios ósseos. O osso autógeno intra-oral e extra-oral são exemplos de materiais de enxertos com propriedades osteogênicas e são capazes de formar tecido ósseo mesmo na ausência de células mesenquimais indiferenciadas (LINDHE et al., 2005). 2.2.2 Osteoindução Osteoindução é o ato ou processo de estimular a osteogênese. Envolve a formação de um novo tecido ósseo, pela diferenciação local das células mesenquimais indiferenciadas em osteoblastos, sob a influência de um ou mais agentes indutores, como as proteínas ósseas morfogenéticas (BMP), presentes nos enxertos (LINDHE et al., 2005). 2.2.3 Osteocondução Na osteocondução o biomaterial funciona como uma matriz física ou arcabouço para deposição de novo osso oriundo das imediações. É caracterizada por um processo de crescimento e invasão de vasos sanguíneos, de tecidos perivasculares e de células osteoprogenitoras do sítio receptor para o enxerto. O biomaterial é gradativamente reabsorvido e simultaneamente substituído por novo tecido ósseo (BAUER & MUSCHLER, 2000; CARVALHO et al., 2004). 2.3 Classificação dos enxertos ósseos quanto a sua origem Com relação à sua origem, os biomateriais podem ser classificados em autógeno, alógeno, xenógeno, e aloplástico. 20 2.3.1 Enxertos Autógenos Os enxertos autógenos são aqueles obtidos do próprio paciente. Geralmente indicados como a primeira escolha, são os biomateriais que apresentam melhor previsibilidade, considerados como o “padrão ouro”, por possuírem propriedades osteogênicas, osteocondutoras e osteoindutoras, além de evitar incompatibilidades imunológicas. Sua eficácia baseia-se no transplante da matriz óssea autógena contendo células ósseas vivas para a região receptora (MARX & SAUNDERS, 1986). Podem ser de osso cortical ou medular ou da associação de ambos. O medular é o material mais eficiente na reconstrução de defeitos ósseos, pois fornece uma maior quantidade de células osteogênicas (MISCH, 2000). São utilizados na forma de blocos ou particulados quer seja de sítios doadores intra ou extra-orais. Os intra-orais comumente utilizados são a tuberosidade maxilar, o ramo mandibular, exostoses, e a sínfise mandibular, e os extra-orais são a crista ilíaca, a calota craniana e a tíbia (GARG, 1999; MISCH, 2000). Com relação à escolha do sítio doador, isso dependerá da quantidade em volume, e do tipo de enxerto desejado para a cirurgia proposta. Entretanto, a morbidade pós-operatória relacionada à necessidade de coleta de uma área doadora, e eventuais aumento de tempo e custos de tratamento devido a procedimentos realizados em ambiente hospitalar, têm sido vistos com alguma resistência por parte dos pacientes e por isso tem sua indicação redimensionada (MISCH & DIETSH, 1993; LYNCH, 1999; GAROFALO, 2007). 2.3.2 Enxertos Alógenos Os enxertos alógenos ou homógenos são obtidos de indivíduos da mesma espécie, porém com diferentes genótipos. O material pode provir tanto de cadáveres quanto de seres vivos que, por diferentes razões, foram submetidos a amputações terapêuticas (BUCK & MALININ, 1994; CHIAPASCO & ROMEO, 2007). Após um específico processamento, que consiste de lavagem e desidratação, o material é irradiado ou esterilizado em óxido de etileno (ETO) visando diminuir, ainda mais, seu potencial osteogênico. A esterilização com óxido de etileno pode diminuir a capacidade de indução do DFDBA e a exposição do material a altas temperaturas pode desnaturar suas proteínas. Além disso, as formas de esterilização podem não 21 remover os resíduos formados durante o próprio processo (AMERICAN ACADEMY OF PERIODONTOLOGY, POSITION PAPER, 2001). Os biomateriais são armazenados sob várias formas e tamanhos em bancos de ossos. Suas principais vantagens são: a disponibilidade, a eliminação de um sítio doador no paciente, a diminuição da quantidade de anestesia e do tempo cirúrgico, e a diminuição da perda de volume sanguíneo. As desvantagens estão relacionadas principalmente ao fato dos tecidos serem oriundos de outro indivíduo, com possibilidades de transmissão de doenças infecciosas. Os três tipos de biomateriais homógenos mais citados são: osso congelado, raramente utilizado em função dos riscos de rejeição e transmissão de doenças; FDBA (osso seco e congelado), DFDBA (osso desmineralizado, seco e congelado) (MELLONIG & LEVEY, 1984; GARG, 1999; MISCH, 2000). O FDBA e o DFDBA diferem no modo em que são processados, o DFDBA sofre uma remoção de seu componente mineral (desmineralização) por meio de imersão em ácido clorídrico, objetivando a exposição das proteínas ósseas morfogenéticas que induzirão a diferenciação das células mesenquimais indiferenciadas em osteoblastos. O potencial osteoindutor do DFDBA pode ser perdido ou reduzido se houver falha durante o processamento do material, ocasionando falta ou quantidade insuficiente de proteína indutora ou, ainda, se a proteína estiver presente, porém inativa (MISCH & DIETSH, 1993; AMERICAN ACADEMY OF PERIODONTOLOGY, POSITION PAPER, 2001; URIST, 2002; GAROFALO, 2007). Os enxertos alógenos induzem uma resposta imunológica no hospedeiro, com possibilidade de serem rejeitados. A histoincompatibilidade antigênica está provavelmente relacionada às proteínas ou glicoproteínas na superfície celular. A rejeição do enxerto alógeno é histologicamente expressa pela descontinuidade dos vasos, por um processo inflamatório caracterizado pela presença de linfócitos, encapsulação fibrosa, reabsorção periférica do enxerto, não união e fratura por fadiga (BURCHARDT, 1983). 2.3.3 Enxertos Xenógenos Os biomateriais xenógenos provém de doadores de outra espécie, como exemplo o osso de origem bovina. Sua resistência biomecânica é similar a do osso humano e tratamentos adequados para a sua obtenção podem evitar respostas 22 imunológicas ou inflamatórias adversas. A ausência de proteína torna-o seguro para a utilização em humanos, deixando como restrições ao seu uso apenas os aspectos culturais e religiosos. O Bio-oss® (Geistlich Biomaterials, Wolhuser, Suíça) é um exemplo de hidroxiapatita bovina, com cristalinidade e composição química semelhante ao osso humano. De acordo com o fabricante encontra-se disponível em blocos ou triturado em grânulos corticais ou esponjosos, com uma faixa granulométrica de 250µm a 1000 µm. Sua especial arquitetura porosa natural (75-80%) possibilita uma melhor vascularização e, ainda, mantém um arcabouço para osteocondutividade, aumentando a estabilização do coágulo e absorção sanguínea natural entre os micros e macroporos (MISCH & DIETSH, 1993; PIATTELLI et al., 1999; GARG, 1999; MISCH, 2000). Dentre as várias opções de biomateriais disponíveis o enxerto bovino tem se mostrado como uma alternativa para as mais diversas modalidades, existindo uma variedade de estudos que sustentam as suas indicações (BERGLUNDH & LINDHE, 1997; PIATTELLI et al., 1999; MAIORANA et al., 2005). 2.3.4 Enxertos Aloplásticos Os materiais aloplásticos são dispositivos de origem sintética. Esses biomateriais, bioinertes e bioativos, podem ser porosos, cristalinos, amorfos e granulados, porém, sobretudo, devem garantir a formação de ligações estáveis com o osso neoformado, com o passar do tempo. Utilizados para reconstrução de defeitos ósseos e aumento do rebordo alveolar reabsorvido, funcionam através da promoção de um arcabouço para a angiogênese e conseqüente neoformação óssea. Em geral, estes materiais exibem boa resistência à compressão e pobre resistência à tensão, similares ao osso humano. São exemplos de materiais aloplásticos, as hidroxiapatitas (HA), o fosfato tricálcico e os biovidros. A hidroxiapatita representa o componente inorgânico do tecido calcificado do corpo humano, pode ser reabsorvível ou não reabsorvível, e possui uma proporção de cálcio / fósforo de 10:6. Esta semelhança estrutural com a apatita óssea mineral permite crescimento e contato quando implantado no tecido ósseo. O fosfato tricálcico apresenta estrutura semelhante à HA, bioativo e com propriedades 23 osteocondutoras, possui capacidade de ser reabsorvido por dissolução química (MISCH & DIETSH, 1993; GARG et al.,1999). O crescimento ósseo no interior do biomaterial aloplástico poroso é dependente da biocompatibilidade, das interconexões e dimensões da estrutura porosa (SCHLIEPHAKE et al., 1991). 2.4 Biomateriais de enxerto ósseo Biomateriais podem ser definidos como uma substância ou combinação de duas ou mais substâncias, farmacologicamente inertes de origem natural ou sintética, que são utilizados para melhorar, aumentar ou substituir, parcial ou integralmente, tecidos e órgãos (WILLIAMS, 1987). A utilização de biomateriais para enxerto ósseo apresentou um grande avanço nas últimas décadas com o desenvolvimento destes para o tratamento de aumento ou reconstrução do rebordo alveolar, preenchimento de defeitos intra-ósseos periodontais e de alvéolos dentários, elevação do assoalho do seio maxilar, e tratamento de defeitos perimplantares (BERGHLUNDH & LINDHE, 1997; FUGAZZOTTO & VLASSIS, 1998; MAIORANA et al., 2005; ARTZI et al., 2005). O biomaterial deve ser osteocondutor e susceptível a bioabsorção osteoclástica para permitir substituição pelo osso do hospedeiro no espaço do enxerto (FLECKENSTEIN et al., 2006). Os biomateriais direcionam a forma geral e a estrutura do tecido a ser substituído, promovem a adesão celular e subseqüente crescimento tecidual permitindo a difusão de nutrientes e células através do seu arcabouço (ROSE et al.,2004). A biocompatibilidade dos biomateriais está intimamente relacionada ao comportamento celular no contato e particularmente na adesão celular a sua superfície. Para isso é importante uma apropriada topografia, química e energia de superfície. Assim, a aproximação, a adesão e o “espraiamento” que ocorrem na primeira fase da interação entre a célula e o biomaterial, e a qualidade desta primeira fase influenciará a capacidade celular para proliferar e se diferenciar em contato com o material enxertado. Isto é essencial para a eficácia dos enxertos no sentido de se estabelecer uma interface mecanicamente sólida com completa fusão 24 entre a superfície do material e o tecido ósseo sem a presença de uma interface fibrosa (ANSELME, 2000). A regeneração óssea é um processo complexo e contínuo que objetiva uma restauração anatômica e funcional. Inúmeros eventos ocorrem quando um determinado biomaterial entra em contato com o ambiente biológico. Interações moleculares e celulares influenciam as características teciduais ao redor dos biomateriais. Na presença destes, fatores de crescimento são adsorvidos ou umidecem a superfície dos substitutos ósseos, promovendo uma adequada integração com o osso do hospedeiro. A função dos biomateriais é promover rápida formação óssea. Assim, quando se estabelece uma total integração, uma gradual substituição por novo osso ocorrerá (GAROFALO, 2007). 2.4.1 Materiais de enxerto ósseo a base de fosfato de cálcio Os biomateriais à base de fosfato de cálcio utilizados como materiais de enxerto ósseo ou no recobrimento de implantes dentários ou ortopédicos são considerados materiais bioativos devido à sua capacidade de participar ativamente no processo de cicatrização e/ou regeneração do tecido ósseo (MURUGAN & HAMAKRISHNA, 2005). A reatividade superficial é uma característica comum das cerâmicas ósseas bioativas e consiste na habilidade da biocerâmica aderir ao osso, gerando grande impacto na adesão, proliferação, diferenciação e mineralização das células ósseas A adesão entre o biomaterial e o tecido ósseo e, o aumento do crescimento ósseo são o resultado de múltiplas, paralelas e seqüenciais reações que ocorrem na interface (DUCHEYNE & QIU, 1999). Embora as cerâmicas inorgânicas não demonstrem osteoindução, elas certamente possuem habilidades osteocondutoras, bem como uma notável habilidade de se ligar diretamente ao osso (BURG et al., 2000). Uma das vantagens das biocerâmicas à base de fosfato de cálcio, utilizadas como enxertos ósseos, é que tanto os íons cálcio quanto os íons fosfato não interferem na função celular e fisiológica dos tecidos adjacentes, proporcionando uma resposta tecidual favorável ao tratamento. A liberação de cálcio e fosfato, por parte das biocerâmicas, pode participar, dentro de certos limites, como estimuladores da formação óssea, bem como na reprecipitação de uma camada de 25 apatita carbonatada sobre a superfície do biomaterial estabelecendo uma ligação química com o osso neoformado (LEGEROS, 2002). As apatitas e seus derivados, em particular a hidroxiapatita (HA), bem como o fosfato tricálcio são os principais biomateriais de enxertos ósseos sintéticos que têm sido investigados (TOTH et al., 1995; RODRIGUES-LORENZO et al., 2001). 2.4.2 Hidroxiapatita A hidroxiapatita (HA) é o constituinte principal da fase mineral dos tecidos calcificados, representando entre 30% e 70% da massa dos ossos e dentes, respectivamente. Sua fórmula estequiométrica é [Ca10(PO4)6(OH)2], com a razão Ca/P igual a 1,67 (MISCH, 2000). Muitos métodos são utilizados para sintetizar a hidroxiapatita. O mais convencional é a precipitação em meio aquoso utilizando como matéria-prima o nitrato de cálcio [Ca (NO3)2] e o diamônio fosfato [(NH4)2HPO4]. No entanto a síntese de uma hidroxiapatita pura por este método requer um controle de vários parâmetros tais como: o pH da reação, o tempo, a temperatura, e a estequiometria da matéria prima. Uma discreta variação destes parâmetros pode gerar drásticas variações na composição do produto final (HORNEZ et al., 2007). Tampieri et al. (2001) sugeriram ao estudarem hidroxiapatitas cerâmicas com porosidade graduada como substitutos do osso natural, que pequenas variações na geometria e propriedades físico-químicas poderiam causar significantes diferenças na resposta biológica. Neste estudo as hidroxiapatitas exibiram forte adesão ao osso com os poros contribuindo para uma interligação mecânica conduzindo a uma firme fixação do material com o tecido ósseo. Rosa et al. (2003) estudaram in vitro a diferenciação de osteoblastos oriundos da medula óssea de ratos sobre hidroxiapatitas com diferentes topografias de superfície avaliando: a adesão celular, a proliferação celular, a quantidade de proteína total, a atividade de fosfatase alcalina e a formação de nódulos ósseos. Seus resultados sugeriram que os eventos celulares iniciais, como por exemplo, a adesão celular, não foi afetada pela topografia de superfície da hidroxiapatita. Entretanto os eventos intermediários e finais testados foram favorecidos em superfícies com uma topografia mais regular. 26 Dean-Mo Liu, (1996) fabricou e caracterizou grânulos de hidroxiapatita com 0,7 a 4 mm de diâmetro e com 24 a 76% do seu volume constituído de poros, com tamanhos variando de 95 e 400 µm, simulando a estrutura porosa do osso humano. Segundo o autor, geralmente os poros da superfície são menores em tamanho e em quantidade, e mais estreitos do que nas regiões mais internas. Esta diferença na característica do poro da superfície e das camadas interiores deve ser levada em consideração clinicamente já que os poros da superfície podem em alguns casos restringir a entrada de fluídos corpóreos através dos grânulos. Um estudo em 2005 avaliou as características físico-químicas de seis grânulos de hidroxiapatitas comumente utilizadas no mercado brasileiro e constatou marcantes diferenças com relação à cristalinidade, área de superfície, e composição de um fabricante para o outro ou em diferentes lotes de um mesmo fabricante. Estas variações podem ser uma conseqüência da quebra do controle de qualidade no processo de fabricação e podem afetar diretamente o resultado clínico esperado, tornando um fator limitante para o uso de determinados biomateriais. Neste estudo, apenas um dos biomateriais, uma hidroxiapatita bovina (Bio-oss® - Geistlich Biomaterials, Wolhuser, Switzerland) teve seus resultados perfeitamente de acordo com a especificação do fabricante (CONZ et al., 2005). 2.5 Características físico-químicas dos biomateriais para enxertos ósseos Inicialmente, os estudos in vitro sobre a interação entre os osteoblastos e o biomaterial eram essencialmente preocupados com o efeito da resposta celular a diversos tipos de materiais com pouca atenção sendo dada a influência da caracterização físico-química (ROSA et al., 2003). As propriedades físicas dos biomateriais são específicas à área de superfície ou formato (bloco, partícula), a porosidade (denso, macro ou microporoso) e a cristalinidade (cristalino ou amorfo). O tamanho da partícula do biomaterial impacta diretamente no tamanho da área da superfície disponível para reagir com células e fluído biológico. Quanto maior o tamanho das partículas, maior será o tempo de reabsorção do biomaterial. A porosidade melhora a conexão mecânica entre o biomaterial e o osso, promovendo melhor estabilidade mecânica na interface. Dimensões adequadas de poros favorecem o entrelaçamento do tecido com o biomaterial. Os biomateriais 27 macroporosos (> 50 µm) ou microporosos (< 50µm) possuem uma área de superfície maior para a solução e a reabsorção mediada pelas células sob condições estáticas, além disso, ocorre uma redução significativa na resistência à compressão e tensão. O material poroso também oferece regiões adicionais para o crescimento interno e a integração do tecido promovendo uma estabilização mecânica e, portanto, a minimização do movimento e da deterioração dinâmica associada ao desgaste na interface. Desta forma, poros com diâmetro de 100µm são necessários para a migração e o transporte celular, entretanto poros maiores que 300µm permitem o desenvolvimento de um sistema de capilares favorecendo a neoformação óssea. O controle da macro e microporosidade é um fator de suma importância para a eficiência do material enxertado no paciente. A colonização celular dos substitutos ósseos depende das características de porosidade do biomaterial, em particular ao tamanho e a distribuição dos poros e ao número e tamanho das interconexões entre os macroporos. Estas interconexões formam uma espécie de sistemas de túneis os quais permitem o acesso e o retorno dos fluídos biológicos e a entrada de células ósseas que subseqüentemente irão facilitar a neoformação óssea no interior dos macroporos do biomaterial. Por outro lado, os poros também aumentam a área de superfície do material, porém quanto maior a porosidade mais rápida será a dissolução do enxerto. Um biomaterial cristalino possui uma organização atômica bem definida, ao contrário de um material amorfo, que apresenta um formato de cristal irregular. A cristalinidade é uma propriedade que altera o índice de dissolução do biomaterial e é dependente da temperatura de sinterização. O uso de altas temperaturas (acima de 1000◦ C) por um período de no mínimo 6 horas, seguido de um resfriamento lento durante o processo de síntese, resulta na mais perfeita forma do cristal e com isso menor o grau de degradação. A composição química, a razão molar cálcio/ fosfato, o grau de impureza elementar e substituição iônica na estrutura atômica são propriedades químicas que somadas ao ambiente mecânico influenciam o índice de dissolução do biomaterial assim como na indicação ou restrição da sua aplicação clínica. Acelerada reabsorção dos biomateriais ocorre quando impurezas são observadas em sua estrutura (ex. carbonato de cálcio) e quando o ph do leito receptor diminui. A fórmula da hidroxiapatita estequiométrica (estável) é Ca10(PO4)6(OH)2, com sua razão molar cálcio/ fosfato igual a 1,67, um material que 28 possuir alteração em sua estrutura atômica, como por exemplo, o fosfato tricálcico (Ca3(PO4)2) possuirá uma razão molar inferior (1,5), desta forma, sua velocidade de reabsorção será mais rápida, ou seja, mais solúvel. É de suma importância entender que as propriedades dos biomateriais dependem primariamente da natureza e do processo de fabricação, além disso, deve ser destacada a importância da caracterização levando-se em consideração as propriedades físico-químicas relacionadas à composição química, morfologia, cristalinidade, área superficial específica e expectativa de degradação (MISCH & DIETSH, 1993; GARG, 1999; BURG et al., 2000; MISCH, 2000; TAMPIERI et al., 2001; CONZ et al., 2005; DALAPÍCULA et al., 2006; HORNEZ et al., 2007). O desempenho de um material sintético depende de parâmetros fundamentais tais como: a composição química, a morfologia e a biodegradabilidade (TADIC & EPPLE, 2004). Se o tamanho do cristal é pequeno e/ou se existem incorporações de carbonatos, a biodegradação é fortemente aumentada devido à alta solubilidade (TADIC & EPPLE, 2004). Accorsi-Mendonça et al., (2008) realizaram a caracterização físico-química de dois xenoenxertos bovinos desproteinizados amplamente usados como enxertos ósseos, o Bio-oss® (Geistlich Biomaterials, Wolhuser, Switzerland) e o Gen-Ox (Baumer S.A., Brasil). Para a remoção da porção orgânica estes biomateriais passam por um tratamento térmico específico, que no Bio-oss® gira em torno dos 300°C enquanto que no Gen-Ox este processo oscila entre 950°C a 1000°C. Os resultados sugeriram que a presença de fases não cristalinas, provavelmente material orgânico e carbonatos, identificados no Bio-oss® através da termogravimetria, espectroscopia com infravermelho e difração de raio-x, geraram um biomaterial de baixa cristalinidade e conseqüentemente mais propenso a degradação. Assim, a temperatura do processamento pode ser um caminho para se alterar as propriedades físico-químicas do biomaterial, produzindo materiais com diferentes níveis de reabsorção. Uma completa caracterização físico-química de 14 biomateriais utilizados como substitutos ósseos à base de fosfato de cálcio foi realizada por Tadic & Epple., (2004) e pôde ser constatado que os biomateriais possuíam composição e morfologia completamente diferentes. Ficou claro também que a mera definição “cerâmica de fosfato de cálcio” não foi suficiente para caracterizar totalmente um 29 material. Por outro lado, esta diversidade de características cobre uma ampla variedade de aplicações, desde enxertos permanentes a enxertos com rápida biodegradabilidade. 2.6 Potencial osteocondutor dos biomateriais “in vivo” Uma grande variedade de biomateriais de enxertos ósseos e implantes tem sido avaliada “in vivo” em diferentes modelos animais, como ratos (SCHILIEPHAKE et al., 2004; BRAZ et al., 2003; SILVA et al., 2005; ACCORSI MENDONÇA, 2008), coelhos (THALLER, 1994), cães (BERGLUNDH & LINDHE, 1997; SU-GWAN et al., 2001; SCHLEGEL et al., 2003) e macacos (McALLISTER et al., 1999). A escolha do modelo animal para avaliar o reparo de defeitos ósseos utilizando biomateriais geralmente envolve animais jovens com alto potencial para osteogênese (SCHIMITZ & HOLLINGER, 1986). 2.6.1 Estudos em animais Um estudo em 1997 analisou a cicatrização ao redor de implantes instalados em defeitos ósseos tratados com Bio-oss® (Geistlich Biomaterials, Wolhuser, Switzerland) em cães. Após a análise histológica, foi observado que partículas de Bio-oss® estavam claramente presentes nas áreas teste, porém com redução no número de partículas entre 3 e 7 meses, e que o Bio-oss® tornou-se totalmente integrado e subseqüentemente substituído por novo osso. Além disso, os implantes instalados nas áreas enxertadas demonstraram após 4 meses, quantidade e qualidade de osseointegração na interface osso-titânio, similares ao grupo controle, em osso normal sem enxerto (BERGLUNDH & LINDHE, 1997). Schlegel et al., (2003) ao compararem os resultados histológicos em cirurgias de levantamentos de seio enxertados com osso autógeno versus Bio-oss® (Geistlich Biomaterials, Wolhuser, Switzerland) em dez cães beagles, com biópsias realizadas após 90 e 180 dias constataram que o Bio-oss® não reabsorveu, no entanto o osso natural neoformado estava integrado ao biomaterial penetrando no arcabouço e formando camadas de osso vital sobre o trabeculado não vital da estrutura do Biooss® . Os poros intercomunicantes do biomaterial permitiram completa incorporação deste corpo estranho e, as camadas de osso vital neoformado participaram do 30 turnover que envolve o processo de remodelamento. Os resultados deste estudo sugeriram que o Bio-oss® pode ser utilizado com sucesso como material de enxerto para levantamento de seio quando não se necessita de total regeneração óssea da área enxertada e que o mesmo pode prevenir a indesejável reabsorção precoce que freqüentemente ocorre nos seios submetidos aos procedimentos de aumento ósseo. Em 18 meses de avaliação histológica e radiográfica de levantamentos de seio maxilar com enxerto de osso bovino inorgânico em chimpanzés, foi constatado que o osso bovino mineral mantinha evidência radiográfica de densidade e estabilidade do seu tamanho, além de histologicamente suportar a hipótese de substituição por osso vital (McALLISTER et al., 1999). O potencial osteocondutor de biomateriais de enxertos tem sido amplamente estudado utilizando tamanho de defeito crítico na calvária de ratos (DUPOIRIEUX et al., 2001; BRAZ et al., 2003; SILVA et al., 2005; ACCORSI MENDONÇA, 2008; FLECKENSTEIN et al., 2006). A calvária pode ser definida como a porção do crânio que se estende do arco supra orbital até a protuberância occiptal externa, possuindo uma origem embrionária intramembranosa. Anatomicamente, a calvária de ratos apresenta duas camadas corticais paralelas separadas por um tecido esponjoso com uma média de espessura de 0,68mm variando de 0,3 a 1,2mm (STRONG & MOULTHTROP, 2000). O menor defeito intra-ósseo em um determinado osso de uma espécie animal que não se regenera espontaneamente por completo durante o período de vida do animal é definido como tamanho de defeito crítico (SCHMITZ & HOLLINGER, 1986). Um defeito de tamanho crítico de 8mm de diâmetro na calvária de ratos com 6 meses de idade, reduz para 5mm em 4 semanas e após esse período não ocorre alteração no defeito, e a sua porção central cicatriza pela formação de um tecido conjuntivo fibroso (URIST, 1984). Algumas vantagens para as pesquisas de enxertos ósseos, utilizando defeitos críticos de 8mm na calvária de ratos são o custo baixo dos animais, a necessidade de um espaço físico pequeno na manutenção, pequena quantidade de material para realizar o estudo piloto e as partículas dos biomateriais são inseridas com facilidade no defeito (SCHMITZ & HOLLINGER, 1986). Um estudo realizado em defeitos críticos em calvárias de ratos onde o principal objetivo era quantificar a neoformação óssea pela histomorfometria entre três diferentes configurações de uma hidroxiapatita bifásica/ tricálcio fosfato, foi observado que as diferenças na neoformação óssea estavam relacionadas ao 31 tamanho dos poros. Os macroporos medindo entre 150 e 500µm promoveram o espaço necessário para a invasão vascular e subseqüente maior neoformação óssea através do biomaterial (FLECKENSTEIN et al., 2006). Artzi et al., (2003) analisaram em um primeiro estudo a histologia de defeitos ósseos experimentais criados em mandíbulas de cães e constataram que em até 2 anos de observações partículas de osso bovino mineral (Bio-oss®) dominavam os sítios sem substancial reabsorção. O Bio-oss® provou ser um excelente biomaterial osteocondutor em todos os sítios enxertados estando biologicamente incorporado ao tecido ósseo neoformado e servindo de guia para a completa restauração dos defeitos intraósseos. Em um segundo estudo, seguindo a mesma metodologia, foi realizado uma avaliação histomorfometrica da quantidade de osteocondutividade deste biomaterial e a configuração final do sítio cicatrizado aos três, seis, 12 e 24 meses. As partículas do osso bovino sofreram parcial atividade reabsortiva e biodegradação durante os seis primeiros meses, o que foi validado pelos osteoclastos e a alta celularidade presentes na proximidade das partículas. Entre seis e 24 meses discreta diminuição da fração correspondente à área da partícula foi observada (ARTZI et al., 2003). Em 2004, o mesmo grupo em outro estudo onde compararam a taxa de reabsorção do osso bovino mineral (Bio-oss®) com o ß-fosfato tricálcico, também em defeitos ósseos experimentais em cães, concluíram que ambos os materiais podem ser de grande utilidade em cirurgias reconstrutivas, porém atenção deve ser dada às características de biodegradabilidade de cada um, já que o ß-fosfato tricálcico fosfato possui um padrão de reabsorção mais rápido do que o osso bovino mineral (ARTZI et al., 2004). Estes estudos estão em concordância com as observações feitas por Jensem et al. (2006), em um modelo de estudo similar, com análises histológicas e histomorfométricas, em defeitos criados em mandíbulas de miniporcos, onde os biomateriais estudados (Bio-oss® e ß-fosfato tricálcio) formaram osso em um padrão mais lento do que o osso autógeno nas fases iniciais de cicatrização (duas primeiras semanas). Ao final das oito semanas todos os defeitos regeneraram com osso neoformado e um desenvolvido osso medular. Os biomateriais demonstraram completa integração óssea, sugerindo sua utilização em cirurgias reconstrutivas onde diferentes indicações clínicas requerem diferentes padrões de biodegradabilidade. O potencial osteocondutor de um osso bovino misto (OBM) em relação a dois ossos bovinos inorgânicos medulares (Bio-Oss® e Gen-Ox®) inseridos em defeitos 32 de tamanho crítico na calvária de ratos foi analisado comparativamente após 1, 3, 6 e 9 meses. Na análise microscópica comparativa não se observou o completo fechamento do defeito em quaisquer dos grupos estudados. No grupo controle a ossificação ocorreu na borda do defeito, sendo a região central preenchida por tecido conjuntivo fibroso. No grupo tratado com Bio-Oss ocorreu ossificação na borda do defeito com denso fibrosamento ao redor das partículas. No grupo tratado com Gen-Ox houve neoformação óssea ao redor das partículas do biomaterial e no grupo tratado com OBM o infiltrado inflamatório persistiu no primeiro mês sendo substituído por tecido conjunto fibroso ao redor das partículas (ACCORSI MENDONÇA, 2008). 2.6.2 Estudos em humanos Ozyuvaci et al., (2003) através de avaliações radiológicas e histomorfométricas de seios maxilares relataram que os sítios enxertados com materiais aloplásticos (ß-fosfato tricálcico) reabsorveram mais do que aqueles enxertados com biomaterial xenógeno, no entanto, ambos mostraram respostas cicatriciais similares. Em um estudo baseado em observações clínicas, o Bio-oss® (Geistlich Biomaterials, Wolhuser, Switzerland) foi utilizado sobre áreas enxertadas com bloco autógeno. Devido as suas propriedades osteocondutoras, que compensaram a reabsorção óssea natural e a invaginação de tecido mucoso, ocorreu a promoção de uma ponte para nova formação óssea funcionando como uma barreira durante o processo osteoclástico no período de cicatrização (MAIORANA et al., 2005). Um estudo histológico de longo prazo de 20 casos de levantamentos de seio em humanos avaliou as reações ósseas ao osso bovino inorgânico (Bio-oss® Geistlich Biomaterials, Wolhuser, Switzerland). Neste estudo foram realizadas biópsias após seis, nove, 18 meses e quatro anos. Os resultados indicaram alta biocompatibilidade e osteocondutividade do Bio-oss®, no entanto, suas partículas foram reabsorvidas muito lentamente e após quatro anos ainda se encontravam presentes sendo facilmente reconhecidas (PIATTELLI et al., 1999). Após 10 anos de acompanhamento de um caso de levantamento de seio utilizando Bio-oss® (Geistlich Biomaterials, Wolhuser, Switzerland) com biópsias realizadas após oito meses, dois e 10 anos para avaliação histomorfométrica, foi 33 observado que a comparação das médias de cada período demonstrou um aumento significante na formação óssea associada à lenta reabsorção do biomaterial, já que suas partículas estavam circundadas por osso lamelar neoformado (SARTORI et al., 2003). Com o objetivo de examinar a eficácia de uma nova hidroxiapatita bifásica (hidroxiapatita e tricálcio fosfato) utilizada como substituto ósseo em combinação com osso autógeno particulado em procedimentos de levantamento de seio em humanos, Artzi et al., (2008) verificaram após 6 e 9 meses a presença de osso neoformado altamente celular predominando ao redor das partículas. No entanto, este crescimento ósseo ocorreu sem a significante remoção das partículas. O fato da fração da área óssea e da fração da área da partícula não exibirem correlações significantes sugeriram que os dois elementos alteraram independentemente. Sabendo que a quantidade de osso neoformado é dependente do tipo e da quantidade residual de material enxertado, um experimento relatou após análise histológica de seios maxilares humanos 12 meses pós-aumento que o osso bovino e o ß-fosfato tricálcico fosfato promoveram nova formação óssea, provando ser materiais biocompatíveis, mas com valores significantemente maiores para os enxertos com osso bovino, que pareceu possuir melhores propriedades osteocondutoras. Assim, ficou evidente que a configuração das partículas do osso bovino com seus macros e microporos resultaram em uma melhor propriedade osteocondutora e que a presença contínua do material estabeleceu um maior volume de tecido combinado pelo osso neoformado e o material enxertado, funcionando como uma nova rede densa trabeculada (ARTZI et al., 2005). Um estudo multicentro controlado analisou entre 6 e 8 meses os resultados histomorfométricos de 48 cirurgias de levantamento de seio em 37 pacientes onde foi utilizado um fosfato de cálcio bifásico (Straumann® Bone-Ceramic) em 25 seios. O Bio-oss® foi utilizado na pesquisa como grupo controle em 23 seios. Os parâmetros avaliados foram: (1) a fração da área do osso neoformado, tecido conjuntivo e medular, e material de enxerto na região enxertada; (2) a fração da área óssea, e tecido conjuntivo e medular no rebordo alveolar residual; (3) o percentual da superfície de contato entre o biomaterial e o osso neoformado. Histologicamente ambos os grupos demonstraram íntimo contato entre o osso neoformado e as partículas do enxerto, sem diferenças estatisticamente significantes na quantidade de osso mineralizado. O percentual de contato entre o Bio-oss® e o osso 34 neoformado foi de 48,2% e de 34% no Straumann® Bone-Ceramic. Quantidade menor de partículas de enxerto foi observada no grupo teste aos 6 meses e uma maior quantidade de tecido conjuntivo e medular, porém a quantidade de tecido conjuntivo e medular em ambos os grupos não foi maior do que a encontrada no rebordo alveolar residual (CORDARO et al., 2008). Uma análise histomorfométrica do osso neoformado 10 meses após cirurgias de levantamento de seio em 10 pacientes enxertados com uma combinação de osso autógeno e DFDBA e com osso autógeno e uma hidroxiapatita revelou satisfatória formação óssea em ambos os grupos na área enxertada, com 50,46% para o grupo com DFDBA e 46,79% para a HA. A avaliação histológica revelou a presença de osso maduro com áreas compactas e medulares em ambos os grupos. O infiltrado inflamatório não foi significante com prevalência de mononucleares. Os resultados indicaram que tanto o DFDBA quanto a HA associados ao osso autógeno foram biocompatíveis e promoveram osteocondução, atuando como matrizes para a neoformação óssea. No entanto, ambos os materiais continuavam claramente presentes após 10 meses (BöECK-NETO et al., 2002). Hallman et al., (2002) avaliaram clínica e histologicamente a integração de implantes na região posterior da maxila após levantamento de seio com osso autógeno, Bio-oss® ou uma mistura de autógeno com Bio-oss® em uma proporção de 20:80. Os resultados indicaram uma resposta óssea similar e que a integração dos implantes pôde ser vista nas três situações, pelo menos em uma perspectiva de curto prazo, sem diferenças estatisticamente significantes. As partículas do Bio-oss® permaneceram no tecido ósseo e foram vagarosamente embutidas em osso lamelar, o que pôde resultar em maior densidade óssea, influenciando positivamente a estabilidade do implante. Assim, a resistência do Bio-oss® à reabsorção e degradação pode ser vantajosa para a manutenção das dimensões iniciais da área enxertada. 35 3 PROPOSIÇÃO O objetivo desse trabalho foi avaliar por meio da análise histomorfométrica o comportamento osteocondutor de hidroxiapatitas com diferentes características físico-químicas no reparo de defeito ósseo de tamanho crítico na calvária de ratos. Os objetivos específicos foram: - Comparar a densidade de volume de osso neoformado nas regiões periférica, intermediária e central de um grupo enxertado com uma hidroxiapatita de baixa cristalinidade, um grupo enxertado com uma hidroxiapatita de alta cristalinidade e um grupo preenchido pelo coágulo em 1, 3 e 6 meses após a cirurgia. - Analisar a densidade de volume de osso neoformado nas regiões periférica, intermediária e central de cada grupo (hidroxiapatita de baixa cristalinidade, hidroxiapatita de alta cristalinidade e coágulo) isoladamente em 1, 3 e 6 meses após a cirurgia. 36 4 MATERIAIS E MÉTODOS Dentre os procedimentos relatados a seguir, destaque-se que as hidroxiapatitas utilizadas, os procedimentos cirúrgicos, o processamento histológico e a análise histomorfométrica foram realizados e descritos por CONZ (2006). 4.1 Materiais Foram produzidos dois diferentes grânulos de hidroxiapatita (HA-1 e HA-2), com razão molar Ca/P igual a 1,60 e 1,67 respectivamente e cristalinidades diferentes. As diferenças nas cristalinidades dos materiais de partida foram obtidas por meio de um controle dos reagentes empregados, da temperatura e do tempo de processamento. Figura 1 - Difratogramas de raios-X dos grânulos das hidroxiapatitas com diferentes cristalinidades, HA-1 e HA-2 (CONZ, 2006). 37 Os difratogramas dos grânulos produzidos com os pós HA-1 e HA-2 estão apresentados na figura 1. Os espectros obtidos apresentaram os picos principais referentes à hidroxiapatita sintética (JCPDS-ICDD cartão 9-432, 1992), podendo destacar a presença dos picos nas intensidades de 100% correspondente ao plano (211), o pico na intensidade de 60% correspondente ao plano (300) e o pico na intensidade de 40% correspondente ao plano (002). Na Tabela 1 estão apresentados os índices de cristalinidade dos pós de hidroxiapatita e dos grânulos de hidroxiapatita após o processamento, determinado pela técnica preconizada por Landi et al. (2000), onde a cristalinidade do material é avaliada por meio dos espectros de raio-X aplicando a seguinte fórmula: Xc =1(V112/300/ I300)X 100, onde Xc é o índice de cristalinidade da amostra, V112/300 corresponde ao vale existente no espectro de raios-x entre os planos (112) e (300); e I300 corresponde ao valor da intensidade do plano 300. Tabela 1 - Índice de cristalinidade das amostras (CONZ, 2006). Amostra Antes do Após o processamento processamento dos grânulos (%) dos grânulos (%) HA-1 ≈ 28 ≈ 28 HA-2 ≈ 70 ≈ 70 38 4.2 Avaliação “in vivo” O experimento foi realizado no biotério da Faculdade de Odontologia de Bauru (USP) em conformidade com os princípios e aprovado pela comissão de ética no ensino e pesquisa em animais (CEEPA-proc. N0 18/2004). Os animais foram mantidos durante o período experimental em boas condições de alimentação, com ração e água ad libitum, temperatura, ciclo claro-escuro de 12 horas e higiene. 4.2.1 Grupos Experimentais Um total de 45 ratos Wistar (Rattus norvegicus), machos adultos (5 meses de idade e peso médio de 350g), foram divididos aleatoriamente em três grupos experimentais com 15 animais cada. Nos períodos de 1, 3 e 6 meses após os procedimentos cirúrgicos foram sacrificados 5 animais de cada grupo experimental para a verificação do reparo ósseo nos defeitos desenvolvidos (Tabela 2). Tabela 2 - Grupos Experimentais e materiais Utilizados (CONZ, 2006). GRUPOS (n=5animais/período) PREENCHIMENTO Experimental I Coágulo Experimental II HA-1 Experimental III HA-2 39 4.2.2 Preparo dos animais e procedimentos de implantação Os animais foram submetidos à anestesia geral intramuscular, com uma mistura de Ketamina 5% (Ketalar, Achë Laboratórios Farmacêuticos S.A, Butantã,SP, Brasil), relaxante muscular e Xilazina 2% (Rompun, Bayer-S.A, São Paulo, SP, Brasil), sedativo de uso animal, na proporção 1:1. A dose utilizada foi de 0,2 ml para cada 100g de peso. Após a anestesia foi realizada a tricotomia da região frontoparietal da cabeça do animal com auxílio de tesoura e lâmina de barbear com posterior assepsia vigorosa utilizando álcool iodado. Foi realizada uma incisão mucoperiostal, com uma lâmina de bisturi n°10, em formato de meia-lua na calota craniana e com auxílio de um periostómo de Molt e cinzel de Oshsenbein n°1 (SSWHITE), os retalhos de espessura total foram elevados expondo amplamente a cortical óssea da região. A seguir, foi removido um fragmento da porção mediana dos ossos parietais, com auxílio de um motor cirúrgico e um contra-ângulo redutor 16:1, por meio de uma broca trefina cirúrgica de 8 mm de diâmetro interno e 8,5 de diâmetro externo (Wellfare S.A) sob irrigação abundante e contínua com solução fisiológica. A dura-máter foi mantida íntegra. Após a remoção das tábuas corticais externa e interna, os defeitos críticos transfixados com 8,5 mm de diâmetro foram preenchidos apenas com coágulo, enquanto nos grupos experimentais os defeitos foram preenchidos com os biomateriais HA-1 e HA-2 (Tabela 1). Os retalhos, a seguir, foram reposicionados e suturados (Figura 2) com linha de seda preta n° 3-0 (Ethicon, Johnson & Johnson, São Paulo, SP, Brasil). 40 A B C D E F Figura 2 – Seqüência do procedimento cirúrgico dos animais experimentais. A) Anestesia; B) Tricotomia; C) Incisão; D) Perfuração para remoção da cortical; E) Colocação do biomaterial; F) Sutura (CONZ, 2006). 41 4.2.3 Obtenção das biópsias e preparo histotécnico Os animais (n=5/período) foram sacrificados ao término dos períodos de 1, 3 e 6 meses após as cirurgias por dose excessiva de anestésico hidrato de cloral 10%. Em seguida foram coletadas as calotas cranianas com a pele sobreposta com auxílio de uma serra elétrica que posteriormente foram submetidas ao processo de fixação em formol 10% tamponado1 durante uma semana. 4.2.4 Procedimento histotécnico Em seguida, procedeu-se a desmineralização das peças em solução de EDTA pH 7,2 (solução contendo 4,13% de Titriplex III Merck® e 0,44% de hidróxido de sódio) a temperatura ambiente, por um período aproximado de cento e vinte dias com trocas semanais da solução desmineralizadora. As peças foram submetidas ao procedimento histotécnico padrão do laboratório de Histologia da UFF/RJ. Cortes semi-seriados de 5µm de espessura, no sentido laterolateral da região mais central do defeito ósseo (micrótomo Jung-Leica RM2045) e foram corados pela técnica da Hematoxilina-Eosina - H/E (LUNA, 1968). 1 = Formol 10% Tamponado Formaldeído 40% Tampão Fosfato de Sódio*, pH 7,0 * Tampão fosfato de sódio: Monofosfato de sódio hidratado (NaH2PO4.H2O) Difosfato de sódio hidratado (NaHPO4.12H2O) Água destilada q.s.p. 10 ml 90 ml 4,02g 16,37g 1000ml 42 4.2.5 Análise histomorfométrica A histomorfometria foi realizada com a finalidade de se medir a fração da área de osso neoformado (i.e. a densidade volume de osso neoformado) no interior do defeito da calvária. Foram capturadas imagens, em campos isolados, da secção realizada no sentido latero-lateral da parte central do defeito crítico de cada animal utilizando um microscópio ótico (Jenaval - Zeiss), com uma objetiva de 12,5 x (N.A 0,55). A intensidade da fonte de luz foi corrigida com um filtro (daylight) 80ª/Kodak. As imagens foram digitalizadas com uma câmera fotográfica digital Sony cyber-shot (P-83) operando em modo manual, com o tamanho de 1280 x 960 pixels. O aumento final foi aferido utilizando uma lâmina milimetrada com espaçamento mínimo de 10 µm. Em cada corte foram capturados e analisados todos os campos possíveis, de um lado ao outro do defeito, sem sobreposições das imagens (figura 3 A e B). A * * * B C P P C I I Figura 3 - (A) Secção histológica de um animal com 1X de aumento, onde se pode visualizar de uma borda (*) a outra do defeito no sentido latero-lateral. (B) Mesma secção com as regiões periférica (P), intermediária (I) e central (C) demarcadas. 43 O número de campos analisados variou de 4 a 6, por secção. Das 45 secções, 14 apresentaram 6 campos de análise (A, B, C, D, E e F), 24 apresentaram 5 campos (A, B, C, D e E) e 7 secções apresentaram 4 campos (A, B, C e D). Para a avaliação do osso neoformado dos grupos experimentais foram determinados para cada secção, uma região periférica (P), intermediária (I) e central (C). A região periférica correspondeu aos campos situados na parte mais externa das secções, próximos a borda do defeito. A região central foi formada pelos campos situados no centro do defeito e, a região intermediária aos campos situados entre a região periférica e a central. Nas 14 secções que apresentaram 6 campos, a região periférica foi formada pelos campos A e F, a região intermediária pelos campos B e E, e a região central pelos campos C e D (Figura 4). Nas 24 secções que apresentaram 5 campos, a região periférica foi formada pelos campos A e E, a região intermediária pelos campos B e D, e a região central pelo campo C (figura 5). Nas 7 secções que apresentaram 4 campos, a região periférica foi formada pelos campos A e D, e as regiões intermediária e central foram formadas pelos campos B e C (Figura 6). osso antigo (borda do defeito) Interior do defeito Central A B C D E F Intermediária Periférica Figura 4 – Representação das imagens capturadas pelo microscópio da secção histológica com 6 campos para a análise. Observar a região periférica (A e F); intermediária (B e E) e a central (C e D). 44 osso antigo (borda do defeito) Interior do defeito Central A B C D E Intermediária Periférica Figura 5 – Representação das imagens capturadas pelo microscópio da secção histológica com 5 campos para a análise. Observar a região periférica (A e E); intermediária (B e D) e a central (C). osso antigo (borda do defeito) interior do defeito Intermediária = Central A B C D Periférica Figura 6 – Representação das imagens capturadas pelo microscópio da secção histológica com 4 campos para a análise. Observar a região periférica (A e D); intermediária e central (B e C). As imagens obtidas foram editadas no programa Adobe Photosop 7.0, para a coloração do tecido ósseo neoformado, biomaterial e tecido conjuntivo fibroso (Figura 7 A e B). A histomorfometria foi realizada utilizando o programa Image Pro Plus (Media cybernetics, L. P., Silver Spring, MD) e o tecido ósseo neoformado 45 presente foi caracterizado pela medida da área corada em cada campo de análise (Figura 8). A densidade de volume de osso neoformado encontrado nos campos das regiões periféricas, intermediárias e centrais de cada secção foi somado e a média de cada região calculada. A B 100 µm 100µm Figuras 7 - (A)-Imagem original de um campo com 12,5 X de aumento obtida do corte histológico do grupo experimental. (B)-Imagem segmentada do corte histológico (vermelho= hidroxiapatita, verde= osso neoformado e azul= tecido conjuntivo) (CONZ, 2006). 46 Figura 8 - Programa Image Pro Plus (Media Cybernetics, L. P., Silver Spring, MD) utilizado para determinar a densidade de volume de osso neoformado (CONZ, 2006). 4.2.6 Análise Estatística A análise estatística dos escores foi realizada por meio de teste de comparação de médias. Como os dados obtidos dos cortes histológicos nos grupos testados, não apresentaram os requisitos de normalidade, esses foram analisados estatisticamente pelos testes de Kuskal-Wallis (KW) com nível de significância de 5% (α=0,05). Quando a probabilidade (p) associada a cada teste foi menor do que o nível de significância (p < 0,05) aplicou-se como complementação o teste de comparações múltiplas Student-Newman-Keuls (SNK) entre os grupos. 47 5 RESULTADOS A densidade de volume de osso neoformado das regiões periférica, intermediária e central de cada animal dos três grupos experimentais para os períodos de 1, 3 e 6 meses após a cirurgia podem ser visualizados nos apêndices A e B. 5.1 Comparação das regiões entre os grupos O gráfico 1 resume os resultados obtidos quanto a densidade de volume de osso neoformado nas regiões periférica, intermediária e central dos grupos HA-1, HA-2 e coágulo com 1 mês após a cirurgia. Grupos Experimentais Percentual Médio de Osso Neoformado 100 Coágulo 90 1 MÊS HA-1 80 HA-2 70 60 50 40 30 20 10 0 P e rif e ria Int e rm e diá ria C e nt ra l Gráfico 1 – Densidade de volume de tecido ósseo neoformado nas regiões dos grupos coágulo, HA-1 e HA-2 com 1 mês após a cirurgia. Foi possível constatar que com 1 mês após a cirurgia os três grupos analisados apresentavam na periferia do defeito densidade de volume de osso neoformado acima dos 30%, sem diferenças estatisticamente significante entre eles (p=0,264). Na região intermediária do defeito, o grupo coágulo exibiu uma densidade 48 de volume de osso neoformado em torno de 8% e os grupos HA-1 e HA-2, 4% e 13%, respectivamente. No entanto não houve diferença estatisticamente significante entre os grupos (p=0,213). Na região central, não foi verificado neoformação óssea no grupo coágulo. Os grupos HA-1 e HA-2 apresentaram, respectivamente, 4,18% e 11,63% de osso neoformado nesta região, porém a análise estatística não revelou diferença entre os três grupos nesta região do defeito (p=0,161). O gráfico 2 resume os resultados obtidos quanto a densidade de volume de osso neoformado nas regiões periférica, intermediária e central dos grupos HA-1, HA-2 e coágulo com 3 meses após a cirurgia. Percentual Médio de Osso Neoformado 100 Grupos Experimentais 90 Coágulo 3 MESES HA-1 80 HA-2 70 60 50 40 30 20 10 0 P e rif e ria Int e rm e diá ria C e nt ra l Gráfico 2– Densidade de volume de tecido ósseo neoformado nas regiões dos grupos coágulo, HA-1 e HA-2 com 3 meses após a cirurgia. Nota-se, que com 3 meses após a cirurgia o grupo coágulo apresentava na região periférica 40,56% de osso neoformado e os grupos HA-1 e HA-2, 44,16% e 39,42%, respectivamente, sem diferenças estatisticamente significante entre eles (p=0,932). Na região intermediária do defeito, o grupo coágulo exibiu uma densidade de volume de osso neoformado em torno de 2% e os grupos HA-1 e HA-2, 17% e 14%, respectivamente. No entanto não houve diferença estatisticamente significante entre os grupos (p=0,314). Na região central, o grupo coágulo apresentou 2,01% de 49 osso neoformado, enquanto os grupos HA-1 e HA-2 apresentaram, respectivamente, 15,96% e 5,78%. A análise estatística não revelou diferença entre os três grupos nesta região do defeito (p=0,609). O gráfico 3 resume os resultados obtidos quanto a densidade de volume de osso neoformado nas regiões periférica, intermediária e central dos grupos HA-1, HA-2 e coágulo com 6 meses após a cirurgia. Percentual Médio de Osso Neoformado 100 Grupos Experimentais 90 Coágulo 6 MESES HA-1 80 HA-2 70 60 50 40 30 20 10 0 P e rif e ria Int e rm e diá ria C e nt ra l Gráfico 3 – Densidade de volume de tecido ósseo neoformado nas regiões dos grupos coágulo, HA-1 e HA-2 com 6 meses após a cirurgia. Foi possível observar que com 6 meses após a cirurgia o grupo coágulo apresentava na região periférica 53,3% de osso neoformado e os grupos HA-1 e HA2, 43,5% e 53,3%, respectivamente, sem diferenças estatisticamente significante entre eles (p=0,468). Na região intermediária do defeito, o grupo coágulo exibiu uma densidade de volume de osso neoformado em torno de 23% e os grupos HA-1 e HA2, 12% e 19%, respectivamente. No entanto não houve diferença estatisticamente significante entre os grupos (p=0,249). Na região central, o grupo coágulo apresentou 10,09% de osso neoformado, enquanto os grupos HA-1 e HA-2 apresentaram, respectivamente, 4,45% e 16,78%. A análise estatística não revelou diferença entre os três grupos nesta região do defeito (p=0,765). 50 5.2 Análise das regiões de cada grupo O gráfico 4 resume os resultados obtidos quanto a densidade de volume de osso neoformado nas regiões periférica, intermediária e central de cada grupo (HA1, HA-2 e coágulo) com 1 mês após a cirurgia. Regiões do Defeito 100 Percentual Médio de Osso Neoformado 90 Periferia 1 MÊS Intermediária 80 Central 70 60 50 40 30 20 10 0 C O Á G ULO H A -1 H A -2 Gráfico 4 – Densidade de volume de tecido ósseo neoformado nas regiões de cada grupo com 1 mês após a cirurgia. Foi possível constatar que com 1 mês após a cirurgia no grupo coágulo a densidade de volume de tecido ósseo neoformado na periferia do defeito foi pelo menos cinco vezes maior do que na região intermediária (p=0,008). Na região central não se observou formação óssea, no entanto, não houve diferença estatisticamente significante entre esta e a região intermediária que apresentou valores em torno de 8% de tecido ósseo neoformado (SNK: P>I=C). A densidade de volume de tecido ósseo neoformado na região periférica no grupo experimental HA-1 foi pelo menos seis vezes maior do que nas regiões intermediária e central (p= 0,009). Entre as regiões intermediária e central não foi observada diferença estatisticamente significante (SNK: P>I=C). No grupo HA-2, a região periférica apresentou uma densidade de volume de osso neoformado em torno de 37%, a 51 região intermediária e a central, 13% e 12%, respectivamente. No entanto, não foi observado diferença estatisticamente significativa entre estas regiões (p=0,08). O gráfico 5 resume os resultados obtidos quanto ao percentual médio de tecido ósseo neoformado nas regiões periférica, intermediária e central de cada grupo (HA-1, HA-2 e coágulo) com 3 meses após a cirurgia. Regiões do Defeito Percentual Médio de Osso Neoformado 100 Periferia 3 MESES 90 Intermediária 80 Central 70 60 50 40 30 20 10 0 C O Á G ULO H A -1 H A -2 Gráfico 5 - Densidade de volume de tecido ósseo neoformado nas regiões de cada grupo com 3 meses após a cirurgia. Foi observado que com três meses após a cirurgia, no grupo coágulo, a região periférica apresentou uma densidade de volume de tecido ósseo neoformado superior às demais regiões (p=0,004). Apesar de se observar uma pequena quantidade de osso neoformado na região central, não se verificou diferença estatística entre esta e a região intermediária (SNK: P>I=C). Com relação a HA-1, a região periférica exibiu 44% de osso neoformado, e foi possível notar um significativo aumento na densidade de volume de tecido neoformado tanto na região intermediária (17%) quanto na região central do defeito (16%). No entanto, não existiu diferença estatisticamente significante entre as três regiões (p=0,164). Já no grupo experimental HA-2 observou-se que na periferia do defeito, a densidade de 52 volume de osso neoformado foi estatisticamente superior àqueles encontrados nas regiões intermediária e central (p=0,03; SNK: P>I=C). O gráfico 6 resume os resultados obtidos quanto a densidade de volume de tecido ósseo neoformado nas regiões periférica, intermediária e central de cada grupo (HA-1, HA-2 e coágulo) com 6 meses após a cirurgia. Regiões do Defeito Percentual Médio de Osso Neoformado 100 6 MESES 90 Periferia Intermediária 80 Central 70 60 50 40 30 20 10 0 C O Á GULO H A -1 H A -2 Gráfico 6 - Densidade de volume de tecido ósseo neoformado nas regiões de cada grupo com 6 meses após a cirurgia. Nota-se, ao se examinar o grupo coágulo com 6 meses após a cirurgia, que apenas neste período do estudo foi possível verificar uma densidade de volume de osso neoformado na região intermediária do defeito superior a região central, estatisticamente significativa. A região periférica continuou apresentando valores mais elevados que as demais (p=0,019; SNK: P>I>C). No grupo experimental HA-1, a região periférica apresentou uma densidade de volume de tecido ósseo neoformado pelo menos três vezes maior do que a região intermediária e nove vezes maior do que a região central (p=0,012). Entre as regiões intermediária e central não houve diferença estatisticamente significante (SNK: P>I=C). No grupo 53 HA-2, não foi observado diferença estatisticamente significativa entre as regiões periférica, intermediária e central (p=0,105). 54 6 DISCUSSÃO O controle na fabricação dos biomateriais osteocondutores tem uma grande importância para o desenvolvimento de materiais para enxertos ósseos. As características físico-químicas dos biomateriais como: composição química, granulometria, cristalinidade, arquitetura dos poros e área de superfície estão diretamente relacionadas com o seu comportamento “in vivo” (ARTZI et al., 2004, MASTROGIACOMO et al., 2005, THORWARTH et al., 2005, YUNOKI et al., 2006, BALASUNDARAM et al., 2006). A otimização dos biomateriais objetiva facilitar o crescimento celular e tecidual e pode envolver alterações na micro e macroarquitetura. As alterações na microarquitetura estão relacionadas à microporosidade e a cristalinidade, enquanto que as alterações na macroarquitetura dizem respeito ao tamanho e a interconectividade dos poros (ROSE et al., 2004). As características fisico-químicas dos grânulos de hidroxiapatita HA-1 produzidos no presente trabalho teve como referência o enxerto ósseo bovino inorgânico particulado Bio-oss® (Osteohealth Co.). O Bio-oss® apresenta uma vasta literatura científica sendo considerado um eficiente biomaterial de enxerto ósseo (TADIC & EPPLE, 2004; CONZ et al., 2005). Os grânulos de hidroxiapatita da HA-2 apresentavam uma razão molar Ca/P de 1,67 e cristalinidade de aproximadamente 70%, enquanto que os grânulos da HA-1 apresentavam uma razão molar Ca/P de 1,60 e cristalinidade de aproximadamente 28% . Os biomateriais com estruturas altamente cristalinas são quimicamente mais estáveis e geram uma diminuição da adsorção de proteínas, interferindo na adesão celular “in vitro” (YANG et al., 2005). Por outro lado, os materiais com menor cristalinidade e não sinterizados são mais susceptíveis à dissolução em outras fases cristalinas (AOKI, 1994; ARTZI et al., 2004). Os princípios básicos para a regeneração óssea guiada são: exclusão dos tecidos e células indesejáveis ao reparo do defeito, criação e manutenção do espaço, proteção do coágulo sangüíneo e estabilização da membrana sobre o defeito ósseo (LINDHE et al., 2005), além do suprimento sangüíneo adequado. Neste estudo não foram utilizadas membranas como barreira física, portanto, a proliferação de outros tipos celulares como células do tecido conjuntivo e epitelial para o interior do defeito, provavelmente contribuiu para uma diminuição da 55 diferenciação das células mesenquimais indiferenciadas (osteoprogenitoras), essenciais para a regeneração óssea dos tecidos lesionados. Apenas o uso da membrana pode ser suficiente para o fechamento completo ou parcial do defeito crítico em crânio de ratos (DUPOIRIEUX et al. 2001). Queiroz et al. (2006) avaliaram histologicamente o comportamento do enxerto ósseo de origem bovina (Biograft®) recoberto por uma membrana óssea (Bioplate®) no reparo de defeitos de 6 mm de diâmetro em calvárias de coelhos. Os autores concluíram que após 60 dias a membrana serviu como barreira, impedindo a migração de células do tecido conjuntivo adjacente, e o enxerto ósseo promoveu uma osteocondução para o reparo do defeito. As vantagens da utilização de barreiras nas técnicas de regeneração guiada estão amplamente documentadas na literatura e indicam uma facilitação na neoformação óssea bem como a reabsorção do biomaterial de enxerto (DAHLIN et al., 1988; DAHLIN et al., 1989; DAHLIN et al., 1990; TARNOW et al., 2000; WIKESJO et al., 2003). No entanto, em um estudo comparativo em cães, o uso adicional de uma membrana em defeitos ósseos criados na mandíbula com 5 mm de diâmetro e 4 mm de profundidade enxertados com osso bovino mineral, não resultou em um benefício quando comparado aos defeitos preenchidos com o mesmo material sem a utilização da barreira após 24 meses (ARTZI et al., 2003). É de suma importância estudar e entender o microambiente do leito receptor a fim de se obter uma integração efetiva do enxerto (GRONTHOS et al., 2008). A importância dos modelos de defeito crítico se deve ao fato de não ocorrer regeneração completa do mesmo na presença de coágulo, mas sim cicatrização de grande parte por um tecido conjuntivo fibroso. Nesses modelos a eficácia dos biomateriais é avaliada em função, primeiramente, da capacidade de induzir ou promover maior quantidade de tecido ósseo em relação ao grupo controle com coágulo. Sem o preenchimento, o defeito será ocupado com um tecido conjuntivo fibroso preferivelmente do que com o tecido ósseo (FRAME, 1980). A limitada capacidade regenerativa de um defeito na calvária pode ser devido ao pobre suprimento sanguíneo e a uma relativa deficiência no osso medular (PROLO et al., 1982). Embora exista um grande progresso no uso dos biomateriais para enxertos ósseos, os caminhos nos quais eles executam suas funções in vivo são diferentes (MURUGAN & RAMAKRISHNA, 2005). 56 Estudos em animais e em humanos frequentemente realizam uma avaliação quantitativa da densidade de volume de tecido ósseo neoformado, tecido conjuntivo e do biomaterial remanescente, através da análise histomorfométrica (VALENTINI et al., 2000; YILDIRIN et al., 2000; NORTON et al., 2003; JOHN & WENZ, 2004; ARTZI et al., 2004; CONZ, 2006; CORDARO et al., 2008). No entanto, estes estudos avaliam o defeito ósseo como um todo, quantificando a média da área total do defeito, sem individualizar as regiões periféricas, ou seja, aquelas próximas ao osso residual, as regiões intermediárias e aquelas mais centrais. Esta avaliação generalizada pode não representar a dinâmica da neoformação óssea no interior de um defeito, pois é provável que existam diferenças entre as regiões. Ao se examinar os resultados referentes a densidade de volume de osso neoformado obtidos por Conz (2006), observa-se que aos 6 meses após a cirurgia no grupo enxertado com a HA-1 e a HA-2 a densidade de volume de osso neoformado na área total do defeito foi de 27,25% e 32,02%, respectivamente. A comparação destes grupos com um grupo controle (coágulo), não revelou diferença estatisticamente significativa. No presente trabalho, ao dividirmos o defeito em regiões, percebe-se que aos 6 meses após a cirurgia no grupo experimental HA-1 a região periférica obteve 43,5% de osso neoformado, a região intermediária 11,99% e a central 4,45%. No grupo enxertado com a HA-2 a região periférica apresentou 53,3%, a intermediária 19,23% e a central 16,78% de osso neoformado. No entanto, a comparação da densidade de volume de osso neoformado nas regiões periférica, intermediária e central entre os grupos não apresentou diferença estatisticamente significante conforme a análise realizada por Conz (2006). Ao analisarmos a dinâmica da neoformação óssea nos grupos isoladamente, no grupo coágulo, a região periférica apresentou uma densidade de volume de tecido ósseo neoformado maior do que nas regiões intermediária e central nos 3 períodos analisados, sendo este resultado estatisticamente significante. A proximidade da região periférica a borda do defeito ósseo, local onde existe grande vascularização, portanto, disponibilidade de células mesenquimais indiferenciadas para migrarem e se diferenciarem em osteoblastos, favorece e justifica uma maior quantidade de tecido ósseo na periferia ao longo dos seis meses de estudo. A não utilização de um biomaterial que funcionasse como uma matriz para a angiogênese e migração de células osteoprogenitoras, contribuiu para uma limitada neoformação óssea nas regiões intermediárias e centrais, já que estas regiões se encontram mais 57 distantes da borda do defeito, ou seja, do osso nativo do animal. Isto é especificamente importante, pois a quantidade de osso neoformado e enxerto remanescente são dependentes da distância da área enxertada ao osso residual (ARTZI et al., 2005). Dumas et al. (2009) observaram em um estudo experimental em defeitos críticos na calvária de ratos que com 8 semanas após a cirurgia, no grupo enxertado apenas com um biomaterial xenógeno, o crescimento ósseo se limitou à periferia do defeito, enquanto que a região central havia sido preenchida por um tecido conjuntivo fibrovascular. Um estudo em humanos analisou seios maxilares enxertados bilateralmente, um lado com uma hidroxiapatita bovina (Bio-Oss®) e o outro com uma hidroxiapatita sintética bifásica (Straumann® Bone Ceramic). Após um mínimo de 180 dias, biópsias foram realizadas verticalmente, ou seja, do rebordo maxilar residual para o seio maxilar e em ambos os lados foi demonstrado uma maior quantidade de osso neoformado nas proximidades da crista residual quando comparado às outras regiões da biópsia (CORDARO et al., 2008). Estes resultados contrastam com as observações de um outro estudo de metodologia similar encontrado na literatura, onde biópsias foram realizadas em uma direção horizontal, de bucal para palatina na região da janela óssea lateral (ARTZI et al., 2005). Aos 6 meses após a cirurgia, no grupo coágulo, foi possível observar uma maior densidade de volume de osso neoformado na região periférica (53%), seguido da região intermediária (23%) e central (10%), respectivamente. A ausência de um biomaterial osteocondutor neste grupo provavelmente contribuiu para que a densidade de volume de osso neoformado na região intermediária fosse maior do que na região central do defeito. O reparo de um defeito de tamanho crítico com 8mm de diâmetro na calvária de ratos, com 6 meses de idade, reduz para 5mm em 4 semanas e após esse período não ocorre alteração no defeito, enquanto que seu centro cicatriza pela formação de tecido conjuntivo fibroso (URIST 1984). O grupo experimental HA-1 (baixa cristalinidade) apresentou uma densidade de volume de tecido ósseo neoformado na região periférica maior (p=0,009) do que nas regiões intermediária e central, com 1 e 6 meses após a cirurgia. A HA-1 apresentou uma densidade de volume de osso neoformado equivalente nas regiões periférica, intermediária e central com 3 meses após a cirurgia, não existindo 58 diferenças estatisticamente significativas. Este resultado demonstrou a capacidade osteocondutora da HA-1, que aos três meses foi capaz de conduzir células e vasos sanguíneos para as regiões intermediária e central, permitindo a cicatrização e maturação do enxerto, sendo percebido uma satisfatória neoformação óssea nestas regiões mais distantes da borda do defeito. Aos seis meses após a cirurgia ocorreu uma estabilização na densidade de volume de osso neoformado nas regiões intermediárias e centrais provavelmente pelo fato desta hidroxiapatita apresentar baixa cristalinidade e consequentemente maior padrão reabsortivo. No entanto, a região periférica, que está situada próxima ao osso nativo e, portanto, menos dependente de um biomaterial osteocondutor, demonstrou maior neoformação óssea (p=0,012). O grupo experimental HA-2 (alta cristalinidade) apresentou uma quantidade de tecido ósseo neoformado na região periférica maior (p=0,004) do que nas demais regiões, com 3 meses após a cirurgia. A HA-2 apresentou densidade de volume de osso neoformado equivalente nas regiões periférica, intermediária e central no 1° e 6° mês após a cirurgia, sem diferença estatisticamente significante. Este resultado aos 6 meses após o enxerto, ratificou o potencial osteocondutor deste grupo, porém, a necessidade um maior tempo para que o processo ocorresse foi de certo modo compreensível, pelo fato, deste biomaterial possuir uma alta cristalinidade, portanto, mais lenta degradação, menor bioatividade e neoformação óssea. Ao se analisar os resultados com 1 mês após a cirurgia, não foi observado diferença estatisticamente significativa na densidade de volume de osso neoformado entre as regiões periférica, intermediária e central. Isto pode ser atribuído ao fato de neste grupo existir um elevado desvio padrão (Sd), uma vez que um dos animais do grupo HA-2 apresentou substancial neoformação óssea nas três regiões. Estudos “in vivo” e clínicos geralmente apresentam elevados desvios padrões (HAMMERLE et al., 1998; VALENTINI et al., 2000; MEIJNDERT et al., 2005). HAMMERLE et al. (1998), avaliaram o efeito do Bio-oss® associados a procedimentos regenerativos em macacos e apresentaram resultados com um desvio padrão variando de 9% até 41%. Essa variabilidade de resultados é inerente às variações da resposta biológica de cada indivíduo. Considerando que os fatores genéticos podem contribuir para a eficácia e a segurança de um medicamento, a Farmacogenética vem sendo fomentada recentemente. Farmacogenética é a ciência 59 que estuda a variabilidade genética dos indivíduos com relação as drogas específicas. Determinados indivíduos podem reagir diferentemente ao mesmo tipo de medicamento. Embora a individualização terapêutica permaneça como um desafio para o futuro, a farmacogenética poderá ser uma ferramenta útil no desenvolvimento de novos medicamentos pelas indústrias farmacêuticas (METZGER et al., 2006). A reação do indivíduo na resposta aos biomateriais é um problema clínico substancial e sofre influência do ambiente próprio de cada um. Assim, desconsiderar as variações que se destacam durante a análise da resposta biológica aos biomateriais pode resultar na eliminação de sinais potencialmente valiosos para o entendimento dos processos. 60 7 CONCLUSÕES - Ao compararmos as regiões periféricas, intermediárias e centrais dos grupos HA-1, HA-2 e coágulo, não existiram diferenças estatisticamente significante na densidade de volume de osso neoformado nos períodos analisados. - Houve diferença na dinâmica da neoformação óssea nos grupos analisados isoladamente. O grupo HA-1 apresentou uma densidade de volume de osso neoformado equivalente nas três regiões aos 3 meses após a cirurgia. O grupo HA-2 apresentou uma densidade de volume de osso neoformado equivalente nas três regiões em 1 e aos 6 meses após a cirurgia. O grupo coágulo apresentou um aumento da densidade de volume de osso neoformado na região intermediária aos 6 meses após a cirurgia. 61 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Accorsi-Mendonça T, Conz MB, Barros TC, Sena LA, Soares GA, Granjeiro JM. Physicochemical characterization of two deproteinized bovine xenografts. Braz Oral Res, 2008; 22(1): 5-10. American Academy of Periodontology. Position Paper. Tissue banking of bone allograft used in periodontal regeneration. J Periodontol, 2001; 72(6): 834-8. Anselme K. Osteoblast adhesion on biomaterials. Biomaterials, 2000;21:667-681. Aoki H. Medical application of hydoxyapatite. 1a edição, Tokyo, Ishiyaku, Euro Americana, 1994. Artzi Z, Givol N, Rohrer MD et al. 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