Patologias do sistema musculoesquelético

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Patologias do sistema musculoesquelético
Patologias do sistema musculoesquelético: achados de imagem
Neysa Aparecida Tinoco Regattieri1
Rainer Guilherme Haetinger2
1 INTRODUÇÃO
As
modalidades
diagnósticas
utilizadas
para
o
estudo
do
sistema
musculoesquelético são a radiologia convencional, a tomografia computadorizada, a
ressonância magnética e a ultrassonografia. Esta última não será discutida pois não
faz parte do processo de trabalho do técnico em radiologia. O médico assistente
escolherá a modalidade de diagnóstico por imagem a ser utilizada, na dependência
da suspeita clínica. Outras modalidades diagnósticas incluem a tomografia por
emissão de pósitrons associada à tomografia computadorizada (PET-CT) e exames
por medicina nuclear. Esses métodos, porém, não serão abordados neste capítulo.
A tomografia computadorizada oferece vantagens sobre a radiologia convencional
por ser um método que possui maior acuidade na identificação de diferentes
densidades teciduais. Também elimina o problema de sobreposição de estruturas,
pois é obtido por meio de cortes seccionais transversais.
O estudo por ressonância magnética é a modalidade de exame que fornece melhor
contraste entre os tecidos quando comparada à radiologia convencional e à
tomografia computadorizada, tornando essa modalidade de exame de grande valia
nas avaliações das lesões do sistema musculoesquelético1.
1
Médica Radiologista. Membro Titular do Colégio Brasileiro de Radiologia. Doutora em Ciências, área de concentração
Anatomia Morfofuncional pela Universidade de São Paulo. Mestre em Medicina, área de concentração Radiologia pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná do curso Superior de
Tecnologia em Radiologia.
2
Médico Radiologista na área de Cabeça & Pescoço e coordenador da Tomografia Computadorizada da Med Imagem,
Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo. Membro Titular do Colégio Brasileiro de Radiologia. Doutor em Ciências na
área de Anatomia Morfofuncional pela Universidade de São Paulo. Professor da Pós-graduação no Departamento de
Anatomia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo.
2 MODALIDADES DIAGNÓSTICAS
2.1 Radiologia Convencional
A radiologia convencional é usada, até os dias de hoje, para se caracterizar
morfologicamente, uma lesão óssea de origem neoplásica. Muitas vezes, é o
primeiro exame em traumas desse sistema1.
Pode ajudar também na caracterização de processos degenerativos e inflamatórios
crônicos2.
2.2 Tomografia Computadorizada
O
advento da ressonância magnética (RM) fez com
que a
tomografia
computadorizada (TC) deixasse de ser o método de escolha, em algumas situações,
para o estudo de várias patologias do sistema musculoesquelético.
Quanto aos casos de traumatismos, a TC ainda é largamente utilizada, pois permite
a obtenção de informações rápidas e, em alguns equipamentos, a possibilidade de
reformatações em três dimensões (3D). Deve ser utilizada quando exames obtidos
pela radiologia convencional falharem em demonstrar toda a extensão da lesão,
como por exemplo em traumatismos da coluna vertebral com comprometimento
neurológico3.
Tanto a TC quanto a RM são utilizadas no diagnóstico e seguimento das doenças
articulares, quando há suspeita de complicações1.
2.3 Ressonância Magnética
Os estudos por RM, quando comparados com a radiologia convencional e a TC,
permitem uma melhor avaliação de estruturas que compõem
musculoesquelético, tais como1:
 Tendões, cartilagens, ligamentos e medula óssea
o sistema
 Permitem a detecção de edema ósseo e fraturas não diagnosticadas pelo
exame de radiologia convencional, o estadiamento de tumores e a avaliação
de infecções musculoesqueléticas
A RM permite a obtenção de imagens multiplanares, ou seja, em outros planos que
não o axial, tais como o sagital, o coronal e o oblíquo.
Como os exames realizados por RM permitem caracterização de sinal distinto nas
diversas ponderações utilizadas, é uma ferramenta de grande valia na avaliação de
processos inflamatórios e em edemas secundários a lesões de diversas etiologias.
A RM pode ser utilizada como ferramenta de auxílio para avaliação da extensão do
comprometimento, tanto da parte óssea quanto das partes moles circundantes, nos
casos de neoplasias ósseas malignas4.
3 ATLAS DE PATOLOGIAS DO SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO
3.1 Aspectos de Imagem das neoplasias ósseas
Para que sejam diferenciadas lesões ósseas com características de agressividade
daquelas com características de benignidade, é necessário o reconhecimento de
alguns critérios estabelecidos pela literatura médica4. Um exame de boa qualidade
deve permitir responder a algumas questões importantes, tais como:

A lesão é delimitada por margens escleróticas?

Há destruição da cortical óssea?

Qual o tipo de reação periosteal observado?

Há uma região de transição entre o osso normal e aquele acometido pelo
processo patológico?

Há envolvimento das partes moles circundante ao segmento ósseo
acometido?
3.1.1 Neoplasias malignas
As lesões de natureza maligna destroem a cortical óssea. Sua reação periosteal,
que nada mais é do que a resposta do periósteo a um estímulo, ocorre de maneira
mais aguda, sem tempo suficiente para sua consolidação. Dessa maneira, lesões
agressivas possuem aspecto lamelar, como no sarcoma de Ewing ou do tipo raios
de sol, como observado nos osteossarcomas. A zona de transição dessas lesões
com o osso normal é quase imperceptível. Isso fala a favor da agressividade da
lesão, o que não significa que essa lesão seja maligna. Um exemplo de doença com
esse tipo de acometimento é a osteomielite, que, apesar de sua agressividade, é
uma doença benigna, na qual a zona de transição entre o osso comprometido e o
normal é, muitas vezes, de difícil delimitação. Nas neoplasias malignas, células de
origem cancerígena podem invadir as partes moles circundantes ao sítio primário da
lesão4,5.
3.1.1.1
Sarcoma de Ewing
É um tumor maligno que tem sua origem na medula óssea vermelha. Essa doença
acomete, preferencialmente, indivíduos do sexo masculino, entre os cinco e vinte e
cinco anos de idade, sendo seu pico de incidência por volta dos quinze anos. Seu
aspecto de imagem é a de uma lesão destrutiva, que acomete a medular da metáfise
de um osso longo, preferencialmente o fêmur. Pode acometer ossos chatos. Quando
isso ocorre, os principais ossos acometidos são o sacro e a escápula. Nas imagens
obtidas por radiologia convencional e por tomografia computadorizada pode-se
observar
ruptura
da
cortical
óssea,
reação
periosteal
em
camadas
e
comprometimento das partes moles circundantes. Esse tumor pode simular uma
lesão por osteomielite4,5,6,7. Nas imagens obtidas por ressonância magnética,
quando ponderadas em T1, esse tipo de sarcoma apresenta intensidade de sinal de
moderada a baixa (Figura 1).
Figura 1 - Sarcoma de Ewing.Exame por ressonância magnética ponderada em T1. Cortes coronal
(A) e axial (B) do ombro direito demonstrando lesão com intensidade intermediária em medular óssea
do terço proximal do úmero, com invasão das partes moles adjacentes.
Fonte: MED-IMAGEM (HOSPITAL DA BENEFICÊNCIA PORTUGUESA – SP)
Nas imagens ponderadas em T2 e em STIR, essas lesões apresentam intensidade
de sinal aumentada7(Figura 2).
Figura 2 - Sarcoma de Ewing. Exame por ressonância magnética nos planos coronal (A) e axial (B) na
sequência STIR do ombro direito, demonstrando alterações na cortical. Nessa sequência observa-se
aumento de sinal do tumor com boa definição da extensão da lesão na medular óssea e do edema
peritumoral.
Fonte: MED-IMAGEM (HOSPITAL DA BENEFICÊNCIA PORTUGUESA – SP)
3.1.1.2
Osteossarcoma
È uma lesão maligna. Responde por aproximadamente 20% de todos os tumores
ósseos primários7. Esse tumor acomete preferencialmente a extremidade de ossos
longos4. Nas imagens obtidas pela radiologia convencional observa-se uma massa
de origem intramedular, destrutiva, sem definição das bordas de transição entre a
lesão e o osso normal. Possui reação periosteal agressiva com aspecto em raios de
sol (Figura 3).
Figura 3 - Osteossarcoma. Radiografia em AP da perna esquerda demonstrando lesão expansiva
predominantemente osteoblástica com comprometimento periosteal.
Fonte: MED-IMAGEM (HOSPITAL DA BENEFICÊNCIA PORTUGUESA - SP)
Na ressonância magnética, quando há presença de matriz óssea, o tumor apresenta
baixa intensidade de sinal nas imagens ponderadas em T1 e em T2. Quando há
matriz óssea mineral, apenas a massa de partes moles possui intensidade de sinal
intermediária nas imagens ponderadas em T1. Naquelas ponderadas em T2, a
intensidade de sinal é alta7 (Figura 4).
Figura 3 - Osteossarcoma. Exame por ressonância magnética demonstrando lesão expansiva óssea
que apresenta hipointensidade em T1 e impregnação heterogênea após a injeção do contraste
paramagnético.
Fonte: MED-IMAGEM (HOSPITAL DA BENEFICÊNCIA PORTUGUESA - SP)
3.1.2 Neoplasias benignas
Lesões de origem benigna podem apresentar margens escleróticas, ou seja, com
maior densidade óptica, pois esses tumores possuem crescimento lento, permitindo
um depósito ósseo em maior espaço de tempo. Sua reação periosteal costuma ser
sólida, sem interrupção. Podem afilar a cortical óssea de modo a deixá-la quase
imperceptível, porém não a rompem.
3.1.2.1
Osteocondroma
O osteocondroma é o tumor ósseo benigno mais comum, sendo também conhecido
pelo nome de exostose. Pode tornar-se maligno, após degenerar sob a forma de
condrossarcoma em 1 a 2% dos casos. Isto pode ocorre em lesões solitárias. Essa
neoplasia benigna é constituída por osso e cartilagem, sendo que a cartilagem pode
calcificar tardiamente. Geralmente acomete as extremidades distais dos ossos
tubulares longos, porém os locais mais frequentemente acometidos são a
extremidade distal do fêmur e as extremidades superior e inferior da tíbia. São
lesões assintomáticas, mas, quando crescem muito, podem comprimir estruturas
circundantes causando dor ou alteração funcional. Seu aspecto de imagem é o de
uma lesão que possui um pedículo e seu crescimento ocorre em direção oposta ao
da articulação. A cortical do tumor tem continuação com a do osso acometido
(Figura 5). Esta lesão tem início na infância e para de crescer com a fusão das
epífises. Nos exames por ressonância magnética, apresenta sinal intermediário nas
imagens ponderadas em T1. Nas imagens ponderadas em T2, o osteocondroma
possui alta intensidade de sinal em seu constituinte cartilaginoso (Figura 6). A
radiologia convencional é a modalidade de diagnóstico por imagem preferencial para
a avaliação inicial dessa alteração.
Figura 4. - Radiografia demonstrando osteocondroma em terço proximal do fêmur.
Fonte: MED-IMAGEM (HOSPITAL DA BENEFICÊNCIA PORTUGUESA - SP)
Figura 5 - Osteocondroma. Exame por ressonância magnética demonstrando uma formação
expansiva óssea em diáfise proximal do úmero. Lesão apresentando base larga (séssil).
Fonte: MED-IMAGEM (HOSPITAL DA BENEFICÊNCIA PORTUGUESA - SP)
A tomografia computadorizada e a ressonância magnética são reservadas para a
avaliação da porção cartilaginosa dessa neoplasia4,5,7.
3.1.2.2
Fibroma não ossificante
É uma lesão radiotransparente, assintomática e sua localização característica é a
metáfise cortical do osso. É excêntrica e circundada por uma fina lâmina de
esclerose. O exame obtido pela radiologia convencional é a modalidade diagnóstica
de escolha para seu diagnóstico (Figura 7). A extremidade distal do fêmur e as
regiões proximais ou distais da fíbula e da tíbia são os sítios de acometimento
preferencial. Crianças e adultos jovens são os indivíduos acometidos. Como tende a
desaparecer, raramente é encontrado após os trinta anos de idade 4,5.
Figura 6 - Fibroma não ossificante. Radiografia anteroposterior e em perfil do joelho direito
demonstrando lesão radiolucente justacortical com margem esclerótica fina e bem definida, com
reação periostal e septações em seu interior.
Fonte: MED-IMAGEM (HOSPITAL DA BENEFICÊNCIA PORTUGUESA - SP)
3.2 Fraturas
O termo fratura refere-se a interrupções da superfície óssea, geralmente causadas
por trauma direto8.
A radiologia convencional costuma ser, na maioria das vezes, o primeiro exame a
ser solicitado. Um exame de boa qualidade deve permitir responder a algumas
questões importantes, tais como:

A fratura é completa ou incompleta? Fraturas completas comprometem as
duas superfícies corticais vistas na radiografia simples. Podem ser
classificadas como transversas, oblíquas ou em espiral, quando avaliadas em
relação ao seu plano de orientação. Fraturas incompletas acometem apenas
uma superfície da cortical óssea.

Há deslocamento de um dos fragmentos ósseos?

As superfícies articulares estão deslocadas totalmente ou parcialmente entre
si?
Para que essas questões sejam respondidas de forma adequada, é necessário que
o exame de radiografia seja obtido em pelo menos duas incidências ortogonais pois,
algumas vezes, a linha de fratura é vista somente em uma dessas incidências5.
3.2.1 Fratura por estresse ou fadiga
Pode ter o aspecto de uma lesão agressiva. Caso o quadro clínico apresentado pelo
indivíduo não seja característico, e as imagens obtidas pela radiologia convencional
não sejam diagnósticas, deve-se realizar outro estudo uma a duas semanas após o
primeiro, sem que isto signifique que a radiografia obtida anteriormente seja de baixa
qualidade diagnóstica. Nesses casos, tanto a tomografia computadorizada quanto a
ressonância
magnética
fratura4(Figura 8).
podem
ajudar
na
demonstração
desses
tipos
de
Figura 7 - Fratura de estresse. Radiografia do pé demonstrando um espessamento fusiforme da
cortical óssea (reação periosteal) no terço médio da diáfise do 2º metatarso com ruptura da cortical.
Fonte: MED-IMAGEM (HOSPITAL DA BENEFICÊNCIA PORTUGUESA - SP)
3.3 Edema ósseo
O edema ósseo, decorrente do trauma mesmo quando não há fratura, pode ser
identificado pela RM. É caracterizado por áreas com aumento na intensidade de
sinal nas imagens ponderadas em T2 e com baixa intensidade de sinal naquelas
ponderadas em T12 (Figura 9).
Figura 8. Exame por ressonância magnética do pé esquerdo demonstrando edema em medular óssea
secundário à fratura no terço médio da diáfise do 2º metatarso.
Fonte: MED-IMAGEM (HOSPITAL DA BENEFICÊNCIA PORTUGUESA - SP)
3.4 Lesões tendíneas e cartilaginosas
Os estudos por ressonância magnética permitem avaliar lesões de meniscos e
rupturas de tendões, assim como alterações cartilaginosas secundárias a traumas
ou a processos degenerativos.
Alterações cartilaginosas são caracterizadas, nas imagens ponderadas em T2, como
áreas com aumento da intensidade de sinal. Nas rupturas tendíneas, geralmente são
observadas linhas com aumento na intensidade de sinal que se dirigem às
superfícies articulares.
Rupturas ou estiramentos podem acometer ligamentos submetidos a trauma. Nos
estiramentos podem ser vistas áreas de edema adjacentes ao ligamento, traduzidas
por um aumento de sinal nas imagens ponderadas em T2. Nas rupturas
ligamentares são observadas indefinição das fibras ligamentares e áreas com
alterações de sinal no interior do ligamento 2(Figura 10).
3.5 Processos inflamatórios das bursas
Nos processos inflamatórios das bursas articulares, também conhecidos como
bursites, observa-se aumento na intensidade de sinal nas imagens ponderadas em
T22(Figura 10).
Figura 9 - Exame por ressonância magnética na sequência ponderada em STIR (corte coronal) do
ombro direito demonstrando ruptura parcial próximo à inserção do tendão do supra-espinhoso. Há um
aumento de sinal dentro do tendão e presença de líquido na bursa subacromial-subdeltóide (bursite).
Fonte: MED-IMAGEM (HOSPITAL DA BENEFICÊNCIA PORTUGUESA – SP)
3.6 Doença articular degenerativa
Essa doença é caracterizada pela redução do espaço articular, esclerose óssea e
formação de osteófitos4.
3.7 Artrite reumatóide
Os aspectos de imagem característicos dessa patologia são mais bem avaliados
pela radiologia convencional. Essa patologia, de etiologia desconhecida, acomete
mais indivíduos do sexo feminino, entre os vinte e os sessenta anos de idade, com
pico de incidência entre os quarenta e cinqüenta anos. Pode acometer qualquer
articulação sinovial do corpo. Suas características são o edema de partes moles,
osteoporose periarticular, erosões ósseas marginais e redução do espaço
articular4,5,6,7. Geralmente o envolvimento articular é múltiplo e simétrico.
Inicialmente,
as
articulações,
interfalangeanas
proximais,
as
articulações
metacarpofalangeanas e a articulação do punho são os sítios mais comumente
acometidos8 (Figura 11).
Figura10 - Artrite reumatóide. Exame por ressonância magnética (cortes coronais) nas sequências T1
e STIR demonstrando sinais de alteração dos contornos com presença de cistos subcondrais e
edema ósseo em ossos do carpo e ulna.
Fonte: MED-IMAGEM (HOSPITAL DA BENEFICÊNCIA PORTUGUESA - SP)
3.8 Hérnia de disco
A hérnia de disco ocasiona um quadro clínico doloroso, muitas vezes incapacitante.
A dor é secundária à compressão do saco dural e das raízes nervosas pelo material
herniado. Essa patologia é caracterizada pelo deslocamento focal do material que
compõe o disco, seja ele o núcleo pulposo ou o anel fibroso, para além das margens
do disco intervertebral, ou seja, para o interior do canal medular2,5 (Figura 12).
Figura 11 - Exame por ressonância magnética, imagens sagitais ponderadas em T2 e T1,
evidenciando uma hérnia de disco entre a sexta e sétima vértebras torácicas. Esta hérnia produz uma
compressão sobre o saco dural e a medula.
Fonte: MED-IMAGEM (HOSPITAL DA BENEFICÊNCIA PORTUGUESA - SP)
3.9 Nódulos de Schmorl (hérnia de Schmorl)
O nódulo de Schmorl ocorre quando células da vida embrionária, em torno das quais
os corpos vertebrais se desenvolvem, persistem após o nascimento. Na radiologia
convencional aparecem como defeitos nas superfícies de um ou mais corpos
vertebrais, podendo ocorrer protrusão de material do disco para o interior do corpo
vertebral. Acometem, geralmente, os corpos vertebrais inferiores da coluna torácica
e os superiores da coluna lombar5 (Figura 13).
Figura 12 - Estudo por ressonância magnética ponderado em T1 e T2, no plano sagital: Nódulos de
Schmorl nos platôs vertebrais inferiores de T5 a T9 e superiores de T6 a T9.
Fonte: MED-IMAGEM (HOSPITAL DA BENEFICÊNCIA PORTUGUESA - SP)
3.10 Osteoporose
O termo osteoporose significa redução na quantidade de osso. Suas causas são
várias. A osteoporose primária é aquela que acomete mulheres após a menopausa e
a secundária é aquela que tem uma causa subjacente como observada em
distúrbios renais. A osteoporose por desuso pode acometer indivíduos de qualquer
idade e decorre da imobilidade, como por exemplo, após o tratamento de fraturas.
Seu aspecto no exame obtido pela radiologia convencional é o de redução da
densidade óptica, afilamento da cortical óssea e trabeculado ósseo de aspecto
grosseiro4,5,8.
13 Osteopetrose
A osteopetrose é uma doença rara e hereditária. É caracterizada pelo aumento da
densidade do tecido ósseo, porém são ossos frágeis, suscetíveis a fraturas (Figura
15). Quando as fraturas ocorrem, são geralmente de orientação transversa em
relação ao eixo longo do osso acometido4,5 (Figura 14).
Figura 14 - Osteopetrose. Radiografia de crânio em perfil demonstrando esclerose principalmente dos
ossos da base do crânio.
Fonte: MED-IMAGEM (HOSPITAL DA BENEFICÊNCIA PORTUGUESA – SP)
3.11 Doença de Paget
Geralmente acomete indivíduos após os cinqüenta anos de idade. Pode acometer
qualquer osso. Apenas 20% dos indivíduos acometidos são sintomáticos. Os ossos
mais acometidos são, por ordem descrescente de frequência, a bacia, as vértebras,
o fêmur, o crânio, a tíbia, a clavícula, o úmero e os arcos costais. Essa doença é
caracterizada pela destruição óssea com posterior tentativa de reparaçãodo do osso
acometido. Por isso, seu aspecto de imagem depende da fase da doença. Assim,
pode apresentar um padrão de lise, ou seja, de destruição óssea; um padrão de
reparação óssea, ou ainda, um padrão misto. Na radiologia convencional o osso
acometido apresenta espessamento de sua cortical e trabeculado ósseo grosseiro.
Também podem ser observadas lesões radiotransparentes com áreas radiodensas
de permeio. O exame por tomografia computadorizada (Figura 15) mostra os
mesmos achados observados pela radiologia convencional. É utilizado, assim como
a ressonância magnética, para estudo das complicações dessa doença 4,5.
Figura 15 - Exame de tomografia computadorizada demonstrando lesões mistas predominantemente
osteoblásticas em vértebra devido a doença de Paget.
Fonte: MED-IMAGEM (HOSPITAL DA BENEFICÊNCIA PORTUGUESA - SP)
3.12 Mieloma múltiplo
É um processo maligno onde há o comprometimento difuso
da medula óssea
vermelha. É comum o envolvimento dos corpos vertebrais. Os exames por
tomografia computadorizada ou por ressonância magnética são solicitados quando
há suspeita de comprometimento neurológico em fraturas patológicas5 (Figura 16).
Figura 16 - Mieloma multiplo. Exame de tomografia computadorizada demonstrando lesão expansiva
lítica do corpo da terceira vertebra torácica.
Fonte: MED-IMAGEM (HOSPITAL DA BENEFICÊNCIA PORTUGUESA - SP)
3.13 Metástase óssea
As metástases ósseas podem ser líticas (radiotransparentes), blásticas (radiopacas)
(Figura 17) ou mistas (quando há combinação dos dois tipos anteriores).
Geralmente, a maioria das lesões metastáticas para os ossos são líticas. Ocorrem
mais frequentemente em indivíduos acima de cinqüenta anos. O comprometimento
ósseo por uma lesão metastática pode levar a fratura patológica. Os principais
tumores malignos que enviam metástases para os ossos são: os pulmões, as
mamas, os rins e a glândula tireóide2,5,8.
Figura 13 - Metástase óssea de meduloblastoma. Radiografia em AP do quadril demonstrando
múltiplas lesões osteoblásticas
Fonte: MED-IMAGEM (HOSPITAL DA BENEFICÊNCIA PORTUGUESA - SP)
Glossário
Plano axial: horizontal, axial, transaxial, transversal ou transverso: são os planos que
formam, com qualquer um dos outros planos, ângulos retos.
Margem esclerótica: este termo refere-se a uma maior deposição óssea nas
margens da lesão. Lesões de natureza benigna costumam possuir margens
escleróticas2.
Cortical óssea: o osso compacto do corpo, ou a diáfise, que envolve a cavidade
medular, é a substância cortical2.
Epífise: parte que se encontra mais próxima da articulação, sendo estreita e
revestida pela cartilagem articular. No nascimento, pode ser uma estrutura
completamente cartilaginosa e, devido a isso, não aparece nas radiografias9.
Fise: é a chamada placa de crescimento ou cartilagem de crescimento, sendo
localizada entre a epífise e a metáfise9.
Metáfise:é a porção alargada, junto às articulações. Na região metafisária encontrase tecido ósseo esponjoso9.
Diáfise: Constitui a maior porção do osso longo e estende-se do centro para as
extremidades. Encontra-se tecido hematopoiético (formador de sangue) nessa
região9.
STIR: o objetivo do STIR é suprimir a gordura. Logo, ele baseia-se no ponto nulo
inerente da gordura, que ocorre em um TI curto quando comparado a outros
tecidos10.
T1: este termo refere-se a um tempo de eco notavelmente menor do que T2,
praticamente independe dos valores de T2 dos tecidos avaliados. Para isso, deve-se
escolher um tempo de repetição TR curto, assim a intensidade do sinal depende
somente de T1 e da densidade de prótons. Esta é dita uma sequência curta. Este é
um sinal ponderado em T111.
T2: este termo refere-se a um tempo de eco “longo”, com a mesma ordem de
grandeza que o dos tempos T2 dos tecidos, relacionado a um TR longo. Assim a
intensidade do sinal depende somente dos valores de T2 e da densidade de prótons.
Este e um sinal ponderado em T211.
Agente paramagnético: os agentes de contraste são utilizados para aperfeiçoar a
especificidade dos exames. Os agentes paramagnéticos agem principalmente em
T1, formados por complexos de gadolínio11.
Osteoblástico: este termo refere-se à deposição (formação) contínua de osso novo12.
Reação periosteal: formação do osso novo pela membrana periosteal em resposta
aos processos patológico, sendo influenciada pela agressividade e velocidade de
desenvolvimento da patologia13.
REFERÊNCIAS
1 KATZ, D; MATH, K.R.;GROSKIN, S. Segredos em Radiologia. 1. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2000.
2 JÚNIOR, C. F. M. Radiologia Básica, Rio de Janeiro, RJ: Revinter © 2010.
3 WEBB, W. R.; BRANT, W. E.; HELMS, C. A. Fundamentos de Tomografia
Computadorizada do Corpo. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.
4 RBRANT, W. E.; HELMS, C. A. Fundamentos de Radiologia: Diagnóstico por
Imagem. Rio de Janeiro, RJ: Guanabara Koogan, 2008.
5
JUHL J.H.; CRUMMY A.B.; KUHLMAN J.E.; PAUL & JUHL
R
. 7a ed. Rio de Janeiro, RJ: Guanabara Koogan, 2000.
6
HARRISON T.R.; FAUCI A.S. Medicina Interna. 16a Ed. Rio de Janeiro:
McGraw-Hill; 2006.
7
STOLLER D, TIRMAN P, BREDELLA M, Diagnostic Imaging: Orthopaedics.
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8 STIMAC G. K.; KELSEY C. A. Advanced Techniques in Diagnostic Imaging.
In: Introduction to Diagnostic Imaging. Seattle: WB Saunders Company, 1994.
9 RUARO, A. F. Ortopedia e Traumatologia.
10 WESTBROOK, C. Manual de Técnicas de Ressonância Magnética. Rio de
Janeiro: Guanabara koogan, 2002
11 CABANIS et al, Diagnostico por Imagem em Ressonância Magnética, 2 ed.,
2000
12
GUYTON, Arthur C. Fisiologia Humana. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2008
13 EDEIKEN et al. New Bone Production and Periosteal Reaction. Am. J.
Roentgenol.; Jul 1966; 97:708 -718

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