(Bolsista PIBIC/UFPI), Maria Cristina de TÁvora

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(Bolsista PIBIC/UFPI), Maria Cristina de TÁvora
ÁREA: CV ( )
CHSA ( X )
ECET ( )
CONSIDERAÇÕES ANTIFUNDACIONISTAS EM EPISTEMOLOGIA
Rafael Silva Sousa (Bolsista PIBIC/UFPI), Maria Cristina de Távora Sparano (Orientadora,
Departamento de Filosofia/UFPI).
Introdução
Willard Van Orman Quine (1908-2000) é reconhecido por muitos como o grande filósofo
americano do século XX. Quine propõe, ao longo de suas obras, um empirismo moderado, que ainda
afirma que o tribunal de qualquer sistema teórico é a experiência; porém, vê esses sistemas se
confrontando como um todo com os dados empíricos.
W.V. Quine (1908-2000)
A partir de seu ensaio sobre os ‘’Dois Dogmas do Empirismo’’(1953), entende-se holismo uma
posição filosófica que insiste que nossos enunciados sobre o mundo exterior enfrentam o tribunal da
experiência sensível, não individualmente, mas como um corpo organizado, ou seja, o significado de
uma palavra isolada depende não só do enunciado de que fazem parte, mas da totalidade da
linguagem em que está inserido. Com isso, rejeitando que um enunciado pode ser confirmado ou
negado por ele mesmo, Quine vai partir para uma discursão semântica que irá trazer como
consequências para a epistemologia: a impossibilidade de determinar o significado de uma expressão
e a inescrutabilidade da referência.
Em Palavra e Objeto (1960), sua principal obra, Quine continua sua investida iniciada em
artigos anteriores, mostrando que, o significado, através do estimulo, não pode ser conhecido a não
ser pelas disposições comportamentais das pessoas ao discurso, em uma dada circunstância e
contexto com uma relação de empatia entre as partes, porém, mesmo assim, não há possibilidade de
dizer qual é o certo ou errado, pois não há evidência comportamental para um único significado ou
referência.
Semântica e epistemologia fundem-se, em Quine, na análise da aprendizagem linguística e
na reflexão acerca de como universos linguísticos convertem-se em teorias científicas testáveis. Uma
das grandes e controversas inovações desse filósofo, expoente da filosofia do século XX, é a
proposta de uma epistemologia naturalizada, inserida nas ciências e sem pretensões de estabelecer
um fundamento último para o conhecimento.
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Metodologia
Esta pesquisa foi realizada através da análise da ensaio Falando de Objetos da obra
Relatividade Ontológica e Outros Ensaios (1969) e nas principais obras de Willard Van Quine,
Palavra e Objeto (1960); e, De um Ponto de Vista Lógico (1953), que reúne nove de seus mais
importantes ensaios. Utilizei como principal referência o ensaio Falando de Objetos, na qual, Quine,
desenvolve a ideia de um empirismo sem dogmas reforçando seu holismo com a análise do problema
da tradução.
Resultados e Discussão
Concebendo o significado não mais como uma entidade mental e sim uma propriedade do
comportamento, Quine, reconhece nossa limitação em determinar o significado de uma expressão
que, para ele, só pode ser estabelecido nos termos das disposições ao responder publicamente a
estimulações observáveis socialmente. Para isso, ele nos apresenta dois exemplos recorrem á tese
da inescrutabilidade da referência, são eles: a tradução radical e o processo de aprendizagem por
parte da criança.
O exemplo da tradução radical que Quine usa para defender a indeterminação da tradução
nos leva a uma tese que manuais para traduzir uma língua em outra podem ser estabelecidos de
maneira divergentes, todas compatíveis com a totalidade das disposições verbais, porém
incompatíveis entre si e que quanto mais firmes as ligações diretas de uma frase com a estimulação
não verbal, menos ela pode divergir de seus correlatos, e, portanto, menos drasticamente suas
traduções podem divergir umas das outras de um manual a outro. Para Quine, o que há é uma
semelhança de traduções onde não temos garantia para dizer qual delas é a tradução certa e a
errada, pois os termos portugueses gerais e singulares, identidade, quantificação e todo o conjunto de
truques ontológicos podem ser correlacionados com elementos da linguagem nativa de qualquer uma
dentre várias maneiras mutuamente incompatíveis, cada uma compatível com todos os dados
linguísticos possíveis e nenhuma preferível a uma outra, exceto enquanto favorecida por uma
racionalização da linguagem nativa que é simples e natural para nós. Portanto, Quine afirma que a
linguagem deve seguir uma visão naturalista, enquanto que o significado uma visão comportamental.
Palavra e Objeto (1960) – Primeiros passos da tradução radical.
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O outro exemplo usado por Quine foi o da criança que supostamente aprendeu a usar sua
língua materna; esse exemplo, segundo ele, não difere do exemplo da tradução radical. Através do
exemplo de uma criança, que pronuncia suas primeiras palavras, vimos que não temos como saber
se a criança está associando a mesma ideia que um adulto com referência à mesma palavra e que, a
aquisição da linguagem por parte da criança se dá por meio da exposição ao comportamento do
adulto, mas somente se houver um comportamento comum e reações comportamentais comuns
àquele que ensina e àquele que adquire a linguagem é que se pode haver aquisição da linguagem.
Portando, para Quine, uma criança faz é associar uma sentença observacional aos estímulos e aos
sentidos corporais, e, por isso, não temos direito de afirmar que ela está usando termos para as
coisas; isso só acontecerá, segundo Quine, quando a criança passar a utilizar termos individuadores
de identidade e quantificação que fará com que ela seja induzida ao uso de palavras sofisticadas que
diferencie termos observáveis móveis, idênticos de um tempo a outro e de um lugar a outro.
Conclusão
Quine defende um holismo, característica central de um empirismo sem dogmas, que diz que
nossos enunciados correspondem a um tecido linguístico cujas fibras estão intrinsicamente
conectadas a dados empíricos e por estarem intrinsicamente conectadas, qualquer alteração em um
anunciado provocaria alterações em vários outros enunciados. A periferia deste tecido linguístico está
conectada diretamente com enunciados sujeitos à observação, enquanto o núcleo é composto por
enunciados teóricos e para Quine, o que há é uma diferença de graus; ou seja, uma diferença de grau
de proximidade à experiência, por um lado, e uma diferença de grau de vulnerabilidade dos
enunciados, por outro, e, provém de nossa inclinação pragmática ajustar uma fibra do tecido em um
outro, ao acomodar alguma experiência recalcitrante em particular. Com isso, Quine diz que a
totalidade de nossos conhecimentos e crenças, como as das mais casuais questões de geografia,
história, física, matemática e lógica, é um tecido feito pelo homem que encontra a experiência apenas
nas extremidades. ‘’A totalidade da ciência é como um campo de forças, cujas condições limítrofes
são a experiência. ’’ (QUINE, 2011, p. 66). E o conflito com a experiência na periferia ocasiona
reajuste no interior do campo; ou seja, reorganizando a teoria e modicando os aspectos centrais, no
intuito de torná-los mais coerentes com a observação.
Referências
PENCO, Carlo. Introdução à Filosofia da Linguagem. Trad. Ephraim F. Alves. Petrópolis, RJ: Vozes,
2006. BCDEF, Abcdef. Abcdef abcdef: abcdef abcdef abcdef. Abcdef: Abcdef, 2012.
QUINE, W. V. Relatividade Ontológica e outros ensaios. In: Ryle, Strawson, Austin, Quine. São Paulo:
Abril Cultural, 1985.
________. De um Ponto de Vista Lógico. Tradução de Antonio Ianni Segatto. São Paulo: Editora
Unesp, 2011.
________. Palavra e Objeto. Trad. de Sofia Inês Albornoz Stein e Desidério Murcho. Ver. téc. de
Sofia Inês Albornoz Stein. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.
SPARANO, M. C. T. Linguagem e Significado: o projeto filosófico de Donald Davidson. Porto Alegre:
EDIPUCRS, 2003. (Coleção Filosofia 164).
Palavras-chave: Antifundacionismo. Holismo. Epistemologia.

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