Revista Gestão PE #10 - Portal SEPLAG
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Revista Gestão PE #10 - Portal SEPLAG
editorial V iramos o ano de 2016 com a crise ainda assombrando a nossa economia e forçando a redução dos investimentos no setor público. Por isso, na primeira edição do ano, decidimos abordar como os municípios, os mais afetados pelo cenário de restrição financeira, enfrentam as dificuldades e como podem superá-las. Os municípios também são tema de matéria sobre a Lei de Acesso à Informação, que representa uma conquista importante da sociedade brasileira, mas que precisa ser implantada por igual em cada um dos entes da Federação. Neste número, também trazemos uma entrevista com o conselheiro Valdecir Pascoal, do Tribunal de Contas de Pernambuco, um artigo sobre inclusão social e outro sobre as práticas e tendências de aprendizagem nas organizações, que podem ser adotadas no serviço público. E nossa seção Humor terá a participação do cartunista Jarbas. Seus trabalhos já foram premiados em salões nacionais e internacionais, como o World Press Cartoon, um dos mais importantes do mundo na área do humor gráfico. No mais, continuamos otimistas e com um desejo enorme de contribuir para que o cenário mude e que o País volte a crescer em ritmo acelerado e sustentável, reduzindo as desigualdades e gerando oportunidades. 2 Feliz 2016 e boa leitura! índice 04 05 09 10 16 23 28 35 41 44 53 CARTAS ENTREVISTA Valdecir Pascoal Conselheiro do Tribunal de Contas de Pernambuco ACONTECE O que vem por aí INCLUSÃO A legislação como instrumento de inclusão social na administração pública BOAS PRÁTICAS O acesso à informação como direito fundamental CONTA CERTA A crise e os municípios ESTRATÉGIA O sistema de gestão estratégica Balanced Scorecard – BSC CAPITAL HUMANO Práticas e tendências da aprendizagem nas organizações CINE NARCOS | Os erros e acertos de Pablo Escobar ACADÊMICOS DA GESTÃO A contribuição dos financiamentos externos multissetoriais na estratégia de investimentos do governo de Pernambuco na gestão 2007 a 2014 HUMOR Jarbas expediente A Revista Gestão Pública PE é uma publicação do Governo de Pernambuco, por meio do Instituto de Gestão Pública de Pernambuco Governador Eduardo Campos, vinculado à Secretaria de Planejamento e Gestão – SEPLAG/PE GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO ENTREVISTA Valdecir Pascoal Conselheiro do Tribunal de Contas de Pernambuco Governador Paulo Henrique Saraiva Câmara 05 Secretário de Planejamento e Gestão Danilo Cabral Secretário de Imprensa Ennio Benning Realização Instituto de Gestão Pública de Pernambuco Governador Eduardo Campos SEDMG / NICOM / SEPLAG/PE Coordenação Geral do Instituto Gestão PE Maurício Cruz BOAS PRÁTICAS O acesso à informação como direito fundamental 16 Coordenação Geral do Projeto Vânia Campos Conselho Editorial Danilo Cabral Samara Arcoverde Maurício Cruz Vânia Campos Andrea Pinheiro Rafael Guerra Iale Alves Marcos Alves Maria Luísa Vasconcelos Mariana Moreira Clarissa Bittencourt Jornalista responsável Andrea Pinheiro (DRT – 2557) CONTA CERTA O acesso à informação como direito fundamental 23 Projeto Gráfico Christiano Mascaro Capa Foto: Douglas Fagner Produção da capa: Luiz Filgueiras Diagramação Luiz Filgueiras Edição e Revisão Andrea Pinheiro Maurício Cruz CAPITAL HUMANO Práticas e tendências da aprendizagem nas organizações 35 GOVERNADOR EDUARDO CAMPOS 3 INOVAR É A SOLUÇÃO Tomei conhecimento da Revista a partir da Edição 7 e, desde então, acompanho sempre. Mais uma vez reforço a qualidade das matérias e dos artigos. Parabenizo também pela bela atitude de não descontinuar a Revista devido à crise, mas sim de continuar com o produto na mídia digital, inovando e ampliando com informações além das matérias. Na Edição 9, gostei muito do artigo Centro de Governo: você ainda vai ter um. Concordo plenamente quando é pontuado que “administrar é priorizar, é ter que, todo o dia, optar por ‘x’, em detrimento a ‘y’, comprometendo-se com o curso de ação ‘a’ ao invés do curso de ação ‘b’, agradando a uns e, ao DIDÁTICA ÚTIL mesmo tempo, desagradando a outros. Administrar, enfim, é ter que dizer não”. Espero que todos os gestores públicos tenham a consciência de profissionalizar suas gestões para gerar resultados satisfatórios para a população. José Maria Ferreira Consultor financeiro | Maceió-AL ENTREVISTA Gostaria de parabenizar aos que fazem a Revista por trazer a professora Tânia Bacelar como entrevistada. Assim podemos compartilhar com tão renomada economista suas considerações sobre o cenário atual. Aproveito aqui para pontuar que devemos cada vez mais enxergar a crise como uma oportunidade de refletir sobre o que se faz e tentar fazer melhor, como registrou a nossa professora. Carla Coimbra Cintra Estudante de pós-graduação em Gestão Organizacional | Recife - PE Gosto muito da Revista, principalmente dos artigos e matérias que pontuam e descrevem conhecimentos e boas práticas, mostrando o que é e como podemos fazer igual. Na Revista 9, gostei muito do artigo Pessoas e conhecimento: sinergia para resultados e do artigo Abordagens e possibilidades dos Métodos Ágeis. Ambos estão didáticos, com exemplos, comparações, ficando fácil entender e chegar a conclusões. Utilizo sempre, junto aos meus alunos, os artigos que a Revista apresenta, com este formato, nas minhas aulas de pós-gradução. Maria Madalena Soares Especialista em Administração Pública Recife-PE Cartas à Redação Devem ser encaminhadas para o Instituto de Gestão Pública de Pernambuco Governador Eduardo Campos Envio das cartas para: Rua da Aurora, 1377 | Santo Amaro | Recife/PE ou pelo e-mail: [email protected] 4 Contatos com a redação: Fones: (81) 3182-3826 | 3182-3832 As cartas podem ser editadas caso o tamanho não esteja adequado para o espaço da revista entrevista Valdecir Pascoal Conselheiro do Tribunal de Contas Foto | Vicente Luiz Transparência máxima e estímulo ao controle social Mariana Moreira Nenhum órgão ou pessoa pode agir sozinho. Integração é a palavra” No biênio 2014-2015, o conselheiro Valdecir Pascoal ocupou o cargo de Presidente do Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco (TCE-PE). Em entrevista exclusiva para a Revista Gestão Pública PE, ele faz um balanço de sua gestão à frente do órgão responsável por fiscalizar a aplicação dos recursos públicos dos municípios pernambucanos. Na opinião de Valdecir Pascoal, a atuação integrada dos órgãos de controle é essencial. Ele destaca ainda que os controles exercidos pelo cidadão e pela imprensa são fundamentais. “A efetividade do controle para combater a corrupção e a ineficiência na aplicação dos recursos públicos só será realidade com a atuação em rede das instituições de controle e da sociedade”, afirma. A partir deste ano até 2017, Valdecir Pascoal dará continuidade ao seu mandato de presidente da Associação dos Tribunais de Contas do Brasil (Atricon). Ele foi reeleito durante assembleia da entidade realizada em novembro de 2015. A posse da nova diretoria da Atricon deverá ocorrer em fevereiro, no Tribunal de Contas da União (TCU), em Brasília(DF). Em linhas gerais, que balanço o senhor faz após dois anos (2014-2015) como conselheiro presidente do Tribunal de Contas de Pernambuco? Foram dois anos de muitas ações e bons frutos de um trabalho coletivo. Num contexto em que a sociedade cobra efetividade dos órgãos de controle, avançamos em muitos aspectos da gestão interna e do controle externo. Destaco a implantação exitosa do processo eletrônico de contas. Todas as contas de gestores estaduais e municipais de 2014 foram prestadas pela internet. Em dezembro, tivemos o primeiro processo julgado de forma totalmente eletrônica. Isso implicará mais agilidade, mais qualidade das auditorias, menos custo, mais transparência e proteção do meio ambiente. O novo portal “Tome Conta” também merece destaque. Nele, o cidadão encontrará dados de gestão de todos os órgãos e Poderes estaduais e de todas as prefeituras e Câmaras. Significa transparência máxima e estímulo ao controle social. Por fim, destaco a nossa atuação preventiva, especialmente em relação ao acompanhamento em tempo real das licitações mais relevantes, o que resultou uma economia para o erário de meio bilhão de reais nestes dois anos. Quais as principais dificuldades encontradas na fiscalização da aplicação do dinheiro público? É possível citar as falhas e irregularidades mais recorrentes nas contas dos municípios pernambucanos? A maior dificuldade é a fragilidade dos sistemas de planejamento, jurídico e de controle interno dos municípios. O grau de governança pública ainda está longe do ideal. As falhas que ocasionam mais irregularidades das contas são: a) descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), especialmente dos limites de despesas com pessoal; b) não observância dos limites mínimos de aplicação das receitas em saúde e educação; c) não recolhimento das contribuições previdenciárias, e d) falhas em licitações e contratos de obras e serviços de engenharia. Quais ações preventivas são realizadas junto aos municípios para evitar prejuízos ao erário? Voltados para atuação preventiva e cautelar estão 52% da nossa força de trabalho em fiscalização. Com o cuidado de não obstar o natural andamento da Trabalho integrado, sem vaidades e em rede, é o futuro” 6 gestão, o TCE tem procurado, cada vez mais, fazer “biópsias” nos atos de gestão mais relevantes, ou seja, estamos procurando colaborar com os gestores a evitar erros e prejuízos, antes que eles aconteçam. Cito especialmente os exames de editais de licitações. Assim que detectamos indícios de sobrepreço ou de direcionamento fazemos um alerta à gestão, que, no mais das vezes, corrige o ato, evitando prejuízo. Verificado dolo, o TCE aplica multa e pode até julgar as contas irregulares. As inspeções que são realizadas em campo pelos nossos técnicos, aliadas a capacitações de gestores pela Escola de Contas, também ajudam a prevenir irregularidades. Por que são importantes ações de orientação e capacitação para os municípios? Justamente porque está comprovado que os municípios são carentes de estrutura organizacional. Especialmente por meio da Escola de Contas, procuramos orientar e capacitar os gestores nos principais temas que dizem respeito à boa gestão. Nosso primeiro olhar para o gestor é procurar orientá-lo. Há também um importante papel das inspetorias regionais e as audiências técnicas com nossos servidores e conselheiros. Se após a orientação, os erros continuarem, aí sim os gestores são responsabilizados. Quais as demandas mais frequentes dos gestores públicos municipais ao TCE-PE? De uma maneira geral, a demanda foca as alterações legis- Foto | Marília Auto lativas. Há de fato uma quantidade muito grande de leis e regulamentos aprovados pelo Congresso e pelos Legislativos estadual e municipal. Isso gera muitas dúvidas, a exemplo das áreas de licitações, responsabilidade fiscal, concessões, consórcios, parcerias público-privadas. O desafio dos gestores é enorme, mas o caminho para o bom êxito como gestor é procurar dotar o município de um quadro de servidores permanentes e qualificados e se antecipar aos problemas buscando ajuda, por exemplo, nos Tribunais de Contas. O Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco apresenta pareceres sobre possíveis irregularidades e falhas na aplicação dos recursos públicos. Quais as punições mais graves para o gestor municipal caso seja autuado como irregular? O gestor que comete graves irregularidades na gestão, além de ter suas contas julgadas irregulares, pode sofrer aplicação de Assim que detectamos indícios de sobrepreço ou de direcionamento fazemos um alerta à gestão, que, no mais das vezes, corrige o ato, evitando prejuízo” multa, ser obrigado a ressarcir o erário, ficar impedido de exercer funções públicas de confiança e, no limite, ficar inelegível. Todas essas falhas e provas são normalmente encaminhadas ao Ministério Público que pode propor ações de improbidade, ações penais e intervenção. O Portal “Tome Conta”, lançado recentemente pelo TCE-PE é um exemplo de parceria com a sociedade. Por que ações que estimulam o controle social e a fiscalização pelos cidadãos são necessárias? O controle é dever dos órgãos técnicos, a exemplo do controle interno, dos Tribunais de Contas, do Ministério Público, das polícias, procuradorias, Legislativo e Judiciário. Mas o controle exercido pelo cidadão e pela imprensa são também fundamentais. O Tome Conta é uma ferramenta de transparência amigável e facilitará sobremaneira o controle social, na medida em que joga luz nos dados da gestão de todos os poderes e órgãos do Estado e de todos os municípios de Pernambuco. Como o senhor analisa a integração entre os órgãos de controle? A efetividade do controle para combater a corrupção e a ineficiência na aplicação dos recursos públicos só será realidade com a atuação em rede das instituições de controle e da sociedade. Os corruptos são sofisticados e organizados. A exitosa experiência da chamada “Operação Lava-Jato”, por exemplo, revela que a atuação integrada do controle é essencial. Foi-se o tempo dos solistas e dos anzóis isolados. Trabalho integrado, sem vaidades e em rede é o futuro. Diante da crise ética e fiscal que o País atravessa, qual o papel dos Tribunais de Contas no combate à corrupção? Como está a atuação nesse cenário? Tem avançado muito. Alguns que não conhecem bem as atribuições constitucionais dos Tribunais de Contas cobram de nós uma atuação semelhante à da 7 O senhor foi reeleito como presidente da Atricon (2016/17). Quais as perspectivas da Atricon para continuar incentivando a boa governança pública e a correta aplicação do dinheiro público? A nossa prioridade continuará sendo o aperfeiçoamento contínuo dos Tribunais de Contas e o papel destes para o aprimoramento da boa governança pública. Avançamos sobremaneira nos últimos tempos, mas existem muitas oportunidades de melhoria. O nosso programa Qualidade e Agilidade dos Tribunais de Contas (QATC), que engloba as Resoluções-Diretrizes da Atricon e o Marco de Medição do Desempenho dos Tribunais de Contas (MMD-TC), ferramenta de avaliação e diagnóstico de padrão internacional que contempla mais de 500 indicadores 8 de boas práticas para Tribunais de Contas, aponta o caminho da excelência institucional e é fundamental para diminuirmos assimetrias que ainda existem entre os 34 Tribunais. Por outro lado, não mediremos esforços para defender os Tribunais de Contas e seus membros, no Legislativo e no Judiciário, contra iniciativas provenientes de segmentos que querem o enfraquecimento do controle, jus- tamente em razão dos avanços de nossa atuação na prevenção da corrupção e da ineficiência. Por fim, destaco o total apoio da Atricon às chamadas auditorias coordenadas que estão sendo realizadas pelo TCU e por muitos Tribunais de Contas estaduais e municipais. Elas têm caráter operacional, analisam a qualidade do gasto público, especialmente em saúde, educação, segurança e meio ambiente. Foto | Marília Auto polícia. Temos o dever de clarear isso para a sociedade. Os Tribunais de Contas, assim como o Controle Interno, atuam muito mais na prevenção da corrupção e no combate permanente à ineficiência dos gastos (outro grande, senão o principal, ralo do dinheiro público). Ninguém, nenhum órgão ou pessoa, insisto, pode agir sozinho. Integração é a palavra. Só para ficar num exemplo mais recente, muitas responsabilizações no âmbito da “Operação Lava-Jato”, pelo Judiciário, foram baseadas em documentos técnicos produzidos pelo Tribunal de Contas da União (TCU), especialmente aqueles que apontaram sobrepreços e superfaturamentos em contratos da Petrobras. Isso também acontece nos estados. O desafio dos gestores é enorme” acontece leituraemfoco CURSOS 1 De 24 a 27 de fevereiro, será realizado o 2º Encontro Brasileiro das Cidades Históricas, Turísticas e Patrimônio Mundial. O evento é promovido pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM) e será realizado em São Luís (MA). A programação abrange palestras e debates sobre potencialidades econômicas dos centros históricos, questões sociais e urbanas específicas, cultura, turismo e a atuação do Legislativo Federal. Também haverá visita técnica ao Centro Histórico de São Luís. O encontro conta com o apoio do Governo do Maranhão e da Prefeitura de São Luís. Para mais informações, clique aqui. PRÊMIO 2 As Conferências Nacionais de Direitos Humanos serão realizadas entre os dias 25 e 29 de abril de 2016, em Brasília (DF). No total, serão cinco de forma a abranger áreas relacionadas à Infância e Adolescência, Pessoa Idosa, Pessoas com Deficiência e População de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros (LGBT). Organizações da sociedade civil e gestores públicos devem ficar atentos ao cronograma, pois a convocação das etapas municipais, estaduais e distrital de cada Conferência é de competência dos chefes do Poder Executivo e devem ocorrer antes das Conferências Nacionais. Mais informações aqui. Pernambuco é destaque no Prêmio do BID de Gestão por Resultados Pernambuco foi o grande vencedor do Prêmio Anual 2015 de Gestão por Resultados da Comunidade de profissionais e especialistas em Gestão Pública na área da América Latina e do Caribe (CoPLAC-MfDR). A cerimônia de premiação, organizada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), ocorreu em dezembro do ano passado, em Montevidéu, no Uruguai. Foram premiadas iniciativas nas categorias: Orçamento para resultados; Gestão de Investimentos Públicos; Governos subnacionais; Monitoramento e Avaliação; Planejamento Estratégico; Gestão para Resultados Setorial; Sociedade Civil; Cooperação Sul-Sul. O Estado de Pernambuco foi premiado em quatro das oito categorias do Prêmio, com o Pacto pela Vida, a Gestão do Orçamento do Estado, e o Mo- delo de Gestão Todos por Pernambuco. Na disputa de 2015, houve inscrições de países como a Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México, Peru, Uruguai e Venezuela. Do Brasil, além de Pernambuco, o Rio de Janeiro estava entre os concorrentes. Organizada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a premiação visa reconhecer e divulgar as melhores práticas de gestão por resultados desenvolvidas pelos governos e gestores dos países da América Latina e do Caribe. Clique para assistir aos vídeos das iniciativas pernambucanas vencedoras XX Orçamento XX Pacto Pela Vida XX Modelo de Gestão Todos Por PE Clique aqui e confira galeria de fotos do evento da premiação, no Uruguai GESTÃO PÚBLICA - PLANEJAMENTO, PROCESSOS, SISTEMAS DE INFORMAÇÃO E PESSOAS O livro apresenta especificidades e conceitos da Gestão Pública, estabelecendo alternativas de ação quanto à estrutura, o funcionamento e o dinamismo organizacional. A publicação dialoga com várias áreas e disciplinas, tais como Planejamento Estratégico, Gestão de Processos, Gestão de Pessoas, Gestão do Conhecimento, Desenvolvimento Sustentável, Marketing e Recursos Humanos. Vale destacar que o livro disponibiliza estudos de caso e questões para debate, contribuindo para a reflexão e estimulando a formação dos leitores interessados. Autores organizadores: Roberto Kanaane, Alécio Fiel Filho, Maria das Graças Ferreira Editora: Atlas | Nº de páginas: 264 NOVOS PARADIGMAS NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA MUNICIPAL CONTEMPORÂNEA O livro estimula o debate científico interdisciplinar dos principais temas que envolvem a administração municipal, abordando tópicos intrínsecos à prática administrativa contemporânea. Aborda os paradigmas atuais da administração pública com foco nos municípios e destaca a importância do poder público municipal como cerne no processo de mudanças almejadas pela sociedade. Esta obra foi escrita por profissionais conceituados da área jurídica e administrativa. Autores organizadores: Felipe Dalenogare Alves, Fabiano De Oliveira Becker e Silomar Garcia Silveira | Editora: Letras Jurídicas | Nº de páginas: 220 9 Foto | freeimages.com inclusão A legislação como instrumento de inclusão social na administração pública Artigo de Maria Luísa Leal Vasconcelos Gestora governamental – Especialidade Planejamento, Orçamento e Gestão U m regime democrático nos remete à ideia de igualdade perante a lei, sendo assim, a Constituição da República Federativa do Brasil (1988) traz, já em seu preâmbulo, o princípio da igualdade como norteador do 10 Estado democrático de direito. Tal princípio é elucidado no art. 5º, caput da Carta Magna, que consagra que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. Nesse dispositivo, fica claro a busca do Es- tado pela igualdade formal, que significa que as leis devem ser aplicadas a todos de forma indistinta, concedendo tratamento igualitário, sem oferecer privilégios a determinados grupos. Entretanto, para se alcançar a almejada justiça social é imprescindível o alcance da igualdade substancial (ou material), que ocorre quando a pretensão de igualdade deixa de ser abstrata e passa a ser factual. É na tentativa de atingir essa sonhada igualdade que observamos a máxima de Aristóteles em que devemos tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de sua desigualdade. E é nesse viés que se encontram as ações afirmativas que procuram ga- rantir oportunidades às minorias através de políticas públicas voltadas para a inclusão social. De acordo com a definição de Jayme Benvenuto Lima Júnior, em seu livro Os Direitos Humanos Econômicos, Sociais e Culturais, “as ações afirmativas são medidas especiais e temporárias, tomadas ou determinadas pelo Estado, espontânea ou compulsoriamente, com o objetivo de eliminar desigualdades historicamente acumuladas, garantindo a igualdade de oportunidades e tratamento, bem como de compensar perdas provocadas pela discriminação e marginalização, decorrentes de motivos raciais, étnicos, religiosos, de gênero e outros”. Nesse complexo processo de inclusão social, a legislação tem se mostrado uma grande aliada do Estado, por ser capaz de compelir setores da sociedade a inserir grupos, historicamente excluídos, nos contextos sociais de oportunidades e desafios. Esses grupos, que de maneira geral não estão em condições de igualdade em relação à maioria da população, são discriminados por raça, gênero, condição socioeconômica, religião, deficiência, idade, opção sexual, dentre outras causas. O preconceito social faz com que essa parcela da população não consiga competir de forma equânime no mercado de trabalho, o que gera pleitos por instrumentos legais e incentivos visando inserir essas pessoas marginalizadas nas atividades econômicas e sociais, proporcionando bem-estar e dignidade para todos. No contexto da administração pública, já existem vários instrumentos legais de inclusão social. A Lei Maior trouxe em seu bojo uma proteção aos deficientes em seu art. 37, VIII, que afirma que a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiências. A regulamentação dessa garantia (no âmbito federal) foi feita pela lei 7.853/89 e 8.112 /90, que garante em seu art. 5°, § 2o, o percentual máximo de 20% das vagas de concurso público federal para deficientes. Já a reserva mínima de 5% das vagas foi instituída pelo art. 37, § 1o, do decreto 3.298/99. Vale destacar que as atribuições do cargo precisam ser compatíveis com a deficiência do candidato. Em Pernambuco, esse número é um pouco menor. As administrações públicas direta e indireta de qualquer dos Poderes do Estado e dos municípios pernambucanos precisam garantir o percentual de 3% e o mínimo de uma vaga para os portadores de deficiências nos concursos para servidores, em consonância com o art. 97, inciso VI, alínea a, da Constituição do Estado de Pernambuco. A questão racial também é outro foco das ações governamentais, pois a forma como o Brasil foi colonizado se reflete ainda nos dias atuais. Historicamente os negros foram discriminados, tratados como uma sub-raça, sem direitos e garantias. A escravidão que imperou no Brasil colônia, e que se estendeu até o fim do século XIX, fez com que muitas gerações pagassem – e atuais ainda pa- Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade” ART. 5º , CAPUT, DA CARTA MAGNA guem – o preço desse passado nebuloso. Assim, pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010 constataram que os rendimentos dos que se autodeclaram brancos (R$ 1.538) são quase o dobro do que os pretos (R$ 834) e pardos (R$845) auferem. Dessa forma, com o intuito de incluir essa parte da sociedade que ainda não consegue competir em condições de igualdade no mercado de trabalho, passou a vigorar, em 2014, a Lei n° 12.990, que reserva o percentual fixo de 20% das vagas oferecidas nos concursos públicos federais para negros (certames que ofereçam ao menos três vagas). Essa cota abrange vagas ligadas ao Poder Executivo da administração pública federal, 11 A classificação racial complicase em um país tão miscigenado, passando a ser um critério um tanto subjetivo, de como na verdade as pessoas se enxergam. Não há um consenso do que vem a ser pardo. Em algumas regiões do país, a população que assim se define são as pessoas que se consideram “morenas”. No norte do país, há descendentes de índios que se classificam dessa forma. Assim, percebe-se que essa classificação é um tanto falha, pois as pessoas têm a liberdade de se definirem através de critérios particulares. Dessa forma, um decreto regulamentando essa lei poderia deixar mais evidente que pessoas estão passíveis de concorrer a essas vagas, o que diminuiria a polêmica em torno dessa lei. Já em relação à inclusão na esfera da administração pública do público LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) é notável que ainda há muitas frentes a serem conquistadas, mas não se pode negar que houve avanços nos últimos anos em decorrência das reivindicações de diversos movimentos sociais. Antes mesmo do Supremo Tribunal Federal (STF) reconhecer a união estável de casais homossexuais, em 2011, e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em maio de 2013, editar uma resolução (nº 175) obrigando os cartórios de todo país a realizar o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, alguns estados e municípios já reconheciam a união de Foto | freeimages.com das autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades de economia mista controladas pela União. Essa lei irá vigorar por um prazo de 10 anos quando deverá ser reavaliada, pois uma das características das ações afirmativas é a temporalidade. Entretanto, essa lei gerou um grande debate, pois as reservas são para as pessoas que se autodeclararem, no ato da inscrição do concurso, pretas ou pardas (grupo dos negros), terminologias utilizadas pelo IBGE. O grande problema é que não existe um critério objetivo do que vem a ser considerada uma pessoa parda. Será a que tem pai negro ou mãe negra? Talvez os que tenham a cor parda declarada na certidão de nascimento? Lei de 2014 reserva percentual de 20% das vagas do Poder Executivo Federal para negros 12 servidores homossexuais, que já podiam incluir seus parceiros como dependentes, trazendo benefícios como o direito de inclusão no plano de saúde e de obter pensão por morte. O município do Recife foi um dos pioneiros. Em 2001, os servidores homossexuais já podiam inserir seus companheiros como beneficiários no regime de previdência. Os servidores do estado de Pernambuco conseguiram essa autorização no ano de 2009. O fato é que pode haver divergência entre os Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS) da União, estados e municípios, pois cabe a cada ente legislar sobre o regime dos seus servidores (há competência concorrente), cabendo à União editar as normas gerais. Outro tema de inclusão que tem sido muito debatido é o direito dos transexuais e travestis de usar seu nome social, aquele como eles preferem ser chamados. Isso acontece quando a identificação civil não corresponde com a identidade de gênero. Objetivando eliminar o constrangimento que essas pessoas passam ao se identificarem com o nome de registro, alguns órgãos públicos publicaram portarias estabelecendo a obrigatoriedade de haver um campo para se registrar o nome social nos documentos das instituições, assegurando o uso do nome preferencial dos travestis e transexuais. É o caso da Portaria n° 1.820/2009, editada pelo Gabinete do Ministro da Saúde, que garante o uso do nome social pelos usuários do Sistema único de Saúde (SUS). Um ato normativo que também teve grande repercussão para esse público foi a Portaria n° 233/2010, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão que assegurou aos servidores públicos, no âmbito da Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional o direito de uso do nome pelo qual eles se identificam e são identificados pela sociedade. Pernambuco também editou no mesmo ano o Decreto n°35.052 nos moldes do Governo Federal. Outros estados como o do Rio de Janeiro, São Paulo e Piauí também editaram atos normativos pontuais permitindo o uso do nome social em documentos de prestação de serviço nos atendimentos dos órgãos da administração pública direta e indireta. Entretanto, as reivindicações pelo direito do uso do nome social pretendem ser provisórias, pois o que realmente esse público almeja é a aprovação da Lei João Nery (lei de identidade de gênero). Esse projeto de lei propõe que toda pessoa poderá solicitar a retificação do sexo e do prenome no registro civil sem que seja necessário recorrer ao judiciário, como acontece atualmente. Essas ações para mudança de nome requerem tempo, além de gerarem custos, o que impossibilita que muitos trans consigam se livrar das situações vexatórias do cotidiano ao utilizarem o nome da certidão de nascimento. É importante destacar que todos os instrumentos legais para inclusão de grupos minoritários são válidos, contudo isso não resolve a raiz do problema. Mais importante do que meios legais para combater a exclusão social é a transformação cultural, pois, no mundo ideal, tais medidas não precisariam existir. Sendo assim, a legislação pode ser um passo importante nesse caminho de mudanças, mas é necessário que os governantes também foquem no mais importante meio de inclusão social: educação. Um ensino público de excelência, onde existam instalações físicas adequadas, professores preparados para ensinar com maestria as matérias e que possam estimular a tolerância e o respeito ao que for diverso. Dessa forma haverá uma igualdade de oportunidades de forma indistinta. Priorizando a educação, haverá um sistema coerente de meritocracia no serviço público e privado, onde serão beneficiados, de fato, os mais esforçados. Como disse o grande Nelson Mandela “a educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo”. O município do Recife foi um dos pioneiros. Em 2001, os servidores homossexuais já podiam inserir seus companheiros como beneficiários no regime de previdência 13 Foto | Pedro Luiz Luta por respeito marca vida profissional de transexuais no serviço público Fernanda e Choppely contam como a informação e educação são importantes Mariana Moreira Fernanda Falcão conquistou o direito de usar o nome social Há um ano atuando na Secretaria de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude do Estado de Pernambuco, Fernanda Falcão, 24 anos, possui crachá com seu nome social e tem sua identidade de gênero respeitada. Não foi sempre assim. “A dificuldade é no caminho inteiro da vida da pessoa”, afirma. Nos trabalhos anteriores, Fernanda era chamada por um nome masculino e foi proibida de usar o banheiro feminino. Antes disso, precisou se prostituir para sobreviver. “Enquanto eu estava na casa dos meus pais, era obrigada a ser reconhecida como Fernando, pessoa essa que eu não sou, como nunca me reconheci. Me causa dor ter sido dessa forma”, recorda. Ainda adolescente, Fernanda foi expulsa de casa 14 porque a família não aceitou sua nova identidade de gênero. A mãe chegou a dizer que preferia ter um filho criminoso a um filho gay. “Ela não me via como uma pessoa trans, ela me via como gay. Se você realmente não tiver força, não tiver uma perspectiva de vida, isso lhe enfraquece e lhe empurra para marginalidade”. Para superar a negação da família, o abandono dos amigos, a exclusão total da sociedade, o conselho de Fernanda é estudar e estudar muito. Apesar dos problemas, ela conseguiu concluir os ensinos médio e superior, ao contrário de muitas meninas trans que cedo abandonam a escola e passam a viver uma vida dupla. “As meninas trans são obrigadas a se prostituir para sobreviver, para não passar fome, para ter um local onde morar, para tentar sair dessa situação vulnerável. A sociedade ainda massacra muito, aperta, sufoca”, desabafa. Para ela, as adversidades devem ser transformadas em desafios e é preciso criar oportunidades. “A gente só vai conseguir isso a partir da educação”, defende. Com graduação em Enfermagem, hoje Fernanda trabalha no setor público, cuja secretaria estadual passou por um processo de conscientização. Houve um trabalho de preparação interna, com reuniões, distribuição de material informativo e muita conversa com os funcionários. “Aqui, na Secretaria de Desenvolvimento Social de Pernambuco, sou conhecida como Fernanda Falcão. No meu crachá de funcionária pública, te- nho meu nome social respeitado, devido ao Decreto nº 35.052, de 2010”. Algumas pessoas ainda demonstram resistência, mas Fernanda não desanima e acredita que o diálogo, a qualificação profissional e a troca de informações são fortes aliados na busca por respeito. Por outro lado, Fernanda destaca a importância de as pessoas trans romperem com os próprios preconceitos. “Existem estigmas criados por nós mesmos. É necessário se assumir como uma pessoa trans e dizer ‘eu quero meu espaço’. E eu vou conseguir ocupar meu espaço me preparando e estudando muito”. Choppely Pereira dos Santos, 33 anos, concorda. Ela estudou bastante, fez seis concursos públicos e passou em todos. Atualmente, é servidora pública dos municípios de Camaragibe e do Recife. “Na perspectiva da transexualidade, o serviço público é muito difícil, é muito fechado. As pessoas não aceitam porque nos colocam naquela condição de marginalidade. As pessoas ainda têm medo de travestis e transexuais. Elas se assustam”, denuncia Choppely. “Em Camaragibe, algumas pessoas fizeram abaixo -assinado para eu não tomar posse porque não se permitiam perder a vaga delas para uma trans”. Em vão. Depois, outros servidores apresentaram resistência com a questão do uso do banheiro. Ciente dos seus direitos, Choppely foi à luta, defendeu-se, discutiu, conversou, distribuiu cartilhas sobre transexualidade. Enfrentou esses obstáculos a partir da educação e informação. “Quando você está munida de seus direitos, as pessoas ficam com receio de cometer algum deslize com você”. Ela repete sempre que, quando você sabe seus direitos, os outros tendem a respeitar mais suas escolhas e incentiva as pessoas trans a estudarem e fazerem concursos públicos. “O fato de ter um vínculo público, ser estatutária, facilita muito porque as pessoas têm problemas com você, mas não podem lhe demitir, então têm que lhe aceitar. São obrigadas a aceitar”. Na opinião dela, é o caminho mais concreto que a população de travestis e transexuais tem para obter um emprego. “Não há como negar sua vaga porque você passou num concurso público”, justifica. Apesar de estar longe da vulnerabilidade social da maioria das travestis e transexuais e ter um emprego estável como servidora pública, Choppely também é vítima de preconceito. “Eu não tenho a realidade da maioria das travestis, que vive na rua, da prostituição, porém sofro a mesma violência, porque o preconceito que elas sofrem, também sofro”, conta. Ela ainda denuncia a falta de legislação específica e de um sistema de justiça capaz de punir o opressor. “No Brasil, enquanto não tiver uma lei que criminalize a lesbofobia, a homofobia e a transfobia, principalmente, a violência vai continuar acontecendo, os assassinatos das travestis vão continuar ocorrendo, a dificuldade de encontrar emprego vai continuar existindo”. Com o intuito de mudar essa realidade, Choppely decidiu lutar para melhorar a vida das pessoas trans. Não era suficiente ser funcionária pública, era preciso ajudar as outras. “Poderia muito bem viver minha vida tranquila, na discrição. Mas isso não bastava. Eu tinha que ajudar essas meninas”. Desde então, há quase 10 anos, ela participa do movimento social que luta pelos direitos das pessoas trans. Hoje Choppely é uma das coordenadoras do Fórum de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais de Pernambuco (Fórum LGBT/PE) e representante da Associação Nacional dos Travestis, Transexuais e Transgêneros (Antra) no Conselho Nacional LGBT. É necessário se assumir como uma pessoa trans e dizer eu quero meu espaço” Fernanda Falcão, enfermeira 15 boas práticas O acesso à informação como direito fundamental Quando se trata de melhorar a gestão pública a partir da transparência, o acesso à informação é considerado indispensável Por Mariana Moreira I nformações públicas são dados, processados ou não, que podem ser utilizados para produção e transmissão de conhecimento, registrados em qualquer suporte ou formato, produzidas ou custodiadas por órgãos e entidades públicos, de todos os entes e Poderes. No Brasil, os cidadãos e pessoas jurídicas têm direito a acessar informações públicas, que embora estejam sob a guarda do Estado, constituem um bem público e pertencem à sociedade. Convenções e declarações promulgadas por organismos internacionais, como a Organizações das Nações Unidas (ONU) e Organização dos Estados Americanos (OEA), 16 reconhecem o acesso à informação como direito. Está lá na Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), no Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (1966), na Declaração Interamericana de Princípios de Liberdade de Expressão (2000), na Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção (2003). Além de ser signatário desses documentos, o Brasil tem explicitado na Constituição Federal de 1988, em seu art. 5º, inciso XXXIII: todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo si- gilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. O acesso à informação pública foi considerado direito fundamental desde a Carta Magna, mas se fortaleceu a partir de 2011 com a promulgação da Lei nº 12.527, conhecida como a Lei de Acesso à Informação (LAI). A Controladoria Geral da União (CGU) é o órgão responsável por monitorar a aplicação da LAI no âmbito do Poder Executivo Federal. A diretora de Transparência e Controle Social da CGU, Claudia Taya, destaca que a Lei de Acesso à Informação representa uma mudança de paradigma na prestação de informações à sociedade, estabelecendo que o acesso é a re- dos órgãos, endereços e telefones de suas unidades e horários de atendimento ao público; programas, projetos, ações, obras e atividades, indicando a unidade responsável, principais metas e resultados e indicadores; repasses ou transferências de recursos financeiros; execução orçamentária e financeira detalhada; procedimentos licitatórios, com os contratos celebrados e notas de empenho emitidas; remuneração recebida por servidores e empregados públicos de maneira individualizada; respostas a perguntas mais frequentes; dentre outras. A Transferência Passiva é quando o poder público acolhe pedidos de informação feitos por pessoas físicas ou jurídicas. Há procedimentos específicos para requisitar informações junto aos órgãos e garantir as respostas pelo poder público, mas não é necessário apresentar motivos ou justificativas. O jornalista Gésio Passos, 34 anos, afirma que a LAI é fundamental para o pleno exercício da cidadania. “A plena transparência e publicidade dos atos dos poderes públicos são essenciais para o controle social, bem como a informação fun- PANORAMA DOS GOVERNOS MUNICIPAIS Escala Brasil Transparente – 2ª avaliação NOTAS 3,8% 4,1% 6,6% 8,5% 25,1% 51,8% 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 NÚMERO DE MUNICÍPIOS 9 – 10 7 – 8,99 5 – 6,99 3 – 4,99 1 – 2,99 0 – 0,99 NOTA MUNICÍPIOS 9 — 10 61 % 3,8 7 — 8,99 65 4,1 5 — 6,99 105 6,6 3 — 4,99 135 8,5 1 — 2,99 399 25,1 0 — 0,99 822 51,8 TOTAL 822 51,8 Fonte: CGU gra e o sigilo, a exceção. “Além de prever que qualquer pessoa, física ou jurídica, pode demandar o acesso às informações públicas, a LAI estabelece prazos e procedimentos para que a Administração responda aos pedidos de informação”, explica. Para a representante da CGU, ao utilizar a LAI, as pessoas podem interagir com o Estado a qualquer tempo e acompanhar as políticas públicas. “Por isso a importância da Lei para o fortalecimento da participação dos cidadãos e do controle social”. Como os princípios basilares da LAI são a publicidade e a transparência, os órgãos públicos devem dar acesso às informações solicitadas, criar serviços de informação ao cidadão, além de divulgar na internet as informações de maior interesse para a sociedade. A regra da LAI é o acesso. E, embora o sigilo seja exceção, os critérios são rigorosos e existem para proteger as informações, principalmente aquelas cuja divulgação indiscriminada possa trazer riscos à privacidade da pessoa e à segurança da sociedade ou do Estado. Dois conceitos importantes presentes nessa legislação são a Transparência Ativa e a Transparência Passiva. A primeira consiste na divulgação de dados por iniciativa do próprio setor público, sem a necessidade de requerimento. Nesse caso, utiliza-se principalmente a internet, sendo exemplos as seções de sites dos órgãos e entidades e os portais de transparência, que disponibilizam informações, tais como: estrutura organizacional e competências 17 NOTA 10 NO RANKING UF MUNICÍPIO NOTA SC Águas Frias 10 SP Altinópolis 10 SC Apiúna 10 DF Brasília 10 SC Correia Pinto 10 PR Curitiba 10 SP Franca 10 SC Frei Rogério 10 SC Imbuia 10 MS Inocência 10 PB João Pessoa 10 SP Limeira 10 PB Marcação 10 RJ Niterói 10 SC Papanduva 10 SC Presidente Getúlio 10 PE Recife 10 RJ Resende 10 AC Rio Branco 10 SC Salto Veloso 10 SC São Miguel da Boa Vista 10 SP São Paulo 10 PE São Vicente Ferrer 10 PE Serra Talhada 10 SP Tietê 10 SC Tunápolis 10 PB Uiraúna 10 SC Vargeão 10 SC Videira 10 Fonte: CGU 18 O acesso à informação nos âmbitos estaduais e municipais reveste-se de especial importância, uma vez que essas são as esferas de poder mais próximas do cotidiano dos cidadãos. Essa é a opinião da equipe da Artigo 19, organização da sociedade civil que trabalha para que todos e todas, em qualquer lugar, possam se expressar livremente, acessar informação e desfrutar de liberdade de imprensa. “Será a partir da ferramenta de acesso à informação que os cidadãos poderão compreender melhor o que está se passando em seu bairro, cidade ou região (gasto de obras, índices de violência, abastecimento de água), e, assim, reivindicar políticas públicas e outras demandas que influenciam na garantia dos direitos humanos. Com mais informação, os cidadãos poderão ter uma participação social mais qualificada, à medida que têm mais elementos para incidir e avaliar os órgãos públicos”, respondem coletivamente Bárbara Paes, Joara Marchezini e Henrique Goes, integrantes da Artigo 19. Com base na LAI, estados e municípios devem estabelecer legislação e procedimentos sobre o assunto. Pernambuco foi um dos primeiros estados brasileiros a ter um instrumento próprio de regulamentação da Lei de Acesso à Informação. Isso ocorreu em 2012, com a promulgação da Lei nº 14.804, que trata do acesso a informações no âmbito do Poder Executivo Estadual, e do Decreto nº 38.787, que a regulamenta. Segundo a diretora de Ouvidoria e Controle Social do Es- O jornalista Gésio Passos já apresentou 79 pedidos de acesso a informações públicas Foto | Gustavo Gomes damental para o livre exercício democrático do voto”, opina. No total, ele se lembra de ter realizado 79 pedidos de acesso a informações públicas. “Na esfera federal, já realizei 67 pedidos. No Governo do Distrito Federal, foram 4 pedidos. No Governo de Minas Gerais, foram 6 pedidos. Na Prefeitura de Belo Horizonte, minha cidade de origem, foram 2 pedidos”. tado de Pernambuco, Elisa Andrade, o investimento em ações que promovam a transparência e o acesso à informação se faz necessário para que o cidadão possa efetivamente participar e controlar a gestão pública estadual em prol da sua melhoria contínua, o que vai desde a aplicação dos recursos públicos até o resultado de indicadores sociais. “Com o acesso à informação sendo uma prioridade, hoje Pernambuco mobiliza aproximadamente 300 servidores que cuidam de todo o processo de participação da população na gestão. São ouvidores, autoridades da LAI que têm o compromisso de representar o Governo quando procurado pela sociedade. O principal resultado disso é o aumento gradativo dos Pedidos de Acesso à Informação nos últimos três anos”. Elisa ressalta que o Governo de Pernam- LEI DE ACESSO À INFORMAÇÃO | Lei nº 12.527/11 • A LAI abrange procedimentos e normas para garantir o acesso à informação pública • Prevê a criação, em todos os órgãos e entidades do poder público, de um Serviço de Informações ao Cidadão (SIC) • Estabelece prazos para que sejam repassadas as informações ao solicitante. A resposta deve ser dada imediatamente, se estiver disponível, ou em até 20 dias, prorrogáveis por mais 10 dias. • Há exceções à regra de acesso para informações de caráter pessoal, protegisdos por sigilo legal aqueles classificados como sigilosos. Uma informação pública pode ser classificada como sigilosa quando, por exemplo, for considerada imprescindível à segurança da sociedade, à vida da população ou do Estado (soberania nacional, relações internacionais, atividades de inteligência). As informações podem ser classificadas como: Ultrassecreta – prazo de sigilo: 25 anos (prorrogável uma única vez) Secreta – prazo de sigilo: 15 anos Reservada– prazo de sigilo: 5 anos • IMPORTANTE O pedido de informação não precisa ser justificado, apenas conter a identificação do requerente e a especificação da informação solicitada. buco divulga espontaneamente informações institucionais sobre ações e projetos dos órgãos, os contratos, o número de servidores, as auditorias a que determinado órgão foi submetido, os editais de licitação, os gastos gerais. “Tudo isso é um rol de informações espontânea e obrigatoriamente divulgadas na Página da LAI”. Quanto aos desafios, a diretora de Ouvidoria e Controle Social de Pernambuco aponta a necessidade de superar a cultura do sigilo para fazer prevalecer a cultura do acesso. “Se a informação é pública, não im- porta o uso que o demandante pretende fazer dela. Outro desafio encontrado é a necessidade de aprimorar a sistematização e a gestão da informação pública, para permitir a disponibilização de quantitativo significativo de informações, facilitando o acesso à informação por qualquer cidadão interessado”, diz Elisa. Para avaliar a situação da implementação da LAI no País, a CGU desenvolveu a Escala Brasil Transparente (EBT), uma metodologia que visa medir a transparência pública em estados e municípios brasileiros. Em novembro de 2015, foi divulgado o resultado da segunda edição da Escala que revelou o grau de cumprimento às normas da Lei de Acesso à Informação. “Com a Escala Brasil Transparente, verificamos que muitos governantes estão se esforçando na implementação da Lei”, diz Cláudia Taya, diretora de transparência e controle social da CGU. É o caso dos municípios do Recife, em Pernambuco, e de João Pessoa, na Paraíba. Ambos encontram-se no topo do Ranking da EBT, pois alcançaram a nota máxima 10,00 nesta segunda edição. As duas capitais ocupam o topo do ranking juntamente com São Paulo (SP), Brasília (DF), Curitiba (PR) e Rio Branco (AC). No total, a pesquisa analisou a situação de 1.613 entes federativos. Receberam a pontuação máxima 29 municípios. O Recife teve o quarto melhor índice entre as capitais brasileiras e o seu Portal da Transparência foi apontado como o mais transparente do Nordeste. Segundo o controlador geral do Recife, Rafael Figueiredo Bezerra, como forma de combater a corrupção, a gestão municipal vem empreendendo esforços para promover a transparência pública. Para tanto, desenvolveu o Portal da Transparência e dos dados abertos, ferramentas em que o cidadão pode se valer dos dados públicos para desenvolver aplicativos virtuais. Essas ferramentas, desenvolvidas pela Empresa Municipal de Informática (Emprel), sob a coordenação da Controladoria Geral do Recife, disponibilizam dados financeiros da Pre19 SAIBA MAIS Modelo de projeto de lei de acesso à informação elaborado pela Confederação Nacional dos Municípios. Clique aqui. Programa Brasil Transparente da Controladoria Geral da União O Programa Brasil Transparente, da CGU, tem entre objetivos principais: apoiar a adoção de medidas para a implementação da Lei de Acesso à Informação e outros diplomas legais sobre transparência; disseminar a Lei de Acesso à Informação e estimular o seu uso pelos cidadãos; capacitar servidores públicos para que atuem como agentes de mudança na implementação de uma cultura de acesso à informação; contribuir para o aprimoramento da gestão pública por meio da valorização da transparência, acesso à informação e participação cidadã; promover o uso de novas tecnologias e soluções criativas e inovadoras para abertura de governos e o incremento da transparência e da participação social. Para mais informações, clique aqui. Site Livre Acesso Desenvolvido pela Artigo 19, organização da sociedade civil, este portal na internet disponibiliza um rico conteúdo que serve de referência na área de acesso à informação para gestores públicos e população. São notícias, legislação, vídeos, dados sobre a transparência nas esferas de poder, além de projetos que relacionam o direito à informação com outros direitos humanos. Para acessar, clique aqui. ria ainda produziu uma cartilha de orientação para o cidadão em linguagem simples e didática. Para fazer valer a “nota 10” como município transparen- Foto | SCGE-PE / Divulgação feitura da Cidade, tratando das receitas, despesas, dados da gestão, demonstrativos contábeis, licitações, contratos, convênios, demonstrativos fiscais, remuneração dos servidores e planejamento orçamentário. O Portal disponibiliza ainda consultas livres em que os cidadãos podem cruzar os dados disponibilizados no sistema. No tocante à Transparência Passiva, o Portal contempla o Sistema Eletrônico do Serviço de Acesso às Informações (e-SAI), local onde o cidadão pode provocar a gestão com seus pedidos de acesso à informação. “A Transparência Passiva e a necessidade de resposta tempestiva aos cidadãos são fomentadas diuturnamente pela gestão municipal, através da Controladoria, uma vez que o sistema e-SAI, para fins de agilização da resposta ao cidadão, funciona descentralizadamente”, explica o controlador geral do Recife. O cidadão já direciona seu pedido à secretaria competente que tem até 20 dias para responder ao questionamento realizado. A Controlado- Para a diretora de Ouvidoria e Controle Social de Pernambuco, Elisa Andrade, é preciso superar a cultura do sigilo e fazer prevalecer a do acesso 20 te, João Pessoa também vem realizando ações que revelam boas práticas. Houve a promulgação da Lei de Acesso à Informação Municipal (LAIM) e o Conselho Municipal de Transparência Pública e Combate a Corrupção (CMTPCC) foi fortalecido com o incentivo ao debate sobre temas referentes à transparência pública. Segundo o chefe de gabinete da Secretaria de Transparência do município paraibano (SETRANSP/PMJP), Adriano Almeida, foram realizadas capacitações para sociedade civil, gestores, membros das comissões de licitação, fiscais de obras, conselheiros do orçamento participativo e de outras áreas, canais para a população solicitar informações públicas. “Muitos órgãos ainda carecem de estrutura técnica e operacional para receber os pedidos de informação e de responsáveis capacitados para produzir e disponibilizar a informação em diversos formatos. Muitos também não dispõem de instrumentos que possibilitem a gestão e o tratamento de documentos públicos, outro grande desafio a ser superado”, explica Claudia Taya. A diretora da CGU lembra que a LAI não pode funcionar apenas no nível federal. “Para acelerar e aprimorar a implementação da LAI nos estados e municípios, a CGU criou o ÍNDICE AVALIA PORTAIS DE TRANSPARÊNCIA DOS MUNICÍPIOS DE PERNAMBUCO Com o intuito de contribuir com a transparência na gestão pública e tornar mais efetivo o exercício da cidadania através do controle social, o Tribunal de Contas de Pernambuco (TCE/PE) desenvolveu o Índice de Transparência dos Municípios de Pernambuco (ITMPE). O resultado da primeira edição do levantamento ocorreu em dezembro de 2015. Considerando análise do conteúdo, recursos tecnológicos, exigências da Lei de Responsabilidade Fiscal (LC nº 101/2000) e da Lei de Acesso à Informação (Lei nº 12.527/2011), foram estabelecidos 51 critérios que nortearam a avaliação dos Portais de Transparência das 184 prefeituras pernambucanas. Para cada portal da transparência avaliado, foi calculado o ITMPE, que pode variar entre zero e 1.000 pontos. De acordo com o valor obtido, os portais foram classificados em cinco níveis de transparência: desejado, moderado, insuficiente, crítico, inexistente. Após os cálculos, o ranking do TCE/PE revelou que a maioria das prefeituras não atende de forma satisfatória aos requisitos legais da transparência pública. Dentre os principais motivos da baixa pontuação está o fato de que muitas prefeituras ainda não dispõem de um portal ou as informações disponibilizadas não são consideradas suficientes. NÍVEIS DE TRANSPARÊNCIA DOS MUNICÍPIOS PERNAMBUCANOS 0,54% (1) 0,54% (1) Inexistente Desejado 28,26% (52) 26,63% (49) 41,85% (77) Moderado Insuficiente Crítico Fonte: TCE/PE além de palestras em universidades. Para os servidores públicos, houve formação nos temas: Brasil Transparente, Lei Municipal de Acesso à Informação, Transparência nas Obras Públicas, Acesso à Informação para Gestores da Saúde, além de capacitação dos correspondentes do Serviço de Informação ao Cidadão (SIC). “Não esquecemos a sociedade civil”, disse Adriano, ao elencar os cursos realizados para este segmento: Controle Social das Obras Públicas, Educação Orçamentária, Gestão de Documentos e Transparência, Acessando os Dados do Portal da Transparência, Download e Tratamento dos Dados do Portal, Arquivos Públicos e Transparência. “De uma forma bastante lúdica, também foi criada a Tenda da Transparência, uma forma de desenvolver oficinas procurando estimular nas crianças a semente do exercício da cidadania. Dessa forma, a Prefeitura de João Pessoa afirmou que a transparência é uma via de mão única, sem retorno, tentando acabar com a cultura do sigilo”, enfatiza Adriano Almeida. Ele também lembra as melhorias feitas no Portal de Transparência da Prefeitura de João Pessoa, que ficou “mais acessível e prático para o cidadão, além do compromisso da gestão municipal em responder com pontualidade as demandas do SIC”. No âmbito municipal da Escala Brasil Transparente da CGU, 822 cidades receberam notas entre 0 e 0,99, por ter sido verificado que a Lei de Acesso não está regulamentada e que inexistem ou são ineficazes os 21 Brasil Transparente. Este programa oferece materiais, modelos de regulamentação, capacitações e duas versões do sistema eletrônico de acesso à informação, sem custo para os governos locais”, informa. Os entes federativos que obtiveram nota baixa na Escala e que apresentam dificuldades na implementação da Lei de Acesso à Informação podem entrar em contato com as Unidades Regionais da CGU para pedir apoio. Através do Programa Brasil Transparente, a CGU ajuda na aplicação de medidas de transparência e governo aberto. Entres os serviços oferecidos, estão cursos e treinamentos presenciais e a distância; distribuição de material técnico e de orientação; e cessão do código-fonte do Sistema Eletrônico de Serviço de Informação ao Cidadão (e-SIC). Atualmente, o acesso à informação pública é um dos principais instrumentos de controle social e de transparência da gestão pública. Trata-se de uma área a que os municípios devem estar atentos. Quando garantido o acesso à informação pública, O Recife obteve nota máxima no ranking da Escala Brasil Transparente, da CGU 22 os cidadãos têm a chance de exercer com mais afinco a participação e a fiscalização dos recursos públicos. Nos tempos atuais, a busca por informações de interesse público e o controle social reforçam a transparência dos governos. Num cenário de denúncias de corrupção e investigações sobre desvios de recursos públicos, bem como a crescente expectativa por melhoria nos serviços públicos, desenvolver políticas de acesso a informações é uma boa prática a ser ampliada nas cidades, estados e no País. conta certa A crise e os municípios Elo mais fraco entre os entes federados, as cidades sofrem o impacto com a queda na arrecadação e na redução dos investimentos e buscam soluções para enfrentar o cenário de restrição fiscal Rafael Guerra A s dificuldades enfrentadas pela maioria dos municípios brasileiros há tempos vêm sendo alardeadas pelos próprios gestores das cidades e, principalmente, pelas associações municipalistas de cada Estado da Federação. O ano de 2015, com suas crises política, econômica e ética, viu potencializados os problemas dos municípios. O elo mais fraco do imbricado sistema republica- no brasileiro, a cidade, foi o que mais sofreu no ano que passou. A Associação Mineira de Municípios elenca cinco como os principais problemas infrentados: a desigualdade na repartição da arrecadação dos impostos; a sobrecarga dos municípios para a execução de políticas públicas firmadas por meio de programas e convênios com a União e o Estado que não realizam as transferências necessárias; a judicialização da saúde; a redução no financiamento da educação básica; o alto custo de manutenção dos convênios para a garantia da segurança pública. Na prática, esses complicadores podem ser percebidos em números. Em pesquisa realizada já em 2016, a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) constatou que 98,5% das cidades brasileiras foram atingidas pela crise. O mesmo le23 E o que é Pacto Federativo O Pacto Federativo é o que define as funções dos entes federados – União, estados e municípios – e a fonte que vai subsidiar tais responsabilidades. Ou seja, quem faz o que e de onde sai o dinheiro para pagar a conta. O atual Pacto começou a ser elaborado em 1988, quando da promulgação da Constituição, e, desde então, foi sendo regulamentada por leis paralelas. O equilíbrio proposto pela constituinte foi aos poucos se desfazendo e hoje os municípios sofrem com a má distribuição dos recursos. Se em 1985, antes da Constituição, 80% da tributação era partilhada entre Estados e Municípios, em 2013, de acordo com dados da Receita Federal, este percentual caiu para 33,51%. E as obrigações municipais aumentaram no período. A revisão do Pacto Federativo passa por instâncias acima do poder municipal, sem falar que está na base de outras reformas, como a tributária e a política, por exemplo. economia pela Universidade Federal da Paraíba. Ele acredita ser necessária uma análise conjuntural dos critérios para o cálculo do FPM. O economista, também gestor governamental da Secretaria de Planejamento e Gestão Foto | Douglas Fagner vantamento mostrou que 43% das prefeituras não fecharam o ano com o pagamento das despesas em dia. Áreas como saúde e educação estão entre as mais prejudicadas. A maioria das cidades brasileiras depende dos recursos repassados pelo Fundo de Participação dos Municípios (FPM), transferência constitucional obrigatória que, de uma forma geral, caiu no último ano em decorrência da diminuição de arrecadação do Governo Federal. De acordo com a Secretaria do Tesouro Nacional, a previsão era que, no mês de dezembro de 2015, o valor repassado do FPM seria 8,2% menor do que no mesmo período do ano anterior. “Mesmo com a queda global do FPM, tenho certeza que o impacto não é homogêneo entre os municípios. Acredito que a redução dos tributos arrecadados pelo Governo Federal que são usados para o FPM não gera uma perda de receita proporcional para todos os municípios. Sugiro que eles ou as associações municipalistas se debrucem sobre isso”, afirma Daniel Oliveira, bacharel e mestre em 24 de Pernambuco, afirma ser preciso entender o algorítmo completo que compõe o FPM. “O PIB e a população dos municípios são alguns dos critérios utilizados para calcular o FPM de cada cidade. A revisão do Pacto Federativo, neste caso, seria uma O contingenciamento não é viável do jeito que está sendo feito. Quando se reduz os gastos públicos, há um impacto negativo na atividade econômica O segredo para as cidades reside na melhoria da gestão e na qualidade do gasto. A única maneira que o município tem de se sustentar na crise é com boas práticas de gestão Maíra Fischer, economista etapa posterior a essa análise. É necessário entender como é feita a atual partilha para corrigir possíveis falhas”, explica Daniel. O PIB brasileiro caiu 1,7% no terceiro trimestre de 2015, de acordo com o IBGE. Os três grandes setores agropecuária, serviços e indústria – apresentaram resultados negativos. A previsão do mercado é que o PIB de 2015 tenha uma queda de até 4%. A produção industrial nacional, até outubro, havia apresentado uma queda, no acumulado do ano, de -7,8%. Maíra Fischer, economista e gerente de Desenvolvimento do Modelo de Gestão da Secretaria de Planejamento e Gestão de Pernambuco, relaciona os números nacionais com a crise nos municípios. Ela afirma que, na crise brasileira, Pernambuco foi muito afetado, por causa do setor de óleo e gás, por exemplo. “Esperávamos a injeção de R$ 9 bilhões na economia do Estado e este dinheiro não está girando. Os municípios menores sofreram muito com a parada do setor de serviços”, explica Maíra. Os municípios menores, aparentemente, não estão tão ligados à indústria, mas o fato de o dinheiro não circular no Estado acaba rebatendo neles. “A base econômica desses municípios é composta por serviços e comércio. Com a crise, são os primeiros setores a retrair. Quando isso acontece, bate muito forte nesses municípios e vai gerando um efeito em cascata”, destaca Maíra. Vale ressaltar que o PIB do setor de serviços representa algo em torno de 70% do PIB brasileiro. Em momentos de crise, quando o desemprego avança, é o primeiro o setor a ser atingido. “A única autonomia que o município teria seria a cobrança de IPTU. O segredo para as cidades reside na melhoria da gestão e na qualidade do gasto. A única maneira que o município tem de se sustentar na crise é com boas práticas de gestão. Equilibrar os níveis de receita e despesa. Levantar as dívidas, para fazer um pagamento desse passivo e, enquanto isso, evitar novas despesas, usar o caixa apenas para o necessário e realizar todo um plano para conseguir se equilibrar”, sugere. Daniel Oliveira, no entanto, afirma que o Estado não deve funcionar como uma empresa. Para ele, este pensamento é um O papel do Estado não é agir como uma empresa privada. Essa ideia deve ser apagada da cabeça das pessoas Daniel Oliveira, mestre em Economia 25 grande equívoco, apesar de o senso comum acreditar que os governos devem se comportar como o setor privado. “Esse não é o papel do Estado. Ele, em suas três esferas administrativas (União, estados e municípios), não é uma empresa. Essa ideia deve ser apagada da cabeça das pessoas”, opina o economista. Para ele, os planos de contingenciamento realizado nos três níveis, federal, estadual e municipal, estão impactando negativamente na atividade econômica dos estados e municípios. “Não é viável do jeito que está sendo feito. Só seria viável e eficaz para as finanças públicas de cada ente federativo se o contingenciamento fosse profundamente drástico. Quando se reduz os gastos públicos, há um impacto negativo na atividade econômica. Como o resultado nominal ou primário é o confronto da receita e da despesa, automaticamente há um impacto no outro. Se com o contingenciamento se reduz a despesa e, automaticamente há uma redução na receita, dependendo de como essa relação aconteça, o Estado pode estar piorando seu resultado primário. Ou seja, esses planos podem não estar sendo eficazes”, alerta. O economista ressalta também a proibição, feita pelo Governo Federal, para que estados e municípios realizem operações de crédito e de como isso dificultou a situação dos municípios. “Essa iniciativa só é feita pensando no resultado do superávit. E mais uma vez eu repito, o Governo não pode pensar 26 Em épocas de crise, é necessário manter os investimentos, mas é preciso escolher aqueles que trarão os maiores impactos, além de manter os serviços essenciais à população” Maíra Fischer, economista como empresa, porque se o governante pensa como empresa, ele está pensando em estrutura contábil. O Estado não é para viver perpetuamente saudável do ponto de vista financeiro. O Estado não tem essa obrigação. Ele não precisa ser lucrativo. Naturalmente, que é necessário ter um superávit nominal por um tempo, e ter déficit nominal em outro momento. O momento atual não é de ter superávit. O Estado precisa agir anti ciclicamente. E esta capacidade atualmente é quase que totalmente uma obrigação do Governo Federal”, afirma. Quanto menor o município e quanto mais ele for dependente das transferências constitucionais, menor a capacidade dele atuar de forma autônoma no combate à crise. Ainda assim, há como as prefeituras realizarem políticas fiscais mais austeras, porque os municípios têm alguma autonomia, como em relação à cobrança de certos impostos, a redução de folha de pagamentos, entre outras ações. Maíra Fischer lembra que o correto, no cenário atual, é cortar o mínimo possível de investimentos e o máximo possível de custeio. “Mas, em épocas de vacas magras, investimento em algum momento vai gerar custeio, ou seja, é preciso ser feito um estudo para que haja um equilíbrio e saber quais os investimentos que gerarão o maior retorno. Eu posso ter como investimento uma ponte. Se ela vai melhorar meu comércio, vai melhorar a ligação com outras cidades, é um tipo de investimento que valeu a pena”, exemplifica. A economista reforça que o planejamento de curto, médio e longo prazos é a chave. “Os municípios em Pernambuco, por exemplo, poderiam aproveitar a verba do Fundo Estadual de Apoio ao Desenvolvimento Municipal (FEM) para investimentos produtivos. Este poderia ser um diferencial. Em épocas de crise, é necessário manter os investimentos, mas é preciso escolher aqueles que trarão os maiores impactos, além de manter os serviços essenciais à população. É importante para os municípios tentem se manter dentro das obrigações da Lei de Responsabilidade Fiscal, para poder continuar tendo convênios, isso é importante. Em resumo, o segredo da crise é melhorar a gestão e a qualidade do gasto”. ENTREVISTA Marcelo Barros | novas contratações para evitar extrapolar o limite constitucional máximo com despesas de pessoal. O ajuste fiscal em municípios é realmente necessário ou pode ter consequências piores já que a falta de investimento pode gerar menos receitas? O ajuste fiscal promovido pelo Governo Federal penaliza estados e municípios, na medida em que as transferências voluntárias, operações de crédito e convênios se tornam mais difíceis, devido aos cortes no orçamento dos ministérios. O ajuste, entretanto, é condição sine qua non para que o Brasil comece a organizar suas contas públicas e encontre uma saída da crise econômica. A redução de investimentos é, sem dúvida, um efeito colateral negativo do ajuste fiscal, na medida em que a ampliação na infraestrutura é elemento indutor do crescimento econômico e, por conseguinte, da ampliação da receita. Estaria no planejamento e na qualidade do gasto a única opção dos municípios enfrentarem a crise? Sim. Neste ambiente de frustração de receita e sem grandes perspectivas de curto prazo para retomada de crescimento econômico, a forma mais eficiente que está à disposição dos gestores públicos estaduais e municipais é a análise do sistema de gastos do município, especialmente no custeio. Qualidade do gasto, controle social, planejamento e monitoramento são instrumentos valiosos para que os municípios utilizem seus recursos da forma mais eficiente e efetiva possível, principalmente em 2016, que, infelizmente, será o segundo ano de recessão no País. No caso de associações municipalistas ou os próprios municípios terem força para pressionar em um momento de Foto | Douglas Fagner A base das reclamações da maioria dos municípios brasileiros, em resumo, é a má distribuição de impostos e o excesso de obrigações que o Pacto Federativo impõe a eles. Com o agravamento da crise em 2015 e a diminuição nos repasses do FPM, muitos municípios tiveram problemas em pagar a folha, manter serviços básicos, entre outras dificuldades. Tendo em vista que a revisão do Pacto Federativo passa por instâncias maiores, quais as medidas, a curto prazo, um gestor municipal poderia tomar para melhorar a situação em 2016? O Pacto Federativo vigente surgiu na Constituição Federal de 1988 e, desde então, as condições econômicas municipais e estaduais mudaram. Especialmente a partir de 2008, em resposta à crise econômica norte-americana, o Governo brasileiro adotou medidas de desoneração tributária, como a redução de IPI e do Imposto de Renda, bases contributivas do FPM (Fundo de Participação dos Municípios) e FPE (Fundo de Participação dos Estados) e que agravaram a situação das finanças municipais. O novo Pacto Federativo é uma agenda nacional, pois repercute em como será realizada a divisão do bolo tributável entre União, estados e municípios. Além disso, com o agravante da crise econômica em 2015, os cofres municipais estão sentindo o impacto nas receitas próprias, principalmente na queda da arrecadação do ISS (Imposto sobre serviços). Assim, no curto prazo, resta aos prefeitos realizarem ajustes nas estruturas de gastos, adequando-as à curva descendente no nível de arrecadação. A eficiência e a redução no custeio das prefeituras são indispensáveis para manter os gastos obrigatórios e o nível de investimento em patamar adequado na esfera municipal. Também é preciso redobrar a atenção no que diz respeito a Economista e presidente da Perpart reforma do Pacto Federativo, quais deveriam ser as demandas solicitadas? As transferências constitucionais da União para estados e municípios vêm sendo reduzidas ao longo do tempo, devido à diminuição relativa das receitas compartilhadas, notadamente o IPI e IR, e ao crescimento das contribuições (Cofins) que não são divididas com os demais entes. A situação piorou a partir de 2009, quando o Governo Federal passou a adotar uma política de desoneração tributária, reduzindo paulatinamente a arrecadação das receitas compartilhadas. Em paralelo, aumentou as responsabilidades dos entes municipais, como exemplo podemos citar a Emenda 29, que aumentou os gastos obrigatórios na saúde, bancados pelos recursos municipais. É preciso fortalecer o peso dos municípios na distribuição dos recursos compartilhados entre os demais entes federativos. Afinal, é no município onde existe uma ligação direta com os problemas enfrentados pela população. As novas atribuições conferidas ao poder municipal nos últimos anos ampliaram os seus gastos sem a necessária contrapartida na arrecadação. Esse desequilíbrio entre aumento de atribuições sem a devida origem de recursos financeiros é a gênese dos problemas nas contas públicas municipais em curso. A discussão dessa agenda é oportuna e urgente. 27 03 estratégia 02 04 ESTRATÉGIA 01 O sistema de gestão estratégica Balanced Scorecard – BSC H á 25 anos, o Instituto Nolan Norton, unidade de pesquisa da KPMG, iniciava um estudo com dezenas de empresas de diversos segmentos com a finalidade de desenvolver um novo modelo de medição de desempenho empresarial chamado: Measuring Performance in the Organization of the Future (Medindo o Desempenho na Organização do Futuro). Havia a crença de que os sistemas de medição do desempenho empresarial, em geral apoiados em indicadores contábeis e financeiros, estavam se tornando obsoletos. Dois anos após o início do estudo, em 1992, era lançado na Harvard Business Review, o artigo: The Balanced Scorecard – Measures That Drive Performance (O Balanceado Scorecard – Indicadores que impulsionam o Desempenho), apresentando a ferramenta de gestão que hoje ocupa o sexto lugar dentre as ferramentas de gestão mais utilizadas pelas empresas no mundo, segundo pesquisa da Artigo de Murilo Alves Gestor governamental Especialidade Planejamento, Orçamento e Gestão e instrutor do curso de Balanced scorecard para organizações públicas do Centro de Formação dos Servidores e Empregados Públicos do Estado de Pernambuco Bain & Company, realizada com milhares de executivos em todo o mundo, publicada em 2014. Segundo Kaplan e Norton (2000), o BSC foi criado como uma solução para o problema de avaliação de desempenho empresarial, porém, as empresas que começaram a implantá-lo, estavam utilizando-o para atender questões bem mais importantes como, por exemplo: comunicar, alinhar e implementar estratégias em toda a organização. Em poucos anos, o BSC partilhadas e alinhar toda a organização em torno dos objetivos a serem alcançados. Para Herrero Filho (2005), “o mapa estratégico pode ser considerado como um arcabouço visual que insere os diferentes itens do Balanced Scorecard de uma organização, numa cadeia de causa e efeito que conecta os resultados almejados com os respectivos vetores ou impulsionadores”. Ainda segundo ele, o mapa estratégico estabelece uma interação entre as atividades de formulação e de implementação, mostrando o caminho através do qual a estratégia será executada. O BSC deve contar a história da estratégia. As duas perspectivas da parte superior do mapa estratégico são a financeira e a dos clientes e contêm objetivos que refletem a eficácia da estratégia, são, portanto, perspectivas de resultado. As duas últimas são as perspectivas de processos internos e aprendizado e crescimento, refletem a eficiência da estratégia. Mapa estratégico 2013 - 2018 VISÃO DE FUTURO Ser reconhecido como instrumento efetivo na melhoria da gestão pública, na defesa do interesse social e no combate à corrupção RESULTADOS PARA A SOCIEDADE 01 | Aumentar a efetividade das ações de controle externo 02 | Contribuir para o aperfeiçoamento da Gestão Pública 03 | Contribuir para a transparência e o exercício do controle social PROCESSOS INTERNOS 04 | Aumentar a agilidade do processo de controle externo 05 | Aumentar a qualidade do processo de controle externo 06 | Fortalecer a imagem institucional 07 | Aprimorar a gestão administrativa PESSOAS E INOVAÇÃO 08 | Aprimorar a gestão de pessoas 09 | Fomentar a gestão do conhecimento organizacional 10 | Consolidar a gestão por resultados 11 | Aprimorar o uso de TI no processo de controle externo Fonte: TCE-PE evoluiu de um sistema de avaliação de desempenho aperfeiçoado para um robusto sistema de gestão estratégica. Essa evolução foi documentada em 1996 no artigo: Using the Balanced Scorecard as Strategic Management System (Usando o Balanced Scorecard como um Sistema de Gestão Estratégica) e consolidada no primeiro livro publicado pelos autores: The Balanced Scorecard – Translating Strategy Into Action (O Balanced Scorecard – A Estratégia em Ação). O BSC é um sistema de gestão estratégica que traduz a visão de futuro e a estratégia da organização em um conjunto de objetivos estratégicos, indicadores de desempenho, metas e iniciativas estratégicas. Esses elementos são interligados por uma lógica de causa e efeito e distribuídos em um conjunto equilibrado e integrado de quatro diferentes perspectivas: financeira, clientes, processos internos e aprendizagem e crescimento. De acordo com Kaplan e Norton (1997), o nome “balanceado” reflete o equilíbrio/balanceamento entre objetivos de curto e longo prazos, entre indicadores financeiros e não financeiros, entre indicadores de processo e de resultado e entre perspectivas interna e externa da organização. No BSC, a estratégia da organização é descrita e representada graficamente por meio de um Mapa Estratégico, uma ferramenta de gestão à vista que apresenta a arquitetura lógica da geração de valor da estratégia, fortemente utilizado para comunicar, dar transparência, criar aspirações com- MISSÃO Fiscalizar e orientar a gestão pública em benefício da sociedade NEGÓCIO Melhoria da gestão pública VALORES ÉTICA | TRANSPARÊNCIA | COMPROMETIMENTO EFETIVIDADE | COERÊNCIA | IMPARCIALIDADE O Tribunal de Contas de PE alinha suas ações a partir de estratégia apontada no mapa 29 TCU adotou o BSC para definir seu planejamento e recomenda a metodologia para outros tribunais A construção do BSC deve ser iniciada pela definição dos objetivos financeiros da perspectiva financeira (exemplo: lucro líquido, retorno sobre investimento), depois relacioná-los à sequência de objetivos definidos para a perspectiva dos clientes (exemplo: satisfação, retenção, participação de mercado), da perspectiva dos processos internos (exemplo: eficiência dos principais processos da cadeia de valor da organização) e, por fim, da perspectiva de aprendizado e crescimento (exemplo: pessoas, infraestrutura, sistemas). Para Kaplan e Norton (1997), a lógica de causa e efeito deve permear as quatro perspectivas do BSC. Por exemplo, a rentabilidade financeira da 30 organização é fortemente influenciada pela retenção de clientes e a conquista de novos clientes, que é influenciada por processos internos de qualidade que, por sua vez, é influenciada pela melhoria na capacitação dos funcionários e melhoria nos sistemas de informação utilizados. Em tempo, é possível fazer a verificação da lógica da causa e efeito de um BSC utilizando o termo “se então”. Portanto, se há pessoas capacitadas e melhores sistemas de informação, então poderá haver processos internos de melhor qualidade; se houver processos internos de melhor qualidade, então poderá haver maior retenção e conquista de novos clientes; se há retenção e novos clientes, então poderá haver aumento na rentabilidade financeira da organização. De acordo com Herrero Filho (2005), em pesquisa realizada pela Revista Fortune em 1999, somente 10% das organizações eram bem-sucedidas na implantação de suas estratégias. Normalmente, as organizações até conseguem desenvolver bons planejamentos, mas deixam a desejar na execução. Talvez a maior contribuição do BSC para a gestão estratégica tenha sido a diminuição da lacuna clássica existente entre o processo de formulação da estratégia e o processo de execução. Por meio de um robusto sistema de mensuração de desempenho completamente integrado à estratégia da organização, indicadores de desempenho são criados para todos os níveis hierárquicos, do mais estratégico ao mais operacional, fazendo da estratégia uma tarefa de todos ao traduzi-la em termos operacionais e integrá-la ao dia a dia das pessoas. Por meio do contínuo acompanhamento dos indicadores, todos os colaboradores da organização passam a entender melhor de que forma o seu trabalho contribui com o alcance dos objetivos estratégicos corporativos. Para Kaplan e Norton (1997), organizações que conseguem traduzir a estratégia em sistemas de mensuração têm muito mais probabilidades de executá-la com êxito. As empresas da época, mesmo as mais evoluídas, ainda não alinhavam os indicadores de desempenho às suas estratégias. Kaplan e Norton destacaram a importância da escolha de indicadores que permitissem acompanhar os resultados das estratégias de perto, demonstrando que um conjunto balanceado de indicadores associados a quatro perspectivas poderiam comunicar e ajudar a implementar uma estratégia consistente. Para eles, um BSC bem-sucedido é aquele que transmite a estratégia através de um conjunto integrado de indicadores financeiros e não financeiro, e que apresenta uma combinação balanceada de indicadores de resultado (que mensuram o resultado de ações já tomadas) e de processo (que mensuram as ações que impulsionam ou levam aos resultados medidos pelos indicadores de resultado). Monitorar apenas indicadores de resultados, sem os indicado- res de processo, não comunica a maneira como os resultados devem ser alcançados, além de não indicarem antecipadamente se a implantação da estratégia está sendo bem-sucedida ou não. Por outro lado, monitorar apenas indicadores de processo, sem os indicadores de resultado, podem ser obtidas melhorias operacionais a curto prazo, mas não revelarão se essas melhorias impactaram nos resultados esperados pela organização. Segundo a Escola Nacional de Administração Pública (Enap), “indicadores não existem apenas para mostrar se as metas estão sendo atingidas. Servem para deixar claras as prioridades, gerar alinhamento, indicar se são necessários ajustes, apoiar a tomada de decisão e para motivar e reconhecer o desempenho”. Ainda segundo a Enap, os indicadores têm o propósito de testar o progresso da organização em direção aos objetivos estratégicos. O princípio é simples: se não há medição, não há controle. E, se não há controle, não há gerenciamento. O grande desafio de toda organização que implanta uma sistemática de medição está em dispor de número limitado de indicadores que comunique adequadamente o desempenho organizacional e esteja completamente integrado à estratégia. “Quem não sabe medir aprende a mentir”, a frase do matemático Gauss cai como uma luva para gestão estratégica, não há como avaliar os resultados da execução de uma estratégia sem o monitoramento intensivo de indicadores. A administração pública tem passado por importantes transformações em busca de profissionalização e maior eficiência, se o setor privado sempre utilizou o BSC com sucesso, por que o setor público também não o utilizaria? Cada vez mais os gestores públicos precisam de ferramentas que deem suporte ao processo de tomada de decisão, potencialize o desempenho e facilite o alcance dos resultados. É perfeitamente viável a implantação do BSC em organizações públicas, porém, por envolver uma mudança de cultura, naturalmente, ainda existem muitas barreiras à sua implantação. O Professor Kaplan, em seu artigo Report Overcoming the Barrier to BSC Use in the Public Sector, Harvard Business School Publishing 2000, discute seis obstáculos que tornam a implantação do BSC difícil no setor público: 1. O setor público está sujeito à influência de partes interessadas que frequentemente não compartilham objetivos, estas partes pressionam os gerentes e tornam difícil o estabelecimento de objetivos claros. 2. As agências do setor público têm dificuldade de estabelecer objetivos de longo prazo para atender as expectativas dos grupos interessados, elas podem tentar fazer tudo por todos e terminar fazendo nada de todo. Esta dificuldade pode levar a se ter como 31 única alternativa, a busca da excelência operacional, atingindo objetivos a baixo custo, com poucas falhas e minimizando o tempo gasto em suas tarefas. No entanto, gerentes podem decidir sair da posição de buscar fazer o trabalho a um menor custo e adotar uma abordagem de atender e agregar valor a um grupo de partes interessadas que possa trazer recursos adicionais para a agência pública. estabelecer métodos de recompensa para os colaboradores, em alguns casos, faz com que gestores de alto nível adotem abordagens com ênfase negativa de punição, o que não contribui para uma colaboração e engajamento efetivo do colaborador. A abordagem negativa leva a uma fidelidade espúria do colaborador, onde ele contribui o mínimo possível para não estar na linha de crítica dos superiores. 3. A metodologia do BSC estimula os gerentes a estabelecerem metas ousadas, no caso do setor público quando se estabelece metas, e elas não são alcançadas, os administradores se tornam alvo de críticas. Isto inibe o processo de definição das metas de performance. O apoio da cúpula da organização e a valorização dos avanços alcançados são de grande importância para se conseguir o comprometimento dos colaboradores dos diversos níveis ao processo de definição de metas ousadas. 5. Os resultados das ações do setor público, em muitos casos, só são percebidas depois de um longo tempo de sua implementação. Em muitos casos, as partes interessadas não conseguem ligar a causa aos efeitos. Por exemplo, conquistas que promovam a melhora da saúde de uma população podem levar anos, senão décadas, para serem percebidas. 4. A dificuldade do setor público de definir recompensas pecuniárias para os colaboradores das organizações faz com que o engajamento dos diversos níveis da organização no processo de atingir as metas seja mais complexo. A dificuldade de se 32 6. Os objetivos do setor público podem depender de ações de várias de suas agências, que podem não estar atuando coordenadamente ou compartilharem os mesmos valores. A capacidade do administrador público de superar as dificuldades expostas é fundamental para a efetividade de um sistema de gestão, que esteja apoiado em indicadores balanceados. Para que a utilização do BSC por organizações públicas seja bem-sucedida, algumas adaptações se fazem necessárias. Segundo Kaplan e Norton (1997), as quatro perspectivas originais do BSC devem ser consideradas como um modelo, não uma camisa de força, podendo ser alteradas conforme a necessidade e natureza do negócio da organização. Dito isto, uma primeira adaptação se faz necessária na perspectiva financeira. Para Kaplan e Norton (1997), a perspectiva financeira pode desempenhar um papel de favorecedor ou inibidor dos resultados, atuando como meio, não um resultado final a ser buscado por instituições públicas. Caiuby (2011) também coloca um ponto de vista interessante sobre a perspectiva financeira, para ele, os objetivos estratégicos que geralmente estão presentes nesta perspectiva referem-se à necessidade de equilíbrio fiscal, eficácia na arrecadação, priorização de recursos e investimentos, otimização de despesas, captação de recursos e execução orçamentária. Ele recomenda que a melhor maneira de alocar a perspectiva financeira é começar refletindo sobre quais são os tipos de desafios financeiros que a organização possui. Por exemplo, se a questão do equilíbrio financeiro ainda é um resultado a ser alcançado, recomenda-se que haja a perspectiva de responsabilidade financeira e que esteja localizada na parte superior do mapa estratégico. Em organizações que já equalizaram suas contas e o desafio em relação Foto | Douglas Fagner ao tema financeiro é garantir a funcionalidade da máquina pública com excelência na gestão dos recursos financeiros, então nestes casos, não há a necessidade de explicitar a perspectiva de responsabilidade financeira no mapa, bastando apenas tratar da questão como um objetivo estratégico localizado na perspectiva de processos internos. E finalmente, quando o desafio for garantir recursos financeiros para executar a estratégia, o objetivo pode estar alocado na perspectiva de aprendizado e cresci- mento, por ser considerado um insumo basilar para a execução dos processos internos. Tendo em vista que o setor privado, diferentemente do público, tem como principal objetivo o aumento da rentabilidade financeira, é perfeitamente aceitável que a perspectiva financeira esteja no topo do BSC como sendo o resultado principal a ser alcançado. Porém, o sucesso das organizações públicas deve ser medido pelo grau de eficácia e eficiência com que essas organizações atendem às A prefeitura de Ipojuca/PE elaborou seu mapa em 2013, como parte do novo modelo de gestão do município necessidades da sociedade, o principal resultado buscado por instituições públicas, portanto, deve ser o efetivo cumprimento da sua missão institucional. Logo, a perspectiva financeira pode ser adaptada, não sendo mais alocada no topo do mapa do BSC, mas inserida na base do BSC, assim a lógica é invertida, deixando de ser um “resultado” para ser apenas um “meio”, um insumo necessário para alcançar os demais objetivos. Outra maneira é simplesmente excluir a perspectiva financeira do mapa, tratando a questão como um objetivo estratégico que pode ser alocado na perspectiva de resultado quando o desafio a ser enfrentado for a busca pelo equilíbrio fiscal. Também pode ser inserido na perspectiva de processo internos, quando o desafio a ser superado for o de garantir a excelência na gestão dos recursos financeiros ou, por fim, pode ser alocado na perspectiva de aprendizado e crescimento, quando o desafio for garantir os recursos necessários para a execução da estratégia. Outra adaptação que também costuma ser realizada é em relação à perspectiva de clientes, no setor público essa perspectiva normalmente recebe o nome de “Sociedade” ou “Resultados” e passa reunir os objetivos referentes aos resultados finalísticos que a organização pública pretende entregar. Em resumo, o BSC adaptado para as organizações públicas normalmente apresenta apenas três perspectivas, sendo uma na base do mapa, onde estão alocados os insumos básicos que 33 estruturam a organização e dão suporte para que os processos internos sejam executados com excelência, outra no meio do mapa, onde estão alocados os principais desafios dos processos internos que geram valor para os stakeholders da organização, e, por último, no topo do mapa, há uma perspectiva de resultado onde estão alocados, como o próprio nome já diz, os resultados esperados com a execução da estratégia, ou seja, os fins buscados pela organização. É importante destacar que nem toda organização pública adota a metodologia do BSC em sua completude, é comum vermos entidades públicas apenas adotando o mapa estratégico ou outros elementos do BSC isoladamente, moldando a ferramenta de acordo com sua necessidade ou fundido a metodologia com outras disponíveis no mercado. Há quase duas décadas, organizações públicas no mundo inteiro vêm utilizando o BSC para alavancar a habilidade de governo de fazer as coisas acontecerem. No Brasil, percebemos um grande avanço na utilização da metodologia por organizações públicas nos últimos cinco anos, com destaque para o Poder Judiciário, que vem utilizando a metodologia em larga escala. A responsabilidade pelo avanço da metodologia do BSC no judiciário é do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgão que possui, dentre outras atribuições, a competência para coordenar o planejamento e a gestão estratégica do Poder Judiciário. A metodologia foi adotada pelo CNJ para a construção do Plano Es34 tratégico Nacional do Poder Judiciário e, por meio da resolução nº 70 de 2009, art. 2º, obrigou todos os tribunais a elaborarem os seus respectivos planejamentos estratégicos alinhados ao Plano Estratégico Nacional. Atualmente, a maior parte dos tribunais do Poder Judiciário do País adota o BSC como metodologia de gestão estratégica. O Tribunal de Contas da União (TCU) também adotou a metodologia do BSC na construção do seu planejamento estratégico e a recomendou aos demais tribunais. Hoje a metodologia já é adotada por todos os tribunais de contas do País. De acordo com o site do TCE-PA, “o Tribunal de Contas do Estado do Pará, no processo de elaboração do Plano Estratégico 2012-2015, escolheu a metodologia do Balanced ScoreCard (BSC) por ser um sistema de gestão que auxilia a organização a traduzir a estratégia em objetivos que direcionam o seu comportamento e desempenho. Por meio de uma ferramenta chamada mapa estratégico, possibilita que se visualize, o conjunto de objetivos estratégicos da organização, com indicadores de desempenho vinculados, balanceados em diferentes perspectivas e ligados por relações de causa e efeito.” No Poder Executivo, a metodologia do BSC também é largamente utilizada, com destaque para os governos estaduais de Minas Gerais, Pernambuco e Rio Grande do Sul; prefeituras de Porto Alegre (RS), Curitiba (PR); Fortaleza (CE); Osasco (SP); ministérios como o do Planejamento, Orçamento e Ges- tão, Comunicações, Agricultura, Meio Ambiente; dentre outras entidades. Em Pernambuco, no escopo do processo de desdobramento vertical da estratégica de Governo iniciado em 2015, o BSC foi escolhido, juntamente com outras ferramentas de gestão, como metodologia para construção do planejamento estratégico de todas as secretarias e órgãos estaduais, cumprindo assim uma das propostas do programa do atual governo, de implementar processos permanentes de planejamento estratégico na administração estadual. Referências bibliográficas Kaplan, R.S., (2000), “Overcoming the Barriers to Balanced Scorecard Use in the Public Sector”, Harvard Business School Publishing, Report, Cambridge, US. Kaplan, Robert S. & Norton, David P., ( 1997), A Estratégia Em Ação, - Balanced Scorecard, Editora Campus Ltda, RJ, Brasil. Kaplan, R.S., Norton, D.P., (2000), “Organização Orientada para a Estratégia”, 4º edição, Ed. Campus, RJ, Brasil. Herrero, Emilio. Balanced scorecard e a gestão estratégica: uma abordagem prática. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. Caiuby, Rogério. Gestão estratégica para resultados: a busca pela maior efetividade na utilização dos serviços públicos. São Paulo: Exterior Editora, 2011. Acesse aqui a apostila Elaboração de Indicadores de Desempenho Institucional (Brasília: ENAP, 2013). Foto | freeimages.com capital humano Práticas e tendências da aprendizagem nas organizações Artigo de Louise de Lavor Gestora governamental Especialidade Planejamento, Orçamento e Gestão A nalisar os processos de aprendizagem no contexto organizacional tem se constituído um caminho importante para a compreensão da dinâmica das organizações. Historicamente, o aprendizado sempre exerceu relevante papel para a humanidade no que diz respeito ao desenvolvimento dos povos, nas diversas áreas da dinâmica do ser humano-social, profissional, cultural. Da mesma forma que a aprendizagem é essencial para o crescimento dos indivíduos, também é fundamental para as organizações, sejam públicas ou privadas. Na literatura, podemos encontrar algumas definições para a Aprendizagem Organizacional. Chris Argyris e Donald Schön definiram a aprendizagem organizacional como “um processo de detecção e correção de erros”. Marlena Fiol e Marjorie Lyles explicaram a aprendizagem organizacional como o “processo que permite a melhoria e o desenvolvimento das ações organizacionais, através da aquisição de novos conhecimentos e de melhores compreensões”. Já para Mark Dodgson, é “a forma como as empresas constroem, suplementam e organizam o conhecimento e as rotinas em torno das suas atividades”. 35 Nesse contexto e diante das diversas definições, pode-se entender aprendizagem organizacional como a junção de novos, múltiplos e contínuos conhecimentos em torno da dinâmica corporativa, visando expandir a capacidade de gerar resultados relevantes para a organização. Os estudos de Peter Senge, na vertente das Organizações que Aprendem, apresentam cinco disciplinas necessárias para o processo de inovação e aprendizagem organizacional: domínio pessoal, modelos mentais, visões partilhadas, aprendizagem em grupo e pensamento sistêmico. Alguns autores ressaltam que aprendizagem organizacional é mais do que a soma das partes da aprendizagem individual. Isto se expressa quando algum funcionário deixa a organização e esta não perde as suas capacidades de aprendizagem. O sistema de aprendizagem não influencia apenas os que fazem parte atualmente da organização, mas também os membros futuros devido ao legado, acúmulo de histórias, experiências, normas e lições aprendidas. O processo de aprendizagem numa organização envolve a identificação das competências organizacionais, o desenvolvimento ou aquisição de conhecimentos e habilidades, sua disseminação, utilização e incorporação na rotina de trabalho. Assim, a aprendizagem organizacional é identificada como uma prática da Gestão do Conhecimento, juntamente com a Educação Corporativa, a Gestão de Competências, a Gestão do Ca36 Domínio pessoal Visões partilhadas Por meio do autoconhecimento, o indivíduo tem condição de aprofundar seus objetivos, concentrando esforços e passando a ver a realidade de forma objetiva. Dão-se a partir da percepção de um objetivo como concreto e real. Neste ponto, o indivíduo passa a querer aprender por iniciativa própria e não mais por obrigação. pital Intelectual e a Inteligência Empresarial ou Organizacional. Observa-se, portanto, que esse processo se impõe como o grande elo construtivo entre as corporações e as pessoas, como estratégia de competitividade ou como um meio para que as organizações desenvolvam competências, pois ele contribui decisivamente para o atendimento das expectativas de melhor desempenho e de desenvolvimento contínuo das organizações. Atender essas expectativas pressupõe colocar a aprendizagem a serviço da melhoria contínua, assim como da inovação. Os processos de aprendizagem nas organizações podem ocorrer de maneira formal ou informal. Os primeiros ocorrem geralmente através da indicação de livros, redes corporativas, cursos estruturados em sala de aula física ou no formato EaD (Ensino à Distância). São desenvolvidos dentro de uma metodologia planejada, com conteúdo pedagógico bem definido, institucionalmente patrocinada, sendo fácil explicitar de forma quantitativa sua contribuição ao desempenho organizacional. Aprendizagem em grupo Pensamento sistêmico A aprendizagem dá-se pelo diálogo. A apresentação de ideias, por parte dos membros integrantes, é fundamental para um raciocínio comum. Esta disciplina contribui para que se faça uma análise do todo e não das partes individualmente. Já a aprendizagem informal acontece numa configuração semi ou não estruturada. É mais “aberta”, onde o indivíduo é impulsionado pelo aprendizado diário e pela necessidade de se desenvolver, a partir de sua interação com o contexto corporativo. Esse processo acontece a partir do momento em que os indivíduos, em seu dia a dia de trabalho, executam tarefas, realizam asserções, resolvem problemas e cooperam uns com os outros. São exemplos desse processo a elaboração de um novo projeto/tarefa, comunicações via conferência ou telefone, reuniões, webinars, podcasts, comunidades online, redes sociais, mensagens instantâneas, mentoring e observação de outras pessoas. Muito tem sido escrito a respeito das formas de aprendizagens desenvolvidas nas organizações, inclusive dos modelos desgastados que não funcionam mais nos públicos atuais devido, inclusive, ao impacto da era da informação. Esses modelos estão baseados em estratégias educacionais falidas que não levam em consideração as peculiaridades por correspondência (correios), depois pela tele-educação (rádio, televisão, fitas cassetes de áudio e vídeo), e, nos anos mais recentes, utilizando serviços telemáticos (internet), como fóruns de discussão e e-mail. Tecnologia e aprendizagem constantemente caminharam lado a lado, e novas técnicas, equipamentos e descobertas aperfeiçoadas pela ciência serviram, ao longo da história, como auxílio para facilitar o processo de aquisição e fixação de novos conhecimentos. Desta forma, as tecnologias da informação que dispomos atualmente permitem mais dos formatos de EaD. O e-learning, por exemplo, é uma modalidade de Ensino à Distân- GESTÃO DO CONHECIMENTO EDUCAÇÃO CORPORATIVA Métodos e ferramentas De transferência Do conchecimento Gestão do Conhecimento ACELERA AMPLIA AUXILIA ALCANCE Velocidade de Transferência DO Captura e Estruturação COMPETÊNCIAS ORGANIZACIONAIS UTILIZA COMPETÊNCIAS INDIVIDUAIS das pessoas e a efemeridade dos temas e conteúdos. Assim, novos princípios e práticas de aprendizagem organizacional estão sendo postos e discutidos. As práticas formais e informais devem ser revistas para que possam melhor atender às necessidades organizacionais, visando garantir maior efetividade nas ações de aprendizagem. Nessa perspectiva, perante um mercado moderno, rápido e de constantes mudanças, o indivíduo, influenciado pelo desenvolvimento da tecnologia, tem sido exposto a um ritmo acelerado no cotidiano. O desafio hercúleo do momento seria: como prover formas de aprendizagens organizacionais para esse indivíduo multiconectado, atraído por uma rotina online? E ainda, diante desse cenário, como criar um ambiente favorável para criação, desenvolvimento, compartilhamento, disseminação e aplicação do conhecimento corporativo? Estudos vêm direcionando práticas de aprendizagens corporativas com diferentes expositores, trazendo para a realidade das organizações novas formas de Ensino à Distância (EaD), multimodalidade, aprendizagem transmidiática e vivencial. Normalmente falamos em EaD quando o processo de ensino/aprendizagem ocorre com o professor e aluno distantes geograficamente e a interação entre eles é estabelecida via meios eletrônicos. Não é um conceito recente, tendo várias formas de ser estabelecido até chegar às práticas atuais. Primeiramente o Ensino à Distância foi realizado Conhecimento PRODUZ AGREGA VALOR Aprendizagem Organizacional Organização PROPICIA Inovação Alavanca RESULTADOS 37 cia baseada nas tecnologias da internet, ou de outras mídias eletrônicas, onde a aprendizagem acontece remotamente. Proporciona uma aprendizagem personalizada, em conformidade com a necessidade, a disponibilidade e o ritmo do indivíduo, independentemente da plataforma usada para aceder à internet. Apesar do e-learning não ser uma prática recente, há um constante crescimento e difusão do mercado LMS (Sistema de Gestão da Aprendizagem), que proporciona a inclusão de novos recursos, enriquecendo os cursos online. O e-learning é uma temática que entrou definitivamente na agenda educativa e constitui uma alternativa válida, pois estimula a autoaprendizagem. Ou seja, é uma evolução necessária para o contexto corporativo face aos requisitos da sociedade atual – uma sociedade da informação, da aprendizagem e do conhecimento. Aliando-se os dispositivos computacionais com a comunicação móvel celular obtém-se a computação móvel, que permite a um aprendente acessar conteúdos e interagir com professores/instrutores/tutores e outros participantes, praticamente em qualquer lugar. Neste contexto de aprendizagem, com mobilidade em ambientes virtuais de aprendizagem por meios de dispositivos móveis, tem-se o denominado “Mobile Learning” (m-learning), ou seja, o Aprendizado Móvel. Basicamente, o m-learning faz uso das tecnologias de redes sem fio, dos novos recursos e aplicativos fornecidos pela telefonia celu38 lar - tais como transmissão de fotos, serviços de e-mail, WhatsApp, SMS, MMS -, PDAS, notebooks e tablets. Com esses novos recursos e ferramentas, a educação à distância pode abranger um público maior e diferenciado. Abre novas possibilidades para os processos de ensino e de aprendizagem, principalmente no âmbito da formação continuada de profissionais que realizam muitas atividades externas. Nesse cenário, de diversificação e evolução tecnológica, reunidos na denominação Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC), é desejável incorporar nas organizações formas de aprendizagens com conteúdos interativos, de qualidade e também em formato multimídia. As informações que até então eram disponibilizadas apenas por um expositor, nos últimos anos, passaram a ter seu conteúdo distribuído entre diversos produtos midiáticos. Com esta nova possibilidade de distribuição de conteúdos, deuse abertura a uma nova forma de comunicação chamada Narrativa Transmídia. A narrativa transmidiática, segundo Henry Jenkins, na qual cada novo texto elaborado nas múltiplas plataformas de mídia contribui de maneira distinta e valiosa para a compreensão do todo, pode ser incorporada nos processos de aprendizagens das organizações atendendo públicos diversos, atraídos por uma variedade de estímulos. Utilizando diferentes plataformas — tais como televisão, internet, HQs, videogames, dispositivos SAIBA MAIS ! A Horizon Report apresenta tendências sobre o contexto do ensino-aprendizagem que valem a pena pesquisar: • Cursos On-line Abertos de Massa; • Impressão 3D; • Tecnologia Trajável. • Sala de Aula Invertida (Flipped Classroom); • Assistentes Virtuais. • Bring Your Own Device (BYOD), Makerspaces, Wearable Technology, Adaptive Learning Technologies, The Internet of Things. móveis, jornais, quadrinhos — pode-se desdobrar um tema candente que desperte o interesse do aprendente por novas informações sobre o conteúdo demonstrado, sendo explorado em diferentes expositores. Seria como uma arte de construir mundos. São utilizadas estratégias, nessa metodologia, de interatividade e colaboração, oferecendo em cada mídia experiências de mundo que sejam únicas e exclusivas, desde que esse mundo seja estruturado de forma coesa e coerente. O Blended Learning (b-learning), conhecido como a formação mista, modelo misto de aprendizagem, formação combinada ou ainda como aprendizagem híbrida, é um método de ensino à distância que vem associar o e-learning ao ensino presencial. Esse formato de aprendizagem tem a intenção de aproveitar o melhor dos princípios de EaD combinado com o mificação (gamification). Tratase de uma estratégia de aplicação de elementos e mecânica de design de jogos no contexto educativo, formatada em atividades das mais diversas áreas, de modo a torná-las experiências mais divertidas, interessantes e atraentes. O jogo pode ser desenvolvido na forma de desafios ou missões e, durante as atividades propostas, têm-se as recompensas e o reconhecimento pelo bom desempenho. Nas organizações, esse processo de aprendizagem está sendo incorporado para estimular empregados no alcance de resultados através de orientação para a meta, instigando a persistência, a aprendizagem por repetição ou a colaboração com os pares. Anualmente a Horizon Report, iniciativa da New Media Consortium (NMC) e da EDUCAUSE Learning Initiative (ELI), publica um relatório para traçar as tecnológicas emergentes no campo do ensino-aprendizagem. As edições de 2013 e 2014 destacaram a gamificação, trazendo exemplos de como aplicar essa metodologia na rotina do trabalho. A edição de 2014 destacou que os games na “educação promovem engajamento em pensamento crítico, resolução criativa de problemas e trabalho em equipe - habilidades que levam a soluções para os dilemas sociais e ambientais complexos”. Foto | freeimages.com ensino em sala de aula. Nessa linha de pensamento, a interação provocada pelo ensino presencial é indispensável e salutar para a formação dos aprendentes, pois o componente relacional promove a troca de experiência entre os participantes influenciando positivamente o processo de ensino -aprendizagem. Diante desse cenário, o ensino presencial segue uma tendência de introduzir as tecnologias na sala de aula, para que a interação entre os aprendentes possa ser proporcionada tanto pelo real quanto virtual. Nesse contexto, aparece mais uma tendência que pode ser incorporada na educação presencial ou à distância: a ga- O uso do aprendizado móvel permite alcançar um público maior e diferenciado 39 Foto | freeimages.com Formulada por Albert Bandura, o Social Learning Theory ou Teoria da Aprendizagem Social destaca que as pessoas podem aprender por meio da observação de outras pessoas que praticam um determinado comportamento. Para Bandura, “o aprendizado seria excessivamente trabalhoso, para não mencionar perigoso, se as pessoas dependessem somente dos efeitos de suas próprias ações para informá-las sobre o que fazer. Por sorte, a maior parte do comportamento humano é aprendido pela observação através da modelagem. Pela observação dos outros, uma pessoa forma uma ideia de como novos comportamentos são executados e, em ocasiões posteriores, esta informação codificada serve como um guia para a ação.” O Social Learning já é uma prática comum e rotineira. Na ausência de treinamentos formais, os indivíduos aprendem observando pessoas mais experientes ao realizarem suas atividades, para então copiar e executar. Com base nessa teoria, muitas práticas de aprendizagem passaram a ser desenvolvidas e acompanhadas pela gestão de pessoas, passando a ser treinamento formal. Capacitações em serviço ou in loco são exemplos mais comuns. Nesta perspectiva, tem-se o On The Job Training, que é uma modalidade de ensino realizada no local do trabalho, onde o profissional aprende à medida que executa as tarefas do dia a dia. Trata-se de um processo formal de aprendizagem que possibili40 ta ao profissional adquirir novos conhecimentos e habilidades praticando juntamente com um instrutor capacitado. Algumas práticas são julgadas como modismo, outras já são realidades, mas sem dúvidas todas elas são formas atrativas que nos levam a repensar o ensino-aprendizagem no ambiente corporativo, que vem buscando ser mais dinâmico e menos tradicional, agregando mais valor às organizações e maior competitividade frente a um mercado cada vez mais exigente. As tendências são fundamentais para inspirar novas alternativas para a formação dos funcionários, pois a busca contínua pelo conhecimento passou a ser, dentro do cenário apresentando, fator importante para indivíduos e organizações. Nessas condições, os profissio- nais da área de desenvolvimento de pessoas têm o desafio de se adaptar a esses novos contextos, ressignificando o ensino em sala de aula, quebrando paradigmas e customizando para sua realidade as diversas formas de aprendizagem nas organizações. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARGYRIS, Chris (1978), Organizacional Learning , em co -autoria com Donald Schon. DODGSON, Mark (1993). Organizational Learning: a review of some literatures. FIOL, C. M., e LYLES, M. A. (1985). Organizational learning. LIMA, J.R. e CAPITÃO, Z. (2003). e-Learning e e-Conteúdos. SENGE, Peter M. (1990). A quinta disciplina. cine Os Erros e acertos de Pablo Escobar Maurício Cruz Secretário executivo de Desenvolvimento do Modelo de Gestão e coordenador geral do Instituto de Gestão Pública de Pernambuco Governador Eduardo Campos Título original: Narcos (Season 1) Gênero: Drama, Policial Duração: 496 minutos Ano de lançamento: 2015 Direção: Andrés Baiz, Fernando Coimbra, Guillermo Navarro e José Padilha Produção: Netflix e Gaumont International Television Um jipe encabeça um comboio de caminhões que inicia a travessia de uma ponte. No fim da ponte, o jipe é parado por um destacamento do exército fortemente armado. O militar no comando do destacamento da incorruptível DAS, tropa de elite do exército colombiano, inicia o diálogo com o passageiro do jipe: — Buenas. És Pablo Escobar? — Onde está o Felipo? — O Felipo foi preso. — Besteira... O Felipo trabalha para mim. — Ele trabalhava para você. Agora está preso. O que acha disso? O motorista do jipe, irritado e impaciente, intervém na conversa com um arrogante “Você sabe com quem está falando, soldado?”. Má ideia... O oficial, desafia- dor, interrompe com um sonoro “Cala a boca! Eu não estou falando com você!” e assume a postura do “fechar do tempo”. Assumindo o controle da situação, o passageiro do jipe dirige um “Tranquilo, Gustavo. Calma” para o seu motorista e, saindo do carro, completa a intervenção com um “Mostre respeito”. Já em pé, e olhando fixamente para o militar, replica: 41 cine — Agora, qual é o problema, Sr. José Luis? Aturdido, mas ainda desafiador, o militar reinicia o diálogo: — Como sabe o meu nome? — Você é o Coronel José Luis Herrera. Aquele outro militar atrás de você é Nacho Ibarra. Ali temos o Garcia, o Lopes... Aquele é o Pinella? Sim, é o Pinella. E com o Phillipe está o Esperanza. — Não estou nem aí. Abram os caminhões. Não tenho o dia todo. Aberto o primeiro caminhão, o militar depara-se com um enorme carregamento de eletrônicos contrabandeado. Olha a carga e dirige-se ao nosso protagonista: — Diga-me uma coisa, senhor Escobar. Quem diabos você pensa que é? Você nem se preocupa em esconder seu contrabando. — É porque eu pago por esse privilégio, coronel. — Ah é? Não diga... Um dos militares do destacamento, com uma expressão inconfundível de “agora te pegamos”, pergunta: “Cadê os papéis de importação? Precisa de documentos para esses televisores!” Impassível, Pablo responde: — Pode levá-los. — Desculpe, Sr. Escobar. Não somos a polícia de Medellín, que ganha salário de miséria. — Mas os televisores não são para você. — E é pra quem? — É para o Carlitos... seu filho. 42 A expressão de confiança desvanece-se no rosto do soldado. Escobar continua: — Ele não gostaria de ter uma TV no quarto? Escobar dirige-se a outro soldado: — E aí, Pinella. Sua filha acabou de tirar a habilitação, certo? Tenho um aparelho de som automotivo aqui que é muito legal, muito bom. O seu amigo aí ao lado, o Lopes... tem uma esposa realmente linda, certo? É uma gata! Lopes, sua esposa é muito linda, irmão. O que ela faz com um cara como você? Acho que ela merece algumas joias, não? Que tal meus rapazes levarem alguns presentinhos? E coronel, como está a sua mãe? Ela acabou de sair do hospital, certo? O motorista de Escobar, para espanto do militar, é quem responde: “Sim, ela está melhor”. Escobar responde: “Que bom, ficamos muito felizes com isso.” Por fim, olhando cada um dos militares nos olhos, Pablo Escobar completa: — Senhores... vou lhes dizer quem sou. Eu sou Pablo Emílio Escobar Gavíria. Meus olhos veem tudo, estão em todos os lados. Isso significa que vocês não podem mexer um só dedo em toda a Antioquia sem que eu saiba. Entenderam? Nem um dedo! Um dia eu vou ser presidente da República da Colômbia. Ganho a vida fazen- do negócios... vocês podem ficar calmos e aceitar minha proposta, ou podem aceitar as consequências. Prata ou chumbo. Vocês decidem”. Os diálogos acima, reproduzidos de uma das primeiras cenas da ótima – e polêmica - série Narcos, do diretor José Padilha, produzida pelo canal de streaming Netflix, ressaltam um dos vários ângulos a partir dos quais a obra pode ser analisada. Pois podemos vê-la a partir da ótica artística, alimentando a discussão sobre em que medida a falta do domínio do idioma espanhol pelo baianíssimo Wagner Moura impactou a sua construção do personagem antioquiano Pablo Escobar. Também sob o prisma da identidade da narrativa, admitindo que a série ora passeie pelo documentário romantizado, ora pelo thriller de ação, e ora pelo drama policial. Ou ainda, na ótica política, a partir da reflexão sobre a maneira como a série retrata didaticamente o imperialismo norte-americano na região, o crescimento do mercado das drogas, o surgimento do narcotráfico e a crescente influência dos narcotraficantes na política colombiana, fenômenos característicos dos anos 1970 e 1980. Olhemos a série, entretanto, sob o prisma da gestão, a partir do que ela apresenta sobre a história da Organização “Cartel de Medellín” e os fatores que influenciaram seu sucesso. Foquemos nossa atenção sobre como o pequeno contrabandista colombiano Pablo Escobar, a partir de um encontro com um químico chileno chamado Barata - que estava à procura de sócios para expandir para o Chile e Colômbia seu mercado de produção e comercialização de certo pozinho branco, que vendia, à época, apenas no Peru - conseguiu transformar-se em um dos homens mais ricos do planeta ao converter um pequeno negócio num dos empreendimentos mais lucrativos do mundo, utilizando para tal – talvez inconscientemente – ferramentas e técnicas de gestão que somente anos depois passaram a ser consideradas instrumentos eficientes para uma gestão de resultados. E nesse prisma, pincemos das cenas de Narcos algumas lições que julgamos importantes sobre liderança e gestão, a partir da maneira como a série retratou Pablo Escobar ao longo de dez capítulos: 1. Construa no dia a dia a sua liderança: Ainda que você seja indubitavelmente um líder carismático, nunca deixe de aproveitar as oportunidades de reforçar sua liderança, preferencialmente por meio da sua competência técnica, das suas habilidades e dos seus recursos. principalmente aqueles que configuravam ameaças ao seu negócio, e saber como usá-las a seu favor. 3. Assuma riscos – mas com foco, encarando somente aqueles que conduzam à Visão de Futuro do seu negócio: Escolha desafios que o forcem a crescer, a aprender e a se desenvolver. Mas nunca permite que as ambições pessoais influenciem seu julgamento sobre quando assumir riscos ou sobre quais riscos podem ser assumidos. 4. Faça a lição de casa: Quando for preciso tomar decisões drásticas, não hesite. Faça o que deve ser feito, com rapidez e precisão. E não delegue: se for preciso cortar, use a faca você mesmo. 5. Cerque-se das pessoas certas: Tenha em sua equipe alguém em quem você possa confiar cegamente e divida com essa pessoa os segredos estratégicos do seu negócio. E inicie o quanto antes o trabalho necessário para fazer dessa pessoa o seu sucessor. 6. Desapegue-se: Esteja pronto para, a qualquer momento, desfazer-se do seu negócio com lucro, e recomeçar do zero, com um novo negócio em outro mercado. Às vezes, o custo de manter a hegemonia de uma Organização na arena competitiva é elevado demais, e você poderá ver-se forçado a adotar estratégias cada vez mais arriscadas e métodos cada vez mais extremos para sobreviver, o que com certeza o levará a perder o controle do negócio. Assim, a nosso ver, Narcos também retratou, e de maneira intrigante, a faceta pouco explorada de “business man” de Pablo Escobar, e nos convidou a refletir sobre a maneira como ele, através de suas ações e decisões, se relacionou, ao longo da sua vida, com o seu poder absoluto. Por todos esses aspectos, recomendamos a série. E esperamos que, nós gestores, ao assisti-la, aprendamos muito com os erros e os acertos de Pablo Escobar. 2. Diminua a incerteza: Tenha informações e saiba como usá-las: Conheça bem o seu mercado e o seu produto, para melhor cenarizar o futuro e tomar decisões. Acumule uma quantidade cada vez maior de informações sobre os stakeholders que atuam no seu mercado, 43 Acadêmicos da Gestão A Contribuição dos financiamentos externos multissetoriais na estratégia de INVESTIMENTOS DO GOVERNO DE PERNAMBUCO NA GESTÃO 2007 A 2014 Cintia Maria da Cunha Albuquerque Graduação e Mestrado em Psicologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Pós-graduada em Administração Pública e Gerência de Cidades Daniely Andressa da Silva Graduada em Direito pela Universidade Positivo e em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Paraná. Especialista em Ciências Jurídico Ambientais pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Mestre em Direito (Ciências Jurídico-Ambientais) pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Advogada. Professora universitária ministrando as disciplinas de Direito Ambiental, Direito Urbanístico, Direito Empresarial e Direito Público RESUMO O presente artigo tem como objetivo analisar a importância da Captação de Recursos para efetivação da estratégia de investimentos definida pelo Governo de Pernambuco na Gestão 2007-2014. Mais especificamente, pretende-se apontar a participação dos financiamentos externos, através da contratação de Operações de Crédito Multissetoriais, no montante de recursos aplicados pelo Estado de Pernambuco em investimentos públicos para a população. Dentre as parcerias feitas pelo Governo de Pernambuco com bancos internacionais, duas merecem destaque pelo que representam no montante de investimentos estaduais, que são as cooperações com o Banco Mundial e com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Nos últimos anos, esses parceiros externos vêm ampliando a sua participação na estratégia de investimento do Governo de Pernambuco, sendo responsáveis, nos últimos quatro anos, pelo ingresso de quase R$ 3,5 bilhões para gastos com investimentos públicos. Além dos recursos, muitos resultados sociais já foram alcançados, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida da população de Pernambuco. Essas parcerias com os agentes financiadores internacionais precisam ser perenizadas, pois podem ser consideradas como um dos caminhos possíveis para que a eficiência no gasto público seja o foco no cotidiano de trabalho dos servidores públicos, com vistas, sempre, à melhoria dos serviços entregues à população. Palavras-chave: Captação de Recursos, Financiamentos Externos, Estratégia de Investimentos. 44 1 Introdução O presente artigo tem como objetivo analisar a importância da Captação de Recursos para efetivação da estratégia de investimentos definida pelo Governo de Pernambuco na Gestão 2007-2014. Mais especificamente, pretende-se apontar a participação dos financiamentos externos, através da contratação de Operações de Crédito Multissetoriais, no montante de recursos aplicados pelo Estado de Pernambuco em investimentos públicos para a população. Dito de outra forma, o objetivo deste trabalho consiste em apresentar como os recursos advindos de Operações de Crédito externas vêm contribuindo para a implementação de políticas públicas prioritárias e, consequentemente, para a melhoria dos serviços públicos entregues à população pernambucana. O interesse pelo tema justifica-se pela necessidade de reflexão acerca da contribuição de fon- tes alternativas de financiamento na estratégia de investimentos do Governo de Pernambuco (Gestão 2007-2014), na medida em que esses recursos vêm se configurando como fundamentais para efetivação das prioridades de Governo. Por outro lado, não são encontradas na academia produções científicas suficientes que reflitam sobre o assunto, sendo a captação de recursos, na maioria dos artigos, trabalhada apenas no sentido do repasse de recursos públicos para execução por entidades do terceiro setor. Assim, é preciso que o tema passe a ser debatido academicamente, de modo que a revisão do assunto comece a gerar conhecimento específico, auxiliando os Governos na implantação de melhores políticas públicas. Para alcançar os objetivos, na primeira parte do artigo será feito um breve histórico sobre a implantação do Modelo de Gestão “Todos por Pernambu- co”, a partir de 2007, buscando situar a identificação das necessidades e soluções de financiamento para as ações prioritárias a serem implementadas pelo Governo a partir de então, com foco nas Operações de Crédito internacionais. Na sequência, serão apresentados os principais parceiros financiadores externos, caracterizando as modalidades de financiamento mais contratadas pelo Governo de Pernambuco e apresentando os resultados já alcançados com essas parcerias a partir da implantação do Modelo de Gestão “Todos por Pernambuco”. Por fim, serão elencadas algumas características que parecem contribuir positivamente para o alcance dos resultados apresentados, bem como os desafios e oportunidades de melhorias que ainda precisam ser enfrentados para perenização da estratégia de Captação de Recursos em Pernambuco. 2 O modelo de gestão “Todos por Pernambuco“ e sua estratégia de financiamento para os investimentos públicos Ainda na Gestão 20072010, o Governo de Pernambuco implantou o Projeto “Todos por Pernambuco”, que teve como principal objetivo planejar as ações de Governo, com foco na estruturação de um Modelo de Gestão que priorizasse as demandas da população, levando em consideração os recursos públicos disponíveis (financeiros, humanos e físicos). Com isso, foi elaborado o primeiro Mapa da Estratégia, composto por objetivos estratégicos e metas prioritárias, que passaram a ser monitoradas sistematicamente. Em 2011, foi elaborado o segundo Mapa da Estratégia do Governo de Pernambuco, consolidando o Modelo de Gestão “Todos por Pernambuco”, contendo as prioridades para a Gestão 2011-2014. A partir desse esforço, os instrumentos formais de planejamento público (Plano Plurianual - PPA e a Lei Orçamentária 45 Anual- LOA) dos exercícios seguintes já foram elaborados de modo a refletirem as prioridades elencadas nos Mapas da Estratégia referidos. Não pode deixar de ser mencionado que, dentre as ações prioritárias definidas pelos Mapas, uma de destaque foi o investimento em infraestrutura para o desenvolvimento, além do reforço de políticas sociais fundamentais, como educação, saúde e segurança. Com isso, o Estado, que antes possuía uma política de investimentos mais conservadora, passou a aplicar montantes mais altos em investimentos públicos, gerando a necessidade de captar recursos para além das suas fontes próprias de financiamento. Dentre as formas alternativas de Captação de Recursos para financiamento público estadual, duas aqui serão destacadas, que são as Transferências Voluntárias da União e as Operações de Crédito. Segundo o site do Tribunal de Contas da União (TCU): Transferências voluntárias são os recursos financeiros repassados pela União aos Estados, Distrito Federal e Municípios em decorrência da celebração de convênios, acordos, ajustes ou outros instrumentos similares cuja finalidade é a realização de obras e/ou serviços de interesse comum e coincidente às três esferas do Governo). 1 46 Por sua vez, as Operações de Crédito são regulamentadas pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF ou Lei Complementar 101/2000) e por Resoluções específicas do Senado Federal1, podendo ser definidas como empréstimos feitos pelos entes públicos com bancos nacionais e internacionais, com o objetivo de financiar projetos ou políticas públicas. A principal diferença entre essas duas fontes de financiamento é que, enquanto as Transferências Voluntárias caracterizam-se como repasses de recursos sem ônus financeiro para o ente, as Operações de Crédito são empréstimos, cujos recursos estão sob regime de aplicação de juros, que deverão ser pagos em longo prazo. A LRF define que “o montante previsto para as receitas de operações de crédito não poderá ser superior ao das despesas de capital constantes do projeto de lei orçamentária” (Brasil, 2000, art.11, § 2º). Dessa afirmação, depreende-se que as receitas de Operações de Crédito financiam apenas Despesas de Capital que, segundo a Lei 4.320/1964, são classificadas em investimentos, inversões financeiras e transferências de capital (Brasil, 1964, Capítulo III). Como as Operações de Crédito geram dívida para o ente público, os marcos legais que as regem estabelecem limites legais que visam garan- tir o equilíbrio fiscal, observados sempre que necessário e a qualquer tempo. Esses limites consistem em: Art. 7º As operações de crédito interno e externo dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios observarão, ainda, os seguintes limites: I - o montante global das operações realizadas em um exercício financeiro não poderá ser superior a 16% (dezesseis por cento) da receita corrente líquida, definida no art. 4º; II - o comprometimento anual com amortizações, juros e demais encargos da dívida consolidada, inclusive relativos a valores a desembolsar de operações de crédito já contratadas e a contratar, não poderá exceder a 11,5% (onze inteiros e cinco décimos por cento) da receita corrente líquida (SENADO FEDERAL. Resolução nº 43/2001. Além disso, existe no Governo Federal, mais especificamente na Secretaria do Tesouro Nacional (Ministério da Fazenda) um corpo técnico responsável por analisar os pleitos de financiamento apresentados pelos entes subnacionais, verificando se os limites e condições legais foram cumpridos. Esta prerroga- RESOLUÇÃO SENADO FEDERAL Nº 40, DE 2001, que dispõe sobre os limites globais para o montante da dívida pública consolidada e da dívida pública mobiliária dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, em atendimento ao disposto no art. 52, VI e IX, da Constituição Federal. tiva também está prevista na Resolução do Senado nº 43/2001, em seu Art. 21, que afirma: Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios encaminharão ao Ministério da Fazenda os pedidos de verificação de limites e condições para a realização das operações de crédito de que trata esta Resolução (SENADO FEDERAL. Resolução nº 43/2001). Diante do exposto, é possível verificar que a contratação de empréstimos, sejam nacionais ou internacionais, envolve um conjunto de atores que precisa estar tecnicamente preparado para seguir todos os trâmites legais e burocráticos necessários. A profissionalização da gestão pública, com a realização de concurso público e institucionalização de carreiras de Estado nas áreas de planejamento e gestão foram passos importantes dados pelo Governo de Pernambuco, que contribuíram para o alcance de uma maior eficácia na área de captação de recursos, como será explorado no tópico a seguir. 2.1 GESTÃO DE CAPTAÇÃO DE RECURSOS NO ÂMBITO DO MODELO DE GESTÃO Devido à complexidade envolvida nas contratações de Operações de Crédito e, em 2 paralelo, à crescente demanda de fontes alternativas para financiamento das prioridades estratégicas, a partir de 2011, o Governo de Pernambuco estruturou uma equipe específica para gestão dos principais empréstimos contratados pelo Estado. Essa equipe, situada na Secretaria de Planejamento e Gestão (SEPLAG), foi concebida como parte integrante do Modelo de Gestão “Todos por Pernambuco” com foco de atuação voltado para análise das necessidades de financiamento das prioridades contidas no Mapa da Estratégia 2011-2014. Em 2008, foram criadas três carreiras de Estado, ligadas ao Modelo de Gestão, com o objetivo de contribuir para a estruturação de um corpo de servidores públicos qualificado, com condições de dar suporte técnico para as áreas meio da máquina pública: administração, planejamento e gestão, controladoria. As carreiras foram criadas por meio de Lei Complementar, denominadas de Gestores Governamentais, com especialidades em: Gestão Administrativa (Lei Complementar nº 117/2008); Planejamento, Orçamento e Gestão (Lei Complementar nº 118/2008); Controle Interno (Lei Complementar nº 119/2008), que somadas às carreiras de Auditor Fiscal (Fazenda) e de Procuradores do Estado, for- mam o Núcleo de Gestão do Estado de Pernambuco. A equipe de Captação de Recursos/SEPLAG é composta por Gestores Governamentais – especialidade Planejamento, Orçamento e Gestão, que tem como atribuição específica: Coordenar as fases de prospecção, preparação, negociação, monitoramento e acompanhamento de financiamentos de caráter multissetorial para os projetos estratégicos do Governo; supervisionar e orientar tecnicamente as Secretarias e Unidades Orçamentárias acerca do processo de captação, de acompanhamento e da prestação de contas de convênios e operações de crédito do Estado; promover o relacionamento do Estado com organizações nacionais e internacionais de financiamento; oferecer apoio às demais Secretarias de Estado no processo de captação, de acompanhamento e da prestação de contas das operações e convênios assinados (SEPLAG, Regulamento interno da Secretaria de Planejamento e Gestão). Cabe destacar que, mesmo antes da atuação da SEPLAG, o Governo contratava empréstimos junto a organismos RESOLUÇÃO SENADO FEDERAL Nº 43, DE 2001, que dispõe sobre as operações de crédito interno e externo dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, inclusive concessão de garantias, seus limites e condições de autorização, e dá outras providências. 47 nacionais e internacionais, através das demais Secretarias de Estado, que buscavam nesses financiamentos recursos para implantação de projetos específicos, chamadas de Operações Setoriais. A partir da estruturação da equipe da SEPLAG em 2011, o Governo passou a priorizar as Operações Multissetoriais, que reúnem empreendi- mentos prioritários de diversos setores, buscando aperfeiçoar a Captação de Recursos e dar condições para que as prioridades definidas sejam executadas. Nesse sentido, a SEPLAG atua como interlocutor entre os agentes financiadores, setoriais do Governo e órgãos federais que exercem o controle já mencionado. Com isso, toda a comunicação entre o Governo e os Bancos, nas Operações Multissetoriais, é feita institucionalmente pela SEPLAG, que também é responsável pela gestão junto às setoriais executoras, através do acompanhamento e monitoramento sistemático para cumprimento dos acordos firmados com os agentes financeiros. 3 Principais parceiros internacionais para efetivação da estratégia de investimento em Pernambuco Dentre as parcerias feitas pelo Governo de Pernambuco com bancos internacionais, duas merecem destaque pelo que representam no montante de investimentos estaduais, que são as cooperações com o Banco Mundial e com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Ambos possuem linhas de financiamento flexíveis, que estimulam a implementação de políticas públicas, além de ofertarem também financiamentos tradicionais. O Banco Mundial1 foi criado em 1944, com o objetivo de fornecer assistência técnica e financeira a países em desenvolvimento, contribuindo para reduzir a pobreza e as desigualdades sociais em todo o mun- do. Atualmente, o Grupo Banco Mundial é composto por cinco organizações e cento e oitenta oito países acionistas, sendo o Brasil um de seus membros. Já o BID2 iniciou suas atividades em 1959 e atende a países da América Latina e Caribe, também com o objetivo de reduzir a pobreza e as desigualdades em países em desenvolvimento, inclusive no Brasil. Na experiência com o Estado de Pernambuco, desde 2011, o Governo tem priorizado a contratação de empréstimos multissetoriais mais flexíveis, que permitem o financiamento da sua estratégia de investimentos. Dessa forma, ao invés de contratar empréstimos tradicionais, que financiem em- preendimentos específicos, a busca pela eficiência do gasto fez com o Governo de Pernambuco buscasse nesses parceiros modalidades de financiamento que ajudem a custear os diversos projetos prioritários contidos no Mapa da Estratégia. Nesse sentido, o Banco Mundial possui uma modalidade de financiamento denominada de Development Policy Loan (DPL), ou Empréstimo para Políticas de Desenvolvimento, que tem como característica o aporte de recursos atrelado ao compromisso do ente na implementação de políticas públicas e alcance de resultados pactuados previamente entre o mutuário e o Banco. Por sua vez, o BID disponibiliza aos entes públicos Informações sobre o Banco Mundial disponíveis em: http://web.worldbank.org/WBSITE/EXTERNAL/ EXTSITETOOLS/0,,contentMDK:20147466~menuPK:344189~pagePK:98400~piPK:98424~theSitePK:95474,00.html, acessado em 14/09/2014. Informações sobre o BID disponíveis em: http://www.iadb.org/pt/sobre-o-bid/sobre-o-banco-interamericano-de-desenvolvimento,5995.html, acessado em 14/09/2014. 3 4 48 modalidade de financiamento similar à do Banco Mundial, denominada de Policy Based Loan (PBL), ou Empréstimo baseado em Políticas, que apresenta flexibilidade semelhante ao DPL. Além das modalidades mencionadas acima, a carteira de projetos do Governo de Pernambuco junto ao Banco Mundial e ao BID conta com outros financiamentos, seja em modalidades tradicionais ou intermediárias. Os empréstimos tradicionais podem ser descritos como financiamentos a empreendimentos específicos, cujos recursos são desembolsados a depender do andamento da obra financiada. As modalidades intermediárias mesclam o controle da execução dos recursos com o alcance de metas vinculadas a indicadores de resultado de curto prazo, cujos aportes são realizados com base nesses dois critérios. De forma geral, as operações setoriais são contratadas em modalidades tradicionais ou intermediárias, enquanto que as multissetoriais estão todas sob gestão da SEPLAG, de forma centralizada e alinhada com a estratégia de Governo. Do total dos recursos ingressados desde 2011 pelos empréstimos feitos junto ao Banco Mundial e ao BID, em todas as modalidades, as Operações Setoriais somaram R$ 366 milhões, ou seja, 10% 5 do total da receita desses empréstimos nos anos de 2011 a 2014 (R$ 3.489,18 bilhões). Por outro lado, as Operações Multissetoriais, que representaram 90% do total, ingressaram o montante de R$ 3.125,69 bilhões nesse mesmo período, todas sob coordenação da SEPLAG e em modalidades flexíveis de financiamento, como já dito antes. Quando analisado o ingresso da receita de empréstimo por agente financiador, tem-se que o Banco Mundial representa 71% (R$ 2.486,95 bilhões) dos financiamentos externos, enquanto que o BID configura com 29% (R$ 1.002,23 bilhões) desses recursos. Desses montantes, mais de 90% foram aporte de recursos em Operações Multissetoriais flexíveis, tanto pelo Banco Mundial quanto pelo BID. Assim, é sensível a diferença percentual entre os desembolsos realizados pelas Operações Multissetoriais, quando comparadas com as Operações Setoriais, sendo as primeiras responsáveis por 90% do ingresso de recursos relativos aos empréstimos contratados junto aos bancos externos (Banco Mundial e BID). Esse comportamento vem contribuindo significativamente para que os investimentos prioritários sejam efetivados, uma vez que essa receita (das Operações Multissetoriais) configura- se, atualmente, como uma das principais fontes alternativas de financiamento para os empreendimentos prioritários. 3.1 RESULTADOS JÁ ALCANÇADOS COM A CAPTAÇÃO DE RECURSOS EXTERNOS A PARTIR DA IMPLANTAÇÃO DO MODELO DE GESTÃO “TODOS POR PERNAMBUCO” Como demonstrado, com a estrutura de gestão centralizada, a existência de financiamentos multissetoriais junto a diferentes organismos financiadores vem trazendo resultados positivos no escopo do Modelo de Gestão do Governo de Pernambuco, possibilitando a ampliação dos investimentos públicos no Estado através do crescimento sensível no ingresso de receitas de captação a partir do ano de 2012. O gráfico 1 (Anexo 01) apresenta o comportamento das despesas com investimentos do Governo de Pernambuco a partir de 2008, detalhadas por fonte específica, onde pode ser observado o acréscimo das despesas financiadas por Operações de Crédito Multissetoriais. Conforme aponta o gráfico, os empréstimos sob gestão da SEPLAG financiaram 34% das despesas com investimentos no Estado, entre 2012 e 20145, sendo R$ 954 milhões em 2012, R$ 1.186 bilhões em 2013 e R$ 954 milhões em 2014. Os valores para 2014 correspondem à liquidação até o mês de Julho/14. 49 Fonte: SEPLAG/ E-Fisco Gráfico 1 | Despesas com investimentos do Estado de Pernambuco Fonte: SEPLAG/ E-Fisco Gráfico 2 | Dívida Consolidada Líquida do Estado de Pernambuco Fonte: SEPLAG/ E-Fisco Gráfico 3 | Comportamento do Serviço da Dívida sobre a Receita Corrente Líquida do Estado de Pernambuco Fonte: SEPLAG/ E-Fisco Gráfico 4 | Investimentos realizados e previstos por PE – 2003-2014 50 Todos esses resultados vêm sendo alcançados sem prejudicar o equilíbrio fiscal no Estado que, apesar da ampliação da capacidade de investimento, continua a respeitar os limites legais previstos para os entes subnacionais. Dentre os indicadores que demonstram a boa situação fiscal do Estado e, por consequência, sua capacidade de realização de investimentos, está o controle do percentual de sua dívida consolidada sobre sua Receita Corrente Líquida, como demonstrado no gráfico 2 (Anexo 02). Nota-se que, mesmo com a forte presença de Operações de Crédito, a Dívida prevista para 2014 é de 51% da Receita, quando o máximo permitido pela legislação é o comprometimento de até 200% da Receita. Outro indicador que deve ser monitorado para fins de controle do impacto das Operações de Crédito na situação fiscal do Estado corresponde ao comportamento do Serviço da Dívida sobre a Receita Corrente Líquida, ou seja, o comprometimento anual com gastos relativos à Dívida Pública, que não pode ultrapassar 11,5% da receita do exercício. Como aponta o gráfico 3 (Anexo 03), a previsão para 2014 é que o Estado de Pernambuco comprometa apenas 6,7% da sua receita com o Serviço da Dívida, estando bem abaixo do limite estabelecido. Nesse cenário, como afirma Lopreato (1997, p.2), “os governos estaduais, por sua vez, manietados em termos de poder fiscal e sem recursos próprios para acompanhar a demanda de gastos, passaram a depender de outras fontes de financiamento”. Assim, a existência de uma política efetiva de captação de recursos é essencial, com foco, neste artigo, para as oportunidades de financiamento junto a organismos internacionais e multilaterais, que possuam linhas de crédito a entes públicos voltadas para indução do crescimento econômico e social. Para além da importância do recurso desses empréstimos, não pode deixar de ser mencionado que a cooperação com esses parceiros financiadores tem impulsionado a implantação de Políticas Públicas relevantes, que já apresentam resultados significativos para o Estado. No escopo desses empréstimos, foram monitoradas políticas de saúde, educação, desenvolvimento econômico, gestão fiscal, gênero, trabalho e qualificação profissional, assistência social, dentre outras. Como já dito, esses empréstimos externos, em modalidades flexíveis e multissetoriais, apoiam políticas públicas que sejam prioritárias para o ente e para o agente financiador, estabelecendo metas de resultados a serem obtidos em curto prazo. Dentre os resultados já alcançados, podem ser destacados: a implantação de Escolas Técnicas e Escolas de Tempo Integral, no setor Educação; a disseminação de centros de inclusão produtiva em todo o Estado, no setor Assistência Social; a oferta de mais consultas especializadas, através da implantação das Unidades Pernambucanas de Atendimento Especializado (UPAEs), no setor saúde etc. Afora esses resultados, os parceiros vêm estimulando uma cultura de gestão eficiente no Governo de Pernambuco, através da priorização, no escopo dos empréstimos, de suporte para desenvolvimento de sistemas de monitoramento e avaliação voltados para diversos setores sociais, bem como o reforço sempre presente às iniciativas desenvolvidas no Estado para profissionalização da Gestão Pública. A Constituição Federal, em seu artigo 37, prevê que: A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência... (Brasil, 1988, art.37). Assim, pode-se dizer que, indiretamente, a contratação das Operações de Crédito também vem contribuindo para que os princípios fundamentais da Administração Pública sejam cumpridos, especialmente no que tange aos princípios da publicidade e da eficiência. Na medida em que os sistemas de monitoramento e avaliação de políticas públicas são implantados, mais transparência e publicidade são dadas às ações governamentais e, fundamentalmente, os processos são otimizados e liderados por equipes qualificadas, que exercem suas funções com vistas ao alcance de melhores resultados. 4 Conclusão Com base nos dados apresentados, é possível perceber que, nos últimos anos, os parceiros externos ampliaram a sua participação na estratégia de investimento do Governo de Pernambuco, sendo responsáveis, nos últimos quatro anos pelo ingresso de quase R$ 3,5 bilhões para gastos com investimentos públicos. Além dos recursos, muitos resultados sociais já foram alcançados, apontando como esses empréstimos vêm contribuindo para a melhoria da qualidade de vida da população de Pernambuco. Um dos fatores decisivos que contribuíram para essa ampliação diz respeito à oferta, pelos Bancos, de modalidades mais flexíveis de financiamento, que apoiam os entes públicos na implantação de Políticas Públicas prioritárias. Além disso, outro fator que parece ter contribuído para o fortalecimento da captação de recursos externos foi a iniciativa de profissionalização da gestão pública vivenciada no Estado a partir de 2007, que, em 2011, centralizou a gestão da carteira de empréstimos multissetoriais na SEPLAG. Com isso, mesmo vivenciando um cenário de desidratação da receita própria a partir de 2011, o Estado conseguiu ampliar seus investimentos, passando a investir seis vezes a mais do que o que era investido no Estado até 2006. Como mostra o gráfico 4 (Anexo 04), no quadriênio 2003-2006, foram investidos cerca de R$ 2 bilhões pelo Governo 51 de Pernambuco. No quadriênio 2007-2010, esse montante passou para R$ 6 bilhões e a meta é fechar a gestão 2011-2014 com o investimento de R$ 13 bilhões. O desafio que se apresenta, então, é manter o nível de investimento em Pernambuco, que tem contribuído para o crescimento do Estado, através de parcerias com agentes financiadores, sem ferir os limites estabelecidos pelos marcos legais que regulam essas operações. Fortalecer a captação estratégica de recursos, de modo a dar condições para que os Governos consigam continuar entregando mais serviços públicos para a população, sem comprometer a saúde fiscal do Estado, como já vem sendo feito. Ademais, a parceria com o Governo Federal precisa ser ainda mais estreita, de modo a permitir que os tempos sejam diminuídos e os processos simplificados, sem deixar de cumprir todas as exigências necessárias para efetivação de parcerias com os agentes financiadores. Sobre essas relações intergovernamentais, Lopreato afirma que: As verbas obtidas através de negociações com o governo central e suas agências de crédito, do financiamento externo e do endividamento no mercado interno com o sistema bancário privado e com os bancos públicos dos próprios estados ampliaram o poder de gasto dos estados e passaram a compor o quadro das relações intergovernamentais (LOPREATO, 1997,p.3). 52 Por fim, reforça-se que é preciso continuar incentivando a profissionalização da gestão pública, formando equipes capazes de contribuir para elaboração, negociação e monitoramento de projetos que, de fato, contribuam para uma captação e utilização de recursos da forma mais eficiente possível. Como afirma Meirelles: o princípio da eficiência exige que a atividade administrativa seja exercida com presteza, perfeição e rendimento funcional. É o mais moderno princípio da função administrativa, que já não se contenta em ser desempenhada apenas com legalidade, exigindo resultados positivos para o serviço público e satisfatório atendimento das necessidades da comunidade e de seus membros (MEIRELLES, 2008, p.94). Como dito, muitos resultados já foram alcançados e a Captação de Recursos apresenta-se, atualmente, como ferramenta fundamental para que os investimentos públicos sejam efetivados. Nesse sentido, as parcerias com os agentes financiadores internacionais precisam ser perenizadas, pois, podem ser consideradas como um dos caminhos possíveis para que a eficiência no gasto público seja o foco no cotidiano de trabalho dos servidores públicos, com vistas, sempre, à melhoria dos serviços entregues à população. REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 35 ed. São Paulo: Saraiva, 2005. BRASIL. Presidência da República. Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964. Estatui Normas Gerais de Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 de março de 1964. BRASIL. Presidência da República. Lei Complementar nº 101, de 04 de maio de 2000. Estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 04 de maio de 2000. LOPREATO, F L C. Um novo caminho do federalismo no Brasil? Economia e Sociedade, Campinas, (9): 95-114, dez. 1997. MEIRELLES, H. L. Direito Administrativo Brasileiro. 21. ed. São Paulo: Malheiros, 2008. SENADO FEDERAL. Resolução nº 43/2001. Dispõe sobre as operações de crédito interno e externo dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, inclusive concessão de garantias, seus limites e condições de autorização, e dá outras providências. SEPLAG.Regulamento interno da Secretaria de Planejamento e Gestão (não publicado). TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO (TCU). humor 53 Espaço aberto para a gestão pública Boas práticas, planejamento, estratégia governamental, contas públicas, capital humano. E mais: entrevistas, matérias especiais, opiniões, artigos técnicos, dicas bibliográficas, filmes e humor, apresentados de maneira direta e convidativa. Para pensar. Para refletir. Para formar opinião. Quer colaborar? Envie sugestões de temas que você gostaria de ver na nossa revista para [email protected] TODO JEEP FEITO EM PERNAMBUCO TEM MUITO DOS PERNAMBUCANOS. 100 95 75 25 5 0 Com muito trabalho e planejamento, o nosso Estado mostrou que sabe fazer. E inaugurou, aqui, um polo automotivo. A fábrica da Jeep traz, junto com ela, uma rede de fornecedores com 16 empresas. Além disso, também, teremos um dos maiores centros de tecnologia automotiva do mundo, estimulando a vocação da nossa gente para a pesquisa e a inovação. 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