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FESTA Há quem viva entre recepções oficiais nos jardins da Cidade Alta e galas no
palácio oficial do Presidente. Para trás ficam os que nada têm, num país em que a
taxa de desemprego é de 80%
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«Dust Bells 2 - Record
Album in Rear Window»
O revisor
Hoje há festa em Luanda. Hoje, um dia qualquer. Um bebé nasceu entre o lixo,
próximo de um esgoto a céu aberto, alguém atirou uma lata de «gasosa» para
um chão imundo, alguém lhe deu um pontapé, alguém a recolheu para vender
no mercado da sobrevivência, alguém caiu de um prédio sem varanda, sem
água, sem luz, cheio de nada, cheio de gente, construído em altura, como em
extensão se construíram quilómetros de barracas instáveis e insalubres,
chamados musseques. Todos no âmago desta Luanda, uma camisa-de-forças
recheada de automóveis, quase tantos como os buracos das suas ruas. Esta
Luanda encerra toda a Angola, encerrando-se da Angola que resta. A
assimetria entre a capital e as províncias é enorme. E parece menor se
comparada com as paralelas assimétricas que dividem os ricos
inacreditavelmente ricos, os inacreditavelmente-novos-ricos e os pobres, ainda
inacreditavelmente mais pobres, de Luanda. Hoje, alguém morreu de cólera, de
paludismo, alguém arrasta feridas de guerra pela cidade, vende cigarros na rua,
lava o corpo na lama, chora ausências de nutrição, procura comida na lixeira,
foi assaltado por um miúdo, bebeu de mais, fumou de mais, abusou, foi
abusado, encontrou mais uma jazida de diamantes, inaugurou mais uma
torneira de petróleo. E alguém terá de abandonar o musseque com a família às
costas, a fugir das águas da chuva, do polícia que lhe diz para parar, para
pagar, «pentear», dar «gasosa», a correr de encontro à fome que já tinha, nos
dias pesados do calor, sem mais nada que isso, só uma estranha alegria que
faz o angolano sempre sorrir. «Estamos sempre a subir». Tão certo como o
contrário.
Como o Benfica ficou rosa
para ajudar o regime
Uma pequena grande ideia
para esta semana
Passe um dia com os seus
avós
Postal Ilustrado
As minhas férias
inesquecíveis
» Grandes dias pequenos
mundos
Nessa noite, cansada de trabalhar, cansada
porque não tem trabalho, sem coragem para
levantar-se entre os despojos do seu caos,
essa Luanda estava incapaz de comparecer
ao evento. Fazia anos - não seria elegante
dizer quantos - Isabel dos Santos,
primogénita do Presidente José Eduardo
dos Santos, que escolheu o Miami, um bar
da moda na ilha de Luanda, do qual é sócia,
para celebrar com coisa de setecentos amigos chegados. Todos os
convidados, escrutinados por um pelotão de seguranças, deviam vestir de
branco. Abaixo do bar, numa enorme tenda sobre a areia da praia, seria servido
o jantar. Ao lado, separado por um passadiço, brilhava a jóia da coroa, o bolo
de anos, num altar envolto em arranjos florais. Por trás, fogo de artifício para a
primeira fatia do bolo. Um grupo de «capoeira» articulava-se onde podia.
Seguranças ofereciam olhares atentos, absolutamente convencidos do seu
estado incógnito. Os convidados sacudiam o protocolo. «Boa party», dizia o
novo ao velho, olhos à deriva. «Estas damas não são do teu campeonato»,
advertiu o «cota».
Isabel chegou dentro de um vestido em fundo branco, com estampado exclusivo
de flores magenta e rosa - evidente como uma piscina olímpica no deserto com Sindika Dokolo, o marido, filho de um banqueiro congolês, herdeiro
prematuro da condição de milionário. Em séquito, abriram alas vagarosamente,
consentindo que os desfrutassem. Três amigas aproximavam-se a grande
velocidade, instáveis em salto alto, voando para um abraço cúmplice.
«Huammm!!!» Beijo na bochecha da filha do Presidente. «Parabéns, querida! O
teu vestido é lindo. Estás boa?» Tudo indicava que sim. «Ainda bem que
vieste», disse Isabel. «Ya. Como é que eu ia faltar?!», declarou a amiga. As
outras duas, de sorriso aberto, espreitavam com os queixos em posição
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oftalmológica nos seus ombros. Que desculpassem, Isabel tinha afazeres
protocolares.
Depois de um jantar bem regado, com
interrupções fotográficas para a «Caras»
angolana, decorria animadíssima a noite.
Ocasião para iniciar a travessia para o bolo.
Champanhe ao alto à saúde de Isabel, uma
das empresárias mais poderosas de África,
movendo-se em áreas multimilionárias
como o petróleo ou os diamantes. Na última
visita a Angola, o primeiro-ministro José
Sócrates elogiou o seu empreendedorismo, Convidadas da festa da filha de José
endereçando-lhe convite para ministrar em Eduardo dos Santos: «dress code»,
branco
Lisboa uma conferência sobre dinamismo
empresarial. Talvez fosse aí o momento
para explorar a contradição destes números: crescimento da economia
angolana ao ano - 18 por cento; taxa de desemprego - 80 por cento. Ali, não era
de certeza. Explodira alegria e fogo de artifício. O bolo de aniversário tinha
agora um cenário de chuva brilhante, que iluminava o mar e os guardas que no
pontão embalavam metralhadoras kalashnikovs.
Descera a madrugada em arromba. Os mais idosos começavam a desistir.
Entravam outros, «party-people», «subjet-set» generalistas, a arejar as narinas
com leques coloridos, envergando óculos panorâmicos, próprios para o
amanhecer na pista. Excelente média de empresário por metro quadrado. O
Mister África 2007, que agora chegava, cruzava-se com um deputado, de saída.
A sociedade emergente desfilava, celebrando-se. O Miami era agora uma
mini-Ibiza. O balcão do bar segurava um amontoado de gente, escorriam
suores na pista, corpos apertavam-se, soltava-se África. Com a luz da manhã,
os resistentes abandonaram.
À tarde, na esplanada de um restaurante
chinês, na ilha de Luanda, hoje mais uma
península, a cidade aparecia de novo
deslumbrante, a coberto da distância, só
interrompida por barcos de pesca
rudimentares ou pelos iates que
balouçavam ancorados. Câmara, luzes,
acção: «Incrível! Como é que pode?», frase
da Melhor Actriz angolana de telenovelas
2006, Tânia Bwity. Decorria a gravação da próxima telenovela da Televisão
Pública de Angola, de título «Crime e Punição» - nada de Dostoievski -, sob
direcção e argumento de Aloísio Filho, brasileiro, contente por ali estar, a bordo
de um carro-digital com um estúdio móvel do mais moderno que é possível.
«Incrível! Como é que pode?» Take 2. Os artistas, diz Tânia, são em muitos
sentidos o espelho convexo da Angola que se mostra ao mundo, e ópio para os
12 milhões no anonimato, que usa quilómetros de puxadas de fios eléctricos só
para os ver. «Incrível! Como é que pode?» Take 3. A avaliar pelo cenário, nada
de errado.
A luz do dia começou a esconder-se. Do
outro lado, Luanda adquiria brilho,
camuflada sob as luzes de uma urbanidade
que não tem. Esconde tantos segredos esta
cidade, tantas singularidades, um fosso
social que determina tudo ou nada, onde
bolina uma classe média tímida, em boa
parte expatriados ao serviço de
multinacionais. Dizia alguém à Rádio
Nacional sobre o problema dos buracos,
que entopem o que está sobrelotado:
«Como resolver o problema? Comprando
INTERIOR da UNYKA, loja do estilista
Rucka Santos, uma das mais
um jipe.» Faz isto tanto sentido como a
insegurança ser um excelente negócio para luxuosas de Luanda (à espreita, um
sinal dos tempos: uma cliente
quem vende a segurança. Ou como
chinesa)
estradas tão más entre províncias resultam
num enorme estímulo para as companhias
de aviação privadas. Angola está em bruto, como um diamante, mas não sofre
de ingenuidade.
De modo que se torna difícil massificar as modas internacionais, enquanto na
rua há miúdos a coçar os piolhos, ou democratizar o luxo num universo
transversal que habita condomínios de pobreza. Luanda é uma festa de
crianças onde poucos têm altura para chegar à caixa das bolachas. É, portanto,
o que é. Mas é também o inverso. Sol e alegria, desprendimento, ruído, vida
vivida rápido, «ya» e «tásse bem». O ritmo vagaroso é apressado. A sua pressa
tem muito tempo. O tempo tem relógios à venda, a bom preço nos zungueiros
(vendedores de rua), directamente de um retalhista da R.D. do Congo. Que
«take» reservará o futuro?
Se for da moda angolana, ao fundo está um
sorriso. Os estilistas de Luanda, em
processo de internacionalização, são como
uma S.A. que se exporta, importando
tecidos para as suas criações. Há
tradicionalistas, retro-vanguarda, corte
clássico, puristas, tribalistas, neoliberais,
esquerda «fashion», os que estudaram
Gestão em Lisboa, outros advocacia em
A BORDO de um iate, a caminho do
Mussulo, recanto paradisíaco de
Londres, uns que tiveram educação nos
Luanda Sul
EUA, outros ali mesmo. Todos tomaram
novo curso neste sector específico do
universo amplo da futilidade. E há Shunnoz Tião, transcendência, antigo
estudante de Psicologia, autoproclamado inventor da Pensologia, segundo o
autor, uma espécie de corrente intelectual, com artes de igreja alternativa. «Não
somos nada», diz Tião. «Não somos carne», diz Tião. Tião, contudo, desenha
roupas para a carne que as pode comprar, vive da carne onde passeiam os
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exemplares com a sua assinatura. Com Tekassala, parceiro de ateliê, foram os
Estilistas do Ano em Angola. Hoje, para encontrá-los é preciso viajar para as
grandes capitais europeias, nas teias da globalização. O mesmo aconteceu
com Rucka Santos. A sua loja, UNYKA, vende a exclusividade que o dinheiro
pode comprar. Rucka organizou recentemente o espectáculo de Missy Elliot,
embaixadora multimilionária do «rap» americano, que veio a Luanda ver como
Angola é pobre entre o aeroporto e a sala de espectáculos. «Ela ficou muito
impressionada com as mulheres com a fruta à cabeça», diz Rucka.
«O mercado é reduzido, mas abastado»,
garantem. Tanto vai ao cabeleireiro a Paris,
como lhe pode apetecer comprar-lhes uma
colecção inteira e deixar o troco. Na «chaise
longue» social, essa Luanda é como se
fosse a capital do paraíso, pequeníssima,
tão real como a outra, imensa e submissa,
atada de pés e mãos como um gigante em
Liliput. A sobrevoar a cidade num
helicóptero particular, em direcção ao iate,
Vista da marina, onde iates e barcos
de pesca tradicionais partilham
na travessia para uma mansão, nem se
águas
notam as evidências. Os grandes
problemas tornam-se pequenos,
minúsculos, ínfimos. E desaparecem, voando para longe na nuvem doce de um
Cohiba à brisa da utopia.
Vive em Luanda uma cidade cor-de-rosa, de festas, brindes à saúde dela
própria, em pose para a «Caras», por acaso propriedade de Tchizé dos Santos,
filha do Presidente. O angolano tem natureza vaidosa, gosta de exibir. A
«Caras» dá os «high-lights» de tudo a quem nada tem. Os luxos, as recepções
oficiais nos jardins da Cidade Alta, no palácio oficial do Presidente, as galas, as
festas no Mussulo, recanto paradisíaco de Luanda Sul, navegando para lá nos
seus iates, trajando lantejoulas e «smokings», com vista para uma cidade feroz,
nas ruas de outra realidade.
Não seria por isso que Luís «Dufa»
Rasgado, destacado empresário de
Benguela, com vínculo ao MPLA, deixaria de
assinalar o seu 60.º aniversário. A
sociedade das aparências - ou das
evidências - celebrava mais uma noite. Dizia
no convite para se usar indumentária
adequada, as melhores jóias, um «je ne
sais quoi» de qualquer coisa, fosse o
convidado pele de lobo em cordeiro ou
Festa de praia
exactamente o contrário. Fosse como fosse,
ao entrar deixaram para trás uma rua cheia
de guardas. E estes deixaram para trás as barracas e os milhões que nelas
habitam, que deixaram para trás a província, as origens, longe, em sítios onde
hoje só moram os velhos e a incapacidade de voltar. Para trás, musseque e
pobreza. Para a frente, acepipes.
Gin-tónico, talvez? Whiskie irlandês com duas pedras de gelo purificado? Uma
cervejinha importada a estalar? Salgadinho? O aniversariante, de «smoking»
branco, da mesma cor do seu sorriso, estava à porta do Endiama, uma casa
colonial de luxo no bairro de Miramar, onde fica a residência não-oficial do
Presidente, assim como a «Casa Branca», que foi morada de Jonas Savimbi,
líder defunto da UNITA. Abraço, beijo, agradecimentos pela comparência. «O
trânsito está um inferno», atirou uma convidada, acertando a traseira do
vestido, por onde escapava um pedaço de roupa interior. «Não se pode»,
devolveu outra, irrepreensível em corte clássico sobre camisa de folhos,
penteado de fixação improvável.
Muito difícil o trânsito na cidade. Se
chove, pior. Os assaltos também não
ajudam. Luanda foi desenhada para 500 mil
pessoas. Tem hoje mais de cinco milhões.
Nada flui. Só os mil esquemas que a rua
oferece. Aliás, vende. Nada é de graça.
Tudo se paga. Tudo falta. Tudo se arranja.
Só os limitados conhecem como são duros
os limites. E guardam isso para eles, como
se guardassem um segredo. Os que
SHUNNOZ TIÃO desenha roupas para
navegam na zona franca do «cash-flow»
os ricos. A sua parceria com
saboreiam esta nova Angola que superou o Tekassala garantiu-lhes o título de
Estilistas do Ano em Angola
colonialismo português, mas não o
arrumou, que saiu de uma longa guerra civil,
mas não sarou todas as feridas, que tem abundância de petróleo e diamantes e
transborda pobreza a cada rua. E transborda riqueza, como certa roupa interior
num vestido apertado.
É a Angola dos descendentes da ascendência, ínfima minoria. Alto negócio,
carro de luxo, charuto, helicóptero, iate e champanhe, apartamento na cidade e
casa no campo, da política de relacionamentos, do apetite sôfrego das
economias internacionais. Crescem em Luanda prédios moderníssimos,
esguios por questões de propriedade privada e valor de metro quadrado numa
das cidades mais caras do mundo. Mas os passeios e as estradas em redor
são feitos de buracos públicos. As chinelas havaianas que nelas passeiam baptizadas «facilitas» -, tornaram-se mito, calçaram todos os pés, foram
augúrio de modernidade. Mas os pés continuam sujos. E nada podem, caso se
cruzem na rua com os pneus de um jipe topo de gama. O trânsito estava um
inferno? Provável.
Os convidados integravam-se, escorriam
pela cerimónia, mais descontraídos,
segurando copos, descrevendo círculos.
Uma bola gigante multimédia assinalava o
evento: «Parabéns Dufa». Perto das mesas
alongava-se um «buffet». Carnes, peixes,
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mariscos, frios, quentes, dentro de enormes caixas de cobre com tampa
deslizante, para manter à temperatura exacta a comida. O vinho tinto devia
estar a 16 graus. Para o Moët & Chandon, que começava a jorrar, o calor era
inimigo da perfeição. Lá fora, dentro da enorme panela ao lume chamada
Luanda, nas barracas onde não existe frigorífico e os escassos alimentos se
conservam em sal, a Cuca, cerveja local, também sofre aquecimento
prematuro. Tantas coisas dividem esse mundo deste, só mesmo imponderáveis
os podiam unir num problema comum, sublinhando a diferença que os separa:
uns incomodam-se porque não conseguem ter tudo. Outros sofrem porque só
conseguem ter nada.
Na pista, meninas com traje de princesinhas rodopiavam alegremente. Por
trás do palco, um desfile de doces e uma colecção de frutos. Ao lado, outra de
frutos secos. Um conviva mais animado, que sabia do que falava em matéria de
fruta seca, pegou num exemplar e declarou: «Este é bom para a virilidade»,
olhar malandro. «É... hermafrodita». Adiante. Repasto, sobremesa, mais
brindes, discursos, mais champanhe, digestivos, mais champanhe e mais
champanhe, champanhe para o momento da noite: Dufa dirigiu-se ao centro da
pista, para soprar as velas. Seguiram-se horas de baile, comida, bebida,
alegria.
Só a chuva deteve a festa, já de madrugada.
De madrugada, o trânsito já não é um
inferno. O inferno dorme a essa hora. Mas a
chuva vai acordá-lo em sobressalto,
despertando a Angola que não vai à
«vernissage» e ao beberete, não tem
preocupações com os «down jones» e o
preço do barril de crude, não bebe
conhaque em balão aquecido, não tem um
todo-o-terreno Porsche e conta «off-shore», OS RICOS são poucos e muito ricos.
nem é servida em bandejas de prata. Essa Os pobres são muitos e muito
pobres. São dois mundos diferentes
Luanda, desenraizada, agoniza em
num convívio de vizinhos
contrastes. E sorri. E, sorrindo, é a Angola
perdedora, neste jogo de subserviências.
Tem a Babilónia debaixo dos pés, mas não encontra o caminho no meio do lixo
e das barracas, a tropeçar no vácuo, a cair em nada. Se escavar um pouco do
seu solo, é provável que encontre petróleo ou diamantes. A escavar no seu
musseque, só encontra musseque.
Reportagem de Luís Pedro Cabral (texto)
e Sandra Rocha/Kameraphoto (fotografias),
em Luanda
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