Atualização em traumatologia desportiva Atualização em
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00-0000-ACX-06-BR-158-PB Atualização em traumatologia desportiva MC 158/06 Fator de crescimento autólogo e sua utilização nas lesões esportivas Fraturas por estresse no esporte Planeta Esporte 2.pmd 1 11/5/2006, 16:18 EDITOR Dr. Edílson S. Thiele Diretor do Comitê de Traumatologia Desportiva da SBOT Membro da ISAKOS Membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Joelho e Sociedade Brasileira de Artroscopia / SBOT AUTORES Dr. Rogério Teixeira da Silva Especialista em Medicina do Esporte pela SBME Especialista em Ortopedia e Traumatologia pela SBOT Mestre em Ortopedia e Traumatologia pela UNIFESP-EPM Diretor do Comitê de Traumatologia Desportiva da SBOT Diretor do Orthopedic Sports Medicine Committee da ISAKOS Coordenador do Comitê Médico da Confederação Brasileira de Tênis Cristiano Frota de Souza Laurino Delegado Regional do Comitê de Traumatologia Desportiva Mestre em Ciências (UNIFESP) Médico da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAT), Federação Paulista de Atletismo (FPA) e Equipe BMF Atletismo. EPM - Editora de Projetos Médicos Rua Leandro Dupret 204, cj. 91 - Vila Clementino - São Paulo - Tel. (11) 5084-3576 • 5575-3450 www.epmeditora.com.br • E-mail: [email protected] Copyright © 2006 - EPM Editora de Projetos Médicos Esta publicação é fornecida como um serviço de Merck Sharp & Dohme aos médicos. Os pontos de vista aqui expressos refletem a experiência e as opiniões dos autores. Antes de prescrever qualquer medicamento eventualmente citado nesta publicação, deve ser consultada a Circular aos Médicos (bula) emitida pelo fabricante. Planeta Esporte 2.pmd 2 11/5/2006, 16:18 Introdução A traumatologia esportiva vem sofrendo muitos avanços com relação ao diagnóstico e tratamento, mas sem dúvida nenhuma muitos problemas continuam atrapalhando os atletas e os médicos no seu dia-a-dia. Neste fascículo abordaremos dois temas: um novo rumo no tratamento de lesões esportivas e um antigo problema que frequentemente gera discussões entre colegas e especialistas. Ao detalhar os avanços no uso dos fatores de crescimento como auxiliar no tratamento de lesões esportivas, procuramos mostrar que as ciências básicas estão muito próximas da prática clínica, e como vocês poderão observar muitas coisas boas podem proporcionar aos atletas e médicos. Apesar de não ser um tratamento de rotina hoje em dia, principalmente em decorrência do alto custo e da falta de estudos científicos prospectivos e randomizados, acreditamos que o seu estudo ainda trará muitos resultados favoráveis ao longo do tempo. Planeta Esporte 2.pmd 3 Outro tema discutido em nosso fascículo são as fraturas por estresse, onde procuramos abordar conjuntamente todas as sobrecargas que podem ocorrer em detrimento do esporte amador e competitivo. Apesar da controvérsia que rege o manejo destes pacientes, procuramos abordar da forma mais ampla possível este complicado tema, e espero que vocês possam aproveitar a leitura para aplicá-la na rotina diária. Boa leitura a todos Editor Edílson S. Thiele Autores Rogério Teixeira da Silva [email protected] Cristiano Frota de Souza Laurino [email protected] 11/5/2006, 16:18 Fator de crescimento autólogo e sua utilização nas lesões esportivas Introdução Os fatores de crescimento autólogos derivados das plaquetas (PDGF – do inglês, platelet derived growth factors) estão sendo muito estudados ultimamente, em virtude de se mostrarem nos estudos de ciências básicas como mais um método interessante de pesquisa que pode ser incorporada a prática clínica. Basicamente pelas suas propriedades quimiotáticas e mitóticas, estes fatores de crescimento podem ser aliados importantes no tratamento de atletas amadores e profissionais, principalmente nos casos de tendinopatias crônicas e lesões onde se espera uma rápida cicatrização tecidual (como as lesões musculares, por exemplo). Em outras áreas médicas (como a cirurgia plástica, por exemplo) a sua aplicação já é uma realidade na prática médica diárias, e entre os cirurgiões buco-maxilares a sua utilização já é praxe nos casos onde se quer proporcionar um crescimento e integração óssea para implantes dentários em pacientes com perda de massa óssea no maxilar. Ciências básicas A cicatrização tecidual é uma constante no organismo, e apresenta mediadores bem estabelecidos. A maior parte destes vêem do sangue periférico, após a liberação de fatores responsáveis pelo processamento da informação no local onde ocorreu um ferimento ou uma lesão traumática. Após o trauma (quer seja ele de partes moles ou osso), uma mensagem é lançada ao nível tecidual para que cheguem mediadores da cicatrização, entre eles células brancas e plaquetas. As plaquetas são estruturas que coordenam de forma complexa a coagulação, inflamação e o reparo tecidual. Elas são influenciadas por sinais da matriz extracelular e também por outros liberados dos vários tipos de célula. Após o trauma inicial – como, por exemplo, em um estiramento muscular – as plaquetas contatam as células de colágenos na parede dos vasos sanguíneos (principalmente colágeno dos tipos I, III, e VI). Receptores específicos na superfície da plaqueta, incluindo a integrina [ alpha]2b[beta]3 e os receptores de glicoproteína Ib-IX-V, se ligam ao colágeno e desencadeiam a adesão e ativação plaquetária1. Estas plaquetas reorganizam então seu citoesqueleto para dar forma ao chamado prócoágulo, e liberam o ADP e a serotonina, que recrutam mais plaquetas promovendo o seu acúmulo, que é estabilizado por colunas de fibrina. As plaquetas ativadas sintetizam e liberam um metabólito do ácido aracdônico, o tromboxane A2, que vai mediar uma segunda onda da ativação e de agregação das plaquetas, por meio da ativação dos receptores acoplados da proteína de G presentes na membrana das plaquetas. A agregação das plaquetas no trombo é mediada pelo fator de von Willebrand, uma glicoproteína que é liberada por plaquetas ativadas e pelo endotélio. Este 4 Planeta Esporte 2.pmd 4 11/5/2006, 16:18 por sua vez pode também negativamente influenciar a função das plaquetas, liberando as prostaglandinas (PGI2 e PGE2) e o óxido nítrico (NO), que são vasodilatores e têm um efeito inibitório nas plaquetas, impedindo desse modo a trombose descontrolada 2 células lisas musculares, realçando a proliferação e a angiogênese. Alguns estudos já em andamento procuram mostrar a importância destas estruturas em modelos animais, mas ainda faltam dados clínicos sobre o real benefício para a cicatrização de tendões, e em virtude disto a pesquisa nesta área vem aumentando consideravelmente 5. Fatores de crescimento tecidual As plaquetas liberam os fatores que são cruciais para influenciar o reparo tecidual. Estes fatores incluem o fator de crescimento transformador [beta ] (TGF[beta]), o fator de crescimento derivado das plaquetas (PDGF), e o fator de crescimento endotelial (EGF). O TGF[beta] se liga aos receptores específicos (TGF[beta]R1, TGF[beta]R2, TGF[beta]R3) em numerosos tipos de células para realçar ou inibir muitas funções fisiológicas que envolvem processos inflamatórios e reparativos. Embora o TGF[beta] iniba a produção de mediadores quimiotáticos – incluindo a interleucina (IL) 1 e o fator de necrose tumoral (TNF) [alfa]- é ele próprio que tem moderada atividade quimiotática para monócitos, linfócitos T e fibroblastos, mas não para neutrófilos3. Quando administrados às lesões em fase de cicatrização, o TGF[beta] causa a proliferação dos fibroblastos, a formação de matriz extracelular e melhora a função biomecânica local4 PDGF e EGF são potentes estimuladores da mitose celular na maioria dos tipos de células mesenquimais, particularmente nas Cicatrização de tendões Muito se tem estudado sobre a cicatrização em tecidos tendinosos, visto que este é um processo fundamental na cura de tendinopatias, principalmente na região do tendão calcâneo, tendão patelar, tendões do manguito rotador do ombro e tendões do cotovelo. Estas são estruturas muito frequentemente lesadas na prática esportiva, e no quadro 1 você tem um resumo dos esportes onde são mais freqüentes estas lesões. Devemos lembrar que diferentes tipos de tendões apresentam padrões diferentes de cicatrização, dependo este fator da localização (intra ou extra-sinovial, por exemplo) e da função (tendões dos membros inferiores e tendões dos membros superiores, por exemplo). Apesar das diferenças, a maioria das fases do precesso cicatricial envolve vários mecanismos já estabelecidos. No quadro 2 você encontra um resumo das principais fases de reparação tecidual que observamos nos tendões lesados. Quadro 1. Correlação entre os esportes praticados, gesto esportivo e tendões acometidos, nas diferentes modalidades esportivas praticadas em nosso país. Esporte Gesto esportivo Articulação Tendão afetado Tênis Backhand Saque Cotovelo Ombro Extensor radial curto do carpo e extensor comum dos dedos Tendões do manguito rotador Futebol Chute Quadril Adutores longo e mango Voleibol Ataque (cortada) Salto Ombro Joelho Tendões do manguito rotador Tendão patelar / tendão quadriceptal Golfe Swing Swing - impacto Cotovelo Mão e punho Inserção dos tendões flexores - amadores Tendões do punho e mão - profissionais Corrida Passada Tornozelo Tendão calcâneo Aponeurose plantar 5 Planeta Esporte 2.pmd 5 11/5/2006, 16:18 Quadro 2. Resumo do processo de cicatrização de tendões e ligamentos Tempo (dias) Fase Processo biológico Imediatamente pós-lesão Formação de coágulo ao redor da ferida tecidual 0-1 Inflamatória – inicial Primeira mensagem para os fatores de crescimento Mensagem para ativação dos fatores de crescimento dentro do coágulo 1-2 Inflamatória – final Invasão de células extrínsecas, fagocitose 2-4 Proliferativa Invasão secundária de células extrínsecas Mensagem secundária para os fatores de crescimento Estimulação para proliferação de fibroblastos 4-7 Reparativa – inicial Deposição de colágeno Formação de tecido de granulação Revascularização 7-14 Reparativa – final Local da lesão se torna mais organizado Grande produção de matriz extracelular 14-21 Remodelação primária Diminuição do conteúdo vascular e celular Aumento do depósito de colágeno tipo I Remodelação secundária Aumento da organização e da estruturação de crosslink do colágeno Matriz extracelular já se encontra organizada fora da região lesada Relação entre os tipos de colágeno, água e celularidade vão se aproximando dos valores normais 0 Mais de 21 Na prática clínica diária é muito importante você ter estes conceitos básicos, a fim de que seja respeitada, em qualquer fase do tratamento médico e fisioterápico, a biologia de cada estrutura específica, no sentido de buscar a cura total e a menor chance de recidivas após o retorno ao esporte amador ou profissional. Funções dos fatores de crescimento Além dos efeitos gerais que encontramos nos fatores de crescimento que são utilizados na prática clínica, muitas outras funções específicas são desenvolvidas pelos diversos tipos de fatores. Apesar de ser difícil o seu processamento de forma isolada, devemos ter em mente o que cada um faz, pois já é objeto de pesquisa básica o processamento de fatores de crescimento específicos para determinadas funções, como o crescimento tecidual, a angiogênese e a coagulação, entre outros aspectos. No quadro 3 você tem um resumo das funções dos principais fatores de crescimento que encontramos na mediação do processo cicatricial de tecidos. É importante lembrar que em detrimento da cicatrização tecidual ser um processo complexo, que envolve a interação de um grande número de moléculas diferentes, células e tecidos, os resultados práticos relatados no passado eram considerados frustrantes e não previsíveis. Entretanto, algum sucesso foi adquirido em alguns trabalhos, sugerindo que a velocidade e a qualidade da cicatrização tendinosa pode eventualmente ser melhorada pela aplicação e/ou regulação dos fatores de crescimento em interação com outras moléculas. Os maiores desafios estão em predizer as sinergias e os antagonismos que existem entre os diversos fatores de crescimento e entre estes e outras moléculas, já que sabemos que no organismo para cada ação há sempre outras reações moleculares no intuito de inibir ou incrementar uma determinada função tecidual. 6 Planeta Esporte 2.pmd 6 11/5/2006, 16:18 Quadro 3. Funções dos principais fatores de crescimento relacionados a cicatrização de tendões e ligamentos Fator de crescimento Fase onde se encontra mais ativo Funções IGF-I Inflamatória / Proliferativa Promove a proliferação e migração celular Estimula a formação de matriz extracelular TGF beta Inflamatória Regula a migração das células Estimula a integração e a ligação das fibronectinas Finaliza o processo de proliferação celular Estimula produção de colágeno VEGF Proliferativa / Remodelação Promove angiogênese PDGF Proliferativa / Remodelação Regula a síntese de DNA e proteínas no local da lesão Regula a expressão de outros fatores de crescimento b-FGF Proliferativa / Remodelação Promove migração celular e angiogênese Legenda: IGF-I: fator de crescimento insulina-like-I / TGF beta: fator de crescimento transformador beta / VEGF: fator de crescimento endotelial vascular / PDGF: fator de crescimento derivado da plaqueta / b-FGF: fator de crescimento básico do fibroblasto Processamento dos fatores de crescimento autólogos para utilização clínica Durante vários anos tentou-se a utilização do sangue total para atuação tecidual, mas depois se percebeu que este procedimento não tinha resultados satisfatórios. Já que iremos trabalhar com plaquetas, nada mais lógico de que pensar em se colocar diretamente o sangue no local da lesão, já que este tem uma grande quantidade de plaquetas. O que se sabe hoje é que este sangue não é suficiente para expressar os fatores de crescimento, já que a quantidade de plaquetas está diretamente relacionada a melhor função e maior ativação dos fatores de crescimento. Estudos recentes demonstram que a concentração mínima necessária para um adequado processo dos fatores de crescimento é da ordem de 1.000.000 por milímetro cúbico (no sangue periférico a concentração plaquetária varia de 250.000 a 400.000/mm3). Na figura 1 você observa a diferença que existe ao se analisar o esfregaço de um sangue periférico e do concentrado de tabelas. Figura 1. Exemplos de esfregaço de sangue periférico (a esquerda) e de concentrado de plaquetas (a direita), mostrando claramente a concentração plaquetária nesta última. Esfregaço de sangue periférico. Contegem de plaquetas de 225,000 por microlitro (ul) PRP – concentração densa de plaquetas correspondendo a uma contagem de 1,400,000 por ul em 5 ml de volume 7 Planeta Esporte 2.pmd 7 11/5/2006, 16:18 A partir da coleta de 55 ml de sangue do paciente, coloca-se o material em um equipamento específico descartável (GPS II, Biomet®, Estados Unidos), juntando-se 54 ml de sangue com 6ml de anticoagulante. A seguir o sangue é centifugado por cerca de 15 minutos a 3200 rotações por minutos. Na figura 2 você pode observar como fica o sangue após a centrifugação, demonstrando claramente o plasma pobre em plaquetas (mais superior), seguido do plasma rico em plaquetas e das células brancas e em último plano as hemácias (depositadas na região mais inferior do dispositivo). Após a remoção do plasma pobre em plaquetas, remove-se em seguida o plasma rico em plaquetas (PRP), e coloca-se de 0,05 a 0,30 ml de bicarbonato de sódio a 8,4% para atenuar o pH, dependendo do volume que se deseja de PRP (de 1 a 6ml). Com este procedimento o pH sobe para aproximadamente 7,4, que é o ideal para a infiltração tecidual com o intuito de que se agregue as plaquetas injetadas, liberando assim os fatores de crescimento. Utilizações clínicas em traumatologia esportiva Além da utilização nos casos de retardos de consolidação e pseudoartroses, que não são tão freqüentes na prática esportiva, os fatores de crescimento podem ser utilizados como auxiliares nos seguintes tratamentos: 1. Tendinopatias crônicas - nas fases mais avançadas, quando já existe um tecido degenerado e os tratamentos convencionais não obtiveram resultados satisfatórios (figuras 3 e 4 – cirurgia para epicondilite lateral crônica) 2. Lesões musculares de grande extensão (maiores do que 5cm) - na fase aguda, quando se pode aspirar o hematoma e injetar o fator de crescimento guiado pela ultra-sonografia Figura 3. Foto de cirurgia para correção de epicondilite lateral crônica – aqui já estamos com o tecido degenerado retirado, pronto para receber o fator de crescimento processado. Figura 2. Equipamento utilizado para separação dos vários componentes do sangue periférico (aqui estamos observando o dispositivo após a centrifugação) Figura 4. Colocação do fator de crescimento após a ressecção da degeneração tendinosa Plasma rico em plaquetas 8 Planeta Esporte 2.pmd 8 11/5/2006, 16:18 3. Revisões de cirurgias para reconstrução de ligamento cruzado anterior do joelho – as indicações são principalmente nos casos onde houve um alargamento do túnel tibial e se deseja fazer a cirurgia de revisão em um mesmo tempo. Aqui o fator de crescimento pode ser usado como um auxiliar na hora de se usar o enxerto para preenchimento do túnel, caso isto seja necessário. 4. Torções de tornozelo – quando se visa o tratamento conservador e não existe a indicação da cirurgia a colocação de fatores de crescimento no local onde está ocorrendo a cicatrização tecidual faz com que haja a possibilidade de se criar um tecido cicatricial adequado, permitindo a mobilização precoce da articulação e um menor afastamento do esporte. Conclusões Sabemos que ainda é cedo para falar que esta terapêutica vai solucionar totalmente as nossas dúvidas com relação a patologias freqüentes da prática esportiva, como aquela dor de cotovelo crônica em tenistas que não melhora com medicamentos, fisioterapia ou infiltrações. Apesar disto, sabemos que este é um campo onde as pesquisas estão avançando a cada dia, e negar que ela pode ser um coadjuvante benéfico do tratamento ortopédico de esportistas é negar o que o futuro pode trazer de bom para a medicina. Ressaltamos que ainda são necessários vários estudos (em nosso meio e na literatura médica mundial) para que possamos entender de verdade o que ocorre com relação a esta nova técnica. Estamos desenvolvendo vários estudos clínicos (principalmente no estudo do tratamento da epicondilite lateral em tenistas e no tratamento das lesões musculares) e esperamos em breve poder apresentar estes resultados. Referências Bibliográficas 1. Naimushin YA, Mazurov AV. Role of glycoprotein IIb-IIIa (alpha IIb beta 3-integrin) in stimulation of secretion from platelet granules. Biochemistry (Mosc) 2003;68:209–16 4. Spindler KP, Murray MM, Detwiler KB, et al. The biomechanical response to doses of TGF-beta 2 in the healing rabbit medial collateral ligament. 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Whitman, D.H., et al, A Technique for Improving the Handling of Particulate Cancellous Bone and Marrow Grafts Using Platelet Gel, Journal of Oral-Maxiofacial Surgery, 1998:45:1217-1218. 9 Planeta Esporte 2.pmd 9 11/5/2006, 16:18 Fraturas por Estresse no Esporte HISTÓRICO A primeira descrição clínica das fraturas por estresse nos atletas se deve a Devas em 1958, entretanto seus estudos originais foram baseados somente nos resultados de radiografias planas.1 Embora sejam largamente estudadas em humanos, as fraturas por estresse também foram descritas em animais submetidos a treinamentos físicos intensos, tais como cavalos de corrida e cachorros corredores.2 Podemos encontrar as fraturas por estresse em muitos esportes tais como o atletismo, futebol, basquete, voleibol, handebol, tênis, beisebol, dança, esqui na neve, levantamento de peso, remo, golfe, hóquei, softbol e ginástica olímpica dentre outros.1 Definição Define-se “estresse” como a resultante de uma carga aplicada sobre uma unidade de área. Há controvérsias quanto ao emprego do termo mais adequado para designar as fraturas por estresse no esporte. As “fraturas de fadiga” foram descritas como decorrentes da ação de cargas anormais aplicadas sobre um osso normal, enquanto alguns autores utilizam o termo “Reações de Estresse” para as contínuas modificações ósseas em resposta às cargas aplicadas, podendo variar desde uma simples remodelação óssea fisiológica até a fratura por estresse propriamente dita.3 Na prática esportiva, as fraturas por estresse são entidades clínicas que também se enquadram na conhecida “Síndrome de Overuse”. Biomecânica O fenômeno fisiológico da “remodelação óssea” manifesta-se continuamente no osso vivo, propiciando uma série de respostas adaptativas vitais frente aos fatores mecânicos (direção, intensidade, freqüência das cargas aplicadas), dietéticos e hormonais. O balanço dinâmico da remodelação fisiológica (ciclo osteoclasia/osteogênese) proposto por Wolff relaciona-se diretamente com as respostas biológicas dependentes da idade, estado nutricional, estado hormonal e predisposição genética do indivíduo. A remodelação óssea fisiológica pode sofrer um desbalanço no binômio osteogênese/ osteoclasia e ter seu ciclo de adaptações comprometido em resposta às características das cargas aplicadas (compressão, tensão e estiramento), gerando soluções de continuidade no tecido ósseo. A microestrutura óssea gerada no processo de remodelação é temporariamente frágil durante o período inicial onde a reabsorção osteoclástica supera a 10 Planeta Esporte 2.pmd 10 11/5/2006, 16:18 taxa de osteogênese. Neste momento, as cargas contínuas geradas durante os movimentos esportivos podem produzir deformações plásticas em determinadas regiões do osso resultando o aparecimento de linhas microscópicas de descontinuidade, que podem ser descritas em 3 estágios:4 ■ Estágio 1: Início da micro-fratura ■ Estágio 2: Propagação e coalescência das micro-fraturas ■ Estágio 3: Fratura final gerada pela coalescência das micro-fraturas As fraturas por estresse são resultantes da ação de forças cíclicas sobre a estrutura óssea e diferem de outras fraturas por não decorrerem de eventos traumáticos agudos.1 A segunda teoria afirma que a tração muscular sobre o osso é capaz de gerar forças cíclicas suficientes para desencadear microfraturas, como se observa nas fraturas por estresse dos membros superiores. 5 Fatores de risco Alguns fatores mecânicos são descritos associados à etiologia das fraturas por estresse, tais como: o aumento do módulo da carga aplicada, o aumento da freqüência de carregamento e finalmente a diminuição da superfície da área sobre a qual as forças são aplicadas. 1 Fatores Individuais Os músculos envolvem as estruturas ósseas e também funcionam como fatores de proteção ósteoarticular, na medida em que dissipam energia, diminuindo a concentração de estresse, gerando tensão e finalmente promovendo a execução de movimentos. Tais propriedades representam fatores de absorção de choque e proteção óssea constantes. A fadiga muscular observada nas situações de sobrecarga física contribui para o desencadeamento das fraturas por estresse, na medida em que a atenuação das cargas se reduz onde a musculatura relacionada estiver comprometida. Etiologia Duas teorias são atualmente aceitas para explicar a etiologia das fraturas por estresse em atletas. A primeira teoria afirma que a musculatura enfraquecida reduz a absorção de choque das extremidades inferiores sem permitir a redistribuição de forças, aumentando o estresse sobre pontos focais do osso. Esta teoria explica em grande parte a origem das fraturas de estresse encontradas nos membros inferiores. 5 Idade As fraturas por estresse são menos freqüentes nas crianças do que adolescentes ou adultos. 6 Grupo Étnico Indivíduos brancos são mais susceptíveis às fraturas por estresse se comparados a indivíduos negros americanos e hispânicos. 3 Sexo O risco relativo das fraturas por estresse no sexo feminino é 3,8 a 12 vezes maior do que no sexo masculino. A tríade da mulher atleta representa um fator de risco importante e caracteriza-se pela presença de distúrbios dietéticos, amenorréia e osteoporose.1,3 As irregularidades do ciclo menstrual (oligomenorréia, amenorréia) caracterizando um estado de hipoestrogenismo apresentam relação com a prevalência das fraturas por estresse no sexo feminino. 3 11 Planeta Esporte 2.pmd 11 11/5/2006, 16:18 As conseqüências mais significantes da amenorréia da mulher atleta são seus efeitos ósseos, tais como a perda óssea prematura, pobre mineralização do osteóide e maior susceptibilidade às fraturas. Atletas que desenvolvem oligomenorréia podem apresentar uma diferença da densidade óssea da ordem de até 20%, quando comparada às atletas eumenorreicas. 7 No primeiro ano de amenorréia 4% do osso trabecular se perdem e esta taxa se mantém nos primeiros dois anos de amenorréia. 1 Fatores Biomecânicos Alguns aspectos anatômicos e biomecânicos são considerados “fatores de risco” tais como a assimetria dos membros inferiores, a anteversão femoral aumentada, a diminuição da largura da tíbia, o valgismo excessivo dos joelhos e a pronação dos pés aumentada. 3, 8 Fatores ambientais As condições ambientais estão representadas pelas características do treinamento e também podem ser considerados fatores de risco. Os estudos em corredores de longa distância apontam para alguns fatores de risco como o aumento súbito na velocidade e distância percorridas, as condições de superfície inadequadas (piso e calçado), o condicionamento físico insuficiente, e o tempo de reabilitação insuficiente das lesões pregressas 9 Os sintomas geralmente surgem após 4,5 semanas da modificação do regime de treinamento. 3 Epidemiologia As primeiras descrições das fraturas por estresse foram conduzidas em recrutas militares. Muito embora estes estudos tenham contribuído consideravelmente para o conhecimento das fraturas por estresse, a população militar difere da população de atletas.5,8,10 São raros os relatos de prevalência das fraturas por estresse nos esportes, embora tal entidade represente 10% de todas as lesões esportivas e aproximadamente 5% a 16% das lesões em corredores. 5, 11 Os corredores contam com aproximadamente 69% de todas as fraturas por estresse no esporte. 5 No atletismo, a incidência de fraturas por estresse no período de 1 ano foi de 21,1%.11 As lesões de 46 atletas profissionais das modalidades de atletismo foram registradas prospectivamente durante o período de dois anos, onde foram observadas 8,4% de fraturas por estresse entre o total de lesões. 12 Nos corredores de longa distância, as fraturas por estresse são mais encontradas na tíbia (34%), fíbula distal (24%), diáfises do 2o e 3o metatarsos (18%), colo e diáfise do fêmur (14%), pelve (6%) e outros ossos (4%). 13 Os corredores de velocidade apresentam um predomínio de fraturas por estresse na tíbia e fíbula, sendo mais prevalentes nos períodos de início e fim de temporada, em função do despreparo muscular e dos sinais de sobrecarga respectivamente. Um estudo retrospectivo entre 3000 atletas verificou a incidência de fraturas por estresse da ordem de 1,9% em três anos de acompanhamento, baseados nos resultados de história, exame físico, radiografias e cintilografia óssea. 14 12 Planeta Esporte 2.pmd 12 11/5/2006, 16:18 Diagnóstico A história do paciente com fraturas por estresse caracteriza-se por dor de caráter insidioso e progressivamente limitante para a atividade esportiva. A dor promove uma adaptação lenta às condições de treinamento, um aumento nos intervalos entre as séries de exercícios, diminuição da intensidade de execução de alguns movimentos específicos, diminuição da freqüência dos movimentos, diminuição do tempo total de treinamento, a necessidade de utilização de órteses (palmilhas, faixas elásticas), trocas de equipamento esportivo e uso freqüente de medidas analgésicas e medicamentos antiinflamatórios. Algumas semanas depois do início da lesão, a dor pode se tornar mais intensa, causando incapacidade funcional para o esporte. O diagnóstico da lesão se baseia nos dados de história, exame físico geral, exame físico ortopédico, exames laboratoriais subsidiários e métodos de diagnóstico por imagem. A suspeita diagnóstica das fraturas por estresse se faz necessária em virtude dos sinais e sintomas serem semelhantes à queixas comuns nos atletas, como as dores decorrentes das lesões musculares e as tendinopatias. Diagnóstico por imagem Os métodos de imagem úteis para o diagnóstico destas lesões são: radiografia simples (RX), a cintilografia óssea em três fases (MN), a tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética (RM). Radiografias Simples O RX continua sendo o primeiro exame a ser solicitado quando da suspeita clínica de uma fratura por estresse. Usualmente são realizadas duas incidências, frente e perfil da região a ser examinada, mas incidências específicas como as incidências oblíquas, também podem ser necessárias. As imagens radiográficas não são evidentes inicialmente quando da suspeita diagnóstica 14 e dependem da localização da lesão e do intervalo de tempo transcorrido entre o início dos sintomas e o momento da radiografia. Geralmente as imagens radiográficas das fraturas de estresse se tornam visíveis decorridos entre 3 semanas e 3 meses do início dos sintomas. Portanto, entende-se que durante este período, as radiografias simples podem ser normais, mesmo já havendo uma fratura iniciada. Isso se explica ao se correlacionar a fisiopatologia da fratura por estresse e os sinais radiográficos demonstráveis. Enquanto não houver uma reação periosteal, o início de formação de calo ósseo e presença da linha de fratura, o diagnóstico pelo RX não poderá ser feito. O primeiro sinal a ser observado no osso longo é a reação periosteal localizada. Havendo a fratura, observa-se uma linha radioluscente cortical associada ao espessamento periosteal e endosteal. As falhas na cortical óssea podem, em alguns casos, ser de difícil identificação. Medicina Nuclear A Medicina Nuclear (MN) é indicada nos casos clinicamente suspeitos, mas cuja radiografia demontra-se ser normal. É um método também bastante difundido, de baixo custo, inócuo ao paciente e que tem alta sensibilidade diagnóstica. Suas desvantagens são: a baixa especificidade e pequena resolução de imagem, dificultando uma localização anatômica mais precisa da lesão. Para o diagnóstico das fraturas por estresse, a modalidade da medicina nuclear utilizada é a cintilografia óssea em três fases. Neste procedimento, o radio-fármaco (uma substância marcada com tecnécio radioativo, o 99m Tc-MDP é administrado por via intravenosa e três leituras, ou fases, são feitas a seguir. 13 Planeta Esporte 2.pmd 13 11/5/2006, 16:18 Na fase inicial, chamada de fluxo, uma seqüência rápida de imagens é adquirida na área de interesse, representando o fluxo sangüíneo local. Após esta fase, cerca de 5 a 10 minutos depois, adquire-se uma outra imagem, na chamada fase de pool. Nesta fase, podem ser obtidas imagens em várias posições, com o objetivo de melhor localizar a lesão. A terceira e última etapa do procedimento consiste na fase tardia. Nas fraturas por estresse, uma concentração anômala (aumentada) do radiofármaco aparece nas três fases do estudo. Podemos fazer uma correlação entre a clínica do atleta e os achados da cintilografia óssea. A idade da fratura por estresse e o monitoramento da sua reparação, podem ser estimados ao se utilizar a técnica da cintilografia em três fases. As fases de fluxo e de pool podem ser positivas até 4 a 8 semanas após o surgimento da fratura, e depois se tornam negativas. A intensidade da concentração na fase tardia diminui em 3 a 6 meses, podendo, entretanto persistir positiva por até 18 meses. Dessa forma, não se deve esperar a total negativação da fase tardia como critério de cura das fraturas por estresse. Essa decisão deve ser tomada apoiando-se em sinais clínicos do atleta. Tomografia Computadorizada Nas fraturas por estresse, a TC tem seu uso indicado quando o RX e a MN encontram dificuldades em demonstrar o traço de fratura, sua extensão e orientação, principalmente quando as linhas de fraturas são pequenas. A TC tem especial utilidade no diagnóstico das fraturas por estresse de orientação longitudinal na tíbia. Ressonância Magnética A RM é capaz de demonstrar todo o espectro de lesões ósseas decorrentes do estresse. Apresenta sensibilidade semelhante à cintilografia óssea na detecção de alterações ósseas, com a vantagem de demonstrar lesões nas estruturas de partes moles2. Outras vantagens sobre a cintilografia são: alta resolução espacial, útil para se determinar melhor localização, extensão e orientação da fratura, portanto maior especificidade diagnóstica e a obtenção de imagens adquiridas nos planos coronal, sagital e axial, sem a necessidade de movimentar o paciente durante o procedimento. Como desvantagens podem-se salientar o alto custo, contraindicações relativas nos pacientes claustrofóbicos e naqueles que tenham implantes ou materiais cirúrgicos metálicos próximos da região a ser estudada. O protocolo básico para a suspeita das fraturas por estresse estudo abrange as seqüências: T1, T2, STIR e T2 fast spin echo, com supressão de gordura. Ao se suprimir o sinal da gordura, das partes moles e da medula óssea, detecta-se, com mais facilidade, alterações nessas regiões. Há dois padrões de fratura por estresse observados na RM. O mais comum é a linha de fratura que se apresenta em hipo-sinal em todas as seqüências, com edema ósseo adjacente. O segundo padrão, menos comum, é aquele com uma alteração amorfa de sinal da medular óssea, como hipo-sinal em T1 e hipersinal em T2, sem uma linha de fratura bem definida. Os achados da RM devem ser correlacionados com os dados clínicos para se evitar interpretações errôneas. A tomografia por emissão de fótons (SPECT) é uma modalidade que auxilia na localização da lesão, especialmente na coluna vertebral, bacia, joelho e tornozelo. 14 Planeta Esporte 2.pmd 14 11/5/2006, 16:18 Classificação Sistemas de classificação são necessários para facilitar a comunicação entre profissionais, prever o prognóstico da doença, determinar possibilidades de tratamento e ser de fácil utilização. Podemos classificar as fraturas por estresse em 4 tipos segundo a análise da dor e as características de diagnóstico por imagem. 4 (Tabela 1) Tabela 1. Classificação das fraturas por estresse segundo a presença da dor e imagens visíveis à cintilografia óssea e à radiografia simples. Dor Cintilografia Radiografia I – + – II + + – III + + + Sem desvio IV + + + Com desvio V + + Pseudoartrose Tratamento O tratamento das fraturas por estresse varia em função de algumas características da fratura tais como a localização, tipo e tempo de evolução. Pode-se estabelecer um planejamento geral para o tratamento das fraturas por estresse, dividindo-se em duas fases:5,16 A FASE I ou de repouso modificado caracterizase pelo controle da dor através do uso de medicamentos antiinflamatórios, métodos fisioterápicos de analgesia e cinesioterapia, descarga de peso permitida nas atividades de vida diária e manutenção da condição aeróbica sem provocar respostas de estresse anormais no segmento afetado. Atividades como pedalar, nadar ou correr dentro d’água (“deep-running”) são alternativas para a manutenção do condicionamento físico do atleta. 5 A FASE II se inicia a partir do momento em que o atleta não apresenta mais queixas de dor. Tal fato ocorre geralmente dentro de um período de 10 e 14 dias do início dos sintomas 5 Esta fase baseia-se nos objetivos da fase I somados à correção de fatores biomecânicos, utilização de órteses, regulação do ciclo menstrual das mulheres, correção dos distúrbios nutricionais e metabólicos e retorno gradual ao esporte. 5 Exceto em situações específicas, o uso de imobilizações não está indicado, embora as órteses pneumáticas tenham apresentado eficiência significante em algumas fraturas por estresse localizadas na tíbia. 2 A eletroestimulação também tem sido utilizada para o tratamento das fraturas por estresse com resultados satisfatórios. 17 FRATURAS POR ESTRESSE DO MEMBRO SUPERIOR As fraturas por estresse dos membros superiores são raras e suas ocorrências na literatura são geralmente limitadas a relatos de casos. 18,19 No entanto um alto índice de suspeição, juntamente com exames de imagem mais sofisticados tem permitido o diagnóstico do que outrora se denominou “dor inespecífica do membro superior”. A suspeita clínica das fraturas por estresse dos membros superiores se faz necessária diante de um atleta com história de dor localizada no membro superior, que piora durante a atividade esportiva, sem história de trauma agudo e acompanhado de um exame clínico inexpressivo. Os ossos mais freqüentemente acometidos são o úmero e a ulna, porém existem descrições de fraturas por estresse do acrômio, escápula, clavícula, metacarpos, rádio, escafóide. 15 Planeta Esporte 2.pmd 15 11/5/2006, 16:18 Úmero As fraturas por estresse do úmero apresentam em geral um traço em espiral e estão associadas aos movimentos de arremesso e lançamento. 20 O perfil dos atletas com história de fraturas por estresse do úmero é de indivíduos com idade superior a 30 anos, com queixas de dor no braço, que tenham estado inativos durante um longo período e retornaram à atividade física realizando programas de exercícios insuficientes. O diagnóstico se baseia nos dados de história clínica como a dor que piora após a prática do arremesso, exame físico caracterizado por dor à palpação profunda do úmero e a confirmação através dos métodos de diagnóstico por imagem. O tratamento consiste no afastamento do atleta de suas atividades de arremesso durante um período médio de 3 semanas até a melhora dos sintomas. Um programa de treinamento poderá ser gradualmente reiniciado e especial ênfase deverá ser dada ao fortalecimento dos músculos bíceps e tríceps, importantes para minimizar as forças aplicadas ao úmero durante as fases de aceleração e desaceleração do arremesso. Ulna A prevalência das fraturas por estresse da ulna em atletas é rara. 21, 22 Existem dois tipos distintos de fraturas com mecanismos de lesão próprios: as fraturas da epífise proximal e as fraturas da diáfise da ulna. As fraturas por estresse da diáfise da ulna podem localizar-se em quase toda a sua extensão, embora seja mais comum na transição do terço médio e distal. As fraturas estão relacionadas aos movimentos de hiperdorsiflexão do punho concomitante à flexão dos dedos. As fraturas envolvendo o olécrano foram descritas em atletas lançadores de dardo, devido às forças de tração aplicadas ao olécrano durante a ação do músculo tríceps do braço durante a execução de um arremesso. 23 Nos tenistas, as fraturas por estresse da ulna foram descritas mais comumente naqueles que realizam movimentos de “backhand” com ambas as mãos. Para obterem o efeito “top spin” a cabeça da raquete se abaixa, sendo levada para trás. Este movimento resulta uma posição em que o punho adota máxima extensão dorso-ulnar. No momento do impacto com a bola, a diáfise da ulna, especialmente próximo à origem do músculo flexor profundo dos dedos, a epífise distal e a articulação ulno-cárpica sofrem uma carga excessiva. 21 22 No boliche, observa-se uma elevada atividade muscular dos flexores profundos do polegar, 3o e 4o dedos, reforçando a importância da origem muscular na fisiopatologia da das fraturas por estresse dos membros superiores. Também encontramos relatos de periostite ulnar, semelhante àquela que ocorre na tíbia, provavelmente decorrente de lesão das fibras de Sharpey na origem do m. flexor profundo dos dedos. Na Ginástica Olímpica, o rádio distal é descrito como sede das fraturas por estresse em decorrência dos movimentos de hiperextensão do punho. 24 As fraturas da epífise proximal da ulna estão geralmente associadas aos movimentos de arremesso, como o momento em valgo e a hiperextensão do cotovelo, além da tração do ligamento colateral medial sobre a superfície óssea. 16 Planeta Esporte 2.pmd 16 11/5/2006, 16:18 FRATURAS POR ESTRESSE DO MEMBRO INFERIOR Os membros inferiores são os locais preferenciais das fraturas por estresse nos esportistas. A tíbia representa em torno de 50% das fraturas dos membros inferiores, seguida pelos ossos do tarso 25%, metatarsos 8,8%, fêmur 7,2%, fíbula 6,6%, pelve 1,6% e sesamóides 0,9%.1 Fêmur O primeiro registro de um caso de fratura por estresse de colo do fêmur foi descrito por Blickenstaff e Morris.25 A magnitude das cargas geradas sobre o quadril varia em função dos movimentos, onde caminhar gera cargas 2,75 vezes o peso corporal, correr gera 5 vezes, enquanto saltar supera 10 vezes o peso corporal.1 As regiões do fêmur geralmente acometidas pelas fraturas por estresse são o colo e a diáfise.26,27 As fraturas do colo do fêmur representam em torno de 5% do total de todas as fraturas por estresse.3 Fullerton e Snowdy classificaram as fraturas em três tipos: compressão, tensão e desviada.26 (Tabela 2) Basicamente as fraturas não desviadas podem acometer o colo do fêmur em sua superfície superior (córtex superior) ou inferior (córtex inferior). Tabela 2. Classificação de Fullerton e Snowdy para as fraturas por estresse do colo do fêmur Tipo 1 Fratura de compressão Tipo 2 Fratura de tensão Tipo 3 Fratura desviada O quadro clínico das fraturas do colo do fêmur caracteriza-se por dor localizada no quadril, região anterior da coxa ou joelho, arco de movimento doloroso e ou limitado, claudicação, limitação progressiva do rendimento esportivo e finalmente atitude antálgica. O tratamento das fraturas do colo varia em função da localização (córtex superior ou inferior) e da presença de desvio.26 As fraturas do córtex superior respondem melhor ao tratamento cirúrgico (osteossíntese interna através da técnica de pinagem in situ) devido às características biomecânicas da região.27 Por ser considerada uma área de tensão óssea, esta região gera um potencial de desvio, deformidade em varo, retarde de consolidação e pseudoartrose, quando são empregados métodos conservadores de tratamento.3,26 A necrose avascular da cabeça femoral também foi descrita como uma complicação das fraturas por estresse desviadas do colo femoral.26 As fraturas do córtex inferior (região de compressão do colo) representam a maioria das fraturas do colo nos atletas e na população jovem.3 Geralmente não progridem para desvio e apresentam consolidação após o tratamento conservador. O retorno ao esporte varia em torno de 7,5 a 11,5 semanas.3 A diáfise femoral representa 7,0% a 12,8% de todas as fraturas por estresse.3 O exame físico se caracteriza por palpação dolorosa profunda na coxa, presença de edema, e dificuldade de realização de salto com apoio monopodálico sobre o membro comprometido. O tratamento das fraturas por estresse diafisárias do fêmur se baseia na proteção da descarga de peso durante a fase dolorosa. O repouso ativo ocorre ocorre entre 8 a 14 semanas e caracteriza-se pela realização de atividades que não interferem na dor até o retorno gradual ao esporte. O tratamento cirúrgico baseia-se na osteossíntese interna com haste intramedular e está indicado na persistência dos sintomas após tentativa infrutífera de tratamento clínico. 17 Planeta Esporte 2.pmd 17 11/5/2006, 16:18 Patela Figura 1.Ressonância Magnética do joelho - fratura de estresse da tíbia proximal em corredor As fraturas por estresse da patela são raras e representam 1,5% das fraturas da patela. Geralmente estão associadas às patologias do ligamento da patela e acometem indivíduos que mantém a posição de flexão prolongada do joelho com contração do músculo quadríceps. Alguns fatores de risco devem ser considerados como a retirada de enxerto nas cirurgias de reconstrução ligamentar e nas contraturas do joelho em flexão, posições onde são geradas forças acentuadas de tensão localizadas anteriormente à patela e de compressão sobre a superfície articular. Tíbia A tíbia é a topografia mais comum das fraturas por estresse nos atletas29 e representa 50% do total.2,3,30 Embora a localização das fraturas por estresse possa demonstrar padrões variados nos esportes, podemos encontrar algumas localizações predominantes. Embora menos freqüentes, as fraturas do córtex anterior são observadas nos esportes de saltos e apresentam alto risco por localizarem-se na zona de tensão óssea e potencial progressão para fraturas completas. Figura 2 . Fratura de estresse da tíbia. Radiografias simples (frente e perfil) com 3 meses de evolução com calo ósseo. Nos corredores de longa distância são encontradas fraturas preferencialmente na transição do terço médio e distal, nos esportes de saltos (basquete, voleibol, atletismo) encontramos fraturas no terço proximal e nos bailarinos são descritas fraturas no terço médio da tíbia (Figuras 1, 2 e 3). A dor é geralmente localizada e apresenta caráter insidioso, piora com as atividades de impacto e manifesta-se inicialmente após o treinamento, evoluindo para a limitação progressiva da atividade física. A palpação da área da lesão pode apresentar um dolorimento difuso, edema e até espessamento do periósteo. 18 Planeta Esporte 2.pmd 18 11/5/2006, 16:18 Figura 3. Fratura de estresse da tíbia em decatleta. A) Cintilografia óssea; B) Radiografia simples (destaque: espessamento da cortical óssea, linha de radioluscência cortical); C) Osteossíntese intramedular com haste bloqueada. Os principais diagnósticos diferenciais das fraturas por estresse na tíbia são a síndrome do estresse tibial medial e a síndrome compartimental crônica. 3 As imagens da cintilografia óssea são, na fase tardia, normalmente focais e de aspecto fusiforme. Na tíbia, as fraturas de estresse situam-se frequentemente na borda cortical posterior, embora as fraturas da borda anterior possam ocorrer nos esportes com saltos e na dança e não raramente são observadas múltiplas lesões em outros ossos. O tratamento conservador se baseia no planejamento de duas fases, onde o atleta realiza atividades físicas para a manutenção do condicionamento aeróbico, evitando-se a realização de movimentos que geram situações de maior impacto como os saltos e as corridas.As atividades de vida diária são mantidas sem limitações, permitindo-se a deambulação com carga desde o início do tratamento.2 A O uso de medicações antinflamatórias e analgésicas, assim como a crioterapia na fase aguda permitem aliviar a dor, condição esta que permite ao atleta iniciar precocemente o processo de reabilitação específico. Neste processo, o atleta inicia progressivamente o retorno às atividades de caminhada, trote e corrida até a normalização das condições de treinamento. B Solados e palmilhas absorvedoras de choque também são utilizados no tratamento e reduzem a incidência de fraturas por estresse e as reações de estresse ósseo (SETM). A utilização de órteses pneumáticas na reabilitação das fraturas por estresse da tíbia reduz significativamente o tempo de retorno ao treinamento esportivo.2 Os estudos de Swenson registram um retorno médio às atividades esportivas em 21 dias (usuários de brace pneumático), quando comparado aos indivíduos com tratamento tradicional, que retornaram ao esporte em média de 77 dias.2 C 19 Planeta Esporte 2.pmd 19 11/5/2006, 16:19 A terapia com ondas de ultra-som pulsado de baixa intensidade (0,03 W.cm2), considerada uma faixa de intensidade para diagnóstico (0,005 a 0,05 W.cm2) também foi descrita como coadjuvante na aceleração do processo de reparação óssea nas fraturas de estresse da tíbia. 31 A redução na intensidade do treinamento de corrida e salto também pode ser um meio efetivo na prevenção das fraturas de estresse dos membros inferiores. Algumas fraturas por estresse localizadas na cortical anterior do terço médio da tíbia são visibilizadas às radiografias simples e denominadas “linhas de radiolucência alarmantes”. 2, 32 A primeira descrição desta condição clínica foi descrita por Burrows em bailarinos em 1956. 2 Tais fraturas representam a minoria das fraturas por estresse da tíbia e são consideradas de pior prognóstico, podendo evoluir para retarde de consolidação e pseudoartrose (tipo V). 29 Necessitam tratamento específico através do repouso prolongado, imobilização do membro e deambulação sem apoio até evidências radiográficas de formação de calo ósseo (6 a 8 semanas). 29 Raramente as fraturas por estresse da tíbia requerem tratamento cirúrgico (fixação intramedular e utilização de enxerto ósseo). As indicações para o tratamento cirúrgico são os casos refratários ao tratamento conservador após 3 a 6 meses 29, atletas de elite, fraturas de terço médio da perna com sinais radiográficos e clínicos de pseudoartrose. Síndrome do estresse tibial medial A Síndrome do Estresse Tibial Medial (SETM), “shin splint” e, popularmente descrita como “canelite”, são denominações comuns às reações ósseas, do periósteo e/ou da fáscia causadas por estresse e localizadas na borda pósteromedial da tíbia3. Podem corresponder a uma resposta osteoblástica por irritação periosteal, possivelmente causada por ruptura das fibras de Sharpey, entre o tendão do músculo sóleo e a tíbia. O músculo sóleo, através de sua ampla inserção na tíbia, é considerado um dos principais desencadeadores desta síndrome, pela tração contínua gerada. Considerando-se a SETM como um espectro, a RM revela no estágio inicial edema apenas localizado na região periosteal, podendo progredir para edema medular o qual se intensifica progressivamente. No último estágio, uma linha de fratura cortical torna-se evidente. Na Tabela 3, este espectro é demonstrado, através da comparação entre os achados radiográficos, a medicina nuclear e a ressonância magnética. Tabela 3. Graduação da síndrome do estresse tibial medial e da fratura por estresse. Radiografia Cintilografia Óssea Ressonância Magnética Normal Normal Normal Normal Grau I Normal Área de aumento de atividade óssea mal definida Edema periosteal em STIR/T2, Medula óssea normal em T1 e T2 Grau II Normal Aumento mais intenso, mas área ainda mal definida Edema periosteal moderado a severo e medular em STIR e T2 Grau III Linha discreta, discreta reação periosteal Área de atividade aumentada, bem definida, focal ou fusiforme Edema medular (T1 e T2 positivos), sem descontinuidade da cortical Grau IV Fratura ou reação periosteal Aumento mais intenso transcortical e localizado Linha de fratura presente em T1 e T2 20 Planeta Esporte 2.pmd 20 11/5/2006, 16:19 Nos atletas com a SETM, as fases de fluxo e pool são normais e a fase tardia demonstra uma concentração alongada, quase linear, na borda póstero-medial da tíbia. Esse padrão é diferente da fratura por estresse, pois, nesta, todas as três fases do estudo são anormais Figura 5. Cintilografia óssea do tornozelo de corredora de prova de fundo com fratura de estresse da fíbula Os diagnósticos diferenciais que podem se apresentar são: osteoma osteóide, osteomielite, metástase óssea cortical. Fíbula As fraturas por estresse da fíbula acometem mais comumente a extremidade distal, embora sejam também descritas na extremidade proximal (Figuras 4 e 5). O quadro clínico se manifesta por dor localizada na face lateral da perna e tornozelo que deve ser diferenciada da síndrome compartimental crônica, tendinite do bíceps e da síndrome da compressão do nervo fibular. 3 O tratamento se baseia na utilização de medicamentos antiinflamatórios, repouso relativo e retorno ao esporte em 3 semanas. Figura 4. Ressonância magnética do tornozelo de corredora de prova de fundo com fratura de estresse da fíbula. Pé e tornozelo As fraturas por estresse do pé e tornozelo ocorrem mais comumente nos atletas que executam modalidades que contenham a corrida e o salto como gesto esportivo predominante. Na corrida de longa distância, o carregamento repetido excede a capacidade de remodelação óssea e predispõem o surgimento das fraturas por estresse do maléolo medial, navicular, tálus, calcâneo e cubóide. 3 , 30 Na dança, as fraturas por estresse são descritas acometendo freqüentemente a diáfise proximal do 2o e 3o ossos metatarsais, os ossos sesamóides, o navicular e a extremidade distal da tíbia. 32 33 21 Planeta Esporte 2.pmd 21 11/5/2006, 16:19 Ossos Metatarsais Figura 8. Fratura de estresse do 2º osso metatarsal As fraturas dos ossos metatarsais são mais freqüentes nos adolescentes do que nos adultos e são também chamadas de “fraturas da marcha” devido ao fato de terem sido inicialmente descritas em recrutas militares (Figuras 6, 7 e 8). O colo e a diáfise do 2o e o 3o metatársicos são as regiões mais freqüentemente acometidas, podendo ser observadas lesões bilaterais concomitantes. 3 Figura 6. Fratura de estresse do 4º metatarso em tenista Figura 7. Fratura de estresse do 5 osso metatarsal O quadro clínico se caracteriza por dolorimento difuso sobre o metatarso, edema, e palpação de massa endurecida (calo ósseo). Nos bailarinos as fraturas por estresse mais comuns ocorrem no 2o e o 3o ossos metatarsais, além dos ossos sesamóides, navicular e extremidade distal da tíbia. O tratamento abrange a utilização de calçados com solados rígidos ou até mesmo órteses e imobilizações gessadas. O tempo médio previsto de retorno ao esporte é de 4 a 6 semanas. 22 Planeta Esporte 2.pmd 22 11/5/2006, 16:19 As fraturas do terço proximal do 5o metatarso podem ser classificadas segundo Dameron em 3 zonas: ■ Zona 1 - Avulsão proximal ■ Zona 2 - Região metafisária distal ■ Zona 3 - Transição Metáfiso-diafisária As fraturas de Jones são fraturas transversas localizadas na Zona 2 de Dameron distando cerca de 1,5 cm da tuberosidade.1 São mais freqüentemente encontradas nos atletas saltadores. 1 Estas fraturas podem ser agudas ou crônicas e apresentam uma elevada incidência de retarde de consolidação e pseudoartrose. 1 Torg classificou as lesões em 3 diferentes tipos, segundo a tabela 4. Tabela 4. Classificação das fraturas por estresse do 5º osso metatarsal Tipo 1 diafisárias agudas Tipo 2 diafisárias com retarde de consolidação Tipo 3 diafisárias com pseudoartrose As fraturas tipo 1 são inicialmente tratadas com repouso e diminuição da descarga de peso. A persistência dos sintomas além do período de 3 a 4 semanas preconiza a imobilização gessada prolongada sem descarga de peso durante um período de 4 a 6 semanas. As fraturas dos tipos 2 e 3 devem ser tratadas cirurgicamente através da fixação fixação intramedular com a utilização de parafusos de pequenos fragmentos ou parafusos canulados de 4,5 podendo utilizar enxerto ósseo. 1 Maléolo tibial A fratura por estresse do maléolo medial deve ser sempre considerada no diagnóstico diferencial da dor subaguda ou crônica quando o atleta realiza esportes de corrida ou salto e apresenta dor localizada sobre o maléolo medial, podendo ou não estar acompanhada de derrame articular.30,31 (Figura 9). Figura 9. Fratura de estresse do maléolo tibial de saltador. Um traço de fratura vertical a partir do bordo medial da extremidade distal da tíbia dirigindose até a metáfise pode ser visibilizado através da radiografia simples, mas mesmo que o exame radiográfico não identifique qualquer alteração, a cintilografia óssea deve ser solicitada. 30 31 O aumento da concentração do radioisótopo associado ao quadro clínico confirma o diagnóstico. 30 Sesamóides As fraturas por estresse dos ossos sesamóides do 1o pododáctilo se manifestam por dor localizada na face plantar da cabeça do 1o metatarso durante a posição ortostática. O sesamóide medial é o mais afetado e pode estar relacionado ao movimento de hiperdorsiflexão da articulação metatarsofalângica (“turf toe”).2,6 O tratamento inicial consiste na proteção de carga do 1o raio e imobilização nos casos sintomáticos. O tratamento cirúrgico deve ser considerado na falência do tratamento clínico, podendo ser utilizado enxerto ósseo nos casos onde houver fratura isolada (sesamóide medial) e cartilagem articular intacta. Nos casos onde houver comprometimento da cartilagem articular, deve-se considerar a excisão do sesamóide.1,2,6 23 Planeta Esporte 2.pmd 23 11/5/2006, 16:19 Navicular do tarso Figura 10. Fratura de estresse do calcâneo. As fraturas do osso navicular são muitas vezes causas de dor não diagnosticada no mediopé dos atletas. A dor pode ser uni ou bilateral e de localização na região dorsal do pé ou difusa. O período médio entre o início dos sintomas e o diagnóstico da fratura é de 7 meses. As fraturas podem ser parciais ou completas e apresentam-se com orientação linear no plano sagital, envolvem a superfície articular distal e geralmente não apresentam desvios. O diagnóstico deve ser lembrado sempre que um atleta queixar-se de dor no pé de caráter difuso acompanhada da palpação dolorosa do arco longitudinal medial. O tratamento consiste na imobilização com órteses ou gesso curto durante 6 a 8 semanas sem carga. A indicação cirúrgica ocorre nos casos refratários ao tratamento conservador, utilizando-se parafusos de pequenos fragmentos e enxerto ósseo. O retorno integral ao esporte ocorre entre 16 e 20 semanas. do calcâneo em recrutas militares. 5 A simples substituição das botas de combate por tênis e a mudança da superfície de asfalto por grama, proporcionaram uma redução de 20,5% para 7% na taxa de fraturas de estresse de calcâneo. 5 Calcâneo Pelve As fraturas por estresse do calcâneo (Figura 10), originalmente descritas em recrutas militares são também observadas nos atletas com predomínio nos corredores de longa distância e saltadores. 5 As fraturas por estresse do ramo púbico são relativamente raras, representando 1% a 2% de todas as fraturas por estresse. 34 A localização anatômica mais freqüente é o ramo púbico inferior (Figura 11) e menos freqüente o ramo púbico superior. 34 Embora a população de recrutas militares não represente a população de atletas, alguns conceitos de treinamento podem ser extrapolados para o esporte. A característica da marcha sobre asfalto ou cimento, utilizando botas de combate rígidas e marcando o passo através do choque firme do calcanhar no solo são fatores considerados predisponentes ao aparecimento de fraturas de estresse nos pés. 5 Figura 11. Fratura de estresse do ísquio em corredor. A importância dos sistemas de amortecimento de impacto nos solados dos calçados pôde ser constatada como mecanismo eficiente de redução da incidência das fraturas por estresse 24 Planeta Esporte 2.pmd 24 11/5/2006, 16:19 Coluna Figura 12. Fratura de estresse de sacro em tenista As fraturas por estresse da coluna lombar localizam-se preferencialmente na pars interarticulares, caracterizando a espondilolise. Alguns autores descrevem a espondilolise acometendo mais freqüentemente os atletas na fase de infância e adolescência, sobretudo nos esportes que executam precocemente movimentos de flexo-extensão repetida do tronco associados a movimentos torcionais e saltos, como encontramos na ginástica, dança, atletismo e outros. 35,36,37,38 O estudo de Rossi constatou em 26 anos de avaliação, uma incidência de 12,45% de casos de espondilolise entre atletas com queixas de lombalgia na faixa etária média de 20,6 anos. 39 Nos dançarinos, as fraturas por estresse da pars interarticulares na coluna lombar podem se manifestar como limitação aos movimentos de flexão do tronco e dor durante a hiperextensão unilateral, especialmente na realização do movimento de arabesque. 32 ,36 No surfe, a posição de hiperextensão do tronco durante a posição de espera da onda ou mesmo durante os movimentos rotacionais nas manobras, foram descritos como fatores implicados nas fraturas por estresse da pars articularis da coluna lombar e cervical. 40 Sacro As fraturas por estresse do osso sacro são incomuns, mas devem ser sempre lembradas no diagnóstico diferencial da dor lombar baixa e glútea. (Figura 12) 41 Apresenta um caráter insidioso e acomete geralmente recrutas militares, corredores de longa distância e tenistas. 41, 42 Estas fraturas decorrem da concentração de forças entre o sacro e o anel pélvico. Em geral ocorrem nos segmentos sacrais superiores e podem estar relacionadas à assimetria dos membros inferiores. 41 O diagnóstico é feito com base na história de dor glútea que pode mimetizar uma dor ciática. No exame físico, a manobra de Gaenslen para testar a articulação sacro-ilíaca é positiva para o lado afetado. 41 A radiografia simples pode identificar sinais de radiolucência e espessamento cortical na porção superior de uma das asas do sacro. A cintilografia, a tomografia computadorizada e a ressonância magnética poderão confirmar o diagnóstico. 41 O tratamento baseia-se no afastamento da atividade de corrida por 4 a 6 semanas seguido de gradual retorno às atividades esportivas. 41 25 Planeta Esporte 2.pmd 25 11/5/2006, 16:19 Costelas Figura 13. Fratura de estresse de costela em golfista As fraturas por estresse também são descritas nas costelas e podem acometer a 1a costela (arremessadores e levantadores de peso) assim como todas as demais costelas na prática de esportes como o golfe, tênis, beisebol, natação, canoagem e remo. (Figura 13) A maior incidência no remo deve-se à grande magnitude das contrações musculares tanto torácicas quanto abdominais no esporte. A etiopatogenia das lesões encontradas preferencialmente na 5a à 8a costelas pode ser explicada através da ação do músculo serrátil anterior que eleva e posterioriza as costelas em oposição à ação do músculo oblíquo externo que age diminuindo o diâmetro ânteroposterior do tórax. Tais fraturas relacionam-se também à posição final quando o remo está ainda na água e as escápulas estão retraídas com os ombros para trás. O paciente refere dores nas costelas localizadas na linha axilar média que pioram a palpação. O tratamento baseia-se no repouso, medicamentos antiinflamatórios e retorno progressivo ao esporte após 4 semanas. 26 Planeta Esporte 2.pmd 26 11/5/2006, 16:19 Referências Bibliográficas 1. Reeder MT, Dick BH, Atkins JA, Pribis AB. Stress Fractures. Current Concepts of Diagnosis and Treatment. Sports Med.1996 Sep:22(3): 198-212. 2. Swenson J, DeHaven KE, Sebastianelli WJ, Hanks G, Kalenak A, Lynch JM. The effect of a Pneumatic leg brace on return to play in athletes with tibial stress fractures. Am J Sports Med, Vol.25, No. 3, 1997,322-329. 3. Monteleone GP. Stress Fractures in the athlete. Orthopedic Clinics of North America. Vol. 26, No. 3, 1995,423-432. 4. Jones BH, Harris JM, Vinh TN, et al. Exercise-induced stress fractures and stress reactions of bone: epidemiology, etiology, and classification. Exerc Sports Sci Rev 1989; 17:379-420. 5. Matheson GO, Clement DB McKenzie MD, Taunton JE, LloydSmith MD, Macintyre JG. Stress fractures in athletes. A study of 320 cases. 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