capítulo 4 - Abeiramar TV

Transcrição

capítulo 4 - Abeiramar TV
PULP FICTION
TROPICAL
Noites Tropicais de Lua Cheia; Dias Solares;
E os Verdes Mares do Atlântico Sul.
Sexo. Drogas. Berimbau.
E o aço frio da navalha.
As aventuras, viagens e amores de
Noivo-da-Vida, Veneno-da-Madrugada, Toninho
Ventania
e Rufino Língua-de-Trapo.
Capoeiristas e viajantes,
heróis imbatíveis de corpo fechado em pleno
Século 21.
Fecha-te Corpo;
Guarda-te Irmão;
na Santa Arca de São Salomão.
Luzia dos Passos
Nestor Capoeira
2015
finalzinho do Capítulo 3
... Nossa estória tambem é a estória de um
destes raros Encantados de Alto Nível que
resolveu encarnar e viver uma longa vida
terrena.
Seu nome é Mão de Faca.
capítulo 4
VENENO-DA-MADRUGADA
Quiseram me matar
na porta do cabaré;
Eu vivo lá, noite e dia,
só não mata quem não quer.
Ê, meu nome é Veneno,
Veneno-da-Madrugada;
de Iansã, eu tenho o raio,
de Ogun, ferro e espada.
Eu sou livre como o vento,
venho de uma linhagem nobre;
Só respeito o velho Tempo.
que com o Tempo ninguem pode.
Ê, galo cantou.
côro: Ê, galo cantou, camará!
(Nestor Capoeira, 2014;
CD A balada de Noivo-da-Vida e Veneno-daMadrugada)
MATUTANDO FILOSOFIAS
O Brasil tinha ganho o jogo que o
classificava para as finais da Copa do Mundo, e
Veneno, encostado num balcão de bar na Praça
do Lido, em Copacabana, bebendo uma gelada,
olhava a festa louca que rolava na rua.
Relembrava como tinha escalado a fachada
externa do Hotel Copacabana Palace, e roubado
o Gringo Grandalhão há menos de uma hora
atrás.
"O dia tinha começado bem", lembrou
Veneno, "e, agora, com a grana já guardada, o
Brasil vencendo o jogo, e a festa rolando na rua;
o dia ia terminar melhor ainda".
TOME CUIDADO PARA NÃO ME
ACORDAR
Veneno tinha acordado cedo: a mina da noite
anterior tinha de sair para trabalhar.
Ele levou-a até a porta, enfiou uma grana na
mão dela: "pra pegar um taxi".
Ela recusou, estranhando a situação como se
dissesse "não sou nenhuma vagabunda".
Veneno beijou-a na boca ternamente e
insistiu: "você vai chegar atrasada; pega um
taxi". Ela finalmente aceitou e partiu
duplamente feliz, embolsando a grana.
Veneno voltou pra cama e sorriu ao se
lembrar de uma chula de Nestor Capoeira:
"Amanhã,
quando você for trabalhar, tome cuidado
para não me acordar:
eu durmo tarde,
a noite é minha companheira".
SINAIS DO DESTINO
Depois que a mina saiu, Veneno se lembrava
que tinha apagado e só acordou novamente no
comecinho da tarde; sentia-se leve e novo como
um bebê.
Botou uma sunga, óculos escuros, pegou
uma grana. Tomou um suco de laranja e comeu
uma esfirra na lanchonete da esquina, e andou
dois quarteirões até a praia de Copacabana.
Deu um corridão de uns 40 minutos na areia
dura perto do mar até o Posto 6; enfiou os
óculos escuros dentro da sunga, junto com a
grana, e voltou nadando.
Encontrou uma rapaziada jogando futebol na
praia; bateu uns 20 minutos de bola. O jogo
acabou, deu um mergulho para refrescar a
carcaça. Saiu da água se espreguiçando
satisfeito.
Veneno estava em forma.
Aí, a fome apertou.
Passou em casa, tomou uma ducha, meteu
um conjunto bege claro - destes de moleton que
a rapaziada usa pra correr no calçadão -, apertou
e deu dois num baseado, e foi rangar um peixe
num boteco da rua Rodolfo Dantas.
Foi por causa da fome, e da vontade de
comer peixe - vejam bem como a vida é curiosa
-, que Veneno acabou escalando o Copacabana
Palace, e embolsando a grana do Gringo
Grandalhão.
A SEMIFINAL DA COPA DO MUNDO
Veneno, encostado no balcão do bar da Praça
do Lido, rememorava o que tinha acontecido há
poucas horas atrás: a rua elétrica, ia rolar a
semifinal da Copa do Mundo e o Brasil tinha
chances de vencer e ser finalista.
Ele tinha entrado no buteco da Rodolfo
Dantas, em frente ao Copacabana Palace Hotel,
e tinha pedido a muqueca de peixe à capixaba aquela que usa, em vez do azeite de dendê, o
azeite de oliva temperado com a semente de
urucum. O urucum - uma semente vermelha,
muito usada pelos índios brasileiros - tem de ser
cozinhado, sem ferver, no próprio azeite de
oliva. Para temperar o peixe, use também pouca
pimenta e um quase nada de leite de côco.
Veneno lembrava-se que tinha dado um gole
numa ótima cachaça mineira, esfriado a
garganta com um gole de cerveja super gelada, e
provado a muqueca. Estava ótima.
Mas tinha pensado: "está ótima, mas a
verdade é que não chega nem aos pés da
muqueca do Peixinho".
MUQUECA AO URUCUM
Peixinho foi um dos (então) adolescentes
que fundaram o Grupo Senzala de Capoeira do
Rio de Janeiro, por volta de 1963.
A Senzala se tornou hegemônica nos 1970s e
1980s, tanto no estilo de jogo, quanto na (então)
nova infra-estrutura de um (então) moderno
grupo de capoeira. E, junto com alguns baianos
que se radicaram em São Paulo, como Suassuna
e Acordeon, a Senzala foi uma das principais
locomotivas de divulgação da Capoeira no Rio,
e depois em todo o Brasil - são uns 25.000
professores no Brasil, hoje em dia -; e também,
a partir de 1971, no exterior - a Capoeira já esta
com mais de 5.000 professores no estrangeiro,
em mais de 150 países.
Nesta virada, que começou por volta de
1960 - a Capoeira veio de Salvador para o Rio e
São Paulo, e daí para o mundo -, o Jogo sofreu
mais uma transformaçao.
Uma transformação tão profunda quanto a
do final dos 1800s: das violentas maltas
cariocas para a capoeira jogada na roda ao som
do berimbau, na cidade de Salvador.
E também, uma transformação tão radical
quanto à da década de 1930, também em
Salvador, quando mestre Bimba cria um método
de ensino e abre a primeira academia; logo
seguido por mestre Pastinha em 1941 - e
inauguram a Era das Academias que dura até
hoje.
Veneno-da-Madrugada, assim como
Peixinho e mais uma dúzia que ainda está na
ativa - João Grande, Suassuna, Acordeon, Gato,
Gil Velho, Nestor Capoeira e alguns outros -,
viveram e foram os vetores deste terceiro
upgrade, de 1960 - quando Rio e Sampa criam
um novo modelo de academia de capoeira e
começam a disputar a hegemonia com Salvador.
O Peixinho - melhor diríamos, o mestre
Marcelo Peixinho Guimarães - era um craque na
Capoeira, no frescobol na Praia do Diabo, no
selim da sua potente motocileta, e na muqueca à
capixaba.
Na muqueca era imbatível: mergulhava e
fisgava os peixes com arpão; e depois preparava
a sua obra de arte usando facas japonesas de
aspecto letal, e panelões de barro artesanais.
Isso acontecia, para gáudio da rapaziada, num
casarão que Peixinho tinha alugado na fronteira
do Bairro de Santa Teresa com as favelas do
Curvelo e da Coroa, que viviam trocando tiro
pois eram dominadas por duas facções
diferentes do tráfico de drogas - por causa do
tiroteio, o aluguel do casarão era uma mixaria.
Esta nova turma - Peixinho e Gato no Rio,
Suassuna e Acordeon em São Paulo, e outros, da
mudança de 1960 - era muito diferente dos
capoeiristas da geração mais velha.
A maioria dos jogadores da geração mais
velha - que ficou conhecida como a Velha
Guarda de Salvador - eram negros e mulatos de
baixa escolaridade, baianos dos estamentos
economicamente desfavorecidos.
Nesta geração mais velha tambem haviam
alguns poucos brancos da classe média, como
Angelo Decânio - que se tornou médico e
professor da Universidade Federal da Bahia -; e
Jair Perigo Moura - cineasta, jornalista e
escritor. A maioria era aluno de mestre Bimba, o
criador da Capoeira Regional; o homem que
"inventou" a academia de capoeira inaugurando uma nova Era, após o período da
Escravidão, e o da Marginalidade -, e criou o
método de ensino que é a base de todos os
métodos, de todos os estilos atuais.
Mas devido aos compromissos da vida
profissional, esta turma da Capoeira Regional
parou de jogar cedo, com 30 ou 35 de idade;
continuando, todavia, a acompanhar o que
acontecia no universo da capoeiragem,
escrevendo livros, artigos para jornais, filmando
documentários.
Curiosamente, e felizmente para a capoeira,
nunca houve ruptura nem estranhamento entre
as gerações: os ídolos dos jovens capoeiristas do
Rio e São Paulo, dos 1960s, eram João Grande e
João Pequeno, Decânio e Jair Perigo, e
principalmente os mestres Bimba e Pastinha.
No entanto, isto não impedia a luta pela
hegemonia entre os estilos - a maioria da
geração mais velha (João Grande, João
Pequeno, etc.) era de Angoleiros, e a turma mais
nova (dos 1960s) era de Regionais.
Tambem havia a luta pela hegemonia entre
cidades - Rio, São Paulo, Salvador e, mais tarde,
inúmeras outras metrópoles.
E tambem a luta pela hegemonia
"individual", pessoal. Até mesmo entre os
jogadores de um mesmo estilo, ou de um
mesmo grupo; indiferente às idades, à côr da
pele, e às classes sociais.
Era uma tribo onde não havia índios, só
caciques.
Todos eles, até mesmo aqueles que
originariamente eram otários de quatro costados,
do proletariado ou da classe média, acabaram
formados na Mandinga; na Arte da Esquiva; na
Malícia; no suíngue da Malandragem AltoAstral.
SINAIS EXTRASENSORIAIS
Veneno se lembrava que tinha terminado de
comer a moqueca - "estava boa, mas a do
Peixinho é melhor" -, e tinha mandado descer
mais uma mineira e uma gelada.
O botequim em frente ao Copacabana Palace
começou a encher; as ruas ficaram desertas e o
jogo de futebol começou.
Uma hora e meia depois, o jogo 2x2, Veneno
reparou num carro que tinha parado em frente
ao Hotel Copacabana Palace do outro lado da
rua deserta e, para sua surpresa, Carlinhos Piupiu desceu carregando uma maleta tipo
executivo, de metal prateado.
"Porra, Carlinhos Piu-piu era Botafoguense
doente. Era fanático por futebol. Como é que
não estava assistindo o jogo?"
Veneno sentiu, muito lá no fundo,
imperceptível talvez para quam não era ligado
no lance, um arrepio esquisito.
Sinais.
De repente - assim, vindo de nada - lembrou
que, depois que a mina tinha saído de manhã
para trabalhar, ele tinha sonhado com uma
maleta igualzinha, cheia de dollar - sinais!
Um Gringo Grandalhão saiu do Hotel
carregando uma maleta, dessas de companhia de
aviação. Veneno, mesmo sem querer, ficou
ligadão.
O Gringo e Piu-piu trocaram de maletas,
deram uma olhada cuidadosa no interior - ali
mesmo, calmamente, na maior cara-de-pau, em
plena Avenida Atlântica.
Apertaram as mãos.
Piu-piu voltou ao carro e partiu; o Gringo
voltou para o hotel.
OS FILHOS DO SENADOR
Ora, Veneno conhecia Carlinhos Piu-piu
desde garoto.
Carlinhos e o irmão, o Delano Bule, eram
filhos de um esperto que tinha sido vereador,
deputado, vice-prefeito, senador. Moravam num
puta apartamento na Avenida Barata Ribeiro.
O Bule tinha se formado advogado e hoje
era um respeitado e sofisticado Delegado de
Polícia, disputado pelos canais de televisão onde
pontificava com elegância e sabedoria sobre os
problemas da violência nos grandes centros
urbanos; o Piu-piu era talvez o maior tranzeiro
da classe média alta de Copacabana e
adjacências.
Quando adolescentes, Piu-piu e o irmão iam
frequentemente para os USA, inicialmente para
Miami, para a Disneylândia - foi lá que, aos 13 e
14 de idade, fumaram o primeiro baseado.
Mais tarde, quando já era surfista nas ondas
da praia do Arpoador, Piu-piu descobriu a
California, os hippies, e o LSD - que começou a
trazer para o Brasil, e vender para os amigos.
Tudo isso era bancado por eu e por você,
caro leitor, gentil leitora; pois era com o
dinheiro público que o papai dos dois
pilantrinhas patrocinava as viagens para Piu-piu
e Delano terem contato com uma "cultura mais
evoluida", inclusive aprendendo a falar inglês.
Piu-piu era um cara inteligente: nunca se
meteu no negócio de maconha, e menos ainda
no de cocaína. Tinha muito cachorro grande
disputando a parada e a barra podia
derepentemente ficar muito pesada.
Com as costas quentes - pai deputado e,
mais tarde, irmão delegado -, Piu-piu nunca
tinha entrado numa fria e, em poucos anos,
formou uma rede de vendedores - patricinhas e
mauricinhos de grana - que frequentavam as
praias e as buates da moda.
É verdade que quando um ramo das Forças
Armadas Brasileira - radical de direita, e
bastante limitado em matéria de visão e
inteligência - deu aquele golpe em 1964; o pai
dos dois pivetes, Sua Excelência, o Nobre
Deputado, ficou sem saber qual era, perdeu o
chão, ficou a ver navios.
Mas quando percebeu que Roberto Marinho
- o chefão do jornal e da televisão Globo - tinha
se alinhado com os militares linha-dura e, junto
com ele, uma corja de canalhas do tipo do
banqueiro mineiro Magalhães Pinto, dos
latifundiários nordestinos José Sarney e Collor
de Melo - pai do futuro presidente Fernando
Collor, de triste memória -, do político baiano
Antonio Carlos Magalhães, do estelionatário
naturalisado paulista Paulo Maluf, e alguns
outros; o pai de Piu-piu e Bule não teve mais
dúvidas, e tambem se alinhou com a ditadura.
Nos 20 anos seguintes, até a morte do
Senador em circunstâncias um tanto misteriosas
- murmurava-se: "queima de arquivo" -, Piu-piu
e Bule viveram vida de Príncipe.
VENENO COM SEUS BOTÕES
E, agora, tomando cerveja na Praça do Lido,
a festa louca rolando na rua - "Brasil! Brasil!" -,
Veneno sorria se lembrando como Piu-piu,
descendo do carro com a maleta tipo James
bond na mão, tinha despertado sua atenção e, no
final das contas, feito a fortuna de Veneno.
Não uma Fortuna para a vida inteira, mas
uma grana grossa da melhor qualidade.
"Crime perfeito. Aliás, quase perfeito:
faltava deschavar o conjunto de moleton bege
numa lixeira longe de casa".
Alguem poderia ter visto Veneno - "... um
negro de moleton bege" -, quando escalava o
Copacabana Palace.
"Tem que correr atrás", pensou Veneno.
"Ficar esperando o mar pegar fogo pra
comer peixe frito raramente funciona".
No entanto, vez por outra, a vida sorri - dá
uma colher-de-chá. Os chineses aconselham:
"agarre as oportunidades pelos cabelos, elas
ficam carecas rapidamente".
"Basta o cara estar atento aos sinais;
reconhecer o momento de agir; entrar no fluxo;
agir sem pestanejar, no tempo, rápido, mas
lúcido e com calma", matutava Veneno.
"E depois - e isto era importante -, fechar a
parada cuidadosamente com chave de ouro". E
Veneno se lembrou novamente que ainda faltava
deschavar a roupa de moleton bege longe de
casa.
Para um jogador de capoeira experiente a
situação - "agarrar as oportunidades" - não era
uma novidade: acontecia em todo jogo,
acontecia em toda roda.
"Viver é uma arte", sentenciava mestre
Angolinha, "mas nem todos são artistas".
Veneno segurou, por um breve instante, o
Cinco Salomão que trazia pendurado no
pescoço, numa fina corrente de ouro. E
mentalmente recitou as orações de fechar corpo
de São Jorge e de São Salomão.
Que meus inimigos tenham pernas e não me
alcancem.
Tenham mãos e não me toquem.
Tenham olhos e não me vejam.
E nem mesmo em pensamento possam me
fazer mal.
Arma de fogo não me alcançará. Espada,
faca e navalha se quebrem, sem meu Corpo
cortar. Cordas e correntes se arrebentem, sem
meu Corpo amarrar,
Porque Eu estou vestido com as Roupas e as
Armas de Jorge.
Salve Jorge!
Salve Jorge!
Salve Jorge!
Salve São Miguel Arcanjo, meu Arcanjo
protetor.
Fecha-te Corpo!
Guarda-te Irmão!
Na Santa Arca de São Salomão!
O CINCO SALOMÃO
No Brasil, a magia e a feitiçaria são muito
populares. Algo veio com os africanos; algo dos
índios brasileiros; algo dos europeus, incluindo
os judeus.
O Cinco Salomão (signo de Salomão) é a
estrela de cinco pontas do rei judeu, Salomão, a
respeito do qual lemos na Bíblia.
Na Europa medieval, a estrela de cinco
pontas -talvez originalmente da Cabala judia estava ligada a diferentes rituais e simbolismos
da "magia branca". Quando era desenhada de
cabeça para baixo, significava "magia negra".
No Brasil, o Cinco Salomão é usado como
amuleto protetor para "fechar o corpo".
João do Rio o menciona numa de suas
crônicas, de maneira tão familiar que não deixa
dúvidas quanto à popularidade do amuleto
desde, pelo menos, o início dos 1900s.
Muitas vezes, a estrela é um amuleto feito de
metal - ouro, prata, ferro - pendurado no
pescoço; outras vezes, é usado juntamente com
ervas, infusões, banho de fumaça, rezas
mágicas; pode tambem ser usado como ponto
riscado, desenhado no chão.
O Cinco Salomão simboliza um homem de
braços e pernas abertas.
Leonardo daVinci, que também era
alquimista, fez um conhecido desenho da estrela
e seu simbolismo. A estrela/homem é
circundada por um círculo para proteção contra
o mal físico, mental ou espiritual.
No Brasil, o círculo vem, muitas vezes,
encimado por uma cruz. É a cruz do Cristo; mas
também é a cruz das encruzilhadas, local de
tomada de decisões que pertence a Exú - o
mensageiro entre deuses e homens que carrega o
axé (energia vital) a tiracolo numa cabaça
pontuda.
O Cinco Salomão é o signo protetor do
capoeirista.
Dizem que fecha o corpo contra faca,
navalha, bala de revólver; protege contra
emboscada; fortalece o espírito contra
mandinga e olho grande.
Na academia de mestre Bimba, em Salvador
(1930 em diante), adotaram um logotipo que
chamaram de Cinco Salomão. Mas, na verdade,
era a estrela de seis pontas do rei Davi, outro
símbolo muito poderoso entre os antigos
alquimistas da Europa.
Os dois triângulos entrelaçados, do rei Davi
e da atual bandeira de Israel, um apontando para
baixo e outro para cima, tinham diversos
significados:
- "o que está acima é como o que está
abaixo";
- o mundo material (cá em baixo) seria um
reflexo dos eventos do mundo espiritual (lá em
cima);
- o positivo e o negativo, o bem e o mal,
caminham entrelaçados e compõe uma única
coisa, etc.
Mestre Decânio, braço direito de Bimba na
década de 1940, me contou que a estrela de seis
pontas tinha sido escolhida, ao invés do
tradicional Cinco Salomão de cinco pontas,
porque entre outras coisas, mostrava o
entrelaçamento entre o jogo em pé (no alto) e o
jogo no chão (em baixo).
Fim do capítulo 4.
Continua na próxima semana, aqui, no
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