O Caminho do Discípulo

Transcrição

O Caminho do Discípulo
SESSÃO DA MANHÃ DE DOMINGO
5 de abril de 2009
O Caminho
do Discípulo
P R E S I D E N T E D I E T E R F. U C H T D O R F
Segundo Conselheiro na Primeira Presidência
O Caminho do Mundo
Chegou a hora de abraçar o evangelho de Jesus Cristo, de
nos tornarmos Seus discípulos e de trilharmos Seu caminho.
Talvez os discípulos pensassem
que essa era a ocasião em que as coisas mudariam — o momento em que
o mundo judeu reconheceria Jesus,
finalmente, como o Messias há tanto
tempo esperado. Mas o Salvador compreendia que muitos daqueles brados
de louvor e aclamação seriam temporários. Sabia que logo subiria ao
monte das Oliveiras e lá, sozinho no
Getsêmani, tomaria sobre Si os pecados do mundo.
O Evangelho de Jesus Cristo
H
oje é o dia que, tradicionalmente, o mundo cristão chama
de Domingo de Ramos. Vocês
devem lembrar-se de que foi nesse
domingo, há cerca de 2.000 anos,
que Jesus Cristo entrou na Cidade de
Jerusalém durante a última semana de
Sua vida mortal.1 Em cumprimento da
antiga profecia de Zacarias,2 Ele veio
montado em um jumentinho e, ao
fazê-lo, uma grande multidão saiu para
saudar o Mestre e cobriu o caminho
diante Dele com folhas de palmeiras,
ramos de árvores e até mesmo com as
próprias vestes. Quando Ele Se aproximou, eles proclamaram: “Bendito o
Rei que vem em nome do Senhor”3
e “Hosana ao Filho de Davi”.4
esperança e alegria, e a garantia de
que Deus tem um plano de redenção
e felicidade para Seus filhos.
O evangelho é o caminho que o
discípulo tem a trilhar. Seguindo esse
caminho, poderemos encontrar confiança e alegria — mesmo durante os
tempos de perigo, tristeza e incerteza.
É apropriado que, durante a
semana do Domingo de Ramos à
manhã da Páscoa, dirijamos nossos
pensamentos a Jesus Cristo, a fonte
da luz, da vida e do amor. As multidões de Jerusalém podem tê-Lo visto
como um grande rei que os livraria
da opressão política. Mas, na realidade, Ele nos deu muito mais do
que isso. Ele nos deu Seu evangelho,
uma pérola de valor inestimável, a
grande chave do conhecimento que,
uma vez compreendida e usada, propicia uma vida de felicidade, paz e
realização.
O evangelho representa as boas
novas de Cristo. É a revelação de que
o Filho de Deus veio à Terra, viveu
uma existência perfeita, expiou nossos pecados e conquistou a morte. É
o caminho da salvação, o caminho da
Vivemos numa época em que muitos se preocupam com seu sustento.
Preocupam-se com o futuro e duvidam de sua capacidade de enfrentar
os desafios com que se deparam.
Muitos passaram por infortúnios e
tristezas pessoais. Eles anseiam por
um significado e propósito na vida.
Por haver grande interesse nessas
questões, o mundo não se acanha em
oferecer numerosas respostas novas
para cada problema que enfrentamos.
As pessoas correm de uma ideia para
outra, esperando encontrar algo que
responda às questões veementes de
sua alma. Elas frequentam congressos
e compram livros, CDs e outros produtos. São apanhadas pela euforia de
procurar algo novo. Mas, inevitavelmente, a chama de cada nova teoria
enfraquece, para logo dar lugar a
outra solução “nova e aperfeiçoada”
que promete fazer o que as anteriores
não conseguiram.
Não é que essas opções não contenham elementos da verdade: muitas
delas os têm. Não obstante, todas elas
carecem da mudança duradoura que
procuramos em nossa vida. Depois
que desaparece a euforia, permanece
o vazio ao buscarmos uma nova ideia
que desvende os segredos da verdadeira felicidade.
Em contraste, o evangelho de
Jesus Cristo contém respostas para
todos os nossos problemas. O evangelho não é um segredo. Não é complicado nem está escondido. Ele
abre as portas da verdadeira felicidade. Não é a teoria ou proposição
de alguém. Não vem de nenhum
homem. Ele brota das águas puras
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e eternas do Criador do universo,
que conhece verdades que nem ao
menos podemos começar a compreender. E com esse conhecimento,
Ele nos deu o evangelho — um dom
divino, a fórmula definitiva para a felicidade e o sucesso.
Como Nos Tornamos Discípulos de
Jesus Cristo?
Quando ouvimos as verdades
transcendentes do evangelho de Jesus
Cristo, a esperança e a fé começam a
brotar dentro de nós.5 Quanto mais
suprimos nosso coração e nossa
mente com a mensagem do Cristo
ressuscitado, maior é nosso desejo de
segui-Lo e de viver os Seus ensinamentos. Isso, por sua vez, faz com que
a nossa fé cresça e permite que a luz
de Cristo ilumine nosso coração.
Quando isso acontece, reconhecemos
as imperfeições de nossa vida e desejamos ser purificados do deprimente
fardo do pecado. Ansiamos pela libertação do pecado, e isso nos inspira a
nos arrependermos.
A fé e o arrependimento levam às
águas purificadoras do batismo, onde
fazemos o convênio de tomar sobre
nós o nome de Jesus Cristo e andarmos em Suas veredas.
Para nos apoiar no desejo de ter
uma vida pura e santa, somos investidos pelo batismo de fogo — o indescritível dom do Espírito Santo, o
Consolador celestial que nos acompanha e orienta ao andarmos na vereda
da retidão.
Quanto mais plenos ficamos do
Espírito de Deus, mais nos dedicamos aos outros. Tornamo-nos pacificadores em nosso lar e em nossa
família, e ajudamos nosso próximo
em toda parte, estendendo a mão
em atos misericordiosos de bondade, perdão, graça e paciência
longânime.
Esses são os primeiros passos ao
longo do verdadeiro caminho da vida
e da realização. Esse é o caminho
pacífico do seguidor de Jesus Cristo.
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O Caminho da Paciência
Esse caminho, porém, não é uma
solução rápida nem uma cura da
noite para o dia.
Um amigo meu escreveu-me
recentemente, confidenciando que
enfrentava dificuldades em manter
seu testemunho forte e vibrante.
Pedia-me conselhos.
Respondi-lhe sugerindo afetuosamente algumas coisas específicas
que ele poderia fazer para que sua
vida se alinhasse mais intimamente
aos ensinamentos do evangelho restaurado. Para minha surpresa, ele me
respondeu logo na semana seguinte.
O resumo de sua carta foi este:
“Experimentei fazer o que você
sugeriu. Não funcionou. O que mais
você tem?”
Irmãos e irmãs, precisamos ser
constantes. Não obtemos a vida eterna
de repente — esta é uma corrida de
perseverança. Precisamos aplicar repetidamente os divinos princípios do
evangelho. Precisamos nos dedicar a
eles dia após dia, tornando-os parte
de nosso cotidiano.
Com muita frequência, em relação
ao evangelho, nos comportamos como
um fazendeiro que coloca uma
semente na terra pela manhã e espera
que haja espigas de milho à tarde.
Quando Alma comparou a palavra de
Deus a uma semente, explicou que a
semente se torna uma árvore frutífera
gradualmente, como resultado de
nossa “fé e de [nossa] diligência e
paciência e longanimidade”.6 É verdade que algumas bênçãos são imediatas — logo que plantamos a semente
em nosso coração, ela começa a inchar
e crescer, e por isso sabemos que a
semente é boa. Assim que colocamos
os pés no caminho que os discípulos
têm a trilhar, bênçãos visíveis e invisíveis de Deus começam a nos acompanhar. Mas não podemos receber a
plenitude dessas bênçãos se “[negligenciarmos] a árvore e [deixarmos] de
tratá-la”.7 Saber que a semente é boa
não é suficiente. Precisamos tratar
“dela com muito cuidado, para que
crie raiz”.8 Somente então poderemos
partilhar do fruto que é “mais doce
que tudo que é doce, (…) e mais puro
que tudo que é puro” e “banquetear[nos] com esse fruto até [fartar-nos]
de modo que não [teremos] fome
nem [teremos] sede”.9
A vida do discípulo é uma jornada.
Precisamos das lições refinadoras da
jornada para moldar nosso caráter e
purificar nosso coração. Andando
pacientemente no caminho do discipulado, demonstramos a nós mesmos
a medida de nossa fé e nossa disposição de aceitar a vontade de Deus, em
vez da nossa.
Não é suficiente meramente falar
de Jesus Cristo ou proclamar que
somos Seus discípulos. Não é suficiente nos rodearmos de símbolos da
nossa religião. Ser discípulo não é um
esporte para espectadores. Não podemos esperar receber as bênçãos da fé
ficando inativos na arquibancada, do
mesmo modo que não recebemos os
benefícios da saúde sentados no sofá
assistindo a eventos esportivos na
televisão e dando conselhos aos atletas. No entanto, alguns consideram
preferível ser “discípulos de arquibancada” e, por vezes, até fazem dessa
sua principal forma de adoração.
Nossa religião é de ação, não de
observação. Não podemos receber as
bênçãos do evangelho simplesmente
observando o bem que outras pessoas fazem. Precisamos sair da arquibancada e praticar o que pregamos.
O Caminho Está Aberto para Todos
O primeiro passo no caminho do
discípulo começa, para sorte nossa,
no exato lugar onde nos encontramos! Não precisamos qualificar-nos
previamente para dar esse primeiro
passo. Não importa se somos ricos ou
pobres. Não é obrigatório sermos instruídos, eloquentes ou intelectuais.
Não precisamos ser perfeitos, falar
bem, nem mesmo ter bons modos.
Eu e vocês podemos trilhar esse
caminho e viver como discípulos hoje.
Que sejamos humildes; que oremos ao
Pai Celestial de todo coração e expressemos nosso desejo de nos aproximar
Dele e aprender com Ele. Tenham fé.
Procurem, e encontrarão. Batam, e a
porta será aberta.10 Sirvam ao Senhor,
servindo aos outros. Tornem-se participantes ativos em sua ala ou ramo.
Fortaleçam sua família, comprometendo-se a viver os princípios do evangelho. Sejam unos de coração e mente
em seu casamento e em sua família.
Chegou a hora de endireitar a vida
para poder ter uma recomendação
para o templo e usá-la. Chegou a hora
de realizar noites familiares significativas, de ler a palavra de Deus e de conversar com nosso Pai Celestial em
fervorosa oração. Chegou a hora de
enchermos o coração de agradecimento pela Restauração de Sua Igreja,
por Seus profetas vivos, pelo Livro de
Mórmon e pelo poder do sacerdócio,
que abençoa nossa vida. Chegou a
hora de abraçar o evangelho de Jesus
Cristo, de nos tornarmos Seus discípulos e de trilharmos Seu caminho.
Existem alguns que creem que,
por terem cometido erros, não
podem mais participar plenamente
das bênçãos do evangelho. Como
entendem pouco dos propósitos do
Senhor! Uma das grandes bênçãos de
se viver o evangelho é que ele nos
refina e nos ajuda a aprender por
meio de nossos erros. “Todos [pecamos] e destituídos [estamos] da glória de Deus”,11 no entanto, a Expiação
de Jesus Cristo tem o poder de nos
curar quando nos arrependemos.
Nosso querido amigo, o Élder
Joseph B. Wirthlin nos ensinou esse
princípio com clareza, quando disse:
“Como é maravilhoso saber que o
Pai Celestial nos ama, mesmo com
todos os nossos defeitos! Seu amor é
tão intenso que, ainda que nos consideremos um caso perdido, essa
nunca será a opinião Dele.
[Talvez] a percepção que temos de
nós mesmos se [baseie] apenas no
passado e no presente. Mas a visão
que o Pai Celestial tem de nós é
eterna. (…)
O evangelho de Jesus Cristo é
um evangelho de transformação. A
partir de homens e mulheres terrenos, refina-nos para que nos tornemos homens e mulheres eternos.”12
Àqueles que deixaram o caminho a
ser trilhado pelo discípulo, seja qual
tenha sido a razão, convido-os a
começar onde estão e a vir para o
evangelho restaurado de Jesus Cristo.
Percorram novamente o caminho do
Senhor. Testifico-lhes que o Senhor
abençoará sua vida, investi-los-á com
conhecimento e alegria além da sua
compreensão e destilará sobre vocês
os dons supremos do Espírito.
Sempre é a hora certa de andar em
Seu caminho. Nunca é tarde demais.
Àqueles que se sentem inadequados por não serem membros da Igreja
durante a vida toda, àqueles que
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acham que nunca poderão recuperar
o tempo perdido, testifico que o
Senhor precisa especificamente de
suas habilidades, de seus talentos e
de sua capacidade. A Igreja precisa
de vocês, nós precisamos de vocês.
Sempre é a hora certa de andar em
Seu caminho. Nunca é tarde demais.
As Bênçãos de Ser Discípulo
Que nos lembremos de que, neste
Domingo de Ramos, durante esta
época de Páscoa — e sempre — o
evangelho restaurado de nosso
Senhor e Salvador Jesus Cristo tem o
poder de preencher qualquer vazio,
curar qualquer ferida e transpor qualquer vale de lágrimas. Ele é o caminho
da esperança, da fé e da confiança no
Senhor. O evangelho de Jesus Cristo é
ensinado em sua plenitude nesta, que
é A Igreja de Jesus Cristo dos Santos
dos Últimos Dias. Esta Igreja é dirigida
por um profeta vivo, autorizado pelo
Senhor Jesus Cristo a fim de proporcionar orientação e direção para ajudar-nos a enfrentar os desafios de
nossos dias não importando quão
sérios venham a ser.
Presto meu solene testemunho de
que Jesus Cristo vive. Ele é o Salvador
e Redentor do mundo. É o Messias
prometido. Ele viveu uma existência
perfeita e expiou nossos pecados. Ele
estará sempre ao nosso lado. Lutará
as nossas batalhas. Ele é a nossa esperança. Ele é a nossa salvação. Ele é o
caminho. Dessas coisas eu testifico,
no sagrado nome de Jesus Cristo.
Amém. ■
NOTAS
1. Ver Mateus 21:6–11.
2. Ver Zacarias 9:9.
3. Lucas 19:38.
4. Mateus 21:9.
5. Ver Romanos 10:17.
6. Alma 32:43.
7. Alma 32:38.
8. Alma 32:37.
9. Alma 32:42.
10. Ver Mateus 7:7.
11. Romanos 3:23.
12. Joseph B. Wirthlin, “O Grande
Mandamento”, A Liahona, novembro
de 2007, p. 29.
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Achegar-nos a Ele
ÉLDER NEIL L. ANDERSEN
Do Quórum dos Doze Apóstolos
Sei com perfeita e segura clareza, pelo poder do Espírito
Santo, que Jesus é o Cristo, o Filho Amado de Deus.
M
eus queridos irmãos e irmãs
do mundo inteiro, meus joelhos tremem e estou muito
emocionado. Expresso meu amor por
vocês e agradeço profundamente seu
voto de apoio. Em muitíssimos aspectos, sinto-me inadequado e humilde.
Consolo-me com o fato de que
numa das qualificações indispensáveis
para o santo apostolado o Senhor me
abençoou profundamente: Sei com
perfeita e segura clareza, pelo poder
do Espírito Santo, que Jesus é o
Cristo, o Filho Amado de Deus.
Não há homem mais amoroso
do que o Presidente Thomas S.
Monson. Ele é caloroso como o sol
do meio-dia, mas quando me fez este
sagrado chamado, podem imaginar
a seriedade que senti quando os
olhos do profeta de Deus penetraram
profundamente os recônditos de
minha alma. Felizmente vocês podem
também imaginar o amor que senti
proveniente do Senhor e de Seu
Profeta, quando o Presidente Monson
envolveu-me em seus grandes e amorosos braços. Eu o amo, Presidente
Monson.
Para os que me conhecem, se fui
menos do que deveria ser em sua presença, peço seu perdão e paciência.
Preciso imensamente de sua fé e orações em meu favor.
Sei que não sou aquilo que preciso
vir a ser. Oro para que eu seja submisso e receptivo à instrução e correção do Senhor. Consolam-me as
palavras do Presidente Monson proferidas na sessão do sacerdócio de
ontem à noite de que o Senhor
modela as costas para que suportem
o fardo colocado sobre elas.
Logo após meu chamado para ser
Autoridade Geral, há 16 anos, numa
conferência de estaca em que acompanhava o Presidente Boyd K. Packer,
ele disse algo que jamais esqueci. Ao
falar para a congregação, disse: “Eu
sei quem sou”. Depois de uma pausa,
ele acrescentou: “Não sou ninguém”.
Depois, virou-se para mim, que estava
sentado no púlpito atrás dele, e disse:
“E você, irmão Andersen, também
não é ninguém”. Em seguida, acrescentou estas palavras: “Se você se
esquecer disso, o Senhor vai lembrálo disso imediatamente, e não vai ser
agradável”.
quando. Todos nós precisamos arrepender-nos, reconhecer nossas fraquezas e vir mais intensamente a Cristo.
Assim como Susanna, talvez tenhamos de trocar nosso espelho para atravessar os vales da dor, do sofrimento e
do desânimo. Mas ao fazermos isso,
descobriremos a força que nos é dada
por Deus, a qual não teríamos encontrado se não fosse por esse meio.
O Presidente Joseph F. Smith
falou com muito sentimento sobre a
força interior das mulheres pioneiras. Disse: “A morte nada lhes significava. As dificuldades não eram
nada para elas. O frio ou a chuva, o
calor, nada significavam para elas.
Tudo que sentiam e sabiam e desejavam era o triunfo do reino de Deus e
da verdade que o Senhor lhes tinha
concedido”. E depois, com toda a
sinceridade de um profeta de Deus,
ele exclamou: “E agora, onde estão
essas mulheres?”6
Estou hoje aqui para prestar testemunho de que tais mulheres estão
no mundo inteiro, na Sociedade de
Socorro da Igreja. Sou grata, imensamente grata, pela oportunidade que
tenho de ver as mulheres do nosso
tempo que “se fortaleceram no
conhecimento da verdade”.7 De todo
o coração, eu sei que o Senhor pode
fazer “que as coisas fracas se tornem
fortes”.8 Sei que esta é a Sua obra e
este é Seu reino. E sei que cada uma
de nós pode refletir o Salvador pelo
modo como escolhermos viver a
nossa vida. Em nome de Jesus
Cristo. Amém. អ
NOTAS
1. Journey to Zion: Voices from the
Mormon Trail, compilado por Carol
Cornwall Madsen, (1997), pp. 631–635.
2. D&C 38:27.
3. Ensinamentos do Profeta Joseph Smith,
seleção de Joseph Fielding Smith (1976),
p. 223.
4. Ver “Para Tal Tempo Como Este”,
A Liahona, fevereiro de 2002, p. 18.
5. Ver I Coríntios 11:28.
6. Ensinamentos dos Presidentes da Igreja,
Joseph F. Smith, p. 189.
7. Alma 17:2.
8. Éter 12:27.
Vinde Após Mim
Élder Joseph B. Wirthlin
Do Quórum dos Doze Apóstolos
Aqueles que deixam suas redes, com fé, e seguem o Salvador
terão uma alegria que está muito além de sua capacidade de
compreender.
E
les eram pescadores antes de
ouvirem o chamado. Lançando
suas redes no mar da Galiléia,
Pedro e André pararam quando Jesus
de Nazaré Se aproximou, olhou em
seus olhos e disse estas simples palavras: “Vinde após mim”. Mateus relata
que os dois pescadores, “deixando logo
as redes, seguiram-no”.
Então, o Filho do Homem aproximou-Se de dois outros pescadores
que estavam num barco com seu
pai, consertando suas redes. Jesus os
chamou: “[E Tiago e João], deixando imediatamente o barco e seu
pai, seguiram [o Senhor]”.1
Vocês já se perguntaram como
seria viver na época do Salvador? Se
tivessem estado ali, teriam atendido
a Seu chamado: “Vinde após Mim!”
Talvez, uma pergunta mais realista seria: “Se o Salvador os chamasse hoje, estariam dispostos a
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largar suas redes e segui-Lo?” Estou
certo de que muitos o fariam.
Mas para alguns, essa pode não ser
uma decisão assim tão fácil. Alguns
descobrem que suas redes, por sua
própria natureza, muitas vezes não
são tão fáceis de se abandonar.
Existem redes de muitos tamanhos e formatos. As redes que
Pedro, André, Tiago e João deixaram para trás eram objetos tangíveis:
Ferramentas que os ajudavam a
ganhar a vida.
Muitas vezes pensamos nesses quatro homens como humildes pescadores que não tiveram que sacrificar
muito quando deixaram suas redes
para seguir o Salvador. Pelo contrário,
como ressalta o Élder James E.
Talmage, em Jesus o Cristo, Pedro,
André, Tiago e João eram sócios num
negócio rendoso. “Eram proprietários
de barcos e empregavam outros
homens”. De acordo com o Élder
Talmage, Simão Pedro “encontrava-se
em boa situação financeira; e quando
uma vez afirmou haver deixado tudo
para seguir Jesus, o Senhor não negou
que o sacrifício de Pedro, quanto aos
seus bens temporais, tivesse sido
grande (. . .)”.2
Mais tarde, a rede das riquezas
aprisionou um jovem rico que dizia
ter obedecido todos os mandamentos desde sua juventude. Quando
ele perguntou ao Salvador o que
mais teria que fazer para alcançar a
vida eterna, o Mestre disse: “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo
o que tens e dá- o aos pobres, e
terás um tesouro no céu; e vem, e
segue-me.” Quando o jovem ouviu
isso, “retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades”.3
As redes geralmente são definidas como dispositivos para capturar
algo. De modo mais restrito, porém
mais importante, podemos definir
uma rede como qualquer coisa que
nos tente ou nos impeça de seguir o
chamado de Jesus Cristo, o Filho do
Deus vivo.
As redes, nesse contexto, podem
ser nosso emprego, nossos hobbies,
nossos prazeres e, acima de tudo, nossas tentações e pecados. Em resumo,
uma rede pode ser qualquer coisa que
nos arraste para longe de nosso Pai
Celestial ou de Sua Igreja restaurada.
Deixem-me dar-lhes um exemplo
moderno. Um computador pode ser
uma ferramenta útil e indispensável.
Mas se permitirmos que ele consuma nosso tempo com propósitos
inúteis, improdutivos e até mesmo
destrutivos, ele pode tornar-se uma
rede que nos prende.
Muitos gostam de assistir a competições esportivas, mas se soubermos
dizer qual foi o desempenho de nossos jogadores ou atletas favoritos, mas
esquecermos aniversários ou datas
importantes, negligenciarmos nossa
família ou talvez ignorarmos oportunidades de prestar atos de serviço
cristão, então os esportes também
podem ser uma rede que nos prende.
Desde a época de Adão, a humanidade tem ganhado seu sustento
diário com o suor de seu rosto. Mas
se nosso trabalho consome todo o
nosso tempo a ponto de negligenciarmos os aspectos espirituais da
vida, então o trabalho também pode
ser uma rede que nos prende.
Alguns ficaram enredados na
rede das dívidas excessivas. A rede
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dos juros rapidamente os prende
exigindo que vendam todo o seu
tempo e energia para atender às exigências de seus credores. Eles precisam abdicar de toda a sua liberdade,
tornando-se escravos de suas próprias despesas excessivas.
É impossível fazer uma lista de
todas as muitas redes que podem
prender-nos e impedir-nos de seguir o
Salvador. Mas se formos sinceros em
nosso desejo de segui-Lo, precisamos
imediatamente deixar as redes do
mundo que nos prendem, e segui-Lo.
Não conheço outro período da
história do mundo que fosse tão
repleto de tamanha variedade de
redes que prendem. Nossa vida
facilmente se enche de compromissos, reuniões e tarefas. É muito fácil
ficarmos presos num grande número
de redes a ponto de a mera sugestão
de livrar-nos delas nos pareça algo
ameaçador e até assustador.
Às vezes achamos que quanto
mais ocupados estamos, mais importantes somos, como se nossos compromissos definissem nosso valor.
Irmãos e irmãs, podemos passar a
vida inteira correndo atrás de uma
lista interminável de compromissos
que, no final, realmente pouco
importam.
Talvez não seja tão importante
fazermos tantas coisas. O essencial é
que enfoquemos toda a energia de
nossa mente, nosso coração e nossa
alma nas coisas de significado
eterno. Isso é essencial.
Em meio ao ruído e clamor da vida
soando ao nosso redor, ouvimos gritos
de “venha por aqui” e “vá por ali”.
Em meio à balbúrdia e as vozes sedutoras que procuram cativar nosso
interesse e ocupar nosso tempo, uma
figura solitária se coloca às margens
do mar da Galiléia chamando-nos
brandamente: “Vinde após Mim”.
É muito fácil perdermos o ponto
de equilíbrio na vida. Lembro-me de
alguns anos que foram particularmente difíceis para mim. Nossa
família tinha crescido, chegando a
sete filhos. Eu tinha servido como
conselheiro num bispado e recebi o
sagrado chamado de bispo de nossa
ala. Esforçava-me para administrar
nosso negócio, o que me ocupava
durante várias horas por dia. Devo
muito à minha maravilhosa esposa
que sempre fez com que me fosse
possível servir ao Senhor.
Havia simplesmente coisas
demais para fazer no tempo disponível. Em vez de sacrificar coisas
importantes, decidi acordar cedo,
cuidar de meus negócios, e depois
usar o tempo exigido para ser um
bom pai e marido, e um membro fiel
da Igreja. Não foi fácil. Houve
manhãs em que, quando o despertador tocava, eu abria um olho com
esforço e tinha vontade de quebrar
o relógio.
Não obstante, o Senhor foi misericordioso e ajudou-me a encontrar
energias e tempo para fazer tudo o
que eu me comprometera a fazer.
Embora fosse difícil, jamais me arrependi de ter decidido aceitar o chamado do Senhor e segui-Lo.
Pensem no quanto devemos a Ele.
Jesus é a ressurreição e a vida.
“Quem crê [Nele], ainda que esteja
morto, viverá”.4 Há pessoas muito
ricas que dariam tudo que possuem
em troca de apenas uns poucos anos,
meses ou mesmo dias de vida mortal.
O que deveriam estar dispostos a dar
em troca da vida eterna?
Há aqueles que dariam tudo o que
possuem para ter paz. “Vinde a mim,
todos os que estais cansados e oprimidos”, ensinou o Salvador, “e eu vos
aliviarei”.5 Mas não é apenas paz que
o Salvador promete aos que guardam
Seus mandamentos e perseveram até
o fim, mas vida eterna, “que é o
maior de todos os dons de Deus”.6
Graças ao Salvador, viveremos
para sempre. A imortalidade significa que jamais morreremos. Mas a
vida eterna significa viver para sempre nas esferas exaltadas, em companhia daqueles que amamos,
envoltos por profundo amor, imensa
alegria e glória.
Nenhum dinheiro do mundo
pode comprar esse estado exaltado.
A vida eterna é um dom que um Pai
Celestial amoroso ofereceu gratuita
e liberalmente a todos os que
atenderem ao chamado do Homem
da Galiléia.
Infelizmente, muitos estão demasiadamente presos em suas redes
para atenderem ao chamado. O
Salvador explicou: “Vós não credes
porque não sois das minhas ovelhas.
(. . .) As minhas ovelhas ouvem a
minha voz, e eu conheço-as, e elas
me seguem”.7
Como seguimos o Salvador?
Exercendo fé. Crendo Nele. Crendo
que um Deus amoroso ainda fala ao
homem na Terra em nossos dias.
Seguimos o Salvador arrependendo -nos de nossos pecados,
sentindo pesar por eles e abandonando-os.
Seguimos o Salvador entrando
nas águas do batismo e recebendo a
remissão de nossos pecados, recebendo o dom do Espírito Santo e
permitindo que essa influência nos
instrua, guie e console.
Como seguimos o Salvador?
Obedecendo a Ele. Ele e nosso Pai
Celestial deram-nos mandamentos,
não para castigar-nos ou atormentarnos, mas para ajudar-nos a alcançar
uma plenitude de alegria, tanto
nesta vida quanto nas eternidades
vindouras, para todo o sempre.
Em contrapartida, quando nos
apegamos a nossos pecados, nossos
prazeres e muitas vezes até ao que
imaginamos ser nossas obrigações;
resistimos à influência do Espírito
Santo; e deixamos de lado as palavras dos profetas, então ficamos firmemente presos nas redes de nossa
própria Galiléia. Vemo-nos incapazes
de deixá-las para trás e seguir o
Cristo vivo.
Mas o Bom Pastor está-nos chamando hoje. Será que reconheceremos a voz do Filho de Deus? Será
que O seguiremos?
Gostaria de deixar-lhes uma palavra de advertência. Há aqueles que
acham que se seguirmos o Salvador,
nossa vida estará livre de preocupações, dores e temores. Isso não acontece! O próprio Salvador foi descrito
como um homem de dores. 8 Aqueles
primeiros discípulos que seguiram o
Cristo sofreram grandes perseguições
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e tribulações. Joseph Smith não foi
uma exceção. Nem os outros santos
desta última dispensação. E as coisas
não são diferentes hoje.
Tive a oportunidade muito especial de conversar com uma mulher
que ouviu o chamado do Salvador
quando tinha 18 anos. Seu pai, que
era um líder importante de outra
igreja, ficou furioso com ela e proibiu-a de ser batizada. Ele disse que se
ela se tornasse membro da Igreja de
Jesus Cristo dos Santos dos Últimos
Dias, seria renegada pela família.
Embora o sacrifício fosse grande,
aquela jovem atendeu ao chamado
do Salvador e entrou nas águas do
batismo.
Seu pai não pôde aceitar a decisão dela e tentou forçá-la a abandonar sua nova religião. Ele e a esposa
repreenderam-na severamente por
sua decisão de tornar-se membro da
Igreja e exigiram que ela renegasse e
abandonasse sua nova religião.
Mesmo diante da ira, amargura e
humilhação, sua fé permaneceu
forte. Ela suportou os maus-tratos
verbais e emocionais, sabendo que
tinha ouvido o chamado do Salvador
e que iria segui-Lo a despeito das
conseqüências.
Por fim, aquela jovem conseguiu
encontrar um porto seguro, um local
O Edifício Memorial Joseph Smith
visto a partir do espelho d’água, ao
lado leste do Templo de Salt Lake.
O Presidente Boyd K. Packer, Presidente Interino do Quórum dos Doze Apóstolos; e os Élderes L. Tom Perry,
Neal A. Maxwell, Russell M. Nelson, Dallin H. Oaks, M. Russell Ballard e Joseph B. Wirthlin, do Quórum dos
Doze Apóstolos, diante da congregação, nas poltronas do púlpito.
de refúgio, junto a um bondoso
membro da família, longe das ameaças e acusações de seu pai.
Ela conheceu um rapaz fiel, e
casaram-se no templo, recebendo as
bênçãos especiais que acompanham
o casamento no templo.
Hoje ela é uma dentre muitos
que se sacrificaram tanto para seguir
o chamado do Salvador.
Sim, não estou dizendo que o
caminho seja fácil. Mas presto-lhes
meu testemunho de que aqueles que
deixam suas redes, com fé, e seguem
o Salvador terão uma alegria que
está muito além de sua capacidade
de compreender.
Ao conhecer os maravilhosos
membros desta Igreja, tanto jovens
quanto idosos, sinto-me encorajado
e pleno de gratidão pela fidelidade
dos que ouviram o chamado do
Salvador e O seguiram.
Por exemplo, um operário segue o
Salvador dia após dia, durante um
período de mais de três décadas,
lendo as escrituras durante o horário de almoço, enquanto seus colegas de trabalho o ridicularizam por
isso. A viúva de 70 anos, confinada
a sua cadeira de rodas, que alegra o
espírito de todos que a visitam, sem
nunca deixar de dizer o quanto ela é
abençoada. Ela segue o Salvador. A
criança que procura por meio da
oração entrar em comunhão com o
Mestre do universo. Ela segue o
Salvador. O membro rico que doa
generosamente para a Igreja e para
o próximo. Ele segue o Salvador.
Tal como Jesus, o Cristo, às margens do mar da Galiléia, há 2000
anos, chamou os fiéis pescadores,
Ele está agora estendendo o mesmo
chamado a todos os que escutam
Sua voz: “Vinde após Mim!”
Temos redes que precisam ser cuidadas e redes que precisam ser consertadas. Mas quando o Mestre do
oceano, Terra e céu nos chama,
dizendo: “Vinde após mim”, devemos
deixar as redes aprisionadoras do
mundo para trás e seguir Seus passos.
Irmãos e irmãs, proclamo alegremente que o evangelho foi novamente restaurado! Os céus se
abriram para o Profeta Joseph Smith
e ele viu e conversou com Deus, o
Pai, e Seu Filho Jesus Cristo. Sob a
direção e orientação divina de seres
celestiais, verdades eternas foram
novamente restauradas ao homem!
Em nossos dias, outro grande profeta vive e acrescenta diariamente
seu testemunho a essas verdades
sagradas. O Presidente Gordon B.
Hinckley ocupa o sagrado cargo de
porta-voz do Deus eterno. A seu
A
L I A H O N A
18
lado estão seus nobres conselheiros e
o Quórum dos Doze Apóstolos e as
outras Autoridades Gerais, cada qual
acrescentando sua voz para proclamar as gloriosas e alegres novas: O
evangelho eterno foi novamente restaurado ao homem!
Jesus Cristo é “o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai,
senão por [Ele]”.9 Como sua testemunha especial, testifico a vocês que
chegará o dia em que todo homem,
mulher e criança verá o olhar carinhoso do Salvador. Nesse dia, saberemos com certeza o valor de nossa
decisão de segui-Lo sem hesitar.
Que possamos todos ouvir o chamado do Mestre e deixar imediatamente nossas redes que aprisionam
e segui-Lo com alegria, é minha sincera oração, em nome de Jesus Cristo.
Amém. អ
NOTAS
1. Mateus 4: 18–22.
2. James E. Talmage, Jesus o Cristo,
p. 211.
3. Mateus 19:21–22.
4. João 11:25.
5. Mateus 11:28.
6. D&C 14:7.
7. João 10:26–27.
8. Ver Isaías 53:3; Mosias 14:3.
9. João 14:6.
Élder Dallin H. Oaks
Do Quórum dos Doze Apóstolos
Amar os Outros e
Conviver com as
Diferenças
Como seguidores de Cristo, devemos viver pacificamente com
outras pessoas que não compartilham de nossos valores ou
não aceitam os ensinamentos sobre os quais se baseiam.
I.
Nos últimos dias de Seu ministério
mortal, Jesus deu a Seus discípulos
o que chamou de “um novo mandamento” ( João 13:34). Esse mandamento,
repetido três vezes, era simples, mas
difícil: “Que vos ameis uns aos outros,
assim como eu vos amei” ( João 15:12;
ver também o versículo 17). O ensinamento de amar uns aos outros foi um
dos mais importantes ensinamentos
do ministério do Salvador. O segundo
grande mandamento foi “amarás o teu
próximo como a ti mesmo” (Mateus
22:39). Jesus ensinou também: “Amai
a vossos inimigos” (Mateus 5:44). Mas
o mandamento de amar ao próximo
como Ele amou Seu rebanho foi para
Seus discípulos — e é para nós — um
desafio ímpar. “Na verdade”, ensinou o
Presidente Thomas S. Monson em abril,
“o amor é a própria essência do evangelho, e Jesus Cristo é nosso Exemplo. Sua
vida foi um legado de amor”.1
Por que é tão difícil sentir amor cristão uns pelos outros? É difícil porque
temos de viver entre pessoas que não
compartilham das nossas crenças, dos
nossos valores e dos nossos convênios.
Em Sua grande Oração Intercessória,
feita pouco antes de Sua Crucificação, Jesus orou por Seus seguidores:
“Dei-lhes a tua palavra, e o mundo
os odiou, porque não são do mundo,
assim como eu não sou do mundo”
( João 17:14). Depois, rogou ao Pai:
“Não peço que os tires do mundo, mas
que os livres do mal” (versículo 15).
Temos de viver no mundo, mas
não ser do mundo. Temos de viver no
mundo porque, como ensinou Jesus
numa parábola, Seu reino é “semelhante ao fermento”, cuja função é
levedar toda a massa com sua influência (ver Lucas 13:21; Mateus 13:33; ver
também I Coríntios 5:6–8). Seus seguidores não podem fazer isso se as únicas pessoas com quem se relacionam
compartilham de suas crenças e seus
costumes. O Salvador também ensinou
que, se O amarmos, guardaremos Seus
mandamentos (ver João 14:15).
II.
O evangelho tem muitos ensinamentos sobre guardar os mandamentos entre pessoas de crenças e
costumes diferentes. Os ensinamentos sobre a discórdia são essenciais.
Quando o Cristo ressuscitado viu que
os nefitas estavam discutindo sobre a
maneira de batizar, Ele deu orientações claras a respeito de como essa
ordenança deve ser realizada. Depois,
ensinou este grande princípio:
“E não haverá disputas entre vós,
como até agora tem havido; nem
haverá disputas entre vós sobre os
pontos de minha doutrina, como até
agora tem havido.
Pois em verdade, em verdade vos
digo que aquele que tem o espírito de
Novembro de 2014
discórdia não é meu, mas é do diabo,
que é o pai da discórdia e leva a cólera
ao coração dos homens, para contenderem uns com os outros.
Eis que esta (…) é minha doutrina:
que estas coisas devem cessar” (3 Néfi
11:28–30; grifo do autor).
O Salvador não limitou Sua
admoestação sobre a discórdia
àqueles que não estavam cumprindo
o mandamento sobre o batismo. Ele
proibiu a discórdia entre quaisquer
pessoas. Mesmo aqueles que cumprem os mandamentos não devem
levar a cólera ao coração dos homens.
O “pai da discórdia” é o diabo; o
Salvador é o Príncipe da Paz.
De maneira semelhante, a Bíblia
ensina que “os sábios desviam a
ira” (Provérbios 29:8). Os primeiros
apóstolos ensinaram que devemos
“[seguir] (…) as coisas que servem
para a paz” (Romanos 14:19) e
“[seguir] a verdade em amor” (Efésios
4:15), “porque a ira do homem não
opera a justiça de Deus” (Tiago 1:20).
Na revelação moderna, o Senhor
ordenou que as boas novas do evangelho restaurado fossem declaradas
“cada homem a seu próximo, com
brandura e mansidão” (D&C 38:41),
“com toda humildade, (…) não ofendendo ofensores” (D&C 19:30).
III.
Mesmo ao procurarmos ser mansos e evitar a discórdia, não devemos
fazer concessões ou diminuir nosso
compromisso com a verdade que
26
A Liahona
compreendemos. Não devemos abrir
mão de nossa condição e de nossos
valores. O evangelho de Jesus Cristo e
os convênios que fizemos nos colocam
inevitavelmente como combatentes
na eterna disputa entre a verdade e
o erro. Não há terreno neutro nessa
batalha.
O Salvador mostrou o caminho
quando Seus adversários O confrontaram com a mulher que tinha sido
“apanhada, no próprio ato, adulterando” ( João 8:4). Quando foram
envergonhados por sua própria
hipocrisia, os acusadores se retiraram
e deixaram Jesus a sós com a mulher.
Ele a tratou com bondade, deixando
de condená-la naquele momento.
Mas também a orientou com firmeza
dizendo: “Não peques mais” ( João
8:11). Bondade amorosa é importante,
mas um seguidor de Cristo, assim
como o Mestre, será firme na verdade.
IV.
Como o Salvador, Seus seguidores
frequentemente se defrontam com
comportamentos pecaminosos e, hoje,
às vezes são chamados de “beatos” ou
“fanáticos” quando defendem o certo
e lutam contra o errado, conforme
seu entendimento. Muitas práticas e
muitos valores mundanos apresentam esses desafios para os santos dos
últimos dias. Hoje em dia há uma forte
tendência em legalizar o casamento
entre pessoas do mesmo sexo em
muitos estados e em muitas províncias
dos Estados Unidos, do Canadá e em
muitos outros países do mundo. Vivemos também entre pessoas que não
acreditam de maneira alguma no casamento. Alguns não acreditam em ter
filhos. Outros se opõem a quaisquer
restrições contra a pornografia ou as
drogas. Outro exemplo conhecido da
maioria dos fiéis é o desafio de viver
com um cônjuge ou um familiar descrente, ou relacionar-se com colegas
de trabalho que não creem em nada.
Em lugares que foram dedicados,
como os templos, as casas de adoração e o nosso próprio lar, devemos
ensinar a verdade e os mandamentos
de maneira clara e completa como
os entendemos, conforme o plano de
salvação revelado no evangelho restaurado. Nosso direito de fazer isso é
protegido por garantias constitucionais
de liberdade de expressão e liberdade
religiosa, bem como pela privacidade
que é respeitada mesmo em países
onde não existem garantias constitucionais formais.
Em público, o que as pessoas
religiosas dizem e fazem envolvem
outras considerações. O livre exercício
da religião cobre a maioria dos atos
públicos, mas está sujeito a qualificações necessárias para acomodar as
crenças e práticas dos outros. As leis
podem proibir comportamentos que
geralmente são reconhecidos como
errados ou inaceitáveis, como a exploração sexual, a violência ou o comportamento terrorista, mesmo quando
praticados por extremistas em nome
da religião. Comportamentos menos
graves, mesmo que inaceitáveis para
alguns fiéis, talvez tenham simplesmente que ser tolerados se tiverem
sido legalizados pelo que o profeta do
Livro de Mórmon chamou de “a voz
do povo” (Mosias 29:26).
Sobre a questão do discurso
público, todos nós deveríamos seguir
os ensinamentos do evangelho de
amar ao próximo e evitar a discórdia.
Os seguidores de Cristo devem ser
exemplos de civilidade. Devemos amar
todas as pessoas, ser bons ouvintes
e mostrar respeito por suas crenças
genuínas. Embora discordemos, não
devemos ser desagradáveis. Nossa
posição e comunicação em assuntos
controversos não devem ser contenciosas. Devemos ser sábios ao explicar
e seguir nossos padrões e em exercer
nossa influência. Dessa forma, pedimos que os outros não se ofendam
com nossas sinceras crenças religiosas
e o livre exercício de nossa religião.
Incentivamos todos a praticar a Regra
de Ouro do Salvador: “Tudo o que
vós quereis que os homens vos façam,
fazei-lho também vós” (Mateus 7:12).
Quando nossa posição não prevalece, devemos aceitar os resultados
desfavoráveis de maneira respeitosa
e ser civilizados para com os adversários. Em qualquer situação, devemos
agir com boa vontade para com todos,
rejeitando qualquer tipo de perseguição, incluindo aquelas relacionadas à
raça, à etnia, à crença ou à descrença
religiosa e às diferenças de orientação
sexual.
V.
Falei sobre vários princípios gerais.
Agora vou falar sobre como esses
princípios devem aplicar-se em várias
situações familiares, nas quais os
ensinamentos do Salvador devem ser
seguidos mais fielmente.
Vou começar com o que nossos
filhos pequenos aprendem quando
brincam. Muitos não membros aqui
em Utah foram ofendidos e discriminados por alguns membros que
não permitem que seus filhos sejam
amigos de crianças de outras religiões.
Com certeza, podemos ensinar nossos
filhos sobre valores e padrões de
comportamento sem que tenham de
se distanciar ou desrespeitar qualquer
pessoa que seja diferente.
Muitos professores nas escolas e na
Igreja têm ficado desapontados com a
maneira pela qual alguns adolescentes, incluindo jovens SUD, tratam uns
aos outros. O mandamento de amar
uns aos outros com certeza inclui
amar e respeitar além das diferenças
religiosas, raciais, culturais e econômicas. Desafiamos todos os jovens a
evitar bullying, insultos, linguajar ou
práticas que deliberadamente causam
dor aos outros. Tudo isso viola o
mandamento do Salvador de amar
uns aos outros.
O Salvador ensinou que a discórdia
é uma ferramenta do diabo. Isso sem
dúvida vai contra certa linguagem e
certas políticas atuais. Conviver com
as diferenças políticas é essencial para
a política, mas as diferenças políticas não precisam envolver ataques
pessoais que envenenam o processo
de governo e punem os participantes.
Todos nós devemos banir o ódio da
comunicação e ser civilizados quando
houver diferenças de opinião.
O ambiente mais importante para
abster-se da discórdia e praticar o
respeito pelas diferenças é o lar e os
relacionamentos familiares. Diferenças
são inevitáveis — algumas grandes,
outras pequenas. Quanto às grandes diferenças, vamos supor que um
membro de sua família esteja coabitando com alguém. Isso coloca dois
valores importantes em conflito: nosso
amor pelo membro da família e nosso
compromisso com os mandamentos.
Seguindo o exemplo do Salvador,
podemos mostrar bondade amorosa e
ainda ser firmes na verdade, abstendonos de ações que facilitam ou parecem
condenar o que sabemos ser errado.
Vou concluir com outro exemplo
de relacionamento familiar. Numa
conferência de estaca no Centro-Oeste
há cerca de 10 anos, conheci uma
irmã cujo marido não era membro e
que ia com ela à igreja havia 12 anos,
mas nunca se filiara à Igreja. O que ela
deveria fazer? Ela me perguntou. Eu a
aconselhei a continuar a fazer as coisas certas e a ser paciente e bondosa
com o marido.
Cerca de um mês depois, ela me
escreveu o seguinte: “Pensei que 12
anos eram uma boa mostra de paciência, mas não sabia se estava sendo
muito bondosa com meu marido. Por
Novembro de 2014
27
isso, esforcei-me muito para ser bondosa por um mês, e ele foi batizado”.
A bondade é algo poderoso,
especialmente no ambiente familiar.
A carta continua: “Estou tentando ser
ainda mais bondosa, porque estamos
nos preparando para ser selados no
templo este ano!”
Seis anos depois, ela me escreveu
outra carta: “Meu marido [acabou de]
ser chamado e designado bispo [de
nossa ala]”.2
Élder Neil L. Andersen
Do Quórum dos Doze Apóstolos
Joseph Smith
Jesus Cristo escolheu um homem santo, um homem justo,
para conduzir a Restauração da plenitude de Seu evangelho.
Ele escolheu Joseph Smith.
VI.
Em muitos relacionamentos e situações da vida, devemos conviver com
as diferenças. Quando essencial, nosso
lado dessas diferenças não deve ser
rejeitado ou abandonado, mas, como
seguidores de Cristo, devemos viver
pacificamente com outras pessoas que
não compartilham de nossos valores ou não aceitam os ensinamentos
sobre os quais se baseiam. O plano
de salvação do Pai, que conhecemos
por revelação profética, coloca-nos em
uma situação mortal em que devemos guardar Seus mandamentos. Isso
inclui amar nosso próximo de diferentes culturas e crenças como Ele nos
ama. Como ensinou um profeta do
Livro de Mórmon, devemos prosseguir, tendo “amor a Deus e a todos
os homens” (2 Néfi 31:20).
Por mais difícil que seja viver no
tumulto ao nosso redor, o mandamento do Salvador de amar uns aos
outros é provavelmente nosso maior
desafio. Oro para que compreendamos isso e procuremos vivê-lo em
todos os nossos relacionamentos e
todas as nossas atividades, em nome
de Jesus Cristo. Amém. ◼
NOTAS
1. Thomas S. Monson, “Amor: A Essência
do Evangelho”, A Liahona, maio de 2014,
p. 91.
2. Cartas a Dallin H. Oaks, 23 de janeiro
de 2006 e 30 de outubro de 2012.
28
A Liahona
E
m sua primeira visita ao Profeta
Joseph Smith, então com 17 anos,
um anjo chamou Joseph pelo
nome e lhe disse que ele, Morôni, era
um mensageiro enviado da presença
de Deus e tinha um trabalho para
ele. Imaginem o que Joseph deve ter
pensado quando o anjo lhe disse que
seu nome seria “considerado bom e
mau entre todas as nações, tribos e
línguas”.1 Talvez o choque nos olhos
de Joseph tenha feito com que Morôni
repetisse que se falaria bem e mal dele
entre todos os povos.2
O bem falado sobre Joseph Smith
veio aos poucos, mas o mal começou imediatamente. Joseph escreveu:
“Quão estranho era que um obscuro
menino (…) fosse considerado suficientemente importante para atrair (…)
[a] mais implacável perseguição”.3
Enquanto o amor por Joseph crescia, também aumentava a hostilidade.
Aos 38 anos de idade, foi assassinado
por uma turba composta de 150
homens com os rostos pintados de
negro.4 Ainda que a vida do Profeta
terminasse abruptamente, o bem e o
mal falados sobre ele estavam apenas
começando.
Seria de estranhar o mal que é
falado contra ele? Do Apóstolo Paulo
foi dito que era louco e delirava.5
Nosso Amado Salvador, o Filho de
Deus, foi rotulado de comilão, beberrão e endemoniado.6
O Senhor disse a Joseph, quanto
a seu destino:
“Os confins da Terra indagarão
a respeito de teu nome e tolos zombarão de ti e o inferno se enfurecerá
contra ti;
Enquanto os puros de coração e
os prudentes (…) e os virtuosos procurarão (…) bênçãos sob tuas mãos
constantemente”.7
Por que o Senhor permite que
o mal seja falado ao mesmo tempo
que o bem? Um dos motivos é que a
oposição às coisas de Deus leva os
que procuram a verdade a orar por
respostas.8
Joseph Smith é o Profeta da
Restauração. Seu trabalho espiritual
começou com a visão do Pai e do
Filho, seguida por inúmeras visitas
celestiais. Ele foi o instrumento nas
mãos de Deus para trazer à luz
escrituras sagradas, doutrinas perdidas e a restauração do sacerdócio.
A importância do trabalho de Joseph
requer mais do que uma consideração intelectual; requer que nós, como
Joseph, “[peçamos ou perguntemos] a
Deus”.9 Perguntas espirituais merecem
respostas espirituais de Deus.
Élder Jeffrey R. Holland
Do Quórum dos Doze Apóstolos
O Custo — e as
Bênçãos — do
Discipulado
Sejam fortes. Vivam o evangelho com fidelidade mesmo
que as pessoas à sua volta não o façam.
P
residente Monson, nós o amamos.
Você se dedicou de todo o coração a todo chamado que o Senhor
lhe deu, especialmente ao sagrado
ofício que agora exerce. Esta Igreja
inteira lhe agradece por seu constante
serviço e por sua incansável devoção
ao dever.
Com admiração e incentivo a todos
os que necessitam manter-se firmes
nestes últimos dias, digo a todos e
especialmente aos jovens da Igreja
que, se ainda não foram, certamente
um dia serão conclamados a defender
sua fé ou talvez até a suportar alguma
agressão pessoal simplesmente pelo
fato de serem membros de A Igreja de
Jesus Cristo dos Santos dos Últimos
Dias. Esses momentos exigirão coragem e cortesia da sua parte.
Uma missionária, por exemplo, recentemente escreveu a mim,
dizendo: “Minha companheira e eu
vimos um homem sentado num banco
da praça da cidade comendo seu
lanche. Quando nos aproximamos, ele
ergueu o rosto e viu nossas plaquetas
missionárias. Com uma expressão
6
A Liahona
terrível no rosto, ele se ergueu
subitamente e levantou a mão para
me bater. Desviei-me bem a tempo,
mas ele cuspiu sua comida em mim
e começou a nos ofender usando os
mais horríveis palavrões. Afastamonos sem dizer nada. Eu tentava limpar
a comida do rosto quando senti uma
porção de purê de batata me acertar a
nuca. Às vezes é difícil ser missionária
porque naquele momento tive vontade de voltar, agarrar aquele homenzinho e dizer: ‘FAÇA-ME O FAVOR!’
Mas não fiz isso”.
Para aquela devotada missionária,
eu digo, querida filha, você passou, à
sua própria e humilde maneira, a fazer
parte de um círculo muito distinto
de mulheres e homens que, tal como
disse o profeta Jacó do Livro de Mórmon, “[consideram a] morte [de Cristo]
e [carregam] sua cruz e [suportam] a
vergonha do mundo”.1
De fato, a respeito do próprio
Jesus, o irmão de Jacó, Néfi, escreveu:
“E o mundo, devido à iniquidade,
julgá-lo-á como uma coisa sem valor;
portanto o açoitam e ele suporta-o; e
ferem-no e ele suporta-o. Sim, cospem
nele e ele suporta-o por causa de sua
amorosa bondade e longanimidade
para com os filhos dos homens”.2
Tal como o que aconteceu com o
próprio Salvador, houve uma longa
história de rejeição e um preço
dolorosamente alto que foi pago por
profetas e apóstolos, missionários e
membros de todas as gerações —
todos aqueles que tentaram honrar
o chamado de Deus de elevar a
família humana a um “caminho mais
excelente”.3
“E que mais direi [deles]?”, perguntou o autor do livro de Hebreus.
“[Eles que] (…) fecharam as bocas
dos leões,
Apagaram a força do fogo, escaparam do fio da espada, (…) na batalha
se esforçaram, puseram em fuga os
exércitos (…).
[Viram a] ressurreição [dos] seus
mortos [ao passo que] uns foram
torturados (…);
E outros experimentaram escárnios
e açoites, e até cadeias e prisões.
Foram apedrejados, serrados,
tentados, mortos ao fio da espada;
andaram vestidos de peles de ovelhas
e de cabras, desamparados, aflitos e
maltratados
(Dos quais o mundo não era
digno), errantes pelos desertos, e
montes, e pelas covas e cavernas da
terra.” 4
Sem dúvida os anjos do céu choraram quando eles registraram esse
preço do discipulado num mundo que
frequentemente é hostil aos mandamentos de Deus. O próprio Salvador
derramou Suas próprias lágrimas por
aqueles que, por centenas de anos,
haviam sido rejeitados e mortos a Seu
serviço. E então Ele estava sendo rejeitado e sendo levado à morte.
“Jerusalém, Jerusalém”, clamou
Jesus, “que matas os profetas, e
apedrejas os que te são enviados!
quantas vezes quis eu ajuntar os teus
filhos, como a galinha ajunta os seus
pintos debaixo das asas, e tu não
quiseste!
Eis que a vossa casa vai ficar-vos
deserta”.5
E nisso há uma mensagem para
todo rapaz e toda moça desta Igreja.
Talvez vocês se perguntem se vale
a pena assumir uma postura moral
e corajosa na escola ou ir para a
missão apenas para ver suas crenças
mais queridas serem desprezadas ou
esforçar-se contra os muitos da sociedade que às vezes ridicularizam uma
vida de devoção religiosa. Sim, vale a
pena, porque a alternativa é ver nossas “casas” “desoladas”, pessoas desoladas, famílias desoladas, vizinhanças
desoladas e nações desoladas.
Portanto, esse é o fardo daqueles
que foram chamados para transmitir a mensagem messiânica. Além
de ensinar, incentivar e animar as
pessoas (essa é a parte agradável do
discipulado), de tempos em tempos
esses mesmos mensageiros são conclamados a preocupar-se, a advertir
e às vezes a apenas chorar (essa é a
parte dolorosa do discipulado). Eles
sabem muito bem que o caminho que
conduz à terra prometida que “mana
leite e mel” 6 passa obrigatoriamente
pelo Monte Sinai com todos os seus
mandamentos.7
Infelizmente os mensageiros dos
mandamentos divinos, em geral, não
são mais populares hoje do que eram
antigamente, como pelo menos duas
missionárias sujas de saliva e de purê
de batatas podem agora confirmar.
Ódio é uma palavra feia, mas hoje há
pessoas que diriam junto com o corrupto Acabe: “Odeio [Micaías], porque
nunca profetiza de mim o que é bom,
senão sempre o mal”.8 Esse tipo de
ódio pela sinceridade de um profeta
custou a vida de Abinádi. Ele disse
ao rei Noé: “Por eu ter dito a verdade,
estais irados contra mim. (…) Por ter
transmitido a palavra de Deus, julgais
que sou louco” 9 (ou poderíamos
acrescentar caipira, machista, preconceituoso, rude, intolerante, ultrapassado e velho).
É como o próprio Senhor lamentou
com o profeta Isaías:
“[Esses] filhos (…) não querem
ouvir a lei do Senhor.
(…) Dizem aos videntes: Não
vejais; e aos profetas: Não profetizeis
para nós o que é reto; dizei-nos coisas
aprazíveis, e vede para nós enganos.
Desviai-vos do caminho, apartaivos da vereda; fazei que o Santo de
Israel cesse de estar perante nós”.10
Infelizmente, meu jovens amigos,
uma característica de nossa época
é que, quando as pessoas desejam
algum deus, querem que sejam deuses
que não exijam muito, deuses confortáveis, deuses suaves, que não apenas
não incomodam, mas também não
fazem nada, deuses que nos afagam
a cabeça e nos fazem rir e depois nos
dizem para ir correr e apanhar flores.11
São como o homem criando Deus
a sua própria imagem! Às vezes — e
essa parece ser a maior ironia de
todas — essas pessoas invocam o
nome de Jesus como alguém que foi
esse tipo de Deus “confortável”. Será
mesmo? Ele que disse que devemos
não apenas abster-nos de quebrar os
mandamentos, mas que jamais devemos sequer pensar em quebrá-los.
E que se pensarmos em quebrá-los,
já os teremos quebrado no coração.
Será que isso soa como uma doutrina
“confortável” e fácil de ser aceita por
qualquer pessoa?
E o que dizer daqueles que
simplesmente querem olhar para o
pecado ou tocá-lo à distância? Jesus
disse claramente que se seus olhos o
Maio de 2014
7
ofenderem, arranque-os. Se sua mão
ofendê-lo, corte-a fora.12 “Não vim
trazer paz, mas espada” 13, advertiu
Ele aos que achavam que Ele diria
somente coisas amenas e agradáveis.
Não é de se admirar que, sermão
após sermão, as comunidades locais
“[rogavam-lhe] que saísse dos seus
termos”.14 Não é de se admirar que,
milagre após milagre, Seu poder foi
atribuído não a Deus, mas ao diabo.15
É óbvio que aquela pergunta de
para-choque “O que Jesus faria?” nem
sempre terá uma resposta que agrada
a todos.
No ápice do Seu ministério mortal,
Jesus disse: “Que vos ameis uns aos
outros, assim como eu vos amei”.16
Para certificar-se de que eles compreendiam exatamente qual tipo
8
A Liahona
de amor era aquele, Ele disse: “Se
me amais, guardai os meus mandamentos” 17 e “Qualquer (…) que
violar um destes mandamentos, por
menor que seja, e assim ensinar aos
homens, será (…) o menor no reino
dos céus”.18 O amor cristão é a maior
necessidade que temos neste planeta, em parte porque se supõe que
ele sempre deva ser acompanhado
de retidão. Portanto, se o amor for o
nosso lema, como deve ser, então, de
acordo com a palavra Dele que é o
amor personificado, devemos abandonar a transgressão e toda forma de
promovê-la para outras pessoas. Jesus
claramente compreendia o que muitos
de nossa cultura moderna parecem
esquecer: há uma diferença crucial
entre o mandamento de perdoar
pecados (algo que Ele tem a capacidade infinita de fazer) e a advertência
de não tolerá-los (algo que Ele nunca
fez, nem sequer uma vez).
Amigos, especialmente meus jovens
amigos, tenham bom ânimo. O puro
amor de Cristo que flui da verdadeira
retidão pode mudar o mundo. Testifico
que o evangelho verdadeiro e vivo de
Jesus Cristo está na Terra e que vocês
são membros da Sua Igreja verdadeira
e viva, procurando compartilhá-la.
Presto testemunho desse evangelho e
dessa Igreja, em especial das chaves
restauradas do sacerdócio que liberam
o poder e a eficácia das ordenanças
de salvação. Estou mais seguro de que
essas chaves foram restauradas e de
que essas ordenanças estão novamente
disponíveis por intermédio de A Igreja
Jesus Cristo dos Santos dos Últimos
Dias do que estou seguro de estar de
pé diante de vocês neste púlpito e de
vocês estarem sentados diante de mim
nesta conferência.
Sejam fortes. Vivam o evangelho
com fidelidade mesmo que as pessoas
à sua volta não o façam. Defendam
suas crenças com cortesia e compaixão, mas defendam-nas. Uma longa
história de vozes inspiradas, inclusive
daqueles que vocês ouvirão nesta conferência e a voz que acabaram de ouvir
na pessoa do Presidente Thomas S.
Monson, indica-lhes o caminho do discipulado cristão. É um caminho estreito
e apertado sem grandes variações
em certos pontos, mas que pode ser
trilhado com emoção e sucesso, “com
firmeza em Cristo, tendo um perfeito
esplendor de esperança e amor a Deus
e a todos os homens”.19 Ao seguirem
corajosamente esse caminho, vocês
encontrarão uma fé inabalável e a
segurança contra os ventos malignos,
sim, contra os dardos no torvelinho,
sentindo forças tal como a da rocha de
nosso Redentor; e se sobre essa rocha
edificarem um discipulado devotado,
não poderão cair.20 No sagrado nome
de Jesus Cristo. Amém. ◼
NOTAS
1. Jacó 1:8.
2. 1 Néfi 19:9.
3. I Coríntios 12:31; Éter 12:11.
4. Hebreus 11:32–38.
5. Mateus 23:37–38.
6. Êxodo 3:8.
7. Ver Êxodo 20:3–17.
8. II Crônicas 18:7.
9. Mosias 13:4.
10. Isaías 30:9–11.
11. Ver Henry Fairlie, The Seven Deadly Sins
Today, 1978, pp. 15–16.
12. Ver Mateus 5:29–30.
13. Mateus 10:34.
14. Marcos 5:17.
15. Ver Mateus 9:34.
16. João 15:12.
17. João 14:15.
18. Mateus 5:19; grifo do autor.
19. 2 Néfi 31:20.
20. Ver Helamã 5:12.
Élder Ronald A. Rasband
Da Presidência dos Setenta
O Alegre Fardo
do Discipulado
O apoio a nossos líderes é um privilégio que vem
acompanhado da responsabilidade pessoal de partilharmos
os fardos deles e de sermos discípulos do Senhor Jesus Cristo.
E
m 20 de maio do ano passado,
um gigantesco tornado assolou
os subúrbios de Oklahoma City,
no coração da América, sulcando
uma trilha de quase 2 quilômetros de
largura e 30 quilômetros de comprimento. Essa tempestade, uma série
de tornados devastadores, alterou a
paisagem e a vida das pessoas após
sua passagem.
Apenas uma semana após a tremenda tempestade, fui designado a
visitar uma área em que casas e objetos estavam espalhados por bairros
arrasados e devastados.
Antes de partir, falei com nosso
amado profeta, o Presidente Thomas S.
Monson, que aprecia imensamente
esses encargos dados pelo Senhor. Em
respeito não apenas a seu ofício, mas
também a sua bondade, perguntei: “O
que quer que eu faça? O que deseja
que eu diga?”
Ele tomou ternamente a minha
mão, como teria feito com cada uma
das vítimas e cada um dos que ajudavam as pessoas atingidas pela devastação que ocorrera ali, e disse:
“Primeiro, diga-lhes que eu
os amo.
Em segundo lugar, diga que estou
orando por eles.
Em terceiro lugar, por favor, agradeça a todos os que estão ajudando”.
Como membro da Presidência dos
Setenta, senti nos ombros o peso das
palavras que o Senhor declarou a
Moisés:
“Ajunta-me setenta homens dos
anciãos de Israel, que sabes serem
anciãos do povo e seus oficiais; (…)
Então eu descerei e ali falarei
contigo, e tirarei do espírito que está
sobre ti, e o porei sobre eles; e contigo levarão a carga do povo, para que
tu não a leves sozinho”.1
Essas são palavras do passado, mas a
maneira de agir do Senhor não mudou.
Atualmente na Igreja, o Senhor
chamou 317 Setentas, que servem em
oito quóruns, para ajudar os Doze
Apóstolos a carregar o fardo colocado sobre os ombros da Primeira
Presidência. Com alegria, sinto essa
responsabilidade no fundo da alma,
tal como o sentem meus irmãos que
são Autoridades Gerais. Contudo, não
somos os únicos que auxiliam nesta
obra gloriosa. Como membros da
Igreja no mundo inteiro, todos temos
Maio de 2014
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