2 Vol. XXII 2013 - Revista Nascer e Crescer
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2 Vol. XXII 2013 - Revista Nascer e Crescer
Vol. 22, nº 2, junho 2013 Revista de Pediatria do Centro Hospitalar do Porto 2 22| NOVEMBRO 2013 I REUNIÃO ANUAL PEDIATRIA E OBSTETRÍCIA DE 29 e 30 CENTRO HOSPITALAR DO PORTO Auditório Prof. Doutor Alexandre Moreira, CHP NASCER E CRESCER OS 25 ANOS TEMAS SECRETARIADO Inscrições Online www.eventos.bayer.pt SECRETARIADO CIENTÍFICO [email protected] ORGANIZAÇÃO ›› Jovens e contraceção ›› Cuidados continuados em Pediatria ›› LES: da gravidez à infância ›› Atrésia e obstrução gastrointestinal ›› SESSÃO INTERATIVA: Discordância em gémeos, Infeção perinatal, Febre, Alteração da consciência CURSO SATÉLITE ›› Dermatologia Pediátrica ENVIO DE RESUMOS www.ademi.pt (submissão até 20 de outubro 2013) CH Porto, CH Alto Ave, CH entre Douro e Vouga, CH Médio Ave, CH Póvoa de Varzim I V. Conde, CH São João, CH Tâmega e Sousa, CH Trás-os-Montes e Alto Douro, CH V. N. de Gaia e Espinho, Hospital de Braga, Hospital de Santa Maria, IPO Porto, ULS Alto Minho, ULS Matosinhos, ULS Nordeste. Revista de Pediatria do Centro Hospitalar do Porto | Departamento de Ensino, Formação e Investigação Ano | 2013 Volume | XXII Número | 02 Directora | Editor-in-Chief | Sílvia Álvares; Director Adjunto | Associated Editor | Rui Chorão; Directora Executiva | Executive Editor | Margarida Lima Presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Porto | Director | Fernando Sollari Allegro Corpo Redactorial | Editorial Board Ana Rita Araújo, ULSAM Armando Pinto, IPOPFG Artur Alegria, CHP Braga da Cunha, CHTS Carmen Carvalho, CHP Cláudia Pedrosa, CHVNG/E Cláudia Tavares, CHAA Conceição Mota, CHP Cristina Rocha, CHEDV Gabriela Soares, CGMJM Gustavo Rocha, CHSJ João Barreira, CHSJ Laura Marques, CHP Margarida Guedes, CHP Rui Almeida, HPH/ULSM Editores especializados | Section Editors Artigo Recomendado – Helena Mansilha, CHP; Maria do Carmo Santos, CHP Perspectivas Actuais em Bioética – Natália Teles, CGMJM Pediatria Baseada na Evidência – Luís Filipe Azevedo, FMUP; Altamiro da Costa Pereira, FMUP A Cardiologia Pediátrica na Prática Clínica – António Marinho, CHUC; Fátima Pinto, HSM/CHLC; Maria Ana Sampaio, HCV, Maria João Baptista, CHSJ; Paula Martins, HPCM/CHUC, Rui Anjos, HSC/CHLO; Sílvia Álvares, CHP Ciclo de Pediatria Inter-Hospitalar do Norte – Armando Pinto, IPOPFG; Carla Moreira, HB/EB; Conceição Santos Silva, CHPVVC; Fátima Santos, CHVNG/E; Inês Azevedo, CHSJ; Isalita Moura, HSMM; Isolina Aguiar, CHAA; Joaquim Cunha, CHTS; Susana Tavares, CHEDV; Cármen Carvalho, CHP; Rosa Lima, CHP; Sofia Aroso, HPH/ULSM; Sónia Carvalho, CHMA Caso Dermatológico – Manuela Selores, CHP; Susana Machado, CHP Caso Electroencefalográfico – Rui Chorão, CHP Caso Endoscópico – Fernando Pereira, CHP Caso Estomatológico – José Amorim, CHP Caso Radiológico – Filipe Macedo, CHAA Genes, Crianças e Pediatras – Esmeralda Martins, CHP; Gabriela Soares, CGMJM Educação Científica – Margarida Lima, CHP, ICBAS-UP Pequenas Histórias – Margarida Guedes, CHP Consultor Técnico | Consultant Gama de Sousa, Porto Consultora de Epidemiologia e de Bioestatistica | | Advisor of Epidemiology and Biostatistics Maria José Bento, IPOPFG Conselho Científico Nacional | | National Scientific Board Alberto Caldas Afonso, CHSJ, FMUP, Porto Almerinda Pereira, HB/EB, Braga Ana Maria Leitão, HSSM, Barcelos Ana Ramos, CHP, Porto António Martins da Silva, CHP e ICBAS/UP, Porto Arelo Manso, Porto Braga da Cunha, CHTS, Penafiel Cidade Rodrigues, CHP, Porto Conceição Casanova, CHPVVC, Póvoa de Varzim Eurico Gaspar, CHTMAD, Vila Real Fátima Praça, CHVNG/E, Vila Nova de Gaia Gonçalves Oliveira, CHMA, Famalicão Helena Jardim, CHP, Porto Henedina Antunes, HB/EB, Braga Hercília Guimarães, CHSJ, FMUP, Porto Herculano Rocha, CHP, Porto Ines Lopes, CHVNG/E, Vila Nova de Gaia José Barbot, CHP, Porto José Carlos Areias, FMUP, Porto José Cidrais Rodrigues, HPN/ULSM, Matosinhos José Pombeiro, CHP, Porto Lopes dos Santos, HPH/ULSM, Matosinhos Luís Almeida Santos, CHSJ, FMUP, Porto Manuel Salgado, HPCM/CHUC, Coimbra Manuela Selores, CHP, Porto Marcelo Fonseca, ULSM, Matosinhos Margarida Lima, CHP, ICBAS/UP, Porto Maria Augusta Areias, HPBN, Porto Norberto Estevinho, HPP, Porto Óscar Vaz, ULSN, Mirandela Paula Cristina Ferreira, CHP, Porto Pedro Freitas, CHAA, Guimarães Rei Amorim, CHAM, Viana do Castelo Ricardo Costa, CHCB, Covilhã Rosa Amorim, CHP, Porto Rui Carrapato, CHEDV, Santa Maria da Feira Teresa Oliveira, CHP, Porto Teresa Temudo, CHP, Porto Conselho Científico Internacional | | International Scientific Board Alain de Broca, Centre Hospitalier Universitaire Amiens, Amiens Annabelle Azancot-Bergel, Hôpital Robert-Debré, Paris Francisco Alvarado Ortega, Hospital Materno Infantil Universitario La Paz, Madrid Francisco Ruza Tarrio, Hospital Materno Infantil Universitario La Paz, Madrid George R. Sutherland, St. George’s Hospital Medical School Cranmer Terrace, Londres José Boix Ochoa, Barcelona Jean-François Chateil, Hôpital Pellegrin, Bordéus José Quero, Hospital Universitario La Paz, Madrid Juan Tovar Larrucea, Hospital Universitario La Paz, Madrid Juan Utrilla, Fundacion Pedro Borras, Madrid Luis Callís, Hospital Vall d’Hebron, Barcelona Peter M. Dunn, University of Bristol, Bristol Assessores Editoriais | Editorial Assistants Carolina Cortesão Paulo Silva Publicação trimestral resumida e indexada por Catálogo LATINDEX EMBASE / Excerpta Médica Index das Revistas Médicas Portuguesas SciELO Scopus Artigos disponíveis no Repositório Científico do CHP http://repositorio.chporto.pt Design gráfico bmais comunicação Execução gráfica e paginação Papelmunde, SMG, Lda Vila Nova de Famalicão ISSN 0872-0754 Depósito legal 4346/91 Tiragem 2.500 exemplares Autorização CTT DE 0005/2005 DCN Propriedade, Edição e Administração / Publisher Departamento de Ensino, Formação e Investigação Centro Hospitalar do Porto Largo do Prof. Abel Salazar – 4099-001 Porto Telefone: (+351) 222 077 500; fax: (+351) 222 082 166 Telemóvel: (+351) 915 676 516 [email protected] Condições de assinatura Anual Nacional (4 números) - 40 euros Anual Estrangeiro (4 números) - 80 euros Número avulso - 12 euros CGMJM, Centro de Genética Médica Dr. Jacinto Magalhães, CHAA, Centro Hospitalar do Alto Ave; CHAM, Centro Hospitalar do Alto Minho; CHCB, Centro Hospitalar da Cova da Beira; CHEDV, Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga; CHMA, Centro Hospitalar do Médio Ave; CHP, Centro Hospitalar do Porto; CHPVVC, Centro Hospitalar da Póvoa de Varzim – Vila do Conde; CHSJ, Centro Hospitalar de São João; CHTMAD, Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro; CHTS, Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa; CHUC, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra; CHVNG/E, Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho; DEFI, Departamento de Ensino, Formação e Investigação; FMUP, Faculdade de Medicina da Universidade do Porto; HB/EB, Hospital de Braga/Escala Braga; HCV, Hospital Cruz Vermelha; HPBN, Hospital Privado da Boa Nova; HPCM/CHUC, Hospital Pediátrico Carmona da Mota; HPH/ULSM, Hospital Pedro Hispano/Unidade Local de Saúde Matosinhos; HPP, Hospitais Privados de Portugal; HSC/CHLO, Hospital de Santa Cruz/Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental; HSM/CHLC, Hospital de Santa Marta/Centro Hospitalar de Lisboa Central; HSMM, Hospital Santa Maria Maior; ICBAS/UP, Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto; IPOPFG, Instituto Português de Oncologia do Porto, Francisco Gentil; ULSN, Unidade Local de Saúde do Nordeste. NOVEMBRO 2013 I REUNIÃO ANUAL PEDIATRIA E OBSTETRÍCIA DE 29 e 30 CENTRO HOSPITALAR DO PORTO Auditório Prof. Doutor Alexandre Moreira, CHP PRESIDENTE DA REUNIÃO Sollari Allegro PRÉMIOS: MELHOR COMUNICAÇÃO ORAL Pediatria MELHOR COMUNICAÇÃO ORAL Obstetrícia/Ginecologia MELHOR COMUNICAÇÃO EM POSTER Pediatria MELHOR COMUNICAÇÃO EM POSTER Obstetrícia/Ginecologia NASCER E CRESCER OS 25 ANOS COMISSÃO CIENTÍFICA COMISSÃO ORGANIZADORA Almerinda Pereira Armando Pinto Braga da Cunha Caldas Afonso Cidade Rodrigues Conceição Casanova Eurico Gaspar Fátima Carvalho Fátima Praça Fernando Pereira Gonçalves Oliveira Goretti Lobarinhas Herculano Rocha Jorge Braga José Rei Amorim Manuela Selores Óscar Vaz Paula Soares Pedro Freitas Rui Carrapato Serafim Guimarães Teresa Temudo Virgílio Senra Zulmira Correia Ana Guedes Ana Ramos António Braga Bruna Vieira Conceição Mota Maria do Céu Rodrigues Paula Cristina Fernandes Paulo Sarmento Rosa Maria Rodrigues Sílvia Alvares Teresa Oliveira Vasco Lavrador PATROCÍNIOS CIENTÍFICOS Ordem dos Médicos Sociedade Portuguesa de Pediatria Sociedade Portuguesa de Ginecologia Associação Portuguesa de Diagnóstico Pré-Natal ENVIO DE RESUMOS www.ademi.pt (submissão até 20 de outubro 2013) PROGRAMA TEMAS Jovens e contraceção Cuidados continuados em Pediatria LES: da gravidez à infância Atrésia e obstrução gastrointestinal SESSÃO INTERATIVA: Discordância em gémeos, Infeção perinatal, Febre, Alterações da marcha CURSO SATÉLITE Dermatologia Pediátrica APOIO ORGANIZAÇÃO APOIOS BAYER BIAL NESTLÉ NUTRITION ANGELINI | PORTUGAL FHT Portugal S.A MSD DERMOTECA SANOFI PASTEUR MSD ZELER LIGA RAINHA MARIA PIA BEBÉ VIDA INSCRIÇÕES ATÉ DIA 11 DE NOVEMBRO Reunião ›› 80 euros Curso Dermatologia Pediátrica ›› 40 euros Sócios da ADEMI ›› 25% de desconto SECRETARIADO Inscrições Online www.eventos.bayer.pt CH Porto, CH Alto Ave, CH entre Douro e Vouga, CH Médio Ave, CH Póvoa de Varzim I V. Conde, CH São João, CH Tâmega e Sousa, CH Trás-os-Montes e Alto Douro, CH V. N. de Gaia e Espinho, Hospital de Braga, Hospital Santa Maria Maior, IPO Porto, ULS Alto Minho, ULS Matosinhos, ULS Nordeste. 29 de novembro sexta-feira 08h00 ABERTURA SECRETARIADO 08h30 COMUNICAÇÕES ORAIS PEDIATRIA Moderadoras: Sofia Aroso, ULS Matosinhos › Emília Costa, CHP 09h30 30 de novembro sábado 08h30 POSTERS PEDIATRIA Moderadoras: Cristina Rocha, CHEDV › Graça Ferreira, CHVNG 09h30 COMUNICAÇÕES ORAIS POSTERS PEDIATRIA Moderadoras: Goretti Lobarinhas, HSMM › Susana Pinto, CHP PEDIATRIA Moderadoras: Mª João Oliveira, CHP › Margarida Figueiredo, CHMA SESSÃO INTERATIVA MESA-REDONDA: JOVENS E CONTRACEÇÃO Moderadores: Virgílio Senra, CHP › Rosa Maria Rodrigues, CHP › Conceição Casanova, CHPV Moderadores: Serafim Guimarães, CHP › Teresa Oliveira, CHP › Eurico Gaspar, CHTMAD 09h30 09h30 Maria do Céu Almeida, SPDC 09h50 10h10 09h50 Andrea Lebre, CHP 10h10 SITUAÇÕES ESPECIAIS – DOENÇA CRÓNICA, DÉFICES COGNITIVOS, ALTERAÇÕES DE COMPORTAMENTO 10h30 11h30 MESA-REDONDA: CUIDADOS CONTINUADOS EM PEDIATRIA 11h30 ORGANIZAÇÃO DE CUIDADOS POSTERS 11h30 GINELOGIA E OBSTETRÍCIA Moderadores: Luís Pinheiro Torres, ULS Matosinhos › Maria Manuel Sampaio, CHAA CAFÉ MESA-REDONDA: ATRÉSIA / OBSTRUÇÃO GASTROINTESTINAL: DO DIAGNÓSTICO PRÉ-NATAL AO PROGNÓSTICO TARDIO Moderadores: Paulo Sarmento, CHP › Cidade Rodrigues, CHP › Almerinda Pereira, H. de Braga 11h30 12h00 12h15 EXPERIÊNCIA NO NORTE DO PAÍS CUIDADOS DOMICILIÁRIOS 12h50 PROJETO CASA MARTA ORTIGÃO 13h05 13h15 SESSÃO DE ABERTURA 13h30 13h30 ALMOÇO 14h30 15h00 LES: DA GRAVIDEZ À INFÂNCIA 15h20 O RECÉM-NASCIDO 14h30 14h50 Fátima Serrano, MAC 15h10 15h30 Dulce Oliveira, CHP 15h40 15h50 A CRIANÇA Margarida Guedes, CHP 16h30 CAFÉ 16h45 POSTERS E COMUNICAÇÕES ORAIS PEDIATRIA COMUNICAÇÕES ORAIS Moderadores: Rei Amorim, ULS Alto Minho › Braga da Cunha, CHTS POSTERS Moderadores: Eurico Gaspar, CHTMAD › Ana Cláudia Tavares, CHAA SESSÃO DE ENCERRAMENTO/ATRIBUIÇÃO DE PRÉMIOS ALMOÇO CURSO PÓS-CONGRESSO DERMATOLOGIA PEDIÁTRICA Coordenadoras: Manuela Selores, CHP › Susana Machado, CHP Formadores: Virgílio Costa, CHP › Glória C. Velho, CHP Moderadores: Jorge Braga, CHP › Carlos Vasconcelos CHP, Rui Carrapato, CHEDV A GRÁVIDA DISCUSSÃO MELHOR ARTIGO ORIGINAL NASCER E CRESCER 2013 Moderadoras: Margarida Lima, CHP › Sílvia Alvares, CHP Sollari Allegro, CHP 15h00 PROGNÓSTICO TARDIO Sandra Rocha, CHP 12h30 Lurdes Morais, CHP 12h30 TRATAMENTO PÓS-NATAL Ribeiro de Castro, CHP Ana Maia, IPO Porto 12h15 ORIENTAÇÃO PRÉ-NATAL E PARTO Joaquim Saraiva, CHP ARTICULAÇÃO DE CUIDADOS PRIMÁRIOS E DIFERENCIADOS Constantina Silva, ARS Norte 12h00 PATOGENIA E DIAGNÓSTICO PRÉ-NATAL Olímpia do Carmo, CHTS 11h45 Ana Lacerda, IPO Lisboa 11h45 ALTERAÇÕES DA MARCHA Cristina Garrido, CHP 11h00 Moderadores: Sollari Allegro, CHP › Elsa Rocha, HD Faro › Herculano Rocha, CHP FEBRE Carla Zilhão, CHP Mónica Fernandes, CHP › Marcília Teixeira, CHP CAFÉ INFEÇÃO PERINATAL Cristina Godinho, CHP CONTRACEÇÃO DE URGÊNCIA – UMA OPORTUNIDADE 11h00 DISCORDÂNCIA EM GÉMEOS Luísa Lopes, CHP MITOS E REALIDADES 16h15 16h45 CAFÉ SESSÃO INTERATIVA Moderadoras: Manuela Selores, CHP › Susana Machado, CHP Apresentação: Susana Vilaça,CHP › Teresa Pinto-Almeida, CHP COMUNICAÇÕES ORAIS GINELOGIA E OBSTETRÍCIA Moderadoras: Luísa Sousa, CHEDV › Ana Rita Pinto, CHTS DERMATITE ATÓPICA: DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS ECTOPARASITOSES MAIS FREQUENTES COMO O DERMATOLOGISTA AVALIA AS LESÕES PIGMENTADAS ACNE: COMO EVITAR CICATRIZES DISCUSSÃO 17h45 AVALIAÇÃO 18h15 ENCERRAMENTO NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 índice número2.vol.XXII 71 Editorial Novos desafios para a Revista Nascer e Crescer A. Martins da Silva 72 Artigos Originais Síndrome do bebé abanado – experiência de 10 anos de um Serviço de Cuidados Intensivos Pediátricos Lara Lourenço, Marta Silva, Lurdes Lisboa, Teresa Cunha da Mota, Augusto Ribeiro 75 Alergia alimentar em idade pediátrica Marta Santalha, Filipa Correia, Alberto Costa, Liliana Macedo, Paula Alendouro, Águeda Matos 80 Artigo de Revisão Escabiose – recomendações práticas para diagnóstico e tratamento Mónica Tavares, Manuela Selores 87 Disseminação de Enterobacteriaceae produtoras de beta-lactamases de espectro alargado em crianças Sílvia Branco Lima, Helena Neto Ferreira 92 Casos Clínicos Puberdade precoce secundária a quisto ovárico – caso clínico Teresa M. Guimarães, Mónica Tavares, Maria João Oliveira, Luciana Sousa, Teresa Borges 95 Encefalopatia multiquística – a propósito de dois casos clínicos Bárbara Pereira, Clara Alves Pereira, Joana Pinto, Manuela Santos 101 Pâncreas anular – um caso clínico Raquel Maciel, Ana Paula Reis, João Casanova, Angélica Osório, Teresa Oliveira, Eugénia Vasconcelos, Ana Guedes, Carmen Carvalho, Luísa Oliveira, Maria do Céu Rodrigues 104 Suplementação com leite de fórmula: nem sempre nem nunca... Luís Ribeiro, Andreia Oliveira, Ana Guedes, Luísa Lopes, Paula Rocha, Ana Cristina Braga NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 107 Artigo Recomendado 109 Qual o seu Diagnóstico? Maria do Carmo Santos Caso dermatológico Catarina Matos, Susana Machado, Sandrina Carvalho, Maria José Dinis, Manuela Selores 111 Caso estomatológico José Amorim 113 Caso radiológico Mariana Pinto, Fernando Pereira, Filipe Macedo 115 Educação Científica Conceção, redação e publicação de artigos científicos – Redação de artigos: estrutura e conteúdo Margarida Lima 129 Errata Errata do artigo “Caso estomatológico” (Nascer e Crescer 2013; 22(1):46-7) 130 Pequenas Histórias Remédio sem receita Margarida Guedes 131 Normas de Publicação NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 summary number2.vol.XXII 71 Editorial New challenges for the journal Nascer e Crescer A. Martins da Silva 72 Original Articles Shaken baby syndrome – 10 years experience in a Pediatric Intensive Care Service Lara Lourenço, Marta Silva, Lurdes Lisboa, Teresa Cunha da Mota, Augusto Ribeiro 75 Food allergy in childhood Marta Santalha, Filipa Correia, Alberto Costa, Liliana Macedo, Paula Alendouro, Águeda Matos 80 Review Articles Scabies – practical recommendations for diagnosis and treatment Mónica Tavares, Manuela Selores 87 Dissemination of extended-spectrum beta-lactamase producing Enterobacteriaceae in children Sílvia Branco Lima, Helena Neto Ferreira 92 Case Reports Precocious puberty due to ovarian cyst – case report Teresa M. Guimarães, Mónica Tavares, Maria João Oliveira, Luciana Sousa, Teresa Borges 95 Multicystic encephalopathy – considering two case reports Bárbara Pereira, Clara Alves Pereira, Joana Pinto, Manuela Santos 101 Annular pancreas – a case report Raquel Maciel, Ana Paula Reis, João Casanova, Angélica Osório, Teresa Oliveira, Eugénia Vasconcelos, Ana Guedes, Carmen Carvalho, Luísa Oliveira, Maria do Céu Rodrigues 104 Supplementation with formula milk: neither always, nor never... Luís Ribeiro, Andreia Oliveira, Ana Guedes, Luísa Lopes, Paula Rocha, Ana Cristina Braga NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 107 Recommended Article 109 What is your Diagnosis? Maria do Carmo Santos Dermatology case Catarina Matos, Susana Machado, Sandrina Carvalho, Maria José Dinis, Manuela Selores 111 Oral Pathology case José Amorim 113 Radiological case Mariana Pinto, Fernando Pereira, Filipe Macedo 115 Scientific Education Design, writing and publication of scientific manuscripts – Manuscript writing: structure and content Margarida Lima 129 Errata Errata of the article “Oral pathology case” (Nascer e Crescer 2013; 22(1):46-7) 130 Short Stories Medication without prescription Margarida Guedes 131 Instructions for Authors NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 editorial Novos Desafios para a Revista Nascer e Crescer A Revista Nascer e Crescer está numa fase de desenvolvimento, que passa pela difusão dos trabalhos que publica a uma comunidade cada vez mais vasta. Tendo incorporado na aceitação de trabalhos uma das regras de ouro das publicações credíveis – a revisão cega por pares – a Revista passou a ser indexada em bases de dados que possibilitam a difusão de conhecimento por meios eletrónicos. A concretização deste passo observou-se pela aceitação da incorporação da mesma na Base de Dados da SCIELO, bem como pela referenciação no sítio eletrónico “freemedicaljournals.com”. Parafraseando este sítio, espera-se que nos próximos anos as mais importantes revistas de ciência médica estejam disponíveis livremente, em tempo real e em texto completo na internet, ou mesmo sejam apenas publicadas (e divulgadas) por meios eletrónicos. A Revista Nascer e Crescer colocou-se na vanguarda, ao aceitar fazer livremente a difusão eletrónica dos trabalhos que publica. Os passos seguintes são a progressiva melhoria da estrutura, a maior frequência e regularidade da publicação. O que será conseguido divulgando mais e apelando mais à participação dos autores. Não sendo uma tarefa fácil, pode ter maiores probabilidades de êxito se a divulgação passar a ser prioritária para os países de língua portuguesa. É um apelo que aqui se deixa – divulgar mais a Revista Nascer e Crescer na Comunidade de Países de Língua Portuguesa. Este apelo encerra em si mesmo um enorme desafio: obriga à divulgação nas instituições (Universidades/Hospitais/Escolas) que representam a investigação, a formação e o exercício profissional. Essa divulgação consegue-se dirigindo-a para além dessas instituições, de modo a chegar às pessoas que no quotidiano necessitam da informação. Pessoas essas que são profissionais trabalhando em áreas de conhecimento que a Revista Nascer e Crescer incorpora. Profissionais que devem ser convidados a refletir em conjunto com a Revista, publicando os seus trabalhos, envolvendo-se na apreciação crítica de textos que outros submetam e, progressivamente, integrarem-se no Corpo Editorial. É urgente a modificação do paradigma de divulgação da produção científica que, para bem do conjunto dos países de língua portuguesa, deve passar a ser também em língua portuguesa(1). A língua, entendida como sistema de comunicação primordial da condição humana, é um instrumento de conhecimento(2). A produção de conhecimento e a divulgação de Ciência, em língua portuguesa, devem ser objetivos prioritários no panorama dos países que se exprimem em português. Só assim será ser possível criar uma Comunidade de Publicações Científicas em Língua Portuguesa. O que será vantajoso, não só para a comunidade da língua mas também para a próprioa Ciência. À Revista Nascer e Crescer estará reservado um papel importante, se contribuir para reforçar o papel da língua na ajuda à disseminação do conhecimento. A Martins da Silva Diretor do Ensino Pré-Graduado, CH Porto REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Pais-Ribeiro J, Martins da Silva A, Kochen S, Mota Gomes M, Vela-Bueno A, Marques MS (Edits). Manifesto: Pela universalidade da divulgação da produção científica. Placebo Editora Lda, Lisboa, 2011. 2. Rosiello L. Língua. Enciclopedia Einaudi, Edição Portuguesa INCM. Lisboa 1984. Vol 2. Pg 83. editorial 71 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 Síndrome do bebé abanado experiência de 10 anos de um Serviço de Cuidados Intensivos Pediátricos Lara Lourenço1, Marta Silva1, Lurdes Lisboa1, Teresa Cunha da Mota1, Augusto Ribeiro1 RESUMO Introdução: O Síndrome do Bebé Abanado é uma das causas de lesão não acidental mais difíceis de diagnosticar. Objetivos: Caracterizar os doentes internados no Serviço de Cuidados Intensivos Pediátricos (SCIP) com Síndrome do Bebé Abanado. Material e Métodos: Estudo retrospetivo dos doentes internados no SCIP do Centro Hospitalar de São João com o diagnóstico de Síndrome de Bebé Abanado de 1 de Janeiro de 1999 a 31 de Dezembro de 2009. Resultados: Foram internadas oito crianças com diagnóstico de Síndrome do Bebé Abanado. A média de idades foi de 4,1 meses e cinco doentes eram do sexo masculino. Um caso apresentava história de traumatismo. O motivo de recurso aos cuidados de saúde mais frequente foram as crises convulsivas com paragem respiratória/cardiorrespiratória (50%). Verificou-se hemorragias retinianas bilaterais em 6 doentes (75%). Em todos a tomografia axial computorizada cerebral mostrou hematomas subdurais. Sete doentes (87,5%) necessitaram de ventilação mecânica e cinco (62,5%) de suporte inotrópico. O tempo médio de internamento no SCIP foi de 5,25 dias (1-11 dias). Verificou-se um óbito. Verificou-se uma hemiparésia transitória num doente. Três casos apresentaram uma epilepsia de novo e défices na acuidade visual ou auditiva e num caso houve perda das aquisições prévias com um atraso moderado a severo do desenvolvimento psicomotor. Conclusão: O Síndrome do Bebé Abanado resultou, na nossa série, em elevada morbilidade com a presença de sequelas a longo prazo em cinco doentes (62,5%) compatíveis com os dados publicados em outras séries. A mortalidade encontrada foi inferior à apresentada em estudos anteriores (12,5%). A presença de história traumática só foi referida num caso e, apesar de todos terem apresentado hematomas subdurais, 25% dos casos não tinham hemorragias retinianas. A apresentação clínica foi muito grave na grande maioria dos casos, sendo fundamental um elevado grau de suspeição. Palavras-chave: Hematomas subdurais, hemorragias retinianas, síndrome do bebé abanado. Nascer e Crescer 2013; 22(2): 72-74 __________ 1 S. Cuidados Intensivos Pediátricos, UAG-Mulher e Criança, CH São João, 4200-319 Porto, Portugal 72 artigo original original article INTRODUÇÃO O síndrome do bebé abanado é uma das causas de lesão não acidental mais difícil de diagnosticar, ocorrendo 15 a 30 casos/100.000 lactentes/ano(1). Caracteriza-se por uma constelação de lesões infligidas por movimentos de aceleração-desaceleração repetidos com ou sem impacto(2). A idade média de apresentação é aos 4,6 meses, mas o diagnóstico pode ser feito até aos três anos de idade(3). Os lactentes têm uma maior suscetibilidade a lesões por eventos de desaceleração por um conjunto de características próprias como a musculatura cervical fraca e imatura, a base craniana achatada, o crânio fino, a cabeça relativamente grande, pesada e instável, o cérebro relativamente mole e com grande conteúdo de água, a relação cérebro/crânio aumentada com consequente perda de espaço intracraniano para a expansão cerebral. A ausência de história de trauma tem um elevado valor preditivo, sendo necessário um elevado grau de suspeição(4). Toda a lesão inexplicada e implausível deve levantar uma forte suspeição de lesão não acidental. O responsável é mais frequentemente o pai, seguido do padrasto, da mãe e finalmente da ama e ocorre em todos os estratos sociais(5). Em 91% dos casos a sintomatologia (convulsões, dificuldade respiratória, apneia, paragem cardiorespiratória) inicia-se logo após o episódio traumático(4). O padrão típico é a presença de hemorragia subdural difusa, hemorragias retinianas extensas e lesão cerebral difusa(6). O Síndrome do Bebé Abanado tem uma mortalidade que ronda os 30%(1). Até 70% dos doentes têm complicações a longo prazo (neurológicas, comportamentais e/ou cognitivas) que podem ser silenciosas até cinco anos após o episódio de abuso(3). MATERIAL E MÉTODOS Estudo retrospetivo através da consulta dos processos clínicos dos doentes internados no SCIP do Hospital de São João com o diagnóstico de Síndrome de Bebé Abanado de 1 de Janeiro de 1999 a 31 de Dezembro de 2009. Foram analisados a idade, o género, a existência de história de traumatismo, a apresentação clínica, os dados da tomografia axial computorizada cerebral, a presença de hemorragia retiniana, a necessidade de ventilação mecânica, o uso de inotrópicos, o tempo de internamento, as sequelas e o tempo de seguimento. Para análise dos dados foi utilizado o programa Microsoft Excel® 2007 (Microsoft Corporation). RESULTADOS Foram internados no Serviço de Cuidados Intensivos Pediátricos do Hospital de São João oito crianças num período de NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 10 anos com o diagnóstico de Síndrome do Bebé Abanado, correspondendo a 0,3% das admissões. A mediana de idades foi de 4,1 meses (1,5-6 meses) e cinco doentes (62,5 %) eram do sexo masculino. Apenas um caso tinha uma história de traumatismo (queda da cama). Dois lactentes estavam ao cuidado de uma ama, estando os restantes ao cuidado de um dos pais. O motivo mais frequente de recurso aos cuidados de saúde foi um episódio convulsivo com paragem respiratória/cardiorrespiratória (50%), seguido de paragem cardiorrespiratória isolada (37,5%) e de hipotonia (12,5%). Identificaram-se hemorragias retinianas bilaterais em seis dos doentes (75%). Em todos os casos o TC mostrou hematomas subdurais e em três (37,5%) dos casos sugestivos de cronicidade (Figura 1). Figura 1 – RMN cerebral: hematomas subdurais subagudos fronto-temporais. Presença de sangue subagudo, ao longo da tenda do cerebelo, e metade posterior da cisura inter-hemisférica. Constatou-se a presença de fraturas cranianas em dois doentes. Nenhum doente apresentou fraturas extra-cranianas. Sete doentes (87,5%) necessitaram de ventilação mecânica e cinco (62,5%) necessitaram de suporte inotrópico. A mediana do tempo de internamento no SCIP foi de 4,5 dias (1-11 dias), tendo sido a mediana do tempo de internamento hospitalar total de 34 dias (1-60 dias). Todos os lactentes mantiveram seguimento após o evento na nossa instituição ou no hospital da área de residência. Constatou-se que dois doentes não apresentaram sequelas a longo prazo. Três casos apresentaram epilepsia de novo e défices na acuidade visual ou auditiva, num caso houve hemiparésia transitória e noutro perda das aquisições prévias com um atraso moderado a severo do desenvolvimento psicomotor. Ocorreu um óbito. Dois lactentes foram retirados aos pais (um ficou a cuidado dos tios e o outro ao cuidado de uma instituição). DISCUSSÃO Neste período de 10 anos registaram-se 0,8 casos/ano de doentes com síndrome de bebé abanado com necessidade de internamento no SCIP, o que correspondeu a 0,3% das admissões. Apesar do reduzido número de doentes, a idade média de apresentação foi semelhante à descrita na literatura. As lesões foram infligidas por familiares ou por cuidadores habituais dos lactentes, despoletando um quadro clínico de início abrupto e grave. A suspeição foi levantada pela presença de lesões inexplicadas (sem história de trauma) ou implausíveis (lesões de maior gravidade do que o expectável para o trauma descrito). A presença de hematomas subdurais com diferentes tempos de evolução em três lactentes mostra que este tipo de abuso não se resume muitas vezes a um ato isolado, mas a um abuso perpetuado no tempo, pelo que devemos estar alerta para apresentações clínicas menos exuberantes e para outras manifestações de abuso (fraturas extra-cranianas, hematomas…). Apesar de um elevado número de casos ter necessitado de suporte ventilatório (87,5%) e inotrópico (62,5%) o tempo médio de internamento no SCIP não foi muito longo (5,25 dias) ao contrário do tempo de internamento hospitalar total médio que foi consideravelmente mais longo, refletindo as dificuldades que muitas vezes existem na orientação social destas situações. É muito importante a abordagem multidisciplinar. Todos os doentes apresentaram hemorragias subdurais. Porém, 25% dos casos não tinham hemorragias retinianas, o que é compatível com a demonstração destas em 50-100% dos casos1. Apesar de alguns doentes não terem o seguimento mínimo de cinco anos, foram constatadas sequelas a longo prazo em cinco doentes (62,5%), tendo sido, por isso, a morbilidade semelhante à descrita na literatura (62-96%). A mortalidade foi de 12,5%, sendo inferior à descrita (30%)1. CONCLUSÕES O Síndrome do Bebé Abanado resulta numa alta morbilidade e mortalidade, e é necessário um elevado grau de suspeição, principalmente num lactente com lesões severas e sem história de trauma. É essencial uma abordagem multidisciplinar, com envolvimento da rede de suporte social e de proteção do menor. A apresentação e as sequelas do Síndrome do Bebé Abanado podem ser muito severas, pelo que devem ser desenvolvidos esforços de prevenção primária dirigidos à população em geral, com educação dos pais quanto aos perigos de abanar violentamente o lactente e providenciando estratégias para lidar com o choro persistente. SHAKEN BABY SYNDROME – 10 YEARS EXPERIENCE IN A PAEDIATRIC INTENSIVE CARE SERVICE ABSTRACT Introduction: Shaken baby syndrome is one of the causes of non-accidental injury most difficult to diagnose. Objectives: To characterize the patients hospitalized in the intensive care unit with shaken baby syndrome. Material and Methods: Retrospective study of patients admitted at the Paediatric Intensive Care Unit with shaken baby syndrome from 1 January 1999 to 31 December 2009. Results: There were eight children with shaken baby syndrome. The mean age was 4.1 months and five patients were male. One patient had a history of trauma. The most frequent artigo original original article 73 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 cause of admission were epileptic seizures with cardiorespiratory/ respiratory arrest (50%). Bilateral retinal haemorrhages were present in six patients (75%). The CT scan showed subdural haematomas in all patients. Seven patients (87.5%) required mechanical ventilation, and five (62.5%) required inotropic support. The mean length of hospitalization was 5.25 days (1-11 days). One patient died. Three patients showed no sequelae. There was a transient hemiparesis in one patient. Three patients presented epilepsy and deficits in visual acuity or hearing and in one case there was loss of prior acquisitions with a moderate to severe retardation of psychomotor development. Conclusion: In our study Shaken Baby Syndrome resulted in high morbidity with long-term sequelae in five patients (62,5%), consistent with data published in other series. The mortality rate was lower than in previous studies (12.5%). The presence of traumatic history was mentioned only in one case and, although all of them presented subdural haematomas, 25% of cases had no retinal haemorrhages. The clinical presentation was very severe and in most cases a high degree of suspicion is necessary in the diagnosis. Keywords: Retinal haemorrhages, shaken baby syndrome, subdural haematomas. Nascer e Crescer 2013; 22(2): 72-74 2. Forbes B. Abusive head trauma in infants and young children: anatomy and pathogenesis of retinal hemorrhages. In: UpToDate, Paysse, E (Ed), UpToDate, Waltham, MA, 2009. 3. Togioka BM, Arnold MA, Bathurst MA, Ziegfeld SM, Nabaweesi R, Colombani PM, et al. Retinal Hemorrhages and Shaken Baby Syndrome: an evidence-based review. J Emerg Med 2009; 37:98-106. 4. Christian C, Endom E. Evaluation and diagnosis of abusive head injury in infants and children. In: UpToDate, Wiley, J (Ed), UpToDate, Waltham, MA, 2010 5. Christian C, Greenbaum V. Epidemiology, mechanisms and types of abusive head injury in infants and children. Acedido em: 2009. Disponível em: UpToDate. 6. Squier W. Shaken baby syndrome: the quest for evidence. Dev Med Child Neurol 2008; 50:10-4. ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Lara Lourenço Centro Hospitalar de São João Serviço de Pediatria Alameda Prof. Hernâni Monteiro 4200-319 Porto, Portugal E-mail: [email protected] REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Matschke J, Herrmann B, Sperhake J, Körber F, Bajanowski T, Glatzel M. Shaken Baby Syndrome – a common variant of non-accidental head injury in infants. Dtsch Arztebl Int 2009; 106: 211-17. 74 artigo original original article Recebido a 07.07.2011 | Aceite a 25.01.2012 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 Alergia alimentar em idade pediátrica Marta Santalha1, Filipa Correia1, Alberto Costa1, Liliana Macedo1, Paula Alendouro2, Águeda Matos1 RESUMO Introdução: A prevalência da alergia alimentar, em idade pediátrica, é cerca de 4-6%. Os principais alimentos responsabilizados por alergia são o leite e clara do ovo, sendo a clínica de alergia, geralmente transitória. Objetivo e métodos: Caracterizar casos de alergia alimentar persistentes ou menos frequentes em idade pediátrica, seguidos na consulta de pediatria/doenças alérgicas num hospital nível II. O diagnóstico baseou-se na anamnese, testes cutâneos, doseamento de IgE sérica especifica e, na ausência de contra-indicações, prova de provocação oral. Num caso realizou-se ISAC® (immuno solid - phase allergen chip) e Imunoblotting para melhor esclarecimento diagnóstico. Foram excluídas as alergias à clara do ovo e às proteínas do leite de vaca com aquisição de tolerância ao longo da infância. Um caso de alergia às proteínas do leite de vaca foi incluído pela não aquisição de tolerância, tornando-o assim uma forma menos frequente. Resultados: Selecionaram-se 12 casos, dos quais 75% (9) eram do sexo masculino. Registaram-se antecedentes familiares de alergias em 58,3% (7) e 83,3% (10) tinham concomitantemente outra manifestação de atopia. Constatamos sete casos de alergia ao kiwi e quatro casos de polissensibilização alimentar. As formas de apresentação clínica foram: urticária [66,7% (8)]; edema perioral [63,6% (7)]; angioedema [41,7% (6)] e dispneia [45,5% (5)]. Todos os testes cutâneos foram positivos. O mesmo não se verificou com os exames laboratoriais (um caso apresentou testes cutâneos e prova de provocação ao kiwi positiva, com IgE sérica específica, determinação pelo método ISAC e Imunoblotting negativos). Conclusões: A maioria das crianças apresentou co-sensibilização com outros alergénios e outra manifestação concomitante de alergia, refletindo o passo primordial da alergia alimentar na marcha alérgica. O diagnóstico de alergia alimentar é de extrema importância, pela evicção que implica e potencial gravidade. Palavras-chave: Criança, hipersensibilidade alimentar, testes cutâneos. Nascer e Crescer 2013; 22(2): 75-79 __________ 1 2 S. Pediatria, U. Guimarães, CH Alto Ave, 4835-044 Guimarães, Portugal U. Imunoalergologia, U. Guimarães, CH Alto Ave, 4835-044 Guimarães, Portugal INTRODUÇÃO A prevalência da alergia alimentar, em idade pediátrica, é cerca de 4-6%1,2, assistindo-se nas últimas décadas a um incremento da mesma, constituindo assim um problema de saúde pública em praticamente todos os países desenvolvidos. A alergia alimentar representa uma resposta imunológica de hipersensibilidade à ingestão de determinado alimento, que poderá ou não, ser mediada por IgE. A hipersensibilidade IgE mediada adquire um espetro clínico particular e está na génese de reações clínicas potencialmente mais graves. Este conceito é claramente diferente das intolerâncias alimentares, que não são mediadas pelo mesmo mecanismo imunológico, podendo estar associadas a reações adversas despoletadas por fenómenos de toxicidade alimentar, por fármacos presentes nos alimentos (ex. tiramina nos queijos) ou por distúrbios metabólicos (ex. deficiência em lactase).3 Em idade pediátrica assiste-se a uma maior prevalência de alergia alimentar, dada a imaturidade imunológica da barreira intestinal, já que a atividade enzimática é sub-ótima no período neonatal e a IgA secretora não se encontra completamente desenvolvida até aos quatro anos de idade.3 Cerca de 90% das alergias alimentares em pediatria são causadas por apenas oito alergénios: proteínas do leite de vaca, soja, ovo, peixe, marisco, amendoim, frutos secos e trigo.4 A maioria destas alergias assume, geralmente, um caráter transitório, com aquisição de tolerância clínica em idade pré-escolar (ex. alergia às proteínas do leite de vaca com aquisição de tolerância aos cinco anos em 80% dos casos)3. Na alergia ao amendoim, anteriormente interpretada como permanente, tem sido reportada tolerância clínica em cerca de 20% dos casos.3 Contudo, algumas alergias alimentares assumem um caráter persistente e nas últimas décadas assiste-se a um incremento de alguns alergénios alimentares, como por exemplo o fruto do Kiwi (actinidia). O kiwi, fruto ubíquo entre os portugueses, é uma planta nativa da China, cuja alergia foi descrita pela primeira vez em 1981.5 Assume particular importância a clínica de alergia a este fruto, dada a introdução recente deste na dieta das crianças portuguesas, podendo condicionar, não só pela via digestiva, como também respiratória e cutânea, um amplo espetro de sintomas, desde reações localizadas a anafilaxia.5 O objetivo do presente estudo foi caracterizar casos clínicos de alergias alimentares persistentes ou menos frequentes em idade pediátrica seguidos atualmente na consulta de pediatra/doenças alérgicas num hospital nível II. artigo original original article 75 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 MATERIAL E MÉTODOS Selecionaram-se doze casos de alergias alimentares persistentes ou menos frequentes. O diagnóstico baseou-se na história clínica, testes cutâneos, doseamento de IgE sérica específica e, na ausência de contra-indicações, prova de provocação oral. Num caso realizou-se ISAC® e Imunoblotting. Os testes cutâneos foram realizados segundo as normas da European Academy of Allergology and Clinical Immunology (EAACI)14 com colocação de gotas das baterias dos extratos comerciais dos alimentos, na face anterior do antebraço, sendo posteriormente efetuada uma picada intradérmica utilizando uma lanceta de material sintético (Stallerpoint ®), com limitador de penetração a 1 mm. Foram ainda aplicados um controlo negativo (solução salina fisiológica) e um controlo positivo (cloridrato de histamina a 10 mg/ml), tendo a leitura do teste sido efetuada após 15 minutos, considerando-se positiva se o diâmetro da pápula fosse igual ou superior a 3 mm. Os doseamentos séricos de IgE específica para determinados alimentos foram efetuados por método imunoenzimático UniCAP-FEIA, sendo expressos em kU/L. O ISAC® é um teste in vitro para a determinação semi-quantitativa de anticorpos IgE específicos em plasma ou soro humano, que através de antigénios recombinantes permite caracterizar a alergia não apenas para alergénios major mas para uma ampla gama de alergénios. O Imunoblotting associa técnicas de separação por eletroforese e métodos de deteção de anticorpos. O ISAC e Immunoblotting foram realizados numa situação particular em que se verificava uma discordância entre a clínica e as IgE séricas específicas, salientando-se, no entanto o custo económico de tais técnicas, sendo que o seu uso não está generalizado na maior parte dos hospitais portugueses. Na ausência de antecedentes de reação sistémica grave e após consentimento informado, foi efetuada Prova de Provocação Oral (PPO) aberta, segundo o protocolo do hospital, consistindo na ingestão gradual de alimento suspeito sobre supervisão médica. Foram avaliadas as seguintes variáveis: idade atual e ao diagnóstico, sexo, origem de referenciação, antecedentes familiares e pessoais de alergias, sintomatologia, alergia a alergénios alimentares e aeroalergénios. Foram excluídas as alergias prevalentes na infância como é o caso da alergia ao ovo e às proteínas do leite de vaca. Apenas um caso de alergia às proteínas do leite de vaca foi incluído pela sua persistência para além da infância, tornando-o assim uma forma de apresentação menos frequente. Os restantes casos incluídos reportam-se a alergias com prevalências reportadas na literatura como inferiores a 1%. Assim foram incluídas as alergias ao camarão, peixe, amendoim que apresentam uma prevalência na literatura 0,6%12; 0,4%12; e 0,8%13 respetivamente. Foi também incluída a alergia ao kiwi cuja frequência tem vindo a aumentar, e em que os estudos sistemáticos em idade pediátrica permanecem escassos.5 Comparativamente com estudos nacionais, reportam-se prevalências de sensibilização a alergénios alimentares mais 76 artigo original original article elevadas, variando de 2.7% para crustáceos e 6.5% para os peixes. Contudo estes estudos reportam-se à década de 90, não refletindo a modificação progressiva dos hábitos alimentares.6 O período de recolha de dados foi de 1 de julho a 31 de julho de 2011. RESULTADOS Selecionaram-se 12 casos, dos quais 75% (9) eram do sexo masculino. A principal origem de referenciação para a consulta hospitalar foi o serviço de urgência [41,7%(5)]; seguido dos cuidados de saúde primários [33,3% (4)]; outra consulta hospitalar [16,7% (2)] e internamento de pediatria [8,3% (1)]. A idade média do diagnóstico de alergia alimentar foi aos três anos e cinco meses [mínimo-máximo: 5-132 meses]. Registaram-se antecedentes familiares de doença alérgica em 58,3% (7), dos quais 71,4% (5) tinham familiar com asma e 28,6% com rinite alérgica. Nesta amostra 83,3% (10) das crianças e adolescentes tinham concomitantemente outra manifestação de atopia, dos quais 60% (6) tinham asma, os restantes tinham rinite alérgica, dermatite atópica, asma e dermatite atópica ou asma e rinite alérgica, 10% (1) em cada um dos casos. Constatamos sete casos de alergia ao kiwi, dois dos quais com co-sensibilização com gramíneas (caso 8 e 10 tabela I). Verificaram-se quatro casos de polissensibilização alimentar, dois dos quais com alergia ao Kiwi e frutos secos (caso 5 e 10 tabela I), um com alergia ao Kiwi e a marisco (caso 4, tabela I) e um caso com polisensibilização a vários peixes (caso 2, tabela I). As apresentações clínicas foram: urticária [66,7% (8)]; edema perioral [63,6% (7)]; angioedema [41,7% (6)] e dispneia [45,5% (5)]. Sendo que a maioria das crianças apresentou mais que um sintoma clínico. Todos os testes cutâneos foram positivos, o mesmo não se verificou com os exames laboratoriais. Destaca-se o caso 5, de uma criança do sexo feminino, com antecedentes de asma, seguida em consulta de doenças alérgicas, que após ingerir kiwi aos três anos iniciou edema palpebral. Os primeiros testes cutâneos realizados dois meses após o episódio revelaram-se negativos para kiwi (diâmetro da pápula: 2mm) mas positivos para o amendoim (diâmetro da pápula: 7mm). Repetiu testes cutâneos 19 meses depois, que se revelaram positivos para kiwi (diâmetro da pápula: 9mm), amendoim (diâmetro da pápula: 10mm), nozes (diâmetro da pápula: 7mm) e avelã (diâmetro da pápula: 6mm). O ISAC® foi positivo para amendoim (nAra h2 com 1,5 ISU), gramíneas (rPhlp1 com 1,1 ISU) e para pêlo de gato (rFeld1 com 2,7 ISU), sendo negativo para kiwi. O Immunoblotting através do método de EAST (Enzyme AllergoSorbent Test) foi negativo para kiwi pele e polpa das variedades Gold e Hayward (<0,35 kU7L) sendo positivo para amendoim tostado e cru (0,8 Ku/l e 0,6 kU/l respetivamente). O doseamento de IgE sérica específica foi também negativo para kiwi (0,31 kUA/l). Foi decidido realizar prova de provocação oral, que se revelou positiva cerca de 10 minutos após ingestão de dois gramas de Kiwi, com início de sibilância, edema e prurido perioral. NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 Dos cinco casos que realizaram prova de provocação oral (casos 2, 3, 5, 10 e 12 da Tabela I) apenas um adquiriu tolerância oral (alergia a pescada com início aos oito meses de idade, prova de provocação com tolerância adquirida aos 13 anos). Os restantes casos apresentaram sintomatologia respiratória com dispneia e broncospasmo e um caso associava ainda sintomatologia cutânea (edema perioral) durante a PPO. DISCUSSÃO Neste estudo constatou-se que 33,3% (4) das crianças apresentava co-sensibilização com outros alergénios alimentares, bem como, outra manifestação concomitante de alergia. Gupta e colaboradores, reportaram uma frequência de 30,4% de polissensibilização alimentar numa amostra de 38 480 crianças.7 No estudo desenvolvido por Minford e colaboradores, Tabela I Caso Sexo Idade atual (anos) 1 ♀ 13 2 ♂ 15 Alergénio alimentar Camarão Bacalhau Pescada Carapau Pêssego Noz Aeroalergénios Ácaros Ácaros Idade do Diagnóstico 11 A 3A+ 4M Testes Cutâneos (alimentos) IgE sérica especifica KUA/L (alimentos) Prova de Provocação Oral (PPO Resultado PPO + (8 mm) Histamina 4 mm Camarão: 0,8 NR NR Bacalhau: 0,59 Pescada: 1,45 Carapau: 0,99 Realizada para bacalhau, pescada, solha, salmão, sardinha aos 15 anos Tolerância ao bacalhau, pescada, solha, salmão, sardinha Tolerância não adquirida ao carapau Pescada: 1,1 Realizada 13 anos Tolerância adquirida + (Bacalhau 8 mm Pescada 10 mm Carapau 11 mm Pêssego 8 mm»» Prick to prick pêssego: 0 mm Noz 15 mm) 3 4 ♂ ♂ 13 Pescada Ácaros 8M + (7 mm) 4 A+6 M + (Camarão 6 mm Lula 9 mm Polvo 8 mm Kiwi 6 mm Amêijoa 0 mm) Camarão: 29,4 Kiwi : 1,45 Recusada PPO à amêijoa Recusada Amendoim: 1,3 Kiwi : 0,31 Realizada ao Kiwi aos 5 anos Tolerância NÃO adquirida 12 Camarão Lula Polvo Kiwi Pêlo de gato 3A + (Kiwi 9 mm Amendoim 10 mm Nozes 7 mm Avelã 6 mm) Ácaros 5 ♀ 7 Kiwi Amendoim Nozes Avelã 6 ♂ 3 Kiwi ___ 12 M + (6 mm) Kiwi: 16,4 NR NR 7 ♂ 2 Kiwi ___ 6M + (10 mm) Kiwi: 24 NR NR 8 ♂ 4 Kiwi Gramíneas 30 M + (8 mm) Kiwi: 1,69 NR NR 9 ♂ 4 Kiwi ___ 3 A+6 M + (6 mm) Kiwi: 0,35 NR NR 10 ♀ 11 Kiwi Amendoim Gramíneas 5 A+ 5 M + (Kiwi 12 mm Amendoim 10 mm) Kiwi: 0,42 Amendoim: 0,8 Realizada aos 11 anos ao Kiwi Tolerância NÃO adquirida 11 ♂ 6 Amendoim ___ 5 A+ 2 M + (15 mm) Amendoim: 71,9 NR NR 11 Proteínas Leite de vaca 5M + (β-lactoglobulina 12 mm α-lactoalbumina 5 mm Caseína 6 mm) LV > 100 β-lactoglob. 30,1 α-lactoalb. 92,1 caseína >100 Realizada aos 2, 4 e 11 anos Tolerância NÃO adquirida 12 ♂ ____ NR = Não realizada artigo original original article 77 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 59% de uma amostra de 68 crianças, tinham intolerância ou sensibilização a múltiplos alimentos8, neste estudo o diagnóstico de alergia alimentar foi realizado através dietas de evicção e reintrodução alimentar. A associação frequente com outra manifestação de atopia verificada na nossa amostra é coincidente com os achados da literatura. Branum e colaboradores, constataram que 27% das crianças com alergia alimentar tinham também dermatite atópica, concluindo que as crianças com alergia alimentar tinham um risco duas a quatro vezes superior de desenvolverem asma ou outras alergias.9 Destacamos o número de casos de alergia ao kiwi obtidos na nossa amostra. De facto a alergia ao Kiwi parece ter vindo a aumentar nas últimas décadas. Lucas e colaboradores demonstraram uma prevalência de alergia ao kiwi, confirmada por prova de provocação oral com dupla ocultação em 53% de uma amostra de 45 crianças e adultos.10 Na nossa amostra, verificou-se num caso baixa sensibilidade dos estudos laboratoriais (caso 5). Achados semelhantes são encontrados no mesmo estudo de Lucas e colaboradores, que demonstraram uma baixa sensibilidade da IgE sérica e dos testes cutâneos com extratos alergénicos comerciais de kiwi (54% e 75% respetivamente).10 Aleman e colaboradores, num estudo com 43 casos de alergia ao kiwi, apenas 40% teve testes cutâneos positivos a um extrato comercial do kiwi, todos tiveram testes positivos com o prick to prick com fruto fresco.11 O nosso estudo apresenta algumas limitações, nomeadamente um número reduzido de casos, com uma seleção dos casos com alergia persistente, o que poderá ter condicionado os resultados obtidos. A impossibilidade de realizar provas de provocação oral em todos os doentes, por contraindicação ou por recusa dos mesmos ou do familiar responsável, poderá ter condicionado um viés de seleção quanto à avaliação da persistência clínica da alergia, já que nestes casos o parâmetro de persistência foi baseado em testes cutâneos. O nosso estudo, embora possua uma amostra pequena de casos, demonstrou que maioria das crianças apresentava co-sensibilização com outros alergénios, bem como outra manifestação concomitante de alergia, refletindo o passo primordial da alergia alimentar na marcha alérgica. Nesta amostra foram excluídas as alergias ao ovo e as alergias transitórias às proteínas do leite de vaca, que são os alergénios mais frequentes e os primeiros a sensibilizarem as crianças. A sensibilização a alimentos e posteriormente a aeroalergénios, fortemente representada neste estudo, espelha o percurso atópico tão frequente em idade pediátrica. Também Kijima e colaboradores, num estudo efetuado com 3321 estudantes japoneses, concluíram que a alergia alimentar representava o principal fator de risco para a progressão da marcha alérgica, sendo que a associação de alergia alimentar e dermatite atópica são fatores que aceleram a subsequente progressão atópica.15 78 artigo original original article CONCLUSÃO O diagnóstico de alergia alimentar é de extrema importância não só pela evicção que implica e potencial gravidade clínica, como também pelo seu papel na caminhada da marcha alérgica. Mais que uma alergia é por vezes a porta de entrada para um amplo espetro de patologias alérgicas. É essencial atuar na prevenção, não só a nível da indústria alimentar para a correta rotulagem dos alimentos, mas também na promoção dos bons hábitos alimentares e na educação da criança alérgica. Dada a prevalência crescente da alergia ao kiwi que se tem vindo a assistir, e sendo este um fruto universal na dieta portuguesa, alerta-se para a sua introdução na diversificação alimentar após o primeiro ano de vida da criança. Considera-se ainda fundamental disponibilizar e promover o ensino na utilização de adrenalina, em canetas autoinjectáveis, em crianças com alergia alimentar e risco de anafilaxia. FOOD ALLERGY IN CHILDHOOD ABSTRACT Introduction: Food allergy affects up to 4-6% of children. Cow’s milk and egg allergy are the main allergies, which are usually transient. Purpose and methods: To characterize cases of persistent or less frequent food allergies in children followed as outpatient in a Level II Hospital. Diagnosis was based on clinical history, skin prick tests, specific serum IgE, ISAC and Imunoblotting in special situations, and in oral food challenge whenever possible. Egg allergy was excluded. One case of cow’s milk allergy was included because of its persistence beyond infancy. Results: Twelve cases were selected, 75% (9) were male. There was a family history of allergy in 58.3% (7) and 83.3% (10) had more than one atopic disease. There were seven cases of kiwi fruit allergy and four cases of multiple food hypersensitivity. Clinical presentations were: urticaria [66.7% (8)]; lips edema [63.6% (7)], angioedema [41.7% (6)] and dyspnoea [45.5% (5)]. All skin prick tests were positive, unlike the laboratory tests (case 5:, skin prick tests and oral food challenge positives to the kiwi fruit, with specific serum IgE, immuno solid -phase allergen chip and immunoblotting negatives) Of the five patients who underwent oral food challenge, only one acquired tolerance Conclusions: In these cases, most children had co-sensitization with other allergens, as well as another manifestation of concomitant allergy, showing the role of food allergy in allergic march. Food allergy diagnosis is extremely important, as it can be potentially serious if not prevented by food avoidance. Keywords: Child, food hypersensitivity, skin tests. Nascer e Crescer 2013; 22(2): 75-79 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Uguz A, Lack G, Pumphrey R, Ewan P, Warner J, Dick J, et al. Allergic reactions in the community: a questionnaire survey of members of the anaphylaxis campaign. Clin Exp Allergy 2005; 35:746-50. 2. Lasley MV, Shapiro GG. Testing For Allergy. Pediatrics in Review 2000; 21:39-43. 3. Sampson HA. Update on food allergy. J Allergy Clin Immunol 2004; 113:805-19. 4. Kolacek S. Food hypersensitivity in children. Acta Med Croatica 2011; 65:155-61. 5. Lucas JS, Lewis SA, Hourihane JO. Kiwi fruit allergy: a review. Pediatr Allergy Immunol 2003; 14:420-8. 6. Almeida MM, Prates S, Pargana E, Arêde C, Godinho N, Tavares C, et al. 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Sicherer SH, Muñoz-Furlong A, Sampson HA. Prevalence of seafood allergy in the United States determined by a random telephone survey. J Allergy Clin Immunol 2004; 114:159-65. 13. Sicherer SH, Munoz-Furlong A, Sampson HA. Prevalence of peanut and tree nut allergy in the United States determined by means of a random digit dial telephone survey: a 5-year follow-up study. J Allergy Clin Immunol 2003; 112:1203-7. 14. Position paper. Allergen standardization and skin tests. The European Academy of Allergology and Clinical Immunology. Allergy 1993; 48:48-82. 15. Kijima A, Murota H, Takahashi A, Arase N, Yang L, Nishioka M, et al. Prevalence and impact of past history of food allergy in atopic dermatitis. Allergol Int 2013; 62:105-12. ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA: Marta Filipa Ferreira Santalha Centro Hospitalar do Alto Ave Unidade Hospitalar de Guimarães Serviço de Pediatria Rua dos Cutileiros, Creixomil 4835-044 Guimarães, Portugal E-mail: [email protected] Recebido a 18.07.2012 | Aceite a 10.03.2013 artigo original original article 79 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 Escabiose recomendações práticas para diagnóstico e tratamento Mónica Tavares1, Manuela Selores2 RESUMO Introdução: A escabiose ou sarna é uma infeção causada pelo parasita Sarcoptes scabiei var. hominis que ganha importância pela morbilidade associada ao prurido intenso, alta infecciosidade, surtos frequentes e persistência dos sintomas por muitos dias mesmo após irradicação completa. Objetivos: Abordagem da fisiopatologia, diagnóstico diferencial e opções de tratamento em idade pediátrica. Desenvolvimento: Em pediatria as dificuldades prendem-se com o diagnóstico diferencial desta dermatose pruriginosa com outras patologias muito frequentes neste grupo etário. A existência de vários fármacos disponíveis, com eficácia e segurança pouco estudadas em idade pediátrica, fazem com que o tratamento desta infeção se baseie mais na experiência pessoal, disponibilidade local e custo do que na evidência médica. Conclusões: Este artigo pretende resumir a etiopatogenia da infeção por Sarcoptes scabiei var. hominis na criança focando especial atenção aos sintomas e tratamento. O precipitado de enxofre, embora sem estudos randomizados e controlados que provem a sua eficácia e segurança, parece ser um dos fármacos mais recomendado em idade pediátrica. Palavras-chave: Diagnóstico, enxofre, escabiose, tratamento. Nascer e Crescer 2013; 22(2): 80-86 INTRODUÇÃO A escabiose ou sarna é uma dermatose infeciosa ainda muito frequente na população pediátrica provocada pelo Sarcoptes scabiei var. hominis1. A prevalência mundial foi estimada em 300 000 milhões de casos2. Apresenta uma distribuição mundial, com uma prevalência e incidência muito variáveis3 sendo endémica nos países subdesenvolvidos4. Os surtos epidémicos realizam-se ciclicamente cada 15-30 anos e dependem de fatores diversos como a imunidade individual, condições de vida, hábitos higiénicos, migrações e aglomerados habitacionais3-5. Esta parasitose ocorre em ambos os sexos, em todas as idades e raças e em todos os níveis sócio económicos2,6. Este parasita é __________ 1 2 S. Pediatria, CH Porto, 4099-001 Porto, Portugal S. Dermatologia, CH Porto, 4099-001 Porto, Portugal 80 artigo de revisão review articles exclusivo do homem não conseguindo viver mais do que poucas horas noutros animais ou em fomites3. O risco de surtos severos e de escabiose complicada é particularmente alto em instituições, populações carenciadas e indivíduos imunocomprometidos2, sendo que estes últimos estão sujeitos a uma forma grave de escabiose denominada escabiose crostosa ou Norueguesa7. A escabiose é um problema dermatológico comum orientado quer por dermatologistas quer por pediatras. OBJETIVO O objetivo deste artigo passa pela abordagem da fisiopatologia e diagnóstico diferencial desta infeção já largamente estudada, bem como a revisão dos artigos publicados relativamente às opções de tratamento em idade pediátrica. DESENVOLVIMENTO Fisiopatologia A fêmea grávida atravessa a epiderme originando um sulco coberto, designado como galeria, para depositar os seus ovos, morrendo em seguida.3,8 As galerias são trajetos serpentinosos com 0.3 a 0.5 mm por 10 mm de comprimento.1 Os ovos em número de 10-15, dão origem em 3-4 dias a larvas, que se dirigem para a superfície cutânea escavando pequenas bolsas superficiais.3 Amadurecem em cerca de uma a duas semanas e ao adquirirem a forma adulta copulam nas novas bolsas formadas – a nova fêmea após a fertilização escava a sua galeria e o macho morre.3 Cerca de cinco a 15 parasitas fêmeas vivem num hospedeiro com escabiose clássica mas o número pode atingir centenas a milhões no caso de escabiose crostosa, sendo esta altamente contagiosa.2,5 A erupção cutânea na escabiose clássica é consequência da infestação e das reações de hipersensibilidade ao parasita.2,9 A atividade do parasita na pele produz um efeito traumático e fenómenos irritativos que originam prurido.3,8 Em consequência origina-se uma dermatite irritativa de carácter traumático, a qual se agrava com frequência em consequência do tratamento antiparasitário.3 O início dos sintomas clínicos coincide com o desenvolvimento de uma resposta imune à presença do parasita e dos seus produtos na epiderme.1,4,7 Numa primeira infestação os sintomas ocorrem cerca de três a seis semanas mas no caso de re-infestação a recrudescência dos sintomas ocorre em cerca de 1-3 dias 1-4,9-11 o que pode impedir que a infeção se instale4. NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 A amplitude da resposta imune parece diminuir com o tempo mas normalmente não elimina a doença e não confere imunidade contra reinfestação.4 Quando não tratada a resolução da sintomatologia ocorre em 11 a 17 semanas.3 Transmissão A transmissão faz-se pelo contacto cutâneo direto prolongado com indivíduos parasitados, nomeadamente através do contacto sexual, ou indiretamente através das roupas do leito, toalhas ou outros fomites2,3,9, principalmente na escabiose crostosa.11 Quanto maior o número de parasitas no hospedeiro maior é a probabilidade de transmissão.2,7 As crianças desempenham um papel importante na disseminação intra-familiar por apresentarem contacto físico próximo em casa ou nos infantários.4 Os indivíduos assintomáticos mas infetados são tão contagiosos como um com o quadro clínico completamente estabelecido.3,10 Em climas temperados a escabiose é mais comum no Inverno, provavelmente devido a um maior aglomerado populacional que ocorre nestes meses e a uma maior sobrevida dos parasitas nas superfícies com temperaturas mais baixas.2 Os animais também podem estar infetados com Sarcoptes scabiei, mas a subespécie é diferente dos humanos.12 Embora possa ocorrer transmissão entre espécies, a escabiose transmitida pelos cães ou gatos é pouco provável de provocar uma infestação no homem.12 Sintomas O prurido é o sintoma mais comum apresentando um agravamento noturno2-5,7,9,11 devido ao aumento da temperatura facilitar a movimentação do parasita na superfície cutânea3. A intensidade do prurido não se correlaciona com a exuberância das lesões cutâneas.3 Em lactentes menores que dois ou três meses o prurido pode estar ausente.9,11 Embora as crianças possam permanecer saudáveis e com um desenvolvimento normal, uma infestação crónica pode resultar em anorexia, irritabilidade e má evolução ponderal.2,7 Figura 1 – Escabiose: criança de 4 anos com pápulas e vesículas nas palmas das mãos e pulsos. Clinicamente podem observar-se pápulas, nódulos, vesículas e galerias que resultam da ação perfurante do ácaro e da reação cutânea resultante da ação do parasita.3,9 Nas crianças as lesões mais frequentes são as pápulas, as vesículas, as pústulas1,9 e os nódulos7. No entanto, na maioria dos doentes podem ocorrer escoriações, eczematização ou infeção secundária que obscurece as lesões primárias.1 Esta dermatose tem uma apresentação característica: no adulto distribui-se abaixo do pescoço com predomínio no bordo anterior das axilas, região umbilical, cintura, região glútea, face interna das coxas, face anterior dos punhos, eminência tenar, espaço interdigital dos dedos das mãos e cotovelos; nas mulheres nas aréolas mamárias, no homem na região genital.2,3,7,9 Em crianças o envolvimento é generalizado com atingimento do couro cabeludo a da face, tronco, prega pós-auricular e extremidades, incluindo palmas (Figura 1) e plantas.1-4,7-10 As plantas são uma localização muito frequente e mantém-se até cerca do segundo ano de idade.3 As galerias são mais facilmente identificáveis nas mãos e pés, nomeadamente nas regiões interdigitais, eminência tenar e hipotenar e punhos.2,9,10 Existe uma grande variabilidade inter-individual na exuberância das lesões relacionadas com o tipo de pele, a sensibilidade ao parasita e os cuidados de higiene corporal.3 Os nódulos vermelho-acastanhados da escabiose podem ser observados predominantemente na região axilar e inguinal bem como nos punhos e região genital e nádegas (Figura 2).2,13,14 Como consequência do prurido pode ocorrer impetiginização secundária com infeção por Staphylococcus aureus e/ ou Streptococcus pyogenes.2-4,9 Em regiões tropicais a glomerulonefrite pós-estreptocócica é uma importante complicação da escabiose.1,14 Diagnóstico O diagnóstico de escabiose deve ser considerado em qualquer criança com prurido de aparecimento recente com predomínio noturno, associado a uma dermatose generalizada que Figura 2 – Escabiose: criança de quatro anos com pápulas e nódulos escabióticos nos glúteos. artigo de revisão review articles 81 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 envolva as plantas e as palmas, particularmente se outros membros da família apresentarem lesões semelhantes.1,8,9,14,15 A presença de erosões lineares ou galerias é patognomónica. No entanto, a sua visualização é atualmente rara.4 O diagnóstico definitivo baseia-se na identificação microscópica do parasita ou de fragmentos deste, das fezes ou dos ovos após raspado tangencial de uma galeria.2,11,14 Uma vez que o número de parasitas é baixo na escabiose clássica esta técnica depende do operador e a não identificação do parasita não exclui o diagnóstico.2 Diagnóstico Diferencial Os principais diagnósticos diferenciais da escabiose clássica encontram-se apresentados no Quadro 1.1,7,13 Em crianças com escabiose primariamente nodular os diagnósticos diferenciais fazem-se com a urticária pigmentosa, histiocitose das células de Langerhans e linfoma cutâneo.4,13 Tratamento A eficácia, tolerabilidade, disponibilidade e custo orientam o tratamento escabicida, uma vez que existem poucos estudos comparativos entre os diferentes tratamentos.11,16,17 O sucesso do tratamento depende: 1. Diagnóstico correto 2. Instruções escritas pormenorizadas ao doente 3. Tratamento simultâneo de todos os contactos próximos mesmo que não manifestem prurido ou erupção cutânea1-5,9. Estes podem ser assintomáticos porque estão no período de incubação que pode durar quatro semanas, sendo igualmente contagiosos.4 O risco de voltar a tratar o doente é maior que qualquer risco associado ao tratamento inicial de pessoas assintomáticas.4 4. Desinfeção dos fomites. Fora do hospedeiro o parasita pode sobreviver e é capaz de infestação de 24 a 36h à temperatura de 21º com uma humidade relativa de 40% a 80%; temperaturas mais baixas e humidade mais elevada aumentam o seu tempo de sobrevida.18 A infecciosidade do parasita diminui com o tempo que permanece fora do hospedeiro.18 5. Não repetir o tratamento escabicida apenas porque o doente mantém prurido. Torna-se importante diferenciar a falência do tratamento com uma reação imunológica aos restos do parasita ou reinfestação.4 As causas de falência do tratamento estão presentes no Quadro 2. O prurido sintomático pode persistir duas a quatro semanas após eliminação com sucesso de todos os parasitas.2,4 É importante diferenciar a persistência da escabiose das outras situações que condicionam prurido (Quadro 3).3 Para controlo do prurido deve ser usado anti-histamínicos não sedativos durante o dia e sedativos à noite.14,19 Para tratamento do eczema o uso intensivo de emolientes previne a necessidade de corticoides tópicos.7 6. Tratamento das complicações (Quadro 4): Os nódulos escabióticos podem persistir após erradicação do parasita. Podem ser tratados um corticoide tópico ou intralesional14,19 82 artigo de revisão review articles Quadro 1 – Diagnóstico Diferencial da Escabiose1,7,13 Erupção vesico-papular pruriginosa predominantemente nas regiões flexoras. Pode ocorrer liquenificação e Dermatite atópica escoriação nos doentes crónicos. A escabiose pode ser diferenciada pela presença de galerias e prurido de predomínio nocturno1,7. Pápulas escoriadas pruriginosas dispersas pelas regiUrticária papular ou ões expostas. Resulta de uma reação de hipersensibiliPrurigo estrófulo dade à picada de insecto1). Pústulas e vesículas estéreis nas palmas e plantas. Acropustolose infantil Diferencia-se da escabiose pela ausência de outras lesões cutâneas e de prurido1. Erupção vesico-pustular pruriginosa, crónica e simétrica que envolve predominantemente as superfícies Dermatite herpetiforme extensoras das extremidades superiores e inferiores1. O prurido é persistente durante todo o dia. Associada à alergia ao glúten. Erupção papular violácea pruriginosa nas regiões flexora dos antebraços pernas e dorso. Apesar do prurido Líquen plano e simetria das lesões esta doença não se assemelha à escabiose1. Quadro 2 – Causas de falha do tratamento Baixa adesão Aplicação incorreta Re-infestação Resistências Avaliar complience7 O fármaco na formulação adequada deve ser aplicado do pescoço até a ponta dos dedos19. Em crianças com menos de dois anos, no idoso e no doente imunocomprometido deve ser também aplicado na cabeça, face, pescoço e orelhas9,19. O erro mais comum consiste na aplicação apenas nas áreas afectadas19. É um problema comum que resulta da falência de tratamento dos contactos e da desinfeção dos fomites e roupas7,19. Já foram assinaladas resistências à permetrina, lindano e crotamitron9,19. A resistência à permetrina é muito rara19. A resistência deve ser considerada apenas quando excluídas as outras causas de falência do tratamento19. Quadro 3 – Causas e tratamento de prurido persistente associado a escabiose7 Causas Irritação cutânea Dermatite irritativa de contacto Falência terapêutica Acarofobia Tratamento Emoliente Suspender o escabicida e aplicar emoliente Corticoide tópico, se não resolver com as medidas anteriores Avaliar a causa e tratar Avaliação por Pedopsiquiatria Quadro 4 – Tratamento das complicações da escabiose Prurido Dermatite irritativa Sobre-infeção Nódulos escabióticos Emoliente. Anti-histamínicos não sedativos durante o dia e sedativos à noite14,19. Corticoides tópico podem ser usados após erradicação14. Emolientes, com ou sem corticoides de potência média. Usar um escabicida menos alergizante7. Antibioterapia sistémica14,19 Corticoide tópico ou intra-lesional14,19 ou crotamiton creme7. NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 ou o crotamiton creme aplicado durante 24h em dois dias consecutivos7. A infeção secundária deve ser tratada. Deve-se aplicar uma fina camada de escabicida em toda a superfície corporal, desde o pescoço incluindo as palmas e plantas, com especial atenção aos espaços interdigitais, punhos, unhas das mãos e pés, cotovelos, axilas, mamas, glúteos, zona peri-umbilical e genital.2,9,11 Em crianças menores que dois anos, em idosos e em imunodeprimidos deve incluir-se o couro cabeludo, face, pescoço e orelhas.2,9 Se o doente aplica a loção nele próprio deve-se indicar que não deve lavar as mãos depois da aplicação11, se for aplicado por outro este deve usar luvas11. De realçar que o tratamento escabicida deve ser realizado sob pele íntegra. A existência de impetiginização ou eczema com quebra da barreira cutânea implica tratamento prévio destas situações. Karthikeyan define o anti-escabiótico ideal como o que demonstre eficácia contra a forma adulta e os ovos, facilmente aplicável, não sensibilizante, não irritante, não tóxico e económico.19 Poucos estudos controlados foram realizados para comparar a eficácia dos vários agentes tópicos disponíveis.16,17 Até recentemente, o lindano tópico a 1% ou hexacloridrato de gamabenzeno (sarcoderme®) era o principal tratamento.4,8 Embora o risco de toxicidade com o lindano fosse baixo quando usado de forma apropriada (uma aplicação única de lindano durante seis horas na pele seca e fria era eficaz no tratamento da escabiose1,7, foram relatadas reações graves ao nível do Sistema Nervoso Central, especialmente após aplicações repetidas2 ou após uma grande absorção transcutânea em crianças com alteração da barreira cutânea7. O seu uso foi mais limitado pela emergência de resistências, comuns em muitas partes do mundo.4 Este fármaco já não se encontra comercializado na Europa, tendo a sua licença sido removida em 2008.2,11 O CDC (Centers for Disease Control and Prevention) considera o lindano um fármaco de segunda linha e não recomenda o seu uso em crianças, grávidas ou mulheres a amamentar.10 O benzoato de benzilo não se encontra disponível nos Estados Unidos. Na Europa encontra-se aprovado para o tratamento da escabiose mas pode provocar sensação de ardência e queimadura quando aplicado em lesões escoriadas.2 Após tratamento pode ocorrer uma xerose cutânea pruriginosa ou lesões eczematosas.2 Brooks e colaboradores num estudo comparativo realçaram que um terço dos doentes tratados com benzoato de benzilo referiu sensação de ardência ou queimadura20, que pode reduzir a complience12. Após banho e secagem, aplicar em camada fina, uniforme e com massagem ligeira em toda a pele abaixo do queixo e, em particular, nas pregas; deixar secar e aplicar segunda camada.21 Aplicar novamente nos dois dias consecutivos, com banho entre as aplicações, e, se necessário, repetir passados sete a 10 dias.12,21 A permetrina a 5% introduzida em 1989 tem uma taxa de cura superior ao lindano8,16,21 e pode ser usada com segurança em crianças a partir dos dois meses8,10. Não está recomendada durante a gravidez e lactação.1 Embora mais onorosa que o lindano, a permetrina a 5% é considerada pelo CDC como o fármaco tópico de primeira linha no controlo da escabiose.10 A revisão da Cochrane de 2007 aponta a permetrina tópica como o fármaco mais eficaz na redução do prurido16,22 e aparentemente mais eficaz para o tratamento da escabiose.16 Necessário apenas uma aplicação pois atua na eliminação do parasita e dos ovos.12 Alguns autores recomendam repetir a aplicação passado uma semana.1 Em Portugal apenas existe a permetrina a 1% (Nix®), que embora indicada no prontuário21 para esta finalidade não existem estudos com esta concentração para o tratamento da escabiose23. O Crotamiton encontra-se aprovado pelo FDA para tratamento da escabiose apenas no adulto.10 Aplicado por 24h durante dois dias consecutivos pode ser útil para o tratamento dos nódulos escabióticos em crianças.2,7 Frequentes falhas no tratamento foram reportadas com este fármaco.2,10 Não está descrita uma idade mínima segura para tratamento com este fármaco. O enxofre é o mais antigo escabicida11 usado há séculos com esta finalidade1,12, visto ser um fármaco pouco dispendioso e com baixa toxicidade11,24. É utilizado como um precipitado de enxofre a 6-10% em vaselina, aplicado durante três noites consecutivas, e realizando lavagem entre cada aplicação (o banho é realizado imediatamente antes da próxima aplicação)1,2,7,23,25, repetindo o tratamento após uma semana. O precipitado de enxofre é o tratamento de escolha para mulheres grávidas, a amamentar e crianças menores que dois meses7,15,23,24. A principal desvantagem resulta da cosmeticidade e cheiro desagradáveis.1,24 Dois estudos prospetivos usaram o enxofre e verificaram tratar-se de um fármaco eficaz e com poucos efeitos adversos, nomeadamente na população pediátrica.12,23 Strong na revisão da Cochrane de 2007 refere dois estudos em que não houve diferenças significativas nas falências do tratamento quando comparado o lindano e o enxofre e o benzoato de benzil e o enxofre.16 O facto existirem poucos estudos comparativos usando este fármaco fazem com que a evidência quanto ao seu uso seja limitada.2 Após 24h dos tratamentos com permetrina, lindano ou enxofre o risco de contágio é mínimo.26 Em todos os casos recomenda-se realizar uma segunda aplicação passado uma semana e controlo clínico às duas e quatro semanas.26 O tratamento com Ivermectina oral é rápido, eficaz, simples, seguro e bem tolerado o que resulta numa melhor adesão4, mas não está licenciado na maioria dos países11. Alguns autores referem que deve ser usado nos casos de escabiose resistente27 em que os doentes não respondem aos escabicidas tópicos (escabiose norueguesa ou doentes imunodeprimidos), no idoso, em doentes com eczema generalizado ou dermatite atópica1,2. Este fármaco é particularmente útil nas epidemias em instituições.4,28,29 Existe ainda controversa quanto a dose, número de cursos e intervalos entre os cursos.4 Alguns trabalhos realçam que duas tomas de ivermectina são tão eficazes como uma aplicação única de permetrina.30,31 Usha e colaboradores sugerem que a ivermectina pode não ser eficaz contra todos os estádios do ciclo de vida do parasita.30 Sharma num trabalho prospetivo encontrou uma eficácia e tolerabilidade semelhante entre a permetrina tópica e a ivermectina oral, quer numa quer em duas artigo de revisão review articles 83 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 Quadro 5 – Fármacos existentes no mercado português e indicações para a sua utilização Genérico Contra-indicações e precauções Indicação em crianças Modo de aplicação Pode ser usado em crianças a partir dos dois meses8 Aplicar o creme com massagem suave e remover por lavagem 8-14 horas depois7. Uma aplicação é curativa12. Duas (ou mais) aplicações, separadas por uma semana podem ser necessárias, particularmente no caso da escabiose Norueguesa9,10. Permetrina a 5% Gravidez e aleitamento . Evitar o contacto com os olhos21. 21 Não comercializado em Portugal Benzoato de Benzilo Acarilbial® Gravidez, aleitamento e < 30 meses. Apenas em crianças a partir dos Não aplicar na face, olhos e meato 30 meses21. uretral, ou quando exista inflamação 21 da pele . Após banho e secagem, aplicar em camada fina, uniforme e com massagem ligeira em toda a pele abaixo do queixo e, em particular, nas pregas; deixar secar e aplicar segunda camada(21. Aplicar novamente nos dois dias consecutivos e, se necessário, repetir passados sete a 10 dias21. Crotamiton Eurax® Gravidez e aleitamento. Evitar utilização perto dos olhos, boca, outras mucosas, se houver pele escoriada e em presença de dermatite exsudativa21. Pode ser usado mas menos eficaz2. Não aprovado pelo FDA a sua utilização em crianças. Após banho e secagem, aplicar em camada fina, uniforme e com massagem ligeira em toda a pele abaixo do queixo e, em particular, nas pregas; fazer uma segunda aplicação 24 horas mais tarde; nalguns casos pode ser necessária uma aplicação diária até cinco dias ou repetir após uma semana21. Enxofre a 6-10% em vaselina (f.s.a.) Nenhuma. Pode ser usado em qualquer idade Aplicar por 24h durante três dias consecutivos (banho antes de cada aplicação) 1,2, 25 Lindano Não comercializado em Portugal Gravidez e aleitamento. Pode provocar convulsões, espasmos ou anemia aplasica2 Tratamento tópico de 2ª ou 3ª linha2 Ivermectina oral Não comercializado em Portugal Gravidez e aleitamento2. Não aprovado em crianças com menos de 15 kg2,11 tomas.31 O CDC e as recomendações europeias recomendam o uso de ivermectina dose de 200μg/kg com uma segunda dose duas semanas depois.2,10,11 A Ivermectina não deve ser usada em crianças com menos de dois anos de idade.1 Não existem estudos controlados sobre o uso de ivermectina tópica.11 No Quadro 5 estão discriminados o nome comercial dos escabicidas presentes no mercado português. No Quadro 6 os autores apresentam uma proposta de tratamento dividida quanto ao grupo etário, tendo em consideração os fármacos existentes em Portugal, a sua segurança, eficácia e experiência do serviço de Dermatologia. Para evitar a re-infestação é importante no dia a seguir ao primeiro tratamento: lavar toda a roupa, toalhas e lençóis a pelo menos 60ºC ou secar na máquina ou lavar a seco.2,4,10 Os artigos não laváveis devem ser fechados num saco plástico durante pelo menos 72 horas.2,10,11 As crianças e os adultos podem normalmente voltar à escola/local de trabalho no dia a seguir ao tratamento.2,32 Os colegas da turma e o professor não precisam de ser tratados a não ser que apresentem sinais ou sintomas de infecção.32 Não há necessidade de tratar os animais domésticos.12 É muito importante fornecer informação escrita detalhada aos doentes sobre a forma de aplicação.4,11 É necessário explicar que o prurido pode persistir por várias semanas especialmente em indivíduos atópicos.11 84 artigo de revisão review articles Dose de 200μg/kg (recomendado repetir duas semanas depois) 2,11 Existe para uso hospitalar21. Quadro 6 – Recomendações práticas por grupo etário Idade 1ª Linha 2º Linha Recém nascido Vaselina pura esterilizada Enxofre 6-10% em vaselina esterilizada 1-2 meses Enxofre 6-10% em vaselina esterilizada 2-30 meses Enxofre 6-10% em vaselina esterilizada Crotamiton >30 meses Enxofre 6-10% em vaselina esterilizada Benzoato de Benzilo 3º Linha Crotamiton CONCLUSÕES A escabiose continua a ser uma dermatose muito frequente cujo tratamento em idade pediátrica permanece um desafio. A ausência no mercado português da permetrina a 5% dificulta ainda mais a abordagem destes doentes. O “velho enxofre” utilizado em grande escala nos países subdesenvolvidos, com bons resultados e um bom perfil de segurança23,33 parece ser a nossa principal arma terapêutica neste grupo etário. Vários protocolos internacionais incluem o enxofre como um dos escabicida recomendados em idade pediátrica.11,24,26,34 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 SCABIES – PRACTICAL RECOMMENDATIONS FOR DIAGNOSIS AND TREATMENT ABSTRACT Introduction: Scabies is an infection caused by the parasite Sarcoptes scabiei var. hominis that gains significance due to the morbidity associated with intense itching, high infectivity, frequent outbreaks and persistence of symptoms for many days even after complete eradication. Objectives: Approach to pathophysiology, differential diagnosis and treatment options in children. Development: In pediatrics the differential diagnosis of escabiosis with other very common diseases in this age group is sometimes difficult. The lack of studies regarding efficacy and safety of the various available drugs in children makes it difficult to drawn recommendations. Scabies treatment is based more on personal experience, local availability and cost than on medical evidence. Conclusions: This article aims to summarize the pathogenesis of infection by Sarcoptes scabiei var. hominis in children focusing special attention on symptoms and treatment. Although there are no randomized controlled trials with sulfur precipitated in scabies treatment to prove its efficacy and safety, it seems to be one of the most recommended drugs in this age group. Keywords: Diagnosis, scabies, sulfur, treatment. Nascer e Crescer 2013; 22(2): 80-86 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Karthikeyan K. Scabies in children. Arch Dis Child Educ Pract Ed 2007; 92:ep65-9. 2. Chosidow O. Clinical practices. Scabies. N Engl J Med 2006; 354:1718-27. 3. Esteves JA, Baptista AP, Rodrigo EG, Gomes MA. Dermatologia. 3ª edição. Fundação Calouste Gulbenkian, 2005: 1035-49. 4. Wolf R, Davidovici B. Treatment of scabies and pediculosis: facts and controversies. Clin Dermatol 2010; 28:511-8. 5. 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ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Mónica Tavares Centro Hospitalar do Porto Hospital de Santo António Serviço de Pediatria Largo do Prof. Abel Salazar 4099-001 Porto, Portugal E-mail: [email protected] Recebido a 02.05.2012 | Aceite a 05.09.2012 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 Disseminação de Enterobacteriaceae produtoras de beta-lactamases de espectro alargado em crianças Sílvia Branco Lima1, Helena Neto Ferreira2 RESUMO As Enterobacteriaceae produtoras de beta-lactamases de espectro alargado (extended-spectrum beta-lactamase producing Enterobacteriaceae - EESBL) têm sido consideradas importantes agentes patogénicos hospitalares. Nos últimos tempos, a sua disseminação na comunidade, é uma realidade que pode condicionar a terapêutica empírica. A colonização fecal de pessoas saudáveis com EESBL é uma realidade que pode comprometer o controlo de infeção nos cuidados de saúde hospitalares e na prestação de cuidados continuados. O rastreio de portadores de EESBL na admissão hospitalar, em determinados grupos de risco, como sejam os idosos institucionalizados, apresenta relevância na prevenção de surtos nas unidades hospitalares. Genes responsáveis pela codificação de mecanismos de resistência a outros grupos de antibióticos, são também disseminados paralelamente, daí a multirresistência apresentada por estes isolados. Os animais domésticos e selvagens poderão contribuir para esta disseminação. Outra contribuição para a dispersão poderá ser também a dos produtos alimentares. A colonização fecal de crianças com Enterobacteriaceae produtoras de beta-lactamases de espectro alargado é uma realidade já relatada em Portugal, que poderá ser considerada na admissão pediátrica hospitalar, particularmente nas unidades mais sensíveis como sejam as de cuidados intensivos e neonatologia e também deverá ser considerada no tratamento das infeções por este tipo de isolados. Esta realidade deve ser tomada em conta na prática clínica na comunidade, pois condiciona a adequação dos tratamentos empíricos, nomeadamente nas infeções do trato urinário, devido à limitação terapêutica que condiciona. Este é um novo desafio de saúde pública para os médicos, laboratórios de microbiologia, hospitais e serviços de saúde em geral. Palavras-chave: Beta-lactamases de espectro alargado, disseminação de isolados bacterianos multirresistentes, resistência aos antibióticos. Nascer e Crescer 2013; 22(2): 87-91 __________ 1 2 S. Imunologia, Departamento de Patologia, CH Porto, 4099-001 Porto, Portugal S. Microbiologia, Faculdade de Farmácia, Universidade do Porto, 4050-313 Porto, Portugal. [email protected] INTRODUÇÃO A resistência bacteriana aos antibióticos é uma realidade preocupante nos últimos tempos, particularmente em relação a determinados agentes patogénicos, como são as Enterobacteriaceae produtoras de beta-lactamases de espectro alargado. A realidade da disseminação desta ameaça de Saúde Pública tem vindo a merecer a atenção da comunidade científica internacional de forma a conhecer a sua dispersão. OBJETIVO Foi objetivo deste trabalho a recolha da informação internacional publicada recentemente que possa contribuir para a explicitação das várias contribuições para a disseminação comunitária deste tipo de isolados na população pediátrica, provocando infeção ou colonização. DESENVOLVIMENTO As beta-lactamases de espectro alargado (ESBLs) são definidas como beta-lactamases capazes de hidrolisar os oximino-beta-lactâmicos (cefalosporinas de terceira e quarta gerações e o aztreonam) e são inibidas pelo ácido clavulânico. As ESBLs são normalmente codificadas por genes presentes em elementos genéticos móveis. Atualmente existe um número elevado de ESBLs diferentes como se pode verificar pelas publicações e pela lista de novas enzimas disponibilizada pelo grupo de Jacoby e Bush em Lahey Clinic (1). A classificação das beta-lactamases obedece a esquemas que têm vindo a ser alvo de revisão, mantendo contudo a nomenclatura inicialmente proposta pelos autores aquando da sua descrição, o que por vezes torna a abordagem complexa. As ESBL clássicas são derivadas das famílias de beta-lactamases do tipo TEM (TEM-1 é a beta-lactamase de espectro reduzido mais disseminada, tendo por mutação no gene que a codifica originado enzimas com capacidade de inativar oximino-beta-lactâmicos criando o conjunto de beta-lactamases de espectro alargado da família TEM) e SHV (a beta-lactamase de espectro reduzido do tipo SHV-1 é particularmente comum em Klebsiella pneumoniae e modificações no gene que a codifica levaram a ESBLs derivadas de SHV-1, originando as ESBLs da família SHV) nos últimos tempos temos assistido a uma disseminação de isolados produtores de ESBLs da família CTX-M (este nome deve-se ao fato de as primeiras descritas apresentarem maior capacidade de hidrolisar a cefotaxima), também na comunidade. Estas ESBLs da família CTX-M foram inicialmente encontradas em Klebsiella pneumoniae, artigo de revisão review articles 87 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 mas actualmente são também frequentemente encontradas em Escherichia coli (2,3). Na África Ocidental foi investigada a disseminação de produtores de ESBLs nos indivíduos que vivem em locais remotos que, até agora, pareciam ter sido poupados. No Senegal, procurou-se a aldeia mais remota e isolada para avaliar os portadores fecais de Enterobacteriaceae produtoras de ESBLs, nas crianças em que a probabilidade de terem tomado antibióticos fosse nula. Kagnoube, uma aldeia no Senegal Oriental, foi o local escolhido pelos investigadores porque era a mais inacessível durante a estação das chuvas. Tinha 60 habitantes vivendo nas suas cabanas tradicionais e partilhando a água do poço por não haver nenhum rio perto. O centro de saúde mais próximo estava a 100 km de distância. Os habitantes tomavam, ocasionalmente, apenas drogas alopáticas. Neste estudo avaliou-se a colonização fecal de vinte crianças saudáveis, onze raparigas e nove rapazes com idades de um a onze anos, com Enterobacteriaceae produtoras de ESBL. Duas das vinte crianças eram portadoras fecais de um clone de Escherichia coli multirresistente produtora de CTX-M-15, demonstrando a disseminação de beta-lactamases de espectro alargado, mesmo em comunidades isoladas, em que as bactérias comensais apresentam este mecanismo de resistência, mesmo na ausência de pressão seletiva (4). Uma pesquisa realizada em 2005, a crianças saudáveis na Bolívia e Peru revelou um aumento significativo das portadoras fecais de estirpes de Escherichia coli resistentes a cefalosporinas de espectro alargado comparado com um estudo de 2002. Este trabalho demonstra que este aumento está relacionado, principalmente, com a disseminação de determinantes de ESBL do tipo CTX-M entre as estirpes comensais de Escherichia coli. Dos 50 isolados produtores de ESBL em 2005, 44 tinham ESBLs da família CTX-M e seis tinham ESBLs da família SHV (SHV-2 ou SHV-12). Foi detetada uma nova variante de CTX-M-2 denominada CTX-M-56. Os resultados deste estudo mostraram que os determinantes de ESBL em geral e em particular os determinantes da família CTX-M se disseminaram rapidamente entre estirpes de Escherichia coli comensais em crianças saudáveis, em ambientes de poucos recursos. Na área do estudo, incluindo ambientes urbanos na Bolívia e Peru, a prevalência de crianças saudáveis portadoras de estirpes de Escherichia coli produtores de ESBL na sua microbiota comensal, sofreu um aumento dramático (17 vezes) ao longo de um período de três anos e a maior contribuição foi de determinantes do tipo CTX-M. Este fenómeno é motivo de preocupação, uma vez que os comensais podem ser um reservatório de genes de resistência, enquanto a colonização intestinal por isolados produtores de ESBL pode ser uma fonte de entrada de produtores de ESBL em ambiente hospitalar. Embora os dados de consumo de antibióticos não estejam disponíveis, é natural assumir que os portadores de ESBL comensais, crianças saudáveis de idade pré-escolar, refletem na maioria dos casos a exposição à contaminação no ambiente familiar, em vez de um aumento da exposição direta às cefalosporinas de espectro alargado ou outros agentes conhecidos como selecionadores de produtores de ESBL. Em comparação com o levantamento inicial realizado em 2002, membros da família CTX-M-1 (CTX- 88 artigo de revisão review articles -M-15) também apareceram na Bolívia, enquanto membros da família CTX-M-9 (CTX-M-14 e CTX-M-24) apareceram no Perú. ESBLs do tipo SHV apareceram nos dois países. Foi a primeira deteção de um gene em três isolados peruanos com CTX-M-15, resistente também às fluoroquinolonas, em bactérias comensais de humanos saudáveis e também o primeiro relato da presença deste determinante de resistência na América Latina (5,6). A ocorrência e a diversidade de ESBLs foram investigadas em isolados de Escherichia coli e Klebsiella pneumoniae resistentes aos antibióticos em fezes humanas em Hong Kong. Oito isolados de 46, de Escherichia coli resistentes aos antibióticos (seis de crianças e dois de adultos) e quatro isolados de oito Klebsiella pneumoniae (todos de adultos) tinham ESBL. O estudo mostra a existência de portadores fecais de organismos produtores de determinantes CTX-M e evidencia o papel dos comensais como um reservatório para a sua disseminação. Também documenta a ocorrência de determinantes de CTX-M entre comensais resistentes aos antibióticos, em crianças e adultos não hospitalizados. Relativamente às crianças jovens, as análises das fezes identificaram 23,3% das amostras contendo Escherichia coli resistentes às fluoroquinolonas, sendo uma proporção significativa destes isolados (13,6%) produtores de ESBL. Uma vez que as fluoroquinolonas não são usadas em crianças jovens, a fonte de resistência às fluoroquinolonas e isolados positivos de CTX-M poderá estar associada à co-resistência relacionada com a aquisição de integrões que acumulem cassetes de genes responsáveis pela codificação de mecanismos de resistência a várias famílias de antibióticos. A aquisição pela cadeia alimentar e a partir dos portadores adultos, são alguns meios de transmissão possíveis. Estes resultados realçam a endemicidade dos alelos do grupo CTX-M-9 em Hong Kong. Em estudos anteriores, alelos do mesmo grupo foram predominantes entre isolados de portadores nas amostras clínicas e em animais de produção alimentar. Apesar do número limitado de isolados comensais testados, é interessante constatar que o alelo mais frequente foi o CTX-M-14, o qual foi semelhante à situação dos isolados clínicos produtores de ESBL. Uma vez que os voluntários adultos eram amigos e conhecidos, a possibilidade de transmissão pessoa-a-pessoa de bactérias comensais ou de determinantes de resistência, não deve ser excluída. São necessários estudos epidemiológicos detalhados para abordar a transmissão de CTX-M em diferentes ambientes escolares, sociais e também a contribuição por alimentos contaminados com isolados deste tipo ou de outros capazes de transmitir os genes de resistência às bactérias comensais (7). Num estudo realizado em 90 fórmulas alimentares infantis à base de leite, de uma cozinha de leites de um hospital universitário no Rio de Janeiro, durante um período de quatro meses, em 1999, foram detetados coliformes (crescimento a 35ºC e 45ºC) na maioria das fórmulas e as taxas de contaminação foram relacionadas com o manuseamento inadequado e foi isolada uma estirpe de Klebsiella pneumoniae produtora de beta-lactamase de espectro alargado (8). A incidência de pacientes pediátricos com Escherichia coli produtoras de ESBL aumentou desde 2000 no Hospital Robert NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 Debré de Paris. Os isolados foram responsáveis por cistites ou pielonefrites e raramente por infeções materno-fetais ou meningites neonatais. Estas estirpes eram sensíveis à colistina, aos carbapenemos e à fosfomicina (2). Em duas cidades distantes do Brasil, entre 2003 e 2004, em dez isolados de amostras clínicas e de aves domésticas foram identificadas Salmonella entérica serovar Typhimurium produtora de ESBL CTX-M-2. Dois isolados eram de pacientes pediátricos e oito de aves domésticas ou do seu ambiente. Todos os isolados eram resistentes a antibióticos não beta-lactâmicos incluindo a tetraciclina e o trimetoprim-sulfametoxazol. O gene CTX-M-2 estava localizado num plasmídeo transferível que também transportava outros determinantes de resistência em alguns isolados. Os isolados das amostras clínicas e os das aves de capoeira demonstraram semelhança genética entre 89% e 100% (9). Um trabalho realizado na Turquia em 2009 investigou a taxa de resistência in vitro para vários antibióticos em 179 isolados de Salmonella spp dos serogrupos D (109), B (52), C1 (10) e C2 (8) isoladas em crianças. A produção de ESBLs foi estudada em isolados resistentes à ampicilina. A produção de beta-lactamases foi detetada em 42 isolados e dois isolados de Salmonella paratyphi B produziam ESBLs. Um isolado com ESBL SHV-2 e TEM-1 e o outro com ESBLs SHV-2a, SHV-5a (SHV-9) e TEM-1. Este foi o primeiro relato de SHV-2a e SHV-5a (SHV-9) (10). Um estudo retrospetivo de um período de cinco anos, em dois Hospitais de Taiwan, analisou crianças com refluxo vesico-ureteral. Os pacientes receberam tratamento profilático com o cotrimoxazol, a cefalexina, o cefaclor ou uma profilaxia com uma sequência de diferentes antibióticos. A infeção por Escherichia coli foi muito menos frequente nas crianças que fizeram antibiótico profilático, comparado com os seus episódios iniciais de infeção do trato urinário, nos dois hospitais. Este estudo põe em evidência que o cotrimoxazol é apropriado para a profilaxia enquanto as cefalosporinas poderão não o ser. As crianças que receberam cefalosporinas de 1ª ou 2ª geração como antibioterapia profilática tiveram uma maior tendência para ficarem infetadas com organismos produtores de ESBL ou com um uropatogéneo resistente, que não a Escherichia coli. Embora a prevalência da resistência endémica esteja aumentada entre a flora de gram negativo, o cotrimoxazol é ainda o agente preferido para a profilaxia para refluxos vesico-ureterais (11). Um estudo grego em população pediátrica, demonstrou que a infeção urinária por isolados produtores de ESBL pode estar associada a uma terapêutica empírica inadequada (12). Infeções pediátricas com bactérias produtoras de ESBLs têm sido pouco descritas. Procurou-se determinar a proporção de isolados produtores de ESBLs e a incidência de infeção ou colonização com estes organismos num hospital pediátrico terciário, em Salt Lake City, durante cinco anos e adicionalmente avaliou-se as características das crianças infetadas. Identificaram-se todas as Escherichia coli ou Klebsiella spp de doentes com menos de 18 anos, entre Janeiro de 2003 e Dezembro de 2007. Das 2967 culturas de Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae e Klebsiella oxytoca, foram isolados em 16 crianças, 26 produtores de ESBLs. A maioria das crianças infetadas ou colonizadas por organismos produtores de ESBL eram doentes crónicos, frequentemente hospitalizados, ou com uma história de infeção recorrente. Contudo, quatro crianças infetadas tinham menos de cinco meses de idade e foram avaliadas num ambiente de ambulatório não tendo sido considerados os lactentes, anteriormente, como uma população de risco (13). Nas enfermarias pediátricas num hospital em Istambul foi detetada uma alta taxa (48,6%) de colonização fecal por Klebsiella pneumoniae produtora de ESBLs (ESBL-KP). Foram implementadas medidas reforçadas do controlo de infeção e instituíram um programa prospetivo de vigilância com um estudo de caso-controlo para determinar os fatores de risco de colonização intestinal por ESBL-KP, demonstrando que quarenta (18,5%) de 216 pacientes ficaram colonizados. Os fatores de risco mais frequentes para a colonização foram a ventilação mecânica e uma hospitalização superior a 14 dias. A genotipagem dos isolados indicava provável transmissão paciente-a-paciente contudo, não foi possível determinar a via dessa propagação. As medidas reforçadas do controlo de infeção, a administração de antimicrobianos e o rastreio de portadores rectais, foram associados à diminuição substancial de colonização por ESBL-KP nas unidades pediátricas (14). Num hospital do Egipto onde Klebsiella pneumoniae produtora de ESBL era uma importante causa de infeções nosocomiais na unidade de cuidados intensivos neonatais (UCIN), foi efetuado um estudo com o objetivo de determinar a incidência da Klebsiella pneumoniae produtora de ESBL na UCIN. A frequência da aquisição de genes SHV-1 e SHV-2 nos isolados, os fatores de risco associados e os resultados clínicos dos bebés infetados. Em todos os recém-nascidos admitidos na UCIN obtiveram-se amostras de sangue, de urina, de líquido cefalorraquidiano, de zaragatoas de feridas e da garganta e amostras de aspirados de tubos endotraquiais de pacientes em que nunca houve suspeita de sepsis. Foram obtidas 980 culturas de 380 recém-nascidos e 372 amostras colhidas do ambiente. Em vinte e sete culturas (7%) isolou-se Klebsiella pneumoniae, sendo 18 (67%) produtoras de ESBL. Os 18 isolados (100%) tinham SHV-2. Os fatores de risco para a Klebsiella pneumoniae produtora de ESBL foram a ventilação mecânica, o peso inferior a 1500g, a hospitalização superior a 15 dias, a nutrição parenteral total e o uso prévio de oximino-beta-lactâmicos. As culturas ambientais (n=372) tinham Klebsiella pneumoniae produtora de ESBL em nove isolados: quatro de tubos de sucção, dois de incubadoras e três das mãos dos prestadores de cuidados de saúde. Klebsiella pneumoniae produtora de ESBL estava associada ao aumento da mortalidade e a uma hospitalização mais prolongada (15). Um estudo indiano determinou a prevalência de Escherichia coli e Klebsiella pneumoniae produtoras de ESBL nos cuidados intensivos neonatais (UCIN) para identificar os fatores de risco associados à aquisição destes organismos. Foi avaliado o estado clínico dos 253 recém-nascidos admitidos, tendo 238 ficado num sistema de vigilância ativa. Klebsiella pneumoniae produtora de ESBL foi responsável por sete infeções e 51 colonizações, enquanto a Escherichia coli produtora de ESBL foi responsável por nove infeções e 88 colonizações. Os isolamentos dos dois artigo de revisão review articles 89 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 organismos verificaram-se em trinta recém-nascidos. O prolongamento da estadia na UCIN foi considerado um fator de risco importante para a instalação da infeção por estes isolados (16). A presença de EESBLs na flora fecal na população pediátrica, é uma realidade já detetada no nosso País, a qual pode dificultar o tratamento adequado das infeções nesta população sensível, podendo vir a justificar o seu rastreio na admissão em hospitais pediátricos, particularmente nas unidades em que há um maior risco para instalação de surtos de infeções que possam comprometer a vida, como sejam as Unidades de Cuidados Intensivos e Neonatologia (17). A cadeia alimentar e os animais de companhia poderão contribuir para a disseminação destas estirpes, bem como pela influência de grupos mais suscetíveis a colonização com estes agentes, nomeadamente os idosos sujeitos a internamentos hospitalares frequentes por agudizações de patologias crónicas ou de instituições em que se verifique convivência apertada das duas faixas etárias, ou cuidadores comuns (17, 18, 20). A descrição de animais de companhia infetados ou colonizados com EESBLs, alerta para o risco de colonização humana via convivência próxima com estes animais, constituindo um outro ponto de disseminação particularmente relevante nas crianças devido à proximidade com os seus animais de estimação (18). Os alimentos de produção animal são os principais reservatórios de patogénicos zoonóticos e o aumento da ocorrência de produtores de ESBLs nos animais para produção de carne e leite, tem-se destacado e discutido devido à circulação destes fatores de resistência entre os patogénicos humanos, podendo contribuir para a colonização fecal humana através da cadeia alimentar (19,20). CONCLUSÕES A disseminação comunitária de Enterobacteriaceae produtoras de beta-lactamases de espectro alargado tem sido descrita a nível internacional e nacional, condicionando a terapêutica das infeções da comunidade, sendo idêntica à observada anteriormente em ambiente hospitalar. A colonização fecal de crianças com Enterobacteriaceae produtoras de beta-lactamases de espectro alargado já é relatada em Portugal com o consequente impacto em termos de: - inadequação de terapêutica empírica das infeções, particularmente as urinárias, por estes agentes patogénicos multirresistentes, na comunidade; - dificuldade nas opções terapêuticas em pediatria, nas infeções graves. A colonização fecal infantil, por estes agentes, constitui um risco para a contração de infeção, podendo ser relevante na instalação de surtos infeciosos em unidades hospitalares pediátricas. Na infância as influências cada vez mais relevantes são as dos alimentos e dos animais de companhia, contribuindo para a disseminação de EESBLs. A epidemiologia da resistência aos antibióticos é uma realidade dinâmica, constituindo as Enterobacteriaceae produtoras de beta-lactamases de espectro alargado um desafio que implica 90 artigo de revisão review articles uma atenção redobrada na prestação de cuidados de saúde na infância. DISSEMINATION OF EXTENDED-SPECTRUM BETA-LACTAMASE PRODUCING ENTEROBACTERIACEAE IN CHILDREN ABSTRACT Extended-spectrum beta-lactamase producing Enterobacteriaceae (EESBL), have been considered important nosocomial pathogens during the last decades. Nowadays community dissemination of this resistance threat is a reality, namely, in particular niches, as old people care settings. Fecal colonization of healthy people is a reality that might compromise effective infection control in acute care hospitals and long term care facilities and in that way, screening of extended-spectrum beta-lactamase producing Enterobacteriaceae carriers on hospital admission, might be of importance in outbreak prevention in particular wards. Other resistance genes are also dispersed in parallel most of the times horizontally and multi-resistance is a reality in these isolates. Contribution of animals, domestic and wild, for dissemination is another link that has already been addressed, showing inter-species transmission of these multi-resistant strains from human to animal and vice versa. Another contribution for dispersion might be food products. Fecal colonization of children with Extended-spectrum betalactamase producing Enterobacteriaceae, is a reality already reported in Portugal, that might compromise paediatric hospital admission and treatment of infection by these strains. This reality should be addressed in community clinical practice once it has consequences in terms of adequate empirical treatment, namely in urinary tract infections, by these strains, because of restriction of active antibiotics. Also, hospital admission of particular population settings should consider the possibility of extendedspectrum beta-lactamase producing Enterobacteriaceae fecal colonization, namely children. This is a new Public Health challenge for clinicians, microbiology laboratories, hospitals and the health care setting, in general. Keywords: Antibiotic resistance, extended-spectrum beta-lactamases, multi-resistant bacteria isolates spread. Nascer e Crescer 2013; 22(2): 87-91 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. http://www.lahey.org/Studies 2. Doit C, Mariani-Kurkdjian P, Bingen E. Extended-spectrum beta-lactamase producing-Enterobacteriaceae. Arch Pediatr. 2010;17 Suppl 4:S140-4. 3. 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ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Silvia Branco Lima Centro Hospitalar do Porto Hospital de Santo António Departamento de Patologia, Serviço de Imunologia Largo do Prof. Abel Salazar 4099-001 Porto, Portugal e-mail: [email protected] Recebido a 12.06.2011 | Aceite a 14.05.2012 artigo de revisão review articles 91 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 Puberdade precoce secundária a quisto ovárico caso clínico Teresa M. Guimarães1, Mónica Tavares1, Maria João Oliveira1, Luciana Sousa2, Teresa Borges1 RESUMO Introdução: Os quistos do ovário são raros na criança pré-púbere, representando os quistos funcionantes 5% dos casos. A manifestação clínica mais comum é o desenvolvimento de puberdade precoce isossexual. Caso clínico: Rapariga de cinco anos e cinco meses, observada por hemorragia vaginal. Sem antecedentes pessoais ou familiares relevantes. No exame físico objetivou-se perda hemática vaginal e botão mamário bilateral. A ecografia abdominopélvica revelou quisto ovárico direito com 30mm. A investigação hormonal, incluindo função tiroideia não demonstrou alterações, exceto estradiol 38pg/mL. Prova LHRH com resposta pré-púbere. Sem aceleração da idade óssea nem da velocidade de crescimento. Acompanhada em consulta de Endocrinologia Pediátrica, sem recorrência de metrorragia, verificou-se regressão da telarca, associada a involução da lesão quística anexial direita. Discussão/Conclusões: A maioria dos quistos ovários involuem espontaneamente com regressão dos sinais de puberdade precoce, tal como no caso descrito. A terapêutica médica, com agonista GnRH, poderá ser útil nos casos de transformação de puberdade precoce periférica em central por quistos ováricos recorrentes e em situações que cursem com compromisso significativo da estatura alvo. Palavras-chave: Quisto ovárico, puberdade precoce, pseudopuberdade precoce, hemorragia uterina, análogo GnRH. Nascer e Crescer 2013; 22(2): 92-94 INTRODUÇÃO Os quistos do ovário são raros em meninas pré-puberes. Numa revisão retrospetiva de um total de 1818 exames ecográficos em meninas pré-púberes, foram identificados quistos ováricos em 99 (5%), tratando-se, em 62% dos casos, de um achado incidental.1 Os quistos ováricos funcionantes representam 5% dos quistos do ovário e podem ser causa de pseudopuberdade precoce isossexual.2 __________ 1 2 U. Endocrinologia Pediátrica, S. Pediatria, Dep. da Criança e do Adolescente, CH Porto, 4099-001 Porto, Portugal S. Radiologia, Dep. Imagiologia, CH Porto, 4099-001 Porto, Portugal 92 casos clínicos case reports É de extrema importância distinguir entre uma situação de puberdade precoce central (PPC) e periférica (PPP), uma vez que a sua abordagem é distinta. Define-se puberdade precoce (PP) na rapariga como o desenvolvimento de caracteres sexuais secundários antes dos oito anos de idade. A PPC, mais frequente no sexo feminino e de causa idiopática em 80% das raparigas, resulta de ativação do eixo hipotálamo-hipófise-gónadas, cursando com alterações clínicas e hormonais idênticas a uma puberdade normal. A PPP é causada por uma secreção anómala de esteróides sexuais, independente do controlo hipotálamo-hipofisário. A etiologia da PPP isossexual feminina inclui quistos/ tumores do ovário produtores de estrogénios, tumores supra-renais, síndrome de McCune-Albright, síndrome de van Wyk-Grumbach e iatrogenia (quimioterapia e radioterapia). CASO CLÍNICO Criança do sexo feminino de cinco anos e cinco meses, previamente saudável, que recorreu ao Serviço de Urgência por hemorragia vaginal. Ao exame objetivo, foi constatada a existência de botão mamário bilateral e fenótipo genital feminino; sem lesões vulvares; ausência de pêlo púbico e axilar bem como de lesões cutâneas. Efetuou ecografia abdominopélvica que revelou quisto ovário direito com 30 mm. Tratava-se da segunda filha de um casal jovem, não consanguíneo, sem antecedentes heredo-familiares de relevo. Observada, pela primeira vez, em consulta de Endocrinologia Pediátrica apresentava perda hemática vaginal, estádio pubertário de Tanner M2P1A1, sem manchas café-au-lait nem alterações ósseas. Em termos de avaliação auxológica, não havia aceleração do crescimento ponderal nem estatural. O estudo hormonal revelou: função tiroideia normal, prolactina 4,3 ng/mL, hormona luteinizante (LH) < 0,1 mUI/L, hormona folículo-estimulante (FSH) 0,3 mUI/L, estradiol 38 pg/mL, testosterona < 0,020 ng/ mL, hormona gonadocoriónica humana (β-hCG) < 0,2 IU/L (normal < 5), α-fetoproteína 1,5 ug/L (normal 1-15). A radiografia da mão e punho esquerdos demonstrou uma idade óssea (IO) entre cinco anos e nove meses e seis anos e 10 meses. Portanto, a investigação não evidenciou alterações laboratoriais, com exceção de valor doseável de estradiol, não habitual nesta faixa etária, com níveis pré-púberes de gonadotrofinas, nem aceleração da IO. Repetiu ecografia pélvica que demonstrou útero em anteversão, com contornos regulares e dimensões normais, miomé- NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 trio homogéneo, quisto anexial direito de 25 mm de maior eixo e ovário esquerdo sem alterações morfofuncionais (Figuras 1 e 2). Figura 1 – Ecografia pélvica: ovário direito com imagem anecóica, de paredes praticamente imperceptíveis, com 23 mm, compatível com quisto simples. Figura 2 – Ecografia pélvica: ovário direito com imagem anecóica, compatível com quisto simples. Efetuou prova de estimulação com hormona libertadora de gonadotrofinas (GnRH), com picos de LH e FSH, respetivamente, de 0,1 e 1,5 mUI/L, compatível com resposta pré-púbere (LH < 5 mUI/L e relação LH/FSH < 1). Cerca de dois meses após a observação inicial, não apresentava sinais pubertários, com regressão do botão mamário, subsistindo quisto anexial direito simples de 17 mm. Em avaliação ecográfica, aproximadamente quatro meses depois, verificou-se involução da lesão quística anexial direita, observando-se apenas folículo com 8 mm, sem alterações útero-anexiais relevantes para o grupo etário da examinada. Manteve vigilância clínica, em consulta semestral, sem recorrência de hemorragia uterina, com estádio de desenvolvimento pré-púbere e velocidade de crescimento (VC) normal (aos sete anos VC de 6,39 cm/ano, correspondendo ao percentil 70). DISCUSSÃO/CONCLUSÕES O diagnóstico de pseudopuberdade precoce devida a quisto ovárico funcionante baseia-se na anamnese, manifestações clínicas, avaliação laboratorial e imagiológica.1,3 Meninas com PPP relacionada com quistos ováricos apresentam habitualmente sinais de impregnação estrogénica como desenvolvimento mamário, corrimento ou hemorragia vaginal. O estudo hormonal revela geralmente níveis elevados de estrogénio, com resposta gonadotropínica suprimida após estimulação com GnRH. A avaliação ecográfica pélvica demonstra lesões quísticas ováricas unilaterais ou bilaterais, com características útero-anexiais pré-púberes. Na maioria dos casos, não existe avanço significativo da idade óssea, não havendo comprometimento da estatura final. A abordagem de um quisto ovárico em idade pré-púbere depende da aparência ecográfica da lesão quística, manifestações clínicas e presença de sintomatologia importante.3 Os quistos ováricos geralmente desenvolvem-se e regridem de forma espontânea num período de três meses, recomendando-se vigilância ecográfica dentro de quatro a oito semanas.3 As dimensões do quisto no episódio inicial são um dado importante, visto que um diâmetro ecográfico superior a 9 mm é um forte indicador de ativação autónoma.4 De um modo geral, os quistos ováricos associados a PPP são maiores que 2 cm, enquanto que quistos menores de 1 cm são clinicamente insignificantes.1 Numa revisão de quisto ováricos simples e complexos, em 92 raparigas (idade média de 14,9 anos), 51 foram tratadas de forma conservadora, oito das quais eram pré-púberes; 90% dos quistos resolveram espontaneamente em cerca de duas semanas.5 Numa outra série de 64 crianças com quistos do ovário simples com diâmetro inferior a 5,5 cm, todas regrediram de forma espontânea.6 Embora não seja frequente, os sinais clínicos de precocidade sexual podem persistir após os níveis hormonais terem normalizado e os quistos serem ecograficamente indetetáveis.4 Nos casos de quistos ováricos recorrentes impõe-se o diagnóstico diferencial com síndrome de McCune-Albright (SMA), cuja forma clássica consiste num mínimo de dois achados da tríada: displasia fibrosa poliostótica, manchas café-au-lait e disfunção endócrina autónoma. A hiperfunção gonadal é a mais frequente em meninas com SMA, sendo a pseudopuberdade precoce a manifestação inicial na maioria dos casos.7 No caso relatado, não se observaram lesões cutâneas características nem evidência de envolvimento ósseo ou outras endocrinopatias. Os quistos ováricos têm uma evolução auto-limitada, dispensando tratamento médico e cirúrgico na maioria dos casos.1-4 A resolução espontânea dos quistos é normalmente procedida pela regressão dos sinais pubertários e normalização dos níveis hormonais. A intervenção cirúrgica está apenas indicada nos casos raros de torsão ovárica e nas situações em que a lesão quística e o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundário persistam por mais de três meses.4,8,9 casos clínicos case reports 93 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 No entanto, os quistos ováricos funcionantes podem recidivar, com episódios recorrentes de PPP, com a exposição prolongada ou repetida ao estrogénio resultando em maturação do pulso de hormona libertadora de gonadotrofinas (GnRH). Esta evolução designa-se por pseudo-puberdade combinada e pode requerer terapêutica com análogo de GnRH, no sentido de minimizar o compromisso da estatura alvo.10 O tratamento com agonista de GnRH não previne a recorrência de quistos ováricos. O caso clínico relatado é ilustrativo da importância de considerar os quistos do ovário no diagnóstico diferencial de PPP bem como da necessidade de acompanhamento clínico, laboratorial e ecográfico destas situações de evolução clínica habitualmente favorável. PRECOCIOUS PUBERTY DUE TO OVARIAN CYST – CASE REPORT ABSTRACT Introduction: Ovarian cysts are rare in prepubertal girls. Autonomous ovarian cysts represent 5% of cases and can cause isosexual precocious pseudopuberty. Case Report: A five years old girl was observed because of vaginal bleeding. Personal and family history was unremarkable. Physical examination confirmed uterine haemorrhage and bilateral breast development. Pelvic ultrasound examination demonstrated a 30mm right ovarian cyst. Laboratory findings, including thyroid function, were normal, excepting elevated oestrogen levels. GnRH stimulation test showed prepubertal response. There was no advanced bone age nor accelerated height velocity. She was regularly monitored at paediatric endocrinology consultation, without recurrent menorrhagia, there was regression of thelarche, associated with involution of the ovarian cyst. Discussion/Conclusion: Most autonomous ovarian cysts regress spontaneously with regression of pubertal signs, as in the present case. Therapy with a GnRH agonist may become necessary in the case of transformation from precocious pseudopuberty to central precocious puberty after recurrences of the ovarian cysts or when there is significant loss of height potential. Keywords: Ovarian cyst, precocious puberty, precocious pseudopuberty, uterine hemorrhage, GnRh analog. Nascer e Crescer 2013; 22(2): 92-94 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Millar DM, Blake JM, Stringer DA, Hara H, Babiak C. Prepubertal Ovarian Cyst Formation: 5 Years’ Experience. Obstet Gynecol 1993; 81:434-8. 2. Pienkowski C, Baunin C, Gayrard M, Lemasson F, Vayasse P, Tauber M. Ovarian Cysts in Prepubertal Girls. 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ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Teresa Mesquita Guimarães Centro Hospitalar do Porto Hospital de Santo António Serviço de Pediatria Unidade de Endocrinologia Pediátrica Largo do Prof. Abel Salazar 4099-001 Porto, Portugal E-mail: [email protected] Recebido a 24.01.2012 | Aceite a 10.09.2012 94 casos clínicos case reports NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 Encefalopatia multiquística a propósito de dois casos clínicos Bárbara Pereira1, Clara Alves Pereira2, Joana Pinto2, Manuela Santos3 RESUMO Introdução: A encefalopatia multiquística é uma entidade rara, em que o parênquima cerebral é substituído por quistos de vários tamanhos. Tem sido associada a múltiplas causas: transfusão feto-fetal em gravidez gemelar monozigótica, encefalopatia neonatal, infeções do sistema nervoso central, acidente vascular cerebral, trauma, hipotensão materna severa, entre outras. O fator comum que liga todas estas situações é a ocorrência de hipóxia cerebral grave. O seu diagnóstico baseia-se em exames de neuroimagem, sendo a ecografia transfontanelar o exame de primeira linha. É uma patologia de mau prognóstico que, na maioria dos casos, evolui para disfunção neurológica severa progressiva até à morte. Casos clínicos: Os autores apresentam dois casos clínicos de encefalopatia multiquística, ambos de apresentação neonatal precoce mas distinta. Discussão/Conclusão: O conhecimento desta entidade, dos seus fatores de risco e da sua importante morbimortalidade infantil, são essenciais para o seu reconhecimento precoce e abordagem adequada. Palavras-chave: Encefalopatia multiquística, epilepsia, lactente. Nascer e Crescer 2013; 22(2): 95-100 INTRODUÇÃO Ao longo da gestação, no momento do parto ou no período pós-natal imediato, o cérebro pode sofrer várias agressões. Os vários tipos de lesões cavitadas correspondem a reações diferentes a esses insultos, e dependem da fase do desenvolvimento do cérebro no momento da sua ocorrência.1 De acordo com a extensão dos danos, podemos classificar as lesões major em porencefalia (lesão cavitada hemisférica, sem estruturas no seu interior), encefalopatia multiquística (uma ou múltiplas cavidades de vários tamanhos envolvendo a maior parte de dos hemisférios cerebrais, revestidas por proliferação astrocitária e com septos gliais) e hidranencefalia (necrose maciça de ambos os hemisférios).1,2 __________ 1 2 3 S. Pediatria, H Braga, 4710-243 Braga, Portugal S. Pediatria, CH Tâmega e Sousa, 4564-007 Penafiel, Portugal S. Neuropediatria, CH Porto, 4099-001 Porto, Portugal A Encefalopatia multiquística (EM) é uma entidade rara, no entanto, com a evolução dos meios imagiológicos, o seu reconhecimento tem vindo a aumentar.3 A EM tem sido associada a múltiplas causas: transfusão feto-fetal em gravidez gemelar monozigótica (mais frequente se há morte intrauterina de um dos fetos)4,5, encefalopatia neonatal6,7,8 (mais frequentemente encefalopatia hipoxico-isquémica), infeções do sistema nervoso central9,10 (meningite/encefalite e bacteriana/vírica), acidente vascular cerebral4,11, traumatismo12, hipotensão materna severa4, entre outras. O fator comum que liga todas estas situações é a ocorrência de hipóxia cerebral grave13,14. Clinicamente, a EM pode manifestar-se logo no período neonatal, através de sinais de hiperexcitabilidade inespecífica (choro e irritabilidade) ou mesmo disfunção neurológica grave (crises epiléticas até estado de mal convulsivo e coma)4, ou pode permanecer silenciosa14 e ser apenas diagnosticada mais tarde, quando a criança falha a aquisição dos marcos basilares do desenvolvimento psicomotor14. O diagnóstico da EM, em vida, é efetuado através de exames de neuroimagem. A ecografia transfontanelar (EcoTF) é o exame de primeira linha4, detetando a presença de quistos, no entanto, a ressonância magnética cerebral (RMc) permite completar a definição estrutural dos achados patológicos4,11. As lesões quísticas localizam-se fundamentalmente na zona de união da substância branca com a substância cinzenta, nos territórios vasculares correspondentes às artérias cerebral anterior e média.4,5 Assim, os gânglios da base, cerebelo e tronco cerebral são geralmente poupados, por estarem dependentes do sistema vertebrobasilar.4 Relativamente ao tratamento da EM, este é sintomático, incluindo cuidados de suporte, numa fase inicial e, posteriormente o controlo da epilepsia, geralmente refratária, a estimulação e a intervenção precoces. A EM é uma patologia de mau prognóstico13 que, na maioria dos casos, evolui para disfunção neurológica grave progressiva até à morte4. Os autores apresentam dois casos clínicos de EM, com mecanismos de lesões provavelmente diferentes. CASOS CLÍNICOS Caso clínico 1 Recém-nascido (RN) do sexo feminino nascido de uma primeira gestação de termo (38 semanas), vigiada, que decorreu casos clínicos case reports 95 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 sem alterações serológicas e ecográficas de relevo e sem risco infecioso. O parto foi hospitalar, distócico (ventosa), por bradicardia fetal sustentada. O RN era leve para a idade gestacional (peso 2280 g). O Índice de Apgar foi de 4/5/7 ao 1º, 5º e 10º minuto, respetivamente. Ao nascimento, o RN apresentava-se pálido, hiporreactivo, bradicárdico e estava em apneia. Foi entubado e ventilado, com recuperação da cor e frequência cardíaca. Foi internado na Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais (UCIN), já em ventilação espontânea, hemodinamicamente estável e apirético, sendo notória a presença de irritabilidade. Foi objetivada acidose metabólica (GSV - pH 7,01, pCO2 37 mmHg, HCO3-8,9 mmol/L, BE - 23,2 mmol/L,). No segundo dia de vida registou-se dois episódios interpretados como episódios convulsivos (movimentos mastigatórios, pedalagem, abertura dos dedos em leque e hipertonia dos membros), tendo iniciado fenobarbital. A investigação complementar efetuada encontra-se enunciada no Quadro 1. As alterações clínicas, analíticas e imagiológicas permitiram o diagnóstico de encefalopatia hipoxico-isquémica. Não se verificou registo clínico ou eletroencefalográfico de novos episódios convulsivos durante o restante internamento tendo suspendido terapêutica antiepilética ao fim de 28 dias. Teve alta aos 32 dias de vida assintomática. Aos quatro meses reiniciou crises em salva, caracterizadas por versão cefálica e dos olhos preferencialmente para a esquerda, com pestanejo, postura tónica dos membros, geralmente assimétrica com extensão mais marcada à esquerda, com correspondente atividade ictal no eletroencefalograma (EEG). Reiniciou fenobarbital, com controlo parcial das crises. Aos seis meses, altura em que teve a primeira consulta de Neuropediatria, era notória a irritabilidade e o atraso global do desenvolvimento. Não estabelecia contacto ocular e evidenciava hipotonia axial e hipertonia dos membros, com Rossolimo bilateral. Nessa altura repetiu RMc (Quadro 1) que revelou a presença de lesões quísticas cortico-subcorticais fronto-parieto-temporais bilaterais dos núcleos da base e tálamos, o que permitiu o diagnóstico de EM. Manteve crises epiléticas, com necessidade de tratamento com várias associações de fármacos. Atualmente com 14 meses de idade, apresenta atraso do desenvolvimento psicomotor, distonia generalizada grave e epilepsia refratária. Caso clínico 2 RN do sexo feminino nascido de uma primeira gestação de termo (39 semanas), vigiada, que decorreu sem intercorrências até ao dia anterior ao parto altura em que foi diagnosticado oligoâmnios. Não foram detetadas alterações serológicas nem ecográficas anteriormente. O parto foi hospitalar, distócico (cesariana) por incompatibilidade feto-pélvica e decorreu sem evidência de sinais de sofrimento fetal. A somatometria ao nascimento era adequada à idade gestacional. O índice de Apgar foi 5/8/9 ao 1º, 5º e 10º minutos, respetivamente. Por apresentar depressão respiratória, e ter sido administrada petidina periparto à mãe, fez naloxona com boa resposta clínica permanecendo junto da mãe. Às 14 horas de vida registaram-se dois episódios de cianose, apneia e hipertonia, com duração de cerca de 30 segundos e de resolução espontânea. Foi internado na UCIN para vigilância. Verificou-se a ocorrência de episódios sugestivos de crises epi- 96 casos clínicos case reports léticas (pestanejo e nistagmo, e dessaturação), pelo que iniciou fenobarbital. Por manter crises (vários episódios de apneia, cianose, olhar fixo, por vezes com desvio para a direita, hipotonia axial e hipertonia dos membros, com cerca de 20-30 segundos de duração cada), iniciou tratamento com fenitoína. Ao quarto dia realizou EEG, que evidenciou estado de mal elétrico (Quadro 1) tendo-se associado midazolam em perfusão à terapêutica em curso, com resposta. Foi suspensa fenitoína e midazolam uns dias depois. A RMc realizada ao 21º dia revelou múltiplos quistos subcorticais fronto-parietais e na região occipital direita, com perda global do volume encefálico, o que permitiu o diagnóstico de EM (Quadro 1). Não evidenciava lesões a envolver os núcleos da base, os tálamos ou o compartimento infratentorial. Atualmente com nove meses de idade apresenta atraso do desenvolvimento psicomotor, com distonia orolingual, hipertonia dos membros e hiperreflexia osteotendinosa. Mantém tratamento com fenobarbital, tendo controlado as crises. Quadro 1 – Investigação complementar efetuada Caso 1 Eletroencefalogramas seriados Dia 4 de vida (sob fenobarbital) Aparente assimetria inter-hemisférica com menor amplitude à esquerda, sem evidência de alterações paroxísticas. Dia 20 de vida (sob fenobarbital) Traçado sem alterações de significado paroxístico 4 Meses Atividade Paroxística difusa bilateral Estudos imagiológicos EcoTF (Dia 3 de vida) (Figura 1) RMc (Dia 14 de vida) (Figura 2) RMc (6 Meses) (Figura 3) Outros estudos Estudo metabólico Amónia, lactato, piruvato, aminoácidos, ácidos orgânicos, acilcarnitinas – sem alterações. Caso 2 Eletroencefalograma Dia 4 de vida Traçado compatível com estado de mal generalizado. Estudos imagiológicos EcoTF (Dia 2 de vida) (Figura 4). RMc (Dia 21 de vida) (Figura 5). Outros estudos Estudo metabólico inicial Aumento do lactato sérico e da razão lactato/piruvato e alteração dos ácidos orgânicos na urina. Novo estudo metabólico Normal. NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 DISCUSSÃO A tendência do cérebro imaturo para cavitação depende do tempo e da natureza da agressão. Na EM é mais provável que ocorra entre o terceiro trimestre de gestação e o período pós-natal precoce1,5, depois da migração neuronal, e quando o cérebro já possui a capacidade de produzir uma importante reação glial perante qualquer agressão.4 A EM está associada a uma grande variedade de patologias em que ocorre hipóxia cerebral grave.13,14 O edema resultante agrava a hipoperfusão cerebral e produz perda da capacidade de auto-regulação vascular cerebral, resultando em isquemia segmentar.4 Gravidez gemelar monozigótica com morte intrauterina de um dos fetos, encefalopatia hipoxico-isquémica e infeção do sistema nervoso central são as três causas mais frequentemente associadas a EM, existindo no entanto muitas outras.4,6,9,10 Os autores apresentam dois casos clínicos de EM em recém-nascidos de termo, de gestações únicas e sem intercorrências de relevo. No primeiro caso, a evidência clínica de asfixia neonatal e a distribuição das lesões quísticas, com atingimento dos tálamos e núcleos da base, sugerem a existência de um episódio encefalopático hipóxico-isquémico agudo grave na base etiológica da EM. No segundo caso, a presença de lesões dispersas por ambos os hemisférios cerebrais mas poupando os tálamos e os núcleos da base, bem como a forma de apresentação perinatal apontam para uma agressão de carácter mais arrastado no tempo, que se culminou num estado de mal convulsivo neonatal. A evolução das técnicas de neuroimagem constituiu um avanço significativo na avaliação do “timing” da agressão e do reconhecimento do padrão das lesões.8 A RMc permitiu definir dois padrões de lesão em recém-nascidos de termo8: o padrão “baso-ganglio-talámico” que afeta predominantemente a substância cinzenta profunda cerebral, núcleos da base e córtex sensoriomotor; e o padrão “watershed zones” que envolve as zonas intravasculares, atingindo a substância branca e a zona parassagital com necrose cortical. O primeiro padrão, também denominado de asfixia aguda quase completa, surge habitualmente associado a um evento sentinela agudo. A asfixia parcial prolongada decorrente de infeções, hipotensão, hipoglicemia, entre outros, e condiciona geralmente o padrão das zonas intravasculares. Em ambos os casos apresentados, as lesões são imagiologicamente compatíveis com uma agressão do tipo hipoxico-isquémico, no entanto, se no primeiro caso existe evidência clínica da agressão, no segundo não se pode excluir a etiologia metabólica ou infeciosa. CONCLUSÕES Os autores descrevem estes dois casos clínicos de EM, pela importante morbimortalidade infantil que esta patologia apresenta, considerando essencial o conhecimento desta entidade e dos seus fatores de risco, de modo a permitir um diagnóstico e intervenção precoces. O estabelecimento do diagnóstico bem como o conhecimento do prognóstico desta patologia vai permitir planear o seguimento do doente e orientar a família. A EM tem mau prognóstico, com agravamento neurológico progressivo até à morte, sendo a mortalidade mais elevada no primeiro ano de vida.4 MULTICYSTIC ENCEPHALOPATHY – CONSIDERING TWO CASE REPORTS ABSTRACT Introduction: Multicystic encephalopathy is a rare disease where the brain parenchyma is replaced by cysts of different sizes. It has been associated to multiple causes: foetal transfusion in monozygotic twin pregnancy, neonatal encephalopathy, central nervous system infections, stroke, trauma, severe maternal hypotension, among others. The common factor linking all of these conditions is the occurrence of severe cerebral hypoxia. The diagnosis is based on neuroimaging and cranial ultrasonography is considered the first-line exam. It is a disease with poor prognosis and in most cases it develops into severe progressive neurological dysfunction to death. Cases Report: The authors report two cases of multicystic encephalopathy, both with early neonatal presentation but distinct. Discussion/Conclusion: The knowledge of this entity, its risk factors and its important morbidity and mortality in children are essential for the early diagnosis and appropriate approach. Keywords: Epilepsy, infant, multicystic encephalopathy. Nascer e Crescer 2013; 22(2): 95-100 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Low C, Garzon E, Carrete Jr H, Vilanova LC, Yacubian EM, Sakamoto AC. Early destructive lesion in the developing brain. Clinical and electrographic correlates. Arq Neuropsiquiatr 2007; 65:416-22. 2. Aicardi J. Disease of the nervous system in childhood. 1st ed. London/Oxford/New York: Mac Keith Press, 1992: 21-2. 3. Frigieri G, Guidi B, Zaccarelli SC, Rossi C, Muratori G, Ferrari F, et al. Multicystic encephalomalacia in term infants. Childs Nerv Syst 1996; 12:759-64. 4. Orejón G, Beato FM, Heras RS, Molina MM. Encefalomacia multiquística. Revisión de 19 casos. An Esp Pediat 1997; 46:33-9. 5. Gathwala G, Magu S, Khosla A. Multicystic Encephalomalacia. 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ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Bárbara Pereira Hospital de Braga Serviço de Pediatria Sete Fontes – São Victor 4710-243 Braga, Portugal E-mail: [email protected] Recebido a 06.02.2012 | Aceite a 16.08.2012 Figura 1 – Caso 1. Ecografia transfontanelar. a) Hiperecogenecidade difusa. b, c, d) Hiperecogenecidade do tálamo e núcleos da base. Hiperecogenecidade difusa e simétrica do córtex periférico na região dos sulcos e circunvoluções. 98 casos clínicos case reports NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 Figura 2 – Caso 1. Ressonância magnética cerebral aos 14 dias de vida. a, b, c) Hipersinal envolvendo os tálamos e os núcleos da base bilateralmente. Alteração do sinal da sustância branca de ambos os hemisférios cerebrais, de modo difuso. a, b) T1 Axial; c) T1 Sagital. d, f, g) Hipossinal envolvendo os tálamos e os núcleos da base bilateralmente, sugerindo lesões vasculares isquémicas com sinais de necrose laminar. Alteração do sinal da sustância branca de ambos os hemisférios cerebrais, de modo difuso, de natureza similar. d) T2TSE Axial; f) T2TSE Coronal; g) T2TSE Sagital. Figura 3 – Caso 1. Ressonância magnética cerebral aos seis meses. Extensas áreas de encefalomalácia cortico-subcorticais (lesões quísticas) fronto-parieto-temporais bilateralmente, núcleos da base e tálamos e alargamento dos espaços de circulação de líquor adjacentes. Proeminência do sistema ventricular supratentorial, sem hidrocefalia ativa. a) FLAIR Axial; b) T1 Axial; c) DW; d) T2 FFE/TRA Axial; e) T2 Coronal; f) T2 Sagital. casos clínicos case reports 99 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 Figura 4 – Caso 2. Hiperecogenecidade difusa marcada da substância branca subcortical, mais acentuada nas regiões parietais e occipitais. Igual hiperecogenecidade das cisuras e núcleos da base. Sem assimetria ventricular. Figura 5 – Caso 2. Perda global do volume encefálico. Múltiplos quístos subcorticais fronto-parietais e na região occipital direita. Não se definem lesões a envolver os núcleos da base, os tálamos ou o compartimento infratentorial. a) T1 Axial; b) T2 FSE Coronal; c) T2 FSE Sagital; d) FLAIR Axial; e) T2 Axial; f) T2 FSE Axial. 100 casos clínicos case reports NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 Pâncreas anular um caso clínico Raquel Maciel1, Ana Paula Reis1, João Casanova1, Angélica Osório3, Teresa Oliveira1, Eugénia Vasconcelos1, Ana Guedes2, Carmen Carvalho2, Luísa Oliveira3, Maria do Céu Rodrigues1 RESUMO Introdução: O pâncreas anular é uma anomalia do desenvolvimento rara, representando 1% das obstruções intestinais neonatais. Caso Clínico: Apresentamos um caso de obstrução duodenal diagnosticado em ecografia de rotina às 32 semanas de gestação. O sinal ecográfico da “dupla bolha” foi o único achado, tendo este persistido até à data do parto, às 39 semanas. O diagnóstico de pâncreas anular foi feito ao terceiro dia de vida, aquando da laparotomia exploradora. Conclusão: O diagnóstico ecográfico de obstrução parcial ou completa do duodeno é quase exclusivamente baseado na detecção do sinal da “dupla bolha”, que resulta da dilatação simultânea do estômago e duodeno. Apesar de ser uma anomalia rara, perante o sinal ecográfico descrito, deve ser considerado o diagnóstico diferencial de pâncreas anular. Palavras-chave: Diagnóstico pré-natal, obstrução duodenal, pâncreas anular, sinal da “dupla bolha”. Nascer e Crescer 2013; 22(2): 101-103 INTRODUÇÃO O pâncreas anular é uma anomalia congénita rara, com uma incidência estimada de 1:10 000 - 20 000 nascimentos. Caracteriza-se por uma banda ou anel de tecido pancreático, que circunda a porção descendente do duodeno, causando graus variados de obstrução intestinal extrínseca.1 O pâncreas forma-se entre a quinta e a oitava semana de vida embrionária, resultando da fusão de uma porção dorsal que vai formar o corpo e a cauda – e uma ventral e bífida – que vai formar a cabeça do pâncreas. Habitualmente, os dois componentes da porção pancreática ventral fundem-se e fazem uma rotação em torno do duodeno, colocando-se sob a porção pancreática dorsal. Ocasionalmente, estes dois componentes migram em sentidos opostos, rodeando o duodeno, formando, assim um anel pancreático.1,2 Este anel é parcial em cerca de 75% dos casos.3 Esta disposição anatómica pode ser assintomá- tica, diagnosticada apenas na idade adulta, ou encontrada apenas em estudos necróticos. No entanto, se o anel pancreático causar obstrução duodenal, os sintomas podem surgir logo após o nascimento, sendo muitas vezes indistinguíveis dos quadros de atrésia duodenal ou de má-rotação intestinal. O pâncreas anular é responsável por cerca de 1% das obstruções intestinais no período neonatal e 40% destas, são situações de urgência cirúrgica.4,5 CASO CLÍNICO Grávida de 33 anos, G2P1, sem antecedentes patológicos pessoais ou familiares relevantes. Gravidez vigiada, de baixo risco. O estado materno-fetal clínico, analítico e ecográfico manteve-se tranquilizador e não ocorreram intercorrências até às 32 semanas de gravidez. Nesta altura, foi realizada a ecografia do terceiro trimestre e foi observado o sinal da “dupla bolha”, em corte transversal do abdómen fetal, sugerindo uma obstrução ou atrésia duodenal (Figura 1). O volume de líquido amniótico (LA) era normal e não foram observadas outras anomalias. A ecocardiografia fetal foi normal. O estudo citogenético foi recusado pelo casal. Após apresentação do caso e discussão multidisciplinar entre as equipas de Obstetrícia, Pediatria e Cirurgia Pediátrica, programou-se a indução do trabalho de parto para as 39 semanas. O recém-nascido do sexo feminino, nasceu por parto eutóci- __________ S. Obstetrícia, Maternidade Júlio Dinis, CH Porto, 4050-371 Porto, Portugal 2 S. Pediatria, CH Porto, 4099-001 Porto, Portugal 3 S. Cirurgia Pediátrica, CH Porto, 4099-001 Porto, Portugal 1 Figura 1 – Ecografia do 3º trimestre: sinal da “dupla bolha”. casos clínicos case reports 101 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 co, com somatometrias adequadas à idade gestacional (P=2570 g, C=47,5 cm, PC=32 cm), índice de Apgar: 9-10 e sem dismorfias. Pela suspeita pré-natal de obstrução intestinal alta, ficou em pausa alimentar, com sonda gástrica em drenagem; clinicamente estável. A radiografia abdominal simples confirmou o sinal da “dupla bolha”, observado na ecografia obstétrica (Figura 2). Em D3 foi submetido a laparotomia exploradora alta, tendo sido observado pâncreas anular. Foi efetuada lise de bandas de Ladd e duodeno-duodenostomia topo a topo. Em D16, por quadro de obstrução intestinal alta, foi re-intervencionado e efetuada lise de bridas. O pós-operatório evoluiu sem novas intercorrências, com evolução ulterior normal, tendo tido alta em D31. O cariótipo foi normal - 46XX. Figura 2 – Rx abdominal simples de pé: sinal da “dupla bolha” e ar distal. 102 casos clínicos case reports CONCLUSÃO Existe um largo espectro de anomalias congénitas do trato gastrointestinal (GI), que constitui causa significativa de morbilidade pediátrica. Estas anomalias incluem os distúrbios obstrutivos completos ou parciais (atrésia/estenose), as anomalias de rotação/fixação, as duplicações e as compressões extrínsecas. Os métodos de imagem são importantes na determinação do seu diagnóstico, etiologia e abordagem terapêutica. A atrésia duodenal pode ser uma anomalia isolada. No entanto, em cerca de 30% dos casos, associa-se à trissomia 21 e pode estar presente na associação VACTERL (anomalias Vertebrais, Atresias gastro intestinais, Cardiopatia, fístula Traqueo-Esofágica, anomalias Renais e dos membros.6,7,8 A atrésia duodenal está também associada com a presença de pâncreas anular. Durante o período pré-natal, o achado ecográfico, em corte transversal do abdómen, do ‘sinal da “dupla bolha”’ (em que a maior, à esquerda, corresponde ao estômago e a menor, à direita, ao duodeno proximal), é diagnóstico de obstrução intestinal, mas não necessariamente de atrésia.3,10 No entanto, na ausência de exames com maior acuidade para um diagnóstico diferencial, deve-se considerar a elevada associação entre atrésia duodenal e trissomia 21, bem como com outras anomalias sistémicas. Desta forma, deve ser proposta a realização do estudo citogenético fetal para determinação do cariótipo e a realização de um estudo ecográfico morfológico multissistémico detalhado, incluindo a ecocardiografia fetal. Têm sido investigados outros marcadores ecográficos para diagnóstico de pâncreas anular. Alguns estudos descrevem a possibilidade da presença de uma banda hiperecogénica, circundante ao duodeno. Este achado, juntamente com o sinal da “dupla bolha”, aumenta a especificidade do diagnóstico.3 Ao contrário do caso descrito, em que a quantidade de LA permaneceu normal, o hidrâmnios é um achado frequente durante o terceiro trimestre, na maioria das situações.2,8 Assim, o diagnóstico pré-natal precoce permite uma orientação e um aconselhamento parental individualizado, o rastreio de anomalias associadas, a possibilidade de um diagnóstico citogenético e o planeamento do parto num centro referenciado, com o necessário suporte neonatal. A partir do período neonatal, a radiografia abdominal é o meio mais valioso no diagnóstico de obstrução do trato GI. Em recém-nascidos saudáveis, 3h após o nascimento, o intestino delgado está habitualmente repleto de gás, pelo que o aparecimento do sinal da “dupla bolha” é sugestivo de obstrução duodenal. A apresentação clínica de pâncreas anular é variável e, embora os achados imagiológicos o possam sugerir, o seu diagnóstico definitivo ocorre apenas durante a cirurgia, com a identificação de uma banda de tecido pancreático a envolver o duodeno. Tal como no caso apresentado, enfatizamos a abordagem multidisciplinar, entre obstetrícia, neonatologia e cirurgia pediátrica, para uma orientação precoce e adequada, de forma a reduzir a morbilidade neonatal. NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 ANNULAR PANCREAS – A CASE REPORT ABSTRACT Introduction: Annular pancreas is a rare developmental anomaly, representing 1% of the neonatal intestinal obstructions. Case Report: We report a case of prenatal sonographic diagnosis of duodenal obstruction, observed on the 32nd gestational week. There was no other ultrasound finding beyond the ‘double bubble’ sign, which persisted until labour, by the 39th week. An annular pancreas was diagnosed at the 3rd day of life, by an exploratory laparotomy. Conclusion: Diagnosis of partial or total duodenal obstruction is almost exclusively suggested by the ‘double bubble‘ sign, resulting from a dilatation of the stomach and duodenum. Despite being a rare anomaly, the differential diagnosis of annular pancreas should be considered, if this prenatal sonographic finding is observed. Keywords: Annular pancreas, double bubble sign, duodenal obstruction, prenatal diagnosis. Nascer e Crescer 2013; 22(2): 101-103 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Thukral C, Freedman S. Annular pancreas. UpToDate 2011. Disponível em: http://www.uptodate.com/contents/annular-pancreas 2. Sadler TW. Langman’s Medical Embryology. 9th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2003: 304-6. 3. Figueiredo S, Ribeiro L, Nóbrega B, Costa M, Oliveira G, Esteves E, et al. Atresia do trato gastrintestinal: avaliação por métodos de imagem. Radiol Bras 2005; 38:141-50. 4. Malone FD, Crombleholme TM, Nores JA, Athanassiou A, D’Alton ME. Pitfalls of the “double bubble” sign: a case of congenital duodenal duplication. Fetal Diagn Ther 1997; 12:298-300. 5. Vijayaraghavan SB. Sonography of pancreatic ductal anatomic characteristics in annular pancreas. J Ultrasound Med 2002; 21:1315-8. 6. Dankovcik R, Jirasek J, Kucera E, Feyereisl J, Radonak J, Dudas M. 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Luís Ribeiro1, Andreia Oliveira1, Ana Guedes1, Luísa Lopes1, Paula Rocha1, Ana Cristina Braga1 RESUMO O aleitamento materno proporciona benefícios inequívocos para a saúde da criança e da mãe. Contudo, quando efetuado de forma inadequada poderá ter consequências graves para o recém-nascido, tal como situações de desidratação hipernatrémica e respetivas complicações. Apesar da deteção e tratamento precoces serem importantes, é na prevenção que reside a solução do problema. Neste sentido é essencial continuar a fomentar estratégias que acompanhem corretamente o processo de amamentação. Os autores relatam o caso clínico de um recém-nascido com desidratação hipernatrémica secundária a um inadequado processo de aleitamento materno. Palavras-chave: Desidratação, hipernatremia, aleitamento materno, recém-nascido. Nascer e Crescer 2013; 22(2): 104-106 INTRODUÇÃO O aleitamento materno proporciona benefícios inequívocos para a saúde da criança e da mãe.1 Contudo, muitos fatores podem interferir no processo de amamentação; quando efetuado de forma inadequada poderá ter consequências graves para o recém-nascido, nomeadamente originar situações de desidratação hipernatrémica.2 Esta, por sua vez, pode levar a complicações potencialmente graves, como convulsões neonatais, hemorragia intracraniana, complicações trombóticas e morte.3 Nos últimos anos tem-se observado um aumento do número de casos relatados de desidratação hipernatrémica secundária a aleitamento materno insuficiente.2,3 Será que este aumento reflete meramente uma incidência crescente de recém-nascidos sob aleitamento materno exclusivo, ou existirão falhas nas estratégias que acompanham este processo? Os autores relatam o caso clínico de um recém-nascido com desidratação hipernatrémica no decurso de amamentação exclusiva. Pretende-se com este caso refletir um pouco sobre esta problemática, e alertar os profissionais de saúde para algumas particularidades na avaliação clínica de recém-nascidos com aleitamento materno exclusivo. CASO CLÍNICO Recém-nascido (RN) do sexo masculino, fruto de gestação vigiada, de termo e sem intercorrências. Trata-se de um primeiro __________ 1 U. Cuidados Intensivos Neonatais, Maternidade Júlio Dinis, CH Porto, 4050-371 Porto, Portugal 104 casos clínicos case reports filho de um casal jovem, academicamente diferenciado, não consanguíneo, com mãe saudável e pai asmático. Nascido de parto hospitalar, eutócico, índice de Apgar 7/9/10 ao 1º, 5º e 10º minutos respetivamente. Ao nascimento apresentava somatometria adequada à idade gestacional (peso 2965 g [P10-25]; comprimento 48 cm [P10-25]; perímetro cefálico 34 cm [P10-25]). Apresentou icterícia neonatal ao segundo dia de vida (bilirrubina total máxima de 17,2mg/dL), tendo sido submetido a fototerapia durante 48 horas. Alta ao quarto dia de vida alimentado exclusivamente com leite materno, não havendo referência no boletim de saúde infantil e juvenil ao peso nessa data. Ao oitavo dia de vida foi observado no Centro de Saúde da área de residência, tendo sido constatada perda ponderal de 515g, correspondente a 17% do peso ao nascimento (PN), tendo indicação para manter aleitamento materno e ser reavaliado em consulta passados oito dias. Ao 15º dia de vida, o RN foi observado pelo pediatra assistente que ao constatar agravamento da perda ponderal o orientou para a consulta de atendimento referenciado neonatal do nosso hospital. Este RN com amamentação exclusiva desde o nascimento, adormecia facilmente durante as mamadas. Havia noção de diurese diminuída e apresentava dejeções a cada 48 horas com estimulação. Nos últimos dois dias havia noção da diminuição da atividade geral, pelo que recorreu ao pediatra assistente. Sem outros sintomas. Na admissão estava letárgico, com aspeto emagrecido, pele e mucosas secas e anictéricas, fontanela anterior deprimida e diminuição franca do turgor cutâneo (Figura 1). Os sinais vitais eram normais. O peso, de 2080g, correspondia a uma perda ponderal 29,8% do PN. Os estudos analíticos efetuados evidenciaram: hemoglobina 18,7g/dL, hematócrito 54,6%, leucócitos 9160/μL, plaquetas 499000/μL, proteína C reativa 0,5mg/L, equilíbrio ácido-base normal, sódio sérico 153mmol/L, potássio 5,2mmol/L, ureia 135mg/dL e creatinina 1,12mg/dL; exame sumário de urina normal. Perante o quadro de desidratação hipernatrémica e insuficiência renal aguda foi iniciada fluidoterapia endovenosa. O débito de fluidos foi calculado com base nas necessidades básicas (100mL/kg/dia para o peso ao nascimento) e no défice estimado (perda ponderal), de modo a efetuar uma correção em 72 horas. Optou-se por iniciar a correção com metade da carga hídrica com solução endovenosa de glicose a 5% com cloreto de sódio (aproximadamente 20mEq/L de sódio), e a outra metade através de aporte NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 Figura 1 – Recém-nascido na admissão Figura 2 – Recém-nascido após 24 horas de internamento oral com leite adaptado, já que a mãe não conseguiu fazer a extração de leite por bomba. Numa fase inicial foi monitorizada a concentração sérica de sódio de 4/4 horas com posterior alargamento dos intervalos de acordo com evolução clínica e analítica (Quadro I). Quadro I – Evolução ponderal, analítica e do débito urinário Dias vida Dias internamento D15 D1 D16 D2 D17 D3 D22 D8 Peso g 2080 2175 2495 2725 Sódio mmol/L 153 143 140,7 140,4 Potássio mmol/L 3,78 3,58 4,89 5,2 Ureia mg/dL 135 - 19,7 - Creatinina mg/dL 1,12 - 0,58 0,43 Diurese mL/Kg/h 1 3 3,5 - Nas primeiras 24 horas de internamento verificou-se diminuição do sódio sérico de 0,6mmol/L/h, normalização da função renal e aumento ponderal de 95g. No primeiro dia de internamento surgiu exantema macular disperso pelo tronco e membros (Figura 2) e, perante a suspeita de alergia às proteínas do leite de vaca, foi iniciado leite extensamente hidrolisado, obtendo-se boa resposta. Ao longo do internamento verificou-se melhoria progressiva do estado geral, da vitalidade, do tónus, da interação com o meio e reversão dos sinais de desidratação. Foi efetuada ecografia transfontanelar, que não evidenciou alterações. A urocultura colhida na admissão foi estéril. O teste de diagnóstico precoce realizado em D4 de vida também foi normal. O RN teve alta após nove dias de internamento, com peso de 2880g e exame clínico sem alterações, com os diagnósticos de desidratação hipernatrémica, insuficiência renal aguda e suspeita de intolerância às proteínas do leite de vaca. Alimentado com leite materno e leite de fórmula. Reavaliado em consulta externa com um mês e seis dias de vida (13 dias após alta clínica), apresentava boa evolução ponderal (aumento de 25g/dia), adequado desenvolvimento psicomotor e ótimo aspeto geral (Figura 3). Figura 3 – RN com 1 mês e 6 dias de vida DISCUSSÃO Contrariamente ao conceito de que o aleitamento materno é um processo instintivo e inato nos mamíferos, sabe-se hoje que uma parte importante é cultural e tem a ver com a aprendizagem, daí que o ressurgimento do aleitamento materno tenha feito surgir alguns problemas nunca antes relatados, como a desidratação hipernatrémica. Nas últimas duas décadas têm sido publicados diversos trabalhos que sugerem que a incidência desta problemática está a aumentar.2-4 Será que este aumento reflete meramente uma incidência crescente de recém-nascidos sob aleitamento materno exclusivo, ou existirão falhas nas estratégias que acompanham o processo de amamentação? Embora esta questão permaneça sem resposta, conhecem-se alguns fatores que contribuem para o problema. Um estudo canadiano evidenciou que quando se reduziu o tempo médio de internamento hospitalar dos recém-nascidos após o nascimento de 4,2 para 2,7 dias, a taxa de readmissão aumentou de 27‰ para 38‰, e que o risco de readmissão por desidratação e icterícia também aumentou consideravelmente.3,5 Além disso é importante realçar que a literatura médica relativamente a esta questão provém predominantemente de países, como a Austrália e da Escandinávia, que apresentam das maiores taxas de aleitamento materno.3 Portanto, apesar do aumento do aleitamento materno, a alta hospitalar precoce, sem um seguimento adequado, parecem casos clínicos case reports 105 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 ser fatores predisponentes.2,3 Uma vez que é pouco exequível aumentar o tempo de permanência no hospital, é fundamental continuar a fomentar estratégias que acompanhem corretamente o processo da amamentação. A desidratação hipernatrémica associada ao aleitamento materno surge habitualmente nas primeiras duas semanas de vida. A mãe é frequentemente primigesta, com um bom nível educacional, bastante motivada para o aleitamento materno e não se apercebe dos sinais de desidratação do filho.2 O recém-nascido é muitas vezes descrito como “dorminhoco” ou “sossegado” e que não parece ter fome.6 Por estes motivos esta patologia pode ser reconhecida tardiamente. No caso descrito a mãe apresentava o perfil típico destas situações, contudo o diagnóstico tão tardio deveu-se principalmente a um inadequado acompanhamento após a alta. As últimas recomendações da Academia Americana de Pediatria sobre o aleitamento materno salientam que uma perda ponderal superior a 7% do PN nas primeiras 48 horas de vida, sugere um possível problema no aleitamento materno que requer uma avaliação cuidada da técnica de amamentação.1 Salientam-se ainda outros sinais de alarme que podem ser sugestivos de aporte insuficiente: recém-nascido que “não procura” ou com sucção débil; mamadas pouco frequentes; icterícia; letargia; dejeções e micções em número reduzido.2 Este recém-nascido teve alta ao quarto dia de vida, não havendo um registo de peso nessa altura; quando foi observado no Centro de Saúde já apresentava uma perda ponderal de 17% que não foi valorizada. Além disso, o baixo número de micções e dejeções era outro sinal presente sugestivo de aporte inadequado. O caso apresentado corresponde a uma desidratação hipernatrémica grave com insuficiência renal aguda pré-renal, sem outras complicações. Contudo, em cerca de 1% dos recém-nascidos, podem ocorrer sequelas neurológicas, como convulsões neonatais, hemorragia intracraniana, complicações trombóticas e até morte.3,6 A prevenção da mortalidade e morbilidade relacionadas com o aleitamento materno inadequado deve começar com a educação materna, pré e pós-natal. Os profissionais de saúde devem ser capazes de reconhecer os fatores de risco e as características clínicas associadas a uma amamentação inadequada, podendo assim prestar especial atenção às mães e recém-nascidos de alto risco. A técnica de amamentação deve ser observada antes da alta da maternidade, especialmente em primigestas. Caso se identifiquem problemas a mãe deverá ser observada por um profissional qualificado na área da amamentação e ter um seguimento mais precoce após a alta. Além disso, as mães devem ser informadas de modo a reconhecerem os sinais que podem indicar uma ingestão inadequada e aconselhadas sobre a importância de procurar ajuda atempadamente.1,7 Com este caso os autores pretendem reforçar a importância da implementação de estratégias que acompanhem a puérpera e o RN após a alta hospitalar, de modo a promover o aleitamento materno de forma segura e continuada, e a intervir pontual e atempadamente em casos selecionados. 106 casos clínicos case reports SUPPLEMENTATION WITH FORMULA MILK: NEITHER ALWAYS, NOR NEVER... ABSTRACT Breastfeeding generates clear benefits for child and the mother’s health. However, when improperly performed, breastfeeding can cause serious consequences to the newborn, such as severe hypernatraemic dehydration and related complications. Despite the importance of early detection and treatment, prevention is fundamental. For this reason, it is crucial that strategies that support the process of correctly breastfeeding continue to be promoted. The authors describe the case of a newborn with hypernatraemic dehydration resulting from inadequate breastfeeding. Keywords: Dehydratation, hypernatremia, breastfeeding, newborn. Nascer e Crescer 2013; 22(2): 104-106 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Gartner LM, Morton CJ, Lawrence RA, Naylor AJ, O’Hare D, Schanler RJ, et al. American Academy of Pediatrics, Section on Breastfeeding. Breastfeeding and the use of human milk. Pediatrics 2005; 115:496-506. 2. Neifert MR. Prevention of breastfeeding tragedies. Pediatr Clin North Am 2001; 48:273-97. 3. Laing IA, Wong CM. Hypernatraemia in the first few days: is the incidence rising? Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed 2002; 87:F158-62. 4. Moritz ML, Manole MD, Bogen DL, Ayus JC. Breastfeeding-associated hypernatremia: are we missing the diagnosis? Pediatrics 2005; 116:e343-7. 5. Liu S, Wen SW, McMillan D, Trouton K, Fowler D, McCourt C. Increased neonatal readmission rate associated with decreased length of hospital stay at birth in Canada. Can J Public Health 2000; 91:46-50. 6. Ramirez PL, Emre U, Giambruno C. Index of suspicion in the Nursery. Neoreviews 2005; 6:e399-402. 7. Trotman H, Antoine M, Barton M. Hypernatraemic dehydration in exclusively breastfed infants: a potentially fatal complication. West Indian Med J 2006; 55:282-5. ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Luís Ribeiro Centro Hospitalar do Porto Maternidade Júlio Dinis Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais Largo da Maternidade Júlio Dinis 4050-371 Porto, Portugal E-mail: [email protected] Recebido a 09.03.2012 | Aceite a 04.09.2012 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 Postnatal depression in mothers bringing infants to the emergency department. Stock A, Chin L, Babl FE, Bevan CA, Donath S, Jordan B. Arch Dis Child 2013;98:36-40. ABSTRACT OBJECTIVE: To determine the prevalence of postnatal depression (PND) in mothers of young infants presenting to the emergency department (ED). DESIGN, SETTING AND PARTICIPANTS: Prospective observational study of the prevalence of PND in mothers of infants aged 14 days to 6 months presenting with non-timecritical conditions to the ED of a large tertiary paediatric hospital. MAIN OUTCOME MEASURES: We assessed PND by applying a self-administered validated screening tool, the Edinburgh Postnatal Depression Scale (EPDS). Mothers of patients were approached before clinician consultation when a social worker was available on site. EPDS scores of 13 and above were considered ‘positive’. Univariate analysis was used to determine associations with demographic, maternal and child factors. COMENTÁRIOS A seguir ao parto, muitas mulheres, cerca de 50%, experimentam perturbações do humor; no entanto, a maioria desenvolve sintomas ligeiros que se resolvem espontaneamente, correspondendo ao conhecido baby blues. A depressão pós-parto ocorre em 10%, e a maior parte instala-se nos três meses a seguir ao parto, quando aquela perturbação do estado de humor se agrava e persiste no tempo, afetando o funcionamento da mãe. Pode surgir até ao fim do primeiro ano após o nascimento do bebé. A depressão pós-natal é reconhecida como um fator de risco para uma perturbação do desenvolvimento do bebé, da relação mãe-criança e da qualidade da vida familiar. Está comprovado que o desenvolvimento cognitivo é afetado negativamente, especialmente em bebés do sexo masculino e em famílias de baixo nível socioeconómico; aos 18 meses de idade os bebés têm mais padrões de vinculação insegura e os rapazes têm um nível elevado de problemas de comportamento aos cinco anos de idade(1). Os problemas de comportamento e de auto-controlo são problemas que podem persistir nas crianças, mesmo depois de a mãe melhorar do seu estado depressivo. Embora a prevalência deste quadro apresente números variados nos diversos estudos, é considerado atualmente, como atingindo valores de 10 a 15%, em países ocidentais desenvolvidos(2). RESULTS: 236 mothers were approached; 200 consented to participate in the study. Thirty-two mothers screened positively, with a prevalence rate of 16% (95% CI 11.2% to 21.8%). A positive screen was most strongly associated with history of depression (relative risk (RR) 4.8, 95% CI 2.3 to 10.1). Other associations were with single-parent status (RR 2.5, 95% CI 1.1 to 5.4), Indigenous status (4.4, 95% CI 1.8 to 10.4) and ‘crying baby’ as the presenting problem (RR 2.9, 95% CI 1.4 to 6.2). Fifty-three per cent of mothers had not completed a PND screen before coming to the ED. CONCLUSIONS: Mothers of young infants coming to the ED regardless of infant’s presenting complaint have a high prevalence of PND determined using the EPDS. Many mothers were not screened for PND before coming to the ED. Clinical staff need to be aware of the condition, incorporate appropriate questioning into the consultation, and refer mothers to support services if necessary. Pode acompanhar-se de sintomas psicóticos, tornando-se obrigatório o internamento da mãe, idealmente com o bebé, se existirem recursos apropriados no setting terapêutico institucional. Num artigo de revisão(3), consideravam-se com fatores de risco para o desenvolvimento da depressão pós-parto: • a depressão durante a gravidez • a ansiedade durante a gravidez • a ocorrência de acontecimentos de vida de stress durante a gravidez ou no puerpério • pouco apoio social • história prévia de depressão O seu rastreio tem sido defendido em muitos países, como é o exemplo das guidelines inglesas da National Institute for Health and Clinical Excellence (NICE)(4), que recomenda que sejam colocadas às mães, em todas as consultas pós-natais, as seguintes questões: • Durante o último mês, tem-se sentido muitas vezes em baixo, deprimida ou desesperada? • Durante o último mês, tem sentido muitas vezes pouco interesse ou prazer em fazer as coisas? O despiste pode também ser realizado através de questionários, sendo o mais utilizado a Escala de Depressão Pós-parto artigo recomendado recommended article 107 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 de Edinburgh (EPDS), de Cox et al(5), em 1987, e que se encontra validada para a população portuguesa(6); é um questionário de auto-resposta, constituído por 10 itens, e de fácil aplicação. Como se sabe que as mães deprimidas faltam mais às consultas pós-natais programadas, e este rastreio não é sistemático, os autores deste artigo estudaram a ocorrência de depressão pós-parto em mulheres australianas que recorriam a serviços de urgência pediátricos, como um possível momento em que este rastreio pode ser realizado. Conseguiram aplicar o EPDS a 200 mulheres, que se dirigiram ao serviço de urgência de um hospital pediátrico terciário com os seus bebés, com idades entre os 14 dias a seis meses, e que apresentavam problemas de saúde sem gravidade. Verificaram que a prevalência de depressão pós-parto nesta população era de 16 %, concluindo ser um valor importante da presença deste quadro nas mães, e que mais de metade não tinha feito um rastreio prévio. Este valor era independente do tipo de queixas que motivavam a ida ao hospital. Tinham maior risco as mulheres com história de depressão, estado monoparental, indígenas e os bebés apresentarem choro excessivo como problema principal. Os autores salientam que os serviços de urgência pediátricos podem, deste modo, constituir uma boa oportunidade para fazer a identificação da depressão pós-parto e referenciar as mulheres afetadas para serviços de apoio. Maria do Carmo Santos1 Nascer e Crescer 2013; 22(2): 107-108 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Cooper PJ. Postnatal depression. BMJ 1998;316:1884-6. 2. Halbreich U, Karkun S. Cross-cultural and social diversity of prevalence of postpartum depression and depressive symptoms. J Affect Disord 2006;91:97-111. Epub 2006 Feb 7. 3. Robertson E, Grace S, Wallington T, Stewart DE. Antenatal risk factors for postpartum depression: a synthesis of recent literature. Gen Hosp Psychiatry 2004;26:289-95. 4. Antenatal and postnatal mental health: clinical management and service guidance. Issued: February 2007 last modified: April 2007. NICE clinical guideline 45. Acessível em: http:// www.nice.org.uk/nicemedia/live/11004/30433/30433.pdf. Disponível a 9/08/2013. 5. Cox JL, Holden Jm, Sagovsky R. Detection of postnatal depression: development of the 10-item Edinburgh Postnatal Depression Scale. Brit J Psych 1987;150:782-6. Doi: 10.1192/ bjp.150.6.782 6. Areias ME, Kumar R, Barros H, Figueiredo E. Comparative incidence of depression in women and men, during pregnancy and after childbirth. Validation of the Edinburgh Postnatal Depression Scale in Portuguese mothers. BJP 1996;169:30-5. doi: 10.1192/bjp.169.1.30. ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Maria do Carmo Santos Centro Hospitalar do Porto Departamento de Pedopsiquiatria e Saúde Mental da Infância e Adolescência Rua Professor Álvaro Rodrigues, 4149-003 Porto, Portugal e-mail: [email protected] Recebido a 13.05.2013 | Aceite a 15.05.2013 __________ 1 Dep. Pedopsiquiatria e Saúde Mental da Infância e Adolescência, CH Porto, 4149-003 Porto, Portugal 108 artigo recomendado recommended article NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 Caso dermatológico Catarina Matos1, Susana Machado2, Sandrina Carvalho2, Maria José Dinis3, Manuela Selores2 Um latente do sexo masculino, com cinco meses de idade foi referenciado à consulta de Dermatologia Pediátrica por erupção cutânea desde o primeiro mês de vida. Sem antecedentes pessoais de relevo. A mãe e avó paterna referiam prurido. Ao exame objetivo observava-se erupção papular difusa na face, couro cabeludo, tronco e membros com envolvimento das palmas e plantas (Figura 1). Havia alguns nódulos eritematosos Figura 1 – Erupção papular difusa com atingimento da face, couro cabeludo, tronco, membros, palmas e plantas com alguns nódulos eritematosos e múltiplas escoriações associados e múltiplas escoriações. As palmas e plantas tinham vesículas e descamação marcada (Figura 2). A criança manifestava prurido intenso. Foi realizado raspado de pele para exame microscópico, que foi inconclusivo. Qual o seu diagnóstico? Figura 2 – Vesículas e descamação marcada das palmas e plantas __________ 1 2 3 S. Pediatria, U Padre Américo, CH Tâmega e Sousa, 4564-007 Penafiel, Portugal S. Dermatologia, CH Porto, 4099-001 Porto, Portugal CH Póvoa de Varzim-Vila do Conde, 4490-421 Póvoa de Varzim, Portugal caso dermatológico dermatology case 109 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 DIAGNÓSTICO Escabiose COMENTÁRIOS A escabiose é uma dermatose ectoparasitária causada pelo ácaro Sarcoptes scabiei var. hominis. O contágio ocorre de modo direto pessoa a pessoa ou, menos frequentemente, por fômites, através da roupa ou lençóis. Em países de clima temperado, como o nosso, a escabiose é mais comum no inverno devido a uma maior propensão a aglomerados de pessoas e ao facto do ambiente frio e húmido favorecer a sobrevida do parasita.1-4 O principal sintoma da escabiose é o prurido, com agravamento noturno. Clinicamente são observadas pequenas pápulas eritemato-escoriadas nas axilas, tronco, regiões glúteas, genitais, espaços inter-digitais das mãos. Nos latentes e crianças pequenas as lesões podem ter uma morfologia e distribuição diferente da criança mais velha e adulto. As lesões são mais inflamatórias e podem ser vesiculares, bolhosas, pustulosas ou em crosta atingindo frequentemente a face e couro cabeludo, habitualmente poupados no adulto. Perante esta diversidade na apresentação, a escabiose deve ser sempre suspeitada perante um latente/criança pequena com prurido intenso associado a lesões polimórficas da pele.1,2 A ocorrência de casos semelhantes entre indivíduos que compartilhem a mesma moradia é um indício forte da doença.2-4 O diagnóstico diferencial faz-se, entre outros, com a dermatite seborreica, dermatite atópica, ictiose e eritrodermia psoriásica.3,4 O tratamento consiste na aplicação tópica de enxofre precipitado a 5% em vaselina 1x/dia, à noite, durante 3-5 dias. A permetrina a 5% é um tratamento alternativo, em latentes >2 meses. O banho com remoção do produto só deve ser efetuado 8-14h após cada aplicação. O tratamento deve ser repetido novamente uma semana depois para diminuir o risco de recorrências (10-20% casos). Sintomas como irritação cutânea, sensação de queimor ou parestesias podem ocorrer. O agregado familiar e contactos próximos devem fazer o tratamento em simultâneo. As roupas e lençóis da cama usados devem ser lavados a 60º ou mantidos fechados num saco durante 72 horas.1,4,5 ABSTRACT The authors describe a clinical case of a 5-months-old boy with widespread rash since the first month of life. Diffuse papular rash with intensive itching. The shaved skin was inconclusive so we performed biopsy to confirm the diagnosis of scabies It’s a dermatosis very contagious caused by the mite Sarcoptes scabiei var. hominis. In infants skin eruption may have a polymorphic presentation with characteristic distribution. Keywords: Infant, scabies, itch, 5% precipitated sulfur. Nascer e Crescer 2013; 22(2): 109-110 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Jin SP, Choi JE, Won CH, Cho S. Scabies in a 2-month-old Infant Successfully Treated with Lindane. Ann Dermatol 2009; 21:200-2. 2. Guerci S, Cappellaro E, Contratti M, Corna A, Fazi MC, Orini S, et al. A sign of the changing times: neonatal scabies. Minerva Pediatr 2010; 62:329-32. 3. Pouessel G, Dumortier J, Lagrée M, Pierre MH, Ganga-Zandzou PS, Ythier H, et al. Scabies: a common infection in children. Arch Pediatr 2012; 19:1259-60. 4. Goldstein B, Goldstein A. Scabies. UpToDate 2013. Disponível em: http://www.uptodate.com/contents/scabies 5. Scott GR, Chosidow O. European guidelines for the management of scabies. Int J STD AIDS 2011; 22:301-3. ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Catarina Matos Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa Unidade Padre Américo Serviço de Pediatria Lugar do Tapadinho, Guilhufe 4564-007 Penafiel, Portugal E-mail: [email protected] Recebido a 21.05.2013 | Aceite a 26.05.2013 110 caso dermatológico dermatology case NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 Caso estomatológico José M. S. Amorim1 Criança do sexo masculino com oito anos de idade referenciada à nossa consulta que apresentava um tumor, desde há três meses, a nível do ângulo da mandíbula esquerdo, indolor, com crescimento lento e progressivo. Antecedentes pessoais irrelevantes. Ao exame objetivo apresenta: - tumefação maxilar localizada ao ângulo esquerdo da mandíbula, com cerca de 2 cm de diâmetro, indolor a palpação, dura e de limites bem definidos; - dentição mista e sem cáries. Fez Ortopantomografia e Tomografia Axial Computorizada mandibular que revelou uma lesão arredondada ao nível do ângulo esquerdo da mandíbula, bem delimitada, sem lesões dentárias (Figura 1). Face ao descrito: Qual o seu diagnóstico? Qual a sua atitude? Figura 1 __________ 1 U. Estomatologia Pediátrica, CH Porto, 4099-001 Porto, Portugal caso estomatológico oral pathology case 111 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 No caso apresentado foram colocadas três hipóteses diagnósticas: granuloma de células reparativas, quisto dentígero e ameloblastoma. No entanto após o exame histológico verificou-se que se tratava de um LEIOMIOMA. O leiomioma é uma neoplasia benigna do músculo liso. Pode ocorrer em qualquer órgão, mas manifesta-se mais frequentemente no útero, intestino delgado e esófago e muito raro na boca. A origem parece estar relacionada com as células musculares lisas da parede dos vasos sanguíneos (túnica média) ou das células mesenquimais indiferenciadas. É bastante raro na cavidade oral e orofaringe, pois há poucos músculos lisos nesta região. Clinicamente apresentam-se como tumefações de pequenas dimensões, bem circunscritos, indolores, de consistência firme, únicos ou múltiplos e recobertos por uma mucosa aparentemente normal. O diagnóstico é difícil e baseia-se fundamentalmente na histologia, devendo ser estabelecido o diagnóstico diferencial com fibromatose, schwannoma e leiomiossarcoma. Há três tipos de leiomiomas que apresentam características histológicas distintas: • Leiomioma sólido; • Leiomioma vascular (angiomioma); • Leiomioma epitelioide (leiomioblastoma); Leiomiomas sólidos: • Apresentam feixes entrelaçados de células fusiformes de músculo liso; Leiomioma vascular (angiomioma): • Apresentam-se com múltiplos vasos sanguíneos de revestimento e podem aparecer feixes entrelaçados de músculo liso entre os vasos com tecido adiposo; Leiomioma epitelioide (leiomioblastoma): • As células epitelióides substituindo as fusiformes. O tratamento das lesões orais consiste na excisão cirúrgica e não há tendência a recidiva. ABSTRACT A eight-year-old child presented a painless and well limited swelling in the angle of the jaw. A CT Scan revealed a well defined mass at the level of the jaw left. The histological examination revealed a leiomyoma. The treatment is surgical excision. Keywords: Leiomyoma, oral cavity, oral tumour. Nascer e Crescer 2013; 22(2): 111-112 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. McMahon RFT, Sloan P. Essentials of Oral Pathology for Dentistry. Churchill Livingstone; 2002. p. 183. ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA José Amorim Centro Hospitalar do Porto Hospital de Santo António Unidade de Estomatologia Pediátrica Largo do Prof. Abel Salazar 4099-001 Porto, Portugal Recebido a 25.05.2013 | Aceite a 29.05.2013 112 caso estomatológico oral pathology case NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 Caso radiológico Mariana Pinto1, Fernando Pereira2, Filipe Macedo3 Adolescente do sexo masculino, 11 anos de idade, com paralisia cerebral. Alimentação exclusivamente por via oral e com normal capacidade de mastigação e deglutição. Trânsito intestinal de fezes moldadas com frequência de 4/4 dias, sempre com necessidade de estímulo com microclisteres. Enviado à consulta de Gastrenterologia Pediátrica por apresentar desde há cerca de um ano episódios recorrentes de vómitos de conteúdo biliar e/ou fecaloides, precedidos por palidez cutânea, hipersudorese, noção de dor e tumefação abdominal móvel. Sem relação com as refei- ções. Sem febre. Inicialmente estes episódios ocorriam com uma frequência trimestral, mas nos últimos meses apresentavam frequência semanal. Num dos episódios teve necessidade de internamento hospitalar para pausa alimentar e fluidoterapia endovenosa. Realizou radiografia abdominal simples de pé e Tomografia Axial Computorizada (TAC) abdominal (Figuras 1, 2 e 3). Qual o seu diagnóstico? Figuras 1, 2 e 3 – Distensão gasosa acentuada do intestino com megacólon __________ 1 2 3 S. Pediatria/Neonatologia, H São Sebastião, CH Entre Douro e Vouga, 4520-211 Santa Maria da Feira, Portugal U Gastrenterologia Pediátrica, CH Porto, 4099-001 Porto, Portugal Serviço Médico de Imagem Computorizada, 4250-367 Porto, Portugal caso radiológico radiological case 113 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 DIAGNÓSTICO Distensão gasosa acentuada do intestino com megacólon compatível com o diagnóstico de Pseudo-obstrução intestinal ileocólica. DISCUSSÃO A Pseudo-obstrução intestinal caracteriza-se por episódios de oclusão intestinal na ausência de obstrução mecânica. De salientar que os doentes com história de paralisia cerebral podem apresentar alterações a nível do aparelho gastrointestinal, nomeadamente disfagia com aerofagia persistente, refluxo gastro-esofágico e obstipação. A obstipação é multifatorial, ou seja, além de existirem erros alimentares com dieta pobre em fibras, baixa ingestão hídrica e falta de atividade física, há alterações na motilidade intestinal ao nível de todo o cólon e reto (falência do relaxamento do esfíncter anal interno após a distensão retal, sensibilidade retal alterada, impedimento para relaxamento ou contração paradoxal do esfíncter anal interno ou músculo puborretal e propulsão diminuída do cólon). A TAC abdominal com contraste é o exame radiológico mais indicado para o diagnóstico de Pseudo-obstrução intestinal visto excluir causas anatómicas de obstrução intestinal. A abordagem terapêutica nestes doentes tem por base a correção de erros alimentares e o uso de estimulantes da motilidade – procinéticos. No caso apresentado o tratamento médico não foi suficiente pelo que foi necessário realizar cecostomia laparoscópica para descompressão de aerocolia exuberante, consequência de aerofagia permanente por parte do adolescente. A cecostomia permite também a administração de enemas de forma anterógrada melhorando o quadro clínico de obstipação quando necessário. ABSTRACT We present the clinical case of an 11-year-old boy with cerebral palsy. He was observed in the Gastroenterology Department for the presence of recurrent episodes of vomiting (bilious and/or fecaloides) with one year of development, preceded by pallor, sweating, sense of abdominal pain and abdominal swelling. Recently the episodes occur every week. The abdominal Computed Tomography (CT) showed megacolon compatible with the diagnosis of ileocolic intestinal pseudo-obstruction. Laparoscopic cecostomy was performed for decompression of exuberant aerocolia, result of permanent aerophagia typical of adolescents with cerebral palsy, allowing the administration of antegrade enemas in order to improve the constipation. Keywords: Megacolon, intestinal pseudo-obstruction, cecostomy. Nascer e Crescer 2013; 22(2): 113-114 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Camilleri M. Chronic intestinal pseudo-obstruction. UptoDate 2012 [updated 2012 August 28]. Disponível em: http://www. uptodate.com/contents/chronic-intestinal-pseudo-obstruction 2. Araújo LA, Silva LR, Mendes FA. Digestive tract neural control and gastrointestinal disorders in cerebral palsy. J Pediatr (Rio J) 2012;88:455-64. 3. Teixeira C, Lima R, Ferreira H, Recamen M, Martins E, Ramos A, et al. Pseudo-obstrução Intestinal – Caso Clínico. Nascer e Crescer 2006;15:91-6. 4. Wyllie R. Motility Disorders and Hirschsprung Disease. In: Kliegman RM, Behrman RE, Jenson HB, Stanton BF, editors. Nelson Textbook of Pediatrics. 18th ed. Philadelphia: WB Saunders Company; 2007. p.1564-8. ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Mariana Pinto Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga Hospital de São Sebastião Serviço de Pediatria/Neonatologia Rua Dr. Cândido de Pinho 4520-211 Santa Maria da Feira, Portugal E-mail: [email protected] Recebido a 19.05.2013 | Aceite a 19.05.2013 114 caso radiológico radiological case NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 Conceção, redação e publicação de artigos científicos Redação de artigos: estrutura e conteúdo Margarida Lima, MD, PhD1 RESUMO Neste segundo artigo, de quatro que integram a rubrica “CONCEÇÃO, REDAÇÃO E PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS CIENTÍFICOS” da secção “EDUCAÇÃO CIENTÍFICA” da revista “NASCER E CRESCER” debruçamo-nos sobre os aspetos mais relevantes da estrutura e o conteúdo de um artigo científico para submeter a publicação. Palavras-chave: Educação científica; redação de artigos científicos. Nascer e Crescer 2013; 22(2): 115-128 1. INTRODUÇÃO Um dos pontos fundamentais a considerar na redação de um artigo é a sua estrutura e o conteúdo das partes que o integram (1-3). Embora existam algumas variações que dependem fundamentalmente do tipo de artigo, o “corpo” de um artigo (texto do artigo propriamente dito) divide-se geralmente em várias secções, a saber: Introdução, Material e Métodos, Resultados e Discussão (4-6). No entanto, na estrutura de um artigo há a considerar, para além do “corpo” do artigo, os elementos pré e pós-textuais. Os elementos pré-textuais constam geralmente na folha de rosto (onde, entre outros, se identificam os autores e as respetivas filiações), no Resumo e nas Palavras-Chave. A estrutura e o conteúdo do Resumo devem refletir a estrutura básica e o conteúdo do artigo, respetivamente, mencionando apenas os aspetos mais relevantes. Os elementos pós textuais integram, entre outros, as referências, as ilustrações, os glossários de abreviaturas, e eventualmente, os apêndices e anexos. Neste trabalho debruçamo-nos sobre os aspetos mais relevantes da estrutura e o conteúdo de um artigo científico para submeter a publicação em revista de edição periódica. 2. ESTRUTURA BÁSICA DE UM ARTIGO PARA SUBMETER A PUBLICAÇÃO Na versão do artigo a submeter para publicação, os diferentes componentes do artigo devem ser organizados, obedecendo à sequência acima referida e sistematizada no Quadro 1, exceto __________ 1 Hospital de Santo António, Centro Hospitalar do Porto, 4099-001 Porto, Portugal quando as normas da revista mencionarem o contrário. Os conteúdos correspondentes a cada uma das partes que compõem o artigo estão pré-definidos e, no caso dos artigos originais, correspondem aos mencionados nesse mesmo quadro. A ordem de apresentação na versão do artigo que é submetida para publicação é diferente da que consta na versão impressa do artigo e deve ser respeitada (Figura 1). 3. FOLHA DE ROSTO A folha de rosto deve conter a informação sumária sobre o artigo, designadamente o título, os autores, as respetivas filiações, o autor correspondente e os respetivos contatos (Quadro 1) (7). Dependendo da revista, a contribuição dos autores pode ser apresentada na folha de rosto ou em secção própria, geralmente após a Discussão e antes das Referências bibliográficas. 3.1 Título 3.1.1 Objetivos e caraterísticas O título é uma das principais referências de um artigo e serve três objetivos: identificar o conteúdo, motivar o leitor para a leitura e permitir a identificação do mesmo nas pesquisas eletrónicas (7, 8). Para que estes objetivos sejam atingidos, é necessário que o título obedeça a alguns critérios. Ele deve ser simultaneamente adequado do ponto de vista científico, informativo e atrativo; deve descrever adequadamente o conteúdo do artigo; deve conter as palavras que melhor o identificam e não deve incluir palavras supérfluas nem abreviaturas. Se necessário, pode ser acrescentado um subtítulo, devendo este ser diferenciado tipograficamente ou separado do título principal por “:”. 3.1.2 Tamanho Embora nem todas as revistas imponham limites para o tamanho do título, a maioria das editoras advoga que este deve ter poucas palavras (em geral, cerca de 80 a 100 carateres). No entanto, os estudos que investigaram a possível associação entre o tamanho do título e o número de citações tiveram resultados contraditórios (9, 10). Algumas revistas solicitam também um título resumido (geralmente 40 a 50 carateres). 3.1.3 Tipos Os títulos podem ter caráter descritivo, informativo ou misto (Quadro 2) (11). Em ambos os casos, podem ser estruturados de várias maneiras (Quadro 2) (12), e existem diversas formas de transmitir a mensagem e/ou de chamar à atenção do leitor (13), fi- educação científica scientific education 115 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 cando ao critério dos autores a escolha da que melhor se adapta ao artigo em causa (Quadro 3). As opiniões divergem relativamente à adequabilidade dos títulos compostos, com utilização de “:” (ex. Hipertensão arterial: do diagnóstico ao tratamento; Hypertension: from diagnosis to treatment) e daqueles redigidos na forma de questão (ex. Como diagnosticar e tratar a hipertensão arterial? How to diagnose and treat hypertension?), assim como quanto à utilização da expressão “sobre” (“on”) (ex. Sobre o diagnóstico e tratamento da hipertensão arterial; On the diagnosis and treatment of hypertension) (13). De uma forma geral, as palavras “o” (“the”) devem ser evitadas (ex. O diagnóstico e o tratamento da hipertensão arterial; The diagnosis and treatment of hypertension), assim como as palavras “um” / “uma” (“a”/ “an”) (ex. Uma abordagem ao diagnóstico e tratamento da hipertensão arterial; An approach to diagnosis and treatment of hypertension), porque são supérfluas e dificultam os sistemas de indexação (13). 3.2 Autores 3.2.1 Critérios de autoria e contribuição dos autores Existem normas orientadoras dos critérios para atribuição de autoria definidas pelo Comité Internacional dos Editores de Revistas Médicas (International Committee of Medical Journal Editors, ICMJE) que devem ser respeitadas (Quadro 4) (14). Ser autor de um artigo é um ato de responsabilidade, baseado na contribuição real para a conceção e realização do trabalho subjacente ao mesmo e para a sua redação (15). Dependendo da revista, as contribuições dos autores podem constar na folha de rosto ou em secção própria, geralmente após a Discussão. 3.2.2 Ordem dos autores Não existem normas universalmente aceites para determinar a ordem dos autores e as práticas variam, entre outros, com a área científica. De uma forma geral, nos artigos que decorrem de trabalhos de investigação na área da medicina e da biomedicina, o mais frequente é que o primeiro autor seja o responsável pela redação do artigo e que o último seja o investigador principal, o orientador do trabalho ou o diretor do serviço onde o trabalho é realizado, mas estas regras não são universais. Independentemente do critério usado na ordenação, é muito importante que todos os autores cumpram os critérios de autoria; por outras palavras, a superioridade hierárquica, chefia técnica e cargos de direção não conferem direitos de autoria. 3.2.3 Identificação e afiliação dos autores Deve ser indicado o nome completo (ou, pelo menos, o nome e o apelido), a categoria profissional, a graduação académica e a filiação. O nome dos autores e a sua afiliação devem ser escritos de forma uniforme em todas as publicações para que artigos possam ser citados de forma correta por outros autores e para que os autores e as instituições a que pertencem sejam corretamente identificados nas bases de dados bibliográficas. Atualmente, muitas revistas exigem também o e-mail de todos os autores. 116 educação científica scientific education A identificação correta dos autores e das respetivas instituições é de grande importância, pois é decisiva para as pesquisas futuras dos artigos em causa. 3.2.4 Autor correspondente (corresponding author) Deve ser referido o autor a contatar, que é geralmente o primeiro ou o último autor do artigo e os respetivos contatos (morada, e-mail e telefone). Será com esse autor que o secretariado da revista ou pelos seus corpos editoriais ou redatoriais estabelecerão todos os futuros contatos, nomeadamente para enviar o parecer dos revisores, comunicar a decisão acerca da publicação e solicitar a correção das provas do artigo. Depois da publicação, é também esse o autor que geralmente é contatado pelos leitores querem solicitar algum esclarecimento ou pedir cópias do artigo. Por esses motivos, o autor correspondente deve ser aquele que mais habilitado estiver para responder a estas questões, sendo geralmente o primeiro autor do artigo, ou o último autor quando o primeiro autor for um profissional em fase de formação. Por exemplo, se o primeiro autor for um aluno de doutoramento, o último autor é com frequência o seu orientador, podendo ser indicado como autor correspondente um ou outro, por acordo mútuo. 4. RESUMO (E ABSTRACT) Sendo o primeiro contacto dos leitores com o trabalho, o Resumo é o que atrai (ou não) a sua atenção e interesse. Deve ser escrito cuidadosamente, preferencialmente após redigir as restantes partes do trabalho, considerando a forma e o conteúdo (Quadros 5 e 6) (16-18). O Abstract é a versão do Resumo em inglês. Não deve ser uma tradução literal, mas sim uma tradução científica, com a utilização dos termos e expressões técnicas apropriados. 4.1 Conteúdo Existem basicamente dois tipos de resumos quanto ao detalhe do conteúdo: os resumos indicativos e descritivos, que contêm apenas informação geral sobre o trabalho e sobre os seus objetivos, e os resumos informativos e analíticos, que contêm todas as informação fundamentais, incluindo o referencial teórico, os objetivos, os métodos, os resultados e as conclusões, por forma a dispensar a leitura imediata do texto integral. Os resumos de artigos científicos devem ser preferencialmente informativos e analíticos. O seu conteúdo deve ter uma frase introdutória e apresentar de forma concisa (uma ou duas linhas para cada item) a fundamentação teórica, os objetivos principais, as motivações e importância, o material e métodos, os principais resultados e as principais conclusões. 4.2 Forma e organização Podem considerar-se dois tipos de resumos, quanto à organização: estruturados (divididos em secções) e não estruturados (sem divisão formal em secções). Um resumo “estruturado” deve ser escrito em vários parágrafos (um parágrafo por cada secção), precedido ou não da designação da mesma. Um resumo “não estruturado” deve ser escrito na forma de parágrafo único, NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 constituído por várias frases, geralmente correspondentes às secções dos resumos estruturados, apresentadas pela mesma sequência lógica, mas sem divisão formal. 4.3 Secções As secções do Resumo correspondem geralmente à estrutura vulgarmente conhecida como IMRAD (Introduction, Methods, Results and Discussion – Introdução, Métodos, Resultados e Discussão) (4) ou a variantes desta estrutura (5, 6). Por exemplo, em algumas revistas são introduzidas secções adicionais, como a secção de Objetivos (entre a Introdução e os Métodos) ou omitida uma das secções e substituída por outra (ex. Objetivos, Métodos, Resultados, Conclusões). Dependendo das revistas, as diversas secções podem ter designações distintas. Por exemplo, a Introdução pode ser designada de outra forma (Fundamentação, Motivações, etc.), assim como os Objetivos (Metas, Objetivos e Metas), e os Métodos (Material e Métodos, Metodologia, etc.). 4.4 Outros aspetos Em geral, o Resumo não deve conter abreviaturas. Caso a utilização de abreviaturas no Resumo seja permitida pela Revista, devem ser usadas apenas as estritamente necessárias e estas devem ser pré-definidas no Resumo e novamente no corpo do artigo. O Resumo também não deve citar referências bibliográficas, nem incluir ilustrações. Os resumos de trabalhos apresentados em congressos são exceções a estas regras, já que são por vezes é admitida a inclusão de um número muito limitado de referências, figuras ou tabelas. 5. PALAVRAS-CHAVE (KEY-WORDS) Muitas revistas solicitam aos autores que indiquem um conjunto de palavras-chave (key-words), que são palavras ou expressões que caracterizem o artigo e que são usadas nos sistemas de indexação (para além das palavras que constam no título), de forma a permitir que este seja eficazmente encontrado por sistemas eletrónicos de busca. Por isso, a sua escolha não deve ser encarada como um assunto de importância menor (16). As palavras-chave (key-words), em número de 4 a 12 dependendo da revista, são geralmente mencionadas na folha de rosto ou, com mais frequência, no final do Resumo, dependendo das normas da Revista. 5.1 Escolha das palavras-chave Devem ser escolhidas palavras abrangentes, mas que ao mesmo tempo identifiquem de forma precisa o conteúdo do artigo. Por outro lado, deve evitar-se usar palavras do título uma vez que estas já são normalmente usadas pelos sistemas de indexação. Uma boa forma para selecionar as palavras-chave é pensar: Que palavras eu usaria para procurar um artigo semelhante ao meu? Há quem defenda que, de forma a rentabilizar os sistemas de inteligência artificial subjacentes aos mecanismos de busca, a seleção das palavras-chave deve ser feita por níveis, sendo necessário entender o que são os níveis e como se relacionam entre si (Figura 2). Assim, o primeiro nível é palavra-chave principal; o segundo nível é constituído por palavras relacionadas com a palavra-chave principal; o terceiro nível é constituído por palavras relacionadas com a palavra-chave de segundo nível, e por aí adiante. Após determinar qual é a palavra-chave de primeiro nível, isto é aquela que melhor identifica o conteúdo, devem ser pesquisadas as palavras relacionadas a ela e selecionadas as mais adequadas. Para a escolha das palavras-chave os autores podem recorrer a ferramentas disponíveis na internet, assim como a dicionários de palavras-chave. 5.2 Dicionários de palavra-chave Nos artigos científicos devem ser usadas preferencialmente palavras controladas, selecionadas de sistemas de indexação estabelecidos ou bancos de dados bibliográficos. Nas áreas da Medicina e da Biomedicina podem ser usadas, por exemplo, os termos do Medical Subject Headings (MeSH), que é a enciclopédia de vocabulário da National Library of Medicine (NLM) usada para a indexação de artigos das revistas biomédicas na base de dados MEDLINE (19, 20). Na PubMed podemos ter acesso aos termos indexados no MeSH (21). 6. INTRODUÇÃO Um artigo científico não é uma história policial em que só se descobre o que vai acontecer no final. Pelo contrário, o leitor deve estar ciente disso desde o início do artigo, isto é, desde a Introdução. Uma introdução informativa e bem redigida é fundamental, e para isso é necessário que quem a redige esteja familiarizado com o tema e atualizado na matéria (22, 23). Há quem advogue que a Introdução deve apresentar a formulação teórica subjacente ao estudo e terminar com os objetivos, e quem defenda que também deve apresentar no final os principais resultados e as principais contribuições. Um aspeto importante a considerar é o de que a Introdução e a Discussão se devem articular entre si, fornecendo informações complementares (Figura 1). 6.1. Organização e conteúdo Como sugestão de organização, deve considerar-se apresentar de forma concisa a formulação teórica (incluindo o contexto, a ideia central e os problemas), os objetivos e as hipóteses de trabalho; no final pode ser feita uma descrição muito resumida do estudo realizado, apresentar os principais resultados e as principais contribuições: • descrição breve da área do estudo e a sua importância, apresentando uma revisão da literatura recente sobre o assunto abordado; • exposição em um parágrafo da ideia central do trabalho, seguida dos parágrafos necessários para apresentar; • identificação do problema, tornando clara a sua importância e relevância; • apresentação dos conceitos básicos e de outros artigos relacionados com o trabalho em causa, escrevendo uma linha por trabalho ou agrupando trabalhos similares e detalhando apenas os que são mais importantes; educação científica scientific education 117 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 • referência a trabalhos anteriores realizados pela equipa quando isso for relevante para a compreensão do artigo, identificando o que ficou por esclarecer; • definição clara dos objetivos e das hipóteses do trabalho; • descrição sumária do estudo realizado; • apresentação dos principais resultados, tornando claro quais foram as principais contribuições, especificando a relevância da sua publicação, como é que esta contribuiu para ampliar o conhecimento em uma determinada área da ciência e/ou em que medida apresentou novas soluções para resolver um problema. 7. MATERIAL E MÉTODOS Esta secção deve apresentar as informações necessárias e suficientes para avaliar se o estudo foi conduzido de acordo com as boas práticas, ajuizar sobre a sua qualidade e permitir sua reprodução por outros (24, 25). A falta de informações relevantes para qualquer um destes fins pode justificar a recusa do artigo. As secções Material e Métodos e os Resultados devem articular-se entre si: todos os resultados apresentados devem ser suportados pelo material e métodos descritos e todos os materiais e métodos descritos devem servir para suportar os resultados apresentados (Figura 1). 7.1. Organização e conteúdo Na secção Material e Métodos devem ser incluídas todas as informações necessárias para que os leitores saibam “onde foi”, “quando foi” e “como foi” realizado o estudo. Entre as informações fornecidas deve constar o desenho do estudo, a população para que se pretende generalizar os resultados, o tamanho da amostra, o método de seleção, os critérios de elegibilidade (inclusão e exclusão), as variáveis analisadas, os instrumentos de medida, os métodos de análise estatística, etc. Devem ser referidos com exatidão os equipamentos (modelos, fabricantes) e materiais (referências, fabricantes) usados, assim como a metodologia empregue. Nos trabalhos laboratoriais, é importante a descrição exata dos reagentes e técnicas usadas (26). Os procedimentos devem ser organizados de uma forma coerente, explicando em que consistem. Caso já tenham sido descritos por outros, pode optar-se por uma descrição sumária, referenciando o trabalho em que tal foi feito; se nunca foram descritos, a sua descrição deve ser feita com mais detalhe. Finalmente, deve ser especificado o cumprimento das boas práticas e dos requisitos éticos, nomeadamente quanto à aprovação pela Comissão de Ética e à obtenção de consentimento informado dos participantes ou dos seus representantes legais, aspetos estes particularmente relevantes nos estudos interventivos, e naqueles que impliquem riscos potenciais para os participantes. 8. RESULTADOS A secção Resultados deve longa o bastante para mostrar as evidências do estudo mas sucinta o suficiente para não se tornar repetitiva e tediosa para o leitor (27-29). 118 educação científica scientific education Os resultados devem ser apresentados de acordo com uma sequência lógica e da forma que for mais informativa (texto e ilustrações). Os comentários aos resultados obtidos e a sua comparação com resultados de outros estudos devem ser guardados para a Discussão. 8.1 Tratamento estatístico dos dados O tratamento estatístico dos dados deve ser adequado ao desenho do estudo, ao tamanho da amostra, ao tipo de variáveis e à sua distribuição (30, 31). As medidas de tendência central (ex. média, mediana, etc.) e de dispersão (ex. desvio-padrão; mínimo – máximo, percentis, etc.) são úteis para sumarizar os dados. A escolha inadequada dos testes estatísticos, como a aplicação de testes paramétricos a variáveis cuja distribuição não é Normal (isto é, não é uma distribuição gaussiana) é um erro frequente (32) . Por outro lado, critérios de decisão inadequados para os níveis de significância estatística (pela natureza da sua recolha ou pela dimensão da amostra) ou a sua aplicação sem sentido crítico, podem levar a interpretações erradas, induzindo os investigadores e os leitores em erro (33). Um dos erros mais frequentes é a utilização de medidas de sumário e de dispersão inadequadas (por exemplo, média e desvio padrão para variáveis que não têm uma distribuição Normal), mas são conhecidos muitos erros recorrentes no tratamento estatístico dos dados (34, 35). 8.2 Seleção das ilustrações (tabelas e figuras) O uso de tabelas e figuras (incluindo nestas últimas quadros, gráficos, imagens, diagramas, fotografias, etc.) para ilustrar um texto científico têm fundamentalmente duas funções: economizar espaço, pois estes elementos sintetizam informações e evitam longas descrições no texto; e apresentar os dados de uma forma didática, facilitando a leitura e a compreensão. Antes de conceber as figuras e tabelas, deve ser confirmado se a Revista impõe um número máximo e se a publicação de figuras com cores tem custos acrescidos, já que estes aspetos podem ser determinantes. A seleção das ilustrações deve ser criteriosa e adequada para ilustrar claramente os resultados (36-38) e a sua preparação deve ser cuidadosa, sejam elas gráficos (39), tabelas (40), fotografias, imagens ou diagramas (41). Resultados que podem ser facilmente apresentados no texto com uma ou duas frases não devem ser apresentados na forma de tabelas ou gráficos. Se os dados mostram uma tendência, criando uma figura interessante, devem ser preferencialmente usados gráficos. As tabelas são preferíveis para apresentar números exatos, devem ser incluídas quando se deseja apresentar um número pequeno de dados e não para listar os dados são já foram usados para construir gráficos (neste caso, há que optar). Os dados apresentados nas tabelas não devem ser repetidos de forma detalhada no texto e vice-versa. Além disso, as legendas de figuras e tabelas podem fornecer detalhes importantes para a compreensão das mesmas. Se o trabalho apresentar um processo complicado, cheio de fases, entradas e saídas, é preferível sistematizá-lo na forma de um fluxograma (retângulos com nomes de processos, setas indicando o fluxo da informação, etc.), ao invés de o descrever detalhadamente no texto. As figuras e as NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 tabelas devem sempre ter legendas, dizendo exatamente o que representam, de forma que sejam auto-explicativas. Geralmente, as figuras requerem uma explicação mais pormenorizada no texto, enquanto as tabelas devem ser auto-suficientes. Uma falha comum é o uso de tabelas e figuras que, em vez de fornecerem informações complementares às que constam no texto, repetem essa informação; outros erros frequentes são as legendas inadequadas e as tabelas com demasiados dados, de difícil leitura. No final, deve haver o cuidado de verificar se a numeração atribuída às figuras e tabelas no texto é concordante com a numeração usada nas respetivas figuras e tabelas. Em geral, na versão do artigo que é submetida para publicação, as ilustrações são apresentadas no final do documento, a seguir às Referências, por esta ordem: Tabelas (1 por página), Legendas das figuras (1 página com todas as legendas) e Figuras (1 por página). Para mais detalhes relativamente às ilustrações, sugere-se a consulta das secções correspondentes às Tabelas e Figuras neste artigo. 9. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES A discussão e as conclusões podem fazer parte da mesma secção ou integrar secções separadas, dependendo das normas da revista (42, 43). 9.1 Discussão Na Discussão não deve ser repetida a descrição individual dos resultados mas antes: a) os resultados devem ser apresentados de uma forma global, salientando os mais relevantes; b) deve ser evidenciada a forma como eles se relacionam entre si e com os de outros estudos publicados; c) devem ser referidos os aspetos incertos ou que carecem de investigação adicional; d) devem ser discutidas as implicações teóricas e as possíveis aplicações práticas; e) deve ser reforçada a originalidade e a relevância dos resultados apresentados e do trabalho como um todo. Muitos autores limitam a Discussão à “discussão dos resultados”. No entanto, esta secção pode ser usada para abordar outros aspetos, nomeadamente para apresentar e discutir as limitações do próprio estudo (44). 9.2 Conclusões As Conclusões são extremamente importantes. Aqui devem ser referidos, de forma sucinta (um parágrafo ou uma frase para cada item, dependendo do espaço disponível), os principais resultados e as principais contribuições e devem ser feitos os comentários mais relevantes. Podem também ser referidos os planos de trabalhos futuros relacionados com o problema, de forma a esclarecer as questões que ficaram em aberto. 10. CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES E AGRADECIMENTOS 10.1 Contribuição dos autores Cada vez é mais frequente que as revistas exijam que os autores explicitem as suas contribuições individuais para o trabalho. Isto é geralmente é feito referindo cada um dos autores pela primeira letra do nome e do apelido e descrevendo de forma sumária as suas contribuições (ex. “ML, analisou e interpretou os dados e redigiu o artigo; ML, analysed and interpreted data and wrote the manuscript”). A este respeito relembra-se que nem todas as contribuições conferem direito de autoria (a contribuição intelectual é indispensável), e sugere-se a leitura das recomendações do Comité Internacional de Editores de Revistas Médicas (International Committee of Medical Journal Editors, ICMJE) (14). 10.2 Agradecimentos A secção de Agradecimentos deve mencionar as contribuições relevantes que não conferem direitos de autoria (45). Nesta secção, os autores devem agradecer às pessoas e instituições que de alguma forma contribuíram para o estudo, nomeadamente com suporte logístico e/ou financeiro. Devem também citar qualquer material com direitos de autoria (“copyrights”) e a autorização dos autores para a sua utilização. 11. DECLARAÇÕES 11.1 Conflitos de interesses Muitas revistas exigem que os autores declarem a inexistência de conflitos de interesses ou que, caso existam, as explicitem. A forma mais óbvia e mais conhecida de conflito de interesses é a de natureza financeira, que pode ter origem nas relações entre autores e entidades comerciais financiadoras dos estudos de investigação (por exemplo, indústria farmacêutica). No entanto, os conflitos de interesses podem ser da mais diversa natureza (pessoal, profissional, comercial, política, científica, académica, etc.) e nem sempre são fáceis de identificar (46). 12. REFERÊNCIAS 12.1 Seleção das referências e níveis de evidência A revisão da literatura subjacente à redação de um artigo científico deve ser criteriosa, competindo aos autores selecionar os artigos que fornecem o melhor nível de evidência para as questões abordadas (47), recorrendo à pesquisa em bases de dados bibliográficos e lendo cuidadosamente os artigos selecionados (31, 48). Os estudos podem ser classificados de diferentes formas, segundo o seu desenho (Quadro 7). No que respeita aos artigos médicos, o nível de evidência fornecido pelos estudos clínicos é superior ao fornecido pelos estudos realizados em animais de laboratório ou pelos estudos in vitro e, de entre os estudos de natureza clínica, os experimentais fornecem um maior nível de evidência do que os observacionais (Figura 3). No que respeita aos estudos experimentais, o maior nível de evidência é fornecido pelos estudos aleatorizados. Os estudos observacionais, apresentam um nível de evidência superior os estudos de coortes e de tipo caso-controlo, cabendo o menor nível de evidência aos relatos de series de casos e de casos isolados. 12.2 Citação e referenciação As citações são trechos transcritos ou informações retiradas dos artigos consultados, com a finalidade de fundamentar, comentar ou ilustrar as ideias expostas no artigo em causa (49). Existem vários tipos de citações – transcrição, paráfrase, citação mista – que obedecem a critérios próprios (Quadro 8). educação científica scientific education 119 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 As citações devem ser acompanhadas de referências que permitam ao leitor comprovar os fatos citados ou ampliar seu conhecimento sobre o assunto, dando-lhe a possibilidade de consultar as fontes. A fidelidade para com as fontes citadas é uma condição básica em todos os trabalhos científicos. Devem ser preferencialmente citadas as fontes primárias (trabalho original), reservando a citações de fontes secundárias a casos específicos (ex. citação de um bom artigo de revisão sobre o tema ou impossibilidade de acesso à fonte primária). Todas as obras citadas devem constar na lista de referências bibliográficas e vice-versa. Deve ser evitada a cópia literal de textos de outros artigos (ao citar outros trabalhos, devem ser resumidas as ideias principais). Por outro lado, não devem ser usadas referências excessivas e desnecessárias. 12.3 Opções de estilo As opções de estilo Harvard e Vancouver são as mais usadas, mas existem outras, como as recomendadas pela Associações Americanas de Medicina (American Medical Association, AMA) e de Psicologia (American Psychological Association, APA) (Quadro 9). 12.3.1 Estilo Vancouver O estilo Vancouver é o mais usado em revistas das áreas das ciências médicas e biomédicas e as respetivas normas podem ser consultadas no guia Citing Medicine, da National Library of Medicine, disponível na PubMed para download gratuito (50). De acordo com este, as referências devem ser numeradas seguindo a ordem de aparecimento no texto e citadas no texto com a respetiva numeração. São informações obrigatórias: os autores, o título do artigo (ou do capítulo de livro), o nome da revista (ou nome e editora do livro), o volume e o número, as páginas e o ano de publicação. A ordem destes elementos varia de revista para revista. 12.3.1 Estilo Harvard O estilo Harvard é a designação genérica para os estilos em que as referências são citadas no texto usando o sobrenome dos autores e a data de publicação do artigo – ex. (Smith, 1999) – e em que a lista de referências é ordenada por ordem alfabética do sobrenome dos autores (51). Este é o estilo mais comum em trabalhos académicos, como por exemplo dissertações de mestrado e teses de doutoramento. 12.4 Lista de referências A secção das Referências deve ser cuidadosamente organizada: estas devem ser corretas, completas, específicas e normalizadas, mantendo o estilo exigido pela revista; todas as obras que constam na lista de referências devem ser citadas no texto, e vice-versa; devem ser incluídas as referências mais recentes para ilustrar que o tópico é atual e do interesse da comunidade científica; devem ser evitadas as fontes secundárias para citar os artigos originais, isto é, devem ser, sempre que possível, citados os trabalhos originais (52). Na maioria das revistas, as referências são ordenadas por ordem de citação no texto (estilo Vancouver), mas o formato é variável de revista para revista. Muitas revistas aceitam que os 120 educação científica scientific education autores incluam referências de documentos eletrónicos, nomeadamente referências HTML de publicações on-line. Os artigos indexados na MedLine apresentam um número identificador único da PubMed – PubMed ID (PMID) – que pode ser mencionado no final da respetiva referência (53). O mesmo se aplica ao DOI (Digital Object Identifier), um número identificador único para os documentos eletrónicos (54). 12.5 Dados que devem constar nas referências bibliográficas Independentemente da opção de estilo e dos requisitos de formatação impostos pelas revistas, existem alguns dados que devem constar nas referências bibliográficas. O teor dos dados exigidos é variável conforme o tipo de documento (ex. artigo científico, livro, capítulo de livro, documento eletrónico, etc.). Tratando-se, nomeadamente, de um artigo científico, é obrigatório identificar o nome e o apelido dos autores, o título do artigo, o nome da revista, o volume, as páginas e o ano de publicação e, preferencialmente, também o DOI e, caso o artigo esteja indexado na MedLine, o PMID. Se o documento é um livro, devem ser indicados o nome dos autores, o título do livro, a edição, o local de publicação, o editor, o ano de publicação e, preferencialmente, também o ISBN. E quando se trata de um documento eletrónico é necessário identificar, para além dos restantes dados identificadores do documento, o endereço eletrónico onde esse documento está disponível e a data em que foi consultado. Alguns aspetos diferem conforme as revistas, por exemplo, identificar todos os autores ou apenas os três primeiros, exigir ou não o DOI e/ou o PMID sempre que estes estejam disponíveis, ordem pela qual devem ser indicados o ano de publicação, o volume da revista e as páginas, etc. 12.6 Aplicações informáticas para gestão bibliográfica Existem várias aplicações informáticas para gestão bibliográfica, entre as quais se salientam o EndNote (uma das aplicações mais usadas), o Reference manager, o Papirus, o Procyte, o Biblioscape e o Zotero, estando esta última disponível para download gratuito (http://www.zotero.org/ ). Estas aplicações permitem, entre outros, importar as referências diretamente de bases bibliográficas eletrónicas, inseri-las no texto e construir a respetiva lista, com a formatação adequada às normas da revista em que se pretende publicar o artigo. 13. ILUSTRAÇÕES 13.1 Tabelas Na versão do artigo que é submetida para publicação, as tabelas (uma por folha), são geralmente apresentadas a seguir às Referências (38, 40). As tabelas devem ser auto-explicativas, isto é, as suas legendas e os títulos das colunas devem permitir ao leitor compreender o seu conteúdo sem necessitar de recorrer ao texto. 13.2 Legendas das figuras Em geral, depois das tabelas e antes das figuras, é apresentada uma folha com as legendas destas últimas. NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 13.3 Figuras Na versão do artigo que é submetida para publicação, as figuras – gráficos, imagens, fotografias, etc. – uma por folha, são geralmente apresentadas a seguir à folha das legendas das figuras (39, 41). Quando a submissão é feita por via eletrónica, muitas revistas exigem o envio das figuras em ficheiros separados (ver secção Submissão de um artigo para publicação). 14. APÊNDICES E ANEXOS Algumas revistas admitem a inclusão de apêndices (elaborados pelos próprios autores) e anexos (da autoria de outros) para fornecer informação complementar, com vista a esclarecer, fundamentar, comprovar ou exemplificar a informação que consta no próprio artigo. Em geral são incluídos como apêndices ou anexos materiais que não podem ser impressos ou que, podendo ser impressos, não devem ser incorporados no corpo do artigo (ex. lista extensa de instituições ou colaboradores de um estudo multicêntrico; questionário ou guião de entrevista; formulário de recolha de dados; sequências genéticas; software; vídeos; tabelas ou figuras; etc.). Alguns documentos frequentemente enviados na forma de apêndices ou anexos são os formulários e os inquéritos ou os protocolos usados ou validados no estudo. 15. GLOSSÁRIOS E LISTAS DE ABREVIATURAS Um glossário é uma lista, em ordem alfabética, de palavras pouco conhecidas ou estrangeiras, de termos ou expressões técnicas com seus respetivos significados. Deve ser incluído caso as normas de publicação da revista assim o determinem. O mesmo se aplica à lista de abreviaturas (siglas e acrónimos) usadas no texto. DESIGN, WRITING AND PUBLICATION OF SCIENTIFIC MANUSCRIPTS: MANUSCRIPT WRITING: STRUCTURE AND CONTENT ABSTRACT In this second manuscript, from four that comprise the heading “DESIGN, WRITING AND PUBLISHING OF CIENTIFIC MANUSCRIPTS”, as part of the “SCIENTIFIC EDUCATION” section of the journal “NASCER E CRESCER”, we dwelt on the most relevant aspects of the structure and content of a scientific paper to submit the publication. Key-words: Scientific education; writing of scientific manuscripts. Nascer e Crescer 2013; 22(2): 115-128 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Boyd JC, Rifai N, Annesley TM. 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Show your cards: the results section and the poker game. Clin. Chem. 2010;56:1066–70. 29. Derish PA, Annesley TM. If an IRDAM journal is what you choose, then sequential results are what you use. Clin. Chem. 2010;56:1226–8. 30. Ng KH, Peh WCG. Presenting the statistical results. Singapore Med. J. 2009;50:11–4. 31. Mansfield L. The reading, writing, and arithmetic of the medical literature, part 2: critical evaluation of statistical reporting. Ann. Allergy Asthma Immunol. Off. Publ. Am. Coll. Allergy Asthma Immunol. 2005;95:315–321; quiz 322, 380. 32. Niven DJ, Berthiaume LR, Fick GH, Laupland KB. Matched case-control studies: a review of reported statistical methodology. Clin. Epidemiol. 2012;4:99–110. 33. Chung KC, Kalliainen LK, Spilson SV, Walters MR, Kim HM. The prevalence of negative studies with inadequate statistical power: an analysis of the plastic surgery literature. Plast. Reconstr. Surg. 2002;109:1–8. 34. Lang T. 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Citing Medicine: The NLM Style Guide for Authors, Editors, and Publishers [Internet]. 2nd edition. Bethesda (MD): National Library of Medicine (US); 2007; [consultado em 4 Julho 2012]. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK7256/?depth=2 51. No authors listed. Harvard School Cytation Guide [Internet]. 2012; [consultado em 4 Julho 2012]. Disponível em: http:// www.library.hbs.edu/guides/citationguide.pdf 52. Peh WCG, Ng KH. Preparing the references. Singapore Med. J. 2009;50:659–661; quiz 662. 53. No authors listed. PubMed Help [Internet] [Internet]. Bethesda (MD): National Center for Biotechnology Information (US); 2005; [consultado em 4 Julho 2012]. Disponível em: http:// www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK3827/ 54. No authors listed. Digital Object Identifier (DOI) [Internet]; [consultado em 4 Julho 2012]. Disponível em: http://www.doi. org/ ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Prof. Doutora Margarida Lima Hospital de Santo António, Centro Hospitalar do Porto Largo Professor Abel Salazar, 1 4099-001 PORTO - Portugal Telefone: + 351 22 2077500 [email protected] [email protected] Recebido a 18.05.2013 | Aceite a 22.05.2013 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 Quadro 1 – Estrutura básica de um artigo científico original e principais conteúdos Folha de rosto Pré-texto a. Título (e título abreviado, se for o caso) b. Autores (nome, graduações académicas, afiliações, e-mail) c. Autor correspondente (contatos) Resumo / Abstract e Palavras-chave / Key-words 1. Introdução d. Significado e importância da investigação e. Background baseado na revisão da literatura f. Hipóteses de trabalho e objetivos do estudo 2. Material e Métodos g. Local e datas de realização h. Participantes (população, amostra, critérios de elegibilidade, etc.) i. Desenho do estudo j. Variáveis k. Procedimentos e instrumentos de recolha de dados l. Testes estatísticos Corpo do artigo 3. Resultados m. Descrição dos resultados n. Ilustração dos resultados com gráficos, tabelas, etc. o. Análise estatística 4. Discussão p. Interpretação dos resultados q. Comparação com os resultados obtidos noutros estudos r. Atingimento ou não dos objetivos propostos s. Implicações clínicas ou outras t. Caráter inovador e limitações u. Perspetivas futuras Contribuição dos autores Agradecimentos Declaração de conflito de interesses Pós-texto Referências bibliográficas Tabelas (individualmente) Legendas das figuras Figuras (individualmente) educação científica scientific education 123 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 Quadro 2 – Classificação dos títulos de artigos científicos com base na informação fornecida e na estrutura Modo de classificação Tipos dos títulos Classificação com base na informação Classificação com base na estrutura Caraterísticas Exemplos Descritivos Descrevem o âmbito do artigo, os objetivos do estudo e/ou a metodologia usada Estudo retrospetivo da influência do tratamento precoce na morbilidade e mortalidade associadas à Anemia de Fanconi. Informativos Informam sobre os resultados O tratamento precoce da Anemia de Fanconi reduz a As bombas infusoras de insulina permitem um e/ou sobre as conclusões morbilidade e a mortalidade associadas à doença controlo mais eficaz da Diabetes tipo 1 Nominais Redigidos na forma de frases Diagnóstico e tratamento precoces, morbilidade e incompletas (sem verbos) mortalidade da Anemia de Fanconi Bombas infusoras de insulina no tratamento da Diabetes tipo 1 Compostos Diagnóstico e tratamento precoces da Anemia Redigidos na forma de frases de Fanconi: relação com a morbilidade e com a compostas mortalidade Diabetes tipo 1: vantagens e desvantagens das bombas infusoras de insulina Completos O diagnóstico e o tratamento precoces da Anemia Redigidos na forma de frases (full-length, de Fanconi reduzem a morbilidade e com a completas full sentence) mortalidade associadas à doença Interrogativos Redigidos na forma de questões. O diagnóstico e o tratamento precoces de Anemia de Fanconi reduzem a morbilidade e a mortalidade? Estudo retrospetivo da eficácia das bombas infusoras de insulina no tratamento da Diabetes tipo 1 Vantagens e desvantagens da utilização das bombas infusoras de insulina no tratamento da Diabetes Mellitus tipo 1 Quais as vantagens e as desvantagens da utilização das bombas infusoras de insulina para o tratamento da Diabetes Mellitus tipo 1? Fontes: (11) (12) O título deve ser informativo acerca do conteúdo do artigo, cientificamente correto, incisivo, atrativo para o leitor e curto. Quadro 3 – Classificação dos títulos com base na forma de informar sobre o conteúdo Tipos Exemplos Anunciar o assunto em geral Métodos de administração da insulina na Diabetes Particularizar um assunto específico, após um título geral Tratamento da Diabetes: vantagens e desvantagens dos métodos de administração da insulina Dar ênfase à questão abordada Existe benefício na utilização de bombas infusoras de insulina para o tratamento da Diabetes? Revelar a resposta para a questão abordada Vantagens da utilização de bombas infusoras de insulina no tratamento da Diabetes Dar ênfase à metodologia usada na investigação Estudo comparativo dos métodos de administração da insulina: revisão sistemática com meta-análise. Sugerir comparações Vantagens e desvantagens dos métodos de administração da insulina Referem-se apenas alguns dos 12 tipos de artigos propostos por Hartley J, 2007 (13) Quadro 5 – Caraterísticas de um bom resumo Quadro 4 – Critérios de autoria (ICME) 1. Contribuições substanciais para a conceção e desenho, aquisição de dados, ou análise e interpretação dos dados. 2. Redação do artigo ou revisão crítica relevante do conteúdo intelectual. 3. Aprovação final da versão a ser publicada. Os autores devem atender simultaneamente às condições 1, 2 e 3. Abreviaturas: ICME, International Committee of Medical Journal Editors 124 educação científica scientific education • • • • • • • • • • Breve. Conciso. Factual. Preciso. Claro. Com sequência lógica de ideias. Estruturado. Auto-explicativo. De fácil leitura. Capaz de despertador o interesse do leitor. NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 Quadro 6 – Organização e conteúdo de um resumo estruturado Secção Introdução / Fundamentação / Motivações Introduction / Background / Motivations Objectivos / Metas Pergunta subjacente Conteúdo O que justificou o estudo? Resume em uma frase o conhecimento atual sobre o assunto e os problemas que justificaram o estudo. O que se pretendeu fazer? Explica quais foram os objetivos e as metas a atingir. Objectives / Aims Material e Métodos Material and Methods Resultados Results Conclusões Conclusions O que se fez e como fez? Descreve de forma sumária o desenho do estudo e os materiais e métodos usados. O que se encontrou? Descreve os resultados mais importantes e informa sobre o significado estatístico dos mesmos. Qual o significado e quais as implicações? Tira as principais conclusões suportáveis pelos resultados do estudo. Quadro 7 – Classificação dos estudos primários e secundários segundo o seu desenho Estudos secundários Experimentais Revisão narrativa Estudos que reúnem e que sintetizam os resultados de dois ou mais estudos primários de investigação sobre um tema específico, sem pré-definição da metodologia usada. Revisão sistemática Estudos de revisão que reúnem, de forma sistematizada e segundo uma metodologia pré-definida, os resultados de estudos primários de investigação sobre uma determinada questão e auxiliam na explicação de diferenças encontradas. Revisão sistemática com meta-análise Revisões sistemáticas com aplicação de métodos estatísticos que integram os resultados de dois ou mais estudos primários de investigação. Estudos clínicos aleatorizados e controlados (ou ensaios clínicos aleatorizados e controlados) Estudos interventivos em que os participantes são distribuídos de forma aleatória por um grupo experimental (grupo teste) e por um grupo de controlo, sendo o primeiro submetido à intervenção que se quer testar (por ex. um novo medicamento). Estudos clínicos controlados, não Quasi-experimentais aleatorizados (ou Ensaios clínicos controlados não aleatorizados) Estudo de acurácia diagnóstica Estudos primários Estudo de coortes (estudos longitudinais prospetivos) Aplicação: avaliação da eficácia de tratamentos. Estudos quasi interventivos, em que os participantes são distribuídos de forma não aleatória por um grupo experimental (grupo teste) e por um grupo de controlo, sendo o primeiro submetido à intervenção que se quer testar (por ex., um novo medicamento). Aplicação: avaliação da eficácia de tratamentos. Estudos que avaliam o desempenho de um exame complementar para diagnóstico de uma doença. Aplicação: avaliação da eficácia de meios de diagnóstico. Estudos geralmente de caráter longitudinal e prospetivo, que comparam a experiência ao longo do tempo de um grupo exposto e outro não exposto a determinados fatores, avaliando os desfechos (ex. doença); permitem analisar associações entre ambos. Aplicação: avaliação do prognóstico. Observacionais Estudos geralmente de caráter longitudinal e retrospetivo, que avaliam um grupo com e Estudos de casos-controlos outro sem determinada doença, e analisam a exposição prévia a determinados fatores. Aplicação: estudo de doenças raras. Relatos de séries de casos Relatos de casos Estudos descritivos, geralmente retrospetivos, que avaliam de uma forma detalhada uma série de casos semelhantes (ex. grupo de doentes com o mesmo diagnóstico ou submetidos ao mesmo tratamento). Estudos descritivos, geralmente retrospetivos, que descrevem de forma geral detalhados um único caso ou um número muito restrito de casos que têm aspetos comuns. Aplicação: descrição de uma doença rara ou de uma manifestação rara de uma doença. educação científica scientific education 125 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 Quadro 8 – Estilos de referenciação bibliográfica Citação no texto Estilo Vancouver Estilo Harvard Numeração sequencial, por ordem de citação no texto: A úlcera péptica pode ser facilmente suspeitada pelos sinais e sintomas associados (1). O tratamento médico é preferível ao tratamento cirúrgico na maioria dos casos (2). Citação do sobrenome do autor e ano de publicação: A úlcera péptica pode ser facilmente suspeitada pelos sinais e sintomas associados (Kaplan, 1982). O tratamento médico é preferível ao tratamento cirúrgico na maioria dos casos (Cassel, 1952). Ordenação alfabética dos sobrenomes dos autores Ordenação numérica, por número de citação no texto. 1. Kaplan H. Peptic ulcer. New York: Medical Examination Publishing Co, Cassel C. The medical management of peptic ulcer. The American Lista de referências Inc; 1982. Journal of Nursing. 1952; 52(7): 852-855. 2.Cassel C. The medical management of peptic ulcer. The American Kaplan H. Peptic ulcer. New York: Medical Examination Publishing Co, Inc; 1982. Journal of Nursing. 1952; 52(7): 852-855. Quadro 9 – Tipos de citações e suas caraterísticas Tipo Caraterísticas Citação textual ou Transcrição do texto tal como consta na fonte primária (estudo original). transcrição Procedimento O texto transcrito deve ser colocado entre aspas duplas, obedecendo a pontuação original, indicando a respetiva referência. Citação livre ou paráfrase Forma livre, de apresentar ideias e/ou informações de outros autores, descrevendo-as de forma fiel mas por palavras diferentes das que constam na fonte primária (estudo original). O texto parafraseado deve ser sucedido da respetiva referência. Citação mista Mistura de paráfrases e de transcrições. Deve transcreve-se, entre aspas, os termos ou expressões do autor original, completando a frase as próprias palavras e obedecendo às regras acima mencionadas. Transcrição ou a paráfrase de um texto citado por outro (fonte Citação de citação secundária), quando não foi possível consultar a fonte primária (estudo original). Figura 1 – Diagrama ilustrativo da relação entre as secções que integram um artigo científico e da respetiva sequência de redação (coluna da esquerda) e de apresentação no artigo impresso (coluna da direita). 126 educação científica scientific education Deve referir-se, entre parênteses, o autor do documento original, sucedido da expressão latina apud (citado por) e do autor da obra consultada. NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 Figura 2 – Representação esquemática exemplificativa do processo de seleção das palavras-chave por níveis. Exemplo A) Seleção das palavras-chave para um artigo original em que foram estudados diferentes tipos de recetores (KIR, killer immunoglobulin like receptors e KLR, killer lectin type receptors) das células natural killer (NK), por métodos imunogenéticos e imunofenotípicos e em que, relativamente a estes últimos, se comparam os resultados obtidos por citometria e por técnicas imunohistoquímicas. Exemplo B) Seleção das palavras-chave para um artigo de revisão em que foram abordadas as diferentes células do sistema imune, focando a atenção nos linfócitos e com mais detalhe, nas células NK, e caracterizando os seus subtipos e as suas funções. educação científica scientific education 127 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 Figura 3 – Representação esquemática dos níveis de evidência (pirâmide de níveis de evidência). 128 educação científica scientific education NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 Errata do artigo “Caso estomatológico” (Nascer e Crescer 2013; 22(1):46-7) José M. S. Amorim1 Adolescente do sexo masculino, 17 anos de idade que frequenta a consulta de Pediatria deste Centro Hospitalar devido a ter procurado uma segunda opinião sobre tumefação maxilar esquerda com meses de evolução, que tem vindo a aumentar de tamanho, acompanhada de dor ocasional. Tinha-lhe sido proposto a extração de todos os dentes do 2º quadrante (maxila esquerda) e reabilitação oral, posterior, com recurso a implantes orais osteo-integrados. Antecedentes pessoais irrelevantes. Ao exame objetivo apresenta: - tumefação maxilar localizada entre o incisivo lateral esquerdo (2.2) e o canino homolateral (2.3), não dolorosa ao toque (Figura 1); Figura 1 - testes de sensibilidade dentária, positivos; - sem mobilidade anormal; - sem cáries. Fez Ortopantomografia: imagem radio lucente, em forma de pêra invertida, que promove o afastamento radicular de 22 e de 23 e que estende para o seio maxilar. Sem reabsorção radicular (Figura 2). Face ao descrito: Qual o seu diagnóstico? Qual a sua atitude? Figura 2 O caso clínico descrito trata de uma situação que não tem relação direta com qualquer patologia dentária. O caso descrito insere-se na categoria dos quistos de desenvolvimento maxilar, não odontogénicos, e dentro destes pelo aspeto radiográfico trata-se de um quisto globo maxilar. Em relação à etiologia destes quistos não odontogénicos existem muitas hipóteses mas a mais aceite é a que explica a sua génese nos restos epiteliais de Malassez. No caso descrito o quisto encontra-se dentro do osso, localizando-se tipicamente entre o incisivo lateral e o canino maxilar, e radiologicamente tem o formato de uma pêra invertida. A evolução destes quistos processa-se sem destruição de tecido dentário. O tratamento dos quistos é sempre cirúrgico e existem três modalidades: - marsupialização - descompressão - enucleação ABSTRACT A teenage boy was referred to the consultation due to slow progressive swelling of the left jaw, sometimes accompanied by toothache. Examination showed an area of swelling located between maxillary lateral incisor and canine, no painful to touch, without caries on teeth. Sensitivity test were positive. Panoramic radiography revealed radiolucent image, inverted pear shaped and located between the lateral incisor and canine. The treatment was enucleation cystic without complications. Keywords: globulomaxillary cyst, developmental cysts, inverted pear-shaped radiolucency, oral pathology. No presente caso clínico foi efetuada a enucleação quística, com curetagem da loca e preenchimento da mesma com “Surgicell” e sutura da incisão cirúrgica. Pós-operatório imediato sem complicações. O prognóstico é bom e prevê-se a cicatrização da loca sem complicações dentárias. BIBLIOGRAFIA Nascer e Crescer 2013; 22(2): 129 1. Cawson RA, Odell EW. Cawson’s Essentials of Oral Pathology and Oral Medicine. Edinburgh: Churchill Livingstone, 2000:117. __________ 1 U. Estomatologia Pediátrica, CH Porto caso estomatológico oral pathology case 129 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 Remédio sem receita Margarida Guedes1 As vidas que se desenrolam e evoluem são a constante em Pediatria, mas nem sempre se fica como espectador … Um adolescente de 14 anos, manifestamente desejoso de mostrar a perda de tempo que considerava este tipo de consultas, entrou pelo gabinete. Enviado do médico assistente por doença aftosa recorrente para exclusão de doença de Behçet, estava acompanhado por tia adotiva. Adotado ao nascimento, natural de uma aldeia dos confins (“ vale das formigas”), e já sem mãe adotiva desde a idade escolar, apenas mostrou algum interesse quando perguntou se no processo hospitalar havia referência aos pais biológicos, voltando ao mutismo anterior. Os procedimentos iniciaram-se, com a investigação habitual e ensaios terapêuticos, que nem sempre resultaram, vindo a necessitar de colchicina. A vida escolar também teve um percurso atribulado, sendo orientado para um curso técnico-profissional após o 9º ano. Foi visível a alteração de comportamento, que com a perseverança da tia se concluiu dever ao início da sua dependência por haxixe, iniciada na escola de pastelaria. Aceitou o apoio do centro de desintoxicação, mas não moderou muito nos seus hábitos, sendo remetido para uma comunidade de inserção terapêutica após segundo distúrbio policial, com nova tentativa num curso de agricultura. Entretanto uma antiga administrativa vem fazer uma visita e falar da sua boa vida de reformada em “Vale das Formigas”. Perante aquele nome tão pouco vulgar, palavra-puxa- palavra e qual espanto. Conhecia muito bem esta história, mas não de adoção pois todos lá julgavam que tinha morrido à nascença, como a mãe os informara. Ela, entretanto, emigrara há longos anos, mas os tios e avós continuavam na aldeia. Como tinha feito 18 anos nesse ano, apenas foi necessário uma conversa profunda com a tia adotiva, que sem pestanejar, disse que iria conhecer os referidos familiares – ele sempre se sentiu sem raízes no mundo, por isso não se pode perder mais um minuto, foi a resposta dela a todas as cautelas transmitidas. Soubemos que fizeram uma festa para o receber, e que a sua cara era tal e qual a dos primos… O avô deu-lhe um recado: no fim do curso de agricultura, uma terra esperava lá por ele. Voltou para a última consulta antes da transição para “os adultos”, sem desprezo no olhar ou agressividade no contacto… e sem aftas há pelo menos seis meses… __________ 1 130 pequenas histórias short stories S. Pediatria, CH Porto, 4099-001 Porto Portugal NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 INSTRUÇÕES AOS AUTORES A Revista NASCER E CRESCER dirige-se a todos os profissionais de saúde com interesse na área da Saúde Materno Fetal e Neonatal e publica artigos científicos relacionados com a Pediatria, Pediatria Baseada na Evidência, Saúde Mental da Infância e Adolescência, Bioética e Gestão Hospitalar. Poderão ser publicados artigos provenientes de todos os países de língua oficial portuguesa, bem como de outros países se redigidos em português, espanhol, inglês ou francês. Os Editoriais, os artigos de Homenagem e artigos de âmbito cultural são publicados a pedido da Direcção da Revista. A revista publica artigos originais de investigação, artigos de revisão, casos clínicos e artigos de opinião. Os artigos propostos não podem ter sido objecto de qualquer outro tipo de publicação. As opiniões expressas são da inteira responsabilidade dos autores. Os artigos publicados ficarão de inteira propriedade da Revista e não poderão ser reproduzidos, no todo ou em parte, sem prévia autorização dos editores. MANUSCRITO Os trabalhos devem ser endereçados ao Diretor da revista para o seguinte endereço eletrónico [email protected] como documento anexo em qualquer versão actual de Microsoft Word, acompanhados da declaração de autoria. Os artigos estão sujeitos a um processo de revisão e cabe ao Editor a responsabilidade de os: a) aceitar sem modificações, b) aceitar após alterações propostas, ou c) rejeitar, com base no parecer de pelo menos dois revisores que os analisarão de forma anónima. Os pareceres serão sempre comunicados aos autores. CONSENTIMENTO INFORMADO E APROVAÇÃO PELA COMISSÃO DE ÉTICA É da responsabilidade dos autores garantir que são respeitados os princípios éticos e deontológicos, bem como, a legislação e as normas aplicáveis, conforme recomendado na Declaração de Helsínquia. Nos estudos experimentais, é obrigatório que os autores mencionem a existência e aplicação de consentimento informado dos participantes, assim como a aprovação do protocolo pela Comissão de Ética. É obrigatória declaração de conflito de interesses ou financiamento. NORMAS DE PUBLICAÇÃO A Revista Nascer e Crescer subscreve os requisitos para apresentação de manuscritos a revistas biomédicas elaboradas pela Comissão Internacional de Editores de Revistas Médicas (Uniform Requirements for Manuscripts submitted to biomedical journals. http://www.icmje.org. Updated July 2011). O trabalho deve ser apresentado na seguinte ordem: 1 – Título em português e em inglês; 2 – Autores; 3 – Resumo em português e inglês. Palavras-chave e Keywords; 4 – Corpo do artigo; 5 – Referências Bibliográficas; 6 – Figuras; 7 – Quadros; 8 – Legendas; 9 – Agradecimentos e esclarecimentos. As páginas devem ser numeradas segundo a sequência referida atrás. TÍTULOS E AUTORES – O título deve ser o mais conciso e explícito possível, escrito na primeira página, em português e em inglês, não mencionando a identificação da instituição onde decorreu o estudo. – A indicação dos autores deve ser feita pelo nome clínico ou com a(s) inicial(ais) do(s) primeiro(s) nome(s), seguida do apelido e devem constar as afiliações profissionais. – Os contactos de todos os autores devem incluir endereço postal, endereço eletrónico e telefone. RESUMO E PALAVRAS-CHAVE – O resumo deverá ser redigido na língua utilizada no texto e sempre em inglês, devendo evitar-se abreviaturas. – Nos artigos originais deverá compreender no máximo 250 palavras e ser elaborado segundo o seguinte formato: Introdução, Objectivos, Material e Métodos, Resultados e Conclusões. – Nos artigos de revisão deverá compreender no máximo 250 palavras e ser estruturado da seguinte forma: Introdução, Objectivos, Desenvolvimento e Conclusões. – Nos casos clínicos, não deve exceder 150 palavras e deve ser estruturado em Introdução, Caso Clínico e Discussão/Conclusões. – Abaixo do resumo deverá constar uma lista de três a dez palavras-chave, em Português e Inglês, por ordem alfabética, que servirão de base à indexação do artigo. Os termos devem estar em concordância com o Medical Subject Headings (MeSH). TEXTO – O texto poderá ser apresentado em português, inglês, francês ou espanhol. – Os artigos originais de investigação devem ser elaborados com a seguinte organização: Introdução; Material e Métodos; Resultados; Discussão e Conclusões. – Os artigos de revisão devem obedecer à seguinte estrutura: Introdução, Objectivos, Desenvolvimento e Conclusões. – Os casos clínicos devem ser exemplares, devidamente estudados e discutidos e conter uma breve introdução, a descrição do(s) caso(s) e uma discussão sucinta que incluirá uma conclusão sumária. – As abreviaturas utilizadas devem ser objecto de especificação. Quando necessária a sua utilização, devem ser definidas na primeira vez que são mencionadas no texto. Quando usadas mais do que seis, recomenda-se a inclusão de um quadro onde todas serão especificadas. Não se aceitam abreviaturas nos títulos dos trabalhos. – Os parâmetros ou valores medidos devem ser expressos em unidades internacionais (SI units, The SI for the Health Professions, WHO, 1977), utilizando para tal as respectivas abreviaturas adoptadas em Portugal. – Os números de 1 a 10 devem ser escritos por extenso, excepto quando têm decimais ou se usam para unidades de medida. Números superiores a 10 são escritos em algarismos árabes, excepto se no início da frase. – Relativamente aos resultados, a informação não deverá ser referida em duplicado no texto e nos quadros / tabelas, bastando salientar no texto os principais citados na figura. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS – As referências devem ser classificadas e numeradas por ordem de entrada no texto, com algarismos árabes, formatados sobrescritos. – Referências sequenciais devem ser feitas indicando apenas a primeira e a última, unidas por hífen (ex.: 4-7). Serão no máximo 40 para artigos originais, 15 para casos clínicos e 80 para artigos de revisão. – Os autores devem verificar se todas as referências estão conformes aos Uniform Requirements for Manuscript submitted to biomedical journals (www.nlm.nih.gov/bsd/uniform_requirements.html) e se utilizam normas de publicação instructions for authors 131 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 os nomes abreviados das publicações adoptadas pelo Índex Medicus. Os autores devem consultar a página NLM’s Citing Medicine relativamente às recomendações de formato para os vários tipos de referência. Seguem-se alguns exemplos: a) Revista médica: listar os primeiros seis autores, seguidos de et al (em itálico) se ultrapassar 6, título do artigo, nome da revista, ano, volume e páginas. Ex.: Haque KN, Zaidi MH, Haque SK, Bahakim H, el-Hazmi M, el-Swailam M, et al. Intravenous Immunoglobulin for prevention of sepsis in preterm and low birth weight infants. Pediatr Infect Dis 1986; 5: 622-65. b) Capítulo em livro: autor(es), título do capítulo, nome(s) do(s) Editor(es), título do livro, número da edição, cidade e nome da casa editora, ano de publicação, primeira e última páginas do capítulo. Ex.: Phillips SJ, Whisnant JP. Hypertension and stroke. In: Laragh JH, Brenner BM, editors. Hypertension: pathophysiology, diagnosis, and management. 2nd ed. New York: Raven Press; 1995. p. 465-78. c) Livro: autor(es), título do livro, número da edição, cidade e nome da casa editora, ano de publicação e número de página. Ex.: Jenkins PF. Making sense of the chest x-ray: a hands-on guide. 2nd. London: Taylor & Francis; 2013. p. 120. d) Referência electrónica: artigo de revista em formato electrónico. Ex.: Jeha G, Kirkland J. Etiology of hypocalcemia in infants and children. Janeiro, 2010. (Acedido em 8 de Maio de 2013). Disponível em: http://www.uptodate.com. – Todas as abreviaturas ou símbolos necessitam de legenda. – Se a figura ou quadro é cópia de uma publicação ou modificada, deve ser mencionada a sua origem e autorização para a sua utilização quando necessário. – Fotografias ou exames complementares de doentes deverão impedir a sua identificação devendo ser acompanhadas pela autorização para a sua publicação dada pelo doente ou seu responsável legal. – O total de figuras e quadros não deve ultrapassar os oito para os artigos originais e cinco para os casos clínicos. As figuras ou quadros coloridos, ou os que ultrapassam os números atrás referidos, serão publicados a expensas dos autores. FIGURAS E QUADROS – Todas as ilustrações deverão ser apresentadas em formato digital de boa qualidade. – Cada quadro e figura deverá ser numerado sequencialmente, em numeração árabe, por ordem de referência no texto, ser apresentado em página individual e acompanhado de título e legenda explicativa quando necessário. CARTAS AO EDITOR As Cartas ao Editor deverão constituir um comentário a um artigo da revista ou uma breve nota sobre uma importante nova prática clínica. Não devem exceder as 500 palavras e ter um máximo de 5 referências bibliográficas. AGRADECIMENTOS E ESCLARECIMENTOS Os agradecimentos e indicação de conflito de interesses de algum dos autores ou financiamento do estudo devem figurar na última página. MODIFICAÇÕES E REVISÕES No caso do artigo ser aceite mas sujeito a modificações, estas devem ser realizadas pelos autores no prazo de quinze dias. As provas tipográficas serão enviadas aos autores em formato electrónico, contendo a indicação do prazo de revisão em função das necessidades de publicação da Revista. O não respeito do prazo desobriga a aceitação da revisão dos autores, sendo a mesma efectuada exclusivamente pelos serviços da Revista. ESTRUTURA DOS ARTIGOS – NORMAS DE PUBLICAÇÃO Figuras e Quadros Bibliografia Número total máximo Número máximo de referências 5000 . Introdução/Objectivo . Material e Métodos . Resultados . Discussão . Conclusões 8 40 2500 . Introdução (breve) . Caso(s) Clínico(s) . Discussão (com conclusão) 5 15 3 a 10 5000 . Introdução . Métodos . Desenvolvimento . Discussão (com conclusões) 8 80 _ 500 _ _ Resumo Tipo de artigo Número máximo de palavras Texto Estrutura Artigos originais de investigação 250 . Introdução/Objectivo . Material e Métodos . Resultados . Conclusões Casos Clínicos 150 . Introdução . Caso(s) clínico(s) . Discussão/Conclusões Artigos de revisão 250 . Introdução . Objectivos . Desenvolvimento . Conclusões Carta ao Editor _ 132 normas de publicação instructions for authors _ Palavras-chave (Português e Inglês) Número máximo de palavras (excluindo Referências e Ilustrações) 3 a 10 3 a 10 Estrutura 5 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 INSTRUCTIONS FOR AUTHORS The Journal NASCER E CRESCER is addressed to all professionals of health with interest in the area of Maternal, Fetal and Child/Adolescent Health and publishes scientific articles related with Paediatrics, Evidence Based Paediatrics , Mental Health, Bioethics and Health Care Management. The journal accepts manuscripts from all countries of Portuguese language, as well as other countries written in Portuguese, English and Spanish. The Editorials, the articles of Homage and articles of cultural scope are published under request of the Direction of the journal. The Journal publishes original articles, review articles, case reports and opinion articles. The articles submitted must not have been published previously in any form. The opinions therein are the full responsibility of the authors. Published articles will remain the property of the Journal and may not be reproduced, in full or in part, without the prior consent of the editors. MANUSCRIPT Manuscripts for publication should be addressed to the editor of the journal: NASCER E CRESCER, Revista de Pediatria do Centro Hospitalar do Porto to [email protected] Manuscripts should be saved in Word and must be accompanied by the declaration of authorship by all authors. Submitted articles should follow the instructions below, and are subject to an editorial screening process based on the opinion of at least two anonymous reviewers. Articles may be: a) accepted with no modifications, b) accepted with corrections or modifications, c) or rejected. This is based opinion of at least two reviewers who review anonymously. Authors will always be informed of the reasons for rejection and of the comments of the experts. INFORMED CONSENT AND APPROVAL BY THE ETHICS COMMITTEE It is responsibility of the authors to guarantee the respect of the ethical and deontological principles, as well as legislation and norms applicable, as recommended by the Helsinki Declaration. In research studies it is mandatory to have the written consent of the patient and the approval of the Ethics Committee, statement of conflict of interest and financial support. MANUSCRIPT PREPARATION Nascer e Crescer complies with the recommendations of the International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE) (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals. http://www.icmje.org. Updated July 2011). All the components of the paper, including images must be submitted in electronic form. The papers must be presented as following: 1 - Title in Portuguese and English; 2 - Authors; 3 - Abstract in Portuguese and English and keywords; 4 - Text; 5 - References; 6 - Figures; 7 - Tables; 8 - Legends; 9 – Acknowledgements and clarifications. Pages should be numbered according the above sequence. If a second version of the paper is submitted, this should also be sent in electronic format. TITLE AND AUTHORS - The title should be concise and revealing, written on the first page, in Portuguese and English, not mentioning the identification of the institution where the study was held. - The indication of the authors should be made by the clinical name (s) or with initial (s) (s) first (s) name (s), followed by the surname and should include professional affiliations. - At the end of the page must include: organizations, departments or hospital services of the author(s); the name of the Institutions where the study was performed; the contact details of all authors (postal address, electronic address and telephone). ABSTRACT AND KEYWORDS - The abstract should be written in the same language of the text and always in Portuguese and English. Do not use abbreviations. - Original articles should contain no more than 250 words and the abstract should consist of labelled Background, Material and Methods, Results and Conclusions. - Review articles should contain no more than 250 words and must be structured: Introduction, Objectives, Development and Conclusions. - Case Reports should contain no more than 150 words and the abstract should consist of labelled Introduction, Case report and Discussion/ Conclusions. - Each abstract should be followed by the proposed keywords in Portuguese and English in alphabetical order, minimum of three and maximum of ten, as a basis for indexing Article. Use terms from the Medical Subject Headings from Index Medicus (MeSH). TEXT - The text may be written in Portuguese, English, French or Spanish. - The original articles should contain the following sections: Introduction; Material and Methods; Results; Discussion and Conclusions. - The structure of review articles should include: Introduction; Objectives, Development and Conclusions. - The case reports should be unique cases duly studied and discussed. They should contain: a brief Introduction, Case description and a succinct discussion including a summary conclusion. - Any abbreviation used should be spelled out the first time they are used. When used more than six, it is recommended to include a table where all be specified. Abbreviations are not accepted in the titles of papers. - Parameters or values measured should be expressed in international (SI units, The SI for the Health Professions, WHO, 1977), using the corresponding abbreviations adopted in Portugal. - Numbers 1 to 10 should be written in full, except in the case of decimals or units of measurements. Numbers above 10 are written as figures except at the beginning of a sentence. - With regard to the results, the information should not be referred to in duplicate in the text and tables / charts, being enough emphasize the text cited in the main figure. REFERENCES - References should be noted in the text with subscript Arabic numbers, in order from the first citation. - Referências sequenciais devem ser feitas indicando apenas a primeira e a última, unidas por hífen (ex.: 4-7). They should be limited to 40 for original papers, 15 to case reports and 80 to review articles. - The journal complies with the reference style in the Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals (www.nlm.nih.gov/bsd/uniform_requirements.html). Abbreviate journal titles according to the List of Journals Indexed in Index Medicus. Authors should consult NLM’s Citing Medicine for information on its recommended formats for a variety of reference types. Examples: a) Journal: list the first six authors followed by et al to surpass 6, title of the article, name of the journal, year, volume, pages. Ex: Haque KN, Zaidi MH, Haque SK, Bahakim H, el-Hazmi M, el-Swailam M, et al. normas de publicação instructions for authors 133 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 2 Intravenous Immunoglobulin for prevention of sepsis in preterm and low birth weight infants. Pediatr Infect Dis 1986; 5: 622-65. b) Chapters of books: author(s), title of the chapter or contribution, name and initials of the editors, title of book preceded by ‘In:’, number of edition, city and name of publisher, year of publication, first and last page of the chapter. Ex: Phillips SJ, Whisnant JP. Hypertension and stroke. In: Laragh JH, Brenner BM, editors. Hypertension: pathophysiology, diagnosis, and management. 2nd ed. New York: Raven Press; 1995. p. 465-78. c) Book: author(s), title of book, number of edition, city and name of publisher, year of publication, page. Ex: Jenkins PF. Making sense of the chest x-ray: a hands-on guide. 2nd. London: Taylor & Francis; 2013. p. 120. d) Online reference: Journal article on the Internet: Ex.: Jeha G, Kirkland J. Etiology of hypocalcemia in infants and children. January, 2010. (Accessed 8 May 2013). Available at: http://www.uptodate.com. TABLES AND FIGURES - All illustrations should be in digital format of high quality. - Each table and figure should be numbered in sequence, by Arabic numerals, in the order in which they are referenced in the text. They should each have their own page and bear an explanatory title and caption when necessary. - All abbreviations and symbols need a caption. - If the illustration has appeared in or has been adapted from copyrighted material, include full credit to the original source in the legend and provide an authorization if necessary. - Any patient photograph or complementary exam should have patients’ identities obscured and publication should have been authorized by the patient or legal guardian. - The total number of figures or tables must not exceed eight for original articles and five for case reports. Figures or tables in colour, or those in excess of the specified numbers, will be published at the authors’ expense in the paper version. ACKNOWLEDGMENTS AND CLARIFICATIONS The acknowledgments and the conflict of interests must be published at the last page. All authors are required to disclose all potential conflicts of interest. All financial and material support for the research and the work should be clearly and completely identified in an Acknowledgment section of the manuscript. MODIFICATIONS AND REVISIONS If the paper is accepted subject to modifications, these must be submitted within fifteen days of notification. Proof copies will be sent to the authors in electronic form together with an indication of the time limit for revisions, which will depend on the Journal’s publishing schedule. Failure to comply with this deadline will mean that the authors’ revisions may not be accepted, any further revisions being carried out by the Journal’s staff. LETTERS TO THE EDITOR Letters to the Editor should be a comment to scientific manuscript or a small note about an important new clinical practice. A letter should not exceed 500 words and have a maximum of 5 references. FORM OF MANUSCRIPTS Abstract Article Original articles Case Reports Review articles Letters to the Editor 134 Maximum words 250 150 250 Sections Keywords (Portuguese and English) Text Maximum words (excluding References and Tables) Sections Tables and Figures References Maximum Maximum 8 40 . Background . Methods . Results . Conclusions 3 a 10 5000 . Introduction/Aim . Methods . Results . Discussion . Conclusions . Introduction . Case report . Discussion/ Conclusions 3 a 10 2500 . Introduction (short) . Clinical Case . Discussion (including conclusions) 5 15 3 a 10 5000 . Introduction . Methods . Main text . Discussion (including conclusions) 8 80 _ 500 _ 5 . Introduction . Aim . Results . Conclusions _ normas de publicação instructions for authors _ _ " " !LGÏ !LG S0 !LGÏ 0ORTU RTUGGAL GAL A s4E s LEFO EF NE NE s s &AX & s#2#,X#ON #OO TRIB RIBUINT IN EN E N s s# #AP A 3OCIIAL AL€ € #ØD #Ø #ØD ØD OS ESPECIALISTAS APROVAM... INFORMAÇÕES ESSENCIAIS COMPATÍVEIS COM O RCM: UL-250, 250 mg, cápsula e pó para suspensão oral. Cada saqueta/cápsula contém 250 mg de células liofilizadas de Saccharomyces boulardii. Indicações terapêuticas: Indicado, como normalizador da flora intestinal e antidiarreico microrgânico, nas situações em que existam alterações do ecossistema intestinal, designadamente: diarreias a rotavírus em crianças. Quando é possível determinar o agente etiológico e para o qual exista terapêutica específica, UL-250 como regularizador da flora intestinal, constituirá um adjuvante sintomático no tratamento da diarreia em associação com reidratação. O nível de reidratação com soluções orais ou intravenosas deve ser ajustada à gravidade da diarreia, idade e características especiais do doente (doenças concomitantes). Não indicado em crianças com idade inferior a 3 meses. Posologia e modo de administração: 1 cápsula ou 1 saqueta, 3 vezes por dia. Modo de administração: Pó para suspensão oral: Crianças com idade superior a 2 anos: Deitar o conteúdo de uma saqueta num copo de água ou de sumo de fruta. Lactentes (3 a 24 meses): Abrir a saqueta e misturar o pó no conteúdo do biberão, agitando bem. Cápsulas: Crianças com idade igual ou superior a 6 anos: Engolir a cápsula sem trincar, com um pouco de líquido. Lactentes (3 a 24meses) e crianças com idade inferior a 6 anos: Abrir a cápsula e misturar o pó no conteúdo do biberão, agitando bem. Contraindicações: Hipersensibilidade à substância ativa ou a qualquer dos excipientes. Doentes com catéter venoso central. Advertências e precauções especiais de utilização ,Z[LTLKPJHTLU[VUqVKL]LZLY\[PSPaHKVJVTSxX\PKVZSL]HKVZH[LTWLYH[\YHZZ\WLYPVYLZH¢*8\HUKVWYLZJYP[VJVT\T TLKPJHTLU[VHU[PMUNPJVVYHSV\ZPZ[tTPJVWVKL]LYKPTPU\xKHHZ\HHsqV:HJJOHYVT`JLZIV\SHYKPPMVPHZZVJPHKVHVYPZJVKLM\UNtTPHZ,TJYPHUsHZLU[YLVZLVZHUVZKLPKHKLHYLPKYH[HsqV VYHStLZZLUJPHSUV[YH[HTLU[VKHKPHYYLPHHN\KH,TJHZVZNYH]LZLJVT]}TP[VZHZZVJPHKVZWVKLZLYULJLZZmYPVYLPKYH[HsqVPU[YH]LUVZH,Z[LTLKPJHTLU[VJVU[tTSHJ[VZLWLSVX\LKVLU[LZJVT WYVISLTHZOLYLKP[mYPVZYHYVZKLPU[VSLYoUJPHnNHSHJ[VZLKLMPJPvUJPHKLSHJ[HZLV\THSHIZVYsqVKLNS\JVZLNHSHJ[VZLUqVKL]LT[VTHY<3<3JmWZ\SHZJVU[tTZHJHYVZLWLSVX\LKVLU[LZ JVTWYVISLTHZOLYLKP[mYPVZYHYVZKLPU[VSLYoUJPHnMY\[VZLTHSHIZVYsqVKLNS\JVZLNHSHJ[VZLV\PUZ\MPJPvUJPHKHZHJHYHZLPZVTHS[HZLUqVVKL]LT[VTHY<3W}WHYHZ\ZWLUZqVVYHSJVU[tT frutose, pelo que doentes com problemas hereditários raros de intolerância à frutose não o devem tomar. Interações medicamentosas e outras formas de interação: Diminuição da sua ação quando é prescrito em associação com um medicamento antifúngico oral ou sistémico. Efeitos indesejáveis: Raros: fungémias. Reações de intolerância, principalmente na forma de prurido, pápulas (urticária, erupções, rash), rash cutâneo (localizado ou distribuído por todo o corpo: exantema local ou generalizado). Flatulência. Muito raros: reações alérgicas (pode ocorrer edema de Quincke). Titular da autorização de introdução no mercado: 4LYJR:(,KPMxJPV+<64PYHMSVYLZ(SHTLKH-LYUqV3VWLZU¢¢) (SNtZ+H[HKHYL]PZqVKV[L_[V!Medicamento sujeito a receita médica. Escalão de comparticipação: C. Para mais informação deverá contactar o Titular de AIM. (1) GUARINO ET ALL; Journal of Pediatric Gastroenterology and Nutrition 46:S81-S184 © 2008 I`,\YVWLHU:VJPL[`MVY7LKPH[YPJ.HZ[YVLU[LYVSVN`/LWH[VSVN`HUK5\[YP[PVUHUK5VY[O(TLYPJHU:VJPL[`MVY7LKPH[YPJ.HZ[YVLU[LYVSVN`/LWH[VSVN`HUK5\[YP[PVU:aHQL^ZRH/:RVYRH((SPTLU[7OHYTHJVS;OLY :^PKZPUZRP(L[HS)PVZ[Y\J[\YLVMMLJHSTPJYVIPV[HPUOLHS[O`Z\IQLJ[ZHUKWH[PLU[Z^P[OJOYVUPJPKPVWH[OPJKPHYYOLH.HZ[YVLU[LYVSVN`"! )LYNVNUL)LYLaPU,0TWHJ[LJVSVNPX\LKLS»HU[PIPV[OLYHWPL 7SHJLKLZTPJYVVYNHUPZTLZKLZ\IZ[P[\[PVUKHUZSLJVU[YVSLKLZKPHYYOLLZL[JVSP[LZHZZVJPLLZH\_HU[PIPV[PX\LZ7YLZZL4LK "!)\[Z17L[HS+PNLZ[P]L+PZLHZLZ(UK:JPLUJLZ "! Merck Serono é uma divisão da Merck.