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Jornal impresso do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA | Ano 1 | Edição 3 | Outubro de 2006 | www.ipametodista.edu.br/sites/universoipa Gabriela Casartelli Ilha sem água Camelôs preferem praça Marluci Stein Mais de 850 ambulantes estão instalados no centro da Capital dos gaúchos. A prefeitura tenta fazer com que os passeios sejam desobstruídos e lança o projeto de criação do Centro Popular de Compras, previsto para 2007, na Praça Ruy Barbosa. Os ambulantes não aceitam e preferem ficar na praça. Página 3 Problemas antigos Marco Júnior De cara nova, a emergência do Conceição está funcionando desde abril. O novo local, mais amplo e organizado, ainda enfrenta problemas comuns entre os hospitais que atendem pelo Sistema Único de Saúde. A modernização das instalações não esconde reclamações de superlotação, falta de espaço e demora nas consultas. Página 7 Moradores da Ilha dos Marinheiros sofrem com a falta de água encanada e de vias pavimentadas. Como conseqüência, falta saneamento básico, um pré-requisito fundamental para a população. As ruas, após as chuvas, ficam intransitáveis, pois o saibro, colocado pela prefeitura, se transforma em barro. A Ilha não possui infra-estrutura, dificultando o dia-a-dia dos moradores que, inconformados, vêm lutando há 30 anos para que tenham acesso aos seus direitos básicos de cidadãos. As histórias que os moradores da Ilha têm para contar ilustram cada uma das suas dificuldades. Página 4 Prazer à venda Eles trocam o dia pela noite. Dizem para a família que trabalham como garçons, seguranças ou abusam da criatividade para forjar supostas profissões noturnas que não despertem a desconfiança alheia. A vida de um garoto de programa não é nada fácil. Além de enfrentar a ira e as reclamações de alguns moradores, agem nas noites frias e chuvosas. Página 17 cidadania Aline Torres Terra da infância roubada Fome de quê? Daniel Freire Nas calçadas da rua da Praia, nos pilares do Mercado Público, entre os corredores da Praça da Alfândega ou nas marquises da Catedral Metropolitana crianças e adolescentes têm a infância roubada. São vítimas do abandono, da violência física e psicológica, da exploração do trabalho infantil e da omissão da sociedade e seus representantes. Todavia, há quem faça da responsabilidade social e da cidadania ativa sua fonte de transformação. São os porta-vozes dos meninos de rua. Página 10 Trabalho infantil à noite Freqüentemente, crianças são encontradas nas ruas da Cidade Baixa, à noite, vendendo flores, figurinhas, panos de prato e engraxando sapatos dos clientes dos bares ao ar livre. Apesar de haver uma lei que proíbe o trabalho infantil e órgãos competentes para a fiscalização, a situação permanece. Conselho Tutelar e Serviço de Educação Social de Rua foram procurados, mas ambos não souberam responder à questão, afirmando que o problema é de vontade política e da Justiça. Página 11 Morador de rua de Porto Alegre busca na leitura o seu “alimento” e o afugento para a dor ocasionada pela dura rea lidade que se apresenta à sua volta. Diante das adversidades que o cercam, consegue, ainda assim, sonhar e acreditar num futuro melhor graças ao hábito da leitura, obtendo, a partir desse exercício, novos conhecimentos. Página 18 Opinião outubro de 2006 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA editorial Ao lançar esta edição do Universo IPA, os estudantes do segundo semestre do curso de Jornalismo superaram mais um desafio: criar um jornal impresso com notícias referentes à região metropolitana de Porto Alegre. Tudo bem que as turmas, matutina e noturna, já tinham feito um jornal no primeiro semestre, mas este era temático. Pela primeira vez eles escreveram sobre assuntos do cotidiano, em diferentes editorias - política, economia, geral, polícia, cultura, comportamento, cidadania e esporte. Depois de muito esforço coletivo, o resultado superou as expectativas. Com isso, a terceira edição do Universo IPA entra para a história como a primeira mídia que aproxima a população da Capital dos trabalhos desenvolvidos pelos estudantes de Jornalismo. Estes, aliás, com certeza não verão mais os pontos positivos e negativos com os mesmos olhos. Incentivados a analisar com ética e senso crítico o que estava ao seu redor, as turmas conseguiram escrever sobre assuntos que geralmente são ignorados pelas grandes mídias. Com intuito de preencher essa lacuna, o Universo IPA traz um caderno especial de Cidadania, o qual mostra que a força de vontade vence qualquer obstáculo. Além disso, foi criado nesta página um espaço destinado aos leitores. Qualquer pessoa pode opinar, sugerir pautas, reclamar de problemas no bairro, elogiar as ações que valem a pena... Será o retorno dos leitores que fará o jornal conseguir o seu objetivo principal: com ética, estimular o conhecimento e o desenvolvimento da sociedade. flagrante O Universo IPA presenciou, no dia 27 de julho, na avenida João Pessoa, Cidade Baixa, uma cena inusitada. Um morador de rua sem inibições faz suas necessidades em plena luz do dia. No flagra, o morador se limpa com jornal. Na falta de algo melhor, o jornal assume função dupla: além de informar, é papel “higiênico”. De acordo com a coordenadora dos Direitos Humanos da Prefeitura de Porto Alegre, Leila Schaan, nestes casos a população deve acionar a Brigada Militar, já que estar nú na rua é atentado ao pudor. coluna do leitor por Adriana Gusmão “Meu nome é Maria de Lourdes, moro na avenida Bastian, próximo à avenida Praia de Belas, bairro Menino Deus, em Porto Alegre. Tem uma obra de reforma ao lado de minha casa e eles ficam trabalhando até tarde da noite. Faz muito barulho que incomoda e está prejudicando a mim e minha família. Qual a medida que posso tomar? Desde já, grata”. Adriana Gusmão Onde estão os nossos heróis? Luisa Aranha Quando eu era criança meu pai e minha mãe eram meus heróis. Depois He-Man, She-Ra e outros ocuparam este lugar na minha vida. Na adolescência os Menudos fizeram de meus sonhos e ideais mais coloridos. Hoje não tenho heróis. Meus pais e tios comentam de movimentos políticos e culturais. Contam de seus ídolos, seus revolucionários, seus líderes. Contam de seus movimentos, de suas lutas por liberdade, de suas batalhas pessoais e informais para mudar, para tentar construir algo melhor para as futuras gerações. Contam de seus heróis. Onde estão os nossos? Minha geração não encontra mais referências, não encontra mais líderes, mais ídolos. Não tem mais ideais, está alheia às lutas. Está perdida. Onde estão nossos Getúlios, nossos Brizolas, nossos Bentos Gonçalves? Onde estão os nossos líderes? Não existe ânimo de votar, não existe interesse político, por Tarsila Pereira Tarsila Pereira IPA - Instituto Porto Alegre da Igreja Metodista bispo assistente: Adriel de Souza Maia • conselho diretor: Presidente, Sergio Marcus Nogueira Tavares; Vice-presidente, Laan Mendes de Barros secretário: Nelson Custódio Fer • conselheiros: Márcia Flóri Maciel de Oliveira Canan, Lorenz Richard Koch, Luis de Souza Cardoso, Henrique de Mesquita Barbosa Corrêa, Ricardo Hidetoshi Watanabe e Alexandre Magno Caldeira Figueiredo. Centro Universitário Metodista IPA Adriana Menelli de Oliveira • pró-reitor acadêmico: Francisco Cetrulo Neto • pró-reitor administrativo: Marcelo Jorge Sonneborn reitora: Jornal elaborado por estudantes do 2º semestre do curso de Jornalismo IPA professores(as) Ana Paula Megiolaro, Laura Glüer, Lisete Ghiggi, Maricéia Benetti, Michele B. S. Limeira, Pierre Bedin, Rogério Soares e Sander Neves. projeto experimental ii e produção e planejamento editorial e gráfico ii editores chefes: Sander Neves e Michele Limeira • editores: Aline Marques, Aline Torres, Bernardo Dias, Carlos Daniel Macedo, Carlos Ismael Moreira, Cleidi Pereira, Eliane Silva Costa, Daniel Freire, Evandra Jaques, Eduardo Iribarrem, Gabriela Casartelli, Júlia Ramos, Lisiane Assis, Luiza Aranha, Manoel Canepa, Marco Antonio Júnior, Marluci Stein, Priscila Bitencourte, Stéphanie Perrone e Tarsila Pereira. ajor - agência experimental de jornalismo finalização e montagem: Carlos Tiburski • distribuição: Jonathan Gonçalves revisão: Amanda Porterolla, Ana Paula Megiolaro e Tiago Dias • contato ajor: Cel. Joaquim Pedro Salgado, 80 - Rio Branco - Porto Alegre/RS - 51 3316.1269 e [email protected] • impressão: Zero Hora (5.000 exemplares). não existe liderança de um povo. Será que nossa geração que um dia ouviu em sala de aula que era o futuro do Brasil, ficou sem futuro? Sem esperanças? O cenário político atual desanima, mas desanima ainda mais a falta de motivação, a falta de responsabilidade, a falta de interesse de meus amigos. Entristece saber que nossos pais lutaram pelo futuro de nossa geração e que agora pensamos que política é uma coisa de velho, que é careta. Estamos alheios, votamos por votar, votamos em quem nossos pais votam, ou então votamos em quem nossos pais não votam por rebeldia. Talvez a política do país seja velha, esteja ultrapassada. Talvez nossos políticos não estão sabendo nos cativar. Talvez, talvez. Mas talvez também nós não sabemos cativar a política, talvez nós estejamos errados não buscando líderes. Um povo sem líderes é um povo sem caminho. Nossa geração está per- dendo o caminho. Será que nossos pais eram assim? Será que tantas lutas foram em vão? Temos muitos questionamentos e poucas respostas, justamente porque não temos líderes. Não quero um país assim, nem pra mim, nem para meus filhos. Não quero toda essa sujeira e hipocrisia no comando do meu futuro, porque meu futuro depende do futuro do país. Meu futuro depende das eleições, das decisões do povo, e principalmente das decisões (ou não) dos políticos escolhidos por nós. Quando vamos crescer como seres humanos, evoluir e perceber que estamos todos nos mesmo barco? Um barco que está quase a deriva e que precisa de toda a força pra não naufragar. Um barco que precisa de um novo motor, que precisa de novos rumos e novos comandantes. E comandantes capazes de levar toda a nossa tripulação. Mas me esqueci... Nós não temos mais heróis. Infância em família Daniel Freire É impressionante a quantidade de casos de barbárie humana que rondam os noticiários, nos conduzindo à dura realidade de um mundo ”cão”. São casos de todas as espécies: pais matando filhos; e vice e versa; mães que espancam até a morte os filhos; cárcere privado; trabalhos forçados; violência infantil... tudo isso, caro leitor, em pleno século 21, século este, visto como o período do desenvolvimento e da modernidade. Reconheço a grandiosa evolução técnico-científica, as grandes descobertas nas mais diversas áreas. Mas o maior questionamento é o de que a modernidade, contrapõe-se a um quadro alarmante de saúde psíquica que assola o nosso quadro social.Estaríamos, assim, então, numa escala evolutiva? O não cuidar da mente e da alma não deve ser compreendido como um atraso no nosso caminhar? Temos que avançar é no quesito amabilidade, na solidariedade, no refinamento das relações. Isso é ganho real.Com a ausência desses conceitos, o caos existencial se instala e conduz, muitas vezes, ao caminho das drogas, legais e não legais; ao flagelo de milhares de famílias e, infelizmente, ao ceifar de vidas.Claro que outros fatores mais devem ser considerados.O meio em que se vive, por exemplo, pode arrastar os homens para esse precipício.Mas a problemática do abandono de sentimentos nas relações precisa ser pensada, discutida e trabalhada como uma anomalia social que desestrutura, fragiliza e condena a grandes percalços pela vida à fora. As “grandes feridas”, geralmente, surgem na infância e são difíceis de cicatrizar. Muitos pais põem o amor em segundo plano, voltam toda a atenção somente ao prover das coisas materiais, esquecendo-se do lado sentimental e das carências e necessidades que toda criança possui. Pura inversão! É na infância que absorvemos de forma definitiva, as lições transmitidas, e onde começamos a desenvolver peculiaridades, como a personalidade e o caráter. Dependendo das ações que são desencadeadas na vida de uma criança, as tendências começam a se manifestar e, no futuro, direcionarão esses seres angelicais para um caminho de flores ou espinho. Nessa fase mágica e encantadora da existência, somos todos iguais. Tempo da pureza, da inocência e onde o ser humano revela-se na sua forma mais delicada.Portanto, seja você pai ou mãe, agora ou no futuro, tenha sempre a certeza inapelável de que o amor, o carinho e a atenção que você vier a oferecer ao(s) seu(s) filho(s), independente do poder aquisitivo, da classe social à qual faça parte, contribuirá decisivamente para o fortalecimento da estrutura interior deles. Segundo a Secretaria Municipal de Obras e Viação (SMOV), pode ser feita uma denúncia em relação à obra no setor de Fiscalização. Através de um processo administrativo, é constatado, via perícias, qualquer tipo de irregularidade que possa haver e, se for o caso, medidas serão tomadas. Conforme o advogado e consultor jurídico, Eduardo Loureiro Winter, “estamos frente à figura jurídica denominada Abuso de Direito”. Sendo assim, recomenda o advogado, deve-se observar a possibilidade de embargo da obra, que pode ser encaminhada ao Poder Judiciário através de um representante legal. “A indenização também é cabida como última via à satisfação do ato ilícito abusivo”, acrescentou. Este espaço foi reservado para os leitores do Universo IPA. Quem quiser sugerir um assunto deve mandar uma carta para Agência de Jornalismo do IPA (AJor), localizada na rua Cel. Joaquim Pedro Salgado, 80, Rio Branco, Porto Alegre/RS. CEP: 90420-060. Ou enviar a reclamação para o e-mail: [email protected] enquete por Jonathan Gonçalves O que você faria se fosse o(a) presidente do Brasil? Fotos: Jonathan Gonçalves Lara Colognese, educadora física, 32 anos “É necessário acabar com a desigualdade social em nosso país. O acesso à educação é fundamental para formarmos profissionais qualificados em todas as áreas”. João Luis Lourenço, vigilante, 37 anos “Primeiramente, eu apresentaria um projeto para a melhoria da renda das classes mais necessitadas e também incentivaria, através de projetos, a inclusão dos jovens na política”. Vera Lúcia, auxiliar administrativa, 41 anos “Eu investiria em empregos e habitação para a população, pois com renda e um lugar decente para morar as pessoas podem conseguir outras coisas, como segurança, saúde e lazer”. Sirlei Silveira, massoterapeuta, 65 anos “Eu investiria, primeiramente, em educação, para que tenhamos melhores profissionais. Também corrigiria a injustiça com o aposentados, que recebem muito pouco do governo”. Vilson Roberto, motorista, 49 anos “Eu iria combater a corrupção, pois o dinheiro roubado serviria para construir hospitais, por exemplo. E também construiria mais escolas para que não faltasse lugar para as crianças estudarem”. Cristiano Teixeira, auxiliar adminstrativo, 33 anos “Mudaria as leis na parte da segurança, pois elas estão facilitando a ação da criminalidade. É necessário também baixar os impostos para que as empresas invistam em nosso país, assim aumenta o número de empregos”. Política Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA outubro de 2006 Criação do Centro Popular, em 2007, desagrada a maioria dos 850 ambulantes do Centro de Porto Alegre Camelô rejeita proposta da Prefeitura C Marluci Stein Marluci Stein centro - Tumulto e gritaria fazem parte da rotina de quem passa pelo Centro de Porto Alegre. Cerca de 850 ambulantes estão instalados no local, o que acaba sendo motivo de reclamações pelo fato de obstruirem os passeios públicos. Devido ao problema, a Secretaria Municipal da Produção, Indústria e Comércio (SMIC) faz fiscalizações e propôs a construção do Centro Popular de Compras (CPC), onde os ambulantes terão um local apropriado para trabalhar. Segundo o secretário da SMIC, Idenir Cecchim, o CPC será a melhor alternativa para os ambulantes do centro da Capital. “Eles, que estão na rua, irão para um local apropriado, com intenso fluxo de pessoas, infra-estrutura e segurança”, ressalta. Apesar dos aspectos positivos apontados pela prefeitura, a maioria dos ambulantes não aceita a proposta. João Araújo é um dos que não apóiam o projeto. “Lugar de camelô é na rua e não dentro de um shopping”, revela. Ele lembra que o cliente dele é o eventual que está passando em frente ao camelô. O CPC será construído na praça Ruy Barbosa e deve abrigar de 800 a 900 camelôs. Com um custo estimado em R$ 12 milhões, deve ser viabilizado pelas Parcerias PúblicoPrivadas ou pelo processo de concessão, por tempo determinado, previsto para 2007. “Esse projeto é produto de uma engenharia democráti- ca”, garante o prefeito José Fogaça (PPS). Na plataforma de 10 mil metros quadrados, cada comerciante irá ocupar um box com pontos de luz, água, esgoto e telefone. Para usufruir desta estrutura, os camelôs terão de pagar um aluguel estimado em R$ 300. Eles não vêem vantagem na idéia. “Hoje, não temos gastos com aluguel”, comparou Araújo. Fiscalização Outra reclamação dos ambulantes é a forma com que a SMIC chega até eles. “Os fiscais vêm até nós, que somos regularizados e temos alvará, porque somos mais fracos do que os informais, que muitas vezes até os agridem”, conta um dos ambulantes, que preferiu não se identificar. Segundo o Diretor de Fiscalização da SMIC, Léo Bulling, a fiscalização visa a desobstruir calçadas e ruas. Há mais de 70 profissionais, que trabalham a partir de uma base no Mercado Público. “Nossa relação com os ambulantes regulares é boa, não gostamos é dos informais”, garante. A fiscalização olha a licença do ambulante e, caso haja irregularidade, os produtos são recolhidos. Além disso, é dada uma multa de R$ 100. Nenhum comércio pode funcionar sem licença prévia. É proibido depositar ou expor à venda mercadorias sobre as calçadas ou utilizar paredes e marquises. É o que diz o artigo 29 da lei nº 12, de 1975. Ambulantes que ocupam passeios da capital deverão ir para Centro Popular de Compras no início de 2007 População diverge sobre a questão Embora o comércio alternativo seja criticado, principalmente por ocupar grande área das calçadas, parte da população ainda compra em camelôs. Segundo a dona de uma pensão, Mara Lucia da Silva, de 41 anos, os produtos de ambulantes são bem mais baratos e os vendedores precisam sobreviver. “Antes de expulsarem os ambulantes, de- veriam oferecer um emprego melhor a eles”, opina. O estudante de Ciências Sociais, Marcelo de Castro, 29, está totalmente a favor dos ambulantes. “Sou a favor da pirataria”, justifica, sem levar em conta a atual legislação. Para ele, a pressão dos falsificados deveria fazer com que o preço do original ficasse mais acessível para que todos pu- dessem comprar. Mas nem todo mundo pensa como o estudante. A massoterapeuta Helena Righetto, 55, não gosta de comprar nos camelôs visto que não tem segurança nos produtos vendidos. “Quando compro em uma loja, ganho garantias e até consigo trocar quando tem defeito; nos ambulantes não”, pondera. Patrimônio nacional, em Viamão, pede melhorias Nova família Para Mansur Ferreira, 52 anos, ser camelô é a única chance que tem para sustentar a família. Há mais de 15 anos trabalhando no comércio alternativo, Ferreira é conhecido entre os fregueses que lhe cumprimentam e até o chamam pelo nome. Junto com mais dois filhos, Mansur vende principalmente produtos eletrônicos trazidos do Paraguai por “freteiros”, que vêm para Porto Alegre. “São poucos os que ainda viajam”, afirma. Segundo ele, que foi açougueiro e motorista, a profissão de camelô o atraiu pela escassez de emprego. “Não tive outra opção. Estava difícil conseguir trabalho e não havia mais nada para fazer”, justifica. Entre os colegas há sempre muito respeito e companheirismo, como afirma o ambulante João Carlos Araújo, 61. Há cerca de 36 anos no ramo, ele é um dos ambulantes mais antigos do Centro. “So mos uma fa mí lia. Sempre ajudamos uns aos outros, afinal de contas estamos no mesmo barco”, ressalta ele. Ele trabalhava antes com vigilância e, quando ficou desempregado, resolveu ir para o comércio alternativo. Trabalhando junto com o neto, afirma que pretende continuar ali até morrer. “Não posso mudar, esta é a minha vida”, afirma. Como ponto positivo, ele destaca que ali não tem patrão, mas “os únicos que incomodam são os fiscais”. Natasha Montier Natasha Montier Viamão - Construída no século 18, a Igreja Nossa Senhora da Conceição, matriz de Viamão, é um dos monumentos históricos do município. Todavia, o orgulho também é motivo de revolta. Moradores do centro de Viamão reclamam que a igreja, tombada em 20 de julho de 1938 pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), precisa de reformas. Alguns culpam a prefeitura pelo descaso, comparando que foram investidos R$ 280 mil na reconstrução da praça Cônego Bernardo Machado Santos. “Deveriam ter usado esse dinheiro todo com reformas na igreja, que é tão bonita e representa tão bem a nossa história”, criticou Marta Soares, 44 anos. De acordo com o secretá- rio de Cultura de Viamão, Hélio Hortiz, como a igreja é tombada pelo Iphan, a responsabilidade é do Ministério da Cultura. Para ele, a demora da conclusão do projeto arquitetônico está na burocratização das leis Rouanet e Lei de Incentivo à Cultura. A superintendente regional do Iphan, Ana Lúcia Goelzer Meira, explica que quando um prédio é tombado não significa que o Iphan seja o único responsável pela restauração. Ela afirma que o prédio continua pertencendo à Igreja. Segundo Meira, entre 2003 e 2005, foram investidos na restauração da Igreja cerca de R$ 300 mil. Meira esclarece que, na avaliação do Iphan, esse valor é significativo, diante da realidade orçamentária. Se- gundo ela, a superintendência regional é responsável por cem bens em todo estado, contando com um orçamento de R$ 5 milhões. Por isso, na sua avaliação, a partir de agora, os responsáveis pela Paróquia devem elaborar um projeto para captar recursos junto à iniciativa privada. “Acreditamos que continuar investindo nesta Igreja não é a melhor política. A Paróquia deve buscar recursos. Nós daremos as orientações necessárias. Não podemos ficar bancando sempre a restauração”. Para o padre Rogério Luiz Flores, a parte mais complicada é reunir todo o material necessário para a efetivação do projeto. “O trabalho é feito pelos funcionários da Secretária de Cultura”, explicou. A população de Viamão está ansiosa pela restauração completa da Igreja Matriz, construída no século 18 Metas não são atingidas Investimento preserva igreja de Viamão Diante da importância da Igreja para a cidade, foi lançada, em outubro de 2004, uma campanha em parceria com a prefeitura de Viamão, que tinha como meta arrecadar R$ 200 mil. A campanha não atingiu seu objetivo, porque só foram arrecadados R$ 20 mil. Com isso, ao invés da pintura, foram realizadas melhorias na sonorização, com a compra de caixas acústicas, Mesmo diante das reclamações da população, a Igreja vem sendo restaurada com o auxílio da Paróquia, do Iphan, além de contar com o apoio da Prefeitura e de empresas privadas. A parceria, idealizada em 2004, foi responsável pela fixação dos altares que estavam com problemas de cupins. Houve a descupinização, troca do assoalho do presbitério e sacris- microfones e os armários de som. A moradora Ana Lúcia Lemos, 27 anos, diz que não percebeu nenhuma mudança na Igreja matriz da cidade, após a campanha. “Foi a primeira campanha que vi sendo efetuada para melhorar a Igreja. Acho que a paróquia está tentando arrumar a Igreja, mas sem resposta do governo”, constata Lemos. tia. “Quando cheguei aqui, em janeiro de 1999, o assoalho tinha verdadeiros buracos”, lembra o padre Rogério Luiz Flores. Para ele, duas obras foram fundamentais para a igreja: a colocação de placas de metal entre o forro e o telhado para fazer o escoamento da chuva, com investimento de R$ 196 mil, recursos do Ministério da Cultura; e a troca do assoalho de salão da Igreja. “Trocaram toda a parte elétrica, prepararam a parte externa para o projeto iluminotécno, que trará à Igreja uma iluminação indireta”, explica o pároco. O Iphan, contou ele, concluiu todo o projeto arquitetônico. O pároco informa que essas reformas culminaram em gastos de cerca de R$ 250 mil vindos do Ministério da Cultura. Perspectivas Diante da expectativa da comunidade, o padre Rogério Flores prevê que a restauração da Igreja Matriz de Viamão esteja completa em 4 ou 5 anos. “É importante seguir essas etapas certinho, não dá para fazer a toque de caixa”, esclarece. O pároco diz que a Matriz está em atividade constante, “por esta razão, o andamento das obras se torna mais demorado”. Política outubro de 2006 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA Políticos descumprem as promessas que fazem em relação à melhoria da estrutura na Ilha dos Marinheiros Sobram promessas, faltam realizações I Fotos: Gabriela Casartelli Gabriela Casartelli Ilha dos Marinheiros - Ilha, de acordo com o dicionário Aurélio, é “uma terra menos extensa que os continentes e cercada de água por todos os lados”. Em Porto Alegre, no lago Guaíba, se encontram 30 ilhas que formam o Arquipélago do Delta do Jacuí. Uma delas é a Ilha Grande dos Marinheiros que, ironicamente, não tem água encanada. Ela tampouco possui ruas pavimentadas que evitem lama em dias de chuva e poeira em dias ventosos de verão. Os problemas na Ilha Grande dos Marinheiros não são novidades e são alvos de constantes promessas dos políticos. Em 1976, houve superpovoação da Ilha, quando a Free way foi construída onde antes se localizava uma vila. A alternativa encontrada por muitas famílias, para não ficarem na rua, foi migrar para a Ilha. Passados 30 anos, nada de concreto foi feito para tentar reverter a situação. Porém, em 2005, uma nova esperança de melhoria da infra-estrutura da Ilha dos Marinheiros surgiu. Antes disso, a ilha era parte da Reserva Ambiental do Delta do Jacuí onde não era permitido instalar qualquer rede de saneamento, nem pavimentar as vias interiores. Esperança A partir desta data, foi criada por lei a Área de Proteção Ambiental (APA). A proposta, que foi aprovada pelo Conselho Estadual de Meio Ambiente, pela Câmara Técnica Per- manente do Fundo Estadual do Meio Ambiente e pela Fundação Estadual de Meio Ambiente, extingue o Parque Estadual Delta do Jacuí e cria em seu lugar a APA Delta do Jacuí. Assim, as áreas de ocupação urbana são definidas e separadas da reserva ecológica para que aconteça a instalação de redes de saneamento. A possibilidade de criação destas redes é esperada com expectativa pelos cerca de quatro mil moradores da Ilha. O local, hoje, é abastecido por caminhões pipa de duas a três vezes por semana. Morador da ilha há 56 anos, o presidente da Associação de Moradores e de Veteranos do local e empregado da Escola Estadual Alvarenga Peixoto, Adelino Saldanha, conta os dias e sonha com a possibilidade de ter água encanada. Segundo ele, “é fato histórico a água encanada, pois vindo a água vem a urbanização. A rede de esgoto tem que vir”. Apesar de os problemas sócio-ambientais enfrentados, a população se mantém inconformada com a situação do dia-a-dia, que se arrasta há mais de 30 anos. Os moradores reclamam dos políticos, principalmente em tempos de eleição, que os enchem de esperança com promessas jamais cumpridas. O governo municipal e os representantes da Ilha discutem sobre a APA, desde 2004. Todavia, passados cerca de dois anos, ainda não foram vistos resultados significativos nem mudanças. A precária situação da infra-estrutura da Ilha deixa os cerca de quatro mil moradores indignados Lama e poeira A Ilha dos Marinheiros se divide em lado sul e norte. As ruas, tanto em uma metade quanto na outra, não possuem pavimento, com exceção da avenida João Inácio da Silveira, na metade sul. Ela foi pavimentada pelos moradores de alta renda com o auxílio da prefeitura para colocação da brita. Quando chove, no restante da Ilha, as ruas ficam intransitáveis, sem condições dos mo radores saírem ou chegaram em casa. Quem se arrisca, aca ba sujando os calçados e as roupas. O “dia do barro”, como é chamado ironicamente pelos moradores, acontece sempre após as chuvas. A situação obriga as pessoas a andarem com botas-de-borracha, na tentativa de pelo menos reduzirem a sujeira. Ruim para os pedestres, pior ainda para os motorista. Nos períodos de chuva, os carros atolam com facilidade. “Tiraram os porcos, agora os porcos somos nós”, reclama Pedro Rolim, outro morador da Ilha, se referindo ao tempo que a Ilha dos Marinheiros era local de criação de porcos. Para Ilda Rejane e Eliane de Fátima Faleiro, proprietárias de um mini-mercado no local, o problema vai além do barro insuportável nos dias de chuva. Elas explicam que, no verão, por ser muito seco, há excesso de poeira. A alternativa para amenizar o problema, segundo os moradores, é colocar cascalho ou brita nas ruas da Ilha. Autoridades respondem as críticas SMOV garante que não há nada de concreto para reverter o problema O responsável pelo planejamento da Ilha, na Secretaria Municipal de Obras e Viação (SMOV), Ernani Mário Pereira, concorda que o problema das ruas é complexo, mas que não há nada que se possa fazer além de colocar “saibro, sempre saibro”. Segundo ele, a prefeitura só trabalha com saibro, pois a brita, além de ser cara, é material particular e não resolveria o problema. O representante da SMOV, que garante fazer vistorias periódicas na Ilha Grande dos Marinheiros, alega problemas de irregularidade para acabar – ou pelo menos reuzir – a situação de calamidade. Pereira afirma que, em virtude de os moradores serem ilegais, há dificuldade de iniciar um trabalho de base na ilha. Policiamento Além da melhoria na pavimentação das ruas, as irmãs Lei ajuda a preservar patrimônio Faleiro reclamam do pouco policiamento na Ilha, pois seu estabelecimento já foi invadido duas vezes e uma delas foi assaltada à mão-armada. Segundo o Major Antônio Nei da Silva Jr., Comandante da 4º Cia do 9º Batalhão da Brigada Militar (BM), “a delinqüência convive com os entornos humanos desde que o homem é homem”. A BM tem uma patrulha especial que atua principalmente nas ilhas, onde o Major Silva Jr. já fez “várias apreensões”. Por outro lado, os moradores da Ilha Grande dos Marinheiros comemoram que as questões ecológicas, que anteriormente atrapalhavam o desenvolvimento da Ilha, não são mais empecilhos para criação de uma estrutura de água e de esgoto. Por isso eles questionam: o que ainda falta para a resolução dos problemas? Renato Brasil Renato Brasil Moinhos de Vento - Os moradores novos e antigos do bairro Moinhos de Vento vivem um paradoxo. De um lado, famílias que ocupam os prédios recém-construídos, comemoram as vantagens de morar em um imóvel novo. Mas do outro, existe uma fatia de moradores cujos imóveis resistiram à escalada dos chamados “espigões”, tendo seus imóveis tombados como patrimônio histórico-cultural pela Equipe do Patrimônio Histórico e Cultural (EPAHC). No corredor de casas que cercam a última quadra da rua Fêlix da Cunha, por exemplo, houve a primeira manifestação de um grupo de moradores que solicitaram o tombamento dos imóveis. A iniciativa dos moradores era preservar o patrimônio da cidade, porque o casario estava começando a ruir. Porém, com as regras estipuladas pela EPAHC, alguns moradores tiveram prejuízo com as mudanças que tiveram de fazer nos imóveis. A dona-de-casa Neuza Azambuja, 65 anos, teve que retirar suas luminárias que enfeitavam a fachada da casa, além de abrir mão do ar-condicionado que nela estava instalado. Para o comerciante Plínio César, 26, foi solicitada a retirada do letreiro que divulgava o nome da loja dele. “Isto é muito ruim para nós, lojistas, pois pessoas que passam por ali acabam não percebendo que existe uma loja. Fora o gasto que tivemos para construir a placa do letreiro”, reclama. Regras O diretor da EPAHC, Osório Queiroz Júnior, afirma que estas regras são impostas para não desmanchar e descaracterizar o visual histórico do imóvel. “O imóvel pode sim sofrer uma adequação de acordo com o que a cidade está vivendo em relação à sustentabilidade de uso e atividade”, ressalta Queiroz. Devem ser retirado do imóvel placas publicitárias, luminárias e ar-condicionado, porém deve-se manter, caso possível, o mesmo estilo de porta de entrada e garagem. Quanto à pintura, o proprietário tem o direito apenas de escolher as cores em tons pastéis, para não fugir da história do casario, e deverá ser encaminhado um pedido de licença para a SMOV. Segundo Queiroz, existem muitas solicitações de comunidades que querem ter imóveis e espaços reconhecidos como patrimônio histórico-cultural, incluindo ruas e avenidas. Todavia, para que isto ocorra existem critérios avaliados como a arquitetura, a identificação da escola e da linguagem arquitetônica, questão morfológica que se relaciona do bem deste imóvel ou deste prédio, a paisagem, a estética e a questão histórica. Os pedidos de tombamento são feitos diretamente na EPAHC. Deverá ser preenchida uma ficha de inscrição com informações sobre o imóvel. Leia a matéria na íntegra em www.ipametodista.edu.br/sites/universoipa Casario da rua Felix da Cunha no bairro Moinhos de Vento Política Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA outubro de 2006 cospe fogo Que sacanagem é essa? Aline Torres Teu desejo é desvendar o mundo das algemas e cintaligas? Incorporar personagens como fetiche? Enlouquecer seu parceiro com posições do Kama Sutra? Contribuir com a visitação em sites pornô? Sim ou não? Sim! Então, sinto decepcioná-lo. Aqui, a sacanagem é outra. Trata-se, da acomodação da maioria dos jovens diante da possibilidade de transformação política e social do país. Eis um livro em branco como nosso único legado. Vês alguma luta organizada pela juventude? Passea tas, manifestações, bandeiras erguidas? Pois elas existem. Estão nos registros do passado. No tempo em que sair às ruas e crer na transformação significava sobreviver à violência do Dops, dar adeus aos amigos e, mesmo assim, não havia resignação. Juventude cidadã que fez sua parte na construção de um país melhor. Se, para Caetano faltava documento, para nós falta conscientização. Quanto aos caras pintadas, espere até a próxima Copa do Mundo! Mas existem pessoas envolvidas em mobilizações! É o que pensas? Sendo assim, tens razão. Inumeráveis são as manifestações. Poucos os participantes. Aplausos, para minoria... Porém, na questão da luta jovem, a presença não é efetiva. Os movimentos são fragmentados. Não há organização no zelo pelos nossos direitos e deveres. A juventude não tem voz ativa. E daí? Diz a grande maioria que, aos 16 anos, abdica seu direito ao voto. Por acaso, lembras dos que morreram pela democracia? Pois é. Há esperança? Não responda agora. Antes ouça a reação conjunta daqueles que questionam a Brasíliacircense e os espetaculares representantes do povopalhaço. “Que país é esse? É a porra do Brasil!”, cantam, vibram, aplaudem. Enfim, desempenham com mérito sua função. O que fazer? Somos jovens-palhaços em terra de pouco pão e muito circo. Aguardar o momento de integrar a elite do picadeiro? Escandalizar o povo com a mágica multiplicação dos dólares? E, ao invés de cartolas, usamos cuecas! Promover strip-tease nos cofres públicos? Transformar a ignorância da população em nossa perpetuação no poder? E, com simples giro na capa, fazer hospitais, escolas e o futuro da Maria virarem pó? Errou, novamente. O grito não calou. Ele desperta sempre que a história exige. É a hora. Basta de discussões fervorosas sobre corruptos, negligentes, mensaleiros e sanguessugas em mesas de bar. A não ser que sirvam de trampolim para o ativismo. Culpar os três poderes pelas mazelas sociais são as algemas que nos impedem de construir um Brasil melhor. Cobrir-se com véu da descrença é castrador. Limita a ânsia revolucionária movida pelo espírito da democratização, que transgride ao voto e amplia todos setores de nossa sociedade, garantindo aos brasileiros seus direitos básicos. Como “pão, paz” e, tudo bem, prazer! Votar para se proteger Marluci Stein Em pleno século 21, é quase inadmissível que milhões de pessoas ainda pensem que o país só irá se recuperar com governantes que saibam o que fazer para o bem da população. Alguns podem até achar que este é um pensamento pessimista. Entretanto, é apenas um conselho realista para que, nós brasileiros, pensemos no que fazer para melhorar o lugar em que vivemos. Uma nação não se constrói a partir de um político, e sim dos atos de todos os cidadãos que o escolheram. O voto é uma das armas que ajudariam (e muito) a melhorar a realidade brasileira, tão penada pela ganância e pelo poder exacerbado de parte dos governantes. Políticos que pensam apenas no próprio bem, sem se lembrar da população sofrida, das crianças nas ruas com fome e frio, da miséria que tanto assusta. É este o país que queremos? A resposta é simples: não! Basta de desleixo e corrupção. O país precisa de mais, precisa de eleitores que saibam o que estão fazendo para melhorar a sociedade e não apenas em se livrar de um compromisso: o voto. A população deveria ficar indignada com o que acontece no Brasil. Pesquisas recentes apontam que a maioria dos brasileiros não sabe em quem votou nas últimas eleições para deputado e senador. Como é que alguém vai reivindicar por seus direitos na sociedade, se não sabe nem de quem cobrar as promessas feitas? Votar é muito mais do que ir às urnas. O voto é uma questão de honra e de amor à pátria. Se todos pensassem que ao anulá-lo estaríamos ao mesmo tempo eliminando políticos corruptos, a sociedade estaria totalmente desmoralizada. Muito pelo contrário, anulando o voto, o cidadão acaba submisso à minoria, que pode eleger qualquer um que julgue “menos pior”. Este é o grande problema dos brasileiros. Convém lembrar que um país só se faz com políticas éticas, e que a ponte para isso é o eleitor. Em ano de eleição, todo cuidado é pouco. Políticos chegam com discursos infundados, prometendo “mundos e fundos”. A população, então, cai no erro e confunde quem é governista de quem é estadista. Para isso, podemos diferenciar governistas, que pensam apenas nos resultados das próximas eleições, de estadistas, que pensam no futuro das gerações. Contradição entre a Lei Federal e Municipal contra o fumo gera dúvida É ou não proibido fumar? Manoel Canepa Manoel Canepa P Porto Alegre - Cena de bar: um cliente fumante acende um cigarro, sem nenhuma preocupação se está ou não incomodando as pessoas da mesa ao lado. Estaria correto o não-fumante reclamar da fumaça para o dono do estabelecimento? Será que o fumante não está simplesmente exercendo seu direito de fazer o que quer? O comerciante fica de que lado? As dúvidas são muitas, principalmente com as contradições até mesmo na legislação. De acordo com a Lei Federal, nº 9.294, o responsável pelo produto, ou seja, a pessoa que fumar em um recinto fechado público ou privado, pode ser considerado infrator, sob as penas cabíveis, que vão da retenção da carteira de cigarros até a aplicação de uma multa. A Lei Municipal, que foi sancionada em julho deste ano, não define o fumante como infrator. A Lei Complementar nº 555, da prefeitura de Porto Alegre, prevê como infrator o responsável pelo recinto, cabendo a ele as penalidades como multas e até o cancelamento do alvará de funcionamento. De acordo com o sistema legislativo brasileiro, o poder municipal é parcial e hierarquicamente inferior ao poder federal, que, no caso de discordância, é magno. Mesmo entre os fumantes há controvérsias. Para muitos, a lei – seja Federal ou Municipal - fere o direito de liberdade do cidadão, já que a comercialização do produto é legalizada. Um deles é Paulo César, que acredita que as leis acabam limitando o direito do fumante. “Acho este discurso anti-tabagismo muito moralista. Até entendo a questão do fumante passivo, mas não vejo na proibição a saída”, diz. Em compensação, outros acham que a lei beneficia os fumantes no combate ao vício. Glênio Gil Lobato, por exemplo, diminuiu o uso com a proibição em lugares que freqüenta. “Acabei me acostumando, não vou deixar de ir aos lugares onde eu gosto por não poder fumar”, pondera. Fumante é barrado na porta de lanchonete, porém no interior do local há o expositor para vendas cigarros Determinação diverge comerciantes Os donos de bares fechados de Porto Alegre adotaram a Lei Municipal de combate ao fumo. É o caso de uma danceteria da rua João Alfredo, no bairro Cidade Baixa, e de uma tradicional lanchonete do Bom Fim. O funcionário deste estabelecimento, Adilar Deriva, acredita que para quem trabalha com comida a lei é boa. Ele confessa que o movi- mento tradicional diminuiu um pouco, porém acabou trazendo outras pessoas que deixavam de ficar ali por causa da fumaça excessiva. “Inclusive sei de clientes que deixaram de fumar ou diminuíram o uso desde que saiu a lei”, conta ele. Contudo, nem todos os lugares estão aplicando a Lei, seja Municipal ou Federal, principalmente os que não têm a comida como principal atrativo. É o caso do dono de um outro estabelecimento da Cidade Baixa, que não quis se identificar. “Cada lugar tem o seu perfil. Aqui, por exemplo, as pessoas vêm tomar uma ‘cervejinha’, bater-papo, fumar um cigarro... Com a proibição, sem dúvida, perderia mais da metade da fluência”, prevê, sem fazer valer a lei. Só 20% do comércio cumpre a lei Segundo o vereador João Carlos Nedel (PP), autor da lei na capital gaúcha, o projeto original previa penas aos fumantes e não aos comerciantes, mas a proposta foi rejeitada pelos demais vereadores. Nedel pensa em alterações, reconhecendo dificuldades apontadas pelo Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Porto Alegre (SHRBS). O vereador admite que só 20% dos lugares cumprem as normas, que 60% reservam áreas para fumantes que não se adequam à lei, e outros 20% ainda a descumprem completamente. Até o fechamento desta edição ninguém recebeu multa, apenas notificação. A assessora jurídica do SHRBS, Clarissa Longoni, diz que as modificações da legislação devem levar em conta três principais problemas enfrentados pelos comerciantes. O pri- meiro seria a dificuldade que os pequenos estabelecimentos teriam para disponibilizar a área restrita para os fumantes. Outro é como se daria de fato o ambiente “destinado exclusivamente para o consumo de fumígenos, devidamente isolados e com arejamento conveniente”, como estabelece a lei. E, por fim, a responsabilidade de fiscalizar que passa a ser do comerciante, gerando conflito com os clientes. Smic promete fiscalizar postos Betina Shünke Os jovens de Porto Alegre encontraram um local, no mínimo, inusitado onde se reúnem nas noites de quinta-feira a sábado. São os postos de combustíveis que possuem loja de conveniência. Segundo eles, o local foi escolhido por ter uma boa infra-estrutura, iluminação, além de ser seguro. Todavia, em virtude dos acidentes causados por motoristas embriagados, entrou em vigor, em junho deste ano, a lei de nº 9.996, que proíbe a consumação de bebida alcoólica em postos da capital gaúcha. Aprovada por unanimidade pela Câmera de Vereadores, no dia 10 de maio, foi sancionada pelo prefeito em exercício Eliseu Santos (PTB), no dia 19 de junho. No dia seguinte, publicada no Diário Oficial. O texto reza que “fica proibido o consumo de bebidas alcoólicas nas dependências dos postos de gasolina, estacionamentos e similares, inclusive nos que têm estabelecimentos que servem bebidas em balcões, mesas e lojas de conveniência”. De acordo com a vereadora Clênia Maranhão (PPS), autora da lei, o objetivo é reduzir os acidentes de trânsito. Para ela, a maioria deles vem da combinação entre bebidas alcoólicas e volantes de automóveis. “É uma medida pouco eficiente, porque as pessoas compram nos postos e acabam tomando em outro lugar”, afirma o jovem Marcos Neumann. A gerente de uma loja de conveniência na rua Casemiro de Abreu, Andréia Silva, confirma. Segundo ela, é proibido o consumo no interior das lojas e não a venda de bebidas. Com isso, os jovens compram o produto e só atravessam a rua para consumir livremente. “Seria impossível pegar as pessoas pelo braço e tirá-las à força do posto. Nossa parte, estamos fazendo, agora, o problema é que, se as pessoas não obedecem a lei, nós é que pagamos a multa”, afirma Silva. Rigor A fiscalização está sob a responsabilidade da Secretaria Municipal da Indústria e Comércio (Smic). Os estabelecimentos ficam obrigados a fixar cartazes com a lei e a frase “Proibido o consumo de bebidas alcoólicas”. Além da multa de cerca de R$ 400, os postos que não estiverem cumprindo com a lei poderão ser interditados e até perder o alvará de funcionamento. Segundo a Smic, a maioria dos estabelecimentos está seguindo as determinações previstas na lei. São cerca de seis os locais que estão causando problemas com venda e consumo ilegal de bebidas alcoólicas. O secretário da Smic, Idenir Cecchim, afirma que a fiscalização será intensificada: “O período de conscientização já terminou. Os proprietários de postos já tiveram tempo suficiente para conhecer a lei. Agora, quem estiver desrespeitando-a será multado”. Colaborou: Cristiano Fornari Serviço Denúncias e irregularidades podem ser encaminhadas à Smic pelo telefone (51) 32891760 ou pelo e-mail: [email protected]. Economia outubro de 2006 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA Cobrança de R$ 5,10 na RS-040 está prejudicando comércio, educação e saúde de Viamão e seus distritos Pedágio prejudica a economia local V Viamão - O Pedágio na RS040 vem atrasando o desenvolvimento do município de Viamão e principalmente do distrito de Águas Claras. Mesmo considerando que a praça de pedágio de Viamão, responsável pela estrada, esteja cumprindo com as suas obrigações de conservar e dar assistência aos que nela trafegam, a cobrança de R$ 5,10 de ida e vinda vem afugentando novos moradores, turistas e investimentos. A polêmica do pedágio em Águas Claras está correndo há mais de oito anos. Na gestão do governo do Rio Grande do Sul de 1998, foi dada a concessão para empresa Univias até 2013. Na época em que o pedágio se instalou, Águas Claras se caracterizava como uma zona em franco desenvolvimento. Os anos foram passando e o pedágio começou a ficar mais caro, cobrando não só a ida como também a volta. Isso acarretou problemas no progresso desse distrito, que vinha registrando Fotos: Alexandre Soares Pinto Alexandre Soares Pinto elevado nível de crescimento, em função dos investimentos em andamento. A emancipação de Águas Claras poderia ser a solução? Para a diretora da Escola Apolinário Alves do Santos, Hení Gontow, atualmente este não é o caminho. “A emancipação do distrito mostra-se inviável, pois necessita de uma infraestrutura básica para tornar-se uma cidade auto-suficiente, e a administração não tem demonstrado interesse em investir”, afirma ela. Hoje, 100% dos moradores que vivem na zona sem hospitais, bancos, entre outros serviços, têm a isenção do pedágio, garante a administração do Departamento Autônomo de Estradas e Rodagem (DAER). Na realidade, tanto os caminhões que atendem os comerciantes de Águas Claras e até mesmo os ônibus de linha pagam por utilizar a via, o que acresce no valor das mercadorias. Conforme a proprietária de uma casa de produtos coloniais, Dirce Herbertz, as vendas para fora da região são difíceis de ocorrer por causa dessa cobrança. Os comerciantes vêm sofrendo com a queda no número de clientes e de mão-deobra. É o que afirma Herbertz, ao explicar os prejuízos que o pedágio está ocasinando. Ela relata que teve que despedir nove dos 15 funcionários. O corretor de imóveis, Samir Zacca, também revela o que está acontecendo no Distrito. Segundo ele, “após a polêmica do pedágio, anunciada nos meios de comunicação, a procura por sítios diminuiu 90%, enquanto o número de imóveis para vender aumentou em 200%”. Zacca explica que “as famílias, que antes moravam em Águas Claras, preferem vender a propriedade em que viviam ou tinham um sítio a preços irrisórios para buscar, em outros lugares, melhores condições de emprego, livrando-se da carga tributária imposta pelo pedágio”. Praça de Pedágio localizada na RS 040, a 12 km do centro de Viamão Justificativa da prefeitura O secretário de Desenvolvimento Econômico de Viamão, Ataíde Nunes, assume que o pedágio inibe os investimentos na região, bem como a presença de profissionais da área de saúde e educação. É o que ocorre nas escolas locais, onde os professores não querem pagar pedágio para ir trabalhar. No posto de saúde, os médicos preferem atender apenas uma ou duas vezes na semana para economizar. As empresas que estão instaladas e outras, que poderão também se instalar, estão embutindo o custo do pedágio em seus produtos. “Como sempre, isso se transfere ao bolso do consumidor”, diz o secretário. Apesar do problema, Nunes explica que o município é muito grande, por isso requer altos investimentos. “Conseguimos descentralizar a burocracia criando sub-prefeituras nos distritos da região rural”, contrapõe o secretário, tentando justificar a presença do pedágio. Cobrança está entre zonas urbanas Na entrada do distrito de Águas Claras, a placa “Início do perímetro urbano de Águas Claras”, indica que essa região, a qual o pedágio corta, divide duas zonas urbanas. Para a prefeitura de Viamão, Águas Claras é uma zona urbana, porém para o DAER, a zona não tem infra-estrutura necessária para ser considerada como urbana. Placas que indicam o início do perímetro urbano localizadas a 5 km do pedágio e a 17 km do Centro Outro problema é o acostamento. Conforme a diretora da escola Apolinário Alves dos Santos, Heni Gontow, o acostamento da via RS-040 é usado como tráfego de pedestres. Ele está esburacado. Segundo a administração do DAER, o cuidado com o acostamento não está no contrato. “O pedágio investe em melhorias no acostamento, mas não é uma obrigação da Univias”, alegam. Tanto para população quanto para a prefeitura são boas as melhorias que o pedágio trouxe para a via. Mas, o pedágio da RS 040 provoca critica e continua inibindo emprego e renda para a sociedade que vive no local, segundo Nunes. O veraneio começa e mais um ano de manifestações e críticas virão. Grandes empresas levam Emprego se torna vilão suas filiais para os bairros Daiane Pajares Graziele Corrêa zes, eram até 15 dias úteis de espera. “Hoje com a loja perto de casa o recebimento do produto é mais rápido e também mais barato”, comparou. CONCORRÊNCIA O comerciante da microempresa, Gelson Antônio, que inaugurou sua loja no bairro há quatro meses, diz que não se sente nenhum pouco prejudicado com a concorrência. “Desde que abri a loja tenho tido um bom número de clientes, dou um atendimento personalizado, e procuro ter produtos de qualidade. Essas atitudes ajudam a manter os clientes”, garantiu o comerciante, acrescentando que confia na propaganda boca-a-boca. Para o gerente Oseias Oli- veira Santos, que trabalha em uma loja de grande porte instalada no bairro há cinco anos, essa concorrência entre pequenos e grandes não existe. Ele garante que cada loja tem o seu público, e que a concentração de pequenas e microempresas ajuda no movimento do bairro. O presidente da CDL, Wilson Noer, admite que as lojas de pequeno porte correm o perigo de ter as portas fechadas, pois é difícil concorrer com empresas maiores. A CDL realiza cursos para os seus associados, como de noções de contabilidade, criativida de e alto desempenho em vendas. Leia a matéria na íntegra em www.ipametodista.edu.br/sites/universoipa Graziele Corrêa Porto Alegre - O foco dos locais para abertura de novas filiais no comércio de Porto Alegre tem mudado nos últimos anos. As empresas de grande porte (comércio com mais de 99 empregados) têm optado pela instalação das lojas em lugares mais afastados do Centro, em busca de novos consumidores, bem como ampliar as facilidades de compra. A constatação é da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL). Um dos bairros que tem sentido esta movimentação é o Sarandi, localizado na zona norte da cidade. O bairro que antes se caracterizava por ser uma região para empresas de pequeno porte (comércio que emprega de dez a 49 empregados) e microempresas (comércio com até nove empregados), hoje tem empresas de grande porte. Quem ganhou com a nova concorrência foram os moradores do bairro e arredores, como opina a auxiliar de serviços gerais, Rosa Fernandes. Ela comenta que antes tinha que se deslocar até o Centro para pesquisar preços, e que agora o acesso ficou mais fácil. Outra vantagem é na entrega dos produtos. O auxiliar de produção Ma teus Marques lembra que quando comprava em lojas distantes do bairro a entrega era sempre demorada, às ve- Moradores da Zona Norte se deparam com o novo método de comércio Viamão - A economia de Viamão está vivendo um período de altos e baixos. Enquanto sobe a cotação da cidade no que se refere à arrecadação de impostos, principalmente, em virtude da instalação de grandes indústrias, por outro lado falta emprego para a população dos distritos da cidade, como Águas Claras, Capão da Porteira e Morro Grande. O município de Viamão obteve um crescimento relevante nos últimos dez anos. De acordo com dados da Secretaria do Desenvolvimento, em 1996 o município estava na 50ª posição na arrecadação de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS, entre as cidades com mais de 100 mil habitantes no Rio Grande do Sul. Neste ano, passou para o sétimo lugar. Segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico de Viamão, Ataíde Nunes, a arrecadação de ICMS teve um salto muito grande e mudou o perfil do município com a chegada de empresas de grande porte. “A zona rural de Viamão é uma região em franco crescimento. Em breve uma fábrica de gelo estará se instalando junto às duas empresas, todas estas atraídas pela qualidade da água”, garantiu. Com extensão territorial de 1.494 quilômetro quadrado, a cidade de Viamão é habitada por 265 mil habitantes e ape- Alexandre Soares Pinto Empresa de embalagens não gerou empregos em Águas Claras nas 5% da população ocupa a zona rural, constituída por 83% do município; enquanto os outros 95% residem nos 17% do território urbano. Contribuindo de forma significativa no orçamento do município, a zona rural de Viamão tem como principal atividade econômica a agro-pastoril. Somando à produção de alimentos, em 1999 uma companhia de bebidas se instalou na região. Em 2002, segundo dados do setor de Relações Humanas, por motivos de estratégia logística e proximidade à empresa de bebidas, uma fábrica produtora de latas e embalagens também ocupou seu espaço em Águas Claras. Mesmo com a aparente tranqüilidade econômica, Viamão e seus distritos ainda têm problemas com o desempre- go. Com a experiência de 20 anos de residência no distrito, o aposentado Valmir Ferreira diz que a chegada das empresas não mudou o perfil de Águas Claras, pois não existe um retorno ativo de verbas e de serviços prestados à comunidade. As duas empresas instaladas nos últimos anos teriam gerado centenas de empregos, mas poucas vagas foram ocupadas por pessoas da localidade. “Muitas pessoas foram trazidas de Viamão e de outras cidades devido à necessidade de mãode-obra treinada e qualificada”, comenta a moradora Luciani Stankowski. A comerciante Daniela Gauterio afirmou que a instalação das fábricas não influenciou no comércio local e nem aumentou o número de clientes. Saúde Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA outubro de 2006 Moradores do Cristo Redentor comemoram melhorias no Hospital Conceição, mas reclamam da superlotação Nova emergência, velhos problemas Marco Júnior Marco Júnior C Cristo Redentor - A nova emergência do Hospital Conceição, localizada no bairro Cristo Redentor, inaugurada no dia 19 de abril deste ano, está perto de completar cinco meses de funcionamento. Mesmo com a modernização da instituição, quem precisa ser atendido no local reclama de problemas antigos como superlotação, falta de espaço para acomodar quem espera por atendimentos e demora nas consultas. A direção do hospital contesta as reclamações, afirmando que 80% dos casos são atendidos em menos de uma hora. A doméstica Suzana Correa, que procurou o Conceição por estar há uma semana sofrendo com oscilações na sua pressão arterial, aponta dois problemas que teve de enfrentar: a demora de uma hora e 45 minutos e o mau atendimento por parte dos médicos. “Isso faz com que a nova estrutura seja comprometida. O que mudou foram apenas as instalações”, critica, com a segurança de quem procura a instituição freqüentemente desde os tempos da antiga emergência. O autônomo Edemilson Braga reclama da falta de ar e dor nas costas que, segundo ele, não o deixavam dormir direito há três dias. O paciente confirma a demora, mas elogia a qualidade do atendimento: “sempre fui bem atendido por todos desde os recepcionistas, passando pelos profissionais de enfermagem e chegando aos médicos”. SERVIÇOS • O Hospital Conceição fica localizado na avenida Francisco Trein, nº 596, bairro Cristo Redentor. Telefone: 3357-2000. • O atendimento é exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). • O acesso a pacientes a pé ou de carro é feito pela parte frontal do Conceição. • Procure sempre levar consigo um documento de identificação. • Chegando ao local, identifique-se no balcão de acolhimento. • As linhas 617 – Iguatemi, 652 – Ipiranga hospital, T 7, passam na frente do hospital. Fontes: Da Redação e Enfermeira Viviane Domingues. Os pacientes reclamam da demora no atendimento, da superlotação e da falta de espaço no Conceição. A direção do hospital contesta Diretor contesta reclamações de usuários Desde 2002 gerenciando a área de emergência, o médico Luiz Ronaldo Huber contesta as reclamações de demora nas consultas. Ele garante que, após o início da sua gestão, 80% dos casos são atendidos em no máximo uma hora. Todavia, admite que “devido à alta procura em determinados dias esta espe- Filas: as vilãs Sabrina Pitol Bom Jesus e lomba do pinheiro - Os portoalegrenses, assim como o resto da população do país, têm direito a desfrutar do Sistema Único de Saúde (SUS). Cerca de 70% dos moradores da Zona Leste de Porto Alegre têm esse serviço como único acesso ao tratamento de doenças. Dados como esses levaram à formação da rede que conta com espaços para atender ao Programa da Saúde Familiar (PSF), Unidade Básica de Saúde (UBS) e Pronto Atendimento (PA), o que deveria diminuir a demanda de pacientes nas filas das emergência dos hospitais. Entretanto, as filas continuam grandes. Na Zona Leste, Maria Cristina dos Santos, 25 anos, que aguardava por volta de duas horas em um pronto atendimento no Posto 24 Horas, como é conhecido, diz que freqüentemente sofre de crises de asma, doença pulmonar, e muitas vezes procura atendimento do SUS. “Não tenho condições de custear um plano de saúde”, ressalta. Marina Dias, 60 anos, que sofre de bronquite, hipertensão e pressão arterial alta, conta que em inúmeras ocasiões necessitou do serviço e teve atendimento rápido. “Recebo os remédios do posto. Até hoje, sempre que precisei, fui atendida”. Zona Leste O médico e coordenador da rede de postos de saúde familiar da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Sati Jaber Mahmud, explica que para melhorar é importante que os pacientes se cadastrem no SUS, através do Cartão SUS, que é nacional, gratuito, facilita o atendimento e combate o tempo de espera. O PSF atende as comunidades de 500 pessoas e funciona das 8 às 17 horas, com distribuição de fichas diárias. Clara Martins da Silva, 28 anos, residente do bairro Lomba do Pinheiro, conta que quando soube da gravidez, aos 16 anos, obteve atendimento no posto mais próximo de casa e, posteriormente, foi encaminhada para o hospital. Nos casos de emergências após às 20 horas, existe o PA, que funciona 24 horas. Existem duas unidades na Zona Leste: Bom Jesus e Lomba do Pinheiro, com capacidade para atender em torno de 1,5 mil pacientes. Nos PAs e em toda a rede de saúde, as farmácias dispõem no estoque de medicamentos a lista básica definida pelo Ministério da Saúde, que complementa o tratamento médico nos casos em que o paciente não tem recursos. O médio orienta que “em casos de emergências o PA o mais próximo deve ser procurado”, completa. ra pode aumentar”. Ele afirma que os problemas são de conhecimento da administração, que está trabalhando para melhorias. O problema do espaço das acomodações, por exemplo, será resolvido com a disponibilização de mais 20 lugares para acompanhantes e pacientes que aguardam consul- tas e exames. “As pessoas que procuram pelo serviço devem levar apenas um acompanhante”, orienta. Sobre o problema da superlotação, que acaba influenciando no tempo de espera das consultas, ele credita ao motivo cultural, como “a falta de crédito e conhecimento por parte da população dos servi- ços prestados pelos postos de saúde”. Segundo Huber, os postos são capazes de resolver patologias mais simples, deixando para a emergência do Hospital apenas os casos mais graves. “A conscientização não será tão fácil no Brasil, pois as pessoas acham que os postos servem apenas para prevenção”, analisa. Novidades Com uma área de 1.420 metros quadrados, o espaço do Hospital Conceição continua oferecendo 50 leitos, como acontecia com a antiga emergência. Porém, o número de consultórios para clínica médica aumentou. Antes, havia um consultório, que se assemelhava a um galpão, onde cinco médicos realizavam atendimentos simultâneos. Agora eles elevaram para nove, aumentando a privacidade na consulta. Além disso, há duas salas para pequenos procedimentos, serviço de diagnóstico por imagem com raiosX, ecografia e eletrocardiograma, sala de medicação e coleta de exames laboratoriais. Atendem na instituição, durante 24 horas, oito clínicos gerais, dois dentistas, dois cirurgiões gerais e um ginecologista. Segundo Huber, o hospital é considerado o maior setor de emergência do Rio Grande do Sul. Por isso, disponibiliza um novo modelo de atendimento por classificação de risco, no qual pacientes que apresentam mais gravidade em seus casos terão preferência. Este modelo veio substituir o antigo, que funcionava por ordem de chegada. De acordo com a enfermeira Viviane Domingues, nos primeiros 120 dias de funcionamento da nova emergência, foram realizados uma média de 80 mil consultas, com cerca de 46 mil exames laboratoriais e 24 mil diagnósticos por imagem, com um custo mensal de R$ 350 mil. Atendimento demorado no Hospital São Camilo em Esteio Amanda Porterolla Amanda Porterolla Esteio - O atendimento no Hospital Municipal São Camilo tem gerado reclamações entre os residentes de Esteio. Segundo moradores e pacientes, quem procura ajuda no local acaba sofrendo com uma assistência demorada e com um número insuficiente de médicos e enfermeiros. O hospital alega que a demora se dá porque a estrutura é direcionada a urgências e emergências. A dona de casa Lisandra José Nunes, que acompanhava uma moça com ameaça de aborto, relatou que o atendimento demorou duas horas e meia. “A gente vem porque é obrigado, pois levam dez anos pra atender”, ironizou. O hospital conta com uma clínica obstétrica terceirizada. “O acordo que nós temos com a clínica é que ela atenda toda a demanda 24 horas. Se é alguma coisa de risco, eles atendem de imediato, estão ali pra isso”, afirma o gerente administrativo do hospital, Marcelino Anflor. O gerente justifica a demora pelo fato da estrutura ser direcionada a urgências e emergências. “Os casos que não são urgentes ficam em espera um tempo maior”, admitiu. O hospital esteve lotado durante todo o inverno. “Em 24 de agosto, com a capacidade de 16 leitos, estávamos com 34 pacientes. Isso complica e também cai um pouco da qualidade no atendimento”, recorda. Mesmo diante das dificuldades, Anflor considera justa a reclamação pela demora. Os pacientes, também, reclamam do tratamento que recebem dos médicos e enfermeiros. “Há um descaso com o paciente. Os enfermeiros são debochados. Faltam enfermeiros atenciosos”, reclama a Insuficiência de médicos e enfermeiros dificultam o atendimento operadora de turismo, Karen Guisso, que levava a filha para retirar o gesso. Para tentar reverter esse quadro, Anflor afirma que o hospital está iniciando um trabalho de humanização junto aos funcionários. Os médicos nomearam um repre- sentante para o grupo. “O paciente do Sistema Único de Saúde (SUS) vem para um atendimento pelo qual ele já pagou trabalhando a vida inteira, não é obrigação de ninguém, e sim um direito do cidadão”, pondera o gerente. Reformas visam melhorias no atendimento A unidade de emergência e ambulatório do Hospital Municipal São Camilo conta com quatro médicos por plantão de 24 horas, que atendem em média 250 pessoas por dia pelo SUS e por convênios. “Se aumentar o número de médicos, não tem consultório para eles atenderem. Não tem estrutura física”, afirma o gerente. O hospital passou por reformas de 5 a 24 de agosto último. Houve reforma na área administrativa e aumento de espaço na unidade de emergência. “A gente vai implantar o Sistema de Acolhimento como é feito hoje em outros hospitais. O pessoal do acolhi- mento faz a triagem e encaminha os casos mais urgentes para o atendimento”, explica Anflor. Um ponto negativo é que, em função das obras, os bancos da unidade de traumatologia foram retirados temporariamente, fazendo com que os pacientes esperassem em pé. O hospital tem 90% dos atendimentos feitos pelo SUS. Segundo o gerente, os convênios é que equilibram os gastos do SUS. “Nossa meta é não reduzir o atendimento pelo SUS, mas melhorar e ampliar o atendimento de convênios e particulares para buscar equilíbrio financeiro”, relata. Meio Ambiente outubro de 2006 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA Projeto Ecoturismo Acessível para Todos mostra as belezas do ecossistema de áreas isoladas de Porto Alegre Deficientes fazem passeios turísticos P Stéphanie Perrone Porto Alegre - Os portadores de deficiência física têm a oportunidade de conhecer, a partir do projeto “Ecoturismo Acessível para Todos”, as belezas do ecossistema e apreciar uma bela vista da cidade de Porto Alegre. Mensalmente, a Organização NãoGovernamental (ONG) Caminhadores organiza passeios turísticos e de ecoturismo no Parque Natural do Morro do Osso. Para idealizar este sonho, a entidade conta com a colaboração de voluntários para auxiliar no transporte e cuidados com os “aventureiros”. A idéia surgiu em meio a um grupo de amigos que participavam de atividades escoteiras. Eles viajaram e acamparam em muitos lugares, mas sempre tiveram a sensação que havia uma parcela da população que não tinha acesso a essas atividades. Em 2003, inspirados em um grupo de montanhistas franceses, fundaram a ONG Caminhadores para proporcionar aos portadores de deficiência física a chance de ver e sentir as emoções de completar uma trilha ecológica. “Ele se sente parte do contexto, se sente ecoturista”, disse o guia de turismo e coordenador da ONG, Rotechild Prestes, 40 anos. O Parque Natural do Morro do Osso é localizado em uma área de fácil acesso, tendo toda a segurança e infra-estrutura necessária para apreciarem as belezas desse ecossistema. Dispondo de uma cadeira de rodas fabricada especialmente para os passeios, com apenas uma roda e amortecedores, o deficiente recebe todo o apoio possível durante o percurso do passeio. Mariluh Fer nandes, 47 anos, e a filha Michelle Fernandes Prevedello, 25, portadora de Síndrome Londonkleff, participam sempre que possível dos passeios promovidos pela ONG. Para Mariluh Fernandes, essa iniciativa é importante, pois mostra os lugares através de um novo ângulo, o que nem sempre é possível com a rotina do dia-a-dia. Noeda Regina da Rosa Brito, 49 anos, deficiente visual há seis anos, leva uma vida normal. Estuda braile, participa de um grupo de convivência e faz aulas de teatro. Para elas as atividades turísticas são uma fonte de conhecimento, uma forma de saber sobre assuntos que talvez não teriam a oportunidade de aprender. Integrante do projeto há dois anos, o voluntário Silvio Tedesco Engel, 51, se interessou pela causa desde a primeira vez que participou de uma caminhada com deficientes visuais. “Me encantei com a alegria deles por estar no morro”, diz. O número de voluntários varia em cada passeio, de acordo com a disponibilidade dos mesmos. Mesmo com dificuldades financeiras, os idealizadores do projeto pretendem expandí-lo para outro ponto turístico da capital. A partir de outubro, a intenção é realizar passeios de barco pelo Guaíba. Mais informações sobre o projeto podem ser obtidas no site www. caminhadores.org. Stéphanie Perrone Horta une a comunidade Carlos Daniel Canoas - Respira em Canoas, no bairro Mathias Velho, uma horta comunitária que nasceu com as Frentes de Trabalho em 1984, desenvolveu-se com o coletivo de famílias em 1986 e se consolidou como associação sem fins lucrativos em 1996. A horta sobrevive com a dedicação de voluntários e parceiros e compartilha suas terras com 35 famílias, as quais plantam verduras e legumes em benefício próprio. Além do plantio, a associação é entidade executora de projetos desenvolvidos pelo Consórcio Social da Juventude (CJS) para aproximadamente 100 jovens entre16 à 24 anos e sustenta uma Creche Comunitária que atende 25 crianças com vulnerabilidade social. Conforme registros constatados pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento, cerca de 500 famílias dependem economicamente da produção rural, em Canoas. A Houcouno, segundo a vice-presidente da Associação Diva Fiorotti, não tem fins lucrativos. “As famílias plantam, mas não é para comercializar, é para subsistência”, ressalta. O local disponibiliza estrutura e terra para plantio, entretanto, não restringe a atuação ao plantio de verduras e hortaliças. As sementes A Houcouno planta, colhe e cuida de suas “sementes”. No interior do terreno existe uma cheche comunitária que atende em média 25 crianças da comunidade. Um facilitador para muitas mães trabalhadoras do bairro Mathias Velho. “É uma alternativa para dar conta da criançada”, resume a atendente voluntária da creche, Lucy Lopes de Oliveira. A creche, que não recebe auxílio financeiro do go- Carlos Daniel Em Canoas, projeto de horta comunitária, Houcouno, abriga creche que atende 25 crianças verno, a não ser a bolsa Mesa Brasil (projeto ligado ao Fome Zero), conta com a ajuda financeira das mães e doação de alimentos. “Comecei cuidando as crianças da vizinha, hoje são 25”, orgulha-se a atendente. Entidade executora do CJS, a Horta Comunitária União dos Operários desenvolve trabalho social de suma importância à comunidade. Em parceria com a Associação dos Moradores Vila União e da Paróquia Imaculada do Rio Branco, são aten didos em média cem jovens dos bairros Mathias Velho, Rio Branco, Guajuviras e Santo Operário. O objetivo é qualificar os jovens do bairro e inseri-los no mercado. São integrados à Hocouno cursos pré-profissionais de jardinagem, ajustador mecânico, atendimento ao público e varejista. “Nos cursos oferecidos o jovem tem chance de entrar no mercado de trabalho”, salienta o presidente Alcindo Rodrigues Pereira. Plantando o futuro junto à juventude de Canoas O CSJ destina aos jovens da comunidade 400 horas de curso, 100 horas de trabalho voluntário em projetos comunitários e uma bolsa auxílio de R$ 150 mensais. Se depender da estudante do primeiro ano do ensino médio, Naiara Carlos de Almeida, 16 anos, muito será cultivado. “Quando a gente for entrar no mercado de trabalho vai estar mais preparada”, salienta. E ainda sonha: “quero fazer faculdade de medicina”. A vice-presidente da Hocouno, única instituição a participar em 2005, Diva Fiorotti, explica que além de formar mão-de-obra, o trabalho busca desenvolver noções de cidadania e solidariedade. “A importância de ser voluntário é ter cosciência de estar trabalhando com a vida do outro”, destaca. O projeto Para melhorar as condições do local, a Hocouno cadastrou um projeto de reestruturação no Portal Social. A entidade objetiva mudar a infra-estrutura da horta, substituindo parcialmente a atual rede de irrigação. Com as mudanças, a entidade garante uma maior produtividade para as 35 famílias que ali plantam e a melhora da estrutura para a aplicação dos programas do CSJ. Etapa fundamental do projeto, segundo a direção da instituição, é concretizar a creche como jardim de infância e adquirir laboratórios de informática. O projeto pode ser visto no site do Portal Social www. portalsocial.org.br. Informações ou doações podem ser feitas na sede da hocouno: rua 18 de novembro, 400, Mathias Velho. Rotechild, coordenador da ONG, e Michelle, que participa do projeto Natureza e moradores pedem socorro no Petrópolis Rodrigo Pires Petrópolis - Se há algumas décadas praça pública era um local para famílias e amigos se reunirem para bater papo ou aproveitar a natureza, animais e fazer ginástica, atualmente os locais estão sendo pontos de ação para marginais. A praça Nações Unidas, localizada no bairro Petrópolis, principalmente à noite pode ser considerada uma área de risco. Na Nações Unidas, o último crime que abalou os moradores foi o assassinato de um jovem que estava dentro de seu carro, na rua Artigas. Fazendo jus ao nome da praça, a vizinhança se uniu para fazer um abaixo-assinado, como conta o taxista Fernando Almeida, 44 anos, que trabalha próximo ao local desde 1992. “Agora se vê mais policiais por aqui, quase sempre a cavalos, mas de vez em quando de carro ou à pé também”, alivia-se. O taxista Tadeu Medeiros, 56 anos, ressalta a importância da iluminação. “Após essa tragédia a prefeitura melhorou a iluminação, colocando mais postes de luz e cortou as árvores para iluminar melhor a praça”, emenda. Segundo a arquiteta da Sessão Urbana de Praças da Prefeitura, Ângela Bolsson Moraes, a parte da iluminação foi uma “parceria com os moradores das cercanias da praça, pois temos pouca gente e pouco recurso para tal”. Ela explica que foi criado o programa “Diálogo na Praça” para casos como esse. A poda de árvores está sendo feita em parceria com a prefeitura. Existe o “Termo de Compensação Vegetal (TCV)”, uma autorização para supres- são de espécie vegetal, mas com retorno garantido. “No local, a compensação será a rea lização de obras como a cobertura da cancha de bocha, substituições dos bebedouros e melhorias nos equipamentos de ginástica na praça Nações Unidas”, garante Moraes. Sujeira Outro problema são os moradores de rua, que sujam a praça e contribuem para o afastamento dos visitantes. Morador da rua Artigas, George Royer, 21 anos, acha a praça bonita e agradável, “mas é mal cuidada e suja, devido aos moradores de rua”. A Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMAM) fez parceria com a Fundação de Assistência Social e Cidadania (FASC) para a retirada dos indigentes, mas ainda é possível encontrá-los por lá. Rodrigo Pires Contraste na Praça Nações Unidas: natureza divide espaço com o perigo Segurança A sargento Cláudia Almeida, da 1° Companhia do 11° BPM, garante que a condição atual da praça “melhorou com um efetivo maior”. Disse que o problema mais freqüente “são os usuários de droga, como da maconha, e não o tráfico”. A sargento falou também que os moradores que cercam a praça ajudam informando quando há pessoas estranhas ou com atitudes suspeitas. “Isso ajuda no bom convívio entre polícia e moradores”, comenta. Para evitar os crimes, a Brigada trabalha, com escalas diárias de oficiais, motorizada, montada e a pé. Em alguns fins de semana, há o posto móvel da Brigada, onde se pode fazer ocorrências no local, e a Força de Emprego Tático (FET), uma polícia fardada que ajuda no efetivo da BM. Evandra Jacques Cidadania caderno Outubro de 2006 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA “Penso que todos somos co-responsáveis, não apenas os órgãos públicos” Sociólogo Honor de Almeida Neto Daniela Quadros Comunidade busca projetos para ajudar juventude Jovens sem apoio Priscila Bittencourte Z Zona Leste - A Zona Leste de Porto Alegre está carente de projetos governamentais para adolescentes de baixa renda. Falta estrutura para desenvolver atividades como oficinas de teatro, música, dança e cursos profissionalizantes que os insiram na sociedade. Entretanto, apesar das dificuldades, a própria comunidade se mobiliza para realizar um trabalho de inclusão social, no intuito de desviar os adolescentes dos vícios e da criminalidade, além de formar cidadãos aptos para enfrentar o mercado de trabalho. Na associação de moradores do bairro Partenon, o coordenador Darlan Antônio Oliveira reclama que as principais dificuldades em desenvolver esses projetos estão na falta de verba para a construção de espaços educativos e o descaso das autoridades. O coordenador conta que entrou em contato com a Secretaria Municipal da Juventude (SMJ) e expôs as necessidades enfrentadas pela comunidade, porém não obte- ve resposta. “Inclusive, na Semana da Juventude, evento promovido pela Secretaria, os jovens da nossa região que já estavam inscritos para a realização dos cursos não foram inseridos”, relata. O secretário da SMJ Mauro Zaquer respondeu aos questionamentos dizendo que “faltam condições orçamentárias para a realização desses projetos, mas na medida do possível atenderemos a todas as associações”. Em relação aos cursos realizados na Semana da Juventude informou que existe um limite máximo de inscritos, por isso faltam vagas. Reclamação De acordo com os dados fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem atualmente 5.876 jovens entre 14 e 20 anos que residem no Partenon. O coordenador da associação diz que a maioria dos jovens não tem acesso a projetos sociais. É o caso de Jolenara Canto Lima, de 17 anos, que reside do bairro. Ela comenta que a ausência de projetos de inclusão social facilita a inserção dos adolescentes nas drogas. “Falta estímulo para os jovens, que vivem ociosos e sem perspectiva de mudança. Sem apoio dos pais, se deixam influenciar por aqueles ditos ‘amigos’”, acrescenta. Essa realidade também se reflete na vida da diarista Adai Martins Lopes. Ela tem um filho que começou a consumir maconha e cocaína com aproximadamente 18 anos de idade. Desde então, ele vende tudo que encontra dentro de casa para sustentar os vícios. “Meu filho não estaria nesta situação se existissem projetos aqui no bairro que estimulassem os jovens a aprender um ofício e a estudar”, acredita a mãe. Lopes diz também que esse trabalho deveria ser acrescido de um acompanhamento psicológico, tanto para os pais como para os adolescentes. “É importante a orientação de um profissional para auxiliar na convivência familiar”, explica. Adolescentes conquistam espaço Priscila Bittencourte Presidente do Força Jovem e MJC O Força Jovem e o Movimento Jovem Cidadão (MJC) nasceram com o objetivo de integrar na sociedade os jovens menos favorecidos. São projetos que estão em expansão e tiveram suas origens através do trabalho da Igreja Universal do Reino de Deus. Com a ajuda da comunidade, essas atividades vêm crescendo, resgatando jovens das drogas e propiciando a eles uma vida de qualidade e mais digna. O responsável do Força Jovem no Rio Grande do Sul, pastor Luiz Cláudio de Almeida, diz que o projeto trata do lado espiritual, resgatando a auto-estima dos jovens. Também procura inserir os adolescentes a grupos de esporte, lazer e cultura. Já o MJC é uma associação beneficente que se iniciou através de jovens que abandonaram os vícios e a marginalidade, e que agora estão interessados em ajudar ao próximo. Em plena luz do dia, jovens consomem drogas na praça da Intercap, zona leste da região metropolitana Psicóloga defende projetos sociais Uma das principais causas de os jovens entrarem nas drogas e na marginalidade é a falta de uma rede de apoio nas comunidades. A professora e doutora do programa de Pós-Graduação em Psicologia do Desenvolvimento da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Débora Dell’ Aglio, observa que a própria comunidade onde esse jovem reside é respon- sável pela escolha que ele irá fazer. “Adolescentes que vivem em famílias sem estrutura psicológica e material são os mais prejudicados”, alerta a psicóloga. A doutora diz que são necessários projetos sociais que trabalhem em conjunto com pais e adolescentes. Com a inserção, o jovem busca sua identidade. Dessa forma, é possível perceber os aspec- tos relevantes que ajudam na auto-estima e valorização de si mesmos. Entre eles, estão questões que envolvam cooperação, respeito mútuo, saber perder e ganhar. “Com o grupo, ele aprende a trabalhar o lado psicológico no sentido de resolver certas questões”, observa a doutora. A psicóloga orienta que é preciso estímulo para se descobrir o potencial do jovem. Atividades gratuitas para todos Os projetos do Força Jovem e do MJC realizam vários eventos, como o Ação Social, que leva até as localidades a Caravana da Solidariedade. O trabalho oferece, gratuitamente, corte de cabelo, medição de pressão e atendimento jurídico. Paralelo a essas atividades, acontecem também eventos com cantores, balés e teatro, nos quais a própria comunidade participa. O último evento, realizado no bairro Partenon, teve a participação de 500 jovens. Sandro Roberto dos Santos, de 28 anos, é um dos voluntários que compõem o grupo que realiza as atividades na região. “Antes de participar desses projetos vivia com más companhias, consumia drogas, e já não acreditava que pudesse existir solução para os meus problemas”, confessa. Karoline Mello, de 19 anos, também participa dos eventos e diz que todo jovem que entra para o projeto recebe amparo e incentivo. Mello finaliza dizendo, que “considero o Força Jovem como a minha família”. O Força Jovem acontece todos os sábados às 15 horas, na avenida Bento Gonçalves, 3627, bairro Partenon, Porto Alegre. Mais informações através do site: www.forcagaucha. com.br. Um sonho começa a se materizalizar na Zona Leste Rani Vargas Rani Vargas Morro Santana - A partir de um sonho, institui-se no Morro Santana, Zona Leste da capital, a Casa de Cuidados Madre Teresa de Jesus – Casinha. Inicialmente, era apenas uma mulher solidária prestando serviços sociais à comunidade, de forma simples. Hoje, está em pleno crescimento e buscando apoio no bairro. Cleci Teresinha Cesar Sauer fazia almoço em uma pequeno barraco alugado e servia em viandas para crianças do bairro Morro Santana. O projeto foi registrado na prefeitura de Porto Alegre no dia 10 de agosto de 2005 e, em 30 de setembro do mesmo ano, Sauer, precursora do projeto, morreu. Mas, a caminhada da comunidade não parou. A diretora administrativa da instituição, Sandra Regina Castilhos Silveira, tem as 150 crianças, com faixa etária entre um e 14 anos, como filhos, e busca incansavelmente o apoio da comunidade do Morro Santana e Zona Leste em geral, para doações de alimentos, a fim de manter as refeições servi- das na Casa de Cuidados. “Não podemos parar com o sonho de Cleci. Nós continuamos aqui e precisamos manter a Casinha crescendo cada vez mais. Não quero piedade, quero formar cidadãos”, diz Silveira. Convicta de que muito ainda pode fazer, completa: “Se Deus quiser, futuramente, prestaremos serviços nas áreas de esportes e lazer”. Todos recebem plano de ação social individual e suporte familiar, além de ser oferecida, também, oficina de trabalhos manuais às mães. Vera Lucia Lopes, mãe de 4 filhos, incluindo a pequena Marisa (2 anos), conta a felicidade de ver a saúde de sua filha, que estava subnutrida, melhorada após o início das atividades na Casa de Cuidados. “Aqui meus filhos têm, muitas vezes, a única refeição do dia. A Casinha ajudou meus filhos a ter uma educação e saúde melhores.” O p ro j e t o c o m u n i t á r i o agrega pessoas físicas e jurídicas para prestar apoio à comunidade do Morro. Promove cidadania, educação, saúde e demais cuidados para as crianças. A Casa de Cuidados conta com o apoio da Pastoral da Criança de Porto Alegre. A líder da Pastoral, Ana Aparecida Monteiro, leva consigo o lema de que toda obra de Deus tem um pouco de sofrimento. “Foi, certamente, um chamado de Deus, poucos são escolhidos para uma missão destas. Independente de classe social, raça, ou qualquer outra diferença, todos devem abraçar a causa”, relata, emocionada com os benefícios proporcionados pelo projeto. O projeto procura seguir o carisma de Madre Teresa de Jesus, fundadora das Irmãs Escolares de Nossa Senhora, que saiu de casa aos 12 anos, com o intuito de educar. A Casinha atende as crianças em três dias da semana. Segunda, quarta e sexta-feira são oferecidos o almoço e reforço escolar. No sábado, são disponibilizadas oficinas às mães e um projeto alfabetizante aos adultos. Doação de terreno dá início à construção da Casa de Cuidados Hora da ação Inicialmente, a casa de cuidados funcionava na própria casa de Cleci Sauer, que servia os almoços em viandas. Após um tempo, ela acabou cedendo um espaço em sua garagem para melhor acomodação dos pequenos. Ainda por falta de espaço, foi construído um telheiro em um terreno emprestado para improvisar um refeitório, onde a alimentação era feita por etapas. Logo depois, já com aproximadamente cem crianças beneficiadas, a doação de um terreno deu início à construção da casa dos sonhos. A construção da sede da Casa de Cuidados sustenta-se com doações. A obra tem valor estimado em R$ 183 mil e está em andamento desde abril de 2006, com prazo de inauguração previsto para o dia 1º de dezembro de 2006. A sede da Casa de Cuidados Madre Teresa de Jesus está localizada na rua Alfazema, 692, no bairro Morro Santana e atende 150 crianças de famílias carentes. 10 Cidadania outubro de 2006 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA Drogas, prostituição e criminalidade compõem o cotidiano de crianças e adolescentes no centro da Capital Meninos de rua dão adeus à infância C Tarsila Pereira Aline Torres Centro - Em algumas ruas do centro de Porto Alegre, crianças e adolescentes têm a infância roubada. São vítimas do abandono, da violência física e psicológica, exploração do trabalho infantil e omissão da sociedade e seus representantes, o que acaba ferindo os direitos assegurados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Em seu artigo 5º, o ECA reza que “nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais”. “Dentre todos Estatutos, o ECA é campeão em desrespeito”, denuncia a responsável pelo jornal Boca de Rua, Rosina Duarte, que trabalha com adultos e crianças em situação de rua. “A rua é como uma teia. Parece que a pessoa está livre, mas está presa. Têm muitas coisas que dificultam um guri ou uma guria de sair da rua. A principal é não ter para onde ir”, relata uma das crianças que colabora com o jornal Bo ca de Rua. G. de Souza, 16 anos, trabalha como engraxate no Mercado Público. Sua infância carrega o peso da vida nas ruas. Ele admite que usou cocaína, loló, maconha, lança-perfume e LSD. “A pessoa, na rua, se sente muito solitária. As drogas tiram esse efeito”, argumenta. Como engraxate, ele também se sente discrimina- do. “As pessoas olham e nos mandam trabalhar, nos chamam de vagabundos. Mas é isso que estamos fazendo, trabalhando. Não é crime nem vergonhoso estar com uma caixa”, fala indignado. “Piche”, como é conhecido, tem 9 anos e fala com naturalidade sobre a fome, sua companheira diária. “Fome é triste a gente briga por causa dela, a barriga dói e a gente fica irritado”. Mesmo em situação difícil ele sonha com o fim da miséria no Brasil. “Não vou pensar em ser rico porque daí só eu seria feliz. Vou pensar em todos”. Praça da alfândega Um dos locais onde o problema é mais visível é a Praça da Alfândega. Segundo relatos de uma das artesãs, que trabalham diariamente no local, “a rotina das crianças e adolescentes da praça está ligada ao crime, às drogas e à exploração sexual”, afirma, preferindo não se identificar. “Elas ficam na praça o dia inteiro. Os meninos trabalham para os donos do ponto (traficantes) distribuindo drogas”, conta. Já as meninas, a partir dos oito anos, relata ela, começam a se prostituir. “Elas atendem todos os tipos de cara nos banheiros. A maioria delas não tem futuro, morrem cedo por causa do crack. Às vezes, pensar nisso dá uma tristeza”, desabafa. A artesã acrescenta ainda que os menores vendem drogam e assaltam os visitantes da praça. “Essas crianças são os futuros marginais”, conclui. Aline Torres Na rua Riachuelo, morador de rua descansa em meio a sacos de lixo Autoridades se explicam Segundo o Major Rogério Maciel, do 9° Batalhão da Polícia Militar (9° BPM), a Praça da Alfândega é um dos lugares que eles mais fazem abordagens. “Temos três camêras do Centro Integrado de Segurança Pública, e um policial militar vigiando a Praça”, explica o Major. Ele também alega que no 9°BPM todas denúncias de “crianças em situação de risco” são investigadas e depois encaminhadas para Fasc ou para o Conselho Tutelar. “Essa é uma questão social. Somos apenas o band-aid sobre o câncer”, compara. Conforme as palavras dos conselheiros tutelares da microrregião-centro, Marcelo Dierchxs, Marília Fidel e Fábio Valente, o órgão atende as denúncias que são feitas e, se for constatado algo, encaminha para o Ministério Público, que é incumbido de abrir os processos e fazer as verificações. “O Conselho não é um órgão de assistência e sim de encaminhamento”, esclarecem. Sobre as denúncias de prostituição infantil na Praça da Alfândega, o conselheiro tutelar Marcelo Dierchxs diz que “prostituição não é crime, e sim crianças sendo prostituídas”. sociologia Para o sociólogo Honor de Almeida Neto, essa triste realidade expressa a decadência da sociedade. O problema, para ele, está ligado ao aumento da repressão, retorno de preconceitos e abandono de ideais ligados a direitos humanos. “Penso que todos somos co-responsáveis, não apenas os órgãos públicos”, alerta. Honor mostra que esse é um problema difícil de ser solucionado. “A gênese desse problema é a raiz econômica. Desemprego, desestrutura familiar e, logo, ausência de valores básicos”. K. é uma das vítimas da negligência política e social. Aos nove anos, faz das calçadas sua casa, no Mercado Público de Porto Alegre Cidadania ativa transforma vidas Nesse contexto, há inúmeras pessoas preocupadas em exercer sua responsabilidade social e fazer da cidadania ativa sua fonte de transformação. É o caso da Agência Livre para a Informação de Cidadania e Educação (Alice). Ela incentiva discussões sobre o papel da imprensa na sociedade e incentiva projetos sociais ligados à comunicação. Há sete anos, a Alice faz a publicação e a supervisão trimestral do jornal Boca de Rua, produzido (fotos, textos, ilustrações) por moradores de rua. O projeto foi ampliado com a criação do Boqui- nha, que conta com a participação de 15 crianças. Elas moram em abrigos e recebem uma bolsa-auxílio ao mês de R$ 40 para mantê-las longe do trabalho infantil e ajudar no sustento das famílias. O Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), em parceria com a Associação Cristã de Moços (ACM), desenvolveu o Projeto Sorrindo, Brincando e Saindo da Rua (SoBreSair). A equipe do projeto acompanha 195 casos de criança e adolescente em situação de risco. Conforme dados da Fun- dação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), 637 crianças e adolescentes estão nas ruas. “Trabalhamos através da criação de espaços lúdicos e reflexivos, a reorganização das famílias e, se necessário, espaços de proteção ou famílias substitutas, entre outros”, diz a psicóloga e assessora técnica do projeto SoBreSair, Cristina Sefton. A solução, segundo a psicóloga, é o trabalho em conjunto com a criação e articulação de políticas públicas nas diferentes áreas (saúde, educação, assistência social, esporte e cultura). Rosina Duarte, do Boca de Rua, não acredita em fórmulas para solucionar o problema. Para ela, o caminho é trabalhar junto, acolhê-los e conectar os espaços, governo, sociedade, imprensa. “Essas crianças sobrevivem ao que nós não sobreviveríamos. Eles são inteligentes, têm percepção aguçada e criatividade. Não podemos ter como única perspectiva para esses meninos que eles sejam pedreiros ou empacotadores de supermercado. Se for escolhas deles, tudo bem, mas, não podemos condená-los a nossas escolhas”, indigna-se. Aline Torres T. é vítima do descaso social. A presença da mãe e a barriga cheia a alegram: a pequena ainda não tem consciência do mundo desigual em que vive Cidadania Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA outubro de 2006 11 Trabalho infantil é proibido pela Constituição Federal, mas ocorre livremente pelos bares e ruas da Capital Criança troca a diversão pelo trabalho c Luísa Aranha Luísa Aranha cidade baixa - Nos bares da Cidade Baixa, à noite, crianças circulam vendendo flores, figurinhas, panos de prato e engraxando sapatos. Elas vêm dos pontos mais variados de Porto Alegre. A maioria é menor de 13 anos e trabalha naquela zona devido ao movimento dos bares com mesas ao ar livre. “A gente não pode entrar nos bares e aqui tem um monte de mesinhas na rua, então é mais fácil de vender”, conta uma menina de sete anos que vende flores. Algumas trabalham para ajudar no sustento da família, outras para sustento próprio, como conta um menino de 10 anos, que vende figurinhas. “Eu moro ali pelo viaduto; em abrigo não dá pra ficar porque a gente é maltratado, então uso o dinheiro para comer”. Os relatos de maus-tratos são contestados pelo Conselho Tutelar. “A própria questão de horários e imposição de regras são vistos como maus-tratos”, contrapõe o conselheiro tutelar José de Freitas, 39 anos. lei x realidade De maneira geral, as crianças não atrapalham o comércio dos bares, mas muitos clientes acham inconveniente e outros ficam revoltados porque ninguém toma providência. “Essas crianças deveriam estar em casa brincando, é direito delas”, indigna-se Maria Santos, 29, funcionária pública e freqüentadora de bar na Cidade Baixa. Há lei que prevê essa pro- teção às crianças. Segundo o artigo 60 do capítulo quinto do Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), “é proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos e após essa idade somente na condição de aprendiz”. O artigo sete, inciso 33, da Constituição Federal, reforça a proibição do trabalho infantil noturno, insalubre ou perigoso. Pais x drogas O garçom de um dos bares mais freqüentados do bairro, que não quis se identificar, conta que os pais controlam o trabalho de seus filhos. “Cuidado que se eles te virem vão querer saber o que tu quer com as crianças”, alertou à reportagem. De acordo com o ECA, os exploradores do trabalho infantil têm como punição multa ou pena de três meses a seis anos de prisão. “Como as famílias não têm dinheiro e a prisão só faz com que a pouca renda que ganham páre, os juizes dão penas alternativas”, afirma o conselheiro tutelar, Fábio Valentte, 39. “Os que não têm pai ficam, depois que a locadora fecha, sentados ali na frente cheirando loló e, algumas vezes, fumando maconha”, denuncia um morador da rua da República há 40 anos. “As drogas são uma forma de fuga da realidade, a pessoa deixa de sentir frio, fome e outros fatores que a incomodam”, esclarece o psiquiatra Reinaldo Alves, 45. Denuncie a exploração e os maus tratos a crianças # Procuradoria do Trabalho 4ª região: 3228-6544 # Delegacia do Trabalho: 3227-3124 ou 0800 610101 # Conselho Tutelar, microregião 8: 3226-5788 # Serviço de Educação Social de Rua: 3221-2024 Menino de cinco anos trabalha vendendo balas de goma nos bares da Cidade Baixa, na noite de Porto Alegre Como agem os orgãos competentes Moradores, comerciantes e freqüentadores dos bares locais afirmam que nunca assistiram a uma ação do Conselho Tutelar na região de bares da Cidade Baixa. “Quintafeira passada eles andaram por aí, mas não fizeram nada com as crianças; elas continuaram trabalhando normalmente”, criticou o garçom Mateus F., 28. “Existe o Ser- viço Social de Rua, órgão responsável por fazer a abordagem das crianças na rua. Eles fazem o primeiro contato, criam vínculos e fazem o encaminhamento”, justifica o conselheiro tutelar, José de Freitas, 39. O Serviço de Educação Social de Rua trabalha com denúncias feitas por telefone ou abordagens sistemáticas, que são mapeamentos de zonas problemáticas. “A Cidade Baixa está nessa abordagem sistemática, pois estamos a par das situações de trabalho infantil, mas apesar de todos os esforços, as crianças acabam retornando para a rua”, admite a coordenadora do Serviço de Educação Social de Rua, Maria Juracema Viegas, 56. Faltam ações Conforme moradores e trabalhadores dos bares e comér cio da região, o número de cri anças cresce cada vez mais. Eles afirmam que ligam seguidamente para o Conselho Tutelar informando que as crianças estão trabalhando e se drogando. “Eles passam com a Kombi por aqui, olham e vão embora”, relata o funcionário de um bar que pediu para não ser identificado. O conselheiro tutelar Fábio Valente argumenta que a entidade “tem o dever de zelar pela garantia das leis do ECA, também cobrando uma ação da sociedade”. Todavia, a apuração de uma denúncia é feita por um conselheiro e um motorista. “Se tem uma multidão de crianças, precisamos da ajuda da Brigada Militar e, normalmente, eles fogem ao ver a kombi pois sabem que vamos voltar”, conta. O Conselho Tutelar, ao receber uma denúncia, verifica sua veracidade e faz os encaminhamentos necessários, dependendo de cada caso. Esses encaminhamentos variam desde atendimentos especializados como médicos, psicólogos e escola, até envio do caso ao Ministério Público. O trabalho do Serviço de Educação Social de Rua é pouco divulgado. “Fizemos uma vez um trabalho de conscientização para que as pessoas não comprassem nada de menores nem dessem esmola. Isto estimula a volta às ruas”, recorda Viegas. Projeto leva menores de vila para festival na França Evandra Jacques Evandra Jacques Cachoeirinha - Talento não tem idade, tampouco é privilégio da classe alta. A maior prova disso é a realização do sonho de oito crianças que participaram, em junho, da abertura do Festival Charivarue, na região de Cherboug, na França. O convite da “École de Cirque Sol’air” nasceu em virtude do trabalho desenvolvido pelos alunos da Associação Rede do Circo, organização sem fins lucrativos que funciona na Vila Fátima, em Cachoeirinha. Na sede da associação, cerca de 120 crianças entre 7 e 18 anos aprendem lições de cidadania através de técnicas circenses. Voaram para Europa oito alunos e três professores que, entre o dia 24 de junho e 9 de julho, realizaram um intercâmbio. No festival, as crianças de uma das vilas mais pobres de Cachoeirinha apresentaram o espetáculo “Uma família para Antoniel”. A peça conta a história de um menino que tem dificuldades para se integrar na sociedade, até que se apaixona por uma bailarina e passa a integrar o circo onde ela mora. O roteiro foi desenvolvido pelas próprias crianças, inspiradas na história do clássico “Patinho Feio”. Anderson Luis, 16 anos, é um dos primeiros alunos da Associação Rede do Circo, tanto que hoje também atua como monitor. Descrevendo-se co- mo um apaixonado por artes cênicas, ele afirma que “tudo” na viagem para a França foi “excitante”: as apresentações, a hospedagem na residência dos alunos franceses e até mesmo a dificuldade encontrada na comunicação. “Mas o que me marcou foi a união do grupo em consolar uns aos outros para não se sentirem sozinhos longe de casa”, diz. Para o ator principal da peça apresentada no Festival Charivarue, Toniel Meneses, 16, a expectativa era grande. Afinal, como seria a reação do público? “Felizmente, todos adoraram as apresentações e todas as preocupações ficaram minúsculas diante das amizades conquistadas e do carinho com que fomos recebidos”, disse, agradecendo ao apoio das famílias. Tainara Machado, 12, complementa que a viagem foi a “materialização de um sonho e uma conquista de todos que trabalham na associação”. Agora, a Associação Rede do Circo pretende firmar parcerias com empresas privadas, com intuito de possibilitar um novo intercâmbio com os alunos franceses. Entretanto, desta vez, o objetivo é trazer os talentos franceses para se apresentar e conhecer o Brasil. Para tentar viabilizar o projeto, a intenção é fazer um convênio com a Escola Nacional de Circo. Depois de mostrar seu talento na França, alunos da Rede do Circo apresentam espetáculos gratuitos nas comunidades carentes de Cachoeirinha Na volta ao Brasil, a consagração De volta ao Brasil, o talento de alunos e professores está sendo reconhecido pelo público gaúcho. Tanto que a peça está sendo apresentada para comunidades, tornando-se um espetáculo itinerante em Cachoeirinha e região. A Associação Rede do Circo, que existe há quatro anos, beneficia cerca de 120 crianças carentes. Na sede, elas fazem oficinas de acrobacia aérea e de solo, malabares, artesanato, arte em metais (serralheria e escultura), hip-hop, música e teatro, todas ministrados por artistas e educadores. Segundo a vice-coordenadora da Instituição, Lígia Araújo, também é desenvolvido um trabalho com as famílias das crianças e adolescentes, visando proporcionar um ambiente sem violência física e psicológica. “Temos um grande cuidado para que o jovem não substitua o lugar da família pela associação, pois esse não é o nosso objetivo”, garante. A Rede do Circo tem como parceiro o Centro Infanto-Juvenil Luiz Itamar. Ele foi criado há 18 anos, a partir da idéia em comum de dois amigos de ajudar crianças e adolescentes. O centro, desde então, conta com o apoio do Movi- mento da Fraternidade Cristã com sede em Paris. Ana Marie Crosville, uma das fundadoras do Centro, informa que o projeto beneficia 180 crianças com idade entre 3 e 18 anos. São desenvolvidas na sede do centro várias oficinas como marcenaria, serralheria, informática e padaria, visando fazer uma ponte entre os jovens formados com o mercado de trabalho. 12 Cidadania outubro de 2006 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA A Via Pró Doações e Transplantes (ViaVida) existe desde 2000 e atualmente conta com 60 voluntários Doar órgãos: uma vida que continua Tarsila Pereira Tarsila Pereira E Petrópolis - Esperar na lista de transplantes por mais de um ano e fazer hemodiálise três vezes por semana. Essa foi a dura realidade de Edinaldo Barbosa, 13 anos, que, há dois meses, fez um transplante de rim. Vindo da cidade de Santana, no Amapá, para Porto Alegre, ele está hospedado na Pousada Solidariedade, da Via pró Doações e Transplantes (ViaVida) desde dezembro de 2005. Acompanhado de sua tia, Deuzangela Barbosa, 23 anos, eles cruzaram o país atrás de esperança. “No Amapá, não têm transplantes, não tem banco de órgãos, viemos em busca do transplante”, explica Barbosa. Ela conta que quando chegou no Sul, Edinaldo não pôde continuar com os estudos devido às sessões de hemodiálise, mas teve apoio pedagógico na Pousada. “Tinha que fazer as sessões três vezes por semana e ficar quatro horas na máquina, era cansativo para ele ir à escola”, lembra. No dia 20 de junho, Edinaldo fez o transplante de rim, a espera havia acabado. Hoje, ele está em observação. A tia acredita que, em outubro, volte para a sua terra natal. “Valeu a pena lutar”, conclui, emocionada. Edinaldo faz parte de um dos 160 hóspedes que a Pousada abrigou desde sua abertura, em 2003, até o final de junho deste ano. Todos são ajudados por voluntários de Porto Alegre. A ViaVida, caracterizada como organização não-governamental, tem como finalidade prestar assistência social às pessoas que esperam a doação de órgãos. Fundada em 29 de junho de 2000, a ViaVida abriga, em sua Pousada da Solidariedade, pessoas que não têm condições financeiras de se hospedar em Porto Alegre até concretizar o sonho de fazer um transplante de órgãos. Na pousada, os voluntários são responsáveis pela alimentação, assistência psicológica e pedagógica dos pacientes. Além disso, realizam oficinas de arte, artesanato, inglês e computação. Contando atualmente com 60 voluntários, a ViaVida se sustenta apenas com doações da iniciativa privada, empresas, cidadãos, bem como promovendo brechós e venda de artesanatos. Edinaldo na frente da Pousada Solidariedade, onde está hospedado desde dezembro do ano passado fique por dentro Legislação - Para você ser doador de órgãos, deve comunicar a sua família sobre o seu desejo, pois será ela que se definirá a favor ou contra a doação dos órgãos. Isto é, a informação de ser doador ou não registrada no documento de identidade não tem mais valor. Já o doador vivo deve ser maior de idade e capaz juridicamente para doar órgãos a seus familiares, não sendo necessário uma autorização judicial prévia. O que doar - De um doador vivo podem ser retirados um dos rins, parte do fígado, parte da medula e parte dos pulmões. O médico deve avaliar, em todos os casos, o potencial do doador, como a história clínica da pessoa, doenças prévias e a compatibilidade sanguínea. Também há testes especiais para selecionar o doador que apresentar uma maior chance de sucesso. De um Doador não vivo podem ser obtidos os seguintes órgãos: rins, coração, pulmão, pâncreas, fígado e intestino. Tecidos: córneas, válvulas, ossos, músculos, tendões, pele, veias e artérias. Para ser um doador não vivo, a pessoa deve apresentar morte encefálica, que é irreversível. Fonte: www.santacasa.org.br Sopão beneficia morador de rua Nathalia Crivellaro Nathalia Crivellaro Menino Deus - Uma longa fila se forma em frente à Sociedade Espírita Ramiro D’Ávila. São cerca de 300 moradores de rua que procuram o local e dependem da “sopa do pobre”, chamada também de Sopão, criada pelo presidente e fundador da Sociedade Espírita, Gedeon Leite. São preparados 350 litros de sopa, de segunda a sábado, e servidos em um refeitório que comporta 86 pessoas por vez. “Eu venho aqui todos os dias, a sopa é boa”, diz Emerson Silva. Muitos dos beneficiados vivem em praças e pontes da capital e dependem do chamado Sopão, que para muitos é a única refeição do dia. Muitos deles se conhecem de longa data e freqüentam o local há alguns anos. “Aqui eu encontro meus amigos e me alimento, as pessoas nos tratam bem”, diz João Cleber. Um grupo de voluntários se reveza auxiliando os moradores de rua na hora de servir a sopa. O grupo conta com moradores, em sua maioria, do Menino Deus. “Me satisfaz interiormente”, diz Alba Aquino, 65 anos. Ela conta que na sua idade é muito difícil conseguir um emprego, por isso começou a trabalhar voluntariamente há dez anos. O Sopão acontece através de doações. “No início do ano, estávamos precisando de alimentos, anunciamos na Saiba o que é a ViaVida Doações Hoje, a ViaVida necessita de doações de material de limpeza, alimentos perecíveis e alguns materiais para oficinas de artesanato. Em abril deste ano, foi lançado o livro Sim plesmente Doar, que vendeu, aproximadamente, 500 cópias. O livro contou com vários colaboradores que escreveram sobre o sentido de “doar-se”. A renda obtida com a venda dos exemplares é revertida para a manutenção da pousada. A presidente da ViaVida, Lucia Elbern, explica que a missão da ViaVida é promover a conscientização sobre a importância da doação de ór- gãos e tecidos, através de informação e orientação aos cidadãos. “As pessoas não se dão conta que têm mais possibilidades de serem receptoras do que doadoras de órgãos e tecidos”, alerta. Elbern conta que a lista de espera por transplantes vem aumentando cerca de 30% ao ano. Ela acredita que o Rio Grande do Sul é um estado privilegiado por ter bons profissionais. voluntariado A voluntária Rosana Ughni, 50, presta serviços à ViaVida há dois anos. Para ela, a melhor recompensa do voluntariado é poder ajudar as pessoas que estão passando por uma fase difícil. Ughni conta que esse é o segundo lugar onde ela faz voluntariado. Anteriormente, já havia feito no Asilo Padre Cacique. Ela diz que o voluntariado lhe mostrou que as pessoas humildes são as mais solidárias. A ViaVida precisa de mais voluntários. Aqueles que desejam colaborar e tem interesse em conhecer mais sobre o trabalho desenvolvido, devem ir à Pousada Solidariedade, que se localiza na rua Professor Langendonck, 117, no bairro Petrópolis, ou entrar em contato pelo telefone (51) 3333.4519, pelo e-mail via@ viavida.org.br ou acessar o site http://www.viavida.org.br. Através desses contatos pode ser adquirido o livro Sim plesmente Doar. O dinheiro da venda é revertido à instituição. Esperança no voluntariado Amanda Martins Moradores de rua almoçam, de segunda a sábado, no refeitório do Centro Espírita Ramiro D’Ávilla rádio Gaúcha e estamos até hoje recebendo doações”, diz a coordenadora do Sopão, Marli Dullius. Na composição da sopa, são usados, diariamente, cerca de 130 quilos de alimentos como: carne, frango, legumes, arroz e massa. A refeição é acompanhada de pão e água fresca. “A sopa é muito nutritiva”, diz Dullius. FIQUE POR DENTRO Localizada na avenida Getúlio Vargas, a Sociedade Es- pírita Ramiro D’Ávila, fundada em 1932, vem, desde então, realizando esse trabalho. A sopa é distribuída de segunda a sábado, das 10h30 às 12h. A instituição conta com uma estrutura de cozinha, refeitório e um frigorífero, onde são armazenados os alimentos. “A preparação da sopa começa sempre no dia anterior”, conta o zelador Altair Delfo da Silva, responsável pela preparação da sopa. Cada freqüentador pode comer o quanto necessitar, não há um limite de quantidade. A Sociedade Espírita Ramiro D’Ávila, também, oferece serviço odontológico e conta com dentistas voluntários, que atendem junto ao refeitório. Em outra sede da Sociedade, na avenida Carlos Barbosa, em Porto Alegre, foi instalada, em 1996, a Creche Gotas de Esperança, que atende crianças carentes de 2 a 6 anos. A creche conta com nutricionistas, recreacionistas e cozinheiras, e é mantida pela Sociedade. Sarandi - Desemprego, fome e frio. Essa era a realidade de moradores de vilas, em Porto Alegre, como a Asa Branca e Dique. Contudo, um grupo voluntário se juntou à Pastoral da Ação Social para oferecer auxílio para famílias carentes. O grupo atua na Igreja Santa Catarina, no bairro Sarandi, há cerca de 35 anos. As pessoas beneficiadas pela entidade não param de comemorar. Como é o caso de Clara Fátima, 48 anos. Ela passava fome, frio e muitas dificuldades para conseguir criar nove filhos. Porém, encontrou em seu caminho o grupo disposto a dar um sopro de esperança para pessoas que, como ela, passavam por dificuldades. A coordenadora do grupo de voluntários, Vera Souza, 50, já viu essa história se repetir. “A Pastoral foi criada porque necessitados de vilas procuravam a Igreja Santa Catarina em busca de ajuda”, lembra Souza. Com o passar dos anos, a iniciativa começou a dar resultados positivos. “A vida, antes de receber as doações, era difícil. Eu tinha nove crianças pequenas, não tinha muito o que comer e o que vestir, mas agora está bom”, conta Fátima. Em média, 50 a 80 famílias vão à Igreja todas as quartas-feiras em busca de doações e ocupação com os trabalhos manuais oferecidos. E saem de lá satisfeitos. “Estou há 10 anos vindo aqui. Depois que vim para cá, melhorou bastante porque tem o café da tarde, tem o rancho, têm as roupas e os acolchoados que a gente faz”, alegra-se a beneficiada. Todas as quartas-feiras, no salão de festas da Igreja, são arrumadas grandes mesas para a confecção de acolchoados, bonecas de fuxico, tapetes de retalhos e costura. Trabalhos com a comunidade ajudam a fazer com que essas pessoas sintam-se úteis, importantes. doações A Ação Social atua, somente, com doações da comunidade. Uma vez por mês, é doado o rancho e roupas para as famílias. Por isso, é importante que a comunidade continue fazendo doações de alimentos pela campanha do quilo e de roupas. As famílias doadoras são visitadas pela Pastoral, que faz um cadastro. As doações devem ser entregues na Paróquia Santa Catarina, na avenida Souza Melo, 277. Educação Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA outubro de 2006 13 Obra parada há três anos é retomada, mas a insegurança não tem data prevista para acabar no Fabíola Insegurança marca a rotina da escola H Higienópolis - A entrada é um corredor estreito. Depois de alguns passos, chega-se numa área aberta, escura, um breu. Árvores, galhos baixos e iluminação precária. Pavilhões e prédios abandonados. Assim é a entrada de uma escola localizada em uma das regiões mais nobres de Porto Alegre, que apresenta uma dificuldade maior ainda: a insegurança. A Escola Estadual de Ensino Fundamental Fabíola Pinto Dornelles (Eduardo Chartier, 1192) fica no bairro Higienópolis, Zona Norte da capital. Ilhada por uma área valorizada, a instituição passa despercebida pelo mato que a consome na esquina com a avenida Plínio Brasil Milano. O verde que, durante o dia, propicia aos alunos uma natureza ímpar para estudar, à noite, traz o temor da escuridão e da insegurança para cerca 400 pessoas, entre Fotos: Júlia Ramos Júlia Ramos alunos e professores. Os problemas começam pelo atraso de uma obra iniciada há três anos para a construção de um novo prédio, que servirá de salas de aula para as turmas de 5º a 8º séries e também para os alunos do Ensino para Jovens e Adultos (EJA). Depois de um ano parada, a obra reiniciou em agosto deste ano, após um protesto organizado pelo Conselho de Pais e Mestres (CPM), que percorreu as ruas do bairro com faixas e cartazes. A vice-diretora do noturno, Regina Candiota Duarte, afirma que a reforma é fundamental. “A nossa biblioteca e a nossa cozinha foram desativadas. Transferimos os alunos da pré-escola para o ginásio de esportes porque um pavilhão também foi desativado. Precisamos da obra”, argumenta a professora que trabalha há 10 anos no local. Por causa da falta de estrutura, o medo faz parte do diaa-dia dos alunos e funcionários do Fabíola. “Todos os dias, antes de vir para cá, peço ajuda ao meu anjo da guarda” confessa Duarte. A vice-diretora passou por momentos complicados em meados de agosto depois que dois alunos, integrantes de gangues rivais, começaram a brigar com pedras em frente à escola. Logo, membros das facções cercaram o colégio e ameaçaram invadir o local. A diretoria da instituição afirma que enviou à Secretaria Estadual de Educação (SEC) uma série de ocorrências policiais registradas na escola, como furto de pertences de alunos, invasão de criminosos e menores de rua e confusões. Foi solicitada uma medida de segurança para conter a criminalidade no entorno e dentro da escola. Mesmo assim a insegurança continua. Devido à precária infra-estrutura, a direção da escola está tendo de improvisar espaços para as atividades Improviso é alternativa Monique Hoffelder Morro Santana - O esporte ajuda crianças e adolescentes a encontrarem uma forma de se livrar do mundo das drogas e da criminalidade. Estimula a competitividade, proporciona melhoria da auto-estima e da vontade de vencer de quem pratica. E, sem dúvida, não há lugar melhor para praticar esporte do que em uma escola. Todavia, nem todas as escolas de Porto Alegre contam com infraestrutura adequada, como é o caso da Escola Estadual Porto Alegre, que não tem quadra de esportes. Localizada no Morro Santana, atende 780 alunos da pré-escola à oitava série. O pátio da escola, onde os alunos fazem as aulas de Educação Física, é de chão batido e disforme. No lugar da quadra de cimento, há restos de piso de construções anteriores. Quan- do chove, as crianças e adolescentes não podem praticar esporte por causa do barro acumulado no pátio. Para passar o tempo, as atividades se resumem ao xadrez e à música.“Imagina a quadra grande e fechada para fazer aula na rua”, diz a aluna da 7ª série, Daiane Fausto, 15 anos. improviso O professor de Educação Física, Marcelo Tentardini, afirma que os alunos usam as praças Ravena e do condomínio Piratini, que ficam próximas à escola, durante as aulas. A iniciativa demonstra jogo-de-cintura e apoio da vizinhança, mas não é vista como ideal nem pelos estudantes. “A escola é pequena, se tivesse pelo menos uma quadra boa seria o ideal” diz Luan Barbosa, estudante da 7ª série. Para a vice-diretora Môni- ca Kroth, 36, a verba que a escola recebe para manutenção e merenda não é suficiente para construção de uma quadra. A direção da escola, conta Kroth, entrou em contato com a Secretaria de Obras do Estado, que é responsável pelas construções. Lá, recebeu a informação de que as obras acontecerão somente com a liberação da Secretaria da Educação. Já a coordenadora Regional da Educação Estado, Cleci Maria Jurach, 53, confirma que a verba enviada é para manutenção, e que a prioridade é sala de aula. “Não é prioridade da Secretaria de Educação a construção da quadra de esporte. Ela deve ser conquistada via Plano de Participação Popular, concorrendo com todos os projetos do estado. Esta é nossa posição”, explica. ‘Não é obrigação construir quadras’ A coordenadora Regional da Educação do Rio Grande do Sul, Cleci Maria Jurach, admite a falta de recursos. Segundo ela, a escola nunca encaminhou um projeto para quadra esportiva, porque “sabe que o Estado não vai fazer”. Ela ressalta que não é obrigação do Estado construir quadra de esporte. “Nada impede as pessoas de praticar esportes. Podem praticar esportes em qualquer lugar, seja dentro do escritório ou em um terreno de chão batido”, afirmou. Para a coordenadora, falta iniciativa por parte da escola. “É necessário envolvimento da comunidade para arrecadar verbas para construção da quadra. Foise o tempo em que o Estado fazia tudo pela população”, alertou. Resta saber se a explicação não fere o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que, em seu artigo 4º, diz: “é dever da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, saúde, alimentação, educação, esporte, lazer, profissionalização, cultura, dignidade, respeito e liberdade”. Obra, prevista para acabar em quatro meses, garantirá salas de aula, cozinha e biblioteca para estudantes SEC garante monitores ao Fabíola O caso da Escola Fabíola não é o único. Levantamento da própria Secretaria de Educação aponta que 12% das escolas gaúchas já foram alvo de violência este ano, o que representa 334 estabelecimentos. Constam no documento invasões, furto de equipamentos, depredações, pichações, agressões entre alunos e vítimas de violência nos arredores das instituições. Para a escola do Higienópolis, a coordenadora da 1º Coordenadoria Regional de Educação (CRE), Clecí Medeiros, disse que não existe o cargo de agente de seguran- ça preterido pela escola, mas que um monitor é possível. “Verificamos o quadro de funcionários e descobrimos que há sobras na carga horária. Vamos orientar esses profissionais para realizar o trabalho de monitoria, auxiliando na segurança dos alunos”, afirmou Clecí Medeiros. Um reforço policial também foi solicitado “Pedimos também uma atenção especial da Brigada Militar nessa área para minimizarmos essa situação de invasão da escola e a tentativa de furtos”, garante a coordenadora. Para Medeiros, a obra vai resolver o problema da insituição. “Em quatro meses, a obra estará concluída, então desmancharemos o pavilhão e veremos que tipo de cercamento poderá ser feito para aumentar a segurança”, finalizou. Por meio de nota, o 11° batalhão da Brigada Militar afirmou que já é realizado um trabalho de patrulhamento das escolas na região onde se localiza Escola Estadual de Ensino Fundamental Fabíola Pinto Dornelles. Entretanto, salienta que em casos de ocorrências os professores devem ligar diretamente para o batalhão de sua área e não para o 190. Gravataí busca primeira escola técnica estadual Maria Cristina Dornelles Maria Cristina Dornelles Gravataí - Mais de 3,7 mil jovens com idade entre 16 e 18 anos de Gravataí enfrentam dificuldades com a falta de escolas profissionalizantes estaduais. A cidade que possui 243 anos de fundação não tem nenhuma escola técnica na região. Somente uma fundação e instituições particulares. Segundo a assessora técnica, Aura Regina Montin, da 28º Coordenadoria Regional de Educação (CRE), a única escola que possui projeto em andamento é a Escola Estadual Barbosa Rodrigues. O projeto já foi encaminhado para a Superintendência da Educação Profissional (Suepro/RS) e aguarda aprovação do Conselho Estadual. De acordo com a assessora pedagógica, Olvania Grasselli, a diretora pedagógica Maria Helena Silveira, da Suepro/RS, não dispunha horário para atender a reportagem do Universo Ipa. O coordenador pedagógico da 28º CRE, Ubirajara Gomes, explica que o projeto é encaminhado pela escola, passando a dar corpo ao processo, instruindo-o a partir da legislação vigente e encaminha-o à 28ª CRE. Esta examina o processo e complementa-o com as peças que são de sua competência, como laudos técnicos, parecer da Coordenadora. Depois de atendidos todos os requisitos, é encaminhado à Suepro/RS que, Gerso Schoen, diretor da Escola Estadual Barbosa Rodrigues por sua vez, envia-o ao Conselho Estadual de Educação, instância competente para dar o parecer final. O diretor da Escola Estadual Barbosa Rodrigues, Gerso Schoen, que enviou o projeto recentemente para a aprovação do Conselho Estadual, afirma que a implantação do ensino profissionalizante depende somente das escolas, de buscar a verba através da comunidade e do Processo de Participação Popular (PPP). “É a escola quem opta por implantar o ensino profissionalizante, claro, com a aprovação de leis e processos da Suepro/RS”. Schoen explica que, desde 1999, a escola vem batalhando pela aprovação do estado, que, por burocracia, tem sido demorada. “Junto com a direção, teve épocas que quase nos fizeram desistir do projeto por falta de apoio da 28º CRE. A troca de governo atrasa mais o processo”. Ela explica que o projeto retornou por diversas vezes da 28º CRE: “A nossa proposta era começar esse ano, tanto é que temos três salas vazias”. A ex-aluna de escola estadual Carlos Bina, Claudia Carvalho, declara: “quando terminei o ensino médio estava estagiando, e não possuía condições financeiras de fazer um curso profissionalizante”. A estudante teve de dormir duas noites em uma instituição particular para retirar a ficha de inscrição e fazer sua matrícula, na tentativa de conseguir bolsa. Claudia diz que “o ensino técnico possibilita ao estudante condições financeiras, para entrar numa universidade”. 14 Esporte outubro de 2006 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA Mais de 50 pessoas freqüentam as quadras do Parque Montaury para praticar tênis gratuitamente Ações levam esporte para população Bernardo Dias Bernardo Dias P Porto Alegre - Com o mesmo objetivo, incentivar e difundir o esporte à população, diferentes iniciativas são implementadas. Nas quadras do Parque Tenístico José Montaury, a prática de tênis é uma realidade acessível a todos, sem custos. O lugar é pioneiro na América Latina, tendo sido o primeiro jardim de recreio público com esporte na época, segundo a dissertação Lazer e cidade na Porto Alegre do sé culo 20: institucionalização da recreação pública, de Eneida Feix. Hoje, o local oferece aulas gratuitas a todas idades e classes sociais. Abertas diariamente, as três quadras do Parque Montaury são freqüentadas por 55 alunos. Todavia, há uma lista de espera de 40 pessoas querendo se matricular. A estudante Elisa Darsi, 15 anos, diz que adora jogar tênis. Elisa não pretende seguir carreira. “Uso o tênis apenas como atividade física e para me distrair um pouco”, explica. Raquel Suertegary é outro exemplo de quem joga apenas por diversão. A psicóloga de 27 anos voltou a praticar o esporte há pouco tempo: ”As aulas de graça foram um grande incentivo para mim, pois não teria condições de pagar um professor particular”. Para aqueles que gostam de competir, são organizados dois torneios por semestre no próprio parque. A iniciativa é da Secretaria Municipal de Esportes, através do professor Gilberto Bisso, 45 anos, que Parque Tenístico José Montaury é opção para quem quer aprender a jogar tênis, sem precisar pagar pelo uso das quadras esportivas ministra as aulas gratuitas. O professor conta que tem alunos de nove até 80 anos, classificados nas aulas por nível. “Para quem não possui material para jogar, nós emprestamos”, observa. Ciente da importância do projeto, ele reclama da falta de apoio tanto dos órgãos públicos como da iniciativa privada para evolução do esporte no Brasil. Na sua opinião, se houvesse mais iniciativas, como a do Parque Tenístico José Montaury, a base do esporte cresceria e a chance de surgirem novos talentos aumentaria. O gerente geral da Secretaria Municipal de Esporte, Gilberto Machado, conhecido como Betinho, afirma que o Parque Tenístico José Montaury deverá receber qualificações. As canchas, segundo ele, ganharão iluminação e melhorias no piso. Atualmente, a segurança e o paisagismo do Parque Montaury são feitos por uma instituição bancária da capital. Opções Outro lugar para praticar o esporte em Porto Alegre gratuitamente é o Parque Germânia. Inaugurado há pouco mais de três meses, no bairro Jardim Ipiranga, o parque público conta com infra-estrutura para diversos esportes, inclusive para tênis. Das quadras do local, duas são destinadas a esse esporte. O horário disponível para jogar é das 9 às 18 horas, com tempo máximo de uma hora por pessoa. A Secretaria Municipal do Esporte, conforme Betinho, pretende implementar aulas gratuitas também nas quadras públicas do Parque Germânia. Sobre a construção de novas quadras, Betinho afirma que é preciso disponibilizar um professor para atuar no local, além de haver uma negociação com os órgãos responsáveis. Ele acredita que o apoio da iniciativa privada é fundamental. Torcedores gaúchos: entre a paz e a guerra Tafael Medeiros Camisa 12, torcida organizada do Inter, tem cerca de 18 mil sócios Tafael Medeiros e Taffarel Marinho As torcidas organizadas vivem entre a paz e a guerra. Com espetáculos nos jogos, ajudam o time dentro e fora de campo. Por outro lado, convivem com as brigas, destruição de patrimônios e enfrentamentos com a Brigada Militar. A violência entre torcidas organizadas virou fato comum no Brasil. Os torcedores se mostram organizados a ponto de marcar ações via Internet. A polícia, através do site de relacionamento Orkut, está indiciando os envolvidos. No sul, após o Grenal do último dia 30 de julho, no qual torcedores do Grêmio queimaram banheiros químicos no Beira-Rio, estádio do Internacional, as torcidas organizadas passaram a ser alvo de discussão. Dos torcedores, 11, com idades entre 20 e 30 anos, foram indiciados por terem ateado fogo em banheiros. Segundo assessoria gremista, agora, além de ser vetado qualquer material de torcida organizada no estádio, em jogos, a entrada ao complexo do Estádio Olímpico só é permitida mediante a apresentação de documento de identidade ou da carteira de sócio. As visitas são fiscalizadas por seguranças do Clube. Uma roleta com identificação digital está sendo testada na entrada do portão e a tendência é que apenas associados possam acompanhar os treinamentos. Uma das maiores torcidas organizadas do Grêmio é a Super Raça, fundada em 1981. Hoje, tem cerca de 4 mil sócios. A Camisa 12, do Inter, segundo o presidente Miguel Dagnino, tem cerca de 18 mil sócios. Dagnino afirma que a Camisa 12 controla com rigidez o cadastro dos integrantes. Ele ressalta que gostaria de retirar a má impressão vinculada às torcidas organizadas. Uma alternativa para driblar a obrigatoriedade do cadastramentos de membros das torcidas organizadas junto à Brigada Militar são as torcidas independentes, como a Geral, do Grêmio, e a Popular, do Inter. Na torcida, opiniões divergentes Sócio do Grêmio há 10 anos e torcedor Charles Souza de Almeida disse que, após os acontecimentos do último Grenal, a segurança no estádio melhorou, com um efetivo maior de seguranças, inclusive a paisana, infiltrados na torcida. O torcedor apóia a proibição de torcidas organizadas no estádio em dia de jogos. Almeida encerrou salientando que a justiça deveria condenar o clube de alguma outra maneira, mas não proibindo a torcida e, principalmente, os sócios de irem ao estádio. Ele defende uma punição severa àqueles que mancharam a imagem do clube no Brasil. Já o colorado Marco Rocker é a favor da entrada das torcidas organizadas nos estádios, desde que os integrantes assinem um termo de responsabilidade. Rocker acredita que a proibição não resolverá o problema, porque essas pessoas entrarão no estádio de outro modo. Taffarel Marinho Podium As iniciativas que visam difundir o esporte continuam surgindo. Uma delas está sendo projetada pelo campeão mundial de Judô, João Derly. Aos 25 anos, ele pretende realizar um outro sonho. Inspirado no projeto Reação, desenvolvido pelo amigo e medalhista olímpico (bronze), Flávio Canto, na favela da Rocinha no Rio de Janeiro, que ensina o Judô e noções de cidadania a crianças, Derly está implantando o projeto social denominado “Instituto Podium”, em Porto Alegre. Ele orgulha-se de poder atender crianças carentes: “A criança precisa do ídolo. Alguém em quem ela possa se espelhar”. O nome foi extraído de uma referência que Viviane Senna - irmã de Ayrton Senna - fez na entrega do Prêmio Brasil Olímpico, citando que no pódio do esporte só existe lugar para os três primeiros colocados, mas que no pódio da vida existe lugar para toda e qualquer pessoa que trilhe o caminho da humildade, da perseverança e do bom caráter. “Quero formar, antes de qualquer coisa, campeões da vida”, projeta o judoca. Segundo o judoca, as atividades do projeto devem começar em seguida. O local já está definido: será no Centro de Desenvolvimento Comunitário (Cedeco), no bairro Morro Santana. Agora, conforme Derly, falta apenas as crianças se inscreverem. Colaborou: Daniel Freire, Lucas Cardoso e Rodrigo Pires Tênis gaúcho Bernardo Dias Colorados enfretam barulhos dos gremistas em dia de jogo no Olímpico O convívio com o rival O gaúcho é apaixonado por futebol. Vestir a camisa do time, ir ao estádio e, é claro, zombar dos torcedores de clubes rivais fazem parte do diaa-dia. Até então nenhuma novidade, mas situações inusitadas são vividas por torcedores colorados que moram ao lado do Estádio Olímpico. Ou, ao contrário, quando um tricolor mora do lado do Beira-Rio. Em enquete realizada ao redor do Estádio Olímpico, de dez torcedores, seis são colorados. É o caso de Leonardo Carvalho, que nos dias de jogo do Grêmio enfrenta muito barulho dos torcedores rivais. Mas, a presença do “inimigo” tão próxima não é alvo apenas de reclamações. Têm muitos que se aproveitam da vizinhança de um estádio para ganhar uma grana extra. Como faz Ismael Oliveira, um colorado que criou um estacionamento perto do Olímpico. Ele cobra R$ 10 para carros e R$ 5 de cada moto que fica no quintal da sua casa, durante os jogos do arqui-rival. Já em uma enquete feita ao redor do Beira-Rio, ficou constatado que dos dez torcedores entrevistados, apenas dois eram gremistas. Parte da minoria, o torcedor Renato Borges Sant’anna, 21 anos, mora em frente ao Beira-Rio. Apesar de reclamar do barulho, admite que a situação é normal, pois quando ele vai ao Olímpico assistir aos jogos do Grêmio, os torcedores das imediações também sofrem com o barulho. “Tirando os dias de jogos, tudo é tranqüilo”. Segundo colocado no ranking brasileiro e quarto no sul-americano da sua idade, o gaúcho Eduardo Moreira Dischinger, de 14 anos, treina para se tornar um jogador profissional. Ele joga tênis desde os 7 anos, e viaja pelo Brasil e pelo mundo para disputar torneios. Dudu, como é chamado pelos amigos, tem cerca de 60 troféus e acumula títulos como: Campeão Brasileiro em 2004 e Campeão SulAmericano por equipes, defendendo o Brasil. Recentemente, o tenista voltou de uma série de torneios na Europa, entre eles o Mundial na República Tcheca. “Foi uma grande experiência que me ajudou muito na melhoria do meu nível de tênis, pois lá vi que estou no mesmo nível dos melhores do mundo na minha idade”, alegra-se. Treinado pelo ex-tenista Eduardo Frick, Dudu é patrocinado por uma marca gaúcha que lhe fornece roupas e outra que lhe fornece raquetes. Ele lamenta não ter apoio para as viagens, pois os custos com passagem e hospedagem quase sempre são bancados pelos pais. “O tênis me trouxe coisas boas como ter amizades por todo o Brasil, experiência e amadurecimento”. Polícia Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA outubro de 2006 15 Assaltos nos transportes coletivos da capital aumemtam em 11%. Número assusta a população gaúcha Afinal, o transporte coletivo é seguro? P Claudia Jobin Claudia Jobim Porto Alegre - Andar de ônibus em Porto Alegre, a partir das 20 horas, tem representado uma ameaça para a população. O turno da noite tornou-se alvo para os salteadores, registrando mais de 50% dos assaltos aos coletivos nos últimos meses, segundo a Brigada Militar (BM). “Me passa tudo o que tu tem de valor sem dar um pio ou te cravo bala”. Essas são as palavras que até hoje não saem da memória da funcionária pública R.S., de 48 anos, vítima de assalto na linha 473, Jardim Carvalho/Salso. Eram 23h30 quando um homem sentou-se ao seu lado e empunhou-lhe a arma na cintura. Depois de tê-la roubado, o homem desceu do ônibus como se nada tivesse acontecido. Ao fazer queixa para o cobrador, ela ficou chocada com a resposta: “Minha senhora, não posso fazer nada, o importante foi que a senhora não reagiu, pois uma morte causaria problemas para empresa”. Um dos motivos para o cobrador agir dessa forma foi porque a BM dá instruções para funcionários dos transportes coletivos de como agir em caso de assaltos, mas não de como auxiliar os passageiros. De acordo com A.L., motorista de transporte urbano há sete anos, “a população tem que andar na fé e na sorte, principalmente durante a noite, quando o policiamento não é intensivo, facilitando a ação dos bandidos”. Assim aconteceu com o auxiliar administrativo e estudante de administração, P. C., de 24 anos, que estava voltando da faculdade durante a noite e foi assaltado na linha T4 por dois rapazes, que levaram o celular, o tênis e uma jaqueta, além do dinheiro dos demais passageiros e do cobrador. “Desde então, tenho voltado de microônibus para casa, ainda não me sinto totalmente seguro, pois na avenida Antônio de Carvalho não há policiamento, e passar por ali durante a noite é muito perigoso”. Ele conta que o pai dele morreu durante uma tentativa de assalto na linha Cefer 2. O estudante diz que segurança existe, o que falta é organização das autoridades no combate à violência. No consórcio Unibus, o número de assaltos registrados esse ano até agosto foi de 107. Houve redução de quase 45% em relação ao ano passado.O gerente operacional da empresa, Eduardo Bleurer, acredita que até o fim do ano esse número não ultrapassará 120. “Toda a nossa frota é equipada com cofres e, a cada retorno, o cobrador deve prestar contas. Andar com a caixa cheia é atrativo para os assaltantes”. Segundo Bleurer, é preciso fazer o rodízio de motoristas e cobradores em todas linhas a cada 15 dias, para que não haja envolvimento dos passageiros com os funcionários e também não facilite a ação dos assaltantes em determinados horários. A Cia. Carris Porto Alegrense não retornou o contato feito pela reportagem até o fechamento dessa edição. Somente no mês de julho desse ano, mais de 80 assaltos a ônibus foram registrados pela Brigada Militar estatísticas No período de 2004, foram registradas 318 ocorrências de assaltos em transportes coletivos, envolvendo 43 bairros de Porto Alegre. Partenon e Navegantes são os locais de maior incidência, apresentando 26,72% dos assaltos. Até março de 2005, houve uma redução de 21%, com 80 casos registrados. O Navegantes lidera, com 11,25% de assaltos. Porto Alegre conta hoje com 1.593 transportes coletivos. Desses, 1.270 são de empresas privadas e 323 da empresa pública Cia. Carris Porto Alegrense. Até agosto desse ano, foram registrados 942 assaltos, indicando um aumento de 11% em relação ao ano passado. Os principais pontos de ataque são as linhas T3, T6 e 473. O 20º Batalhão de Policia Militar registrou que na Zona Leste, bairros como Morro Santana, Rubem Berta, Lindóia e Vila Safira apresentaram um índice de 37,80% dos assaltos desse ano. A empresa Conorte totalizou 32,94% dos assaltos a coletivos, principalmente na linha Protásio/Humaitá com 8,75% no índice. Fontes: ATP/EPTC/BM Assalto aflige moradores Simone Freitas Simone Freitas Floresta - Quatro carros roubados e uma casa arrombada. Este é o saldo diário da violência em um dos bairros mais antigos de Porto Alegre: o Floresta. Conhecido também pela concentração histórica de prostituição, o bairro ocupa o sexto lugar na lista dos mais violentos. O número assusta, mas como o bairro já foi o segundo mais violento ainda há esperança de melhoras. Moradores e comerciantes do bairro estão preocupados com a ação dos marginais. Maurício Souza, funcionário há quatro anos de uma casa lotérica, conta que nesse período a loja onde trabalha foi assaltada sete vezes. “Em apenas uma das sete vezes os culpados foram pegos”, desabafa. Já a moradora Paula Garcia, que mora no bairro há 22 anos, teve a casa arrombada seis vezes. “Em uma das vezes, os bandidos me prenderam no quarto enquanto levavam minha televisão e outras coisas”, lembra. “O pior problema aqui são os assaltos”, declara Janaina Martinez, que mora no bairro há cinco anos. Ela também reclama dos arrombamentos, como o que aconteceu na casa da tia dela há um mês. Entre os moradores, é comum a opinião de que falta policiamento. “Acho que o problema dos assaltos e roubos seria resolvido se colocassem mais policiais na rua”, acredita Martinez. DICAS DE SEGURANÇA •M antenha distância de no mínimo 20 metros de suspeitos; •E steja atento às pessoas e aos locais onde transita; •E vite ser surpreendido; •O lhe nos olhos e nas mãos do possível delinqüente; •À noite, não ande na calçada e sim pelo meio da rua; •M antenha diálogo com os vizinhos e informe sobre mudanças; •P are longe do semáforo, caso esteja fechado; •T ranque •A nde bem as portas; em grupos à noite; •A qualquer sinal de possível abordagem, se houver a distância mínima de 20 metros, volte para trás e saia correndo; •S e for abordado por um criminoso, não reaja. Bairro Floresta é o sexto mais violento da capital gaúcha PARCERIA Para tentar reverter esse quadro, a Associação Cristóvão Colombo, junto com os moradores, vem tomando atitudes para melhorar a vida no bairro. “Uma das nossas buscas é uma maior circulação preventiva da Brigada Militar (BM)”, afirma o presidente da Associação, Beto Rigotti. A Associação se reúne uma vez por ano com a prefeitura, para discutir os problemas e buscar soluções. Esse ano foram discutidas alternativas para aca- bar com a insegurança e também com a prostituição. Além disso, outra alternativa iniciada pela Brigada Militar é o Brigada Cidadã, responsável por reuniões para auxiliar os moradores na prevenção de ocorrências. Segundo a BM, não é possível estar em todos os lugares ao mesmo tempo. “A Brigada não é estática. Quando há uma solicitação, precisamos atender as ocorrências, desde acidentes de trânsito a assaltos, e isso tira os policiais da rua”, explicou o Major Fonte: Brigada Militar Antônio Ney da Silva Júnior, que comanda a 4º Companhia do 9º Batalhão da Brigada Militar, responsável pela segurança da região. A Companhia também é responsável por um programa deconscientização dos moradores, no qual são apresentados os maiores problemas da região e dadas dicas de como se proteger da violência. Segundo o Major, é preciso se dar conta que a criminalidade vem aumentando muito em toda parte. Contra-ataque Mensalmente são realizadas reuniões entre representantes das empresas de ônibus da grande Porto Alegre e o comando geral da BM. O objetivo dos encontros é solucionar os problemas de segurança nos coletivos. O trabalho é feito pelo Centro Integrado Operacional de Segurança Pública (CIOSP). São avaliadas as medidas policiais específicas, tanto no policiamento ostensivo, quanto investigativo, dando prioridade nos locais apontados nas reuniões. Com o estudo que mostra os locais mais perigosos, pode-se desarticular esses assaltos, através da identificação e prisão dos assaltantes. A BM está com uma atuação mais concentrada nas seguintes áreas e linhas: Partenon, Navegantes, Sarandi, Centro, Rubem Berta, São Geraldo, Petrópolis e São João; T3 e T6 da Cia Carris Porto Alegrense. Em julho deste ano, numa ação conjunta da Unibus com o 20º BPM, foi efetuado um flagrante seguido de prisão, antes mesmo de ocorrer o assalto próximo à avenida Manoel Elias. O gerente operacional da Unibus, Eduardo Bleurer, estava seguindo a linha informando pelo rádio a viatura do 20º BPM e também o motorista do ônibus. “Prendemos o rapaz, antes dele colocar os pés dentro do ônibus, com uma arma, pronto para efetivar o assalto”. Furtos são transtornos Jerônimo Pires Zonas Norte e leste - “Crime que consiste na subtração de coisa alheia móvel, para si ou para outrem sem o consentimento de seu legítimo dono”. Essa é a definição de furto descrita no artigo 155, do Código Penal Brasileiro. Conforme dados apresentados pelo 20° Batalhão da Brigada Militar (responsável pelos bairros Sarandi, Rubem Berta, Morro Santana, entre outros), os furtos são os crimes mais comuns nessa região da Capital. Os números oficiais mostram um índice de furtos elevado em relação ao 19º Batalhão, responsável pelos bairros Santo Antônio, Partenon, Agronomia, entre outros. Só em março, foram 117 furtos, entre qualificados e simples. No 19° BPM, o número entre furtos qualificados e simples chega a 93. Isto é, na área do 20º BPM os furtos são cerca de 26% a mais. A estudante Letícia Leal comenta que os furtos na faculdade são constantes. “Eu sempre venho com meu irmão, ou com meu namorado, senão é muito perigoso”. Já outro estudante, Gustavo Reischak, discorda. “Eu ando à noite no Morro Santana e não sinto perigo”, afirma. O garoto que se sente seguro diz que sua residência já foi alvo de furto. “Já entraram aqui em casa e levaram uma bicicleta, essa sensação é ruim”. Ele acrescenta: “apesar de não achar o bairro perigoso, fiquei impressionado com o número de furtos”. A Brigada Militar, representada pelo soldado Caucano, diz que a polícia procura fazer um policiamento estratégico. “Colocamos policiais a pé e viaturas em pontos base, mas somos poucos. O nosso efetivo é o mesmo número de 1972. O déficit é gritante”, explica. Ele também comenta que nas proximidades da faculdade, na avenida Manoel Elias, “teria que se por uma viatura permanente, mas não temos equipamento nem pessoal para isso”. O soldado afirma que com essas providências a insegurança e o número de furtos diminuíriam. A região conta com duas delegacias, situadas nos bairros Sarandi (12ª Delegacia de Polícia) e Rubem Berta (22ª Delegacia de Polícia). Para fazer denúncias de crimes, os telefones das delegacias são: 3347-7270, do bairro Sarandi, e 3319-1657, do bairro Rubem Berta. 16 Polícia outubro de 2006 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA Alvorada sofre com o número de homicídios; moradores pedem providência, mas falta estrutura na Brigada BM tem defasagem de 150 servidores A Eliane Costa Eliane Costa Alvorada - O alto número de homicídios em Alvorada está gerando reclamações entre os moradores. Conforme dados da Brigada Militar (BM), em 2005, foram 85 assassinatos, ou seja, sete mortes por mês. Somente até agosto deste ano, foram registradas mais de 60 mortes. O 24° Batalhão de Polícia Militar considera que o crime de homicídio tem uma incidência elevada na cidade e que o número de policiais está abaixo do necessário, mas acredita que controla a criminalidade. O medo tem tirado as noites de sono de pais dos jovens e adolescentes, principais vítimas dessa modalidade de crime. Como é o caso da donade-casa Helena Silva, moradora do bairro Maria Regina. “Tenho medo. Quando meus filhos saem à noite, não consigo dormir enquanto eles não chegam”, confessa. Morador do bairro Americana, o comerciário Rodrigo Gomes, assume que a cidade sofre com problemas na segurança, mas reclama que a mídia faz alarde além do necessário. “Isso forma uma idéia que só existem marginais em Alvorada”. Indignado, o comerciante conta que já se sentiu constrangido, pois foi alvo de piadas por ser morador de Alvorada. Limitações O comandante do 24° BPM, tenente coronel Sérgio Roberto de Abreu, afirma que a maioria dos assassinatos na cidade tem endereço certo. “Não são homicídios aleató- rios”, disse, ligando os assassinatos ao tráfico de drogas. “Muitos jovens viciados não conseguem fazer o pagamento. Em conseqüência disso, são assassinados como uma forma de castigo”, afirma. Entretanto, o tráfico não é o único problema de Alvorada. Abreu informou que a Brigada conta hoje com 200 servidores, dos quais 160 estão ativos para o policiamento. Conforme comandante, o número adequado seria de 300 policiais. “Hoje, temos uma defasagem de 150 colaboradores, mas o efetivo está adequado a proporcionar um estado de controle da criminalidade. Um aumento do efetivo é necessário, é uma meta a ser atingida”, projeta. Outra situação complicada refere-se aos veículos. A BM conta com cinco viaturas para atendimento a chamados, três viaturas para operações táticoespeciais – patrulhas mais preparadas - e três no pelotão especial – grupo preparado para enfrentar situações em qualquer nível de gravidade. “Mas a disponibilidade de viaturas depende do estado de conservação, pois problemas mecânicos podem reduzir este número”, admitiu o comandante. Talvez a solução para redução da criminalidade seria a distribuição de postos de polícia pela cidade. Contudo, Alves acredita que é contra-indicado, porque os recursos são escassos. “Se nós tivéssemos uma fartura de viaturas, de pessoal, seria ótimo. Mas isso é inviável”, conclui. Solano César Carboni: saudades do irmão Luiz Alberto, assassinado em janeiro desse ano, em Alvorada Vida e Paz O coordenador do Movimento Alvorada Vida e Paz, Solano César Carboni, concorda que o tráfico é o grande responsável pela violência na cidade. Mas alerta que inocentes também perderam a vida. O irmão dele, por exemplo, foi assassinado no início do ano. Luiz Alberto Carboni foi vítima de um assalto no Jardim Aparecida e morreu na frente da mulher e dos filhos. Após a morte do irmão, Carboni conta que amigos e familiares reuniram-se e formaram o movimento com a finalidade de cobrar um posicionamento para conter a onda de violência e buscar justiça. O movimento fez encontros com autoridades – por exemplo, com o chefe da Casa Civil do Estado e com o superintendente regional da Polícia Federal - para reivindicar a melhoria da segurança pública. Em abril desse ano, também houve uma audiência pública na Assembléia Legislativa do RS. Estavam presentes representantes do Ministério Público e da Secretaria de Segurança do Estado, do comandante da BM da cidade e da Região Metropolitana, o prefeito de Alvorada e outras autoridades. “Mas até agora não vi muita coisa”, frustra-se Carboni. Segundo ele, as mudanças significativas foram a troca do comando da Brigada Militar no município e uma operação da Polícia Federal, no final de julho. Cresce denúncia de abuso à mulher Ligação perigosa Camila Jacques Camila Jacques Porto Alegre - A violência contra as mulheres está deixando a sociedade cada vez mais preocupada. De acordo com dados da Delegacia de Mulher de Porto Alegre, somente no primeiro semestre de 2006 foram registradas 4.067 queixas desse tipo de violência, somente no Distrito da Mulher da capital. No último semestre do a n o p a s s a d o , o c o r re r a m aproximadamente três mil ocorrências. Vale ressaltar que há 24 Distritos Policiais distribuídos na Região Metropolitana. No Rio Grande do Sul, há nove Delegacias de Polícia que contam com atendimento especializado para a mulher. Mesmo ultrapassando as quatro mil queixas, a violência contra a mulher pode ser ainda maior, pois muitas dessas vítimas não procuram as autoridades. “Por medo de continuarem sendo agredidas aceitam a situação e na maioria das vezes não comparecem à delegacia com medo do que irá acontecer com seus maridos”, diz a titular da Delegacia da Mulher de Porto Alegre, Adriana Regina da Costa. Ela também relata que os motivos da violência se dão na maioria das vezes em famílias desestruturadas, em que os homens são alcoólatras e consomem entorpecentes. meses a um ano, poderá ser triplicada. O agressor também poderá ser preso em flagrante, e a vítima só poderá retirar a queixa perante o juiz. “Esta nova medida intimidará o agressor”, acredita a delegada. Delegacia da Mulher recebeu mais de quatro mil denúncias TIPOS DE VIOLÊNCIA A violência física contra a mulher é só um dos tipos de agressão, existe também a física, sexual, psicológica e moral. “Nem imaginava que quando meu marido me obrigava a transar era um ato de violência”, disse a empresária N.R, 28 anos, moradora de um bairro de classe média. Ela é violentada freqüentemente, por isso preferiu não se identificar. Um problema da população é não conhecer as leis que vi- goram no Brasil. Manter relações sexuais com o marido não é uma obrigação matrimonial. No momento em que a mulher é sujeitada a trocar intimidades com seu marido mediante ameaça de violência passa a ser considerado estupro, segundo a Cartilha da Mulher, da Delegacia para a Mulher. Uma nova legislação, a lei n° 11.340, assinada pelo presidente do Brasil, chamada de Maria da Penha, ajudará e apoiará as vítimas de violência. A pena, que antes era de três REAÇÃO É importante salientar que o primeiro passo que as mulheres devem dar é ir à Delegacia de Mulheres. É preciso explicar o que aconteceu, pois para cada caso há um direcionamento. Existem casos que se resolvem logo, mas, na maioria das vezes, são longos e duradouros. As vítimas que se livram de seus agressores são conduzidas ao Centro de Referência, que oferece gratuitamente às mulheres acompanhamento social e psicológico. “O Centro é essencial. É muito difícil ‘voltar ao mundo’ depois de tudo o que aconteceu”, admite B.M, 34 anos. Depois de ser espancada pelo companheiro, durante seis anos, ela está conseguindo se reabilitar, freqüentando o local. O acompanhamento é extremamente importante, pois as conseqüências podem ser gravíssimas, desde o estresse ao suicídio, conforme a Cartilha da Mulher. Existe também um lugar que abriga as vítimas que precisam fugir do agressor. É a Casa Abrigo Viva Maria. O endereço não é divulgado por motivo de segurança. Adriana Gusmão Os cidadãos estão cada mais inseguros. Reféns da própria sorte, são vítimas constantes da criatividade dos criminosos. Antes, o perigo estava na rua ou dentro de casa, agora os bandidos estão indo além. A nova “modalidade” de crime acha a pessoa onde quer que ela esteja, basta que a vítima em potencial possua um telefone. É a chamada “extorção por telefone”. A.J. passou por essa situação. A vítima lembra que o filho, de nove anos, atendeu a ligação. Disseram que havia ocorrido um acidente com um homem de sua família. “Por isso, a criança passou para os criminosos o número de celular, meu nome completo, modelo do meu carro, tudo que me indentificasse”, contou. Com os dados, os criminosos ligaram para A.J., dizendo que o filho dele havia sido seqüestrado. A vítima tentava ligar para casa, mas o número estava ocupado. “Me pediram R$ 5 mil e disseram que, se eu não depositasse o dinheiro em uma hora, matariam meu filho. Por sorte, eu estava na rua e fui até em casa, não havia sequestro nenhum. Não passava de um trote”, relatou. O golpe O criminoso liga para a vítima normalmente com a des- culpa de ter havido um acidente de trânsito. Geralmente, se identifica como policial militar ou civil. Usa também o disfarce de operadoras de cartões de crédito ou de cadastro de lojas. Conversa até possuir informações suficientes para agir. “De posse desses dados, liga novamente para a mesma pessoa ou para o parente que conseguiu informações e simula um seqüestro”, explicou o delegado do Departamento Estadual de Investigação Criminal, Heliomar Franco. Em geral, o valor da extorsão varia entre R$ 1 mil e R$ 10 mil, pedidos para serem depositados em uma conta corrente de outro estado. Os marginais também pedem senhas de cartões pré-pagos de celular. As ligações rastreadas pela Polícia Civil de Porto Alegre indicam que são feitas de telefones celulares de presos que cumprem pena em Bangú 3, na cidade do Rio de Janeiro. “É muito importante alertar a sociedade sobre esse tipo de golpe. Já atendemos pessoas aqui na delegacia que chegam falando no celular com os criminosos. A nossa instrução, quando a pessoa recebe esse tipo de ligação, é sempre pedir um telefone fixo do órgão de onde o indivíduo se identifica e ligar para confirmar a versão”, ensina o delegado Franco. Comportamento Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA outubro de 2006 17 Eles fazem da rua seu local de trabalho, mas os esforços compensam: alguns ganham em torno de R$ 3 mil Os ‘Dom Juans’ da rua José Bonifácio B Fotos: Cleidi Pereira Cleidi Pereira BOM Fim - A rua José Bonifácio (JB), em Porto Alegre, apresenta múltiplas faces. No início da semana, durante o dia, é um local bem movimentado: mulheres passeiam com seus cães, homens correm pelo parque, crianças se divertem na pracinha. Nas manhãs e tardes de domingo, acontece o Brique da Redenção. É o dia com maior movimento. Casais passeiam de mãos dadas, famílias reunidas tomam chimarrão, vendedores e artesãos estão por todos os lados e tribos de vários estilos se reúnem. Mas é com a aproximação do final de semana que o movimento noturno aumenta. Saem as famílias e surge a figura do “michê” (garoto de programa), considerado pelos moradores um problema da região. A maioria deles esconde a profissão dos familiares; alguns por vergonha, outros por medo. Josué, Júnior e Marcelo, identificados por nomes fictícios, são garotos de programa que possuem histórias de vida distintas. Loiro, alto, bem vestido e charmoso. Josué, 29 anos, trabalha como garoto de programa na rua JB. Esse é seu único emprego. Decidiu se prostituir porque a “grana” vem com facilidade e por gostar da noite, mas não do seu trabalho. Escolheu a JB “pelo fato de ser um lugar livre, por não precisar pedir permissão para ninguém e poder andar pela rua sozi- nho”. Ele ganha aproximadamente R$ 3 mil por mês. Com o dinheiro adquirido ao longo de seis anos de trabalho conseguiu comprar uma casa. É solteiro, tem quatro filhos e a família desconhece sua profissão. Atende geralmente casais. Homossexuais e mulheres também o procuram. “Às vezes, vem cara casado com mulher bonita, não entendo! Vem ‘coroa’ com carro legal, podendo ‘pegar’ umas mulheres. Acho que é fantasia. Cada um é cada um”, presume. Estatura média, cabelos cacheados cobertos por um boné e barba para fazer. Marcelo, 37 anos, é mais procurado por casais. Ele é solteiro, concluiu o Ensino Médio e se prostitui há quase dois anos. Cobra R$ 30 por programa e também trabalha como motoboy. Ganha aproximadamente R$ 1,5 mil por mês. Marcelo cita como principal dificuldade ter que sair com pessoas com más intenções. “Colegas meus já apanharam. Já aconteceu de chegarem em três, fingir que queriam fazer um programa, mas na verdade queriam mesmo era ‘sacanear’ o cara”. Ele não se envergonha da profissão, mas a esconde por respeito à mãe, com receio de decepcioná-la. Marcelo é viciado em cocaína e conta que a maioria dos seus colegas e clientes também é. Mas ainda pretende sair dessa vida e cursar hotelaria. “Às vezes vem cara casado com mulher bonita, não entendo!” Termômetro marca 8°C, mas os “michês” da JB aguardam clientes Adolescente na noite da JB Júnior não tem voz e nem corpo de homem, mas é procurado por homens de todas as idades. Ainda é um adolescente, porém mora sozinho e paga suas contas. Nasceu em Florianópolis. Saiu de casa cedo e com 16 anos começou a se prostituir. Hoje, tem 17. Estudou até o primeiro ano do ensino médio e não pretende continuar. A mãe dele sabe do trabalho, mas não se importa. A dificuldade de conseguir um emprego e a influência de amigos que trabalham no local fizeram com que ele migrassepara a vida de garoto de programa. Cobra entre R$ 40 e R$ 50, dependendo do tempo que fica com o cliente. Consegue ganhar por mês R$ 600. Júnior não vê nenhuma vantagem e não se envergonha da profissão. Vizinhança indesejada Semiramis Gorini, 62 anos, mora há quase 30 anos na José Bonifácio. Ela conta que apesar da presença de garotos de programa não trocaria a rua por nada, pois gosta do local onde vive. Quando se mudou, havia poucos michês na região. O auge da concentração no local ocorreu na década de 90 e agora a presença deles começa a diminuir. “Eles já foram em maior número, mas acho que as ações de repreensão que a polícia realizava ajudou a afastá-los e também pelo fato de que muitos já morreram devido ao HIV”. Gorini conta que os moradores que não deixaram a rua tiveram de adaptar-se à presença dos michês no local. “Tenho vizinhos que não saem à noite, a maioria dos edifícios colocou grades”, afirma. Segundo ela, idosos e famílias sentem-se agredidos, pois, na tentativa de vender seu corpo, alguns dos garotos tiram a roupa, abordam os carros e até os namorados de moradoras da José Bonifácio. “Existem os discretos e os mais extravagantes. Estes fa- zem de tudo para chamar a atenção de quem passa”. Para a moradora, o grande problema não é a presença deles em si, mas o fato de atraírem oportunistas como traficantes ou assaltantes infiltrados. Até mesmo alguns garotos de programa admitem que há exageros. Josué, por exemplo, diz possuir uma relação tranqüila com os moradores da região. Porém, alguns colegas mais “audaciosos” incomodam a vizinhança. “Têm vários garotos que tiram a roupa no meio da rua para atrair a clientela, acho que isso deve incomodá-los”, comenta. O presidente da Associação dos Amigos do Bairro Bom Fim, Jairo Miguel Verba, conta que já foi realizado um movimento para a retirada dos michês da rua. Mas foi em vão. “A atividade desses garotos prejudica os moradores, pois eles são obrigados a conviver com atos de exibicionismo, atentado ao pudor, às vezes, sexo em público e, em alguns casos, situações de violência”, afirma o presidente da Associação. José Bonifácio é o ponto da prostituição masculina em Porto Alegre Garotas de programa têm lucros de até R$ 2,5 mil Carlos Ismael Carlos Ismael Moreira Centro - Apesar das dificuldades e perigos, principalmente em relação à saúde física e mental, a prostituição tem se mostrado um negócio lucrativo. Profissionais do sexo, como a “Bruna Surfistinha”, chegam a lançar livros (O Doce Veneno do Escorpião, pela editora Panda Books) e “se aposentar” antes de completar 25 anos de idade. Em Porto Alegre, parece não ser diferente. Em entrevistas, pedindo para se identificar com pseudônimos, prostitutas contam histórias que revelam como é o seu dia-a-dia. Mônica, 24 anos, trabalha em uma esquina da avenida Farrapos. Ela diz que encontrou na prostituição a oportunidade de pagar suas contas. O tratamento da doença da mãe obrigou Mônica a contrair dívidas que ela não tinha previsto. “Depois que comecei a fazer programas, estou conseguindo pagar minhas dívidas. Conforme o movimento, consigo faturar mais de R$ 2,5 mil reais por mês”, afirma. No entanto, ela diz que irá largar a prostituição logo que pagar seus credores. “Assim que der vou parar de fazer programas. Tenho um pouco de medo, por isso trabalho até as 22 horas, no máximo”, confessa Mônica. Susana, 42, trabalhou como secretária e caixa-operadora. Quando ficou desem- pregada, procurou a prostituição. E não se arrepende. Depois que começou a fazer programas, ela nunca faturou menos de R$ 1 mil por mês. “Enquanto tiver um homem que pague pelos meus programas, vou continuar trabalhando”, confirma. Até mesmo menores de idade recorrem à profissão. Priscila, que hoje tem 28 anos, admite que entrou na prostituição aos 17. Devido a brigas familiares, saiu de casa e percebeu na prostituição uma forma de sobreviver vendendo o corpo na avenida Farrapos. Ela mostra uma cicatriz nas costas, que “ganhou” em uma briga com outras prostitutas. Segundo Priscila, a disputa por espaço de trabalho é uma das dificuldades enfrentadas pelas profissionais do sexo. Porém, com seu trabalho, Priscila conseguiu comprar duas casas – uma delas na praia – e concluiu a formação superior em Letras. Já nas casas noturnas de Porto Alegre, o valor dos programas não sai por menos de R$ 150. Estimase que as garotas chegam a ganhar mais de R$ 5 mil reais por mês. No entanto, Priscila acha que trabalhar por conta é mais vantajoso. “Quando a gente trabalha sozinha o dinheiro é só nosso. Nas casas de prostituição, às vezes metade do dinheiro fica para o dono”, explica. Na rua ou em casas de prostituição, mulheres encontram na venda do corpo a renda para pagar suas contas mensais Prostituição é reconhecida como profissão Se há algum tempo prostituta era sinônimo de mulher desocupada, infame e semvergonha, hoje em dia essa situação tem mudado de figura. A maior parte da sociedade desconhece, mas a prostituição já é reconhecida como atividade profissional pelo Ministério do Trabalho e faz parte da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). Em 2003, o Ministério do Trabalho definiu característi- cas e inclui na CBO a ocupação de Profissional do Sexo. Esse trabalho foi realizado em parceria com a Rede Brasileira de Prostitutas e as demais associações de prostitutas do país – dentre elas, o Núcleo de Estudos da Prostituição de Porto Alegre (NEP). “Essa foi uma conquista para as prostitutas, pois a partir dessa classificação, se contribuírem ao INSS, terão o benefício da aposentadoria e direito a trata- mentos de saúde ”, informa uma das fundadoras do NEP, Tina Taborda Rovira. No entanto, com a inclusão na CBO, a prostituição passou a ser reconhecida apenas como profissão informal, porque existem artigos no código penal (228, 229 e 231) que impedem a regulamentação como atividade profissional formal. Dessa forma, as prostitutas não têm direitos trabalhistas assegurados. O deputado Fer- nando Gabeira (PV) apresentou, em 2003, um projeto de lei (98/2003) que determina a regulamentação de pagamento por serviços de natureza sexual e propõe a revogação desses artigos. Com isso, os empresários que mantém casas de prostituição sairiam da ilegalidade e ficariam obrigados a pagar direitos trabalhistas às prostitutas que empregam. O projeto ainda está em tramitação no Congresso Nacional. 18 Comportamento outubro de 2006 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA Daniel Freire Leitura atua como um alimento para a alma e traz sentido à vida de um morador de rua da Capital Intelectual de rua R Rio Branco - Na avenida Protásio Alves, entre as ruas Vicente da Fontoura e Santa Cecília, no bairro Rio Branco, sob a marquise pequena de uma portaria desativada, um senhor de aparência simples, carregando marcas que denotam o abandono social, improvisa seu espaço para dormir na fria noite de Porto Alegre. A cena seria só mais uma entre tantas que revelam a dura realidade de pessoas que vivem à margem da sociedade, se por trás dessa atmosfera lúgubre e indecente não existisse um ser faminto por leitura. Paulo Roberto Soares, 51 anos, é o que se pode chamar de erudito da fatia social sem voz e desesperançado, produto do desequilíbrio entre as classes no Brasil. Esse senhor, que na adolescência encantou-se pela publicidade e tentava representar o mundo através dos desenhos – sem esquecer sua primeira paixão, a leitura –, sonhava em ser publicitário. Hoje, porém, passa os dias a procura de biscates e encara os dissabo- Daniel Freire res das ruas sempre na companhia dos livros, revistas e jornais que o ajudam a suavizar o dia-a-dia. Mas como surgiu o fascínio pela leitura na vida desse homem? Ele conta que, ainda na infância, sua mãe e também a tia davam revistas em quadrinhos de Walt Disney para o então garoto que iniciara o processo de alfabetização. Esforçou-se para adquirir, o mais depressa possível, o domínio sobre a leitura para que não dependesse de outras pessoas e hoje reconhece o papel relevante da escola em seu aprendizado. Aponta a dificuldade financeira da família e a necessidade de trabalhar como fatores que o tiraram das salas de aula. Confunde-se quando perguntado sobre até que série cursou, mas acha que chegou a concluir o 1º grau. Carrega um certo orgulho de ter influenciado positivamente a vida de um primo, mais novo do que ele, que era sempre submetido aos caprichos da leitura. O primo agora é jornalista – Paulo Ricardo de Moraes –, trabalha no setor de comunicação social da prefeitura de Porto Alegre e escreveu um livro de destaque sobre o ícone da Revolta das Chibatas, João Cândido (“O Almirante Negro”). Infelizmente, o jornalista não foi localizado para se pronunciar sobre o fato, pois está de licença do cargo e o seu celular estava desabilitado. Literatura clássica Soares, esse ilustre morador de rua, gosta de literatura clássica brasileira, dos estilos de Machado de Assis e José de Alencar. Está lendo no momento “Memórias de um Sargento de Milícias”, de Manuel Antônio de Almeida. Ele destaca um dos melhores livros que leu: “A Ilha”, de Fernando Morais – sobre Cuba e seu regime de governo. Demonstra conhecimento sobre os mais variados assuntos e consegue com segurança dialogar a respeito de Política, História, Meio Ambiente e Geografia. Livros ajudam na fuga da realidade O morador de rua credita o seu conhecimento à leitura, a qual classifica como uma forma de manter-se antenado com o mundo e um alento à vida. “A leitura proporciona conhecimento e informação, abertura do pensamento, além de te dar possibilidade de conhecer culturas diferentes nos mais longínquos lugares sem sair do lugar de onde se lê. E, no meu caso, se afastar, esquecer a dura realidade”, definiu. Para ele, quem lê viaja para “dentro” da história. “Nas histórias que falam sobre banquetes, comida, fartura, sinto-me personagem também e sacio, em parte, a minha fome”, diz. Quando o assunto é a família, ele se retrai. Apenas disse que tem dois filhos, não conheceu o pai e teve pouco contato com a mãe, que viveu muito tempo trabalhando como empregada doméstica em Santos (SP). Após o retorno da mãe a Porto Alegre e a reaproximação que começava a recompor o laço afetivo, teve duas grandes decepções: a morte da mãe e o término de seu casamento. O intelectual das ruas, Paulo Roberto Soares, 51 anos, é um apaixonado pelo ato da leitura Secretaria disponibiliza obras O coordenador do Livro e Literatura, da Secretaria Municipal de Cultura, Baiard Brocker, realça o poder transformador da leitura e sua funcionalidade como exercício mental fundamental para o desenvolvimento de nossas capacidades. “A partir das imagens criadas pela leitura que se faz de um texto, todo esse construto mental é que possibilita crescer, seguir em frente”. Brocker frisa que quanto menos instruídas as pessoas são, menos exercício da leitura praticam. Como conseqüência, aponta, elas são fáceis de se manipular e não conseguem reivindicar seus direitos, porque não têm clareza do que acontece em volta delas. Questionado acerca da viabilidade de algum projeto que pudesse trabalhar a potencialidade de Soares, o morador de rua que ama a leitu- ra, o coordenador afirmou que o processo de inclusão é “complexo” e há a necessidade de um acompanhamento estratégico de uma equipe multidisciplinar. Não obstante, apresentou a idéia de disponibilizar uma urna com um pequeno acervo por parte da Biblioteca Pública Municipal Josué Guimarães, renovado a cada 15 dias. As obras literárias seriam administradas por Soares e serviriam como uma forma de aproximação a atividades de leitura entre as pessoas do convívio dele. Para o coordenador, essa iniciativa pode gerar bons frutos. Resta saber se o morador de rua Paulo Roberto Soaresconseguirá convencer os outros moradores de rua a buscar na leitura uma forma de combater, ou, pelo menos, esquecer, temporariamente, do descaso da sociedade. Rompimento A doutora em Antropologia Social, Cláudia Turra, explica que ocorre uma sucessão crescente e cumulativa de rompimentos que vão se processando na trajetória das pessoas até que elas se instalem na rua. Esses rompimentos vão dos mais visíveis como a perda do emprego, a exclusão da escola e a destruição dos laços conjugais e familiares; até rompimentos mais sutis e invisíveis, os quais implicam na perda da partilha simbólica, na partilha de sentidos e no reconhecimento social de sua existência. Para Turra, o direito à cultura fornece condições para preencher um vazio social e é capaz de contribuir para a aproximação e o respeito entre indivíduos ou segmentos sociais pertencentes a classes distintas. Mercado Público: retrato do outro lado do balcão Fotos: Aline Marques Aline Marques CENTRO - Erva-mate a granel. Cuias de porongo penduradas à altura dos olhos. Versos do gerente-poeta ecoando pelo Bar Naval. Gente tranqüila. Gente apressada. Venda de vale-transporte no portão. Executivos na escada rolante. Um cadeirante comprando revistas. Conversas. Risos. Gritos. Sotaque paulista, sotaque argentino. Cheiro de peixe. Cafezinho. Almoço. Barulho. Barulho... Esse é o cotidiano do Mercado Público, um importante ponto comercial da capital. Diariamente, 150 mil pessoas circulam por essa construção de alvenaria que foi a primeira a ocupar um quarteirão inteiro de Porto Alegre. Desde 1869, é cenário de inúmeras histórias vividas por quem compra, vende ou só passa pelo local. Alguns circulam anônimos, mas as histórias de quem está do outro lado do balcão comprovam que muita gente faz do Mercado o seu segundo lar. Paulo Naval, 70 anos, em janeiro de 2007, completará 50 anos de trabalho no Mercado. Além de gerente de bar, Naval é poeta. Ele atende os fregueses com os versos na ponta da língua. Têm livros publicados, mas confessa que sua maior paixão é a rotina do Mercado. “Aqui é o meu segundo domicílio. Aqui falo com os meus amigos e Disque-peixe Ele acorda às 5 horas. Todos os dias, Carlos Cézar de Andrade Vasconcelos repete a mesma rotina. Sai de sua casa em Sapucaia do Sul e pega o trem, em direção à Feira do Peixe. Ele é o gerente de uma peixaria, onde trabalha há 26 anos. Andrade revela que na Feira do Peixe se ganha o freguês no grito. “Quem chega procurando tainha, corvina, anjo ou salmão, ouve ofertas por todos os lados”, afirma. Curiosamente, a peixaria faz muitas vendas pela teleentrega e, por essa razão, o gerente tem alguns fregueses há anos e nem sequer os conhece. Como exemplo cita sua relação com o proprietário de uma churrascaria de Canoas. “Falo com o ‘Seu Camilo’ por telefone, mas nunca o vi. Brinco que não sei se ele é amarelo ou branco, baixo, alto...”, diverte-se. Atrás dos balcões das diversas bancas do Mercado Público, existem muitas histórias que dão vida ao antigo prédio localizado no centro da Capital estou em atividade. Pego o sorriso de um e de outro, faço uma brincadeira e o tempo passa mais rápido”. Ele lembra saudoso da época em que Lupicínio Rodrigues freqüentava o bar. “Em 1957, ele costumava vir aqui depois da boemia. Sentava sempre em uma mesa no fundo e me pedia um papelzinho e um lápis. Assim ficava. Entre um gole e outro, escrevia”. De Quintana a Gaúcho da Fronteira “Mario Quintana, também, era freqüentador daqui”, lembra Fiorino de Miranda, que trabalha há 26 anos em uma banca do Mercado e orgulhase de tê-lo servido. ‘Seu Fiorino’ recorda, inclusive, que em 1930 a banca era o único lugar da capital que servia sorvete. “A criançada ficava alegre quando o pai prometia trazer para passear aqui”. Turistas costumam ser público freqüente por lá. Pensando nesse nicho, Roberto Groff, que trabalha há 18 anos em uma loja no Mercado, criou o Kit de Lembrança. “O kit foi feito especialmente para o turista. Contém uma cuia, uma bomba e uma bandeira do Rio Grande do Sul. Quem compra leva um pouco da nossa cultura”, garante. Pessoas conhecidas, como os cantores nativistas Gaúcho da Fronteira e Berenice Azambuja, também, costumam visitar a loja. “Quando eles vêm ao Mercado, sempre passam por aqui”. HISTÓRIA O prédio de 137 anos passou por três incêndios. Ele sobreviveu, mas conserva marcas como uma placa no portão central que mostra a altura da água na enchente que alagou Porto Alegre, em 1941. O Mercado foi tombado como Patrimônio Histórico Cultural de Porto Alegre, em 1979. A restauração foi em 1991 e hoje abriga 107 estabelecimentos. Cultura Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA outubro de 2006 19 População se rende à música e ao estilo das bandas de vilas da capital, que reclamam da discriminação Talento e cultura emergem da periferia P Lucas Cardoso Lucas Cardoso Porto Alegre - A musicalidade da periferia de Porto Alegre está em evidência. Além de conquistar um público cada vez maior e fiel, as bandas formadas em favelas e vilas ganham espaço nas grandes mídias. Exemplo disso é uma grande emissora de televisão brasileira, que criou o Programa Central da Periferia. Por ironia, as próprias bandas se sentem discriminadas por uma parcela do público das classes mais altas, bem como por alguns empresários que contratam os shows. De fato, as bandas cativam o público com estilos como pagode, funk, hip-hop, samba, entre outros, mas o que parece contar mesmo para uma fatia da sociedade são as origens dos artistas e de como o público irá interpretá-los. “Estamos diante de uma situação que pensávamos não existir mais, mas o que se vê é que, por mais que isso esteja sendo reduzido em grande escala, o preconceito racial e de classes ainda vigora, o que acaba dificultando para bandas que estão iniciando agora a busca por seu espaço”, diz Tiago, do Grupo Perifa. Na pele Quem confirma a discriminação é o Grupo Louca Sedução, que possui suas raízes no morro da Maria da Conceição, bairro Partenon, uma das comunidades mais pobres de Porto Alegre. Se- gundo eles, o grupo está acostumado a ver esse tipo de coisa acontecer para várias bandas, principalmente as que estão iniciando ou que são de comunidades parecidas com a do Morro Maria da Conceição. Público O público manifesta orgulho ao ver que os artistas dessas comunidades mais pobres estão ganhando espaço na mídia. O aposentado Marco Antônio Silva, 58 anos, e 47 morando no morro Maria da Conceição, diz que viver na favela requer uma luta diária. “Temos que ‘matar um leão por dia’, tanto para conseguir um trabalho como para mostrar que não é porque somos da favela que temos que ser bandidos”, esclarece. Silva acrescenta que, no morro também há trabalhadores como os artistas, “por isso temos mesmo é que aplaudir e dar todo nosso apoio”. Uma coisa é certa: geralmente, as pessoas preferem se relacionar com outras que têm os mesmos níveis sociais. Porém, conforme avalia o Secretário de Cultura de Porto Alegre, Sergius Gonzaga, é necessário informar que se pode sim ter uma festa com todos os tipos de pessoas. “O ponto principal que determina o público freqüentador é a questão geográfica, ou seja, o local que vai ocorrer tal festa é o fator determinante do público que vai comparecer”, comenta. As gravações ocorreram no Morro da Maria da Conceição. O enfoque foi em temas sobre as origens do grupo de pagode de Porto Alegre Rompendo barreiras com a música Preconceitos à parte, a música do Rio Grande do Sul tem ganhado respeito em várias partes do Brasil. Tanto que o Programa Central da Periferia, apresentado por Regina Casé, compareceu a Porto Alegre, abordando vários segmentos da música da Capital. Na ocasião, apresentou para todo o país artistas que já fazem sucesso dentro de suas esferas sociais menos favorecidas, que não são reconhecidas pela exposição na mídia. “O intuito do programa não é o de fazer com que esses grupos tenham sucesso em todos os lugares, e sim divulgar que existe música e projetos de qualidade aqui em Porto Alegre, e não todo mun- Oficina leva cultura ao Humaitá Eduardo Iribarrem Eduardo Iribarrem Humaiá - Levar a arte aos bairros da periferia de Porto Alegre. É com este objetivo que foi criado, há quatro anos, o projeto Descentralização na Cultura. O Grêmio Esportivo Ferrinho, localizado no bairro Humaitá, sedia a Oficina de Teatro que integra o projeto organizado pela Prefeitura. Além de participar como atores, os alunos têm a oportunidade de participar do processo de construção dos roteiros das peças de teatro. “Um grupo de teatro desenvolvido na comunidade se torna mais forte na cidade. Nossa preocupação é viabilizar a arte para a comunidade”, afirma o aluno Elidson Lucas, de 19 anos. O Descentralização da Cultura promove periodicamente eventos nos quais a comunidade dos bairros pode participar, e se inscrever em oficinas de músicas, ballet, literatura, teatro, entre outras. Durante o 13º Porto Alegre em Cena, o projeto desenvolveu a apresentação de algumas peças nacionais nos bairros, como “Chega de História”, estrelada por Tônia Carreiro e que foi levada ao Humaitá. o início O projeto começou em 2002, quando Vera Mesquista deu aulas de interpretação e montou “Zé”, cujo texto foi escrito em conjunto com os próprios alunos da oficina. Em 2003, com a chegada do dire- Ravena Dutra do Humaita é uma das estrelas do espetáculo Andy/Edie tor da Terreira da Tribo, Paulo Flores, os integrantes da oficina formaram o Grupo Trilho e montaram, entre outras peças, “A Invasão”, baseada na obra homônima de Dias Gomes. Atualmente, as aulas de interpretação são coordenadas pelo diretor João Ricardo, fundador da Cia. Espaço em Branco. Nas aulas, o diretor trabalha a forma de expressão corporal e emocional com alunos de idades entre 12 e 29 anos. “O João mudou minha vida na história do teatro. Trouxe uma pro- posta inovadora no que se refere à descoberta do corpo. Ele faz as pessoas expressarem o que realmente são”, afirma a aluna Ravena Dutra, 19 anos. Dutra está se dando tão bem na oficina que foi levada ao Teatro de Arena, onde acontece o espetáculo dirigido por João Ricardo Andy/ Edie. “Agora que estou em uma Cia. as pessoas pensam que sou uma profissional. Mas para mim, apesar de ter uma mídia maior das outras coisas que fiz, é como qualquer outro trabalho”, refere. do andando a cavalo e de bombacha pelas ruas escutando somente música gaudéria”, disse a diretora do Central da Periferia Patrícia Guimarães. A afirmação vai ao encontro do que diz o vocalista da banda Louca Sedução, Leandro Antunes. “Nossa intenção não é sair da periferia, mudar o nosso público e sim ter uma resposta melhor de todos. Até mesmo porque quando escrevemos as letras de nossas músicas, não buscamos um público-alvo, e sim fazer um samba de qualidade com letras consistentes”, revela. Ele garante que faz shows em locais onde todos se divertem, independente da classe social. Ampliação Projeto fomenta a cultura juvenil Outro projeto idealizado por Andy pretende colocar todo o elenco do Grupo Trilho em um espetáculo sobre o amor. A proposta é usar fragmentos de diferentes textos, de variados dramaturgos que tenham em comum o tema amor, construindo um só ambiente, buscando a total interação entre o público e os atores em cena. Até a concretização do espetáculo, o Grupo prepara para outubro a estréia de “A mais valia vai acabar, Seu Edgar”, de Vianinha Filho, com a direção de Paulo Flores. Para o aluno Elídson Lucas, de 19 anos, “a idéia da Descentralização é muito boa, mas peca por não dar continuidade no processo. Cada ano é um oficineiro diferente, e isso quebra o processo de construção de grupos que é a nossa verdadeira intenção”. Além de aluno da Oficina, Elídson também cuida da parte administrativa e de desenvolvimento do Grupo Trilho e conta que um processo para transformar o Grêmio Esportivo Ferrinho, que fica na Rua Dona Teodora, 1250, em Centro Cultural já está em andamento. Outras informações sobre a programação do projeto podem ser obtidas através do telefone 3212-5979. Centro - Desenvolver a capacidade, a inteligência e o potencial de cerca de 190 crianças e adolescentes carentes de Porto Alegre. Esse é o objetivo principal do Projeto Abrindo Horizontes, idealizado pela Casa de Cultura Mário Quintana, em 2004. Além de realizar diferentes oficinas, o projeto tem como iniciativa pioneira trazer crianças e adolescentes para dentro da Casa de Cultura, ao invés de deslocar as ações nas vilas da cidade. As oficinas oferecidas pela Casa de Cultura Mário Quintana estão dando uma nova perspectiva de vida para os assistidos. De acordo com as adolescentes K. V. e J. O., ambas com 15 anos e freqüentadoras da oficina de literatura, o projeto ajuda a progredir na escola, incentiva a leitura, torna os jovens mais criativos e ainda oportuniza novas amizades. O Abrindo Horizontes, que foi fundado em 2004, já começou a dar resultados. Segundo a oficineira Djine Klein, crianças e adolescentes chegam agitadas e desrespeitando umas as outras. “Todavia, passando o período de sociabilização, que dura cerca de 30 dias, atitudes negativas vão sendo substituídas pelas positivas. Os jovens se tornam mais educados e há uma me- Laura Karnas lhora significativa em suas concentrações”, garantiu. De acordo com o funcionário e também monitor da Fundação de Atendimento Sócio-Educativo do Rio Grande do Sul (FASE), Eduardo Souto, o projeto é muito importante, pois ajuda os adolescentes a serem reintroduzidos na sociedade e a conviver com as outras pessoas novamente. O diretor da Casa de Cultura, Sérgio Napp, comenta que o objetivo maior é fazer com que as crianças ajudem a si próprias. “Nós emprestamos as ferramentas, mas elas têm que se ajudar”concluiu. O projeto O projeto Abrindo Horizontes realiza oficinas que acontecem de terças às sextas-feiras, na Casa de Cultura, e permite que os participantes tenham acesso a aulas de literatura, dança de rua, capoeira, música, informática, teatro, fotografia, artes plásticas, origami, fábrica de brinquedos e ludoterapia. Além de poderem usufruir as salas de cinema e teatro. A Casa de Cultura Mario Quintana recebe cerca de 190 jovens, carentes, em situações de risco e idade entre sete e 17 anos, que buscam o seu lugar ao sol. 20 Cultura outubro de 2006 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA Reprodução de Camila de Moraes, fotos cedidas por Maria Noelci e Irene Santos Bairro Rio Branco foi um reduto que abrigou milhares de pessoas negras na metade do século 19 até os anos 40 Colônia Africana: um marco na história de POA Camila de Moraes R Rio Branco - Existe em Porto Alegre um local que tem uma história marcante para a sociedade gaúcha. Na metade do século 19 até os anos 40 do século 20 consolidou-se um Território Negro Urbano nas mediações dos bairros Rio Branco, Bom Fim e Mont’Serrat. A história foi contada em publicações feitas em meados dos anos 80 e 90 do século passado sobre a Colônia Africana, como ficou conhecido o reduto de pessoas negras. Estima-se que a população girava entre 20 e 30 mil pessoas. O atual bairro Rio Branco, onde havia uma pedreira, era habitada por diversos quilombos e, como era a parte mais alta da Colônia, no local se concentravam alguns terreiros. “Um conjunto de famílias negras desenvolviam intensamente os cultos e hábitos característicos da cultura africana”, comenta Pedro Cunha, 72 anos, que na sua juventude foi freqüentador do local. Seu Pedro, como é conhecido, ainda conta com orgulho que a trajetória de vida desse povo é de resistência. A maioria da população trabalhava como pedreiro, alfaiate, empregadas e assim conseguia ter uma vida integrada à comunidade. Algumas vias da Colônia ganharam calçamento graça a alguns jovens “arruaceiros” que, para não ficarem detidos na delegacia, tinham que calçar alguns metros das ruas. O trecho da rua Casemiro de Abreu entre a rua Mariante e o Instituto Porto Alegre da Igreja Metodista (IPA) receberam seu calçamento nessas circunstâncias. Nilo Feijó, 73 anos, que morou na Colônia Africana até os 10 anos de idade, comenta que o local era tomado por chalés de madeiras, pois naquela época não existiam edifícios como os que têm hoje. “Por várias décadas, esse foi um reduto onde os negros se reuniam e confraternizavam juntos, havia uma amizade e união de todos que pertenciam a essa grande família”, recorda Feijó. Valorização ou desvalorização? Mas a grande família não durou muito tempo. “Devido à crescente valorização imobiliária do local, os grandes empresários, em troca dos terrenos baratos, conseguiram tomar posse da área”, conta o jorna- lista e videomaker Paulo Ricardo Soares. Não foram encontrados documentos oficiais manuscritos sobre a Colônia Africana, pois na época as autoridades costumavam queimar tudo. “Mas isso não faz com que não se conheça a história, porque é tradição do povo negro falar sobre sua vida e transmitir oralmente os fatos ocorridos”, relata Soares. é remanescente da Colônia Africana”, garante. O descaso da sociedade em relação aos negros, mais de um século depois da abolição da escravatura, ainda existe. Ao deixar as áreas mais nobres de Porto Alegre, essas pessoas são encontradas nas vilas e periferias do município. O advogado Osvaldo Reis conta que, apesar de todas as dificuldades, a vi- Osvaldo Reis, 43 anos, neto do “animador social” Júlio Ferreira (Seu Pretinho, como ficou conhecido), relata que os negros da Colônia Africana vendiam suas casas logo após a morte do “chefe da família” e depois os familiares dividiam o dinheiro. Então, estes se deslocavam à Vila Jardim, que naquela época era só mato e um lugar distante do Centro de Porto Alegre. “A maioria da população deste local ainda hoje A Colônia Africana também ficou conhecida pelas suas manifestações culturais. Nela, foram criados inúmeros grupos carnavalescos e times de futebol. Aconteciam alguns bailes no Salão do Rui, na esquina da rua Esperança, atual Casemiro de Abreu. Era ponto de encontro dos jovens que se preocupavam com a aparência pois, se vestir bem significava status e elevava a auto-estima dos negros. Com a formação de uma orquestra, o som que se tocava nos bailes era o Jazz. Outro ponto de encontro da Lisiane de Assis Lisiane de Assis a rua proporciona. Outro ponto positivo indicado é o contato direto com o público, além de ser mais rentável trabalhar por conta. É o caso do ex-artista circense, Marcelo Dias, 28, que há 12 faz performances de perna-de-pau e estátua viva. “É dessa forma que mantenho minha família”, afirma. Na rua, o artista divulga seu trabalho e recebe convites para subir aos palcos. Como relata Paulinho da Gaita, que se apresenta nos arredores do Mercado Público com seu parceiro João Freitas. “Aqui o povo me ouve. A loja passa e compra meus discos e os patrões de CTG nos contratam. A rua, para quem começa, é um ótimo trabalho de mídia”, ensina. Foi dessa forma que os atores do espetáculo Tangos e Tragédias conheceram e convidaram o artista de rua, Zé da Folha, para fazer a abertura de espetáculo deles. “O artista de rua representa a expressão artística mais espontânea, pois não precisa de teatro, produção ou patrocínio para se apresentar”, comentam Hique Gomez e Nico Nicolaievisky. Para eles, a cidade que tem artistas na rua tem cultura, porque é arte ao alcance de quem queira ver. Para o espectador diário de artistas de rua, Ângelo de Souza, surgem grandes talentos nas ruas “e como isto existe no mundo inteiro, nossa cidade também tem que ter essas figuras folclóricas”. trema importância que a população conheça”, afirma. Próximo aos bairros, outras referências assinalam a presença marcante dos negros. Uma delas está estampada no nome de um dos principais pontos turísticos da Capital. O Parque da Redenção, também conhecido como Parque Farroupilha, tem essa denominação por ter sido o abrigo dos negros após a abolição. A comunidade negra Ruas e parques agora são palcos centro - Quem circula pela região central de Porto Alegre certamente já se deparou com artistas de rua. O público reage de maneira diversa. Alguns param para apreciar a arte ao ar livre; outros passam indiferentes. Mas pelo menos em um ponto os diferentes públicos parecem ter a mesma opinião: ninguém sabe “quem é” ou como definir “o que é” a arte feita fora dos palcos. As idades e atividades dos artistas de rua variam. Vão desde o malabarista, de 23 anos, até a desenhista, de 60. Muitos encontram no trabalho das ruas o único meio de ganhar a vida. Geralmente, estudaram até o ensino médio. Alguns concluíram, outros não. Mas há quem siga estudando, como Carlos Eduardo, 23. Ele conta que cursa Técnico em Enfermagem graças ao que ganha nos malabares. Mesmo depois de formado, pretende seguir exercendo a atividade de malabarista. “Porém, não mais na sinaleira, e sim nos eventos e festas em que, eventualmente, sou convidado a animar”, projeta. Alguns tornaram-se artistas de rua por falta de opção. Como André Rojo, 33, que, há quatro, representa uma estátua viva. “Não dá para trabalhar só com o que se gosta. Eu adoraria dar aulas de dança, de teatro, mas não dá”, confessa. Por outro lado, a maioria desses artistas diz ter feito essa escolha devido à liberdade que da na Colônia Africana era mais saudável. Mesmo com a jornada de trabalho de até 12 horas, eles ainda tinham disposição de ir aos bailes no sábado à noite. “Todos se divertiam, mas também existia a necessidade de passar o tempo juntos”, recordou. Na Colônia Africana, conta Reis, existia um respeito entre as crianças, os adultos e os velhos. “Como essa história faz parte da sociedade é de ex- comunidade era a Igreja da Piedade, na rua Cabral, aos domingos e dias de missas. A indiferença social também chegava ao esporte. Os times de futebol não podiam disputar os jogos da Liga Porto-alegrense. Para resolver esse problema foi criado a Liga Canela Preta, um campeonato que promovia disputas apenas entre equipes de negros. “Tudo para nós tem um significado, uma força sobrenatural”, diz ‘Seu Pedro Cunha’. Hoje, ainda há grupos de resistência. Um deles é o Caixa Preta, formado por atores ne- Homens de terno para os bailes gros que usam a arte para fazer o que gostam. Todos os remanescentes estão e continuarão sobrevivendo e resgatando a sua história. Seu Pedro comenta que na “batida da pulsação da África Mãe, o negro é força, o negro é graça” e tem o dever de contar a verdadeira história para a sociedade brasileira. Cidade Baixa: bairro boêmio Daniela Xavier O público pára e paga para ver o corajoso salto entre facas no Centro Incômodo para ambos Apesar de muitos considerarem a atividade do artista de rua louvável, há quem se sinta incomodado. É o exemplo de Renan Souza, morador do bairro Bom Fim, que não considera a atividade uma forma de arte. Para ele, estes personagens despertam nas pessoas um sentimento de pena. Enfatiza ainda que para o artista de rua se considerar um ator deve estudar um papel, se dedicar, procurar uma peça. Por outro lado, os artistas reclamam do desrespeito do público. Damião Ferreira, 42, que pratica saltos entre arcos e facas, com mais quatro companheiros, queixa-se das pessoas que param para falar mal de seu trabalho. André Rojo acha que o trabalho do artista de rua está muito desvalorizado. Ele reclama de pessoas que passam e lhe batem nas costas ou fazem cócegas. Cidade Baixa - O bairro Cidade Baixa hoje se caracteriza pela quantidade de bares e é conhecido por ser lar de boêmios da cidade. Pode-se, em todas as noites da semana, aproveitar a madrugada, principalmente, as ruas General Lima e Silva, República e João Alfredo. A situação também deixa os moradores descontentes, por causa do barulho e da bagunça. Para a estudante e moradora, Juliana Trindade, a principal dificuldade que os moradores enfrentam é conseguir separar a vida noturna do bairro “familiar”. A moradora acredita que caso a prefeitura realizasse algum tipo de fiscalização, talvez resolvesse o problema. Embora descontentes com os fatos, alguns moradores gostam de viver no bairro, que fica perto de tudo do Centro e de supermercados, por exemplo. A moradora do bairro há mais de 25 anos, Zélia Heinzelmann, diz que o fato de muitos bares se localizarem ali não atrapalha sua rotina. Mas tem consciência de que algumas pessoas ficam incomodadas com o barulho e a baderna. O que a deixa insatisfeita é que a Praça Garibaldi está repleta de moradores de rua. Ela lembra do tempo que a Praça Garibaldi era cercada e estava sempre limpa, pois no centro da Praça havia uma gruta, local que era visitado por muitas pessoas. “Nos finais de tarde os moradores sentavam-se em frente suas casas para conversar”, lembra, nostálgica. Para não perder contato com o passado, Heinzelmann procura não mexer na estrutura de sua casa, que foi tombada como patrimônio da cidade. Aliás, parte das casas que ainda restam na Cidade Baixa são antigas, tipo sobrados. “Essas residências deixam o bairro mais bonito, mais aconchegante”, afirma. Empurra-empurra A reportagem entrou em contato com a Prefeitura, no dia 13 de setembro, para falar sobre a fiscalização dos bares na Cidade Baixa. A indicação foi que o retorno seria dado pela Secretaria Municipal Produção e Comércio (Smic). Na Smic, a reportagem informou que o assunto deveria ser tratado com a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Sman), que informou que o contato deveria ter sido feito com a Smic. Em nova ligação, a Smic disse que não havia ninguém para falar sobre o assunto.