Arquitetura da destruição Menino ou menina: o que você faria se
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Arquitetura da destruição Menino ou menina: o que você faria se
TÍTULO DO PROGRAMA Arquitetura da destruição SINOPSE DO PROGRAMA Um dos mais importantes documentários do final do século XX, Arquitetura da Destruição é uma primorosa investigação histórica que revelou ao mundo a forma como o nazismo utilizou a Arte para justificar sua política de superioridade e purificação racial. Arte moderna era degenerada e sobre ela impuseram uma estética que valorizava a cultura alemã, a pureza da raça e que ajudou a justificar destruição de tudo que era diferente, inclusive pessoas de outras etnias, pessoas doentes e quem discordasse da ideologia do terceiro Reich e de seu líder. As professoras História e Biologia convidadas do programa Sala de Professor propõem um projeto que analisa o nazismo e seus pilares ideológicos em seu contexto histórico e abre espaço para discussão de estudos e pesquisas com e para seres humanos. CONSULTORES Denise Mendes - História Denise Jardim - Biologia TÍTULO DO PROJETO Menino ou menina: o que você faria se pudesse escolhe o sexo do seu bebê? APRESENTAÇÃO Terapias gênicas, transgênicos, bioética, células tronco. O que está regulamentado? Até onde se pode ir com as pesquisas genéticas? Saúde ou beleza, o que priorizar? Para responder a estas perguntas, a disciplina de Biologia propõe analisar e debater dilemas éticos presentes na realização de 1 estudos e pesquisas com e para seres humanos. A disciplina de História propõe analisar o projeto nazista em seu contexto histórico, discutindo seus principais pilares ideológicos a partir de autores clássicos, bem como refletir acerca da sobrevivência de práticas sociais que reproduzem na sociedade atual a exclusão de grupos vistos como “antissociais”. O trabalho em sala de aula e o Enem Nesta proposta, trabalhamos com alguns dos conteúdos disciplinares (objetos do conhecimento) listados na Matriz de Referência para o Enem 2013 e com o desenvolvimento das seguintes competências e habilidades: Biologia Conteúdo: Hereditariedade e diversidade da vida; Aspectos genéticos do corpo humano; Antígenos e anticorpos; Aconselhamento genético; Aspectos genéticos da formação e manutenção da diversidade biológica. Competência e habilidade: Área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias Competência de área 5: H21, H16. Competência de área 8: H29, H30. História Conteúdo: Os sistemas totalitários na Europa do século XX; O totalitarismo e a ideologia nazista como base para práticas segregacionistas; Ditaduras políticas na América Latina. Competência e habilidade: Área de Ciências Humanas e suas Tecnologias. Competência de área 3: H15. Competência de área 5: H23. 2 Para obter a Matriz de Referência para o Enem, acesse o Anexo II do edital (Acesso em: 12 jul. 2014): <http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/edital/2013/edital-enem-2013.pdf>. UM OLHAR PARA O DOCUMENTÁRIO A PARTIR DA BIOLOGIA O documentário “Arquitetura da destruição” pode promover boas reflexões sobre muitos temas. A abordagem que optamos, considerando os experimentos nazistas em seres humanos para a melhoria da raça, refere-se a um tema atual e polêmico: as terapias gênicas, passando pela transgenia e a bioética. Espera-se que os estudantes já tenham conhecido os conceitos de genes, hereditariedade e mutação, temas trabalhados normalmente no 1º ou no 3º ano do Ensino Médio. A partir de leituras e pesquisas sobre genética, convidamos os estudantes a iniciarem uma reflexão e discussão buscando relacionar as pesquisas médicas no III Reich com as desenvolvidas atualmente. Será interessante que, ao final desta sequência didática, os estudantes se posicionem criticamente sobre o tema, embasados pelas referências da disciplina de História, parceira neste projeto. Aula 1 A aula se inicia a partir da leitura do fragmento do texto da professora e geneticista Dra. Mayana Zatz, extraído de seu livro: Com o desenvolvimento de novas tecnologias e a possibilidade de analisar o nosso genoma a um custo cada vez mais acessível, novas questões inesperadas tomam corpo a cada dia. O dilema e os questionamentos éticos, que eram, no 3 inicio, restritos às famílias com afetados por doenças genéticas, estão tomando proporções maiores. Menino ou menina: o que você faria se pudesse escolher? Quantos filhos você está determinado a ter ao recorrer à fertilização assistida? É ético selecionar embriões de determinado sexo? Ou para tentar salvar um irmão afetado por uma doença letal, os chamados “irmãos salvadores”? E se no futuro essa tecnologia for usada para escolher embriões com determinadas características, tais como cor dos olhos, estatura, habilidade para esporte ou outros motivos fúteis? Não se trata de uma nova eugenia? Quais são os limites? Outro assunto polêmico: as células-tronco, que em passado recente motivaram tanta controvérsia. Estamos preparados para iniciar os primeiros testes clínicos? Por um lado devemos sempre agir com cuidado nessas circunstâncias, por outro lado, as possibilidades são tão surpreendentes que a cautela exagerada pode resultar em não salvar vidas. (ZATZ, Mayana. Genética - escolhas que nossos avós não faziam. Ed. Globo, 2001. p.32-33). Após a leitura desse extrato, o professor pode propor algumas questões para serem discutidas coletivamente ou em pequenos grupos, sendo registrado o que os alunos julgarem relevante. Por exemplo: • Até onde devem ir as pesquisas e intervenções genéticas? • Que seres vivos devem ser expostos a tais pesquisas? Por quê? • Que conhecimentos da ciência são necessários para que se prossigam as pesquisa com célula-tronco? Após os registros/sínteses das conclusões ou ideias principais surgidas no debate, proponha aos estudantes buscarem o significado do conceito de eugenia, pois será importante para as próximas reflexões. Aula 2 Inicie a aula retomando o conceito de eugenia e certificando-se que todos o compreenderam bem. A seguir, apresente aos alunos o trecho do documentário a que irão assistir, e oriente o olhar deles focando nas seguintes questões: 4 • Qual a diferença entre as pesquisas médicas para melhoria estética e melhoria na saúde humana? • Quais as semelhanças e diferenças entre as pesquisas feitas pelo nazismo e as feitas nos institutos de biociências? Propomos que nesse momento os alunos assistam somente a uma parte do vídeo, de seu início até “O embelezamento do mundo é um dos princípios do Nazismo”, aproximadamente 25 min. Faça uma discussão compartilhada com toda a sala sobre o trecho do vídeo. As questões propostas acima devem orientar essa discussão. Após o registro das ideias principais, proponha a leitura do texto “Eugenia, a biologia como farsa”, publicado originalmente na revista “História Viva”, e disponível em: <http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/eugenia_a_biologia_como_farsa .html> (Acesso em: 12 jul. 2014). Recomendamos que essa leitura seja feita em casa, como preparação prévia da aula seguinte que será um debate. Neste texto, a autora Pietra Diwan discute como o conceito de eugenia foi utilizado durante décadas, até a Segunda Guerra Mundial, e sugerindo que essa ideia tenha sido “enterrada viva” na Alemanha. Será que tal afirmação pode ser comprovada? Podemos dizer que não existe uma ideia de eugenia nas pesquisas biológicas? Neste momento é importante que alguns conceitos estejam estabelecidos e que os estudantes comecem a se posicionar frente ao tema e a construírem suas argumentações, mas para isso o debate é fundamental. Aula 3 Para a realização do debate, divida os estudantes em três grupos (eles podem escolher em qual gostariam de ficar): um defenderá as pesquisas biológicas do nazismo, buscando justificativas e argumentos consistentes; o outro deve se posicionar contra; e um terceiro grupo será o juiz, este grupo registrará os argumentos de cada um dos outros dois grupos, e julgará no final o grupo que 5 foi melhor no debate. Cabe ao professor mediar problematizando dos dois lados e ajudando-os indiretamente na construção de argumentos. Os grupos precisarão de um tempo para organizar as informações e buscar embasamentos teóricos para o debate. O resultado da avaliação do terceiro grupo deverá ser discutido por todos. Aula 4 Nesse momento, os alunos estarão aptos a assistirem a mais um trecho do vídeo, que servirá de suporte para a produção de um texto argumentativo tendo em mente a justificativa de ter uma “raça pura”. Sugerimos que a exibição seja da segunda parte do documentário, mas que se enfatize o trecho entre 45 min até 51 min (“Em primeiro de setembro de 1934 a Alemanha ataca a Polônia [...]” até “começou gerar desconfiança no povo alemão”). Em dupla, os alunos devem produzir um texto dissertativo-argumentativo, com base nos conhecimentos da genética, que explique o posicionamento dos médicos alemães que “enquanto curavam com uma mão, matavam com a outra”. Os textos podem ser compartilhados em uma roda de leitura e os estudantes podem registrar palavras-chaves que aparecem nos textos. Este é o momento de retomar os temas discutidos e aprendidos. As reflexões sobre o posicionamento dos médicos nazistas levam imediatamente os estudantes pensarem e indagarem sobre a ética e atualmente a bioética. O quanto o desejo de salvar vidas pode levar as pesquisas genéticas a alguns dilemas? Propor aos estudantes a reflexão sobre os seguintes dilemas: • É eticamente adequado diagnosticar doenças sem cura? • É eticamente adequado testar indivíduos portadores assintomáticos, que apresentem risco apenas para a prole? 6 Como referência para o aprofundamento dos conceitos relativos à bioética, indicamos dois sites; o primeiro deverá esclarecer como o conceito de bioética surgiu e sua função, e o segundo, sobre a legislação vigente para pesquisas com seres humanos (acessos em: 12 jul. 2014): • <http://www.infoescola.com/medicina/bioetica/> • <http://www.bioetica.ufrgs.br/diraber.htm> Material Cópias dos textos sugeridos; Caderno e caneta para anotações; Dicionário; Acesso à internet para pesquisa de textos jornalísticos. Etapas Roda de discussão; Leitura do texto; Exibição do documentário; Definição do conceito de eugenia; Apresentação do debate sobre as pesquisas genéticas; Elaboração de um texto dissertativo-argumentativo; Sistematização coletiva. UM OLHAR PARA O DOCUMENTÁRIO A PARTIR DA HISTÓRIA O documentário “Arquitetura da Destruição” analisa o projeto nazista de “construção de um mundo harmonioso” a partir da criação do “novo homem alemão”. Baseado em documentos históricos, o filme aborda aspectos fundamentais para se entender o Holocausto, mas também aponta para temas atuais, como a relação entre ciência e ética. Alunos do curso de História no Ensino Médio têm sempre muito interesse em estudar o contexto da Segunda Guerra Mundial e, em especial, o nazismo. Essa curiosidade se manifesta de diferentes maneiras e não pode ser ignorada; mas deve ser conduzida de maneira a desenvolver um pensamento crítico e ético nos alunos, que fortaleça atitudes de tolerância e respeito à diversidade. Esse 7 contexto permite estudar os grandes temas da história do século XX, bem como discutir o holocausto como uma das grandes questões da política e dos direitos humanos. Como afirma Norberto Bobbio, o genocídio conduzido pelo regime nazista “é um fato único na história, o maior delito até agora realizado por homens contra outros homens”1. Ou, como Hannah Arendt afirmou de que “o Holocausto é, pela natureza e escala, um crime sem precedentes e sem antecedentes”2. Sem desconsiderar a necessidade de estudar o conteúdo factual do período – ou seja, a primeira metade do século XX, com destaque para a situação da Alemanha no período do entre guerras – esta sequência didática tem como objetivos: aprofundar a discussão sobre as características do totalitarismo, especificamente, do nazismo; discutir o conceito de raça para as ciências humanas e as práticas eugênicas na Alemanha nazista e no Brasil do início do século XX; e, finalizando, relacionar o discurso da superioridade racial com práticas segregacionistas contemporâneas. Assim, cabe ao professor escolher o momento do seu curso para desenvolver a atividade. Os livros didáticos contemplam satisfatoriamente o estudo do período e há uma farta bibliografia complementar, se houver necessidade. Seguindo a organização tradicional dos conteúdos programáticos, tal tema costuma ser trabalhado no 3º ano, tanto pela cronologia como pela maturidade necessária para a reflexão. A sequência didática aqui proposta é preparatória para a discussão interdisciplinar, com Biologia. Para iniciar essa atividade (aula 1), o professor pode partir de uma notícia atual sobre grupos neonazistas. Em pesquisa na mídia eletrônica, é possível selecionar um ou mais textos jornalísticos que informem sobre a atuação desses grupos no Brasil ou no mundo. Um exemplo é o partido grego Aurora Dourada, que desde 2012 ganhou espaço na política local, defendendo uma legislação 1 BOBBIO, Norberto. “Quinze anos depois”. Revista USP, nº 61 (março-abril-maio 2004), p. 228. LAFER, Celso. A reconstrução dos Direitos Humanos – um diálogo com o pensamento de Hannah Arendt. São Paulo: Cia. das Letras, 1988, cap. VI. 2 8 anti-imigração e incentivando práticas racistas contra estrangeiros. O discurso xenofóbico, como esse, é uma característica dos grupos que pregam a intolerância no mundo atual. Após lerem o(s) artigo(s), os alunos abrem uma roda de discussão para emitirem opiniões sobre o que leram. A seguir, o professor inicia a aproximação com o tema específico – o nazismo. É sempre importante conhecer o que eles já sabem e pensam sobre o tema, registrar coletivamente as ideias e buscar alguns pontos relevantes para discutir ao longo do curso. Nesse momento, não é necessário responder as perguntas e dúvidas, mas levantar indagações, que nortearão as leituras futuras. Para iniciar a discussão sobre o nazismo, o professor exibe um trecho do documentário. Como o filme é longo, não recomendamos a exibição completa, mas em episódios. Ou, se houver condições na escola, marcar um dia especial para a exibição total, como uma seção de cinema, fora do horário da aula. O trecho sugerido, entre 15 e 20 minutos, inicia-se com a invasão da Holanda e da Bélgica pelas tropas alemãs, seguindo-se para Paris (50’30”), até a invasão de Atenas, com os pensamentos de Hitler sobre a Antiguidade (1h30’). Esse trecho serve como disparador do interesse pelo tema, portanto, uma discussão e sistematização das informações sobre o III Reich e a Segunda Guerra são importantes para a continuidade da reflexão. Na sequência do vídeo, estabelecese a relação com o ideal de embelezamento da Alemanha, a partir dos padrões parisienses e gregos; estética que perseguirá o projeto nazista. A próxima etapa (aula 2) é ler um texto teórico sobre o totalitarismo, destacando suas principais características. A maior autora sobre o tema foi Hannah Arendt, no livro Origens do Totalitarismo, publicado originalmente na década de 1950. No entanto, a leitura é bastante extensa e densa, portanto, uma alternativa é ler um trecho do verbete do Dicionário de Política, de Norberto Bobbio. Segue uma parte da definição apresentada: 9 Segundo H. Arendt, o Totalitarismo é uma forma de domínio radicalmente nova porque não se limita a destruir as capacidades políticas do homem, isolando-o em relação à vida pública, como faziam as velhas tiranias e os velhos despotismos, mas tende a destruir os próprios grupos e instituições que formam o tecido das relações privadas do homem, tornando-o estranho assim ao mundo e privando-o até de seu próprio eu. Neste sentido, o fim do Totalitarismo é a transformação da natureza humana, a conversão dos homens em "feixes de recíproca reação", e tal fim é perseguido mediante uma combinação, especificamente totalitária, de ideologia e de terror. A ideologia totalitária pretende explicar com certeza absoluta e de maneira total o curso da história. Torna-se, por isso, independente de toda experiência ou verificação fatual e constrói um mundo fictício e logicamente coerente do qual derivam diretrizes de ação, cuja legitimidade é garantida pela conformidade com a lei da evolução histórica. [...] Retomando e resumindo os pontos mais eficazes das teorias e das revisões críticas do Totalitarismo expostas atrás, acredito que o fenômeno possa ser descrito sinteticamente com base em sua natureza específica, nos elementos constitutivos que contribuem para o formar e nas condições que o tornaram possível em nosso tempo. A natureza específica do Totalitarismo deve ser identificada dentro de características amplamente reconhecidas pela pesquisa e que são denotadas pela própria palavra: a penetração e a mobilização total do corpo social com a destruição de toda linha estável de distinção entre o aparelho político e a sociedade. É importante sublinhar a ligação entre o grau extremo da penetração e o grau extremo da mobilização, uma vez que a ação totalitária penetra a sociedade até em suas células mais secretas, exatamente na medida em que a envolve inteiramente num movimento político permanente. Os elementos constitutivos do Totalitarismo são a ideologia, o partido único, o ditador e o terror. A ideologia totalitária dá uma explicação indiscutível do curso histórico, uma crítica radical da situação existente e uma orientação para a sua transformação também radical. E dirigindo a ação para um escopo substantivo (a supremacia da raça eleita ou a sociedade comunista) em vez de a dirigir para instituições ou para formas jurídicas, justifica-se um movimento contínuo para aquele fim e para a destruição ou a instrumentalização de qualquer instituição e 10 do próprio ordenamento contrapõe-se e se sobrepõe à organização do Estado, derrubando sua autoridade e o comportamento regular e previsível; politiciza também os mais diferentes grupos e as mais diversas atividades sociais, minando-lhes a lealdade e os critérios de comportamento para os subordinar aos princípios e aos imperativos ideológicos. O ditador totalitário exerce um poder absoluto sobre a organização do regime, fazendo flutuar as hierarquias a seu belprazer, e sobre a ideologia de cuja interpretação e aplicação ele é dono exclusivo, garantindo e intensificando ao máximo a imprevisibilidade e o movimento da ação totalitária, através de sua vontade arbitrária, de suas táticas móveis para manter seu poder pessoal e do impacto dos traços característicos de sua personalidade. O terror totalitário, que é derivado conjuntamente do movimento de transformação imposto pela ideologia e da lógica da personalização do poder, inibe toda oposição e as críticas as mais inofensivas e gera coercitivamente a adesão e a sustentação ativa das massas ao regime e à pessoa do líder. As condições que tornaram possível o Totalitarismo são a formação da sociedade industrial de massa, a persistência de uma arena mundial dividida e o desenvolvimento da tecnologia moderna. De um lado, o impacto da industrialização nas grandes sociedades modernas, no quadro de uma arena mundial insegura e ameaçadora, permite e favorece a combinação de penetração e de mobilização total do corpo social. De outro lado, o impacto do desenvolvimento tecnológico no que toca aos instrumentos da violência, os meios de comunicação e as técnicas organizacionais de vigilância e de controle permitem um grau enorme de penetração-mobilização monopólica da sociedade sem precedentes na história. (Fonte: Dicionário de política. Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1998. p.1248 e 1258) A leitura pode ser dirigida, solicitando que os alunos (em duplas ou trios) organizem as ideias apresentadas, indicando as características definidoras de regimes totalitários. A seguir, os alunos retomam o documentário para identificarem tais características no trecho exibido (ou em outros selecionados 11 pelo professor). Neste momento pode ser feita uma primeira avaliação, a partir da produção dos alunos escrita ou oral, caso seja apresentado para a sala. Outro conceito fundamental que deve ser discutido (aula 3) e que permeia toda a ideologia nazista é o conceito de raça. Palavra muito conhecida, mas que traz uma história bastante discutida no seu significado. O que é raça? Não discutiremos aqui o sentido biológico, mas os sentidos para as ciências humanas (História, Sociologia, Antropologia) ao longo do tempo. É sempre importante que os alunos saibam que a historicidade dos conceitos, isto é, o significado é construído historicamente e, portanto, muda dependendo da época e do contexto em que é usado. Para tanto, sugerimos a leitura de excerto do verbete “raça”, do Dicionário de conceitos históricos: Há atualmente duas discussões em torno do conceito de raça no Brasil: a discussão acadêmica, que cada vez mais tende a considerar a inexistência de diferenças raciais, esvaziando a ideia de raça como conceito; e o imaginário social, para o qual raça é uma realidade, ainda que o discurso dominante nesse imaginário seja o da miscigenação. Se a ciência hoje tende a afirmar que só existe uma única raça humana, o conceito de diferenças raciais está tão arraigado na sociedade brasileira que talvez ainda demore bastante tempo para que essa nova crença científica seja incorporada ao senso comum. Qual a razão para isso? O que é raça, afinal? Atingindo seu apogeu como conceito científico no século XIX, a noção de raça diz respeito a certo conjunto de atributos biológicos comuns a um determinado grupo humano. O termo raça não era exatamente uma palavra nova nas línguas europeias no século XIX. A palavra, na Idade Moderna, com outros significados, era conhecida no mundo europeu, e dizer que se pertencia a uma raça era afirmar o pertencimento a uma linhagem. Durante esse período, foi criada a tese monogenista, que afirma a existência de uma única raça humana descendente de Abraão, e praticamente não havia ainda ideia de inferioridade racial. Isso não significa, no entanto, que não houvesse etnocentrismo e discriminação com base em características físicas. Além disso, os judeus, por exemplo, eram perseguidos na Europa desde o fim do Império Romano, sobretudo por considerações religiosas e culturais que chamaríamos 12 hoje de étnicas. [...] O racialismo, com os iluministas, definia raça como um grupo humano cujos membros possuíam características físicas comuns. Tal teoria voltou-se para a crença de que a raça não era apenas definida física, mas moralmente, bem como que as diferenças físicas acarretavam diferenças mentais hereditárias. Assim, a distinção do mundo em raças correspondia à divisão do mundo em culturas, e o comportamento do indivíduo era definido pelo grupo racial ao qual ele pertencia. Além disso, um sistema de valores universal classificaria as raças em superiores e inferiores. [...] Enquanto o racialismo é o estudo das diferentes raças humanas, o racismo é a aplicação prática dessas teorias, que acredita em raças superiores e cria mecanismos sociais e políticos para reprimir as raças consideradas inferiores. Os pensadores racialistas eugênicos não toleravam a diferença racial e defendiam que a diferença qualitativa entre as raças superava as teorias igualitaristas que pregavam a igualdade entre todos os homens. Para eles, cada raça tinha um lugar determinado no mundo, definido pelo grau de importância na escala evolutiva. E a raça superior, eleita pela seleção natural para ordenar o mundo, era a caucasoide, ou seja, a raça branca. Lembremos, no entanto, que há uma diferença entre cor e raça, pois, por exemplo, para os eugenistas, apesar de terem a mesma cor branca, os germânicos seriam superiores aos judeus e aos eslavos. [...] A Biologia, no entanto, foi a primeira ciência a desconstruir a teoria racialista que tinha ajudado a elaborar no século XIX. A partir do fim do século XX, os biólogos cada vez mais aderiram à hipótese de que não existem raças na espécie humana. Geneticistas de todo o mundo têm derrubado a crença de que se pode definir geneticamente as diferenças raciais na humanidade. Mas as ciências sociais demoraram mais para contestar esse conceito. (Fonte: Dicionário de conceitos históricos. Kalina V. Silva; Maciel H. Silva. São Paulo: Contexto, 2010. p.346-348) Com base na discussão coletiva dessa leitura (aula 4), o professor pode solicitar aos alunos que procurem o significado de alguns termos, como: eugenia, 13 miscigenação, monogenista, germânicos, dentre outros. Qual a relação desses termos com o pensamento nazista? Sugerimos aos alunos assistirem a outro trecho do documentário (aula 5) e anotarem as informações apresentadas (a partir de 1h11’30” até o final – com a entrada dos EUA na guerra e a morte do III Reich, o novo objetivo de Hitler passou a ser a eliminação dos judeus). É proposta a discussão de uma questão: quais foram os argumentos nazistas para o Holocausto? Com base nas leituras feitas, como contra-argumentar e desconstruir a ideologia nazista? Sugestão de questões problematizadoras: • Qual o conceito de raça expresso pelo nazismo? • Judeu é raça? Por quê? • Por que a perseguição focada nos judeus? • Como ocorreu o projeto de eugenia no nazismo? • Quem eram as “ameaças sociais” para o III Reich e por quê? Para finalizar, o professor solicita aos alunos um texto dissertativo sobre o documentário, contemplando os textos lidos e as discussões em sala, e que justifique o título: “Arquitetura da destruição”. Essa redação pode ser também um instrumento de avaliação, com a síntese das reflexões. Material Cópias dos textos sugeridos; Caderno e caneta para anotações; Dicionário; Acesso à internet para pesquisa de textos jornalísticos. Etapas Pesquisa na mídia eletrônica sobre atuação de grupos neonazistas atualmente no Brasil e/ou no mundo; Roda de discussão sobre a prática desses grupos neonazistas e levantamento de conhecimentos prévios sobre o tema Nazismo; Assistir a um trecho do documentário; Ler texto sobre totalitarismo; Em duplas ou trios, sistematizar a leitura identificando as características dos regimes totalitários; Discutir o conceito de raça a partir da leitura de verbete; Pesquisar o significado de termos relacionados ao tema e indicados no texto; Assistir ao trecho final do documentário; 14 Elaborar uma contra-argumentação para desconstruir a ideologia nazista, baseando-se nas leituras realizadas; Produzir texto dissertativo sobre o tema nazismo, justificando o título do filme: “Arquitetura da destruição”. Veja mais... (Acesso em: 12 jul. 2014) <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=53210> - Aula sobre o significado do Holocausto. UMA CONVERSA ENTRE AS DISCIPLINAS Após as disciplinas de História e Biologia terem trabalhado com a discussão e construção de conceitos-chaves – como o da eugenia – para a compreensão da complexidade da ideologia nazista e das suas repercussões no mundo, elaboramos uma proposta interdisciplinar que busca fazer uma síntese dessas discussões, na medida em que traz uma questão fundamental dos contextos estudados: a relação da ciência com a ética. Estamos vivendo uma era invejável em termos de Ciência. Novas descobertas são anunciadas a cada dia a uma velocidade comparável à água que jorra da mangueira de um bombeiro. Aos poucos elas interferem na vida de cada um. “O que há de fascinante neste mundo da genética, que tantos julgam determinista, o que menos há são certezas.” Mayana Zatz. Genética escolhas que nossos avós não faziam. São Paulo: Editora Globo, 2011. A Ciência não é neutra, está a serviço de demandas dos contextos sociais, históricos e culturais. A informação genética abala alguns de nossos valores mais importantes, toma rumos inesperados e traz à tona reações contraditórias. Não existe regra de conduta, ainda. Cada caso é um caso! A sociedade precisa conhecer, discutir e refletir mais para se posicionar ou concluir quão difícil são ou podem ser algumas situações. O que é ético? Quais 15 são os limites? Estamos preparados para lidar com a avalanche desses novos conhecimentos? Pensando em desenvolver capacidades de reflexão e argumentação, elaboramos uma atividade interdisciplinar de debate de situações-problema. Para isso, apresentamos dois dilemas, casos reais, relatados pela Dra. Mayana Zatz, para que os estudantes, embasados pelos conhecimentos construídos durante as reflexões nas aulas de História e de Biologia, possam discutir, refletir, se posicionar e, se possível, concluir a respeito. Caso 1: Este é o caso de Betsy, uma menina inglesa, nascida de uma família com câncer hereditário. Tanto a avó quanto a mãe, a irmã e a prima de seu pai eram portadoras do gene BRCA1 mutante. A mãe temia tanto a doença em sua descendência que decidiu pela fertilização in vitro e diagnóstico pré-implantação (DPI). “Considerei o quanto isso era importante e que, se minha filha tivesse o gene e desenvolvesse o tumor, não poderia encará-la e dizer que não tinha feito todo o possível para evita-lo”, disse a mãe aos jornais. Betsy então foi selecionada e nasceu porque não tinha a mutação nesse gene. Isso não quer dizer que ela esteja imune à doença e não venha a ter câncer um dia. A história desta menina trouxe à tona a discussão sobre os limites do DPI porque foi o primeiro caso conhecido de seleção de embrião livre de um gene que aumenta a probabilidade de ter uma doença potencialmente curável. É compreensível o medo do câncer e a decisão dos pais de Betsy de tentar evitar esse sofrimento à filha. O problema é que, uma vez ultrapassado o limite de descarte de embriões com genes que causam doenças letais ou altamente incapacitantes, para aqueles associados a risco de uma doença futura, fica muito difícil saber onde parar. Se um pai é diabético, faria de tudo para seu filho não sofrer as mesmas restrições? E aquele pai obeso ou com calvície prematura? 16 Você acha válido selecionar o feto para que ele não tenha incômodos que poderiam eventualmente fazer com que não fosse bem aceito na sociedade? Estamos lidando com uma nova eugenia? Caso 2: Recentemente foi divulgado que algumas clínicas de fertilidade do Reino Unido estariam planejando vender, para casais que querem ter filhos, “kits” capazes de testar os riscos para cerca de 600 doenças, muitas delas fatais nos primeiros anos de vida, outras não. As clínicas anunciam que todos deveriam fazer o teste, mesmo que não tivessem um histórico familiar de doenças. Faz sentido, porque, no caso de doenças recessivas, geralmente só se descobre que os dois cônjuges são portadores de mutação para uma mesma doença depois do nascimento do primeiro filho afetado. Se isso pode ser prevenido, por que não? Na realidade, testes pré-nupciais já são realizados no caso de judeus ortodoxos, mas só para algumas doenças, como fibrose cística, doença Gaucher ou Taysachs. E há quem defenda a realização destes testes mesmo para quem não esteja ainda pensando em ter filhos. Estamos falando de uma forma de eugenia? Será que as pessoas não vão se sentir estigmatizadas? Como os casais irão lidar com essas informações? Quem vai garantir o sigilo das informações? A partir desses dois casos, ou de outros que o professor pode sugerir, os alunos – organizados em pequenos grupos – devem discutir a ética envolvida em cada situação e propor uma tomada de decisão – fazer ou não a seleção genética. Devem pensar também se essa atitude pode ser considerada uma prática eugênica. Também devem pensar sobre quais seriam as consequências de se legitimar a eugenia, lembrando que em cada momento histórico os padrões de “problema” são diferentes para as sociedades que a defendem (lembrar-se do contexto do nazismo, por exemplo). Uma sugestão para organizar a atividade é separar os alunos em grupos pequenos (máximo de 5) e distribuir os casos a serem estudados. Cada grupo, após discutir, deverá elaborar uma opinião baseada em argumentos consistentes, 17 para a defesa do seu parecer – a favor ou contra a seleção genética e/ou a eugenia. Assim, propomos que os alunos elaborem uma carta de um casal fictício, endereçada a um laboratório ou clínica genética, apresentando as razões pelas quais o suposto casal decidiu ou não, de acordo com os casos dados, realizar a seleção de embrião ou testes genéticos. Nos argumentos apresentados pelo casal devem aparecer reflexões que contemplem o conceito de eugenia e as discussões éticas sobre tal decisão. Também pode acontecer uma exposição oral. Cada grupo tem um tempo para apresentar o caso e desenvolver a reflexão e conclusão sobre ele. Os colegas de sala irão, a seguir, fazer perguntas e comentários sobre a situação, buscando problematizar a discussão. O debate pode também ser um instrumento de avaliação, em que os alunos são avaliados nas suas habilidades de exposição de ideias, argumentação, uso adequado de conceitos, capacidade de contemplar ideias diferentes, de fazer sínteses, de expressar seu pensamento. Material Textos impresso com os casos; Material para registro. Etapas Leitura dos dilemas; Organização dos grupos; Debate para solução dos dilemas; Produção de uma carta. BIBLIOGRAFIA, SUGESTÕES DE LEITURA E OUTROS RECURSOS Livros e revistas BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de política. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1998. CARNEIRO, Maria Luiza Tucci. Holocausto: crime contra a humanidade. São Paulo: Ática, 2000. 18 DIWAN, Pietra. Raça Pura. Uma história da eugenia no Brasil e no mundo. São Paulo: Contexto, 2007. PENA, Sérgio. Humanidade Sem Raças? São Paulo: Publifolha, 2008. SILVA, Kalina V.; SILVA, Maciel H. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2010. ZATZ, Mayana. Genética escolhas que nossos avós não faziam. São Paulo: Editora Globo, 2011. Sites e Outros recursos (Acessos em: 12 jul. 2014) • <http://www.ushmm.org/outreach/ptbr/article.php?ModuleId=10007679> - Site do Museu do Holocausto (versão em português), com material sobre o tema. • <http://www.comciencia.br/comciencia/?section=8&edicao=8&id=49> - ComCiência, revista de jornalismo eletrônico, com artigos sobre pesquisa e testes genéticos, eugenia no nazismo e na atualidade, a ética na ciência. Filmes e Documentários • TRIUNFO da Vontade. (alemão: Triumph des Willens) Direção: Leni Riefenstahl. Alemanha, 1935. Música: Richard Wagner, Herbert Windt. (104 min). • GATTACA, experiência genética. Direção: Andrew Niccol. Estados Unidos, 1997. (106min) 19