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Análises Destrutivas de Amostras na Aplicação de Salvaguardas
pela ABACC
10/2006
José Augusto Perrotta
ABACC, Brasil
Na aplicação de salvaguardas, a determinação de defeitos bias (falhas de pequena magnitude)
é realizada por meio de análises destrutivas nas amostras de materiais nucleares. Essas
amostras são coletadas para determinar seu teor de urânio e correspondente enriquecimento.
Pelo Acordo Quadripartite (INFCIRC-435), a ABACC e a IAEA devem realizar inspeções
conjuntas nas instalações brasileiras e argentinas, obtendo suas conclusões de forma
independente. Em análises não-destrutivas e em ações de contenção e vigilância, os dois
organismos compartilham equipamentos, dados e resultados. No caso de análises destrutivas,
cada agência coleta sua amostra do item verificado e realiza a análise separadamente em seu
próprio laboratório.
Pelo fato da ABACC não possuir laboratório analítico para executar as análises necessárias, ela
faz uso de uma rede composta por quatro laboratórios no Brasil e cinco na Argentina os quais
atuam nos respectivos programas nucleares de cada país. Desde a criação da ABACC, faz parte
da filosofia desse trabalho usar a capacidade técnica de ambos os países. Dessa forma, as
amostras coletadas em instalações brasileiras são analisadas em laboratórios argentinos e
vice-versa.
As amostras obtidas em instalações do ciclo do combustível tanto na Argentina como no Brasil
apresentam-se em forma de pó (UO2 e U3O8), líquido (soluções orgânicas e aquosas),
pastilhas de UO2 (utilizadas nos combustíveis nucleares de reatores de potência), e gás de UF6
(nas usinas de enriquecimento e de reconversão).
A técnica normalmente utilizada pelos laboratórios para determinação de teor de urânio nos
compostos amostrados é a de titulação potenciométrica Davies & Gray. A determinação do
enriquecimento isotópico do urânio (teor de U235) é feita por espectrometria de massa,
utilizando-se espectrômetros de termo-ionização (TIMS), ou de fonte de gás (GSMS), ou de
fonte de plasma (ICP-MS).
Cada laboratório da rede possui seus próprios procedimentos e sistemas de gestão de
qualidade, garantindo que suas análises sejam realizadas dentro de padrões estabelecidos
internacionalmente. Alguns dos laboratórios já possuem seus sistemas de gestão de qualidade
baseados na norma ISO/IEC-17025 e outros, além de possuírem certificação, passam por
constantes auditorias realizadas pelos órgãos certificadores.
Para verificar esta qualidade e, ao mesmo tempo, identificar possíveis problemas de análise, o
Setor de Apoio Técnico da ABACC mantém como atividade permanente um programa de
intercomparação de medidas no qual os laboratórios da rede participam. Uma parte do
programa de intercomparações é realizada pela própria ABACC. Na outra parte do programa, a
Agência gerencia a participação dos laboratórios em intercomparações internacionais como o
SME (Safeguard Measurement Evaluation) do New Brunswick National Laboratory (NBL) dos
Estados Unidos, e o CETAMA/EQRAIN (Commission d’Etablissement de Méthodes d’Analyse /
Programme d’Evaluation de la Qualité du Résultat d’Analyse dans l’Industrie Nucléaire) da
França.
Os resultados obtidos pelos laboratórios nos programas de intercomparação demonstram que
a qualidade das análises evoluiu ano após ano, atendendo aos padrões internacionalmente
aceitos para aplicação em salvaguardas (International Target Values – ITV).
De forma a auxiliar os laboratórios da rede em suas análises dos materiais das amostras de
salvaguardas, a ABACC fornece padrões primários e secundários obtidos em laboratórios
internacionalmente certificados (NBL,IRMM).
Por meio do acordo de cooperação técnica com o Departamento de Energia dos Estados
Unidos, a Agência também desenvolve projetos coordenados com o NBL para treinamento,
orientação e fornecimento de padrões para os laboratórios da rede ABACC e o NBL, por sua
vez, também realiza análises de certificação de amostras para exercícios de intercomparação
particulares.
O Setor de Apoio Técnico da ABACC mantém um banco de dados dos resultados apresentados
pelos laboratórios para as amostras de salvaguardas bem como sua comparação com os
valores declarados pelos operadores quando da amostragem. Isto permite realizar uma análise
detalhada sobre o desempenho da medição por tipo de estrato, instalação e laboratório.
Também é realizada uma comparação dos resultados da ABACC com os resultados da IAEA
para verificação de qualquer incompatibilidade.
O sistema implantado pela ABACC para análises destrutivas vem garantindo, de forma eficaz, o
controle de materiais nucleares no âmbito do Sistema Comum de Contabilidade e Controle de
Materiais Nucleares (SCCC) entre Argentina e Brasil ao longo desses 15 anos de existência da
organização.

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