Susana Gilberti

Transcrição

Susana Gilberti
A FAMILIA, LAÇOS AFETIVOS E ESPIRITUALIDADE
Susana Gilberti1
RESUMO
O presente artigo se propõe a apresentar uma reflexão teórica sobre o campo de interação da
família, sua importância e a necessidade de resgate de valores que dão o suporte e a base da
sociedade. Apresentando suas características funcionais e disfuncionais frente à dependência
química, os papeis desenvolvidos dentro do sistema e a composição baseada na afetividade. O
objetivo deste é desenvolver o tema dos laços que unem a família, dentre as diferenças da
materialidade e da espiritualidade.
“Nasceste no lar que precisavas,
Vestistes o corpo físico que merecia.
Moras onde melhor Deus te proporcionou,
De acordo com seu adiantamento.
Possuis o recurso financeiro coerente
Com as tuas necessidades, nem mais,
Nem menos, mas o justo para as tuas lutas terrenas.
Teu ambiente de trabalho é o que elegeste
Espontaneamente para a tua realização.
Teus parentes e amigos são almas que atraíste,
Com tua própria afinidade.
Portanto, teu destino esta constantemente sob teu controle.
Tu escolhes, recolhes, eleges, atrais,
Buscas, expulsas, modificas tudo aquilo
Que te rodeia a existência.
Teus pensamentos e vontades são a chave de teus atos e atitudes...
São as fontes de atração e repulsão na tua jornada vivencia.
Não reclames nem te faça de vitima.
Ante de tudo, analisa e observa.
A mudança esta em suas mãos.
Reprograme tua meta.
Busque o bem e viveras melhor.
Embora ninguém possa voltar atrás
E fazer um novo começo,
Qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.”
Chico Xavier
____________________________
¹ Graduada em Terapia Ocupacional (PUCCAMP).
Especialista em Terapias Vibracionais (UNIFRAN)
E-mail: [email protected]
1. INTRODUÇÃO
Quando esboçamos o esqueleto deste presente artigo, nos deparamos com a grande
dificuldade de encontrar literatura científica que nos respaldasse na argumentação filosófica,
na qual iríamos trilhar. Buscamos o caminho teórico, que na prática nos demonstrava
resultados positivos. Sendo a principal intenção deste, o desenvolvimento de um pensamento
filosófico-teórico que engajasse na pratica terapêutica da qual acreditamos, produzindo uma
reflexão de pensamentos e atitudes, propondo a construção de novos saberes e
impulsionando nosso trabalho em direção a novos rumos de desenvolvimento e crescimento
pessoal.
Este trabalho foi escrito e estruturado em partes distintas que se completam e também
se diferenciam, com parâmetros e dimensões filosóficas articuladas. Perguntamos-nos
durante a busca literária, qual embasamento e subsídios seriam necessários para a construção
de nosso trabalho. Deparamos com limitações nossas, pessoais e literárias, que nos levaram a
questionar a pretensão e ousadia do tema proposto.
Discorrer a respeito da família, dos laços que as unem e interferir no mecanismo
adoecido perante a dependência química de seus membros causou-nos fortes emoções e
inquietudes, que nos levou a buscar nossa própria condição de espiritualidade e de uma nova
condição existencial.
Afeto. Como falar de um sentimento cientificamente? Como falar de Amor, Deus, sem,
contudo, nos colocar pessoalmente. Como dar credibilidade cientifica a algo tão peculiar e
humano. Como dimensionar o afeto enquanto expressão do amor e da solidariedade familiar,
inerente à formação da dignidade humana e da constituição da pessoa, abarcando em seu
bojo a idéia de que o ser humano precisa ser afetuoso com seu semelhante.
Finalizando, ou simplesmente começando parafrasear com a espiritualidade; que
apenas “é”! Valor interno, que descerra o olhar para o infinito... Para além dos sentidos
convencionais. Encontro consigo mesmo. É o valor de consciência, alcançado por esforço
próprio e que faz o viver se tornar sadio. Assim, espiritualidade é ser feliz, mesmo que
ninguém entenda por quê. E ser feliz pode ser cientificamente comprovado? Esperamos trilhar
este caminho, nas linhas simples deste trabalho, com a companhia de quem acredita no “bom
combate” (Diário de um Mago – Paulo Coelho), onde Petrus apela para que alimentemos os
nossos sonhos e desejos, e que lutemos e trabalhemos em seu prol, sem nunca esperar que
sejam os outros a fazê-lo por nos. Mas sem nunca deixar de dar atenção aos momentos e as
pequenas coisas que nos rodeiam, porque o “extraordinário reside no caminho da pessoa
comum”.
2. FAMÍLIA – LAÇOS MATERIAIS E LAÇOS ESPIRITUAIS
Etimologicamente a palavra família tem sua origem no vocábulo ´famulus´ que significa
servo ou escravo, sugerindo que, primitivamente, a família era considerada um conjunto de
escravos ou criados de uma mesma pessoa, de onde viria, também, a natureza possessiva das
relações familiares desde os povos primitivos. A mulher devia obedecer a seu marido como
seu amo e senhor e os filhos pertenciam a seus pais.
As diversas teorias existentes sobre a origem da família tentam explicar a origem e
estruturação desse grupo. Incursionando sobre o passado das famílias, pode-se encontrar na
família medieval a ausência da afetividade entre crianças e pais. Tudo era público, não existia
a privacidade e as crianças participavam do mundo adulto. Nessa época via-se a família com a
função apenas de assegurar a transmissão da vida, do nome e dos bens materiais. (FREITAS,
2002)
Conforme Blefari (2002), a partir do século XV, as crianças permaneciam em suas casas
até os 7 ou 9 anos de idade, após eram enviadas para outras casas para aprender um
ofício. As crianças tornavam-se escravas, prestando serviços domésticos aos seus mestres. As
relações entre mestres e aprendizes eram mais importantes do que entre pais e filhos. Não
havia amor, e os filhos não voltavam mais ao convívio dos pais.
Nessa mesma época, surgiram as escolas como fornecedoras de educação. Somente
nos séculos XVI e XVII é que o modelo familiar se modifica e a criança torna-se motivo de
preocupação dos pais que agora cuidam de sua educação, carreira, trabalho, futuro, etc.
Nas famílias modernas, nasce o valor da família com a função primordial de promover
a educação e proporcionar bem-estar às crianças.
Atualmente, as famílias não necessariamente são mais formadas por pai, mãe, filhos e
irmãos, exclusivamente. Observa-se que além da família tradicional, onde cada indivíduo
exerce seu papel, também se pode encontrar famílias formadas por casais homossexuais e
seus filhos, ou por mães solteiras, porém a premissa de que o individuo é modelado pelas
influencias que recebe de seus entes, e que a educação ofertada deve estar pautada no amor
e no respeito ao próximo não se modificaram.
A família como grupo social é uma unidade complexa e essencial para o processo de
viver de todo o ser humano que não é formada apenas por um grupo de pessoas, mas
também pelas relações entre estas pessoas. O ser humano é modelado pela família, e isto é
inevitável, mesmo que ele permaneça com esta apenas no primeiro ano de vida, pois os seres
humanos não são auto-suficientes, como os animais, e dependem de outros seres humanos
para sua sobrevivência.
A família tem sua significação própria, especial, indefinível, pois não segue mais um
modelo padrão, até porque não existe um modelo único de família. E sim várias formas, que
construímos no nosso dia-a-dia, no meio social em que vivemos de acordo com nossos
costumes, crenças e valores.
Rodrigues (2000, p.41-42) apresenta os seguintes tipos de famílias:
• Nuclear: também chamada de biparental, composta pelo pai, mãe e filhos. Nela se
destacam as funções sociais, política, sexual, econômica, reprodutiva e educativa.
• Extensas ou ramificadas: neste tipo de arranjo familiar, estão incluídas diferentes
gerações na mesma família;
• Associativas: é o tipo de família na qual as pessoas com as quais existem estreitos
laços afetivos, também estão inseridas como membros;
• Adotivas: atribui-se esta denominação ao conjunto de pessoas que, ao se
encontrarem, desenvolvem afinidades, passam a conviver considerando-se uma mesma
família, independente de qualquer consangüinidade; tendo-se, por exemplo: estudantes que
vivem em residências universitárias ou que dividem apartamento ou outros espaços
residenciais;
• Duais ou monoparentais: este tipo de arranjo familiar é assim denominado por ser
aquele formado por apenas dois membros: mãe-filho, pai-filho, esposo-esposa / companheirocompanheira;
• Ampliadas: são as famílias formadas sem necessidade de haver espaço físico comum,
nem de desempenhar todas as funções tradicionais em conjunto. As pessoas se consideram
como parentes, "psicologicamente falando".
• Recompostas: são àquelas famílias (marido, esposa e filhos ou um dos cônjuges e
filhos), que após uma primeira experiência não bem sucedida fazem uma nova tentativa com o
mesmo ou com outro cônjuge;
• Homossexuais: este tipo de família resulta da união de pessoas do mesmo sexo. É
uma prática que começa a se difundir na sociedade pós-moderna.
O equilíbrio e a experiência emocional infantil frente às transformações observadas na
instituição “família”, estão relacionados às relações estáveis e seguras dos pais com os filhos.
Desta forma, independente da estrutura que se constrói através das novas composições
familiares, pode-se perceber que se os vínculos entre pais e filhos são preservados e se a
família desenvolve estratégias sólidas de educação, estes se desenvolvam adequadamente.
Entende-se a família como um sistema aberto, no sentido de suas trocas com o meio,
cujos membros têm contato direto, laços emocionais e uma história compartilhada. Apresenta
uma estrutura com a presença de padrões e propriedades que organizam a estabilidade da
família em termos de sustentar uma dinâmica relacional que contemple os fatores de
proteção necessários para seu desenvolvimento enquanto grupo e indivíduos, convivendo
com os desafios das mudanças próprias das transições presentes no ciclo vital da família.
Podemos considerar a família então como um sistema complexo, onde cada família é
única, diferindo em tamanho, elementos que a compõe, valores, etc. Sendo um sistema
altamente interativo, onde o que ocorre com um membro repercute em todos os elementos.
Ao se pensar em família, devem ser consideradas as transformações que ocorrem na
sociedade, nas relações interpessoais e as mudanças na composição do sistema familiar. Para
Osório (2002), a família é uma expressão possível de descrições, porém de difícil definição
conceitual por assumir diferentes estruturas de agrupamento humano através do tempo.
João Batista Villela observa que: “faz-se necessário ter uma visão pluralista da família,
abrigando os mais diversos arranjos familiares, devendo-se buscar a identificação do elemento
que permita enlaçar o conceito de entidade familiar todos os relacionamentos que tem
origem em um elo de afetividade, independentemente de sua configuração. O desafio dos dias
de hoje é achar o toque identificador das estruturas interpessoais que permita nominá-las
como família. Esse referencial só pode ser identificado na afetividade”.
3. FUNÇÕES BÁSICAS DA FAMÍLIA:
1. Econômica – cabe aos pais a manutenção da prole;
2. Doméstica e de cuidados com a saúde – oferecer abrigo, alimentação, cuidados com a higiene
e a saúde;
3. Recreação – propiciar aos filhos momentos de lazer;
4. Socialização – desenvolver nos filhos a capacidade de se relacionar em outros grupos.
5. Auto-identidade – oferecer aos filhos noção de realidade e consciência dos limites: Quem
sou? Qual meu valor?
6. Afeição – oferecer afeto, possibilitando aos filhos desenvolver a capacidade de amar a si e aos
outros, de expressar emoções;
7. Educacional/vocacional – preparar sua prole para ser no mundo.
De acordo com Wagner (2002), as diferentes configurações também trazem diferentes
funcionamentos familiares e os estudos atuais discutem papéis, relacionamentos, padrões de
interação e comunicação dos membros dos novos núcleos.
Em relação aos diferentes arranjos familiares, percebe-se uma transição do modelo
nuclear/original de família (pai-mãe e filho) para a construção de novos laços e vínculos
caracterizados pelas famílias extensas (pai, mãe, filho, avós, ou outros parentes) e as
monoparentais (um cônjuge e filhos). A partir desta perspectiva, alguns autores sugerem que
os membros do grupo familiar devam passar por um processo de assimilação em relação aos
novos relacionamentos e papéis (Wagner, 2002 & Wagner). Este processo envolve a
manutenção dos vínculos entre pais e filhos e sólidas estratégias de educação, com limites e
regras bem definidas.
A família é um sistema dinâmico em constante transformação, que cumpre sua função
social transmitindo os valores e as tradições culturais inseridos.
4. CARACTERÍSTICAS FUNCIONAIS DAS FAMÍLIAS DE USUÁRIOS EM DEPENDÊNCIA QUÍMICA
O impacto que a família sofre com o uso de drogas por um de seus membros é
correspondente às reações que vão ocorrendo com o sujeito que a utiliza.
KRUPNICK (1995) descreve quatro estágios pelos quais a família progressivamente
passa sob a influência das drogas e álcool:
1. Na primeira etapa, é preponderantemente o mecanismo de negação. Ocorre tensão
e desentendimento e as pessoas deixam de falar sobre o que realmente pensam e sentem.
2. Em um segundo momento, a família como um todo está preocupada com essa
questão, tentando controlar o uso da droga, bem como as suas conseqüências físicas,
emocionais, laborais e sociais. Mentiras e cumplicidades relativas ao uso abusivo de álcool e
drogas instauram um clima de segredo familiar. A regra é não falar do assunto, mantendo a
ilusão de que as drogas e álcool não estão causando problemas na família.
3. Na terceira fase, a desorganização da família é enorme. Seus membros assumem
papéis rígidos e previsíveis, servindo de facilitadores. As famílias assumem responsabilidades
de atos que não são seus, e assim o dependente químico perde a oportunidade de perceber as
conseqüências do abuso de álcool e drogas. É comum ocorrer uma inversão de papéis e
funções, como por exemplo, a esposa que passa a assumir todas as responsabilidades de casa
devido o alcoolismo do marido, ou a filha mais velha que passa a cuidar dos irmãos em
conseqüência do uso de drogas da mãe.
4. O quarto estágio é caracterizado pela exaustão emocional, podendo surgir graves
distúrbios de comportamento em todos os membros. A situação fica insustentável, levando ao
afastamento entre os membros gerando grave desestruturação familiar.
Os principais sentimentos da família que convivem com dependentes são: raiva,
ressentimento, descrédito das promessas de parar, dor, impotência, medo do futuro, falência,
desintegração, solidão diante do resto da sociedade, culpa e vergonha pelo estado em que se
encontram.
A dependência química afeta o sistema familiar mediante certos fatores, como a
substância de escolha; a idade e o sexo do dependente; o estágio em que a família se
encontra; os fatores sociais, econômicos e culturais tanto do dependente como da família e as
psicopatologias.
MATOS (2008) relatam que outro fato importante que ocorre nas famílias do
dependente químico é que uso de drogas provoca o afastamento afetivo entre os membros do
sistema familiar, tornando difícil a comunicação entre eles. Também podem surgir
sentimentos de raiva, baixa auto-estima e depressão quando as tentativas de parar com uso
de determinada substância fracassam e se faz necessária a intervenção externa. Só que para o
dependente e para própria família é muito difícil de aceitar esta condição visto que, acreditam
que com mais esforços são capazes de enfrentar os problemas sozinhos o que pode causar
muita frustração em ambos os envolvidos, família e dependente.
OLIEVENSTEIN (1992) assinala seis características denominadas como patológicas
encontradas nas famílias de dependentes químicos:
• Falta das barreiras entre as gerações, ou seja, a autoridade dos membros mais velhos
nem sempre é suficiente para impor limites e regras;
• Nível de individuação dos adultos é precário; freqüentemente há uma inversão dos
papéis na família nuclear, com o filho assumindo o papel do adulto;
• Os mitos familiares são acentuados. Por isso é muito comum os familiares manterem
certa desesperança, ou até mesmo comodismo, por acreditarem que o problema da droga é
algo do “destino” da família como um todo;
• Desentendimento no casal parental, principalmente quando um dos cônjuges é
alcoolista, ou quando não agem de modo coerente em relação às condutas que devem
assumir para apoiarem a recuperação de um dos filhos;
• Alianças secretas com filhos frente à desordem das condutas que deveriam ser
seguidas, ou as falhas de comunicação entre os membros, que automaticamente fortalecem
parcerias dentro do meio familiar.
Normalmente, a família do dependente químico encontra-se fragmentada, deteriorada
em conflito frequente, pois o abuso de determinada substância por um individuo torna o
sistema familiar impotente para vencer determinadas situações.
Cada pessoa desempenha um papel diferente, organizado e distribuído pela própria
família. A presença de um vício interfere no desempenho destes papéis, provocando uma
alteração nesta dinâmica e desencadeando a necessidade de um reajuste no modelo
esperado, desorganizando assim completamente a vida dos sujeitos envolvidos.
Por outro lado, estas famílias podem, indiretamente, colaborar no processo de
drogadição. Na literatura é comum encontrarmos os termos co-dependência, co-adicção, coalcoolismo que, são utilizados para designar os padrões comportamentais de pessoas afetadas
de forma significativa pelo uso ou pela dependência de drogas de algum familiar. Para os
autores LARANJEIRA e FIGLIE a co-dependência seria a facilitação, que consiste no auxilio do
usuário a obter a droga ou na proteção deste frente às conseqüências do abuso de
substâncias. Outra característica relevante é a falta de disposição em aceitar a dependência
como doença, ou seja, uma negação da realidade, o que inviabiliza assim a busca por
tratamento.
Segundo BLEFARI (2002), a dependência química controla a família e os familiares e,
por sua vez, protege o dependente das conseqüências de suas ações, encobrindo, protegendo
e proporcionando espaços para que ele se continue o uso pelo medo de perdê-lo. Este
comportamento torna-se um círculo vicioso. A família, na tentativa de proteção, paga dívidas
do dependente gerando neste um sentimento de culpa e fracasso permanentes. Este processo
aumenta o sentimento de hostilidade e condenação da família.
Nem todas as famílias de dependentes químicos podem ser consideradas não
funcionais, no sentido de não ter fatores de proteção necessários para o desenvolvimento de
todos seus membros. Mas em muitas famílias com dependentes, ocorre um processo onde a
não funcionalidade e o abuso de drogas reforçam-se mutuamente gerando um processo
cíclico que sustenta a doença familiar.
5. LAÇOS ESPIRITUAIS
“Os laços de sangue não estabelecem necessariamente os laços espirituais. O corpo procede
do corpo, mas o espírito não procede do espírito, porque este existia antes da formação do
corpo. O pai não gera o espírito do filho: fornece-lhe apenas o envoltório corporal. Mas deve
ajudar seu desenvolvimento intelectual e moral, para o fazer progredir. [...] Os verdadeiros
laços de família não são, portanto os da consangüinidade, mas os da simpatia e da
comunhão de pensamentos, que unem os espíritos, antes, durante e após a encarnação.
Donde se segue que dois seres nascidos de pais diferentes podem ser mais irmãos pelo
Espírito, do que se fossem pelo sangue. Podem,pois, atrair-se, procurar-se, tornarem-se
amigos, enquanto dois irmãos consangüíneos podem repelir-se, como vemos todos os dias.
Problema moral, que só o Espiritismo podia resolver pela pluralidade das existências”
(KARDEC,2004, p276).
O ´Evangelho Segundo o Espiritismo´ comenta que há duas espécies de famílias: as
famílias por laços espirituais e as famílias por laços corporais. Assim, as primeiras possuem
vínculos mais duradores, perpetuadas pela migração da alma, enquanto a família formada
pelos laços corporais extingue-se juntamente com a matéria.
Sabemos, contudo que a estruturação do conjunto familiar não ocorre de forma casual,
estes grupos são formados em razão da necessidade advindas de outras experiências
reencarnatórias, sendo que seus integrantes detêm elementos em si que predispõe a união.
Ao observarmos a dinâmica familiar podemos perceber como os indivíduos se parecem
não só fisicamente, mas também moralmente, ressalvadas as compreensíveis exceções. Essas
semelhanças são verificadas tanto nos filhos para com seus pais, como também entre os
genitores. Conscientes que os Espíritos são diferentes, na condição de indivíduos, que os pais
não são criadores e nem co-criadores da alma dos filhos, a explicação advêm da sintonia e da
afinidade havida entre filhos e pais. Assim, os genitores cooperam com Deus, a partir da
matéria prima da Divindade, preparando, a começar da sua vinculação biológica, tão somente
o corpo fisiológico dos herdeiros. Ressaltamos que todos que partem para a construção de
uma família, através do casamento formal ou qualquer outro tipo de união informal, levam
consigo os valores e desvalores que trazem na alma, e nascem daí as dificuldades ou não nas
relações familiares.
Na visão de JOANNA DE ANGELIS “A família, é o grupo de espíritos normalmente
necessitados, desajustados, em compromisso inadiável para a reparação, graças à
contingência reencarnatórias”. Assim, famílias espirituais freqüentemente se reúnem na Terra
em domicílios físicos diferentes, para as realizações nobilitantes com que sempre se viram, a
braços os construtores do Mundo. Retornam no mesmo grupo consangüíneo os espíritos afins,
cuja oportunidade às vezes prefere renunciar, de modo a concederem aos desafetos e
rebeldes do passado o ensejo da necessária evolução, da qual fruirão após as renúncias das
demoradas uniões no Mundo Espiritual.
A família é mais do que o resultante genético. São os ideais, os sonhos, as aspirações,
as lutas e árduas tarefas, os sofrimentos, as tradições morais elevadas que nos ligam no
mesmo grupo doméstico onde prosperam as nobres expressões da elevação espiritual na
Terra. O convívio em família requer a percepção das transferências, a eliminação das
projeções e a expressão equilibrada dos sentimentos.
A reencarnação estreita os vínculos do amor, tornando-os laços eternos, pelo quanto
faculta de experiência na área da afetividade familiar. Enquanto as ligações de sangue
favorecem o egoísmo, atando as criaturas às algemas das paixões possessivas, a pluralidade
das existências ajuda, mediante a superação das conveniências pessoais, a união fraternal. O
desligamento físico pela desencarnação faz que se recomponham, no além-túmulo, as famílias
irmanadas pelo ideal da solidariedade, ensaiando os primeiros passos para a construção da
imensa família universal.
A lei de Deus nos reúne ao necessário aprendizado e para a manifestação do amor
pleno. A vida em família é, portanto, o grande laboratório onde os espíritos reciclam-se para a
própria felicidade. É ali onde se reúnem antigos amores e velhos desafetos para que, no
desempenho dos papéis familiares, aprendam a se amar verdadeiramente.
Ao reencarnarmos, trazemos gravados os sentimentos que tivemos em relação a cada
pessoa que reencontramos. Em nossos arquivos perispirituais constam as mágoas, tanto
quanto as gratidões, bem como tudo que foi projetado por nós naquele espírito em vidas
passadas.
Quando pensamos a palavra família, logo nos vem à mente – pai, mãe e filhos –
nascimento e morte – inicio e fim. Observemos o real motivo do nascimento na filosofia
espírita apresentada por Allan Kardec: a evolução da alma, aprendizado, lapidação da nossa
personalidade. Então a missão do Ser é transformar, evoluindo no aprendizado e agregando
vibrações positivas incutidas no Espírito. Assim, quando nascemos temos a oportunidade de
recomeçar a evolução continua, de forma cíclica entre o nascer e o morrer, até que um dia o
amor de nossa alma se desabroche por inteiro.
Para que possamos cumprir esta missão nos foi ofertada a convivência em família, que
é o cenário perfeito no qual somos inseridos, porque possibilita inúmeras possibilidades de
resgate, pois na família podemos reencontrar desafetos de outras vidas, algozes e suas
vitimas, assassinos e assassinados, assaltantes e assaltados e tantas outras relações mal
resolvidas do passado que são rearranjadas na estrutura familiar.
Em uma das citações de Madre Teresa de Calcutá, onde especifica que “é mais fácil
amar os que estão longe. Mas nem sempre é fácil amar os que vivem ao nosso lado”.
Entendemos que a família é um imenso laboratório onde elaboramos nossos processos
cármicos, sendo um verdadeiro celeiro da reforma íntima na Terra. Onde cada grupo espiritual
(família) que se reúne em uma experiência aqui, tem um propósito comum entre seus
integrantes. Para entendermos esta relação, necessitamos definir carma como uma expressão
que vem do sânscrito e significa ação. Neste contexto, é uma ação que deve ser tomada para
remover ou modificar erros do passado. Na pratica, tudo que fazemos gera conseqüência ou
carma. O que realmente importa é se o carma será bom ou ruim. Evitar o carma é impossível,
mas é possível agir para que ele seja positivo.
Quando mais próximos estamos de uma ou mais pessoas, quando mais perto é este
convívio, podemos notar duas situações mais especificas:
1) Grande Afinidade: quando existe a relação harmônica, feliz, suave, tranqüila e
principalmente sem cobrança de comportamento entre as pessoas.
2) Grande Carma ou necessidade de resgate: quando a relação é conflitante,
conturbadora, as emoções positivas oscilam muito com as negativas, o clima é
intenso, há grande cobrança de comportamento entre os integrantes do grupo.
A família torna-se, então, um laboratório espiritual com o propósito de aflorar as
afinidades, bem como eliminar desarmonia e curar os desafetos nas relações. Observamos
que a imensa sabedoria divina não só reúne espíritos conflitantes em um grupo familiar, mas
também espírito com grande afinidade de sentimentos que promovem a reforma íntima e a
harmonização, favorecendo o sentimento de amor, respeito, entre tantos outros.
No ´Evangelho Segundo o Espiritismo´ encontramos: “Ó espíritas! Compreendei o
grande papel da Humanidade; compreendei que, quando produzis um corpo, a alma que nele
encarna vem do espaço para progredir.” (KARDEC, Cap. XVI, 9) Reflitamos nestas palavras que
nosso maior aprendizado é exercitar a consciência e compreender que temos na família
nossos maiores gatilhos. Atraímos exatamente o que precisamos para que nossas fraquezas
aflorem, sendo identificadas e elaboradas. Podemos assim, compreender o motivo do qual
fazemos parte de uma determinada família. Nesta visão reencanacionista, aprendemos a
respeitar mais o comportamento alheio, bem como compreender a importância de cada um
no seu momento evolutivo.
Entendemos então que a família é uma reunião espiritual no tempo em determinado
espaço e, assim como diz Andre Luiz: “O lar não é somente a moradia dos corpos, mas acima
de tudo, a residência das almas”. (Franco, 1994)
6. LAÇOS AFETIVOS
Afetividade, afecção, do Latim afficere ad actio, onde o sujeito se fixa, onde o sujeito se
liga. Latim affectus particípio do passado do verbo afficere. Tocar, comover o espírito, por
extensão, unir, fixar. Composto da partícula ad = em, para; e facere = fazer, operar, agir,
produzir.
No dicionário temos a tradução de afetividade como a relação de carinho ou cuidado
que se tem com alguém intimo ou querido. É o estado psicológico que permite o ser humano
demonstrar seus sentimentos e emoções a outro ser ou objetos. Pode também ser
considerado o laço criado entre humanos que, mesmo sem características sexuais, continua a
ter uma parte de amizade mais profunda.
Em psicologia, o termo afetividade é utilizado para definir a suscetibilidade que o ser
humano experimenta perante determinadas alterações que acontecem no mundo exterior ou
em si próprio, relacionado com suas vivencias e na qualidade de suas experiências, sejam
agradáveis ou desagradáveis.
O afeto é o grande aliado para a constituição de qualquer relação humana, é algo que
se conquista a partir de uma reciprocidade entre as pessoas, e este sentimento é tão
importante que representa o pilar do desenvolvimento humano.
Segundo Ribeiro (2005), o conceito de afetividade é amplo e pode ser abordado por
diferentes perspectivas, entre elas, a psíquica, a pedagógica e a filosófica. Existe uma
pluralidade de vocábulos para definir a afetividade, tais como: ternura, inter-relação, empatia,
sentimentos, emoções, atitudes, valores, amor, carinho, compreensão, respeito, afeto,
atenção, companheirismo, comportamento moral e ético, entre outros.
Assim, “a
afetividade é impulsionada pela expressão dos sentimentos e das emoções e pode
desenvolver-se por meio da formação”.
É no núcleo familiar, que ocorre as primeiras possibilidades de viver nosso afeto e de
construir vínculos afetivos. O verdadeiro sentido nas relações familiares transcende a lei e o
sangue, não podendo ser determinadas de forma escrita nem comprovadas cientificamente,
pois tais vínculos são mais sólidos e mais profundos, são “invisíveis” aos olhos científicos, mas
são visíveis para aqueles que não têm os olhos limitados, que podem enxergar o afeto como a
verdadeira expressão do amor e da solidariedade, sendo um valor inerente na formação da
dignidade humana e da constituição da pessoa. O afeto caracteriza um grupo unido pelos
sentimentos de proteção e cuidado, requisito fundamental para a formação da família.
O afeto é um dos pilares do desenvolvimento humano saudável. Uma habilidade que
abre largas portas para a entrada do Amor, porque ser afetivo é laborar com o sentir. Diríamos
assim que a afetividade é um degrau para o Amor. E amar é desenvolver-se para “ser”, verbo
que traduz o existir Divino ou existir para a felicidade. “Ser” é educar-se, externar o amplo
contingente de valores e potencialidades celestes que dormitam há milênios em nosso eu
Divino, que nos conduzem ao destino glorioso de Filhos de Deus, à plenitude. Assim,
compreende que aprender a amar é, pois, a competência essencial que deveria fundamentar
quaisquer conteúdos de nossas escolas espirituais. Aprender a amar o próximo, aprender a
amar a si, aprender a amar a Deus. Exercitamos no grupo familiar o que deveríamos exercitar
com toda a humanidade. Quando aprendemos a perdoar, a amar, a renunciar, quando
superamos o rancor no pequeno grupo a qual somos vinculados pelos laços familiares,
estamos pronto para expressar estes sentimentos para a humanidade.
Antoyne d’Saint Exupéry. (Exupéry, 2006) – Autor de “O Pequeno Príncipe”. Afirmou
que só se vê bem com o coração “O essencial é invisível aos olhos”, acredita que enquanto não
possuímos a sensibilidade de ver o outro dentro da sua grandeza e de sua subjetividade, não
podemos utilizar das preciosas lições do perdão, da tolerância e da solidariedade e, sobretudo,
da compreensão, sem a qual não observaria a vida com as lentes da alteridade e do Amor.
Porque enxergamos tudo aquilo que esta no nosso campo de visão, como uma paisagem, uma
pessoa; e aquilo que não vemos, podemos sentir como o cheiro das flores no campo. Ou seja,
o que sentimos não precisamos estar vendo. O sentir é o que captamos mesmo não vendo.
Podemos estar vendo uma pessoa, conversando, mas o invisível é o que iremos observar: o
seu conteúdo, sua essência, seus ideais, seu modo de viver. É aquilo que é invisível aos olhos,
mas que podemos perceber. Essa essência esta ligada ao não julgar pelas aparências. O olhar
engana. A sua essência só perceberemos com a convivência e o afeto e isto exige aceitação do
outro, reciprocidade e generosidade.
A família representa o ninho ecológico da espécie humana, família constitui nosso
núcleo afetivo. É nela que experimentamos o amor e aprendemos a amar. É o lugar onde
iniciamos o desenvolvimento de nossas potencialidades. Este lugar deve possuir condições de
calor afetivo, liberdade, nutrição e segurança. Quando somos amados e protegidos no seio
familiar, somos capazes de amar a nós mesmos e aos outros. Para uma família ter um núcleo
afetivo, saudável, cada membro deve ser amado, desejado, cuidado, respeitado e protegido,
desde que não seja sufocado. É importante ter o espaço para expressão dos sentimentos e
idéias com sinceridade e espontaneidade.
A vida familiar é um instrumento de evolução, pois é na convivência com o grupo
familiar que começamos a ensaiar, desde a época das cavernas, o ideal de humanidade, de
afetividade, de companheirismo, ate o presente momento, em que o ser humano mais
civilizado é convidado a aprofundar esses valores, na grande mudança que se avizinha do
planeta em um novo mundo de regeneração. O ser humano necessita de conviver em
sociedade e ai surge a seu maior desafio: a relação familiar, onde ocorrem as muitas
dificuldades de convivência, que devem ser utilizados como momentos de aprendizado do
amor.
Em ´O Livro dos Espíritos` na pergunta 774 (Kardec, pag. 406): “Há pessoas que, do fato
de os animais ao cabo de certo tempo abandonarem suas crias, deduzem não serem os laços
de família, entre os homens, mais do que resultados dos costumes sociais e não efeito da lei
da natureza. Que devemos pensar a este respeito?”
Resposta: “Diversos dos animais é o destino dos homens. Por que, então, quererem
identificá-lo com estes? Há no homem alguma coisa mais, alem das necessidades físicas: há a
necessidade de progredir. Os laços sociais são necessários ao progresso e os de família mais
apertados tornam os primeiros. Eis porque os segundos constituem uma lei da natureza. Quis
Deus que, por essa forma, os homens aprendessem a amar-se como irmãos”.
Assim, entendemos que estamos em família para aprender a amar. E aprender a amar
é exercitar um pouco hoje, um pouco amanhã. Ninguém aprende de uma hora para outra, ou
simplesmente estudando a teoria. Necessitamos realizar exercício para sentir e vivenciar o
amor. Concluímos então que, a finalidade principal da família é aprendermos a amar como
irmãos, nos libertando do egoísmo, sentimento ainda arraigado em nossos corações. E é nas
relações familiares através do afeto que esse aprendizado se torna mais intenso, devido às
nossas imperfeições e ao processo de convivência mais amiúde uns com os outros.
7. ESPIRITUALIDADE
“Em cada ser vivo, há uma parte que quer se transformar nela mesma: o
girino, no sapo; a crisálida, na borboleta; o ser humano fragmentado, num ser
pleno. Isso é espiritualidade”. Ellen Bass.
Segundo JARAMILLO (2009), “só existe amor no aqui e agora”; buscou a espiritualidade
durante muitos anos nos mestres e seres iluminados na Índia, nas montanhas do Tibete e em
outros países, mas descobriu que a respostas não estava nas igrejas, nos cultos nem em
hábitos e tampouco nos mosteiros do Himalaia. Compreendeu que simplesmente ela se
encontrava em seu interior. Que não era uma meta, mas sim o caminho que percorria, na sua
consciência, na sua aceitação. Define a felicidade como um estado superior de consciência que
esta acima do prazer e que transcende a dor. Assim, caracteriza a verdadeira espiritualidade
como algo que nos da a oportunidade de observar tanto nossas forças quanto nossas
fraquezas, dando nos a sabedoria para aceitarmos nossas fraquezas e para usar melhor nossas
forças.
Para entender a espiritualidade e a relação que existe entre o corpo, a mente e o
espírito, é importante entender primeiro o conceito simples de energia e matéria que
configuram o ser integral.
Segundo o Dicionário Eletrônico Houaiss da língua portuguesa, energia deriva do Grego
energés, que significa atuar; que deriva de outra palavra érgon que significa obra, trabalho,
ação. Assim refere-se a algo real, efetivo, embora nem sempre perceptível, mas que atua de
forma concreta no universo.
UBALDI (2010) definiu matéria como uma forma de energia, isto é um modo de ser da
substancia, que nasce da energia por condensação ou por concentração e regressa a energia
por desagregação, após haver percorrido uma serie evolutiva de forma cada vez mais
complexas e diferenciadas, que reencontram na unidade em reagrupamento coletivo. A
matéria nasce, vive e morre, para renascer, reviver e tornar a morrer. Assim a matéria, tal
como a concebeis habitualmente, desvanece em nossa percepção sensorial, deixando apenas
sensações produzidas por algo que é apenas energia e determina um movimento que se
estabiliza por sua altíssima velocidade. Velocidade é energia, velocidade é matéria, velocidade
é idêntica em sua substância, é o denominador comum que vos permite a passagem de uma a
outra forma.
Einstein (1879-1955) foi o primeiro cientista, a demonstrar em suas observações e
deduções utilizando de um modelo cientifico a íntima identidade entre matéria e energia e a
possibilidade de se transformar uma em outra: a matéria é energia em estado de
condensação; a energia é matéria em estado radiante. (Gleber,apud,2011)
A vivência da verdadeira espiritualidade influencia no equilíbrio entre o corpo e a
mente, promovendo uma paz interior e uma harmonia real.
Necessitamos ainda definir o que entendemos por corpo físico, mente e espírito, para
podermos sintetizar o que entendemos por espiritualidade.
Corpo físico: definido sinteticamente por corpo humano ou corpo animal; classe
mamífera, ordem primata, família hominídeos, gênero Homo, espécie Homo sapiens.
O corpo físico humano é constituído por átomos, moléculas, células e tecidos. Todas as
células físicas passam por constantes revezamentos e substituição ao longo da vida, assim,
tecidos, sangue, ossos, sucos, fermentos, hormônios nervos e músculos transformam-se
diariamente. Há um sistema de equilíbrio administrado pela mente, órgão imaterial do
espírito.
GLEBER (2011) define mente como a base sobre a qual o espírito manifesta seu
intelecto e promove no mundo as modificações necessárias ao progresso. Pela mente, o ser
plasma sua própria atmosfera e seus sentimentos, imprimindo em si mesmo a máscara do
egoísmo, do pessimismo e do terror, ou então se expressando pelo otimismo, nos planos mais
sutis. Sua atitude mental é fator determinante na própria evolução e na do mundo. Diferencia
o corpo astral ou emocional (o chamado na terminologia espírita de perispirito) como aquele
que sente e deseja; enquanto que o corpo físico atua e executa no mundo das formas. Reforça
ainda, que a mente transmite as ordens do espírito e dirige as ações de transformações e
regenerações do corpo físico, sendo assim responsável pelas transformações do metabolismo
humano, transferindo para o corpo físico todos os comandos provenientes do espírito.
Espírito é o fundamento de toda manifestação inteligente e consciente da criação.
Concluímos nesta visão que o homem é um ser multidimensional e representativo na
escala evolutiva. É constituído simultaneamente pelo corpo físico, corpo etérico, psicossoma,
e outros que necessitamos para relacionarmos com a vida e no universo em suas varias
dimensões. Este conceito, adotado pelas diversas escolas do pensamento espiritualistas, é
compartilhado pela ciência. E como afirma em nota, GLEBER (2011) diante da nova visão
holística, a ciência descobre que a matéria é o resultado da coagulação da luz ou energia
coagulada, e a energia é matéria em estado de expansão. Nada permanece estático no
mundo. Há constantes transformações na natureza.
Segundo BOFF (ANGERAMI, 2004), a espiritualidade é aquele estado em que buscamos
a integração da nossa condição existencial de modo harmonioso. Ensina ainda que espírito é
aquele momento de nossa consciência que nos abre a percepção de sermos parte de um todo
e de que pertencemos ao todo. Ao buscarmos significação para as coisas da vida, dando-lhes
sentido e configuração, tornamo-nos humanos e poderemos caminhar no sentido de
buscarmos a unidade.
Espiritualidade vem de espírito. Para entendermos o que seja espírito precisamos
desenvolver uma concepção de ser humano que seja mais fecunda do que aquela
convencional, transmitida pela cultura que afirma que o ser humano é composto de corpo e
alma ou de matéria e espírito. Ao invés de entender essa afirmação de uma forma integrada e
globalizante, entendeu-a de forma dualista, fragmentada e justaposta. Assim surgiram os
muitos saberes ligados ao corpo e à matéria, ou seja, ciências da natureza e os vinculados ao
espírito e à alma, ciências do humano. Perdeu-se a unidade sagrada do ser humano vivo, que
é a convivência dinâmica de matéria e de espírito entrelaçados e pertencentes um ao outro.
Ou seja, o ser humano integral, holístico. Este ser humano não possui apenas exterioridade
que é sua expressão corporal. Nem só interioridade que é seu universo psíquico interior. Ele
vem dotado também de profundidade que é sua dimensão espiritual.
O espírito não é uma parte do ser humano ao lado de outras. É o ser humano inteiro
que por sua consciência se percebe pertencendo ao Todo e como porção integrante dele. Pelo
espírito temos a capacidade de ir além das meras aparências, do que vemos, escutamos,
pensamos e amamos. Podemos apreender o outro lado das coisas, o ser profundo. O espírito
capta nelas símbolos e metáforas de outra realidade, presente nelas, mas que não está
circunscrita a elas, pois as desvenda por todos os lados. Elas recordam, apontam e remetem à
outra dimensão a que chamamos de profundidade.
É próprio do ser humano perceber valores e significados e não apenas elencar fatos e
ações. Com efeito, o que realmente conta para as pessoas, não são tanto as coisas que lhes
acontecem, mas o que elas significam para suas vidas e que tipo de experiências marcantes
lhes proporcionaram. É por isso que enchemos nossos lares com fotos e objetos amados de
nossos pais, avós, familiares e amigos; de todos aqueles que entram em nossas vidas e que
tem significado para nós. A experiência de base é que estamos ligados e religados uns aos
outros e todos com a Fonte Originária. Um fio de energia, de vida e de sentido passa por
todos os seres tornando-os um cosmos ao invés de caos, uma sinfonia ao invés de cacofonia.
Isso significa que tudo na existência é visto a partir de um novo olhar onde o ser humano vai
construindo a sua integralidade e a sua integração com tudo que o cerca. É um apelo á
transcendência do ser, a fim de que o homem supere os limites da matéria e se eleve às
culminâncias da espiritualidade, vivendo intimamente o amor pleno.
Então a pergunta que fica: o que é ser espiritualizado? Acreditamos muitas vezes que
um ser espiritualizado, é um ser especial, iluminado e com uma experiência de vida como se
fosse santo. Mas ele é simplesmente alguém que consegue fazer a conexão com a unicidade,
ligação única que se estabelece entre Deus e a humanidade, independente de se estar ou não
ligado a uma religião. Sabe que tem dentro de si uma centelha divina, presente em toda forma
de vida, e é por meio dela que está conectado a tudo, a todos e a Deus, dentro dessa
unicidade cósmica. Ele está no outro e o outro está Nele. Assim, encontra seu equilíbrio
pessoal, conseguindo acessar e entender suas emoções e sentimentos, trazendo benefícios
físicos para seu corpo e sua mente.
O ser espiritualizado busca caminhar entre dimensões diferentes, enxergando além do
que pode ser visto pelos olhos, sabendo atuar de forma equilibrada e coerente com seu
mundo emocional. E além de compreender o seu mundo emocional, compreende e aceita sem
julgamento o mundo emocional do outro. Sabendo que cada pessoa está vivenciando um grau
diferente de desenvolvimento espiritual, de nada adianta forçar alguém a pensar, agir e sentir
diferente do que é possível no momento. O respeito impera na relação consigo e com o outro
e isso nada mais é que sua alta conexão com o Todo.
MEDEIROS (2008) “Espiritualidade pode ser entendida como o conjunto de crenças que
traz vitalidade e significado aos eventos da vida. É a propensão humana para o interesse pelos
outros e por si mesmo. Ela atende à necessidade de encontrar razão e preenchimento na vida,
assim como a necessidade de esperança e vontade para viver. A espiritualidade pode ser forte
em pessoas de diferentes religiões, bem como em pessoas com crenças pessoais que não se
encaixam em uma religião formal. No sentido oposto, uma pessoa pode ter uma religiosidade
forte (freqüentando cultos regularmente), mas ter uma espiritualidade pouco desenvolvida
(por não vivenciar estes aspectos em seu interior)”.
Assim, espiritualidade independe de fé; é o modo de ser da pessoa, a conduta
revestida de valores éticos e morais. É UBALDI que fala: “Ordem, harmonia, eis para onde
progride a evolução. Neste sentido, é necessário canalizar as nossas energias, não lançando
um contra o outro, os dois pólos de nosso ser – alma e corpo – mas como já mencionamos,
harmonizando-os, para que concordem e colaborem num único objetivo, o da vida, o da
ascensão espiritual. A humanidade precisa de se equilibrar na harmonia, por dentro e por fora,
isto é, o individuo consigo mesmo, e na sociedade cada um com seus semelhantes”.
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nos resultados do referido estudo, e a prática clínica confirmam, a impossibilidade de
tratar somente o indivíduo adicto, sem incluir o sistema familiar no tratamento. Devido ao
fator que, todos os membros da família são, na realidade, responsáveis por um jogo infindo.
O ser humano é modelado pela família. Sofre influências externas e também é capaz de
influenciar o ambiente em que vive. Este processo é bastante comentado pelos pesquisadores
que buscam respostas no comportamento familiar para explicar o problema do uso abusivo de
drogas. O presente estudo identificou ainda, que muitos fatores, de diversas etiologias,
contribuem para a instalação e o desenvolvimento da dependência química, no entanto, a
organização familiar, os laços afetivos mantêm uma posição de saliência no desenvolvimento
e prognóstico do quadro. Neste sentido, a abordagem familiar deve ser considerada como
parte integrante do tratamento. Para tanto, a necessidade de se especificar o tipo de
intervenção de acordo com a meta do tratamento e as necessidades e capacidades da família,
segundo seu próprio entendimento, suas representações acerca da doença, buscando a
motivação da mesma para a mudança.
Observamos também que as praticas espiritualistas proporcionam uma maior
harmonia familiar, onde seus integrantes aprendem a se reconhecerem e admitem as
necessidades de mudanças, começando pela reforma intima. Entendemos também que a
busca de uma Divindade superior, fortalece os laços de amor, carinho e fraternidade.
Estabelecendo um clima de fé e esperança, e porque não, de sonhos possíveis de serem
atingidos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
ÂNGELIS, Joanna e outros espíritos. S.O. S. Família, psicografado por Divaldo Franco,
Salvador: Livraria Espírita Alvorada, 1994
CARVALHO, C.M.R. coord. e outros. Família e Espiritismo, São Paulo: Edições USE, 4ª ed., 1994.
COTRIM-CARLINI B., ROSEMBERG F. Drogas: Prevenção no Cotidiano Escolar. São Paulo: Cad. Pesq. Agosto, nº 74, p. 40-46, 1990.
DENIS, L. O Problema do Ser do Destino e da Dor, Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, Departamento Editorial, 18º ed., 1995.
OLIEVENSTEIN, C. "O toxicômano e sua família" In: BERGERET J. LEBLANSC
____________:Toxicomanias: uma visão multidisciplinar, Porto Alegre: Artes Médicas, 1991,
SÉRGIO, Luiz (espírito), Driblando a Dor, psicografia: Irene Pacheco Carvalho, 1ª ed., Brasília: Livraria e Editora Recanto, 1991.
RIBEIRO, M.; JUTRAS, F; LOUIS, R. Análise das representações sociais da afetividade na relação educativa. In: Psic. Da Ed. São Paulo, 20, 1º semestre de
2005, pp 31-54. Disponível em: http://pepsic.bvs-psi.org.br/pdf/psie/v20/v20a03.pdf.
FIGLIE, N. B., RIBEIRO, M., & LARANJEIRA, R. (2004). Organização de serviços de tratamento para a dependência química. In N. B. Figlie, S.Bordin, R.
Laranjeira. Aconselhamento em dependência química. São Paulo: Roca.
KALINA, E. (1999). Drogadição hoje: Indivíduo, família e sociedade. São Paulo: Artes Médicas Sul.
MINUCHIN, P., COLANTINO, J., & MINUCHIN, S. (1999). Trabalhando com famílias pobres. Porto Alegre: Artes Médicas Sul.
MARCELO SAAD, ROBERTA DE MEDEIROS. Espiritualidade e saúde. São Paulo (SP), Brasil. einstein: Educ Contin Saúde. 2008, 6(3 Pt 2): 135-6
OSÓRIO, L. C., Casais e famílias: uma visão contemporânea Porto Alegre: Artmed. .2002.
WAGNER, A., A. Família em Cena: tramas, dramas e transformações. Petrópolis, RJ: Vozes. 2002.
VILLELA. JOÃO BATISTA. Repassando o direito de família. P 20
SALAZAR, M.C.A. Resignificando valores na família. Em busca de uma nova ética.
Disponível em <|HTTP://WWW.revistapsicologia.com.br/revista44d/índex.htm>
KRUPNICK, L. KRUPNICK, E. Do desespero à decisão: como ajudar um dependente químico que não quer ajuda. São Bernardo do Campo: Bezerra, 1995.
OLIEVENSTEIN, C. A vida do toxicômano. São Paulo: Almed, 1992.
STANTON, M.D., STANTON, L.J. Terapia com Famílias de Adolescentes Drogadictos. Revista Sistemas familiares. Buenos Aires: ano 7, nº 2, 1991.
BLEFARI, Anete de Lourdes. A família e a drogadição. São Paulo: USP, 2002.
Monografia, Instituto e Departamento de Psiquiatria- Hospital das Clínicas- Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, 2002.
MATOS, Maria Tereza Soares; PINTO, Francisco José Maia; JORGE, Maria Salete Bessa. Grupo de orientação familiar em dependência química: uma
avaliação sob a percepção dos familiares participantes. Revista Baiana de Saúde Pública, Salvador, v. 32, n.1, p. 58-71, janeiro/ abril de
2008.
COELHO, PAULO. O diário de um Mago. 2º edição 2001. Ed. Pergaminho.
KARDEC, ALLAN. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Rio de janeiro, 2004. Federação Espírita Brasileira
___________. O Livro dos Espíritos.91ª Ed. Rio de janeiro, 2007. Federação Espírita Brasileira.
GLEBER, JOSEPH (Espírito). Além da matéria: uma ponte entre ciência e espiritualidade. {psicografado por} Robson Pinheiro – 10º Ed. Ver. – Contagem.
MG, 2011.
____________________.Energia : Novas dimensões da bioenergética humana. Orientados pelos espíritos Joseph Gleber, Andre Luiz e Jose Grosso.
{psicografado por} Robson Pinheiro. – Contagem MG: Altos Planos, 2008.
UBALDI, PIETRO. A Grande Síntese.; tradução de Carlos Torres Pastorino e Paulo Vieira da Silva. 23ª edição, Fraternidade São Francisco de Assis, 2010.
JARAMILLO, JAIME. Eu te amo, mas sou feliz sem você/ Jaime Jaramillo; tradução Sandra Martha Dolinsky – São Paulo: editora Academis de Inteligência,
2009.
TAVARES, NELSON. Família e espiritismo – Rio de Janeiro: Novo ser, 2012.
CAMON (ORG) – VALDEMAR AUGUSTO ANGERAMI. Espiritualidade e pratica clinica. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004.
OLIVEIRA, WANDERLEY S. Laços de afeto. Ditado pelo Espírito Ermance Doufaux.