Susana Gilberti
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Susana Gilberti
A FAMILIA, LAÇOS AFETIVOS E ESPIRITUALIDADE Susana Gilberti1 RESUMO O presente artigo se propõe a apresentar uma reflexão teórica sobre o campo de interação da família, sua importância e a necessidade de resgate de valores que dão o suporte e a base da sociedade. Apresentando suas características funcionais e disfuncionais frente à dependência química, os papeis desenvolvidos dentro do sistema e a composição baseada na afetividade. O objetivo deste é desenvolver o tema dos laços que unem a família, dentre as diferenças da materialidade e da espiritualidade. “Nasceste no lar que precisavas, Vestistes o corpo físico que merecia. Moras onde melhor Deus te proporcionou, De acordo com seu adiantamento. Possuis o recurso financeiro coerente Com as tuas necessidades, nem mais, Nem menos, mas o justo para as tuas lutas terrenas. Teu ambiente de trabalho é o que elegeste Espontaneamente para a tua realização. Teus parentes e amigos são almas que atraíste, Com tua própria afinidade. Portanto, teu destino esta constantemente sob teu controle. Tu escolhes, recolhes, eleges, atrais, Buscas, expulsas, modificas tudo aquilo Que te rodeia a existência. Teus pensamentos e vontades são a chave de teus atos e atitudes... São as fontes de atração e repulsão na tua jornada vivencia. Não reclames nem te faça de vitima. Ante de tudo, analisa e observa. A mudança esta em suas mãos. Reprograme tua meta. Busque o bem e viveras melhor. Embora ninguém possa voltar atrás E fazer um novo começo, Qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.” Chico Xavier ____________________________ ¹ Graduada em Terapia Ocupacional (PUCCAMP). Especialista em Terapias Vibracionais (UNIFRAN) E-mail: [email protected] 1. INTRODUÇÃO Quando esboçamos o esqueleto deste presente artigo, nos deparamos com a grande dificuldade de encontrar literatura científica que nos respaldasse na argumentação filosófica, na qual iríamos trilhar. Buscamos o caminho teórico, que na prática nos demonstrava resultados positivos. Sendo a principal intenção deste, o desenvolvimento de um pensamento filosófico-teórico que engajasse na pratica terapêutica da qual acreditamos, produzindo uma reflexão de pensamentos e atitudes, propondo a construção de novos saberes e impulsionando nosso trabalho em direção a novos rumos de desenvolvimento e crescimento pessoal. Este trabalho foi escrito e estruturado em partes distintas que se completam e também se diferenciam, com parâmetros e dimensões filosóficas articuladas. Perguntamos-nos durante a busca literária, qual embasamento e subsídios seriam necessários para a construção de nosso trabalho. Deparamos com limitações nossas, pessoais e literárias, que nos levaram a questionar a pretensão e ousadia do tema proposto. Discorrer a respeito da família, dos laços que as unem e interferir no mecanismo adoecido perante a dependência química de seus membros causou-nos fortes emoções e inquietudes, que nos levou a buscar nossa própria condição de espiritualidade e de uma nova condição existencial. Afeto. Como falar de um sentimento cientificamente? Como falar de Amor, Deus, sem, contudo, nos colocar pessoalmente. Como dar credibilidade cientifica a algo tão peculiar e humano. Como dimensionar o afeto enquanto expressão do amor e da solidariedade familiar, inerente à formação da dignidade humana e da constituição da pessoa, abarcando em seu bojo a idéia de que o ser humano precisa ser afetuoso com seu semelhante. Finalizando, ou simplesmente começando parafrasear com a espiritualidade; que apenas “é”! Valor interno, que descerra o olhar para o infinito... Para além dos sentidos convencionais. Encontro consigo mesmo. É o valor de consciência, alcançado por esforço próprio e que faz o viver se tornar sadio. Assim, espiritualidade é ser feliz, mesmo que ninguém entenda por quê. E ser feliz pode ser cientificamente comprovado? Esperamos trilhar este caminho, nas linhas simples deste trabalho, com a companhia de quem acredita no “bom combate” (Diário de um Mago – Paulo Coelho), onde Petrus apela para que alimentemos os nossos sonhos e desejos, e que lutemos e trabalhemos em seu prol, sem nunca esperar que sejam os outros a fazê-lo por nos. Mas sem nunca deixar de dar atenção aos momentos e as pequenas coisas que nos rodeiam, porque o “extraordinário reside no caminho da pessoa comum”. 2. FAMÍLIA – LAÇOS MATERIAIS E LAÇOS ESPIRITUAIS Etimologicamente a palavra família tem sua origem no vocábulo ´famulus´ que significa servo ou escravo, sugerindo que, primitivamente, a família era considerada um conjunto de escravos ou criados de uma mesma pessoa, de onde viria, também, a natureza possessiva das relações familiares desde os povos primitivos. A mulher devia obedecer a seu marido como seu amo e senhor e os filhos pertenciam a seus pais. As diversas teorias existentes sobre a origem da família tentam explicar a origem e estruturação desse grupo. Incursionando sobre o passado das famílias, pode-se encontrar na família medieval a ausência da afetividade entre crianças e pais. Tudo era público, não existia a privacidade e as crianças participavam do mundo adulto. Nessa época via-se a família com a função apenas de assegurar a transmissão da vida, do nome e dos bens materiais. (FREITAS, 2002) Conforme Blefari (2002), a partir do século XV, as crianças permaneciam em suas casas até os 7 ou 9 anos de idade, após eram enviadas para outras casas para aprender um ofício. As crianças tornavam-se escravas, prestando serviços domésticos aos seus mestres. As relações entre mestres e aprendizes eram mais importantes do que entre pais e filhos. Não havia amor, e os filhos não voltavam mais ao convívio dos pais. Nessa mesma época, surgiram as escolas como fornecedoras de educação. Somente nos séculos XVI e XVII é que o modelo familiar se modifica e a criança torna-se motivo de preocupação dos pais que agora cuidam de sua educação, carreira, trabalho, futuro, etc. Nas famílias modernas, nasce o valor da família com a função primordial de promover a educação e proporcionar bem-estar às crianças. Atualmente, as famílias não necessariamente são mais formadas por pai, mãe, filhos e irmãos, exclusivamente. Observa-se que além da família tradicional, onde cada indivíduo exerce seu papel, também se pode encontrar famílias formadas por casais homossexuais e seus filhos, ou por mães solteiras, porém a premissa de que o individuo é modelado pelas influencias que recebe de seus entes, e que a educação ofertada deve estar pautada no amor e no respeito ao próximo não se modificaram. A família como grupo social é uma unidade complexa e essencial para o processo de viver de todo o ser humano que não é formada apenas por um grupo de pessoas, mas também pelas relações entre estas pessoas. O ser humano é modelado pela família, e isto é inevitável, mesmo que ele permaneça com esta apenas no primeiro ano de vida, pois os seres humanos não são auto-suficientes, como os animais, e dependem de outros seres humanos para sua sobrevivência. A família tem sua significação própria, especial, indefinível, pois não segue mais um modelo padrão, até porque não existe um modelo único de família. E sim várias formas, que construímos no nosso dia-a-dia, no meio social em que vivemos de acordo com nossos costumes, crenças e valores. Rodrigues (2000, p.41-42) apresenta os seguintes tipos de famílias: • Nuclear: também chamada de biparental, composta pelo pai, mãe e filhos. Nela se destacam as funções sociais, política, sexual, econômica, reprodutiva e educativa. • Extensas ou ramificadas: neste tipo de arranjo familiar, estão incluídas diferentes gerações na mesma família; • Associativas: é o tipo de família na qual as pessoas com as quais existem estreitos laços afetivos, também estão inseridas como membros; • Adotivas: atribui-se esta denominação ao conjunto de pessoas que, ao se encontrarem, desenvolvem afinidades, passam a conviver considerando-se uma mesma família, independente de qualquer consangüinidade; tendo-se, por exemplo: estudantes que vivem em residências universitárias ou que dividem apartamento ou outros espaços residenciais; • Duais ou monoparentais: este tipo de arranjo familiar é assim denominado por ser aquele formado por apenas dois membros: mãe-filho, pai-filho, esposo-esposa / companheirocompanheira; • Ampliadas: são as famílias formadas sem necessidade de haver espaço físico comum, nem de desempenhar todas as funções tradicionais em conjunto. As pessoas se consideram como parentes, "psicologicamente falando". • Recompostas: são àquelas famílias (marido, esposa e filhos ou um dos cônjuges e filhos), que após uma primeira experiência não bem sucedida fazem uma nova tentativa com o mesmo ou com outro cônjuge; • Homossexuais: este tipo de família resulta da união de pessoas do mesmo sexo. É uma prática que começa a se difundir na sociedade pós-moderna. O equilíbrio e a experiência emocional infantil frente às transformações observadas na instituição “família”, estão relacionados às relações estáveis e seguras dos pais com os filhos. Desta forma, independente da estrutura que se constrói através das novas composições familiares, pode-se perceber que se os vínculos entre pais e filhos são preservados e se a família desenvolve estratégias sólidas de educação, estes se desenvolvam adequadamente. Entende-se a família como um sistema aberto, no sentido de suas trocas com o meio, cujos membros têm contato direto, laços emocionais e uma história compartilhada. Apresenta uma estrutura com a presença de padrões e propriedades que organizam a estabilidade da família em termos de sustentar uma dinâmica relacional que contemple os fatores de proteção necessários para seu desenvolvimento enquanto grupo e indivíduos, convivendo com os desafios das mudanças próprias das transições presentes no ciclo vital da família. Podemos considerar a família então como um sistema complexo, onde cada família é única, diferindo em tamanho, elementos que a compõe, valores, etc. Sendo um sistema altamente interativo, onde o que ocorre com um membro repercute em todos os elementos. Ao se pensar em família, devem ser consideradas as transformações que ocorrem na sociedade, nas relações interpessoais e as mudanças na composição do sistema familiar. Para Osório (2002), a família é uma expressão possível de descrições, porém de difícil definição conceitual por assumir diferentes estruturas de agrupamento humano através do tempo. João Batista Villela observa que: “faz-se necessário ter uma visão pluralista da família, abrigando os mais diversos arranjos familiares, devendo-se buscar a identificação do elemento que permita enlaçar o conceito de entidade familiar todos os relacionamentos que tem origem em um elo de afetividade, independentemente de sua configuração. O desafio dos dias de hoje é achar o toque identificador das estruturas interpessoais que permita nominá-las como família. Esse referencial só pode ser identificado na afetividade”. 3. FUNÇÕES BÁSICAS DA FAMÍLIA: 1. Econômica – cabe aos pais a manutenção da prole; 2. Doméstica e de cuidados com a saúde – oferecer abrigo, alimentação, cuidados com a higiene e a saúde; 3. Recreação – propiciar aos filhos momentos de lazer; 4. Socialização – desenvolver nos filhos a capacidade de se relacionar em outros grupos. 5. Auto-identidade – oferecer aos filhos noção de realidade e consciência dos limites: Quem sou? Qual meu valor? 6. Afeição – oferecer afeto, possibilitando aos filhos desenvolver a capacidade de amar a si e aos outros, de expressar emoções; 7. Educacional/vocacional – preparar sua prole para ser no mundo. De acordo com Wagner (2002), as diferentes configurações também trazem diferentes funcionamentos familiares e os estudos atuais discutem papéis, relacionamentos, padrões de interação e comunicação dos membros dos novos núcleos. Em relação aos diferentes arranjos familiares, percebe-se uma transição do modelo nuclear/original de família (pai-mãe e filho) para a construção de novos laços e vínculos caracterizados pelas famílias extensas (pai, mãe, filho, avós, ou outros parentes) e as monoparentais (um cônjuge e filhos). A partir desta perspectiva, alguns autores sugerem que os membros do grupo familiar devam passar por um processo de assimilação em relação aos novos relacionamentos e papéis (Wagner, 2002 & Wagner). Este processo envolve a manutenção dos vínculos entre pais e filhos e sólidas estratégias de educação, com limites e regras bem definidas. A família é um sistema dinâmico em constante transformação, que cumpre sua função social transmitindo os valores e as tradições culturais inseridos. 4. CARACTERÍSTICAS FUNCIONAIS DAS FAMÍLIAS DE USUÁRIOS EM DEPENDÊNCIA QUÍMICA O impacto que a família sofre com o uso de drogas por um de seus membros é correspondente às reações que vão ocorrendo com o sujeito que a utiliza. KRUPNICK (1995) descreve quatro estágios pelos quais a família progressivamente passa sob a influência das drogas e álcool: 1. Na primeira etapa, é preponderantemente o mecanismo de negação. Ocorre tensão e desentendimento e as pessoas deixam de falar sobre o que realmente pensam e sentem. 2. Em um segundo momento, a família como um todo está preocupada com essa questão, tentando controlar o uso da droga, bem como as suas conseqüências físicas, emocionais, laborais e sociais. Mentiras e cumplicidades relativas ao uso abusivo de álcool e drogas instauram um clima de segredo familiar. A regra é não falar do assunto, mantendo a ilusão de que as drogas e álcool não estão causando problemas na família. 3. Na terceira fase, a desorganização da família é enorme. Seus membros assumem papéis rígidos e previsíveis, servindo de facilitadores. As famílias assumem responsabilidades de atos que não são seus, e assim o dependente químico perde a oportunidade de perceber as conseqüências do abuso de álcool e drogas. É comum ocorrer uma inversão de papéis e funções, como por exemplo, a esposa que passa a assumir todas as responsabilidades de casa devido o alcoolismo do marido, ou a filha mais velha que passa a cuidar dos irmãos em conseqüência do uso de drogas da mãe. 4. O quarto estágio é caracterizado pela exaustão emocional, podendo surgir graves distúrbios de comportamento em todos os membros. A situação fica insustentável, levando ao afastamento entre os membros gerando grave desestruturação familiar. Os principais sentimentos da família que convivem com dependentes são: raiva, ressentimento, descrédito das promessas de parar, dor, impotência, medo do futuro, falência, desintegração, solidão diante do resto da sociedade, culpa e vergonha pelo estado em que se encontram. A dependência química afeta o sistema familiar mediante certos fatores, como a substância de escolha; a idade e o sexo do dependente; o estágio em que a família se encontra; os fatores sociais, econômicos e culturais tanto do dependente como da família e as psicopatologias. MATOS (2008) relatam que outro fato importante que ocorre nas famílias do dependente químico é que uso de drogas provoca o afastamento afetivo entre os membros do sistema familiar, tornando difícil a comunicação entre eles. Também podem surgir sentimentos de raiva, baixa auto-estima e depressão quando as tentativas de parar com uso de determinada substância fracassam e se faz necessária a intervenção externa. Só que para o dependente e para própria família é muito difícil de aceitar esta condição visto que, acreditam que com mais esforços são capazes de enfrentar os problemas sozinhos o que pode causar muita frustração em ambos os envolvidos, família e dependente. OLIEVENSTEIN (1992) assinala seis características denominadas como patológicas encontradas nas famílias de dependentes químicos: • Falta das barreiras entre as gerações, ou seja, a autoridade dos membros mais velhos nem sempre é suficiente para impor limites e regras; • Nível de individuação dos adultos é precário; freqüentemente há uma inversão dos papéis na família nuclear, com o filho assumindo o papel do adulto; • Os mitos familiares são acentuados. Por isso é muito comum os familiares manterem certa desesperança, ou até mesmo comodismo, por acreditarem que o problema da droga é algo do “destino” da família como um todo; • Desentendimento no casal parental, principalmente quando um dos cônjuges é alcoolista, ou quando não agem de modo coerente em relação às condutas que devem assumir para apoiarem a recuperação de um dos filhos; • Alianças secretas com filhos frente à desordem das condutas que deveriam ser seguidas, ou as falhas de comunicação entre os membros, que automaticamente fortalecem parcerias dentro do meio familiar. Normalmente, a família do dependente químico encontra-se fragmentada, deteriorada em conflito frequente, pois o abuso de determinada substância por um individuo torna o sistema familiar impotente para vencer determinadas situações. Cada pessoa desempenha um papel diferente, organizado e distribuído pela própria família. A presença de um vício interfere no desempenho destes papéis, provocando uma alteração nesta dinâmica e desencadeando a necessidade de um reajuste no modelo esperado, desorganizando assim completamente a vida dos sujeitos envolvidos. Por outro lado, estas famílias podem, indiretamente, colaborar no processo de drogadição. Na literatura é comum encontrarmos os termos co-dependência, co-adicção, coalcoolismo que, são utilizados para designar os padrões comportamentais de pessoas afetadas de forma significativa pelo uso ou pela dependência de drogas de algum familiar. Para os autores LARANJEIRA e FIGLIE a co-dependência seria a facilitação, que consiste no auxilio do usuário a obter a droga ou na proteção deste frente às conseqüências do abuso de substâncias. Outra característica relevante é a falta de disposição em aceitar a dependência como doença, ou seja, uma negação da realidade, o que inviabiliza assim a busca por tratamento. Segundo BLEFARI (2002), a dependência química controla a família e os familiares e, por sua vez, protege o dependente das conseqüências de suas ações, encobrindo, protegendo e proporcionando espaços para que ele se continue o uso pelo medo de perdê-lo. Este comportamento torna-se um círculo vicioso. A família, na tentativa de proteção, paga dívidas do dependente gerando neste um sentimento de culpa e fracasso permanentes. Este processo aumenta o sentimento de hostilidade e condenação da família. Nem todas as famílias de dependentes químicos podem ser consideradas não funcionais, no sentido de não ter fatores de proteção necessários para o desenvolvimento de todos seus membros. Mas em muitas famílias com dependentes, ocorre um processo onde a não funcionalidade e o abuso de drogas reforçam-se mutuamente gerando um processo cíclico que sustenta a doença familiar. 5. LAÇOS ESPIRITUAIS “Os laços de sangue não estabelecem necessariamente os laços espirituais. O corpo procede do corpo, mas o espírito não procede do espírito, porque este existia antes da formação do corpo. O pai não gera o espírito do filho: fornece-lhe apenas o envoltório corporal. Mas deve ajudar seu desenvolvimento intelectual e moral, para o fazer progredir. [...] Os verdadeiros laços de família não são, portanto os da consangüinidade, mas os da simpatia e da comunhão de pensamentos, que unem os espíritos, antes, durante e após a encarnação. Donde se segue que dois seres nascidos de pais diferentes podem ser mais irmãos pelo Espírito, do que se fossem pelo sangue. Podem,pois, atrair-se, procurar-se, tornarem-se amigos, enquanto dois irmãos consangüíneos podem repelir-se, como vemos todos os dias. Problema moral, que só o Espiritismo podia resolver pela pluralidade das existências” (KARDEC,2004, p276). O ´Evangelho Segundo o Espiritismo´ comenta que há duas espécies de famílias: as famílias por laços espirituais e as famílias por laços corporais. Assim, as primeiras possuem vínculos mais duradores, perpetuadas pela migração da alma, enquanto a família formada pelos laços corporais extingue-se juntamente com a matéria. Sabemos, contudo que a estruturação do conjunto familiar não ocorre de forma casual, estes grupos são formados em razão da necessidade advindas de outras experiências reencarnatórias, sendo que seus integrantes detêm elementos em si que predispõe a união. Ao observarmos a dinâmica familiar podemos perceber como os indivíduos se parecem não só fisicamente, mas também moralmente, ressalvadas as compreensíveis exceções. Essas semelhanças são verificadas tanto nos filhos para com seus pais, como também entre os genitores. Conscientes que os Espíritos são diferentes, na condição de indivíduos, que os pais não são criadores e nem co-criadores da alma dos filhos, a explicação advêm da sintonia e da afinidade havida entre filhos e pais. Assim, os genitores cooperam com Deus, a partir da matéria prima da Divindade, preparando, a começar da sua vinculação biológica, tão somente o corpo fisiológico dos herdeiros. Ressaltamos que todos que partem para a construção de uma família, através do casamento formal ou qualquer outro tipo de união informal, levam consigo os valores e desvalores que trazem na alma, e nascem daí as dificuldades ou não nas relações familiares. Na visão de JOANNA DE ANGELIS “A família, é o grupo de espíritos normalmente necessitados, desajustados, em compromisso inadiável para a reparação, graças à contingência reencarnatórias”. Assim, famílias espirituais freqüentemente se reúnem na Terra em domicílios físicos diferentes, para as realizações nobilitantes com que sempre se viram, a braços os construtores do Mundo. Retornam no mesmo grupo consangüíneo os espíritos afins, cuja oportunidade às vezes prefere renunciar, de modo a concederem aos desafetos e rebeldes do passado o ensejo da necessária evolução, da qual fruirão após as renúncias das demoradas uniões no Mundo Espiritual. A família é mais do que o resultante genético. São os ideais, os sonhos, as aspirações, as lutas e árduas tarefas, os sofrimentos, as tradições morais elevadas que nos ligam no mesmo grupo doméstico onde prosperam as nobres expressões da elevação espiritual na Terra. O convívio em família requer a percepção das transferências, a eliminação das projeções e a expressão equilibrada dos sentimentos. A reencarnação estreita os vínculos do amor, tornando-os laços eternos, pelo quanto faculta de experiência na área da afetividade familiar. Enquanto as ligações de sangue favorecem o egoísmo, atando as criaturas às algemas das paixões possessivas, a pluralidade das existências ajuda, mediante a superação das conveniências pessoais, a união fraternal. O desligamento físico pela desencarnação faz que se recomponham, no além-túmulo, as famílias irmanadas pelo ideal da solidariedade, ensaiando os primeiros passos para a construção da imensa família universal. A lei de Deus nos reúne ao necessário aprendizado e para a manifestação do amor pleno. A vida em família é, portanto, o grande laboratório onde os espíritos reciclam-se para a própria felicidade. É ali onde se reúnem antigos amores e velhos desafetos para que, no desempenho dos papéis familiares, aprendam a se amar verdadeiramente. Ao reencarnarmos, trazemos gravados os sentimentos que tivemos em relação a cada pessoa que reencontramos. Em nossos arquivos perispirituais constam as mágoas, tanto quanto as gratidões, bem como tudo que foi projetado por nós naquele espírito em vidas passadas. Quando pensamos a palavra família, logo nos vem à mente – pai, mãe e filhos – nascimento e morte – inicio e fim. Observemos o real motivo do nascimento na filosofia espírita apresentada por Allan Kardec: a evolução da alma, aprendizado, lapidação da nossa personalidade. Então a missão do Ser é transformar, evoluindo no aprendizado e agregando vibrações positivas incutidas no Espírito. Assim, quando nascemos temos a oportunidade de recomeçar a evolução continua, de forma cíclica entre o nascer e o morrer, até que um dia o amor de nossa alma se desabroche por inteiro. Para que possamos cumprir esta missão nos foi ofertada a convivência em família, que é o cenário perfeito no qual somos inseridos, porque possibilita inúmeras possibilidades de resgate, pois na família podemos reencontrar desafetos de outras vidas, algozes e suas vitimas, assassinos e assassinados, assaltantes e assaltados e tantas outras relações mal resolvidas do passado que são rearranjadas na estrutura familiar. Em uma das citações de Madre Teresa de Calcutá, onde especifica que “é mais fácil amar os que estão longe. Mas nem sempre é fácil amar os que vivem ao nosso lado”. Entendemos que a família é um imenso laboratório onde elaboramos nossos processos cármicos, sendo um verdadeiro celeiro da reforma íntima na Terra. Onde cada grupo espiritual (família) que se reúne em uma experiência aqui, tem um propósito comum entre seus integrantes. Para entendermos esta relação, necessitamos definir carma como uma expressão que vem do sânscrito e significa ação. Neste contexto, é uma ação que deve ser tomada para remover ou modificar erros do passado. Na pratica, tudo que fazemos gera conseqüência ou carma. O que realmente importa é se o carma será bom ou ruim. Evitar o carma é impossível, mas é possível agir para que ele seja positivo. Quando mais próximos estamos de uma ou mais pessoas, quando mais perto é este convívio, podemos notar duas situações mais especificas: 1) Grande Afinidade: quando existe a relação harmônica, feliz, suave, tranqüila e principalmente sem cobrança de comportamento entre as pessoas. 2) Grande Carma ou necessidade de resgate: quando a relação é conflitante, conturbadora, as emoções positivas oscilam muito com as negativas, o clima é intenso, há grande cobrança de comportamento entre os integrantes do grupo. A família torna-se, então, um laboratório espiritual com o propósito de aflorar as afinidades, bem como eliminar desarmonia e curar os desafetos nas relações. Observamos que a imensa sabedoria divina não só reúne espíritos conflitantes em um grupo familiar, mas também espírito com grande afinidade de sentimentos que promovem a reforma íntima e a harmonização, favorecendo o sentimento de amor, respeito, entre tantos outros. No ´Evangelho Segundo o Espiritismo´ encontramos: “Ó espíritas! Compreendei o grande papel da Humanidade; compreendei que, quando produzis um corpo, a alma que nele encarna vem do espaço para progredir.” (KARDEC, Cap. XVI, 9) Reflitamos nestas palavras que nosso maior aprendizado é exercitar a consciência e compreender que temos na família nossos maiores gatilhos. Atraímos exatamente o que precisamos para que nossas fraquezas aflorem, sendo identificadas e elaboradas. Podemos assim, compreender o motivo do qual fazemos parte de uma determinada família. Nesta visão reencanacionista, aprendemos a respeitar mais o comportamento alheio, bem como compreender a importância de cada um no seu momento evolutivo. Entendemos então que a família é uma reunião espiritual no tempo em determinado espaço e, assim como diz Andre Luiz: “O lar não é somente a moradia dos corpos, mas acima de tudo, a residência das almas”. (Franco, 1994) 6. LAÇOS AFETIVOS Afetividade, afecção, do Latim afficere ad actio, onde o sujeito se fixa, onde o sujeito se liga. Latim affectus particípio do passado do verbo afficere. Tocar, comover o espírito, por extensão, unir, fixar. Composto da partícula ad = em, para; e facere = fazer, operar, agir, produzir. No dicionário temos a tradução de afetividade como a relação de carinho ou cuidado que se tem com alguém intimo ou querido. É o estado psicológico que permite o ser humano demonstrar seus sentimentos e emoções a outro ser ou objetos. Pode também ser considerado o laço criado entre humanos que, mesmo sem características sexuais, continua a ter uma parte de amizade mais profunda. Em psicologia, o termo afetividade é utilizado para definir a suscetibilidade que o ser humano experimenta perante determinadas alterações que acontecem no mundo exterior ou em si próprio, relacionado com suas vivencias e na qualidade de suas experiências, sejam agradáveis ou desagradáveis. O afeto é o grande aliado para a constituição de qualquer relação humana, é algo que se conquista a partir de uma reciprocidade entre as pessoas, e este sentimento é tão importante que representa o pilar do desenvolvimento humano. Segundo Ribeiro (2005), o conceito de afetividade é amplo e pode ser abordado por diferentes perspectivas, entre elas, a psíquica, a pedagógica e a filosófica. Existe uma pluralidade de vocábulos para definir a afetividade, tais como: ternura, inter-relação, empatia, sentimentos, emoções, atitudes, valores, amor, carinho, compreensão, respeito, afeto, atenção, companheirismo, comportamento moral e ético, entre outros. Assim, “a afetividade é impulsionada pela expressão dos sentimentos e das emoções e pode desenvolver-se por meio da formação”. É no núcleo familiar, que ocorre as primeiras possibilidades de viver nosso afeto e de construir vínculos afetivos. O verdadeiro sentido nas relações familiares transcende a lei e o sangue, não podendo ser determinadas de forma escrita nem comprovadas cientificamente, pois tais vínculos são mais sólidos e mais profundos, são “invisíveis” aos olhos científicos, mas são visíveis para aqueles que não têm os olhos limitados, que podem enxergar o afeto como a verdadeira expressão do amor e da solidariedade, sendo um valor inerente na formação da dignidade humana e da constituição da pessoa. O afeto caracteriza um grupo unido pelos sentimentos de proteção e cuidado, requisito fundamental para a formação da família. O afeto é um dos pilares do desenvolvimento humano saudável. Uma habilidade que abre largas portas para a entrada do Amor, porque ser afetivo é laborar com o sentir. Diríamos assim que a afetividade é um degrau para o Amor. E amar é desenvolver-se para “ser”, verbo que traduz o existir Divino ou existir para a felicidade. “Ser” é educar-se, externar o amplo contingente de valores e potencialidades celestes que dormitam há milênios em nosso eu Divino, que nos conduzem ao destino glorioso de Filhos de Deus, à plenitude. Assim, compreende que aprender a amar é, pois, a competência essencial que deveria fundamentar quaisquer conteúdos de nossas escolas espirituais. Aprender a amar o próximo, aprender a amar a si, aprender a amar a Deus. Exercitamos no grupo familiar o que deveríamos exercitar com toda a humanidade. Quando aprendemos a perdoar, a amar, a renunciar, quando superamos o rancor no pequeno grupo a qual somos vinculados pelos laços familiares, estamos pronto para expressar estes sentimentos para a humanidade. Antoyne d’Saint Exupéry. (Exupéry, 2006) – Autor de “O Pequeno Príncipe”. Afirmou que só se vê bem com o coração “O essencial é invisível aos olhos”, acredita que enquanto não possuímos a sensibilidade de ver o outro dentro da sua grandeza e de sua subjetividade, não podemos utilizar das preciosas lições do perdão, da tolerância e da solidariedade e, sobretudo, da compreensão, sem a qual não observaria a vida com as lentes da alteridade e do Amor. Porque enxergamos tudo aquilo que esta no nosso campo de visão, como uma paisagem, uma pessoa; e aquilo que não vemos, podemos sentir como o cheiro das flores no campo. Ou seja, o que sentimos não precisamos estar vendo. O sentir é o que captamos mesmo não vendo. Podemos estar vendo uma pessoa, conversando, mas o invisível é o que iremos observar: o seu conteúdo, sua essência, seus ideais, seu modo de viver. É aquilo que é invisível aos olhos, mas que podemos perceber. Essa essência esta ligada ao não julgar pelas aparências. O olhar engana. A sua essência só perceberemos com a convivência e o afeto e isto exige aceitação do outro, reciprocidade e generosidade. A família representa o ninho ecológico da espécie humana, família constitui nosso núcleo afetivo. É nela que experimentamos o amor e aprendemos a amar. É o lugar onde iniciamos o desenvolvimento de nossas potencialidades. Este lugar deve possuir condições de calor afetivo, liberdade, nutrição e segurança. Quando somos amados e protegidos no seio familiar, somos capazes de amar a nós mesmos e aos outros. Para uma família ter um núcleo afetivo, saudável, cada membro deve ser amado, desejado, cuidado, respeitado e protegido, desde que não seja sufocado. É importante ter o espaço para expressão dos sentimentos e idéias com sinceridade e espontaneidade. A vida familiar é um instrumento de evolução, pois é na convivência com o grupo familiar que começamos a ensaiar, desde a época das cavernas, o ideal de humanidade, de afetividade, de companheirismo, ate o presente momento, em que o ser humano mais civilizado é convidado a aprofundar esses valores, na grande mudança que se avizinha do planeta em um novo mundo de regeneração. O ser humano necessita de conviver em sociedade e ai surge a seu maior desafio: a relação familiar, onde ocorrem as muitas dificuldades de convivência, que devem ser utilizados como momentos de aprendizado do amor. Em ´O Livro dos Espíritos` na pergunta 774 (Kardec, pag. 406): “Há pessoas que, do fato de os animais ao cabo de certo tempo abandonarem suas crias, deduzem não serem os laços de família, entre os homens, mais do que resultados dos costumes sociais e não efeito da lei da natureza. Que devemos pensar a este respeito?” Resposta: “Diversos dos animais é o destino dos homens. Por que, então, quererem identificá-lo com estes? Há no homem alguma coisa mais, alem das necessidades físicas: há a necessidade de progredir. Os laços sociais são necessários ao progresso e os de família mais apertados tornam os primeiros. Eis porque os segundos constituem uma lei da natureza. Quis Deus que, por essa forma, os homens aprendessem a amar-se como irmãos”. Assim, entendemos que estamos em família para aprender a amar. E aprender a amar é exercitar um pouco hoje, um pouco amanhã. Ninguém aprende de uma hora para outra, ou simplesmente estudando a teoria. Necessitamos realizar exercício para sentir e vivenciar o amor. Concluímos então que, a finalidade principal da família é aprendermos a amar como irmãos, nos libertando do egoísmo, sentimento ainda arraigado em nossos corações. E é nas relações familiares através do afeto que esse aprendizado se torna mais intenso, devido às nossas imperfeições e ao processo de convivência mais amiúde uns com os outros. 7. ESPIRITUALIDADE “Em cada ser vivo, há uma parte que quer se transformar nela mesma: o girino, no sapo; a crisálida, na borboleta; o ser humano fragmentado, num ser pleno. Isso é espiritualidade”. Ellen Bass. Segundo JARAMILLO (2009), “só existe amor no aqui e agora”; buscou a espiritualidade durante muitos anos nos mestres e seres iluminados na Índia, nas montanhas do Tibete e em outros países, mas descobriu que a respostas não estava nas igrejas, nos cultos nem em hábitos e tampouco nos mosteiros do Himalaia. Compreendeu que simplesmente ela se encontrava em seu interior. Que não era uma meta, mas sim o caminho que percorria, na sua consciência, na sua aceitação. Define a felicidade como um estado superior de consciência que esta acima do prazer e que transcende a dor. Assim, caracteriza a verdadeira espiritualidade como algo que nos da a oportunidade de observar tanto nossas forças quanto nossas fraquezas, dando nos a sabedoria para aceitarmos nossas fraquezas e para usar melhor nossas forças. Para entender a espiritualidade e a relação que existe entre o corpo, a mente e o espírito, é importante entender primeiro o conceito simples de energia e matéria que configuram o ser integral. Segundo o Dicionário Eletrônico Houaiss da língua portuguesa, energia deriva do Grego energés, que significa atuar; que deriva de outra palavra érgon que significa obra, trabalho, ação. Assim refere-se a algo real, efetivo, embora nem sempre perceptível, mas que atua de forma concreta no universo. UBALDI (2010) definiu matéria como uma forma de energia, isto é um modo de ser da substancia, que nasce da energia por condensação ou por concentração e regressa a energia por desagregação, após haver percorrido uma serie evolutiva de forma cada vez mais complexas e diferenciadas, que reencontram na unidade em reagrupamento coletivo. A matéria nasce, vive e morre, para renascer, reviver e tornar a morrer. Assim a matéria, tal como a concebeis habitualmente, desvanece em nossa percepção sensorial, deixando apenas sensações produzidas por algo que é apenas energia e determina um movimento que se estabiliza por sua altíssima velocidade. Velocidade é energia, velocidade é matéria, velocidade é idêntica em sua substância, é o denominador comum que vos permite a passagem de uma a outra forma. Einstein (1879-1955) foi o primeiro cientista, a demonstrar em suas observações e deduções utilizando de um modelo cientifico a íntima identidade entre matéria e energia e a possibilidade de se transformar uma em outra: a matéria é energia em estado de condensação; a energia é matéria em estado radiante. (Gleber,apud,2011) A vivência da verdadeira espiritualidade influencia no equilíbrio entre o corpo e a mente, promovendo uma paz interior e uma harmonia real. Necessitamos ainda definir o que entendemos por corpo físico, mente e espírito, para podermos sintetizar o que entendemos por espiritualidade. Corpo físico: definido sinteticamente por corpo humano ou corpo animal; classe mamífera, ordem primata, família hominídeos, gênero Homo, espécie Homo sapiens. O corpo físico humano é constituído por átomos, moléculas, células e tecidos. Todas as células físicas passam por constantes revezamentos e substituição ao longo da vida, assim, tecidos, sangue, ossos, sucos, fermentos, hormônios nervos e músculos transformam-se diariamente. Há um sistema de equilíbrio administrado pela mente, órgão imaterial do espírito. GLEBER (2011) define mente como a base sobre a qual o espírito manifesta seu intelecto e promove no mundo as modificações necessárias ao progresso. Pela mente, o ser plasma sua própria atmosfera e seus sentimentos, imprimindo em si mesmo a máscara do egoísmo, do pessimismo e do terror, ou então se expressando pelo otimismo, nos planos mais sutis. Sua atitude mental é fator determinante na própria evolução e na do mundo. Diferencia o corpo astral ou emocional (o chamado na terminologia espírita de perispirito) como aquele que sente e deseja; enquanto que o corpo físico atua e executa no mundo das formas. Reforça ainda, que a mente transmite as ordens do espírito e dirige as ações de transformações e regenerações do corpo físico, sendo assim responsável pelas transformações do metabolismo humano, transferindo para o corpo físico todos os comandos provenientes do espírito. Espírito é o fundamento de toda manifestação inteligente e consciente da criação. Concluímos nesta visão que o homem é um ser multidimensional e representativo na escala evolutiva. É constituído simultaneamente pelo corpo físico, corpo etérico, psicossoma, e outros que necessitamos para relacionarmos com a vida e no universo em suas varias dimensões. Este conceito, adotado pelas diversas escolas do pensamento espiritualistas, é compartilhado pela ciência. E como afirma em nota, GLEBER (2011) diante da nova visão holística, a ciência descobre que a matéria é o resultado da coagulação da luz ou energia coagulada, e a energia é matéria em estado de expansão. Nada permanece estático no mundo. Há constantes transformações na natureza. Segundo BOFF (ANGERAMI, 2004), a espiritualidade é aquele estado em que buscamos a integração da nossa condição existencial de modo harmonioso. Ensina ainda que espírito é aquele momento de nossa consciência que nos abre a percepção de sermos parte de um todo e de que pertencemos ao todo. Ao buscarmos significação para as coisas da vida, dando-lhes sentido e configuração, tornamo-nos humanos e poderemos caminhar no sentido de buscarmos a unidade. Espiritualidade vem de espírito. Para entendermos o que seja espírito precisamos desenvolver uma concepção de ser humano que seja mais fecunda do que aquela convencional, transmitida pela cultura que afirma que o ser humano é composto de corpo e alma ou de matéria e espírito. Ao invés de entender essa afirmação de uma forma integrada e globalizante, entendeu-a de forma dualista, fragmentada e justaposta. Assim surgiram os muitos saberes ligados ao corpo e à matéria, ou seja, ciências da natureza e os vinculados ao espírito e à alma, ciências do humano. Perdeu-se a unidade sagrada do ser humano vivo, que é a convivência dinâmica de matéria e de espírito entrelaçados e pertencentes um ao outro. Ou seja, o ser humano integral, holístico. Este ser humano não possui apenas exterioridade que é sua expressão corporal. Nem só interioridade que é seu universo psíquico interior. Ele vem dotado também de profundidade que é sua dimensão espiritual. O espírito não é uma parte do ser humano ao lado de outras. É o ser humano inteiro que por sua consciência se percebe pertencendo ao Todo e como porção integrante dele. Pelo espírito temos a capacidade de ir além das meras aparências, do que vemos, escutamos, pensamos e amamos. Podemos apreender o outro lado das coisas, o ser profundo. O espírito capta nelas símbolos e metáforas de outra realidade, presente nelas, mas que não está circunscrita a elas, pois as desvenda por todos os lados. Elas recordam, apontam e remetem à outra dimensão a que chamamos de profundidade. É próprio do ser humano perceber valores e significados e não apenas elencar fatos e ações. Com efeito, o que realmente conta para as pessoas, não são tanto as coisas que lhes acontecem, mas o que elas significam para suas vidas e que tipo de experiências marcantes lhes proporcionaram. É por isso que enchemos nossos lares com fotos e objetos amados de nossos pais, avós, familiares e amigos; de todos aqueles que entram em nossas vidas e que tem significado para nós. A experiência de base é que estamos ligados e religados uns aos outros e todos com a Fonte Originária. Um fio de energia, de vida e de sentido passa por todos os seres tornando-os um cosmos ao invés de caos, uma sinfonia ao invés de cacofonia. Isso significa que tudo na existência é visto a partir de um novo olhar onde o ser humano vai construindo a sua integralidade e a sua integração com tudo que o cerca. É um apelo á transcendência do ser, a fim de que o homem supere os limites da matéria e se eleve às culminâncias da espiritualidade, vivendo intimamente o amor pleno. Então a pergunta que fica: o que é ser espiritualizado? Acreditamos muitas vezes que um ser espiritualizado, é um ser especial, iluminado e com uma experiência de vida como se fosse santo. Mas ele é simplesmente alguém que consegue fazer a conexão com a unicidade, ligação única que se estabelece entre Deus e a humanidade, independente de se estar ou não ligado a uma religião. Sabe que tem dentro de si uma centelha divina, presente em toda forma de vida, e é por meio dela que está conectado a tudo, a todos e a Deus, dentro dessa unicidade cósmica. Ele está no outro e o outro está Nele. Assim, encontra seu equilíbrio pessoal, conseguindo acessar e entender suas emoções e sentimentos, trazendo benefícios físicos para seu corpo e sua mente. O ser espiritualizado busca caminhar entre dimensões diferentes, enxergando além do que pode ser visto pelos olhos, sabendo atuar de forma equilibrada e coerente com seu mundo emocional. E além de compreender o seu mundo emocional, compreende e aceita sem julgamento o mundo emocional do outro. Sabendo que cada pessoa está vivenciando um grau diferente de desenvolvimento espiritual, de nada adianta forçar alguém a pensar, agir e sentir diferente do que é possível no momento. O respeito impera na relação consigo e com o outro e isso nada mais é que sua alta conexão com o Todo. MEDEIROS (2008) “Espiritualidade pode ser entendida como o conjunto de crenças que traz vitalidade e significado aos eventos da vida. É a propensão humana para o interesse pelos outros e por si mesmo. Ela atende à necessidade de encontrar razão e preenchimento na vida, assim como a necessidade de esperança e vontade para viver. A espiritualidade pode ser forte em pessoas de diferentes religiões, bem como em pessoas com crenças pessoais que não se encaixam em uma religião formal. No sentido oposto, uma pessoa pode ter uma religiosidade forte (freqüentando cultos regularmente), mas ter uma espiritualidade pouco desenvolvida (por não vivenciar estes aspectos em seu interior)”. Assim, espiritualidade independe de fé; é o modo de ser da pessoa, a conduta revestida de valores éticos e morais. É UBALDI que fala: “Ordem, harmonia, eis para onde progride a evolução. Neste sentido, é necessário canalizar as nossas energias, não lançando um contra o outro, os dois pólos de nosso ser – alma e corpo – mas como já mencionamos, harmonizando-os, para que concordem e colaborem num único objetivo, o da vida, o da ascensão espiritual. A humanidade precisa de se equilibrar na harmonia, por dentro e por fora, isto é, o individuo consigo mesmo, e na sociedade cada um com seus semelhantes”. 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nos resultados do referido estudo, e a prática clínica confirmam, a impossibilidade de tratar somente o indivíduo adicto, sem incluir o sistema familiar no tratamento. Devido ao fator que, todos os membros da família são, na realidade, responsáveis por um jogo infindo. O ser humano é modelado pela família. Sofre influências externas e também é capaz de influenciar o ambiente em que vive. Este processo é bastante comentado pelos pesquisadores que buscam respostas no comportamento familiar para explicar o problema do uso abusivo de drogas. O presente estudo identificou ainda, que muitos fatores, de diversas etiologias, contribuem para a instalação e o desenvolvimento da dependência química, no entanto, a organização familiar, os laços afetivos mantêm uma posição de saliência no desenvolvimento e prognóstico do quadro. Neste sentido, a abordagem familiar deve ser considerada como parte integrante do tratamento. Para tanto, a necessidade de se especificar o tipo de intervenção de acordo com a meta do tratamento e as necessidades e capacidades da família, segundo seu próprio entendimento, suas representações acerca da doença, buscando a motivação da mesma para a mudança. Observamos também que as praticas espiritualistas proporcionam uma maior harmonia familiar, onde seus integrantes aprendem a se reconhecerem e admitem as necessidades de mudanças, começando pela reforma intima. Entendemos também que a busca de uma Divindade superior, fortalece os laços de amor, carinho e fraternidade. Estabelecendo um clima de fé e esperança, e porque não, de sonhos possíveis de serem atingidos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ÂNGELIS, Joanna e outros espíritos. S.O. S. Família, psicografado por Divaldo Franco, Salvador: Livraria Espírita Alvorada, 1994 CARVALHO, C.M.R. coord. e outros. Família e Espiritismo, São Paulo: Edições USE, 4ª ed., 1994. COTRIM-CARLINI B., ROSEMBERG F. Drogas: Prevenção no Cotidiano Escolar. São Paulo: Cad. Pesq. Agosto, nº 74, p. 40-46, 1990. DENIS, L. O Problema do Ser do Destino e da Dor, Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, Departamento Editorial, 18º ed., 1995. OLIEVENSTEIN, C. "O toxicômano e sua família" In: BERGERET J. LEBLANSC ____________:Toxicomanias: uma visão multidisciplinar, Porto Alegre: Artes Médicas, 1991, SÉRGIO, Luiz (espírito), Driblando a Dor, psicografia: Irene Pacheco Carvalho, 1ª ed., Brasília: Livraria e Editora Recanto, 1991. RIBEIRO, M.; JUTRAS, F; LOUIS, R. 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