Um resort flutuante - Caribbean Multihulls

Transcrição

Um resort flutuante - Caribbean Multihulls
t e s t E v e l a Privilége 615
Velejar com muito estilo
«Desde o início da
produção dos Privilége
que tem havido uma
constante preocupação
em construir barcos
que possam perdurar
no tempo, tanto a nível
estético, como técnico
e performativo.
A Privilége chega
agora a Portugal,
pela mão da conhecida
empresa algarvia
BG-Equipamentos
Náuticos / Angel Pilot.»
Um resort
flutuante
Finalmente a marca francesa de catamarans Privilége, do Grupo Aliaura
Marine, já tem representante em Portugal. Fomos testar o Privilege 615,
um barco com assinatura Marc Lombard e com muito para oferecer.
Texto: Vasco Macide Fotos: V.M. e Estaleiros
maio 2009
2010
30 | navegar | janeiro
D
esde 1985, data do primeiro catamaran lançado da marca Privilége
que estes barcos têm sido sinónimo
de navegação confortável, num ambiente
luxuoso, confortável e seguro, com mais
uma importante premissa: poder navegar
sem grandes complicações técnicas.
Desde o início da produção dos Privilége que tem havido uma constante
preocupação em construir barcos que
possam perdurar no tempo, tanto a
nível estético, como técnico e perfor-
mativo. Prova disso mesmo é que todas
unidades lançadas ainda se encontram
a navegar e sempre têm gozado de um
enorme sucesso.
Tanto a nível interior como exterior é
notável a continuidade conseguida no
design, mantendo-se todo o conceito
fiel ao início da produção que começou com o Privilége 47 (aliás, Privilége
14.5). Na altura a Jeantot Marine conseguiu chegar a uma fórmula vencedora de catamarans de cruzeiroe muito
apreciada por uma indústria em franco
desenvolvimento, os charters.
Em consequência desse facto, a Jeantot
Marine conseguiu tornar-se a maior fornecedora das frotas de multi-cascos das
empresas de charters em todo o mundo,
o que contribuiu para o rápido crescimento da empresa.
Eis que a Privilége chega agora a Portugal, pela mão de Alessandro Balzer da
conhecida empresa algarvia BG-Equipamentos Náuticos / Angel Pilot.
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Embora todas
as manobras sejam
reenviadas para o posto
de comando de bombordo,
há algumas coisas que
obrigam a um desempenho
físico mais intenso,
havendo que ter alguma
preparação e agilidade
para os executar.
A navegar o Privilége 615
não é tão lento quanto
A navegar
se possa pensar, atingindo
velocidades de 17 nós
com alguma facilidade.
Para grandes travessias
Mais dinâmico do que pode parecer
E
no entanto ele move-se. E
bem!
É o que nos pode saltar à
cabeça, quando vemos um gigante
de 18,50 m de comprimento e 9,
25 m de boca, com uma impressionante altura de obras mortas e
um plano vélico que parece muito
menor do que é na realidade.
Quando saímos do porto de pesca
de Portimão, a bordo de um
pequeno semi-rígido em direcção
à foz do rio Arade, para embarcarmos a bordo do Privilége 615 que
aí se encontrava fundeado, sabíamos que iríamos estar perante um
imponente catamaran, mas a surpresa, claro, não foi o seu tama-
nho, foram as suas performances.
Todos, ou pelo menos muitos dos
aficionados dos mono-cascos,
esperam sempre que um barcos,
multi-casco, de cruzeiro com estas
dimensões, se arraste.
Bom de facto, não podemos dizer
que o 615 é uma bomba à vela e
que atinge velocidades estonteantes, mas podemos assegurar que
já conseguiu navegar a uma velocidade de 17 nós durante quatro
horas, com um vento real de 20
nós, isto a uma mareação de 90º.
Não nos podemos esquecer que
estamos a falar de uma catamaran
com um peso (pronto a navegar)
de 26,5 toneladas e uma superfície
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vélica (vela grande e genoa) de
214 metros quadrados.
No caso da unidade testada esta
estava aparelhada com um cuter,
ou seja com duas velas de proa –
estai e genoa.
O mastro tem três ordens de vaus
e uma altura de 26 metros com
um perfil paralelo, sem conificação. De salientar que a vela grande
tem três risos assim como três
réguas integrais que optimizam o
seu perfil e eficiência.
O vento estava com uma força
média entre os 13 e os 15 nós e
com o barco carregado para iniciar
uma travessia do Atlântico até
Miami, atingimos a uma bolina de
40º, 8,5 nós de velocidade. Abrindo
o rumo para os 90º, num través
estável, conseguimos chegar aos
10 nós. Já a uma alheta de 120º, a
velocidade desceu para os 8,5 nós.
Com um catamaran destas dimensões existem alguns truques que
não são tão óbvios há primeira
vista, para se conseguir virar de
bordo sem se perder muita velocidade. Assim, enquanto nos pequenos catamarans de vela ligeira
podemos deixar o estai caçado ao
máximo de tempo, quase aquartelando um pouco para que isso
ajude a viragem de bordo, neste
caso de barcos desta dimensão, o
truque é diferente. Há que libertar
o carrinho da vela grande e colocalo todo a sotavento, para que a
vela grande fique bem folgada.
Assim quando a genoa passa de
bordo, esta ajudar a virar a proa
do barco com maior facilidade e
rapidez, não se perdendo muita
velocidade na manobra.
Em grandes travessias é conveniente utilizar-se um Gennaker,
mesmo com genoa e vela grande,
aumentando assim a velocidade
em cerca de 20%. Esta vela pode
ser utilizada em mareações entre
os 70º e os 120º garantindo uma
melhoria nas médias bastante boa
e necessária quando queremos
“comer milhas”.
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exteriores
interiores
Espaço e simplicidade
O luxo do espaço
Grande plataforma navegante
O
Muito acolhedor, luminoso e orgânico
D
o interior do Privilége 615,
não seria de esperar outra
coisa se não o melhor.
Assim que se entra no grande
salão, ao mesmo nível do poço,
entramos num ambiente muito
acolhedor, luminoso e confortável. O design e layout do salão,
com uma área útil de fazer inveja
a alguns apartamentos, foram
pesados para que a tripulação se
sentisse em casa. Não esqueçamos que este é um veleiro para
grandes travessias, onde há que
zelar pelo bem-estar a bordo.
Em alternativa é também um
dos catamarans mais utilizados
pelas empresas de charters de
alta gama, por isso o interior não
poderia oferecer senão o melhor.
Embora visto de fora a super
estrutura não pareça muito grande, quando se entra percebe-se
que afinal há mais espaço do que
o que esperávamos há primeira
vista. Existem quatro espaços
distintos no deck superior. Uma
zona de comer, a bombordo, com
uma mesa redonda e sofá a for-
mar um quarto de círculo. Uma
outra zona de estar com um sofá
idêntico a estibordo. À entrada a
estibordo temos um pequeno bar
com balcão e a bombordo uma
grande mesa de cartas com toda
a electrónica. O facto de se ter
colocado dois sofás circulares lado
a lado (formando um “3”) mesmo
por baixo das enormes janelas
frontais e laterais, faz com que o
interior ganhe um aspecto muito
orgânico onde apetece estar.
Existem três versões, todas elas
com muitíssimo espaço e sempre
contemplando uma ou mais
cabines para a tripulação.
A versão testada é a versão proprietário e a que mais beneficia
com o grande falso casco avante,
entre os flutuadores. Este falso
casco faz com que o espaço
interior seja muito superior ao
de outros catamarans. A cabine
do proprietário ocupa toda a
vante e tem casa de banho privada uma pequena sala com sofá
e toucador e uma zona de dormir separada por três degraus.
A cozinha encontra-se no flutuador de estibordo, mesmo
ao centro, tendo duas bancadas de trabalho, uma de cada lado.
As outras
cabines
encontram-se
a vante e à ré de
cada flutuador,
havendo ainda
espaço para
uma só para
a tripulação
com casa de
banho privativa
Embora todas as manobras possam ser efectuadas a partir
do posto de comando, há sempre que estar atento e activo
que primeiro se nota quando entramos a bordo, ainda
antes de começarmos a
navegar, é que facilmente poderíamos estar a bordo com dez pessoas
e cada uma delas teria o seu espaço para descansar sem ser incomodada pelas outras. Por isso uma
nota mais do que positiva para a
privacidade que se conseguiu criar
em todos os espaços do barco.
Todo a bordo é amplo e com espaços bem pensados e desenhados.
As entradas pela popa dos flutuadores é muito segura e os degraus
largos e não muito altos. As passagens para a zona da proa são também elas largas e com varandins
bastante seguros. Mas existem três
outras zonas de grande relevo. O
enorme poço, totalmente coberto
por um bimini rígido, com uma
mesa a estibordo para oito pessoas e dois sofás: um a bombordo
e outro que ocupa toda a zona
da popa. Toda a zona da vante
do barco, com espaços para nos
deitarmos nos flutuadores, nos
trampolins e ainda em pequenos
degraus perto das janelas da frente. E por último o enorme solário
por cima do bimini rígido e à ré
dos dois postos de comando no
fly. Neste bimini, protegido por
um varandim de 40 cm de altura e
todo almofadado, podem deitar-se
quatro pessoas sem que estejam
coladas umas ás outras.
Os dois postos de comando, um de
cada extremidade do fly, acedemse por um conjunto de degraus
em madeira, largos e seguros. Toda
a manobra é enviada para o posto
de comando de bombordo, mas
ambos possuem toda a electrónica, não havendo necessidade de
deslocações de um lado para o
outro. Toda essa zona está protegida por um para brisas bastante
alto, mas temos de dizer que não
entendemos a opção de não haver
um terceiro posto de comando
abrigado, onde o skipper não
tenha de estar exposto à mercê da
meteorologia.
O barco de apoio vai pendurado
em dois turcos, à popa entre os
dois flutuadores.
O grande destaque
vai para o enorme
e luminoso salão, onde
o design e a disposição
dos módulos oferece
grande bem-estar
O poço é um óptimo local para se estar, abrigado do sol, ou da
chuva, pois com este barco navega-se com todo o tipo de tempo
Ambos os postos de comando têm espaço para duas pessoas.
Pena um deles não ser coberto.
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Ficha técnica
ficha do barco
Todos os espaços foram estudados para
que fossem funcionais, elegantes e espaçosos
Melhor é realmente difícil
◗ Modelo
Privilége 615
◗ Origem
França
◗ Construtor
Grupo Aliaura Marine
◗ Arquitecto
Marc Lombard
◗ Comprimento total 18.50 m
◗ Comprimento
à linha de água 17.35 m
◗ Boca
9.25 m
◗ Calado
1.78 m
◗ Vela grande 124 m²
◗ Genoa 90 m²
◗ Estai de trinqueta 33 m²
◗ Gennaker
150 m²
◗ Deslocamento
26.000 Kg
◗ Motorização
2 x 110 Cv
◗ Depósito de combustível 2 x 750 L.
◗ Depósito de água doce 2 x 650 L
◗ Nº de pessoas a bordo 16
◗ Nº de camas
para 8 pessoas
◗ Preço
sob consulta
◗ Comercialização
BG-Equipamentos Náuticos
(Tel. 282343086)
Velocidades a navegar
Velocidades efectuadas com o barco
completamente apetrechado para viagem
Medições à vela:
◗ Velocidade do vento
13 /15 nós
◗ Quadrante
Oeste
◗ Bolina
60º / 8 nós
◗ Través
90º / 10 nós
◗ Alheta
120º / 7.6 nós
◗ Popa
140º - 8 nós
A motor: 2 x Yanmar de 160 Cv
◗ 3.000 rpm
10 nós
◗ Velocidade de cruzeiro 2.000 rpm 7 nós
◗ Medições efectuadas
com GPS Magallens
A nossa opinião
Um catamaran para uma vida de aventura
P
oderão ser várias as razões
que levam à aquisição
de uma barco com estas
características. A mais comum é a
aquisição por parte de empresas
de charters, mas não são só estas
empresas que têm utilizado os
Privilége. Também muitos particulares optam por esta marca e por
esta dimensão, pois apostaram num
estilo de vida que não despensa
uma travessia em período de férias.
As opções no mercado são muitas,
mas esta marca já provou por
várias vezes que os seus produtos
são muito resistentes, oferecendo
elevado grau de satisfação a quem
neles investe. Estes velejadores mais
aventureiros, ao terem puder de
compra, optam por uma solução
que lhes dê o máximo prazer que é
o de navegar em mar aberto, num
barco que sabem que podem confiar inteiramente. Ao se decidirem
por um Privilége, têm a certeza que
podem contar com uma navegação
rápida e segura, mas sem abdicarem
de todo o conforto de um resort
de luxo. A grande diferença é que
esta vivenda / resort, flutua, navega
e navega bem, sem deixar envergonhado quem quer que seja. No
caso da unidade testada, foi isso
que aconteceu. Este super catamaran é propriedade de uma família
de velejadores, onde três gerações
(filhos, pais e avós) desfrutam dos
prazeres de navegar em altura,
com todo o conforto. Existem
duas formas de pensar a utilização
deste tipo de barco e de o colocar
a navegar. A primeira num passeio
de um ou dois dias, onde queremos
e podemos esquecer um pouco o
conforto a navegar e retirar o máximo partido dos cascos e das velas.
Aí mesmo com vento de mais de 20
nós podemos orçar até aos 35º, 40 º
sem nos preocuparmos com o cabecear e balançar excessivo. Outra é
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em situação de travessia de vários
dias, onde há que ter em conta o
bem-estar a bordo. Nessa situação,
se o vento for forte e o mar alteroso, devemos arribar para os 45º, 50º,
ou mesmo 60º e assim proporcionar
à tripulação uma navegação mais
estável. Claro está que teremos de
percorrer mais milhas mas o conforto a bordo deve ser prioritário.
Entretanto esta marca passa desde
agora a contar com um representante em Portugal. A PortiNauta da
Angel Pilote, tinha já uma carteira
de clientes de super catamarans e
a única grua com dimensão para
os colocar a seco. Todos os anos
mais de oito barcos destes faziam
escala em Portimão para aí fazer a
sua manutenção com esta empresa.
Agora surgiu o convite da Privilége
para que a Angel Pilot, através da
BG-Equipamentos Náuticos, ficasse
com a representação destes magníficos catamarans para Portugal.
Avaliação
Proa
Popa
Poço
Circulação
Ergonomia
Estética
Segurança
Arrumação
Manobra
Performance
9,5
9,5
9
10
9
9
9
10
8
8
9,25

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