Entrevista Os trabalhadores que as empresas não

Transcrição

Entrevista Os trabalhadores que as empresas não
QUEM AS EMPRESAS NÃO QUEREM
Diná Sanchotene
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Profissionais que ficaram pouco tempo em empregos anteriores, fumantes e obesos estão
enquadrados nos perfis mais rejeitados pelas empresas na hora de contratar. O raio-x do
comportamento do mercado foi constatado por uma pesquisa desenvolvida pela Catho Online, que
ouviu 4,1 mil recrutadores.
Para a coordenadora de Recursos Humanos da Catho Online, Fernanda Figueiredo, os
empregadores fazem muita objeção ao profissional com estabilidade baixa. Na pesquisa da Catho,
esse perfil apresenta a maior rejeição, 85,16%. "Pessoas que ficaram pouco tempo em empregos
anteriores, demonstra que são instáveis. Isso só não é levado em conta para casos de profissões
que têm alta rotatividade, como operador de telemarketing", explicou.
O estudo apontou ainda que 81,16% dos executivos evitam contratar trabalhadores fumantes e
61,68% não contrata pessoas que estão acima do peso. Outro comparativo que chama a atenção
é de que 48,59% dos recrutadores não contratam mulheres com filhos pequenos e 76,43% não
dariam chance aos já aposentados 76,43%.
A coordenadora explicou ainda que cada vez mais as empresas estão preocupadas com a
qualidade de vida de seus colaboradores. "Eles estão preocupados se as pessoas têm vida ativa,
fazem exercícios ou fumam. Estamos em uma época de geração saúde, por isso, muitas delas
oferecem programa de ginástica laboral. Aqui na Catho, por exemplo, a cada 20 minutos um
programinha de computador orienta sobre exercícios contra a Lesão por Esforço Repetitivo (LER)",
disse.
Fernanda também informou que uma empresa não pode levantar a vida pessoal e financeira de
um candidato sem que ele saiba. "Isso seria muita invasão de privacidade", disse.
Critérios
A psicóloga e diretora da Psico Store, Martha Zouain, disse que não há registro formal formal,
mas, que algumas empresas recomendam que certos critérios sejam adotados. "Nestas situações
sempre buscamos levar o empresário a refletir sobre o foco da contratação que deve sempre estar
nas competências que o mesmo possui e não em suas escolhas ou situação financeira", ressaltou.
Para ela, cor da pele, opção sexual ou religiosa, sexo, nada disso determina o sucesso ou fracasso
numa contratação. "O foco deverá ser sempre estar nas competências que o profissional possui",
destacou a psicóloga. Martha orienta que para não ficar nervoso com perguntas desconcertantes
em uma entrevista, é necessário seguir algumas regras, como, seja positivo nas respostas; evite o
"não" como resposta, diga que irá analisar e não se queixe ou fale mal de empregadores
anteriores.
É bom lembrar que, quando um candidato vai ser contratado, independente da função que vá
assumir, ele deve entregar a carteira de trabalho, cédula de identidade, CPF, título de eleitor e
certificado de reservista. Para recebimento do salário-família, é necessário apresentar a certidão
de nascimento dos filhos menores de 14 anos ou de maiores incapazes, declaração da escola em
que o menor estuda e carteira de vacinação para os menores de seis anos.
Sem experiência e com muito menos chance
A estudante Daniely Couto Schneider está procurando emprego há seis meses. Ela foi até à
agência do Sistema Nacional de Empregos (Sine) para fazer cadastro e conquistar a tão sonhada
vaga. "Sou de Vitória, mas morei um tempo em Barra de São Francisco. Voltei para capital há
pouco tempo e desde então estou procurando emprego. Terminei recentemente o curso de
Auxiliar de Logística de Materiais", contou. Daniely ainda cursa o ensino médio e não tem
experiência profissional, o que para ela será difícil uma colocação profissional agora. "O mercado
exige experiência e muitas vagas são destinadas a quem possui o nível médio. Acho que por causa
desses dois fatores não será fácil conquistar uma oportunidade. Estou confiante de que quando
terminar o nível médio essa conquista será mais fácil", afirmou a estudante.
Consulta ao nome no SPC é prática ilegal
Um candidato foi participar de uma entrevista de emprego quando foi surpreendido com a
pergunta: Você tem um currículo que se encaixa perfeitamente ao cargo, mas há alguma restrição
com o seu CPF? Sem saber muito o que fazer, e sendo sincero, respondeu que poderia ter sim o
nome no Sistema de Proteção ao Crédito (SPC). Uma semana se passou e ele foi informado de
que não tinha sido o escolhido para a vaga e que o "nome sujo" não influenciou na decisão da
empresa. Esse candidato pesquisou e viu que a empresa consultou o órgão de proteção ao crédito.
"Perdi a vaga e até pensei entrar na Justiça. Se todas empresas forem fazer isso, há pessoas que
vão ficar desempregadas para sempre", disse o candidato que não quis se identificar.
A advogada trabalhista e comentarista da rádio CBN, Ana Paula Tauceda, ressaltou que as pessoas
devem ser contratadas a partir de suas habilidades técnicas para a função e não por qualquer
outra exigência, como, opção sexual ou nome negativado em órgão de proteção ao crédito.
"O que precisa ser analisadas são as competências e se a pessoa tem habilidade para desenvolver
as atividades do cargo", avaliou.
Ela lembrou que ainda ocorrem discriminações por causa da cor da pele, o que é denominado pelo
empregador de boa aparência. Outra discriminação está relacionada à religião.
"Estamos em um país de desempregados e de uma salário mínimo que não permite uma pessoa
se sustentar. Uma pessoa ter no nome do SPC ou Serasa, mas isso não quer dizer que ela seja
mal-caráter", explicou.
A advogada também explicou que pedir exame de gravidez, HIV e hepatite C, é inconstituvional.
"Esse tipo de coisa entra muito na intimidade de uma pessoa. Verificar se uma mulher está
grávida, por exemplo, só se ela for trabalhar com alguma coisa de radiação. Para o caso de
exames de HIV e hepatite C, só se essa pessoa for trabalhar diretamente com sangue de outras
pessoas, e que pode haver contaminação", observou.
Ana Paula destacou que as empresas precisam ter uma relação mais profissional com o
funcionário. "No Brasil, há um ranço escravocrata onde o patrão acredita que pode assustar o
empregado. O empregador tem o hábito de praticar a subordinação, perdendo a noção da
medita", disse.
Onde denuciar:
Se você foi vítima de um ato discriminatório, pode procurar o Ministério Público do Trabalho.
Endereço: Avenida Adalberto Simão Nader, 531, Mata da Praia, Vitória.
Telefone: 2125-4500
Internet: www.pgt.mpt.gov.br.
http://gazetaonline.globo.com/index.php?id=/local/a_gazeta/materia.php&cd_matia=457214
Fonte: Jornal A Gazeta - ES | 13.07.08