Medicina Tradicional Angolana – para o bloog

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Medicina Tradicional Angolana – para o bloog
Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG Faculdade de Medicina
Centro da Memória da Medicina da Faculdade de Medicina da UFMG (CEMEMOR)
Disciplina Optativa do Curso de História de Medicina.
Título: Medicina Tradicional Angolana
Professor: Geraldo André da Silva (Tat’etu Jalabo Casa de Cultura Lode Apara Sta. Luzia, MG)
Orientador: Prof. Dr. João Amilcar Ferreira
Coordenar Geral: Prof. Dr. Ajax
Resumo:
Esse trabalho tem como objetivo mostrar como é importante para o Angolano o
tratamento tradicional advindo dos antepassados.
Ele só recorre aos tratamentos academicamente corretos após esgotar todas as suas
possibilidades de curas pelos métodos tradicionais.
Palavras Chaves: Angola- medicina Angolana – tratamentos tradicionais.
INTRODUÇÃO
Sinto-me inteiramente à vontade por estar neste hoje trazendo a esta universidade os
conhecimentos que julgo ser necessários para o momento em que a globalização
alavanca todos os ramos de atividades humana, mormente quando se pensa em
QUALIDADE TOTAL. Todo fenômeno que tem garantido a sua repetição sob o comando
de atividades alcançáveis pelo homem, deve ser submetido ao crivo da ciência para
garantir sua inclusão neste processo da procura da preservação da vida e última
análise na sua eternização.
A Casa de Ogun Lodé e Oxum Apara já possui uma folha de serviços prestados a essa
universidade nesta tônica bastando para os que queiram consultar os arquivos do
CENTRO DA MEMÓRIA DESTA FACULDADE DE MEDICINA.
Quando se fala em medicina tem-se logo em mente que o assunto está literalmente
relacionado com e só com a classe médica. Mas a própria história da medicina nos dá
conta de que todo início se deu a partir de observações sem nenhuma ligação, a
princípio, com a ciência.
Os cultos afro brasileiros estão aí e veem desempenhando um papel altamente social,
terapêutico é onde vamos nos deter, sem contar é claro em outras contribuições nas
áreas da cultura, da educação, da culinária, e etc. Às vezes sofrendo discriminações de
toda sorte, os praticantes desta seita, para eles região, desempenham verdadeiras
práticas medicinais que mereciam ser melhor estudadas pela psicanálise, pela
psicologia e até mesmo pôr outras áreas da medicinas que se interessassem por uma
pesquisa mais microscópica dos fenômenos ocorridos nas comunidades de terreiro. A
Casa de Ogun Lodé tem o prazer de informar que já alguns anos vêm fazendo este tipo
de tralho e registrando fatos que servem de objeto de estudo para os organismos
científicos, A sua contribuição não passa tão somente pelo campo da medicina, mas,
sobretudo no resgate dos valores culturais e educacionais engajados na cultura do
povo brasileiro e que são “esquecidos “sendo estas contribuições preteridas em
função de predicados pejorativos que só servem para denegrir a beleza que encerra
está prática que sabemos ser de valor inestimável para um povo que tomar a
vanguarda do desenvolvimento tecnológico como o BRASIL.
Quando nos propusemos a realizar este trabalho pensamos em dar continuidade no
anterior que já foi aludido acima, mas gostaríamos de estar certo que os pesquisadores
deste, levassem em conta os objetivos básico e a sequencia em que se encaminham os
desdobramentos deste mesmo trabalho rumo a estes objetivos.
OBJETIVOS BÁSICOS





Pesquisar os fenômenos terapêuticos ocorridos dentro das comunidades de
terreiros.
Buscar incentivos para fomentar os trabalhos para esta área dos cultos afro
brasileiros.
Demonstrar, de forma mais didática possível, os fenômenos que já ocorrem de
forma palpáveis.
Demonstrar a contribuição do povo BANTU na medicina Afro Mineira hoje
existente.
Fazer um trabalho com uma metodologia apontada para três momentos
fundamentais (África pré-colonial, a África hoje e as comparações possíveis entre o
que se pratica hoje na África e que se pratica hoje no Brasil).
PARA REFLEXÃO (...)
O homem, assim como os animais e vegetais, está sujeito a adoecer, sob diversas
causas. Que meio empregava então o homem primitivo nos primórdios da existência
para a cura de seus males?
Ele utilizava principalmente os seus instintos básicos; o cheiro, o gosto, o formato das
plantas e outros indicativos não reconhecidos pela ciência. Serviam-lhe de orientação
para fazer suas medicações, vários indicadores que hoje são ignorados: a estação da
lua, o horário que a doença se manifestava, a forma da colheita da planta que serviria
para este ou aquele mal, e etc.
Este expediente era válido também na escolha do alimento para a sua nutrição e para
a preservação da espécie. Com chegada da ciência e sua evolução esta intuição foi
sendo aos poucos sendo substituída pelas leis que passavam pelo seu crivo.
O que a ciência não considerou é que os instintos partem dos subconscientes, a sede
de maravilhosas faculdades psíquicas. Hoje estas faculdades são estudadas pela ciência
da psicologia e parapsicologia, mas, ainda longe de desvendar os verdadeiros mistérios
existentes entre a vida e a morte, e que podem ser muitos deles, controlados através
do uso instintivo das plantas medicinais. Haja vistas que muitos medicamentos hoje
cientificamente consagrados como eficazes para determinadas doenças, seguem as
mesmas indicações desde os primórdios humanidade. Como exemplo poder-se-ia citar:
“Nux Mochata” indicado homeopaticamente para os males cerebrais, já era utilizada
em sua forma natural para os mesmos males; sabem por quê? Só porque o seu
formato tem o mesmo do cérebro humano, logo instintivamente era e é indicada para
os males cerebrais.
A raiz e as folhas das orquídeas, por parecerem com os órgãos genitais masculino eram
consideradas afrodisíacas.
O Anacardium Orientalis por parecer com o coração também era indicado para os
males cordiais. Já o Anacardiun Ocidentales por seu aspecto semelhante ao do Rin era
indicado para males renais. A Pulmonária pela sua aparência com o pulmão era
indicada para os males dos pulmões. O Hipericum Perfuratum (cipó São João), indicado
para o coração porque sua folha o formato daquele órgão.
Somente no século I da nossa era é que se começou a valorizar esta analogia, através
de alguns filósofos como Aristóteles, Empedocles, Teofrasto entre outros.
Mas a cultura Africana ainda conserva estas práticas sob estes aspectos e outros que
aqui não carecem serem citados todos ligados à arte da cura em busca da vida eterna,
que alias é o objetivo máximo da medicina como demonstrado no seu símbolo
máximo” as duas serpentes enroladas em um mastro.
Sob o ponto de vista das terapias, aqui no Brasil chamadas de alternativas,
apresentarei abaixo uns exemplos desta práticas realizadas na África e que são ainda
hoje utilizados nas suas províncias e na capital de ANGOLA de forma harmônica com os
poderes públicos dentro de uma respeitabilidade invejável.
A CRIAÇÃO DO UNIVERSO
À LUZ DA
CULTURA IORUBA
OLORUN criou o universo e tudo que nele existe por si só ou por seus delegados (os
Orixás).
As histórias da criação nos são contadas pelos ODU que se apresentam através dos
diversos ORÁCULOS chamados de IFÁ que por sua vez, é filho de ORUNMILÁ, o senhor
dos destinos.
Os credenciados para lançarem e interpretar os IFÁ são os BABALAWO. Eles
transmitem aos chefes das aldeias (comunidades) as “falas“ de IFA. Poucos são os que
detêm os conhecimentos de Ifa,
O que se sabe hoje a respeito de IFÁ, é que a oralidade é a responsável pela
preservação desta prática com o que nós não concordamos porque a leitura das
simbologias de Ifa requer conhecimentos de matemática exponencial, visão espacial,
alem da expressão oral de extensivos textos ricos em sabedorias metafóricas, o que
entendemos que não chegariam até nós se não estivessem escritos
(esta é uma
tese nossa).
Só cresce no Santo quem tem a consciência de que nada sabe. Procedendo desta,
forma pode parecer demagogia, mas aos olhos dos Orixás não porque eles sabem
muito bem avaliar estas fraquezas humanas e não adiantaria mentir para o próximo se
não é possível. Mentir para o Orixá, pois ele está dentro de cada um de nós. Percebe
como é linda e justa a natureza?
Mentir para o próximo é dar prova de ignorância e a natureza é implacável e imutável.
Por isto entedemos que a prática da inverdade não é uma boa coisa.
Cada Orixá domina uma parte da natureza e sem entrar no âmago desta temática,
dizemos que os seres vivos são partes da natureza e de seus elementos são
constituídos. Desta verdade não escapa nem os homens nem as mulheres. Portanto, o
homem e a mulher são Orixás. Cada partícula infinitesimal do nosso organismo é parte
de um ou mais Orixás. A essa presença do Orixá dentro de cada ser é que os religiosos
afro brasileiros chamam de “duble”.
Para entrar no tema da sexualidade ainda precisamos dizer que
Primeiro: os ODU que são caminhos, também possuem as histórias de suas criações;
Segundo: por um Odu transitam vários Orixás.
Terceiro: um Orixá pode transitar por vários Odu.
Portanto, a característica de cada odu influencia o Orixá da mesma forma que cada
orixá influencia o ser humano.
Já observaram que às vezes, pessoas filhas de um mesmo Orixá só possuem as
características básicas do Orixá do Ori semelhantes, mas com particularidades
adversas? Isto explica o fato que acabamos de afirmar acima, ou seja, um mesmo
Orixá que transita em um Odu influencia o seu filho de determinada forma. Este
mesmo Orixá pode destoar do anterior, por transitar em outro Odu. Portanto não é
verdade dizer que todas as pessoas de um mesmo Orixás tem que possuir as
características físicas e comportamentais iguais.
VAMOS FALAR DA NAÇÃO DE ANGOLA?
Angola:
1.246.700 quilômetros quadrados. Situada na costa ocidental da África. Numerosos
rios cortam aquele País de norte a sul. A floresta medicinal é extremamente rica para
não falar de outras de iguais teor. Senão vejamos:
Sob o ponto de vista informativo, queremos dizer que as referências que aqui serão
citadas poderão ser efetivas e, portanto, reais, fisicamente palpáveis ou então, virtuais
inatingíveis pelas técnicas de comunicações acadêmicas. Neste último casos
esperamos a compreensão de todos para os momentos que não pudermos oferecer
referências físicas.
Antes de dar continuidade no que se refere à Medicina afro- mineira, gostaria de fazer
uma analogia entre alguns nomes difundidos da Africanidade Sudanesa (base Nigéria)
e a Bantu (base Angola) que muito pouco é divulgada, no que tange, por exemplo, as
divindades, já que elas são o carro chefe de todas as providências elegantemente
amanteigadas com os ancestrais e os odu.
POVO
Olorun
Oxalá
Nanã
Omolu
ObaluayêYansã
Oxum
Iyemanjá
SUDANES
POVO BANTU
CARACTERÍSTICA
Zambeapungo
Caçuté
Ganga zumba
Cafungê
Nganatingongo
Angurucemavulo
Dandalunda
Micaiaia / Katamba
Deus católico universal
O criador
Início e fim da vida
Deus da doença e da cura
Deus da varíola / peste
Ligada aos mortos
Ligada a àgua doce e a criação
Ligada a água salgada e a
Iroko
Oxum marê
Xango
Ossãe
Tempo
Angorô /Hongolo
Nzaji
Catendê
Logun
Oxossi
Ogun
Exu-
Gongobira
Mutacalombo
NkosI
Bombogira
criação
Ligado à árvore sagrada
Ao arco Íris e a cobra
Justiça e ao Arco-iriis
Ligado a fitoterapia
E medicina
Ligado a Oxossi e a oxum
Rei da caça e da pescador
Ligado às guerras (conquistador)
Comunicação e transformação
Iku
Egun-
Uafu
Vumbi
Ligado aos mortos
Espírito dos mortos
Existem é claro outras divindades que aqui não são apresentadas, que poderão
aparecer ao longo da exposição, se for o caso.
Angola, período pré-colonial.
País habitado por povos de culturas milenares e que possui até hoje ricas práticas que
o tempo e a modernidade não conseguiram modificar. A África fica neste momento
dividida em SUDANESA e BANTU. Neste caso específico falaremos do povo Bantu,
raiz do povo Angolano.
Nas suas crenças tradicionais este povo busca o equilíbrio espiritual e psicossomático,
onde os espíritos dos ancestrais são invocados para mediar as ações do homem e a
vontade do Deus supremo.
O nome delegado ao Deus supremo varia conforme a etnia, podendo ser: SUKU, para
os Umbundu; NZAMBE, para os Kimbundu e Tokue; MUNGU para os Swaili; NKOSSI,
para os Nkoza e assim por diante.
Tudo para o Angolano é divino. Ele vê Deus em toda a natureza. Portanto, deste
sentimento religioso provém toda a sua filosofia de vida. Existem os cultos aos mortos,
a consciência da existência de uma alma que habita em todos os seres visíveis e
invisíveis. Existe uma consciência elementar em todas as pequenas partículas da
matéria.
O povo Angolano crê no Deus único e acredita também nos espíritos maléficos e
benéficos. No SOBA reside toda a potência do povo para alcançar às alturas e a
felicidade plena. Ele esta acima dos homens e detém o poder político.
Conta-se que um chefe Bantu, tinha o hábito de subir a uma montanha e lá fazer suas
preces a Deus. O seu filho que lhe sucedeu sentiu medo de se aproximar do grande
Deus que seu pai adorava, e então chamou o espírito do seu pai, para que intercedesse
por ele e pelo seu povo diante do Criador de todos. (a propósito, aqui no Brasil ainda
há resíduos de algumas coisas semelhantes. Já observaram? isto é muito sutil.). Talvez
por esta razão seja que o povo Bantu tem uma maneira toda especial de preservação
da herança familiar. A lembrança do ancestral é divinizada.
Gradualmente, cada chefe de família adotou esta prática para se aproximar de Deus.
Os amuletos sagrados, os feitiços os talismãs, servem de instrumentos para as práticas
religiosas que trazem resultados mágicos.
Na medicina são usados métodos naturais para tratar casos comuns de etiologia
conhecida ou ignorada.
A OBSTE TRÍCIA
A maioria das vezes, o parto é realizado de cócoras. O homem auxilia nos casos
complicados. Quando o bebê nasce é motivo de festa na aldeia. Todos o adoram e lhe
trazem oferendas: cabras, galinhas e até bois. Agora, todos na comunidade são
responsáveis pela criação daquela criança. Da mesma forma, aquela criança passa o
resto da vida a respeitar todos os mais velhos. É como se todos na comunidades
fossem seus pais, isto é, a todos ela, (a criança), toma bênção e deve respeito.
PROFILAXIA EM PEDIATRIA
A criança tem o seu cantil de água (cabaça), com raízes medicinais trocadas
periodicamente (OTCHAVA). Assim toda água que a criança beber tem certo teor
medicinal, e isso ajuda a ser mais resistente aos agentes patogênicos, em fim um
infinito de vantagens.
Andar descalço é recomendável às crianças para reflexo terapia plantar. Toda criança é
livre para brincar com outras sem grandes preocupações. A adesão da criança aos
trabalhos domiciliares é geralmente espontâneo, cabendo aos adultos orientar sem
gritos ou punições.
PLANTAS E MÉTODOS TRADICIONAIS DE ANTICONCEPÇÃO
Na sociedade tradicional Angolana o espaçamento dos nascimentos exige a mesma
atenção que a infertilidade
A infertilidade é tida como desonra, podendo até a mulher ser abandonada pelo
marido. A infertilidade masculina ou feminina é tratada pelos terapeutas tradicionais
que são verdadeiros mestres e considerados médicos /mágicos. Para alguns
seguimentos etnico- linguístico ela é tida como um descumprimento de alguma
obrigação devida a algum antepassado. Os tratamentos vão desde a utilização da
fitoterapia até as orações, imolações de animais, oferendas, utilizações de amuletos e
sacrifício aos antepassados.
Mas o espacejamento entre um parto e o outro é igualmente respeitado. É desonroso
Ter outro filho fora do período correto. Entre duas crianças deve existir pelo menos um
espaço de trinta e dois meses
A obrigatoriedade desta abnegação está ligada a preservação da saúde da mulher e do
filho. Entendem também que a criança que está amamentando precisa do calor da
mãe livre de outra gravidez o que se não for observado poderá causar debilidade,
seguida de diarreia grave e em última instância causar o que em Kimbundu se “use”
que pode ocasionar a morte de bebê.
Daí a necessidade de desenvolver vários métodos de anticoncepção.
1 – abstinência sexual da mulher entre o sexto e o sétimo mês da gravidez até o sexto
mês após o parto, Este fato explica a necessidade do homem ter outra mulher
enquanto a sua repousa. Aí talvez resida à justificativa da “poligamia” Neste período
ela recebe tratamento de aromoterapia, os banhos de assento com a utilização de
plantas tais como o Capim de Deus a Kimbuma e o Kamuelele”.
2 – Aleitamento até pelo menos os dois anos de vida.
Entre as mulheres Angolanas o aleitamento faz com que a menstruação também
retarde e consequentemente a ovulação” mãe que aleita não concebe”.
3 - Outros métodos
Para as mulheres que engravidam mesmo estando amamentando e não podendo
passar pelo processo da abstinência ou cujos maridos não estão disposto a deixá-las
repousar, outros métodos são aplicados:
a) Levantar a mulher imediatamente ao ato do coito e lavar-se em água fria e
depositá-la em um recipiente de barro
Fazer lavagens vaginais com determinadas plantas que tem na sua constituição
química saponáceas muitas das quais usada como anti-helmínticos. Vejamos algumas
delas”:
Maytenus senegalensis Lam, da família das celatracede que tem os nomes de
MUTUNGO em Cokkwe e em Kimbundo, mubela em Ngangela e OMOBANGUOLULU
em Nyanheca.
A Terminária Cerícia Burch uma cambretaceae que tem os nomes vermiculos de;
Mueia ou Mussonde em Cokwe; MUKONGOLO (arco iris) em Kimbundo, OMUNGOLO
Em Nyainheca e OMUSSESSETE Em Herero e outras tantas.
4 – Contraceptivos orais:
As terapeutas tradicionais mulheres assim como s os homens preservam o segredo das
práticas terapêuticas voltadas para a contracepção, pôr se tratar de plantas abortivas o
que viriam ferir os princípios dos valores do juízo e a degradação da sociedade e a
aculturação feminina
Entretanto duas plantas são citadas:
ABRUS PRECATÓRIS L., planta da família das Convulvulacae, conhecida como NFINGU,
em Kimbundo e em Cokwe são grãos bem secos engolidos sem mastigar ou envolvidos
em bola de FUNJI, (o mesmo que o angu dos Brasileiros) devem ser tomados dez dias
após o último período menstrual a contar do primeiro dia do fluxo, na dose de trens
grãos ou aproximadamente 200 mgr. Com um copo d’água.
A MERRIMIA DISSECTEA JAE, Micici e Kutando - xati em Cokwe constata a mesma
utilização. Em Angola é o ‘tubérculo em decocção na água, na proporção de 20 gr. Pôr
litro é tomado após o último dia do fluxo menstrual. Isto vale três meses de
contracepitividade.
Estudos científicos sistematizados ainda não comprovaram a eficiência destes método
(1)
(referência bibliográfica) “AUTRAL nº 23 Janeiro / Fevereiro / Março 1.998 Dra. Em
Ciências Farmacêuticas, investigadora e especialista em plantas medicinais.········.
PUBERDADE
No início da puberdade as meninas são iniciadas nos mistérios da vida por um período
que varia de segundo os costumes tribais. É uma verdadeira escola onde aprendem
trabalhos e atribuições de uma dona de casa. Os rapazes vão para as matas onde ficam
por um período de três meses, aprendendo todos os mistérios da vida, a caça, a pesca, as
técnicas de construção civil, relações humanas, princípios da medicina natural, etc. E lá
são circuncidados (A ESTE ATO CHAMAM DE EVAMBA).
.
A SEXUALIDADE
Logo após a circuncisão os jovens são colocados para se conhecerem uns aos outros,
principalmente os órgãos genitais, para sentirem as carícias e descobertas sexuais, e
assim desperta - los para o início de uma vida sexual e para o casamento, visando à
preservação da espécie.
Então os homens iniciam a atividade sexual aos vinte anos e a mulher aos dezoito.
TRATAMENTO TRADICIONAL
Enfermidade comum: a fitoterapia é usada em grande escala. Ocupa papel
preponderante. A geoterapia é usada tanto internamente como externamente.
Normalmente a terra usada fica nos formigueiros.
Para picada de qualquer serpente venenosa ou escorpião, basta amarrar o membro
acima da picada, sangrar o local da picada e colocar alcatrão da piteira ou do cachimbo
ou colocar a pedra negra. Havendo a falta desses elementos o barro é usado, e como
antídoto é usado à urina. Esta, após uma picada de um animal peçonhento, tem salvo
muitas pessoas na África.
Outro método usado é o da sangria, que consiste em fazer alguns cortes pequenos e
aplicar ventosa feito com chifre de Vitelo ou cabrito. A pressão negativa ou sucção faz
sair o sangue venoso (contaminado) até que o organismo se restabeleça. Esse processo
chama-se LUCEBO. Há ainda as enfermidades mais complexas, cuja etiopatogenesia é
ignorada por falta de conhecimentos científicos para diagnosticar e fazer um
prognóstico seguro.
Nesses casos são procurados então os TCHIMBANDA (médicos tradicionais e vidente
ao mesmo tempo). Em um primeiro contato é feito uma visita ao Tchimbanda, e ele faz
uma sabatina na pessoa, isto é realiza o que poderíamos caracterizar como entrevista
semiológica. Pergunta tudo: dos costumes, envolvimentos com as comunidades (por
exemplo, brigas passadas, discussões). Ai pode até descobrir se há UANGA (1) (feitiço
ou vudu).
O Tchimbanda agora possui todos os dados da ANAMINESE do paciente e da família.
Um detalhe importante acontece num segundo momento da anamnese é que a causa
mortis dos ancestrais é sempre analisada, para colaboração diagnóstica. Quase sempre
é necessário realização de cerimônias mediúnica chamada de ILUNDU para verificação
da verdade. Dai são receitado os remédios fitoterápicos ou outro alternativo. Por esta
cura ele o Tchimbana cobra um determinado dote, que varia de acordo com o caso.
Se durante o Ilundu for descoberto que houve Uanga, então é desencadeado outros
processos de curas que não carece neste momento ser evidenciado, mas a pessoa se
cura.
COMO DETERMINAR A CAUSA MORTIS:
Já no velório, a família conta detalhadamente, desde o início da doença até a morte.
Em caso de dúvida é feita a cerimônia de corpo presente. Atenção, quem responde às
perguntas é o morto. Um ancião, conhecido como (COTA) entra em transe ou não e faz
1
RIBAS, Oscar (1981) Uanga 3ª edição Luanda / Lisboa: União dos Escritores Angolanos Ed 70
as pergunta ao morto. Ele responde as pergunta realizando movimentos laterais
violentos afirmando ou negando. Esta cerimônia é realizada perto de uma fogueira e
só depois de reconhecida a causa morte é que se realiza a marcha fúnebre. Se alguma
dúvida ficou para traz ao chegar ao cemitério o morto se nega a ser enterrado de novo
realizando movimentos retrógrados e é necessário voltar ao local de velório e
recomeçar o ritual. Por exemplo, se for caso de homicídio é colocado do lado de fora
uma tocha de fogo, (tição) por sobre a qual passará o caixão. Em menos de uma hora o
assassino se apresenta e confessa o crime. Não acontecendo tal é dada a ordem para
realizar o enterro, mas ai dentro de 24 horas os responsáveis pela morte também
morrem, quase sempre asfixiados.
A EUTANÁSIA
Algumas civilizações Africanas praticam a eutanásia com a finalidade de minimizar o
sofrimento de pessoas idosas, caquéticas em fase terminais, com mais de um ano de
tratamento e só piorando o quadro e já com aspecto cadavérico. Este ato é realizado
perguntando às forças da natureza (principalmente o ar, de onde provem a energia
vital) (2).
ÁFRICA, PERÍODO DA ESCRAVATURA.
A História registra o período da escravatura de forma geral e alguns historiadores e
pesquisadores adentram um pouco mais neste ou naquele ponto.
De nossa parte vamos somente fazer um paralelo entre o que se tem registrado de
nossa herança africana em linha direta de acordo com a cultura Bantu e Sudanesa.
Então o negro que aqui chegou veio com todos os seus costumes e crenças que
praticava à medida que as circunstâncias assim o permitiam. Mesmo assim até nossos
dias ainda se pratica atividades inteiramente africanista dando um exemplo da
resistência e da nossa fidelidade para com nossos ancestrais.
BANTU (3)
Mona Andazo, Africano que recebeu o nome no Brasil de Roberto Barros Reis Iniciou
nos segredos dos cultos a Sra. Maria Genuveva do Bonfim nascida em 1.865 falecida
em 1.945 na Bahia que recebeu dele o nome de twembe Dya Nzambe filha de Nkisi
Tigogngo. Esta Senhora Ficou conhecida como Maria Nenem.
2
(Citamos até esse ponto como referência o trabalho do Dr. Joaquim Cangue, médico Angolano, que
teve com base a orientação dos senhores Francisco Cachila da Silva, 72 anos, terapeuta tradicional em
Angola, alem do senhor Afonso Joaquim, de 38 anos profundo conhecedor da cultura tradicional Bantu
Angola.), Exceto o quadro das divindades quer são de inteira responsabilidade do expositor deste
documento.
3
fonte:Federação Baiana do Culto Afro- Brasileiro
Ela fundou o terreiro Tumbensi em Baru, transferido mais tarde para Pau Javá, depois
para Cabrito, depois para a Fazenda do grande Retiro, depois novamente voltou para
Baru, onde hoje funciona o terreiro do finado Rufino. Hoje quem cuida dos Santos de
Maria Nenem é Manoel Boiadeiro, Tata confirmado para tal, funcionando na rua Dr.
Pedro Araujo n º 82 Fazenda Grande.
Maria Neném deixou aproximadamente 300 pessoas iniciadas. Entretanto dois
terreiros ainda funcionam até hoje: TERREIRO MANSU BANDU KENKE, conhecido como
BATE FOLHA e TERREIRO TUMA JUNÇARA. .
Bate Folha foi fundado por Manoel Bernardino da Paixão em 1.916 na Mata Escura do
Retiro. Com a morte de Bernardino Bate Folha sucedeu-lhe Antônio José da Silva cuja
djina era Bandangwama, Este passou para Pedro, depois para João da Silva e
atualmente sob a responsabilidade do Sr. Eduarlindo Crispiniano de Sousa.
O Terreiro Tumba Junçara foi fundado por Manoel Rodrigues do Nascimento, o
KATAMBI e Manoel Ciríaco de Jesus, iniciados por Maria Neném em 1.910. Esta casa
também mudou de local saindo de da Rua Campo Grande indo para Baru, depois para
o Alto do Corrupio n º 38 Vila América, Vasco da Gama. Katambi iniciou Maria José de
Jesus, a Mona Lubidi mais conhecida como Daré Lubidi. Com a morte de Katambi,
Manoel Ciriaco assumiu que também faleceu em 13 / 02 de 1. 965. Lubidi assumiu a
liderança até 30 / 10 / de 1.988 quando faleceu. Atualmente a sucessora de Lubidi e a
Sra. Iraíldae Maria da Cunha, conhecida como “ Mensuenji ”.
Destas duas raízes surgiram todos os outros terreiros de angola do Brasil que se tem
registro. Por exemplo: Terreiro Malembá de Maria Rufina ou Mariquinha de Lemba
como era conhecida em Ondina, antiga areia preta. Que passou para Gonçalo, que
passou para Teodina Alves de Castro, que passou para Fernando Alpiniano de Melo,
que funciona hoje à Rua Voluntários da Pátria n º 73, Lobato, Suburbana.
Terreiro Unzó Mutageremim, tendo à frente Angelina Santana, iniciada por Doroteia
que foi iniciada por Nicassio Manoel dos Reis, que passou depois para Banacô.
Por volta do mês de Abril de 1.960, Doroteia veio a falecer ficando no cargo Dona
Angelina, nesta época morava na Baixada da Torre em Brotas. Atualmente o Terreiro
funciona na praia do Forte na Rua da Rodagem, Barra da Pojuca.
Outro Terreiro importante foi o de Onzó Tata Mauendi, cujo fundador foi o
Sr.Constancio Silva e Sousa, que foi sucedido pelo filho carnal Gregório Makuendi, que
foi sucedido pôr Romana França de Sousa, conhecida como “Roxa”, que foi sucedida
pôr Balangue ( Heloísa França de Sousa). Deste Terreiro não se tem mais notícia,
sabia-se, entretanto que funcionava na numa pequena casa na Ladeira do Caxundé.
Outro Terreiro que faz parte das Grandes Raízes que geraram o que hoje se tem de
Angola foi o Terreiro de “Kalebetan ”. Da Nação de Muxicongo foi fundado por Maria
Santana Coquejo Sampaio Mameto Malandizambi, conhecida como “Maria do
Calabetão”. Dali saiu a Sra. Juvita Sousa Santos, com o Terreiro na Rua Virgílio
Gonçalves 20/A Pero Vaz Liberdade. Outra pessoa que também saiu desta Casa foi o
Sr. Esmeraldo Emetério de Santana, figura extremamente conhecida e respeitada que
vive ainda hoje na Bahia sendo sem dúvida uma das maiores autoridades para se falar
das raízes do povo se Santo de raízes Angolanas no Brasil. Ele é conhecido por
“BENZINHO”. Foi Presidente da FEDERAÇÃO Baiana do culto Afro-Brasileiro, fundada
em 24/11/1. 946, funciona hoje em Salvador no Pelourinho à Rua Alfredo Brito 39
primeiro andar.
Assim sendo pode-se dizer da nação de Angola hoje quem não é filho de Bate Folha o é
de Tumba Junçara, uma vez que as duas que vieram de “MARIA NENEM” e geraram
todas as outras, inclusive o conhecido Joãozinho Da Goméia.
Da raiz de Marinhinha de Brotas é que veio a Mãe Paulina de Oxossi que iniciou a Mãe
Gloria que hoje é titular da Casa de Ogun Lodé e Oxum Apara que com a morte de Mãe
Paulina tirou a mão de Vumbe com a Iyalorixá Mãe Sílvia de Oxalá Filha de Pai Caio de
Xangô, que foi iniciado por Mãe Gilu “CASA BRANCA ”, Que por sua vez foi iniciada por
BOMBOXE, que iniciou Mãe Aninha, que iniciou Mãe Senhora. Com a passagem de Pai
Caio a Ekede Angelina repassou os conhecimentos que a jovem Iyalorixá iria precisar
para ser a Líder do AXÉ ILE OBÁ. Mãe Silvia recebeu também a ajuda do Pai Air “PILÃO
DE OURO DE OXAGUIÔ, filho de Mãe Caetano, que era filha de BOMBOXE.
Ogan Geraldo fui iniciado por Geraldo Augusto de Oxalá, filho do Tateto
Orladino Pimentel do Rio de Janeiro, após o que deu cabeça para tata Ciaco de
Omulu, dos tempos idos de Tata Fomotinho, Joãozinho da Goméia e fui
confirmado pelo Sr.Cesar de Oxalá quem lhe deu os direitos de tat’etu dia nkisi,
que foi iniciado pelo Babalorixá João de Ogun que foi iniciado por Tata
Fomotinho. Hoje tem como seu zelador Babalorixá TOSSYNANDÊ. (Existiu uma
fazenda em Cachoeiro na Bahia que se chamava “ FAZENDA DOS VENTURAS”. Seu dono
Manuel Ventura era filho de SOBÔ. Sua esposa, Maria Angorençe era de Bessãe e foi a primeira
filha de Santo de da Mãe do JEJE MAHI da Bahia, LUDOVINA PESSOA DE OGUN TOLU.
Ela foi quem trouxe para o Brasil os Exus XEROKÊ, o guardião dos VODUNS e Exu TIRIRI, o
guardião dos ORIXÁS. Do oitavo barco de Angorençe foi que nasceu o TATA FOMOTINHO
DA OXUM DEUI, de quem todos falam, mas poucos sabem de onde ele veio. De Cachoeiro
Tata Fomotinho levou o JEJE para o Rio de Janeiro, onde se instalou. E sempre bom lembrar que
Tata Fomotinho foi o iniciador de Pai Jão de Ogun que todos o povo de JEJE aqui em minas
ouve falar, mas também só os mais velhos conseguiram reconhecê-lo.
Da Raiz de Tata Fomotinho também saiu, mesmo que de forma indireta o já falecido
Geraldo Augusto de Oxalá, aquele que iniciou o Tatetu OGUNJALAGBÔ, o OGÃ Geraldo
de Ogun que recebeu os direitos do Pai Cesar de Oxalá. Como todos nós por força do
Orixá sempre voltamos à origem, hoje o zelador do referido ogã é, com muita honra,
o Sr. VAUSTENIR. Mas quem é esse Vaustenir? Alguém já ouviu falar este senhor
Vaustenir Nascimento? É, acho que não, não é mesmo? Pois é, ele é dono de uma
linda medalha da COMENDA merecida pelos seus serviços prestados à sociedade.
Agora se falarmos assim quem conhece o Babalorixá TOSSY NANDÊ? agora sim todos
conhecem. Pois é ele e o senhor Vaustenir são a mesma pessoa. É que a pessoa
quando se dá ao Santo incorpora a sua nova (antiga) identidade que o seu antigo
(novo) nome passa por despercebido.
Falar dos serviços prestados pelo Babalorixá Tossy aos candomblecistas,
principalmente de Minas é deprecia-lo porque estaria falando menos do que o que ele
merece dado aos inúmeros atendimentos que ele se dispõe a fazer para qualquer pessoa
do Santo que se encontre em dificuldade espiritual, e o que é mais interessante é a sua
diversidade seu conhecimento se perde dentro das várias nações do candomblé. Parece
que ele “nasceu p’ra coisa”. Ele é filho de ADUEFÃ de AZUANI (Valdomiro de
Xangô), do Parque do Fluminense nação FONKETU. O seu Santo saiu na sala na
Muzenza, (nação de angola) isto devido ao seu Orixá de Ory. Com a morte de seu
iniciador, ele ficou da caída do Kile até o último Rumblê aos cuidados ZÉ MAKU, o
OJO TORUECY, filho de Tatá Fomotinho em São João do Miriti. Daí para cá seu Santo
era tratado pelo ‘recém falecido, Ogã Menan de Odé, filho carnal de Berençe de Agué
que foi o primeiro AGUÉ do Rio de Janeiro , filho de Tata Fomotinho, fato ocorrido
em São João do Miriti).
Então pelo lado da Mãe Glória temos a seguinte linhagem:
Mona Andarezo
Nkice Tingongo Mançu Dende Kenke Tumba Junçara Marinhinha
de Brotas Maria Paulina Mãe Silvia e Mãe Glória da Oxum.
É evidente que se fossemos aqui adentrar na cultura sudanesa que não é o nosso
propósito neste trabalho teríamos que estar aqui também falando de “Tio Rodolfo”,
Bomboxe, o Essa OBIOTIKO que iniciou Aninha, a IYA OBÁ BIYI, que iniciou Senhora da
Oxum que fundou o Terreiro de Opo Afonjá e que iniciou Mãe Ondina, que iniciou Mãe
Stela de Oxossi, ‘Odé Kaiode’, que hoje é a titular do Opo Afonja.
Mas o que mais me interessa neste trabalho é falar daqueles que não apareceram
durante o curso da história e que, entretanto pertencem ao povo Bantu. Eu me refiro à
linhagem sanguínea direta, por exemplo, da minha família.
O Pai Geraldo é filho Sr. Serafim, negro falado e respeitado na região de Rio
Casca, procedente do Rio de Janeiro que está sendo reverenciado no livro por
mim escrito ainda em forma de pesquisa cujo título é “Da África até a África”.
Aquele que interessar mais informações sobre este trabalho é só contatar-me.
Meu grande objetivo é descobrir porque consigo curar as pessoas com um
olhar, com um gesto, com uma palavra, com um copo d’água e etc., sem que
para tal não precise de nenhum embasamento científico. É evidente que essa
coisa não acontece ao meu comando, até muito pelo contrario, se a vaidade
operar em si de nada adiantará um copo d’água que eu oferecer a uma pessoa,
mas por outro lado se eu permitir que a coisa flua com naturalidade aí os
resultados são surpreendente. De onde terá saído este Dom que a todos
assusta. O seu carisma tem sido objeto de crítica e isto veio lhe intrigando
durante a sua vida e Ogã Geraldo vem investindo o que tem e pode para
descobrir a verdade deste povo humilde que de forma nômade veio do Rio de
Janeiro até Belo Horizonte no Estado de Minas Gerais.
Como chegou até a essa Faculdade já está documentado e registrado no CENTRO DA
MEMÓRIA dela, agora resta falar daqui para frente.
Em visita à África ano 1.998 estagiou em algumas aldeias que realizavam tratamentos
tradicionais naturais e trouxe algumas experiências atualizadas que passará a relatar
agora:
A SAUDE E O SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA DE LUANDA
O sistema de distribuição hidráulica em Luanda é muito precário o que na minha
forma de ver é a principal causa das maiores doenças que assolam o lugar, dentre as
quais estão à malária, o impaludismo e a febre amarela.
O sistema hidroviário funciona mais ou menos assim:
Em CAQUACO (uma cidade vizinha) tem um rio chamado de Rio Bengo. Lá tem estação
chamada de Kifangondo (4), de lá a água vem até Luanda em dutos sem um bom
tratamento. Esta água só não abastece Luanda, então vem da mesma forma de outra
cidade retirado agora do Rio Kwanza onde está a estação de KIKUXI. A água de Kikuxi
atende a Luanda /sul e a água de Cacuaco atendia o restante de Luanda.
Os tratamentos eram feitos nos bairros da MAIANGA, MARÇAL E KAZENGA.
Este tratamento não eram reconhecidos pela população que tinha claro que se
quisessem uma água com qualidade melhor teriam que adicionar em suas residências
quatro gotas de hipoclorito de sódio (H2NACL+ O) para cada litro d’água.
Só que este cuidado só tem aqueles mais cuidadoso porque o restante da população
usa a água basicamente como ela sai dos rios
VISITA A CASA DE TERAPEUTAS TRADICIONAIS DE LUANDA.
Conheci um amigo com o nome de João Mutondo, que me convidou para conhecer a
sua mãe que trabalhava com plantas medicinais para curar as pessoas da sua
comunidade e que era conhecida por quase todas em Luanda. Lá se foi eu. Constatei
que realmente a senhora YAMEZÔ CATÊTÊ era possuidora de um conhecimento muito
grande de tratamentos naturais através do os quais ela criou todos os seus filhos
4
Entendimento: aqui morreram os que vieram da terra de Ngondo para lutar em defesa de Angola.
Ela era de Malange e seu nome estava ligado a um pássaro que habita as florestas e
tem como característica fingir de ferido toda vez que se sente perseguido por um
caçador. Ela aprendeu os segredos e mistérios duas curas com uma velhinha que lhe
valeu quando o seu filho estava muito enfermo. E daí toda vez que a velhinha lhe
passava algum fundamento lhe cuspia na mão para que ela não esquecesse os
fundamentos daquele medicamento pudesse passa-lo para as pessoas.
Com esta senhora naquele dia eu aprendi muito fundamento dos Malanges. Mas
também ela me reconheceu também como um terapeuta com fundamento. (vide fotos
e gravações).
Para ela o dialeto quimbundo nasceu em Malange, sua terra, se expandiu através de
Malange norte Angolano, depois veio para o Kwanza Norte, depois Bengo do Norte em
Kwanza sul, depois sul do Uige, chegando até Luanda. Disse-me ela que a palavra que
deu origem ao nome Angola veio do rei Ngola Kiluange do Reino de Ndongo. O que
não pude comprovar nos meios legais culturais de Luanda.
Eu sabia que em Luanda se falava muito mais o UMBUNDO do que o KIMBUNDO que
era ao dialeto oficial da cidade. Isto me pareceu uma questão política que tinha a ver
com os domínios do regime político que estava na situação, o MPLA (Movimento para
libertação de Angola) tendo como oposicionistas a UNITA.
Desta forma fiquei sabendo que no norte de Luanda falava-se o Cambinda e o Fiote o
Kimbundo e o Kinkongo. e no centro sul fala-se o Umbundo e no sul fala-se o
Kwuaiama.
Esta senhora falava muito melhor o Kimbundo do que o Português o que me dificultou
bastante a comunicação. Ela utilizava para realizar suas curas por demais o processo
de ventosa para ela chamada de Nzungo. Este processo era através da utilização de um
chifre de vitelo que vedado uma das extremidades com cera de abelhas fazia-se a
sucção de sangue de uma região que previamente se havia feito uma cisão com um
material cortante.
Este sugar pode também ser feito com auxilio de fogo.
A mistura de ervas que ela utilizava outra arma dela contra os males. Hepatite ela
curava com MUKUNDO
Com a raiz de MUNSOXI curava os gases intestinais.
Com Mutundo (uma espécie de bálsamo) ela curava dor na coluna e ainda fazia
purgante, alias quase todos os males ela cura com purgantes.
Epilepsia ela curava com a mistura de MUSSOXI, NDUNDULO E MUZUKU.
A loucura e seus sintomas ela curava com a mistura de UNGUNGU, SACAMBA E
UNDONDO.
Mas o seu principal remédio era aquele feito com a raiz de MUNKONDO, com o ela diz
Ter criado todos os seus filhos que cresceram fortes e sem doenças de médicos.
IGREJA FONTE ESPIRITUAL DA ESPERANÇA.
Com sede no Município do Cazenga, na Cidade de Luanda foi fundada em 25 de
Agosto de 1.967.
Seu titular hoje é o Presbítero Paulo Alberto
Nesta Instituição realiza-se trabalhos de curas espirituais e de outras várias
enfermidades da população carente do lugar.
Este trabalho vem sendo reconhecido por todas as instituições oficiais do Pais,
conforme documento apresentado a mim pelo titular expedido pelo “MISITÉRIO DA
CULTURA” do Instituto Nacional para assuntos religiosos alem de reportagens nos
jornais locais.
Nesta Casa foram colocados vários símbolos ancestres para que eu definisse cada um
de seus valores dentro dos fundamentos Bantu, e isto na presença de repórteres,
jornalistas, antropólogos e terapeutas tradicionais, além é claro na presença de todos
o corpo de fieis daquela Casa Nacionalmente reconhecida.
O meu desempenho a todos impressionou ocasionando uma repercussão de destaque
nas emissoras de rádio Nacional de Angola Radia Cultura de Luanda, e rádio Luanda,
que veicularam a notícia de minha estada em Luanda em todos os dialetos possíveis
para que atingisse as mais distantes províncias Angolanas. (vide fotos a respeito)
CENTRO DE MEDICINA TRADICIONAL PAPA NSWANA
Com sede no Bairro Rangel em Luanda
Papa Nswnana é um terapeuta reconhecido também dentro do universo dos
terapeutas tradicionais de Luanda. Ela é Proveniente de Luanda, região
reconhecidamente como cheia de histórias maravilhosas em relação aos valores dos
SOBAS daquelas plagas.
As suas atuações junto à população em Luanda é semelhante aos de mais, com um
trabalho bem amanteigado com as instituições médicas oficiais.
O que mais me marcou nesta visita foram os aspectos de reconhecimento dos
trabalhos terapêuticos por mim realizados aqui no Brasil o que assustava a todos em
Luanda e principalmente o PAPA NSWANA, pois pouco ou quase nada diferenciava
daqueles que eles realizavam lá. Inclusive a identificação de uma planta medicinal feita
por mim na ocasião o deixou inteiramente pasmo, pois ele ficou sem saber como eu
tinha total domínio dos efeitos terapêuticos da planta que tinha como símbolo máximo
sagrado da sua instituição. Assustadíssimo fiquei quando me deparei com assa
situação. Parecia que tudo estava esclarecendo, pois meu iniciador dentro dos cultos
afro brasileiros já havia me falado que meus ancestrais teriam vindo da região de
Lunda, possivelmente de uma região já extinta chamada de LODE. (vide palestra por
mim realizada no primeiro seminário Nacional Afro brasileiros realizado nesta
faculdade de Medicina em 1.991).
Da mesma forma que eles ficavam intrigados, eu também de minha parte igualmente
ficava.
Isto foi uma constante durante a minha pequena estadia em Angola. Chegava ao ponto
de eu ser reconhecido como um ANCESTRAL que teria voltado à sua família pela minha
facilidade em desdobrar as insinuações fudamentais que me eram apresentadas como
isca para saberem se eu tinha ou não conhecimento dos segredos das culturas
consideradas “chaves” para os mudiakime (5) e para os cotas ligados às tradições da
orientação e das curas tradicionais Naturais tribais.
Alguns exemplos de plantas medicinais africanas
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ABÚTUA= planta trepadora frequente nas florestas virgens das regiões
montanhosas de GOLUNGO ALTO. onde tanto as raízes como as folhas, casca e os
frutos são empregados no combate à diarreia, corrimentos uterinos e mordeduras
de cobras.
AMENDOA DESANHA = árvore de tamanho mediano da famílias das antocarpáceas
que dão uns frutos do formato de uma abóbora, onde as amêndoas são comidas
cozidas depois de decascadas.
BÁLSAMO DE SÃO TOMÉ = Muito utilizada na Ilha para a cura de feridas rebeldes.
BARBA- DE- MULEMBA = Raiz aérea indicada para as lavagens das úlceras rebeldes
e nas febres exantemáticas.
BOMOLA = também conhecida como quimbaba roxa, ou quimbaba do Mussengue,
ou quimbaba do- Lungo. Substitui a quina (sob. Este aspecto é bom observar que a
quina é o medicamento indicado para a combater o PALUDISMO, sabendo-se ainda
que este é o mal que nos dias de hoje mais ataca a população de ANGOLA PORQUE
ELE, O Paludismo é a primeira fase da MALÁRIA , DOENÇA QUE MAIS MATA HOJE
EM ANGOLA.
CASCA DE FRUTO DE MULOLO = Arvore pequena existente em todo o sertão
Angolano, utilizado no combate às úlceras.
CASCA DE MUBAFO = Usada como anti sifilítica e anti escorbútica.
CASCA DE MUSOSO = Empregada no combate das tosses crônicas.
Pessoa já muito velha que necessita de anteparo para se manter de pé
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CASCA DE QUIMBELA= árvore gigantesca das matas virgens de Calungo Alto.
Semelhante à casca da Quina.
“CATELE BULA” da família das Labiatas, do grupo das escutalárias. Possui valores
sedativos e nas doenças de ações neoróticas.
LOSNA DE UMPATA = Planta com semelhança terapêutica a ARTEMISA(6), os
princípios amargos são tônicos e estomáquicos.
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Algumas curiosidades:
Azuelono
= Falam / Batula = Cortar / KUDIA XITO= COMER CARNE.
Batula Shingo = Corta Pescoço / Bumba = Trabalhar / kolombolo = galo
sanje= galinha / ofato = pato / Catuta = Problema / Malamba =preocupação
Uala ni maca = tenho problema / Caxolpa = feijão+ milho + carne de sol
Secu banda kina = Diembê = rolinha ou pombo / Lhamba = maconha / Dila Diemê =
Meu Marido / Dilonga = prato / Djina Die = Nome / Djina die inay = seu nome (
kibundo )? / Dpapera = Inflamação das Amgdalas / Emy uabuila = estou cançado /
Emyinguia kussussa = vou urinar / Engorméia = Noivo / Eye = voce
Eye uevo kiambote = ouviste bem ? / Eyô uala ngipata kiavulo = ele tem muita dúvida
Funje de Bombô = Angú de Fubá de Mandioca / Gindungo = Pimenta
Gindungo de Cambo = Pimenta pequena / Gindungo de Kimbundo = Pimenta Normal
Ginrumbo = muitas cabras / Ilia Kiambote = Bom Apetite / Imbondeiro = Árvore
Sgrada (mesmo que Baobá para os Nigerianos ) / Ingamuia Mussamba Mungeleja =
Vou Rezar Na Igreja
Mukunu = Outro / Ua mukata kiavulo = estas ficando muito
doente / Jingulamensu = abra os olhos / Kalakala Kiambote = Agora Trabalhar Bem
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Artemisia annua [Sweet wormwood, Artemisia]
Em 130 das 400 espécies do género Artemisia, apenas na espécie Artemisia annua se encontrou um princípio
activo, a Artemisinina, que tem uma notável acção antimalárica. Originaria da província de Hunan na China onde
foi usada na cura de numerosas doenças e dermatoses, a Artemisia annua foi recentemente redescoberta como
antídoto contra a malária. Anualmente 300 milhões de pessoas adoecem com paludismo e 1 a 3 milhões morrem.
A Artemisinina que se extrai da planta faz efeito 10 a 100 vezes mais rápido do que todos os antipalúdicos até
agora conhecidos: Há duas formas de aceder à Artemisinina a partir da Artemisia: a) Cultura Agro-industrial,
extracção com gasolina e fabrico de comprimidos; b) Cultura artesanal (familiar) e preparação de chás, quando se
adoece. A planta já está a ser divulgada e cultivada em países africanos (Nigéria, Quénia, Tanzânia e Uganda)
Bibliografia:
Rafi, Akbari ; Baghe, Mohamed (1970), Contribution à l'étude morphologique et biologique de l'entomofaune de
quatre espèces d'Artemisia : A. vulgaris L., A. campestris L., A. maritima L. et A. annua L, Montpellier: Valette, 1970,
141 p. [Thèse. Doctorat Ingénieur]
Kalakala Kiambote = Bom Trabalho / Kalakala Kiavulo = Trabalhar Muito
Kiemene mene = Já é Cedo / Kapuca = Cachaça feita de milho / Katamby = óbito
catana = Facão / Kebi = como / Kiassoko kiassoko = Chegou de Facto
Kibeto = Bater / Kifeli = Pouco / Kindula Uelo Montabula = Ainda Hoje recebeu
Pagamento / Kitaba = Paçoca / Kitade = Dinheiro / Kizaca = Folha da Mandioca
Kokonote
= Coco de Dendê / Komba = Cerimônia Fúnebre / Kuendaendar =
Quando Fores / Kuibana Sukidi = Dê-me o Açúcar / Lansan je = Matar / Lengo loca
= depressa / Maçoxi = Lá grima / Macuiu = Dívida / Mangiandendê = Dendê /
Maruvo = Vinho de Palma / Mbaza = cágado / Mbigi = Peixe / Moavile = meu
amigo / Môgoa = Sal / Momamy yamy = meu filho / Motambula Kitade = Recebeu
Dinheiro / Múkua = Suco de Fruto / Muzangala = Jóvem / Ngana kuenda = anda
Senhor (kimbundo) / Ngasaguidila = Obrigado
/ Ngassagdila kiambote = bem
obrigado / Ngassagdila kiavulo= muito agradecido / Ngola xoe = entender / Ngpata
kiavulo = muita dúvida / Opoko = Faca / Ouô = Bêbado / Pimenta = Pimentão
Rumbo = cabra / Sanjê = Galinha / Servicy yay = seu serviço / Servicy yay yamukuenda
kebi = como está indo o seu trabalho / Sukidi = Açúcar / Tululukue = perdão /
Toxica = Água (calão=gíria) / Tuye kukossa = vamos deitar / Tuye kussamba = vamos
rezar / Tuye mussu = vamos dormir / Uabalo muka kiambote ? = acordaste bem?
Uabalomuka = Acordar / Ualenga moenle = muito obrigado (umbundo) Uevo =
entender / Vumbi = Morto / Yamukuenda = anda / Yamy mukuenda kebi kiambote =
vai indo bem /
Assina este trabalho o Terapeuta tradicional, agora também reconhecido em ANGOLA
conforme documentação apresentada no ato desta exposição e que está à disposição
de quem de direito.
GERALDO ANDRÉ DA SILVA (Presidente e fundador da Casa de Cultura Lodé Apara)
www.lodeapara.com.br
Texto de apoio pedagógico para a aula de 28 de Junho de 2013 conforme programa do
semestre, no Centro da Memória da Medicina da UFMG.
http://www.youtube.com/watch?v=ShiPY_T19Bs