Seleção de Talentos dos Desportos

Transcrição

Seleção de Talentos dos Desportos
Extraído da Revista
âmbito – MEDICINA DESPORTIVA
ano IV – número 40 – fevereiro de 1998
Seleção
de
Talentos
Fundamentos Teóricos
dos
Desportos
-
Antonio Carlos Gornes
PhD., Professor da Universidade Estadual de Londrina / PR
Faculdades Metropolitanas Unidas de São Paulo /SP
Diretor Técnico do Clube Atlético Paranaense de Futebol
Abdallah Achonr Junior
Mestrando Atividade Física e Saúde / UFSC
Professor da Universidade Estadual de Londrina / PR
Introdução
A seleção de talentos nos desportos é um assunto de muito interesse para treinadores e
pesquisadores. Existe uma série de estudos que mostram diferentes direções com relação à
seleção dos jovens para o desporto de excelência.
Após reunir alguns importantes estudos e analisá-los detaIhadamente, procuramos
sistematizar um modelo teórico para a seleção de talentos nos desportos de alto nível.
O problema do diagnóstico e seleção de talentos nos desportos advém de vários
aspectos como social, econômico, ético, pedagógico, etc. A orientação técnica fundamenta-se
sobre os indicadores específicos dos desportos, os quais realizam-se em forma de testes
normalmente oriundos das manifestações motoras específicas, Makarenko (7).
Este estudo dedicou-se em determinar alguns procedimentos práticos da seleção de
talentos. O grande interesse nasceu na intenção de tentar explicar o crescimento rápido dos
resultados esportivos ocorridos na atualidade.
As aptidões inatas constituem a base
das capacidades motoras que auxiliam
no desenvolvimento e aperfeiçoamento
dos níveis desportivos
O principal objetivo do desporto consiste em alcançar o resultado máximo do atleta. Por
isso, torna-se necessário selecionar jovens talentosos, os quais possam com segurança atingir
altos resultados desportivos em situações extremas, o que é característico nos desportos de alto
nível.
A seleção deve ocorrer com base na revelação e avaliaçâo das capacidades bem
determinadas e estáveis do jovem, as quais poderão ser consideradas numa unidade dialética
somada ao produto das capacidades inatas e adquiridas por meio de estudos específicos,
Matveev (5).
As aptidões inatas constituem a base das capacidades motoras que auxiliam no
desenvolvimento e aperfeiçoamento dos níveis desportivos, Maskatova (6).
O resultado desportivo não depende essencialmente da aptidão inata, mas sim das
chances propiciadas para alcançá-lo. A capacidade de sucesso deverá ser estruturada no início
do trabalho, onde deve-se distinguir, por exemplo, dois indivíduos com aptidões iniciais similares,
mas com possibilidades de se manifestarem diferentemente ao longo do tempo, dependendo da
experiência fenotípica (5). Dessa forma, temos que saber discernir as aptidões apresentadas pelo
jovem no momento da seleção de talento com as suas possibilidades potenciais competitivas no
futuro.
A hereditariedade apenas limita o potencial, mas as capacidades se desenvolvem no
processo da antogenia sob a influência social, educacional e de treinamento. Consideram-se as
capacidades motoras como características individuais que permitem um desempenho efetivo no
desempenho atlético. Serguienko (9). Daí, podemos concluir que o desempenho ótimo é
determinado pelo complexo das capacidades, inatas e adquiridas. Dessa constatação, se faz
necessário obter informações sobre os índices das capacidades motoras para beneficiar o
desempenho atlético, o que ajudaria a selecionar os métodos mais efetivos no momento de
identificação e formação dos jovens talentosos.
ALGUMAS FORMAS DE SELEÇÂO DE TALENTOS NOS DESPORTOS
1 - A seleção de talento desportivo procura verificar as aptidões dos jovens nos treinos
de diversas modalidades desportivas, como nas atividades típicas, de jogo e de coordenação
complexa, etc.
2 - A seleção desportiva realizada nas etapas principais do treinamento de muitos anos
tem como objetivo revelar os jovens talentosos para os meIhores resultados nas mais diversas
modalidades desportivas.
Contudo, para se obter resultados significativos é imperativa a continuidade entre as
etapas de seleção e preparação do atleta.
3 - A seleção desportiva orienta-se corretamente para as competições; nesta etapa
selecionam-se somente os melhores atletas para a equipe principal.
4 - A seleção desportiva orientaria para a formação de equipes desportivas, por exemplo
equipes de remadores, desportos coletivos, deve procurar conhecer as compatibilidades
psicológicas dos membros da equipe.
Abrimos um parêntese para comentar que faltam estruturas organizadas com equipes de
profissionais inter-relacionando as áreas de conhecimento para selecionar e preparar
adequadamente os jovens talentosos, maximizando o potencial atlético. Sendo assim, incentivos
para organização de escolinhas desportivas é condição sine qua non para garantir o sucesso
desportivo.
De acordo com Filin (2), a seleção e o controle da efetividade do processo de
treinamento podem ser identificados por meio de critérios em diferentes desportos de alto nível,
norteandose por faixas etárias. No quadro 1 podemos observar os modelos de etapas.
ETAPAS DA SELEÇÃO DE TALENTOS
A seleção de talentos nos desportos pode ser constituída de três grandes etapas. A
primeira tem como objetivo 0 aproveitamento da maior quantidade de talentos, onde ocorre a
seleção preliminar e a organização da preparação inicial.
Os critérios que determinam o aproveitamento das crianças e dos adolescentes estão
relacionados com a estatura, peso e constituição corporal, etc. A observação do treinador e
professor de educação física tem grande importância para uma seleção correta no decorrer dos
treinos, ou mesmo durante as aulas de educação física e nas competições. Para selecionar 2 ou 3
grupos de 20 jovens devemos observar mais de 100, Platonov (8). Os dados estatísticos apontam
que de 60 mil jovens observados na natação somente um se encontra no nível dos resultados
internacionais, Platonov (8); por conseguinte, somente um dos muitos atletas de elite torna-se
campeão olímpico.
A prática desportiva testemunha que, na primeira etapa, é muito difícil revelar o tipo ideal
das crianças possuidoras das qualidades morfológicas, Funcionais e psicológicas indispensáveis
para futura especialidade. As diferenças individuais existentes no desenvolvimento biológico dos
iniciantes dificultam esta análise. Por isso, convém nortear-se pelos dados obtidos na etapa
supracitada.
O ingresso na primeira etapa é destinado a crianças e adolescentes com exame médico
em ordem e que não apresentam problemas de saúde.
No final da primeira etapa deve-se observar os procedimentos de controle e as
competições. Para determinar o maior nível das possibilidades potenciais das crianças e
adolescentes é necessário não só o nível inicial de sua preparação, mas também o ritmo de sua
evolução desportiva.
No sistema de seleção deve-se levar em conta tanto os resultados iniciais como do que
eles poderão demonstrar posteriormente, ou seja, revelar suas capacidades na solução dos
objetivos e saber gerenciar suas atividades desportivas.
Outro importante fator relacionado ao resultado desportivo é atribuído pelo nível do
desenvolvimento das capacidades motoras e do ritmo de seu crescimento durante os processos
de treinamento especial, Zalzharov (11).
Uma proposta para avaliações do desenvolvimento da criança apresenta-se pela
estatura, peso, proporção do corpo, anatomia da coluna vertebral, da caixa torácica, da pélvis e
dos membros inferiores.
Posteriormente, avaliam-se as capacidades motoras das crianças.
O quadro 2 apresenta os controles pedagógicos para avaliação do nível do
desenvolvimento das capacidades motoras, durante a seleção de talentos.
Na segunda etapa o jovem deve ser observado com maior rigor. O treinador, com base
nas observações pedagógicas anteriores, já reúne condições de avaliar os jovens de forma mais
minuciosa, pois já teve a oportunidade de colher os dados nos exercícios de controle de treinos e
nas competições.
Os principais critérios nesta etapa constituem-se na análise do ritmo da evolução dos
padrões de movimentos e desenvolvimento das capacidades motoras, possibilitando prever as
metas do aperfeiçoamento desportivo.
O objetivo principal desta etapa é determinar o grau correspondente dos dados
individuais que serão apresentados na etapa de aperfeiçoamento. Nesta etapa são de grande
importância os testes de controle, competições e observações médicas e psicológicas.
Na terceira etapa (orientação desportiva) é onde determinamos a especialidade do
jovem. Para isso, analisa-se o atleta cuidadosamente para aumentar a segurança ao determinar
sua especialidade. Destacamos os principais procedimentos nesta etapa: medidas
antropométricas, observações psicológicas, testes pedagógicos, exames fisiológicos e médico e
análises sociológicas.
Por meio das medidas antropométricas pode-se selecionar alguns candidatos para
iniciarem na escola desportiva, desde que apresentem condições para um determinado desporto.
Os testes peciagógicos nesta etapa desempenham um papel importante nos resultados,
que geralmente formam o conceito da existência das aptidões do jovem, indispensáveis para
qualquer especialidade em diferentes desportos.
As condições potenciais do atleta dependem em menor grau do nível inicial das
capacidades motoras, sendo considerados como mais importantes os ritmos de seu
desenvolvimento. Segundo Bulgakova (1), os índices iniciais das capacidades motoras
correspondem somente a 13% do geral, com os resultados. Ainda, os ritmos somáticos de todas
as capacidades motoras nos primeiros anos (um ano e meio) correspondem a 89% do geral, com
os resultados depois de alguns anos de treinamento, Bulgakova (1).
Os ritmos de desenvolvimento das principais capacidades motoras são significativos no
prognóstico dos atletas. Isto é referenciado em casos estimados de atletas com perspectiva de
alto desempenho.
Devemos verificar os ritmos de crescimento do jovem durante o processo de seleção, o
que justifica-se como um componente importante no controle da idade biológica. Desta maneira, o
desenvolvimento das capacidades motoras e com a idade biológica permitem fazer o prognóstico
de um ou de outro atleta.
A seguir, apontamos o processo de seleção de talentos no atletismo mencionados por
Manso, haldizrielse, Caballero (4).
Os métodos seletivos nos desportos podem determinar em elevado grau os seguintes
fatores: somatotipo, habilidade técnica desportiva, preparação física geral e especial e
características psicológicas.
Por exemplo, nas modalidades de ginástica, os componentes herdados de crescimento e
desenvolvimento, a força relativa e a flexibilidade são relevantes para seleção de talentos.
Nos desportos de combates, a seleção de talentos é realizada com base nos seguintes
critérios: assiduidade, insistência, maturidade, rápida assimilação do conhecimento e formação
dos hábitos motores, existência de elementos criativos no processo de ensino e aperfeiçoamento
da técnica.
Por isso, no processo de seleção para os desportos de luta, convém considerar o estado
de saúde, o estado morfológico, o nível da preparação física e a capacidade de coordenação, que
influenciam na realização dos movimentos com maior exatidão de tempo, Godik, Popov (3)
(quadro 3).
Nos jogos coletivos as perspectivas dos atletas devem ser determinadas por meio de
análise das capacidades específicas, para aumentar significativaInente as condições de sucesso
na solução dos problemas técnico-táticos desportivos.
Os eventos desportivos favorecem o estudo das características do atleta, a saber: morfofuncionais, nível do desenvolvimento das capacidades de coordenação, capacidades de
solucionar os objetivos motores e pensamento tático, escolha e realização das recepções e meios
de condução da competição desportiva; estados emocionais em situações extremas.
No processo de seleção do atleta devemos considerar os seguintes componentes:
índices morfológicos, nível de preparação física especial, nível da preparação técnica, tática,
psicológica, possibilidades funcionais do organismo do atleta, capacidade de recuperação depois
de grandes cargas físicas e psicológicas.
A principal forma de seleção são as competições, volkov, Filin (10). Por isso, devemos
atentar para os resultados desportivos durante os últimos 2-3 anos.
Em seguida apresentamos um exemplo de controle e seleção de talentos na modalidade
basquetebol (vide quadro 4). A principal forma de seleção são as competições, volkov, Filin (10).
Por isso, devemos atentar para os resultados desportivos durante os últimos 2-3 anos.
Conclusão
O presente estudo evidenciou: O jovem não deve ser selecionado simplesmente por
meio de um teste, mas por um complexo de fatores psicológicos, fisiológicos, morfológicos, etc.,
que interferem direta e indiretamente no desempenho atlético.
A seleção de talentos não é imediata, ela é um continuum para o desenvolvimento,
perfazendo entre 2 a 3 anos aproximadamente; pois os resultados dos testes motores podem
apresentar respostas bem diferentes com o crescimento e desenvolvimento do jovem.
Os resultados normativos para seleção de talentos apontados neste estudo podem ser
diferentes na realidade brasileira, sendo necessário convergir esforços político-técnico-científicos
para obter informações sobre os índices motores (por normas ou critérios) em diversas regiões
brasileiras.
Considerou-se fundamental que se façam testes motores e exames mais minuciosos
para estruturar um plano de treino asdequado às possibilidades e especificidades de cada jovem
atleta.
Finalmente, o estudo fornece algumas sugestões para detecção de talentos,
intencionando fornecer subsídio aos profissionais do esporte para orientá-los e mesmo
estabelecer outros estudos para detecção e condições de continuidade de treinamentos para os
jovens talentosos.
Referências Bibliográficas
1 - BUI.GAKOVA, N. Seleção preparação dos jovens nadadores. Fisicultura e Sport, Moscou
1986.
2 - FII.IN, F. P. Desporto juvenil - teoria e metodologia. Ed. Cid, 1996.
3 - GODIK, M. A. La preparacion del futebolista. Deporte & Entrenamiento, Paidotribo,
Barcelona, 1992.
4 - MANSO, J. M. G.; VALDIVIELSE, M. N.; CABAL.LERO, J. A. R. Bases teóricas del
entrenamiento deportivo. Gymnos Editorial, Madri, 1996.
5 - MATVEEV, L. P. Preparação desportiva. Editora FMU, São Paulo, 1996.
6 - MASKATOVA, A. K. Fisiologia, seleção de talentos e prognóstico das capacidades
motoras. Ápice Editora, São Paulo, 1997.
7 - MAKARENKO, L. P. El nadador joven. Vneshtorgizdat, Moscou, 1983.
8 - PLATONOV, V. N. La adaptacion en el deporte. Deporte & Entrenamiento, Paidotribo,
Barcelona, 1991.
9 - SERGUIENKO, I. Genética e esporte. MI, "F e S". Moscou, 1990.
10 - VOLKOV, V.; FILlN, V. Seleção desportiva. F e S, Moscou, 1983.
11 - ZAKHAROV, A. Ciência do Treinamento desportivo. Grupo Palestra Sport, Rio de Janeiro,
1992.