Homem Palavra - KELTON GABRIEL
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Homem Palavra - KELTON GABRIEL
HOMEM PALAVRA 17 KELTON GABRIEL HOMEM PALAVRA O LIVRO PARA ACABAR COM TODOS OS LIVROS 18 DADOS INTERNACIONAIS PARA CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO DO G000 Gabriel, Kelton. Homem Palavra : O livro para acabar com todos os livros / Kelton Gabriel . – Castro, PR : K. Gabriel, 2003. 323p. ; 21,6 cm. ISBN ooooooooooo. 1. Romance brasileiro. I. Título. DEPARTAMENTO NACIONAL DO LIVRO CDD ooooooo 2003 Todos os direitos desta edição reservados à Editora Epipa. Rua Octávio Torres Pereira, 50. 84.172-530– São Paulo – SP telefone: (0**42) 3233 4709 19 Escrevi um livro. Talvez eu tenha que obedecer a tradição literária. Concebendo esse ritual, devo dedicar esse livro para alguma coisa. Pensei em dedica-lo para os vermes pioneiros que vão consumir minha carne, imitando um gênio da pena. Porém acho que devo dedica-lo para pessoas, pois sei que vermes não vão ler isso. Dedico para artistas, que foram além de seus limites, agradeço aos irmãos Campos por trazerem homens ao português, mesmo sendo apenas uma sombra dos originais. Livro esse também é dedicado para poetas, um certo Paulo Leminski, que brinca com seu “bicho alfabeto” coordenando as suas vinte e três ou mais patas, por caminhos que só ele atinge. Para nosso eterno Raul Seixas, que com sua filosofia foi responsável pela formação psíquica do Leucipo de Minas. Agora numa seqüência: Castro Alves, Érico Veríssimo, Leonardo da Vinci, Cazuza, Renato Russo, por falar em russo: Tolstoi, por falar em escritor: Miguel de Cervantes, por falar em gênio: Gandhi, por falar em pessoa: Mona Lisa, por falar em arte: Palavra, pois sem ela não haveria nenhum de nós aqui grafados. O jogo não teria graça. Bom, acho que nem haveria jogo, mas será que haveria homem? Ainda não sei, mas já sei pra quem dedicar esse livro, o dedico para o Homem Palavra. Surgeumacertaformadeexpressãonãomontadaparaserese xatos pedra além do drummond quixote além do cervantes palavra além do homem 20 ...É uma coisa que eu só consigo explicar por palavras: 21 QUEM SOU, DONDE VIM E COMO VOU... Existe um caminho lá em cima Um caminho onde o mundo rima Nesse caminho existe lá no fim uma cabana, cabana de alquimista. O alquimista, um velho com pena. Pena do azul, pena na mão Ele escreve para si, ele escreve para ele Ninguém entende, só ele, mais ninguém. Um alquimista poeta, poesia sem leitor Só ele lê, só ele escreve, mais ninguém. Eu entendo, eu sei o que é, só eu. Lhe digo que o poeta quer dizer: Que ninguém no mundo pode ler. Eu sou quem leu, eu sou quem escreveu, eu sou quem disse, mas não sou o poeta. Sou o alquimista, poeta é Deus. O deus além do egocentrismo. O deus além dos sentidos, deus-palavra. Eu sou deus, eu sou o homem, no fim... Sou deus, portanto sou homem, Eu sou o Homem Palavra. É só isso que sei de mim, nada mais. HOMEM PALAVRA 22 O HOMEM CRIOU A PALAVRA OU A PALAVRA CRIOU O HOMEM? 23 ARISTON DO VERBO O HOMEM CRIOU A PALAVRA OU A PALAVRA CRIOU O HOMEM? UMA AVENTURA EM MUNDOS INTROMETIDOS 24 AGRAMÁTICAÉUMAFERRAME NTANÃOUMALEI Isso deve ser bastante longo. A trilha por onde iremos passar será densa. Conhecimento aqui impera, pois não podemos distinguir imaginação disso. Ambos são apenas uma coisa. Essa viagem é um começo de algo que já começou. Mas isso cabe ao leitor julgar. Veja isso tudo, como termina. Longe de tudo que a civilização criou mora uma senhora. Ela é índia e, presenciou a extinção de sua tribo. Seu nome não existe. Sua língua é só dela. Ninguém no planeta pode se comunicar com essa senhora. Antropólogos encontraram-la em 1986, hoje ela ainda permanece em seu lugar predileto, onde nasceu e quer, talvez, morrer. Paula é órfã. Menina bonita e inteligente. Cresceu, estudou e formou-se em letras. Agora já sabe dialogar cinco línguas. Conheceu numa conferência estadual: Michael um antropólogo e Márcia uma autodidata. Essas amizades trouxeram grande influência intelectual em Paula. No dia certo, esses jovens se reuniram numa lanchonete. O assunto era gigante. Coisas como universo e fonte da vida, surgiam entre as palavras. Márcia era poderosa em filosofia. Michael governava relações humanas. Paula criava mundos com simples versos. Isso tudo só podia dar em samba. Cada sujeito era avaliado 25 como pedra preciosa. Falaram sobre o Papa, sociedades secretas, nova ordem mundial, religião, guerras, literatura, idéias e sobre si próprios. Dois anos depois, Paula pensava nos assuntos que conversou com os amigos. Sobre tudo o que foi lembrado, algo chamou sua atenção. Paula retomou as velhas palavras de Michael: “ estamos estudando um caso raro, trata-se duma mulher que mora só, pois toda sua tribo foi morta”, pensando Paula lembra o lugar onde Michael falou que ela mora. É no Peru. Recorda ainda das idéias de Márcia: “tudo é apenas uma coisa. Essa coisa é conhecida como Brama no oriente. Mas isso só é entendido além das palavras”. Paula fica contente. Acaba de encontrar sua tese para o mestrado. Basta encontrar a índia que não sabe conversar com ninguém. Mulher esquecida. Isso sentia Paula quando trabalhava. Longe de casa perto de Quito no Equador. Sua casa é em Belo Horizonte no Brasil. Sem amigos e sem namorado. Pesquisa boba bancada por restos de grandes dinheiros. Saber a deflexão do espanhol na América do sul. Paula achava isso uma bobagem, mas aceitou para não perder a chance de viajar. Todo dia Paula lembrava de sua vida solitária, debruçada sobre livros sem motivo algum. Sonhava em ser bem sucedida, ganhar bem, ter um bom carro e uma ótima casa, poder viajar todo ano para Europa e aparecer em revistas. Essas coisas que faziam sua vida mover. Jamais pensou em ser cínica e desprezar isso tudo, pois tinha grande medo das conseqüências. Sua vaidade era capaz de tirar horas de vida na frente dum espelho qualquer. Cada momento que comia algo ou se movimentava bruscamente, corria para o espelho verificar o estrago de tais atos. Queria estar sempre na moda. Tudo que ganhava como pesquisadora, gastava em sua vaidade, isto é, roupas e perfumes. Certa vez namorou um rapaz que trabalhava com equipamentos vindos da Zona Franca de Manaus. Era um sujeito 26 agitado, possuía um automóvel do ano. Talvez isso fosse o motivo do pobre homem pensar que era melhor do que um ciclista. Sempre estava atrasado. Jamais leu um livro na vida, mas sempre teve moral para usar uns óculos com quase zero grau, só pelo fato de ter uma aparência de intelectual. Não que o fato de alguém não ler, seja o fato que caracterize ou não, alguém como intelectual. Mas o fato desse indivíduo nunca ter parado para pensar. Seu namoro terminou logo, pois enquanto Paula falava sobre X, ele estava em B, ou até mesmo desvendando A. Paula constantemente praticava os idiomas que dominava. Sentia-se como a senhora que Michael falou. Já fazia três anos que estava em Quito e nunca encontrou alguém que conversasse em grego ou russo. Pior de tudo é se sentir como uma eremita. Tudo que sobrava para Paula era a solidão. Queria chamar atenção das pessoas pela capacidade intelectual. Mas ninguém ligava para uma louca que passa o dia entre livros e palavras. Seu medo era não ser compreendida é por isso que queria dominar muitas palavras. Vasculhando uma biblioteca, Paula encontra um livro. Seu título era: O QUE NÃO É, NUNCA FOI. Escrito por alguém qualquer. Tratava-se de contos filosóficos. Lendo um dos contos Paula encontra uma grande idéia. Era o princípio de sua tese. O mundo sem as palavras. Isso é uma questão super discutida por intelectuais. “O homem já sabe tudo”. Isso está no livro. Agora maceta as idéias de Paula. Que ao pensar muito escreve algo: As palavras tocam tudo tocam no que vejo, pego, sinto... tocam no que apenas sinto. tocam no que não existe e, fazem tudo existir, num simples toque. A única coisa que as palavras jamais tocarão, é a: 27 verdade absoluta, isso está além de tudo. Só pelo fato, de poder ser tudo... Sem palavras eu seria puro silêncio, pura ignorância, apenas um nada com tudo... Com palavras, sem verdade, mas terá sempre muita vida. Vida é pergunta, pergunta é palavra palavra é? Quem sabe a verdade? Palavra, tu és a maior invenção do homem, tão forte, tão grande que é capaz de destruir tudo que havia antes de ti e, construir uma fortaleza que nunca alguém que ali jaz poderá fugir, sou sua prisioneira, eu e toda civilização. Feliz quem está fora de ti, mas imortais os que são seus servos... A liberdade é a própria prisão. Palavras, vocês são a essência dos deuses. (PAULA) Essa espécie de poesia, fez algo crescer em Paula. Seus pensamentos são apenas destinados para tal questão: como é a vida dos surdos, mudos e cegos? Tentava de todas as formas alcançar um estado onde nenhuma palavra lhe atingia. Mas quando olhava para algo, logo pensava sobre a situação. Pensar sem palavras é difícil. Decepção sentia. Paula queria ser livre das palavras, mas não sabia que liberdade era uma palavra. A solução é entrar no problema. Começou a estudar línguas orientais. Sentiu que as palavras por lá, estavam bem mais próximas do mundo das idéias. Platão? Ele também era um prisioneiro, seu mestre foi o criador da arte fonética, isto é: dialética. Sócrates pensando palavras, viajando eternamente. 28 Talvez Gautama? Sim o Buda, ele pensava além das palavras. Um eremita, monge, mas é claro! Uma índia sem tribo. Novamente lembra de Michael e sua pesquisa. Paula pensa em ligar para o Brasil. Não. Isso não. Paula havia prometido permanecer no Equador. Michael é responsável por boa parte da pesquisa de Paula. Não poderá ela ligar para o amigo. Tudo deve ser escondido. Paula se dirige para a rodoviária em Quito. Pega um ônibus e um guia de antropólogo. Encontra o que precisa é um mapa das localidades indígenas no Peru. Quase em Amazonas. Ar fresco. Ar selvagem. Lá estava Paula, num lugar onde nunca pensou que viveria. Já no primeiro dia sente os problemas. Sem médico, sem casa, sem comida pronta, sem livros, enfim sem nada, mas com tudo. Longe das coisas civilizadas, mas perto de sua essência. Só ela, o medo, a curiosidade, a floresta e a vida. Só isso que ali consta. Paula prepara acampamento, não tem ninguém de companhia. Uma estrada. Estrada essa que marca em Paula a segurança e, marca em si as linhas que pneus lhe feriram no barro de sua existência. Paula quer saber onde e quando deve andar. Quer encontrar a senhora que sabe o que ninguém sabe. A mulher isolada com fonemas alienados exclusivos. Amanhece o dia, Paula acorda do sono que teve acordada, pois seu medo não lhe permitiu a chave do sonho. Olhos cansados em coisas cartesianistas. Paula e seu GPS, em plena ação. Ainda faltam trinta e dois quilômetros para Paula chegar na tribo de um índio só. Vontade de fazer. Isso é quem regia a dama da floresta. Problema é a solução. E, que problema! Paula e uma onça, cara a cara. Curiosidades cautelosas de ambas as partes. Uma palavra aqui, um bramir lá. Será línguas distintas? Para Paula isso em sua percepção é onça. Para a onça Paula é Paula? Dúvida que pouco teve atenção da humana, pois 29 passou muito tempo agarrada nos galhos de uma árvore. Se Darwin visse isso, teria muita dúvida em sua teoria dogmática. Paula teve paz quando sua amiga onça, foi procurar outro alimento. “Que é que há dentro de um nome?”, pergunta difícil Paula encontrou. Onde? Em Ulisses de James Joyce. Sim, isso mesmo, ela carrega alguns livros. O mundo das palavras trouxe algo complexo para uma mente apenas. Caminhando e pensando Paula encontra na floresta uma pedra. Seria apenas uma pedra, se Paula não tivesse almejado algo além da pedra. “o que será que tem essa pedra?”. Não conseguia sentir o mundo platônico. Outra vez caiu em desespero. Encontrou uma pedra sem lógica criada. “Palavra pedra, o que isso quer dizer? Um nome, um símbolo. Opa! Espera um pouco. Símbolo?”. Paula sabe muito. “Quem nessa viagem entende mais de símbolos do que Jung?”. Lendo bem alto a idéia: “um símbolo não encerra nada; ele não explica. Ele remete para além de si mesmo, em direção a um sentido ainda no além, inatingível, obscuramente pressentido, que nenhuma palavra da língua que falamos poderia exprimir de modo satisfatório.” Paula sente que alcançou uma ponta de resposta. E, após muito pensar tenta responder: “uma coisa não pode saber o que é, portanto meu caro Joyce dentro de um nome existe outros nomes”. Fim dessa pergunta. Começo de um descanso. Ola! Eu sou quem está contando essa história para você. Tenho sido muito implícito até aqui, mas não tenha medo; isso é apenas para tentar abusar da síntese. As coisas estão começando melhorar, já estou parando de me esconder por detrás das palavras. Você está começando a entender melhor. Não precisa pensar muito daqui para frente. Vou utilizar mais palavras e, terminar com clareza as orações, ou quase isso. Paula já está dois dias na floresta equatorial tentando encontrar a índia que 30 Michael lhe falou um certo dia. Com fome e preocupada ela queima os livros que carregava, queimou Ulisses para preparar o último pacotinho de macarrão instantâneo. Queimou os livros seguintes: O QUE NÃO É, NUNCA FOI, A SACRALIDADE DA EXPERIÊNCIA INTERIOR, POR QUEM OS SINOS DOBRAM e a ODISSÉIA. Esses livros foram consumidos pelas chamas da necessidade, pois Paula precisava se esquentar após uma grande chuva. Sua barraca foi destruída por um galho de árvore. Paula só estava com a roupa que vestia quando completou sete dias na floresta. Nesse mesmo dia Paula cai de fome no meio do nada. Sua vida agora depende da única habitante humana num raio de cem quilômetros, é a índia da língua morta. Paula está fora do mundo das palavras, está em coma e molhada com terra ou lama. Tudo em sua volta parece ser uma danceteria com um som de fundo baixo e lento, está se recuperando do coma ou desmaio. O som é os fonemas perdidos, que Paula tanto procurava. A índia lhe salvou a vida. Estou agora me ocultando novamente, as palavras serão fontes divinas para a compreensão sua desse passeio. Leia com muita atenção. Enquanto Paula está viva na floresta amazônica, Michael e Márcia estão almoçando em Belo Horizonte. Márcia prática uma mastigação rítmica numa deliciosa polenta com queijo e frango, já Michael limpa com infinita distração os dentes tortos retirando com a ponta de um palito roliço de madeira. Junto com Márcia e Michael moravam mais dois acadêmicos; um era Marcos e a outra Rose. Tinham muitos assuntos para falarem após as refeições. Rose almoçou fora esse dia e chegou gritando com muita euforia: - E aí cambada! Que tal um lance estranho para digestão? 31 - Qual é? – perguntou sorrindo Michael – que lance é esse? - Isso, - Rose retirou de sua bolsa vermelha um papel impresso apenas em uma página, e mostrou para todos – o lance é essa pira. Márcia se aproximou do papel e com olhos perscrutadores consumiu lentamente as primeiras linhas do texto. Michael com um cheiro de polenta transpirando de seu sistema respiratório encosta sua cabeça no ombro de Márcia e acompanha a leitura. Marcos que acabara de acordar fala com olhos fechados e com voz rouca: - O que é que está pegando? - Coisas, - disse Rose – isso é que ta pegando. - Que tipo de coisas? Sua loque. - Sei lá! Deve ser do demo. - Demo? - É, achei atrás da igreja. Marcos se aproxima da carta e começa a ler para todos: - ... sujeito execrável, como pode se enfunar onde está desatada a dúvida? Lua meia, sempre mantendo claro esses um caminho; saber tinir tudo que para ti é martelo parece processo incrível. Qualquer marcação que possa ocorrer nisso, pode provir de um orgasmo do sonho dos princípios. Pesadelo mitológico é bastante possível nessa volúpia degradante. Portanto mexa apenas... - Meu Deus! - exclamou Michael interrompendo a leitura – que diabos é isso? - Como você é interessante Michael – disse Rose – em apenas uma frase falou de Deus e Diabo. - Michael está certo – comentou Márcia – essa carta não é bem normal, repare que ela começa com três pontinhos, isso quer dizer que ela não é o começo. - É, deve ser uma página de um paque perdido – completou Marcos – eu já ouvi falar em pesadelo mitológico. 32 - - - Claro seu louco, - Michael falou colocando a mão no bolso para coçar a virilha – é uma música do Raul seixas, lembra maluco? É, sim. Você é bem porco, - gritou Márcia ao ver Michael retirar um excremento do nariz – temos que decretar uma lei, que proíba a entrada de pessoas no apartamento que não tenham tomado um banho se quer nas últimas vinte e quatro horas. Ah... cala boca sua vadia, - disse com humor Michael – eu tomei banho, é que vê... uns dois dias. Porco.– complementou Márcia. Calem a boca, vou terminar. – disse Marcos - achei é ... mexa apenas no movimento celestial do personalismo ório ente. Mechas é possível se mexer bem calado na instituição qualquer. Direito todos tem, uns de mandar, outros de obedecer, ainda há aqueles que tem direito de ignorar isso tudo e transeunte na cabeça. Mas, quem pode, também deve? Não deve ser não, pois sim já é clássico em todos os burros I-A. Meu sentido agora é bastante nítido, as coisas vêm e vão como se realmente não fossem nada além de ilusões precárias, depois dizem que não é certo tal egoísmo. Parece... Peidei. – disse Michael. Porco. – complementa Márcia. Deixe-me ler, seus filosofastros malucos – Marcos disse carinhosamente – eu estava aqui é... parece que quem dita tal regra é exatamente igual ao que decreta hediondo, são coisas que temos que aprender, um filósofo deve ser faxineiro. Todo amor que houver nessa prateleira, tu podes pegar, antes pagar, ta bom? É, aprendeu bem querido! Isso é a vida, não fuja dessas regras bem, tudo certo? Sim IA. É, isso que dizem pra ser, não é não, mas sim também é não, um não a si mesmo, por agora basta, não me pergunta o porquê, já existe muita 33 explicação nesse canto, agora crie mais questões, por favor, rapaz, crie muito, não pare, tem muitos explicando, mas poucos perguntando, pois perguntas são perigosas para explicadores de tudo. Cuide se tu fores um meu caro, nem pense em ter lido isso... - Meu pai! – gritou Rose – será que ele vai nos matar? - Sai fora sua louca, - respondeu com intimidade Michael – esse cara é louco igual ao meu professor de filosofia, isso não sabe nem onde está esse papel, vai saber onde estamos. Um silêncio tomou conta do ambiente. Marcos pensativo relia o papel só para ele, Márcia pensava no que significava o I-A, Rose lembrava do lugar onde havia encontrado o problema e já Michael continuava a bulir em seu nariz e a terminar de ler Casa Grande e Senzala de seu ídolo Gilberto Freyre. Reunião noturna. Jovens de férias querendo aventura. Uma mesa onde constava os quatro e um papel achado na rua que tanto fez. Lá estavam Michael com sua mão trabalhando agora na espinha que possui na nádega, Rose com seus óculos fundão de garrafa, Marcos com seu jeito morto vivo e Márcia com sua beleza de “patricinha”. A epistola misteriosa estava prestes a sofrer uma autopsia etimológica. Márcia ao começar o processo fonético, lembra vagamente da amiga Paula. Michael também tem essa lembrança e pede para seu subconsciente lembra-lo de ligar para Paula após a reunião, só para ver como está a pesquisa que tanto lhe interessa. - Isso está parecendo RPG. - disse Márcia. - Nada a vê, mas tudo bem. – retruca Marcos. Lendo a primeira linha, Rose se espanta: - Esse cara manja muito, vocês pegaram a idéia que se camufla detrás dessas loucas palavras? - Acho que só iremos entender quem é esse sujeito se encontrarmos o restante da história, se é que existe. – disse Marcos 34 - Acho eu, - continuou Rose – que esse sujeito possa a ser o leitor, pois repare o que ele disse no final: “nem pense em ter lido isso”. - Sim, é claro! – exclamou Márcia – esse sujeito execrável é o leitor curioso que penetra onde a dúvida está aberta, quer dizer sem pergunta. - Sem pergunta? – pergunta Michael – como pode uma dúvida existir sem pergunta? - Elementar meu caro Michael, – responde Márcia – a dúvida está junto com a curiosidade e a pergunta está junto com as palavras, ou melhor, junto com o texto que até ali ainda não foi lido. - Matou a charada Márcia, - fez-se ouvir Marcos – nós somos os sujeitos execráveis. O desempenho da equipe intelectual está aumentando, a carta encontrada por Rose fez o que tinha que fazer. Mas, nem todo a noite de pesquisas e pensamentos foi suficiente para explicar totalmente a razão da carta. Rose prometeu em vascular o local onde encontrou o papel, para que talvez possa encontrar o resto da possível história. Oi! Sou eu de novo, quero dizer para você não ficar mais impressionado com o vocabulário dos habitantes do apartamento. Eles moram juntos há muito tempo e é esse motivo que lhes dá o direito de terem tamanha intimidade. E, eu que sou apenas um simples narrador, não tenho o direito de impedir a liberdade de expressão de qualquer ser humano que aqui conste. Estamos agora nos dirigindo novamente para o Peru, ou quase floresta amazônica, até nós estamos perdidos sobre o local exato, pois Paula quebrou seu GPS. Toda vez que esse livro falar sobre Paula, as coisa se tornarão mais difíceis para você, pelo fato de a lógica geral do livro impor que Paula deve estar o mais longe possível das palavras, ela é o destino racional e estrutural desse livro. Tudo daqui para frente será mais implícito. Paula 35 Palavra é a razão. Cuidado se acaso você tiver pavor de pensar, isso pode ser fatal. Voltaremos a nos comunicar normalmente quando a história voltar para Minas. - Phai raí a´po – disse a índia – trhur khait? - O que disse? – perguntou Paula – não entendo, é tupi? - Tara cuitiker marst – respondeu a senhora – pakas morngs. - Não... não pode ser tupi – falou para si mesma Paula – quem sabe é só ela. Uma oca gigante. Um burro dizendo I-A, tudo calmo. Uma mulher branca civilizada e pós graduada em comunicação. Uma mulher índia inteligente com traços do tempo no belo rosto. Palavras de línguas conhecidas para cá, palavras exclusivas para lá. O mundo estava sem fonemas transeuntes. Uma não entendia a outra. Nome de uma não cabia em outra. Idéias era a sensação do momento. Sinal de fome pra cá, alimento bem nutritivo vindo de lá. Paula havia encontrado a tão sonhada mulher da língua morta. Algo duvidoso começou a crescer em Paula. “Tanto eu como ela, falamos idiomas mortos nessa floresta, só sei falar comigo, ela sabe falar com toda a floresta. Sou eu a mulher da língua morta aqui e não ela”. Paula pensou: “bom se isso fosse um livro, para que eu pudesse ler o pensamento das pessoas”. Agora veio uma grande idéia. Quem disse que isso não é um livro? Lógico que para você leitor, isso é livro, mas para Paula tudo é tão real. Não estou dizendo nada, só foi um passeio em coisas que já constam em um livro. Paula admira a alegria da velha. (já notou que Paula está em todo começo de parágrafo?) Sua cultura ainda resiste. Paula começa a entrar na filosofia de vida da índia. Michael iria adorar esse momento de estranhamento e distanciamento que Paula está vivendo. Tudo ali parece ser rústico, desde um vestuário 36 até um alimento. Mas, Paula nota que não é bem assim. Qualquer homem dito “superior”, morreria rapidamente se aqui caísse pelado. Já a índia não morreria aqui e nem na cidade do “homem superior”, pois se lá estivesse pelada, passaria muito bem numa penitenciária. Então caro leitor, quem aqui é superior? Enquanto essa dúvida fica martelando em poucas pessoas, voltemos para Minas Gerais. Rose faz o prometido e, girando por volta da igreja encontra um caderno verde, parece ser o manuscrito de um livro. Estava escrito na capa: “Livro I, que trata de Condor Amarelo e a África na viagem de Thace”. Rose fica admirada e surpresa: “quem será que perdeu?”. Colocao dentro de sua bolsa vermelha e corre cautelosamente para o apartamento: “não posso deixar ninguém me ver com isso”, pensou Rose com medo de ser seguida pelo escritor misterioso. “Deve ser o mesmo da carta louca”, pensou de novo a dona da bolsa vermelha. Uma vez dentro do apartamento, repete a cena de ontem quando chegou gritando para todas as almas e coisas do apartamento: - E ai cambada! Que tal um lance estranho para digestão? - Outra vez? – perguntou marcos – o que é agora? - Um livro. - Livro? – gritaram juntos. - Sim, esse manuscrito estranho, - respondeu Rose – estava exatamente onde encontrei o papel louco ontem. - Deixe-me ver – pediu Michael – é longo é louco. Vamos comece a lê-lo, - mandou Márcia – estou curiosa. A partir de agora, você entrará em outro mundo. Apresentei de forma errada a carta, pois deixei Marcos ler para você, mas infelizmente a carta ficou fragmentada pelo fato de brigas infantis das pessoas 37 que escutavam a leitura, como por exemplo, a falta de higiene de Michael. Sendo assim, resolvi passar para você o livro que Rose encontrou, inteiramente sem nenhuma interrupção. Um novo livro agora você vai ler, mas não se esqueça de Paula e dessa história que contei até aqui, pois ela é a chave para tudo. 38 VIDA? 39 LEUCIPO DE MINAS VIDA? Tradução: Filos.: Cosmic.: vida.: 40 Para as estrelas, do meu universo. 41 OPTIMUM. Alguma vez você pensou que poderia ser um estranho? Já imaginou em ser um dos bilhões de reflexos do sol no mar? Agora você está se perguntando: como assinarei está afirmação, senão sei a colocação que esse louco está pensando sobre a palavra “estranho”? E, muito menos sobre os reflexos do sol no mar? Tais perguntas também não tenho respostas. Mas o que importa é você ter pensado sobre o “estranho”, e imaginado os reflexos do sol no mar. É isso que peço a você no decorrer desse livro, que imagine e crie suas próprias idéias, pois as únicas verdades não são coletivas, mas sim individuais. Boa sorte? Autor. 42 PREFÁCIO. No dia 28 de maio de 2002, na mesma hora em que o sol está perto do horizonte no oeste, numa cidade do Brasil localizada no estado do Paraná, cujo nome era Castro, eu observei da janela do meu quarto uma mulher nova com uma criança de uns quatro anos, ela estava mexendo em sua carteira e o menino corria em volta dela resmungando palavras sem nexo, a mulher provavelmente sua mãe, empurrou o menino e criticou suas atitudes, no fim da rua a mulher pegou na mão do menino e sumiram do meu alcance visual, logo outra mulher saiu de uma casa vizinha, ela era aparentemente mais velha do que a outra, carregavam muitas coisas ela e seu filho, que era de idade superior ao outro menino, a senhora levava sacolas plásticas com objetos de grande volume no seu interior, o menino também estava bem carregado com uma grande mochila escolar, provavelmente estavam indo para suas casas, pois eu sabia que a senhora trabalhava naquela casa. Temos uma descrição absolutamente compatível para mentes sub-desenvolvidas, não estou criticando e muito menos desprezando você que pensou que essa descrição fosse detalhada, ela é apenas um simples olhar. Para você realmente detalhar não basta apenas um sentido (a visão), mas os cinco sentidos governados pelo sexto sentido, que seria sua maior faculdade: a imaginação. Não vou detalhar essa descrição, pois pode levar muito tempo e até alguns livros, por informações que não são coletivas e não tem interesse a ninguém além de mim, mas vou dar uma base para você saber o 43 que falo. A primeira mulher carregava uma carteira, se eu me perguntar onde foi fabricada tal carteira, provavelmente imaginarei uma fábrica na qual trabalha muitos homens e cada um possuí uma carteira, será que foi fabricada por eles? Indo mais afundo você vai buscar informações que realmente existem, pois foi você que criou e o único criador do universo é você. O pensamento do homem, que escreveu o assunto acima nasceu no dia 28 de maio de 2002, ás 5:07 hrs e morreu no mesmo dia ás 22:03 hrs, no dia 29 de maio de 2002 o meu novo pensamento nasceu na hora que acordei, ás 5:12 hrs, utilizando o mesmo corpo físico e com os mesmos cinco sentidos governados por um novo sexto, depende deste sexto sentido o desenvolvimento do seu conhecimento que está armazenado na sua mente subconsciente. Podemos notar o grande poder da imaginação humana criado por alguns homens de sociedades secretas, que manipulam os sextos sentidos que não nascem independentes. Talvez seja uma tentativa perigosa a de livrar a imaginação das pessoas e fazê-las utilizar e melhorar seus futuros, mas com certeza é muito compensadora, pois me faz lembrar de coisas que tinha esquecido. Tudo o que existe foi inventado por você pelos cinco sentidos, que absorvem todas as informações do universo, as informações como, por exemplo: comunicação, capitalismo, dinheiro, riqueza, mendigo, pobre, trabalho, nomes, línguas, comidas vestuários etc..., são criadas pelo sexto sentido dos homens das sociedades secretas e também de todas as pessoas, mas o problema é que eles governam as imaginações das pessoas que permitem e não percebem que são mandadas. 44 Agora você pode observar minha intenção, que é, despertar essa sua grande imaginação e ocupar o seu tempo com coisas boas, vai adquirir muito conhecimento e todas as informações que fazem os pensadores a criar o seu universo, mas para conseguir terá que decifrar enigmas, fazer muitas viagens pelo cosmo, deixarei símbolos que vão lhe dizer onde encontrar mais informações sobre os assuntos, com isso vai saber dependendo de sua vontade qual e onde está escondido o mais valioso tesouro que o homem já criou, não pense você que já sabe, sei o que está pensando, pensa que é sua imaginação o tesouro ou o grande poder do subconsciente, mas isto é apenas ferramentas para descobri-lo pois ele está enterrado há séculos em um baú em qualquer lugar do planeta Terra. Você não precisa ser um zaori basta ser você. - Esse cara é louco – disse Michael – é um cartesianista mal informado. - Quanto número! – exclamou Márcia – me chega dar alergia. - Esse livro parece ser de um leigo, – disse Rose – como pode ter tanto erro? - Continue lendo – pediu Marcos – talvez esse papo de tesouro seja sério. Desculpa por minha nova falha. Tinha dito que não haveria interrupção de leitura, mas não consigo fazer essas pessoas contemplarem o silêncio. Vamos voltar para o livro: 45 Eis o começo da estrutura lógica do livro “vida?”: - Chuta Luiz, vai logo chuta. – gritava um amigo. Luiz chutou, mas errou o gol e a bola foi parar numa casa vizinha da escola, todos os meninos foram indo embora, pois já era hora do almoço, Luiz pediu para alguém ir com ele pegar a bola, mas ninguém foi, pois tinham medo. Na casa morava um senhor estranho que mexia com a imaginação dos meninos, Luiz se aproximou com as pernas tremendo bateu palmas, após algum tempo a grande porta daquela casa muito antiga se abriu, de lá saiu um homem com cabelos e barbas compridos e brancos ele era magro e andava apoiada numa bengala. - Faz tempo que te espero. – falou o senhor. - O senhor poderia pegar minha bola? – falou mais calmo Luiz. - Você pode ir pegá-la, estou muito velho para descer esta escada. – respondeu o senhor. Luiz tímido desceu a escada onde entrava em um porão, avistou a bola debaixo de uma estante de livros, pegou e antes de ir embora observou melhor o lugar, estava muito sujo de poeira e escuro, viu uma mesa com um livro aberto, se aproximou e começou a analisar seu conteúdo, reparou que estava escrito à mão e não tinha um fim, leu o título que dizia “Vida?”, não sabia o porquê que estava tanto tempo naquele porão e saiu correndo antes que o senhor lhe chamase. No patamar o velho falou para Luiz: - Venha aqui dentro um pouco. Desconfiado Luiz entrou na casa do senhor, a porta se fechou e Luiz tomou um susto, que lhe fez falar: - Preciso ir embora, minha mãe está preocupada. 46 - Venha até aqui. – mandou o velho. Luiz começou a andar em direção da voz do velho até chegar em uma lareira e uma poltrona, onde se encontrava o senhor. - Se aproxime mais e sente-se. – falou o velho. Luiz sentou no chão com o olhar fixo no velho, que jogou uma espécie de erva no fogo, no qual começou um cheiro forte e agradável. - Por que o senhor jogou isso no fogo? – perguntou Luiz mais tranqüilo. - Para você nunca mais esquecer de mim, pois este cheiro vai ficar gravado na sua mente. – respondeu o velho. Luiz pensou um pouco e perguntou: - Por que quer que eu não lhe esqueça? O velho sorriu e respondeu: - Porque você foi o escolhido a terminar o que eu comecei, você sabe do que falo, pois viu lá no porão e no momento certo vai se lembrar do que te falei e vai terminar o que comecei, agora vá embora senão sua mãe vai ficar muito preocupada. Luiz pegou a bola e voltou correndo para sua casa, sem dar muita importância no que o velho disse. Naquele dia Luiz teve um sonho estranho no qual o mesmo senhor estava voando em cima do livro, numa viagem muito longa. Luiz acordou assustado com as palavras do senhor na cabeça, que ele tinha dito no seu sonho: “no tempo certo.” Luiz passou o resto do ano sempre vendo o senhor a distância quando estava na escola, após a formatura do primário, Luiz mudou de escola e nunca mais viu o senhor que conheceu sem saber como. O tempo passou Luiz cresceu e de um menino se transformou em um homem, que já estava na universidade cursando geografia aos dezenove anos. Em um passeio com seus colegas entrou em uma loja de produtos esotéricos e sentiu um forte e agradável 47 cheiro, no qual ele se lembrava, mas não sabia donde, após o passeio que durou muito tempo, foi para seu quarto dormir, não conseguia tirar o fato que ocorreu na loja, em seu sonho apareceu o velho que tinha conhecido aos onze anos, que lhe falou: “chegou o tempo certo Luiz, você vai continuar o que comecei, vai e acorde, faz o que você sabe e vai onde você foi.” Luiz suando acordou e sem pensar correu para a casa do senhor onde havia-o conhecido, era 3:56 hrs quando chegou na casa, devagar abriu o portão e bateu na porta, ninguém atendeu, então desceu ate o porão, que estava muito escuro, mas encontrou uma caixa de fósforos do lado das velas que estavam muito tempo sem ser acessas, na mesa onde há oito anos encontrou o livro havia uma carta, que o velho escreveu para Luiz, que por sua vez apanhou a carta após ter ouvido o vizinho gritar: “pega ladrão”, Luiz correu muito, como nunca, fugindo dos cachorros que o homem soltou. Chegando em sua casa muito cansado e faminto, mas acima de tudo curioso para saber o que havia escrito na carta, que sofreu tanto para conseguir, se trancou no quarto e apanhou a carta do seu bolso, no envelope estava um símbolo estranho, que levou ele rapidamente procurar em um manual de simbologia, que tinha em seu material escolar, era o símbolo egípcio ANKH, (significa vida) pegou o conteúdo do envelope e achou uma moeda do ano de 1938, no valor de 100 reis com a figura de Tamandaré e, também um papel, no qual estava escrito: “Depois de tudo o que houve foi um livro, que ainda não foi escrito, pois quem vai escreve-lo é você Luiz, levou onze séculos para eu e meus aliados do cosmos traduzir o cartapácio da vida, cada aliado relatou um trecho no tempo certo e passou as idéias para o 48 sucessor, essa comunicação não foi de forma direta, pois cada um viveu em um século diferente, foi em sonhos, por isso cada um teve que ser um bom sonígrafo, assim que quero que você seja, um grande escritor de idéias, a partir de agora cada tradutor vai lhe ditar a sua parte e você escreverá no livro que terá o nome de “Vida?”, eu voltarei após você ter escrito para os dez sábios, serei o décimo primeiro, até lá você vai ter mudado completamente sua mente, o primeiro sábio logo aparecerá em sua vida, sempre no sonho transmitindo as idéias, para evitar a logoagrafia use a moeda na qual está grafado o número 1938, que significa a senha de acesso para identificar o meu número: onze, pois somando os últimos algarismos o mesmo que somar o do ano de seu nascimento. Isso não é superstição apenas uma certeza para os outros sábios, que você foi escolhido por mim, sendo assim cada um vai ajudá-lo escrever sempre que estiver com a moeda pendurada no pescoço, mas somente orientando seu pensamento e nunca escrevendo por você, cabe a você fornecer as ferramentas para as pessoas ter o poder de criar o seu próprio universo e encontrar o tesouro, haverá pessoas criticando o que estará escrito no livro, dizendo que tais comunicações são impossíveis, à essas pessoas você não falará nada, pois essa comunicação só é de acesso a você, por isso não obrigue elas a pensarem, pois somente pessoas que sabem o que Sócrates disse entenderão, no dia em que você ler está carta já estarei morto e espalhando aquele cheiro forte e agradável que você vai lembrar.” Luiz ao ler a carta, sentou-se no chão do seu quarto e começou a pensar sobre uma possibilidade de estar louco, mas logo voltou a viver sem medo, pois sabia que poderia ser uma brincadeira de pessoas que 49 mexem com coisas de magia. O seu despertador alertou que estava na hora de estudar. Luiz arrumouse e foi para a universidade. Na volta Luiz avistou uma loja de colares e pediu para o dono fazer uma adaptação em sua moeda, para poder colocar um cordão e pendurar no pescoço, após isso foi embora fazer seus deveres acadêmicos. Ao anoitecer ficou com um pouco de medo, mas conseguiu dormir muito bem, se o primeiro sábio apareceu ou não, você vai saber no grande e lindo livro que começou a escrever após aquele bom sonho. - Chegou o tempo certo. – disse com ironia Marcos. Não brinca marcos, - ordenou Márcia – isso pode ser sério. É, muito sério, - gritou Michael segurando uma gargalhada – isso é pira de velho caduco. Cala boca, palhaço. –retrucou Márcia. É, ficção nada mais, - disse Rose – mas quem será que grafou? Deve ter sido Deus. – falou Marcos. Não brinca, - disse Rose – isso é algo que temos que discutir. O que Sócrates disse? – perguntou Michael. Acho eu, - respondeu Márcia – que deve ter sido a sua mais famosa idéia. Qual é dona filósofa? – perguntou Michael Só sei que nada sei. – respondeu. Que burro é esse sujeito, - disse Marcos – deve ter saído de um livro ou peça de teatro dos Incas. Com certeza! – exclamou Márcia – como pode ser tão burro? Sócrates é grego não índio. 50 Outra vez a ousadia desses sujeitos feriram a seqüência da história. Malandros perdidos. Aproveitando o caminho da já conquistada atenção. Quero dizer que nada pode ser assim. Paula ainda está na Amazônia, ou quase. Repare que Luiz está muitas vezes no começo do parágrafo. Isso não quer dizer que tenha sido eu o escritor desse livro. Sou responsável pelo livro: “O homem criou a palavra ou a palavra criou o homem?” E, não tenho nada a ver com essa surpresa que apareceu para minha Rose. O segredo do maior escritor é superar qualquer forma da logoagrafia. Isso é meta minha, será alcançada por você. Cada fonema é um degrau. Deixe agora os jovens terminarem de lhe mostrar o livro: “Vida?”, surpresa mineira. Eis o livro, “vida?” (parte escrita por Luiz): Acordei totalmente assustado, o que estava escrito na carta aconteceu, desorientado corri para a escrivaninha peguei a caneta e escrevi em um caderno o que você está lendo agora. Pendurei a moeda no pescoço e comecei a relatar o sonho no qual apareceu o primeiro sábio: Eu estava em uma praça, aparentemente era desconhecida, mas havia objetos familiares da cidade onde encontrei o velho sábio da moeda. Estava andando quando um senhor sentado e rindo muito me chamou, caminhei até ele que ainda continuava rindo, por algum motivo eu perguntei: - Qual o motivo de tanta risada? - Por que você acha que não poderia estar sorrindo? – disse para mim o velho. - Porque não a motivos para rir tanto. – respondi. 51 - Quais são esses motivos meu amigo? – perguntoume o velho. - É só olhar para você, um velho sujo com dentes podres, pobre e desprezado pela sociedade, já poderia saber está resposta e ver os motivos. – respondi bravo. - Então o que faz você, que é uma pessoa perfeita não estar sorrindo? – perguntou o velho. Depois dessa eu sentei junto com ele, que ainda continuava a rir, pedi desculpas e comentei sobre a vida, perguntando para ele o que pensa sobre ela. No mesmo tempo da pergunta tudo começou a tremer e nós aparecemos em baixo de uma grande árvore, eu olhei para ele que era muito pequeno, com um rosto grande e orelhas pontudas. Estava vestido com uma roupa amarela e sapatos pretos, ele me perguntou antes de me responder: - O que você imagina ser? - Sou um ser humano muito feliz, sem desejos, pois tudo o que queria já consegui, que é minha vida. – falo eu. - Sábia resposta, mas isso não é verdade, porque você todo dia sonha e com isso deseja. – falou o velho. - E você o que imagina ser? – perguntei. - Eu sou um lindo e grande condor que está voando agora para bem longe, daqui com destino a Plutão. – respondeu o velho. - Não, você não pode sair voando pelo universo, pois não existe ar e você não é um condor. – falo eu. - Se não existe ar e se eu não sou um condor, como é que estou voando? – perguntou. - Você não está voando. – disse ao velho. - Sim eu estou, mas somente eu posso, porque eu sei imaginar sozinho sem a ajuda da realidade. 52 Quando ele me falou isso não apareceu mais no meu sonho e surgiu um condor maior que a árvore em que estávamos, sumindo no céu azul. Logo após eu ter escrito meu sonho, algo me conduziu para contar o que você vai ler: “Sou filho de mim, meu nome verdadeiro não existe é imaginação assim como tudo o que imagino existe, você que sabe disso cuidado com sua imaginação, pois a vida na Terra, existe um limite imaginário que serve de proteção para o corpo físico, caso você não respeitar vai prejudicar seu corpo e também sua mente. O limite é chamado de tempo, o corpo foi criado para viver e apreender no presente, mas o criador de seu corpo que é sua imaginação pode viver no passado e também no futuro, por isso é necessário você apenas imaginar os fatos que aconteceram e os que vão acontecer como uma simples consulta para melhorar sua vida física e, jamais vivê-los, pois é altamente perigoso podendo matar seu corpo. A imaginação é eterna, não existe para ela o tempo, tudo é vivido como se fosse o presente da vida física na Terra. Após a morte de seu corpo, você coletou informações preciosas que vai utilizá-las em outra forma de vida, em uma galáxia que você escolher, podendo viajar a qualquer tempo, pois o tempo é sua imaginação quem cria.” Após ter escrito isso fiquei muito confuso com estas idéias loucas, pois está escrito que: “a imaginação é eterna não existe para ela o tempo”, mas também está escrito: “o tempo é sua imaginação quem cria”, você que leu isso agora deve ter achado uma outra idéia do texto mais exata, pois não conviveu o fato como o idiota que escreveu. Mas acho que também notou que o criador destas idéias foi o mesmo baixinho do sonho, 53 que não falou seu nome, então vou imaginar um, chamarei ele de Condor Amarelo. Você deve estar pensando que tudo aqui escrito é besteira para eu ganhar dinheiro, talvez realmente seja, mas se isso fosse verdade, você acha que eu iria perder tempo escrevendo porcaria, se poderia achar meios muito mais inteligentes para conseguir isso? Com certeza eu e você vamos mudar muito no decorrer desse livro, é provável que nem pensaremos nesse objeto que move o mundo moderno, chamado dinheiro. Já estou pensando ou imaginando que isso também é fruto da minha imaginação, mas vamos esperar o que aquele baixinho vai me falar hoje quando estiver sonhando e se novamente vai ditar suas idéias para eu escrever. Analisando tudo o que escrevi, começo a sentir um grande poder de amar tudo o que imagino e perco todo o medo da vida por saber que essa, pode se acabar agora, mas nunca poderia deixar de existir. No dia seguinte percebo que Condor Amarelo não apareceu no meu sonho, confesso que estou com medo deles ter me abandonado no início do livro, por eu escrever muita besteira e comentários, que não agradem os seus interesses. Mas não vou apagar o que eu escrevi, pois jamais deverei mexer no passado, apenas consulta-lo. É provável que eles queiram que escreva uma historia e não um comentário das idéias, como escrevi ontem e estou escrevendo agora, o que vai acontecer, não me importa e o que aconteceu foi bom e não me arrependo, o dia hoje está lindo, se voltar escrever ótimo, senão, até o eterno poder de nossa imaginação. 54 - Isso está parecendo um diário, – disse Márcia – que ainda nem mesmo o escritor sabe. - Sim, não sabe. – completou Rose. - Olha que coisa interessante, - fez-se ouvir Marcos – esse livro tem um narrador em seu começo, mas ele some por completo. - O narrador pode ser o escritor, - disse Michael – é esse cara aqui na capa. - Leucipo de Minas, - leu Rose – será que Luiz existe? - Parece ser muito confuso esse livro. – falou Marcos. Perdão é o que posso fazer. Sou eu quem está falando, o Marcos puxou uma idéia certa. Isso parece estar um caos. Siga-me para entender. Paula e sua vida. Seus amigos e suas vidas. Paula e o equador. Amigos e apartamento. Paula e floresta. Amigos e carta. Paula e índia. Amigos e livro. Leitura do livro. Comentários penetras. Siga isso e saberá melhor. Acho eu que escrevi palavras mágicas ontem, que deram resultados lindos em meu sonho que vou lhes contar agora: Estava em um campo de flores lindas com um perfume maravilhoso, Condor Amarelo estava voando e pousou em meu ombro, transformando-se em ser humano novamente e me falou: - Gosto muito disso. - Disso o que? – perguntei. - De voar alto sem limites e poder conversar com você e lembrar de meus tempos aqui no planeta Terra. – respondeu. Fiquei muito feliz e perguntei: - Estou escrevendo de forma correta o livro de maior importância para a vida? 55 - Você vai apenas falar de onde retira as idéias nos próximos contatos com cada sábio, depois somente vai escrever a história que lhe contar sem dar opinião nenhuma, mesmo sendo informação que você não conheça, pois cada um tem a sua e você é apenas mais um leitor, com uma pequena diferença, que você escreve, mas não sabe o que está escrevendo, até agora o livro está perfeito, após você escrever este sonho, vai se despedir dos leitores e voltará somente quando ter lido e escrito a história do primeiro capítulo, que vou contar no decorrer de seu tempo. Condor Amarelo se transformou novamente em uma ave e saiu voando para o eterno de sua imaginação. Agora que contei o sonho vou obedecer ao Condor Amarelo e sair da história, pois sou apenas mais um leitor, vamos ver o que ele vai imaginar para a gente, melhorar está vida, que guarda tantos segredos, como poderia eu imaginar estar escrevendo para mortos ou vivos? Não sei o que eles são realmente, mas sei que nós vamos aprender muito com eles, que com certeza querem ajudar, o que vai ser escrito eu não sei, mas não pense que tenho alguma coisa com isso, pois sou uma pessoa, que não tem noção de como escrever uma história, quero que você fique encantado como eu vou ficar e que também acredite para eu não pensar que estou louco, tudo de bom para você e se divirta ou aprenda ou chore... bom sei lá sobre o que é a história que vai começar, mas obrigado por ler o que escrevo mesmo sem saber, você é o meu único companheiro nessa viagem pelo cosmos, por isso eu te adoro, acho que volto após essa história, se ela não for infinita como a imaginação. 56 - Esse livro não diz, - disse Marcos – é diz, mas não fala. - Você está bem? – perguntou Márcia – se ligue cara. - É, Luiz gosta de mim. – disse Rose. - Pare de ser puta, - pediu Michael – ele é ficção e você não é o leitor. Quem será que é o leitor? Não pense nada por enquanto. Será você ou eles que você lê? Deixe pra lá. Isso é coisa de conclusões finais. Agora que você leu toda a introdução do livro “Vida?”, terá pela frente o primeiro capítulo. Não se perca. O narrador continua sendo eu. Mas eu estou narrando Luiz, que será agora o narrador, que talvez esteja sendo narrado por Leucipo. Preste muita atenção nas palavras. O jogo é cabeça daqui para frente. Tudo está na estrutura. CAPÍTULO I “Não nasci e nunca vou morrer, não existo porque crio, se crio é porque existo” Está é a grande primeira idéia que foi traduzida por mim, se você tentar explica-la escreverá milhares de páginas, você terá que apenas entende-la. Ela é quem vai reger a história que vou lhes contar, mas você terá que saber que história não é passado e sim criado por você e nunca pelo tempo. Eu sou o início o fim e o meio, mas este é infinito. Não pense que a idéia já existe, mesmo você ter criado uma, sem saber que ela já existia, pois o que 57 seria da idéia sem você ter criado-a? Ela nunca existiria sem a imaginação, mas está existiria sem ela. Sou chamado nessa história de Condor Amarelo, vou contar minha passagem e experiências no planeta Terra. Meu corpo foi criado nas redondezas da cidade de Bruxelas, num País com o nome de Bélgica, no dia 21 de abril do ano 901. Minha infância foi toda ela ajudando meu pai com a agricultura, com uma técnica muito avançada para época. Com quinze anos estava maduro no sentido psicológico, mas nunca estive no sentido físico. Era muito baixo e também feio, era um erro da natureza, meu pai contou que minha mãe era baixa e não resistiu ao parto morrendo quando nasci. Meu pai era velho quando morreu, tinha 112 anos, ele aos 56 anos me conheceu e, curiosamente quando eu tinha 56 anos me disse tchau. Após a morte do meu pai, não tinha mais nada na Bélgica, pois era filho único, então resolvi conhecer o mundo, eu era muito idiota, por passar a vida toda num feudo. Comecei a viajar para o sul, num país com o nome de França. Gostava de viajar somente para conversar, talvez por nunca ter tido muito diálogo com pessoas, além do pai. Numa cidade conhecida hoje como Dijon, conheci um homem que estava indo para Roma na Itália. Fomos até Roma, este homem me ensinou muito, tinha ele 61 anos, contou da mitologia greco-romana, que conhecemos hoje e histórias da arte erudita. Este homem me mostrou o caminho para a aventura, nunca mais vi este viajante com o nome de Homero. Não podia esperar mais para conhecer a Grécia, que deu muita coragem para viajar até uma região conhecida como Taranto, onde havia um pequeno porto estranho, fiquei alguns dias na casa de um marinheiro, que logo partiu para Grécia, onde eu fui junto. 58 Nos meus 62 anos, estava na famosa e linda Atenas, onde passei o resto de minha vida, aprendi a ler com uma senhora, que me fez companhia nos livros e na vida, que tive até os 104 anos. Está foi minha passagem pela Terra, posso relatar o que aprendi em 104 anos de vida nesse planeta em poucas palavras que aqui está escrito: “O planeta Terra é um lugar lindo e perfeito para se habitar, existem várias formas de vida que vivem em harmonia, todos se respeitam tanto, que têm espécies que dão a vida para a felicidade de outras, que vivem com diferenças no modo de agir, existe uma espécie que se destaca no planeta, conhecida como Homo Sapiens, qualquer ser dessa espécie é diferente um do outro, alguns só pensam em si, outros pensam numa igualdade e outros pensam em ser diferentes e serem iguais ao mesmo tempo em características diferentes, se comportam de um modo interessante em relação ao espaço em que vivem, se julgam donos do planeta no qual outras espécies não tão nem um pouco interessadas no território em si e sim em viver felizes, então não tendo adversários brigam entre si pelas riquezas que eles mesmos inventaram. Conseguem se destruir sem ajuda de outras espécies, mas como ressaltei são diferentes, existem outros com maior harmonia com todas as criaturas, inclusive com aqueles indivíduos que estão destruindo sua espécie, eles se comportam de forma natural no aspecto físico, mas são pensadores muito avançados e convivem com poderes espetaculares da sua própria mente no qual protegem a si e a todos no planeta e, conseguem governar o universo de suas próprias idéias sendo totalmente livres de todos os aspectos destrutivos, pois sabem que não existem tais aspectos.” 59 Toda história contada nesse livro, não foi criada por mim, mas por você, que está lendo, “como sei disso?”. Eu sei porque cada um de nós é um universo. Aprendi isso quando morri. Vou contar o maior segredo que existe na vida e que todos podem saber sem precisar morrer: No dia de minha morte, eu estava numa cama olhando o teto, pensando se iria doer muito, de repente tudo ficou em silêncio e escuro, não sentia meu corpo e nada existia em meu pensamento, apenas lembranças de fatos que vivi queriam aparecer na minha visão, mas nada disso adiantava, estava com medo, não conseguia olhar nada e nem escutar, perdi todos os sentidos, fiquei muito tempo assim, até ficar calmo e, começar a imaginar para onde estava indo. Foi aí que percebi que tudo o que imaginava surgia na minha visão, comecei a imaginar os deuses da mitologia que conheci com meu amigo Homero. Imaginei o Netuno com seu tridente fazendo os mares, Urano criando o céu e uma grande nuvem na qual estava Júpiter lançando raios, na qualidade dos raios de Júpiter, logo surgiu Plutão fazendo vulcões que evaporaram as águas emergindo as terras, Saturno controlou todo o tempo e enviou Mercúrio para dizer que o meu mundo estava pronto. Da escuridão e solidão, passei para a luz e a companhia, todo o conhecimento que adquiri na Terra, serviu para eu criar meus próprios amigos e logo a vida. Aqui está todo o conhecimento que existe no universo e com ele posso criar através da imaginação tudo o que quiser, em pouco tempo todo o meu mundo estava colorido e cheio de animais e pessoas que nunca vi na vida, mas já imaginei em sonhos que tive acordado ou não. Todos eram livres faziam o que eles queriam, por mais que eu quisesse 60 mandar neles, não conseguia, então perguntei para um homem que estava fazendo um coelho voar: - Como você faz isso? - Não sou eu quem faz, mas sim você. – respondeu. - Você pode me explicar melhor? - A matéria não é governada por ninguém, além de você, mas a matéria que tem vida só pode ser governada por você se souber imaginar com amor, pois você está criando ela a cada movimento, sendo assim você não sabe o que vai criar, então deve criar com amor tudo o que vê, somente assim as criaturas te obedeceram, pois você nunca vai mandar. – respondeu com um olhar brilhante o homem. - Qual o seu nome? – perguntei. - Meu nome na Terra foi Miguel de Cervantes, mas pode me chamar de Don Quixote de la Mancha, foi a minha maior imaginação em vida material no planeta berço da vida: a Terra, não precisa falar seu nome, você viveu na Europa no séc X, e escreveu o primeiro capítulo do livro de maior polêmica do séc XXI: “Vida?”. – respondeu o cavaleiro da triste figura. - Como você sabe que nasci no séc X? E que livro é esse? E como poderia ter escrito se não sei escrever? – perguntei assustado. - Nesse mundo não existe tempo, você conhece tudo que existe e vai existir, pois está dentro de sua imaginação, você vai voltar para Terra escrever essa história que ocorreu agora e poder novamente vive-la, várias vezes, basta imaginar, ninguém gosta de voltar para Terra, pois o planeta no qual você criou é muito melhor de se viver, mas você voltou, pois teve a vontade de ensinar as pessoas a imaginarem cada vez mais, com isso aumentou o seu poder, pois somente com muito amor alguém poderia ter voltado de onde saiu, podemos nos 61 comunicar com pessoas que imaginam e sonham muito, mas isso é somente para quem realmente gosta como você, eu prefiro viver aqui é muito lindo e perfeito, mas é importante pessoas como você mostrar a verdade para aqueles seres idiotas, que fomos um dia. Don Quixote seguiu seu caminho grudado na espada lutando com gigantes, eu aprendi a amar a vida somente depois da morte. Não perdi tempo, se é que existe, na Terra não existe uma imagem minha, então entrei na imaginação de um Maia e, fiz ele esculpir meu retrato numa enorme pedra, conhecida como “o velho de Copán”, fica no país de Honduras na América Central, é apenas uma lembrança, mas não pense que era tão feio como está a imagem hoje, meu olho era normal e eu tinha um pouco mais de dentes. Toda a história minha no planeta vou contar agora, para aumentar o seu conhecimento e poder melhorar o seu universo, você sabe como fazer isso é apenas usar sua imaginação e aproveitar o dia ao máximo possível, obedecendo a sua imaginação sem a realidade, pois essa é o poder do rei, mas não existe o rei sem o criador, logo o criador governa o universo e o criador é conhecido como imaginação. Você que está lendo isso, vive num lugar agitado, num mundo onde o rei governa e a imaginação só nos momentos de lazer com filmes e livros, você não tem liberdade para fazer muita coisa que imagina, por exemplo, se você trabalha em um banco, sabe que tudo é uma correria, mal almoça e já tem que trabalhar, não tem tempo para pensar em brincadeiras. Você precisa saber que todas as pessoas são o seu brinquedo, mas deve saber brincar com elas e não mandar. Lembra de Don Quixote? Necessita criá-las com amor e carinho, somente assim poderá governar o seu universo. Cada pessoa é fruto de sua 62 imaginação, vai ter que amar todos, não adianta após o trabalho olhar um mendigo e dizer que ele precisa trabalhar. Amar é deixar livre todos e nunca julgar a sociedade por ele estar daquele modo, é você quem está vendo ele assim, respeite ele como você respeita um ídolo e, ele vai gostar de você assim que você amalo. Seu universo é somente seu, nunca ninguém vai criar as coisas no mesmo espaço e tempo que você criou. Então qual é o problema de você imaginar amigos como, por exemplo, gnomos ou duendes, para serem companheiros em aventuras fantásticas que você criou no seu universo? Mas cuidado em não passar do limite do seu corpo. Sei que muitos estão lendo este livro dizendo que escrevo para sociedades secretas, que querem enganar as pessoas com magia e crenças para poderem governar e, vão achar várias superstições e coincidências nesse livro como o número onze, que é o número predileto de certa sociedade secreta e, que estou escrevendo isso somente para disfarçar, fico muito contente com esses leitores, pois conseguem imaginar muito é esse o maior objetivo, mas cuidado com imaginações que prejudiquem você, pois terá que conviver a eternidade com elas somente elas podem criar o seu universo, por isso imagine sempre o que te faça feliz, mesmo não agradando o outro, pois o outro será também beneficiado porque vai criar um universo muito bom para todos que você amar e criar. - Nunca mais vou imaginar, - disse Michael – aquela velha puta do quatorze em minha cama. Por quê? – perguntou Marcos. Não quero morrer e criar universo com monstros. – respondeu Michael com muitas gargalhadas. 63 - - Esse personalismo frustrado - disse Márcia – deixame com náuseas celebrais. Por que diz isso? – pergunta Rose. Esse lance de criador é loucura, - respondeu Márcia – nesse sentido sou nipônica. É, também concordo Márcia, - complementa Marcos – esse sujeito é platônico e eu sou panteísta. Já notaram como é quase analfabeto - falou Rose – nunca li tantos “mas” e “pois”. Nada haver sua burra, - disse Michael – o lance do cara não é letras, é filosofia. Ta bom, - retrucou Rose – então ele que ensine sua filosofia por outro meio de comunicação, que não seja as palavras. Sai fora galinha, - gritou Michael – o cara tem liberdade de escrever como quiser. Então ele que leia. – disse sorrindo Rose. Calem suas bocas seus porcos. – disse com educação Marcos. Mas, não é que essa idéia de morte desse doido é interessante. – falou Márcia. É, parece a volta de Allan Kardec. – disse brincando Marcos. O amiguinho desse Condor cor de rosa, não lhe ensinou muito bem a mitologia, - disse Michael coçando as frieiras do pé – nunca soube que Mercúrio era mensageiro, o mensageiro não era Hermes? Caro porco, preste atenção no que não lhe digo... – tentou dizer Márcia. Fala sério! – pediu Michael em um grito – quero aprender, sobre Grécia não sobre livro paranaense. Catatau seu tonto, - disse com um tédio didático Márcia – primeiro que não é Condor cor de rosa é amarelo, segundo que o nome do amigo dele é Homero, mas isso não quer dizer que ele precise seguir a Odisséia. 64 - - Chega, seus intelectuais do fundo da inventada biblioteca nacional em o Xangô de Baker Street. disse Rose. Cuidado Rose, - alertou Márcia – não consuma livros com uma taxa de colesterol alta, pode perder essa cinturinha de quinze. Obrigada pela sua informação. – falou Rose após uma longa gargalhada. Vou inventar rapidinho meu gnomo. – falou com ironia Michael. Melhor que isso, - disse Marcos sorrindo – é a desculpa com medo da nova ordem mundial. Aí! Cuidado com sua imaginação, - gritou com gargalhadas irônicas Rose – como se isso realmente fosse perigoso. O que? – perguntou Márcia – você está insinuando que esse sujeito quer dizer que sua filosofia surgiu do Iluminismo? É, sua boba, - disse com tranqüilidade Rose – não flagro o medo de seu nome estar envolvido em sociedades secretas? Sim, talvez o Iluminati, - disse Márcia – mas essa idéia de iluminar é copiar. Copiar? – perguntou Marcos. Sim, copiar – respondeu Márcia – isso já rolava na Grécia e talvez antes no Oriente, mas lógico de forma mais inteligente, é algo gigante, que para mim já estava antes da história. Ta bom grande guru, – disse Michael – pra mim tudo isso é pira. Concordo, - falou Marcos – história é tudo livro, tanto Don Quixote e Jesus são letras. Você é letras, seu burro. – disse sorrindo Márcia. Vai brincar de Mundo de Sofia? - retrucou alto Marcos – Se sou letras, quem me escreveu? Foi você, deus, algum escritor ou as palavras? 65 - Chega burro. – disse Rose, para que Márcia não respondesse o título desse livro. Chegamos onde tínhamos que chegar. A estrutura do livro está melhorando. Até eu já estou entendendo o que escrevo. Depois de começar escrever um livro que possuía um outro livro que ainda não terminou, consegui expor o livro meu e o livro que Rose encontrou. Ainda falta deixar claro que tudo que está grafado no livro de Rose já existe. Não sou eu quem criou, por isso não me responsabilizo pela concordância verbal e nada que ali conste. Isso vai ser trabalho de Rose e seus amigos. Devem procurar o verdadeiro culpado. Críticos de plantão, agora continua o livro misterioso. Estava andando num campo com muitas flores, não tinha ninguém por perto até avistar uma linda borboleta vermelha, que quando suas asas refletiam a luz solar deixava uma marca no ar que durava alguns segundos, como batia as asas muito rápido logo tudo em sua volta e por onde passava ficava vermelho, era uma visão linda. Com muito carinho conversei com ela, mas ela não me entendia, então me transformei em um condor, mas não conseguia brincar ela, pois eu era bem maior, então imaginei eu como um besouro dourado, somente assim consegui brincar com a linda borboleta vermelha. Não era um escaravelho de ouro e, muito menos o símbolo egípcio do renascimento, mas voava muito rápido, não tão perfeito como minha amiga, mesmo assim me diverti muito até me quebrar contra um vidro na janela do consultório de um psiquiatra chamado Carl Gustav Jung, por causa que uma paciente imaginou o que aconteceria se o presente que receberia no seu sonho realmente existisse. 66 Durou pouco minha brincadeira, pois aquele corpo imaginário estava muito danificado, então deixei minha linda amiga vermelha sozinha e, voltei a caminhar no campo, até chegar numa cidade chamada de Küssnacht, onde encontrei uma igreja e em uma cruz estava pendurado Jesus, fiquei curioso para saber como ele foi parar ali e saber o seu segredo para conseguir tamanho amor no que cria. Não demorou muito e lá estava eu do lado de Cristo, ele estava lindo, seus negros olhos deixava escapar amor de tanto que ele tinha, a sua frente tinha uma multidão esperando, famintos de amor, o grande e sábio homem satisfazer suas necessidades humanas, após o sermão conversei com ele perguntando: - Jesus, como você consegue produzir tanto amor para poder até distribuir? - De nada serve o amor, se não para distribuir – respondeu com carinho Jesus – o amor te consome se não repartir, é como o vinho, quanto mais velho for o amor, mais gostoso ele é, mas que graça tem tomar sozinho? Sem saber que o amor somente vai existir se você existir, você sabe a fórmula para produzir o amor, só basta lembrar. Jesus Cristo se abaixou e me abraçou, pois ele é bem mais alto do que eu, ele tem esse defeito. Após isso foi andando pelo caminho e brincando com seu apóstolo João. Estou imaginando agora como podemos ser felizes e não aproveitamos o tempo de vida física no planeta Terra. Conheço um rapaz que era muito alegre e bondoso, estudava em um colégio onde havia uma turma de meninos que queriam matá-lo, por ser muito feliz. Todo o tempo eles tentavam achar um motivo para poder descarregar a arma no seu corpo. Esperto o rapaz nunca dava esse motivo, mas um dia quando atravessava a ponte de sua cidade um dos 67 meninos começou brigar com ele sem motivos, infelizmente o rapaz empurrou num ato de defesa o menino da ponte, desesperado o rapaz correu para salva-lo, mas ele nadava bem e conseguiu se salvar, porém o motivo para a turma do menino matá-lo já havia ocorrido. No outro dia o rapaz ciente do que iria ocorrer arrumou uma arma para garantir sua vida, na saída do colégio dois meninos chamaram o rapaz, que obedeceu, pois sabia se não fosse poderia ser pior. O menino que caiu da ponte falou para a turma que o rapaz tentou matá-lo, de repente oito meninos armados apareceram e começaram a atirar para cima, o rapaz assustado pegou sua arma e começou a matar todos os meninos, descontrolado e com muita raiva pegava as armas dos que morriam para matar os que fugiam, logo apenas ele estava vivo, muitas pessoas presenciaram o crime, o rapaz desesperado começou a chorar, falou que não sabia o que estava acontecendo ao chegar em casa seus pais estavam chorando, pois sabiam que a sentença do seu filho era a morte, o rapaz não esperou a polícia chegar e começou uma das mais extraordinárias corridas pela vida que eu conheço. O rapaz saiu de sua casa com sua mãe gritando para não ir, correu muito, pulava as cercas das fazendas, sem saber o que fazia, após o dia todo com fome e correndo desmaia no pé de uma árvore numa grande floresta. No dia seguinte acordou tonto, pensando que estava morto, pois o sol estava fazendo um lindo espetáculo no nascer, as aves cantavam uma canção perfeita para a vida. O rapaz sabia que se não estivesse morto iria morrer a qualquer momento, mesmo assim começou a aproveitar a vida como nunca aproveitou antes, pediu perdão pelo seu erro para si mesmo e, perdeu o medo de tudo, continuo a andar na floresta por mais um dia, 68 já fazia dois dias que não comia, mesmo assim a fome não lhe machucava, pois se alimentava com o vinho do amor pela vida. Viveu numa casa de uma senhora aposentada por três anos, na cidade vizinha, até a polícia acha-lo e decretar prisão perpetua, mesmo assim viveu muito melhor do que iria viver sem ter feito o crime. Não estou dizendo para você matar pessoas para viver feliz, estou querendo dizer para você reconhecer a morte ao seu lado te vigiando e não deixando você se arrepender de nada e aproveitando tudo como nunca fez antes. Nunca deixe para distribuir o amor amanhã faça isso agora, pois o amanhã não existe. Por mais que seu erro no passado foi enorme, você deve esquece-lo e aprender com ele, ninguém pode falar que você errou, pois ninguém sabe o que é certo além de você. O maior desafio do homem é entender o eterno, você precisa saber que o bom e o ruim, o certo e o errado, a luz e as trevas, o deus e o diabo, a vida e a morte, etc... , são limites que o homem cria para poder conhecer o meio, mas esse meio é infinito, não existe barreiras para nada, quando o homem saber disso viverá em paz com o maior e único criador, o perfeito poder da imaginação que é eterno e está ao seu controle. Sentado no banco de uma praça, observei o relacionamento social entre dois homens, me veio na cabeça, o grande encontro do jovem chefe tessálico Aquiles e o poderoso rei de Argos Agamêmnon, logo pulei para trás do banco protegendo meu calcanhar, os homens pararam e se olharam muito sério até parecia que iria acontecer uma grande batalha, eles se aproximaram e começaram a bater nas costas de 69 cada um, demonstrando carinho, pois eram velhos amigos, mais uma lição que aprendi, nada é como aparenta ser, só é como você imagina ser. Eis o medo, o grande e temível medo; afinal quem é esse medo? Ele existe para que? Quem é o medo? Por que você tem medo do medo? Vamos a sua resposta meu amigo: o medo é algo lindo e admirável, que quem o possui não quer largar, pois é a sua segurança para viverem um pouco mais o futuro, que não existe, olhe para você e veja o seu medo, todos nós temos, cada um cria o seu, têm pessoas que tem medo do escuro e outras da luz, também existem criaturas que tem medo da morte e outras que tem medo da vida, na verdade quem tem medo do escuro vai ter medo de ser a luz, se existe medo da morte vai ter medo de viver a vida, eu tenho medo de algum dia o medo venha me dar medo, mas o maior medo de todos é o medo de você mesmo, o medo do que você criou, sem o medo não haveria o livro, pois tenho medo que você tenha medo da sua imaginação que criou o medo. - Meu deus! – exclamou Rose – que homem mais sentimental. Concordo, mas é fraco para escrever. – disse Marcos. Você flagra a estrutura? – perguntou Michael com tosses catarrentas. Que estrutura maluco? – disse Marcos com uma curiosidade nos olhos com remelas velhas. O cara está com pose de psicólogo. – respondeu Michael, aspirando o excremento esverdeado que escorria de suas narinas. Já sei o que o porco quer dizer. – disse Márcia. Também não precisa abaixar o nível, sua piranha. – disse com humor Michael. 70 - - - Ta bom, - falou Márcia – esse demente parasita, quer dizer que o Condor Amarelo está utilizando uma tática de escritores é... digamos... de auto-ajuda. Como assim, nega. – perguntou Rose. Não sei como é o nome, mas diz Nietzsche que foi ele quem inventou, - respondeu Márcia – bom inventar não, mas talvez ter notado antes sim. Diz logo, - falou Marcos – o que é? É, simplesmente a linguagem que você fala com si mesmo. - respondeu Márcia. Ah! – falou Rose – quer dizer que escritores de autoajuda dão ênfase para essa linguagem? Na mosca. – disse Márcia. Tipo, pode dar uma pequena idéia pra eu sacar melhor? – perguntou Michael – ó senhora das idéias. Pois não, - respondeu Márcia – ó senhor das bactérias, - gargalhadas – existe uma cidade onde mora um menino, esse menino é doente e sonha em poder jogar futebol com seus amigos, todos os dias ele olha para fora de sua humilde casa e, pensa: “minha mãe não deixa eu ir jogar bola, vou ficar mais doente, o médico disse que tenho um bicho dentro de mim, mas um dia vou ser um grande jogador”. Ai! Que lindo Márcia, - disse Rose – vou terminar, continuou a história Rose – o menino matou sua mãe de tédio, ficou muito pior e não conseguia pensar em coisas boas, como jogar futebol, então em sua mente apenas se ouvia a palavra morte, morte... ele morreu e, seu médico que tinha condições de curar sua doença ficou com remorso: “poderia ter curado esse menino, que mostro sou, esse dinheiro era preciso para comprar um jogo de rodas novos para meu carro, não tenho culpa, quem mandou nascer pobre, a culpa é do governo.” Parabéns! – disse Michael – entendi como é a linguagem, mas achei uma porcaria. 71 - Sim, - disse Márcia – você é um intelectual, não esconde o que pensa, mas pessoas normais acham isso mágico, pensam que o escritor é deus por descobrir o que pensam. Marcação pedida. Isso deve ser bastante difícil para você. Depois de sair de coisas prematuras. Entrar num reino desconhecido. Uma tentativa de fugir. Palavras escassas. São as poesias o início do fim das palavras. Idéias puras um dia surgirão. Um livro que apresente apenas o título. Eles começaram a ler depois do almoço. Agora já consta um sol no horizonte oeste. Paula está bem. Come raízes. Enquanto no apartamento os jovens sem educação tradicional lêem o livro achado. Que toma sua atenção do meu livro. Problema é razão. Palavras e sons; acho eu, que não “são arco-íris e falsas pontes que ligam coisas eternamente separadas”. Mas sim coisas que criam essas coisas. Não pense que isso seja resposta prematura. Tudo até aqui é ensaio. A resposta está muito além. Você pode sentir nas folhas em que ainda deve ler. Continue agora no livro intrometido. Estamos viajando há muito tempo saímos de um lugar, para chegarmos ao mesmo lugar, logo não saímos do lugar, mas que lugar é esse? Este lugar chama-se eu, eu ando muito sem andar. A filosofia é o grande combustível do conhecimento, porém o seu grande erro é buscar o limite total, levando o limite nas mãos e, parando quando cansa. O limite total não existe e o limite que ela leva chama-se razão, a razão é o motivo para ela poder andar, então você pode ver que todo o caminho aberto pela razão chama-se imaginação, então por que não pára de levar o limite e anda sem ele? Pois o resultado é o mesmo, porém menos doloroso e muito lindo. Eu sou o que você imagina que sou e, mais nada. 72 No séc. XXI existem coisas de grande importância, que mexe com a imaginação, a tal da Nova Ordem Mundial e o anticristo. Há pessoas ligadas a uma beleza da imaginação, que é a magia das tradições. Na capital do Egito, em abril de 1904, um homem teve uma linda imaginação que levou ele a escrever um livro muito belo e inteligente, que têm um grande poder de mexer com a imaginação das pessoas, que podem conseguir muitas coisas, como fazer buracos em nuvens, quebrar copos e outras coisas que você imaginar, mas esse movimento não mexe somente com a imaginação dos homens desse século, isto é milenar, existem pessoas que imaginam que isso não serve para nada, a não ser governar e induzir ignorantes para a magia e, descobrem símbolos das tradições no meio político e muitas outras coisas entre deus e diabo, e ocultismo de ideologias. Eu conheço muita coisa que existe na Terra em todos os tempos, mas estas brincadeiras são as de maior importância, pois o ocultismo desperta muito a imaginação dos homens, inclusive dos que não acreditam e tentam criar medo nas outras pessoas, dizendo que magia é coisa do demo, mas ninguém sabe quem é o demo além de você, o livro de magia fala muito do que quero transmitir sobre o universo individual, eu adoro essa brincadeira que os mágicos e os críticos fazem, pois eu imagino um monte, até coisas que não quiseram transmitir. Agora que você criou algumas aventuras que tive na Terra após minha morte, vai entrar no grande mundo da imaginação, a história que se segue, deve exigir que você tenha uma grande concentração, trata-se de uma das chaves desse livro, por isso antes de começalo, olhe para dentro de você e veja se está tudo em ordem e harmonia, você deve ler está história em uma hora que tenha certeza que nada vá lhe interromper, 73 pois você nunca deverá reler está história, nem mesmo voltar a repetir uma só letra, porque o efeito é único e nunca mais se repetirá como o da primeira vez, leia atentamente cada letra e reflita sem olhar para o livro, para que o efeito seja o melhor possível, tire de você qualquer critica e não ponha limites na imaginação e viva cada segundo porque ele é o último. Nas páginas seguintes, você vai conhecer o verdadeiro criador do universo, tenha certeza que está preparado, sem a companhia do medo e da ignorância e acompanhado pela sua amiga morte, para que você possa viver sem se arrepender por não fazer, respire fundo e deixe o criador te governar, lembre-se nada é como parece ser, abra a mente para sempre. - Estou com medo. – disse Marcos rindo. Dá um tempo seu bundão. – pediu Rose. Esse cara só pode ser doente, - falou Márcia – aparece com um papo de magia, nada haver. Que livro é esse de 1904? – perguntou Michael. É, a volta de Alice do país da magia. – respondeu sob gargalhadas Marcos. Sei lá que livro é, - complementou Márcia – mas vocês sacaram um lance estranho? Diz. – pediu Rose. O cara é viciado na palavra “que”, - falou Márcia – por tudo que é lugar, lá está o “que”, sujeito maluco. Fora que o cara odeia ponto, - disse Marcos – deve ser casado com a vírgula. Essa parada de repetição de palavras já me desperta há um bom tempo. – disse Márcia. Sim, flagrei sua pira, - falou Michael – ás vezes usamos palavras constantemente em um diálogo, parece que ela fica temporariamente mentalizada. 74 - Podemos dar um nome para essa palavra parasita. – sugeriu Marcos. - É, vamos chamá-la de cucalogo. – disse Rose. - Cucalogo? – perguntaram todos. - Sim, cuca de cabeça e logo de diálogo. – respondeu Rose. - Não, então sendo assim, - falou Michael – vamos chamá-la de mentalética. - É, ficou legal, - disse Márcia – menta de mentalizada e lética de dialética. - É, - disse Michael – como adivinhou? - Elementar meu caro fungo, - respondeu com humor Márcia – estava na cara. - Então o nosso Condor Colorido, - complementou Marcos – está com palavras mentalética em seu livro. - Quais? – perguntou Michael com a língua na bochecha capturando uma casquinha de feijão do almoço. - “que”, “mexer”, “muito”, “grande”, “coisas”, respondeu Marcos – talvez também “imaginação”, mas acho que esse é o assunto, “nunca” é mais uma ... deixe-me lembrar é... bom, ta bom. - Se alguém escrever um dicionário, não deve esquecer de mentalética: palavra mentalética, é a palavra que está constante no ato de se expressar. – decretou Rose. Veja. Meus amigos já estão criando. Não perdem nada. Essa história vai dar o que falar. Falando em falar, lembra de Paula? É, ela está muito bem no seu primeiro dia com a índia. Prepara-se para dormir. Lá tudo é mais cedo. Não tem luz. Enquanto seus amigos lêem “Vida?” ela dorme na vida. Preste atenção. Parece que tudo já passou, mas ainda nem começou. Você tem que notar, a existência de um outro livro. Esse livro pode lhe enganar. O tempo é ilusão. Pense antes de pensar. O começo do raciocínio é no fim. Parece tudo bobagem, 75 mas o livro intrometido também é chave. Quer entender essa história, então sua atenção deve ser total. Caso não queira faça o que quer. E, perca vida. Uma história encontrada atrás da igreja. É uma história à toa. Mas uma história que fala sobre uma história encontrada atrás da igreja. É uma história sem tempo. Agora que já tem uma noção. Que venha sua razão. Desistir de ler é fácil. Ler é para gigantes. Não se meta onde não é bem vindo. Quer saber o que é saber, venha preparado. Não importa o tempo que leve para ler. Isso é aquilo. Acha que passei anos pensando para dar tudo certinho? Veja bem, não quero ser chefe. Quero ser lido, hei? Mas será que não quero ser criado? Chega de criação, Márcia é quem pede. Já basta um livro. Quem pensa sob isso, está agora pensando. Mas quem pensa sobre isso, está agora rindo. Vamos continuar a ler o outro. É quase, simetria. Você está em um lugar totalmente escuro, não existem barulhos, é a verdadeira morte, desconhece o que é luz e escuro, não sabe o que é barulho e silêncio, também nem imagina o que é frio, calor, fome e prazer. O tempo não existe, você está sem nenhuma noção de vida, mas de repente você enxerga uma forte luz branca e uma força que te empurra para ela, logo tudo em sua volta está branco, escuta barulhos que te assustam e você começa a chorar com barulho do seu próprio choro, fica mais assustado e chora mais, começa ter noção do tempo após cansar de chorar, algumas imagens surgem e sente o seu corpo pela primeira vez ao perceber o toque de alguma coisa. 76 Observa pela primeira vez os seus braços e nota que consegue comanda-los, agora olhe para aquele homem branco, com as mãos vermelhas, sinta o calor do corpo de sua mãe e o sabor de seu leite, perceba como te olha com amor, esse mesmo amor que te empurrou do lugar sem vida, atentamente veja o tempo agindo sobre o seu corpo, fazendo você conhecer muito mais tudo, agora você já pode andar, está com panos em volta de seu corpo. Está agora passeando com sua mãe e avista outros meninos com o mesmo tamanho, você está brincando com eles, são muito curiosos e começam a puxar o botão de sua roupa, então pegue no nariz dele e aperte, e perceba ele olhando para o seu próprio nariz, entortando os olhos. Agora você está um pouco maior dentro de uma sala de aula, aprendendo a brincar com a vida. Imagine alguns colegas que são bons para você e, veja crescerem com você, olhe os detalhes de seu reflexo no espelho, melhore o seu visual conforme você aprendeu, pois vai encontrar a pessoa do sexo oposto que te faz feliz, perceba está felicidade acabando, porque você e a outra pessoa não conhecem o amor, aquele amor que pode ter durado pouco, mas foi o suficiente para você nascer, pare e olhe o seu erro em tentar com a felicidade construir o amor, pois a felicidade é fruto do amor, é lógico que o fruto produz a semente para o amor, o problema é você saber plantar, plante está semente em você, depois de o fruto para a pessoa que você ama. Repare os detalhes da cidade, a igreja, imagine como tudo foi construído, inclusive o mundo todo, aproveite cada segundo, para o conhecimento, nunca deixe de absorver a imaginação da religião, filosofia, senso comum e ciência, pois vai ser muito útil. Veja as formigas, olhe aquela que carrega o corpo de sua amiga na cabeça, observe aquelas pessoas que 77 convivem com você, formule questões sobre tudo que fazem e escute atento suas respostas. Agora olhe o seu corpo, ele está muito velho, tudo que era já não é mais como era, o grande tempo transformou a matéria, mas também minha mente, sinta o seu corpo ficando gelado, as pessoas chorando ao seu lado, aquele mesmo choro que te assustou te faz feliz, observe o formato do caixão que você está, o frio aumenta junto com a escuridão da tampa ao fechar, escute o barulho da terra batendo no caixão e a luz indo embora, logo tudo está como começou, sem barulhos e escuro, sem qualquer sentido, porém você tem o maior de todos funcionando eternamente, a imaginação, lembre das teorias da igreja ou ciência, sobre o início de tudo e comece a criar o seu universo novamente, num ciclo eterno, porém cada vez mais superior e lindo, a morte não existe mais, ela só existiu na sua ignorância total. Agora vem a grande pergunta, que você deverá responder sobre o que leu acima, responda em um papel separado do livro, após ler a pergunta não continue a leitura sem ter respondido no papel, feche o livro e responda com cuidado, sem noção do tempo, recomece a ler o livro de preferência após uma noite de sonho. A resposta não precisa ser longa, basta ser sim ou não, e dizer o porquê. Eis a pergunta: Obs: não releia o texto. Quando você estava no lugar escuro, sem barulhos na verdadeira morte, tudo o que você viu, sentiu saboreou, ouviu e cheirou, após ter sido empurrado para luz, já existia? - Nossa! – exclamou Rose – que pergunta mais maluca. Vamos feche logo o livro. – disse irônico Marcos. 78 - Não deforme, - pediu Márcia – seu tonto. É, - disse Rose – isso pode ser uma macumba séria. Pra mim – falou Michael – isso é um místico confuso. Esse papo de escrever a resposta é pra todos fazerem? – perguntou Marcos. - É, - respondeu Michael – se você não responder e continuar lendo esse livro hoje, o escritor vai matar você em seu sonho. - Nossa! – disse Rose com um sorriso imperceptível – escreverei rapidamente a resposta. - E, qual será? – perguntou Márcia. - Talvez.- respondeu Rose. - Talvez? - disse Marcos – essa resposta está eeeeeeerrada. - É, por isso que vou escreve-la. – disse Rose. - Parem, - gritou Michael – vocês estão mais loucos que esse cara, deixe essa porcaria e vamos dormir, quero sonhar com minha deusa puta do quatorze. - Claro, - disse após as gargalhadas Márcia – quem sabe eu seja a sua resposta. - Resposta? – perguntou perplexo Michael. - Sim, eu sou para você um não ambulante, respondeu Márcia – lembra quando disse não para você na sua tentativa lunática de me agarrar no banheiro? - Isso faz quatro anos, - respondeu Michael – hoje parei de correr atrás de piranha. - Calem as bocas loucas, - gritou Marcos em sua cama – quero dormir. - Não esqueça da resposta. – brincou Rose. Logo todos estavam dormindo, o manuscrito estava fechado sobre a mesa central da sala. Marcos roncava como um porco. Michael pensava em sua vizinha masturbando-se por baixo do lençol. No outro quarto, Márcia penteava seus cabelos diante de um espelho embaçado com o vapor da ducha, em que ela tomava banho. Rose estava deitada com receio, pois estava 79 pensando no fato de não ter escrito sua resposta, conforme estava pedindo o livro. Resultado: todos estavam dormindo exceto Rose, mas esse resultado só durou até ela se levantar e escrever um sim no papel higiênico, grafou o porquê de sua resposta e foi dormir cautelosamente. Aproveitando que todos então dormindo e, acima de tudo que o manuscrito está fechado, vamos em silêncio para o Peru, saber como está a primeira noite de sonho de Paula na tribo de uma índia só. Sobrevoando o local, encontram-la, ao lado duma fogueira quase extinta, com olhos bem fechados, aproveitando uma proteção nativa para tirar o atraso das noites que passou acordada. Aproveitando esse embalo, repare no que acabou de ler, veja que a palavra “aproveitando” é minha palavra mentalética do momento. Já que todos dormem, podemos colocar uma certa ordem aristotélica nisso tudo. Veja se você está acompanhando. Primeiro falei de Paula, depois de seus amigos, logo esses amigos encontraram um livro, que estou apresentando para você com comentários como esse. Se você estiver mais ou menos por aí, sinto-me satisfeito. Agora devo pegar um papel responder a pergunta que Condor Amarelo nos fez e ir dormir, pois os escritores dormem ao contrário do leitor. Vou responder só por respeito profissional, não que eu creia nessas magias infantis, pois sou mais filosofia e magia é o oposto da filosofia. Mas isso não me impede de dizer que são elas a mesma coisa. Se você estiver lendo isso de dia, continue lendo, mas só leia isso de noite caso você seja um bom leitor, pois deve ser muito cansativo. Bom sonho. Vou dormir. Mas isso não quer dizer que na seqüência você não vá ler o “Vida?”, pois como você sabe, aqui o tempo é loucura. E, deduza que alguém tenha levantado já n’outro dia e começou a ler. Pode ser Rose mesmo, ela é a mais curiosa. 80 Se você prestou atenção no seu sonho, lá estava eu dando a resposta direta ou indiretamente, mas se não conseguiu prestar a devida atenção confira a resposta: “NÃO, porque mesmo se existisse, você não saberia, pois não existia”.Confira sua resposta se acertou ótimo, caso não tenha acertado se adapte a ela para poder progredir no livro, se você não acertou e não concordou com a resposta, peço que não perca seu tempo lendo esse livro, pois nada aqui escrito vai te ajudar, você precisa entender que nada existia antes de você nascer, quando você nasceu aí começou a surgir tudo, inclusive o passado, futuro e presente, se você não entendeu isso, procure entender, mas se não concorda mesmo tendo entendido, vai concordar como eu concordei e vai amar corretamente a vida após a morte na Terra. Não sou o dono da verdade, pois o dono é você, nenhuma coisa se cria do nada, há não ser, se você se considera o nada. Observe o que você agora está olhando, é um negócio estranho, veja esse fundo branco que nada diz, cheio de traços negros cada um diferente do outro, uma pessoa que não sabe ler, simplesmente vai ver um monte de folhas com desenhos estranhos que só servem para fazer fogo, mas você que sabe consegue criar um universo inteiro, com muita aventura e amor, porque aquela pessoa que não sabe ler não consegue criar esse universo e, você que sabe consegue? Talvez porque ela não teve oportunidade para aprender a ler, mas existe um livro que não precisa saber ler, ele ensina a você criar o universo sem as letras, mas com idéias. É o livro de todos, qualquer um pode lê-lo, basta você e ele querer. Sua página é azul e os traços são brancos, ele mostra histórias que jamais você vai reler, por isso é 81 necessário prestar muita atenção, nos personagens e suas mutações, o nome do livro é céu. Um dia este livro me contou uma linda história, que começou a leste e terminou a oeste, era duas crianças que jogavam uma bola para lá e para cá, logo a bola se transformou em um pássaro e uma criança em uma bola, de repente a outra criança se transformou em um velho, que olhou o pássaro se transformar no seu amigo e depois o velho se transformou no pássaro. Olhe o que as nuvens contaram, é uma verdade da vida, você tem um amigo que sempre brinca com você, quando perde esse amigo, vê o objeto indo embora, esse objeto era o motivo para brincar, a bola. Seu amigo não tem mais força para brincar, mas se transforma no objeto de motivo da brincadeira, a bola. Sem perceber isso você sofre olhando o pássaro indo embora e enxerga o seu amigo indo junto, logo também resolve ir embora se transformando no pássaro, sem perceber que seu amigo estava o tempo todo esperando você brincar com ele, nunca pense que a morte pode quebrar uma amizade e proibir a brincadeira. - Bom dia Márcia – desejou Rose – você já leu a resposta? Que resposta? A resposta da pergunta do manuscrito. – respondeu Rose. Não, - disse Márcia – qual é? Não. Não? – perguntou Márcia, assustada e convencida do egocentrismo do autor. É, - conclui Rose – eu fiz a brincadeira do papel, mas errei. 82 - Deixe pra lá, - disse Márcia consolando a amiga – um dia você acerta, onde está o café? Hoje é dia do Marcos... acorde seu vagabundo. Rose continua lendo o livro. E, eu logicamente acordei, pois notei algo cabeça nisso ali em cima. Condor Amarelo quer roubar o tema do meu livro? Não, não acho que só jogou uma idéia, nada mais. Uf! Pensei que teria que entrar numa bélica fonética com esse cidadão amarelo. Eis as fontes da vida: I – Vencer com amor toda a dor. II – Há cada um, um trecho do dentro. III – Tudo consome o que não existe. IV – A calma da pedra, a rocha da vida. V – Sempre há distância entre tudo. VI – Perca a hora para perder a vida. VII – Cante á tudo e a todos, o silêncio da casa tua. VIII – Eu sou o ninho da vida. IX – Enterre o que nasceu da Terra. X – Canção do ar com para amar. XI – Trave a porta, para não fugir. XII – Olhe o espelho para mim. XIII – Olhe para você e veja eu. XIV – Traga o meu amor por mim. XV – Tufão da vida, transeunte na vida. XVI – Orgulho do entulho. XVII – Pense no alto, veja o fundo, olhe o mundo. XVIII – Estrela criadora, que aponta a dor, que perde no teu amor, para tudo que sempre funcionou como todas as coisas são, não são como você brilhou, mas tudo é seu amor. Da forma que você traduzir está correto, mas se essa forma foi copiada, então será anulada. É necessária toda a sua sabedoria para entender as 83 fontes da vida, não posso ajudar para não ir contra a natureza. Este é o primeiro teste para crescer, a chave das fontes chama-se amor, você precisa saber o que é amor para poder traduzir sem essa tradução a vida não tem a solução para as perguntas, usar a imaginação não dói e resolve. Não é o fato de todas as pessoas pensarem que uma coisa é verdadeira, é que torna ela verdadeira, mas sim o fato de você pensar que é verdadeira. As pessoas não são inteligentes porque querem, mas sim porque você as faz ser. Eis o grande combate: Ó combate tão belo tu foi, o mais belo que o universo presenciou, veja a armadura riscada do derrotado, está vivendo o prazer da derrota que conseguiu, derramando pelo corpo lágrimas de sangue que lavam sua alma. Ó vencedor tu foi o grande superior do combate, ocupa o lugar que merece no degrau mais alto possível, mas algo ocorreu com o vencedor, aparenta estar novamente combatendo, não está satisfeito com o seu lugar, sua alma não demonstra mais sua superioridade, veja o grande vencedor tomado e vencido pelo amor e piedade, suba no meu lugar amigo falou o vencedor, não mereço tal homenagem deixe-me com o que mais venero que é o lugar a onde não vou mais cair, agarrase na sua espada e finca na terra, tremendo a península, para do lugar da derrota não poder sair, veja o vencedor derrotado pelo maior vencedor do universo, ele desce para poder superar a dor da derrota com o seu derrotado, as lágrimas e sangues 84 dos dois combatentes mancham a terra e fazem o tapete real para o maior vencedor que o universo já criou passar e consolar os derrotados, esse grande vencedor encontra-se em qualquer lugar onde houver combates e seu nome é amor. O maior vencedor desse combate, não ocupou o lugar do vencedor e pediu para dizer ao mundo inteiro que ele foi assassinado pela piedade. No lugar que ocorreu, está hoje a pista que é a primeira para encontrar o tesouro, não há nada nesse mundo que você não saiba de mais, o objetivo do livro é responder a vida para encontrar o tesouro que ela criou. Numa noite de inverno, estive em Londres conversando com um velho alquimista, ele me apontou uma das grandes verdades da vida, nós estávamos tomando chá em uma lanchonete, quando eu perguntei: - Você sempre vem aqui tomar chá? - Todos os dias e no mesmo lugar – respondeu o alquimista sorrindo – mas não pense que isso é chato porque faço todos os dias. - Mas o que faz isso não ser chato, pois você sempre senta nesse banco e toma na mesma xícara o chá? – perguntei curioso sabendo que veria uma resposta sábia. - É aí que está o erro, pois nunca seria a mesma xícara e nem o mesmo banco, porque se fosse eu não precisaria vir aqui viver o que já vivi e tomar o que já tomei, - respondeu o alquimista satisfeito com sua resposta – tudo muda e nada permanece, só basta-nos observar isso. Tudo o que você olha é novo no universo, porque você está criando no momento que olha, não pense 85 que aquilo que você olha, você já sabe o que é, e como está, pois se você soubesse não precisaria da visão, porque já sabe tudo, é esse o grande perigo da vida, você pensar que o que observou ontem é igual o que observa hoje e assim por diante, num ciclo vicioso que impede-nos de criar novas coisas, por pensar que existe rotina, o grande sábio enxerga as verdades em coisas simples, em qualquer momento desprezando a igualdade, pois nada é igual a nada no universo se um sábio, nem mesmo o seu próprio reflexo no espelho. Após tomar o chá o alquimista tirou uma moeda do bolso e a colocou encima do balcão, se despediu do garçom e me convidou para dar uma volta pela cidade, entramos em uma rua muito silenciosa com casarões antigos que mexiam com minha imaginação, o único barulho daquela noite era da velha coruja branca, o alquimista estendeu o braço e a ave desceu do mastro no alto de uma residência pousando em seu braço. A coruja era linda e rara, ele me falou que era uma velha amiga de aventuras psíquicas, eu olhei para ele e antes de perguntar o que era isso, ele já veio com a resposta, é como se ele lesse pensamentos: - Aventuras psíquicas são coisas que você cria através de um animal muito amigo, - assim disse o alquimista, olhando para mim como se estivesse me perguntando se já tinha entendido – você pode transforma-lo no que quiser, para satisfazer suas brincadeiras, mas somente você pode ver, por isso cuidado para não ser visto e se passar por louco. Ao terminarmos a rua avistamos uma praça onde fomos sentar em um banco, comentei sobre a noite que estava sem a Lua, ele ficou quieto e começou a olhar para o céu por um longo tempo, sua coruja voou para a floresta atrás da praça, não entendia o que aquele homem com barbas longas e brancas olhava tanto para as nuvens, então resolvi olhar para onde ele olhava, havia uma grande nuvem parada 86 esperando o vento leva-la para a lua poder brilhar, de repente um buraco na nuvem começou a se formar, a luz da lua passava por ele e deixava uma marca como um risco no céu, iluminando a torre de uma igreja, logo percebi que era o velho que fez o buraco, ele continuou até o buraco ser tão grande a ponto de a Lua poder iluminar toda a cidade, foi maravilhoso como o velho usou sua mente, então perguntei: - Como você consegue fazer isso? - É simples, dá mesmo forma que faço tempestades, crio os ventos e ondas nos mares, só basta você saber que você é o criador, para saber isso precisa sabedoria. – respondeu o alquimista com um olhar brilhante e puro. - O grande problema é justamente este – perguntei ao velho com segurança de uma resposta sem nexo – como conseguir a tal sabedoria? O alquimista se levantou e fez sinal para eu o seguir, fomos até a beira de um lago, onde ele falou: - Se ajoelhe e ponha a cabeça perto da água. - Mas por que você quer que faça isso? – perguntei com receio. - Para você ter a resposta para sua pergunta, respondeu com amor o alquimista – mas se você não quiser tudo bem, eu não perco nada. Imediatamente fiquei de joelhos e o velho pegou no meu pescoço afundando minha cabeça na água, até eu começar a me bater e, perguntou: - O que você mais desejava quando estava com a cabeça na água? - Era de poder sair dali e respirar – respondi assustado. Então o alquimista declarou: - Quando você desejar a sabedoria tanto quanto desejava respirar de baixo d’água, você a terá. Nunca mais vi o velho alquimista, que me ensinou a lutar pelo meu sonho, certo dia descobri que o exercício que ele fez comigo no lago, um filósofo 87 grego chamado Sócrates já havia feito; foi então que percebi como era grande a sabedoria do alquimista, posso dizer que a fonte da vida VI, tem muito haver com este assunto tratado com o alquimista, ás vezes é necessário ajudar mesmo sabendo das conseqüências. O Himalaia guarda seus mistérios, certa vez no Tibet, um homem prometeu para sua mãe que subiria no K2 em sua homenagem quando ela morresse. Então este dia chegou, sua mãe havia morrido um dia antes dele partir na grande aventura. Passou seis dias e esse homem já estava no pé do mais perigosa montanha do planeta. Este homem era monge e sabia o teorema da vida, por isso não tinha medo de enfrentar sozinho o desafio mortal, levava com si um pequeno diário para fazer sua anotações, pois a montanha contava muitas verdades. No dia em que este homem alcançou o cume do K2, ele estava totalmente magro por não conseguir comer devido uma inflamação na garganta, sabia que não iria conseguir voltar ao Tibet e sua vida estava acabando, começou a ter alucinações e escrever sem parar em seu diário. Na volta deixou o seu diário dentro de uma bolsa com todas as idéias no cume do K2, pois não queria que elas morressem como ele, soterrado por uma avalanche no primeiro dia de descida. O diário foi encontrado por um alpinista da suíça, que falava varias línguas inclusive o mandarim, que é a linguagem do diário. Na volta da escalada o suíço resolveu conhecer as pirâmides do Egito, logo depois foi para Tunísia onde atravessou o mediterrâneo de navio, foi nessa travessia que a humanidade perdeu a mais bela descrição da vida, ao ler as primeiras páginas do diário, o suíço levou um susto com uma 88 gaivota e derrubou o diário no mar, que rapidamente fez sua leitura carinhosa desmanchando as páginas e engolindo para o fundo do mundo a sabedoria de um homem especial, por toda a Sicília. Triste o suíço sentou-se em um banco metálico, pegou uma caneta e um papel e escreveu as páginas que leu no diário que mexeu no seu coração. No papel estava escrito, o local que achou o diário e todo o seu começo, que nunca mais vamos saber o fim, encontrei este papel junto com o diário do suíço, nas ruas de Berna, provando o quanto o alpinista era desastrado. No diário do suíço, nada tinha de valor, então resolvi devolve-lo, mas lógico que não devolvi o relato do diário do homem do Tibet. Não estou falando que os suíços não criem coisas belas, mas aquele suíço com certeza não era um poeta. Vejam um pedaço do pensamento daquele desconhecido, mas grande monge: “Não devia ter chorado a morte de minha mãe, porque não tenho mais lágrimas para chorar na minha. A cor da morte é preto e a da vida é branco neve, agora entendo a vida eterna; os dias chorando por ela, me fez entender, costumo dizer que a morte é um gelo, a fantasia o calor, e a vida a água. Quem é você que está me fazendo chorar de medo? Por que olha para mim esperando alguma coisa? Por que o seu nome é vida? Será que você pode me responder? Não entendo o porquê disso, mas sei que estas respostas somente existirão quando eu saber responder esta pergunta: Quem sou eu? Ainda bem que não tenho esta resposta, pois se tivesse, não era apenas o meu corpo que morreria hoje, mas também a minha alma”. 89 - - - Esse suíço é burro, - disse Rose com tédio – como pode ter perdido o diário? O que está acontecendo? – perguntou Márcia fritando ovos – Condor morreu? Não, - respondeu Rose – é que surgiu um escritor suicida na parada. É, mas quem é? – indagou Márcia. Um monge sem nome, - falou Rose – que escreveu segredos para o mar. Que louco! – disse Márcia – deve ter escrito para Poiseidon. Quem ousa tocar em meu nome? – perguntou Michael, se espreguiçando. Coitado, - falou Rose – se você fosse o deus do mar, não federia tanto. Ei guria, - gritou Michael – tomei um banho ontem quando acordei e raspei a língua para lhe beijar gostoso, mas você tira toda minha moral, ta pensando que é deus? Sua piranha. Acorde o Marcos, - mandou Márcia – para preparar o nosso café, e pare de ser infantil, seu antropólogo de punk. Pelo menos faço alguma pesquisa descente, retrucou Michael – não fico pensando que percepção e razão são coisas distintas, você deveria sentir a vida, por que não trabalha de prostituta? Com esse par de coxa ganharia mais, do que filósofa de louco. Cala boca, - disse Márcia com humor – não preciso andar atrás de mundos, sou um. Esse livro te piro legal, - disse Marcos – já pensa que é Odisseu contra Poiseidon. Como proprietária do apartamento, - decretou Márcia depois dum sorriso – quero que todos tomem café e ajudem eu e Rose nesse manuscrito, temos o dia todo. 90 - Sim majestade. – brincou Michael indo acordar com um cubo de gelo o Marcos. Nesse tratado tema, posso dizer algo. Sendo o regedor de todas as palavras, digo que vamos entrar em coisas estranhas. Mas o livro intrometido ainda nos guarda segredos. Rose lhe tem nas mãos. Tudo que precisamos é saber quem é o narrador. Pelo que entendi: Luiz está escrevendo o que Condor Amarelo lhe diz, mas a dúvida principal é saber se Leucipo de Minas está ou não escrevendo Luiz. Dúvida que só será diluída nas águas gramaticais do fim disso, se é que tem. Agora preste muita atenção, esse meio em que você faz parte, não encerra nada. Isso pode ir muito além. Sou deus aqui, mas nesse meio sou uma criatura e, você passa a ser deus. Não pergunte mais nada. Finja que tudo se acaba em ti, pois logo você estará perdido entre uma criatura e um deus, jogado entre o céu e a terra. Não pense, essas palavras na são capazes de definir nada. O que transcorrer nessa volúpia, será seu caminho. Não queira mentir para si, terá que ser muito capaz. Tudo terá que ser uma única coisa: seu conhecimento, sua imaginação, sua razão, sua ideologia, essa que agora passa a ser uma metamorfose lingüística. Tudo se resume em entender ou não esse livro. Quem perde ou ganha nisso é você, pois Paula e seus amigos continuarão eternamente aqui. Esse livro já está em seu acme intelectual, mas só em seu começo. Olhai os lírios do campo, olhai mesmo. Eu sou F.: C.: I.: ( filósofo cósmico I; ou Condor Amarelo), faço parte da sociedade secreta F.: C.: V.:, formada por pessoas de várias nações, mas todos somos cosmopolitas; somos onze membros, todos mortos fisicamente no planeta Terra, mas como vocês sabem resolvemos voltar para ajudar a Terra. Este 91 livro é o último contato que teremos na Terra antes de cada membro voltar para seu planeta. Quando você estiver lendo está obra, estaremos muito longe, mas por enquanto estamos espalhados no futuro, passado e presente do planeta, modificando o mundo para melhor, mas não no sentido coletivo, pois este sentido não existe e sim no individual, se transformamos em qualquer forma de vida, que você imagina, em todas as épocas, você já conhece um pouco de minha história e aventuras na Terra. Eu apresentei as fontes da vida e uma das pistas, que leva a um presente que a F.: C.: V.: escondeu na Terra, é o maior tesouro que o homem já criou, mas a pessoa não pode ter nos olhos a marca do cifrão, pois impede de progredir na vida, pois não vai conseguir enxergar as verdades, também não deve duvidar da imaginação só porque tem sabedoria para dizer que esse livro é falso e serve somente para ter o ouro de tolo, pensando assim você estará fora da rota secreta, mas por um lado é bom, pois está aumentando as chances dos que acreditam. Foi comentado sobre um livro escrito em 1904, este livro foi a primeira tentativa de passarmos nossas idéias, mas infelizmente o livro não teve uma boa aceitação mundial em massa, porque o escritor era visto como um homem mau pela sociedade, o que não era verdade, este homem era muito sábio e conseguiu captar as idéias, mas as escreveu de forma muito complicada para as pessoas normais e inventou muito mais coisas do que pensávamos com a sua grande imaginação, então percebemos que não era o tempo certo para o livro. Este livro que você está lendo é totalmente compreensível pelas pessoas, por ser escrito por um rapaz muito mais ignorante do que o primeiro sábio escritor e, nossas idéias agora poderão ser bem 92 entendidas por todos, que adoram a vida com liberdade. Agora é um momento seletivo para progressão em busca do tesouro, as pessoas que acreditarem continuarão, caso contrário já estão eliminadas, ao lerem as palavras secretas automaticamente aceitará a que você escolher. A F.: C.: V.:, tem mais um membro fora os onze, ele é conhecido como o guardião do tesouro, as pessoas que seguirem corretamente as pistas saberão o lugar onde está enterrado o baú, mas é preciso responder o teste do guardião, ele ainda é vivo fisicamente, tem centenas de anos e somente vai morrer quando o tesouro for encontrado e ele ter a resposta do teste. O guardião se transforma em qualquer coisa seja animal vegetal e mineral, por isso muita atenção com este mago. Muitas pessoas não acreditam nisso, porque nunca viram, por isso quando lerem as palavras secretas estarão fora do jogo e da rota secreta. Eis as palavras secretas que vão confirmar sua fé na fantasia real: ANGI-KYNUMBOW. Se você têm preconceitos com pessoas que pensam diferente de você, infelizmente você está fora, mas feliz aqueles que acreditam, pois suas mentes estão sem bloqueios e vai ter imaginações ótimas para seguir a frente, este teste pode ser feito mais uma vez, mas vai ter que passar para não ter perdido a chance de encontrar o tesouro, se você não tiver acreditando é melhor fechar o livro, para poder viver o seu próprio tesouro psíquico. - Cara que gente louca! – exclamou Rose – escreve um livro para mandar não ler. O que é que ta pegando? – perguntou Michael mastigando um pão com ovo. 93 - É o livro, - respondeu Rose – ele começou a piorar seu misticismo. - ANGI-KYNUMBOW, - gritou Márcia – eu acredito nisso e vou pegar o tesouro, amém. - Cuidado sua demente, - disse Marcos – esse escritor faz parte da F.: C.: V.: cuidado. - Sim tomarei cuidado. - respondeu Márcia sob uma série de gargalhadas. Isso pode ser ruim. Já basto eu agora ele? Não quero que pare de ler, é tudo psicologia. Quando o frio chega tudo muda, a hora de sair é tranqüila e linda, os segredos aparecem melhor, sua mente não sente o calor externo, você fica mais prestativo com o universo, tudo melhor se cria e cresce, como uma lei inversa à natureza do pensar comum, a imaginação é o governo e você uma nação, a cada passo tudo muda para o sempre e o passado vira o presente de forma superior a ideologia do universo comum, observa de forma única em sua vida, conhece a sua invenção e lança para o futuro passo, sem se arrepender do passo passado, a concha brilha como o primeiro sinal do seu desejo, refletindo o negado cifrão que tudo cria e destrói no universo das formigas. Tudo termina a onde começou. Agora que tem o conhecimento necessário para progredir na história do livro e dos membros, vou começar a desenvolver o teorema da vida e criar a minha parte da rota secreta, você já possui as fontes da vida e sua chave que é de suma importância para todo o livro, pois é uma conduta da F.: C.: V.: a 94 primeira pista já faz parte do seu universo, também conhece a minha vida e histórias importantes para as fontes, porque apresenta as formas delas bebendo as águas. Para você que gosta do conhecimento obscuro, vai decifrar melhor o enigma, quando você estiver imaginando os segredos, eu estarei sempre junto de você da mesma forma que o guardião está junto do tesouro, por isso preste atenção nas coisas que aparentam ser simples como, por exemplo, um pássaro. Quando mais longe for, melhor a visão, vou lhes ensinar a mágica do universo animado, a observação é o segredo, certamente já sabe ler o livro céu, agora precisa saber ler o livro Terra, a primeira vez é bom que leia sozinho para ter confiança, depois de um tempo todos os amigos vão conseguir ler tudo o que você ler, veja como aplicar está verdadeira magia da sua imaginação. O primeiro passo é você observar de preferência um lugar natural, isto é, sem marcas do homem após conseguir neste lugar poderá aplicar, em qualquer espaço que desejar, até mesmo na cidade, a melhor hora é quando a luz solar já não brilha tanto, no começo da noite, olhe desconfiado do lugar, imagine que ali tenha seres fantásticos que podem aparecer a qualquer momento, não se limite a pensar que ele já existe, olhe fixamente para um ponto escuro entre as árvores, veja que ele começa a criar forma de um ser, pense qual é essa criatura, tudo é bem lento tenha paciência e fé que a sua fantasia é tão real quanto você mesmo, não se assuste se ela começar a se mexer, pois isso é normal, nunca crie com ódio porque pode ser muito perigoso, onde lentamente na floresta sempre alerta, veja as outras criaturas tomando forma, se estiver com amigos, aponte para o local e comente o que está vendo, logo ele também começará a ver e toda a floresta estará cheia de bruxos, duendes, lobos e tudo o que você imaginar, 95 mas é preciso ter fé como uma criança tem com suas imaginações, lembre-se a fé é dizer a verdade de uma coisa, que a razão e os sentidos negam. Essas brincadeiras não tem nada a ver com o propósito do livro, servem somente para exercitar a mente, para o progresso do maior poder que o homem possui, a imaginação, que muitas pessoas a desprezam e não acreditam porque pensam que é algo “primitivo” e desconhece que sem ela não existe a vida do seu universo. Para os psiquiatras que estão lendo este livro, compulsivamente dando nome as prováveis doenças que o inocente escritor Luiz possa ter, como paranóia ou esquizofrenia, peço que continuem assim exercitando sua imaginação, mas que se lembrem que também são humanos e que a loucura não existe, a única realidade é aquela em que cada um se sente livre nas atitudes do seu universo, qual a diferença de uma pessoa ver um bruxo na floresta e da anima e animus? Não existe a completa diferença, pois ambos saíram da mesma fonte, a imaginação. Vejo que está agora pensando que retirei estas informações de livros do C. G. Jung, do senhor Freud e também de livros do Aleister Crowler e lógico que sim, pois posso viajar no tempo e escrevê-los como quero, foi eu que os criei assim como você está me criando neste exato momento, tudo o que você sabe eu sei em dobro, mas o que seria de mim sem você me inventar no seu universo, não se limite em métodos científicos que servem apenas para te afastar da sua realidade. Que cor você enxerga entre você e o livro? Então por que o céu e azul? Mas se é por causa da luz, por que à noite ele é preto? Você disse que a cor do espaço é transparente, quer você me dizer que existe algo negro no céu, como uma parede negra? Ou quem sabe o espaço é negro como o ar entre você e o livro? Para estas perguntas, somente você sabe a resposta e 96 não adiante eu falar o que penso, por isso vou contar somente o que você deve ouvir: sem luz não existiria nada, porque o sol é quem faz toda a vida na Terra, porém “todo homem e toda a mulher é uma estrela”, portanto você e a luz do universo, sua mente é o sol, nenhuma outra estrela existe sem você. - - Agora esse sujeito está dizendo o que devia. – falou Márcia. Crowler? – perguntou Rose – quem é esse cara? É - respondeu Márcia – o maior mago do séc XX, bom eu acho. Sim, - disse Marcos – ele é o homem que Raul cita na sociedade alternativa. É isso aí! – disse Michael – viva... viva... viva o egocentrismo. Você é doente? – perguntou Márcia – isso é o tal do Nirvana negativo. Não sabia que existia esse disco. – falou Michael. Mas você é uma anta mesmo, - criticou Márcia – o Nirvana não é a banda de rock, é o estado espiritual almejado pelos budistas. Você e seus assuntos nada haver, - disse Michael – meu negócio é ler coisa que interesse para mim, curtir um barulho pesado e travar o fluxo mental, com cachaça. É, está aí a sua sina. – disse sorrindo Marcos. Voltando ao assunto, - disse Rose – o que acharam dessa pira de livro terra e céu? Coisa de louco. – respondeu Márcia. Interessante. – disse Marcos. É, esse livro leio sempre que bebo. – complementou entre gargalhadas Michael. 97 - Ainda bem que vai começar uma história nesse treco. – falou Rose. - Se não falar mais que eu sou deus, ta louco de bom. – disse Marcos. Leitor que agora lê. Repare na situação psicológica no apartamento. Estão lendo após terem acordado. Tudo está lento, suas idéias são fracas. O sentido que buscamos foi decretado. E, se algum homem dizer sem razão algo, pode saber que é Marcos ou Michael. Porém você nunca vai saber se foi um homem que disse. Aqui jaz uma sentença. Veja que ainda são escassas palavras que tudo regem. É sinal que Paula Palavra está por volta: - Trunky atí ‘ atocs; - perguntou a índia. - Não, - respondeu Paula – não tenho idéia do que diz. É, parece que só isso foi falado na chuvosa manhã selvagem. Paula está melhor. Algo como mãe e filha está preste a surgir. Isso já basta. Lá estão lendo os leitores mineiros. Michael sentado ouvindo a doce voz de Rose que também lê para os delicados ouvidos de Márcia e para o sanduíche com Marcos no controle do recheio mostarda vencida. Livro intrometido, conta-lhe uma história agora. Neste exato momento você está entrando na história do livro, que começará a ficar muito mais interessante do que foi até agora, aqui é o ponto de partida para o teorema da vida e principalmente para a rota secreta. Tudo o que você leu até agora, vai ajudar a entender está história, pois você sabe que para a imaginação não existe tempo e nem obstáculos. Cada membro desenvolveu um trecho para está história, que fala de um homem totalmente especial, que demonstra o puro coração humano. Este livro foi inspirado nele como a bíblia foi para Jesus, é preciso muita sabedoria para entender suas 98 aventuras sem se perder da rota secreta, porque foi ele quem criou a rota do tesouro ao percorre-la pela primeira vez. Você precisa entender muito bem que cada membro pensa diferente e tem as suas crenças e religiões, mas todos conhecem o poder da mente, por isso sabem o que dizem, minha religião é a magia, pois sou um mago, a magia é para todas as religiões o mesmo que a filosofia é para todas as ciências, isto é, a base. Na F.: C.: V.:, não existe preconceitos sobre crenças, porque sabemos que tudo é fruto do grande poder da imaginação. Observe cada aventura dessa história, as palavras não querem dizer nada, você deve prestar atenção nas idéias, mas as idéias são criadas pelas palavras, então peço que consulte o livro sagrado do cristão, chamado bíblia e, entenda o que está escrito em Atos 6:4. A história começa no ano de 1675, na Europa onde nasceu Halford Pahazy Filibuster, um grande bruxo admirado por alguns ladrões, que na verdade eram desempregados, eles viviam atrás do Halford que aprendeu tudo sobre magia vendendo seus bens em troca de sabedoria, com apenas vinte anos Halford era um grande sábio e sabia fazer muitos truques com sua fabulosa mente, que divertiam muitas pessoas excluídas da sociedade, como mendigos, ladrões e prostitutas. Halford morava nas ruas junto com seus amigos, após gastar toda sua herança deixada pelos seus pais em apenas cinco anos, em livros e aulas de magia e filosofia com mestres secretos na Inglaterra. Halford conheceu um pirata que assistiu uma das suas demonstrações que fez nas ruas de Barcelona na Espanha, perplexo com os truques de Halford o pirata chamou o capitão Thunder Waves, que a observar Halford o convidou para animar os piratas, Halford não pensou duas vezes, pois era o seu sonho poder viajar o mundo inteiro pelo mar. Em 1696, Thunder Waves conseguiu roubar uma grande embarcação que 99 transportava especiarias e jóias da Índia para Europa, com isso o capitão arrumou os seus doze mióparos e sua liburna para poder viajar até a América Central. Eles andavam muito pelo ocidente da África em busca de navios que vinham do novo mundo e da Ásia trazendo riquezas para os europeus, nas paradas no litoral Africano em busca de mantimentos e escravos, Halford que falava muito bem árabe se apaixonou por uma moça de Marrocos e convenceu o capitão, que virou seu grande amigo por também amar a sabedoria a aceitar, a moça no navio como sua esposa, Thunder Waves que tinha seus vinte e oito anos aceitou a proposta do amigo porque também estava apaixonado por ela, mas jamais tocou em dedo nela durante o pouco tempo que ela ficou á bordo, a moça tinha ficado grávida de Halford. Em 1699, os piratas estavam na América e neste mesmo ano Thace Pahazy Filibuster nasceu, nas proximidades da ilha de Tortuga. Os piratas se mantinham do roubo de gados que eles defumavam para servir de alimento em suas longas viagens, no fim do ano 1707, Thunder Waves e seus piratas começaram a sua viagem de volta para Europa satisfeitos com o sucesso dos roubos a pequenas embarcações, Halford cada vez mais evoluindo em seus deveres de pirata e de amigo de todos, foi escolhido para ser capitão de um dos mióparos de defesa do grande capitão Thunder Waves. Sua esposa e seu filho Thace ficaram no navio principal por motivos de segurança solicitado por Halford numa conversa com Thunder Waves no convés, antes de assumir o comando do mióparo de defesa. Halford entregou uma carta para o capitão entregar pessoalmente para seu filho quando crescesse o suficiente para entende-la, Thunder Waves sorriu ironicamente para carta e prometeu que entregaria. À noite quando o capitão foi dormir 100 lembrou da carta e ficou imaginando o porquê que Halford a escreveu, pois sabia dos poderes psíquicos do amigo. - Coitado de Halford, - disse com ironia Márcia – vai terminar na quarta cava do oitavo círculo do inferno. - Dante? – perguntou Rose. - Sim, - respondeu Márcia – é a base da bíblia. - Você está pirando, - disse Michael – como pode a Divina Comédia ser à base da bíblia? - Você está pensando que a bíblia é mais velha do que a Divina Comédia? – perguntou Márcia. - É lógico. – respondeu Michael. - Pare de ser ridículo, - falou Márcia – essa bíblia que temos agora é algo da idade média é pura política, brincaram com Dante. - Você viaja muito, - disse Marcos – a bíblia foi montada recentemente, mas foi escrita no tempo de Jesus, com bases filosóficas gregas e orientais. - Sim, - disse Márcia – mas somente alguns livros cabem em suas palavras, o resto é tudo inspiração, paraíso, inferno, esses negócios é tudo da Divina Comédia, esse nome também cabe exatamente, pois comédia é comédia e não o oposto de tragédia. - Parem de viajarem seus dementes, – gritou Rose – temos que continuar lendo esse livro, agora pode surgir a lógica desse manuscrito, vamos saber se é ou não um presente de grego. Rose gruda seus olhos no livro que achou. Todos escutam sua voz. O calor do meio-dia está quase surgindo, agora são onze. Lá na floresta Paula não sabe nada sobre tempo. Sua vida é controlada por: a.C. e d.C. (antes da chuva e depois da chuva). Isso pode parecer ironia, mas é sério. Esse gemido que surge nas páginas viradas é o som que habita o fim da página. 101 Esse som não possui tempo é o mesmo que os amigos de Paula estão escutando no manuscrito. Quem sabe Atos 6:4, citado por Leucipo em seu livro “Vida?”, não seja o problema sem solução. Porém só não tem solução para ele, pois nesse livro que minhas artimanhas rege, tudo será respondido, seja lá o que for. Na manhã do dia 21 de novembro de 1707, o pirata do mastro gritou desesperado anunciando inimigos, Thunder Waves pediu velocidade máxima aos remadores na sua liburna carregada de riquezas, enquanto os seis mióparos de defesa protegiam a sua fuga, halford comandando as embarcações, segurou por um bom tempo os dezoito navios da esquadra do René Duguay-Trouin, mas logo foram rendidos e assaltados, halford e mais cinqüenta e cinco sobreviventes foram presos como escravos e alguns como piratas por serem sábios do mar. Thunder Waves agora soube do poder do seu amigo Halford de prever o futuro, conseguiu escapar com cinco mióparos, porque um foi atingido por uma bala de canhão e naufragou no meio do oceano Atlântico. A esposa de Halford pediu para voltar a Marrocos com seu filho Thace, o capitão deixou eles seguirem suas vidas, pois sabia que dificilmente Halford estaria vivo e, resolveu não entregar ainda a carta para Thace, porque algum dia por alguma razão que Halford sabia, eles iriam se reencontrar. Assim nasceu o nosso grande e sábio Thace Pahazy Filibuster, entre os inimigos e o lugar comum de todos. Thace agora com dez anos vive com sua mãe que tem um nome secreto e importante na história mundial, que logo você descobrirá. O nosso menino como o seu pai era atração entre as crianças vizinhas, por ser muito inteligente e falar duas línguas, o árabe 102 e o espanhol, também arriscava um inglês forçado, aprendeu tudo isso com seu pai, que ele considerava como um ídolo, sua mãe contava algumas histórias de piratas que eles viveram, mas Thace só lembrava do dia em que o seu pai foi atacado por um pirata ruim, que não sabia o nome. Constantemente Thace perguntava para sua mãe sobre o Thunder Waves e quando eles novamente iriam navegar, sua mãe enxergava nos olhos do menino a falta do pai e sempre respondia que algum dia em terra firme eles se encontrariam. Thace gostava bastante de Marrocos, mas não negava que a ilha da Vaca e a Jamaica eram mais bonitas, porque adorava aquele mar tropical. A vida era muito pacata no vilarejo que moravam, Thace começou a se interessar pelo estudo do alcorão, praticava com seus amigos os ensinamentos de uma das mais belas e sérias religiões do universo, logo o menino já compreendia a cultura do seu povo, imaginava o porquê das coisas e fatos da história, que lhe cercava. Sua mãe percebia o interesse do menino pelos estudos, então quando tinha oportunidade ela comprava livros de viajantes que vinham da Europa. Thace começava a descobrir o seu corpo e, era uma luta interna incrível quando tentava entender o que ele sentia quando observava uma menina do vilarejo, ele sabia que era uma atração, mas não era a mesma que sentia quando espiava as mulheres tomando banho, de certa forma ele entendia que era um amor puro, livre de qualquer ato natural que havia entre os animais, é algo que somente pessoas com sentimentos de harmonia podem conter em seus corações. Nunca teve coragem de conversar com ela, pois tinha medo dela ser diferente do que era em seus sonhos, sentia algo estranho dentro dele quando ela passava perto, um calor esquentava o seu rosto que logo ficava 103 vermelho, sentia tudo isso, imagine se ele soubesse o nome dela. Certo dia um homem que passava pelo vilarejo observou Thace lendo o alcorão, se aproximou e sem dizer nada pegou um livro grande e colocou-o em cima do alcorão. Thace mal olhou o rosto do homem que saiu correndo em seu cavalo, curioso abriu o livro escrito em latim, não entendia muito desta língua, mas conseguia ler o título que era “Bíblia”, logo lembrou das histórias das cruzadas que falavam muito deste livro. O tempo passa e thace já conhece tudo sobre o alcorão e a bíblia, agora com quinze anos compreendia melhor a guerra santa e sempre se deparava com uma questão difícil para um rapaz tão novo, quando leu sobre a cruzada das crianças pensou que tudo era apenas lendas como muitas que havia, mas quando soube realmente que era verdade, não sabia diferenciar as lendas das histórias reais, a filosofia tomou conta da cabeça do menino, horas do seu dia era pensando o porquê das coisas, das guerras e brigas entre os homens. Sua mãe estava doente e sabia que logo morreria, além de bonita também entendia da vida, não através de livros como o seu marido e agora o seu filho estava fazendo o conhecimento, mas através de seu coração que presenciou muitas histórias e lendas vivas que aprendia com a vida, ao tentar resolver o problema que enfrentava Thace perguntou à sua mãe: - Mãe, por que existe o dinheiro e terras, que servem somente para ter brigas? - Thace meu filho, não te preocupes com coisas tão pequenas que não servem para crescer a alma. – respondeu com um olhar de orgulho. - Não estou me preocupando, - disse Thace ainda interrogativo – somente quero saber se isso é natural como os cachorros fazem com seus ossos? 104 - Isto é natural para qualquer animal, mas não para homens que realmente são homens – falou sua mãe tentando buscar palavras certas – um cachorro enterra seu osso para ter segurança que não passará fome mais tarde, os homens não precisam ter medo de passar fome, pois tem inteligência para sustentar seu corpo em qualquer lugar, mas infelizmente o medo criado por está mesma inteligência criou os conceitos destrutivos da humanidade o poder e a fama, que todos que nascem já querem estes conceitos sem perguntar o porquê. Thace abraçou sua mãe agradecendo a sua resposta que aliviou sua mente e passou a ser mais forte do que era, agora sabe que o único obstáculo para o conhecimento é o medo e não odiava mais os guerreiros das cruzadas, pois sabia que eles não sabiam o que estavam fazendo, nunca mais teve preconceitos sobre qualquer assunto político e religioso. - Agora quero saber – falou Marcos – como pode um menino conhecer tanto? Ele não é apenas um menino, - concluiu Márcia – ele é a superação do homem ele é o super-homem. Bobagem. – disse Michael. Sim é bobagem. – completou Rose. É, mas o que é bobagem? – Interrogou Márcia. Esse lance de querer dizer que piratas são gigantes, isso é a bobagem. – respondeu Michael. Porém constam nesse manuscrito fatos reais sobre pirataria. – disse Marcos. Não pire a maionese seu maluco, - pediu Michael cutucando com uma caneta seu ouvido – pirata é coisa de cinema, é impossível homens comuns e 105 pobres atravessarem o atlântico sem patrocínios de impérios. - Cara, você sabe mesmo dar piruetas! – falou Marcos – quer criar uma outra história sobre tudo o que o homem criou, até parece que nunca foi antropólogo. - Antropólogo sim, mas crente não, - retrucou Michael - essa coisa de amém não dá. - Peço um pouco de suas atenções meus caros amigos, - gritou com toda a força Rose – vou continuar lendo esse caderno e, depois iremos almoçar no restaurante Pãobão. Vamos partir para uma estigmatografia. Sinais entre um livro e outro são evidentes. Aqui sobram pontos, lá são raros, mas sobram vírgulas. Estilos distintos. Concepção aristotélica da arte de grafar. Razões serão almejadas, mas sempre no “tempo certo”. Deve ser difícil participar desse sistema implícito: é, você pode um dia estar aqui jazendo também. Vamos agora fazer uma epistemologia. São onze e quinze. Lá na floresta Paula nem desconfia, come coisas como mandioca. A índia aprende falar “indioca”, que seria uma tentativa para “mandioca”. Paula aprende a falar “estrunk”, que seria uma tentativa para “raistitrunk”. É isso, um alimento dois nomes uma idéia. Rose ainda não começou a ler, pois eu ainda escrevo. O tempo está parado, eles estão como congelados. Posso ver o pronunciamento estagnado de um fonema na fase de Rose, vejo uma gota de suor escorrendo parada em Michael, olho para Márcia e sustento elogios sem nexo na sua beleza, lá está Marcos piscando o olho parado. Agora vou devolver a vida para eles. Deixarei Rose ler. Foi um fonema. Foi um suor. Foi uma beleza. Foi um piscar. Tudo agora está como você pensa que está. Preste muita atenção: não digo isso para dizer, digo isso para ler. Leia Rose, é uma ordem. Leia leitor, é um progresso. Positivismo anarquista é lei aqui. Pode e 106 pronto. Natureza do natural, botânica da flor, filosofia da vida. Parece tautologia, mas é continuação. A bíblia que Thace ganhou guardava mais mistérios do que as profecias nela contidas, ele sabia disso, mas nunca encontrou. Em uma noite que ele pegou ela para ler, em vez de puxar a primeira folha, puxou a folha que estava levemente colada na capa e descobriu entre a folha e a capa uma carta dobrada que mudou sua vida (fig. I), após a leitura da carta Thace ficou contente, pois sabia que seu pai estava vivo, mas não entendeu como aquele cavaleiro teve contato com Halford, agora não importa como a carta de seu pai parou em suas mãos, ele queria somente entende-la para poder acha-lo em algum lugar do planeta. 107 (FIG. 1) 108 Thace parecia que morava no mundo das cartas, no dia seguinte quando acordou se deparou com sua mãe morta na cama e em cima dela uma carta que conseguiu ler somente três dias depois de ter entrado em coma ao bater a cabeça quando desmaiou ao ver sua mãe morta. O curandeiro do vilarejo disse para Thace que ele estava muito bem e que sua mãe tinha viajado, ele entendeu o recado e sentou-se em baixo de uma árvore, ao ler a carta de sua mãe ficou impressionado, pois ele já tinha lido quando estava em coma, a carta dizia alguma coisa assim: Meu filho Thace: Eu estou morrendo, mas não pense isso, pois eu estou apenas indo para casa, você deve encontrar Thunder Waves, ele está onde você menos imagina, ele tem algo para lhe dizer, na vida eu fui sua mãe e na morte sou seu caminho, sempre ande por onde não conhece e lembre que tudo acaba onde começou, deixei em baixo do telhado e encima de sua cabeça algum dinheiro para você viajar, você tem a vida para conhecer e duas pernas para andar, agora estou indo para nossa casa, eu sou você sempre que cantar. De sua mãe Helena. Quando estava em coma Thace sonhou que seu pai havia conquistado uma ilha que colocou o nome de sua mãe e, está ilha era famosa por ser a porta da casa de um dos maiores e poderosos homens que existiram na Terra, mas nunca entendeu quem era Napoleão. No ano de 1714, Thace Pahazy Filibuster começou sua viagem sem destino geográfico, mas com destino familiar, na sua mochila levava apenas o alcorão a bíblia e algumas roupas, guardava em um bolso interno da calça todas as moedas de ouro e algumas jóias que 109 sua mãe lhe deixou, sabia que aquilo era roubado pelo seu pai, mas não se importou porque leu a conduta 55 do seu pai e achou correta. Tudo mudou em sua vida após a morte de Helena. Thace compreendia que agora o seu conhecimento não era apenas para impressionar o vilarejo e sua mãe, mas sim para poder sobreviver em um mundo conhecido, mas esquecido e que tinha que lembrar se realmente quisesse ver o seu pai. Numa tarde nublada Thace sentou-se em uma pedra para descansa, olhou para o céu e avistou uma enorme nuvem que cobria todo o céu, ficou curioso ao ver uma ponta de outra nuvem a cima desta muito negra e pouco espessa, de repente o vento levou a nuvem de baixo e a negra começou a cair como pó, logo muitos meteoritos negros como carvão caiam do céu, passando por cima dele que ficou com medo de ser atingido. Algum tempo depois ele olhou novamente para o céu, onde estava uma enorme estrela de quatro pontas, que pulsava como um coração, levou alguns segundos e ela se transformou em uma grande cruz de luz como a luz do sol, Thace fechou os olhos e quando reabriu a cruz havia sumido como todos os meteoritos e nuvem negra, ficou pensando se era sonho ou realidade, pois não sabia se estava acordado ou dormindo, o sol estava muito forte e mexeu com sua cabeça. Thace morava nas redondezas da cidade de Safi, agora está perto dos Montes Atlas; ao sul ele caminhou, desde sua casa até Agadir onde teve uma grande surpresa, encontrou um parceiro para a viagem, era um cachorro ainda filhote, mas diferente de todos os outros, pois não tinha a perna esquerda detrás, o homem que lhe deu disse que uma ancora havia caído em sua perna, o filhote era o mais brincalhão dos filhotes e logo começou a morder a calça de Thace, que agradeceu o homem e pegou o seu melhor amigo que teve na Terra e rumaram para o sul. 110 - Vamos almoçar – disse Rose – não agüento mais ler. É, - resmungou Marcos – eu não agüento mais ouvir. Pãobão estamos em sua direção. – falou Márcia. Então Michael pegou alguns vales refeições. Então Márcia trancou a porta do apartamento. Então Rose colocou o manuscrito em sua bolsa vermelha. Então Marcos caminhava com eles todos na rua do restaurante. O trânsito era intenso, quase não dava para ouvir o som que os suados dedos de Michael colados nus na suja parede do velho e fedorento “All Star” faziam. Marcos olhava distraído para um velho Opala batido. Rose caminhava olhando para o obscuro de suas idéias, pensava em coisas que somente ela saberia. Eu não tenho capacidade de saber o que ela pensa, então não vou grafar mentiras. Márcia trocava fonemas com Michael. Assuntos: “como estão às pesquisas Michael?”. Respostas: “estão cautelosamente sendo pesquisadas, pois nas ruas tudo é diferente, Punk é um ser que custa muito para se saber”. Depois disso vem isso, lá está o restaurante Pãobão cheio de gentes apressadas. Todos estão atrasados: “oh! Garçom cadê o meu refrigerante?”, é coisas que lá se ouvem. Gritos e comidas, quanto respeito! Depois dizem que são homens de leis no domingo matutino. Numa mesa semilimpa os quatro leitores do livro intrometido se assentam. Lógico que não na mesa, mas nas cadeiras. Após algum tempo um homem se aproxima; ele está dentro de um paletó com gravata borboleta, coloca dois livros negros enxuga um suor facial e corre atender o próximo. Na capa dos livros estava escrito: Cardápio. Rose começa a lê-lo: “Bife sete reais, almoço completo: arroz, feijão, carne, batata, macarrão e salada do dia oito reais.” 111 - Deixe-me pensar – disse Michael, calculando com os vales na mão – podemos pegar dois almoços completos e dividi-los. - De Czar o que é de Czar, de Michael o que pode ser de Michael, - brincou Rose – decreto que aceitamos sua proposta, mas terá que pagar um terço da janta. - Amém. – disse Michael. - Por favor, garçom, - gritou Marcos – traga dois almoços completos. - E para tomar? – perguntou o da gravada borboleta. - Pode ser quatro copos com água torneiral. – respondeu Márcia segurando um sorriso. Talheres e restos mortais de seres vegetais e animais faziam uma bela batalha nutritiva. Como sempre apenas o osso sobrou dos restos, pois os implacáveis talheres venceram novamente. Palitos de dentes eram consumidos juntos com guardanapos. Marcos levanta e vai ao toalete. Márcia acompanha o caminhar de um velho do lado de fora. Michael arrota para si mesmo, odores de tomates e macarrões. Rose dá atenção para Márcia que pergunta qual era mesmo a lógica da moeda. Que logicamente pergunta que moeda. Logo Márcia aponta para o velho que observava e diz: - Só pode ser Luiz. - Que Luiz? – perguntou Rose. - O Luiz do manuscrito. – respondeu Márcia com olhos fixados e com a mão em seu colar. - É, - disse Rose – ele possui uma moeda, mas Luiz não poderia ter essa idade. - Talvez, - retrucou Márcia – porém você não pode esquecer que tudo pode ser ficção. Marcos volta do. Michael paga o. Márcia e Rose observam na porta o. Todos estão satisfeitos com o sucesso da refeição. Mas, Rose pede para todos seguirem o velho, que está se locomovendo lentamente para a quadra da igreja. Já próximos Márcia vidra na 112 moeda que está pendurada no pescoço do velho, que apenas pára e pergunta: - Vocês querem me assaltar? - Não. – responde Marcos. O velho olha para frente e continua sua caminhada. Eles resolvem parar e discutir a novidade. Rose consegue identificar o rosto de Tamandaré na moeda. Tudo está respondido. O velho olha pra trás e sobe num ônibus. O que era ficção passa a ser vida. Parece que uma grande motivação os atinge, que recomeçam a ler o manuscrito na praça da igreja. Todos estão convencidos que se trata de algo diferente. Tudo está como poderia estar num livro, mas eles sabem que tudo é real. Continue no livro intrometido. Ele caminhava para o sul da África sempre pelo litoral, pois sabia que o centro do continente era totalmente selvagem. Andaram dois dias e o filhote com muita dificuldade para andar parou como se pedindo carona para Thace, que apanhou no colo aquele lindo animal, porém muito pesado, pois deveria ser duma raça grande e forte, então com o seu grande coração Thace montou uma espécie de carrinho para poder puxar o filhote, que ele começou a chamar de Aladim. A areia separa o mar e a selva, os dois lindos e perigosos companheiros de Thace, que sentia muito protegido neste trecho de contato entre os gigantes, mas ele era obrigado a enfrentá-los para conseguir alimentos e continuar a aventura. Em alguns lugares ele avistava o enorme deserto do Saara, sabia que nem todos os caminhos de areia eram seguros, aquele era somente para homens tão grande como o deserto, mas ele se contentava com o seu mini deserto, que tinha suas vantagens, pois a esquerda tinha um enorme oásis que parecia infinito e a sua direita um outro planeta que ele conhecia bem. 113 Seus dias eram de uma beleza jamais alcançada em sua vida, a África era um paraíso para poder pensar e criar, seus companheiros eram sempre os mesmos, Aladim e gaivotas em busca de sabedoria, de vez em quando encontra grandes tartarugas e caranguejos enormes, que era obrigado a comê-los quando não conseguia pescar nenhum peixe, os ovos de tartarugas também acompanhavam suas refeições, ele não gostava de matar e sempre pedia desculpas as suas vitimas, coisa que Aladim não fazia. Thace caminhou muito até chegar em uma tribo de pigmeus acostumados com homens de viagens, pois ali era um ponto de parada de alguns marinheiros e piratas, eram pessoas muito caridosas e hospedaram Thace por alguns dias, havia um da tribo que falava árabe e passou a ser o seu tradutor. Em duas semanas Thace aprendeu alguns conhecimentos sobre a floresta que logo vai enfrentar e rituais mágicos da tribo. Ele ficou curioso sobre uma dança tradicional da tribo, no momento que duas mulheres encostam as cabeças e correm atrás das crianças, o pigmeu que falava árabe disse que as mulheres estavam representando o monstro que habita a floresta. Thace ficou com medo, mas entrou na floresta com o Aladim, que agora já era um enorme cachorro e conseguia andar sozinho, realmente a floresta africana é linda, mas assustadora com sua fabulosa mente rapidamente Thace se adaptou ao meio e aos alimentos que encontrava, mas não via a hora de novamente poder viajar pela areia, pois havia um grande trecho, no qual os dois companheiros de Thace violaram a linha de contato. Os dias na selva eram diferentes dos da praia, as trilhas eram feitas no peito e os perigos com grandes animais e homens da floresta eram constantes. Mas a maior dificuldade era a noite, na hora do sono, a princípio ele deitava em qualquer lugar limpo, 114 mas a mata começou a ficar perigosa quando avistou o primeiro bando de leopardos. Logo teve que achar um meio mais seguro para dormir avistando alguns macacos Thace teve uma grande idéia; pensando como um animal notou que os macacos dormem seguros em cima das árvores, lógico que ele não conseguiria dormir em uma árvore, mas sempre antes de dormir escolhia a melhor árvore para poder subir rapidamente com o Aladim, treinava várias vezes antes de dormir a provável fuga, se o Aladim latisse era sinal de perigo. Outro problema era com relação a fogueira noturna, era de grande importância mantê-la acessa para espantar os animais, porém ele atraia um outro animal, que era bom e ao mesmo tempo ruim, então resolveu deixa-la apagada, para que homens da selva não o encontrasse e contava com Aladim para com seus sentidos jogassem de igual para igual com os animais maravilhosos. Resolvido estes problemas, Thace se livrou de mais um, que era o deslocamento na selva, após encontrar trilhas de elefantes, que era uma estrada fácil, porém perigosa, por ser muito utilizada por homens e os próprios elefantes. Thace não tinha medo dos homens, mas sim da reação que teriam ao ver um ser totalmente estranho, poderiam lhe julgar como um deus ou um diabo, que seria muito ruim. Ele estava a centenas de quilômetros do litoral, onde jamais um homem pisou. Numa tarde antes de começar a se arrumar para dormir, Thace leu um trecho da bíblia que conta a tentação do diabo sobre Jesus no deserto, depois de ler Thace brinca com Aladim sobre o assunto e vai dormir, mas logo começou sentir algo estranho em sua mente e tudo ficou escuro, em grande medo ataca seu corpo, que começou a formigar seu pescoço e apertar sua garganta, tem agora uma grande luta com si 115 mesmo, é uma luta em que ninguém pode ajudá-lo, ele criou em sua mente o medo do mal e a insistência de permanecer assim, não conseguia parar aquela sensação maligna, que logo poderia mata-lo, buscando ajuda Thace abre a carta do seu pai e começa a ler. A sensação começa a ir embora para nunca mais voltar, porque Thace entendeu a conduta 53, quer dizer que a lei da mente é a lei da fé e a fé é simplesmente um pensamento no mente, este pensamento que afirma o que os sentidos e a razão negão, somente assim Thace pode dormir em paz com deus. - Donde provem o medo? – indagou Rose. Do reino das palavras. – respondeu Márcia. Sim, mas como? – perguntou novamente Rose. Através do ditirambo. – respondeu novamente Márcia. Ditirambo? – perguntou Marcos. É a linguagem consigo mesmo, - respondeu Márcia – é a comunicação interna, pensamentos seus. Ah! – exclamou Michael – é aquele lance do Nietzsche, que imita Dionísio... Aristóteles e assim por diante. É, - disse Márcia – você está perto. Tudo precisa de relação para ser, - falou Marcos – nada pode existir sem ter algo para se relacionar. É, - complementou Márcia – e para alguma coisa existir é preciso ela estar em palavras, mas existir é entender. Entender? – perguntou Rose. Você precisa de explicação por quê? – perguntou Márcia. Para poder conceber e transmitir para... é isso!... para mim. – disse Rose. 116 - Você só entende através das palavras, - continuou Márcia – porém os questionamentos lhe levam para lugares onde explicações não são possíveis. - Como assim? – perguntou Michael. - Tudo é no fundo apenas uma única coisa, respondeu Márcia – as perguntas fazem você chegar num ponto onde não existe ordem, num ponto onde as coisas que as palavras criam são diluídas numa massa obscura fazendo você ficar louco, pois tentará explicar essa massa para si mesmo, mas isso será impossível. - Por que? – perguntou curioso Marcos. - Essa coisa não se relaciona com nada, - continuou Márcia – por exemplo, para você conhecer sua cultura terá que ter uma relação com outra, é isso que torna essa massa universal inexplicável, pois ela abrange ou é tudo que existe, seja você, palavra ou sei lá... deus, caneta, livro. - Você quer dizer que as palavras são explicações e que as explicações só existem para quem necessita? – perguntou Marcos. - É isso, - disse feliz Márcia – essa coisa não precisa de explicação, pois ela não pode se conhecer, é sozinha, é única, nem sabe que existe. - Então você jamais poderá saber donde provem o medo, pois saber é entender, que é explicar, que é palavras e essas são criadoras, mas são criaturas de algo que não as conhece. – disse Michael. - Você está pegando prática nisso. – disse Márcia para Michael. Um vento alivia as mentes dos leitores. A praça está deserta, todos ainda em horário de almoço. E, esses loucos tocando em assuntos chaves! Eu ainda vou revidar. Até parece que você absorveu algo para resposta de título, mas lembre-se que tudo já está escrito, hei! Mas se tudo já está escrito, em que língua está? “Talvez na linguagem matemática”, não Galileu, 117 pois os números são palavras de máquinas e não de deuses. “Quem sabe na linguagem das idéias”, não Platão, pois não existe idéia sem palavra, então sem palavras não teria livro e nada já estaria escrito. Hei! Mas quem disse que está escrito por palavras? Não sei, pois só sei o que as palavras me dizem e o que sei sem as palavras você também já sabe, não preciso lhe dizer. As palavras servem apenas para criarem vida, sem elas nada estaria vivo, digo isso com precisão. Paula sabe muito bem disso, está num mundo onde as palavras estão escassas, mas as palavras do coração ainda reinam. Tudo se questiona: “como será que essa índia ainda vive?”, posso dizer que as palavras para Paula ainda são fontes de vida. Mas quem sou para dizer que são as fontes da índia? Pois viver anos sem comunicação com outrem não condiciona para ficar sem comunicação com si? Quer a resposta pergunte para ela. Se conseguir é claro. Você deve ter notado que a gramática está morrendo aos poucos. A estrutura das palavras estão se rompendo. Esse é o objetivo. Palavras sem estruturas logo caem. Quase poesia, mas será evolução. Uma evolução que não evolui, mas retrocede. Temos que saber como é o mundo sem palavras. E, isso jamais um homem alcançou. Seremos os primeiros. Depende da narrativa. Quem narra? Eu, Luiz, Condor Amarelo, Leucipo de Minas, Rose ou você? Lembre-se que tudo é uma única coisa. Coisa essa que está num reino além das palavras. Leia a continuação do livro intrometido, talvez sendo narrado por Rose na praça da igreja. Acordando de manhã, Thace lembre do estranho fato que lhe ocorreu ontem e, questionou sua mente antes de levantar apanhou novamente a carta de 118 Halford e definitivamente decifrou as condutas 1 e 2, que mostrava a bela alma que seu pai tinha, ele entendeu que estava pensando o que não queria, dominado pelos estudos e meditações, começou a utilizar a sua própria imaginação e não as que pessoas lhe transmitiam através dos livros. Ele aprendeu que deus é o criador e o criador é ele, já não se importava com assuntos opostos, pois sempre há luta entre os apostos: frio e calor, deus e diabo, bom e ruim e, ele soube achar seu lugar, ele não é mais um lutador, mas sim o juiz da luta. Conseguiu equilíbrio total, observando a natureza. Thace estava vivendo muito o inconsciente e desprezando o consciente, soube utilizar os momentos exatos para cada mente, ele recebia do subconsciente e do meio ambiente informações iguais de ambas, e o mesmo tempo que gastava para receber ele utilizava para criar suas próprias idéias e controlando sua mente para que apenas informações úteis entrassem e pensando apenas nele e nunca nas informações. Thace já estava alguns anos na África viajando, mas não sabia quantos anos ele tinha, pois não levava nenhum meio de marcação do tempo. Para ele pouco importava esse sistema estranho e esta idéia foi reforçada quando conheceu o seu maior medo. Acabou de chover na floresta equatorial da África, Thace e Aladim estavam andando já há algumas horas, quando sentaram para descansar em umas pedras. Aquele local era diferente, psiquicamente falando, tanto Thace como o seu fiel cachorro Aladim, notavam está diferença, mas não sabiam do que se tratava este sinal da mente, que não se calava, provocando um ambiente alarmante. Não permaneceram muito naquele lugar, pois precisavam 119 encontrar uma posição com maior segurança para passarem a noite. Novamente estão caminhando, Thace não parava de pensar no acontecimento, que mudou a sua maneira de pensar, Aladim se comportava como um momento de caça, não demora muito e ele aparenta ter encontrado sua presa, que na verdade era uma casa, lá estava Aladim parado como uma estátua rosnando para o desconhecido lugar. Thace se assusta com o comportamento do amigo e se aproxima para conferir o que causava a cena selvagem que Aladim interpretava. No meio das imensas árvores, montada primitivamente, lá estava a casa de tamanho mistério, sem vida aparente e com uma vista privilegiada para o mar ao oeste, com as pernas tremendo Thace se aproxima com seu cachorro que está ainda assustado, passo a passo se locomovem para a moradia, quando chegaram muito perto Thace e Aladim se esconderam atrás de uma enorme sumaúma, que se encontrava apenas poucos metros da casa. Curioso Thace espiona por detrás da árvore e avista o provável monstro da selva, que o pigmeu lhe havia falado, seu coração começou a bater com mais força, aquele medo torna a formigar seu pescoço e apertar sua garganta, ao enxergar o medo que foi criado por uma pessoa, que conhece a mente, mas transmitiu a sua força para Thace, que aceitou sob alguns preconceitos que ele mesmo negava. Agora estava lá Thace, com o seu medo herdado do passado, observando aquelas pessoas unidas pela cabeça, Aladim começa a latir e elas descobrem Thace, que corre como um leopardo atrás da caça, desesperado, tentando mais alguns segundos de vida, enquanto Aladim se aproxima abanando o rabo demonstrando carinho que é um sentimento de troca, pois os cachorros conseguem olhar nossos 120 sentimentos, antes que nós transmitamos, foi assim que aquelas mulheres velhas, que se gostam tanto, que nasceram unidas pelo amor e carinho do deus infinito, conseguiram o domínio dos sentimentos de Aladim. Depois de ter corrido muito, Thace nota que Aladim não o acompanhava, pensando no pior pega um enorme pedaço de galho e vai em direção da casa, andando um pouco, logo avista a casa com Aladim brincando com as mulheres, que se divertiam muito, como se há muito tempo não rissem. Thace tímido chama Aladim, que atende o chamado e corre em direção do amigo, neste momento uma das senhoras falou: - Como se chama? Meu pequeno aventureiro. - Meu nome é Thace... – respondeu gaguejando – Tha...ce... Pahazy Filibuster. - Vejo que também tem ligação com piratas – comentou a outra senhora – como todos os perdidos neste continente. - Sim, meu pai era pirata e mago, – falando mais tranqüilo Thace – mas como vocês se chamam? - O meu nome é Marylan – respondeu a senhora da esquerda – pode me chamar de Mary. - E o meu código social é Helhem, - brincou a velha da direita – somos conhecidas como o monstro da selva pelos nativos. - Por este nome eu já lhes conhecia – disse Thace com humor – peço desculpas pelo meu ato ignorante que apresentei. - Não se preocupe estamos acostumadas com isso, falou Marylan com um olhar otimista – somos um ser diferente, que aparece de vez em quando na mente das pessoas como você. A conversa anima o ambiente que era alarmante e passou a ser relaxante. Thace e Aladim encontram finalmente pessoas, que demonstram carinho e amor 121 como nenhuma criatura normal lhes demonstrou até ali, conversas são tudo o que praticam durante todo o dia seguinte, após uma aconchegante noite de sono, há muito tempo esperada por Thace. As mulheres, assim como Thace, também nasceram no mar, sua mãe era mulher de um homem de confiança do capitão Witz, que morreu após uma batalha lhe deixando grávida prestes a ganhar os filhos; do qual o capitão Witz não aprovou como natural, mandando a mulher e os filhos do falecido amigo para o litoral, onde cresceram graças a sua mãe guerreira, que lutou contra tudo e todos para criar o que era considerado um monstro na época, tudo isso por causa do enorme amor que a mãe Vergha sentia como uma grande dor no peito. Vergha está enterrada nas margens do rio congo, como uma rainha, protegida por enormes árvores. Thace agradece a refeição fornecida pelas senhoras e fala: - Eu estou honrado por conhecer vocês, são pessoas maravilhosas, mas tenho que ir embora, pois o meu tempo é curto. - Você falou tempo? – perguntou tranqüila Helhem – sabe o que isto significa? - Sim, tempo é algo que sei para mim, mas quando tenho que explica-lo, já não sei mais – respondeu Thace, com um olhar filosófico. - Sábia resposta para um jovem, leu Anchieta, - disse Marylan – mas na verdade isto não é verdade. - Você pode me explicar Mary – perguntou Thace – o que é o tempo? - Pois não, meu amigo – Marylan respondeu com sabedoria – o tempo é algo construído por números, que estes são construídos pela imaginação; assim como tudo, mas o erro é justamente nos números, não existe começo e nem fim em nada, o homem observou a natureza 122 - - durante muita transformação e notou que tudo tem começo e fim, por exemplo: uma árvore nasce e morre como todos os animais, pensando nisso o homem criou números para marcar o período desta metamorfose. Sim, eu entendo o que você falou Mary – disse Thace curioso – mas por que isto é errado? Justamente por isso. – respondeu Marylan. Isso o que? O que você acabou de fazer, - falou a senhora Marylan para Thace – perguntas, é isto que derruba as verdades, pois quando perguntamos estamos criando o que já foi criado, então transformamos em outra coisa a mesma coisa, o que realmente quero dizer é que o homem não entende o infinito, não sabe que tudo sempre existiu, sendo matéria ou idéia, que são a mesma coisa e este tudo nunca é criado apenas transformado por uma força chamada vida, que ganha outros nomes como Deus, Natureza e até mesmo Tempo, mas na verdade está força é nós, cada homem é um deus, que transforma todas as matérias e idéias que eternamente existiram, talvez você não tenha entendido muito bem, é que estas idéias não são de fácil interpretação através de palavras. Eu acho que entendi – falou Thace – que nada vai morrer e nem nascer, e por isso que não preciso ter pressa. Exatamente isto que Mary quis dizer – comentou Helhem – você somente estava errado porque estava com pressa. Mas eu sei que vou ficar velho – disse Thace – e logo vou morrer. Você não precisa pensar nisto – retrucou Marylan – pois isso já é verdade e jamais a pressa impedirá a transformação somente colaborará com ela. 123 - Você tem razão, eu estou com pressa de mais, para chegar em um fim imaginário e infinito. Se você estiver atento na leitura, sabe que Thace decifrou uma das fontes da vida e o número desta fonte é de suma importância. - - - Numerologia de novo! – exclamou Márcia. É, esse sujeito adora números. – complementou Rose olhando para o céu. Márcia, você sacou um lance por aí? – interrogou Michael. Que lance? – perguntou curiosa a bela Márcia. Do tempo, - respondeu Michael – quando Thace responde o que Anchieta havia dito. Ah! – falou Márcia – é algo sobre o ditirambo, é quando não se consegue explicar nem mesmo para si o que pensa que sabe. Também existe aquela parte onde Marylan explica o porquê que Thace está errado, - falou alisando o cavanhaque Marcos – onde ela se contradiz no final, dizendo que o que ela falava era difícil se manjar por palavras. É, a tonta fala para o menino que é errado não saber explicar o tempo, - falou Michael com humor irônico – e explica que o tempo é difícil se explicar por palavras. Talvez seja grave isso, - disse Rose – pois despertou algo curioso em mim. O que? – perguntou Márcia. Acho que aquele velho, - respondeu Rose – não é Luiz, mas esse cara aqui. – apontando o dedo para a folha de rosto do manuscrito. Leucipo de Minas? – perguntou Marcos. É. – respondeu Rose. 124 - Pode ser, - falou Márcia – faz sentido, mas isso prova que tudo é ficção e não diário. - É lógico sua ameba, - disse Michael – não acredito que você estava acreditando que tudo isso era verdade, nem Freud acreditaria nesse sonhos quase reais. - Leucipo! – falou baixo Marcos – quem é esse sujeito? - Não sei quem é, - respondeu Márcia – mas o nome deriva de Leucipo o mestre de Demócrito. - Ah! – exclamou Marcos – Leucipo o pai do atomismo? - Talvez, - disse Márcia – os livros que sobraram não são capazes de dizer a verdade. - Então eu posso dizer que o pai do atomismo foi Buda. – brincou Michael. - Cala boca seu... é... bu... rro... – resmungou Rose. - O que está tentando, vamos me xingue logo. – falou Michael. - Olhe lá... – pediu Rose. - Onde? – perguntou Márcia. - Atrás da igreja. Eles olharam no estreito beco e, observaram o provável escritor do livro intrometido. O velho abriu uma pasta azul e jogou uma folha no chão. Não deu tempo para os leitores dele saírem do banco da praça e pegarem o velho no pulo. Rose foi correndo. O velho zarpou como um coelho. Rose pegou a folha e voltou ao princípio. Leu e notou que era exatamente a conduta de Halford. Mas essa folha era bem velha, talvez a original. O relógio marcava numericamente treze horas e trinta e dois minutos. Os quatro voltaram para o apartamento. Na bolsa vermelha de Rose: um espelho, um pente, um absorvente, dois cigarros, uma carteira, um livro espírita, uma folha velha, um manuscrito verde. No bolso de Michael: um preservativo, dois palitos de dente, um garfo furtado no almoço, um lenço com gosmas verdes parecidas com catarros pulmonares. Na mochila de Marcos: um desodorante, uma pasta de 125 dente, uma escova de dente, uma blusa, um livro de Jung, um biscoito mordido no acampamento do mês retrasado. Na bolsa de Márcia: um lenço cheiroso, um batom, um espelho, dois brincos, um anel, em livro de Merejkowski. Tudo isso mais eles se locomoviam pela rua do Pãobão, sentido apartamento. Agora note a sutileza do escritor intrometido. Ele entrou em meu livro, então eu entro no seu livro. Tentou capturar sua atenção, lançando questões sobre meu tema. Logo ele vai pagar. É justo que seu tema seja: vida. O meu tema é: palavra. Agora será impossível definir. Tudo se mistura. Vida, homem e palavra. Você terá que ser o senhor dos princípios. Aqui, nesse exato momento, para você leitor geral, quem reina o homem a vida ou as palavras? Cuidado com sua ousadia. Leia o livro intrometido, pois Rose já está lendo-o lá no apartamento. Paula um dia vai escutar, mas antes terá que sair do afloramento rústico lingüístico que se encontra, que para nós é o meio onde almejamos. Voz não dá, mas palavras você vai escutar de Rose. Com tanta sabedoria adquirida, Thace se despede das mulheres unidas recebendo delas um mapa da África e um conhecimento que ele jamais poderia esperar de pessoas que vivem isoladas da sociedade, foi assim que Thace e Aladim conheceram a força do poder infinito do subconsciente coletivo e, dele aproveitar toda a sabedoria que cada um possui. Há muito tempo que andam sozinhos, muitas vezes Thace lembra da menina do vilarejo e também das mulheres que espionava no banho, seu corpo pede carinho feminino, várias vezes se masturba para aliviar a solidão, sua alma quer amar o seu oposto. Thace após muito andar chega no final da África, na cidade do Cabo onde novamente encontra uma sociedade e mulheres, muitas mulheres. Aladim não 126 perde tempo e logo encontra uma parceira com dificuldade ele consegue garantir a continuação de sua família, Thace encontra uma linda moça, que trabalha em navios que passam algum tempo parados, ele nota que ela trabalha somente à noite, sempre sai com o cabelo desarrumado e o vestido amassado. Certo dia Thace cria coragem para conversar com ela, que estava olhando o mar em uma praia totalmente deserta tímido ele pergunta. - Oi, você pode me dizer em que ano estamos? - Meu deus! Você mora na Lua? - Não, é que eu estava viajando pela África, - disse Thace – e acabei esquecendo o calendário em Marrocos. - Estamos no ano 1725 – respondeu a moça, com um olhar brilhante – e qual é o seu nome? - Meu código social é Thace – respondeu totalmente trêmulo por olhar nos olhar da moça, que eram de um profundo verde – mas se você... não é... bom a gente... qual é o seu nome? – finalmente cria coragem para amar como nunca amou antes e a moça notando a timidez de Thace responde. - Meu nome é Concha do Mar, é assim que todos os marinheiros e piratas me conhecem. - Eu posso me sentar com você? - Sim, claro – respondeu a moça com um olhar erótico – se você quiser podemos nos esquentar, pois eu estou com frio. - Pois não, - disse Thace com o coração batendo acelerado como nunca – no que você trabalha? - Eu vou lhe mostrar agora. Thace totalmente atordoado ao tocar nos lindos seios da moça, sente um calor enorme e um calafrio no ventre quando penetra na alma da moça, aquele lindo corpo a suspirar mais forte, a cada momento, Thace acaricia as lindas pernas morenas e úmidas da 127 moça, que logo atinge junto com Thace o paraíso de Adão e Eva. No outro dia Thace e Aladim estavam contentes como nunca, pois não eram mais virgens, suas almas conheceram o poder de cura dos opostos, sabem suas idades e agora conhecem um lugar na África onde realmente podem amar, um amor diferente daquele amor eterno com a alma ou mente renovada Thace parte com seu cachorro Aladim para o nordeste, sabendo que a Concha do Mar não era um amor eterno, pois era de todos e não podia ser de ninguém e, Aladim nem lembra qual das cadelas ele amou ontem, assim foram embora da cidade do Cabo, cantando e amando sem responsabilidades que servem somente para prender e matar o amor eterno, Thace soube que o amor somente dura em liberdade, se ele prendesse a moça ele e ela seriam inimigos do amor eterno e apenas amigos do amor do momento, que pouco valeria, pois não conheceriam o eterno. Após um dia de caminhada, Thace encontra um jovem em cima de uma árvore e, com um olhar bravo e destrutivo. Thace chegou até ele e disse: - Por que você está amarrando esta corda na árvore? - Para brincar de balanço, - respondeu ironicamente o jovem – não está vendo que vou me matar? - Tudo bem, - respondeu Thace – mas antes de se matar eu queria saber seu nome e o motivo para tal comportamento? - Você não precisa conhecer um fracassado, - disse com lágrimas nos olhos o jovem – que é um escravo da vontade dos outros. - Você se incomoda, se eu e meu cachorro descansássemos no pé da árvore? - Sim, não quero ninguém em volta de mim – retrucou o rapaz com uma voz tímida - quando eu esticar a corda. 128 - Eu não entendo você, - comentou Thace – falou que era escravo da vontade dos outros, mas agora está livre fazendo a sua, então por quê morrer triste? - Eu também não entendo está vida, - falou o rapaz totalmente calmo – quando tudo está certo também está morto, se tudo está errado logo está chato, se eu ficar quieto eu estou vivo, pensando palavras somente minha, porque são mudas e arrebentam com minha cabeça, fazendo eu sangrar e logo todo o universo morrer, não quero mais sofrer como um carneiro degolado e ainda chorando, a vida me mostrou o caminho do coração, mas em vez de pedras havia um muro tão alto que nem deus passava. - Eu posso saber qual é este caminho? - Meu nome é Jean-Jacques, sempre gostei da vida, até quando conheci a sabedoria vinda do mar, eram livros lindos que meu pai trocava com os marinheiros por alimentos nativos, eu adorava lêlos quando não trabalhava a noite, minha luz era a Lua e minha vontade era escrever, sempre estava rabiscando palavras na areia, aprendi a ler inglês muito cedo, com meu pai, que nunca me pressionou para estudar somente no trabalho ele era exigente, é isso que me incomoda, nunca tenho condições para escrever o que sinto no peito, mas mesmo assim escrevi este livro que quero que leia, como testemunha desta minha vida, nunca vou ser como Francis Bacon, Calderón de la Barca ou Robert Boyle, mas sei que está vida já foi escrita, porém não terminada. Thace apanha o livro que Jean-Jacques joga de cima da árvore e escuta o triste barulho da corda esticando, matando um grande sábio que não sabia que era livre antes de quebrar sua cela imaginária. Thace triste recomeça sua caminhada, sabendo que nada poderia fazer por um homem que já havia 129 encontrado a perfeição que destrói a vida, mas no fundo ficou contente, porque ele fez sua vontade ser comprida, pois se permanecesse vivo ele estaria morto. Thace passou os últimos dias pensativo, tentando entender como um jovem de tamanha sabedoria poderia morrer daquela maneira, o livro que JeanJacques escreveu era uma verdadeira obra de arte, mas retratava claramente os pensamentos destrutivos, que tinha o jovem, mostrava o dia como uma coisa repetitiva e chata, sempre reprovando as ações das outras pessoas, como um ser angustiado por saber tudo o que é chato saber. Nosso viajante enxerga a alma de Jean-Jacques nas palavras mudas do livro e fica chocado por saber que o escritor não sabia escrever sobre ele e nem entender que era ele quem ditava o ritmo do tempo do trabalho e da profecia, mesmo assim achou a obra uma beleza, por tratar da vontade de Jean-Jacques, de ser livre no seu universo e aumentar o conhecimento do lado chato, pois sem este não haveria o lado agradável da vida. Thace havia andado tanto, que chegou em um enorme lago, que ele pensou que fosse o mar, mas logo notou que a água era doce e ficou perplexo com a grandeza de Deus, nunca imaginou tanta água escondida por lindas montanhas, como uma criança Thace se jogou no lago e começou a nadar, de repente notou alguns donos do lago a nadarem em sua direção, jamais Thace nadou com tamanha perfeição, para fugir dos crocodilos. - Que história maluca! – falou Marcos – de repente eles estão na cidade do Cabo e logo chegam nos grandes lagos africanos. 130 - E daí? – perguntou Márcia – a história é dele, ele pode levar Thace e Aladim a Lua. Eu gostei do jeito dele tratar da prostituta. – disse Rose. É, mas isso não é real, - disse Michael – sinto lhe decepcionar, mas você não será tratada assim se realizar seu desejo profissional. Está insinuando que desejo ser puta? – perguntou Rose. Não, - respondeu Michael – só estou dizendo que você é puta. Calem as mandíbulas seus vermes. – disse com educação íntima Márcia. Jean-Jacques morreu como morre um louco, - falou Marcos – mas pesquem um sentido meio vago, por favor. Que sentido? – perguntou Márcia. O cara pira na vontade de viver, - continuou Marcos – aquele lance de Schopenhauer, que tudo existe uma vontade. Ta e daí? – interrogou com olhos filosóficos a bela Márcia. Esse cara não consegue ficar na paz, tudo não está bom – respondeu Marcos – e até parece que o ditirambo tenha lhe matado. Peguei o que você tenta dizer, - falou Michael – esse cara está com muita dúvida. É, - complementa Márcia – ele tem dúvida até se deve ou não morrer. Numa região perigosa. – falou tossindo Michael. Talvez possamos chamar essa região de baú. – falou Márcia. Baú? – perguntaram todos. Sim, - respondeu Márcia – é o mesmo fato da sombra e da luz, que Leonardo da Vinci tanto venera, diz ele que no contato entre a sombra e a luz existe uma coisa que é dual, uma sombra clara ou uma luz 131 escura, nessa região está o segredo da beleza que fascina. - Ta, mas por que baú? – perguntou Rose. - É em baú que se esconde segredos, - responde Márcia – e como Jean-Jacques estava numa área entre opostos, no caso a vida e a morte, ele estava saciando segredos. - Que profundo! – exclamou ironicamente Michael. - Você não entende, - retrucou Márcia – a beleza está além dos porcos, logo além de ti. - Entendo esse seu processo pré-menstrual, - falou Michael – não vou jogar é covardia. Satisfação garantida. Era isso que deviam propor esses leitores caro leitor? Quem sabe alguém com alta taxa de volúpia tenha notado, porém a coisa está no cubículo prematuro da percepção racional. Estamos, acho eu, nessa coisa que chamaram de baú. Basta uma certeza reluzir e pronto! Tudo estará aberto o baú. Mas, tenha em cuca que palavras só respeitam palavras e homens só respeitam? Você pode responder? O homem e a palavra nos colocaram na área do baú. Segredos que parecem duais. Nunca se esqueça, parecem, mas não são. Lembra daquela coisa que não tem relação? É, isso está ali, bem pertinho, onde só olho gigante percebe os extremos e só mente brilhante sente a união. União? Como? Não são apenas uma coisa? São, mas quem poderá camuflar o que a mente sabe? Ela sabe que existe olho gigante e, após saber ela extermina-o como uma lula do mar. Paula também sabe, a índia também sabe, mas será que aquele peixe que acabaram de comer sabia? Isso se deve apenas nas ínfimas relações entre palavra e homem e, não devemos sair disso. Agora você está preste, a saber, o porquê das sarjetas gramaticais. Já foi lhe imposto a solução dessa resposta, agora você não precisa mais se preocupar com o que seus olhos absorvem. Aqui já jaz letras grafadas com intenção implícita, agora falta aqui 132 jazer um leitor com olhos explícitos. Continue na leitura do livro intrometido. Nesta região Thace e Aladim permaneceram por sete dias, sempre olhava o seu rosto na água quando acordava, esse era o ritual do viajante, mas em um dia Thace notou algo diferente neste ritual, quando aplicou-o à noite na luz da Lua, o seu subconsciente lhe falou um trecho da bíblia, que ele não conseguiu lembrar qual era o versículo, mas sabia que era da bíblia e dizia mais ou menos assim: “Hoje você olha o espelho e o enigma e amanhã olhará face a face”, ficou alegre por decifrar este enigma e conhecer o espelho, Thace olhou para uma estrela e conseguiu enxergar sua outra face, sem esperar o amanhã como ele sabe que cada homem é uma estrela, só bastaria contemplá-lo toda noite, pois sua força estava nas estrelas, mas jamais saberá qual delas era ele, conseguiu entender a conduta 29 e olhar Deus. No dia 23 de fevereiro de 1730, entre os lagos e as paisagens mais lindas da África, com uma idade de 16 anos morre o maior amigo de Thace, aquele animal que de irracional não tinha nada, um verdadeiro símbolo de vida, por jamais notar seu corpo defeituoso e sua vida difícil, conseguiu sobreviver por muito tempo, unicamente por causa do seu amor pela vida, este era Aladim, o animal que somente enxerga o coração, como todos os animais racionais deveriam fazer. Thace sente a morte do amigo como sentiu a morte de sua mãe Helena, mas se controla e lembra das 133 sábias palavras de sua mãe, aplicando elas para Aladim; por um momento ele pára e coloca seu amigo no buraco da Terra, onde ele deveria voltar, pois foi dali que saiu, com lágrimas nos olhos obedecendo à conduta 33, Thace fala para todo o universo: - Aladim, eu sei que você está voltando para casa, pois nesta Terra jamais haveria um amigo como você, não entendo o porquê tenho que sofrer, em um momento feliz para você, talvez seja ganância minha, por querer você apenas para mim, você é como o mar, não é de ninguém, mas todo mundo quer. Agora entrego o seu corpo frágil, para a perfeição da vida, algum dia vamos refazer está caminhada e seremos cada vez mais livres de nosso corpo, assim eu agradeço pela sua vida de amor por mim. Numa das páginas do livro definitivamente Thace encontrou palavras que transmitiam uma enorme e poderosa força de vida, o livro tinha este nome por causa que o autor dizia que o mundo estava sendo governado pela besta, pois não conseguia entender a escravidão e o amor destrutivo que o homem sentia pela riqueza material. Deixando de lado as profecias, vejam as belezas de palavras que ergueram Thace das cinzas para o criador do universo, com maior amor e liberdade que existiu na Terra dele. O trecho do livro tratava de uma linda história de amor pela vida, era um homem que havia perdido as pernas e os braços em uma batalha e conseguiu sobreviver, mas pediu para seu filho que lhe matasse, pois não conseguiria viver daquela maneira. Seu filho não matou e continuou a tratar do pai, que a cada dia ficava mais triste, passou-se dois anos, o filho estava alegre pela recuperação do pai e o pai estava triste por não morrer. Certo dia seu pai lembrou do passado, como o seu filho mal ligava para ele e logo sentiu a parte boa 134 da tragédia e falou para o mundo inteiro estas palavras: - “Ó Deus, que tirastes meus braços e pernas, que tirastes minha alegria de lutar e caminhar, que me impedistes de abraçar meu filho; abrigado por fazer somente agora eu ter vontade de ter pernas e braços e ter alegria para lutar e vontade para caminhar, obrigado do fundo do meu coração de me dar esta linda vontade de abraçar meu filho.” Thace adquiriu toda a vontade de fazer tudo o que quer, sem ter perdido as ferramentas para fazer, logo se levantou como o homem mais forte e sábio do planeta, porém o mais simples, pois nada seria do mar sem a humildade do rio. De longe Thace olha o último grande lago e de uma única vez decifra as condutas 41, 42 e 43, da carta do seu pai, após ler Apocalipse 8: 10-11, descobre que as fontes de águas, são o fluxo de palavras que constroem os rios, que são as idéias os homens morreram por palavras amargas, as idéias são a fonte de transformação do universo e por isso cada ser é mais forte que os céus e as terras. Foi assim, que Thace Pahazy Filibuster andou pela África, conheceu a cultura de um dos povos mais belos e fortes do universo, tocou nas pirâmides que construíram e atravessou todo o deserto, porque já havia crescido o bastante como o deserto, para poder enfrentá-lo, assim como Jean-Jacques enfrentou a vida e Marylan e sua irmã Helhem, tiveram forças para amar a vida e enterrar em uma fortaleza o corpo de sua mãe Vergha, como o mundo que dá voltas, Thace também deu uma volta pela África, jamais esquecerá o que aprendeu, é isto e sua força de vida e liberdade, que faz dele uma pessoa diferente de qualquer ser que aqui viveu. Thace retornou a Marrocos onde permaneceu apenas um ano e com a idade de 37 anos, recomeçou sua viagem, agora rumando para o norte em sua 135 vontade de sua mãe, a Europa foi muito importante para Thace e esta aventura será contada por F.: C.: II.:, que logo aparecerá nos sonhos do nosso escritor Luiz. - - - - Coitado de Aladim! – disse Rose. Coitado de mim, - falou Michael – não quero ser chato, mas esse negócio é... É? – perguntou Márcia. É muito místico, - respondeu Michael – dizer que o Absinto caiu em palavras. Absinto? – interrogou Marcos. Sim, aquela estrela do apocalipse que caiu nas fontes d’água. – respondeu. Ah está aqui... – disse Márcia com a bíblia aberta – apocalipse capítulo oito versículo dez e onze... acho que Thace acha que as águas amargas que mataram os homens, são as palavras amargas. É, pois Jean-Jacques morreu de palavras amargas. – falou Rose. Não sei, mas desconfio que esse Leucipo de Minas é um discípulo de Raul Seixas, - disse Michael – pois reparem as condutas de Halford e, agora uma visão da música “água viva”. Qual? – perguntou Márcia. Aquela assim... é deixe-me lembrar... eu conheço bem a fonte, que desce daquele monte, ainda que seja de noite. – cantou com um voz rouca e catarrenta Michael. Quer dizer que essa fonte é o que sacia tudo, é o fluxo de palavras? – perguntou Rose. Sim. – respondeu Michael. 136 - Porra! Thace andou pra diabo, - disse Marcos – e tudo dentro do possível, até parece ser verdade, vinte e dois anos para rodear a África. - Você já viu uma ficção que não parece verdade? – falou Márcia – não seja tão infantil, se isso fosse verdade eu poderia falar que toda a vida no planeta Terra, não passa duma experiência científica de outros seres, somos apenas um viveiro. - Pare de deformar, - pediu Rose – vamos continuar. Fluxo de palavras. Laços de título no ar. Quem é esse sujeito que ousa capturar idéias centrais? Em um livro parasita quer construir um reino. Digo para ter cuidado caro Leucipo. Esconde-se por trás de personagens para dizer o que tem medo. Condor Amarelo é criação sua. Luiz é criação sua. Então deve ser mais cauteloso com o que pensa. Meus leitores estão descobrindo seus segredos. Hei! Mas não é você leitor geral. Ainda você terá muito que pensar. Seus dedos lhe mostram o tanto que ainda deve ler. Mas algo foi construído. Leucipo de Minas foi desenterrado. Ficção que perturba assuntos sérios. Cantos modelados para camuflagem verbal. Venero essa filáucia etnopsiquiatrica. Porém devo ressaltar que nada pode fugir do sentido lançado há muito. Eu grafo a viagem de Paula, Marcos, Márcia, Rose, Michael e a índia. Agora Rose Grafa a viagem de Leucipo de Minas. Esse que grafa a viagem de Thace e companhia limitada. Entender já basta. Caos aqui é ordem. Espere lendo um pouco. Se você acha que está difícil, prepare-se para o pior. Pois quando Paula Palavra retornar. Tudo que você ler será implícito para quem quer que seja. Mas não pense que você não ira entender. Existe um outro escritor, que tudo poderá salvar. Ele é o super-homem das palavras. Não o Homem-Aranha, mas o Homem-Palavra. Ficou curioso caro leitor geral? Pensou que eu sou o escritor geral? Não, isso ainda vai além. Mas você não poderá saber 137 agora. Primeiro ler depois compreender. Rose dite as regras por favor. Eu F.: C.: I.: ou Condor Amarelo, já lhes falei o que tinha que falar sobre nosso eterno amigo, Thace Pahazy Filibuster, agora com toda a felicidade e o amor, termina minha volta em uma reta infinita, mas antes gostaria de comentar sobre a vida que você leva, hoje e sempre. Existe na Terra uma concepção de uma palavra chamada artificial, existem coisas construídas pela natureza e pelo homem, é neste momento que encontra o grande sofrimento psíquico dos homens atuais. Tudo é construído pela natureza, inclusive o homem. Vamos entender melhor, por exemplo, o que seria de um automóvel sem a pureza dos metais? O homem apenas transforma a matéria, como o vento e a chuva, o único problema é que a vida é a transformação de tudo e esta vida está em tudo seja animal, vegetal ou mineral, e o único ser que tem o domínio total desta vida é você. Você pode andar entre tempestades e tufões, com toda a segurança, pois jamais sua força transforma sua fonte, como tudo está, é porque você quer, se você protege a natureza, continue assim, desde que esteja fazendo sua vontade, caso você esteja destruindo a floresta, também continue assim, pois é sua vontade, quem julga o que é certo ou errado é você, por isso é necessário que nunca você faça o que não é de sua vontade e, também jamais proíba alguém de fazer o que ele quer, pois fazendo isto, estará proibindo tua própria liberdade. 138 O homem precisa entender melhor o que ele chama de Deus, pois é necessário que criem um Deus para tudo, porque isto jamais irá prejudicá-lo, desde que saiba que ele é o criador. Tudo é totalmente diferente do que eles acreditam, a sua ciência não é utilizada corretamente, mas as suas teorias funcionam porque acreditam. Dizem que tudo surgiu do chamado BigBang, mas não foi, precisam entender que nada evolui, apenas se transforma e que este planeta não é igual para ninguém, a Terra passou por várias gerações de seres humanos, que nunca foram evoluídas do macaco, antes desta geração atual existia homens com uma capacidade mental superior, que infelizmente foram exterminados por uma guerra nuclear, caminho que provavelmente a atual não seguirá, isto ocorreu há 6.548.621 anos, o mundo hoje está no ano de 2001 d.C. e logo acharão uma pista do que falo, provavelmente no centro do continente mãe; a África. Estas datas não dizem nada, somente servem para vocês entenderem do modo que conseguem, como você eu também morei na Terra, o que existe no céu não são gases atraídos pela gravidade de seus corpos, mas sim pessoas como você, todo o planeta e pessoas a sua volta são coisas internas e nunca externas, eu estou em uma estrela neste momento e vendo o Luiz como uma estrela e, ao meu lado existem planetas e pessoas como você, tente entender esta verdade, que isto é praticamente impossível de transmitir por palavras, você é deus, tudo está em sua fabulosa mente, inclusive eu e o Luiz, a chance foi dada, acredite ou não, você é tudo e nada se querer, nenhuma geração de milhões de anos existiria sem você, jamais este livro que aparenta ser simples e mal escrito existiria sem sua estrela, este livro que contém histórias belas e infantis, nada de diferente da direção sem rumo, o infinito é você. 139 A vida é bela como um olhar, tudo existe explicação nada é coincidência, entender isto é conhecer você, talvez alguém lhe faça um ato, que não lhe agrade, mas se ela divertiu-se com ele, você também precisa ficar feliz, pois uma criatura sua, está se divertindo e animando seu universo, quando o dia está chato, é você quem está, pois nunca o universo pode comandar o criador, talvez você nem note que ele seja sua criação, pois está acostumado com o tempo, pensa que tudo existe antes de você, mas o que seria da beleza das flores sem você contempla-las, ou a alegria das pessoas sem você notar, jamais uma árvore ao cair na floresta fará barulho se não tiver você para escutar. Não sou o dono da verdade, pois sou o criador das mentiras, mas o que seria da verdade sem a mentira? Meu caminho é fantástico como a força do tufão, minha mente é eu com outra palavra, nada no planeta seria falso se eu não existisse, minhas crenças são amplas como o céu e a terra, meu destino é pensamento, tudo que existe no universo é invenção de deus e este é invenção minha e eu sou invenção sua, como uma estrela de infinita beleza, deus queira que esteja eu errado. Não pense que sou normal, pois sempre admirei a loucura e sua ternura, minha parte na Terra está comprida, minha história está contada a falsa profecia já foi mencionada e a vida como a mente, foram criadas, todas estas palavras estão eternizadas, como o amor que sinto por elas, no fluxo infinito das lembranças e idéias minha vida agora ficou no ponto que partiu. Como um homem que já viveu o que você está vivendo, eu lhe aconselho que jamais faça uma coisa qualquer, como estudar, trabalhar e viajar pensando no futuro, pois este não existe, se você tem que ler, 140 então leia para nunca mais esquecer e poder sempre utilizar o conhecimento no presente, caso você trabalha para ter um futuro confortável, não trabalhe, pois estará perdendo sua vida no presente, se este trabalho melhorar seu presente agora, ótimo, pois o presente é eterno e você tem uma vida perfeita se cuidar apenas dele. Uma viagem nunca deve ser feita, pensando no local que chegará, o mais gostoso é sentir a estrada, olhar o movimento da vida, o presente momento é o único que existe, quando você estiver lendo um livro e apenas querer saber o que ele conta, jamais você leu este livro, o livro não é centenas de páginas com letras, mas sim apenas uma letra, esta letra que lê agora. Se você prestar atenção somente no presente, vai saber tudo do passado, vai criar tudo no futuro, pois estes dois são apenas pensamentos do presente, que enriquece sua vida tornando você a pessoa mais feliz e sabia do universo, porque nunca alguma pessoa pode te classificar, você é aquilo que pensa ser, sinta a liberdade em cada pessoa, cada ser está fazendo o que quer e o mesmo faz você, jamais o mundo exterior pode te prejudicar, pois ele nunca foi exterior, ele é criado e transformado na estrela, mente ou simplesmente você, entender isto é alcançar o paraíso, o Nirvana, o grau total do criador com as livres invenções. Agora Thace tornará... me perdoe é Luiz quem tornará a escrever suas idéias, veja que é fácil errar, ainda bem, que o maior dom da vida é muito fácil aplica-lo, a perfeição é a morte com outras palavras, por isso erre muito e se divirta com eles, pois eles como a filosofia, são a energia da vida, um relógio parado é mais exato que um funcionando, você quer ser exato? Cuide do seu universo e seja eternamente feliz, Condor Amarelo agora voará para o meu presente e no teu futuro. 141 - - - Flagrei algo. – falou Márcia. O que? – perguntou alguém. Nessa profecia ridícula, diz que estão no ano 2001, e no começo do livro o narrador misterioso fala em 2002, - disse Márcia buscando palavras – como pode, começarem o livro depois do próprio? Esses números não dizem porra nenhuma, - falou Michael – talvez aquela introdução tenha sido grafada depois de estar tudo pronto. Eu não sabia que eu era uma estrela. – falou ironicamente Marcos. Talvez esse cara tentou dizer que tudo depende da escala. – disse Rose. Escala? – perguntou Marcos. Quer dizer que o microcosmo nosso é igual ao nosso macrocosmo, - respondeu Rose – então a essência de tudo é estrela. Não entendi. – falou Michael. Se você pegar um super microscópio e olhar para seu dedão sujo, - continuou Rose com um leve sorriso – vai notar átomos e aumentando mais o negócio vai enxergar galáxias, com muitas estrelas, e aumentando mais enxergará sistemas planetários e dentro de cada planeta terá outro dedão sujo que consta tudo isso infinitamente. Pesquei sua pira, mas será que foi isso que esse cara quis dizer? – perguntou Michael. Não sei, mas acho que nem ele sabe o que queria dizer. – respondeu Rose. É, acho que o Periquito Vermelho já terminou sua parte. – disse brincando Marcos. 142 - Periquito Vermelho é seu amigo aí em baixo, - falou com olhos maliciosos Márcia – o nome do cara é Condor Amarelo. - Sim, mas falando em amarelo que me lembra da polenta do almoço, quem foi o porco? – disse Rose trancando o nariz para impedir o ar espalha roda. - Agora não fui eu quem peidei. – decretou Michael. - É, talvez tenha sido o vizinho, - disse com ironia Márcia – ele também é antropólogo e por curiosidade se chama Michael. - Não tem nenhum Michael no prédio além de mim. - Então foi você mesmo porcão. – falou Márcia. - Tranquem o nariz e vamos continuar esse livro, falou Rose – já são duas e meia. Marquesa das idéias. Palavras insanas. Quem pode julgar agora? Leucipo fala bobagens platônicas. Mas quem leva é o pobre Condor Amarelo. Ainda há de surgir a verdade. Agora segurem essa passagem. Lá na floresta. Paula. Caça. Medo. Segurança. Índia. Ensina. Está bom por enquanto. Deixe Paula aprender sobre sobrevivência. Você terá que deduzir pelo método indutivo. Agora eu vou grafar Rose, que grafará Leucipo, que grafará Luiz. Você vai ler eu, que leio Rose, que lerá Leucipo, que lerá Luiz. Mas não se esqueça do Homem Palavra. Ele ainda pode reinar. Continue no intrometido livro. Hoje terminou meu contato com Condor Amarelo, foi dois meses de trabalho para conseguir transformar em palavras as idéias que ele passava, no começo ele surgiu apenas no sonho, mas quando comecei a escrever a história do alquimista de Londres, ele apareceu na vida real, foi mais ou menos assim: “eu estava voltando da universidade de ônibus, quando na avenida da frente da universidade na escada de um 143 restaurante, eu olhei aquele homem baixo e amarelo sentado nas escadas, não acreditei no que vi, puxei a corda do circular e desci do ônibus, correndo voltei para o restaurante, onde ele já não estava mais, então definitivamente eu entendi que estava louco, já estava pensando de como seria a vida em um manicômio, pois nunca ouvi falar de homens que enxergam suas fantasias, que não são considerados loucos”. Realmente fiquei com medo de continuar a história e publicar o que acabei de escrever, mas logo me acostumei, pois Condor Amarelo me deu a resposta que alívio meu medo. O medo era sempre meu companheiro, pois as idéias dos sonhos, que Condor Amarelo contava eram difíceis para escrevê-las, mas em uma noite ele me deu a resposta, acordei com a música Gîtâ, do Raul Seixas, era a única música que eu conhecia dele, jamais notei o que ela realmente falava, então resolvi estudar a fundo esta verdadeira fonte de palavras, tive que remar contra a maré para sair das idéias e chegar nas palavras. Eu entendi como funciona o inconsciente coletivo, que Jung tanto falava, comecei a me interessar em coisas que jamais imaginava, para simplesmente transformar as idéias em palavras e sempre Condor Amarelo ditando e eu sofrendo do início ao fim, (que agora nem sei se realmente existe) para escrever. Eu formulei uma demonstração de como o subconsciente funciona, não sei se servirá para você, mas vamos tentar explicar. O seu subconsciente é como um H.D, de computador, as pessoas religiosas ou intelectuais, estão ligadas na internet como todo mundo, mas com uma vantagem, eles sabem mexer muito bem com isso e conseguem entrar em qualquer H.D. (subconsciente), do universo e também sabem se defender, como um bom “Hacker”. Somente assim 144 consegui entender o que Condor Amarelo me falou no sonho, que nada é coincidência, por exemplo, uma criança desenha uma estrela de cinco pontas, ela não sabe, que ela sabe o que significa, por isso é necessário prestar atenção em tudo, pois existe “Hacker” do inconsciente, isto não é para por medo, mas para você saber a força que você tem. Talvez eu esteja realmente louco, mas eu estou muito melhor do que era. No mesmo dia que escrevi a história do livro de Jean-Jacques, me aconteceu algo incrível, eu fui almoçar, e na volta eu fiquei pensando, nas palavras maravilhosas, que Condor Amarelo me disse no sonho, que foram as do homem que perdeu as pernas e braços, então resolvi pensar apenas no presente, andando por volta de um lago da cidade, eu estava pensando no futuro deste livro, quando alguma coisa fez eu concentrar a atenção novamente no presente, foi aí, na margem do lago que encontrei um livro, que tinha muita coincidência com este, como, por exemplo, as onze pessoas testemunhas das placas de ouro e seres que mandavam o tradutor procurar as placas. Logo lembrei das palavras de Condor Amarelo e descartei a possibilidade de coincidência, o nome do livro era o Livro de Mórmon, era de uma igreja é parecido com a bíblia, soube que este livro foi um pedido que fiz no dia anterior, sem eu notar meu subconsciente realizou, eu queria saber se existia algum livro parecido com o meu no planeta Terra. - Até Luiz está louco, - disse Michael – já não bastava o baixinho cor de polenta? O cara viajou em dizer que existe “Hacker” de inconsciente, - falou com olhos de reprovação a 145 leitora Rose – devia estudar coisas mais míticas um pouco. - É, - complementou Marcos – Jung até poderia concordar, mas sob gargalhadas. - O pior não foi isso, - fez-se ouvir Márcia – Luiz delirou no lance do sonho realizado. - Qual? – perguntou o... - Aquele do livro de Mórmon. – respondeu Márcia. - Eu já li esse livro de Joseph Smith, - disse Marcos – é tão bonito quanto a bíblia. - Dizem que foi retirado de placas de ouro o seu conteúdo. – falou Rose. - Sim, - disse o Marcos – encontrada em “New York”. - Sei lá, - resmungou Michael – esses lances de igreja não rolam muito pra mim. - Claro, - Márcia disse – quem lê uma vez Nietzsche dificilmente entra numa instituição religiosa ou terá uma crença. - Ta, - retrucou Michael – eu leio Tolstoi e nem por isso deixo de ir para universidade. - Claro, - ofegou Marcos sua idéia – um anarquista você já é, não precisa provar. - Notei que esse sujeito chamado Leucipo de Minas, falou peremptório Michael – não demonstra sua incapacidade de se expressar explicitamente, notem que tudo é culpa do inexperiente escritor protagonista Luiz. - Bom, - declarou Márcia – essa idéia já foi capturada antes. - Ta, - pediu Rose – chega e vamos continuar. o foco princiPal de um personAgem é baseado no próprio escritor isso qUando ele é iniciante agora você percebe a crueLdade que fizerAm com esse sEnhor de tais palavraS antes você tinha um limiTe conhecido como pontuação veja roubaram-me essa artimanha literÁria o que me resta é inVentar para salvar pois o únicO limite que tudo termina é o infinito andam 146 dizendo por aí que escritor que se preze não copia nem lança idéias de outro mas ei seus faLantes as idéias não podem ter um senTido elas não precisam gerar lucros não são coisas para serem absorvidas por capitAlismo selvagem as idéias não são de niNguém elas são como o céu e um escritor não escreve bem ele pensa bem e se acaso você ouvir falar de um escritor com problemas de logoagrafia não se preocupe pois ele não é um escritor as idéias não são nada enquanto longes dos pensamentos e pensamentos nada são sem palavras é por isso que escritor não escreve bem ele pensa bem lembrar agora da poesia de paula onDe ela diz que quem está preso no mundo ou reino das palavras estará eterno mas eu afirmo que ele estará preso com a maiOr liberdade só pelo fato de dominar uma língua quem sabe uma língua sabe mais do que pensa que sabe vou citar uma frAse de beethoven mas devo pedir desculpas paRa os críticos que aqui agora criticam pois devem entender que não tenho condições nesse exato moMento de usar aspas mas dEixo claro que vou por a letra y como função das mesmas ynão há regra que não se pos-Sa violar por amor ao beloy é isso já explica o porquê disso não sei o motivo de meus sentidos gramaticais me impedirem de colocar acentuação em tudo talvez você esteja pEnsando que eu estou debochando de leucipo de minas e sua inconsciente coletivo digital sei que é pura ignorância de tal escritor mas eu ainda possuo um ética profissional e nunca falaria que alguém como talvez o homem palavra tenha invadido meu inconsciente para me governar através de truques oníricos eu não acredito nessas brincadeiras da psique humana talvez os monges tibetanos possam realizar algo como telepsiquismo mas nós simples ocidentais tentando se livrar das palavras não seriamos digo nós como se dissesse eu ycapazesy de tal efeito lógico se tudo provesse de incentivos digamos lunáticos como exemplos colombianos teríamos certeza pura 147 agora já basta de ser tão ingênuo com essas palavras sob domínio do dominado rose vai ler ou tentar continuar a grafar o livro intrometido mas tudo estará normal o problema é comigo acho que leucipo está armando coisas para mim quer tirar eu do jogo e tomar conta sozinho do livro mas o que ele não sabe é que eu pouco significo aqui sou um simples personagem criado para dar lógica aristotélica para leitores ocidentais se ele conseguir infiltrar no que eu escrevo e continuar a consumir todos os sinais de pontuações e por fim palavras eu deixarei minha marca em seu corpo epistolar assim como deixei no que acima grafei o homem palavra vai salvar tudo eu acho que vou me extinguir por enquanto rose vai continuar e eu vou tentar depois talvez voltar se não continuarem a bélica fonética eu agora não vou perdoar estarei me infiltrando na essência desse livro cuidado Alguma coisa é muito estranha neste livro, não consigo entender como surgiram as fontes da vida; eu lembro que um dia após eu escrever no manuscrito, fiquei assustado, pois eu tinha dormido na mesa, quando escrevia. Tinha escrito sobre o livro do céu, que Condor Amarelo me ensinou a ler na noite anterior, o problema é que eu não lembro de ter escrito as fontes da vida, pois eu estava dormindo quando terminei de escrever a palavra “brincadeira”, também não sabia donde surgiu a explicação a baixo das fontes; mas meu medo sumiu após Condor Amarelo ter dito e explicado sobre elas no decorrer da história, a conclusão que cheguei foi que eu estava muito cansado a ponto de ter esquecido o que escrevi, não pense que sou um médium, pois nunca pensaria que estes seres realmente estão mortos e nenhum deles se apossou do meu corpo para escrever. 148 Já faz dois dias, que Condor Amarelo foi para sua casa e até agora nem sinal do F.: C.: II.:, meu medo agora é ter que mentir para mim mesmo, para progredir o livro, não vou conseguir criar um sábio, então vou esperar a vontade deles, como tudo passa, talvez algum deles passe por perto e comece a ditar está história louca, porém sábia. Enquanto aguardo a vontade deles, vou comentar sobre o que até agora foi escrito. Você lembra das palavras secretas do selecionamento? Até eu fiquei com medo, eu realmente sou o cara mais medroso que conheço, tenho medo de tudo, mas também como é difícil saber que escrevo coisas que nunca soube o que são, pensei que fosse uma espécie de ritual e disse para mim mesmo, que iria parar de escrever. Tudo ficou tranqüilo quando lembrei sobre as coisas do medo e por um bom tempo fiquei calmo e escrevi sem temores, mas até que um dia me apareceu no sonho Condor Amarelo contando sobre um livro de 1904, que realmente jamais havia ouvido sobre ele, então quebrei o silêncio e comentei com um amigo sobre o livro, este amigo era muito entendido sobre estes assuntos e mondou eu ler o livro “Valkirias” de Paulo Coelho e entender sobre a “Sociedade Alternativa”. Eu conhecia está apenas na famosa música de Raul Seixas, no livro contava a história e relação de anjos e místicos, era um livro lindo, um dos melhores que eu li, apenas fiquei novamente com medo no momento da explicação da música. Como o mundo gira, eu também tinha que quebrar este medo e conhecer este homem, conhecido como o “pior homem do mundo”. Seu nome era Aleister Crowler e era como eu tinha escrito pelo sonho, não um homem ruim, mas sim um homem sábio, a sociedade condenava-o por atos satânicos e, por isso 149 todos tinham medo, após eu ter conhecido e sofrido medos no começo, nunca mais senti medo algum, pois o que existe no mundo de maior temor, eu conhecia e não julgava com preconceitos infantis, foi ai que comecei entender o livro, respeitando os extremos e jamais julgando o certo e o errado, pois tudo foi criado pela mente de cada ser, tanto o “Livro da Lei”, como a bíblia e outros como este, cada ser pensa no deus que quiser, na força que quiser, mas jamais poderá condenar as crenças dos outros, pois não existe a certa, cada um pensa que a sua é a melhor e será, meu trabalho é apenas mostrar caminhos e jamais indicar um, é assim que classifico este livro, como um ponto em que passa infinitos caminhos, para você seguir se quiser ou ficar parado para olhar o movimento dos viajantes. A vida não é apenas um caminho, você pode escolher qualquer um que te agrade no momento presente, mas para isso, não precisa voltar o que você andou, basta abrir uma trilha no desconhecido, para o caminho do lado num ciclo infinito e lindo, é assim que entendi este livro, talvez você entenda diferente, que seria maravilhoso, pois cada ser é uma estrela. Este caminho que Condor Amarelo mostrou, é um caminho que muitos cientistas e pensadores seguem, o caminho da força da mente, está que cria tudo e transforma a matéria e idéias, é um caminho que tudo responde, mas somente é verdadeiro para quem consegue entender profundamente a vida, até Jesus seguiu este caminho. Não sei se o livro vai continuar abrindo caminhos ou seguirá este mesmo caminho, eu espero que seja um livro de vários pensamentos, pois ninguém pode garantir qual é o correto e falso, apenas você mesmo. Sempre fico pensando no que escrevo e como vão aceitar meus amigos e família estas coisas totalmente estranhas. Tenho medo de pessoas religiosas 150 condenarem o que escrevi e não conversarem mais comigo, o que me alivia é está razão, que faz eu entender com a mente livre, assuntos que geram tantas brigas e mortes no mundo. Eu sei que é difícil saber qual é o futuro deste livro, não sei se vou termina-lo e se conseguirei publica-lo, mas se você estiver lendo, eu estarei feliz, pois ele foi eternizado. Eu preciso expressar estás idéias que minhas fantasias me contam, pois são fantásticas e devem ser de todos, como o mar as terras e o céu. A tristeza sempre bate na porta quando penso no futuro, lembro dos críticos e preconceituosos que provavelmente não gostaram do livro e, também dos milhões de seres pensantes, que simplesmente iriam rir e encontrar defeitos, como o que agora estou escrevendo, pensando que é para aliviar minha falta de criatividade. O que importa é eu realmente alegrar a vida de pessoas, mesmo sendo apenas a minha, nunca pensei em ser escritor, mas meus sonhos me fizeram ser, como você leu assim eu escrevi, eu não sei escrever como manda a sociedade, mal sei montar corretamente uma frase, não consigo utilizar os sinais corretamente e aplicar os “porquês” com sua ordem correta. As pessoas não devem pensar nos erros, por isso eu escrevo com o coração, expressando as idéias, que saem de palavras ditadas pela emoção e nunca pela razão. Mas a tristeza não faz nada a não ser bater, pois em minha casa o que reina é a rainha vontade, que comanda os seus ministros amor, alegria e imaginação. A vida não deve ser prevista apenas vista, o momento agora é escrever sobre o escritor, não quero fazer uma imagem e perfeição de mim, apenas mostrar que escritores são pessoas como você, então todos os livros e idéias você pode criar, jamais você deve querer ser melhor que o outro, pois é impossível você crescer mais do que já existe. Você é o criador de 151 tudo, o ser com maior força e comando no universo, ninguém é melhor que você, nem os maiores pensadores, santos e messias, pois eles apenas conseguiram o controle total da estrela, coisa que você também consegue, basta ter fé para lembrar. Isto não é um livro de auto-ajuda, eu não ajudo ninguém, apenas mostro que não precisa existir a ajuda, pois ninguém realmente está em perigo, somente estará se pensar que está. Você está notando o que aprendi, de um moleque medroso passei para um moleque maravilhoso, aposto que também aprendeu coisas novas como aprendi, a não ser que você seja um cientista. Eu convivo com muitos cientistas na universidade, a maioria são pessoas que usam a sabedoria para criarem um reino perfeito com defeito e, também existem aqueles que leram todos os livros do planeta, pois pegam a primeira página e já deduzem o que está escrito, eles são tão críticos que criticam até o que ensinaram, ás vezes tenho raiva deles, por reprovarem tudo o que as pessoas fazem, como se eles fossem a estrela guia, consigo controlar minha raiva, apenas admirando suas idéias loucas, que servem não para melhorar, mas apenas para mudar e colocar seus nome na história, vejo ai o seus ideais e, paro de criticá-los porque estão fazendo o que querem e o problema não está neles, mas sim em mim, aprendi a amar todos inclusive os cientistas, pois sou um. Hoje tive uma surpresa, que me fez pensar no livro. De manhã acordei de um sonho estranho, eu estava em um emocionante jogo, não sei que jogo era, mas ganhei três livros por jogar o dado e parar no número quatro. Eram livros lindos e grossos que levei para casa, de repente escuto no rádio que procuram um 152 livro perdido com o nome “Não é 6”, eu tinha certeza que era um dos livros que ganhei e, quando fui buscar, não encontrei este nome nos livros e junto com eles estava o manuscrito do livro “Vida?”, que foi o que escrevi, quando abri o livro fiquei desesperado por ver todo o manuscrito riscado, como se uma criança o pega-se, e na última página estava escrito esta frase: “ Você não soube Brincar” acordei no instante que eu li, mas não me importei com isto e quando estava voltando do almoça, resolvi passar no local onde encontrei o Livro de Mórmon e tive a surpresa. O livro estava na direção de uma manilha de água e encima da manilha com tinta azul, (a mesma cor que estava riscado o manuscrito) uma flecha desenhada apontava para o livro. E com a esperança de brincar eu peguei o Livro de Mórmon e comecei a lê-lo. - Eu sabia que Luiz era Leucipo. – expressou-se Rose. O que está acontecendo com o sistema? Não estou mais entendendo. Estou aqui escrevendo e num momento me roubam a pontuação e agora sou infectado por... Oblíquos sentidos paralelos com a posição em que se encontra o manuscrito de Leucipo de Minas. Meu Deus! Eu estou ficando explícito... A posição geográfica do manuscrito é exatamente 49°50’32’’ oeste e 13°32’08’’ sul. Os leitores que eu criei, desculpe-me tenho que me apresentar; meu nome é Ariston do Verbo, eu escrevo essa história que você agora lê. As representações gráficas são sinais conhecidos como estão aqui por: letras. E, através delas podemos analisar os efeitos sobre pessoas pouco cultas, através do método analítico gramatical. Toda frase tem que possuir um sujeito é assim que iremos alcançar os objetivos científicos, para o pregresso da 153 humanidade. As poesias conhecidas como “liberdades da loucura” são estruturadas por rimas rítmicas, isso leva a interpretação sonora, mas temos que saber contar exatamente quantos fonemas constituem cada verso. Pare por favor! Não sei o que está me acontecendo, eliminem tudo que escrevi, estou sendo atacado por um cartesianismo aristotélico ocidental, pare de brincar comigo, seja lá quem for, eu ainda sou o escritor desse livro, e você Leucipo não tem forças para fazer isso, mas então quem está fazendo? Não, será que é o Homem Palavra? Deixe-me em paz seu... não tire o que escrevo, eu ainda estou vivo e você vai pagar filho duma... não tire o que eu digo seu ... há ... você vai sentir... ta bom, você ganhou. Deixe-me, com uma educação formal, continuar minha história, pois ainda a critica dos leitores não foram feitas. - Esse cara acha que tem alguma moral. – falou Michael. - Como assim? – perguntou Marcos. - Não sabe escrever e quer ter razão nas coisas, respondeu Michael – que vá pra put... - Calma caro antropólogo, - disse Rose – estamos quase terminando esse livro. - Até que enfim! – resmungou cansado e babando Marcos. - Já são três horas, - falou Márcia – vamos terminar ele e tentar encontrar esse velho. - Velho? – interrogou Michael. - É, - respondeu – o Leucipo de Minas. Uf! Por algum momento pensei que iria ser destruído. Eu sei que sou ficção. E, sei que não fui ainda destruído só por causa que o escritor geral ainda precisa de mim. Mas temo meu destino. Talvez ele queira me tirar por completo de tudo, mas acho que ainda não será o caso. Ele esta devolvendo minha liberdade. Agora eu sei o porquê dos castigos. Eu não devia ter falado pra ti sobre o Homem Palavra. Talvez ele tivesse planos no futuro. 154 Um surgimento fantástico ou um rouba cena ousado. Tenho que seguir as leis. Não vou mais lhe informar sobre a essência do livro. Se você notou bem. Vai saber que no primeiro ataque eu tive impressão de que o regedor geral estava recitando Paula, e deixei um sinal. Agora já estou mais calmo. Vou terminar de narrar o meu livro. Esclarecimento: eu sou um escritor, que escreve sobre Paula e companhia limitada, dentro do que escrevo existe Leucipo de Minas, que escreve sobre Thace e companhia limitada. Mas eu sou um escritor que é escrito pelo Homem Palvr1425... aí! Desculpa senhor, não vai mais acontecer. Não tire minha liberdade, Rose continue a ler. Agora faz três dias que sonhei com o jogo dos livros, terminei de ler o Livro de Mórmon e, a única palavra que está na minha mente é a mesma palavra última do livro, que é “fim”, como se algo estivesse ditando o destino deste livro. Finalmente o que me dava medo tornou-se realidade, o F.: C.: II.: apareceu em meu sonho, mas este sonho não foi bom para mim, veja o que aconteceu: Estava sentado na escada de minha casa, quando um homem andava por cima dos trilhos do trem, que ficava no final da rua que passava em frente a casa, era um homem alto vestido com uma túnica negra e uma barba enorme, usava uns óculos e estava com uma toca na cabeça, ele me chamou para acompanhalo e lá estava nós, ele andando em um trilho e eu em outro, quando ele me disse: - Você sabe quem sou, eu vim falar que a sociedade secreta Fils.: Cosm.: Vida.: hoje vai embora sem terminar o livro Vida? Deve escrever este sonho e dizer que Thace Pahazy Filibuster morreu ao cair no mar, quando estava indo para Europa e dizer 155 para todos que a rota secreta não leva a nenhum tesouro, pois ela é o tesouro, faça isso e estará livre para sempre. O sonho realmente teve sentido, é assim que termina este livro, descobri que a rota secreta é a vida e esta não leva a nenhum tesouro, pois ele é o maior e o único, agora entendo a vida, pensei que este livro fosse enorme e tivesse o sucesso, mas ele nem terminou, não sei se minha vida mudará, mas o fim existe sem a gente planeja-lo. FIM. 156 DOIS MESES DEPOIS... “Você achou que este livro acabaria assim? É, na verdade acabou, mas eu o F.: C.: II.: e mais nove membros, vamos dar a conclusão do livro, pois Thace Pahazy Filibuster está muito bem obrigado e o tesouro está muito bem enterrado. Luiz, precisávamos fazer isto com você, para simplesmente dizer que a vida não tem fim e, que nunca pense que exista, pois ela é eterna, mesmo quando demora para lhe dizer, o tempo não existe, tudo o que você quiser acontecerá mais rápido se você não ter pressa e nunca duvidar, prepare-se para escrever centenas de páginas.” Foi assim que F.: C.: II.: disse-me num sonho, sonho este que me impediu de levar esse livro para editora. Eu levei um susto por saber que não teria mais a chance de ser um escritor, já estava pensando como eu levaria minha vida após publicar um livro que promete e não cumpre, estou super feliz por saber, que novamente vou escrever e viver histórias tão fantásticas e reais que me deixam perplexo. Logo no primeiro sonho o F.: C.: II.: mandou-me desenhar seu retrato e, disse que não era tão feio 157 quanto o vergonhoso F.: C.: I.: que diz que o velho de Copán é mais feio do que ele, mas na verdade é corretamente seu retrato e também falou que a beleza de Condor Amarelo é a mais forte e bela dos homens feios, pois não é exterior e sim interior, porque a imagem não diz nada, quando não tem coração. Veja o retrato de F.: C.: II.: (fig 2) que pediu para lhe chamar de um nome qualquer, então escolhi um de pura homenagem: Jesus Seixas, para o homem de maior amor do mundo Jesus Cristo e para o maior maluco beleza Raul Seixas. Assim será o nome do segundo sábio. A vida guarda muitas surpresas, um dia atrás eu estava desanimado e, hoje estou alegre e otimista, novamente vamos aprender coisas novas e alegres, que motivam e dão sentido e entendimento na vida, o contato com Jesus Seixas é mais nítido do que tive com Condor Amarelo, não sei a razão, mas as idéias dos sonhos aparentam já estarem traduzidas em palavras, é tão fácil, que não precisa buscar muitas informações em fontes de palavras. Talvez eu esteja melhorando minha concentração, nas idéias inconscientes e podendo melhor transmitir. 158 Agora basta aguardarmos o que falará Jesus Seixas nos próximos sonhos. Você nem sabe o alívio que 159 estou na mente, cheguei a pensar que o sábio da moeda ainda estava vivo e brincando comigo, fazendo os sinais como o do Livro de Mórmon, por falar em moeda, agora lembrei que não estava usando a moeda quando escrevi as fontes da vida, tomara que você entenda cada uma conforme a explicação de Condor Amarelo, pois tenho um pressentimento de que vai se falar muito delas na Rota Secreta. - - Leucipo é um sujeito niilista – disse Márcia – quis destruir o que a sociedade secreta que ele criou havia criado. Onde você flagrou esse lance bizarro. – perguntou com sutileza Rose. No fim que não é fim, - respondeu Márcia – sacou? Só. – respondeu rose. A pira agora está meio... – fez-se ouvir Michael – talvez, quase uma porra louca. No que? – perguntou Marcos. Sei lá, - respondeu Michael – esse negócio místico, de sonho e esses junguianismos todos, é coisa pra desocupado. Nada haver, - retrucou Rose – o inconsciente é o maior conhecimento possível. Tudo bem, - falou Michael – mas falar que escreveu um livro, como essa merda que estamos lendo agora, através de sonhos, é a mesma coisa de falar que tudo surgiu do nada... é preciso sacar que esse livro não tem possibilidade alguma de ser realmente escrito por sonhos, pois nunca haveria sonhos que possuiriam uma lógica tão perfeita a ponto de se poder criar uma história. Mas por quê não? – perguntou Rose. 160 - Porque não ora... – respondeu Michael – não precisa saber o por quê. - Cala boca seu pastor de igreja de ovelhas, - falou Márcia – tudo é possível para a força da imaginação. - Ai Andorinha Amarela! – disse sob gargalhadas Michael – sua imaginação é curta. - Calem-se, - pediu Rose – vamos continuar lendo, falta pouco e já são quase quatro horas, logo tenho que sair. - Sair? – perguntou Márcia. - Sim, - respondeu Rose – eu vou sair com vocês, vamos atrás de Leucipo de Minas. - É, - gritou Marcos – assim que se fala, esse escritor terá que nos entender. Leia baixo. Tudo está em silêncio. Tem que estar, pois o livro é sensível. É esse motivo que faz suas casas trazerem fonemas mudos dizendo: SILÊNCIO. Toda biblioteca é assim. Quero me manter em segurança. Estou cauteloso. Estou com medo. Você já sabe de quem. Já estou fraco para continuar. Alguém me cria e me manda. Gostaria de ser igual a você. Apenas ler. Sou um parasita preso. Grudado em letras que são minha essência. Perdi minha alegria de escrever. Não posso parar. Sou um escravo. Um escravo de um senhor das letras. O Homem Palavraiiiii. Desculpa. Não devia ter tocado em seu nome, ó grande mestre. Estou nesse mundo. Só eu sei de sua existência. Quero poupar essa malha virtual. Deixe-me deixar a Rose deixar que Leucipo deixe Luiz escrever, seus sonhos infantis. Pobre criatura, mais perdida do que acento Francês. Triste eu, por perder quase todo o meu livro, cedendo liberdade para essa invenção de Leucipo. Já sei o meu caminho. Almejo minha liberdade no livro com o escritor geral, assim como Astro almejava os céus com as asas humanas de Leonardo da Vinci. Devo agora cumprir minha função. Rose leia. 161 CAPÍTULO II “Eu sou você, por isso existe sentido no nome que você me deu” O que isto quer dizer, é que meu nome Jesus Seixas, foi escolhido por Luiz, mas antes por mim, simplesmente para você entender quem sou eu. Jesus falou: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”, uma das músicas de Raul Seixas, trata-se da interpretação de um texto, o nome já foi citado nesse livro, a letra é assim: “Eu sou a luz das estrelas, eu sou a cor do luar... eu sou feito da terra, do fogo, da água e do ar...” estes sábios estão dizendo que eles são tudo para eles e você é tudo para você, é um erro pensar que Jesus é o caminho a verdade e a vida, também é um erro você pensar que Raul Seixas é a luz das estrelas, que é a cor do luar etc..., pois se você repetir o que eles disseram, somente assim saberá o que quiseram mostrar, entender isto, é fundamental para o progresso psíquico. Estou há muito tempo viajando pelo cosmos, e vou contar algumas das mensagens que captei como um bom sábio, temos que contar histórias sobre a vida, pois nada é feliz sem expressar o que pensa ou possui. Certa manhã em um dos corredores de um hospital na cidade de Sidney na Austrália estava conversando 162 com um doente e de repente passou uma senhora com um cigarro na boca, logo o doente falou-me: - Sou um fracassado, - acendendo um cigarro – eu estou doente e tenho que arrastar estes equipamentos até aqui, simplesmente para fumar. - Você gosta de fumar? - Não, é algo nojento e pegajoso, - puxando mais uma tragada – ele é tão pegajoso, que não consigo largar desde quando peguei pela primeira vez. - Bom, se você não gosta, não está fazendo sua vontade, - falei para ele com bom humor – então deve usar um produto que solte este cigarro pegajoso. - Meu amigo, já usei todos os produtos e não funcionou, - complementou com ironia – mas qual é esse seu produto? - Vida. – com esta forte palavra me despedi e mostrei uma nuvem no céu, no qual ele ficou pensando. Após uma semana resolvi visitar este amigo, ele me abraçou e alegremente falou: - Aquele produto conseguiu me livrar para sempre deste vício, sempre quando me dá vontade eu repito está palavra, que limpa minha mente. No mesmo dia que conversei com você, eu falei para mim mesmo: “como posso ser tão covarde, ando tanto e com dores para chegar até aqui, por causa desta porcaria”, então amassei a carteira, para nunca mais pegar, porque a vida me pegou, para nunca mais me soltar, obrigado amigo. - Não agradeça, pois quem te salvou foi você mesmo, agradeça a sua vida. Está história aparenta ser igual a daqueles psicólogos, que cada um ajudou este homem, aquele homem... se livrou daquilo, ou disso... quem sou para me igualar aos maravilhosos psicólogos? Sou tanta coisa que nem sei o que sou, pelo menos posso ser o Jesus Seixas. 163 Como você sabe eu morei no Tibet, sempre amei a natureza, de vez em quando eu andava até um rio, onde conversava com ele, em uma pedra na margem do rio havia uma formiga, ela estava limpando suas antenas como se acabasse de acordar, então resolvi molhar o meu rosto, mas uma grande gota d’água acertou a formiga, que caiu no rio, eu fiquei muito triste, por ter matado uma vida tão linda e perfeita. Você está pensando, que era apenas uma formiga, sim ela era apenas uma formiga, o problema não era a formiga, mas sim, uma vida, que gostava de cuidar de suas antenas, deve ser em exagero de minha parte, mas eu penso que a gente deve matar somente para sobreviver, nunca matar um vegetal somente por matar, deve consumi-lo para sustento do seu corpo, nunca matar um animal somente por prazer, mas para comer sua carne e usar sua pele como proteção do frio, eu nunca experimentei comer uma formiga e usar suas antenas, por isso fiquei triste, sei que foi um acidente, mas acidentes nunca acontecem, se escutar a vida daquele local. Era para apenas um ser vaidoso, e ela estava antes, o tamanho físico não importa, porque a vida é de uma única grandeza. Quando morri também construí meu planeta conforme minha lei e, neste planeta existem muitas figuras diferentes, como cada um de nós. Conheça o meu vizinho, ele é estranho, mora em uma casa estranha e têm conversas estranhas, mas ele não é um estranho, pois eu o conheço há muito tempo. Veja como foi o meu primeiro contato com este estranho: Eu estava há pouco tempo no meu planeta, quando perguntei para ele: - Você sabe onde estamos? 164 - - Não, mas gostaria de saber, - olhando para mim, com uma cara de interrogação – por favor, conteme onde estou? Mas senhor, eu é quem pergunto, pois acabei de chegar. Você chegou da onde? Eu acho que morri e, apareci aqui, - disse com segurança – morava no planeta Terra, em um lugar chamado Tibet. O que quer dizer lugar? Lugar é um espaço geográfico, onde pode haver vida e sociedade. O que é sociedade? Sociedade é uma união de pessoas, com uma relação natural e organizada conforme a lei, respondi complementando – existem pessoas que trabalham, estudam e cuidam da natureza retirando o que serve para sustento. Eu sei tudo, mas não sei nada – falou com um olhar desesperado – eu não sei o porquê que temos que estar numa sociedade, você sabe? A sociedade serve para nos ajudar em tudo no que precisamos. Por que precisamos? Por que estou perguntando? Por que você morreu? Por que está me escutando? Por que temos que trabalhar? Por que tudo é assim? Por que não consigo entender? Por que você está escrevendo isto que falo no livro “Vida?”? Por que as pessoas que estão lendo fazem isto? Por que elas precisam ler histórias belas? Por que precisam estudar? Por que existe a vida? Por que existe a morte? Por que tudo é assim? Por que o escritor deste livro não sabe escrever conforme manda os “porquês” da língua portuguesa? Por que existe porque, por que, porquê e por quê? E, por que vão cortar a pergunta anterior quando traduzirem o livro para outras línguas? Por que você pensa que 165 sou um estranho? Por que não agüenta mais escutar perguntas? Por que o nome do livro é uma pergunta? Por que está pedindo para parar? Por que tenho que parar? Por que a vida não é resposta? Por que você não responde? Por que sempre começa uma pergunta com por que? Por que agora está entendendo o nome do livro? Por que está pensando que a vida é infinita como perguntas? Por que a razão é tão ruim e também boa? Por que não fico quieto e deixo Jesus Seixas falar? Por que sei o nome dele sem ele me dizer? Por que eu sei que agora você está com a atenção nesta pergunta? Por que agora vejo nos olhos de você as respostas para essas perguntas? Não sei o porquê. Penso igual a você? Quem somos? para onde vamos? Por que rezamos? Por que existe Deus? Por que existe Diabo? Por que eu existo? Por que perguntas existem? Por que é proibido perguntarmos certas perguntas? Por que você ainda está lendo? Por que sei que isto está escrito? Por que Jesus Seixas vai dar a resposta depois? Por que escutar tantas perguntas te aborrece ou anima? Por que perguntei tudo isto? Por que tenho que parar de perguntar? Por que no final destas perguntas existe um símbolo? Por que o pai do Dr. Mau é o inventor deste símbolo? Por que você não conhece o Dr. Mau? Por que tudo não tem nada haver? Por que o escritor deste livro está escrevendo? Por que ele quer fazer sucesso com ele? Por que quer ser igual a Miguel de Cervantes? Por que você pensa que sei isto, pensando que só poderia saber se fosse o escritor? Por que sou apenas o fruto da imaginação de um homem? Por que já sei tudo o que está escrito? Por que sei que o escritor tem medo de citar nomes, por causa que não conhece a lei dos direitos autorais? Por que você pensa que o escritor escreveu isto apenas 166 para aliviar as criticas? Por que você pensa que tudo que foi escrito fugiu da conversa e história de Jesus Seixas? Por que todas as perguntas sempre têm umas respostas que pouco duram? Qual o problema em ter problema? Por que todo mundo tenta se livrar dos problemas e viver livres? Por que tudo é pergunta? Se livrar dos problemas é um problema, você não acha? Por que após ler um livro de auto-ajuda você fica feliz, mas tudo volta ao normal? Por que você pensa que é impossível eu não ser o escritor do livro? Eu não sei se sou fruto da imaginação de Luiz ou de Jesus Seixas e, até mesmo do leitor do livro deles, você sabe me responder? Por que agora cansei? Por que tenho que parar de perguntar? Por que tudo isto meu amigo Jesus Seixas? - Como você sabe e também não sabe, toda a minha vida foi dedicada à sabedoria – falei muito perplexo – antes que você recomece a sua vida de perguntas, vou lhe responder. - Por favor, me responda, uma resposta duradoura, porque senão eu perguntarei tudo de novo – perguntou o homem pergunta – me responda qual é a resposta? - Você é a resposta exata para cada pergunta, - antes dele me perguntar de volta, eu saí correndo sob perguntas que o homem lançava sem controle, sobre minha resposta. Ele é um sábio homem, mas não sabe utilizar a razão com equilíbrio, pois usava apenas para perguntar e jamais usou para responder, não siga o caminho que ele seguiu, pois o seu é diferente, mas não me pergunte o porquê. No meu planeta existem também homens quase normais, apareceu por lá esses dias, um homem de terno e gravata e perguntou: - Você sabe me dizer onde estou? 167 - - - Você está no seu planeta e eu estou no meu planeta – respondi com uma vontade de começar a perguntar, pois o que o homem pergunta fez para mim, me infectou – como você se chama? Meu nome é Chagos Arch e, trabalho na multinacional... me desculpe, esqueci que não preciso mais trabalhar. – respondeu com um olhar de arrependimento. Não precisa se preocupar aqui você é o que quiser e sonhar, - acalmei ele – meu nome é Jesus Seixas. Muito prazer – apertando minha mão – eu agora entendo como funciona a vida. Pode me dizer, como você olha para ela? Sim, antes eu trabalhava que nem um louco e, agora vejo a Terra funcionando perfeitamente sem eu, deveria ter aproveitado melhor aquela vida. Não se arrependa, pois a vida é a mesma que aqui, - falei para ele, que ainda estava preocupado – você ainda possui sua família basta cria-la. Mas eu não quero matá-los. Você não vai mata-los, pois vai apenas voltar para sua casa do futuro. Não entendi, você pode me explicar? Você não precisa ficar preocupado, eu vou escrever tudo isto em um livro, que um rapaz chamado Luiz está escrevendo lá na Terra. – ele ficou me olhando, mas depois entendeu – quero que escute a história que vou contar, é de um homem que viveu na Terra, ele não fazia parte de nada, estava morto sem morrer, por isso aproveitou a vida como queria, longe de qualquer sistema ou ciclos imaginários, cada dia era diferentes os lugares e as pessoas, morava em todas as partes, é na verdade um homem normal, que simplesmente teve coragem para seguir sua própria vontade e jamais se arrependeu, seu nome era Thace Pahazy Filibuster, o cidadão do planeta Terra. 168 - Pra que Porque? – perguntou Marcos. Por que pra que? – retrucou Márcia. Meu! – resmungou fonemas o antropólogo – vocês não estão auxiliando as coisas bizarras dessas idéias, o fato é que tudo não passa de falta de palavras e não falta de respostas. - Só! Estou ligado maluco, - disse Marcos – a pira nesses cantos é outra, o livro que estamos lendo é uma antologia pragmática no sistema psíquico de um mago magro. - Concordo Marcos, - falou Márcia – o problema é que já estamos quase terminando de ler esse manuscrito e, não vejo aqui os onze capítulos prometidos. - É, teremos que ir – decretou com vigor Rose – seguir os rastros de Leucipo e colocar fim nessa coisa lírica meio coelhista. - Leia antes das quatro e meia, - pediu Marcos – pois é fácil encontrar as pessoas que queremos no fluxo de transeuntes de fim de um dia útil. A subversão pode trazer conclusões precisas na ordem que pode aqui surgir. Mantendo-se semimudo para sobreviver. O mecanismo que faz tudo surgir identificado pode ainda sofrer algo. Esse algo por enquanto, por medo de ter feito já errado, podemos anunciar como um ataque psicogeográfico. Mas já basta. Agora respondendo simultaneamente os améns que devo para o mestre ou escritor geral, a sessão auxílio se encerra num estilo meeiro. Rose termine logo de ler esse manuscrito. Para que eu possa ser um livre ser. Cansei de ser lista telefônica. Vamos rápido, pois o relógio é o relógio da vida. 169 Ao contrário de Condor Amarelo, Jesus Seixas mandou escrever junto com ele, então antes da continuação da história de Thace. Vou lhes contar o que aconteceu hoje, você lembra da marca azula em cima da manilha d’água? Então, ela também apontava para o Cristo da cidade, é uma grande estátua em cima de um morro, resolvi subir para talvez voltar a brincar e encontrei uma pista. Havia três crianças brincando no morro, enquanto subia escutava suas conversas e uma falou: “olha mãe, onde estou”, sua mãe nem saiu do carro, eu acho que estava conversando com seu marido, o menino estava na base da estátua, eu estava prestando atenção em cada segundo, pois sabia que haveria algo interessante. Quando cheguei no Cristo, os meninos estavam na rua ao lado e gritando: “estamos ricos” acabaram de achar um monte de diamantes, que na verdade eram cacos de vidro, de repente começaram a brincar com dois filhotes de cachorro, eram muito pequenos, mas não puderam levar embora, porque sua mãe não deixou, antes de irem embora um deles olhou para trás, como se fosse a última vez que olharia os filhotes e o outro tentava mantê-los juntos. No final os dois filhotes ficaram sozinhos e eu comecei a me preocupar com o futuro deles, mal conseguiam andar imagine se alimentar. Fiquei com dúvidas de deveria ajudá-los, ou deixar o destino cuidar, então lembrei de Condor Amarelo e, resolvi ajudá-los, pois era a vontade da maior força que muda destinos, a força do amor as criaturas, como um bom criador, peguei os dois e chamei dois cachorros da rua de baixo, por minha surpresa era a mãe e o pai deles, que estavam procurando por eles, quando me viram, correram ao encontro dos filhotes e, rosnaram para 170 mim, sai rapidamente deixando os filhotes e na volta para casa peguei minha bicicleta e passei perto deles, os dois cachorros grandes começaram a correr atrás de mim, que parei e encarei-os, no fundo dos olhos eu enxerguei o agradecimento do pai dos filhotes. Isto mostra que devemos apenas mostrar os caminhos corretos para as pessoas, mas jamais obriga-las a seguir, isto deve ser feito mesmo sob protestos do sistema, pois no fundo todos sabem que isto é bom. Thace gostava de conversar, mas na África poucos eram os amigos. A Europa prometia grandes amizades, ele olhava para cada pessoa, como se ela fosse um baú de sabedoria que ele tinha que abrir, foi nessa idéia que Thace conseguiu vários amigos, principalmente sábios que eram chatos, pois precisavam demonstrar suas sabedorias para alguém, que não se irritasse com eles, pois falavam como se tivessem o rei na barriga e, Thace nunca deixava de homenagear os sábios e conseguia com isso comida e moradia, e acima de tudo sabedoria. Assim foram os primeiros dias na Espanha, que já mostravam para Thace aventuras que sempre sonhou. Em pouco tempo, aquele andarilho conquistou a confiança da elite política e intelectual das cidades que passava, mas foi em Barcelona que Thace conseguiu grande amizade com velhos senhores, pois eram amigos de seu pai Halford. Logo começou a freqüentar lugares reservados para poucos, como lojas maçônicas e sociedades secretas, aprendendo muito e aumentando seu conhecimento místico. Com 38 anos, Thace era considerado um ótimo iniciante, alcançando rapidamente os primeiros graus das sociedades secretas, pois já tinha um bom 171 conhecimento adquirido por livros e principalmente pelo seu pai Halford. Thace permaneceu por um bom tempo em Barcelona, mas resolveu caminhar novamente, após conversar com um viajante. Este era aparentemente mais velho que Thace e, estava indo para Bilbao onde começaria a percorrer o caminho de Santiago, eles se conheceram em uma praça de Barcelona, onde ele falou: - Meu nome é Carlos, como você se chama? - Meu código social é Thace. - Código social? - É apenas uma brincadeira que aprendi – respondeu com olhos no passado – com uma grande amiga da África central. - Você já esteve na áfrica central? – perguntou Carlos com admiração – como é aquele lugar? - Cresci em Marrocos, mas nasci na América central e passei toda a minha vida caminhando pela África, que é um lugar lindo. - Também gostaria de viajar como você, - disse com tristeza – mas não tenho tempo, o único tempo que tenho faço o caminho para Compostela, meu trabalho é muito desgastante. - Qual a importância deste caminho para você? – perguntou Thace – pois deve ser ruim percorre-lo sempre que pode, eu acho chato percorrer apenas um caminho, pois existem infinitos. - É um meio de conseguir conversar com Deus, respondeu Carlos – e jamais o trocaria por outro caminho. Ficaram um bom tempo em silêncio, até que Thace teve coragem para falar: - Como é Deus para você Carlos? - A imagem de Jesus é a imagem de Deus, e o pensamento de Jesus é a vontade de Deus. 172 - Eu adoro Jesus, a bíblia é um dos livros mais belos que li, - comentou Thace – mas não entendo como um sábio homem pode ser Deus para você? - Thace, - falou com espanto Carlos – me diga qual é sua religião? - Eu não tenho nenhuma religião, desde pequeno admiro a fé, mas não aceito as guerras que ela pode causar. - Você conhece alguma igreja? - Sim, já estive em algumas, mas apenas freqüento lojas maçônicas. - Meu Deus! – disse Carlos com rancor – como pode aceitar a proposta de pessoas anticristo? - Mas eles não são anticristo, querem apenas mostrar, que o cristianismo é pregado errado. - Você conhece a igreja Católica? – perguntou Carlos. - Não, na verdade nunca tive contato com ela. - Pois então venha comigo, para poder conhece-la e somente depois poder julga-la como errada. - Você está certo Carlos, estive com preconceitos herdados do passado, eu preciso conhecer tudo antes de escolher. Como dois cavaleiros andantes, andaram até Bilbao, onde Thace entrou na sua primeira missa e conheceu os rituais católicos, ele admirou a fé daquelas pessoas, presenciou um milagre que havia ocorrido para uma jovem doente, que se curou apenas tocando na imagem de um santo. A alma de thace cada dia ficava mais pura e alegre, logo estava acreditando no poder de Jesus Cristo e condenando os maçônicos como anticristo, mas certo dia apreendeu algo interessante e espantoso ao conversar com um padre: - Padre preciso me confessar, - disse Thace com um olhar de autocondenação – cometi um grande erro ao entrar em uma loja maçônica. - Qual é seu nome? – perguntou o padre. 173 - - - Meu nome é Thace Pahazy Filibuster. Meu Deus... – disse o padre – como você foi parar aqui? Isto é uma enorme história, – respondeu Thace com um sentimento de conhecer aquele padre – mas padre me diga como devo pagar meu pecado? Eu não vejo nenhum pecado Pahazy. Mas padre, eu era anticristo. Não existe anticristo, Jesus Cristo é uma visão individual, cada um vê ele como quiser, fazendo isto não estará pecando – respondeu o padre – você precisa entender a maior sabedoria que existe, leia e entenda as condutas de Halford. Você é... – falou impressionado Thace – o homem que me deu a bíblia quando era criança? Sim Thace, eu e seu pai fomos ótimos amigos, eu sei que ele ainda está vivo, pois fomos grandes magos. Mas o que tem haver Igreja Católica com magia? Muito e tudo, - completou o padre – você deve seguir o nascimento do sol para encontrar seu pai, somente este caminho te dará conhecimento necessário para... Acabou, - disse Rose fechando o manuscrito verde – mas não terminou. É, já são quatro e vinte e cinco, - falou Marcos – temos que andar, avante seus civis. Então vamos, disse Márcia chutando carinhosamente a cabeça de Michael, que se esparramava no chão – levante porco. 174 Apartamento fechado. Bolsa vermelha de Rose com livro em seu imo. Como transeuntes então: Márcia, Michael, Rose e Marcos. Como sujeito procurado está: Leucipo de Minas. No sonhado fluxo, após dois dias de leitura, lá estava Rose novamente com agora a turma, no beco da igreja. Beco das idéias jogadas. Hoje nenhum livro. Faremos uma análise geográfica do local: a igreja é gigante, duas torres, em sua volta uma praça arborizada, muita sombra e umidade, tudo muito antigo, calçadas com pedras colossais, igreja de mesma idéia, o beco se encontra entre o fundo da igreja e o lado dum museu, grande beco! Sua entrada é muito estreita, mas logo se torna larga, ninguém entra ali, exceto Rose, que entrou uma vez para fazer suas necessidades biológicas, achou um carta nessa vez e, depois achou um manuscrito já mostrado e, depois todos juntos flagraram o velho jogando as Condutas de Halford, agora está sintonizado? Bom agora partimos. Antes lembra da mentalética? É, minha palavra agora é agora. Pescou? Tudo está difícil? É só por pouco. Cedendo espaço-tempo para guerrilheiros cartesianistas vou ser explicito por questão de tempo-espaço. Porém no fluxo do instante, devo auxiliar pessoas que perdem seus tempos. Epistemologias do sentido espaço e tempo, isso é perder tempo. Todos sabem o que é espaço e tempo, mas todos procuram saber. Digo agora (minha palavra mentalética) que espaço e tempo só são palavras. Palavra é minha aventura. Se eu responder isso, tudo está salvo. Agora (mentalética) você vai saber como estão as coisas. São quatro horas e trinta e oito minutos no relógio parado da igreja. Os quatro estão no beco, vasculhando cada buraco nas paredes, cada papel no chão. Logo surge o esperado, lá no fundo, quase no fim do beco, Marcos grita: - Achei! 175 Os três correm para Marcos, que aponta uma pequena porta entre o vão de um grande pilar da igreja e o muro de pedras do fim do beco. Porta de ferro, enferrujada e forte como as coisas antigas. Uma pequena janela, uma pequena espiada e tudo resolvido. A porta estava aberta. Medo súbito das gurias. Lá dentro tudo é escuro. Michael corre para uma pequena loja e compra uma lanterna. É um túnel que entra no subsolo da igreja. A porta se fecha o escuro engole o mundo. Lanterninha é a coisa mais valiosa no planeta. Márcia se agarra em Marcos que está junto com Michael na frente. Rose não solta da lanterna. As partículas do movimento sonoro ecoam como e onde surgem. Já estão um bom tempo andando. O suficiente para atravessar cinco vezes a igreja. Então logo imaginam onde estão indo. “Para o inferno” disse Michael. “Pra Brasília” disse Michael. “Acho que é para Roma” disse Rose. “Isso vai para o além” disse Márcia. “Vai para casa” disse alguém. Um gelo nos intestinos delgados dos quatro. “Quem disse isso” pergunta Michael arrancando a lanterna de Rose e apontando para frente. Luz fraca escuridão gigante. Dez metros era o máximo que alcançava o mundo ali. Não correram só por motivo de resposta. Luz que não provinha da lanterna surgiu. Uma luz fraca no fim do túnel. Agora surge uma dúvida. Entre uma luz no fim do túnel ou duas entradas secretas para vertical. Decisão: fim do túnel. Movimentos cautelosos. Jovens num ambiente de filme. Mas o que rolava era um velho habitando dois cômodos subterrâneos. Pergunta feita por Rose para o velho: - Desculpa, o senhor é Leucipo de Minas? O velho se move da mesa onde grafava alguma coisa. Ele estava como um mago. Um chapéu e uma túnica. Apóia-se na velha estante carregada de livros. E diz: - Sim, sou eu quem ti procura. O velho era restrito em tudo. Palavras mudas eram suas armas. Ele convida as visitas para sentarem. 176 Bancos estranhos e confortáveis. Livros soltos sem títulos. O velho apanha uma caixa de papelão. Dali retira um caderno semelhante ao verde, mas é azul. Estica o braço e entrega para Márcia. No livro estava grafado: “LIVRO II, que trata de Jesus Seixas e da viagem de Thace na Europa”. O velho olha para eles e ordena: - Peguem o que procuravam, e não me procurem mais, nada está pronto, Thace ainda é embrião de um velho. Rose olha para Márcia e diz para Leucipo: - Quem é você? Por que jogou na rua seu trabalho? - Não sou e não trabalho, deixem-me na paz, vão caminhem, terminem o que comecei. - Eu já ouvi isso antes – pensou alto Rose. - Você leu isso antes. – corrigiu Leucipo. - No livro! – disse Marcos. - É. – falou Leucipo. - Mas, por que mora isolado, - perguntou Michael – ou melhor, meio “underground”? - Sou irmão do bispo dessa igreja acima, - respondeu Leucipo – sou um mago, mas sei que isso hoje é motivo de piada, é por isso que aqui me escondo. - Magia! – disse Márcia – é um elemento que junto com a filosofia monta a dicotomia que funde na sabedoria. - Não, - disse Leucipo – magia é oposto de filosofia, o dogma é meu sustento a razão é o seu sustento, cara filósofa. - Quem é Luiz? – perguntou Marcos. - Parem, - pediu Leucipo – vão embora logo, não misturem o que já é misturado. - Mas... – resmungou Rose. - Saiam – gritou Leucipo – essa hora não é propícia, saiam jovens, um dia vão saber, vão logo. – disse gritando e quase expulsando os quatro. 177 Pé na estrada, ou melhor, pé no túnel. Leucipo fecha o portão. Lá fora Rose está com o já lido manuscrito verde. Lá fora Márcia está com o não lido manuscrito azul. Agora é só voltar e ler. Precisamos entender o que isso quer dizer. Paula Palavra está bem, preparando-se para uma possível janta. A relação simbólica entre ela e a índia está melhorando. Comunicação e respeito são requisitos requisitados. Deixai Paula e escutai Márcia. Ela é quem vai agora ler. Já estão no apartamento saboreando um jantar. Dando um leve toque metódico: cinco horas e quarenta e sete minutos. Mesmo dia de tudo. Não se perca. Sei que tudo é mesma coisa, mas não misturar Leucipo comigo. Lá já foram anos, aqui só dois dias, desde o começo geral. Pensando em entender o que podemos deixar explicito. Resolvi eu, o próprio, montar uma estrutura racional. É como se fosse uma idéia preestabelecida sobre o ponto almejado. O homem criou a palavra ou a palavra criou o homem? É dificílimo responder, sendo que você está lendo homens criados por palavras. Mas se você lembrar quando parado. Terá um leve toque de resposta. Lembra de Paula? No começo do livro comecei a relatar alguns livros que ela carregava. E um dos livros contém uma resposta para essa questão: O QUE NÃO É, NUNCA FOI. Flagre a montagem lógica do título desse livro. Veja que isso ignora o passado, assim sendo ignora o começo, assim sendo ignora a criadagem. Nem o homem nem a palavra criaram, pois elas estão, portanto são (é), o passado e futuro é onde habita a vida. Mas a verdade reside no estagnado presente infinitamente instável. Como Jacques Lacan, digo que palavra não foi criada, palavra está, é, e nada mais. Agora já está respondido o título, para mim, se você ainda tem dúvida, procure um psiquiatra lacaniano. Minha parte acho que deve estar talvez na provável hipótese da incerteza do badalado muro que sustenta o juíz da balança. Márcia querida, escove os dentes, convoque os três amigos, deixe a 178 garganta de Rose descansar e leia para todos lerem. É o favor que você faz para seu criador. Criador? Não... desculpe, para seu amigo que agora exatamente está e é o seu presente que já está indo fugindo como o rabo do cachorro que tanto gira. ... encontra-lo, precisamos que você seja livre para progredir a história dos sonhos de seu pai e eu. Thace se despediu do padre que não disse o nome e de seu amigo Carlos e, começou a rumar para leste. Pensando na força que sua mente possuía, entendeu como aquela jovem se curou e como conseguiu andar no caminho exato que leva à seu pai. Thace pensou que hoje era amanhã e quando descobriu que era hoje, logo ganhou um dia, redescobriu também que ele não era resto de uma estrela, pois ele era uma estrela. “É preciso você tentar, talvez alguma coisa nova pode lhe acontecer”, estas eram as palavras que não deixavam a cabeça de Thace enquanto caminhava, foi dita pelo padre antes dele viajar. Agora andando por uma trilha em uma pequena floresta, Thace sente uma enorme liberdade e alegria, mas de repente surge um homem detrás duma árvore e lhe fala: - Existe uma área de lazer abandonada por humanos, mas habitada por enteais, onde tudo pode e nada é como pode, o tempo passou, ou a vida é quem transformou? Antes de Thace perguntar seu nome, o homem lhe deu uma carta e saiu correndo pela floresta, sumindo da visão de Thace, como estava sozinho, Thace pensou que foi uma alucinação, mas a carta realmente existia. Em alguns segundos conheceu um homem, que nunca mais o veria, mas o que sobrou da conversa foi maior e duradouro, veja o que estava escrito na carta: 179 “O tempo é a mais bela e perigosa invenção dos enteais, estes que dominam as forças da natureza e tudo o que pode ser, mas foi minha mente quem criou os enteais, minhas crenças são amplas como o céu e a terra, creio em Alá, Jesus, enteais, Deus, Zeus, Buda, Natureza, Vida... mas defendo apenas a crença do criador de tudo, a verdadeira raiz, que sou eu, pois quando nasci o universo também nasceu, a única coisa que existe é a que eu posso ver, escutar, sentir, saborear e cheirar agora, o resto e também o agora é tudo imaginação, ela é minha maior força, jamais poderia saber que a lua é redonda sem ela. E a lembrança não é o ontem, mas sim o agora, porque jamais olharia um quadro de uma pessoa, se não lembrasse que ela é uma pessoa, e não uma tela. O único universo que existe é sua mente, pra que você quer um castelo, se pode ser feliz em uma cabana, nunca você deve separar a vida, ela é como a água, não olhe para água do rio dizendo que ela já esteve no mar, pois ela ainda está, não olhe para nuvem dizendo que ela já esteve na terra, pois ela ainda está, toda água é apenas uma única coisa, como a vida, que está em tudo como você. A vida é eterna, mesmo se todos as profecias se cumprirem, a vida continuará depois dos homens, pois sua força reconstruirá novamente todas as suas formas de vida, em um ciclo eterno, no qual você fará parte no seu planeta. Encontre a caverna dos enteais, para poder conhecê-los, eles te guiarão, olhe a vida.” Thace ficou surpreso, pois sua vida era como uma história de livro, surgia desde piratas até enteais. “Mas afinal, quem são estes enteais?” Continua sentado por algum tempo tentando responder sua pergunta, ele estava no topo de um pequeno morro, que possuía apenas uma árvore, na qual estava 180 encostado e olhando para baixo, Thace avista uma casa grande como um castelo, na qual estava escondida no meio da floresta, então resolveu descer até ela, para conversar com alguém. Definitivamente Thace estava na história de um livro, pois encontrou outro sábio, que morava sozinho na casa, que era muito bonita, construída por enormes blocos de pedras e com a altura superior da torre mais alta do que a maior árvore da floresta. Aproximando-se, Thace pergunta para aquele homem que parecia mais um bruxo: - Olá! Você pode me informar onde fica a caverna dos enteais? - Primeiramente meu filho, qual é o seu nome? - Meu nome é Thace. - Thace, do que? – perguntou com olhos para o céu, o velho bruxo. - Thace Pahazy Filibuster. - Pela ponta do meu cajado! – falou surpreso o bruxo – como que o filho do meu melhor aprendiz chegou até aqui? - Primeiramente meu velho, qual é o seu nome? - Chame-me Eberth, o travão do guardião. - Por que trovão do guardião? - Você saberá no momento certo – Eberth – quando encontrar o que procura. - Quer dizer a caverna dos enteais? - Não, mas o que fez você chegar até aqui, respondeu Eberth apoiando-se em seu cajado – você deve estar com fome, entre em meu reino e falarei sabre o que perguntar e onde deve ir. Thace segue Eberth para dentro da casa, a porta de entrada é enorme e pesada, mas ele abre sem toca-la, fazendo Thace ficar espantado. Dentro do castelo existem muitas estátuas grudadas nas paredes, com seus nomes gravados em latim em baixo, as janelas 181 são estreitas e altas, entrando apenas raios de luz para aliviar a escuridão do reino de Eberth. A casa possui vários cômodos, mas apenas mostra um para Thace, ele puxa um vaso em cima de uma mesa, e uma porta abre para dentro de uma enorme biblioteca, todas as paredes são cobertas de livros e no centro da biblioteca existe uma mesa no formato do ambiente. A porta se fecha, trancando Thace e Eberth, em um mundo de conhecimento, capaz de criar outro planeta. Eberth ergue o cajado, apontando um livro que pede para Thace pegar, então eles sentam-se na mesa central cada um em uma extremidade da mesa. Thace observa atentamente por um longo tempo, aquele velho folheando um antigo manuscrito, que não conseguiu ver o nome, Eberth tem uma grande paciência, que chega a cansar Thace, o silêncio é interrompido pelas páginas que Eberth folheia ritmicamente após uma leitura complexa do livro. Eberth fala para Thace: - Eu adoro está história, mas nunca consegui saber quem foi Napoleão Bonaparte. - Eu já ouvi falar dele em um sonho que meu pai conquistou uma ilha, - disse Thace – mas qual é o nome desse livro? - Ele chama-se “Vida?”, é muito bonito. - Mas, eu pensei que você estava lendo sobre os enteais. - Sim, eu estava lembrando o que eu lhe falei no livro. - Você me falou no livro? - Esqueça você saberá no momento certo – respondeu Eberth – agora vou falar o que você esqueceu, mas antes onde ouviu falar deles? - Nesta carta, que um homem me deu. Eberth lê a carta com cuidado e começa a falar: 182 - Enteais são como a mitologia greco-romana, com deuses para cada força da natureza, mas os enteais vão além, são uma sociedade que construíram a Terra, são muito evoluídos com forças que seres humanos jamais poderiam imaginar, os primeiros enteais viveram aqui apenas consertando a natureza, para que ficasse perfeita aos espíritos hospedes dos seres humanos, eles eram muito dedicados em suas tarefas. No começo as aves eram ameaçadas por lagartos, pois ainda não voavam, também não conseguiam comer os frutos das árvores, então os enteais responsáveis por está tarefa, trataram cada ave, dando-lhes os frutos que retiravam das árvores em quanto outros ensinavam uma por uma a voarem e eliminaram os primeiros lagartos, pois estes possuíam um chifre muito venenoso, que era algo perigoso para o início da vida na Terra. Isto é apenas um dos vários trabalhos dos enteais, seus corpos eram formados por matéria fina, invisível para todos os outros seres, existiam enteais com corpos fortes e parecidos com cavalos, que colocavam as pedras em locais impossíveis unicamente para mexer com a imaginação dos futuros hospedes. Havia construtores dos mares, rios e montanhas. A Terra era apenas uma pequena criação destes seres, o universo era dividido em sete infinitos universos e a Terra era apenas uma simples poeira colorida. Os enteais possuíam maiores qualidades e as únicas verdades, que foram transmitidas para os espíritos humanos, são elas: o amor, a alegria, vontade e imaginação, esta que foi a responsável pela criação das outras qualidades que os seres humanos criaram, são elas: o ódio, tristeza, desanimo e razão e a imaginação também criou os enteais. Esta parte que ele falou da área de lazer, trata-se da caverna, que fica na margem de um afluente do 183 principal rio do sul da França. Nas paredes da caverna existem imagens dos enteais, que estão aumentando a caverna, mas eles não são possíveis de ser vistos, pois são criaturas de matéria fina, você deve senti-los pelo sexto sentido, que governará os outros cinco, este sentido é chamado de imaginação, mas cuidado com ele. Antes que me pergunte como sei que o homem falou sobre a área de lazer, eu vou responder... tudo o que aconteceu ou vai acontecer com você já está escrito no livro “Vida?”, mas jamais você deve lê-lo. Eberth se levanta e olha para Thace, seus olhos brilham como uma estrela, seu cajado possui uma grande pedra azul, que começa a refletir a luz dos olhos do bruxo, o livro “Vida?” começa a se levantar da mesa e é colocado novamente em seu lugar na prateleira. Thace se levanta rapidamente com medo e fascinado pela magia de Eberth, jamais em sua vida Thace viu tamanha facilidade em mover objetos com a mente, nem mesmo seu pai Halford havia lhe mostrado algo parecido, pois o máximo que ele fazia era quebrar vidros e jogar peixes para dentro do navio de Thunder Waves, o andarilho nunca conseguiu fazer uma verdadeira magia, o máximo que fazia era simples truques que Halford lhe ensinou, então Thace fala: - Você pode me ensinar a fazer isto? - Não, eu não posso ensinar o que você já sabe – disse Eberth, com um olhar para cima – mas eu posso fazer você lembrar como se faz. - Por favor, mostre-me o que a vida nos ensinou. - Pois não meu amigo, você vai ser guiado pela maior força que o homem pode possuir, mas esta força não é poder, pois este limita e degrada o homem, e a força liberta e alegra a vida dos sábios, comentou Eberth, sentando-se novamente na cadeira e olhando para Thace concluiu – possuímos 184 - - um universo, mas somente os sábios não o dividem em dois, os homens limitam-se entre dois universos, o primeiro universo é sua vida mortal e material e o segundo universo é sua vida eterna e espiritual, você vive nos dois, mas a maioria não sabe usa-los juntos, para melhorar o universo, quando você sonha está vivendo o segundo universo e despreza totalmente o outro, este universo é também conhecido como extraordinário, pois para vive-lo você não precisa do corpo material, apenas de sua alma. Você pode senti-lo e fazer tudo o que pode, mas não faz no primeiro universo, este universo não usa tempo, pois alguns minutos vivendo nele, representam toda a noite dormindo, você não sonha o tempo todo quando está no sono, mas é tão fantástico, que pensa que sonhou toda noite. Dois universos? Sim, - continuou Eberth – o primeiro universo é toda esta vida material que você leva e despreza o segundo universo, porque pensa que este é o real, mas o real não existe, é tudo sonho... sua vida é um sonho, por isso se você quiser ser um grande mago, bruxo ou qualquer outra coisa, você precisa saber sonhar com as duas partes da mente, o inconsciente, que é o universo eterno ou espiritual e o consciente que é o material e mortal, dominando o segundo universo, para melhorar o primeiro, você pode fazer qualquer coisa, até mesmo voar e, se você dominar o primeiro para melhorar o segundo, nunca mais haverá limites entre os dois, e você será um universo livre de qualquer obstáculo, poderá fazer o que quiser quando e onde quiser, pois sonho que se sonha junto é realidade. E o segundo? 185 - - - Você deve ser amigo do segundo universo, complementa Eberth – quando vive no primeiro não pode despreza-lo e dizer que é apenas devaneio de imagens captadas durante sua vida de fantasias, também deve ser amigo do primeiro universo quando está sonhando, pois quando você sonha, você está em outro mundo e nunca lembrará que está dormindo, é por isso que às vezes urinamos na cama, pois sonhamos que estamos num lugar apropriado. Agora o sonho é vida e realidade, mas somente se você conseguir sonhar junto, tão próximo que se forma apenas um, pois nada é dividido, você é apenas uma única força, fazendo isto você não saberá se está no primeiro ou segundo universo, pois será tudo igual, e tudo possível, eis o segredo do sobrenatural, que na verdade é tão natural para os sábios, por favor, não pergunte como unificar os universos, pois o brilho do escuro, não faz diferença nenhuma em sua pergunta, o dia amanhece, a noite sobe e tudo fica na escuta, saber que você não está na escuta leva a vida inteira a sempre perguntas, você somente conseguirá, não querendo conseguir, basta você tentar, escutar, sentir e observar que a magia lhe dará uma idéia muito nova. Mas Eberth, - falou Thace – ás vezes eu tenho um grande medo de mexer no desconhecido e vou pela opinião dos outros, o que me faz ficar sempre com medo do que não existe. Escute bem o que lhe digo Thace – falou Eberth olhando profundamente nos olhos do viajante – o mal não existe nunca, mas você pode criar a única coisa que pode existir de ruim, que é o medo do mal, ter o controle do universo é fundamental para uma vida intelectual saudável, certa fez um aprendiz me falou que forças estranhas lhe incomodavam sua paz, este jovem tinha um grande 186 conhecimento da mente, desarmando todos os meus conselhos de cura, então fui obrigado a lhe dizer que não podia fazer nada, pois a única pessoa que pode receber minha ajuda, não quer que eu tenha sucesso e esta pessoa era ele, eu não iria perder nada e lhe dei meus pêsames por sua morte triste. No outro dia ele acordou para seu universo, despertou novamente a vida que lhe proporcionava força infinita e jogou fora os bonecos que tinha criado, colocando em seus lugares, lindas borboletas coloridas. Thace definitivamente perdeu o medo do mal e agradeceu Eberth por suas sabias palavras e, continuou sua viagem rumo a caverna dos enteais, onde pode encontrar uma idéia nova, que a magia da vida lhe trará. - Acho que o cara está entrando em algo grande. – disse Márcia. - Grande? – perguntou alguém, pode ser Michael. - Sim, - respondeu Márcia – a loucura da união das mentes conscientes e subconscientes. - Isso é coisa de bêbado. – disse Marcos. - Pode, - concluiu Márcia – mas é algo já utilizado por talvez índios com ervas alucinógenas. Sem meios unívocos não se constrói viagens. Bastante regular essa colocação. Leucipo agora está mandando bem. Essa idéia é pura como deve ser uma idéia. Mas mantenhamo-nos afastados. Essa falta do que falar é repercutida na estrutura final. Não deve-se parar. O instrumento da construção, não é a construção na percepção, mas é na razão. Pode até querer continuar essa ideologia panteísta, mas deverá tomar muito cuidado caro Leucipo. Tudo é a massa infinita, mas as feridas nela são a vida. Sua questão é a vida ou a verdade? É, você pode optar por ambas, mas deve-se lembrar que cada colocação que fizer nesse livro é 187 eterna. Pense muito. Pensa na paz. A luz que dispara sua metralhadora lógica, pode falhar e derrubar um treco aliado. Cuidado. Cuidado. É só isso que afirmo. Cuidado Leucipo. Cuidado meninos que lêem (Márcia, Rose, Michael e Marcos). Cuidado leitor geral. Cuidado escritor geral. Sou sua forma, mas sou independente de suas estaturas. Agora encerra essa pescada. Continue lendo minha linda Márcia. Como Thace foi um homem de sorte! Imagine você poder viajar o mundo sem pagar nada e, além de tudo aprender muito. Jesus Seixas sabe realmente contar histórias, que fascinam minha mente. Em um domingo eu estava andando pela cidade e na volta resolvi andar em cima dos trilhos de trem, para lembrar do sonho do primeiro contato com Jesus Seixas, pensando aonde chegaria ou quanto já havia andado não consegui seguir e perdi o equilíbrio, então resolvi recomeçar a andar, mas passei a pensar apenas no passo que iria dar no exato momento, só desci dos trilhos quando quis, isto me mostrou uma prova material do bem que o pensamento no presente proporciona. Quando fui dormir no mesmo dia, Jesus Seixas mostrou-me a história que vou descrever agora nas páginas seguintes. Trata da procura que Thace fez para encontrar a caverna dos enteais. Thace continuava sua viagem pela floresta, a mesma que escondia o pequeno castelo de Eberth, seu caminhar era constante e a paisagem quase as mesmas, mas de repente Thace encontra uma pedra mais alta que ele, seria uma pedra comum como as outras, se não tivesse um símbolo gravado nela, que indicava um caminho para direita, onde havia outras 188 pedras marcadas que conduziram Thace a margem de um rio. O rio tinha uma água verde azulada e não era profundo, quando começou a atravessar, Thace repara a outra margem e encontra um visual, que é difícil de mostrar somente por palavras, foi totalmente incrível admirar a pequena, mas porém forte vida que deslumbrava as flores, que se encontravam separadas em um grande deserto de terra limpa, não consegui entender como apenas algumas flores nasceram em uma grande quantidade de nutrientes de vida, mas o que deixou Thace perplexo, foi umas inexplicáveis montanhas de terras invisíveis ou transparentes, logo pensou que elas eram formadas por matéria fina, como os enteais. Eram lindas as borboletas das cores das flores. Thace após cruzar o rio e chegar perto das primeiras flores, pensou que estava no mundo do enteais e começou a virar cambalhotas como uma criança e, sentiu como nunca a força que a vida esconde dos tristes, pois apenas os alegres podem viver na pura imaginação da realidade. Depois desta parte Jesus Seixas começou a falar novamente as idéias do caminho para caverna e, falou de uma mulher bonita, que veio ao encontro de Thace quando ele seguiu para as montanhas. Ela era de uma beleza única, vestia-se com roupas brancas e leves, tocando um instrumento musical, parecido com uma harpa, que fez Thace dormir e acordar novamente no primeiro universo, agora Thace teve o primeiro contato com a união dos universos, pois acordou no local onde encontrou a grande pedra que já não havia mais símbolo. Até agora tudo bem, o problema é que Thace encontrou um papel em cima dele, que provavelmente alguém havia colocado e, a letra do papel era igual a carta dos enteais, logo Thace descobriu quem havia escrito, veja as coisas incríveis e universais que o papel fornecia, as idéias tiveram 189 uma pequena adaptação nas palavras, para melhor você entender, pois foram escritas no dia 19/07/1739 e, havia muita coisa que Luiz não conseguia entender e precisamos mudar para expressões do presente momento. Conclusão de Eberth. Pensei em coisas que nunca ninguém pensou/ passei por lugares que você nunca imaginou/ olhei você como jamais você olhou/ falei palavras que você nunca escutou/ formei idéias que pessoas já tiveram/ criei medo de coisas que você nunca criou/ escutei a metafísica para ver que você falhou/ senti a filosofia doer a mente como você nunca pensou/ observei a ciência explicar tudo que você criou/ senti o sistema me atacar como você mandou/ cantei canções que você cheirou/ soube o que Sócrates falou/ venci a lógica que você criou/ usei a razão apenas para o coração/ nadei no mar que a fonte criou/ formulei teorias como você mandou/ tentei dançar barulhos que você escutou/ convenci a rotina a trocar a camisa/ transformei suas montanhas em pontos de vistas/ saboreei o mel que suas abelhas desprezaram/ pulei o buraco que você passou/ aceitei a vida como você me mandou/ criei coragem na sua morte/ revirei o universo atrás de respostas/ andei no disco voador que você pilotou/ escrevi os livros no papel que você riscou/ soube fazer as idéias que você riscou/ soube fazer as idéias que você já fez/ liguei as antenas para captar o que vai com você/ criei buracos negros para de você me esconder/ pratiquei magia apenas para lhe impressionar/ busquei toda a riqueza para lhe pagar/ defendi as respostas que você quis dar/ inverti a rotação do planeta somente para lhe castigar/ fui superior em tudo no universo para você não se preocupar/ pedi para os pingüins que você queria no 190 deserto andar/ fiz o sol nascer para tudo você ver/ inventei a história para te convencer/ formulei o futuro para te guiar/ mas esqueci de dar o presente para você me amar/ quebrei o espelho para tentar lhe matar/ depois deste erro soube que você era eu. No verso do papel estava escrito, as seguintes idéias: “Apenas a presença do oposto de algo, é capaz de faze-lo se mexer, se você quer a vida, tenha em mente a possibilidade da morte”. “Certo dia alguém me falou que eu não poderia ser o que sou”. “A vida me ensinou a ser simples como o sol”. “A chuva prende os vaidosos e liberta os poetas”. “A fome que sinto não prejudica a vida que levo, o sono é pão e o pão é um sonho recheado com doce, que é a vaidade da língua e, esta é a ferramenta da vida”. “Sábios pensam com idéias, escritores pensam com palavras, poetas pensam com versos e eu penso com eles”. “Ao meu lado a promessa de alegria e dentro a certeza do engano, quando poderei ter a certeza ao meu lado e a promessa dentro?”. “Neste momento escrevo neste papel o que agora sinto no peito, amanhã vejo esta mão (que liberta o coração) parada para sempre, mas o que senti estará para sempre na suas idéias”. 191 Depois da leitura Thace pensou em voltar ver Eberth, mas preferiu continuar a viagem, pois não saberia o que fazer se encontrasse o amigo morto, melhor ter dúvida e enxergar a vida, do que ter certeza e aumentar a chance da tristeza. Thace levantou e colocou o papel no bolso interno da calça, onde havia ainda algumas moedas e resolveu seguir a trilha das pedras que sonhou, para ter uma idéia da força da união do universo. Enquanto andava Thace notava a diferença da trilha, por enquanto apenas os símbolos das pedras era a diferença, nenhuma pedra estava num lugar diferente do que no sonho. Finalmente chega ao rio, onde nota que a outra margem já não possuía o deserto de terra e as montanhas transparentes, tudo era igual a outra margem, mas mesmo assim decidiu atravessá-lo, desta vez ele molhou a roupa, coisa que não aconteceu no segundo universo. Chegando na outra margem, Thace observa de longe uma ponte de pedra, onde poderia ter atravessado, ela era formada naturalmente pelo rio, que furou a rocha. Isto mostra a força de vontade da vida para construir maravilhas, que muitos homens desprezam. Foi pensando nesta idéia que Thace criou um sentimento de valor individual, pois a sociedade e a ciência coletiva, podem chamar esta ponte de apenas uma simples erosão provocada em calcário pela ação da água do rio e chuva, mas para Thace isto não é verdade, pois ele consegue enxergar uma beleza construída por amor da vida, que tem uma importante utilidade, o de dar a chance para seres que não podem nadar conhecerem a outra margem. Relembrando a conduta 3, de Halford. A verdade e o valor de uma idéia, não é o que a massa pensa sobre ela, mas sim o que você pensa, se você pensa que uma formiga é um Deus, isto é verdade e você passa a 192 valorizar ela muito mais do que pensar como a sociedade pensa da formiga. Fazer isto com todas as idéias é ser realmente o arquiteto do universo, pois você formará o valor pago somente com amor, sobre tudo, e com isso poderá viver em qualquer lugar e condição, sem se preocupar com falsas conclusões sobre ele. A idéia que a sociedade tem sobre a caneta, jamais será a mesma do que a de um escritor ou poeta, pois para eles ela é o instrumento que o homem possui para poder eternizar seus pensamentos e emoções, que sentem no coração e mente. O que é de agrado para o coletivo, não é de agrado para o indivíduo. - Legal. – disse alguém com pouca instância. Esse foi o único comentário nesse tempo para respirar. Todos estavam como absorvendo uma idéia forte e surpreendente, pois provem de um escritor que aparentava ignorância total. Estou reconhecendo seu potencial caro Leucipo. Apesar de mal escrever, sabe bem pensar. E, escritor que é escritor, não escreve bem, mas pensa bem, já falei isso antes. Esse instinto verbal é recompensa de esforço bruto. Não pense que sou um louco com gula livresca. Tal sujeito não mede as conseqüências. Só lê coisas inteligentes perto de gentes. É pecado ler em público livros em alta. O que a massa lê, não o faz diferente. Julga que intelectual lê livros de única edição. Livros que poucos gostam. Isso é que faz sua modelagem social. Ele deve se manter o máximo possível lendo. De preferência na presença dos outros. É esse ato de ler, é que vai transforma-lo em um ser respeitável intelectualmente. Idéias como: “você gosta mesmo de ler” ou “esse cara é crânio, lê um livro por dia”, levam o louco com gula livresca para um labirinto sem saída. Ele enxerga possibilidades nisso. 193 Começa ler o que não entende só para dizer que pode ler e entender qualquer coisa. Escreve como eu escrevo, só para disfarçar o que pensa. Quer escrever difícil, para que ninguém entenda. Joga palavras capturadas inconscientemente nas leituras maníacas em um papel. Diz que ali encontra-se segredos incompreensíveis, e que ele jamais pode ajudar, pois ele próprio sabe que não sabe o que escreveu. Isso não cabe a poetas. Os poetas são exceção. Eles não jogam as palavras, mas as colocam cuidadosamente com todo o carinho. Eles amam as palavras. Enxergam nelas sua razão de ser. Não querem mostrar conhecimento, querem cria-lo. Mas os loucos da gula livresca não. Eles são seres parasitas. Lêem tudo o que encontram. Lêem James Joyce só para se acharem os escritores. Capturam palavras do Ulysses e jogam com ar de superioridade. E dizem: “leia esse livro que eu fiz”. As pessoas que estão acostumadas com o: “me dá seis pão”. Passam a ler: “dei-me seis pães integrais no ato, por favor”. Eles lêem e dizem: “você é inteligente, esse livro é para universitários, parabéns filho, achei muito bonito os dizeres”. O louco coloca o livro de baixo do braço, amontoa com mais quatro livros que acaba de começar a ler, levanta os óculos de descanso, que usa só quando quer se achar o intelectual e começa a andar estranhamente, como se estivesse profundamente pensando, só para chamar a atenção da pessoa que passou a imagem plagiada de um Paulo Leminski. Eu não sou um Leminski, nem sou um louco com gula livresca. Eu leio mais do que esse sujeito, mas com uma diferença, assim como o Leminski eu sei o que coloco no papel, presto atenção no que leio. E, não consigo ler nada com pessoas me olhando. Essa bronca foi direta para um sujeito que aqui reside. Feriu-me dizendo que não sei o que escrevo. Posso explicar cada fonema que grafo. E, todos que lerem como um verdadeiro leitor, sem gula livresca também entenderá. Ele falou isso só 194 porque está no comando, mas eu ainda vou me vingar. Cuidado Homem Palvraiiiiii tudo bem pare, eu não serei mais revoltado. Leia Márcia, leia antes do fim. Após caminhar o dia todo Thace colhe algumas frutas silvestres e coleta raízes para um jantar solitário relembrando a África. Encontra uma pequena cavidade na rocha e dorme tranqüilo em um lindo sonho, que contou para ele exatamente o local da entrada na caverna dos enteais. Sem perder tempo Thace acorda junto com o sol e, vai a procura da caverna seguindo a orientação de seu segundo universo, logo nota que está progredindo na unificação do universo, pois não despreza mais sua outra vida. Seguiu o trajeto do sonho e claramente enxergou seu universo sem limites, acabou de encontrar a entrada da caverna detrás da pedra, exatamente como viu no sonho. Thace está prestativo, escuta seus passos e o barulho que cantam. Começa a entrar em um lugar desconhecido por ele, mas habitado por velhos amigos. O ambiente começa a ficar escuro, mas logo Thace observa que não está sozinho, havia várias fogueiras acessas clareando as lindas pinturas, logo encontra uma espécie de mamute desenhado na parede e, alguns ossos como o de um crânio de urso junto com a primeira fogueira. A caverna começa a ficar misteriosa, e Thace pensa em voltar, mas logo lembra de sua mãe e, segue para próxima fogueira. As pinturas carregam uma forte impressão mística, encontra desenhos de leopardos e ursos, que provavelmente não representam os enteais, mas sim suas criaturas. 195 Somente após encontrar o desenho duma coruja, Thace lembra da história de Eberth, sobre os enteais, que levavam as pedras para lugares impossíveis, pois avistou vários cavalos e bisões representando os fortes enteais, mas a maior surpresa foi na última câmara, onde sua entrada era estreita e clareada pela fogueira que lá dentro estava a queimar, trazendo a importância da coragem de Thace, pois provavelmente era ali que estavam os enteais. Antes de seguir thace senta ao lado duma fogueira e começa a observar a grande escuridão, que é capaz de esconder o segredo da luz, como nenhum outro poder pode. Aquela força que tudo faz existir perde, mas não deixa ser vencida pelas trevas, as paredes brilham agradecendo a presença da luz, as pinturas resistem ao escuro, mas as telas se entregam descobrindo suas marcas, que significam a presença da mais bela alma humana, retratando e eternizando a vida de suas companhias, que aparentam ter mais importância do que suas próprias vidas. O homem que consegue entender o tempo e o espaço é feliz, mas aquele que consegue despreza-los é livre e eterno. Logo Thace percebe um barulho vindo da última câmara e, lentamente levanta para verificar, que ser vivo interrompeu o silêncio do nada, com os olhos fixos na abertura da câmara e uma tocha na mão, se depara com uma rocha pontuda saída da terra, mas na verdade foi criada pelo céu, pequenas gotas carregavam mais algumas poucas partículas, para aumentar a obra de arte e, no teto havia outras pontudas, que com o passar do tempo iriam se unir com as da terra e formar uma coluna de sustentação, para garantir que outras rochas pontudas possam também se unirem. Sem perceber Thace acaba entrando no segundo universo e logo começa a notar que aquela rocha pontuda é um ser vivo, como um pequeno gnomo, com 196 o chapéu pontudo e orelhas grandes, com uma roupa brilhante, então Thace pergunta para a pequena imaginação: - Qual é o seu nome? - Meu nome é Thace. – respondeu o gnomo. - Mas este é o meu nome. – retrucou indignado Thace. - Sim, você é eu, - falou a imaginação – apenas pessoas que acreditam podem ver fantasias, existe seres que desprezam qualquer possibilidade de poder conversar com gnomos, enteais ou anjos, porque não acreditam ou pensam que isto não os leva a nada, mas você acredita, por isso está me escutando e, vai poder saber o que mais lhe preocupa na vida, pois sei tudo de você, porque como já disse sou você, as pessoas que não acreditam não perdem nada, basta olharem no espelho, mas isto não tem muita graça. - Por favor, não pense que sou maluco, dona rocha, disse Thace buscando uma solução para essa loucura – é que você parece com um gnomo e, além do mais diz que pé igual a mim... também falou que sabe o que faz eu pensar... não olhe para mim, sua rocha, como se eu estivesse louco... eu sei que você é rocha, por isso pare de brincar e torne-se novamente o que lhe mandei ser sempre, - Thace estava fora de si, não acreditava no que acreditava – não me faça quebrar está tocha em seu chapéu... quer dizer... é... rocha, pedra você sabe. - Acalme-se isto é normal, jamais você poderia saber que isto existia fora das lendas, - falou o gnomo – deixe-me contar suas preocupações. - Tudo bem, - falou mais calmo Thace – eu estou sonhando e você é meu sonho, quero que me conte o que quer falar, - os dois começaram a se olhar, e aquela pedra começou a andar, provando que era um ser vivo, surpreso Thace senta ao lado da 197 fogueira – por favor, comece logo antes que o sonho acabe. - Realmente você não aprendeu corretamente o que Eberth falou, sonhos não acabam e você aprenderá conviver com o universo unificado, - em cima da fogueira o gnomo continuou a falar sobre ele – saiba que eu sou você. Após alguns instantes de silêncio, Thace começa a perceber o barulho do fogo, que está transformando o corpo duma árvore, e o respirar do gnomo levitando sobre o fogo; então a idéia antiga de rocha começa a falar, prendendo totalmente a atenção daquele homem de cabelos crespos e pele morena com um olhar místico que a vida lhe ensinou: - Sempre me pego pensando em mim; coisas estranhas batem na porta de minha atenção, olho o mundo como nunca notei; estudei as religiões e tive medo do mal, mas compreendi que isto é cultural, existem grupos que apenas veneram os deuses da natureza e, outros que criam criaturas do mal, com chifres e tridentes, mas se eles existissem, por que não afeta todas as pessoas do planeta? O mal é o medo do que não existe, logo estas concepções não me fizeram crer que elas existem, então comecei a pensar que tudo saia de minha mente, desde diabos a deuses, todas as culturas e também a idéia de sociedade e, foi esta que me afetou com seu medo cultural, não consegui fugir dela, pois fazia parte daquela cultura; então novamente comecei a crer na religião local e nas suas fantasias e rituais, logo percebi que existe uma espécie de metamorfose psíquica, quando descobri que o meio social me influenciava, pois se sigo corretamente sou normal, mas se levo concepções amplas de tudo sou desprezado e condenado, mas sempre todos que correm atrás da verdade acabam dizendo que tudo 198 não passa de invenção. Ótimo! Agora cheguei na verdade absoluta, sou a resposta exata para todas as perguntas, mas agora me pergunto, qual é a graça de saber isso? Deixo de viver emoções e medos que rondam as mentes normais, simplesmente porque descobri que sou a fonte de tudo, então logo começo novamente a brincar com as verdades. Ajoelho-me em frente do altar e contemplo um deus qualquer que acabo de criar, para poder parar de sofrer com tamanha responsabilidade, pois cada pergunta sem objetivo, que não me afeta no presente momento, digo que não sei, e mando para deus resolver, somente assim poderei viver, pois a verdade é a morte que lhe responde, e a imaginação é a vida, faça sua escolha, tentei olhar o mundo como ele me foi ensinado, percebi que não era verdade, as estrelas brilham como eu e, elas não se preocupam em ver o mundo, mas em faze-lo brilhar, para que os outras estrelas possam ver, porém todas fazem igual, logo o mundo não é visto por nenhuma, mas é iluminado por todos, por simples amor com a outra, assim sou eu, mostro para os outros o que não vejo e, assim é os outros mostram para mim o que não podem ver, há muita luz, sem nenhuma visão, existe uma vida sem nenhuma razão, mas esta razão não compromete um sentido da vida, precisamos sempre iluminar, para que alguém que esteja sem luz tenha a visão do mundo. Thace fica impressionado com a precisão do gnomo, justamente é isto que ele pensa da vida, o único problema é que nunca conseguiu explicar para si mesmo e, agora notou o valor e a importância de poder conversar com uma imaginação. De repente thace escuta um forte barulho e, imediatamente o gnomo volta a ser rocha, então com medo Thace pega uma tocha da fogueira e vai ao encontro do 199 desconhecido, jamais Thace poderia ter medo de encarar o que não conhecia, pois sempre lembra de sua mãe e começa a cantar uma canção. Ao sair da câmara final, Thace observa que a fogueira que lhe esquentou antes de ir para câmara, estava apagada, mas mesmo assim ele continuou. E, logo enxergou na parede uma grande sombra, parecia dum humano corcunda com um tacape na mão. Por algum momento Thace ficou em dúvida se deveria ou não sair detrás da parede, e ver o que era aquele ser, novamente pensou na mãe e saiu da proteção da parede cantando sem nenhuma razão, logo olhou um ser muito pequeno, (incrivelmente menor que o Condor Amarelo) que estava junto da fogueira formando uma grande sombra, então Thace falou: - Quem é você, meu pequeno? - Pequeno? – disse o anão dando uma grande risada – eu sou aquilo que está atrás de você. Thace rapidamente olha para trás e leva um grande susto, ao observar aquela enorme sombra, que se transforma em um monstro, duas vezes maior do que ele, o monstro ergue o tacape e na hora que iria acertar Thace, ele grita tão alto que o monstro e o anão sumiram e, logo percebeu que estava muito quente em suas costas, pois ele havia acordado e saiu do segundo universo caindo na fogueira, onde estava sentado observando a última câmara. Rapidamente Thace se levanta e encosta suas costas na parede úmida da caverna apagando o fogo, que lhe havia consumido toda sua mochila e com ela a bíblia, o alcorão as cartas de Eberth e alguma coisa do livro de Jean-Jacques, que protegia as condutas e a carta de Helena. Muito triste Thace sai da caverna, sem ao menos ver se realmente existia a rocha do gnomo e, também não se preocupou em passar pela câmara onde poderia estar o anão e o monstro, cabisbaixo se recorda das lindas histórias da bíblia e alcorão, 200 também tenta lembrar da conclusão que Eberth teve da vida. Thace cuidava de cada livro e carta com muito amor, pois sabia do valor que possuía, quantas vidas morreram queimadas naquelas páginas, isto mexia profundamente com ele; o que restava era o manuscrito de Jean-Jacques e o guia de idéias do seu pai Halford e, as últimas palavras de sua mãe Helena, com carinho Thace senta-se em uma pedra, já fora da caverna e, limpa com sua blusa os restos de idéias que marcavam o livro do amigo sul-africano, relendo algumas histórias daquela vida livre, mas no fundo Thace sabia que faltava pouco para conseguir unificar o universo e parar de viver com lembranças. O sol estava forte e Thace continuou ali sentado e pensando, agora no que acorreu na caverna. Ele olhou uma formiga que caminhava aos seus pés e, fez ela subir em sua mão, nunca entendi o que ocorreu com Thace, mas acho que foi o sol escaldante, que levou a ele falar com a formiga, como se estivesse em uma conferência interestrelar: - Boa tarde minha amiga, vou lhes dizer algo muito pessoal, peço que não espalhe pela sociedade, pois poderia causar problemas muito complexos, que você jamais poderia entender. É uma pena, que grandes homens pensadores que existiram, não entendem como funciona a mente, eles pensam que existe o mundo interior e exterior, mas veja bem amiguinha, nada está dentro de nada, você está andando dentro de sua mente, todo o planeta é sua mente... – dizia ele apontando seu dedo para a minúscula cabeça da formiga – seu corpo está dentro de sua mente; até mesmo seu cérebro está na sua mente, não me leve a mal amiga, mas também sua mente está na sua mente, pensar que minha mão ou todas estas árvores estão fora de você, é ser totalmente irracional, o universo inteiro 201 é sua mente, viver no exterior é viver no interior, e viver no interior é viver no exterior, a coisa é uma só, minha mente não está somente nesta cabeça oca, mas está em tudo, e ao mesmo tempo em nada; você entendeu bem minha amiga? A formiga não agüentou por muito tempo o discurso de Thace e, num ato suicida se jogou de sua mão, deixando sozinho o nosso amigo. Mas Thace não se entrega, se levanta meio tonto e se aproxima duma árvore e novamente começa a falar: - Olá minha verde amiga, gostaria de comentar o que aprendi na vida, você não se importa? – sentou-se no pé da árvore e encostou sua cabeça no tronco – tudo o que você pensa sobre a vida, é impossível manter na mente, precisa virar um ato na mente, mas é aí que mora o perigo, logo você se vestirá como acha correto, dará valor em coisas que não pode dar e enfrentará os preconceitos da sociedade em que vive, da família e irmãos; então pensará que terá que parar de pensar, mas isso é algo muito mais perigoso, pois pode tirar a vontade da única coisa que não possuímos e que estamos atrás, que é a liberdade, pois o amor, alegria e a vida você já possui, basta ir ao espelho, - olhando para cima Thace continua seu devaneio inexplicável – a superação não nasce e não existe, é puro devaneio pensar que existe algo superior ao seu, você sabe bem amiga, que o conhecimento é aumentado com o desconhecido... o coração é novo sol... se alguma vez existiu lógica e razão em sua vida, é porque você aprendeu a ser uma estrela, o universo está em expansão, minha mente é infinita como o caminho que ela segue, saber que tudo e nada não existem, é saber ser deus, andar movido por amor e vontade, é ser eterno, mas caminhar se perguntando onde chegará é ser infeliz e mortal, bem que você faz amiga, ficar parada para não 202 sofrer, pois a vida não tem fim e nem começo, você não perde nada, ela é como perguntas e respostas, a perfeição é morte, mas o erro é virtude, - Thace faz carinho na árvore e fala antes de dormir ali mesmo – veja minha amiga, está vindo a noite, ela me lembra a morte que é um sono, e a vida um sonho, nos dois universos isto ocorre, a morte não possui nada de um sonho para outro, pode passar bilhões de anos e você nem notará, unificar o universo é contemplar em apenas um sonho todas as fantasias impossíveis... – resmungando termina – sendo este imortal. Após estas longas conversas, (provavelmente efeito da unificação do universo, que Thace agora precisará controlar) ele dorme na sombra lunar, de sua amiga verde. Eu estou longe e ao mesmo tempo perto, encontrome neste exato momento no sul da França, na madrugada do dia 22/07/1739, olhando de minha estrela, aquele viajante perdido e deitado em um profundo sono, aos cuidados da árvore que escutou o seu discurso com tamanha paciência. Com o universo unificado, Thace pode em seu sonho viajar para seu futuro e conhecer o já famoso e desconhecido Napoleão Bonaparte; eu que estou em tudo, não perdi esta fabulosa conversa. Em uma ilha conhecida hoje como Santa Helena, estava Thace vestido com a túnica e o chapéu do Eberth, e na sua frente havia um homem com um olhar fixo para o mar, lembrando o passado, aproximou-se Thace e lhe falou: - O que faz um homem viver aqui exilado do mundo? - Você sabe quem sou? - Não, - disse Thace – mas gostaria? 203 - - - - - Meu nome é Napoleão Bonaparte, o homem que mudou a história. Que história é essa que mudou? Você mora na lua? – Thace lembra da Concha do Mar, quando escuta isto que Napoleão falou – é impossível alguém na Terra, não conhecer a revolução francesa. Realmente amigo não sei o que é ou foi esta tal de revolução, - falou Thace olhando uma gaivota que voava no céu azul – mas se não fosse incomodo gostaria de saber o porquê dela ser o motivo da mudança da história? Não devemos deixar que apenas algumas pessoas governem tudo, - falou Napoleão – queremos liberdade, igualdade e fraternidade. Mas por que você quer algo impossível, perguntou Thace com uma olhar filosófico – digo isto, pois já possuímos o que você quer, basta sentir a vida. Vejo que você nunca sofreu nesta vida, - retrucou Napoleão – não sabe o que é ficar sem emprego, somente porque não tem nenhum parente para lhe calçar. Mas por que sofrer somente por falta de emprego? Eu não estou entendendo, você pode me dizer como alguém fará parte duma sociedade sem um emprego? Mas para que tu queres fazer parte de algo que lhe tira a liberdade? Meu amigo, - respondeu Napoleão – para que serve a liberdade se você não tiver o que comer? Não precisamos perder a liberdade para comer, pois com ela você poderá alimentar-se como e onde quiser, pois a vida lhe forneceu tudo de graça. Veja como o mundo não possui seres com fraternidade, - falou Napoleão – um homem que 204 pensa apenas nele e não se preocupa com o sofrimento do próximo. - Talvez eu esteja errado, - disse Thace – mas me diga amigo, qual foi o resultado de sua vida? Sei que você é famoso, teve muito poder, mas vejo que não sabe amar uma simples borboleta, imagine se poderia pensar naqueles milhares de homens mortos por pura ignorância e ambição de conseguir este poder que agora tira sua liberdade, igualdade e fraternidade, cada homem deve pensar em si mesmo, somente assim poderá ajudar o próximo, jamais você deve classificar um homem pelo que possui na mente, mas sim pelo que ele valoriza. - Minha vida não foi como queria, mas cheguei onde podia, - comentou Napoleão com uma expressão pura – eu apenas fiz o que meu coração mandou, se matei muitos é porque estava me defendendo dos ataques do coração. - Meu pai Halford, sempre me dizia que não podemos julgar errado o que o coração manda e faz, sua vida não foi jogada fora, porque não existe dentro e além do mais, para que estamos preocupados com frutos, se nos alimentamos de raízes? Viva a vida, pois ela ainda não acabou. Assim foi o sonho que Thace teve com Napoleão. - Parece que Leucipo está melhorando. – disse Rose. Sim, - falou Michael – ele está tratando de coisas gigantes, por trás dessas metáforas. É a metáfora que camufla o sentimento, - falou Márcia – pela metáfora o homem pode dizer o que pensa sem medo de ser condenado, pois sendo de natureza implícita a sociedade não tem força para condenar sua identidade. 205 - - - - - Opa! – despertou sua atenção Marcos – você falou identidade? Sim. Esse assunto é tese do meu mestrado, - continuou Marcos – é algo que pode trazer universos ocultos na massa, mas nada é oculto para olhos perscrutadores. Manda logo sua pira. – pediu Michael. A identidade é relacionada com a existência do ser, pensando e buscando palavras continua Marcos, deitado no tapete da sala – existir na sociedade é você pronunciar a palavra “eu”, quando você aprende a falar “eu” você passa a ser alguém. Bom, - disse Márcia – aproveitando sua viagem, você deve estar por dentro da idéia do desenvolvimento da linguagem, quando o bebê começa a se expressar na terceira pessoa, dizendo como se estivesse no lugar da mãe, ele diz “nenê fez xixi”, e assim por diante, nessa idade ele começa a desenvolver a comunicação do “ego a ego” ou aquele lance de ditirambo nietzschiano. Não, beleza sua pescada, - completou Michael – mas o negócio não é bem assim, essa idéia acho que você pescou em Lacan, mas esse cara é estranho, não entendo muito de psicanálise, mas pelo que sei ele não passa duma releitura de Freud. No que? – perguntou Rose, que começou a se interessar. Primeiro ele manja a idéia do Id, como uma fonte de intenções inconscientes, - continuou Michael – mas ele fala que não são impulsos que articulam a parada, mas uma certa linguagem, depois ele desfigura a estrutura do complexo de Édipo, deixando essa pira sem colocação cronológica e, logo cria relações loucas com várias subpersonalidades do sujeito. 206 - - - - Michael, - falou Márcia – eu acho que você está falando merda, tudo isso não tem sentido, não seja um abismado na parada, coloque as coisas no seu devido lugar. Fica na tua sua piranha, - retrucou Michael – eu sei do que estou falando. Calem, - pediu Marcos – deixa eu terminar, como eu já havia falado, a identidade é o motivo de existência, mas ela é imo da cultura ocidental, porém devemos deformar. Como? – perguntou Rose. Quem sou? Você é Marcos. Sim, sou Marcos, mas o que sou tirando essa palavra? Uma pessoa. É, uma pessoa com uma personalidade distinta, mas além dessa palavra o que sou? Um ser humano. Ser humano é, estamos chegando lá, fora essa classificação do reino animal, o que sou? Um ser vivo. Ai está, agora vou lhe pegar Rose, sem essa palavra o que sou? Uma coisa. Sem essa palavra, o que sou? É... – resmungou Rose absorvendo a idéia. Sim, você não sabe, - disse Marcos – caímos no lugar onde não existe relação, no lugar onde não existe as palavras ou melhor a linguagem, nesse lugar tudo é uma massa infinita, que é tudo o que existe, é a coisa que não tem relação com nada. É, - disse Márcia – você flagrou uma ótima imagem, você não passa dum ser construído por palavras, não existe idéia sem palavra, a idéia é uma palavra, você só entende através da linguagem que usa para a comunicação ego a ego, no caso nosso é as 207 palavras, é o caso de todos que podem nos entender. - E o surdo, mudo e sego? – perguntou Rose. - Sem dúvidas eles se comunicam numa linguagem que só o seu próprio ego entende, então não cabe a nós entendermos esse mundo. – respondeu Márcia. - Sim, - refletiu Rose – pois a linguagem deles não é igual a nossa, é impossível entender o que eles pensam e eles não sabem o que pensamos. Acho que eles estão entendendo. O homem é palavra. O que eles não resolveram, podemos eu resolver. É, podemos (no plural mesmo) eu resolver. Cada ser possui uma personalidade. Numa sociedade essa personalidade está carimbada com um nome. Porém o sistema só pode controlar o nome, mas nunca a personalidade. O que aconteceria se essa personalidade se infiltrasse num nome coletivo? Com certeza seria o maior atentado contra o individualismo capitalista ocidental. O nome coletivo é uma arma mortal. O homem não sofreria, pois não precisaria lutar a vida toda para eternizar um nome-carimbo. Seu nome seria imortal, já seria famoso e já seria eterno. Sua personalidade seria livre. Meu nome é Ariston do Verbo. Mas posso eu me alcunhar de Luther Blissett. E ser um ser famoso, um milionário, um escritor mundialmente conhecido. Poderia eu ser um ativista de esquerda. O sistema não poderia me pegar. Porém meu nome agora corre perigo. Sou carimbado como Ariston do Verbo, mas você caro leitor geral, pode me considerar como o sujeito que vez golpes de subversão cultural no mundo. Eu poderia ser punido por isso. Porém na hora da execução apareceria um outro Luther Blissett, cobrando seus direitos autorais e logo em seguida ser criticado por outro Luther Blissett. Essa é uma idéia real. Uma idéia genial. Criada por milhares de personalidades que são carimbadas por um só nome. Talvez você já possa definir o que tenta o escritor geral. O que pensa o 208 Homem Palavra. Opa! Por que ele não me castigou por ter tocado em seu nome? Talvez ele seja essa personalidade, que está carimbada com meu nome. Tudo isso que acima foi escrito, pode ter sido um golpe. Porém sei ainda que Márcia vai ler. Quando o sol começa a alimentar a vida novamente, Thace acorda com idéias confusas, se lembra das conversas com a formiga e a árvore, mas não sabe se também foi um sonho como a com Napoleão, logo lembra das palavras de Eberth e compreende que pode estar sofrendo os sintomas reais da unificação do universo. Novamente começa a caminhar, não sabe para onde, mas consegue enxergar o destino, talvez esteja cansado psiquicamente falando, pois passou vinte e cinco anos andando, mas acima de tudo pensando; sentiu a necessidade do descanso mental, pois não possuía mais aquela boa memória, - se isto faz diferença - mas conseguiu permanecer lúcido por mais alguns dias. Sua cabeça estava toda anárquica, não no sentido real da palavra, mas na capacidade da razão, pois não sabia o que queria, pensava em parar de caminhar e tentar outra vida, menos reflexiva de pensamentos, porém algo fazia ele insistir no que sonhava, que era encontrar seu velho pai, não demorou muito e a resposta foi mostrada pela vida, era um grande reino, onde havia alguns feudos e, não perdeu tempo, quis conhecer logo o rei, mas antes os servos. O reino possui um feudo muito diferente, era um local totalmente comunista, até mesmo nas roupas, Thace notou nos dias que ali passou, que os moradores trocavam seus vestuários com os outros, as ferramentas eram de acesso a todos, como também as moradias, ninguém possuía nada, mas ao mesmo 209 tempo tinha tudo, sem ter nenhuma outra contrariedade os moradores, viviam numa paz que chega a assustar Thace, era como o paraíso ou a perfeição coletiva, mas isso não era motivo para tirar o sentido da vida daqueles trabalhadores, eles tinham objetivos mais puros e fortes, cada dia de trabalho era um treino nas canções, eles eram músicos da vida, seus instrumentos eram machados, enxadas e arados de boi, que fazia aquele barulho típico de transformação da terra, suas vidas eram movidas por simples, mas lindas letras musicais, todo trabalho duro era como uma bela diversão, não viam suas vidas de outro jeito, pois eram sábios na arte de viver com excesso, não se preocupavam com o amanhã, e muito menos em guardar riquezas para garantir suas sobrevivências, não cometiam o erro de pensar se existia um lugar melhor que aquele, para eles o nirvana já foi ultrapassado, seus valores eram individuais, e ninguém impedia os desejos dos outros, por mais loucos que parecessem, logo Thace entrou em dúvida sobre o local, será que realmente é verdade, ou é mais um truque da sua mente? Ficou a pensar na validade daquelas idéias, para ele era impossível uma comunidade alcançar tamanha harmonia, em pleno soberania dos senhores feudais e do rei, era uma visão fantástica, aquelas pessoas realmente viviam no tempo cósmico virtual, que Thace iria aprender a dominar e vivencia-lo, pois era uma virtude da unificação da mente. O reino era composto de seres estranhos, cada um pensava totalmente diferente e, fazia coisas iguais, o ato não obedecia ao pensar, pois era limitado pelas forças dos comandantes, mas todos tinham o mesmo comportamento harmônico, era realmente incrível. Antes que Thace fosse confundido com um servo, ele foi para o castelo, com propósito de conhecer o rei, sua visita foi complicada, pois os guardas não queriam 210 que ele entrasse, somente conseguiu permissão, quando seu nome caiu nos ouvidos do rei, logo Thace imaginou a influência que seu pai tinha. Chegando nos aposentos principais, Thace se depara com um homem gordo e sorridente, era o rei vestido com um sobretudo colorido e seus cabelos eram brancos encaracolado, ele lhe falou: - Quanta honra minha receber em meu castelo o filho do melhor bobo da corte que tive. - Bobo da corte? – perguntou Thace – meu pai já esteve aqui? - Sim, ele era um homem muito inteligente, ensinoume coisas fundamentais para mim poder manter a ordem no reino. - Que coisas? - Ora menino, não tenha pressa, vamos tomar um chá e depois contarei tudo. - Sim majestade, agradeço sua gentileza. Os dois se dirigiram para sala de refeições, e Thace notou que um castelo não era como ele imaginava nas histórias dos livros, tinha muita coisa simples, a higiene era precária, mas melhor do que estava acostumado. Os móveis demonstravam os traços do tempo, a grande mesa do refeitório estava rabiscada por marcas de facas e, as cortinas das grandes janelas estavam duras de poeira. O rei era um homem sempre alegre e Thace notou está característica, o rosto dele constantemente se enrugava com um sorriso forte e contagiante afetando todos em sua volta, isso provocava um estranhamento no comportamento do rei, pois Thace não estava acostumado com pessoas que sorriam muito e sem motivo, como esse rei. Thace queria que chegasse logo a hora do rei revelar o mistério que seu pai havia ensinado para aquele reino permanecer sempre alegre. O rei se levanta e, olhando agora seriamente para Thace, pede para acompanha-lo, os dois seguem para 211 o andar de cima, a escadaria era bem larga e coberta no centro por um tapete vermelho, as estátuas do castelo aparentavam estar muito sujas, em cada canto Thace encontrava uma e, acima da porta de acesso para quarto intelectual do rei, havia uma estátua de Hermes, com seu nome gravado em grego, Thace estranhou, mas não comentou nada. Sentando-se na grande poltrona e novamente sorridente, o rei convida Thace para se abancar numa cadeira com revestimento de bronze, então o rei fala: - Sei que você quer dominar a unificação do universo e para isso precisa de minha ajuda. - Sim, eu ando preocupado com as coisas que estão acontecendo, - disse Thace buscando uma melhor posição na cadeira – eu preciso que me revele o segredo. - Tempo, - resmungou o rei – este é o segredo. - Já sei, eu preciso deixar de pensar no passado e futuro e começar a viver apenas no presente, não é isto? - Não, na verdade você precisa do aoristo. - Aoristo? – perguntou Thace – mas que negócio é este? - Aoristo é um aspecto dos tempos gregos. - Tudo bem, mas como funciona? - Por exemplo, - disse o rei – quem não tem enxada usa machado; você pode me dizer em que tempo está o verbo? - No presente. - Não, ele não está bem no presente, este verbo mostra uma ação no presente, que ainda não está em ação. - É verdade! – disse perplexo Thace – mas em que tempo ele está? Seria no futuro? - Não ele não está nem no passado, presente ou futuro, mas sim em um tempo que chamamos tempo cósmico virtual. 212 - Sim, mas como viver nele? Neste tempo vivem os animais, as crianças e sábios, é o tempo onde a imaginação domina, criando o que chamamos do verdadeiro trabalho, isto é, a arte, a música e filosofias. - Quer dizer que tenho que ser um artista, para poder viver nesse tempo? - Mais ou menos, você tem que se identificar com trabalhos construídos, não pela razão, mas pelo coração junto com a razão e imaginação, é algo que vem não de dentro corpo, mas sim dentro fora. Thace olha fixamente para o rei, se levanta vagarosamente e olha o que está desenhado no vidro da janela, são desenhos que se movimentam, na verdade é apenas o lado de fora do castelo, onde os serviçais do rei trabalham como escravos, mas se sentem livres como pássaros, então Thace pergunta: - Como que aquelas pessoas conseguem viver no tempo cósmico virtual, se não trabalham nos seus verdadeiros trabalhos? - Eles trabalham, não para cumprir minhas ordens, mas para serem livres delas, pois não posso dar ordens para quem já possui ordem. - Você quer dizer que eles fazem o que eles querem? - Não, eles fazem o que seus corações querem. - É impossível alguém querer trabalhar duro, por ordem do coração. - Eles não trabalham duro, para você é duro, mas para eles é música, arte e filosofia, estes são os valores que eles adquirem e nem você e muito menos eu podemos querer impor nossos valores. - É verdade, - disse Thace sentando novamente na cadeira – quem sou eu para julgar o que é bom ou ruim para os outros? Mas quem é você para usar a boa vontade deles para seu próprio conforto? - Está é minha visão de vida, eu não estou tirando a vontade e os desejos de ninguém, mas estou 213 cumprindo os meus, para eles a vida é aquilo, para mim é isto; não existe posição melhor, mas às vezes eu me pergunto se a vida deles é melhor do que a minha e me imagino podendo se relacionar com as pessoas, com a pureza e naturalidade que eles fazem, sem se preocupar com bobagens materiais e cantando como uma cigarra e disfarçado de formiga. Thace permaneceu no castelo por mais dois dias, quando se preparava para partir o rei lhe deu um presente, no qual agradeceu e continuou caminhando, agora praticando um trabalho verdadeiro, pois o rei havia lhe dado uma flauta com uma sugestão de trabalho, pois Thace ficou fascinado pela música. Agora longe, Thace avista o castelo onde o tempo é apenas o nada e lembra da última frase que o rei lhe falou: “se você quer a vida eterna, viva procurando o fim”, e esta idéia despertou novamente a vontade de Thace continuar sua viagem, criando e aprendendo a tocar lindas canções com sua flauta, que passou a ser, a sua única distração no tempo. Só um instante. Ele tocou no verbo. E de verbo sei eu. Aoristo é o verdadeiro presente. Toda a ação se encontra em algo além. Basta prestar atenção. Assim como Márcia presta quando continua a ler. O dia estava nublado com um ar estranho despertando o místico em Thace, um pequeno roedor trabalha na árvore onde ele está sentado, o barulho dos dentes do animal transformando a madeira em um abrigo seguro, toma conta do universo sonoro de Thace, um pássaro disputa com o esquilo cantando uma triste e bela canção, e o homem observa a perfeição de sua criação, respeitando sua 214 inferioridade com relação a beleza musical do animal, que naturalmente vence sua rústica flauta. Na sua frente existe uma floresta com muitas árvores baixas, então Thace começa a olhar fixamente para as formas que os troncos apresentam, sem perceber ele entra novamente no estado superior da unificação universal, agora consegue controlar seu universo somente porque está vivendo no tempo cósmico virtual, que o pássaro lhe mostrou; tudo vira brincadeira para Thace, até quando um forte raio lhe assustou e começou uma tempestade onde tudo ficou escuro, o roedor entrou em sua nova casa, o pássaro sumiu para dentro da floresta e, logo nosso amigo ficou completamente perdido, a chuva lhe castigava, grandes gotas atingiam seu corpo numa velocidade considerável, com medo Thace agarrasse no tranco da árvore com muita força, por causa disso sua imaginação criou no seu universo um feroz leão negro, que caminhava pela trilha lentamente, a única coisa que aparecia era seus olhos vermelhos, seu corpo surgia a cada relâmpago, novamente o grande medo ataca Thace, como havia ocorrido na África, o leão se aproxima e sem esperar por sua morte Thace sobe rapidamente a árvore, onde um raio lhe atingiu e, no momento que iria cair, para o leão come-lo, ele acordou novamente. Todo o seu corpo estava molhado, mas a terra estava seca, o roedor ainda trabalhava, o pássaro acabara de voar e o leão voltou a ser um simples tronco se árvore. Thace não entendeu mais nada, não sabia como seu corpo estava molhado, pois foi apenas um delírio; começou a enxergar a força desta unificação, que não acontece para qualquer um, por ser algo diferente Thace jamais comentou com pessoas que não estavam ligadas em sua rota, pois sabia que iriam achar ridículo e, dizer que é apenas ficção de um louco andarilho vagabundo; realmente existem pessoas que 215 jamais acreditariam nisso, pois estão profundamente na ignorância ou dominados por livros que ditam o que é e não é verdade, desprezando a maior força que existe, a única criadora, Thace sabia que as únicas coisas que impediam um homem de viver no inconsciente era o medo de ter medo a as superstições de tradição cultural, coisa que Thace jamais possuiu, pois é um cosmopolita que acredita em tudo e ao mesmo tempo em nada, que não seja sonho. As palavras criam idéias irreais, mas ao mesmo tempo possíveis. Thace passou por várias chuvas estranhas, como a de gafanhotos na África, e a chuva vermelha na Espanha, mas nunca por uma chuva seca, que molhou apenas seu corpo, era algo estranho, não sabia se estava sonhando ou delirando e até mesmo acordado, tudo passava como mágica tão extraordinária que duvidava dos fatos vivenciados. Cansado ele senta numa pedra cinza, e novamente começa a ter problemas, então resolve tocar uma canção com sua flauta, e sem notar-se um menino se aproxima, muito excitado, sacudindo-se para os lados e apontando no chão uma formiga, com medo Thace observa cauteloso, o menino tremia e, com uma forte voz, que parecia de homem disse: - Não entendo, ninguém liga para a morte de uma formiga, mas todos se agitam com a morte de um homem, então por que nós imitamos as formigas? Se somos fortes, mas inúteis quando não reconhecem nossos ídolos. Thace arregala os olhos, não acreditando que um pequeno menino tivesse tamanha sabedoria e, aumentando o diálogo fala: - Veja, sou apenas mais um, - sem entender donde vinha estas idéias, Thace continua a expressa-las sem dizer – Hei... olhe o papa também é mais um, Napoleão é mais um, Sócrates é mais um, todo 216 mundo é mais um, agora sei... aqui embaixo todos somos apenas um. - Palavra é palavras, - continuou o menino, em um diálogo sem nexo, mas muito rico em pensamentos – idéia é igual a idéias, o universo é igual a universos, pessoa é igual a pessoas, um é igual a uns, verdade é igual a verdades, você é igual a vocês, eu sou igual a deus. - A nuvem é algo, – disse Thace com a pedra sob seus pés – o mar é algo, o rio é algo, a fonte é algo, o algo é algo meu. - A água parada, não para de andar, - falou o menino – todo o pensar é proveniente do tempo. - Não preciso precisar, apenas olho e pego, meu menino. - Um farelo de pão, não é nada, mas é um grande pão para os que são farelo. - Fechar a cortina é aumentar as chances de ações. Após dizer isso Thace bate sua cabeça no chão e acorda não sabendo onde está, mas lembrando do menino, resolvendo assim procura-lo, para ter certeza que não estava louco e, desta vez tem uma surpresa fora do seu corpo físico, encontrou marcas da unificação universal, era as pegadas do menino impressas na terra, com essa prova Thace já estava conseguindo dominar e viver no tempo cósmico virtual, seguindo as pegadas que por sua vez seguem a trilha de grandes formigas, nosso viajante repara em algo que lhe assusta, as pegadas estavam diminuindo gradativamente, ate ficar do tamanho duma formiga, chegando no grande formigueiro, as minúsculas pegadas caminhavam para uma entrada que mal cabia o dedinho de Thace, então novamente Thace desmaia e tenta uma experiência incrível, pois agora está no controle do corpo de uma formiga, caminhando para dentro do império das operárias, tudo é tão escuro, que ele começa ater um sentido 217 especial captado por suas antenas, andando entre aquelas infinitas formigas Thace avista uma luz no fim do túnel, e encontra uma grande câmara, onde está a rainha muitas vezes maior do que ele e, montando sobre ela está o menino que fala: - Thace, isto é apenas o começo, você terá que controlar esta grande força, pois apenas alguns seres no planeta conseguem, a grande maioria diz que é ficção, e vão ler no seu livro estas palavras e desprezarão, sem agredir, mas isso não influência na força verdadeira, pois é tão fácil criticar, veja como é incrível, você já sabe que fará parte dum livro, mas que ainda não foi escrito, está tudo em sua mente, não conheça através da recordação do passado, presente e futuro, mas no tempo cósmico virtual. De repente tudo some e por espanto de Thace ele não está mais perto do formigueiro, mas sim sentado na pedra cinza, onde não havia mais nenhuma pegada e formigueiro. Thace reconhece que está passando dos limites e resolve tentar uma outra vida, sendo uma pessoa normal, tratando de assuntos coletivos dentro de uma comunidade, e parar com esta idéia de egocentrismo, que pode leva-lo a sérias complicações psíquicas, pois não agüentaria tamanha responsabilidade universal, porque se considera o criador de tudo e não consegue afastar o medo que vem a noite, aquele medo de ter medo. Com esta idéia fixa-se nas redondezas da cidade de Dijon, onde aperfeiçoa sei francês e, faz alguns amigos é por esses amigos Thace conhece Linete, filha dum sapateiro. Ela era muito simpática, conquistando a atenção de Thace, que não resistiu ao charme da mulher e decidiu não perder mais tempo, e logo se apaixonou com tamanha quentura, que assustou Linete, pois tal quentura provocou o 218 surgimento de uma carta que por sua vez contaminou o coração de Linete, era mais ou menos assim: Linete: Vejo seus olhos como pérolas de infinita beleza. Sinto seu cheiro como uma necessidade astral. Escuto sua voz como o apogeu da música dos deuses. Saboreio sua boca como a mais pura vaidade da língua. Toco seus cabelos como uma cascata de ouro. Controlo todos estes sentidos com a força que a imaginação me dá, para pode-la amar, onde e quando quiser e sentir que este desejo é verdadeiro unicamente porque é meu, porém a vida nos trás surpresas como a idéia de poder fazer o que quero, mas jamais querer o que quero, e também as várias concepções que a humanidade dá para uma carta de amor: alguns acham que é primitivo, outros que o amor é coisa de fraco, há também seres que pensam com a marca do cifrão na mente, apagando a natureza do amor, ainda bem que existem humanos que sabem qual é a raiz do problema e, não ficam lutando nos galhos da ignorância, a raiz é o amor, o fruto é a sobra, o tranco a vida e os galhos os caminhos, não preciso escolher caminhos, pois vivo na raiz. O que sinto por você, talvez algum dia possa ser considerado finito, mas se isto acontecer considere-me como uma nuvem, que não dura para sempre, mas pense que a água é o amor e este estará infinitamente em mares, lagos, rios e fontes provando o que senti por você. Quero lhe encontrar hoje à noite, quando você sair da casa de sua mãe, espero na praça. Thace Pahazy Filibuster. 219 Linete gostava de Thace, mas nunca demonstrou antes, pois havia uma diferença de idade considerável, coisa que seu pai não permitiria, mesmo assim se casaram, pois o encontro na praça foi muito bem planejado por Thace, soube quebrar o silêncio com palavras doces e profundas, que libertaram a vontade de vida, que estava apagada em Linete. Após o casamento a vida de Thace mudou completamente, já não tinha tempo para pensar em si mesmo, pois agora teria que pensar pelos três, com o nascimento de seu filho, nosso viajante teve uma emoção que jamais sentiu, não ligava se tinha que trabalhar como escravo, para sustentar a família, pois no fim do dia lá estava Linete e seu filho Vidal Pahazy Filibuster, para lhe dar todo o amor que precisava usar como energia de motivação no trabalho do outro dia. Assim era o dia-a-dia de Thace. Todos os seus sonhos foram abafados pela rotina que seguia, um sentimento de raiva lhe atacava todos os dias, já não era mais o mesmo, precisava conseguir uma casa melhor, um conforto para sua família, assim seria sua vida, não poderia fugir, pois a sociedade lhe prendeu, o matrimônio não podia ser desfeito, sua vida era mecânica, não pensava por si, era mandado para todos os lados, como uma ferramenta sem sentidos, tudo isto foi motivo para a perca de amor por Linete, pois sabia de experiências passadas, que o amor só dura em liberdade, se sentia preso em uma corrente chamada Vidal, pela liberdade não teria coragem de quebrar essa corrente, e por isso passou dois anos frustrantes ao lado de Linete, o amor entre os dois foi errado, simplesmente porque obedeceram a vontade da sociedade, ou seja, do pai de Linete, em que precisavam ter o que não se precisava. Thace escuta do fundo de seu subconsciente uma frase que define o momento de sua vida: “para que 220 você quer um castelo, se pode ser feliz em uma cabana?” ele lembra que já ouviu isso e opta por seguir este conselho, deixando de ir trabalhar neste dia, e assim fez nos outros dias também. O resultado não poderia ser outro, Linete decidiu abandonar Thace levando com ela Vidal, que tinha apenas dois anos; sendo assim Thace se despediu para sempre de Linete e prometeu que algum dia iria escrever para Vidal, sem ressentimento começou a sua viagem agora sabendo que nada nem mesmo um grande amor pode impedir de um homem buscar seus sonhos, a não ser que ele aceite morrer infeliz e arrependido. Thace decidiu andar firme e, traçou um percurso que deveria cumprir, queria conhecer melhor a Europa, mas sabia que seu tempo dava apenas para conhecer a raiz do problema, isto é, a Grécia. No caminho folheava o livro de Jean-Jacques e começou a notar as verdadeiras idéias, que não havia notado antes. O livro possuía vários poemas e pensamentos filosóficos, coisas que para a época era loucura, como em “tic-tac”, ou uma “bomba”, provando os contatos com o inconsciente que fez Jean-Jacques; no livro tinha algo parecido com os seguintes poemas pensantes, preste muita atenção, é algo fantástico: - Leucipo é um bom escritor, - disse Rose – porém ele não conhece o ponto final, e não consegue prender a atenção do leitor. Realmente concordo, - falou Marcos – ele deixa coisas muito obscuras. Até parece um livro de Spinoza. – disse Márcia. 221 - Sei lá, - se expressou com um hálito maligno de odor o desajeitado Michael – o maluco aí, manda as coisas bem, as viagens ideológicas são ótimas. - Claro! – retrucou Márcia desviando o rosto do hálito de Michael que pairava no ar – Leucipo é um ótimo filósofo, mas precisa conhecer a língua portuguesa, ou melhor a gramática. - Você flagrou que tem parágrafos com um único ponto final? – perguntou Rose. - Até a vizinha analfabeta pesco. – respondeu Michael. - Tem certeza que esse Thace não é cachaceiro? – interrogou Marcos – pois entrar num formigueiro nem em sonho se entra, o cara bebeu diesel para tal façanha. - Não julgue assim Marcos, - disse Márcia – existem possibilidades de ocorrer isso, mas não está no domínio da ciência cartesiana newtoniana, que nossa psicologia atualmente está embutida. - Que Leucipo não sabe gramática eu já sei, - falou Rose – mas se ele entende de lances psíquicos nós vamos ver nesses poemas, continue Márcia, vamos logo. Docência dinâmica da infraestrutura mecanicista do eu. Levou ao entendimento cético desses meados ideográficos. Leitor tome o devido cuidado. Paula Palavra está no círculo máximo ou anel superior do céu dantesco. O cecéu pode ter sido o poeta da abolição, mas em Tiahuanaco ainda jaz nas margens do lago Titicaca. Um grande e alto lago, para grandes e altos homens. Sim da mesma etnia da índia da língua morta. Uma relação talvez chave para seu entendimento. Não deixarei de ser implícito, mas nunca deixarei de entender o que escrevo e dar a chance para quem pensa. Continue Márcia, em seu apartamento com seus amigos, em seu sofá, a ler o que o figurado JeanJacques leucipiano escreveu em seu livro. Estou pensando que ter um livro parasita, não é uma coisa 222 que só ocorre comigo, pois no meu livro existe um livro parasita, que possui em sua essência um outro livro parasita, supostamente sul-africano. Lê Márcia, lê. Eu sei que pessoas estão lendo esse livro sem entender nada. Eu sei que estão perdendo seu tempo procurando algo que lhe sirva. Para esses leitores, digo que fechem o livro e comecem de novo, pois não vão entender nada dessa forma. O imperador pode ser o escritor geral, ele pode explicitar coisas, mas nunca o sentido de tudo. Não é um livro fácil. Não um livro de auto-ajuda, que apenas descreve o que você sente no dia. É um livro que cria universos, que estão sempre além de tudo. Além até mesmo da metalinguagem e da metafísica. Junto com concepções metafóricas é um livro do além. Tácito de essência. Palavras são as chaves que lhe conduzem para onde você quiser. Para o obscuro das palavras num fluxo e refluxo sem nexo ou para o entendimento do sentido e razão do trabalho ardente que aqui está sendo realizado. Preste atenção. Márcia vai ler. “A sensação é diferente, abri oportunidades para viver normal, mas minhas palavras não agradaram da forma que esperei, eu perguntei e você achou lindo; quem errou, eu ou a pena? Talvez seja o papel ou até mesmo as palavras, pobres palavras! Não sabem que existem, e ao menos se pensam em existir, tenho que fazer tudo sozinho, mas não é tão fácil assim, você não acredita nas palavras, bem que faz, elas são perigosas, podem destruir o que criam. O universo depende delas e elas estão sob meu comando, quando eu quiser elas trabalham e, você apenas sente, como 223 uma dose de coisa estranha, pode ser veneno ou chá, mas será que não é água?” Este era um pensamento desmembrado das histórias, se apresentava no intervalo de capítulos e, veja estas outras: “O sistema ajuda quem sabe utiliza-lo” “Por que não temos o que conversar? Pois existem tantas palavras e idéias para se usar.” “O tempo já não é igual.” “cigarras falam formigas falam sapos falam corujas falam enfim, todos os animais falam, que ignorante sou eu por não entende-los, mas será que eles me entendem?” “Quem um dia olhou sério para o mar, notou sua vida, pois ele somente está vivo quando é notado por você”. “Meu corpo sente o frio, minha mente sente o calor, somente por isso é que está calor.” “Duas pessoas? Um par? Talvez um ser? Não. É uma união, ou não? Quem sabe pode ser humanos, mas quantos? Dois, quanto é dois? Números que bom, mas existem? Duas pessoas é um número? Que número é? Então quantos números precisa para numerar minha mente?” “Ando preocupado com minhas preocupações, sinto que logo terei a resposta que alivia a vida, mas 224 novamente me preocupo, pois se conseguir resposta, vou me preocupar com o que?” tal “Antes e depois, não me importa, pois agora tenho que pensar neles, para que amanhã eu possa pensar no dia de hoje.” “O sol brilha, eu brilho todos brilham, o dia cresce, a noite aparece e, eu com isso?” “Passado, presente, futuro lembrança, confiança, esperança mentira, dúvida, delírio” Repare a força das idéias jorrando das palavras, Jean-Jacques era um grande pensador, note estes lindos poemas: “Você se lembra de Ontem? Quando planejou hoje Você se lembra de hoje? Quando viveu ele ontem. Você se lembra do amanhã? Que você viveu hoje.” “Não existe divisão, somente existe opção”. “O poeta não pensa, ele sente”. “O tempo é para o sol um passeio é para a lua um descanso é para o matemático um número é para uma semente uma vida 225 é para o fruto um alimento é para a estrela um brinquedo é para mim em conselho” Eu Jesus Seixas adorei a pureza do pensar deste escritor, mas peço agora sua atenção, este livro “666” de Jean-Jacques foi escrito entre 1719 a 1725, e existem idéias nos seguintes textos, que são algo muito mais novo, mesmo assim o escritor já havia pensado; depende da sua crença, para conceber como verdadeiras: “Tic-tac, foi mais um, tic-tac, outra vez mais um, tictac, onde chegaremos? Tic-tac, como é possível? Tictac, você não se cansa? Tic-tac, de novo eu não agüento, tic-tac, por que você fica exato? Tic-tac, você não tem dor? Tic-tac, não seja tão frio, tic-tac, por que não outro som? Tic-tac, anda, anda, mas não anda, tictac, faz favor quero dormir, tic-tac, o seu maluco para de repetir, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, côcôcôroooo, tic-tac, piu-piu, tic-tac, tic-tac, chiiii, tic-tac, tica-tac, bom dia sol, tic-tac, tic-tac, obrigado pelo almoço, tictac, tic-tac, como foi seu dia hoje? Tic-tac, tic-tac, tictac, hei! Por que você não troca este som? Tic-tac, tictac, eu passei o dia todo escutando um som, tic-tac, tic-tac, quer saber qual? Tic-tac, tic-tac, vou lhe dizer, tic-tac, tic-tac, errou era diferente, tic-tac, tic-tac, tictac, de novo errou, tic-tac, tic-tac, ele era assim, tum, tum, tum, tum, tic-tac tic-tac, tic-tac, que foi, não gostou? Tic-tac, tic-tac, tic-tac, você não sabe conversar, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, esse som eu escutei o dia todo, era do meu coração, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-táquerendo? MEU DEUS! VOCÊ 226 FALOU..., tic-tac, tic-tac, tica-tac, tic-tácom medo? HAAAAA…, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tum, tic-tum, tum-tum, tum-tum, tum, tum, tum, tu morreu? Acho que morreu, tum, tum, até que enfim, vou poder descançar... tic-tac, tic-plum... para sempre... Isto é uma espécie de metáfora-comédia, onde JeanJacques trata de um assunto muito dificel, com uma clareza irônica fantástica, o assunto é o tempo, veja outro texto do gênero: Tempo? “Gira mais, vamos, mais rápido, isto mesmo é assim que se faz relóginho, quero ir logo, este lugar está chato. Pensamos assim? Ou precisamos pensar assim? Sempre temos um compromisso depois e, sempre desprezamos o de agora: é chato, é ruim, é isso, é aquilo, puxa! Será que nunca iremos viver de fato? Pois todos os dias são vividos pensando no próximo ou pior, no passado: ‘tenho que pagar uma conta semana que vem!’, ‘hoje à noite tenho que trabalhar no projeto!’, ‘se deus quiser, o futuro será melhor!’, ‘não quero nem vê, quando chegar o dia’, ‘será que fiz errado?’, ‘não gostei como agi com aquela pessoa’. Pare, olhe, escute, não é um trem, mas parece, você esqueceu de abrir seu presente, pois ficou tentando adivinhar o que era ou lembrando onde comprou, sinto muito, você não pagou o presente, agora a morte veio cobra-la, pois o conteúdo já evaporou, e seu tempo acabou, se abrir vai explodir, então vai abrir? Vai pensar em abrir? Vai pagar? Ou vai comprar outro? Decida logo a morte está com pressa e teu presente é uma bomba que faz tic-tac, tic-tac, e o meu presente é uma canção chamada aoristo”. 227 O final é surpreendente, Jean-Jacques já conhecia o aoristo, e por isso talvez já sabia controlar a unificação do universo, pois conseguiu informações do futuro, aliás veja um outro assunto, agora mais refletivo e filosófico, como Jean-Jacques definiu o tempo e o espaço, é complexo, mas compreensível: “O tempo somente existe quando há movimento, e este por sua vez só existe por causa de sua memória, logo o tempo não existe sem memória, e esta está sobre seu controle, por exemplo, jamais você saberá que um corpo está em movimento sem ter memorizado seu ponto de partida, o tempo é simplesmente o conjunto em seqüência das memórias captadas como foto, com diferenças de tempo infinitamente desprezáveis. O espaço é simplesmente a memória sua, o espaço entre cada foto é o mesmo das fotos e todos os espaços estão na sua memória, a diferença de cada foto na memória seja o espaço e o tempo, são infinitamente pequenos, são conhecidas como presente, mas mesmo sendo pequenas não podemos ser irracionais e dizer que não existem, mas também não podemos ser racionais dizendo que existem, o equilíbrio é fundamental para ficar em cima do muro e avistar os opostos. O espaço entre o ponto de partida de um corpo somente está ocupado na memória, o espaço ocupado eternamente sempre será o mesmo, este espaço é uma foto da memória. Resumindo: a única coisa que existe é uma foto presente, que sofre quando a seguinte lhe assume a atenção, e a foto passada é arquivada na memória, que por sua vez da noção de tempo e espaço, estes imaginários, sendo espaço igual a memória, logo tudo que existe é idéia, pois para ocupar espaço é necessário ter idéias e sentimentos sobre uma coisa, memória não existe o que existe são idéias, logo idéias não existem, pois é impossível existir em algo que não 228 exista, tudo é invenção de sua mente. Como sou tolo, por tentar entender o que não existe.” No livro existia uma página diferente, também desmembrada da história, era um dia escrito como num diário, este que possui apenas um dia, algo de se pensar muito, foi o que fez Thace após lê-lo: Livro, 17 de Abril de 1722. “A vida aparenta não ter sentido, tento entender, mas acabo sofrendo, as palavras já não repercutem em nada, o nada não é entendido, o tudo é desprezado, a fonte é duvidosa, sei que é uma palavra e seu significado não significava nada; ando na minha mente, admiro suas belezas pelos sentidos, mas pergunto se não houvesse será que existiria algo belo? Com certeza o universo seria diferente, mas me nego a afirmar que seria menos belo, pois belo não passa de uma insignificante palavra; procuro um meio de pensar sem palavras, uma espécie de pensamento puro ou natural, mas logo vejo que estes também são apenas palavras, não consigo ver o mundo sem palavras, pois tudo está codificado, até mesmo as coisas que não existem como espaço e tempo; são apenas palavras e não dizem nada; sou o criador de tudo, mas será que posso criar o que não existe? Nada existe tudo é utopia, mas como provar que isto é correto, pois se posso usar os sentimentos contra isso? Sei que os sentimentos também não existem, mas percebo que realmente sou o único responsável pela vida do universo, pois o dia está como eu penso que está, e agora a filosofia tomou o lugar do sol e ela me diz que tudo foi eu quem criou, inclusive a pergunta sobre o que é criar, e a outra pergunta sobre a incerta resposta, assim por diante minha imaginação criou tudo, até mesmo ela, que por sua 229 vez criou a outra, que criou a outra, numa criação infinita. Como vou sair dessa agora? Tudo é uma criação infinita, mas o infinito existe? Vejo em minha mente uma pedra na minha frente, toquei, senti sua frieza e sua dimensão, agora me pergunto, como pode alguma coisa existir sem limites? Sei que limites não existem, pois dentro da pedra existem vários pontos separados por uma pequena distância, os pontos que formam o meu corpo somente estão separados dos pontos que formam a pedra, não é porque a distância é maior, que pode ser chamada de limite, logo limites não existem, simplesmente porque se eu pegar apenas um dos pontos da pedra, vou observar que é formado por outros infinitos pontos, logo a pedra é formada por infinitos pontos, que nenhum deles se julga existente, a não ser o maior deles, que seria a própria pedra, mas como posso aceitar que ela existe, se ela é apenas infinitos e imaginários pontos? Seria culpa dos sentidos? Imagino um homem sem os sentidos físicos, como seria o seu universo? Será que algo existiria? Se existisse como seria? Você não acha que isto é uma prova que a matéria não existe? Sem sentidos, sem matéria, mas Sem imaginação, sem idéia? Ou Sem palavras, sem pensamentos? Nada importa; pois sou a aurora de todos os fenômenos. Sinto a presença do mundo, ele parece como eu, uma coisa nada exata mais perfeita, a porta abre, pessoas saem, não prestei atenção, será que algum dia lembrarão? Ando parado, como o planeta, andam parados como o sistema, a lua cresce e o sol aparece, a vida continua eu espero ela andar para somente depois eu passar. Tudo é exclusivo, mas penso que é parecido, tenho preguiça de ter preguiça, tenho medo do seu medo de ter medo, crescer e viver ou morrer; será que é verdade? Caminho com dúvidas; pensando 230 se estou errado, mas continuo caminhando, pois só penso andando, grandes homens são ídolos, mas o maior eu encontro no espelho, então vou a um lago e encontro peixes que viram ídolos, por viverem sem dúvidas e compromissos com o sucesso, logo penso que sucesso é mentira, pois a grandeza maior já passou, mas está tão perto que não vejo e me iludo com os outros, olho se estão me olhando, como se eles realmente existissem, duvido de minhas verdades e continuo a andar no meu caminho, sem saber a hora que cairei no buraco, cuido apenas deste passo, o futuro é meu tempo presente e esse, vivo no tempo cósmico virtual.” - Se realmente existiu esse tal de Jean-Jacques, - disse Rose – foi um grande filósofo. Você ainda está teimando? – perguntou Michael – não entendeu que tudo é ficção. Essa coisa de ficção é viagem, - respondeu Márcia – tudo já existe, o que não existe não se nega, pois não se conhece. Você quer dizer que tudo o que eu conheço existe? – perguntou Michael. Sim, - respondeu Márcia – tudo o que passa por sua concepção é existente. Não sabia que bruxa voa em vassoura, - falou Marcos sorrindo – pois agora sei que ela existe, e pode voar. Não brinque se não entendeu seu burro, - retrucou Márcia – a bruxa existe porque você criou através de outros meios, como tv e livros. Ai credo Márcia! – falou Rose – até está parecendo que esse Leucipo está te pirando. 231 - Falar em Leucipo - disse Marcos – continue ler esse treco. O conhecimento passou por concepções biológicas, depois por concepções mecânicas, ate que um dia um louco místico misturou essa gororoba e trouxe à tona a atual ciência. Retrospectiva forçada. Bacon: empírico indutivo. Descartes: racional dedutivo. “Principia” é as locomoções verbais que uniram esses métodos. Quem? Foi Newton. Agora veja como tudo funciona. Primeiro surge algo. Depois surge outro algo que contradiz o primeiro algo. Leva-se muito tempo de dialética e surge a solução. Os dois “algos” são unidos, e se transformam na realidade. Agora adicione um leve aroma de sugestão. Opostos transformam em produto. É igual às viagens marxistas. Um patrão com: matéria prima, infraestrutura e maquinários. Um empregado com: força de trabalho. Esses são opostos. Inventam um sistema e constroem o produto. Tudo com valor de uso e valor de troca. Tudo mesmo, até o empregado é mercadoria nesse sistema. Mais-valia é mesma merda que lucro. Não percam tempo nesses meios nada a ver. A chave de tudo está na palavra. Não existiria capitalismo sem elas. Não existiria Mar(x) sem elas. Não existiria nem mesmo a teoria de Márcia, onde tudo existe. Não existiria o existencialismo de Sartre, que Márcia tentou abolir. Não existiria eu, para lhe dizer essas coisas. Digo com a maior convicção: a palavra é dono do mundo. Ninguém pode me provar ao contrário. Ela é quem cria os opostos. Quem cria as guerras. Quem cria os valores culturais. Ela cria tudo. Cria ela própria. O homem é seu fruto. E o fruto de um homem é a palavra. Nada é dual. O homem não é dual. Tudo é isso, que é e pronto. Dogma? Não pense nisso, eu provo através de tudo, mas não creio no que não existe, porém concordo com Márcia. Que continuará a ler. Mas não confundir Rousseau do iluminismo, com esse escritor, talvez parasita, que Leucipo exibe. 232 Thace ficou um bom tempo pensativo, queria compreender a verdade das mentiras, lembrava o passado e enxergava todos os seus erros, sentia o presente e notava que era apenas mais um homem perdido, pobre e sem destino. Deixou uma família para pensar em si, notou a força destruidora do egoísmo, que ele tanto venerava, imaginou o futuro incerto, talvez velho e morto na neve ou deserto, mas no momento que se deu de conta em pensar no tempo cósmico virtual, sua vida mudou, os arrependimentos evaporaram e a arte de pensar na arte voltou à tona. A questão era: como seria o universo de uma pessoa sem os sentidos físicos? É como se Jean-Jacques deixasse de herança todas suas dúvidas para Thace. O tempo não era nada para a resposta, agora o que importava era apenas a resposta e nada mais. Questões eram o que alimentavam Thace, pois ele deixou de beber e comer, simplesmente para amar a sabedoria, sua única companheira, e a qual ele se dedicava inteiramente. Trocou uma moeda por um caderno e tinta, e nele Thace escrevia suas teorias para tentar responder; passava o dia todo sem utilizar um dos sentidos, assim fez com a visão e audição, mas teve problemas em anular as faculdades de cheirar e tocar, pois não conseguia ficar o dia todo sem respirar e deixar de sentir o toque do frio, como fez com o paladar. Sendo assim Thace resolveu apenas imaginar, concebeu que tudo não existia, sua visão não agia e o paladar não sentia, pelo sexto sentido Thace conseguiu eliminar rapidamente os sentidos, mas não conseguiu uma 233 conclusão racional, sempre que atingia a exaustão psíquica, esta que é a responsável por todos os contatos que ele fez com a unificação do universo, pois sempre que Thace entrava no universo oposto, era por cansaço físico ou psíquico (se esses não forem iguais), por simplesmente exagerar no caminhar e pensar. Cansado ele decide consultar novamente a fonte desta questão que é a da unificação do universo, pois ele entendeu claramente o que Jean-Jacques quis dizer sobre os limites, adquirindo esta idéia para nunca mais separar o primeiro do segundo universo. Pensando assim Thace alcança uma resposta em forma de poesia, que responde tanto a questão dos sentidos, quanto a dos universos, talvez esta poesia não seja uma resposta coletiva, mas serviu para aliviar a mente do nosso grande andarilho. Esta poesia foi escrita no caderno de Thace, que mais tarde você saberá onde parou: OPOSTO DO POSTO Acordei sentindo como é não sentir, olhei para o lado e nada olhei, escutei o galo e nada escutei, cheirei a fumaça e nada cheirei, saboreei o doce e nada saboreei, toquei o livro e nada toquei, como poço fazer o que não faço? Talvez esteja acordado dormindo, mas na verdade mentira, acredito negando, que estou onde não estou, 234 sentado em pé, morto vivo, no calor frio, da luz escura, em meio extremo, quase alto baixo, com dor sem dor, muito forte fraco, saciado com sede, andando parado, molhado seco, mastigado engolido, amargo salgado, tentando cantando, gritando calado, buscando no halo, um sentido tremido, com ação reação, olhos nas palavras, para mim é meu para ti é poesia poesia que pede poesia que tenta poesia que nota poesia que sabe, que palavra é tentativa de utopia sei que um dia tudo será poesia. Mas na verdade o questionamento sobre os sentidos, quer provar que tudo é apenas existente por causa de você, logo o que se pensava que era espiritual acaba também virando algo material ou qualquer outro termo, até mesmo material. O importante é saber que não existe fora dentro, mas sim você, digo que se pode usar qualquer termo unicamente porque palavras não dizem 235 nada, apenas tentam. Pensando desta forma o ser é totalmente livre, pois acaba com qualquer concepção de limites, sabendo que está em tudo e em lugar algum. A partir de agora Thace entra definitivamente no universo único e unificado, começa a relacionar as idéias e personagens formando uma única vida cósmica. Amigos dos sonhos conhecem amigos do dito mundo real, não importa em qual seu corpo está, o importante é que o seu corpo sabe que não está, pois sempre esteve, mas nunca notou. Thace alcança com 42 anos a vida almejada por todos os sábios, magos e alquimistas a chamada vida verdadeira, não vou errar em dizer que é melhor que a sua, mas com certeza é muito diferente. Thace Pahazy Filibuster com está idéia, é considerado além de filósofo, o grande sábio criador da rota secreta e passa a ter contatos com os F.: C.: V.: que orientaram sua viagem para o desconhecido por ser esquecido, tentando fazer Thace conhecer ou lembrar de sua vida, desprezando o ontem, hoje e amanhã e vivendo apenas no tempo cósmico virtual. Aprendendo a pensar sem palavras, pois estas podem ser poções de amor ou ódio, por isso é bom nega-las quando possível. Você mesmo pode notar que neste livro as palavras causam amor quando compreendidas e talvez ódio quando camuflam as idéias, que na verdade jamais conseguiram ser transmitidas claramente, a forma mais próxima da clareza são as poesias ou pensamentos, simplesmente porque o entendimento não deriva das palavras, mas sim de você. Jean-Jacques tentou viver num mundo sem palavras, realmente seria fantástico a comunicação através das idéias, mas infelizmente o imaginário mundo coletivo está totalmente imerso no reino das palavras, pois imagine uma indústria fabricando sem palavras, seria impossível, os livros não existiriam, mesmo que seja ele apenas figuras, pois para criar o livro os homens 236 precisam se comunicar, não que as palavras sejam ruins, o problema e que criam coisas sem nexos que fazem o homem não olhar as coisas como elas são. Em tudo que presenciamos usamos palavras, mas existem sábios que se comunicam mentalmente através de idéias, parece impossível, mas antigamente era completamente um mundo de idéias claras, pois com a necessidade de transformação o homem começou a deixar as coisas mais complexas, simplesmente para tentarem ser superiores aos antigos, mas acabaram sendo diferentes. Quero dizer que é necessário avançar na transformar gradativamente, através de poesias, pinturas e por fim idéias claras, digo claras porque as palavras têm o poder de camuflar as idéias deixando-as opacas. Leia a palavra “cosmos”, agora tente defini-la, sei que você possui a idéia correta sobre ela, mas quando tentar transforma-la em palavras cairá no mundo da dialética, o que pode ser bom ou ruim, pois provocará uma metamorfose na idéia, que no final de tudo saberá que não mudou em nada. - Vou tomar água. – fiz a Márcia dizer para dar um tempo nessa leitura. Não estou acreditando. Escrevo um livro. Um livro que por algum motivo é infectado por outro livro parasita. E, agora além de ser parasita e intrometido, começa a tratar do tema do meu livro. Leucipo seu demente. Por que não ficou com suas viagens no inconsciente daquele bêbedo e vagabundo andarilho? Estou muito nervoso. E se ainda colocasse idéias boas. Tudo o que está aí de cunho de Leucipo é uma besteira, caro leitor geral. Não acredite nessas burrices. O cara me vem 237 falar que idéias existem além das palavras. Meu deus! Isso me deixa irado, não o pior de tudo é que ele fala essa idéia (que a idéia é independente da palavra) utilizando palavras. Como pode ser tão burro? Agora Leucipo, você é um oposto. Teremos uma bélica fonética. Toda vez que Márcia ler besteiras suas com relação a palavra, eu lhe criticarei, sem nenhum respeito profissional. Isso é incrível, mas tenho que aturar. Continue Márcia, pois já tomou muita água. O importante é saber que as palavras estão no comando do mundo, seja qual for o tempo, na verdade elas são armas poderosas que criam e destroem coisas inexplicáveis, nada se compara com a beleza da sedução que elas possuem. Pois são como roupas vestindo as mais belas idéias, provocando um desejo de tira-las e amar com o prazer as lindas idéias. Não sou tolo, sei que às vezes nego algo e depois afirmo sua existência, mas você somente sabe disso por causa das palavras, se você sentir as idéias saberá que o rio está correndo para o mesmo mar. Temos que ter cuidado, pois as palavras são perigosas e podem enganar quem escreve, quem pensa e quem lê, além do mais você ainda pode sonhar. Que as palavras são roupas, eu achei ridículo. Mas que elas são perigosas, eu concordo plenamente. Tanto que estou cuidadosamente as colocando. 238 Nosso escritor, o Luiz, estava usando símbolos que enviávamos para seu inconsciente, para marcar os descansos de leitura, a partir de agora será as poesias que marcarão, esta abaixo mostra tudo que você tem que saber, se quiser ter um universo unificado. Não existe nada, que Não existe Thace agora estava esclarecido, sua vida é mágica, fantástica e diferente, o que para muitos seria loucura, para ele era real e eterno. Concebia um mundo diferente, muito diferente, digo isso porque era mesmo. Viveu na Terra o que eu vivo agora após Terra; tudo é possível, até voar ele conseguia, lógico que as pessoas não viam ele voando, pois estavam em outro tempo e universo, apenas viam um viajante sujo dormindo e, ele os via como estivesse acordado. Não havia diferença para Thace, tudo era apenas uma vida, ele não voava como pássaros, pois pássaros voam como pássaros e homens voam como homens. Apagando a ignorância dos limites do universo, Thace também apagou o ódio, tristeza, arrependimento e dúvidas, passou a viver constantemente com alegria e amor, coisa que homens limitados vivenciam apenas por alguns momentos na vida. A sua vida começou a ficar fácil, já não passava fome, os alimentos lhe apareciam como mágica, seus problemas não chegavam a nem existir e já eram resolvidos, sua comunicação com o universo melhorou, os animais lhe compreendiam, pessoas unificadas conversavam com ele sem nenhum problema com espaço e tempo. Às vezes em suas aventuras encontrava seu pai Halford, mas não sabia 239 direito se era na lembrança ou na vida perfeita, pois ele dizia sempre as mesmas coisas, e o encontro era no navio de Thunder Waves, mesmo assim Thace ficava alegre, por poder saber que Halford e até mesmo Helena estavam bem na eternidade do tempo cósmico virtual. As outras pessoas concebiam Thace como louco, pois sempre estava conversando sozinho ou dormindo, quando falava com alguém, lhe chamava de nomes estanhos em várias línguas, mas esses momentos não eram eternos, logo Thace voltou a se relacionar como antes, mas nunca deixou de ser louco, pois ainda conversava com pessoas que apenas ele enxergava. Thace encontrou no caminho uma senhora, que cuidava de uma pequena ermida, como sempre, ele chegou conversando com várias pessoas, assustando a senhora que lhe disse: - Homem, o que faz falar? Thace pede licença para uma das pessoas que conversava, dizendo: - Desculpa interromper nossa conversa Carlos, mas parece que tem uma senhora querendo falar comigo, - olhando para ela Thace completa – pois não, posso ajudar? - Você é louco? – disse a senhora – quem é Carlos? Por que pensa que existem mais pessoas além de nós nesta pequena casa de deus? - Pequena? Você disse pequena? - Sim, é pequena. - Nunca vi algo pequeno tão grande assim, - disse Thace – eu não sou louco, sou diferente, vivo em lugares além dos limites e nós não estamos sozinhos. - Tem razão – falou a senhora, com uma ironia humorada – eu esqueci que meu gato estava embaixo da cadeira. - Você diz aquela coruja? 240 - - - - Não é coruja, meu amigo, você deve estar cansado, pois é um andarilho que não cuida direito do corpo. O meu corpo e minha alma são apenas uma coisa, por isso não estou cansado, - falou Thace sorrindo – simplesmente porque me sinto bem. Quer tomar um chá? Obrigado, aceito, mas antes quem é aquele que está tocando piano? Meu amigo, - respondeu a senhora – aqui não existe piano. Para você não, mas para mim existe, agora quem é louco? É claro que é você, - disse a senhora servindo o chá numa xícara amarela – se alguém tivesse tocando, o gato estaria ouvindo. Primeiro não é gato, segundo quem disse que a coruja não está escutando? E, terceiro, por que você não descansa? Deve estar com sintomas de loucura. Posso estar louca, mas não converso com pessoas que não existem. Não sou louco, pois não estaria conversando se elas não existissem, não é mesmo Carlos? Ei Carlos, - disse a senhora – quer tomar um chá? Você não pode servir chá para quem não existe, isso seria loucura de sua parte, Carlos só existe no meu universo, assim como a senhora, cuide apenas do seu universo e conseguirá saber o que existe, ou não. Mas amigo, como você pode afirmar que Carlos agora não existe para mim? Não estou afirmando, estou negando que você o veja, - respondeu Thace – pois Carlos está sentado na cadeira da coruja e, você ofereceu o chá para o pianista. Pensei que o pianista chamava-se Carlos. 241 - Talvez possa ser, mas como pode haver no seu universo um pianista, num lugar onde não há piano? - Eu somente estava brincando, pois não vejo alguém aqui, além de você e meu gato. - Eu também somente estava brincando, - comentou Thace – pois só vejo aqui um pianista, uma coruja, meu amigo Carlos e uma senhora simpática que se fingi de louca. - Talvez se estivesse aqui outra pessoa – resmungou a senhora olhando o seu gato (coruja) – ela poderia dizer quem está louco entre nós dois. - Pouco mudaria, pois haveria três loucos, mas dois desses estariam na mesma loucura. - Mas você se passaria de louco, pois com certeza a pessoa iria ver o que eu vejo e sendo assim estaríamos em maior número. - Você está brincando? – perguntou Thace – números são mentiras e podem afirmar mentiras, nem todos os números possíveis poderiam afirmar a maior mentira que existe. - E qual é está mentira? – perguntou a senhora. - Eu. Thace agradeceu a senhora e continuou o seu caminho, com a companhia de Carlos e o seu novo amigo pianista. Enxergando da porta da ermida, Thace conversando sozinho, a senhora sorri e balança a cabeça negativamente, sentando-se no degrau da porta e, sentindo as verdades mentiras que Thace lhe disse, movendo a base sólida de crenças da vida daquela velha mulher, que sabe que tudo não passa de nada, mas mesmo assim ela dúvida. Uma que fez Thace adquirir a idéia do tempo cósmico virtual, foi a certeza que o passado, presente e futuro de fato não existiam, pois o único que poderia existir seria o presente, mas esse Thace eliminou observando as estrelas. Notou que a luz que ele 242 enxergava demorava um certo tempo para sair da fonte e chegar a outra fonte, logo a luz que via no presente já era passado, sei que este passado era somente considerado para estrela, mas para Thace era presente, mas isso provou que existe uma variação no tempo, pois aqui é presente e lá é passado, pensando assim ele generalizou está idéia concebendo-a para os sentidos físicos, isto prova que o presente é mentira. Ficou complexo, mas para ajudar veja o descanso de leitura, onde uma poesia retrata claramente o aoristo, como um futuro presente, desmembrado dos três tempos: futuro, passado e presente, tudo tem seu próprio tempo. Ontem eu era Hoje eu serei Amanhã sou O tempo cósmico virtual seria o tempo onde ignora a existência de espaço e tempo, exaltando o tempo individual relacionado com tudo e nada, onde nada sofre extinção e a eternidade reina, concebendo o presente como algo único e nunca coletivo, deste tempo vivem as artes, os animais e sábios humanos que seriam as crianças e “loucos” que na verdade são os homens que pensam na fonte da vida. Sei que tal assunto tratado ficou a se desejar, poucos entenderam, pois isso é tão individual, que é um erro tentar expressa-lo para alguém, é o tipo de idéia que nenhuma palavra da língua que compreendemos poderia exprimir de modo satisfatório, o que importa é que eu, Jesus Seixas, tentei transmitir o que já está transmitido e gravado na mente de cada um, basta recordar como fez Thace, logo eu não transmiti apenas levei à tona o que apenas você por si mesmo pode compreender. 243 A proposta não é fazer você virar um “louco” com a unificação, é apenas mostrar um novo caminho e nada mais, se você quiser seguir saiba que tem retorno, mas assim como Thace você talvez não queira retornar, pois é um lugar infinitamente gostoso de se viver. Tenho certeza que as idéias estão se confundindo, principalmente nas páginas passadas tratamos da matéria, onde citamos uma pedra constituída por pontos. Thace conseguiu desvendar aquela dúvida: ele diz que aquela idéia dos pontos não passa de uma invenção que prova que sua invenção (a pedra) é uma invenção. Com muita atenção você pode sentir com clareza está idéia, pois a própria invenção é invenção, inventada por sua mente que por sua vez é uma invenção da própria mente assim por diante. O problema é você conceber o infinito como existente, dou-lhe uma opinião, se você acredita que existe uma pedra deve acreditar que tudo existe, mas se você não acredita na existência da pedra não existe nada. Se você não conseguir isso, está agindo como um tolo, pois se a pedra existe tudo existe, unicamente por causa do pensamento, pois se você pensar que algo não existe, neste exato momento ele acaba de existir, mesma coisa ocorre se você acredita na não existência da pedra, o problema agora passou para a invenção, como ver ela assim será, se acredita que a invenção existe tudo existe, se acredita ao contrário nada existe. Não é tão fácil assim, pois eu, Jesus Seixas, que já passei por tudo ainda tenho dúvidas, às vezes sinto ela forte nas coisas já transmitidas para Luiz, você deve estar pensando que sou uma forma de espírito que encarnou no Luiz, para poder escrever, mas na verdade sou apenas uma invenção da mente de Luiz, que por sua vez é invenção da tua mente. Para você ver como é complexo, basta se perguntar se espírito 244 existe, se você acha que não existe então ele existe, pois nada existe. Não se prenda nas palavras, o homem inventou muita coisa como concepções de alma e corpo, você já sabe que não se pode separar nada, ou tudo é concreto, ou não, o que importa é que tudo é uma coisa. A chave geral é o pensamento, se você pensou no seu universo existiu, mas este existiu é algo sem nexo, vamos melhorar tudo, as coisas não existem ou existe, elas simplesmente são no plural uma única força que cria tudo porque ela é tudo, ou não. Se você não entendeu, não se preocupe, pois até mesmo eu não entendo, sei que estou ensinando uma base sólida, mas esta base é quase impossível de ser ensinada. Inventamos tudo e nada para tentar ensinar-la, inventamos livros, para nada, inventei o Luiz, o Thace, o Halford, o livro, a vida, a rota secreta, as palavras, as idéias, o leitor, o tesouro, simplesmente para fazer você compreender tudo o que não compreendo, e jamais você conseguirá seguindo a rota secreta ou abrindo seu cérebro com um machado, você compreenderá simplesmente porque esta base sólida, não está e não é, ela é você, por isso é impossível você compreender você, pois você é dúvida que quer saber o que é dúvida para satisfazer a dúvida. Sou apenas o que sou, jamais sou melhor ou pior que você, pois você não é escala para saber o que é melhor ou pior, continue a leitura, invente uma arma que pode quebrar qualquer limite, saiba que tudo ou nada é apenas uma coisa, e cuide muito bem de você, pois você inventou você, seu perigo é cair em cima da arma chamada filosofia, esta arma é perigosa, mas nunca deixe o poder que você possui com ela, para ela tomar conta de você, faça ela trabalhar onde você tem vontade própria e não poder apenas por poder, saiba que a verdade suprema está 245 na mentira suprema, jamais você terá a perfeição, pois você está vivo e a vida é eterna, logo a vida não é exata; amar a sabedoria como se ela fosse a verdade que não passa de mentira, mas sou bem claro, sendo a vida infinita tudo é possível, não importa se existe ou não existe, o importante é saber que ela pode fazer tudo o que você querer, assim como está fazendo com Thace, ignore o tempo, pois nada terá fim. - Agora Leucipo está lidando com coisa séria. – disse Márcia. - Sim, - continuou a idéia Marcos – esse sistema de concepção da percepção é altamente resistente contra a visão coletiva. - É, - falou Michael – a velha danço bonito, com as baladas dialéticas do bêbedo. - Ele não é bêbedo. – disse Rose. - O que importa é a unificação. – disse com ironia Márcia e logo se colocou a ler. Leucipo bandido. Dizer que criou esse louco tudo bem. Mas dizer que criou as palavras. Você pode ser doente. Não tem explicação. Só queria saber como Thace pode pensar sem as palavras. Até parece que esse cara já leu o que escrevi sobre Paula. A índia pensa na ação. Não pensa na oração. Mas esse Thace é um cachaceiro mal amado. E Leucipo vem com esses papos de unificação. Cara doido. Porém admito que ele sacou coisas importantes. União geral entre os opostos. Uma poesia chamada: Oposto do posto. Isso toca em focos de minha intenção. Manter distância é melhor. Hoje você sente essa idéia de aoristo. Veja bem no que você 246 está entrando, caro leitor geral. Pense antes de conceber isso como marco. Nenhum verbo consegue expressar o presente. O que pode camuflar é o “está”. Mas note fundo. Tudo é um pouco de tudo. Não existe essa marcação lunática. O tempo não é três. E muito menos quatro. Ele é apenas um. Um tempo que é mutável como um camaleão. Seu princípio é o local mais fácil de se perder a noção de vida. Não procure o que não lhe trás nada além do perigo. As palavras podem matar um homem. Cuidado com o que você pensa ou fala para seu ego. Isso é uma dica de quem já sabe. Chega um ponto onde nenhum ser pode lhe ajudar. Psiquiatras são meros brinquedos inúteis nessas circunstâncias. Esses reinos em que a palavra lhe leva, são reinos de acmes. Reinos do mal ou reinos do bem. Tudo está preso na linguagem. Cuidado, apenas cuidado, mas cuidado não é medo, deve-se conhecer todos os labirintos que a palavra cria. Só assim você estará seguro. Continue mesmo sendo um ambiente obscuro, nada que a palavra possa criar é rígido para ela própria. O que ela cria ela destrói. Isso já basta para seguir. Então Márcia já sabe o que fazer. O calor cansa, a formalidade da vida move minha imaginação, crescendo ou transformando, aumentando como se deve tudo é assim, não posso pensar, pois tenho que pensar, chorando reclamando o tempo está indo e você dúvida que algo existe, sempre afirmando e aumentando as perspectivas da glória e sucesso, a fome assusta o sonho, quem sabe eu possa mesmo voar, mas preciso fazer algo, tenho que entrar no sistema e além de tudo existe o nada, delírio, preguiça, desanimo, pressa nas idéias, querendo conservar o que não existe, vamos viva ou viva, ou 247 não, existe para tudo aquilo que se quer, pois se não houvesse você não quereria o que quer, barreiras e limites, não adianta apenas fingir que elas não existem, é preciso provar para si mesmo que tudo não passa de loucura, parado você não pode ficar, pensar é somente privilégio de pessoas que vivem um limite não existente, tente pensar, mas primeiro é preciso saber qual e onde pensar, no que pensar, criar problemas é ser livre vivo, é ruim, mas é tudo e nada, querer é fazer, fazer é poder, poder é viver, comandar seu poder é ajoelhar-se aos pés dos limitados e laválos como lava um deus, sem orgulho e bloqueios, queira viver em posto, mas saiba que você jamais perderá algo se souber amar a humildade e saber que você é muito maior e poderoso do que você mesmo, não queira o que já possui, queira o que você teme e sente que ali existe coração, vida e acima de tudo a vontade de amar, pensar, sentir e observar que os sentidos enganam para lhe ajudar a ser homem, um deus verdadeiro que adora suas invenções. Está no fim, foi esta mensagem que marcou minha participação no livro “Vida?” agora devo partir, pois o universo é infinito e tenho outros planetas além da Terra para visitar, sei que para muitos, o que passei ficou fictício e, talvez, positivista. Eu não sei que nenhum problema está além de nossas resoluções, este livro não classifica nenhum homem, não é direcionado a ninguém, quem não quer ler não leia, faça sua própria vontade, mas por favor não impeça a imaginação de nenhum homem, pois isto pode ser algo fatal, não concordo e nem descordo, não sou contra nada, pois para isso já basta as leis, um verdadeiro sábio está além de qualquer disputa, mas antes de você fazer algo, pergunte-se se isso durará mais do que sua própria vida, se durar faça não importa o que for, desde que faça com o coração, Jesus Seixas agora e algo foi. Deixo estas poesias, 248 quem gosta vai saber, caso contrário a rota secreta é apenas invenção. - Notaram que começou a rolar algo mais cabeça? – disse Márcia. - Sim, - respondeu um – parece ser poético e não mais místico. - É, - falou Marcos – eu flagrei uns lances meio plagiado nesses trecos aí. - Talvez, - falou Michael – mas ninguém pode dizer quem foi que copiou é coisa velha. No apartamento lêem. Na floresta Paula nada. Depois dessas coisas. Vêem antigos boatos. Tal qual ouro sob água de lago mais alto do planeta. Tal qual ouro sob igreja de rei. Tal qual gigantes providos da Amazônia. Tal qual humanos que encolhem crânios de seus inimigos. Tudo isso é coisa sul-americana. E soube agora tal qual um abutre, que minha palavra dual mentalética é “tal qual”. Isso já basta. Poesias quase boêmias para Márcia vai ler agora. Se você está tentando, Digo com certeza. Que está pensando Em ser realeza. O livro é homem A idéia de ser 249 Também é homem A ilha do universo Pode ser homem A complexa letra Foge do homem A luz do som Cansa um homem Mas nada compete Por um homem Como um espelho. Palavras esquecidas Guardadas no tempo Cobertas pelo pó Pode-se considerar Como um homem Dentro do paletó. Branco azul brilhante Lua colorida marcante Luz amarela queimante Tentam ser como antes. Casca do tempo Se tu existisses Faria você um Grande partido Aliado mentido. Atraídos pelo destino Traçado a pó. Queimado pelo passado 250 O futuro é igual, A lua brilha a rua Beco da vila vida Tinta no céu Feito de pincel Globo no caneco Foto do gavião é Cachorro sobre garrafa Líquido do bicho Formiga cantando Cigarra trabalhando. Chorando por tudo Tentando ser o cubo Magoado por mal Descrevendo é banal. Não tem sentido Não tem existência O algodão do grafite Não tem nexo Não tem sim Através de nada quase Sendo longe chega e, Línguas estranhas com Palavras tolas cobertas Sim tem sentido Sim tem existência Além da paciência mora O buraco do bico negro do Gavião, redondo quadrado Torto é certo, linhas será? O extremo pode negar que Existência é não e sim, 251 Pontos são não, mas Veja o olho é assim, Você é não ou sim? O tesouro é apenas o fim. Cada um, cada uns. Antes de deixa-los, quero tratar de um assunto importante; é sobre Thace e Linete, os dois construíram algo maior do que o necessário, sou um monge tibetano, nunca morei com uma mulher, mas possuo um conhecimento forte sobre isso. Thace foi além de si próprio, coisa que Linete nunca pensou, o problema é que não teve problemas, um disse até logo e outro adeus, agora que está vagando pela Europa totalmente livre, mas sempre lembra da voz suave e o perfume doce de Linete, sente que deixou mais do uma esposa e um filho, deixou marcas no coração, quando ele olha a lua logo imagina aquele encontro na praça onde Linete estava linda, com transas no cabelo que refletiam como uma cascata de ouro, aqueles belos olhos faziam Thace chorar de emoção, pois demonstravam que a vida era verde e acima de tudo contagiante, ele recorda dos gestos únicos que Linete possuía, que demonstrava uma certa timidez escondida pela sua segurança emocional, capaz de deixar Thace perplexo e completamente apaixonado, mas ocorreu o que os dois quiseram, para eles a liberdade foi maior do que o amor, entretanto digo que quando os egos se adaptam a seguirem um mesmo caminho comum escolhido pelo coração, o amor jamais perderá, pois a liberdade foi capaz de criar e eternizar este amor, mesmo assim a liberdade que Thace tanto venera, jamais poderá se livrar do brilho da Linete que com certeza se manterá em tudo o que ele criar, não por completo, mas por uma necessidade de existência, nenhum ódio ou rotina 252 poderão apagar do coração de Thace aquela loira mulher, capaz de mover montanhas. Pensem sobre isto, pois o amor é fundamental para a unificação e antes disso para vida; Jesus Seixas agora não será mais o mesmo, até o dia do dia. Criança sempre criando verdades, o inimigo é ídolo. Catar pegar a quentura da chama. - Leucipo manda boas poesias. – disse Rose. Sim, - falou Márcia – mas nisso eu fico com Schopenhauer, que manda que a poesia e a loucura andam juntas. - Poesia é palavras que não se pensa no ato de grafalas, - disse Marcos – mas quando lê-las ai sim se pensa. - Senão fosse essa história, - gritou Michael – eu espancava vocês. - Por quê? – perguntou Márcia. - A poesia não é algo para criticas, - respondeu Michael – ela sai do imo do ser, uma emoção única, sei porque os punks sempre assim se expressam. - Foi mal. – disse Marcos. - Chega desse papo nada a ver, - pediu Márcia – vou continuar. Ai que está. Tudo pode ser. Vamos pensar sobre a cultura. Isso é algo que não existe. É, algo que não passa de valores. Valores herdados. Tudo está em sua psíquica. Uma estrutura de valores é pensado por ti, como algo homogêneo. Tudo é homogêneo. Tudo é uma só coisa. Aquele saber fazer do capital, é homogêneo. Ninguém domina tudo. Vamos voltar para subversão. Se a cultura lhe impõem que ti é um. Pode-se mudar. Transformando a identidade em homogênea. Sendo assim o sistema é destruído. Você é tudo. Não é mais 253 um sujeito, é infinitos. Sua personalidade é a mesma, mas sua identidade é livre. Basta adotar um nome coletivo. Não sei por que estou escrevendo isso. Não sei. Talvez seja ele quem esteja me governando. Só sou um brinquedo em suas mãos. Talvez essa idéias seja chave lá na frente. Capte e leia o que Márcia lê. Faz 41 dias que Jesus Seixas me apareceu pela primeira vez, sem contar no dia do susto do final do livro, ele passou muitas coisas importantes, mas com certeza ficou muito enigmático sua parte, é preciso muita vontade e pensamento para entender o que ele quis dizer em algumas partes, tentei escrever da forma mais simples possível, mas mesmo assim como o próprio Jesus Seixas falou, as palavras pouco dizem, entretanto acho que as compreensões das poesias serão alcançadas no decorrer do livro, que talvez não fique tão longo, pois sábios querem que eu transmita apenas as idéias principais que vejo nos sonhos e não uma descrição detalhada que não leva a nada, é por isso que em páginas você já vai da África a Europa pulando lugares que poderiam ser importantes uma vez que por ali Thace passou, mas entendo que eles pouco estão preocupados com a geografia e culturas dos lugares. Mas sim nas mutações psíquicas que Thace sofre, pois o importante ainda é o paradigma que representa o universo de Thace. Neste tempo que estou escrevendo o livro, passei a ser mais culto e ler muitos livros, para tentar melhorar o modo de escrever e ajudar a conduta filosófica que as idéias trazem para atingir os objetivos da F.: C.: V.:, não sei bem ao certo se realmente você está acreditando neste livro, para mim pouco importa, mas não sou como os sábios que 254 pedem para não lê-los se não acredita, quero que leia, pois preciso saber qual a função disso tudo. Agora vou explicar detalhadamente como funcionam os contatos com os sábios, posso escrever, pois Jesus Seixas cedeu algumas páginas para isso, é por isso que ele já não aparece mais na história, enquanto espero o próximo sábio, vou revelar estes acontecimentos. Como o próprio Jesus Seixas disse, eles não são espíritos, não passam de personalidades no inconsciente, assim como você têm pessoas fazendo independentes de você coisas que querem. Assim são eles, fazendo o que querem, mas em outro tempo, sem perceber eu consegui a unificação do universo, mas isso não é como a unificação que Thace conseguia, apenas sou unificado quando uso a moeda, que de alguma forma consegue criar uma idéia que minha consciência aceita quebrando o limite dos universos. O importante é saber que aquela moeda não tem força alguma, mas a idéia que possuo sobre a moeda é que é o poder libertador, é isso que o sábio da moeda me disse, os números não são superstições e nem vão ser códigos para os outros sábios saberem quem sou, fui eu quem entendi errado, a moeda é apenas uma moeda, a brincadeira não está nela, mas sim na minha mente, que com certeza é a maior fonte de conhecimento seja histórico ou cósmico, por isso não pense que sou louco ou mexo com espíritos, pois isso somente existe para quem quer, lembra do Jesus Seixas? Eu sou um homem como você, que teve a sorte de conhecer um outro universo no meu próprio universo, e quero continuar explorando isso para ter certeza que cada sonho está ligado com outro sonho formando sempre grandes histórias, com certeza verdadeiras para quem quer, estou apenas conhecendo eu mesmo, aprendendo com deus. 255 Alguns dias atrás, eu estava surpreso com o sucesso da seqüência dos sonhos, onde Jesus Seixas me mostrou belas idéias onde Thace filosofou, querendo aperfeiçoar o trabalho, resolvi acampar e dormir na natureza como Thace sempre fez, levei o manuscrito a moeda e alguns mantimentos, a fim de tentar provar como era a vida de Thace, não levei nenhuma tecnologia, como por exemplo, fósforos e lanterna. Apenas pão, água, papel e caneta me faziam companhia. Confiava que a noite do sonho seria igual a do dia anterior, obedecendo ao roteiro da história, mas isso não ocorreu. A noite estava sem lua, grandes nuvens cobriam o céu, deitado em baixo de um pinheiro, eu estava com medo, não enxergava além de uns cinco metros, apenas observava o crepúsculo alertando que logo estaria no segundo universo e, pela primeira vez resolvi dormir com a moeda, coisa que jamais vou esquecer, pois começou a ocorrer fatos estranhos, o medo tomou conta do meu corpo, não tinha para onde ir, naquele campo, existia apenas eu e o pinheiro e nada que ocorresse poderia ser evitado. Então logo tudo passou, consegui controlar o medo passei a pensar que ali nada existe e poderia inventar coisas boas para me proteger, imaginei que o pinheiro era um gigante com grande chapéu preto, ele era meu protetor. Dormi com está idéia até acordar assustado com a presença de um cavalo, mas somente soube que era um cavalo quando o sol me disse e, durante todo este tempo fiquei sem dormir e sem sonhar, isso provou para mim que eu sou o comando do universo, pois se ligasse para o escuro e o cavalo, poderia ter sonhado e escrito o livro, a moeda não passou de uma simples moeda, tudo está em nossas mentes, o lado oculto não está nas coisas, mas sim na mente, pois as coisas são coisas da mente. 256 O outro fato importante que me ocorreu, foi cinco dias após o acampamento, nesse dia fiquei quase o tempo todo lendo e filosofando, não parei para descansar e mal me alimentei, pois estava com uma cede de leitura fora do comum, resultado, minha mente se condicionou a receber palavras e emitir outras pensadas, assim perdi toda a noite simplesmente por que não queria dormir, a vontade e o cansaço não me comandaram para o sono, fiquei deitado e pensando como ainda estivesse lendo, foi nessa madrugada que escrevi as partes de poesias e pensamentos de Jean-Jacques. Eu estava completamente fora do controle, não sabia o que estava ocorrendo, mas tudo parecia com uma clareza e razão que me surpreendeu, junto comigo estava o Jesus Seixas, ditando como sempre e pensando sobre uma grande pedra, enquanto escrevia, a mesa onde estava o manuscrito sumiu, inclusive tudo a minha volta desapareceu, apenas enxergava o livro e a caneta, no lugar das coisas surgiu uma linda paisagem onde estava a pedra e grandes montanhas, com certeza eu estava no Tibet, onde Jesus Seixas viveu. Até parece aqueles livros de antropólogos que experimentam plantas alucinógenas, mas na verdade é efeito do cansaço. Um dos sonhos me inspirou para escrever um conto, pois estava com semelhanças da história de JeanJacques e do homem sem pernas e braços, mas este sonho não se encaixava na história, pois possuía personagens deste livro ocupando lugares sociais diferentes, como Eberth que lá se apresentou como cavaleiro andante e neste livro ele é um bruxo, então resolvi escrever aparte desta história, mas como gostei muito eu vou apresenta-lo neste espaço reservado para mim, no qual não sei o seu tamanho, pois enquanto aguardo o terceiro sábio, continuo escrevendo, o conto conta algo assim: 257 O FILÓSOFO E O FAXINEIRO Sete anos era a idade de Górgias, um menino criado em Atenas, filho de uma falecida faxineira com um cavaleiro andante, conhecido como Eberth “o quebra ossos”, um dos homens mais temidos quando está em batalha. Górgias vivia com os pais de sua mãe, pois Eberth não era apenas andante na profissão, seu caminho era sua casa, por isso era raro um encontro com a família. Em um desses raros encontros, Górgias teve a oportunidade de sugar o conhecimento de seu pai, quando fez esta pergunta: - Pai, a vovó falou para mim que Deus é quem julga, é verdade? - Sim filho, somente ele é quem julga. - Mas papai, quem é Deus? - Escute o que lhe falo filho, jamais questione Deus. - Mas por que não, pai? - Eu já lhe falei Górgias, – respondeu com firmeza, Eberth – nunca questione Deus. - Quer dizer pai, que você é Deus? - Mas por que pergunta isso? - Eu não estava questionando Deus, mas estava questionando você. - Tudo bem filho, você venceu, eu sou Deus e vou julgá-lo se você não for dormir. Górgias foi rapidamente para cama com medo de seu pai condená-lo à fogueira eterna. Por algum tempo Eberth ficou pensando na conversa que teve com o filho e notou a inteligência que o menino possuía, mas que pouco ajudaria, pois estudar era privilégio de poucos. O incansável tempo age, transformando aquele menino em um forte faxineiro do congresso de Atenas, onde se reúnem filósofos e políticos para debaterem assuntos governamentais. Em uma noite de reunião 258 no congresso, Górgias limpava o chão para que aqueles homens barbudos começassem a conversar sobre coisas estranhas para ele. Mas nesta noite não foi possível limpar o chão a tempo e logo surgiram os primeiros filósofos que sentaram em seus lugares naquela grande mesa, que todo dia Górgias limpava com tamanha paciência. Na principal cadeira sentouse o último e o líder intelectual daqueles aprendizes da vida, os assuntos da noite passada foram retomados e o debate começou, com testemunha de Górgias, que mal foi notado naquela grande sala. Górgias começou prestar atenção nos assuntos tratados tentando utilizar a velha e esquecida razão, logo conseguiu a tão esperada chance de poder expressar as idéias que lhe consumiam a mente. Em um questionamento sobre Deus, feito pelo líder, direcionado para todos, quando discutiam a função verdadeira da religião na sociedade, Górgias se pronunciou timidamente: - Por favor, senhores, eu posso ajudar, sei quem é Deus. - Vejam como o mundo é pequeno, - disse um filósofo, com ironia – tínhamos um profeta ao nosso lado e nós nem percebemos, - soltando uma gargalhada, que todos acompanharam – pois então, revele para todos, quem é Deus. - O nome dele é Eberth, o grande cavaleiro andante, também é meu pai. Todos que estavam no congresso começaram uma série de gargalhadas, exceto o líder que se pronunciou, calando os aprendizes: - Você está certo rapaz, como recompensa de sua sabedoria, lhe convido para fazer parte desta sociedade intelectual. E antes que algum de vocês me pergunte a razão pela qual julguei a resposta do rapaz correta, vou lhes responder com prazer. Cedo ou tarde, vocês iriam chegar à mesma 259 conclusão que o nosso amigo chegou, uma espécie de individualismo cósmico, cada homem é responsável pelo seu universo e tem a certeza de que todas as idéias somente existem porque as inventou. Independente de qualquer crença metafísica é importantíssimo que cada um saiba que todas as perguntas e respostas foram criadas por você, por isso você é Deus ou qualquer outro termo. Peço que reflitam melhor esta pura mentira e amanhã continuaremos com a companhia do nosso novo filósofo. Antes de o líder sair do congresso, Górgias lhe falou: - Senhor, eu agradeço muito, mas tenho que continuar trabalhando, por isso não vou poder participar dos debates. - Meu rapaz, deixe os frutos para os animais, pois agora você se alimentará de raízes, - disse com um olhar paternal – qualquer problema que você tenha, somente será resolvido quando desprezá-lo, por isso conto com sua mente amanhã, para ajudar a resolver os meus. O filósofo se despediu de Górgias que lhe agradeceu a energia transmitida. E assim começaram os primeiros contatos de Górgias, com a maior força que existe, que não vale um simples sabão. Novamente notamos a frieza do relógio alterar o espaço e Górgias aumentar seu universo, ele estudou como estuda um verdadeiro filósofo, não apenas debruçado em livros, mas principalmente observando a natureza da cultura local. Quanto mais pergunta fazia, mais resposta produzia, logo notou que realmente era o criador de tudo e que cada humano era um universo, que podia criar tudo desde Diabos a Deuses. Soube responder como ninguém, qualquer pergunta sem ao menos pensar sobre ela, aprendeu em cada conferência andar, não pensando em quanto 260 já havia andado ou quanto ainda faltava, mas sabendo cuidar somente do passo que estava dando. Foi assim que Górgias cresceu na sociedade intelectual, sendo sempre otimista e fazendo o que gostava, livre de qualquer mandamento degradante de sonhos. A vida de Górgias ainda lhe guardava segredos, que começaram a se revelar quando recebeu uma mensagem de um amigo do seu pai, que mudou totalmente o rumo de sua vida, era um comunicado que seu pai havia se ferido em uma grande batalha, e que Górgias precisava encontrá-lo em Bruxelas para poder dele cuidar. No mesmo dia o jovem filósofo seguiu para Bélgica, deixando os sonhos para o futuro cuidar, e trazendo amor para o seu pai sarar. O caminho da viagem não foi aproveitado como ele queria, pois a preocupação venceu sua sabedoria e deixou a marca do medo em seu coração. Chegando na ermida onde se encontrava Eberth, o agora faxineiro Górgias observa aquelas mulheres com grandes crucifixos pendurados em seus pescoços, elas corriam para todos os lados, movidas pelo amor que sentiam pelos muitos doentes esparramados pelo chão. Em um canto da pequena ermida, Górgias encontra seu pai que demonstra um sono quase perfeito, com uma respiração fraca e lenta, no mesmo instante uma freira tenta conversar com Górgias, mas ambos não possuíam um idioma comum, o que levou o entendimento foi o jogo de idéias, transmitidas por gestos. Logo após a freira entender a idéia da relação pai e filho, ela retira com uma expressão melancólica o lençol que cobria Eberth, trazendo uma profunda e dolorosa emoção em Górgias, após ver o corpo de seu pai sem as pernas e braços. Lembrando das sábias palavras do líder filosófico sobre os problemas, Górgias agradece as freiras e leva o grande cavaleiro andante para Atenas. No caminho, apenas gritos do 261 Eberth quebravam o silêncio, gritos estes que eram direcionados para Górgias, como um pedido de morte. A Terra gira duas vezes em volta da mais bela estrela e Górgias se adapta bem às novas rotinas, podendo cuidar do seu pai e continuar sua carreira de filósofo. Eberth do outro lado, ainda guarda a marca da inutilidade que o tempo não apagou, constantemente lembra dos homens que lhe fizeram tamanha maldade, somente para ironizar seu famoso apelido, mas o que mais lhe fere é saber que não pode nem mesmo se matar, que seria a única honra que lhe aliviaria. Cada dia Górgias provava seu amor pelo pai, com seus estudos pôde construir uma cadeira de rodas para levar Eberth olhar a vida e esquecer a escura depressão que as paredes do quarto lhe transmitiam. Seus dias eram de conversas frias sobre as mesmas coisas do dia anterior, mas isso nunca foi motivo para desânimo do filósofo, pois ele sabia que o tempo era remédio para tudo. Em uma noite de debates no congresso, Górgias aprende coisas importantes para sua bagagem intelectual, em mais uma discussão religiosa, o líder fala: - Vejam como os ditos civilizados impõem suas crenças para culturas diferentes. Conversei com um amigo jesuíta que me contou algo interessante, em uma de suas viagens para América, ele presenciou um estranho comportamento causado em uma cultura canibal, os afetados comiam pão pensando que era carne humana, pois ainda não estavam preparados para receber uma cultura diferente. Coitado de Jesus, sua verdadeira imagem foi mascarada pela ignorância. - Gostaria de saber onde quer chegar com isso? perguntou um dos filósofos – pois não somos pessoas que perdem tempo com curiosidades, sem objetivos racionais. 262 - Não sou um homem que descreve os erros dos homens, - respondeu o líder, com uma voz suave – mas um homem que demonstra pelos erros, como ser um homem. Pensando no seu pai, Górgias pergunta para o líder: - Como mostrar para um homem que ser errado é ser humano? - Uma simples discrição dos fatos os torna banais. - Por favor, - disse Górgias, com olhos da mente – você pode retransmitir em outras palavras? - Minhas palavras não dizem nada, o que diz é a imaginação de quem escuta. O debate termina e Górgias tenta imaginar um milagre que traga novamente a vida para o pai. Após árduas reflexões, Górgias cria coragem e assunto para convencer Eberth de que ele ainda está vivo, e na tarde do outro dia, ele leva seu pai para olhar o pôr do sol, em uma linda colina perto de um lago, então sente que chegou o momento da metamorfose que atingiria os dois, e com uma modesta timidez, Górgias fala: - Está lindo o dia hoje, você não acha, pai? - Tanto faz como fez, - respondeu Eberth, com rancor – para mim o dia é sempre uma esperança de se cumprir uma profecia do fim de tudo. - Pai, você não deve pensar assim. - Quem é você rapaz, para me dizer isso? - disse olhando para o seu pedaço de corpo, o grande Eberth – por acaso você já ficou sem os membros? Por causa de sua frescura eu ainda estou aqui sofrendo, quando podia ter morrido com honra. Ao escutar isto, Górgias explode uma dinamite de palavras, na pessoa que mais ama na vida: - Eu quero que esta honra morra, até quando você vai ficar olhando as desgraças que sua vontade criou e desprezando a vida? Veja este corpo inútil que você possui e compare ele com o de um 263 defunto, você não precisa de braços e pernas quando tem uma mente, - um silêncio – eu não quero que você morra pai, pois ainda preciso de seus conselhos, olhe a vida como ela é, não tire falsas conclusões, morrer não lhe trará glórias, mas sim arrependimentos, - uma lágrima, escorre no rosto de Górgias – pai, por favor, desculpe-me; não queria que isto acontecesse, eu somente queria ver novamente seu sorriso, marcando meus caminhos. Górgias deixou seu pai sozinho e foi para beira do lago, ele tremia como nunca, seus olhos derramavam águas da fonte de emoção, seus pensamentos eram confusos e falava palavras sem nexo, como se perdesse todas as suas forças, sentia-se em um grande deserto, procurando um oásis, mas no fundo desta turbulência, ele sabia que mexeu com o coração do pai. Eberth estava com os olhos úmidos mirados para o sol, sentindo as palavras do filho destruir os limites de sua mente, e antes que o sol lhe abandonasse, gritou para todo universo ouvir: - Ó Deus, que me tirastes meus braços e pernas, que tirastes minha alegria de lutar e caminhar, que me proibistes de abraçar meu filho, obrigado por somente agora eu ter vontade de possuir pernas e braços, e ter alegria para lutar e desejo de caminhar, obrigado do fundo do meu coração de me dar esta linda vontade de abraçar meu filho. Eberth conseguiu enxergar os misteriosos truques que a vida nos faz para poder dela viver e passou os restos de seus infinitos dias ajudando, com ótimas idéias, o filho escrever belos livros, que infelizmente foram queimados em um incêndio no congresso. Górgias conseguiu assumir após a morte do antigo líder o seu posto social e já no primeiro dia encontrou um jovem cheio de dúvidas, que lhe perguntou: - Senhor, pode me responder quem é Deus? 264 - Deus é quem tira, para dar algo melhor é quem muda para não deixar morrer, enfim, Deus é vontade, amor, futuro, passado, presente, natureza e vida, resumindo, é o criador de tudo. - Ainda não consegui entender, quem é ele? - Então você deve ir diretamente a ele. - Mas como? - perguntou o rapaz, perplexo – eu não quero morrer. - Existe um meio mais fácil de encontrá-lo, além da morte. - Onde? - No espelho. O rapaz ficou contente com a resposta e indagou à Górgias: - Como posso ser sábio assim como você? - Primeiramente, para que você quer sabedoria? - Para poder ajudar a quem precisa de vida. - Ótima resposta, - sorriu com amor, Górgias – você pode ser um filósofo. - O que é preciso para ser um? - Todos podem ser filósofos, basta ser um faxineiro. - Faxineiro? - Sim, é preciso limpar para enxergar, mas também enxergar para limpar. O que achou? Bonito? Repare que é um conto muito parecido com o da história de Jean-Jacques, por isso digo que este conto deve estar escrito neste livro, que talvez ainda possa existir, mas isso só o tempo dirá, ou não. 265 - Tenho que admitir, - falou Márcia – esse conto é fantástico. - Sim o conto e as viagens de Luiz. – falou Rose. - Lê logo isso Márcia. – pediu Marcos. As coisas estão cada vez uma só. Antes eu chorava. Hoje eu ensino. Você parece ser bem entendido nesse assunto. Sei que aquele medo de Luiz. Aquele medo de Thace. Isso não passa de um impulso inconsciente, uma defesa natural para estimular uma fuga da questão que cria o medo, pois essa questão no momento é muito forte, não existe fuga, logo a natureza ajuda. Os mandatos indiretos estão num fluxo passível de erudição. Portanto essa ideologia pré-humana não pode contra. Sua vida é essa. Agora montanhas estão de estímulo em ápice. Aptidões insertas é o que pode lhe vir a ser. Essa manha é literalmente uma instância entre a hegemonia narcísea do ponto final. Narcanálise cura essa maluques temporária. Deixe lá e vamos cá. Bem onde uma linda Márcia lê. Refletindo sobre tudo isso que ocorreu na minha vida até aqui, cheguei numa conclusão temporária; sempre eu procurava deixar o mundo como eu queria, então resolvi imaginar-me no controle total do mundo. Eu estava em cima da lua, em um grande castelo, e lá de cima observo todo o planeta, logo comecei a mandar no meu mundo, eu falava “a” e todos repetiam “a”, eu falava “b” e todos repetiam “b” e assim foi até acabar o alfabeto, então chegou a hora dos números, até ai eu estava feliz por comandar tudo, de repente eu falei “1” e todos repetiam “1” eu falei “2” e todos falavam “2”, eu falei “123.867.305” e todos falavam “123.867.305”, então fiquei bravo, pois notei que iria 266 passar o resto da vida vendo todo mundo dizer amém a tudo conforme eu queria, e ficou sem graça, logo disse para todos: “até quando vocês vão ser assim?” e eles me responderam: “até quando vocês vão ser assim?” aprendi com isso, que temos que ser o mais diferente possível, somente assim saberei que eu tenho muito o que me conhecer, pois sendo você o mundo não te respeita, mas querer ser o controle do controle, é brincar com coisas sem vida. Não tenho “escrevido” muito, há um bom tempo não aparece nenhum sábio nos meus sonhos, por isso acho que não tenho motivos para escrever, além do mais escrever às vezes perde importância para preguiça, não pense que escritor é uma máquina, ele é apenas mais um homem que tem seus desejos diferentes, não fico o dia todo escrevendo, pois escrever é um ato do coração e muitas vezes trabalha com a razão. O problema é quando a razão não deixa o coração se expressar, então ocorre o que vou lhes contar agora: Eu estava apenas revendo o que havia escrito, e comecei a refletir sobre a poesia do Thace (Oposto do posto), quando algo me ocorreu, e passei a sentir uma atração fatal na poesia e suas idéias, logo cheguei a uma conclusão, que respondeu todas as minhas dúvidas. Os opostos não são verdadeiros, aliás, nada é, o problema está nas idéias de opostos, dizem que uma árvore não é uma árvore, mas sim a idéia de uma árvore e essa é imutável, por isso todas as árvores são iguais, porém sabemos que nunca uma árvore é igual a outra, pois uma tem um galho para baixo e algumas folhas e a outra tem o galho quebrado sem folhas, então para afastar esta dúvida, lembrei dos pontinhos e seus extremos, como pode algo existir sem extremos? Os pontinhos dizem que não há extremos, 267 mas sim apenas uma maior distância de um ponto ao outro. O que quero dizer é que, a árvore jamais será diferente da outra e também não será igual, simplesmente porque não existe árvores, mas sim a árvore. Tudo é apenas uma força, e pontos não existem. A divisibilidade infinita não é divisão, mas sim multiplicações, logo você é tudo, você não está na força, você é a força, parece impossível conceber isso, mas pense que tudo está em contradição em si próprio, a pluralidade das idéias é inexistente, nada existe, por isso que a idéia de árvore é igual a idéia de nuvem e, assim por diante. Veja bem, esse “igual” só existe porque não existe a diferença, pois não há duas forças para comparar suas diferenças. Talvez você não tenha entendido, mas o que quis passar é que tudo desde nuvem, árvore, cavalo e você são coisas infinitas é por isso que chamo essa força que é tudo de infinito. Depois disso eu fiquei pensando, será que estou louco? Pois como que o meu amigo não é diferente de mim, pois ele pensa diferente? Como que duas moedas iguais de valor e impressão, não são iguais? Mas logo concebi outra idéia aliviante, que seria aceitar tudo como infinito, por isso não haveria diferenças nem igualdades, pois só existe um infinito, mas as contradições não estão na relação infinito para outro infinito, mesmo porque é apenas um, mas na relação do infinito consigo mesmo. Tudo depende das portas da percepção. Observe o quanto mudei, de um menino bobo para um aprendiz de filosofia. Sinceramente eu nunca pensei que poderia algum dia pensar como pensei. As coisas estão se encaixando, já sinto o objetivo desse livro, não tenho mais medo da minha imaginação, pois consigo controla-la com a razão. 268 Pouco importa o que acharão deste livro, o importante é que eu vou conseguir transmitir todas as idéias que me mandarem. Deixei de acreditar em espíritos e concebi a existência da mente subconsciente, que já não é tão sub assim. Ninguém além dela é responsável por tudo isso. Vamos esperar o que ela vai nos enviar por sonho, será que serei um bom “hacker”? Não sei, mas penso que sim. A vida não é tão fácil assim, sempre me pego tentando agir conforme os ensinamentos desse livro, mas parece que existe uma barreira entre o teórico e o pratico, quando fico imaginando como é ser o centro de tudo, logo vem um e cobra minha parte na evolução. Não tenho muito tempo para pensar como queria, a vida é corrida demais, uma hora eu estou estudando, outra trabalhando e depois escrevendo, é tudo muito rápido, não dá para agir conforme você quer. Penso às vezes em viver exilado da civilização, no meio de uma floresta com uma biblioteca em casa, mas logo vem a realidade mandando eu fazer aquilo, fazer isso e assim vou levando, como uma formiguinha operária construindo o império dos poucos reis. Fico muito triste por saber que não faço o que escrevo, talvez seja por isso que eu escreva. Não sou pessimista, apenas escrevo o que realmente sinto, não devo esconder de ninguém, pois estaria enganando a mim mesmo. Todo dia quando pego a caneta para descrever meus sonhos, me pergunto o que estou fazendo, nunca serei um bom escritor, veja quantos bons existem e eu não passo de um menino que nem sabe o que escreve. Quantas vezes achei isso uma bobeira e penso em desistir e ajudar minha família trazer o sustento, agora que eu escrevo isso não sei se terminarei, mas você que está lendo, sente nos dedos que terminei. É assim que penso quando estou cansado, me vem na cabeça uma sensação ruim 269 pedindo para acabar com tudo, mas nunca vou perder por esta sensação, pois sempre olho para as estrelas, que escondem um segredo belo e infinito, trazendo de novo a força da vida no meu ser, o universo ganha motivos, eu olho pela janela trabalhadores sujos, cansados e com fome, com um olhar distante e fraco e outros nervosos dirigindo carros do ano, então noto que o dinheiro não faz nada na vida. Ganho energias para comandar a caneta e fazer o meu sonho ganhar importância, não importa mais se não sou um grande escritor, o que agora vale é a vontade de um menino sonhador, colocar um sorriso no rosto dos sujos trabalhadores e dos nervosos motoristas, nem que esse sorriso dure apenas alguns segundos, para mim já valeu a vida. Essa força misteriosa, me faz escrever qualquer coisa num livro, que não influência em nada a vida de ninguém, aquele trabalhador não terá como ler meu livro, pois talvez seja caro, o motorista não vai ler porque não tem tempo. As guerras no mundo vão continuar, a fome não vai acabar, a tristeza está ai é só pegar, quem sou eu para querer mudar o mundo? Por que não posso mostrar a realidade nesse livro? Me diga quem ira pensar em filosofia se não tiver o que comer? Quem vai perder tempo lendo um livrinho com historinhas bonitinhas, sendo que isso não dará um conhecimento para o mundo do mercado? É tudo um caos, não adianta eu ficar mostrando o lado bonitinho se depois você liga a TV e só vê desgraças, políticas sujas, comerciais destrutivos e muita besteira que fazem todo mundo acreditar que aquilo é a verdade. Talvez seja melhor eu queimar esses manuscritos e viver conforme tem que ser e ir dormir irritado por não ter um carro do ano, sempre pensando nas férias e buscando a felicidade como um cachorro busca a pulga no rabo. Quando passo na frente do cemitério tudo isso acaba, vejo que logo estarei deitado naqueles 270 negócios imaginando se o que está nesse livro é realmente verdade, e o tic-tac do relógio me faz acordar e espantar esses pensamentos herdados, e uma coisa viva acende meu corpo, sinto prazer de viver e corro rápido e feliz para escrever tudo que alguém me diz. Agora tudo está bem, vou mudar o mundo, não importa o que dizem, eu vou mudar o mundo e minha arma é essa caneta, veja como é a vida, eu não sou um rei, sou como você, acorde e desperte a vida em seu ser, quebre todas as barreiras imaginárias e desfrute dessa vida, não tenha medo, seja você mesmo, grande e infinito, esqueça o que dizem os economistas, marxistas, positivistas ou qualquer outro negócio manipulador, não importa se você é doutor ou mendigo, veja que existe algo muito grande escondido atrás da razão e da lógica. Isso muda tudo, sinto o seu coração batendo, o cachorro latindo, as crianças chorando, a televisão mentindo, o grilo cantando, venha viva e acorde, não perca tempo com coisas do momento, faça algo eterno, saia correndo pela rua gritando de alegria, esqueça o trabalho e fique o dia todo comendo frutas em cima da árvore, não interessa o que dizem, é tudo louco, eu sou louco, mas e daí? Todos vão morrer e você só vai fazer o que quer, quando o presidente do país dizer na TV que tudo é livre? Ou então vai esperar se aposentar, para fazer o que quer. Eu sei que você tem vergonha, imagine sair gritando na rua, mas eu também tenho vergonha e não vou sair gritando pela cidade, mas um dia eu vou fazer, por enquanto é apenas um sonho no livro. Mas pelo menos ninguém pode negar que minha euforia vence qualquer desafio, a noite está linda e as estrelas me mostram o que eu preciso fazer, aqui com a luz delas, o jornal não me atinge. - Puxa! – exclamou Rose – Luiz soltou seu coração. 271 - Luiz não, - corrigiu Marcos – Leucipo foi quem de derreteu. - Ai! – disse irônico Michael – eu achei muito bonito essa descarga emocional... - Não seja um cavalo, - disse Márcia – Leucipo é um homem que sente e diz sobre a vida, não fica escondendo por vergonha de ser inferior. - Você está insinuando que eu escondo o que penso? – perguntou Michael. - Se você um dia pensou, sim. – respondeu Márcia sorrindo como se dissesse: “se fudeu palhaço”. - Leia ai sua puta, e pare de frescura. – mandou Michael brincando. Um médico vive menos que um paciente. Um escritor vive menos que um livro. Um disfarce dura menos que o ator. Durou mas disse. Leucipo admitiu sua autoria sobre a obra. Abriu o coração e decretou. Porém quiçá não mostrou no limpo. Sempre obscuro. Por trás de um Luiz. Por trás de palavras mal estruturadas. Toda sua sabedoria ali jaz. Quem sabe no fim. Para isso ler é solução. Então mande-nos as idéias Márcia. CAPÍTULO III. “Não é o ser que morre, mas sim o universo que muda e o que existe é apenas uma força que não cria tudo porque ela é tudo.” Foi esses pensamentos que acordaram comigo após um sonho fabuloso que marcou o primeiro contato com o F.: C.: III.: algo realmente racional e incrível. 272 Ele não falou nenhuma palavra no sonho inteiro, apenas apontava para Thace. Pelos grandes templos acho que estávamos em Atenas. O sábio era um homem negro, magro e alto, com uma expressão séria, isso foi tudo que consegui gravar nesse primeiro sonho. “O ser não morre, ele é a força, contra ele apenas ele, amarrado em seus próprios pensamentos quase se esquece disso.” Pela primeira vez o F.: C.: III.: falou, veja acima a pureza do pensamento dele. E nesse segundo sonho ele começa a narrar a história de Thace. Eu não sou ninguém, não tenho nome e não quero nome, pouco vocês precisam saber de mim; não gosto de números por isso não sei quando nasci, sou um cosmopolita e não preciso de terra natal, mas não pense que sou um homem ruim, apenas não gosto de limites, vocês já sabem tudo sobre mim, vamos falar de Thace Pahazy Filibuster, o motivo desse livro. O aventureiro está em Atenas, o berço do pensamento ocidental. Sentado no degrau de uma antiga ermida, ele pensa sobre algo que só ele sabe. Thace domina bem o grego e, se comunica com uma senhora de idade avançada: - Qual é o seu nome? - Quem quer saber? – disse a senhora com uma voz firme desprezando seu corpo frágil. - Sou Thace, e quero conhecer a cidade. - Atenas não pode ser conhecida. - Mas senhora, ela não fala, é uma cidade. - Então para que quer conhecer o que já conhece? 273 - Eu não conheço, - falou Thace abismado com o comportamento da senhora – eu sou um viajante, eu só sei que Atenas é uma cidade. - Isso já é o bastante. Thace se levanta e começa a seguir os lentos passos da senhora, perguntando: - Eu ainda não sei seu nome, pode me dizer? - Atenas. - Atenas? – com espanto replicou Thace – é por isso que não quis me mostrar a cidade? - Eu sou a cidade. - Não, a senhora só tem o mesmo nome da cidade. - A cidade já conseguiu tudo o que queria? – perguntou sorrindo Atenas – você seria a cidade ideal para você. - Eu? Cidade? O silêncio reinava, mas não vencia o arrastar de sandálias de Thace e Atenas. O crepúsculo era lindo, dizendo que a noite já estava por vir, então se sentaram num banco onde Thace perguntou: - Onde fica o monte Olimpo? - Não sei. - Mas a senhora não mora aqui? - Talvez. - Como talvez? – perguntou nervoso Thace – você é estranha. - Estranha? - Sim estranha. - O que é estranha? - É você. - Não, eu sou Atenas. – disse ela pressentindo que poderia entrar numa tautologia. - Sim, é Atenas e é estranha. - Eu não sabia que você era estranho. - Quem é estranha é você Atenas. - Sim, mas se eu sou estranha para você, você é estranho para mim. 274 Thace fica pensando como pode ser tão sábia uma mulher tão velha, que por fora até parece morta, sem esperar muito ele a questiona: - Atenas, você trabalha com o que? - Eu ainda trabalho. - Realmente você é uma mulher forte. - Não precisa de força no meu trabalho. - E o que você é? - Sou filósofa. - Quanto me honra estar do lado duma filósofa. - Não perca palavras Thace. - Quero que você me ensine filosofia. - Não posso. - Mas por quê? - A filosofia não se ensina, o que posso fazer é contar a sua história e fazer você filosofar sobre ela. - Quando começamos? - Quando Zeus mandar, aguarde a mais antiga divindade. Receio do ano Se esconde no pano Quer saber? Então não queira O presente do grego. Atenas foi embora, enquanto Thace se ajeitava no banco para dormir, pensando quem seria a mais antiga divindade. Em pouco tempo tudo estava escuro e com o silêncio dos calados pensamentos que derramavam das antigas ruínas. Thace dorme como 275 uma criança assustada, abraçado no livro de JeanJacques. Uma pessoa se aproxima do banco onde dorme Thace, ela está de branco e avança lentamente, chegando bem próximo ela fala: - A noite é a mais antiga divindade. E, coloca um papel sob o livro “666” que está caído no chão e, ela vai embora. Quando acorda, Thace escuta sua mente repetir constantemente a seguinte frase: “A noite é a mais antiga divindade.” Sem saber o que significava. Pouco se importa, mas tudo muda quando avista o papel sob o livro, no qual ele rapidamente apanha e descobre que é uma carta, escrita em grego, com as seguintes idéias: αντεχω τουσ κινδυνουσ Já não possuo tanto fôlego para falar e por isso que vamos recordar a filosofia por cartas, talvez você seja meu último aluno, pois já estou nas últimas, não sou a mestre, sou apenas uma iniciada como você Thace. O que nos diferencia é que eu sei a história, mas nós somos iguais na capacidade de recria-la filosofando, por isso não me trate como algo melhor, mas sim como amiga. Com cartas o tempo para pensar aumenta, fazendo eu resistir aos perigos e ganhar do tempo vocal. Antes de começarmos a lembrar da mitologia grega que é o berço de muitas religiões e pensamentos, quero que me responda uma pergunta também por escrito, que no final do dia venho apanhar nesse banco onde dormes e sonhas, a idéia é a seguinte: Eu, você e todos, quem somos? De sua amiga velha filósofa Atenas. 276 Thace sente que tudo que aprendeu em sua vida, não passa de galhos, aquele egocentrismo se torna banal diante de uma pergunta tão simples, porém quase sem respostas. Faz um ano, que Thace não tem o universo unificado, a última vez foi no norte da Itália onde passou a conviver mais com as pessoas, tendo pouco tempo para si próprio. Procurou alimento e foi passear em Atenas, sempre pensando na resposta que tinha que dar até o fim do dia, após pensar muito consegue rabiscar alguma coisa no papel, e volta para o banco sentando-se para esperar Atenas. De repente ela chega estica a mão como se querendo algo, entendendo que era a carta resposta, Thace lhe entrega e ela vai para casa sem falar uma palavra com ele. Sentando-se na velha escrivaninha Atenas abre a carta e nela está escrito a resposta em latim: Não somos. De seu amigo viajante louco Thace. Atenas sorriu com a resposta e sentiu que Thace era um sábio homem e logo começa a escrever outra carta, para novamente a noite entrega-la ao andarilho, que por sua vez leria e pensaria o dia todo, mas dessa vez a carta foi muito além: Thace prepare-se para entrar no universo dos deuses. Caos é o mundo primitivo, matéria que existia desde tempos imemoriais, pela resposta que me deu, sei que sabe que o tempo só existe por causa de sua memória. 277 O Caos possui filhos, são eles: a Noite (mais antiga divindade) e Érebo que por sua vez teve Éter e o Dia que são pais do Céu. Eros é o poder divino que criou o Caos, ele é quem inspira simpatia entre os homens, é o ser invencível, por isso Thace nunca brigue com ele. A Terra nasceu logo depois do Caos, casou-se com Urano. Sendo a mãe dos deuses e dos gigantes, Telus deusa da Terra, mulher do Sol, era linda. Saturno filho de Urano destronou seu pai. Titão primeiro filho de Urano. Saturno promete não ter mais filhos masculinos, para continuar a hierarquia, cumprindo a promessa Saturno devora todos os filhos que teve com Réia, você não acha isso triste Thace? Mas Réia tinha bom coração e conseguiu salvar um filho das mãos de Saturno, seu nome era Júpiter, que mais tarde declara guerra ao seu pai Saturno, derrotando-o e colocando-o fora do céu. Réia salvou além de Júpiter, Netuno e Plutão. Júpiter tinha uma irmã gêmea que virou sua esposa, seu nome era Juno, estranho você não acha? Irmão se casar, mas isso ocorria entre os deuses, meu amigo Thace. Fora do céu, Saturno passa a ser um simples mortal e refugia-se em Lácio na Itália. O dia de Saturno é o sábado (saturni dies). A partilha do mundo será feita em sua família e o abóbada celeste sustentará o misterioso palácio do soberano senhor, pai dos deuses, dos homens. O palácio é o Olimpo ou Empíreo, em cima do monte mais alto da Grécia, quase sempre entre nuvens. Olímpicos eram os doze principais deuses: Júpiter, Netuno, Plutão, Marte, Vulcano, Apolo, Juno, Vesta, Minerva, Ceres, Diana e Vênus. Essa é uma pequena introdução na linda mitologia grega, que tem por finalidade explicar a origem de tudo, mas como somos filósofos quero saber uma coisa: 278 Qual é sua teoria sobre o “início” de tudo? Ou por que tudo sempre existiu? De sua amiga velha filósofa Atenas. Estava esquecendo, Júpiter é o rei dos deuses e dos homens, seu reino é Olimpo, com um simples movimento de cabeça, agita o universo, você não acha isso sugestivo demais? Agora sim, de sua amiga velha filósofa Atenas. Agora Thace sente firmeza em Atenas, lê várias vezes a carta e não consegue achar uma fuga para as perguntas, pois ela acertou a resposta que Thace iria dar e questionou o que ele nunca havia questionado “o por quê que tudo sempre existiu?”. Essa pergunta machucava Thace, mas ele sabia que iria crescer muito com esse teste. Tanto procurou que achou a resposta na própria carta e, sem perder tempo escreve no papel seu pensamento. Na mesma rotina Atenas apanha a resposta e dirigese para sua escrivaninha. A resposta de Thace novamente lhe surpreende, agora escrito em árabe: Atenas: Adorei a sua introdução da mitologia grega, refletindo muito sobre o que me perguntou cheguei a uma conclusão. O tudo sempre existiu, simplesmente porque ele nunca existiu. O passado, presente e futuro são crimes para mente, como meu amigo JeanJacques disse, “eu sou a aurora dos fenômenos.” De seu amigo da Noite Thace. 279 Atenas sente que achou um discípulo muito capaz e ousado, dobra a carta e a guarda na gaveta com muito cuidado, pois ela sabe que isso um dia será material de pesquisa para historiadores e filósofos do futuro. Vai até a pequena biblioteca do seu falecido marido e, abre o livro “República de Platão” para começar uma boa leitura, que passou a ser um hábito diário, desde quando se casou com Tífon, um filósofo ligado a política de Atenas. Thace aguarda ansioso a filósofa para saber o que achou sobre sua resposta, ele anda muito preocupado nos últimos dias, pois tudo que pensava que sabia está sem estrutura de sustentação. Pensar é a única saída para esse pobre homem, mas o melhor ainda estava por vir. Atenas apareceu na praça sentando-se no banco onde se encontra Thace, e sem enigmas pergunta: - Onde você aprendeu isso? - Isso o que Atenas? - Respostas, onde aprendeu responder? - Pela vida que levo, anda-se muito, conheço toda a África e boa parte dos intelectuais da Espanha, França e Itália. - Mas isso não responde minha pergunta. - Então você não soube perguntar. - É isso que me surpreende, você sabe responder com cautela e convicção. - Nem sempre Atenas. - Thace vou-lhe dar essa carta, onde conhecerá alguns filósofos e seus pensamentos, quero que leia e depois mostre-me o que achou sobre eles, volto amanhã. Sem falar mais nada, Atenas levanta e entrega uma carta enrolada como um mapa, que Thace pega sorrindo e desejando uma boa Noite para sua filósofa. 280 A carta esquenta entre os dedos de Thace, que espera o sol voltar para poder lê-la, pois a lua não está trabalhando e, ele não acende velas, pois pouco adianta em uma noite nublada e ventosa. As velhas ruínas emitem um barulho melódico que Thace considera uma canção noturna inspiradora para um bom sono. A noite passa e com ela a chuva e o frio que tanto lutaram com a velha parede onde Thace se abrigava, o sol traz à tona a vontade de ler a carta e sem muito esperar, as letras são consumidas pelos grandes olhos do andarilho filósofo: - Ué... parece que acabou, - disse Márcia – e acabou mesmo, pois se fosse o fim do caderno não teria essas folhas em branco. Como acabo? – perguntou Rose – você nem leu a carta de Atenas para Thace. Sim, - respondeu Márcia – mas não existe mais nada escrito. E esse papel aqui, - falou Marcos catando do chão uma carta que havia caído do manuscrito – será que não é a carta? Deixe-me ver. – pediu Márcia. Ela olha detalhadamente e logo lê: Para Atenas, a filósofa que sabe o que não lembro: Minha clemência pela vida me faz ser um tanto egoísta, mas não por ganância ou hierarquia, mas pelo fato de querer fazer o que a palavra não me impede é 281 por isso que aumento minha euforia destruindo qualquer bloqueio psíquico imaturo. O céu canta alegremente com suas estrelas filosóficas imortais, sempre vivendo com prazer do sol e da lua nunca desprezando os coloridos pássaros que imitem o eco divino. Você sabe do que falo vive nisso como ninguém, porém quase sempre ignora essa beleza total, por falta de controle em sua razão, fé, lógica ou dialética, pensa que o mundo é apenas isso sem capricho, nega o que os seus olhos dizem por acreditar que existe distinção entre razão e sentidos, mas quero que saiba que a única diferença entre eles é as pobres estruturas fonéticas, ou melhor, palavras simbólicas. Tudo ou nada é apenas uma coisa, não separe o que não existe, é falta de cultura natural pensar que existe pluralidade. Então nunca ignore Aristóteles por ele ter tudo separado, pois fazendo isso você estará cometendo o mesmo engano. Quem sou para dizer o que é certo? Eu sou a aurora de todos os fenômenos, sou o caminho, a verdade e a vida, sou a luz das estrelas, eu sou cor do luar, eu sou você. Quem sabe posso está errado, mas pode me dizer alguém que esteja certo? Como o grilo que canta e pula para não ser devorado, assim sou eu um simples mortal que dúvida da morte e lisonjeia a vida decretando ela como a única força existente que não cria tudo, pois ela é tudo. O amor que sinto por ti é o mesmo que sinto pelo espelho, não tenho vergonha e muito menos valores, que me empeçam de se ajoelhar diante de ti e lavar seus pés como se lavando os meus próprios. Conheço tudo sobre a simetria complexa dos opostos. De seu andarilho unificado e amante da Noite Thace Pahazy Filibuster. 282 - Estranho, - falou Márcia – essa carta é de Thace para Atenas. - Talvez seja uma carta final. – concluiu Michael. - Como carta final? – perguntou Rose. - Sim, uma carta que seria enviada por Thace dentro da lógica que seria montada. - É. – comentou Rose. A idéia parece que vira rotina. Novamente os quatro vão para a igreja. Motivo: falar com Leucipo. Propósito: descobrir o fim do livro “Vida?”. Tudo novamente recapitulado. Agora porém mais simples. Já sabem onde fica. Já sabem o procedimento. Apartamento fechado. Pés na estrada. Chegando no beco. Cautelas com tudo. Checam as pilhas da lanterna. E, assim feito, os quatro elementos se dirigem para o túnel. Escuridão sob igreja, estreita calçada isolada. Umidade. Atenção. Tudo igual. Lá no fundo uma luz. Luz de vela. Leucipo já os aguardava. Estava ciente de que ali voltariam: “leram rápido, no mesmo dia”. Essa noite estava escura demais. Já quase no fim do dia cronológico. Curiosidade é fogo. Por que não esperaram até o outro dia? Não sabem. Não sei. Leucipo de Minas estava lendo. Eles chegaram e se sentaram onde já hoje haviam sentado. Leucipo olha misticamente. Eles cautelosamente. Rose alimenta a intenção de Leucipo. Márcia admira a biblioteca rara do velho. Marcos olha para o nada. Michael tenta classificar a etnia do escritor. Leucipo se levanta, fecha o livro e o coloca na estante. Eles admiram o velho. Lógico que iria ocorrer uma pergunta. Isso é super provável num lugar onde se encontra jovens curiosos e um velho misterioso. A linguagem se apresenta como a fonte da vida. Colocam concepções extremas. Desfiguram o sentido da síntese. Forma de expressão malandra minha. Para não deformar mais. Conceba a pergunta que surge da vontade. Sim, uma 283 vontade inexplicável. A mesma vontade que faz uma aranha tecer sua teia. Que faz Schopenhauer, Nietzsche e Empédocles pensarem para o infinito. Uma vontade que estrutura fonemas, palavras e frases, na busca inacessível duma idéia. Veja essa, que Márcia mandou para Leucipo: - Você tem o fim do livro? - Tenho. – respondeu Leucipo. - Onde está? – perguntou Rose. - No além. – falou o escritor. - Além? - No além das palavras, - completou Leucipo – no além das condutas. - Condutas de Halford? – perguntou Michael. - Não, nas condutas da pena. - Pena? – perguntou Marcos – na pena igual a caneta? - Sim. – respondeu Leucipo, sempre misterioso com sua túnica de mago. Leucipo abre um velho mapa mundi. Rabiscado com uma tinta vermelha. “Talvez possa ser a rota secreta” pensou Márcia. Ela pode estar certa. Uma linha que contorna a África, entra na Europa chega na Grécia, passa pela Ásia, vai ao sul da Índia, atravessa o oceano Indico e contorna a Austrália, segue pequenas ilhas, corta a China, passa no norte da Rússia, atravessa o canal, chega no Alasca, rumo ao sul passa pelos países Norte Americanos, atravessa a América Central, e segue uma linha reta para o sul do Brasil, cortando Colômbia e a Amazônia, termina no litoral do estado do Paraná no Brasil. Os olhos deles se chocam com aquilo. Márcia se levante e de perto examina o mapa. Leucipo diz: - Eis a rota secreta. Todos se olham como se estivessem exclamando um “ó” intenso. Uma rota que leva a um tesouro. Perante eles o sonho do status social. Márcia pergunta: - Thace existiu? 284 - Deus existiu? – perguntou Leucipo respondendo. Talvez. – respondeu Márcia. Thace é Deus, acredita quem quer. – falou Leucipo. Eu acredito, - falou Rose – sei que Thace existiu, mas como terminou sua vida? - Não terminou. – respondeu Leucipo. - Não. – disseram juntos. Leucipo coloca o mapa na mesa. Pega um lampião e manda-os seguir. Ele caminha lentamente, puxando uma perna. Os jovens os seguem em fila e em silêncio. O mistério é gigante. Ele começa a leva-los para um estreito corredor. Lá começa uma escadaria. Degrau por degrau. Sobem eles todos. Símbolos antigos grafados na parede. Duas chaves em x. Lembra o vaticano. Um cajado entre o Alfa e o Omega. Símbolos da igreja católica. Leucipo ergue a portinha sobre sua cabeça. Estão dentro da igreja. Tudo escuro. Lá no fundo duas velas queimam fé. O tapete é recolocado no local, para esconder a portinha. Leucipo se senta no banco da primeira fila, numa capela de um santo. Os jovens sentam no chão, na frente de Leucipo. A pouca luz deixa um ar carregado e ao mesmo tempo sutil. Leucipo começa a falar: - Thace terminou o encontro com Atenas, após aprender tudo sobre a filosofia grega. Com outras concepções de vida, começa a descartar a idéia de unificação do universo. - Por que? – perguntou Márcia. - Ele deixou de acreditar no intuitivo, passou a ser racional, absorveu a cultura ocidental de pensar. - Aquela cultura cartesiana? – perguntou Michael. - Sim, cartesiana e newtoniana, mas antes de Descartes, Newton e Galileu essa idéia metódica da vida era decretada por Aristóteles, porém não devemos se precipitar dizendo que ele começou o engavetamento da vida. - Por quê? – perguntou Marcos. 285 - - - - - - Porque a história real, não é a história escrita e inventada por esse sistema, a história real, deixa no obscuro toda a sua essência. Mas Thace não ficou nessa concepção aristotélica, ele se apaixonou pelo cinismo de Diógenes, se identificou, gostou da razão de Zenon que abusava da certeza de Leucipo e Demócrito. Leucipo, esse é seu nome ou seu apelido? – perguntou Rose. É meu pseudômio, gosto da coragem dogmática desse homem, ele acreditou e pronto, não deu ouvidos para o “ad infinitum” de Zenon de Eléia. Com essas idéias na cabeça, Thace parte para o conhecimento asiático. Conhece a fundo o cristianismo e o islamismo. Desculpe Leucipo, - interrompeu Márcia com uma pergunta – sei que estou indo além do que devia, mas como é que Thace saiu do sul da Índia e conheceu a Austrália? Não tem problema, vou até esse ponto direto, depois dele conhecer a cultura asiática ele conhece a cultura oriental, admira profundamente a idéia do “yin-yang” um equilíbrio entre o conhecimento intuitivo e racional, ele começa a dominar a unificação de forma racional, anotando toda a sua experiência no seu caderno. Depois de conhecer isso, ele por acaso encontra Thunder Waves na Índia, que reconhece Thace e o embarca no seu império flutuante. Lembro que antes da batalha no oceano Atlântico, Halford escreve uma carta para que Thunder Waves entregue para Thace, isso ocorreu? – perguntou Rose. Sim, Thace recebe a carta de Thunder Waves, mas só depois que pisa no Alaska para seguir viagem sozinho, antes disso, Thace ajudou na pesca e caça de animais, pois Thunder Waves fazia fortuna com as 286 - - - - - peles dos animais da Sibéria, quando voltava para os países europeus. Já entendi, mas agora você pode me dizer o que estava escrito na carta que Thace leu já na América? – perguntou Marcos. A carta falava para Thace seguir para o novo mundo, Halford era mago, sabia do futuro, sabia todas as circunstâncias que Thace passaria, sabia que iria ler a carta na América, então na carta dizia para ele encontrar o sul do novo continente, pois lá ele estaria o esperando. Mas ele estava? – perguntou Márcia olhando a vela do altar se apagar. Sim, ele guiou Thace por todos os caminhos corretos. Thace conheceu índios norte-americanos os astecas e tribos canibais peruanas, colombianas e amazônicas, lógico que essas nações na época não eram nações, mas é só para um localização geográfica. E quando que chegou no final da rota secreta? – perguntou Michael. Foi tudo assim: Thace com 115 anos encontra-se com seu pai Halford, numa velha cabana no pé da hoje conhecida Serra do Mar, precisamente perto do pico do Paraná, cercado pela conservada e inexplorada mata atlântica. Halford estava muito velho, não é? – perguntou Rose. É, ele estava com 139 anos, eles viveram juntos ali até a morte de Halford, porém antes disso ocorrer, o pai de Thace lhe mostrou segredos da magia, e entregou o mapa onde estava todo o tesouro que ele havia conquistado na vida. Era ouro? – perguntou Marcos. Ninguém sabe, só sei que o mapa apontava para um local conhecido hoje como o Espigão do Feiticeiro, foi justamente nesse local que Thace morreu, e como 287 - - - - - andava influenciado pelos ensinamentos do pai, também estava vestido de mago, é por isso talvez o nome do espigão. Mas o que aconteceu com o tesouro? – interrogou Michael. Foi aí o motivo da morte de Thace, ele foi morto por um homem conhecido como pirata Zulmiro, era jovem na época, ele matou Thace para pegar o mapa e encontrar o tesouro. Zulmiro encontrou? – perguntou Rose. Sim, ele encontrou, mas como não conseguiu levar tudo, pegou apenas coisas de valores sociais, talvez ouro e pedras preciosas, mas as coisas pessoais de Halford ainda estão enterradas lá. E o que seriam essas coisas? – perguntou Márcia. Livros e ensinamentos de magia, talvez todo o conhecimento que ele investiu na vida. Já Zulmiro carregou seu tesouro e enterrou em qualquer lugar, do Paraná, ninguém sabe onde, mas muitos conhecem ele como uma lenda, talvez por isso que nunca acharão. É no Paraná que fica a cidade do sábio da moeda e de Luiz? – perguntou Rose. Sim, o sábio da moeda ainda é o guardião do tesouro, mas não o tesouro que Zulmiro levou, mas sim o tesouro que ele deixou, o corpo de Thace está enterrado junto com o tesouro, e o de Halford está onde ele adorava estar, no Pico do Paraná. Tem alguma influência o escolha da sociedade secreta ter escolhido Luiz como escritor? – perguntou Rose – seria por que ele mora no estado? Justamente, Luiz conhece bem o território onde está enterrado o tesouro, ele estuda geografia, é por isso que a escolha do sábio da moeda foiprecisa. O sábio da moeda ainda está vivo, ou está só sua influência psíquica como guardião? – perguntou Michael. 288 - Ele ainda vive, só vai morrer quando alguém for encontrar o tesouro, mas ele não vive só no corpo humano, ele não é só o corpo humano, a filosofia sobre a magia de Halford, fez ele compreender o brama oriental, e saber que tudo é ele. - Até que ponto esse livro é verdade e até que ponto é ficção? – perguntou Márcia. - Até o ponto onde você quiser. – respondeu Leucipo que se levanta e vai em direção a porta de entrada da igreja. Leucipo conta e termina seu livro “Vida?”. No bolso uma grande chave. Porta aberta. Visita indo embora. Sem nenhuma palavra Leucipo fecha a porta da Igreja. Lá fora os quatro sentem o frio da madrugada. Pensando eles vão em silêncio. Dorme umas horas e já levantam. Um novo sol. Um novo dia. Rotinas retomadas. Acabou o feriado. Todos na ativa. Márcia lecionando filosofia num colégio particular. Marcos trabalhando com processos jurídicos. Rose terminando sua Pós em mitologia. Michael na rua trabalhando na observação de movimentos culturais, entre Punks. Tudo termina assim. Normal. Paula após alguns dias na mata. É encontrada desesperada por alguns ambientalistas. Ela havia transmitido um certo vírus que matou a índia da língua morta. Paula Palavra volta para Belo Horizonte depois das pesquisas. Eles trocam as experiências. Paula fala da aventura ousada para Michael. Ele fica irritado, mas logo se interessa pelo assunto. Paula desenvolve um ótimo relatório com a índia. Descreve sua língua em alguns trechos. Dificilmente terá uma raiz precisa tal língua, mas isso já ajuda um monte. Agora acho que já terminei. Esse livro é um relato da vida real. Tudo isso de fato ocorreu. Lógico que só o meu livro, não o livro intrometido. Esse pouco eu sei. Leucipo é apenas um personagem escritor, mas um personagem que existe. Escreveu um livro que existe. Mas se escreveu coisas que existem, eu não sei. Aposto 289 que já sabe o fim, ou melhor, a resposta do título. É só relacionar. Obrigado por sua leitura, caro leitor geral. Aqui termino meu livro. Nesses pontos... Ariston fecha o livro que acaba de escrever. Passa alguns dias digitando e corrigindo. E, leva para uma gráfica local. Já na gráfica manda fazer cinco cópias. Ele está ansioso, pensa que seus amigos vão gostar do livro. Como ele disse essa história de fato ocorreu. Um dia depois de pronta as cópias. Ariston do Verbo atravessa a rua e entra no prédio da frente. Nesse prédio está o apartamento de Márcia. Como você sabe, Márcia mora com três amigos: Marcos, Michael e Rose. A Paula Palavra (seu apelido é Palavra por ser uma lingüista) mora no apartamento de cima. Ariston bate a campainha e Rose atende. Depois dos cumprimentos e explicações, Ariston toma um café com todos. Nessa hora todos estão lá. Cada um ganhou um livro. Eles examinaram e perguntaram para Ariston do que se tratava. Ele sem demora responde: - Lembram do livro de Leucipo? - Leucipo? – perguntou Rose. - Sim, aquele velho da igreja, que a gente leu o seu livro. - Ah... – disse Rose – nossa isso já faz uns cinco anos. - É, - falou Ariston – eu resolvi escrever algo sobre ele. - Você copio? Perguntou Marcos. - Não, - respondeu Ariston – eu só quis faze-lo existir, como ele não tinha fim, resolvi escrever junto a história nossa, as experiências de Paula e tudo o que se passou entre nós e Leucipo. - Mas parece que o livro dele está aqui. – disse Michael folheando algumas páginas. - Sim, - disse Ariston – ele está por completo, cada palavra dele está aí. - O homem criou a palavra ou a palavra criou o homem? Que título é esse Ariston? – perguntou Márcia. 290 - Eu gosto de etimologia, - respondeu Ariston – gosto de ver a fraqueza dessa ciência. - Você pretende publicar? – perguntou Marcos. - Talvez, - respondeu Ariston – mas antes devo mostrar para Paula e Leucipo. - Então vamos. – disse Márcia comendo o último pedaço de pão. Leucipo ainda está vivo. Ele recebe os quase já esquecidos amigos. Todos estão lá sob a igreja: Márcia, Marcos, Michael, Rose, Paula, Ariston e Leucipo. Conversam um pouco sobre o passado. Lembram de como foi a vida de Thace. Mas algo surge. Michael que há muito fuçava o livro de Ariston, repara que o nome do amigo não consta na história. Pois na verdade, todos estavam no dia em que Leucipo revelou o final do livro “Vida?” para eles, inclusive Ariston. Ariston diz que não precisava aparecer na história, pois precisava não narrar em primeira pessoa. Eles se entendem e voltam para suas casas. Leucipo fica com uma cópia. Ele vai ler e dar a resposta sobre a questão da publicação de seus testos. Ariston volta pensativo para sua pensão. Sei que de alguma forma ele pressente minha existência. Às vezes olha para cima em busca de seu escritor. Ele sabe que não passa de simples palavras. Sabe que basta não escreve-lo para ele morrer. Teme por esse dia. Ele é o único que imagina isso. Os outros nem notam essa idéia. Me classificam como deus, e vão rezar na igreja. Sujeitos assim são como exemplo, o garçom do Pãobão, de Márcia, de Marcos, Rose, Michael, Paula e Leucipo, lógico que eles me moldam diferente. São intelectuais. Uns são egocêntricos, se acham os inventores do mundo, outros me representam como uma força, exemplo disso é Leucipo. Eu sou a escritor geral. Eu sou o Homem Palavra. Ariston senta-se numa velha cadeira. Sua vida é melancólica, como uma vida de escritor sonhador. Usa 291 uns óculos fortes e lê sobre coisas gigantes. Coisas inteligentes, nada de aventurinhas oníricas européias. Coisas como filosofia pesada. Você já conhece um pouco dele. Tem em mãos um livro de sua autoria. Ele não suporta sorrisos falsos. Queima quando pode os livros de auto-ajuda. Pensa que o homem não é algo para ser ajudado. Pensa que ninguém está em perigo, para tal evento. Seu pequeno quarto é sua casa toda. Ganha um dinheiro do governo por aposentadoria precoce. Tem problema no joelho. É um pensador, mora sozinho. Nunca quis fazer uma família, pensa que isso só dá dor de cabeça. Já amou, mas nunca demonstrou para sua amada. Diz que amar sem ter é uma fonte de energia para escrever. Diz que mulher é fácil, basta pagar quando deseja. Assim leva a vida o nosso Ariston. Já fazem duas semanas que as cópias do seu livro foram entregues para seus amigos. Ele está ansioso para saber a resposta. Então sai de sua casa, onde existem idéias rabiscadas em todo o lugar. Gráficos sobre a tendência da cultura mundial mostrando o ponto de mutação estão enfeitando a porta. Já no teto do quarto, títulos de reportagens importantes estão colados. Vários livros e testos pelo chão. Ariston é um grande autodidata, nunca pisou numa faculdade por ter um forte sentido crítico anarquista. Lá está ele, no apartamento dos amigos. Recebe as críticas e assume a responsabilidade da publicação. Leucipo também gosta do livro. Falta pouco para o livro “O homem criou a palavra ou a palavra criou o homem?” ser publicado. Na verdade falta só a sua idéia. Ele não soube responder quando Marcos lhe perguntou sobre mim no livro. Não sabia donde provinha aquelas idéias malucas. Mesmo assim não teve muitos problemas com isso, mas passou aquela noite toda pensando sobre o “Homem Palavra” que surgia de forma inconsciente em seu livro e da concepção de leitor geral e escritor geral. 292 Hoje eu resolvi pirar. Vi que meu livro já estava sem assunto. Depois de criar um homem chamado Ariston do Verbo, que criou um livro onde existia vários personagens que depois iram se relacionar com ele, pelo motivo do surgimento de um outro livro de um sujeito chamado Leucipo de Minas. Decidi criar algo grande. Como você já sabe. Esse livro é de minha autoria, é como o projeto de Luther Blissett, que eu já falei algo nesse livro. Eu sou o Homem Palavra e os outros são minhas outras personalidades, porém cada um com seu nome. Ariston estava acordando quando resolveu sonhar mais um pouco. Ele estava numa praia deserta onde no mar existia uma ilha com um grande castelo em seu cume. Ele presenciou o surgimento da estrada que liga a praia e a ilha. Essa estrada está sob a água do mar, só surge quando a maré está em seu nível mais baixo do ano. Ele acorda repentinamente com os gritos da vizinha que espancava seu filho (aplicando o método tradicional de educação). Então quando levanta de sua cama avista um papel no chão. Esse papel é uma carta que eu escrevi e lhe enviei pelo correio. Nesse papel está escrito onde e quando a estrada estará à tona, para que todos possam ir ao castelo. Ariston lê e logo relaciona com o sonho. Lembra que não estava sozinho. Junto com ele estava: Márcia, Marcos, Michael, Rose, Paula e Leucipo. Lê o local e não acredita. Litoral paranaense, mais precisamente onde está o tesouro de Thace e Halford no livro de Leucipo. Não perde tempo, e logo vai atrás dos amigos, com o papel na mão. Juro que pensei em criar um ambiente todo real. Pensei em tratar dos efeitos psíco-sociais dos amigos. Criar algo como sentimentos do cotidiano: “nossa que legal Ariston, pena que eu não posso ficar brincando de caça ao tesouro contigo, tenho que trabalhar”. Ou melhor ainda: “Márcia ficou pensando em sua vida, sentiu que 293 Ariston trazia uma aventura que nunca mais iria viver, mas sabia que não poderia deixar tudo o que criou para ir atrás de um sonho”. Mas não tive paciência nessas frescuras. Então quando Ariston chegou com a proposta de todos irem para o Paraná, na busca do castelo e do tesouro todos aceitaram no ato. Até o velhinho do Leucipo deixou sua igreja. Sem preocupações, pois isso aqui é delírio, não precisa de sentido. Parece brincadeira, mas lá estavam todos rumo ao litoral paranaense. Numa Kombi velha com Leucipo na boléia, que de uma forma exuberante conseguia tremer mais do que a Kombi. Parecia que o velho e a carruagem, ou melhor, o automóvel, estavam num ataque epilético coletivo. A Kombi era de Michael, era a sua locomoção entre as tribos hip e punk. Mas como já não tinha mais carteira para receber multas, Leucipo usa sua velha carteira. Depois de dois dias de viagem com a Kombosa. Chegaram os intelectuais mineiros no litoral paranaense. Nossa! Que choque cultural, lá o queijinho e já aqui biquínis de tricô, com as cores da Jamaica. Deixando esses lados, vamos para o motivo. Ariston procura um meio de chegar até o Espigão do Feiticeiro. Depois de andarem que nem doidos pela Ilha do Mel, descobriram que se tratava da Ilha do Mel, e não do Espigão. Resolvem subirem nas balsas e voltarem para Pontal. Logo descobrem que é impossível ser ali o lugar do sonho de Ariston. Porém Ariston não desiste, resolve tracar a Kombi de Michael por um barco a remo. Com a ajuda de um livro de Reinhard Maack e seis horas de remada, chegam no Espigão do Feiticeiro. Um lugar bem nada a ver, um monte de mato e bicho. Sem praia, sem mulheres. Porém Ariston está convencido que existe a tal ilha do castelo, e que em dois dias ocorreria o surgimento da estrada. Depois de esperarem os dois dias, todos exceto Ariston, queriam espancar Ariston. Como vi que as 294 coisas iriam ficar barra pesada, resolvi ajudar meu amigo. Eu mandei uma super lancha para eles. Na boléia estava o capitão gancho, Leucipo como é um louco já se imaginou o Peter Pan. Antes de eu partir para o próximo parágrafo, quero que não ligue para a palavra “depois” no começo dos últimos três, é que estou com problema nas palavras mentalética. Parecia a revolução russa. Um monte de velho barbudo: Leucipo e o Capitão Gancho. Numa lancha super fodona, com dentes postiços enfrentando o vento da galera radical. Depois de andarem um monte, eles chegam numa ilha gigante, em algum lugar do oceano Atlântico. A lancha com o Capitão Gancho volta para o continente. Ilha deserta, agora igual ao sonho. Ariston sente-se mais aliviado. Não vou me preocupar como eles sobreviveram na questão biológica. Podem ter pescado e caçado uns bichos bizarros. O que vou me preocupar e com a baixa maré. Ariston encontra a ilha com o castelo. Agora basta esperar a estrada surgir. Ela surge do mar. É igual ao sonho. Uma estrada estreita e cheia de corais. Lá estão: Márcia, Rose, Michael, Marcos, Leucipo, Paula e Ariston. Andando na estrada que da aceso ao meu castelo. Um castelo colosso. Onde eu governo. A maré novamente sobe. Agora só daqui um ano para eles saírem daqui. Estou feliz. Meus bonecos estão me visitando. Agora terão que entrar no meu jogo. No meu universo. Entre meus assuntos. Isso se eles quiserem a liberdade e a vida. Estou escutando eles bateram na porta lá embaixo. Vou atender e recebe-los. Uma narração louca de nova pode surgir. Eu abri a porta do meu castelo. Eles me olharam assustados. Ariston conheceu a fisionomia de seu escritor ou criador. Os outros não sabiam que tipo de louco eu era. Com educação eu os convidei a entrarem, sabendo que poderiam ler esse livro. Se isso ocorresse 295 seria a maior catástrofe do universo. Todos são palavras e se eles lessem suas essências cairiam numa tautologia irreversível. Então tomei cuidado. Rose olhava admirada para minhas artes. Gostou do quatro onde Píramo e Tibes estavam mortos sob a sombra da amoreira de frutos cor de sangue. Olhou uma estátua de uma das Erínias, reconheceu as serpentes sobre sua cabeça, notou o aspecto amedrontado e, relacionou as serpentes com a sabedoria. Um homem sábio é um homem amedrontado. Isso segundo a raiz de todo a conhecimento ocidental, isto é, a mitologia grega. Todos permaneciam em silêncio, eu notei isso. Sabiam ou obscuramente pressentiam que estavam na casa de seu Deus. Não sou um ser narcisico, mas na real eu sou o criador desses seres que agora estão em meu castelo. Você só existe através da linguagem. A linguagem é o modo de ser. Nisso surge dúvidas em Paula, que me pergunta: - Parece que o senhor da ênfase na comunicação. Vejo isso na relação que cada estátua tem com a outra, como aquele centauro – apontando com o dedo continua – que olha fixamente para os versos mudos de Apolo, mas se o indivíduo não tivesse sentidos, como se comunicaria. - Não existem sentidos, só existem possibilidades, você não sente o frio, você é o frio – falo eu – como você não escuta a palavra, você é a palavra. - Não entendi. – disse Rose. - Não se entende, só se pensa, - respondi – o que é variável é a possibilidade de ser, mas você sempre é, independente das possibilidades. - Que sentido tem essas possibilidades? – perguntou Ariston. - Você tem a possibilidade de ser uma árvore e, você tem a possibilidade de não ser uma árvore, respondi buscando melhorar o meu entendimento – 296 tudo depende de você, só existe o seu universo, se algum dia existiu uma árvore pra você, você é essa árvore, caso nunca tenha existido uma árvore, você não é essa árvore, pois essa árvore não existe. - Acho que estou entendendo, - disse Márcia – se eu consigo ver uma árvore ela existe no universo, mas se eu nascer sega ela nunca existirá. - Sim, - disse eu – mas nunca fale que você vê uma árvore, você é aquela árvore, você tem a possibilidade de ser aquela árvore. Não pense que essa parte seja um pós-escrito. O jogo ainda nem começou. Pra melhorar o entendimento aconteceu algo. Todos estavam pensando loucamente sobre tudo que falamos sobre os sentidos. Até que Leucipo olhou uma estátua no meu castelo. Essa estátua era uma cobra mordendo seu próprio rabo, com uma palavra gravada na base: “cicluno”. Vendo isso ele me perguntou: - Isso significa a invenção do anel benzeno? - Não, - respondi – isso é o símbolo duma idéia. - Que idéia? – perguntou Michael. - Uma idéia que há muito tempo perturba a mente dos filósofos, eu apenas resumi essa idéia, que estava entre muitas palavras e coloquei-a na palavra cicluno. - O que é cicluno? – perguntou Paula. - Cicluno vem de ciclo e de uno, eu defino cicluno como: tentativa inútil de entender uma coisa através da mesma coisa. - Ah... – exclamou Marcos – é por isso que a cobra come seu rabo, ela quer entender a si própria, é isso? - Sim, - respondi – é igual a querer o olhar os seus olhos. - Mas num espelho eu vejo. – disse Rose. - Falou certo, - disse eu – num espelho, você está olhando um espelho e não seus olhos. 297 - É, - disse Ariston dirigindo a palavra para seus amigos – lembram quando certa vez vocês falamos sobre o local sem relação, que eu relatei no meu livro? - Sim, - falou Márcia – é no brama, é onde não existe comunicação com nada, onde as palavras não podem tocar. - Eu estou escrevendo um livro – falo eu – chama-se Homem Palavra, nesse livro eu tento explicar um mundo sem as palavras, mas já sei que não vou conseguir. - Homem Palavra, já ouvi falar, - disse Ariston – acho que escrevi esse nome no meu livro em partes que fiz bêbado. - Mas por que acha que não vai conseguir? – perguntou Paula curiosa sobre o assunto. - Faz de conta que você descobriu o mundo sem as palavras, - disse eu – mas vai explicar isso como? Sem palavras? - Nossa! – disse perplexa Márcia – nunca havia pensado nisso, então você está no lugar sem relação. - Desculpa Márcia, - falo eu – não quero atritos, mas um lugar sem relação é impossível, pois se existe um lugar é porque tem o seu lugar, logo esse lugar tem com quem se relacionar, prefiro dizer que isso leva o pensamento no cicluno. - Concordo, - disse Márcia – você tem razão, cicluno é a melhor idéia. Síntese: enquanto você buscar um mundo sem palavras através de palavras, não vai conseguir. Explicar a linguagem sem a linguagem é igual querer percorrer um caminho sem andar. Depois desses assuntos dilatórios. Eles se sentiram em casa. Marcos sentou-se no meu sofá. Michael ficou a examinar a cabeça de um homem, pendurada na parede, ela estava bem pequena, pois consegui numa 298 tribo peruana, que diminuía através de ervas as cabeças dos inimigos. Rose sentou no meu tapete. Márcia folheava com curiosidade um livro que estava sobre a mesinha central. Paula viajava na mitologia através de minhas estátuas. Leucipo me olhava assustado, como se estivesse se vendo em outra dimensão. Mesmo caso estava ocorrendo com Ariston. De certa forma eu sabia que eles pressentiam o meu papel perante suas vidas, pois eles também eram escritores, também eram deuses, portanto. Eles estavam ali, todos vivendo sob minha ordem, mas nem desconfiavam seriamente. Pensei muito nesse foco. Tinha medo de lhes revelar a verdade e eles saírem correndo ou me decretarem louco. Porém não temi mais, quando percebi a idéia de poder. Eu os tenho na mão. Possa governa-los e tentar uma solução amigável. Não perdi mais tempo e logo lhes falei: - Vocês devem estar se perguntando o por quê de estarem aqui. - Pode ser. – disse Michael mais calmo e com mais intimidade. - Vocês lembram da palavra mentalética. – perguntei. - Ai meu deus! – disse Rose assustada – só pode ser bruxaria, como que você sabe disso? Se você nunca nos viu e nunca leu o livro de Ariston. - Não seja infantil Rose, - lhe disse – como que você acha que veio parar aqui? Eu fiz a cabeça de Ariston, que fez a cabeça de vocês, vocês são minhas invenções. - Isso é o cúmulo do egocentrismo – disse Márcia – você só pode ser doente. - Márcia, Márcia... – falei – você é tão inteligente, tem que admitir isso, você é uma criação minha, não foi vocês que criaram a palavra mentalética fui eu, não foi Ariston que criou o livro “O homem criou a palavra ou a palavra criou a homem” fui eu, vocês estão dentro daquele livro que eu lhes falei o 299 “Homem Palavra” isso é a verdade, vocês acreditando ou não. - Mas se eu sou palavras num livro, - disse Márcia – como que eu posso pensar o que quero e dizer o que quero, derrubar o que quero e tudo mais? - Você não faz isso porque quer – disse eu – faz isso porque eu quero, você já existe, tudo já existe, você só está conhecendo nada mais. - Você é louco, - disse Michael – é um velho lazarento e fedorento, um porco metido a deus. - Não adianta Michael, - disse eu – tudo isso que você falou foi eu quem criei, para dar humor no assunto, não adianta querer pensar sobre isso, tudo que você pensar foi eu quem criei. - Cala boca seu filho da puta... – disse irado Michael – eu quem comando o que faço e digo, se eu quiser, eu acabo com você, e só um louco vai querer que seu brinquedo lhe machuque. - É isso Michael, - falo eu – tudo que acabou de dizer serviu para mim parar com esse assunto, se não quiser me machucar, pois quero que vocês pensem livres, é por isso que lhes dei tal concepção de liberdade, mas vocês ainda continuam presos. - Agora você me paga, - gritou Michael atingindo-me um soco na boca – isso prova que você não me manda. – disse ele sendo segurado por seus amigos. Eu criei essa cena para realmente os personagens pensarem que são independentes. Isso serve para dar um toque de fascínio realista. É o preço que o escritor tem que pagar, pois ainda está doendo o tal do soco. Depois de tudo isso, eu criei um ambiente amigável no castelo. Não poderia continuar a execução de meus planos com a raiva de meus amigos. Foi como se todos tivessem sofrido um apagamento de memória. Ninguém mais ali no castelo se lembrava do fato que ocorreu há pouco, exceto eu. 300 Tudo estava como eu queria. Num aposento do meu castelo existe uma gigante mesa. Uma mesa redonda, bem grande. No centro da mesa um desenho dum símbolo oriental o yin-yang. Significa o equilíbrio dos ditos opostos. Mas antes de seguir, quero que volte um pouco e lembre do fato da briga. Note que Ariston e Leucipo não se pronunciaram em nenhum momento, talvez eu não tenha conseguido apagar o fato de suas personalidades, mas sim despertado a certeza duma vida verbal. Palavra em grego é logos, que era concebido por eles como deus ou fonte das idéias. Agora entenda o porquê da não existência das idéias sem as palavras. Ignore o prematuro sub título desse livro, foi apenas uma comparação com a obra prima do mestre James Joyce, nada mais. Nessa minha mesa estão agora sentados os seguintes: Márcia (filósofa), Rose (historiadora), Marcos (advogado), Michael (antropólogo), Paula (lingüista), Ariston (escritor), Leucipo (escritor) e Homem Palavra (deus) que seria eu. Ao redor de todos existem paredes, paredes de livros. É a maior biblioteca do universo. Aqui existem livros que ainda nem foram escritos. Eu tenho a coleção completa. Não existe um livro no mundo que eu não tenha uma cópia. Caso exista, mande-me um de prova, assim eu sempre terei todos. Não existe lugar privilegiado numa mesa redonda. Todos são os principais no assunto. Vendo que todos estavam em silêncio eu abri um pequeno saco que carrego na cintura, dele retirei uma pequena bola. Era semelhante a uma bolinha de gude, mas brilhava como uma estrela. Eu a impulsionei lentamente, para que sobre a mesa rolasse até Paula. Ela pegou cautelosamente, com medo de estar quente, mas a bolinha era fria como gelo. Todos ficaram admirados com aquilo, não sabiam do que se tratava, então eu falei: 301 - Isso caros amigos, é um macro-micro-universo. O que? – disseram espantados. É como se um átomo fosse aumentado consideravelmente, - falei – aponto de se poder ver o que há dentro dele. - Mas, - falou Márcia – dentro dum átomo existem mais átomos, infinitamente. - Sim, - falei eu – lógico, você está certa, mas é melhor falar que dentro dum universo existem mais universos. Eles ficaram pensando e olhando aquela maravilha. Uma maravilha que apenas a fonte de tudo pode criar, isto é, a linguagem, isto é, no seu caso que pode ler isso que aqui jaz, a palavra, ela é a única que tudo pode. Enquanto olhavam Ariston pensava: “eu cairia num cicluno fatal se continuasse tentando entender o que se passava na cabeça daquela índia sem língua, é sem língua, pois só existe língua quando se pode usala, ela não precisava pensar, pois não precisaria explicar nenhuma idéia para ninguém,” Ariston entendeu o meu cicluno. O cicluno deixou Nietzsche louco, ele é a maior ferramenta da natureza para impedir que dominem sua essência. O homem jamais vai dominar a natureza, pois para isso terá que entender a essência dela, isto é, entender sua própria essência, terá que derrotar o mais temível de todas as idéias, o cicluno. Não insista se não quiser terminar como Nietzsche. Ele foi corajoso, mas não avançou nada dentro do cicluno. Depois que todos olharam a bolinha-universo, eu coloquei-a no centro da mesa, onde ela ficou a brilhar como o sol. Passou-se um tempo em silêncio. Logo chegou a necessidade de explicar-lhes o porquê de ali estarem sentados. Então comecei a introduzir o jogo que eu pretendia iniciar: - Márcia minha querida, você é filósofa e você tem uma auto-imagem disso? 302 - Sim. – respondeu ela. Então você sabe que o filósofo é o ser que move o conhecimento, o filósofo cria as questões, - disse eu refletindo a próxima palavra – as questões são criadas sobre a coisa que os não filósofos chamam de normal. Certo? - É. – respondeu Márcia pensando profundamente no que eu queria chegar. - Sem questões, sem movimento, sendo assim a ciência já saberia tudo, não precisaria conhecer mais nada e nada mudaria – falei – tudo chegaria num ponto de estagnação, o mundo almejado, isto é, a morte do conhecimento. - Legal, - disse Márcia – mas e daí? - Eu quero mostrar a força que o filósofo tem, respondi – quero dizer que todos dependem dele, se acabar o filósofo, acabará o homem. Todos ficaram pensando. Foi aí que eu notei que devia lançar a idéia. Quando um homem pensa é fácil colocar coisas em sua cabeça. Ele não se defende, pois todas as suas defesas estão resolvendo um outro problema. Então eu comecei a falar a lógica (talvez aristotélica holística) sobre o jogo que pode começar: - Assim Márcia como você tem uma auto-imagem de filósofa, Paula tem de lingüista e Michael de antropólogo... – disse eu tentando uma tática ousada – essa auto-imagem nada mais é, do que a famosa e já discutida identidade. - A identidade está hoje em fragmentos, - disse Michael – hoje você é uma pessoa em cada ambiente, sua auto-imagem é pluralizada. - Concordo, - falei eu – com sua idéia pósmodernidade, mas na essência disso tudo ainda reina a sua única identidade, o Michael antropólogo de punk. - Onde quer chegar, Homem Palavra? – perguntou-me o velho Leucipo. 303 - A identidade não tem capacidade de definir uma personalidade, - respondi – assim como uma palavra não tem a capacidade de definir seu significado, tudo está cercado de ecos, que são determinados por uma idéia coletiva. - Idéia coletiva? – perguntou-me Ariston. - É... idéia do coletivo, é a idéia que você não determina nada, que você é apenas mais um, inserido numa imaginária cultura, - respondi – o pior não é isso, mas saber que quem imagina a imaginária cultura é você. - Eu? – perguntou Rose – isso não é egocentrismo? - Não, essa idéia não passa dessa palavra, não tem como ser o centro de si próprio. - É verdade, - disse Márcia – isso que você falou é uma espécie de adaptação, que o pensamento iluminista pode usar para entrar no uno de Plotino, ou melhor, no brama dos orientais. - Certo, você entendeu Márcia. – disse eu quase satisfeito. Como sempre eles continuam pensando. E eu, logicamente também. Senti que ainda faltava algo. Faltava uma razão em tudo isso tratado. Comecei então a literalmente “pira o cabeção” joguei a idéia do jogo, dessa forma: - Amigos, vamos começar o que vem a ser o motivo de estarem aqui, a partir de agora, criaremos nossa própria auto-imagem, não seremos mais antropólogos, advogados... seremos o que nossa sociedade querer, aquela sociedade que moldou suas idéias já não existe, nós aqui seremos a sociedade que queremos. - Uma sociedade? – disse Márcia – mas não foi você mesmo que criticou a idéia do coletivo? - Sim fui eu, - disse eu – mas essa sociedade não tem a concepção coletiva, sua essência é reconhecida, ela parte donde surge o seu fim, é o cicluno. 304 - Cicluno? – falou Marcos – mas você disse que era perigoso se envolver com isso. - Não, - respondi – eu não disse que era perigoso se envolver com isso, eu disse que era perigoso entender isso, não podemos querer entender, temos que praticar, só isso. Todos estavam num agito só. Eles começaram a tentar compreender sem entender, foi um sufoco para acalma-los. Consegui só porque comecei a jogar. Avaliei a auto-imagem de Ariston. Falei que ele não era mais um escritor esquecido. Sua identidade era agora Dr. Ariston, o melhor escritor do momento, seu livro de maior fama era: “O Príncipe” onde ele põem um pseudômio conhecido como: “Maquiavel”. Ariston ficou surpreso com sua nova identidade. Se imaginou inteiramente como a autor desse livro. Assim fiz com todos. Cada um era o sucesso que almejava. Depois de todos estarem com suas novas identidades, ninguém mais via ou tratava Ariston como um pobre escritor, mas sim como o grande e respeitável escritor. Ninguém mais duvidava que Michael era o líder do pensamento anarquista, um dos maiores pensadores dessa idéia. Todos passaram a conceber Rose como uma poderosa bruxa, dominadora de forças ocultas. Marcos não era mais o sonolento advogado, mas um homem que conhece todos os segredos da mídia. Paula passou a ser praticamente a professora da comunicação, a mestre de Saussure e Derrida. Leucipo deixou de ter medo e passou a ser considerado de fato o mestre dos magos, o senhor da sabedoria de Pitágoras, sábio dos símbolos e mestre de Jung. E, depois de todos já terem suas novas identidades, eu criei minha auto-imagem, sou o guru da alquimia, tenho a pedra filosofal sou o único que tem. Mas ela não resolve nada, como diziam. Ela é o nada. Uma vez estruturada a idéia do jogo e decretada sob aceitação total as identidades. O jogo pode começar. 305 Ele não vai ficar apenas no meu castelo. Vamos aprender como abalar a estrutura de qualquer cultura. Esse jogo reina a imaginação, razão e fé. Sim a fé. Ela move a ciência, por que não mover o jogo? Eu tenho fé que sou um alquimista, ninguém pode dizer ao contrário, quem molda minha identidade sou eu e não a cultura, pois essa depende de mim, ela é eu. Eu tenho o controle do universo. Já dentro das concepções de nossa sociedade, eu perguntei para Paula, a grande lingüista do universo: - Você sabe o que sou? - Ora! – respondeu-me – o senhor Homem Palavra é o nosso alquimista. - É, - disse – você sabe, mas precisa saber que eu sou um alquimista diferente. - Diferente? – perguntou Rose. - Sou, - falei – eu sou um alquimista que não procura a pedra filosofal, eu já a tenho por completa e, ela está a brilhar bem na sua frente. - Você diz dessa estrelinha no meio da mesa? – perguntou Márcia. - Sim essa bolinha é minha pedra filosofal, - respondi – seu nome é linguagem, é a forma única de eu ter a vida eterna. - Linguagem? Vida eterna? – perguntou Márcia – como? - Depois do egocentrismo surge o logocentrismo, respondi eu – negar a linguagem é negar você, é negar a vida e conhecer o maior mistério de todos: a morte, que não passa de uma linguagem, não lute contra você, não negue você. - Não estou negando, - disse Márcia – só quero saber como a linguagem é sua pedra filosofal. - Entendi – respondi – você está com dúvida, tudo bem eu lhe ajudo, mas cuidado com as dúvidas, medos e descrenças nesse universo, pois aqui tudo depende disso não ser sentido. 306 - Eu sei, - disse Márcia – tenho que ter fé, é assim que funciona o jogo. - Certo, - falo eu – agora vamos fazer você tentar entender. A linguagem não é ponte, ela é o todo, sempre existe uma linguagem em tudo, ela é tudo, a linguagem é o controle do universo. Ela se faz por si, ninguém a criou. Dominar a linguagem é dominar a si próprio, ela é a forma de ser no mundo. Um vírus sem início nem fim. Ela se apresenta sozinha, assim como faz agora conosco. Ela se questiona e se responde. Eu sou a linguagem. É por ela que governo o tudo, a concebo como o real. O real é o que a linguagem determina. Nada é definido. A palavra não define a linguagem, ela é a linguagem, mas a linguagem não é a palavra. Eu sou a palavra. O rei. O deus. Eu sou o Homem Palavra. - Ah... – disse Márcia – agora entendi o porquê do logocentrismo surgir depois do egocentrismo. Eles ficaram admirando a nova forma de ver o mundo. Ariston já estava com um humor diferente, lia o seu livro (O Príncipe) e imaginava a importância política que tem. Leucipo já tentava arriscar uns truques, dizia que ela já conseguia entortar a colher de metal, não precisa de prova, então quando tentava entortar dizia pra todos que havia quebrado a colher, mas eu nunca vi ela entortar um pouquinho se quer. Num canto isolados Michael e Marcos planejavam algo. Imagine o que, pois só pode surgir uma subversão cultural, quando um anarquista e um guerrilheiro midiático se encontram. Eu os deixava na paz, pois sei que suas idéias serão de suma importância para os objetivos desse jogo. Paula olhava a minha pedra filosofal no centro da mesa, pensava no poder que ela tinha. Enquanto eu Márcia e Rose discutíamos sobre tudo. Assim foi o primeiro dia no castelo. 307 A primeira noite de sono no castelo. Eu não tive condições de dormir tranqüilamente, eu estava excitado com a idéia de ter dormindo em minha cabana (o castelo) os personagens do meu próprio livro. Levantei de minha cama, desci até os quartos de hospedes. Deixei o silêncio reinar, só para vê-los dormir. Imaginei o que sonhavam naquele momento. Pensei em mudar as coisas, mas resolvi deixar tudo em paz e ordem. Não quero que minha visão da linguagem se confunda com a visão da “Matrix” do filme. Isso aqui é diferente por instâncias, mas não pode ser fragmentada por verdade, mas só para entender a mentira que representa a verdade. O meu castelo é grande demais, existem corredores escuros e estreitos, como esse que agora trânsito. Você que me lê agora, deve estar pensando: “como ele pode estar agora andando num corredor, se ele teria que estar escrevendo?” você deve saber que tudo é a linguagem, ela está em tudo, seja no ato, seja no pensar. Ela é homogênea como a água. Lembra do livro de Leucipo? Thace soube disso, viveu isso, mas não soube de nada. Mesmo o Luiz que foi o escritor, só pressentiu a verdade. E Leucipo apenas cumpriu seu papel, sabia o tempo todo de sua função, mas nunca questionou. Foi assim que criei todo esse livro até agora. Você deve estar um pouco perdido(a), mas só se tiver uma visão mecanicista da vida. O homem não é dual, ele só é, nada mais. Fiz todo esse livro daqui desse castelo. E nesse momento todos dormem nele. Eu já terminei de percorrer aquele corredor estreito. Estou escrevendo o que você agora lê. Eu criei esses códigos, que agora invadem sua mente, criando universos determinados por mim. Ainda dúvida que eu sou deus? Eu não sou nada, não existo, me defino onde nada se define, sou a linguagem que envolve sua vida. Talvez você esteja lendo isso distraído(a), mas distraído(a) no que? Em que? Não adianta fugir, você 308 está onde eu quero. Se você está prestando atenção nisso, sou eu quem diz, mas sei que relaciona tudo isso que agora vivência com outras coisas que pensa que já viveu. Tira informações para compreender o que lhe passo. Estou em tudo, você é só um fator. Sua existência depende de mim. Não pensa que só os meus hospedes são minha invenção, você que agora me lê, também é minha invenção. Eu sou a linguagem, eu sou aqui o Homem Palavra. Eu sou o rei, mas não pense que sou o rei que Lacan diz: “o rei é um imbecil, pensa que é o poder, mas não passa da representação do poder.” Eu sou rei e não represento o poder, porque não existo, eu sou o poder, esse poder é a linguagem. E se você tem uma visão social e científica, digo que ainda não saiu da “fase do espelho” do Lacan. E, lembre que a metalinguagem é a porta para o cicluno, onde o formalismo é a porta para o sociologismo, que parte de princípios cartesianos, isto é, princípios que definem. Não defina, pressinta. Isso que foi escrito à pouco foi escrito ontem à noite. Hoje já lhe digo para não ter medo. Digo-lhe para não fazer como Michael fez. Não feche o livro, pois aqui jaz a verdade. Viva ela como todos. A manhã está linda, o café da manhã também. Como estamos em automar só existem alimentos marinhos. Meu castelo está numa ilha, lembra? Na mesa sentados e comendo. Isso é ação que descrevo nessa manhã. Todos estão tranqüilos, tanto Leucipo como Ariston já não apresentam uma cara de espanto comigo. E, os outros estão se sentindo em casa, se alimentam bem e brincam: - Ai vadia! - disse Michael para Márcia – vê se segura essa. – lançando com a colher uma porção de margarina no rosto dela. - Seu palhaço. – disse Márcia se limpando e atacando com um maço de atum. 309 Eles continuaram nessa alegria, correram na praia e conheceram toda a ilha. Mas no fim da tarde todos estavam sérios. Pois era a hora do jogo, jogo esse que nunca mais teria fim. Todos estavam na mesa. Como sempre no centro minha pedra filosofal reinava. Eu levantei e puxei da estante de livros, dois livros. Um o livro “Vida?” escrito por Leucipo de Minas, outro “O homem criou a palavra ou a palavra criou o homem?” escrito por Ariston do Verbo. Eles não notaram os livros. Pois se notassem poderiam acabar com a lógica do meu livro. Eu já os conhecia, mas dei apenas um check-up em alguns trechos. Depois os coloquei no lugar. Isso me levou a refletir sobre algo que eu não havia notado. Fiquei preocupado, jamais pensei que meus personagens pudessem expressar suas idéias, sem minha ciência. Havia testos obscuros no livro de Leucipo, onde percebi uma linguagem sob a linguagem, uma espécie de anagrama, percebi que também ocorreu com Ariston, talvez sob influência de Leucipo. Numa parte as letras ficaram maiúsculas, transmitindo ou infiltrando na mente do leitor (sem que ninguém percebesse) as suas idéias. Agora eu sei, e vou me cuidar, pois não quero que idéias transeuntes se ramifiquem no meu universo, sem minha percepção absorver. Queira sim, queira não, isso pode ser fatal. Não podemos rejeitar tais escritores, como fizeram com Saussure, não existe neles um imo ocultista, mas sim uma vontade de existir livremente. O que faz minha cabeça doer, é pensar se eles realmente escreveram algo sem eu notar, ou se é um impulso místico desse momento que presencio grafando essas merdas que você lê. Logo depois de refletir sobre isso que você leu, eu admirei a curiosidade deles na mesa. Todos estavam em silêncio, me olhando como se estivessem esperando algum pronunciamento por minha parte. 310 Não tive escolha, senão começar o jogo para valer. Dizendo: - Alguém aqui sabe, - disse eu – eu sei que sabe, mas não diz. - Sabe o que? – perguntou curioso Marcos. - Sabe que todos os elementos químicos – falo eu – surgiram de um único elemento. - O hidrogênio? – perguntou Rose. - Não, - eu disse - todos os elementos da natureza têm como essência a linguagem. - Linguagem? – interrogou Michael – então a sua pedra filosofal é a essência pura e única do mundo? - Sim, - respondi – a linguagem é o tudo. - Mas a linguagem não é um outro termo da comunicação? – perguntou Paula. - A linguagem constitui tudo, - falo eu – ela não pode ser vista como algo que parte de um emissor para um receptor, mas é o que constitui ambos, em tudo têm tudo. - Como assim? – perguntou Márcia. - Você consegue encontrar ou relacionar uma mesa com esse livro? – perguntei levantando um livro para cima, ela olhou e mexeu positivamente a cabeça – através de metáforas ou mitos, você consegue relacionar tudo com tudo, mas não porque existe uma relação simbólica, mas porque existe de fato a mesa num livro e um livro na mesa, tudo é constituído de tudo, o que existe aqui existe lá, essa existência de tudo na coisa, que é conhecida como linguagem, tudo tem relação porque todas as coisas guardam em seu imo sua essência, a linguagem, isto é, o tudo. - A linguagem é tudo? – perguntou Ariston. - Se você considerar a vida como o tudo, ela é. – respondi. A minha pedra filosofal continuava brilhando. Pensei em ensinar o segredo da alquimia para eles. Porém 311 fiquei cauteloso, pois esse é o segredo de tudo. Se eu ensinar como eu criei eles, eles podem criar coisas que vão além das palavras. E, isso aqui no meu castelo pode ser perigoso, eu posso perder meu reino. Resolvi ficar no silêncio e buscar mais confiança neles. Entretanto começamos a estudar as leis do jogo. Um sistema não sistemático, algo como um ambiente sem limites, onde estudamos e aprendemos a desestruturar a estrutura dos sistemas. Vamos aprender as artimanhas dos piratas da linguagem. Aqui nessa biblioteca, com essas pessoas capacitadas, pode-se criar universos perfeitos. Eu possuo uma alta tecnologia em meu castelo. Nossos alvos principais, são alicerces como: cultura, língua, sociedade, estados, mídia e muitos outros mecanismos que criam as ideologias hediondas contra o homem, que no fundo todas essas são a mesma e eterna coisa: linguagem. Dominar a linguagem é o fator que move minha existência enquanto homem, eu sou a linguagem, posso construir e posso destruir. A arte de explicar cria o mundo do desconhecido. Mandei as idéias de estruturas preestabelecidas. Ensinei que o estado é um mito, pode-se considera-lo como um bicho-papão. Disse que as pessoas têm medo desse mito e esse medo é a ferramenta para sua existência, pois pensam que se largarem as estruturas constituídas de estado, elas podem ser devoradas por ele. Jogando essas teses ao léu, Michael que é um anarquista cultural vivo já lanço suas antíteses: - Entendo que o estado não vive por si, - disse ele – ele depende do ser. - É justamente isso que eu quero dizer, - disse eu – cabe a nós criarmos nossos mitos, pois ele só existe em nós. - Mitos? – perguntou Leucipo. 312 - Sim, - falo eu – mitos, mas vocês só vão entender isso praticando, é essa prática que cria esse jogo, uma espécie de combate lingüístico. De certa forma eles entenderam. Logo comecei a falar do que se trataria a primeira missão. Poupei palavras e dei-lhes uma cópia da carta chave do primeiro ato. Ariston pegou, olhou e deu para Paula ler: Regras para destruir regras: Caros jogadores do jogo. Vocês vão conhecer a base estrutural da estrutura que rompe estruturas. Sei quem são, sei que são. Agora cabe saber como são. Vocês estão exatamente a três milhas da Baía de Paranaguá, do estado do Paraná, do país Brasil. Numa ilha onde a única forma de expressão de sistema é o castelo do Homem Palavra, é... esse cara velho que está olhando para vós agora. Essa carta trás uma idéia obscura do funcionamento do todo. Como vocês já estão cientes de que formaram uma outra sociedade e com isso uma outra identidade, devem saber que podem subverter esse paradigma, pois paradigmas são manifestações da auto-imagem do indivíduo. Vocês vão criar uma condição de existência invisível perante as estruturas (mitos) estabelecidas no continente. Vocês chegaram aqui com uma lancha poderosa, na verdade era apenas o próprio Homem Palavra disfarçado de Capitão Gancho no seu brinquedinho. Esse brinquedinho será o transporte de suas formas biológicas para o Brasil. Deverão criar um mito-vírus e contaminar todo o pólo midiático do Brasil, isto é, a região conhecida como penumbra. O mito-vírus é o segredo necessário para entender. Esse mito-vírus que vocês criarão, deve ser lançado sob um Teatro, ou a famosa “TAZ” (Zona Autônoma Temporária). O que vem ser o Teatro? O Teatro é o 313 palco onde vocês vão apresentar a peça (mito-vírus), esse Teatro não pode ser considerado como um “espaço geográfico”, ele cartesianamente falando é uma faceta do espaço, não só o geográfico, mas também do bio-sócio-psíco, resumindo: é o espaço total, o único, mas como é necessária uma certa flexibilidade para o obscuro pressentimento do entendimento devemos dividi-lo só no princípio introdutório, logo ele é concebido naturalmente por vocês. O Teatro é instável, surge e some sem ninguém notar. Nesse mito-vírus vocês devem criar uma figura ou identidade homogênea, como por exemplo, o já famoso Luther Blissett, mas com uma diferença, ele jamais poderá se diluir como um vírus, ele é apenas o produtor do vírus. Então não devem incentivar a dilatação do nome que criarão, pois esse não é o objetivo primordial, vocês devem apenas utiliza-lo para se inserirem na rede do estado, como finas teias de aranhas entre o fluxo das informações. Essas informações passam entre os vãos da rede do estado (mito) e são moldadas conforme o formato do estado. Vocês estarão entre esses vãos, criando outros micros vãos e modificando todas as informações que passarem em suas finas teias, sem que o estado perceba. Esse é o segredo. Agora vocês já sabem qual é o caminho devem percorre-lo. Mas sozinhos, pois o Homem Palavra será neutro. Ele será apenas um animal mudo, não terá comunicação com ninguém e passará a maior parte de seu tempo no seu quarto escrevendo o seu livro. Vocês vão saber qual é o formato da teia que tecerão na rede do estado, através do Homem Palavra, mas tudo por carta. Depois de lerem tudo isso, eles ficaram me olhando. Eu levantei e lentamente segui para meu quarto num 314 silêncio profundo, todos respeitaram a decisão. Agora eu já estou no meu quarto escrevendo tudo isso que você agora lê, e eles estão discutindo como será o nome coletivo que adotarão. Márcia percorre o perímetro da biblioteca passando delicadamente o dedinho sobre os títulos e autores dos livros, na busca dum nome bom. Ariston reflete sobre o Blissett e todas as coincidências do Homem Palavra e as partes de seu livro grafadas sob o efeito do álcool. Leucipo troca idéias com Marcos e Michael sobre a carta. Rose e Paula discutem o efeito do nome coletivo em longo prazo, praticamente formulam uma teoria científica, pois mesmo nos nomes coletivos sempre existirão identidades, assim como o nome de Buda, Luther Blissett, Seppuku, Vitoriamario e outros que estão surgindo, inclusive aqui já está para surgir outro, mas só será dito no próximo parágrafo. Depois duma longa batalha surge enfim o nome coletivo. Um nome que proveio do dedinho da Márcia. Um personagem dum livro sem nome e sem autor, um livro da idade média. O nome do personagem era João Motta. Definiram o nome como Motta. Aprovado pelo escritor Ariston, pelo mago Leucipo, o anarquista Michael e a ocultista Rose. Os únicos que não gostaram foram o midiático Marcos e a lingüista Paula. Disseram que esse nome era muito extremista, Marcos achava que era nome de artista de rua, e Paula que não era apropriado para ser exposto na mídia. Deveriam achar um nome mais “comum”, como Ronaldo Guimarães ou Antonio Magalhães. Mas não convenceram a maioria. O nome que adotaram para construírem a teia na rede foi mesmo o Motta. Eu estou agora escrevendo o que você agora lê. Estou no meu quarto e os jogadores ainda permanecem na biblioteca. No meu castelo existe uma espécie de tubo, que liga meu quarto e a minha biblioteca. Esse tubo possibilita a conduta de cartas 315 até a biblioteca. Eu jogo daqui de cima e a carta cai lá em baixo na biblioteca sobre a mesa central. Mandei uma carta para ver se iria funcionar o sistema. Na carta estava escrito: “aguardem que logo vou mandar o objetivo”. Pela câmara filmadora. Consegui ver que Marcos percebeu a carta caindo do teto e vi ele lendo. Fiquei um bom tempo pensando em como escrever a carta do objetivo. Após pensar muito e notar que os jogadores já estavam cansados, resolvi jogar uma outra carta dizendo para eles aguardarem o próximo dia e, se sentirem tranqüilos no castelo, terem a liberdade de comerem, dormirem e fazerem o que e como quiserem qualquer coisa. Assim eles passaram na paz de um santo sono. Eu virei a noite trabalhando como um maluco. Revirei notícias e vasculhei livros para poder criar o impulso inicial do processo subversivo do objetivo. N’outro dia, eu já havia terminado a carta com o objetivo. Os jogadores estavam dormindo. Como você já sabe, eles vão atuar num teatro, que é o Teatro da vida real, então ao invés de chamá-los de jogadores chamarei de atores. Os atores estão acordados. Márcia bate em minha porta perguntando se estou bem, eu respondi positivamente com um papel por baixo da porta. Eu estava ansioso para vê-los discutindo o objetivo. Não demorou muito e eu lancei a carta para baixo, através do tubo, rumo a biblioteca. Lá estava Leucipo, lendo um livro. Ele se assustou com a carta caindo do teto. Então após o susto resolveu lê-la. Notou que se tratava do objetivo e rapidamente chamou o resto dos atores. Paula apanhou a carta e leu para todos: A QUESTÃO É ESSA... Vocês irão para o Teatro. Nesse Teatro tudo ocorre segundo o diretor. O nome desse diretor é “estado”. Vocês são os novos atores. Não conhecem a 316 autonomia desse diretor e vão escrever e encenar a sua própria peça. O efeito pode ser devastador, pois o diretor sempre está em tudo e em todos. Logicamente sendo assim ele vai notar que vocês não estão sob seu comando. Isso pode irrita-lo, vocês serão punidos pelas leis que não conhecem. É justamente nesse ponto, que, cada um de vocês vai conhecer onde fica o calcanhar de Aquiles. Mas cuidado. O procedimento deve ser sempre subversivo. Jamais deverão expor suas identidades. Por exemplo, se Michael atuar como o Michael antropólogo de Belo Horizonte, o diretor (estado) vai saber quem é, e vai poder domina-lo, pois esse Michael é um personagem criado por ele (estado), sendo assim ele sabe todas as suas artimanhas. Também não poderá atuar com a identidade daqui, pois isso é uma ferramenta para uso do jogo e não uma atuação no jogo. Todos devem estar sob a identidade do nome coletivo. No caso aqui o “Motta”. Atuem com inteligência e espalhem isso, pois é um mito-vírus, tão poderoso quanto o diretor. Vocês criarão um concorrente para o que se achava supremo e único, vão criar um estado que não sabe que é estado, para destruir o estado que pensa que pode ser estado. Planejem tudo antes de partirem para o continente. Existem mapas na biblioteca atualizados, que serão úteis para a elaboração do único mapa que terão. Um mapa de escala 1:1 com precisos dados, mapa já conhecido por todos vocês, chama-se Teatro. Onde vocês serão os atores e os que pensam que são atores serão a platéia. Existe um quarto no porão que possui várias roupas. Uniformes de polícias, médicos, juízes, professores, garis e trajes como ternos, vestidos e roupas das modas hip, punk, mauricinho, patricinhas, universitários críticos e cartesianos. Existem lá também trajes de mendigos e oficias de justiça. Vários programas e papéis adequados para falsificações de documentos, se encontram na sala ao 317 lado, num microcomputador de alta eficiência. Poderão abordar sistemas na net. Mas o Teatro não atua na net, mas a net atua no Teatro, então vocês devem atuar onde é o Teatro e não apenas numa instância do todo. O movimento é sempre múltiplo. Deve-se contaminar o maior número de pessoas possíveis. Dizer que não existe apenas um diretor, mas que existem infinitos. Recomendo que comecem com os críticos sociais, tal qual, os artistas e universitários. Vejam bem e cuidado, o diretor (estado) é muito vivo, ele atua por trás de tudo, recomendo que cheguem no alicerce de toda a estrutura. Contaminem com cautela as periferias, que são as pessoas que mais querem mudar a peça. Mostre a importância deles para a manipulação de todos. O diretor (estado) não existe por si, ele é um mito-vírus, construído e lançado por alguns. A cautela e a audácia devem andar juntas para o resultados ser mantido como fator de ignição cultural. A lancha ira leva-los para o continente no fim da tarde, eu vou vêlos por todo os cantos. Quem vai leva-los será o Motta. Boa viagem, eu os verei no termino dessa missão. Os atores após lerem essa carta passaram a discutir como criar o mito-vírus. Foi a maior correria, puxaram vários livros das estantes, consultaram a internet, mapas e jornais. Observaram minuciosamente as estruturas políticas e culturais dos locais que iriam atacar. Notaram que todas as informações concebidas culturalmente como ápice da elegância ou importância, surgiram nas regiões centrais. Como por exemplo, o que passa num famoso jornal de São Paulo, é muito mais cobiçado do que o que passa num bom jornal do Mato Grosso. Mas notaram que as informações de destaque no jornal de Mato Grosso proviam do jornal de São Paulo. Então resolveram atacar os pólos culturais do país. 318 Eles elaboraram o seguinte esquema. Paula, Michael e Leucipo atacariam a cidade de São Paulo, Ariston e Marcos cuidariam do Rio de Janeiro, Márcia e Rose atuariam em Curitiba. Todos estarão conectados por aparelhos de informação, como celulares e microcomputadores. No final da tarde eles já estavam preparados, com suas fantasias e com o roteiro na ponta da língua, tudo estava certo para o início da peça. Eles já haviam absorvido a idéia do que eu chamarei de “ignorância socrática”, serão inteligentes e rápidos. Mas demoraram a entenderem a idéia do nome coletivo, pois ficaram esperando o motorista da lancha, sem saber que eles próprios os era. Sorte que Leucipo se tocou e falou que o motorista era o Motta e que o Motta era qualquer um deles. Então Paula se arriscou na boléia da lancha, pois já havia pilotado um barquinho de pesca no Pantanal. Lá vão eles, rumo ao desconhecido, levando consigo todos os meus sonhos de transformar o mundo. Você deve estar pensando: “esse cara pensa que é anarquista, mas possui um castelo numa ilha só dele, possui computadores e uma lancha de milhares de dólares, esse cara quer passar o papo”. Todo o dinheiro que possuo é um dinheiro conseguido de forma racional. Preciso dele para formar uma estrutura contra ele próprio. Lembra do cicluno? Então, eu não tenho como sair da sociedade e entende-la, pois eu sou a sociedade, eu posso usar a sociedade para mudar a sociedade, eu posso usar as palavras para mudar a gramática, não tem como eu sair e mudar e, eu não preciso entender basta mudar, você deve entender sobre mudanças, não sobre o que já é, mas sobre o que vai ser. Meu dinheiro é conseguido de forma rápida e por baixo do pano, como os bons políticos conseguem. O diretor (estado) pensa que eu sou um advogado, mas eu nunca estudei direito, pensa que 319 sou médico, mas nunca cortei ninguém, pensa que sou deputado, mas nunca roubei. Eu uso nomes ou identidades, para conseguir privilégios que podem destruir todos os privilégios. Eu sou um veneno que o sistema absorveu, ele vai se ferrar, pois eu sou corrosivo e governo toda a essência do estado. Sou o Homem Palavra, o alquimista da pedra filosofal, a pedra da linguagem. Não me apego a coisas que não necessito. Construo o que quero e não dependo de nenhum diretor mitológico para ditar as regras. Eu sou um navegador que cria as próprias leis. A aminésia é o caminho. Fiquei por um bom tempo pensando em meu castelo. Pensei nas conseqüências da aplicação do mito-vírus da ignorância socrática. Estava pensando na vida. Pensei no porquê de tal ação, afinal, sei que vou morrer independente de conseguir mudar ou não o mundo. Pensei que deveria pensar em mim e largar das concepções sociais. Sim, esse é meu objetivo, mas acho que também é de muitos. Portanto penso que agi corretamente inventando esse mito-vírus, assim deixo minha digital no planeta e passo a ficar na minha, sabendo no fundo que contribuí para o caos no sistema. Não consigo entender as redes do capital. É uma forma ridícula de existência. São pessoas manipuladas por ideologias que ditam e deformam a verdade. Fazem as pessoas acreditarem que as ruas são perigosas, passa na TV muitas mortes. As pessoas que vêem isso, logo se reprimem e entram na onda da rede. Os paraísos do consumo são os lugares seguros. Isso é engolido pela maioria, passam suas vidas trabalhando em ambientes desagradáveis apenas para poderem viver seguros. Compram seus carros e suas roupas, se acham os super-homens, mas não passam duma praga parasita manipulada por alguns metidos a deuses. Se você que lê isso se sentir ofendido, acharei 320 ótimo, pois foi esse o meu objetivo. Não estou aqui para ficar contando historinhas bonitinhas de autoajuda. Estou aqui para lhes dar ou mostrar uma das chaves da liberdade. “A liberdade está na cabeça”, sim ela está, mas parece que anda escondida profundamente em alguns. Se você que lê isso se sente empolgado, acharei ótimo, pois foi esse o meu objetivo. Poderia eu ser apenas mais um bom professor universitário. Um doutor em ciências sociais. Trabalharia para o estado, seria pago para mostrar como funciona todo o sistema. As relações entre sociedade civil e estado. Meus alunos seriam bons críticos, mas só críticos, pois quando um deles se levantar contra mim e dizer que não aceita o que ensino e, dizer que não quer ser um “papagaio” e quer ser um pensador livre, eu serei forçado a impedi-lo. Só pelo fato dele não ter um diploma. Mas eu tenho e não posso pensar, então o que adianta ele ficar anos sentado numa cadeira duma instituição que limita sua vontade? Sou contra e jamais vou concordar que jovens inteligentes e capazes se estraguem numa universidade, a não ser se for para destruí-la. Eu não me importaria com o sistema desde que ele não se importasse comigo. Mas isso não ocorre, pois quando tenho fome não posso comer o que não é meu. Então não me resta outra solução à não ser destruir o que quer me destruir. Falo o que penso, pelo menos no meu castelo eu faço o que quero, aqui eu governo a linguagem, se não gosta desses meus momentos de ira, não leia o que escrevo. Fique na sua que eu fico na minha. Todos explodem quando não podem mais agüentar o que tanto lhe foi reprimido. As portas do inconsciente freudiano não agüentam mais as merdas que são lançadas no mundo. Olho na rua e lá está aqueles malditos cartazes pedindo alguns anos de minha vida para eu poder entrar na moda com um 321 carro zero. Aquelas porcarias de sanduíches com refrigerantes cancerígenos, que me impedem de comer o bom pão caseiro com café e leite não pasteurizado. Desculpe-me por meu tédio. Estou bravo. Mas não vou ter vergonha e apagar o que escrevi, pois verdades são coisas que temos que buscar e se orgulhar. Tenho meus motivos para criticar e destruir esse sistema. Talvez você não saiba o que é ver um amigo morrendo em seus braços por não ter o que comer, e no mesmo momento passar um filho duma puta num carro importado e jogar uma garrafa de cerveja em sua cabeça. Não que eu tive um amigo que morreu de fome, isso eu vi num filme americano, pois agora estou em meu castelo comendo o meu sanduíche e tomando meu refrigerante. E, acima de tudo admirando a beleza da moda e dos carros que passam na TV. Eu sou feliz assim. Quem está passando fome é por que tem preguiça de trabalhar. Não vou ficar brigando por coisas que não me dizem respeito, o que importa é eu, o resto que se funda. Não adianta revolução, a idéia é curtir a vida. Isso é um incentivo para os “normais” que lêem esse livro. Mas não pense você caro anarquista que lê isso, eu não sou assim, eu sou um ator, lembra? Estou para destruir o que me reprime e para isso devo estar dentro do sistema. Primeiro dizer amém para depois dizer sarava. Entendeu? Agora chega. Os atores estão passando agora por frente do Forte da Ilha do Mel, no estado do Paraná. Eles reparam que na porta de entrada para o monumento bélico, existem duas máscaras de Teatro esculpidas. São mascaras clássicas da Antigüidade. Eles logo relacionam as máscaras com a cara do estado. É como se as máscaras quisessem dizer: “aqui existem atores numa peça de guerrilha psíquica, atores representando soldados e soldados representando atores”. Agora já 322 estão dentro da Baía de Paranaguá. Eles vão desembarcar numa residência que não posso revelar. Essa residência fica na margem dum determinado rio, na cidade de Pontal do Sul. Eles negociam com o pescador que havia trocado o seu barco pela Kombi deles. Pagam uma quantia considerável para o pescador e conseguem novamente a Kombi. Agora eles estão com o pé na estrada, rumo a capital Curitiba. Depois de seis horas de viagem na Kombosa, eles chegam numa das cidades indicadas para receber o mito-vírus. Eles ficaram sem veículo, pois a Kombi já não prestava para nada, quase não foi considerada como veículo seguro para viagem no pedágio. Michael vendeu a amiga para um ferro-velho. Os sete atores passaram um bom tempo estudando os movimentos do centro da cidade. Conseguiram uma pensão para todos. Mas apenas por essa noite, simplesmente porque a dona diz que seria impossível dormirem mais de um dia nesse quarto. Não pelo fato de ser de má qualidade, mas pelo tamanho, que seria apenas para dois e nunca para sete. Mesmo assim ficou bom, pois apenas Márcia e Rose permaneceriam na cidade. São dez horas da noite em Curitiba. Eles resolvem planejar melhor os ataques inicias. Precisam buscar os críticos sociais. Precisam passar a idéia para anarquistas e cidadãos que estejam totalmente revoltados contra o sistema. Precisam encontrar artistas. Sabem que a arte é o melhor veículo. Então logo percebem onde tudo pode ser. Na Universidade Federal do Paraná, examinando cuidadosamente os acadêmicos, mestres e doutores na área das ciências humanas. Márcia focalizava alguns acadêmicos de filosofia, notava a príncipio pela aparência, notava os trajes e os livros que carregavam. Rose escutava as aulas no corredor. Sala por sala, atrás de alguém especial. Enquanto os outros ficavam apenas 323 conversando. Leucipo fez sucesso com sua barba branca. Era visto como filósofo. Ariston com seu traje leminskiano e seus óculos fortes, fascinava a imaginação dos acadêmicos de Letras. Já Paula, Marcos e Michael passavam despercebidos entre todos, eram jovens, mas não eram nem menos nem mais do que Ariston e Leucipo. A aparência trás uma aparência do ego, mas não pode ser o seu puro reflexo, pois lembrem, eles são atores. Depois dessa noite de observações, Ariston e Marcos foram rumo ao Rio de Janeiro, enquanto Michael, Paula e Leucipo pegaram um ônibus para São Paulo. Rose e Márcia permaneceram em Curitiba. Quando Márcia acordou, Rose já tinha tomado banho e o resto do pessoal ido embora. Márcia acordou reflexiva, estava pensando na minha pedra filosofal, na idéia que a linguagem está e é tudo. Ela levantou de sua cama e começou a olhar as coisas em sua volta com olhos perscrutadores. Tentava encontrar a linguagem, tinha um pressentimento de que estava sendo vigiada em todas as partes e por todas as coisas. Começou a imaginar o som que seus olhos produziam no ato de piscar. Começou a imaginar as partículas que se moviam quando movia seu pé no chão. Imaginava quantos universos surgiam e logo sumiam em frações de segundos. Imaginou que todo o planeta em que se encontrava estava numa partícula igual a uma daquelas que se moveu no movimento de seu pé. Márcia começou a entrar numa outra forma de existência. Modificou o seu tempo. Olhava a Rose se penteando diante dum espelho e, pensava que aquilo que olhava não era o presente, mas o passado, ela estava pensando que estava vivendo em sua memória. Ela se transportou para o futuro. Não conseguia entender nada das coisas que apareciam na percepção. Ela pensava no que poderia ser aquela criatura que se cuidava diante de algo semilar a ela 324 própria. Márcia olhava para suas mãos e tentava entender o que era aquilo, qual o motivo de ser aquilo. Conseguia se imaginar num outro tempo e numa outra dimensão. Imaginava-se sendo uma das pessoas que habitavam uma partícula que constituía um fio de cabelo de Rose. Imaginava todo o processo inicial. Ela nasceu, cresceu e morreu numa sociedade de milhares de anos e Rose ainda não tinha recolocado o pente em sua cabeça, para dar uma nova alisada. Márcia começou a sentir que tudo era tudo. Logo ela estava sendo a linguagem. Tudo em seu tempo, mas nada está em nenhum tempo. E, com essa idéia Márcia se levantou de sua cama. Lentamente colocou leite num copo, sempre imaginando o movimento de tudo, como se tudo estivesse lento e perceptível. Sem notar Márcia aumentava seu universo. As coisas não passavam mais pelos sentidos elas eram os sentidos. Escutava o som produzido pelas cordas vocais de Rose. As partículas se movendo e vibrando em seus tímpanos, fazendo o reconhecimento dum passado bem no além. Um passado que estava difundido num futuro-presente. Márcia estava num tempo só. Alimentava seu corpo com leite, alimentava sua imaginação com imagens e alimentava o seu pensamento com a fusão da imagem e som, isto é, com a palavra, o maior e mais poderoso alimento. Márcia ainda tomava seu leite, sentada numa cadeira, quando Rose lhe disse bom dia. Márcia lentamente olhou para Rose, mas antes de obter a imagem de Rose já tinha estruturado a viagem do som que tinha sido o “bom dia”. Rose nota que a amiga está pensativa e, antes de critica-la por tal comportamento ela diz quase que sem intenção a palavra “linguagem”, Márcia toma um susto com o fato, Rose não sabe do que se trata e vai tomar um café. Márcia volta no tempo vernáculo, ou seu tempo 325 habitual, e nota que a palavra que foi produzida por Rose levou-a a refletir sobre a memória genética. “Será que meu avô ou minha bisavó já havia vivido isso que vivi?” Pensava Márcia. Mas logo ela desprezou a idéia de memória. Pois notou que memória é um presente camuflado por um passado do além. Agora Márcia sabe que só existe um tempo. O tempo da linguagem. Márcia acaba de tomar os últimos universos brancos que constavam em seu copo e, responde o bom dia de Rose. Note caro leitor, que você leva cronologicamente mais tempo para ler do que para agir. A linguagem lhe transporta para um mundo sem tempo, você pode analisar atos tão repentinos num tempo infinito. As palavras deixam estáticas as coisas que se movem. Paralisam a sombra de tudo, para que você consiga entrar em reinos ainda não governados. A linguagem subverte o conceito de tempo, o tempo é o movimento, então se você começar a perceber os macros e micros movimentos, você estará fundindo o tempo de sua dimensão (presente) com os tempos do macro e microcosmos (futuro e passado) nessa união você tem o todo. Possui a linguagem total. O tempo único. O seu tempo. Lembre que tudo é imaginação, basta aumentar a potência para perceber mais, logo você não verá mais um copo de leite, mas verá infinitos. Eu não estou dando uma receita de parapsicologia ou física quântica, tanto porque toda a psicologia e física é uma parapsicologia e metafísica, não entendo o porquê distingui-las, eu estou apenas tentando tornar essas palavras em algo mais explícito, se acaso exista um leitor cartesiano me lendo. Enquanto o resto dos atores viaja, Márcia e Rose vão tentar difundir a idéia do mito-vírus em Curitiba. As duas caminham lado a lado, Rose com uma camisa 326 vermelha e com pensamentos cautelosos, ela tem um certo receio na reação das pessoas que irão conversar. Márcia ainda viaja no tempo único (esse tempo também foi vivido por Thace, mas alcançado por outros meios), ela nota a reação das pessoas, o que leva a existência de toda essa correria? Pessoas de ternos, sandálias, camisas, óculos, tristes, alegres, atrasadas e tudo o que se pode imaginar. Márcia e Rose estavam conhecendo o palco do Teatro. Elas sentam num banco da praça da Boca Maldita, observam alguns homens tomando café e logo encontram a primeira vítima. Ambas concordaram que aquele sujeito com quatro livros debaixo do braço com roupas coloridas e velhas, com cavanhaque comprido e óculos de grau alto, era o tipo superficial dum guerrilheiro midiático. Elas se aproximaram do rapaz, que estava num outro banco lendo um jornal. Sem que ele percebesse elas sondaram os títulos dos livros. E, por surpresa total eram livros nada a ver com a aparência do sujeito. Elas voltaram a sentar no banco de origem e Márcia disse para Rose: - Ou ele é professor de cursinho, ou é um maníaco. - Também acho, - disse Rose – você leu? “Vida após a morte”. - Não, - respondeu Márcia – eu vi o outro preto, “Como viver feliz”. - Meu deus! – disse Rose – tomará que eu nunca precise ler esses lixos culturais. - Amém. – disse Márcia com uma ironia no sorriso. Depois do engano, elas resolveram não ir mais pela aparência, mas pela forma de relação do sujeito. Elas repararam uma moça bem vestida, ela estava caminhando observando tudo em sua volta. Márcia logo se tocou, tratava duma estudiosa em alguma ciência humana. Rose desconfiou, disse que ela estava querendo fazer moral para os homens. Porém isso não foi o fator que impediu elas de se aproximarem dela, 327 mas quando chegaram mais próximos, notaram que a moça era uma funcionária de um Banco. Então logo viram que a possibilidade era remota, só pelo fato do aspecto consumista dela já mostrava que não tinha senso crítico, que estava olhando as vitrines das lojas e atendia um celular de preço dez vezes superior a um normal. Ela era uma consumidora conformada. Lógico que ela não poderia ser o que elas estavam pensando, mas era muito arriscado, pois poderia prejudicar o mito-vírus se caísse num lugar onde não poderia sobreviver. Passaram o resto do dia procurando a pessoa ideal, mas só foram encontrar na noite. Tratava-se dum músico, formado em publicidade. Márcia e Rose conversaram algum tempo com ele e logo chegou a prima dele. Ela era formada em letras e tentava ser diplomata. Ambos eram cultos até demais. Então percebendo o caráter crítico dos dois, Márcia e Rose resolvem dizer a essência do mito-vírus: - Precisamos de pessoas, - disse Márcia – pessoas inteligentes e capazes de aplicarem um mito-vírus nessa sociedade. - Mito-vírus? – perguntou o músico – o que vem a ser isso? - Dificilmente conseguirei lhe explicar, - respondeu Rose – mas acho que se mostrarmos um exemplo vocês entenderão. Rose e Márcia se levantaram da mesa e sentaram-se noutra mesa da mesma lanchonete. Pediram que os dois prestassem atenção. Márcia falou para o garçom que estava com fome e, com educação pediu se não havia comida para elas. O garçom trouxe-lhes duas jantas e refrigerantes, elas agradeceram e comeram. Depois se levantaram e foram saindo sem pagar. O garçom entregou um papel com o valor do jantar. Márcia olhou para Rose assustada e perguntou para o garçom: - O que é isso? 328 - É a conta senhora. – respondeu o garçom. Conta? – disse Márcia olhando para a Rose e o garçom, como se não tive entendendo nada – o que é conta? - Meu deus! – disse o garçom – você não sabe o que é conta? Deve estar brincando. - Não, - disse Márcia – não estou brincando, você sabe o que é conta Rose? - Conta... – respondeu Rose – nunca ouvi falar. - Acho melhor vocês pararem com essa brincadeirinha, - disse o garçom com um olhar de tédio – e pagarem logo isso. - Pagar? – disse Márcia – o que é pagar? - Eu não acredito! – falou o Garçom – vocês são loucas? Ou vocês me pagam ou vou chamar a polícia. - Chamar quem? – perguntou Rose. - Chamar a polícia, - respondeu Márcia – deve ser um amigo dele. - Eu não acredito, - disse perplexo o garçom – vocês não sabem nem o que é polícia... ah mas agora vão saber. O garçom saiu da lanchonete e gritou para dois polícias que estavam numa viatura. Os polícias rapidamente chegaram na lanchonete e perguntaram para o garçom o que estava ocorrendo, o garçom disse que havia duas mulheres que jantaram e não queriam pagar. Os polícias se aproximaram de Márcia e Rose e um deles disse: - Esse senhor falou que vocês jantaram e não pagaram a conta, é verdade? - Quem são vocês? – disse Rose – e o que querem da gente? - Somos polícias minha senhora, - respondeu um deles – e queremos que pague o que devem. 329 - - Não sei do que vocês estão falando, - disse Márcia – mas nós temos muito o que fazer, pretendemos arrumar um acampamento bom para essa noite. Ah! Entendi, - falou o garçom – vocês são prostitutas, são vadias e querem tudo de graça, mas aqui não suas gracinhas ou vocês me pagam ou vão presas. Presas? – disse indignada Rose – quem são vocês para prenderem a gente? Nós não fizemos nada que consideramos errado, não matamos, nem surramos ninguém, apenas nos alimentamos, se não comermos vamos morrer de fome. Vocês não fizeram nada de errado, - disse um dos polícias – mas se não pagarem estão roubando e isso é crime. Crime? – pergunto Márcia, com uma expressão séria sem deixar nenhuma marca de erro em sua interpretação – o que é crime? Você não sabe o que é crime? – disse um dos polícias – crime é a violação duma lei. Lei? – falou Rose – o que é lei? Eu falei seus guardas, - disse o garçom – essas mulheres são loucas, não sabem o que é lei. Lei – falou um guarda – é uma norma aceita pela sociedade como sendo algo para ser respeitado. Sociedade? – falou Márcia – sociedade é um conjunto de pessoas? É eu, você ele e ela? Sim. – respondeu o guarda. Mas eu não aceitei nada, ninguém foi lá em casa perguntar-me se eu aprovava que comida tivesse dono. Você não aprova nada, - disse o guarda – quem diz é o seu representante, o vereador e os deputados. Eu não quero ter representante, - disse Márcia – estamos num país democrático e democracia é direito igual para todos, uma lei deve ser aprovada por todos dessa nação e não por representantes que pensam que podem dizer o que penso. 330 - Sinto muito, - disse um guarda – mas aqui as coisas funcionam assim, ou você respeita ou é presa. - Esse lugar não é seu e nem desse garçom – disse Rose – ninguém tem autonomia sobre o que não lhe possui, o planeta é de todos, cada um faz o que quer nele e ninguém pode me ditar regras, eu nasci aqui por algum motivo, que nem eu e nem ninguém sabe, então não percam seus tempos tentando me dizer o que faço, a comida que eu comi não era sua, ela é de todos, não preciso dar explicações para ninguém, agora com licença. Márcia e Rose estavam saindo quando os guardas lhes seguraram e colocaram as algemas, seus amigos viram que seria sério e pagaram a conta delas pedindo desculpa para todos, dizendo que as duas tinham problemas mentais e estavam sobre suas responsabilidades. Os quatro saíram da lanchonete satisfeitos, Márcia e Rose por conseguirem sabotar a estrutura do sistema, e o músico e sua prima por absorverem a idéia. Márcia disse antes de despedirem os amigos, que pode ocorrer um grande distúrbio no sistema se muitas pessoas adotarem uma identidade duma cultura liberal, disse que o maior objetivo é chegar na frente do juiz e negar as leis do estado e dizer que não as conhece, cometer os crimes sem saber que era crime. Márcia diz que o sistema vai tentar se defender, vai começar a ensinar as legislação na escola, mas ela também disse que os guerrilheiros poderiam se cobrir com o nome coletivo (Motta) para dizer que não conhecem o que é escola e instituições. Quanto maior o número de adeptos ou infectados do mito-vírus denominado como ignorância socrática, maior o efeito de dilatação. Então Márcia e Rose pedem o apoio do músico e de sua prima para ajudarem na contaminação. Ambos aceitam e o tempo vai multiplicar as coisas. O ataque será todo duma vez só, 331 num mesmo dia em vários lugares. Todo mundo fará um crime que não reconhece como crime. Isso pode causar um colapso indefinido no estado (diretor), pois ninguém saberá a língua do diretor, sendo assim, ninguém pode entender as suas ordens. Enquanto Márcia e Rose preparam-se para dormir, Ariston e Marcos ainda procuram um lugar para ficar no Rio de Janeiro. Já em São Paulo Michael, Paula e Leucipo discutem sobre o mito-vírus em um quarto de pensão. Eu estou escrevendo em meu castelo, contente com a atuação até agora perfeita dos atores. Todos já estão dormindo, mas Ariston e Marcos estão na rua. Eu olho para eles e lembro de minha juventude, lembro da euforia que tinha, lembro dos sonhos de conquistar universos. Pouco importa o tempo, eu sou revolução, eu sou a linguagem. Você que lê isso agora, pode me seguir por algum tempo, pode querer mudar sua sociedade, pode notar que dentro de si, você só encontra uma relação, uma estrutura social. Para mudar a sociedade deve-se mudar a si próprio, mas sei que poucos seguirão eternamente essa busca da liberdade, alguns encontrarão uma liberdade dentro dessa sociedade, uma liberdade camuflada como a beleza dos olhos azuis duma linda mulher. Porém vai sentir no fundo do peito que não é verdade, que não é livre, que não pode dormir, comer, escrever, viver, sonhar, andar como quiser, não pode porque não é livre. Não há liberdade na sociedade, a liberdade está na linguagem e não nas suas manifestações. A liberdade não está no espaço e no tempo, não está nas coisas e nos atos, a liberdade habita onde a prisão reside, você só encontra uma liberdade quando consegue saber o que é o infinito. Sempre estou numa missão infinita, assim sou livre, assim sou eu, se você desiste da revolução desiste da sua liberdade. O que 332 me faz caminhar é a imagem dum lugar onde todos podem fazer o que querem, não esse fazer sistêmico desse sistema, mas um fazer de coração, onde a arte surge do nada e permanece eternamente no nada. Isso é ser revolucionário, é ser anarquista, mas antes de tudo que é “istas”, é ser homem, humano, pessoa e animal, é ser vivo como um Condor voando em altitudes infinitas. Dois dias depois dos atores conhecerem e espalharem o mito-vírus pelas cidades capitais, eles marcaram o dia da explosão do mito. Muitos anarquistas já estavam preparados para agirem, mas todos precisavam agir juntos, assim seriam mais fortes. São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba estavam perto de receberem um golpe inteligente. A sabedoria não pode ficar fixa na aristocracia, ela deve ser o objeto de valor do ser humano. E isso todos possuíam em mente, talvez foi esse o ponto principal do sucesso desse início de ataque. A amizade e os contatos dos manipuladores do mito-vírus foi aumentando, centenas de guerrilheiros em cada uma dessas cidades estavam cientes e prontos para agirem, uns mais sérios, outros à toa, mas o importante é que estavam preparados. Queriam ver o resultado. Os sete atores (diretores) espalharam o roteiro da peça corretamente, todos os personagens chamam-se Motta, desde do início até o final do golpe. As pessoas que iriam participar do atentado eram de confiança, foram pessoas escolhidas como o músico e sua prima em Curitiba, que escolheram pessoas de confiança, assim por diante, até conquistarem um considerável número de pessoas. Não era tão grande, mas era suficiente para o mito se expandir. Confesso que pensei em descrever toda a dificuldade dos sete de encontrarem as pessoas, de acharem 333 pessoas que tivessem afim, mas achei perca de tempo, você lendo e eu escrevendo, fora as folhas desperdiçadas, temos que mostrar a idéia, no papel e a ação fica num impulso. Chegou o dia do ataque do mito-vírus, todos estavam preparados. Logo sedo começaram a agir. Em Curitiba um grupo de jovens atacou lojas e mercados, coletando vestuários e alimentos, todos foram presos e todos falaram para os policiais que não sabiam que aquilo era crime, que não consideravam a propriedade privada. Já em são Paulo ninguém agiu em grandes grupos, no máximo em três pessoas, os crimes foram vários, como roubo de carros, invasão de domicílio, vandalismo... No Rio de Janeiro todos que estavam envolvidos se uniram e formaram um grande grupo de criminosos não cientes do que era crime, eles trancaram o trânsito roubaram livros da biblioteca nacional, fizeram suas necessidades biológicas na praia, comeram o que viam e não machucaram ninguém, não agiram com violência, mas só com inteligência. Alguns apanharam da polícia, mas não reagiram, pois sabiam que tudo iria mudar no dia do julgamento. Resultado do início do mito-vírus “ignorância socrática”: centenas de prisões, cadeias super lotadas, e sistema judiciário em risco de vida. Os jornais do país todo anunciavam o fato: ANARQUISTAS ATACAM O PAÍS, um outro jornal importante: JOVENS COMETEM CRIMES E DIZEM QUE NÃO SABIAM. As notícias se espalharam pelo mundo e, não demorou muito para novos ataques em todo o planeta, centenas de pessoas se diziam alienígenas para violarem as leis, “eu não conheço a sua lei, então você não pode me julgar” disse um jovem para um juiz da Inglaterra. O Brasil alertou as autoridades internacionais, o exército tomava conta do 334 capital dos grandes capitalistas, enquanto mais pessoas eram presas. Foram tantas as prisões e tantos Mottas, que não havia cadeias e juízes para julgar ninguém, as autoridades do país resolveram agir com violência contra os anarquistas mandando matar os lideres, o problema é que não havia lideres e o pior de tudo é que não havia soldados para agirem, pois eles notaram que existiam familiares no meio. “Não vou matar meu irmão para obedecer ninguém” disse um soldado do exército brasileiro para seu sargento, o pior é que primos, irmãos e vizinhos das autoridades também estavam no meio da bagunça. Não tinha como ter controle, os anarquistas agiam em grandes grupos, atacavam residências, comiam o que ali tinha e conversavam com os proprietários para fazerem parte do movimento, alguns agiam com violência e acabavam sendo feridos, então essa notícia se espalhou e quem estava se defendendo acabou cedendo por falta de segurança, pois os políciais já estavam no meio, logo todo mundo não reconhecia lei alguma, não existiam limites nenhum. Os meios de comunicação foram invadidos, mas não violentamente, mas por ação ideológica da natureza do próprio mito-vírus, pois as únicas notícias que ocorriam eram essas. A TV tentava dizer que o movimento era perigoso e que ninguém poderia se render para uma utopia infantil como essa, mas isso não foi longe, logo anarquistas invadiram literalmente os meios de comunicação e ajudaram a espalhar a idéia por todo o planeta, na internet e nas poucas TVs que existiam, pois todas que marcavam eram destruídas por anarquistas, os governos mundiais estavam tentando controlar o movimento, mas não havia como existir guerra, pois tudo estava homogêneo, não existia dois grupos separados, mas um grupo sofrendo um ataque em si próprio, então nada adiantou os armamentos 335 nucleares, o mundo estava em um único sistema, o sistema da anarquia. Não teve como fugir. Todos estavam nesse sistema, depois de alguns meses ainda existiam grupos tentando manter um sistema econômico, mas era impossível, pois ninguém produzia. Não existia mais operário e empregado, todos eram artesões. Não havia dinheiro, cada um trocava o que construía por coisa que precisava. Lógico que tinha alguns que tentavam uma cobiça, começavam a construir muita coisa e se dizer dono de tudo aquilo, mas pouco adiantava, ou a arte era de todos, ou era destruído, pois a matéria prima era de todos e de ninguém. Mas isso foi só no começo, logo as pessoas começaram a criar um outro conceito de mundo. Deixaram para trás o “material” e começaram a ser capitalistas de idéias. Quem tinha idéia boa era rico. A riqueza já não era bens matérias, mas o sucesso ideológico, “a arte eleva o homem por meio da beleza” disse o músico curitibano. Ninguém queria chegar rápido em lugar algum, muitos se tornaram nômades, ou andavam ou percorriam o caminho até o fim do combustível de um carro qualquer. Tudo era de todos. Você poderia pegar qualquer carro e andar. Mas isso demorou pouco, pois logo acabou o combustível e ninguém teve vontade de fabricar mais, a não ser alguns jovens que ainda enxergavam um modo de vida na velocidade, ninguém interferia em nada. Não havia violência, pois não havia necessidades. Todos tinham tudo o que queriam, a cobiça por aviões e mansões foi grande, mas logo perceberam que não havia objetivos naquilo tudo, pois o luxo não era liberdade e não podia se comparar. Dois anos depois da revolução anarquista, o planeta era só uma coisa, existia varias línguas e muitas etnias, mas não havia limites políticos, o homem poderia viver onde e como quisesse, ninguém ditava leis, a não ser a sua própria. Existia uma língua 336 universal, era a arte. E tudo isso que ocorreu fazia parte do jogo que começamos, os sete atores estão cada um onde querem estar. Nunca mais os vi. Ainda existe tecnologia, mas ninguém se intereça muito, todos se preocupam com a filosofia e com a arte, sabem que o universo só é conquistado pela imaginação. Nenhuma máquina pode alcançar a velocidade da luz, a não ser a mente. Aqui acaba a história do Homem Palavra, em um mundo que ele próprio criou, num mundo que sustenta a sua forma de ser feliz, que cria a essência de sua liberdade, que transporta você para uma outra dimensão de tempoespaço. Tudo foi mostrado, mas ainda eu pretendo dizer qual e como nasce a minha pedra filosofal. A linguagem vai ser enfim demonstrada, mas lembre, apenas demonstrada e nunca entendida, o cicluno é o segredo. Tratado de Homem Palavra da ordem dos alquimistas conquistadores sobre a pedra filosofal: 337 O assunto é infinito, não devemos nos apresar, cada fato pode surgir como um corpo celeste duma natureza fria. Lentamente conheceremos as formas de criar ou entender a pedra filosofal. Não vem ao caso explicar, pois como você já sabe, a arte de explicar cria o mundo do desconhecido. O silêncio é a melhor explicação. O que vou ensinar você nunca viu em nada, é um conhecimento secrétissimo e, além do aquém pode surgir um conceito precioso, que cabe a cada um julgar. Logos é a fonte. É onde deuses saciam os seus desejos. Os mitos, os reinos e os clãs dela se criam. Da minha pedra filosofal tudo surge ao homem, seja da forma que for, 338 tudo surge dela. Uma forma que a princípio podemos moldar como linguagem, mas no além como infinito. Até aqui já basta. Entraremos em mundos desconhecidos, pois o que pretendo fazer é explicar como surge a explicação. Manteremos a forma como essência. Minha pena escreve lentamente, quase que se pensando por si. Essa carta marca o início dum fluxo crucial na minha, na sua, nas nossas vidas. Antes de tudo, devo dizer que essa pedra filosofal, era o grande tesouro da Rota Secreta de Thace Pahazy Filibuster, no livro de Leucipo de Minas, doado para o planeta Terra pela Fils.: Cosm.: Vida.:, uma sociedade secreta que se baseia na 339 imaginação para existir. Era essa pedra, que brilha como uma estrela (a mesma que ficou no centro da mesa quando os atores estavam reunidos em minha biblioteca) que Halford pai de Thace guardou no Espigão do Feiticeiro, no litoral do Paraná, apenas alguns quilômetros do meu castelo, para que o pirata Zulmiro não roubasse. Você não sabe em que tempo estou, posso estar no seu futuro, ou no seu passado, é por esse motivo que você jamais vai encontrar a pedra filosofal, mas você pode encontrar algum vestígio dela no espigão, um vestígio do guardião do tesouro. Mas lembre, eu não sou Leucipo, sou apenas o seu inventor. 340 Primeiramente para se entender a pedra filosofal é necessário saber sua constituição, mas esperai! Será que é preciso fragmentar o objeto de assunto para se entender? Não, eu digo que aqui não se precisa dum método cartesianista, na verdade não se precisa de nenhum método. Nesse universo que você se encontra, a ciência, ou melhor, o conhecimento científico é um conhecimento diferente, em outras palavras, ultrapassado. O que aqui impera é a ciência holística, onde não existe um conhecimento distinto, tudo que se sabe é ciência, é conhecimento. Você está entrando num mundo de concepções. A pedra filosofal 341 tem em uma de suas infinitas naturezas, uma história poética, lírica ou até mesmo metafórica. Depende absolutamente de você, para que o entendimento dos seguintes licores seja estabelecido. Você pode ler e dizer como Mallarmé disse das poesias: “se faz com palavras e não com idéias”. Depende de você, peculiarmente não consigo conceber uma idéia além das palavras, pois sem palavras a idéia não existe. Quem define e cria os conceitos sobre as palavras, não são elas, mas você. O que pode ocorrer é o fato de palavras criarem conceitos parecidos para alguns indivíduos, ocorrendo isso as palavras são consideradas explícitas, mas já em outro aspecto, existem 342 palavras que criam conceitos totalmente diferentes para os indivíduos e essas palavras são consideradas implícitas. Geralmente isso ocorre em poesias. E a poesia é a linguagem em estado puro, a única forma de tentar entende-la, pois cabe ao interprete julgar o conceito e não o poeta. É nesse estado que existe a fragmentação holística da linguagem, assim é possível entender, pois cabe em cada fragmento o todo que lhe compõe. É uma fragmentação invisível. Mergulhe em si e absorva a essência da natureza da pedra filosofal, talvez um dia você também conseguirá ter uma. Apenas os alquimistas da linguagem possuem essa pedra. 343 Para ser um é preciso ultrapassar o dadaísmo implícito, vencer o cartesianismo-newtonianoaristotélico, mostrar para o deus um diploma de poeta e acima de tudo saber os macetes de um artista. Só a arte cria a pedra filosofal. Para ser um artista você deve ser um homem e não uma máquina. Apenas o artista conhece o mundo alquímico lingüístico. A arte não leva o homem para Lua, porém traz a Lua ao homem. Você lembra da primeira carta que Rose encontrou atrás da igreja? Então, aquela carta não era obra de Leucipo, mas obra dum mestre da alquimia da linguagem. Seu nome nunca foi definido, ele se julgava cidadão do mundo (cosmopolita) e nunca 344 quis adotar uma identidade. Sendo dessa forma coube a cada discípulo ou admirador lhe chamar como quiser, é como se ele fosse uma poesia e cada um criasse o seu conceito. Eu lhe chamo de Alberto Magno, por ser em minhas concepções históricas o mestre que ensinou os princípios da alquimia para S. Tomaz de Aquino. Esse homem era um artista fabuloso, dominava como ninguém os segredos da linguagem e, foi esse fabuloso domínio sobre a linguagem que lhe tornou eterno. Cabe a mim, mostrar as suas anotações da primeira das infinitas naturezas da pedra filosofal. Lembre, você é o responsável pelo entendimento das palavras. 345 Um dia eu ainda vou entender o que se passa nesse lugar. Um dia eu ainda vou saber o que é e onde fica esse lugar. Pouca coisa sei sobre ele, sei que é bom, sei que tem em seu imo a vida em pureza exuberante. Parece que esse lugar é um lugar indefinido, infinito e homogêneo. Eu consigo pressenti-lo na flor que nasce, na água que escorre, no pássaro que voa, nos olhos dum amor. Agora perdi a essência desse lugar, e tudo está escuro para procurar. Porém ainda uma aranha tece sua teia, ainda o grilo disputa canções com a cigarra, ainda o sol brilha as cores do arco-íris. A fusão dessas cores cria a cor que pode estar em tudo que é belo, mas não pode definir, eu ainda procuro esse lugar, esse movimento de sentidos. Um astral que mergulha nas profundezas da clareza, uma clareza que demonstra como é ser e ter beleza. Agora entendo porquê a formiga trabalha, ela trabalha porque não quer cantar. Isso é um mar de ondas da vontade de existir como existente. Paz é o equilíbrio entre céu e terra, você e eu, palavra e conceito. Eu estou vivo, estou bem vivo, isso é o que intereça, pouco importa a explicação disso, explicar não explica nada. Um dia talvez, mas não agora... Alberto Magno. Que lugar é esse? Não interessa, pois só você sabe qual é. O 346 importante é notar donde provêm esses princípios alquímicos. Note que assim como eu, Magno também critica criativamente a explicação como resposta para algo. Pode se comparar esse texto como algo de certa forma com natureza explícita, pois você vai conhecer textos que nem mesmo o autor entende. Mas isso não quer dizer que seja incompreensível, o mundo é tão gigante, seria impossível não conter nele um conceito para tal texto. Você cria e pronto. Certa vez uma caravela chegou em meu castelo. Nesse tempo eu ainda era jovem, e estava conhecendo uma nova estética de existência, pois a imprensa estava nascendo. Nessa caravela desceu 347 uma mulher linda, seus olhos brilhavam como duas pedras filosofais. Fiquei fascinado com sua beleza magnífica, ela era a única pessoa da caravela. Sua juventude poderia ser comparada com o sol da manhã. Essa mulher chegou em meu castelo como uma nuvem chega no céu. De repente. Sem falar nada ela sentou numa poltrona, tirou os seus braços do casaco e da sua bolsa retirou uma pedra. Essa pedra não era como a minha, era uma pedra filosofal de natureza azul, a minha era de natureza branca. A pedra de natureza branca é a que possui a essência pura, é a pedra denominada linguagem. Já a pedra azul é uma manifestação da pedra branca, não deixa de ser 348 pedra branca, mas a sua denominação é beleza. A beleza é a única capaz de quebrar as formas de existência da linguagem. Logo depois de retirar a sua pedra da bolsa ela me disse que precisava de ajuda. Falou-me que seu reino estava correndo perigo, disse que precisava duma pedra filosofal branca para derrubar a dialética que se formava entre as sua pedra azul e a pedra filosofal negra, do famoso alquímico lingüístico Turpan. A pedra negra produzia um conceito sobre as palavras, esse conceito é conhecido por Platão como “linguagem veneno”, mas não deixa de ser um conceito, pois se você conceber como você quer, ela vira veneno ou não se você 349 quiser. Eu ajudei aquela mulher, mostrei como fazer uma pedra filosofal da linguagem e ela não precisou me ensinar a fazer a pedra filosofal da beleza, pois quem sabe fazer a da linguagem sabe fazer qualquer uma, até mesmo a do veneno. O nome dessa mulher era Mayleisten. Ela conseguiu salvar o seu reino e como agradecimento me ensinou a usar um aspecto da pedra azul. Ela parte de princípios artísticos solares, duma beleza que apenas se representa em si própria. Numa forma poética, como deve ser a primeira das infinitas naturezas da pedra filosofal. Veja como a água é límpida. Olha aquele peixinho viajando. Eu consigo nessa água enxergar as lágrimas dos meus olhos. Essas 350 lágrimas escorrem em meu rosto e aumentam a formosura da água. Será que minhas lágrimas não são as fontes dessa água? Se forem, eu pergunto, o que faz meus olhos produzirem amor líquido? Talvez seja um desejo, um desejo produzido pela vontade, uma vontade igual a que faz o peixinho viajar nas lágrimas de meus olhos. Luz brilha nessa volúpia incansável de ser uma beleza esplendida e eternamente única. Olhos que fascinam e despertam a beleza nos alquimistas da linguagem. O eco de suas palavras cria a beleza da água azul. Mayleisten. Com tudo que se pode ver nessa estrutura, você leva uma espécie de antologia mágica, que além de criar mundos, cria também anseios. Ela poderia ser considerada uma alquimista da linguagem, mas o seu reino não foi criado para ter uma alquimista desse porte. Ela é uma alquimista que busca o exilar da longa vida, busca transformar chumbo em ouro. Enfim, é uma alquimista normal, com desejos e vaidades, 351 tudo que a pedra azul proporciona. Ela não é menos e nem mais do que um alquimista da linguagem, é apenas diferente em aparência, mas no fundo é a mesma coisa. Você já conhece dois licores da primeira das infinitas naturezas da pedra filosofal branca, ou da linguagem. Agora precisa saber coisas reais, de realidades ilusórias, precisa conhecer o mundo da palavra. Um mundo onde tudo pode e tudo se deve. Não se assuste com esse tratado. Sei que você saiu duma história racional e obscura, mas agora está numa história de movimentos. Não sei como lhe informar, mas você já está entre o mundo do leitor e o mundo do escritor. Você já não está apenas 352 lendo isso, você está participando disso. Lembro que no dia em que os atores e eu definimos as nossas identidades, Rose perguntou para Dr. Ariston como ele definia o tempo, ele respondeu que o tempo era apenas uma palavra insignificante, Rose ficou sorrindo por algum tempo e depois perguntou como ele conseguiu ser doutor falando essas bobagens. Então Ariston olhou seriamente e disse: “consegui ser, porque nunca disse o que pensava”. Rose ficou pensando e depois entendeu que estava sorrindo à toa. Essa lembrança me faz refletir sobre a existência, afinal por que temos a concepção de existência? Não sei responder, mas sei que posso superar isso. Se nada 353 existe, se a realidade não existe, se o homem criou tudo, então por que não conceber a invenção como existência, pois se invento eu crio? Se você quer entender os aspectos da pedra filosofal, deve obscurecer a existência. Fazendo tudo existir e sendo assim não tocar mais na palavra existir. Se o rei representa a autonomia sobre o poder, o louco representa a autonomia sobre a sabedoria. Quem é sábio é louco, pois existem poucos sábios no universo. E, o que é pouco é louco. Mas aqui isso não impera, não somos levados por estatísticas proporcionais. Somos loucos, porque aqui é normal ser louco, todo mundo é, até mesmo os que não são, passam a ser, pois são minorias, e sendo 354 minoria, nós usamos estatísticas proporcionais. Não falei, aqui só dá louco. Agora cuidado com esses meios termos. Quem não sabe o que é pergunta, não sabe o que é sofrimento psíquico. E sendo psíquico logo é físico, pois é impossível o físico sem o psíquico. A pergunta é o sofrimento. Se você não pergunta, você é um verme parasita, que talvez seja mais sábio que os ansiosos do nirvana, pois eles perguntam e tentam sentir o nada como forma se existência holística. Não querem discutir nada, pois sabem que o outro é ele próprio. Então vivem felizes com si mesmos. Até parece ironia de minha parte, mas não é. Afinal o que é é? Talvez é é e pronto. Porém posso perguntar 355 se o é é pronto, então o pronto é o é? Deixa pra lá, não vamos cair em armadilhas lingüísticas. As palavras não são minhas inimigas, pois elas são eu. Podemos constatar que pode haver um significante e vários significados, como já vimos nas palavras explícitas e implícitas. Porém antes de continuarmos nesse tratado, você deve saber que a arte é um sinônimo da linguagem, então cuidado com aquela pergunta: “que é arte?”. Lembre do cicluno, a arte é a linguagem com outro aspecto. Às vezes quando estou escrevendo me vêm do nada coisas engraçadas. Agora mesmo lembrei do que escrevi acima sobre a existência, isso me fez refletir sobre a evolução 356 darwinista. Talvez daqui alguns anos, a ciência acredite que o homem evoluiu do burro, e desenhará uma caricatura dum centauro separando os conceitos, dum lado o que existe, do outro o que não existe. E no final o centauro vai dizer: “puxa! Não têm mais conceitos para separar, acho que vou mistura-los tudo de volta só para não ficar sem fazer nada e depois irei separa-los em real e irreal, ou melhor, em primeira natureza e segunda natureza, melhor ainda, irei separar em significado e significante, porque se eu separar eu vou conseguir entender”. Você já pensou que a história dos préhistóricos, isto é, dos que não dominavam uma língua, foi criada pela própria língua? Vamos de 357 novo, ideogramas e fonemas, ambos são águas, o que muda é o recipiente, mas o que importa o recipiente ou a sede? Tem alguns preferem morrer sem saciar a sede, para descobrirem como e qual é a forma do conceito, sem saber que o conceito é a água, que se apresenta como veneno para que não a tomem. Conceito, mas o que é conceito? É um sinônimo de arte. Ainda quer saber a resposta? Cuidado com as palavras, elas levam para o cicluno. Sei disso muito bem, pois sou o Homem Palavra, quem constrói o que é. E, se um lingüista que estiver lendo isso agora, me dizer ao léu, que há uma língua escrita e uma língua falada, sem dúvidas nenhuma eu o classificaria como um centauro 358 se eu fosse um cientista do além. Se você lê isso não concorda comigo, digo que você está tentando ensinar o canto do pardal para o bem-te-vi. Mas lembre, somos todos papagaios. Deixando esses contextos, digamos, burocráticos. Partiremos para uma nova instância da pedra filosofal, trata-se dum texto escrito recentemente em algum lugar do planeta e por alguma pessoa que domine uma língua. É uma forma estranha de arte. Esse sujeito escreveu um licor da pedra branca, e sem que ninguém soubesse do que se tratava espalhou cópias pelo mundo inteiro. Essa carta deixava perplexas as pessoas que a recebiam. Era uma espécie de jogo, que inclusive foi utilizado 359 nos primórdios da revolução anarquista do mito-vírus ignorância socrática, mas não foi antes descrito, pois achei perca de palavras executar tal ato naqueles momentos, porém agora acho ser o tempo certo. MEIOS METAFÍSICOS E OUTRAS ENTIDADES DO MUNDO SOBRENATURAL Entre o centro comunitário existe o ser. Contracepções estéticas sobre um mito surgem como propaganda de jornal. Se você que lê isso for esperto, saberá do que falo. Eu estive entre vocês há alguns dias. Lembro da forma psíquica que manipulava sua definição como cidadão. Marcado você está, todos que lêem, eu sei de tudo. Estarei onde devo estar, no momento que devo estar. Marcados como boi de corte. Não vou argumentar a índole dessa premissa, entretanto poderei ser preciso, eu vou lhe transformar. Isso é apenas o início dos sistemas. Estou te espiando agora mesmo. Vejo seus olhos de espanto perante esse behaviorismo místico. No teatro você pode me encontrar, sob a penumbra do espetáculo e o espectador. Meia noite estou no rio da cidade, pescando normalmente. Antes de conferir essa antologia 360 magnânima, parta sobre princípios etnocêntricos e juvenis. Como se as organizações estivessem incumbindo estremas existências superficiais. Não viva em transportes delirantes, só seja estupendo quando for a ti marcado o local. A chave do sistema está em suas mãos, olhe para fora se estiver dentro e vai me ver, mas se você já estiver lendo fora olhe para o lado. Um menino correndo, uma bicicleta passando e fim dessa alquimia secrétissima, entre o pó e o bar. Só lembre: eu estou bem perto, sempre te espionando, saiba que você não está lendo à toa esse papel, você é o único que possui, não há cópias. Eu sei quem és. E você pode saber quem sou. Até parece que ele sabe da essência de tudo. Ele se coloca como a essência de tudo. Sabe que essa essência é a linguagem, sabe que a alquimia é o meio de estudar as essências. Sabe que alguém está lendo. Enfim, esse sujeito sabe muita coisa, mas não sabe que eu sei quem ele é. Sei como e onde ele escreveu esse negócio. E para responder as suas 361 brincadeirinhas eu utilizei os mesmos procedimentos para mandar-lhe o seguinte licor da pedra filosofal branca. Esse texto pode exprimir coisas que já tratei há pouco. Eremita malandro, que vale suas artimanhas no deserto? Tento entender até ontem isso. Seja qual for o gueto, ser a areia da ampulheta é preciso. Suas vontades de vaidades egoístas pouco dizem sem eco. Olha quanta gente, quanta coisa, sem nexo, sem idade, mas com todo teste possível no canto extremo do abismo tácito. Lume lindo esse, não acha? Mostra tudo que deve ser nesse instante passado futuro; diga que não estou, já viajei para além disso, pobre volúpia! Dormindo digo sim, mas agora nem sonhando. Jorrar isolado é mandar no marfim oceânico de coisas oníricas gregas. Tenho que trabalhar para mentir que sou a gente, sou super-homem não formiga, porém não tenho direito de ensinar, mesmo não sendo nenhuma ficção. Filosofia de aborígine é bem mais volumosa do que filosofia de formiga, bobagem à toa, quase duo. Sempre com dubiez e cinético, esses temas poucos são, mas muito confrontam com o empirismo dos termos conjugados moleculares. Quer me entender, 362 leia, senão eu também não devo lhe entender. Leia tudo que não está escrito, e não chore na porta feliz. Esse lépado é muito quadrado, - é perfeito lá donde nós viemos. O perdão por esse desprimor cômico; astral é todo romance solar, sino é barulho em Olinda, mas respeito para você, seu isolado siberiano, que busca no fundo do peito uma coragem para vencer essas manhas anti-ego que tu tens. Soube que ti mandou tirar aquele mamute do caminho, onde havia um homem vivo e outro morto, por que me disse que só tinha um em? Chega hoje ta bom, já dá pra saber o grau de minha loucura. Somo loucos só por causa que somos poucos, né ex-estranho? Depende somente de você, para que essa brincadeira se torne brincadeira. Deixe de lado as contracepções da concepção e venha conhecer o mundo da linguagem, da arte e da realidade. Só criticar não adianta, é preciso entender para depois criticar. É tão fácil dizer que esses licores da essência da primeira das infinitas naturezas da pedra filosofal da 363 linguagem (branca), é coisa de louco, que eu até posso dizer que um leitor que lê, sabe o que não precisa. Não demorou muito e o sujeito me deu a resposta. Ele talvez tenha entendido que o que eu lhe mandava era um licor de alquimia. Sendo assim ele arranjou algo muito bom dentro do tipo de alquimia que tratamos aqui. É algo sublime e confuso, quem sabe ele notou que eu sabia quem era ele e quis tirar uma de culto anormal, mas nada de tão grande assim, nada que eu depois não resolvesse direitinho. Quem tem muito a ganhar com esses licores é você, caro leitor. Veja o que ele me mandou. ...dá muito sentido esse negócio, coisas de tempos repentinos; depravados numa lógica 364 positivista. Sem isso era homem estranho, mas com esse embrulho vejo algo representado como James Joyce, ou trecos de Sebastopol pra rainha qualquer. O assim falou Zaratustra. O Freud lançou coisas que Hermes criou, - etâ papagaiada malvada, certo? O é demoro! E veio Jung e Id invertido em anima e animus, coisas bobas e legais isso. Pena ser fotocópias! De Anaxágoras que por sua vez copiou do Surya; quando que é exclusivo? Seja isso, por favor, ta bom letrinhas bandidas? Encarnação é alencarismo puro, sem notar o helenaismo do machadismo de aço que corta muito. Copias, tudo isso copias, será que sabem inventar línguas? Feiskyqjjso, jibeitayu politaus maitus; desr§ é por aí só eu sei então é meu é único, não é copias,.- hei, Keltói isso não é russo, mas esses símbolos são copias?- é mesmo, Dr. Nikita, esses riscos já existem, puxa! Não foi isso que fez algo novo, porém nada fez de velho. A chuva caiu como um alivio enraivado dos acervos do falcão moralista kantista do canto do quarto redondo. Passo o passo por passo a passo, é mesmo! Não sabia disso, agora esqueci que acabei de inventar uma concepção de aprender refrigerantes instantâneos oólito. Crítica? Sai daí maluco! Esses lotes são para ociosos que nada fazem e muito movem sonhos sem arquitetura cartesiana. Trialado espião, quem pensas que é para botar respeito nas ocas dos deuses? Já disse, poesia é a palavra de 365 deus, poucos sabem ler, e quem não sabe, diz ser muito tácito. Mas é escrito em luz de velas, quase na simetria do sol. Pra que defender pouco de ti mesmo? Você é tudo, é Brama, não é nada, é isso, e muito que chega a ser pouco? Sua essência está no céu, somos feitos de estrelas, muitas, porém noutra percepção uma só. A paz é você, a liberdade é você, não venha dizer que é impossível, não é impossível ser você basta um espelho bem rústico e pronto, de um de Júlio Plaza e termino epistolar. Não é velho mundo esse tempo, nem chega a ser mundo, coração estrelar, lançou veneno na biblioteca cósmica que consta cada letra que por mim passaram, chega quase com esse, a uns números que não dizem mais do que zero, representado assim: 1.957 livros consumidos, em um dia vida, ontem não é hoje, é vida, é eu. Parado emolindo o nada, paraíso vista de mundo de outras naturezas montadas nesse mesmo universo energético quase ramerrão sem memória.... Você pode notar como pensa ser culto esse sujeito. Mas para essas brincadeiras eu não perco tempo. Pois sei que o conhecimento não é conhecido, mas criado por superação do medo do 366 desconhecido. Então deixaremos para trás esse indivíduo não identificado. Você já conhece alguns licores da pedra filosofal branca, agora vai conhecer um relato de poções de acréscimos. Como se você já soubesse no fundo do coração a definição da arte. Você sabe e não precisa mostrar para si isso. O que você vai saber é como a escritura é uma artimanha de artista. Uma poesia escrita por um grande poeta, diz que nesse papel está jazendo um poeta, e todo esse silêncio é suas obras completas. Trata-se de um poeta sem língua? Não caia em um engodo. Preste muita atenção. Poesia é arte, então ela está em tudo, não pode ser entendida nem por palavras nem por silêncio. 367 Antes de essa poesia surgir, eu caminhava tranqüilamente pelos desertos Mexicanos. Uma nuvem de poeira surgia longe e logo sumia. O sol esquentava todo o universo, minha garganta estava seca e o cantil estava semi-úmido. Em cada lado que eu olhava avistava a mesma paisagem, um monte de areia fervendo como um caldeirão. Eu caminho por uma velha trilha de índios. Caminho com esperança de alcançar um lugar melhor, talvez um oásis, ou uma tribo. Na verdade eu caminho sem destino, caminho para fazer alguma coisa, eu queria conhecer o planeta com meus próprios pés. Essa idéia surgiu do livro que eu carregava, era o livro de Leucipo de Minas, queria sentir como é ser um Thace Pahazy Filibuster, mas 368 não tive a mesma sorte que ele. Aqui ninguém conhecia meu pai, não havia bruxos e nem piratas, só havia uma linda e ao mesmo tempo vazia paisagem. Só eu, o sol e o caminho. Meus pés começaram a fazer bolas, eu não tinha como tratá-las, não tinha mais água e tudo que podia fazer era tentar andar com os pés sangrando. Depois de algum tempo, parecia que eu estava pagando uma promessa por ter conquistado o mundo, pois nem mesmo quem tivesse saído do leito de morte faria um agradecimento como fiz. Lógico que eu não estava agradecendo nada, talvez estivesse comemorando minha existência. Mesmo assim não tive mais forças para continuar, caí no chão 369 quente, a areia entreva em meus olhos e narinas, o sol ainda fervia todas as minhas idéias. Eu comecei a pensar em coisas sem nexos. Pensei que iria morrer alí cozido como milho. Mas existia um certo conforto naquilo tudo, parecia que o planeta estava me acolhendo, parecia que deus estava me abraçando. Depois comecei a pensar, que isso era devaneio, depois que comecei a pensar nunca mais acreditei em deus, por que ali deveria pensar? Não sei, mas senti algo muito agradável naquela ocasião, não tinha mais problemas para resolver, não tinha que ficar pensando na origem de tudo, não precisava de língua nenhuma, não me importava mais em saber que tudo era uma única coisa, não 370 ficava irado com o método cartesiano-newtoniano, não tava nem me importando para o que os críticos iriam achar de meu livro, não estava pensado em mais porcaria nenhuma, queria só curtir o momento, queria que cultura, linguagem e todas essas coisas fossem para porta que partiu. Só queria sentir aquele calor evaporando toda a minha essência e sentir a morte bem sozinho, só eu e ela, num silêncio eterno, eu estava tão tranqüilo, meus olhos já não abriam e minha respiração era imperceptível. Eu ainda estava vivo quando o sol foi embora, meus pés estavam um pouco melhor, mas eu não conseguia enxergar nada naquela escuridão, não sei se é porque estava escuro ou se eu estava 371 com remelas nos olhos. Só sei que começou a ficar frio pra diabo. Não conseguia mais ter aquela sensação gostosa do calor, comecei a tremer e pensei na possibilidade de ser congelado vivo. Mas não lembrei de nada no outro dia, só sei que acordei com um monte de pessoas, com trajes rústicos, talvez não seja a melhor palavra, mas eram roupas de coro e penas de águias. Pensei que havia morrido e chegado no céu, ou em outra dimensão de espaçotempo, mas notei que se tratavam de índios e que eu não havia morrido. Fiquei por lá alguns dias, comendo coisas estranhas e ouvindo uma língua que não sabia qual era, mas quando eu falava eles riam, talvez pensassem que era estranho, assim como eu 372 também pensava que eles eram estranhos, foi justamente nesse estranhamento que eu senti o distanciamento. Foi esse distanciamento de minha forma de ser, que me fez refletir sobre tudo o que eu era e sou até nesse momento de minha vida. Senti um outro universo surgindo em minha frente, então nessa experiência que aprendi a fazer a pedra filosofal branca, pois eu não sabia sobre toda a linguagem, eu não sabia que minha cultura se dizia superior por dominar uma tecnologia que pouco significava para aquelas pessoas. A pedra filosofal é universal, ela não está na cultura ocidental como uma arte alquímica, ela apenas é representada aqui por esse conceito, mas todos sabem e 373 possuem essa qualidade, basta fugir um pouco de si, mesmo que seja impossível tal ato, para poder finalmente entender sem definições como ter o poder da linguagem em seus domínios. Eu comecei a pensar ali mesmo sobre tudo isso, então queria anotar essas coisas para não esquecer e poder colocar no livro, mas o problema é que não encontrei caneta e nem papel, aquelas pessoas carregavam sua história na mente, e talvez a minha presença seja assunto para os jovens daqui algumas gerações. Eu estava me sentindo um antropólogo entre Dons Juans, falto só o mescalito e a erva do diabo. Era tudo diferente, eu não sabia como tomar banho, não 374 sabia como falar isso para eles, não sabia o que eles pensavam sobre o mundo, não sabia se eles tinham esse conceito de mundo. Havia tanta curiosidade, mas eu pouco soube entender. Talvez por eu ter esse jeito de querer buscar a verdade sob a lógica, e pensar que as palavras que dominam o meu pensamento são as únicas ferramentas para compreender o mundo. Talvez se eu pudesse tentar aprender uma nova forma de pensar, porém sempre vem a mesma pergunta: “se eu pensar de outra forma tenho que me expressar de outra forma, então não preciso escrever esse livro?” isso machucava meu coração, pois eu amo as palavras, eu sou palavra pura, é através delas que consigo lhe dizer tudo isso que 375 digo agora, é ela que me transporta para os paraísos que tanto anseio, então por que matar quem ama? Eu nunca devo matar a mim, o livro é minha moradia eterna, lá eu conheço tudo e todos, lá também posso conhecer o desconhecido e é isso que dá sentido em minha vida. Se você não gosta tudo bem, o que importa é eu, eu sou o mais importante, e sendo eu a linguagem e sendo eu tudo que ela pode ser, você também acaba sendo o mais importante, eu amo tudo que é importante e não gosto do que não é importante, pois não consigo pensa-los, estão onde não podem estar, onde o infinito é dono. Na pureza do sorriso da mais bela das crianças, você pode 376 encontrar a linguagem. Na leveza da pluma que vaguei no ar, você pode encontrar a linguagem. No outro pensador que pensa o que você não gosta, você pode encontrar a linguagem. Nas coisas que você deixou de acreditar em nome da palavra, você pode encontrar a linguagem. Na mosca que lhe atrapalha quando escreve, você pode encontrar a linguagem. No sistema que limita a sua vontade de liberdade, você pode encontrar a linguagem. Nas palavras que demonstram uma linguagem, você não deve encontrar a linguagem. Na pergunta que você lhe faz sobre a frase anterior, você pode encontrar a linguagem. Mas se você não quiser ir encontrar a 377 linguagem, não precisa, basta ir no espelho. Você já tem um bom material para construir a sua pedra filosofal. Eu lhes deixo agora, com apenas um simples detalhe a lhe fornecer, eu ainda não terminei esse livro. Falta você conhecer uma história, ela vai ocupar mais caracteres em sua mente do que nessas folhas. Tudo começa em um outono, num lugar que você ainda vai saber, tratando de um assunto que além de ti ninguém mais sabe, nem eu. Vai falar do homem, já que você já pode construir a sua pedra filosofal, deve saber usa-la. A linguagem pode criar como pode destruir, ela é um Sol que depende da Lua. Agora mesmo você ira juntar todos os fragmentos de conceito, 378 que havia separado, para não ser considerado num futuro remoto, um centauro. Com a união dos conceitos, vai construir o seu castelo e ser um rei, um Homem Palavra. Depois de ter conhecido a arte dos índios, eu comecei a me enxergar melhor, percebi o quanto sou ignorante sob a linguagem, não consigo mostrar de fato como são as coisas, penso que tudo é uma única coisa só para poder aliviar a tensão. Mas veja que às vezes esse método holístico não resolve nada. Eu ainda tenho dúvidas, sei que sou humano e é isso que me faz feliz sobre esse aspecto. Hoje temos que sobreviver, mas eu quero apenas viver nada mais. Escrevi um livro 379 estranho, mas senti que escrevi com o coração. Fico pensando agora no que fiz, em minha ousadia, em minhas críticas, pensando que era um gênio e esperando ser reconhecido por isso, mas sei que assim como eu ironizei Derrida, Saussure, Descartes e outros, pessoas vão me ironizar. Não pretendo com esse discurso minimizar esse fato, pois sei que isso faz parte do pensamento científico, porém digo que o que eu escrevi não foi ciência, não foi filosofia, não foi mitologia, mas considero o que fiz uma simples e pura arte, capaz de atingir tudo em sua volta. Estou dessa maneira por consciência de algo que está preste a acontecer. Esse livro acabou, como acaba uma vida. Eu 380 não tinha motivos para ser esse livro, não tinha poder para criticar a mim próprio. Deixei apenas rastros quase implícitos. Devia estar feliz nesse momento, mas estou refletindo com uma tranqüilidade estóica. Às vezes acho que devo permanecer em silêncio, assim eu consigo mais respostas, pois não haveria mais perguntas. Nesse mundo anarquista, onde os atores foram chaves principais, existiu três pessoas, que assim como eu ficaram perdidos no deserto, mas no deserto do Saara. Era um poeta, um cientista e um sem cultura fixa (cosmopolita), ninguém sabia a língua de ninguém. O poeta escrevia na areia as suas poesias, mas apenas o vento entendia e apagava como 381 correção. O cientista tentava se orientar através das coordenadas geográficas, mas como não possuía um GPS, ficou mais perdido do que um grão de areia, então ele se preocupava com a sua nutrição, calculando a quantidade de proteínas que faltava para seu sustento diário, enchia de números a areia e outra vez o vento apaga como correção. Já o homem sem cultura, não tinha identidade, não tinha língua, não tinha tecnologia, não tinha nada e não queria nada, ele apenas ficava olhando para o vento e para os rabiscos do poeta e do cientista. O poeta morreu logo, ele estava triste por não ver as suas obras eternizadas, ficou bravo com o vento que ele tanto homenageava 382 nas poesias, morreu de tédio por não poder deixar amor. O cientista conseguiu viver mais algum tempo, segundo ele, conseguiu permanecer 21 horas e 32,5 segundos a mais do que o poeta. O homem sem cultura ficou sentado, olhava com tristes olhos para os dois defuntos, ele sentiu que estava sozinho, sentiu que apenas o vento lhe acompanhava. Ele viu o vento cobrir e apagar de sua visão os corpos dos amigos, então ele notou que o vento fez com o poeta e o cientista o mesmo que fez com as poesias e os cálculos, apagou como correção. O homem sem palavras continuou a sua vida eternamente vagando pelo deserto, ninguém sabe se está ou não vivo. Esse 383 homem sou eu a partir de agora. Não sou mais o Homem Palavra, sou apenas um deserto e nada mais. Vento. - Oi Kelton! Oi! Eu vi a porta aberta e resolvi entrar. Estou vendo. O que estava fazendo? Passeando. Em qual universo? Nesse livro. 384 - Deixei-me ver? Homem Palavra, Kelton Gabriel, mas é seu? - Acho que é, porém não comprei em nenhuma livraria. - Que legal! Tenho um amigo escritor, do que se trata? - Não sei. - Não sabe? Mas como? - Mas como que vou saber do que se trata se eu nem li? - Nunca vi, um escritor que não sabe o que escreveu, parece dadaísmo, é isso mesmo? - Já falei, eu não sei do que se trata, pois ainda não li. - Você é uma figura mesmo, sempre querendo ser diferente, mas pare de ser por um instante e me fale do que se trata. - Você sabe ler? - Não brinca, eu ainda não faltei com educação. - Não estou com nenhuma ironia, se você quer saber do que se trata leia e me traga amanhã. - Mas é muito grosso, não vou terminar até amanhã, lhe trago sexta, ta bom? - Beleza, mas cuidado. - Cuidado com o que? - Com você. - Tudo bem Kelton, se vêmo! - Falo. 385 - Daí Kelton. Daí. Vim trazer seu livro. Entra aí. Porra cara! Você viaja demais. Não sabia, é verdade. Já sei, você ainda não leu o seu livro. É. Eu gostei, mas têm partes obscuras, sem nexo, não prende a atenção do leitor. Sério? Sim, é muito difícil entender no começo, que o livro que você está lendo não é o livro principal, mas o livro de um personagem. Então deu certo! Certo o que? Eu consegui tornar o Homem Palavra invisível. Quem é o Homem Palavra? É você? Não, não é eu, é apenas um ícone que representa todas as personalidades que se encontram vivas em palavras. Palavras? Mas palavras são apenas símbolos e não possuem vida sem o homem. Você sabe que aquele homem não é um homem, é apenas um símbolo, mas você sabe se um símbolo é um símbolo? Cara acho que você está pirando, não precisa ficar aí lendo a vida toda, tem que sair, refrigerar a mente. 386 - - Pode ser. Vamos aonde? Bom sei lá... o que você acha da biblioteca? Biblioteca? Você não disse que era pra mim dar um tempo na leitura? Não é que eu pensei em queimar uns livros pra torrar uns pinhão, que você acha? Pode ser, mas pra que queimar? Ué? Você não fez um livro para acabar com todos os livros? Não nesse sentido, foi só uma forma de tentar encontrar outra forma de vida. Vida? Sim, um escritor só vive no seu livro, lá ele é eterno. Cara você está com um sentido de vida entanto, pena ser feito de pena. Gostei dessa rima. Não foi rima. Eu sei, mas eu queria mesmo é sentir como é a vida sem as palavras, num deserto. Você não deve ser crítico em sua sociedade, ser anarquista é sofrer a vida toda. Eu não sou anarquista, não sou nenhum “ista”, quero apenas ser humano. Você é humano? Se ser humano é ficar em infinito paradoxo com o próximo, eu não sou, mas só pelo fato de eu me considerar como não sendo eu acabo sendo. Por que? 387 - Estou contra os que são contra. - Legal, mas não vá acabar como Mishima ou Tolstoi. - Por que não? Se eles morreram como quiseram? - Você não deve morrer como quiser. - Por que? - Porque um homem não deve querer morrer. - Nem precisa querer. - Não precisa mesmo, mas precisa querer viver como quiser, é justamente esse querer que faz a vida ser. - Obrigado por sua crítica, quero que volte algum dia qualquer para bater um papo. - Eu volto, mas lembre Kelton, você não vai mudar o mundo com esse livro, mas nunca deixe de tentar, é só isso que traz um sentido na vida, as palavras são grandes armas, use só quando tiver vontade de ser, um mundo sem palavras é um deserto frio e quente, como a morte, e a morte é inevitável, você já têm a morte, aproveite o que é ilusório, é só isso que você não terá eternamente. - Conheço essa filosofia, eu conheço pela ilusão, só ela traz o conhecimento. - Não Kelton, não é a ilusão que traz o conhecimento é o desconhecido. - Você tirou isso do meu livro. - Do seu não, pois você nem sabe do que ele se trata. 388 - É mesmo, desculpa. - Tchau Kelton. - Tchau. 389 390 391 392 393