Homem Palavra - KELTON GABRIEL

Transcrição

Homem Palavra - KELTON GABRIEL
HOMEM
PALAVRA
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KELTON GABRIEL
HOMEM
PALAVRA
O LIVRO PARA ACABAR COM TODOS OS LIVROS
18
DADOS INTERNACIONAIS PARA CATALOGAÇÃO NA
PUBLICAÇÃO
DO
G000 Gabriel, Kelton.
Homem Palavra : O livro para acabar
com todos
os livros / Kelton Gabriel . – Castro, PR : K.
Gabriel, 2003.
323p. ; 21,6 cm.
ISBN ooooooooooo.
1. Romance brasileiro. I. Título.
DEPARTAMENTO NACIONAL DO LIVRO
CDD ooooooo
2003
Todos os direitos desta edição reservados à
Editora Epipa.
Rua Octávio Torres Pereira, 50.
84.172-530– São Paulo – SP
telefone: (0**42) 3233 4709
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Escrevi um livro. Talvez eu tenha que obedecer a
tradição literária. Concebendo esse ritual, devo dedicar
esse livro para alguma coisa. Pensei em dedica-lo para os
vermes pioneiros que vão consumir minha carne,
imitando um gênio da pena. Porém acho que devo
dedica-lo para pessoas, pois sei que vermes não vão ler
isso. Dedico para artistas, que foram além de seus
limites, agradeço aos irmãos Campos por trazerem
homens ao português, mesmo sendo apenas uma
sombra dos originais. Livro esse também é dedicado para
poetas, um certo Paulo Leminski, que brinca com seu
“bicho alfabeto” coordenando as suas vinte e três ou
mais patas, por caminhos que só ele atinge. Para nosso
eterno Raul Seixas, que com sua filosofia foi responsável
pela formação psíquica do Leucipo de Minas. Agora numa
seqüência: Castro Alves, Érico Veríssimo, Leonardo da
Vinci, Cazuza, Renato Russo, por falar em russo: Tolstoi,
por falar em escritor: Miguel de Cervantes, por falar em
gênio: Gandhi, por falar em pessoa: Mona Lisa, por falar
em arte: Palavra, pois sem ela não haveria nenhum de
nós aqui grafados. O jogo não teria graça. Bom, acho que
nem haveria jogo, mas será que haveria homem? Ainda
não sei, mas já sei pra quem dedicar esse livro, o dedico
para o Homem Palavra.
Surgeumacertaformadeexpressãonãomontadaparaserese
xatos
pedra além do drummond
quixote além do cervantes
palavra além do homem
20
...É uma coisa que eu só consigo
explicar por palavras:
21
QUEM SOU, DONDE VIM E COMO VOU...
Existe um caminho lá em cima
Um caminho onde o mundo rima
Nesse caminho existe lá no fim
uma cabana, cabana de alquimista.
O alquimista, um velho com pena.
Pena do azul, pena na mão
Ele escreve para si, ele escreve para ele
Ninguém entende, só ele, mais ninguém.
Um alquimista poeta, poesia sem leitor
Só ele lê, só ele escreve, mais ninguém.
Eu entendo, eu sei o que é, só eu.
Lhe digo que o poeta quer dizer:
Que ninguém no mundo pode ler.
Eu sou quem leu, eu sou quem escreveu,
eu sou quem disse, mas não sou o poeta.
Sou o alquimista, poeta é Deus.
O deus além do egocentrismo.
O deus além dos sentidos, deus-palavra.
Eu sou deus, eu sou o homem, no fim...
Sou deus, portanto sou homem,
Eu sou o Homem Palavra.
É só isso que sei de mim, nada mais.
HOMEM PALAVRA
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O HOMEM CRIOU A
PALAVRA OU A
PALAVRA CRIOU O
HOMEM?
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ARISTON DO VERBO
O HOMEM CRIOU A
PALAVRA OU A
PALAVRA CRIOU O
HOMEM?
UMA AVENTURA EM MUNDOS INTROMETIDOS
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AGRAMÁTICAÉUMAFERRAME
NTANÃOUMALEI
Isso deve ser bastante longo. A trilha por onde
iremos passar será densa. Conhecimento aqui impera,
pois não podemos distinguir imaginação disso. Ambos
são apenas uma coisa. Essa viagem é um começo de
algo que já começou. Mas isso cabe ao leitor julgar. Veja
isso tudo, como termina.
Longe de tudo que a civilização criou mora uma
senhora. Ela é índia e, presenciou a extinção de sua tribo.
Seu nome não existe. Sua língua é só dela. Ninguém no
planeta pode se comunicar com essa senhora.
Antropólogos encontraram-la em 1986, hoje ela ainda
permanece em seu lugar predileto, onde nasceu e quer,
talvez, morrer.
Paula é órfã. Menina bonita e inteligente. Cresceu,
estudou e formou-se em letras. Agora já sabe dialogar
cinco línguas. Conheceu numa conferência estadual:
Michael um antropólogo e Márcia uma autodidata. Essas
amizades trouxeram grande influência intelectual em
Paula.
No dia certo, esses jovens se reuniram numa
lanchonete. O assunto era gigante. Coisas como universo
e fonte da vida, surgiam entre as palavras. Márcia era
poderosa em filosofia. Michael governava relações
humanas. Paula criava mundos com simples versos. Isso
tudo só podia dar em samba. Cada sujeito era avaliado
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como pedra preciosa. Falaram sobre o Papa, sociedades
secretas, nova ordem mundial, religião, guerras,
literatura, idéias e sobre si próprios.
Dois anos depois, Paula pensava nos assuntos que
conversou com os amigos. Sobre tudo o que foi
lembrado, algo chamou sua atenção. Paula retomou as
velhas palavras de Michael: “ estamos estudando um
caso raro, trata-se duma mulher que mora só, pois toda
sua tribo foi morta”, pensando Paula lembra o lugar onde
Michael falou que ela mora. É no Peru. Recorda ainda das
idéias de Márcia: “tudo é apenas uma coisa. Essa coisa é
conhecida como Brama no oriente. Mas isso só é
entendido além das palavras”. Paula fica contente. Acaba
de encontrar sua tese para o mestrado. Basta encontrar a
índia que não sabe conversar com ninguém.
Mulher esquecida. Isso sentia Paula quando
trabalhava. Longe de casa perto de Quito no Equador.
Sua casa é em Belo Horizonte no Brasil. Sem amigos e
sem namorado. Pesquisa boba bancada por restos de
grandes dinheiros. Saber a deflexão do espanhol na
América do sul. Paula achava isso uma bobagem, mas
aceitou para não perder a chance de viajar.
Todo dia Paula lembrava de sua vida solitária,
debruçada sobre livros sem motivo algum. Sonhava em
ser bem sucedida, ganhar bem, ter um bom carro e uma
ótima casa, poder viajar todo ano para Europa e aparecer
em revistas. Essas coisas que faziam sua vida mover.
Jamais pensou em ser cínica e desprezar isso tudo, pois
tinha grande medo das conseqüências.
Sua vaidade era capaz de tirar horas de vida na frente
dum espelho qualquer. Cada momento que comia algo ou
se movimentava bruscamente, corria para o espelho
verificar o estrago de tais atos. Queria estar sempre na
moda. Tudo que ganhava como pesquisadora, gastava
em sua vaidade, isto é, roupas e perfumes. Certa vez
namorou um rapaz que trabalhava com equipamentos
vindos da Zona Franca de Manaus. Era um sujeito
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agitado, possuía um automóvel do ano. Talvez isso fosse
o motivo do pobre homem pensar que era melhor do que
um ciclista. Sempre estava atrasado. Jamais leu um livro
na vida, mas sempre teve moral para usar uns óculos
com quase zero grau, só pelo fato de ter uma aparência
de intelectual. Não que o fato de alguém não ler, seja o
fato que caracterize ou não, alguém como intelectual.
Mas o fato desse indivíduo nunca ter parado para pensar.
Seu namoro terminou logo, pois enquanto Paula falava
sobre X, ele estava em B, ou até mesmo desvendando A.
Paula constantemente praticava os idiomas que
dominava. Sentia-se como a senhora que Michael falou.
Já fazia três anos que estava em Quito e nunca encontrou
alguém que conversasse em grego ou russo. Pior de tudo
é se sentir como uma eremita. Tudo que sobrava para
Paula era a solidão. Queria chamar atenção das pessoas
pela capacidade intelectual. Mas ninguém ligava para
uma louca que passa o dia entre livros e palavras. Seu
medo era não ser compreendida é por isso que queria
dominar muitas palavras.
Vasculhando uma biblioteca, Paula encontra um livro.
Seu título era: O QUE NÃO É, NUNCA FOI. Escrito por
alguém qualquer. Tratava-se de contos filosóficos. Lendo
um dos contos Paula encontra uma grande idéia. Era o
princípio de sua tese. O mundo sem as palavras. Isso é
uma questão super discutida por intelectuais. “O homem
já sabe tudo”. Isso está no livro. Agora maceta as idéias
de Paula. Que ao pensar muito escreve algo:
As palavras tocam tudo
tocam no que vejo, pego, sinto...
tocam no que apenas sinto.
tocam no que não existe e,
fazem tudo existir,
num simples toque.
A única coisa que as palavras
jamais tocarão, é a:
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verdade absoluta, isso está
além de tudo. Só pelo fato,
de poder ser tudo...
Sem palavras eu seria puro
silêncio, pura ignorância,
apenas um nada com tudo...
Com palavras, sem verdade, mas
terá sempre muita vida.
Vida é pergunta, pergunta é palavra
palavra é? Quem sabe a verdade?
Palavra, tu és a maior invenção
do homem, tão forte, tão grande
que é capaz de destruir tudo que havia
antes de ti e, construir uma fortaleza
que nunca alguém que ali jaz
poderá fugir, sou sua prisioneira,
eu e toda civilização. Feliz quem está
fora de ti, mas imortais os que são seus servos...
A liberdade é a própria prisão.
Palavras, vocês são a essência dos deuses.
(PAULA)
Essa espécie de poesia, fez algo crescer em Paula. Seus
pensamentos são apenas destinados para tal questão:
como é a vida dos surdos, mudos e cegos? Tentava de
todas as formas alcançar um estado onde nenhuma
palavra lhe atingia. Mas quando olhava para algo, logo
pensava sobre a situação. Pensar sem palavras é difícil.
Decepção sentia. Paula queria ser livre das palavras, mas
não sabia que liberdade era uma palavra. A solução é
entrar no problema.
Começou a estudar línguas orientais. Sentiu que as
palavras por lá, estavam bem mais próximas do mundo
das idéias. Platão? Ele também era um prisioneiro, seu
mestre foi o criador da arte fonética, isto é: dialética.
Sócrates pensando palavras, viajando eternamente.
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Talvez Gautama? Sim o Buda, ele pensava além das
palavras. Um eremita, monge, mas é claro! Uma índia
sem tribo. Novamente lembra de Michael e sua pesquisa.
Paula pensa em ligar para o Brasil. Não. Isso não. Paula
havia prometido permanecer no Equador. Michael é
responsável por boa parte da pesquisa de Paula. Não
poderá ela ligar para o amigo. Tudo deve ser escondido.
Paula se dirige para a rodoviária em Quito. Pega um
ônibus e um guia de antropólogo. Encontra o que precisa
é um mapa das localidades indígenas no Peru. Quase em
Amazonas.
Ar fresco. Ar selvagem. Lá estava Paula, num lugar
onde nunca pensou que viveria. Já no primeiro dia sente
os problemas. Sem médico, sem casa, sem comida
pronta, sem livros, enfim sem nada, mas com tudo.
Longe das coisas civilizadas, mas perto de sua essência.
Só ela, o medo, a curiosidade, a floresta e a vida. Só isso
que ali consta.
Paula prepara acampamento, não tem ninguém de
companhia. Uma estrada. Estrada essa que marca em
Paula a segurança e, marca em si as linhas que pneus lhe
feriram no barro de sua existência. Paula quer saber onde
e quando deve andar. Quer encontrar a senhora que sabe
o que ninguém sabe. A mulher isolada com fonemas
alienados exclusivos.
Amanhece o dia, Paula acorda do sono que teve
acordada, pois seu medo não lhe permitiu a chave do
sonho. Olhos cansados em coisas cartesianistas. Paula e
seu GPS, em plena ação. Ainda faltam trinta e dois
quilômetros para Paula chegar na tribo de um índio só.
Vontade de fazer. Isso é quem regia a dama da floresta.
Problema é a solução.
E, que problema! Paula e uma onça, cara a cara.
Curiosidades cautelosas de ambas as partes. Uma
palavra aqui, um bramir lá. Será línguas distintas? Para
Paula isso em sua percepção é onça. Para a onça Paula é
Paula? Dúvida que pouco teve atenção da humana, pois
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passou muito tempo agarrada nos galhos de uma árvore.
Se Darwin visse isso, teria muita dúvida em sua teoria
dogmática. Paula teve paz quando sua amiga onça, foi
procurar outro alimento.
“Que é que há dentro de um nome?”, pergunta difícil
Paula encontrou. Onde? Em Ulisses de James Joyce. Sim,
isso mesmo, ela carrega alguns livros. O mundo das
palavras trouxe algo complexo para uma mente apenas.
Caminhando e pensando Paula encontra na floresta uma
pedra. Seria apenas uma pedra, se Paula não tivesse
almejado algo além da pedra. “o que será que tem essa
pedra?”. Não conseguia sentir o mundo platônico. Outra
vez caiu em desespero. Encontrou uma pedra sem lógica
criada. “Palavra pedra, o que isso quer dizer? Um nome,
um símbolo. Opa! Espera um pouco. Símbolo?”. Paula
sabe muito. “Quem nessa viagem entende mais de
símbolos do que Jung?”. Lendo bem alto a idéia: “um
símbolo não encerra nada; ele não explica. Ele remete
para além de si mesmo, em direção a um sentido ainda
no além, inatingível, obscuramente pressentido, que
nenhuma palavra da língua que falamos poderia exprimir
de modo satisfatório.” Paula sente que alcançou uma
ponta de resposta. E, após muito pensar tenta responder:
“uma coisa não pode saber o que é, portanto meu caro
Joyce dentro de um nome existe outros nomes”. Fim
dessa pergunta. Começo de um descanso.
Ola! Eu sou quem está contando essa história para
você. Tenho sido muito implícito até aqui, mas não tenha
medo; isso é apenas para tentar abusar da síntese. As
coisas estão começando melhorar, já estou parando de
me esconder por detrás das palavras. Você está
começando a entender melhor. Não precisa pensar muito
daqui para frente. Vou utilizar mais palavras e, terminar
com clareza as orações, ou quase isso. Paula já está dois
dias na floresta equatorial tentando encontrar a índia que
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Michael lhe falou um certo dia. Com fome e preocupada
ela queima os livros que carregava, queimou Ulisses para
preparar o último pacotinho de macarrão instantâneo.
Queimou os livros seguintes: O QUE NÃO É, NUNCA FOI, A
SACRALIDADE DA EXPERIÊNCIA INTERIOR, POR QUEM OS
SINOS DOBRAM e a ODISSÉIA. Esses livros foram
consumidos pelas chamas da necessidade, pois Paula
precisava se esquentar após uma grande chuva. Sua
barraca foi destruída por um galho de árvore. Paula só
estava com a roupa que vestia quando completou sete
dias na floresta. Nesse mesmo dia Paula cai de fome no
meio do nada.
Sua vida agora depende da única habitante humana
num raio de cem quilômetros, é a índia da língua morta.
Paula está fora do mundo das palavras, está em coma e
molhada com terra ou lama. Tudo em sua volta parece
ser uma danceteria com um som de fundo baixo e lento,
está se recuperando do coma ou desmaio. O som é os
fonemas perdidos, que Paula tanto procurava. A índia lhe
salvou a vida.
Estou agora me ocultando novamente, as palavras
serão fontes divinas para a compreensão sua desse
passeio. Leia com muita atenção.
Enquanto Paula está viva na floresta amazônica,
Michael e Márcia estão almoçando em Belo Horizonte.
Márcia prática uma mastigação rítmica numa deliciosa
polenta com queijo e frango, já Michael limpa com infinita
distração os dentes tortos retirando com a ponta de um
palito roliço de madeira.
Junto com Márcia e Michael moravam mais dois
acadêmicos; um era Marcos e a outra Rose. Tinham
muitos assuntos para falarem após as refeições. Rose
almoçou fora esse dia e chegou gritando com muita
euforia:
- E aí cambada! Que tal um lance estranho para
digestão?
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-
Qual é? – perguntou sorrindo Michael – que lance é
esse?
- Isso, - Rose retirou de sua bolsa vermelha um papel
impresso apenas em uma página, e mostrou para
todos – o lance é essa pira.
Márcia se aproximou do papel e com olhos
perscrutadores consumiu lentamente as primeiras linhas
do texto. Michael com um cheiro de polenta transpirando
de seu sistema respiratório encosta sua cabeça no ombro
de Márcia e acompanha a leitura. Marcos que acabara de
acordar fala com olhos fechados e com voz rouca:
- O que é que está pegando?
- Coisas, - disse Rose – isso é que ta pegando.
- Que tipo de coisas? Sua loque.
- Sei lá! Deve ser do demo.
- Demo?
- É, achei atrás da igreja.
Marcos se aproxima da carta e começa a ler para todos:
- ... sujeito execrável, como pode se enfunar onde
está desatada a dúvida? Lua meia, sempre
mantendo claro esses um caminho; saber tinir tudo
que para ti é martelo parece processo incrível.
Qualquer marcação que possa ocorrer nisso, pode
provir de um orgasmo do sonho dos princípios.
Pesadelo mitológico é bastante possível nessa
volúpia degradante. Portanto mexa apenas...
- Meu Deus! - exclamou Michael interrompendo a
leitura – que diabos é isso?
- Como você é interessante Michael – disse Rose – em
apenas uma frase falou de Deus e Diabo.
- Michael está certo – comentou Márcia – essa carta
não é bem normal, repare que ela começa com três
pontinhos, isso quer dizer que ela não é o começo.
- É, deve ser uma página de um paque perdido –
completou Marcos – eu já ouvi falar em pesadelo
mitológico.
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-
-
-
Claro seu louco, - Michael falou colocando a mão no
bolso para coçar a virilha – é uma música do Raul
seixas, lembra maluco?
É, sim.
Você é bem porco, - gritou Márcia ao ver Michael
retirar um excremento do nariz – temos que decretar
uma lei, que proíba a entrada de pessoas no
apartamento que não tenham tomado um banho se
quer nas últimas vinte e quatro horas.
Ah... cala boca sua vadia, - disse com humor Michael
– eu tomei banho, é que vê... uns dois dias.
Porco.– complementou Márcia.
Calem a boca, vou terminar. – disse Marcos - achei é
... mexa apenas no movimento celestial do
personalismo ório ente. Mechas é possível se mexer
bem calado na instituição qualquer. Direito todos
tem, uns de mandar, outros de obedecer, ainda há
aqueles que tem direito de ignorar isso tudo e
transeunte na cabeça. Mas, quem pode, também
deve? Não deve ser não, pois sim já é clássico em
todos os burros I-A. Meu sentido agora é bastante
nítido, as coisas vêm e vão como se realmente não
fossem nada além de ilusões precárias, depois dizem
que não é certo tal egoísmo. Parece...
Peidei. – disse Michael.
Porco. – complementa Márcia.
Deixe-me ler, seus filosofastros malucos – Marcos
disse carinhosamente – eu estava aqui é... parece
que quem dita tal regra é exatamente igual ao que
decreta hediondo, são coisas que temos que
aprender, um filósofo deve ser faxineiro. Todo amor
que houver nessa prateleira, tu podes pegar, antes
pagar, ta bom? É, aprendeu bem querido! Isso é a
vida, não fuja dessas regras bem, tudo certo? Sim IA. É, isso que dizem pra ser, não é não, mas sim
também é não, um não a si mesmo, por agora basta,
não me pergunta o porquê, já existe muita
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explicação nesse canto, agora crie mais questões,
por favor, rapaz, crie muito, não pare, tem muitos
explicando, mas poucos perguntando, pois perguntas
são perigosas para explicadores de tudo. Cuide se tu
fores um meu caro, nem pense em ter lido isso...
- Meu pai! – gritou Rose – será que ele vai nos matar?
- Sai fora sua louca, - respondeu com intimidade
Michael – esse cara é louco igual ao meu professor
de filosofia, isso não sabe nem onde está esse papel,
vai saber onde estamos.
Um silêncio tomou conta do ambiente. Marcos
pensativo relia o papel só para ele, Márcia pensava no
que significava o I-A, Rose lembrava do lugar onde
havia encontrado o problema e já Michael continuava a
bulir em seu nariz e a terminar de ler Casa Grande e
Senzala de seu ídolo Gilberto Freyre.
Reunião noturna. Jovens de férias querendo aventura.
Uma mesa onde constava os quatro e um papel achado
na rua que tanto fez. Lá estavam Michael com sua mão
trabalhando agora na espinha que possui na nádega,
Rose com seus óculos fundão de garrafa, Marcos com
seu jeito morto vivo e Márcia com sua beleza de
“patricinha”. A epistola misteriosa estava prestes a
sofrer uma autopsia etimológica. Márcia ao começar o
processo fonético, lembra vagamente da amiga Paula.
Michael também tem essa lembrança e pede para seu
subconsciente lembra-lo de ligar para Paula após a
reunião, só para ver como está a pesquisa que tanto lhe
interessa.
- Isso está parecendo RPG. - disse Márcia.
- Nada a vê, mas tudo bem. – retruca Marcos.
Lendo a primeira linha, Rose se espanta:
- Esse cara manja muito, vocês pegaram a idéia que
se camufla detrás dessas loucas palavras?
- Acho que só iremos entender quem é esse sujeito se
encontrarmos o restante da história, se é que existe.
– disse Marcos
34
-
Acho eu, - continuou Rose – que esse sujeito possa a
ser o leitor, pois repare o que ele disse no final: “nem
pense em ter lido isso”.
- Sim, é claro! – exclamou Márcia – esse sujeito
execrável é o leitor curioso que penetra onde a
dúvida está aberta, quer dizer sem pergunta.
- Sem pergunta? – pergunta Michael – como pode uma
dúvida existir sem pergunta?
- Elementar meu caro Michael, – responde Márcia – a
dúvida está junto com a curiosidade e a pergunta
está junto com as palavras, ou melhor, junto com o
texto que até ali ainda não foi lido.
- Matou a charada Márcia, - fez-se ouvir Marcos – nós
somos os sujeitos execráveis.
O desempenho da equipe intelectual está
aumentando, a carta encontrada por Rose fez o que
tinha que fazer. Mas, nem todo a noite de pesquisas e
pensamentos foi suficiente para explicar totalmente a
razão da carta. Rose prometeu em vascular o local onde
encontrou o papel, para que talvez possa encontrar o
resto da possível história.
Oi! Sou eu de novo, quero dizer para você não ficar
mais impressionado com o vocabulário dos habitantes
do apartamento. Eles moram juntos há muito tempo e é
esse motivo que lhes dá o direito de terem tamanha
intimidade. E, eu que sou apenas um simples narrador,
não tenho o direito de impedir a liberdade de expressão
de qualquer ser humano que aqui conste.
Estamos agora nos dirigindo novamente para o Peru,
ou quase floresta amazônica, até nós estamos perdidos
sobre o local exato, pois Paula quebrou seu GPS. Toda
vez que esse livro falar sobre Paula, as coisa se tornarão
mais difíceis para você, pelo fato de a lógica geral do
livro impor que Paula deve estar o mais longe possível
das palavras, ela é o destino racional e estrutural desse
livro. Tudo daqui para frente será mais implícito. Paula
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Palavra é a razão. Cuidado se acaso você tiver pavor de
pensar, isso pode ser fatal. Voltaremos a nos comunicar
normalmente quando a história voltar para Minas.
- Phai raí a´po – disse a índia – trhur khait?
- O que disse? – perguntou Paula – não entendo, é
tupi?
- Tara cuitiker marst – respondeu a senhora – pakas
morngs.
- Não... não pode ser tupi – falou para si mesma Paula
– quem sabe é só ela.
Uma oca gigante. Um burro dizendo I-A, tudo calmo.
Uma mulher branca civilizada e pós graduada em
comunicação. Uma mulher índia inteligente com traços
do tempo no belo rosto. Palavras de línguas conhecidas
para cá, palavras exclusivas para lá. O mundo estava
sem fonemas transeuntes. Uma não entendia a outra.
Nome de uma não cabia em outra. Idéias era a
sensação do momento. Sinal de fome pra cá, alimento
bem nutritivo vindo de lá.
Paula havia encontrado a tão sonhada mulher da
língua morta. Algo duvidoso começou a crescer em
Paula. “Tanto eu como ela, falamos idiomas mortos
nessa floresta, só sei falar comigo, ela sabe falar com
toda a floresta. Sou eu a mulher da língua morta aqui e
não ela”.
Paula pensou: “bom se isso fosse um livro, para que
eu pudesse ler o pensamento das pessoas”. Agora veio
uma grande idéia. Quem disse que isso não é um livro?
Lógico que para você leitor, isso é livro, mas para Paula
tudo é tão real. Não estou dizendo nada, só foi um
passeio em coisas que já constam em um livro.
Paula admira a alegria da velha. (já notou que Paula
está em todo começo de parágrafo?) Sua cultura ainda
resiste. Paula começa a entrar na filosofia de vida da
índia. Michael iria adorar esse momento de
estranhamento e distanciamento que Paula está
vivendo. Tudo ali parece ser rústico, desde um vestuário
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até um alimento. Mas, Paula nota que não é bem assim.
Qualquer homem dito “superior”, morreria rapidamente
se aqui caísse pelado. Já a índia não morreria aqui e
nem na cidade do “homem superior”, pois se lá
estivesse pelada, passaria
muito
bem
numa
penitenciária. Então caro leitor, quem aqui é superior?
Enquanto essa dúvida fica martelando em poucas
pessoas, voltemos para Minas Gerais. Rose faz o
prometido e, girando por volta da igreja encontra um
caderno verde, parece ser o manuscrito de um livro.
Estava escrito na capa: “Livro I, que trata de Condor
Amarelo e a África na viagem de Thace”. Rose fica
admirada e surpresa: “quem será que perdeu?”. Colocao dentro de sua bolsa vermelha e corre cautelosamente
para o apartamento: “não posso deixar ninguém me ver
com isso”, pensou Rose com medo de ser seguida pelo
escritor misterioso. “Deve ser o mesmo da carta louca”,
pensou de novo a dona da bolsa vermelha.
Uma vez dentro do apartamento, repete a cena de
ontem quando chegou gritando para todas as almas e
coisas do apartamento:
- E ai cambada! Que tal um lance estranho para
digestão?
- Outra vez? – perguntou marcos – o que é agora?
- Um livro.
- Livro? – gritaram juntos.
- Sim, esse manuscrito estranho, - respondeu Rose –
estava exatamente onde encontrei o papel louco
ontem.
- Deixe-me ver – pediu Michael – é longo é louco.
Vamos comece a lê-lo, - mandou Márcia – estou
curiosa.
A partir de agora, você entrará em outro mundo.
Apresentei de forma errada a carta, pois deixei Marcos
ler para você, mas infelizmente a carta ficou
fragmentada pelo fato de brigas infantis das pessoas
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que escutavam a leitura, como por exemplo, a falta de
higiene de Michael. Sendo assim, resolvi passar para
você o livro que Rose encontrou, inteiramente sem
nenhuma interrupção. Um novo livro agora você vai ler,
mas não se esqueça de Paula e dessa história que
contei até aqui, pois ela é a chave para tudo.
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VIDA?
39
LEUCIPO DE MINAS
VIDA?
Tradução:
Filos.: Cosmic.: vida.:
40
Para as estrelas, do meu
universo.
41
OPTIMUM.
Alguma vez você pensou que
poderia
ser
um
estranho?
Já
imaginou em ser um dos bilhões de
reflexos do sol no mar? Agora você
está se perguntando: como assinarei
está afirmação, senão sei a colocação
que esse louco está pensando sobre
a palavra “estranho”? E, muito
menos sobre os reflexos do sol no
mar?
Tais perguntas também não tenho
respostas. Mas o que importa é você
ter pensado sobre o “estranho”, e
imaginado os reflexos do sol no mar.
É isso que peço a você no decorrer
desse livro, que imagine e crie suas
próprias idéias, pois as únicas
verdades não são coletivas, mas sim
individuais. Boa sorte? Autor.
42
PREFÁCIO.
No dia 28 de maio de 2002, na mesma hora em que o
sol está perto do horizonte no oeste, numa cidade do
Brasil localizada no estado do Paraná, cujo nome era
Castro, eu observei da janela do meu quarto uma
mulher nova com uma criança de uns quatro anos, ela
estava mexendo em sua carteira e o menino corria em
volta dela resmungando palavras sem nexo, a mulher
provavelmente sua mãe, empurrou o menino e criticou
suas atitudes, no fim da rua a mulher pegou na mão do
menino e sumiram do meu alcance visual, logo outra
mulher saiu de uma casa vizinha, ela era
aparentemente mais velha do que a outra, carregavam
muitas coisas ela e seu filho, que era de idade superior
ao outro menino, a senhora levava sacolas plásticas
com objetos de grande volume no seu interior, o menino
também estava bem carregado com uma grande
mochila escolar, provavelmente estavam indo para suas
casas, pois eu sabia que a senhora trabalhava naquela
casa.
Temos uma descrição absolutamente compatível para
mentes sub-desenvolvidas, não estou criticando e muito
menos desprezando você que pensou que essa
descrição fosse detalhada, ela é apenas um simples
olhar.
Para você realmente detalhar não basta apenas um
sentido (a visão), mas os cinco sentidos governados
pelo sexto sentido, que seria sua maior faculdade: a
imaginação. Não vou detalhar essa descrição, pois pode
levar muito tempo e até alguns livros, por informações
que não são coletivas e não tem interesse a ninguém
além de mim, mas vou dar uma base para você saber o
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que falo. A primeira mulher carregava uma carteira, se
eu me perguntar onde foi fabricada tal carteira,
provavelmente imaginarei uma fábrica na qual trabalha
muitos homens e cada um possuí uma carteira, será
que foi fabricada por eles? Indo mais afundo você vai
buscar informações que realmente existem, pois foi
você que criou e o único criador do universo é você.
O pensamento do homem, que escreveu o assunto
acima nasceu no dia 28 de maio de 2002, ás 5:07 hrs e
morreu no mesmo dia ás 22:03 hrs, no dia 29 de maio
de 2002 o meu novo pensamento nasceu na hora que
acordei, ás 5:12 hrs, utilizando o mesmo corpo físico e
com os mesmos cinco sentidos governados por um novo
sexto, depende deste sexto sentido o desenvolvimento
do seu conhecimento que está armazenado na sua
mente subconsciente.
Podemos notar o grande poder da imaginação
humana criado por alguns homens de sociedades
secretas, que manipulam os sextos sentidos que não
nascem independentes. Talvez seja uma tentativa
perigosa a de livrar a imaginação das pessoas e fazê-las
utilizar e melhorar seus futuros, mas com certeza é
muito compensadora, pois me faz lembrar de coisas que
tinha esquecido.
Tudo o que existe foi inventado por você pelos cinco
sentidos, que absorvem todas as informações do
universo, as informações como, por exemplo:
comunicação, capitalismo, dinheiro, riqueza, mendigo,
pobre, trabalho, nomes, línguas, comidas vestuários
etc..., são criadas pelo sexto sentido dos homens das
sociedades secretas e também de todas as pessoas, mas
o problema é que eles governam as imaginações das
pessoas que permitem e não percebem que são
mandadas.
44
Agora você pode observar minha intenção, que é,
despertar essa sua grande imaginação e ocupar o seu
tempo
com coisas
boas,
vai
adquirir muito
conhecimento e todas as informações que fazem os
pensadores a criar o seu universo, mas para conseguir
terá que decifrar enigmas, fazer muitas viagens pelo
cosmo, deixarei símbolos que vão lhe dizer onde
encontrar mais informações sobre os assuntos, com isso
vai saber dependendo de sua vontade qual e onde está
escondido o mais valioso tesouro que o homem já criou,
não pense você que já sabe, sei o que está pensando,
pensa que é sua imaginação o tesouro ou o grande
poder do subconsciente, mas isto é apenas ferramentas
para descobri-lo pois ele está enterrado há séculos em
um baú em qualquer lugar do planeta Terra. Você não
precisa ser um zaori basta ser você.
-
Esse cara é louco – disse Michael – é um
cartesianista mal informado.
- Quanto número! – exclamou Márcia – me chega dar
alergia.
- Esse livro parece ser de um leigo, – disse Rose –
como pode ter tanto erro?
- Continue lendo – pediu Marcos – talvez esse papo de
tesouro seja sério.
Desculpa por minha nova falha. Tinha dito que não
haveria interrupção de leitura, mas não consigo fazer
essas pessoas contemplarem o silêncio. Vamos voltar
para o livro:
45
Eis o começo da estrutura lógica do livro “vida?”:
-
Chuta Luiz, vai logo chuta. – gritava um amigo.
Luiz chutou, mas errou o gol e a bola foi parar numa
casa vizinha da escola, todos os meninos foram indo
embora, pois já era hora do almoço, Luiz pediu para
alguém ir com ele pegar a bola, mas ninguém foi, pois
tinham medo.
Na casa morava um senhor estranho que mexia com
a imaginação dos meninos, Luiz se aproximou com as
pernas tremendo bateu palmas, após algum tempo a
grande porta daquela casa muito antiga se abriu, de lá
saiu um homem com cabelos e barbas compridos e
brancos ele era magro e andava apoiada numa
bengala.
- Faz tempo que te espero. – falou o senhor.
- O senhor poderia pegar minha bola? – falou mais
calmo Luiz.
- Você pode ir pegá-la, estou muito velho para descer
esta escada. – respondeu o senhor.
Luiz tímido desceu a escada onde entrava em um
porão, avistou a bola debaixo de uma estante de
livros, pegou e antes de ir embora observou melhor o
lugar, estava muito sujo de poeira e escuro, viu uma
mesa com um livro aberto, se aproximou e começou a
analisar seu conteúdo, reparou que estava escrito à
mão e não tinha um fim, leu o título que dizia “Vida?”,
não sabia o porquê que estava tanto tempo naquele
porão e saiu correndo antes que o senhor lhe chamase.
No patamar o velho falou para Luiz:
- Venha aqui dentro um pouco.
Desconfiado Luiz entrou na casa do senhor, a porta
se fechou e Luiz tomou um susto, que lhe fez falar:
- Preciso ir embora, minha mãe está preocupada.
46
-
Venha até aqui. – mandou o velho.
Luiz começou a andar em direção da voz do velho
até chegar em uma lareira e uma poltrona, onde se
encontrava o senhor.
- Se aproxime mais e sente-se. – falou o velho.
Luiz sentou no chão com o olhar fixo no velho, que
jogou uma espécie de erva no fogo, no qual começou
um cheiro forte e agradável.
- Por que o senhor jogou isso no fogo? – perguntou
Luiz mais tranqüilo.
- Para você nunca mais esquecer de mim, pois este
cheiro vai ficar gravado na sua mente. – respondeu
o velho.
Luiz pensou um pouco e perguntou:
- Por que quer que eu não lhe esqueça?
O velho sorriu e respondeu:
- Porque você foi o escolhido a terminar o que eu
comecei, você sabe do que falo, pois viu lá no
porão e no momento certo vai se lembrar do que te
falei e vai terminar o que comecei, agora vá
embora senão sua mãe vai ficar muito preocupada.
Luiz pegou a bola e voltou correndo para sua casa,
sem dar muita importância no que o velho disse.
Naquele dia Luiz teve um sonho estranho no qual o
mesmo senhor estava voando em cima do livro, numa
viagem muito longa. Luiz acordou assustado com as
palavras do senhor na cabeça, que ele tinha dito no
seu sonho: “no tempo certo.”
Luiz passou o resto do ano sempre vendo o senhor a
distância quando estava na escola, após a formatura
do primário, Luiz mudou de escola e nunca mais viu o
senhor que conheceu sem saber como.
O tempo passou Luiz cresceu e de um menino se
transformou em um homem, que já estava na
universidade cursando geografia aos dezenove anos.
Em um passeio com seus colegas entrou em uma loja
de produtos esotéricos e sentiu um forte e agradável
47
cheiro, no qual ele se lembrava, mas não sabia donde,
após o passeio que durou muito tempo, foi para seu
quarto dormir, não conseguia tirar o fato que ocorreu
na loja, em seu sonho apareceu o velho que tinha
conhecido aos onze anos, que lhe falou: “chegou o
tempo certo Luiz, você vai continuar o que comecei,
vai e acorde, faz o que você sabe e vai onde você foi.”
Luiz suando acordou e sem pensar correu para a casa
do senhor onde havia-o conhecido, era 3:56 hrs
quando chegou na casa, devagar abriu o portão e
bateu na porta, ninguém atendeu, então desceu ate o
porão, que estava muito escuro, mas encontrou uma
caixa de fósforos do lado das velas que estavam muito
tempo sem ser acessas, na mesa onde há oito anos
encontrou o livro havia uma carta, que o velho
escreveu para Luiz, que por sua vez apanhou a carta
após ter ouvido o vizinho gritar: “pega ladrão”, Luiz
correu muito, como nunca, fugindo dos cachorros que
o homem soltou.
Chegando em sua casa muito cansado e faminto,
mas acima de tudo curioso para saber o que havia
escrito na carta, que sofreu tanto para conseguir, se
trancou no quarto e apanhou a carta do seu bolso, no
envelope estava um símbolo estranho, que levou ele
rapidamente procurar em um manual de simbologia,
que tinha em seu material escolar, era o símbolo
egípcio ANKH, (significa vida) pegou o conteúdo do
envelope e achou uma moeda do ano de 1938, no
valor de 100 reis com a figura de Tamandaré e,
também um papel, no qual estava escrito:
“Depois de tudo o que houve foi um livro, que ainda
não foi escrito, pois quem vai escreve-lo é você Luiz,
levou onze séculos para eu e meus aliados do cosmos
traduzir o cartapácio da vida, cada aliado relatou um
trecho no tempo certo e passou as idéias para o
48
sucessor, essa comunicação não foi de forma direta,
pois cada um viveu em um século diferente, foi em
sonhos, por isso cada um teve que ser um bom
sonígrafo, assim que quero que você seja, um grande
escritor de idéias, a partir de agora cada tradutor vai
lhe ditar a sua parte e você escreverá no livro que
terá o nome de “Vida?”, eu voltarei após você ter
escrito para os dez sábios, serei o décimo primeiro,
até lá você vai ter mudado completamente sua mente,
o primeiro sábio logo aparecerá em sua vida, sempre
no sonho transmitindo as idéias, para evitar a
logoagrafia use a moeda na qual está grafado o
número 1938, que significa a senha de acesso para
identificar o meu número: onze, pois somando os
últimos algarismos o mesmo que somar o do ano de
seu nascimento. Isso não é superstição apenas uma
certeza para os outros sábios, que você foi escolhido
por mim, sendo assim cada um vai ajudá-lo escrever
sempre que estiver com a moeda pendurada no
pescoço, mas somente orientando seu pensamento e
nunca escrevendo por você, cabe a você fornecer as
ferramentas para as pessoas ter o poder de criar o seu
próprio universo e encontrar o tesouro, haverá
pessoas criticando o que estará escrito no livro,
dizendo que tais comunicações são impossíveis, à
essas pessoas você não falará nada, pois essa
comunicação só é de acesso a você, por isso não
obrigue elas a pensarem, pois somente pessoas que
sabem o que Sócrates disse entenderão, no dia em
que você ler está carta já estarei morto e espalhando
aquele cheiro forte e agradável que você vai lembrar.”
Luiz ao ler a carta, sentou-se no chão do seu quarto
e começou a pensar sobre uma possibilidade de estar
louco, mas logo voltou a viver sem medo, pois sabia
que poderia ser uma brincadeira de pessoas que
49
mexem com coisas de magia. O seu despertador
alertou que estava na hora de estudar. Luiz arrumouse e foi para a universidade.
Na volta Luiz avistou uma loja de colares e pediu
para o dono fazer uma adaptação em sua moeda, para
poder colocar um cordão e pendurar no pescoço, após
isso foi embora fazer seus deveres acadêmicos. Ao
anoitecer ficou com um pouco de medo, mas
conseguiu dormir muito bem, se o primeiro sábio
apareceu ou não, você vai saber no grande e lindo
livro que começou a escrever após aquele bom sonho.
-
Chegou o tempo certo. – disse com ironia Marcos.
Não brinca marcos, - ordenou Márcia – isso pode ser
sério.
É, muito sério, - gritou Michael segurando uma
gargalhada – isso é pira de velho caduco.
Cala boca, palhaço. –retrucou Márcia.
É, ficção nada mais, - disse Rose – mas quem será
que grafou?
Deve ter sido Deus. – falou Marcos.
Não brinca, - disse Rose – isso é algo que temos que
discutir.
O que Sócrates disse? – perguntou Michael.
Acho eu, - respondeu Márcia – que deve ter sido a
sua mais famosa idéia.
Qual é dona filósofa? – perguntou Michael
Só sei que nada sei. – respondeu.
Que burro é esse sujeito, - disse Marcos – deve ter
saído de um livro ou peça de teatro dos Incas.
Com certeza! – exclamou Márcia – como pode ser tão
burro? Sócrates é grego não índio.
50
Outra vez a ousadia desses sujeitos feriram a
seqüência
da
história.
Malandros
perdidos.
Aproveitando o caminho da já conquistada atenção.
Quero dizer que nada pode ser assim. Paula ainda está
na Amazônia, ou quase. Repare que Luiz está muitas
vezes no começo do parágrafo. Isso não quer dizer que
tenha sido eu o escritor desse livro. Sou responsável
pelo livro: “O homem criou a palavra ou a palavra criou
o homem?” E, não tenho nada a ver com essa surpresa
que apareceu para minha Rose. O segredo do maior
escritor é superar qualquer forma da logoagrafia. Isso é
meta minha, será alcançada por você. Cada fonema é
um degrau. Deixe agora os jovens terminarem de lhe
mostrar o livro: “Vida?”, surpresa mineira.
Eis o livro, “vida?” (parte escrita por Luiz):
Acordei totalmente assustado, o que estava escrito
na carta aconteceu, desorientado corri para a
escrivaninha peguei a caneta e escrevi em um
caderno o que você está lendo agora. Pendurei a
moeda no pescoço e comecei a relatar o sonho no qual
apareceu o primeiro sábio:
Eu estava em uma praça, aparentemente era
desconhecida, mas havia objetos familiares da cidade
onde encontrei o velho sábio da moeda. Estava
andando quando um senhor sentado e rindo muito me
chamou, caminhei até ele que ainda continuava rindo,
por algum motivo eu perguntei:
- Qual o motivo de tanta risada?
- Por que você acha que não poderia estar sorrindo?
– disse para mim o velho.
- Porque não a motivos para rir tanto. – respondi.
51
-
Quais são esses motivos meu amigo? – perguntoume o velho.
- É só olhar para você, um velho sujo com dentes
podres, pobre e desprezado pela sociedade, já
poderia saber está resposta e ver os motivos. –
respondi bravo.
- Então o que faz você, que é uma pessoa perfeita
não estar sorrindo? – perguntou o velho.
Depois dessa eu sentei junto com ele, que ainda
continuava a rir, pedi desculpas e comentei sobre a
vida, perguntando para ele o que pensa sobre ela. No
mesmo tempo da pergunta tudo começou a tremer e
nós aparecemos em baixo de uma grande árvore, eu
olhei para ele que era muito pequeno, com um rosto
grande e orelhas pontudas. Estava vestido com uma
roupa amarela e sapatos pretos, ele me perguntou
antes de me responder:
- O que você imagina ser?
- Sou um ser humano muito feliz, sem desejos, pois
tudo o que queria já consegui, que é minha vida. –
falo eu.
- Sábia resposta, mas isso não é verdade, porque
você todo dia sonha e com isso deseja. – falou o
velho.
- E você o que imagina ser? – perguntei.
- Eu sou um lindo e grande condor que está voando
agora para bem longe, daqui com destino a Plutão.
– respondeu o velho.
- Não, você não pode sair voando pelo universo, pois
não existe ar e você não é um condor. – falo eu.
- Se não existe ar e se eu não sou um condor, como é
que estou voando? – perguntou.
- Você não está voando. – disse ao velho.
- Sim eu estou, mas somente eu posso, porque eu sei
imaginar sozinho sem a ajuda da realidade.
52
Quando ele me falou isso não apareceu mais no meu
sonho e surgiu um condor maior que a árvore em que
estávamos, sumindo no céu azul.
Logo após eu ter escrito meu sonho, algo me
conduziu para contar o que você vai ler:
“Sou filho de mim, meu nome verdadeiro não existe
é imaginação assim como tudo o que imagino existe,
você que sabe disso cuidado com sua imaginação, pois
a vida na Terra, existe um limite imaginário que serve
de proteção para o corpo físico, caso você não
respeitar vai prejudicar seu corpo e também sua
mente.
O limite é chamado de tempo, o corpo foi criado
para viver e apreender no presente, mas o criador de
seu corpo que é sua imaginação pode viver no
passado e também no futuro, por isso é necessário
você apenas imaginar os fatos que aconteceram e os
que vão acontecer como uma simples consulta para
melhorar sua vida física e, jamais vivê-los, pois é
altamente perigoso podendo matar seu corpo.
A imaginação é eterna, não existe para ela o tempo,
tudo é vivido como se fosse o presente da vida física
na Terra. Após a morte de seu corpo, você coletou
informações preciosas que vai utilizá-las em outra
forma de vida, em uma galáxia que você escolher,
podendo viajar a qualquer tempo, pois o tempo é sua
imaginação quem cria.”
Após ter escrito isso fiquei muito confuso com estas
idéias loucas, pois está escrito que: “a imaginação é
eterna não existe para ela o tempo”, mas também está
escrito: “o tempo é sua imaginação quem cria”, você
que leu isso agora deve ter achado uma outra idéia do
texto mais exata, pois não conviveu o fato como o
idiota que escreveu. Mas acho que também notou que
o criador destas idéias foi o mesmo baixinho do sonho,
53
que não falou seu nome, então vou imaginar um,
chamarei ele de Condor Amarelo. Você deve estar
pensando que tudo aqui escrito é besteira para eu
ganhar dinheiro, talvez realmente seja, mas se isso
fosse verdade, você acha que eu iria perder tempo
escrevendo porcaria, se poderia achar meios muito
mais inteligentes para conseguir isso? Com certeza eu
e você vamos mudar muito no decorrer desse livro, é
provável que nem pensaremos nesse objeto que move
o mundo moderno, chamado dinheiro. Já estou
pensando ou imaginando que isso também é fruto da
minha imaginação, mas vamos esperar o que aquele
baixinho vai me falar hoje quando estiver sonhando e
se novamente vai ditar suas idéias para eu escrever.
Analisando tudo o que escrevi, começo a sentir um
grande poder de amar tudo o que imagino e perco
todo o medo da vida por saber que essa, pode se
acabar agora, mas nunca poderia deixar de existir.
No dia seguinte percebo que Condor Amarelo não
apareceu no meu sonho, confesso que estou com
medo deles ter me abandonado no início do livro, por
eu escrever muita besteira e comentários, que não
agradem os seus interesses. Mas não vou apagar o
que eu escrevi, pois jamais deverei mexer no passado,
apenas consulta-lo. É provável que eles queiram que
escreva uma historia e não um comentário das idéias,
como escrevi ontem e estou escrevendo agora, o que
vai acontecer, não me importa e o que aconteceu foi
bom e não me arrependo, o dia hoje está lindo, se
voltar escrever ótimo, senão, até o eterno poder de
nossa imaginação.
54
-
Isso está parecendo um diário, – disse Márcia – que
ainda nem mesmo o escritor sabe.
- Sim, não sabe. – completou Rose.
- Olha que coisa interessante, - fez-se ouvir Marcos –
esse livro tem um narrador em seu começo, mas ele
some por completo.
- O narrador pode ser o escritor, - disse Michael – é
esse cara aqui na capa.
- Leucipo de Minas, - leu Rose – será que Luiz existe?
- Parece ser muito confuso esse livro. – falou Marcos.
Perdão é o que posso fazer. Sou eu quem está
falando, o Marcos puxou uma idéia certa. Isso parece
estar um caos. Siga-me para entender. Paula e sua vida.
Seus amigos e suas vidas. Paula e o equador. Amigos e
apartamento. Paula e floresta. Amigos e carta. Paula e
índia. Amigos e livro. Leitura do livro. Comentários
penetras. Siga isso e saberá melhor.
Acho eu que escrevi palavras mágicas ontem, que
deram resultados lindos em meu sonho que vou lhes
contar agora:
Estava em um campo de flores lindas com um
perfume maravilhoso, Condor Amarelo estava voando
e pousou em meu ombro, transformando-se em ser
humano novamente e me falou:
- Gosto muito disso.
- Disso o que? – perguntei.
- De voar alto sem limites e poder conversar com
você e lembrar de meus tempos aqui no planeta
Terra. – respondeu.
Fiquei muito feliz e perguntei:
- Estou escrevendo de forma correta o livro de maior
importância para a vida?
55
-
Você vai apenas falar de onde retira as idéias nos
próximos contatos com cada sábio, depois somente
vai escrever a história que lhe contar sem dar
opinião nenhuma, mesmo sendo informação que
você não conheça, pois cada um tem a sua e você é
apenas mais um leitor, com uma pequena
diferença, que você escreve, mas não sabe o que
está escrevendo, até agora o livro está perfeito,
após você escrever este sonho, vai se despedir dos
leitores e voltará somente quando ter lido e escrito
a história do primeiro capítulo, que vou contar no
decorrer de seu tempo.
Condor Amarelo se transformou novamente em uma
ave e saiu voando para o eterno de sua imaginação.
Agora que contei o sonho vou obedecer ao Condor
Amarelo e sair da história, pois sou apenas mais um
leitor, vamos ver o que ele vai imaginar para a gente,
melhorar está vida, que guarda tantos segredos, como
poderia eu imaginar estar escrevendo para mortos ou
vivos? Não sei o que eles são realmente, mas sei que
nós vamos aprender muito com eles, que com certeza
querem ajudar, o que vai ser escrito eu não sei, mas
não pense que tenho alguma coisa com isso, pois sou
uma pessoa, que não tem noção de como escrever
uma história, quero que você fique encantado como
eu vou ficar e que também acredite para eu não
pensar que estou louco, tudo de bom para você e se
divirta ou aprenda ou chore... bom sei lá sobre o que é
a história que vai começar, mas obrigado por ler o que
escrevo mesmo sem saber, você é o meu único
companheiro nessa viagem pelo cosmos, por isso eu te
adoro, acho que volto após essa história, se ela não
for infinita como a imaginação.
56
-
Esse livro não diz, - disse Marcos – é diz, mas não
fala.
- Você está bem? – perguntou Márcia – se ligue cara.
- É, Luiz gosta de mim. – disse Rose.
- Pare de ser puta, - pediu Michael – ele é ficção e
você não é o leitor.
Quem será que é o leitor? Não pense nada por
enquanto. Será você ou eles que você lê? Deixe pra lá.
Isso é coisa de conclusões finais. Agora que você leu
toda a introdução do livro “Vida?”, terá pela frente o
primeiro capítulo. Não se perca. O narrador continua
sendo eu. Mas eu estou narrando Luiz, que será agora o
narrador, que talvez esteja sendo narrado por Leucipo.
Preste muita atenção nas palavras. O jogo é cabeça
daqui para frente. Tudo está na estrutura.
CAPÍTULO I
“Não nasci e nunca vou morrer, não existo porque
crio, se crio é porque existo”
Está é a grande primeira idéia que foi traduzida por
mim, se você tentar explica-la escreverá milhares de
páginas, você terá que apenas entende-la. Ela é quem
vai reger a história que vou lhes contar, mas você terá
que saber que história não é passado e sim criado por
você e nunca pelo tempo. Eu sou o início o fim e o
meio, mas este é infinito.
Não pense que a idéia já existe, mesmo você ter
criado uma, sem saber que ela já existia, pois o que
57
seria da idéia sem você ter criado-a? Ela nunca
existiria sem a imaginação, mas está existiria sem ela.
Sou chamado nessa história de Condor Amarelo, vou
contar minha passagem e experiências no planeta
Terra. Meu corpo foi criado nas redondezas da cidade
de Bruxelas, num País com o nome de Bélgica, no dia
21 de abril do ano 901.
Minha infância foi toda ela ajudando meu pai com a
agricultura, com uma técnica muito avançada para
época. Com quinze anos estava maduro no sentido
psicológico, mas nunca estive no sentido físico. Era
muito baixo e também feio, era um erro da natureza,
meu pai contou que minha mãe era baixa e não
resistiu ao parto morrendo quando nasci. Meu pai era
velho quando morreu, tinha 112 anos, ele aos 56 anos
me conheceu e, curiosamente quando eu tinha 56
anos me disse tchau.
Após a morte do meu pai, não tinha mais nada na
Bélgica, pois era filho único, então resolvi conhecer o
mundo, eu era muito idiota, por passar a vida toda
num feudo. Comecei a viajar para o sul, num país com
o nome de França. Gostava de viajar somente para
conversar, talvez por nunca ter tido muito diálogo com
pessoas, além do pai.
Numa cidade conhecida hoje como Dijon, conheci
um homem que estava indo para Roma na Itália.
Fomos até Roma, este homem me ensinou muito, tinha
ele 61 anos, contou da mitologia greco-romana, que
conhecemos hoje e histórias da arte erudita. Este
homem me mostrou o caminho para a aventura, nunca
mais vi este viajante com o nome de Homero.
Não podia esperar mais para conhecer a Grécia, que
deu muita coragem para viajar até uma região
conhecida como Taranto, onde havia um pequeno
porto estranho, fiquei alguns dias na casa de um
marinheiro, que logo partiu para Grécia, onde eu fui
junto.
58
Nos meus 62 anos, estava na famosa e linda Atenas,
onde passei o resto de minha vida, aprendi a ler com
uma senhora, que me fez companhia nos livros e na
vida, que tive até os 104 anos.
Está foi minha passagem pela Terra, posso relatar o
que aprendi em 104 anos de vida nesse planeta em
poucas palavras que aqui está escrito:
“O planeta Terra é um lugar lindo e perfeito para se
habitar, existem várias formas de vida que vivem em
harmonia, todos se respeitam tanto, que têm espécies
que dão a vida para a felicidade de outras, que vivem
com diferenças no modo de agir, existe uma espécie
que se destaca no planeta, conhecida como Homo
Sapiens, qualquer ser dessa espécie é diferente um do
outro, alguns só pensam em si, outros pensam numa
igualdade e outros pensam em ser diferentes e serem
iguais ao mesmo tempo em características diferentes,
se comportam de um modo interessante em relação ao
espaço em que vivem, se julgam donos do planeta no
qual outras espécies não tão nem um pouco
interessadas no território em si e sim em viver felizes,
então não tendo adversários brigam entre si pelas
riquezas que eles mesmos inventaram. Conseguem se
destruir sem ajuda de outras espécies, mas como
ressaltei são diferentes, existem outros com maior
harmonia com todas as criaturas, inclusive com
aqueles indivíduos que estão destruindo sua espécie,
eles se comportam de forma natural no aspecto físico,
mas são pensadores muito avançados e convivem com
poderes espetaculares da sua própria mente no qual
protegem a si e a todos no planeta e, conseguem
governar o universo de suas próprias idéias sendo
totalmente livres de todos os aspectos destrutivos,
pois sabem que não existem tais aspectos.”
59
Toda história contada nesse livro, não foi criada por
mim, mas por você, que está lendo, “como sei disso?”.
Eu sei porque cada um de nós é um universo. Aprendi
isso quando morri. Vou contar o maior segredo que
existe na vida e que todos podem saber sem precisar
morrer:
No dia de minha morte, eu estava numa cama
olhando o teto, pensando se iria doer muito, de
repente tudo ficou em silêncio e escuro, não sentia
meu corpo e nada existia em meu pensamento, apenas
lembranças de fatos que vivi queriam aparecer na
minha visão, mas nada disso adiantava, estava com
medo, não conseguia olhar nada e nem escutar, perdi
todos os sentidos, fiquei muito tempo assim, até ficar
calmo e, começar a imaginar para onde estava indo.
Foi aí que percebi que tudo o que imaginava surgia na
minha visão, comecei a imaginar os deuses da
mitologia que conheci com meu amigo Homero.
Imaginei o Netuno com seu tridente fazendo os
mares, Urano criando o céu e uma grande nuvem na
qual estava Júpiter lançando raios, na qualidade dos
raios de Júpiter, logo surgiu Plutão fazendo vulcões
que evaporaram as águas emergindo as terras,
Saturno controlou todo o tempo e enviou Mercúrio
para dizer que o meu mundo estava pronto.
Da escuridão e solidão, passei para a luz e a
companhia, todo o conhecimento que adquiri na
Terra, serviu para eu criar meus próprios amigos e
logo a vida. Aqui está todo o conhecimento que existe
no universo e com ele posso criar através da
imaginação tudo o que quiser, em pouco tempo todo o
meu mundo estava colorido e cheio de animais e
pessoas que nunca vi na vida, mas já imaginei em
sonhos que tive acordado ou não. Todos eram livres
faziam o que eles queriam, por mais que eu quisesse
60
mandar neles, não conseguia, então perguntei para
um homem que estava fazendo um coelho voar:
- Como você faz isso?
- Não sou eu quem faz, mas sim você. – respondeu.
- Você pode me explicar melhor?
- A matéria não é governada por ninguém, além de
você, mas a matéria que tem vida só pode ser
governada por você se souber imaginar com amor,
pois você está criando ela a cada movimento, sendo
assim você não sabe o que vai criar, então deve
criar com amor tudo o que vê, somente assim as
criaturas te obedeceram, pois você nunca vai
mandar. – respondeu com um olhar brilhante o
homem.
- Qual o seu nome? – perguntei.
- Meu nome na Terra foi Miguel de Cervantes, mas
pode me chamar de Don Quixote de la Mancha, foi
a minha maior imaginação em vida material no
planeta berço da vida: a Terra, não precisa falar
seu nome, você viveu na Europa no séc X, e
escreveu o primeiro capítulo do livro de maior
polêmica do séc XXI: “Vida?”. – respondeu o
cavaleiro da triste figura.
- Como você sabe que nasci no séc X? E que livro é
esse? E como poderia ter escrito se não sei
escrever? – perguntei assustado.
- Nesse mundo não existe tempo, você conhece tudo
que existe e vai existir, pois está dentro de sua
imaginação, você vai voltar para Terra escrever
essa história que ocorreu agora e poder novamente
vive-la, várias vezes, basta imaginar, ninguém
gosta de voltar para Terra, pois o planeta no qual
você criou é muito melhor de se viver, mas você
voltou, pois teve a vontade de ensinar as pessoas a
imaginarem cada vez mais, com isso aumentou o
seu poder, pois somente com muito amor alguém
poderia ter voltado de onde saiu, podemos nos
61
comunicar com pessoas que imaginam e sonham
muito, mas isso é somente para quem realmente
gosta como você, eu prefiro viver aqui é muito
lindo e perfeito, mas é importante pessoas como
você mostrar a verdade para aqueles seres idiotas,
que fomos um dia.
Don Quixote seguiu seu caminho grudado na espada
lutando com gigantes, eu aprendi a amar a vida
somente depois da morte.
Não perdi tempo, se é que existe, na Terra não
existe uma imagem minha, então entrei na
imaginação de um Maia e, fiz ele esculpir meu retrato
numa enorme pedra, conhecida como “o velho de
Copán”, fica no país de Honduras na América Central,
é apenas uma lembrança, mas não pense que era tão
feio como está a imagem hoje, meu olho era normal e
eu tinha um pouco mais de dentes.
Toda a história minha no planeta vou contar agora,
para aumentar o seu conhecimento e poder melhorar
o seu universo, você sabe como fazer isso é apenas
usar sua imaginação e aproveitar o dia ao máximo
possível, obedecendo a sua imaginação sem a
realidade, pois essa é o poder do rei, mas não existe o
rei sem o criador, logo o criador governa o universo e
o criador é conhecido como imaginação.
Você que está lendo isso, vive num lugar agitado,
num mundo onde o rei governa e a imaginação só nos
momentos de lazer com filmes e livros, você não tem
liberdade para fazer muita coisa que imagina, por
exemplo, se você trabalha em um banco, sabe que
tudo é uma correria, mal almoça e já tem que
trabalhar, não tem tempo para pensar em
brincadeiras. Você precisa saber que todas as pessoas
são o seu brinquedo, mas deve saber brincar com elas
e não mandar. Lembra de Don Quixote? Necessita
criá-las com amor e carinho, somente assim poderá
governar o seu universo. Cada pessoa é fruto de sua
62
imaginação, vai ter que amar todos, não adianta após
o trabalho olhar um mendigo e dizer que ele precisa
trabalhar. Amar é deixar livre todos e nunca julgar a
sociedade por ele estar daquele modo, é você quem
está vendo ele assim, respeite ele como você respeita
um ídolo e, ele vai gostar de você assim que você amalo.
Seu universo é somente seu, nunca ninguém vai
criar as coisas no mesmo espaço e tempo que você
criou. Então qual é o problema de você imaginar
amigos como, por exemplo, gnomos ou duendes, para
serem companheiros em aventuras fantásticas que
você criou no seu universo? Mas cuidado em não
passar do limite do seu corpo.
Sei que muitos estão lendo este livro dizendo que
escrevo para sociedades secretas, que querem
enganar as pessoas com magia e crenças para
poderem governar e, vão achar várias superstições e
coincidências nesse livro como o número onze, que é
o número predileto de certa sociedade secreta e, que
estou escrevendo isso somente para disfarçar, fico
muito contente com esses leitores, pois conseguem
imaginar muito é esse o maior objetivo, mas cuidado
com imaginações que prejudiquem você, pois terá que
conviver a eternidade com elas somente elas podem
criar o seu universo, por isso imagine sempre o que te
faça feliz, mesmo não agradando o outro, pois o outro
será também beneficiado porque vai criar um
universo muito bom para todos que você amar e criar.
-
Nunca mais vou imaginar, - disse Michael – aquela
velha puta do quatorze em minha cama.
Por quê? – perguntou Marcos.
Não quero morrer e criar universo com monstros. –
respondeu Michael com muitas gargalhadas.
63
-
-
Esse personalismo frustrado - disse Márcia – deixame com náuseas celebrais.
Por que diz isso? – pergunta Rose.
Esse lance de criador é loucura, - respondeu Márcia –
nesse sentido sou nipônica.
É, também concordo Márcia, - complementa Marcos
– esse sujeito é platônico e eu sou panteísta.
Já notaram como é quase analfabeto - falou Rose –
nunca li tantos “mas” e “pois”.
Nada haver sua burra, - disse Michael – o lance do
cara não é letras, é filosofia.
Ta bom, - retrucou Rose – então ele que ensine sua
filosofia por outro meio de comunicação, que não
seja as palavras.
Sai fora galinha, - gritou Michael – o cara tem
liberdade de escrever como quiser.
Então ele que leia. – disse sorrindo Rose.
Calem suas bocas seus porcos. – disse com
educação Marcos.
Mas, não é que essa idéia de morte desse doido é
interessante. – falou Márcia.
É, parece a volta de Allan Kardec. – disse brincando
Marcos.
O amiguinho desse Condor cor de rosa, não lhe
ensinou muito bem a mitologia, - disse Michael
coçando as frieiras do pé – nunca soube que
Mercúrio era mensageiro, o mensageiro não era
Hermes?
Caro porco, preste atenção no que não lhe digo... –
tentou dizer Márcia.
Fala sério! – pediu Michael em um grito – quero
aprender, sobre Grécia não sobre livro paranaense.
Catatau seu tonto, - disse com um tédio didático
Márcia – primeiro que não é Condor cor de rosa é
amarelo, segundo que o nome do amigo dele é
Homero, mas isso não quer dizer que ele precise
seguir a Odisséia.
64
-
-
Chega, seus intelectuais do fundo da inventada
biblioteca nacional em o Xangô de Baker Street. disse Rose.
Cuidado Rose, - alertou Márcia – não consuma livros
com uma taxa de colesterol alta, pode perder essa
cinturinha de quinze.
Obrigada pela sua informação. – falou Rose após
uma longa gargalhada.
Vou inventar rapidinho meu gnomo. – falou com
ironia Michael.
Melhor que isso, - disse Marcos sorrindo – é a
desculpa com medo da nova ordem mundial.
Aí! Cuidado com sua imaginação, - gritou com
gargalhadas irônicas Rose – como se isso realmente
fosse perigoso.
O que? – perguntou Márcia – você está insinuando
que esse sujeito quer dizer que sua filosofia surgiu
do Iluminismo?
É, sua boba, - disse com tranqüilidade Rose – não
flagro o medo de seu nome estar envolvido em
sociedades secretas?
Sim, talvez o Iluminati, - disse Márcia – mas essa
idéia de iluminar é copiar.
Copiar? – perguntou Marcos.
Sim, copiar – respondeu Márcia – isso já rolava na
Grécia e talvez antes no Oriente, mas lógico de
forma mais inteligente, é algo gigante, que para mim
já estava antes da história.
Ta bom grande guru, – disse Michael – pra mim tudo
isso é pira.
Concordo, - falou Marcos – história é tudo livro, tanto
Don Quixote e Jesus são letras.
Você é letras, seu burro. – disse sorrindo Márcia.
Vai brincar de Mundo de Sofia? - retrucou alto Marcos
– Se sou letras, quem me escreveu? Foi você, deus,
algum escritor ou as palavras?
65
-
Chega burro. – disse Rose, para que Márcia não
respondesse o título desse livro.
Chegamos onde tínhamos que chegar. A estrutura do
livro está melhorando. Até eu já estou entendendo o
que escrevo. Depois de começar escrever um livro que
possuía um outro livro que ainda não terminou,
consegui expor o livro meu e o livro que Rose
encontrou. Ainda falta deixar claro que tudo que está
grafado no livro de Rose já existe. Não sou eu quem
criou, por isso não me responsabilizo pela concordância
verbal e nada que ali conste. Isso vai ser trabalho de
Rose e seus amigos. Devem procurar o verdadeiro
culpado. Críticos de plantão, agora continua o livro
misterioso.
Estava andando num campo com muitas flores, não
tinha ninguém por perto até avistar uma linda
borboleta vermelha, que quando suas asas refletiam a
luz solar deixava uma marca no ar que durava alguns
segundos, como batia as asas muito rápido logo tudo
em sua volta e por onde passava ficava vermelho, era
uma visão linda. Com muito carinho conversei com
ela, mas ela não me entendia, então me transformei
em um condor, mas não conseguia brincar ela, pois eu
era bem maior, então imaginei eu como um besouro
dourado, somente assim consegui brincar com a linda
borboleta vermelha. Não era um escaravelho de ouro
e, muito menos o símbolo egípcio do renascimento,
mas voava muito rápido, não tão perfeito como minha
amiga, mesmo assim me diverti muito até me quebrar
contra um vidro na janela do consultório de um
psiquiatra chamado Carl Gustav Jung, por causa que
uma paciente imaginou o que aconteceria se o
presente que receberia no seu sonho realmente
existisse.
66
Durou pouco minha brincadeira, pois aquele corpo
imaginário estava muito danificado, então deixei
minha linda amiga vermelha sozinha e, voltei a
caminhar no campo, até chegar numa cidade chamada
de Küssnacht, onde encontrei uma igreja e em uma
cruz estava pendurado Jesus, fiquei curioso para
saber como ele foi parar ali e saber o seu segredo
para conseguir tamanho amor no que cria.
Não demorou muito e lá estava eu do lado de Cristo,
ele estava lindo, seus negros olhos deixava escapar
amor de tanto que ele tinha, a sua frente tinha uma
multidão esperando, famintos de amor, o grande e
sábio homem satisfazer suas necessidades humanas,
após o sermão conversei com ele perguntando:
- Jesus, como você consegue produzir tanto amor
para poder até distribuir?
- De nada serve o amor, se não para distribuir –
respondeu com carinho Jesus – o amor te consome
se não repartir, é como o vinho, quanto mais velho
for o amor, mais gostoso ele é, mas que graça tem
tomar sozinho? Sem saber que o amor somente vai
existir se você existir, você sabe a fórmula para
produzir o amor, só basta lembrar.
Jesus Cristo se abaixou e me abraçou, pois ele é
bem mais alto do que eu, ele tem esse defeito. Após
isso foi andando pelo caminho e brincando com seu
apóstolo João.
Estou imaginando agora como podemos ser felizes e
não aproveitamos o tempo de vida física no planeta
Terra.
Conheço um rapaz que era muito alegre e bondoso,
estudava em um colégio onde havia uma turma de
meninos que queriam matá-lo, por ser muito feliz.
Todo o tempo eles tentavam achar um motivo para
poder descarregar a arma no seu corpo.
Esperto o rapaz nunca dava esse motivo, mas um
dia quando atravessava a ponte de sua cidade um dos
67
meninos começou brigar com ele sem motivos,
infelizmente o rapaz empurrou num ato de defesa o
menino da ponte, desesperado o rapaz correu para
salva-lo, mas ele nadava bem e conseguiu se salvar,
porém o motivo para a turma do menino matá-lo já
havia ocorrido.
No outro dia o rapaz ciente do que iria ocorrer
arrumou uma arma para garantir sua vida, na saída
do colégio dois meninos chamaram o rapaz, que
obedeceu, pois sabia se não fosse poderia ser pior. O
menino que caiu da ponte falou para a turma que o
rapaz tentou matá-lo, de repente oito meninos
armados apareceram e começaram a atirar para cima,
o rapaz assustado pegou sua arma e começou a matar
todos os meninos, descontrolado e com muita raiva
pegava as armas dos que morriam para matar os que
fugiam, logo apenas ele estava vivo, muitas pessoas
presenciaram o crime, o rapaz desesperado começou
a chorar, falou que não sabia o que estava
acontecendo ao chegar em casa seus pais estavam
chorando, pois sabiam que a sentença do seu filho era
a morte, o rapaz não esperou a polícia chegar e
começou uma das mais extraordinárias corridas pela
vida que eu conheço.
O rapaz saiu de sua casa com sua mãe gritando para
não ir, correu muito, pulava as cercas das fazendas,
sem saber o que fazia, após o dia todo com fome e
correndo desmaia no pé de uma árvore numa grande
floresta. No dia seguinte acordou tonto, pensando que
estava morto, pois o sol estava fazendo um lindo
espetáculo no nascer, as aves cantavam uma canção
perfeita para a vida.
O rapaz sabia que se não estivesse morto iria
morrer a qualquer momento, mesmo assim começou a
aproveitar a vida como nunca aproveitou antes, pediu
perdão pelo seu erro para si mesmo e, perdeu o medo
de tudo, continuo a andar na floresta por mais um dia,
68
já fazia dois dias que não comia, mesmo assim a fome
não lhe machucava, pois se alimentava com o vinho do
amor pela vida. Viveu numa casa de uma senhora
aposentada por três anos, na cidade vizinha, até a
polícia acha-lo e decretar prisão perpetua, mesmo
assim viveu muito melhor do que iria viver sem ter
feito o crime. Não estou dizendo para você matar
pessoas para viver feliz, estou querendo dizer para
você reconhecer a morte ao seu lado te vigiando e não
deixando você se arrepender de nada e aproveitando
tudo como nunca fez antes. Nunca deixe para
distribuir o amor amanhã faça isso agora, pois o
amanhã não existe.
Por mais que seu erro no passado foi enorme, você
deve esquece-lo e aprender com ele, ninguém pode
falar que você errou, pois ninguém sabe o que é certo
além de você.
O maior desafio do homem é entender o eterno,
você precisa saber que o bom e o ruim, o certo e o
errado, a luz e as trevas, o deus e o diabo, a vida e a
morte, etc... , são limites que o homem cria para
poder conhecer o meio, mas esse meio é infinito, não
existe barreiras para nada, quando o homem saber
disso viverá em paz com o maior e único criador, o
perfeito poder da imaginação que é eterno e está ao
seu controle.
Sentado no banco de uma praça, observei o
relacionamento social entre dois homens, me veio na
cabeça, o grande encontro do jovem chefe tessálico
Aquiles e o poderoso rei de Argos Agamêmnon, logo
pulei para trás do banco protegendo meu calcanhar,
os homens pararam e se olharam muito sério até
parecia que iria acontecer uma grande batalha, eles
se aproximaram e começaram a bater nas costas de
69
cada um, demonstrando carinho, pois eram velhos
amigos, mais uma lição que aprendi, nada é como
aparenta ser, só é como você imagina ser.
Eis o medo, o grande e temível medo; afinal quem é
esse medo? Ele existe para que? Quem é o medo? Por
que você tem medo do medo?
Vamos a sua resposta meu amigo: o medo é algo
lindo e admirável, que quem o possui não quer largar,
pois é a sua segurança para viverem um pouco mais o
futuro, que não existe, olhe para você e veja o seu
medo, todos nós temos, cada um cria o seu, têm
pessoas que tem medo do escuro e outras da luz,
também existem criaturas que tem medo da morte e
outras que tem medo da vida, na verdade quem tem
medo do escuro vai ter medo de ser a luz, se existe
medo da morte vai ter medo de viver a vida, eu tenho
medo de algum dia o medo venha me dar medo, mas o
maior medo de todos é o medo de você mesmo, o
medo do que você criou, sem o medo não haveria o
livro, pois tenho medo que você tenha medo da sua
imaginação que criou o medo.
-
Meu deus! – exclamou Rose – que homem mais
sentimental.
Concordo, mas é fraco para escrever. – disse Marcos.
Você flagra a estrutura? – perguntou Michael com
tosses catarrentas.
Que estrutura maluco? – disse Marcos com uma
curiosidade nos olhos com remelas velhas.
O cara está com pose de psicólogo. – respondeu
Michael, aspirando o excremento esverdeado que
escorria de suas narinas.
Já sei o que o porco quer dizer. – disse Márcia.
Também não precisa abaixar o nível, sua piranha. –
disse com humor Michael.
70
-
-
-
Ta bom, - falou Márcia – esse demente parasita, quer
dizer que o Condor Amarelo está utilizando uma
tática de escritores é... digamos... de auto-ajuda.
Como assim, nega. – perguntou Rose.
Não sei como é o nome, mas diz Nietzsche que foi
ele quem inventou, - respondeu Márcia – bom
inventar não, mas talvez ter notado antes sim.
Diz logo, - falou Marcos – o que é?
É, simplesmente a linguagem que você fala com si
mesmo. - respondeu Márcia.
Ah! – falou Rose – quer dizer que escritores de autoajuda dão ênfase para essa linguagem?
Na mosca. – disse Márcia.
Tipo, pode dar uma pequena idéia pra eu sacar
melhor? – perguntou Michael – ó senhora das idéias.
Pois não, - respondeu Márcia – ó senhor das
bactérias, - gargalhadas – existe uma cidade onde
mora um menino, esse menino é doente e sonha em
poder jogar futebol com seus amigos, todos os dias
ele olha para fora de sua humilde casa e, pensa:
“minha mãe não deixa eu ir jogar bola, vou ficar
mais doente, o médico disse que tenho um bicho
dentro de mim, mas um dia vou ser um grande
jogador”.
Ai! Que lindo Márcia, - disse Rose – vou terminar, continuou a história Rose – o menino matou sua mãe
de tédio, ficou muito pior e não conseguia pensar em
coisas boas, como jogar futebol, então em sua
mente apenas se ouvia a palavra morte, morte... ele
morreu e, seu médico que tinha condições de curar
sua doença ficou com remorso: “poderia ter curado
esse menino, que mostro sou, esse dinheiro era
preciso para comprar um jogo de rodas novos para
meu carro, não tenho culpa, quem mandou nascer
pobre, a culpa é do governo.”
Parabéns! – disse Michael – entendi como é a
linguagem, mas achei uma porcaria.
71
-
Sim, - disse Márcia – você é um intelectual, não
esconde o que pensa, mas pessoas normais acham
isso mágico, pensam que o escritor é deus por
descobrir o que pensam.
Marcação pedida. Isso deve ser bastante difícil para
você. Depois de sair de coisas prematuras. Entrar num
reino desconhecido. Uma tentativa de fugir. Palavras
escassas. São as poesias o início do fim das palavras.
Idéias puras um dia surgirão. Um livro que apresente
apenas o título. Eles começaram a ler depois do almoço.
Agora já consta um sol no horizonte oeste. Paula está
bem. Come raízes. Enquanto no apartamento os jovens
sem educação tradicional lêem o livro achado. Que
toma sua atenção do meu livro. Problema é razão.
Palavras e sons; acho eu, que não “são arco-íris e falsas
pontes que ligam coisas eternamente separadas”. Mas
sim coisas que criam essas coisas. Não pense que isso
seja resposta prematura. Tudo até aqui é ensaio. A
resposta está muito além. Você pode sentir nas folhas
em que ainda deve ler. Continue agora no livro
intrometido.
Estamos viajando há muito tempo saímos de um
lugar, para chegarmos ao mesmo lugar, logo não
saímos do lugar, mas que lugar é esse? Este lugar
chama-se eu, eu ando muito sem andar.
A filosofia é o grande combustível do conhecimento,
porém o seu grande erro é buscar o limite total,
levando o limite nas mãos e, parando quando cansa. O
limite total não existe e o limite que ela leva chama-se
razão, a razão é o motivo para ela poder andar, então
você pode ver que todo o caminho aberto pela razão
chama-se imaginação, então por que não pára de
levar o limite e anda sem ele? Pois o resultado é o
mesmo, porém menos doloroso e muito lindo.
Eu sou o que você imagina que sou e, mais nada.
72
No séc. XXI existem coisas de grande importância,
que mexe com a imaginação, a tal da Nova Ordem
Mundial e o anticristo.
Há pessoas ligadas a uma beleza da imaginação,
que é a magia das tradições. Na capital do Egito, em
abril de 1904, um homem teve uma linda imaginação
que levou ele a escrever um livro muito belo e
inteligente, que têm um grande poder de mexer com a
imaginação das pessoas, que podem conseguir muitas
coisas, como fazer buracos em nuvens, quebrar copos
e outras coisas que você imaginar, mas esse
movimento não mexe somente com a imaginação dos
homens desse século, isto é milenar, existem pessoas
que imaginam que isso não serve para nada, a não ser
governar e induzir ignorantes para a magia e,
descobrem símbolos das tradições no meio político e
muitas outras coisas entre deus e diabo, e ocultismo
de ideologias.
Eu conheço muita coisa que existe na Terra em
todos os tempos, mas estas brincadeiras são as de
maior importância, pois o ocultismo desperta muito a
imaginação dos homens, inclusive dos que não
acreditam e tentam criar medo nas outras pessoas,
dizendo que magia é coisa do demo, mas ninguém
sabe quem é o demo além de você, o livro de magia
fala muito do que quero transmitir sobre o universo
individual, eu adoro essa brincadeira que os mágicos
e os críticos fazem, pois eu imagino um monte, até
coisas que não quiseram transmitir.
Agora que você criou algumas aventuras que tive na
Terra após minha morte, vai entrar no grande mundo
da imaginação, a história que se segue, deve exigir
que você tenha uma grande concentração, trata-se de
uma das chaves desse livro, por isso antes de começalo, olhe para dentro de você e veja se está tudo em
ordem e harmonia, você deve ler está história em uma
hora que tenha certeza que nada vá lhe interromper,
73
pois você nunca deverá reler está história, nem
mesmo voltar a repetir uma só letra, porque o efeito é
único e nunca mais se repetirá como o da primeira
vez, leia atentamente cada letra e reflita sem olhar
para o livro, para que o efeito seja o melhor possível,
tire de você qualquer critica e não ponha limites na
imaginação e viva cada segundo porque ele é o último.
Nas páginas seguintes, você vai conhecer o
verdadeiro criador do universo, tenha certeza que
está preparado, sem a companhia do medo e da
ignorância e acompanhado pela sua amiga morte,
para que você possa viver sem se arrepender por não
fazer, respire fundo e deixe o criador te governar,
lembre-se nada é como parece ser, abra a mente para
sempre.
-
Estou com medo. – disse Marcos rindo.
Dá um tempo seu bundão. – pediu Rose.
Esse cara só pode ser doente, - falou Márcia –
aparece com um papo de magia, nada haver.
Que livro é esse de 1904? – perguntou Michael.
É, a volta de Alice do país da magia. – respondeu sob
gargalhadas Marcos.
Sei lá que livro é, - complementou Márcia – mas
vocês sacaram um lance estranho?
Diz. – pediu Rose.
O cara é viciado na palavra “que”, - falou Márcia –
por tudo que é lugar, lá está o “que”, sujeito maluco.
Fora que o cara odeia ponto, - disse Marcos – deve
ser casado com a vírgula.
Essa parada de repetição de palavras já me desperta
há um bom tempo. – disse Márcia.
Sim, flagrei sua pira, - falou Michael – ás vezes
usamos palavras constantemente em um diálogo,
parece que ela fica temporariamente mentalizada.
74
-
Podemos dar um nome para essa palavra parasita. –
sugeriu Marcos.
- É, vamos chamá-la de cucalogo. – disse Rose.
- Cucalogo? – perguntaram todos.
- Sim, cuca de cabeça e logo de diálogo. – respondeu
Rose.
- Não, então sendo assim, - falou Michael – vamos
chamá-la de mentalética.
- É, ficou legal, - disse Márcia – menta de mentalizada
e lética de dialética.
- É, - disse Michael – como adivinhou?
- Elementar meu caro fungo, - respondeu com humor
Márcia – estava na cara.
- Então o nosso Condor Colorido, - complementou
Marcos – está com palavras mentalética em seu
livro.
- Quais? – perguntou Michael com a língua na
bochecha capturando uma casquinha de feijão do
almoço.
- “que”, “mexer”, “muito”, “grande”, “coisas”, respondeu Marcos – talvez também “imaginação”,
mas acho que esse é o assunto, “nunca” é mais
uma ... deixe-me lembrar é... bom, ta bom.
- Se alguém escrever um dicionário, não deve
esquecer de mentalética: palavra mentalética, é a
palavra que está constante no ato de se expressar. –
decretou Rose.
Veja. Meus amigos já estão criando. Não perdem
nada. Essa história vai dar o que falar. Falando em falar,
lembra de Paula? É, ela está muito bem no seu primeiro
dia com a índia. Prepara-se para dormir. Lá tudo é mais
cedo. Não tem luz. Enquanto seus amigos lêem “Vida?”
ela dorme na vida. Preste atenção. Parece que tudo já
passou, mas ainda nem começou. Você tem que notar,
a existência de um outro livro. Esse livro pode lhe
enganar. O tempo é ilusão. Pense antes de pensar. O
começo do raciocínio é no fim. Parece tudo bobagem,
75
mas o livro intrometido também é chave. Quer entender
essa história, então sua atenção deve ser total. Caso
não queira faça o que quer. E, perca vida. Uma história
encontrada atrás da igreja. É uma história à toa. Mas
uma história que fala sobre uma história encontrada
atrás da igreja. É uma história sem tempo. Agora que já
tem uma noção. Que venha sua razão. Desistir de ler é
fácil. Ler é para gigantes. Não se meta onde não é bem
vindo. Quer saber o que é saber, venha preparado. Não
importa o tempo que leve para ler. Isso é aquilo. Acha
que passei anos pensando para dar tudo certinho? Veja
bem, não quero ser chefe. Quero ser lido, hei? Mas será
que não quero ser criado? Chega de criação, Márcia é
quem pede. Já basta um livro. Quem pensa sob isso,
está agora pensando. Mas quem pensa sobre isso, está
agora rindo. Vamos continuar a ler o outro. É quase,
simetria.
Você está em um lugar totalmente escuro, não
existem barulhos, é a verdadeira morte, desconhece o
que é luz e escuro, não sabe o que é barulho e
silêncio, também nem imagina o que é frio, calor,
fome e prazer.
O tempo não existe, você está sem nenhuma noção
de vida, mas de repente você enxerga uma forte luz
branca e uma força que te empurra para ela, logo
tudo em sua volta está branco, escuta barulhos que te
assustam e você começa a chorar com barulho do seu
próprio choro, fica mais assustado e chora mais,
começa ter noção do tempo após cansar de chorar,
algumas imagens surgem e sente o seu corpo pela
primeira vez ao perceber o toque de alguma coisa.
76
Observa pela primeira vez os seus braços e nota que
consegue comanda-los, agora olhe para aquele
homem branco, com as mãos vermelhas, sinta o calor
do corpo de sua mãe e o sabor de seu leite, perceba
como te olha com amor, esse mesmo amor que te
empurrou do lugar sem vida, atentamente veja o
tempo agindo sobre o seu corpo, fazendo você
conhecer muito mais tudo, agora você já pode andar,
está com panos em volta de seu corpo.
Está agora passeando com sua mãe e avista outros
meninos com o mesmo tamanho, você está brincando
com eles, são muito curiosos e começam a puxar o
botão de sua roupa, então pegue no nariz dele e
aperte, e perceba ele olhando para o seu próprio
nariz, entortando os olhos.
Agora você está um pouco maior dentro de uma sala
de aula, aprendendo a brincar com a vida. Imagine
alguns colegas que são bons para você e, veja
crescerem com você, olhe os detalhes de seu reflexo
no espelho, melhore o seu visual conforme você
aprendeu, pois vai encontrar a pessoa do sexo oposto
que te faz feliz, perceba está felicidade acabando,
porque você e a outra pessoa não conhecem o amor,
aquele amor que pode ter durado pouco, mas foi o
suficiente para você nascer, pare e olhe o seu erro em
tentar com a felicidade construir o amor, pois a
felicidade é fruto do amor, é lógico que o fruto produz
a semente para o amor, o problema é você saber
plantar, plante está semente em você, depois de o
fruto para a pessoa que você ama.
Repare os detalhes da cidade, a igreja, imagine
como tudo foi construído, inclusive o mundo todo,
aproveite cada segundo, para o conhecimento, nunca
deixe de absorver a imaginação da religião, filosofia,
senso comum e ciência, pois vai ser muito útil.
Veja as formigas, olhe aquela que carrega o corpo
de sua amiga na cabeça, observe aquelas pessoas que
77
convivem com você, formule questões sobre tudo que
fazem e escute atento suas respostas.
Agora olhe o seu corpo, ele está muito velho, tudo
que era já não é mais como era, o grande tempo
transformou a matéria, mas também minha mente,
sinta o seu corpo ficando gelado, as pessoas chorando
ao seu lado, aquele mesmo choro que te assustou te
faz feliz, observe o formato do caixão que você está, o
frio aumenta junto com a escuridão da tampa ao
fechar, escute o barulho da terra batendo no caixão e
a luz indo embora, logo tudo está como começou, sem
barulhos e escuro, sem qualquer sentido, porém você
tem o maior de todos funcionando eternamente, a
imaginação, lembre das teorias da igreja ou ciência,
sobre o início de tudo e comece a criar o seu universo
novamente, num ciclo eterno, porém cada vez mais
superior e lindo, a morte não existe mais, ela só
existiu na sua ignorância total.
Agora vem a grande pergunta, que você deverá
responder sobre o que leu acima, responda em um
papel separado do livro, após ler a pergunta não
continue a leitura sem ter respondido no papel, feche
o livro e responda com cuidado, sem noção do tempo,
recomece a ler o livro de preferência após uma noite
de sonho.
A resposta não precisa ser longa, basta ser sim ou
não, e dizer o porquê. Eis a pergunta:
Obs: não releia o texto.
Quando você estava no lugar escuro, sem barulhos
na verdadeira morte, tudo o que você viu, sentiu
saboreou, ouviu e cheirou, após ter sido empurrado
para luz, já existia?
-
Nossa! – exclamou Rose – que pergunta mais
maluca.
Vamos feche logo o livro. – disse irônico Marcos.
78
-
Não deforme, - pediu Márcia – seu tonto.
É, - disse Rose – isso pode ser uma macumba séria.
Pra mim – falou Michael – isso é um místico confuso.
Esse papo de escrever a resposta é pra todos
fazerem? – perguntou Marcos.
- É, - respondeu Michael – se você não responder e
continuar lendo esse livro hoje, o escritor vai matar
você em seu sonho.
- Nossa! – disse Rose com um sorriso imperceptível –
escreverei rapidamente a resposta.
- E, qual será? – perguntou Márcia.
- Talvez.- respondeu Rose.
- Talvez? - disse Marcos – essa resposta está
eeeeeeerrada.
- É, por isso que vou escreve-la. – disse Rose.
- Parem, - gritou Michael – vocês estão mais loucos
que esse cara, deixe essa porcaria e vamos dormir,
quero sonhar com minha deusa puta do quatorze.
- Claro, - disse após as gargalhadas Márcia – quem
sabe eu seja a sua resposta.
- Resposta? – perguntou perplexo Michael.
- Sim, eu sou para você um não ambulante, respondeu Márcia – lembra quando disse não para
você na sua tentativa lunática de me agarrar no
banheiro?
- Isso faz quatro anos, - respondeu Michael – hoje
parei de correr atrás de piranha.
- Calem as bocas loucas, - gritou Marcos em sua cama
– quero dormir.
- Não esqueça da resposta. – brincou Rose.
Logo todos estavam dormindo, o manuscrito estava
fechado sobre a mesa central da sala. Marcos roncava
como um porco. Michael pensava em sua vizinha
masturbando-se por baixo do lençol. No outro quarto,
Márcia penteava seus cabelos diante de um espelho
embaçado com o vapor da ducha, em que ela tomava
banho. Rose estava deitada com receio, pois estava
79
pensando no fato de não ter escrito sua resposta,
conforme estava pedindo o livro. Resultado: todos
estavam dormindo exceto Rose, mas esse resultado só
durou até ela se levantar e escrever um sim no papel
higiênico, grafou o porquê de sua resposta e foi dormir
cautelosamente.
Aproveitando que todos então dormindo e, acima de
tudo que o manuscrito está fechado, vamos em silêncio
para o Peru, saber como está a primeira noite de sonho
de Paula na tribo de uma índia só. Sobrevoando o local,
encontram-la, ao lado duma fogueira quase extinta,
com olhos bem fechados, aproveitando uma proteção
nativa para tirar o atraso das noites que passou
acordada. Aproveitando esse embalo, repare no que
acabou de ler, veja que a palavra “aproveitando” é
minha palavra mentalética do momento.
Já que todos dormem, podemos colocar uma certa
ordem aristotélica nisso tudo. Veja se você está
acompanhando. Primeiro falei de Paula, depois de seus
amigos, logo esses amigos encontraram um livro, que
estou apresentando para você com comentários como
esse. Se você estiver mais ou menos por aí, sinto-me
satisfeito. Agora devo pegar um papel responder a
pergunta que Condor Amarelo nos fez e ir dormir, pois
os escritores dormem ao contrário do leitor. Vou
responder só por respeito profissional, não que eu creia
nessas magias infantis, pois sou mais filosofia e magia é
o oposto da filosofia. Mas isso não me impede de dizer
que são elas a mesma coisa. Se você estiver lendo isso
de dia, continue lendo, mas só leia isso de noite caso
você seja um bom leitor, pois deve ser muito cansativo.
Bom sonho. Vou dormir. Mas isso não quer dizer que na
seqüência você não vá ler o “Vida?”, pois como você
sabe, aqui o tempo é loucura. E, deduza que alguém
tenha levantado já n’outro dia e começou a ler. Pode ser
Rose mesmo, ela é a mais curiosa.
80
Se você prestou atenção no seu sonho, lá estava eu
dando a resposta direta ou indiretamente, mas se não
conseguiu prestar a devida atenção confira a
resposta:
“NÃO, porque mesmo se existisse, você não saberia,
pois não existia”.Confira sua resposta se acertou
ótimo, caso não tenha acertado se adapte a ela para
poder progredir no livro, se você não acertou e não
concordou com a resposta, peço que não perca seu
tempo lendo esse livro, pois nada aqui escrito vai te
ajudar, você precisa entender que nada existia antes
de você nascer, quando você nasceu aí começou a
surgir tudo, inclusive o passado, futuro e presente, se
você não entendeu isso, procure entender, mas se não
concorda mesmo tendo entendido, vai concordar como
eu concordei e vai amar corretamente a vida após a
morte na Terra. Não sou o dono da verdade, pois o
dono é você, nenhuma coisa se cria do nada, há não
ser, se você se considera o nada.
Observe o que você agora está olhando, é um
negócio estranho, veja esse fundo branco que nada
diz, cheio de traços negros cada um diferente do
outro, uma pessoa que não sabe ler, simplesmente vai
ver um monte de folhas com desenhos estranhos que
só servem para fazer fogo, mas você que sabe
consegue criar um universo inteiro, com muita
aventura e amor, porque aquela pessoa que não sabe
ler não consegue criar esse universo e, você que sabe
consegue? Talvez porque ela não teve oportunidade
para aprender a ler, mas existe um livro que não
precisa saber ler, ele ensina a você criar o universo
sem as letras, mas com idéias. É o livro de todos,
qualquer um pode lê-lo, basta você e ele querer. Sua
página é azul e os traços são brancos, ele mostra
histórias que jamais você vai reler, por isso é
81
necessário prestar muita atenção, nos personagens e
suas mutações, o nome do livro é céu.
Um dia este livro me contou uma linda história, que
começou a leste e terminou a oeste, era duas crianças
que jogavam uma bola para lá e para cá, logo a bola
se transformou em um pássaro e uma criança em uma
bola, de repente a outra criança se transformou em
um velho, que olhou o pássaro se transformar no seu
amigo e depois o velho se transformou no pássaro.
Olhe o que as nuvens contaram, é uma verdade da
vida, você tem um amigo que sempre brinca com
você, quando perde esse amigo, vê o objeto indo
embora, esse objeto era o motivo para brincar, a bola.
Seu amigo não tem mais força para brincar, mas se
transforma no objeto de motivo da brincadeira, a bola.
Sem perceber isso você sofre olhando o pássaro indo
embora e enxerga o seu amigo indo junto, logo
também resolve ir embora se transformando no
pássaro, sem perceber que seu amigo estava o tempo
todo esperando você brincar com ele, nunca pense
que a morte pode quebrar uma amizade e proibir a
brincadeira.
-
Bom dia Márcia – desejou Rose – você já leu a
resposta?
Que resposta?
A resposta da pergunta do manuscrito. – respondeu
Rose.
Não, - disse Márcia – qual é?
Não.
Não? – perguntou Márcia, assustada e convencida do
egocentrismo do autor.
É, - conclui Rose – eu fiz a brincadeira do papel, mas
errei.
82
-
Deixe pra lá, - disse Márcia consolando a amiga – um
dia você acerta, onde está o café? Hoje é dia do
Marcos... acorde seu vagabundo.
Rose continua lendo o livro. E, eu logicamente
acordei, pois notei algo cabeça nisso ali em cima.
Condor Amarelo quer roubar o tema do meu livro? Não,
não acho que só jogou uma idéia, nada mais. Uf! Pensei
que teria que entrar numa bélica fonética com esse
cidadão amarelo.
Eis as fontes da vida:
I – Vencer com amor toda a dor.
II – Há cada um, um trecho do dentro.
III – Tudo consome o que não existe.
IV – A calma da pedra, a rocha da vida.
V – Sempre há distância entre tudo.
VI – Perca a hora para perder a vida.
VII – Cante á tudo e a todos, o silêncio da casa tua.
VIII – Eu sou o ninho da vida.
IX – Enterre o que nasceu da Terra.
X – Canção do ar com para amar.
XI – Trave a porta, para não fugir.
XII – Olhe o espelho para mim.
XIII – Olhe para você e veja eu.
XIV – Traga o meu amor por mim.
XV – Tufão da vida, transeunte na vida.
XVI – Orgulho do entulho.
XVII – Pense no alto, veja o fundo, olhe o mundo.
XVIII – Estrela criadora, que aponta a dor, que perde
no teu amor, para tudo que sempre funcionou como
todas as coisas são, não são como você brilhou, mas
tudo é seu amor.
Da forma que você traduzir está correto, mas se
essa forma foi copiada, então será anulada. É
necessária toda a sua sabedoria para entender as
83
fontes da vida, não posso ajudar para não ir contra a
natureza.
Este é o primeiro teste para crescer, a chave das
fontes chama-se amor, você precisa saber o que é
amor para poder traduzir sem essa tradução a vida
não tem a solução para as perguntas, usar a
imaginação não dói e resolve.
Não é o fato de todas as pessoas pensarem que uma
coisa é verdadeira, é que torna ela verdadeira, mas
sim o fato de você pensar que é verdadeira. As
pessoas não são inteligentes porque querem, mas sim
porque você as faz ser.
Eis o grande combate:
Ó combate tão belo tu foi, o mais belo que o
universo presenciou, veja a armadura riscada do
derrotado, está vivendo o prazer da derrota que
conseguiu, derramando pelo corpo lágrimas de
sangue que lavam sua alma. Ó vencedor tu foi o
grande superior do combate, ocupa o lugar que
merece no degrau mais alto possível, mas algo
ocorreu com o vencedor, aparenta estar novamente
combatendo, não está satisfeito com o seu lugar, sua
alma não demonstra mais sua superioridade, veja o
grande vencedor tomado e vencido pelo amor e
piedade, suba no meu lugar amigo falou o vencedor,
não mereço tal homenagem deixe-me com o que mais
venero que é o lugar a onde não vou mais cair, agarrase na sua espada e finca na terra, tremendo a
península, para do lugar da derrota não poder sair,
veja o vencedor derrotado pelo maior vencedor do
universo, ele desce para poder superar a dor da
derrota com o seu derrotado, as lágrimas e sangues
84
dos dois combatentes mancham a terra e fazem o
tapete real para o maior vencedor que o universo já
criou passar e consolar os derrotados, esse grande
vencedor encontra-se em qualquer lugar onde houver
combates e seu nome é amor. O maior vencedor desse
combate, não ocupou o lugar do vencedor e pediu
para dizer ao mundo inteiro que ele foi assassinado
pela piedade.
No lugar que ocorreu, está hoje a pista que é a
primeira para encontrar o tesouro, não há nada nesse
mundo que você não saiba de mais, o objetivo do livro
é responder a vida para encontrar o tesouro que ela
criou.
Numa noite de inverno, estive em Londres
conversando com um velho alquimista, ele me
apontou uma das grandes verdades da vida, nós
estávamos tomando chá em uma lanchonete, quando
eu perguntei:
- Você sempre vem aqui tomar chá?
- Todos os dias e no mesmo lugar – respondeu o
alquimista sorrindo – mas não pense que isso é
chato porque faço todos os dias.
- Mas o que faz isso não ser chato, pois você sempre
senta nesse banco e toma na mesma xícara o chá?
– perguntei curioso sabendo que veria uma
resposta sábia.
- É aí que está o erro, pois nunca seria a mesma
xícara e nem o mesmo banco, porque se fosse eu
não precisaria vir aqui viver o que já vivi e tomar o
que já tomei, - respondeu o alquimista satisfeito
com sua resposta – tudo muda e nada permanece,
só basta-nos observar isso.
Tudo o que você olha é novo no universo, porque
você está criando no momento que olha, não pense
85
que aquilo que você olha, você já sabe o que é, e como
está, pois se você soubesse não precisaria da visão,
porque já sabe tudo, é esse o grande perigo da vida,
você pensar que o que observou ontem é igual o que
observa hoje e assim por diante, num ciclo vicioso que
impede-nos de criar novas coisas, por pensar que
existe rotina, o grande sábio enxerga as verdades em
coisas simples, em qualquer momento desprezando a
igualdade, pois nada é igual a nada no universo se um
sábio, nem mesmo o seu próprio reflexo no espelho.
Após tomar o chá o alquimista tirou uma moeda do
bolso e a colocou encima do balcão, se despediu do
garçom e me convidou para dar uma volta pela
cidade, entramos em uma rua muito silenciosa com
casarões antigos que mexiam com minha imaginação,
o único barulho daquela noite era da velha coruja
branca, o alquimista estendeu o braço e a ave desceu
do mastro no alto de uma residência pousando em seu
braço. A coruja era linda e rara, ele me falou que era
uma velha amiga de aventuras psíquicas, eu olhei
para ele e antes de perguntar o que era isso, ele já
veio com a resposta, é como se ele lesse pensamentos:
- Aventuras psíquicas são coisas que você cria
através de um animal muito amigo, - assim disse o
alquimista, olhando para mim como se estivesse
me perguntando se já tinha entendido – você pode
transforma-lo no que quiser, para satisfazer suas
brincadeiras, mas somente você pode ver, por isso
cuidado para não ser visto e se passar por louco.
Ao terminarmos a rua avistamos uma praça onde
fomos sentar em um banco, comentei sobre a noite
que estava sem a Lua, ele ficou quieto e começou a
olhar para o céu por um longo tempo, sua coruja voou
para a floresta atrás da praça, não entendia o que
aquele homem com barbas longas e brancas olhava
tanto para as nuvens, então resolvi olhar para onde
ele olhava, havia uma grande nuvem parada
86
esperando o vento leva-la para a lua poder brilhar, de
repente um buraco na nuvem começou a se formar, a
luz da lua passava por ele e deixava uma marca como
um risco no céu, iluminando a torre de uma igreja,
logo percebi que era o velho que fez o buraco, ele
continuou até o buraco ser tão grande a ponto de a
Lua poder iluminar toda a cidade, foi maravilhoso
como o velho usou sua mente, então perguntei:
- Como você consegue fazer isso?
- É simples, dá mesmo forma que faço tempestades,
crio os ventos e ondas nos mares, só basta você
saber que você é o criador, para saber isso precisa
sabedoria. – respondeu o alquimista com um olhar
brilhante e puro.
- O grande problema é justamente este – perguntei
ao velho com segurança de uma resposta sem nexo
– como conseguir a tal sabedoria?
O alquimista se levantou e fez sinal para eu o seguir,
fomos até a beira de um lago, onde ele falou:
- Se ajoelhe e ponha a cabeça perto da água.
- Mas por que você quer que faça isso? – perguntei
com receio.
- Para você ter a resposta para sua pergunta, respondeu com amor o alquimista – mas se você
não quiser tudo bem, eu não perco nada.
Imediatamente fiquei de joelhos e o velho pegou no
meu pescoço afundando minha cabeça na água, até eu
começar a me bater e, perguntou:
- O que você mais desejava quando estava com a
cabeça na água?
- Era de poder sair dali e respirar – respondi
assustado. Então o alquimista declarou:
- Quando você desejar a sabedoria tanto quanto
desejava respirar de baixo d’água, você a terá.
Nunca mais vi o velho alquimista, que me ensinou a
lutar pelo meu sonho, certo dia descobri que o
exercício que ele fez comigo no lago, um filósofo
87
grego chamado Sócrates já havia feito; foi então que
percebi como era grande a sabedoria do alquimista,
posso dizer que a fonte da vida VI, tem muito haver
com este assunto tratado com o alquimista, ás vezes é
necessário ajudar mesmo sabendo das conseqüências.
O Himalaia guarda seus mistérios, certa vez no
Tibet, um homem prometeu para sua mãe que subiria
no K2 em sua homenagem quando ela morresse.
Então este dia chegou, sua mãe havia morrido um dia
antes dele partir na grande aventura. Passou seis dias
e esse homem já estava no pé do mais perigosa
montanha do planeta.
Este homem era monge e sabia o teorema da vida,
por isso não tinha medo de enfrentar sozinho o
desafio mortal, levava com si um pequeno diário para
fazer sua anotações, pois a montanha contava muitas
verdades. No dia em que este homem alcançou o
cume do K2, ele estava totalmente magro por não
conseguir comer devido uma inflamação na garganta,
sabia que não iria conseguir voltar ao Tibet e sua vida
estava acabando, começou a ter alucinações e
escrever sem parar em seu diário.
Na volta deixou o seu diário dentro de uma bolsa
com todas as idéias no cume do K2, pois não queria
que elas morressem como ele, soterrado por uma
avalanche no primeiro dia de descida.
O diário foi encontrado por um alpinista da suíça,
que falava varias línguas inclusive o mandarim, que é
a linguagem do diário. Na volta da escalada o suíço
resolveu conhecer as pirâmides do Egito, logo depois
foi para Tunísia onde atravessou o mediterrâneo de
navio, foi nessa travessia que a humanidade perdeu a
mais bela descrição da vida, ao ler as primeiras
páginas do diário, o suíço levou um susto com uma
88
gaivota e derrubou o diário no mar, que rapidamente
fez sua leitura carinhosa desmanchando as páginas e
engolindo para o fundo do mundo a sabedoria de um
homem especial, por toda a Sicília.
Triste o suíço sentou-se em um banco metálico,
pegou uma caneta e um papel e escreveu as páginas
que leu no diário que mexeu no seu coração. No papel
estava escrito, o local que achou o diário e todo o seu
começo, que nunca mais vamos saber o fim, encontrei
este papel junto com o diário do suíço, nas ruas de
Berna, provando o quanto o alpinista era desastrado.
No diário do suíço, nada tinha de valor, então resolvi
devolve-lo, mas lógico que não devolvi o relato do
diário do homem do Tibet. Não estou falando que os
suíços não criem coisas belas, mas aquele suíço com
certeza não era um poeta. Vejam um pedaço do
pensamento daquele desconhecido, mas grande
monge:
“Não devia ter chorado a morte de minha mãe,
porque não tenho mais lágrimas para chorar na
minha. A cor da morte é preto e a da vida é branco
neve, agora entendo a vida eterna; os dias chorando
por ela, me fez entender, costumo dizer que a morte é
um gelo, a fantasia o calor, e a vida a água. Quem é
você que está me fazendo chorar de medo? Por que
olha para mim esperando alguma coisa? Por que o seu
nome é vida? Será que você pode me responder?
Não entendo o porquê disso, mas sei que estas
respostas somente existirão quando eu saber
responder esta pergunta:
Quem sou eu?
Ainda bem que não tenho esta resposta, pois se
tivesse, não era apenas o meu corpo que morreria
hoje, mas também a minha alma”.
89
-
-
-
Esse suíço é burro, - disse Rose com tédio – como
pode ter perdido o diário?
O que está acontecendo? – perguntou Márcia
fritando ovos – Condor morreu?
Não, - respondeu Rose – é que surgiu um escritor
suicida na parada.
É, mas quem é? – indagou Márcia.
Um monge sem nome, - falou Rose – que escreveu
segredos para o mar.
Que louco! – disse Márcia – deve ter escrito para
Poiseidon.
Quem ousa tocar em meu nome? – perguntou
Michael, se espreguiçando.
Coitado, - falou Rose – se você fosse o deus do mar,
não federia tanto.
Ei guria, - gritou Michael – tomei um banho ontem
quando acordei e raspei a língua para lhe beijar
gostoso, mas você tira toda minha moral, ta
pensando que é deus? Sua piranha.
Acorde o Marcos, - mandou Márcia – para preparar o
nosso café, e pare de ser infantil, seu antropólogo de
punk.
Pelo menos faço alguma pesquisa descente, retrucou Michael – não fico pensando que percepção
e razão são coisas distintas, você deveria sentir a
vida, por que não trabalha de prostituta? Com esse
par de coxa ganharia mais, do que filósofa de louco.
Cala boca, - disse Márcia com humor – não preciso
andar atrás de mundos, sou um.
Esse livro te piro legal, - disse Marcos – já pensa que
é Odisseu contra Poiseidon.
Como proprietária do apartamento, - decretou Márcia
depois dum sorriso – quero que todos tomem café e
ajudem eu e Rose nesse manuscrito, temos o dia
todo.
90
-
Sim majestade. – brincou Michael indo acordar com
um cubo de gelo o Marcos.
Nesse tratado tema, posso dizer algo. Sendo o
regedor de todas as palavras, digo que vamos entrar
em coisas estranhas. Mas o livro intrometido ainda nos
guarda segredos. Rose lhe tem nas mãos. Tudo que
precisamos é saber quem é o narrador. Pelo que
entendi: Luiz está escrevendo o que Condor Amarelo lhe
diz, mas a dúvida principal é saber se Leucipo de Minas
está ou não escrevendo Luiz. Dúvida que só será diluída
nas águas gramaticais do fim disso, se é que tem.
Agora preste muita atenção, esse meio em que você faz
parte, não encerra nada. Isso pode ir muito além. Sou
deus aqui, mas nesse meio sou uma criatura e, você
passa a ser deus. Não pergunte mais nada. Finja que
tudo se acaba em ti, pois logo você estará perdido entre
uma criatura e um deus, jogado entre o céu e a terra.
Não pense, essas palavras na são capazes de definir
nada. O que transcorrer nessa volúpia, será seu
caminho. Não queira mentir para si, terá que ser muito
capaz. Tudo terá que ser uma única coisa: seu
conhecimento, sua imaginação, sua razão, sua
ideologia, essa que agora passa a ser uma
metamorfose lingüística. Tudo se resume em entender
ou não esse livro. Quem perde ou ganha nisso é você,
pois Paula e seus amigos continuarão eternamente
aqui. Esse livro já está em seu acme intelectual, mas só
em seu começo. Olhai os lírios do campo, olhai mesmo.
Eu sou F.: C.: I.: ( filósofo cósmico I; ou Condor
Amarelo), faço parte da sociedade secreta F.: C.: V.:,
formada por pessoas de várias nações, mas todos
somos cosmopolitas; somos onze membros, todos
mortos fisicamente no planeta Terra, mas como vocês
sabem resolvemos voltar para ajudar a Terra. Este
91
livro é o último contato que teremos na Terra antes de
cada membro voltar para seu planeta.
Quando você estiver lendo está obra, estaremos
muito longe, mas por enquanto estamos espalhados
no futuro, passado e presente do planeta, modificando
o mundo para melhor, mas não no sentido coletivo,
pois este sentido não existe e sim no individual, se
transformamos em qualquer forma de vida, que você
imagina, em todas as épocas, você já conhece um
pouco de minha história e aventuras na Terra. Eu
apresentei as fontes da vida e uma das pistas, que
leva a um presente que a F.: C.: V.: escondeu na Terra,
é o maior tesouro que o homem já criou, mas a pessoa
não pode ter nos olhos a marca do cifrão, pois impede
de progredir na vida, pois não vai conseguir enxergar
as verdades, também não deve duvidar da imaginação
só porque tem sabedoria para dizer que esse livro é
falso e serve somente para ter o ouro de tolo,
pensando assim você estará fora da rota secreta, mas
por um lado é bom, pois está aumentando as chances
dos que acreditam.
Foi comentado sobre um livro escrito em 1904, este
livro foi a primeira tentativa de passarmos nossas
idéias, mas infelizmente o livro não teve uma boa
aceitação mundial em massa, porque o escritor era
visto como um homem mau pela sociedade, o que não
era verdade, este homem era muito sábio e conseguiu
captar as idéias, mas as escreveu de forma muito
complicada para as pessoas normais e inventou muito
mais coisas do que pensávamos com a sua grande
imaginação, então percebemos que não era o tempo
certo para o livro.
Este livro que você está lendo é totalmente
compreensível pelas pessoas, por ser escrito por um
rapaz muito mais ignorante do que o primeiro sábio
escritor e, nossas idéias agora poderão ser bem
92
entendidas por todos, que adoram a vida com
liberdade.
Agora é um momento seletivo para progressão em
busca do tesouro, as pessoas que acreditarem
continuarão, caso contrário já estão eliminadas, ao
lerem as palavras secretas automaticamente aceitará
a que você escolher.
A F.: C.: V.:, tem mais um membro fora os onze, ele é
conhecido como o guardião do tesouro, as pessoas
que seguirem corretamente as pistas saberão o lugar
onde está enterrado o baú, mas é preciso responder o
teste do guardião, ele ainda é vivo fisicamente, tem
centenas de anos e somente vai morrer quando o
tesouro for encontrado e ele ter a resposta do teste. O
guardião se transforma em qualquer coisa seja animal
vegetal e mineral, por isso muita atenção com este
mago. Muitas pessoas não acreditam nisso, porque
nunca viram, por isso quando lerem as palavras
secretas estarão fora do jogo e da rota secreta.
Eis as palavras secretas que vão confirmar sua fé na
fantasia real: ANGI-KYNUMBOW. Se você têm
preconceitos com pessoas que pensam diferente de
você, infelizmente você está fora, mas feliz aqueles
que acreditam, pois suas mentes estão sem bloqueios
e vai ter imaginações ótimas para seguir a frente, este
teste pode ser feito mais uma vez, mas vai ter que
passar para não ter perdido a chance de encontrar o
tesouro, se você não tiver acreditando é melhor fechar
o livro, para poder viver o seu próprio tesouro
psíquico.
-
Cara que gente louca! – exclamou Rose – escreve um
livro para mandar não ler.
O que é que ta pegando? – perguntou Michael
mastigando um pão com ovo.
93
-
É o livro, - respondeu Rose – ele começou a piorar
seu misticismo.
- ANGI-KYNUMBOW, - gritou Márcia – eu acredito nisso
e vou pegar o tesouro, amém.
- Cuidado sua demente, - disse Marcos – esse escritor
faz parte da F.: C.: V.: cuidado.
- Sim tomarei cuidado. - respondeu Márcia sob uma
série de gargalhadas.
Isso pode ser ruim. Já basto eu agora ele? Não quero
que pare de ler, é tudo psicologia.
Quando o frio chega tudo muda, a hora de sair é
tranqüila e linda, os segredos aparecem melhor, sua
mente não sente o calor externo, você fica mais
prestativo com o universo, tudo melhor se cria e
cresce, como uma lei inversa à natureza do pensar
comum, a imaginação é o governo e você uma nação,
a cada passo tudo muda para o sempre e o passado
vira o presente de forma superior a ideologia do
universo comum, observa de forma única em sua vida,
conhece a sua invenção e lança para o futuro passo,
sem se arrepender do passo passado, a concha brilha
como o primeiro sinal do seu desejo, refletindo o
negado cifrão que tudo cria e destrói no universo das
formigas. Tudo termina a onde começou.
Agora que tem o conhecimento necessário para
progredir na história do livro e dos membros, vou
começar a desenvolver o teorema da vida e criar a
minha parte da rota secreta, você já possui as fontes
da vida e sua chave que é de suma importância para
todo o livro, pois é uma conduta da F.: C.: V.: a
94
primeira pista já faz parte do seu universo, também
conhece a minha vida e histórias importantes para as
fontes, porque apresenta as formas delas bebendo as
águas. Para você que gosta do conhecimento obscuro,
vai decifrar melhor o enigma, quando você estiver
imaginando os segredos, eu estarei sempre junto de
você da mesma forma que o guardião está junto do
tesouro, por isso preste atenção nas coisas que
aparentam ser simples como, por exemplo, um
pássaro.
Quando mais longe for, melhor a visão, vou lhes
ensinar a mágica do universo animado, a observação é
o segredo, certamente já sabe ler o livro céu, agora
precisa saber ler o livro Terra, a primeira vez é bom
que leia sozinho para ter confiança, depois de um
tempo todos os amigos vão conseguir ler tudo o que
você ler, veja como aplicar está verdadeira magia da
sua imaginação. O primeiro passo é você observar de
preferência um lugar natural, isto é, sem marcas do
homem após conseguir neste lugar poderá aplicar, em
qualquer espaço que desejar, até mesmo na cidade, a
melhor hora é quando a luz solar já não brilha tanto,
no começo da noite, olhe desconfiado do lugar,
imagine que ali tenha seres fantásticos que podem
aparecer a qualquer momento, não se limite a pensar
que ele já existe, olhe fixamente para um ponto escuro
entre as árvores, veja que ele começa a criar forma de
um ser, pense qual é essa criatura, tudo é bem lento
tenha paciência e fé que a sua fantasia é tão real
quanto você mesmo, não se assuste se ela começar a
se mexer, pois isso é normal, nunca crie com ódio
porque pode ser muito perigoso, onde lentamente na
floresta sempre alerta, veja as outras criaturas
tomando forma, se estiver com amigos, aponte para o
local e comente o que está vendo, logo ele também
começará a ver e toda a floresta estará cheia de
bruxos, duendes, lobos e tudo o que você imaginar,
95
mas é preciso ter fé como uma criança tem com suas
imaginações, lembre-se a fé é dizer a verdade de uma
coisa, que a razão e os sentidos negam. Essas
brincadeiras não tem nada a ver com o propósito do
livro, servem somente para exercitar a mente, para o
progresso do maior poder que o homem possui, a
imaginação, que muitas pessoas a desprezam e não
acreditam porque pensam que é algo “primitivo” e
desconhece que sem ela não existe a vida do seu
universo.
Para os psiquiatras que estão lendo este livro,
compulsivamente dando nome as prováveis doenças
que o inocente escritor Luiz possa ter, como paranóia
ou esquizofrenia, peço que continuem assim
exercitando sua imaginação, mas que se lembrem que
também são humanos e que a loucura não existe, a
única realidade é aquela em que cada um se sente
livre nas atitudes do seu universo, qual a diferença de
uma pessoa ver um bruxo na floresta e da anima e
animus? Não existe a completa diferença, pois ambos
saíram da mesma fonte, a imaginação. Vejo que está
agora pensando que retirei estas informações de
livros do C. G. Jung, do senhor Freud e também de
livros do Aleister Crowler e lógico que sim, pois posso
viajar no tempo e escrevê-los como quero, foi eu que
os criei assim como você está me criando neste exato
momento, tudo o que você sabe eu sei em dobro, mas
o que seria de mim sem você me inventar no seu
universo, não se limite em métodos científicos que
servem apenas para te afastar da sua realidade.
Que cor você enxerga entre você e o livro? Então
por que o céu e azul? Mas se é por causa da luz, por
que à noite ele é preto? Você disse que a cor do
espaço é transparente, quer você me dizer que existe
algo negro no céu, como uma parede negra? Ou quem
sabe o espaço é negro como o ar entre você e o livro?
Para estas perguntas, somente você sabe a resposta e
96
não adiante eu falar o que penso, por isso vou contar
somente o que você deve ouvir: sem luz não existiria
nada, porque o sol é quem faz toda a vida na Terra,
porém “todo homem e toda a mulher é uma estrela”,
portanto você e a luz do universo, sua mente é o sol,
nenhuma outra estrela existe sem você.
-
-
Agora esse sujeito está dizendo o que devia. – falou
Márcia.
Crowler? – perguntou Rose – quem é esse cara?
É - respondeu Márcia – o maior mago do séc XX, bom
eu acho.
Sim, - disse Marcos – ele é o homem que Raul cita na
sociedade alternativa.
É isso aí! – disse Michael – viva... viva... viva o
egocentrismo.
Você é doente? – perguntou Márcia – isso é o tal do
Nirvana negativo.
Não sabia que existia esse disco. – falou Michael.
Mas você é uma anta mesmo, - criticou Márcia – o
Nirvana não é a banda de rock, é o estado espiritual
almejado pelos budistas.
Você e seus assuntos nada haver, - disse Michael –
meu negócio é ler coisa que interesse para mim,
curtir um barulho pesado e travar o fluxo mental,
com cachaça.
É, está aí a sua sina. – disse sorrindo Marcos.
Voltando ao assunto, - disse Rose – o que acharam
dessa pira de livro terra e céu?
Coisa de louco. – respondeu Márcia.
Interessante. – disse Marcos.
É, esse livro leio sempre que bebo. – complementou
entre gargalhadas Michael.
97
-
Ainda bem que vai começar uma história nesse
treco. – falou Rose.
- Se não falar mais que eu sou deus, ta louco de bom.
– disse Marcos.
Leitor que agora lê. Repare na situação psicológica no
apartamento. Estão lendo após terem acordado. Tudo
está lento, suas idéias são fracas. O sentido que
buscamos foi decretado. E, se algum homem dizer sem
razão algo, pode saber que é Marcos ou Michael. Porém
você nunca vai saber se foi um homem que disse. Aqui
jaz uma sentença. Veja que ainda são escassas palavras
que tudo regem. É sinal que Paula Palavra está por
volta:
- Trunky atí ‘ atocs; - perguntou a índia.
- Não, - respondeu Paula – não tenho idéia do que diz.
É, parece que só isso foi falado na chuvosa manhã
selvagem. Paula está melhor. Algo como mãe e filha
está preste a surgir. Isso já basta. Lá estão lendo os
leitores mineiros. Michael sentado ouvindo a doce voz
de Rose que também lê para os delicados ouvidos de
Márcia e para o sanduíche com Marcos no controle do
recheio mostarda vencida. Livro intrometido, conta-lhe
uma história agora.
Neste exato momento você está entrando na história
do livro, que começará a ficar muito mais interessante
do que foi até agora, aqui é o ponto de partida para o
teorema da vida e principalmente para a rota secreta.
Tudo o que você leu até agora, vai ajudar a entender
está história, pois você sabe que para a imaginação
não existe tempo e nem obstáculos. Cada membro
desenvolveu um trecho para está história, que fala de
um homem totalmente especial, que demonstra o puro
coração humano.
Este livro foi inspirado nele como a bíblia foi para
Jesus, é preciso muita sabedoria para entender suas
98
aventuras sem se perder da rota secreta, porque foi
ele quem criou a rota do tesouro ao percorre-la pela
primeira vez. Você precisa entender muito bem que
cada membro pensa diferente e tem as suas crenças e
religiões, mas todos conhecem o poder da mente, por
isso sabem o que dizem, minha religião é a magia,
pois sou um mago, a magia é para todas as religiões o
mesmo que a filosofia é para todas as ciências, isto é,
a base. Na F.: C.: V.:, não existe preconceitos sobre
crenças, porque sabemos que tudo é fruto do grande
poder da imaginação.
Observe cada aventura dessa história, as palavras
não querem dizer nada, você deve prestar atenção nas
idéias, mas as idéias são criadas pelas palavras, então
peço que consulte o livro sagrado do cristão, chamado
bíblia e, entenda o que está escrito em Atos 6:4.
A história começa no ano de 1675, na Europa onde
nasceu Halford Pahazy Filibuster, um grande bruxo
admirado por alguns ladrões, que na verdade eram
desempregados, eles viviam atrás do Halford que
aprendeu tudo sobre magia vendendo seus bens em
troca de sabedoria, com apenas vinte anos Halford era
um grande sábio e sabia fazer muitos truques com sua
fabulosa mente, que divertiam muitas pessoas
excluídas da sociedade, como mendigos, ladrões e
prostitutas. Halford morava nas ruas junto com seus
amigos, após gastar toda sua herança deixada pelos
seus pais em apenas cinco anos, em livros e aulas de
magia e filosofia com mestres secretos na Inglaterra.
Halford conheceu um pirata que assistiu uma das
suas demonstrações que fez nas ruas de Barcelona na
Espanha, perplexo com os truques de Halford o pirata
chamou o capitão Thunder Waves, que a observar
Halford o convidou para animar os piratas, Halford
não pensou duas vezes, pois era o seu sonho poder
viajar o mundo inteiro pelo mar. Em 1696, Thunder
Waves conseguiu roubar uma grande embarcação que
99
transportava especiarias e jóias da Índia para Europa,
com isso o capitão arrumou os seus doze mióparos e
sua liburna para poder viajar até a América Central.
Eles andavam muito pelo ocidente da África em
busca de navios que vinham do novo mundo e da Ásia
trazendo riquezas para os europeus, nas paradas no
litoral Africano em busca de mantimentos e escravos,
Halford que falava muito bem árabe se apaixonou por
uma moça de Marrocos e convenceu o capitão, que
virou seu grande amigo por também amar a sabedoria
a aceitar, a moça no navio como sua esposa, Thunder
Waves que tinha seus vinte e oito anos aceitou a
proposta do amigo porque também estava apaixonado
por ela, mas jamais tocou em dedo nela durante o
pouco tempo que ela ficou á bordo, a moça tinha
ficado grávida de Halford. Em 1699, os piratas
estavam na América e neste mesmo ano Thace Pahazy
Filibuster nasceu, nas proximidades da ilha de
Tortuga.
Os piratas se mantinham do roubo de gados que
eles defumavam para servir de alimento em suas
longas viagens, no fim do ano 1707, Thunder Waves e
seus piratas começaram a sua viagem de volta para
Europa satisfeitos com o sucesso dos roubos a
pequenas embarcações, Halford cada vez mais
evoluindo em seus deveres de pirata e de amigo de
todos, foi escolhido para ser capitão de um dos
mióparos de defesa do grande capitão Thunder
Waves. Sua esposa e seu filho Thace ficaram no navio
principal por motivos de segurança solicitado por
Halford numa conversa com Thunder Waves no
convés, antes de assumir o comando do mióparo de
defesa. Halford entregou uma carta para o capitão
entregar pessoalmente para seu filho quando
crescesse o suficiente para entende-la, Thunder
Waves sorriu ironicamente para carta e prometeu que
entregaria. À noite quando o capitão foi dormir
100
lembrou da carta e ficou imaginando o porquê que
Halford a escreveu, pois sabia dos poderes psíquicos
do amigo.
-
Coitado de Halford, - disse com ironia Márcia – vai
terminar na quarta cava do oitavo círculo do inferno.
- Dante? – perguntou Rose.
- Sim, - respondeu Márcia – é a base da bíblia.
- Você está pirando, - disse Michael – como pode a
Divina Comédia ser à base da bíblia?
- Você está pensando que a bíblia é mais velha do que
a Divina Comédia? – perguntou Márcia.
- É lógico. – respondeu Michael.
- Pare de ser ridículo, - falou Márcia – essa bíblia que
temos agora é algo da idade média é pura política,
brincaram com Dante.
- Você viaja muito, - disse Marcos – a bíblia foi
montada recentemente, mas foi escrita no tempo de
Jesus, com bases filosóficas gregas e orientais.
- Sim, - disse Márcia – mas somente alguns livros
cabem em suas palavras, o resto é tudo inspiração,
paraíso, inferno, esses negócios é tudo da Divina
Comédia, esse nome também cabe exatamente, pois
comédia é comédia e não o oposto de tragédia.
- Parem de viajarem seus dementes, – gritou Rose –
temos que continuar lendo esse livro, agora pode
surgir a lógica desse manuscrito, vamos saber se é
ou não um presente de grego.
Rose gruda seus olhos no livro que achou. Todos
escutam sua voz. O calor do meio-dia está quase
surgindo, agora são onze. Lá na floresta Paula não sabe
nada sobre tempo. Sua vida é controlada por: a.C. e
d.C. (antes da chuva e depois da chuva). Isso pode
parecer ironia, mas é sério. Esse gemido que surge nas
páginas viradas é o som que habita o fim da página.
101
Esse som não possui tempo é o mesmo que os amigos
de Paula estão escutando no manuscrito. Quem sabe
Atos 6:4, citado por Leucipo em seu livro “Vida?”, não
seja o problema sem solução. Porém só não tem
solução para ele, pois nesse livro que minhas
artimanhas rege, tudo será respondido, seja lá o que
for.
Na manhã do dia 21 de novembro de 1707, o pirata
do mastro gritou desesperado anunciando inimigos,
Thunder Waves pediu velocidade máxima aos
remadores na sua liburna carregada de riquezas,
enquanto os seis mióparos de defesa protegiam a sua
fuga, halford comandando as embarcações, segurou
por um bom tempo os dezoito navios da esquadra do
René Duguay-Trouin, mas logo foram rendidos e
assaltados, halford e mais cinqüenta e cinco
sobreviventes foram presos como escravos e alguns
como piratas por serem sábios do mar.
Thunder Waves agora soube do poder do seu amigo
Halford de prever o futuro, conseguiu escapar com
cinco mióparos, porque um foi atingido por uma bala
de canhão e naufragou no meio do oceano Atlântico. A
esposa de Halford pediu para voltar a Marrocos com
seu filho Thace, o capitão deixou eles seguirem suas
vidas, pois sabia que dificilmente Halford estaria vivo
e, resolveu não entregar ainda a carta para Thace,
porque algum dia por alguma razão que Halford
sabia, eles iriam se reencontrar.
Assim nasceu o nosso grande e sábio Thace Pahazy
Filibuster, entre os inimigos e o lugar comum de
todos. Thace agora com dez anos vive com sua mãe
que tem um nome secreto e importante na história
mundial, que logo você descobrirá. O nosso menino
como o seu pai era atração entre as crianças vizinhas,
por ser muito inteligente e falar duas línguas, o árabe
102
e o espanhol, também arriscava um inglês forçado,
aprendeu tudo isso com seu pai, que ele considerava
como um ídolo, sua mãe contava algumas histórias de
piratas que eles viveram, mas Thace só lembrava do
dia em que o seu pai foi atacado por um pirata ruim,
que não sabia o nome.
Constantemente Thace perguntava para sua mãe
sobre o Thunder Waves e quando eles novamente
iriam navegar, sua mãe enxergava nos olhos do
menino a falta do pai e sempre respondia que algum
dia em terra firme eles se encontrariam. Thace
gostava bastante de Marrocos, mas não negava que a
ilha da Vaca e a Jamaica eram mais bonitas, porque
adorava aquele mar tropical.
A vida era muito pacata no vilarejo que moravam,
Thace começou a se interessar pelo estudo do alcorão,
praticava com seus amigos os ensinamentos de uma
das mais belas e sérias religiões do universo, logo o
menino já compreendia a cultura do seu povo,
imaginava o porquê das coisas e fatos da história, que
lhe cercava. Sua mãe percebia o interesse do menino
pelos estudos, então quando tinha oportunidade ela
comprava livros de viajantes que vinham da Europa.
Thace começava a descobrir o seu corpo e, era uma
luta interna incrível quando tentava entender o que
ele sentia quando observava uma menina do vilarejo,
ele sabia que era uma atração, mas não era a mesma
que sentia quando espiava as mulheres tomando
banho, de certa forma ele entendia que era um amor
puro, livre de qualquer ato natural que havia entre os
animais, é algo que somente pessoas com sentimentos
de harmonia podem conter em seus corações. Nunca
teve coragem de conversar com ela, pois tinha medo
dela ser diferente do que era em seus sonhos, sentia
algo estranho dentro dele quando ela passava perto,
um calor esquentava o seu rosto que logo ficava
103
vermelho, sentia tudo isso, imagine se ele soubesse o
nome dela.
Certo dia um homem que passava pelo vilarejo
observou Thace lendo o alcorão, se aproximou e sem
dizer nada pegou um livro grande e colocou-o em
cima do alcorão. Thace mal olhou o rosto do homem
que saiu correndo em seu cavalo, curioso abriu o livro
escrito em latim, não entendia muito desta língua,
mas conseguia ler o título que era “Bíblia”, logo
lembrou das histórias das cruzadas que falavam muito
deste livro.
O tempo passa e thace já conhece tudo sobre o
alcorão e a bíblia, agora com quinze anos
compreendia melhor a guerra santa e sempre se
deparava com uma questão difícil para um rapaz tão
novo, quando leu sobre a cruzada das crianças pensou
que tudo era apenas lendas como muitas que havia,
mas quando soube realmente que era verdade, não
sabia diferenciar as lendas das histórias reais, a
filosofia tomou conta da cabeça do menino, horas do
seu dia era pensando o porquê das coisas, das guerras
e brigas entre os homens.
Sua mãe estava doente e sabia que logo morreria,
além de bonita também entendia da vida, não através
de livros como o seu marido e agora o seu filho estava
fazendo o conhecimento, mas através de seu coração
que presenciou muitas histórias e lendas vivas que
aprendia com a vida, ao tentar resolver o problema
que enfrentava Thace perguntou à sua mãe:
- Mãe, por que existe o dinheiro e terras, que
servem somente para ter brigas?
- Thace meu filho, não te preocupes com coisas tão
pequenas que não servem para crescer a alma. –
respondeu com um olhar de orgulho.
- Não estou me preocupando, - disse Thace ainda
interrogativo – somente quero saber se isso é
natural como os cachorros fazem com seus ossos?
104
-
Isto é natural para qualquer animal, mas não para
homens que realmente são homens – falou sua mãe
tentando buscar palavras certas – um cachorro
enterra seu osso para ter segurança que não
passará fome mais tarde, os homens não precisam
ter medo de passar fome, pois tem inteligência
para sustentar seu corpo em qualquer lugar, mas
infelizmente o medo criado por está mesma
inteligência criou os conceitos destrutivos da
humanidade o poder e a fama, que todos que
nascem já querem estes conceitos sem perguntar o
porquê.
Thace abraçou sua mãe agradecendo a sua resposta
que aliviou sua mente e passou a ser mais forte do
que era, agora sabe que o único obstáculo para o
conhecimento é o medo e não odiava mais os
guerreiros das cruzadas, pois sabia que eles não
sabiam o que estavam fazendo, nunca mais teve
preconceitos sobre qualquer assunto político e
religioso.
-
Agora quero saber – falou Marcos – como pode um
menino conhecer tanto?
Ele não é apenas um menino, - concluiu Márcia – ele
é a superação do homem ele é o super-homem.
Bobagem. – disse Michael.
Sim é bobagem. – completou Rose.
É, mas o que é bobagem? – Interrogou Márcia.
Esse lance de querer dizer que piratas são gigantes,
isso é a bobagem. – respondeu Michael.
Porém constam nesse manuscrito fatos reais sobre
pirataria. – disse Marcos.
Não pire a maionese seu maluco, - pediu Michael
cutucando com uma caneta seu ouvido – pirata é
coisa de cinema, é impossível homens comuns e
105
pobres atravessarem o atlântico sem patrocínios de
impérios.
- Cara, você sabe mesmo dar piruetas! – falou Marcos
– quer criar uma outra história sobre tudo o que o
homem criou, até parece que nunca foi antropólogo.
- Antropólogo sim, mas crente não, - retrucou Michael
- essa coisa de amém não dá.
- Peço um pouco de suas atenções meus caros
amigos, - gritou com toda a força Rose – vou
continuar lendo esse caderno e, depois iremos
almoçar no restaurante Pãobão.
Vamos partir para uma estigmatografia. Sinais entre
um livro e outro são evidentes. Aqui sobram pontos, lá
são raros, mas sobram vírgulas. Estilos distintos.
Concepção aristotélica da arte de grafar. Razões serão
almejadas, mas sempre no “tempo certo”. Deve ser
difícil participar desse sistema implícito: é, você pode
um dia estar aqui jazendo também. Vamos agora fazer
uma epistemologia. São onze e quinze. Lá na floresta
Paula nem desconfia, come coisas como mandioca. A
índia aprende falar “indioca”, que seria uma tentativa
para “mandioca”. Paula aprende a falar “estrunk”, que
seria uma tentativa para “raistitrunk”. É isso, um
alimento dois nomes uma idéia. Rose ainda não
começou a ler, pois eu ainda escrevo. O tempo está
parado, eles estão como congelados. Posso ver o
pronunciamento estagnado de um fonema na fase de
Rose, vejo uma gota de suor escorrendo parada em
Michael, olho para Márcia e sustento elogios sem nexo
na sua beleza, lá está Marcos piscando o olho parado.
Agora vou devolver a vida para eles. Deixarei Rose ler.
Foi um fonema. Foi um suor. Foi uma beleza. Foi um
piscar. Tudo agora está como você pensa que está.
Preste muita atenção: não digo isso para dizer, digo isso
para ler. Leia Rose, é uma ordem. Leia leitor, é um
progresso. Positivismo anarquista é lei aqui. Pode e
106
pronto. Natureza do natural, botânica da flor, filosofia
da vida. Parece tautologia, mas é continuação.
A bíblia que Thace ganhou guardava mais mistérios
do que as profecias nela contidas, ele sabia disso, mas
nunca encontrou. Em uma noite que ele pegou ela para
ler, em vez de puxar a primeira folha, puxou a folha que
estava levemente colada na capa e descobriu entre a
folha e a capa uma carta dobrada que mudou sua vida
(fig. I), após a leitura da carta Thace ficou contente,
pois sabia que seu pai estava vivo, mas não entendeu
como aquele cavaleiro teve contato com Halford, agora
não importa como a carta de seu pai parou em suas
mãos, ele queria somente entende-la para poder acha-lo
em algum lugar do planeta.
107
(FIG. 1)
108
Thace parecia que morava no mundo das cartas, no
dia seguinte quando acordou se deparou com sua mãe
morta na cama e em cima dela uma carta que
conseguiu ler somente três dias depois de ter entrado
em coma ao bater a cabeça quando desmaiou ao ver
sua mãe morta. O curandeiro do vilarejo disse para
Thace que ele estava muito bem e que sua mãe tinha
viajado, ele entendeu o recado e sentou-se em baixo de
uma árvore, ao ler a carta de sua mãe ficou
impressionado, pois ele já tinha lido quando estava em
coma, a carta dizia alguma coisa assim:
Meu filho Thace:
Eu estou morrendo, mas não pense isso, pois eu
estou apenas indo para casa, você deve encontrar
Thunder Waves, ele está onde você menos imagina, ele
tem algo para lhe dizer, na vida eu fui sua mãe e na
morte sou seu caminho, sempre ande por onde não
conhece e lembre que tudo acaba onde começou, deixei
em baixo do telhado e encima de sua cabeça algum
dinheiro para você viajar, você tem a vida para
conhecer e duas pernas para andar, agora estou indo
para nossa casa, eu sou você sempre que cantar.
De sua mãe Helena.
Quando estava em coma Thace sonhou que seu pai
havia conquistado uma ilha que colocou o nome de sua
mãe e, está ilha era famosa por ser a porta da casa de
um dos maiores e poderosos homens que existiram na
Terra, mas nunca entendeu quem era Napoleão.
No ano de 1714, Thace Pahazy Filibuster começou
sua viagem sem destino geográfico, mas com destino
familiar, na sua mochila levava apenas o alcorão a
bíblia e algumas roupas, guardava em um bolso interno
da calça todas as moedas de ouro e algumas jóias que
109
sua mãe lhe deixou, sabia que aquilo era roubado pelo
seu pai, mas não se importou porque leu a conduta 55
do seu pai e achou correta. Tudo mudou em sua vida
após a morte de Helena. Thace compreendia que agora
o seu conhecimento não era apenas para impressionar
o vilarejo e sua mãe, mas sim para poder sobreviver em
um mundo conhecido, mas esquecido e que tinha que
lembrar se realmente quisesse ver o seu pai.
Numa tarde nublada Thace sentou-se em uma pedra
para descansa, olhou para o céu e avistou uma enorme
nuvem que cobria todo o céu, ficou curioso ao ver uma
ponta de outra nuvem a cima desta muito negra e
pouco espessa, de repente o vento levou a nuvem de
baixo e a negra começou a cair como pó, logo muitos
meteoritos negros como carvão caiam do céu, passando
por cima dele que ficou com medo de ser atingido.
Algum tempo depois ele olhou novamente para o céu,
onde estava uma enorme estrela de quatro pontas, que
pulsava como um coração, levou alguns segundos e ela
se transformou em uma grande cruz de luz como a luz
do sol, Thace fechou os olhos e quando reabriu a cruz
havia sumido como todos os meteoritos e nuvem negra,
ficou pensando se era sonho ou realidade, pois não
sabia se estava acordado ou dormindo, o sol estava
muito forte e mexeu com sua cabeça.
Thace morava nas redondezas da cidade de Safi,
agora está perto dos Montes Atlas; ao sul ele caminhou,
desde sua casa até Agadir onde teve uma grande
surpresa, encontrou um parceiro para a viagem, era um
cachorro ainda filhote, mas diferente de todos os
outros, pois não tinha a perna esquerda detrás, o
homem que lhe deu disse que uma ancora havia caído
em sua perna, o filhote era o mais brincalhão dos
filhotes e logo começou a morder a calça de Thace, que
agradeceu o homem e pegou o seu melhor amigo que
teve na Terra e rumaram para o sul.
110
-
Vamos almoçar – disse Rose – não agüento mais ler.
É, - resmungou Marcos – eu não agüento mais ouvir.
Pãobão estamos em sua direção. – falou Márcia.
Então Michael pegou alguns vales refeições. Então
Márcia trancou a porta do apartamento. Então Rose
colocou o manuscrito em sua bolsa vermelha. Então
Marcos caminhava com eles todos na rua do
restaurante. O trânsito era intenso, quase não dava
para ouvir o som que os suados dedos de Michael
colados nus na suja parede do velho e fedorento “All
Star” faziam. Marcos olhava distraído para um velho
Opala batido. Rose caminhava olhando para o obscuro
de suas idéias, pensava em coisas que somente ela
saberia. Eu não tenho capacidade de saber o que ela
pensa, então não vou grafar mentiras. Márcia trocava
fonemas com Michael. Assuntos: “como estão às
pesquisas Michael?”. Respostas: “estão cautelosamente
sendo pesquisadas, pois nas ruas tudo é diferente, Punk
é um ser que custa muito para se saber”. Depois disso
vem isso, lá está o restaurante Pãobão cheio de gentes
apressadas. Todos estão atrasados: “oh! Garçom cadê o
meu refrigerante?”, é coisas que lá se ouvem. Gritos e
comidas, quanto respeito! Depois dizem que são
homens de leis no domingo matutino. Numa mesa
semilimpa os quatro leitores do livro intrometido se
assentam. Lógico que não na mesa, mas nas cadeiras.
Após algum tempo um homem se aproxima; ele está
dentro de um paletó com gravata borboleta, coloca dois
livros negros enxuga um suor facial e corre atender o
próximo. Na capa dos livros estava escrito: Cardápio.
Rose começa a lê-lo: “Bife sete reais, almoço completo:
arroz, feijão, carne, batata, macarrão e salada do dia
oito reais.”
111
-
Deixe-me pensar – disse Michael, calculando com os
vales na mão – podemos pegar dois almoços
completos e dividi-los.
- De Czar o que é de Czar, de Michael o que pode ser
de Michael, - brincou Rose – decreto que aceitamos
sua proposta, mas terá que pagar um terço da janta.
- Amém. – disse Michael.
- Por favor, garçom, - gritou Marcos – traga dois
almoços completos.
- E para tomar? – perguntou o da gravada borboleta.
- Pode ser quatro copos com água torneiral. –
respondeu Márcia segurando um sorriso.
Talheres e restos mortais de seres vegetais e animais
faziam uma bela batalha nutritiva. Como sempre
apenas o osso sobrou dos restos, pois os implacáveis
talheres venceram novamente. Palitos de dentes eram
consumidos juntos com guardanapos. Marcos levanta e
vai ao toalete. Márcia acompanha o caminhar de um
velho do lado de fora. Michael arrota para si mesmo,
odores de tomates e macarrões. Rose dá atenção para
Márcia que pergunta qual era mesmo a lógica da
moeda. Que logicamente pergunta que moeda. Logo
Márcia aponta para o velho que observava e diz:
- Só pode ser Luiz.
- Que Luiz? – perguntou Rose.
- O Luiz do manuscrito. – respondeu Márcia com olhos
fixados e com a mão em seu colar.
- É, - disse Rose – ele possui uma moeda, mas Luiz
não poderia ter essa idade.
- Talvez, - retrucou Márcia – porém você não pode
esquecer que tudo pode ser ficção.
Marcos volta do. Michael paga o. Márcia e Rose
observam na porta o. Todos estão satisfeitos com o
sucesso da refeição. Mas, Rose pede para todos
seguirem o velho, que está se locomovendo lentamente
para a quadra da igreja. Já próximos Márcia vidra na
112
moeda que está pendurada no pescoço do velho, que
apenas pára e pergunta:
- Vocês querem me assaltar?
- Não. – responde Marcos.
O velho olha para frente e continua sua caminhada.
Eles resolvem parar e discutir a novidade. Rose
consegue identificar o rosto de Tamandaré na moeda.
Tudo está respondido. O velho olha pra trás e sobe num
ônibus. O que era ficção passa a ser vida. Parece que
uma grande motivação os atinge, que recomeçam a ler
o manuscrito na praça da igreja. Todos estão
convencidos que se trata de algo diferente. Tudo está
como poderia estar num livro, mas eles sabem que tudo
é real. Continue no livro intrometido.
Ele caminhava para o sul da África sempre pelo
litoral, pois sabia que o centro do continente era
totalmente selvagem. Andaram dois dias e o filhote
com muita dificuldade para andar parou como se
pedindo carona para Thace, que apanhou no colo
aquele lindo animal, porém muito pesado, pois deveria
ser duma raça grande e forte, então com o seu grande
coração Thace montou uma espécie de carrinho para
poder puxar o filhote, que ele começou a chamar de
Aladim.
A areia separa o mar e a selva, os dois lindos e
perigosos companheiros de Thace, que sentia muito
protegido neste trecho de contato entre os gigantes,
mas ele era obrigado a enfrentá-los para conseguir
alimentos e continuar a aventura. Em alguns lugares
ele avistava o enorme deserto do Saara, sabia que
nem todos os caminhos de areia eram seguros, aquele
era somente para homens tão grande como o deserto,
mas ele se contentava com o seu mini deserto, que
tinha suas vantagens, pois a esquerda tinha um
enorme oásis que parecia infinito e a sua direita um
outro planeta que ele conhecia bem.
113
Seus dias eram de uma beleza jamais alcançada em
sua vida, a África era um paraíso para poder pensar e
criar, seus companheiros eram sempre os mesmos,
Aladim e gaivotas em busca de sabedoria, de vez em
quando encontra grandes tartarugas e caranguejos
enormes, que era obrigado a comê-los quando não
conseguia pescar nenhum peixe, os ovos de
tartarugas também acompanhavam suas refeições, ele
não gostava de matar e sempre pedia desculpas as
suas vitimas, coisa que Aladim não fazia.
Thace caminhou muito até chegar em uma tribo de
pigmeus acostumados com homens de viagens, pois
ali era um ponto de parada de alguns marinheiros e
piratas, eram pessoas muito caridosas e hospedaram
Thace por alguns dias, havia um da tribo que falava
árabe e passou a ser o seu tradutor. Em duas semanas
Thace aprendeu alguns conhecimentos sobre a
floresta que logo vai enfrentar e rituais mágicos da
tribo. Ele ficou curioso sobre uma dança tradicional
da tribo, no momento que duas mulheres encostam as
cabeças e correm atrás das crianças, o pigmeu que
falava árabe disse que as mulheres estavam
representando o monstro que habita a floresta.
Thace ficou com medo, mas entrou na floresta com o
Aladim, que agora já era um enorme cachorro e
conseguia andar sozinho, realmente a floresta
africana é linda, mas assustadora com sua fabulosa
mente rapidamente Thace se adaptou ao meio e aos
alimentos que encontrava, mas não via a hora de
novamente poder viajar pela areia, pois havia um
grande trecho, no qual os dois companheiros de Thace
violaram a linha de contato. Os dias na selva eram
diferentes dos da praia, as trilhas eram feitas no peito
e os perigos com grandes animais e homens da
floresta eram constantes.
Mas a maior dificuldade era a noite, na hora do
sono, a princípio ele deitava em qualquer lugar limpo,
114
mas a mata começou a ficar perigosa quando avistou
o primeiro bando de leopardos. Logo teve que achar
um meio mais seguro para dormir avistando alguns
macacos Thace teve uma grande idéia; pensando
como um animal notou que os macacos dormem
seguros em cima das árvores, lógico que ele não
conseguiria dormir em uma árvore, mas sempre antes
de dormir escolhia a melhor árvore para poder subir
rapidamente com o Aladim, treinava várias vezes
antes de dormir a provável fuga, se o Aladim latisse
era sinal de perigo.
Outro problema era com relação a fogueira noturna,
era de grande importância mantê-la acessa para
espantar os animais, porém ele atraia um outro
animal, que era bom e ao mesmo tempo ruim, então
resolveu deixa-la apagada, para que homens da selva
não o encontrasse e contava com Aladim para com
seus sentidos jogassem de igual para igual com os
animais maravilhosos.
Resolvido estes problemas, Thace se livrou de mais
um, que era o deslocamento na selva, após encontrar
trilhas de elefantes, que era uma estrada fácil, porém
perigosa, por ser muito utilizada por homens e os
próprios elefantes. Thace não tinha medo dos homens,
mas sim da reação que teriam ao ver um ser
totalmente estranho, poderiam lhe julgar como um
deus ou um diabo, que seria muito ruim. Ele estava a
centenas de quilômetros do litoral, onde jamais um
homem pisou.
Numa tarde antes de começar a se arrumar para
dormir, Thace leu um trecho da bíblia que conta a
tentação do diabo sobre Jesus no deserto, depois de
ler Thace brinca com Aladim sobre o assunto e vai
dormir, mas logo começou sentir algo estranho em sua
mente e tudo ficou escuro, em grande medo ataca seu
corpo, que começou a formigar seu pescoço e apertar
sua garganta, tem agora uma grande luta com si
115
mesmo, é uma luta em que ninguém pode ajudá-lo, ele
criou em sua mente o medo do mal e a insistência de
permanecer assim, não conseguia parar aquela
sensação maligna, que logo poderia mata-lo, buscando
ajuda Thace abre a carta do seu pai e começa a ler. A
sensação começa a ir embora para nunca mais voltar,
porque Thace entendeu a conduta 53, quer dizer que
a lei da mente é a lei da fé e a fé é simplesmente um
pensamento no mente, este pensamento que afirma o
que os sentidos e a razão negão, somente assim Thace
pode dormir em paz com deus.
-
Donde provem o medo? – indagou Rose.
Do reino das palavras. – respondeu Márcia.
Sim, mas como? – perguntou novamente Rose.
Através do ditirambo. – respondeu novamente
Márcia.
Ditirambo? – perguntou Marcos.
É a linguagem consigo mesmo, - respondeu Márcia –
é a comunicação interna, pensamentos seus.
Ah! – exclamou Michael – é aquele lance do
Nietzsche, que imita Dionísio... Aristóteles e assim
por diante.
É, - disse Márcia – você está perto.
Tudo precisa de relação para ser, - falou Marcos –
nada pode existir sem ter algo para se relacionar.
É, - complementou Márcia – e para alguma coisa
existir é preciso ela estar em palavras, mas existir é
entender.
Entender? – perguntou Rose.
Você precisa de explicação por quê? – perguntou
Márcia.
Para poder conceber e transmitir para... é isso!...
para mim. – disse Rose.
116
-
Você só entende através das palavras, - continuou
Márcia – porém os questionamentos lhe levam para
lugares onde explicações não são possíveis.
- Como assim? – perguntou Michael.
- Tudo é no fundo apenas uma única coisa, respondeu Márcia – as perguntas fazem você chegar
num ponto onde não existe ordem, num ponto onde
as coisas que as palavras criam são diluídas numa
massa obscura fazendo você ficar louco, pois tentará
explicar essa massa para si mesmo, mas isso será
impossível.
- Por que? – perguntou curioso Marcos.
- Essa coisa não se relaciona com nada, - continuou
Márcia – por exemplo, para você conhecer sua
cultura terá que ter uma relação com outra, é isso
que torna essa massa universal inexplicável, pois ela
abrange ou é tudo que existe, seja você, palavra ou
sei lá... deus, caneta, livro.
- Você quer dizer que as palavras são explicações e
que as explicações só existem para quem necessita?
– perguntou Marcos.
- É isso, - disse feliz Márcia – essa coisa não precisa de
explicação, pois ela não pode se conhecer, é
sozinha, é única, nem sabe que existe.
- Então você jamais poderá saber donde provem o
medo, pois saber é entender, que é explicar, que é
palavras e essas são criadoras, mas são criaturas de
algo que não as conhece. – disse Michael.
- Você está pegando prática nisso. – disse Márcia para
Michael.
Um vento alivia as mentes dos leitores. A praça está
deserta, todos ainda em horário de almoço. E, esses
loucos tocando em assuntos chaves! Eu ainda vou
revidar. Até parece que você absorveu algo para
resposta de título, mas lembre-se que tudo já está
escrito, hei! Mas se tudo já está escrito, em que língua
está? “Talvez na linguagem matemática”, não Galileu,
117
pois os números são palavras de máquinas e não de
deuses. “Quem sabe na linguagem das idéias”, não
Platão, pois não existe idéia sem palavra, então sem
palavras não teria livro e nada já estaria escrito. Hei!
Mas quem disse que está escrito por palavras? Não sei,
pois só sei o que as palavras me dizem e o que sei sem
as palavras você também já sabe, não preciso lhe dizer.
As palavras servem apenas para criarem vida, sem elas
nada estaria vivo, digo isso com precisão. Paula sabe
muito bem disso, está num mundo onde as palavras
estão escassas, mas as palavras do coração ainda
reinam. Tudo se questiona: “como será que essa índia
ainda vive?”, posso dizer que as palavras para Paula
ainda são fontes de vida. Mas quem sou para dizer que
são as fontes da índia? Pois viver anos sem
comunicação com outrem não condiciona para ficar
sem comunicação com si? Quer a resposta pergunte
para ela. Se conseguir é claro. Você deve ter notado
que a gramática está morrendo aos poucos. A estrutura
das palavras estão se rompendo. Esse é o objetivo.
Palavras sem estruturas logo caem. Quase poesia, mas
será evolução. Uma evolução que não evolui, mas
retrocede. Temos que saber como é o mundo sem
palavras. E, isso jamais um homem alcançou. Seremos
os primeiros. Depende da narrativa. Quem narra? Eu,
Luiz, Condor Amarelo, Leucipo de Minas, Rose ou você?
Lembre-se que tudo é uma única coisa. Coisa essa que
está num reino além das palavras. Leia a continuação
do livro intrometido, talvez sendo narrado por Rose na
praça da igreja.
Acordando de manhã, Thace lembre do estranho
fato que lhe ocorreu ontem e, questionou sua mente
antes de levantar apanhou novamente a carta de
118
Halford e definitivamente decifrou as condutas 1 e 2,
que mostrava a bela alma que seu pai tinha, ele
entendeu que estava pensando o que não queria,
dominado pelos estudos e meditações, começou a
utilizar a sua própria imaginação e não as que pessoas
lhe transmitiam através dos livros. Ele aprendeu que
deus é o criador e o criador é ele, já não se importava
com assuntos opostos, pois sempre há luta entre os
apostos: frio e calor, deus e diabo, bom e ruim e, ele
soube achar seu lugar, ele não é mais um lutador, mas
sim o juiz da luta.
Conseguiu equilíbrio total, observando a natureza.
Thace estava vivendo muito o inconsciente e
desprezando o consciente, soube utilizar os momentos
exatos para cada mente, ele recebia do subconsciente
e do meio ambiente informações iguais de ambas, e o
mesmo tempo que gastava para receber ele utilizava
para criar suas próprias idéias e controlando sua
mente para que apenas informações úteis entrassem e
pensando apenas nele e nunca nas informações.
Thace já estava alguns anos na África viajando, mas
não sabia quantos anos ele tinha, pois não levava
nenhum meio de marcação do tempo. Para ele pouco
importava esse sistema estranho e esta idéia foi
reforçada quando conheceu o seu maior medo.
Acabou de chover na floresta equatorial da África,
Thace e Aladim estavam andando já há algumas
horas, quando sentaram para descansar em umas
pedras. Aquele local era diferente, psiquicamente
falando, tanto Thace como o seu fiel cachorro Aladim,
notavam está diferença, mas não sabiam do que se
tratava este sinal da mente, que não se calava,
provocando
um
ambiente
alarmante.
Não
permaneceram muito naquele lugar, pois precisavam
119
encontrar uma posição com maior segurança para
passarem a noite.
Novamente estão caminhando, Thace não parava de
pensar no acontecimento, que mudou a sua maneira
de pensar, Aladim se comportava como um momento
de caça, não demora muito e ele aparenta ter
encontrado sua presa, que na verdade era uma casa,
lá estava Aladim parado como uma estátua rosnando
para o desconhecido lugar. Thace se assusta com o
comportamento do amigo e se aproxima para conferir
o que causava a cena selvagem que Aladim
interpretava.
No meio das imensas árvores, montada
primitivamente, lá estava a casa de tamanho mistério,
sem vida aparente e com uma vista privilegiada para o
mar ao oeste, com as pernas tremendo Thace se
aproxima com seu cachorro que está ainda assustado,
passo a passo se locomovem para a moradia, quando
chegaram muito perto Thace e Aladim se esconderam
atrás de uma enorme sumaúma, que se encontrava
apenas poucos metros da casa. Curioso Thace espiona
por detrás da árvore e avista o provável monstro da
selva, que o pigmeu lhe havia falado, seu coração
começou a bater com mais força, aquele medo torna a
formigar seu pescoço e apertar sua garganta, ao
enxergar o medo que foi criado por uma pessoa, que
conhece a mente, mas transmitiu a sua força para
Thace, que aceitou sob alguns preconceitos que ele
mesmo negava.
Agora estava lá Thace, com o seu medo herdado do
passado, observando aquelas pessoas unidas pela
cabeça, Aladim começa a latir e elas descobrem
Thace, que corre como um leopardo atrás da caça,
desesperado, tentando mais alguns segundos de vida,
enquanto Aladim se aproxima abanando o rabo
demonstrando carinho que é um sentimento de troca,
pois
os
cachorros
conseguem
olhar
nossos
120
sentimentos, antes que nós transmitamos, foi assim
que aquelas mulheres velhas, que se gostam tanto,
que nasceram unidas pelo amor e carinho do deus
infinito, conseguiram o domínio dos sentimentos de
Aladim.
Depois de ter corrido muito, Thace nota que Aladim
não o acompanhava, pensando no pior pega um
enorme pedaço de galho e vai em direção da casa,
andando um pouco, logo avista a casa com Aladim
brincando com as mulheres, que se divertiam muito,
como se há muito tempo não rissem. Thace tímido
chama Aladim, que atende o chamado e corre em
direção do amigo, neste momento uma das senhoras
falou:
- Como se chama? Meu pequeno aventureiro.
- Meu nome é Thace... – respondeu gaguejando –
Tha...ce... Pahazy Filibuster.
- Vejo que também tem ligação com piratas –
comentou a outra senhora – como todos os
perdidos neste continente.
- Sim, meu pai era pirata e mago, – falando mais
tranqüilo Thace – mas como vocês se chamam?
- O meu nome é Marylan – respondeu a senhora da
esquerda – pode me chamar de Mary.
- E o meu código social é Helhem, - brincou a velha
da direita – somos conhecidas como o monstro da
selva pelos nativos.
- Por este nome eu já lhes conhecia – disse Thace
com humor – peço desculpas pelo meu ato
ignorante que apresentei.
- Não se preocupe estamos acostumadas com isso, falou Marylan com um olhar otimista – somos um
ser diferente, que aparece de vez em quando na
mente das pessoas como você.
A conversa anima o ambiente que era alarmante e
passou a ser relaxante. Thace e Aladim encontram
finalmente pessoas, que demonstram carinho e amor
121
como nenhuma criatura normal lhes demonstrou até
ali, conversas são tudo o que praticam durante todo o
dia seguinte, após uma aconchegante noite de sono,
há muito tempo esperada por Thace. As mulheres,
assim como Thace, também nasceram no mar, sua
mãe era mulher de um homem de confiança do
capitão Witz, que morreu após uma batalha lhe
deixando grávida prestes a ganhar os filhos; do qual o
capitão Witz não aprovou como natural, mandando a
mulher e os filhos do falecido amigo para o litoral,
onde cresceram graças a sua mãe guerreira, que lutou
contra tudo e todos para criar o que era considerado
um monstro na época, tudo isso por causa do enorme
amor que a mãe Vergha sentia como uma grande dor
no peito. Vergha está enterrada nas margens do rio
congo, como uma rainha, protegida por enormes
árvores.
Thace agradece a refeição fornecida pelas senhoras
e fala:
- Eu estou honrado por conhecer vocês, são pessoas
maravilhosas, mas tenho que ir embora, pois o meu
tempo é curto.
- Você falou tempo? – perguntou tranqüila Helhem –
sabe o que isto significa?
- Sim, tempo é algo que sei para mim, mas quando
tenho que explica-lo, já não sei mais – respondeu
Thace, com um olhar filosófico.
- Sábia resposta para um jovem, leu Anchieta, - disse
Marylan – mas na verdade isto não é verdade.
- Você pode me explicar Mary – perguntou Thace – o
que é o tempo?
- Pois não, meu amigo – Marylan respondeu com
sabedoria – o tempo é algo construído por
números, que estes são construídos pela
imaginação; assim como tudo, mas o erro é
justamente nos números, não existe começo e nem
fim em nada, o homem observou a natureza
122
-
-
durante muita transformação e notou que tudo tem
começo e fim, por exemplo: uma árvore nasce e
morre como todos os animais, pensando nisso o
homem criou números para marcar o período desta
metamorfose.
Sim, eu entendo o que você falou Mary – disse
Thace curioso – mas por que isto é errado?
Justamente por isso. – respondeu Marylan.
Isso o que?
O que você acabou de fazer, - falou a senhora
Marylan para Thace – perguntas, é isto que
derruba as verdades, pois quando perguntamos
estamos criando o que já foi criado, então
transformamos em outra coisa a mesma coisa, o
que realmente quero dizer é que o homem não
entende o infinito, não sabe que tudo sempre
existiu, sendo matéria ou idéia, que são a mesma
coisa e este tudo nunca é criado apenas
transformado por uma força chamada vida, que
ganha outros nomes como Deus, Natureza e até
mesmo Tempo, mas na verdade está força é nós,
cada homem é um deus, que transforma todas as
matérias e idéias que eternamente existiram,
talvez você não tenha entendido muito bem, é que
estas idéias não são de fácil interpretação através
de palavras.
Eu acho que entendi – falou Thace – que nada vai
morrer e nem nascer, e por isso que não preciso ter
pressa.
Exatamente isto que Mary quis dizer – comentou
Helhem – você somente estava errado porque
estava com pressa.
Mas eu sei que vou ficar velho – disse Thace – e
logo vou morrer.
Você não precisa pensar nisto – retrucou Marylan –
pois isso já é verdade e jamais a pressa impedirá a
transformação somente colaborará com ela.
123
-
Você tem razão, eu estou com pressa de mais, para
chegar em um fim imaginário e infinito.
Se você estiver atento na leitura, sabe que Thace
decifrou uma das fontes da vida e o número desta
fonte é de suma importância.
-
-
-
Numerologia de novo! – exclamou Márcia.
É, esse sujeito adora números. – complementou Rose
olhando para o céu.
Márcia, você sacou um lance por aí? – interrogou
Michael.
Que lance? – perguntou curiosa a bela Márcia.
Do tempo, - respondeu Michael – quando Thace
responde o que Anchieta havia dito.
Ah! – falou Márcia – é algo sobre o ditirambo, é
quando não se consegue explicar nem mesmo para
si o que pensa que sabe.
Também existe aquela parte onde Marylan explica o
porquê que Thace está errado, - falou alisando o
cavanhaque Marcos – onde ela se contradiz no final,
dizendo que o que ela falava era difícil se manjar por
palavras.
É, a tonta fala para o menino que é errado não saber
explicar o tempo, - falou Michael com humor irônico
– e explica que o tempo é difícil se explicar por
palavras.
Talvez seja grave isso, - disse Rose – pois despertou
algo curioso em mim.
O que? – perguntou Márcia.
Acho que aquele velho, - respondeu Rose – não é
Luiz, mas esse cara aqui. – apontando o dedo para a
folha de rosto do manuscrito.
Leucipo de Minas? – perguntou Marcos.
É. – respondeu Rose.
124
-
Pode ser, - falou Márcia – faz sentido, mas isso prova
que tudo é ficção e não diário.
- É lógico sua ameba, - disse Michael – não acredito
que você estava acreditando que tudo isso era
verdade, nem Freud acreditaria nesse sonhos quase
reais.
- Leucipo! – falou baixo Marcos – quem é esse sujeito?
- Não sei quem é, - respondeu Márcia – mas o nome
deriva de Leucipo o mestre de Demócrito.
- Ah! – exclamou Marcos – Leucipo o pai do atomismo?
- Talvez, - disse Márcia – os livros que sobraram não
são capazes de dizer a verdade.
- Então eu posso dizer que o pai do atomismo foi
Buda. – brincou Michael.
- Cala boca seu... é... bu... rro... – resmungou Rose.
- O que está tentando, vamos me xingue logo. – falou
Michael.
- Olhe lá... – pediu Rose.
- Onde? – perguntou Márcia.
- Atrás da igreja.
Eles olharam no estreito beco e, observaram o
provável escritor do livro intrometido. O velho abriu
uma pasta azul e jogou uma folha no chão. Não deu
tempo para os leitores dele saírem do banco da praça e
pegarem o velho no pulo. Rose foi correndo. O velho
zarpou como um coelho. Rose pegou a folha e voltou ao
princípio. Leu e notou que era exatamente a conduta de
Halford. Mas essa folha era bem velha, talvez a original.
O relógio marcava numericamente treze horas e trinta e
dois minutos. Os quatro voltaram para o apartamento.
Na bolsa vermelha de Rose: um espelho, um pente, um
absorvente, dois cigarros, uma carteira, um livro
espírita, uma folha velha, um manuscrito verde. No
bolso de Michael: um preservativo, dois palitos de
dente, um garfo furtado no almoço, um lenço com
gosmas verdes parecidas com catarros pulmonares. Na
mochila de Marcos: um desodorante, uma pasta de
125
dente, uma escova de dente, uma blusa, um livro de
Jung, um biscoito mordido no acampamento do mês
retrasado. Na bolsa de Márcia: um lenço cheiroso, um
batom, um espelho, dois brincos, um anel, em livro de
Merejkowski. Tudo isso mais eles se locomoviam pela
rua do Pãobão, sentido apartamento. Agora note a
sutileza do escritor intrometido. Ele entrou em meu
livro, então eu entro no seu livro. Tentou capturar sua
atenção, lançando questões sobre meu tema. Logo ele
vai pagar. É justo que seu tema seja: vida. O meu tema
é: palavra. Agora será impossível definir. Tudo se
mistura. Vida, homem e palavra. Você terá que ser o
senhor dos princípios. Aqui, nesse exato momento, para
você leitor geral, quem reina o homem a vida ou as
palavras? Cuidado com sua ousadia. Leia o livro
intrometido, pois Rose já está lendo-o lá no
apartamento. Paula um dia vai escutar, mas antes terá
que sair do afloramento rústico lingüístico que se
encontra, que para nós é o meio onde almejamos. Voz
não dá, mas palavras você vai escutar de Rose.
Com tanta sabedoria adquirida, Thace se despede
das mulheres unidas recebendo delas um mapa da
África e um conhecimento que ele jamais poderia
esperar de pessoas que vivem isoladas da sociedade,
foi assim que Thace e Aladim conheceram a força do
poder infinito do subconsciente coletivo e, dele
aproveitar toda a sabedoria que cada um possui.
Há
muito tempo que andam sozinhos, muitas vezes Thace
lembra da menina do vilarejo e também das mulheres
que espionava no banho, seu corpo pede carinho
feminino, várias vezes se masturba para aliviar a
solidão, sua alma quer amar o seu oposto.
Thace após muito andar chega no final da África, na
cidade do Cabo onde novamente encontra uma
sociedade e mulheres, muitas mulheres. Aladim não
126
perde tempo e logo encontra uma parceira com
dificuldade ele consegue garantir a continuação de
sua família, Thace encontra uma linda moça, que
trabalha em navios que passam algum tempo parados,
ele nota que ela trabalha somente à noite, sempre sai
com o cabelo desarrumado e o vestido amassado.
Certo dia Thace cria coragem para conversar com
ela, que estava olhando o mar em uma praia
totalmente deserta tímido ele pergunta.
- Oi, você pode me dizer em que ano estamos?
- Meu deus! Você mora na Lua?
- Não, é que eu estava viajando pela África, - disse
Thace – e acabei esquecendo o calendário em
Marrocos.
- Estamos no ano 1725 – respondeu a moça, com um
olhar brilhante – e qual é o seu nome?
- Meu código social é Thace – respondeu totalmente
trêmulo por olhar nos olhar da moça, que eram de
um profundo verde – mas se você... não é... bom a
gente... qual é o seu nome? – finalmente cria
coragem para amar como nunca amou antes e a
moça notando a timidez de Thace responde.
- Meu nome é Concha do Mar, é assim que todos os
marinheiros e piratas me conhecem.
- Eu posso me sentar com você?
- Sim, claro – respondeu a moça com um olhar
erótico – se você quiser podemos nos esquentar,
pois eu estou com frio.
- Pois não, - disse Thace com o coração batendo
acelerado como nunca – no que você trabalha?
- Eu vou lhe mostrar agora.
Thace totalmente atordoado ao tocar nos lindos
seios da moça, sente um calor enorme e um calafrio
no ventre quando penetra na alma da moça, aquele
lindo corpo a suspirar mais forte, a cada momento,
Thace acaricia as lindas pernas morenas e úmidas da
127
moça, que logo atinge junto com Thace o paraíso de
Adão e Eva.
No outro dia Thace e Aladim estavam contentes
como nunca, pois não eram mais virgens, suas almas
conheceram o poder de cura dos opostos, sabem suas
idades e agora conhecem um lugar na África onde
realmente podem amar, um amor diferente daquele
amor eterno com a alma ou mente renovada Thace
parte com seu cachorro Aladim para o nordeste,
sabendo que a Concha do Mar não era um amor
eterno, pois era de todos e não podia ser de ninguém
e, Aladim nem lembra qual das cadelas ele amou
ontem, assim foram embora da cidade do Cabo,
cantando e amando sem responsabilidades que
servem somente para prender e matar o amor eterno,
Thace soube que o amor somente dura em liberdade,
se ele prendesse a moça ele e ela seriam inimigos do
amor eterno e apenas amigos do amor do momento,
que pouco valeria, pois não conheceriam o eterno.
Após um dia de caminhada, Thace encontra um
jovem em cima de uma árvore e, com um olhar bravo
e destrutivo. Thace chegou até ele e disse:
- Por que você está amarrando esta corda na árvore?
- Para brincar de balanço, - respondeu ironicamente
o jovem – não está vendo que vou me matar?
- Tudo bem, - respondeu Thace – mas antes de se
matar eu queria saber seu nome e o motivo para tal
comportamento?
- Você não precisa conhecer um fracassado, - disse
com lágrimas nos olhos o jovem – que é um escravo
da vontade dos outros.
- Você se incomoda, se eu e meu cachorro
descansássemos no pé da árvore?
- Sim, não quero ninguém em volta de mim –
retrucou o rapaz com uma voz tímida - quando eu
esticar a corda.
128
-
Eu não entendo você, - comentou Thace – falou que
era escravo da vontade dos outros, mas agora está
livre fazendo a sua, então por quê morrer triste?
- Eu também não entendo está vida, - falou o rapaz
totalmente calmo – quando tudo está certo também
está morto, se tudo está errado logo está chato, se
eu ficar quieto eu estou vivo, pensando palavras
somente minha, porque são mudas e arrebentam
com minha cabeça, fazendo eu sangrar e logo todo
o universo morrer, não quero mais sofrer como um
carneiro degolado e ainda chorando, a vida me
mostrou o caminho do coração, mas em vez de
pedras havia um muro tão alto que nem deus
passava.
- Eu posso saber qual é este caminho?
- Meu nome é Jean-Jacques, sempre gostei da vida,
até quando conheci a sabedoria vinda do mar, eram
livros lindos que meu pai trocava com os
marinheiros por alimentos nativos, eu adorava lêlos quando não trabalhava a noite, minha luz era a
Lua e minha vontade era escrever, sempre estava
rabiscando palavras na areia, aprendi a ler inglês
muito cedo, com meu pai, que nunca me
pressionou para estudar somente no trabalho ele
era exigente, é isso que me incomoda, nunca tenho
condições para escrever o que sinto no peito, mas
mesmo assim escrevi este livro que quero que leia,
como testemunha desta minha vida, nunca vou ser
como Francis Bacon, Calderón de la Barca ou
Robert Boyle, mas sei que está vida já foi escrita,
porém não terminada.
Thace apanha o livro que Jean-Jacques joga de cima
da árvore e escuta o triste barulho da corda
esticando, matando um grande sábio que não sabia
que era livre antes de quebrar sua cela imaginária.
Thace triste recomeça sua caminhada, sabendo que
nada poderia fazer por um homem que já havia
129
encontrado a perfeição que destrói a vida, mas no
fundo ficou contente, porque ele fez sua vontade ser
comprida, pois se permanecesse vivo ele estaria
morto.
Thace passou os últimos dias pensativo, tentando
entender como um jovem de tamanha sabedoria
poderia morrer daquela maneira, o livro que JeanJacques escreveu era uma verdadeira obra de arte,
mas
retratava
claramente
os
pensamentos
destrutivos, que tinha o jovem, mostrava o dia como
uma coisa repetitiva e chata, sempre reprovando as
ações das outras pessoas, como um ser angustiado
por saber tudo o que é chato saber. Nosso viajante
enxerga a alma de Jean-Jacques nas palavras mudas
do livro e fica chocado por saber que o escritor não
sabia escrever sobre ele e nem entender que era ele
quem ditava o ritmo do tempo do trabalho e da
profecia, mesmo assim achou a obra uma beleza, por
tratar da vontade de Jean-Jacques, de ser livre no seu
universo e aumentar o conhecimento do lado chato,
pois sem este não haveria o lado agradável da vida.
Thace havia andado tanto, que chegou em um
enorme lago, que ele pensou que fosse o mar, mas
logo notou que a água era doce e ficou perplexo com a
grandeza de Deus, nunca imaginou tanta água
escondida por lindas montanhas, como uma criança
Thace se jogou no lago e começou a nadar, de repente
notou alguns donos do lago a nadarem em sua
direção, jamais Thace nadou com tamanha perfeição,
para fugir dos crocodilos.
-
Que história maluca! – falou Marcos – de repente
eles estão na cidade do Cabo e logo chegam nos
grandes lagos africanos.
130
-
E daí? – perguntou Márcia – a história é dele, ele
pode levar Thace e Aladim a Lua.
Eu gostei do jeito dele tratar da prostituta. – disse
Rose.
É, mas isso não é real, - disse Michael – sinto lhe
decepcionar, mas você não será tratada assim se
realizar seu desejo profissional.
Está insinuando que desejo ser puta? – perguntou
Rose.
Não, - respondeu Michael – só estou dizendo que
você é puta.
Calem as mandíbulas seus vermes. – disse com
educação íntima Márcia.
Jean-Jacques morreu como morre um louco, - falou
Marcos – mas pesquem um sentido meio vago, por
favor.
Que sentido? – perguntou Márcia.
O cara pira na vontade de viver, - continuou Marcos
– aquele lance de Schopenhauer, que tudo existe
uma vontade.
Ta e daí? – interrogou com olhos filosóficos a bela
Márcia.
Esse cara não consegue ficar na paz, tudo não está
bom – respondeu Marcos – e até parece que o
ditirambo tenha lhe matado.
Peguei o que você tenta dizer, - falou Michael – esse
cara está com muita dúvida.
É, - complementa Márcia – ele tem dúvida até se
deve ou não morrer.
Numa região perigosa. – falou tossindo Michael.
Talvez possamos chamar essa região de baú. – falou
Márcia.
Baú? – perguntaram todos.
Sim, - respondeu Márcia – é o mesmo fato da sombra
e da luz, que Leonardo da Vinci tanto venera, diz ele
que no contato entre a sombra e a luz existe uma
coisa que é dual, uma sombra clara ou uma luz
131
escura, nessa região está o segredo da beleza que
fascina.
- Ta, mas por que baú? – perguntou Rose.
- É em baú que se esconde segredos, - responde
Márcia – e como Jean-Jacques estava numa área
entre opostos, no caso a vida e a morte, ele estava
saciando segredos.
- Que profundo! – exclamou ironicamente Michael.
- Você não entende, - retrucou Márcia – a beleza está
além dos porcos, logo além de ti.
- Entendo esse seu processo pré-menstrual, - falou
Michael – não vou jogar é covardia.
Satisfação garantida. Era isso que deviam propor
esses leitores caro leitor? Quem sabe alguém com alta
taxa de volúpia tenha notado, porém a coisa está no
cubículo prematuro da percepção racional. Estamos,
acho eu, nessa coisa que chamaram de baú. Basta uma
certeza reluzir e pronto! Tudo estará aberto o baú. Mas,
tenha em cuca que palavras só respeitam palavras e
homens só respeitam? Você pode responder? O homem
e a palavra nos colocaram na área do baú. Segredos
que parecem duais. Nunca se esqueça, parecem, mas
não são. Lembra daquela coisa que não tem relação? É,
isso está ali, bem pertinho, onde só olho gigante
percebe os extremos e só mente brilhante sente a
união. União? Como? Não são apenas uma coisa? São,
mas quem poderá camuflar o que a mente sabe? Ela
sabe que existe olho gigante e, após saber ela
extermina-o como uma lula do mar. Paula também
sabe, a índia também sabe, mas será que aquele peixe
que acabaram de comer sabia? Isso se deve apenas nas
ínfimas relações entre palavra e homem e, não
devemos sair disso. Agora você está preste, a saber, o
porquê das sarjetas gramaticais. Já foi lhe imposto a
solução dessa resposta, agora você não precisa mais se
preocupar com o que seus olhos absorvem. Aqui já jaz
letras grafadas com intenção implícita, agora falta aqui
132
jazer um leitor com olhos explícitos. Continue na leitura
do livro intrometido.
Nesta região Thace e Aladim permaneceram por
sete dias, sempre olhava o seu rosto na água quando
acordava, esse era o ritual do viajante, mas em um dia
Thace notou algo diferente neste ritual, quando
aplicou-o à noite na luz da Lua, o seu subconsciente
lhe falou um trecho da bíblia, que ele não conseguiu
lembrar qual era o versículo, mas sabia que era da
bíblia e dizia mais ou menos assim: “Hoje você olha o
espelho e o enigma e amanhã olhará face a face”,
ficou alegre por decifrar este enigma e conhecer o
espelho, Thace olhou para uma estrela e conseguiu
enxergar sua outra face, sem esperar o amanhã como
ele sabe que cada homem é uma estrela, só bastaria
contemplá-lo toda noite, pois sua força estava nas
estrelas, mas jamais saberá qual delas era ele,
conseguiu entender a conduta 29 e olhar Deus.
No dia 23 de fevereiro de 1730, entre os lagos e as
paisagens mais lindas da África, com uma idade de 16
anos morre o maior amigo de Thace, aquele animal
que de irracional não tinha nada, um verdadeiro
símbolo de vida, por jamais notar seu corpo defeituoso
e sua vida difícil, conseguiu sobreviver por muito
tempo, unicamente por causa do seu amor pela vida,
este era Aladim, o animal que somente enxerga o
coração, como todos os animais racionais deveriam
fazer.
Thace sente a morte do amigo como sentiu a morte
de sua mãe Helena, mas se controla e lembra das
133
sábias palavras de sua mãe, aplicando elas para
Aladim; por um momento ele pára e coloca seu amigo
no buraco da Terra, onde ele deveria voltar, pois foi
dali que saiu, com lágrimas nos olhos obedecendo à
conduta 33, Thace fala para todo o universo:
- Aladim, eu sei que você está voltando para casa,
pois nesta Terra jamais haveria um amigo como
você, não entendo o porquê tenho que sofrer, em
um momento feliz para você, talvez seja ganância
minha, por querer você apenas para mim, você é
como o mar, não é de ninguém, mas todo mundo
quer. Agora entrego o seu corpo frágil, para a
perfeição da vida, algum dia vamos refazer está
caminhada e seremos cada vez mais livres de nosso
corpo, assim eu agradeço pela sua vida de amor
por mim.
Numa das páginas do livro definitivamente Thace
encontrou palavras que transmitiam uma enorme e
poderosa força de vida, o livro tinha este nome por
causa que o autor dizia que o mundo estava sendo
governado pela besta, pois não conseguia entender a
escravidão e o amor destrutivo que o homem sentia
pela riqueza material. Deixando de lado as profecias,
vejam as belezas de palavras que ergueram Thace das
cinzas para o criador do universo, com maior amor e
liberdade que existiu na Terra dele. O trecho do livro
tratava de uma linda história de amor pela vida, era
um homem que havia perdido as pernas e os braços
em uma batalha e conseguiu sobreviver, mas pediu
para seu filho que lhe matasse, pois não conseguiria
viver daquela maneira. Seu filho não matou e
continuou a tratar do pai, que a cada dia ficava mais
triste, passou-se dois anos, o filho estava alegre pela
recuperação do pai e o pai estava triste por não
morrer. Certo dia seu pai lembrou do passado, como o
seu filho mal ligava para ele e logo sentiu a parte boa
134
da tragédia e falou para o mundo inteiro estas
palavras:
- “Ó Deus, que tirastes meus braços e pernas, que
tirastes minha alegria de lutar e caminhar, que me
impedistes de abraçar meu filho; abrigado por
fazer somente agora eu ter vontade de ter pernas e
braços e ter alegria para lutar e vontade para
caminhar, obrigado do fundo do meu coração de
me dar esta linda vontade de abraçar meu filho.”
Thace adquiriu toda a vontade de fazer tudo o que
quer, sem ter perdido as ferramentas para fazer, logo
se levantou como o homem mais forte e sábio do
planeta, porém o mais simples, pois nada seria do mar
sem a humildade do rio. De longe Thace olha o último
grande lago e de uma única vez decifra as condutas
41, 42 e 43, da carta do seu pai, após ler Apocalipse 8:
10-11, descobre que as fontes de águas, são o fluxo de
palavras que constroem os rios, que são as idéias os
homens morreram por palavras amargas, as idéias são
a fonte de transformação do universo e por isso cada
ser é mais forte que os céus e as terras.
Foi assim, que Thace Pahazy Filibuster andou pela
África, conheceu a cultura de um dos povos mais
belos e fortes do universo, tocou nas pirâmides que
construíram e atravessou todo o deserto, porque já
havia crescido o bastante como o deserto, para poder
enfrentá-lo, assim como Jean-Jacques enfrentou a vida
e Marylan e sua irmã Helhem, tiveram forças para
amar a vida e enterrar em uma fortaleza o corpo de
sua mãe Vergha, como o mundo que dá voltas, Thace
também deu uma volta pela África, jamais esquecerá o
que aprendeu, é isto e sua força de vida e liberdade,
que faz dele uma pessoa diferente de qualquer ser
que aqui viveu.
Thace retornou a Marrocos onde permaneceu
apenas um ano e com a idade de 37 anos, recomeçou
sua viagem, agora rumando para o norte em sua
135
vontade de sua mãe, a Europa foi muito importante
para Thace e esta aventura será contada por F.: C.:
II.:, que logo aparecerá nos sonhos do nosso escritor
Luiz.
-
-
-
-
Coitado de Aladim! – disse Rose.
Coitado de mim, - falou Michael – não quero ser
chato, mas esse negócio é...
É? – perguntou Márcia.
É muito místico, - respondeu Michael – dizer que o
Absinto caiu em palavras.
Absinto? – interrogou Marcos.
Sim, aquela estrela do apocalipse que caiu nas
fontes d’água. – respondeu.
Ah está aqui... – disse Márcia com a bíblia aberta –
apocalipse capítulo oito versículo dez e onze... acho
que Thace acha que as águas amargas que mataram
os homens, são as palavras amargas.
É, pois Jean-Jacques morreu de palavras amargas. –
falou Rose.
Não sei, mas desconfio que esse Leucipo de Minas é
um discípulo de Raul Seixas, - disse Michael – pois
reparem as condutas de Halford e, agora uma visão
da música “água viva”.
Qual? – perguntou Márcia.
Aquela assim... é deixe-me lembrar... eu conheço
bem a fonte, que desce daquele monte, ainda que
seja de noite. – cantou com um voz rouca e
catarrenta Michael.
Quer dizer que essa fonte é o que sacia tudo, é o
fluxo de palavras? – perguntou Rose.
Sim. – respondeu Michael.
136
-
Porra! Thace andou pra diabo, - disse Marcos – e
tudo dentro do possível, até parece ser verdade,
vinte e dois anos para rodear a África.
- Você já viu uma ficção que não parece verdade? –
falou Márcia – não seja tão infantil, se isso fosse
verdade eu poderia falar que toda a vida no planeta
Terra, não passa duma experiência científica de
outros seres, somos apenas um viveiro.
- Pare de deformar, - pediu Rose – vamos continuar.
Fluxo de palavras. Laços de título no ar. Quem é esse
sujeito que ousa capturar idéias centrais? Em um livro
parasita quer construir um reino. Digo para ter cuidado
caro Leucipo. Esconde-se por trás de personagens para
dizer o que tem medo. Condor Amarelo é criação sua.
Luiz é criação sua. Então deve ser mais cauteloso com o
que pensa. Meus leitores estão descobrindo seus
segredos. Hei! Mas não é você leitor geral. Ainda você
terá muito que pensar. Seus dedos lhe mostram o tanto
que ainda deve ler. Mas algo foi construído. Leucipo de
Minas foi desenterrado. Ficção que perturba assuntos
sérios. Cantos modelados para camuflagem verbal.
Venero essa filáucia etnopsiquiatrica. Porém devo
ressaltar que nada pode fugir do sentido lançado há
muito. Eu grafo a viagem de Paula, Marcos, Márcia,
Rose, Michael e a índia. Agora Rose Grafa a viagem de
Leucipo de Minas. Esse que grafa a viagem de Thace e
companhia limitada. Entender já basta. Caos aqui é
ordem. Espere lendo um pouco. Se você acha que está
difícil, prepare-se para o pior. Pois quando Paula Palavra
retornar. Tudo que você ler será implícito para quem
quer que seja. Mas não pense que você não ira
entender. Existe um outro escritor, que tudo poderá
salvar. Ele é o super-homem das palavras. Não o
Homem-Aranha, mas o Homem-Palavra. Ficou curioso
caro leitor geral? Pensou que eu sou o escritor geral?
Não, isso ainda vai além. Mas você não poderá saber
137
agora. Primeiro ler depois compreender. Rose dite as
regras por favor.
Eu F.: C.: I.: ou Condor Amarelo, já lhes falei o que
tinha que falar sobre nosso eterno amigo, Thace
Pahazy Filibuster, agora com toda a felicidade e o
amor, termina minha volta em uma reta infinita, mas
antes gostaria de comentar sobre a vida que você
leva, hoje e sempre.
Existe na Terra uma concepção de uma palavra
chamada artificial, existem coisas construídas pela
natureza e pelo homem, é neste momento que
encontra o grande sofrimento psíquico dos homens
atuais. Tudo é construído pela natureza, inclusive o
homem. Vamos entender melhor, por exemplo, o que
seria de um automóvel sem a pureza dos metais? O
homem apenas transforma a matéria, como o vento e
a chuva, o único problema é que a vida é a
transformação de tudo e esta vida está em tudo seja
animal, vegetal ou mineral, e o único ser que tem o
domínio total desta vida é você.
Você pode andar entre tempestades e tufões, com
toda a segurança, pois jamais sua força transforma
sua fonte, como tudo está, é porque você quer, se você
protege a natureza, continue assim, desde que esteja
fazendo sua vontade, caso você esteja destruindo a
floresta, também continue assim, pois é sua vontade,
quem julga o que é certo ou errado é você, por isso é
necessário que nunca você faça o que não é de sua
vontade e, também jamais proíba alguém de fazer o
que ele quer, pois fazendo isto, estará proibindo tua
própria liberdade.
138
O homem precisa entender melhor o que ele chama
de Deus, pois é necessário que criem um Deus para
tudo, porque isto jamais irá prejudicá-lo, desde que
saiba que ele é o criador. Tudo é totalmente diferente
do que eles acreditam, a sua ciência não é utilizada
corretamente, mas as suas teorias funcionam porque
acreditam. Dizem que tudo surgiu do chamado BigBang, mas não foi, precisam entender que nada
evolui, apenas se transforma e que este planeta não é
igual para ninguém, a Terra passou por várias
gerações de seres humanos, que nunca foram
evoluídas do macaco, antes desta geração atual
existia homens com uma capacidade mental superior,
que infelizmente foram exterminados por uma guerra
nuclear, caminho que provavelmente a atual não
seguirá, isto ocorreu há 6.548.621 anos, o mundo hoje
está no ano de 2001 d.C. e logo acharão uma pista do
que falo, provavelmente no centro do continente mãe;
a África. Estas datas não dizem nada, somente servem
para vocês entenderem do modo que conseguem,
como você eu também morei na Terra, o que existe no
céu não são gases atraídos pela gravidade de seus
corpos, mas sim pessoas como você, todo o planeta e
pessoas a sua volta são coisas internas e nunca
externas, eu estou em uma estrela neste momento e
vendo o Luiz como uma estrela e, ao meu lado existem
planetas e pessoas como você, tente entender esta
verdade, que isto é praticamente impossível de
transmitir por palavras, você é deus, tudo está em sua
fabulosa mente, inclusive eu e o Luiz, a chance foi
dada, acredite ou não, você é tudo e nada se querer,
nenhuma geração de milhões de anos existiria sem
você, jamais este livro que aparenta ser simples e mal
escrito existiria sem sua estrela, este livro que contém
histórias belas e infantis, nada de diferente da direção
sem rumo, o infinito é você.
139
A vida é bela como um olhar, tudo existe explicação
nada é coincidência, entender isto é conhecer você,
talvez alguém lhe faça um ato, que não lhe agrade,
mas se ela divertiu-se com ele, você também precisa
ficar feliz, pois uma criatura sua, está se divertindo e
animando seu universo, quando o dia está chato, é
você quem está, pois nunca o universo pode comandar
o criador, talvez você nem note que ele seja sua
criação, pois está acostumado com o tempo, pensa
que tudo existe antes de você, mas o que seria da
beleza das flores sem você contempla-las, ou a alegria
das pessoas sem você notar, jamais uma árvore ao cair
na floresta fará barulho se não tiver você para
escutar. Não sou o dono da verdade, pois sou o
criador das mentiras, mas o que seria da verdade sem
a mentira? Meu caminho é fantástico como a força do
tufão, minha mente é eu com outra palavra, nada no
planeta seria falso se eu não existisse, minhas crenças
são amplas como o céu e a terra, meu destino é
pensamento, tudo que existe no universo é invenção
de deus e este é invenção minha e eu sou invenção
sua, como uma estrela de infinita beleza, deus queira
que esteja eu errado. Não pense que sou normal, pois
sempre admirei a loucura e sua ternura, minha parte
na Terra está comprida, minha história está contada a
falsa profecia já foi mencionada e a vida como a
mente, foram criadas, todas estas palavras estão
eternizadas, como o amor que sinto por elas, no fluxo
infinito das lembranças e idéias minha vida agora
ficou no ponto que partiu.
Como um homem que já viveu o que você está
vivendo, eu lhe aconselho que jamais faça uma coisa
qualquer, como estudar, trabalhar e viajar pensando
no futuro, pois este não existe, se você tem que ler,
140
então leia para nunca mais esquecer e poder sempre
utilizar o conhecimento no presente, caso você
trabalha para ter um futuro confortável, não trabalhe,
pois estará perdendo sua vida no presente, se este
trabalho melhorar seu presente agora, ótimo, pois o
presente é eterno e você tem uma vida perfeita se
cuidar apenas dele. Uma viagem nunca deve ser feita,
pensando no local que chegará, o mais gostoso é
sentir a estrada, olhar o movimento da vida, o
presente momento é o único que existe, quando você
estiver lendo um livro e apenas querer saber o que ele
conta, jamais você leu este livro, o livro não é
centenas de páginas com letras, mas sim apenas uma
letra, esta letra que lê agora.
Se você prestar atenção somente no presente, vai
saber tudo do passado, vai criar tudo no futuro, pois
estes dois são apenas pensamentos do presente, que
enriquece sua vida tornando você a pessoa mais feliz
e sabia do universo, porque nunca alguma pessoa
pode te classificar, você é aquilo que pensa ser, sinta a
liberdade em cada pessoa, cada ser está fazendo o
que quer e o mesmo faz você, jamais o mundo exterior
pode te prejudicar, pois ele nunca foi exterior, ele é
criado e transformado na estrela, mente ou
simplesmente você, entender isto é alcançar o
paraíso, o Nirvana, o grau total do criador com as
livres invenções.
Agora Thace tornará... me perdoe é Luiz quem
tornará a escrever suas idéias, veja que é fácil errar,
ainda bem, que o maior dom da vida é muito fácil
aplica-lo, a perfeição é a morte com outras palavras,
por isso erre muito e se divirta com eles, pois eles
como a filosofia, são a energia da vida, um relógio
parado é mais exato que um funcionando, você quer
ser exato? Cuide do seu universo e seja eternamente
feliz, Condor Amarelo agora voará para o meu
presente e no teu futuro.
141
-
-
-
Flagrei algo. – falou Márcia.
O que? – perguntou alguém.
Nessa profecia ridícula, diz que estão no ano 2001, e
no começo do livro o narrador misterioso fala em
2002, - disse Márcia buscando palavras – como pode,
começarem o livro depois do próprio?
Esses números não dizem porra nenhuma, - falou
Michael – talvez aquela introdução tenha sido
grafada depois de estar tudo pronto.
Eu não sabia que eu era uma estrela. – falou
ironicamente Marcos.
Talvez esse cara tentou dizer que tudo depende da
escala. – disse Rose.
Escala? – perguntou Marcos.
Quer dizer que o microcosmo nosso é igual ao nosso
macrocosmo, - respondeu Rose – então a essência
de tudo é estrela.
Não entendi. – falou Michael.
Se você pegar um super microscópio e olhar para
seu dedão sujo, - continuou Rose com um leve
sorriso – vai notar átomos e aumentando mais o
negócio vai enxergar galáxias, com muitas estrelas,
e aumentando mais enxergará sistemas planetários
e dentro de cada planeta terá outro dedão sujo que
consta tudo isso infinitamente.
Pesquei sua pira, mas será que foi isso que esse cara
quis dizer? – perguntou Michael.
Não sei, mas acho que nem ele sabe o que queria
dizer. – respondeu Rose.
É, acho que o Periquito Vermelho já terminou sua
parte. – disse brincando Marcos.
142
-
Periquito Vermelho é seu amigo aí em baixo, - falou
com olhos maliciosos Márcia – o nome do cara é
Condor Amarelo.
- Sim, mas falando em amarelo que me lembra da
polenta do almoço, quem foi o porco? – disse Rose
trancando o nariz para impedir o ar espalha roda.
- Agora não fui eu quem peidei. – decretou Michael.
- É, talvez tenha sido o vizinho, - disse com ironia
Márcia – ele também é antropólogo e por curiosidade
se chama Michael.
- Não tem nenhum Michael no prédio além de mim.
- Então foi você mesmo porcão. – falou Márcia.
- Tranquem o nariz e vamos continuar esse livro, falou Rose – já são duas e meia.
Marquesa das idéias. Palavras insanas. Quem pode
julgar agora? Leucipo fala bobagens platônicas. Mas
quem leva é o pobre Condor Amarelo. Ainda há de
surgir a verdade. Agora segurem essa passagem. Lá na
floresta. Paula. Caça. Medo. Segurança. Índia. Ensina.
Está bom por enquanto. Deixe Paula aprender sobre
sobrevivência. Você terá que deduzir pelo método
indutivo. Agora eu vou grafar Rose, que grafará Leucipo,
que grafará Luiz. Você vai ler eu, que leio Rose, que lerá
Leucipo, que lerá Luiz. Mas não se esqueça do Homem
Palavra. Ele ainda pode reinar. Continue no intrometido
livro.
Hoje terminou meu contato com Condor Amarelo,
foi dois meses de trabalho para conseguir transformar
em palavras as idéias que ele passava, no começo ele
surgiu apenas no sonho, mas quando comecei a
escrever a história do alquimista de Londres, ele
apareceu na vida real, foi mais ou menos assim: “eu
estava voltando da universidade de ônibus, quando na
avenida da frente da universidade na escada de um
143
restaurante, eu olhei aquele homem baixo e amarelo
sentado nas escadas, não acreditei no que vi, puxei a
corda do circular e desci do ônibus, correndo voltei
para o restaurante, onde ele já não estava mais, então
definitivamente eu entendi que estava louco, já estava
pensando de como seria a vida em um manicômio,
pois nunca ouvi falar de homens que enxergam suas
fantasias, que não são considerados loucos”.
Realmente fiquei com medo de continuar a história
e publicar o que acabei de escrever, mas logo me
acostumei, pois Condor Amarelo me deu a resposta
que alívio meu medo.
O medo era sempre meu companheiro, pois as idéias
dos sonhos, que Condor Amarelo contava eram
difíceis para escrevê-las, mas em uma noite ele me
deu a resposta, acordei com a música Gîtâ, do Raul
Seixas, era a única música que eu conhecia dele,
jamais notei o que ela realmente falava, então resolvi
estudar a fundo esta verdadeira fonte de palavras,
tive que remar contra a maré para sair das idéias e
chegar nas palavras. Eu entendi como funciona o
inconsciente coletivo, que Jung tanto falava, comecei
a me interessar em coisas que jamais imaginava, para
simplesmente transformar as idéias em palavras e
sempre Condor Amarelo ditando e eu sofrendo do
início ao fim, (que agora nem sei se realmente existe)
para escrever.
Eu formulei uma demonstração de como o
subconsciente funciona, não sei se servirá para você,
mas vamos tentar explicar.
O seu subconsciente é como um H.D, de
computador, as pessoas religiosas ou intelectuais,
estão ligadas na internet como todo mundo, mas com
uma vantagem, eles sabem mexer muito bem com isso
e
conseguem
entrar
em
qualquer
H.D.
(subconsciente), do universo e também sabem se
defender, como um bom “Hacker”. Somente assim
144
consegui entender o que Condor Amarelo me falou no
sonho, que nada é coincidência, por exemplo, uma
criança desenha uma estrela de cinco pontas, ela não
sabe, que ela sabe o que significa, por isso é
necessário prestar atenção em tudo, pois existe
“Hacker” do inconsciente, isto não é para por medo,
mas para você saber a força que você tem.
Talvez eu esteja realmente louco, mas eu estou
muito melhor do que era. No mesmo dia que escrevi a
história do livro de Jean-Jacques, me aconteceu algo
incrível, eu fui almoçar, e na volta eu fiquei pensando,
nas palavras maravilhosas, que Condor Amarelo me
disse no sonho, que foram as do homem que perdeu
as pernas e braços, então resolvi pensar apenas no
presente, andando por volta de um lago da cidade, eu
estava pensando no futuro deste livro, quando alguma
coisa fez eu concentrar a atenção novamente no
presente, foi aí, na margem do lago que encontrei um
livro, que tinha muita coincidência com este, como,
por exemplo, as onze pessoas testemunhas das placas
de ouro e seres que mandavam o tradutor procurar as
placas. Logo lembrei das palavras de Condor Amarelo
e descartei a possibilidade de coincidência, o nome do
livro era o Livro de Mórmon, era de uma igreja é
parecido com a bíblia, soube que este livro foi um
pedido que fiz no dia anterior, sem eu notar meu
subconsciente realizou, eu queria saber se existia
algum livro parecido com o meu no planeta Terra.
-
Até Luiz está louco, - disse Michael – já não bastava
o baixinho cor de polenta?
O cara viajou em dizer que existe “Hacker” de
inconsciente, - falou com olhos de reprovação a
145
leitora Rose – devia estudar coisas mais míticas um
pouco.
- É, - complementou Marcos – Jung até poderia
concordar, mas sob gargalhadas.
- O pior não foi isso, - fez-se ouvir Márcia – Luiz delirou
no lance do sonho realizado.
- Qual? – perguntou o...
- Aquele do livro de Mórmon. – respondeu Márcia.
- Eu já li esse livro de Joseph Smith, - disse Marcos – é
tão bonito quanto a bíblia.
- Dizem que foi retirado de placas de ouro o seu
conteúdo. – falou Rose.
- Sim, - disse o Marcos – encontrada em “New York”.
- Sei lá, - resmungou Michael – esses lances de igreja
não rolam muito pra mim.
- Claro, - Márcia disse – quem lê uma vez Nietzsche
dificilmente entra numa instituição religiosa ou terá
uma crença.
- Ta, - retrucou Michael – eu leio Tolstoi e nem por isso
deixo de ir para universidade.
- Claro, - ofegou Marcos sua idéia – um anarquista
você já é, não precisa provar.
- Notei que esse sujeito chamado Leucipo de Minas, falou peremptório Michael – não demonstra sua
incapacidade de se expressar explicitamente, notem
que tudo é culpa do inexperiente escritor
protagonista Luiz.
- Bom, - declarou Márcia – essa idéia já foi capturada
antes.
- Ta, - pediu Rose – chega e vamos continuar.
o foco princiPal de um personAgem é baseado no
próprio escritor isso qUando ele é iniciante agora você
percebe a crueLdade que fizerAm com esse sEnhor de
tais palavraS antes você tinha um limiTe conhecido
como pontuação veja roubaram-me essa artimanha
literÁria o que me resta é inVentar para salvar pois o
únicO limite que tudo termina é o infinito andam
146
dizendo por aí que escritor que se preze não copia nem
lança idéias de outro mas ei seus faLantes as idéias não
podem ter um senTido elas não precisam gerar lucros
não são coisas para serem absorvidas por capitAlismo
selvagem as idéias não são de niNguém elas são como
o céu e um escritor não escreve bem ele pensa bem e
se acaso você ouvir falar de um escritor com problemas
de logoagrafia não se preocupe pois ele não é um
escritor as idéias não são nada enquanto longes dos
pensamentos e pensamentos nada são sem palavras é
por isso que escritor não escreve bem ele pensa bem
lembrar agora da poesia de paula onDe ela diz que
quem está preso no mundo ou reino das palavras estará
eterno mas eu afirmo que ele estará preso com a maiOr
liberdade só pelo fato de dominar uma língua quem
sabe uma língua sabe mais do que pensa que sabe vou
citar uma frAse de beethoven mas devo pedir desculpas
paRa os críticos que aqui agora criticam pois devem
entender que não tenho condições nesse exato
moMento de usar aspas mas dEixo claro que vou por a
letra y como função das mesmas ynão há regra que não
se pos-Sa violar por amor ao beloy é isso já explica o
porquê disso não sei o motivo de meus sentidos
gramaticais me impedirem de colocar acentuação em
tudo talvez você esteja pEnsando que eu estou
debochando de leucipo de minas e sua inconsciente
coletivo digital sei que é pura ignorância de tal escritor
mas eu ainda possuo um ética profissional e nunca
falaria que alguém como talvez o homem palavra tenha
invadido meu inconsciente para me governar através
de truques oníricos eu não acredito nessas brincadeiras
da psique humana talvez os monges tibetanos possam
realizar algo como telepsiquismo mas nós simples
ocidentais tentando se livrar das palavras não seriamos
digo nós como se dissesse eu ycapazesy de tal efeito
lógico se tudo provesse de incentivos digamos lunáticos
como exemplos colombianos teríamos certeza pura
147
agora já basta de ser tão ingênuo com essas palavras
sob domínio do dominado rose vai ler ou tentar
continuar a grafar o livro intrometido mas tudo estará
normal o problema é comigo acho que leucipo está
armando coisas para mim quer tirar eu do jogo e tomar
conta sozinho do livro mas o que ele não sabe é que eu
pouco significo aqui sou um simples personagem criado
para dar lógica aristotélica para leitores ocidentais se
ele conseguir infiltrar no que eu escrevo e continuar a
consumir todos os sinais de pontuações e por fim
palavras eu deixarei minha marca em seu corpo
epistolar assim como deixei no que acima grafei o
homem palavra vai salvar tudo eu acho que vou me
extinguir por enquanto rose vai continuar e eu vou
tentar depois talvez voltar se não continuarem a bélica
fonética eu agora não vou perdoar estarei me
infiltrando na essência desse livro cuidado
Alguma coisa é muito estranha neste livro, não
consigo entender como surgiram as fontes da vida; eu
lembro que um dia após eu escrever no manuscrito,
fiquei assustado, pois eu tinha dormido na mesa,
quando escrevia. Tinha escrito sobre o livro do céu,
que Condor Amarelo me ensinou a ler na noite
anterior, o problema é que eu não lembro de ter
escrito as fontes da vida, pois eu estava dormindo
quando terminei de escrever a palavra “brincadeira”,
também não sabia donde surgiu a explicação a baixo
das fontes; mas meu medo sumiu após Condor
Amarelo ter dito e explicado sobre elas no decorrer da
história, a conclusão que cheguei foi que eu estava
muito cansado a ponto de ter esquecido o que escrevi,
não pense que sou um médium, pois nunca pensaria
que estes seres realmente estão mortos e nenhum
deles se apossou do meu corpo para escrever.
148
Já faz dois dias, que Condor Amarelo foi para sua
casa e até agora nem sinal do F.: C.: II.:, meu medo
agora é ter que mentir para mim mesmo, para
progredir o livro, não vou conseguir criar um sábio,
então vou esperar a vontade deles, como tudo passa,
talvez algum deles passe por perto e comece a ditar
está história louca, porém sábia.
Enquanto aguardo a vontade deles, vou comentar
sobre o que até agora foi escrito.
Você lembra das palavras secretas do
selecionamento? Até eu fiquei com medo, eu
realmente sou o cara mais medroso que conheço,
tenho medo de tudo, mas também como é difícil saber
que escrevo coisas que nunca soube o que são, pensei
que fosse uma espécie de ritual e disse para mim
mesmo, que iria parar de escrever. Tudo ficou
tranqüilo quando lembrei sobre as coisas do medo e
por um bom tempo fiquei calmo e escrevi sem
temores, mas até que um dia me apareceu no sonho
Condor Amarelo contando sobre um livro de 1904,
que realmente jamais havia ouvido sobre ele, então
quebrei o silêncio e comentei com um amigo sobre o
livro, este amigo era muito entendido sobre estes
assuntos e mondou eu ler o livro “Valkirias” de Paulo
Coelho e entender sobre a “Sociedade Alternativa”.
Eu conhecia está apenas na famosa música de Raul
Seixas, no livro contava a história e relação de anjos e
místicos, era um livro lindo, um dos melhores que eu
li, apenas fiquei novamente com medo no momento da
explicação da música.
Como o mundo gira, eu também tinha que quebrar
este medo e conhecer este homem, conhecido como o
“pior homem do mundo”. Seu nome era Aleister
Crowler e era como eu tinha escrito pelo sonho, não
um homem ruim, mas sim um homem sábio, a
sociedade condenava-o por atos satânicos e, por isso
149
todos tinham medo, após eu ter conhecido e sofrido
medos no começo, nunca mais senti medo algum, pois
o que existe no mundo de maior temor, eu conhecia e
não julgava com preconceitos infantis, foi ai que
comecei entender o livro, respeitando os extremos e
jamais julgando o certo e o errado, pois tudo foi
criado pela mente de cada ser, tanto o “Livro da Lei”,
como a bíblia e outros como este, cada ser pensa no
deus que quiser, na força que quiser, mas jamais
poderá condenar as crenças dos outros, pois não
existe a certa, cada um pensa que a sua é a melhor e
será, meu trabalho é apenas mostrar caminhos e
jamais indicar um, é assim que classifico este livro,
como um ponto em que passa infinitos caminhos, para
você seguir se quiser ou ficar parado para olhar o
movimento dos viajantes. A vida não é apenas um
caminho, você pode escolher qualquer um que te
agrade no momento presente, mas para isso, não
precisa voltar o que você andou, basta abrir uma
trilha no desconhecido, para o caminho do lado num
ciclo infinito e lindo, é assim que entendi este livro,
talvez você entenda diferente, que seria maravilhoso,
pois cada ser é uma estrela.
Este caminho que Condor Amarelo mostrou, é um
caminho que muitos cientistas e pensadores seguem,
o caminho da força da mente, está que cria tudo e
transforma a matéria e idéias, é um caminho que tudo
responde, mas somente é verdadeiro para quem
consegue entender profundamente a vida, até Jesus
seguiu este caminho.
Não sei se o livro vai continuar abrindo caminhos ou
seguirá este mesmo caminho, eu espero que seja um
livro de vários pensamentos, pois ninguém pode
garantir qual é o correto e falso, apenas você mesmo.
Sempre fico pensando no que escrevo e como vão
aceitar meus amigos e família estas coisas totalmente
estranhas. Tenho medo de pessoas religiosas
150
condenarem o que escrevi e não conversarem mais
comigo, o que me alivia é está razão, que faz eu
entender com a mente livre, assuntos que geram
tantas brigas e mortes no mundo. Eu sei que é difícil
saber qual é o futuro deste livro, não sei se vou
termina-lo e se conseguirei publica-lo, mas se você
estiver lendo, eu estarei feliz, pois ele foi eternizado.
Eu preciso expressar estás idéias que minhas
fantasias me contam, pois são fantásticas e devem ser
de todos, como o mar as terras e o céu. A tristeza
sempre bate na porta quando penso no futuro, lembro
dos críticos e preconceituosos que provavelmente não
gostaram do livro e, também dos milhões de seres
pensantes, que simplesmente iriam rir e encontrar
defeitos, como o que agora estou escrevendo,
pensando que é para aliviar minha falta de
criatividade. O que importa é eu realmente alegrar a
vida de pessoas, mesmo sendo apenas a minha, nunca
pensei em ser escritor, mas meus sonhos me fizeram
ser, como você leu assim eu escrevi, eu não sei
escrever como manda a sociedade, mal sei montar
corretamente uma frase, não consigo utilizar os sinais
corretamente e aplicar os “porquês” com sua ordem
correta.
As pessoas não devem pensar nos erros, por isso eu
escrevo com o coração, expressando as idéias, que
saem de palavras ditadas pela emoção e nunca pela
razão. Mas a tristeza não faz nada a não ser bater,
pois em minha casa o que reina é a rainha vontade,
que comanda os seus ministros amor, alegria e
imaginação. A vida não deve ser prevista apenas vista,
o momento agora é escrever sobre o escritor, não
quero fazer uma imagem e perfeição de mim, apenas
mostrar que escritores são pessoas como você, então
todos os livros e idéias você pode criar, jamais você
deve querer ser melhor que o outro, pois é impossível
você crescer mais do que já existe. Você é o criador de
151
tudo, o ser com maior força e comando no universo,
ninguém é melhor que você, nem os maiores
pensadores, santos e messias, pois eles apenas
conseguiram o controle total da estrela, coisa que
você também consegue, basta ter fé para lembrar. Isto
não é um livro de auto-ajuda, eu não ajudo ninguém,
apenas mostro que não precisa existir a ajuda, pois
ninguém realmente está em perigo, somente estará se
pensar que está.
Você está notando o que aprendi, de um moleque
medroso passei para um moleque maravilhoso, aposto
que também aprendeu coisas novas como aprendi, a
não ser que você seja um cientista. Eu convivo com
muitos cientistas na universidade, a maioria são
pessoas que usam a sabedoria para criarem um reino
perfeito com defeito e, também existem aqueles que
leram todos os livros do planeta, pois pegam a
primeira página e já deduzem o que está escrito, eles
são tão críticos que criticam até o que ensinaram, ás
vezes tenho raiva deles, por reprovarem tudo o que as
pessoas fazem, como se eles fossem a estrela guia,
consigo controlar minha raiva, apenas admirando suas
idéias loucas, que servem não para melhorar, mas
apenas para mudar e colocar seus nome na história,
vejo ai o seus ideais e, paro de criticá-los porque estão
fazendo o que querem e o problema não está neles,
mas sim em mim, aprendi a amar todos inclusive os
cientistas, pois sou um.
Hoje tive uma surpresa, que me fez pensar no livro.
De manhã acordei de um sonho estranho, eu estava
em um emocionante jogo, não sei que jogo era, mas
ganhei três livros por jogar o dado e parar no número
quatro. Eram livros lindos e grossos que levei para
casa, de repente escuto no rádio que procuram um
152
livro perdido com o nome “Não é 6”, eu tinha certeza
que era um dos livros que ganhei e, quando fui buscar,
não encontrei este nome nos livros e junto com eles
estava o manuscrito do livro “Vida?”, que foi o que
escrevi, quando abri o livro fiquei desesperado por ver
todo o manuscrito riscado, como se uma criança o
pega-se, e na última página estava escrito esta frase: “
Você não soube Brincar” acordei no instante que eu li,
mas não me importei com isto e quando estava
voltando do almoça, resolvi passar no local onde
encontrei o Livro de Mórmon e tive a surpresa.
O livro estava na direção de uma manilha de água e
encima da manilha com tinta azul, (a mesma cor que
estava riscado o manuscrito) uma flecha desenhada
apontava para o livro. E com a esperança de brincar
eu peguei o Livro de Mórmon e comecei a lê-lo.
-
Eu sabia que Luiz era Leucipo. – expressou-se Rose.
O que está acontecendo com o sistema? Não estou
mais entendendo. Estou aqui escrevendo e num
momento me roubam a pontuação e agora sou
infectado por... Oblíquos sentidos paralelos com a
posição em que se encontra o manuscrito de Leucipo de
Minas. Meu Deus! Eu estou ficando explícito... A posição
geográfica do manuscrito é exatamente 49°50’32’’
oeste e 13°32’08’’ sul. Os leitores que eu criei,
desculpe-me tenho que me apresentar; meu nome é
Ariston do Verbo, eu escrevo essa história que você
agora lê. As representações gráficas são sinais
conhecidos como estão aqui por: letras. E, através delas
podemos analisar os efeitos sobre pessoas pouco
cultas, através do método analítico gramatical. Toda
frase tem que possuir um sujeito é assim que iremos
alcançar os objetivos científicos, para o pregresso da
153
humanidade. As poesias conhecidas como “liberdades
da loucura” são estruturadas por rimas rítmicas, isso
leva a interpretação sonora, mas temos que saber
contar exatamente quantos fonemas constituem cada
verso. Pare por favor! Não sei o que está me
acontecendo, eliminem tudo que escrevi, estou sendo
atacado por um cartesianismo aristotélico ocidental,
pare de brincar comigo, seja lá quem for, eu ainda sou o
escritor desse livro, e você Leucipo não tem forças para
fazer isso, mas então quem está fazendo? Não, será
que é o Homem Palavra? Deixe-me em paz seu... não
tire o que escrevo, eu ainda estou vivo e você vai pagar
filho duma... não tire o que eu digo seu ... há ... você vai
sentir... ta bom, você ganhou. Deixe-me, com uma
educação formal, continuar minha história, pois ainda a
critica dos leitores não foram feitas.
- Esse cara acha que tem alguma moral. – falou
Michael.
- Como assim? – perguntou Marcos.
- Não sabe escrever e quer ter razão nas coisas, respondeu Michael – que vá pra put...
- Calma caro antropólogo, - disse Rose – estamos
quase terminando esse livro.
- Até que enfim! – resmungou cansado e babando
Marcos.
- Já são três horas, - falou Márcia – vamos terminar ele
e tentar encontrar esse velho.
- Velho? – interrogou Michael.
- É, - respondeu – o Leucipo de Minas.
Uf! Por algum momento pensei que iria ser destruído.
Eu sei que sou ficção. E, sei que não fui ainda destruído
só por causa que o escritor geral ainda precisa de mim.
Mas temo meu destino. Talvez ele queira me tirar por
completo de tudo, mas acho que ainda não será o caso.
Ele esta devolvendo minha liberdade. Agora eu sei o
porquê dos castigos. Eu não devia ter falado pra ti sobre
o Homem Palavra. Talvez ele tivesse planos no futuro.
154
Um surgimento fantástico ou um rouba cena ousado.
Tenho que seguir as leis. Não vou mais lhe informar
sobre a essência do livro. Se você notou bem. Vai saber
que no primeiro ataque eu tive impressão de que o
regedor geral estava recitando Paula, e deixei um sinal.
Agora já estou mais calmo. Vou terminar de narrar o
meu livro. Esclarecimento: eu sou um escritor, que
escreve sobre Paula e companhia limitada, dentro do
que escrevo existe Leucipo de Minas, que escreve sobre
Thace e companhia limitada. Mas eu sou um escritor
que é escrito pelo Homem Palvr1425... aí! Desculpa
senhor, não vai mais acontecer. Não tire minha
liberdade, Rose continue a ler.
Agora faz três dias que sonhei com o jogo dos livros,
terminei de ler o Livro de Mórmon e, a única palavra
que está na minha mente é a mesma palavra última do
livro, que é “fim”, como se algo estivesse ditando o
destino deste livro.
Finalmente o que me dava medo tornou-se
realidade, o F.: C.: II.: apareceu em meu sonho, mas
este sonho não foi bom para mim, veja o que
aconteceu:
Estava sentado na escada de minha casa, quando
um homem andava por cima dos trilhos do trem, que
ficava no final da rua que passava em frente a casa,
era um homem alto vestido com uma túnica negra e
uma barba enorme, usava uns óculos e estava com
uma toca na cabeça, ele me chamou para acompanhalo e lá estava nós, ele andando em um trilho e eu em
outro, quando ele me disse:
- Você sabe quem sou, eu vim falar que a sociedade
secreta Fils.: Cosm.: Vida.: hoje vai embora sem
terminar o livro Vida? Deve escrever este sonho e
dizer que Thace Pahazy Filibuster morreu ao cair
no mar, quando estava indo para Europa e dizer
155
para todos que a rota secreta não leva a nenhum
tesouro, pois ela é o tesouro, faça isso e estará
livre para sempre.
O sonho realmente teve sentido, é assim que
termina este livro, descobri que a rota secreta é a vida
e esta não leva a nenhum tesouro, pois ele é o maior
e o único, agora entendo a vida, pensei que este livro
fosse enorme e tivesse o sucesso, mas ele nem
terminou, não sei se minha vida mudará, mas o fim
existe sem a gente planeja-lo.
FIM.
156
DOIS MESES DEPOIS...
“Você achou que este livro acabaria assim? É, na
verdade acabou, mas eu o F.: C.: II.: e mais nove
membros, vamos dar a conclusão do livro, pois Thace
Pahazy Filibuster está muito bem obrigado e o tesouro
está muito bem enterrado. Luiz, precisávamos fazer
isto com você, para simplesmente dizer que a vida não
tem fim e, que nunca pense que exista, pois ela é
eterna, mesmo quando demora para lhe dizer, o tempo
não existe, tudo o que você quiser acontecerá mais
rápido se você não ter pressa e nunca duvidar,
prepare-se para escrever centenas de páginas.”
Foi assim que F.: C.: II.: disse-me num sonho, sonho
este que me impediu de levar esse livro para editora.
Eu levei um susto por saber que não teria mais a
chance de ser um escritor, já estava pensando como
eu levaria minha vida após publicar um livro que
promete e não cumpre, estou super feliz por saber,
que novamente vou escrever e viver histórias tão
fantásticas e reais que me deixam perplexo.
Logo no primeiro sonho o F.: C.: II.: mandou-me
desenhar seu retrato e, disse que não era tão feio
157
quanto o vergonhoso F.: C.: I.: que diz que o velho de
Copán é mais feio do que ele, mas na verdade é
corretamente seu retrato e também falou que a beleza
de Condor Amarelo é a mais forte e bela dos homens
feios, pois não é exterior e sim interior, porque a
imagem não diz nada, quando não tem coração. Veja o
retrato de F.: C.: II.: (fig 2) que pediu para lhe chamar
de um nome qualquer, então escolhi um de pura
homenagem: Jesus Seixas, para o homem de maior
amor do mundo Jesus Cristo e para o maior maluco
beleza Raul Seixas. Assim será o nome do segundo
sábio.
A vida guarda muitas surpresas, um dia atrás eu
estava desanimado e, hoje estou alegre e otimista,
novamente vamos aprender coisas novas e alegres,
que motivam e dão sentido e entendimento na vida, o
contato com Jesus Seixas é mais nítido do que tive
com Condor Amarelo, não sei a razão, mas as idéias
dos sonhos aparentam já estarem traduzidas em
palavras, é tão fácil, que não precisa buscar muitas
informações em fontes de palavras. Talvez eu esteja
melhorando
minha
concentração,
nas
idéias
inconscientes e podendo melhor transmitir.
158
Agora basta aguardarmos o que falará Jesus Seixas
nos próximos sonhos. Você nem sabe o alívio que
159
estou na mente, cheguei a pensar que o sábio da
moeda ainda estava vivo e brincando comigo, fazendo
os sinais como o do Livro de Mórmon, por falar em
moeda, agora lembrei que não estava usando a moeda
quando escrevi as fontes da vida, tomara que você
entenda cada uma conforme a explicação de Condor
Amarelo, pois tenho um pressentimento de que vai se
falar muito delas na Rota Secreta.
-
-
Leucipo é um sujeito niilista – disse Márcia – quis
destruir o que a sociedade secreta que ele criou
havia criado.
Onde você flagrou esse lance bizarro. – perguntou
com sutileza Rose.
No fim que não é fim, - respondeu Márcia – sacou?
Só. – respondeu rose.
A pira agora está meio... – fez-se ouvir Michael –
talvez, quase uma porra louca.
No que? – perguntou Marcos.
Sei lá, - respondeu Michael – esse negócio místico,
de sonho e esses junguianismos todos, é coisa pra
desocupado.
Nada haver, - retrucou Rose – o inconsciente é o
maior conhecimento possível.
Tudo bem, - falou Michael – mas falar que escreveu
um livro, como essa merda que estamos lendo
agora, através de sonhos, é a mesma coisa de falar
que tudo surgiu do nada... é preciso sacar que esse
livro não tem possibilidade alguma de ser realmente
escrito por sonhos, pois nunca haveria sonhos que
possuiriam uma lógica tão perfeita a ponto de se
poder criar uma história.
Mas por quê não? – perguntou Rose.
160
-
Porque não ora... – respondeu Michael – não precisa
saber o por quê.
- Cala boca seu pastor de igreja de ovelhas, - falou
Márcia – tudo é possível para a força da imaginação.
- Ai Andorinha Amarela! – disse sob gargalhadas
Michael – sua imaginação é curta.
- Calem-se, - pediu Rose – vamos continuar lendo,
falta pouco e já são quase quatro horas, logo tenho
que sair.
- Sair? – perguntou Márcia.
- Sim, - respondeu Rose – eu vou sair com vocês,
vamos atrás de Leucipo de Minas.
- É, - gritou Marcos – assim que se fala, esse escritor
terá que nos entender.
Leia baixo. Tudo está em silêncio. Tem que estar, pois
o livro é sensível. É esse motivo que faz suas casas
trazerem fonemas mudos dizendo: SILÊNCIO. Toda
biblioteca é assim. Quero me manter em segurança.
Estou cauteloso. Estou com medo. Você já sabe de
quem. Já estou fraco para continuar. Alguém me cria e
me manda. Gostaria de ser igual a você. Apenas ler.
Sou um parasita preso. Grudado em letras que são
minha essência. Perdi minha alegria de escrever. Não
posso parar. Sou um escravo. Um escravo de um senhor
das letras. O Homem Palavraiiiii. Desculpa. Não devia
ter tocado em seu nome, ó grande mestre. Estou nesse
mundo. Só eu sei de sua existência. Quero poupar essa
malha virtual. Deixe-me deixar a Rose deixar que
Leucipo deixe Luiz escrever, seus sonhos infantis. Pobre
criatura, mais perdida do que acento Francês. Triste eu,
por perder quase todo o meu livro, cedendo liberdade
para essa invenção de Leucipo. Já sei o meu caminho.
Almejo minha liberdade no livro com o escritor geral,
assim como Astro almejava os céus com as asas
humanas de Leonardo da Vinci. Devo agora cumprir
minha função. Rose leia.
161
CAPÍTULO II
“Eu sou você, por isso existe sentido no nome que
você me deu”
O que isto quer dizer, é que meu nome Jesus Seixas,
foi escolhido por Luiz, mas antes por mim,
simplesmente para você entender quem sou eu.
Jesus falou: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”,
uma das músicas de Raul Seixas, trata-se da
interpretação de um texto, o nome já foi citado nesse
livro, a letra é assim: “Eu sou a luz das estrelas, eu
sou a cor do luar... eu sou feito da terra, do fogo, da
água e do ar...” estes sábios estão dizendo que eles
são tudo para eles e você é tudo para você, é um erro
pensar que Jesus é o caminho a verdade e a vida,
também é um erro você pensar que Raul Seixas é a
luz das estrelas, que é a cor do luar etc..., pois se você
repetir o que eles disseram, somente assim saberá o
que quiseram mostrar, entender isto, é fundamental
para o progresso psíquico.
Estou há muito tempo viajando pelo cosmos, e vou
contar algumas das mensagens que captei como um
bom sábio, temos que contar histórias sobre a vida,
pois nada é feliz sem expressar o que pensa ou possui.
Certa manhã em um dos corredores de um hospital
na cidade de Sidney na Austrália estava conversando
162
com um doente e de repente passou uma senhora com
um cigarro na boca, logo o doente falou-me:
- Sou um fracassado, - acendendo um cigarro – eu
estou doente e tenho que arrastar estes
equipamentos até aqui, simplesmente para fumar.
- Você gosta de fumar?
- Não, é algo nojento e pegajoso, - puxando mais
uma tragada – ele é tão pegajoso, que não consigo
largar desde quando peguei pela primeira vez.
- Bom, se você não gosta, não está fazendo sua
vontade, - falei para ele com bom humor – então
deve usar um produto que solte este cigarro
pegajoso.
- Meu amigo, já usei todos os produtos e não
funcionou, - complementou com ironia – mas qual é
esse seu produto?
- Vida. – com esta forte palavra me despedi e mostrei
uma nuvem no céu, no qual ele ficou pensando.
Após uma semana resolvi visitar este amigo, ele me
abraçou e alegremente falou:
- Aquele produto conseguiu me livrar para sempre
deste vício, sempre quando me dá vontade eu
repito está palavra, que limpa minha mente. No
mesmo dia que conversei com você, eu falei para
mim mesmo: “como posso ser tão covarde, ando
tanto e com dores para chegar até aqui, por causa
desta porcaria”, então amassei a carteira, para
nunca mais pegar, porque a vida me pegou, para
nunca mais me soltar, obrigado amigo.
- Não agradeça, pois quem te salvou foi você mesmo,
agradeça a sua vida.
Está história aparenta ser igual a daqueles
psicólogos, que cada um ajudou este homem, aquele
homem... se livrou daquilo, ou disso... quem sou para
me igualar aos maravilhosos psicólogos? Sou tanta
coisa que nem sei o que sou, pelo menos posso ser o
Jesus Seixas.
163
Como você sabe eu morei no Tibet, sempre amei a
natureza, de vez em quando eu andava até um rio,
onde conversava com ele, em uma pedra na margem
do rio havia uma formiga, ela estava limpando suas
antenas como se acabasse de acordar, então resolvi
molhar o meu rosto, mas uma grande gota d’água
acertou a formiga, que caiu no rio, eu fiquei muito
triste, por ter matado uma vida tão linda e perfeita.
Você está pensando, que era apenas uma formiga, sim
ela era apenas uma formiga, o problema não era a
formiga, mas sim, uma vida, que gostava de cuidar de
suas antenas, deve ser em exagero de minha parte,
mas eu penso que a gente deve matar somente para
sobreviver, nunca matar um vegetal somente por
matar, deve consumi-lo para sustento do seu corpo,
nunca matar um animal somente por prazer, mas para
comer sua carne e usar sua pele como proteção do
frio, eu nunca experimentei comer uma formiga e usar
suas antenas, por isso fiquei triste, sei que foi um
acidente, mas acidentes nunca acontecem, se escutar
a vida daquele local. Era para apenas um ser vaidoso,
e ela estava antes, o tamanho físico não importa,
porque a vida é de uma única grandeza.
Quando morri também construí meu planeta
conforme minha lei e, neste planeta existem muitas
figuras diferentes, como cada um de nós. Conheça o
meu vizinho, ele é estranho, mora em uma casa
estranha e têm conversas estranhas, mas ele não é um
estranho, pois eu o conheço há muito tempo. Veja
como foi o meu primeiro contato com este estranho:
Eu estava há pouco tempo no meu planeta, quando
perguntei para ele:
- Você sabe onde estamos?
164
-
-
Não, mas gostaria de saber, - olhando para mim,
com uma cara de interrogação – por favor, conteme onde estou?
Mas senhor, eu é quem pergunto, pois acabei de
chegar.
Você chegou da onde?
Eu acho que morri e, apareci aqui, - disse com
segurança – morava no planeta Terra, em um lugar
chamado Tibet.
O que quer dizer lugar?
Lugar é um espaço geográfico, onde pode haver
vida e sociedade.
O que é sociedade?
Sociedade é uma união de pessoas, com uma
relação natural e organizada conforme a lei, respondi complementando – existem pessoas que
trabalham, estudam e cuidam da natureza
retirando o que serve para sustento.
Eu sei tudo, mas não sei nada – falou com um olhar
desesperado – eu não sei o porquê que temos que
estar numa sociedade, você sabe?
A sociedade serve para nos ajudar em tudo no que
precisamos.
Por que precisamos? Por que estou perguntando?
Por que você morreu? Por que está me escutando?
Por que temos que trabalhar? Por que tudo é
assim? Por que não consigo entender? Por que você
está escrevendo isto que falo no livro “Vida?”? Por
que as pessoas que estão lendo fazem isto? Por que
elas precisam ler histórias belas? Por que precisam
estudar? Por que existe a vida? Por que existe a
morte? Por que tudo é assim? Por que o escritor
deste livro não sabe escrever conforme manda os
“porquês” da língua portuguesa? Por que existe
porque, por que, porquê e por quê? E, por que vão
cortar a pergunta anterior quando traduzirem o
livro para outras línguas? Por que você pensa que
165
sou um estranho? Por que não agüenta mais
escutar perguntas? Por que o nome do livro é uma
pergunta? Por que está pedindo para parar? Por
que tenho que parar? Por que a vida não é
resposta? Por que você não responde? Por que
sempre começa uma pergunta com por que? Por
que agora está entendendo o nome do livro? Por
que está pensando que a vida é infinita como
perguntas? Por que a razão é tão ruim e também
boa? Por que não fico quieto e deixo Jesus Seixas
falar? Por que sei o nome dele sem ele me dizer?
Por que eu sei que agora você está com a atenção
nesta pergunta? Por que agora vejo nos olhos de
você as respostas para essas perguntas? Não sei o
porquê. Penso igual a você? Quem somos? para
onde vamos? Por que rezamos? Por que existe
Deus? Por que existe Diabo? Por que eu existo? Por
que perguntas existem? Por que é proibido
perguntarmos certas perguntas? Por que você
ainda está lendo? Por que sei que isto está escrito?
Por que Jesus Seixas vai dar a resposta depois? Por
que escutar tantas perguntas te aborrece ou
anima? Por que perguntei tudo isto? Por que tenho
que parar de perguntar? Por que no final destas
perguntas existe um símbolo? Por que o pai do Dr.
Mau é o inventor deste símbolo? Por que você não
conhece o Dr. Mau? Por que tudo não tem nada
haver? Por que o escritor deste livro está
escrevendo? Por que ele quer fazer sucesso com
ele? Por que quer ser igual a Miguel de Cervantes?
Por que você pensa que sei isto, pensando que só
poderia saber se fosse o escritor? Por que sou
apenas o fruto da imaginação de um homem? Por
que já sei tudo o que está escrito? Por que sei que
o escritor tem medo de citar nomes, por causa que
não conhece a lei dos direitos autorais? Por que
você pensa que o escritor escreveu isto apenas
166
para aliviar as criticas? Por que você pensa que
tudo que foi escrito fugiu da conversa e história de
Jesus Seixas? Por que todas as perguntas sempre
têm umas respostas que pouco duram? Qual o
problema em ter problema? Por que todo mundo
tenta se livrar dos problemas e viver livres? Por
que tudo é pergunta? Se livrar dos problemas é um
problema, você não acha? Por que após ler um livro
de auto-ajuda você fica feliz, mas tudo volta ao
normal? Por que você pensa que é impossível eu
não ser o escritor do livro? Eu não sei se sou fruto
da imaginação de Luiz ou de Jesus Seixas e, até
mesmo do leitor do livro deles, você sabe me
responder? Por que agora cansei? Por que tenho
que parar de perguntar? Por que tudo isto meu
amigo Jesus Seixas?
- Como você sabe e também não sabe, toda a minha
vida foi dedicada à sabedoria – falei muito perplexo
– antes que você recomece a sua vida de
perguntas, vou lhe responder.
- Por favor, me responda, uma resposta duradoura,
porque senão eu perguntarei tudo de novo –
perguntou o homem pergunta – me responda qual
é a resposta?
- Você é a resposta exata para cada pergunta, - antes
dele me perguntar de volta, eu saí correndo sob
perguntas que o homem lançava sem controle,
sobre minha resposta.
Ele é um sábio homem, mas não sabe utilizar a
razão com equilíbrio, pois usava apenas para
perguntar e jamais usou para responder, não siga o
caminho que ele seguiu, pois o seu é diferente, mas
não me pergunte o porquê.
No meu planeta existem também homens quase
normais, apareceu por lá esses dias, um homem de
terno e gravata e perguntou:
- Você sabe me dizer onde estou?
167
-
-
-
Você está no seu planeta e eu estou no meu planeta
– respondi com uma vontade de começar a
perguntar, pois o que o homem pergunta fez para
mim, me infectou – como você se chama?
Meu nome é Chagos Arch e, trabalho na
multinacional... me desculpe, esqueci que não
preciso mais trabalhar. – respondeu com um olhar
de arrependimento.
Não precisa se preocupar aqui você é o que quiser
e sonhar, - acalmei ele – meu nome é Jesus Seixas.
Muito prazer – apertando minha mão – eu agora
entendo como funciona a vida.
Pode me dizer, como você olha para ela?
Sim, antes eu trabalhava que nem um louco e,
agora vejo a Terra funcionando perfeitamente sem
eu, deveria ter aproveitado melhor aquela vida.
Não se arrependa, pois a vida é a mesma que aqui,
- falei para ele, que ainda estava preocupado – você
ainda possui sua família basta cria-la.
Mas eu não quero matá-los.
Você não vai mata-los, pois vai apenas voltar para
sua casa do futuro.
Não entendi, você pode me explicar?
Você não precisa ficar preocupado, eu vou escrever
tudo isto em um livro, que um rapaz chamado Luiz
está escrevendo lá na Terra. – ele ficou me
olhando, mas depois entendeu – quero que escute a
história que vou contar, é de um homem que viveu
na Terra, ele não fazia parte de nada, estava morto
sem morrer, por isso aproveitou a vida como
queria, longe de qualquer sistema ou ciclos
imaginários, cada dia era diferentes os lugares e as
pessoas, morava em todas as partes, é na verdade
um homem normal, que simplesmente teve
coragem para seguir sua própria vontade e jamais
se arrependeu, seu nome era Thace Pahazy
Filibuster, o cidadão do planeta Terra.
168
-
Pra que Porque? – perguntou Marcos.
Por que pra que? – retrucou Márcia.
Meu! – resmungou fonemas o antropólogo – vocês
não estão auxiliando as coisas bizarras dessas
idéias, o fato é que tudo não passa de falta de
palavras e não falta de respostas.
- Só! Estou ligado maluco, - disse Marcos – a pira
nesses cantos é outra, o livro que estamos lendo é
uma antologia pragmática no sistema psíquico de
um mago magro.
- Concordo Marcos, - falou Márcia – o problema é que
já estamos quase terminando de ler esse manuscrito
e, não vejo aqui os onze capítulos prometidos.
- É, teremos que ir – decretou com vigor Rose – seguir
os rastros de Leucipo e colocar fim nessa coisa lírica
meio coelhista.
- Leia antes das quatro e meia, - pediu Marcos – pois é
fácil encontrar as pessoas que queremos no fluxo de
transeuntes de fim de um dia útil.
A subversão pode trazer conclusões precisas na
ordem que pode aqui surgir. Mantendo-se semimudo
para sobreviver. O mecanismo que faz tudo surgir
identificado pode ainda sofrer algo. Esse algo por
enquanto, por medo de ter feito já errado, podemos
anunciar como um ataque psicogeográfico. Mas já
basta. Agora respondendo simultaneamente os améns
que devo para o mestre ou escritor geral, a sessão
auxílio se encerra num estilo meeiro. Rose termine logo
de ler esse manuscrito. Para que eu possa ser um livre
ser. Cansei de ser lista telefônica. Vamos rápido, pois o
relógio é o relógio da vida.
169
Ao contrário de Condor Amarelo, Jesus Seixas
mandou escrever junto com ele, então antes da
continuação da história de Thace. Vou lhes contar o
que aconteceu hoje, você lembra da marca azula em
cima da manilha d’água? Então, ela também apontava
para o Cristo da cidade, é uma grande estátua em
cima de um morro, resolvi subir para talvez voltar a
brincar e encontrei uma pista.
Havia três crianças brincando no morro, enquanto
subia escutava suas conversas e uma falou: “olha
mãe, onde estou”, sua mãe nem saiu do carro, eu acho
que estava conversando com seu marido, o menino
estava na base da estátua, eu estava prestando
atenção em cada segundo, pois sabia que haveria algo
interessante. Quando cheguei no Cristo, os meninos
estavam na rua ao lado e gritando: “estamos ricos”
acabaram de achar um monte de diamantes, que na
verdade eram cacos de vidro, de repente começaram
a brincar com dois filhotes de cachorro, eram muito
pequenos, mas não puderam levar embora, porque
sua mãe não deixou, antes de irem embora um deles
olhou para trás, como se fosse a última vez que
olharia os filhotes e o outro tentava mantê-los juntos.
No final os dois filhotes ficaram sozinhos e eu comecei
a me preocupar com o futuro deles, mal conseguiam
andar imagine se alimentar. Fiquei com dúvidas de
deveria ajudá-los, ou deixar o destino cuidar, então
lembrei de Condor Amarelo e, resolvi ajudá-los, pois
era a vontade da maior força que muda destinos, a
força do amor as criaturas, como um bom criador,
peguei os dois e chamei dois cachorros da rua de
baixo, por minha surpresa era a mãe e o pai deles,
que estavam procurando por eles, quando me viram,
correram ao encontro dos filhotes e, rosnaram para
170
mim, sai rapidamente deixando os filhotes e na volta
para casa peguei minha bicicleta e passei perto deles,
os dois cachorros grandes começaram a correr atrás
de mim, que parei e encarei-os, no fundo dos olhos eu
enxerguei o agradecimento do pai dos filhotes.
Isto mostra que devemos apenas mostrar os
caminhos corretos para as pessoas, mas jamais
obriga-las a seguir, isto deve ser feito mesmo sob
protestos do sistema, pois no fundo todos sabem que
isto é bom.
Thace gostava de conversar, mas na África poucos
eram os amigos. A Europa prometia grandes
amizades, ele olhava para cada pessoa, como se ela
fosse um baú de sabedoria que ele tinha que abrir, foi
nessa idéia que Thace conseguiu vários amigos,
principalmente sábios que eram chatos, pois
precisavam demonstrar suas sabedorias para alguém,
que não se irritasse com eles, pois falavam como se
tivessem o rei na barriga e, Thace nunca deixava de
homenagear os sábios e conseguia com isso comida e
moradia, e acima de tudo sabedoria. Assim foram os
primeiros dias na Espanha, que já mostravam para
Thace aventuras que sempre sonhou.
Em pouco tempo, aquele andarilho conquistou a
confiança da elite política e intelectual das cidades
que passava, mas foi em Barcelona que Thace
conseguiu grande amizade com velhos senhores, pois
eram amigos de seu pai Halford. Logo começou a
freqüentar lugares reservados para poucos, como
lojas maçônicas e sociedades secretas, aprendendo
muito e aumentando seu conhecimento místico. Com
38 anos, Thace era considerado um ótimo iniciante,
alcançando rapidamente os primeiros graus das
sociedades secretas, pois já tinha um bom
171
conhecimento adquirido por livros e principalmente
pelo seu pai Halford.
Thace permaneceu por um bom tempo em
Barcelona, mas resolveu caminhar novamente, após
conversar com um viajante. Este era aparentemente
mais velho que Thace e, estava indo para Bilbao onde
começaria a percorrer o caminho de Santiago, eles se
conheceram em uma praça de Barcelona, onde ele
falou:
- Meu nome é Carlos, como você se chama?
- Meu código social é Thace.
- Código social?
- É apenas uma brincadeira que aprendi – respondeu
com olhos no passado – com uma grande amiga da
África central.
- Você já esteve na áfrica central? – perguntou
Carlos com admiração – como é aquele lugar?
- Cresci em Marrocos, mas nasci na América central
e passei toda a minha vida caminhando pela África,
que é um lugar lindo.
- Também gostaria de viajar como você, - disse com
tristeza – mas não tenho tempo, o único tempo que
tenho faço o caminho para Compostela, meu
trabalho é muito desgastante.
- Qual a importância deste caminho para você? –
perguntou Thace – pois deve ser ruim percorre-lo
sempre que pode, eu acho chato percorrer apenas
um caminho, pois existem infinitos.
- É um meio de conseguir conversar com Deus, respondeu Carlos – e jamais o trocaria por outro
caminho.
Ficaram um bom tempo em silêncio, até que Thace
teve coragem para falar:
- Como é Deus para você Carlos?
- A imagem de Jesus é a imagem de Deus, e o
pensamento de Jesus é a vontade de Deus.
172
-
Eu adoro Jesus, a bíblia é um dos livros mais belos
que li, - comentou Thace – mas não entendo como
um sábio homem pode ser Deus para você?
- Thace, - falou com espanto Carlos – me diga qual é
sua religião?
- Eu não tenho nenhuma religião, desde pequeno
admiro a fé, mas não aceito as guerras que ela
pode causar.
- Você conhece alguma igreja?
- Sim, já estive em algumas, mas apenas freqüento
lojas maçônicas.
- Meu Deus! – disse Carlos com rancor – como pode
aceitar a proposta de pessoas anticristo?
- Mas eles não são anticristo, querem apenas
mostrar, que o cristianismo é pregado errado.
- Você conhece a igreja Católica? – perguntou
Carlos.
- Não, na verdade nunca tive contato com ela.
- Pois então venha comigo, para poder conhece-la e
somente depois poder julga-la como errada.
- Você está certo Carlos, estive com preconceitos
herdados do passado, eu preciso conhecer tudo
antes de escolher.
Como dois cavaleiros andantes, andaram até Bilbao,
onde Thace entrou na sua primeira missa e conheceu
os rituais católicos, ele admirou a fé daquelas
pessoas, presenciou um milagre que havia ocorrido
para uma jovem doente, que se curou apenas tocando
na imagem de um santo. A alma de thace cada dia
ficava mais pura e alegre, logo estava acreditando no
poder de Jesus Cristo e condenando os maçônicos
como anticristo, mas certo dia apreendeu algo
interessante e espantoso ao conversar com um padre:
- Padre preciso me confessar, - disse Thace com um
olhar de autocondenação – cometi um grande erro
ao entrar em uma loja maçônica.
- Qual é seu nome? – perguntou o padre.
173
-
-
-
Meu nome é Thace Pahazy Filibuster.
Meu Deus... – disse o padre – como você foi parar
aqui?
Isto é uma enorme história, – respondeu Thace com
um sentimento de conhecer aquele padre – mas
padre me diga como devo pagar meu pecado?
Eu não vejo nenhum pecado Pahazy.
Mas padre, eu era anticristo.
Não existe anticristo, Jesus Cristo é uma visão
individual, cada um vê ele como quiser, fazendo
isto não estará pecando – respondeu o padre – você
precisa entender a maior sabedoria que existe, leia
e entenda as condutas de Halford.
Você é... – falou impressionado Thace – o homem
que me deu a bíblia quando era criança?
Sim Thace, eu e seu pai fomos ótimos amigos, eu
sei que ele ainda está vivo, pois fomos grandes
magos.
Mas o que tem haver Igreja Católica com magia?
Muito e tudo, - completou o padre – você deve
seguir o nascimento do sol para encontrar seu pai,
somente este caminho te dará conhecimento
necessário para...
Acabou, - disse Rose fechando o manuscrito verde –
mas não terminou.
É, já são quatro e vinte e cinco, - falou Marcos –
temos que andar, avante seus civis.
Então
vamos,
disse
Márcia
chutando
carinhosamente a cabeça de Michael, que se
esparramava no chão – levante porco.
174
Apartamento fechado. Bolsa vermelha de Rose com
livro em seu imo. Como transeuntes então: Márcia,
Michael, Rose e Marcos. Como sujeito procurado está:
Leucipo de Minas. No sonhado fluxo, após dois dias de
leitura, lá estava Rose novamente com agora a turma,
no beco da igreja. Beco das idéias jogadas. Hoje
nenhum livro. Faremos uma análise geográfica do local:
a igreja é gigante, duas torres, em sua volta uma praça
arborizada, muita sombra e umidade, tudo muito
antigo, calçadas com pedras colossais, igreja de mesma
idéia, o beco se encontra entre o fundo da igreja e o
lado dum museu, grande beco! Sua entrada é muito
estreita, mas logo se torna larga, ninguém entra ali,
exceto Rose, que entrou uma vez para fazer suas
necessidades biológicas, achou um carta nessa vez e,
depois achou um manuscrito já mostrado e, depois
todos juntos flagraram o velho jogando as Condutas de
Halford, agora está sintonizado? Bom agora partimos.
Antes lembra da mentalética? É, minha palavra agora é
agora. Pescou? Tudo está difícil? É só por pouco.
Cedendo espaço-tempo para guerrilheiros cartesianistas
vou ser explicito por questão de tempo-espaço. Porém
no fluxo do instante, devo auxiliar pessoas que perdem
seus tempos. Epistemologias do sentido espaço e
tempo, isso é perder tempo. Todos sabem o que é
espaço e tempo, mas todos procuram saber. Digo agora
(minha palavra mentalética) que espaço e tempo só são
palavras. Palavra é minha aventura. Se eu responder
isso, tudo está salvo. Agora (mentalética) você vai
saber como estão as coisas.
São quatro horas e trinta e oito minutos no relógio
parado da igreja. Os quatro estão no beco, vasculhando
cada buraco nas paredes, cada papel no chão. Logo
surge o esperado, lá no fundo, quase no fim do beco,
Marcos grita:
- Achei!
175
Os três correm para Marcos, que aponta uma pequena
porta entre o vão de um grande pilar da igreja e o muro
de pedras do fim do beco. Porta de ferro, enferrujada e
forte como as coisas antigas. Uma pequena janela, uma
pequena espiada e tudo resolvido. A porta estava
aberta. Medo súbito das gurias. Lá dentro tudo é escuro.
Michael corre para uma pequena loja e compra uma
lanterna. É um túnel que entra no subsolo da igreja. A
porta se fecha o escuro engole o mundo. Lanterninha é
a coisa mais valiosa no planeta. Márcia se agarra em
Marcos que está junto com Michael na frente. Rose não
solta da lanterna. As partículas do movimento sonoro
ecoam como e onde surgem. Já estão um bom tempo
andando. O suficiente para atravessar cinco vezes a
igreja. Então logo imaginam onde estão indo. “Para o
inferno” disse Michael. “Pra Brasília” disse Michael.
“Acho que é para Roma” disse Rose. “Isso vai para o
além” disse Márcia. “Vai para casa” disse alguém. Um
gelo nos intestinos delgados dos quatro. “Quem disse
isso” pergunta Michael arrancando a lanterna de Rose e
apontando para frente. Luz fraca escuridão gigante. Dez
metros era o máximo que alcançava o mundo ali. Não
correram só por motivo de resposta. Luz que não
provinha da lanterna surgiu. Uma luz fraca no fim do
túnel. Agora surge uma dúvida. Entre uma luz no fim do
túnel ou duas entradas secretas para vertical. Decisão:
fim do túnel. Movimentos cautelosos. Jovens num
ambiente de filme. Mas o que rolava era um velho
habitando dois cômodos subterrâneos. Pergunta feita
por Rose para o velho:
- Desculpa, o senhor é Leucipo de Minas?
O velho se move da mesa onde grafava alguma coisa.
Ele estava como um mago. Um chapéu e uma túnica.
Apóia-se na velha estante carregada de livros. E diz:
- Sim, sou eu quem ti procura.
O velho era restrito em tudo. Palavras mudas eram
suas armas. Ele convida as visitas para sentarem.
176
Bancos estranhos e confortáveis. Livros soltos sem
títulos. O velho apanha uma caixa de papelão. Dali
retira um caderno semelhante ao verde, mas é azul.
Estica o braço e entrega para Márcia. No livro estava
grafado: “LIVRO II, que trata de Jesus Seixas e da
viagem de Thace na Europa”. O velho olha para eles e
ordena:
- Peguem o que procuravam, e não me procurem
mais, nada está pronto, Thace ainda é embrião de
um velho.
Rose olha para Márcia e diz para Leucipo:
- Quem é você? Por que jogou na rua seu trabalho?
- Não sou e não trabalho, deixem-me na paz, vão
caminhem, terminem o que comecei.
- Eu já ouvi isso antes – pensou alto Rose.
- Você leu isso antes. – corrigiu Leucipo.
- No livro! – disse Marcos.
- É. – falou Leucipo.
- Mas, por que mora isolado, - perguntou Michael – ou
melhor, meio “underground”?
- Sou irmão do bispo dessa igreja acima, - respondeu
Leucipo – sou um mago, mas sei que isso hoje é
motivo de piada, é por isso que aqui me escondo.
- Magia! – disse Márcia – é um elemento que junto
com a filosofia monta a dicotomia que funde na
sabedoria.
- Não, - disse Leucipo – magia é oposto de filosofia, o
dogma é meu sustento a razão é o seu sustento,
cara filósofa.
- Quem é Luiz? – perguntou Marcos.
- Parem, - pediu Leucipo – vão embora logo, não
misturem o que já é misturado.
- Mas... – resmungou Rose.
- Saiam – gritou Leucipo – essa hora não é propícia,
saiam jovens, um dia vão saber, vão logo. – disse
gritando e quase expulsando os quatro.
177
Pé na estrada, ou melhor, pé no túnel. Leucipo fecha o
portão. Lá fora Rose está com o já lido manuscrito
verde. Lá fora Márcia está com o não lido manuscrito
azul. Agora é só voltar e ler. Precisamos entender o que
isso quer dizer. Paula Palavra está bem, preparando-se
para uma possível janta. A relação simbólica entre ela e
a índia está melhorando. Comunicação e respeito são
requisitos requisitados. Deixai Paula e escutai Márcia.
Ela é quem vai agora ler. Já estão no apartamento
saboreando um jantar. Dando um leve toque metódico:
cinco horas e quarenta e sete minutos. Mesmo dia de
tudo. Não se perca. Sei que tudo é mesma coisa, mas
não misturar Leucipo comigo. Lá já foram anos, aqui só
dois dias, desde o começo geral. Pensando em entender
o que podemos deixar explicito. Resolvi eu, o próprio,
montar uma estrutura racional. É como se fosse uma
idéia preestabelecida sobre o ponto almejado. O
homem criou a palavra ou a palavra criou o homem? É
dificílimo responder, sendo que você está lendo homens
criados por palavras. Mas se você lembrar quando
parado. Terá um leve toque de resposta. Lembra de
Paula? No começo do livro comecei a relatar alguns
livros que ela carregava. E um dos livros contém uma
resposta para essa questão: O QUE NÃO É, NUNCA FOI.
Flagre a montagem lógica do título desse livro. Veja que
isso ignora o passado, assim sendo ignora o começo,
assim sendo ignora a criadagem. Nem o homem nem a
palavra criaram, pois elas estão, portanto são (é), o
passado e futuro é onde habita a vida. Mas a verdade
reside no estagnado presente infinitamente instável.
Como Jacques Lacan, digo que palavra não foi criada,
palavra está, é, e nada mais. Agora já está respondido o
título, para mim, se você ainda tem dúvida, procure um
psiquiatra lacaniano. Minha parte acho que deve estar
talvez na provável hipótese da incerteza do badalado
muro que sustenta o juíz da balança. Márcia querida,
escove os dentes, convoque os três amigos, deixe a
178
garganta de Rose descansar e leia para todos lerem. É o
favor que você faz para seu criador. Criador? Não...
desculpe, para seu amigo que agora exatamente está e
é o seu presente que já está indo fugindo como o rabo
do cachorro que tanto gira.
... encontra-lo, precisamos que você seja livre para
progredir a história dos sonhos de seu pai e eu.
Thace se despediu do padre que não disse o nome e
de seu amigo Carlos e, começou a rumar para leste.
Pensando na força que sua mente possuía, entendeu
como aquela jovem se curou e como conseguiu andar
no caminho exato que leva à seu pai. Thace pensou
que hoje era amanhã e quando descobriu que era
hoje, logo ganhou um dia, redescobriu também que
ele não era resto de uma estrela, pois ele era uma
estrela.
“É preciso você tentar, talvez alguma coisa nova
pode lhe acontecer”, estas eram as palavras que não
deixavam a cabeça de Thace enquanto caminhava, foi
dita pelo padre antes dele viajar. Agora andando por
uma trilha em uma pequena floresta, Thace sente uma
enorme liberdade e alegria, mas de repente surge um
homem detrás duma árvore e lhe fala:
- Existe uma área de lazer abandonada por
humanos, mas habitada por enteais, onde tudo
pode e nada é como pode, o tempo passou, ou a
vida é quem transformou?
Antes de Thace perguntar seu nome, o homem lhe
deu uma carta e saiu correndo pela floresta, sumindo
da visão de Thace, como estava sozinho, Thace pensou
que foi uma alucinação, mas a carta realmente existia.
Em alguns segundos conheceu um homem, que nunca
mais o veria, mas o que sobrou da conversa foi maior
e duradouro, veja o que estava escrito na carta:
179
“O tempo é a mais bela e perigosa invenção dos
enteais, estes que dominam as forças da natureza e
tudo o que pode ser, mas foi minha mente quem criou
os enteais, minhas crenças são amplas como o céu e a
terra, creio em Alá, Jesus, enteais, Deus, Zeus, Buda,
Natureza, Vida... mas defendo apenas a crença do
criador de tudo, a verdadeira raiz, que sou eu, pois
quando nasci o universo também nasceu, a única
coisa que existe é a que eu posso ver, escutar, sentir,
saborear e cheirar agora, o resto e também o agora é
tudo imaginação, ela é minha maior força, jamais
poderia saber que a lua é redonda sem ela. E a
lembrança não é o ontem, mas sim o agora, porque
jamais olharia um quadro de uma pessoa, se não
lembrasse que ela é uma pessoa, e não uma tela. O
único universo que existe é sua mente, pra que você
quer um castelo, se pode ser feliz em uma cabana,
nunca você deve separar a vida, ela é como a água,
não olhe para água do rio dizendo que ela já esteve no
mar, pois ela ainda está, não olhe para nuvem dizendo
que ela já esteve na terra, pois ela ainda está, toda
água é apenas uma única coisa, como a vida, que está
em tudo como você. A vida é eterna, mesmo se todos
as profecias se cumprirem, a vida continuará depois
dos homens, pois sua força reconstruirá novamente
todas as suas formas de vida, em um ciclo eterno, no
qual você fará parte no seu planeta.
Encontre a caverna dos enteais, para poder
conhecê-los, eles te guiarão, olhe a vida.”
Thace ficou surpreso, pois sua vida era como uma
história de livro, surgia desde piratas até enteais.
“Mas afinal, quem são estes enteais?” Continua
sentado por algum tempo tentando responder sua
pergunta, ele estava no topo de um pequeno morro,
que possuía apenas uma árvore, na qual estava
180
encostado e olhando para baixo, Thace avista uma
casa grande como um castelo, na qual estava
escondida no meio da floresta, então resolveu descer
até ela, para conversar com alguém.
Definitivamente Thace estava na história de um
livro, pois encontrou outro sábio, que morava sozinho
na casa, que era muito bonita, construída por
enormes blocos de pedras e com a altura superior da
torre mais alta do que a maior árvore da floresta.
Aproximando-se, Thace pergunta para aquele homem
que parecia mais um bruxo:
- Olá! Você pode me informar onde fica a caverna
dos enteais?
- Primeiramente meu filho, qual é o seu nome?
- Meu nome é Thace.
- Thace, do que? – perguntou com olhos para o céu,
o velho bruxo.
- Thace Pahazy Filibuster.
- Pela ponta do meu cajado! – falou surpreso o bruxo
– como que o filho do meu melhor aprendiz chegou
até aqui?
- Primeiramente meu velho, qual é o seu nome?
- Chame-me Eberth, o travão do guardião.
- Por que trovão do guardião?
- Você saberá no momento certo – Eberth – quando
encontrar o que procura.
- Quer dizer a caverna dos enteais?
- Não, mas o que fez você chegar até aqui, respondeu Eberth apoiando-se em seu cajado –
você deve estar com fome, entre em meu reino e
falarei sabre o que perguntar e onde deve ir.
Thace segue Eberth para dentro da casa, a porta de
entrada é enorme e pesada, mas ele abre sem toca-la,
fazendo Thace ficar espantado. Dentro do castelo
existem muitas estátuas grudadas nas paredes, com
seus nomes gravados em latim em baixo, as janelas
181
são estreitas e altas, entrando apenas raios de luz
para aliviar a escuridão do reino de Eberth.
A casa possui vários cômodos, mas apenas mostra
um para Thace, ele puxa um vaso em cima de uma
mesa, e uma porta abre para dentro de uma enorme
biblioteca, todas as paredes são cobertas de livros e
no centro da biblioteca existe uma mesa no formato
do ambiente. A porta se fecha, trancando Thace e
Eberth, em um mundo de conhecimento, capaz de
criar outro planeta. Eberth ergue o cajado, apontando
um livro que pede para Thace pegar, então eles
sentam-se na mesa central cada um em uma
extremidade da mesa.
Thace observa atentamente por um longo tempo,
aquele velho folheando um antigo manuscrito, que
não conseguiu ver o nome, Eberth tem uma grande
paciência, que chega a cansar Thace, o silêncio é
interrompido pelas páginas que Eberth folheia
ritmicamente após uma leitura complexa do livro.
Eberth fala para Thace:
- Eu adoro está história, mas nunca consegui saber
quem foi Napoleão Bonaparte.
- Eu já ouvi falar dele em um sonho que meu pai
conquistou uma ilha, - disse Thace – mas qual é o
nome desse livro?
- Ele chama-se “Vida?”, é muito bonito.
- Mas, eu pensei que você estava lendo sobre os
enteais.
- Sim, eu estava lembrando o que eu lhe falei no
livro.
- Você me falou no livro?
- Esqueça você saberá no momento certo –
respondeu Eberth – agora vou falar o que você
esqueceu, mas antes onde ouviu falar deles?
- Nesta carta, que um homem me deu.
Eberth lê a carta com cuidado e começa a falar:
182
-
Enteais são como a mitologia greco-romana, com
deuses para cada força da natureza, mas os enteais
vão além, são uma sociedade que construíram a
Terra, são muito evoluídos com forças que seres
humanos jamais poderiam imaginar, os primeiros
enteais viveram aqui apenas consertando a
natureza, para que ficasse perfeita aos espíritos
hospedes dos seres humanos, eles eram muito
dedicados em suas tarefas. No começo as aves
eram ameaçadas por lagartos, pois ainda não
voavam, também não conseguiam comer os frutos
das árvores, então os enteais responsáveis por está
tarefa, trataram cada ave, dando-lhes os frutos que
retiravam das árvores em quanto outros ensinavam
uma por uma a voarem e eliminaram os primeiros
lagartos, pois estes possuíam um chifre muito
venenoso, que era algo perigoso para o início da
vida na Terra. Isto é apenas um dos vários
trabalhos dos enteais, seus corpos eram formados
por matéria fina, invisível para todos os outros
seres, existiam enteais com corpos fortes e
parecidos com cavalos, que colocavam as pedras
em locais impossíveis unicamente para mexer com
a imaginação dos futuros hospedes. Havia
construtores dos mares, rios e montanhas. A Terra
era apenas uma pequena criação destes seres, o
universo era dividido em sete infinitos universos e
a Terra era apenas uma simples poeira colorida. Os
enteais possuíam maiores qualidades e as únicas
verdades, que foram transmitidas para os espíritos
humanos, são elas: o amor, a alegria, vontade e
imaginação, esta que foi a responsável pela criação
das outras qualidades que os seres humanos
criaram, são elas: o ódio, tristeza, desanimo e
razão e a imaginação também criou os enteais.
Esta parte que ele falou da área de lazer, trata-se
da caverna, que fica na margem de um afluente do
183
principal rio do sul da França. Nas paredes da
caverna existem imagens dos enteais, que estão
aumentando a caverna, mas eles não são possíveis
de ser vistos, pois são criaturas de matéria fina,
você deve senti-los pelo sexto sentido, que
governará os outros cinco, este sentido é chamado
de imaginação, mas cuidado com ele. Antes que me
pergunte como sei que o homem falou sobre a área
de lazer, eu vou responder... tudo o que aconteceu
ou vai acontecer com você já está escrito no livro
“Vida?”, mas jamais você deve lê-lo.
Eberth se levanta e olha para Thace, seus olhos
brilham como uma estrela, seu cajado possui uma
grande pedra azul, que começa a refletir a luz dos
olhos do bruxo, o livro “Vida?” começa a se levantar
da mesa e é colocado novamente em seu lugar na
prateleira. Thace se levanta rapidamente com medo e
fascinado pela magia de Eberth, jamais em sua vida
Thace viu tamanha facilidade em mover objetos com a
mente, nem mesmo seu pai Halford havia lhe
mostrado algo parecido, pois o máximo que ele fazia
era quebrar vidros e jogar peixes para dentro do navio
de Thunder Waves, o andarilho nunca conseguiu fazer
uma verdadeira magia, o máximo que fazia era
simples truques que Halford lhe ensinou, então Thace
fala:
- Você pode me ensinar a fazer isto?
- Não, eu não posso ensinar o que você já sabe –
disse Eberth, com um olhar para cima – mas eu
posso fazer você lembrar como se faz.
- Por favor, mostre-me o que a vida nos ensinou.
- Pois não meu amigo, você vai ser guiado pela maior
força que o homem pode possuir, mas esta força
não é poder, pois este limita e degrada o homem, e
a força liberta e alegra a vida dos sábios, comentou Eberth, sentando-se novamente na
cadeira e olhando para Thace concluiu – possuímos
184
-
-
um universo, mas somente os sábios não o dividem
em dois, os homens limitam-se entre dois
universos, o primeiro universo é sua vida mortal e
material e o segundo universo é sua vida eterna e
espiritual, você vive nos dois, mas a maioria não
sabe usa-los juntos, para melhorar o universo,
quando você sonha está vivendo o segundo
universo e despreza totalmente o outro, este
universo é também conhecido como extraordinário,
pois para vive-lo você não precisa do corpo
material, apenas de sua alma. Você pode senti-lo e
fazer tudo o que pode, mas não faz no primeiro
universo, este universo não usa tempo, pois alguns
minutos vivendo nele, representam toda a noite
dormindo, você não sonha o tempo todo quando
está no sono, mas é tão fantástico, que pensa que
sonhou toda noite.
Dois universos?
Sim, - continuou Eberth – o primeiro universo é
toda esta vida material que você leva e despreza o
segundo universo, porque pensa que este é o real,
mas o real não existe, é tudo sonho... sua vida é um
sonho, por isso se você quiser ser um grande
mago, bruxo ou qualquer outra coisa, você precisa
saber sonhar com as duas partes da mente, o
inconsciente, que é o universo eterno ou espiritual
e o consciente que é o material e mortal,
dominando o segundo universo, para melhorar o
primeiro, você pode fazer qualquer coisa, até
mesmo voar e, se você dominar o primeiro para
melhorar o segundo, nunca mais haverá limites
entre os dois, e você será um universo livre de
qualquer obstáculo, poderá fazer o que quiser
quando e onde quiser, pois sonho que se sonha
junto é realidade.
E o segundo?
185
-
-
-
Você deve ser amigo do segundo universo, complementa Eberth – quando vive no primeiro não
pode despreza-lo e dizer que é apenas devaneio de
imagens captadas durante sua vida de fantasias,
também deve ser amigo do primeiro universo
quando está sonhando, pois quando você sonha,
você está em outro mundo e nunca lembrará que
está dormindo, é por isso que às vezes urinamos na
cama, pois sonhamos que estamos num lugar
apropriado. Agora o sonho é vida e realidade, mas
somente se você conseguir sonhar junto, tão
próximo que se forma apenas um, pois nada é
dividido, você é apenas uma única força, fazendo
isto você não saberá se está no primeiro ou
segundo universo, pois será tudo igual, e tudo
possível, eis o segredo do sobrenatural, que na
verdade é tão natural para os sábios, por favor, não
pergunte como unificar os universos, pois o brilho
do escuro, não faz diferença nenhuma em sua
pergunta, o dia amanhece, a noite sobe e tudo fica
na escuta, saber que você não está na escuta leva a
vida inteira a sempre perguntas, você somente
conseguirá, não querendo conseguir, basta você
tentar, escutar, sentir e observar que a magia lhe
dará uma idéia muito nova.
Mas Eberth, - falou Thace – ás vezes eu tenho um
grande medo de mexer no desconhecido e vou pela
opinião dos outros, o que me faz ficar sempre com
medo do que não existe.
Escute bem o que lhe digo Thace – falou Eberth
olhando profundamente nos olhos do viajante – o
mal não existe nunca, mas você pode criar a única
coisa que pode existir de ruim, que é o medo do
mal, ter o controle do universo é fundamental para
uma vida intelectual saudável, certa fez um
aprendiz me falou que forças estranhas lhe
incomodavam sua paz, este jovem tinha um grande
186
conhecimento da mente, desarmando todos os
meus conselhos de cura, então fui obrigado a lhe
dizer que não podia fazer nada, pois a única pessoa
que pode receber minha ajuda, não quer que eu
tenha sucesso e esta pessoa era ele, eu não iria
perder nada e lhe dei meus pêsames por sua morte
triste. No outro dia ele acordou para seu universo,
despertou novamente a vida que lhe proporcionava
força infinita e jogou fora os bonecos que tinha
criado, colocando em seus lugares, lindas
borboletas coloridas.
Thace definitivamente perdeu o medo do mal e
agradeceu Eberth por suas sabias palavras e,
continuou sua viagem rumo a caverna dos enteais,
onde pode encontrar uma idéia nova, que a magia da
vida lhe trará.
-
Acho que o cara está entrando em algo grande. –
disse Márcia.
- Grande? – perguntou alguém, pode ser Michael.
- Sim, - respondeu Márcia – a loucura da união das
mentes conscientes e subconscientes.
- Isso é coisa de bêbado. – disse Marcos.
- Pode, - concluiu Márcia – mas é algo já utilizado por
talvez índios com ervas alucinógenas.
Sem meios unívocos não se constrói viagens.
Bastante regular essa colocação. Leucipo agora está
mandando bem. Essa idéia é pura como deve ser uma
idéia. Mas mantenhamo-nos afastados. Essa falta do
que falar é repercutida na estrutura final. Não deve-se
parar. O instrumento da construção, não é a construção
na percepção, mas é na razão. Pode até querer
continuar essa ideologia panteísta, mas deverá tomar
muito cuidado caro Leucipo. Tudo é a massa infinita,
mas as feridas nela são a vida. Sua questão é a vida ou
a verdade? É, você pode optar por ambas, mas deve-se
lembrar que cada colocação que fizer nesse livro é
187
eterna. Pense muito. Pensa na paz. A luz que dispara
sua metralhadora lógica, pode falhar e derrubar um
treco aliado. Cuidado. Cuidado. É só isso que afirmo.
Cuidado Leucipo. Cuidado meninos que lêem (Márcia,
Rose, Michael e Marcos). Cuidado leitor geral. Cuidado
escritor geral. Sou sua forma, mas sou independente de
suas estaturas. Agora encerra essa pescada. Continue
lendo minha linda Márcia.
Como Thace foi um homem de sorte! Imagine você
poder viajar o mundo sem pagar nada e, além de tudo
aprender muito. Jesus Seixas sabe realmente contar
histórias, que fascinam minha mente. Em um domingo
eu estava andando pela cidade e na volta resolvi
andar em cima dos trilhos de trem, para lembrar do
sonho do primeiro contato com Jesus Seixas,
pensando aonde chegaria ou quanto já havia andado
não consegui seguir e perdi o equilíbrio, então resolvi
recomeçar a andar, mas passei a pensar apenas no
passo que iria dar no exato momento, só desci dos
trilhos quando quis, isto me mostrou uma prova
material do bem que o pensamento no presente
proporciona.
Quando fui dormir no mesmo dia, Jesus Seixas
mostrou-me a história que vou descrever agora nas
páginas seguintes. Trata da procura que Thace fez
para encontrar a caverna dos enteais.
Thace continuava sua viagem pela floresta, a mesma
que escondia o pequeno castelo de Eberth, seu
caminhar era constante e a paisagem quase as
mesmas, mas de repente Thace encontra uma pedra
mais alta que ele, seria uma pedra comum como as
outras, se não tivesse um símbolo gravado nela, que
indicava um caminho para direita, onde havia outras
188
pedras marcadas que conduziram Thace a margem de
um rio.
O rio tinha uma água verde azulada e não era
profundo, quando começou a atravessar, Thace repara
a outra margem e encontra um visual, que é difícil de
mostrar somente por palavras, foi totalmente incrível
admirar a pequena, mas porém forte vida que
deslumbrava as flores, que se encontravam separadas
em um grande deserto de terra limpa, não consegui
entender como apenas algumas flores nasceram em
uma grande quantidade de nutrientes de vida, mas o
que deixou Thace perplexo, foi umas inexplicáveis
montanhas de terras invisíveis ou transparentes, logo
pensou que elas eram formadas por matéria fina,
como os enteais. Eram lindas as borboletas das cores
das flores. Thace após cruzar o rio e chegar perto das
primeiras flores, pensou que estava no mundo do
enteais e começou a virar cambalhotas como uma
criança e, sentiu como nunca a força que a vida
esconde dos tristes, pois apenas os alegres podem
viver na pura imaginação da realidade.
Depois desta parte Jesus Seixas começou a falar
novamente as idéias do caminho para caverna e, falou
de uma mulher bonita, que veio ao encontro de Thace
quando ele seguiu para as montanhas. Ela era de uma
beleza única, vestia-se com roupas brancas e leves,
tocando um instrumento musical, parecido com uma
harpa, que fez Thace dormir e acordar novamente no
primeiro universo, agora Thace teve o primeiro
contato com a união dos universos, pois acordou no
local onde encontrou a grande pedra que já não havia
mais símbolo. Até agora tudo bem, o problema é que
Thace encontrou um papel em cima dele, que
provavelmente alguém havia colocado e, a letra do
papel era igual a carta dos enteais, logo Thace
descobriu quem havia escrito, veja as coisas incríveis
e universais que o papel fornecia, as idéias tiveram
189
uma pequena adaptação nas palavras, para melhor
você entender, pois foram escritas no dia 19/07/1739
e, havia muita coisa que Luiz não conseguia entender
e precisamos mudar para expressões do presente
momento.
Conclusão de Eberth.
Pensei em coisas que nunca ninguém pensou/ passei
por lugares que você nunca imaginou/ olhei você
como jamais você olhou/ falei palavras que você nunca
escutou/ formei idéias que pessoas já tiveram/ criei
medo de coisas que você nunca criou/ escutei a
metafísica para ver que você falhou/ senti a filosofia
doer a mente como você nunca pensou/ observei a
ciência explicar tudo que você criou/ senti o sistema
me atacar como você mandou/ cantei canções que
você cheirou/ soube o que Sócrates falou/ venci a
lógica que você criou/ usei a razão apenas para o
coração/ nadei no mar que a fonte criou/ formulei
teorias como você mandou/ tentei dançar barulhos
que você escutou/ convenci a rotina a trocar a camisa/
transformei suas montanhas em pontos de vistas/
saboreei o mel que suas abelhas desprezaram/ pulei o
buraco que você passou/ aceitei a vida como você me
mandou/ criei coragem na sua morte/ revirei o
universo atrás de respostas/ andei no disco voador
que você pilotou/ escrevi os livros no papel que você
riscou/ soube fazer as idéias que você riscou/ soube
fazer as idéias que você já fez/ liguei as antenas para
captar o que vai com você/ criei buracos negros para
de você me esconder/ pratiquei magia apenas para lhe
impressionar/ busquei toda a riqueza para lhe pagar/
defendi as respostas que você quis dar/ inverti a
rotação do planeta somente para lhe castigar/ fui
superior em tudo no universo para você não se
preocupar/ pedi para os pingüins que você queria no
190
deserto andar/ fiz o sol nascer para tudo você ver/
inventei a história para te convencer/ formulei o
futuro para te guiar/ mas esqueci de dar o presente
para você me amar/ quebrei o espelho para tentar lhe
matar/ depois deste erro soube que você era eu.
No verso do papel estava escrito, as seguintes
idéias:
“Apenas a presença do oposto de algo, é capaz de
faze-lo se mexer, se você quer a vida, tenha em mente
a possibilidade da morte”.
“Certo dia alguém me falou que eu não poderia ser o
que sou”.
“A vida me ensinou a ser simples como o sol”.
“A chuva prende os vaidosos e liberta os poetas”.
“A fome que sinto não prejudica a vida que levo, o
sono é pão e o pão é um sonho recheado com doce,
que é a vaidade da língua e, esta é a ferramenta da
vida”.
“Sábios pensam com idéias, escritores pensam com
palavras, poetas pensam com versos e eu penso com
eles”.
“Ao meu lado a promessa de alegria e dentro a certeza
do engano, quando poderei ter a certeza ao meu lado
e a promessa dentro?”.
“Neste momento escrevo neste papel o que agora
sinto no peito, amanhã vejo esta mão (que liberta o
coração) parada para sempre, mas o que senti estará
para sempre na suas idéias”.
191
Depois da leitura Thace pensou em voltar ver
Eberth, mas preferiu continuar a viagem, pois não
saberia o que fazer se encontrasse o amigo morto,
melhor ter dúvida e enxergar a vida, do que ter
certeza e aumentar a chance da tristeza. Thace
levantou e colocou o papel no bolso interno da calça,
onde havia ainda algumas moedas e resolveu seguir a
trilha das pedras que sonhou, para ter uma idéia da
força da união do universo. Enquanto andava Thace
notava a diferença da trilha, por enquanto apenas os
símbolos das pedras era a diferença, nenhuma pedra
estava num lugar diferente do que no sonho.
Finalmente chega ao rio, onde nota que a outra
margem já não possuía o deserto de terra e as
montanhas transparentes, tudo era igual a outra
margem, mas mesmo assim decidiu atravessá-lo,
desta vez ele molhou a roupa, coisa que não
aconteceu no segundo universo.
Chegando na outra margem, Thace observa de
longe uma ponte de pedra, onde poderia ter
atravessado, ela era formada naturalmente pelo rio,
que furou a rocha. Isto mostra a força de vontade da
vida para construir maravilhas, que muitos homens
desprezam. Foi pensando nesta idéia que Thace criou
um sentimento de valor individual, pois a sociedade e
a ciência coletiva, podem chamar esta ponte de
apenas uma simples erosão provocada em calcário
pela ação da água do rio e chuva, mas para Thace isto
não é verdade, pois ele consegue enxergar uma beleza
construída por amor da vida, que tem uma importante
utilidade, o de dar a chance para seres que não
podem nadar conhecerem a outra margem.
Relembrando a conduta 3, de Halford. A verdade e o
valor de uma idéia, não é o que a massa pensa sobre
ela, mas sim o que você pensa, se você pensa que uma
formiga é um Deus, isto é verdade e você passa a
192
valorizar ela muito mais do que pensar como a
sociedade pensa da formiga. Fazer isto com todas as
idéias é ser realmente o arquiteto do universo, pois
você formará o valor pago somente com amor, sobre
tudo, e com isso poderá viver em qualquer lugar e
condição, sem se preocupar com falsas conclusões
sobre ele.
A idéia que a sociedade tem sobre a caneta, jamais
será a mesma do que a de um escritor ou poeta, pois
para eles ela é o instrumento que o homem possui
para poder eternizar seus pensamentos e emoções,
que sentem no coração e mente. O que é de agrado
para o coletivo, não é de agrado para o indivíduo.
-
Legal. – disse alguém com pouca instância.
Esse foi o único comentário nesse tempo para
respirar. Todos estavam como absorvendo uma idéia
forte e surpreendente, pois provem de um escritor que
aparentava ignorância total. Estou reconhecendo seu
potencial caro Leucipo. Apesar de mal escrever, sabe
bem pensar. E, escritor que é escritor, não escreve bem,
mas pensa bem, já falei isso antes. Esse instinto verbal
é recompensa de esforço bruto. Não pense que sou um
louco com gula livresca. Tal sujeito não mede as
conseqüências. Só lê coisas inteligentes perto de
gentes. É pecado ler em público livros em alta. O que a
massa lê, não o faz diferente. Julga que intelectual lê
livros de única edição. Livros que poucos gostam. Isso é
que faz sua modelagem social. Ele deve se manter o
máximo possível lendo. De preferência na presença dos
outros. É esse ato de ler, é que vai transforma-lo em um
ser respeitável intelectualmente. Idéias como: “você
gosta mesmo de ler” ou “esse cara é crânio, lê um livro
por dia”, levam o louco com gula livresca para um
labirinto sem saída. Ele enxerga possibilidades nisso.
193
Começa ler o que não entende só para dizer que pode
ler e entender qualquer coisa. Escreve como eu
escrevo, só para disfarçar o que pensa. Quer escrever
difícil, para que ninguém entenda. Joga palavras
capturadas inconscientemente nas leituras maníacas
em um papel. Diz que ali encontra-se segredos
incompreensíveis, e que ele jamais pode ajudar, pois
ele próprio sabe que não sabe o que escreveu. Isso não
cabe a poetas. Os poetas são exceção. Eles não jogam
as palavras, mas as colocam cuidadosamente com todo
o carinho. Eles amam as palavras. Enxergam nelas sua
razão de ser. Não querem mostrar conhecimento,
querem cria-lo. Mas os loucos da gula livresca não. Eles
são seres parasitas. Lêem tudo o que encontram. Lêem
James Joyce só para se acharem os escritores.
Capturam palavras do Ulysses e jogam com ar de
superioridade. E dizem: “leia esse livro que eu fiz”. As
pessoas que estão acostumadas com o: “me dá seis
pão”. Passam a ler: “dei-me seis pães integrais no ato,
por favor”. Eles lêem e dizem: “você é inteligente, esse
livro é para universitários, parabéns filho, achei muito
bonito os dizeres”. O louco coloca o livro de baixo do
braço, amontoa com mais quatro livros que acaba de
começar a ler, levanta os óculos de descanso, que usa
só quando quer se achar o intelectual e começa a andar
estranhamente, como se estivesse profundamente
pensando, só para chamar a atenção da pessoa que
passou a imagem plagiada de um Paulo Leminski. Eu
não sou um Leminski, nem sou um louco com gula
livresca. Eu leio mais do que esse sujeito, mas com uma
diferença, assim como o Leminski eu sei o que coloco
no papel, presto atenção no que leio. E, não consigo ler
nada com pessoas me olhando. Essa bronca foi direta
para um sujeito que aqui reside. Feriu-me dizendo que
não sei o que escrevo. Posso explicar cada fonema que
grafo. E, todos que lerem como um verdadeiro leitor,
sem gula livresca também entenderá. Ele falou isso só
194
porque está no comando, mas eu ainda vou me vingar.
Cuidado Homem Palvraiiiiii tudo bem pare, eu não serei
mais revoltado. Leia Márcia, leia antes do fim.
Após caminhar o dia todo Thace colhe algumas
frutas silvestres e coleta raízes para um jantar
solitário relembrando a África. Encontra uma pequena
cavidade na rocha e dorme tranqüilo em um lindo
sonho, que contou para ele exatamente o local da
entrada na caverna dos enteais. Sem perder tempo
Thace acorda junto com o sol e, vai a procura da
caverna seguindo a orientação de seu segundo
universo, logo nota que está progredindo na
unificação do universo, pois não despreza mais sua
outra vida. Seguiu o trajeto do sonho e claramente
enxergou seu universo sem limites, acabou de
encontrar a entrada da caverna detrás da pedra,
exatamente como viu no sonho.
Thace está prestativo, escuta seus passos e o
barulho que cantam. Começa a entrar em um lugar
desconhecido por ele, mas habitado por velhos
amigos. O ambiente começa a ficar escuro, mas logo
Thace observa que não está sozinho, havia várias
fogueiras acessas clareando as lindas pinturas, logo
encontra uma espécie de mamute desenhado na
parede e, alguns ossos como o de um crânio de urso
junto com a primeira fogueira. A caverna começa a
ficar misteriosa, e Thace pensa em voltar, mas logo
lembra de sua mãe e, segue para próxima fogueira. As
pinturas carregam uma forte impressão mística,
encontra desenhos de leopardos e ursos, que
provavelmente não representam os enteais, mas sim
suas criaturas.
195
Somente após encontrar o desenho duma coruja,
Thace lembra da história de Eberth, sobre os enteais,
que levavam as pedras para lugares impossíveis, pois
avistou vários cavalos e bisões representando os
fortes enteais, mas a maior surpresa foi na última
câmara, onde sua entrada era estreita e clareada pela
fogueira que lá dentro estava a queimar, trazendo a
importância
da
coragem
de
Thace,
pois
provavelmente era ali que estavam os enteais.
Antes de seguir thace senta ao lado duma fogueira e
começa a observar a grande escuridão, que é capaz
de esconder o segredo da luz, como nenhum outro
poder pode. Aquela força que tudo faz existir perde,
mas não deixa ser vencida pelas trevas, as paredes
brilham agradecendo a presença da luz, as pinturas
resistem ao escuro, mas as telas se entregam
descobrindo suas marcas, que significam a presença
da mais bela alma humana, retratando e eternizando a
vida de suas companhias, que aparentam ter mais
importância do que suas próprias vidas. O homem que
consegue entender o tempo e o espaço é feliz, mas
aquele que consegue despreza-los é livre e eterno.
Logo Thace percebe um barulho vindo da última
câmara e, lentamente levanta para verificar, que ser
vivo interrompeu o silêncio do nada, com os olhos
fixos na abertura da câmara e uma tocha na mão, se
depara com uma rocha pontuda saída da terra, mas na
verdade foi criada pelo céu, pequenas gotas
carregavam mais algumas poucas partículas, para
aumentar a obra de arte e, no teto havia outras
pontudas, que com o passar do tempo iriam se unir
com as da terra e formar uma coluna de sustentação,
para garantir que outras rochas pontudas possam
também se unirem.
Sem perceber Thace acaba entrando no segundo
universo e logo começa a notar que aquela rocha
pontuda é um ser vivo, como um pequeno gnomo, com
196
o chapéu pontudo e orelhas grandes, com uma roupa
brilhante, então Thace pergunta para a pequena
imaginação:
- Qual é o seu nome?
- Meu nome é Thace. – respondeu o gnomo.
- Mas este é o meu nome. – retrucou indignado
Thace.
- Sim, você é eu, - falou a imaginação – apenas
pessoas que acreditam podem ver fantasias, existe
seres que desprezam qualquer possibilidade de
poder conversar com gnomos, enteais ou anjos,
porque não acreditam ou pensam que isto não os
leva a nada, mas você acredita, por isso está me
escutando e, vai poder saber o que mais lhe
preocupa na vida, pois sei tudo de você, porque
como já disse sou você, as pessoas que não
acreditam não perdem nada, basta olharem no
espelho, mas isto não tem muita graça.
- Por favor, não pense que sou maluco, dona rocha, disse Thace buscando uma solução para essa
loucura – é que você parece com um gnomo e, além
do mais diz que pé igual a mim... também falou que
sabe o que faz eu pensar... não olhe para mim, sua
rocha, como se eu estivesse louco... eu sei que você
é rocha, por isso pare de brincar e torne-se
novamente o que lhe mandei ser sempre, - Thace
estava fora de si, não acreditava no que acreditava
– não me faça quebrar está tocha em seu chapéu...
quer dizer... é... rocha, pedra você sabe.
- Acalme-se isto é normal, jamais você poderia saber
que isto existia fora das lendas, - falou o gnomo –
deixe-me contar suas preocupações.
- Tudo bem, - falou mais calmo Thace – eu estou
sonhando e você é meu sonho, quero que me conte
o que quer falar, - os dois começaram a se olhar, e
aquela pedra começou a andar, provando que era
um ser vivo, surpreso Thace senta ao lado da
197
fogueira – por favor, comece logo antes que o
sonho acabe.
- Realmente você não aprendeu corretamente o que
Eberth falou, sonhos não acabam e você aprenderá
conviver com o universo unificado, - em cima da
fogueira o gnomo continuou a falar sobre ele –
saiba que eu sou você.
Após alguns instantes de silêncio, Thace começa a
perceber o barulho do fogo, que está transformando o
corpo duma árvore, e o respirar do gnomo levitando
sobre o fogo; então a idéia antiga de rocha começa a
falar, prendendo totalmente a atenção daquele homem
de cabelos crespos e pele morena com um olhar
místico que a vida lhe ensinou:
- Sempre me pego pensando em mim; coisas
estranhas batem na porta de minha atenção, olho o
mundo como nunca notei; estudei as religiões e
tive medo do mal, mas compreendi que isto é
cultural, existem grupos que apenas veneram os
deuses da natureza e, outros que criam criaturas
do mal, com chifres e tridentes, mas se eles
existissem, por que não afeta todas as pessoas do
planeta? O mal é o medo do que não existe, logo
estas concepções não me fizeram crer que elas
existem, então comecei a pensar que tudo saia de
minha mente, desde diabos a deuses, todas as
culturas e também a idéia de sociedade e, foi esta
que me afetou com seu medo cultural, não
consegui fugir dela, pois fazia parte daquela
cultura; então novamente comecei a crer na
religião local e nas suas fantasias e rituais, logo
percebi que existe uma espécie de metamorfose
psíquica, quando descobri que o meio social me
influenciava, pois se sigo corretamente sou normal,
mas se levo concepções amplas de tudo sou
desprezado e condenado, mas sempre todos que
correm atrás da verdade acabam dizendo que tudo
198
não passa de invenção. Ótimo! Agora cheguei na
verdade absoluta, sou a resposta exata para todas
as perguntas, mas agora me pergunto, qual é a
graça de saber isso? Deixo de viver emoções e
medos
que
rondam
as
mentes
normais,
simplesmente porque descobri que sou a fonte de
tudo, então logo começo novamente a brincar com
as verdades. Ajoelho-me em frente do altar e
contemplo um deus qualquer que acabo de criar,
para poder parar de sofrer com tamanha
responsabilidade, pois cada pergunta sem objetivo,
que não me afeta no presente momento, digo que
não sei, e mando para deus resolver, somente
assim poderei viver, pois a verdade é a morte que
lhe responde, e a imaginação é a vida, faça sua
escolha, tentei olhar o mundo como ele me foi
ensinado, percebi que não era verdade, as estrelas
brilham como eu e, elas não se preocupam em ver
o mundo, mas em faze-lo brilhar, para que os
outras estrelas possam ver, porém todas fazem
igual, logo o mundo não é visto por nenhuma, mas
é iluminado por todos, por simples amor com a
outra, assim sou eu, mostro para os outros o que
não vejo e, assim é os outros mostram para mim o
que não podem ver, há muita luz, sem nenhuma
visão, existe uma vida sem nenhuma razão, mas
esta razão não compromete um sentido da vida,
precisamos sempre iluminar, para que alguém que
esteja sem luz tenha a visão do mundo.
Thace fica impressionado com a precisão do gnomo,
justamente é isto que ele pensa da vida, o único
problema é que nunca conseguiu explicar para si
mesmo e, agora notou o valor e a importância de
poder conversar com uma imaginação. De repente
thace escuta um forte barulho e, imediatamente o
gnomo volta a ser rocha, então com medo Thace pega
uma tocha da fogueira e vai ao encontro do
199
desconhecido, jamais Thace poderia ter medo de
encarar o que não conhecia, pois sempre lembra de
sua mãe e começa a cantar uma canção. Ao sair da
câmara final, Thace observa que a fogueira que lhe
esquentou antes de ir para câmara, estava apagada,
mas mesmo assim ele continuou. E, logo enxergou na
parede uma grande sombra, parecia dum humano
corcunda com um tacape na mão. Por algum momento
Thace ficou em dúvida se deveria ou não sair detrás
da parede, e ver o que era aquele ser, novamente
pensou na mãe e saiu da proteção da parede cantando
sem nenhuma razão, logo olhou um ser muito
pequeno, (incrivelmente menor que o Condor
Amarelo) que estava junto da fogueira formando uma
grande sombra, então Thace falou:
- Quem é você, meu pequeno?
- Pequeno? – disse o anão dando uma grande risada
– eu sou aquilo que está atrás de você.
Thace rapidamente olha para trás e leva um grande
susto, ao observar aquela enorme sombra, que se
transforma em um monstro, duas vezes maior do que
ele, o monstro ergue o tacape e na hora que iria
acertar Thace, ele grita tão alto que o monstro e o
anão sumiram e, logo percebeu que estava muito
quente em suas costas, pois ele havia acordado e saiu
do segundo universo caindo na fogueira, onde estava
sentado observando a última câmara. Rapidamente
Thace se levanta e encosta suas costas na parede
úmida da caverna apagando o fogo, que lhe havia
consumido toda sua mochila e com ela a bíblia, o
alcorão as cartas de Eberth e alguma coisa do livro de
Jean-Jacques, que protegia as condutas e a carta de
Helena. Muito triste Thace sai da caverna, sem ao
menos ver se realmente existia a rocha do gnomo e,
também não se preocupou em passar pela câmara
onde poderia estar o anão e o monstro, cabisbaixo se
recorda das lindas histórias da bíblia e alcorão,
200
também tenta lembrar da conclusão que Eberth teve
da vida.
Thace cuidava de cada livro e carta com muito amor,
pois sabia do valor que possuía, quantas vidas
morreram queimadas naquelas páginas, isto mexia
profundamente com ele; o que restava era o
manuscrito de Jean-Jacques e o guia de idéias do seu
pai Halford e, as últimas palavras de sua mãe Helena,
com carinho Thace senta-se em uma pedra, já fora da
caverna e, limpa com sua blusa os restos de idéias que
marcavam o livro do amigo sul-africano, relendo
algumas histórias daquela vida livre, mas no fundo
Thace sabia que faltava pouco para conseguir unificar
o universo e parar de viver com lembranças.
O sol estava forte e Thace continuou ali sentado e
pensando, agora no que acorreu na caverna. Ele olhou
uma formiga que caminhava aos seus pés e, fez ela
subir em sua mão, nunca entendi o que ocorreu com
Thace, mas acho que foi o sol escaldante, que levou a
ele falar com a formiga, como se estivesse em uma
conferência interestrelar:
- Boa tarde minha amiga, vou lhes dizer algo muito
pessoal, peço que não espalhe pela sociedade, pois
poderia causar problemas muito complexos, que
você jamais poderia entender. É uma pena, que
grandes homens pensadores que existiram, não
entendem como funciona a mente, eles pensam que
existe o mundo interior e exterior, mas veja bem
amiguinha, nada está dentro de nada, você está
andando dentro de sua mente, todo o planeta é sua
mente... – dizia ele apontando seu dedo para a
minúscula cabeça da formiga – seu corpo está
dentro de sua mente; até mesmo seu cérebro está
na sua mente, não me leve a mal amiga, mas
também sua mente está na sua mente, pensar que
minha mão ou todas estas árvores estão fora de
você, é ser totalmente irracional, o universo inteiro
201
é sua mente, viver no exterior é viver no interior, e
viver no interior é viver no exterior, a coisa é uma
só, minha mente não está somente nesta cabeça
oca, mas está em tudo, e ao mesmo tempo em
nada; você entendeu bem minha amiga?
A formiga não agüentou por muito tempo o discurso
de Thace e, num ato suicida se jogou de sua mão,
deixando sozinho o nosso amigo. Mas Thace não se
entrega, se levanta meio tonto e se aproxima duma
árvore e novamente começa a falar:
- Olá minha verde amiga, gostaria de comentar o
que aprendi na vida, você não se importa? –
sentou-se no pé da árvore e encostou sua cabeça
no tronco – tudo o que você pensa sobre a vida, é
impossível manter na mente, precisa virar um ato
na mente, mas é aí que mora o perigo, logo você se
vestirá como acha correto, dará valor em coisas
que não pode dar e enfrentará os preconceitos da
sociedade em que vive, da família e irmãos; então
pensará que terá que parar de pensar, mas isso é
algo muito mais perigoso, pois pode tirar a vontade
da única coisa que não possuímos e que estamos
atrás, que é a liberdade, pois o amor, alegria e a
vida você já possui, basta ir ao espelho, - olhando
para
cima
Thace
continua
seu
devaneio
inexplicável – a superação não nasce e não existe, é
puro devaneio pensar que existe algo superior ao
seu, você sabe bem amiga, que o conhecimento é
aumentado com o desconhecido... o coração é novo
sol... se alguma vez existiu lógica e razão em sua
vida, é porque você aprendeu a ser uma estrela, o
universo está em expansão, minha mente é infinita
como o caminho que ela segue, saber que tudo e
nada não existem, é saber ser deus, andar movido
por amor e vontade, é ser eterno, mas caminhar se
perguntando onde chegará é ser infeliz e mortal,
bem que você faz amiga, ficar parada para não
202
sofrer, pois a vida não tem fim e nem começo, você
não perde nada, ela é como perguntas e respostas,
a perfeição é morte, mas o erro é virtude, - Thace
faz carinho na árvore e fala antes de dormir ali
mesmo – veja minha amiga, está vindo a noite, ela
me lembra a morte que é um sono, e a vida um
sonho, nos dois universos isto ocorre, a morte não
possui nada de um sonho para outro, pode passar
bilhões de anos e você nem notará, unificar o
universo é contemplar em apenas um sonho todas
as fantasias impossíveis... – resmungando termina –
sendo este imortal.
Após estas longas conversas, (provavelmente efeito
da unificação do universo, que Thace agora precisará
controlar) ele dorme na sombra lunar, de sua amiga
verde.
Eu estou longe e ao mesmo tempo perto, encontrome neste exato momento no sul da França, na
madrugada do dia 22/07/1739, olhando de minha
estrela, aquele viajante perdido e deitado em um
profundo sono, aos cuidados da árvore que escutou o
seu discurso com tamanha paciência. Com o universo
unificado, Thace pode em seu sonho viajar para seu
futuro e conhecer o já famoso e desconhecido
Napoleão Bonaparte; eu que estou em tudo, não perdi
esta fabulosa conversa.
Em uma ilha conhecida hoje como Santa Helena,
estava Thace vestido com a túnica e o chapéu do
Eberth, e na sua frente havia um homem com um
olhar fixo para o mar, lembrando o passado,
aproximou-se Thace e lhe falou:
- O que faz um homem viver aqui exilado do mundo?
- Você sabe quem sou?
- Não, - disse Thace – mas gostaria?
203
-
-
-
-
-
Meu nome é Napoleão Bonaparte, o homem que
mudou a história.
Que história é essa que mudou?
Você mora na lua? – Thace lembra da Concha do
Mar, quando escuta isto que Napoleão falou – é
impossível alguém na Terra, não conhecer a
revolução francesa.
Realmente amigo não sei o que é ou foi esta tal de
revolução, - falou Thace olhando uma gaivota que
voava no céu azul – mas se não fosse incomodo
gostaria de saber o porquê dela ser o motivo da
mudança da história?
Não devemos deixar que apenas algumas pessoas
governem tudo, - falou Napoleão – queremos
liberdade, igualdade e fraternidade.
Mas por que você quer algo impossível, perguntou Thace com uma olhar filosófico – digo
isto, pois já possuímos o que você quer, basta
sentir a vida.
Vejo que você nunca sofreu nesta vida, - retrucou
Napoleão – não sabe o que é ficar sem emprego,
somente porque não tem nenhum parente para lhe
calçar.
Mas por que sofrer somente por falta de emprego?
Eu não estou entendendo, você pode me dizer
como alguém fará parte duma sociedade sem um
emprego?
Mas para que tu queres fazer parte de algo que lhe
tira a liberdade?
Meu amigo, - respondeu Napoleão – para que serve
a liberdade se você não tiver o que comer?
Não precisamos perder a liberdade para comer,
pois com ela você poderá alimentar-se como e onde
quiser, pois a vida lhe forneceu tudo de graça.
Veja como o mundo não possui seres com
fraternidade, - falou Napoleão – um homem que
204
pensa apenas nele e não se preocupa com o
sofrimento do próximo.
- Talvez eu esteja errado, - disse Thace – mas me
diga amigo, qual foi o resultado de sua vida? Sei
que você é famoso, teve muito poder, mas vejo que
não sabe amar uma simples borboleta, imagine se
poderia pensar naqueles milhares de homens
mortos por pura ignorância e ambição de conseguir
este poder que agora tira sua liberdade, igualdade
e fraternidade, cada homem deve pensar em si
mesmo, somente assim poderá ajudar o próximo,
jamais você deve classificar um homem pelo que
possui na mente, mas sim pelo que ele valoriza.
- Minha vida não foi como queria, mas cheguei onde
podia, - comentou Napoleão com uma expressão
pura – eu apenas fiz o que meu coração mandou, se
matei muitos é porque estava me defendendo dos
ataques do coração.
- Meu pai Halford, sempre me dizia que não
podemos julgar errado o que o coração manda e
faz, sua vida não foi jogada fora, porque não existe
dentro e além do mais, para que estamos
preocupados com frutos, se nos alimentamos de
raízes? Viva a vida, pois ela ainda não acabou.
Assim foi o sonho que Thace teve com Napoleão.
-
Parece que Leucipo está melhorando. – disse Rose.
Sim, - falou Michael – ele está tratando de coisas
gigantes, por trás dessas metáforas.
É a metáfora que camufla o sentimento, - falou
Márcia – pela metáfora o homem pode dizer o que
pensa sem medo de ser condenado, pois sendo de
natureza implícita a sociedade não tem força para
condenar sua identidade.
205
-
-
-
-
-
Opa! – despertou sua atenção Marcos – você falou
identidade?
Sim.
Esse assunto é tese do meu mestrado, - continuou
Marcos – é algo que pode trazer universos ocultos na
massa,
mas
nada
é
oculto
para
olhos
perscrutadores.
Manda logo sua pira. – pediu Michael.
A identidade é relacionada com a existência do ser, pensando e buscando palavras continua Marcos,
deitado no tapete da sala – existir na sociedade é
você pronunciar a palavra “eu”, quando você
aprende a falar “eu” você passa a ser alguém.
Bom, - disse Márcia – aproveitando sua viagem, você
deve estar por dentro da idéia do desenvolvimento
da linguagem, quando o bebê começa a se expressar
na terceira pessoa, dizendo como se estivesse no
lugar da mãe, ele diz “nenê fez xixi”, e assim por
diante, nessa idade ele começa a desenvolver a
comunicação do “ego a ego” ou aquele lance de
ditirambo nietzschiano.
Não, beleza sua pescada, - completou Michael – mas
o negócio não é bem assim, essa idéia acho que
você pescou em Lacan, mas esse cara é estranho,
não entendo muito de psicanálise, mas pelo que sei
ele não passa duma releitura de Freud.
No que? – perguntou Rose, que começou a se
interessar.
Primeiro ele manja a idéia do Id, como uma fonte de
intenções inconscientes, - continuou Michael – mas
ele fala que não são impulsos que articulam a
parada, mas uma certa linguagem, depois ele
desfigura a estrutura do complexo de Édipo,
deixando essa pira sem colocação cronológica e,
logo cria relações loucas com várias subpersonalidades do sujeito.
206
-
-
-
-
Michael, - falou Márcia – eu acho que você está
falando merda, tudo isso não tem sentido, não seja
um abismado na parada, coloque as coisas no seu
devido lugar.
Fica na tua sua piranha, - retrucou Michael – eu sei
do que estou falando.
Calem, - pediu Marcos – deixa eu terminar, como eu
já havia falado, a identidade é o motivo de
existência, mas ela é imo da cultura ocidental,
porém devemos deformar.
Como? – perguntou Rose.
Quem sou?
Você é Marcos.
Sim, sou Marcos, mas o que sou tirando essa
palavra?
Uma pessoa.
É, uma pessoa com uma personalidade distinta, mas
além dessa palavra o que sou?
Um ser humano.
Ser humano é, estamos chegando lá, fora essa
classificação do reino animal, o que sou?
Um ser vivo.
Ai está, agora vou lhe pegar Rose, sem essa palavra
o que sou?
Uma coisa.
Sem essa palavra, o que sou?
É... – resmungou Rose absorvendo a idéia.
Sim, você não sabe, - disse Marcos – caímos no lugar
onde não existe relação, no lugar onde não existe as
palavras ou melhor a linguagem, nesse lugar tudo é
uma massa infinita, que é tudo o que existe, é a
coisa que não tem relação com nada.
É, - disse Márcia – você flagrou uma ótima imagem,
você não passa dum ser construído por palavras, não
existe idéia sem palavra, a idéia é uma palavra, você
só entende através da linguagem que usa para a
comunicação ego a ego, no caso nosso é as
207
palavras, é o caso de todos que podem nos
entender.
- E o surdo, mudo e sego? – perguntou Rose.
- Sem dúvidas eles se comunicam numa linguagem
que só o seu próprio ego entende, então não cabe a
nós entendermos esse mundo. – respondeu Márcia.
- Sim, - refletiu Rose – pois a linguagem deles não é
igual a nossa, é impossível entender o que eles
pensam e eles não sabem o que pensamos.
Acho que eles estão entendendo. O homem é palavra.
O que eles não resolveram, podemos eu resolver. É,
podemos (no plural mesmo) eu resolver. Cada ser
possui uma personalidade. Numa sociedade essa
personalidade está carimbada com um nome. Porém o
sistema só pode controlar o nome, mas nunca a
personalidade. O que aconteceria se essa personalidade
se infiltrasse num nome coletivo? Com certeza seria o
maior atentado contra o individualismo capitalista
ocidental. O nome coletivo é uma arma mortal. O
homem não sofreria, pois não precisaria lutar a vida
toda para eternizar um nome-carimbo. Seu nome seria
imortal, já seria famoso e já seria eterno. Sua
personalidade seria livre. Meu nome é Ariston do Verbo.
Mas posso eu me alcunhar de Luther Blissett. E ser um
ser famoso, um milionário, um escritor mundialmente
conhecido. Poderia eu ser um ativista de esquerda. O
sistema não poderia me pegar. Porém meu nome agora
corre perigo. Sou carimbado como Ariston do Verbo,
mas você caro leitor geral, pode me considerar como o
sujeito que vez golpes de subversão cultural no mundo.
Eu poderia ser punido por isso. Porém na hora da
execução apareceria um outro Luther Blissett, cobrando
seus direitos autorais e logo em seguida ser criticado
por outro Luther Blissett. Essa é uma idéia real. Uma
idéia genial. Criada por milhares de personalidades que
são carimbadas por um só nome. Talvez você já possa
definir o que tenta o escritor geral. O que pensa o
208
Homem Palavra. Opa! Por que ele não me castigou por
ter tocado em seu nome? Talvez ele seja essa
personalidade, que está carimbada com meu nome.
Tudo isso que acima foi escrito, pode ter sido um golpe.
Porém sei ainda que Márcia vai ler.
Quando o sol começa a alimentar a vida novamente,
Thace acorda com idéias confusas, se lembra das
conversas com a formiga e a árvore, mas não sabe se
também foi um sonho como a com Napoleão, logo
lembra das palavras de Eberth e compreende que
pode estar sofrendo os sintomas reais da unificação
do universo.
Novamente começa a caminhar, não sabe para onde,
mas consegue enxergar o destino, talvez esteja
cansado psiquicamente falando, pois passou vinte e
cinco anos andando, mas acima de tudo pensando;
sentiu a necessidade do descanso mental, pois não
possuía mais aquela boa memória, - se isto faz
diferença - mas conseguiu permanecer lúcido por
mais alguns dias.
Sua cabeça estava toda anárquica, não no sentido
real da palavra, mas na capacidade da razão, pois não
sabia o que queria, pensava em parar de caminhar e
tentar outra vida, menos reflexiva de pensamentos,
porém algo fazia ele insistir no que sonhava, que era
encontrar seu velho pai, não demorou muito e a
resposta foi mostrada pela vida, era um grande reino,
onde havia alguns feudos e, não perdeu tempo, quis
conhecer logo o rei, mas antes os servos.
O reino possui um feudo muito diferente, era um
local totalmente comunista, até mesmo nas roupas,
Thace notou nos dias que ali passou, que os
moradores trocavam seus vestuários com os outros, as
ferramentas eram de acesso a todos, como também as
moradias, ninguém possuía nada, mas ao mesmo
209
tempo tinha tudo, sem ter nenhuma outra
contrariedade os moradores, viviam numa paz que
chega a assustar Thace, era como o paraíso ou a
perfeição coletiva, mas isso não era motivo para tirar
o sentido da vida daqueles trabalhadores, eles tinham
objetivos mais puros e fortes, cada dia de trabalho era
um treino nas canções, eles eram músicos da vida,
seus instrumentos eram machados, enxadas e arados
de boi, que fazia aquele barulho típico de
transformação da terra, suas vidas eram movidas por
simples, mas lindas letras musicais, todo trabalho
duro era como uma bela diversão, não viam suas vidas
de outro jeito, pois eram sábios na arte de viver com
excesso, não se preocupavam com o amanhã, e muito
menos em guardar riquezas para garantir suas
sobrevivências, não cometiam o erro de pensar se
existia um lugar melhor que aquele, para eles o
nirvana já foi ultrapassado, seus valores eram
individuais, e ninguém impedia os desejos dos outros,
por mais loucos que parecessem, logo Thace entrou
em dúvida sobre o local, será que realmente é
verdade, ou é mais um truque da sua mente? Ficou a
pensar na validade daquelas idéias, para ele era
impossível uma comunidade alcançar tamanha
harmonia, em pleno soberania dos senhores feudais e
do rei, era uma visão fantástica, aquelas pessoas
realmente viviam no tempo cósmico virtual, que Thace
iria aprender a dominar e vivencia-lo, pois era uma
virtude da unificação da mente.
O reino era composto de seres estranhos, cada um
pensava totalmente diferente e, fazia coisas iguais, o
ato não obedecia ao pensar, pois era limitado pelas
forças dos comandantes, mas todos tinham o mesmo
comportamento harmônico, era realmente incrível.
Antes que Thace fosse confundido com um servo, ele
foi para o castelo, com propósito de conhecer o rei,
sua visita foi complicada, pois os guardas não queriam
210
que ele entrasse, somente conseguiu permissão,
quando seu nome caiu nos ouvidos do rei, logo Thace
imaginou a influência que seu pai tinha. Chegando nos
aposentos principais, Thace se depara com um homem
gordo e sorridente, era o rei vestido com um
sobretudo colorido e seus cabelos eram brancos
encaracolado, ele lhe falou:
- Quanta honra minha receber em meu castelo o
filho do melhor bobo da corte que tive.
- Bobo da corte? – perguntou Thace – meu pai já
esteve aqui?
- Sim, ele era um homem muito inteligente, ensinoume coisas fundamentais para mim poder manter a
ordem no reino.
- Que coisas?
- Ora menino, não tenha pressa, vamos tomar um
chá e depois contarei tudo.
- Sim majestade, agradeço sua gentileza.
Os dois se dirigiram para sala de refeições, e Thace
notou que um castelo não era como ele imaginava nas
histórias dos livros, tinha muita coisa simples, a
higiene era precária, mas melhor do que estava
acostumado. Os móveis demonstravam os traços do
tempo, a grande mesa do refeitório estava rabiscada
por marcas de facas e, as cortinas das grandes janelas
estavam duras de poeira. O rei era um homem sempre
alegre e Thace notou está característica, o rosto dele
constantemente se enrugava com um sorriso forte e
contagiante afetando todos em sua volta, isso
provocava um estranhamento no comportamento do
rei, pois Thace não estava acostumado com pessoas
que sorriam muito e sem motivo, como esse rei. Thace
queria que chegasse logo a hora do rei revelar o
mistério que seu pai havia ensinado para aquele reino
permanecer sempre alegre.
O rei se levanta e, olhando agora seriamente para
Thace, pede para acompanha-lo, os dois seguem para
211
o andar de cima, a escadaria era bem larga e coberta
no centro por um tapete vermelho, as estátuas do
castelo aparentavam estar muito sujas, em cada canto
Thace encontrava uma e, acima da porta de acesso
para quarto intelectual do rei, havia uma estátua de
Hermes, com seu nome gravado em grego, Thace
estranhou, mas não comentou nada.
Sentando-se na grande poltrona e novamente
sorridente, o rei convida Thace para se abancar numa
cadeira com revestimento de bronze, então o rei fala:
- Sei que você quer dominar a unificação do universo
e para isso precisa de minha ajuda.
- Sim, eu ando preocupado com as coisas que estão
acontecendo, - disse Thace buscando uma melhor
posição na cadeira – eu preciso que me revele o
segredo.
- Tempo, - resmungou o rei – este é o segredo.
- Já sei, eu preciso deixar de pensar no passado e
futuro e começar a viver apenas no presente, não é
isto?
- Não, na verdade você precisa do aoristo.
- Aoristo? – perguntou Thace – mas que negócio é
este?
- Aoristo é um aspecto dos tempos gregos.
- Tudo bem, mas como funciona?
- Por exemplo, - disse o rei – quem não tem enxada
usa machado; você pode me dizer em que tempo
está o verbo?
- No presente.
- Não, ele não está bem no presente, este verbo
mostra uma ação no presente, que ainda não está
em ação.
- É verdade! – disse perplexo Thace – mas em que
tempo ele está? Seria no futuro?
- Não ele não está nem no passado, presente ou
futuro, mas sim em um tempo que chamamos
tempo cósmico virtual.
212
-
Sim, mas como viver nele?
Neste tempo vivem os animais, as crianças e
sábios, é o tempo onde a imaginação domina,
criando o que chamamos do verdadeiro trabalho,
isto é, a arte, a música e filosofias.
- Quer dizer que tenho que ser um artista, para
poder viver nesse tempo?
- Mais ou menos, você tem que se identificar com
trabalhos construídos, não pela razão, mas pelo
coração junto com a razão e imaginação, é algo que
vem não de dentro corpo, mas sim dentro fora.
Thace olha fixamente para o rei, se levanta
vagarosamente e olha o que está desenhado no vidro
da janela, são desenhos que se movimentam, na
verdade é apenas o lado de fora do castelo, onde os
serviçais do rei trabalham como escravos, mas se
sentem livres como pássaros, então Thace pergunta:
- Como que aquelas pessoas conseguem viver no
tempo cósmico virtual, se não trabalham nos seus
verdadeiros trabalhos?
- Eles trabalham, não para cumprir minhas ordens,
mas para serem livres delas, pois não posso dar
ordens para quem já possui ordem.
- Você quer dizer que eles fazem o que eles querem?
- Não, eles fazem o que seus corações querem.
- É impossível alguém querer trabalhar duro, por
ordem do coração.
- Eles não trabalham duro, para você é duro, mas
para eles é música, arte e filosofia, estes são os
valores que eles adquirem e nem você e muito
menos eu podemos querer impor nossos valores.
- É verdade, - disse Thace sentando novamente na
cadeira – quem sou eu para julgar o que é bom ou
ruim para os outros? Mas quem é você para usar a
boa vontade deles para seu próprio conforto?
- Está é minha visão de vida, eu não estou tirando a
vontade e os desejos de ninguém, mas estou
213
cumprindo os meus, para eles a vida é aquilo, para
mim é isto; não existe posição melhor, mas às vezes
eu me pergunto se a vida deles é melhor do que a
minha e me imagino podendo se relacionar com as
pessoas, com a pureza e naturalidade que eles
fazem, sem se preocupar com bobagens materiais e
cantando como uma cigarra e disfarçado de
formiga.
Thace permaneceu no castelo por mais dois dias,
quando se preparava para partir o rei lhe deu um
presente, no qual agradeceu e continuou caminhando,
agora praticando um trabalho verdadeiro, pois o rei
havia lhe dado uma flauta com uma sugestão de
trabalho, pois Thace ficou fascinado pela música.
Agora longe, Thace avista o castelo onde o tempo é
apenas o nada e lembra da última frase que o rei lhe
falou: “se você quer a vida eterna, viva procurando o
fim”, e esta idéia despertou novamente a vontade de
Thace continuar sua viagem, criando e aprendendo a
tocar lindas canções com sua flauta, que passou a ser,
a sua única distração no tempo.
Só um instante. Ele tocou no verbo. E de verbo sei
eu. Aoristo é o verdadeiro presente. Toda a ação se
encontra em algo além. Basta prestar atenção. Assim
como Márcia presta quando continua a ler.
O dia estava nublado com um ar estranho
despertando o místico em Thace, um pequeno roedor
trabalha na árvore onde ele está sentado, o barulho
dos dentes do animal transformando a madeira em um
abrigo seguro, toma conta do universo sonoro de
Thace, um pássaro disputa com o esquilo cantando
uma triste e bela canção, e o homem observa a
perfeição
de
sua
criação,
respeitando
sua
214
inferioridade com relação a beleza musical do animal,
que naturalmente vence sua rústica flauta.
Na sua frente existe uma floresta com muitas
árvores baixas, então Thace começa a olhar fixamente
para as formas que os troncos apresentam, sem
perceber ele entra novamente no estado superior da
unificação universal, agora consegue controlar seu
universo somente porque está vivendo no tempo
cósmico virtual, que o pássaro lhe mostrou; tudo vira
brincadeira para Thace, até quando um forte raio lhe
assustou e começou uma tempestade onde tudo ficou
escuro, o roedor entrou em sua nova casa, o pássaro
sumiu para dentro da floresta e, logo nosso amigo
ficou completamente perdido, a chuva lhe castigava,
grandes gotas atingiam seu corpo numa velocidade
considerável, com medo Thace agarrasse no tranco da
árvore com muita força, por causa disso sua
imaginação criou no seu universo um feroz leão
negro, que caminhava pela trilha lentamente, a única
coisa que aparecia era seus olhos vermelhos, seu
corpo surgia a cada relâmpago, novamente o grande
medo ataca Thace, como havia ocorrido na África, o
leão se aproxima e sem esperar por sua morte Thace
sobe rapidamente a árvore, onde um raio lhe atingiu
e, no momento que iria cair, para o leão come-lo, ele
acordou novamente. Todo o seu corpo estava
molhado, mas a terra estava seca, o roedor ainda
trabalhava, o pássaro acabara de voar e o leão voltou
a ser um simples tronco se árvore.
Thace não entendeu mais nada, não sabia como seu
corpo estava molhado, pois foi apenas um delírio;
começou a enxergar a força desta unificação, que não
acontece para qualquer um, por ser algo diferente
Thace jamais comentou com pessoas que não estavam
ligadas em sua rota, pois sabia que iriam achar
ridículo e, dizer que é apenas ficção de um louco
andarilho vagabundo; realmente existem pessoas que
215
jamais acreditariam nisso, pois estão profundamente
na ignorância ou dominados por livros que ditam o
que é e não é verdade, desprezando a maior força que
existe, a única criadora, Thace sabia que as únicas
coisas que impediam um homem de viver no
inconsciente era o medo de ter medo a as
superstições de tradição cultural, coisa que Thace
jamais possuiu, pois é um cosmopolita que acredita
em tudo e ao mesmo tempo em nada, que não seja
sonho. As palavras criam idéias irreais, mas ao mesmo
tempo possíveis.
Thace passou por várias chuvas estranhas, como a
de gafanhotos na África, e a chuva vermelha na
Espanha, mas nunca por uma chuva seca, que molhou
apenas seu corpo, era algo estranho, não sabia se
estava sonhando ou delirando e até mesmo acordado,
tudo passava como mágica tão extraordinária que
duvidava dos fatos vivenciados. Cansado ele senta
numa pedra cinza, e novamente começa a ter
problemas, então resolve tocar uma canção com sua
flauta, e sem notar-se um menino se aproxima, muito
excitado, sacudindo-se para os lados e apontando no
chão uma formiga, com medo Thace observa
cauteloso, o menino tremia e, com uma forte voz, que
parecia de homem disse:
- Não entendo, ninguém liga para a morte de uma
formiga, mas todos se agitam com a morte de um
homem, então por que nós imitamos as formigas?
Se somos fortes, mas inúteis quando não
reconhecem nossos ídolos.
Thace arregala os olhos, não acreditando que um
pequeno menino tivesse tamanha sabedoria e,
aumentando o diálogo fala:
- Veja, sou apenas mais um, - sem entender donde
vinha estas idéias, Thace continua a expressa-las
sem dizer – Hei... olhe o papa também é mais um,
Napoleão é mais um, Sócrates é mais um, todo
216
mundo é mais um, agora sei... aqui embaixo todos
somos apenas um.
- Palavra é palavras, - continuou o menino, em um
diálogo sem nexo, mas muito rico em pensamentos
– idéia é igual a idéias, o universo é igual a
universos, pessoa é igual a pessoas, um é igual a
uns, verdade é igual a verdades, você é igual a
vocês, eu sou igual a deus.
- A nuvem é algo, – disse Thace com a pedra sob
seus pés – o mar é algo, o rio é algo, a fonte é algo,
o algo é algo meu.
- A água parada, não para de andar, - falou o menino
– todo o pensar é proveniente do tempo.
- Não preciso precisar, apenas olho e pego, meu
menino.
- Um farelo de pão, não é nada, mas é um grande
pão para os que são farelo.
- Fechar a cortina é aumentar as chances de ações.
Após dizer isso Thace bate sua cabeça no chão e
acorda não sabendo onde está, mas lembrando do
menino, resolvendo assim procura-lo, para ter certeza
que não estava louco e, desta vez tem uma surpresa
fora do seu corpo físico, encontrou marcas da
unificação universal, era as pegadas do menino
impressas na terra, com essa prova Thace já estava
conseguindo dominar e viver no tempo cósmico
virtual, seguindo as pegadas que por sua vez seguem
a trilha de grandes formigas, nosso viajante repara
em algo que lhe assusta, as pegadas estavam
diminuindo gradativamente, ate ficar do tamanho
duma formiga, chegando no grande formigueiro, as
minúsculas pegadas caminhavam para uma entrada
que mal cabia o dedinho de Thace, então novamente
Thace desmaia e tenta uma experiência incrível, pois
agora está no controle do corpo de uma formiga,
caminhando para dentro do império das operárias,
tudo é tão escuro, que ele começa ater um sentido
217
especial captado por suas antenas, andando entre
aquelas infinitas formigas Thace avista uma luz no fim
do túnel, e encontra uma grande câmara, onde está a
rainha muitas vezes maior do que ele e, montando
sobre ela está o menino que fala:
- Thace, isto é apenas o começo, você terá que
controlar esta grande força, pois apenas alguns
seres no planeta conseguem, a grande maioria diz
que é ficção, e vão ler no seu livro estas palavras e
desprezarão, sem agredir, mas isso não influência
na força verdadeira, pois é tão fácil criticar, veja
como é incrível, você já sabe que fará parte dum
livro, mas que ainda não foi escrito, está tudo em
sua mente, não conheça através da recordação do
passado, presente e futuro, mas no tempo cósmico
virtual.
De repente tudo some e por espanto de Thace ele
não está mais perto do formigueiro, mas sim sentado
na pedra cinza, onde não havia mais nenhuma pegada
e formigueiro.
Thace reconhece que está passando dos limites e
resolve tentar uma outra vida, sendo uma pessoa
normal, tratando de assuntos coletivos dentro de uma
comunidade, e parar com esta idéia de egocentrismo,
que pode leva-lo a sérias complicações psíquicas, pois
não agüentaria tamanha responsabilidade universal,
porque se considera o criador de tudo e não consegue
afastar o medo que vem a noite, aquele medo de ter
medo. Com esta idéia fixa-se nas redondezas da
cidade de Dijon, onde aperfeiçoa sei francês e, faz
alguns amigos é por esses amigos Thace conhece
Linete, filha dum sapateiro. Ela era muito simpática,
conquistando a atenção de Thace, que não resistiu ao
charme da mulher e decidiu não perder mais tempo, e
logo se apaixonou com tamanha quentura, que
assustou Linete, pois tal quentura provocou o
218
surgimento de uma carta que por sua vez contaminou
o coração de Linete, era mais ou menos assim:
Linete:
Vejo seus olhos como pérolas de infinita beleza.
Sinto seu cheiro como uma necessidade astral. Escuto
sua voz como o apogeu da música dos deuses.
Saboreio sua boca como a mais pura vaidade da
língua. Toco seus cabelos como uma cascata de ouro.
Controlo todos estes sentidos com a força que a
imaginação me dá, para pode-la amar, onde e quando
quiser e sentir que este desejo é verdadeiro
unicamente porque é meu, porém a vida nos trás
surpresas como a idéia de poder fazer o que quero,
mas jamais querer o que quero, e também as várias
concepções que a humanidade dá para uma carta de
amor: alguns acham que é primitivo, outros que o
amor é coisa de fraco, há também seres que pensam
com a marca do cifrão na mente, apagando a natureza
do amor, ainda bem que existem humanos que sabem
qual é a raiz do problema e, não ficam lutando nos
galhos da ignorância, a raiz é o amor, o fruto é a
sobra, o tranco a vida e os galhos os caminhos, não
preciso escolher caminhos, pois vivo na raiz. O que
sinto por você, talvez algum dia possa ser considerado
finito, mas se isto acontecer considere-me como uma
nuvem, que não dura para sempre, mas pense que a
água é o amor e este estará infinitamente em mares,
lagos, rios e fontes provando o que senti por você.
Quero lhe encontrar hoje à noite, quando você sair
da casa de sua mãe, espero na praça.
Thace Pahazy Filibuster.
219
Linete gostava de Thace, mas nunca demonstrou
antes, pois havia uma diferença de idade considerável,
coisa que seu pai não permitiria, mesmo assim se
casaram, pois o encontro na praça foi muito bem
planejado por Thace, soube quebrar o silêncio com
palavras doces e profundas, que libertaram a vontade
de vida, que estava apagada em Linete.
Após o casamento a vida de Thace mudou
completamente, já não tinha tempo para pensar em si
mesmo, pois agora teria que pensar pelos três, com o
nascimento de seu filho, nosso viajante teve uma
emoção que jamais sentiu, não ligava se tinha que
trabalhar como escravo, para sustentar a família, pois
no fim do dia lá estava Linete e seu filho Vidal Pahazy
Filibuster, para lhe dar todo o amor que precisava
usar como energia de motivação no trabalho do outro
dia.
Assim era o dia-a-dia de Thace. Todos os seus
sonhos foram abafados pela rotina que seguia, um
sentimento de raiva lhe atacava todos os dias, já não
era mais o mesmo, precisava conseguir uma casa
melhor, um conforto para sua família, assim seria sua
vida, não poderia fugir, pois a sociedade lhe prendeu,
o matrimônio não podia ser desfeito, sua vida era
mecânica, não pensava por si, era mandado para
todos os lados, como uma ferramenta sem sentidos,
tudo isto foi motivo para a perca de amor por Linete,
pois sabia de experiências passadas, que o amor só
dura em liberdade, se sentia preso em uma corrente
chamada Vidal, pela liberdade não teria coragem de
quebrar essa corrente, e por isso passou dois anos
frustrantes ao lado de Linete, o amor entre os dois foi
errado, simplesmente porque obedeceram a vontade
da sociedade, ou seja, do pai de Linete, em que
precisavam ter o que não se precisava.
Thace escuta do fundo de seu subconsciente uma
frase que define o momento de sua vida: “para que
220
você quer um castelo, se pode ser feliz em uma
cabana?” ele lembra que já ouviu isso e opta por
seguir este conselho, deixando de ir trabalhar neste
dia, e assim fez nos outros dias também.
O resultado não poderia ser outro, Linete decidiu
abandonar Thace levando com ela Vidal, que tinha
apenas dois anos; sendo assim Thace se despediu para
sempre de Linete e prometeu que algum dia iria
escrever para Vidal, sem ressentimento começou a
sua viagem agora sabendo que nada nem mesmo um
grande amor pode impedir de um homem buscar seus
sonhos, a não ser que ele aceite morrer infeliz e
arrependido.
Thace decidiu andar firme e, traçou um percurso
que deveria cumprir, queria conhecer melhor a
Europa, mas sabia que seu tempo dava apenas para
conhecer a raiz do problema, isto é, a Grécia. No
caminho folheava o livro de Jean-Jacques e começou a
notar as verdadeiras idéias, que não havia notado
antes. O livro possuía vários poemas e pensamentos
filosóficos, coisas que para a época era loucura, como
em “tic-tac”, ou uma “bomba”, provando os contatos
com o inconsciente que fez Jean-Jacques; no livro
tinha algo parecido com os seguintes poemas
pensantes, preste muita atenção, é algo fantástico:
-
Leucipo é um bom escritor, - disse Rose – porém ele
não conhece o ponto final, e não consegue prender a
atenção do leitor.
Realmente concordo, - falou Marcos – ele deixa
coisas muito obscuras.
Até parece um livro de Spinoza. – disse Márcia.
221
-
Sei lá, - se expressou com um hálito maligno de odor
o desajeitado Michael – o maluco aí, manda as coisas
bem, as viagens ideológicas são ótimas.
- Claro! – retrucou Márcia desviando o rosto do hálito
de Michael que pairava no ar – Leucipo é um ótimo
filósofo, mas precisa conhecer a língua portuguesa,
ou melhor a gramática.
- Você flagrou que tem parágrafos com um único
ponto final? – perguntou Rose.
- Até a vizinha analfabeta pesco. – respondeu Michael.
- Tem certeza que esse Thace não é cachaceiro? –
interrogou Marcos – pois entrar num formigueiro nem
em sonho se entra, o cara bebeu diesel para tal
façanha.
- Não julgue assim Marcos, - disse Márcia – existem
possibilidades de ocorrer isso, mas não está no
domínio da ciência cartesiana newtoniana, que
nossa psicologia atualmente está embutida.
- Que Leucipo não sabe gramática eu já sei, - falou
Rose – mas se ele entende de lances psíquicos nós
vamos ver nesses poemas, continue Márcia, vamos
logo.
Docência dinâmica da infraestrutura mecanicista do
eu. Levou ao entendimento cético desses meados
ideográficos. Leitor tome o devido cuidado. Paula
Palavra está no círculo máximo ou anel superior do céu
dantesco. O cecéu pode ter sido o poeta da abolição,
mas em Tiahuanaco ainda jaz nas margens do lago
Titicaca. Um grande e alto lago, para grandes e altos
homens. Sim da mesma etnia da índia da língua morta.
Uma relação talvez chave para seu entendimento. Não
deixarei de ser implícito, mas nunca deixarei de
entender o que escrevo e dar a chance para quem
pensa. Continue Márcia, em seu apartamento com seus
amigos, em seu sofá, a ler o que o figurado JeanJacques leucipiano escreveu em seu livro. Estou
pensando que ter um livro parasita, não é uma coisa
222
que só ocorre comigo, pois no meu livro existe um livro
parasita, que possui em sua essência um outro livro
parasita, supostamente sul-africano. Lê Márcia, lê. Eu
sei que pessoas estão lendo esse livro sem entender
nada. Eu sei que estão perdendo seu tempo procurando
algo que lhe sirva. Para esses leitores, digo que fechem
o livro e comecem de novo, pois não vão entender nada
dessa forma. O imperador pode ser o escritor geral, ele
pode explicitar coisas, mas nunca o sentido de tudo.
Não é um livro fácil. Não um livro de auto-ajuda, que
apenas descreve o que você sente no dia. É um livro
que cria universos, que estão sempre além de tudo.
Além até mesmo da metalinguagem e da metafísica.
Junto com concepções metafóricas é um livro do além.
Tácito de essência. Palavras são as chaves que lhe
conduzem para onde você quiser. Para o obscuro das
palavras num fluxo e refluxo sem nexo ou para o
entendimento do sentido e razão do trabalho ardente
que aqui está sendo realizado. Preste atenção. Márcia
vai ler.
“A sensação é diferente, abri oportunidades para
viver normal, mas minhas palavras não agradaram da
forma que esperei, eu perguntei e você achou lindo;
quem errou, eu ou a pena? Talvez seja o papel ou até
mesmo as palavras, pobres palavras! Não sabem que
existem, e ao menos se pensam em existir, tenho que
fazer tudo sozinho, mas não é tão fácil assim, você não
acredita nas palavras, bem que faz, elas são
perigosas, podem destruir o que criam. O universo
depende delas e elas estão sob meu comando, quando
eu quiser elas trabalham e, você apenas sente, como
223
uma dose de coisa estranha, pode ser veneno ou chá,
mas será que não é água?”
Este era um pensamento desmembrado das
histórias, se apresentava no intervalo de capítulos e,
veja estas outras:
“O sistema ajuda quem sabe utiliza-lo”
“Por que não temos o que conversar? Pois existem
tantas palavras e idéias para se usar.”
“O tempo já não é igual.”
“cigarras falam
formigas falam
sapos falam
corujas falam
enfim, todos os animais falam,
que ignorante sou eu por não entende-los,
mas será que eles me entendem?”
“Quem um dia olhou sério para o mar, notou sua vida,
pois ele somente está vivo quando é notado por você”.
“Meu corpo sente o frio, minha mente sente o calor,
somente por isso é que está calor.”
“Duas pessoas? Um par? Talvez um ser? Não. É uma
união, ou não? Quem sabe pode ser humanos, mas
quantos? Dois, quanto é dois? Números que bom, mas
existem? Duas pessoas é um número? Que número é?
Então quantos números precisa para numerar minha
mente?”
“Ando preocupado com minhas preocupações, sinto
que logo terei a resposta que alivia a vida, mas
224
novamente me preocupo, pois se conseguir
resposta, vou me preocupar com o que?”
tal
“Antes e depois, não me importa, pois agora tenho que
pensar neles, para que amanhã eu possa pensar no
dia de hoje.”
“O sol brilha, eu brilho todos brilham, o dia cresce, a
noite aparece e, eu com isso?”
“Passado, presente, futuro
lembrança, confiança, esperança
mentira, dúvida, delírio”
Repare a força das idéias jorrando das palavras,
Jean-Jacques era um grande pensador, note estes
lindos poemas:
“Você se lembra de Ontem?
Quando planejou hoje
Você se lembra de hoje?
Quando viveu ele ontem.
Você se lembra do amanhã?
Que você viveu hoje.”
“Não existe divisão, somente existe opção”.
“O poeta não pensa, ele sente”.
“O tempo é para o sol
um passeio
é para a lua
um descanso
é para o matemático
um número
é para uma semente
uma vida
225
é para o fruto
um alimento
é para a estrela
um brinquedo
é para mim
em conselho”
Eu Jesus Seixas adorei a pureza do pensar deste
escritor, mas peço agora sua atenção, este livro “666”
de Jean-Jacques foi escrito entre 1719 a 1725, e
existem idéias nos seguintes textos, que são algo
muito mais novo, mesmo assim o escritor já havia
pensado; depende da sua crença, para conceber como
verdadeiras:
“Tic-tac, foi mais um, tic-tac, outra vez mais um, tictac, onde chegaremos? Tic-tac, como é possível? Tictac, você não se cansa? Tic-tac, de novo eu não
agüento, tic-tac, por que você fica exato? Tic-tac, você
não tem dor? Tic-tac, não seja tão frio, tic-tac, por que
não outro som? Tic-tac, anda, anda, mas não anda, tictac, faz favor quero dormir, tic-tac, o seu maluco para
de repetir, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, côcôcôroooo,
tic-tac, piu-piu, tic-tac, tic-tac, chiiii, tic-tac, tica-tac,
bom dia sol, tic-tac, tic-tac, obrigado pelo almoço, tictac, tic-tac, como foi seu dia hoje? Tic-tac, tic-tac, tictac, hei! Por que você não troca este som? Tic-tac, tictac, eu passei o dia todo escutando um som, tic-tac,
tic-tac, quer saber qual? Tic-tac, tic-tac, vou lhe dizer,
tic-tac, tic-tac, errou era diferente, tic-tac, tic-tac, tictac, de novo errou, tic-tac, tic-tac, ele era assim, tum,
tum, tum, tum, tic-tac tic-tac, tic-tac, que foi, não
gostou? Tic-tac, tic-tac, tic-tac, você não sabe
conversar, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, esse
som eu escutei o dia todo, era do meu coração, tic-tac,
tic-tac, tic-tac, tic-táquerendo? MEU DEUS! VOCÊ
226
FALOU..., tic-tac, tic-tac, tica-tac, tic-tácom medo?
HAAAAA…, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tum, tic-tum,
tum-tum, tum-tum, tum, tum, tum, tu morreu? Acho
que morreu, tum, tum, até que enfim, vou poder
descançar... tic-tac, tic-plum... para sempre...
Isto é uma espécie de metáfora-comédia, onde JeanJacques trata de um assunto muito dificel, com uma
clareza irônica fantástica, o assunto é o tempo, veja
outro texto do gênero:
Tempo?
“Gira mais, vamos, mais rápido, isto mesmo é assim
que se faz relóginho, quero ir logo, este lugar está
chato. Pensamos assim? Ou precisamos pensar assim?
Sempre temos um compromisso depois e, sempre
desprezamos o de agora: é chato, é ruim, é isso, é
aquilo, puxa! Será que nunca iremos viver de fato?
Pois todos os dias são vividos pensando no próximo ou
pior, no passado: ‘tenho que pagar uma conta semana
que vem!’, ‘hoje à noite tenho que trabalhar no
projeto!’, ‘se deus quiser, o futuro será melhor!’, ‘não
quero nem vê, quando chegar o dia’, ‘será que fiz
errado?’, ‘não gostei como agi com aquela pessoa’.
Pare, olhe, escute, não é um trem, mas parece, você
esqueceu de abrir seu presente, pois ficou tentando
adivinhar o que era ou lembrando onde comprou,
sinto muito, você não pagou o presente, agora a morte
veio cobra-la, pois o conteúdo já evaporou, e seu
tempo acabou, se abrir vai explodir, então vai abrir?
Vai pensar em abrir? Vai pagar? Ou vai comprar
outro? Decida logo a morte está com pressa e teu
presente é uma bomba que faz tic-tac, tic-tac, e o meu
presente é uma canção chamada aoristo”.
227
O final é surpreendente, Jean-Jacques já conhecia o
aoristo, e por isso talvez já sabia controlar a
unificação do universo, pois conseguiu informações do
futuro, aliás veja um outro assunto, agora mais
refletivo e filosófico, como Jean-Jacques definiu o
tempo e o espaço, é complexo, mas compreensível:
“O tempo somente existe quando há movimento, e
este por sua vez só existe por causa de sua memória,
logo o tempo não existe sem memória, e esta está
sobre seu controle, por exemplo, jamais você saberá
que um corpo está em movimento sem ter
memorizado seu ponto de partida, o tempo é
simplesmente o conjunto em seqüência das memórias
captadas como foto, com diferenças de tempo
infinitamente desprezáveis. O espaço é simplesmente
a memória sua, o espaço entre cada foto é o mesmo
das fotos e todos os espaços estão na sua memória, a
diferença de cada foto na memória seja o espaço e o
tempo, são infinitamente pequenos, são conhecidas
como presente, mas mesmo sendo pequenas não
podemos ser irracionais e dizer que não existem, mas
também não podemos ser racionais dizendo que
existem, o equilíbrio é fundamental para ficar em
cima do muro e avistar os opostos. O espaço entre o
ponto de partida de um corpo somente está ocupado
na memória, o espaço ocupado eternamente sempre
será o mesmo, este espaço é uma foto da memória.
Resumindo: a única coisa que existe é uma foto
presente, que sofre quando a seguinte lhe assume a
atenção, e a foto passada é arquivada na memória,
que por sua vez da noção de tempo e espaço, estes
imaginários, sendo espaço igual a memória, logo tudo
que existe é idéia, pois para ocupar espaço é
necessário ter idéias e sentimentos sobre uma coisa,
memória não existe o que existe são idéias, logo idéias
não existem, pois é impossível existir em algo que não
228
exista, tudo é invenção de sua mente. Como sou tolo,
por tentar entender o que não existe.”
No livro existia uma página diferente, também
desmembrada da história, era um dia escrito como
num diário, este que possui apenas um dia, algo de se
pensar muito, foi o que fez Thace após lê-lo:
Livro, 17 de Abril de 1722.
“A vida aparenta não ter sentido, tento entender,
mas acabo sofrendo, as palavras já não repercutem
em nada, o nada não é entendido, o tudo é
desprezado, a fonte é duvidosa, sei que é uma palavra
e seu significado não significava nada; ando na minha
mente, admiro suas belezas pelos sentidos, mas
pergunto se não houvesse será que existiria algo belo?
Com certeza o universo seria diferente, mas me nego
a afirmar que seria menos belo, pois belo não passa
de uma insignificante palavra; procuro um meio de
pensar sem palavras, uma espécie de pensamento
puro ou natural, mas logo vejo que estes também são
apenas palavras, não consigo ver o mundo sem
palavras, pois tudo está codificado, até mesmo as
coisas que não existem como espaço e tempo; são
apenas palavras e não dizem nada; sou o criador de
tudo, mas será que posso criar o que não existe? Nada
existe tudo é utopia, mas como provar que isto é
correto, pois se posso usar os sentimentos contra
isso? Sei que os sentimentos também não existem,
mas percebo que realmente sou o único responsável
pela vida do universo, pois o dia está como eu penso
que está, e agora a filosofia tomou o lugar do sol e ela
me diz que tudo foi eu quem criou, inclusive a
pergunta sobre o que é criar, e a outra pergunta sobre
a incerta resposta, assim por diante minha
imaginação criou tudo, até mesmo ela, que por sua
229
vez criou a outra, que criou a outra, numa criação
infinita. Como vou sair dessa agora? Tudo é uma
criação infinita, mas o infinito existe? Vejo em minha
mente uma pedra na minha frente, toquei, senti sua
frieza e sua dimensão, agora me pergunto, como pode
alguma coisa existir sem limites? Sei que limites não
existem, pois dentro da pedra existem vários pontos
separados por uma pequena distância, os pontos que
formam o meu corpo somente estão separados dos
pontos que formam a pedra, não é porque a distância
é maior, que pode ser chamada de limite, logo limites
não existem, simplesmente porque se eu pegar apenas
um dos pontos da pedra, vou observar que é formado
por outros infinitos pontos, logo a pedra é formada
por infinitos pontos, que nenhum deles se julga
existente, a não ser o maior deles, que seria a própria
pedra, mas como posso aceitar que ela existe, se ela é
apenas infinitos e imaginários pontos? Seria culpa dos
sentidos? Imagino um homem sem os sentidos físicos,
como seria o seu universo? Será que algo existiria? Se
existisse como seria? Você não acha que isto é uma
prova que a matéria não existe?
Sem sentidos, sem matéria, mas
Sem imaginação, sem idéia? Ou
Sem palavras, sem pensamentos?
Nada importa; pois sou a aurora de todos os
fenômenos.
Sinto a presença do mundo, ele parece como eu,
uma coisa nada exata mais perfeita, a porta abre,
pessoas saem, não prestei atenção, será que algum
dia lembrarão? Ando parado, como o planeta, andam
parados como o sistema, a lua cresce e o sol aparece,
a vida continua eu espero ela andar para somente
depois eu passar. Tudo é exclusivo, mas penso que é
parecido, tenho preguiça de ter preguiça, tenho medo
do seu medo de ter medo, crescer e viver ou morrer;
será que é verdade? Caminho com dúvidas; pensando
230
se estou errado, mas continuo caminhando, pois só
penso andando, grandes homens são ídolos, mas o
maior eu encontro no espelho, então vou a um lago e
encontro peixes que viram ídolos, por viverem sem
dúvidas e compromissos com o sucesso, logo penso
que sucesso é mentira, pois a grandeza maior já
passou, mas está tão perto que não vejo e me iludo
com os outros, olho se estão me olhando, como se eles
realmente existissem, duvido de minhas verdades e
continuo a andar no meu caminho, sem saber a hora
que cairei no buraco, cuido apenas deste passo, o
futuro é meu tempo presente e esse, vivo no tempo
cósmico virtual.”
-
Se realmente existiu esse tal de Jean-Jacques, - disse
Rose – foi um grande filósofo.
Você ainda está teimando? – perguntou Michael –
não entendeu que tudo é ficção.
Essa coisa de ficção é viagem, - respondeu Márcia –
tudo já existe, o que não existe não se nega, pois
não se conhece.
Você quer dizer que tudo o que eu conheço existe? –
perguntou Michael.
Sim, - respondeu Márcia – tudo o que passa por sua
concepção é existente.
Não sabia que bruxa voa em vassoura, - falou
Marcos sorrindo – pois agora sei que ela existe, e
pode voar.
Não brinque se não entendeu seu burro, - retrucou
Márcia – a bruxa existe porque você criou através de
outros meios, como tv e livros.
Ai credo Márcia! – falou Rose – até está parecendo
que esse Leucipo está te pirando.
231
-
Falar em Leucipo - disse Marcos – continue ler esse
treco.
O conhecimento passou por concepções biológicas,
depois por concepções mecânicas, ate que um dia um
louco místico misturou essa gororoba e trouxe à tona a
atual ciência. Retrospectiva forçada. Bacon: empírico
indutivo. Descartes: racional dedutivo. “Principia” é as
locomoções verbais que uniram esses métodos. Quem?
Foi Newton. Agora veja como tudo funciona. Primeiro
surge algo. Depois surge outro algo que contradiz o
primeiro algo. Leva-se muito tempo de dialética e surge
a solução. Os dois “algos” são unidos, e se transformam
na realidade. Agora adicione um leve aroma de
sugestão. Opostos transformam em produto. É igual às
viagens marxistas. Um patrão com: matéria prima,
infraestrutura e maquinários. Um empregado com: força
de trabalho. Esses são opostos. Inventam um sistema e
constroem o produto. Tudo com valor de uso e valor de
troca. Tudo mesmo, até o empregado é mercadoria
nesse sistema. Mais-valia é mesma merda que lucro.
Não percam tempo nesses meios nada a ver. A chave
de tudo está na palavra. Não existiria capitalismo sem
elas. Não existiria Mar(x) sem elas. Não existiria nem
mesmo a teoria de Márcia, onde tudo existe. Não
existiria o existencialismo de Sartre, que Márcia tentou
abolir. Não existiria eu, para lhe dizer essas coisas. Digo
com a maior convicção: a palavra é dono do mundo.
Ninguém pode me provar ao contrário. Ela é quem cria
os opostos. Quem cria as guerras. Quem cria os valores
culturais. Ela cria tudo. Cria ela própria. O homem é seu
fruto. E o fruto de um homem é a palavra. Nada é dual.
O homem não é dual. Tudo é isso, que é e pronto.
Dogma? Não pense nisso, eu provo através de tudo,
mas não creio no que não existe, porém concordo com
Márcia. Que continuará a ler. Mas não confundir
Rousseau do iluminismo, com esse escritor, talvez
parasita, que Leucipo exibe.
232
Thace ficou um bom tempo pensativo, queria
compreender a verdade das mentiras, lembrava o
passado e enxergava todos os seus erros, sentia o
presente e notava que era apenas mais um homem
perdido, pobre e sem destino. Deixou uma família
para pensar em si, notou a força destruidora do
egoísmo, que ele tanto venerava, imaginou o futuro
incerto, talvez velho e morto na neve ou deserto, mas
no momento que se deu de conta em pensar no tempo
cósmico virtual, sua vida mudou, os arrependimentos
evaporaram e a arte de pensar na arte voltou à tona.
A questão era: como seria o universo de uma pessoa
sem os sentidos físicos?
É como se Jean-Jacques deixasse de herança todas
suas dúvidas para Thace. O tempo não era nada para
a resposta, agora o que importava era apenas a
resposta e nada mais. Questões eram o que
alimentavam Thace, pois ele deixou de beber e comer,
simplesmente para amar a sabedoria, sua única
companheira, e a qual ele se dedicava inteiramente.
Trocou uma moeda por um caderno e tinta, e nele
Thace escrevia suas teorias para tentar responder;
passava o dia todo sem utilizar um dos sentidos, assim
fez com a visão e audição, mas teve problemas em
anular as faculdades de cheirar e tocar, pois não
conseguia ficar o dia todo sem respirar e deixar de
sentir o toque do frio, como fez com o paladar. Sendo
assim Thace resolveu apenas imaginar, concebeu que
tudo não existia, sua visão não agia e o paladar não
sentia, pelo sexto sentido Thace conseguiu eliminar
rapidamente os sentidos, mas não conseguiu uma
233
conclusão racional, sempre que atingia a exaustão
psíquica, esta que é a responsável por todos os
contatos que ele fez com a unificação do universo,
pois sempre que Thace entrava no universo oposto,
era por cansaço físico ou psíquico (se esses não forem
iguais), por simplesmente exagerar no caminhar e
pensar.
Cansado ele decide consultar novamente a fonte
desta questão que é a da unificação do universo, pois
ele entendeu claramente o que Jean-Jacques quis
dizer sobre os limites, adquirindo esta idéia para
nunca mais separar o primeiro do segundo universo.
Pensando assim Thace alcança uma resposta em
forma de poesia, que responde tanto a questão dos
sentidos, quanto a dos universos, talvez esta poesia
não seja uma resposta coletiva, mas serviu para
aliviar a mente do nosso grande andarilho. Esta
poesia foi escrita no caderno de Thace, que mais tarde
você saberá onde parou:
OPOSTO DO POSTO
Acordei sentindo como é não sentir,
olhei para o lado e nada olhei,
escutei o galo e nada escutei,
cheirei a fumaça e nada cheirei,
saboreei o doce e nada saboreei,
toquei o livro e nada toquei,
como poço fazer o que não faço?
Talvez esteja acordado dormindo,
mas na verdade mentira,
acredito negando,
que estou onde não estou,
234
sentado em pé,
morto vivo,
no calor frio,
da luz escura,
em meio extremo,
quase alto baixo,
com dor sem dor,
muito forte fraco,
saciado com sede,
andando parado,
molhado seco,
mastigado engolido,
amargo salgado,
tentando cantando,
gritando calado,
buscando no halo,
um sentido tremido,
com ação reação,
olhos nas palavras,
para mim é meu
para ti é poesia
poesia que pede
poesia que tenta
poesia que nota
poesia que sabe,
que palavra é
tentativa de utopia
sei que um dia
tudo será poesia.
Mas na verdade o questionamento sobre os sentidos,
quer provar que tudo é apenas existente por causa de
você, logo o que se pensava que era espiritual acaba
também virando algo material ou qualquer outro termo,
até mesmo material. O importante é saber que não
existe fora dentro, mas sim você, digo que se pode usar
qualquer termo unicamente porque palavras não dizem
235
nada, apenas tentam. Pensando desta forma o ser é
totalmente livre, pois acaba com qualquer concepção
de limites, sabendo que está em tudo e em lugar algum.
A partir de agora Thace entra definitivamente no
universo único e unificado, começa a relacionar as
idéias e personagens formando uma única vida
cósmica. Amigos dos sonhos conhecem amigos do dito
mundo real, não importa em qual seu corpo está, o
importante é que o seu corpo sabe que não está, pois
sempre esteve, mas nunca notou. Thace alcança com 42
anos a vida almejada por todos os sábios, magos e
alquimistas a chamada vida verdadeira, não vou errar
em dizer que é melhor que a sua, mas com certeza é
muito diferente.
Thace Pahazy Filibuster com está idéia, é considerado
além de filósofo, o grande sábio criador da rota secreta
e passa a ter contatos com os F.: C.: V.: que orientaram
sua viagem para o desconhecido por ser esquecido,
tentando fazer Thace conhecer ou lembrar de sua vida,
desprezando o ontem, hoje e amanhã e vivendo apenas
no tempo cósmico virtual. Aprendendo a pensar sem
palavras, pois estas podem ser poções de amor ou ódio,
por isso é bom nega-las quando possível. Você mesmo
pode notar que neste livro as palavras causam amor
quando compreendidas e talvez ódio quando camuflam
as idéias, que na verdade jamais conseguiram ser
transmitidas claramente, a forma mais próxima da
clareza são as poesias ou pensamentos, simplesmente
porque o entendimento não deriva das palavras, mas
sim de você.
Jean-Jacques tentou viver num mundo sem palavras,
realmente seria fantástico a comunicação através das
idéias, mas infelizmente o imaginário mundo coletivo
está totalmente imerso no reino das palavras, pois
imagine uma indústria fabricando sem palavras, seria
impossível, os livros não existiriam, mesmo que seja ele
apenas figuras, pois para criar o livro os homens
236
precisam se comunicar, não que as palavras sejam
ruins, o problema e que criam coisas sem nexos que
fazem o homem não olhar as coisas como elas são. Em
tudo que presenciamos usamos palavras, mas existem
sábios que se comunicam mentalmente através de
idéias, parece impossível, mas antigamente era
completamente um mundo de idéias claras, pois com a
necessidade de transformação o homem começou a
deixar as coisas mais complexas, simplesmente para
tentarem ser superiores aos antigos, mas acabaram
sendo diferentes. Quero dizer que é necessário avançar
na transformar gradativamente, através de poesias,
pinturas e por fim idéias claras, digo claras porque as
palavras têm o poder de camuflar as idéias deixando-as
opacas. Leia a palavra “cosmos”, agora tente defini-la,
sei que você possui a idéia correta sobre ela, mas
quando tentar transforma-la em palavras cairá no
mundo da dialética, o que pode ser bom ou ruim, pois
provocará uma metamorfose na idéia, que no final de
tudo saberá que não mudou em nada.
-
Vou tomar água. – fiz a Márcia dizer para dar um
tempo nessa leitura.
Não estou acreditando. Escrevo um livro. Um livro que
por algum motivo é infectado por outro livro parasita. E,
agora além de ser parasita e intrometido, começa a
tratar do tema do meu livro. Leucipo seu demente. Por
que não ficou com suas viagens no inconsciente
daquele bêbedo e vagabundo andarilho? Estou muito
nervoso. E se ainda colocasse idéias boas. Tudo o que
está aí de cunho de Leucipo é uma besteira, caro leitor
geral. Não acredite nessas burrices. O cara me vem
237
falar que idéias existem além das palavras. Meu deus!
Isso me deixa irado, não o pior de tudo é que ele fala
essa idéia (que a idéia é independente da palavra)
utilizando palavras. Como pode ser tão burro? Agora
Leucipo, você é um oposto. Teremos uma bélica
fonética. Toda vez que Márcia ler besteiras suas com
relação a palavra, eu lhe criticarei, sem nenhum
respeito profissional. Isso é incrível, mas tenho que
aturar. Continue Márcia, pois já tomou muita água.
O importante é saber que as palavras estão no
comando do mundo, seja qual for o tempo, na verdade
elas são armas poderosas que criam e destroem coisas
inexplicáveis, nada se compara com a beleza da
sedução que elas possuem. Pois são como roupas
vestindo as mais belas idéias, provocando um desejo
de tira-las e amar com o prazer as lindas idéias. Não
sou tolo, sei que às vezes nego algo e depois afirmo
sua existência, mas você somente sabe disso por
causa das palavras, se você sentir as idéias saberá
que o rio está correndo para o mesmo mar. Temos que
ter cuidado, pois as palavras são perigosas e podem
enganar quem escreve, quem pensa e quem lê, além
do mais você ainda pode sonhar.
Que as palavras são roupas, eu achei ridículo. Mas
que elas são perigosas, eu concordo plenamente. Tanto
que estou cuidadosamente as colocando.
238
Nosso escritor, o Luiz, estava usando símbolos que
enviávamos para seu inconsciente, para marcar os
descansos de leitura, a partir de agora será as poesias
que marcarão, esta abaixo mostra tudo que você tem
que saber, se quiser ter um universo unificado.
Não existe
nada, que
Não existe
Thace agora estava esclarecido, sua vida é mágica,
fantástica e diferente, o que para muitos seria
loucura, para ele era real e eterno. Concebia um
mundo diferente, muito diferente, digo isso porque
era mesmo. Viveu na Terra o que eu vivo agora após
Terra; tudo é possível, até voar ele conseguia, lógico
que as pessoas não viam ele voando, pois estavam em
outro tempo e universo, apenas viam um viajante sujo
dormindo e, ele os via como estivesse acordado. Não
havia diferença para Thace, tudo era apenas uma
vida, ele não voava como pássaros, pois pássaros
voam como pássaros e homens voam como homens.
Apagando a ignorância dos limites do universo, Thace
também apagou o ódio, tristeza, arrependimento e
dúvidas, passou a viver constantemente com alegria e
amor, coisa que homens limitados vivenciam apenas
por alguns momentos na vida.
A sua vida começou a ficar fácil, já não passava
fome, os alimentos lhe apareciam como mágica, seus
problemas não chegavam a nem existir e já eram
resolvidos, sua comunicação com o universo
melhorou, os animais lhe compreendiam, pessoas
unificadas conversavam com ele sem nenhum
problema com espaço e tempo. Às vezes em suas
aventuras encontrava seu pai Halford, mas não sabia
239
direito se era na lembrança ou na vida perfeita, pois
ele dizia sempre as mesmas coisas, e o encontro era
no navio de Thunder Waves, mesmo assim Thace
ficava alegre, por poder saber que Halford e até
mesmo Helena estavam bem na eternidade do tempo
cósmico virtual.
As outras pessoas concebiam Thace como louco,
pois sempre estava conversando sozinho ou dormindo,
quando falava com alguém, lhe chamava de nomes
estanhos em várias línguas, mas esses momentos não
eram eternos, logo Thace voltou a se relacionar como
antes, mas nunca deixou de ser louco, pois ainda
conversava com pessoas que apenas ele enxergava.
Thace encontrou no caminho uma senhora, que
cuidava de uma pequena ermida, como sempre, ele
chegou conversando com várias pessoas, assustando a
senhora que lhe disse:
- Homem, o que faz falar?
Thace pede licença para uma das pessoas que
conversava, dizendo:
- Desculpa interromper nossa conversa Carlos, mas
parece que tem uma senhora querendo falar
comigo, - olhando para ela Thace completa – pois
não, posso ajudar?
- Você é louco? – disse a senhora – quem é Carlos?
Por que pensa que existem mais pessoas além de
nós nesta pequena casa de deus?
- Pequena? Você disse pequena?
- Sim, é pequena.
- Nunca vi algo pequeno tão grande assim, - disse
Thace – eu não sou louco, sou diferente, vivo em
lugares além dos limites e nós não estamos
sozinhos.
- Tem razão – falou a senhora, com uma ironia
humorada – eu esqueci que meu gato estava
embaixo da cadeira.
- Você diz aquela coruja?
240
-
-
-
-
Não é coruja, meu amigo, você deve estar cansado,
pois é um andarilho que não cuida direito do corpo.
O meu corpo e minha alma são apenas uma coisa,
por isso não estou cansado, - falou Thace sorrindo –
simplesmente porque me sinto bem.
Quer tomar um chá?
Obrigado, aceito, mas antes quem é aquele que
está tocando piano?
Meu amigo, - respondeu a senhora – aqui não
existe piano.
Para você não, mas para mim existe, agora quem é
louco?
É claro que é você, - disse a senhora servindo o chá
numa xícara amarela – se alguém tivesse tocando,
o gato estaria ouvindo.
Primeiro não é gato, segundo quem disse que a
coruja não está escutando? E, terceiro, por que
você não descansa? Deve estar com sintomas de
loucura.
Posso estar louca, mas não converso com pessoas
que não existem.
Não sou louco, pois não estaria conversando se
elas não existissem, não é mesmo Carlos?
Ei Carlos, - disse a senhora – quer tomar um chá?
Você não pode servir chá para quem não existe,
isso seria loucura de sua parte, Carlos só existe no
meu universo, assim como a senhora, cuide apenas
do seu universo e conseguirá saber o que existe, ou
não.
Mas amigo, como você pode afirmar que Carlos
agora não existe para mim?
Não estou afirmando, estou negando que você o
veja, - respondeu Thace – pois Carlos está sentado
na cadeira da coruja e, você ofereceu o chá para o
pianista.
Pensei que o pianista chamava-se Carlos.
241
-
Talvez possa ser, mas como pode haver no seu
universo um pianista, num lugar onde não há
piano?
- Eu somente estava brincando, pois não vejo alguém
aqui, além de você e meu gato.
- Eu também somente estava brincando, - comentou
Thace – pois só vejo aqui um pianista, uma coruja,
meu amigo Carlos e uma senhora simpática que se
fingi de louca.
- Talvez se estivesse aqui outra pessoa – resmungou
a senhora olhando o seu gato (coruja) – ela poderia
dizer quem está louco entre nós dois.
- Pouco mudaria, pois haveria três loucos, mas dois
desses estariam na mesma loucura.
- Mas você se passaria de louco, pois com certeza a
pessoa iria ver o que eu vejo e sendo assim
estaríamos em maior número.
- Você está brincando? – perguntou Thace – números
são mentiras e podem afirmar mentiras, nem todos
os números possíveis poderiam afirmar a maior
mentira que existe.
- E qual é está mentira? – perguntou a senhora.
- Eu.
Thace agradeceu a senhora e continuou o seu
caminho, com a companhia de Carlos e o seu novo
amigo pianista. Enxergando da porta da ermida,
Thace conversando sozinho, a senhora sorri e balança
a cabeça negativamente, sentando-se no degrau da
porta e, sentindo as verdades mentiras que Thace lhe
disse, movendo a base sólida de crenças da vida
daquela velha mulher, que sabe que tudo não passa de
nada, mas mesmo assim ela dúvida.
Uma que fez Thace adquirir a idéia do tempo
cósmico virtual, foi a certeza que o passado, presente
e futuro de fato não existiam, pois o único que poderia
existir seria o presente, mas esse Thace eliminou
observando as estrelas. Notou que a luz que ele
242
enxergava demorava um certo tempo para sair da
fonte e chegar a outra fonte, logo a luz que via no
presente já era passado, sei que este passado era
somente considerado para estrela, mas para Thace
era presente, mas isso provou que existe uma
variação no tempo, pois aqui é presente e lá é
passado, pensando assim ele generalizou está idéia
concebendo-a para os sentidos físicos, isto prova que
o presente é mentira. Ficou complexo, mas para
ajudar veja o descanso de leitura, onde uma poesia
retrata claramente o aoristo, como um futuro
presente, desmembrado dos três tempos: futuro,
passado e presente, tudo tem seu próprio tempo.
Ontem eu era
Hoje eu serei
Amanhã sou
O tempo cósmico virtual seria o tempo onde ignora
a existência de espaço e tempo, exaltando o tempo
individual relacionado com tudo e nada, onde nada
sofre extinção e a eternidade reina, concebendo o
presente como algo único e nunca coletivo, deste
tempo vivem as artes, os animais e sábios humanos
que seriam as crianças e “loucos” que na verdade são
os homens que pensam na fonte da vida.
Sei que tal assunto tratado ficou a se desejar,
poucos entenderam, pois isso é tão individual, que é
um erro tentar expressa-lo para alguém, é o tipo de
idéia que nenhuma palavra da língua que
compreendemos
poderia
exprimir
de
modo
satisfatório, o que importa é que eu, Jesus Seixas,
tentei transmitir o que já está transmitido e gravado
na mente de cada um, basta recordar como fez Thace,
logo eu não transmiti apenas levei à tona o que
apenas você por si mesmo pode compreender.
243
A proposta não é fazer você virar um “louco” com a
unificação, é apenas mostrar um novo caminho e nada
mais, se você quiser seguir saiba que tem retorno,
mas assim como Thace você talvez não queira
retornar, pois é um lugar infinitamente gostoso de se
viver.
Tenho certeza que as idéias estão se confundindo,
principalmente nas páginas passadas tratamos da
matéria, onde citamos uma pedra constituída por
pontos. Thace conseguiu desvendar aquela dúvida: ele
diz que aquela idéia dos pontos não passa de uma
invenção que prova que sua invenção (a pedra) é uma
invenção. Com muita atenção você pode sentir com
clareza está idéia, pois a própria invenção é invenção,
inventada por sua mente que por sua vez é uma
invenção da própria mente assim por diante. O
problema é você conceber o infinito como existente,
dou-lhe uma opinião, se você acredita que existe uma
pedra deve acreditar que tudo existe, mas se você não
acredita na existência da pedra não existe nada. Se
você não conseguir isso, está agindo como um tolo,
pois se a pedra existe tudo existe, unicamente por
causa do pensamento, pois se você pensar que algo
não existe, neste exato momento ele acaba de existir,
mesma coisa ocorre se você acredita na não
existência da pedra, o problema agora passou para a
invenção, como ver ela assim será, se acredita que a
invenção existe tudo existe, se acredita ao contrário
nada existe.
Não é tão fácil assim, pois eu, Jesus Seixas, que já
passei por tudo ainda tenho dúvidas, às vezes sinto
ela forte nas coisas já transmitidas para Luiz, você
deve estar pensando que sou uma forma de espírito
que encarnou no Luiz, para poder escrever, mas na
verdade sou apenas uma invenção da mente de Luiz,
que por sua vez é invenção da tua mente. Para você
ver como é complexo, basta se perguntar se espírito
244
existe, se você acha que não existe então ele existe,
pois nada existe.
Não se prenda nas palavras, o homem inventou
muita coisa como concepções de alma e corpo, você já
sabe que não se pode separar nada, ou tudo é
concreto, ou não, o que importa é que tudo é uma
coisa.
A chave geral é o pensamento, se você pensou no
seu universo existiu, mas este existiu é algo sem nexo,
vamos melhorar tudo, as coisas não existem ou existe,
elas simplesmente são no plural uma única força que
cria tudo porque ela é tudo, ou não.
Se você não entendeu, não se preocupe, pois até
mesmo eu não entendo, sei que estou ensinando uma
base sólida, mas esta base é quase impossível de ser
ensinada. Inventamos tudo e nada para tentar
ensinar-la, inventamos livros, para nada, inventei o
Luiz, o Thace, o Halford, o livro, a vida, a rota secreta,
as palavras, as idéias, o leitor, o tesouro,
simplesmente para fazer você compreender tudo o
que não compreendo, e jamais você conseguirá
seguindo a rota secreta ou abrindo seu cérebro com
um machado, você compreenderá simplesmente
porque esta base sólida, não está e não é, ela é você,
por isso é impossível você compreender você, pois
você é dúvida que quer saber o que é dúvida para
satisfazer a dúvida. Sou apenas o que sou, jamais sou
melhor ou pior que você, pois você não é escala para
saber o que é melhor ou pior, continue a leitura,
invente uma arma que pode quebrar qualquer limite,
saiba que tudo ou nada é apenas uma coisa, e cuide
muito bem de você, pois você inventou você, seu
perigo é cair em cima da arma chamada filosofia, esta
arma é perigosa, mas nunca deixe o poder que você
possui com ela, para ela tomar conta de você, faça ela
trabalhar onde você tem vontade própria e não poder
apenas por poder, saiba que a verdade suprema está
245
na mentira suprema, jamais você terá a perfeição,
pois você está vivo e a vida é eterna, logo a vida não é
exata; amar a sabedoria como se ela fosse a verdade
que não passa de mentira, mas sou bem claro, sendo a
vida infinita tudo é possível, não importa se existe ou
não existe, o importante é saber que ela pode fazer
tudo o que você querer, assim como está fazendo com
Thace, ignore o tempo, pois nada terá fim.
-
Agora Leucipo está lidando com coisa séria. – disse
Márcia.
- Sim, - continuou a idéia Marcos – esse sistema de
concepção da percepção é altamente resistente
contra a visão coletiva.
- É, - falou Michael – a velha danço bonito, com as
baladas dialéticas do bêbedo.
- Ele não é bêbedo. – disse Rose.
- O que importa é a unificação. – disse com ironia
Márcia e logo se colocou a ler.
Leucipo bandido. Dizer que criou esse louco tudo
bem. Mas dizer que criou as palavras. Você pode ser
doente. Não tem explicação. Só queria saber como
Thace pode pensar sem as palavras. Até parece que
esse cara já leu o que escrevi sobre Paula. A índia pensa
na ação. Não pensa na oração. Mas esse Thace é um
cachaceiro mal amado. E Leucipo vem com esses papos
de unificação. Cara doido. Porém admito que ele sacou
coisas importantes. União geral entre os opostos. Uma
poesia chamada: Oposto do posto. Isso toca em focos
de minha intenção. Manter distância é melhor. Hoje
você sente essa idéia de aoristo. Veja bem no que você
246
está entrando, caro leitor geral. Pense antes de
conceber isso como marco. Nenhum verbo consegue
expressar o presente. O que pode camuflar é o “está”.
Mas note fundo. Tudo é um pouco de tudo. Não existe
essa marcação lunática. O tempo não é três. E muito
menos quatro. Ele é apenas um. Um tempo que é
mutável como um camaleão. Seu princípio é o local
mais fácil de se perder a noção de vida. Não procure o
que não lhe trás nada além do perigo. As palavras
podem matar um homem. Cuidado com o que você
pensa ou fala para seu ego. Isso é uma dica de quem já
sabe. Chega um ponto onde nenhum ser pode lhe
ajudar. Psiquiatras são meros brinquedos inúteis nessas
circunstâncias. Esses reinos em que a palavra lhe leva,
são reinos de acmes. Reinos do mal ou reinos do bem.
Tudo está preso na linguagem. Cuidado, apenas
cuidado, mas cuidado não é medo, deve-se conhecer
todos os labirintos que a palavra cria. Só assim você
estará seguro. Continue mesmo sendo um ambiente
obscuro, nada que a palavra possa criar é rígido para
ela própria. O que ela cria ela destrói. Isso já basta para
seguir. Então Márcia já sabe o que fazer.
O calor cansa, a formalidade da vida move minha
imaginação,
crescendo
ou
transformando,
aumentando como se deve tudo é assim, não posso
pensar, pois tenho que pensar, chorando reclamando o
tempo está indo e você dúvida que algo existe, sempre
afirmando e aumentando as perspectivas da glória e
sucesso, a fome assusta o sonho, quem sabe eu possa
mesmo voar, mas preciso fazer algo, tenho que entrar
no sistema e além de tudo existe o nada, delírio,
preguiça, desanimo, pressa nas idéias, querendo
conservar o que não existe, vamos viva ou viva, ou
247
não, existe para tudo aquilo que se quer, pois se não
houvesse você não quereria o que quer, barreiras e
limites, não adianta apenas fingir que elas não
existem, é preciso provar para si mesmo que tudo não
passa de loucura, parado você não pode ficar, pensar
é somente privilégio de pessoas que vivem um limite
não existente, tente pensar, mas primeiro é preciso
saber qual e onde pensar, no que pensar, criar
problemas é ser livre vivo, é ruim, mas é tudo e nada,
querer é fazer, fazer é poder, poder é viver, comandar
seu poder é ajoelhar-se aos pés dos limitados e laválos como lava um deus, sem orgulho e bloqueios,
queira viver em posto, mas saiba que você jamais
perderá algo se souber amar a humildade e saber que
você é muito maior e poderoso do que você mesmo,
não queira o que já possui, queira o que você teme e
sente que ali existe coração, vida e acima de tudo a
vontade de amar, pensar, sentir e observar que os
sentidos enganam para lhe ajudar a ser homem, um
deus verdadeiro que adora suas invenções. Está no
fim, foi esta mensagem que marcou minha
participação no livro “Vida?” agora devo partir, pois o
universo é infinito e tenho outros planetas além da
Terra para visitar, sei que para muitos, o que passei
ficou fictício e, talvez, positivista. Eu não sei que
nenhum problema está além de nossas resoluções,
este livro não classifica nenhum homem, não é
direcionado a ninguém, quem não quer ler não leia,
faça sua própria vontade, mas por favor não impeça a
imaginação de nenhum homem, pois isto pode ser
algo fatal, não concordo e nem descordo, não sou
contra nada, pois para isso já basta as leis, um
verdadeiro sábio está além de qualquer disputa, mas
antes de você fazer algo, pergunte-se se isso durará
mais do que sua própria vida, se durar faça não
importa o que for, desde que faça com o coração,
Jesus Seixas agora e algo foi. Deixo estas poesias,
248
quem gosta vai saber, caso contrário a rota secreta é
apenas invenção.
-
Notaram que começou a rolar algo mais cabeça? –
disse Márcia.
- Sim, - respondeu um – parece ser poético e não mais
místico.
- É, - falou Marcos – eu flagrei uns lances meio
plagiado nesses trecos aí.
- Talvez, - falou Michael – mas ninguém pode dizer
quem foi que copiou é coisa velha.
No apartamento lêem. Na floresta Paula nada. Depois
dessas coisas. Vêem antigos boatos. Tal qual ouro sob
água de lago mais alto do planeta. Tal qual ouro sob
igreja de rei. Tal qual gigantes providos da Amazônia.
Tal qual humanos que encolhem crânios de seus
inimigos. Tudo isso é coisa sul-americana. E soube
agora tal qual um abutre, que minha palavra dual
mentalética é “tal qual”. Isso já basta. Poesias quase
boêmias para Márcia vai ler agora.
Se você está tentando,
Digo com certeza.
Que está pensando
Em ser realeza.
O livro é homem
A idéia de ser
249
Também é homem
A ilha do universo
Pode ser homem
A complexa letra
Foge do homem
A luz do som
Cansa um homem
Mas nada compete
Por um homem
Como um espelho.
Palavras esquecidas
Guardadas no tempo
Cobertas pelo pó
Pode-se considerar
Como um homem
Dentro do paletó.
Branco azul brilhante
Lua colorida marcante
Luz amarela queimante
Tentam ser como antes.
Casca do tempo
Se tu existisses
Faria você um
Grande partido
Aliado mentido.
Atraídos pelo destino
Traçado a pó.
Queimado pelo passado
250
O futuro é igual,
A lua brilha a rua
Beco da vila vida
Tinta no céu
Feito de pincel
Globo no caneco
Foto do gavião é
Cachorro sobre garrafa
Líquido do bicho
Formiga cantando
Cigarra trabalhando.
Chorando por tudo
Tentando ser o cubo
Magoado por mal
Descrevendo é banal.
Não tem sentido
Não tem existência
O algodão do grafite
Não tem nexo
Não tem sim
Através de nada quase
Sendo longe chega e,
Línguas estranhas com
Palavras tolas cobertas
Sim tem sentido
Sim tem existência
Além da paciência mora
O buraco do bico negro do
Gavião, redondo quadrado
Torto é certo, linhas será?
O extremo pode negar que
Existência é não e sim,
251
Pontos são não, mas
Veja o olho é assim,
Você é não ou sim?
O tesouro é apenas o fim.
Cada um, cada uns.
Antes de deixa-los, quero tratar de um assunto
importante; é sobre Thace e Linete, os dois construíram
algo maior do que o necessário, sou um monge
tibetano, nunca morei com uma mulher, mas possuo um
conhecimento forte sobre isso. Thace foi além de si
próprio, coisa que Linete nunca pensou, o problema é
que não teve problemas, um disse até logo e outro
adeus, agora que está vagando pela Europa totalmente
livre, mas sempre lembra da voz suave e o perfume
doce de Linete, sente que deixou mais do uma esposa e
um filho, deixou marcas no coração, quando ele olha a
lua logo imagina aquele encontro na praça onde Linete
estava linda, com transas no cabelo que refletiam como
uma cascata de ouro, aqueles belos olhos faziam Thace
chorar de emoção, pois demonstravam que a vida era
verde e acima de tudo contagiante, ele recorda dos
gestos únicos que Linete possuía, que demonstrava
uma certa timidez escondida pela sua segurança
emocional, capaz de deixar Thace perplexo e
completamente apaixonado, mas ocorreu o que os dois
quiseram, para eles a liberdade foi maior do que o
amor, entretanto digo que quando os egos se adaptam a
seguirem um mesmo caminho comum escolhido pelo
coração, o amor jamais perderá, pois a liberdade foi
capaz de criar e eternizar este amor, mesmo assim a
liberdade que Thace tanto venera, jamais poderá se
livrar do brilho da Linete que com certeza se manterá
em tudo o que ele criar, não por completo, mas por uma
necessidade de existência, nenhum ódio ou rotina
252
poderão apagar do coração de Thace aquela loira
mulher, capaz de mover montanhas.
Pensem sobre isto, pois o amor é fundamental para a
unificação e antes disso para vida; Jesus Seixas agora
não será mais o mesmo, até o dia do dia.
Criança sempre
criando verdades,
o inimigo é ídolo.
Catar pegar a
quentura da chama.
-
Leucipo manda boas poesias. – disse Rose.
Sim, - falou Márcia – mas nisso eu fico com
Schopenhauer, que manda que a poesia e a loucura
andam juntas.
- Poesia é palavras que não se pensa no ato de grafalas, - disse Marcos – mas quando lê-las ai sim se
pensa.
- Senão fosse essa história, - gritou Michael – eu
espancava vocês.
- Por quê? – perguntou Márcia.
- A poesia não é algo para criticas, - respondeu
Michael – ela sai do imo do ser, uma emoção única,
sei porque os punks sempre assim se expressam.
- Foi mal. – disse Marcos.
- Chega desse papo nada a ver, - pediu Márcia – vou
continuar.
Ai que está. Tudo pode ser. Vamos pensar sobre a
cultura. Isso é algo que não existe. É, algo que não
passa de valores. Valores herdados. Tudo está em sua
psíquica. Uma estrutura de valores é pensado por ti,
como algo homogêneo. Tudo é homogêneo. Tudo é uma
só coisa. Aquele saber fazer do capital, é homogêneo.
Ninguém domina tudo. Vamos voltar para subversão. Se
a cultura lhe impõem que ti é um. Pode-se mudar.
Transformando a identidade em homogênea. Sendo
assim o sistema é destruído. Você é tudo. Não é mais
253
um sujeito, é infinitos. Sua personalidade é a mesma,
mas sua identidade é livre. Basta adotar um nome
coletivo. Não sei por que estou escrevendo isso. Não
sei. Talvez seja ele quem esteja me governando. Só sou
um brinquedo em suas mãos. Talvez essa idéias seja
chave lá na frente. Capte e leia o que Márcia lê.
Faz 41 dias que Jesus Seixas me apareceu pela
primeira vez, sem contar no dia do susto do final do
livro, ele passou muitas coisas importantes, mas com
certeza ficou muito enigmático sua parte, é preciso
muita vontade e pensamento para entender o que ele
quis dizer em algumas partes, tentei escrever da
forma mais simples possível, mas mesmo assim como
o próprio Jesus Seixas falou, as palavras pouco dizem,
entretanto acho que as compreensões das poesias
serão alcançadas no decorrer do livro, que talvez não
fique tão longo, pois sábios querem que eu transmita
apenas as idéias principais que vejo nos sonhos e não
uma descrição detalhada que não leva a nada, é por
isso que em páginas você já vai da África a Europa
pulando lugares que poderiam ser importantes uma
vez que por ali Thace passou, mas entendo que eles
pouco estão preocupados com a geografia e culturas
dos lugares. Mas sim nas mutações psíquicas que
Thace sofre, pois o importante ainda é o paradigma
que representa o universo de Thace.
Neste tempo que estou escrevendo o livro, passei a
ser mais culto e ler muitos livros, para tentar
melhorar o modo de escrever e ajudar a conduta
filosófica que as idéias trazem para atingir os
objetivos da F.: C.: V.:, não sei bem ao certo se
realmente você está acreditando neste livro, para mim
pouco importa, mas não sou como os sábios que
254
pedem para não lê-los se não acredita, quero que leia,
pois preciso saber qual a função disso tudo.
Agora vou explicar detalhadamente como funcionam
os contatos com os sábios, posso escrever, pois Jesus
Seixas cedeu algumas páginas para isso, é por isso
que ele já não aparece mais na história, enquanto
espero o próximo sábio, vou revelar estes
acontecimentos.
Como o próprio Jesus Seixas disse, eles não são
espíritos, não passam de personalidades no
inconsciente, assim como você têm pessoas fazendo
independentes de você coisas que querem. Assim são
eles, fazendo o que querem, mas em outro tempo, sem
perceber eu consegui a unificação do universo, mas
isso não é como a unificação que Thace conseguia,
apenas sou unificado quando uso a moeda, que de
alguma forma consegue criar uma idéia que minha
consciência aceita quebrando o limite dos universos.
O importante é saber que aquela moeda não tem
força alguma, mas a idéia que possuo sobre a moeda é
que é o poder libertador, é isso que o sábio da moeda
me disse, os números não são superstições e nem vão
ser códigos para os outros sábios saberem quem sou,
fui eu quem entendi errado, a moeda é apenas uma
moeda, a brincadeira não está nela, mas sim na minha
mente, que com certeza é a maior fonte de
conhecimento seja histórico ou cósmico, por isso não
pense que sou louco ou mexo com espíritos, pois isso
somente existe para quem quer, lembra do Jesus
Seixas? Eu sou um homem como você, que teve a
sorte de conhecer um outro universo no meu próprio
universo, e quero continuar explorando isso para ter
certeza que cada sonho está ligado com outro sonho
formando sempre grandes histórias, com certeza
verdadeiras
para
quem
quer,
estou
apenas
conhecendo eu mesmo, aprendendo com deus.
255
Alguns dias atrás, eu estava surpreso com o sucesso
da seqüência dos sonhos, onde Jesus Seixas me
mostrou belas idéias onde Thace filosofou, querendo
aperfeiçoar o trabalho, resolvi acampar e dormir na
natureza como Thace sempre fez, levei o manuscrito a
moeda e alguns mantimentos, a fim de tentar provar
como era a vida de Thace, não levei nenhuma
tecnologia, como por exemplo, fósforos e lanterna.
Apenas pão, água, papel e caneta me faziam
companhia.
Confiava que a noite do sonho seria igual a do dia
anterior, obedecendo ao roteiro da história, mas isso
não ocorreu. A noite estava sem lua, grandes nuvens
cobriam o céu, deitado em baixo de um pinheiro, eu
estava com medo, não enxergava além de uns cinco
metros, apenas observava o crepúsculo alertando que
logo estaria no segundo universo e, pela primeira vez
resolvi dormir com a moeda, coisa que jamais vou
esquecer, pois começou a ocorrer fatos estranhos, o
medo tomou conta do meu corpo, não tinha para onde
ir, naquele campo, existia apenas eu e o pinheiro e
nada que ocorresse poderia ser evitado. Então logo
tudo passou, consegui controlar o medo passei a
pensar que ali nada existe e poderia inventar coisas
boas para me proteger, imaginei que o pinheiro era
um gigante com grande chapéu preto, ele era meu
protetor.
Dormi com está idéia até acordar assustado com a
presença de um cavalo, mas somente soube que era
um cavalo quando o sol me disse e, durante todo este
tempo fiquei sem dormir e sem sonhar, isso provou
para mim que eu sou o comando do universo, pois se
ligasse para o escuro e o cavalo, poderia ter sonhado
e escrito o livro, a moeda não passou de uma simples
moeda, tudo está em nossas mentes, o lado oculto não
está nas coisas, mas sim na mente, pois as coisas são
coisas da mente.
256
O outro fato importante que me ocorreu, foi cinco
dias após o acampamento, nesse dia fiquei quase o
tempo todo lendo e filosofando, não parei para
descansar e mal me alimentei, pois estava com uma
cede de leitura fora do comum, resultado, minha
mente se condicionou a receber palavras e emitir
outras pensadas, assim perdi toda a noite
simplesmente por que não queria dormir, a vontade e
o cansaço não me comandaram para o sono, fiquei
deitado e pensando como ainda estivesse lendo, foi
nessa madrugada que escrevi as partes de poesias e
pensamentos
de
Jean-Jacques.
Eu
estava
completamente fora do controle, não sabia o que
estava ocorrendo, mas tudo parecia com uma clareza
e razão que me surpreendeu, junto comigo estava o
Jesus Seixas, ditando como sempre e pensando sobre
uma grande pedra, enquanto escrevia, a mesa onde
estava o manuscrito sumiu, inclusive tudo a minha
volta desapareceu, apenas enxergava o livro e a
caneta, no lugar das coisas surgiu uma linda paisagem
onde estava a pedra e grandes montanhas, com
certeza eu estava no Tibet, onde Jesus Seixas viveu.
Até parece aqueles livros de antropólogos que
experimentam plantas alucinógenas, mas na verdade
é efeito do cansaço.
Um dos sonhos me inspirou para escrever um conto,
pois estava com semelhanças da história de JeanJacques e do homem sem pernas e braços, mas este
sonho não se encaixava na história, pois possuía
personagens deste livro ocupando lugares sociais
diferentes, como Eberth que lá se apresentou como
cavaleiro andante e neste livro ele é um bruxo, então
resolvi escrever aparte desta história, mas como
gostei muito eu vou apresenta-lo neste espaço
reservado para mim, no qual não sei o seu tamanho,
pois enquanto aguardo o terceiro sábio, continuo
escrevendo, o conto conta algo assim:
257
O FILÓSOFO E O FAXINEIRO
Sete anos era a idade de Górgias, um menino criado
em Atenas, filho de uma falecida faxineira com um
cavaleiro andante, conhecido como Eberth “o quebra
ossos”, um dos homens mais temidos quando está em
batalha. Górgias vivia com os pais de sua mãe, pois
Eberth não era apenas andante na profissão, seu
caminho era sua casa, por isso era raro um encontro
com a família. Em um desses raros encontros, Górgias
teve a oportunidade de sugar o conhecimento de seu
pai, quando fez esta pergunta:
- Pai, a vovó falou para mim que Deus é quem julga,
é verdade?
- Sim filho, somente ele é quem julga.
- Mas papai, quem é Deus?
- Escute o que lhe falo filho, jamais questione Deus.
- Mas por que não, pai?
- Eu já lhe falei Górgias, – respondeu com firmeza,
Eberth – nunca questione Deus.
- Quer dizer pai, que você é Deus?
- Mas por que pergunta isso?
- Eu não estava questionando Deus, mas estava
questionando você.
- Tudo bem filho, você venceu, eu sou Deus e vou
julgá-lo se você não for dormir.
Górgias foi rapidamente para cama com medo de
seu pai condená-lo à fogueira eterna. Por algum
tempo Eberth ficou pensando na conversa que teve
com o filho e notou a inteligência que o menino
possuía, mas que pouco ajudaria, pois estudar era
privilégio de poucos.
O incansável tempo age, transformando aquele
menino em um forte faxineiro do congresso de Atenas,
onde se reúnem filósofos e políticos para debaterem
assuntos governamentais. Em uma noite de reunião
258
no congresso, Górgias limpava o chão para que
aqueles homens barbudos começassem a conversar
sobre coisas estranhas para ele. Mas nesta noite não
foi possível limpar o chão a tempo e logo surgiram os
primeiros filósofos que sentaram em seus lugares
naquela grande mesa, que todo dia Górgias limpava
com tamanha paciência. Na principal cadeira sentouse o último e o líder intelectual daqueles aprendizes
da vida, os assuntos da noite passada foram
retomados e o debate começou, com testemunha de
Górgias, que mal foi notado naquela grande sala.
Górgias começou prestar atenção nos assuntos
tratados tentando utilizar a velha e esquecida razão,
logo conseguiu a tão esperada chance de poder
expressar as idéias que lhe consumiam a mente. Em
um questionamento sobre Deus, feito pelo líder,
direcionado para todos, quando discutiam a função
verdadeira da religião na sociedade, Górgias se
pronunciou timidamente:
- Por favor, senhores, eu posso ajudar, sei quem é
Deus.
- Vejam como o mundo é pequeno, - disse um
filósofo, com ironia – tínhamos um profeta ao nosso
lado e nós nem percebemos, - soltando uma
gargalhada, que todos acompanharam – pois então,
revele para todos, quem é Deus.
- O nome dele é Eberth, o grande cavaleiro andante,
também é meu pai.
Todos que estavam no congresso começaram uma
série de gargalhadas, exceto o líder que se
pronunciou, calando os aprendizes:
- Você está certo rapaz, como recompensa de sua
sabedoria, lhe convido para fazer parte desta
sociedade intelectual. E antes que algum de vocês
me pergunte a razão pela qual julguei a resposta
do rapaz correta, vou lhes responder com prazer.
Cedo ou tarde, vocês iriam chegar à mesma
259
conclusão que o nosso amigo chegou, uma espécie
de individualismo cósmico, cada homem é
responsável pelo seu universo e tem a certeza de
que todas as idéias somente existem porque as
inventou. Independente de qualquer crença
metafísica é importantíssimo que cada um saiba
que todas as perguntas e respostas foram criadas
por você, por isso você é Deus ou qualquer outro
termo. Peço que reflitam melhor esta pura mentira
e amanhã continuaremos com a companhia do
nosso novo filósofo.
Antes de o líder sair do congresso, Górgias lhe
falou:
- Senhor, eu agradeço muito, mas tenho que
continuar trabalhando, por isso não vou poder
participar dos debates.
- Meu rapaz, deixe os frutos para os animais, pois
agora você se alimentará de raízes, - disse com um
olhar paternal – qualquer problema que você
tenha, somente será resolvido quando desprezá-lo,
por isso conto com sua mente amanhã, para ajudar
a resolver os meus.
O filósofo se despediu de Górgias que lhe agradeceu
a energia transmitida. E assim começaram os
primeiros contatos de Górgias, com a maior força que
existe, que não vale um simples sabão.
Novamente notamos a frieza do relógio alterar o
espaço e Górgias aumentar seu universo, ele estudou
como estuda um verdadeiro filósofo, não apenas
debruçado em livros, mas principalmente observando
a natureza da cultura local. Quanto mais pergunta
fazia, mais resposta produzia, logo notou que
realmente era o criador de tudo e que cada humano
era um universo, que podia criar tudo desde Diabos a
Deuses. Soube responder como ninguém, qualquer
pergunta sem ao menos pensar sobre ela, aprendeu
em cada conferência andar, não pensando em quanto
260
já havia andado ou quanto ainda faltava, mas sabendo
cuidar somente do passo que estava dando. Foi assim
que Górgias cresceu na sociedade intelectual, sendo
sempre otimista e fazendo o que gostava, livre de
qualquer mandamento degradante de sonhos.
A vida de Górgias ainda lhe guardava segredos, que
começaram a se revelar quando recebeu uma
mensagem de um amigo do seu pai, que mudou
totalmente o rumo de sua vida, era um comunicado
que seu pai havia se ferido em uma grande batalha, e
que Górgias precisava encontrá-lo em Bruxelas para
poder dele cuidar. No mesmo dia o jovem filósofo
seguiu para Bélgica, deixando os sonhos para o futuro
cuidar, e trazendo amor para o seu pai sarar. O
caminho da viagem não foi aproveitado como ele
queria, pois a preocupação venceu sua sabedoria e
deixou a marca do medo em seu coração.
Chegando na ermida onde se encontrava Eberth, o
agora faxineiro Górgias observa aquelas mulheres
com grandes crucifixos pendurados em seus pescoços,
elas corriam para todos os lados, movidas pelo amor
que sentiam pelos muitos doentes esparramados pelo
chão. Em um canto da pequena ermida, Górgias
encontra seu pai que demonstra um sono quase
perfeito, com uma respiração fraca e lenta, no mesmo
instante uma freira tenta conversar com Górgias, mas
ambos não possuíam um idioma comum, o que levou o
entendimento foi o jogo de idéias, transmitidas por
gestos. Logo após a freira entender a idéia da relação
pai e filho, ela retira com uma expressão melancólica
o lençol que cobria Eberth, trazendo uma profunda e
dolorosa emoção em Górgias, após ver o corpo de seu
pai sem as pernas e braços. Lembrando das sábias
palavras do líder filosófico sobre os problemas,
Górgias agradece as freiras e leva o grande cavaleiro
andante para Atenas. No caminho, apenas gritos do
261
Eberth quebravam o silêncio, gritos estes que eram
direcionados para Górgias, como um pedido de morte.
A Terra gira duas vezes em volta da mais bela
estrela e Górgias se adapta bem às novas rotinas,
podendo cuidar do seu pai e continuar sua carreira de
filósofo. Eberth do outro lado, ainda guarda a marca
da
inutilidade
que
o
tempo
não
apagou,
constantemente lembra dos homens que lhe fizeram
tamanha maldade, somente para ironizar seu famoso
apelido, mas o que mais lhe fere é saber que não pode
nem mesmo se matar, que seria a única honra que lhe
aliviaria. Cada dia Górgias provava seu amor pelo pai,
com seus estudos pôde construir uma cadeira de
rodas para levar Eberth olhar a vida e esquecer a
escura depressão que as paredes do quarto lhe
transmitiam. Seus dias eram de conversas frias sobre
as mesmas coisas do dia anterior, mas isso nunca foi
motivo para desânimo do filósofo, pois ele sabia que o
tempo era remédio para tudo.
Em uma noite de debates no congresso, Górgias
aprende coisas importantes para sua bagagem
intelectual, em mais uma discussão religiosa, o líder
fala:
- Vejam como os ditos civilizados impõem suas
crenças para culturas diferentes. Conversei com
um amigo jesuíta que me contou algo interessante,
em uma de suas viagens para América, ele
presenciou um estranho comportamento causado
em uma cultura canibal, os afetados comiam pão
pensando que era carne humana, pois ainda não
estavam preparados para receber uma cultura
diferente. Coitado de Jesus, sua verdadeira imagem
foi mascarada pela ignorância.
- Gostaria de saber onde quer chegar com isso? perguntou um dos filósofos – pois não somos
pessoas que perdem tempo com curiosidades, sem
objetivos racionais.
262
-
Não sou um homem que descreve os erros dos
homens, - respondeu o líder, com uma voz suave –
mas um homem que demonstra pelos erros, como
ser um homem.
Pensando no seu pai, Górgias pergunta para o líder:
- Como mostrar para um homem que ser errado é
ser humano?
- Uma simples discrição dos fatos os torna banais.
- Por favor, - disse Górgias, com olhos da mente –
você pode retransmitir em outras palavras?
- Minhas palavras não dizem nada, o que diz é a
imaginação de quem escuta.
O debate termina e Górgias tenta imaginar um
milagre que traga novamente a vida para o pai.
Após árduas reflexões, Górgias cria coragem e
assunto para convencer Eberth de que ele ainda está
vivo, e na tarde do outro dia, ele leva seu pai para
olhar o pôr do sol, em uma linda colina perto de um
lago, então sente que chegou o momento da
metamorfose que atingiria os dois, e com uma
modesta timidez, Górgias fala:
- Está lindo o dia hoje, você não acha, pai?
- Tanto faz como fez, - respondeu Eberth, com
rancor – para mim o dia é sempre uma esperança
de se cumprir uma profecia do fim de tudo.
- Pai, você não deve pensar assim.
- Quem é você rapaz, para me dizer isso? - disse
olhando para o seu pedaço de corpo, o grande
Eberth – por acaso você já ficou sem os membros?
Por causa de sua frescura eu ainda estou aqui
sofrendo, quando podia ter morrido com honra.
Ao escutar isto, Górgias explode uma dinamite de
palavras, na pessoa que mais ama na vida:
- Eu quero que esta honra morra, até quando você
vai ficar olhando as desgraças que sua vontade
criou e desprezando a vida? Veja este corpo inútil
que você possui e compare ele com o de um
263
defunto, você não precisa de braços e pernas
quando tem uma mente, - um silêncio – eu não
quero que você morra pai, pois ainda preciso de
seus conselhos, olhe a vida como ela é, não tire
falsas conclusões, morrer não lhe trará glórias,
mas sim arrependimentos, - uma lágrima, escorre
no rosto de Górgias – pai, por favor, desculpe-me;
não queria que isto acontecesse, eu somente
queria ver novamente seu sorriso, marcando meus
caminhos.
Górgias deixou seu pai sozinho e foi para beira do
lago, ele tremia como nunca, seus olhos derramavam
águas da fonte de emoção, seus pensamentos eram
confusos e falava palavras sem nexo, como se
perdesse todas as suas forças, sentia-se em um
grande deserto, procurando um oásis, mas no fundo
desta turbulência, ele sabia que mexeu com o coração
do pai. Eberth estava com os olhos úmidos mirados
para o sol, sentindo as palavras do filho destruir os
limites de sua mente, e antes que o sol lhe
abandonasse, gritou para todo universo ouvir:
- Ó Deus, que me tirastes meus braços e pernas, que
tirastes minha alegria de lutar e caminhar, que me
proibistes de abraçar meu filho, obrigado por
somente agora eu ter vontade de possuir pernas e
braços, e ter alegria para lutar e desejo de
caminhar, obrigado do fundo do meu coração de
me dar esta linda vontade de abraçar meu filho.
Eberth conseguiu enxergar os misteriosos truques
que a vida nos faz para poder dela viver e passou os
restos de seus infinitos dias ajudando, com ótimas
idéias, o filho escrever belos livros, que infelizmente
foram queimados em um incêndio no congresso.
Górgias conseguiu assumir após a morte do antigo
líder o seu posto social e já no primeiro dia encontrou
um jovem cheio de dúvidas, que lhe perguntou:
- Senhor, pode me responder quem é Deus?
264
-
Deus é quem tira, para dar algo melhor é quem
muda para não deixar morrer, enfim, Deus é
vontade, amor, futuro, passado, presente, natureza
e vida, resumindo, é o criador de tudo.
- Ainda não consegui entender, quem é ele?
- Então você deve ir diretamente a ele.
- Mas como? - perguntou o rapaz, perplexo – eu não
quero morrer.
- Existe um meio mais fácil de encontrá-lo, além da
morte.
- Onde?
- No espelho.
O rapaz ficou contente com a resposta e indagou à
Górgias:
- Como posso ser sábio assim como você?
- Primeiramente, para que você quer sabedoria?
- Para poder ajudar a quem precisa de vida.
- Ótima resposta, - sorriu com amor, Górgias – você
pode ser um filósofo.
- O que é preciso para ser um?
- Todos podem ser filósofos, basta ser um faxineiro.
- Faxineiro?
- Sim, é preciso limpar para enxergar, mas também
enxergar para limpar.
O que achou? Bonito? Repare que é um conto muito
parecido com o da história de Jean-Jacques, por isso
digo que este conto deve estar escrito neste livro, que
talvez ainda possa existir, mas isso só o tempo dirá, ou
não.
265
-
Tenho que admitir, - falou Márcia – esse conto é
fantástico.
- Sim o conto e as viagens de Luiz. – falou Rose.
- Lê logo isso Márcia. – pediu Marcos.
As coisas estão cada vez uma só. Antes eu chorava.
Hoje eu ensino. Você parece ser bem entendido nesse
assunto. Sei que aquele medo de Luiz. Aquele medo de
Thace. Isso não passa de um impulso inconsciente, uma
defesa natural para estimular uma fuga da questão que
cria o medo, pois essa questão no momento é muito
forte, não existe fuga, logo a natureza ajuda. Os
mandatos indiretos estão num fluxo passível de
erudição. Portanto essa ideologia pré-humana não pode
contra. Sua vida é essa. Agora montanhas estão de
estímulo em ápice. Aptidões insertas é o que pode lhe
vir a ser. Essa manha é literalmente uma instância entre
a hegemonia narcísea do ponto final. Narcanálise cura
essa maluques temporária. Deixe lá e vamos cá. Bem
onde uma linda Márcia lê.
Refletindo sobre tudo isso que ocorreu na minha
vida até aqui, cheguei numa conclusão temporária;
sempre eu procurava deixar o mundo como eu queria,
então resolvi imaginar-me no controle total do mundo.
Eu estava em cima da lua, em um grande castelo, e
lá de cima observo todo o planeta, logo comecei a
mandar no meu mundo, eu falava “a” e todos repetiam
“a”, eu falava “b” e todos repetiam “b” e assim foi até
acabar o alfabeto, então chegou a hora dos números,
até ai eu estava feliz por comandar tudo, de repente
eu falei “1” e todos repetiam “1” eu falei “2” e todos
falavam “2”, eu falei “123.867.305” e todos falavam
“123.867.305”, então fiquei bravo, pois notei que iria
266
passar o resto da vida vendo todo mundo dizer amém
a tudo conforme eu queria, e ficou sem graça, logo
disse para todos: “até quando vocês vão ser assim?” e
eles me responderam: “até quando vocês vão ser
assim?” aprendi com isso, que temos que ser o mais
diferente possível, somente assim saberei que eu
tenho muito o que me conhecer, pois sendo você o
mundo não te respeita, mas querer ser o controle do
controle, é brincar com coisas sem vida.
Não tenho “escrevido” muito, há um bom tempo não
aparece nenhum sábio nos meus sonhos, por isso acho
que não tenho motivos para escrever, além do mais
escrever às vezes perde importância para preguiça,
não pense que escritor é uma máquina, ele é apenas
mais um homem que tem seus desejos diferentes, não
fico o dia todo escrevendo, pois escrever é um ato do
coração e muitas vezes trabalha com a razão. O
problema é quando a razão não deixa o coração se
expressar, então ocorre o que vou lhes contar agora:
Eu estava apenas revendo o que havia escrito, e
comecei a refletir sobre a poesia do Thace (Oposto do
posto), quando algo me ocorreu, e passei a sentir uma
atração fatal na poesia e suas idéias, logo cheguei a
uma conclusão, que respondeu todas as minhas
dúvidas.
Os opostos não são verdadeiros, aliás, nada é, o
problema está nas idéias de opostos, dizem que uma
árvore não é uma árvore, mas sim a idéia de uma
árvore e essa é imutável, por isso todas as árvores são
iguais, porém sabemos que nunca uma árvore é igual
a outra, pois uma tem um galho para baixo e algumas
folhas e a outra tem o galho quebrado sem folhas,
então para afastar esta dúvida, lembrei dos pontinhos
e seus extremos, como pode algo existir sem
extremos? Os pontinhos dizem que não há extremos,
267
mas sim apenas uma maior distância de um ponto ao
outro.
O que quero dizer é que, a árvore jamais será
diferente da outra e também não será igual,
simplesmente porque não existe árvores, mas sim a
árvore. Tudo é apenas uma força, e pontos não
existem. A divisibilidade infinita não é divisão, mas
sim multiplicações, logo você é tudo, você não está na
força, você é a força, parece impossível conceber isso,
mas pense que tudo está em contradição em si
próprio, a pluralidade das idéias é inexistente, nada
existe, por isso que a idéia de árvore é igual a idéia de
nuvem e, assim por diante. Veja bem, esse “igual” só
existe porque não existe a diferença, pois não há duas
forças para comparar suas diferenças. Talvez você não
tenha entendido, mas o que quis passar é que tudo
desde nuvem, árvore, cavalo e você são coisas
infinitas é por isso que chamo essa força que é tudo
de infinito.
Depois disso eu fiquei pensando, será que estou
louco? Pois como que o meu amigo não é diferente de
mim, pois ele pensa diferente? Como que duas
moedas iguais de valor e impressão, não são iguais?
Mas logo concebi outra idéia aliviante, que seria
aceitar tudo como infinito, por isso não haveria
diferenças nem igualdades, pois só existe um infinito,
mas as contradições não estão na relação infinito para
outro infinito, mesmo porque é apenas um, mas na
relação do infinito consigo mesmo. Tudo depende das
portas da percepção.
Observe o quanto mudei, de um menino bobo para
um aprendiz de filosofia. Sinceramente eu nunca
pensei que poderia algum dia pensar como pensei. As
coisas estão se encaixando, já sinto o objetivo desse
livro, não tenho mais medo da minha imaginação, pois
consigo controla-la com a razão.
268
Pouco importa o que acharão deste livro, o
importante é que eu vou conseguir transmitir todas
as idéias que me mandarem. Deixei de acreditar em
espíritos e concebi a existência da mente
subconsciente, que já não é tão sub assim. Ninguém
além dela é responsável por tudo isso.
Vamos esperar o que ela vai nos enviar por sonho,
será que serei um bom “hacker”? Não sei, mas penso
que sim.
A vida não é tão fácil assim, sempre me pego
tentando agir conforme os ensinamentos desse livro,
mas parece que existe uma barreira entre o teórico e
o pratico, quando fico imaginando como é ser o centro
de tudo, logo vem um e cobra minha parte na
evolução. Não tenho muito tempo para pensar como
queria, a vida é corrida demais, uma hora eu estou
estudando, outra trabalhando e depois escrevendo, é
tudo muito rápido, não dá para agir conforme você
quer. Penso às vezes em viver exilado da civilização,
no meio de uma floresta com uma biblioteca em casa,
mas logo vem a realidade mandando eu fazer aquilo,
fazer isso e assim vou levando, como uma formiguinha
operária construindo o império dos poucos reis. Fico
muito triste por saber que não faço o que escrevo,
talvez seja por isso que eu escreva. Não sou
pessimista, apenas escrevo o que realmente sinto,
não devo esconder de ninguém, pois estaria
enganando a mim mesmo. Todo dia quando pego a
caneta para descrever meus sonhos, me pergunto o
que estou fazendo, nunca serei um bom escritor, veja
quantos bons existem e eu não passo de um menino
que nem sabe o que escreve. Quantas vezes achei isso
uma bobeira e penso em desistir e ajudar minha
família trazer o sustento, agora que eu escrevo isso
não sei se terminarei, mas você que está lendo, sente
nos dedos que terminei. É assim que penso quando
estou cansado, me vem na cabeça uma sensação ruim
269
pedindo para acabar com tudo, mas nunca vou perder
por esta sensação, pois sempre olho para as estrelas,
que escondem um segredo belo e infinito, trazendo de
novo a força da vida no meu ser, o universo ganha
motivos, eu olho pela janela trabalhadores sujos,
cansados e com fome, com um olhar distante e fraco e
outros nervosos dirigindo carros do ano, então noto
que o dinheiro não faz nada na vida. Ganho energias
para comandar a caneta e fazer o meu sonho ganhar
importância, não importa mais se não sou um grande
escritor, o que agora vale é a vontade de um menino
sonhador, colocar um sorriso no rosto dos sujos
trabalhadores e dos nervosos motoristas, nem que
esse sorriso dure apenas alguns segundos, para mim
já valeu a vida. Essa força misteriosa, me faz escrever
qualquer coisa num livro, que não influência em nada
a vida de ninguém, aquele trabalhador não terá como
ler meu livro, pois talvez seja caro, o motorista não vai
ler porque não tem tempo. As guerras no mundo vão
continuar, a fome não vai acabar, a tristeza está ai é
só pegar, quem sou eu para querer mudar o mundo?
Por que não posso mostrar a realidade nesse livro?
Me diga quem ira pensar em filosofia se não tiver o
que comer? Quem vai perder tempo lendo um livrinho
com historinhas bonitinhas, sendo que isso não dará
um conhecimento para o mundo do mercado? É tudo
um caos, não adianta eu ficar mostrando o lado
bonitinho se depois você liga a TV e só vê desgraças,
políticas sujas, comerciais destrutivos e muita
besteira que fazem todo mundo acreditar que aquilo é
a verdade. Talvez seja melhor eu queimar esses
manuscritos e viver conforme tem que ser e ir dormir
irritado por não ter um carro do ano, sempre
pensando nas férias e buscando a felicidade como um
cachorro busca a pulga no rabo.
Quando passo na frente do cemitério tudo isso
acaba, vejo que logo estarei deitado naqueles
270
negócios imaginando se o que está nesse livro é
realmente verdade, e o tic-tac do relógio me faz
acordar e espantar esses pensamentos herdados, e
uma coisa viva acende meu corpo, sinto prazer de
viver e corro rápido e feliz para escrever tudo que
alguém me diz.
Agora tudo está bem, vou mudar o mundo, não
importa o que dizem, eu vou mudar o mundo e minha
arma é essa caneta, veja como é a vida, eu não sou um
rei, sou como você, acorde e desperte a vida em seu
ser, quebre todas as barreiras imaginárias e desfrute
dessa vida, não tenha medo, seja você mesmo, grande
e infinito, esqueça o que dizem os economistas,
marxistas, positivistas ou qualquer outro negócio
manipulador, não importa se você é doutor ou
mendigo, veja que existe algo muito grande escondido
atrás da razão e da lógica. Isso muda tudo, sinto o seu
coração batendo, o cachorro latindo, as crianças
chorando, a televisão mentindo, o grilo cantando,
venha viva e acorde, não perca tempo com coisas do
momento, faça algo eterno, saia correndo pela rua
gritando de alegria, esqueça o trabalho e fique o dia
todo comendo frutas em cima da árvore, não interessa
o que dizem, é tudo louco, eu sou louco, mas e daí?
Todos vão morrer e você só vai fazer o que quer,
quando o presidente do país dizer na TV que tudo é
livre? Ou então vai esperar se aposentar, para fazer o
que quer. Eu sei que você tem vergonha, imagine sair
gritando na rua, mas eu também tenho vergonha e
não vou sair gritando pela cidade, mas um dia eu vou
fazer, por enquanto é apenas um sonho no livro. Mas
pelo menos ninguém pode negar que minha euforia
vence qualquer desafio, a noite está linda e as estrelas
me mostram o que eu preciso fazer, aqui com a luz
delas, o jornal não me atinge.
-
Puxa! – exclamou Rose – Luiz soltou seu coração.
271
-
Luiz não, - corrigiu Marcos – Leucipo foi quem de
derreteu.
- Ai! – disse irônico Michael – eu achei muito bonito
essa descarga emocional...
- Não seja um cavalo, - disse Márcia – Leucipo é um
homem que sente e diz sobre a vida, não fica
escondendo por vergonha de ser inferior.
- Você está insinuando que eu escondo o que penso? –
perguntou Michael.
- Se você um dia pensou, sim. – respondeu Márcia
sorrindo como se dissesse: “se fudeu palhaço”.
- Leia ai sua puta, e pare de frescura. – mandou
Michael brincando.
Um médico vive menos que um paciente. Um escritor
vive menos que um livro. Um disfarce dura menos que o
ator. Durou mas disse. Leucipo admitiu sua autoria
sobre a obra. Abriu o coração e decretou. Porém quiçá
não mostrou no limpo. Sempre obscuro. Por trás de um
Luiz. Por trás de palavras mal estruturadas. Toda sua
sabedoria ali jaz. Quem sabe no fim. Para isso ler é
solução. Então mande-nos as idéias Márcia.
CAPÍTULO III.
“Não é o ser que morre, mas sim o universo que
muda e o que existe é apenas uma força que não cria
tudo porque ela é tudo.”
Foi esses pensamentos que acordaram comigo após
um sonho fabuloso que marcou o primeiro contato
com o F.: C.: III.: algo realmente racional e incrível.
272
Ele não falou nenhuma palavra no sonho inteiro,
apenas apontava para Thace. Pelos grandes templos
acho que estávamos em Atenas. O sábio era um
homem negro, magro e alto, com uma expressão
séria, isso foi tudo que consegui gravar nesse
primeiro sonho.
“O ser não morre, ele é a força, contra ele apenas
ele, amarrado em seus próprios pensamentos quase
se esquece disso.”
Pela primeira vez o F.: C.: III.: falou, veja acima a
pureza do pensamento dele. E nesse segundo sonho
ele começa a narrar a história de Thace.
Eu não sou ninguém, não tenho nome e não quero
nome, pouco vocês precisam saber de mim; não gosto
de números por isso não sei quando nasci, sou um
cosmopolita e não preciso de terra natal, mas não
pense que sou um homem ruim, apenas não gosto de
limites, vocês já sabem tudo sobre mim, vamos falar
de Thace Pahazy Filibuster, o motivo desse livro.
O aventureiro está em Atenas, o berço do
pensamento ocidental. Sentado no degrau de uma
antiga ermida, ele pensa sobre algo que só ele sabe.
Thace domina bem o grego e, se comunica com uma
senhora de idade avançada:
- Qual é o seu nome?
- Quem quer saber? – disse a senhora com uma voz
firme desprezando seu corpo frágil.
- Sou Thace, e quero conhecer a cidade.
- Atenas não pode ser conhecida.
- Mas senhora, ela não fala, é uma cidade.
- Então para que quer conhecer o que já conhece?
273
-
Eu não conheço, - falou Thace abismado com o
comportamento da senhora – eu sou um viajante,
eu só sei que Atenas é uma cidade.
- Isso já é o bastante.
Thace se levanta e começa a seguir os lentos passos
da senhora, perguntando:
- Eu ainda não sei seu nome, pode me dizer?
- Atenas.
- Atenas? – com espanto replicou Thace – é por isso
que não quis me mostrar a cidade?
- Eu sou a cidade.
- Não, a senhora só tem o mesmo nome da cidade.
- A cidade já conseguiu tudo o que queria? –
perguntou sorrindo Atenas – você seria a cidade
ideal para você.
- Eu? Cidade?
O silêncio reinava, mas não vencia o arrastar de
sandálias de Thace e Atenas. O crepúsculo era lindo,
dizendo que a noite já estava por vir, então se
sentaram num banco onde Thace perguntou:
- Onde fica o monte Olimpo?
- Não sei.
- Mas a senhora não mora aqui?
- Talvez.
- Como talvez? – perguntou nervoso Thace – você é
estranha.
- Estranha?
- Sim estranha.
- O que é estranha?
- É você.
- Não, eu sou Atenas. – disse ela pressentindo que
poderia entrar numa tautologia.
- Sim, é Atenas e é estranha.
- Eu não sabia que você era estranho.
- Quem é estranha é você Atenas.
- Sim, mas se eu sou estranha para você, você é
estranho para mim.
274
Thace fica pensando como pode ser tão sábia uma
mulher tão velha, que por fora até parece morta, sem
esperar muito ele a questiona:
- Atenas, você trabalha com o que?
- Eu ainda trabalho.
- Realmente você é uma mulher forte.
- Não precisa de força no meu trabalho.
- E o que você é?
- Sou filósofa.
- Quanto me honra estar do lado duma filósofa.
- Não perca palavras Thace.
- Quero que você me ensine filosofia.
- Não posso.
- Mas por quê?
- A filosofia não se ensina, o que posso fazer é contar
a sua história e fazer você filosofar sobre ela.
- Quando começamos?
- Quando Zeus mandar, aguarde a mais antiga
divindade.
Receio do ano
Se esconde no pano
Quer saber?
Então não queira
O presente do grego.
Atenas foi embora, enquanto Thace se ajeitava no
banco para dormir, pensando quem seria a mais
antiga divindade. Em pouco tempo tudo estava escuro
e com o silêncio dos calados pensamentos que
derramavam das antigas ruínas. Thace dorme como
275
uma criança assustada, abraçado no livro de JeanJacques.
Uma pessoa se aproxima do banco onde dorme
Thace, ela está de branco e avança lentamente,
chegando bem próximo ela fala:
- A noite é a mais antiga divindade.
E, coloca um papel sob o livro “666” que está caído
no chão e, ela vai embora.
Quando acorda, Thace escuta sua mente repetir
constantemente a seguinte frase: “A noite é a mais
antiga divindade.” Sem saber o que significava. Pouco
se importa, mas tudo muda quando avista o papel sob
o livro, no qual ele rapidamente apanha e descobre
que é uma carta, escrita em grego, com as seguintes
idéias:
αντεχω τουσ κινδυνουσ
Já não possuo tanto fôlego para falar e por isso que
vamos recordar a filosofia por cartas, talvez você seja
meu último aluno, pois já estou nas últimas, não sou a
mestre, sou apenas uma iniciada como você Thace. O
que nos diferencia é que eu sei a história, mas nós
somos iguais na capacidade de recria-la filosofando,
por isso não me trate como algo melhor, mas sim
como amiga.
Com cartas o tempo para pensar aumenta, fazendo
eu resistir aos perigos e ganhar do tempo vocal. Antes
de começarmos a lembrar da mitologia grega que é o
berço de muitas religiões e pensamentos, quero que
me responda uma pergunta também por escrito, que
no final do dia venho apanhar nesse banco onde
dormes e sonhas, a idéia é a seguinte:
Eu, você e todos, quem somos?
De sua amiga velha filósofa
Atenas.
276
Thace sente que tudo que aprendeu em sua vida,
não passa de galhos, aquele egocentrismo se torna
banal diante de uma pergunta tão simples, porém
quase sem respostas. Faz um ano, que Thace não tem
o universo unificado, a última vez foi no norte da Itália
onde passou a conviver mais com as pessoas, tendo
pouco tempo para si próprio. Procurou alimento e foi
passear em Atenas, sempre pensando na resposta que
tinha que dar até o fim do dia, após pensar muito
consegue rabiscar alguma coisa no papel, e volta para
o banco sentando-se para esperar Atenas.
De repente ela chega estica a mão como se
querendo algo, entendendo que era a carta resposta,
Thace lhe entrega e ela vai para casa sem falar uma
palavra com ele. Sentando-se na velha escrivaninha
Atenas abre a carta e nela está escrito a resposta em
latim:
Não somos.
De seu amigo viajante louco
Thace.
Atenas sorriu com a resposta e sentiu que Thace era
um sábio homem e logo começa a escrever outra
carta, para novamente a noite entrega-la ao andarilho,
que por sua vez leria e pensaria o dia todo, mas dessa
vez a carta foi muito além:
Thace prepare-se para entrar no universo dos
deuses.
Caos é o mundo primitivo, matéria que existia desde
tempos imemoriais, pela resposta que me deu, sei que
sabe que o tempo só existe por causa de sua memória.
277
O Caos possui filhos, são eles: a Noite (mais antiga
divindade) e Érebo que por sua vez teve Éter e o Dia
que são pais do Céu.
Eros é o poder divino que criou o Caos, ele é quem
inspira simpatia entre os homens, é o ser invencível,
por isso Thace nunca brigue com ele. A Terra nasceu
logo depois do Caos, casou-se com Urano.
Sendo a mãe dos deuses e dos gigantes, Telus deusa
da Terra, mulher do Sol, era linda.
Saturno filho de Urano destronou seu pai. Titão
primeiro filho de Urano. Saturno promete não ter
mais filhos masculinos, para continuar a hierarquia,
cumprindo a promessa Saturno devora todos os filhos
que teve com Réia, você não acha isso triste Thace?
Mas Réia tinha bom coração e conseguiu salvar um
filho das mãos de Saturno, seu nome era Júpiter, que
mais tarde declara guerra ao seu pai Saturno,
derrotando-o e colocando-o fora do céu. Réia salvou
além de Júpiter, Netuno e Plutão. Júpiter tinha uma
irmã gêmea que virou sua esposa, seu nome era Juno,
estranho você não acha? Irmão se casar, mas isso
ocorria entre os deuses, meu amigo Thace.
Fora do céu, Saturno passa a ser um simples mortal
e refugia-se em Lácio na Itália. O dia de Saturno é o
sábado (saturni dies).
A partilha do mundo será feita em sua família e o
abóbada celeste sustentará o misterioso palácio do
soberano senhor, pai dos deuses, dos homens. O
palácio é o Olimpo ou Empíreo, em cima do monte
mais alto da Grécia, quase sempre entre nuvens.
Olímpicos eram os doze principais deuses: Júpiter,
Netuno, Plutão, Marte, Vulcano, Apolo, Juno, Vesta,
Minerva, Ceres, Diana e Vênus.
Essa é uma pequena introdução na linda mitologia
grega, que tem por finalidade explicar a origem de
tudo, mas como somos filósofos quero saber uma
coisa:
278
Qual é sua teoria sobre o “início” de tudo? Ou
por que tudo sempre existiu?
De sua amiga velha filósofa
Atenas.
Estava esquecendo, Júpiter é o rei dos deuses e dos
homens, seu reino é Olimpo, com um simples
movimento de cabeça, agita o universo, você não acha
isso sugestivo demais?
Agora sim, de sua amiga velha filósofa
Atenas.
Agora Thace sente firmeza em Atenas, lê várias
vezes a carta e não consegue achar uma fuga para as
perguntas, pois ela acertou a resposta que Thace iria
dar e questionou o que ele nunca havia questionado
“o por quê que tudo sempre existiu?”. Essa pergunta
machucava Thace, mas ele sabia que iria crescer
muito com esse teste. Tanto procurou que achou a
resposta na própria carta e, sem perder tempo
escreve no papel seu pensamento.
Na mesma rotina Atenas apanha a resposta e dirigese para sua escrivaninha. A resposta de Thace
novamente lhe surpreende, agora escrito em árabe:
Atenas:
Adorei a sua introdução da mitologia grega,
refletindo muito sobre o que me perguntou cheguei a
uma conclusão. O tudo sempre existiu, simplesmente
porque ele nunca existiu. O passado, presente e
futuro são crimes para mente, como meu amigo JeanJacques disse, “eu sou a aurora dos fenômenos.”
De seu amigo da Noite
Thace.
279
Atenas sente que achou um discípulo muito capaz e
ousado, dobra a carta e a guarda na gaveta com muito
cuidado, pois ela sabe que isso um dia será material
de pesquisa para historiadores e filósofos do futuro.
Vai até a pequena biblioteca do seu falecido marido e,
abre o livro “República de Platão” para começar uma
boa leitura, que passou a ser um hábito diário, desde
quando se casou com Tífon, um filósofo ligado a
política de Atenas.
Thace aguarda ansioso a filósofa para saber o que
achou sobre sua resposta, ele anda muito preocupado
nos últimos dias, pois tudo que pensava que sabia está
sem estrutura de sustentação. Pensar é a única saída
para esse pobre homem, mas o melhor ainda estava
por vir. Atenas apareceu na praça sentando-se no
banco onde se encontra Thace, e sem enigmas
pergunta:
- Onde você aprendeu isso?
- Isso o que Atenas?
- Respostas, onde aprendeu responder?
- Pela vida que levo, anda-se muito, conheço toda a
África e boa parte dos intelectuais da Espanha,
França e Itália.
- Mas isso não responde minha pergunta.
- Então você não soube perguntar.
- É isso que me surpreende, você sabe responder
com cautela e convicção.
- Nem sempre Atenas.
- Thace vou-lhe dar essa carta, onde conhecerá
alguns filósofos e seus pensamentos, quero que leia
e depois mostre-me o que achou sobre eles, volto
amanhã.
Sem falar mais nada, Atenas levanta e entrega uma
carta enrolada como um mapa, que Thace pega
sorrindo e desejando uma boa Noite para sua filósofa.
280
A carta esquenta entre os dedos de Thace, que
espera o sol voltar para poder lê-la, pois a lua não
está trabalhando e, ele não acende velas, pois pouco
adianta em uma noite nublada e ventosa. As velhas
ruínas emitem um barulho melódico que Thace
considera uma canção noturna inspiradora para um
bom sono.
A noite passa e com ela a chuva e o frio que tanto
lutaram com a velha parede onde Thace se abrigava, o
sol traz à tona a vontade de ler a carta e sem muito
esperar, as letras são consumidas pelos grandes olhos
do andarilho filósofo:
-
Ué... parece que acabou, - disse Márcia – e acabou
mesmo, pois se fosse o fim do caderno não teria
essas folhas em branco.
Como acabo? – perguntou Rose – você nem leu a
carta de Atenas para Thace.
Sim, - respondeu Márcia – mas não existe mais nada
escrito.
E esse papel aqui, - falou Marcos catando do chão
uma carta que havia caído do manuscrito – será que
não é a carta?
Deixe-me ver. – pediu Márcia.
Ela olha detalhadamente e logo lê:
Para Atenas, a filósofa que sabe o que não lembro:
Minha clemência pela vida me faz ser um tanto
egoísta, mas não por ganância ou hierarquia, mas pelo
fato de querer fazer o que a palavra não me impede é
281
por isso que aumento minha euforia destruindo
qualquer bloqueio psíquico imaturo. O céu canta
alegremente com suas estrelas filosóficas imortais,
sempre vivendo com prazer do sol e da lua nunca
desprezando os coloridos pássaros que imitem o eco
divino. Você sabe do que falo vive nisso como
ninguém, porém quase sempre ignora essa beleza
total, por falta de controle em sua razão, fé, lógica ou
dialética, pensa que o mundo é apenas isso sem
capricho, nega o que os seus olhos dizem por
acreditar que existe distinção entre razão e sentidos,
mas quero que saiba que a única diferença entre eles
é as pobres estruturas fonéticas, ou melhor, palavras
simbólicas. Tudo ou nada é apenas uma coisa, não
separe o que não existe, é falta de cultura natural
pensar que existe pluralidade. Então nunca ignore
Aristóteles por ele ter tudo separado, pois fazendo
isso você estará cometendo o mesmo engano. Quem
sou para dizer o que é certo? Eu sou a aurora de todos
os fenômenos, sou o caminho, a verdade e a vida, sou
a luz das estrelas, eu sou cor do luar, eu sou você.
Quem sabe posso está errado, mas pode me dizer
alguém que esteja certo? Como o grilo que canta e
pula para não ser devorado, assim sou eu um simples
mortal que dúvida da morte e lisonjeia a vida
decretando ela como a única força existente que não
cria tudo, pois ela é tudo. O amor que sinto por ti é o
mesmo que sinto pelo espelho, não tenho vergonha e
muito menos valores, que me empeçam de se ajoelhar
diante de ti e lavar seus pés como se lavando os meus
próprios. Conheço tudo sobre a simetria complexa dos
opostos.
De seu andarilho unificado e amante da Noite
Thace Pahazy Filibuster.
282
-
Estranho, - falou Márcia – essa carta é de Thace para
Atenas.
- Talvez seja uma carta final. – concluiu Michael.
- Como carta final? – perguntou Rose.
- Sim, uma carta que seria enviada por Thace dentro
da lógica que seria montada.
- É. – comentou Rose.
A idéia parece que vira rotina. Novamente os quatro
vão para a igreja. Motivo: falar com Leucipo. Propósito:
descobrir o fim do livro “Vida?”. Tudo novamente
recapitulado. Agora porém mais simples. Já sabem onde
fica. Já sabem o procedimento. Apartamento fechado.
Pés na estrada. Chegando no beco. Cautelas com tudo.
Checam as pilhas da lanterna. E, assim feito, os quatro
elementos se dirigem para o túnel. Escuridão sob igreja,
estreita calçada isolada. Umidade. Atenção. Tudo igual.
Lá no fundo uma luz. Luz de vela. Leucipo já os
aguardava. Estava ciente de que ali voltariam: “leram
rápido, no mesmo dia”. Essa noite estava escura
demais. Já quase no fim do dia cronológico. Curiosidade
é fogo. Por que não esperaram até o outro dia? Não
sabem. Não sei. Leucipo de Minas estava lendo. Eles
chegaram e se sentaram onde já hoje haviam sentado.
Leucipo olha misticamente. Eles cautelosamente. Rose
alimenta a intenção de Leucipo. Márcia admira a
biblioteca rara do velho. Marcos olha para o nada.
Michael tenta classificar a etnia do escritor. Leucipo se
levanta, fecha o livro e o coloca na estante. Eles
admiram o velho. Lógico que iria ocorrer uma pergunta.
Isso é super provável num lugar onde se encontra
jovens curiosos e um velho misterioso. A linguagem se
apresenta como a fonte da vida. Colocam concepções
extremas. Desfiguram o sentido da síntese. Forma de
expressão malandra minha. Para não deformar mais.
Conceba a pergunta que surge da vontade. Sim, uma
283
vontade inexplicável. A mesma vontade que faz uma
aranha tecer sua teia. Que faz Schopenhauer, Nietzsche
e Empédocles pensarem para o infinito. Uma vontade
que estrutura fonemas, palavras e frases, na busca
inacessível duma idéia. Veja essa, que Márcia mandou
para Leucipo:
- Você tem o fim do livro?
- Tenho. – respondeu Leucipo.
- Onde está? – perguntou Rose.
- No além. – falou o escritor.
- Além?
- No além das palavras, - completou Leucipo – no além
das condutas.
- Condutas de Halford? – perguntou Michael.
- Não, nas condutas da pena.
- Pena? – perguntou Marcos – na pena igual a caneta?
- Sim. – respondeu Leucipo, sempre misterioso com
sua túnica de mago.
Leucipo abre um velho mapa mundi. Rabiscado com
uma tinta vermelha. “Talvez possa ser a rota secreta”
pensou Márcia. Ela pode estar certa. Uma linha que
contorna a África, entra na Europa chega na Grécia,
passa pela Ásia, vai ao sul da Índia, atravessa o oceano
Indico e contorna a Austrália, segue pequenas ilhas,
corta a China, passa no norte da Rússia, atravessa o
canal, chega no Alasca, rumo ao sul passa pelos países
Norte Americanos, atravessa a América Central, e
segue uma linha reta para o sul do Brasil, cortando
Colômbia e a Amazônia, termina no litoral do estado do
Paraná no Brasil. Os olhos deles se chocam com aquilo.
Márcia se levante e de perto examina o mapa. Leucipo
diz:
- Eis a rota secreta.
Todos se olham como se estivessem exclamando um
“ó” intenso. Uma rota que leva a um tesouro. Perante
eles o sonho do status social. Márcia pergunta:
- Thace existiu?
284
-
Deus existiu? – perguntou Leucipo respondendo.
Talvez. – respondeu Márcia.
Thace é Deus, acredita quem quer. – falou Leucipo.
Eu acredito, - falou Rose – sei que Thace existiu, mas
como terminou sua vida?
- Não terminou. – respondeu Leucipo.
- Não. – disseram juntos.
Leucipo coloca o mapa na mesa. Pega um lampião e
manda-os seguir. Ele caminha lentamente, puxando
uma perna. Os jovens os seguem em fila e em silêncio.
O mistério é gigante. Ele começa a leva-los para um
estreito corredor. Lá começa uma escadaria. Degrau por
degrau. Sobem eles todos. Símbolos antigos grafados
na parede. Duas chaves em x. Lembra o vaticano. Um
cajado entre o Alfa e o Omega. Símbolos da igreja
católica. Leucipo ergue a portinha sobre sua cabeça.
Estão dentro da igreja. Tudo escuro. Lá no fundo duas
velas queimam fé. O tapete é recolocado no local, para
esconder a portinha. Leucipo se senta no banco da
primeira fila, numa capela de um santo. Os jovens
sentam no chão, na frente de Leucipo. A pouca luz
deixa um ar carregado e ao mesmo tempo sutil. Leucipo
começa a falar:
- Thace terminou o encontro com Atenas, após
aprender tudo sobre a filosofia grega. Com outras
concepções de vida, começa a descartar a idéia de
unificação do universo.
- Por que? – perguntou Márcia.
- Ele deixou de acreditar no intuitivo, passou a ser
racional, absorveu a cultura ocidental de pensar.
- Aquela cultura cartesiana? – perguntou Michael.
- Sim, cartesiana e newtoniana, mas antes de
Descartes, Newton e Galileu essa idéia metódica da
vida era decretada por Aristóteles, porém não
devemos se precipitar dizendo que ele começou o
engavetamento da vida.
- Por quê? – perguntou Marcos.
285
-
-
-
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-
-
Porque a história real, não é a história escrita e
inventada por esse sistema, a história real, deixa no
obscuro toda a sua essência. Mas Thace não ficou
nessa concepção aristotélica, ele se apaixonou pelo
cinismo de Diógenes, se identificou, gostou da razão
de Zenon que abusava da certeza de Leucipo e
Demócrito.
Leucipo, esse é seu nome ou seu apelido? –
perguntou Rose.
É meu pseudômio, gosto da coragem dogmática
desse homem, ele acreditou e pronto, não deu
ouvidos para o “ad infinitum” de Zenon de Eléia.
Com essas idéias na cabeça, Thace parte para o
conhecimento asiático. Conhece a fundo o
cristianismo e o islamismo.
Desculpe Leucipo, - interrompeu Márcia com uma
pergunta – sei que estou indo além do que devia,
mas como é que Thace saiu do sul da Índia e
conheceu a Austrália?
Não tem problema, vou até esse ponto direto, depois
dele conhecer a cultura asiática ele conhece a
cultura oriental, admira profundamente a idéia do
“yin-yang” um equilíbrio entre o conhecimento
intuitivo e racional, ele começa a dominar a
unificação de forma racional, anotando toda a sua
experiência no seu caderno. Depois de conhecer
isso, ele por acaso encontra Thunder Waves na Índia,
que reconhece Thace e o embarca no seu império
flutuante.
Lembro que antes da batalha no oceano Atlântico,
Halford escreve uma carta para que Thunder Waves
entregue para Thace, isso ocorreu? – perguntou
Rose.
Sim, Thace recebe a carta de Thunder Waves, mas
só depois que pisa no Alaska para seguir viagem
sozinho, antes disso, Thace ajudou na pesca e caça
de animais, pois Thunder Waves fazia fortuna com as
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-
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-
peles dos animais da Sibéria, quando voltava para os
países europeus.
Já entendi, mas agora você pode me dizer o que
estava escrito na carta que Thace leu já na América?
– perguntou Marcos.
A carta falava para Thace seguir para o novo mundo,
Halford era mago, sabia do futuro, sabia todas as
circunstâncias que Thace passaria, sabia que iria ler
a carta na América, então na carta dizia para ele
encontrar o sul do novo continente, pois lá ele
estaria o esperando.
Mas ele estava? – perguntou Márcia olhando a vela
do altar se apagar.
Sim, ele guiou Thace por todos os caminhos corretos.
Thace conheceu índios norte-americanos os astecas
e tribos canibais peruanas, colombianas e
amazônicas, lógico que essas nações na época não
eram nações, mas é só para um localização
geográfica.
E quando que chegou no final da rota secreta? –
perguntou Michael.
Foi tudo assim: Thace com 115 anos encontra-se
com seu pai Halford, numa velha cabana no pé da
hoje conhecida Serra do Mar, precisamente perto do
pico do Paraná, cercado pela conservada e
inexplorada mata atlântica.
Halford estava muito velho, não é? – perguntou
Rose.
É, ele estava com 139 anos, eles viveram juntos ali
até a morte de Halford, porém antes disso ocorrer, o
pai de Thace lhe mostrou segredos da magia, e
entregou o mapa onde estava todo o tesouro que ele
havia conquistado na vida.
Era ouro? – perguntou Marcos.
Ninguém sabe, só sei que o mapa apontava para um
local conhecido hoje como o Espigão do Feiticeiro, foi
justamente nesse local que Thace morreu, e como
287
-
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-
-
andava influenciado pelos ensinamentos do pai,
também estava vestido de mago, é por isso talvez o
nome do espigão.
Mas o que aconteceu com o tesouro? – interrogou
Michael.
Foi aí o motivo da morte de Thace, ele foi morto por
um homem conhecido como pirata Zulmiro, era
jovem na época, ele matou Thace para pegar o
mapa e encontrar o tesouro.
Zulmiro encontrou? – perguntou Rose.
Sim, ele encontrou, mas como não conseguiu levar
tudo, pegou apenas coisas de valores sociais, talvez
ouro e pedras preciosas, mas as coisas pessoais de
Halford ainda estão enterradas lá.
E o que seriam essas coisas? – perguntou Márcia.
Livros e ensinamentos de magia, talvez todo o
conhecimento que ele investiu na vida. Já Zulmiro
carregou seu tesouro e enterrou em qualquer lugar,
do Paraná, ninguém sabe onde, mas muitos
conhecem ele como uma lenda, talvez por isso que
nunca acharão.
É no Paraná que fica a cidade do sábio da moeda e
de Luiz? – perguntou Rose.
Sim, o sábio da moeda ainda é o guardião do
tesouro, mas não o tesouro que Zulmiro levou, mas
sim o tesouro que ele deixou, o corpo de Thace está
enterrado junto com o tesouro, e o de Halford está
onde ele adorava estar, no Pico do Paraná.
Tem alguma influência o escolha da sociedade
secreta ter escolhido Luiz como escritor? – perguntou
Rose – seria por que ele mora no estado?
Justamente, Luiz conhece bem o território onde está
enterrado o tesouro, ele estuda geografia, é por isso
que a escolha do sábio da moeda foiprecisa.
O sábio da moeda ainda está vivo, ou está só sua
influência psíquica como guardião? – perguntou
Michael.
288
-
Ele ainda vive, só vai morrer quando alguém for
encontrar o tesouro, mas ele não vive só no corpo
humano, ele não é só o corpo humano, a filosofia
sobre a magia de Halford, fez ele compreender o
brama oriental, e saber que tudo é ele.
- Até que ponto esse livro é verdade e até que ponto é
ficção? – perguntou Márcia.
- Até o ponto onde você quiser. – respondeu Leucipo
que se levanta e vai em direção a porta de entrada
da igreja.
Leucipo conta e termina seu livro “Vida?”. No bolso
uma grande chave. Porta aberta. Visita indo embora.
Sem nenhuma palavra Leucipo fecha a porta da Igreja.
Lá fora os quatro sentem o frio da madrugada.
Pensando eles vão em silêncio. Dorme umas horas e já
levantam. Um novo sol. Um novo dia. Rotinas
retomadas. Acabou o feriado. Todos na ativa. Márcia
lecionando filosofia num colégio particular. Marcos
trabalhando com processos jurídicos. Rose terminando
sua Pós em mitologia. Michael na rua trabalhando na
observação de movimentos culturais, entre Punks. Tudo
termina assim. Normal. Paula após alguns dias na mata.
É encontrada desesperada por alguns ambientalistas.
Ela havia transmitido um certo vírus que matou a índia
da língua morta. Paula Palavra volta para Belo Horizonte
depois das pesquisas. Eles trocam as experiências.
Paula fala da aventura ousada para Michael. Ele fica
irritado, mas logo se interessa pelo assunto. Paula
desenvolve um ótimo relatório com a índia. Descreve
sua língua em alguns trechos. Dificilmente terá uma
raiz precisa tal língua, mas isso já ajuda um monte.
Agora acho que já terminei. Esse livro é um relato da
vida real. Tudo isso de fato ocorreu. Lógico que só o
meu livro, não o livro intrometido. Esse pouco eu sei.
Leucipo é apenas um personagem escritor, mas um
personagem que existe. Escreveu um livro que existe.
Mas se escreveu coisas que existem, eu não sei. Aposto
289
que já sabe o fim, ou melhor, a resposta do título. É só
relacionar. Obrigado por sua leitura, caro leitor geral.
Aqui termino meu livro. Nesses pontos...
Ariston fecha o livro que acaba de escrever. Passa
alguns dias digitando e corrigindo. E, leva para uma
gráfica local. Já na gráfica manda fazer cinco cópias. Ele
está ansioso, pensa que seus amigos vão gostar do
livro. Como ele disse essa história de fato ocorreu.
Um dia depois de pronta as cópias. Ariston do Verbo
atravessa a rua e entra no prédio da frente. Nesse
prédio está o apartamento de Márcia. Como você sabe,
Márcia mora com três amigos: Marcos, Michael e Rose.
A Paula Palavra (seu apelido é Palavra por ser uma
lingüista) mora no apartamento de cima. Ariston bate a
campainha e Rose atende.
Depois dos cumprimentos e explicações, Ariston toma
um café com todos. Nessa hora todos estão lá. Cada um
ganhou um livro. Eles examinaram e perguntaram para
Ariston do que se tratava. Ele sem demora responde:
- Lembram do livro de Leucipo?
- Leucipo? – perguntou Rose.
- Sim, aquele velho da igreja, que a gente leu o seu
livro.
- Ah... – disse Rose – nossa isso já faz uns cinco anos.
- É, - falou Ariston – eu resolvi escrever algo sobre ele.
- Você copio? Perguntou Marcos.
- Não, - respondeu Ariston – eu só quis faze-lo existir,
como ele não tinha fim, resolvi escrever junto a
história nossa, as experiências de Paula e tudo o que
se passou entre nós e Leucipo.
- Mas parece que o livro dele está aqui. – disse
Michael folheando algumas páginas.
- Sim, - disse Ariston – ele está por completo, cada
palavra dele está aí.
- O homem criou a palavra ou a palavra criou o
homem? Que título é esse Ariston? – perguntou
Márcia.
290
-
Eu gosto de etimologia, - respondeu Ariston – gosto
de ver a fraqueza dessa ciência.
- Você pretende publicar? – perguntou Marcos.
- Talvez, - respondeu Ariston – mas antes devo
mostrar para Paula e Leucipo.
- Então vamos. – disse Márcia comendo o último
pedaço de pão.
Leucipo ainda está vivo. Ele recebe os quase já
esquecidos amigos. Todos estão lá sob a igreja: Márcia,
Marcos, Michael, Rose, Paula, Ariston e Leucipo.
Conversam um pouco sobre o passado. Lembram de
como foi a vida de Thace. Mas algo surge. Michael que
há muito fuçava o livro de Ariston, repara que o nome
do amigo não consta na história. Pois na verdade, todos
estavam no dia em que Leucipo revelou o final do livro
“Vida?” para eles, inclusive Ariston. Ariston diz que não
precisava aparecer na história, pois precisava não narrar
em primeira pessoa.
Eles se entendem e voltam para suas casas. Leucipo
fica com uma cópia. Ele vai ler e dar a resposta sobre a
questão da publicação de seus testos. Ariston volta
pensativo para sua pensão. Sei que de alguma forma
ele pressente minha existência. Às vezes olha para cima
em busca de seu escritor. Ele sabe que não passa de
simples palavras. Sabe que basta não escreve-lo para
ele morrer. Teme por esse dia. Ele é o único que imagina
isso. Os outros nem notam essa idéia. Me classificam
como deus, e vão rezar na igreja. Sujeitos assim são
como exemplo, o garçom do Pãobão, de Márcia, de
Marcos, Rose, Michael, Paula e Leucipo, lógico que eles
me moldam diferente. São intelectuais. Uns são
egocêntricos, se acham os inventores do mundo, outros
me representam como uma força, exemplo disso é
Leucipo. Eu sou a escritor geral. Eu sou o Homem
Palavra.
Ariston senta-se numa velha cadeira. Sua vida é
melancólica, como uma vida de escritor sonhador. Usa
291
uns óculos fortes e lê sobre coisas gigantes. Coisas
inteligentes, nada de aventurinhas oníricas européias.
Coisas como filosofia pesada. Você já conhece um pouco
dele. Tem em mãos um livro de sua autoria. Ele não
suporta sorrisos falsos. Queima quando pode os livros
de auto-ajuda. Pensa que o homem não é algo para ser
ajudado. Pensa que ninguém está em perigo, para tal
evento. Seu pequeno quarto é sua casa toda. Ganha um
dinheiro do governo por aposentadoria precoce. Tem
problema no joelho. É um pensador, mora sozinho.
Nunca quis fazer uma família, pensa que isso só dá dor
de cabeça. Já amou, mas nunca demonstrou para sua
amada. Diz que amar sem ter é uma fonte de energia
para escrever. Diz que mulher é fácil, basta pagar
quando deseja. Assim leva a vida o nosso Ariston.
Já fazem duas semanas que as cópias do seu livro
foram entregues para seus amigos. Ele está ansioso
para saber a resposta. Então sai de sua casa, onde
existem idéias rabiscadas em todo o lugar. Gráficos
sobre a tendência da cultura mundial mostrando o
ponto de mutação estão enfeitando a porta. Já no teto
do quarto, títulos de reportagens importantes estão
colados. Vários livros e testos pelo chão. Ariston é um
grande autodidata, nunca pisou numa faculdade por ter
um forte sentido crítico anarquista. Lá está ele, no
apartamento dos amigos. Recebe as críticas e assume a
responsabilidade da publicação. Leucipo também gosta
do livro. Falta pouco para o livro “O homem criou a
palavra ou a palavra criou o homem?” ser publicado. Na
verdade falta só a sua idéia. Ele não soube responder
quando Marcos lhe perguntou sobre mim no livro. Não
sabia donde provinha aquelas idéias malucas. Mesmo
assim não teve muitos problemas com isso, mas passou
aquela noite toda pensando sobre o “Homem Palavra”
que surgia de forma inconsciente em seu livro e da
concepção de leitor geral e escritor geral.
292
Hoje eu resolvi pirar. Vi que meu livro já estava sem
assunto. Depois de criar um homem chamado Ariston do
Verbo, que criou um livro onde existia vários
personagens que depois iram se relacionar com ele,
pelo motivo do surgimento de um outro livro de um
sujeito chamado Leucipo de Minas. Decidi criar algo
grande. Como você já sabe. Esse livro é de minha
autoria, é como o projeto de Luther Blissett, que eu já
falei algo nesse livro. Eu sou o Homem Palavra e os
outros são minhas outras personalidades, porém cada
um com seu nome.
Ariston estava acordando quando resolveu sonhar mais
um pouco. Ele estava numa praia deserta onde no mar
existia uma ilha com um grande castelo em seu cume.
Ele presenciou o surgimento da estrada que liga a praia
e a ilha. Essa estrada está sob a água do mar, só surge
quando a maré está em seu nível mais baixo do ano. Ele
acorda repentinamente com os gritos da vizinha que
espancava seu filho (aplicando o método tradicional de
educação). Então quando levanta de sua cama avista
um papel no chão. Esse papel é uma carta que eu
escrevi e lhe enviei pelo correio. Nesse papel está
escrito onde e quando a estrada estará à tona, para que
todos possam ir ao castelo.
Ariston lê e logo relaciona com o sonho. Lembra que
não estava sozinho. Junto com ele estava: Márcia,
Marcos, Michael, Rose, Paula e Leucipo. Lê o local e não
acredita. Litoral paranaense, mais precisamente onde
está o tesouro de Thace e Halford no livro de Leucipo.
Não perde tempo, e logo vai atrás dos amigos, com o
papel na mão.
Juro que pensei em criar um ambiente todo real. Pensei
em tratar dos efeitos psíco-sociais dos amigos. Criar
algo como sentimentos do cotidiano: “nossa que legal
Ariston, pena que eu não posso ficar brincando de caça
ao tesouro contigo, tenho que trabalhar”. Ou melhor
ainda: “Márcia ficou pensando em sua vida, sentiu que
293
Ariston trazia uma aventura que nunca mais iria viver,
mas sabia que não poderia deixar tudo o que criou para
ir atrás de um sonho”. Mas não tive paciência nessas
frescuras. Então quando Ariston chegou com a proposta
de todos irem para o Paraná, na busca do castelo e do
tesouro todos aceitaram no ato. Até o velhinho do
Leucipo deixou sua igreja. Sem preocupações, pois isso
aqui é delírio, não precisa de sentido.
Parece brincadeira, mas lá estavam todos rumo ao
litoral paranaense. Numa Kombi velha com Leucipo na
boléia, que de uma forma exuberante conseguia tremer
mais do que a Kombi. Parecia que o velho e a
carruagem, ou melhor, o automóvel, estavam num
ataque epilético coletivo. A Kombi era de Michael, era a
sua locomoção entre as tribos hip e punk. Mas como já
não tinha mais carteira para receber multas, Leucipo
usa sua velha carteira.
Depois de dois dias de viagem com a Kombosa.
Chegaram os
intelectuais
mineiros
no
litoral
paranaense. Nossa! Que choque cultural, lá o queijinho
e já aqui biquínis de tricô, com as cores da Jamaica.
Deixando esses lados, vamos para o motivo. Ariston
procura um meio de chegar até o Espigão do Feiticeiro.
Depois de andarem que nem doidos pela Ilha do Mel,
descobriram que se tratava da Ilha do Mel, e não do
Espigão. Resolvem subirem nas balsas e voltarem para
Pontal. Logo descobrem que é impossível ser ali o lugar
do sonho de Ariston. Porém Ariston não desiste, resolve
tracar a Kombi de Michael por um barco a remo. Com a
ajuda de um livro de Reinhard Maack e seis horas de
remada, chegam no Espigão do Feiticeiro. Um lugar bem
nada a ver, um monte de mato e bicho. Sem praia, sem
mulheres. Porém Ariston está convencido que existe a
tal ilha do castelo, e que em dois dias ocorreria o
surgimento da estrada.
Depois de esperarem os dois dias, todos exceto
Ariston, queriam espancar Ariston. Como vi que as
294
coisas iriam ficar barra pesada, resolvi ajudar meu
amigo. Eu mandei uma super lancha para eles. Na
boléia estava o capitão gancho, Leucipo como é um
louco já se imaginou o Peter Pan. Antes de eu partir para
o próximo parágrafo, quero que não ligue para a palavra
“depois” no começo dos últimos três, é que estou com
problema nas palavras mentalética.
Parecia a revolução russa. Um monte de velho
barbudo: Leucipo e o Capitão Gancho. Numa lancha
super fodona, com dentes postiços enfrentando o vento
da galera radical. Depois de andarem um monte, eles
chegam numa ilha gigante, em algum lugar do oceano
Atlântico. A lancha com o Capitão Gancho volta para o
continente. Ilha deserta, agora igual ao sonho. Ariston
sente-se mais aliviado.
Não vou me preocupar como eles sobreviveram na
questão biológica. Podem ter pescado e caçado uns
bichos bizarros. O que vou me preocupar e com a baixa
maré. Ariston encontra a ilha com o castelo. Agora basta
esperar a estrada surgir.
Ela surge do mar. É igual ao sonho. Uma estrada
estreita e cheia de corais. Lá estão: Márcia, Rose,
Michael, Marcos, Leucipo, Paula e Ariston. Andando na
estrada que da aceso ao meu castelo. Um castelo
colosso. Onde eu governo. A maré novamente sobe.
Agora só daqui um ano para eles saírem daqui. Estou
feliz. Meus bonecos estão me visitando. Agora terão que
entrar no meu jogo. No meu universo. Entre meus
assuntos. Isso se eles quiserem a liberdade e a vida.
Estou escutando eles bateram na porta lá embaixo. Vou
atender e recebe-los. Uma narração louca de nova pode
surgir.
Eu abri a porta do meu castelo. Eles me olharam
assustados. Ariston conheceu a fisionomia de seu
escritor ou criador. Os outros não sabiam que tipo de
louco eu era. Com educação eu os convidei a entrarem,
sabendo que poderiam ler esse livro. Se isso ocorresse
295
seria a maior catástrofe do universo. Todos são palavras
e se eles lessem suas essências cairiam numa
tautologia irreversível. Então tomei cuidado.
Rose olhava admirada para minhas artes. Gostou do
quatro onde Píramo e Tibes estavam mortos sob a
sombra da amoreira de frutos cor de sangue. Olhou uma
estátua de uma das Erínias, reconheceu as serpentes
sobre sua cabeça, notou o aspecto amedrontado e,
relacionou as serpentes com a sabedoria. Um homem
sábio é um homem amedrontado. Isso segundo a raiz de
todo a conhecimento ocidental, isto é, a mitologia
grega.
Todos permaneciam em silêncio, eu notei isso. Sabiam
ou obscuramente pressentiam que estavam na casa de
seu Deus. Não sou um ser narcisico, mas na real eu sou
o criador desses seres que agora estão em meu castelo.
Você só existe através da linguagem. A linguagem é o
modo de ser. Nisso surge dúvidas em Paula, que me
pergunta:
- Parece que o senhor da ênfase na comunicação. Vejo
isso na relação que cada estátua tem com a outra,
como aquele centauro – apontando com o dedo
continua – que olha fixamente para os versos mudos
de Apolo, mas se o indivíduo não tivesse sentidos,
como se comunicaria.
- Não existem sentidos, só existem possibilidades,
você não sente o frio, você é o frio – falo eu – como
você não escuta a palavra, você é a palavra.
- Não entendi. – disse Rose.
- Não se entende, só se pensa, - respondi – o que é
variável é a possibilidade de ser, mas você sempre
é, independente das possibilidades.
- Que sentido tem essas possibilidades? – perguntou
Ariston.
- Você tem a possibilidade de ser uma árvore e, você
tem a possibilidade de não ser uma árvore, respondi buscando melhorar o meu entendimento –
296
tudo depende de você, só existe o seu universo, se
algum dia existiu uma árvore pra você, você é essa
árvore, caso nunca tenha existido uma árvore, você
não é essa árvore, pois essa árvore não existe.
- Acho que estou entendendo, - disse Márcia – se eu
consigo ver uma árvore ela existe no universo, mas
se eu nascer sega ela nunca existirá.
- Sim, - disse eu – mas nunca fale que você vê uma
árvore, você é aquela árvore, você tem a
possibilidade de ser aquela árvore.
Não pense que essa parte seja um pós-escrito. O
jogo ainda nem começou. Pra melhorar o
entendimento aconteceu algo. Todos estavam
pensando loucamente sobre tudo que falamos sobre os
sentidos. Até que Leucipo olhou uma estátua no meu
castelo. Essa estátua era uma cobra mordendo seu
próprio rabo, com uma palavra gravada na base:
“cicluno”. Vendo isso ele me perguntou:
- Isso significa a invenção do anel benzeno?
- Não, - respondi – isso é o símbolo duma idéia.
- Que idéia? – perguntou Michael.
- Uma idéia que há muito tempo perturba a mente dos
filósofos, eu apenas resumi essa idéia, que estava
entre muitas palavras e coloquei-a na palavra
cicluno.
- O que é cicluno? – perguntou Paula.
- Cicluno vem de ciclo e de uno, eu defino cicluno
como: tentativa inútil de entender uma coisa através
da mesma coisa.
- Ah... – exclamou Marcos – é por isso que a cobra
come seu rabo, ela quer entender a si própria, é
isso?
- Sim, - respondi – é igual a querer o olhar os seus
olhos.
- Mas num espelho eu vejo. – disse Rose.
- Falou certo, - disse eu – num espelho, você está
olhando um espelho e não seus olhos.
297
-
É, - disse Ariston dirigindo a palavra para seus
amigos – lembram quando certa vez vocês falamos
sobre o local sem relação, que eu relatei no meu
livro?
- Sim, - falou Márcia – é no brama, é onde não existe
comunicação com nada, onde as palavras não
podem tocar.
- Eu estou escrevendo um livro – falo eu – chama-se
Homem Palavra, nesse livro eu tento explicar um
mundo sem as palavras, mas já sei que não vou
conseguir.
- Homem Palavra, já ouvi falar, - disse Ariston – acho
que escrevi esse nome no meu livro em partes que
fiz bêbado.
- Mas por que acha que não vai conseguir? –
perguntou Paula curiosa sobre o assunto.
- Faz de conta que você descobriu o mundo sem as
palavras, - disse eu – mas vai explicar isso como?
Sem palavras?
- Nossa! – disse perplexa Márcia – nunca havia
pensado nisso, então você está no lugar sem
relação.
- Desculpa Márcia, - falo eu – não quero atritos, mas
um lugar sem relação é impossível, pois se existe um
lugar é porque tem o seu lugar, logo esse lugar tem
com quem se relacionar, prefiro dizer que isso leva o
pensamento no cicluno.
- Concordo, - disse Márcia – você tem razão, cicluno é
a melhor idéia.
Síntese: enquanto você buscar um mundo sem
palavras através de palavras, não vai conseguir.
Explicar a linguagem sem a linguagem é igual querer
percorrer um caminho sem andar.
Depois desses assuntos dilatórios. Eles se sentiram
em casa. Marcos sentou-se no meu sofá. Michael ficou
a examinar a cabeça de um homem, pendurada na
parede, ela estava bem pequena, pois consegui numa
298
tribo peruana, que diminuía através de ervas as
cabeças dos inimigos. Rose sentou no meu tapete.
Márcia folheava com curiosidade um livro que estava
sobre a mesinha central. Paula viajava na mitologia
através de minhas estátuas. Leucipo me olhava
assustado, como se estivesse se vendo em outra
dimensão. Mesmo caso estava ocorrendo com Ariston.
De certa forma eu sabia que eles pressentiam o meu
papel perante suas vidas, pois eles também eram
escritores, também eram deuses, portanto.
Eles estavam ali, todos vivendo sob minha ordem,
mas nem desconfiavam seriamente. Pensei muito
nesse foco. Tinha medo de lhes revelar a verdade e
eles saírem correndo ou me decretarem louco. Porém
não temi mais, quando percebi a idéia de poder. Eu os
tenho na mão. Possa governa-los e tentar uma solução
amigável. Não perdi mais tempo e logo lhes falei:
- Vocês devem estar se perguntando o por quê de
estarem aqui.
- Pode ser. – disse Michael mais calmo e com mais
intimidade.
- Vocês lembram da palavra mentalética. – perguntei.
- Ai meu deus! – disse Rose assustada – só pode ser
bruxaria, como que você sabe disso? Se você nunca
nos viu e nunca leu o livro de Ariston.
- Não seja infantil Rose, - lhe disse – como que você
acha que veio parar aqui? Eu fiz a cabeça de Ariston,
que fez a cabeça de vocês, vocês são minhas
invenções.
- Isso é o cúmulo do egocentrismo – disse Márcia –
você só pode ser doente.
- Márcia, Márcia... – falei – você é tão inteligente, tem
que admitir isso, você é uma criação minha, não foi
vocês que criaram a palavra mentalética fui eu, não
foi Ariston que criou o livro “O homem criou a
palavra ou a palavra criou a homem” fui eu, vocês
estão dentro daquele livro que eu lhes falei o
299
“Homem Palavra” isso é a verdade, vocês
acreditando ou não.
- Mas se eu sou palavras num livro, - disse Márcia –
como que eu posso pensar o que quero e dizer o que
quero, derrubar o que quero e tudo mais?
- Você não faz isso porque quer – disse eu – faz isso
porque eu quero, você já existe, tudo já existe, você
só está conhecendo nada mais.
- Você é louco, - disse Michael – é um velho lazarento
e fedorento, um porco metido a deus.
- Não adianta Michael, - disse eu – tudo isso que você
falou foi eu quem criei, para dar humor no assunto,
não adianta querer pensar sobre isso, tudo que você
pensar foi eu quem criei.
- Cala boca seu filho da puta... – disse irado Michael –
eu quem comando o que faço e digo, se eu quiser,
eu acabo com você, e só um louco vai querer que
seu brinquedo lhe machuque.
- É isso Michael, - falo eu – tudo que acabou de dizer
serviu para mim parar com esse assunto, se não
quiser me machucar, pois quero que vocês pensem
livres, é por isso que lhes dei tal concepção de
liberdade, mas vocês ainda continuam presos.
- Agora você me paga, - gritou Michael atingindo-me
um soco na boca – isso prova que você não me
manda. – disse ele sendo segurado por seus amigos.
Eu criei essa cena para realmente os personagens
pensarem que são independentes. Isso serve para dar
um toque de fascínio realista. É o preço que o escritor
tem que pagar, pois ainda está doendo o tal do soco.
Depois de tudo isso, eu criei um ambiente amigável
no castelo. Não poderia continuar a execução de meus
planos com a raiva de meus amigos. Foi como se todos
tivessem sofrido um apagamento de memória.
Ninguém mais ali no castelo se lembrava do fato que
ocorreu há pouco, exceto eu.
300
Tudo estava como eu queria. Num aposento do meu
castelo existe uma gigante mesa. Uma mesa redonda,
bem grande. No centro da mesa um desenho dum
símbolo oriental o yin-yang. Significa o equilíbrio dos
ditos opostos. Mas antes de seguir, quero que volte um
pouco e lembre do fato da briga. Note que Ariston e
Leucipo não se pronunciaram em nenhum momento,
talvez eu não tenha conseguido apagar o fato de suas
personalidades, mas sim despertado a certeza duma
vida verbal. Palavra em grego é logos, que era
concebido por eles como deus ou fonte das idéias.
Agora entenda o porquê da não existência das idéias
sem as palavras. Ignore o prematuro sub título desse
livro, foi apenas uma comparação com a obra prima do
mestre James Joyce, nada mais.
Nessa minha mesa estão agora sentados os
seguintes: Márcia (filósofa), Rose (historiadora), Marcos
(advogado), Michael (antropólogo), Paula (lingüista),
Ariston (escritor), Leucipo (escritor) e Homem Palavra
(deus) que seria eu. Ao redor de todos existem
paredes, paredes de livros. É a maior biblioteca do
universo. Aqui existem livros que ainda nem foram
escritos. Eu tenho a coleção completa. Não existe um
livro no mundo que eu não tenha uma cópia. Caso
exista, mande-me um de prova, assim eu sempre terei
todos.
Não existe lugar privilegiado numa mesa redonda.
Todos são os principais no assunto. Vendo que todos
estavam em silêncio eu abri um pequeno saco que
carrego na cintura, dele retirei uma pequena bola. Era
semelhante a uma bolinha de gude, mas brilhava como
uma estrela. Eu a impulsionei lentamente, para que
sobre a mesa rolasse até Paula. Ela pegou
cautelosamente, com medo de estar quente, mas a
bolinha era fria como gelo. Todos ficaram admirados
com aquilo, não sabiam do que se tratava, então eu
falei:
301
-
Isso caros amigos, é um macro-micro-universo.
O que? – disseram espantados.
É como se um átomo fosse aumentado
consideravelmente, - falei – aponto de se poder ver o
que há dentro dele.
- Mas, - falou Márcia – dentro dum átomo existem
mais átomos, infinitamente.
- Sim, - falei eu – lógico, você está certa, mas é
melhor falar que dentro dum universo existem mais
universos.
Eles ficaram pensando e olhando aquela maravilha.
Uma maravilha que apenas a fonte de tudo pode criar,
isto é, a linguagem, isto é, no seu caso que pode ler
isso que aqui jaz, a palavra, ela é a única que tudo
pode. Enquanto olhavam Ariston pensava: “eu cairia
num cicluno fatal se continuasse tentando entender o
que se passava na cabeça daquela índia sem língua, é
sem língua, pois só existe língua quando se pode usala, ela não precisava pensar, pois não precisaria
explicar nenhuma idéia para ninguém,” Ariston
entendeu o meu cicluno. O cicluno deixou Nietzsche
louco, ele é a maior ferramenta da natureza para
impedir que dominem sua essência. O homem jamais
vai dominar a natureza, pois para isso terá que
entender a essência dela, isto é, entender sua própria
essência, terá que derrotar o mais temível de todas as
idéias, o cicluno. Não insista se não quiser terminar
como Nietzsche. Ele foi corajoso, mas não avançou
nada dentro do cicluno.
Depois que todos olharam a bolinha-universo, eu
coloquei-a no centro da mesa, onde ela ficou a brilhar
como o sol. Passou-se um tempo em silêncio. Logo
chegou a necessidade de explicar-lhes o porquê de ali
estarem sentados. Então comecei a introduzir o jogo
que eu pretendia iniciar:
- Márcia minha querida, você é filósofa e você tem
uma auto-imagem disso?
302
-
Sim. – respondeu ela.
Então você sabe que o filósofo é o ser que move o
conhecimento, o filósofo cria as questões, - disse eu
refletindo a próxima palavra – as questões são
criadas sobre a coisa que os não filósofos chamam
de normal. Certo?
- É. – respondeu Márcia pensando profundamente no
que eu queria chegar.
- Sem questões, sem movimento, sendo assim a
ciência já saberia tudo, não precisaria conhecer mais
nada e nada mudaria – falei – tudo chegaria num
ponto de estagnação, o mundo almejado, isto é, a
morte do conhecimento.
- Legal, - disse Márcia – mas e daí?
- Eu quero mostrar a força que o filósofo tem, respondi – quero dizer que todos dependem dele, se
acabar o filósofo, acabará o homem.
Todos ficaram pensando. Foi aí que eu notei que
devia lançar a idéia. Quando um homem pensa é fácil
colocar coisas em sua cabeça. Ele não se defende, pois
todas as suas defesas estão resolvendo um outro
problema. Então eu comecei a falar a lógica (talvez
aristotélica holística) sobre o jogo que pode começar:
- Assim Márcia como você tem uma auto-imagem de
filósofa, Paula tem de lingüista e Michael de
antropólogo... – disse eu tentando uma tática ousada
– essa auto-imagem nada mais é, do que a famosa e
já discutida identidade.
- A identidade está hoje em fragmentos, - disse
Michael – hoje você é uma pessoa em cada
ambiente, sua auto-imagem é pluralizada.
- Concordo, - falei eu – com sua idéia pósmodernidade, mas na essência disso tudo ainda
reina a sua única identidade, o Michael antropólogo
de punk.
- Onde quer chegar, Homem Palavra? – perguntou-me
o velho Leucipo.
303
-
A identidade não tem capacidade de definir uma
personalidade, - respondi – assim como uma palavra
não tem a capacidade de definir seu significado,
tudo está cercado de ecos, que são determinados
por uma idéia coletiva.
- Idéia coletiva? – perguntou-me Ariston.
- É... idéia do coletivo, é a idéia que você não
determina nada, que você é apenas mais um,
inserido numa imaginária cultura, - respondi – o pior
não é isso, mas saber que quem imagina a
imaginária cultura é você.
- Eu? – perguntou Rose – isso não é egocentrismo?
- Não, essa idéia não passa dessa palavra, não tem
como ser o centro de si próprio.
- É verdade, - disse Márcia – isso que você falou é uma
espécie de adaptação, que o pensamento iluminista
pode usar para entrar no uno de Plotino, ou melhor,
no brama dos orientais.
- Certo, você entendeu Márcia. – disse eu quase
satisfeito.
Como sempre eles continuam pensando. E eu,
logicamente também. Senti que ainda faltava algo.
Faltava uma razão em tudo isso tratado. Comecei
então a literalmente “pira o cabeção” joguei a idéia do
jogo, dessa forma:
- Amigos, vamos começar o que vem a ser o motivo
de estarem aqui, a partir de agora, criaremos nossa
própria
auto-imagem,
não
seremos
mais
antropólogos, advogados... seremos o que nossa
sociedade querer, aquela sociedade que moldou
suas idéias já não existe, nós aqui seremos a
sociedade que queremos.
- Uma sociedade? – disse Márcia – mas não foi você
mesmo que criticou a idéia do coletivo?
- Sim fui eu, - disse eu – mas essa sociedade não tem
a concepção coletiva, sua essência é reconhecida,
ela parte donde surge o seu fim, é o cicluno.
304
-
Cicluno? – falou Marcos – mas você disse que era
perigoso se envolver com isso.
- Não, - respondi – eu não disse que era perigoso se
envolver com isso, eu disse que era perigoso
entender isso, não podemos querer entender, temos
que praticar, só isso.
Todos estavam num agito só. Eles começaram a
tentar compreender sem entender, foi um sufoco para
acalma-los. Consegui só porque comecei a jogar.
Avaliei a auto-imagem de Ariston. Falei que ele não era
mais um escritor esquecido. Sua identidade era agora
Dr. Ariston, o melhor escritor do momento, seu livro de
maior fama era: “O Príncipe” onde ele põem um
pseudômio conhecido como: “Maquiavel”. Ariston ficou
surpreso com sua nova identidade. Se imaginou
inteiramente como a autor desse livro. Assim fiz com
todos. Cada um era o sucesso que almejava. Depois de
todos estarem com suas novas identidades, ninguém
mais via ou tratava Ariston como um pobre escritor,
mas sim como o grande e respeitável escritor.
Ninguém mais duvidava que Michael era o líder do
pensamento anarquista, um dos maiores pensadores
dessa idéia. Todos passaram a conceber Rose como
uma poderosa bruxa, dominadora de forças ocultas.
Marcos não era mais o sonolento advogado, mas um
homem que conhece todos os segredos da mídia. Paula
passou a ser praticamente a professora da
comunicação, a mestre de Saussure e Derrida. Leucipo
deixou de ter medo e passou a ser considerado de fato
o mestre dos magos, o senhor da sabedoria de
Pitágoras, sábio dos símbolos e mestre de Jung. E,
depois de todos já terem suas novas identidades, eu
criei minha auto-imagem, sou o guru da alquimia,
tenho a pedra filosofal sou o único que tem. Mas ela
não resolve nada, como diziam. Ela é o nada.
Uma vez estruturada a idéia do jogo e decretada sob
aceitação total as identidades. O jogo pode começar.
305
Ele não vai ficar apenas no meu castelo. Vamos
aprender como abalar a estrutura de qualquer cultura.
Esse jogo reina a imaginação, razão e fé. Sim a fé. Ela
move a ciência, por que não mover o jogo? Eu tenho fé
que sou um alquimista, ninguém pode dizer ao
contrário, quem molda minha identidade sou eu e não
a cultura, pois essa depende de mim, ela é eu. Eu
tenho o controle do universo.
Já dentro das concepções de nossa sociedade, eu
perguntei para Paula, a grande lingüista do universo:
- Você sabe o que sou?
- Ora! – respondeu-me – o senhor Homem Palavra é o
nosso alquimista.
- É, - disse – você sabe, mas precisa saber que eu sou
um alquimista diferente.
- Diferente? – perguntou Rose.
- Sou, - falei – eu sou um alquimista que não procura a
pedra filosofal, eu já a tenho por completa e, ela está
a brilhar bem na sua frente.
- Você diz dessa estrelinha no meio da mesa? –
perguntou Márcia.
- Sim essa bolinha é minha pedra filosofal, - respondi –
seu nome é linguagem, é a forma única de eu ter a
vida eterna.
- Linguagem? Vida eterna? – perguntou Márcia –
como?
- Depois do egocentrismo surge o logocentrismo, respondi eu – negar a linguagem é negar você, é
negar a vida e conhecer o maior mistério de todos: a
morte, que não passa de uma linguagem, não lute
contra você, não negue você.
- Não estou negando, - disse Márcia – só quero saber
como a linguagem é sua pedra filosofal.
- Entendi – respondi – você está com dúvida, tudo bem
eu lhe ajudo, mas cuidado com as dúvidas, medos e
descrenças nesse universo, pois aqui tudo depende
disso não ser sentido.
306
-
Eu sei, - disse Márcia – tenho que ter fé, é assim que
funciona o jogo.
- Certo, - falo eu – agora vamos fazer você tentar
entender. A linguagem não é ponte, ela é o todo,
sempre existe uma linguagem em tudo, ela é tudo, a
linguagem é o controle do universo. Ela se faz por si,
ninguém a criou. Dominar a linguagem é dominar a
si próprio, ela é a forma de ser no mundo. Um vírus
sem início nem fim. Ela se apresenta sozinha, assim
como faz agora conosco. Ela se questiona e se
responde. Eu sou a linguagem. É por ela que governo
o tudo, a concebo como o real. O real é o que a
linguagem determina. Nada é definido. A palavra não
define a linguagem, ela é a linguagem, mas a
linguagem não é a palavra. Eu sou a palavra. O rei. O
deus. Eu sou o Homem Palavra.
- Ah... – disse Márcia – agora entendi o porquê do
logocentrismo surgir depois do egocentrismo.
Eles ficaram admirando a nova forma de ver o
mundo. Ariston já estava com um humor diferente, lia
o seu livro (O Príncipe) e imaginava a importância
política que tem. Leucipo já tentava arriscar uns
truques, dizia que ela já conseguia entortar a colher de
metal, não precisa de prova, então quando tentava
entortar dizia pra todos que havia quebrado a colher,
mas eu nunca vi ela entortar um pouquinho se quer.
Num canto isolados Michael e Marcos planejavam algo.
Imagine o que, pois só pode surgir uma subversão
cultural, quando um anarquista e um guerrilheiro
midiático se encontram. Eu os deixava na paz, pois sei
que suas idéias serão de suma importância para os
objetivos desse jogo. Paula olhava a minha pedra
filosofal no centro da mesa, pensava no poder que ela
tinha. Enquanto eu Márcia e Rose discutíamos sobre
tudo. Assim foi o primeiro dia no castelo.
307
A primeira noite de sono no castelo. Eu não tive
condições de dormir tranqüilamente, eu estava
excitado com a idéia de ter dormindo em minha
cabana (o castelo) os personagens do meu próprio
livro. Levantei de minha cama, desci até os quartos de
hospedes. Deixei o silêncio reinar, só para vê-los
dormir. Imaginei o que sonhavam naquele momento.
Pensei em mudar as coisas, mas resolvi deixar tudo em
paz e ordem. Não quero que minha visão da linguagem
se confunda com a visão da “Matrix” do filme. Isso
aqui é diferente por instâncias, mas não pode ser
fragmentada por verdade, mas só para entender a
mentira que representa a verdade.
O meu castelo é grande demais, existem corredores
escuros e estreitos, como esse que agora trânsito.
Você que me lê agora, deve estar pensando: “como ele
pode estar agora andando num corredor, se ele teria
que estar escrevendo?” você deve saber que tudo é a
linguagem, ela está em tudo, seja no ato, seja no
pensar. Ela é homogênea como a água. Lembra do livro
de Leucipo? Thace soube disso, viveu isso, mas não
soube de nada. Mesmo o Luiz que foi o escritor, só
pressentiu a verdade. E Leucipo apenas cumpriu seu
papel, sabia o tempo todo de sua função, mas nunca
questionou. Foi assim que criei todo esse livro até
agora. Você deve estar um pouco perdido(a), mas só
se tiver uma visão mecanicista da vida. O homem não
é dual, ele só é, nada mais. Fiz todo esse livro daqui
desse castelo. E nesse momento todos dormem nele.
Eu já terminei de percorrer aquele corredor estreito.
Estou escrevendo o que você agora lê. Eu criei esses
códigos, que agora invadem sua mente, criando
universos determinados por mim. Ainda dúvida que eu
sou deus? Eu não sou nada, não existo, me defino
onde nada se define, sou a linguagem que envolve sua
vida. Talvez você esteja lendo isso distraído(a), mas
distraído(a) no que? Em que? Não adianta fugir, você
308
está onde eu quero. Se você está prestando atenção
nisso, sou eu quem diz, mas sei que relaciona tudo isso
que agora vivência com outras coisas que pensa que já
viveu. Tira informações para compreender o que lhe
passo. Estou em tudo, você é só um fator. Sua
existência depende de mim. Não pensa que só os
meus hospedes são minha invenção, você que agora
me lê, também é minha invenção. Eu sou a linguagem,
eu sou aqui o Homem Palavra. Eu sou o rei, mas não
pense que sou o rei que Lacan diz: “o rei é um imbecil,
pensa que é o poder, mas não passa da representação
do poder.” Eu sou rei e não represento o poder, porque
não existo, eu sou o poder, esse poder é a linguagem.
E se você tem uma visão social e científica, digo que
ainda não saiu da “fase do espelho” do Lacan. E,
lembre que a metalinguagem é a porta para o cicluno,
onde o formalismo é a porta para o sociologismo, que
parte de princípios cartesianos, isto é, princípios que
definem. Não defina, pressinta.
Isso que foi escrito à pouco foi escrito ontem à noite.
Hoje já lhe digo para não ter medo. Digo-lhe para não
fazer como Michael fez. Não feche o livro, pois aqui jaz
a verdade. Viva ela como todos.
A manhã está linda, o café da manhã também. Como
estamos em automar só existem alimentos marinhos.
Meu castelo está numa ilha, lembra? Na mesa
sentados e comendo. Isso é ação que descrevo nessa
manhã. Todos estão tranqüilos, tanto Leucipo como
Ariston já não apresentam uma cara de espanto
comigo. E, os outros estão se sentindo em casa, se
alimentam bem e brincam:
- Ai vadia! - disse Michael para Márcia – vê se segura
essa. – lançando com a colher uma porção de
margarina no rosto dela.
- Seu palhaço. – disse Márcia se limpando e atacando
com um maço de atum.
309
Eles continuaram nessa alegria, correram na praia e
conheceram toda a ilha. Mas no fim da tarde todos
estavam sérios. Pois era a hora do jogo, jogo esse que
nunca mais teria fim.
Todos estavam na mesa. Como sempre no centro
minha pedra filosofal reinava. Eu levantei e puxei da
estante de livros, dois livros. Um o livro “Vida?” escrito
por Leucipo de Minas, outro “O homem criou a palavra
ou a palavra criou o homem?” escrito por Ariston do
Verbo. Eles não notaram os livros. Pois se notassem
poderiam acabar com a lógica do meu livro. Eu já os
conhecia, mas dei apenas um check-up em alguns
trechos. Depois os coloquei no lugar. Isso me levou a
refletir sobre algo que eu não havia notado. Fiquei
preocupado, jamais pensei que meus personagens
pudessem expressar suas idéias, sem minha ciência.
Havia testos obscuros no livro de Leucipo, onde percebi
uma linguagem sob a linguagem, uma espécie de
anagrama, percebi que também ocorreu com Ariston,
talvez sob influência de Leucipo. Numa parte as letras
ficaram maiúsculas, transmitindo ou infiltrando na
mente do leitor (sem que ninguém percebesse) as suas
idéias. Agora eu sei, e vou me cuidar, pois não quero
que idéias transeuntes se ramifiquem no meu
universo, sem minha percepção absorver. Queira sim,
queira não, isso pode ser fatal. Não podemos rejeitar
tais escritores, como fizeram com Saussure, não existe
neles um imo ocultista, mas sim uma vontade de
existir livremente. O que faz minha cabeça doer, é
pensar se eles realmente escreveram algo sem eu
notar, ou se é um impulso místico desse momento que
presencio grafando essas merdas que você lê.
Logo depois de refletir sobre isso que você leu, eu
admirei a curiosidade deles na mesa. Todos estavam
em silêncio, me olhando como se estivessem
esperando algum pronunciamento por minha parte.
310
Não tive escolha, senão começar o jogo para valer.
Dizendo:
- Alguém aqui sabe, - disse eu – eu sei que sabe, mas
não diz.
- Sabe o que? – perguntou curioso Marcos.
- Sabe que todos os elementos químicos – falo eu –
surgiram de um único elemento.
- O hidrogênio? – perguntou Rose.
- Não, - eu disse - todos os elementos da natureza têm
como essência a linguagem.
- Linguagem? – interrogou Michael – então a sua pedra
filosofal é a essência pura e única do mundo?
- Sim, - respondi – a linguagem é o tudo.
- Mas a linguagem não é um outro termo da
comunicação? – perguntou Paula.
- A linguagem constitui tudo, - falo eu – ela não pode
ser vista como algo que parte de um emissor para
um receptor, mas é o que constitui ambos, em tudo
têm tudo.
- Como assim? – perguntou Márcia.
- Você consegue encontrar ou relacionar uma mesa
com esse livro? – perguntei levantando um livro para
cima, ela olhou e mexeu positivamente a cabeça –
através de metáforas ou mitos, você consegue
relacionar tudo com tudo, mas não porque existe
uma relação simbólica, mas porque existe de fato a
mesa num livro e um livro na mesa, tudo é
constituído de tudo, o que existe aqui existe lá, essa
existência de tudo na coisa, que é conhecida como
linguagem, tudo tem relação porque todas as coisas
guardam em seu imo sua essência, a linguagem, isto
é, o tudo.
- A linguagem é tudo? – perguntou Ariston.
- Se você considerar a vida como o tudo, ela é. –
respondi.
A minha pedra filosofal continuava brilhando. Pensei
em ensinar o segredo da alquimia para eles. Porém
311
fiquei cauteloso, pois esse é o segredo de tudo. Se eu
ensinar como eu criei eles, eles podem criar coisas que
vão além das palavras. E, isso aqui no meu castelo
pode ser perigoso, eu posso perder meu reino. Resolvi
ficar no silêncio e buscar mais confiança neles.
Entretanto começamos a estudar as leis do jogo. Um
sistema não sistemático, algo como um ambiente sem
limites, onde estudamos e aprendemos a desestruturar
a estrutura dos sistemas. Vamos aprender as
artimanhas dos piratas da linguagem. Aqui nessa
biblioteca, com essas pessoas capacitadas, pode-se
criar universos perfeitos. Eu possuo uma alta
tecnologia em meu castelo. Nossos alvos principais,
são alicerces como: cultura, língua, sociedade,
estados, mídia e muitos outros mecanismos que criam
as ideologias hediondas contra o homem, que no fundo
todas essas são a mesma e eterna coisa: linguagem.
Dominar a linguagem é o fator que move minha
existência enquanto homem, eu sou a linguagem,
posso construir e posso destruir. A arte de explicar cria
o mundo do desconhecido.
Mandei as idéias de estruturas preestabelecidas.
Ensinei que o estado é um mito, pode-se considera-lo
como um bicho-papão. Disse que as pessoas têm
medo desse mito e esse medo é a ferramenta para sua
existência, pois pensam que se largarem as estruturas
constituídas de estado, elas podem ser devoradas por
ele. Jogando essas teses ao léu, Michael que é um
anarquista cultural vivo já lanço suas antíteses:
- Entendo que o estado não vive por si, - disse ele –
ele depende do ser.
- É justamente isso que eu quero dizer, - disse eu –
cabe a nós criarmos nossos mitos, pois ele só existe
em nós.
- Mitos? – perguntou Leucipo.
312
-
Sim, - falo eu – mitos, mas vocês só vão entender
isso praticando, é essa prática que cria esse jogo,
uma espécie de combate lingüístico.
De certa forma eles entenderam. Logo comecei a
falar do que se trataria a primeira missão. Poupei
palavras e dei-lhes uma cópia da carta chave do
primeiro ato. Ariston pegou, olhou e deu para Paula ler:
Regras para destruir regras:
Caros jogadores do jogo. Vocês vão conhecer a base
estrutural da estrutura que rompe estruturas. Sei
quem são, sei que são. Agora cabe saber como são.
Vocês estão exatamente a três milhas da Baía de
Paranaguá, do estado do Paraná, do país Brasil. Numa
ilha onde a única forma de expressão de sistema é o
castelo do Homem Palavra, é... esse cara velho que
está olhando para vós agora.
Essa carta trás uma idéia obscura do funcionamento
do todo. Como vocês já estão cientes de que formaram
uma outra sociedade e com isso uma outra identidade,
devem saber que podem subverter esse paradigma,
pois paradigmas são manifestações da auto-imagem
do indivíduo. Vocês vão criar uma condição de
existência invisível perante as estruturas (mitos)
estabelecidas no continente. Vocês chegaram aqui
com uma lancha poderosa, na verdade era apenas o
próprio Homem Palavra disfarçado de Capitão Gancho
no seu brinquedinho. Esse brinquedinho será o
transporte de suas formas biológicas para o Brasil.
Deverão criar um mito-vírus e contaminar todo o pólo
midiático do Brasil, isto é, a região conhecida como
penumbra.
O mito-vírus é o segredo necessário para entender.
Esse mito-vírus que vocês criarão, deve ser lançado
sob um Teatro, ou a famosa “TAZ” (Zona Autônoma
Temporária). O que vem ser o Teatro? O Teatro é o
313
palco onde vocês vão apresentar a peça (mito-vírus),
esse Teatro não pode ser considerado como um
“espaço geográfico”, ele cartesianamente falando é
uma faceta do espaço, não só o geográfico, mas
também do bio-sócio-psíco, resumindo: é o espaço
total, o único, mas como é necessária uma certa
flexibilidade para o obscuro pressentimento do
entendimento devemos dividi-lo só no princípio
introdutório, logo ele é concebido naturalmente por
vocês.
O Teatro é instável, surge e some sem ninguém
notar. Nesse mito-vírus vocês devem criar uma figura
ou identidade homogênea, como por exemplo, o já
famoso Luther Blissett, mas com uma diferença, ele
jamais poderá se diluir como um vírus, ele é apenas o
produtor do vírus. Então não devem incentivar a
dilatação do nome que criarão, pois esse não é o
objetivo primordial, vocês devem apenas utiliza-lo para
se inserirem na rede do estado, como finas teias de
aranhas entre o fluxo das informações. Essas
informações passam entre os vãos da rede do estado
(mito) e são moldadas conforme o formato do estado.
Vocês estarão entre esses vãos, criando outros micros
vãos e modificando todas as informações que
passarem em suas finas teias, sem que o estado
perceba. Esse é o segredo.
Agora vocês já sabem qual é o caminho devem
percorre-lo. Mas sozinhos, pois o Homem Palavra será
neutro. Ele será apenas um animal mudo, não terá
comunicação com ninguém e passará a maior parte de
seu tempo no seu quarto escrevendo o seu livro. Vocês
vão saber qual é o formato da teia que tecerão na rede
do estado, através do Homem Palavra, mas tudo por
carta.
Depois de lerem tudo isso, eles ficaram me olhando.
Eu levantei e lentamente segui para meu quarto num
314
silêncio profundo, todos respeitaram a decisão. Agora
eu já estou no meu quarto escrevendo tudo isso que
você agora lê, e eles estão discutindo como será o
nome coletivo que adotarão.
Márcia percorre o perímetro da biblioteca passando
delicadamente o dedinho sobre os títulos e autores dos
livros, na busca dum nome bom. Ariston reflete sobre o
Blissett e todas as coincidências do Homem Palavra e
as partes de seu livro grafadas sob o efeito do álcool.
Leucipo troca idéias com Marcos e Michael sobre a
carta. Rose e Paula discutem o efeito do nome coletivo
em longo prazo, praticamente formulam uma teoria
científica, pois mesmo nos nomes coletivos sempre
existirão identidades, assim como o nome de Buda,
Luther Blissett, Seppuku, Vitoriamario e outros que
estão surgindo, inclusive aqui já está para surgir outro,
mas só será dito no próximo parágrafo.
Depois duma longa batalha surge enfim o nome
coletivo. Um nome que proveio do dedinho da Márcia.
Um personagem dum livro sem nome e sem autor, um
livro da idade média. O nome do personagem era João
Motta. Definiram o nome como Motta. Aprovado pelo
escritor Ariston, pelo mago Leucipo, o anarquista
Michael e a ocultista Rose. Os únicos que não gostaram
foram o midiático Marcos e a lingüista Paula. Disseram
que esse nome era muito extremista, Marcos achava
que era nome de artista de rua, e Paula que não era
apropriado para ser exposto na mídia. Deveriam achar
um nome mais “comum”, como Ronaldo Guimarães ou
Antonio Magalhães. Mas não convenceram a maioria. O
nome que adotaram para construírem a teia na rede
foi mesmo o Motta.
Eu estou agora escrevendo o que você agora lê.
Estou no meu quarto e os jogadores ainda
permanecem na biblioteca. No meu castelo existe uma
espécie de tubo, que liga meu quarto e a minha
biblioteca. Esse tubo possibilita a conduta de cartas
315
até a biblioteca. Eu jogo daqui de cima e a carta cai lá
em baixo na biblioteca sobre a mesa central. Mandei
uma carta para ver se iria funcionar o sistema. Na
carta estava escrito: “aguardem que logo vou mandar
o objetivo”. Pela câmara filmadora. Consegui ver que
Marcos percebeu a carta caindo do teto e vi ele lendo.
Fiquei um bom tempo pensando em como escrever a
carta do objetivo. Após pensar muito e notar que os
jogadores já estavam cansados, resolvi jogar uma
outra carta dizendo para eles aguardarem o próximo
dia e, se sentirem tranqüilos no castelo, terem a
liberdade de comerem, dormirem e fazerem o que e
como quiserem qualquer coisa. Assim eles passaram
na paz de um santo sono. Eu virei a noite trabalhando
como um maluco. Revirei notícias e vasculhei livros
para poder criar o impulso inicial do processo
subversivo do objetivo.
N’outro dia, eu já havia terminado a carta com o
objetivo. Os jogadores estavam dormindo. Como você
já sabe, eles vão atuar num teatro, que é o Teatro da
vida real, então ao invés de chamá-los de jogadores
chamarei de atores.
Os atores estão acordados. Márcia bate em minha
porta perguntando se estou bem, eu respondi
positivamente com um papel por baixo da porta. Eu
estava ansioso para vê-los discutindo o objetivo. Não
demorou muito e eu lancei a carta para baixo, através
do tubo, rumo a biblioteca. Lá estava Leucipo, lendo
um livro. Ele se assustou com a carta caindo do teto.
Então após o susto resolveu lê-la. Notou que se tratava
do objetivo e rapidamente chamou o resto dos atores.
Paula apanhou a carta e leu para todos:
A QUESTÃO É ESSA...
Vocês irão para o Teatro. Nesse Teatro tudo ocorre
segundo o diretor. O nome desse diretor é “estado”.
Vocês são os novos atores. Não conhecem a
316
autonomia desse diretor e vão escrever e encenar a
sua própria peça. O efeito pode ser devastador, pois o
diretor sempre está em tudo e em todos. Logicamente
sendo assim ele vai notar que vocês não estão sob seu
comando. Isso pode irrita-lo, vocês serão punidos pelas
leis que não conhecem. É justamente nesse ponto,
que, cada um de vocês vai conhecer onde fica o
calcanhar de Aquiles. Mas cuidado. O procedimento
deve ser sempre subversivo. Jamais deverão expor
suas identidades. Por exemplo, se Michael atuar como
o Michael antropólogo de Belo Horizonte, o diretor
(estado) vai saber quem é, e vai poder domina-lo, pois
esse Michael é um personagem criado por ele
(estado), sendo assim ele sabe todas as suas
artimanhas. Também não poderá atuar com a
identidade daqui, pois isso é uma ferramenta para uso
do jogo e não uma atuação no jogo. Todos devem estar
sob a identidade do nome coletivo. No caso aqui o
“Motta”. Atuem com inteligência e espalhem isso, pois
é um mito-vírus, tão poderoso quanto o diretor. Vocês
criarão um concorrente para o que se achava supremo
e único, vão criar um estado que não sabe que é
estado, para destruir o estado que pensa que pode ser
estado. Planejem tudo antes de partirem para o
continente. Existem mapas na biblioteca atualizados,
que serão úteis para a elaboração do único mapa que
terão. Um mapa de escala 1:1 com precisos dados,
mapa já conhecido por todos vocês, chama-se Teatro.
Onde vocês serão os atores e os que pensam que são
atores serão a platéia. Existe um quarto no porão que
possui várias roupas. Uniformes de polícias, médicos,
juízes, professores, garis e trajes como ternos, vestidos
e roupas das modas hip, punk, mauricinho,
patricinhas, universitários críticos e cartesianos.
Existem lá também trajes de mendigos e oficias de
justiça. Vários programas e papéis adequados para
falsificações de documentos, se encontram na sala ao
317
lado, num microcomputador de alta eficiência. Poderão
abordar sistemas na net. Mas o Teatro não atua na net,
mas a net atua no Teatro, então vocês devem atuar
onde é o Teatro e não apenas numa instância do todo.
O movimento é sempre múltiplo. Deve-se contaminar
o maior número de pessoas possíveis. Dizer que não
existe apenas um diretor, mas que existem infinitos.
Recomendo que comecem com os críticos sociais, tal
qual, os artistas e universitários. Vejam bem e cuidado,
o diretor (estado) é muito vivo, ele atua por trás de
tudo, recomendo que cheguem no alicerce de toda a
estrutura. Contaminem com cautela as periferias, que
são as pessoas que mais querem mudar a peça.
Mostre a importância deles para a manipulação de
todos. O diretor (estado) não existe por si, ele é um
mito-vírus, construído e lançado por alguns. A cautela
e a audácia devem andar juntas para o resultados ser
mantido como fator de ignição cultural. A lancha ira
leva-los para o continente no fim da tarde, eu vou vêlos por todo os cantos. Quem vai leva-los será o Motta.
Boa viagem, eu os verei no termino dessa missão.
Os atores após lerem essa carta passaram a discutir
como criar o mito-vírus. Foi a maior correria, puxaram
vários livros das estantes, consultaram a internet,
mapas e jornais. Observaram minuciosamente as
estruturas políticas e culturais dos locais que iriam
atacar. Notaram que todas as informações concebidas
culturalmente
como
ápice
da
elegância
ou
importância, surgiram nas regiões centrais. Como por
exemplo, o que passa num famoso jornal de São Paulo,
é muito mais cobiçado do que o que passa num bom
jornal do Mato Grosso. Mas notaram que as
informações de destaque no jornal de Mato Grosso
proviam do jornal de São Paulo. Então resolveram
atacar os pólos culturais do país.
318
Eles elaboraram o seguinte esquema. Paula, Michael
e Leucipo atacariam a cidade de São Paulo, Ariston e
Marcos cuidariam do Rio de Janeiro, Márcia e Rose
atuariam em Curitiba. Todos estarão conectados por
aparelhos
de
informação,
como
celulares
e
microcomputadores.
No final da tarde eles já estavam preparados, com
suas fantasias e com o roteiro na ponta da língua, tudo
estava certo para o início da peça. Eles já haviam
absorvido a idéia do que eu chamarei de “ignorância
socrática”, serão inteligentes e rápidos. Mas
demoraram a entenderem a idéia do nome coletivo,
pois ficaram esperando o motorista da lancha, sem
saber que eles próprios os era. Sorte que Leucipo se
tocou e falou que o motorista era o Motta e que o
Motta era qualquer um deles. Então Paula se arriscou
na boléia da lancha, pois já havia pilotado um
barquinho de pesca no Pantanal.
Lá vão eles, rumo ao desconhecido, levando consigo
todos os meus sonhos de transformar o mundo. Você
deve estar pensando: “esse cara pensa que é
anarquista, mas possui um castelo numa ilha só dele,
possui computadores e uma lancha de milhares de
dólares, esse cara quer passar o papo”. Todo o dinheiro
que possuo é um dinheiro conseguido de forma
racional. Preciso dele para formar uma estrutura contra
ele próprio. Lembra do cicluno? Então, eu não tenho
como sair da sociedade e entende-la, pois eu sou a
sociedade, eu posso usar a sociedade para mudar a
sociedade, eu posso usar as palavras para mudar a
gramática, não tem como eu sair e mudar e, eu não
preciso entender basta mudar, você deve entender
sobre mudanças, não sobre o que já é, mas sobre o
que vai ser. Meu dinheiro é conseguido de forma rápida
e por baixo do pano, como os bons políticos
conseguem. O diretor (estado) pensa que eu sou um
advogado, mas eu nunca estudei direito, pensa que
319
sou médico, mas nunca cortei ninguém, pensa que sou
deputado, mas nunca roubei. Eu uso nomes ou
identidades, para conseguir privilégios que podem
destruir todos os privilégios. Eu sou um veneno que o
sistema absorveu, ele vai se ferrar, pois eu sou
corrosivo e governo toda a essência do estado. Sou o
Homem Palavra, o alquimista da pedra filosofal, a
pedra da linguagem. Não me apego a coisas que não
necessito. Construo o que quero e não dependo de
nenhum diretor mitológico para ditar as regras. Eu sou
um navegador que cria as próprias leis. A aminésia é o
caminho.
Fiquei por um bom tempo pensando em meu castelo.
Pensei nas conseqüências da aplicação do mito-vírus
da ignorância socrática. Estava pensando na vida.
Pensei no porquê de tal ação, afinal, sei que vou
morrer independente de conseguir mudar ou não o
mundo. Pensei que deveria pensar em mim e largar
das concepções sociais. Sim, esse é meu objetivo, mas
acho que também é de muitos. Portanto penso que agi
corretamente inventando esse mito-vírus, assim deixo
minha digital no planeta e passo a ficar na minha,
sabendo no fundo que contribuí para o caos no
sistema. Não consigo entender as redes do capital. É
uma forma ridícula de existência. São pessoas
manipuladas por ideologias que ditam e deformam a
verdade. Fazem as pessoas acreditarem que as ruas
são perigosas, passa na TV muitas mortes. As pessoas
que vêem isso, logo se reprimem e entram na onda da
rede. Os paraísos do consumo são os lugares seguros.
Isso é engolido pela maioria, passam suas vidas
trabalhando em ambientes desagradáveis apenas para
poderem viver seguros. Compram seus carros e suas
roupas, se acham os super-homens, mas não passam
duma praga parasita manipulada por alguns metidos a
deuses. Se você que lê isso se sentir ofendido, acharei
320
ótimo, pois foi esse o meu objetivo. Não estou aqui
para ficar contando historinhas bonitinhas de autoajuda. Estou aqui para lhes dar ou mostrar uma das
chaves da liberdade. “A liberdade está na cabeça”, sim
ela está, mas parece que anda escondida
profundamente em alguns. Se você que lê isso se
sente empolgado, acharei ótimo, pois foi esse o meu
objetivo.
Poderia eu ser apenas mais um bom professor
universitário. Um doutor em ciências sociais.
Trabalharia para o estado, seria pago para mostrar
como funciona todo o sistema. As relações entre
sociedade civil e estado. Meus alunos seriam bons
críticos, mas só críticos, pois quando um deles se
levantar contra mim e dizer que não aceita o que
ensino e, dizer que não quer ser um “papagaio” e quer
ser um pensador livre, eu serei forçado a impedi-lo. Só
pelo fato dele não ter um diploma. Mas eu tenho e não
posso pensar, então o que adianta ele ficar anos
sentado numa cadeira duma instituição que limita sua
vontade? Sou contra e jamais vou concordar que
jovens inteligentes e capazes se estraguem numa
universidade, a não ser se for para destruí-la. Eu não
me importaria com o sistema desde que ele não se
importasse comigo. Mas isso não ocorre, pois quando
tenho fome não posso comer o que não é meu. Então
não me resta outra solução à não ser destruir o que
quer me destruir. Falo o que penso, pelo menos no
meu castelo eu faço o que quero, aqui eu governo a
linguagem, se não gosta desses meus momentos de
ira, não leia o que escrevo. Fique na sua que eu fico na
minha. Todos explodem quando não podem mais
agüentar o que tanto lhe foi reprimido. As portas do
inconsciente freudiano não agüentam mais as merdas
que são lançadas no mundo. Olho na rua e lá está
aqueles malditos cartazes pedindo alguns anos de
minha vida para eu poder entrar na moda com um
321
carro zero. Aquelas porcarias de sanduíches com
refrigerantes cancerígenos, que me impedem de
comer o bom pão caseiro com café e leite não
pasteurizado. Desculpe-me por meu tédio. Estou bravo.
Mas não vou ter vergonha e apagar o que escrevi, pois
verdades são coisas que temos que buscar e se
orgulhar. Tenho meus motivos para criticar e destruir
esse sistema. Talvez você não saiba o que é ver um
amigo morrendo em seus braços por não ter o que
comer, e no mesmo momento passar um filho duma
puta num carro importado e jogar uma garrafa de
cerveja em sua cabeça. Não que eu tive um amigo que
morreu de fome, isso eu vi num filme americano, pois
agora estou em meu castelo comendo o meu
sanduíche e tomando meu refrigerante. E, acima de
tudo admirando a beleza da moda e dos carros que
passam na TV. Eu sou feliz assim. Quem está passando
fome é por que tem preguiça de trabalhar. Não vou
ficar brigando por coisas que não me dizem respeito, o
que importa é eu, o resto que se funda. Não adianta
revolução, a idéia é curtir a vida. Isso é um incentivo
para os “normais” que lêem esse livro. Mas não pense
você caro anarquista que lê isso, eu não sou assim, eu
sou um ator, lembra? Estou para destruir o que me
reprime e para isso devo estar dentro do sistema.
Primeiro dizer amém para depois dizer sarava.
Entendeu? Agora chega.
Os atores estão passando agora por frente do Forte
da Ilha do Mel, no estado do Paraná. Eles reparam que
na porta de entrada para o monumento bélico, existem
duas máscaras de Teatro esculpidas. São mascaras
clássicas da Antigüidade. Eles logo relacionam as
máscaras com a cara do estado. É como se as
máscaras quisessem dizer: “aqui existem atores numa
peça de guerrilha psíquica, atores representando
soldados e soldados representando atores”. Agora já
322
estão dentro da Baía de Paranaguá. Eles vão
desembarcar numa residência que não posso revelar.
Essa residência fica na margem dum determinado rio,
na cidade de Pontal do Sul.
Eles negociam com o pescador que havia trocado o
seu barco pela Kombi deles. Pagam uma quantia
considerável para o pescador e conseguem novamente
a Kombi. Agora eles estão com o pé na estrada, rumo a
capital Curitiba.
Depois de seis horas de viagem na Kombosa, eles
chegam numa das cidades indicadas para receber o
mito-vírus. Eles ficaram sem veículo, pois a Kombi já
não prestava para nada, quase não foi considerada
como veículo seguro para viagem no pedágio. Michael
vendeu a amiga para um ferro-velho. Os sete atores
passaram um bom tempo estudando os movimentos
do centro da cidade. Conseguiram uma pensão para
todos. Mas apenas por essa noite, simplesmente
porque a dona diz que seria impossível dormirem mais
de um dia nesse quarto. Não pelo fato de ser de má
qualidade, mas pelo tamanho, que seria apenas para
dois e nunca para sete. Mesmo assim ficou bom, pois
apenas Márcia e Rose permaneceriam na cidade.
São dez horas da noite em Curitiba. Eles resolvem
planejar melhor os ataques inicias. Precisam buscar os
críticos sociais. Precisam passar a idéia para
anarquistas e cidadãos que estejam totalmente
revoltados contra o sistema. Precisam encontrar
artistas. Sabem que a arte é o melhor veículo. Então
logo percebem onde tudo pode ser. Na Universidade
Federal do Paraná, examinando cuidadosamente os
acadêmicos, mestres e doutores na área das ciências
humanas. Márcia focalizava alguns acadêmicos de
filosofia, notava a príncipio pela aparência, notava os
trajes e os livros que carregavam. Rose escutava as
aulas no corredor. Sala por sala, atrás de alguém
especial. Enquanto os outros ficavam apenas
323
conversando. Leucipo fez sucesso com sua barba
branca. Era visto como filósofo. Ariston com seu traje
leminskiano e seus óculos fortes, fascinava a
imaginação dos acadêmicos de Letras. Já Paula, Marcos
e Michael passavam despercebidos entre todos, eram
jovens, mas não eram nem menos nem mais do que
Ariston e Leucipo. A aparência trás uma aparência do
ego, mas não pode ser o seu puro reflexo, pois
lembrem, eles são atores.
Depois dessa noite de observações, Ariston e Marcos
foram rumo ao Rio de Janeiro, enquanto Michael, Paula
e Leucipo pegaram um ônibus para São Paulo. Rose e
Márcia permaneceram em Curitiba.
Quando Márcia acordou, Rose já tinha tomado banho
e o resto do pessoal ido embora. Márcia acordou
reflexiva, estava pensando na minha pedra filosofal, na
idéia que a linguagem está e é tudo. Ela levantou de
sua cama e começou a olhar as coisas em sua volta
com olhos perscrutadores. Tentava encontrar a
linguagem, tinha um pressentimento de que estava
sendo vigiada em todas as partes e por todas as
coisas. Começou a imaginar o som que seus olhos
produziam no ato de piscar. Começou a imaginar as
partículas que se moviam quando movia seu pé no
chão. Imaginava quantos universos surgiam e logo
sumiam em frações de segundos. Imaginou que todo o
planeta em que se encontrava estava numa partícula
igual a uma daquelas que se moveu no movimento de
seu pé. Márcia começou a entrar numa outra forma de
existência. Modificou o seu tempo. Olhava a Rose se
penteando diante dum espelho e, pensava que aquilo
que olhava não era o presente, mas o passado, ela
estava pensando que estava vivendo em sua memória.
Ela se transportou para o futuro. Não conseguia
entender nada das coisas que apareciam na
percepção. Ela pensava no que poderia ser aquela
criatura que se cuidava diante de algo semilar a ela
324
própria. Márcia olhava para suas mãos e tentava
entender o que era aquilo, qual o motivo de ser aquilo.
Conseguia se imaginar num outro tempo e numa outra
dimensão. Imaginava-se sendo uma das pessoas que
habitavam uma partícula que constituía um fio de
cabelo de Rose. Imaginava todo o processo inicial. Ela
nasceu, cresceu e morreu numa sociedade de milhares
de anos e Rose ainda não tinha recolocado o pente em
sua cabeça, para dar uma nova alisada.
Márcia começou a sentir que tudo era tudo. Logo ela
estava sendo a linguagem. Tudo em seu tempo, mas
nada está em nenhum tempo.
E, com essa idéia Márcia se levantou de sua cama.
Lentamente colocou leite num copo, sempre
imaginando o movimento de tudo, como se tudo
estivesse lento e perceptível. Sem notar Márcia
aumentava seu universo. As coisas não passavam mais
pelos sentidos elas eram os sentidos. Escutava o som
produzido pelas cordas vocais de Rose. As partículas se
movendo e vibrando em seus tímpanos, fazendo o
reconhecimento dum passado bem no além. Um
passado que estava difundido num futuro-presente.
Márcia estava num tempo só. Alimentava seu corpo
com leite, alimentava sua imaginação com imagens e
alimentava o seu pensamento com a fusão da imagem
e som, isto é, com a palavra, o maior e mais poderoso
alimento.
Márcia ainda tomava seu leite, sentada numa
cadeira, quando Rose lhe disse bom dia. Márcia
lentamente olhou para Rose, mas antes de obter a
imagem de Rose já tinha estruturado a viagem do som
que tinha sido o “bom dia”. Rose nota que a amiga
está pensativa e, antes de critica-la por tal
comportamento ela diz quase que sem intenção a
palavra “linguagem”, Márcia toma um susto com o
fato, Rose não sabe do que se trata e vai tomar um
café. Márcia volta no tempo vernáculo, ou seu tempo
325
habitual, e nota que a palavra que foi produzida por
Rose levou-a a refletir sobre a memória genética. “Será
que meu avô ou minha bisavó já havia vivido isso que
vivi?” Pensava Márcia. Mas logo ela desprezou a idéia
de memória. Pois notou que memória é um presente
camuflado por um passado do além. Agora Márcia sabe
que só existe um tempo. O tempo da linguagem.
Márcia acaba de tomar os últimos universos brancos
que constavam em seu copo e, responde o bom dia de
Rose.
Note caro leitor, que você leva cronologicamente
mais tempo para ler do que para agir. A linguagem lhe
transporta para um mundo sem tempo, você pode
analisar atos tão repentinos num tempo infinito. As
palavras deixam estáticas as coisas que se movem.
Paralisam a sombra de tudo, para que você consiga
entrar em reinos ainda não governados. A linguagem
subverte o conceito de tempo, o tempo é o
movimento, então se você começar a perceber os
macros e micros movimentos, você estará fundindo o
tempo de sua dimensão (presente) com os tempos do
macro e microcosmos (futuro e passado) nessa união
você tem o todo. Possui a linguagem total. O tempo
único. O seu tempo. Lembre que tudo é imaginação,
basta aumentar a potência para perceber mais, logo
você não verá mais um copo de leite, mas verá
infinitos. Eu não estou dando uma receita de
parapsicologia ou física quântica, tanto porque toda a
psicologia e física é uma parapsicologia e metafísica,
não entendo o porquê distingui-las, eu estou apenas
tentando tornar essas palavras em algo mais explícito,
se acaso exista um leitor cartesiano me lendo.
Enquanto o resto dos atores viaja, Márcia e Rose vão
tentar difundir a idéia do mito-vírus em Curitiba. As
duas caminham lado a lado, Rose com uma camisa
326
vermelha e com pensamentos cautelosos, ela tem um
certo receio na reação das pessoas que irão conversar.
Márcia ainda viaja no tempo único (esse tempo
também foi vivido por Thace, mas alcançado por
outros meios), ela nota a reação das pessoas, o que
leva a existência de toda essa correria? Pessoas de
ternos, sandálias, camisas, óculos, tristes, alegres,
atrasadas e tudo o que se pode imaginar. Márcia e
Rose estavam conhecendo o palco do Teatro.
Elas sentam num banco da praça da Boca Maldita,
observam alguns homens tomando café e logo
encontram a primeira vítima. Ambas concordaram que
aquele sujeito com quatro livros debaixo do braço com
roupas coloridas e velhas, com cavanhaque comprido e
óculos de grau alto, era o tipo superficial dum
guerrilheiro midiático. Elas se aproximaram do rapaz,
que estava num outro banco lendo um jornal. Sem que
ele percebesse elas sondaram os títulos dos livros. E,
por surpresa total eram livros nada a ver com a
aparência do sujeito. Elas voltaram a sentar no banco
de origem e Márcia disse para Rose:
- Ou ele é professor de cursinho, ou é um maníaco.
- Também acho, - disse Rose – você leu? “Vida após a
morte”.
- Não, - respondeu Márcia – eu vi o outro preto, “Como
viver feliz”.
- Meu deus! – disse Rose – tomará que eu nunca
precise ler esses lixos culturais.
- Amém. – disse Márcia com uma ironia no sorriso.
Depois do engano, elas resolveram não ir mais pela
aparência, mas pela forma de relação do sujeito. Elas
repararam uma moça bem vestida, ela estava
caminhando observando tudo em sua volta. Márcia
logo se tocou, tratava duma estudiosa em alguma
ciência humana. Rose desconfiou, disse que ela estava
querendo fazer moral para os homens. Porém isso não
foi o fator que impediu elas de se aproximarem dela,
327
mas quando chegaram mais próximos, notaram que a
moça era uma funcionária de um Banco. Então logo
viram que a possibilidade era remota, só pelo fato do
aspecto consumista dela já mostrava que não tinha
senso crítico, que estava olhando as vitrines das lojas e
atendia um celular de preço dez vezes superior a um
normal. Ela era uma consumidora conformada. Lógico
que ela não poderia ser o que elas estavam pensando,
mas era muito arriscado, pois poderia prejudicar o
mito-vírus se caísse num lugar onde não poderia
sobreviver. Passaram o resto do dia procurando a
pessoa ideal, mas só foram encontrar na noite.
Tratava-se dum músico, formado em publicidade.
Márcia e Rose conversaram algum tempo com ele e
logo chegou a prima dele. Ela era formada em letras e
tentava ser diplomata. Ambos eram cultos até demais.
Então percebendo o caráter crítico dos dois, Márcia e
Rose resolvem dizer a essência do mito-vírus:
- Precisamos de pessoas, - disse Márcia – pessoas
inteligentes e capazes de aplicarem um mito-vírus
nessa sociedade.
- Mito-vírus? – perguntou o músico – o que vem a ser
isso?
- Dificilmente conseguirei lhe explicar, - respondeu
Rose – mas acho que se mostrarmos um exemplo
vocês entenderão.
Rose e Márcia se levantaram da mesa e sentaram-se
noutra mesa da mesma lanchonete. Pediram que os
dois prestassem atenção. Márcia falou para o garçom
que estava com fome e, com educação pediu se não
havia comida para elas. O garçom trouxe-lhes duas
jantas e refrigerantes, elas agradeceram e comeram.
Depois se levantaram e foram saindo sem pagar. O
garçom entregou um papel com o valor do jantar.
Márcia olhou para Rose assustada e perguntou para o
garçom:
- O que é isso?
328
-
É a conta senhora. – respondeu o garçom.
Conta? – disse Márcia olhando para a Rose e o
garçom, como se não tive entendendo nada – o que
é conta?
- Meu deus! – disse o garçom – você não sabe o que é
conta? Deve estar brincando.
- Não, - disse Márcia – não estou brincando, você sabe
o que é conta Rose?
- Conta... – respondeu Rose – nunca ouvi falar.
- Acho
melhor
vocês
pararem
com
essa
brincadeirinha, - disse o garçom com um olhar de
tédio – e pagarem logo isso.
- Pagar? – disse Márcia – o que é pagar?
- Eu não acredito! – falou o Garçom – vocês são
loucas? Ou vocês me pagam ou vou chamar a
polícia.
- Chamar quem? – perguntou Rose.
- Chamar a polícia, - respondeu Márcia – deve ser um
amigo dele.
- Eu não acredito, - disse perplexo o garçom – vocês
não sabem nem o que é polícia... ah mas agora vão
saber.
O garçom saiu da lanchonete e gritou para dois
polícias que estavam numa viatura. Os polícias
rapidamente chegaram na lanchonete e perguntaram
para o garçom o que estava ocorrendo, o garçom disse
que havia duas mulheres que jantaram e não queriam
pagar. Os polícias se aproximaram de Márcia e Rose e
um deles disse:
- Esse senhor falou que vocês jantaram e não
pagaram a conta, é verdade?
- Quem são vocês? – disse Rose – e o que querem da
gente?
- Somos polícias minha senhora, - respondeu um deles
– e queremos que pague o que devem.
329
-
-
Não sei do que vocês estão falando, - disse Márcia –
mas nós temos muito o que fazer, pretendemos
arrumar um acampamento bom para essa noite.
Ah! Entendi, - falou o garçom – vocês são prostitutas,
são vadias e querem tudo de graça, mas aqui não
suas gracinhas ou vocês me pagam ou vão presas.
Presas? – disse indignada Rose – quem são vocês
para prenderem a gente? Nós não fizemos nada que
consideramos errado, não matamos, nem surramos
ninguém, apenas nos alimentamos, se não
comermos vamos morrer de fome.
Vocês não fizeram nada de errado, - disse um dos
polícias – mas se não pagarem estão roubando e isso
é crime.
Crime? – pergunto Márcia, com uma expressão séria
sem deixar nenhuma marca de erro em sua
interpretação – o que é crime?
Você não sabe o que é crime? – disse um dos polícias
– crime é a violação duma lei.
Lei? – falou Rose – o que é lei?
Eu falei seus guardas, - disse o garçom – essas
mulheres são loucas, não sabem o que é lei.
Lei – falou um guarda – é uma norma aceita pela
sociedade como sendo algo para ser respeitado.
Sociedade? – falou Márcia – sociedade é um conjunto
de pessoas? É eu, você ele e ela?
Sim. – respondeu o guarda.
Mas eu não aceitei nada, ninguém foi lá em casa
perguntar-me se eu aprovava que comida tivesse
dono.
Você não aprova nada, - disse o guarda – quem diz é
o seu representante, o vereador e os deputados.
Eu não quero ter representante, - disse Márcia –
estamos num país democrático e democracia é
direito igual para todos, uma lei deve ser aprovada
por todos dessa nação e não por representantes que
pensam que podem dizer o que penso.
330
-
Sinto muito, - disse um guarda – mas aqui as coisas
funcionam assim, ou você respeita ou é presa.
- Esse lugar não é seu e nem desse garçom – disse
Rose – ninguém tem autonomia sobre o que não lhe
possui, o planeta é de todos, cada um faz o que quer
nele e ninguém pode me ditar regras, eu nasci aqui
por algum motivo, que nem eu e nem ninguém sabe,
então não percam seus tempos tentando me dizer o
que faço, a comida que eu comi não era sua, ela é
de todos, não preciso dar explicações para ninguém,
agora com licença.
Márcia e Rose estavam saindo quando os guardas
lhes seguraram e colocaram as algemas, seus amigos
viram que seria sério e pagaram a conta delas pedindo
desculpa para todos, dizendo que as duas tinham
problemas
mentais
e
estavam
sobre
suas
responsabilidades.
Os quatro saíram da lanchonete satisfeitos, Márcia e
Rose por conseguirem sabotar a estrutura do sistema,
e o músico e sua prima por absorverem a idéia.
Márcia disse antes de despedirem os amigos, que
pode ocorrer um grande distúrbio no sistema se muitas
pessoas adotarem uma identidade duma cultura
liberal, disse que o maior objetivo é chegar na frente
do juiz e negar as leis do estado e dizer que não as
conhece, cometer os crimes sem saber que era crime.
Márcia diz que o sistema vai tentar se defender, vai
começar a ensinar as legislação na escola, mas ela
também disse que os guerrilheiros poderiam se cobrir
com o nome coletivo (Motta) para dizer que não
conhecem o que é escola e instituições. Quanto maior
o número de adeptos ou infectados do mito-vírus
denominado como ignorância socrática, maior o efeito
de dilatação. Então Márcia e Rose pedem o apoio do
músico e de sua prima para ajudarem na
contaminação. Ambos aceitam e o tempo vai
multiplicar as coisas. O ataque será todo duma vez só,
331
num mesmo dia em vários lugares. Todo mundo fará
um crime que não reconhece como crime. Isso pode
causar um colapso indefinido no estado (diretor), pois
ninguém saberá a língua do diretor, sendo assim,
ninguém pode entender as suas ordens.
Enquanto Márcia e Rose preparam-se para dormir,
Ariston e Marcos ainda procuram um lugar para ficar
no Rio de Janeiro. Já em São Paulo Michael, Paula e
Leucipo discutem sobre o mito-vírus em um quarto de
pensão.
Eu estou escrevendo em meu castelo, contente com
a atuação até agora perfeita dos atores. Todos já estão
dormindo, mas Ariston e Marcos estão na rua. Eu olho
para eles e lembro de minha juventude, lembro da
euforia que tinha, lembro dos sonhos de conquistar
universos. Pouco importa o tempo, eu sou revolução,
eu sou a linguagem. Você que lê isso agora, pode me
seguir por algum tempo, pode querer mudar sua
sociedade, pode notar que dentro de si, você só
encontra uma relação, uma estrutura social. Para
mudar a sociedade deve-se mudar a si próprio, mas sei
que poucos seguirão eternamente essa busca da
liberdade, alguns encontrarão uma liberdade dentro
dessa sociedade, uma liberdade camuflada como a
beleza dos olhos azuis duma linda mulher. Porém vai
sentir no fundo do peito que não é verdade, que não é
livre, que não pode dormir, comer, escrever, viver,
sonhar, andar como quiser, não pode porque não é
livre. Não há liberdade na sociedade, a liberdade está
na linguagem e não nas suas manifestações. A
liberdade não está no espaço e no tempo, não está nas
coisas e nos atos, a liberdade habita onde a prisão
reside, você só encontra uma liberdade quando
consegue saber o que é o infinito. Sempre estou numa
missão infinita, assim sou livre, assim sou eu, se você
desiste da revolução desiste da sua liberdade. O que
332
me faz caminhar é a imagem dum lugar onde todos
podem fazer o que querem, não esse fazer sistêmico
desse sistema, mas um fazer de coração, onde a arte
surge do nada e permanece eternamente no nada. Isso
é ser revolucionário, é ser anarquista, mas antes de
tudo que é “istas”, é ser homem, humano, pessoa e
animal, é ser vivo como um Condor voando em
altitudes infinitas.
Dois dias depois dos atores conhecerem e
espalharem o mito-vírus pelas cidades capitais, eles
marcaram o dia da explosão do mito. Muitos
anarquistas já estavam preparados para agirem, mas
todos precisavam agir juntos, assim seriam mais
fortes. São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba estavam
perto de receberem um golpe inteligente. A sabedoria
não pode ficar fixa na aristocracia, ela deve ser o
objeto de valor do ser humano. E isso todos possuíam
em mente, talvez foi esse o ponto principal do sucesso
desse início de ataque. A amizade e os contatos dos
manipuladores do mito-vírus foi aumentando, centenas
de guerrilheiros em cada uma dessas cidades estavam
cientes e prontos para agirem, uns mais sérios, outros
à toa, mas o importante é que estavam preparados.
Queriam ver o resultado. Os sete atores (diretores)
espalharam o roteiro da peça corretamente, todos os
personagens chamam-se Motta, desde do início até o
final do golpe. As pessoas que iriam participar do
atentado eram de confiança, foram pessoas escolhidas
como o músico e sua prima em Curitiba, que
escolheram pessoas de confiança, assim por diante,
até conquistarem um considerável número de pessoas.
Não era tão grande, mas era suficiente para o mito se
expandir.
Confesso que pensei em descrever toda a dificuldade
dos sete de encontrarem as pessoas, de acharem
333
pessoas que tivessem afim, mas achei perca de tempo,
você lendo e eu escrevendo, fora as folhas
desperdiçadas, temos que mostrar a idéia, no papel e
a ação fica num impulso.
Chegou o dia do ataque do mito-vírus, todos
estavam preparados. Logo sedo começaram a agir. Em
Curitiba um grupo de jovens atacou lojas e mercados,
coletando vestuários e alimentos, todos foram presos e
todos falaram para os policiais que não sabiam que
aquilo era crime, que não consideravam a propriedade
privada. Já em são Paulo ninguém agiu em grandes
grupos, no máximo em três pessoas, os crimes foram
vários, como roubo de carros, invasão de domicílio,
vandalismo... No Rio de Janeiro todos que estavam
envolvidos se uniram e formaram um grande grupo de
criminosos não cientes do que era crime, eles
trancaram o trânsito roubaram livros da biblioteca
nacional, fizeram suas necessidades biológicas na
praia, comeram o que viam e não machucaram
ninguém, não agiram com violência, mas só com
inteligência. Alguns apanharam da polícia, mas não
reagiram, pois sabiam que tudo iria mudar no dia do
julgamento.
Resultado do início do mito-vírus “ignorância
socrática”: centenas de prisões, cadeias super lotadas,
e sistema judiciário em risco de vida. Os jornais do país
todo anunciavam o fato: ANARQUISTAS ATACAM O PAÍS,
um outro jornal importante: JOVENS COMETEM CRIMES
E DIZEM QUE NÃO SABIAM. As notícias se espalharam
pelo mundo e, não demorou muito para novos ataques
em todo o planeta, centenas de pessoas se diziam
alienígenas para violarem as leis, “eu não conheço a
sua lei, então você não pode me julgar” disse um
jovem para um juiz da Inglaterra. O Brasil alertou as
autoridades internacionais, o exército tomava conta do
334
capital dos grandes capitalistas, enquanto mais
pessoas eram presas.
Foram tantas as prisões e tantos Mottas, que não
havia cadeias e juízes para julgar ninguém, as
autoridades do país resolveram agir com violência
contra os anarquistas mandando matar os lideres, o
problema é que não havia lideres e o pior de tudo é
que não havia soldados para agirem, pois eles notaram
que existiam familiares no meio. “Não vou matar meu
irmão para obedecer ninguém” disse um soldado do
exército brasileiro para seu sargento, o pior é que
primos, irmãos e vizinhos das autoridades também
estavam no meio da bagunça. Não tinha como ter
controle, os anarquistas agiam em grandes grupos,
atacavam residências, comiam o que ali tinha e
conversavam com os proprietários para fazerem parte
do movimento, alguns agiam com violência e
acabavam sendo feridos, então essa notícia se
espalhou e quem estava se defendendo acabou
cedendo por falta de segurança, pois os políciais já
estavam no meio, logo todo mundo não reconhecia lei
alguma, não existiam limites nenhum.
Os meios de comunicação foram invadidos, mas não
violentamente, mas por ação ideológica da natureza do
próprio mito-vírus, pois as únicas notícias que ocorriam
eram essas. A TV tentava dizer que o movimento era
perigoso e que ninguém poderia se render para uma
utopia infantil como essa, mas isso não foi longe, logo
anarquistas invadiram literalmente os meios de
comunicação e ajudaram a espalhar a idéia por todo o
planeta, na internet e nas poucas TVs que existiam,
pois todas que marcavam eram destruídas por
anarquistas, os governos mundiais estavam tentando
controlar o movimento, mas não havia como existir
guerra, pois tudo estava homogêneo, não existia dois
grupos separados, mas um grupo sofrendo um ataque
em si próprio, então nada adiantou os armamentos
335
nucleares, o mundo estava em um único sistema, o
sistema da anarquia.
Não teve como fugir. Todos estavam nesse sistema,
depois de alguns meses ainda existiam grupos
tentando manter um sistema econômico, mas era
impossível, pois ninguém produzia. Não existia mais
operário e empregado, todos eram artesões. Não havia
dinheiro, cada um trocava o que construía por coisa
que precisava. Lógico que tinha alguns que tentavam
uma cobiça, começavam a construir muita coisa e se
dizer dono de tudo aquilo, mas pouco adiantava, ou a
arte era de todos, ou era destruído, pois a matéria
prima era de todos e de ninguém. Mas isso foi só no
começo, logo as pessoas começaram a criar um outro
conceito de mundo. Deixaram para trás o “material” e
começaram a ser capitalistas de idéias. Quem tinha
idéia boa era rico. A riqueza já não era bens matérias,
mas o sucesso ideológico, “a arte eleva o homem por
meio da beleza” disse o músico curitibano. Ninguém
queria chegar rápido em lugar algum, muitos se
tornaram nômades, ou andavam ou percorriam o
caminho até o fim do combustível de um carro
qualquer. Tudo era de todos. Você poderia pegar
qualquer carro e andar. Mas isso demorou pouco, pois
logo acabou o combustível e ninguém teve vontade de
fabricar mais, a não ser alguns jovens que ainda
enxergavam um modo de vida na velocidade, ninguém
interferia em nada. Não havia violência, pois não havia
necessidades. Todos tinham tudo o que queriam, a
cobiça por aviões e mansões foi grande, mas logo
perceberam que não havia objetivos naquilo tudo, pois
o luxo não era liberdade e não podia se comparar.
Dois anos depois da revolução anarquista, o planeta
era só uma coisa, existia varias línguas e muitas
etnias, mas não havia limites políticos, o homem
poderia viver onde e como quisesse, ninguém ditava
leis, a não ser a sua própria. Existia uma língua
336
universal, era a arte. E tudo isso que ocorreu fazia
parte do jogo que começamos, os sete atores estão
cada um onde querem estar. Nunca mais os vi. Ainda
existe tecnologia, mas ninguém se intereça muito,
todos se preocupam com a filosofia e com a arte,
sabem que o universo só é conquistado pela
imaginação. Nenhuma máquina pode alcançar a
velocidade da luz, a não ser a mente. Aqui acaba a
história do Homem Palavra, em um mundo que ele
próprio criou, num mundo que sustenta a sua forma de
ser feliz, que cria a essência de sua liberdade, que
transporta você para uma outra dimensão de tempoespaço. Tudo foi mostrado, mas ainda eu pretendo
dizer qual e como nasce a minha pedra filosofal. A
linguagem vai ser enfim demonstrada, mas lembre,
apenas demonstrada e nunca entendida, o cicluno é o
segredo.
Tratado de Homem Palavra da
ordem
dos
alquimistas
conquistadores sobre a pedra
filosofal:
337
O assunto é infinito, não
devemos nos apresar, cada fato
pode surgir como um corpo
celeste duma natureza fria.
Lentamente conheceremos as
formas de criar ou entender a
pedra filosofal. Não vem ao caso
explicar, pois como você já sabe,
a arte de explicar cria o mundo
do desconhecido. O silêncio é a
melhor explicação. O que vou
ensinar você nunca viu em nada,
é um conhecimento secrétissimo
e, além do aquém pode surgir um
conceito precioso, que cabe a
cada um julgar. Logos é a fonte. É
onde deuses saciam os seus
desejos. Os mitos, os reinos e os
clãs dela se criam. Da minha
pedra filosofal tudo surge ao
homem, seja da forma que for,
338
tudo surge dela. Uma forma que
a princípio podemos moldar
como linguagem, mas no além
como infinito. Até aqui já basta.
Entraremos
em
mundos
desconhecidos,
pois
o
que
pretendo fazer é explicar como
surge a explicação.
Manteremos a forma como
essência. Minha pena escreve
lentamente,
quase
que
se
pensando por si. Essa carta
marca o início dum fluxo crucial
na minha, na sua, nas nossas
vidas. Antes de tudo, devo dizer
que essa pedra filosofal, era o
grande tesouro da Rota Secreta
de Thace Pahazy Filibuster, no
livro de Leucipo de Minas, doado
para o planeta Terra pela Fils.:
Cosm.: Vida.:, uma sociedade
secreta que se baseia na
339
imaginação para existir. Era essa
pedra, que brilha como uma
estrela (a mesma que ficou no
centro da mesa quando os atores
estavam reunidos em minha
biblioteca) que Halford pai de
Thace guardou no Espigão do
Feiticeiro, no litoral do Paraná,
apenas alguns quilômetros do
meu castelo, para que o pirata
Zulmiro não roubasse. Você não
sabe em que tempo estou, posso
estar no seu futuro, ou no seu
passado, é por esse motivo que
você jamais vai encontrar a
pedra filosofal, mas você pode
encontrar algum vestígio dela no
espigão, um vestígio do guardião
do tesouro. Mas lembre, eu não
sou Leucipo, sou apenas o seu
inventor.
340
Primeiramente para se
entender a pedra filosofal é
necessário
saber
sua
constituição, mas esperai! Será
que é preciso fragmentar o
objeto de assunto para se
entender? Não, eu digo que aqui
não se precisa dum método
cartesianista, na verdade não se
precisa de nenhum método.
Nesse universo que você se
encontra, a ciência, ou melhor, o
conhecimento científico é um
conhecimento
diferente,
em
outras palavras, ultrapassado. O
que aqui impera é a ciência
holística, onde não existe um
conhecimento distinto, tudo que
se
sabe
é
ciência,
é
conhecimento.
Você está entrando num mundo
de concepções. A pedra filosofal
341
tem em uma de suas infinitas
naturezas, uma história poética,
lírica ou até mesmo metafórica.
Depende absolutamente de você,
para que o entendimento dos
seguintes
licores
seja
estabelecido. Você pode ler e
dizer como Mallarmé disse das
poesias: “se faz com palavras e
não com idéias”. Depende de
você, peculiarmente não consigo
conceber uma idéia além das
palavras, pois sem palavras a
idéia não existe. Quem define e
cria os conceitos sobre as
palavras, não são elas, mas você.
O que pode ocorrer é o fato de
palavras
criarem
conceitos
parecidos para alguns indivíduos,
ocorrendo isso as palavras são
consideradas explícitas, mas já
em outro aspecto, existem
342
palavras que criam conceitos
totalmente diferentes para os
indivíduos e essas palavras são
consideradas
implícitas.
Geralmente isso ocorre em
poesias. E a poesia é a
linguagem em estado puro, a
única forma de tentar entende-la,
pois cabe ao interprete julgar o
conceito e não o poeta. É nesse
estado
que
existe
a
fragmentação
holística
da
linguagem, assim é possível
entender, pois cabe em cada
fragmento o todo que lhe
compõe. É uma fragmentação
invisível. Mergulhe em si e
absorva a essência da natureza
da pedra filosofal, talvez um dia
você também conseguirá ter
uma. Apenas os alquimistas da
linguagem possuem essa pedra.
343
Para ser um é preciso ultrapassar
o dadaísmo implícito, vencer o
cartesianismo-newtonianoaristotélico, mostrar para o deus
um diploma de poeta e acima de
tudo saber os macetes de um
artista. Só a arte cria a pedra
filosofal. Para ser um artista você
deve ser um homem e não uma
máquina.
Apenas
o
artista
conhece o mundo alquímico
lingüístico.
A arte não leva o homem para
Lua, porém traz a Lua ao homem.
Você lembra da primeira carta
que Rose encontrou atrás da
igreja? Então, aquela carta não
era obra de Leucipo, mas obra
dum mestre da alquimia da
linguagem. Seu nome nunca foi
definido, ele se julgava cidadão
do mundo (cosmopolita) e nunca
344
quis adotar uma identidade.
Sendo dessa forma coube a cada
discípulo ou
admirador lhe
chamar como quiser, é como se
ele fosse uma poesia e cada um
criasse o seu conceito. Eu lhe
chamo de Alberto Magno, por ser
em minhas concepções históricas
o mestre que ensinou os
princípios da alquimia para S.
Tomaz de Aquino. Esse homem
era
um
artista
fabuloso,
dominava como ninguém os
segredos da linguagem e, foi
esse fabuloso domínio sobre a
linguagem que lhe tornou eterno.
Cabe a mim, mostrar as suas
anotações
da primeira das
infinitas naturezas da pedra
filosofal. Lembre, você é o
responsável pelo entendimento
das palavras.
345
Um dia eu ainda vou entender o que se passa
nesse lugar. Um dia eu ainda vou saber o que é
e onde fica esse lugar. Pouca coisa sei sobre ele,
sei que é bom, sei que tem em seu imo a vida
em pureza exuberante. Parece que esse lugar é
um lugar indefinido, infinito e homogêneo. Eu
consigo pressenti-lo na flor que nasce, na água
que escorre, no pássaro que voa, nos olhos dum
amor. Agora perdi a essência desse lugar, e
tudo está escuro para procurar. Porém ainda
uma aranha tece sua teia, ainda o grilo disputa
canções com a cigarra, ainda o sol brilha as
cores do arco-íris. A fusão dessas cores cria a
cor que pode estar em tudo que é belo, mas não
pode definir, eu ainda procuro esse lugar, esse
movimento de sentidos. Um astral que
mergulha nas profundezas da clareza, uma
clareza que demonstra como é ser e ter beleza.
Agora entendo porquê a formiga trabalha, ela
trabalha porque não quer cantar. Isso é um mar
de ondas da vontade de existir como existente.
Paz é o equilíbrio entre céu e terra, você e eu,
palavra e conceito. Eu estou vivo, estou bem
vivo, isso é o que intereça, pouco importa a
explicação disso, explicar não explica nada. Um
dia talvez, mas não agora...
Alberto Magno.
Que lugar é esse? Não interessa,
pois só você sabe qual é. O
346
importante é notar donde provêm
esses princípios alquímicos. Note
que assim como eu, Magno
também critica criativamente a
explicação como resposta para
algo.
Pode se comparar esse texto
como algo de certa forma com
natureza explícita, pois você vai
conhecer textos que nem mesmo
o autor entende. Mas isso não
quer
dizer
que
seja
incompreensível, o mundo é tão
gigante, seria impossível não
conter nele um conceito para tal
texto. Você cria e pronto.
Certa vez uma caravela chegou
em meu castelo. Nesse tempo eu
ainda era jovem, e estava
conhecendo uma nova estética de
existência, pois a imprensa estava
nascendo. Nessa caravela desceu
347
uma mulher linda, seus olhos
brilhavam como duas pedras
filosofais. Fiquei fascinado com
sua beleza magnífica, ela era a
única pessoa da caravela. Sua
juventude poderia ser comparada
com o sol da manhã.
Essa mulher chegou em meu
castelo como uma nuvem chega
no céu. De repente. Sem falar
nada ela sentou numa poltrona,
tirou os seus braços do casaco e
da sua bolsa retirou uma pedra.
Essa pedra não era como a minha,
era uma pedra filosofal de
natureza azul, a minha era de
natureza branca. A pedra de
natureza branca é a que possui a
essência pura,
é
a
pedra
denominada linguagem. Já a
pedra azul é uma manifestação da
pedra branca, não deixa de ser
348
pedra branca, mas
a
sua
denominação é beleza. A beleza é
a única capaz de quebrar as
formas
de
existência
da
linguagem.
Logo depois de retirar a sua
pedra da bolsa ela me disse que
precisava de ajuda. Falou-me que
seu reino estava correndo perigo,
disse que precisava duma pedra
filosofal branca para derrubar a
dialética que se formava entre as
sua pedra azul e a pedra filosofal
negra, do famoso alquímico
lingüístico Turpan. A pedra negra
produzia um conceito sobre as
palavras,
esse
conceito
é
conhecido
por
Platão
como
“linguagem veneno”, mas não
deixa de ser um conceito, pois se
você conceber como você quer,
ela vira veneno ou não se você
349
quiser. Eu ajudei aquela mulher,
mostrei como fazer uma pedra
filosofal da linguagem e ela não
precisou me ensinar a fazer a
pedra filosofal da beleza, pois
quem sabe fazer a da linguagem
sabe fazer qualquer uma, até
mesmo a do veneno.
O nome dessa mulher era
Mayleisten. Ela conseguiu salvar o
seu reino e como agradecimento
me ensinou a usar um aspecto da
pedra azul. Ela parte de princípios
artísticos solares, duma beleza
que apenas se representa em si
própria. Numa forma poética,
como deve ser a primeira das
infinitas naturezas da pedra
filosofal.
Veja como a água é límpida. Olha aquele
peixinho viajando. Eu consigo nessa água
enxergar as lágrimas dos meus olhos. Essas
350
lágrimas escorrem em meu rosto e aumentam a
formosura da água. Será que minhas lágrimas
não são as fontes dessa água? Se forem, eu
pergunto, o que faz meus olhos produzirem
amor líquido? Talvez seja um desejo, um desejo
produzido pela vontade, uma vontade igual a
que faz o peixinho viajar nas lágrimas de meus
olhos. Luz brilha nessa volúpia incansável de ser
uma beleza esplendida e eternamente única.
Olhos que fascinam e despertam a beleza nos
alquimistas da linguagem. O eco de suas
palavras cria a beleza da água azul.
Mayleisten.
Com tudo que se pode ver nessa
estrutura, você leva uma espécie
de antologia mágica, que além de
criar
mundos,
cria
também
anseios.
Ela
poderia
ser
considerada uma alquimista da
linguagem, mas o seu reino não
foi criado para ter uma alquimista
desse porte. Ela é uma alquimista
que busca o exilar da longa vida,
busca transformar chumbo em
ouro. Enfim, é uma alquimista
normal, com desejos e vaidades,
351
tudo
que
a
pedra
azul
proporciona. Ela não é menos e
nem mais do que um alquimista
da linguagem, é apenas diferente
em aparência, mas no fundo é a
mesma coisa.
Você já conhece dois licores da
primeira das infinitas naturezas da
pedra filosofal branca, ou da
linguagem. Agora precisa saber
coisas
reais,
de
realidades
ilusórias, precisa conhecer o
mundo da palavra. Um mundo
onde tudo pode e tudo se deve.
Não se assuste com esse tratado.
Sei que você saiu duma história
racional e obscura, mas agora
está
numa
história
de
movimentos. Não sei como lhe
informar, mas você já está entre o
mundo do leitor e o mundo do
escritor. Você já não está apenas
352
lendo isso, você está participando
disso.
Lembro que no dia em que os
atores e eu definimos as nossas
identidades, Rose perguntou para
Dr. Ariston como ele definia o
tempo, ele respondeu que o
tempo era apenas uma palavra
insignificante, Rose ficou sorrindo
por algum tempo e depois
perguntou como ele conseguiu ser
doutor falando essas bobagens.
Então Ariston olhou seriamente e
disse: “consegui ser, porque
nunca disse o que pensava”. Rose
ficou pensando e depois entendeu
que estava sorrindo à toa.
Essa lembrança me faz refletir
sobre a existência, afinal por que
temos a concepção de existência?
Não sei responder, mas sei que
posso superar isso. Se nada
353
existe, se a realidade não existe,
se o homem criou tudo, então por
que não conceber a invenção
como existência, pois se invento
eu crio? Se você quer entender os
aspectos da pedra filosofal, deve
obscurecer a existência. Fazendo
tudo existir e sendo assim não
tocar mais na palavra existir.
Se o rei representa a autonomia
sobre o poder, o louco representa
a autonomia sobre a sabedoria.
Quem é sábio é louco, pois
existem
poucos
sábios
no
universo. E, o que é pouco é
louco. Mas aqui isso não impera,
não
somos
levados
por
estatísticas proporcionais. Somos
loucos, porque aqui é normal ser
louco, todo mundo é, até mesmo
os que não são, passam a ser,
pois são minorias, e sendo
354
minoria, nós usamos estatísticas
proporcionais. Não falei, aqui só
dá louco.
Agora cuidado com esses meios
termos. Quem não sabe o que é
pergunta, não sabe o que é
sofrimento psíquico. E sendo
psíquico logo é físico, pois é
impossível o físico sem o psíquico.
A pergunta é o sofrimento. Se
você não pergunta, você é um
verme parasita, que talvez seja
mais sábio que os ansiosos do
nirvana, pois eles perguntam e
tentam sentir o nada como forma
se
existência
holística.
Não
querem discutir nada, pois sabem
que o outro é ele próprio. Então
vivem felizes com si mesmos. Até
parece ironia de minha parte, mas
não é. Afinal o que é é? Talvez é é
e pronto. Porém posso perguntar
355
se o é é pronto, então o pronto é o
é? Deixa pra lá, não vamos cair
em armadilhas lingüísticas. As
palavras não são minhas inimigas,
pois elas são eu.
Podemos constatar que pode
haver um significante e vários
significados, como já vimos nas
palavras explícitas e implícitas.
Porém antes de continuarmos
nesse tratado, você deve saber
que a arte é um sinônimo da
linguagem, então cuidado com
aquela pergunta: “que é arte?”.
Lembre do cicluno, a arte é a
linguagem com outro aspecto.
Às vezes quando estou
escrevendo me vêm do nada
coisas engraçadas. Agora mesmo
lembrei do que escrevi acima
sobre a existência, isso me fez
refletir
sobre
a
evolução
356
darwinista. Talvez daqui alguns
anos, a ciência acredite que o
homem evoluiu do burro, e
desenhará uma caricatura dum
centauro separando os conceitos,
dum lado o que existe, do outro o
que não existe. E no final o
centauro vai dizer: “puxa! Não
têm mais conceitos para separar,
acho que vou mistura-los tudo de
volta só para não ficar sem fazer
nada e depois irei separa-los em
real e irreal, ou melhor, em
primeira natureza e segunda
natureza, melhor ainda, irei
separar
em
significado
e
significante, porque se eu separar
eu vou conseguir entender”. Você
já pensou que a história dos préhistóricos, isto é, dos que não
dominavam uma língua, foi criada
pela própria língua? Vamos de
357
novo, ideogramas e fonemas,
ambos são águas, o que muda é o
recipiente, mas o que importa o
recipiente ou a sede? Tem alguns
preferem morrer sem saciar a
sede, para descobrirem como e
qual é a forma do conceito, sem
saber que o conceito é a água,
que se apresenta como veneno
para que não a tomem. Conceito,
mas o que é conceito? É um
sinônimo de arte. Ainda quer
saber a resposta? Cuidado com as
palavras, elas levam para o
cicluno. Sei disso muito bem, pois
sou o Homem Palavra, quem
constrói o que é. E, se um
lingüista que estiver lendo isso
agora, me dizer ao léu, que há
uma língua escrita e uma língua
falada, sem dúvidas nenhuma eu
o classificaria como um centauro
358
se eu fosse um cientista do além.
Se você lê isso não concorda
comigo, digo que você está
tentando ensinar o canto do
pardal para o bem-te-vi. Mas
lembre, somos todos papagaios.
Deixando esses contextos,
digamos, burocráticos. Partiremos
para uma nova instância da pedra
filosofal, trata-se dum texto
escrito recentemente em algum
lugar do planeta e por alguma
pessoa que domine uma língua. É
uma forma estranha de arte. Esse
sujeito escreveu um licor da pedra
branca, e sem que ninguém
soubesse do que se tratava
espalhou cópias pelo mundo
inteiro.
Essa
carta
deixava
perplexas as pessoas que a
recebiam. Era uma espécie de
jogo, que inclusive foi utilizado
359
nos primórdios da revolução
anarquista
do
mito-vírus
ignorância socrática, mas não foi
antes descrito, pois achei perca de
palavras executar tal ato naqueles
momentos, porém agora acho ser
o tempo certo.
MEIOS METAFÍSICOS E OUTRAS ENTIDADES
DO MUNDO SOBRENATURAL
Entre o centro comunitário existe o ser.
Contracepções estéticas sobre um mito surgem
como propaganda de jornal. Se você que lê isso
for esperto, saberá do que falo. Eu estive entre
vocês há alguns dias. Lembro da forma psíquica
que manipulava sua definição como cidadão.
Marcado você está, todos que lêem, eu sei de
tudo. Estarei onde devo estar, no momento que
devo estar. Marcados como boi de corte. Não
vou argumentar a índole dessa premissa,
entretanto poderei ser preciso, eu vou lhe
transformar. Isso é apenas o início dos sistemas.
Estou te espiando agora mesmo. Vejo seus
olhos de espanto perante esse behaviorismo
místico. No teatro você pode me encontrar, sob
a penumbra do espetáculo e o espectador. Meia
noite estou no rio da cidade, pescando
normalmente. Antes de conferir essa antologia
360
magnânima,
parta
sobre
princípios
etnocêntricos
e
juvenis.
Como
se
as
organizações estivessem incumbindo estremas
existências
superficiais.
Não
viva
em
transportes delirantes, só seja estupendo
quando for a ti marcado o local. A chave do
sistema está em suas mãos, olhe para fora se
estiver dentro e vai me ver, mas se você já
estiver lendo fora olhe para o lado. Um menino
correndo, uma bicicleta passando e fim dessa
alquimia secrétissima, entre o pó e o bar. Só
lembre: eu estou bem perto, sempre te
espionando, saiba que você não está lendo à
toa esse papel, você é o único que possui, não
há cópias. Eu sei quem és. E você pode saber
quem sou.
Até parece que ele sabe da
essência de tudo. Ele se coloca
como a essência de tudo. Sabe
que essa essência é a linguagem,
sabe que a alquimia é o meio de
estudar as essências. Sabe que
alguém está lendo. Enfim, esse
sujeito sabe muita coisa, mas não
sabe que eu sei quem ele é. Sei
como e onde ele escreveu esse
negócio. E para responder as suas
361
brincadeirinhas eu utilizei os
mesmos
procedimentos
para
mandar-lhe o seguinte licor da
pedra filosofal branca. Esse texto
pode exprimir coisas que já tratei
há pouco.
Eremita malandro, que vale suas artimanhas
no deserto? Tento entender até ontem isso. Seja
qual for o gueto, ser a areia da ampulheta é
preciso. Suas vontades de vaidades egoístas
pouco dizem sem eco. Olha quanta gente,
quanta coisa, sem nexo, sem idade, mas com
todo teste possível no canto extremo do abismo
tácito. Lume lindo esse, não acha? Mostra tudo
que deve ser nesse instante passado futuro;
diga que não estou, já viajei para além disso,
pobre volúpia! Dormindo digo sim, mas agora
nem sonhando. Jorrar isolado é mandar no
marfim oceânico de coisas oníricas gregas.
Tenho que trabalhar para mentir que sou a
gente, sou super-homem não formiga, porém
não tenho direito de ensinar, mesmo não sendo
nenhuma ficção. Filosofia de aborígine é bem
mais volumosa do que filosofia de formiga,
bobagem à toa, quase duo. Sempre com dubiez
e cinético, esses temas poucos são, mas muito
confrontam com o empirismo dos termos
conjugados moleculares. Quer me entender,
362
leia, senão eu também não devo lhe entender.
Leia tudo que não está escrito, e não chore na
porta feliz. Esse lépado é muito quadrado, - é
perfeito lá donde nós viemos. O perdão por esse
desprimor cômico; astral é todo romance solar,
sino é barulho em Olinda, mas respeito para
você, seu isolado siberiano, que busca no fundo
do peito uma coragem para vencer essas
manhas anti-ego que tu tens. Soube que ti
mandou tirar aquele mamute do caminho, onde
havia um homem vivo e outro morto, por que
me disse que só tinha um em? Chega hoje ta
bom, já dá pra saber o grau de minha loucura.
Somo loucos só por causa que somos poucos,
né ex-estranho?
Depende somente de você, para
que essa brincadeira se torne
brincadeira. Deixe de lado as
contracepções da concepção e
venha conhecer o mundo da
linguagem, da arte e da realidade.
Só criticar não adianta, é preciso
entender para depois criticar. É
tão fácil dizer que esses licores da
essência da primeira das infinitas
naturezas da pedra filosofal da
363
linguagem (branca), é coisa de
louco, que eu até posso dizer que
um leitor que lê, sabe o que não
precisa.
Não demorou muito e o sujeito
me deu a resposta. Ele talvez
tenha entendido que o que eu lhe
mandava era um licor de
alquimia.
Sendo
assim
ele
arranjou algo muito bom dentro
do tipo de alquimia que tratamos
aqui. É algo sublime e confuso,
quem sabe ele notou que eu sabia
quem era ele e quis tirar uma de
culto anormal, mas nada de tão
grande assim, nada que eu depois
não resolvesse direitinho. Quem
tem muito a ganhar com esses
licores é você, caro leitor. Veja o
que ele me mandou.
...dá muito sentido esse negócio, coisas de
tempos repentinos; depravados numa lógica
364
positivista. Sem isso era homem estranho, mas
com esse embrulho vejo algo representado
como James Joyce, ou trecos de Sebastopol pra
rainha qualquer. O assim falou Zaratustra. O
Freud lançou coisas que Hermes criou, - etâ
papagaiada malvada, certo? O é demoro! E veio
Jung e Id invertido em anima e animus, coisas
bobas e legais isso. Pena ser fotocópias! De
Anaxágoras que por sua vez copiou do Surya;
quando que é exclusivo? Seja isso, por favor, ta
bom
letrinhas
bandidas?
Encarnação
é
alencarismo puro, sem notar o helenaismo do
machadismo de aço que corta muito. Copias,
tudo isso copias, será que sabem inventar
línguas? Feiskyqjjso, jibeitayu politaus maitus;
desr§ é por aí só eu sei então é meu é único,
não é copias,.- hei, Keltói isso não é russo, mas
esses símbolos são copias?- é mesmo, Dr.
Nikita, esses riscos já existem, puxa! Não foi
isso que fez algo novo, porém nada fez de
velho. A chuva caiu como um alivio enraivado
dos acervos do falcão moralista kantista do
canto do quarto redondo. Passo o passo por
passo a passo, é mesmo! Não sabia disso, agora
esqueci que acabei de inventar uma concepção
de aprender refrigerantes instantâneos oólito.
Crítica? Sai daí maluco! Esses lotes são para
ociosos que nada fazem e muito movem sonhos
sem arquitetura cartesiana. Trialado espião,
quem pensas que é para botar respeito nas ocas
dos deuses? Já disse, poesia é a palavra de
365
deus, poucos sabem ler, e quem não sabe, diz
ser muito tácito. Mas é escrito em luz de velas,
quase na simetria do sol. Pra que defender
pouco de ti mesmo? Você é tudo, é Brama, não
é nada, é isso, e muito que chega a ser pouco?
Sua essência está no céu, somos feitos de
estrelas, muitas, porém noutra percepção uma
só. A paz é você, a liberdade é você, não venha
dizer que é impossível, não é impossível ser
você basta um espelho bem rústico e pronto, de
um de Júlio Plaza e termino epistolar. Não é
velho mundo esse tempo, nem chega a ser
mundo, coração estrelar, lançou veneno na
biblioteca cósmica que consta cada letra que
por mim passaram, chega quase com esse, a
uns números que não dizem mais do que zero,
representado assim: 1.957 livros consumidos,
em um dia vida, ontem não é hoje, é vida, é eu.
Parado emolindo o nada, paraíso vista de
mundo de outras naturezas montadas nesse
mesmo universo energético quase ramerrão
sem memória....
Você pode notar como pensa ser
culto esse sujeito. Mas para essas
brincadeiras eu não perco tempo.
Pois sei que o conhecimento não é
conhecido,
mas
criado
por
superação
do
medo
do
366
desconhecido. Então deixaremos
para trás esse indivíduo não
identificado.
Você já conhece alguns licores
da pedra filosofal branca, agora
vai conhecer um relato de poções
de acréscimos. Como se você já
soubesse no fundo do coração a
definição da arte. Você sabe e não
precisa mostrar para si isso. O que
você vai saber é como a escritura
é uma artimanha de artista.
Uma poesia escrita por um
grande poeta, diz que nesse papel
está jazendo um poeta, e todo
esse silêncio é suas obras
completas. Trata-se de um poeta
sem língua? Não caia em um
engodo. Preste muita atenção.
Poesia é arte, então ela está em
tudo, não pode ser entendida nem
por palavras nem por silêncio.
367
Antes de essa poesia surgir, eu
caminhava tranqüilamente pelos
desertos Mexicanos. Uma nuvem
de poeira surgia longe e logo
sumia. O sol esquentava todo o
universo, minha garganta estava
seca e o cantil estava semi-úmido.
Em cada lado que eu olhava
avistava a mesma paisagem, um
monte de areia fervendo como um
caldeirão. Eu caminho por uma
velha trilha de índios. Caminho
com esperança de alcançar um
lugar melhor, talvez um oásis, ou
uma tribo. Na verdade eu caminho
sem destino, caminho para fazer
alguma coisa, eu queria conhecer
o planeta com meus próprios pés.
Essa idéia surgiu do livro que eu
carregava, era o livro de Leucipo
de Minas, queria sentir como é ser
um Thace Pahazy Filibuster, mas
368
não tive a mesma sorte que ele.
Aqui ninguém conhecia meu pai,
não havia bruxos e nem piratas,
só havia uma linda e ao mesmo
tempo vazia paisagem. Só eu, o
sol e o caminho.
Meus pés começaram a fazer
bolas, eu não tinha como tratá-las,
não tinha mais água e tudo que
podia fazer era tentar andar com
os pés sangrando. Depois de
algum tempo, parecia que eu
estava pagando uma promessa
por ter conquistado o mundo, pois
nem mesmo quem tivesse saído
do leito de morte faria um
agradecimento como fiz. Lógico
que eu não estava agradecendo
nada,
talvez
estivesse
comemorando minha existência.
Mesmo assim não tive mais forças
para continuar, caí no chão
369
quente, a areia entreva em meus
olhos e narinas, o sol ainda fervia
todas as minhas idéias.
Eu comecei a pensar em coisas
sem nexos. Pensei que iria morrer
alí cozido como milho. Mas existia
um certo conforto naquilo tudo,
parecia que o planeta estava me
acolhendo, parecia que deus
estava me abraçando. Depois
comecei a pensar, que isso era
devaneio, depois que comecei a
pensar nunca mais acreditei em
deus, por que ali deveria pensar?
Não sei, mas senti algo muito
agradável naquela ocasião, não
tinha
mais
problemas
para
resolver, não tinha que ficar
pensando na origem de tudo, não
precisava de língua nenhuma, não
me importava mais em saber que
tudo era uma única coisa, não
370
ficava irado com o método
cartesiano-newtoniano, não tava
nem me importando para o que os
críticos iriam achar de meu livro,
não estava pensado em mais
porcaria nenhuma, queria só curtir
o momento, queria que cultura,
linguagem e todas essas coisas
fossem para porta que partiu. Só
queria
sentir
aquele
calor
evaporando
toda
a
minha
essência e sentir a morte bem
sozinho, só eu e ela, num silêncio
eterno, eu estava tão tranqüilo,
meus olhos já não abriam e minha
respiração era imperceptível.
Eu ainda estava vivo quando o
sol foi embora, meus pés estavam
um pouco melhor, mas eu não
conseguia enxergar nada naquela
escuridão, não sei se é porque
estava escuro ou se eu estava
371
com remelas nos olhos. Só sei que
começou a ficar frio pra diabo.
Não conseguia mais ter aquela
sensação
gostosa
do
calor,
comecei a tremer e pensei na
possibilidade de ser congelado
vivo. Mas não lembrei de nada no
outro dia, só sei que acordei com
um monte de pessoas, com trajes
rústicos, talvez não seja a melhor
palavra, mas eram roupas de coro
e penas de águias. Pensei que
havia morrido e chegado no céu,
ou em outra dimensão de espaçotempo, mas notei que se tratavam
de índios e que eu não havia
morrido. Fiquei por lá alguns dias,
comendo coisas estranhas e
ouvindo uma língua que não sabia
qual era, mas quando eu falava
eles riam, talvez pensassem que
era estranho, assim como eu
372
também pensava que eles eram
estranhos, foi justamente nesse
estranhamento que eu senti o
distanciamento.
Foi
esse
distanciamento de minha forma
de ser, que me fez refletir sobre
tudo o que eu era e sou até nesse
momento de minha vida. Senti um
outro universo surgindo em minha
frente, então nessa experiência
que aprendi a fazer a pedra
filosofal branca, pois eu não sabia
sobre toda a linguagem, eu não
sabia que minha cultura se dizia
superior
por
dominar
uma
tecnologia que pouco significava
para aquelas pessoas. A pedra
filosofal é universal, ela não está
na cultura ocidental como uma
arte alquímica, ela apenas é
representada
aqui
por
esse
conceito, mas todos sabem e
373
possuem essa qualidade, basta
fugir um pouco de si, mesmo que
seja impossível tal ato, para poder
finalmente
entender
sem
definições como ter o poder da
linguagem em seus domínios.
Eu comecei a pensar ali mesmo
sobre tudo isso, então queria
anotar essas coisas para não
esquecer e poder colocar no livro,
mas o problema é que não
encontrei caneta e nem papel,
aquelas pessoas carregavam sua
história na mente, e talvez a
minha presença seja assunto para
os
jovens
daqui
algumas
gerações.
Eu estava me sentindo um
antropólogo entre Dons Juans,
falto só o mescalito e a erva do
diabo. Era tudo diferente, eu não
sabia como tomar banho, não
374
sabia como falar isso para eles,
não sabia o que eles pensavam
sobre o mundo, não sabia se eles
tinham esse conceito de mundo.
Havia tanta curiosidade, mas eu
pouco soube entender. Talvez por
eu ter esse jeito de querer buscar
a verdade sob a lógica, e pensar
que as palavras que dominam o
meu pensamento são as únicas
ferramentas para compreender o
mundo. Talvez se eu pudesse
tentar aprender uma nova forma
de pensar, porém sempre vem a
mesma pergunta: “se eu pensar
de outra forma tenho que me
expressar de outra forma, então
não preciso escrever esse livro?”
isso machucava meu coração,
pois eu amo as palavras, eu sou
palavra pura, é através delas que
consigo lhe dizer tudo isso que
375
digo agora, é ela que me
transporta para os paraísos que
tanto anseio, então por que matar
quem ama? Eu nunca devo matar
a mim, o livro é minha moradia
eterna, lá eu conheço tudo e
todos, lá também posso conhecer
o desconhecido e é isso que dá
sentido em minha vida. Se você
não gosta tudo bem, o que
importa é eu, eu sou o mais
importante, e sendo eu a
linguagem e sendo eu tudo que
ela pode ser, você também acaba
sendo o mais importante, eu amo
tudo que é importante e não gosto
do que não é importante, pois não
consigo pensa-los, estão onde não
podem estar, onde o infinito é
dono.
Na pureza do sorriso da mais
bela das crianças, você pode
376
encontrar a linguagem. Na leveza
da pluma que vaguei no ar, você
pode encontrar a linguagem. No
outro pensador que pensa o que
você não gosta, você pode
encontrar a linguagem. Nas coisas
que você deixou de acreditar em
nome da palavra, você pode
encontrar a linguagem. Na mosca
que lhe atrapalha quando escreve,
você pode encontrar a linguagem.
No sistema que limita a sua
vontade de liberdade, você pode
encontrar a linguagem. Nas
palavras que demonstram uma
linguagem,
você
não
deve
encontrar
a
linguagem.
Na
pergunta que você lhe faz sobre a
frase
anterior,
você
pode
encontrar a linguagem. Mas se
você não quiser ir encontrar a
377
linguagem, não precisa, basta ir
no espelho.
Você já tem um bom material
para construir a sua pedra
filosofal. Eu lhes deixo agora, com
apenas um simples detalhe a lhe
fornecer, eu ainda não terminei
esse livro. Falta você conhecer
uma história, ela vai ocupar mais
caracteres em sua mente do que
nessas folhas. Tudo começa em
um outono, num lugar que você
ainda vai saber, tratando de um
assunto que além de ti ninguém
mais sabe, nem eu. Vai falar do
homem, já que você já pode
construir a sua pedra filosofal,
deve saber usa-la. A linguagem
pode criar como pode destruir, ela
é um Sol que depende da Lua.
Agora mesmo você ira juntar
todos os fragmentos de conceito,
378
que havia separado, para não ser
considerado num futuro remoto,
um centauro. Com a união dos
conceitos, vai construir o seu
castelo e ser um rei, um Homem
Palavra.
Depois de ter conhecido a arte
dos índios, eu comecei a me
enxergar melhor, percebi o quanto
sou ignorante sob a linguagem,
não consigo mostrar de fato como
são as coisas, penso que tudo é
uma única coisa só para poder
aliviar a tensão. Mas veja que às
vezes esse método holístico não
resolve nada. Eu ainda tenho
dúvidas, sei que sou humano e é
isso que me faz feliz sobre esse
aspecto.
Hoje
temos
que
sobreviver, mas eu quero apenas
viver nada mais. Escrevi um livro
379
estranho, mas senti que escrevi
com o coração. Fico pensando
agora no que fiz, em minha
ousadia, em minhas críticas,
pensando que era um gênio e
esperando ser reconhecido por
isso, mas sei que assim como eu
ironizei
Derrida,
Saussure,
Descartes e outros, pessoas vão
me ironizar. Não pretendo com
esse discurso minimizar esse fato,
pois sei que isso faz parte do
pensamento científico, porém digo
que o que eu escrevi não foi
ciência, não foi filosofia, não foi
mitologia, mas considero o que fiz
uma simples e pura arte, capaz de
atingir tudo em sua volta.
Estou dessa maneira por
consciência de algo que está
preste a acontecer. Esse livro
acabou, como acaba uma vida. Eu
380
não tinha motivos para ser esse
livro, não tinha poder para criticar
a mim próprio. Deixei apenas
rastros quase implícitos. Devia
estar feliz nesse momento, mas
estou
refletindo
com
uma
tranqüilidade estóica. Às vezes
acho que devo permanecer em
silêncio, assim eu consigo mais
respostas, pois não haveria mais
perguntas.
Nesse mundo anarquista, onde
os atores foram chaves principais,
existiu três pessoas, que assim
como eu ficaram perdidos no
deserto, mas no deserto do Saara.
Era um poeta, um cientista e um
sem cultura fixa (cosmopolita),
ninguém sabia a língua de
ninguém. O poeta escrevia na
areia as suas poesias, mas apenas
o vento entendia e apagava como
381
correção. O cientista tentava se
orientar através das coordenadas
geográficas, mas como não
possuía um GPS, ficou mais
perdido do que um grão de areia,
então ele se preocupava com a
sua
nutrição,
calculando
a
quantidade de proteínas que
faltava para seu sustento diário,
enchia de números a areia e outra
vez o vento apaga como correção.
Já o homem sem cultura, não
tinha identidade, não tinha língua,
não tinha tecnologia, não tinha
nada e não queria nada, ele
apenas ficava olhando para o
vento e para os rabiscos do poeta
e do cientista.
O poeta morreu logo, ele estava
triste por não ver as suas obras
eternizadas, ficou bravo com o
vento que ele tanto homenageava
382
nas poesias, morreu de tédio por
não poder deixar amor. O cientista
conseguiu viver mais algum
tempo, segundo ele, conseguiu
permanecer 21 horas e 32,5
segundos a mais do que o poeta.
O homem sem cultura ficou
sentado, olhava com tristes olhos
para os dois defuntos, ele sentiu
que estava sozinho, sentiu que
apenas o vento lhe acompanhava.
Ele viu o vento cobrir e apagar de
sua visão os corpos dos amigos,
então ele notou que o vento fez
com o poeta e o cientista o
mesmo que fez com as poesias e
os
cálculos,
apagou
como
correção.
O homem sem palavras
continuou a sua vida eternamente
vagando pelo deserto, ninguém
sabe se está ou não vivo. Esse
383
homem sou eu a partir de agora.
Não sou mais o Homem Palavra,
sou apenas um deserto e nada
mais. Vento.
-
Oi Kelton!
Oi!
Eu vi a porta aberta e resolvi entrar.
Estou vendo.
O que estava fazendo?
Passeando.
Em qual universo?
Nesse livro.
384
- Deixei-me ver? Homem Palavra, Kelton
Gabriel, mas é seu?
- Acho que é, porém não comprei em
nenhuma livraria.
- Que legal! Tenho um amigo escritor, do que
se trata?
- Não sei.
- Não sabe? Mas como?
- Mas como que vou saber do que se trata se
eu nem li?
- Nunca vi, um escritor que não sabe o que
escreveu, parece dadaísmo, é isso mesmo?
- Já falei, eu não sei do que se trata, pois
ainda não li.
- Você é uma figura mesmo, sempre
querendo ser diferente, mas pare de ser por
um instante e me fale do que se trata.
- Você sabe ler?
- Não brinca, eu ainda não faltei com
educação.
- Não estou com nenhuma ironia, se você
quer saber do que se trata leia e me traga
amanhã.
- Mas é muito grosso, não vou terminar até
amanhã, lhe trago sexta, ta bom?
- Beleza, mas cuidado.
- Cuidado com o que?
- Com você.
- Tudo bem Kelton, se vêmo!
- Falo.
385
-
Daí Kelton.
Daí.
Vim trazer seu livro.
Entra aí.
Porra cara! Você viaja demais.
Não sabia, é verdade.
Já sei, você ainda não leu o seu livro.
É.
Eu gostei, mas têm partes obscuras, sem
nexo, não prende a atenção do leitor.
Sério?
Sim, é muito difícil entender no começo, que
o livro que você está lendo não é o livro
principal, mas o livro de um personagem.
Então deu certo!
Certo o que?
Eu consegui tornar o Homem Palavra
invisível.
Quem é o Homem Palavra? É você?
Não, não é eu, é apenas um ícone que
representa todas as personalidades que se
encontram vivas em palavras.
Palavras? Mas palavras são apenas símbolos
e não possuem vida sem o homem.
Você sabe que aquele homem não é um
homem, é apenas um símbolo, mas você
sabe se um símbolo é um símbolo?
Cara acho que você está pirando, não
precisa ficar aí lendo a vida toda, tem que
sair, refrigerar a mente.
386
-
-
Pode ser.
Vamos aonde?
Bom sei lá... o que você acha da biblioteca?
Biblioteca? Você não disse que era pra mim
dar um tempo na leitura?
Não é que eu pensei em queimar uns livros
pra torrar uns pinhão, que você acha?
Pode ser, mas pra que queimar?
Ué? Você não fez um livro para acabar com
todos os livros?
Não nesse sentido, foi só uma forma de
tentar encontrar outra forma de vida.
Vida?
Sim, um escritor só vive no seu livro, lá ele é
eterno.
Cara você está com um sentido de vida
entanto, pena ser feito de pena.
Gostei dessa rima.
Não foi rima.
Eu sei, mas eu queria mesmo é sentir como
é a vida sem as palavras, num deserto.
Você não deve ser crítico em sua sociedade,
ser anarquista é sofrer a vida toda.
Eu não sou anarquista, não sou nenhum
“ista”, quero apenas ser humano.
Você é humano?
Se ser humano é ficar em infinito paradoxo
com o próximo, eu não sou, mas só pelo fato
de eu me considerar como não sendo eu
acabo sendo.
Por que?
387
- Estou contra os que são contra.
- Legal, mas não vá acabar como Mishima ou
Tolstoi.
- Por que não? Se eles morreram como
quiseram?
- Você não deve morrer como quiser.
- Por que?
- Porque um homem não deve querer morrer.
- Nem precisa querer.
- Não precisa mesmo, mas precisa querer
viver como quiser, é justamente esse querer
que faz a vida ser.
- Obrigado por sua crítica, quero que volte
algum dia qualquer para bater um papo.
- Eu volto, mas lembre Kelton, você não vai
mudar o mundo com esse livro, mas nunca
deixe de tentar, é só isso que traz um
sentido na vida, as palavras são grandes
armas, use só quando tiver vontade de ser,
um mundo sem palavras é um deserto frio e
quente, como a morte, e a morte é
inevitável, você já têm a morte, aproveite o
que é ilusório, é só isso que você não terá
eternamente.
- Conheço essa filosofia, eu conheço pela
ilusão, só ela traz o conhecimento.
- Não Kelton, não é a ilusão que traz o
conhecimento é o desconhecido.
- Você tirou isso do meu livro.
- Do seu não, pois você nem sabe do que ele
se trata.
388
- É mesmo, desculpa.
- Tchau Kelton.
- Tchau.
389
390
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