1 Profª. Drª. Mônica Pereira dos Santos LaPEADE

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1 Profª. Drª. Mônica Pereira dos Santos LaPEADE
LABORATÓRIO DE PESQUISA, ESTUDOS E APOIO À PARTICIPAÇÃO E À DIVERSIDADE EM
EDUCAÇÃO
Universidade Federal do Rio de Janeiro – Faculdade de Educação
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
COORDENAÇÃO:
Profª. Drª. Mônica Pereira dos Santos1
LaPEADE - Laboratório de Pesquisa, Estudos e Apoio à Participação e à Diversidade
em Educação – FE/UFRJ.
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO – PPGE
TÍTULO:
CONSTRUINDO CULTURAS, DESENVOLVENDO POLÍTICAS E ORQUESTRANDO
PRÁTICAS DE INCLUSÃO NO COTIDIANO ESCOLAR.
INTRODUÇÃO:
A realização deste projeto surgiu com um contato feito pela professora da sala de
atendimento educacional especializado da Escola Municipal Cícero Penna, que veio até
o LaPEADE solicitar o desenvolvimento de um projeto para a escola, no auxílio aos
seus profissionais, em particular, professores, no sentido de promoção da inclusão.
Dado que o LaPEADE, há tempo considerável, trabalha com um material testado e
validado internacionalmente em diversas escolas, o Index para a Inclusão (BOOTH e
AINSCOW, 2005), depois de conversa inicial com a equipe de gestão, propusemos
desenvolvê-lo na escola, posto que seu processo surte, dentre outros resultados, a
construção de indicadores de inclusão para a mesma, bem como uma cultura de
autorrevisão. Segundo os referidos autores, “O INDEX é um recurso para apoiar o
desenvolvimento inclusivo de escolas”.
“Trata-se, portanto, de um material abrangente que pode ajudar qualquer um a
encontrar seus próprios próximos passos no desenvolvimento de seus ambientes” (idem,
1
Psicóloga, Doutora em Educação – Universidade de Londres. Chefe do Departamento de Fundamentos
da Educação. Coordenadora do LaPEADE - Laboratório de Pesquisa, Estudos e Apoio à Participação e à
Diversidade em Educação. Faculdade de Educação - Programa de Pós-graduação em Educação da
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
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EDUCAÇÃO
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p.5), baseando-se na construção de culturas, na orquestração de práticas e no
desenvolvimento de políticas de inclusão na/da instituição. Em nossa proposta, este
trabalho será ao mesmo tempo extensionista, de ensino e de pesquisa, atendendo o
princípio constitucional da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.
No que tange ao seu caráter extensionista, tal o será porque promoverá a
interação transformadora entre universidade e outros setores da sociedade, nesse caso do
cotidiano da escola Doutor Cicero Penna e toda sua comunidade escolar, trabalhando
coletivamente com diversos campos do conhecimento de tal modo a integralizar alunos
pertencentes aos cursos de letras, psicologia, pedagogia e educação física com a
comunidade escolar citada.
Quanto ao seu viés de pesquisa, pretendemos que este projeto seja viabilizado
por meio da pesquisa-ação, por entendermos que a mesma permite um processo de
discussão compartilhada, dialogada e negociada com a escola e os participantes do
projeto. Nesse sentido, se aproxima do viés do ensino, pois visamos alcançar, dessa
forma, um processo: de reflexão das práticas dos professores, construção de novas
culturas e desenvolvimento de políticas mais inclusivas, que possibilitem a criação de
novas estratégias para auxiliar na difusão de novos conhecimentos e na
instrumentalização das ações no espaço escolar.
A universidade tem importante papel na sociedade, ainda mais quando lhe é
solicitado participar na solução de problemas referentes à minimização de barreiras à
aprendizagem, que podem incorrer em situações, ainda que imprevistas, de exclusão. A
inclusão, em nossa concepção, envolve o engajamento e a valorização de todos os
segmentos representados na escola: alunos, professores, pais, gestores, pessoal
administrativo, de apoio e corpo técnico. Segundo Santos (2003), inclusão:
é uma luta, um movimento que tem por essência estar presente em
todas as áreas da vida humana, inclusive a educacional. Inclusão
refere-se, portanto, a todos os esforços no sentido de garantia da
participação máxima de qualquer cidadão em qualquer arena da
sociedade em que viva, à qual ele tem direito, e sobre a qual ele tem
deveres (p.81).
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Portanto, reconhecer a diferença é um recurso para garantir a participação de
todos e o apoio à aprendizagem. De acordo com Booth e Ainscow (2005, p.7): “A
participação significa aprender junto com outros e colaborar com eles em experiências
compartilhadas de aprendizagem. Isto requer um engajamento ativo com a
aprendizagem e ter algo a dizer sobre como a educação é experienciada”.
Outro motivo que nos fez propor a metodologia da pesquisa-ação é porque a
mesma permite a identificação de problemas de aprendizagem (ou outros) no contexto
escolar, a busca coletiva e colaborativa de explicações para os problemas em processo e
a transformação dos mesmos através de soluções coletivamente pensadas, propostas e
executadas.
O LaPEADE, vinculado à Faculdade de Educação da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ) e ao seu programa de pós-graduação, tem como missão apoiar e
promover a participação e a diversidade em educação nas dimensões culturais, políticas
e práticas das instituições e sistemas educacionais e contribuir para o desenvolvimento,
disseminação e acompanhamento do conhecimento científico-acadêmico a respeito de
inclusão em educação. Tem como objetivos:
•
Criar frentes integradas e transdisciplinares de estudos sobre inclusão em
educação com vistas ao desenvolvimento de pesquisas sobre o tema;
•
Gerar, através de estudos, da execução e do acompanhamento de projetos,
diretrizes e pensares a respeito de culturas, políticas e práticas inclusivas em instituições
e sistemas educacionais, com vistas a minimizar e eliminar os processos de exclusão
que neles se verifiquem;
•
Disseminar o conhecimento e ações produzidas através de publicações e
eventos acadêmico-científicos.
Em consonância com esses objetivos, o LaPEADE avaliou que sua
participação neste projeto constituiria uma parceria benéfica tanto para a escola como
para a própria universidade e sociedade em sentido mais amplo (na medida em que
alcançaria, também, a comunidade escolar – famílias e entorno).
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JUSTIFICATIVA:
O desejo de saber que práticas em um sistema escolar podem inibir ou dificultar
a aprendizagem e a participação dos alunos impulsionou a direção da escola Cícero
Penna a buscar ajuda. Com a preocupação em, colaborativamente, buscar soluções para
os processos de exclusão (aqui, especificamente compreendidos no sentido de barreiras
à aprendizagem e à participação de alunos da instituição escolar) encontrados na escola,
o Lapeade desenvolveu esse projeto, visando mapear dificuldades, oferecer alternativas
de modificação de planejamento e auxiliar os docentes em suas práticas cotidianas, bem
como dar subsídios para a gestão da escola em direção ao desenvolvimento de culturas,
políticas e práticas de inclusão.
Deste modo, este projeto justifica-se porque, além de reunir Universidade e
Educação Básica, possibilita a criação de estratégias que poderão auxiliar a melhora e
compreensão de tais dificuldades por parte do corpo docente, técnico, gestor e auxiliar,
visando o melhor desempenho da escola como um todo, e o maior sucesso de seus
alunos, em particular.
OBJETIVO GERAL:
O objetivo é proporcionar um exame detalhado das possibilidades de
incrementar a aprendizagem e a participação para todos os alunos no âmbito escolar,
através do auxílio aos professores, no engajamento no planejamento, na escolha de
prioridades necessárias às mudanças, na proposição de inovações e na revisão de
progresso de todas as atividades.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
1.
Desenvolver práticas de investigação-ação, em consonância com a gestão
escolar, no que tange às dificuldades existentes na escola relativas à
identificação e minimização de alunos em situação ou em risco de exclusão;
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2.
Desenvolver atividades promotoras de culturas, políticas e práticas inclusivas no
âmbito de toda comunidade escolar que aumentem a capacidade da escola em
responder à diversidade existente;
3.
Impulsionar, auxiliar e acompanhar a escola na formulação de planejamento e
organização de recursos e materiais que difundam e promovam informação,
discussões e decisões pedagógicas que tenham por base o desenvolvimento de
culturas, políticas e práticas de inclusão em seu cotidiano;
4.
Promover ações (cursos, palestras e grupo de estudos sistematizados.) para
subsidiar os profissionais da escola, em particular os professores, no
desenvolvimento de práticas de inclusão no cotidiano escolar.
METODOLOGIA:
Abordagem teórico-metodológica:
O presente projeto fundamenta-se metodologicamente pela pesquisa-ação, pois
acreditamos que essa metodologia nos dará suporte para atender aos vieses aqui
expostos para ensino, pesquisa e extensão que serão desenvolvidos na escola.
A pesquisa-ação é um método de investigação em que existe a possibilidade de
diálogo entre o pesquisador e os educadores participantes, em um envolvimento de
ajuda mútua para a solução de um problema detectado. Thiollent afirma que a pesquisaação é:
[...] um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e
realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de
um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes
representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo
cooperativo ou participativo. (THIOLLENT, 1996, p.14).
Desse modo, a pesquisa-ação estimula a participação de toda a comunidade
escolar, abrindo possibilidades de descobertas, em uma troca pesquisador/pesquisados,
para descortinar uma variedade de respostas, com a dedução da melhor resposta
possível para solucionar o problema em questão.
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Nessa perspectiva a pesquisa-ação visa a superar a separação entre
conhecimento e a prática escolar, bem como fazer uma ligação entre o conhecimento
desenvolvido dentro do ambiente acadêmico da universidade, e as atividades
desenvolvidas dentro da escola, tornando-se possível interligar teoria e prática.
O processo inicia-se com a inserção in lócus dos pesquisadores no campo (a
escola), fazendo análise da realidade e do problema existente junto e com a participação
da instituição interessada e seus integrantes, coletando dados para o desenvolvimento da
pesquisa.
O pesquisador faz o levantamento das necessidades, levando os pesquisados a
refletirem, emitirem pareceres e conjuntamente, desenvolverem prioridades. É o
momento de aprofundar conhecimentos, solucionar dúvidas e desenvolver propostas
para a solução do problema detectado.
Identificado o ponto prioritário de partida para o início do projeto, sua
continuidade caracteriza-se por “idas e vindas”: as prioridades são tecnicamente
discutidas, problematizadas, associadas às possíveis soluções, as quais, por sua vez,
serão aplicadas e coletivamente avaliadas em sua eficácia, para então, sempre que for o
caso, serem redirecionadas.
A avaliação e a auto avaliação são, assim, partes integrantes e constantes de todo
o processo da pesquisa-ação. Todo esse processo deve ser registrado por meio de
cadernos de campo, por filmagem e por fotografia para a produção de material de
análise e de construção coletiva de um trabalho crítico e reflexivo, configurando um
processo de engajamento gradativo da comunidade escolar. No caso do presente projeto,
convém lembrar que o foco principal sempre será o processo de ensino-aprendizagem.
Thiollent citando Stringer (1999), afirma que:
em um processo de pesquisa-ação, segundo Ernest Stringer, a
participação é mais efetiva quando: “Possibilita significativo nível e
envolvimento; Capacita as pessoas na realização de tarefas; Dá apoio
às pessoas para aprenderem a agir com autonomia; Fortalece planos e
atividade que as pessoas são capazes de realizar sozinhas e Lida mais
diretamente com as pessoas do que por intermédio de representantes
ou agentes.” (apud THIOLLENT, 2002, p.35).
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O objetivo central da pesquisa-ação é fomentar novas informações, gerar
conhecimentos teórico-práticos em uma via de mão dupla, e produzir soluções para o
contexto pesquisado. Para que ocorra o mais transparentemente possível, Thiollent
(1996, p. 38) apresenta cinco dimensões da pesquisa-ação, a saber:
(a) Contrato, que pode ser elaborado formal ou informalmente entre o pesquisador e
os pesquisados e consiste em definir os objetivos;
(b) Participação, que visa a colaboração, cooperação e cogestão entre pesquisador e
pesquisados;
(c) Mudança, derivada da aplicação de um método teórico ou teoria, que ocorre
devido à participação dos envolvidos para buscar a transformação;
(d) Discurso, que se desenvolve em três concepções:
a. Espontâneo, que representa o conhecimento que se tem do problema de
como se apresenta,
b. Esclarecido, que possui um foco teórico a respeito do problema, na
busca de soluções, ou
c. Engajado, é o discurso dialogado, crítico e reflexivo, compartilhado com
o grupo em uma prática de troca coletiva, para socializar conhecimentos
produzidos e ação, se adequando e se flexibilizando em relação às
requisições do novo na busca da solução, e que envolve toda a
comunidade.
(e) Ação, que se desenvolve em três concepções:
a. Individual, orientada pelo conhecimento individual da ação,
b. Coletiva, orientada pela reflexão e o diálogo, adequando-se e
flexibilizando-se em relação às requisições do novo na busca de soluções,
c. Comunitária, orientada pelo envolvimento de toda comunidade para
desenvolver uma ação.
Consequentemente, precisa haver a colaboração e a busca pela veracidade dos
fatos, em um trabalho coletivo. Para ele (idem), “a produção de resultados pela
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coletividade e o subsequente feedback dão à pesquisa e às ações propostas uma
legitimidade que é difícil apagar por medidas burocráticas” (THIOLLENT, 1996, p.61).
Em complemento a esta abordagem metodológica, utilizamos como arcabouço
conceitual nossa perspectiva omnilética de inclusão-exclusão em educação. Trata-se de
uma construção conceitual que reúne as noções de dialética, complexidade e
tridimensionalidade para compreender os processos de inclusão/exclusão considerando
como ponto de partida de análise a existência de três dimensões que perpassam os
fenômenos sociais e humanos: a dimensão cultural, a política e a prática (estas conforme
BOOTH, 2005).
A dimensão da cultura refere-se aos valores, representações, crenças, certezas
presentes nas vidas dos membros da escola. A dimensão política reflete-se nos
documentos e ordens (inclusive verbais) e acordos que têm por intenção orientar as
ações dos sujeitos da escola (todos eles): regras disciplinares, currículo, circulares, são
alguns exemplos desta dimensão. A dimensão das práticas refere-se ao que acontece
cotidianamente na escola, aos fazeres de seus sujeitos: como se ensina, como se
aprende, como se administra, etc.
Estas dimensões coexistem dialética e atemporalmente (no sentido de
independer do tempo como o computamos, cronologicamente) e são perceptíveis desde
as ações mais micro às mais macro, como também em todas as políticas e valores
presentes na escola, explícitos ou não. Como esta coexistência é dialética, e também
atemporal, esta relação tridimensional é, também, complexa (MORIN, 1977). Neste
sentido, o conceito de omnilética aproxima-se da ideia de complexidade que marca
alguns posicionamentos teóricos atuais, como por exemplo os de Edgar Morin (2006),
que define seu conceito de pensamento complexo da seguinte maneira:
O pensamento complexo parte dos fenômenos simultaneamente
complementares, concorrentes, antagônicos, respeita as coerências
diversas que se associam em dialógicas ou polilógicas e, por isso,
enfrenta a contradição por vias lógicas. O pensamento complexo é o
pensamento que quer pensar em conjunto as realidades
dialógicas/polilógicas entrelaçadas juntas (complexos) (MORIN,
2001, p. 432).
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Compreender o universo escolar em uma perspectiva omnilética significa tentar
reconfigurar nossa percepção dos fenômenos culturais, políticos e práticos (como aqui
os entendemos) ali presentes (mesmo que invisíveis a priori) e nosso entendimento de
sua tridimensionalidade dialética e atemporal a partir da tentativa de visualizar o que
ainda não seja visível, o que ainda nos seja estranho, o que ainda não seja passível de
imaginação em uma primeira mirada, mas que ali está como possibilidade.
Ou seja, pensar omnileticamente é pensar complexamente. A
diferença
entre
complexidade e omnilética é que a ideia da omnilética é reforçada por seu “tempero”
triádico: o das dimensões de construção de culturas, desenvolvimento de políticas e
orquestração de práticas (BOOTH e AINSCOW, 2002) e pela visão destas dimensões
em uma relação dialética uma com a outra. No que tange ao tema da educação, pensar
omnileticamente uma educação inclusiva significa pensá-la a partir destas três
dimensões de análise, com base nas quais compreendemos os valores e representações
(culturas) em jogo em dada arena social (no presente caso, a escola) e em estreita
relação com o desenvolvimento de políticas (aqui entendidas como intenções
organizadas reflexivamente de modo a orientarem ações e fundamentadas nas culturas –
ou não – e eis aí a complexidade) que se revertem (ou não, dada sua dialeticidade e
complexidade, uma vez mais) efetivamente em práticas orquestradas ao longo do
cotidiano e história escolares, as quais, por sua vez, podem servir de base para que
novas culturas se desenvolvam, tanto quanto para que novas políticas sejam traçadas.
Da mesma maneira, o desenvolvimento de políticas tanto se inspira nas culturas
e nas práticas, como dito acima, quanto inspira a construção de novas culturas e novas
orquestrações práticas. A complexidade omnilética reside em que as dimensões, além de
apresentarem forte potencial contemplativo e explicativo de fenômenos sociais (em
particular os processos de inclusão/exclusão), não se hierarquizam em importância: todo
fenômeno humano e social as contêm e estão nelas contidos, a um mesmo e só tempo e
espaço, ainda que aparentemente imperceptíveis, por vezes.
Compreendida a partir destas dimensões, a educação deixa de ser vista como
mera ferramenta para ser concebida como “O” processo em si, tendo em vista o diálogo
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e crescimento de todos os partícipes por meio de práticas avaliativas mais democráticas
e menos centralizadas na figura do professor.
Instrumentos de coleta de dados:
Para o desenvolvimento de uma pesquisa são necessários alguns instrumentos de
coleta de dados, os quais darão os subsídios necessários para, após a análise dos
mesmos, chegar-se à conclusão. Assim sendo, os instrumentos de coleta serão: diários
de campo; relatórios; documentos e registros feitos anteriormente pelos pesquisados;
questionários; entrevistas; filmagem e fotografia.
Procedimentos de coleta dos dados:
O diário de campo é um instrumento importante na pesquisa-ação, pois permite
o registro diário para gerar um histórico de desenvolvimento de pesquisa, já que pode
incluir um resumo dos acontecimentos, bem como conversas, debates, opiniões,
questões a serem aprofundadas, observações de eventos e/ou fatos, planejamento para o
próximo dia.
Os relatórios dão-se, ao longo da pesquisa, de forma parcial. E ao final, na forma
de Relatório Final, ou de Pesquisa. Nos relatórios, apresenta-se (parcial ou finalmente,
conforme for o caso) as informações pertinentes ao estudo, com descrição dos fatos,
dados, procedimentos utilizados e resultados obtidos com o desenvolvimento do
trabalho. A cada momento acordado da pesquisa estes relatórios são checados com o
grupo participante, de forma que sua produção final seja mais coletiva do que apenas
dos pesquisadores.
A coleta de documentos e registros anteriormente produzidos pelos participantes
permitirá fazer análise documental e recolhimento de informações prévias sobre o
problema, investigando as possíveis causas. Esses documentos serão solicitados à
direção e/ou professores da escola.
Os questionários e entrevistas visam à identificação da opinião dos pesquisados
a respeito do que está sendo desenvolvido na implantação da pesquisa. Para Rummel
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(1981, p.103) “os questionários são utilizados principalmente ao realizar estudos (...) de
sondagens de opiniões e de levantamentos, de atitudes”. Segundo Gil (1994, p.124), o
questionário tem como objetivo “o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos,
interesses, expectativas, situações vivenciadas, etc.”. Portanto, esses questionários
aplicados durante a realização da pesquisa darão a visão de como os pesquisados
estejam engajados.
A filmagem e a fotografia serão mais subsídios de avaliação dos procedimentos
realizados durante a pesquisa, que permitirão preservar o momento de participação e de
ação dos pesquisados.
Em paralelo ao uso destes instrumentos, reuniões periódicas para planejamento,
avaliação e esclarecimento, costumam ser necessárias e parte corriqueira da pesquisaação.
Procedimentos de análise dos dados:
A análise, descrição e interpretação dos dados, segundo Gil (1994, p. 166) “tem
como objetivo organizar e sumariar os dados de forma tal que possibilitem o
fornecimento de respostas ao problema proposto de investigação”. Dessa forma, será
feita uma leitura crítica e reflexiva a respeito dos dados obtidos, tendo por base nossa
construção conceitual sobre a omnilética inclusão-exclusão, que nos permitirá
identificar, em processo, mudanças ocorridas e verificar se os objetivos foram
atendidos.
De posse de todos esses dados coletados, intencionamos a publicação de um
livro narrando tal experiência, sob a ótica dos pesquisadores, alunos e professores
envolvidos no projeto. A elaboração de um livro como apresentação dos impactos
gerados com a ação do LaPEADE nas pesquisas e projetos de extensão já é uma
tradição em nosso laboratório, pois que já publicamos 4 livros2 nesse sentido.
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SANTOS, Mônica Pereira dos; PAULINO, Marcos Moreira (Org.) . Inclusão em Educação: Culturas,
políticas e práticas. 1. ed. São Paulo: Cortez, 2006.
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PLANO DE TRABALHO:
O grupo se dividirá para acompanhar cada turma registrando a realidade por
meio de filmagem, cadernos de campo e fotografia com o intuito de traçar o perfil do
grupo junto ao professor. Após a análise, descrição e interpretação dos dados feita pela
equipe, serão organizados encontros semanais, com base nos dados, promovendo
discussões sobre a reflexão da prática, a criação de novas estratégias na intervenção do
cotidiano escolar, percepção dos valores intrínsecos à prática docente. Com isso
possibilitamos uma leitura crítica e reflexiva dos dados para que, cada vez mais, se
desenvolvam práticas, culturas e políticas que minimizem as situações de exclusão tanto
dos professores, como dos alunos e pais.
PÚBLICO - ALVO:
Inicialmente o projeto será desenvolvido com 4 (quatro) turmas e 1 (uma) sala
de recursos contabilizando um total de 120 (cento e vinte) alunos e 5 (cinco)
professoras.
Além dos alunos e professores, o projeto atingirá indiretamente o restante da
comunidade escolar incluindo os pais, na medida em que tal se faça necessário.
METAS:
1. Considerando-se que o IDEB de 2011 da escola em questão foi de 6,5,
pretendemos ampliá-lo para 7,5 ao final de 2013;
2. Considerando-se que a satisfação/motivação para o trabalho tem sido uma das
variáveis relacionadas ao insucesso escolar, pretendemos, uma vez avaliado o
grau de motivação dos profissionais da escola, ampliá-lo em pelo menos 30%;
SANTOS, Mônica Pereira dos Santos; MELO, Sandra Cordeiro de, Michele Pereira de Souza da.
Inclusao em Educação: Diferentes interfaces. 1. ed. Curitiba: CRV, 2009.
SANTOS, Mônica Pereira dos Santos; SILVA, Ana Patrícia da; FONSECA, Michele Pereira de Souza da.
Universidade e Participação: os ecos das pesquisas. 1. ed. Rio de Janeiro: PR5/UFRJ, 2010
SANTOS, Mônica Pereira dos Santos; SILVA, Ana Patrícia da; FONSECA, Michele Pereira de Souza da.
Universidade e Participação: Reflexões. Rio de Janeiro, UFRJ, 2012 ( mimeo)
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3. Instituir processo de autorrevisão pedagógica na escola, por meio do
desenvolvimento do INDEX para a inclusão.
RESULTADOS ESPERADOS:
1. Desenvolver o processo do INDEX para a inclusão na referida escola;
2. Proporcionar que os profissionais envolvidos no projeto apresentem evidências
comprovadas de aprimoramento inclusivo de suas práticas;
3. Ampliar o índice de aproveitamento escolar dos alunos envolvidos;
4. Aumentar os processos de participação e organização de coletividades na escola;
5. Realizar a formação continuada dos educadores envolvidos com o projeto.
CRONOGRAMA:
MAI
MAR
2013
FEV
2013
JAN
2013
DEZ
2012
NOV
2012
OUT
2012
SET
2012
AGO2
012
JUL
2012
JUN
2012
2012
1. ELABORAÇÃO DO PROJETO
ABR20
12
MAR
2012
FEV20
12
ATIVIDADES\MESES
X
2. INÍCIO DA PESQUISA
X
X
X
3. ORGANIZAÇÃO DOS GRUPOS DE DISCUSSÃO
X
X
X
4. PLANEJAMENTO DE AÇÕES
X
5. REALIZAÇÃO DE AÇÕES
X
X
X
6. VERIFICAÇÃO DE RESULTADOS E ANDAMENTO DA
X
PESQUISA
X
7. ANÁLISE DE DADOS PARCIAL
X
X
8. DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS PARCIAIS
X
9. PLANEJAMENTOS DE NOVAS AÇÕES
X
10. REALIZAÇÃO DE AÇÕES
X
11. VERIFICAÇÃO DE RESULTADOS E ANDAMENTO DA
PESQUISA
X
12. ANÁLISE DE DADOS PARCIAL
X
13. DIVULGAÇÃO PRELIMINAR DOS RESULTADOS
X
14. DIVULGAÇÃO FINAL DOS RESULTADOS
X
ORÇAMENTO
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ITEM
1. Bolsa de Extensão
3. Despesas de Custeio +
Capital
DESCRIÇÃO
2 Bolsas de extensão para 12
meses
Papel, caneta, blocos, fichários,
tinta de impressora, etc.
VALOR
UNITÁRIO
VALOR
UNITÁRIO
(PARA ESTE
PROJETO)
VALOR TOTAL (R$)
R$360,00
R$ 360,00
R$ 8.640,00
(R$ 360,00 x 12
meses X 2 bolsas)
-X-
R$ 4.959,60
(CONFORME
LISTA DO
ANEXO)
Total
R$ 13.599,60
EQUIPE ENVOLVIDA:
Docente UFRJ:
Coordenadora: Profª Doutora Mônica Pereira dos Santos
Equipe do LaPEADE/UFRJ:
Graduanda Alline Gonçalves do Nascimento (UFRJ)
Graduanda Laura Dias Radusewski (UFRJ)
Graduada Carolina Carvão Ribeiro
Graduada Michelli Agra (UFRJ)
Especialista Daniely Pinheiro Pimentel
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BOOTH, Tony, e Mel AINSCOW. Index Para a Inclusão: Desenvolvendo a
aprendizagem e a participação na escola. 2a. Edição. Edição: UNESCO/CSIE.
Tradução: Mônica Pereira dos Santos. 2005.
MORIN, Edgar. O Método I: A Natureza da natureza. Lisboa: Europa-América, 1977. 2
ed.
______. Introdução ao pensamento complexo. Porto Alegre: Sulina. 2006.
______. O Método II: a vida da vida. Porto Alegre: Sulina: 2001.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 4a ed. SP: Atlas, 1994.
14
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SANTOS, Mônica Pereira dos. “Formação de professores no contexto da inclusão”.
Paradoxa - Projetivas múltiplas em Educação – Ano IX – n. 15/16 – 2003- ISSN
1415.3963- jan/dez 2003.
PIRES, Marília Freitas de Campos. O materialismo histórico-dialético e a Educação.
Interface — Comunic, Saúde, Educ. 1; ago.1997, p. 83-93.
RAMPAZZO, Lino. Metodologia Científica para Alunos dos Cursos de Graduação e
Pós-Graduação. 3ª. ed. São Paulo. Ed. Loyola, 2005.
RUMMEL, J. Francis. Introdução aos procedimentos de pesquisa em educação. Trad.
Jurema Alcides Cunha. 4a ed. Porto Alegre: Globo, 1981.
SANTIAGO, Mylene Cristina Laboratório de aprendizagem: das políticas às práticas de
inclusão e exclusão em educação. Faculdade de Educação, Tese de doutoramento. PPGEUFRJ, 2011.
THIOLLENT, Michel. Metodologia da Pesquisa-Ação. São Paulo: Cortez, 1996.
______________. Construção do conhecimento e metodologia da extensão. Texto
apresentado em mesa redonda, no I CBEU – Congresso Brasileiro de Extensão
Universitária – João Pessoa – PB, em 10 de novembro de 2002.
Profa. Dra. Mônica Pereira dos Santos
Coordenadora do LaPEADE
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Universidade Federal do Rio de Janeiro – Faculdade de Educação
ANEXO: COTAÇÃO DE DESPESAS DE CUSTEIO E CAPITAL
Papelaria Kalunga, Ricardo Eletro e Fastshop
Item
Descrição Material
Papel
Caneta
A4 Chamex Office 500 fls.
Esferográfica Faber Castell azul cx 50
unid.
Esferográfica Bic preta cx. 50 unid.
Lápis
Preto n.2 Bic cx. 12 unid.
Grampeador Genmes 23/8 – 240 fls 50LF
Grampos
Grampo 23/8 k238 Genmes 1000 unid.
Fichário
Furador
Mídias
Tripé
Univ. 4.arg.preto unid.
70-93K8 Genmes 190Fls
Gravador de voz digital 1 gb. Cx-R190
Coby
Câmera digital 10.1mp+ cart.2gb C142Kodak*
Cartão de memória Memory Stick Pro
Duo 2 gb SDMSPD-2048*
Filmadora digital DCR SX 83
handycam 200m Optico 25x Sony
Tripé WT3730 GREIKA
HP Officejet 4255 56-preto
Valor Unitário
(R$)
12,20
18,90
20
2
Valor Total
(R$)
244,00
37,80
21,40
4,90
105,00
3,40
2
8
1
4
42,80
39,20
105,00
13,60
6,36
97,60
249,00
60
1
2
381,60
97,60
498,00
329,00
2
658,00
39,90
2
79,80
1673,07
2
3346,14
89,90
88,61
2
12
179.80
1063,62
142,08
08
1184,64
4.959,60
Quant.
Cartuchos
HP Officejet 4255 57-colorido
TOTAL
16

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