enfermagem em revista

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enfermagem em revista
ISSN 0872-8844
N.º116 . NOVEMBRO 2014
enfermagem em revista
OPINIÃO
CIÊNCIA E TÉCNICA
MAUS-TRATOS A
IDOSOS.
RESPOSTA
INTEGRADA DE
CUIDADOS DE SAÚDE
REABILITAR A PESSOA
AMPUTADA
SUMÁRIO
SUMÁRIO
P04 EDITORIAL
P05 OPINIÃO
O AVANÇO DA TECNOLOGIA NA SAÚDE COM CONSEQUENTE DÉFICE NA FORMAÇÃO NO ENSINO
SUPERIOR PORTUGUÊS
P11 OPINIÃO
MAUS-TRATOS A IDOSOS. RESPOSTA INTEGRADA DE CUIDADOS DE SAÚDE
P15 CIÊNCIA & TÉCNICA
GRAVIDEZ NÃO CONVENCIONAL. Contributos do enfermeiro especialista
P21 CIÊNCIA & TÉCNICA
GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA. Uma problemática social
P25 CIÊNCIA & TÉCNICA
A VIVÊNCIA DA IMAGEM CORPORAL NO PUERPÉRIO
P31 CIÊNCIA & TÉCNICA
INCLUSÃO DA TÉCNICA DA RELACTAÇÃO EM NEONATOLOGIA.
P40 CIÊNCIA & TÉCNICA
PROMOÇÃO DO SONO DA CRIANÇA: Estratégias de enfermagem para a capacitação parental
P51 CIÊNCIA & TÉCNICA
ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO E OLD
P58 CIÊNCIA & TÉCNICA
REABILITAR A PESSOA AMPUTADA
P64 CIÊNCIA & TÉCNICA
A INFLUÊNCIA DA ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO NA QUALIDADE DE VIDA DOS IDOSOS
FICHA TÉCNICA
PROPRIEDADE E ADMINISTRAÇÃO Formasau, Formação e Saúde, Lda. Parque Empresarial de Eiras, Lote 19, Eiras - 3020-265 Coimbra T 239 801 020 F 239 801 029 CONTRIBUINTE 503 231 533 CAPITAL
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EDITORIAL
EDITORIAL
ANTÓNIO FERNANDO S. AMARAL, Enfermeiro
[email protected]
A
Revista Sinais Vitais celebra este mês o seu 20º aniversário.
NOVEMBRO 2014
Agora online os enfermeiros podem mais facilmente aceder ao seu conteúdo em qualquer parte, até como ajuda à tomada de decisão, desde que se possa aceder a www.
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Nestes últimos 20 anos a profissão viveu momentos muito importantes, como ver consignada
a necessidade de licenciatura para a o exercício profissional, a criação da Ordem dos Enfermeiros, entre outras. Pensávamos que estas duas conquistas nos levariam ao exercício de uma
maior autonomia, a uma melhor valorização da nossa prática e a uma maior satisfação da
nossa parte em trabalhar. O que tem acontecido, no entanto, é que isso não tem acontecido
e, sobretudo, nos últimos 4 anos, temos assistido a uma constante desvalorização da nossa
profissão, com prejuízo claro para as pessoas que cuidamos.
A questão que gostaria de colocar aos meus colegas enfermeiros é o que temos feito? Será
que, nos locais onde cada um de nós trabalha, temos defendido, pela nossa prática, os valores
da profissão? Será que no nosso discurso temos colocado em primeiro lugar o que isso tem
trazido de prejuízo para os doentes, ou alimentamos discussões vazias sobre funções, atribuições e outras coisas que só servem para nos colocarmos em posição de inferioridade na
equipa de cuidados? Temos nós profissionais capitalizado em nosso benefício as discussões
que impendem sobre o estado do SNS e de que forma ele poderia estar diferente com uma
maior valorização do nosso contributo?
A minha resposta a tudo isto, pelo que tenho lido e ouvido é nem sempre. Quando mais ou
menos deliberadamente nos queixamos do regulador, dos sindicatos e de outras coisas do
âmbito da organização da profissão, não estamos a focar a insatisfação onde deveríamos.
Outros que connosco trabalham na equipa de saúde quando reivindicam fazem-no sempre
em prol de um interesse maior que é o dos doentes. Nós, por outro lado, queixamo-nos de
forma corporativa e colocamo-nos muitas vezes em confronto com outras corporações. Vamos mudar o foco. Vamos dar poder aos nossos doentes, vamos colocar o doente de facto no
centro das nossas preocupações. Tudo o resto virá a seguir, pois serão eles a defenderem-nos.
A Revista Sinais Vitais quer continuar a assumir-se como um fórum onde cada um pode expressar as suas opiniões.
OPINIÃO
ENTRADA DO ARTIGO ABRIL 2013
O AVANÇO DA TECNOLOGIA NA SAÚDE
COM CONSEQUENTE DÉFICE NA FORMAÇÃO
NO ENSINO SUPERIOR PORTUGUÊS
DIANA SOFIA PECHINCHA MORAIS
Licenciatura em Enfermagem. Enfermeira Generalista
RESUMO
No mundo moderno a tecnologia está à nossa
volta, somos bombardeados com a mais diversa
e moderna tecnologia e, já somos incapazes, de
viver sem as T.I.C.. Com isto, era inevitável a introdução das T.I.C. em saúde, quer para o auxílio
dos cuidados quer para a redução de custos (facto cada vez mais crucial nos dias de hoje). A verdade é que, os enfermeiros, terão que se adaptar
a uma nova realidade, adaptando os seus conhecimentos ao futuro que os espera.
ABSTRACT
Technology in the modern world is all around us.
We are bombarded with the most diverse and
modern technology, and now we are incapable to
live without ICT (information and communication
Technologies). Whit this, it was inevitable the introduction of ICT in health, either for assistance or
care for the reduction of costs (certainly more and
more crucial nowadays). The truth is that nurses
will have to adapt to a new reality and adapt their
knowledge to the future that awaits them.
Palavras-Chave: T.I.C., Enfermagem, Formação
Keywords: ITC, Nursing; Education
As tecnologias avançaram de uma forma
avassaladora nos últimos tempos, provocando a preocupação e a necessidade de a
humanidade se preparar para acompanhar o
salto na qualidade de vida que estas proporcionam, tendo que existir uma mudança de
carácter emergente e obrigatório por parte
do Homem, para que este possa viver consoante as novas regras agora impostas pela
crescente evolução tecnológica.
Segundo Évora et al., uma invasão crescente das novas tecnologias no nosso dia-a-dia podem causar mudanças dramáticas
na quantidade, na qualidade e na velocidade
de trocas de informação que lidamos diariamente.
Esta informação veio demonstrar que se o
indivíduo não estiver preparado para acom-
panhar e lidar com inovações, nomeadamente as tecnológicas, pode-se deparar com problemas que podem afectar o sucesso do seu
desempenho profissional. Há necessidade,
então, de o indivíduo saber gerir estas mudanças de modo a que estas sejam utilizadas
como ganhos profissionais. Caso o indivíduo
não se consiga moldar a tais modificações
ou se se mostrar relutante a adquirir novos
termos e conhecimentos que destas mudanças advêm, poderá surgir aqui um entrave à
inovação tecnológica, adquirindo esta um
novo formato, isto é, torna-se nociva para a
execução correcta e assertiva da actividade
laboral.
De acordo com Silva e Ferreira (2009), “a
tecnologia pode influenciar e modificar o
nosso modo de vida e determinar influências
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OPINIÃO
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em diversos campos tais como o social, o
económico e o ambiental.”
Com a revolução industrial, ocorreu o desenvolvimento de novas tecnologias em quase todas as áreas, nomeadamente na área da
saúde. Deste modo, o desenvolvimento em
massa das novas tecnologias veio desvalorizar a força humana como elemento principal
na actividade profissional em detrimento das
máquinas, causando modificações na esfera
laboral. Constato assim que na saúde, todas
as relações sociais que sustentavam grande
parte da metodologia do funcionamento das
organizações, são afectadas por esta inovação. Isto é, há uma quebra da socialização
entre os demais constituintes das organizações, dado que se substitui a mão-de-obra
por equipamentos tecnológicos. A sofisticação tecnológica cada vez mais notada nos
serviços de saúde, veio quebrar relações
sociais que anteriormente eram de extrema
necessidade para a prestação de serviços,
fazendo-as assumir menos relevância.
A nível económico, as consequências da
inovação tecnológica, adquirem um sentido
positivo, uma vez que estas visam a minimização de custos, diminuindo os colaboradores, devido á sua substituição pelos equipamentos.
Não menos importante, a quebra das relações ou mesmo a falta destas, leva a uma
atmosfera laboral pouco susceptível à manutenção de um clima empático e de solidariedade entre os profissionais, sendo as tarefas
e responsabilidades desempenhadas sob um
método mecânico, que em saúde se repercute numa prestação de cuidados menos eficaz.
No entanto, segundo Barra (2006), “a introdução da informática e o aparecimento
de aparelhos modernos e sofisticados trou-
xeram muitos benefícios na luta contra as
doenças, fazendo as T.I.C. assumirem um
papel de importância extrema quer na prevenção da doença quer na promoção de
saúde.” Sem as T.I.C. o plano de cuidados, seria mais difícil de concretizar, assim como a
execução de técnicas e procedimentos que
visam o salvamento de vidas todos os dias.
Esta tecnologia moderna, criada pelo Homem e a serviço do próprio, tem contribuído
em larga escala para a solução de problemas
antes inexequíveis e que pode reverter em
melhores condições de vida e saúde para o
indivíduo.
De uma forma geral, as T.I.C. são dotadas
de uma dualidade subjectiva a nível da sua
importância, assumindo duas posições, positiva e negativa. É de realçar a sua multifuncionalidade e velocidade da propagação da
informação, como das principais aplicações
na área da saúde. Especificamente em enfermagem, considero que a aproximação das
T.I.C. nesta área, contribui para novas técnicas
de tratamento, novas áreas de conhecimento, tal como a solicitação de vários produtos,
a facilitação de dados em tempo real acerca
do historial do doente, o aumento da produtividade e a diminuição do processo burocrático. A inovação informática auxilia os
enfermeiros nas suas actividades, quer sejam
assistenciais, administrativas, de ensino ou de
pesquisa, trazendo benefícios tanto para o
cliente, como para o profissional. No entanto, os enfermeiros não estão a acompanhar
estes novos desafios, causando desconforto e
insegurança nesta classe profissional. Na prática hospitalar, o uso das tecnologias e a sua
adjacente evolução tecnológica funciona “(...)
como uma ferramenta auxiliar no cuidado de
enfermagem, que supre as necessidades crescentes do aumento da complexidade do cui-
OPINIÃO
dado oferecido pelas enfermeiras e possibilita
a prestação de um cuidado de qualidade, com
obtenção de maior eficácia, minimizando o
tempo gasto na realização dos procedimentos, por outro lado, é preciso pensar sobre
os efeitos que o avanço tecnológico remete.”
(Silva e Ferreira, 2009)
Numa perspectiva psicossociológica, as
T.I.C. influenciam o estilo de vida da sociedade, provocando no Ser Humano sentimentos e comportamentos de aproximação,
receio e separação. A tecnologia em saúde
cria crenças e sentimentos nos técnicos, que
vão influenciar o seu comportamento e a
transmissão de informação aos seus colegas
profissionais, criando com isto as bases do
seu modo de actuar. O enfermeiro tem ao
seu dispor tecnologias para prestar cuidados
com qualidade e com sucesso, porém não
são utilizadas no seu maior potencial por falta de conhecimento teórico-prático.
“ (…) Os grandes centros hospitalares
oferecem uma gama de equipamentos para
a assistência, principalmente dos enfermos
mais graves. É fundamental a informação e
a habilidade do profissional para tratar com
esta realidade” (Campos, 2007)
Com base na citação anterior, verifica-se que a oferta tecnológica nos serviços de
saúde se pauta cada vez mais pela quantidade de equipamentos dotados de máxima
actualização e que preconizam a maior eficiência no salvamento de vidas. No entanto,
é fundamental e imperativo que a formação
tecnológica actualizada dos enfermeiros se
inicie nas instituições de ensino aquando da
sua licenciatura, sendo de fulcral importância a incrementação da aprendizagem e do
contacto com esta nova realidade nos planos
curriculares. Deste modo, aquando da entrada no mercado de trabalho, esta não signifi-
que um entrave à qualidade de serviços de
saúde prestados.
Para perceber a realidade existente em
Portugal, é importante verificar em que patamar se encontra o ensino superior em relação à oferta formativa tecnológica no curso
de licenciatura em enfermagem, e por isso,
debrucei-me sobre a análise dos planos curriculares de quatro instituições do ensino
português. A análise fora feita com o intuito
de perceber e compreender se estas acompanham o crescente desenvolvimento tecnológico na área da saúde, assim como, se têm
uma oferta formativa nas áreas das tecnologias, que preparem os seus discentes para
o mercado de trabalho. As escolas alvo de
análise foram: a Escola Superior de Saúde de
Portalegre, a Escola Superior de Enfermagem
da Cruz Vermelha Portuguesa de Oliveira de
Azeméis, a Escola Superior de Enfermagem
de Lisboa e a Escola Superior de Enfermagem do Porto.
De um modo empírico e recorrendo à
análise dos planos curriculares, foi-me possível perceber que nenhuma destas entidades de ensino disponibiliza e engloba nos
planos de estudos, a formação suficiente na
área das T.I.C. nos Cuidados de Enfermagem.
Constata-se e percepciona-se então, que as
instituições de ensino não adaptam os seus
planos curriculares à inovação tecnológica presente actualmente nas instituições de
saúde nacionais. Os discentes, enfermeiros
recém-licenciados ou enfermeiros não são
preparados previamente pelas instituições
onde recebem / receberam formação para
a realidade tecnológica que enfrentam no
mercado de trabalho. Confrontam-se com a
falta de competências e habilidades técnicas
e de manipulação de equipamentos sofisticados que são de extrema necessidade para
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que a prestação de cuidados seja de máxima
qualidade e eficiência.
De acordo Silva e Ferreira (2009), “os enfermeiros recém-licenciados transparecem
sentimentos, frustrações e expectativas que
interferem nas práticas de enfermagem, pois
em cada caso é necessário discutir os limites
e dificuldades, sentidos nos mesmos.” Sempre que um enfermeiro se deparara com uma
nova unidade hospitalar tem que se adaptar às novas tecnologias, pois cada situação
necessita de cuidados diferentes. Estes profissionais de saúde experienciam situações
diferentes todos os dias, o que vai construir
neles insegurança e medo do desconhecido.
Estes sentimentos tomam mais ênfase quando a formação destes indivíduos não acompanha a realidade com que interagem. O sentir e perceber que a qualidade dos cuidados
por eles prestados depende muitas vezes da
manipulação de equipamentos, para a qual
não têm conhecimento e formação suficiente, cria neles, o sentimento de incapacidade
e de insegurança, influenciando a qualidade
dos cuidados prestados. No entanto, o fascínio e a curiosidade que as T.I.C. representam,
a persuasão do desconhecido, criam nos enfermeiros uma aptidão e um estímulo para
a descoberta e aquisição de novos conhecimentos tecnológicos actualizados.
Segundo Arco (2004), “a utilização das
T.I.C. em Enfermagem passa pelo desenvolvimento e adequação de instrumentos e
procedimentos informáticos, que apoiem os
enfermeiros no aperfeiçoamento da sua prática profissional.” A tecnologia avançada tem
uma importância fulcral na área da saúde,
quer no salvamento de vidas quer no auxílio
aos demais profissionais de saúde na prestação de cuidados. Há então uma necessidade
urgente e imperativa de uma simbiose entre
equipamentos técnicos e a formação / conhecimentos dos profissionais em áreas tecnológicas. A inovação tecnológica em saúde
visa a melhoria das condições de vida dos
seus utentes, mas perdem a sua importância se os seus utilizadores (profissionais de
saúde) não souberem de forma correcta e
eficaz, usufruírem das suas vantagens. Tem
que haver então, uma preocupação perante
a formação dos enfermeiros que os sensibilize e os prepare para estas realidades e que
assim, possam usufruir livremente e sem receio de falhas e erros da utilização das novas
tecnologias, proporcionando assim melhores
cuidados aos utentes.
Para contactar com o real, nomeadamente, para perceber que realidades tecnológicas
os enfermeiros portugueses experienciam
no quotidiano das suas actividades laborais,
foram analisadas duas das muitas aplicações
das T.I.C. na área da saúde, designadamente
a Linha de Saúde 24 e o Mobile Clinic (utilizado no INEM).
A linha de Saúde 24, é considerada uma
ferramenta tecnológica de extrema importância no Serviço Nacional de Saúde, uma
vez que visa responder às necessidades
manifestadas pelos clientes em saúde, de
modo a melhorar a acessibilidade aos serviços, através do encaminhamento dos utentes para as instituições adequadas. A linha
de saúde 24 possibilita a diminuição do
fluxo de afluência às instituições de prestação de cuidados de saúde, aumentando a
qualidade destes cuidados, incrementando
a relação custo/benefício e reduzindo a procura desnecessária dos serviços de Saúde,
oferecendo respostas ajustadas às necessidades do utente. Permite igualmente que os
recursos, ao nível dos profissionais de Saúde, foquem a atenção em casos mais urgen-
OPINIÃO
tes estipulando um sistema de prioridades.
Assim, a qualidade dos serviços de saúde
é aumentada pela utilização deste sistema
uma vez que este proporciona um atendimento focado, preciso, cómodo e rápido.
No entanto, aquando da saída para a actividade laboral os recém-formados em enfermagem sentem e experienciam sentimentos
de insegurança e de ansiedade na prática de
cuidados à distância. O ensino que lhes foi
conferido não assegura a aprendizagem e
a prática deste tipo de cuidados, o que dificulta a tarefa destes novos enfermeiros em
contextos de prestação de cuidados por vias
indirectas. O contacto físico, visual e real com
o utente é ensinado / aprendido durante o
curso de licenciatura em enfermagem, anulando toda a classe profissional que opta
pela prática de enfermagem indirecta, isto
é, pela prestação dos seus serviços através
das vias telefónicas, como o caso de linha de
saúde 24 ou o 112.
A nível do INEM, Instituto Nacional de
Emergência Medica este proporciona uma
rapidez e qualidade na prestação de cuidados e transporte de emergência. O INEM é
constituído por uma equipa de profissionais
de saúde com o auxílio de equipamento específico e técnico, informático e de transporte, que visa o salvamento de vidas todos
os dias. O “Mobile Clinic” é uma aplicação
informática de registo clínico electrónico
que consiste na formulação de um registo
electrónico que possibilita aos tripulantes
das ambulâncias de emergência médica receber num computador portátil, os dados
referentes à emergência, enviados em tempo real pelo Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU). A dificuldade que os
enfermeiros recém-formados encontram
aquando do contacto com esta realidade
tecnológica, prende-se com o facto de não
terem usufruído de formação prévia para
lidar com tais equipamentos e não possuírem conhecimentos e técnicas para dominar
e interpretar todos os dados enviados e remetidos por estes equipamentos. O domínio
técnico e informático destes aparelhos é de
fulcral importância sendo que o máximo de
conhecimento acerca destes, possibilita uma
melhoria na qualidade dos serviços de saúde
prestados, assim como o aumento da confiança e destreza dos profissionais que contactam com estes equipamentos.
Segunda Silva e Ferreira (2009) “A introdução das tecnologias na assistência aos cuidados, visam melhorar a eficácia e a rapidez
dos cuidados, no entanto, numa fase inicial
torna-se uma desvantagem porque em vez
de direccionar o nosso tempo para a prestação de cuidados, focam a sua atenção em
perceber o seu funcionamento.”
A estipulação de uma boa relação terapêutica é essencial no sucesso do tratamento / cuidado do utente com que os profissionais de saúde estão a lidar. É fundamental
perceber que a falta de formação e acompanhamento dos enfermeiros no que concerne
à inovação tecnológica, leva-os a cometerem
erros inocentes na prática clínica.
“Num mundo de espantosas mudanças
tecnológicas, ninguém pode ter a certeza
daquilo que o futuro reserva. O que é certo
é que os desenvolvimentos nas tecnologias
dos meios de comunicação social estão no
centro dessas mudanças.”
Arco, 2004 citando Giddens, 2000
Actualmente, um curriculum que não inclua formação na área das T.I.C. é deficiente,
incompleto e diminuto, porém, esta é uma
falha que abrange todo o ensino superior
nacional.
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Desta forma, o Ensino Superior deve colmatar esta falha, investindo na formação tecnológica dos alunos preparando-os para as
adversidades que poderão vir a ocorrer ao
longo da sua vida profissional.
Segundo Paula (2004), “oferecer aos formados em enfermagem o conhecimento
sobre como desempenhar as suas funções e
qual a melhor forma de explorar os mecanismos tecnológicos em clínicas e hospitais é
um objectivo para o futuro.”
De um modo conclusivo num futuro próximo, as T.I.C serão um elemento cada vez
mais activo na sociedade, interferindo directamente na vida dos profissionais de Enfermagem. É urgente a mentalização que a necessidade de conhecimento tecnológico não
abrange só classes profissionais específicas,
mas sim, todas as que envolvam instrumentos técnicos, independentemente do grau de
dificuldade do seu uso.
Torna-se fulcral que o ensino tecnológico esteja presente nos planos curriculares do
ensino superior português para que todos
os formandos se sintam capazes de desempenhar as suas funções e competências com
a máxima qualidade e eficácia possível. A
transmissão de conhecimentos em áreas que
estes profissionais não dominem, vão criar
em si, sentimentos de segurança e confiança
para que o utente tenha o melhor dos cuidados.
BIBLIOGRAFIA
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enfermagem – . Dissertação elaborada com vista à obtenção do grau de mestre em ciências da educação na
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ALKMIM MB, CUNHA LR, FIGUEIRA RM. “Aplicação de
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CAMPOS MV. “Fundamentos do Uso de Tecnologias na
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ÉVORA YD, MELO MR, NAKAO JR. “O desenvolvimento
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NOGUEIRA LP, FERREIRA BA. “A informática e sua aplicação na área de enfermagem” Rev Enferm UNISA
2000;
PAULA FE. “Tecnologia na enfermagem: vantagens e
desvantagens.” 2004
Plano curricular 1º Ano, Escola Superior de Enfermagem de Lisboa: http://www.esel.pt/ESEL/PT/Formacao/
Licenciatura/PlanoEstudos/1%C2%BA+ano+plano+de
+estudos.htm
Plano curricular 2º Ano, Escola Superior de Enfermagem de Lisboa: http://www.esel.pt/ESEL/PT/Formacao/
Licenciatura/PlanoEstudos/1%C2%BA+ano+plano+de
+estudos.htm
Plano curricular 3º Ano, Escola Superior de Enfermagem de Lisboa: http://www.esel.pt/ESEL/PT/Formacao/
Licenciatura/PlanoEstudos/1%C2%BA+ano+plano+de
+estudos.htm
Plano curricular 4º Ano, Escola Superior de Enfermagem de Lisboa: http://www.esel.pt/ESEL/PT/Formacao/
Licenciatura/PlanoEstudos/1%C2%BA+ano+plano+de
+estudos.htm
Plano curricular, Escola Cruz Vermelha de Lisboa: http://
www.cruzvermelha.pt/actividades/ensino-superior-saude/escola-sup-enfermagem.html
Plano curricular, Escola Superior de Saúde de Portalegre:
http://www.essp.pt/Cursos/Licenciatura/18%20-%20
8-10-2009%20-%20Altera%C3%A7%C3%A3o%20
Plano%20de%20Estudos%20de%20Licenciatura%20
em%20Enfermagem.pdf
Plano curricular, Escola Superior de Enfermagem do
Porto:
http://newsletter.esenf.pt:8080/newsletter/ficheiros/43/dre1.pdf www.saude24.pt
Artigocientifico.uol.com.br/uploads/
artc_1186531364_80.doc
SILVA RC, FERREIRA MA. “A Tecnologia em saúde: uma
perpectiva psicossociológica aplicada ao cuidado de
enfermagem.” Esc Anna Nery Ver Enferm 2009 jan-mar.
TELEHEALTH – Issues For Nursing. American Nurses
Association, 1997. Publicado na Internet. http://www.
ana.org/readroom/tele2.htm
TURANSKY, June Shipley. Technology in Nursing.
1997. Publicado na internet. http://home.dmv.
com/~easycash/tech.htm
OPINIÃO
ENTRADA DO ARTIGO DEZEMBRO 2012
MAUS-TRATOS A IDOSOS
RESPOSTA INTEGRADA DE CUIDADOS DE SAÚDE
CARLA MENDES
Enfermeira. Especialista em Saúde Infantil e Pediatria,
no ACES II Lisboa Oriental/ USF Oriente
PAULO ANES
Enfermeiro no Centro Hospitalar de Torres Vedras/Serviço de Medicina B
HELENA MOREIRA
Enfermeira. Especialista em Saúde Infantil e Pediatria no
Centro Hospitalar de Torres Vedras/Serviço de Pediatria
RESUMO
Os idosos, devido à sua fragilidade e dependência, são muitas vezes vítimas de maus-tratos por
parte da sociedade, sofrendo, pacifica e silenciosamente, durante anos e anos, com a privação de
cuidados básicos e de saúde, de autonomia, dignidade, respeito e afeto. Os enfermeiros possuem
uma proximidade privilegiada com o idoso e seus
cuidadores, o que lhes permite prevenir, identificar e denunciar este tipo de situações, o mais
precocemente possível.
ABSTRACT
The elderly, due to their fragility and dependence,
are often victims of mistreatment by society, suffering peacefully and quietly, for years and years,
with the deprivation of basic and health care, autonomy, dignity, respect and affection. Nurses have
a privileged proximity with the elderly and their
careers, allowing them to prevent, identify and report that situations, as early as possible.
Keywords: Maltreatment, Elderly and Nursing.
Palavras-Chave: Maus-tratos, Idoso e Enfermagem
A enfermagem, como profissão do cuidar,
deve zelar pelo bem-estar da população a
quem presta cuidados. Nas últimas décadas,
segundo o Instituto Nacional de Estatística
(INE), têm-se assistido a um envelhecimento progressivo da população, sem contudo
se verificar o suporte social necessário para
garantir o seu cuidado. Consequentemente,
muitos idosos são negligenciados e maltratados (INE, 2011).
Os maus-tratos a idosos consistem na
ocorrência de ato(s) que cause(m) dano, sofrimento ou angústia ao idoso, dentro de um
relacionamento de confiança. Os maus-tratos podem ser de vários tipos: psicológicos,
físicos, económicos, medicamentosos, sexuais, negligência (quer ativa, quer passiva) e
violação dos direitos humanos (World Health
Organization [WHO], 2011).
Segundo a mesma fonte, em Portugal
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39,4% da população idosa é vítima de maus-tratos, sendo que destes, 32,9% são vítimas
de maus-tratos psicológicos, 16,5% de extorsão, 12,8% de violação dos seus direitos,
3,6% de abuso sexual e 2,8% de maus-tratos
físicos. Os números são assustadores, senão
mesmo aterradores, se a estes, juntarmos as
incalculáveis situações que não chegam a ser
denunciadas e por isso eternamente desconhecidas.
Torna-se, assim, urgente, uma resposta integrada de cuidados de saúde ao idoso, que
pode/deve ser precocemente iniciada se os
profissionais estiverem atentos aos pedidos
silenciosos de ajuda, como é exemplo o seguinte testemunho:
Primeiro roubaram-me o direito à autonomia, depois o direito de expressão, aos poucos
e poucos, o direito sobre o meu corpo e sobre
a minha vida.
O sorriso dissipou-se e, gradualmente,
mergulhei numa amargurosa tristeza.
A força e a esperança que me moviam outrora há muito me abandonaram!
Agora somam-se as dores, os males e os
dias – de mim resta apenas uma sombra, que
pena, vazia e fria, na estrada da vida.
Já não tenho qualquer valor – tornei-me,
única e absolutamente, supérfluo!
Não ouso pedir ajuda, pois as consequências do meu grito iriam repercutir-se, tortuosamente, na minha breve caminhada pelo
mundo.
Afinal, roubaram-me o ouro e o brilho
dos olhos, roubam-me a dignidade e a saúde, roubar-me-ão dias de vida e um recordar
honroso.
Que me resta? Resignar-me silenciosamente…
(Testemunho de H.M., 74 anos)
É essencial que a enfermagem esteja sensibilizada para a importância de intervir em
situações de risco ou ocorrência de maus-
OPINIÃO
-tratos a idosos, mesmo quando o idoso
não sabe, não quer ou não pode pedir ajuda.
Relativamente ao modelo de prevenção subjacente a esta problemática, a experiência
profissional dos autores, quer ao nível dos
cuidados de saúde primários, quer ao nível
dos cuidados hospitalares, aponta para uma
intervenção que deve incidir sobre quatro
focos: a Enfermagem, a Comunidade, o Idoso e o Cuidador.
A nível da equipa de enfermagem torna-se fundamental a formação e sensibilização
para uma atuação de excelência. A intervenção deve ocorrer tanto a nível dos cuidados
de saúde primários como a nível dos cuidados de saúde diferenciados. No âmbito de
uma consulta, visitação domiciliária ou hospitalização é possível identificar sinais/sintomas sugestivos de maus-tratos ao idoso,
entre os quais: desidratação, desnutrição,
maus-cuidados de higiene, idosos multi-escariados, ferimentos sugestivos de maus-
-tratos e comportamentos de medo perante
os cuidadores.
Também a comunidade deve ser alvo de
sensibilização para uma maior valorização
das pessoas idosas bem como para a importância de identificar e denunciar a ocorrência
de maus-tratos a esta faixa etária. Os enfermeiros devem articular-se com os cuidadores e as instituições de apoio social, lares e
residenciais de idosos existentes na comunidade de forma a garantir uma resposta mais
abrangente e efectiva.
Quando o idoso mora no seu próprio domicílio é importante garantir que tem acesso
ao apoio social necessário, de forma a evitar-se a negligência por parte da sociedade/família. Esta situação merece especial atenção,
quando o idoso mora sozinho! O envolvimento da comunidade torna-se muito precioso nesta situação, coresponsabilizando vizinhos, familiares mais próximos e mesmo os
próprios agentes de segurança pública.
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OPINIÃO
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Relativamente à intervenção junto do
idoso prende-se sobretudo com a prevenção de ocorrência de maus-tratos, através da
promoção da participação ativa do idoso na
sociedade e através da sinalização e acompanhamento de situações de risco, de forma
a evitar a sua evolução. Tal como já referido
anteriormente, muitas vezes o idoso aceita
pacificamente ser maltratado devido à sua
posição de dependência/fragilidade relativamente ao agressor, situação que poderá ser
contrariada se o idoso sentir que tem apoio
dos profissionais de saúde.
De realçar que os cuidadores do idoso
deverão ser alvos permanentes de formação
e apoio, sobretudo a nível psicológico. Não é
fácil cuidar, dia-após-dia, do idoso, muitas das
vezes, doente, desorientado no tempo e espaço, não colaborante e totalmente dependente nas atividades de vida diárias - tal cuidado
exige muitos sacrifícios e renúncias pessoais.
A longo prazo, o cuidador pode sofrer de
Síndrome de Burnout, o que pode propiciar
comportamentos desajustados e até a ocorrência de maus-tratos àquele de quem cuida.
Contudo, muitas vezes, o cuidador é negligente de forma passiva, ou seja, sem intenção de prejudicar o idoso - atualmente esta
situação verifica-se sobretudo por carências
económicas, o que torna também urgente, o
suporte social e não só de cuidados de saúde.
Quando o idoso está institucionalizado é
importante supervisionar os cuidados prestados a este nível e formar a equipa responsável
pela sua assistência. A distração e sentido de
utilidade deverão ser promovidos ao máximo,
de forma a evitar a depressão e sentimentos
de inferioridade por parte do idoso.
Quando a situação já evoluiu para a ocorrência de maus-tratos, a enfermagem deve
estar apta a identificar precocemente os sin-
tomas/sinais inerentes, a efetuar a sua denúncia às autoridades competentes e acompanhar o idoso, ao longo de todo o processo, sobretudo à posterior, de forma a evitar a
continuidade dos maus-tratos.
A implementação destas medidas refletir-se-á, certamente, na redução da hospitalização de idosos, bem como do número
de casos de maus-tratos e no aumento do
apoio social ao idoso/cuidadores, bem como
da qualidade de vida do idoso/sociedade, ou
seja, o reflexo será, nitidamente, um enorme
ganho em saúde!
Em suma, os enfermeiros têm um papel
crucial na prevenção, identificação precoce
e denúncia de situações de maus-tratos a
idosos. Esta luta requer enfermeiros devidamente formados, ativos e ponderados, que
trabalhem em parceria com o idoso, sua família/cuidadores e redes de apoio existentes na comunidade. O caminho é árduo, os
obstáculos mais que muitos - a identificação
deste tipo de situações não é fácil e além disso nem sempre a vítima tem a força, discernimento mental e/ou segurança para efetuar
a denúncia.
Estamos convictos que de forma integrada podemos ajudar a construir um mundo
em que os idosos possam usufruir do máximo de qualidade de vida possível, no seio
da sua comunidade. Para isso é fundamental
discutir, analisar e refletir sobre esta problemática e não deixá-la cair no esquecimento.
Este artigo representa o nosso pequeno contributo para que tal não aconteça.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
World Health Organization (WHO) (2011). European
report on preventing elder maltreatment, Copenhagen.
Instituto Nacional de Estatística (INE) (2011). Censos
2011 - Resultados Provisórios, Lisboa.
CIÊNCIA & TÉCNICA
ENTRADA DO ARTIGO MARÇO 2013
GRAVIDEZ NÃO
CONVENCIONAL
Contributos do enfermeiro especialista
VÂNIA SOFIA AGOSTINHO DA SILVA
Enfermeira no Estabelecimento Prisional de Alcoentre. A frequentar o curso de Pós-Licenciatura de Especialização em
Enfermagem de Saúde Materna e Obstetrícia
RESUMO
As medidas não convencionais para alívio da dor,
desconfortos e alterações decorrentes da gravidez, tais como o toque, o relaxamento e a massagem, são intervenções autónomas de enfermagem que promovem o conforto e relaxamento da
parturiente, não devendo ser colocadas de parte
pelo enfermeiro especialista em saúde materna
e obstetrícia (EESMO). Estas técnicas são para os
EESMO uma forma de comunicação não-verbal,
permitindo-lhes perceber medos e ansiedades
da grávida, além de ser um meio eficaz para os
reduzir, transmitir carinho, respeito e segurança
(SILVA, 2002).
As técnicas de terapia não convencional, não só
são úteis no alívio dos desconfortos da gravidez
enquanto técnica por si só, mas também como
forma de promover a excelência do cuidado de
enfermagem holístico baseado no toque e na
relação de ajuda.
Palavras-Chave: , toque, massagem, relaxamento,
cuidados obstétricos.
ABSTRACT
The unconventional measures for the relief of pain,discomforts and changes resulting
from pregnancy,such as touch, relaxation and
massage,are autonomous nursing interventionsthat promote comfort and relaxationon parturient and should not be put asideby nurse specialist
in maternal healthand obstetrics (EESMO). These
techniques are forEESMO a non-verbal form of
communication,allowing them to realize pregnant fears and anxieties, besides being an efficient
means forreduce it, transmit affection, respect and
safety(Silva 2002).The unconventional therapy
techniques, not onlyare useful in alleviating the
discomfort of pregnancyas a technique in itself,
but also asway to promote the excellence of careholistic nursing based on touch andhelping relationship.
Keywords: touch, massage, relaxation,obstetric
care
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INTRODUÇÃO
O período pré-natal é um período de preparação, que envolve adaptações físicas e
psicológicas, para receber um novo elemento na família.
Sendo que aos cuidados de enfermagem está inerente a necessidade de cuidar
da pessoa na sua globalidade, considerando
as esferas física, mental e espiritual, necessitam de mobilizar uma vasta gama de conhecimentos científicos das diferentes áreas
do saber médico, psicossocial e comportamental para a sua prática (WATSON, 2002).
Desta forma, foi crescendo a visibilidade das
terapias não convencionais como forma de
dar resposta a uma prática de enfermagem
que se quer humanista e holística.
A recomendação e prática das técnicas
não convencionais, no âmbito dos cuidados
de enfermagem especializados em saúde
materna e obstétrica, surge como meio de
minimizar os desconfortos da gravidez, mas
também como forma de melhorar a qualidade dos cuidados. Assim, no período pré-natal
é importante familiarizar a gestante com as
diferentes estratégias, para que possa optar
pelo método a que melhor se adapte, uma
vez que os resultados positivos da sua aplicação são intensificados quando estas são
implementadas durante o acompanhamento
pré-natal (SARTORI et al., 2011, http://scielo.
isciii.es/pdf/eg/v10n21/pt_revision4.pdf)
A escolha deste tema, prendeu-se com o
interesse no toque terapêutico, massagem
terapêutica e relaxamento como forma de
minimizar as queixas dolorosas, principalmente durante o trabalho de parto, bem
como os desconfortos vivenciados durante
a gravidez. Assim, pretendo com esta pesquisa aprofundar conhecimentos acerca das
temáticas, verificando, com base em estu-
dos científicos, a eficácia que a aplicação
destas técnicas não convencionais tem na
prática.
Para a elaboração deste artigo, procedeu-se à revisão bibliográfica através da pesquisa em diversas bases de dados on-line, nomeadamente a Scielo e a b-On.
O TOQUE TERAPÊUTICO
Durante toda a gravidez, mas principalmente durante o trabalho de parto, a mulher atravessa consideráveis transformações
físicas que, por ação das contrações, provocam dor, que varia de mulher para mulher,
de acordo com o limiar de dor de cada uma.
Sendo a dor singular, por depender da influência de fatores piscossociais e culturais,
é importante que o EESMO esteja sensibilizado para essa singularidade, e estabeleça
uma relação de ajuda eficaz com a grávida,
cuidando de forma holística (SARTORI et al.,
2011, http://scielo.isciii.es/pdf/eg/v10n21/
pt_revision4.pdf).
O Toque Terapêutico (TT) tem mostrado
alguma efetividade na alteração dos sinais
vitais e redução de sintomas de várias doenças como os distúrbios do humor e padrão
de sono, agitação, fadiga, ansiedade e, sobretudo, dor (VASQUES; SANTOS; CARVALHO, 2011, http://www.scielo.br/pdf/ape/
v24n5/19v24n5.pdf).
Sendo o toque terapêutico reconfortante
e calmante, quando associado à massagem
terapêutica ajuda a libertar o stress, a relaxar
e a restabelecer o equilíbrio corporal, permitindo obter benefícios físicos (diminui o ritmo cardíaco e tensão arterial) e emocionais,
constituindo-se como um tranquilizante natural (ALMEIDA, 2012).
CIÊNCIA & TÉCNICA
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A MASSAGEM TERAPÊUTICA
A massagem terapêutica consiste na manipulação científica dos tecidos moles do
corpo com a finalidade de normalizá-los,
através de uma “série de técnicas manuais que
incluem a aplicação de pressão fixa ou móvel,
amassamento e produção de movimentos do
corpo” (KRAPP; LONGE, 2003). Esta, quando
utilizada durante a gravidez, permite estimular a circulação sanguínea e o retorno linfático, que podem estar comprometidos como
resultado das alterações fisiológicas da gravidez, reduzindo desta forma a tensão muscular e a flacidez, proporcionando uma série
de benefícios tais como: alívio dos espasmos
musculares, maior flexibilidade e amplitude
de movimento, alívio de stress, relaxamento
e sensação de bem-estar, além da redução
dos níveis de ansiedade (Idem).
Para que a massagem terapêutica seja eficaz deverá ser realizada num ambiente agradável, acolhedor, com luz velada, silencioso
e com um creme ou óleo (amêndoas doces,
girassol, sementes de sésamo, entre outros),
durante aproximadamente uma hora, podendo ser de 30 minutos se for concentrada
apenas nas zonas de maior tensão.
Sendo a massagem durante a gravidez
uma técnica favorecedora do bem-estar fisiológico, estrutural e emocional, tanto da
mãe como do feto, quando esta efetuada
pelos companheiros durante o parto, está
geralmente associada a partos mais breves
e menos complicados. Contudo, a sua utilização está contraindicada em casos de hemorragia vaginal, dor abdominal ou diarreia,
podendo também haver o risco de agravar
contraturas musculares existentes (Idem).
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Antes de iniciar a massagem e espalhar o
óleo sobre a pele com passagens suaves durante alguns minutos é importante aquecer
as mãos e o óleo que vamos utilizar. Durante
a sua realização é necessário ter também o
cuidado de não exercer demasiada pressão
sobre áreas ósseas ou de órgãos, interrompendo de imediato um movimento que cause dor. Para que este seja um momento de
conforto e relaxamento para a grávida não
devemos falar a menos que ela o faça primeiro (ALMEIDA, 2012).
“Depois do nascimento da criança, a terapia por massagem pode favorecer a recuperação do corpo até alcançar o seu estado
prévio à gravidez, aliviar a dor, recuperar a
sensação do próprio corpo e ajudar a manter
a flexibilidade apesar do stress físico que pressupõe a atenção a uma criança pequena. Para
as mães que tenham sido submetidas a uma
cesariana existem técnicas terapêuticas específicas que também podem reduzir a formação de tecido cicatricial e facilitar a cura da
incisão e das áreas de tecidos moles à volta”
(KRAPP; LONGE, 2003).
O RELAXAMENTO
Por serem diversos os desconfortos que
podem surgir no decorrer da gravidez é importante que a mulher saiba como neutralizá-los, de forma a não prejudicar o seu bem-estar durante o desenrolar da mesma.
O relaxamento pode ser uma das técnicas
utilizadas para minimizar os desconfortos
da gravidez, pois como medida preventiva
protege o corpo do desgaste desnecessário;
ajuda a aliviar o stress e a acalmar a mente;
e permite que o pensamento se torne mais
claro e eficaz (ALMEIDA, 2012).
Uma das formas práticas de promover
o relaxamento é a respiração consciente,
principalmente a respiração abdominal. Ao
concentrar-se na respiração a mulher vai-se
acalmando e recuperando o bem-estar físico
(BJORN, 2009).
Na prática clínica, tem-se verificado que o
relaxamento permite a integração das diferentes dimensões da mulher, promovendo melhoria no estado de vigília e permitindo que o
sono seja mais profundo e descansado. Verifica-se também o aumento da autoconfiança
que se manifesta na diminuição das queixas álgicas, na diminuição de ansiedade, angústia e
problemas digestivos, normalmente relacionados com estados emocionais que podem ser
conscientes ou não. Com a utilização desta técnica tem-se verificado também na grávida uma
melhoria nos estados de depressão, passando
esta a encarar a vida com mais naturalidade,
otimismo e confiança (Idem).
Uma das técnicas de relaxamento mais
utilizada é a desenvolvida por Schultz (1932),
que tem por base o treino autógeno. Este
treino é composto por 3 fases (Idem):
• A utente é colocada na posição de sentada com os pés bem assentes no chão,
coluna bem posicionada e braços colocados sobre a cadeira ou sobre as pernas, passando de seguida pela vivência
de peso, que é induzida ao braço dominante;
• Nesta fase passa por seis tempos (Repouso – peso; Sensação de calor; Vivência cardíaca; Repouso respiratório; Concentração de calor no baixo-ventre; Testa
fria);
• Ocorre o retrocesso do relaxamento, flexão e extensão dos braços e pernas, respiração profunda e abertura dos olhos.
Para que a mulher consiga efetivamente
CIÊNCIA & TÉCNICA
relaxar é fundamental que esta técnica seja
realizada num ambiente sossegado no qual a
pessoa se sinta confortável. É importante dar
a conhecer a técnica de relaxamento, fazendo uma breve introdução antes de a iniciar.
É importante que o EESMO utilize um tom
de voz sossegado e calmo, realizando pausas
longas entre instruções. No final é importante permitir que a grávida retorne gradualmente ao estado de vigília, informando que
vai terminar a sessão (ALMEIDA, 2012).
Através desta técnica “está cientificamente provado que os hipertensos em estado de
relaxamento diminuem a tensão arterial em
cerca de 10 a 20%. Observa-se ainda uma diminuição do ritmo cardíaco, melhorando as situações de taquicardia. Os efeitos respiratórios,
centram-se na capacidade de uma melhor oxigenação do organismo, pela ampliação da respiração abdominal e torácica” (BJORN, 2009).
A técnica de relaxamento aplicada às mulheres no período da gravidez proporciona-lhes momentos de repouso, alegria e muita
paz, sendo também esta uma forma de fortalecer o processo de vinculação biológico e
psicológico pré e pós-natal.
Tendo por base os estudos consultados
foi possível verificar que os recém-nascidos
de mães que realizam relaxamento durante a
gravidez são mais calmos e dormem profundamente, apesar de chorarem como qualquer recém-nascido.
Apesar da gravidez ser um período de
grandes mudanças e adaptações, o puerpério também o é, sendo ambos os momentos vivenciados de formas distintas entre
as mulheres. Assim, é normal que a mulher
sinta medos, dúvidas e angústias quanto à
capacidade de cuidar de um novo ser, o recém-nascido, e ainda de lidar com todas as
atividades que já realizava antes da gravidez
(PRIMO; AMORIM, 2008, http://www.scielo.
br/pdf/rlae/v16n1/pt_05.pdf).
Neste sentido, é importante que as intervenções do EESMO, como o relaxamento, façam parte do cotidiano do cuidado em enfermagem. Esta técnica, para além de ser benéfica para a mulher por tudo o que foi identificado acima, é também uma forma de aproximar
utente e prestador de cuidados, contribuindo
assim para a melhoraria na qualidade da assistência de enfermagem (Idem).
CONCLUSÃO
Nem todas as medidas não farmacológicas têm demonstrado eficácia no alívio da
dor. Apesar disso, têm demonstrado bons
resultados na promoção de bem-estar para
a mulher, o que proporciona satisfação e diminui o stress no momento do parto. Para
além disso, este tipo de terapias geralmente diminui o uso de drogas analgésicas e a
administração de ocitocina nas parturientes
(SARTORI et al., 2011, http://scielo.isciii.es/
pdf/eg/v10n21/pt_revision4.pdf).
Segundo WATSON (2002), a enfermagem
é uma profissão que assume a responsabilidade ética e social pelo cuidar de vanguarda
ao indivíduo e comunidade no presente e
no futuro. Deste modo, é importante que os
enfermeiros comecem a pensar que podem
encontrar nas terapias não convencionais,
ferramentas para o desenvolver e aprofundar
a Arte do Cuidar.
“Métodos complementares de alívio da
dor durante o trabalho de parto são amplamente difundidos em todo o mundo, e existe uma grande variedade de técnicas não-farmacológicas. Estas, de acordo com a OMS,
devem ser privilegiadas durante a assistência
ao trabalho de parto, considerando-se como
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CIÊNCIA & TÉCNICA
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práticas reconhecidamente úteis e que devem
ser estimuladas” (PORTO; AMORIM; SOUZA, 2010 http://www.febrasgo.org.br/arquivos/femina/Femina2010/outubro/Femina_
v38n10_527-537.pdf).
Em suma, as técnicas de terapia não convencional, não só são úteis no alívio dos desconfortos da gravidez enquanto técnica por
si só, mas também como forma de promover a excelência do cuidado de enfermagem
holístico baseado no toque e na relação de
ajuda. Não obstante, mantém-se evidente a
necessidade de desenvolver estudos científicos que fundamentem a utilização destas
técnicas, com a finalidade de as dotar do
rigor científico que apenas a investigação
confere. Só dessa forma, estas podem ser reconhecidas e utilizadas no âmbito da saúde
com a mesma legitimidade daquelas terapias
que são já reconhecidas legalmente, como é
o caso, por exemplo, da acupunctura.
É importante que estas técnicas comecem
a ser mais implementadas pelos EESMO, pois
para além dos benefícios que trazem para a
mulher/RN/casal, promovem o efetivo reconhecimento da nossa profissão.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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dos enfermeiros sobre medidas farmacológicas e
não farmacológicas no controlo da dispneia. Lisboa:
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BJORN, Maria Benvinda Nereu – Estratégias de
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KRAPP, Kristine e LONGE, Jacqeline L. (2003). Manual de
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PORTO, Ana Maria Feitosa; AMORIM, Melania Maria
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PRIMO, Cândida Caniçali; AMORIM, Maria Helena Costa
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WATSON, Jean (2002). Enfermagem: ciência humana e
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ISBN 972-8383-33-9.
CIÊNCIA & TÉCNICA
ENTRADA DO ARTIGO DEZEMBRO 2012
GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA
Uma problemática social
MARCO ANTÓNIO COUTINHO PINTO
CATARINA FONTE BOA SANTOS
CATARINA ISABEL OLIVEIRA ALVES
LÚCIA DIAS BERTOLO PEREIRA
ANA LUÍSA CRUZ NETO
MARIANA RUGE ANDRADE GONÇALVES
Alunos estagiários do 3.º Ano do Curso de Licenciatura
em Enfermagem. Escola Superior de Enfermagem do
Porto.
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RESUMO
A gravidez na adolescência é uma problemática
presente na nossa sociedade, associada, essencialmente, ao baixo nível socioeconómico, menarca e início da atividade sexual precoces. Por
outro lado, os riscos que advêm são muito graves,
quer para o feto/recém-nascido, quer para a mãe.
Assim, é necessário intervir precocemente, para
prevenir complicações a curto e a longo prazo.
Este artigo é uma revisão da literatura, focando as
principais causas, fatores de risco e intervenções
que podem prevenir a gravidez na adolescência.
ABSTRACT
The adolescent pregnancy is a problem in our society, mainly associated to the low socioeconomic
level, menarche and the beginning of early sexual
activity. On the other hand, the risks that come
are very serious, both for the fetus/newborn, either for the mother. Thus it is necessary to intervene early to prevent complications in the short
and long term.
This article is a review of the literature, focusing
on the main causes, risk factors and interventions
that can prevent pregnancy in adolescence.
Palavras-Chave: gravidez; adolescência
Keywords: pregnancy; adolescents
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CIÊNCIA & TÉCNICA
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A gravidez na adolescência é considerada,
desde o final da década de 40 do século XX,
um problema de saúde pública, aumentando
a partir da década de 60, contribuindo para
mudanças socias e culturais na vida das mulheres (MELO & COELHO, 2011).
Entre as conquistas femininas dessas décadas, a dissociação entre atividade sexual,
casamento e reprodução deu oportunidade
à mulher em aceder aos métodos contracetivos, permitindo e contribuindo para a construção da sua autonomia e liberdade reprodutiva. Estas conquistas não foram acompanhadas por políticas públicas educacionais e
de saúde direcionadas às suas necessidades
sexuais, o que contribuiu para o aumento
da gravidez na adolescência nessas décadas
(MELO & COELHO, 2011).
Em Portugal, a prevalência da gravidez
na adolescência ronda os 14%, estando associada a um aumento da atividade sexual
na adolescência (SILVA et al, 2012). Relativamente aos restantes países da Europa Ocidental, Portugal é o segundo país a registar o
maior número de grávidas adolescentes, estimando-se que cerca de doze adolescentes
dão à luz, todos os dias(RODRIGUES, 2010).
De acordo com o estudo HBS/OMS (HealthBehaviour in School-agedChildren), 2010,
cerca de 21,8% dos adolescentes que frequentavam o 8.º e o 10.º anos de escolaridade são sexualmente ativos. No entanto, em
Portugal, desde 2002, verifica-se uma ligeira
diminuição do número de adolescentes que
refere já ter tido relações sexuais (de 23,7%
para 21,8%). Comparativamente às regiões, a
atividade sexual na adolescência é mais notável no Centro (24,3%), seguida de Lisboa
(24,1%), Algarve (23,2%), Alentejo e Norte.
Segundo SILVA et al (2012), a idade média
do início da atividade sexual é de 14,68 anos,
sendo mais cedo no sexo masculino (14,2
± 1,6 anos) relativamente ao sexo feminino
(15,4 ± 1,2) e está associado a um menor
aproveitamento escolar, grau de escolaridade e menor idade materna. O desenvolvimento da sexualidade faz parte do crescimento do adolescente para a sua identidade
como adulto (HERCOWITZ, 2002) e parte-se
do princípio de que o exercício sexual pleno
é um dos direitos assegurados pelos jovens
(ORLANDI & TONELI, 2005).
A gravidez na adolescência é multicausal.
As causas mais apontadas para a elevada
prevalência são o início precoce da atividade sexual, negligência no uso da contraceção, múltiplos parceiros (variando entre um/
quatro ou mais) (SILVA et al, 2012) e menarca precoce (VITALLHE & AMANCIO, 2004).
Segundo SANTOS & NOGUEIRA (2009), os
adolescentes têm conhecimento sobre os
métodos contracetivos, todavia não sabem
usá-los corretamente.
Relativamente aos fatores de risco são, essencialmente, condições social, pessoal e cultural diminutas, início precoce da atividade
sexual, múltiplos parceiros, desresponsabilização e negligência no uso de contracetivos,
associadas à falta de consultas de planeamento familiar (SILVA et al, 2012), abandono
escolar, baixo nível de escolaridade, ausência de planos futuros, repetição do modelo
familiar (segundo MONTEIRO et al, 1994,
cit in SANTOS & NOGUEIRA, 2009, em 70%
dos casos estudados, a mãe da adolescente também foi mãe na adolescência), baixa
auto-estima, abuso de álcool e drogas (RODRIGUES, 2010). FIGUEIREDO, PACHECO &
MAGARINHOS (2005) acrescentam a monoparentalidade, ausência do pai, institucionalização precoce, abuso físico ou sexual, instabilidade, inadequação ou falta de supervisão
CIÊNCIA & TÉCNICA
familiar. SANTOS & NOGUEIRA (2009) ainda
apontam o pensamento mágico dos adolescentes de que não engravidarão ao iniciarem
a vida sexual. Por sua vez, HERCOWITZ (2002)
refere também caraterísticas definidoras da
adolescência, como a sensação de invulnerabilidade e omnipotência, a impulsividade e a
despreocupação com o futuro, relativamente
ao atos feitos no presente.
Face á imaturidade física, desenvolvimental e psíquica, a gravidez na adolescência
acarreta maior número de dificuldades obstétricas e de problemas de saúde comparativamente a uma gravidez de mãe adulta (IRVINE et al, 1997, cit in FIGUEIREDO, PACHECO
& MAGARINHOS, 2005). Na adolescência há
maior probabilidade de morbilidade materna
e fetal, associada a uma vigilância negligenciada; pré-eclâmpsia, anemia, infeções, parto
pré-termo, complicações no parto (lesões no
canal de parto e hemorragia - YAZLLE, 2006)
e puerpério (endometrite, infeções, deiscência, dificuldade para amamentar – YAZLLE,
2006), perturbações emocionais (RODRIGUES, 2010); menor progressão escolar/profissional, desemprego, emprego mal remunerado ou instabilidade no emprego, problemas no relacionamento com o companheiro,
separação ou divórcio, níveis elevados de
psicopatologia, maior número de crianças
com atraso no desenvolvimento cognitivo,
baixo relacionamento escolar e problemas
de comportamento (FIGUEIREDO, PACHECO & MAGARINHOS, 2005). YAZLLE (2006)
aponta ainda abandono escolar, por pressão
da família, colegas e professores, vergonha
e por a adolescente pensar que “não é necessário estudar”. Por sua vez, os recém-nascidos nascem prematuros e com baixo peso
à nascença (RODRIGUES, 2010); o APGAR é
mais baixo, há maior frequência das infeções
respiratórias, trauma obstétrico, doenças
perinatais e mortalidade infantil (VITALLE &
AMANCIO, 2004). Quanto ao pai, VITALLE &
AMANCIO (2004) descrevem abandono dos
estudos e ingresso em trabalhos que, muitas
vezes, divergem das suas qualificações.
No entanto, a experiência de gravidez na
adolescência não é necessariamente um fator limitante em oportunidades de formação
profissional e da procura de um futuro melhor (DIAS & TEIXEIRA, 2010). Num estudo
realizado com adolescentes, PANTOJA (2003),
citado por DIAS & TEIXEIRA (2010) constatou
que a gravidez na adolescência fortaleceu a
permanência das jovens na escola, uma vez
que a escolaridade estava associada, na opinião dessas jovens, às noções de ser alguém
na vida para oferecer melhores condições a
um filho.
Outro problema que se associa à gravidez na adolescência é o aborto. De acordo
com dados da DGS (2012), em 2011, cerca de
11,1% das interrupções voluntárias das gravidezes foram realizadas por adolescentes
(idades compreendidas entre 15 e 19 anos),
sendo o pico de abordos (22,4%) realizados
em mulheres com idades compreendidas entre os 20 e 24 anos. Em Portugal, de acordo
com a Lei da Portaria n.º 741-A/2007 de 21
de Junho, a interrupção da gravidez pode
ser realizada até às 10 semanas de gestação,
em que a mulher pode escolher o estabelecimento de saúde oficial onde deseja efetuar
a interrupção, dentro dos condicionamentos
da rede de referenciação aplicável.
Face a esta problemática, a prevenção da
gravidez na adolescência torna-se fundamental e prioritário para a sociedade. Uma
das estratégias implementadas em Portugal
é a educação sexual em meio escolar (Lei n.º
60/2009, 6 de Agosto, regulamentada pela
23
NOVEMBRO 2014
CIÊNCIA & TÉCNICA
24
PORTARIA N.º 196-a/2010, de 9 de Abril), incentivando um atraso no início da atividade
sexual e fornecendo informações relativas à
contraceção. Esta deve ter como fundamento capacitar os jovens adolescentes para a
tomada de decisão, resolução de problemas
e pensamento crítico, de forma a terem autonomia para escolherem os comportamentos de saúde corretos (SILVA et al, 2012). A
educação sexual em meio escolar deve ser
realizada em parceria com os Cuidados de
Saúde Primários e Pediatra, motivando para
a vigilância da saúde sexual, divulgando as
instituições e locais onde a podem fazer gratuitamente e confidencialmente.
De acordo com RODRIGUES (2010), no futuro que começa agora, compete à Família,
à escola e às Instituições de Saúde contribuir
para a formação dos adolescentes. SANTOS &
NOGUEIRA (2009) corroboram esta afirmação, advogando que é fundamental construir
um espaço onde pais, familiares, escola, adolescentes, professores e profissionais de saúde possam dialogar, de modo a obter uma
melhor resposta social e ganhos em saúde.
Por outro lado, afirmam que é imprescindível o diálogo entre pais e filhos, visto que a
família é o primeiro modelo e o referencial
para que o adolescente enfrente o mundo e
as experiências futuras.
Em suma, e de acordo com CANAVARRO
& PEREIRA (2006, cit in BRÁS & PEREIRA,
2011) a gravidez na adolescência em vez de
ser uma experiência única e especial, passa
por ser uma experiência inoportuna, por um
conjunto de razões ligadas à falta de autonomia pessoal, financeira, e falta de apoio, as
quais podem tornar a gravidez num problema emocional, de saúde e mesmo potenciador de exclusão.
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identificação de necessidades. Millenium. 40 (2011)
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Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. Rio de Janeiro.
28:8 (2006) 443-45
CIÊNCIA & TÉCNICA
ENTRADA DO ARTIGO JULHO 2012
A VIVÊNCIA DA IMAGEM
CORPORAL NO PUERPÉRIO
BÁRBARA SOFIA DA SILVA CARDOSO FERNANDES
Estudante do 4º ano do Curso de Licenciatura em Enfermagem, na Escola Superior de Enfermagem do Porto
25
RESUMO
O nascimento de uma criança tem um grande impacto na vida de uma mulher, exigindo-lhe adaptações aos mais diversos níveis (biológico, físico,
adaptação ao papel maternal, social, vida profissional, vida do casal, etc). Não obstante, o olhar
abrangente pelos enfermeiros sobre as puérperas
torna-se essencial, devendo considerar-se não só
as suas dificuldades e experiências, mas também
os aspetos mais particulares destas, de forma a
conduzi-las para uma resolução do problema
mais efetiva.
ABSTRACT
The birth of a child has a great impact on a woman’s life, requiring adaptations at different levels
(biological, physical, adaptation to maternal role,
social, professional life, married life, etc). Nevertheless, the comprehensive look of nurses at the
postpartum woman is essential, and should consider not only their difficulties and experiences, but
also their most private aspects on this matter in
order to conduct them to a more effective resolution of the problem.
Keywords: Self-image; Puerperium
Palavras-Chave: Self-image; Puerpério.
NOVEMBRO 2014
CIÊNCIA & TÉCNICA
26
INTRODUÇÃO
O puerpério é uma fase que se inicia imediatamente após o parto, sendo sinónimo de
mudanças na mulher, as quais visam preparar o seu corpo e sistemas para o restabelecimento dos seus estados anteriores à gravidez (SALIM, N. R.; ARAÚJO, N. M.; GUALDA,
D. M. R., 2010).
Aquando do nascimento de uma criança,
a mulher vê-se perante novos papéis e novas responsabilidades às quais tem de dar
resposta, a par das imensas alterações físicas
que perceciona e sente e que simultaneamente dificultam a sua reorganização pessoal, relacional e social. Contudo, o acompanhamento das puérperas com este olhar holístico, atento e direcionado para si mesmas,
muitas vezes é protelado em detrimento das
necessidades emergentes do recém-nascido
e sobre o qual recaem todas as atenções
num período mais imediato.
As mulheres são assim como que negligenciadas no acompanhamento da sua
adaptação à imagem corporal, estando até
sujeitas a juízos de valor ou ideias pré-concebidas por parte dos profissionais de saúde
que adiam as suas preocupações com a recuperação física para mais tarde, salientando sempre a importância da amamentação e
dos cuidados ao recém-nascido.
Posto isto, torna-se importante alertar os
profissionais de saúde, nomeadamente, os
enfermeiros para a necessidade emergente
de efetivar este acompanhamento às recentes puérperas, pelo que se torna fulcral identificar os principais entraves apresentados
por estas mulheres durante a sua adaptação.
ração da imagem corporal influencia o restabelecimento das rotinas anteriores à gravidez
durante o puerpério, mais especificamente,
identificar quais os fatores associados à parte física da mulher que influenciam a vivência
do puerpério e identificar quais as estratégias
utilizadas pelas puérperas para lidarem com
as suas alterações físicas após o parto.
Objetivo
A finalidade desta revisão sistemática da
literatura é compreender de que forma a alte-
RESULTADOS
Após a leitura e análise dos artigos selecionados, cujos dados constam no quadro I,
METODOLOGIA
Com o intuito de orientar esta revisão sistemática da literatura, de forma a atingir os
objetivos estabelecidos para a mesma, formulou-se a seguinte questão: De que forma
as puérperas lidam com a sua imagem corporal no pós-parto?
De modo a responder a esta questão e
com recurso à base de dados EBSCO Host,
efetuou-se uma pesquisa utilizando os descritores “Image” e “Puerperium”, sendo os
mesmos em inglês, a fim de abranger o maior
número de artigos possível. Foram obtidos
um total de 20 artigos, os quais foram selecionados com base nos seguintes critérios
de inclusão: serem textos completos; serem
datados entre 2000 e 2011; apresentarem temas/títulos pertinentes em relação ao tema
em estudo.
Aplicados estes critérios, restaram 5 artigos, que após a leitura dos respetivos resumos, foram submetidos ao critério de exclusão – abordarem a problemática incluída na
questão orientadora -, tendo assim restado
apenas 4 artigos, sobre os quais versa esta
revisão.
CIÊNCIA & TÉCNICA
categorizaram-se os resultados obtidos nos
mesmos em quatro áreas distintas: 1) Corpo/
imagem de si mesmas; 2) Vivência da sexualidade; 3) Bem-estar, que engloba a autoestima, autoconfiança e afirmação como mãe/
mulher; 4) Mudança de comportamentos/
adoção de estratégias.
1) Corpo/imagem de si mesmas:
Relativamente à sua imagem corporal, as
mulheres experienciam uma insatisfação em
relação ao seu corpo no período pós-parto
menor, comparativamente com 6 meses depois deste ocorrer, em parte devido ao fato
de numa fase mais precoce verificarem mudanças corporais diárias, aliado à preocupação relativamente à sua recuperação perineal
(SALIM, N. R.; ARAÚJO, N. M.; GUALDA, D. M.
R., 2010; CARTER- EDWARDS, L.; [et al.], 2010;
RALLIS, S.; [et al.], 2007).
Transversal a todos os estudos, foi o fato
de as mulheres categorizarem a imagem corporal em duas vertentes, isto é, em imagem
corporal ideal, cujos corpos são mais esguios
e magros, mais semelhantes à sua imagem
pré-gravídica e, em imagem corporal materna, sendo aqui admitidos os formatos corporais mais “largos” e mais próximos da sua
imagem atual.
Deste modo, pode-se afirmar que as
puérperas consideram a sua imagem como
um indicador da sua capacidade e qualidade para desempenharem o papel maternal
(CARTER- EDWARDS, L.; [et al.], 2010; RALLIS,
S.; [et al.], 2007).
2) Vivência da sexualidade:
Durante o puerpério, a vivência da sexualidade é um dos itens que sofre alterações. Uma das razões que está na base deste receio é o de as puérperas não estarem
à vontade com as mudanças no seu corpo,
sobretudo no que toca à produção de leite,
ao aumento de peso e por terem efetuado
episiotomias receando que a relação prejudicasse ou atrasasse a recuperação perineal
(SALIM, N. R.; ARAÚJO, N. M.; GUALDA, D. M.
R., 2010; RALLIS, S.; [et al.], 2007).
Além disso o receio da retoma da vida
sexual verificado em diversas puérperas (SALIM, N. R.; ARAÚJO, N. M.; GUALDA, D. M. R.,
2010; RALLIS, S.; [et al.], 2007) deve-se sobretudo ao medo da insatisfação do parceiro, à
baixa motivação para retomar a sexualidade
e também por indesejarem uma nova gravidez (SALIM, N. R.; ARAÚJO, N. M.; GUALDA,
D. M. R., 2010; RALLIS, S.; [et al.], 2007).
3) Bem-estar (inclui a autoestima, autoconfiança e afirmação como mãe/mulher):
De acordo com a análise efetuada, no
período pós-parto, as mulheres tendem a
sentir-se menos atraentes, o que se reflete
na sua autoestima e autoconfiança (SALIM,
N. R.; ARAÚJO, N. M.; GUALDA, D. M. R., 2010;
RALLIS, S.; [et al.], 2007), em parte devido ao
facto de as puérperas compararem a sua
imagem com a de outras mulheres que nem
tinham vivenciado a experiência de serem
mães (nomeadamente, com figuras públicas)
(RALLIS, S.; [et al.], 2007).
Um outro aspeto relevante é o de as mulheres afro-americanas apresentarem maiores níveis de autoestima e de bem-estar com
a sua imagem após o parto do que as mulheres caucasianas, pois culturalmente associam
corpos maiores a uma melhor capacidade
para alimentarem e cuidarem dos seus bebés (CARTER- EDWARDS, L.; [et al.], 2010), o
que influencia a forma como se adaptam a
este novo papel, salientando mais uma vez a
importância da cultura na adaptação a novas
27
NOVEMBRO 2014
CIÊNCIA & TÉCNICA
28
situações e condições de vida.
Não obstante, os autores dos estudos
consultados nesta revisão sistemática da literatura constataram que as puérperas não
eram capazes de ver em si qualidades que
pudessem continuar a satisfazer os companheiros, o que consequentemente gerava
uma corrente de insegurança na mulher que
afetava diretamente o reinício da atividade
sexual, tendo repercussões para a relação
entre o casal (SALIM, N. R.; ARAÚJO, N. M.;
GUALDA, D. M. R., 2010; RALLIS, S.; [et al.],
2007). Além disso, as puérperas afirmaram
ainda ter vergonha da sua imagem perante a
sociedade, pois quanto mais tempo passava
desde o parto, consideravam que mais difícil seria relacionar a sua nova imagem com
uma gravidez recente, sendo que o esperado
pela sociedade é que as mulheres recuperem o seu peso inicial rapidamente, surgindo este como um fator condicionador para
a recuperação do seu bem-estar (SALIM, N.
R.; ARAÚJO, N. M.; GUALDA, D. M. R., 2010;
CARTER- EDWARDS, L.; [et al.], 2010; RALLIS,
S.; [et al.], 2007).
4) Mudança de comportamentos/adoção
de estratégias:
No que respeita à mudança de comportamentos, um dos artigos analisados constatou
que, algumas mulheres referiam estar mais
calmas e menos egoístas após o parto comparativamente ao período anterior à gravidez
(SALIM, N. R.; ARAÚJO, N. M.; GUALDA, D. M.
R., 2010), pois colocavam as necessidades do
bebé em primeiro lugar, em detrimento das
suas, além de se sentirem mais à vontade
para partilharem os carinhos e atenção dos
companheiros com os seus filhos.
Contudo, o facto de não se sentirem
bem com a sua imagem corporal atual, leva-
va a que as puérperas adotassem novas estratégias para lidarem com esta situação, nomeadamente, não ficarem despidas em frente aos companheiros; fugirem dos mesmos
para evitar o contato e a exposição perante
estes (SALIM, N. R.; ARAÚJO, N. M.; GUALDA,
D. M. R., 2010; RALLIS, S.; [et al.], 2007); esconderem mais o corpo em roupas mais largas e menos ousadas, ficando desconfortáveis aquando da presença de outras mulheres (SALIM, N. R.; ARAÚJO, N. M.; GUALDA,
D. M. R., 2010). Por este conjunto de fatores,
uma parte significativa das mulheres, referia
ainda adotar padrões de exercício e dietas
promotoras da recuperação da forma anterior ao parto (KIMBERLEY, A. G.; GAMMAGE,
K. L., 2010; RALLIS, S.; [et al.], 2007).
DISCUSSÃO
Imediatamente após o parto, a mulher
sente a necessidade de reorganizar o seu
dia-a-dia tanto a nível social, como profissional, íntimo e também a nível pessoal. Por
todo este conjunto de fatores, devemos ter
em consideração os aspetos influenciadores
da forma como a mulher vive o puerpério,
sendo a cultura e o suporte emocional adequado (companheiro, família, amigos, etc), os
fatores mais decisivos para que a mulher se
adapte tanto ao papel maternal, como seja
capaz de solucionar e ultrapassar os seus
medos, inseguranças e dúvidas.
Assim, após a realização desta revisão sistemática da literatura, podemos perceber que
a forma como uma mulher se perceciona e se
sente influencia positiva ou negativamente a
sua adaptação ao papel maternal e, consequentemente o seu restabelecimento anterior
ao período da gravidez, emergindo assim a
necessidade de intervirmos neste domínio.
CIÊNCIA & TÉCNICA
Quadro I – Desenho dos estudos selecionados
Nome do Estudo
• Body and sexuality:
Puerperas’ experience
• Body Image and Body
Satisfaction Differ by
Race in Overweight
Postpartum Mothers
• Health versus appearance messages,
self-monitoring and
pregnant
women’s
intentions to exercise
postpartum
Ano
Autores
Objetivos
2010
Natália Rejane
Salim, Natalúcia
Matos Araújo,
Dulce Maria
Rosa Gualda
- Determinar como
as mulheres lidam
com a sexualidade e
as alterações corporais durante o puerpério.
2010
Lori CarterEdwards, Lori A.
Bastian, Jessica
Revels, Holiday
Durham, Yuliya
Lokhnygina,
M. Ahinee
Amamoo, Truls
Ostbye
- Determinar se existem diferenças raciais entre a imagem
corporal e a satisfação com o corpo entre obesas afro-americanas e mulheres
caucasianas aos 6
meses após o parto.
Anca Gaston,
Kimberley L.
Gammage
- Comparar a eficiência de uma mensagem promotora da
saúde versus promotora da aparência em
mulheres durante o
período do pós-parto.
2010
D. Predictors of Body Image During the First
Year Postpartum: a
Prospective Study
Sofia Rallis,
Helen Skouteris,
Eleanor H.
Wertheim, Susan
J. Paxton
2007
- Explorar as mudanças na imagem corporal à medida que
as mulheres vivenciam o primeiro ano
após o parto;
- Explorar os fatores
que às 6 semanas e
aos 6 meses de pós-parto predizem a
insatisfação corporal
no final do primeiro
ano após o parto.
Conclusões – Implicações para a prática
Atualmente ainda se verifica que os cuidados de Enfermagem após o parto, ainda
estão muito centralizados nos cuidados ao
recém-nascido, havendo um acompanhamento insuficiente das puérperas nesta fase.
Metodologia
(Instrumentos
utilizados)
Conclusões
Qualitativo
(Entrevista e
Observação)
As conceções que as puérperas têm
sobre os seus corpos relacionam-se
com a ideologia do corpo biológico,
pois sentem-se desconfortáveis nos
seus corpos o que afeta a sua autoestima, autoimagem, sexualidade
e o relacionamento com os seus
companheiros. O puerpério envolve inúmeras transformações, sendo
necessário a valorização por parte
dos profissionais de saúde destes
aspetos durante este período.
Estudo
qualitativo e
quantitativo
(Questionários)
Existem diferenças raciais no puerpério relativamente ao peso, às
imagens ideais e à satisfação com
o seu corpo. Cabe aos profissionais
de saúde emitir mensagens que tenham em consideração estas perceções e fatores racialmente distintos,
aquando do desenho de programas
de perda de peso para mães obesas.
Quantitativo
(Questionários)
O conteúdo das mensagens que
apelam ao exercício no puerpério é
irrelevante, pois as mesmas podem
ser entendidas de forma semelhante, podem não despertar o interesse
para a sua leitura ou podem até ter
ambas o resultado positivo de incentivo ao exercício.
Quantitativo
(Questionários)
As puérperas experienciam maiores níveis de insatisfação com o
seu corpo no pós-parto do que em
relação ao período pré-gravídico e
no final da gravidez, sendo o período mais crítico os 6 meses após o
parto. As imagens corporais ideais,
mantêm-se estáveis tanto às 6 semanas como aos 6 meses após o
parto.
A falta de informação sobre o processo
de recuperação que decorrerá no puerpério,
bem como a desvalorização daquilo que as
mulheres sentem/verbalizam em relação à
sua imagem corporal, tornam-se nos principais obstáculos à procura de ajuda junto dos
29
NOVEMBRO 2014
CIÊNCIA & TÉCNICA
30
profissionais de saúde, dificultando a vivência desta experiência.
Neste sentido, é incontornável a necessidade de os enfermeiros que prestam cuidados às puérperas adotarem uma postura
voltada para a identificação de aspetos práticos que sejam passíveis de influenciar a recuperação da imagem corporal anterior ao
parto, sejam eles fatores sociais, económicos,
educacionais, etc, para que possam precocemente auxiliar e orientar as puérperas para a
adoção de estratégias que as ajudem a solucionar estes problemas.
Não obstante, seria de extrema pertinência construir/organizar serviços de acompanhamento às puérperas após a alta hospitalar, para que assim se garantisse a continuidade de cuidados e o acompanhamento
destas mulheres, criando-se assim mais
oportunidades de intervenção e de promoção da saúde.
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SALIM, Natália Rejane.; ARAÚJO, Natalúcia Matos;
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CIÊNCIA & TÉCNICA
ENTRADA DO ARTIGO JULHO 2012
INCLUSÃO DA TÉCNICA DA
RELACTAÇÃO EM NEONATOLOGIA
Revisão sistemática da literatura
BRUNO PINTO
Enfermeiro. Centro Hospitalar do Alto Ave, EPE
MÉLANIE MARTINS
Enfermeira. Centro Hospitalar do Alto Ave, EPE
FERNANDO FERREIRA
Enfermeiro. Centro Hospitalar do Alto Ave, EPE
SÍLVIA SALAZAR
Enfermeira. Hospital Privado da Trofa
MARIA LUZ
Enfermeira
RESUMO
A técnica da relactação é um processo em que
há um estímulo da glândula mamária para restabelecimento da produção de leite. O presente
trabalho tem como objectivo identificar a evidência empírica produzida acerca da inclusão
da técnica da relactação nas práticas clínicas dos
Enfermeiros de Neonatologia. Foi realizada uma
revisão sistemática da literatura, tendo por base a
pesquisa em motores de busca, nomeadamente
a Biblioteca do Conhecimento Online (b-on) e a
Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), onde resultou
a análise de dez artigos. Os artigos analisados
evidenciam que a técnica da relactação é promotora do sucesso no aleitamento materno e apesar
dos entraves, tanto na amamentação como na
relactação, o apoio dos profissionais de saúde e
da família são fundamentais para que estas sejam
bem sucedidas. Tal contribui para uma melhoria
significativa da relação mãe/filho.
Palavras-Chave: Enfermagem Neonatal. Aleitamento Materno. Transtornos da Lactação
ABSTRACT
Relactation technique is a process in which there
is a stimulus of the mammary gland for the reinstatement of milk production. This work aims to
identify the empirical evidence produced about
the inclusion of relactation technique in clinical practice of Neonatal Nurses. There has
been a systematic literature review, based on a
research into search engines, such as Biblioteca
do Conhecimento Online (b-on) and the Virtual
Health Library (VHL), which led to the analysis of ten articles. The articles analyzed show
that the relactation technique promotes the success in breastfeeding and despite the barriers in
both breastfeeding and in relactation, support
from health professionals and family are essential for them to be successful. That contributes
to a significant improvement in the mother / son
relationship.
Keywords: Neonatalogy Nursing. Breastfeeding.
Lactation Disorders
31
NOVEMBRO 2014
CIÊNCIA & TÉCNICA
32
INTRODUÇÃO
Os recém-nascidos admitidos numa unidade de Neonatologia, pelas suas particularidades, têm necessidades específicas que
requerem a intervenção de uma equipa multidisciplinar com formação e competências
distintas. Situações como a prematuridade, o
baixo peso, a infecção, entre outras, são problemáticas com as quais os enfermeiros de
Neonatologia se deparam diariamente.
A dificuldade em estabelecer ou manter o
processo de aleitamento materno é um risco
comum a todos os neonatos internados nestas unidades especializadas. Cabe à equipa
de enfermagem, em particular, a promoção e
o apoio ao aleitamento materno.
O aleitamento materno num período inicial exclusivo, até aos seis meses de vida,
traz inúmeras vantagens, tanto a curto como
a longo prazo, reconhecidas pela própria
OMS. Estima-se que a prática da amamentação poupa a vida a 6 milhões de crianças
por ano, sendo responsável pela redução da
incidência de infecções respiratórias agudas
e distúrbios gastrointestinais (OMS, 1992).
No entanto, no decurso da nossa prática
clínica, são inúmeras as vezes com que nos
deparamos com obstáculos à manutenção
do aleitamento materno em recém-nascidos
internados na Neonatologia, existindo mesmo casos em que essas dificuldades levam
ao fim do mesmo. Face a esta realidade, tentamos em alguns casos recorrer à utilização
da técnica da relactação para ultrapassar
essa dificuldade. Esta técnica pode ser definida como “o processo pelo qual a glândula mamária é estimulada para produzir leite
numa mulher que esteve grávida e que, por
várias razões, não tem ou deixou de ter capacidade de produzir leite suficiente para amamentar o seu filho. Este processo não depende
do facto da mulher ter tido uma gravidez de
termo, nem de ter amamentado ou não filhos
anteriores” (Bordalo, p.II, 2008).
Enquanto Enfermeiros de Neonatologia,
verificamos que a implementação desta técnica, bem como a sua manutenção, coloca
alguns obstáculos vivenciados quer pelas
mães, quer pelos enfermeiros das unidades.
Perante este facto, consideramos pertinente
realizar uma pesquisa sistemática e elaborada do tema em questão. Assim, o presente
trabalho tem como principal objectivo identificar a evidência empírica produzida sobre
a inclusão da técnica da relactação nas práticas clínicas dos Enfermeiros da Neonatologia. Para linha condutora da revisão questionamos: Os Enfermeiros da Neonatologia
incluem, nas suas práticas clínicas, o treino
da técnica da relactação aos pais do recém-nascido?
METODOLOGIA
No sentido de atingir o objectivo anteriormente citado, considera-se pertinente
a revisão sistemática da literatura, uma vez
que se pretende “aprofundar certos aspectos
do tema de estudo e fazer o ponto da situação
sobre o seu contributo para o avanço dos conhecimentos” (Fortin, p.109, 2009).
Esta abordagem permite um acesso fácil
e rápido ao conhecimento científico actual
sobre o tema, de forma a sintetizar resultados de estudos realizados em diferentes
contextos e espaços temporais. Proporciona
também uma análise crítica e reflexiva sobre
o tema em estudo, com o intuito de sugerir a realização de investigações posteriores
(Mendes et al., 2008).
Nesta revisão foram utilizados como motores de busca a Biblioteca do Conhecimento
CIÊNCIA & TÉCNICA
Online (b-on) e a Biblioteca Virtual em Saúde
(BVS), entre 1 de Dezembro de 2010 e 31 de
Março de 2011. Na pesquisa foram consultadas diferentes bases de dados disponibilizadas automaticamente, num total de quarenta
e nove artigos, dos quais dois vão de encontro à problemática em análise e oito evidenciam os factores que facilitam ou dificultam
o aleitamento materno. Os restantes artigos
foram excluídos tendo por base os critérios de
inclusão que serão evidenciados na quadro 1.
Quadro 1 – Critérios de inclusão dos estudos
a seleccionar
Critérios de inclusão
Data
2001 a 2011
Praticantes
Enfermeiros de Neonatologia
Intervenção
Estudar a Inclusão da técnica da
Relactação pelos Enfermeiros de
Neonatologia
Artigos
Completos de resultados de
investigação
Contexto do
estudo
Estudos realizados em contexto de
Enfermagem Neonatal
Desenho do
estudo
Abordagem qualitativa ou
quantitativa ou triangulação
Após a exposição da metodologia na qual
baseamos a nossa revisão bibliográfica procedemos de seguida à apresentação e análise crítica dos dados
APRESENTAÇÃO E ANÁLISE CRÍTICA
DOS DADOS
No processo de selecção dos artigos,
confrontamo-nos com um número reduzido
de publicações recentes relacionadas com
a temática em estudo. Consideramos assim
pertinente a introdução de artigos que evi-
denciam alguns factores positivos ou negativos no aleitamento materno, dado que a
relactação está implicitamente associada à
amamentação/aleitamento materno. Como
tal, a amostra foi classificada em duas categorias: artigos relacionados com a relactação
e artigos relacionados com o aleitamento
materno. Deste modo, a análise foi realizada
seguindo esta mesma orientação, demonstrada na quadro 2.
Na primeira categoria – artigos relacionados com a relactação – Fuenmayor et al.
(2004) avalia a resposta da aplicação da técnica da relactação em mães que abandonaram a amamentação. Segundo este autor,
40% das mães produziram leite ao sexto dia
após iniciada a relactação, constatando ainda
uma melhoria na relação psicoafectiva mãe/
filho (12% antes e 80,6% após o inicio da técnica da relactação). Por sua vez, verificou-se
também um aumento significativo dos parâmetros antropométricos dos lactentes três
meses após o início da relactação.
No artigo de Su Jin Cho et al. (2010), que
teve por base uma análise retrospectiva de
135 mães, das quais 84 foram incluídas na
análise final, foram evidenciados como factores associados ao sucesso na relactação: o
acompanhamento dos profissionais de saúde, o uso de galactogogos e um suporte familiar adequado. Da amostra final, 75% tiveram sucesso na transição para o aleitamento
materno exclusivo com a relactação. Entre
os factores apontados pelas mães como razão para o abandono desta prática (25% da
amostra final), estavam os seguintes: frustração gerada pela produção insuficiente
de leite (43%); fadiga psicológica por amamentar (14,3%); ganho ponderal insatisfatório (14,3%); lesões mamilares (14,3%); forte
33
CIÊNCIA & TÉCNICA
Quadro 2 – Síntese das evidências encontradas
Artigos relacionados com a Relactação
NOVEMBRO 2014
Categorias
Artigos relacionados com o Aleitamento Materno
34
Referência
Bibliográfica
Participantes/
Amostra
FUENMAYOR, V. J. G. [et
al.] – Relactancia metodo
exitoso para reinducir
el amamantamiento en
madres que abandonaron la lactancia natural.
Anales Venezuelanos
de Nutrición, Caracas
(Janeiro 2004). Vol.17,
nº1, p.12-17. ISSN 07980752.
50 mães e filhos com
idades 2-5 meses,
hospitalizados no
Serviço de emergência de Pediatria do
Hospital universitário
de Maracaibo desde
Outubro 2001 até
Agosto 2002.
CHO, Su J. [et al.] – Factors Related to Success
in Relactacion. Journal
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Korean Society Neona- de 2004 a Abril de
tology, Seul (Novembro 2007.
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BICALHO-MANCINI,
Paula G.; VELÁSQUEZ-MELÉNDEZ, Gustavo
– Aleitamento materno
exclusivo na alta de
recém-nascidos internados em berçário de alto
risco e os factores associados a essa prática.
Jornal de Pediatria, Rio
de Janeiro (2004). Vol.80,
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VIERA, Claudia S. – Risco para amamentação
ineficaz: um diagnóstico
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Brasileira de Enfermagem, Brasília (Nov/
Dez 2004). Vol.57, nº6,
p.712-714.
495 Crianças, 250
(50,5%) do período
pré-HAC (Hospital
Amigo da Criança) e
245 (49,5%) do período pós-HAC da Maternidade Odete Valadares, Minas Gerais,
entre Maio de 1998 e
Maio de 2000.
Amostra 35 mães que
tiveram os seus filhos
prematuros hospitalizados na Unidade de
Cuidados Intensivos
Neonatais (UCIN).
Metodologia
Objectivos
Resultados Major
Estudo
prospectivo,
descritivo e
transversal.
Avaliar a resposta
da aplicação da
técnica da relactação como método
favorecedor para
induzir a produção
de leite em mães
que abandonaram a
amamentação.
A relactação favoreceu
o estado nutricional e a
relação psicoafectiva entre
mãe/filho.
Analise
retrospectiva
de registos
médicos e
inquérito
telefónico
a mães que
visitaram a
clínica de
relactação.
Avaliar os factores
relacionados com
o sucesso na relactação.
O sucesso na relactação
está associado ao acompanhamento de profissionais
de saúde, uso de galactogogos e suporte familiar.
A implementação HAC,
os factores biológicos e
maternos, além da prestação de serviços de saúde
Avaliar a prevalênorientada para a promoção
cia e o padrão de
do aleitamento materno,
aleitamento mapodem ser importantes
terno num grupo
para o sucesso do aleitade recém-nascidos mento materno em recéminternados em ber- -nascidos (RN) de alto
Estudo
çário de alto risco
risco.
quantitativo.
no momento da
A alimentação por sonda,
sua alta hospitalar
a relactação, o baixo peso
e analisar os poten- ao nascimento, a idade
ciais factores que
gestacional menor que
interferem na prá37 semanas e o índice de
tica do aleitamento Apgar ao 1º minuto igual
materno exclusivo.
ou inferior a 7 pontos,
mostraram ser factores
que influenciaram negativamente o aleitamento
materno exclusivo.
Encontrou-se o diagApresentar o
nóstico de risco para
diagnóstico de
amamentação ineficaz em
enfermagem risco
100% da amostra, tendo
para amamentação como factores de risco:
Estudo de
ineficaz em mães
prematuridade, oportucaso
com filho prematuro nidade insuficiente para
Entrevistas e hospitalizados numa a amamentação ao seio,
exames físi- UCIN, com aplicadevido ao recém-nascido
cos durante ção do processo
estar hospitalizado, défice
4 meses.
de enfermagem da de conhecimento quanto
North American
à manutenção da lactação,
Nursing Diagnoses medo materno, sucção à
Association – NAN- mama inconstante devido
DA (1999).
à separação, alimentação
artificial de RN.
CIÊNCIA & TÉCNICA
Artigos relacionados com o Aleitamento Materno
JÚNIOR, Walter S.; MARTINEZ, Francisco E. - Impacto de uma intervenção pró-aleitamento nas 100 recém-nascidos
taxas de amamentação
pré-termo e suas
de recém-nascidos de
mães.
muito baixo peso. Jornal
de Pediatria, Rio de
Janeiro (Nov. 2007). p.
541-546.
SILVA, Rosangela V.;
SILVA, Isília A. – A vivência de mães de recém-nascidos prematuros no
processo de lactação e
amamentação. Revista
de Enfermagem, Rio
de Janeiro, Escola Anna
Nery (2009). Vol.13, nº1,
p.108-115.
MIKIEL-KOSTRYA, Krystyra; MAZUR, Joanna;
WOJDAN-GODEK, Elzbieta – Factors affecting
exclusive breastfeeding
in Poland: cross-sectional survey of populationbased samples. Institute
of Mother and Child,
Varsóvia (2005). p. 52-59.
11 Mulheres, que
deram à luz bebés
prematuros no Hospital Universitário da
Universidade de São
Paulo.
1º Inquérito: 11973
pares Mãe – bebé de
427 maternidades em
1995
2º Inquérito: 898
crianças de 14115
escolhidas ao acaso
em 1997.
LAMONTAGNE, Caroline;
HAMELIN, Anne-Marie;
ST-PIERRE, Monik – The
Breastfeeding experience of women with
major difficulties who
86 mulheres no ano
use the services of a
de 2006.
breastfeeding experience clinic: a descriptive
study. International
Breastfeeding Journal,
Quebec (2008). Vol.3,
nº17, p. 13.
Estudo prospectivo e sequencial, por
ordem de
nascimento
com divisão
em grupo
experimental
e grupo controle.
Avaliar o impacto
de um modelo de
incentivo ao aleitamento materno
baseado no apoio e
orientação de mães
de recém-nascidos
pré-termo nas taxas
de aleitamento materno nos primeiros
6 meses após a alta
hospitalar.
Atitudes simples de apoio
à mãe durante internamento e o seguimento no
ambulatório influenciaram
de forma muito positiva
as taxas de aleitamento
materno.
Estudo qualitativo com
entrevista
semi-estruturada.
Compreender a
vivência da amamentação de mães
de recém-nascidos
prematuros durante
o internamento dos
seus filhos e descrever a performance
de amamentação,
condições das suas
mamas e lactação,
por ocasião da alta
dos filhos.
Estudo
transversal.
Os factores mais significativos nos cuidados hospitalares foram: cesariana,
início da amamentação
após as 2h, falta de conIdentificar os factacto pele a pele, uso de
tores que afectam
chupetas, separação mais
o aleitamento made 1h/24h e problemas de
terno exclusivo na
saúde do RN.
maternidade e duDepois da alta hospitalar:
rante os primeiros 6
uso de chupetas, relutância
meses de vida.
das mães no aleitamento
exclusivamente materno
superior a 4 meses, baixo
nível de escolaridade dos
pais.
A forma como as mães
percepcionam o estado
clínico dos seus filhos é
determinante para o sucesso da amamentação.
A alimentação por sonda, a
separação física mãe/bebé
durante o internamento,
bem como, a falta de
apoio no domicílio foram
considerados factores que
dificultam a amamentação.
Dor no mamilo/seio, baixa
produção de leite e dificulEstudo
dades na técnica da amaDescrever a expedescritivo
mentação foram os três
riência de amamencom quesproblemas mais relevantes
tação por parte das
tionários por
identificados.
mulheres que recortelefone e
O suporte da família, de
rem a uma clínica
entrevistas
amigos e dos profissionais
de amamentação no
semi-estrude saúde foram os factores
Quebec.
turadas.
que mais influenciaram
positivamente o aleitamento materno.
35
CIÊNCIA & TÉCNICA
NOVEMBRO 2014
As intervenções de enfermagem nas consultas
SILVA, Andréa V. [et
Pesquisa expré-natais e pós-parto
al.] – Fatores de risco
ploratória e
são fundamentais para a
para o desmame pre8 Puérperas acima de descritiva de Identificar e analisar
promoção do aleitamento
coce na perspectiva das 18 anos, atendidas
abordagem factores de risco
materno. Porém, muitos
puérperas-resultados e
pelo Sistema Único de qualitativa,
para o desmame
factores influenciam para
discussão. Revista do
Saúde (SUS), em São
com recurso precoce na perspeco desmame precoce, tais
Instituto de Ciências da Paulo.
a entrevista tiva das puérperas.
como: retorno ao trabaSaúde, São Paulo (2009).
semi-estrulho, desinteresse, mitos,
Vol.27, nº3, p. 220-225.
turada.
dor nas mamas e falta de
orientação no pré-natal.
36
VIEIRA, Graciete O.[et
al.] – Fatores preditivos
da interrupção do aleitamento materno exclusivo no primeiro mês
de lactação. Jornal de
Pediatria, Rio de Janeiro (2010). Vol.86, nº5,
p.441-444.
1.309 duplas mães-bebés, residentes no
município de Feira de Estudo de
Santana,
coorte.
ao longo de 12 meses,
desde 2004.
recusa do bebé (4,8%); engravidar (4,8%); e
entraves familiares (4,8%).
De entre outros estudos do final do século XX, um destacou-se pela relevância dos
seus resultados em relação à categoria em
análise. No estudo de Lakhkar et al. (1999),
realizado com vinte mães lactantes de bebés
com idades compreendidas entre um mês e
um ano que deixaram de amamentar (num
período de duas semanas a quatro meses)
verificou-se que as causas deste fracasso foram: 40% das mães deixaram de produzir leite, 30% apresentavam lesões mamilares, 25%
eram mães que já trabalhavam e 5% estavam
relacionadas com a educação das mães.
Constatou-se também que lactentes alimentados por biberão apresentavam maior dificuldade no processo de amamentação. No
final da primeira semana de implementação
do processo de relactação, 60% das mães
começaram a produzir leite, resultados mais
significativos quando comparados com os
Avaliar a incidência
e os factores de
risco para mastite
lactacional e outros
desfechos em curto e médio prazo
relacionados com a
amamentação.
No primeiro mês de vida
do lactente, dentre todas
as variáveis testadas, quatro mantiveram-se associadas à interrupção muito
precoce do aleitamento
materno exclusivo: estabelecimento de horários fixos
para amamentar, ausência
de experiência prévia com
amamentação, uso de chupeta e presença de fissura
mamilar.
40% do estudo de Fuenmayor et al. (2004).
Também na revisão sistemática da literatura de Mariano (2011), tal como no estudo
de Lakhkar et al. (1999), o acompanhamento
por parte dos profissionais de saúde para a
motivação e orientação das mães no processo de relactação é um factor determinante
para o sucesso do mesmo, facto esse, que
ficou evidenciado nos dois artigos que constituíram a primeira categoria de análise.
Na segunda categoria – artigos relacionados com o aleitamento materno – os estudos de Bicalho-Mancini (2004), Cláudia Viera
(2004), Júnior e Martinez (2007) e Rosangela
Silva (2009) tiveram como população-alvo
RN considerados de alto risco, que em algum momento estiveram internados numa
unidade especializada. Aspectos biológicos
(idade gestacional maior que trinta e sete
semanas, peso ao nascer superior a dois mil
e quinhentos gramas e RN com menos de
três diagnósticos de doença durante o inter-
CIÊNCIA & TÉCNICA
namento) e maternos (número de consultas
pré-natais igual ou superior a seis consultas),
bem como, o início precoce (antes dez dias)
de sucção à mama e a implementação do
HAC são referenciados por Bicalho-Mancini
(2004) como condicionantes positivas para o
sucesso da amamentação. O apoio por parte
dos profissionais de saúde (Bicalho-Mancini,
2004 e Júnior e Martinez, 2007) e a evolução
clínica dos RN (Rosangela Silva, 2009) foram
vistas como determinantes para alcançar o
sucesso nesta prática.
Por outro lado, a alimentação por sonda, a
translactação, a prematuridade, a separação
forçada mãe/filho, o défice de conhecimentos relativos à amamentação, a insegurança
materna e a alimentação artificial do RN, foram descritos como entraves à amamentação dos RN de alto risco.
Ainda inseridos na segunda categoria,
nos demais artigos analisados relativos a RN
sem factores de risco associados, verificamos
que há factores negativos e positivos relacionados com uma boa prática do aleitamento
materno e que vão de encontro aos artigos
anteriormente explorados. Posto isto, Mikiel-Kostrya, et al. (2005) identificaram a separação mãe/filho, a cesariana, o início da amamentação após duas horas do nascimento, a
relutância das mães no aleitamento exclusivamente materno superior a quatro meses e
o baixo nível de escolaridade dos pais, como
condicionantes negativas. A baixa produção
de leite e as dificuldades na técnica da amamentação são referidos por Lamontagne, et
al. (2008) também como agentes dificultadores. Silva, et al. (2009) identificaram o retorno ao trabalho, o desinteresse por parte
das mães, os mitos e a falta de orientação no
período pré-natal como condicionantes que
influenciam o desmame precoce. Por sua vez,
Vieira, et al. (2010) referenciaram que no primeiro mês de vida do lactente, a ausência
de experiência prévia com a amamentação
e o estabelecimento de horários fixos para
amamentar são variáveis desfavorecedoras.
Como factores negativos comuns destacaram-se: a dor nas mamas, referidos por Lamontagne, et al. (2008), Silva, et al. (2009) e
Vieira, et al. (2010), e o uso de chupeta, evidenciados por Mikiel-Kostrya, et al. (2005) e
Vieira, et al. (2010).
Em contrapartida, destes quatro estudos
relacionados com RN sem factores de risco
associados, apenas dois, Lamontagne et al.
(2008) e Silva et al. (2009), salientaram, como
variáveis promotoras do sucesso na amamentação, o apoio e acompanhamento dos
profissionais de saúde no período pré e pós-natal, bem como o suporte familiar adequado.
Em algumas revisões bibliográficas encontradas, podemos destacar os trabalhos
de Gaíva et al. (2006) e de Nascimento et al.
(2004) já que reafirmam o papel preponderante dos enfermeiros no apoio às mães para
o aleitamento materno. Para Nascimento et
al. (p.163, 2004) “Amamentar prematuros
ainda é um desafio, mas é factível desde que
haja apoio e suporte apropriados, principalmente pelos profissionais de saúde. As mães
de prematuros necessitam de mais informações sobre a importância da amamentação
para que possam tomar decisões sobre a nutrição dos seus filhos”, tal como, foi referido
por Bicalho-Mancini (2004) e Júnior e Martinez (2007). Gaíva et al. (p. 260, 2006) reforça
que “o êxito da amamentação está na dependência do preparo técnico, das emoções da
mãe, e do comportamento das pessoas que a
cercam” e “é fundamental o treinamento adequado dos profissionais e agentes de saúde
37
NOVEMBRO 2014
CIÊNCIA & TÉCNICA
38
que darão apoio/suporte às mães que estão
amamentando para o manejo apropriado do
aleitamento materno”.
No sentido de contrariar a tendência referida por Lawrence e Lawrence (2005), citado
por Bordalo (p.79, 2008), em que os “organismos mundiais de vigilância de lactação afirmam que 95% das mães estão aptas a amamentar. Sendo assim, haveria uma pequena
porção de cinco por cento em que a amamentação podia falhar. No entanto, é conhecido
que nos países desenvolvidos a percentagem
de fracasso é muito superior em mães que desejam amamentar”, a relactação assume um
papel preponderante no restabelecimento
do aleitamento materno.
Tendo por base os pressupostos anteriores, é sugerida por vários autores a melhoria
da actuação e do acompanhamento da equipa de enfermagem no período pré e pós-natal, uma vez que este parece ser fulcral
para o sucesso, tanto da relactação, como da
amamentação.
A frustração provocada pela reduzida
produção de leite e o cansaço físico e psicológico, assim como as dificuldades na implementação das técnicas (de relactação e
de amamentação), são os principais entraves
sentidos ao longo da nossa prática clínica,
que vêm também de encontro ao que foi
descrito pelos vários autores dos artigos que
constituíram a nossa amostra.
CONCLUSÃO
Após uma análise global e sistematizada,
quer dos artigos que constituíram a amostra,
quer do material que auxiliou na discussão de
dados, pudemos constatar que os enfermeiros/profissionais de saúde desempenham
um papel fundamental para ultrapassar as
dificuldades no processo de relactação e
amamentação. Compete aos profissionais de
saúde apoiar as mães que pretendem levar a
cabo este processo durante o internamento
hospitalar, no domicílio e nas consultas de
seguimento de saúde infantil, munidos de
todos os conhecimentos teórico-práticos associados a esta técnica.
Não obstante, as dificuldades encontradas no processo de relactação, tanto pelas
mães, como pelos profissionais de saúde,
não diferem dos entraves apontadas pelos
autores que se focaram na implementação
da amamentação natural.
Apesar do reduzido número de artigos
directamente relacionados com a questão
orientadora, concluímos que o processo de
relactação melhora substancialmente a relação mãe/filho, com uma taxa de sucesso
significativa no restabelecimento da amamentação. Como tal, as vantagens alcançadas com a implementação desta técnica são
evidentes, não sendo tão claro nos artigos
analisados, se os Enfermeiros de Neonatologia incluem nas suas práticas clínicas, o
treino da técnica da relactação aos pais do
recém-nascido.
O desenvolvimento deste trabalho teve
um forte impacto na nossa actuação como
profissionais de enfermagem de Neonatologia. A consciencialização das dificuldades
sentidas pelas mães de recém-nascidos contribuiu para a melhoria da nossa prestação
de cuidados, visto que nos permitiu antecipar alguns desses obstáculos e atenuar o seu
impacto.
Por fim, dado o período de tempo limitado para pesquisa (quatro meses), o acesso a
bases de dados gratuitas em quatro idiomas
e a reduzida literatura actualizada disponível
(inferiores a onze anos), parece pertinente a
CIÊNCIA & TÉCNICA
realização de investigação nesta área com
critérios de inclusão mais abrangentes e que
procure demonstrar se os Enfermeiros de
Neonatologia incluem esta técnica nos seus
cuidados.
MENDES, Karina D. S. [et al..] – Revisão integrativa: método de pesquisa para a incorporação de evidências
na saúde e na enfermagem. Texto & Contexto – Enfermagem, Florianópolis (Oct./Dec. 2008). Vol.17, nº4,
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CLOHERTY, John P.; EICHENWALD, Eric C.; STARK, Ann
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Guanabara Koogan, 2005. p.120-125. ISBN 85-2771030-7.
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na UTI Neonatal: Assistência ao Recém-nascido de
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World Health Organization. Indicators for assessing
breastfeeding practices. Update. Programme Control
Diarrhoeal Dis 1992. Vol.10, p.1-4.
World Health Organization/UNICEF. Proteção, promoção e apoio ao aleitamento materno: o papel
especial dos serviços de saúde. Genebra, 1989.
39
CIÊNCIA & TÉCNICA
ENTRADA DO ARTIGO JUNHO 2012
PROMOÇÃO DO SONO DA CRIANÇA
Estratégias de enfermagem para a capacitação parental
A. FARO
Enfermeira no Serviço de Internamento de Medicina
Materno Fetal do Hospital Santa Maria, CHLN, EPE
NÁDIA CRISTINA SIMÕES CARDOSO
Enfermeira no Serviço de Internamento de Medicina
Materno Fetal do Hospital Santa Maria, EPE
NOVEMBRO 2014
E. LOPES
Enfermeira no Serviço de Reumatologia, Endocrinologia
e Medicina E no Hospital Santa Maria, CHLN, EPE
40
RESUMO
O sono é uma necessidade fundamental para o
desenvolvimento da criança e para uma boa saúde física e mental. Os pais desempenham um papel central para a promoção de hábitos de sono
adequados nos seus filhos, mas esta capacidade
exige uma aprendizagem que nem sempre é valorizada no processo de prestação de cuidados
de enfermagem e que se revela na escassez de
investigação relacionada com esta área temática.
O presente estudo tem como objectivo, reconhecer as estratégias de Enfermagem que ajudam os
pais na promoção do sono do seu filho.
Insere-se numa abordagem qualitativa. A amostra foi constituída por dezoito crianças hospitalizadas, com idades compreendidas entre os dois e
os catorze anos, acompanhadas pelos seus pais.
Como instrumentos de recolha de dados foram
utilizadas: a entrevista semi-estruturada e a observação participante, integradas no âmbito da
prestação de cuidados de Enfermagem. Os dados
foram analisados através da técnica de análise de
conteúdo.
Foram identificados hábitos de sono desadequados nomeadamente, na ausência de horários de
sono regulares, deitar a horas tardias e dormir em
número de horas insuficientes O sono representa
uma área de preocupação e dificuldade parental,
ao nível emocional e cognitivo, sendo que os cuidados de enfermagem possuem potencial para
responder a estas necessidades, com ganhos
para o bem-estar e saúde das crianças e família.
Palavras-Chave: Cuidados de Enfermagem, Sono,
Criança, Pais
ABSTRACT
Sleep is a fundamental need for the development of the child and a good physical and mental health. Parents play a central role to promote
proper sleep habits in children, but this requires
a learning ability that is not always valued in the
process of providing nursing care and that reveals
a paucity of research related to this subject area.
This study aims to recognize Nursing strategies
to help parents in promoting their child's sleep.
Part of a qualitative approach. The sample consisted of eighteen hospitalized children, aged
from two to fourteen, accompanied by their parents. As instruments of data collection were used:
a semi-structured interviews and participant observation, integrated in the provision of nursing
care. Data analysis was performed using content
analysis.
Were identified inadequate sleep habits, such
as: the absence of sleep schedules, going at late
hours to bed and insufficient number of hours of
sleep. Nursing strategies were simultaneously targeted to parents and children. The children sleep
represents an area of concern and difficulty, parental emotional and cognitive level, where nursing care have the potential to meet these needs,
with gains for the welfare and health of children
and family
Keywords: Nursing, Sleep, Child, Parents
CIÊNCIA & TÉCNICA
INTRODUÇÃO
A necessidade de sono é um processo
comum a todos os seres vivos e é imprescindível na manutenção da saúde, rendimento diário e qualidade de vida das pessoas
(WHO, 2004). O estudo objectivo do sono é
relativamente recente e remonta a meados
dos anos 50 do século XX, sendo que o interesse sobre a temática foi aparentemente
despoletado pela emergência de doenças e
situações de desconforto com ela relacionadas (Soares, 2010).
As perturbações do sono, tais como a dificuldade em adormecer e a interrupção frequente do sono, diminuem a capacidade de
manter a atenção e de mobilizar os recursos
intelectuais e processos cognitivos da criança (Montagner, 1998). Outro estudo, aponta para uma morbilidade neste grupo etário
relacionada com a prevalência das taxas de
lesões e ferimentos e uma maior propensão
a comportamentos de risco em crianças que
apresentam distúrbios de sono, sugerindo
consequências significativas nas crianças a
curto e longo prazo ao nível da função cognitiva, comportamental e social (Owens et
al, 2005). O estudo desenvolvido por Lee e
Ward (2005 p. 739), aponta como uma das
principais razões para o aumento do défice
de atenção nas crianças, o sono insuficiente, e vem ainda acrescentar neste contexto
Montplaisir (2007), que a falta de sono nocturno, especialmente na primeira infância,
pode afectar o desempenho cognitivo da
criança na escola mesmo que esses padrões
de sono se normalizem mais tarde, realçando
a necessidade de uma criança dormir pelo
menos dez horas por noite, especialmente
até aos três anos e meio de idade,
Os problemas de sono têm sido ainda
associados a problemas ao nível do siste-
ma familiar da criança, e nesta perspectiva,
Eckerberg (2004) refere que “quando os pais
percepcionam os frequentes despertares
nocturnos na pequena infância como problemáticos, está associado um aumento do
risco de problemas comportamentais vários
anos depois, tais como o stress familiar e depressão materna” (p. 126).
Destacamos neste enquadramento que
cada criança possui os seus próprios ritmos
biológicos associados a “um programa interno, fixado no código genético e que são
influenciados por factores exteriores designados de «sincronizadores»” (Mendes,
2005, p.101). De facto, os hábitos de vida
são adquiridos no ambiente familiar e social e repercutem-se nas condições de saúde dos indivíduos, e os hábitos de sono não
são excepção. Importa ainda clarificar, que
os hábitos de sono diferem dos padrões de
sono, sendo que os primeiros constituem um
conjunto de informações mensuráveis acerca
da organização temporal, estrutural e fisiológica do ritmo sono-vigília, ao passo que os
hábitos de sono podem ser definidos como
os comportamentos culturalmente aprendidos e sistematicamente adoptados pelo indivíduo ou seu cuidador (Geib, 2007 p.564),
incluindo a quantidade, a qualidade, período
do dia e duração do evento (ICN, 2005).
Entendemos assim, que os pais desempenham um papel central na promoção de
hábitos1 de sono adequados nos seus filhos,
mas esta capacidade exige uma aprendizagem que nem sempre é valorizada no processo de prestação de cuidados de enfermagem e que se revela na escassez de investigação relacionada com esta área temática.
1
Entendemos Hábito de sono, como o comportamento culturalmente
aprendido e adaptado pelo individuo e ou seu cuidador com o propósito de
favorecer o inicio ou manutenção do sono de acordo com a definição de Geib
(2007).
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CIÊNCIA & TÉCNICA
NOVEMBRO 2014
Foram estas preocupações que estiveram na
base deste estudo que tem como questão
fundamental: Quais as estratégias de Enfermagem que ajudam os pais na promoção do
sono do seu filho?
Baseou-se numa metodologia qualitativa,
usando como instrumentos de colheita de
dados, o questionário, a análise documental
e a realização e análise de diários de campo.
42
O SONO
O sono caracteriza-se por uma redução
da actividade corporal, e da consciência, em
que a pessoa não sabe de si, o metabolismo
está diminuído, a postura imóvel, e a sensibilidade diminuída, mas que é prontamente
reversível a estímulos externos (ICN, 2005).
O ciclo vigília-sono, ocorre num ritmo circadiano, sendo que a sua alternância pode
ser influenciada por factores ambientais, tais
como a alternância luz-escuridão, o ruído exterior, a actividade física, as refeições e a socialização (Pimentel e Rente, 2004, p.47). Sabe-se hoje que o hipotálamo é o centro dos
mecanismos do sono, sendo o principal responsável pela acção dos neurotransmissores
que controlam o estado de vigília ou de sono,
ao actuarem sobre diferentes grupos de células nervosas no cérebro (Soares, 2010).
O sono divide-se em dois tipos básicos:
O sono REM e o sono não REM sendo que o
ultimo se encontra dividido em quatro fases.
As fases NREM e REM ocorrem repetidamente segundo um padrão específico, denominado por ciclo do sono (Dinarés et al , 2004).
Sabe-se que o sono REM tem uma função
estimulante das regiões cerebrais directamente responsáveis pela memória e aprendizagem é ainda durante os estádios de sono
profundo que é segregada a hormona do
crescimento e a prolactina que é responsável pela estimulação do sistema imunitário.
Enquanto dormimos, o nosso cérebro está
activo e desenrolam-se vários processos de
reparação nomeadamente através da reorganização funcional do sistema nervoso. É
ainda um passo para a autonomização da
criança quando esta adquire a capacidade de
adormecer sem ajuda.
Quando estes estádios são suprimidos,
facilmente se depreende uma probabilidade
de ocorrência de consequências negativas
não só ao nível do crescimento mas também
ao nível da reparação de tecidos e células. A
privação de sono induz efeitos negativos na
criança como intolerância à dor, fadiga e diminuição da resposta do sistema imunitário.
Hábitos de sono adequados para cada idade,
promovendo rotinas, rituais e a autonomia
da criança são essenciais para um desenvolvimento saudável de toda a família.
OS PAIS NA PROMOÇÃO DO SONO DA
CRIANÇA HOSPITALIZADA
Os pais são os principais responsáveis no
cuidado ao seu filho, desenvolvendo comportamentos para responder às necessidades da criança em desenvolvimento enquanto ser vulnerável e dependente, correspondendo às expectativas da sociedade (Collière,1999).
A Linguagem Classificada para a Prática
de Enfermagem Versão 1 (ICN, 2005) define
Parentalidade como um foco de atenção de
enfermagem, que se caracteriza por uma acção de tomar conta, assumindo “as responsabilidades de ser mãe e/ou pai; comportamento destinado a facilitar a incorporação
de um recém-nascido na unidade familiar;
comportamentos para optimizar o cresci-
CIÊNCIA & TÉCNICA
mento e desenvolvimento das crianças; interiorização das expectativas dos indivíduos,
famílias, amigos e sociedade quanto aos
comportamentos do papel”
Neste estudo partimos do pressuposto
que o desempenho da função parental exige a aprendizagem de novas competências,
que tradicionalmente tem sido transmitidas
de geração para geração, e que em virtude
das actuais mudanças na nossa sociedade
vieram impor profundas alterações à aprendizagem e desempenho deste papel, sendo
que cada vez mais os pais se encontram sozinhos neste processo que é frequentemente
acompanhado de dúvidas, necessidades e
preocupações. É neste terreno que a intervenção de enfermagem possui potencialidades para facilitar as transições e os processos de aprendizagem com elas relacionadas
(Meleis, 2000).
Neste sentido Algarvio e Leal (2004),
identificaram algumas áreas de preocupação
parental relacionadas com a função ou exercício da parentalidade e identificaram algumas relacionadas com o sono e repouso da
criança, tais como: a agitação durante o sono
da criança, a dificuldade em adormecer ou
a presença de pesadelos. Eckerberg (2004)
acrescenta ainda que “ (…) nas sociedades
ocidentais, um dos problemas mais comummente sentidos pelos pais é a gestão da hora
de deitar e saber lidar com os despertares
nocturnos” (p. 126). Também de acordo com
os registos de pediatras, as perturbações do
sono estão em quinto lugar no que respeita
às preocupações dos pais; a seguir às doenças físicas, alimentação, problemas comportamentais e deficiências físicas (Mindell et al,
2004).
Deste modo, a educação dos pais relacionada com o sono da criança, assume contor-
nos bastante relevantes do ponto de vista da
saúde, uma vez que está em causa o saudável desenvolvimento da criança.
Estando a criança hospitalizada, este acontecimento “…pode ser ocasião de aprendizagem e desenvolvimento, na medida em que
a criança possa beneficiar de relações positivas e apoiantes com elementos da equipa de
saúde, e de uma relação mais próxima com
os familiares” (Boilig et al; 1988 citado por
Barros, 1998, p. 14). Por outro lado, estando
os pais presentes durante a hospitalização da
criança, o enfermeiro deverá desenvolver capacidades que lhes permitam trabalhar com
a família aspectos relacionados com o desenvolvimento da criança (Mano, 2002).
PERCURSO METODOLÓGICO
O estudo foi desenvolvido num serviço
de Pediatria de um hospital na sub-região de
Lisboa e vale do Tejo, no qual são prestados
cuidados de saúde diferenciados a crianças
na faixa etária entre os 0 e os 15 anos de idade, nas áreas médicas, cirúrgicas, neurocirúrgicas e neurotraumatológicas.
Tendo em conta uma compreensão abrangente do fenómeno em estudo, definimos
como objectivos:
-Identificar os hábitos e perturbações do
sono das crianças;
-Identificar as preocupações parentais relacionadas com o sono da criança;
-Identificar as necessidades parentais para
a promoção do sono da criança;
-Identificar as práticas parentais relativamente ao sono da criança;
-Analisar as estratégias de enfermagem
que ajudam os pais a promover o sono da
criança.
O estudo seguiu uma abordagem quali-
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CIÊNCIA & TÉCNICA
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tativa, onde se pretendeu explorar e descrever a experiencia dos pais relacionada com o
sono da criança hospitalizada.
Tendo em conta a natureza e os objectivos do presente estudo, usamos o método
de amostragem intencional de acordo com
os seguintes critérios:
Crianças com idades compreendidas entre os 2 e os 14 anos, acompanhadas pelos
seus pais ou substitutos e estarem internadas nos Serviços de Pediatria independentemente da patologia.
No total fizeram parte da nossa amostra
dezoito crianças, das quais: oito estavam na
faixa etária entre os dois e os seis anos e dez
na faixa etária entre os sete e os catorze anos.
Relativamente à dimensão da amostra, incluímos os participantes que nos foi possível durante o tempo que correspondeu ao período
disponível para a realização do estágio e que
correspondeu a um total de doze semanas.
Usámos como instrumentos de colheita
de dados, o questionário, a análise documental e observação participante com registo em diários de campo.
Relativamente ao questionário a sua
construção resultou da análise de duas escalas, o “Inventário dos Hábitos de Sono para
Crianças Pré-Escolares” de Batista e Nunes
(2006), validado para a língua portuguesa
do questionário “Sleep habits inventory for
preschool children” de Hayes et al. (2001)
e o “Questionário sobre o Comportamento
do Sono” de Batista e Nunes (2006), validado para a língua portuguesa do questionário
“Sleep Behaviour Questionary” de Cortesy et
al. (1999). Cujos itens foram a base da construção de um questionário único mais reduzido, passível de ser mobilizado no decorrer
da interacção enfermeiro-cliente e na construção do processo de cuidados de enferma-
gem à criança e família.
Todos os dados recolhidos foram submetidos à técnica de análise de conteúdo
de acordo com Bardin (2004). Optámos por
definir as categorias a priori, de acordo com
os aspectos que se destacaram na revisão da
literatura, nomeadamente:
-O sono da criança varia de acordo com o
seu padrão e hábitos individuais, sendo que
os segundos são um factor determinante
para alterações identificadas nesta faixa etária não relacionadas com a patologia, constituindo a sua identificação um aspecto fundamental para a promoção do sono da criança.
-Os pais são os principais responsáveis
pela prestação dos cuidados à criança manifestam preocupações e práticas relacionadas com o sono, que influenciam a saúde e o
sono da criança.
Os cuidados de enfermagem possuem
potencial para promover o sono da criança e
os enfermeiros desenvolvem durante o processo de cuidados à criança hospitalizada e
família estratégias para promover o sono da
criança.
Foram omissos nomes e qualquer informação passível de identificar os participantes.
Caracterização do sono das crianças
Na caracterização do sono da criança foram analisados os dados referentes à existência de hábitos relacionados com a manutenção de um horário regular de sono, número
médio de horas de sono por noite, eventos
durante o sono (despertares nocturnos, terrores nocturnos, ressonar, agitação durante
o sono), autonomia para dormir, hábitos e rituais de adormecimento e sonolência diurna.
No grupo das crianças com idades compreendidas entre os dois e os seis anos,
CIÊNCIA & TÉCNICA
identificámos que cinco das oito crianças
possuíam hábitos de sono adequados e não
manifestavam alterações relacionadas com a
privação de sono. Sendo que as alterações
encontradas se deveram a problemas relacionados com a separação dos pais e à distribuição das horas de sono nomeadamente
na realização de sestas tardias.
No grupo etário dos sete aos catorze anos,
verificámos que cinco das dez crianças apresentavam um padrão de sono e hábitos adequados à idade. As alterações identificadas
nesta faixa etária relacionaram-se com falta
de autonomia para dormir, necessitando da
presença dos pais para adormecer, ausência
de horários regulares para dormir, deitar tardiamente, dormir um número insuficiente de
horas, apresentavam eventos durante o sono
tais como despertares nocturnos, ressonar e
agitar-se durante o sono.
Necessidades e Atitudes dos pais perante o sono da criança
Da análise dos nossos dados emergem três
categorias que ilustram a experiência dos pais
relacionada com o sono da criança: as preocupações, necessidades e práticas dos pais.
Relativamente às preocupações dos pais
emergiram cinco tipos de preocupações nomeadamente: Lidar com os problemas de
sono da criança; Gerir os horários de sono e
Manter os hábitos da criança.
Da análise do discurso dos pais, percepcionámos que o sono da criança se constituía em algumas situações como uma fonte
de preocupação e de dificuldade sobretudo
quando os pais se confrontavam, com situações como sono agitado, insónia, despertares nocturnos e recusa em ir para a cama.
Estes resultados vão ao encontro do que é
referido por Algarvio e Leal (2004), que indi-
cam como preocupações relacionadas com a
necessidade de sono da criança, o sono agitado, dificuldade em adormecer, pesadelos
e o facto de a criança não querer ir para a
cama. Também Eckerberg (2004, p.126) refere que “ (…) nas sociedades ocidentais, um
dos problemas mais comummente sentidos
pelos pais é (…) saber lidar com os despertares nocturnos”.
Foi também presente no discurso dos
pais, a preocupação em manter os hábitos
da criança durante o período de hospitalização, preservando a rotina da criança e os
horários de adormecer. Um dos pais, referiu
ainda estar preocupado com a ineficácia das
estratégias usadas na promoção do sono do
seu filho, e com a dificuldade persistente em
ultrapassar os problemas de sono da criança.
Na análise considerámos o conceito de
preocupação parental, mobilizado por Algarvio e Leal (2004), enquanto uma função parental que não se encontra necessariamente
associada a sintomas indesejáveis, tal como
os autores ressalvam. Da pesquisa realizada
sobre o conceito, destacamos que apesar de
pouco estudado entre nós, este parece estar
relacionado com uma “…dimensão afectiva ou
emocional, traduzida muitas vezes como um
sentimento de mal-estar ou mesmo de medo,
que conduz a uma queixa, e que podemos associar a uma dimensão cognitiva e consciente
e, por último, à procura da solução, ligada à
acção” (Algarvio e Leal, 2004, p.147).
Através da análise do discurso dos participantes e da confrontação com outros estudos realizados sobre o fenómeno em questão, parece-nos que as preocupações referidas no nosso estudo encontram reflexo nos
resultados de Algarvio e Leal (2004).
No que diz respeito às suas necessidades
relacionadas com o sono dos filhos, foram
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identificadas quatro sub-categorias: Aprender sobre o sono da criança; Ser apoiado no
que se refere aos problemas/ acontecimentos
vividos pelos mesmos quanto à promoção
do sono do seu filho; Manter a Privacidade,
na medida em que a prática de co-sleeping
leva muitas vezes à alteração da vida íntima
do casal; Manter os padrões individuais de de
sono, uma vez que a necessidade de sono
dos próprios pais está muitas vezes alterada.
Ao longo da análise dos dados, verificámos
que os pais manifestaram a necessidade de
adquirir novos conhecimentos para promoverem o sono do seu filho, tal como é expresso
através da seguinte unidade de registo:
“Ai sim? Ela deveria dormir mais ou menos
dez horas por noite?” (D.C.2.M.B.3)
Deste modo Aprender surge como uma
categoria importante nos dados apresentados no capítulo anterior e parece-nos ser
decisiva no desempenho do papel parental,
nomeadamente na promoção de hábitos/
padrão de sono adequados à necessidade
da criança. De facto, tal como Jorge (2004)
refere, os pais manifestam muitas vezes, necessidades relativamente a conhecimentos e
informações sobre várias dimensões relativas
ao cuidar da criança.
A necessidade de apoio foi identificada
pelos pais e parece-nos estar relacionada
com as dificuldades que estes experimentam
na resposta às necessidades de sono do seu
filho e com a limitação das suas capacidades
para lidarem com os problemas, tal foi expresso por uma mãe que chegou a referir “…
Há noites em que desespero completamente...”
(D.C. 1.G.2)
Em relação à privacidade emergiu no discurso dos pais, que as práticas de co-slee-
ping, se constituem num factor que prejudica
a relação íntima do casal:
“...ele ainda dorme connosco, no meio, entre mim e o pai...às vezes não dá muito jeito
(risos)...” (D.C.1.J.L.10)
Após procurarmos na literatura alguns
dados que nos elucidassem sobre esta questão, constatámos que a maioria dos estudos
realizados sobre co-sleeping se debruça sobre os aspectos relacionados com a segurança da criança, bem como a sua influência
para o desenvolvimento da criança a longo
prazo. Deste modo, são poucos os estudos
que aprofundam o co-sleeping na vertente
da privacidade do casal. Acerca da privacidade do casal, Leersnyder (1999, p.276) refere
que “…a criança ocupa as tardes e as noites
e não (...) deixa [os pais] estarem um com o
outro. Muitas vezes os pais suprimem toda
a vida social para se ocupar do filho (...) já
não saem, já não recebem, e as perturbações
justificam a ausência do desejo de uma vida
a dois... ”
Relativamente à necessidade de manter
um padrão de sono individual, emerge no
discurso dos pais que os problemas de sono
da criança são referidos como um factor que
prejudica a duração e qualidade do seu próprio sono, tal como é expresso na seguinte
unidade de registo:
“...estou sempre a acordar...também se
não for não me sinto descansada...é angustiante ouvir os gritos dele e não fazer nada...”
(D.C.2.G.2)
Na categoria que nomeamos de práticas
dos pais relativas ao sono da criança, foram
identificadas as subcategorias: Manter rotinas; promover a autonomia da criança, dormir com a criança, impor limites.
CIÊNCIA & TÉCNICA
Da análise do corpus identificamos práticas parentais relacionadas com a manutenção das rotinas relacionadas com o sono da
criança mesmo em meio hospitalar, nomeadamente na gestão hora de ir para a cama.
De facto, cabe aos pais criar rituais associados ao deitar para facilitar a transição da actividade e da excitação para um estado de
calma e descanso, em que a criança possa
desenvolver o seu próprio padrão de adormecimento (Brazelton e Sparrow; 2004). Da
análise ressalta uma possível relação entre as preocupações e as práticas levadas a
cabo pelos pais, sendo que o brincar, contar
a história e beber o leite são muitas vezes as
rotinas/rituais mantidos pelos pais à criança
hospitalizada.
Dormir com a criança foi uma prática parental, observada durante a hospitalização da
criança com o intuito de transmitir segurança
e afecto à criança. Sobre esta prática importa
analisar as vantagens e desvantagens sobre
o sono da criança e até mesmo sobre o seu
desenvolvimento. Na literatura consultada a
maior parte dos autores parecem ser consensuais sobre os efeitos negativos destas práticas. Para Brazelton e Sparrow (2004), o facto
de a criança dormir com os pais, pode contribuir para gerar problemas de autonomia
quando os pais quiserem que a criança faça a
transição para a sua própria cama. Para Geib
(2007) as crianças que dormem em co-sleeping tendem a apresentar mais distúrbios de
sono, menor probabilidade de manterem um
horário regular para dormir, adormecer sozinho ou utilizar iluminação nocturna. Como já
referimos anteriormente, parece-nos que o
co-sleeping poderá influenciar também negativamente a privacidade do casal. No entanto
são também evidenciadas algumas vantagens
desta prática por autores como, Mckenna
(2000) citada por Geib (2007) referindo que
as crianças que dormiram na cama dos pais
até aos cinco anos, apresentavam na idade
adulta maiores níveis de auto-estima, menos
sentimentos de culpa e ansiedade e revelaram
maior frequência de relações sexuais.
Relativamente a promover a autonomia da
criança, observámos que alguns pais consideram importante que os filhos adormeçam
sozinhos na sua própria cama usando diferentes estratégias, entre elas deixar a criança
sozinha para adormecer.
No que diz respeito à imposição de limites à criança, foram observadas dificuldades
em lidar com o facto de a criança não querer ir para a cama à noite. Tal dificuldade foi
expressa por alguns pais ao afirmarem que
muitas vezes tinham de recorrer a medidas
mais autoritárias para conseguirem que a
criança fosse para a cama. Uma mãe referiu
mesmo “(…)Às vezes zango-me mesmo com
ela e chego a ter que lhe bater para ela dormir” (D.C.1L.11). Esta dificuldade sugere-nos que possa ter alguma influência no tipo
de interacção que se estabelece entre pais e
filhos, uma vez que os pais parecem adoptar
um estilo parental mais autoritário perante
a desobediência da criança, impondo uma
série de limites e exigindo uma estrita obediência. Ainda segundo Hoffman (1975), a
disciplina coerciva caracteriza-se por práticas
que utilizam a aplicação directa da força e do
poder dos pais, levando a criança a adequar
o seu comportamento às reacções punitivas
dos mesmos. Ainda segundo o mesmo autor, estas práticas podem provocar emoções
intensas, como hostilidade, medo e ansiedade, interferindo na capacidade da criança
para ajustar o seu comportamento à situação
(Hoffman, 1975). Deste modo, questionamos
a implicação destas medidas no desenvol-
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CIÊNCIA & TÉCNICA
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vimento harmonioso da criança, pelo que
consideramos importante que o enfermeiro
possa ajudar os pais a lidar com o comportamento negativo da criança.
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Estratégias de Enfermagem para promover o sono da criança
Relativamente às estratégias de Enfermagem que ajudam os pais na promoção do
sono das crianças emergiram a partir da análise do corpus em três categorias: Proporcionar conforto / segurança para dormir; Educar
e Orientar e Apoiar.
Pudemos constatar que ao longo do internamento da criança, os pais experimentam
vários sentimentos e emoções, desgastando-se ao nível psicológico, mas também ao nível físico, pois muitas vezes já não dormem
há algumas noites para cuidar do filho que
está doente. De facto, a diminuição da qualidade do sono e em alguns casos até mesmo a privação do sono foi referido pelos pais
como uma das necessidades que apresentam
muitas vezes ao longo da hospitalização. Por
estes motivos, pareceu-nos bastante importante proporcionar aos pais, algumas medidas
de conforto para que também eles pudessem
descansar. Uma das estratégias usadas para
ajudar os pais foi transmitir que o enfermeiro
está disponível para está presente para supervisionar a criança enquanto os pais descansam, o que se constituiu como elemento facilitador da relação enfermeiro cliente e como
recurso para os pais. Sem dúvida que os pais
“…são o principal sistema de apoio e segurança para a criança, pelo que devem ser encorajados a permanecer com o filho durante a estadia da criança doente” (Barros, 1998, p. 21).
Relativamente à categoria Educar/Orientar, salientamos o facto de esta nos remeter
para a necessidade de capacitar os pais para
lidar com os problemas de sono do seu filho.
Benner (2005) refere a educação e orientação
como uma importante função do enfermeiro
e de facto, verificámos que esta foi a intervenção com mais registos na análise realizada, tal como sugere a seguinte unidade de
registo “…perto da hora de ir para a cama,
esteja com atenção para ela não brincar a coisas que a estimulem fisicamente, não sei se já
experimentou uma massagem nas costas que
por vezes ajuda, ouvir música mais relaxante,
ler-lhe uma história…”(D.C.1D.P.3).
De um modo geral emergiu falta de conhecimentos dos pais em áreas como o desenvolvimento/autonomia da criança, importância do sono, quantidade e qualidade do
sono, precisando de ajuda para compreender as necessidades de sono da criança e de
ajustar as suas práticas de modo a responder
de forma adequada à criança, concordamos
com Coutinho (2004) quando refere que a
capacitação dos pais passa por um processo de transmissão de conhecimentos específicos e estratégias para ajudar a promover
o desenvolvimento da criança. Ainda neste
contexto Jorge (2004), salienta que as necessidades cognitivas dos pais assumem uma
especial importância em situações de crise
ou stress, permitindo que estes adquiram algum controle sobre a situação e diminuindo
os sentimentos de ansiedade.
No que diz respeito à categoria ajuda/
suporte, os enfermeiros actuam em relação
aos pais, apoiando os pais emocionalmente
sobretudo através de uma atitude de escuta
e empatia, informando e fazendo por eles algumas actividades, para atender às suas necessidades de descanso.
CIÊNCIA & TÉCNICA
CONCLUSÃO
O estudo procurou explorar a experiência
dos pais relacionada com o sono da criança
hospitalizada, neste sentido identificamos alterações do sono relacionadas com a quantidade e qualidade do sono da criança. Algumas crianças da nossa amostra revelavam
hábitos de sono inconsistentes, nomeadamente na manutenção de hábitos regulares
de sono e na capacidade para adormecer de
forma autónoma.
Os pais apresentam dúvidas e receios relacionados com o sono dos seus filhos, sugerindo os resultados que estas são mais frequentes em pais de crianças pequenas e ou
primíparos, sendo também nestas condições
que estes se mostram mais receptivos a serem ajudados e a aderirem às estratégias sugeridas, pelo que nos parece necessário que
os enfermeiros invistam na identificação das
suas necessidades em relação à informação
e desenvolvimento de estratégias educativas.
Porque se uma criança for orientada desde
cedo para os bons hábitos de sono, dificilmente desenvolverá um problema nesta área.
Efectivamente o sono constitui uma preocupação para os pais, que demonstraram um
deficit de conhecimentos relacionados com
o sono e desenvolvimento da criança assim
como de estratégias para lidar com os problemas com os quais se confrontam. As alterações de sono da criança parecem preocupar os pais mais, pelo impacto directo que
estas têm na sua própria vida do que pelas
consequências para a saúde e desenvolvimento da criança, pelo que consideramos
que é necessário continuar a investir na educação dos pais no sentido da sua capacitação para responder de forma adequada às
necessidades de saúde e desenvolvimento
da criança.
Na hospitalização da criança os enfermeiros desenvolvem estratégias para lidar com
as necessidades imediatas dos pais para lidar com a criança, dando apoio, ajudando na
manutenção das rotinas, informando e substituindo-os em algumas situações de modo
a favorecer as suas próprias necessidades
de sono e repouso. Parece ainda importante
realçar que o sono é um problema comum
entre as crianças com menos de um ano de
idade, sendo que, mais de um terço das crianças com esta idade têm problemas de sono, o
que representa uma dose extra de stress e de
gasto de energia para os pais. Uma vez que
este estudo se debruça sobre a promoção da
capacitação parental, seria interessante a sua
continuidade no contexto domiciliar.
Relativamente às limitações do estudo
apontamos para o facto de ter sido realizado
em contexto hospitalar, enquanto factor passível de influenciar os padrão e os hábitos de
sono da criança que não se encontrava no seu
ambiente natural. Outra limitação, sentida em
relação ao contexto do estudo, diz respeito
ao facto de termos sentido que os pais, estavam mais preocupados com a patologia do
seu filho e respectivo tratamento, sendo que
o sono é remetido para segundo plano.
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CIÊNCIA & TÉCNICA
ENTRADA DO ARTIGO NOVEMBRO 2012
ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO
E OXIGENOTERAPIA DE LONGA
DURAÇÃO
VANESSA PEREIRA
Enfermeira. Especialista em Enfermagem de Reabilitação, Licenciada em Psicologia Organizacional. Serviço
2.3 Medicina/ Dermatologia, HSAC– CHLC
PAULO GONÇALVES
Enfermeiro. Especialista em Enfermagem de Reabilitação. Unidade de Cuidados Intensivos Respiratórios,
HPV– CHLN
VÍTOR VAZ PINTO
Enfermeiro. Especialista em Enfermagem de Reabilitação. Unidade de Cuidados Intensivos Respiratórios,
HPV– CHLN
SANDRA CARRILHO
Enfermeira. Especialista em Enfermagem de Reabilitação. Bloco de Exames de Gastroenterologia, HPV – CHLN
51
RESUMO
Este artigo como objetivo abordar os critérios de
prescrição, fontes e dispositivos de administração
de oxigenoterapia, em doentes submetidos a
OLD, bem como salientar a importância e eficácia
desta terapêutica quando associada a programas
de reabilitação respiratória e ao acompanhamento
por uma equipa multidisciplinar.
ABSTRACT
This article aims to address the criteria of prescription, sources and oxygen administration devices
in patients submitted to an Long Term Oxygentherapy, as well as highlight the importance and
effectiveness of this therapy when associated with
respiratory rehabilitation programs and follow-up
by a multidisciplinary team.
Palavras-Chave: Enfermagem; oxigenoterapia
Keywords: Nursing, Long Term Oxygen-therapy
NOVEMBRO 2014
CIÊNCIA & TÉCNICA
52
INTRODUÇÃO
Oxigenoterapia de longa duração (OLD)
é a administração de oxigénio (O2) contínua
em ambiente não hospitalar, em concentração mais elevada do que a que existe no ar
ambiente, com o objectivo de prevenir ou
tratar os sintomas e manifestações de hipoxémia (AARC, 2007).
Em Portugal, mais de 25 mil doentes dependem de OLD (Barbara, 2009), como consequência do crescente número doenças
respiratórias, que constituem actualmente
a 3º causa de internamento e de morte, sobretudo devido à poluição atmosférica e ao
crescente consumo de tabaco (ONDR, 2007).
Este artigo tem por isso, como objectivo
abordar os critérios de prescrição, fontes e
dispositivos de administração de oxigenoterapia, em doentes a realizar OLD, bem como
salientar a importância e eficácia desta terapêutica quando associada a programas de
reabilitação respiratória e ao acompanhamento por uma equipa multidisciplinar. Desta forma iremos inicialmente enumerar as
evidências da eficácia e principais indicações
da OLD, os seus critérios de prescrição, fontes e dispositivos de administração. Em seguida será dado relevo à necessidade de um
programa de reabilitação respiratória, acompanhado por uma equipa multidisciplinar na
qual se insere o enfermeiro de reabilitação.
OXIGENOTERAPIA DE LONGA
DURAÇÃO
A prescrição de OLD tornou-se consensual na década de 80, com a publicação de
dois estudos, o Nocturnal Oxygen Therapy
Trial Group e o Medical Research Council
Working Party (Drummond et al., 2001). Estes estudos estabeleceram a evidência clínica
relativamente à eficácia da OLD na doença
pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), quando
utilizada no mínimo durante 15h/dia, verificando-se o aumento da sobrevida, redução
das situações de cor pulmonale, benefícios
neuropsicológicos, melhoria da qualidade de
sono, prevenção de arritmias e redução da
policitémia secundária, com a consequente
redução da incidência de complicações e de
hospitalizações (Nunes, 2003).
Actualmente, além da DPOC são também
aceites os benefícios terapêuticos da OLD
em situações de fibrose quistica, doença pulmonar intersticial, bronquectasias, doenças
neuro-musculo/esqueléticas,
hipertensão
pulmonar e como paliativo do cancro do pulmão (Crockett et al, 2001; Winck, 2008).
A OLD apesar de ser uma terapêutica
indispensável, é também dispendiosa tendo em conta a fraca adesão por parte dos
doentes (Verduri et al, 2009). De acordo com
dados da Direcção Geral de Saúde (DGS,
2005), os custos com OLD em Portugal em
2002 foram de 47,1milhões de euros e actualmente estimam-se em 60 milhões de
euros (Barbara, 2009). A prescrição de OLD,
segundo Manresa, Sena e Caballol (2001),
implica o cumprimento de 3 variáveis: a indicação adequada, um bom cumprimento e
uma adequada correcção da hipoxémia.
PRESCRIÇÃO DE OLD
As normas de actuação para a prescrição
de OLD pressupõem a existência de insuficiência respiratória crónica diagnosticada
mediante realização de gasometria arterial,
em período estável, após recurso à reabilitação respiratória, à cessação tabágica e sob
terapêutica optimizada. Haverá indicação,
quando a gasometria arterial, em repouso
e em ar ambiente, apresentar: PaO2 ≤ 55
CIÊNCIA & TÉCNICA
mmHg ou PaO2 ≥ 56 <60 mmHg, com cor
pulmonale e/ou poliglobulia com hematócrito> 55 %. A administração deverá ser ainda
considerada nas condições particulares de:
PaO2 ≤ 55 mmHg, no esforço e no sono não
corrigida por ventilação por pressão positiva e em situações de insuficiência respiratória transitória conforme referido em AARC
(2007) e DGS (2006). De acordo com a DGS
(2006), não é aceitável a prescrição empírica
de O2, em regime de SOS ou por curtos períodos, excepto se for paliativa.
Drummond et al (2001) referem que, apesar dos critérios se encontrarem estabelecidos, sua prescrição é frequentemente feita
de forma incorrecta, havendo também a falta
de um seguimento adequado destes doentes. Os mesmos autores salientam que, 80%
dos doentes a fazer OLD não têm indicação
e que apenas 10,7% dos doentes a realizar
OLD cumprem a prescrição de pelo menos
15h/dia, quando a administração deverá ser
contínua nas 24 horas, excepto em situações
específicas (AARC, 2007).
A prescrição de OLD deve incluir a fonte
de O2, o dispositivo de interface e o débito
em repouso, durante o exercício e durante
o sono.
FONTE DE OXIGÉNIO
No domicílio o O2 pode ser fornecido,
através de um cilindro de O2 gasoso, de uma
unidade de O2 líquido ou através de um concentrador. A escolha deverá ter em conta
diversos factores, nomeadamente o critério
médico, o estado clínico, o conforto e o estilo de vida do doente, as características do
domicílio e os custos para o próprio e para o
sistema de saúde (Nunes, 2003).
O oxigénio gasoso é a fonte mais habitual
de administração de O2 no domicílio. Permite
débitos até 15l/min, não evapora quando armazenado e é de simples manutenção. É indicado para doentes com mobilidade reduzida e dentro do domicílio. Os cilindros pequenos podem ser deslocados com dispositivos
específicos e de acordo com a capacidade do
doente. Tem como desvantagens, ter um volume limitado, o que implica realizar ensino
sobre a troca do regulador de pressão quando um cilindro termina, o que nem sempre
fácil para alguns doentes e proceder a trocas
frequentes dos cilindros pelo fornecedor.
O oxigénio líquido é O2 gasoso a baixas
temperaturas, razão pela qual ocupa menos
espaço (1l de O2 líquido = 850l de O2 gasoso). O dispositivo é composto por duas unidades, uma fixa com capacidade de reserva
até 32 l utilizada no domicílio e uma portátil
com capacidade até 1l, e que possibilita aos
doentes desenvolver uma actividade profissional e social com maior independência e
autonomia fora do domicílio. Como desvantagens, apresenta uma evaporação espontânea e contínua quando armazenado e o seu
custo é mais elevado quando comparado
com as outras fontes de administração, facto
que implica uma avaliação rigorosa do estilo
de vida e mobilidade do doente. O peso da
unidade portátil (1,6kg a 3,6kg) poderá ser
um inconveniente para o seu transporte tendo alguns doentes que colocar adaptações
para o facilitar. Outra desvantagem poderá
ser a complexidade das manobras de enchimento das unidades fixas.
Em Portugal, os doentes enfrentam ainda
outro problema que é o acesso ao O2 líquido, devido a este não se encontra disponível em todas as regiões do País e pelo facto
de nem sempre Administração Regional de
Saúde conceder a devida autorização para o
seu fornecimento após a prescrição, haven-
53
NOVEMBRO 2014
CIÊNCIA & TÉCNICA
54
do necessidade de uma avaliação individual
(RESPIRA, 2009).
O concentrador de oxigénio é um
aparelho que separa as moléculas de O2 do
ar da atmosfera, produzindo O2 concentrado.
Actualmente estes aparelhos são mais leves,
pequenos e fácies de transportar, ideais colocar em residências de difícil acesso, porque
não têm problemas de fornecimento, nem
complicações de segurança. Em caso de falha de electricidade ou se a concentração de
O2 é insuficiente, emite um alarme sonoro,
para se proceder a troca da fonte de oxigénio. Tem como desvantagens, a necessidade
de utilizar electricidade para o seu funcionamento, precisa de uma manutenção regular,
tem alguns problemas de ruído e a maioria
dos equipamentos não permite débitos> 5L/
min.
Idealmente a solução para a adesão a OLD
encontra-se na combinação de mais de uma
fonte de abastecimento, conferindo desta
forma uma solução personalizada, económica e eficiente conforme refere Nasilowski et
al (2008).
Os economizadores de Oxigénio têm a
capacidade de aumentar 2 a 7 vezes a autonomia das fontes de O2 portáteis de acordo
com Castillo (2007), fornecendo O2 apenas
quando é detectado esforço inspiratório, por
oposição ao fluxo contínuo dos dispositivos
convencionais. Ter que detectar estímulo inspiratório é uma das suas limitações, pois limita o seu uso quando o estímulo é menos
intenso. Outras limitações surgem por estes
equipamentos perante frequência respiratória alta não conseguirem manter o débito
programado, por necessitarem por vezes de
bateria e não permitirem o uso de humidificadores. Em Portugal são pouco utilizados
devido ao seu custo, encontrando-se sobre-
tudo disponíveis sistemas portáteis de O2
líquido com economizador, garantindo um
conjunto leve e com maior autonomia.
DISPOSITIVOS DE ADMINISTRAÇÃO
O O2 é usualmente administrado por máscara, sonda ou óculos nasais. Os óculos nasais são o interface de eleição já que permite
ao doente comer, comunicar e colocá-los facilmente (Drummond et al., 2001). O uso de
sondas nasais apesar de mais estáveis e eficazes que os óculos nasais são desagradáveis
de colocar, implicam fixação à face e podem
obstruir (Nunes, 2003). A máscara possibilita débitos superiores mas, apesar de muito
utilizada nos doentes agudos, para OLD não
fará sentido dado o seu carácter limitador
(Winck, 2008). De acordo com a DGS (2006)
poderá ainda assegurar-se o fornecimento
de O2 por ventilação não invasiva, quando
perante OLD bem conduzida, houver situações de PaCO2> 55 mmHg ou PaCO2 entre 50
e 54 mmHg associada a dessaturação nocturna, não corrigida pelo O2 ou com mais de
dois episódios por ano de insuficiência respiratória aguda com internamento.
REABILITAÇÃO
Segundo os estudos de Crockett et al.
(2002) e Janssens (1997) o declínio dos doentes hipoxémicos sob OLD ocorre devido ao
facto de apresentarem uma marcada redução da saúde relacionada com a diminuição
da qualidade de vida, á medida que a pessoa
se vai tornando mais dependente, pelo que
apresentam morbilidade e mortalidade elevadas. Esse declínio apresenta também influência a nível da mobilidade, do padrão de
sono, bem como a nível psicológico, apresentando quadros de depressão, ansiedade
e de não satisfação com a vida.
CIÊNCIA & TÉCNICA
Janssens (1997) e Pecham et al (1998) sugerem que para alcançar os benefícios da
OLD em termos da qualidade de vida ou
bem-estar geral, deverá ser dado ênfase aos
programas de reabilitação respiratória, ao
uso de unidades portáteis como forma de
manter e/ou aumentar a mobilidade física
e ao apropriado suporte e tratamento dos
distúrbios emocionais. Rous et al (2008) referem ainda que a reabilitação respiratória
deve ser incluída no tratamento personalizado do doente, com o objectivo de reduzir os
sintomas, optimizar a capacidade funcional,
incentivar a participação e reduzir os custos
de saúde através da estabilização ou regressão das manifestações sistémicas da doença.
Para Senjyu et al (1999) só a reabilitação respiratória e a adesão a OLD é eficaz na redução da velocidade do ciclo vicioso experienciado por estes doentes.
Para aumentar o grau de adesão é essencial, de acordo com Esmond e Mikelsons (2005)
que os profissionais de saúde tenham os conhecimentos adequados, a capacidade para
motivar os doentes e realizar ensinos de qualidade, uma vez que a OLD implica uma adaptação considerável na vida do doente/família e
quanto mais informados estiverem, maior é a
probabilidade de adesão e a capacidade para
lidar eficazmente com as alterações.
Neste processo de transição, é importante
envolver uma equipa multidisciplinar onde se
inclui o enfermeiro de reabilitação. Este terá
um papel preponderante junto do doente/
família no sentido de avaliar o grau de conhecimentos/compreensão relativos á OLD,
bem como quais as expectativas face a esta
terapêutica. Este profissional deve colaborar
na realização da avaliação física, da avaliação
funcional, do grau de dispneia e da qualidade
de vida do doente, para auxiliar a seleccionar
a fonte de O2 e a forma de administração mais
adequada, e esclarecer sobre o procedimento para aceder aos equipamentos e materiais.
É necessário educar o doente/família sobre:
oxigenoterapia, cuidados específicos a ter
com o material (como calcular a duração da
fonte com base no consumo, como trocar os
reguladores de pressão, como encher o reservatório portátil do O2 líquido, como proceder
à manutenção do concentrador e dos copos
de humidificação), quais as precauções de segurança relativas ao uso do O2 no que diz respeito ao fogo e á alteração da configuração
da fonte de O2, quais as implicações e efeitos prováveis do aumento do débito do O2, e
quais os recursos existentes na comunidade.
Deverá ser proporcionado tempo aos doentes/familiares para exporem as preocupações,
assegurando maior segurança e eficácia da
oxigenoterapia. Deve ainda ser realizado ensino sobre a evolução da doença onde se inclua
a consciencialização dos sintomas e sinais de
agravamento.
Outro aspecto relevante do papel do
enfermeiro, é segundo Heslop e Shannon
(1996), que citam Williams (1993) auxiliar
o doente a repensar as rotinas diárias e a
equilibrar o tempo de acordo com a energia disponível, para maximizar a capacidade
funcional enquanto usa o O2. Este aspecto
tem grande influência no contexto pessoal
e social do indivíduo. É ainda fundamental,
a aposta em estilos de vida saudáveis que
fomentem a alimentação adequada e a actividade física regular, conforme refere Crisafulli et al. (2007), visto que a imobilidade e a
desnutrição, leva a uma diminuição da força dos músculos respiratórios, da tolerância
ao exercício e da qualidade de vida, além de
predispor a infecções, que frequentemente
são causa de hospitalização e de morte.
55
NOVEMBRO 2014
CIÊNCIA & TÉCNICA
56
Monitorização
O grau de adesão e os benefícios para
os doentes sob OLD são maiores perante
uma monitorização adequada (Verduri et
al., 2009). Esta deve incluir um controlo
clínico e funcional nos primeiros 3 meses
após a prescrição e posteriormente trimestralmente e/ou de acordo com a necessidade sentida pela equipa multidisciplinar.
Rizzi et al (2009) refere no entanto, que se
além desse controlo, houver um acompanhamento por uma equipa multidisciplinar
através de um programa domiciliário específico, para monitorizar os doentes e o
tratamento, verificar o equipamento, além
de avaliar a própria situação clínica, e promover um ensino mais personalizado ao
doente/família, o grau de adesão a OLD
será maior, garantindo o aumento da sobrevida e um melhor status funcional.
É no entanto relevante salientar que uma
avaliação esporádica da SaO2 em repouso ou
uma prova de marcha periódica, pode não
reflectir as necessidades de O2 do doente, devido a oxigenação modificar-se ao longo das
24h. Para colmatar esta falha, encontram-se
em desenvolvimento programas de monitorização contínua da oximetria no domicílio,
com a finalidade de adequar os débitos de O2
às necessidades do doente na sua vida diária
(Zhu et al., 2005). Um destes programas em
avaliação em Portugal é o TELEMOLD, uma
parceria Hospital Pulido Valente/Centro Hospitalar Lisboa Norte com uma empresa de
telecomunicações, em que além da avaliação da oximetria no domicílio, avalia simultaneamente a actividade do doente e cruza
ambos os dados. Essa informação é enviada
automaticamente para uma base de dados,
para ser consultados pela equipa multidisciplinar, monitorizando de forma mais fidedig-
namente, permitindo aferir o grau de adesão
de cada doente e ajustar com maior precisão
a prescrição de O2, visto que a avaliação é
feita durante actividades habitualmente desenvolvidas pelo doente no seu ambiente
CONCLUSÃO
Neste artigo pretendeu-se abordar a OLD
relativamente a aspectos relacionados com a
sua prescrição, escolha da fonte e dispositivos
de administração, mas sobretudo focar os cuidados á pessoa/família com necessidade de
OLD. Desta forma, foi realçada a importância
desta terapêutica para o doente com patologia
respiratória crónica, bem como da reabilitação
respiratória e de estilos de vida saudáveis. É
ainda referenciado o enfermeiro de reabilitação, como facilitador no seio da equipa multidisciplinar para melhorar o grau de adesão e
como educador do doente/família com OLD.
Foi ainda enfatizada a importância de um programa domiciliário que permita não só uma
monitorização contínua para ajuste do débito
de O2, mas sobretudo um acompanhamento
personalizado de cada doente/família.
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57
CIÊNCIA & TÉCNICA
ENTRADA DO ARTIGO SETEMBRO 2012
REABILITAR A PESSOA
AMPUTADA
MARIA JOAQUINA LANDEIRA RIBEIRO
Enfermeira Especialista em Enfermagem de Reabilitação, CHLN- Hospital de Santa Maria
RESUMO
A amputação de um membro inferior produz no
indivíduo uma incapacidade física permanente.
Torna-se necessário o estabelecimento de um
programa de reabilitação que tenha como finalidade a autonomia, com a recuperação da locomoção através da deambulação. A utilização
dos diversos recursos disponíveis devem resultar
numa melhor qualidade de vida para o indivíduo,
tornando-o o mais independente possível no desempenho das suas actividades diárias e profissionais.
ABSTRACT
The amputation of a lower limb on the individual
produces a permanent physical disability. Therefore, becomes necessary to implement a rehabilitation program that has as its purpose the autonomy with the recovery of locomotion by ambulation.
The use of different resources available should
result in a better quality of life for the individual,
making it as independent as possible, in carrying
out their professional and daily activities.
NOVEMBRO 2014
MARIA DEOLINDA TEIXEIRA PINTO
Enfermeira com Especialidade de Enfermagem de Reabilitação, CHLN - Hospital de Santa Maria
58
Palavras-Chave: Reabilitação; Amputação; Membro Inferior.
Keywords: Rehabilitation; Amputation; lower limb
CIÊNCIA & TÉCNICA
REABILITAR A PESSOA AMPUTADA AO
MEMBRO INFERIOR
A perda de um membro inferior por amputação altera a função da extremidade
afectada tornando a locomoção difícil, senão
mesmo impossível. No entanto a amputação,
embora radical e traumática para o indivíduo, pode proporcionar-lhe o alívio da dor
crónica, permitindo que volte a mobilizar-se
com uma prótese, melhorando a sua qualidade de vida.
Neste sentido, a reabilitação tem como
objetivos:
- Recuperar a função do membro com controlo total do uso da prótese,
- Adquirir independência nas atividades da
vida diária,
- Apoiar a reintegração do indivíduo no seu
ambiente familiar, social e profissional
Etiologia
Segundo Carvalho (2003), as amputações
podem ser eletivas (neoplasias, patologia
vascular, sepsis…) ou de urgência (queimaduras, trauma…)
São vários os níveis a que a amputação
pode ser realizada. Serão referenciados os
que, segundo Carvalho (2003) apresentam
maior possibilidade de cicatrização, com
capacidade para fazer descarga do peso do
corpo e melhores condições de protetização,
facilitando a recuperação funcional.
 Amputação de Syme: permite a descarga
distal sobre o coto, possibilitando a protetização com pé mecânico. É possível a
marcha sem prótese, mas neste caso há
claudicação;
 Amputação transtibial é realizada entre
a articulação tibiotársica e a do joelho. A
articulação do joelho é preservada. Esta
é de importância capital na reabilitação
funcional, porque é a que se substitui
com menos eficiência;
 Desarticulação do joelho - este nível,
está indicado para a descarga distal, proporcionando uma maior propriocepção
ao indivíduo, em virtude de o comprimento total do fémur apresentar uma
boa alavanca de movimento, resultando
num bom controlo da prótese.
 Amputação transfemoral é efectuada
entre a desarticulação do joelho e a da
anca e podemos dividi-la em três níveis,
terço proximal, médio e distal.
 Desarticulação da anca – efectua-se a
desarticulação de todo o membro inferior, inclusive a cabeça do fémur.
REABILITAR É UM PROCESSO PRECOCE
Pré-operatório
Este período é fundamental porque permite que o indivíduo/família se sinta parte
integrante da equipa que o vai acompanhar
e logo membro pró activo no seu processo
de reabilitação. Entender o que o espera no
pós-operatório, permite acelerar o processo
de recuperação.
Quando a amputação já é uma realidade, a mudança radical da imagem corporal,
pode desencadear sentimentos de perda,
raiva, medo, choque e recusa (Marek, 2003).
O luto pela perda de parte do seu corpo e da
funcionalidade é equiparado à perda de um
ente querido (Chin, 1998 p.367).
A família deve ser implicada no processo
até ao ponto que seja agradável para o indivíduo (Marek, 2003).
Segundo Chin(1998) nesta fase o indivíduo deve ser capaz de:
• Verbalizar os sentimentos sobre a amputação;
59
CIÊNCIA & TÉCNICA
•
•
•
NOVEMBRO 2014
•
60
Definir a sensação de membro fantasma,
como uma sensação normal;
Descrever os tratamentos que devem ser
efectuados;
Descrever o controlo da dor. Há medicação que pode ser disponibilizada;
Identificar as metas da reabilitação.
Preparação física:
Deve ser construído um programa de reabilitação com o objectivo de :
o Melhorar a capacidade respiratória;
o Promover um coto bem cicatrizado e
com boa textura da pele;
o Prevenir problemas circulatórios;
o Prevenir e corrigir atitudes viciosas;
o Desenvolver um bom equilíbrio de marcha com canadianas;
o Fortalecer os músculos do membro são e
os remanescentes do membro operado;
assim como braços, tronco e abdómen;
o Integrar o indivíduo na vida diária.
Para Cruz (1994, p.35), a anestesia e a
agressão cirúrgica associadas à imobilidade no pós-operatório podem originar retenção de secreções e complicações respiratórias, bem como circulatórias e atrofia
muscular, pelo que devem ser feitos ensinos sobre
 Exercícios respiratórios globais e seletivos com mobilização da articulação
escapulo-umeral e com ênfase na fase
expiratória
 Posicionamentos que facilitem a mobilização de secreções;
 Reforçar a importância da hidratação
(oral se possível);
 Ensino da tosse e tosse dirigida.
 Contrações isométricas e isotónicas para
as articulações residuais do membro a
operar e dos restantes membros;
 Exercícios de força muscular dos membros superiores e abdómen com maior
incidência nos extensores dos braços e
depressores do ombro porque são muito
importantes na marcha com andarilho,
canadianas e cadeira de rodas;
 Exercícios de fortalecimento dos músculos abdominais e do tronco. Estes músculos são muito importantes para o equilíbrio;
 Exercícios para o membro são, com o objetivo de o preparar para a sobrecarga a
que vai ficar sujeito após a amputação.
• Adotar padrões de marcha e posturas
correctas em pé e em deambulação no
pós-operatório como:
 Equilibrar-se na perna boa, primeiro segurando-se a uma cadeira e depois sem
apoio. Treinar o subir/descer escadas
com canadianas;
 Levantar-se de uma cadeira sem apoio e
ficar de pé;
 Treinar marcha pendular com canadianas
ou nas barras paralelas com flexão do
joelho do membro a amputar (para amputações abaixo do joelho).
Estes exercícios de equilíbrio devem ser
realizados em frente a um espelho quadriculado.
Pós-operatório
É importante a monitorização do doente
para despistar possíveis complicações imediatas e prevenir uma incapacidade prolongada. Deve ser incentivado a fazer respirações profundas e a tossir para desobstruir as
vias aéreas. Assim que estiver vigil, é feito o
controlo da dor, visto que a dor severa pode
afectar os sinais vitais e diminuir a capacidade inspiratória profunda comprometendo a
desobstrução da via aérea e a capacidade de
CIÊNCIA & TÉCNICA
participar no auto cuidado (Marek, 2003).
indivíduo no leito:
 Amputações abaixo do joelho
- Em decúbito dorsal, com o membro amputado em extensão ao longo do leito e com
um saco de areia sobre o joelho, para evitar
a flexão deste por contractura dos músculos
isquiotibiais;
- Colocar um rolo de lençol ao longo da
coxa para evitar a rotação externa do membro, prevenindo as contracturas a nível dos
músculos rotadores externos;
- Os pés da cama devem estar elevados
para facilitar a circulação venosa e prevenir o
edema, devendo também, fazer-se alternância de decúbitos mantendo o joelho sempre
em extensão.
 Amputações acima do joelho
- Membro em extensão e adução ao longo do leito, com saco de areia na face anterior da coxa para evitar a flexão e na face
externa para evitar a abdução, prevenindo
assim as contracturas dos músculos flexores
e abdutores respectivamente.
- Logo que possível o decúbito ventral
deve ser incentivado para permitir a hiperextensão do membro residual e alongar os
músculos flexores da coxa.
- Os pés da cama também devem ser elevados Rodrigues (2009, p.301).
Após a cicatrização, o indivíduo deve ser
ensinado a cuidar do coto tendo em vista
uma adaptação eficaz à prótese.
- Lavar diariamente o coto com água e
sabão neutro, secando-o com uma toalha
fina e envolvendo-o em ligaduras. O objectivo é prevenir o edema, reduzir e moldar o coto cónicamente, dar firmeza aos
tecidos moles, facilitar um bom retorno
venoso, aliviar a dor e habituar o coto a
permanecer tapado;
- Massajar o coto com movimentos suaves e no sentido do retorno venoso para
facilitar a micro circulação, diminuir o
edema e deslocar aderências;
- Na superfície do coto não devem ser
aplicados óleos ou cremes. O objectivo é
conseguir um coto bem cicatrizado, com
a pele suficientemente dura para suportar
o peso do corpo com a prótese;
- A inspecção do aspecto da pele deve
ser efectuada pelo menos duas vezes por
dia, para despistar eritemas, flictenas e
escoriações. Deve ser usado um espelho
para observar melhor a parte posterior do
coto;
- A aplicação da ligadura elástica é essencial. É necessário ser resistente, com dimensões que variam conforme o nível de
amputação. Acima do joelho, 6 a 7 metros
de cumprimento e 15cm de largura. Abaixo do joelho, 6 metros de cumprimento
e 10cm de largura. O coto deve estar em
extensão e a ligadura é aplicada com firmeza, diminuindo o gradiente de pressão
da parte distal para a proximal sem fazer
circulares. O seu uso é permanente e é essencial incentivar o individuo à auto execução.
Nesta fase é fundamental a sensibilização
e motivação do indivíduo na participação
do programa de reeducação. Se não houver
adesão do mesmo ao programa, dificilmente
conseguirá uma locomoção eficiente que lhe
permita uma vida independente
Para além dos exercícios já descritos, Cruz
(1994) sugere ainda:
 Mobilizações activas e activas assistidas (com amplitude total) das várias articula-
61
NOVEMBRO 2014
CIÊNCIA & TÉCNICA
62
ções residuais do coto e dos restantes membros, para manter a mobilidade de todas as
articulações,
 Manter e melhorar a força muscular, com
exercícios isométricos e isotónicos para
todos os grupos musculares, dando ênfase aos extensores do joelho (quadricípedes) ou da coxa (glúteos), abdutores e
adutores.
 Fazer a ponte;
 Fortalecimento dos membros superiores
(depressores do ombro e extensores do
cotovelo);
 Fortalecimento dos músculos do tronco
e abdominais,
 Melhorar o equilíbrio e as posturas, incentivando a execução de exercícios ensinados no pré operatório;
 Efectuar o levante precoce;
 Treino de equilíbrio sentado – corrigindo
posturas;
 Levantar-se da cadeira sozinho e sem
apoio;
 Treino de equilíbrio de pé com cadeiras
de rodas e barras.
Os vários métodos utilizados, como exercícios isométricos, dinâmicos, resistência
progressiva e facilitação neuromuscular proprioceptiva, devem ser ensinados de forma
que o indivíduo entenda o objectivo funcional de cada um.
Ultrapassada a fase aguda, inicia-se a fase
pré protésica.
A prótese
A colocação de uma prótese visa a substituição funcional e estética do membro, assim
como diminuir o gasto de energia e minimizar o trauma do coto, pelo que apresentar
características tais como, conforto, ajustamento, alinhamento e boa aparência é um
fator de extrema importância.
Nem todos os indivíduos reúnem condições para o uso de prótese devido a vários
fatores tais como, infeção ou alterações estruturais do coto, idade avançada, doenças
neurológicas graves, doença mental e senil,
desorientação, doenças cardíacas graves,
obesidade, problemas visuais e recusa do
próprio doente (Fale et. al.,2003)
Alta – AVD´s/Familia/Sociedade/Trabalho
O programa de reabilitação contínuo
deve permitir elaborar um plano de alta que
facilite a passagem do indivíduo, agora portador de uma deficiência, a uma família/sociedade de onde veio e para onde deve regressar, não como incapacitado, mas como
verdadeiramente integrado.
Hoeman (2000) sugere, um modelo de
planeamento da alta para o domicílio que
inclua:
o Dar ao indivíduo e ao cuidador a capacidade de exercer as suas competências
em casa;
o Permitir validar a percepção que o indivíduo e cuidador têm da capacidade deste
para se desembaraçar no seu ambiente;
o Levantar a moral do indivíduo/cuidador
(recorrer a grupos de ajuda promove a
oportunidade de se relacionarem de par
para par possibilitando informação e
educação)
o Identificar problemas reais e possíveis
que deveram ser enfrentados antes da
alta;
o Ajudar o profissional de reabilitação a
avaliar as reais capacidades do indivíduo/
cuidador;
o Elucidar a equipa de reabilitação sobre a
disposição e motivação do individuo no
CIÊNCIA & TÉCNICA
regresso a casa, (Henderson &Pentland,
1991).
Cruz, Arménio Guardado, (1994). Reabilitação do Amputado do Membro Inferior. Sinais Vitais, Nº1.
CONCLUSÃO
A amputação de um membro inferior
produz no indivíduo uma incapacidade física
permanente.
Sendo assim, a utilização dos diversos recursos disponíveis devem resultar numa melhor qualidade de vida para este, tornando-o
o mais autónomo possível no desempenho
das suas actividades diárias e profissionais. A
intenção não é só dar mais anos á vida, mas
mais vida aos anos (OMS).
A reabilitação será um meio de tornar
possível a realização desse sonho.
Diogo, Maria José D’Elboux, (Janeiro-Fevereiro, 2003).
Avaliação Funcional de Idosos com Amputação de
membros Inferiores.
BIBLIOGRAFIA
Berke, Gary, (2004), Journal of Prosthetics and Orthotics, Vol 16, Num 3S, p6. URL:http://www.oandp.org.
Acedido em 27-02-2009.
Chin, Patricia A., et.al. (1998), Rehabilitation Nursing
Pratice. McGraw-Hill Companies. U.S.A.
Carvalho, José André, (2003). Amputações de membros
inferiores: em busca da plena reabilitação. (2ª Ed.). Manole. São Paulo.
Rev. Latino-am Enfermagem. www.eerp.usp.br/rlaenf.
Acedido em 13/11/2009.
Direcção Geral de Saúde, (2001). Guia para as Pessoas
Idosas. Viver com Amputação dos Membros inferiores.
Falé, et al. (2003). O doente amputado do membro inferior. Sinais Vitais, 47.
Figueiredo, et al. (1995), Cuidados de enfermagem ao
doente amputado. Enfermagem em foco. Nº 17.
Hoeman, Shirley P. (2000). Enfermagem de Reabilitação
– Processo e Aplicação. Loures: Lusociência.
Lawrence, W. Way, MD et. Al. . (2004). Cirurgia - Diagnóstico e tratamento. IIª Edição. Guanabara Koogan S.A.
Marek, Phipps Sands. (2003). Enfermagem médico-cirúrgica, conceitos e prática clínica. Volume II, (6ª Ed.),
(Capitulo 23 a 25). Loures: Lusociência.
Rodrigues, Afonso Duarte, et. al. (2009). Enfermagem
em ortotraumatologia. 1ª Edição. Formasau – Formação e Saúde Lda. Coimbra.
Stoner, Emery K. (1986). Krusen: Tratado de Medicina
Física e Reabilitação. Tratamento do Amputado da Extremidade Inferior. Terceira Edição. Editora Manole Ldª.
Portal do Cidadão com Deficiência www.pcd.pt. Biblioteca. Acedido em 16/11/2009.
63
CIÊNCIA & TÉCNICA
ENTRADA DO ARTIGO DEZEMBRO 2012
A INFLUÊNCIA DA ENFERMAGEM DE
REABILITAÇÃO NA QUALIDADE DE
VIDA DOS IDOSOS
ANTÓNIO JOSÉ PINTO DE MORAIS
Professor Doutor em Novos Contextos de Intervenção
Psicológica em Educação, Saúde e Qualidade de Vida.
Professor Coordenador na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (Orientador do trabalho)
NOVEMBRO 2014
JACINTA ROSA MORAIS
Enfermeira. Especialista em Enfermagem de Reabilitação, no Centro Hospitalar do Médio Tejo.
64
RESUMO
Na actual conjuntura de aumento da esperança
média de vida, a Enfermagem de Reabilitação
constitui uma mais-valia, garantindo cuidados
especializados que propiciem a autonomia e a
qualidade de vida dos idosos.
O interesse em conhecer a influência de Enfermagem de Reabilitação, na qualidade de vida dos
idosos, em contexto comunitário, deu origem ao
estudo que tem como objectivos: caracterizar a
população idosa, identificar a qualidade de vida
dos idosos, verificar as relações entre as variáveis
sócio-demográficas, de contexto clínico e a qualidade de vida dos idosos que recorrem à Unidade
de Reabilitação de Medicina Familiar, no Centro
de Saúde Norton de Matos.
É um estudo quantitativo, descritivo-correlacional, a amostra consiste em 45 idosos a realizar
programa de reabilitação, entre 1 de Julho e 18
de Dezembro de 2009, e a colheita de dados teve
por base o Questionário do Estado de Saúde SF36. No que respeita à qualidade de vida dos idosos verificou-se que após a realização do programa de reabilitação houve melhoria em praticamente todas as dimensões da qualidade de vida
JOSÉ MANUEL JORGE GOMES
Enfermeiro. Especialista em Enfermagem de Reabilitação, no Centro de Saúde da Madalena.
MÓNICA ROSÁRIO PEREIRA
Enfermeira. Especialista em Enfermagem de Reabilitação, no Centro Hospitalar do Médio Tejo.
estudadas, sendo a Dor Corporal o domínio em
que se constou um maior aumento do percentil
de referência desde o momento da admissão até
à alta.
Palavras-Chave: reabilitação, idoso, qualidade de
vida
ABSTRACT
In the current conjecture of increased life expectancy Nursing Rehabilitation is an asset, providing specialized care that foster independence and quality of life for seniors.
The interest in knowing the influence of Rehabilitation Nursing, quality of life of elderly people in
a community context, gave rise to the study aims
to characterize the elderly population, identify the
quality of life for seniors, to examine relationships
between variables socio-demographic, clinical
context and quality of life of elderly people who resort to the Rehabilitation Unit of Family Medicine
at the Health Center Norton de Matos.
It is a quantitative, descriptive, correlational, the
sample consists of 45 seniors to carry out rehabili-
CIÊNCIA & TÉCNICA
tation program, between July 1 and December 18,
2009, and data collection was based on the Health
Status Questionnaire SF-36.
With regard to the quality of life for seniors found
that after the completion of the rehabilitation
program has improved in virtually all dimen-
sions of quality of life study, and the Bodily Pain
domain in which consisted a greater increase in
the percentile of reference from admission to discharge.
INTRODUÇÃO
O envelhecimento da população é um fenómeno com tendência a aumentar com o
declínio da natalidade, mas também com o
aumento da esperança média de vida.
Na opinião de Neves citado por Figueiredo, Araújo e Figueiredo (2006), a importância
da doença, associada ao estilo de vida e ao
envelhecimento da população tem tornado
visível que os cuidados de saúde podem prolongar o tempo de vida e aumentar a qualidade da mesma.
Para o idoso, a qualidade de vida está
muito relacionada com a saúde, pois esta
emerge como um conjunto de atributos associados ao bem-estar, satisfação e manutenção de condições que possibilitam manter a sua função física e mental nas actividades de vida diária, recreativas, profissionais e
sociais (Henriques e Sá, 2007).
Reabilitar o idoso abrange duas áreas distintas mas que se relacionam, o estimular
capacidades e o recuperar habilidades perdidas, pelo estabelecimento de um programa de Reabilitação num processo dinâmico
com vista o atingir uma aceitável qualidade
de vida com dignidade, auto-estima e independência.
Para a Direcção Geral de Saúde (2003, p.
10), “… os Centros de Saúde são, por excelência, os responsáveis pela prevenção da
incapacidade e pela orientação adequada
do doente”. De acordo com Hoeman (2005,
p. 127), “… o exercício da Enfermagem de
Reabilitação na comunidade é uma arena de
eleição para prestar serviços de Reabilitação
complexos aos utentes e suas famílias”.
Pudemos verificar ao longo da nossa pesquisa bibliográfica, que o envelhecimento
crescente, o aumento progressivo de incapacidades e a consequente diminuição da qualidade de vida das pessoas idosas leva a que
os Enfermeiros desenvolvam cada vez mais a
sua actividade com as mesmas. A Enfermagem de Reabilitação poderá constituir uma
mais-valia nos serviços de saúde, nomeadamente em contexto comunitário, no sentido
do idoso recuperar ou manter a sua autonomia.
Na presente investigação pretendemos
conhecer a influência de Enfermagem de
Reabilitação, na qualidade de vida dos idosos, em contexto comunitário, tendo os seguintes objectivos:
� Caracterizar a população idosa que recorre à Unidade de Reabilitação de Medicina Familiar, no CSNM.
� Identificar a qualidade de vida dos idosos
que recorrem à Unidade de Reabilitação
de Medicina Familiar, no CSNM.
� Verificar as relações entre as variáveis sócio-demográficas, de contexto clínico e a
Keywords: rehabilitation, elderly, quality of life.
65
CIÊNCIA & TÉCNICA
NOVEMBRO 2014
qualidade de vida dos idosos que recorrem à Unidade de Reabilitação de Medicina Familiar, no CSNM.
Tendo as em conta o supra-referido, foram elaboradas seguintes hipóteses:
� Existe uma associação significativa entre
as variáveis sócio-demográficas e a qualidade de vida dos idosos constituintes
da amostra;
� Existe uma associação significativa entre
as variáveis sócio-demográficas e a patologia incapacitante dos idosos constituintes da amostra;
� Existe uma melhoria significativa positiva entre as variáveis de contexto clínico
(patologia incapacitante e programa de
reabilitação) e a qualidade de vida dos
idosos constituintes da amostra;
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METODOLOGIA
Com a finalidade de estudar a relação entre variáveis, para conhecer a influência da
Enfermagem de Reabilitação na qualidade
de vida dos idosos, desenvolvemos um estudo de carácter quantitativo, descritivo-correlacional.
A população correspondeu a todos os
utentes com idade igual ou superior a 65
anos, que recorreram à Unidade de Reabilitação de Medicina Familiar do CSNM, no período de tempo compreendido entre 1 Julho
e 18 de Dezembro de 2009.
A colheita de dados realizou-se, então,
nesse período de tempo, ficando a amostra
constituída por 45 utentes.
O instrumento de colheita de dados, composto por um Questionário de caracterização
da população, pelo Questionário do Estado
de Saúde SF-36 e pelo Questionário do pro-
grama de Enfermagem de Reabilitação, foi
utilizado em dois momentos. Num primeiro
momento foi aplicado o questionário de caracterização da população e o Questionário
do Estado de Saúde SF-36 (preenchido pelo
utente, aquando da admissão na Unidade de
Reabilitação de Medicina Familiar). No segundo momento, ou seja, aquando da alta,
foi aplicado o Questionário do Estado de
Saúde SF-36 e o Questionário do programa
de Enfermagem de Reabilitação (preenchido
pela Enfermeira de Reabilitação).
As considerações ético-legais foram preocupação neste estudo pelo que incluímos, no
instrumento de colheita de dados, uma folha
de rosto, na qual se identificam os autores, o
objectivo do estudo e se agradece a colaboração dos inquiridos.
Para assegurarmos o preenchimento do
instrumento, pelo mesmo utente, de forma
confidencial e anónima elaborámos uma
grelha de registo, através da qual se associou
o nome do utente a um número, garantindo
a confidencialidade dos dados e a validade
dos mesmos.
O estudo estatístico das variáveis foi efectuado através da utilização do programa de
estatística SPSS (Statistical Package for Social
Sciences), Versão 15.
No tratamento de dados aplicámos as
técnicas e procedimentos de estatística descritiva analítica e inferencial. Em relação à
estatística descritiva calculámos frequências
absolutas e percentuais, medidas de tendência central – média (M) e medidas de dispersão - desvio padrão (Dp). Relativamente
à estatística inferencial utilizámos testes paramétricos (coeficiente de Pearson, teste de
t de Student, para amostras emparelhadas e
ANOVA) e os seus correspondentes não paramétricos (Correlação de Spearman, teste U
CIÊNCIA & TÉCNICA
de Mann-Whitney, teste T de Wilcoxon, teste
de Kruskal-Wallis), sempre que as distribuições dos dados não asseguravam o pressuposto da normalidade (teste de Kolmogorov-Smirnov p < 0.05). Utilizámos, ainda, o teste
do Qui-Quadrado para relacionar variáveis
nominais e a sua alternativa, o teste de Fisher
(quando os seus pressupostos não são cumpridos). Os testes foram aplicados ao nível de
significância 5% (p < 0,05).
Quanto à realização do programa de reabilitação confirmou-se que as técnicas mais
utilizadas consistem na massagem terapêutica e no ultra-som, que são referidas em mais
de 80% dos casos (Tabela 1). As mobilizações,
fortalecimento muscular, calor húmido e correcção postural, também se mostraram muito frequentes, referidas por 67%, 64%, 60%
e 47% dos planos de tratamento analisados.
Tabela 1 - Intervenções de Enfermagem
de Reabilitação
APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS
Caracterização sócio-demográfica da
amostra
A amostra recolhida é constituída por 45
utentes da Unidade de Reabilitação de Medicina Familiar com idades compreendidas
entre 65 e 88 anos, perfazendo uma média
de 73.22 anos de idade. Prevalece o sexo feminino representando 78% da amostra. Ao
nível do estado civil, os utentes tendem a ser
casados (60%) ou viúvos (31%). No que se
prende com as habilitações literárias a situação mais comum consiste no nível do 1.º ciclo do Ensino Básico (68%).
Ao nível da acessibilidade à Unidade, importa apontar que todos os inquiridos residiam em zona de habitação urbana. Maioritariamente, os sujeitos chegam ao serviço
através de transportes públicos (49%).
Caracterização do contexto clínico
Verificamos que 44% dos sujeitos apresentam uma patologia incapacitante ao nível
da coluna e dos membros inferiores, sendo
que 38% dos casos indicaram uma patologia
ao nível dos membros superiores. Importa
ainda referir, que oito dos utentes que responderam ao questionário mostram mais do
que uma patologia incapacitante.
Percentagens Percentagens
de respostas
de casos
Intervenções
N
Massagem Terapêutica
44
19,3
97,8
Ultra som
37
16,2
82,2
Mobilizações
30
13,2
66,7
Fortalecimento Muscular
29
12,7
64,4
Calor húmido
27
11,8
60,0
Correcção Postural
21
9,2
46,7
Cinesiterapia Respiratória
12
5,3
26,7
Parafina
11
4,8
24,4
Treino Marcha
8
3,5
17,8
Treino Equilíbrio
5
2,2
11,1
Reeducação Funcional
3
1,3
6,7
Actividades de Vida
Diária
1
0,4
2,2
228
100,0
506,7
Total
Caracterização da Qualidade de Vida
As pontuações dos inquiridos, nas diferentes dimensões do instrumento foram calculadas de acordo com os procedimentos
indicados no estudo elaborado por Ribeiro
(2005) sobre a utilização do questionário do
estado de saúde SF-36. Com base nestas referências, foi possível constatar que os idosos
na admissão apresentam pontuações muito
67
NOVEMBRO 2014
CIÊNCIA & TÉCNICA
baixas, relativamente à amostra padrão referida no estudo de Ribeiro (2005), ao nível do
funcionamento físico (M = 58.22, Dp = 27.12),
desempenho físico (M = 51.11, Dp = 47.96),
dor corporal (M = 43.22, Dp = 24.17) e saúde
geral (M = 47.09, Dp = 17.15), na medida que
as suas pontuações localizam-se nos percentis 20 e 30. Também mostram-se em desvantagem ao nível da vitalidade (M = 55.33, Dp
= 23.92) e da saúde mental (M = 62.04, Dp
= 23.90), mas de forma menos severa, com
as pontuações situadas no percentil 40. Importa ainda referir que a amostra mostrou-se
acima da média ao nível do funcionamento
social (M = 76.11, Dp = 30.01) e no desempenho emocional (M = 73.33, Dp = 41.19), em
que os valores podem ser situados nos percentis 60 e 100, respectivamente (Tabela 2).
Tabela 2 – Qualidade de vida no momento
de admissão
68
Mínimo
Máximo
Média
Desvio
padrão
Percentil
de referência1
Funcionamento
físico
5
100
58,22
27,12
20
Desempenho físico
0
100
51,11
47,96
30
Dor corporal
0
84
43,22
24,17
20
Saúde geral
15
82
47,09
17,15
30
Vitalidade
10
100
55,33
23,92
40
Funcionamento
social
0
100
76,11
30,01
60
Desempenho
emocional
0
100
73,33
41,19
100
Saúde mental
12
100
62,04
23,90
40
Dimensão
Percentil de referência de acordo com o estudo de adaptação
do SF-36, (Ribeiro, 2005), valores normativos para a totalidade
dos participantes
1
Analisando as pontuações dos utentes no
momento da alta da unidade de reabilitação,
com base nos valores de referência indicados no estudo de adaptação do instrumento
utilizado à população portuguesa, é possível
verificar uma clara evolução nos resultados.
Tal como no momento anterior, as pontuações dos inquiridos situam-se acima da
média ao nível das dimensões funcionamento social (M = 85.28, Dp = 20.86) e desempenho emocional (M = 86.67, Dp = 26.27), no
percentil 80, especificamente, mas é depois
da intervenção da Unidade de Reabilitação
que os utentes passam a pontuar acima da
média também ao nível da dor corporal (M =
76.24, Dp = 21.69) e vitalidade (M = 68.64, Dp
= 15.90). No mesmo sentido, verifica-se que
os utentes passam a ter pontuações medianas quando comparadas com a população
geral ao nível da saúde mental (M = 57.16,
Dp = 15. 05).
Variáveis sócio-demográficas e a Qualidade de Vida
Com o objectivo de testar a associação
entre a idade e a qualidade de vida utilizámos o coeficiente de Pearson, que tem
como objectivo testar e descrever a força
e o sentido da relação entre duas variáveis
contínuas (Fortin, 1999). No momento da admissão apenas foi identificada uma relação
pertinente entre a idade e as dimensões da
SF-36. A idade encontra-se moderadamente
correlacionada com as pontuações ao nível
do funcionamento físico (r = -.32, p < 0.05) e
do funcionamento social (r = -.30, p <0 .05).
No que diz respeito ao funcionamento
físico, este integra 10 itens (3a ao 3j da escala SF-36), definindo-se como baixo quando o utente se avalia como muito limitado
na realização de todas as actividades físicas
(correr, andar, levantar pesos, ajoelhar-se,
abaixar-se, aspirar a casa, tomar banho ou
vestir-se). Esta dimensão encontra-se elevada quando o utente realiza todos os tipos de
CIÊNCIA & TÉCNICA
Tabela 3 – Coeficientes de correlação de Pearson entre idade
e as dimensões do SF-36 no momento de admissão
Funcionamento
físico
Desempenho físico
Dor corporal
Saúde
geral
Vitalidade
Funcionamento social
Desempenho emocional
Saúde
mental
R
-,324*
-,078
-,279
-,250
-,193
-,303(*)
-,010
-,109
P
,030
,612
,064
,098
,204
,043
,947
,475
N
45
45
45
45
45
45
45
45
Idade
actividade física, incluindo os mais exigentes.
Relativamente ao funcionamento social, esta
dimensão comporta 2 itens (6 e 10 da escala
SF-36), em que níveis baixos se associam a
problemas físicos e emocionais, que interferem de forma extrema e frequente com as
actividades sociais normais (relacionamento
com família, vizinhos, entre outros). Em níveis elevados, o utente realiza as actividades
sociais normais sem que problemas físicos
ou emocionais interfiram.
Ambos os coeficientes mostram-se negativos (Tabela 3), indicando que idades mais
elevadas se associam a piores índices de
qualidade de vida ao nível das duas dimensões.
Pode-se assim concluir que existe uma
correlação negativa estatisticamente significativa entre a idade e a qualidade de vida,
nas dimensões funcionamento físico, funcionamento social no momento da admissão.
Variáveis sócio-demográficas e a patologia incapacitante
Para analisar a associação entre algumas
variáveis sócio-demográficas e a patologia
incapacitante, utilizámos o teste do Qui-Quadrado e o Teste de Fisher.
Os resultados parecem indicar que a manifestação da patologia na coluna, nos membros inferiores e nos membros superiores
não dependem do sexo, estado civil, habilitações literárias ou do tipo de transporte utilizado dos utentes.
A média de idade dos utentes com patologia incapacitante na coluna ou nos membros
superiores não é significativamente diferente
dos utentes sem patologia incapacitante na
coluna ou nos membros superiores, respectivamente. Em contrapartida, os utentes com
patologia nos membros inferiores tendem a
ser mais velhos (M = 75.05, Dp = 4.42; t(43) =
-2.106, p < .05) do que os utentes sem patologia desse tipo (M = 71.76, Dp = 5.75).
Constatámos assim, que se verifica apenas uma relação estatisticamente significativa entre uma variável sócio-demográfica e a
patologia incapacitante.
Variáveis de contexto clínico e a Qualidade de Vida
Um outro objectivo por nós delineado
consiste no estudo da relação entre as variáveis clínicas e os resultados do questionário
SF-36. Neste sentido, procurou-se perceber o
impacto da patologia incapacitante nas várias
dimensões que integram a qualidade de vida.
Tínhamos pois, a intenção de individualmente compreender de que forma as várias
dimensões que constituem a escala SF-36 influenciava os utentes com determinada patologia incapacitante em estudo.
69
CIÊNCIA & TÉCNICA
Tabela 4 – Comparação entre as dimensões de SF-36, entre o momento de admissão
e o momento de alta médica *teste T de Wilcoxon
Dimensão
Funcionamento físico
Desempenho físico
Dor corporal
NOVEMBRO 2014
Saúde geral
70
Vitalidade
Funcionamento social
Desempenho emocional
Saúde mental
Média
Desvio padrão
Teste
p
Antes
58,22
27,12
-3,571
0,001
Depois
68,00
22,40
Antes
51,70
48,34
-3,749*
0,000
Depois
78,41
32,17
Antes
43,22
24,17
-11,976
0,000
Depois
76,24
21,69
Antes
47,09
17,15
-4,399
0,000
Depois
57,16
15,05
Antes
55,00
24,09
-4,923
0,00
Depois
68,64
15,90
Antes
76,11
30,01
-2,564*
0,010
Depois
85,28
20,86
Antes
73,33
41,19
-2,518*
0,012
Depois
86,67
26,97
Antes
62,82
23,60
-4,385
0,000
Depois
73,18
18,25
Porém , não se verificou nenhuma relação
estatisticamente significativa entre a patologia incapacitante em particular e as respectivas dimensões da escala SF-36. Os resultados parecem assim sugerir que a patologia
incapacitante, não distingue o nível qualidade de vida entre os utentes da Unidade.
No prosseguimento da presente análise,
procurou-se perceber se o programa de reabilitação teria impacto na qualidade de vida
dos inquiridos. Nesse sentido, compararam-se as dimensões da escala SF-36 entre o
momento da admissão na Unidade de Reabilitação e o momento da alta.
De acordo com os resultados encontra-
dos, foram encontradas diferenças significativas entre os dois momentos. Em todas
as dimensões verifica-se que as pontuações
dos idosos no momento da alta são sempre
superiores às do momento da admissão.
A sua análise demonstra que p < 0.05
para todas as dimensões de escala SF-36, ou
seja, existem diferenças significativas após
a realização do programa de reabilitação.
Conclui-se que existe uma relação estatisticamente significativa entre o programa de
reabilitação e a qualidade de vida. Constatámos que embora em todas as dimensões
haja um aumento das médias, realça-se o
facto de na dimensão dor corporal se veri-
CIÊNCIA & TÉCNICA
ficar uma maior diferença entre as médias
(antes do programa de reabilitação = 43,2 e
depois = 76,24).
Efectivamente o programa de reabilitação
realizado na Unidade de Reabilitação parece
melhorar o estado de saúde, e consequentemente, o nível de qualidade de vida dos
utentes (Tabela 4).
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A primeira hipótese formulada – “Existe
associação significativa entre as variáveis
sócio-demográficas (idade; sexo; estado civil; habilitações literárias e meio de
transporte utilizado até ao Centro de Saúde) e a qualidade de vida dos idosos constituintes da amostra”
Entre todos os procedimentos aplicados,
apenas foi identificada uma relação estatisticamente significativa entre a idade e algumas dimensões da qualidade de vida.
Verificámos assim, uma correlação negativa estatisticamente significativa entre a idade
e as dimensões funcionamento físico e funcionamento social no momento da admissão
à Unidade de Reabilitação, indicando que os
utentes com idade superior a 74 anos possuíam níveis mais baixos de qualidade de vida.
Assim os nossos resultados corroboram
a bibliografia consultada (Pereira e Santos,
2008), que referem o crescente envelhecimento da população acarreta o aumento de
situações incapacitantes, com problemas de
dependência e/ou défice funcional, o que
requer suporte tanto a nível social, familiar
como a nível da saúde. Tendo em conta que
a capacidade funcional do indivíduo diminui
com a idade, Ferreira (2007) realça a necessidade de estabelecer programas de reabilitação que visem melhorar as capacidades
na pessoa idosa e consequente melhoria da
qualidade de vida.
A bibliografia consultada aponta que o
envelhecimento da população torna evidente que os cuidados de saúde podem não salvar vidas, mas prolongam o tempo de vida
e/ou aumentam a qualidade de vida da mesma (Neves citado por Figueiredo, Araújo e
Figueiredo, 2006). Tal como refere Spirduso
(2005) o envelhecimento da população pode
ter como consequência o aumento da incidência e da prevalência de doenças degenerativas, que predispõe o idoso a uma qualidade de vida muito baixa.
Quanto à segunda hipótese – “Existe associação significativa entre as variáveis
sócio-demográficas e a patologia incapacitante dos idosos constituintes da amostra”
É de salientar que ao analisar a relação
entre as variáveis sócio-demográficas e a
patologia incapacitante, esta não se revelou
significativa, excepto no que concerne à idade.
Os resultados parecem assim, indicar que
a manifestação da patologia na coluna, nos
membros inferiores e nos membros superiores não dependem do sexo, estado civil, habilitações literárias ou do tipo de transporte
utilizado dos utentes.
No caso da idade, os utentes com patologia nos membros inferiores tendem a ser
mais velhos. O envelhecimento leva a um
aumento gradual de determinadas doenças
crónico-degenerativas que podem conduzir
à incapacidade. Lopes (2007) refere que as
doenças crónicas afectam cerca de dois terços das pessoas com mais de 65 anos.
Ao longo do processo de envelhecimento,
são maioritariamente acometidas as articulações que sofreram mais trabalho e carga,
71
NOVEMBRO 2014
CIÊNCIA & TÉCNICA
72
como sejam as articulações do joelho e coxo-femural.
No que respeita à terceira hipótese –
“Existe uma melhoria significativa positiva entre as variáveis de contexto clínico
(patologia incapacitante e programa de
reabilitação) e a Qualidade de vida dos
idosos constituintes da amostra”
Constata-se que a patologia incapacitante
especificamente não influência a qualidade
de vida entre os utentes que recorrem à Unidade de Reabilitação, uma vez que os resultados não têm significado estatístico.
De acordo com a bibliografia consultada
(Spirduso, 2005), o alargamento da esperança média de vida levou a um aumento da incidência e a prevalência de doenças crónicas
e degenerativas o que predispõe os idosos a
um baixo nível de qualidade de vida.
Pode-se afirmar que existem diferenças
significativas da qualidade de vida, entre os
dois momentos (admissão e alta). Em todas
as dimensões avaliadas, as pontuações dos
sujeitos aquando da alta são sempre superiores às pontuações no momento da admissão
o que nos leva a acreditar que a intervenção
da Unidade de Reabilitação melhora o estado de saúde, e consequentemente o nível de
qualidade de vida dos utentes que recorrem
à referida unidade. De realçar ainda, que a
dimensão dor corporal foi a que apresentou
maior destaque com o programa de reabilitação, entre o momento da admissão e alta.
Este resultado é extremamente positivo,
na medida em que, consensualmente, qualidade de vida e dor admitem interpretações
combinadas com múltiplas variáveis biopsicossociais. Respostas individuais à dor revelam que ela não pode ser considerada como
um simples fenómeno de estimulo-resposta.
Mais do que isso, a sua compreensão na
doença crónica deve ser sempre considerada.
Segundo Silva e Pazos (2005), a dor crónica é a segunda causa de procura pela assistência médica que aliada à dor do aparelho
locomotor são as mais rebeldes ao tratamento, portanto, as estratégias terapêuticas
devem adaptar-se às situações dos utentes,
aos seus receios e conceitos, considerando
os desapontamentos com resultados insatisfatórios anteriores. O sofrimento crónico
modifica o inter-relacionamento familiar e
social e favorece a instalação de depressão,
ansiedade e desespero, agravando o estado
geral e a qualidade de vida.
As autoras supracitadas, referem ainda
que um melhor conhecimento da influência
da dor na qualidade de vida permitirá” incorporar na avaliação integral do indivíduo
critérios de direccionamento terapêutico.
Conhecer e tratar a dor devem ser uma preocupação daquele que se propõe a cuidar do
paciente crónico” (Silva e Pazos, 2005, p. 375).
De encontro a este resultado, podemos
aferir que no caso da reabilitação geriátrica
atendendo a que as alterações relacionadas
com a idade são muitas vezes progressivas,
é exigida aos enfermeiros especialistas, uma
atenção especial no que diz respeito ao planeamento dos cuidados. Este deve fornecer
intervenções precoces e rápidas, de maneira
a promover a maior independência possível
ao longo do continuum dos cuidados. Desta
forma, muitas das ameaças às capacidades
funcionais e à qualidade de vida podem ser
evitadas ou minimizadas.
Efectivamente, o programa de reabilitação realizado na Unidade de Reabilitação
parece melhorar o estado de saúde, e consequentemente, o nível de qualidade de vida
dos utentes.
CIÊNCIA & TÉCNICA
Fundamentando esta análise, os autores
como Costa (2005) e Loureiro et al. (2007)
referem a importância de diferentes intervenções específicas de Enfermagem de Reabilitação junto dos idosos, no sentido de
promover condições favoráveis ao equilíbrio
físico e cognitivo do idoso. Neste sentido, é
prevenido um envelhecimento patológico,
maximizando as capacidades funcionais e
consequentemente a autonomia da população idosa.
CONCLUSÃO
Atendendo aos resultados obtidos e à sua
discussão, podemos retirar algumas conclusões e deixar algumas sugestões, as quais
julgamos pertinentes para um apoio mais
eficaz, tendo em vista a melhoria da qualidade de vida dos idosos.
Desta reflexão de índole prática identificámos as seguintes conclusões:
Relativamente à caracterização da população:
 A população estudada é maioritariamente do sexo feminino (77,8%);
 Quanto à idade da população estudada
62,2 % situa-se entre os 65 e os 74 anos;
 No que respeita ao estado civil, constatamos que 60 % estão casados sendo que
31,1 % já se encontram viúvos;
 Já no que se refere à zona de habitação
identificámos que a grande maioria dos
sujeitos (97,8 %) reside em meio urbano
e a distâncias menores a 5 Km do Centro
de Saúde;
 Relativamente à acessibilidade constatámos que a maioria dos idosos utiliza o
transporte público (48,9 %) para se deslocar até ao Centro de Saúde, sendo que
(33,3 %) da população desloca-se a pé.
•
No que respeita à situação do contexto clínico é de referir que:
 Verificámos que 44% dos sujeitos apresentam uma patologia incapacitante ao
nível da coluna e dos membros inferiores, 38% dos casos uma patologia ao
nível dos membros superiores. Oito dos
utentes mostram mais do que uma patologia incapacitante;
 Das Intervenções utilizadas no Programa
de Reabilitação concluímos que a massagem terapêutica foi utilizada em 44 dos
45 idosos incluídos no estudo. Outras
intervenções com considerável percentagem de utilização foram o ultra - som
(82,2%), mobilizações (66,7%), fortalecimento muscular (64,4 %) e aplicação de
calor húmido (60%).
No que se refere à qualidade de vida
relacionada com o contexto clínico:
 Um dado verificado é que após a realização do Programa de Reabilitação houve melhoria em praticamente todas as
dimensões da qualidade de vida estudadas, sendo que o domínio em que se
constou um maior aumento do percentil
de referência desde o momento da admissão até à alta terá sido na dor corporal que no final do tratamento apresenta
um percentil de 100.
Cruzando as variáveis sócio-demográficas e a patologia incapacitante:
 Constatou-se ausência de significado estatístico, à excepção da idade. Os utentes
com patologia nos membros inferiores
tendem a ser mais velhos.
Depois de reflectirmos sobre os resultados obtidos, julgamos que o nosso trabalho
ficaria enriquecido se a amostra fosse maior.
No entanto importa referir que a aplicação
da escala SF-36 em dois momentos, não per-
73
NOVEMBRO 2014
CIÊNCIA & TÉCNICA
74
mitiu abranger mais utentes para o tempo
estabelecido para a colheita de dados.
Contudo, reconhecemos que o papel do
enfermeiro especialista em reabilitação poderá ser preponderante na dinâmica dos serviços de saúde, tendo por consequência uma
melhoria de cuidados de saúde na comunidade (Mendes e Ribeiro, 2007).
Assim, numa tentativa de encontrar formas de melhorar a saúde e a qualidade de
vida dos idosos, através da Enfermagem de
Reabilitação, sugerimos que:
• Seria importante que os enfermeiros de
reabilitação explorassem a visita domiciliária, como estratégia de intervenção e
apoio junto dos idosos;
• Deveria ser coordenado o horário de trabalho dos cuidadores informais, com o
horário do programa de reabilitação no
sentido de maximizar o envolvimento
destes no processo adaptativo dos utentes.
Por outro lado, como a procura de novos
saberes constitui não só relevância para o
desenvolvimento da profissão, mas também
e essencialmente, beneficio para aqueles que
recebem os cuidados, pensamos que seria
vantajoso futuramente:
• Testar a influência de determinada intervenção de Enfermagem de Reabilitação
na independência funcional e qualidade
de vida dos idosos;
• Realizar um estudo de abordagem qualitativa pelo método fenomenológico analisando vivências dos idosos durante o
programa de reabilitação efectuado pelo
enfermeiro especialista.
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PUB
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