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Ópera Complexa Série Mátema Objetivos 1. Contar a história dos números complexos; 2. Apresentar as contribuições feitas por matemáticos ao longo da história para o desenvolvimento do conceito dos números complexos. Ópera Complexa Série Mátema Conteúdos História da matemática. Duração Aprox. 10 minutos. Objetivos 1. Contar a história dos números complexos; 2. Apresentar as contribuições feitas por matemáticos ao longo da história para o desenvolvimento do conceito dos números complexos. Sinopse O programa apresenta a história dos números complexos. Durante o programa a professora conta a Joãozinho e Sofia como surgiu a ideia dos números complexos e como que essa ideia revolucionou a matemática e dividiu opiniões de grandes matemáticos ao longo da história até chegar ao conceito que temos hoje. Material relacionado Áudios: Intrigas cúbicas; Softwares: Movimentos complexos. Introdução Sobre a série A série Mátema levanta aspectos históricos dos fundamentos da matemática. O contexto da ficção tem o objetivo de tornar o programa interessante para o ensino médio e para adolescentes, uma vez que faz uso do estereótipo do Joãozinho, da Sofia e da professora. Em geral, os assuntos são mais elaborados do que os que são vistos nos programas de ensino médio. No entanto, o programa traz ricas informações e tem o devido cuidado com as definições e conclusões matemáticas. Sobre o programa Aqui reproduzimos parte de uma versão do roteiro original do prof. Dicesar Fernandes que deu origem ao programa. Primeira Parte: Oi, gente, estamos novamente com vocês, com Joãozinho, aquele menino terrível, com Sofia, aquela aluna aplicada, e nossa gentil e simpática professora para contar mais uma das muitas histórias da matemática. Desta vez nossos amigos vão discutir a história dos números complexos. São 300 anos de história que começa nos anos 1.500. Vamos a ela, mas antes, PARLA BOMBELLI, PARLA! Più via più di meno, fa più di meno Meno via più di meno, fa meno di meno Più via meno di meno, fa più di meno Meno via meno di meno, fa più di meno Più di meno via più di meno, fa meno Più di meno via meno di meno, fa più ÁUDIO Ópera Complexa 3/12 meno di meno via più di meno, fa più Meno di meno via meno di meno, fa meno. Joãozinho: Que que é isso, professora? Professora: Durante muito tempo a matemática era dissertativa. Não existiam os símbolos de soma multiplicação, igualdade, etc. Foi desta forma que um matemático italiano, chamado Rafael Bombelli, enunciou a regra dos sinais e o uso do número imaginário √− 1. Sofia: Mas eu não entendi nada do que ele falou! Professora: Pois é, vocês reclamam que tem que decorar muitas fórmulas, mas agora estão vendo que a vida sem fórmulas era muito mais difícil. Esses versos são apenas para chamar a atenção, eles são as regras dos sinais para a multiplicação de números e de raízes imaginárias como a raiz quadrada de menos um. As mesmas que vocês vão ter que saber de cor! Vou traduzir para vocês mais tarde e dizer quem as escreveu. Sofia: Mas eu não sei italiano, professora! Professora: Mas não precisa. Vocês vão aprender essas regras para operar com os sinais e os números imaginários com notação moderna. Joãozinho: Professora, quem imaginou os números imaginários? Se são imaginários podem ser números? Professora: Calma, Joãozinho! É bom perguntar. Mas perguntando assim você embola o meio de campo. Vamos começar pelo começo. Joãozinho: O começo eu sei. Em algumas equações do segundo grau o discriminante é negativo e aí começa a confusão. Professora: Acontece que aí não é o começo. Quando as equações do segundo grau foram estudas, a solução que apresentava o discriminante negativo era declarada impossível e imediatamente ÁUDIO Ópera Complexa 4/12 ignorada. O primeiro a discutir um problema onde aparecem estranhos objetos foi Girolamo Cardano. Lá na época de Cabral. Joãozinho: Cabral! Puxa professora, pra senhora tudo começou com Sofia: Eu aprendi que naquele tempo Colombo descobriu a América, que Fernão de Magalhães deu a volta ao mundo de navio... Professora: Pois é, era uma época que muita coisa começou a acontecer. Está época é chamada nos livros de história de Renascença italiana. Joãozinho: Eu sei, dona. Não foi nessa época que os italianos descobriram o macarrão, a pizza e a lasanha? Gênios. Professora: Sofia: Não vou sequer responder! Professora, não preste atenção nesse moleque! Professora: Cardano era médico, astrólogo e matemático. Escreveu um importante livro intitulado Ars Magna, em latim. Em português é A Grande Arte. Neste livro, entre outras coisas, discute-se o problema de achar dois números de modo que a soma seja dez e produto seja quarenta. Sofia: Mas isso é fácil, basta equacionar o problema. Caímos então numa equação do segundo grau. Aplicamos a fórmula e achamos a solução. Joãozinho: Exibida! Professora: Sim, foi o que Cardano fez. As soluções são 5+√− 5 e 5− √− 5. Cardano não sabia o que fazer com esse estranho objeto √− 5. Ele procurava números, inteiros ou fracionários. Cardano tinha problemas já com os números negativos. De qualquer maneira, venceu sua repugnância por esse estranho objeto, fez as contas e verificou que eram raízes da equação. Surpreso prometeu estudar a questão mais tarde e abandonou o assunto. ÁUDIO Ópera Complexa 5/12 Sofia: Puxa, esse Cardano abandonava cedo as coisas! Professora: Absolutamente, Cardano era extremamente persistente. Isto a gente vê em outras de suas histórias. Sofia: Que histórias, professora? Professora: Ah! Por exemplo, a de sua contribuição para o estudo das equações cúbicas. Lá esses estranhos objetos aparecem de modo mais complicado ainda. Joãozinho: Não aguento. complicar vida dos outros. Esses matemáticos só gostam de Professora: Pelo contrário Joãozinho. A intenção dos matemáticos é esclarecer porque as coisas acontecem. Imaginar soluções para equações que não tem solução. Imaginar o imaginário. Joãozinho: Tá bão! Fico quieto, mas não caio nessa conversa não. É então que aparece uma nova personagem nessa história: Rafael Bombelli. Pouco se sabe sobre a vida de Bombelli além de que viveu em Bolonha e era mais novo que Cardano. Vamos agora a um intervalo. Enquanto isso resolvam o problema de Cardano e verifiquem se √− 2√− 2 = √(− 2 × − 2) = 2 ou − 2. Segunda Parte: Professora: Rafael Bombelli escreveu um livro intitulado, Álgebra, que foi publicado em 1572. Neste livro, Bombelli expõe de forma ordenada e completa tudo o que era conhecido sobre as equações do primeiro ao quarto grau. Considera os radicais tratados por Tartaglia e Cardano, com o radicando negativo, que não deve ser chamado nem de mais nem de menos, mas sim mais de menos. Os versos que vocês ouviram estão no livro de Bombelli e sua tradução é mais ou menos a seguinte: Mais vezes mais raiz de -1 é igual a mais a raiz de –1 Menos vezes mais raiz de -1 é igual a menos a raiz de –1 ÁUDIO Ópera Complexa 6/12 Mais vezes menos raiz de -1 é igual a menos a raiz de –1 Menos vezes menos raiz de -1 é igual a mais raiz de –1 Mais raiz de -1 vezes mais raiz de -1 é igual a -1 Mais raiz de -1 vezes menos raiz de -1 é igual a +1 Menos raiz de -1 vezes mais raiz de -1 é igual a +1 Menos raiz de -1 vezes menos raiz de -1 é igual a -1. Sofia: Puxa como era complicado. Nunca mais vou falar mal da notação moderna. Professora: Bombelli fez mais nesse livro do que dar as regras de cálculo com essa linguagem complicada. Estudou um método para extrair a raiz cúbica de binômios da forma a + ib. Sem usar a notação − 1 , pois ainda não havia sido introduzida. De qualquer forma, Bombelli deve ser considerado fundador da teoria dos imaginários, mesmo que esse termo também não havia ainda sido imaginado. Sofia: Mas a senhora ainda não contou quem imaginou a palavra imaginário e o número i = − 1 . Professora: O termo imaginário foi usado pela primeira vez por René Descartes, o imaginador da Geometria Analítica, em 1637. O problema de Descartes era saber quantas raízes uma equação de grau n poderia ter. Concluiu que uma tal equação teria n raízes. Mas que tem-se que contar as raízes reais, as falsas e as imaginárias. Por raiz falsa, Descartes entendia as raízes negativas. Além disso, afirmava que, em alguns casos, tanto as raízes verdadeiras quanto as falsas não são sempre reais, mas algumas vezes somente imaginárias. O livro de Descartes intitulava-se “O Discurso do Método”. Suas preocupações eram mais sobre o significado das coisas do que sobre o cálculo. Sofia: Mas e a história do imaginário ser um número! Professora: Calma, já chegamos lá. Antes é importante lembrar que Newton, que aparece depois de Descartes na história, aceitava as raízes negativas. No entanto, ele não aceitava os negativos como números, mas como quantidades negativas, aqueles que eram menores que zero. Já os imaginários. Newton chamava de raízes ÁUDIO Ópera Complexa 7/12 impossíveis, e argumentava que nada mais impossível que a raiz de um número negativo. Não era maior do que zero, nem menor do que zero. Dia desses vamos chamar o Newton para bater um papo com a gente. Sofia: Mas Newton já morreu. Vamos falar com um fantasma? Professora: Claro que não. Vamos apenas discutir as idéias de número que Newton tinha, usando seus próprios argumentos. De qualquer maneira, foi um contemporâneo de Newton que deu o próximo passo para o melhor conhecimento desses objetos imaginários: Abraham De Moivre. Foi De Moivre que obteve a fórmula de calcular a potência n de um objeto da forma cos(x)+ − 1 sen(x). A potência n é simplesmente e surpreendentemente cos(nx) + − 1 sen(nx). Uma fórmula muito bonita. Joãozinho: Eu não acho. Só não é mais feia que a Sofia! Professora: Pois eu acho uma fórmula muito bonita. Mais bonita ainda é a fórmula que Leonard Euler, um matemático genial, descobriu alguns anos depois de De Moivre: e −1 x = cos(x)+ − 1 sen(x). Em particular, Euler obteve a famosa relação que liga os três números mais importantes da matemática: e − 1 π = -1. Euler mostrou a profunda conexão que havia entre os números complexos, as funções trigonométrica e exponencial. Além disso, foi Euler que imaginou a notação i = − 1 . Mas essa notação só se popularizou quando Gauss passou a usá-la. Sofia: Puxa professora, esse Euler era fogo, né? Professora: Claro, Euler era um gênio. Calcula com os imaginários sem preconceito e com maestria. No entanto, Euler às vezes se confundia. Em certo lugar ele escreve que − 2 × − 2 = -2 e em outro que − 2 × − 3 = (−2)(−3) = 6 . Uma das contas está errada. Qual delas gente? Sofia: É a segunda professora. A − 2 vezes conforme as regras dadas por Bombelli. − 3 é igual a − 6 , ÁUDIO Ópera Complexa 8/12 Joãozinho: Ô garota insuportável, tem que ficar se exibindo mesmo, né?! Professora: Muito bem Sofia! Mas, além disso, Euler não sabia exatamente o que eram esses a+ib. Em seu famoso livro “Elementos de Álgebra” ele escreveu: Como todos os números que são possíveis de conceber são maiores que zero ou menores que zero, ou mesmo zero, é evidente que não podemos colocar a raiz quadrada de um número negativo entre os possíveis números, e desta maneira devemos dizer que é uma quantidade impossível. Então somos levados à idéia de números, os quais por sua natureza são impossíveis. E, portanto, eles são usualmente chamados quantidades imaginárias, porque só existem em nossa imaginação. Professora: Pois é, Euler seguia as idéias de Newton. Mas Gauss não concordava. Gauss pensava que todos os números eram uma livre criação do espírito humano. Portanto, todos os números eram imaginários. Foi Gauss o primeiro a usar a expressão número complexo. A opinião de Gauss tem que ser levada a sério, pois precisa muita coragem para contradizer uma opinião do príncipe da matemática. Sofia: Mas existem coisas que não são números? Como faço pra saber se uma coisa é ou não um número? Professora: Esse problema foi resolvido por Hermann Hankel em 1867. Hankel enunciou um princípio prático para se decidir se um objeto é ou não um número. O princípio de Hankel é mais ou menos o seguinte: 1) quando você estende uma classe de números e cria objetos para os quais existe um sentido de soma e multiplicação as propriedades básicas das operações devem ser mantidas, ou seja, as propriedades comutativa, associativa e distributiva; 2) uma parte dessa nova classe de números deve se identificar com os números os quais estendeu. Assim um número real x pode ser identificado com o número complexo x+0 i. Este é o caso da extensão dos números naturais para os inteiros, e das outras classes de números que conhecemos. ÁUDIO Ópera Complexa 9/12 Sofia: Que bonita história! Mas um pouco complicada, não é? Professora: Esta história é bem exemplar. Dificilmente uma pessoa descobre alguma coisa, estuda e encerra o assunto. A história começou com Cardano, passou por Bombelli, passou por Descartes, passou por De Moivre, passou por Euler, passou por Gauss e chegou a Hankel. Assim mesmo, fizemos apenas um resumo da história. Muitos outros contribuíram para o perfeito conhecimento dos números complexos. Além disso, sua história não termina com Hankel. Depois dele muitos outros tiveram o que dizer sobre os números complexos. Mas isso é assunto não apenas para outra história, é assunto para muitas outras histórias. Espero que alguns de vocês estudem bastante e no futuro venham a contar essas fabulosas histórias sobre os números. Sugestões de atividades Antes da execução Sugere-se ao professor que antes da execução do áudio revise com seus alunos os conceitos básicos do conjunto dos números complexos. Um número complexo é um número composto por uma parte real e por uma parte imaginária. Os números complexos podem ser representados das seguintes formas: Forma retangular ou cartesiana: Z = ( x , y ) = x + iy Onde x e y representam as partes real e imaginária, respectivamente. Forma polar: Z = r (cosθ + i sin θ ) Onde r é a distância do ponto Z = ( x, y ) até a origem do sistema de coordenadas. θ é o ângulo entre a semi-reta OZ e o semi-eixo real. ÁUDIO Ópera Complexa 10/12 Forma exponencial: Z = reiθ Onde reiθ = cos θ + i sin θ Plano complexo No plano complexo, ou plano de ArgandGauss, o eixo das abscissas representa a parte real e o eixo das ordenadas representa a parte imaginária do número complexo. Depois da execução Após a execução do áudio, sugere-se uma revisão das operações elementares com os números complexos visando solucionar o problema proposto no intervalo entre a primeira e a segunda parte do áudio. O problema de Cardano pede para verificar se − 2 ⋅ − 2 é igual a +2 ou -2. Partindo da identidade fundamental do número imaginário: i 2 = −1 define-se as operações elementares para o conjuntos dos números complexos na forma cartesiana: Dados dois números complexos X e Y , onde X = (a + bi) e Y = (c + di) , tem-se que: Soma: X + Y = (a + bi ) + (c + di) = (a + c) + (b + d )i Produto: XY = (a + bi )(c + di ) = (ac − bd ) + (bc + ad )i Para o problema proposto, na primeira parte da igualdade, temos que X = − 2 = 0 + 2i = 2i e Y = − 2 = 0 + 2i = 2i , portanto da definição do produto dos números complexos temos: X = 2i e Y = 2i , resultando: X ⋅ Y = (0 + 2i )(0 + 2i ) = (0 ⋅ 0 − 2 ⋅ 2 ) + ( 2 ⋅ 0 + 0 ⋅ 2 )i = −2 + 0i = −2 ÁUDIO Ópera Complexa 11/12 Portanto, problema de Cardano tem a seguinte solução: − 2 ⋅ − 2 = −2 Sugestões de leitura Eves, H., (2004). Introdução à história da Matemática. Editora Unicamp, Campinas. Boyer, C. B., (1996). História da Matemática, Edgar Bluncher Ltda, São Paulo. Sites recomendados: Números Complexos, (Pág. Visitada em 14/06/2011, 15:00h) http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/seminario/euler/numeros complexos.htm. Ficha técnica Autor William Martins Vicente Revisão Samuel Rocha de Oliveira Coordenação de Mídias Audiovisuais Prof. Dr. Eduardo Paiva Coordenação Geral Prof. Dr. Samuel Rocha de Oliveira Universidade Estadual de Campinas Reitor Fernando Ferreira Costa Vice-reitor Edgar Salvadori de Decca Pró-Reitor de Pós-Graduação Euclides de Mesquita Neto Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica Diretor Caio José Colletti Negreiros Vice-diretor Verónica Andrea González-López ÁUDIO Ópera Complexa 12/12
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