“as duas tartarugas” uma pintura atribuída a albert - acd

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“as duas tartarugas” uma pintura atribuída a albert - acd
ISSN 0100-6304
PUBLICAÇÕES AVULSAS
DO
MUSEU NACIONAL
NÚMERO 112
RIO DE JANEIRO
Agosto de 2006
ISSN 0100-6304
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
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Aloísio Teixeira
MUSEU NACIONAL
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Universidade do Estado do Rio de Janeiro
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PUBLICAÇÕES AVULSAS
DO
MUSEU NACIONAL
NÚMERO 112
AGOSTO – 2006
RIO DE JANEIRO
MUSEU NACIONAL
Publ. Avul. Mus. Nac.
Rio de Janeiro
n.112
p.1-24
ago.2006
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Capa – “As Duas Tartarugas”, pintura sobre papel atribuída a Albert Eckhout (“Koninkllijk Kabinet van
Schilderijen Mauritshuis”, Haia).
© 2006 – Museu Nacional/UFRJ
Publicações Avulsas do Museu Nacional – n.1 (1945)
Rio de Janeiro: Museu Nacional
1945 – 2006, 1 – 111
2006, 112
Irregular
ISSN 0100-6304
1. Ciência – Periódicos. I. Museu Nacional (Brasil)
CDD500.1
“AS DUAS TARTARUGAS”: UMA PINTURA ATRIBUÍDA A ALBERT
ECKHOUT (ca. 1610 - 1666), ARTISTA DO BRASIL HOLANDÊS1
(Com 13 figuras)
DANTE MARTINS TEIXEIRA2,3
RESUMO: Nascido em Groningen por volta de 1610, Albert Eckhout até hoje constitui um autêntico
enigma, não havendo detalhes sobre seu início de carreira e tampouco maiores informações acerca
dos trabalhos que executou no Brasil como um dos integrantes da comitiva de Johan Maurits van
Nassau-Siegen. A dispersão do acervo de Nassau levada a cabo nas décadas seguintes faria com
que poucas obras atribuíveis a Eckhout permanecessem em solo holandês, autoria esta muitas
vezes discutível ou comprovadamente equivocada. Nos últimos anos, tal desconfiança se estenderia
à pintura conhecida como “As Duas Tartarugas”, um “gouache” e têmpera sobre papel que retrata
dois jabutis em atitude belicosa. A particularidade de ambos exemplares representados pertencerem
a Geochelone carbonaria – única espécie do gênero até hoje registrada para o território brasileiro
onde Eckhout permaneceu durante sete anos – reforça a possibilidade de um quadro de sua lavra,
caso estejamos realmente diante de um original do século XVII. Além disso, a técnica e o material
empregados recordam bastante outras pinturas imputadas ao mesmo artista. Tais detalhes tornam
a recente datação desse trabalho para o século XIX ainda mais surpreendente, inclusive por contrariar
resultados anteriores que falam de um papel fabricado no século XVII. Como a presença de eventuais
restauros pode ter exercido uma influência decisiva sobre as últimas análises efetuadas, torna-se
imprescindível aguardar a realização de novos testes capazes de esclarecer as dúvidas pendentes.
Palavras-chave: “As Duas Tartarugas”. Albert Eckhout. Johan Maurits van Nassau-Siegen.
Geochelone carbonaria. Brasil Holandês.
ABSTRACT: “Two Brazilian Tortoises”: a painting attributed to Albert Eckhout (ca. 1610-1666),
artist of Dutch Brazil.
Born in Groningen around 1610, Albert Eckhout constitutes a veritable enigma even today, as
there are no details concerning the beginning of his career and neither is there a great deal of
information about the work he carried out in Brazil as one of the artists that had accompanied
Johan Maurits van Nassau-Siegen to the New World. The posterior dispersal of the Nassau’s collection
and inevitable misfortunes meant that few works attributable to Eckhout remained on Dutch soil,
and even then often of arguable or proven mistaken authorship. During the last years, a similar
questioning would appear referring to the painting known as “Two Brazilian Tortoises”, a gouache
and tempera on paper portraying two tortoises assuming a bellicose attitude. The particularity of
both the animals portrayed belonging to the Red-footed Tortoise (Geochelone carbonaria) – the only
species of the genus found in the part of Brazil where Albert Eckhout stayed for seven years –
reinforces the possibility of the painting being of his authorship, if we are really faced with a work
from the 17th century. In addition, the technique and the material employed in “Two Brazilian
Tortoises” are extraordinarily reminiscent of some of the originals attributed to the same artist.
Such details would make the 19th century dating of this work even more surprising, also for
contradicting previous results that speak of paper manufactured during the 17th century. As the
presence of possible restorations could have had a decisive influence on the last analyses to be
carried out, we must await the realisation of further tests capable of eliminating the existing doubts.
Key words: “Two Brazilian Tortoises”. Albert Eckhout. Johan Maurits van Nassau-Siegen. Geochelone
carbonaria. Dutch Brazil.
INTRODUÇÃO
Pouco tempo após sua chegada ao Recife em janeiro de 1637, Johan Maurits van NassauSiegen daria início à construção de dois palacetes na ilha de Antônio Vaz, até então quase
deserta. O primeiro deles, denominado “Schoonzigt” (a rigor “Bela Vista”, apesar de a
tradução “Boa Vista” ser bastante utilizada) servia de residência oficial , enquanto o de
1
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Submetido em 02 de fevereiro de 2006. Aceito em 23 de março de 2006.
Museu Nacional/UFRJ, Departamento de Vertebrados. Quinta da Boa Vista, São Cristóvão, 20940-040, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
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D.M.TEIXEIRA
“Vrijburg” (“Friburgo”) – situado à beira do rio Capibaribe – possuía uma área arborizada
aberta à visitação da elite local, tendo sido concluído após dois anos de trabalhos. Objeto
da admiração de diversos cronistas da época, esse parque abrigava uma autêntica
“ménagerie” renascentista, descrita por Frei Calado como “uma casa de prazer” que custaria
“muitos reais” a Nassau1. “Naquele areal estéril e infrutuoso”, o Conde plantaria “um jardim
com todas as castas de árvores de frutos que se dão no Brasil e ainda muitas que lhe
vinham de diferentes partes. E à força de muita outra terra frutífera trazida de fora em
barcas rasteiras – e muita soma de esterco – fez o sítio tão bem acondicionado como a
melhor terra frutífera. Pôs nesse jardim dois mil coqueiros, trazendo-os de vários lugares,
porque os pedia aos moradores e eles lh’os mandavam trazer em carros. Deles fez umas
carreiras compridas e vistosas, a modo da alameda de Aranjués2, e por outras partes muitos
parreirais e tabuleiros de hortaliça e de flores, com algumas casas de jogos e entretenimentos
aonde iam as damas – e seus afeiçoados – a passar as festas no verão e a ter seus regalos,
fazer suas merendas e beberetes, como se usa na Holanda, com seus acordes instrumentos”
(CALADO, 1648).
O gosto do Conde “era de que todos fossem ver suas curiosidades e ele mesmo por regalo
as andava mostrando”. Ali estavam “todas as castas de aves e animais que pode achar e
como os moradores da terra lhe conheceram a condição e o apetite, cada um lhe trazia a
ave ou animal esquisito que podia achar no sertão. Ali trazia os papagaios, as araras, os
jacus, os canindés, os jabutis, os mutuns, as galinhas da Guiné, os patos, os cisnes, os
pavões, os perus e galinhas em grande número, tantas pombas que não se podia contar.
Ali tinha os tigres, a onça, a suçuarana, o tamanduá, o bugio, o quati, o saguim, o apereá,
as cabras do Cabo Verde, os carneiros de Angola, a cutia, a paca, a anta, o porco javali e
grande multidão de coelhos. Finalmente não havia coisa curiosa no Brasil que ali não
tivesse, porque os moradores lh’as mandavam por a boa inclinação que viam de os favorecer
e assim também lhe ajudaram a fazer as suas duas casas, assim esta do jardim aonde
morava como a da Boa Vista” (CALADO, 1648)3.
Apesar da oportuna descrição de Frei Calado, certos detalhes sobre essas instalações ainda
inspiram dúvidas, haja vista que a planta do “Vrijburg” esboçada em BARLAEUS (1647) mostra
apenas um “estábulo para 29 cavalos” (“stabulum 29 ex ordine equarium”), um galinheiro
(“gallinarium”), um pombal (“retus columbarium”) e três tanques de peixes (“vivaria”) cercando
terrenos de tamanho variável, um dos quais ocupado por cisnes (“sedes olorina”) e outro por
uma coelheira (“moas cuniculorum”) (Fig.1). Embora algumas destas ilhotas – ou até mesmo
o galinheiro e o pombal – provavelmente extrapolassem suas primitivas funções, salta aos
olhos não haver qualquer referência concreta a alojamentos para animais silvestres, tanto
mais que a manutenção de mamíferos de grande porte e até mesmo de um plantel significativo
de aves implica em certas exigências, pois onças não podem ser enjauladas sem maiores
cuidados e tampouco gaviões se prestam a viver com galinhas. Semelhante lacuna revela-se
ainda mais intrigante pela narrativa de Frei Calado conferir a inequívoca impressão de
considerável variedade de espécies ter sido acomodada lado a lado nesse cativeiro, tarefa
nada desprezível tanto em termos de espaço quanto de recursos humanos e materiais. De
qualquer forma, parece fora de dúvida que o palacete de Friburgo não apenas possuía uma
“ménagerie” em seus jardins, como encerrava um verdadeiro “gabinete de curiosidades” em
suas dependências, onde as “faianças de Delft”, os “vidros caros de Veneza” e as “miniaturas,
marfins e esmaltes de paciente execução” confundiam-se com as “pinturas a fresco ou sobre
tela que revestiam as paredes” e os “primorosos painéis recordavam a natureza do sertão”
brasileiro, fornecendo admirável ambiente para as “preciosas coleções relativas aos indígenas
do Brasil e aos povos africanos” compostas por “tangapemas, arcos, setas e azagaias, ornatos
de penas, colares e cocares, redes e utensílios domésticos, talhas de barro e canoas” (teste
LIMA, 1885; NOGUEIRA, 1900). No entanto, a julgar pelo testemunho de BARLAEUS (1647), o
acervo de Johan Maurits van Nassau-Siegen também compreendia numerosos “naturalia”
entre peles de quadrúpedes, peixes e aves, todos levados para a Holanda quando do retorno
do Conde à Europa em julho de 16444.
Publ. Avul. Mus. Nac., Rio de Janeiro, n.112, p.3-24, ago.2006
“AS DUAS TARTARUGAS”: UMA PINTURA ATRIBUÍDA A ALBERT ECKHOUT (ca. 1610-1666)
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Fig.1- O palácio de Friburgo e a planta de seus jardins conforme gravuras do “Rerum per Octennium in
Brasilia”, obra de Gaspar Barlaeus publicada em Amsterdam no ano de 1647.
A despeito de parcela dos exemplares brasileiros terminar no recém formado “Theatrum
Anatomicum” de Leiden ou nas mãos de particulares como Albert Seba, Frederick Ruysch e
Olaus Worm (teste BLANCKEN, 1698; BOESEMAN, 1970; JOPPIEN, 1979; KAMPEN & VEEGENS, 18381840; LAND, 2001; MARTIUS, 1853; SMIT, 1986; WHITEHEAD, 1970, 1971, 1973), a maior parte
seria levada para a “Mauritshuis” em Haia, integrando um vasto “gabinete de curiosidades”
destinado a crescer ainda mais ao longo dos anos. Descrita com indisfarçável entusiasmo
por HENNIN (1661), essa coleção incluía “armas das Índias”, “espadas curtas e curvas, zagaias,
machados, lanças e outras armas”, “tambores” e “trombetas”, bem como valiosas peças
laqueadas provavelmente oriundas do Japão (teste SCHEURLEER, 1979), “embornais de tecido”
africanos, adornos de cabeça, escudos e leques de penas do Novo Mundo. Entre os “naturalia”,
Publ. Avul. Mus. Nac., Rio de Janeiro, n.112, p.3-24, ago.2006
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destacava-se a presença de “um crocodilo”, uma “extraordinária serpente aquática” de grande
porte, tartarugas de diversos tamanhos, um rinoceronte empalhado, um leão marinho, um
pequeno elefante e peles de leões, “tigres” e “leopardos”, além de um rato-almiscarado, uma
civeta e diferentes macacos. As aves estavam representadas por um “belo avestruz”, um
pelicano, uma cacatua, uma ave-do-paraíso e vários outros espécimens dignos de nota, tais
como araras, papagaios, pavões e gansos. Havia também um licorne, chifres de rinocerontes,
plantas odoríferas com valor comercial, conchas, madrepérolas, corais vermelhos ou brancos,
pórfiros, mármores, amostras de minério de ouro, prata, mercúrio, cobre e ferro, ouro em pó
e um conjunto de pedras preciosas com diamantes, rubis, topázios, ametistas, cristais de
rocha, jaspes e lápis-lazúlis.
Mesmo que não possa ser comparado à “Mauritshuis”, o palacete de Friburgo mostrar-se-ia
opulento o suficiente para estimular fortes críticas dos “Heeren XIX” sobre o principesco
estilo de vida mantido por Johan Maurits no Recife5. Enquanto membro legítimo de uma elite
renascentista (teste MOUT, 1979), o Conde diferia consideravelmente dos hábitos e expectativas
da burguesia mercantilista integrante da cúpula da Companhia das Índias Ocidentais, detalhe
capaz de explicar, ao menos em parte, o esforço subentendido na manutenção de uma vasta
“ménagerie” e na organização de um extenso “gabinete de curiosidades”. Por outro lado,
cumpre notar que acervos dessa natureza cumpriam o papel de autêntica “reserva de valor”
no universo da aristocracia seiscentista, constituindo ferramenta muito efetiva no processo
de ascensão social e enriquecimento de seus proprietários, os quais terminavam por dispor
de um contingente nada desprezível de cobiçadas raridades passíveis de serem transformadas
em dignidades – ou mesmo em ganhos mais efetivos – ao sabor de um sofisticado jogo de
trocas bem a gosto dos fidalgos da época6. Não deve causar surpresa, portanto, o fato de
Nassau ter oferecido tanto cavalos brasileiros, quanto veados mateiros, Mazama sp. (Cervidae),
aos Príncipes Friedrich Heinrich (1584-1647) e Wilhelm II (1626-1650) da casa de Orange,
além de utilizar Zacharias Wagener como portador para uma outra “encomenda de papagaios”
enviada à Holanda7. No entanto, o verdadeiro poder de barganha dos “tesouros” acumulados
no Brasil tornar-se-ia assaz evidente nas três grandes “permutas” realizadas por Johan Maurits
na segunda metade do século XVII (vide adiante).
Em 1644, desavenças com a Companhia das Índias Ocidentais culminariam no retorno de
Nassau à Holanda após sete anos de permanência no Brasil. Entre os tesouros levados para a
Europa nessa ocasião, destacava-se um número expressivo de quadros, pinturas avulsas,
estudos e desenhos executados por Albert Eckhout, Frans Post e outros membros da comitiva
flamenga sediada no Recife. Ao lado dos textos de naturalistas (vide MARCGRAVE, 1648; PISO,
1648, 1658) e dos relatos avulsos de soldados, pequenos funcionários e outros elementos
excluídos da cultivada elite cortesã, o legado desses artistas ajudaria a compor um
impressionante corpo documental sobre os animais, as plantas e os habitantes das terras do
Brasil, elenco capaz de satisfazer e estimular a irresistível atração da Europa seiscentista pelas
maravilhas de um Novo Mundo ignoto e fabuloso. Malgrado se manifestasse de maneira distinta
entre a nobreza e as camadas menos abonadas da população, o fascínio pelas novidades parece
constituir o principal fio condutor dessa febre que grassava em todos os ambientes sociais,
alcançando mesmo os elementos avessos ao latim dos eruditos e às preocupantes questões
filosóficas suscitadas pelas surpreendentes descobertas levadas a cabo no outro lado do oceano8.
Embora pouco afetasse o inequívoco utilitarismo sempre presente nas relações do Ocidente
Cristão com o chamado “mundo natural”, o afã renascentista pelo desconhecido contribuiria
para atenuar o estigma religioso que perseguiu a curiosidade humana a partir da Idade
Média9, propiciando a multiplicação dos chamados “livros de viagem” e das coleções de História
Natural (CAMPBELL, 1988; DELAUNAY, 1962; IMPEY & MACGREGOR, 2001; RADL, 1988; SCHNAPPER,
1988). No campo das artes plásticas, semelhante tendência levaria à representação cada vez
mais freqüente de plantas e animais exóticos, gênero de pintura que – apesar de secundário
pelos cânones absolutistas – terminaria por consagrar grandes mestres como Jan van Huysum,
Albert Dürer, Jan Brueghel “O Velho”, Jan Davidsz de Heem e Michelangelo da Caravaggio10.
Pertencendo a um período no qual a exatidão das imagens superava as incipientes técnicas
Publ. Avul. Mus. Nac., Rio de Janeiro, n.112, p.3-24, ago.2006
“AS DUAS TARTARUGAS”: UMA PINTURA ATRIBUÍDA A ALBERT ECKHOUT (ca. 1610-1666)
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descritivas, esses trabalhos muitas vezes se revelariam indispensáveis para o melhor
entendimento de uma realidade além de qualquer especulação, constituindo veículo perfeito
para o encanto de uma Europa ávida por descobertas e tesouros ultramarinos (BERGSTRÖM,
1956, 1977; SCHNEIDER, 1992). Não deve causar surpresa, portanto, que integrantes da nobreza
e da alta burguesia da época cada vez mais se ocupassem com a organização de amplas
“ménageries” e de sortidos “gabinetes de curiosidades”, ou mostrassem crescente interesse
por tapeçarias e ricos manuscritos ilustrados capazes de mesclar elementos da fauna e flora
da Europa com raridades vindas da América, da África ou do Oriente longínquo.
No ano de 1652, fração substantiva das coleções de Nassau passaria às mãos de Friedrich
Wilhelm, Eleitor de Brandemburgo, em troca de certas dignidades nobiliárquicas e uma
grande soma empregada na compra do castelo de Freudenberg nos arredores de Cléves.
Além de móveis, utensílios e despojos de animais do Brasil, o pecúlio enviado a Berlim
compreendia aquarelas e desenhos já encadernados em dois tomos, os chamados “Libri
Principis” ou “Manuais”, assim como numerosas pinturas sobre papel e “crayons” avulsos
que seriam pouco a pouco organizados por Christian Mentzel, médico particular de Friedrich
Wilhelm, nos quatro fólios do “Theatrum rerum naturalium Brasiliae” e no pequeno volume
da “Miscellanea Cleyeri”. Dois anos depois, haveria uma segunda doação a Frederik III, Rei
da Dinamarca, envolvendo 26 soberbos óleos – 23 dos quais da autoria de Eckhout – além
de algumas “curiosidades” do Novo Mundo. A última dessas grandes permutas,
aparentemente realizada com nítido objetivo pecuniário, teria sido levada a cabo em 1679
com Luís XIV de França, o qual recebeu quadros de Frans Post, objetos diversos, espécimens
científicos e várias figuras em cartões baseadas nos originais de Eckhout, material empregado
anos mais tarde na confecção da famosa “Tenture des Indes” da manufatura de tapeçarias
Gobelin (teste DRIESEN, 1849; JOPPIEN, 1979; LARSEN, 1962; PANHUYS, 1925; SCHNAPPER, 1994;
SOUSA-LEÃO, 1948, 1961; THOMSEN, 1938; WINTER, 1981; WHITEHEAD & BOESEMAN; 1989)11. Ao
contrário do que ocorreu com Frans Post, entretanto, a obra de Albert Eckhout logo cairia
no esquecimento, tendo sua importância reconhecida apenas há poucas décadas.
“AS DUAS TARTARUGAS”
Nascido em Groningen por volta de 1610, Albert Eckhout até hoje constitui um autêntico
enigma, não havendo detalhes sobre seu início de carreira e tampouco maiores informações
acerca dos trabalhos executados a mando de Nassau no Brasil. Quanto às atividades
desenvolvidas posteriormente na Europa, sabe-se que em 1653 – por indicação do próprio
Johan Maurits – Eckhout receberia o convite de atuar na corte da Saxônia, onde permaneceu
até 1663 a serviço dos Príncipes Eleitores Johann Georg I (1611-1656) e Johann Georg II
(1656-1680). Nesse período, teria produzido várias obras decorativas e quadros diversos, a
maioria dos quais destruída em fevereiro de 1945 durante o bombardeio de Dresden12. De
volta à cidade natal, Eckhout conseguiria filiar-se à guilda dos pintores locais já em 1664,
falecendo no ano seguinte ou logo nos primeiros meses de 1666 (BESINOVICH, 1943; BUVELOT,
2004a; EGMOND & MASON, 2004; LEITE, 1967; MASON, 2002; SCHAEFFER, 1958, 1959, 1965; SOUSALEÃO, 1956; THOMSEN, 1938; VALLADARES & MELLO FILHO, 1981; WHITEHEAD & BOESEMAN, 1989).
A dispersão do acervo promovida por Nassau e os inevitáveis azares da sorte fariam com que
poucos trabalhos imputáveis a Eckhout continuassem em solo holandês, atribuição esta amiúde
discutível ou nitidamente equivocada. Durante as extensas mostras sobre o artista promovidas
no Brasil (setembro de 2002 a maio de 2003) e na Holanda (março a junho de 2004), tal
desconfiança se estenderia à pintura conhecida como “As Duas Tartarugas”, um “gouache” e
têmpera sobre papel no qual são retratados dois jabutis em atitude belicosa (Fig.2). Arrolada
entre as peças da “Jacques Goudstikker Gallery”, Amsterdam, em 1936, essa obra permaneceria
na coleção privada de J.C.H. Heldring, Oosterbeek, entre 1942 e 1963, ano de sua aquisição
para a “Mauritshuis” pelos “Friends of the Mauritshuis Foundation” (BUVELOT, 2004b). A julgar
pela silhueta dos animais representados, o presumível original teria sofrido um corte à direita
que reduziu suas medidas para os atuais 51,0 x 30,5cm. Em algum momento, a figura resultante
Publ. Avul. Mus. Nac., Rio de Janeiro, n.112, p.3-24, ago.2006
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D.M.TEIXEIRA
acabaria sendo colada em um painel de madeira, obstáculo considerável para a exata
identificação do papel utilizado. Apesar de certas fontes contestarem a autoria de Eckhout
sem fornecer maiores justificativas (e.g. BRIENEN, 2001), as dúvidas atuais parecem basear-se
sobretudo no fato de as últimas análises apontarem para um material do século XIX ou
mesmo mais recente, resultado contrário ao papel do século XVII encontrado por exames
concluídos em torno de 1960 (compare BUVELOT, 2004c versus GELDER, 1960).
Conferida a Eckhout graças ao minucioso estudo de H.E. van Gelder publicado em 1960, “As
Duas Tartarugas” já havia sido antes relacionada a nomes tão diversos como Albrecht Dürer,
Pieter Brueghel “o Velho”, Jacob de Gheyn, Adam Willaerts, Pieter Claesz, Cornelis Cornelizoon
e Hendrik Goltzius (GELDER, 1960), artistas conhecidos por representarem diversos animais,
inclusive tartarugas. Malgrado não ocupem uma posição de destaque, os quelônios revelamse mais comuns nas pinturas dos séculos XVI e XVII do que se poderia supor a princípio,
também estando presentes em obras de outros mestres como Paolo Porpora, Michelangelo
Pace, Jan van Kessel “o Velho”, Pieter Boel, Jan Brueghel “o Velho” e Pieter Paul Rubens. Na
“Luxuria” de Pieter Brueghel (Fig.3), nos arranjos de frutas de Michelangelo Pace e nos
“bodegones” de Cornelis Cornelizoon ou de Pieter Claesz, as tartarugas talvez estabeleçam
um contraponto à gula e ao desejo carnal, pois esses répteis simbolizariam não a temperança
mas a pudícia no casamento, servindo de exemplo às mulheres por nunca deixarem sua
“casa” (i.e. a carapaça) e sempre observarem o silêncio, crença por sinal equivocada (COOPER,
1992; VRIES, 1984). Contudo, em trabalhos de Adam Willaerts, Paolo Porpora e Jan van
Kessel, as tartarugas parecem surgir como elementos típicos de uma dada paisagem, seja
uma marinha, um ambiente ribeirinho ou mesmo o obscuro solo de uma floresta. Em um
dos painéis de sua famosa “Alegoria dos Continentes” (in TEIXEIRA, 2002a), van Kessel chegaria
mesmo a ilustrar uma águia carregando uma tartaruga nas garras, provável alusão ao lendário
episódio da morte de Ésquilo, célebre poeta e dramaturgo grego13. Outrossim, não se pode
esquecer que a carapaça de certas espécies marinhas era um artigo muito valioso e cobiçado
por artífices e colecionadores de curiosidades do século XVII (COUPIN, ca. 1900; IMPEY &
MACGREGOR, 2001; SCHNAPPER , 1988), enquanto determinadas variedades terrestres
constituíam xerimbabos bastante usuais, conforme atesta o detalhe de Albert Dürer ter
possuído uma pequena tartaruga de estimação (EISLER, 1991).
Fig.2- “As Duas Tartarugas”, pintura sobre papel atribuída a Albert Eckhout (“Koninkllijk Kabinet van
Schilderijen Mauritshuis”, Haia).
Publ. Avul. Mus. Nac., Rio de Janeiro, n.112, p.3-24, ago.2006
“AS DUAS TARTARUGAS”: UMA PINTURA ATRIBUÍDA A ALBERT ECKHOUT (ca. 1610-1666)
9
Muito diferentes sob os mais diversos pontos
de vista, as contribuições dos vários
pintores mencionados têm em comum o fato
de mostrarem sempre as mesmas
tartarugas, na verdade um elenco muito
limitado composto apenas pelas poucas
formas existentes na Europa. Com efeito,
tanto as marinhas de Adam Willaerts quanto
aquelas de Jan van Kessel retratariam uma
tartaruga-cabeçuda, Caretta caretta
(Linnaeus, 1758), ao passo que um
comuníssimo cágado de água doce, Emys
orbicularis (Linnaeus, 1758) também seria
figurado por Jan van Kessel e Pieter
Fig.3- Detalhe dos cágados de água doce (Emys Brueghel. Sem embargo, um jabuti do
orbicularis) retratados na “Luxuria” de Pieter
gênero Testudo – Testudo graeca Linnaeus,
Brueghel, “o Velho” (1558).
1758 ou Testudo hermanni Gmelin, 1789 –
aparece como o grande predileto, podendo ser visto nos quadros de artistas como
Paolo Porpora, Michelangelo Pace, Jan van Kessel, Pieter Claesz, Cornelis Cornelizoon,
Pieter Boel, Jan Brueghel e Pieter Paul Rubens, por exemplo no esplêndido “Jardim do
Éden” da autoria desses dois últimos (Fig.4). Nenhum dos nomes da época, porém,
teria dedicado tanta atenção a esses répteis quanto Jan van Kessel, que chegou ao
cúmulo de reunir em uma mesma composição – o painel dedicado à África de sua
“Alegoria dos Continentes” – todas as espécies supracitadas mais um segundo tipo
de cágado de água doce – Mauremys leprosa (Schweigger, 1812) ou Mauremys caspica
(Gmelin, 1774) – ilustrando assim representantes dos três gêneros de quelônios
assinalados em território europeu (A RNOLD & BURTON , 1978; E RNST & BARBOUR , 1989).
Fig.4- “O Jardim do Éden” de Jan Brueghel, “o Velho”, e Pieter Paul Rubens (ca. 1615), com detalhe
mostrando o jabuti (Testudo sp.) representado (“Koninkllijk Kabinet van Schilderijen Mauritshuis”, Haia).
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D.M.TEIXEIRA
Em uma época onde a avidez e curiosidade pelas maravilhas de terras distantes
eram fortes o suficiente para converter os mais ínfimos animais exóticos em evento
destinado a atrair o público às estalagens (Fig.5), destaca-se o feito de apenas
tartarugas locais terem sido normalmente aproveitadas como motivo.
A presença de um quelônio estranho à fauna européia em um pretenso quadro
seiscentista revela-se, por conseguinte, assaz peculiar e evoca de imediato a
possibilidade de uma construção artística sem qualquer relação com a verdade
dos fatos. Afinal de contas, embora a obra considerada seja muito realista e de
indiscutível qualidade, os dois jabutis representados transmitem uma atitude
intensa e belicosa muito distante da opinião corrente sobre esses répteis,
particularidade que levaria van Gelder a encará-los como “bichos de má índole”
Fig.5- Publicado por Jan Velten em 1702, esse panfleto convida o público de Amsterdam a visitar a
taverna do “Elefante Branco” (“Witte Oliphant”) no antigo “Botermarkt” (atual “Rembrandtplein”) para
tomar suas colações e conhecer um exótico pangolim, Manis sp., do Ceilão e um estranho lagarto,
aparentemente um iguana sul-americano, Iguana iguana (Linnaeus, 1758).
Publ. Avul. Mus. Nac., Rio de Janeiro, n.112, p.3-24, ago.2006
“AS DUAS TARTARUGAS”: UMA PINTURA ATRIBUÍDA A ALBERT ECKHOUT (ca. 1610-1666)
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(G ELDER , 1960). No entanto, a proverbial mansidão e placidez das tartarugas seriam, ao
menos em parte, mera ficção, conforme atestam os sugestivos nomes ingleses de “snapping
turtle” ou “alligator turtle” conferidos a Chelydra serpentina (Linnaeus, 1758) e Macroclemys
temminckii (Troost, 1836), duas variedades aquáticas do Novo Mundo famosas por infligir
sérios ferimentos a pescadores desavisados. Exceto por uma mordida ou outra, os jabutis
não costumam chegar a tal extremo, mas travam curiosíssimas disputas por comida ou
durante o período reprodutivo (Fig.6). Nessa ocasião, os machos de espécies como Chersina
angulata (Schweigger, 1812), Geochelone elegans (Schoepff, 1795), Geochelone pardalis
(Bell, 1828) e Geochelone carbonaria (Spix, 1824) tornam-se mais agressivos, mordendo,
dando cabeçadas e golpeando os adversários (ERNST & BARBOUR, 1989). Alguns indivíduos
chegam mesmo a utilizar diferentes partes da carapaça como um verdadeiro aríete,
investindo contra seus oponentes até virá-los de pernas de para cima, castigo que pode
ser fatal caso os perdedores não consigam retomar sozinhos a postura correta.
Qualquer artista do século XVII capaz de transportar confrontos desse tipo para uma tela
dominaria um conhecimento do animal retratado bem superior à média de seus pares,
detalhe sobremodo indicativo no caso de uma tartaruga exótica. Não obstante, o
neoplatonismo corrente na Europa após o Renascimento poderia fornecer uma explicação
bem mais simples pois, ao apagar as diferenças entre a matéria e o espírito e visualizar o
cosmo como uma unidade indissolúvel governada por uma complexa rede de influências
Fig.6- Comparação entre adultos de Geochelone carbonaria em postura agressiva (foto Márcia Mocelin) e
“As Duas Tartarugas” (“Koninkllijk Kabinet van Schilderijen Mauritshuis”, Haia).
Publ. Avul. Mus. Nac., Rio de Janeiro, n.112, p.3-24, ago.2006
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D.M.TEIXEIRA
vitais e espíritos invisíveis, essa doutrina postulava que cada parte do todo mantinha com
as outras uma estreita relação imposta por uma série de “simpatias” e “antipatias” ocultas,
princípio válido inclusive para os organismos vivos. Um dos reflexos mais imediatos nas
artes plásticas seria a popularização de quadros dedicados a combates promovidos entre
animais vistos como “inimigos naturais”, prática às vezes estendida a lutas entre indivíduos
de uma mesma espécie (TEIXEIRA, 2002a). De qualquer maneira, chama a atenção que os
dois jabutis tenham sido figurados com a boca eriçada de dentes agudos prestes a morder,
pois tais répteis possuem maxilares lisos sem qualquer sinal de estrutura parecida14. Detalhe
muito destoante em uma pintura de excepcional realismo, esse equívoco talvez possa ser
entendido como uma licença artística destinada a conferir um certo ar de ferocidade a
seres de aparência tão inofensiva.
DISCUSSÃO
A maioria dos autores concorda que os jabutis representados em “As Duas Tartarugas”
pertenceriam ao gênero Geochelone da América do Sul, argumento de grande peso na atribuição
dessa pintura a Albert Eckhout (GELDER, 1960; WHITEHEAD & BOESEMAN, 1989). Contudo, certas
fontes identificariam ambos exemplares como jabutis-piranga, Geochelone carbonaria,
enquanto outras proporiam o jabuti-tinga, Geochelone denticulata (Linnaeus, 1766), discussão
assaz intrincada por envolver duas formas muito semelhantes que passariam a ser
consideradas espécies independentes apenas em 1960 (ERNST & BARBOUR, 1989; WILLIAMS,
1960) (Fig.7). A solução do problema reveste-se de particular interesse pelas diferenças
observadas na distribuição geográfica desses répteis, pois Geochelone carbonaria surge como
o único jabuti assinalado para os antigos domínios da Companhia das Índias Ocidentais.
Com efeito, sua área de ocorrência se estenderia do nordeste ao sul do Brasil e grande parte
da Amazônia, enquanto Geochelone denticulata é um quelônio da Amazônia e do Brasil Central
com uma população
isolada no sudeste do país
(Fig.8). Podendo alcançar
55cm de comprimento,
Geochelone carbonaria
sempre foi bastante
apreciada como alimento
ou animal de estimação,
habitando tanto as
paisagens mais secas do
interior quanto as florestas
úmidas do litoral nor
destino (FREITAS & SILVA,
2005; LUEDERWALDT, 1926;
PRITCHARD & TREBBAU, 1982;
VANZOLINI, 1994).
Ao contrário do que
indicam os nomes popu
lares mencionados acima,
o colorido desses dois
répteis não constitui uma
indicação confiável, pois as
escamas da cabeça e patas
podem ser amarelas ou
alaranjadas em Geo Fig.7- Exemplares típicos de Geochelone carbonaria (esquerda) e
chelone denticulata e Geochelone denticulata (direita), com detalhes da cabeça de ambas
amarelas, alaranjadas ou espécies (fotos Márcia Mocelin).
Publ. Avul. Mus. Nac., Rio de Janeiro, n.112, p.3-24, ago.2006
“AS DUAS TARTARUGAS”: UMA PINTURA ATRIBUÍDA A ALBERT ECKHOUT (ca. 1610-1666)
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vermelhas em Geochelone carbonaria15. Na verdade, os autênticos caracteres diagnósticos
estão no plastrão, carapaça e escamas da cabeça, detalhes muito difíceis ou mesmo
impossíveis de visualizar na pintura em foco. Não obstante, a cabeça dos exemplares retratados
parece apresentar escamas pré-frontais pequenas, enquanto a carapaça é
indiscutivelmente negra, ostentando escudos centrais com anéis de crescimento bem definidos
ao redor da auréola e os primeiros escudos marginais com a borda sem projeções (Fig.9).
Fig.8- O Brasil Holandês comparado com a distribuição geográfica de Geochelone denticulata e Geochelone
carbonaria na América do Sul (modificado de VANZOLINI, 1994).
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D.M.TEIXEIRA
Apesar de o ângulo escolhido pelo artista não ser nada favorável, essas quatro características
apontam para Geochelone carbonaria, pois Geochelone denticulata teria escamas pré-frontais
alongadas e a carapaça marrom, possuindo escudos centrais com anéis de crescimento
discretos ou ausentes e os primeiros escudos marginais com a borda denticulada (ERNST &
BARBOUR, 1989; WILLIAMS, 1960).
A conclusão de que os jabutis figurados pertencem ao único representante do gênero até hoje
registrado para o território brasileiro onde Albert Eckhout permaneceu durante sete anos reforça
a possibilidade de uma obra da sua autoria, caso estejamos realmente diante de um trabalho
do século XVII. Cabe lembrar, portanto, haver relatos sobre “jabutis” na “menágerie” do palacete
de Friburgo, bem como referências a “tartarugas de diversos tamanhos” no “gabinete de
curiosidades” montado por Nassau em Haia (teste CALADO, 1648; HENNIN, 1661). Tampouco
devem ser esquecidas as notícias acerca de Geochelone carbonaria existentes em vários
manuscritos ilustrados do Brasil Holandês (e.g. o “Thierbuch” de Zacharias Wagener e o “Diário”
de Caspar Schmalkalden fide TEIXEIRA, 1997, 1998) e nos livros dos naturalistas Georg Marcgrave
e Willem Piso (Fig.10). Segundo esses textos, o jabuti-piranga alimentava-se de raízes, frutos
silvestres, vermes e insetos, sendo muitas vezes mantido em cativeiro como xerimbabo ou para
abate. Acima da carne e dos ovos, o fígado era reputado como de “excelente paladar” (MARCGRAVE,
1648; PISO, 1658), opinião até hoje compartilhada pelos habitantes da Amazônia brasileira.
De autoria desconhecida, a imagem de uma jovem Geochelone carbonaria encontrada nos
“Libri Principis” (Fig.11) desperta a atenção por reaparecer no “Le Cheval Rayé”, uma das
tapeçarias da renomada “Tenture des Indes” da manufatura Gobelin (in TEIXEIRA, 2002b),
coincidência notável pelos numerosos indícios de os cartões relativos à primeira série, dita
“Anciennes Indes”, estarem calcados em trabalhos de Albert Eckhout (BESINOVICH, 1943;
SOUSA-LEÃO, 1944, 1969; WHITEHEAD & BOESEMAN, 1989). Décadas mais tarde, ao aceitar a
incumbência de produzir novos cartões para as “Nouvelles Indes”, o artista francês François
Desportes voltaria a figurar a mesma Geochelone carbonaria ao lado de peixes e crustáceos
encontrados nos “Libri Principis” ou no “Theatrum rerum naturalium Brasiliae” (Fig.12).
Fig.9- Comparação entre as escamas da cabeça e os escudos da carapaça de Geochelone denticulata e
Geochelone carbonaria (desenho original Márcia Mocelin), com detalhes dos exemplares retratados em
“As Duas Tartarugas” (“Koninkllijk Kabinet van Schilderijen Mauritshuis”, Haia).
Publ. Avul. Mus. Nac., Rio de Janeiro, n.112, p.3-24, ago.2006
“AS DUAS TARTARUGAS”: UMA PINTURA ATRIBUÍDA A ALBERT ECKHOUT (ca. 1610-1666)
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Apesar de substantivas, as evidências
acumuladas não permitem a atribuição
definitiva de “As Duas Tartarugas” a
Albert Eckhout, pois jabutis desse tipo
tanto poderiam ter chegado à Europa
seiscentista como curiosidades oriundas
do Novo Mundo quanto ter servido de
inspiração para um dos numerosos
artistas europeus vindos ao Brasil a
partir do primeiro quartel do século XIX16.
Fig.10- Exemplar de Geochelone carbonaria segundo
gravura da “De Indiae Utriusque re naturali et medica”,
obra de Willem Piso publicada em Amsterdam no ano
de 1658.
Tal hipótese, no entanto, revela-se
bastante factível no caso de um quadro
holandês do século XVII, pois raros
pintores do período tiveram a
oportunidade de conhecer répteis sulamericanos vivos. Além disso, a técnica
e o material empregados recordam
bastante alguns originais do “Theatrum
rerum naturalium Brasiliae” conferidos a
Eckhout (Fig.13), detalhe que torna a
datação de “As Duas Tartarugas” para o
Fig.11- Jovem de Geochelone carbonaria figurado
nos “Libri Principis” (“Biblioteki Jagielloñskiej”,
Cracóvia).
século XIX ainda mais surpreendente,
inclusive por contrariar referências
anteriores sobre o papel empregado
remontar ao século XVII (compare
BUVELOT , 2004c versus G ELDER , 1960).
Como eventuais restauros poderiam ter
exercido influência decisiva nas últimas
análises efetuadas, parece imprescindível
aguardar a realização de novos testes
capazes de esclarecer as dúvidas
pendentes.
Fig.12- Detalhe do exemplar de Geochelone carbonaria
figurado em um dos estudos de François Desportes,
artista encarregado de compor os cartões utilizados
na confecção das “Nouvelles Indes”, série de tapeçarias
da Manufatura Gobelin (“Manufacture Nationale de
Sèvres”, Sèvres).
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D.M.TEIXEIRA
Fig.13- “Pitus e Lagarto”, pintura sobre papel atribuída a Albert Eckhout pertencente ao “Theatrum
rerum naturalium Brasiliae” (“Biblioteki Jagielloñskiej”, Cracóvia).
NOTAS
A curiosidade e a busca do luxo que marcaram a Renascença parecem ter sido bastante
favoráveis para a formação de jardins botânicos, “ménageries” e “gabinetes de
curiosidades”. A partir do final do século XV, coleções de plantas e animais vivos
começariam a ser organizadas por vários príncipes europeus, com destaque para o Duque
Ferrante de Nápoles (1433-1494). Tomando impulso durante os séculos XVI e XVII, essa
tendência permitiria a criação, em Pádua, do primeiro jardim botânico ligado a uma
universidade (1545), exemplo seguido pelas instituições de Pisa (1547), Bolonha (1567),
Leiden (1577), Montpelier (1598) e Oxford (1621), enquanto o insuperável tirocínio do
Cardeal Richelieu (1585-1642) levaria à fundação do “Jardin des Plantes” de Paris em
1626 (SINGER, 1959). Entretanto, poucos acervos eram capazes de ombrear-se com aquele
de Rodolph II de Habsburgo (1552-1612), que logrou reunir uma variedade surpreendente
de animais vivos e espécimens zoológicos das mais diferentes partes do mundo (HAUPT et
al., 1990). Entre essas raras exceções estava a famosa “ménagerie” mantida pelo Príncipe
Maurits van Nassau da casa de Orange (1567-1625), primo em segundo grau de Johan
Maurits van Nassau-Siegen, cujo plantel incluía até mesmo um dodo, Raphus cucullatus
(Linnaeus, 1758), das ilhas Mascarenhas, exemplar retratado por artistas como Roelandt
Savery (teste JACKSON, 1993, 1999).
2
Frei Calado pretende comparar as alamedas do palacete de Friburgo à suntuosidade dos
jardins de Aranjuez, cidade à margem do Tejo que abrigava uma das residências dos reis de
Espanha. Segundo BARLAEUS (1647), Nassau teria mandado transplantar um total de “700
coqueiros, estes mais altos, aqueles mais baixos, elevando uns o caule a 50 pés, outros a
40, outros a 30 antes de atingirem a separação das palmas”, diferença talvez motivada por
razões estéticas de uma inusitada topiaria. Contrariando a crença de tais árvores não
suportarem qualquer manejo, “mandou o Conde buscar [coqueiros] à distância de três ou
quatro milhas em carros de quatro rodas, desarraigando-os com jeito e transportando-os
para a ilha em pontões lançados através dos rios”. Para grande surpresa de todos, a iniciativa
seria coroada de tamanho sucesso que até mesmo árvores “septuagenárias e octogenárias”
mostrar-se-iam fecundas, “produzindo frutos copiosíssimos logo no primeiro ano”.
Completavam o jardim “252 laranjeiras, além de outras 600 que serviam de cerca ... 50 pés
de limões grandes, 80 de limões doces, 80 romãzeiras e 66 figueiras”, bem como “mamoeiros,
jenipapeiros, mangabeiras, cabaceiras, cajueiros, uvalheiras, palmeiras, pitangueiras,
1
Publ. Avul. Mus. Nac., Rio de Janeiro, n.112, p.3-24, ago.2006
“AS DUAS TARTARUGAS”: UMA PINTURA ATRIBUÍDA A ALBERT ECKHOUT (ca. 1610-1666)
17
romeiras, araticuns, jamacarús, bananeiras, tamarineiros, castanheiros e tamareiras”
(BARLAEUS, 1647). Em vários aspectos, o parque de Friburgo seguia a típica tradição holandesa
de organizar um “jardim utilitário” com pomares e canteiros de hortaliças (teste DIEDENHOFEN,
1979). Vide também SILVA & ALCIDES (2002).
3
Segundo WÄTJEN (1921), “todo o habitante da Nova Holanda que tinha a ocasião de
encontrar uma planta rara ou um animal observado com pouca freqüência, contribuía
com seu espécimen para a coleção do Conde”. De forma bem menos marcada, essa mesma
tendência de reunir animais seria mantida nos outros edifícios de Johan Maurits van
Nassau-Siegen, pois aquele de Haia possuía um lago com espátulas, faisões e patos,
enquanto o de Cleves contava com uma “leporaria” e um parque para a caça de cervos
(teste DIEDENHOFEN, 1979).
4
Barlaeus comenta que Nassau teria levado para a Holanda todos os “tesouros”
(“cimeliarchum”) acumulados durante sua estadia no Brasil, cujo conteúdo compreendia,
entre outros itens, “peixes”, “aves”, “peles de quadrúpedes”, “armas”, “ferramentas nativas”
e “adereços para a cabeça e pescoço”, todos “admirados aqui [na Europa] como objetos
raros ou desconhecidos” (BARLAEUS, 1647).
5
De acordo com algumas fontes, a construção do palacete de Friburgo teria custado a
impressionante soma de 600.000 florins, não contabilizado o preço do terreno pago pelo
próprio de Nassau (LESSA, 1937; TERWEN, 1979). Embora tal quantia pudesse ser coberta
pelos 2% das presas de guerra devidos ao governador (LARSEN, 1962), um estilo de vida
suntuoso provavelmente implicava em gastos adicionais para a Companhia das Índias,
constituindo motivo suficiente para a reprimenda imposta pelos “Heeren XIX”.
6
Desde a Antigüidade, animais exóticos de terras distantes foram vistos como presentes
dignos dos mais altos potentados, conforme demonstra a girafa, Giraffa camelopardalis
(Linnaeus, 1758), oferecida pelo Califa de Bagdá ao Duque Ferrante de Nápoles (LAUFER,
1928; SINGER, 1959), ou o famoso rinoceronte indiano, Rhinoceros unicornis Linnaeus,
1758, remetido a Dom Manuel I, Rei de Portugal, por Afonso de Albuquerque, governador
das recém-conquistadas possessões portuguesas na Índia (COSTA, 1937). Algumas vezes,
particulares ou associações de comerciantes decidiam trazer para a Europa espécies raras
para exibição e/ou venda posterior, fato bem exemplificado pela trajetória de uma fêmea
de casuar, Casuarius casuarius (Linnaeus, 1758), obtida em Java por mercadores
holandeses de especiarias no ano de 1596 (HAMEL, 1849; STRESEMANN, 1951). Perdurando
até bem pouco tempo, semelhante prática era muito comum no século XIX, havendo
numerosas alusões literárias sobre viajantes ou ex-combatentes desvalidos que viviam
de pequenos espetáculos com xerimbabos oriundos das colônias. Algo semelhante ocorreria
no Brasil pelo menos desde o Império, pois os jornais da época abrigam diversos anúncios
conclamando o público carioca a conhecer “elefantes”, “zebras africanas” e até mesmo
répteis como um “giararacussú vivo de tamanho extraordinário”, certamente um exemplar
de Bothrops sp. bem desenvolvido (RENAULT, 1969).
7
Nos comentários que escreveu nos “Libri Principis” (in TEIXEIRA, 1995), Nassau explicita
ter enviado “exemplares vivos [de veado-mateiro] a sua majestade [Wilhelm II, Príncipe de
Orange], mas eles morreram de frio”, enquanto Zacharias Wagener (in TEIXEIRA, 1997)
menciona ter passado por Haia, Delft, Rotterdam e Leiden “para entregar aquilo que me
fora encarregado pelo Senhor Conde [Johan Maurits]: cartas, desenhos e papagaios”.
8
A descoberta de uma multidão cada vez maior de seres vivos sem nada em comum com
a fauna e flora conhecida pelos europeus não só tornava premente a necessidade de um
sistema de referência universal que a todos nomeasse, como reforçava indiscretas
conjeturas acerca da pluralidade da criação – além de dúvidas heréticas sobre a cronologia
exposta no Livro Sagrado – criando sérias indagações quanto à verossimilhança e
pertinência de diversas passagens bíblicas (BROWNE, 1983; GERBI, 1978, 1993; GLACKEN,
1976; PAPAVERO et al., 1997). Na verdade, seria de fato possível construir uma arca grande
o suficiente para abrigar semelhante quantidade de animais? Caso positivo, se estes
haviam sido salvos juntos de um “dilúvio universal”, porque tantos ocorriam apenas em
Publ. Avul. Mus. Nac., Rio de Janeiro, n.112, p.3-24, ago.2006
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determinadas partes da terra e não em outras? Toda essa inacreditável diversidade poderia
ser realmente originária de um único local? Durante os séculos XVI e XVII, algumas das
tentativas mais brilhantes de responder a tais perguntas seriam articuladas pelos jesuítas
Joseph de Acosta e Athanasius Kircher (ACOSTA, 1590; KIRCHER, 1675).
9
Estigmatizada como um pecado capital por Santo Agostinho (vide “Confissões” V: 3, 4;
X: 35, 55) e outros teólogos, a chamada “curiositas” inspirava profunda desconfiança por
parte da Igreja da Idade Média, sendo vista como um desejo quase carnal. Ao promover a
“soberba do intelecto”, essa “volúpia por coisas novas” terminaria substituindo a desejada
perplexidade e reverência ante os mistérios da Criação por ímpias tentativas de explicar
e entender a natureza, iniciativa muitas vezes executada à revelia da Bíblia e de opiniões
há muito consagradas. Não surpreende, portanto, que certos renascentistas chegassem a
ocultar seu afã pelo saber e marcado gosto pelas surpresas vindas do além-mar empregando
argumentos tortuosos amiúde utilizados pelos próprios religiosos do medievo, os quais
contrapunham ser possível louvar e exaltar o Todo Poderoso através do estudo das
maravilhas criadas pela graça divina.
10
As escolas e academias de arte fundadas no século XVII consideravam a representação
de animais, plantas e objetos inanimados com um gênero menor segundo os ideais
absolutistas vigentes, privilegiando a reprodução de passagens bíblicas, cenas mitológicas,
atos oficiais e retratos de príncipes ou potentados. Por compreender implicitamente uma
escala de valores que ascendia da matéria inferior inanimada até o homem possuidor de
alma imortal, semelhante hierarquia terminaria sendo associada à famosa “Árvore de
Porfírio” por autores como SCHNEIDER (1992), embora tal raciocínio na verdade se aplique
à “Scala Naturae”. De qualquer forma, esses rígidos cânones seiscentistas parecem refletir
sobretudo alguns princípios gerais bastante arraigados do Cristianismo, bem como a
complexa realidade social do Absolutismo (vide PAPAVERO et al., 1995).
11
Embora não haja qualquer prova conclusiva nesse sentido (teste WHITEHEAD, 1973),
LARSEN (1962) aventa a hipótese de uma quarta permuta ter ocorrido durante a missão
diplomática de Nassau à Inglaterra na época da Restauração (1660).
12
Até janeiro de 1945, Dresden havia sofrido apenas dois bombardeios pouco significativos
em pequenas indústrias localizadas nos subúrbios. Nos dias 13 e 14 de fevereiro desse
mesmo ano, entretanto, a capital da Saxônia seria alvo de 650.000 bombas incendiárias
lançadas por 311 Fortalezas Voadoras da USAF e 796 Lancaster da RAF, os quais
sobrevoaram a cidade em três ondas sucessivas tendo como único alvo o velho centro
histórico. Nada menos de 135.000 vítimas sucumbiriam sob o impacto de mais de 1.500
toneladas de altos explosivos e 1.200 toneladas de artefatos incendiários, o que
transformaria essa operação no mais cruento ataque aéreo desfechado ao longo de toda a
Segunda Grande Guerra, superando até mesmo a terrível carnificina de Hiroxima. Em
termos culturais e históricos, as perdas ultrapassariam todos os limites imagináveis,
pois os verdadeiros “furacões de fogo” criados pelos bombardeios maciços consumiram
cerca de 400.000 títulos pertencentes ao acervo da “Sächsische Landesbibliothek” e um
elevadíssimo número de monumentos e obras de arte, inclusive dez quadros pintados por
Albert Eckhout entre 1653 e 1663. Com a derrocada de Dresden, as duas potências
ocidentais pretendiam sobretudo promover uma demonstração de força dentro do incipiente
jogo da “Guerra Fria”, tendo escolhido os quarteirões medievais e barrocos ricos em
madeirame exatamente para testar de forma cabal suas teorias acerca da capacidade
destrutiva de um bombardeio de saturação. Maiores detalhes sobre o assunto e
impressionantes fotografias de Dresden destruída estão disponíveis em CARTIER (1965),
DEAR & FOOT (1995), IRVING (1963) e VERRIER (1968).
13
Um dos maiores dramaturgos de todos os tempos, Ésquilo retirou-se para a Sicília
após ser derrotado por Sófocles em uma disputa poética, falecendo no exílio por volta de
456 a.C. De acordo com a fábula apócrifa amplamente conhecida, seu crânio teria sido
esmagado por uma tartaruga precipitada das alturas por uma águia, que confundiu a
calva do teatrólogo com uma rocha.
Publ. Avul. Mus. Nac., Rio de Janeiro, n.112, p.3-24, ago.2006
“AS DUAS TARTARUGAS”: UMA PINTURA ATRIBUÍDA A ALBERT ECKHOUT (ca. 1610-1666)
19
14
Ao contrário de determinadas variedades fósseis como Proganochelys, os adultos dos
quelônios atuais não apresentam vestígios de dentes, possuindo as queixadas recobertas
por uma ranfoteca córnea. Entretanto, dentes transitórios ou cristas dentárias que logo
desaparecem podem ser observadas em embriões de espécies como Trionyx triunguis
(Forskål, 1775) e Chelonia spp. (GRAVILOV, 1961; PIRLOT, 1976).
15
Embora consagrada nos dias de hoje, a atribuição desses nomes populares revelase assunto controverso que reflete a considerável variação de colorido observada em
Geochelone denticulata e Geochelone carbonaria. Exemplos das diferentes opiniões
existentes podem ser obtidos em ANÔNIMO (1935), COUTINHO (1868), IHERING (1935) e
V ANZOLINI (1999).
16
A presença de um jabuti do Novo Mundo em originais holandeses seiscentistas não
implica necessariamente na existência de espécimens trazidos por Nassau do Brasil, pois
o tráfico de animais e de seus despojos já era muito intenso nessa época (TEIXEIRA, 1999).
Como a ampla distribuição de Geochelone carbonaria alcança o norte da América do Sul
(teste PRITCHARD & TREBBAU, 1982), cumpre lembrar que anfíbios e répteis vindos do Suriname
ou do Caribe também foram remetidos para a Holanda na segunda metade do século
XVII. De fato, um curiosíssimo sapo-parteiro proveniente de Curaçao, Pipa pipa (Linnaeus,
1758), seria figurado pelo médico Hendrik d’Acquet em 1689 (in BELL, 1992), enquanto a
famosa artista Maria Sibylla Merian não apenas retratou a herpetofauna do Suriname
(e.g. MERIAN, 1705), como chegou a vender exemplares preservados para colecionadores
flamengos e alemães após retornar à Europa em 1701 (WETTENGL, 1998).
AGRADECIMENTOS
Nossos agradecimentos a Quentin Buvelot e ao “Koninkllijk Kabinet van Schilderijen
Mauritshuis”, Haia, pelo convite efetuado e empréstimo de reproduções de quadros
pertencentes à coleção institucional. Da mesma forma, cabe manifestar nosso
reconhecimento a Elly de Vries (Instituto Cultural Banco Real, São Paulo) pelos
comentários sobre o manuscrito e generosidade demonstrada na concessão de várias
imagens de seu acervo privado. Outrossim, devemos particular menção a Márcia Mocelin
(Fundação RIOZOO, Rio de Janeiro), que gentilmente colocou ao nosso dispor numerosas
informações e ilustrações de Geochelone carbonaria e Geochelone denticulata de sua
autoria, além de facilitar a observação de exemplares vivos mantidos no plantel da
Fundação RIOZOO. Durante os estudos prévios sobre “As Duas Tartarugas”, também
contamos com a indispensável colaboração de Ulisses Caramaschi e Ronaldo Fernandes
(Museu Nacional/UFRJ), Nelson Papavero (Museu de Zoologia/USP) e Sérgio Alex
Kugland de Azevedo (Museu Nacional/UFRJ), cujas sugestões mostraram-se de grande
valia para a execução deste trabalho. Cabe agradecer ainda a Paulo Martins Teixeira e
Tatiana Papavero pela arte final das figuras do texto, bem como a Vera de Figueiredo
Barbosa, Antônio Carlos Gomes Lima (Biblioteca do Museu Nacional/UFRJ) e Margareth
Elisabeth Cardoso (Livraria Carioca Rio Antigo) pelo auxílio prestado na reunião da
bibliografia pertinente e/ou na análise das referências utilizadas. Por fim, cumpre
destacar o apoio concedido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) às pesquisas realizadas pelo autor durante os últimos anos.
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