3 - SINCTA
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REVISTA DA APCTA. VOL2#3. JUL06 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo Boas Férias! 7º ENCONTRO CTAs Conclusões Finais INTERNACIONAL: Privatização DFS ZOOM: Base Aérea 5 Monte Real HISTÓRICOS DA AVIAÇÃO: Lockheed Constellation “Connie” DESTINO: Noruega SUMÁRIO 02 06 08 10 12 16 18 22 26 30 33 36 7º ENCONTRO CTAs: Conclusões Finais LADO AR: A preparação do voo INTERNACIONAL: Privatização DFS REFLEXÃO: Verão CISM 2006 ZOOM: Base Aérea 5 Monte Real ZOOM: ATC Militar – B.A.5 Monte Real COMUNICAÇÕES BILATERAIS: Entrevista CTA Sérgio Marques e Cmdt. José Camões HISTÓRICOS DA AVIAÇÃO: Lockheed Constellation “Connie” DESTINO: Noruega. A terra do Sol da meia-noite ROTA DOS SABORES: Restaurante “Origens Bio” BREVES: ECC de Futebol 2006 BREVES: Torneio de Ténis e Squash de Faro Flight Level Revista da APCTA (Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo) Presidente do SINCTA: Carlos Reis Presidente da APCTA: Paulo Encarnação Coordenação Editorial: Rodrigo Vaz Nuno Simões Colaboradores: Pedro Matos, Nuno Chambel, Andreia Lopes Correspondentes: Delegações da APCTA Convidado: Cmdt. Pedro Cadete Propriedade: APCTA (Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo) Distribuição: gratuita aos Sócios Design gráfico: Filipe Preto Impressão: Arlindo Silva - Artes Gráficas, Lda Periodicidade: Trimestral Tiragem: 700 exemplares Lisboa, Julho de 2006 EDITORIAL Desde o início das negociações NAV/AENA que a APCTA e o SINCTA têm mantido, na medida do que lhes foi permitido intervir, uma atitude construtiva. Isto, por acreditarmos que qualquer negociação séria, baseada exclusivamente nos regulamentos que suportam o Céu Único Europeu, não nos pode ser desfavorável. Entretanto, durante o processo das negociações, vários e sucessivos episódios foram-nos levando a desconfiar dos objectivos da AENA nestas negociações. Se desconfiar das intenções da AENA já era motivo de preocupação, acontece que, agora, também, existem suspeitas sobre a posição da própria NAV - ou de alguns responsáveis da NAV. Em Abril enviámos carta ao Conselho de Administração da NAV para que confirmasse por escrito aquilo com que, verbalmente, nos afirmavam concordar, a saber: Carlos Reis Presidente do SINCTA 1º Que os resultados das negociações NAV/AENA não podem, em nenhuma circunstância e sob nenhuma modalidade (mormente através da criação de uma terceira empresa ou entidade) conduzir à anulação do objecto principal da NAV tal como está definido no Dec. Lei 404/98, de 18 de Dezembro e nos estatutos da empresa, ou seja, a “prestação do serviço público de navegação aérea para apoio à aviação civil”; 2º Que, de igual modo, o resultado dessas negociações não deve conduzir à criação de um Bloco Funcional de Espaço Aéreo (FAB) único na Península Ibérica, precisamente porque daí poderia resultar, a prazo, a existência de um único prestador nesse FAB. Em Maio, por falta de resposta e já depois de aqueles dois princípios terem sido aprovados no 7º Encontro de CTA´s, insistimos com nova carta, agora alertando para que, se continuasse a não haver resposta, nos “veríamos forçados a informar a classe dessa imprevista situação, convocando, para o efeito, a Assembleia-geral do SINCTA”. Acontece que, não só não recebemos qualquer resposta do CA da NAV como, na última reunião de negociações entra as duas empresas, a AENA apresentou o que, do seu ponto de vista, devia ser a conclusão dos estudos operacionais: pasme-se, ainda sem qualquer estudo ou simulação (prevista para o próximo ano), conclui, desde já, pelo alargamento dos sectores Espanhóis até à linha de costa Portuguesa… Já não pode haver dúvidas sobre as intenções da AENA, e não podemos pactuar com a passividade da NAV. O que está em causa é demasiado grave para a sobrevivência da NAV, logo, de todos nós. No dia em que escrevo este editorial, vamos convocar uma Assembleia-geral com o objectivo de tomar medidas concretas. Esta é a luta mais importante em que a classe alguma vez se envolveu, porque se trata da luta pela sobrevivência. Mas a razão está do nosso lado, por isso só nos resta vencer! p.1 INFO APCTA Fonte: APCTA 7˚ ENCONTRO DE CTA’s Conclusões Finais O 7º Encontro de CTA´s, reunido nos dias 28, 29 e 30 de Abril de 2006, considerou que este tipo de encontros continua a demonstrar-se da maior utilidade, na medida em que possibilita estabelecer metas e traçar objectivos estratégicos para as organizações da classe, devendo, por isso, continuar a realizar-se com a periodicidade adequada. Neste 7º encontro, aprovaram-se as seguintes conclusões e recomendações: p.2 REVISTA DA APCTA. VOL2#3. JUL06 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo SOBRE O FUNDO DE PENSÕES SOBRE O FUTURO DO ACC DE S. MARIA 1. Recomendar ao SINCTA que acorde com a NAV alterações no fundo de pensões, com o duplo objectivo de reduzir o incremento sistemático das suas responsabilidades - o que pode implicar restrições nos seus benefícios - e de aumentar a taxa de contribuição da empresa. 2. Essas negociações devem ocorrer em conjunto com o eventual aumento do limite de idade operacional, do qual decorre uma significativa redução de responsabilidades, que deve ser considerada como contributo da classe para a sustentação financeira do fundo. 3. O resultado de tais negociações deve ser levada à discussão e votação da AG do SINCTA, se possível ainda em 2006. Existindo a possibilidade concreta de redução de FIR´s na Regão do Atlântico Norte a qual, a concretizar-se, conduzirá muito provavelmente ao encerramento a prazo do ACC de S. Maria, o que afectaria de forma muito negativa toda a empresa, o 7º Encontro aprovou os seguintes principios e medidas, com o objectivo de obviar a essa eventualidade: SOBRE O LIMITE DE IDADE OPERACIONAL Recomendar que seja aceite a consagração legal do limite de idade operacional em 57 anos, desde que fiquem garantidos no AE os princípios abaixo enunciados e a NAV assuma uma contribuição extraordinária para o Fundo de Pensões de montante a acordar com o SINCTA: a) Os CTA´s admitidos até 31.12.94 continuam com o limite de 52 anos, podendo prolongar até aos 55 ou até aos 57 anos, por opção sua; b) Os CTA´s admitidos entre 01.01.95 e 31.12.07 continuam com o limite de 55 anos, podendo prolongar até aos 57 anos, por opção sua. c) Os CTA´s referidos nas alíneas anteriores têm direito à indemnização por desvinculação contratual prevista no nº 9 e seguintes da Clª 8ª do AE a partir dos 52 anos e calculada em relação ao período em que fiquem efectivamente a trabalhar a partir desta idade. d) Os CTA´s admitidos a partir de 1 de Janeiro de 2008 têm o limite de 57 anos. 1. Os custos com busca e salvamento, Instituto de Meteorologia, fundos de pensões e Torres dos Açores, hoje em dia todos integrados nas taxas de rota de S. Maria, devem ser transferidos, através de um plano progressivo de vários anos e cumprimento rigoroso, da FIR de S. Maria para a FIR de Lisboa. 2. Se a transferência de alguma dessas verbas se vier a demonstrar inviável, a NAV deve exigir ao Governo que esses custos – excepto o relativo a fundos de pensões – sejam assumidos directamente pelo Estado, tal como, aliás, acontece nos outros Centros de Controle da Região NAT. 3. A hipotética transferência do Centro Oceânico de S. Maria para Lisboa deve ser objecto de estudo rigoroso sobre custos e benefícios, de modo a poder-se concluir, com base em critérios estritamente financeiros, se uma tal medida possibilitaria ou não uma redução significativa da respectiva taxa. 4. Se a NAV assumir as medidas referidas nos números anteriores, então podem e devem ser encaradas outras soluções, a acordar entre a NAV e o SINCTA, que contribuam para a necessária redução das taxas de rota de S. Maria. 5. Se, pelo contrário, a NAV não quiser assumir este tipo de soluções, preferindo tentar transferir a solução do problema exclusivamente para os CTA´s de S. Maria, então estes não devem sentir-se obrigados a assumir reduções de custos para além das que já estão previstas e resultam da entrada em operação do radar. SOBRE O CONSUMO DE TABACO Considerando-se como normal a existência de um ambiente sem fumo nas salas operacionais que são local de trabalho dos CTA´s, o 7º Encontro decidiu que a APCTA proponha à NAV a proibição de fumar nesses locais, com futura extensão a todos os locais onde trabalhem CTA´s, devendo tais proibições pressupor a existência de locais alternativos para os fumadores. SOBRE O CÉU ÚNICO EUROPEU Considerando que a progressiva implementação do SES, cujo verdadeiro objectivo é a instalação de um clima de competição entre os ANSP europeus em ordem a reduzir custos, é um processo que pode trazer consequências negativas para os CTA´s e para a própria NAV, o 7º Encontro aprovou as seguintes conclusões sobre a matéria: 1. A NAV deve tomar as medidas necessárias para se adaptar a esse ambiente, melhorando a sua eficácia, mas sem esquecer nunca que o seu objectivo central é a garantia da segurança do tráfego aéreo e não a obtenção de resultados estritamente comerciais. 2. A APCTA e o SINCTA devem acompanhar de forma permanente esse processo de adaptação p.3 da NAV e prevenir as eventuais consequências negativas da entrada em vigor dos vários diplomas legais anunciados no âmbito do SES, de modo a poder defender os interesses da classe que possam ser postos em causa. 3. Dada a evidente conveniência numa colaboração estreita entre o INAC, como entidade supervisora nacional e a NAV, como ANSP, em particular a necessidade de certificação, a curto prazo, da segunda pela primeira, deve ser estabelecido um acordo formal de cooperação entre aquelas duas entidades públicas. 4. A APCTA e o SINCTA devem também acompanhar de perto o que está a ser planeado sobre o regime jurídico do INFANAV e sobre o instrumento que eventualmente venha a substituir o actual acordo de mixidade civil militar. SOBRE AS NEGOCIAÇÕES NAV / AENA O 7º Encontro aprovou as seguintes medidas e conclusões sobre as negociações em curso entre a NAV e a AENA sobre a implementação do SES: 1. As negociações entre as duas empresas, tendo em vista o estabelecimento de um quadro de colaboração estreita no âmbito do SES, devem prosseguir, nomeadamente p.4 com o objectivo de estabelecer FAB´s na Península Ibérica. 2. O SINCTA/APCTA devem ser permanentemente informados e consultados do decurso dessas negociações, de modo a poderem ter “a participação adequada” nos seus resultados, tal como determina o Regulamento (CE) 549/2004, de 10 de Março. 3. O resultado das negociações não pode, em nenhuma circunstância e sob nenhuma modalidade (mormente através da criação de uma terceira empresa ou entidade) conduzir à anulação do objecto principal da NAV tal como está definido no Dec lei 404/98, de 18 de Dezembro e nos Estatutos da empresa, ou seja, a prestação “do serviço público de navegação aérea para apoio à aviação civil”. 4. De igual modo, o resultado das negociações não deve conduzir à criação de um FAB único na Península Ibérica, precisamente porque daí poderia resultar a prazo a existência de um único prestador nesse FAB. 5. Não existe qualquer oposição, nem à constituição de parcerias entre a NAV e a AENA desde que salvaguardado o disposto nos números anteriores, nem à integração da FIR de S. Maria no conceito do SES com eventual criação de um FAB único correspondente às actuais FIR´s de Lisboa e de S. Maria. REVISTA DA APCTA. VOL2#3. JUL06 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo SOBRE MEIOS TÉCNICOS Tendo-se constatado que os investimentos em meios técnicos, mesmo depois de aprovados e orçamentados pela própria NAV, ou são concretizados com grandes atrasos, ou nem sequer são concretizados, o 7º Encontro aprovou as seguintes medidas sobre a matéria: 1. No futuro, o SINCTA e a APCTA terão de exercer uma maior e mais constante pressão sobre a NAV, em ordem a que tais investimentos sejam concretizados nos prazos previstos. 2. Deverá ser proposto à NAV que sejam nomeados responsáveis ou coordenadores para cada desenvolvimento ou projecto, devendo a APCTA exigir que trimestralmente lhe seja feito o ponto de situação, por esses responsáveis ou coordenadores, sobre os projectos ou desenvolvimentos à sua responsabilidade. 3. Exigir da NAV que, para sub sistemas existentes no mercado e a funcionar com sucesso noutros orgãos de Controle, a empresa opte pela sua aquisição e, sempre que possível, se evite a sua integração nos sistemas actuais, para não sobrecarregar a equipa de desenvolvimento da NAV, muito limitada em termos de recursos humanos. SOBRE A PRÓXIMA REVISÃO DO AE Foram aprovadas as seguintes recomendações para o SINCTA negociar com a NAV na próxima revisão do AE: 1. Que os colégios devem escolher, de entre os candidatos a chefes de sala, supervisores, instrutores e monitores, os mais aptos para as funções em causa, com base num conjunto de critérios e parâmetros, mas sem pontuação aritmética destes. 2. Que o limite de idade para o exercício de funções de chefia orgânica, instrução ou assessoria seja fixado em mais cinco anos do que o limite de idade operacional, sem prejuizo do disposto nas alíneas seguintes: 4. Exigir que, em áreas consideradas críticas em meios humanos, estes sejam reforçados de acordo com as necessidades, ainda que de forma temporária e não necessariamente por CTA´s. a) O exercício de funções de instrução em simulador deve ficar limitado a dois anos após a perca da qualificação. b) O exercício, sem qualificação válida, das funções de assessoria relativas a investigação de incidentes, desenvolvimento de sistemas e auditoria operacional, só é possível mediante acordo prévio do SINCTA: 3. Que as transferências de CTA´s, nos termos do AE, com mais de 49 anos de idade para orgãos de destino com ROP inferior sejam efectuadas com manutenção da ROP do orgão de origem. 4. Que seja integrado no AE um Regulamento do sistema de avaliação contínua, cuja primeira versão foi aprovada neste Encontro e cuja versão final será votada em AG do SINCTA, com as alterações que sejam consideradas pertinentes, algumas das quais foram presentes no próprio Encontro. Considerando que o trabalho suplementar, quanto a montantes e equilíbrio, pode a prazo ser um problema tanto para a classe como para a própria NAV, foi ainda decidido encarregar a direcção do SINCTA de estudar a possibilidade de criação de um subsidio relativo a prestação de trabalho suplementar, matéria que deverá ser decidida em definitivo em AG especifica. . p.5 LADO AR Rubrica do Cmdt. Pedro Cadete [email protected] p.6 A preparação Neste artigo gostaria de sintetizar, para vós, as acções que compõem a preparação, no chão, de um voo de linha. Vou usar como referência o percurso Lisboa – Londres (Heathrow), ou, se preferirem, LPPT – EGLL. Os voos de longo curso, desde que efectuados nunca a mais de uma hora de um aeródromo alternativo apropriado, não diferem muito do exemplo que vos dou. Contudo, se tal não acontecer e a aeronave envolvida tiver 2 motores, já as regras do jogo mudam um bocadinho (entramos na chamada operação ETOPS – Extended Twin-engined OperationS), o suficiente para merecer tratamento separado num futuro artigo. Como complemento prático do que aqui vos escrevo, sugiro às respectivas associações e competentes hierarquias de empresa (s) o retomar duma iniciativa que teve lugar há alguns anos, e que parece entretanto ter-se perdido: os voos de observação, por parte dos CTA’s (e, já agora, de visitas aos órgãos ATC, por parte dos pilotos). O nosso voo fictício tem um horário de partida para as 9 horas. Portanto, a tripulação tem apresentação marcada às 8. “Pica-se o ponto” inserindo o nome e número de empresa no teclado dum computador. Este apresenta os dados gerais do serviço de voo a efectuar nesse dia. Confirma-se e pronto! REVISTA DA APCTA. VOL2#3. JUL06 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo 07:35 – Apresenta-se o oficial-piloto (OPil) e o chefe de cabine (CC) 07:50 – Estão apresentados 3 dos 4 elementos de cabine restantes 07:55 – Apresenta-se o comandante (Cmd) 08:00 – O chefe de cabine dirige-se ao comandante e informa-o de que falta ainda um elemento da tripulação, e que vai iniciar o “briefing” com os elementos presentes. O comandante, com o processo do voo à sua frente, transmite-lhe algumas informações gerais, especialmente no que se refere a procedimentos de segurança a bordo (security). 08:05 – Ambos os pilotos analisam os planos de voo (ida e regresso). O voo de ida parece estar completamente cheio (o “payload” apresenta-se no máximo, o que reflecte um chamado “zero fuel weight” também no seu limite máximo autorizado), o vento tem uma componente geral positiva (ou seja, é favorável) ao nível proposto (FL340, com subida para FL360 proposta após passagem por um “waypoint” cuja hora estimada de sobrevoo é 01:05 após a descolagem). O aeródromo alternativo de aterragem é Manchester (EGCC), e existe uma provisão especial de combustível, para espera no destino, igual a 30 minutos (1100 kg), o que eleva a quantidade total de combustível para as 9 toneladas (os tanques de fuel comportam um pouco mais do dobro dessa quantidade...) do voo 08:10 – É estudado o “folder” meteorológico. Compara-se a previsão de ventos em rota com os do plano de voo, analisa-se a previsão de tempo na origem, destino e alternativos de destino e rota (neste caso estão o Porto, Santiago de Compostela e Nantes). Finalmente, a tripulação técnica observa os METAR’s, comparando-os com os TAF’s vistos anteriormente. 08:15 – É visto o “folder” dos NOTAM’s, também ele preparado especialmente pelo serviço de operações de voo para cada percurso. A degradação de categoria (de 3 para 1) num ILS em EGLL obriga os pilotos a verificar uma vez mais a previsão meteorológica, para confirmar que não há problema. O oficial de operações de voo entrega ao comandante uma mensagem de “flow control” que determina um CTOT (o famigerado “slot”) para as 09:12. Saída condicionada para o horário de calços previsto, portanto. Nada mau... 08:20 – A tripulação de cabine junta-se à tripulação técnica e, após as apresentações da praxe, dirigem-se à porta do “lado-ar” do edifício, onde aguardam transporte para o avião. Entretanto, o CC informa o Cmd de que o elemento da tripulação em falta chegará atrasado e seguirá logo que possível para o avião. A razão para tal foi congestionamento de tráfego rodoviário na ponte Vasco da Gama, segundo o serviço de escalas. 08:25 – Chega à porta um “mini-bus” com uma tripulação a chegar de um voo, que desembarca, permitindo o embarque da que espera. 08:30 – Chegada ao avião. Neste, a azáfama é grande, uma vez que o seu interior é limpo por uma equipa de várias pessoas que dentro dele se deslocam com grande rapidez e, em simultâneo, são carregados os contentores com refeições para os passageiros e tripulação (catering). No exterior, procede-se ao abastecimento de combustível e ao carregamento de contentores de bagagem nos porões do avião. A tripulação de cabine sobe a escada. Os 2 pilotos trocam informações com o técnico de manutenção (TM) que os informa do estado geral do avião (a luz de navegação da ponta da asa direita, de cor verde, fundiu-se, e aguarda a chegada de escada apropriada e nova lâmpada, para substituição) e confirma com ele a quantidade total de combustível requerido. Após uma breve inspecção exterior de segurança, os pilotos sobem a escada e dirigem-se ao “cockpit”. O Cmd determina a divisão de tarefas: no primeiro percurso, será ele o “pilot flying” (PF) cabendo ao OP as rotinas do “pilot not flying” (PNF). É lida a caderneta técnica do avião, que confirma o seu (bom) estado operacional, com avaria na luz de navegação. 0835 – Apresenta-se a bordo o oficial de placa (OP), que informa o comandante de que o carregamento dos porões se está a processar em bom ritmo, e os autocarros, junto à aerogare, estão prontos para seguir com passageiros. Devido à presença de limpeza a bordo (algumas verificações da tripulação de cabine só se fazem após a saída de todas as equipas) ambos concordam em atrasar o embarque em 5 minutos. Entretanto, chega a bordo o elemento da tripulação em falta. O OPil, por sua vez, termina a preparação preliminar e desce escada para efectuar a inspecção exterior. O comandante carrega os dados do voo (origem, destino, rota, níveis de voo, ventos, pesos, etc.) no FMS, usando o teclado respectivo. 0840 – Inicia-se o embarque de passageiros. Ambos os pilotos preparam o “cockpit”, configurando todos os sistemas do avião (exemplo: ligar as bombas dos tanques de combustível; arrancar o APU) e testando os sistemas do avião (ex. máscaras de oxigénio, detecção de fogo dos motores). Pelo meio, são interrompidos pelo chefe de cabine, que informa faltarem 3 refeições na classe turística (prontamente pedidas pelo comandante usan- do a frequência VHF da companhia). 08:45 – Entra no “cockpit” o OP com a folha de carga. Nela se descreve como está carregado o avião (cabine e porões). O Cmd assina o documento, retém o original, devolve uma cópia ao OP e entrega outra ao Opil. Introduzem-se no FMS os valores definitivos de peso e centragem do voo (o peso apresenta-se 600 kg abaixo do estimado no plano de voo). O FMS indica um consumo total de 200 kg abaixo do previsto no plano de voo. Valores normais. Após saída do OP, entra o TM com a informação de que a luz de navegação foi substituída, e a caderneta técnica preenchida. Esta é assinada pelo Cmd. O TM retira cópia dessa folha, para si. 08:50 – Terminada a preparação do “cockpit”, o co-piloto contacta a frequência de “clearance- delivery” e obtém a autorização do voo. Introduz-se o código (“Squawk”) no transponder e verifica-se a saída do plano de voo. O PF efectua então um briefing detalhado sobre a saída, cobrindo procedimentos normais (rolagem; SID; etc.) e de emergência (o que fazer para voltar para trás logo após a descolagem, se necessário; como proceder em caso de falha de comunicações; etc.) Completo este “briefing”, o Cmd pede o “before start checklist”, lido pelo Opil e respondido pelo Cmd. 08:55 – O OP entra de novo no “cockpit” para informar de que faltou um passageiro à porta, e que já iniciou a busca da respectiva bagagem (operação que envolve descarregar contentores, abri-los na placa e retirar o seu conteúdo na tentativa de encontrar a (s) mala (s) em questão...). O Cmd lembra a necessidade de pedido de novo “slot” caso a operação se prolongue demasiado...Entretanto, chegam a bordo as 3 refeições pedidas. 09:05 – O OP (ofegante) entra novamente no “cockpit” e declara que tiveram alguma sorte, a mala do passageiro em falta estava logo no primeiro contentor, e que estão já a fechar porões. Após avaliar o tempo de rolagem (cerca de 7 minutos) o comandante decide que não será necessário pedir novo “slot” às operações, e despede-se do oficial de placa. Este sai do avião e, de seguida, a tripulação de cabine fecha as portas e arma as respectivas mangas de evacuação. O CC informa o Cmd de que a cabine esta pronta. O Opil, a um sinal do Cmd, contacta o “ground control” e pede autorização de “push-back”. E é tudo, por hoje. Um Abraço e bom Verão. . p.7 INTERNACIONAL por Nuno Simões Privatização da DFS Um pesadelo real No passado dia 7 de Abril o Bundestag, parlamento Alemão, aprovou o projecto-lei que permitirá até ao final do corrente ano a privatização da DFS (Deutsche Flugsicherung GmbH), prestador alemão de serviços de tráfego aéreo. Para os cerca de 5300 empregados da DFS o pesadelo acabava de começar. Nos dias que correm, os ecos que nos chegam da Alemanha são os do Mundial de Futebol, centrando toda a nossa atenção nos magníficos estádios germânicos. Todavia, a lei que permite agora a venda de 74.9% da DFS a investidores privados criou um complexo clima de mal-estar em que os próprios sindicatos alemães GdF e VER.di não estão isentos de responsabilidades. Vale a pena perceber o plano estratégico deste “gigante”, para melhor compreender toda esta situação. Dieter Kaden, CEO da DFS, apresentava em 2005 ao congresso Americano a receita do sucesso da DFS. Em traços largos este passava, por uma gestão à imagem do sector privado, optimização dos recursos humanos, fecho de alguns ACC’s e integração de todos os APP’s num único local, aumento da idade de reforma, equiparação de salários do pessoal não operacional aos do mercado de trabalho e, por fim, investimentos em meios técnicos que permitam p.8 REVISTA DA APCTA. VOL2#3. JUL06 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo responder às actuais exigências do tráfego (2,8 milhões de voos controlados em 2005). Permitam-me um pequeno parêntese para que se perceba como se trabalha na Alemanha nas palavras de Dieter Kaden: “ When we require new technical equipment, we make our decisions in line with operational cost-benefit considerations within the shortest time possible, and not in line with lengthy procedures and bureaucratic constraints of a state budget ”, continuando! Em Fevereiro deste ano, numa entrevista publicada na FlugRevue antevia que o futuro dos Serviços de Tráfego Aéreo na Europa passaria por uma diminuição significativa no número de prestadores e uma redução dos mais de 60 ACC’s actuais para não mais de 15. Dizendo, para finalizar, que a DFS terá um papel relevante nesta futura estrutura do espaço aéreo europeu, sendo o seu principal objectivo ser o líder europeu em 2020. Talvez “embriagados” por este cenário, tanto as associações de controladores de tráfego aéreo como as dos técnicos e engenheiros viram de bom grado a possível privatização de parte da DFS. Mas o texto final não poderia ser mais contrário a estas expectativas. Nele se podia ler: - In the future the core task of actual ATC will be the only remaining government duty - Only ATCO’s will require to be licensed in the future, and to be directly employed by the ANSP, no ATSEP, no Flight Data Assistants, not other staff. - These other services (including maintenance of operational equipment) can be outsourced to third parties, and the ANSP is only responsible to ensure that these personnel is qualified to perform these tasks. O GdF, o sindicato representativo das várias classes na DFS, desde CTA’s a Engenheiros, Técnicos Aéronauticos, vê-se de repente ultrapassado pelos acontecimentos. A reacção é imediata. O não licenciamento de engenheiros e outro staff aponta o caminho para a redução de custos, mas mais importante e mais grave, para uma diminuição da cadeia de segurança. Klaus Nicolls, presidente do GdF, afirma mesmo que seria inaceitável que, na Alemanha, uma empresa que presta Serviços de Controlo de Tráfego Aéreo pudesse subcontratar todo o tipo de pessoal sem chegar a contratá-los de forma efectiva. O outro assunto polémico é a eliminação do limite de idade dos CTA’s, algo que para o GdF seria uma total afronta. Apesar das tentativas de alerta da opinião pública, as suas campanhas enfrentaram sempre um “adversário impiedoso” – o Mundial de Futebol! Só mesmo a ameaça de greve durante a realização do evento teve o dom de despertar os media. Acontece que, na Alemanha, tal greve seria ilegal, pois não se tratando de uma questão laboral mas sim de uma decisão politica, tal direito não está consagrado. E como alemães que são a ordem foi acatada. Desde então, inúmeros trabalhadores da DFS têm sido sujeitos a pressões e até perseguições, que digam os delegados do GdF. O receio de futuros despedimentos está a ser usado pela Administração para negociar reduções salariais e a perca de outras regalias. Como explicava um engenheiro de Langen com 34 anos e pai de dois filhos – “ É uma chantagem o que nos estão a fazer!”. A estratégia dos sindicatos passa agora por tornar a empresa menos apetecível aos olhos dos investidores. Como? Criando uma espécie de garantia de trabalho para os CTA’s para os próximos 12 anos, obrigando a empresa a pagar este prémio caso exista despedimentos. Quanto aos investidores, perfilam-se já alguns. Um consórcio entre Lufthansa a LTU e mais algumas Companhias Aéreas, a Seguradora Allianz e um consórcio formado pelos Aeroportos de Frankfurt e Berlim. O possível bloco entre a DFS e os países do Benelux é visto pelos investidores como uma das mais valias, assim como a abertura a leste desperta bastante interesse. Por fim, numa base negocial, será sempre mais fácil empresas privadas chegarem a um entendimento. O que fará com que este modelo seja “ vendido” a outros estados membros, levando numa fase final à fusão de ANSP’s com todas as consequências daí resultantes. Para os alemães o pesadelo é já real. Para os “outros”...o melhor é não se deixarem adormecer! . p.9 REFLEXÃO Verão CISM 2006 Equipa CISM Nota: As projecções mais optimistas de tráfego para o ano de 2006 estão a ser amplamente ultrapassadas nos meses de Maio e Junho O programa CISM (Critical Incident Stress Management) actua, em cerca de 80%, a nível da prevenção e educação, e cerca de 20% a nível de intervenções directas. É neste sentido que nos propomos reflectir sobre o aumento de tráfego sempre elevado nesta altura do ano e sugerir-vos algumas formas de prevenir incidentes. Como é sabido, tem-se verificado, estatisticamente, que o aumento brusco de tráfego acarreta, também, um aumento do risco do número de incidentes. De facto, não são apenas os controladores que sentem a complexidade do trabalho aumentar como é, também, nesta altura do ano, que os pilotos fazem mais horas de voo e estão, por isso, mais sujeitos ao erro. Porque os incidentes, mesmo que os percepcionemos sem gravidade, acabam por afectar o nosso bem-estar psicológico, a equipa CISM resolveu alertar-vos para esta situação. Eis algumas estratégias que podem usar para precaver os incidentes! Durante o período de trabalho: Tomem atenção ao volume e complexidade do tráfego, não excedam os vossos limites – ninguém é super-homem! Não dispensem o vosso apoio; Atenção ao período após um pico de tráfego, estatisticamente este é o período em que a maioria dos incidentes ocorrem; • • • p.10 REVISTA DA APCTA. VOL2#3. JUL06 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo • Caso estejam cansados/as ou não se sintam • • • bem, informem o vosso Supervisor e, se sentirem necessidade peçam para serem substituídos/as; Não se deixem pressionar pela equipa ou por pedidos dos pilotos; Se vos couber dar Apoio, não facilitem, mesmo que acreditem estar tudo calmo – a situação de tráfego muda por vezes muito subitamente, e não há tempo para solicitar um Apoio que lá devia estar...mas não está; Tenham muita atenção à rendição de posição – quanto mais elevada é a carga de trabalho num sector, mais cuidadosa deve ser a rendição do mesmo. E notem que a rendição se dá mais ou menos ao mesmo momento em todos os sectores e órgãos adjacentes, pelo que as hipóteses de erro são muito acrescidas. Fora do período de trabalho: Respeitem o mais possível as vossas folgas, e preencham-nas com actividades lúdicas que vos ajudem a aliviar o stress; Reflictam antes de aceitar trabalho extraordinário em excesso; Procurem manter um padrão de sono regular; Sensibilizem a vossa família que esta é uma altura de muito trabalho e que têm de descansar; • • • • nas e períodos muito congestionados. • Tomem atenção especial à vossa saúde; • Se estão a operar num sector em que, no moCaso se sintam cansados ou esgotados por Redobrem a vossa atenção com tráfego de/ mento, a carga de tráfego é elevada, optem • • acumulação de trabalho, não hesitem em parar, mais vale descansar do que arriscar. para Alverca! Coordenem atempadamente com a TWRLIS, assumam que esse movimento condiciona o movimento de LPPT e esclareçam sobre quem fica responsável pela separação desse tráfego com o tráfego de Lisboa. Especial TWRLIS • Tenham atenção ao volume de tráfego. Num • • dia que se sentirem mais cansados, não se inibam de pedir para render uma posição mais calma, no Ground e no Delivery o coração, geralmente, sofre menos; Não esqueçam que o pico de tráfego para vocês é também o do APP; o diálogo e coordenação antecipados são sempre o melhor caminho; Há “curtas” que são impossíveis de evitar, outras não, avaliem, bem os riscos que correm. Especial APPLIS Como a maior parte dos incidentes tem envolvido tráfego VFR, redobrem as vossas defesas: Avaliem bem os voos de treinos VFR e Militares; Não sobrecarreguem a frequência com muito tráfego VFR; Utilizem os túneis e rotas standard; Não ocupem níveis altos que poderão precisar para o tráfego IFR; Respeitem e exijam os fluxos de tráfego VFR definidos; Atenção ao trabalho aéreo, por vezes em zo- • • • • • • Especial ACCLIS Os fluxos e distribuição sectorial de tráfego, e o volume e complexidade do mesmo, variam ao longo do dia e consoante o dia da semana, de uma forma razoavelmente previsível, que se encontra reflectida na sectorização em vigor. De qualquer forma, têm-se verificado, com crescente frequência, períodos de pico de tráfego, habitualmente bastante limitados no tempo, afectando, por vezes, mais do que um sector. Para fazer face a estas situações, reforcem as vossas defesas: Um pico de tráfego num sector não deve ser entendido como isolado, pois afecta o desempenho global do ACC; assistam os vossos colegas dos sectores sobrecarregados evitando contactos telefónicos indesejados, planeando o tráfego de forma a aliviar o (s) sector (es) afectado (s) e assistindo, sempre que houver disponibilidade para tal, à monitorização do tráfego e detecção de conflitos. • • pelas soluções mais simples, mantendo a vossa disponibilidade para qualquer situação imprevista que venha a ocorrer. Antecipando a situação de carga elevada, acordem previamente com os sectores adjacentes os procedimentos a adoptar para gestão do tráfego; tenham bem presente que, para servir “melhor” um dado voo, podem estar a comprometer de forma significativa o vosso desempenho e disponibilidade para prestar o serviço adequado aos demais. Neste âmbito, atenção a algumas autorizações de “directo a” e outras práticas que se traduzem em acréscimo de carga de trabalho, mas que já se tornaram habituais – se vos são prejudiciais nesse momento, suspendam-nas temporariamente. Mas, se mesmo assim, se virem envolvidos num incidente, não hesitem, contactem um Par CISM. E não se esqueçam, a confidencialidade está garantida! Os incidentes podem acontecer em qualquer altura, a qualquer um. Protege-te e protege a tua equipa… . A Equipa CISM deseja a todos um Óptimo Verão 2006. p.11 ZOOM por Pedro Matos fotografias de Alfredo Rocha B.A.5 Monte Real Continuando o nosso périplo pelas unidades da Força Aérea, no passado dia 17 de Março fomos conhecer a Base Aérea de Monte Real (BA5). Para ter sido um dia perfeito, só faltou um pouco de sorte com as condições atmosféricas...com a chuva que fez o favor de nos acompanhar todo o dia, o Alfredo viu-se e desejou-se para fazer as fotografias ao ar livre. p.12 REVISTA DA APCTA. VOL2#3. JUL06 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo História da Unidade A Base Aérea de Monte Real (BA5) - lema “Alcança Quem Não Cansa” - situa-se a escassos quilómetros da povoação homónima, conhecida pela excelência das suas termas, em pleno Pinhal de Leiria. Esta Unidade, erigida no local em que funcionou outrora o Aero Clube de Leiria, foi oficialmente inaugurada a 4 de Outubro de 1959, tendo-lhe sido atribuídas duas Esquadras, a 51 “Falcões” e a 52 “Galos”, com um total de 50 aviões de combate F-86. Posteriormente, em 1966, a BA5 viu diversificado o seu sistema de armas, com a atribuição de aviões Fiat G91 que operaram na Unidade até 1974. Apesar de vocacionada primariamente, desde a sua fundação, para missões de caça-intercepção, a BA5 passou, em Junho de 1974, a integrar também a Esquadra de Instrução Complementar de Pilotagem de Aviões de Caça (EICPAC), inicialmente equipada com aviões T33 e, a partir de 1977, com o T-38 Talon. Em 1981, chegam os primeiros A-7P Corsair II que vieram equipar a recém formada Esquadra de Ataque 302 e, em 1984, com a chegada de novos aviões A-7P, foi criada a Esquadra de Ataque 304 que se constitui como herdeira das tradições da Esquadra 93 “Magníficos” da BA9, em Luanda. Em 8 de Julho de 1994, chegam a Monte Real os primeiros F-16 que vêm equipar a recém activada Esquadra 201, no cumprimento da missão de Defesa Aérea, algo afectada com o abate dos F-86 em 1980. Esta Esquadra tornouse, assim, a herdeira das tradições e do símbolo dos “Falcões” da antiga Esquadra 51. A Esquadra 302 seria extinta na sequência da reactivação da Esquadra 201, tendo os seus meios humanos e aéreos sido integrados na Esquadra 304 que, por sua vez, seria desactivada com o final da operação do A-7P Corsair II. Com o desenrolar do programa Peace Atlantis II, foi decidido transferir a Esquadra 301 “Jaguares” da BA11 para a BA5, o que se viria a verificar em 25 de Novembro de 2005, para operar as recém transformadas aeronaves F-16, na versão MLU (Mid-Life Upgrade, um projecto de actualização dos equipamentos do avião partilhado pelas forças aéreas Portuguesa, Dinamarquesa, Holandesa, Norueguesa e Belga). Na altura da nossa visita, os F-16 da Esquadra 201 estavam, também, a ser convertidos para esta versão. Esquadras de voo As missões são idênticas para as duas esquadras de voo colocadas em Monte Real, a 201 “Falcões” – lema “Guerra Ou Paz Tanto Nos Faz”, e a 301 “Jaguares” – “De Nada A Forte Gente Se Temia”. Assim, ambas têm como missão primária executar operações de defesa aérea em quaisquer condições meteorológicas e de luminosidade, mais especificamente: - Operações de Luta Aérea Defensiva (DCA); - Operações de Luta Aérea Ofensiva (OCA); - Operações de Defesa Aérea em apoio a operações marítimas (Def. TASMO); Ainda dentro das funções destas esquadras, encontramos a execução de operações de ataque convencional em quaisquer condições meteorológicas e de luminosidade: - Operações Anti-Superfície (ASFAO); - Operações de Ataque anti-aéreo (CA); Como se referiu acima, ambas as Esquadras estão equipadas com o Lockheed-Martin F-16 “Fighting Falcon”, avião que, como se pode concluir da lista de missões acima, prima pela versatilidade. Assim, e uma vez que é necessário que os pilotos estejam sempre aptos a executá-las, o treino tem de ser constante. Se pensam que quem trabalha nestas Esquadras morre de tédio...estão redondamente enganados. O dia de trabalho de um piloto da BA5 começa normalmente às nove da manhã (embora haja excepções, como a dos dois pilotos que estão em alerta permanente e que, em caso de alarme, estarão no ar em menos de 15 minutos). Na sua Esquadra, toma conhecimento das p.13 Características do F-16 operado pela FAP Motor Pratt & Whitney F100-PW-220 com afterburner Dimensões Envergadura: 9,45 m Comprimento: 15,03 m Altura: 5,09 m missões previstas para o dia, e da sua tarefa respectiva. Claro que há uma grande dose de planeamento envolvida em cada missão, e cada uma tem um piloto responsável pela actividade aérea, o qual tem de verificar, por exemplo, se os aviões atribuídos estão aptos a voar e com o combustível e armamento correctos, se a meteorologia é favorável e quais os aeródromos nacionais que podem ser usados em caso de necessidade. Este piloto, durante a missão, fica no solo, mas em permanente ligação com os camaradas que estão no ar, de modo a prestar toda a assistência que seja necessária. As missões de treino são, evidentemente, o mais aproximadas que é possível ao combate real, e na preparação de cada uma está incluída a programação do sistema de navegação do F-16, de modo a que o piloto, ao chegar ao avião, faça o “download” do voo (rumos, velocidades, altitudes, etc.) para o referido sistema, o qual, após a descolagem, lhe dará as indicações necessárias para chegar ao alvo. Não são invulgares as missões dos F-16 em conjunto com outros ramos das forças armadas. Assim, as missões TASMO (Tactical Air Support for Maritime Operations) são normalmente efectuadas em conjunto com a Marinha, enquanto os ataques a alvos terrestres podem ser feitos em colaboração com o Exército. Claro que, para um piloto, a melhor parte da missão é voar, mas após aterrar é preciso analisá-la ao pormenor, recorrendo a informações gravadas pelo avião. Assim, além de um sistema que regista os dados projectados no HUD (Head-Up Display), como velocidade, atitude, rumo, altitude, etc., existe também o ACMI (Air Combat Maneuvering Instrumentation). Este, baseado em tecnologia GPS, permite que seja visualizada simultaneamente, no écran de um PC, o comportamento de todas as aeronaves in- p.14 Performances Velocidade máxima: Mach 2.05 Raio de acção: 3.800 km (2100 MN) Tecto de serviço: 50.000 ft Razão de subida inicial: 62.000 ft/min Peso vazio: 7.390 kg Peso máximo à descolagem: 16.057 kg Capacidade de combustível: 7160 lbs + 6730 lbs (tanque exterior) tervenientes na missão. Tudo isto permite uma análise detalhada da mesma, para se perceber o que correu bem e o que pode ser melhorado, e é habitual que se prolongue por várias horas. Atendendo à variedade de tarefas atribuídas ao F-16, e consequentemente aos seus pilotos, cada um tem de fazer um determinado número de missões de cada tipo por ano, de forma a não “perder a qualificação” (usando um termo nosso) em nenhuma delas, sendo o número mínimo de horas de voo por ano de 180. Exige-se assim grande flexibilidade e adaptabilidade, chegando a acontecer um piloto descolar após ter preparado uma dada missão, e ser informado, já no ar, que afinal vai fazer outra completamente diferente. Por vezes, o treino é feito no estrangeiro, seja em exercícios conjuntos com outros países da NATO, seja em escolas desta organização, onde pilotos instrutores que participaram em operações militares reais transmitem a experiência ganha. Nestas escolas procura-se também uniformizar os procedimentos das Forças Aéreas dos diversos países da NATO. Note-se que estes exercícios conjuntos também são efectuados em Portugal, muitas vezes em conjunto com forças navais. No que toca ao trabalho “a sério” na BA5... como se referiu acima, e dado a missão primária das suas Esquadras de Voo ser a defesa aérea primária, há sempre dois aviões prontos a descolar, que estarão no ar (no máximo) 15 minutos após ser dado o alerta. Estes aviões estão armados (canhão e dois mísseis), mas, REVISTA DA APCTA. VOL2#3. JUL06 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo no caso de uma intercepção, e uma vez que a decisão de abater ou não uma aeronave intrusa obedece a uma cadeia de comando, o piloto tem de relatar a situação para o controlo táctico no solo, tomando este as decisões. O piloto interceptor é, assim, o executante de ordens dadas a partir de terra. Uma questão que sempre nos interessa quando falamos com pilotos militares é a sua opinião sobre o controlo civil, e ficámos contentes por saber que os homens da BA5 nos têm em boa conta. Adjectivos como “cordial”, “profissional”, “preciso” e “expedito” surgiram nas conversas a respeito do nosso serviço, bem como o reconhecimento de uma evolução positiva do mesmo, o que só nos pode deixar contentes...e com vontade de continuarmos a melhorar. De facto, reconhecem que, devido ao aumento de tráfego civil, o espaço aéreo nacional está cada vez mais restrito para exercícios militares, mas as áreas actuais vão permitindo treinos sem grandes problemas. Pelo nosso lado, verificamos assim que também eles têm ganho sensibilidade para as nossas dificuldades, e que o piloto militar já não tem a convicção de que o espaço aéreo é todo dele, mas sim que se trata de um bem limitado e onde todos (militares e civis) têm de coexistir. Mas, foi-nos pedido mais um esforço em alguns pontos, especialmente: - uma maior sensibilização nossa para a elevada carga de trabalho a bordo do F16 (não se esqueçam que só tem um piloto), portanto tudo o que lhe puder facilitar a vida (directos, mínimo de mudanças de frequência, etc.) é muito bem-vindo. - diminuição do nível de burocracias do controlo civil, pois muitas vezes constatam que é difícil, mesmo com plano de voo, abandonar as áreas militares e voar no espaço aéreo civil na rota e nível pretendido. - também foi referida uma certa falta de conhecimentos sobre as performances do avião, nomeadamente em termos de razão de subida...pessoal: aquilo sobe na vertical se for preciso! O F-16 Apesar de já voar operacioalmente desde 1979, as sucessivas evoluções permitem ao F-16 “Fighting Falcon” continuar a ser um dos melhores aviões da actualidade para o combate aéreo e também para o ataque ao solo, dada a sua extraordinária manobrabilidade, avançadas características aerodinâmicas e capacidade de suportar acelerações até 9g. Dispondo de um canhão de 20mm, com uma cadência de tiro de 6000 disparos por minuto, podendo ser armado com mísseis ar-ar e ar-solo e com bombas de diversos tipos, controlados por um computador de tiro, o F-16 é sem dúvida um temível sistema de armas. O avançado sistema de controlo, os aviónicos, os sistemas de auto protecção e a facilidade da sua manutenção são outras razões para fazer com que o F-16 seja considerado um excelente avião para o combate aéreo. O F-16 MLU engloba alterações significativas, que incluem basicamente um conjunto de novos equipamentos / software, que viabilizam a operação deste avião em qualquer cenário de combate, e que são demasiadas (e demasiado técnicas) para o âmbito deste artigo. No entanto, os interessados podem consultar o excelente site www.f-16.net, no qual esta transformação está pormenorizadamente descrita, entre muitas (mas mesmo muitas!) outras informações sobre o F-16. . p.15 ZOOM por Nuno Chambel fotografias de Alfredo Rocha ATC Militar B.A.5 Monte Real Depois de conhecermos os equipamentos que se operam nesta base, resta descrever o tipo de serviço prestado em termos de ATC. Na BA5 existe uma ETA (Esquadra de Tráfego Aéreo) que é responsável pela Torre e Aproximação de Monte Real. À semelhança de Lisboa, estes serviços não partilham o mesmo espaço físico. A aproximação de Monte Real não trabalha lado a lado com a Torre. Todos os, que trabalham no ACC de Lisboa independentemente de serem de regional ou de aproximação, já tiveram necessidade de coordenar tráfego com Monte Real. Ok, não é uma coisa frequente mas, de tempos a tempos, lá temos que o fazer. Convém lembrar que no APP de Monte Real não existe radar. A antena está lá, do outro lado da pista bem em frente da Torre. Mas ainda não mexe. E o sinal radar existente também ainda não chega a esta base, que desempenha um papel vital na Defesa Aérea, como também, infelizmente não chega a outras bases aéreas. p.16 REVISTA DA APCTA. VOL2#3. JUL06 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo Muitas das vezes em que existe tráfego dentro da área R38B (que se subdivide em norte e sul: R38BN e R38BS) este pode nem estar em contacto com o APP de Monte Real. Existem áreas operacionais onde o tráfego evolui em contacto com a Defesa Aérea (COFA) se a missão for de treino de defesa aérea, ou pode estar envolvido entre si em missões de treino normal das esquadras. Neste último caso, enquanto estão dentro das áreas operacionais não estão em contacto com ninguém. Como todas as aproximações (civis) da FIR de Lisboa têm radar, temos tendência para esquecer que a coordenação com órgãos que trabalham em convencional, ou não-radar, deve ser mais precisa e inequívoca. Não nos podemos esquecer que, do outro lado, não ”vêem” o tráfego como nós. No caso particular de Monte Real, a coordenação envolve uma entidade externa, a EITA (Esquadra Independente de Tráfego Aéreo). Que, neste caso, desempenha o estranho papel de ligação entre os dois intervenientes. Por qualquer razão que se desconhece, Museu a coordenação não pode ser directa. No ACC de Lisboa só a EITA tem linha directa com a aproximação de Monte Real. É uma situação estranha, uma vez que todos os outros órgãos estão acessíveis directamente. Consegue-se falar com Ovar, Sintra, Montijo, Alverca, Beja, mas não se pode falar com Monte Real. A pergunta que se poderia fazer é “porquê”? Em conversa com alguns colegas da aproximação de Monte Real, esta questão também ficou no ar. Este problema parece ter uma solução simples. É importante para a resolução destas situações que os controladores que trabalham cada um dos tráfegos possam falar directamente entre si. . A nossa visita à BA5 começou pela Secção Museológica, uma sala em que estão expostos diversos objectos que contam um pouco da história desta unidade. Além dos inevitáveis modelos de aviões, peças retiradas dos mesmos (painéis de instrumentos, cadeiras ejectáveis, mísseis, canhões, radares, etc.), vimos também, por exemplo, antigos equipamentos da Esquadra de Tráfego Aéreo, material de comunicações e, provando que nem só de aviões vive uma base, até recordações de algumas esquadras de intendência (sapateiro e fotógrafo) estão expostos. Também é possível admirar um número razoável de presentes oferecidos por individualidades que visitaram a base. Enfim, um Museu que, apesar de pequeno, está muito bem cuidado e que não se limita a recordar a aviação. Infelizmente, não está aberto ao público. AGRADECIMENTOS Mais uma vez, ficam os nossos agradecimentos a todo o pessoal da FAP que nos ajudou a concretizar este artigo. De entre eles salientamos o Major Rui Marques, Comandante da Esquadra de Tráfego Aéreo, os Tenentes Hélder Silva,o nosso guia, Cláudia Ribeiro,José Dias, Gonçalo Reixa e o Capitão Ricardo Moura.Agradecimentos também aos Sargentos – Ajudante Carlos Figueiredo, Alcino Ferreira e Carlos Eira assim como aos Primeiro- Sargentos José Gaspar e José Ramos pela disponiblidade e prontidão no esclarecimento de todos os assuntos relativos ao controlo de Tráfego Aéreo. p.17 COMUNICAÇÕES BILATERAIS entrevista por Leonor Ferreira fotografias de Alfredo Rocha Nascido em Moçambique a 4 de Abril de 1959, e depois de retornar a Portugal em 75, parte para Santa Maria em 84, como ele diz: “numa missão de vida”. Foi nomeado monitor em 88 e Instrutor em 96. É, para os que passaram por Santa Maria, uma referência. Está mais à vontade num ambiente de risota onde pode contar as suas histórias e ter espaço para abrir os braços do que na postura minimamente séria que se quer para uma entrevista. Poucos não o conhecem, poucos não o admiram. Fomos entrevistar o Sérgio Marques… p.18 ENTREVISTA COM Sérgio Marques FL: Explica-nos como é que vieste cá parar? Ao controlo, a Santa Maria… SM: Concorri para o controlo à procura do primeiro emprego e, após estes anos todos de estar cá (tanto no controlo como em Santa Maria) acho que fui um sortudo. Quando concorri não queria vir para Santa Maria. Sabia que vinha só que, ingenuamente, pensava ser por pouco tempo … os meus colegas de curso são testemunhas: vim a chorar baba e ranho por aí abaixo e a verdade é que não gostei nada de Santa Maria, principalmente porque as condições que encontrei (estou a falar da casa, dos bens essenciais - por não haver cais construído faltava o básico: leites, gasolina, os carros andavam até dar, depois encostavam!) não se ajustavam às que eu considerava serem as ideais para criar um filho, muito menos para pedir à Bebé para largar tudo e vir ter comigo. REVISTA DA APCTA. VOL2#3. JUL06 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo FL: Dizes que foste um sortudo. Porquê? SM: Tive a felicidade de, na carreira, estar presente em vários processos que nem todos têm a sorte de acompanhar: a passagem do convencional puro para um sistema com trânsito de mensagens (o famoso SANTA). Apesar de hoje, a esta distância, parecer uma coisa fraca e obsoleta, na altura veio revolucionar e teve muita importância para o órgão (era tudo, tudo à mão e passou-se para computadores). Mais tarde, quando veio a automatização completa, enriqueceu-me muito a participação na implementação desse sistema (SATL). Completo o ramalhete com o processo de implementação do radar! E sortudo porque, ao fim de poucos anos, convidaram-me para ser monitor. Nessa altura não havia colégios, era por convite do chefe do órgão, na altura o Chefe Furtado. Devagarinho comecei a aperceber-me que a carreira de monitor encaixava na minha maneira de ser. Tinha que “jogar” com as pessoas, conhecêlas, transmitir conhecimentos e, tudo isso fez com que descobrisse uma paixão na carreira da Formação, ainda que não tivesse entrado da maneira mais correcta, pois nem formação para isso tinha! Na altura era assim. FL: Qual a maior dificuldade de um formador? SM: Um CTA-Monitor, na minha altura, era quase largado! Cada um dava estágio como sabia. Era muito frequente reconhecer na maneira de trabalhar de um estagiário o monitor que tinha tido. Felizmente hoje não é assim porque a formação evoluiu muito, standardizaram-se muitos procedimentos. Mas houve uma coisa que não mudou: cada formando é uma pessoa diferente e a dificuldade está em tentar, verdadeiramente, conhecê-la, saber que tipo de pessoa é, que dificuldades tem diferentes das dos outros, não tabelar as pessoas por melhor ou pior. Se alguém não cresce uniformemente nos conhecimentos é porque, se calhar, o monitor não transmite os conhecimentos e não o contrário. FL: O que achas do trabalho que se faz no CDF? SM: Eu sou um recebedor de alunos do CDF e noto que, nos últimos dez anos, a preparação é, sem dúvida alguma, espectacular. Mas há uma crítica, que ainda hoje faço: os cursos dados no CDF deveriam ser básicos, difíceis e com um certo grau de exigência, mas não tão complicados, não tão reais e que não criem tanto stress. Creio que essa dificuldade deve ser carregada nos pré-OJT’s. FL: Houve, certamente, momentos bons e menos bons… SM: Passei um período, os primeiros 7 ou 8 anos, aqui na ilha que, pelas condições que existiam (ou não existiam) as pessoas eram obrigadas a dar-se bem, a juntar-se, a fazer desde futeboladas, a corricos e filmagens. Tudo menos estar em casa! Obrigava as pessoas a sair de casa! E isso foi bom porque me encontrei, novamente, no ambiente onde cresci: Moçambique, onde nem televisão havia. Continuava a não gostar de estar cá, por causa das condições, mas isso era colmatado por essa tal parte social. E eu, como sou uma pessoa que gosto de estar bem e de me dar bem com todos, sou uma pessoa de grupos, de falar, de rir, de fazer espalhafatos, sentia-me bem nesse ambiente (podemos dizer que o facto de as condições terem melhorado - as casas, a Internet, a TV Cabo - de alguma forma fez com que as pessoas passassem a viver mais dentro das casas. Não sei se é melhor ou pior, só acho a parte social importante para se estar bem em Santa Maria). FL: E a fase complicada?... SM: Foi a fase onde se davam as transferências, ou a decisão de transferir o Centro para Lisboa, em que houve uma revolução completa aqui dentro, em que uns queriam ir embora e outros queriam cá ficar e, eu, fui apanhado no meio. Nessa época (93-96) tive a oportunidade, porque me convidaram, para ser chefe de órgão com apenas nove anos de casa, e foi precisamente o período mais infeliz da minha carreira profissional. Tive que aprender a ouvir, essencialmente, pois não conseguia agradar a gregos e a troianos, mas aprendi muito, desde a conhecer melhor as pessoas e a enriquecer a minha relação com elas (umas que se revelaram pela positiva, outras pela negativa) a concluir que não dava para trabalho de secretaria e que aquilo não era para mim. FL: É sabido que estás sempre na brincadeira. Lembras alguma com mais carinho? SM: Há a famosa do pára-comando que ganhou um jackpot! Sim! Aliás, fui o único CTA que dei a um colega meu a hipótese de ganhar um jackpot! O João Costa, uma pessoa com uma educação militar muito rígida (era dos poucos CTA’s que, quando entrava na torre, ficava na torre e não saía lá de cima [em Santa Maria só se vai à Torre quando há aviões, o que acontece poucas vezes por dia], devia pensar que aquilo era uma guarita). Ele jogava ao totoloto e, como não saía lá de cima, telefonava cá para baixo “Dá-me aí os números!”. Nesse dia havia jackpot! Dissemos ao Araújo para ir à torre sacar-lhe os números. A Anália, chefe de sala, só dizia “Não faças isso, que vai-lhe dar uma coisa! Que lhe saiam só 5!”. Lá arranjámos os números e, quando o João telefona, tinha os números do jackpot! Ficámos todos na sala à espera que ele entrasse a voar a dizer que era rico! Não aparecia… Mais tarde deu sinais de vida quando telefona cá para baixo e, com uma voz muito calma “Podiam repetir os números?”. E ele não aparecia. Foi lá o Araújo (ele que descreva a cena que viu lá em cima!) dizer-lhe a verdade e, eu, aflito! Porque ele era muito… bélico! Granadas, e tal e toda a gente a dizer “Estás feito! Brincaste com o pára-comando! Vais ter uma mina no tapete!”. E ele ainda me veio agradecer, ter tido a sensação de, por uns momentos, ser rico! FL: Que conselhos darias aos novos CTA’s que vêm para Sta Maria? SM: Dou o conselho que tenho dado a todos que têm chegado desde que sou formador: que aproveitem os anos que vão passar em Santa Maria para, profissionalmente, aprenderem. É um tipo de tráfego calmo que lhes permite cimentarem conhecimentos para, mais tarde, irem para outros órgãos. Não é nenhuma aproximação de Lisboa, pode-se chegar cá, ver, aprender, e ir vencendo, por isso se dizia, há muitos anos, que Santa Maria era a Universidade do Controlo, era o sítio onde realmente se aprendia. E é muito importante ir para órgãos mais complicados com bases sólidas. FL: Ao longo de todos estes anos como vês a evolução do Controlo Oceânico? SM: Acompanhei a evolução tecnológica na prestação de serviço de controlo desde o puro convencional (fitas de progresso de voo, mensagens, coordenações tudo era lento pois era feito a mão), até ao automatismo completo. A segurança foi sem duvida o maior dos benefícios e também a disponibilidade que o CTA tem agora para atender efectivamente aos pedidos do piloto. Quero lembrar que em termos de sistema temos hoje em Sta. Maria tecnologia de ponta. FL: Por fim, como classificas a relação ATC e pilotos aqui nas ilhas? E que sugestões darias para melhorar esta relação? SM: Atendendo às características geográficas das ilhas, ao facto de ser ainda praticado controlo convencional e porque de vez em quando existem reuniões com pilotos da SATA, a relação com os pilotos não podia ser melhor. Penso que a compreensão e tolerância são as sugestões que deixaria de parte a parte. . n.r.- Por motivos de espaço, partes desta entrevista não puderam ser incluídas. Fica desde já o pedido de desculpas da redacção ao entrevistado e à entrevistadora. p.19 COMUNICAÇÕES BILATERAIS entrevista por Andreia Lopes fotografias de Jorge Miguel Abreu / Madeira Spotters José Camões Godinho nasceu em Lisboa, a 17 de Julho de 1946. Ao longo da sua carreira, desempenhou diversas funções no meio aeronáutico, terminando, como comandante de médio curso, na TAP. No passado mês de Junho, realizou o seu último voo, LPPT/LPMA/LPPT, como profissional da aviação. A calorosa despedida que lhe foi feita atesta o carinho que os diversos colegas nutriam por ele. A FL decidiu juntar-se ao evento e recolher o testemunho da experiência passada, bem como a mensagem para futuros profissionais. ENTREVISTA COM José Camões Godinho FL: Pode-nos contar, num breve resumo, a sua experiência profissional? JC: Comecei em 1971 o curso de comissário de bordo, e comecei a voar em Janeiro de 72, na Europa, em B727 e Caravelle. Em 1980 passei para técnico de voo do B727. Em 1990, fui tirar o curso de pilotagem, em Tires, na Aerocondor e, ao fim de um ano, fui para a TAP com 200 horas de voo. Entrei no simulador do B737, apesar da parte de navegação ainda ser feita no simulador de B727, que a TAP, na altura, ainda tinha. Em 1999, passei para o A310 e, em 2000, para comandante de A320. FL: O facto de ter começado por ser Comissário de Bordo deu-lhe uma perspectiva diferente sobre a liderança dentro de um avião? JC: Eu considero que todas as profissões enriquecem, e a de comissário tem um dom muito específico, que é o contacto com as pessoas. Esta característica ajudou-me, mais tarde, em p.20 REVISTA DA APCTA. VOL2#3. JUL06 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo comando, a colmatar alguns atritos que surgem entre a cabine e o cockpit. Foi uma experiência óptima e muito importante na área de relações humanas. FL: Durante a sua carreira, pilotou vários tipos de aeronaves. Quais as grandes diferenças, em termos de pilotagem, entre as primeiras, nomeadamente o B737 e as últimas, da família Airbus? JC: Em relação às regras de pilotagem não há diferenças, são todas iguais, mas tecnologicamente os aviões, em si, são muito diferentes. O workload do B737 é muitíssimo maior do que um A320. O B737 avisa-nos, com luzes e paper check-list. O A320 detecta uma avaria e mostra-nos o que devemos fazer, sendo raramente necessário sair do cockpit para resolver o problema. Apesar disso, eu prefiro pilotar um B737 do que o A320, o que acontece normalmente com o Mas, reforço que o que me interessa principalmente é a questão da segurança, essa informação extra permite-me melhorar as minhas performances para não causar incomodo aos passageiros, nomeadamente, para não ter de ser tão brusco na descida. primeiro avião que se pilota, por ser visto como o “melhor do mundo”. Na versão 200, o B737, era um avião que respondia muito mais rapidamente a qualquer input de motor do que os outros, mesmo comparando com a versão 300, que era muito maior e, por isso, a resposta do motor era mais lenta. FL: Pode contar alguma situação ‘de aperto’ que tenha vivido? JC: Situações de aperto, felizmente não. A situação a que assisti, e que me pareceu mais grave, foi uma situação onde eu percebi um pouco sobre qual deve ser o stress do controle em situações críticas. Foi num voo de Zurique para Genebra, ainda em B737, há algum tempo atrás. Estávamos em segundo lugar para aproximação, tínhamos à nossa frente um Swissair e atrás um Ibéria para a pista 05, num vento de cauda alto e prolongado. O Ibéria pediu prioridade e declarou emergência porque tinha um passageiro com um ataque cardíaco a bordo. O Controle deu-lhe prioridade, dando-lhe vectores radar para a perna base e para interceptar o ILS. Quando o controlador o autoriza ao ILS o Ibéria faz o readback, ao que o controlador o avisa que está a cruzar o ILS. O controlador foi dando vários rumos, para corrigir o desvio, sem que o Ibéria respondesse. De repente ouve-se um grito ‘Ibéria, Climb, Climb’, mas um grito desesperado! Entrou logo outro controlador na frequência, que nos deu outra frequência, a nós e ao Swissair, mas nós ficámos também na escuta da frequência anterior. O Ibéria reportou que tinha perdido os instrumentos, e ao subir evitou a cordilheira do Jura. O que me impressionou, sobretudo, foi o tom de voz do controlador, foi algo muito forte, que ainda hoje recordo. O Ibéria acabou por aterrar e, quando nós aterrámos, já estava fora da pista com os bombeiros e ambulâncias. FL: Como caracteriza, em poucas palavras, o Controle português? JC: Penso que para as condições que vocês têm, trabalham bem e são seguros e eu tenho plena confiança no controle português, aliás sempre tive. Como ponto menos positivo posso referir a falta de alguma informação que poderia ser transmitida pelo controle aos pilotos. Nesse aspecto, considero que o melhor controle é o de Londres. Em aproximação, já sabemos à priori que voamos para OCK, informam-nos da hora de saída de espera, e quando abandonamos a espera dizem-nos o número de milhas a percorrer até à soleira. Na aproximação a Lisboa, a clearance típica é ‘desça para FL70’, sem informação acrescida. FL: E como considera a Pilotagem portuguesa? RC: É igual a toda a europeia, hoje em dia os parâmetros são os mesmos, os exames são iguais, a avaliação em simulador também é igual. Não posso dizer que somos melhores ou piores. FL: Como classifica a relação CTA´s/pilotos em Portugal e o que sugere que poderia ser feito para melhorar a nossa interacção? JC: Eu penso que a relação é boa, mas deveria haver mais contacto informal, para se discutir em conversa, o porquê de algumas instruções/acções e de algumas restrições impostas de um, ou de outro lado. Se este contacto fosse promovido pelas nossas associações seria o ideal. E se os controladores tivessem a possibilidade de frequentar um curso de pilotagem seria uma grande mais valia. FL: Que palavra gostaria de deixar aos novos pilotos e novos CTA’s, que começam agora as suas carreiras? JC: Eu, conselhos não dou a ninguém. O que posso dizer é um agradecimento, mas que reflecte o que é a aviação: Eu agradeço a todos aqueles que me ensinaram, que foram bastantes. A todos aqueles que me comandaram e que foram bons camaradas. A todos aqueles que comandei e que me auxiliaram na pilotagem. E a vocês, controladores, que me controlaram bem. Tenho 35 anos de aviação e foram óptimos anos! . p.21 HISTÓRICOS DA AVIAÇÃO rubrica por Pedro Matos p.22 REVISTA DA APCTA. VOL2#3. JUL06 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo Lockheed Constellation “Connie” O Lockheed Constellation (afectuosamente abreviado para “Connie”), quadrimotor a hélice de transporte, é sem dúvida uma das aeronaves mais facilmente identificáveis da história da aviação, devido à sua cauda tripla e à forma curvilínea da sua fuselagem, a fazer lembrar um golfinho. O projecto do Lockheed L-049 Constellation iniciou-se em 1939, em resposta a um pedido da TWA, pressionada por Howard Hughes, na altura o seu maior accionista, para uma aeronave capaz de transportar 44 passageiros e 2.700Kg de carga, a velocidades na ordem dos 400-480 Km/h e a 20.000 pés de altitude, especificações que colocavam o L-049 como um salto tecnológico (por exemplo, a elevada - para a época altitude de cruzeiro exigida implicou a necessidade de instalar um sistema de pressurização). Por esta razão, e como se queria manter à frente da concorrência, Hughes exigiu que o desenvolvimento fosse efectuado em total segredo. O primeiro protótipo (registo NX25600) efectuou o seu primeiro voo em 9 / 1 / 1943. Apesar de encomendas da TWA e da Pan Am, o facto de se estar em plena 2ª Guerra Mundial levou a que os 22 primeiros L-049 fabricados fossem cedidos para uso militar, com a designação C-69. Neste papel, conseguia transportar 63 homens, e com carga máxima tinha um alcance de 3.685 km. O motor escolhido para equipar o L-049 foi o Wright R-3350, de 18 cilindros dispostos em dupla fila radial e arrefecido a ar. A versão R-3350-35 Duplex Cyclone desenvolvia 2.200 cavalos às 2.800 rotações por minuto (ao nível do mar). Após o fim das hostilidades, iniciaram-se as entregas às companhias civis, com a TWA a iniciar os voos intercontinentais (Nova Iorque - Paris) em 6 / 2 / 1946. No entanto, neste ano e em menos de um mês, dois acidentes levaram a que o Constellation fosse proibido de voar durante seis semanas, enquanto as investigações decorriam. Não tendo sido encontradas falhas básicas no avião, este foi declarado apto a voar, tendo sido efectuadas alterações para eliminar os defeitos iniciais. No entanto, como aconteceu a quase todas as aeronaves com motores de êmbolos de alta potência, o Constellation sofreria de problemas de motor durante toda a sua carreira, o que valeu a pouco invejável alcunha de “melhor trimotor do Mundo”. Apesar de tudo, o avião viria a tornar-se imensamente popular, sendo adquirido por companhias de todo o Mundo, em diversas evoluções do projecto original. Desta primeira versão (contando com os C-69 depois convertidos para uso civil) foram construídas 88 unidades. p.23 Desenvolvimentos (I) No fim de 1946, portanto muito pouco tempo depois da sua entrada em serviço, o L-049 Constellation foi substituído pelo L-649, uma evolução, com diversos melhoramentos, do projecto original, entre os quais asas e trem de aterragem reforçados e (principalmente) motores mais potentes. A nível da cabine, o conforto dos passageiros foi tido em conta, com melhorias a nível da climatização e isolamento sonoro. Apesar de mais pesado, o L-649 era mais rápido e tinha maior capacidade de carga e alcance do que o seu antecessor, mas rapidamente saiu de cena para dar lugar ao L-749, basicamente o mesmo avião mas com maior capacidade de combustível, o que permitiu aumentar o alcance. Outras modificações permitiram aumentar também a capacidade de carga, em cerca de duas toneladas, tendo esta versão sido denominada L-749A. A produção total de L-649, L-749 e L-749A foi de 118 unidades. Uma curiosidade sobre o L-749: foi com esta variante do Constellation que a Pan Am iniciou o primeiro serviço regular à volta do Mundo, em 17 / 6 / 1947, com um avião baptizado Clipper América. Desenvolvimentos (II) Apesar das constantes evoluções, as companhias aéreas não paravam de solicitar mais aumentos de velocidade, capacidade de carga e alcance. A Lockheed, não querendo perder o comboio, respondeu com o L-1049 “Super Constellation”, lançado em 1951. Facilmente distinguível dos seus antecessores, devido ao aumento do comprimento da fuselagem em quase seis metros, representou um salto apreciável na capacidade de transporte de passageiros e no alcance. Todos estes aumentos de dimensões e consequentemente de peso obrigaram à montagem de motores cada vez mais potentes. No L-1049 a sua potência era já de 2.700 cavalos, mas no L-1049C, que voou pela primeira vez no início de 1953, cada um dos seus quatro Wright Cyclone Turbo Compound R-3350-872TCC18DA1 (não resisti a colocar aqui o nome completo!) debitava 3.250 cavalos, algo de fantástico para a época. O alcance do Super Constellation permitiu que se começasse a voar sem escalas entre Los Angeles e Nova Iorque, mas tal não foi bem aceite pelas tripulações, sendo desta altura os primeiros protestos referentes à duração dos tempos de serviço... p.24 Outras variantes foram o L-1049D (cargueiro), o L-1049E, com melhoramentos estruturais diversos, e o L-1049G, também com diversas evoluções relativamente ao seu antecessor, e facilmente distinguível pelos tanques de combustível adicionais montados na ponta das asas, que permitiram novo aumento do alcance. Esta versão revelou-se a de maior sucesso da gama, tendo sido construídas 102 unidades. Das outras declinações do Super Constellation – L-1049, L-1049C, L-1049D, L-1049E e L1049H (versão convertível passageiros / carga do L-1049G) – foram construídas 34, 49, 4, 28 e 59 unidades, respectivamente. Em 1956, surgiu aquela que veio a ser a última versão do Constellation: o L-1649A Starliner. Com uma nova asa, com cerca de 46 metros de envergadura, e motores a debitar cada um 3.400 cavalos de potência, foi mais uma evolução em termos de alcance e capacidade relativamente aos irmãos mais velhos (de facto, mais do que duplicou o alcance do L-049). O Starliner conseguia atingir qualquer capital Europeia a partir de qualquer dos grandes aeroportos Norte-Americanos, e com uma performance notável, tendo sido o avião de transporte com motores de êmbolos de longo curso mais rápido de sempre: para se ter uma ideia, o voo sem escala entre Los Angeles e Londres demorava 19 horas (pode parecer muito, espe- REVISTA DA APCTA. VOL2#3. JUL06 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo cialmente se compararmos com as pouco mais de 10 horas que se demora hoje em 747, mas estamos a falar de um avião a hélice), e voava entre Nova Iorque e Paris em menos três horas do que o seu principal concorrente, o Douglas DC-7C. Também é deste avião o recorde para o voo comercial sem escalas mais longo (em termos de tempo): Londres – São Francisco em 23 horas e 19 minutos. Apesar das suas qualidades, a concorrência do DC-7C e, principalmente, o aparecimento dos aviões comerciais a jacto, levou a que a produção do Starliner não passasse das 44 unidades, tendo o último saído da linha de montagem em 12 / 2 / 1958, destinado à Lufthansa. No total, foram construídos 856 Constellations, com 330 entregues a forças militares. Neste campo, o Constellation foi utilizado numa grande variedade de papéis: além dos óbvios – transporte de passageiros e carga – serviu, por exemplo, como avião presidencial, de patrulha, comando e controlo, pesquisa meteorológica (incluindo seguir furacões...na altura não havia satélites) e luta anti-submarina. Em algumas destas funções, eram facilmente distinguíveis pelos radares montados dentro de “radomes”, sobre e sob a fuselagem. Sem dúvida que as aeronaves actuais são mais rápidas, confortáveis e eficientes, mas o “Connie” há sempre de ser um dos aviões mais bonitos jamais construídos. Apesar de já não existirem em serviço comercial, há pelo menos quatro em condições de voo, sendo uma presença habitual nos festivais aéreos mais importantes. O Constellation na TAP Em Dezembro de 1953, a TAP começou a estudar a expansão da sua frota, tendo em consideração principalmente as necessidades das rotas de África, que começavam a não ser compatíveis com o equipamento utilizado na altura (os Douglas DC-3 “Dakota” e DC-4 “Skymaster”). Tendo analisado o DeHavilland Comet II, o Douglas DC-6B e o Lockheed L1049G “Super Constellation”, foi exactamente sobre este último que a escolha recaiu, tendo sido feita uma encomenda de três unidades, entregues em Agosto e Setembro de 1955 – CSTLA “Vasco da Gama”, CS-TLB “Infante Dom Henrique” e CS-TLC “Gago Coutinho”. O raio de acção, velocidade e capacidade de transporte do “Connie” representou um enorme salto qualitativo nos serviços prestados pela TAP. Cada avião transportava 108 passageiros na classe turística e sete em primeira, tendo o primeiro voo comercial sido efectuado em 27 / 11 / 1955, na linha Lisboa – Luanda. Nesta, o tempo da viagem foi reduzido de 22 para 15 horas, enquanto a viagem Lisboa – Lourenço Marques passou a efectuar-se em 22 horas, em vez de 31. A frota (e consequentemente as rotas voadas) expandiu-se em Junho de 1958 com a cedência por um ano de um L-1049H da companhia Norte-Americana Seabord & Western (que recebeu a matrícula CS-TLD, mas não foi baptizado), e em Maio de 1961, com a compra de mais dois L-1049G, estes em segunda mão – CS-TLE “Salvador Correa” e CS-TLF “Mouzinho de Albuquerque”. Estes vinham equipados com radares meteorológicos, o que implicava que o avião tivesse um “nariz” mais comprido e tornasse facilmente reconhecíveis os que dispunham deste equipamento. Foi exactamente o CS-TLF o primeiro avião Português a ser vítima de pirataria aérea: a 10 / 11 / 1961, quando se aproximava de Lisboa, um grupo de cinco apoiantes de Henrique Galvão, liderado por Palma Inácio, assumiu o controlo do avião e obrigou o Comandante a sobrevoar a baixa altitude Lisboa, Barreiro, Beja e Faro, de forma a lançar panfletos onde se podia ler o manifesto da oposição ao Governo de Salazar – estava-se em período eleitoral. O Constellation acabou por aterrar em Tanger, onde acabou o sequestro, sem que ninguém tenha sido molestado. Tendo servido a TAP durante doze anos, em que ligaram Portugal a todo o Mundo, a era do Super Constellation na companhia chegou ao fim em 13 / 9 / 1967, quando o CS-TLC aterrou em Lisboa proveniente do Rio de Janeiro. Tal como o DC-3 e o DC-4 que o antecederam, também o “Connie” foi “vítima” de um avião mais avançado, mais rápido e com maior capacidade – o Boeing 707, que começou a voar na TAP em 1965. . Tipo L-049 L-749A L-1049G L-1649A Envergadura (m) Comprimento (m) Altura (m) Peso máximo (Kg) Vel. Cruzeiro (Km/h) Tecto de serviço (ft) Alcance (Km) Passageiros Carga (Kg) 37,49 29,03 7,21 39.100 500 25.300 3.650 81 8.400 37,49 29,67 6,83 48.500 490 24.100 4.160 81 9.200 37,62 35,41 7,54 62.400 500 22.800 5.540 99 8.300 45,72 35,41 7,13 70.760 550 23.700 8.650 99 11.000 p.25 DESTINO por Andreia Lopes fotografias de José Gonçalves Noruega A Terra do Sol da meia-noite p.26 REVISTA DA APCTA. VOL2#3. JUL06 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo A Noruega ocupa a faixa Noroeste da península da Escandinávia e faz fronteira com a Suécia, Finlândia e Rússia. País de fiordes, montanhas e glaciares, possui uma natureza deslumbrante! De facto, devido aos efeitos da corrente do golfo, as temperaturas neste país são mais amenas do que seria de esperar a esta latitude. Mesmo acima do círculo polar árctico, a temperatura média, no Inverno, situa-se nos 2º negativos. Com uma área de 324,220 km2 (386,958 incluindo as ilhas do árctico de Svalbard e Jan Mayen) e cerca de 4,5 milhões de habitantes, é um dos países europeus com menor densidade populacional. Um quarto da área é coberta por florestas, e apenas 3% é terra cultivável. Com tal quantidade de árvores, a madeira é, naturalmente, a principal matéria-prima utilizada na construção. A arquitectura local é, assim, eminentemente tradicional, o que confere ao país um aspecto pitoresco, como se recuássemos no tempo. Devido à descoberta, na década de 70, das reservas de petróleo e gás natural, é actualmente o terceiro país, a nível mundial, com maior nível de rendimento per capita e, nos últimos anos, tem sido considerado pelas Nações Unidas como o país com maior nível de desenvolvimento humano. Tem-se recusado a aderir à União Europeia, notando-se uma política restritiva em relação à imigração. História O primeiro povoamento deu-se após a última idade do gelo, acerca de 10.000 anos, quando os glaciares começaram a retroceder. Os primeiros homens a ocuparem a região eram caçadores e pastores, oriundos do nordeste europeu, que perseguiam as migrações das renas. No entanto, o grande impacto humano e a inerente visibilidade histórica deram-se durante a Era Viking (de 800 a 1050 d.C.), em virtude das viagens e saques que realizaram por grande parte do mundo conhecido. De origem germânica, os Vikings cedo sentiram a necessidade de alargar os horizontes, iniciando grandes epopeias marítimas, sendo os primeiros europeus a cruzar o Oceano Atlântico, chegando à América do Norte, Norte de África e, até, ao Médio Oriente. Ao conquistar parte da Inglaterra, acabaram por adoptar a sua religião, convertendo-se ao cristianismo. Mais tarde, após a reforma de Lutero, tornaram-se protestantes. No fim do século XIV, a Noruega passou a ser governada a partir da Dinamarca, através de alianças de casamentos reais e, em 1814, acabou por ser cedida à Suécia. Em 1905 recuperou a independência, sendo actualmente governada por uma monarquia constitucional. Geografia e Natureza A Noruega é um país montanhoso, cujo relevo é marcado por uma extensa cordilheira que se desenvolve de Norte para Sul, no interior do país. Nesta vasta zona existem, vários parques naturais que possuem uma rede de trilhos e cabanas de montanha e que podem ser utilizados, durante o Verão, por quem procura o contacto com a natureza. Actividades como o simples passeio, a escalada de montanhas ou de glaciares são possíveis, individualmente, ou recorrendo a guias experientes. Devido ao princípio do “direito de passagem” que se aplica por todo o país, é possível atravessar propriedades privadas durante estes percursos, bem p.27 Bergen Oslo Oslo como acampar em qualquer local (excluindo as propriedades vedadas), gratuitamente, desde que se respeite um mínimo de distância (150 metros) das habitações aí existentes. O litoral, repleto por uma imensidão de fiordes, tem um comprimento total de 25.148km (comparando com o total de 2.650km, se excluirmos os fiordes e as baías). É uma zona mais húmida, com níveis elevados de precipitação. No Sul, os fiordes são mais profundos e compridos, e, observados de dentro de um barco, fazem com que uma pessoa se sinta esmagada pela sua dimensão. Vistos de cima, os tons de azul e de verde-esmeralda, criados pelos reflexos da vegetação na água salgada, são deslumbrantes. No Norte, os fiordes são mais abertos e menos profundos, com diversas fajãs que são aproveitadas pela população para estabelecer pequenas povoações. No Extremo Norte, já acima do Círculo Polar Árctico, o prolongado período em que a neve cobre os terrenos torna a vegetação mais escassa. É, ainda a esta latitude que é possível ver a aurora boreal, de Inverno, e o sol da meia-noite, de Verão. Devido à ausência de poeiras e impurezas no ar, a visibilidade atinge vários quilómetros, registando-se muitas vezes um fenómeno de ilusão óptica, em que se crê ver montanhas ou ilhas onde elas, de facto, não existem. p.28 A actual capital do país tem apenas meio milhão de habitantes e, excluindo o pequeno centro histórico, a cidade é caracterizada por um conjunto de pequenas vivendas de madeira que se fundem na floresta circundante. Voltada para a baía e para os fiordes, o movimento marítimo é intenso e é possível ver pequenos veleiros por toda a parte. Oslo possui um ambiente calmo e descontraído. O meio de transporte de eleição é a bicicleta e poucos carros circulam pelas ruas. Ao fim de semana, o parque Vigeland é um dos locais de eleição para apanhar sol e contemplar as mais de 50 estátuas de bronze e granito do escultor Gustav Vigeland. Outra zona de eleição para passear é a zona da marina, com as suas esplanadas e restaurantes. Oslo é, ainda, uma cidade interessante para quem procura um pouco de cultura, com uma diversidade grande de museus, dos quais se destacam o Museu do Barco Viking (com exposição de três barcos vikings originais, recuperados em escavações arqueológicas), o Museu de História Nacional (que contém um espólio arqueológico e etnográfico do qual se destaca a época viking e medieval) e a Galeria Nacional (que conta com diversas obras de pintores famosos, nomeadamente do norueguês Edvard Munch). A população ainda permanece bastante ligada ao folclore e é comum vestirem-se com trajes tradicionais nas cerimónias religiosas. As crianças continuam a preencher a imaginação com personagens fantásticas, como é o caso dos Trols, seres que “povoaram” a Escandinávia antes do Homem, habitando nas florestas, e que se transformavam em pedra, quando expostos à luz do Sol. REVISTA DA APCTA. VOL2#3. JUL06 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo Bergen Bergen A segunda maior cidade do país, desde cedo que se revelou um importante centro mercantil, fazendo parte da liga hanseática. Devido às relações privilegiadas, Bergen foi, durante vários séculos, o principal centro de comércio entre a Noruega e o resto da Europa. A cidade cresceu à volta do porto, e um dos bairros mais antigos da cidade, Bryggen, é considerado património mundial da humanidade. Deambular pelas ruas estreitas destes bairros medievais, passear pelo mercado do peixe, ou subir ao Mount Fløyen para uma vista panorâmica de Bergen, proporcionam momentos de rara beleza. Bergen é, ainda, o melhor ponto de partida para visitar os fiordes, oferecendo uma série de excursões e uma boa rede de transportes para quem prefere aventurar-se por si próprio. Foi ainda aqui que o compositor Edvard Grieg compôs grande parte da sua obra, inspirando-se no ambiente dos fiordes. Lofoten As ilhas Lofoten Trondheim Sognefjorden Os Fiordes Os fiordes formaram-se durante a última idade do gelo, devido ao avanço dos glaciares, que escavaram amplos vales nas montanhas, até atingirem o mar. Alguns dos mais belos fiordes da Noruega foram classificados em 2005 como património mundial da humanidade: o Sognefjorden e o Geirangerfjorden. Cada fiorde tem a sua beleza e peculiaridade. O Sognefjorden impressiona pelo seu comprimento e, especialmente, pela profundidade do Nærøyfjord, um dos braços deste fiorde. A conjugação de um cruzeiro com uma viagem no comboio turístico Flåmsbanen é altamente recomendável. De facto, este comboio, que percorre um dos carris mais inclinados do mundo, serpenteia através de um vale encaixado com diversas cascatas, partindo dos planaltos nevados até ao início do fiorde. O Geirangerfjorden é especialmente conhecido pelas suas cénicas cascatas. Mas existem ainda outros fiordes de extrema beleza, como o Hardangerfjorden devido ao tom particular das suas águas e dos glaciares envolventes, e o Lysefjorden, cuja vista espectacular pode ser observada do alto da Preikestolen, uma rocha imponente que pode ser escalada pelos turistas. Trondheim A primeira capital da Noruega, Trondheim é actualmente a terceira maior cidade do país, continuando, no entanto, a ser a cidade de eleição para a realização da cerimónia da coroação real. É aqui que se encontra a catedral gótica mais imponente da Escandinávia – A catedral de Nidaros, construída sobre o túmulo do rei Olav Haraldsson, o primeiro rei viking a mandar construir uma igreja cristã. Mais tarde, foi assassinado e canonizado, sendo actualmente conhecido como Santo Olav, o patrono da Noruega. Apesar de devastada diversas vezes por incêndios, o centro da cidade continua repleto de casas de madeira, muitas das quais construídas no século XIX. Um dos ex- libris da cidade, juntamente com os armazéns à beira rio, é a ponte Gamle Bybro. Trondheim é a porta de acesso ao extremo norte, ficando apenas a 500Km do círculo polar árctico. Lofoten é um arquipélago situado entre o 66º e o 67º paralelo de longitude. É composto por um conjunto de ilhas montanhosas, com pequenas baías abrigadas e pequenas praias de areia branca. Situado numa zona com abundantes reservas de peixe, focas e baleias, proporcionou aos primeiros habitantes um atractivo meio de subsistência. Ainda hoje, a pesca de bacalhau mobiliza de Inverno pessoas de toda a zona Norte do país. Devido à inexistência inicial de regulamentação, as reservas de peixe reduziram-se drasticamente, no entanto, actualmente, as quotas de pesca em Lofoten são cuidadosamente controladas e as reservas estão a recuperar. Apesar da pesca do bacalhau ser a principal actividade económica destas ilhas, o consumo desta espécie, na Noruega, é praticamente inexistente, sendo a grande maioria exportada para diversos países da Europa (nomeadamente Portugal) e também para o Brasil. O povoamento continua a ser caracterizado por pequenas aldeias de pescadores, algumas das quais existem desde o início do século XII. Muitas destas aldeias ainda apresentam a típica arquitectura palafítica de casas suspensas em estacaria de madeira ao longo da orla costeira e as estruturas tradicionais de seca de peixe ao ar livre. As ilhas Lofoten possuem ainda uma abundante diversidade de pássaros, nomeadamente o característico Papagaio-do-mar, e uma grande floresta virgem. É curioso observar que espécies de plantas que se desenvolvem só em zonas montanhosas crescem aqui, junto ao mar. Este fenómeno é explicado pela grande exposição solar a que estão sujeitas, conjuntamente com as baixas temperaturas que se registam durante o verão. Há muito para desfrutar nestas ilhas, desde as caminhadas pela praia ou pela floresta, à pesca, passando pela observação de pássaros ou de baleias e pelo mergulho. Existem ainda pequenos núcleos museológicos, para quem prefere uma vertente mais cultural. E claro, a imprescindível observação do sol da meia-noite, visível de 27 de Maio a 17 de Julho! . p.29 ROTA DOS SABORES por Nuno Simões, fotografias de Alfredo Rocha Restaurante Origens Bio Na continuação das nossas propostas gastronómicas, trazemos, desta vez, um tipo de comida que não só está na moda como é, sem dúvida nenhuma, uma referência de qualidade, excelência e bom gosto. Assim, entrevistámos a Sr.ª. Margarida Reis Gerente do Espaço Origens Bio que nos acedeu contar sobre este novo conceito de comida e cozinha. p.30 REVISTA DA APCTA. VOL2#3. JUL06 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo Flight Level: Como surgiu este projecto de abrir um restaurante de comida biológica? Origens Bio: O restaurante Origens Bio foi idealizado pela equipa dirigente da empresa Equanto SA, onde me integro, numa perspectiva de desenvolvimento estratégico da actividade de distribuição de alimentos biológicos no mercado nacional, que vem desenvolvendo há mais de dez anos. Conscientes do valor e potencial deste tipo de oferta alimentar, em termos de qualidade alimentar e ambiental, e das lacunas que, neste domínio, subsistem no nosso país, e de algum atraso face a outras realidades europeias, decidiu-se concretizar um espaço que permitisse um contacto directo com o consumidor final. Assim, surgiu o Espaço Origens Bio que integra um restaurante, uma cafetaria/esplanada e uma loja alimentar, onde é oferecido, em exclusividade, este tipo de alimentos, servindo de “montra” de demonstração, experimentação e partilha de conhecimento. É um conceito inovador que procura servir vários segmentos de necessidades, acautelando uma elevada qualidade de serviço e conveniência para os clientes. Em consonância com o conceito, está localizado numa zona moderna da cidade, particularmente enquadrada em termos ambientais e urbanísticos. FL: Explique-nos o que é a cozinha biológica? O.B: É uma cozinha em que os ingredientes e alimentos utilizados na confecção dos pratos são produzidos de modo cuidado, respeitando os ciclos naturais de crescimento vegetal e animal, sem aditivos ou compostos artificiais, de acordo com normas europeias especificamente definidas, visando nomeadamente a preservação ambiental. São alvo de certificação, por entidades oficialmente creditadas, desde o produtor até ao prato do consumidor. É, assim, uma cozinha da máxima segurança alimentar que aposta na verdade dos alimentos e no prazer do seu sabor genuíno. FL: O público está sensibilizado para esta opção? Como tem sido a sua adesão? O.B: Existem, ainda, bastantes lacunas no conhecimento dos factores que diferenciam e aconselham os alimentos biológicos. Contudo, há uma apetência crescente para produtos saudáveis, uma cada vez maior consciência do valor da qualidade e segurança alimentar, particularmente após sucessivas crises envolvendo alimentos. Temos desenvolvido iniciativas várias de divulgação do Espaço Origens Bio, a maior parte através de contactos personalizados. A adesão tem sido estimulante e crescente. FL: É fácil encontrar a maioria dos produtos para as vossas ementas? Qual ou quais os mais difíceis? E porquê? O.B: Existe, já, no mercado, praticamente todo o tipo de produtos de que necessitamos, embora tenhamos ainda que recorrer à importação de uma larga maioria. Restaurante Origens Bio Parque das Nações Alameda Oceanos 1.02.1.2-A-lj 1 Lisboa [email protected] www.origensbio.pt Do mercado nacional realço as carnes, os legumes, as frutas, os azeites, alguns vinhos. Por vezes, surge alguma dificuldade marcada pela sazonalidade natural da produção dos alimentos biológicos. FL: As vossas ementas são um misto de requinte e originalidade. Podia-nos explicar o porquê deste conceito? O.B: Procuramos que cada refeição seja uma óptima oportunidade para os sentidos. Daí a aposta na conjugação de vários factores: a melhor selecção de alimentos e ingredientes, uma adequada confecção, um cuidado empratamento, e um ambiente de cor e som naturalmente envolventes. FL: Se tivesse que nos sugerir uma refeição para apresentar o vosso restaurante, quais seriam os pratos fortes? O.B: A ementa do restaurante, que refrescamos com uma periodicidade muito próxima das estações do ano, está desenhada para ir de encontro a um leque expressivo de sensibilidades. Dos pratos que têm merecido maior preferência dos nossos clientes, destaco, nas entradas, os carpaccios de bacalhau e de salmão, nos peixes, a dourada em caldo de poejos e a açorda de camarão, nas carnes, a oferta personalizada de bifes e o chambão confitado com batata de forno, nas sobremesas, o pastel de nata com compota do chefe. FL: E, por fim, que mensagem gostaria de deixar aos nossos leitores? O.B: Que o acto de comer seja cada vez mais estimulante, comendo bem, apreciando os sabores, de preferência em partilha. . p.31 ESPECIAL SÓCIOS Brasil Pipa PROMOÇÃO PARA SÓCIOS No seguimento das nossas promoções, apresentamos hoje o Hotel Varandas Mar de Pipa. O Brasil está, definitivamente, na moda e tem sido o local anti stress de eleição de muitos CTA’s. Este óptimo hotel localiza-se à entrada de Pipa a 80 km de Natal, capital do Estado do Rio Grande do Norte (Nordeste brasileiro) e cerca de 700 metros do centro da vila de Pipa. Situa-se num planalto 18 metros acima da região circundante que lhe confere uma vista magnífica sobre a vila de Pipa, Baía dos Golfinhos e Santuário Ecológico. Desenvolve-se em 14.000 metros quadrados de espaços verdes e jardins, com uma área de construção de apenas 10%. É composto de 26 chalés (isolados), 2 piscinas, 2 bares, restaurante e recepção e outras infra-estruturas. É especialmente vocacionado para famílias, já que podem ficar todos na mesma casa em óptimas condições de privacidade, num espaço de cerca de 90 m2, sendo que o preço por pessoa vai baixando Para mais informações sobre preços e condições especiais de reserva consultar o site da APCTA www.sincta.pt p.32 significativamente quanto maior for a ocupação da mesma. É vendido pelo nº de pessoas, (por reserva) não havendo cama extra, (apenas berço). Os hóspedes podem ocupar os quartos da forma que melhor lhes convier. À terceira pessoa, mesmo que se trate de criança, é-lhe dado um quarto, o que constitui uma mais valia comparativamente aos demais hotéis, quer em termos de privacidade quer, genericamente, na qualidade das férias. Dispõe de transporte privativo e gratuito para as diferentes praias e vila entre as 0800 e as 2400 horas. Tem passeios a cavalo e rent-a-car, próprios. INFORMAÇÕES E RESERVAS www.varandasmardepipa.com.br [email protected] Armindo Guencho Rodrigues [email protected] Telefone: + 55 84 3246 2406 Fax: + 55 84 3246 2177 REVISTA DA APCTA. VOL2#3. JUL06 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo . BREVES por Fernando Fernandes fotografias de Rui Mendes ECC de Futebol 2006 Mais um ano, mais um ECC. Desta feita em Varna, na Bulgária. Mas antes de partirmos em viagem por terras Balcãs, vamos dar um mortal à retaguarda e aterrar em finais de Maio de 2005…. O Sorteio Em 2005, em Antalya, Turquia, a equipa de Lisboa, numa final fantástica contra Frankfurt, arrebatou pela primeira vez a taça do Plate (que corresponde, grosso modo, à Taça UEFA), ao vencer os germânicos por concludente 4-1. O nosso primeiro troféu. Certo que já tínhamos ganho o Espírito do ECC, outra distinção preciosa e que atesta bem a nossa alma e os valores que nos norteiam. Muito futebol, união e divertimento. Ingredientes únicos que fazem da equipa um caso ímpar de camaradagem e amizade entre os seus membros. Se ganharmos, melhor. Tem é que ter cerveja à mistura. De preferência muita. E de lá saímos, cansados e mal dormidos, revelando aquele brilho nos olhos que atraiçoam os vencedores: a nossa primeira taça com valor desportivo. A história dos ECC´s iria registrar o nome de Lisboa Radar como o vencedor do Plate do ano de 2005. Kiev, Karlsruhe, Corfu, Brindisi e Dublin. Pois é. Falem-me em conspirações… Kiev, enecampeão do ECC, gregos, italianos, irlandeses e os panzers germânicos. Tudo conjugado num cocktail explosivo que nitidamente tinha como objectivo final dizimar a equipa de Lisboa. Gregos e italianos provêm de uma cultura futebolística em que impera o chamado “pau”. Os irlandeses gostam é de rugby e de demonstrar a sua força milenar em confrontos físicos que têm tanto de patéticos como de desnecessários. Os ucranianos seriam os únicos à altura da nossa qualidade. Claro que percebemos a trama do enorme polvo que pretendia afundar a nossa esquadra. Mas o nosso timoneiro tinha uma estratégia. Estava era muito bem dissimulada. Pelo menos eu acho que ele tinha. Parecia confiante e isso bastava-nos. Mas as forças negras não dormiam… p.33 Uma final é sempre uma final. E esta seria ibérica: Madrid perfilava-se no horizonte como sendo a equipa a abater. Um esforço derradeiro. Uma final de carácter, de coração e muita coragem. E assim foi. The Day Before A insónia vigilante do inimigo revelou-se logo no primeiro dia. Haviam 8 campos. Um deles sintético. E a quem calhou o campo sintético nos primeiros dois jogos? Pois, a nós…. E porquê? Porque nós já estávamos referenciados como a equipa a abater. E todos nós sabemos qual é o piso que provoca mais cansaço e potencia as lesões. Dou uma dica: não são os relvados naturais! O polvo mostrava um tentáculo. Primeiro jogo: Karlsruhe. Resultado: Lisboa 5 – Panzers 1. Os pisos sintéticos não têm só defeitos. O seu nivelamento artificial permite que os virtuosos se imponham pela força da arte. Bola colada ao solo, técnica excelsa e coreografia a condizer. Aquilo não era uma equi- p.34 pa de soccer. Era uma orquestra celestial, onde os músicos deixavam cair as suas notas de uma forma sublime. Tão casual e ao mesmo tempo tão gracioso. Enfim, estávamos a ser apenas nós próprios. Nada de mais. De forma a evitar atrair as atenções de uma forma fatal, decidimos conceder a vitória a Kiev no segundo jogo. O plano do Mister Neca contemplava essa acção estratégica. Mas nem a derrota contra Kiev serviu para apaziguar o polvo. Essa organização obscura não engoliu o ópio que lhe tínhamos destinado. Aquela magnifica exibição contra Karlsruhe iria ser letal para a equipa… os agentes negros tinham as suas ordens. O nosso futebol espectáculo não iria encontrar a glória a que estava destinado. Contudo não estávamos à espera do seu contra-ataque. Não daquela forma inferior. REVISTA DA APCTA. VOL2#3. JUL06 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo The Day No segundo dia, de manhã, metade da equipa compreendeu que estávamos a lutar contra algo que nos ultrapassava: dores de barriga e uma ida geral à casa de banho. Quando percebemos o que nos tinha atingido já quase todos tinham o rolo de papel higiénico como fiel companheiro. Desta forma empatamos 0-0 com Corfu e perdemos 3-2 com Brindisi. À tarde, um pouco mais recompostos, lá conseguimos uma vitória sobre Dublin (1-0) O lado negro tinha ganho o primeiro round. A equipa médica não regateava esforços na recuperação dos seus atletas. O terceiro dia iria ser melhor. Arredados traiçoeiramente do Main (Liga dos Campeões) restavanos a dignidade do Plate. A equipa recuperava os seus índices físicos. Contudo o piso sintético tinha deixado mazelas. Dois influentes (cof! Cof!) jogadores do meio-campo tinham-se lesionado. Como gerir a longa caminhada até à final após de semelhante contrariedade? The Day After Estávamos no Plate. Iríamos defrontar os holandeses de Schipol nos oitavos-de-final. Já recompostos da enxurrada intestinal, demonstramos toda a nossa superioridade batendo claramente Schipol por 3-0. Quartos-de-final Londres entrou em campo cabisbaixa. Aqueles seres de grande porte assemelhavamse a animais capturados que instintivamente auguram a sua desgraça. E o seu pressentimento estava correcto: 2-1 para Lisboa, recordando outro jogo disputado entre as duas equipas num passado não muito distante. Besta negra? Talvez. Meias-finais Após o final do jogo, fomos informados do nosso adversário seguinte: Sta Maria/Faro. É pá, até poderíamos não ganhar a final mas aos nossos colegas tínhamos que ganhar! Perder que percamos com uma equipa estrangeira que não nos coordena tráfego. Foi um jogo muito disputado. Ambas as equipas deram o seu melhor. Num golpe de infortúnio do guarda-redes de Sta Maria/Faro lá conseguimos o solitário golo que valeu tão saborosa vitória. Este ano as piadas são por nossa conta. Para o ano logo se vê. Lisboa tinha feito o percurso do Plate sempre com os mesmos médios centro. E um esforço hercúleo nas meias-finais. Seguramente a final iria ser algo de penoso. Ou talvez não… Final Uma final é sempre uma final. E esta seria ibérica: Madrid perfilava-se no horizonte como sendo a equipa a abater. Um esforço derradeiro. Uma final de carácter, de coração e muita coragem. E assim foi. Vencidos pelo cansaço, os atacantes não conseguiam desfeitear as sólidas defesas. O 0-0 teimou até ao final, obrigando as equipas a uma enervante sessão de grandes penalidades. E foi aqui que a nossa alma lusa se impôs e destruiu a Armada Invencível: bastava um penálti para que Madrid se sagrasse campeã. Nesse derradeiro momento, Aranha, o nosso guarda-redes, tira as luvas e encara o marcador de forma resoluta. Foi esta confiança inabalável que torpedeou o couraçado espanhol. O madrileno falhou o decisivo remate e a maré virou a nosso favor. Foi desta forma histórica que arrebatamos pela segunda vez consecutiva o prestigiante troféu do Plate! Simplesmente brilhante. Na competição principal, Brest superiorizou-se a Kiev na marcação de grandes penalidades, após um empate a duas bolas no tempo regulamentar. E chegamos ao fim. Um torneio amplamente positivo, quer em termos desportivos, quer lúdicos. É uma semana perfeita para relaxar do stress quotidiano: futebol, amizade e um copo na mão. Para o ano será em Amsterdão. Será preciso dizer mais? Agradecimentos Como não pode deixar de ser, estas aventuras não surgem do nada. Há sempre instituições/pessoas que apoiam estes projectos, tornando-os realidade. Queria desta forma agradecer à APCTA, ao José Saramago, Sérgio Capela. Sérgio Santana e Jorge Abegão. Sem eles teria sido um pouco mais difícil. Obrigado. PS: um obrigado especial ao Fernando Madeira. A sua ausência tornou possível o nosso êxito desportivo. A ver se vais para o ano pois estamos fartos de ganhar. Um abraço, meu amigo. . p.35 BREVES 1. Torneio Texto por Pedro Férin de Ténis e Squash de Faro ...E, por entre a chuva, se fez um Torneio de ténis... Os que vieram de longe disseram que estava sol em todo o caminho, menos no Algarve. Outros diziam que nunca houvera um Torneio no Algarve sem chuva ou ameaça. Nada que impressionasse a Organização. Com uma precisão milimétrica, mudava de cenário à medida das circunstâncias: Se chovia, jogava-se squash (que é in-door), se deixava de chover, voltava-se aos courts.Tudo com muita calma e boa disposição. Sem stress... Estamos a falar, é claro do 18º Torneio de Ténis da APCTA – 1º de Squash, organizado por Faro, nos dias 22, 23 e 24 de Abril, com 16 jogadores participantes de Lisboa, Porto e Faro e que, com acompanhantes, envolveu cerca de 30 pessoas. O Torneio teve lugar no Centro de Ténis da Quinta do Eucalipto, nos arredores do Aeroporto, e o alojamento dos forasteiros no Hotel Faro, na baixa da cidade. Uma constatação – a ausência de muitos históricos destas coisas. Será que estão a ficar velhos e cansados? Então e os novos? Por isso mesmo, é de destacar a participação do Rito, já reformado há 7 anos, e que com os seus 62 anos, para além de um excelente 5º lugar nos singulares, não enjeitou dar uma voltinha no Torneio de Squash , tendo até arrecadado a respectiva taça do Fair Play.Um verdadeiro exemplo. Seria uma pena perdermos este património que muito contribui para nos aproximarmos uns dos outros. A velha frase “ é muito mais importante o que nos une do que o que nos divide” tem, hoje, uma actualidade mais do que evidente, apesar da aparente “cegueira “ de alguns. Bom, mas passemos à matéria de facto. 2. Vaqueiro Inc Por lapso, na última edição da Flight Level, não foi mencionado o autor do artigo sobre o Curso de Cozinha, o nosso pedido de desculpas ao colega Sérgio Santana a quem agradecemos a amabilidade do seu contributo. p.36 O Torneio foi um 3 em 1: Squash, Ténis – singulares e Ténis – Pares. Classificações: Squash 3 primeiros 1.Terenas 2.Dutra 3.Francisco Lisboa Fair Play: Rito Ténis-Singulares 4 primeiros 1.Chamorro 2.Claudino 3.Peixoto 4.Caldeira Fair Play: Trigo Ténis – Pares 2 primeiros 1. Chamorro/ Pedro Ferreira 2. Peixoto/Frederico Episódio marcante foi o excelente jantar de encerramento, no Hotel Faro, com uma vista magnífica sobre a baixa da cidade. Logo após a distribuição dos troféus, fomos brindados com um espectacular fogo de artifício sobre o casario da cidade velha. As cegonhas esvoaçavam, silenciosamente incomodadas, naquele céu de relâmpagos e perante o espanto dos presentes. Houve mesmo quem, disfarçadamente emocionado, conseguisse ver no turbilhão de estrelas e efeitos luminosos o conjunto de letras “ C-H-A-MO-R-R-O”. A Organização, com um sorriso de orgulho, tentava subtilmente fazer esquecer que acabávamos de entrar no dia 25 de Abril. E nas despedidas ouvia-se, com forte sotaque ilhéu: “... e a trabalheira que deu arranjar chuva nesta altura do ano !!!” REVISTA DA APCTA. VOL2#3. JUL06 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo .