REMUNERAÇÃO DOS VENDEDORES Martinho Isnard Ribeiro de
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REMUNERAÇÃO DOS VENDEDORES Martinho Isnard Ribeiro de
REMUNERAÇÃO DOS VENDEDORES Martinho Isnard Ribeiro de Almeida As pequenas empresas e particularmente as empresas nascentes tem dificuldade em tratar a remuneração dos vendedores. Existe uma ideia nas empresas de que o vendedor deve receber comissão para que se motivar e muitas vezes esta cultura organizacional pode levar, sobretudo os empresários de novos negócios, a cometerem enganos que podem comprometer seriamente o futuro de suas organizações. Existem algumas formas diferentes de remunerar os vendedores, e a escolha correta pode fazer uma diferença significativa no resultado de uma empresa. 1- Vendedor externo sem comissão de vendas A motivação pelo reconhecimento é própria de todos os empregados, mas sabemos que o pagamento não é fator motivacional. Neste sentido o vendedor pode ser apenas assalariado. Acredito que o papel do vendedor pode facilitar a competição, pois o objeto do trabalho é facilmente comparável, sobretudo quando existe uma equipe de vendas que trabalha os mesmos produtos. Desta forma é muito comum se estabelecer metas de vendas Na Unilever onde fui trainee os vendedores recebiam apenas salário, mas tinham metas de vendas e ganhavam prêmios simbólicos. As metas de vendas para serem motivadoras não podiam ser nem muito fáceis e nem muito difíceis. Como parâmetro para o estabelecimento de metas era dado que no mínimo 80% dos vendedores atingissem a meta, mas não deveriam passar de 90%, de forma que se sentissem vitoriosos. As metas de vendas levavam em conta o potencial dos clientes e incluíam também se estes pagavam o que haviam comprado. Em uma ocasião saí com um vendedor que foi atender um supermercado novo, e reduziu os pedidos do dono do supermercado com receio que ele não tivesse condição de pagar um pedido grande, o que lhe prejudicaria nas suas metas. Além dos vendedores, havia os promotores de venda, que marcavam os preços no supermercado, abasteciam as gondolas com os produtos e montavam promoções do tipo uma casa feita com caixas de produtos. As melhores promoções eram fotografadas e na reunião mensal da coordenação de vendas cada gerente regional mostrava as melhores promoções de sua área. Com apenas o elogio do gerente nacional de vendas e dos demais participantes deste comitê os promotores de vendas se sentiam motivados para fazerem promoções, que foram ficando cada vez mais sofisticadas, a ponto que os promotores de vendas começaram a trabalhar fora do horário, levando a gerencia nacional de vendas a suspender a apresentação nas reuniões do comitê dos melhores trabalhos. 2- Vendedor externo com comissão fixa A remuneração variável dos vendedores externos (comissão sobre o preço vendido) parece ser uma boa solução para um negócio, pois a empresa só remunera o vendedor sobre aquilo que ele produz e quanto maior for o valor que o vendedor conseguir, maior será a sua comissão, o que deveria motivar o vendedor a procurar vender sempre pelo maior preço. O fato de ter vendedores externos pode parecer também uma vantagem, tendo em vista que não precisa pagar salário, usar espaço, telefone e outros benefícios que os funcionários têm. Em algumas empresas que tive a oportunidade de conhecer o efeito é contrário, pois os vendedores exclusivamente comissionados trabalham para outros concorrentes e fazem um verdadeiro leilão entre as várias empresas para oferecer a melhor condição para os clientes e não para a empresa que lhe remunera. Analisando este fato entendi que o vendedor considera o cliente um patrimônio seu, pois o seu valor no mercado decorre do seu bom relacionamento com as empresas compradoras. Acompanhando as atividades de pequenas tecelagens pude observar que as principais vendas acabavam sendo fechadas diretamente do vendedor com o proprietário da tecelagem neste leilão que forçava o proprietário a reduzir cada vez mais a sua margem, chegando muitas vezes a praticar margens negativas para conseguir vender. Existe também o vendedor que é exclusivo recebendo um pequeno salário da empresa e mais a comissão fixa. Neste caso reduz a força de barganha da concorrência, mas ainda o vendedor está sempre pressionando a empresa a vender mais barato, pois o preço baixo lhe facilita o trabalho e o que perdem na comissão por vender mais barato, ganham no volume de vendas. 3- Vendedor externo com comissão variável Para motivar o vendedor a fazer uma venda que proporcione maior resultado para a empresa, pode-se usar uma tabela variável de comissão, de forma que o vendedor tenha uma real motivação para vender por um preço melhor. Para estabelecer a comissão variável deve-se estimar a margem de contribuição do produto ou serviço. Claro que o cálculo varia de um mês para outro, mas deve-se fazer uma estimativa de percentual para compor a tabela. Por exemplo: Estima-se que o produto tenha 20% de margem antes da comissão de vendas. Se normalmente se paga 5% sobre o preço de venda, isto representa 25% da margem. Assim se for vendido por $100 a comissão será de $5, se for vendido por $ 90 a comissão será apenas $ 2,5, mas se o vendedor conseguir vender por $ 110 a comissão será $ 7,5. A seguir um quadro comparativo entre a comissão por vendas e por margem: Comissão por Vendas Comissão por Margem Vendas por 100 Vendas por 100 Comissão de 5% = 5 Margem 20 Comissão de 25% = 5 Vendas por 120 Vendas por 120 Comissão de 5% = 6 Margem 40 Comissão de 25% = 10 Vendas por 90 Vendas por 90 Comissão de 5%= 4,5 Margem 10 Comissão de 25% = 2,5 Desta forma, o vendedor externo terá uma motivação maior para trabalhar no interesse da empresa que lhe remunera e não de sua carteira de cliente, pois se vender 10% mais barato terá metade da comissão e se vender 10% acima terá uma comissão 50% maior. Este tipo de tabela variável pode trazer algumas dificuldades devido à margem variar dentro de um mesmo mês e a capacidade de produção de uma pequena empresa. Como exemplo podemos imaginar uma pequena fabrica que tenham as suas vendas incrementadas, poderá ter que usar mais um turno de produção que representará um custo mais alto e consequentemente uma margem menor, que não justificaria uma comissão mais alta. 4- Vendedor interno O vendedor interno por usar a estrutura da empresa não deve ser comissionado, pois a carteira de clientes é da empresa e não do vendedor. É uma prática comum comissionar o vendedor interno seja com comissão fixa ou variável, mas esta prática traz uma série de problemas, como: a) Dificuldade de reduzir a comissão, no caso de redução de margem; Uma pequena fabrica de bolsas de um amigo meu acabou fechando, e uma das razões era a comissão fixa que pagava para um vendedor interno, que no inicio era compatível com o trabalho, mas o vendedor começou a fazer vendas maiores e com margens menores e como o vendedor não aceitou reduzir o percentual de comissão combinado, tornou a empresa inviável. b) Problemas trabalhistas, pois o local de trabalho caracteriza emprego; Na demissão de um vendedor comissionado que tenha um pequeno salário fixo e que trabalhe internamente na empresa, dificilmente o empregador conseguirá pagar a indenização apenas sobre o salário, pois o local de trabalho caracteriza o emprego e provavelmente terá que pagar também todos os encargos trabalhistas sobre a média das comissões. c) Concorrência predatória quando existe mais de um vendedor interno. Em uma metalúrgica que dei consultoria presenciei uma concorrência interna predatória entre os vendedores, onde era comum a reclamação de que um não havia dado o recado do cliente do outro. A concorrência acontecia pelo tempo de atendimento da fábrica, ou seja, os vendedores queriam que a fábrica priorizasse os pedidos de seus clientes e não tinham nenhum interesse em colaborar com os outros vendedores, cujas vendas iriam concorrer na priorização da produção. Recomenda-se que o vendedor interno seja assalariado, mas é uma prática que deve ser acompanhada por incentivos não monetários, de forma a manter a motivação dos vendedores. Na Unilever existia um parâmetro de que a equipe de vendas deveria ter metas que pelo menos 80 % da equipe fosse vencedora e não mais do que 90% alcançasse a meta. Os prêmios eram simbólicos como um relógio comum. Os prêmios grandes e valorizados trazem desgastes na equipe. Certa vez um Banco premiou o seu gerente que conseguiu o maior valor captação com um carro. No mês seguinte este gerente não conseguiu mais fechar operações, pois a área de captação passou a dar taxas inferiores ao mercado. O gerente teve que sair do Banco. Bibliografia Este texto foi escrito com base na experiência do autor, mas encontrei um texto, que está abaixo, sobre o assunto que poderá colaborar com quem está interessado no assunto. http://revistapegn.globo.com/Revista/Common/0,,EMI188530-17141,00REMUNERACAO+VARIAVEL+VANTAGENS+E+PERIGOS.html consultado em 3/9/2014