OCORRÊNCIA DE ESPOROS DE FUNGOS MICORRÍZICOS NAS

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OCORRÊNCIA DE ESPOROS DE FUNGOS MICORRÍZICOS NAS
Anais da Jornada Integrada de Meio Ambiente
Instituto Federal do Pará, Campus Tucuruí
Ano 2016, ISSN: 2448-3893
OCORRÊNCIA DE ESPOROS DE FUNGOS MICORRÍZICOS NAS ESPÉCIES Apuleia
leiocarpa (AMARELÃO) E Virola surinamensis (UCUÚBA) NA ILHA DO
GERMOPLASMA EM TUCURUÍ-PARÁ
Eliene Meireles da Silva, Ruthielen da Silva Santos e Rodrigo da Silva Maia
Instituto Federal do Pará, Campus Tucuruí
[email protected]
Resumo
O estudo objetiva avaliar a ocorrencia de esporos no solo das espécies arbóreas do banco de
Germoplasma que estão em situação de perigo ou vulnerável devido ao aumento de sua exploração
nos últimos anos. As espécies estudadas são: Apuleia leiocarpa (Amarelão) e Virola surinamensis
(Ucuúba). As amostras foram coletas aleatoriamente na ilha do Germoplasma nos meses de maio e
setembro de 2015, onde os esporos de fungos micorrízicos presentes no solo foram extraídos de um
volume de 50g de solo usando o método de peneiramento úmido, seguido de centrifugação em água e
sacarose para posteriormente serem analisados e quantificados com auxílio de um microscópio
estereoscópico. Os resultados mostraram que a densidade de esporos foi maior no período menos
chuvoso para ambas as espécies florestais. Evidenciando assim a influência da sazonalidade na
esporulação deste fungo. A elevada quantidade desses esporos no solo (aproximadamente 1 esporo
por grama de solo) mostra a importante presença deste fungo em solos de baixa fertilidade,
característicos da região Amazônica.
Palavras-chave: Microbiologia do solo, esporos de fungos micorrízicos, espécies florestais
Abstract
The study aims to evaluate the occurrence of spores in the soil of the tree species of the Germplasm
Bank that are in danger or vulnerable due to increased his holding in recent years. The species are:
Apuleia leiocarpa (Amarelão) and Virola surinamensis (ucuúba). The samples were randomly collected
on the island of Germplasm in the months of May and September 2015, where the spores of mycorrhizal
fungi in the soil were taken from a volume of soil 50g using the method of wet sieving, followed by
centrifugation in water and sucrose later to be analyzed and quantified with the aid of a stereoscopic
microscope. Thus demonstrating the influence of seasonality on sporulation of this fungus. The high
amount of these spores in the soil (about 1 spore per gram of soil) shows the important presence of this
fungus in low fertility soils, characteristic of the Amazon region.
Key-words: Soil Microbiology, spores of mycorrhizal fungi, forestry species
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INTRODUÇÃO
Na natureza existem fungos que são simbiontes mutualísticos obrigatórios e colonizam mais
de 90% das famílias de plantas (SIQUEIRA, 1992), eles são de particular importância nos trópicos onde
a maior parte do solo apresenta baixa fertilidade. Esses fungos são conhecidos como fungos
micorrízicos arbusculares (FMAs) e a associação desses fungos com as plantas são importantes para
a sobrevivência e crescimento do vegetal, assim como para a sucessão de floresta e recuperação das
áreas degradadas (JANOS, 1980). A associação simbiótica entre FMAs e plantas ocorre pelo micélio
extra-radicular do fungo que absorve nutrientes obtidos em áreas de difícil acesso para as raízes das
plantas e disponibiliza esses nutrientes para as células do córtex de raízes de plantas micotróficas em
troca a planta cede parte dos fotossintatos, estabelecendo assim a simbiose (SMITH & READ, 1997).
Os ecossistemas brasileiros apresentam importantes fontes de diversidade de FMAs
(STÜRMER, 2012), porém o inventário brasileiro de espécies de FMAs constatou que na região
Amazônica, onde está localizada a maior área verde e fonte de diversidade do mundo, são raros os
estudos sobre a diversidade de FMAs. Considerando que espécies arbóreas ameaçadas de extinção
na Amazônia ainda não estão recebendo atenção de estudos que avaliem as associações simbióticas
com fungos micorrízicos (SIQUEIRA et al., 2007). Este estudo analisou a densidade de esporos de
fungos micorrízicos, no solo das espécies Apuleia leiocarpa (Vogel) J.F.Macbr. (Amarelão) e Virola
surinamensis (Rol. ex Rottb.) Warb. (Ucuúba) na Ilha de Germoplasma em Tucuruí no Pará.
MATERIAIS E MÉTODOS
Descrição da área de estudo
A área de estudo na Ilha de Germoplasma está localizada entre as coordenadas 03º45’58 S e
49º40’21 W, aproximadamente 3 Km de distância da barragem, é uma área de preservação pertencente
a Eletronorte, no reservatório da Usina Hidroelétrica (UHE) de Tucuruí, com uma área total de 129
hectares de floresta, onde apresenta 32 ha de floresta nativa, identificado como banco de germoplasma
in situ ou parcela, e 22,63 ha de floresta plantada no qual representa o banco de germoplasma ex situ
ou quadra. Formando assim um valioso banco biogenético da região do baixo rio Tocantins
(ELETRONORTE, 2007).
Coleta do material de estudo
As amostras de solo da espécie Apuleia leiocarpa foram coletadas na parcela 07 e quadra 01,
já as amostras de solo da espécie Virola surinamensis foram coletadas na parcela 07 e quadra 04. Nos
meses de maio (período chuvoso) e setembro (período menos chuvoso) no ano de 2015.
Foi utilizado um trado de 0-10 cm de diâmetro para coleta de 785 g de solo numa profundidade
de 0 - 10 cm, as amostras de solo foram usadas para análise de densidade de esporos de fungos
micorrízicos (FMs).
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Metodologia para extração de esporos no solo
Os esporos de fungos micorrízicos arbusculares, presentes no solo, foram extraídos a partir da
pesagem de 50g de amostra de solo em duplicata, no qual o mesmo foi transferido para um becker de
plástico de 1 L, onde foi efetuada a lavagem, que consisti em destorrar o solo e acrescentar água até
500 ml aproximadamente do Becker e agitar a solução com uma baqueta. A solução foi deixada em
repouso por aproximadamente 1 minuto para que as partículas grosseiras do solo decantem, e apenas
a suspensão seja vertida sobre duas peneiras sobrepostas, a primeira com malha de 0,71mm e a
segunda com malha de 0,045mm, com o auxílio de uma pisseta o material retido na peneira de menor
malha, foi transferido para 3 tubos de 15 ml. Posteriormente as amostras foram centrifugadas em água
destilada e acrescentou-se após a centrifugação, a solução de sacarose a 50% em aproximadamente
10 ml dos tubos para uma segunda centrifugação, pois a sacarose permite que os esporos fiquem em
suspensão. O sobrenadante foi vertido na peneira de malha 0,045mm, e com a utilização de uma
pisseta o material retido na peneira foi transferido para uma placa de petri canelada, onde os esporos
foram analisados e quantificados com um auxilio de um microscópio estereoscópico (GERDERMANN
&NICOLSON,1963).
Análise estatística
Realizou-se a análise de variância de medidas repetidas para testar a densidade de esporos
entre os tratamentos: parcela x quadra e tratamento x período (chuvoso e menos chuvoso). As médias
foram comparadas com o teste Tukey a 5%. Os Programas estatísticos utilizados para análises: Sigma
Stat for Windows, versão 3.5 (Systat Software. Inc., EUA, 2006).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os tratamentos parcela (área nativa) e quadra (área plantada), no período chuvoso para a
espécie Apuleia leiocarpa (amarelão), não apresentaram diferença significativa (Tabela 1). Entretanto
verificou-se para a mesma espécie no período menos chuvoso, maior diferença significativa encontrada
na parcela em relação à quadra (Figura 1). Os esporos são estruturas reprodutivas dos fungos
micorrízicos, e possuem capacidade de resistir a condições ambientais adversas (BRUNDRETT, 1991).
No trabalho de MAIA et al., (2015), também foi mostrado a sensibilidade de esporos a variação sazonal,
porém diferente dos resultados deste estudo que mostrou maior densidade de esporos no período
menos chuvoso (Tabela 1), os resultados de MAIA et al., (2015) mostraram maior densidade de esporos
no período chuvoso. Essa diferença pode ocorrer porque várias espécies de FMAs são sensíveis à
variação de umidade no solo (SIEVERDING, 1983), isto é, algumas espécies produzem mais esporos
no período chuvoso outras podem produzir mais esporos no período seco.
O número de esporos no solo é geralmente superior ao número de outras estruturas dos fungos
micorrizicos (vesículas, hifas e arbúsculos), pois são organismos que podem permanecer no solo por
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um longo período. Porém alguns fatores podem influenciar para que a densidade de esporos e a
infecção por FMA possam apresentar correlação (SILVA et al., 2001).
A densidade de esporos de FMAs no solo da espécie Apuleia leiocarpa, foi maior na parcela
(Figura 1). Provavelmente porque algumas espécies destes fungos possam fazer maior interação com
plantas nativas do que plantas mais jovem, sendo que os mesmos necessitam obrigatoriamente de
uma espécie vegetal hospedeira para sua sobrevivência. A presença de esporos micorrízicos é uma
característica que pode ser afetada por diversos fatores como idade, espécie vegetal, a quantidade de
raízes entre outros aspectos (AFEK et al. 1990).
Tabela 1. Densidade de esporos no solo avaliado na espécie amarelão. Dados são médias (n=2).
Letras a e b indicam diferença significativa nos tratamentos em determinado período de coleta. A
diferença significativa foi avaliada pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
Densidade de esporos
(Nº de esporos 50 g-1 de solo)
Espécie
Tratamento
Período chuvoso
70 a
Amarelão
Parcelas
78 a
Período menos
chuvoso
107,5 a
88 b
Quadras
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120
Parcela
Quadra
Densidade de esporos
(número de esporos 50 g-¹ de solo)
b
100
a
c
a
80
60
40
20
0
Chuvoso
Menos Chuvoso
Figura 1. Densidade de esporos no solo avaliado na espécie amarelão. Dados são médias (n=2). Letras
indicam diferença significativa nas parcelas e quadras em determinado período de coleta. A diferença
significativa foi avaliada pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
Já na espécie Virola surinamensis (ucuúba), localizada tanto nas parcelas, quanto nas quadras
durante o período chuvoso, evidenciou densidade de esporos significativamente menor do que parcelas
e quadras do período menos chuvoso, no qual se demonstrou maior diferença significativa no
tratamento quadra para esta espécie (Tabela 2).
Bonfim et al. 2010 observou uma maior quantidade de esporos de FMA, no solo com
componentes arbóreos, tanto no período menos chuvoso como no período chuvoso, sendo maior em
estação menos chuvosa. Resultado semelhante foi encontrado na espécie ucuúba Virola surinamensis
do presente trabalho, no qual houve diferença significativa no número de esporos para o tratamento
quadra no período menos chuvoso (Figura 2). Já para COELHO et al., (1997), o número de esporos de
FMA no solo foi maior no período chuvoso. Essa diferença de resultados pode ser explicada pela
diversidade de espécies de FMAs a qual possuem produção de esporos variados de acordo com a
sazonalidade, pois algumas espécies de FMAs produzem mais esporos durante a estação chuvosa
outras produzem mais esporos na estação menos chuvosa.
Também evidenciou - se que a densidade de esporos de FMAs no solo da espécie Virola
surinamensis, foi maior na quadra do que na parcela, possivelmente porque esta espécie localizada na
quadra (Figura 2) é mais jovem, necessitando de mais simbiose para se desenvolver (absorção de
nutrientes) e isso em geral pode aumentar a propagação de FMAs nessa área que inclui um aumento
da produção de esporos. Esse efeito dos FMAs está evidente na literatura, quanto ao crescimento, o
desenvolvimento e a nutrição de espécies vegetais, ocasionando o aumento da biomassa vegetal acima
do solo (SMITH & READ, 2008).
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Tabela 2. Densidade de esporos no solo avaliado na espécie ucuúba. Dados são médias (n=2). Letras
a e b indicam diferença significativa nos tratamentos em determinado período de coleta. A diferença
significativa foi avaliada pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
Espécie
Tratamento
Densidade de esporos
(Nº de esporos 50 g-1 de solo)
Ucuúba
Período chuvoso
Parcelas
Período menos
chuvoso
160,5a
Quadras
117 a
82 a
185 b
Densidade de esporos
(número de esporos 50 g-¹ de solo)
250
b
200
150
a
100
50
0
Parcela
Quadra
Figura 2. Densidade de esporos no solo avaliado na espécie ucuúba. Dados são médias (n=2). Letras
a e b indicam diferença significativa na parcela e quadra no período menos chuvoso. A diferença
significativa foi avaliada pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
CONCLUSÃO
1- Os esporos são sensíveis a variação sazonal (aumentando significativamente no período mais
seco) isso tanto para amarelão quanto para ucuúba.
2- Houve uma elevada densidade de esporos nas amostras (aproximadamente 1 esporo por
grama de solo) isso mostra o quanto os FMAs são importantes em solos pobres em nutrientes
como os da Amazônia.
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