Controle Neuro-Endocrino da Lactação em Fêmeas - CRMV-RN
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Controle Neuro-Endocrino da Lactação em Fêmeas - CRMV-RN
Revista Eletrônica Cientifica Centauro v.1, n1, p 19-32, 2010 ISSN 2178-7573 CONTROLE NEURO-ENDÓCRINO DA LACTAÇÃO EM FÊMEAS SUÍNAS – REVISÃO Terezinha Domiciano Dantas Martins1, Alberto Neves Costa2, José Humberto Vilar da Silva3. RESUMO: A lactação consiste em uma série de etapas morfo-fisiológicas no processo de diferenciação, pelas quais as células mamárias são convertidas de um estado não secretor para um estado secretor, no períparto, sendo mantida através de estímulos de ejeção do leite e controlada por hormônios lactogênicos. Através de uma cascata de eventos neuro-endócrinos, a ocitocina, a prolactina, o GH, os IGFs, os corticosteróides e a insulina, atuam sinergicamente regulando a produção de leite e a atividade reprodutiva na fêmea suína, podendo receber interferência do estado metabólico da matriz durante este período. Unitermos: anestro lactacional, foliculogênese, mamogênese, ovulação Control neuroendocrine of the lactation in swine females review ABSTRACT: Lactation is a series of steps in the morpho-physiological differentiation process by which the mammary cells are converted from one state to a non secretor secretor status in the peripartum and maintained by stimulation of milk ejection and controlled by lactogenic hormones. Through a cascade of neuroendocrine events, oxytocin, prolactin, GH, IGFs, corticosteroids and insulin, act synergistically to regulate milk production and reproductive activity in female swine and can receive interference from the metabolic state of the sows during this period. Key words: lactational anestrus, folliculogenesis, mamogênese, ovulation 1 INTRODUÇÃO A lactação em fêmeas suínas, a exemplo de outras fêmeas de mamíferos, é um processo complexo no qual ocorrem importantes alterações hormonais, fisiológicas e metabólicas, diretamente associadas com outras fases da reprodução. Para interpretar estes fenômenos, é imprescindível dispor de conhecimentos atuais mais acurados sobre 1 Médica Veterinária, Profª. da UFPB/CCHSA/DAP, E-mail: [email protected] CCHSA/UFPB- Campus III, CEP: 58.220-000, Bananeiras – PB. 2 Médico Veterinário, PhD. 3 Zootecnista, DSc., Prof. da UFPB/CCHSA/ DAP 19 Revista Eletrônica Cientifica Centauro v.1, n1, p 19-32, 2010 ISSN 2178-7573 a atuação dos hormônios lactogênicos. Deve-se entender que não é uma ação isolada, mas uma secreção coordenada destes hormônios, que controla o desenvolvimento mamário, a lactogênese e a manutenção da lactação em fêmeas suínas (Hurley, 2001). No início da lactação deve ocorrer a proliferação e a diferenciação das células mamárias (Hurley, 2001) e um estímulo eficiente, para que se mantenha adequadamente a secreção de leite, sendo que, o tamanho da leitegada, o consumo dietético, a localização da glândula, o genótipo, entre outros fatores, podem afetar a produção de leite nas matrizes suínas (Kim et al., 2001). Paralelamente, a lactação inibe a ocorrência do estro e da ovulação por ação direta do estímulo produzido nas tetas (liberação de hormônios lactogênicos) e/ou pelas adaptações metabólicas necessárias para garantir a produção de leite, reduzindo a disponibilidade de nutrientes para atender a função reprodutiva (Quesnel e Prunier, 1995; Foxcroft e Aherne, 2000). Devido à complexidade do tema, a proposta desta revisão, é abordar os mecanismos endócrinos relacionados com a lactação, e seus efeitos reguladores sobre a função reprodutiva em fêmeas suínas. 2 REFLEXO DA EJEÇÃO DO LEITE O processo da amamentação é constituído de interações visuais, olfatórias, e auditivas. Inicialmente, ocorrem vocalizações sucessivas emitidas pela matriz e uma prévia massagem das tetas pelos leitões, que desencadeiam impulsos nervosos sensoriais que estimulam os receptores locais a promoverem um reflexo neuroendócrino de liberação da ocitocina na neuro-hipófise (Figura 1), seguindo-se um breve período de ejeção do leite (10 a 20 segundos), e uma nova massagem das tetas (Algers, 1993). Figura 1. Controle endócrino da produção e ejeção de leite em matrizes suínas (adaptado de Hafez, 1995). 20 Revista Eletrônica Cientifica Centauro v.1, n1, p 19-32, 2010 ISSN 2178-7573 Através da corrente sanguínea a ocitocina secretada atinge a glândula mamária, e age estimulando a contração das células mioepiteliais que revestem o lúmen alveolar, forçando a descida do leite para os ductos (Kinsenger, 1998). A ativação dos receptores neurais libera a prolactina (PRL), o hormônio do crescimento (GH), o hormônio adrenocorticotrópico (ACTH) e o hormônio estimulante da tireóide (TSH) pela hipófise anterior (Klopfenstein et al., 1999), além da gastrina e do glucagon (Algers, 1993), com a função de manter a síntese do leite (galactopoiese) pelas células epiteliais mamárias. Desta forma, a sucção das tetas pelos leitões apresenta-se como um potente estimulador da liberação de leite em matrizes suínas, aumentando o fluxo de sangue (Renaudeau et al., 2002), e a disponibilidade de substratos para a síntese de leite (Hartmann et al., 1997). 3 CONTROLE NEURO-ENDÓCRINO DA LACTAÇÃO Durante muitos anos, o papel dos hormônios no controle lactacional foi estabelecido e prontamente considerado como imutável. Com o surgimento do computador e o desenvolvimento de novas tecnologias, como a cultura de células mamárias in vitro, o radioimunoensaio para mensurar as concentrações hormonais no sangue e no leite, o método de quantificar as células mamárias, componentes químicos do leite, e número e afinidade dos hormônios receptores, e mais recentemente, o desenvolvimento de métodos para determinar os mecanismos moleculares dos hormônios em genes específicos, tem sido rediscutido o papel destes hormônios no controle da mamogênese, lactogênese, e na galactopoise de vacas, cabras, ovelhas (Tucker, 2000) e porcas (Quesnel e Prunier, 1995; Hartmann et al., 1997; Foxcroft e Aherne, 2000), analisando principalmente os aspectos reprodutivos e produtivos. Com base nos trabalhos que abordam este assunto, serão apresentadas a seguir, resumidamente, algumas funções dos hormônios envolvidos na lactação. 3.1 Ocitocina A ocitocina é produzida nos núcleos supra-ótico e paraventricular do hipotálamo e liberada na circulação sanguínea através de macro neurônios secretores, que se estendem para dentro da neuro-hiposife logo após aos estímulos sensoriais associados com a presença, massagem e sucção dos leitões (Quesnel e Prunier, 1995). Esta observação foi considerada a mais importante evidência para a aceitação do conceito de reflexo neuro-endócrino de ejeção do leite. Posteriormente, foi proposto que a ocitocina além de ser fundamental para o processo de ejeção do leite, também integra atividades comportamentais e fisiológicas de adaptação durante a lactação (Damm et al., 2002), influenciando na liberação de vários hormônios intestinais, e promovendo o metabolismo anabólico e o crescimento, apresentando-se como um fator anti-estresse durante a lactação (Uvnas-Moberg et al., 2001). O estímulo positivo que ativa a liberação da ocitocina, pode ser neutralizado por outras substâncias (catecolaminas, β-endorfina e/ou cortisol) que são liberados em situações estressantes. Por outro lado, a inibição do processo de ejeção de leite pode ocorrer diretamente na célula mioepitelial, através de ações reguladas pelo sistema β21 Revista Eletrônica Cientifica Centauro v.1, n1, p 19-32, 2010 ISSN 2178-7573 adrenérgico, bloqueando a ligação da ocitocina a seus receptores específicos nesta célula (Wellnitz e Bruckmaier, 2001). 3.2 Prolactina (PRL) A prolactina é um hormônio polipeptídico liberado na adeno-hipófise de forma pulsátil, tendo a glândula mamária como principal local de ação, além de estarem presentes em outros tecidos orgânicos, incluindo o hipotálamo, o útero, os fibroblastos dermal, a decídua e os componentes do sistema imune (Knight, 2001). Seu papel na mamogênese e galactopoiese em suínos foi discutido por Farmer (2001). Resultados de investigações conduzidas por Farmer et al. (2000b) demonstraram que a PRL atua durante o último trimestre de gestação alterando o número e a afinidade de receptores para PRL na glândula mamária, sendo necessária para o desenvolvimento mamário em leitoas. Esta relação também foi observada em fêmeas jovens de genéticas diferentes, sugerindo que leitoas Upton-Meishan apresentaram um menor desenvolvimento mamário quando comparadas com fêmeas Large White, devido a um menor número de receptores para PRL na glândula mamária (Farmer et al., 2000a). Com o decorrer da gestação, as concentrações plasmáticas de PRL aumentam acentuadamente atingindo um pico com a proximidade do parto, alcançando concentrações elevadas na primeira semana de lactação (Figura 2) e, em seguida, diminuem gradualmente durante o período lactacional, atingindo níveis basais após o desmame (Kraetzl et al., 1998). Figura 2. Níveis plasmáticos de prolactina (ng/l) e GH(ng/l) em fêmeas suínas durante a lactação (Fonte: Kraetzl et al., 1998). Foi sugerido que este pico pré-parto é um evento importante para o estabelecimento e a manutenção da lactação, limitando a síntese de leite nas fêmeas suínas, o mesmo não ocorrendo nas fêmeas dos ruminantes (Tucker, 2000; Knight, 2001). Por outro lado, uma relação quantitativa entre a liberação de PRL e a duração do estímulo nas tetas tem sido pesquisada. Durante o início da lactação a diminuição do 22 Revista Eletrônica Cientifica Centauro v.1, n1, p 19-32, 2010 ISSN 2178-7573 tempo de massagem pós-ejeção do leite na teta (menos de 90 segundos) promove um declínio na concentração de PRL sérica (Spinka et al., 1999). Quando a secreção de PRL é inibida, experimentalmente, os leitões permanecem mais tempo próximos das tetas da mãe na tentativa de obter mais leite, e como a ejeção de leite é frustrada, o seu peso corporal é reduzido em relação aos leitões de matrizes controle (Farmer et al., 1998). Desta forma, supõe-se que a PRL é essencial não apenas para a iniciação, mas, também, para manter a produção de leite em matrizes suínas (Farmer, 2001). No entanto, a administração de PRL exógena acima dos níveis circulantes, durante um período de dois a vinte e três dias de lactação, não é eficaz para estimular o potencial lactogênico das porcas, e isso se deve provavelmente, à saturação dos receptores de PRL na glândula mamária (Farmer et al., 1999). Através de mecanismos similares aos descritos para a mamogênese, constatou-se que a ligação da PRL a receptores específicos na glândula mamária, é imprescindível para iniciar o processo de lactogênese. Após esta ligação, uma cascata de eventos, incluindo a transcrição de genes, regulam a secreção das proteínas do leite (Boisgard et al., 2001). Contudo, estudos dos fatores que regulam o número e a ligação de receptores na glândula mamária, são absolutamente necessários para melhor definir o papel da PRL na mamogênese e na lactogênese da fêmea suína (Farmer, 2001). 3.3 Hormônio do crescimento (GH) O hormônio do crescimento além de exercer uma ação nas células somáticas (divisão celular e crescimento ósseo), no metabolismo dos carboidratos, proteínas e de lipídeos, sabe-se desde a década de 30 que a somatotropina possui também, efeito galactopoiético. A sua atuação no metabolismo das células mamárias, envolve efeitos indiretos realizados mediante a síntese e a secreção de metabólitos intermediários no fígado, conhecidos como “compostos ou fatores de crescimento semelhantes à insulina” (IGF-I e IGF-II), que media as ações mamogênicas através de mecanismos endócrinos, parácrinos e autócrinos (Tucker, 2000). Acredita-se que o GH liga-se a receptores nos hepatócitos, com os quais estimula o aumento da secreção de IGF-I, e que ao chegarem as células epiteliais mamárias mediam as ações do GH após se fixarem a receptores específicos. Estes receptores são necessários para a sua transferência para o interior das células onde vão promover sua ação anabólica, quais sejam, a síntese de DNA e proteínas, aumento de absorção de cátions, glicose, vitaminas e outros metabólitos, além do aumento na proliferação ou sobrevivência das células mamárias. O GH é muito importante para a manutenção da lactação em ruminantes, atuando, provavelmente, em sinergismo com a prolactina e a adrenocorticotropina (Flint et al., 2001). Para matrizes suínas, a analogia na secreção de PRL e GH (Figura 2), indica uma regulação interativa envolvendo o controle das ações galactopoiéticas (Quesnel e Prunier, 1995). Neste sentido, o GH atuaria estimulando a síntese de IGF, e a PRL suprimindo a expressão do IGFBP-5, maximizando, desta forma, a sobrevivência e as funções das células epiteliais mamárias (Flint et al., 2001). 3.4 Insulina A concentração plasmática de insulina pós-prandial, em fêmeas suínas, varia consideravelmente após o parto; ocorrendo um aumento expressivo em seus valores 23 Revista Eletrônica Cientifica Centauro v.1, n1, p 19-32, 2010 ISSN 2178-7573 com um declínio ao desmame (Figura 3-A). Esta elevação em combinação com o aumento nos níveis de IGF-I, GH, e de glicose, mantém a produção de leite e evita e/ou reduz a mobilização das reservas de tecidos corporais (Kraetzl et al., 1998). Por outro lado, uma redução na concentração de insulina sérica durante a 3ª semana de lactação pode ser observada, refletindo um aumento na utilização da insulina pela glândula mamária, no período em que se observa o pico de lactação, ou ainda, devido ao maior catabolismo das matrizes (Valros et al., 2003). Também tem sido observada uma associação entre a liberação de insulina e a freqüência da amamentação, e neste aspecto, uma menor manipulação na freqüência de mamadas, e portanto, uma menor produção de leite, induzindo a uma maior elevação nos níveis de insulina plasmática (Figura 4), provavelmente intermediado pela secreção de PRL (Spinka et al., 1999; Valros et al., 2003). Figura 3. Níveis de insulina e IGF em matrizes suínas durante a lactação (Fonte: Kraetzl et al., 1998) 24 Revista Eletrônica Cientifica Centauro v.1, n1, p 19-32, 2010 ISSN 2178-7573 Figura 4. Efeitos da freqüência de amamentação sobre a concentração de insulina plasmática basal (P<0,001), máxima (P<0,05), e média (P<0,1) durante a lactação (Spinka et al., 1999). Apesar de não se conhecer profundamente os mecanismos de atuação destes hormônios, acredita-se que a massagem das tetas aumenta a secreção de PRL (Spinka et al., 1999) e incrementa o número de receptores de insulina na glândula mamária, melhorando a sua utilização para os substratos do leite, e reduzindo os seus níveis plasmáticos (Valros et al., 2003). Sabe-se que a insulina está envolvida na partição de nutrientes para a glândula mamária durante a lactação, em várias espécies animais. Por outro lado, a redução da insulina plasmática durante a lactação (Tokack et al., 1992) e no pós–desmame (Whitley et al., 1998) reduz o número de picos de LH, e influencia negativamente a esteroidogênese folicular e, possivelmente, o desenvolvimento folicular, prejudicando o intervalo desmame-estro e a fertilidade de fêmeas primíparas. 3.5 Esteróides ovarianos Os estrógenos estão envolvidos no crescimento e na função mamária, provocando o crescimento ductal, o desenvolvimento do estroma e o acúmulo de gordura durante a mamogênese, agindo principalmente como reguladores da expressão dos genes. A função específica dos estrógenos na lactogênese, ainda não foi bem definida, mas acredita-se, que estimula a adeno-hipófise para liberação da PRL e aumenta o número de receptores para PRL na glândula mamária de várias espécies (Tucker, 2000). O rápido declínio da secreção de estrógenos e de progesterona sérica (P4) no períparto (Figura 5) coincidindo com o início da secreção de leite, sugere que este hormônio (P4) apresenta função inibidora da lactogênese (Sesti e Moreno, 1997). A sua presença evita a formação de sítios de ligação de PRL no tecido mamário e também satura os sítios onde os glicocorticóides se ligariam, suprimindo desta forma a atividade lactogênica (Tucker, 2000). 25 Revista Eletrônica Cientifica Centauro v.1, n1, p 19-32, 2010 ISSN 2178-7573 3000 60 2500 50 2000 )l /m 1500 g p ( l 1000 o i d a rt 500 s E 0 40 )l /m 30 g n ( a 20 n o r e 10 ts e g 0 o r P Estradiol Progesterona -48 -24 0 24 pré/pós-parto 48 72 Horas 96 120 144 Figura 5. Mudanças nos níveis de estrógenos e de progesterona na fêmea suína no pré/pós parto (Fonte:Sesti e Moreno, 1997). A elevação dos níveis de prostaglandina (PGF2 α) imediatamente antes do parto, provoca lise do corpo lúteo e um conseqüente declínio dos níveis de progesterona. Além disto, a PGF2 α estimula a liberação rápida de vários hormônios lactogênicos, incluindo a PRL, o GH e os glicocorticóides (Fonseca, 1993). 3.6 Corticosteróides A córtex das glândulas adrenais produz os corticosteróides (cortisol e corticosterona) quando estimulada pela ação do ACTH liberado pela adenohipófise. O cortisol, é um glicocorticóide endógeno predominante em vacas, exercendo uma função na glândula mamária, onde causa a diferenciação do sistema de lóbulos e alvéolos (Tucker, 2000). O papel exato dos corticosteróides na galactopoiese, em fêmeas suínas, não foi estabelecido, podendo estar associado à taxa metabólica, ou ainda, a concentração plasmática de PRL. Em leitoas, a administração in vivo de PRL aumentou significativamente a concentração plasmática e o conteúdo adrenal de cortisol; adicionalmente, a PRL estimulou a liberação de cortisol pelas células adrenocorticais em experimentos in vitro, demonstrando haver uma interação destes hormônios (Kaminska et al., 2000). Também tem sido observado um aumento nos níveis plasmáticos de cortisol pela ausência de leitões lactentes (Tabela 1), e mesmo tendo sido aumentado sem sucesso, o número de mamadas, os animais permaneceram mais tempo (168 vs 18 segundos) estimulando ativamente as tetas na tentativa de se obter mais leite e, desta forma, a massagem das tetas foi suficiente para manter os níveis normais de hormônios lactogênicos após o retorno dos leitões (Farmer e Robert, 2000). Tabela 1. Valores médios plasmáticos de cortisol, GH e prolactina em fêmeas no 13º dia de lactação, antes e apo s a mistura de leitegadas e durante o período de isolamento dos leitões Especificação Tempo relativo da adoção 26 Revista Eletrônica Cientifica Centauro v.1, n1, p 19-32, 2010 antes Cortisol (ng/mL ) 14,7 a GH (ng/mL-1) 5,7 Prolactina (ng/mL-1) 44,4 Fonte: Farmer e Robert (2000), adaptado da Tabela 2. -1 durante 22,5 b 5,7 48,7 ISSN 2178-7573 após 16,7 a 4,7 48,3 Assim como nas funções anteriormente descritas, a produção de leite pode ser consideravelmente prejudicada pelo estresse térmico (Quiniou et al., 2000; Renaudeau e Noblet, 2001). A elevação da temperatura ambiental altera todo o complexo endócrino responsável pela iniciação e manutenção da lactação. O estresse provocado promove um desequilíbrio hormonal como conseqüência da ativação excessiva do eixo hipotálamohipófise-adrenal e/ou pela produção alterada de outros hormônios fora deste eixo regulatório, quando a hipófise está prioritariamente sensitiva para o desencadeamento da síndrome de adaptação (Black et al., 1993). As menores concentrações plasmáticas de cortisol (Figura 6), observadas em matrizes suínas, em lactação, expostas a temperaturas elevadas (30ºC) concomitante com a redução do ganho em peso dos leitões, indica a participação destes hormônios na produção de leite (De Bragança et al., 1998). Figura 6. Efeito da alta temperatura e do regime alimentar sobre os níveis suínas em lactação (Fonte: De Bragança et al., 1998). de cortisol plasmático em matrizes 4 MECANISMOS REGULADORES DA FUNÇÃO REPRODUTIVA DURANTE O ANESTRO LACTACIONAL Durante a lactação, em particular na fase inicial, onde ocorre uma maior intensidade de mamadas dos leitões, são observados efeitos inibitórios sobre a atividade ovariana, resultando na ausência de manifestações de estro e de ovulação. Tal ocorrência esta associada ao bloqueio da atividade do eixo hipotalâmico-hipofisário27 Revista Eletrônica Cientifica Centauro v.1, n1, p 19-32, 2010 ISSN 2178-7573 ovariano, provocada pelo estímulo da amamentação, que atua reduzindo os estímulos recebidos pelo hipotálamo e bloqueando a síntese e a liberação de fatores liberadores de gonadotrofinas - GnRHs (Figura 7). Neste caso, a secreção basal de FSH e LH pela adeno-hipófise, impede o recrutamento, desenvolvimento e amadurecimento dos folículos ovarianos (Sesti e Moreno, 1997). Figura 7. Relacionamento endócrino na porca durante o anestro lactacional (Adaptado de Hunter, 1982). Por sua vez, o desmame ou a redução da intensidade do estímulo da amamentação induz a um aumento na secreção pulsátil de GnRH e de LH, permitindo o desenvolvimento folicular e o aumento dos níveis de estradiol, o que ocasionará uma onda pré-ovulatória de gonadotrofinas, seguida de ovulação. Neste aspecto, discute-se a influência dos peptídeos opiódes endógenos – POE, no bloqueio da atividade reprodutiva durante a lactação em matrizes suínas, e, até então, acreditava-se que o principal local para a ação inibidora dos POE sobre a secreção de LH, fosse o hipotálamo, via GnRH e neurônios noradrenérgicos (Sesti e Moreno, 1997), porém, estudos mais recentes, confirmam que os POE e seus receptores agem nos tecidos reprodutivos participando de mecanismos locais que controlam a seleção dos folículos, suprimindo a produção de esteróides pelas células da teca, como também, modulando os efeitos de LH neste processo (Kamiski et al., 2003). Portanto, o estímulo da sucção é considerado o mais importante fator inibitório da atividade ovariana durante a lactação (Foxcroft e Aherne, 2000), e a sua supressão tem sido estudada como forma de compreender melhor os mecanismos reguladores do anestro lactacional, podendo estar também associada a uma elevação dos níveis de estradiol e de progesterona plasmáticos (Mota et al., 2002). Por sua vez, a secreção de estrógenos apresenta um efeito positivo sobre o hipotálamo, induzindo a liberação de LH e de FSH pela adeno-hipófise, através do processo de retroalimentação positiva (Sesti e Moreno, 1997). Foi observado um aumento na secreção de LH basal no 14º e no 21º dia de lactação, e de E2 no primeiro dia após o desmame, quando a duração da amamentação foi reduzida de 236 para 168 min/dia, demonstrando existir uma relação entre a duração da amamentação e a liberação destes hormônios, que pode ser influenciado pela perda de peso corporal da fêmea durante a lactação (Hulten et al., 2002). 28 Revista Eletrônica Cientifica Centauro v.1, n1, p 19-32, 2010 ISSN 2178-7573 Existem evidências científicas mostrando que as mudanças ocorridas no metabolismo, durante a lactação, podem afetar a função do eixo hipotalâmicohipofisário-ovariano, reduzindo os precursores para a síntese de neurotransmissores dentro do hipotálamo, ou ainda, disponibilizando quantidades menores de metabólicos e/ou fatores de crescimentos para o ovário, prejudicando, desta forma, a foliculogênese (Prunier e Quesnel, 2000). 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O processo lactacional da fêmea suína, constantemente avaliado através de parâmetros físicos, bioquímicos, fisiológicos, endócrinos e metabólicos, hoje muito precisos e sofisticados, vem identificando novos eventos e quantificando a importância deste processo sobre a síntese dos constituintes e produção de leite, bem como sobre a fertilidade subseqüente das fêmeas. Em síntese, assume-se que a lactação é estabelecida pelo reflexo neuroendócrino de ejeção do leite, mas a participação paralela de vários hormônios do complexo lactogênico, entre eles, a ocitocina, a PRL, o GH e o IGF-I, são potentes reguladores do desenvolvimento mamário, da lactogênese e da galactopoiese em fêmeas suínas. Soma-se a isso, os diferentes mecanismos pelos os quais as mudanças metabólicas ocorridas durante a lactação afetam a produção de leite e a fertilidade das matrizes. Finalmente, é necessário sensibilidade para reconhecer a complexidade deste processo, e adotar técnicas de manejo que possam reduzir o intervalo desmame-estro e os dias não-produtivos, garantindo assim, uma melhor produtividade do plantel de matrizes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALGERS, B. Nursing in pigs: communicating needs and distributing resources. Journal of Animal Science, Champaign, v. 71, n. 10, p. 2826-2831, 1993. BLACK, J. L.; MULLAN, B. P.; LORSCHY, M. L. et al. 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