ESPÉCIES ALTERNATIVAS PARA A REGIAO RAIANA AHALMEIDA

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ESPÉCIES ALTERNATIVAS PARA A REGIAO RAIANA AHALMEIDA
ESPÉCIES ALTERNATIVAS PARA A REGIAO RAIANA
A.H.ALMEIDA MACHADO
*&
NJ.B. ATAÍDE AMARAL *
* DIREC(,:Ao DE SERVI(,:OS DAS
FLORESTAS, DIREC(,:Ao REGIONAL DA AGRICULTURA DA
BEIRA INTERIOR, R. DR FRANCISCO DOS PRAZERES, N° 3, 6300, GUARDA, PORTUGAL.
SUMÁRIO
o objectivo desta comunica<;;:ao é apontar espécies florestais alternativas para a zona
Raiana da Beira Interior, de modo a aumentar a diversidade do seu coberto floresta1.
Apresentam-se urna breve caracteriza<;;:ao da regiao raiana da Beira Interior, com maior
incidencia sobre a sua fitossociologia e a fitogeografia e urna revisao crítica dos resultados
do PAF, Reg(CEE) n° 797/85 e Reg(CEE) n° 2080/92. Por fim, sao apresentadas algumas
espécies alternativas, referindo-se as su as características ecológicas e potencialidades.
P.C.: arboriza<;;:6es, espécies, zona Raiana, alternativas.
SUMMARY
The objective of this paper is to present other diferent trees to be used in the Border
region of Beira Interior in order to increase and diversify its forestry areas. It is made a
short caracterization of the Border region of Beira Interior, with focus, mostly in the
phytosociology and phytogeography and a critical revue of the afforestation results of PAF,
Reg(CEE) n° 797/85 and Reg(CEE) n° 2080/92. Afterwords, are presented sorne alternative
species, referring their ecological needs and potencialities.
Key words: afforestations, forestry species, Border regions, alternatives.
INTRODU(:Ao
Na zona Raiana da Beira Interior (Raia) os povoamentos de carvalho negral e azinheira
tem vindo a ser substituidos, ao longo de sucessivos programas de incentivo a floresta<;;:ao,
por pinheiro bravo, nas regi6es mais frias e sobreiro, nas de temperaturas mais elevadas.
Dado que estas reconvers6es nem sempre tem produzido resultados ecológicos e
económicos positivos, apontam-se algumas espécies alternativas para a Raia.
CARACTERIZA<;Ao GERAL DA ZONA RAIANA
A Raia ocupa cerca de um ter<;;:o desta regiao e é composta por onze concelhos: Meda,
Trancoso, Figueira de Castelo Rodrigo (F.C.Rodrigo), Almeida, Pinhel, Sabugal, Guarda,
Penamacor, Idanha-a-Nova (LNova), Castelo Branco (C.Branco) e Vila Velha do Ródao
(V.V.Ródao). Para a sua caracteriza<;;:ao seguir-se-ao de perto as unidades climácicas, urna
vez que, estas por reflectirem o estado final da sucessao ecológica mais estável e em
equilíbrio com o meio ambiente (Carvalho, 1994), sao urna reprodu<;;:ao fiel das
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características edafo-climáticas das grandes regi6es de arborizac;ao. As principais unidades
climácicas características desta regiao sao:
- Holco molli - Quercetum pyrenaicae
Seguindo de perto Carvalho (1994), esta unidade possui feic;ao sobretudo continental, de
clima temperado frio, com considerável influéncia da Meseta Ibérica e encontrando-se
orogenicamente separada da acc;ao atlántica. É representada pelas espécies Quercus
Pyrenaica Willd. e pela gramínea acidófila Holcus mollis (erva molar) desde os 500/600 até
aos 1400/1500m de altitude (Braun-Blanquet et al, 1956), citado por Carvalho (1994). No
estrato arbóreo encontram-se ainda, o Pinus pinaster Ait. e Castanea sativa MilI., ao nível
montando e a Betula celtiberica Tothm. e Vasco e o Pinus sylvestris L. ao nível
altimontano.
- Pyro bourgaeanae - Quercetum rotundifoliae
Segundo Carvalho (1994), ocorre na regiao mais interior e mais continental (seco a
húmido) do Centro e Sul do País, em solos siliciosos e forma frequentemente
interpenetrac;6es com a Sanguisorbo - Quercetum ruberis . É representada pelo Quercus
rotund~folia Lam e podem, ainda, encontrar-se no seu estrato arbóreo o Quercus suber L. e
o Quercus cocdfera L.
Em resumo, pode afirmar-se que a zona Raiana compreende duas grandes sub-regi6es:
Raia Centro - da qual fazem parte os concelhos com características mais continentais e
ibéricas: Trancoso, Almeida, Guarda, Sabugal, e Pinhel.
Raia Norte e Sul - composta pelos concelhos com influéncia mais marcadamente
mediterranica: V. V. Ródao, C. Branco, 1. Nova, Penamacor, F.C. Rodrigo e Méda.
BREVE RESENHA
FLORESTAL
DOS
PROJECTOS
DE
INVESTIMENTO
NA
ÁREA
A análise da sucessao de programas de incentivo a florestac;ao criados em Portugal Projectos do Banco Mundial, o Programa de Acc;ao Florestal (PAF), o Reg.(CEE) nO
797/85-Medidas Florestais nas Explorac;6es Agrícolas, e aos actuais Reg.(CEE) n° 2080/92
e Programa de Desenvolvimento Florestal (PDF), permite determinar quais as espécies
florestais preferencialmente eleitas pelos proprietários e tirar ilac;6es a cerca da tendéncia
dos investimentos (Quadro n° 1). Por outro lado, pode-se ainda, avaliar a adequac;ao das
espécies as esta<;6es e se necessário, apontar alternativas que permitam um melhor
ordenamento flores tal da regiao.
Nos projectos PAF da zona raiana observa-se que, o pinheiro bravo (pnb) e o sobreiro
foram as espécies mais utilizadas. Conclui-se ainda, que as espécies preferidas na Raia
Norte e Sul - sobreiro, pinheiro bravo e eucalipto - nem sempre sao a melhor opc;ao pois, as
fracas precipita<;6es locais condicionam o seu bom desenvolvimento. Na Raia Centro, a
predilecc;ao dos investimentos privados pelo pnb (50%), denota alguma falta de
criatividade poís, a heterogeneidade das esta<;6es permitiria urna maior díversíficac;ao do
coberto flores tal. É ainda interessante verificar que a azinheira, espécie flores tal com
grandes potencialidades em toda a zona raíana, teve muito poucos adeptos.
O Regulamento (CEE) n° 797/85 (Reg.797) visando a arborizac;ao de terrenos agrícolas
e condicionando a arborizac;ao a determinadas espécies, possibilitou, sobretudo na Raia
Centro, o recurso a espécies mais nobres. No entanto, ainda se verificou a tendéncia para a
utiliza<;ao de um reduzido número de espécies: o castanheiro e cerejeira brava na Raia
Centro, e o sobreiro e azinheira na Raia Norte e Sul, ocuparam 90 a 95% da área arborizada.
Interessa referir, que aparentemente houve urna evoluc;ao relativamente ao PAF poís, as
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espeCIes encontram-se melhor adaptadas as esta~oes, sendo em alguns casos, das mms
representativas da regiao.
Com o Regulamento CEE n° 2080/92, na Raia Norte e Sul mantém-se a predominancia
do sobreiro (83%) e a área de expansao da azinheira reduz-se em 11 pontos percentuais.
Esta redu~ao da escolha da azinheira, relativamente ao Reg.797/85, poderá resultar do facto
deste novo programa ter libertado terrenos agrícolas menos marginais e portanto mais
favoráveis ao sobreiro.
APRESENTAc;ÁO DE ALGUMAS ESPÉCIES ALTERNATIVAS PARA A REGIÁO
RAIANA
As espécies apresentadas em seguida, nao deverao substituir as utilizadas até ao
momento, mas sim utilizar-se em conjunto, formando um mosaico florestal mais
diversificado. Importa real~ar, que se teve o cuidado de eleger apenas espécies muito
rústicas, capazes de se expandir com sucesso por toda a Raia e, que simultaneamente
ofere~am produtos valiosos.
* Cupressus arizonica Green.
Espécie muito rústica originária das montanhas do Arizona e Novo México, podendo-se
resumir as suas características ecológicas em: espécie heliófila e xerófila; suporta altitudes
desde o nível do mar aos 1200-1500 m; pouco exigente em solos mas recusa os demasiado
húmidos; resistente a secura (acima dos 500 mm/ano) e tolera amplitudes térmicas desde os
-15 aos 45° C.
- Produ(¡iio. Segundo Figueras (1974) pode ser considerada urna espécie de rápido
crescimento~á que, em ensaios efectuados em Itália e em terrenos férteis, atingiram valores
de 3 a 11m Iha/ano. De acordo com Toth (1976), a produ~ao deste cipreste num ensaio
efectuado em Nimes-Fran~a, em solos superficiais de calcário, altitude 300m e
pr~cipita~oes da ordem dos 890mm/ano, obtiveram-se produ~oes da ordem dos 3,4
m Iha/ano.
- Utiliza(¡iio. Esta espécie, dadas as suas características rústicas poderá ser utilizada
como pioneira, constituindo povoamentos puros ou mistos, com espécies como a azinheira.
N o entanto, o seu rápido crescimento inicial e a baixa inflamabilidade (Delabraze 1979),
abrem-Ihe muito boas prespectivas na constitui~ao de "aceiros verdes" em povoamentos de
espécies mais nobres.
* Cupressus semprevirens L.
Espécie originária da regiao Este e Sul da Bacia Mediterranica e cujas características
ecológicas se podem resumir em: espécie heliófila ou mesoheliófila; xerófita e termófila;
suporta altitudes desde o nível do mar aos 1000 m; ao nível edáfico apenas rejeita as areias
soltas com pouca reten<rao de água e os solos encharcados; tolera precipita<roes até aos 250
mm/ano e temperaturas extremas entre os -10° e 42°C.
- Produ~·iio. Segui~o de perto Alves (1982), o seu crescimento é modesto, nao
ultrapassando os 3-4m Iha lano, mas a sua madeira, quando sujeita a um esquema de
desrama~5es, é de excelente qualidade.
- Utilizariio. Sob a óptica da produ~ao florestal, a variedade horizontalis possui maior
interesse, urna vez que produz fustes mais regulares e apresenta um crescimento mais
rápido. Seguindo de perto Salinas (1982), é urna espécie, que pelo seu baixo grau de
cobertura do solo é recomendada para a constitui~ao de povoamentos mistos, com por
exemplo carvalhos de folha persistente.
* Eucalyptus camaldulensis Dehm. e Eucalyptus tereticornis Sm.
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Originários da Austrália, os eucaliptos referidos sao dos mais cultivados em todo o
Mundo devido a sua grande plasticidade ecológica (Goes, 1977). As suas características
ecológicas podem resumir-se em: vegetarem numa grande variedade de solos desde os
muito húmidos aos secos e pobres; com precipita<;6es supenores a 500 mm/ano e
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temperaturas extremas entre os _5° e 40°C.
- Produr;iio. A pro~u<;ao de stas espécies é de 3-8 m Iha lano, na zona Iberomediterránea e 5-12 m /ha/ano, na zona Sub-mediterránea. O lenho proveniente destas
espécies é avermelhado, duro, resistente, pesado, fácil de trabalhar e origina um bom
polimento. A madeira do Eucalyptus camaldulensis Dehm é um bom combustível pois o
seu poder calorífico é mesmo superior ao da azinheira.
- Utilizar;iio. Estas espécies, aliando urna elevada plasticidade, a urna produ<;ao
relativamente rápida de madeira muito boa, surgem na regiao Raiana, como duas
possibilidades francamente interessantes, fundamentalmente indicadas para as zonas menos
frias. Tendo em conta os crescimentos relativamente rápidos, deverao ser utilizadas
preferencialmente nas melhores esta<;6es, em povoamentos puros, optimizando-se assim, a
explora<;ao destas áreas.
* Robinea pseudoacacia L
Espécie natural da regiao Atlántica dos Estados Unidos da América, cujas características
ecológicas se podem resumir em: espécie heliófila; ao nível edáfico apenas rejeita os solos
compactos e com pH entre 5,5 e 8; pode atingir os 1500 m de altitude embora o óptimo se
situe entre os 200-800 m e em rela<;ao aos factores climáticos prefere climas temperados
mas resiste bem aos gelos invemais e a secura estival (pluviosidades pelo menos superiores
a 300 mm/ano).
- Produr;iio. Espécie de cre~imento rápido nos terrenos mais férteis e profundos,
podendo mes~o atingir os 12 m Iha lano e com crescimentos mais modestos nas piores
esta<;6es, 5 m /ha/ano. Constitui urna excelente alternativa para as arboriza<;6es na regiao
Raiana dado o seu invejável conjunto de características de grande interesse: grande
rusticidade, controlo da erosao (fixa<;ao de dunas e forma<;ao de cortinas de abrigo), fonte
energética (produ<;ao de mel, forragem para gado e ca<;a), elevada resistencia a
escombreiras e poluentes, melhoradora de solos (acelera o ciclo de nutrientes e fixa o azoto)
e produ<;ao de lenho relativamente elevada e de excelente qualidade.
- Utilizar;iio. A Robinea pseudoacacia L poderá utilizar-se sobretudo nas esta<;6es de
média a fraca qualidade, de modo a evitar a sua forte rebenta<;ao por polas. Por outro lado,
deverá ser preferencialmente consociada com a azinheira, urna vez que lhe disponibilizará
mais azoto e ao mesmo tempo produzirá, a médio prazo, lenho muito valioso. Esta espécie
pode ser conduzida em alto fuste ou talhadia, embora se entenda, que dada a fragilidade
destes ecos sistemas e numa perspectiva de protec<;ao, se deva optar pelo alto fuste, por
provocar menor exporta<;ao de nutrientes.
CONCLUSÁO
Em suma, verifica-se na zona raiana centro e sobretudo na norte e sul, urna reduzida
diversidade nas espécies eleitas para os projectos de arboriza<;ao, acarretando algumas
consequencias negativas ao nível da preven<;ao e combate de incendios florestais, das
respostas as altera<;6es de mercado e da preserva<;ao da biodiversidade.
A diversifica<;ao do coberto flores tal trará muitos benefícios para sectores de actividade
que assumirao um papel preponderante na economia local como sejam, a cinegética, o
turismo rural, o turismo ecológico, o artesanato ligado a utiliza<;ao de madeiras nobres e a
explora<;ao e transforma<;ao dos produtos de origem florestal. Ao nível ecológico, as
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vantagens prendem-se com a redu<;,:ao do perigo de incendio, com a crias;ao de um maior
número de nichos ecológicos e sobretudo, pela redus;ao dos riscos de erosao.
Do ponto de vista social, constata-se que os benefícios anteriormente descritos,
contribuindo significativamente para um acréscimo dos rendimentos das populas;6es locais,
o que reduzirá o fluxo do exado rural.
A introdus;ao em larga escala de stas espécies deverá ser enquadrada num plano
integrado de valorizas;ao florestal, em que a experimentas;ao e o apoio técnico permitam
evitar insucessos que comprometam definitivamente a reorganizas;ao e o desenvolvimento
deste sector na Raia.
REFERENCIAS BIBLIOFRÁFICAS
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CARV ALHO, J.P.F. (1994): Fitossociologia e fitogeografia. UTAD. Vila Real.
DELABRAZE, P (1979): Quelques aspects de la sylviculture des cyprés en région
Méditerranéenne sensible a l'incendie. INRA. Avignon.
FIGUERAS, J.L.R (1974): Selvicultura - Especies. Escuela Tecnica Superior Ingenieros
de Montes. Madrid.
GOES, E. (1977): Os Eucaliptos. Centro de Produs;ao Florestal. PORTUCEL, EP.
SALINAS, F. (1982): Súmulas monográficas de diversas espécies com interesse para a
arborizas;ao. Direcs;ao-Geral do Fomento Florestal. Lisboa.
TOTH, J (1976): Les possibilités offertes par le cyprés de l' Arizona en région
Méditerranéenne. Révue Forestiere Frans;aise, XXVIII-l: 35-39.
ARBORIZA<;AO
RAlA NORTE E SUL
RAlA CENTRO
(%)
Pnb
Sob
Azn
Cst
PROJECTOS PAF
46
19
10
PROJECTOS REG.
O
75
O
83
Pnb
Cst
Psd
Pnl
Cam
3
Eue
13
50
18
10
14
2
20
O
O
O
67
O
O
7
24
9
1
O
17
30
4
O
17
12
Pav
797/85
PROJECTOS REG.
2080/92
Quadro n° 1 - Percentagem de hectares arborizados em cada Programa de Apoio a
Florestas;ao (Pnb = Pinus pinaster Ait.; Sob = Quercus suber L.; Azn = Quercus ilex L.; Cst
= Castanea sativa Miller; Euc = Eucalyptus globulus Labill; Psd = Pseudostuga menziesii
Franco; Pnl= Pinus nigra subsp. laricio Maire; Cam = Quercus rubra L.; Pav = Prunus
avium L.)
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