marcas de uma igreja saudável.

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marcas de uma igreja saudável.
BIBLIOTHECA SACRA 158 (Outubro-Dezembro 2001): 467–77
MARCAS DE UMA IGREJA SAUDÁVEL.
*
Kenneth O. Gangel*
CHAMOU MUITA ATENÇÃO no alto da folha de rosto do relatório anual de uma pequena
denominação evangélica a conhecida passagem do Profeta Isaias; “Eis que faço uma coisa
nova!”(NVI). Nas 459 páginas seguintes descreve-se como Deus está fazendo para que essa
comunidade de igrejas esteja esboçando a sua visão para o futuro. Muitas de suas metas
recentes têm sido alcançadas, algumas têm sido arquivadas; outras revisadas em função de
novos desafios surgem.
Um desses novos desafios é a chamada aos membros para a oração, evangelismo, plantação de
igrejas, “educar a todos para que vejam a missão da igreja com os olhos e os corações de
Cristo”. Entusiasticamente, consta do relatório, “que essa é oportunidade que Deus está dando
à Sua Igreja”.
Assim, nesse relatório, os lideres denominacionais, apresentam aos leitores o conceito de
“igrejas saudáveis, sob o prisma da Grande Comissão”, essas definidas como “comunidades
de pessoas cristocêntricas caracterizadas por serem impulsionadas por cinco paixões: alcançar
o perdido, edificar o salvo, equipar o obreiro, multiplicar o líder, e enviar o vocacionado”.
Quem há que possa desprezar essas preocupações? Porém, a declaração logo é reduzida a
resquícios elementares estatísticos. Subitamente, parece que “igrejas saudáveis” são medidas
não mais pelas cinco paixões, mas como estariam em questão numérica, quadro que choca
pela realidade totalmente chocante demonstrada.
Os lideres cristãos, formadores de opinião, devem aceitar o desafio de encarar o fato de que
igrejas saudáveis, caso reconhecidas assim em razão do tamanho delas, nunca será a garantia
de qualidade espiritual. As igrejas devem enfrentar o futuro na dependência total da soberania
de Deus e do poder de Sua Palavra, ao mesmo tempo em que deve tomar cuidado para não se
casarem com o espírito desta era e enviuvar-se na próxima. Se a palavra chave é saúde, quais
são as marcas de uma igreja saudável?
Este artigo sugere que as medidas das igrejas saudáveis são as suas condições espirituais, os
padrões bíblicos de ministério seguidos, os fundamentos teológicos que se embasam, o
modelo bíblico de ministério em que se focalizam e os modelos de liderança igualmente
bíblicos adotados.
*
Kenneth O. Gangel é estudioso autodidata, ligado ao Toccoa Falls College, Toccoa Falls, Georgia, e
Distinguido Professor Emérito de Educação Cristã no Dallas Theological Seminary, Dallas, Texas.
1
IGREJAS SAUDÁVEIS SÃO MEDIDAS MAIS EM TERMOS
ESPIRITUAIS DO QUE NUMÉRICOS
Na verdade, as cinco paixões anotadas anteriormente vão além da simples contagem. Mas, o
que mede melhor a saúde espiritual da igreja? As igrejas devem tomar cuidado para não se
prenderem ao pensamento de que são saudáveis simplesmente porque estão crescendo
numericamente. Os líderes de igreja não devem virar as costas para as igrejas pequenas ou
estabilizadas. Os crentes de algumas igrejas pequenas podem demonstrar mais maturidade
espiritual do que os crentes de algumas igrejas grandes. Klassen e Koessler, no livro, No Little
Places, (Nada é Pequeno), enfatizam que Deus julga o ministério pela qualidade e não pelo
tamanho.
Hoje o termo crescimento da igreja é usado quase exclusivamente para significar
crescimento numérico. Se os números sobem, a igreja está crescendo. Se os números
permanecem o mesmo, a igreja está experimentando um “planalto” uma palavra que
soa estagnação. Se os números estão afundando, a igreja deve estar doente e em
situação de declínio.
Tal pensamento é ultra-simplista. O crescimento numérico pode ocorrer por razões
erradas. Por exemplo, durante o ministério do Jesus, muitos da multidão que o
seguiam estavam mais interessados nos seus milagres do que em sua mensagem (João
6:26). Todos temos visto igrejas que estão ficando maiores por razões erradas. Tais
igrejas estão realmente crescendo?1
Vários textos bíblicos afirmam que os líderes não deviam contar apenas números. Claro que
ninguém quer uma igreja de estrada de chão num mundo de auto-estradas, mas em nenhum
ponto das Escrituras é encontrada qualquer autorização para medir a saúde com base somente
em tamanho. Os primeiros capítulos de Atos registram que alguns elevados números de
pessoas vieram a Cristo. Entretanto, Lucas jamais mencionou o tamanho de qualquer
congregação que Paulo visitou em suas três jornadas missionárias, ninguém tem qualquer
idéia do tamanho de qualquer congregação a quem foram escritas as cartas do Novo
Testamento.
Logo depois de Lucas escrever que três mil pessoas foram acrescentadas à Igreja no Dia de
Pentecostes (Atos 2:41), ele declarou a fórmula para igrejas saudáveis tanto para os seus dias
quanto hoje. “E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e
nas orações. Em cada alma havia temor, e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio
dos apóstolos. Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as
suas propriedades e bens, distribuído o produto entre todos, à medida que alguém tinha
necessidade. Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam o pão de casa em casa,
e tomavam suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus, e contando
com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que
iam sendo salvos”. (Atos 2:42–47).
Estes crentes se empenhavam no estudo da Bíblia, oração, comunhão, louvor e adoração. Sem
programas especiais, slogans cativantes e novos paradigmas, muitos iam sendo salvos dia a
dia. O comportamento dos cristãos atraia a atenção dos não salvos.
Para muitos cristãos a adoração é trabalho perdido. Na vida de alguns crentes pode ser que
isso jamais tenha sido de fato cultivado. Parte do problema é que muitos pensam que a
adoração é um ato, falhando em perceber que a atitude é muito mais importante porque sem
1
Ron Klassen e John Koessler, No Little Place (Grand Rapids: Baker, 1996), 24 (itálicos dos autores).
2
ela o ato fica sem sentido. Além disso, para muita gente a adoração exige um lugar, um
edifício ou aposento para que possam “prestar seus cumprimentos” a Deus. Como escrevi em
outro lugar, “Adoração como serviço descreve pessoas permitindo que Deus trabalhe por
intermédio deles a fim de criar uma comunidade espiritual. A adoração como serviço envolve
a compreensão e a aplicação dos dons espirituais e a assunção do papel de cada um no corpo
de Cristo (Rom. 12:6–8). A unidade, diversidade e mutualidade da igreja extravasam quando
os adoradores servem e os servos adoram”.2
Igrejas saudáveis enfatizam a soberania de Deus, que chama o Seu povo para O adorar. A
adoração genuína começa com uma consciência da presença e poder de Deus. Igrejas
saudáveis praticam o equilíbrio de adoração por meio de música que centraliza a atenção no
Trino Deus e com pregação que prende mentes e corações à Sua Palavra.
Igrejas saudáveis não limitam a adoração a um único compartimento da experiência Cristã. A
adoração envolve compromisso total com Deus em todo os aspectos da vida cotidiana.
Central para a vida congregacional saudável é o mandato bíblico para o ministério mútuo
(Rom. 12:5) e a participação disposta e jovial de crentes na ministração de um para o outro (1
Pedro. 2:4–9).
Em conhecendo a Jesus Cristo, os crentes tornam-se parte do corpo de Cristo, a Igreja.
Debaixo do sacerdócio de Jesus a igreja mesmo é um sacerdócio. Em 1 Pedro, o autor
se refere a Êxodo 19 em que Moisés estava preste a subir à montanha para receber Lei
do Deus. Deus disse para Israel, “Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz
e guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos
os povos, porque toda a terra é minha; e vós me sereis reino de sacerdotes e nação
santa”. (Ex 19:5–6). A nação inteira de Israel, não apenas a tribo de Levi, era para ser
sacerdotes de Deus. O plano de deus era que Seu povo o representasse no mundo. Ele
seria o canal de Sua revelação e de Seus propósitos de salvação. Essa era a comissão
de Deus a Israel. Embora Israel freqüentemente fosse infiel e a comissão era apenas
parcialmente cumprida, o propósito de Deus era claro. 3
A saúde de igreja não começa com evangelismo ou missões – ainda que ambos sejam
conseqüentes. A saúde da igreja bíblica começa com uma congregação Cristo-cêntrica,
Bíblio-cêntrica determinada a ser na vida pessoal, familiar e corporativa justamente o que
Deus quer dela, e não faz nenhuma diferença se o seu número seja quinze, mil e quinhentos
ou quinze mil.
IGREJAS SAUDÁVEIS SEGUEM PADRÕES DE MINISTÉRIO
QUE SEJAM MAIS BÍBLICOS DO QUE CULTURAIS.
Apesar de o evangelho sempre ter sido trans-cultural, os crentes têm sido freqüentemente
tentados a se adaptarem muito dramaticamente ao seu próprio ambiente cultural a ponto de o
Cristianismo perder seu caráter distintivo. Isso amiúde surge de motivos sinceros, desejo de
contextualizar o evangelho ou ser “relevante para os tempos presentes”. Comumente visto no
Renascimento e de novo no Iluminismo, tal comportamento marca muito o evangelicalismo
hoje. As igrejas parecem presas a futurismos, movimentos, modas passageiras e slogans.
2
Kenneth O. Gangel, “Reexamining Biblical Worship” em Vital Ministry Issues, ed. Roy B. Zuck (Grand Rapids:
Kregel, 1994), 171.
3
Howard A. Snyder, Liberaying the Church (Downers Grove, IL: Inter-Varsity, 1983), 170–71.
3
A teologia às vezes duvidosa do movimento de crescimento da igreja contribuiu bastante para
a adoção de uma abordagem centrada em resultados pragmáticos — se algo funciona, deve ser
certo. MacArthur adverte que “o abandono da igreja contemporânea do Sola Scriptura como o
princípio regulador abriu a igreja para alguns dos abusos mais grosseiros, jamais imagináveis
— inclusive cultos do tipo honky-tonk4, a atmosfera de algo semelhante a carnaval, e
exibições de danças. Em sentido mais amplo, a mais branda aplicação do princípio regulador
deveria ter efeito corretivo sobre tais abusos.”5
Em lugar de programas e paradigmas, os crentes do primeiro século eram marcados pela
unidade e generosidade. “Da multidão dos que criam, era um só o coração e uma só a alma, e
ninguém dizia que coisa alguma das que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes
eram comuns. Com grande poder os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor
Jesus, e em todos eles havia abundante graça. Pois não havia entre eles necessitado algum;
porque todos os que possuíam terras ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que vendiam e
o depositavam aos pés dos apóstolos. E se repartia a qualquer um que tivesse necessidade”.
(Atos 4:32–35, NIV).
Nada que maravilhasse o mundo interessava! Por onde quer que fossem, os crentes pregavam
corajosamente a Palavra de Deus e proclamavam o nome de Jesus e Sua ressurreição. As
pessoas encontravam significado nessa mensagem porque sabiam da qualidade dos
relacionamentos mantidos entre eles quando estavam juntos. “As Epístolas determinam aos
crentes para serem uma unidade uns com os outros com base em sua nova relação familiar em
Cristo. Reiteradas vezes se vêem as instruções: sofram juntos (1 Cor. 12:26), regozijem-se
juntos (Rom. 12:15), levem os fardos uns dos outros (Gál. 6:2), restaure um ao outro (Gal.
6:1), ore um pelo outro (Rom. 15:30), encoraje um ao outro (Rom. 1:12), perdoe um ao outro
(Efé. 4:32), confesse um para o outro (Tia. 5:16), seja verdadeiro para com o outro (Efé. 4:25),
estimulemos um ao outro para boas ações (Heb. 10:24), e colabore um com o outro (Filip.
4:14–15).”6
Hayes enfatiza a comunidade de crentes da igreja local.
Um dos conceitos imprescindíveis da igreja é o contido na doutrina da comunhão dos
santos. O Credo dos Apóstolos incluiu este instituto como plataforma de fé.
Anteriormente apresentamos a comunhão à luz das marcas da verdadeira igreja. A
realidade de um vínculo comum em Cristo entre cristãos, apesar da raça, gênero ou
classe deveria ser uma marca óbvia da igreja. Mas a koinonia, essencial para o Corpo
de Cristo, é mais do que uma questão de ligação. Importa em responsabilidade e
accountability7. A comunhão dos santos deveria revelar de modo corporativo nossa
unidade em Cristo e nossa accountability perante a Palavra e os outros crentes.
“Porque nenhum de nós vive para si, escreveu Paulo, “e nenhum de nós morre para
si”. (Rom. 14:7).8
Fica assentado que as atividades da igreja são as centradas nos crentes e o evangelismo ocorre
quando os crentes fazem contato com os descrentes fora da igreja. Nesse sentido, MacArthur
coloca em dúvida a justificativa bíblica da filosofia chamada saída para a “o melhor serviço
para o cliente”9. “Não há apoio na Escritura para semanalmente adaptar os cultos à preferência
4
Isto é, cultos “perfomáticos”, animados como num clube de diversão, com prejuízo da reverência. N.do T.
John F. MacArthur Jr., “How Shall We Then Worship?” em The Coming Evangelicaç Crisis, ed. David Wells
(Chicago: Moody, 1996), 181.
6
Raymond C. Ortlund, “Priorities for the Local Church,” in Vital Ministry Issues, 91
7
Palavra sem correspondente em português. Traduzível por obrigação de prestar contas. No sentido
empregado aqui evoca a idéia de que “impor accountability significa de modo muito simples “controlar” N.do
T.
8
Ed Hayes, The Church, Swindoll Leadership Library (Nashville: Word, 1999), 124.
9
Literalmente, “seeker-service”. (N.do T.)
5
4
dos descrentes. Realmente, a prática demonstra que isso é contrário ao espírito das Escrituras,
tomadas como um todo, que alude à assembléia de crentes. Quando a igreja se reúne no Dia
do Senhor, não é hora para entreter o perdido, distrair a irmandade, ou de qualquer maneirar
satisfazer as ‘necessidades sentidas’ dos presentes. E quando devemos nos curvar na presença
de nosso Deus como congregação de seu povo, e honrá-lo com a nossa adoração.”10
Segundo o padrão bíblico, edificar os crentes precede o alcançar o perdido ou qualquer outra
valiosa paixão. Os crentes devem primeiro desenvolver um espírito de unidade, mutualidade e
generosidade. O que pode ser mais ineficaz para o efeito de cumprimento da Grande
Comissão do que as pessoas não-salvas de uma igreja a verem caracterizada por reclamações,
amarguras, críticas e hipocrisia?
IGREJAS SAUDÁVEIS ESTÃO EMBASADAS MAIS EM
FUNDAMENTOS TEOLÓGICOS DO QUE SOCIOLÓGICOS
Muitos líderes cristãos incorporam as sugestões do pragmatismo sociológico (conforme
sugerido acima), ignorando a verdadeira dinâmica da teologia bíblica, e inclusive falhando em
avaliar os elementos culturais e sociológicos pelo diapasão da Escritura. Os Guinness levanta
exatamente esse ponto em sua crítica ao movimento de crescimento da igreja. “Por um lado,
sua compreensão teológica é freqüentemente superficial, com quase nenhum elemento de
crítica bíblica. Como um proponente famoso declara, ‘eu não lido com teologia, eu sou
simplesmente um metodologista' – como se a sua teologia servisse para o manter critico e a
sua metodologia fosse neutra. Mas de fato, a teologia raramente é mais do que marginal no
movimento de crescimento de igreja, bem como a discussão das marcas tradicionais da igreja
é virtualmente inexistente. Ao invés disso, a metodologia ou a técnica, está no centro e no
controle. O resultado é uma metodologia sozinha de vez em quando em busca de uma
teologia”.11
A maioria dos estudiosos do Novo Testamento concorda que Efésios identifica metas bíblicas
para a igreja e descreve como essas podem ser alcançadas. Naquela carta Paulo não lidou com
erro ou heresia mas buscou expandir os horizontes espirituais dos crentes. Onde em Efésios
Paulo discutiu programas e estatísticas? Onde naquela carta ele abordou crescimento ou
estagnação? O que disse a respeito de edifícios e gestão de fundos — ambas supostas marcas
de uma “igreja saudável” em décadas recentes?
É claro que o apóstolo nunca discutiu estes assuntos. Ao invés disso ele descreveu pessoas
humildes fazendo progresso espiritual com Deus e com os seus semelhantes. Ele ofereceu uma
fórmula que pôde mudar uma igreja de qualquer tamanho da doença espiritual para a saúde em
termos de semanas, dizendo para eles viverem a vida cristã “com toda a humildade e
mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, procurando
diligentemente guardar a unidade do Espírito no vínculo da paz. Há um só corpo e um só
Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; um só
Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por
todos e em todos.” (Efé. 4:2–6).
10
MacArthur, “How Shall We Then Worship?” 185.
11
Os Guinness, “Sounding Out the Idols of Church Growth,” in No God but God, ed. Os Guinness and John Seel
(Chicago: Moody, 1992), 155.
5
Alguém pode responder, “que esse ideal pode ter marcado as igrejas do Novo Testamento.
Mas depois de dois mil anos de guerra espiritual, os inimigos da alma parecem ter de forma
mais sombria se armado contra o povo de Deus.” Pode até parecer isso, mas o secularismo
moderno dispõe de ameaça à verdade bíblica equiparável ao paganismo romano; de fato as
semelhanças são impressionantes.
Em relação à guerra espiritual, os líderes da igreja devem prestar redobrada atenção para o que
a Bíblia diz a fim de que outra moda religiosa não desvie o seu sentido para longe da
centralidade na verdade de Deus. Armstrong faz uma pergunta crucial: “Onde somos
autorizados a lidar com o reino de Satanás da mesma maneira que o nosso Senhor lidou com o
assalto frontal direto a Sua pessoa e a Sua mensagem vista nos Evangelhos?”12 Armstrong
responde à sua própria pergunta: “O modo bíblico de lidar com o diabo nesta época é mais
simplesmente declarado: Temos que ‘nos revestir de toda a armadura de Deus;' (Efé. 6:11).
Não fazemos isso por nossa própria força, mas ‘no Senhor’. O retrato perfeito aqui é que
vamos batalhar contra um oponente que está do lado de fora de nós. Como disse Jesus, ‘as
postas do inferno não devem prevalecer.’ Portas significam uma postura defensiva. A igreja
está em marcha pela Palavra e oração que luta contra o Diabo. Nós o combatemos
‘permanecendo firmes’. Só o fazemos com a verdade.” 13
Não pretendo fazer nenhuma crítica geral a todo interesse ou formas de crescimento da igreja.
Afinal, dois desses livros fortaleceram meu próprio ministério: Body Life, de Ray Stedman
(Grand Rapids: Discovery House, 1995), e Sharpening the Focus of the Church, de Gene Getz
(Wheaton, IL: Victor, 1984). Quando livros de crescimento de igreja estão fundamentados em
teologia bíblica, eles servem para o bem. Mas quando abandonam essa base, falham
miseravelmente. Schwarz discute oito qualidades de uma igreja de crescimento saudável:
liderança autorizada, ministério direcionado aos dons, ardente espiritualidade, estruturas
funcionais, cultos que inspira adoração, grupos pequenos integrais, direcionamento às
necessidades de evangelismo e relações amoráveis.14
A estes oito fatores essenciais, Getz e Wall oferecem outros quatro adicionais: pregação e
ensino bíblicos, líderes visionários e espirituais, unidade, e liderança. 15 Getz e Wall discutem
a medida de crescimento de igreja, assimilação dos recém-chegados, encorajamento da
participação do membro, e numerosos outros assuntos técnicos. Mas eles enfatizam a
singularidade de cada congregação em seus esforços para se tornar em tudo aquilo que Deus
quer que ela seja. “Conseqüentemente, os princípios que se extraem deste estudo nunca podem
tomar o lugar da busca humilde da face do Senhor e a resposta obediente com fé corajosa à
liderança de Deus em relação à Sua própria igreja. Os pastores sábios evitam comparar suas
igrejas com outras igrejas, e evitam imitar outras igrejas. Cientes das qualidades bíblicas de
uma igreja saudável, pastores sábios lideram seu rebanho do modo que eles crêem que o Sumo
Pastor esteja guiando os seus rebanhos.”16
A questão central de qualquer ministério é, por que Deus ergueu este trabalho, neste lugar,
neste momento, e o que Ele quer fazer, para e por nós?
12
John H. Armstrong, “How Shall We Wage Our Warfare?” in The Coming Evangelical Crisis, 236.
13
Ibid., 237.
Gene Getz and Joe Wall, Effective Church Growth Strategies, Swindoll Leadership Library (Nashville: Word,
2000), 96–107.
15
Ibid., 107–10.
16
Ibid., 118 (italics theirs).
14
6
IGREJAS SAUDÁVEIS SE FOCALIZAM MAIS NUM MODELO DE
MINISTÉRIO DO QUE DE MARKETING.
Na Revista norte-americana U.S. News & World Report, John Lelo se reporta a uma
publicação de 1983, intitulada “I, Rigoberta Menchú”, que se tornou um texto intercultural em
muitas áreas. Ganhou o Prêmio Nobel em 1992 como uma obra de não-ficção. Mais
recentemente, pesquisa do antropólogo David Stowell descobriu que porções enormes do livro
eram aparentemente falsas. Em uma surpreendente reação adversa, os professores
universitários defenderam o livro e seu autor e atacaram a pesquisa que insinua a falsidade do
livro.
Stowell aborda o assunto de uma perspectiva complacente, concedendo a Menchú o benefício
da dúvida em todos os pontos. Apesar disso, assim expressa, “Quando comecei o relato de
meus descobrimentos, alguns de meus colegas os consideraram muito sacrílegos”.17 Em outras
palavras no moderno mundo acadêmico, a teologia da libertação representa o centro da
realidade e ninguém ousa desnudar um ícone político que atacou as culturas de opressão. A
verdade é que se alguém se preocupa com a defesa da posição estabelecida não pode ser
admissível. Os defensores de Menchú respondem que a sua escrita não é um ato de
desonestidade, mas é a narrativa meramente geral. Aqui, a resposta de Lelo: “Por que não é
desonestidade? Por que a nossa cultura universitária põe mais ênfase na verbalização,
narrativa e descrição do que na verdade. Um número crescente de professores aceita a noção
pós-moderna de que não existe tal coisa como verdade, só existe retórica. O resultado é o
obscurecimento da distinção entre história e literatura, fato e ficção, honestidade e
desonestidade. Um professor horrorizado escreveu em uma mensagem da Internet que ‘A
controvérsia de Menchú, como a controvérsia Clinton, revela a profundidade da indiferença
acadêmica para com a verdade na era pós-moderna’”. 18
Essa é uma ilustração dramática de uma epistemologia cultural dirigida ao modelo
mercadológico, relativo ao marketing. Um dos perigos da prosperidade é a ênfase constante e
obstinada na venda de idéias, seja de que forma ou meio que for. Apesar disso, os evangélicos
e suas instituições precisam prover de um oásis no deserto estéril para esse tipo pensamento
mortal. Devem testar tudo que o for dito e escrito pelo padrão absoluto da verdade de Deus.
Como Kaiser escreveu certa feita, “Os evangélicos afirmam que a Bíblia é a Palavra de Deus e
por isso completamente verdadeira e fidedigna. Ela é a autoridade pela qual os evangélicos
formam seu pensamento sobre o que é verdade sobre Deus e o mundo e pelo qual se são
guiadas suas vidas e práticas”.19
Igrejas saudáveis rejeitam a mentalidade mercadológica em sua busca pela eficácia. Enfatizam
o funcionamento em graça e poder do Deus em um nível de excelência de acordo com os
recursos que Ele proveu. Porém, as pessoas de cultura dos dias de hoje que afirmam
possuírem e viverem pela verdade absoluta são as que se colocam diretamente no trilha do
desprezo e da infâmia. Uma cultura induzida pela paixão em relação à economia dificilmente
respeitará a excelência no ministério.
Uma igreja saudável mantém um modelo bíblico de eficácia com vistas a executar a sua
missão antes de manter modelo de sucesso mundano medido pelos “colegas” do campo
17
David Stowell, quoted in John Lelo, “Nobel Prize for Fiction?” U.S. News & World Report, January 25, 1999,
17.
18
Ibid.
19
Walter C. Kaiser Jr., “What’s So Important about Inerrancy?” Evangelical Beacon, October 1, 1990, 6.
7
evangélico. Os evangélicos foram chamados por Deus para ser um movimento de protesto no
mundo — não um grupo de negativos resmungões e vítimas, mas um grupo servos
batalhadores com um alto compromisso perante o Senhor. “Nossa tarefa é crescer com uma
consciência de nossa unidade e vitalidade em Cristo, e mostrar esta força a um mundo que
desesperadamente precisa conhecer algo sobre a pessoa que é tanto o Nosso Salvador quanto
Nosso Senhor”.20
IGREJAS SAUDÁVEIS ADOTAM MAIS MODELOS DE
LIDERANÇA BÍBLICOS DO QUE SECULARES.
A deficiência no meio de cristãos contemporâneos em captar o claro, o distintivo modelo de
liderança-serva do Novo Testamento parece que é disseminado e evidente. Como o quadro se
tornou tão distorcido? Muitos pastores, presidentes, e dirigentes de campos têm comprado um
modelo autocrático de liderança que contempla justamente o padrão antigo em termos de
teologia, um estilo político, antiquado até perante a literatura secular atual. Fato é que eles às
vezes não conseguem superar a realidade da incontestável oposição ao Novo Testamento. Há
pessoas que são mais prejudicadas, machucadas, nas igrejas pelos estilos de liderança
opressiva do que por salários inadequados e ou edifícios caindo aos pedaços.
A melodia da liderança compartilhada ecoa praticamente em toda a literatura secular
contemporânea acerca de liderança. “Os padrões tradicionais de liderança que eram aceitos no
passado podem não ser bem sucedidos no futuro. O líder da comunidade do futuro estará
diante de maiores desafios para reter membros. O sucesso do líder na adaptação ao novo
mundo da comunidade da livre escolha será o gigantesco fator para a determinação do sucesso
e da prosperidade em longo prazo da comunidade”.21
Os líderes de igrejas saudáveis reconhecem que nenhuma soma de técnica com estratégia,
nenhuma cópia do modelo mercadológico vigente, pode conduzir suas congregações pelos
charcos de atmosfera carregada de gases venenosos de imoralidade por onde atravessam com
seus barcos espirituais. Indistintamente, Paulo, Pedro, Tiago e João, concluíram, face às suas
experiências de vida e ministério, pela advertência quanto a deterioração da sociedade. A
cultura ocidental tem produzido uma educação de filhos permissiva, igrejas teologicamente
rasas e padrões morais determinados por vantagens e lucros. A maturidade espiritual por parte
de muitos líderes de igreja e por parte muito maior de congregados não pode ser presumida.
Na legítima intenção de vincular a saúde com a qualidade antes que com a quantidade, há
líderes da igreja que não deixa de prestar atenção para aquilo que é essencial ao exercício do
ministério; inclusive declaração de missão, visão e definição de papéis; realização de metas;
planejamento estratégico e concessão de poderes (empowerment) a outros. Mas eles se medem
por um padrão diferente.
Às vezes a realização pode ser quantificável, como o número de visitas que um pastor
poderia fazer em um determinado mês, ou a expansão dos dias dedicados ao
aconselhamento de dois para cinco. Freqüentemente, porém, olhamos a mudança de
vida como a avaliação do alcance das metas ministeriais. Uma congregação que pareça
egocêntrica e preocupada com seus próprios programas e obras pode ser vista como
uma meta de longo prazo alcançada por um pastor depois que essas mesmas pessoas
20
Darrell Bock, Alister McGrath, Richard Mouw, and Mark Noll, “Scandal? A Forum on the Evangelical Mind,”
Christianity Today, August 14, 1995, 75.
21
Marshall Goldsmith, “Global Communications and Communities of Choice,” in The Community of the Future,
ed. Frances Hesselbein et al. (San Francisco: Jossey-Bass, 1998), 114.
8
aprenderem trabalhar como uma comunidade interdependente que mostre a
preocupação com outras pessoas. Um diretor de campo de missionário que leva
pessoas altamente qualificadas em suas especialidades mas ineficazes como uma
equipe de ministério poderia louvar a Deus por ajudarem-nas a desenvolverem
unidade e um espírito genuinamente cooperativo que produz resultados para a
equipe.22
O pensamento atual diz que a saúde de uma igreja não acontece sem a abordagem
contemporânea e desconstrucionista de ministério. Porém, as igrejas nunca se tornarão
espiritualmente saudáveis meramente por meio de paradigmas ou programas. Os
compromissos bíblicos, de cada congregado, cada líder, cada oficial de igreja, deve ser com as
prioridades e alvos de Deus, e de permitir que Ele produza nessas igrejas o que Ele quer — e
não o que Ele na quiser.
Longe de desprezar o cumprimento da Grande Comissão, esta abordagem, uma vez que é
obviamente mais bíblica, realça a missão dos crentes de conhecer Jesus Cristo, exaltá-O, e O
levar aos outros e edifica-os na fé. Deus quer realizar estas metas pela Sua igreja e pelo Seu
poder. As igrejas precisam estar certas de que os métodos, movimentos e manipulações do
cristianismo cultural moderno não conseguem faze-lo do modo certo.
22
Kenn Gangel, Coaching Ministry Teams, Swindoll Leadership Library (Nashville: Word, 2000), 74.
9