de que cor queremos o nosso futuro?

Transcrição

de que cor queremos o nosso futuro?
a revista da caixa
N.o 08 | Junho de 2012 | Ano III
caixa geral
de de p ósi tos
de que cor
queremos
o nosso
futuro?
A pergunta obrigatória
no ano internacional
da energia sustentável
para todos
Francisco Ferreira
ideias para fazer face à crise
Londres 2012
o outro lado da cidade olímpica
Sabia que a capital
europeia da juventude
também é nossa?
€ 1,50 CoNtinente e ilhas
periodicidade Trimestral
editorial
e
Portugal positivo
a revista da caixa
Diretor Francisco Viana
Editores Luís Inácio e Pedro Guilherme Lopes
Arte e projeto Rui Garcia e Rui Guerra
Colaboradores Ana Rita Lúcio, Catarina Vilar,
Helena Estevens, Leonor Sousa Bastos, Nuno
Fernandes Carvalho, Paula de Lacerda Tavares,
Rui Tavares Guedes (texto); Anabela Trindade,
Estúdio João Cupertino e Gualter Fatia, com
agências Corbis, Getty Images, iStockphoto
e Reuters (fotos); Marta Monteiro (ilustração),
Dulce Paiva (revisão)
Secretariado Teresa Pinto
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Propriedade
Caixa Geral de Depósitos
Av. João XXI, 63, 1000-300 Lisboa
Periodicidade Trimestral
(Edição n.º 8, abril/junho 2012)
Depósito Legal 314166/10
Registo ERC 125938
Tiragem 85 000 exemplares
Correio do leitor [email protected]
As preocupações com as próximas gerações são,
desde há muito tempo, parte integrante da estratégia
da Caixa Geral de Depósitos.
O Programa Caixa Carbono Zero, um projeto
estratégico, transversal a toda a atividade do Banco,
é um claro exemplo dessas preocupações, tendo por
missão o atingir de vários objetivos: concretizar uma
responsabilidade de redução de emissões próprias;
responder ao desafio de colocar no mercado novas
soluções financeiras que facilitem o acesso a bens e
serviços de baixo carbono; e promover o conhecimento
sobre o tema de forma a permitir a adoção de
comportamentos que reduzam a pegada de carbono.
Neste âmbito, projetos como a Central Solar, o Plano
de Mobilidade CGD, o cartão Caixa Carbono Zero, a
Floresta Caixa ou a Calculadora de Carbono, entre outros,
tornaram a CGD líder no combate às alterações climáticas,
assumindo-se como a melhor empresa portuguesa e
a melhor instituição financeira ibérica na resposta às
exigências de uma economia de baixo carbono, de acordo
com a análise do Carbon Disclosure Project (CDP).
E a propósito de liderança, a Caixa, enquanto
Instituição líder e de referência no sistema financeiro
português, tem na Sustentabilidade uma das suas
prioridades estratégicas. As Políticas de Sustentabilidade,
de Ambiente e de Envolvimento com a Comunidade, bem
como a definição da Estratégia de Envolvimento com os
diversos Stakeholders comprovam essa visão e suportam os
vários compromissos que a Caixa assumidos.
Por tudo isto, e muito mais, é incontornável
dedicarmos uma edição da Cx ao Ano Internacional da
Energia Sustentável para Todos. As opiniões de Francisco
Ferreira e de Eduardo de Oliveira Fernandes são um
valoroso contributo para percebermos o presente e o
futuro de um País e de um planeta de que dependemos
para a nossa existência e que precisa de todos nós, não
só enquanto pessoas capazes de equilibrarem os seus
consumos e desperdícios, mas também como pessoas
com vontade de agir, de empreender e de criar. E porque
não faltam pessoas assim em Portugal, nas páginas que se
seguem, iremos apresentar-lhe João Seabra, José Xavier,
Rita Baptista ou Henrique Pinho, entre outros exemplos
que ajudam a explicar o porquê de o nosso País ter a
cidade Capital Europeia da Juventude 2012.
Mas prepare-se porque Braga será, apenas, um dos
destinos a descobrir nesta edição da Cx.
Francisco Viana
«a caixa,
enquanto
instituição líder
e de referência
do sistema
financeiro
português,
tem na
sustentabilidade
uma das suas
prioridades
estratégicas»
A Cx é uma publicação da Divisão Customer
Publishing da Impresa Publishing,
sob licença da Caixa Geral de Depósitos
Esta revista está escrita nos termos do novo acordo ortográfico
cx
a re v i s ta d a c a i xa
3
i
interior
06Pormenor
Notícias que saem da Caixa
Pessoas
DESTAQUES
10 Histórias de sucesso
João Seabra vê o mundo em 3D
12 Talento
José Xavier e Rita Fortunato
Baptista
estilo
16 Design & arquitetura
Bicicletas via Internet e as
peças do atelier Água de Prata
22 Automóveis
Híbrido em prol do ambiente
23 Culto
Peças com muito estilo
24 Gourmet
Belcanto e São Gião
25 Prazeres
Um creme para o verão
39 Observatório
Eduardo de Oliveira Fernandes
46 Roteiro
Encantos da nossa Veneza
48 Fugas
As belas Casas de Pousadouro
viver
52 Saúde
Como aliviar o stress
54 Finanças
Conhecer as taxas e o
Saldo Positivo Empresas
56 Educação
O poder da motivação
58 Sustentabilidade
Os ecograffitis e o inquérito
a stakeholders da CGD
cultura
60 Agenda + Ler & Ouvir
Espetáculos, livros e discos
66 Vintage
O processo de gravação em
talhe-doce
4
cx
a rev i s ta d a ca i xa
32 D
a cor do futuro
Depois de se ter tornado sinónimo de ecologia e de medidas que pintam o amanhã
com o tom da sustentabilidade, a economia verde vem mostrar que a prosperidade
económica e social também pode chegar por causa do ambiente. Sem se deixar
ensombrar por algum cinzentismo da Cimeira da Terra Rio +20.
18Design & arquitetura
A curadora geral da Trienal de
Arquitetura de Lisboa 2013, Beatrice
Galilee, antecipa as novidades de uma
iniciativa que, nesta edição, vai integrar
no programa cientistas e artistas.
26Entrevista
Os portugueses conhecem-no
como «senhor ambiente». Figura
incontornável no Ano Internacional
da Energia Sustentável para Todos,
Francisco Ferreira, da Quercus, promete
não baixar os braços na procura das
melhores soluções para o ambiente.
40Grande viagem
Antecipámo-nos aos Jogos
Olímpicos e rumámos a Londres
para descobrir uma metrópole
cheia de estilos que fervilha
de entusiasmo.
62Cultura
Passamos em revista
a Capital Europeia da Juventude.
O que acontece em Braga e a
opinião de Hugo Pires, presidente
do Conselho de Administração
da Fundação Bracara Augusta/
Braga 2012.
Foto: iStockphoto
destinos
p
pormenor
bolachas que falam
Uma mãe e uma filha, jeito para cozinhar
e jeito para escrever. São estes os ingredientes-base da receita que fez nascer as Wordcookies
que, segundo as mentoras, permitiram juntar a
fome com a vontade de comer. O resultado são
bolachas artesanais, acompanhadas por palavras
os livros
e a fotogenia
sabia que quando estamos a ler um
livro nos tornamos mais fotogénicos?
Inspirada por essa ideia, Sandra Barão
Neto anda, há cerca de meio ano,
apostada em fotografar pessoas
a lerem em locais públicos. E o facto
de ter encontrado vários casos que
sustentam a sua teoria levou-a
a criar um blog intitulado
Acordo Fotográfico. Uma preciosa
curiosidade para descobrir em
http://acordofotografico.blogspot.pt.
a loucura
do instagram
Por certo, a palavra «Instagram» já
passou por si nos últimos tempos. Por
certo, já viu fotografias que utilizam
esta aplicação. Ora, e se de aplicação
o Instragram passasse a máquina
fotográfica verdadeira?
A ideia pertence à empresa italiana
ADR Studio, que, aproveitando a app,
mostrou ao mundo a sua Instagram
Socialmatic Camera. Ainda não passa
de um protótipo, mas os anunciados
16GB de espaço, o Wifi, o Bluetooth, a
impressão das fotos em tempo real e
ligação direta ao Facebook ampliam a
«loucura» instalada.
6
cx
a re v i s ta d a c a i xa
(é possível personalizar as bolachas e os rótulos
das embalagens). Para deixá-lo de água na boca,
podemos adiantar que as bolachas de manteiga
representam o Amor e a Amizade, as de cacau a
Gula, as de parmesão a Inveja e as de pimenta a
Loucura. Para encomendar, basta um e-mail para
[email protected].
a p o u pa r d e sd e j ov e m
O Cifrão está na Caixa
O novo embaixador da poupança foi apresentado a 1 de junho,
no Dia Mundial da Criança
O ator e músico vítor fonseca –
mais conhecido por Cifrão – é, desde
o passado 1 de junho, o Dia Mundial
da Criança, o embaixador da poupança
da Caixa, um facto que reforça
a já forte ligação da CGD ao
segmento jovem. Isso mesmo
explica Francisco Viana, diretor
de Comunicação e Marca da
Caixa, ao referir que o objetivo
passa por «posicionar a Caixa
como Banco oficial da poupança
e, consequentemente, como o
Banco dos
jovens e do
seu futuro».
A Caixa
pretende com
este convite
que o ator,
enquanto
embaixador
da Caixa,
transmita
aos mais
novos que
poupar não
recorde elétrico
o novo renault zoe conseguiu
completar 1618 km estabelecendo um
novo recorde do mundo para a maior
distância percorrida, em 24 horas,
por um automóvel elétrico de série.
é um «bicho de sete cabeças», mas o
necessário para poderem encarar o
futuro com outros olhos e, acima
de tudo, terem como investir.
«A Caixa tem sido, ao longo dos
anos, o Banco que encara a
poupança de uma forma
positiva e facilitadora. Neste
sentido, vamos abordar
a questão da Poupança
Jovem de uma forma mais
inspiradora para os jovens
e para os pais», explica
Francisco Viana.
O convite da Caixa resulta
do facto de o ator Vítor
Fonseca ser um jovem
talentoso, com uma
capacidade ímpar de trabalho
e que sempre lutou pelos
seus sonhos. Uma pessoa
que, ao longo da sua vida,
se tem empenhado, de forma
determinada, a construir o
seu futuro. «É, sem dúvida,
um verdadeiro exemplo a
seguir», refere o diretor.
empreendedorismo nacional
tem a marca cgd
a caixa geral de depósitos, através do seu vice-presidente
executivo, António Nogueira Leite, representará Portugal no Comité
de Peritos da Comissão Europeia para o Empreendedorismo Social
(GECES). Esta é mais uma prova do reconhecimento do trabalho
desenvolvido pela CGD, na área da Inovação Social.
Os Simpsons,
vistos pela
campanha da
Lego
O poder da imaginação
Jung von Matt Hamburg é a agência responsável pela campanha
minimalista da Lego. Intitulada Imagine, recria personagens
famosas como Os Simpsons, South Park, Tartarugas Ninja,
Os Estrumpfes, Lucky Luke ou Astérix e Obélix de uma forma que
apela ao poder da imaginação.
esteja atento
a este símbolo
da próxima vez que entrar
num espaço de restauração, se vir
este símbolo quer dizer que está a
entrar num espaço onde todas as
refeições que seriam deitadas fora são
encaminhadas para a mesa de alguém.
Numa altura em que se estima que cerca
de 360 mil portugueses passem fome e que,
diariamente, de norte a sul do País, mais de 50 mil refeições
sejam desperdiçadas, o movimento Zero Desperdício lança
mãos à obra.
Assim, as refeições que nunca foram servidas, cujo prazo de
validade está a chegar ao fim, ou que não foram expostas
nem estiveram em contacto com o público são guardadas
em embalagens. Depois de recolhidas, as refeições de
cada estabelecimento são transportadas para as entidades
aderentes, que, por sua vez, organizam e distribuem essas
refeições por famílias necessitadas.
Junte-se à causa em http://www.zerodesperdicio.pt.
Design português
à conquista de Londres
se, envolvido pelo espírito olímpico, estiver
a pensar em visitar Londres, fique a saber que a capital
inglesa tem já um espaço onde o design português é rei
e senhor. Na CDC – Colour Design Concept, há mobiliário
desenhado por Souto de Moura ou Siza Vieira, há a nossa
cortiça e trabalhos de jovens designers como Vandoma,
Apicula ou Bicho de Sete Cabeças. Saiba mais
em www.colourdesignconcept.com.
É uma t-shirt portuguesa,
com certeza
Mobilidade urbana
Fotos: D.R.
Sinta-se Frii!
o estudante israelita de design Dror Peleg desenvolveu
a Frii Bicycle, uma bicicleta feita a partir de plástico reciclado.
O designer usou tecnologia de moldagem por injeção plástica,
para criar um modelo de baixo custo que se revela um excelente
meio de transporte. Seguro, durável e sustentável, criado 100 por
cento com material reciclável, pode ser personalizado de acordo
com as características do país ou cidade onde vá circular.
francisco e cristina pacheco pensaram numa forma
de promover Portugal e a forma ideal que encontraram
para o fazer foi através de t‑shirts (o que não quer
dizer que não venha a
estender‑se a outros
objetos). A Ventania,
assim se chama a marca,
transporta para as ditas
t-shirts vários símbolos
nacionais, tais como o
galo de Barcelos, o elétrico
28, os corvos de Lisboa, as ondas do Algarve ou um copo
de vinho do Porto, entre outras ilustrações. As t-shirts
podem ser encontradas em locais como a Artes&etc,
a Portugal Essential, a Arte periférica e a Bshop (CCB),
todas em Lisboa, estando para breve a sua presença nas
lojas PortoSigns (no Porto) e nas lojas Limão (Portimão
e Alvor).
cx
a re v i s ta d a c a i xa
7
p
pormenor
1
CNC voltam a ser um êxito
A Universidade de Aveiro encheu-se de crianças e jovens
de todo o País para as Competições Nacionais de Ciência,
promovidas pelo PmatE (Projeto Matemática Ensino),
com o apoio da Caixa. Aos 22 anos, aquela que é, talvez,
a maior iniciativa do género em Portugal foi de novo um
sucesso, acolhendo mais de 13 500 participantes.
2
Manhattan como nunca a viu Intitula-se Downtown from
Behind e é uma surpreendente iniciativa da fotógrafa Bridget
Fleming. Bridget começou a fotografar os moradores da cidade
nas suas bicicletas, mas sempre de costas, e depressa sentiu ser
essa uma forma original de documentar o estilo de vida em
Manhattan. O resultado, em constante atualização, pode ser
visto em http://downtownfrombehind.com.
3
prémio pessoa
Eduardo Lourenço
distinguido
O Edifício-Sede da CGD foi palco da entrega
do prémio, por Aníbal Cavaco Silva
o prémio pessoa foi entregue a 14 de maio, no
Edifício‑Sede da CGD, ao filósofo e ensaísta Eduardo
Lourenço, entrevistado da última edição da Cx. Trata-se de uma iniciativa do Expresso, apoiada pela Caixa,
cujo Prémio é atribuído, anualmente, a portugueses
com intervenção relevante e inovadora na vida artística,
literária ou científica do País.Inspirado no nome de
Fernando Pessoa, o Prémio foi entregue pelo Presidente
da República, Aníbal Cavaco Silva, cabendo ao premiado
as seguintes palavras: «Se este prémio é um prémio
particular, por muitos motivos, recebê-lo com essa
assistência, da mão do nosso Presidente da República,
é para mim mais do que uma honra, uma dificuldade
extrema em estar à altura desta circunstância.» Eduardo
Lourenço dedicou, ainda, o prémio a Agustina Bessa Luís
e a Antonio Tabuchi, dois amigos e também estudiosos
de Pessoa. Nessa mesma tarde, foi realizado um debate
com os últimos premiados, sobre o tema «Que Portugal
Queremos daqui a 25 anos?».
costa de caparica mais limpa
a 13 de maio, cerca de 150 voluntários
mobilizaram-se numa ação de limpeza,
na Praia da Sereia, num total de 504 horas
de voluntariado. Os trabalhos envolveram
colaboradores da Caixa e respetivas famílias,
resultando em, aproximadamente, 500
quilos de resíduos, devidamente separados
para posterior reciclagem.
No final da ação, o grupo de voluntários
conviveu num animado almoço no bar
Waikiki, localizado na mesma praia, que
8
cx
a re v i s ta d a c a i xa
serviu de suporte à ação. Além disso, a
iniciativa contou, ainda, com o apoio da
HPP Saúde, da Fidelidade – Companhia de
Seguros e da Cerealis. Este é o terceiro ano
consecutivo em que decorrem ações de
limpeza de praia, inseridas no pilar ambiental
do Programa de Sustentabilidade da Caixa.
Recorde-se, aliás, que a Caixa registou,
em 2011, mais de 33 mil horas em diversas
ações de voluntariado, ultrapassando
largamente o objetivo inicial de 20 mil horas.
ideias
Para falar
sobre locais onde é proibido
ter preocupações com a linha.
1.
Há quem garanta que são
os melhores cachorros
quentes do mundo. Começaram
a ganhar adeptos em 1988,
sendo vendidos na zona da
Boca do Inferno, mas prometem
conquistar muito mais
estômagos, agora que ganharam
espaços próprios, em Lisboa,
na Avenida Álvares Cabral e
na ala nascente do Terreiro do
Paço. Feitos com pão caseiro
e condimentados com molho
especial, podem ser servidos
simples ou nas variantes
completo e chili.
2.
Aqui é mais bolos. E o aqui
é o primeiro andar da livraria
Ler Devagar, no Lx Factory, onde
Marta Gonçalves, uma jovem
licenciada em Comunicação
Social, abriu uma loja chamada
O Bolo da Marta, onde o dito
bolo pode ser comprado inteiro
ou à fatia, com sabores que vão
das natas e framboesa à Nutella
com morangos.
3.
Há uma jukebox, há Elvis
aos molhos, há ovos
estrelados com bacon, anéis de
cebola panados, hamburgueres,
pimentos recheados com queijo,
batidos e muito mais que permita
viajar à América dos anos 50.
O Happy Days Diner & Bar fica
em Cascais, no Jardim Visconde
da Luz.
A nossa economia
Chama-se Portugal Economy - PE Probe e é um site
recentemente lançado com o objetivo de se transformar num
local de visita obrigatória para quem quer obter informação
económica, financeira, empresarial, governamental e demográfica
sobre o nosso País. Uma das suas principais características é o
facto de facultar a informação em inglês, o que facilitará a ponte
com estrangeiros interessados na economia nacional.
Heróis que ensinam a comer
rodrigo carvalho é formado em Engenharia Aeroespacial. Rui
Miranda é formado em Gestão. Juntos, estão à frente do maior
projeto de animação feito em Portugal, que começou com o desejo
de contar histórias sobre alimentação saudável a crianças dos
quatro cantos do mundo. Para isso,
fizeram parcerias com a Organização
Mundial de Saúde, com os ministérios
da Educação e da Saúde, bem como
com associações de nutricionistas de
diversos países e atingiram o sucesso
com as Nutri Ventures.
Locais obrigatórios para amantes de gelados
gelataria esquimó
Espinho. Mesmo em frente
à praia, tem vários anos de
história e uma tradição de
gelados italianos feitos com
fruta natural.
artisani
Lisboa e Carcavelos.
Gelados artesanais gourmet,
junto ao rio, na Doca de
Santo Amaro, ou junto ao
mar, na praia de Carcavelos.
sincelo
Porto. Aberta há 30 anos,
é um dos locais de eleição
da Invicta para um belo
gelado.
ice gourmet
Tróia. Gelados de autor
numa das regiões do
País mais na moda
(principalmente no verão).
santini
Cascais. Aberta desde 1971,
não há quem não a conheça.
O gelado de framboesa é
um must. Abriu, entretanto,
duas outras lojas, uma em
São João do Estoril, outra no
Chiado.
veneza e nosolo itália
Marina de Vilamoura. Se
os gelados da Veneza são
já um clássico, mesmo os
que têm base de soja ou
sem açúcar, os da Nosolo
são considerados dos
melhores de Portugal.
made in portugal
Ponha aqui o seu pezinho
Foto: João Cupertino (Eduardo Lourenço)
helena amante oliveira
e Miguel Marques são dois
irmãos que criaram a Shoes
Closet, uma marca portuguesa
de calçado que tem dois
objetivos: destacar-se pela
qualidade, pelo design e
pelo conforto e conquistar o
mercado internacional. Esta
empresa, que conta com dez
trabalhadores, desenhou
três coleções para 2012:
M. Butterfly, Além Tejo
e Modernism.
caixa põe o país a mexer
«há um banco que mexe e faz mexer o País. A Caixa. Com
Certeza.» Este é o mote da mais recente campanha da CGD
de apoio à economia e às exportações, e que pretende
dar força e confiança a um País que atravessa um período
difícil. A Caixa quer, assim, mostrar que vale a pena acreditar
num futuro melhor e motivar os portugueses a encararem
a mudança, acordando o País para uma nova realidade. De
acordo com Francisco Viana, diretor de Comunicação e Marca
da Caixa, «queremos mostrar que, naquilo que depende
dos portugueses, temos todas as condições para os apoiar,
para mexermos com a nossa economia, com o nosso País e
com o nosso destino. E que a Caixa, o Banco que sempre foi
o motor da economia, tem todas as condições para ajudar o
País, nomeadamente as boas empresas, aquelas que, com a
nossa ajuda, podem evoluir para outros mercados, para outros
patamares, e estar na linha da frente desta transformação».
Saiba tudo sobre estas soluções em www.cgd.pt/empresas.
cx
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9
h
histórias de sucesso
joão seabra
Um salto para o sonho
Distinguido pela União Europeia como um dos jovens talentos
criativos europeus, é um exemplo da máxima que recomenda: «Trabalhem em
algo que vos apaixone e trabalhem com quem partilhe essa paixão.» No seu caso,
a paixão é o 3D e o resultado da mesma dá pelo nome de Jump Willy
Por Pedro Guilherme Lopes Fotografia Bruno Barbosa
Ainda antes de as televisões serem vendidas com óculos, já João Seabra via o mundo a 3D.
Não admirou que se viesse a tornar professor do primeiro mestrado português em Animação
a Três Dimensões, na Universidade Católica, e que, hoje, em parceria com o compositor Pedro
Marques, esteja à frente de uma empresa líder em criatividade, a Jump Willy.
Cx: Quais eram os maiores desafios e os
maiores receios quando optou por abandonar
o cargo de professor do primeiro mestrado
português em Animação 3D para se dedicar,
de corpo e alma, à Jump Willy?
João Seabra: O mestrado tinha sido um
sonho também meu. Quando comecei
a lecionar na universidade e a deixar de
colaborar tão intensamente como fazia
fez-me sentir que estava a abandonar um
projeto em que, ainda hoje, tenho muito
orgulho, em prol de um outro sonho.
A demora de mais de um ano para efetivar
a Jump Willy deveu-se, também, à falta
de capacidade financeira que tinha para
começar uma empresa com um investimento
inicial muito relevante para a minha idade e,
por fim, o medo de abandonar o conforto de
uma remuneração estável e muito apetecível
para a minha faixa etária. Mas a vontade de
realizar um sonho e seguir um caminho que
constrói algo novo e útil ainda hoje me faz
esquecer das horas das refeições quando
estou envolvido num projeto motivante
dentro da Jump Willy.
Cx: Quando analisa o percurso da Jump
Willy, quais os momentos que destacaria
como tendo sido fundamentais para chegarem
à visibilidade que têm hoje?
J. S.: A escolha, desde o primeiro dia, da
melhor equipa possível e a nossa capacidade
de, com ela, criar uma empresa com um
espírito partilhado, como a Jump Willy,
foram fundamentais. Foram também
fundamentais os nossos princípios de
10
cx
a re v i s ta d a c a i xa
ética nos negócios e felicidade, não só na
equipa mas para com todos os clientes,
fornecedores e em toda a nossa gestão. Foi
assim que conseguimos chegar a clientes
internacionais, como a BMW, a Axe, a Lexus,
a Vodafone ou a Sony Ericsson e que foi
possível abrirmos escritório em Los Angeles
e Londres.
Cx: Para quem ainda não conhece, como
é que definem o vosso trabalho e qual o
conceito da empresa?
J. S.: Nós atuamos nas áreas de publicidade,
marketing institucional, cinema e videojogos,
através da criação de imagem digital e
composição musical, sempre atendendo a
que somos, não uma empresa de técnicos,
mas uma equipa integrada criativa, com
um grande domínio técnico e tecnológico.
Somos uma empresa jovem de espírito,
para sermos muito criativos e pouco
convencionais nas ideias, mas pautamo-nos
nos nossos processos por um rigor de prazos
e metodologias que aprendemos desde cedo
com parceiros nórdicos. Convido a verem
«a criatividade é,
nesta fase de crise
financeira, uma
palavra bem mais
relevante do que o
empreendedorismo»
Print
um mundo
sem limites
Aprender o 3D por conta
própria foi um enorme desafio.
Sempre utilizou muito a
tecnologia como meio de
entretenimento, mas só
quando já estudava artes
clássicas, durante a juventude,
é que começou a associar
apaixonadamente a tecnologia
informática à arte. A chegada
das máquinas fotográficas
digitais e dos scanners
foi momento marcante,
permitindo-lhe registar
digitalmente o trabalho
que fazia até então apenas
tradicional e manualmente.
Inesquecível foi, também, o
momento em que descobriu o
3D. «Descobri o 3D no 1.º ano
da universidade, quando um
professor que muito admirava
acabara de desempacotar dois
computadores especializados
que a universidade adquirira
para uma possível nova cadeira
de mestrado. Tinha perante
mim como que um poço
infinito de capacidades para
um artista digital.» A partir
desse momento, João Seabra
dedicou vários anos a estudar
e a praticar, diariamente, sem,
na altura, haver professores
para ensinar, websites para
consultar, nem livros em
Portugal possíveis de comprar.
«As vantagens eram a minha
principal motivação. Ainda hoje
são. A área de 3D Computer
Graphics possibilita-nos criar
graficamente quase tudo
o que o Homem conceba
mentalmente. É saber que
podemos ter um sonho
e que, sem limites financeiros
e temporais, poderemos
recriá-lo na perfeição
para o partilhar com
o mundo.»
Apaixonado
empreendedor
criativo
sonhador
algum do nosso recente trabalho em
www.jumpwilly.com.
Cx: Quando, há quatro anos, criaram a Jump
Willy, o João e o Pedro tinham como um dos
objetivos pagar bem e dar boas condições a
quem trabalhasse convosco. Olhando para o
atual mercado de trabalho, continuaria a ser
um pensamento válido?
J.S.: Quando deixarmos de ter este
pensamento ou ele deixar de poder ser
válido, a Jump Willy deixará certamente de
existir. Não podemos ter a crise financeira
como desculpa para práticas empresariais
que não consideramos éticas.
Cx: Tem afirmado várias vezes que a crise
gera oportunidades...
J.S.: A crise é prejudicial para grande parte
da sociedade e cria um problema sério de
desemprego, de poder de compra e de falta
de circulação de dinheiro, que acho grave.
No entanto, para as empresas jovens, com
serviços ou produtos de valor verdadeiro,
pode abrir novas portas, que não abriria
noutras épocas. O empreendedorismo só
pode ser uma forma de ultrapassar a crise
se ele acrescentar valor. Já a criatividade,
em todos os setores, é, nesta fase de crise
financeira, uma palavra bem mais relevante.
Cx: O conselho que daria a quem está agora
a entrar no mercado de trabalho ou a quem
procura novas soluções seria…
J.S.: Trabalhem em algo que vos apaixone e
não porque achem que poderá dar dinheiro.
Trabalhem com quem partilhe essa paixão,
e giram essa paixão com o maior respeito e
ética que souberem. Não acredito
na dedicação e luta intensa por uma ideia
ou projeto que não seja uma paixão
grande.
Cx: Entretanto, a vossa força criativa
levou-vos a dar outros dois jumps, que
deram origem a outras duas empresas,
a Uou e a We Came From Mars…
J.S.: A Uou é um projeto de apresentações
para empresas e instituições com uma forte
vertente de coaching, que uniu o design
gráfico aos gestores e especialistas em
marketing empresarial, de modo a oferecer
melhor comunicação às empresas. A We
Came From Mars visa a criação de jogos e
aplicações para smartphones, para oferecer
num mercado global já muito preenchido
algo de novo e inovador.
cx
a re v i s ta d a c a i xa
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t
talento
J o s é X av i e r
No reino dos pinguins
Biólogo marinho, investigador do Instituto do Mar e da
British Antarctic Surve, José Xavier é o mais jovem cientista a receber
o prémio Martha T. Muse para a Ciência e Política na Antártica
Por Helena Estevens Fotografia Anabela Trindade
Movem-no os extremos, a biologia, o planeta que habitamos e que ambiciona ver
tornar-se sustentável, mas foi a Antártica que lhe conquistou o coração. Depois de sete
campanhas científicas à Antártica, a última de nove meses, o bichinho do continente gelado
está mais ativo que nunca.
Entre uma ilha tropical e a Antártica, não chega
a vacilar. «Acho que era sempre a Antártica,
mas depende muito do espírito. Como
português, pensa-se logo na ilha, porque é
com isso que nos identificamos, com o calor,
o verão. A Antártica é exatamente o oposto, e,
se calhar, muitas vezes somos atraídos pelos
opostos.» No caso da Antártica, o fascínio
vem dos icebergues à sua volta, das dezenas
de focas ou milhares de pinguins… Não o
intimida, por isso, a solidão nesta ilha deserta,
caminho de nada, totalmente rodeada pelo
oceano, talvez porque demora tanto tempo a
organizar uma expedição – «dois a três anos,
no meu caso» – que, quando lá se chega, está
tudo de tal forma delineado ao milímetro que
não sobra tempo livre para se pensar em mais
nada. Exceto no Natal, confessa, ou «quando
um amigo envia um mail a dizer “estamos
numa festa altamente, faltas cá tu”. Aí, sim,
sente-se a solidão e tem-se a noção de que há
coisas a acontecer no resto do mundo e que
se está a passar ao lado. Por outro lado,
sentimo-nos muito especiais, porque é um
privilégio. No verão, as focas são à volta de 60
mil, os pinguins aproximadamente 100 a 200
mil. É tudo aos milhares, animais por todo o
lado, e depois tens quatro humanos».
Ir tão longe permite responder a questões que
«têm implicações planetárias, por exemplo,
a questão do degelo, alterações climáticas e
o impacto no meio ambiente, o buraco do
ozono. Depois, há questões específicas, como
é o caso da acidificação dos oceanos, um dos
temas que, se calhar, vai ser tão relevante
como as alterações climáticas ou as correntes
12
cx
a rev i s ta d a ca i xa
oceânicas que afetam todo o planeta. E porque
estamos a trabalhar com os melhores do
mundo, com questões que vão ter implicações
planetárias e são exemplos aos níveis político
e científico, porque estamos a colaborar com
mais de 40 países. A nível político, é muito
interessante, porque temos cientistas e estamos
a tirar grandes dividendos, em organizações
internacionais, estamos a dar voz a Portugal
sobre temas tão pertinentes.
Na Península Antártica, uma das partes do
planeta que mais tem aquecido e onde os
animais estão a lidar com mais stress, estuda
pinguins, focas e albatrozes, tentando perceber
se serão ou não capazes de se adaptar às
alterações climáticas, dadas as implicações
na gestão e conservação de recursos ou
nas pescas, por exemplo. «Já que Portugal
tem uma estratégia virada para o mar, é
fundamental equacionarmos isto, porque
estamos longe mas as implicações são muito
diretas.»
A dedicação à ciência e à Antártica já
deu frutos. «Para ganhar o Martha T. Muse
[prémio internacional], fui nomeado pela
comunidade internacional, que reconheceu
estar perante um caso de excelência, a fazer
ciência de excelência, que ajudou a pôr
Portugal no mapa, o que era impensável
há alguns anos. Portugal está numa fase de
transição e até crucial a nível científico. Temos
um conceito novo de cientista, uma geração
nova que, além de fazer ciência, tem a seu
cargo uma parte educacional, está envolvida
a nível político, no sentido de ter um papel
Print
Novos cientistas
polares
No âmbito do Programa Caixa
Carbono Zero (ver pág. 34), a
Caixa estabeleceu uma parceria
com o Comité Português para
o Ano Polar Internacional,
que decorreu entre 2007 e
2008. Daí resultou o Programa
Nova Geração de Cientistas
Polares, que atribui bolsas de
investigação a jovens cujos
estudos incidam sobre a
Antártida, versando temáticas
relacionadas com o problema
das alterações climáticas.
As bolsas atribuídas permitiram
a integração destes cientistas
nos trabalhos desenvolvidos
por equipas de investigação
portuguesas no âmbito dos
grandes projetos de ciência
polar internacional. O apoio da
Caixa continua, com mais duas
bolsas a decorrer em 2012.
ativo em sugestões do que pode ser feito, ter
contacto e abertura para falar com os media.
Deveríamos ser sempre inovadores e melhorar
sempre. Percebermos onde é que somos bons,
quem é mesmo bom e para onde queremos
ir. A comunidade da ciência polar funciona
muito bem a todos estes níveis e é reconhecida
internacionalmente, podendo ser usada
como exemplo, tal como outras organizações,
como o Instituto do Mar (Coimbra), o Centro
de Ciências do Mar (Algarve) ou o Centro
de Estudos Geográficos da Universidade
de Lisboa, que funcionam também bem.
Conquistar os jovens para a ciência é fácil:
temos de fazê-los perceber que eu e os outros
cientistas não somos diferentes deles. Por
isso, há que falar como eles. Há que passar a
mensagem de que se gosta e se é entusiasmado
pelo que se faz e por aquilo de que se fala.
Também precisamos de criar role models. Tal
como há o Cristiano Ronaldo para o futebol,
dever-se-ia realçar o trabalho desenvolvido por
Egas Moniz na medicina, etc.»
cx
a rev i s ta d a ca i xa
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t
talento
r i ta f o r t u n at o b a p t i s ta
Do verbo ajudar
Para dar a palavra aos que escutam o que a sociedade tem
para dizer, a diretora de formação e comunicação do Instituto
de Empreendedorismo Social conjuga a mudança na primeira pessoa do plural
Por Ana Rita Lúcio Fotografia Gualter Fatia
Quando não está a tentar mudar o mundo, um empreendedor de cada vez ou a
dividir-se por entre o «triângulo» orientador dos seus dias, onde cabem «a comunicação, a
sustentabilidade e o desenvolvimento humano», Rita Fortunato Baptista gosta de se dedicar
aos trabalhos manuais. Como quem cola a habilidade com o hábito de tomar a vida nas mãos
– porque quando acredita numa coisa, tem de «fazer acontecer». Curiosamente, é pelo pés
– ou por um par de botas amarelas, mais concretamente – que se remata mais de uma hora
de entrevista, onde, a propósito do empreendedorismo social, se conversou sobre caridade,
lucro, financiamento, liderança, criação de valor, mobilização, (in)dependência, trabalho em
rede e muito de associações, empresas e projetos, mas essencialmente de pessoas. E porquê
começar pelo fim para resumir o perfil de alguém que só se entende a «ajudar o outro»?
Porque falar desta fabricante de empreendedores é falar de tudo isto. E mais um par de botas.
Há quem diga que, para compreendermos
realmente o que alguém é ou o que faz,
devemos colocar-nos nos sapatos dessa pessoa.
Talvez sem o saber, a Rita Fortunato Baptista
não podia assentar melhor esta metáfora.
Enquanto nos dá conta de cada um elementos
que cabem no escritório do Instituto de
Empreendedorismo Social (IES), a diretora
de formação e comunicação pega num par
de botas amarelas, arrumadas numa estante,
no ponto mais central da sala. E com elas,
puxa o fio à meada de um caminho onde os
rumos pessoal e profissional se cruzam. «Nos
bootcamps tradicionais», começa por explicar,
«o símbolo costuma ser um par de botas da
tropa. Mas para os bootcamps [programas
intensivos de formação em empreendedorismo
social] do IES, que não têm uma componente
física, mas sim criativa, tínhamos de encontrar
uma solução mais arrojada.» Então, para dar
lastro ao «pensamento out of the box» que
caracteriza este tipo de eventos, Rita não
hesitou em resgatar o velho par de botas
amarelas ao fundo do armário lá de casa.
E agora, a cada nova iniciativa, lá estão as botas
a fazer-se à estrada. O resto é história. A dela
e a dos outros.
Precisamente, porque nunca gostou de estar
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a rev i s ta d a ca i xa
parada e porque conhece a importância de
uma boa rede de apoio, a também formadora
e consultora cedo aprendeu com a família
«a importância de fazer com os outros, de
provocar mudança e impacto e ajudar o outro
a provocar esse mesmo impacto», algo que
sempre lhe foi tão «natural» como respirar.
Inspirada pela vontade de ir mais longe para
fazer a diferença, a primeira barreira que ousou
tentar quebrar foi a da injustiça social, ainda
carregava nas costas o peso… da mala da
escola. Revoltada com «a divisão que se fazia
logo à partida entre as turmas dos bons alunos
e as dos repetentes», quis «chegar a essas
pessoas e quebrar essas linhas». E, acima de
tudo, «encontrar soluções para aquilo que não
estava bem», como quando, com apenas oito
anos, criou com um grupo de amigas, na cave
da sua casa, a Associação de Defesa da Lagoa
de Óbidos.
Para não fugir à regra, foi por querer «dar voz
às questões da sociedade» que se apaixonou
pelo Jornalismo. Mas antes de escutar o que a
sociedade tinha para lhe dizer no semanário
Expresso e em algumas rádios, não esperou pela
chamada providencial do destino e, ainda não
terminara o 12.º ano, tratou de conquistar a
Print
Negócios
com alma
Conheça o empreendedorismo
que põe a tónica na sociedade.
Seja individualmente, ou
através de uma empresa ou
associação, empreendedor
social é aquele que «usa as
forças do empreendedorismo
normal, identificando um
problema na sociedade
que tem de ser resolvido e
agindo sobre ele», esclarece a
dirigente. A preocupação com
o lucro dá lugar à preocupação
com a sustentabilidade,
visando a «maximização do
impacto social». Porém, não se
confunda empreendedorismo
social com caridade: «se
alguém tem frio, é importante
dar-lhe uma manta, mas ainda
mais é ter um negócio que
permita que a pessoa nunca
mais precise de mantas».
oportunidade de ter as suas próprias rubricas
no Jornal e na Rádio das Caldas.
Algures por entre um percurso que é tudo
menos «linear» e até bastante «caórdico» –
uma espécie de caos organizado. Depois de ter
cruzado o Atlântico para estudar nos Estados
Unidos, de ter vogado pela América Latina
como diretora regional da AISEC (a maior
organização mundial gerida por estudantes)
e de as fileiras na área de Sustentabilidade do
banco internacional ABN a terem conduzido
de volta à Europa – sem deixar de vir a
Portugal como dirigente da ACAF (Associação
das Comunidades Auto-Financiadas) e como
consultora –, as «estrelas alinharam-se» para a
fazer chegar ao IES. Lá, onde agora se esforça
por fazer «brilhar» os futuros empreendedores
sociais. Quando lhe perguntamos se o perfil de
empreendedora não se lhe cola também à pele,
é a vez de se colocar de novo nos sapatos, mas
dos outros. «Para mim, o que é enriquecedor
é motivar 30 outras pessoas a criarem elas
próprias valor».
Cartão Caixa Fã Ao utilizar o cartão Caixa Fã, a Caixa contribui com uma percentagem do valor das suas compras para o Fundo Caixa Fã, que apoia diversos
projetos sociais. O cartão Caixa Fã é mais do que um meio de pagamento e o seu contributo é mais do que um apoio: é um investimento em projetos com
retorno social. Saiba mais em www.cgd.pt.
d
design & arquitetura
DRY DRILl
Solta a bike que há em ti
Pode a bicicleta ser um acessório de moda? Olhando para o que se passa lá por fora,
Henrique Pinho ficou com a certeza de que sim. E não tardou em aventurar-se num projeto
assente em duas rodas, onde personalizar é a palavra de ordem
Por Pedro Guilherme Lopes Fotografia Bruno Barbosa
De dez em dez anos, Henrique Pinho
traça novos objetivos de vida. E foi assim que,
há menos de um ano, procurou definir uma
estratégia para a próxima década. «Neste caso,
o objetivo era conseguir definir o que fazer
para elevar a fasquia, depois de ter trabalho
numa área que me realizou», explica. «E
esse objetivo teria que me permitir manter
o equilíbrio e fazer-me sentir que estou a
contribuir para a melhoria do País, até porque
sou de opinião de que, se todos fizermos um
bocadinho, a coisa vai lá.»
A moda, a mecânica e o risco
A área que o havia realizado era a da moda,
diretamente ligado a conceituadas marcas
de vestuário. Arquiteto de formação, foi
com essa visão de cultura urbana que partiu
para a Dry Drill, marca que acaba por fundir
os dois universos: o da moda (dry remete
para os jeans) e o das bicicletas (drill remete
para a parte mecânica). «Este é, claramente,
um produto dirigido a um público urbano.
Normalmente, quem mais procura este tipo de
produto são pessoas ligadas às artes, ao design,
à arquitetura, à imagem, ao multimédia, à
moda, à fotografia… São pessoas que acabam
por estar mais atualizadas relativamente ao que
se faz lá por fora», afirma Henrique.
E foi, precisamente, lá por fora que a sua
atenção despertou neste sentido. Em cidades
como Berlim, Milão ou Madrid, viu como as
bicicletas eram muito mais do que um meio
de transporte, antes um acessório totalmente
identificado com a pessoa que o utilizava.
E percebeu que aquela era uma verdadeira
indústria e um mercado que, embora com
vários players, apresentava enorme margem
de crescimento. «Olhando para o mercado
nacional e pensando em algo que me fosse
dar prazer, a ideia passou, então, por criar
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cx
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um produto diferenciador, onde a grande
mais-valia, além da qualidade, fosse a
personalização», recorda o empresário.
Encontrando na Órbita e na Sangal os
parceiros ideais, a Dry Drill adotou o claim «be
your bike» e lançou-se à conquista do mundo
como uma empresa que produz e vende dois
elementos da estrutura da bicicleta: os quadros
e as rodas (os restantes elementos estão à
disposição, feitos por várias marcas espalhadas
pelo mundo). A grande diferença, além do
selo made in Portugal, é a possibilidade de
personalizar estas peças, manufaturadas, com
as mais variadas cores (a pintura só é feita
após a encomenda e, por curiosidade, diga-se
que a cor mais vendida é o cor-de-rosa e que
os homens são claros adeptos do branco e do
preto) e dentro de um determinado estilo:
urban, vintage e relax. Depois, num prazo que
pode ir até 15 dias, o cliente recebe em casa
a sua Dry Drill pronta a montar com todo o
carinho. «Tenho consciência de que o facto
de não vendermos a bicicleta montada é um
obstáculo, mas é esse o conceito pensado para
a marca», explica Henrique Pinho. «Isso ajuda
a explicar que a maioria dos compradores
sejam muito ponderados e não adquiram o
modelo numa primeira visita, embora também
exista quem chegue, encomende e só envie um
e-mail a confirmar o prazo de entrega.»
Não colocando de parte a possibilidade
de se aliar a um investidor, caso sinta
necessidade de fazer crescer a marca,
Henrique assume que, nos tempos mais
próximos, continuará a ser ele o único dono
da Dry Drill. «Decidi trabalhar sozinho,
primeiro porque, para lá do plano traçado,
tudo isto é uma incógnita; o público é que
nos dirá se vai funcionar ou não. Até lá,
temos de ter as coisas muito bem controladas
e, embora tenha elaborado um plano de
o mentor Henrique Pinho
gere sozinho a sua Dry Drill,
um projeto pensado para
a próxima década
pormenores A ideia passa
por criar bicicletas à imagem
de quem as usa. As cores rosa,
branco e preto são as mais
solicitadas
Print
O que aí vem
A bicicleta é apenas
o princípio.
Nesta estratégia de
personalização, com o objetivo
de transformar a bicicleta
num verdadeiro acessório,
o próximo passo passará por
completar a oferta com os itens
que as pessoas que andam
de bike utilizam
no seu dia a dia. As
recém-lançadas calças de
ganga, perfeitas para andar
sobre as duas rodas, são
um exemplo do caminho a
percorrer, a que se juntarão
camisas, t-shirts ou calçado,
entre várias outras propostas.
«Senti que me iria dar um
enorme prazer criar uma marca
minha e, agora, é estender o
leque de produtos de forma a
existir crosselling. Sempre tudo
feito em Portugal, claro.»
marketing exaustivo para preparar esta
aventura, esse plano é diariamente revisto.
Acaba por ser um processo de aprendizagem
constante e diária para quem está a trabalhar
on-line.» E nem o fator crise o assusta. Assume
que as condições para ser empreendedor
são complicadas, pela dificuldade em obter
financiamento e pela burocracia que envolve
as condições fiscais e legais. «Agora, se 95%
do tecido empresarial são as PME, então tem
de ser aí que está a resolução do problema»,
defende. «O empreendedorismo é uma
palavra bonita, com conceitos bonitos, para
tentar levar as pessoas a fazer algo, mas de
nada vale se as pessoas não arriscarem. Veja-se o caso do Angry Birds. A empresa que o fez
teve mais de 50 fracassos e oito anos a tentar,
antes de lançar este jogo e de passar a faturar
milhões. É fundamental que se perceba que,
salvo raras exceções, as coisas não acontecem
de um dia para o outro.»
Conheça o Cartão Design da Caixa, nas versões pré-pago e de crédito (1), exclusivo para estudantes e profissionais do design. Ao utilizar este cartão
de crédito, contribui para a sua poupança, através da devolução de até 1% do valor efetuado em compras, a partir de um montante de 100 euros, com o limite
máximo de 50 euros mensais. Saiba todas as condições em www.cgd.pt.
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TAEG de 25,5%, para um montante de 1500 euros, com reembolso a 12 meses, à TAN de 22,50%.
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17
d
design & arquitetura
Trienal de Arquitetura de Lisboa 2013
Entre casas e cientistas
Será um evento interdisciplinar em que se conjugam
os saberes de arquitetos, homens da ciência e artistas
Entre setembro de 2012 e dezembro
de 2014, e com o apoio da Caixa, a capital
portuguesa será inundada de uma nova
forma de encarar a arquitetura, que, segundo
Beatrice Galilee, não se prende apenas com
a construção de casas. Cientistas e artistas
serão integrados no programa da Trienal
de Arquitetura de Lisboa e a curadora geral
do evento há muito que se prepara para o
dia em que verá mais uma das suas apostas
chegar aos olhos do público.
Cx: Licenciou-se em Arquitetura, na
Universidade de Bath, e em História
da Arquitetura, na Bartlett School of
Architecture. De onde remonta a paixão por
esta disciplina?
Beatrice Galilee: O meu pai é professor de
matemática e de física, a minha mãe é artista
e, também, autora publicada. Assim, desde
nova, acho que tive as influências necessárias
para ser arquiteta – por um lado, o rigor
académico e científico, e uma consciência
cultural, criativa e entusiasmo, por outro.
O meu interesse em arquitetura sempre se
baseou no entendimento de que esta significa
mais do que apenas um processo de design,
mas que tem um múltiplo significado,
diversas interpretações e variados autores.
Isto foi algo que me levou de vê-la como uma
disciplina a tornar-me jornalista e a pensar e
a escrever sobre arquitetura contemporânea.
Cx: A Beatrice foi a vencedora de um concurso
internacional levado a cabo pela Trienal de
Arquitetura de Lisboa, que procurava um
comissário geral para a sua terceira edição,
em 2013. Qual foi a abordagem ou ponto de
vista que a levou a ser a escolhida?
B.G.: Havia trabalhado como curadora em
duas bienais internacionais, na China e na
Coreia, e tinha também dado início ao meu
projeto, em Londres, por isso, senti que tinha
uma ideia muito clara daquilo que queria
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a re v i s ta d a c a i xa
fazer como curadora geral. Como jornalista,
visitei diversas bienais, por isso, estou alerta
para os sucessos, erros e clichés dos outros
eventos. A minha candidatura para criar
a Trienal em Lisboa, num conceito que
mostraria outras arquiteturas, foi motivada
pelo desejo de criar este acontecimento,
mais do que ganhar. Isso tornou-a muito
convincente.
Cx: O seu trabalho começou dois anos antes
do início do evento. Como está a correr
o processo de preparação?
B.G.: Estamos a trabalhar muito... A equipa
da curadoria está toda escolhida, estamos
a trabalhar nas exposições e a colaborar de
perto com a equipa de design gráfico para
criar uma forte identidade. Já planeámos
diversas publicações digitais prévias à Trienal
para definir o tom e colocar cá fora algumas
das nossas ideias mais complexas, que
formam a base do conceito curatorial.
Cx: Qual é o principal desafio desta Trienal?
B.G.: Temos ideias fantásticas, assim como
grandes, importantes e ambiciosos projetos
e muitos indivíduos talentosos, apaixonados
e dedicados na equipa. Temos o apoio da
cidade, que nos está a ajudar em muitos
aspetos, e dos meios de comunicação
internacionais. Mas estamos a trabalhar em
Portugal, num clima económico muito difícil,
e precisamos de mais ajuda. Espero que
consigamos encontrá-la!
A Trienal de 2013
apresenta uma
nova abordagem
de arquitetura
Cx: E qual é o seu principal objetivo?
B.G.: Não quero criar um evento que reflita
os sucessos anteriores dos arquitetos. Quero,
sim, que a Trienal funcione de uma maneira
diferente e que suporte os futuros sucessos de
jovens arquitetos. O clima de produção nesta
área está a mudar e os jovens profissionais
– muitas vezes parte dos desempregados
– devem adaptar a disciplina às novas
circunstâncias e abrir os olhos a novas
possibilidades. Ao exibir o trabalho de
cientistas e futurologistas, bem como
de artistas, coreógrafos, políticos e
instituições civis, espero que se abra
a discussão em torno da disciplina da
arquitetura e que se perceba a ideia de
que o arquiteto pode ser um praticante
espacial e não, simplesmente, alguém
que desenha casas ou escritórios para
um cliente.
Cx: De que forma a Trienal abre o
debate não apenas a arquitetos, mas,
também, a artistas, designers e
cientistas?
B. G.: Mesmo durante uma
conferência, as discussões mais
interessantes acontecem durante
o coffee break, por isso, tenho
consciência de que o impacto
e o debate provavelmente
ocorrem fora das paredes
da exposição. No entanto, o
que estamos a tentar fazer é
apresentar uma tese forte, que
possa ser compreendida nas três
exposições, nas várias atividades
públicas e nos eventos. Estamos
a trabalhar ativamente com outras
disciplinas. Uma exposição vai
incluir o trabalho de cientistas de
laboratório e o curador Liam Young
trabalhará de perto com eles e alguns
designers para desenvolver as suas
Foto: D.R.
Por Catarina Vilar
Print
Com a
arquitetura
na alma
Não é a primeira vez que
ocupa o cargo de curadora
e este é um papel que lhe
assenta bem.
Beatrice Galilee vive em
Londres, é crítica, escritora
e professora de arquitetura.
Nasceu em 1982 e possui
um currículo de luxo, onde se
inclui a função de curadora
geral da Trienal de Arquitetura
de Lisboa 2013, a decorrer
entre setembro de 2012 e
dezembro de 2014. Entre os
diversos edifícios lisboetas,
destaca aquele que serve
de sede à Trienal, no Campo
de Santa Clara, por ser a sua
casa espiritual, emocional
e profissional. Antes de se
especializar em arquitetura,
escreveu para revistas de
moda e de música. Gosta
de quebrar padrões e,
assim, constrói uma
obra de destaque.
Entre as suas curadorias,
já ocupou cargos de
relevo, nomeadamente na
revista Icon, como editora
de arquitetura, e recebeu,
em 2008, o prémio IBP
Architectural Journalist
of the Year Award.
ideias. Normalmente, demora
mais de 20 anos para um produto
ser desenvolvido dentro de um
laboratório, até chegar ao grande
público. Assim, trabalhando com esta
investigação de ponta, damos uma
plataforma à ciência que geralmente não
se vê. Noutra exposição, vamos convidar
artistas, atores, coreógrafos e encenadores
para criarem atmosferas específicas.
Também vamos oferecer pequenas
bolsas para serem aplicadas em equipas
interdisciplinares.
Cx: E de que forma esta Trienal promove a
arquitetura portuguesa?
B.G.: Devido à crise financeira e à elevada
taxa de desemprego entre os jovens,
tomámos uma decisão consciente de apoiar
o trabalho de jovens arquitetos portugueses
nesta edição. Haverá um programa de bolsas
disponíveis para ideias de projetos cívicos,
assim como a estreia do prémio Debut,
que irá reconhecer o talento dos jovens
arquitetos.
Cx: Como pensam atrair não só profissionais,
mas também outro público menos
especializado?
B.G.: As nossas exposições lidam com
questões universais, que vão desde as
políticas da cidade até ao seu futuro. Também
estamos a desenhar experiências para que
uma das exposições inclua um complexo
com restaurante, bar e hotel e, possivelmente,
uma piscina! Assim, estamos a estender ao
domínio público, bem como a trabalhar em
temas que são fundamentais à vida da cidade.
Cx: O que podemos esperar entre setembro de
2012 e dezembro de 2014?
B.G.: Vão ser surpreendidos sobre aquilo que
a arquitetura pode ser. A forma de trabalhar
em termos espaciais pode ser política e
dinâmica, excitante e desafiante em termos
de pensamento. Haverá locais muito especiais
em Lisboa, palácios antigos e novos edifícios
que acolherão eventos e exposições. Se quiser
ver uma exposição sobre belas casas, luz e
espaço, terá de esperar pela próxima edição
da Trienal!
Cx: Sente que a arquitetura encontrou uma
nova linguagem no mundo contemporâneo?
B.G.: Tem sido uma longa jornada desde
o modernismo. O papel da arquitetura na
sociedade tem sido em fluxo durante algum
tempo, desde ser a maior das artes até se
transformar numa profissão tão admirada
como a de um médico. Eu acho que há uma
desvalorização maciça e uma subutilização
do arquiteto na sociedade de hoje, tanto
causado pela profissão como pela falta de
compreensão do público. A produção de
arquitetura é possível sem um arquiteto.
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d
design & arquitetura
Á g u a d e p r ata
Coisas cheias de graça
De uma pequena aldeia alentejana para o mundo,
ou a história de um ex-jornalista que descobriu que o futuro
se constrói com lã, madeira, ferro e qualquer coisa mais
Por Pedro Guilherme Lopes (texto e fotografia)
O sol brilha bem alto, iluminando a
planície e assumindo ser aquele um dia de
verão antecipado. Chegamos a Graça do Divor,
uma pequena aldeia alentejana localizada entre
Arraiolos e Évora, mas é já fora da dita aldeia
que encontraremos João Bruno Videira. No
monte onde está edificada a Igreja de Nossa
Senhora, este ex-jornalista da RTP construiu
aquele que é, hoje, o atelier da Água de Prata,
uma marca que aposta no design de mobiliário
onde a lã de Arraiolos é traço comum.
Passado, presente, futuro
O que terá levado, então, este homem da
comunicação a tornar-se num artesão? «Eu
era jornalista de televisão, continuei ligado
à área da comunicação, através de uma
produtora de vídeo, após ter saído da RTP,
mas, a determinada altura, estava sem trabalho
e, enquanto procurava algo dentro da minha
área, ia-me entretendo a arranjar diversas
coisas aqui em casa, até porque o processo de
preparar um espaço ao nosso gosto implica
trabalho», explica João Bruno.
Um dia, por brincadeira, um amigo deu-lhe
uma cadeira velha para as mãos e ele resolveu
transformá-la com as lãs. «A minha mãe fazia
tapetes de Arraiolos e eu tinha essa ligação
com as lãs já de criança. E, quando terminei a
peça, percebi que podia ser por ali o caminho a
seguir», recorda o artesão, que sempre mostrou
alguma capacidade para trabalhar com as
mãos. A partir desse momento, já lá vão seis
anos, João começou a transformar tudo o que
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a re v i s ta d a c a i xa
tinha à mão, não só para se ir aperfeiçoando,
mas para ter direito à carta de artesão e, com
isso, poder recorrer ao microcrédito. Ao fim de
um ano, apresentou-se ao público.
Hoje, esse público, bastante heterogéneo, faz
questão de vir conhecer este refúgio de onde
saem, para Portugal e para o mundo, os bancos
Arraiolos, as cadeiras Graça (integralmente
Print
No reaproveitar
está o ganho
Aqui, o material usado
ganha nova vida.
Foi com uma cadeira usada
que tudo começou. E a
verdade é que, hoje, muito
do trabalho com a marca
Água de Prata continua a ter
o reaproveitamento como
palavra chave. «Existem
peças desenhadas por mim
e criadas de raiz, em que
mando fazer as estruturas,
em madeira ou em metal,
sobre as quais eu depois
trabalho. Mas há muito
trabalho feito através de
reaproveitamento, seja de
estruturas velhas de
cadeiras, seja da utilização
de pneus usados para
fazer a base dos puffs,
seja a reutilização de esponjas
velhas e outros materiais
recicláveis, associados a
desperdícios de lã para fazer
as Rochas e as Pedras», conta
João Bruno Videira, orgulhoso
pelo facto de as peças que
cria serem sempre diferentes,
tanto nos padrões como nas
dimensões.
revestidas à mão com lã de Arraiolos), bancos
porta-revistas chamados Diana ou as Rochas e
as Pedras de Lã, puffs que se juntam aos outros e
que têm como base pneus reciclados. «Grande
parte das encomendas nasce assim», explica.
«As pessoas visitam o atelier, conhecem-me,
explicam que tipo de peças gostavam de ter,
mostram fotografias do espaço ou eu vou
conhecer pessoalmente o espaço… No fundo,
estabelece-se uma relação de proximidade
com o cliente que, penso, permite a melhor
qualidade do produto final.»
E é, precisamente, até ao final deste
ano que João Bruno Videira quer, pela
primeira vez, apresentar a Água de Prata
numa exposição em nome próprio.
automóveis
ampera
Bem-vindo ao futuro
Ao volante do novo Opel Ampera, um automóvel elétrico
com o extensor de autonomia há muito aguardado
Por Bernardo Gonzalez
O Opel Ampera é, juntamente com o seu
«primo» Chevrolet Volt, um dos mais aguardados
modelos da primeira geração de carros elétricos
a chegar ao mercado. Tão só, porque concentra
o melhor de dois mundos. É um elétrico no
sentido de ser movido somente por força das suas
baterias, mas tem a autonomia de um automóvel
tradicional, graças àquilo que a marca chama de
«extensor de autonomia». Esta nomenclatura
traduz-se, basicamente, num motor de combustão
de 1,4 litros, que serve de gerador, apenas para
garantir uma carga mínima às baterias quando
estas esgotam a sua carga. Deste modo, mesmo
com um depósito de apenas 35 litros, a autonomia
do Ampera supera os 500 km. A ideia é andar o
mais possível em modo elétrico. Recarregando em
cerca de quatro horas numa tomada doméstica, fica
com uma autonomia em modo elétrico de cerca
de 60 km. Quem, de facto, apenas fizer percursos
diários que rondem os 50 km e, ao final do dia,
ligar o Ampera à corrente, praticamente, não
precisará de recorrer ao motor a gasolina.
Para arrancar, basta aliviar o travão e o Ampera
evolui paulatinamente e basta um ligeiro aconchego
do pé direito para se sentir uma aceleração firme,
22
cx
a rev i s ta d a ca i xa
mérito do binário constante (370 N.m) do seu
motor elétrico de 111 kW (150 cv). O seletor de
transmissão tem as posições D (Drive) e L (Low),
sendo este último mais propício ao efeito
travão-motor, ajudando marginalmente na
recuperação de mais alguma energia quando
tiramos o pé do acelerador. Se a direção é bastante
direta, embora desprovida de tato, a travagem tem
também um feeling artificial, devido ao programa
de regeneração da força de travagem. Mas, em
geral, tem um comportamento bastante normal e
estável, mesmo para um carro do seu peso – mais
de 1700 kg. Mas onde o Ampera entusiasma é
mesmo na eficiência motriz. O sistema de controlo
da condução vai-nos indicando, por meio de uma
bolha, se estamos a abusar do acelerador ou das
travagens. Tudo em prol de uma maior eficiência. E,
nessa matéria, provámos o nosso talento, pois, com
autonomia prevista de, pelo menos, 60 quilómetros,
as equipas portuguesas ocuparam os dois primeiros
lugares num teste de autonomia de entre toda a
imprensa europeia, alcançando entre os 80 e os 90
quilómetros sem emitir um grama de CO2. Uma
distância que até deixou os técnicos da marca alemã
surpreendidos.
Cartão Caixadrive
O cartão Caixadrive(1)
oferece-lhe descontos
nas estações de serviço
da Repsol. Beneficie de
descontos de 3%, com o
limite máximo de 20 euros
mensais, em todas as
compras e abastecimentos
efetuados com o seu cartão
Caixadrive nas estações
de serviço da Repsol, em
Portugal.
Sempre que realizar
compras com o cartão
Caixadrive fora das
estações de serviço
da Repsol, num valor
total superior a 250
euros, beneficie de
mais 3% de reembolso
suplementar, com um
limite máximo de 3 euros
mensais de desconto, para
que as suas compras e
abastecimentos tenham
ainda mais desconto.
Reforçando o conceito de
mobilidade associado a
este cartão, os titulares
do Caixadrive beneficiam,
ainda, de um pacote
de seguros associado,
especialmente dirigido para
quem viaja com frequência,
assim como de vantagens
e benefícios dos parceiros
da Caixa associados a este
cartão de crédito.
(1)
TAEG de 24,7%, para um
montante de 1500 euros,
com reembolso a 12 meses,
à TAN de 22,50%.
Fotos: D. R.
a
c
culto
Wedge cross
sandal
É o verão, é o verão
O Monogram Vernis é a estrela das wedges Louis
Vuitton dedicadas ao verão 2012. Existem em
vermelho, azul e amarelo e são uma das peças-estrela
da coleção Louis Vuitton Summer, que também inclui
pulseiras, anéis, colares, cintos, óculos e lenços.
Astrologie
nouvelle
Um lenço intemporal
Design original de Françoise Faconnet
e reinterpretação de Cyrille Diatkine
para um carré Hermès de twill de seda,
inspirado numa tabela astrológica do
Renascimento, um engenhoso sistema
que indica os passos do Sol e da Lua. Parte
das receitas da sua venda destina-se às
Bibliotecas sem Fronteiras, uma ONG que
ajuda a criar bibliotecas em todo o mundo,
promovendo o acesso à informação e ao
conhecimento.
Lollipop
Cozinha na mão
O material geralmente utilizado no chão
da cozinha – sobras de pavimentos em
linóleo – ganha uma vida nova. Ao ombro,
nas novas Tela Bags Lollipop. A marca,
100% portuguesa, oferece aos titulares
dos cartões CGD 20% de desconto na
nova coleção da loja on-line, através da
introdução do código «CLIENTE CGD».
Saiba quais em www.vantagenscaixa.pt.
Culte moto sfumato
Ver retro
l’eau d’issey
pour homme sport
Olá fresquinho
Estreia de Issey Miyake na
variante Sport, tendência que se
mantém em alta nesta estação.
O eterno L’Eau d’Issey Pour
Homme, lançado há mais de dez
anos, ganha frescura e energia
numa opção incontornável,
oferecida num frasco desportivo
desenhado por Renato
Montagner, o italiano que, entre
outras coisas, é diretor criativo
das coleções e dos projetos
especiais Pirelli PZero.
Apresentados, em simultâneo, com a estreia
da 3.ª Miu Miu Women’s Tale, os Miu Miu Culte
Sunglasses são a segunda capsule collection da
marca que representa a «outra» alma de Miuccia
Prada. As formas arrojadas feitas apenas a partir de
uma lâmina de alumínio tornam os Culte Sunglasses
uma peça única dentro do seu género. Vendem-se
na André Opticas, que oferece 15% de desconto em
óculos de sol aos Clientes com cartões CGD.
Limbo
Negro & branco
Da coleção Black on White, da
Nanimarquina, um tapete feito
à mão, com lã da Nova Zelândia.
Bóbi não incluído. Os Clientes
titulares dos cartões CGD têm
15% de desconto na aquisição
em www.loja.inexistencia.com,
apresentando o código
«825371934». Não acumulável
com outras promoções.
Usufrua das vantagens que o cartão de crédito Caixa Gold (1) proporciona. Além de poder aderir à função de arredondamento e poupar sempre que
o utiliza em compras, este cartão tem associado um programa de pontos para obtenção de descontos nas agências de viagens da Tagus, benefícios em vários
parceiros e um completo pacote de seguros. Saiba mais em www.cgd.pt.
(1)
TAEG de 27,50%, para um montante de 2500 euros, com reembolso a 12 meses, à TAN de 21,00%.
cx
a re v i s ta d a c a i xa
23
g
gourmet
Prenúncio
do Norte
O sabor que a terra dá.
b e lc a n t o
Olha quem
canta agora!
Escutando de perto as melodias que sobem a
rua – brotando do São Carlos, quase paredes
meias –, naquele lugar onde há mais de meio
século se orquestram sabores e ao qual se
deu um nome com encanto pela ópera, há
muito que a toada das palmas convivia com
a harmonia de talheres, pratos e panelas.
Agora que as mãos que regem o histórico
Belcanto são outras, porém, o aplauso
continua a fazer-se escutar e degustar,
quando o que entra em cena são as iguarias
de José Avillez. Encenador de um novo
enredo para este restaurante, estreado no
início do ano, o premiado chefe português
fez mudar o cenário, onde já não pesam as
cortinas e os veludos, a alcatifa e os cristais
de outrora que cederam lugar à decoração
da dupla Ana Anahory e Felipa Almeida.
Belcanto
Morada
Largo de São Carlos, 10, Lisboa
Telefone
213 420 607
Horário
Das 12h30 às 15 horas e das 19h30 às 23 horas.
Encerra aos domingos e às segundas-feiras
Sempre com a criatividade
na lista de ingredientes,
Pedro Moreira Nunes, alfa
e ómega do São Gião,
tem por hábito começar
por inventar o nome
das suas criações, para
só depois se entregar
à experimentação no
prato. O facto é que não
faltam predicados a esta
cozinha de autor puxada
a norte, onde o gosto da
terra se deixa polvinhar
pelo cunho pessoal de um
chefe que fez da sua casa
um ponto de paragem
obrigatória no roteiro de
paladares portugueses.
Com a arte dos petiscos
como ponto de partida,
torna-se incontornável
o fumeiro, de onde saem
não só os enchidos mas
pratos completos, como
o peito de pato fumado.
Num menu que se molda
ao sabor de cada dia, é
impossível fugir à raia
com manteiga negra, à
açorda no pão ou ao capão
assado no forno, sem
deixar de olhar à deliciosa
paisagem que espreita.
E se na lista protagonistas deste ato
de lirismo à mesa continuam a figurar
verdadeiros clássicos da casa, como os ovos à
professor e o strogonoff à Belcanto, este palco
do gosto vê agora entrar estrelas da cozinha
de Avillez, como a horta da galinha dos ovos
de ouro (ovo, pão crocante e cogumelos),
o mergulho no mar (robalo com algas e
bivalves) ou o novíssimo Bosque Depois
da Caça, representado por um cremoso de
perdiz, perdiz em escabeche e legumes. A
rematar, a virtuosa garrafeira, onde se destaca
o tinto Paisagens, fruto de um dueto entre o
próprio Avillez e o enólogo José Bento. De
provar e aplaudir por mais. A.R.L.
24
cx
a rev i s ta d a ca i xa
São Gião
Morada
Avenida Comendador
Joaquim de Almeida Freitas,
Moreira de Cónegos
Telefone
253 561 853
Horário
Das 12h30 às 15h30 e das
19h30 às 22h30. Encerra
aos domingos à noite e às
segundas-feiras.
Preço médio
€ 35
Fotos: D.R.
Preço médio
€75
p
prazeres
C r e m e d e c h o c o lat e branc o e l i ma
a delícia de...
Leonor de
Sonho de uma noite
de verão
Sousa Bastos
cremosa e exótica
A cada colherada, a boca
preenche-se de uma textura
cremosa, em que a doçura do
chocolate branco e o perfume
exótico da lima permanecem.
Perfeito para aquelas noites
de verão que nos pedem para
sonhar...
Para cerca
de 6 pessoas
> 400 ml de natas
> 100 ml de leite
> 1 lima (casca)
> 160 g de chocolate
branco
> 50 g de açúcar
> 8 gemas
> 1,25 g de sal fino (1/4 de
colher de chá)
Raspa fina de uma lima
e chocolate branco extra
para decorar
Preparar seis taças com cerca de 120 ml de capacidade.
Num tacho, misturar o leite, as natas e a casca de lima (tendo o cuidado
de retirar completamente a parte branca interior) e levar ao lume até que
comece a ferver.
Desligar o lume e deixar repousar.
Cortar o chocolate em pequenos pedaços e derreter em banho-maria ou
no micro-ondas (com uma potência baixa, poucos segundos de cada vez e
mexendo bem a cada intervalo de calor).
Numa taça, bater as gemas com o açúcar e juntar o chocolate derretido,
aos poucos, batendo sempre.
Adicionar a mistura de leite e natas quentes, em fio, continuando a bater.
Retirar as cascas de lima e coar o creme.
Levar novamente ao lume, sem deixar de mexer, até que a mistura
comece a querer ferver.
Retirar do lume, mexendo até arrefecer ligeiramente.
Distribuir o creme pelas taças e refrigerar durante cerca de 1-2 horas ou
até que esteja firme.
Decorar com raspas de chocolate branco, que se fazem raspando o
chocolate com uma faca afiada, e polvilhar com raspa de lima.
Servir fresco.
Nota: Um bom chocolate branco compõe-se, exclusivamente, de manteiga de cacau, derivados
do leite e açúcar, sendo que muitas vezes se adiciona baunilha como aromatizante. Por não conter
cacau na sua composição, o seu sabor não é tão complexo, destacando-se, principalmente, notas de
leite cozido, manteiga e caramelo, a doçura do açúcar e o aroma da baunilha.
Lavradores de
Feitoria Douro
branco 2010
Fresco e de final longo,
é bom parceiro de início
de refeição.
A Lavradores de Feitoria é
um projeto duriense de 15
produtores, proprietários
de 18 quintas distribuídas
por terroirs do Baixo
Corgo, Cima Corgo e
Douro Superior. Recebeu,
este ano, a distinção da
conceituada crítica de
vinhos Jancis Robinson,
pelo seu Lavradores de
Feitoria Douro branco
2010. Foi, aliás, o único
vinho português a integrar
a sua lista de «Grandes
Brancos», um feito, até
porque se trata de um
vinho cujo preço ronda
os 3 euros. Produzido a
partir de uvas das castas
Malvasia Fina, Síria e
Gouveio, apresenta um
aroma intenso, com
notas de flores brancas e
pêssego. Na boca, é muito
fresco e de agradável final
longo e aromático. Servido
entre 10ºC e 12ºC, é boa
companhia para o início de
refeição, na companhia de
pratos de peixe, algumas
massas e queijos leves.
José Miguel Dentinho
Apresenta um
aroma intenso,
com notas de
flores brancas
e pêssego.
cx
a re v i s ta d a c a i xa
25
e
26
cx
entrevista
a re v i s ta d a c a i xa
francisco ferreira
«A falta de estratégia
é o que mais me preocupa»
Nome incontornável quando o assunto se vira para
o ambiente, luta por contrariar aquilo que considera ser um desinvestimento
no futuro e um não saber aproveitar a crise para tornar
esse mesmo futuro mais sustentável a todos os níveis
Por Pedro Guilherme Lopes Fotografia Rui Marto/Estúdio João Cupertino
Francisco Ferreira é um nome que, imediatamente, remete para a Quercus e, por consequência,
para as questões ambientais. As questões que começaram a apaixoná-lo tinha ele dez anos e que o
conduziram ao curso de Engenharia do Ambiente, que, hoje em dia, leciona. Numa altura em que, por
força das conferências Rio +20, que assinalam o Ano Internacional da Energia Sustentável para Todos,
a temática do ambiente volta a dar que falar, o homem que, diariamente, promove as boas práticas nos
programas Minuto Verde e Um Minuto pela Terra traça um diagnóstico cinzento de uma crise que vai
muito além da questão financeira. Mas promete não baixar os braços na procura das melhores soluções,
que, segundo ele, passam muito pela capacidade de implementar uma visão a médio e longo prazos.
Cx: Há pouco tempo, proferiu uma afirmação que fez correr alguma tinta, dizendo que a crise podia ser
a oportunidade para Portugal optar por políticas de desenvolvimento sustentável, mas que o País está a
passar ao lado dessa oportunidade. Pode explicar-nos o que está na base deste seu pensamento?
Francisco Ferreira: O desenvolvimento sustentável é nós deixarmos um país ou um planeta em
termos de disponibilidade de recursos, de uso de recursos, de biodiversidade, melhor para as próximas
gerações. E isto não apenas de um ponto de vista ambiental, mas também de um ponto de vista social
e económico. Estando nós num cenário de crise, que é alimentar, energética, financeira e climática,
aquilo que me parece que fazia mais sentido era nós, face a todas as restrições que estamos a viver, não
nos esquecermos do futuro e fazermos os investimentos necessários para esse mesmo futuro. E porquê?
Porque, nesta conjuntura, estamos a ser obrigados a corrigir várias coisas, nomeadamente a reduzir o
nosso consumo de gasolina e gasóleo, o nosso consumo de eletricidade, de água e de gás, mas falta quem
explique às pessoas a forma de o fazer sem prejudicar a sua qualidade de vida e quem aproveite este
cenário para estimular determinados segmentos de emprego que são fundamentais para a independência
económica do País a longo prazo.
cx
a re v i s ta d a c a i xa
27
e
entrevista
Cx: Tais como…
F.F.: Estou a pensar numa área-chave que é a da eficiência
energética e das energias renováveis.
Cx: Áreas onde foram suspensos os apoios e os incentivos…
F.F.: É verdade. Mas já lá vamos. Completando o que dizia
anteriormente, nós ainda desperdiçamos muito e esta seria uma
excelente altura para mobilizar os portugueses no sentido de
lhes mostrar que, no fundo, aquilo a que eles estão obrigados
a fazer por causa do preço é um benefício que pode ficar. Mas
como não estamos a fazer isso, o nível de frustração é maior e
aquilo que podíamos estar a aproveitar para mudar em termos
de hábitos é conseguido, mas não é rentabilizado. Não estamos
a conseguir dar a volta à crise no sentido de garantir que, quer
à escala das famílias, quer à escala nacional, estamos a fazer um
investimento futuro. E isto leva-nos, então, à área da energia.
Nós acabámos com tudo o que eram benefícios fiscais na área
da energia. Passámos do 80 para o oito, esquecendo que, apesar
de o País estar a passar dificuldades, esses investimentos são
investimentos que geram emprego, são investimentos que nos
tornam mais independentes do exterior em termos energéticos,
que nos permitem diminuir as emissões de CO2… E se perdermos
esta visão de médio e longo prazos, que estamos a perder, não
de olhos no futuro O engenheiro do ambiente
defende que é imprescindível ultrapassar pressões
económicas e fazer planos a 10 ou 20 anos
28
cx
a re v i s ta d a c a i xa
estamos a saber aproveitar a crise para prepararmos um futuro
mais sustentável a todos os níveis.
Cx: Tudo isto, quando Portugal até já tinha conseguido atingir uma
posição de relevo em termos de energias renováveis e de produção de
energia eólica…
F.F.: Exatamente! Mas também me parece importante sublinhar que
existiram exageros nas políticas dos últimos anos e nos apoios que
foram concedidos. Por exemplo, no que toca a veículos elétricos,
não sei se um apoio de cinco mil euros não será demasiado quando
conjugado com benefícios fiscais e isenção do IUC, mas o que
não podemos, e repito, é passar do 80 para o oito. Fazia sentido
proceder-se a uma correção, não avançar para um desinvestimento
tal que, mais tarde, nos vai prejudicar.
Cx: E será fácil ao comum consumidor estar alerta para questões
deste género, numa época em que a principal preocupação é o
constante ginasticar do seu orçamento pessoal ou familiar?
F.F.: É aí que a educação e a informação se tornam fundamentais,
passando a mensagem de que esta diferente gestão dos recursos
pode ser um bem para todos e dando a perceber que existe alguma
margem em termos de qualidade de vida. Estou a lembrar-me, por
exemplo, da questão da mobilidade. Continuamos a não ter um
sistema de passes ou de bilhética que seja favorável. Que, perante
a diminuição da utilização do automóvel, consiga aliciar as pessoas
a optar pelos transportes públicos. Agora, o que assistimos é a
uma diminuição do consumo de combustíveis e da utilização do
automóvel, mas isso não se traduz num aumento do número de
utilizadores dos transportes públicos de forma significativa. Dá ideia
que, simplesmente, as pessoas estão a retrair-se e a diminuir a sua
mobilidade, o que, em muitos casos, pode significar um entrave ao
desenvolvimento.
É esta falta de estratégia que mais me preocupa. Em vez de estarmos
a tomar decisões que olhem para cinco, dez ou vinte anos, e fruto
da pressão económica, estamos a pensar no mês seguinte, na
semana seguinte, muitas vezes no dia seguinte. Isso é insustentável
do ponto de vista ambiental, do ponto de vista social, até do ponto
de vista económico.
Cx: Mas essa estratégia de que fala, e focando-nos na mobilidade,
não estará amarrada por monopólios? Olhando para os casos do GPL
e dos biocombustíveis, o entusiasmo em redor dos carros elétricos não
poderá ser mais um exemplo com mais sucesso na teoria do que na
prática?
F.F.: Penso que, mais uma vez, não podemos perder de vista o que
é o futuro, e o futuro numa escala de cinco a dez anos. Esse futuro
passa por termos cada vez mais veículos elétricos, por uma rede
de transportes públicos inteligente, passa por poder fazer a gestão
da energia utilizada nos carros, e é com esses objetivos estratégicos
que deveríamos funcionar. Em Portugal, as energias renováveis
contribuíam, em 2008, com 2,1% do PIB. A ideia para 2015 é
que esse contributo se cifre nos 4,1% e as perspetivas atuais é que
consigamos ter 60 mil empregos direta ou indiretamente associados
às energias renováveis. Perante estes números, por que não apontar
a um objetivo, à semelhança da Alemanha ou da Dinamarca, de,
em 2050, ter 100% de eletricidade renovável? Este tipo de planos,
nós não temos. Não temos esta forma de perspetivar a sociedade e a
verdade é que esta visão de futuro é fundamental para termos uma
sociedade sustentável.
Cx: E que mais é fundamental para procurarmos essa
sustentabilidade?
F.F.: Todos nós temos de nos convencer, pelo menos nos países
ditos desenvolvidos, de que temos de viver com menos recursos.
Neste momento, já estamos a sobre-explorar, já estamos 30%
acima daquilo que o planeta consegue renovar. É como se eu já não
conseguisse viver do meu salário e estivesse a ir à poupança
que tenho no banco. E se a perspetiva aponta para um aumento
efetivo da população mundial, é imperativo que se olhe para os
recursos na perspetiva de uma gestão mais inteligente e mais
equilibrada.
Cx: Como professor universitário, sente que esta visão de futuro é
partilhada pelos seus alunos?
F.F.: Em Engenharia do Ambiente, procuramos, essencialmente,
alertar para a necessidade de os alunos terem dois tipos de
abordagem. Uma de futuro e uma que, tendo em conta as
ferramentas à disposição de um engenheiro do ambiente, está
ao alcance de poucas pessoas: saber equilibrar todas as variáveis
relacionadas com o desenvolvimento sustentável. Falamos de
questões económicas, questões sociais, o fornecimento de bens, o
uso eficiente de energia… é o ser-se capaz de, por exemplo, olhar
para um objeto e ver o seu ciclo de vida em termos de trabalho,
de materiais, da proveniência dos materiais, da sua densidade
enquanto objeto, do ecodesign…
Cx: A propósito do termo «ecodesign», não teme que, fruto de uma
moda, o prefixo «eco» acabe por vulgarizar-se?
F.F.: Obviamente que a utilização do prefixo «eco» tem sido abusiva
cx
a re v i s ta d a c a i xa
29
e
entrevista
em muitas situações, mas a verdade é que começámos a falar de
questões ambientais e de desenvolvimento sustentável em 1972,
na Conferência de Estocolmo. Depois tivemos a Eco 92, a Cimeira
da Terra, em Joaneburgo, em 2002 e, agora, o Rio +20, e aquilo a
que assistimos é a um percurso feito de inúmeros altos e baixos,
onde, infelizmente, são vários os exemplos em que a economia se
sobrepõe ao ambiente. A dificuldade em lidar com a questão das
alterações climáticas é um bom exemplo. Voltando à utilização da
palavra «eco», é verdade que a consciência ecológica tem vindo
a aumentar desde 1972, mas esse é um crescimento que implica
sentido crítico para se conseguir ter a noção do que está a ser feito,
dos objetivos que estão a atingir-se, e para se conseguir distinguir
o que, efetivamente, é ambientalmente responsável do que é puro
marketing sem tradução do ponto de vista dessa responsabilidade.
«não existe empenho suficiente
para lidar com os problemas
por antecipação»
Cx: Falou da dificuldade em lidar com a questão das alterações
climáticas. No final deste ano, termina o atual acordo resultante
do Protocolo de Quioto e países como o Japão, a Rússia e o Canadá
já anunciaram que não querem dar continuidade ao acordado. Que
comentário lhe merece esta situação?
F.F.: Quioto foi um dos pontos altos no que toca à efetivação das
preocupações com a sustentabilidade, com o ambiente, com as
alterações climáticas… Perante este cenário, o que vejo são as
próximas gerações a terem de lidar com a questão das alterações
climáticas de forma muito mais dura, pois as preocupações com a
temática estão a ficar praticamente confinadas à Europa. E o que me
custa mais é ver que existe o conhecimento tecnológico sobre como
lidar com estas situações, mas não existe o empenho suficiente para
lidar com este problema por antecipação.
Cx: O que espera do Rio +20?
F.F.: O Rio +20 surge numa altura muito complicada. É toda a
conjuntura de crise, são os conflitos entre países mais ricos e mais
pobres que se arrastam no tempo, são as economias emergentes
que perseguem um modelo de desenvolvimento aplicado pelos
países ditos desenvolvidos. Creio que o Rio +20 será, em primeiro
lugar, uma oportunidade de balanço, algo que é sempre importante.
Depois, haverá um enfoque na questão dos chamados «empregos
verdes», procurando-se perceber quais os setores da economia
que deverão ser estimulados no sentido de criar novos postos de
trabalho e beneficiar o ambiente. E haverá um terceiro ponto que
permitirá começar a quantificar o que chamamos «economia verde».
Já há um preço associado ao CO2, mas é necessário associar também
30
cx
a re v i s ta d a c a i xa
um preço à biodiversidade. Por exemplo, a maioria dos fármacos
tem uma origem natural, mas isso raramente é contabilizado.
Infelizmente, não vamos ao essencial, que é alterar o paradigma
de crescimento que é, atualmente, uma obsessão de todos
os países.
Cx: Será essa sede de crescimento que faz com que se passe ao lado
de factos como mais de 1,4 mil milhões de pessoas não terem acesso
a energia ou três milhões de pessoas ainda utilizarem carvão para
cozinhar?
F.F.: A água, a alimentação e a energia continuam a ser três temas
críticos e existem pormenores que escapam à maioria das pessoas.
Por exemplo, esse carvão que é utilizado é proveniente do abate
de árvores. O acesso aos bens e o acesso à energia são questões
relativamente às quais estamos longe de atingir as metas desejáveis.
Nós precisamos de um futuro 100% renovável, tal como a Quercus
defende. Nós somos um País periférico, não temos petróleo, gás
natural ou carvão e, mesmo que tivéssemos, acabariam por esgotar-se, por isso, temos mesmo de apostar nas renováveis. Não
tenhamos dúvidas de que a energia renovável tem sempre impactos
a níveis ambientais. As telhas serão substituídas por painéis
fotovoltaicos, uma central solar abrange uma área considerável, um
parque eólico degrada bastante a paisagem devido à necessidade
de transportar as pás e depois tem problemas de ruídos. O que
creio que aconteceu foi que não soubemos antecipar esses conflitos,
mas, ainda assim, temos muito menos conflitos do que outros
países, como o Reino Unido. O ideal será conseguirmos conciliar
uma política de eficiência energética com uma política de energias
renováveis.
Cx: Quando é que sentiu que era o ambiente e o estudo das questões
ambientais que o fascinavam?
F.F.: Eu comecei a integrar-me nestas questões ambientais quando
tinha dez anos, mais coisa menos coisas. Tinha amigos mais velhos
que acabaram por me influenciar nesse sentido, e recordo-me
de que, nessa altura, na década de 70, um dos grandes objetivos
era a criação da Reserva Natural do Estuário do Sado. Depois, na
altura de me decidir profissionalmente, tomei a opção de estudar a
fundo o ambiente e optei pelo curso de Engenharia do Ambiente e,
felizmente, estou muito contente com o percurso que essa escolha
me proporcionou. Por exemplo, o contacto com realidades de
outros países é uma excelente forma de relativizarmos um pouco
aquilo que nos rodeia. Às vezes, queixamo-nos da nossa qualidade
de vida, quando, noutro canto do mundo, há alguém que, todas
as manhãs, percorre 25 quilómetros para ir buscar água para a sua
família. E que outros vivem sem eletricidade. E é também para
não deixar cair no esquecimento esta disparidade no acesso e na
utilização de recursos à escala mundial que se tornam fundamentais
momentos como o Rio +20.
Cx: E como é que se dá a sua entrada para a Quercus?
F.F.: Acaba por ser uma sequência deste percurso que escolhi. Eu e
alguns amigos fazíamos parte da Liga para a Proteção da Natureza,
que é a mais antiga associação de ambiente de Portugal. Depois,
«sinto que os portugueses
estão predispostos para agir
em prol do ambiente»
como gostávamos de ter a nossa autonomia, criámos uma associação
chamada Setúbal Verde, perfeita para termos a noção de que este
tipo de trabalho consegue ser muito mais preciso quando feito à
escala regional. Em 1985, nasce a Quercus, que, acima de tudo, foi
o juntar de várias associações, e, em 1987, a Setúbal Verde extingue-se para integrar a Quercus.
Cx: Alguma vez sentiu, ao longo deste percurso, que a manifestação
destas preocupações ambientais fazia com que as pessoas vos
olhassem como «lá vêm estes outra vez dizer que está tudo mal»?
F.F.: Sim. [Risos] Mas também é verdade que sinto que as pessoas
têm cada vez menos anticorpos relativamente aos ambientalistas.
Ou, se se preferir, foram percebendo que, em muitos casos, nós
tínhamos razão. E, para ser sincero, essa dificuldade de aceitação
acabou por ter um lado positivo, pois sempre obrigou a apontar
uma alternativa a par do sentimento de discordância relativamente
a um determinado projeto ou acontecimento. Esse é o verdadeiro
desafio das associações ambientalistas.
Cx: A propósito de desafios, consegue aplicar no seu dia a dia muitos
daqueles pequenos gestos que, por exemplo, nos programas Minuto
Verde e Um Minuto pela Terra, se tentam promover junto da
população?
F.F.: Sim, sim. Por exemplo, deixo o carro junto à estação do
comboio, fazendo deste o meu meio de transporte, associado
ao metro. E ainda ganho tempo para trabalhar ou ler. Em casa,
faço uso da água quente solar, de eletricidade a partir de painéis
fotovoltaicos, em termos totais, consumo tanta eletricidade
como aquela que produzo, e faço a separação do lixo. Creio que
o importante é irmos realizando pequenos gestos sem sermos
obcecados, de forma a que essas rotinas entrem no nosso dia a dia
de forma inconsciente.
pequenos gestos Em sua casa, Francisco
Ferreira põe em prática alguns dos conselhos que,
diariamente, procura transmitir na televisão e na rádio
Cx: E irrita-se quando vê pessoas a ignorarem completamente
esses pequenos gestos?
F.F.: Tento controlar-me. [Risos] Por exemplo, custa-me abrir o
contentor do lixo comum e vê-lo cheio de cartão ou de plásticos,
porque estamos a falar de algo que depende unicamente de nós.
Mas, sabe, e até pelo feedback que temos tido ao Minuto Verde e ao
Um Minuto pela Terra, sinto que os portugueses estão predispostos
para agir em prol do ambiente. Muitos não o fazem porque são
teimosos, outros não sabem como hão de fazê-lo e outros não têm a
capacidade económica para avançar. E o facto de ainda me deparar
com várias situações que me desagradam acaba por ser um sinal
de que ainda há muito por fazer e que esta luta pelo ambiente está
longe de estar terminada.
cx
a re v i s ta d a c a i xa
31
h
32
história de capa
cx
a rev i s ta d a ca i xa
S u s t e n ta b i l i da d e
Que economia
queremos para o futuro?
Virada de frente para o amanhã, a economia verde pinta de esperança
uma prosperidade económica e social já não apesar, mas por causa do ambiente.
Após a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, porém,
fica no ar a pergunta: onde nos levará este Rio, 20 anos depois?
Foto: Henglein and Steets/Getty Images
Por Ana Rita Lúcio
cx
a rev i s ta d a ca i xa
33
h
história de capa
I
magine que está num condomínio. Ao
passar a soleira da sua porta, prepara-se
para entrar no espaço da sua propriedade
privada, na casa que é sua por direito,
onde as suas regras funcionam como um
conjunto de leis a seguir. No entanto,
se cruzar as fronteiras do seu apartamento,
está a pôr o pé, não em terra-de-ninguém, mas nas zonas comuns, onde
as responsabilidades e os direitos são – ou
deveriam ser – partilhados por todos. A
gestão do que se passa dentro das suas
quatro paredes só a si lhe diz respeito, em
princípio, embora haja algumas condições
a respeitar, porque o prédio é de todos. Já
a administração dos espaços e das matérias
que não são exclusivos de uns ou de
outros, mas que são de todos, é feita em
conjunto. E as decisões mais importantes,
claro, são tomadas nas famosas reuniões de
condomínio que todos conhecem.
Agora, imagine que a Terra, além de um
planeta, é um condomínio. Que, estando
dentro do seu país, é como se estivesse na
sua casa: são as leis nacionais que vigoram
(em princípio), mas há um conjunto de
regras exteriores que se lhe aplicam: por
exemplo, as normas sobre a emissão de
gases poluentes para a atmosfera que
transpiram das metas estabelecidas pelo
Protocolo de Quioto. E se cada país é uma
casa e cada povo um condómino, o planeta
é de todos, havendo, também, zonas de
interesse comum – como os oceanos, o
espaço aéreo ou as florestas – que devem
ser geridas pela comunidade. Todos, sem
exceção, devem contribuir e há, até, as
cimeiras ou conferências internacionais que
funcionam como reuniões de condóminos
ao mais alto nível.
Ainda que este cenário possa parecer
idílico, não está muito longe do panorama
proposto pelo projeto que a Quercus
levou na bagagem para a Cimeira da Terra
Rio +20 – uma espécie de reunião de
condomínio gigante, decorrida de 20 a 22
de junho, onde marcaram presença mais de
180 delegações mundiais. Na Conferência
das Nações Unidas para o Desenvolvimento
Sustentável, que voltou ao Rio de Janeiro
20 anos depois da primeira, a Associação
Nacional de Conservação da Natureza
apresentou a proposta O que nos Une
a Todos – Um Património Comum para
34
cx
a rev i s ta d a ca i xa
Caixa carbono zero
A CGD reconhece as alterações
climáticas como um tema
prioritário. Com este programa,
pretende afirmar-se como
parte ativa da solução, através
da liderança na resposta
às novas exigências de uma
economia onde, a nível global,
as restrições às emissões de
carbono são já uma realidade.
O Programa Caixa Carbono Zero
tem como objetivo concretizar
a redução de emissões
próprias, responder ao desafio
de colocar no mercado novas
soluções financeiras que
facilitem o acesso a bens
e serviços de baixo carbono,
bem como promover
o conhecimento sobre o tema.
Nesse sentido, a CGD lançou
o cartão Caixa Carbono Zero,
que acumula no programa
de cash-back créditos de CO2.
A Tapada Nacional de Mafra
foi o primeiro projeto a
beneficiar dos fundos
disponibilizados por este
cartão.
(1)
TAEG de 24,7%, para um
montante de 1500 euros, com
reembolso a 12 meses, à TAN
de 21,00%.
a Economia Verde, através do projeto
Condomínio Terra. Nele, avança com uma
nova fórmula de contabilidade positiva no
cálculo da contribuição de cada país para o
meio ambiente: por exemplo, fazendo com
que o sistema de quotas de emissão de CO2
passe a contabilizar o contributo positivo
que as florestas de determinados países
representam para o bem comum. Procura,
assim, abrir caminho à consolidação de
uma nova economia, na qual a Natureza e
a ecologia tenham um valor bem definido.
Uma economia verde onde a moeda de
troca sejam os serviços ambientais.
O cinzento que paira
A cor por excelência da defesa da Natureza,
que, de resto, pincela a Baía da Guanabara,
lançou mesmo o mote para a conferência
das Nações Unidas. Para avançar rumo às
Fotos: Buda Mendes/LatinContent/Getty Images (Ban Ki Moon); Walter Bibikow/Getty Images (barragem); Andras Jancsik/Getty Images (Rio de Janeiro)
ambiciosas metas do «desenvolvimento
sustentável e erradicação da pobreza», a
iniciativa internacional elegeu a «economia
verde» como veículo privilegiado. Ou, aliás,
como defendeu António Patriota, ministro
do exterior do Brasil, «se o Rio 92 foi ponto
de destino, a Rio +20 será o ponto de
partida para o desenvolvimento sustentável
do planeta».
A realidade, porém, mostra que mais do
que uma luz verde para o entendimento
– ensombrada, desde logo, pela ausência
de algumas figuras de proa do xadrez
político mundial, como Barack Obama,
David Cameron e Angela Merkel e pelo
cancelamento da representação oficial
do Parlamento Europeu –, foi um fumo
cinzento, vazio de metas e compromissos
globais e concretos, que emergiu da
Cidade Maravilhosa. Uma das medidas
mais ansiadas pelos entusiastas da Rio
+20 era a criação de uma agência das
Nações Unidas para o ambiente, acabando
também por cair em saco roto, já que
apenas se acordou num fórum de alto de
nível para o desenvolvimento sustentável,
desprovido do peso político que um
organismo da ONU poderia ter. No geral
pouco ambicioso, o documento Que
Futuro Queremos?, aprovado pelos líderes
mundiais no final da cimeira, parece ir
pouco além das intenções. Resultando mais
«daquilo em que foi mais fácil encontrar
consenso e não da tentativa de ultrapassar
as dificuldades e divergências entre os
diferentes países», como aponta Francisco
Ferreira, vice-presidente da Quercus,
para quem ficou patente que as diferentes
nações preferiram colocar os seus próprios
interesses «à frente do bem comum».
As expectativas da sociedade civil
ficaram de tal modo goradas que 50
organizações não governamentais e
personalidades se juntaram num abaixo-assinado contra a declaração final. «A
Rio +20 ficará na História como uma
conferência das Nações Unidas que
ofereceu ao mundo um texto marcado por
condomínio terra A proposta
que a Quercus levou ao Rio +20
avança com uma nova fórmula
de contabilidade positiva no cálculo
da contribuição de cada país para
o meio ambiente
a força da água A energia
hidráulica é uma das soluções
o palco O Rio de Janeiro foi a cidade
escolhida para acolher a Cimeira
da Terra Rio +20
graves omissões, que põem em perigo a
preservação e a capacidade de recuperação
socioambiental do Planeta», contra-argumentam.
Economia do amanhã
No entanto, para lá da «frustração de
muita gente no final da conferência», como
apontou Gro Harlem Brundtland, a enviada
especial do secretário-geral da ONU para
cx
a rev i s ta d a ca i xa
35
história de capa
as Mudanças Climáticas e ex-primeiraministra norueguesa, conhecida por ser a
«mãe» do conceito de desenvolvimento
sustentável, nem tudo é negro.
Olhando para o futuro, Portugal, que tem
conquistado posição em matéria ambiental
dentro do espaço comunitário, pode ter um
papel relevante a desempenhar. Quem o
diz é Pedro Afonso de Paulo, secretário de
Estado do Ambiente e do Ordenamento do
Território, recordando, ainda, em entrevista
ao Diário Económico, que o nosso País foi
«lead-country, com a Comissão Europeia,
no tema dos Oceanos». Paralelamente, foi
designado «co-líder da plataforma China/
Europa, em matéria de Água» e um dos
países responsáveis pela Declaração de
Luanda, assinada pela Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa (CPLP),
onde se destacava o Rio +20 «como uma
oportunidade para os líderes mundiais se
comprometerem com o fortalecimento de
uma agenda pragmática rumo à economia
verde inclusiva».
Mas mesmo que a agenda possa ter ido
longe demais no pragmatismo, a economia
verde marcou indubitavelmente o tom da
conferência. O histórico responsável da
Quercus alega que, desde que se chamou
a atenção para as questões ambientais, na
conferência de Estocolmo, em 1972, se tem
trilhado «um percurso feito de inúmeros altos
e baixos, onde são vários os exemplos em que
a economia se sobrepõe ao ambiente». No
36
cx
a rev i s ta d a ca i xa
entanto, a nova economia verde presta-se a
colocar ambos os vetores em pé de igualdade,
promovendo o desenvolvimento económico
e social, ao mesmo tempo que combate os
riscos ambientais e a escassez de recursos.
Aquela que Pavan Sukhdev, economista
indiano, consultor do Programa de Ambiente
da ONU, apelidou de «economia do
amanhã» faz corresponder aos serviços que
os ecossistemas desempenham um valor
económico, de uma forma integrada. E é
precisamente isso que a torna revolucionária.
A fórmula é simples e a ideia que a sustenta
também. Para que o desenvolvimento
sustentável não seja apenas um propósito
retórico, a economia verde torna-o
mensurável. Assim, passa a ser possível
saber, exatamente, quanto valem os serviços
ecossistémicos prestados pelo curso de um
rio, a biodiversidade de determinado local
ou a captura de carbono levada a cabo por
grandes florestas. Especialistas em matéria
ambiental como Sukhdev defendem,
mesmo, que as contas dos países devem ser
terceira revolução industrial
Os empregos verdes ocupam,
atualmente, três milhões de
profissionais em todo o mundo
passado vs futuro A energia
eólica garante a possibilidade de
produção de energia elétrica
espelho do valor desses mesmos produtos e
serviços que a Natureza presta à economia
e à sociedade, criando indicadores como o
PIB verde. Inspirada pelas recomendações
plasmadas num estudo liderado pelo
economista indiano sobre a economia dos
ecossistemas e da biodiversidade, há já uma
parceria global entre o Banco Mundial,
a ONU, a OCDE e governos de vários
países para testar no terreno esta e outras
medidas. Àqueles que resistem à economia
verde, argumentando que, em tempos de
crise e de escassez de recursos (sobretudo
financeiros), não se «pintam» economias,
a ONU responde com o vislumbre da
poupança, garantindo que basta investir
dois por cento do PIB mundial, por ano,
na economia verde, para que o crescimento
económico e o equilíbrio ambiental possam
ser conciliados. Se pensarmos que esses dois
por cento representam apenas um décimo do
investimento global na economia «castanha»
– a tradicional –, constatamos que uma gota
no oceano pode, de facto, fazer a diferença.
Revolução em marcha
Numa nova ordem económica virada para o
futuro, a mudança de fundo operada acarreta
oportunidades a longo prazo, que vão desde a
luta contra a pobreza à gestão mais eficaz dos
recursos, racionalizando a despesa pública –
nomeadamente, através de uma reforma fiscal
assente nos incentivos a políticas ligadas à
sustentabilidade. No entanto, é pelo emprego
que se abre o flanco para o progresso deste
processo revolucionário. Não é, aliás, por
acaso que a OCDE fala de uma «terceira
Revolução Industrial», perspetivando que os
empregos verdes – que atualmente ocupam
três milhões de profissionais, em todo o
mundo – possam atingir os 25 milhões, até
2030. Particularmente em setores-chave
como a agricultura e as pescas, a energia, a
gestão dos resíduos, as águas, as atividades
marítimas, a gestão e o ordenamento do
território, os transportes, a construção ou
o turismo, mas podendo chegar a áreas tão
diversas quanto a economia, a engenharia, a
comunicação e até o direito.
A revolução está, contudo, longe de ficar
pela dinamização do mercado de trabalho.
Do outro lado da barricada, as empresas,
responsáveis por 60 por cento do PIB mundial,
são chamadas a assumir o seu papel. «Como
Fotos: Pedro Castellano/Getty Images (técnico); Miguel Navarro/Getty Images (turbina eólica)
h
Portugal é um dos
dez países do mundo
com maior produção
elétrica a partir
das renováveis
cx
a rev i s ta d a ca i xa
37
história de capa
provocam a maior parte do problema, são
elas que podem catalisar a maior parte da
solução», sustenta o consultor do Programa de
Ambiente da ONU. Encarando o ambiente não
como um custo, mas como um investimento,
o tecido empresarial deve abrir caminho a
um novo modelo económico, repensando
o modo de fazer negócios, para refletir na
fatura ambiental as repercussões da atividade
sobre os ecossistemas. Segundo dados do
Eurobarómetro sobre PME e mercados verdes,
esta marcha é liderada pelas empresas de
menor dimensão, que despertaram mais cedo
para a consciência ecológica. Em 2012, um em
cada oito trabalhadores de PME desempenhava
mesmo funções associadas à economia verde,
representando 13 por cento de todos os
postos de trabalho criados neste universo
empresarial. Portugal parece ser, também,
um dos «melhores alunos» europeus nesta
matéria, uma vez que 88 por cento das PME
portuguesas já tomam medidas efetivas de
eficiência energética, a percentagem mais alta
de toda a Europa.
Energia da Natureza
E por falar em eficiência energética,
enquanto se assinala o Ano Internacional
da Energia Sustentável, Portugal
assume-se como um dos dez países
do mundo com maior produção elétrica
a partir das renováveis. Ventos de mudança
que vieram para ficar desde que se
começaram a construir as primeiras centrais
hídricas, em meados do século passado, e
que, hoje, colocam a água e o vento como
principais fontes de energia explorada,
continuando a espreitar o imenso potencial
da energia solar.
A prioridade dada às renováveis,
até para combater a dependência
externa, levou a que, em dez anos,
cerca de metade da eletricidade produzida
em Portugal e aproximadamente 25 por
cento de toda a energia consumida passasse
a ter origem em fontes naturais. Um
investimento que é preciso não deixar
cair. Em prol da economia verde. E do
condomínio Terra.
Programa de
Sustentabilidade
O negócio assente nos
pilares da sustentabilidade
assume uma importância
decisiva, para que subsista
uma gestão equilibrada
dos recursos disponíveis, a
deteção de oportunidades
e a criação de valor para o
futuro, em alinhamento com
as expetativas dos seus
stakeholders.
O percurso de boas práticas
orientadas à responsabilidade
social e ambiental, à
preservação dos valores
inerentes à cidadania e ética
em geral tem permitido o
reconhecimento nacional e
internacional da CGD.
É, por isso, com satisfação que
a Caixa apresenta os seguintes
indicadores alcançados em
2011:
>> Compensação de
4038 t CO2e, geradas
pela sua atividade;
>> Redução total de emissões
na ordem dos 15 por cento,
associadas à mobilidade;
>> Redução de 34 por cento no
consumo de papel de fotocópia;
>> Redução de 47 por cento de
plástico sob a forma de cartões
bancários;
>> Aumento da reciclagem de
resíduos em 19 por cento;
>> Redução de 13,9 por cento
no consumo de eletricidade,
em relação a 2006, evitando,
por ano, a emissão
de 6500 t CO2e, equivalentes
às emissões de carbono
resultantes do consumo de
eletricidade de 3250 habitações
durante um ano;
>> Mais de 33 mil horas em ações
de voluntariado;
>> Disponibilização da
calculadora de carbono no site
www.cgd.pt, onde mais de
5000 pessoas já calcularam a
sua pegada carbónica.
Pelo planeta e pelas gerações
atuais e futuras, a Caixa toma
medidas para reduzir a sua
pegada ambiental. Junte-se e,
com pequenos gestos, poupe,
também, o ambiente.
cx
a rev i s ta d a ca i xa
Foto: Eva Serrabassa/Getty Images
h
observatório
Fernandes
o
eduardo de oliveira
Um caminho a fazermos
Com crises financeiras e outras, de
âmbitos diversos, o ambiente tem, também,
sofrido a sua parte, perdendo, aqui e ali, alguma
Fotos: D.R. (Eduardo de Oliveira Fernandes); iStockphoto (painéis solares)
prioridade, como ocorre, curiosamente, em Portugal.
Estivemos lá, em 1992, no Rio, em representação de uma
ONG criada nos anos 50, nos EUA, para a Energia Solar: a ISES,
Internacional Solar Energy Society. Exaltámos com a súbita
importância que o Mundo passou a dar à energia, não já pela escassez
de combustíveis fósseis após algumas crises petrolíferas (1973, 1979,
...), mas pelo «mal» que causa a queima dos combustíveis fósseis
e, também, e sobretudo, pelo «bem» que poderiam oferecer as
tecnologias energéticas para o futuro das energias renováveis.
Do Rio saíram, entre outras,
três iniciativas fortes: primeiro, a
consagração política do conceito
de desenvolvimento sustentável
ambiental, na sequência do Relatório
Brundtland, em 1987; em segundo
lugar, a identificação do aquecimento
global como caso da sustentabilidade
ambiental por excelência com desafios
muito ingentes, quanto ao ambiente
global, e muito pragmáticos, quanto à
definição das medidas e sua aplicação,
de que haveria de resultar o Protocolo
de Quioto, em 1997; finalmente, a
terceira medida aqui eleita foi a da
promoção da importância do conceito
da «agenda 21», com a vertente
específica da «agenda local» a sublinhar que é ao nível do uso final
da energia (a necessária?) que as questões da energia se colocam e
que isso deverá trazer novas responsabilidades às comunidades e às
cidades.
Vinte anos volvidos, importa sublinhar as dificuldades políticas de
fatores tão incontornáveis como a diferença de nível económico entre
2/3 da população mundial, dos quais mais de 2 mil milhões ainda sem
acesso à eletricidade, e o outro terço, dos países ditos desenvolvidos,
que se reflete em niveis de uso da energia que oscilarão entre 1.5
toneladas equivalentes de petróleo per capita, para os primeiros
(Portugal ronda os 3), e 4 a 6 teps para os segundos. Ressaltam
questões como a do próprio desenvolvimento; do direito ao acesso às
Professor da feup
«benesses» do desenvolvimento tecnológico; e a questão dos mercados
que deveriam poder integrar aquelas problemáticas, incluindo a do
equivalente económico das emissões de carbono.
Certo é que, com crises financeiras e outras, de âmbitos diversos,
o ambiente tem, também, sofrido a sua parte, perdendo, aqui e ali,
alguma prioridade, como ocorre, curiosamente, em Portugal. E, no
entanto, a fasquia dos 450 ppm de CO2 ou o limite da elevação da
tempertaura média por aquecimento global de 2 a 2,5 ºC pairam no
horizonte de 2020 ou, mais provavelmente, de 2050.
O RIO +20 tem pela frente o desafio das alterações climáticas
que afetarão o acesso à água de muitas populações, destruirão muitos
ecossistemas, colocarão novos desafios à problemática da alimentação,
favorecerão a destruição de imensas áreas vegetais pelo fogo e de
grandes extensões de orlas marítimas pela inundação e erosão, farão
desaparecer algo como 30 por cento das zonas húmidas e terão vários
impactos na saúde, desde a propagação de doenças e a difusão
de novas pragas em regiões que habitualmente as não tinham,
até aos fenómenos de stress térmico
inabituais.
Sendo que está em causa o controlo
das emissões de CO2 equivalente
para poder controlar o nível da
concentração de CO2 na atmosfera,
colocam-se seis desafios: a) Acertar
as metas relativas da concentração
para 2020/2050; b) Encontrar os
financiamentos para os países em vias
de desenvolvimento (100 mil milhões/
ano); c) Construir um verdadeiro
mercado do carbono; d) Assegurar
a ajuda à adaptação dos paises mais
vulneráveis; e) Ajudar na contenção
da desflorestação (30 por cento);
f) Promover a mudança do paradigma energético.
Portugal, país fisicamente pequeno, com elevada importação
de combustíveis, teria a sua solução política, pensada em 2001 e
prosseguida em 2005, com apoio na promoção das energias renováveis
e da eficiência energética. Entretanto, a crise e a redução do consumo
e da atividade económica substituíram a eficiência, reduzindo o uso de
eletricidade e de combustíveis e, assim, reduzindo as emissões de CO2,
enquanto medravam interesses sombrios contra as renováveis que,
correspondendo a um projeto nacional do maior sucesso aos olhos de
todo o Mundo, acabam por ser vítima doutra pequenez não menos
letal: a falta de sentido de autoestima e de confiança em si próprio
como povo e, até, falta de sentido de Estado como regime.
E, então, só nos restará seguir a RIO +20, se esta alumiar bastante.
cx
a re v i s ta d a c a i xa
39
v
grande viagem
LO N D R E s
Em Londres
tudo de novo
Numa convergência difícil de se repetir, a capital inglesa
organiza os Jogos Olímpicos, festeja seis décadas de reinado
da sua monarca e celebra o bicentenário do seu escritor mais famoso.
Estes são apenas três motivos para visitar Londres, uma cidade
cheia de novidades à sua espera
Por Rui Tavares Guedes*
40
cx
a rev i s ta d a ca i xa
E
Foto: iStockphoto
Foto: Randi Utnes
stamos no lado que não se vê nos habituais bilhetes-postais da capital britânica.
Ou antes, o lado que apenas se adivinha por detrás de algumas das imagens
icónicas da grande cidade global da Europa, a única onde se contabilizam 200
línguas e 300 comunidades diferentes. Estamos nas traseiras dos arranha-céus
de Canary Wharf, uns quilómetros (milhas, por aqui) à direita da silhueta
inconfundível da catedral de St. Paul, na margem norte do Tamisa.
Estamos para lá daquilo que muitos julgam ser o limite de Londres, onde tantos pensam
que nada se passa nem nada acontece de interessante. A zona que foi, há dois séculos, um
dos berços da revolução industrial, com a instalação de inúmeras fábricas de têxteis e que
viu nascer os primeiros sindicatos operários, é, hoje, um dos centros mais ativos e criativos
de Inglaterra.
Nstes espaços vagos de antigos complexos industriais, que inspiraram e deram fama
a Charles Dickens, mas também aos crimes de Jack, «o Estripador», muitos artistas
plásticos encontraram as condições ideais para montarem os seus ateliês. Lado a lado
surgiram as residências de famílias recém-chegadas da Índia, Paquistão, Bangladesh e
Vietname, conforme as sucessivas vagas de imigração. Depois, surgiram as galerias de arte,
impulsionadas com a abertura, em 2000, da White Cube, na Hoxton Square, a primeira
a expor e a aproveitar as obras de muitos artistas locais, entre os quais se encontravam
nomes agora consagrados, como os de Damien Hirst e Tracey Emin. Logo a seguir, foram
cx
a rev i s ta d a ca i xa
41
v
grande viagem
abrindo as muitas lojas de «segunda mão» de roupa e tudo o mais que se possa
imaginar. E, aos poucos, a palavra vintage foi-se colando ao East End, quase como
uma espécie de sinónimo, mas também como adjetivo, neste caso, superlativo.
O enorme edifício industrial de tijolo vermelho que ocupa um quarteirão da
Cheshire Street, quase colado à linha férrea, é o local ideal para uma espécie de
prólogo de uma viagem à descoberta do renovado East End. Aquilo que parece um
edifício abandonado esconde, na realidade, um autêntico local de peregrinação:
Beyond Retro, uma das maiores lojas vintage a que se pode aceder em Londres (no
mundo?) e cuja fachada até serviu de cenário a um videoclip de Amy Winehouse.
Lá dentro, é preciso, acima de tudo, reunir uma condição essencial: ter tempo,
muito tempo. E, de preferência, algum dinheiro. O armazém parece uma caverna
de Ali-Baba vintage: sapatos e mais sapatos, vestidos, chapéus, casacos, óculos.
Tudo já usado, mas com etiquetas conhecidas à mistura. E os clientes, quais
formiguinhas, vão-se perdendo por entre filas de cabides, prateleiras e cabines de
prova.
Cá fora, na rua, caminhando em direção a Brick Lane, esta Cheshire Street
começa a revelar-nos o ambiente que iremos encontrar nos próximos quarteirões
e que dão fama, hoje, ao East End: bares, lojas vintage, galerias de arte, design,
antiguidades, mais lojas vintage. É um mundo de descobertas, em menos de 100
metros. Mas apetece entrar em todas as portas abertas, desde a loja de ukeleles (os
cavaquinhos do Haway) até à livraria-galeria-café com o sugestivo nome de Beach,
passando por galerias de arte, ateliês de estilistas e clubes noturnos, a esta hora,
ainda em limpezas.
E
m Brick Lane, o cenário mantém-se. Mas reforça-se
a multiculturalidade dos transeuntes, tão diversa
quanto a dos poucos turistas que por ali circulam,
numa rua calcetada que, aos poucos, está a ser
substituída por um piso alcatroado mais uniforme e
adequado, dizem, aos passos dos visitantes que vão
ali chegar, em julho, por causa dos Jogos Olímpicos. Fala-se inglês,
mas apenas porque essa é a língua franca e universal. À nossa frente,
o que desfila é gente de todas as cores, credos e costumes. Até
chegarmos, naturalmente, à zona dos imigrantes bengalis, oriundos
do Bangladesh, conforme é ilustrado, profusamente, nos letreiros
das lojas e restaurantes. Quase todos ostentando um letreiro de
42
cx
a rev i s ta d a ca i xa
ao longo do tempo,
poucos lugares no país
se mantiveram tão fiéis
às origens
masterchef, publicitando-se como autores do melhor curry
do mundo.
O centro de Brick Lane é a Old Truman Brewery, uma
antiga fábrica de cerveja (era a maior de Londres) que se
transformou num centro de criatividade e encontro de
jovens artistas, com lojas, bares, restaurantes, ateliês e
as sedes de mais de 200 microempresas emergentes. Os
seus mercados são um verdadeiro magneto para atrair
multidões. O principal e mais famoso é o Sunday
Upmarket, que atrai, todos os domingos, milhares
de visitantes, bem como muitos comerciantes em
busca de novos designers e artistas. Mas, aos poucos,
outros mercados foram ganhando importância, como
o Vintage Market (sextas, sábados e domingos) e o
Backyard Market, ambos mais vocacionados para
jovens, com menos peças originais, e onde o
vintage se mistura com o kitsch, num ambiente
animado e despretensioso.
O caráter especial de Brick Lane manifesta-se, também, na própria natureza dos negócios que ali
oficial O logótipo
das Olimpíadas em
Trafalgar Square
ícones A Casa do
Parlamento, o Big Ben
e a roda gigante
London Eye
boxpark Galerias
surpreendentes
compras Camden
Lock (página seguinte)
é um dos mais
populares mercados
de rua londrinos
Fotos: iStockphoto (símbolo Jogos Olímpicos Londres 2012); Buena Vista Images (roda gigante); Bloomberg/Getty Images (Boxpark Shoreditch)
enorme estrutura vitoriana a que o arquiteto Norman
Foster acrescentou uma polémica cobertura de aço
e vidro, a meio caminho entre as estações de metro
de Liverpool St. e Shoreditch. Aqui, as bancas de
antiguidades e as lojas de art deco misturam-se com os
expositores de roupa vintage e os balcões de comida
regional, por entre bares e esplanadas, restaurantes e salas
de conferências.
N
assentam raízes. Quando, em todo o mundo, as vendas de música gravada caem
a pique, a Rough Trade abriu, numa das alas da antiga fábrica, a sua maior loja de
Inglaterra, um enorme armazém repleto de CD e LP (sim, muitos discos de vinil!)
anarquicamente arrumados, junto de um auditório onde cada vez mais músicos
(consagrados ou em busca de fama) apresentam os seus trabalhos.
A poucos quarteirões de distância, ergue-se outro edifício emblemático do East
End e cuja história se confunde com a de Brick Lane e a forma como esta área foi
evoluindo ao longo dos séculos. Atualmente, e desde 1976, o número 59 de Brick
Lane é a Grande Mesquita de Londres, local de culto obrigatório, especialmente às
sextas-feiras, para os muitos imigrantes do Bangladesh.
Este caldo multicultural estende-se, também, ao Spitalfields Market, uma
ormal, por aqui, é pegar numa série de
contentores, empilhá-los todos uns em
cima dos outros, pintá-los de preto por fora
e transformá-los em lojas e restaurantes por
dentro. Foi exatamente isso que fizeram
na Shoreditch High Street. Chamam-lhe
Boxpark, abriu em dezembro passado e é, de momento,
um dos «talk of the town». Aquele a que chamam o
primeiro «pop-up shopping» fica mesmo a dois passos da
Redchurch Street, a rua onde tudo parece estar a mudar
mais rapidamente, especialmente depois de Terence
Conran ter decidido ali instalar o seu Boundary, um
projeto também só possível nesta área de Londres: uma
espécie de hotel, com 12 quartos de decoração diferentes,
cinco suites, três restaurantes, uma loja de produtos
alimentares orgânicos e uma padaria.
Nesta chuvosa noite de quarta-feira, todos os
restaurantes do Boundary estão cheios. Como tantos
outros nas redondezas: o Drunken Monkey, um chinês
onde se serve dim-sun ao som de um DJ, está reservado
para uma festa de executivos da City; o The Light,
instalado num antigo armazém quase ao lado, já não
aceita mais encomendas para a cozinha; e o Les Trois
Garçons (1, Clube Row), mais seleto e caro, está como
costuma estar desde que se soube que, há pouco tempo,
Madonna celebrou lá o seu aniversário: «Desculpem, só
com reserva.» Seguimos, então, pela Redchurch Street.
O letreiro na fachada do número 34 indica The Owl &
Pussycat e, apesar do relógio bater quase as 10 horas da
noite, a cozinha ainda está aberta, o que nem sempre é
habitual em Londres. Encaminham-nos para uma mesa
de madeira, numa sala que parece saída de uma ilustração
das antigas revistas de atualidades da época vitoriana. Já o
serviço é assegurado por duas empregadas que se devem
vestir todos os dias na Beyond Retro.
cx
a rev i s ta d a ca i xa
43
v
grande viagem
sabIa que...
As mascotes dos Jogos
Olímpicos 2012 nasceram
a partir de duas gotas de
metal derretido, que caíram
durante o fabrico de um
tubo, feito para incorporar o
Estádio Olímpico. Um pouco
à semelhança de Pinóquio,
Wenlock e Mandeville,
assim se chamam as
mascotes, ganharam vida
de forma quase mágica.
44
cx
a rev i s ta d a ca i xa
Chega-nos aos ouvidos que «olheiros» da Prada, Ralph
Lauren, Christian Louboutin e Paul Smith têm andado
pela rua, a inspecionar todas as fachadas de tijolo, em
busca de espaços para abrir novas lojas. Há quem garanta
que o hoteleiro norte-americano Ian Schrager já lá tem
um edifício em vista e que o famoso restaurante japonês
Nobu pode abrir ali mais uma das suas «sucursais».
E há também quem diga que a Redchurch Street é, hoje,
o equivalente à agora «domesticada» Carnaby Street
há 50 anos.
O que a distingue, atualmente, é a grande quantidade
de lojas independentes e os estabelecimentos únicos,
em prédios onde se vislumbram escritórios de agências
de publicidade e de empresas de novas tecnologias. A
mistura perfeita complementa-se na rua, onde se pode
entrar na Labour and Wait, uma loja só com artigos para
a casa, em que a portuguesa pasta medicinal Couto é um
dos artigos em destaque.
É nas carruagens da Central Line que chegamos
a Stratford, uma área que, segundo o mayor de Londres,
Boris Johnson, acaba de «conhecer a maior transformação
desde a Idade Média.» Sebastian Coe, o mítico duplo
campeão olímpico dos 1500 metros (em Moscovo, em
1980, e Los Angeles, em 1984) e presidente do comité
organizador dos Jogos de Londres, ainda hoje diz corar
de embaraço quando se recorda que, há oito anos,
mostrou ao mundo o local onde queriam organizar o
acontecimento mais mediático do planeta: uma zona
degradada, repleta de lixos industriais.
Agora, graças à renovação da rede do metro, Stratford
está a cerca de 15 a 20 minutos do centro de Londres e
ostenta, logo à saída das carruagens, o Westfield City, o
maior centro comercial da Europa, com mais de 300 lojas,
17 cinemas, 70 restaurantes, dois hotéis e uma infinidade
de infraestruturas. O Westfield está completamente
colado a uma das portas de entrada do parque olímpico,
a poucos metros da piscina desenhada por Zaha Hadid,
da enorme escultura vermelha de Anish Kapoor e Cecil
Balmond e a uma centena de metros do estádio olímpico.
Os organizadores esperam que, de 27 de julho a 12 de
agosto, cerca de 70% dos espectadores das competições
que decorrem no parque olímpico vão, de alguma forma,
passar pelo centro comercial. Em alguns dias, calculam,
serão quase 400 mil visitantes a entrar nas lojas e
restaurantes do Westfield Stratford. Nessa altura, perante
as atenções de todo o mundo, o East End deixará de ser o
lado esquecido da cidade e transformar-se-á, efetivamente,
no centro de Londres. E nem valerá a pena fazer mais
perguntas: a mudança continuará depois. Sem pontos
de interrogação.
Obrigatório em Londes
Visitar
Parque olímpico
É o coração dos Jogos. Apesar
da sua distância, fica a apenas 15
minutos (de metro ou de comboio)
do centro da cidade.
No parque olímpico, destaque
para o estádio olímpico (construído
numa espécie de península,
com três canais de água à sua volta,
sendo o acesso feito através
de cinco pontes), para o centro
aquático (desenhado pela arquiteta
Zaha Hadid), para a arena de
basquetebol (uma estrutura
temporária que já cativou os
organizadores dos Jogos do Rio
de Janeiro de 2016), para
o velódromo (uma pista para
o ciclismo, construída em tempo
recorde) e para a arena de andebol
(também conhecida como Copper
Box, apresenta um inovador sistema
de iluminação e de recolha de águas,
completamente ecológico).
Orbit Sculpture
É o mais recente ícone da cidade.
Uma enorme escultura de aço, com
114,5 metros de altura, que pretende
ser o símbolo de Londres 2012.
Pode ser vista no parque olímpico.
Foto: Scott E. Barbour (Camden)
London Eye
Também conhecida como
Roda do Milénio, é composta
por 32 cabinas, cada uma delas
podendo transportar até 25
pessoas, e oferece inesquecíveis
vistas aéreas sobre a cidade.
Torre de Londres
Foi erguida nas margens do rio
Tamisa e já serviu de prisão, de Casa
da Moeda e de jardim zoológico.
É um dos monumentos mais
visitados.
St Paul’s Cathedral
Renovada no séc. XVII pelo arquiteto
Christopher Wren, a sua cúpula
é a segunda maior do mundo (só
sendo ultrapassada pela Basílica
de São Pedro) e dela se tem uma
visão ampla de Londres. Foi lá que o
Príncipe Carlos e Diana se casaram,
em 1981.
Big Ben
Um dos bilhetes-postais, é um
símbolo da cidade, bem como da
pontualidade londrina e britânica.
Shakespeare’s Globe Theatre
É um teatro a céu aberto, que
se assemelha às arenas onde
Shakespeare costumava apresentar
as suas peças.
Warner Bros. Studio Tour London
The Making of Harry Potter
Os fãs do jovem mágico têm aqui a
oportunidade única de entrar num
parque temático inteiramente criado
à medida do maravilhoso mundo de
Hogwarts. O parque está localizado
Hyde Park
O mais famoso parque londrino,
onde a animação e a movimentação
têm lugar ao longo de todo o dia.
É aqui que irá ocorrer o muito
aguardado concerto dos Blur,
agendado para dia 12 de agosto,
dia de encerramento dos Jogos
Olímpicos.
nos estúdios Leavesden, nas
imediações de Londres, e é gerido
pela Warner Bros.
Millennium Bridge
Vale a pena a sensação de
atravessar esta ponte com 320
metros, inaugurada, oficialmente, no
ano 2000, e que liga a Catedral de
St. Paul, na City, à margem sul, onde
se situa a Tate Modern, museu de
arte moderna que recebe 5 milhões
de visitantes por ano.
Viajar na cidade
Os black cabs (táxis) continuam
a ser um clássico, bem como os
autocarros vermelhos. Andar de
metro faz parte da cultura londrina,
na qual ganha cada vez mais espaço
o hábito de andar de bicicleta.
The Shard
É a construção principal do novo
London Bridge Quarter. Os seus 310
metros de altura, a sua estrutura
triangular e a sua cobertura
em vidro não deixam ninguém
indiferente.
Leonardo da Vinci: Anatomy
Até outubro, há mais um motivo
para ir ao Buckingham Palace. É
lá, na The Queen’s Gallery, que vai
estar esta mostra.
Vivienne Westwood Flagship Store
Westwood pode bem ser
considerada a «primeira dama»
da moda britânica e as suas
criações estão na 44, Conduit
Street, Mayfair.
Museus à noite
Há sempre um dia em que
os horários se prolongam até
às 22 horas.
Brick Lane
Cada vez mais pessoas, sobretudo
jovens, procuram a zona leste de
Londres, em busca das tendências
mais modernas.
Westfield e Boxpark
Construído entre a estação de
metro e a ferroviária de Strattford,
como porta de entrada para o
parque olímpico, Westfield é o
maior centro comercial da Europa.
Já Boxpark distingue-se por ser
um centro comercial instalado em
contentores empilhados uns nos
outros.
Mercados de rua
Incontornáveis para encontrar as
prendas mais originais. Portobello,
Camden, Brick Lane ou Greenwich
são nomes a ter em conta.
londres (inglaterra)
Aquela que era já uma
das capitais do mundo,
recebe, pela terceira
vez na sua história,
os Jogos Olímpicos.
Definitivamente,
todos os caminhos
vão dar a Londres.
Informação na Net para tirar notas antes de fazer a mala e apanhar o avião.
Sites que não deve deixar de consultar: www.visitlondon.com; www.timeout.com/london; www.londontown.com
Cartão miles & more
A Caixa, em parceria com o Programa
Miles & More da Lufthansa, criou
o cartão de crédito (1) que o deixa
mais perto da sua próxima viagem,
ao permitir-lhe ganhar e acumular
milhas da Miles & More, tanto no
céu como na terra. Saiba todas as
características do Cartão Miles &
More da Caixa em www.cgd.pt.
(1) Miles & More Gold (compras): TAEG de
29,7%, para um montante de € 2500, com
reembolso a 12 meses, à TAN de 22,50%. Miles
& More Classic (compras): TAEG de 28,0%,
para um montante de € 1500, com reembolso
a 12 meses, à TAN de 22,50%.
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a rev i s ta d a ca i xa
45
r
roteiro
av e i r o
Veneza portuguesa
Dos moliceiros aos ovos moles, passando
pela incontornável universidade, o que não faltam
são motivos para descobrir a cidade dos canais
Por Pedro Guilherme Lopes
Ilustração Marta Monteiro/www.re-searcher.com
1 museu de aveiro Sugerimos que inicie a sua visita descobrindo este museu,
instalado no antigo Convento de Jesus de Aveiro e com uma coleção onde
cabem pintura, escultura, talha, azulejo, manuscritos, têxteis e ourivesaria dos
séculos XV a XIX.
2 lago da fonte nova Espelho de água artificial, criado no extremo do Canal
do Côjo, está rodeado de excelentes zonas para caminhar ou andar de bicicleta.
3 alugar uma buga Estas bicicletas tornaram-se numa das imagens de
marca da cidade e do seu respeito pelo ambiente.
4 espreitar a sé É uma das referências no que toca ao legado histórico.
5 teatro aveirense A oferta cultural da cidade passa, obrigatoriamente, por
aqui. Aproveite para ver quais os espetáculos em cartaz e adapte a sua agenda.
6 universidade de aveiro Para lá da sua importância enquanto entidade
dinamizadora da cidade, esta é uma paragem para os amantes de arquitetura,
que aqui encontram edifícios com a assinatura de Siza Vieira, Eduardo Souto de
Moura, Alcino Soutinho ou José Carlos Loureiro, entre muitos outros.
7 fábrica de ciência viva Espaço destinado a promover a cultura científica
e tecnológica através do incentivo à experimentação. Os mais pequenos vão
adorar.
8 eco museu e museu de arte nova No primeiro, pode observar os
ancestrais métodos de salicultura da região aveirense; o segundo funciona
como centro interpretativo para a extensa rede de motivos de Arte Nova
espalhados por toda a cidade de Aveiro.
9 bem no centro É impossível ir a Aveiro e não experimentar os fantásticos
ovos moles, sendo nossa recomendação que os compre na Fábrica. Ali perto
fica a zona da Praça do Peixe. Como o próprio nome indica, é aqui que, pela
manhã, se encontra o peixe mais fresco, mudando o cenário ao final da tarde:
passa a ser ponto de encontro para quem decidiu prolongar o dia noite dentro.
E enquanto se delicia com os ovos moles, decida se pretende fazer um passeio
de moliceiro (a Ecorria é uma boa opção) ou se pretende sair da cidade.
10 uma alegria Caso tenha optado por partir à descoberta das zonas
envolventes, sugerimos que visite o Museu da Vista Alegre, em Ílhavo (a cerca
de 5 km), que guarda quase 200 anos de história e de experiência na arte da
porcelana.
11 Há mar e mar E há a praia da Costa Nova com os seus célebres palheiros,
casas típicas de riscas coloridas que prendem a atenção de quem passa.
46
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a re v i s ta d a c a i xa
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f
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fugas
cx
a rev i s ta d a ca i xa
casas de pousadouro
Magia à beira-rio
A cerca de uma hora de caminho do Porto, esconde-se
um local que, de tão belo, só podia mesmo estar escondido.
E o desafio é, precisamente, esse: descobri-lo, com toda a calma,
em casas pensadas ao pormenor, com vista para as águas do Douro
Por Pedro Guilherme Lopes
C
omeçamos com uma confidência:
as Casas de Pousadouro faziam
parte da nossa lista de locais
que, em Portugal, mais nos
despertavam a curiosidade.
O que íamos ouvindo dizer
aguçava a vontade de descobrir estas casas
«plantadas» à entrada do vale do Douro, ainda
para mais, tendo em conta a possibilidade de
tomarmos contacto com a região que inspirou
Eça de Queiroz a escrever uma das suas mais
importantes obras: A Cidade e as Serras. A fonte
maior dessa inspiração terá sido a Quinta de
Vila Nova, situada na freguesia de Santa Cruz
do Douro (Baião). E foi com vista para o rio
que corre agora aos nossos pés que escreveu:
«Pois um rio de verão, manso, translúcido,
harmoniosamente estendido sobre uma areia
macia e alva, por entre arvoredos fragrantes
e ditosas aldeias, não ofereceria àquele que o
descesse num barco de cedro, bem toldado e
bem almofadado, com frutas e champanhe a
refrescarem gelo, um anjo governado ao leme,
outros anjos puxando à sirga, mais segurança
e doçura do que a vida oferecia ao meu amigo
Jacinto.»
Uma questão de conceito
Não podia estar mais certo aquele que é um
dos mais importantes escritores portugueses.
É que, ao entrarmos nas casas, sentimos
que aqui se vivem momentos especiais, ou
não tivessem sido elas construídas a pensar
em receber os amigos (até porque a vida
dos proprietários, Isabel Machado e Jorge
Amorim, estava e continua a estar centrada
no Porto). A história é-nos contada por
Jorge, que nos recebe segundo as regras da(s)
casa(s): como amigos. «Fomos passar um
fim de semana a um empreendimento de
turismo rural e fiquei bastante desiludido
com a inexistente personalização», recorda.
«À vinda, tinha a total certeza de que as casas
que possuíamos e o nosso conceito de receber
permitiriam criar algo francamente superior.»
contrastes O azul da piscina,
o verde da serra e a pedra das
casas mostram-se em perfeita
comunhão
quase a molhar os pés
As Casas de Pousadouro têm
a separá-las do rio um deck de
madeira, que também serve de
zona lounge
cx
a rev i s ta d a ca i xa
49
f
fugas
Do pensamento ao ato não demorou muito e
nasceram as Casas de Pousadouro, que, nos
últimos quatro anos, com o seu conceito de
design home stay, têm conquistado clientes
nacionais e estrangeiros, muitos deles
reservando casa pelo menos uma vez por ano.
Sim, leu bem. Reservando casa. Aqui não se
alugam quartos, mas sim casas: Rocha (T2),
Ruínas (T1+1), Do Piloto (T3) e Amarela
(T3).
Em comum, o contraste entre a pedra
da construção, a decoração moderna e
minimalista e, claro, as paredes de vidro,
que tornam a envolvente natural em algo
sem barreiras A utilização do
vidro na criação das paredes das
salas permite a perfeita integração
na Natureza
luz Pormenor de uma das salas
rural vs. moderno A pedra
contrasta de forma elegante com
o mobiliário minimalista e de
linhas direitas; todos os quartos
apresentam vista para o rio
até amanhã Com o cair da noite,
as Casas de Pousadouro ganham
novas cores
50
cx
a rev i s ta d a ca i xa
efetivamente real e nos dão a ideia de quase
conseguirmos molhar os pés no rio. Depois,
os tais pormenores que marcam a diferença.
Imagine que planeia um fim de semana
romântico e que a única casa disponível
é um T3. Isso não é impedimento. «O
nosso conceito não é ter as casas cheias de
gente, mas sim oferecer uma estada única,
inesquecível, que dê vontade de voltar»,
explica Jorge Amorim. Um iPod já carregado
com músicas eleitas pelos proprietários,
pronto a ser utilizado pelos visitantes, ou a
escolha de um leite mais caro pelo simples
facto de oferecer uma abertura fácil são dois
outros apontamentos que revelam a vontade
de apostar nos pormenores. E, já que de leite
falamos, ele encontra-se no frigorífico das
casas, bem como vários outros condimentos
que permitem a gestão do tempo com total
liberdade. E, após uma prévia conversa
que permite apontar para a hora desejada
para o pequeno-almoço, todas as manhãs
o pão quente e o sumo de laranja acabado
de fazer são deixados em cada uma das
casas. Quem pretender jantar ou almoçar
tem à sua disposição a entrega de refeições
confecionadas por um restaurante próximo.
Já cá fora, há muito por onde escolher. A
piscina panorâmica desafia um mergulho;
o deck de madeira convida a deixar correr
lento o tempo, com pensamentos embalados
pelo movimento das águas do rio;
o legado natural e histórico da região
convida a um passeio. A pé, de barco, de
comboio ou de carro, o que não faltam são
opções a seguir, todas elas preparadas ao
pormenor pelos proprietários, que fazem
questão de explicá-las aquando da entrega
dos roteiros personalizados.
Se o tempo ajudar, pode utilizar um
dos caiaques à disposição e fazer-se ao rio
ou tentar agendar um passeio de lancha
conduzida por Jorge Amorim. «Há uns
tempos, fui fazer um passeio de lancha com
um casal, à noite, e parámos no rio para
beber um pouco de champanhe. Quando
demos por nós, as águas estavam prateadas
com tanto peixe que seguia a corrente»,
recorda Jorge com um enorme sorriso e
uma voz que transparece a emoção de quem
adora o que faz. Nós também sorrimos,
conscientes de que essa história faz todo o
sentido, quando contada e vivida junto a
estas Casas de Pousadouro. As casas
onde, facilmente, pode acontecer magia à
beira-rio.
Guia de Viagem
Como ir
Partindo do Porto, siga pela A4 em
direção a Vila Real. Saia para Marco
de Canaveses (N-321) e siga para
Baião. Na rotunda de Baião, siga
para Eiriz, Santa Cruz do Douro.
Quando encontrar a Repsol (em
Portela do Gôve), vire à esquerda
e siga por 2 km até avistar o
restaurante Almocreve. Siga as
placas à direita indicando Paredes/
Santo Tirso. Desça pela estrada,
seguindo sempre em frente, até
chegar à estrada de alcatrão que
se cruza com aquela em que se
encontra. Siga em frente para Venda
das Caldas. No final do alcatrão, siga
pelo caminho de terra e encontre
as Casas de Pousadouro (preços
a partir de 120 euros/2 pax, e
dependentes do número total
de pessoas).
www.casasdepousadouro.com
O que fazer
Mais perto...
Deixe-se ficar no deck de madeira
ou na piscina panorâmica; utilize
um dos pequenos barcos ou um
dos caiaques à disposição para
remar nas tranquilas águas do
Douro; siga um dos itinerários
propostos pelos proprietários e
aproveite a envolvente natural para
uma caminhada.
... ou mais longe
Considerado Património Mundial
pela UNESCO, o Vale do Douro
permite contemplar a sua beleza
através de cruzeiros de barco,
passeios de comboio a vapor,
passeios em todo-o-terreno ou
raides fotográficos.
Aproveite, igualmente, para
conhecer a Fundação Eça de
Queiroz, em Baião, ou o Museu
do Douro, em Peso da Régua. E,
claro, estando no Douro, é quase
incontornável render-se aos vinhos
e ao enoturismo (a Quinta da Covela
fica perto das casas), bem como
a uma gastronomia de onde se
destacam o anho assado e a posta
de vitela arouquesa.
cx
a rev i s ta d a ca i xa
51
s
saúde
COMO É QUE O CORPO REAGE?
Assim que determinada situação é reconhecida
como stressante pelo nosso organismo, há
uma resposta nervosa e hormonal simultânea,
cujas principais consequências são a libertação
de adrenalina e de cortisol pelas glândulas
suprarrenais, bem como de outros mediadores
(vasopressina, opióides), que constituem a base
para a resposta de «luta ou fuga». Ao nível do
sistema digestivo, «surgem, então, clinicamente,
algumas das manifestações, como, por exemplo,
a boca seca, a dificuldade de deglutir, a anorexia,
as náuseas, a diarreia, entre outras», descreve
Vítor Viriato, coordenador da Unidade de
Gastroenterologia do Hospital da Boavista,
no Porto.
VALORIZAR OS SINAIS E AGIR
Sem stress
A ansiedade, as preocupações e o ritmo de vida podem ser
fatores geradores de stress. Com impacto sobre diversos órgãos e sistemas
vitais, é importante saber defender-se e prevenir os seus malefícios
Saber mais sobre os efeitos do stress na
saúde não deve gerar mais preocupações,
mas sim esclarecimento e ideias sobre como
gerir melhor o seu dia a dia, até porque
«o stress, por si só, não é o suficiente
para desencadear uma doença», afirma
Vítor Viriato, coordenador da Unidade de
Gastroenterologia do Hospital da Boavista,
no Porto. Para que isso aconteça, continua,
«é necessário que outras condições estejam
presentes, como uma vulnerabilidade
orgânica, genética, autoimune, infeciosa ou
uma forma inadequada de avaliar e enfrentar
a situação causadora de stress».
O stress pode afetar praticamente todos
os sistemas, desde o cardiovascular ao
dermatológico, incluindo o génito-urinário
e o imunológico, entre outros. No que diz
respeito ao sistema digestivo, são várias
as situações clínicas em que o stress e a
ansiedade têm um importante papel no
seu surgimento ou evolução. Embora não
seja a causa destas doenças, a síndrome do
52
cx
a rev i s ta d a ca i xa
intestino irritável, a dispepsia funcional,
a doença de refluxo gastro-esofágico
e a úlcera péptica são alguns exemplos
de patologias associadas ao stress.
Tempo para viver
Nesta como noutras áreas da
Gastroenterologia, é necessário estar
atento aos chamados sinais de alarme. «A
disfagia – dificuldade em engolir – a dor
abdominal persistente, inclusive noturna,
os vómitos continuados, o emagrecimento,
a icterícia, a alteração persistente do
trânsito intestinal e as perdas de sangue são
situações que, frequentemente, nos indicam
estarmos perante uma doença», adverte o
gastroenterologista. Entretanto, e porque
é possível prevenir alguns fatores de risco,
Vítor Viriato lembra que «a maior causa
do stress está relacionada com o estilo de
vida. Passa-se a maior parte do tempo a
trabalhar, não há tempo para comer uma
refeição, come-se à pressa, não se mastiga
corretamente e aquilo que se ingere mais
frequentemente são açúcares e gorduras. Não
se ingerem legumes e fruta e o sedentarismo
é regra. Por outro lado, as bebidas alcoólicas,
as bebidas gaseificadas, o café em excesso
e o tabaco têm, também, efeitos negativos
bem conhecidos».
Além dos distúrbios do foro digestivo,
o stress é também um conhecido inimigo
do coração. «O stress psicológico agudo
provoca a libertação, para a corrente
sanguínea, de substâncias que levam a um
aumento do ritmo cardíaco e da tensão
arterial, que podem desencadear arritmias
e crises hipertensivas, e contribuem para
a lesão vascular», explica Severo Torres,
coordenador da Unidade Cardiovascular do
Hospital da Boavista, no Porto. E embora
não seja possível erradicar estes e outros
problemas, é possível gerir a ansiedade e a
angústia que provocam. «O exercício físico
regular, dormir entre seis a oito horas por
dia, fazer períodos de descanso ao longo
do dia de trabalho, seguir uma alimentação
saudável e desenvolver atividades de lazer
são fatores importantes no combate ao stress
diário», completa o especialista.
Ilustração: iStockphoto
mente e corpo sãos
À primeira vista, é difícil distinguir uma crise de
pânico de um evento cardíaco real. Segundo Severo
Torres, coordenador da Unidade Cardiovascular do
Hospital da Boavista, no Porto, saber reconhecer
os sinais de um ataque cardíaco é fundamental
para agir atempadamente. «Devem constituir
motivo de alerta os seguintes sinais e sintomas:
desconforto, pressão ou dor no centro do peito, que
pode espalhar-se para outras áreas do tronco, para
um ou para os dois braços, para as costas, pescoço,
maxilar ou estômago. Outros sinais e sintomas
acompanhantes que podem ocorrer são fraqueza
ou fadiga inexplicáveis, falta de ar, suores, náuseas,
vómitos, palidez e desmaio.»
*Suaves prestações mensais sem juros, TAEG 0%, mediante pagamento por cartão de crédito, débito direto ou multibanco. Campanha válida em Portugal até 30/09/2012, salvo erro tipográfico.
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operador
C0796
f
finanças
P o u pa n ç a
Com que taxas contamos
Quem gere rendimentos deve estar atento aos números que mexem
com as suas finanças pessoais. Para isso, tem de conhecer as taxas
que incidem diretamente sobre as suas contas e o seu dinheiro
TANB e TANL: A taxa anual nominal bruta
(TANB) – habitualmente mencionada nos
anúncios a depósitos a prazo – corresponde à
taxa anual nominal sem estarem descontados
os impostos. Por exemplo, a TANB num
depósito a prazo de um ano que pague juros
no final do prazo pode ser de três por cento,
mas este valor não é o mais relevante para
o depositante. Para saber quanto ganha de
juros depois de descontados os impostos, é
necessário retirar a parcela de IRS (25 por
cento, em 2012) aos juros, que, no fundo,
reflete a taxa anual nominal líquida (TANL).
A TANL calcula-se de acordo com a seguinte
a fórmula: (1- 0,25) x TANB.
TAE: A taxa anual efetiva (TAE) calcula
os encargos com o pagamento de seguros
e comissões, somando-os à TAN, o que
aproxima mais o custo do crédito ao real peso
54
cx
a re v i s ta d a c a i xa
Arredonde com a Caixa
Ao efetuar compras com
determinados cartões, pode
beneficiar do arredondamento
das mesmas, revertendo
o montante arredondado
automaticamente para uma
conta de poupança, PPR ou
fundo de pensões, conforme
o cartão utilizado. É muito
simples: basta pedir em qualquer
Agência da Caixa ou no serviço
Caixadirecta Telefone para
associar um dos três programas
de arredondamento à escolha
a um cartão da Caixa elegível.
Saiba mais em www.cgd.pt.
para o cliente, embora esta ainda não tenha
em conta o pagamento dos impostos.
TAEG: Ao contrário da anterior, a taxa anual
de encargos efetiva global mede todos os
custos que um crédito pressupõe, impostos
incluídos (apenas se excluem os custos
do notário). Na TAEG, incluem-se juros,
comissões e impostos decorrentes do crédito,
as comissões de mediação do crédito, os
seguros contratados por via do empréstimo e
custos associados a uma conta necessária para
ter acesso a este.
Euribor Taxa de referência no mercado
monetário interbancário da Zona Euro, a
Euribor (European Interbank Offered Rate) é
o principal indexante dos empréstimos com
taxa variável. Calculada diariamente, tendo
em conta as taxas praticadas nos depósitos
entre os 44 principais bancos europeus, a
Euribor é mais frequentemente indexada a 3,
6 e 12 meses.
Taxa de IRS: As aplicações financeiras e outros
investimentos pagam IRS, pelo que convém
saber quanto paga na hora de receber o seu
dinheiro investido. Nos montantes aplicados
em depósitos e contas de poupança ou
recebido em dividendos de ações, mais-valias
com obrigações, taxas de juro de obrigações
(já descontada) e rendimentos de resgate de
seguros de capitalização (já descontada), a taxa
de IRS na fonte é de 25 por cento.
Taxa de esforço: Ao invés do que acontece
com todas as outras, esta taxa não pressupõe
um pagamento, mas é essencial que a calcule,
para verificar se os empréstimos contraídos
não põem em causa a segurança da sua vida
financeira. Deste modo, a taxa de esforço
corresponde à relação entre o montante das
prestações de crédito e o rendimento total
disponível do agregado familiar. Para evitar
que surjam ameaças graves à estabilidade
dos seus rendimentos, esta taxa não deve ser
superior a 40 por cento.
Ilustração: iStockphoto
Taxa de inflação: Não é preciso ser um
perito em Economia ou Finanças para
já ter ouvido falar na taxa de inflação.
Afinal, é ela que nos indica a evolução
do custo de vida, medindo a
variação do índice de preços no
consumidor, que, por sua vez,
junta os preços de um cabaz de
bens representativo do consumo
das famílias portuguesas – desde
produtos alimentares a despesas com
transportes e habitação, entre outros.
Para perceber o impacto que esta taxa
tem sobre a sua carteira, basta pensar
naquilo que pode comprar hoje com 1000
euros. Se, por exemplo, na próxima década
a taxa de inflação fosse de três por cento ao
ano, sabe quanto dinheiro teria de ter, ao fim
desses dez anos, para conseguir comprar as
mesmas coisas que compra hoje com esses
1000 euros? A resposta é 1344 euros.
literacia financeira
Novo Saldo
Positivo Empresas
O programa de literacia financeira da Caixa acaba de ser alargado às empresas
e aos seus gestores, com o lançamento do Saldo Positivo Empresas
O Saldo Positivo é a referência da
literacia financeira em Portugal, a ajudar
as famílias a tomar as melhores decisões
financeiras desde 2008. Agora, a Caixa
associa-se aos empreendedores para
os ajudar no seu exercício diário de gestão.
O público-alvo desta nova área são
as 348 552 Pequenas e Médias Empresas
(PME) e, também, os mais de 700 mil
profissionais liberais.
O tecido empresarial português é
quase na totalidade constituído por
microempresas ou PME, que se debatem
com dificuldades diversas de gestão.
Equipas pequenas, com uma média de seis
pessoas, determinam a dificuldade em estar
informado e em projetar o seu negócio com
as exigências atuais.
Esta nova abordagem à literacia
financeira consolida, por isso, uma
estratégia de apoio ao crescimento do
nosso tecido empresarial, com o fomento
de competências e valor, fatores críticos de
sucesso num contexto competitivo e global.
Francisco Viana, diretor central da
empresas
Direção de Comunicação e Marca da CGD,
explica que «o acesso à informação é
fundamental para o sucesso das empresas».
Nesse sentido, o Saldo Positivo Empresas
tem conteúdos sobre gestão, recursos
humanos, finanças, impostos, apoios do
Estado e da banca, marketing e mercados,
todos tratados editorialmente por uma
equipa de jornalistas especialista nestas
matérias. Além disso, «temos os nossos
comerciais no terreno que fazem com que
89 por cento das empresas nossas Clientes
nos recomendem e que tenhamos sido
considerados pelas PME como a marca mais
sólida», refere o responsável.
Neste seu ano de lançamento, o Saldo
Positivo Empresas visará duas temáticas
essenciais: a criação de empresas e a
exportação. Estes conteúdos exclusivos são
disponibilizados em texto, vídeo, em versão
guia prático, infografia, ficha de mercado e
casos de sucesso.
Em www.saldopositivo.cgd.pt/empresas,
os gestores e os empreendedores podem
aceder à informação de que precisam para
lançar, planear ou gerir a sua empresa.
«O nosso objetivo, com o Saldo Positivo
Empresas, é que a Caixa seja um o parceiro
de eleição das empresas portuguesas,
apostando na literacia financeira de
empreendedores e empresários,
ajudando-os a tomarem as melhores
decisões de gestão». Trata-se, pois, de «uma
aposta clara na consolidação da política de
responsabilidade social da CGD, porque
acreditamos que investir em educação é o
grande desafio para um futuro melhor»,
concretiza Francisco Viana.
Há um banco que mexe e faz mexer
o País. A Caixa. Com Certeza.
Calcule a sua Poupança
Veja quanto pode poupar com
o PAP e comprove que a vida
automaticamente continua.
Já conhece a calculadora de
poupança da Caixa? Está
disponível no site da CGD, em
www.cgd.pt/pap, e permite
aferir os resultados mensais
das suas economias, de acordo
com o seu perfil de poupança e
de Cliente. A Caixa disponibiliza
quatro versões da calculadora,
adaptadas às diferentes
exigências de cada faixa etária,
nomeadamente para jovens
Independentes, adultos sem
filhos, adultos com filhos e
adultos com mais de 55 anos. Em
cada uma, encontrará as várias
soluções que se adaptam ao
respetivo perfil, sendo possível
selecionar aquelas com as
quais se identifica, ajustando
os níveis de poupança de cada
uma de acordo com as suas
possibilidades ou interesses.
No final, e de forma automática,
as contas são apresentadas
simulando o total segundo
o cenário mensal por si
estabelecido. E pode simular
uma e outra vez, testando qual
o cenário de poupança mais
adequado às suas necessidades.
Verá que, com o Plano
Automático de Poupança, é
possível poupar de forma prática,
automaticamente e sem esforço.
cx
a re v i s ta d a c a i xa
55
educação
M o t i vaç ão
O que os trabalhadores
querem
Se o trabalho não tem de ser uma obrigação, e muito
menos uma provação, há que encontrar os fatores que potenciam
o envolvimento, o empenho e a satisfação dos funcionários.
Porque quem trabalha por gosto, não cansa
Por Ana Rita Lúcio
Trabalho é trabalho, conhaque é
conhaque. Se lhe perguntarmos, talvez
não nos saiba esclarecer exatamente onde,
quando, como e porquê surgiu esta máxima
popular que, numa ou noutra situação, todos
já escutámos ou, quem sabe, até afirmámos,
carregando consigo um desabafo, um conselho
ou mera constatação. Porém, não parece haver
dúvidas quanto ao significado da expressão
que, em jeito de metáfora, nos faz caminhar
até à fronteira bem marcada entre os afazeres
laborais e os momentos de lazer. E se é certo
que trabalho não tem forçosamente de ser
sinónimo de diversão – e se o for, não é
por isso que deve ser encarado com menor
seriedade ou empenho –, não é menos verdade
que, seja em tarefas criativas, administrativas
ou de outra ordem, a satisfação de quem
trabalha é fundamental para o sucesso laboral.
E desengane-se quem pense que quem
ganha são só os trabalhadores. As chefias e
as próprias instituições também lucram: em
produtividade, em qualidade e em objetivos
cumpridos ou mesmo superados.
A chave para que quem trabalha encontre
prazer, realização e retribuição naquilo que
faz, contribuindo para os bons resultados
dos projetos em que está envolvido ou das
instituições empregadoras, conta-se numa
simples palavra: motivação.
Mãos à obra
A motivação prende-se com fatores diversos,
internos e externos, que vão desde a
remuneração, às condições de trabalho,
passando por questões menos tangíveis
– mas não menos importantes – como o
reconhecimento ou a criação de novos e
constantes desafios. De função para função,
56
cx
a rev i s ta d a ca i xa
de pessoa para pessoa, vão-se adaptando à
medida de cada um. No entanto, o primeiro
passo para ter vontade, alento, gosto e, por que
não dizê-lo, êxito naquilo que faz começa no
próprio trabalhador.
Uma atitude positiva e enérgica é
absolutamente imprescindível, assim como
o desejo de ter sucesso, fazer mais e melhor,
ultrapassar obstáculos e alcançar determinadas
metas (autodefinidas ou impostas). E, por falar
em metas, estas devem estar bem estabelecidas,
já que trabalhar sem objetivos claros é uma
das principais causas de desmotivação dos
recursos humanos. Depois, há que olhar
para «dentro». Pensar positivo não basta: há
que acreditar nas suas próprias capacidades,
somando-lhe a autoconfiança e a autoestima.
Isso não significa, porém, que ignore eventuais
críticas que lhe sejam feitas, sobretudo se
forem construtivas. Aceite os reparos que lhe
são feitos e, mesmo que os refute – se for caso
disso –, procure sempre aprender com eles.
Finalmente, não se esqueça de deitar para
trás das costas, e para fora da secretária, um
comportamento de resistência à mudança: a
Print
MOTIVAÇÕES PARA
TODOS OS GOSTOS
Conheça alguns dos fatores
motivacionais que importam
em matéria laboral.
>C
ompensações monetárias;
> Definição de objetivos claros
e mensuráveis;
> Desempenho de tarefas de
responsabilidade;
> Saber que se está a
contribuir para a tomada de
decisões que têm impacto
para a organização;
> Enriquecimento profissional
e/ou formativo;
> Possibilidade de evoluir em
termos de carreira;
> Acompanhamento;
> Reconhecimento por parte
dos pares e dos superiores
hierárquicos;
> Desafios inovadores.
adaptação às novas tecnologias e aos novos
tempos, estando atento às inovações que vão
surgindo, podem ditar um maior entusiasmo
profissional.
De fora para dentro
Acontece que, na maioria dos casos, não se
trabalha sozinho. Daí que o ambiente e as
pessoas com quem se trabalha têm um papel
motivacional a desempenhar. E não é um
papel secundário. A relação com os colegas e
os comportamentos destes são relevantes, mas
são os líderes os verdadeiros protagonistas.
Em mente devem ter o facto de que nem
todos os estímulos de motivação funcionam
de igual modo junto dos seus colaboradores.
E se, de facto, os ganhos salariais são os mais
importantes para uma percentagem substancial
dos funcionários, há quem eleja a atenção e o
reconhecimento do superior hierárquico e a
oportunidade para crescer a nível profissional
ou de formação como um dos aspetos mais
recompensadores no contexto laboral. Porque
trabalho é trabalho, não é conhaque. Mas,
mesmo assim, pode e deve saber bem.
Foto: Simon Potter/Getty Images
e
s
sustentabilidade
Ecograffiti
Arte viva
São verdes os tons que dão cor à nova forma de expressão artística
que vive e respira nas ruas, multiplicando-se em padrões de beleza única.
É o ecograffiti, a arte amiga do ambiente
Por Helena Estevens
58
cx
a re v i s ta d a c a i xa
fluídas e soltas, fragmentos de poemas,
aplicadas com ingredientes totalmente
biodegradáveis em espaços públicos
degradados, as suas «telas urbanas».
O musgo é, também, a escolha de Edina
Tokodi, húngara residente em Nova Iorque,
cujos motivos preferidos se centram em
coelhos e outros animais, em obras de
natureza tão diversa como candeeiros e
murais de rua. Foi a forma que encontrou
para «ajudar as pessoas a sentirem-se melhor
com a vida, através da aproximação à
natureza, mesmo na maior das cidades». A
inspiração, foi buscá-la aos Jardins Zen, no
Japão, numa viagem, há pouco mais de uma
década, que lhe deixou profundas marcas,
refletidas, desde então, no seu trabalho.
As receitas para cultivar o musgo nas
paredes – como alternativa às tradicionais
tintas em spray usadas nos graffiti que entre
nós ainda são mais familiares – encontram-se
facilmente através de uma busca na Internet,
muitas delas tradicionais, baseadas nos
métodos usados há muito por jardineiros.
A lama é outro dos materiais utilizados,
sendo aplicada com esponjas, em espaços
públicos, para apelar a uma maior consciência
ambiental. Jesse Graves é um dos percursores
desta forma de expressão, recorrendo a
stencils «para promover uma maior perceção
e preocupação em relação às questões
ambientais». O ativismo e justiça social são
outras das suas causas, tendo colaborado na
reforma da Tamms, «uma prisão horrível»,
no Illinois, EUA. Lama porquê? Por ser «uma
substância dadora de vida essencial, lógica
para as minhas mensagens», que incluem,
entre outras, imagens de bicicletas, garrafas
de óleo, vacas, plantas e frases.
Fotos: Luís Barra/Visão
Em plena floresta urbana, uma nova
forma de arte desperta a atenção de quem
passa. Miniecossistemas de relva e musgo em
pinturas e murais, verdadeiras obras-primas,
espalham-se pelas cidades de concreto, numa
tentativa – claramente alcançada – de trazer
um pouco de natureza para as cidades. Numa
altura em que as árvores e os espaços verdes
parecem escassear cada vez mais nos espaços
urbanos, mesmo nas zonas residenciais,
o ecograffiti ajuda a contrabalançar essa
ausência e a dar um pouco mais de alegria
a quem passa. Esta é, pelo menos, a intenção
dos vários artistas a lutar por esta causa um
pouco por todo o mundo.
No Reino Unido, Anna Garforth,
designer atraída pela ecologia urbana e pela
sustentabilidade, encontra no musgo a
matéria-prima para criar letras de traçado
regular que se unem em palavras e frases
RESPONSABILIDADe
Sustentabilidade
cada vez mais em agenda
Inquérito a stakeholders reforça a importância
do compromisso assumido pela Caixa ao nível
da sustentabilidade
A Caixa levou a cabo a consulta anual a
stakeholders, uma iniciativa inserida no âmbito
do seu Programa de Sustentabilidade e que
reflete uma preocupação no desenvolvimento
de relações transparentes e de confiança
com os vários interessados. Falamos de
colaboradores, da comunidade, dos Clientes
particulares e empresas, dos fornecedores,
assim como das entidades reguladoras e do
acionista Estado. Esta consulta tem como
objetivo avaliar a perceção que estes agentes
têm sobre a CGD e identificar as suas
principais expetativas e oportunidades de
melhoria, em matéria de desenvolvimento
sustentável, servindo, também, de base à
definição de assuntos relevantes a abordar no
relato de sustentabilidade. Findo o processo
de consulta, ficam as principais conclusões.
Segundo a maioria dos inquiridos, a CGD
assume particular relevância para o setor
financeiro pela solidez, confiança e rigor
que advoga, sobressaindo a sua elevada
credibilidade e reputação (ver Destaques da
Consulta). O contributo positivo da atividade
da CGD para a sociedade e os níveis de serviço
associados ao atendimento na rede de Agências
são outras das ilações.
As conclusões saem de um total de
3520 respostas, sendo que, entre o público
externo, encontramos 33,6% de Clientes
particulares, 25,3% de Clientes empresas,
31,5% de fornecedores e 9,6% de Instituições
Particulares de Solidariedade Social. Ao nível
das temáticas mais valorizadas, destaque para
a «Segurança dos Clientes e do seu património
financeiro» e «Práticas de combate à corrupção
e branqueamento de capitais», no caso dos
stakeholders externos, enquanto os internos dão
maior preponderância ao «Desenvolvimento
do capital humano» e à «Qualidade do serviço
e satisfação dos Clientes». A CGD reconhece
e valoriza estes resultados, considerando que
o envolvimento com os vários grupos de
stakeholders constitui uma ferramenta estratégica
para a identificação e compreensão das
necessidades, preocupações e expectativas em
relação à sua atuação e ao futuro. Nesse sentido,
a informação agora recolhida, além de tratada
e incorporada na gestão, será, igualmente,
integrada nas estruturas funcionais afetas à
implementação do Programa Corporativo de
Sustentabilidade, tendo em vista a melhoria
contínua do desempenho da CGD.
Print
CGD é Prime em
sustentabilidade
A Caixa foi avaliada pela
Oekom, agência alemã de
rating de sustentabilidade
empresarial, como empresa
best in class no setor
financeiro a nível internacional
A notação Prime atribuída
à CGD constitui mais um
reconhecimento de mérito
ao desempenho sustentável
do Banco e aos compromissos
assumidos para o futuro.
Tudo em benefício das várias
gerações, da sociedade
e da economia nacional
e do ambiente, reforçando
o papel da Caixa como
legítima embaixadora
do setor financeiro
português na aplicação das
melhores práticas de gestão
internacionais.
A Caixa detém, atualmente,
um programa de
sustentabilidade abrangente
e estruturado, que
tem vindo a ser reconhecido
por diversas entidades,
nacionais e internacionais.
Um programa construído
com o grande empenho dos
colaboradores do Grupo CGD
e com o contributo dos seus
vários stakeholders.
A Caixa vê o futuro com outros
olhos, com responsabilidade
e confiança, valorizando
os desafios e as
oportunidades emergentes.
Trata-se de uma aposta
na sustentabilidade e no
futuro dos portugueses.
Foto: iStockphoto
destaques da consulta
99% dos stakeholders auscultados
consideram que o desenvolvimento
sustentável é muito importante ou
importante.
72% dos stakeholders externos e 82%
dos colaboradores consideram que é
responsabilidade da CGD contribuir
para o desenvolvimento sustentável
do setor bancário português.
77% dos stakeholders externos
consideram que o desenolvimento
sustentável é importante para a
CGD, pois o desempenho desta deve
pautar-se pela adoção permanente
de boas práticas/conduta ética.
Mais de 80% dos stakeholders
consultados considera o grau de
envolvimento com a CGD como muito
bom ou bom.
cx
a re v i s ta d a c a i xa
59
agenda
Exposições
desconhecida, onde nomes
como Henry Darger, Adolf Wölflï,
Madge Gill, Scottie Willson ou
Augustin Lesage são aos poucos
reconhecidos.
As Sombras de Lisboa
Até 2.9
Fundação CGD – Culturgest, Lisboa
Referência na Bélgica e figura
de culto no mundo da arte
internacional, Jef Geys é, ainda,
um artista pouco conhecido
por cá. Um facto a que não será
alheia a natureza idiossincrática
do seu trabalho, nem a sua
independência face às forças
do mundo da arte e às regras
do jogo instituídas. Em 1998,
publicou um volumoso livro com
todas as suas fotografias a preto
e branco até essa altura, fruto de
centenas de provas de contacto,
duas em Lisboa. Esta exposição
toma como material de base as
36 fotografias reunidas na última
prova de Lisboa.
Festivais
Festival das Artes
Até 29.7
Coimbra
Música
Cooljazz Fest
21.7
(Pablo Alborán, com participação
especial de Carminho)
Jardins do Marquês de Pombal, Oeiras
22.7
(Pat Metheny Unity Band com
Chris Potter, Antonio Sanchez
& Ben Williams)
Jardins do Marquês de Pombal, Oeiras
descobrir O trabalho de Jef Geys
Pedro Casqueiro
Até 2.9
Fundação CGD – Culturgest, Porto
Nos últimos 20 anos,
paralelamente à rotina da sua
atividade, Pedro Casqueiro foi
criando algumas obras que se
desviam dos desenvolvimentos
Condições exclusivas Para
cartões cgd
40% de desconto na aquisição
de até 2 bilhetes por espetáculo
e exposição aos titulares
dos cartões Caixa Fã, ITIC, ISIC,
CUP e Caixa Activa.
30% de desconto na aquisição
de até 2 bilhetes por espetáculo
e exposição aos titulares
dos cartões Caixa Gold,
Caixa Woman, Visabeira
Exclusive, Leisure e Caixadrive.
60
cx
a re v i s ta d a c a i xa
Está de volta um dos mais
importantes festivais de música,
com dois dias imperdíveis.
Primeiro, Pablo Alborán, com
participação especial da fadista
principais e sobejamente
conhecidos da sua pintura.
São, na sua maioria,
obras de pequena dimensão,
que incorporam técnicas e
materiais exteriores à pintura;
obras em que a dimensão
objetual e a exploração da
materialidade das superfícies
surgem em evidência. Esta
exposição reúne um conjunto
dessas obras atípicas no corpo
de trabalho de Casqueiro.
Algumas foram já apresentadas,
mas a maioria ficou, até hoje,
no atelier ou foi parar às mãos
de amigos.
portuguesa Carminho (na foto).
Considerado o artista do ano
de 2011, em Espanha, pelo
sucesso do seu álbum de
estreia, Pablo Alborán depressa
conquistou, também, Portugal
com o seu novo En Acustico.
A noite seguinte fica a cargo
do lendário guitarrista do jazz
Pat Metheny, acompanhado
pela sua nova formação,
Pat Metheny Unity Band.
Vencedor de 18 Grammies,
este é um dos músicos de jazz
mais reconhecidos em todo
o mundo.
Arte Bruta. Terra Incógnita
Até 23.9
Fundação Arpad Szènes-Vieira da
Silva, Lisboa
O termo «Arte Bruta», usado
pela primeira vez por Jean
Dubuffet em 1945, refere-se a obras de arte ditas
«marginais»: arte de loucos,
arte dos mediuns, arte realizada
pelo homem comum invadido
por um impulso criativo. A
coleção Treger-Saint Silvestre,
composta por cerca de 600
obras, dois terços das quais
ditas obras de artes marginais,
convida-nos a entrar nesta terra
O projeto Festival das Artes
nasceu em 2009, contando,
desde então, com o apoio
da CGD. Um ano depois, foi
considerado um dos quatro
principais eventos culturais
realizados em Portugal. Trata-se
de um festival multifacetado,
que, em cada edição, percorre
diversas áreas temáticas,
desde a gastronomia ao
teatro, passando pela pintura,
literatura, cinema, fotografia, mas
afirmando-se, prioritariamente,
ao nível musical.
Festival Internacional
de Jardins de Ponte de Lima
Até 31.10
Ponte de Lima
Decorre em Ponte de Lima,
com o apoio da Caixa, a oitava
edição do Festival Internacional
de Jardins de Ponte de Lima,
este ano dedicado ao tema
«Jardins p’ra comer». Poderá
visitar 11 jardins diferentes,
instalados na marginal do rio
Lima, representando trabalhos
de autores portugueses e,
ainda, de outros provenientes
da Dinamarca, Irlanda, Itália e
Espanha.
Festival Rota das Artes
21.9 a 14.10
Grande Lisboa
Os monumentos e museus da
Grande Lisboa recebem um
festival que junta concertos,
exposições, bailado, entre muitas
outras propostas. E há, ainda,
muitas visitas. Um universo a
descobrir.
Foto: Jef Geys (exposição As Sombras de Lisboa)
a
c
cultura
1. dr. dee
2. amor monstro
3. incarceron
as escolhas de...
Damon Albarn
Rachel Bright
Catherine Fisher
EMI Music
Editorial Presença
Porto Editora
António
Damon Albarn está de
volta com um álbum
inspirado na vida de
John Dee, matemático
e conselheiro da Rainha
Isabel I de Inglaterra. O disco
combina a voz de Damon
com coros antigos Ingleses,
instrumentos modernos e
sons do mundo.
A prova de que um
monstro peludo e de olhos
esbugalhados pode ser
adorável. É ele a personagem
principal desta história
ternurenta, sobre como
o amor nos surpreende.
Imagine uma prisão
que abrange masmorras,
galerias, bosques de metal,
mares e cidades em ruínas.
Imagine a filha do guardião
a engendrar um plano de fuga
com um prisioneiro.
(€ 6,93, na Wook on-line)
(€ 14,94, na Wook on-line)
Zambujo
Fadista
A apresentar o seu mais
recente álbum, Quinto, faz
uma pausa no trabalho e
revela-nos os seus títulos
incontornáveis.
Let´s get lost é um
documentário sobre a vida
complicada do meu ídolo,
Chet Baker, que considero
obrigatório. Para ler, sugiro
Para viver um Grande
Amor, de Vinicius de
Moraes, o livro que me
levou ao Vinicius. Para
ouvir... Pode ser The Heart
of Saturday Night, de
Tom Waits, Cinco dias e
Meio, de Miguel Araújo ou
Cantigas de Maio,
de Zeca Afonso.
(€ 17,99, na Fnac on-line)
4. Fernando
Pessoa uma
quase-autobiografia
José Paulo Cavalcanti
Filho
Porto Editora
Já considerado a mais
completa e detalhada
reconstituição que
jamais se fez da vida de
Pessoa, este é um livro
obrigatório.
(€ 22,50, na Wook on-line)
8. MTV unplugged
Florence + The Machine
Universal Music
Ao lado de três membros
da sua banda e de um coro
gospel, Florence levou a
palco um concerto que
incluiu algumas das suas
canções mais populares.
O resultado é fantástico!
(€ 14,99, na Fnac on-line)
5. Little Broken
Hearts
7. O Gosto Proibido
do Gengibre
6. lodolândia
Jamie Ford
Bertrand Editora
Norah Jones
Crescendo numa ilha onde
a sua família gere o parque
temático de luta com
jacarés, a jovem Ava Bigtree
é protagonista de um dos
livros mais surpreendentes
do ano.
EMI Music
(€ 15,93, na Wook on-line)
(€ 17,99, na Fnac on-line)
Porto Editora
Um grande romance,
que, através de um amor
intemporal, nos revela
uma das épocas mais
conflituosas da História dos
Estados Unidos .
(€ 14,94, na Wook on-line)
Karen Russell
Aquela que é uma das melhores
vozes da atualidade volta a
trabalhar com o genial Danger
Mouse, oferecendo-nos um
disco cinematográfico e feito de
grandes canções.
cx
a re v i s ta d a c a i xa
61
c
cultura
B R AG A , C A P I TA L E U R O P E I A DA J U V E N T U D E
À conquista do futuro
Está de parabéns esta cidade que representa a Capital Europeia
da Juventude 2012. O País assiste à força da geração juvenil como um sinal
de esperança… Afinal, Braga é a quarta cidade a que foi atribuída esta designação
Por Paula de Lacerda Tavares
Que Portugal seja uma referência
internacional é algo de inegável orgulho
para os portugueses. Além de sermos um
País de uma beleza espantosa, é, sem dúvida
alguma, a nossa maneira de ser e de viver
que nos define como um povo acolhedor,
comunicativo e voluntarioso, entre muitas
outras características. Através da música, em
especial o fado como Património Imaterial da
Humanidade, das diferentes formas de arte, de
ciência ou do desporto, há sempre momentos
de glória pelo talento reconhecido que tem
dignificado esta Nação e as suas gentes ao
longo da história.
62
cx
a rev i s ta d a ca i xa
A escolha do Fórum Europeu da Juventude
para Capital Europeia da Juventude em 2012
recaiu em terras lusas, sucedendo a Antuérpia
como sede do evento no ano passado. Braga
foi a cidade eleita, entre uma concorrência com
duas cidades gregas, Irácion (a capital da ilha
de Creta) e Byron (perto de Atenas). Para trás,
ficaram, ainda, as candidaturas de outras sete
cidades, entre as quais Málaga (em Espanha),
Sarajevo (na Bósnia) e Roubaix (em França).
Aquando da sua proposta de candidatura,
a Câmara Municipal de Braga apresentou
um argumento de peso: o facto de Braga ser,
efetivamente, um dos concelhos mais jovens
de toda a Europa. E como contra factos não
há argumentos, eis, pois, Braga a merecer a
atenção nacional e europeia.
Braga acontece
Mais do que um título, é preciso, então,
que Braga se revele. Por isso, o programa
de atividades caracteriza-se por temas
como a participação ativa dos jovens
na sociedade, espaços ao ar livre para
expressões de mostras da cultura juvenil,
espaços para a aprendizagem informal,
incentivos ao diálogo intergeracional e,
ainda, inovadoras abordagens ao emprego
Fotos: Sofia Pereira/Lusoimages/Getty Images; D.R. (restantes)
jovem, multiculturalismo e integração.
Digamos que, numa altura em que Portugal
é cenário de preocupação também para
os jovens, causado pelo elevado nível de
desemprego e dificuldades económicas para
assegurar os estudos, a vitória desta escolha
impulsiona novas ideias e ações, abrindo
caminhos e contactos que fazem acreditar na
possibilidade de várias melhorias.
Mas, afinal, de que se trata esta atribuição?
Simples, a designação de Capital Europeia
da Juventude é atribuída a uma cidade
europeia por um período de um ano. Durante
esse espaço de tempo, a cidade sugere um
programa multifacetado que confira um
maior destaque à riqueza, à diversidade e
às características comuns da aproximação
intergeracional europeia, tal como o
empreendedorismo dos jovens no Continente.
Esta designação de Capital Europeia da
Juventude teve início em 2009, com Roterdão
(nos Países Baixos); em 2010, foi em Turim
(Itália) e, em 2011, em Antuérpia (Bélgica).
E após a «nossa» Braga, será Maribor
(na Eslovénia), em 2013.
O Verão 2012 será um Mega Verão
O Cartão Jovem é uma iniciativa nacional, com um
âmbito europeu, que existe desde 1986 e oferece
vantagens em várias áreas do dia a dia dos jovens.
A Caixa disponibiliza o Cartão Jovem com uma
vertente bancária associada: o Megacartão Jovem.
Este é um cartão dedicado aos jovens dos 12 aos 29
anos (inclusive), constituindo uma excelente opção,
dado que conjuga, num só cartão, a vertente de
débito com acesso à conta de depósitos à ordem
e a vertente de descontos.
Tal como os descontos, disponíveis
em toda a Europa, também a função
bancária pode ser utilizada de forma
generalizada, permitindo efetuar
compras e levantamentos dentro e
fora de Portugal:
Descontos em Portugal: em 15 mil pontos de venda;
Descontos no estrangeiro: em cerca de 250 mil
pontos de venda, em mais de 40 países europeus.
Como principais vantagens, contam-se os
descontos em cinemas, festivais de música, viagens,
pousadas de juventude, eventos desportivos,
museus, monumentos e diversos estabelecimentos
comerciais, entre outros.
Até setembro de 2012, o Megacartão Jovem marca
presença nos principais festivais de
verão e, também, com uma grande
festa em Braga, Capital Europeia
da Juventude, tendo em vista dar a
conhecer este cartão e as vantagens
de que os jovens podem usufruir com a
sua utilização.
cx
a rev i s ta d a ca i xa
63
c
cultura
hugo pires
«Braga 2012 vai perdurar no tempo»
O presidente do Conselho da Administração da Fundação Bracara
Augusta/Braga 2012 retrata como esta iniciativa tem superado
expectativas, o caminho até agora percorrido e o que está
a mudar com promissoras implicações futuras
Por Paula de Lacerda Tavares
Cx: De que forma Braga acolheu esta eleição
como Capital da Juventude?
Hugo Pires: A conquista do título de Capital
Europeia da Juventude 2012 foi e ainda é
uma oportunidade para divulgar, interna e
externamente, o desenvolvimento histórico,
cultural e da atratividade da cidade. Estamos
a aproveitar esta visibilidade para mobilizar
recursos e esforços, para melhorar a estrutura
de apoio aos jovens e criar oportunidades para
o futuro, promovendo melhorias concretas na
qualidade de vida. Este projeto é um desafio
enorme, que assenta em três grandes eixos
de programação: o desenvolvimento integral
do jovem, apostando nas suas qualificações,
dando-lhe mais ferramentas para enfrentar
o mercado de trabalho; a reflexão dos
jovens sobre o futuro das cidades, sobre a
sua qualidade de vida, participação cívica e
inclusão social; e, por último, a dimensão
europeia e internacional do evento. Braga 2012
é um momento único para apostarmos na
capacitação dos jovens e das associações juvenis
e afirmármos Braga, a nível nacional e europeu.
Cx: Dar vida a uma iniciativa deste género, que
envolve tantas áreas, pessoas, locais e atividades,
exigiu uma grande entrega, uma grande
disponibilidade...
H.P.: Porque há amor a Braga. Há emoção
na forma como lidamos com os projetos, há
respeito por compromissos internacionais.
Todos os elementos, associações juvenis e
entidades parceiras estão envolvidos «de alma
e coração» nas dinâmicas da Braga 2012: CEJ
como se de projetos individuais se tratasse.
64
cx
a rev i s ta d a ca i xa
Cx: Volvidos meses desde o início dos eventos,
qual o balanço que é possível fazer?
H.P.: Nestes meses, conseguimos a mobilização
das associações juvenis e dos jovens, mas
também de muitos agentes locais. Sempre
tivemos elevada participação nas várias
iniciativas levadas a cabo, algumas destinadas
às massas, outras a grupos mais reduzidos,
como os cursos de empreendedorismo, os
workshops «Connecting the Dots» ou nas ações
vocacionadas para o património cultural e
arquitetónico da cidade bimilenar. O balanço
tem de ser necessariamente positivo, porque a
mobilização dos jovens e das associações está a
acontecer e esse é o nosso objetivo.
«HÁ AMOR a BRAGA.
hÁ EMOÇÃO NA FORMA
COmo LIDAMOS COM
OS PROJETOS»
Cx: Até agora, surgiram novas ideias,
inovadores projetos profissionais e artísticos que
poderão abrir novas oportunidades de trabalho?
H.P.: Um dos eixos importantes e com maior
relevo no programa oficial relaciona-se com a
área do emprego. Pretendemos reter talento,
fixar jovens, apostar no conhecimento e, nesta
área do emprego, conhecer e acompanhar a
problemática para encontrar soluções.
Cx: Braga voltará a ser o que era ou a vivência
deste ano impulsionará a cidade para uma outra
forma de evolução?
H.P.: Braga 2012 é a marca que queremos que
perdure no tempo. É o início de uma «nova
viagem» e deve ser o começo de uma renovada
dinamização associativa, social, cultural,
mas também económica, em particular das
indústrias criativas. O projeto GeNeRation é
um dos legados que queremos deixar à cidade
e pretende centralizar todas as linhas de ação e
objetivos programáticos da Capital Europeia da
Juventude.
Cx: E a nível europeu, de que forma se tem
sentido que esta atribuição de Braga Capital da
Juventude 2012 tem interessado a estrangeiros,
na área de negócios e outras?
H.P.: Face à reduzida escala dos mercados
local e regional, ao caráter periférico do nosso
País e à pouca porosidade internacional das
instituições portuguesas, os jovens da região
veem-se cada vez mais confrontados com a
necessidade de deixar Portugal ou repensar
as suas carreiras profissionais. Atenta a esta
realidade, a Braga 2012: Capital Europeia
da Juventude assumiu como um dos seus
principais eixos de programação a abertura
da cidade à Europa e ao Mundo, designando
este conjunto de ações como Y.WORLD. Este
projeto, mais do que se dirigir diretamente à
internacionalização das competências regionais,
assume como opções a promoção do diálogo
intercultural, o debate sobre as questões
europeias da juventude e a mobilidade dos
jovens, como condições prévias e necessárias
ao desenvolvimento do setor. Uma cidade
mais aberta, mais inclusiva, mais internacional
e mais tolerante é, também, uma cidade mais
criativa e com mais futuro.
Fotos: D.R.
Cx: O que podemos contar nos próximos meses
quanto a atividades dignas de realce?
H.P.: O programa é imenso com muitas
horas de programação e centenas de eventos
e contamos com mais de 80 parceiros,
enquadrados em vários eixos. Nos próximos
meses, vamos ter iniciativas como o Festival
de Artes Performativas, a Noite Branca, Be
Global, Cimeiras Internacionais, Ysports e
muitas outras. A melhor forma de se manterem
a par da programação é consultando o
nosso site. Teremos muitas surpresas que
não devo agora avançar. Mas, até ao final do
ano, o nosso objetivo mantém-se: afirmar
as associações juvenis, a continuação do
programa de capacitação dos jovens, fomentar
o conhecimento do património e impulsionar
a animação cultural do centro histórico.
Cx: Como é que Braga está a mexer, com as
pessoas, com o País e com a Europa?
H.P.: Temos uma forte aposta no intercâmbio
de jovens por toda a Europa. O projeto
Regio-Polis é prova disso: envolveu todos os
municípios do distrito de Braga, partilhando
e criando novas práticas nas metodologias de
educação não formal aos jovens do distrito.
Este projeto culminou na criação de uma rede
de cooperação entre os atores municipais,
com uma estratégia de desenvolvimento das
políticas de juventude no distrito – a estratégia
2024. Por sua vez, é a partir deste projeto
que surge o PT-Polis, que levou Braga 2012 a
todo o País.Em outras áreas, temos projetos
como o Link +351, um festival itinerante que
conectará Braga com a Europa e promoverá
os artistas bracarenses, funcionando,
simultaneamente, como um programa de
intercâmbio de jovens artistas europeus.
Entre uma quase centena de parceiros da
Capital Europeia da Juventude, encontram-se
parceiros europeus, com os quais estão a ser
desenvolvidos vários projetos, como a rede
das capitais europeias da juventude, criada,
no início do ano, em Braga. As pessoas são a
base da criatividade e da economia criativa,
essenciais para o mercado. E os bracarenses
estão a ganhar com o movimento associativo,
económico e cultural que a Braga 2012:
Capital Europeia da Juventude trouxe.
Eventos de maior impacto
Além da cerimónia de abertura, que contou com a participação massiva de
bracarenses e de pessoas vindas um pouco de todo o País, destaca-se o
Parlamento Jovem da Capital Europeia da Juventude, uma iniciativa que contou
com a presença de estudantes de escolas secundárias europeias, oriundas de
12 países, e com toda a comunidade jovem do distrito de Braga. Estes jovens
debateram, durante uma semana, questões relacionadas com o emprego,
desenvolvimento sustentável, qualidade de vida, o ambiente e as políticas de
juventude e apresentaram propostas concretas para os problemas expostos.
Promover a participação dos jovens na cidadania ativa é um objetivo de Braga
2012: CEJ e, por isso, se realça o projeto Regio-Polis, que envolveu todos os
municípios do distrito de Braga, dando a conhecer as metodologias de educação
não formal aos jovens do distrito, culminando na construção de uma rede de
cooperação entres os atores municipais, com uma estratégia de desenvolvimento
das politicas de juventude no distrito – a estratégia 2024. Este projeto deu origem
ao PT-Polis, que levou Braga 2012 a todo o País.
Ainda de salientar o projeto [EM]CAIXOTE que visa dinamizar Braga e atrair
movimentos às ruas com atividades no centro histórico da cidade, todos os fins
de semana, durante todo o ano, com danças, música, artes circenses, magia
e performances para todos os gostos. Existe, especialmente, um movimento
invisível das associações juvenis, de centenas de voluntários, das escolas e outros
parceiros que preparam, discutem e vivem a Capital Europeia da Juventude e isso
é um legado que já foi atingido e revela o sucesso da mesma.
«Com uma programação de mais de 600 eventos, a Capital Europeia da Juventude
faz crescer o interesse turístico da cidade. Mas somos ambiciosos e estamos a
trabalhar para aumentar esta visibilidade e atratividade», conclui Hugo Pires.
braga é palco
de eventos de
inúmeras áreas
e atividades que
animam a cidade
cx
a rev i s ta d a ca i xa
65
v
vintage
factos
gravados
em 1796
g r avaç ão
Notas seguras
Para que a segurança e a inviolabilidade do papel-moeda não saiam
manchadas, a gravação em talhe-doce é o método privilegiado para a produção
deste objeto de troca por excelência. A tomar nota
Por Nuno Fernandes Carvalho
Para dar vida às notas bancárias, o processo de
gravação em talhe-doce utiliza uma chapa metálica.
Nela, o motivo que se pretende imprimir é cavado,
subtilmente, na sua superfície, criando os chamados
entalhes que deram nome à técnica. Com origem no
início do século XV, inicialmente, o talhe-doce era
utilizado na metalurgia e na ourivesaria, sendo, mais
tarde, adotado como forma de expressão artística em
gravuras. Atualmente, a gravação a talhe-doce
é empregue, essencialmente, na produção de
papel-moeda e outros documentos de segurança.
O processo de gravação em talhe-doce de uma
nota bancária faz-se cobrindo a chapa com tinta
e retirando o excesso, de modo a que esta se aloje
apenas nos entalhes. A chapa é disposta na horizontal
e, sobre esta, é colocado o papel. A tinta que se
encontra nos entalhes é, depois, transferida para o
papel da nota sob alta pressão, através de um cilindro
compressor que força o papel a entrar nos entalhes e
a reter a tinta. A nota fica com o desenho pretendido,
além de ficar com um subtil relevo. Esta operação é
repetida com outra chapa para imprimir o verso da
nota. Este método confere ao papel-moeda imagens
latentes nos motivos impressos, visíveis apenas
à transparência, conforme a inclinação da nota.
Desta forma, o talhe-doce proporciona a gravação
66
cx
a rev i s ta d a ca i xa
de motivos que previnem as falsificações. Exemplo
disso são os guilhochés, motivos formados por várias
linhas entrelaçadas de figuras geométricas e rosáceas,
que contêm pormenores minuciosos, que dificultam
a sua duplicação ilícita.
Em Portugal, os primeiros registos de utilização do
talhe-doce surgem com as Apólices do Real Erário,
em 1796. Em 1821, o primeiro banco emissor
português, o Banco de Lisboa, inicia as suas funções,
produzindo as suas notas pelo mesmo método.
Mais tarde, em 1864, foi criado o Banco Nacional
Ultramarino com privilégio para a emissão de
papel-moeda para as então colónias portuguesas.
As chapas metálicas aqui representadas produziram
notas de 500 rupias com a efígie de Afonso de
Albuquerque para a ex-colónia da Índia Portuguesa,
notas que circulariam entre 1947 e 1958. A produção
de papel-moeda do BNU foi, na sua grande maioria,
encomendada a casas impressoras em Inglaterra,
responsáveis pela produção das notas e pela criação
das chapas utilizadas para este processo. Após o
término da encomenda, a casa impressora entregava
ao banco emissor as chapas e cilindros que tinham
sido utilizados na gravação das notas. Tal facto era
assinalado com um corte oblíquo na chapa, que a
inutilizava – como se constata neste exemplar.
No mesmo ano em que
o talhe-doce chegou
a Portugal, saiba o que
aconteceu no mundo
digno de nota.
1.
Napoleão Bonaparte
casa com Josefina de
Beauharnais.
2.
O médico inglês Edward
Jenner inventa a primeira
vacina contra a varíola.
3.
O Tennessee torna-se
o 16.º estado norte-americano.
4.
São realizadas as
primeiras eleições
parlamentares no atual
território da Holanda.
5.
A escritora inglesa
Jane Austen escreve
a primeira versão da obra
Orgulho e Preconceito,
sob o título de Primeiras
Impressões.
6.
O último contigente de
tropas da coroa britânica
abandona os Estados Unidos.
7.
As tropas napoleónicas
vencem as batalhas de
Montenotte e de Lodi e, mais
tarde, invadem Milão.
8.
Em Espanha, o rei
Carlos IV declara guerra
à Grã-Bretanha.
9.
Com a morte da
imperatriz Catarina, a
Grande, da Rússia, sobe ao
trono o czar Paulo I, seu filho.
10.
Após o anúncio da não
recandidatura de George
Washington, John Adams vence
as eleições presidenciais norte-americanas.

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