CONQ 241.pmd - Pastoral Operária
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CONQ 241.pmd - Pastoral Operária
Nº 242 - 45 ANOS - JUL/2016 www.pastoraloperaria.org.br Comunicação a serviço da classe trabalhadora urbana Waldemar, Operário do Reino Waldemar veio de Sertãozinho, cidade da região de Ribeirão Preto no interior do estado de São Paulo. Ele foi boia-fria, pedreiro e lá conheceu duas pessoas que tiveram as vidas cruzadas com a sua, por toda a vida: o promotor Plínio de Arruda Sampaio e o padre Angélico Sândalo Bernardino. Waldemar está presente por ser presente, presente de Deus e de sua família para a Igreja e para toda a classe trabalhadora. Ele iniciou sua militância na Juventude Operária Católica (JOC) quando veio para São Paulo representá-la. Depois entrou para a Ação Católica Operária (ACO) e mais tarde, junto com outros companheiros, fundou a Pastoral Operária Metropolitana de São Paulo (PO) pioneira entre as pastorais sociais do Brasil. Tornou-se operário e começou a militância no Movimento de Oposição Metalúrgica de São Paulo (MOMSP), onde por três vezes encabeçou a chapa contra os pelegos apoiados pela ditadura militar. Foi convidado por dom Paulo Evaristo Arns, Cardeal dos trabalhadores e dos Direitos Humanos para fazer parte da Comissão de Justiça e Paz de São Paulo, importante instrumento criado para enfrentar os abusos cometidos pela ditadura civil-militar instalada no Brasil a partir de 1964. Em 1974, durante uma reunião na Igreja de São João Batista no bairro do Brás, juntamente com Elias Stein, Vito Gianotti e outros companheiros foi levado para o DOPS, onde foi barbaramente torturado durante quatro meses. Ele saiu com vida daquele inferno, graças à intervenção firme e serena de nosso pastor e profeta dom Paulo Evaristo Arns. O ano de 1979 trouxe mais uma grande provação: o companheiro Santo Dias da Silva foi covardemente assassinado pela polícia militar de Paulo Salim Maluf durante a greve dos metalúrgicos de São Paulo. Em 1980 durante a visita de João Paulo II ao Brasil, Waldemar foi escolhido pelo Cardeal Arns para saudar o Papa em nome dos trabalhadores brasileiros no histórico encontro do Papa com os operários no estádio do Morumbi. Waldemar foi um dos fundadores da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em 1983. Ingressou no Partido dos Trabalhadores (PT) em 1987, onde militou até 1996 e em 2001 se desligou por discordar dos rumos que o partido vinha tomando. Além disso, em 1986 concorreu a deputado federal constituinte, porém, não foi eleito. Em 1989, com a eleição de Luiza Erundina para a prefeitura de São Paulo, foi administrador regional da Mooca, durante todo o seu governo. Ao longo de toda a sua militância sindical e político-partidária, Waldemar nunca abandonou o engajamento pastoral; sem dúvida, a trincheira onde ele esteve sempre presente foi no âmbito da Igreja, mais especificamente na Pastoral Operária. Em seus artigos no jornal “Correio da Cidadania” colocava sempre a visão de classe dos trabalhadores. Reconhecendo seu compromisso, o grupo de Fé e Política da Região Belém escolheu seu nome para definir “Escola de Fé e política Waldemar Rossi” como fio condutor do seu trabalho... Waldemar nos deixa um grande legado de ética, integridade e fidelidade a Deus e à sua classe. Apesar de suas preferências políticas, ele nunca colocou os interesses de uma determinada corrente ou partido político acima dos interesses da classe trabalhadora. Assim, ele entra na História do Movimento Operário e da Pastoral Operária fazendo parte do Patrimônio Coletivo dos lutadores. Fomos privilegiados por conviver e seguir na militância com o Waldemar. Ele foi um mestre na organização dos grupos de base, não se importando em atender a chamados de grupos, fossem grandes ou pequenos. Não importava se encontrasse 200 ou 20 pessoas: a sua dedicação e empenho eram os mesmos; não se diferenciavam em nada. A figura que melhor define Waldemar é a do Semeador, e lembro a canção que diz: “ põe a semente na terra não será em vão, não te preocupe a colheita; plantas para o irmão ... “. Agradecemos também a generosa e querida família Rossi, em que numa conversa com um de seus filhos, o Wagner, ele lembrava da formação humanista cristã de Waldemar ter profunda influência da mãe, Rosa, além dos já citados Plínio e dom Angélico. Não podemos esquecer da presença inigualável da companheira de vida e de ideal, a Célia. Ela, militante, foi esteio e também o eixo de equilíbrio de Waldemar e de boa parte da militância que partilhava com ela suas preocupações e angústias da caminhada. A ela, o nosso profundo agradecimento e carinho por seu testemunho de generosidade e coerência. Aqui também trazemos o abraço fraterno a seus filhos: Paulo, Wagner, Simone, Márcio e Sérgio. Obrigado pela partilha na busca de uma humanidade mais humana. Ao Waldemar, deixamos o nosso mais profundo amor, reconhecimento e orgulho de sermos seus companheiros. Nos vêm à mente um verso de São João da Cruz: “cativando e merecendo, quando penso que te pago, sempre fico te devendo”. Waldemar, permita-nos beijar sua mão e seu coração, e gritar com muita emoção: Waldemar Rossi presente, agora e sempre! Paulo Cesar Pedrini Raimundo Perillat Informes de PO O método e os resultados Com o método “Ver-julgaragir”, os encontros de Pastoral Operária mostram seus resultados para a militância O VER Os encontros tem propiciado compreender cada vez mais, o sistema capitalista, com as reflexões sobre conjuntura que fazemos. São reflexões compartilhadas, onde cada um/a de nós traz sua contribuição. Ao contrário de termos uma só pessoa que faça uma exposição, ainda que abra para debates, as nossas apresentações partilhadas (cada qual trazendo sua visão) têm sido bem mais proveitosas. Os Grupos de Base são ferramentas de atuação, reflexão e manutenção da PO, e portanto espaço de partilha da vida dos trabalhadores, da comunidade, do trabalho, e construção da sociedade que queremos, o novo céu e nova terra, na perspectiva do Reino. O que virá depois terá que ser resultado da vida dos/as trabalhadores/as. O JULGAR O mundo justo que queremos Vida digna com justiça Saúde, descanso Trabalho digno para todos e todas e sem patrão; salário justo de acordo com a necessidade; valorização do protagonismo do trabalhador; centralidade do trabalho; trabalho como criação e libertação; Cultura, educação, livre expressão; Terra para todos/as com infraestrutura digna; Moradia para todos/as; acesso à água potável; Prática do amor, partilha, não desejar para o outro aquilo que não quero para mim, relações humanas éticas e com respeito, novas relações sociais e pessoais. Igreja de Jesus Cristo a serviço do povo; Política partidária para servir o povo; Que as ações das pessoas sejam testemunho daquilo que falam e pregam. Foi fruto de um encontro estadual, a elaboração de uma visão sobre o mundo que queremos, conforme quadro abaixo. Nos encontros posteriores, temos trabalhado com esses elementos do mundo justo, apontados pelo grupo e nestes tempos confusos e desanimadores em que vivemos, essas reflexões têm animado nossa esperança, pois sempre nos questionamos sobre quais elementos desse mundo justo já conquistamos e quais os sinais do Reino de Deus que já existem entre nós O AGIR A ação de anunciar os sinais do Reino de Deus que existem entre nós foi considerada importante dentro da tarefa de atacar práticas capitalistas. Outras ações apontadas para este fim foram: - Levar a questão da importância do trabalho humano nas comunidades, em contato direto com os trabalhadores nos bairros, nas paróquias, para incentivar ou fortalecer grupos de base; - Conscientização por mídias populares e alternativas – rádios comunitárias, jornais... Tudo isto em parcerias (pastorais sociais, movimentos populares, juventude, apoio das Igrejas, padres e bispos) e com metodologia apropriada, libertadora; Encontro de Formação da Pastoral Operária de Recife/PE Tema: Aspecto social e cultural diante do contexto educacional e contemporâneo. Juntos somos fortes! A Pastoral Operária de Volta Redonda, realizou no dia 8 de junho, uma Audiência Pública na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ). Na ocasião, a PO denunciou aos deputados presentes, as recentes mortes e demissões nos últimos dois anos, ocorridas na CSN, incluindo sete vítimas fatais decorrentes de acidentes de trabalho e solicitou imediata inspeção nas dependências da fábrica, a fim de verificar a segurança do trabalho. PO Jaboatão ocupa o centro Cultural Miguel Arraes A Pastoral Operária de Jaboatão dos Guararapes-PE participou de mais uma ação do Movimento Ocupe o Centro Cultural Miguel Arraes. O coletivo foi criado, em agosto de 2015, por iniciativa popular que cobra do governo do estado de Pernambuco a ativação do Centro Cultural Miguel Arraes que foi construída e abandonada. Desde a sua ocupação, vários artistas tiveram a oportunidade de apresentar suas músicas e talentos artísticos, dando vida cultural ao espaço que estava ocioso e perigoso. A PO Jaboatão participa ativamente, pois faz parte desse Movimento e acompanha as atividades culturais por meio da companheira Leila Cristina. A PO Nacional esteve presente para conhecer de perto a programação cultural do Ocupe o Centro Cultural Miguel Arraes. ....Matéria da jornalista Maria Angelina de Oliveira, na integra no site da PO. www.pastoraloperaria.org.br Economia Popular Solidária A economia solidária na vida Inácia Josefa de Freitas Apolinário mora em Campina Grande, Paraíba. Trabalha com Artesanato e costura, no sistema de economia solidária há dez anos. Hoje participa de dois pontos fixos e de feiras solidárias. Segundo ela, a interação com as outras pessoas, a formação e informação a respeito da Economia Solidária e a comercialização Solidária foram os pontos que lhe atraíram a iniciar nesse trabalho e até hoje é apaixonada por ele. Inácia conta que o trabalho em Economia Solidária faz parte da sua vida de forma intensa, pois a militância na Pastoral Operária está extremamente ligada ao Movimento de Economia Solidária. As palavras de Inácia sobre o trabalho são esperançosas e confiantes: “A necessidade se confunde com o prazer, pois o crescimento pessoal e coletivo é incalculável. A educação popular imbuída dentro do Movimento de Economia Solidária nos renova e nos transforma a cada dia em pessoas melhores por dentro e por fora. A minha família participa, pois, as nossas origens são solidárias.” Embora muitas pessoas acreditem no crescimento pela forma Solidária, existem aqueles que ainda acreditam no capitalismo como solução e se sentem ameaçados com o trabalho solidário. Por fim, Inácia aconselha: “Procurem o Fórum de Economia Solidária de sua região ou de seu estado, este foi o meu caminho a conselho da amiga Conceição quando era Coordenadora Nacional da Pastoral Operária”. Hoje temos vários caminhos: as Universidades estão com este trabalho, os governos estaduais, as prefeituras, os Movimentos populares, as Pastorais Sociais. Mas é preciso acreditar que Uma Outra Economia É Possível e que ela já existe! 2 - Boletim CONQUISTAR da Pastoral Operária Nacional - Comunicação a serviço da classe trabalhadora urbana A trajetória de um típico militante operário Entrevista especial com Waldemar Rossi. Escrito por IHU Online (entrevista realizada em 2007) 06 de Maio de 2016. Do trabalho de boia fria, passando pela construção civil até virar metalúrgico, Waldemar Rossi acompanhou de perto a luta operária brasileira nas últimas quatro décadas. Militante assumidamente cristão, foi da JOC e posteriormente coordenador da Pastoral Operária, na Arquidiocese de São Paulo. Militante da oposição sindical metalúrgica em São Paulo, Waldemar Rossi em 1980 foi o escolhido para fazer a saudação ao papa João Paulo II em nome dos trabalhadores brasileiros, no estádio do Morumbi. Um ano antes, em 1979, como membro do comando da greve, acompanhou o assassinato do seu amigo Santo Dias. Define a sua trajetória de vida como a de um militante que assume com muita intensidade todas as empreitadas em que participa. Na entrevista concedida ao IHU On Line, Rossi comenta a sua vida de militante, as principais lutas em que se envolveu e a relação com Lula, que vem desde os anos 1970. A sua mensagem nesse 1º de maio (de 2007) aos trabalhadores e trabalhadoras é uma convocação para que todos arregacem as mangas e lutem sem tréguas contra o capital. Confira partes da entrevista O senhor poderia falar um pouco sobre a greve da Cobrasma em 1968? Muitos consideram que a greve foi organizada de “fora para dentro” e a partir do trabalho de base do chão de fábrica. Como era esse trabalho de base em plena ditadura? Além disso, o senhor conheceu o José Ibrahim, um dos líderes da greve. Poderia falar dele um pouco? A greve de Osasco foi fruto do trabalho de base que havia em Osasco, principalmente das Comissões de Fábrica, mas caminhou no bojo do movimento francês daquele ano, de aliança operário-estudantil, com ocupação de fábricas, “sequestro” de dirigentes das empresas e outras formas de lutas. A de Osasco se deu na mesma época em que se deu a greve de Contagem, ambas repetindo experiências francesas. Antes, em São Paulo, houve o 1º de maio na Sé, programado pelo MIA (Movimento Sindical Anti-Arrocho) e que contava com a participação de dirigentes sindicais pelegos, de esquerda e das oposições. Naquele dia, os pelegos levaram o governador biônico, Roberto de Abreu Sodré, ao palanque. Foram todos escorraçados pela enorme massa humana ali presente, com pedras e pedaços de pau. Em seguida essa massa derrubou e ateou fogo no palanque. Os pelegos e as autoridades fugiram para o sindicato dos Metalúrgicos do Joaquinzão e os de esquerda, oposições e a massa saíram em passeata pelo centro da cidade. Portanto, no mês em que se deu a greve, as condições objetivas e subjetivas estavam dadas. Essa greve foi organizada a partir das fábricas, porém, com orientação política do sindicato, que era dirigido por uma composição de partidos de esquerda, todos, à época, se dizendo revolucionários. Creio que foi uma experiência muito alta para o momento político do Brasil, onde a correlação de forças era desfavorável ao movimento sindical. Foi essa precipitação, fruto de uma visão política revolucionária equivocada, que levou à cassação de toda a diretoria e ao fim daquelas comissões de fábrica. Ibraim era o presidente do Sindicato, mas não era o mentor intelectual daquele movimento. Era um rapaz inteligente e corajoso, que sonhava com a revolução socialista. Não creio que fosse mais que isso. No MOMSP conviviam operários de origem cristã, marxista-leninistas, trotskistas. Como era essa convivência? É evidente que a convivência com militantes de inspirações - ou matrizes ideológicas - tão diferentes não era nada fácil. No início, as dificuldades eram maiores pelo fato de que cada agrupamento – autodenominado partido – se acreditava como o mais capaz para dirigir a revolução socialista; de maneira especial todos achavam que tinham a melhor proposta para derrotar a ditadura. O tempo e as derrotas (talvez a mais importante dessas derrotas tenha sido a cassação da diretoria de Osasco e o fim da Comissão de Fábrica) fizeram com que os pés fossem fincados no chão. Foi a partir dos anos 74/75 que o entendimento começou a melhorar, pois todos viam que precisávamos de um movimento dos trabalhadores muito forte e que o Sindicato dos Metalúrgicos de S. Paulo era estratégico. “Parar São Paulo seria parar o Brasil. Isso explica porque os militares deram tanta atenção a esse sindicato”. Muitos dizem que se a oposição tivesse vencido as eleições para o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, em 1978, o rumo do movimento operário hoje seria outro. O senhor concorda? E por que a oposição rachou? Na verdade, nós vencemos aquelas eleições. Elas foram, de tal forma, fraudadas que o escrutinador Senhor Preus (amigo do Joaquinzão, como ele mesmo disse no dia) não teve dúvidas em declará-las nulas. Seria formada uma junta para dirigir o sindicato e programar uma nova eleição para dali a 60 dias. Mas o ministro do Trabalho – Arnaldo Prieto - fez uma nova intervenção ao dar posse ao Joaquinzão. Sem dúvidas, a conquista daquele sindicato seria estratégica para o movimento sindical brasileiro, pois ele é considerado estratégico pelo capitalismo, não apenas por ser o maior na área da produção. Mas porque em São Paulo se produz de tudo, desde máquinas, peças de reposição, até autopeças e peças de avião. Parar São Paulo seria parar o Brasil. Isso explica porque os militares deram tanta atenção a esse sindicato, mais do que a qualquer outro. Os interesses partidários levaram ao racha da oposição em São Paulo. Primeiro foi o antigo PCB, que devido ao acordo feito com os militares propiciou o retorno de muitos comunistas do exílio. Por esse acordo, o PCB trabalharia para apoiar um pacto social. Seria importante não fazer oposição aos pelegos e combater as oposições de esquerda. Segundo, foram as pretensões do PC do B em querer assumir aquele sindicato e transformá-lo numa correia de transmissão partidária. Como a Oposição tinha uma prática democrática de escolher seus candidatos a partir de convenções nas fábricas, nas regiões e na cidade, eles não conseguiram impor a composição de uma chapa em que o PC do B era absoluto. A convenção para as eleições de 1981, com cerca de 500 operários(as) escolheu a chapa da Oposição, enquanto que o PC do B formou sua própria. Lula disse: “Vai lá, enterra o MOMSP e o Joaquinzão no mesmo caixão”. “O Cardeal D. Paulo Arns me comunicou confidencialmente que eu deveria me preparar para fazer a saudação ao papa em nome dos trabalhadores” Sobre a sua militância cristã, poderia nos contar um pouco dos bastidores da sua escolha para ler o documento dos operários para o Papa João Paulo II no estádio do Morumbi e as suas lembranças desse acontecimento? Algumas semanas antes da chegada do papa João Paulo II a São Paulo, o Cardeal D. Paulo Arns comunicoume confidencialmente que eu deveria preparar-me para fazer a saudação ao papa em nome dos trabalhadores. Segundo ele, era necessário sigilo absoluto, mas não me deu as razões desse segredo. Falou que a escolha se dava por conta de toda minha história de militante operário e de militante de pastoral. Certamente, pesou também para a escolha, o fato de eu pertencer à Comissão de Justiça e Paz, ter sido preso. Creio que os assassinatos do Santo (Dias da Silva) e o do Gringo também pesaram. A principal lembrança se deve ao fato de, na véspera do encontro, o Dalmo de Abreu Dallari – presidente da Comissão de Justiça e Paz – ter sido sequestrado pelas forças de segurança, esfaqueado e atirado em terreno baldio. Descoberto por vizinhos, foi levado ao hospital e de lá seguiu em maca, todo enfaixado, para o Campo de Marte, onde fez uma das leituras da missa celebrada pelo papa. D. Paulo não queria que eu fosse para minha casa, naquela noite, determinação por mim rejeitada. Fui dormir ao lado da minha esposa. Suas razões, além do sequestro do Dalmo, tinham como base a negação da credencial do comandante do 2º Exército para minha entrada no gramado. Entrei na marra (único nessa condição), com uma credencial de D. Paulo, não sem antes ter feito um enfrentamento com o coronel encarregado da segurança no local de entrada. A outra marca, negativa, foi o pedido do Secretário do Vaticano para que minha saudação fosse muito breve, por conta do atraso do papa na chegada ao Morumbi e pela noite chuvosa que poderia afetar a saúde do Papa, ainda no terceiro dia da visita (sic). Foi uma frustração porque era o momento político mais importante para a classe trabalhadora brasileira. O senhor conheceu o Santo Dias da Silva. Que lembranças tem dele, e que tipo de personalidade ele tinha? Era um líder? Santo era um guerreiro, inteligente, comprometido com a classe e com seus companheiros. Não tinha medo e não fugia dos enfrentamentos necessários. Cristão convicto, sabia do seu engajamento e da dimensão evangélica do seu compromisso. Era um líder nato, muito comunicativo, sem pretensões pessoais, de grande desprendimento. Tinha grande facilidade para harmonizar seu trabalho de fábrica com as atividades da Oposição, da Pastoral, assim como harmonizar sua vida familiar com a vida na comunidade e nos movimentos populares da região de moradia. Um homem justo, isto é, um santo verdadeiro. Alegrias e frustrações Quais foram as suas três maiores alegrias na sua trajetória de militante e as três maiores decepções? Teria muita dificuldade em selecionar três grandes alegrias em toda minha vida de militante, tão intenso tem sido meu engajamento. Talvez seja mais fácil dizer que – apesar de muitos erros cometidos – sinto que tenho vivido sempre muito tranquilo e seguro, com muita intensidade em todas as empreitadas assumidas. Pode ser isso resultado de que, sempre que julgo necessário entrar numa luta, o faço se ela aponta para um caminho em busca da solidariedade e da justiça, se essa luta ou tarefa seja um campo de semeaduras. Diria que frustração senti quando D. Paulo anunciou que eu iria reduzir minha saudação ao Papa, porque o centro da mensagem trazia denúncias e apelos muito fortes, condizentes com o momento histórico. Outra frustração, sem dúvidas, foi o fato de termos sido derrotados pela direita, pela repressão, pelo peleguismo e por setores da “esquerda” no esforço hercúleo para derrotar os pelegos e ocupar a direção do sindicato de maior peso político da América Latina, estratégico na luta de classes. A perseguição à Teologia da Libertação, como um todo, sem os discernimentos necessários entre possíveis excessos e suas enormes virtudes, redunda em favor das vitórias que o capital vem tendo sobre a classe trabalhadora e pode ser elencada como uma das frustrações, não apenas minhas, mas de tantos e tantas militantes cristãos(ãs). “...tempos, de arregaçar as mangas e de ir pra luta sem tréguas contra o capital” Qual é a sua mensagem para os trabalhadores e trabalhadoras nesse 1º de maio? Se é verdade que estamos no auge da exploração capitalista, com a crescente miséria e marginalização, se é bem verdade que, no Brasil, estamos com um governo que nos rouba direitos conquistados com muita luta e muito sangue, também é verdade que o movimento social começa a acordar, a dar passos significativos na busca da mínima unidade política necessária para defender coletivamente seus direitos. O 1º de maio deste ano de 2007 transforma-se num momento privilegiado para fortalecer essa unidade e para recuperar o sentido histórico da luta. Nesse sentido, o que posso esperar de todos(as) os(as) de boa vontade é que sejam capazes de perceber os sinais dos tempos, de arregaçar as mangas e de ir pra luta sem tréguas contra o capital. Publicado pelo IHU Online em 1º de maio de 2007. Comunicação a serviço da classe trabalhadora urbana - Boletim CONQUISTAR da Pastoral Operária Nacional - 3 1º de maio: memória inegociável! O dia 1º de maio, dia dos/as trabalhadores/as, tem um significado histórico na luta do povo trabalhador. Muitos calendários até identificam como o “dia do trabalho”, mas na verdade é o dia do/a trabalhador/a! O dia mundial dos/as trabalhadores/as tem sua origem histórica em 1886, quando milhares de pessoas foram às ruas em Chicago (Estados Unidos), dia 1º de maio daquele ano. A luta era pela redução de jornada de trabalho de 13 para 8 horas. Houve prisões, feridos e sobretudo, mortos. Em 1889, em um congresso socialista, em Paris (França), foi criado o Dia Internacional dos/as trabalhadores/as, em memória aos mártires de Chicago. No Brasil, a primeira manifestação do 1º de maio foi em 1917, na cidade do Rio de Janeiro, durante o regime militar. Por essa razão, essa data continua ainda hoje coroada pelos/as trabalhadores/as, e significa o símbolo da luta por direitos. Muito mais do que um dia “feriado” para ficar em casa ou passear. Como fazer jus a esse dia? Como transformar o 1º de maio em um dia de luta e não apenas de descanso? Como resgatar essa história e manter viva a memória daqueles que lutaram para que tivéssemos hoje nossos direitos? Para muitos é apenas um feriado, para outros é um dia de luta, de memórias. No Brasil, religiosamente se faz a relação com o São José Operário, e muitas igrejas realizam celebrações. Ao propor São José como protetor e modelo dos trabalhadores, a Igreja preza pela dignidade do trabalho. Faz sentido ainda hoje o 1º maio de 1886 ser resgatado e celebrado como memória de luta da classe trabalhadora? Há que se conquistar direitos ainda? Parece que tal qual sempre na história, os trabalhadores são desvalorizados, desrespeitados, explorados na sua dignidade humana. A Pastoral Operária não pode deixar essa data esquecida. Temos a obrigação de resgatá-la, discutir os direitos, celebrar as conquistas e marcar posição em defesa dos trabalhadores. Perder a memória da luta é como perder a memória de Cristo, que se fez Pão da vida e da justiça. “Quem perde a história, perde a memória e quem perde a memória não volta pra casa”! (Pe Agostinho Pretto). Podemos afirmar que para a PO se manter viva é preciso coroar sempre o 1º de maio como “o dia da Pastoral Operária”. E a classe trabalhadora precisa sentir-se parte desse processo todo, reconhecendo-se sempre na história, assim como a fé cristã se reconhece na libertação do povo de Deus do Egito. O 1º de maio não pode adoecer de alzheimer em tempos de tantas violações de direitos e exploração da força de trabalho humana. Em muitos lugares, o 1º de maio se torna palco politiqueiro, moeda de troca com trabalhadores. Negocia-se a dignidade do trabalho por prêmios, shows, etc. A memória do 1º de maio não pode ser negociada! É bom recordar frases de pessoas que deram a vida nessa data histórica: “Se a morte é pena correlativa à nossa ardente paixão pela liberdade à espécie humana, eu digo bem alto: desponde de minha vida!”. (Adolfo Fischer - líder operário enforcado em Chicado - 1886). Nessa mesma reflexão relata outro companheiro: “Arrebenta a tua necessidade e o teu medo de ser escravo; o pão é a liberdade, a liberdade é o pão!”. (Parson - líder operário enforcado em Chicado - 1886) Veja como foi o 1º de maio da Pastoral Operária pelo Brasil Curitiba-PR Volta Redonda-RJ Aconteceu uma missa na Comunidade Nossa Srª Aparecida, Paróquia São José Operário, bairro Sítio Cercado, em seguida uma Roda de Conversa sobre a conjuntura política do Brasil. Na opinião dos participantes, foi tão importante quanto o ato/caminhada na rua. Além dessa, aconteceram outras rodas de conversas com grupos menores (20 a 50 pessoas). O ponto central da conversa tem sido a conjuntura política e a agenda regressiva de redução de direitos. A PO em Volta Redonda-RJ desenvolveu uma atividade reflexiva do dia 1° de Maio na entrada da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), numa passarela que foi fechada, dificultando o acesso dos trabalhadores ao local de trabalho. A passarela deverá ser restaurada e reaberta este mês (maio) após pressão da PO junto ao Fórum de RESISTÊNCIA, onde foi acionado o Ministério Público Federal. A CSN registra de 2014 a 2016 (abril) 439 graves acidentes de trabalho, alguns desses seguidos de mortes. Ponta Grossa – PR O ato aconteceu na comunidade de Santa Paulina, Uvaranas. Houve uma caminhada e em seguida, a missa sertaneja. As reflexões se deram a partir do tema QUAL O VALOR DO SEU TRABALHO? Refletiu-se também sobre os desempregados; falta de atendimento à saúde e à educação pública; acidentes de trabalho com o avanço da terceirização e precarização dos serviços; e a corrupção em nossos meios políticos. São Paulo – SP Na região do ABC Paulista (Diocese de Santo André) a Pastoral Operária motiva todos os anos, há 37 anos, a realização da MISSA DOS TRABALHADORES E DAS TRABALHADORAS, que ocorreu na Basílica Menor de Nossa Sra. da Boa Viagem, a IGREJA MATRIZ do município de SÃO BERNARDO DO CAMPO. “A missa tem sem- 4 - Boletim CONQUISTAR da Pastoral Operária Nacional - Comunicação a serviço da classe trabalhadora urbana pre o objetivo de celebrar a memória das lutas da classe operária”, disse Toninha, militante da PO de Santo André. Na missa, lembrou-se também da campanha para denunciar a situação alarmante de acidentes no trabalho, com o tema: ACIDENTES NO TRABALHO – CULPA DA VÍTIMA?. Campo Limpo –SP A Diocese de Campo Limpo realizou em conjunto com as Pastorais Sociais, uma celebração pelos 60 anos de Sacerdócio do Padre Luiz Juliane, o padre que nas décadas de 1970 e 1980, acompanhou a caminhada das comunidades na zona sul de São Paulo, sendo muito presente na caminhada de Santo Dias e Ana Dias nas comunidades da Vila Remo. Brasilândia-SP Na Região Brasilândia houve uma celebração em memória de São José Operário, com distribuição de folheto que resgata a história e a origem do 1º de maio. Santo Amaro-SP Na Diocese de Santo Amaro acontece todos os anos, panfletagem nas feiras das comunidades da Pedreira São Miguel – SP Pedreiras-MA A Diocese de São Miguel realizou celebração apresentando simbologia da mística da Pastoral Operária, utilizando o caderno produzido pela PO nacional. Na diocese de Bacabal, em Pedreiras, a Pastoral Operária realizou dois atos, pela manhã no Mercado Central da cidade e à tarde no Sindicato dos Trabalhadores Rurais, denunciando as perdas de direitos da classe trabalhadora e a importância de se unir e lutar contra essa realidade. Ipiranga-SP Na Região Ipiranga foi realizada Semana de preparação com painéis para ilustrar o 1º de Maio. Foram feitas panfletagens nas estações de Metrô próximas à Casa da Solidariedade. Recife-PE Participação do ato “ Contra o golpe e a favor a democracia no dia do Trabalhador Sé – SP Celebração na Catedral: Missa celebrada pela Cúria da Catedral da Sé. Presença significativa da Pastoral do Migrante (CAMI) e militantes da Pastoral Operária carregando símbolos. Embora não tenha sido chamada para a preparação, Padre Baronto não criou obstáculos na mística. Ato na Praça da Sé – Já há vários anos, a Pastoral Operária Metropolitana é uma das organizadoras do Ato na Praça, juntamente com centrais sindicais pequenas, partidos políticos pequenos, movimento cultural, organizações políticas diversas. Neste ano, de comum acordo, a Pastoral preparou durante o ato, mística de homenagem ao companheiro Waldemar Rossi (naquele momento ainda internado), sendo lembrado durante várias intervenções das organizações presentes. Avenida Paulista – SP Ato na avenida Paulista - A Pastoral Operária esteve presente, convidada que foi para acompanhar momento de homenagem ao companheiro Waldemar Rossi. Fortaleza-CE No Ceará as atividades do 1º de maio aconteceram em duas dioceses: Em Palmeiras, Messejana foi realizada um debate sobre Direitos Trabalhistas com o companheiro Paiva Neves. E no dia 06 maio foi a vez da Pastoral Operária da diocese de Maracanaú, na paróquia do Conjunto Timbó com o Tema: Direitos Previdenciários, com o especialista do INSS. Guarabira-PB 1º de Maio é dia de luta! Na diocese de Guarabira as/os companheiras/os realizaram o encontro com o tema “Parar de olhar para trás, você já sabe onde esteve, agora precisa saber onde vai! “ João Pessoa-PB Em João Pessoa teve uma participação na celebração apresentando o texto do 1º maio produzido pela PO nacional. Participação também nas manifestações do dia do trabalhador. “ São Gonçalo-RN Na pré-semana do dia do trabalhador, a Pastoral Operária de São Gonçalo, realizou um curso de flores oferecidas pela associação AASV para as artesãs locais.)Marchamos ontem e marcharemos sempre, por um mundo de iguais, por um mundo de irmãos/ãs!” Vitor César Zille Noronha Ipatinga-MG Pastoral Operária de Ipatinga-MG, em missa do 1º de maio. Mariana-MG Na Diocese de Mariana, a PO presente em Ponte Nova, participou da 26ª Romaria dos/as Trabalhadores/as. Surubim-PE O grupo de evangelização Dom Helder Câmara da diocese de SurubimPE realizou três enconReceba as notícias da tros em preparação ao PO em casa. Faça sua assinatura. dia da/o Trabalhadora/o Sim quero assinar utilizando o Tríduo da Nome:....................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... Pastoral Operária NaciEndereço:............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... onal com o tema: Qual o valor do seu trabalho? ................................................................................................................................................................................................................................. nº ..................... Data Nasc.: ............../ ................/ .......................... Campina Grande-PB A diocese de Campina Grande realizou ato e celebrações nas comunidades de Monte Castelo, Santa Rosa e Matriz de São Lázaro. Bairro............................................................................................................................................................................................................................................................................ Cep.: ....................................-................... Cid.:.................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... Est.: ............................... Tel.: ....................................................................................................................E-mail: ....................................................................................................................................................................................................................... Banco: Bradesco • Agência: 500-2 (Praça da Sé) • Conta: 47591-2 Nome: Instituto Nacional Santo Dias Para fazer a sua assinatura, basta preencher o cupom, depositar em nossa conta corrente o valor correspondente da assinatura e enviar-nos o comprovante de depósito pelo fax(0xx11) 2618-1077. Assinatura Anual: R$ 20,00 (vinte reais) Assinatura de Apoio: R$ 30,00 (trinta reais) Assinatura para o Exterior: US$ 60,00 (sessenta dólares) Comunicação a serviço da classe trabalhadora urbana - Boletim CONQUISTAR da Pastoral Operária Nacional - 5 Doutrina Social da Igreja LAUDATO SI’: o coração da Evangelii Gaudium O Papa Francisco, na Exortação Evangelii Gaudium, traçou o programa do seu pontificado, indicando caminhos para a Igreja nos próximos anos. O teor da alegria do Evangelho consiste em sermos uma “Igreja em saída”, que vai ao encontro das pessoas, que chegue às fronteiras humanas e existenciais. No dizer de Francisco, uma Igreja que esteja na periferia, manchada de povo, atenta à realidade. A Encíclica Laudato Sí’ é o prolongamento disso, uma vez que o cuidado da casa comum só se dará a partir de um coração alegre e aberto, porque encantado pelo Evangelho que é Jesus mesmo. Na Laudato Si’, Francisco traz presente que vivemos um tempo de crise ecológica, de crise de paradigmas. Porém, a crise é momento privilegiado para apresentar um modelo de humanidade menos consumista. O documento é grande inspiração não só para católicos, mas para toda a humanidade que se preocupa com o destino do Planeta. Ele ilumina nossas práticas rumo a um novo futuro. A preocupação de Francisco é sobremaneira com os mais pobres, pois são atingidos diretamente pelas grandes decisões econômicas e políticas. Nesse sentido, eles também são os que mais sofrem com os desequilíbrios ambientais. O Papa liga o cuidado com a terra ao cuidado com os pobres. Afirma que entre os pobres mais abandonados e maltratados, encontra-se a nossa terra, oprimida e devastada, que está gemendo como que em dores de parto (LS 2). O planeta ferido tem também boa parcela dos seus habitantes feridos pelas situações de grave injustiça social. A intensidade do cuidado e zelo pela terra necessariamente dar-se-á na mesma proporção do cuidado e zelo com os pobres e excluídos da terra, também vitimados por um modelo de desenvolvimento que se revela insuficiente e depredador. Não é possível desconectar a fragilidade do Planeta da fragilidade dos pobres. Francisco, na Laudato Si’, não deixa de criticar o paradigma tecnocrático. A tecnologia não tem todas as respostas para os dramas humanos. Tem limites que se tornam cada vez mais explícitos, apesar de nos últimos séculos ter se insinuado como poder único. É preciso algo mais do que confiança cega na tecnocracia como o “porto seguro” da problemática humana. Mesmo reconhecendo o papel transformador da tecnologia pelo bem que fez à humanidade, é importante ter consciência que os frutos da tecnologia se transformaram em poder. E é importante se perguntar pelo sentido deste poder e em que mãos ele está (LS 102). A predominância do paradigma tecnocrático sobre a economia e a política gera consequências trágicas: a finança sufoca a economia real e propõe que os problemas ambientais sejam resolvidos com o crescimento do mercado. O meio ambiente se torna objeto de exploração em nome do lucro. O ser humano tem valor enquanto produz ou enquanto consumidor do que é produzido. Contudo, o mercado não resolve tudo, mas enraíza situações extremas de desigualdades sociais. Além desta crítica ao paradigma tecnocrático, Francisco faz uma autocrítica ao antropocentrismo, que se fortaleceu com a modernidade. Uma nova relação com a natureza passa por um ser humano novo; implica no reconhecimento de alteridades nas relações entre seres humanos e destes com a natureza. Aqui está o apelo para o uso responsável das coisas, o chamado a reconhecer os outros seres vivos com o seu valor próprio diante de Deus. Enfim, a proposta é que assumamos um novo estilo de vida, que passa por uma nova forma de relação com a natureza. O estilo de vida adotado e tido como padrão se revela falho. Por um tempo o ser humano se achou acima de Deus a ponto de querer excluí-lo da possibilidade de condutor dos destinos da humanidade. Precisamos rever nossas atitudes. É um desafio que engloba toda a humanidade, começando com hábitos em nossa casa menor (lar), mas que se estende a todo o planeta. A conversão ecológica que o Papa nos propõe é isso! Tem uma dimensão pessoal, mas também comunitária. Mais do que nunca, precisamos superar a visão de que o ser humano é o centro de tudo e assumirmos a capacidade da alteridade e da gratuidade. Sair de si mesmo para encontrar o outro, a Criação. Esse é o coração da Evangelii Gaudium! Frei Olavio Dotto Assessor das Pastorais Sociais/CNBB Teologia do Trabalho Em vista de uma Teologia do Trabalho 2ª parte O trabalho é uma das dimensões fundamentais da existência humana. Não é àtoa que a profissão é quase o sobrenome de alguém: Pedro pedreiro, Maria lavadeira, João metalúrgico, Lúcia, a professora. No Evangelho as pessoas se perguntavam: não é Ele, Jesus, o filho do carpinteiro José com quem aprendeu a profissão? Em 1991, cem anos após a encíclica Rerum Novarum do Papa Leão 13, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) escolhia a problemática do mundo do trabalho como tema e reflexão central para a quaresma daquele ano. Por quê? ”O trabalho é o centro, tanto na vida de cada pessoa, de cada família, como na organização e funcionamento de toda a sociedade. Ele ocupa a maioria do tempo e determina, em grande parte, a vida das pessoas. É uma realidade ampla e complexa” (Solidários na Dignidade do Trabalho, nº 3). Dez anos antes -1981- o Papa João Paulo 2º publicava a encíclica Laborem Exercens (O Homem no Trabalho), e dizia na abertura da encíclica que ”O trabalho é uma das características que distinguem o homem do resto das criaturas, cuja atividade, relacionada com a manutenção da própria vida, não se pode chamar trabalho; somente o homem tem capacidade para o trabalho e somente o homem o realiza, preeenchendo ao mesmo tempo com ele a sua existência sobre a terra”. No número 3 dessa encíclica João Paulo 2º faz a afirmação que não só é a principal do documento senão que provocou cientistas políticos e sociólogos a entenderem ”o fato de que o trabalho humano é uma chave, provavelmente a chave essencial de toda a questão social, se nós procurarmos vê-la verdadeiramente sob ponto de vista do bem do homem”. A “questão social” do trabalho precisa ser vista como uma questão perene pois a vocação do trabalho é “tornar a vida humana mais humana” (Gaudium et Spes, 38). Em 1991 o mesmo Papa publicava a encíclica Centesimus Annus para marcar o centenário da Rerum Novarum. Qual é sua preocupação? Afirma o Papa no nº 4: ”No campo econômico, para onde confluíam as descobertas e as aplicações das ciências, chegara-se progressivamente a novas estruturas na produção dos bens de consumo. Surgira uma nova forma de propriedade, o capital, e uma nova forma de trabalho, o assalariado, caracterizado por pesados ritmos de produção, sem horário nem qualquer atenção ao sexo, idade ou situação familiar, mas determinado apenas pela eficiência, na perspectiva do incremento do lucro”. Estamos diante da “questão social” -trabalho, como sua chave- agora em contexto extremamente complexo. O verbo “trabalhar” vem da língua latina e significa “torturar”; esta deriva da palavra latina “tripalium” que era um instrumento de tortura feito de três pedaços de madeira. Nas línguas modernas aponta para a ideia de fadiga, de extremo cansaço. Indica o quanto custa para realizar qualquer trabalho. ”Comerás o pão com o suor do teu rosto, até voltares ao solo do qual foste tirado” (Gn 3,19). Por outro lado o documento Gaudium et Spes do Vaticano 2º vai dizer em seu número 35, que pelo trabalho o ser humano não só transforma a natureza, mas nisso realiza-se a si mesmo. Esta realidade -fadiga/realização- foi bem captada pelo autor do livro do Eclesiastes. Ele se pergunta: “Que proveito resta ao homem de todo trabalho com que se afadiga debaixo do sol? Seus dias são dolorosos, a sua tarefa é penosa...” (Ecle 2,22-23). Sua pergunta o leva a responder “... a felicidade do homem está no comer e no beber, desfrutando do produto do seu trabalho (2,24). Esta é uma afirmação romântica ou real? No livro do Eclesiástico 40,1-11 lê-se que o trabalho duro foi criado para todos os seres humanos; leia o trecho e diga qual tem sido a sorte da classe trabalhadora. No Novo Testamento os textos de Mateus 18,23-34 e Lucas 16,1-8, iluminam a situação dos trabalhadores no modo de produção escravagista. Em Lucas 16,19-31 encontramos uma dura crítica da sociedade classista onde o rico vive no luxo e abundância, enquanto o pobre morre na miséria. Talvez o texto de Mateus 20,1-16 diga tudo que se possa dizer, pois afirma que todos têm o mesmo direito de participar da partilha da produção. O texto de Tiago 5,16 critica os que se enriquecem a custa dos trabalhadores. E em poucas palavras, o texto de Apocalipse 21,1-4 afirma que se o Projeto de Deus fosse posto em prática resultaria no fim das consequências da exploração do trabalho. Você concorda? Ou isso é pieguice?... A humanidade passou por duas grandes revoluções industriais: a da máquina a vapor e a da energia elétrica. Hoje estamos construindo uma terceira revolução: a da microeletrônica. Nas duas primeiras revoluções, a técnica trazia conforto ao corpo humano; agora os novos instrumentos vêm auxiliar a cabeça, o espírito do ser humano. A tecnologia vai se transformando numa imensa e complexa rede de informação construída por vários ramos articulados: microeletrônica, informática e comunicação, opto-eletrônica, biotecnologia. Tais revoluções transformam as dimensões e as estruturas da economia. No campo, a mecanização acelera a concentração de terras e dispensa muita força de trabalho. Nestes últimos tempos, o Papa Francisco tem sido enfático a respeito da “questão social”. Diz ele: “Quem acumula riquezas com exploração, com trabalho não pago devidamente, com contratos injustos, é um sanguessuga que escraviza o povo”. Ou: “o sangue de quem é explorado no trabalho é um grito por justiça ao Senhor. A exploração do trabalho, a nova escravidão, é um pecado mortal. Não se pode viver para as riquezas. É mais importante um copo d’água em nome de Jesus do que todas as riquezas acumuladas com a exploração do povo”. Ou “ignorar o pobre é desprezar Deus; quantas vezes tanta gente finge não ver os pobres” como se vê entre o rico e Lázaro. Louvar a Deus pelo trabalho era o que queria a Ordem dos Beneditinos: “reza e trabalha”. Por isso artesãos construíam magníficos templos e seus vitrais. Com o salmista do Sl 90,17 dizemos: “Derrama sobre nós as tuas bênçãos, Senhor nosso Deus! Confirma, Senhor, a obra de nossas mãos”. Pe Miguel Pipolo Assessor da PO Nacional 6 - Boletim CONQUISTAR da Pastoral Operária Nacional - Comunicação a serviço da classe trabalhadora urbana Conjuntura A busca pelo projeto popular Dizem que o órgão mais sensível do corpo humano é o bolso. E é justamente este que vem sendo mordido de forma cada vez mais furiosa pelo poder público e pelas empresas fornecedoras de bens e serviços em geral. Tríplece mordida: exploração no trabalho, preços ao sabor de uma inflação crescente e uma bela fatia para taxas e impostos. Em termos metafóricos, o bolso tem a ver com as contas de água, luz, aluguel, telefone, celular, internet; tem a ver também com a dificuldade de encontrar emprego e com os “bicos” relacionados ao desemprego e subemprego; tem a ver igualmente com o sonho da casa própria, de uma boa educação dos filhos e com o transporte decente; tem a ver, ainda, com os custos proibitivos de um plano de saúde ou de acesso a um sistema de saúde pública que possa receber esse nome, além das despesas com a segurança pessoal e familiar. Seguir o trem da organização – “lembremos do trem das CEBs”, por exemplo – apenas com a dor pessoal-familiar, por uma parte, ou apenas com a dor social-econômica, por outra, é o mesmo que transitar por um único trilho da linha ferroviária. O resultado será o descarrilhamento dos vagões. Precisamos nos perguntar: na busca de alternativas reais e viáveis, como articular o sofrimento pessoal-familiar com os problemas sociais e econômicos? Como iniciar a construção do “projeto popular” a partir da base, para chegar ao telhado do edifício sociopolítico? Retorno às fontes Estas perguntas nos levam a uma série de considerações. Uma delas é a extrema necessidade de “retornar às fontes”. Não se trata, evidentemente, de defender um saudosismo mórbido do “paraíso perdido” de décadas passadas. Os tempos e as circunstâncias mudam com o andar da história. Novos desafios exigem novas respostas e muita criatividade. Que significa então retornar às fontes? Na fonte a água é mais pura e cristalina, mais transparente e saudável. Dela podemos tirar lições que nos ajudem a sair do impasse em que nos encontramos. Nesse retorno às fontes, entram no palco atividades hoje praticamente esquecidas, mas que tiveram um papel predominante nos primórdios das pastorais sociais, das CEBs, do sindicalismo combativo, do movimento estudantil, dos movimentos sociais, e de tantas organizações populares. Vale citar algumas: visitas às famílias e aos locais de trabalho; trabalho de formiguinha ou trabalho de base; conversas de roda, a partir do que nos inquieta e incomoda; encontros em que se começava colocando em pauta os problemas do dia-a- Daí nascerão as novas respostas. Ou melhor, levantar-se-ão novas perguntas, pois as respostas já se encontram nos pés e mãos de quem trabalha, de quem caminha, de quem grita, de quem luta, sonha e espera. dia; círculos bíblicos e novenas de natal; reuniões por categorias, a partir de desafios comuns; encontros de rua, de prédio, de bairro, levando em conta os problemas que estão à flor da pele... Enfim, voltar aquilo que morde a carne viva da população hoje, aqui e agora. Não se trata de inventar a roda, de quebrar a cabeça para encontrar coisas novas. Trata-se, antes de tudo, de dar vez e voz a quem vem sendo mordido na carne. Vez e voz significa novos espaços, novas formas de linguagem, onde a população de baixa renda possa realmente se encontrar, intercambiar idéias, colocar em comum suas experiências. Daí nascerão as novas respostas. Ou melhor, levantar-se-ão novas perguntas, pois as respostas já se encontram nos pés e mãos de quem trabalha, de quem caminha, de quem grita, de quem luta, sonha e espera. Nosso papel é justamente o de ajudar a elaborar as perguntas, no sentido de que elas se convertam em vias de convergência para essas respostas desconexas, fragmentadas, desarticuladas. Fazer com que tais respostas se levantem dos pés e das mãos à cabeça, através da reflexão transfigurando-se em um “projeto alternativo”. O trem retorna aos trilhos e recomeça a sua marcha. Aliás, o próprio Jesus, diferentemente dos escribas e fariseus, “falava como quem tem autoridade”, diz o texto bíblico (Mt 7,9). De onde lhe vinha tal autoridade? Sabia traduzir a Boa Nova do Evangelho ao nível dos camponeses, pastores, pescadores, mulheres e crianças, como também das demais pessoas simples de sua época. Suas palavras, imagens e parábolas, até os dias de hoje, ficam para sempre gravadas no coração e na alma de quem as ouve e vê. Além disso, como profeta itinerante, “percorre os caminhos das aldeias e cidades”, vai ao encontro das “multidões cansadas e abatidas”, revelando por elas grande “compaixão” (Mt 9,35-38). E mais, toca-lhes as feridas, levando o conforto e a cura a quem se encontra em aflição. Por outro lado, deixa-se tocar e interpelar pelas dores e esperanças de quem o procura. O maior testemunho dessa nova atitude podemos extrair da parábola do Bom Samaritano (Lc 10,25-37), com a qual o Mestre responde ao doutor da lei. E conclui: “Vai e faça o mesmo”! Interesses do capital ou necessidades da população? A economia mundial hoje está no “piloto automático” da especulação financeira. A população que elegeu Lula e Dilma esperava que eles tomassem as rédeas do “piloto manual” e dessem uma guinada na rota do trem chamado Brasil, pondo-o nos trilhos. Mas a pressão dos setores dominantes não permitia tal manobra. O colapso nos ajudou a tomar consciência que a chegada ao governo representa apenas um item que pode, ou não, contribuir com as mudanças. Já vimos como o exercício do poder, além de contaminado por vícios históricos e estruturais, encontra-se submetido às oscilações do mercado de capitais. Por isso é que, mais importante que ter nas mãos o “poder” é a efetiva organização e mobilização das forças sociais. Somente o povo nas ruas pode pressionar por mudanças não apenas nas ondas superficiais da política, mas sobretudo nas correntes subterrâneas da economia. Caso contrário, a democracia se detém na metade do caminho! Infelizmente, após o impeachment, não nos resta esperar grande coisa do novo governo Temer. Pelas mesmas razões já apontadas dificilmente terá condições de realizar semelhante manobra. E se houver mudanças, a formação da nova equipe de ministros nos permite dizer que elas serão mais conservadoras. Prova disso é a promessa, velada ou aberta, de mais privatizações. Tudo indica, portanto, que o trem continuará guiado pelo “piloto automático”, com enormes dificuldades de realizar as reformas profundas, urgentes e necessárias de que o Brasil tem necessidade. Quando vemos que o novo ministro da agricultura é o “rei da soja”, que esperar da Reforma Agrária e agrícola, só para citar um caso! Uma vez mais cabe uma pergunta: como então reconduzir o trem aos trilhos ditados não pelos interesses do capital, e sim pelas necessidades básicas da população? Extraído do Texto Trem fora dos trilhos do Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs, de 18 de maio de 2016 Comunicação a serviço da classe trabalhadora urbana - Boletim CONQUISTAR da Pastoral Operária Nacional - 7 Mulher Juventude A importância da mulher na sociedade, na política, diante da violência Vamos para as bases, que é onde a juventude está Será que mulheres são consideradas relevantes para a sociedade? Será que desejamos, de fato, que mulheres participem ativamente nos espaços políticos de decisão? Ou será que a importância da mulher é pura retórica? Muitas vezes, observando as dinâmicas sociais, quase chego à conclusão de que nós, mulheres, não temos real importância para a sociedade e nem para a política formal. Nós somos parte daquele grupo social sobre o qual é bom falar quando se deseja mostrar inclusividade, mas, na hora de mostrar na prática que a transformação nas relações sociais é possível, aí...bem...a conversa muda! Somos o tema que se pode deixar para depois. Por que nosso desejo de participação, protagonismo, liberdade, autonomia acaba sendo sempre colocado em segundo plano? Uma das respostas possíveis é que somos um desses temas que provoca a pergunta sobre até onde estamos dispostos a ir quando falamos em participação das mulheres na sociedade e na política? A plena inserção das mulheres nas diferentes esferas da vida traz à tona a incômoda, indesejável e provocativa discussão sobre relações de poder. Sem uma disposição profunda de transformação nos paradigmas que orientam as relações de poder, não haverá mudanças para nós mulheres. Acontecimentos recentes no país têm indicado que qualquer discussão que problematize as relações de poder entre mulheres e homens é rapidamente banida. Falar sobre a situação em que vivem as mulheres brasileiras é perigoso e um ato de subversão da ordem! No entanto, não há como deixar de falar sobre este assunto, porque mulheres estão sendo agredidas e assassinadas todos os dias em nosso país. Dados nacionais sobre a violência contra as mulheres de 2015, chamam a atenção que dos 4.762 homicídios de mulheres registrados em 2014, 50,3% foram cometidos por familiares das vítimas. A maioria desses crimes, 33,2% foram praticados pelos parceiros das mulheres assassinadas. O Mapa da Violência 2015 chama a atenção de que o número de mortes violentas de mulheres negras cresceu em 54% entre 2003 e 2013. Mais do que contabilizar as agressões e as mortes de mulheres, estes dados revelam uma profunda cultura misógina, ou seja, de ódio contra as mulheres. Outros fatos que também indicam que a cultura misógina é um elemento que não pode ser ignorado são: as agressões verbais dirigidas contra mulheres parlamentares no Congresso Federal e as expressões de ódio dirigidas contra a presidente do Brasil no processo de admissibilidade do impedimento da chefe maior do Estado brasileiro. A expressão máxima desse ódio foi a declaração do voto do parlamentar que homenageou o coronel Ustra, aquele que torturou a presidenta Dilma, no período em que ela esteve presa. Esta foi a consagração e a expressão máxima da misoginia brasileira. A nossa presença na política brasileira incomoda. Ainda mais quando não fortalecemos o papel de sermos sedutoras, frágeis e manipuláveis. A presença de mulheres no Congresso Federal mostra o quanto precisamos avançar para aprofundarmos nosso processo civilizatório. Nós, mulheres, representamos 51,51% da população total do país. Entretanto, nossa presença na política formal é mínima. No Senado Federal representamos 15,81%. Na Câmara dos Deputados somos 9, 94%. Na política formal, juntando Senado e Câmara dos Deputados, representamos 10,6% do total de políticos. Este é um percentual nada significativo, depois de tantos anos de luta das mulheres. Assustam também os retrocessos que temos sofrido. O tema participação da mulher na sociedade é um tema sussurrado, porque mulher foi transformado em um tema tabu. Para transformar a situação em que vivem as mulheres, em especial, as mulheres pobres, é necessário falar abertamente sobre a pergunta “até onde estamos dispostos e dispostas a ir” para que as mulheres sejam realmente sujeitos de sua própria história? Temos disposição de abrir mão dos nossos micro poderes? Sem a superação dos tabus criados em torno dos direitos humanos para mulheres, o reconhecimento da nossa participação na sociedade e na política será sempre um reconhecimento parcial, nunca pleno. Enquanto isso, mulheres continuarão sendo assassinadas e humilhadas e seus agressores invocados como heróis. O golpe contra a democracia tenta se confirmar. A união das oligarquias políticas, alguns dos nomes mais fétidos da direita brasileira e os grandes meios de comunicação conseguiram tirar, ainda que temporariamente, o poder de Dilma à frente da presidência da República. Mas, ao contrário do esperado, não tem sido dias tranquilos para Temer e seu staff. Vazamentos envolvendo nomes fortes do novo governo, resistência de vários setores aos novos pacotes de ‘salvação’ do País e a reação internacional tem sido temas indigestos para a nova equipe. Mas as ameaças às conquistas sociais continuam – e não são poucas: o SUS; o SAMU; o ProUni; o Minha Casa, Minha Vida são apenas alguns dos programas e políticas que estão ameaçados, diante da insistência do novo governo em ‘apertar o cinto’. Diante dessa realidade, é fundamental que a juventude trabalhadora exerça um papel protagonista na resistência ao golpe e suas medidas. Mais do que respostas imediatas à situação atual, devem construir articulação e mobilização que, além de reconstituir a democracia roubada, consiga impulsionar avanços para a classe trabalhadora. O papel fundamental é o da formação. É urgente retomar o trabalho de base, conversar com os outros jovens trabalhadores, se mobilizar coletivamente. No dia a dia, aprofundar a análise sobre a conjuntura e seus detalhes, para entender, juntos, o que exatamente está em jogo. O espírito de pesquisa e investigação é fundamental, já que o discurso oficial, repercutido pelos grandes meios de comunicação, continua manipulando em favor dos golpistas. Está visível que a juventude ainda quer lutar por mudanças. Isso fica claro ao se ver o grande número de jovens se articulando em grupos de igrejas, coletivos juvenis, saraus culturais, etc. Em muitos deles, esses meios de mobilização são o próprio fim de seus esforços. São, portanto, espaços férteis de conscientização e formação política. É muito importante enfrentar as ilusões e encantos promovidos pelos meios de comunicação em função da lógica capitalista. Também é primordial fazer o enfrentamento a discursos prontos baseado apenas em índices econômicos e desconsiderando a vida das pessoas; falácias como a da tal ‘ditadura comunista’, entre outras tantas. É papel da militância operária, em especial a juventude trabalhadora, fazer o enfrentamento nas lutas cotidianas por direitos, por serviços públicos de qualidade, por democracia e liberdade, estando cientes de que só há conquistas quando há luta e resistência, seja diante de qual governo for. Não podemos esquecer que as juventudes tem a sua própria forma de se expressar. Em geral, não se contentam somente com opiniões externas e nem sempre estão dispostos a dedicar muito tempo a um mesmo assunto ou tema. Exigem agilidade e dinamismo em tudo. Esse é um desafio para a JOC e demais organizações de juventude! Devem ser dinâmicas, criativas, ágeis e participativas. Sem perder, é claro, a consciência de que o pano de fundo dessa sociedade injusta e podre é um sistema capitalista, que é, por essência, opressor, destruidor da natureza e concentrador de riquezas. Por fim, é importante seguirmos motivados e conscientes de nossas capacidades. Raul Seixas nos lembra que “a vitória não está perdida, pois é de batalhas que se vive a vida”. Continuaremos na luta, pois a juventude que ousa lutar constrói poder popular! Guilherme Júnior é membro da Coordenação Nacional da Juventude Operária Católica Brasileira (JOC) EXPEDIENTE: EQUIPE DE COMUNICAÇÃO. Jornalista: Antonia Carrara/MTB 13746-SP • Revisão: Jardel Lopes e Monica H. de A Fidelis Diagramação: Maria do Amparo • Colaboradores: Jardel Neves Lopes, Monica Helena Fidelis APOIO: Associação Irmã Dorothy SECRETARIA NACIONAL DA PASTORAL OPERÁRIA Rua Guarapuava, 317 - Moóca • São Paulo-SP • CEP 03164-150 Tel.: (0xx11) 2695-0404 • Fax: (0xx11) 2618-1077 E-mail: [email protected] - site.: www.pastoraloperaria.org.br Pa. Romi Márcia Bencke Secretária Geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil 8 - Boletim CONQUISTAR da Pastoral Operária Nacional - Comunicação a serviço da classe trabalhadora urbana